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Giselle Medeiros da Costa One

Roseanne da Cunha Uchôa


(Organizadores)

NUTRIÇÃO E SAÚDE:
Os Desafios Do Século XXI

João Pessoa - PB
Impressos Adilson
2014

1 2
IBEA
Instituto Bioeducação

Editor Cfefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Beatriz Suzana Ovruski de Ceballos
Giselle Medeiros da Costa One Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio ou processo, seja
Helder Neves de Albuquerque reprográfico, fotográfico, gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições
Roseanne da Cunha Uchôa
aplicam-se também às características gráficas e/ou editoriais.
Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio A violação dos direitos autorais é punível como Crime (Código Penal art. 184 e §§;
Lei 9.895/80), com busca e apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFPB dos Direitos Autorais - arts. 122, 123, 124 e 126)

N976 Nutrição e saúde: os desafios do século XXI [recurso eletrônico] /


Organizadoras: Giselle Medeiros da Costa One, Roseanne da Cunha
Uchôa.-- João Pessoa: Impressos Adilson, 2014. Todas as opiniões e textos presentes neste livro são de
inteira responsabilidade de seus autores, ficando o
Modo de acesso: www.sinasama.com.br organizador isento dos crimes de plágios e informações
ISBN: 978-85-60643-31-8 enganosas.
1. Nutrição e saúde. 2. Saúde pública. 3. Psicologia. 4.Neurociências. I.
One, Giselle Medeiros da Costa. II. Uchôa, Roseanne da Cunha.
CDU: 612.39:614
© Gráfica Impressos Adilson

Rua João Alves de Oliveira, 28 - Centro - CEP 58100-250


Campina Grande - PB - Fone: (83) 3341-2500 endereço
Esta obra tem o incentivo e apoio da Coordenação de Pós Graduação do Instituto
Bioeducação

Direitos desta Edição reservados ao:


Instituto Bioeducação
Rua,Eng. Lourival de Andrade, 1405- Bodocongó – Campina Grande – PB
CEP: 58.430-030 / Telefone: (0xx83) 3321 4575 / www.institutobioeducacao.org.br
Impresso no Brasil
Email ibea@institutobioeducacao.org.br
Impresso no Brasil / Printed in Brazil 2014

3 4
“E ducação não é o quanto você tem
guardado na m em ória, nem m esm o o quanto
você sabe. É ser capaz de diferenciar entre
o que você sabe e o que você não sabe.”
Anatole France

Aos participantes do SINASAMA


pelos esforços e dedicação
na execução das atividades.

5 6
Capítulo 14 Análises físico-químicas e microbiológicas de
Abelmoschus esculentus (L.) Moench – quiabos
SUMÁRIO comercializados no município de Pombal-PB............ 177
Capítulo 15 Propriedades funcionais das proteínas de
importância em molhos e sopas................................. 189
NUTRIÇÃO E GASTRONOMIA
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Capítulo 01 Qualidade sensorial de mousses de morango
elaborados com condensado de soja industrializado
Capítulo 16 Terapia e evolução nutricional em paciente
ou caseiro.................................................................. 14
hospitalizado com síndrome nefótica: estudo de
Capítulo 02 Avaliação sensorial de biscoitos tipo cookies sem
caso............................................................................ 203
glúten......................................................................... 24
Capítulo 17 A importância do nutricionista na equipe
Capítulo 03 Qualidade sensorial de brownies isentos de glúten e
multiprofissional de terapia nutricional com ênfase
lactose........................................................................ 33
na parenteral: relato de experiência........................... 218
Capítulo 04 Gastronomia hospitalar: avaliando a concepção de
Capítulo 18 Alho (allium sativum l.) Como alimento funcional:
preparações com frutas e isentas de lactose e
uma revisão................................................................ 228
glúten.......................................................................... 43
Capítulo 05 Papel da gastronomia hospitalar no
restabelecimento de pacientes desnutridos NUTRIÇÃO E ENVELHECIMENTO
hospitalizados............................................................. 58
Capítulo 06 A gastronomia como recurso para melhorar a Capítulo 19 A alimentação como fator preponderante de um
aceitação de dietas infantis em ambiente hospitalar. 73 envelhecimento sadio................................................. 243
Capítulo 07 Utilização de cinema no ensino de gastronomia:
uma resenha crítica sobre o filme “como um chef”.... 89 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
Capítulo 08 Avaliação do estresse percebido e sua influência na
saúde dos manipuladores de alimentos..................... 99 Capítulo 20 Revisando a terapia nutricional na sepse: Conceitos
Capítulo 09 Chá verde na prevenção e tratamento da obesidade 115 e recomendações no cuidado ao paciente crítico...... 262
Capítulo 10 Canjica: Riscos durante o processamento................. 127
Capítulo 11 Análise microbiológica de brigadeiro comercializado CIENCIA E TECNOLOGIA DE
na cidade de João Pessoa – PB................................ 136 ALIMENTOS
Capítulo 21 Avaliação da qualidade físico-química,
BIOQUIMICA DOS ALIMENTOS microbiológica e sensorial de diferentes formulações
do camarão marinho (Litopenaeus vannamei)
Capítulo 12 Determinação do índice de acidez titulável em óleo defumado.................................................................... 279
vegetal submetido à fritura em um serviço de Capítulo 22 Elaboração de aguardente de mel de abelha Apis
alimentação hospitalar............................................... 146 mellifera de acordo com a florada típica do sertão
Capítulo 13 Benefícios dos alimentos funcionais no tratamento e paraibano.................................................................. 294
prevenção das doenças cardiovasculares................. 160
7 8
MICROBIOLOGIA
SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR

Capítulo 23 Avaliação parasitológica de alfaces (Lactuca sativa) Capítulo 31 Staphylococcus aureus: Fatores de patogenicidade
provenientes dos sistemas de cultivo tradicional e e intoxicação alimentar............................................... 412
hidropônico comercializados no município de São Capítulo 32 Análise das condições microbiológica de uma
João do Cariri-PB....................................................... 308 unidade de alimentação e nutrição institucional......... 422
Capítulo 24 Elaboração e avaliação da qualidade microbiológica Capítulo 33 Avaliação microbiológica da farinha da palma
e fisicoquímica de picles de quiabo............................ 321 (Opuntia fícusindica mill) em diferentes 436
Capítulo 25 Elaboração de material didático para a construção temperaturas...............................................................
de Procedimentos Operacionais Padronizados para Capítulo 34 Avaliação microbiologica de picles elaborados
unidades de alimentação e nutrição........................... 331 apartir de cactáceas Cereus squamosus (facheiro)
Capítulo 26 Implantação de medidas de segurança alimentar em no semiárido Paraibano.............................................. 445
um abrigo de idosos................................................... 345 Capítulo 35 Elaboração do perfil microbiológico dos produtos
Capítulo 27 Sustentabilidade e segurança alimentar: derivados de leite de cabra........................................ 455
implantação de uma horta orgânica no restaurante Capítulo 36 Perfil microbiológico das farinhas elaboradas a partir
universitário da Universidade Federal de Campina do maxixe Cucumis anguria l. Em diferentes
Grande, campus Cuité................................................ 355 temperaturas de secagem. ........................................ 465
Capítulo 28 Condições higienico sanitária do serviço de Capítulo 37 Mel de Apis mellifera: estudo da qualidade
alimentação de uma creche do município de microbiológica............................................................. 476
Pitimbu-PB.................................................................. 366 Capítulo 38 Análise da qualidade microbiológica de Brassica
Capítulo 29 Verificação do(s) conhecimento(s) de merendeiras Oleraceae (repolho roxo) comercializados no alto
sobre boas práticas de manipulação de alimentos: sertão paraibano......................................................... 490
uma visão extensionista do curso de gastronomia Capítulo 39 Condições higiênico-sanitárias de doces de leite
da UFPB.............................................................. 383 pastosos produzidos e comercializados na
microrregião sertaneja da Paraíba............................. 501
Capítulo 40 Micro-organismos indicadores de qualidade em
POLÍTICAS PÚBLICAS CORRELATAS À
queijos mussarela fatiados comercializados em
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO João Pessoa-PB........................................................ 518
Capítulo 41 Diagnóstico microbiológico do queijo de manteiga e
Capítulo 30 A organização do acompanhamento das coalho comercializado nos estabelecimentos
condicionalidades da saúde do programa bolsa formais e feiras livres de João Pessoa-PB................. 528
família em um município paraibano: Relato de Capítulo 42 Estudo do crescimento de bactérias em iogurte
experiência de nutricionistas inseridos na rede de enriquecido com grãos............................................... 540
atenção à saúde......................................................... 395

