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Universidade de São Paulo

Faculdade de Educação
Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação

Filosofia da Educação I
Prof.ª Dra. Maria de Fátima Simões Francisco

Fichamento 2
A Educação Contra a Barbárie, de Theodor Adorno

Lara de Souza Melicio Rodrigues


Nº USP: 8975301

São Paulo
2020
Com a ideia de continuar as ideias expostas no fichamento anterior, o texto em
escolhido para este trabalho foi A Educação Contra a Barbárie, também do filósofo Theodor
Adorno, capítulo seguinte ao Educação – para quê?, de seu livro Educação e Emancipação.
Assim como o previamente em leitura, este texto se trata de uma entrevista que ele deu à
Rádio de Frankfurt, em forma de dialogo com Hellmut Becker, diretor do Instituto de
Pesquisas Educacionais da Sociedade Max Planck.
Adorno abre a discussão com uma ideia principal de que a questão mais urgente da
educação na época seria o “desbarbarizar” o individuo. Tendo a barbárie como um atraso com
uma forma “peculiarmente disforme” de um individuo em relação a sua própria civilização,
não apenas levando em conta sua experimentação e formação, mas também uma
agressividade primitiva, com um impulso de destruição, que levaria uma explosão da
sociedade, a educação deveria transformá-la. Principalmente porque, segundo Adorno, “a
tentativa de superar a barbárie é decisiva para a sobrevivência da humanidade”.
Para Becker, nem tudo é possível para a educação, pensando que tentar introduzir
fatos nela pode levar a barbárie de forma indiretamente, algo que Adorno se contrapõe
dizendo que sim, existe na educação, ainda, ideias que beiram a barbárie, como a opressão e
repressão mascaradas como “cultura”, mas o fundamental seria uma educação onde fosse
colocada a questão da barbárie como peça central da consciência, o que levaria a uma
mudança e um caminho contrário a ela por si só. Porém, o diretor volta a falar dos extremos:
se é dada uma grande ênfase a essa desbarbarização, acarretará em um freio na mudança da
sociedade, evitando o desenvolvimento, desviando de novos – e importantes – caminhos.
Ademais, o filósofo acrescenta que toda a humanidade está suscetível a carregar traços
tidos como bárbaros, de certa agressividade, presente inclusive em forma de revolta, mas que
devem ser orientados conta o princípio da barbárie, para que não leve o indivíduo em direção
à desgraça. Quando a questão de rebeldia política de grupos, principalmente jovens,
aparecem em forma de “barbaridades”, Adorno afirma que essas manifestações mostram que
a educação agiu de maneira correta, realizando seu papel, no sentido de que as pessoas não se
deixaram ter sua espontaneidade retirada, não apenas obedeceram uma ordem a elas impostas,
indo contra isso, mesmo agindo agressivamente no processo. Bárbaros são os grupos como a
policia que reprimem esses jovens quando mandados pelos poderes políticos.
Em sua definição de barbárie, Adorno diz que ela existe em todo lugar onde tenha uma
regressão à violência física primitiva, sem estar ligada diretamente a questões racionais da
sociedade, e que exista, portanto “a identificação com a erupção da violência física”.
Outrossim, se essa violência surge como reação e luta para condições humanas mais dignas,
com considerações racionais, mesmo que se afaste do considerado legal, não pode ser
considerada com barbárie, como no caso dos jovens e as manifestações políticas. Inclusive,
essas reflexões sobre fins humanos, sobre o serviço à serviço da humanidade, devem ser
transparentes, e não abstratas, pois não podem ser usadas como justificativa para atos em seu
interior bárbaros.
Então, Becker surge com uma pergunta: “como educar jovens para que efetivamente
apliquem essas reflexões a objetivos humanos?”, seria isso algo capaz de ser realizado por
eles pensando na forma como algumas escolas agem? Pois partindo de uma educação que
premia a competitividade e prestigia as crianças e jovens por essa competição, sendo vista em
vários lugares do mundo como um principio pedagógico saudável, há um direcionamento para
a barbárie. A isto, Adorno afirma que a competição de fato é contrária a uma educação
humana, e que escolas humanizadas existem, e que não pretendem gerar o instinto de
competição, mas sim realizar o que era aprendido e refletir sobre os erros e dificuldades que
se passem em experiência escolar.
A escola deveria desestimular essa competição, e não deixar com que as pessoas se
deem “cotoveladas”, por isso é uma expressão da barbárie. É citada, assim, a educação
britânica, que mesmo com suas falhas, principalmente em volta da ideia de se tornar sempre
“mais brilhante”, algo hostil ao espirito do estudante, se baseia principalmente no conceito de
fair play, ou “jogo limpo/justo”, para barrar essa competitividade e desejo de sucesso em cima
de outros. Sendo a atividade física uma importante atividade lúdica, é fundamental tirar dela
essa competição desenfreada, voltando ao infles fair play.
As crianças e jovens devem ser ensinados a se relacionar com outras pessoas e com o
mundo a seu redor, e não deixar essa sua relação com as coisas sejam sobrepostas pela
competição. A desbarbarização seria alcançada quando o aluno tivesse a seu alcance uma
serie de coisas e ideias, para que tivesse uma seleção mais ampla, e, por pensamento critico e
analise individualizada, uma melhor escolha do que lhes é oferecido.
Para aprofundamento na sociedade, Adorno diz que a cultura faz com que as pessoas
experimentem fracassos, o que pode gerar uma culpa que se traduzirá em uma agressividade,
isso porque, a cultura dividiu os homens, que não mais confiam nela, e se colocam contra ela.
A ideia não seria criar uma sociedade inofensiva e passiva, mas sim com esclarecimentos, que
viria através da educação, para que o homem não se omita diante do horror, mas que não aja
desenfreadamente e sem uma razão favorável à sua humanidade. A desbarbarização não seria
a total eliminação da agressão, mas que essa fosse apenas utilizada quando necessária, quando
justificada por um bem ao homem.
A educação contra a barbárie levaria os adolescentes a se envergonharem quando se
utilizarem da violência física desenfreada, levariam a uma vergonha da própria violência
física, e não os deixariam tolerar a brutalidade dos outros, mesmo que haja exceções em que a
antibarbárie precise da barbárie, e que ela seja reconhecida de tal modo e de forma clara. Tal
atuação da educação deveria acontecer desde a pré-escola, de forma a ser desenvolvida desde
muito cedo, para iniciação dessa adaptação. No entanto, a escola deve ter uma autoridade
transparente, as crianças devem entender o motivo da autoridade ir contra a violência física e
a barbárie, de forma bastante clara, para que entendam e não se coloquem contra essas ideias
em rebeldia, e essa autoridade não pode, de forma alguma, usar da violência nesse
ensinamento, não pode se contradizer.
Referências

ADORNO, Theodor. A Educação Contra a Barbárie. In: Educação e Emancipação. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 2006. p. 155-168.

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