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Capítulo 2

Ferramentas úteis à atividade


filosófica: noções de Lógica
(formal e informal)
A. A Filosofia não é empírica
B. Cristiano Ronaldo nasceu na Madeira
C. Nenhum politico é corrupto
D. Alguns filósofos não são capazes de discutir ideias
E. Algumas crianças são más
F. Nenhum português é alto
2. Nenhuma pessoa tem direitos.

3. Algumas pessoas não têm direitos.

4. Algumas pessoas não são más.


5. A proposição será verdadeira.
▪ Relação de contraditoriedade. (“Nenhum A é B” e “Algum A é B” são proposições
contraditórias.
▪ As proposições contraditórias não podem ter o mesmo valor de verdade.
6. A proposição poderá ser verdadeira ou falsa.
▪ Relação de contrariedade (“Todos os A são B” e “ Nenhum A é B” são proposições
contrárias).
▪ Se uma proposição é falsa, a sua contrária tanto pode ser verdadeira como falsa (não
podem ser ambas verdadeiras).
7. A proposição poderá ser verdadeira ou falsa.
▪ Relação de subcontrariedade (as proposições “”Algum A é B” e Algum A não é B” são
subcontrárias).
▪ se uma proposição é verdadeira, a sua subcontrária tanto pode ser verdadeira como
falsa (não pode é suceder serem ambas falsas).
Universal afirmativa Quadrado da oposição Universal negativa
Todo o A é B Nenhum A é B
“Todos os lisboetas são “Nenhum lisboeta é
portugueses” português”
Contrárias
A As proposições contrárias não podem ser as duas verdadeiras: E
podem ser ambas falsas ou uma verdadeira e a outra falsa

As proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas: podem


ser ambas verdadeiras ou uma verdadeira e a outra falsa.
I O
Particular afirmativa Subcontrárias
Particular negativa
Algum A é B Algum A é B
“Alguns lisboetas são “Alguns lisboetas não são
portugueses” portugueses”
Proposições com conetivas proposicionais

Uma palavra ou expressão que permite


Conetivas proposicionais
formar novas proposições.

não, e, ou, se…então, se e só se.

Proposição simples é uma proposição em que não é usada nenhuma conetiva


proposicional . Ex: O Pedro é estudante.

Proposição composta é uma proposição em que é usada uma ou mais


conetivas proposicionais . Ex: O Pedro é estudante e a Ana é professora.
PROPOSIÇÕES COM CONETIVAS PROPOSICIONAIS
Vamos agora considerar as proposições formadas através do uso
de conetivas proposicionais (ou operadores proposicionais):

Conetiva Nome Exemplo


• não
• e não Negação Alice não gosta de Lógica.
• ou
e Conjunção Alice gosta de Lógica e de Ética.
• se… então
Disjunção
• se e só se ou Alice gosta de Lógica ou de Ética.
inclusiva
O tema do segundo capítulo do teu
Estas conetivas, aplicadas a proposições simples, Disjunção
ou… ou manual de filosofia de 10.º ano
permitem formar novas proposições (compostas): exclusiva
ou é a Lógica ou é a Ética.
• negação se... Se Alice sabe Lógica, então é capaz
• conjunção Condicional
então de pensar com rigor.
• disjunção Alice tem classificação positiva
se e só
• condicional se
Bicondicional no teste se e só se tem pelo
• bicondicional menos 10 valores.
Proposições formadas com conetivas

Conetiva Nome Exemplo

não Negação A Rita não é professora

e Conjunção A vida tem sentido e Deus existe

ou Disjunção inclusiva Deus é perfeito ou infinito

ou…ou Disjunção exclusiva Ou Deus existe ou não existe

se…então Condicional Se Deus existe, então a vida tem


sentido
se…e só se Bicondicional Deus existe, se e só se a vida é
sagrada
Forma lógica de uma
proposição Estrutura ou organização da frase

Para detetar a estrutura

Traduzimos a frase em linguagem natural


para a linguagem formal ou lógica

FORMALIZAÇÃO

➢ Cada proposição simples é substituída por uma letra : P,Q,R…

➢ P,Q,R… são variáveis proposicionais

➢ As conetivas proposicionais são substituídas por símbolos – constantes


proposicionais.
FORMALIZAÇÃO

Como já referimos, a forma lógica de uma proposição é a sua estrutura


ou organização, isto é, o modo como as suas partes estão relacionadas.