9 10
objetivaram incentivar, promover, e apoiar a pesquisa em
PREFÁCIO
geral para que os leitores aproveitem cada capítulo como
uma leitura prazerosa e com a competência, eficiência e
O livro intitulado “NUTRIÇÃO E SAÚDE:Os profissionalismo da equipe de autores que muito se
dedicaram a escrever trabalhos de excelente qualidade
Desafios Do Século XXI” tem em sua essência, interesses
direcionados a um público vasto.
interdisciplinares, com um caráter paradidático, pretende
Esta publicação pode ser destinada a alunos de
contribuir para o aprendizado e compreensão de varias
Graduação e Pós-Graduação de cursos relacionados à
temáticas dentro da Nutrição. Esta obra trata-se de uma
grande área da saúde, quanto a profissionais que atuam em
coletânea de pesquisas, seja de campo ou bibliográfica,
setores da nutrição e para os diversos leitores que se
fruto dos trabalhos apresentados no Simpósio Nacional de
interessem pelos temas aqui debatidos.
Saúde e Meio Ambiente, organizado por jovens docentes de
Espera-se que estes trabalhos despertem novas
destaque na comunidade científica paraibana e realizado
ações, estimulem novas percepções e desenvolvam novos
entre os dias 17 e 19 de outubro de 2014 na cidade de João
humanos cidadãos.
Pessoa-PB.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.
O SINASAMA é um Evento que tem como objetivo
proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mini
cursos e apresentações de trabalhos, subsídios para que os
participantes tenham acesso às novas exigências do
mercado e da educação no contexto atual. E ao mesmo
tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico, Nutricional
e Ambiental de inserir todos que formam a Comunidade
acadêmica para uma Saúde Humana e Educação sócio-
ambiental para a Vida.
A grandiosidade de eixos temáticos abordados no
Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente e neste livro
inclui Nutrição E Gastronomia, Bioquímica Dos Alimentos,
Nutrição Clínica, Nutrição E Envelhecimento,
Recomendações Nutricionais, Ciência E Tecnologia De
Alimentos, Saúde E Segurança Alimentar, Políticas Públicas
Correlatas À Alimentação E Nutrição,
Microbiologia garantindo uma ampla discussão e a
atualização de seu público alvo. Os organizadores

11 12
CAPÍTULO 01

QUALIDADE SENSORIAL DE MOUSSES DE MORANGO


ELABORADOS COM CONDENSADO DE SOJA
INDUSTRIALIZADO OU CASEIRO

Daiane Xavier VELOSO1


Hélida Thailana Silva NASCIMENTO1
Ingrid Conceição Dantas GUERRA2
1 Alunas do Curso de Gastronomia da UFPB; 2 Professora Assistente do
Departamento de Gastronomia da UFPB.

RESUMO: A utilização do extrato de soja em receitas


apresenta-se como alternativa para indivíduos que não
consomem produtos de origem animal ou que possuem
intolerância a lactose ou alergia a proteína do leite. Dada a
necessidade de diversificar as opções de cardápio para
portadores dessas patologias, o objetivo deste estudo foi
avaliar a aceitação de mousses de soja sabor morango,
elaborados com condensado de soja industrializado ou
caseiro. Foram produzidas duas formulações, uma utilizando o
condensado de soja industrializado (MS1), ou o condensado
NUTRIÇÃO E de soja caseiro (MS2). Provadores não treinados avaliaram
sensorialmente as preparações por meio de teste de aceitação
e intenção de compra. Não houve diferença estatística

GASTRONOMIA (P>0,05) para os atributos aparência, cor e odor. Para os


atributos sabor, viscosidade e avaliação global a formulação
MS2, elaborada com condensado caseiro diferenciou-se
estatisticamente (P<0,05) da formulação MS1 obtendo
menores escores em todos esses parâmetros. Com relação à
avaliação da intenção de compra, as formulações também
tiveram aceitação superior à rejeição na avaliação realizada
pelos provadores. A substituição do leite por extrato e

13 14
condensado de soja apresentou-se como uma alternativa para por ter uma rica composição nutricional, está isento de lactose,
o desenvolvimento de alimentos isentos de lactose para não contém colesterol e é altamente digestivo, ainda ajuda na
portadores de intolerância tendo em vista a elevada aceitação prevenção contra doenças crônico-degenerativas, através dos
sensorial das formulações estudadas.
fitoquímicos (isoflavonas), podendo ser comercializado na
Palavras-chave: Análise sensorial, intenção de compra, forma liquida ou em pó, pasteurizado ou esterilizado. (SILVA,
isento de lactose. 2008)
A utilização do extrato de soja em receitas apresenta-se
como alternativa promissora para indivíduos que não
1. INTRODUÇÃO consomem produtos de origem animal ou que possuem
intolerância a lactose ou alergia a proteína do leite. Dada a
A intolerância a lactose ou má absorção/digestão de necessidade de diversificar as opções de cardápio para
lactose é a diminuição na capacidade de hidrolisar a lactose, portadores dessas patologias, o objetivo deste estudo foi
que é resultante da hipolactasia. A hipolactasia significa elaborar e avaliar a aceitação de mousses de soja sabor
diminuição da atividade de enzima lactase na mucosa do morango, elaborados com condensado de soja industrializado
intestino delgado (MATTAR; MAZZO, 2010). ou caseiro.
Mattar e Mazzo (2010) dizem que o tratamento da
intolerância à lactose consiste inicialmente em evitar
temporariamente leite e produtos lácteos da dieta para se 2 MATERIAL E MÉTODOS
obter remissão dos sintomas, sendo recomendada a
reintrodução gradual de acordo com a tolerância individual 2.1 MATERIAL
A soja é uma leguminosa muito utilizada em dietas,
por fornecer nutrientes, tais como proteínas de alto valor Para o processamento dos mousses foram utilizados
biológico que ajuda na construção muscular, carboidratos, por ingredientes adquiridos por compra direta e de livre escolha no
ser uma grande fonte de energia, óleos insaturados que mercado formal (supermercados de João Pessoa – PB), sem
ajudam a proteger contra doenças do coração e ainda é rica distinção de marca e de fabricante. Dentre estes ingredientes,
em minerais, tais como ferro, potássio, fósforo e cálcio e ainda estavam o condensado de soja industrializado, gelatina de
é rico em vitaminas do complexo B, que atuam na prevenção morango, creme de soja, açúcar refinado e extrato de soja em
de doenças degenerativas. Ainda contêm fitoestrógenos e pó.
isoflavonas que atuam de maneira semelhante à do estrógeno
(hormônios femininos). (SALERNO, 2006)
O extrato de soja também conhecido como “leite de
soja”, bem como o grão é considerado um alimento funcional

