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15 de Novembro de 2022

Diferenças entre o Instituto da Concordata e da


Recuperação Judicial

L Publicado por Lucas Boarin há 8 anos  18,8K visualizações

Com o advento da Nova Lei de Falências, o instituto da


Concordata foi extinto, visto que não mais cumpria com sua
função ante as modificações ocorridas no cenário econômico e
na própria sociedade como um todo, e foi criado o instituto da
Recuperação Judicial e Extrajudicial.

Visto que a Lei 11.101/05 é uma evolução da antiga Lei de


Falencias, esta trouxe consigo profundas mudanças no
Ordenamento Jurídico pátrio, principalmente no tocante ao
Direito Empresarial.

A análise comparativa realizada entre o Decreto-Lei 7.661/45 e


a nova Lei de Falências deve abarcar os mais diversos prismas:

Primeiramente no tocante à aplicabilidade, a


Recuperação Judicial é mais abrangente, pois engloba
toda e qualquer empresa em crise econômico-
financeira, diferentemente da Concordata, que era um
instituto disponível para poucos, apenas empresas
insolventes que demonstrassem real possibilidade de
recuperação.
Analisando a autonomia do magistrado é possível verificar que
na Concordata este possuía amplos poderes e a decisão para o
deferimento ou não desta; já na Recuperação o poder de decisão
que antes ficava concentrado nas mãos do magistrado passou a
ser dos credores.

A Recuperação além de criar novas opções de pagamento,


aumentando consequentemente as possibilidades de solução do
débito, manteve em seu texto o que era vantajoso no instituto da
Concordata, como por exemplo, a dilação do prazo para que os
pagamentos sejam efetuados, contudo no tocante a remissão de
parcela da dívida não mais consta em seu texto, apesar de poder
ser discutida no Plano.

Apesar das mais profundas modificações, a natureza jurídica do


instituto que tutela superação da situação de crise econômica e
financeira do devedor permanece a mesma. Apesar de
atualmente os credores possuírem grande poder de decisão,
existindo inclusive um Comitê de Credores que tem o condão
para deliberar acerca do Plano, podendo inclusive rejeita-lo,
tanto a Concordata quanto a Recuperação Judicial tem natureza
jurídica processual. O único instituto que destoa, possuindo
natureza jurídica diversa é a Recuperação Judicial não
homologada, pois esta é de caráter contratual.

Outro ponto em que divergem os referidos institutos são as


condições estabelecidas em Lei para a concessão destas
benevolências. Diferentemente da Concordata, que exigia a
inexistência de titulo protestado para que fosse concedida, a Lei
11.101/05 retirou tal condicionante, pois submetia o devedor
insolvente a uma situação de extrema fragilidade, visto que
ficava a mercê da boa-fé de seus credores.
Porém, apesar de retirar algumas, estabeleceu outras
condicionantes, como por exemplo, a necessidade de
apresentação do plano de recuperação, pois a Recuperação
abrange não só os créditos quirografários como a Concordata o
fazia, mas sim todos os créditos constituídos ao tempo da ação,
desprestigiando as exceções legais. Frisa-se ainda que os
créditos gerados após a decretação da Recuperação, caso a
empresa recuperanda viesse a falir, foram classificados como
extraconcursais, de forma a não restarem prejudicados os que
auxiliarem a empresa na manutenção das atividades
empresariais, respeitado, portanto o princípio da manutenção
da empresa e de sua função

Ante a importância destes institutos no cenário nacional, fica


evidenciada a necessidade da presença de um “fiscal” para seu
regular funcionamento. A antiga lei denominava esse fiscal
como Comissário, escolhido pelo magistrado, devendo esse ser
um dos maiores credores, artigo 161; de forma oposta,
estabelece a Lei 11.101/05 que esse fiscal será chamado de
Administrador Judicial, devendo este ser profissional idôneo,
afastado o requisito de que este fosse credor, artigo 21. É
importante ressaltar que no caso de afastamento do
administrador, hipóteses previstas por lei, a Assembleia de
Credores será convocada para nomear um novo administrador,
artigos 64[1] e 65[2] desta lei.

[1] Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o


devedor ou seus administradores serão mantidos na condução
da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver,
e do administrador judicial, salvo se qualquer deles
[2] Art. 65. Quando do afastamento do devedor, nas hipóteses
previstas no art. 64 desta Lei, o juiz convocará a assembléia-
geral de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial
que assumirá a administração das atividades do devedor,
aplicando-se-lhe, no que couber, todas as normas sobre deveres,
impedimentos e remuneração do administrador judicial.

Fontes Biliográficas:

1. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova Lei de


Recuperação e Falencias Comentada. 7. Ed. Da obra Lei de
Falencias Comentada. São Paulo: RT, 2011.

2. COELHO, FÁBIO ULHOA –Comentários à Lei de Falencias


e de Recuperação de Empresas – 8 ed. São Paulo: Ed.
Saraiva 2011

3. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Falimentar – vol. 2


– 14ª edição – Ed. Saraiva,

Disponível em: https://lucasboarin.jusbrasil.com.br/artigos/137611655/diferencas-entre-o-


instituto-da-concordata-e-da-recuperacao-judicial

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