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Direito penal
econômico
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Góes, Luciano
SST Direito penal econômico / Luciano Góes
Ano: 2020
nº de p.: 11

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Direito penal econômico

Apresentação

Caracteriza-se crime econômico a ação que desequilibra os direitos fundamentais


sobre os quais o desenvolvimento econômico deve se pautar e resguardar. Dessa
forma, coloca em confronto os bens jurídicos influenciados, direta ou indiretamente,
pelas relações econômicas na ordem pública, privada e mista, cujo resultado é
a lesão ou a ameaça de lesão à ordem econômica. E é sobre isso que fala esta
unidade. Bons estudos!

Primeiras aproximações de Direito


Penal Econômico

Curiosidade
Direito Penal Econômico: É concebido pela doutrina como um ramo
do Direito Penal que visa proteção à atividade econômica dirigida
pelo Estado. Sua intervenção na economia assinala a limitação e
redução dos direitos liberais que pregam a não intervenção estatal
na economia.

A seguir, detalharemos algumas características introdutórias sobre esse ramo e,


posteriormente, traremos suas especificidades. Vamos lá?

Conceito e contextualização

A historicidade do Direito Penal Econômico remonta a Primeira Guerra Mundial com


a intervenção estatal na economia a partir da criminalização de condutas contrárias
às disposições governamentais, culminando com o Projeto Alternativo do Código
Penal alemão, de 1977.

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A proteção estatal na ordem pública econômica foi imprescindível, dadas as


enormes desigualdades sociais provocadas por sua ausência por conta do laissez-
faire, laissez passer. Isso resultou na exploração ilimitada, culminando com a
criação dos direitos coletivos sociais, como, por exemplo, os direitos trabalhistas.

Atenção
A tutela estatal se faz necessária para tornar a estrutura econômica
e financeira sólida para atender às demandas sociais em busca
da efetividade dos direitos fundamentais básicos, bem como aos
princípios mercadológicos que orientam a economia em nível
internacional.

Por ser um instrumento de proteção de bens jurídicos coletivos que, em última


análise, pressupõe a intervenção na economia, o desafio que se coloca é o
enfrentamento do poder econômico de grandes empresas internacionais,
multinacionais, aglomerados empresarias etc.

Fundamentos, princípios gerais e classificação

Decorrente da confusão provocada pela ausência de uma linha limítrofe entre


conceito e bem jurídico tutelado, o fundamento do Direito Penal Econômico
situa-se na proteção da atividade econômica, imprescindível para o progresso e
desenvolvimento estatal.

Também, para que sejam alcançados e tutelados, de modo proporcional, os


objetivos estabelecidos nos arts. 3º, 170 e seguintes da Constituição apontam
como seus princípios norteadores: a valorização do trabalho humano, a soberania
nacional, livre iniciativa, justiça social, propriedade privada e sua função social e
livre concorrência.

No cenário do Direito Penal Econômico, temos tipos penais específicos relacionados


à criminalidade própria do ramo empresarial, o crime organizado, os crimes de
colarinho branco, dentre outros.

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Os princípios básicos do Direito Penal Econômico, originários do direito penal,


visam resguardar o direito fundamental da liberdade em face de delitos de pouca,
ou nenhuma, repercussão na vida social.

1. Princípio da intervenção mínima:

De caráter universal, é decorrente da Declaração dos Direitos dos Homens e


do Cidadão de 1789. Possui duas funções: estabelecer o marco de vedação
ao Estado na utilização do Direito Penal na seara dos direitos inerentes à livre
iniciativa e à livre concorrência; abster-se da utilização de seu funcionamento
violento e efeito etiquetador em ações cujo resultado danoso possa ser
revertido por outros ramos de nosso ordenamento.

2. Princípio da fragmentariedade:

Estrutura o Direito Penal como um todo, já que resulta de princípios básicos


de um sistema penal democrático, como o da intervenção mínima, da
lesividade e subsidiariedade. Tal princípio estabelece que a tutela penal
somente resguarda bens jurídicos fundamentais.

3. Princípio da proporcionalidade:

No Direito Penal Econômico, este princípio tem sentido amplo, por objetivar
a garantia de que direitos fundamentais não sejam violados por ações que
não causem danos, lesões ou ameaças, a bens jurídicos importantes, que
mereçam, de fato, a tutela penal.