15 16
2.2 MÉTODOS formulação MS2 com a diferença que o extrato de soja
também foi dissolvido em água previamente conforme
O experimento foi realizado no Laboratório de Técnica indicação do rótulo do produto. Após a liquidificação cada uma
Dietética pertencente ao Departamento de Nutrição do Centro das formulações foi disposta em refratários de vidro, cobertas
de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba com filme de PVC e levadas a refrigeração (4oC) por cinco
(DN/CCS/UFPB). Ensaios pilotos realizados em período horas. Após o período conduziu-se a análise sensorial dos
anterior ao experimento levaram a definição das duas produtos.
formulações, uma elaborada com condensado de soja Os mousses foram submetidos a testes sensoriais de
industrializado (MS1) e a outra com o condensado caseiro aceitação e intenção de compra, de acordo com metodologia
(MS2). As formulações estão descritas na Tabela 1. proposta por STONE e SIDEL (1993). Foram recrutados 55
potenciais consumidores entre estudantes de graduação e
Tabela 1 – Formulação dos Mousses pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba, com
Ingredientes MS1 MS2 idade variando de 17 a 56 anos, sendo 56% do gênero
Condensado de soja 1 unidade - feminino e 44% do gênero masculino, selecionados de acordo
(lata) com a sua afinidade por produtos de soja, sobremesas e
Creme de soja (caixa) 2 unidades 2 unidades similares.
Pó para gelatina sabor 1 Unid 1 Unid As duas amostras foram servidas simultaneamente,
morango (Pacote) dispostas em copos descartáveis, devidamente codificadas em
Extrato de soja em pó - 100g números aleatórios de três dígitos, acompanhadas de biscoito
Açúcar refinado - 500g tipo Cream Cracker, copo com água (para remoção de sabor
MS1 =Mousse de soja com condensado industrializado MS2 =Mousse de residual) e das fichas de teste de aceitação e intenção de
soja com condensado caseiro. compra, questionário de recrutamento de provadores e termo
de consentimento livre e esclarecido.
Inicialmente todos os ingredientes foram pesados, No teste de aceitação foram avaliados os atributos
identificados e separados de acordo com a formulação sensoriais de aparência, cor, odor, sabor, viscosidade e
definida. Na elaboração de cada uma das formulações avaliação global, utilizando-se uma escala hedônica
inicialmente foi elaborada a gelatina de morango conforme estruturada mista de nove pontos ancorados em 1= Desgostei
indicação do rótulo com água quente e água fria. Para muitíssimo, 5= Nem gostei/nem desgostei e 9= Gostei
elaboração da formulação MS1, os ingredientes listados muitíssimo. Por fim, realizou-se o teste de intenção de compra,
(condensado de soja, creme de soja e a gelatina de morango) empregando-se a escala estruturada de cinco pontos (5=
foram colocados em liquidificador doméstico e batidos até Certamente compraria; 3= Talvez comprasse/ Talvez não
formarem mistura homogênea. O mesmo ocorreu com a comprasse; 1= Certamente não compraria). Por se tratar de
17 18
testes com seres humanos o projeto foi submetido ao Comitê
de ética em Pesquisa do CCS/UFPB sendo aprovado com o Tabela 2 - Escores médios e desvios-padrão dos atributos
protocolo 242/2014. sensoriais dos mousses elaborados com condensado
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente industrializado e caseiro
casualizado com dois tratamentos e três repetições. Para a VARIAVEIS FORMULAÇÕES
análise da variação entre os mousses os resultados foram MS1 MS2
analisados pelo teste T de Student a 5% de significância. As Aparência 7,85 ± 0,95 7,45 ± 1,27
análises estatísticas foram feitas utilizando-se o programa Cor 7,96 ± 1,02 7,62 ± 1,28
estatístico SigmaPlot versão 13.0 (SYSTAT SOFTWARE INC, Odor 7,38 ± 1,68 7,43± 1,34
2014). Sabor 7,34 ± 1,58 6,20* ± 1,78
Viscosidade 7,34 ± 1,86 6,40 *± 1,82
Av. Global 7,74 ± 1,39 6,87 *± 1,41
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO MS1 =Mousse de soja com condensado industrializado MS2 =Mousse de
soja com condensado caseiro.
*Diferença estatística ao nível de 5% de probabilidade no teste t-student na
Na caracterização sensorial dos mousses (Tabela 2), mesma coluna.
não houve diferença estatística (P>0,05) para os atributos Nos comentários espontâneos feitos nas fichas de
aparência, cor e odor. Para os atributos sabor, viscosidade e avaliação, os provadores referiram que a formulação
avaliação global a formulação MS2, elaborada com elaborada com o condensado caseiro tinha a textura
condensado caseiro diferenciou-se estatisticamente (P<0,05) gelatinosa e pouco cremosa em relação a formulação com o
da formulação MS1 obtendo menores escores em todos esses condensado industrializado, e o sabor de soja mais intenso. O
parâmetros. uso do condensado industrializado e do creme de soja na
Apesar de a formulação MS2 ter obtido médias formulação MS1, conferiram a formulação maior cremosidade
inferiores nos atributos sabor, viscosidade e avaliação global assim como o leite condensado com o creme de leite utilizado
para todos os atributos avaliados as duas formulações nos mousses tradicionais. Diferentemente da MS1, a
obtiveram aceitação pois obtiveram médias superiores ao formulação MS2 utilizando o extrato e o creme de soja não
ponto neutro (5). atingiram a mesma cremosidade o que explica a diferenciação
dos provadores em relação a viscosidade e o sabor, e os
menores escores.
Spada et al. (2014), desenvolveu sobremesas a base
de soja elaboradas com mucilagem de chia e avaliou
sensorialmente por meio de análise descritiva quantitativa e

19 20
obteve valores inferiores aos obtidos neste estudo para cor, Pelos dados obtidos observa-se que a formulação MS1
consistência, sabor e cremosidade. obteve melhores escores de intenção de compra, o que
Boato et al., (2010) estudando queijos tipo petit suisse sugere um potencial mercadológico do produto.
de soja obtiveram escores inferiores aos obtidos neste estudo
para sabor (4,52) tendo sido rejeitado o produto devido ao
sabor característico de soja, resultado diferente do obtido
neste estudo para as duas formulações estudadas. 4. CONCLUSÃO
Com relação à avaliação da intenção de compra, as
formulações também tiveram aceitação superior à rejeição na A substituição total do leite por extrato de soja e
avaliação realizada pelos provadores (Figura 1). condensado de soja em sobremesas apresentou-se como uma
alternativa promissora para o desenvolvimento de alimentos
isentos de lactose para portadores de intolerância tendo em
50
45 vista a elevada aceitação sensorial das duas formulações
40 estudadas, realizada por potenciais consumidores.
35
30 Condensado 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25 Industrializado
20 Condensado BOATTO, D.A.; MESOMO, M.C.; MADRONA, G.S.; BRANCO,
15 caseiro
I.G.; MATUMOTO PINTRO, P.T. Desenvolvimento e
10
caracterização de queijo tipo petit suisse de soja comum e de
5
soja livre de lipoxigenase, enriquecidos com cálcio. Ciênc.
0
Aceitação Neutro Rejeição
Tecnol. Aliment., Campinas, v. 30, n.3, p.766-770, jul.-set.
2010.
Figura 1 - Escores médios e desvios-padrão dos atributos sensoriais dos
mousses elaborados com condensado industrializado e caseiro
MATTAR, R.; MAZO, D.F. de C. Intolerância à lactose:
mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev
Neste teste foram considerados aceitação quando Assoc Med Bras. v.56, n.2, 2010.
atribuído às formulações notas 4 ou 5 (possivelmente
compraria ou certamente compraria), neutro quando atribuído SALERNO, S. Alimentação saudável: Alimentos à base de
nota 3 (talvez comprasse/talvez não comprasse) e rejeição soja. p.4-7, 2006.
quando atribuídos notas 1 e 2 (certamente não compraria ou
possivelmente na compraria (Figura 1). SILVA, Douglas Timm. Extrato de Soja: características,
métodos de obtenção e compostos benéficos a saúde
humana, 2008. Disponível em
21 22
<http://quimicadealimentos.files.wordpress.com/2009/08/extrat CAPÍTULO 02
o-de-soja.pdf> Acesso em 12 de Agosto de 2014.
AVALIAÇÃO SENSORIAL DE BISCOITOS TIPO COOKIES
SPADAL, J.C.; DICKLL, M.; PAGNOLL, C.H.; VIEIRA, A.C.;
SEM GLUTÉN
Caracterização física, química e sensorial de sobremesas à
base de soja, elaboradas com mucilagem de chia. Ciência
Rural, Santa Maria, v.44, n.2, p.374-379, fev, 2014. Ana Carolina dos Santos COSTA1
Juliana Késsia Barbosa SOARES2
STONE, H. S.; SIDEL, J. L. Sensory Evaluation Practices. Nathalia Cavalcanti dos SANTOS3
San Diego: Academic Press, 1993. 1 Aluna de Mestrado PPGCTA-UFPB; 2 Professora Doutora UFCG; 3 Aluna de Mestrado
PGCTA-UFRPE
SYSTAT SOFTWARE INC. SigmaPlot. 2014.
Disponívelem:<http://www.sigmaplot.com/products/sigmaplot/si
gmaplot-details.php>Acessoem: 10/08/14. RESUMO: A Doença Celíaca vem sendo considerada um
problema de saúde pública em escala mundial, sendo a
remoção do glúten presente no alimento o único tratamento
disponível. O objetivo deste trabalho foi analisar
sensorialmente biscoitos tipo cookies, como alternativa para
celíacos. Os cookies foram desenvolvidos com farinha de
arroz e ingredientes como pasta de amendoim e chocolate
amargo, tornando o mais palatável. Os resultados dos escores
mostraram que... os biscoitos obtiveram índice de aceitação
superior a 70% para todos os atributos e percentual de
intenção de compra acima de 60% para o escore “certamente
compraria”. Portanto, pode-se inferir que a farinha de arroz
apresenta-se como uma boa alternativa na produção de
biscoitos tipo cookies sem glúten.
Palavras-chave: Doença celíaca, Glúten, Cookies, Avaliação
sensorial.

