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Doença de Alzheimer

Marcela C. R. Silva1 Resumo


A doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de
Milay R. Oliveira2 perda cognitiva em adultos, e principalmente em
Rômulo H. V. Negreiros3 idosos, sendo o tipo mais freqüente de demência. A
patogenia da doença está sendo cada vez mais bem
compreendida e novos medicamentos estão sendo
desenvolvidos. Uma outra dificuldade encontrada é
a falta de métodos diagnósticos precisos, sendo que
o mesmo é confirmado apenas após a morte do
paciente. As drogas anticolinesterásicas e
antiglutamaérgicas, que são atualmente os
medicamentos mais utilizados para o tratamento da
doença, apresentam baixa eficácia no controle da
doença, apresentando um efeito terapêutico apenas
sintomático.

1 Farmacêutica Clínica Industrial pela Universidade de Brasília.


Especialista em Vigilância Sanitária pela Fiocruz, Especialista em
Farmacologia Clínica pelo Centro Universitário Unieuro.

2 Farmacêutica Clínica Industrial pela Universidade de Brasília.


Especialista em Vigilância Sanitária pela Fiocruz, Especialista em
Farmacologia Clínica pelo Centro Universitário Unieuro.

3 Farmacêutico Bioquímico pela Universidade Estadual da Paraíba.


Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília. Atua
como professor da UNIEURO nos cursos da área da saúde

Marcela C. R. Silva, Milay. R. Oliveira e Rômulo H. V. Negreiros


1 – Transmissão Colinérgica bloqueio exercido pelo íon Mg2+ do
interior do canal do receptor NMDA.
As enzimas que participam da síntese Portanto, o GLU, ligando-se com alta
e degradação da acetilcolina (Ach), afinidade na subunidade NR2 em
são a colina acetiltransferase, associação com a glicina, ligada na
responsável pela síntese e a subunidade NR1, promoveriam a
acetilcolinesterase (AchE) e entrada de Ca2+ e Na+, contribuindo
butirilcolinesterase (BuchE), pela sua para a excitabilidade da célula. A
degradação. Alguns estudos sugerem ativação dos mGLU, por envolver a
que a enzima sintetizadora da Ach, a ativação de mensageiros
acetil transferase está intracelulares, se daria em velocidade
consideravelmente diminuída no córtex muito mais lenta. Contudo, seus
cerebral e no hipocampo de pacientes efeitos poderiam se dar em dois níveis,
com DA. inibindo a excitação através de
Acredita-se que esta doença está receptores dos grupos II e III ou
associada a déficits de vários aumentando a excitabilidade, através
neurotransmissores cerebrais, como dos receptores do grupo I. A ativação
serotonina, norepinefrina e Ach. dos mGLU (grupos II e III) com
Entretanto, os déficits cognitivos localização extra-sináptica promoveria
relacionados à doença estão a redução na liberação deste
principalmente relacionados à neurotransmissor. A ativação do
degeneração de neurônios mGLU1 e mGLU5 contribuiria para a
colinérgicos no córtex e hipocampo, ativação da membrana pós-sináptica,
resultando em déficits da transmissão enquanto a estimulação do mGLU2 e
colinérgica. mGLU3 inibiria a excitabilidade desta
membrana. Um sistema de transporte
2 – Transmissão Glutamaérgica seletivo de GLU para células gliais e
para os neurônios reduziria as
O glutamato (GLU) é o principal concentrações sinápticas do
neurotransmissor excitatório do SNC e aminoácido 15,16. A conversão do
seus receptores estão divididos em GLU em glutamina e sua subseqüente
duas principais classes: captação neuronial poderiam, por sua
metabotrópicos e ionotrópicos. vez, dar início à nova síntese de GLU
e à nova liberação sináptica.
O GLU está envolvido em vários
processos bioquímicos. A liberação 3 – Aspectos macroscópicos e
dependente de Ca2+ de GLU microscópicos
endógeno poderá ativar todos os iGLU
e mGLU, dependendo da afinidade, da Os aspectos macroscópicos estão
localização e das características ainda pouco elucidados, estando
intrínsecas de cada receptor. Assim, relacionados, hoje, com a diminuição
acredita-se que o GLU liberado ativa do volume cerebral e perda localizada
inicialmente os receptores AMPA e de neurônios do hipocampo e
cianato que, apesar da baixa afinidade prosencéfalo basal.
relativa pelo GLU, promoveriam a Os achados microscópicos mais
rápida despolarização da célula importantes correspondem às placas
através da entrada de íons Na+ e amilóides extracelulares, que
Ca2+. A despolarização parcial da consistem em depósitos de
membrana plasmática removeria o extracelulares amorfos da proteína β-

