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Introdução
É nosso objectivo, nesta comunicação, analisar as práticas de
ensino/aprendizagem da escrita na escola, mais concretamente ao nível dos
segundo e terceiros ciclos do ensino básico. Fá-lo-emos a partir da análise
dos textos reguladores da prática pedagógica, programas e manuais
escolares, bem como com base em dados recolhidos na observação de aulas
e na análise de planificações de unidades lectivas.
Essa análise pressupõe, no entanto, um quadro teórico centrado, por
um lado, na natureza do objecto de ensino/aprendizagem, a escrita, e, por
outro, nos sujeitos da aprendizagem.
A explicitação desse quadro teórico, assume, neste texto, a forma de
comparação entre a escrita em desenvolvimento, característica dos sujeitos
da aprendizagem, e a escrita desenvolvida, que pode ser encarada como a
meta ou o objectivo a atingir por parte desses sujeitos.
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O Ensino da Escrita
Estabelecida a diferença entre o que poderemos designar por escrita
desenvolvida e por escrita não desenvolvida ou em desenvolvimento, é
chegado o momento de nos debruçarmos sobre a problemática do ensino da
escrita.
A análise desta questão reveste-se de alguma complexidade, dada a
multiplicidade de factores nela envolvidos. É que, para além das
implicações que derivam dos aspectos atrás mencionados, outros há que
importa considerar na discussão sobre o ensino-aprendizagem da escrita,
nomeadamente os que relevam do contexto escolar onde a aprendizagem da
escrita decorre, contexto esse que inclui factores muito diversos, tais como a
natureza da disciplina de que constitui objecto, os textos que, a diferentes
níveis do processo curricular, a regulam, as relações entre os sujeitos, as
condicionantes temporais e espaciais.
Antes de mais, importa considerar que, normalmente, se ensina e se
aprende a escrever no âmbito de uma disciplina, a de língua materna, que
apresenta como característica específica o facto de o seu objecto (de
ensino/aprendizagem), a língua, ser, simultaneamente, o meio da sua própria
transmissão (Castro, 1995). Na medida em que a escrita constitui um dos
domínios da língua, ao discutir-se a questão do seu ensino, é importante não
esquecer que se lhe aplica essa especificidade e que, portanto, ela pode ser
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Falta de reflexão
Os programas apontam, em diversos momentos, sobretudo na
introdução ao bloco escrita e nas indicações metodológicas, para a produção
em quantidade, associada a situações lúdicas e propiciadoras de prazer. Essa
orientação é, de algum modo, seguida nos manuais, nos quais parece haver
uma predominância das propostas de produção de textos de carácter
expressivo, em que o aluno recorda situações vividas, emite opiniões,
exprime sentimentos, conclui narrativas. Estas actividades de escrita
surgem, frequentemente, na sequência de actividades de leitura e não são
mais do que a mera explicitação de aspectos com ela relacionados.
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Conclusão
Se a uma escrita pouco desenvolvida ou em desenvolvimento
corresponde o modelo de explicitação do conhecimento e a uma escrita
desenvolvida o modelo de transformação do conhecimento, parece-nos lícito
perguntar se a passagem progressiva daquele para este não deveria ser eleita
como um objectivo fundamental a prosseguir no âmbito da disciplina de
Português, sobretudo a partir de certo nível de escolaridade.
Contudo, a escola que emerge dos textos reguladores da prática
pedagógica, programas e manuais, bem como da observação de aulas e da
análise de planificações de unidades lectivas, em vez de perseguir tal
desiderato, parece estar a contribuir para que uma escrita de explicitação do
conhecimento se perpetue. Isso acontece na medida em que privilegia uma
abordagem da escrita que: passa, antes de mais, pela produção em
quantidade e menos pela explicitação dos diferentes aspectos envolvidos;
limita, quase sempre, a reflexão aos aspectos formais do texto e às suas
dimensões superficiais; é, normalmente, levada a cabo na perspectiva
globalizante do produto e menos na perspectiva do processo; promove,
sobretudo, a produção de textos em que a dimensão contextual é menos
relevante.
Referências Bibliográficas
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