23 24
1. INTRODUÇÃO Devido ao crescente aumento de celíacos no mundo, a
necessidade de atender a essa demanda de mercado faz com
A Doença Celíaca (DC) é caracterizada por um processo que sejam desenvolvidos novos produtos, com qualidade
inflamatório no intestino delgado causado pela presença de nutricional e sensorial, livres do glúten. Diante do exposto, o
três principais fatores: o glúten presente no alimento (BARCA presente trabalho teve como objetivo avaliar a aceitação e
et al., 2010); a suscetibilidade genética; e, fatores intenção de compra de um biscoito tipo cookie a base de
imunológicos que favorecem a expressão da DC no indivíduo farinha de arroz, como alternativa para celíacos e intolerantes
(SVERKER; HENSING; HALLERT, 2005). Segundo Araújo et ao trigo.
al. (2010) a DC vem sendo considerada um problema de
saúde pública em nível mundial, pois acomete atualmente, 2. MATERIAIS E MÉTODO
cerca de 1% da população em geral (RUBIO-TAPIA;
MURRAY, 2010). Local de desenvolvimento
Para os portadores desta doença, a ingestão de As análises sensoriais foram realizadas no Laboratório
alimentos contendo glúten causa danos progressivos às de Análise Sensorial da Universidade Federal de Campina
vilosidades intestinais, desencadeando a má absorção de Grande no Centro de Educação e Saúde, campus Cuité-PB.
nutrientes (SINGH; WHELAN, 2011). Sendo que, atualmente, Os testes foram realizados com 52 provadores não treinados,
o único tratamento disponível para celíacos é a remoção do recrutados dentre discentes e servidores do campus.
glúten em sua totalidade da alimentação, o que provoca
grande alteração da dieta do portador da doença, uma vez que Processamento de biscoitos tipo Cookies
o glúten está presente em alimentos como: pães, bolos, Os biscoitos tipo cookies foram elaborados no
bolachas, macarrão, biscoitos, dentre outros produtos que Laboratório de Tecnologia de Alimentos Universidade Federal
possuem o glúten em sua composição ou integrarem o de Campina Grande, no Centro de Educação e Saúde a partir
processo de fabricação (LEE et al., 2007; ACELBRA, 2004). da formulação padrão de cookies descrita no método 10-50D
Neste cenário, a farinha de arroz é uma alternativa para da AACC – American Association of Cereal Chemists (AACC,
a substituição de alimentos que utilizam a farinha de trigo em 1995), com algumas modificações. A formulação dos cookies
sua composição, por não conter glúten, e ter características foi realizada com 140g de farinha de arroz, 30g de polvilho
hipoalergênicas, devido à ausência de gliadina (GUJRAL e azedo, 130g de açúcar demerara, 70g de açúcar mascavo, 5g
ROSELL, 2004 e GUJRAL et al., 2003). Além de apresentar de cloreto de sódio, 200g de pasta de amendoim, 168ml de
características sensoriais, físico-químicas e nutricionais ovos, e 80g de chocolate 70% cacau. Inicialmente foi feita a
peculiares, como sabor suave, cor branca, e facilidade de separação e pesagem dos insumos, em seguida os
digestão. ingredientes secos foram misturados em um recipiente e
adicionado os líquidos. A massa foi homogeneizada e levada a
25 26
8°C por 30 mim. Os cookies foram modelados com colheres
pequenas e levados para assar a 200°C, por 5 minuto s no
Airfrayer (Philips, HD9220), forno elétrico. Em seguida foram
resfriados à temperatura ambiente e acondicionados em
recipientes de vidro. O fluxograma abaixo demonstra o passo
à passo da elaboração do biscoito tipo cookies.

Figura 1. Biscoito tipo cookies com farinha de arroz.

Avaliação sensorial

A análise sensorial foi realizada no dia seguinte a


elaboração dos cookies, no Laboratório de Análise Sensorial
de Alimentos, na Universidade Federal de Campina Grande,
campus Cuité-PB. Empregou-se o teste de aceitação com
escala hedônica estruturada de nove pontos para os atributos
aparência, cor, aroma, sabor, textura e avaliação global, sendo
os extremos valor 1 equivalente ao termo hedônico “desgostei
muitíssimo” e o valor 9 atribuído ao termo “gostei muitíssimo”
(STONE e SIDEL, 2004). Para obtenção do Índice de
Aceitação (IA), foi utilizada a fórmula [IA = (médias das notas
por atributo/9) × 100] (DUTCOSKY, 2013). A intenção de
compra do consumidor foi avaliada através da escala de 5
pontos, com variação entre “1 - certamente não compraria” e
“5 - certamente compraria” (STONE. e SIDEL, 2004). As
amostras foram apresentadas em cabines individuais, de
forma monádica e casualizada, juntamente com água para
limpar a palato, em recipientes plásticos descartáveis.

27 28
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO amargo utilizados na formulação, visto que esses ingredientes
são ricos em compostos aromáticos, e tem sabores e texturas
O gráfico 1 apresenta os valores do índice de aceitação características e atrativas.
quanto aos atributos avaliados. Segundo Dutcosky (2013), Quanto à intenção de compra (gráfico 2), observou-se que
para que um produto seja considerado como aceito, em 62,26% dos avaliadores responderam que “comprariam”,
termos de suas propriedades sensoriais, é necessário que seguido de 28,3% para “possivelmente compraria”. Estes
obtenha um índice de aceitabilidade de, no mínimo, 70%. Para resultados são bastante satisfatórios, uma vez que nenhum
tanto, neste estudo o índice mínimo para demonstrar a avaliador optou pela opção “não compraria” ou “possivelmente
aceitação do produto também foi de 70%. Os resultados não compraria”.
obtidos mostraram que para todos os atributos o índice de
aceitação foi superior a 70%.

Gráfico 2. Intenção de Compra (%)

4. CONCLUSÃO
Gráfico 1. Índice de Aceitação (%)
Devido à elevada aceitação sensorial do biscoito tipo
No estudo de Lacerda et al. (2009) e de Feddern et al.
cookies e do elevado percentual de intenção de compra, a
(2011), que produziram biscoitos tipo cookies elaborados com
substituição do trigo por farinha de arroz nestes tipos de
farelo de arroz, os resultados obtidos foram inferiores aos
biscoitos seria uma alternativa viável. Os dados mostram uma
observados neste trabalho, o que poderia estar relacionado
possível exploração comercial dos biscoitos produzidos a
aos demais ingredientes utilizados na elaboração dos
partir da farinha de arroz, de modo que o número deste tipo de
biscoitos.
produto pode aumentar no mercado, oferecendo novas opções
Os parâmetros que obtiveram maior percentual podem
de alimentos sem glúten para celíacos e intolerantes ao
estar associados ao uso pasta de amendoim e ao chocolate
glúten.

29 30
LACERDA, D. B. C. L. et al. Qualidade de biscoitos
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS elaborados com farelo de arroz em substituição à farinha
de trigo e fécula de mandioca. Archivos Latinoamericanos
de Nutrición, Gioânia, v.59, n.2, p. 199-2005, 2009.
AACC. 2000. Approved Methods of American Association of
Cereal Chemists. The American Association of Cereal LEE, A.R. et al. Economic burden of a gluten-free diet. J
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ACELBRA - Associação de Celíacos do Brasil. Disponível em: RUBIO-TAPIA, A.; MURRAY, J.A. Celiac disease. Current
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ARAÚJO, H.M.C. et al. Doença celíaca, hábitos e práticas SANTANA, A. F.; OLIVEIRA, L. F. Aproveitamento da casca
alimentares e qualidade de vida, Revista de Nutrição, de melancia (Curcubita citrullus, Shrad) na produção
Campinas, v. 23, n.3, p.467-474, 2010. artesanal de doces alternativos. Alimentos e Nutrição,
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DUTCOSKY, S. D. Análise Sensorial de Alimentos. Curitiba: STONE, H.; SIDEL, J.L. Sensory evaluation practices.
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FEDDERN, V.et al. Avaliação física e sensorial de biscoitos SVERKER, A.; HENSING, G.; HALLERT, C. Controlled by
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GUJRAL, H. S., GUARDIOLA, I., CARBONELLl, J. V., e TEIXEIRA, E. ; MEINERT, E. M. ; BARBETTA, P. A; Métodos
ROSELL, C. M. (2003). Effect of cyclodextrin glycoxyl sensoriais. In: Analise sensorial de alimentos.
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GUJRAL, H. S., & ROSELL, C. M. (2004). Functionality of
rice flour modified with a microbial transglutaminase.
Journal of Cereal Science, 39, 225e230.

31 32
CAPÍTULO 03 gera produtos bem aceitos sensorialmente e com potencial
mercadológico.
QUALIDADE SENSORIAL DE BROWNIES ISENTOS DE PALAVRAS-CHAVE: farinha de arroz, farinha de mandioca,
GLÚTEN E LACTOSE farinha de milho.

