Ed.

142
07 de dezembro de 2020

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 Durante esta, e as duas próximas edições,

abordaremos cada um dos mecanismos

A evolução da espécie humana aconteceu,
contrarregulatórios mais importantes,
na maior parte do tempo, em um ambiente
começando pela Termogênese Adaptativa
onde a escassez de alimentos era regra, e a
(TA).
abundância, exceção.

Tal pressão evolutiva fez com que o

organismo humano desenvolvesse diversos

mecanismos que agissem contra o

Basicamente, todos os tecidos do organismo
emagrecimento e favorecessem o ganho de
gastam alguma energia para exercer suas
peso, buscando estocar energia para os
funções básicas, entre eles o tecido adiposo
períodos mais difíceis.
(4,5 kcal/kg/dia) e o tecido muscular (13
Estes mecanismos recebem o nome de cal/kg/dia). A este gasto “básico”, damos o
mecanismos contrarregulatórios do nome da Taxa Metabólica Basal (TMB).
emagrecimento e podem ser percebidos
Em um processo de emagrecimento, a maior
durante, ou mesmo após, um processo de
parte do peso perdido vem destes dois
perda de peso.
tecidos (muscular e adiposo) e água, assim,
Em resumo, os mecanismos pela redução na quantidade de tecidos, é
contrarregulatórios, por vários meios, esperado que o emagrecimento diminua o
tentam diminuir o gasto de energia e gasto calórico do metabolismo basal.
aumentar o aporte calórico da dieta,
Com estudos a respeito do tema,
favorecendo o estabelecimento de um
percebemos que a diminuição do TMB era
superávit.
maior do que apenas a diminuição prevista
Na prática, precisamos conhecer os quando consideramos a perda da massa de
mecanismos e saber quais podem ser tecidos, assim, surgiu o conceito de
“burlados” e quais precisam ser termogênese adaptativa (TA). Segue
considerados no planejamento. exemplo:

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 Um indivíduo perde 10kg, sendo 7 de Considerando apenas os estudos onde a TA é

gordura, 1 de massa magra e 2 de água encontrada, temos graus de relevância

corporal. Esperamos que o gasto energético diferentes para cada indivíduo.

basal seja reduzido em (7kg x 4,5kcal) + (1kg
Indivíduos com sobrepeso.
x 13kcal) = 44,5 kcal.
No estudo de Martins e col. um grupo de
Na prática, observamos que esta redução é
mulheres com sobrepeso foi submetido a
maior, cerca de 100 kcal, por exemplo. Então
um processo de emagrecimento.
consideramos que a T.A. nesse caso foi de
Antes da intervenção, a média de peso era de
(44,5kcal -100kcal) = 55,5 kcal/dia.
78kg, e a TMB média das participantes era de
A TA é a diferença entre a diminuição no
1392 kcal/dia.
TMB prevista pela perda de tecidos, e a
Logo após a intervenção, esse valor caiu para
diminuição real observada.
65,7kg e 1307 kcal/dia, um ano depois para

71,7kg e 1358kcal, e dois anos depois, para

75,1kg e 1369kcal.

Nesse estudo, a diminuição do metabolismo

A maioria dos estudos indicam que a TA
é pouco relevante: 85kcal logo após a
acontece em todo e qualquer processo de
intervenção, sendo que apenas 41 kcal
emagrecimento, com magnitude maior ou
representam a TA.
menor, mas nem mesmo a existência da TA
é um consenso. Em alguns casos o impacto do
emagrecimento no metabolismo pode
O estudo de Ostendorf e col. indica que em
ganhar relevância.
indivíduos que passam por um processo de

emagrecimento e conseguem manter o peso Indivíduos eutróficos

por, pelo menos, um ano, não parece ocorrer

No Minnesota Starvation Study, onde
uma diminuição do TMB maior do que a
indivíduos eutróficos foram submetidos à
prevista pela perda de tecidos.
restrição calórica severa, a TA foi de 350 a

400 kcal/dia. Este aumento da TA

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 provavelmente aconteceu pela perda Sabemos que a atividade física tem o poder

importante de massa magra, uma vez que os de aumentar a massa magra, o gasto calórico

indivíduos não apresentavam obesidade ou diário, e o gasto calórico de repouso. Assim,

sobrepeso antes da intervenção. podemos imaginar que indivíduos que

associam o emagrecimento a um programa

Então quando consideramos perda de peso
de exercícios não estarão sujeitos à TA.
expressiva, em indivíduos já eutróficos, a TA

ganha grande importância, porém este não é Embora plausível, isto não é o observado.
um cenário comum na prática clínica.
Mesmo quando há a prática de exercício

