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Trabalhando o módulo I do edital:

Conhecimentos Básicos em Língua Portuguesa


Lina Mendes

● Mestra em Educação (FE-USP);


● Graduada em Filosofia e Letras;
● Professora de Português e Coordenadora
Pedagógica no Colégio Ítaca-SP
● Instagram: @linambmendes
@literalcoolicas
O que pede o edital:

Concepção de linguagem verbal em seu processo de


interlocução e sua relação com todas as áreas de
conhecimento, quanto ao domínio das capacidades de
leitura e de escrita para os diferentes gêneros e
práticas sociais; uso da variedade culta da língua
escrita para a produção de texto; leitura e
compreensão de texto.

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I. A LINGUAGEM
II. A ESCRITA
III. O TEXTO
IV. ATIVIDADES DE
INTERPRETAÇÃO DE
TEXTO
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I. A LINGUAGEM

A. O sujeito, a linguagem e suas funções


B. Norma culta e variedades linguísticas
C. Relação entre oralidade e escrita

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A. O sujeito, a linguagem e suas funções

● Língua e linguagem;
● Funções da linguagem;
● Sujeito e linguagem;

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Linguagem → diferencia o ser humano dos animais
● Animais - sistemas de comunicação entre membros da mesma espécie
● Ser humano → consciência do uso de um sistema de signos → interpretação e
representação da realidade → diferentes linguagens → universais (música e
línguas naturais) / culturas letradas (desenvolvimento da escrita)
● Linguagem visual (cores, desenhos, imagens etc.)
● Linguagem verbal oral / escrita
● Signo → significante (suporte para uma ideia)
● significado (conteúdo intelectual/interpretação da realidade)
● Línguas → sistemas de signos linguísticos
● Linguagem → exercício social de representação e modificação do mundo pelos
membros de uma mesma comunidade → pressupõe conhecimento do valor
simbólico dos signos (semáforo verde x vermelho) ou não há comunicação
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Processo de comunicação verbal
(Roman Jakobson, 1969)
objeto/situação a que a
mensagem se refere
ou referente

ou remetente ou destinatário

(oral/escrito/gêneros textuais)

(expressa a mensagem /
compartilhado pelo emissor/receptor)

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Funções da Linguagem
(Roman Jakobson, 1969)
(OU DENOTATIVA)
→ ÊNFASE NO CONTEXTO

ÊNFASE NA MENSAGEM
(OU EXPRESSIVA) (OU APELATIVA)
→ ÊNFASE NO → ÊNFASE NO
REMETENTE DESTINATÁRIO

ÊNFASE NO CONTATO

ÊNFASE NO CÓDIGO

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Sujeito e Linguagem (papel x código)
● Linguagem → mero código? Intenção do sujeito
● Intencionalidade, expectativas, ambiguidades, duplos sentidos, implícitos
x explícitos, silêncios disfarçados → mal-entendidos, objetividade,
subjetividade
● Responsabilidade/atividade do sujeito a partir de possibilidades
(sujeito/outro da linguagem)
● Situação de interlocução → escolha de enunciados conforme propósitos
intencionais (revelar ou esconder) → interpretações possíveis ou não
● Efeitos de sentido
● Denotação X conotação

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“Dizer que somos seres falantes significa dizer que temos e somos
linguagem, que ela é uma criação humana (uma instituição
sociocultural), ao mesmo tempo que nos cria como humanos (seres
sociais e culturais). A linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao
pensamento, ela nos envolve e nos habita, assim como a envolvemos
e a habitamos. Ter experiência da linguagem é ter uma experiência
espantosa: emitimos e ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas
sem que saibamos como, experimentamos sentidos, significados,
significações, emoções, desejos, idéias”.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2001. p. 147.

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B. Norma culta e variedades linguísticas

● Variação e norma;
● As variedades regionais e sociais;
● As variedades estilísticas: registro, gíria;

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Variação e norma
● Manifestações diferentes daquela a que estamos
acostumados → vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe
● Línguas naturais → sistemas dinâmicos, sensíveis a diversos
fatores (geografia, sexo, idade, classe social, grupo social,
grau de formalidade etc. → múltiplas apresentações
● Certo X Errado
● Norma culta → prestígio social, situações formais, públicas,
uso escrito acadêmico, livros, jornais e revistas
● Variedades linguísticas → sistemas linguísticos adequados à
expressão das necessidades comunicativas e cognitivas dos
falantes → práticas sociais, hábitos culturas, comunidade
● Estigmas, discriminação social, preconceito linguístico
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Variedades regionais, sociais, situacionais,
histórias
● Regionais (distópica - dialetos)
■ fala → ex.: diferentes estados NE → interior → litoral X RS, SC, PR…
(aspectos fonéticos de destaque)
■ diferentes vocábulos → macaxeira, mandioca, aipim…
■ “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus
esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego” (Grande
Sertão Veredas - J. Guimarães Rosa)
● Sociais (diastrática - “populares” X “cultas”)
● prestígio social / escrita padrão / norma escrita e norma oral culta
● “craro”; “muié”; “pobrema”; “os menino”