Nádia Elizabeth Aburto FIERRO1


Mariana Rosa Gomes de Deus SOUZA1 1. INTRODUÇÃO
Ingrid Conceição Dantas GUERRA2
1 Alunas do Curso de Nutrição da UFPB; 2 Professora Assistente do
Departamento de Gastronomia da UFPB. A doença celíaca é uma patologia causada pela
intolerância ao glúten (proteína contida em alguns cereais, tais
como trigo, centeio, cevada, malte e aveia), mediada por
RESUMO: Os portadores da doença celíaca e de intolerância linfócitos T e associada a uma predisposição genética,
à lactose devem seguir uma dieta controlada, para evitar a causando inflamação crônica da mucosa intestinal (NOBRE et
sintomatologia característica e outras complicações. Dada a al, 2007; SILVA et al, 2006).
necessidade de diversificar as opções de cardápio para esses A doença celíaca afeta o intestino delgado, interferindo
indivíduos, o objetivo deste estudo foi avaliar a aceitação de diretamente na absorção de nutrientes essenciais ao
brownies elaborados sem glúten e sem lactose. Foram organismo como carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas,
produzidas três formulações, com substituição total da farinha sais minerais e água (FENACELBRA, 2014),
de trigo pelas farinhas de arroz (BR1), de mandioca (BR2) e A intolerância a lactose ou má absorção/digestão de
de milho (BR3). Provadores não treinados avaliaram lactose é a diminuição na capacidade de hidrolisar a lactose,
sensorialmente as preparações por meio de teste de aceitação que é resultante da hipolactasia. A hipolactasia significa
e intenção de compra. Observou-se que todas as formulações diminuição da atividade de enzima lactase na mucosa do
obtiveram escores semelhantes para os atributos aparência e intestino delgado (MATTAR; MAZZO, 2010).
cor, não havendo diferença estatística significativa. Os Mattar e Mazzo (2010) dizem que o tratamento da
brownies BR1 e BR3 não se diferenciam estatisticamente em intolerância à lactose consiste inicialmente em evitar
nenhum dos atributos avaliados, no entanto o BR3 obteve temporariamente leite e produtos lácteos da dieta para se
escore superior ao BR1 quanto ao sabor e avaliação global. obter remissão dos sintomas, sendo recomendada a
Somente a formulação BR2 teve variação de nota entre 6 e 7, reintrodução gradual de acordo com a tolerância individual.
sendo que a nota 6 foi atribuída aos atributos de odor, sabor, Sabe-se que ambos os portadores da doença celíaca e
textura e avaliação global. Com relação à avaliação da de intolerância à lactose devem seguir uma dieta controlada,
intenção de compra, as formulações também tiveram para evitar a sintomatologia característica e outras
aceitação superior à rejeição. A substituição de farinha de trigo complicações. Deste modo, o poder de escolha desses
33 34
consumidores se torna restrito, pois são obrigados a suprimir 2.2 MÉTODOS
de sua alimentação produtos comuns como macarrão, pães,
bolos, bolachas, entre outros, no caso da doença celíaca; e O experimento foi realizado no Laboratório de Técnica
produtos que contenham lactose, como leite e derivados, para Dietética pertencente ao Departamento de Nutrição do Centro
os intolerantes a lactose, devendo ser substituídos por outras de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba
opções como a farinha de arroz, amido de milho, farinha de (DN/CCS/UFPB). Ensaios pilotos realizados em período
milho, leite de soja, creme vegetal, queijo sem lactose, entre anterior ao experimento levaram a definição das três
outros. formulações, com substituição total da farinha de trigo por as
Dada a necessidade de diversificar as opções de farinhas de arroz (BR1), de mandioca (BR2) e de milho (BR3).
cardápio para portadores dessas patologias, o objetivo deste Em todas as formulações manteve-se fixa a utilização dos
estudo foi elaborar e avaliar a aceitação de brownies, demais ingredientes (Tabela 1).
substituindo a farinha de trigo por farinha de arroz, farinha de
mandioca e farinha de milho e da manteiga/margarina por
creme vegetal (sem leite). Tabela 1 – Formulação dos brownies
Ingredientes BR1 BR2 BR3
Cacau em pó 45 g 45 g 45 g
2. MATERIAL E MÉTODOS Açúcar demerara 160 g 160 g 160 g
Farinha de arroz 300 g 0 0
2.1 MATERIAL Farinha de 0 300 g 0
mandioca
Para o processamento dos brownies foram utilizados Farinha de milho 0 0 240 g
ingredientes adquiridos por compra direta e de livre escolha no Semente de chia 35 g 35 g 35 g
mercado formal (supermercados de João Pessoa – PB), sem Sal 2g 2g 2g
distinção de marca e de fabricante. Dentre estes ingredientes, Ovos 4 unidades 4 unidades 4 unidades
estavam as farinhas de arroz, de mandioca e de milho; o Creme vegetal 200 g 200 g 200 g
açúcar demerara; o cacau em pó; o sal; os ovos; o creme BR1 =brownie adicionado de farinha de arroz; BR2 = brownie adicionado
vegetal isento de lactose; e, a semente de chia. de farinha de mandioca; BR3 = brownie adicionado de farinha de milho.

Inicialmente todos os ingredientes foram pesados,


identificados e separados de acordo com a formulação
definida. Em bowls de inox primeiramente misturou-se os
ingredientes secos, sendo estes o cacau em pó, o açúcar
35 36
demerara, o sal, a semente de chia e a farinha, não compraria). Por se tratar de testes com seres humanos o
acrescentando-se o creme vegetal previamente derretido e os projeto foi submetido ao Comitê de ética em Pesquisa do
ovos batidos, misturando-se com fouet de modo a obter uma CCS/UFPB sendo aprovado com o protocolo 234/2014.
massa homogênea. Em uma assadeira coberta com papel O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
manteiga, a massa foi despejada e levada à cocção em forno casualizado com três tratamentos e três repetições. Os
com temperatura de 180ºC durante trinta minutos. Em seguida resultados obtidos nas análises foram e submetidos à análise
foram cortados de maneira uniforme para então serem da variância univariada (One Way ANOVA), e os tratamentos
avaliados. estatisticamente diferentes foram comparados através do teste
Os brownies foram submetidos a testes sensoriais de de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (p<0,05). As
aceitação e intenção de compra, de acordo com metodologia análises foram realizadas com o auxílio do programa
proposta por STONE e SIDEL (1993). Foram recrutados 81 estatístico SigmaPlot versão 13.0 (SYSTAT SOFTWARE INC,
potenciais consumidores entre estudantes de graduação e 2014).
pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba, com
idade variando de 17 a 32 anos, sendo 56% do gênero 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
feminino e 44% do gênero masculino, selecionados de acordo
com a sua afinidade por bolos e similares. Na caracterização sensorial dos brownies (Tabela 2),
As três amostras foram servidas simultaneamente, em observa-se que todas as formulações obtiveram escores
fatias de 2,5cm² de tamanho e largura dispostas em pratos semelhantes para os atributos aparência e cor, não havendo
descartáveis, devidamente codificadas em números aleatórios diferença significativa (P>0,05). Os brownies BR1 e BR3 não
de três dígitos, acompanhadas de biscoito tipo Cream Cracker, se diferenciam estatisticamente em nenhum dos atributos
copo com água (para remoção de sabor residual) e das fichas avaliados, no entanto o BR3 obteve escore superior ao BR1
de teste de aceitação e intenção de compra, questionário de quanto ao sabor e a avaliação global. Somente a formulação
recrutamento de provadores e termo de consentimento livre e BR2 teve variação de nota entre 6 e 7, sendo que a nota 6 foi
esclarecido. atribuída aos atributos de odor, sabor, textura e avaliação
No teste de aceitação foram avaliados os atributos global. Apesar disso, todas as formulações foram bem aceitas,
sensoriais de aparência, cor, odor, sabor, textura e avaliação obtendo notas superiores ao ponto neutro (5) em todos os
global, utilizando-se uma escala hedônica estruturada mista de atributos avaliados.
nove pontos ancorados em 1= Desgostei muitíssimo, 5= Nem
gostei/nem desgostei e 9= Gostei muitíssimo. Por fim,
realizou-se o teste de intenção de compra, empregando-se a
escala estruturada de cinco pontos (5= Certamente compraria;
3= Talvez comprasse/ Talvez não comprasse; 1= Certamente
37 38
fubá, fécula de batata e amido de milho e obteve escores
Tabela 2 - Escores médios e desvios-padrão dos atributos médios em torno de 7,0 para os atributos de aroma, textura e
sensoriais dos brownies elaborados com farinha de arroz, de aparência. Para os demais atributos os escores ficaram entre
mandioca ou de milho. cinco e seis.
VARIAVEIS BROWNIES P Nos comentários livres das fichas de avaliação alguns
BR1 BR2 BR3 provadores mencionaram as menores notas dadas a
a
Aparência 7,45 ± 1,33 7,13 ± 7,20 ± 0,366 formulação BR2, referindo alteração significativa da textura
a a
1,42 1,45 (mais grumosa) e do sabor e odor intenso da farinha de
Cor 7,60 ± 1,26a 7,22 ± 7,45 ± 0,227 mandioca adicionada ao produto o que explica as menores
a a
1,55 1,19 notas atribuídas a esta formulação.
a
Odor 7,43 ± 1,35 6,73 ± 7,38 ± 0,005 Com relação à avaliação da intenção de compra, as
b a
1,71 1,27 formulações também tiveram aceitação superior à rejeição na
a
Sabor 7,31 ± 1,46 6,36 ± 7,42 ± <0,001 avaliação realizado pelos provadores. Neste teste foram
b a
1,99 1,24 considerados aceitação quando atribuído às formulações
a
Textura 7,54 ± 1,37 6,86 ± 7,19 ± 0,032 notas 4 ou 5 (possivelmente compraria ou certamente
b ab
1,70 1,58 compraria), neutro quando atribuído nota 3 (talvez
a
Av. Global 7,43 ± 1,30 6,73 ± 7,54 ± <0,001 comprasse/talvez não comprasse) e rejeição quando
b a
1,67 1,09 atribuídos notas 1 e 2 (certamente não compraria ou
BR1 =brownie adicionado de farinha de arroz; BR2 = brownie adicionado
possivelmente na compraria (Figura 1).
de farinha de mandioca; BR3 = brownie adicionado de farinha de milho.