Para detetarmos a forma lógica das proposições (e dos argumentos) temos


de substituir as palavras por símbolos, ou seja, traduzir as frases usadas
na linguagem natural (no nosso caso, o português), para a linguagem formal
da Lógica proposicional.

Forma lógica

Recorre-se a símbolos
Utiliza-se uma
(variáveis proposicionais
linguagem
e constantes lógicas)
simbólica
para formalizar as proposições
FORMALIZAÇÃO
Quando formalizamos, cada proposição simples é substituída
por uma letra maiúscula (P, Q, R, S, etc.), a que chamamos
variável proposicional.

As palavras que expressam as conetivas proposicionais Tipo de proposição Conetiva Constante


lógica
também são representáveis por símbolos, a que
chamamos constantes lógicas (chamam-se
Negação não ¬
«constantes» porque cada um deles representa Conjunção e ∧

sempre a mesma conetiva). Disjunção inclusiva ou ∨

Vejamos um exemplo de formalização: Disjunção exclusiva ou… ou ⩒

Condicional se... então →


O Pedro não é alto. ¬P
Bicondicional se e só se ↔
Linguagem natural Linguagem formal (ou simbólica)
Constantes lógicas

Tipo de proposição Conetiva Constante lógica


Negação não ¬
Conjunção e ^
Disjunção inclusiva ou V

Disjunção exclusiva ou…ou V

Condicional se…então →

Bicondicional se…e só se ↔
FORMALIZAÇÃO
Fazer o dicionário e formalizar
O rio é longo
Tendo em conta a proposição composta e profundo.
que queremos formalizar, o dicionário
é composto pelas proposições simples DICIONÁRIO FORMALIZAÇÃO

existentes, acompanhadas pela P: O rio é longo. P∧Q


Q: O rio é profundo.
correspondente variável proposicional.

DICIONÁRIO FORMALIZAÇÃO
Formalizar proposições:

1. Descartes é racionalista e Hume é empirista

a)- Fazer o dicionário (escrever as proposições simples)

P- Descartes é racionalista
Q- Hume é empirista
b)- Formalizar
P^ Q
2. Descartes é não é empirista e Hume não é racionalista
a)- Fazer o dicionário (escrever as proposições simples)

P- Descartes é empirista
Q- Hume é racionalista
b)- Formalizar
¬P^ ¬ Q
FORMALIZAÇÃO

Fazer o dicionário e formalizar


MAIS EXEMPLOS DE FORMALIZAÇÕES
Por vezes, é preciso fazer pequenas
alterações linguísticas para garantir
a correção gramatical do dicionário.
FORMALIZAÇÃO

Se não sais e não corres,


então chegas atrasado.

A formalização de proposições compostas Neste caso temos uma condicional,


duas negações e uma conjunção.
requer atenção ao âmbito das conetivas
É necessário usar os parêntesis
(isto é, à sua maior ou menor abrangência). para indicar o âmbito,
ou seja, o alcance de uma
determinada conetiva.
P: Sais
Para distinguir o âmbito recorre-se aos Q: Corres
parênteses. Vejamos um exemplo. R: Chegas atrasado (¬ P ∧ ¬ Q) → R
Proposição a formalizar Dicionário Formalização
A arte é imitação P- A arte é imitação P
Não é verdade que a arte é P- A arte é imitação ¬P
imitação
Lisboa é uma cidade portuguesa P- Lisboa é uma cidade portuguesa PQ
e Paris é uma cidade francesa Q- Paris é uma cidade francesa

P- A Ana vai ao cinema PVQ


A Ana vai ao cinema ou ao teatro
Q- A Ana vai ao teatro

Ou Sócrates nasceu em Atenas P- Sócrates nasceu em Atenas


PVQ
ou nasceu em Roma Q- Sócrates nasceu em Roma
Se Deus existe, então a vida tem
P- Deus existe P→Q
sentido
Q- A vida tem sentido
Deus existe se e só se a vida é
P- Deus existe P↔Q
sagrada
Q- A vida é sagrada
Proposição a formalizar Dicionário Formalização
A arte é imitação P- A arte é imitação P
Não é verdade que a arte é imitação P- A arte é imitação ¬P
A Joana vai ao parque e a Ana vai às P- A Joana vai ao parque
P∧Q
compras Q- A Ana vai às compras
A Joana não vai ao parque e a Ana P- A Joana vai ao parque
não vai às compras ¬P∧¬Q
Q- A Ana vai às compras
Não é verdade que a Joana vai ao P- A Joana vai ao parque ¬ (P ∧ Q)
parque e que a Ana vá às compras Q- A Ana vai às compras
Se mentes as pessoas, então as P- Mentes
pessoas não confiam em ti e Q- As pessoas confiam em ti P→(¬ Q ∧ R)
afastam-se de ti. R- As pessoas afastam-se de ti
P- Está a chover
Se está a chover ou a nevar, então Q- Está a nevar (P V Q) → R
não as férias estão estragadas R- As férias estão estragadas