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● Situacionais (diafásica)
■ língua, pra que te quero?
■ situação de uso da linguagem
■ romance, paquera X emprego X criança X acadêmico…
● Históricas (diacrônica)
● Mudanças de som, de forma/grafia, de significado
● Vossa mercê → vosmecê
● → vancê → você
● pharmácia / farmácia
● “questã” - questão

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As mariposa - Adoniran Barbosa

https://www.youtube.com/watch?v=wBaC56uCBDU

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Variedades estilísticas: registros, gírias
● Registros linguísticos (variações de estilo)
■ Formalidade no contexto de interlocução (proximidade entre
os falantes)
■ Situações formais X informais (orais e escritas)
■ Graus de formalidade e informalidade
● Gíria (jargão)
■ Vocabulário de determinado grupo
■ Definição da identidade de dado grupo social → meio de
exclusão de outros externos ao grupo (ininteligível, datada)
■ Caráter contestador → comportamentos críticos/
transgressores (happers, funkers, surfistas, presidiários etc.)
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Gírias datadas ● Gamado = Apaixonado
● À beça l
● Grilado = Preocupado
● Beca = Roupa elegante
● Bicho = Amigo
● Joia = Legal
● Boa pinta = Pessoa de boa aparência ● Pão = Homem bonito
● Borocoxô = Tristinho ● Patota = Turma, galera
● Botar pra quebrar = Causar, acontecer ● Pé de valsa = Indivíduo que dança bem
● Broto = Mulher jovem e atraente
● Pindaíba = Sem dinheiro
● Bulhufas = Absolutamente nada
● Carango = Carro
● Pintar = Aparecer
● Careta = Pessoa conservadora ● Pombas! = surpresa ou indignação
● Chapa = Amigo ● Pra frente = Moderno
● Chato de galocha = Pessoa muito irritante ● Quadrado = Conservador
● Dançou! = Perdeu!
● Sacou? = Entendeu?
● Dar no pé = Ir embora
● De lascar = Situação complicada, difícil
● Serelepe = Alegre
● Do arco da velha = Algo antiquado ● Supimpa pra dedéu = Algo muito legal
● Dondoca = Mulher da alta sociedade ● Transado = Com visual bonito, moderno
● Estourar a boca do balão = Arrasar, extrapolar ● Traquinas = Criança aprontona
● Fichinha = Algo fácil ● Tutu = Dinheiro
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Lisboa: aventuras
José Paulo Paes Tomei um expresso
Cheguei de foguete
Subi num bonde
Desci de um elétrico
Pedi cafezinho
Serviram-me uma bica
Quis comprar meias
Só vendiam peúgas
Fui dar à descarga
Disparei um autoclisma
Gritei "ó cara!"
Responderam-me “ó pá!”
Positivamente
As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá
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“Como brasileiros, devemos ser
poliglotas em nossa própria língua”

Evanildo Bechara - gramático e filólogo

(citado por Dino Preti, como sociolinguista)

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C. Relação entre oralidade e escrita
● Registro → sumérios e egípcios
● Sociedades ágrafas x letradas (5 a 6.000 anos)
● Escrita → história X pré-história (a fala precede a escrita)
● Atividades de leitura / escrita → minorias ativas
● Analfabetos → interpretação de símbolos
● Escrita/ fala→ diferentes necessidades comunicativas → evolução cognitiva (diferentes
modos de expressão da realidade e de raciocínio)
● Culturas essencialmente orais → relatos detalhados dos mitos, competência verbal
● Escrita → estilização da oralidade (não é a reprodução fiel)
● Modalidade oral X escrita → aprende-se espontaneamente X longo processo de
instrução formal → diferentes tipos de texto escrito → recursos formais e conteudos →
coesão → coerência → compreensão leitora → léxico → sintaxe

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II. A ESCRITA

A. A leitura e a escrita;
B. A relação entre a fala e a escrita.

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A. A leitura e a escrita

● Envolvimento
● A escola fica em uma dicotomia entre

Obrigação Prazer

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Porque é preciso ser sempre do mesmo
jeito a escrita das palavras?
Se eu e você entendemos a mesma coisa
quando escrevemos:
CASA OU CAZA CRIANÇA OU CRIANSSA
Convenção ortográfica X Realidade social
(como se deve fazer) (como eu conheço)

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Universalização da educação

Mais do que decifrar códigos é preciso:

● ter a capacidade de compreender ideias


contidas nos textos;
● compreender as posições defendidas;
● ter uma postura crítica.

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Na escola os alunos devem:

● elaborar seus próprios textos;


● escrever com desenvoltura;
● "Leitura e escrita são duas faces da mesma
atividade.”