* Médias seguidas de letras diferentes numa mesma linha Figura 1. Intenção de compra dos brownies
indicam que houve diferença estatística significativa com 60
probabilidade de erro (p ≤ 5 %) pelo teste Tukey.
50

Castro et al. (2009) elaborou bolos sem glúten 40


BR1
substituindo a farinha de trigo por farinha de mandioca e milho 30
além de flocos de amaranto e avaliou a aceitação sensorial e a BR2

intenção de compra do produto final e obteve aceitação 20 BR3

superior a 80%, resultados que corroboram com os obtidos 10


neste estudo.
0
Maurício et al. (2012), desenvolveu bolos de cenoura
Aceitação Neutro Rejeição
com e sem glúten utilizando mixes de farinha de mandioca,
39 40
Pelos dados obtidos observa-se que os brownies MATTAR, R.; MAZO, D.F. de C. Intolerância à lactose:
elaborados com farinha de arroz seguido dos elaborados com mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev
farinha de milho obtiveram melhores escores de intenção de Assoc Med Bras. v.56, n.2, 2010.
compra, o que sugere um potencial mercadológico dos
produtos. MAURÍCIO, A.A.; BUCHARLES, P.B.; BOLINI, H.M.A.;
SOUSA, V.M.C. Bolo de cenoura com e sem glúten:
4. CONCLUSÃO desenvolvimento da formulação e aceitação do produto.
Revista Agro@mbiente On-line, v. 6, n. 3, p. 250-257,
A substituição total da farinha de trigo por farinhas de setembro-dezembro, 2012
arroz, mandioca e milho bem como a adição de creme vegetal
sem lactose na elaboração de brownies, compõem uma NOBRE, S. R.; SILVA, T.; CABRAL, J.E.P. Doença celíaca
alternativa para aquisição de um alimento para portadores de revisitada. GE - J Port Gastrenterol., v.14, p.184-193, 2007.
doença celíaca e intolerância a lactose. Tal afirmativa foi
comprovada por os resultados encontrados nas análises SILVA P. C. da; ALMEIDA, P. del V. de; AZEVEDO, L. R. de;
realizadas neste estudo, que indicam uma boa aceitação para GRÉGIO, A.M.T.; MACHADO, M.A.N.; LIMA, A.A.S. de.
todos os aspectos sensoriais avaliados por potenciais Doença celíaca: revisão. Clin.Pesq.Odontol., Curitiba, v.2,
consumidores. n.5/6, p. 401-406, jul./dez. 2006.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS STONE, H. S.; SIDEL, J. L. Sensory Evaluation Practices.


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CASTRO, L.I.A.; PACHECO, K.; CAPRILES, V.D.; SOARES,
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vol.34, n.Suplemento (10º Congresso Nacional da SBAN), gmaplot-details.php>Acessoem: 10/08/14.
p.139-139, 2009.

FENACELBRA.Conheça a doença celíaca em 3 cliques.


FederaçãoNacional das Associações de Celíacos do Brasil.
2014. Disponível em:<
http://www.fenacelbra.com.br/fenacelbra/>Acessoem:
07/08/14.

41 42
CAPÍTULO 04 afirmaram ter gostado das preparações e terem a intenção de
elaborá-las como opções de sobremesas e lanches para uso a
GASTRONOMIA HOSPITALAR: AVALIANDO A pacientes. Assim, vê-se a importância da elaboração e criação
CONCEPÇÃO DE PREPARAÇÕES COM FRUTAS E de novas preparações que atendam ao paciente, tornando
ISENTAS DE LACTOSE E GLÚTEN assim a sua hospitalização mais prazerosa do ponto de vista
nutricional.
Priscila Silva CUNHA1 Palavras-chave:Gastronomia. Hospital. Preparações.
Ana Emilia NASCIMENTO1
Natália Fernandes do NASCIMENTO1
Raabe Seabra de LIMA1
Jefferson Carneiro de BARROS2 1. INTRODUÇÃO
1Aluna do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG. Os alimentos que são comumente designados como
2Professor do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG
frutas são realmente os frutos de certas plantas. Estes frutos
têm características especiais: geralmente de natureza
polposa, aromas próprios, são ricos em açúcares solúveis, de
RESUMO: A alimentação hospitalar cada vez mais tem sido sabor doce e agradável podendo ser consumidos, na maioria
adaptada e modificada a fim de melhor aceitabilidade por parte das vezes cruas. Elas possuem um alto teor de vitaminas e
dos pacientes, sendo a gastronomia hospitalar uma grande minerais, devendo ser inseridas diariamente nos cardápios
aliada, pois visa melhorar todos os aspectos sensoriais das (ORNELAS, 2007).
preparações servidas. Visto que muitos pacientes são As frutas têm sido amplamente utilizadas na
acometidos por diversas patologias e apresentam várias gastronomia hospitalar, por serem uma opção
restrições, a gastronomia tem tido como objetivo diversificar e nutricionalmente adequada e de grande aceitabilidade pelos
evitar a monotonia das preparações, inovando e favorecendo pacientes. Uma das preparações mais utilizadas e práticas
uma melhor aceitação por parte do paciente. Desta forma, o que são desenvolvidas com as frutas são as saladas de frutas,
presente trabalho teve como objetivo elaborar pratos para que podem ser servidas de várias maneiras e com a utilização
possível aplicação na gastronomia hospitalar, mostrar técnicas de uma diversidade de opções. Além delas, temos como
e preparações de valor nutricional adequado, assim como opções de sobremesas os doces, bolos, biscoitos, sucos e
avaliar aopinião de provadores a respeito do sabor dos pratos outros, porém, nem todas as sobremesas que são produzidas
elaborados. As preparações foram realizadas no Laboratório atendem à todos pacientes, pois uma parte destes possuem
de Técnica Dietética da Universidade Federal de Campina patologias especificas que resultam, muitas vezes, em
Grande, campus Cuité, e degustadas por 30 provadores, restrição alimentar(MONEGO; MAGGI, 2004, LA VILLA, 2009).
compostos por alunos do curso de Nutrição. Os resultados
obtidos foram positivos uma vez que todos os provadores