Bens e interesses

Como já estabelecido, o Direito Penal Econômico é um sistema normativo que


visa tutelar a política econômica do Estado. Portanto, não recai sobre o fenômeno
econômico em si, mas sobre a integridade da ordem a partir da criação de um rol
dos delitos econômicos, em respeito ao princípio da legalidade, que tipifica as ações
que afetam relevantemente os direitos e interesses coletivos no âmbito econômico,
os comportamentos abusivos na vida econômica e suas atividades conexas, que
normalmente estão ligadas à atividade empresarial.

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Reflita
Você sabia que O Direito Penal Econômico não recai sobre o
fenômeno econômico em si, mas sobre a integridade da ordem a
partir da criação de um rol dos delitos econômicos?

Crimes econômicos em espécie


A seguir, detalhamos os crimes que se enquadram como crime econômico.

Crimes praticados por prefeitos


São estabelecidos no Decreto-Lei nº 201/67, que dispõe sobre a responsabilidade
dos Prefeitos e Vereadores. Os sujeitos ativos são os prefeitos, vereadores, ex-
prefeitos e pessoas que participam de qualquer forma, desde que tenham agido
dolosamente.

O bem jurídico protegido é a Administração Pública municipal, especialmente a


moralidade e probidade da administração pública municipal em relação às suas
finanças.

Crimes contra o mercado de capitais


A Lei nº 6.385/1976 dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a
comissão de valores mobiliários (CVM), que tipifica crimes de perigo abstrato, cuja
origem é a ficção legislativa de criar uma “proteção” penal antecipatória do dano.

Atenção
O perigo deve ter um potencial lesivo concreto, sob pena
de estarmos diante de um crime impossível por absoluta
impropriedade do meio.

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O bem jurídico tutelado é a integridade do mercado, tentando impedir operações


simuladas ou manobras fraudulentas que afetem o livre exercício e formação de
preços dos valores mobiliários.

Crimes contra o sistema financeiro nacional


A Lei nº 7.492/1986 é conhecida como a lei dos “crimes de colarinho branco”. que
possuem por características importantes:

• Posição socioeconômica privilegiada do agente passivo que comete o ilícito


patrimonial (econômico/financeiro), utilizando-se dos conhecimentos espe-
cíficos e técnicos de sua profissão, dificultando a identificação do delito no
sistema econômico.
• Não etiquetamento de “criminoso” – o não enquadramento no estereótipo
identifica fácil e imediatamente o criminoso comum, conferindo uma certa
invisibilidade a essas ações delituosas que, muitas vezes, não são conside-
radas crimes e, portando, não são investigadas, pois, em sua grande maioria,
não há emprego de violência contra pessoa, já que o agente se utiliza do pró-
prio sistema para cometer o ato ilícito que se manifestar de inúmeras formas.

Em seu art. 1º, a Lei define o que é considerado uma instituição financeira, e, no
parágrafo único, encontramos as instituições financeiras por equiparação.

No art. 4º, especifica-se o delito de gestão fraudulenta e/ou temerária de instituição


financeira, em que é necessário que a prática delituosa seja reiterada de atos ilícitos
(crime habitual).

Curiosidade
Crime de gestão fraudulenta e/ou temerária: É caracterizado
por atos administrativos, diretivos ou de gerência, com dolo em
fraudar, manobrar a instituição ilicitamente, ou, sem os cuidados
devidos em transações de risco (art. 4º, Lei nº 7.492/86).

No art. 5°, temos a apropriação indébita financeira, tipificação semelhante ao


crime comum de apropriação indébita encontrado no Código Penal. Já no art. 16,
encontramos o crime de funcionamento irregular de instituição financeira.

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Saiba mais
Houve revogação parcial do art. 16 da Lei nº 7.492/86 pelo art.
27-E da Lei n. 6.385/76. Essa revogação decorre da especialidade
da Lei nº 6.385/76, por ela ser restrita ao âmbito de atuação no
mercado de valores mobiliários, ampliando as condutas típicas.

No art. 22, temos o crime de evasão de divisas, que se caracteriza com a remessa
de moeda (divisas) para o exterior através de operações de câmbio sem autorização
legal (a chamada “lavagem de dinheiro”), ou manutenção, no exterior, de depósitos
sem declaração à Receita Federal.

Extinção da punibilidade
Nos delitos tipificados pela Lei nº 8.137/90, existe uma causa de extinção da
punibilidade das ações delituosas de sonegação fiscal, prevista no art. 9º, da Lei n.º
10.684/03.