A escrita pressupõe a leitura e a leitura


pressupõe a escrita.
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Papel de leitor e escritor dos seus
textos:
ESCRITOR: quando põe as ideias no papel,
utilizando todos os recursos que conhece;

LEITOR: quando avalia o que escreveu, lendo e


relendo, reelaborando, fazendo ajustes quando
necessário.

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B. Relação entre fala e escrita

● O que é a língua?
Você pensou na língua escrita? Isso porque fomos
acostumados a pensar na palavra escrita e não na
fala (grafema+fonema).
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Há uma relação óbvia entre fala e escrita.

… mas é necessário também pensarmos nos


sons da língua e como eles se organizam, para
conseguirmos fazer uma rede de oposições
significativas, criando distinções semânticas.

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III. O TEXTO

A. Texto, contexto e interlocução


● O que é um texto?
● A relação entre texto/ contexto.
● Os textos e seus interlocutores.

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O que é um texto?
● Um texto é uma manifestação linguística
produzida por alguém, em alguma situação
concreta (contexto), com determinada intenção.

FOGO!!!!

Isso é um texto?
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O que dá sentido a um texto é a
combinação destes fatores

● linguístico;
● contextual;
● intencional.

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Outros aspectos importantes:

● o texto é sempre dirigido a alguém;


● existência de um interlocutor;
● há diferentes tipos de interlocução;
● interação entre autor e interlocutor;

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Relação entre texto e contexto

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Quais conclusões você pode tirar
dessa carta?
agora sabendo que ela foi publicada no ano de
1995 em revistas de circulação nacional
veiculada a uma propaganda que, ao lado da
fotografia de uma praia havia a carta
endereçada a um casal de amigos;

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Contexto:
● Veiculação em revistas de circulação nacional;
● Não pode ser uma carta de Bernardo aos
amigos;
● Quem é o interlocutor?
● Qual a intenção da publicação em uma revista?
● Texto propaganda elaborado por profissionais
que criaram um contexto para “vender”.

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Os textos e seus interlocutores

Para cada texto, não há só um contexto, mas


também um interlocutor preferencial.

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IV. ATIVIDADES DE
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
● Cálice - Chico Buarque e Gilberto Gil
● Meu Guri - Chico Buarque

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Canção: “Meu Guri”, de Chico Buarque
● 1ª versão, com o próprio compositor

https://www.youtube.com/watch?v=3wQwBoCo-j4
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Outras versões de “Meu guri”
● Observe como a interpretação de Elza Soares na 2ª versão e as imagens na
3ª versão contribuem para a construção de sentidos do texto

https://www.youtube.com/watch?v=TBBVVELSago 40
Interpretação - construindo sentidos para o texto
1. De que trata a canção?
2. Como você interpreta a primeira estrofe da canção?
3. E as duas últimas estrofes? O que pode ser entendido?
4. Qual a intenção do jogo de sentidos entre o substantivo “rebento” e o verbo
“rebentar”?
5. Como o eu lírico entende a expressão “Ele disse que chegava lá”, que se
repete na canção?
6. O que o compositor denuncia nesta canção?
7. . Localize, na letra da canção:
a) expressões ou orações que indiquem tempo (or. subordinadas adverbiais
temporais).
b) expressões ou orações que indiquem finalidade (or. subordinadas
adverbiais finais).
c) expressões ou orações que indiquem consequência (or.subordinadas
adverbiais consecutivas).
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Canção: “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil

https://www.youtube.com/watch?v=RzlniinsBeY

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Interpretação - construindo sentidos para o texto
Observe atentamente as relações expressas a seguir e releia a letra
da música:

● Cálice ⬄ preste atenção no som dessa palavra


● Labuta ⬄ trabalho
● Cuca ⬄ mente, pensamento (gíria)
● Filho da santa ⬄ refere-se à visão de pátria santa, justa, que os
militares queriam passar à população.
● Pileque ⬄ estado de quem se embebedou; bebedeira
● Homérico ⬄ algo que tem o caráter extraordinário, fantástico,
desmedido das cenas épicas presumivelmente descritas por Homero.
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Interpretação - construindo sentidos para o texto
1. Sabendo que a música foi escrita durante o período da ditadura militar no
Brasil, de que ela trata?
2. É possível afirmar que, entre outros temas, a música aborda a censura.
Explique.
3. Interprete os versos a seguir.
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
4. Na tradição católica, o vinho (servido em um cálice) e a hóstia representam o
sangue e o corpo de Cristo, respectivamente. Tendo essa analogia em mente,
como podemos interpretar o refrão dessa canção?
5. . Leia a última estrofe da canção. Que analogias é possível fazer com o
período da ditadura? 44
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
● ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL,
Tatiana. Português - língua e literatura. São Paulo: Moderna, 2000.

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