43 44
Uns dos pacientes que possuem bastantes restrições O alimento é vida, então, além de ter a capacidade de
alimentares são os intolerantes à lactoses e os celíacos saciar a fome e nutrir, deve possui em si toda uma simbologia
(intolerantes a glúten). (BORGES, 2009). Segundo Souza e Nakasato (2011), a boa
A doença celíaca é uma enteropatia caracterizada pela qualidade sensorial é o posto-chave para que um alimento
atrofia total ou subtotal da mucosa do intestino delgado seja consumido, pois o ser humano não se alimenta pensando
resultando em uma má-absorção de nutrientes, em especial somente em sua nutrição.
ao glúten. Adotar uma dieta isenta de glúten pode parecer Com base no exposto, o presente trabalho teve como
simples, mas é uma conduta de difícil aplicabilidade. A retirada objetivo elaborar preparações com abordagem da gastronomia
de alimentos fontes de carboidratos pode levar a uma dieta hospitalar; mostrar técnicas e preparações de valor nutricional
hiperprotéica e hiperlipídica. Além disso, os alimentos que adequado, assim como também ver a concepção de
contém o glúten estão comumente inseridos no hábito da provadores a respeito do sabor dos pratos elaborados.
população, em especial nos pães e massas em geral. A
constante exposição do paciente a alimentos preparados com 2 MATERIAIS E MÉTODOS
farinha de trigo dificulta a adesão, principalmente de crianças
e adolescentes, e exige a conscientização de pais, amigos e A pesquisa foi realizada no Laboratório de Técnica e
professores (AQUINO, BASTISTUCI, ANDRADE, 2009). Dietética (LATED) da Universidade Federal de Campina,
Já a intolerância à lactose é caracterizada pela falta da campus Cuité-PB, e contou com a participação de 30
enzima lactase, que quebra da lactose, impossibilitando o provadores, cuja composição era de estudantes do curso de
indivíduo que com esta patologia de absorver a lactose. A nutrição de ambos os sexos.
lactose é encontrada no leite, o que restringe pacientes com Para a confecção da taça de frutas foram utilizados
essa patologia de se alimentar de diversos produtos e como ingredientes mamão formosa, manga, abacaxi, kiwi,
alimentos que têm no mercado (BARBOSA, ANDREAZZI, iogurte natural desnatado, creme de leite light, flocos de aveia
2011). com grãos e uvas passas, como equipamentos a balança e a
A dieta hospitalar tem como principal objetivo preservar geladeira, e, como utensílios, a faca, colheres, tábua, pratos,
e/ou recuperar o estado nutricional do paciente internado copos, taças e xícara. Na confecção do bolo de cenoura sem
(MESSIAS, PERREIRA, SOUZA, 2011). No Brasil, os glúten e sem lactose foram utilizados ingredientes como os
hospitais vêm sentindo a necessidade de expandir seus ovos, açúcar, óleo, amido de milho, cenoura, fermento em pó
serviços, principalmente, no serviço de gastronomia hospitalar. e uvas passas, como equipamentos foram utilizados forno,
O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, que batedeira e balança e, como utensílios, foram utilizados
por sua vez, devem se sentir cada vez menos pacientes e espátula, copos, prato e forma de alumínio.
mais clientes (BORGES, 2009). Os provadores foram convidados a se direcionar às
bancadas do LATED, pegar as suas taças e em seguida a
45 46
efetuar a degustação. Logo após, a degustação da taça de tornam mais aceitáveis pela população em geral, aumentando
frutas com creme e aveia, foi oferecido junto com um copo o prazer ao comer, cujo início se dar a partir do momento de
com água para que fosse feito uma lavagem da boca de forma sua visualização. Cada vez mais tem-se preocupado com as
a não interferir no resultado das outras preparações. Em apresentações, principalmente no que diz respeito aos
seguida, foi exposta a tabela de preparação com os pacientes hospitalizados.
ingredientes utilizados, bem como o modo de preparo que foi A gastronomia, através da renovação de técnicas
utilizado, de acordo com o demonstrado nas tabelas abaixo. culinárias para melhorar o aspecto e características sensoriais
Logo após foi solicitado que os provadores comentassem da dieta, pode ser uma ferramenta para uma maior adesão
através de um diálogo informal o que acharam da preparação, dos pacientes em dietas restritivas, unindo arte culinária com
se achavam viável produzi-la com ingredientes utilizados e se nutrição (MONEGO; MAGGI, 2004).
achavam que o custo era favorável à sua aplicabilidade em Várias são as técnicas que podem ser utilizadas para
ambientes hospitalares. Pediu-se ainda que relatassem se tornar a preparação atrativa para os pacientes tanto em dieta
comeriam fora do ambiente hospitalar, e se tinham a intenção normal, quanto em uma dieta restritiva. Na preparação da taça
de oferecer para seus pacientes, todos opinaram com relação de frutas com creme e aveia (figura 1) foi feita uma
a preparação e em seguida foi oferecido em pratinhos a sobreposição das frutas, onde as suas cores deram uma
segunda preparação que foi o bolo de cenoura sem glúten e aparência atrativa para o preparo. A mistura de cores, aromas
sem lactose, pediu-se mais uma vez que eles degustassem e e texturas são umas das técnicas bastante induzidas pelos
fizessem os comentários sobre a preparação da mesma forma chefes de cozinha, uma vez que tornam os pratos bem mais
que foi feito com a taça de frutas com creme e aveia, todos aceitáveis. Já na preparação do bolo de cenoura sem glúten e
mais uma vez se sentiram a vontade para dar suas opiniões. sem lactose (figura 2), foi utilizada com o intuito de melhorar o
aspecto da preparação uma cobertura de calda de uvas
passas, deixando o bolo com uma cor mais brilhante, que uma
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO vez associada a outras características sensoriais, ajudou a dar
uma maior aceitabilidade.
A fruta é o que existe na natureza de mais generoso e
versátil. As cores, os perfumes, os sabores e as formas
envolvem em um único prazer todos os sentidos, além de nos
alimentar com açúcares, minerais e vitaminas. Em resumo,
prazer e saúde unidos numa mordida, recolhidos num suco
(SENAC, 2012).
Muitos sentem prazer ao comer uma fruta, tomar um
suco, porém são as apresentações desses alimentos que os
47 48
temperatura ideal, aroma agradável, e com cores e sabores
diferenciados do habitual, ajudando assim numa melhor
recuperação do estado nutricional de pacientes.
Neste contexto, de acordo com Rosado, Pires e Perez
(2008), aproximadamente 80% dos entrevistados consomem
salada de frutas caseira e apenas 20% não possuem esse
hábito. Dos 20% que não consomem esse tipo de produto, os
principais motivos são: não gostam de preparar (61,5%) e não
gostam desse tipo de alimento (38,5%). Em geral os
consumidores de salada de frutas caseira utilizam, no seu
preparo, diversos tipos de frutas, especialmente: banana
(87,2%), laranja (86,2%); maçã (63,5%); mamão (56,1%) e
abacaxi (41,4%).
Diante esse exposto vimos que esta preparação pode
ser uma sugestão de sobremesa para pacientes hospitalares
uma vez que não apresentam alto teor em lipídeos e
carboidratos, além de proporcionar uma rápida digestão, e
oferecer alto índice de vitaminas. Podendo também adaptá-la
para cada paciente, visto que nem todas as frutas são aceitas
pelos indivíduos e que alguns possuem alergia a alguns dos
Figura1. Taça de fruta com creme e aveia. Figura 2.Bolo de cenoura sem tipos como o exemplo do abacaxi, e como temos uma vasta
glúten e sem lactose. diversidade, é viável as adaptações.
Em um estudo feito por Mauricio et al (2012) com cinco
Pensando em agregar prazer à dieta hospitalar, tanto a formulações distintas de bolo de cenoura, sendo duas para o
Nutrição quanto a Gastronomia vêm empregando programas e bolo de cenoura isento de glúten (BIG), obtendo então o (BIG)
pesquisas em prol da promoção da saúde através de pratos MIX-1 e (BIG) MIX+1; uma para o bolo de cenoura com glúten
saborosos (BONA, 2010). (farinha de trigo) e óleo de milho (BGOM) tido esse como
Cada vez mais a inserção da gastronomia hospitalar padrão para as demais formulações e ainda duas para bolo
tem impactado de forma direta na aceitabilidade do alimento e com glúten (farinha de trigo) e óleo de palma (BGOP), sendo a
melhorando o estado de saúde do paciente, a partir de uma primeira com 100g de óleo palma (BGOP–100g) e a segunda
melhor aceitação das refeições servidas. Com isso, maior com 80g de óleo de palma (BGOP–80g) que foram assim
atenção é dada para que as refeições sejam servidas em denominados por diferenciarem na quantidade de óleo de
49 50
palma utilizada. Os resultados da análise sensorial A remoção do glúten acarreta mudanças sensoriais nos
demonstram que para o atributo aceitação global, o BGOP 80 alimentos, modificando sua textura, hidratação, aparência e o
g apresentou diferença significativa (p<0,05) dos BIG MIX+1 e sabor, ressaltando o maior problema encontrado na
BGOM. Já ao relacionar o atributo textura, o BIG MIX-1, substituição dos cereais que contêm glúten por outros
BGOP 80 g e BGOM foram mais apreciados que o BGOP 100 ingredientes que não o contêm (CASTRO et al., 2007;
g e BIG MIX+1, que também se diferenciaram PORTELA et al., 2008).
significativamente (p<0,05) das amostras referidas.
Com relação ao nosso estudo mostrou que a taça de FICHA DE PRODUÇÃO CULINÁRIA
frutas com creme e aveia, toda a totalidade de participantes BOLO DE CENOURA SEM GLUTEN E SEM LACTOSE
QUANTIDADE INGREDIENTES
comentaram que gostaram muito da preparação, dos 30
OVOS
participantes 30 disseram que gostaram muito (100%), 3 UNIDADES 150,42g
nenhum comentário foi negativo, e relataram que usariam 6 COLHER DE SOPA 90g AÇUCAR
essa preparação como sobremesa ou lanche para seus ½ XICARA DE CHÁ 96,45g OLEO
futuros pacientes (100%). Informaram ainda que os custos da 2 XICARAS 109,21g
AMIDO DE MILHO
preparação eram viáveis (93,3%) e que comeria fora do
CENOURA
ambiente hospitalar (93,3%), quanto a se achavam viável 2 UNIDADES 275g
produzi-la diante o exposto dos ingredientes utilizados (100%) FERMENTO EM PO
e se achavam que o custo era favorável a sua aplicabilidade 1 COLHER DE SOBREMESA 4g