Crimes contra as ordem tributária e


econômica e as relações de consumo
A Constituição Federal estabelece os direitos do consumidor em três dispositivos:
no art. 5º, inc. XXXII (clausula pétrea), no art. 170, inc. V, e no art. 48 da ADCT.

O Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, regulamenta, junto com a Lei


8.137 do mesmo ano, as disposições constitucionais e as relações de consumo.

Os princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor (CDC) estão


estabelecidos em seu art. 4º.

Em seu art. 61, o CDC estabelece que os crimes elencados ocorrem nas relações
de consumo, ou seja, decorrem da relação entre o “consumidor”, conceituado em
seu art. 2º (sujeito passivo direto, sendo a sociedade o polo passivo indireto), e o
“fornecedor”, sujeito ativo, (art. 3º, caput), envolvendo “produtos” (art. 3º, § 1°) e
“serviços” (art. 3º, § 2°) (BRASIL, 1990).

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Em seus arts. 63 a 74, o CDC tipifica os crimes contra as relações do consumo,


sendo os bens jurídicos tutelados os consumidores (imediato), os direitos
fundamentais de vida, saúde, integridade física, patrimônio etc., (mediato), e as
relações consumeristas justas. Os bens jurídicos decorrem de natureza diversa,
dependendo dos interesses ou direitos colocados em risco ou lesados, que, de
acordo com o art. 81 podem ser:

1. Individual:

Bens jurídicos divisíveis em relação ao titular (vida, a integridade física, a


propriedade etc.).

2. Difusos:

São transindividuais, de natureza indivisível, cujos titulares são pessoas


indeterminadas ligadas por circunstâncias de fato.

3. Coletivos:

Bens jurídicos transindividuais, de natureza indivisível, cujos titulares podem


ser: grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base,

4. Individuais homogêneos:

Bens jurídicos decorrentes de origem comum.


O elemento subjetivo pode ser o dolo, direto ou eventual, e a culpa.

O art. 75 do CDC trata das formas de participação nos crimes, considerando a


culpabilidade de cada agente, incluindo o diretor, administrador ou gerente da
pessoa jurídica, e o art. 76 traz as circunstâncias agravantes.

Em relação à Lei nº 8.137/90, nos arts. 1º e 2º, encontramos as ações típicas do


delito de sonegação fiscal contra a ordem tributária. No art. 3º, temos a tipificação
dos crimes funcionais, ou seja, aqueles realizados por funcionários públicos
definidos no art. 327 do Código Penal.

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Nos arts. 4º, 5º e 6º, temos os delitos contra a ordem econômica, que visam tutelar
a livre concorrência e a livre iniciativa. Em seu art. 7º, a lei trata dos delitos contra
as relações de consumo.

O bem jurídico, nos incisos I a IX, são os interesses socioeconômicos do


consumidor (sujeito passivo direto), a coletividade e o mercado (sujeitos passivos
indiretos). Trata-se de norma penal em branco, que deve ser complementada pelo §
6º do art. 18 do CDC, que define o que são produtos impróprios ao consumo.

No art. 16, parágrafo único, temos a legalização da “traição benéfica”, como


conceitua a doutrina, ou a “delação premiada”, como é conhecida popularmente.

Diz o dispositivo: “cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe


que através da confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda
a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços” – aqui, não se
determina que a delação seja eficaz, e, por imposição do princípio da legalidade, o
juiz não pode exigir a eficácia da delação, que possui por requisitos objetivos:

• a prática de qualquer das ações tipificadas na lei contra a ordem tributária;


• ser cometido em quadrilha;
• o delator deve ser coautor ou partícipe;
• a confissão deve ser espontânea;
• a confissão deve revelar toda a toda a fraude empregada nas ações crimino-
sas à autoridade policial ou judicial.

Conclusão
O desafio que se coloca é o enfrentamento do poder econômico de grandes
empresas internacionais, multinacionais, aglomerados empresarias, etc., enfim,
uma enorme gama de instituições. Essas estruturas e funcionamento demandam
do Estado um sistema jurídico que consiga proteger sua economia em termos
nacionais e popular.

Isso porque o Direito Penal Econômico se caracteriza como um instrumento


de proteção de bens jurídicos coletivos, em última análise, que pressupõe a
intervenção na economia, restringindo e diminuindo, assim, as privilégios contidos
no (neo)liberalismo.

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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986. Define os crimes contra o sistema


financeiro nacional, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 18 jun. 1986.

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do


consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União, 10 set. 1990.

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