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amilóide (Aβ) e aos emaranhados cultural, atividades sociais, pois estas
neurofibrilares (ENF), também podem influenciar a progressão da
chamados malhas neurofibrilares doença.
intraneuronais, que consistem em
filamentos da forma fosforilada da 5 – Sintomas e evolução
proteína associada aos microtúbulos
(Tau). A queixa principal do paciente é a
Essas duas lesões acumulam-se em perda da memória recente, sendo
pequenas quantidades durante o necessário um aprofundamento do
envelhecimento normal do cérebro, tipo, qualidade e progressão do
mas ocorrem em um excesso sintoma, uma vez que este pode estar
quantitativo na demência da DA, associado a outros fatores como
sendo que a sua quantidade é mais ou ansiedade, depressão, fadiga. Outro
menos proporcional à gravidade da item importante a ser considerado é a
deficiência cognitiva. capacidade do paciente de realizar
A proteína Aβ se origina a partir da atividades rotineiras, como dirigir, se
clivagem da porção extracelular da vestir, cuidar da higiene pessoal e
proteína precursora da amilóide (PPA) demais atividades diárias.
pelas β-γ-secretases(1-3). A toxicidade Com a progressão da doença, ocorre
da Aβ processada e seus agregantes um aumento da desorientação do
pode resultar da combinação de paciente, podendo ocorrer afasia,
apoptose, disfunção na homeostase anomia e acalculia, com impactos
do Ca2+, radicais livres tóxicos e significativos na vida social e
formação complementar. ocupacional do doente. Podem estar
Evidências recentes sugerem que os presentes sintomas de depressão,
intermediários oligoméricos solúveis seguida de agitação, insônia, apraxias
são mais responsáveis pela e desorientação visoespacial, com
neurotoxicidade do que as fibras finais. desordem de marcha.
Desta forma, parece haver uma Na fase avançada da doença, podem
correlação mais forte entre a Aβ estar presente psicose, alucinações,
solúvel (monômero e oligômero Aβ) no delírios e convulsões, menos
cérebro e a disfunção cognitiva freqüentemente. As características da
precoce do que a presença de fase mais tardia da doença são:
depósitos de Aβ e a severidade da mioclonia, mutismo, incontinência,
doença. espasticidade, seguido de morte após
5 a 10 anos após início de tais
sintomas.
4 – Diagnóstico
6 – Tratamento
Não existe ainda diagnóstico definitivo
para a doença e apesar de que este Os inibidores das colinesterases (I-
pode ser realizado somente através de ChE) são os principais medicamentos
exame histológico cerebral durante a utilizados no tratamento da DA, visto
necropsia, pode se determinar um que na doença ocorre um importante
diagnóstico com certa precisão, déficit colinérgico. Tais medicamentos
através de critérios clínicos corretos. aumentam a disponibilidade da Ach
Deve ser realizada uma investigação sináptica através da inibição das suas
profunda de todos os aspectos da vida enzimas – acetilcolinesterase e
social do paciente, como nível butirilcolinesterase.
educacional, história ocupacional,

Marcela C. R. Silva, Milay. R. Oliveira e Rômulo H. V. Negreiros


Os mais utilizados são a tacrina e a
rivastigmina que atuam na inibição de 7 – Novas perspectivas
ambas as enzimas uma vez que a
butirilcolinesterase está envolvida na Um dos objetivos atuais é o
maturação das placas neuríticas. desenvolvimento de opções
A resposta aos I-ChE não é uniforme, terapêuticas seguras e eficazes que
e há diferenças significativas entre as sejam capazes de modificar a
respostas individuais ao tratamento. evolução natura da doença. Assim, o
Porém o uso desses medicamentos avanço no conhecimento da patogenia
resulta em benefícios sobre a da doença pode ser importante no
cognição, comportamento e desenvolvimento de novas drogas,
capacidades funcionais, mesmo que como inibidores da hiperfosforilação da
de maneira discreta. Os outros proteína tau, terapia antiamilóide e até
medicamentos utilizados são o mesmo a imunoterapia da DA.
Donepezil, Galantamina e a
Memantina.

8 – Bibliografia

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Envelhecimento da Academia Brasileira de

Marcela C. R. Silva, Milay. R. Oliveira e Rômulo H. V. Negreiros

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