Raimundo admira Platão se, e só se, P- Raimundo admira Platão


não admira Aristóteles nem Hume. Q- Raimundo admira Aristóteles (P ↔ (¬ Q ∧ ¬R)
R- Raimundo admira Hume
Proposição a formalizar Dicionário Formalização
A arte é imitação P- A arte é imitação P
Não é verdade que a arte é imitação P- A arte é imitação ¬P
A Joana vai ao parque e a Ana vai às P- A Joana vai ao parque
compras Q- A Ana vai às compras P∧Q
A Joana não vai ao parque e a Ana P- A Joana vai ao parque
¬P∧¬Q
não vai às compras Q- A Ana vai às compras

Se o Miguel estuda, então tem boas P- O Miguel estuda


notas Q- O Miguel tem boas notas P→Q

Se o Miguel não estuda, reprova o P- O Miguel estuda


ano Q- O Miguel tem boas notas ¬P→Q
P- O Miguel estuda
Se o Miguel não estuda, tem más
notas e reprova o ano
Q- O Miguel tem boas notas ¬ P→(Q ∧ R)
R- O Miguel reprova o ano
Formalização com várias conetivas
O âmbito das conectivas proposicionais consiste na parte da fórmula sobre a qual
as conectivas operam.
A conectiva principal ou com maior âmbito é a que se aplica a toda a proposição.
Exemplo:
Não é verdade que o Tomás lê um livro de aventuras e a Ana vai ao cinema

Dicionário:

P- O Tomás lê um livro de aventuras


Q- A Ana vai ao cinema

¬ (P Ʌ Q)

Qual a conectiva principal? A conectiva com maior âmbito é a negação.


1e2
Frases Tipo de proposição Forma canónica

X é um mamífero, se é uma Se X é uma ovelha, então é um


A ovelha. Condicional
mamífero.

B Platão e Heródoto, pelo menos Disjunção Platão era filósofo ou Heródoto era
um deles era filósofo. inclusiva filósofo.

C Quando cai neve, está frio. Condicional Se cai neve, então está frio.

D É falso que Deus existe. Negação Deus não existe.

Tanto a Ética como a Estética A Ética e a Estética são importantes


E Conjunção (ou a Ética é importante e a Estética é importante).
são importantes.

F Caso chova, fico em casa. Condicional Se chove, fico em casa.

G Platão era filósofo, mas Conjunção


Platão era filósofo e Aristóteles era
Aristóteles também. filósofo (ou Platão e Aristóteles eram filósofos).
1 e 2 (continuação)
Tipo de
Frases Forma canónica
proposição

H Se um argumento é sólido, então é válido Bicondicional Um argumento é sólido se e só se é


e tem premissas verdadeiras, vice-versa válido e tem premissas verdadeiras.

Faço o exame de filosofia, embora faça Conjunção Faço o exame de filosofia e o exame de
I também o exame de MACS. MACS.

O presidente da Câmara candidata-se ou Disjunção Ou o presidente da Câmara candidata se


não se recandidata recandidata ou não se recandidata.
J exclusiva
3
A (P V Q)  ¬ R

B ¬ (P  Q)

3.1 A A conetiva com menor âmbito é a negação (¬ ) porque afeta apenas R

B A conetiva com menor âmbito é a conjunção () porque afeta apenas P e Q

3.2 A A conetiva com maior âmbito é a conjunção () pois afeta (PVQ) e ¬ R, sendo
a conetiva principal da fórmula
B A conetiva com maior âmbito é a negação (¬ ) pois afeta o resto da fórmula
(P ^ Q), sendo a conetiva principal da fórmula
Proposição a formalizar Dicionário Formalização
A filosofia e a matemática não são P- A filosofia é difícil
difíceis Q- A matemática é difícil ¬P∧¬Q