Alto grau de obesidade físico, a diminuição da TMB além do previsto

pela perda de tecidos ainda acontece, sendo
Em estudos com indivíduos com alto grau
que alguns estudos mostram que o exercício
de obesidade, que perdem uma grande
é capaz de atenuar, mas não extinguir, a TA.
quantidade de peso corporal, a TA também

parece ser importante. Além da diminuição da TMB, podemos

observar adaptações metabólicas também

No estudo de Fothergill e col. os indivíduos,
durante o exercício. Aparentemente o
antes da intervenção, apresentavam peso
emagrecimento e o déficit calórico são
corporal médio de 148 kg. Após 30 semanas,
capazes de diminuir a quantidade de energia
o peso médio foi diminuído para 90,6 kg.
gasta durante o exercício.
Nesse caso, a TMB foi diminuída de 2600
Isso não quer dizer que a prática de exercício
para 1990kcal/dia (redução de 610
físico não é benéfica para o emagrecimento.
kcal/dia), sendo que aproximadamente
Ela age por diversos outros mecanismos,
300kcal se devem à TA.
abordados no artigo de Hunter e col.
Alguns fatores podem agravar ou atenuar a
TA em um indivíduo, vamos a eles:

Embora de qualidade menor, existem

evidências de que ciclos sucessivos de perda

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 e reganho de peso aumentam a TA: mesmo 7,4kg do grupo linear) e menor redução do

quando o indivíduo reganha todo ou grande TMB (85 kcal, contra 118 do grupo linear).

parte do peso perdido, a TMB não retorna ao

nível anterior ao emagrecimento.

Nesse sentido, pacientes com várias

tentativas anteriores de emagrecimento Podemos concluir que a TA existe em
podem apresentar certo prejuízo qualquer ocasião de perda de peso
metabólico. expressiva, mas na maioria dos casos, não

parece ser clinicamente relevante.

Neste tópico, reforçamos a importância de
uma abordagem assertiva no manejo de Casos de indivíduos com elevado grau de
pacientes com obesidade, para que não estes obesidade, ou indivíduos eutróficos que
ciclos de perda e reganho não aconteçam. sofrem perda de peso significativa parecem

ser influenciados de maneira mais

agressiva, aumentando a relevância da TA.

No caso de indivíduos que passaram por

A restrição calórica intermitente, ou não uma perda de peso massiva, as adaptações

linear, acontece quando um indivíduo metabólicas da TA podem estar presentes

alterna entre períodos de déficit calórico e por até 6 anos, como evidenciado no estudo

períodos de dieta eucalórica (quando o gasto de Fothergill e col, com participantes do

total é igual ao consumo total). programa The Biggest Loser.

O estudo de Byrne e col. mostrou que o

protocolo de restrição não linear pode ser

superior à restrição linear quando tratamos

de TA. Embora prejudicial para o emagrecimento e

manutenção do peso perdido em alguns

Os participantes do grupo não linear
casos, a TA é uma adaptação inerente ao
tiveram maior perda de peso (10,9kg contra

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 emagrecimento, e não pode ser burlada ou weight-loss maintainers." The American
Journal of Clinical Nutrition 108.4 (2018): 658-
atenuada de maneira relevante. 666.

Assim, concluímos que a afirmação: dietas Martins, Catia, et al. "Metabolic adaptation is not
a major barrier to weight-loss maintenance."
de restrição calórica não funcionam pois The American Journal of Clinical Nutrition
(2020).
podem causar diminuição do
Hunter, Gary R., et al. "Exercise training and
metabolismo, não é coerente, uma vez que energy expenditure following weight loss."
esta adaptação é causada pelo Medicine and science in sports and exercise 47.9
(2015): 1950.
emagrecimento, e não pela dieta per se. A

única maneira de evitar completamente a

TA, é não emagrecendo.

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621-628.
Byrne, Nuala M., et al. "Intermittent energy • Para conhecer meus outros produtos e
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obese men: the MATADOR study." International
journal of obesity 42.2 (2018): 129-138.
Fothergill, Erin, et al. "Persistent metabolic
adaptation 6 years after “The Biggest Loser”
competition." Obesity 24.8 (2016): 1612-1619.
Major, G. C., et al. "Clinical significance of
adaptive thermogenesis." International journal
of obesity 31.2 (2007): 204-212.
Rosenbaum, Michael, and Rudolph L. Leibel.
"Adaptive thermogenesis in humans."
International journal of obesity 34.1 (2010):
S47-S55.
Ostendorf, Danielle M., et al. "No consistent
evidence of a disproportionately low resting
energy expenditure in long-term successful

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