Se colocamos a música alta, P- Colocamos a música alta


incomodamos os vizinhos e não Q- Incomodamos os vizinhos P→(Q ∧ ¬ R)
descansamos R- Descansamos

Stuart Mill era consequencialista, P- Stuart Mill era consequencialista P∧¬Q


mas Kant não Q- Kant era consequencialista

P- A eutanásia deve ser proibida


A eutanásia e o suicídio assistido Q- O suicídio assistido deve ser
(P ∧ Q)↔ (¬ R V S)
devem ser proibidos se, e só se, os proibido
doentes não estiverem conscientes R- Os doentes estão conscientes
ou não forem capazes de exprimir a S- Os doentes são capazes de
sua vontade. exprimir a sua vontade
TABELAS DE VERDADE
Uma tabela de verdade é um dispositivo gráfico que permite determinar
as condições ou circunstâncias em que uma certa forma proposicional
é verdadeira ou falsa.

Na coluna da esquerda da tabela são apresentadas as circunstâncias


possíveis em que uma proposição pode ser verdadeira ou falsa.

Com duas proposições


Tratando-se só de uma (P, Q), a tabela
proposição (P), a tabela terá quatro linhas.
terá duas linhas.
P Q
P V V
V V F
F F V
F F
Consideremos “P” é uma tradução para “Deus existe” e “Q” é uma tradução para “Há mal
no mundo”.
P – Deus existe – (pode ser verdadeira ou falsa)
Q- Há mal no mundo – (pode ser verdadeira ou falsa)
Cada uma destas proposições elementares pode ser verdadeira ou falsa. Portanto,
verdadeiro ou falso são os valores de verdade de qualquer proposição.
Utilizemos “V” para o verdadeiro e “F” para o falso.
Ora, como “P” e “Q” representam duas proposições elementares,
temos quatro possíveis combinações dos seus respetivos valores de verdade:

P Q
V V Ambas são verdadeiras
V F Só P é verdadeira
F V Só P é falsa
F F Ambas são Falsas
NEGAÇÃO

A negação inverte o valor de verdade

P ¬P

V F

F V
CONJUNÇÃO

A conjunção é verdadeira nas circunstâncias em que ambas


as proposições são verdadeiras

P Q P∧Q
V V V
V F F
F V F
F F F
CONDIÇÕES DE VERDADE

Cada uma das conetivas tem


condições de verdade
diferentes, ou seja, é
verdadeira ou falsa em
circunstâncias diferentes.

As condições de verdade
de cada conetiva podem
ser apresentadas através P ¬P P Q P∧Q
de tabelas de verdade. V F V V V
Vejamos: F V V F F
F V F
F F F
DISJUNÇÃO

A disjunção é falsa nas circunstâncias em que ambas as


proposições disjuntas são falsas
ou
é verdadeira nas circunstâncias em que pelo menos uma das
proposições que a compõem é verdadeira

P Q PVQ

V V V

V F V

F V V

F F F
CONDIÇÕES DE VERDADE

DISJUNÇÃO
INCLUSIVA DISJUNÇÃO
Uma disjunção inclusiva só é
falsa se ambas as disjuntas EXCLUSIVA
forem falsas. Uma disjunção exclusiva
é verdadeira se as disjuntas tiverem
P Q P∨Q valores de verdade diferentes e falsa
V V V se estes forem iguais..

V F V
P Q P⩒ Q
F V V
V V F
F F F
V F V
F V V
F F F
PROPOSIÇÕES CONDICIONAIS

Se o Manuel é português, então é europeu

P → Q

Antecedente Consequente
Condição Condição
suficiente necessária

As proposições condicionais estabelecem relações de consequência (ou


implicação) entre proposições.

Diz-se que uma proposição implica outra quando é impossível que a


primeira seja verdadeira e a segunda falsa.
CONDICIONAL

A condicional é falsa nas circunstâncias em a proposição antecedente


é verdadeira e a proposição consequente é falsa

P Q P→Q

V V V
V F F
F V V
F F V
BICONDICIONAL

A bicondicional é verdadeira nas circunstâncias em que as


proposições que a compõem são ambas falsas ou ambas verdadeiras

P Q P↔Q

V V V

V F F

F V F

F F V
CONDIÇÕES DE VERDADE

P Q P→Q
V V V
V F F
P Q P↔Q
F V V
V V V
F F V
V F F
F V F
F F V

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