em ambientes hospitalares (90%). Já com relação ao bolo de 20 UNIDADES UVAS PASSAS


cenoura sem glúten e sem lactose, alguns dos provadores Modo de Preparo:
informaram não ter gostado muito, pois relataram que a Massa: Na batedeira bata os ovos inteiros com açúcar (2 colheres) até
formar um creme fofo, adicione o óleo e continue batendo, coloque o amido
textura não era boa dos 30 provadores 19 relataram gostar
de milho a cenoura ralada e o fermento apenas mexendo, coloque em
muito (63,3%) e os 11 relataram nem gostar nem desgostar forma untada e polvilhada com açúcar. Leve para assar em forno pré-
(36,6%), em decorrência da ausência do glúten, pois ele que aquecido em 180°c por 20 minutos ou até dourar. Use forma de pudim de
dá a característica fofa do bolo convencional, mas relataram pão inglês ou retangular todas pequenas se quiser maior dobre a receita.
que isso não influenciou no sabor, que apesar de conter pouco Calda: Em uma panela pequena coloque as quatro colheres de sopa de
açúcar e leve ao forno brando, quando o açúcar começar a se desmanchar
açúcar na preparação, estava agradável sendo, portanto, mais
e formando um gel acrescente um pouco de água e as uvas passas, depois
uma opção para servir aos pacientes, principalmente aqueles de unidos jogue por cima do bolo pronto. Em seguida pode servir. Serve 30
intolerantes à lactose e os celíacos, ainda sobre a preparação fatias finas.
relataram também que comeriam fora do ambiente hospitalar Quadro 1: modelo de ficha de preparação.
(56,6%). O preço também foi um fator positivo (93,3%), tendo
em vista que os ingredientes são todos de baixo custo.
51 52
FICHA DE PRODUÇÃO CULINÁRIA 4. CONCLUSÕES
TAÇA DE FRUTAS COM CREME E FAROFA
QUANTIDADE INGREDIENTES Os resultados obtidos na prática desmistificaramo
24 FATIAS 1.319,4g MAMÃO FORMOSA estereótipo da alimentação hospitalar. Ao contrário do que se
6 UNIDADES PEQUENAS MANGA imagina, a comida de hospital podem ser requintada, com
1.433,76g
seus sabores realçados e suas cores avivadas. É através da
12 FATIAS 1.448,4G* ABACAXI
gastronomia hospitalar que é possível melhorar a
18 UNIDADES 1.008g KIWI
apresentação e os sabores dos pratos, a fim de obter maior
6 UNIDADES 1.020g IOGURTE NATURAL
aceitação da preparação e, consequente, melhora do estado
DESNATADO
6 XÍCARA DE CHÁ 1.152g CREME DE LEITE LIGTH
nutricional e de saúde do paciente. Vale destacar que para
aprimoramento das características sensoriais das preparações
22g FLOCOS DE AVEIA não é necessário um gasto adicional, podendo ser utilizado
720g UVAS PASSAS alimentos corriqueiros e baratos. Assim, temos a gastronomia
Modo de Preparo: como um forte recurso no tratamento de pacientes
Inicialmente higienize as frutas e retire as cascas, logo após corte hospitalizados, em especial para aqueles que têm restrições
todas as frutas em cubos e em seguida faça a distribuição em das alimentares, como no caso dos intolerantes à lactose e os
mesmas em 30 taças médias. Feito isso, em uma tigela, misture o celíacos, possibilitando uma maior diversidade de preparações
iogurte natural desnatado com o creme de leite ligth. Depois cubra para estes pacientes que, normalmente, têm em sua
com o creme as frutas que foram anteriormente cortadas e coloque alimentação rotineira uma grande monotonia alimentar.
na geladeira. Após 5 min. de refrigeração, retire da geladeira e
cubra o creme com aveia e uva passas. Serve 30 porções.
Quadro 2: modelo de ficha de preparação.
* Os valores utilizados na tabela são referentes ao peso líquido dos
produtos.

53 54
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Centro Universitário Senac – São Paulo, pag 139-144; 05 e 06
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Administração e sociologia rural, p 01- 14, Acre, julho de 2008. HOSPITALIZADOS

Jackeline Sales SILVA¹


Larissa Raquel Gonzaga da SILVA¹
Daiane Veloso ARAÚJO¹
Jailane de Souza AQUINO²
¹ Alunas de Graduação em Nutrição da UFPB. ² Profª. Dra. do curso de Nutrição da UFPB

RESUMO: Desnutrição hospitalar é um problema de saúde


pública que está associada ao aumento significativo da
morbidade e mortalidade, do tempo e do custo da
hospitalização. Uma alimentação equilibrada tem função
significativa na recuperação de enfermos e na conservação da
saúde. Este trabalho teve como objetivo relatar sobre a
gastronomia hospitalar como cooperadora no
restabelecimento do estado nutricional de pacientes
hospitalizados desnutridos. Foi desenvolvido através de uma
revisão de literatura com a inclusão de trabalhos originais e de
revisão publicados no período de 2001 a 2013. Uma redução
expressiva da prevalência de desnutrição energético-proteica
no Brasil ocorreu, porém os índices de letalidade por
desnutrição grave em tratamento hospitalar permanecem
altos. Gastronomia hospitalar é compreendida como uma arte
de conciliar a prescrição dietética e as restrições alimentares
de clientes à elaboração de refeições saudáveis e nutritivas,
atrativas e saborosas. A aceitação da alimentação por parte
do paciente internado é crucial para uma ação efetiva da
57 58
terapia nutricional. A evolução da gastronomia pode permitir Enquanto alguns casos são consequências das doenças,
que dietas hospitalares, conhecidas pela insipidez, contribuam outros sucedem da ingestão inadequada, devida à perda de
para a terapêutica, agregando prazer ao valor nutricional do apetite, incapacidade de ingestão de alimentos ou má-
alimento. Contudo, apesar da intensa produção científica absorção (RASLAN et al., 2008).
elaborada sobre desnutrição, necessita-se de mais estudos de Uma alimentação equilibrada tem função significativa na
campo que confirmem o benefício da gastronomia hospitalar. recuperação de enfermos e na conservação da saúde.
Contudo, pessoas hospitalizadas, geralmente rejeitam as
Palavras-chave: Desnutrição hospitalar. Alimentação. refeições servidas, seja por lembranças anteriores de
Gastronomia hospitalar. hospitalização, em que houve uma ligação da doença com a
comida de hospital, ou por não gostarem do cardápio
1. INTRODUÇÃO estabelecido, não aceitando a dieta proposta pela área de
nutrição (MEZOMO, 2002).
A desnutrição pode ser definida como um estado Segundo Sousa e Proença (2004), a alimentação
nutricional com deficiência de energia, proteína ou outros hospitalar é um fator essencial para os cuidados hospitalares
nutrientes causando efeitos deletérios ao organismo, com oferecidos aos pacientes, devendo associar características
consequências clínicas e funcionais (STRATTON et al., 2004). que atendam às suas necessidades nutricionais, higiênico-
Encontra-se ainda em evidência atualmente, apesar das sanitárias, sensoriais e psicossociais.
transformações ocorridas devido à transição nutricional Nos últimos anos, muitos hospitais têm adotado a
mundial. Estudos sobre a transição nutricional mundial filosofia de que a qualidade do serviço de alimentação deve
apontam que países em desenvolvimento apresentam associar a dietoterapia à gastronomia na recuperação de
simultaneamente, desnutrição e prevalências preocupantes de patologias, prevenção de doenças e promoção de práticas
excesso de peso e obesidade em decorrência da má- alimentares saudáveis (MAGNONI e CUCKIER, 2005).
alimentação (IBGE, 2004). Diante dos altos índices de desnutrição hospitalar e de
A desnutrição hospitalar é um problema de saúde pública suas complicações para o restabelecimento e qualidade de
que está associada ao aumento significativo da morbidade e vida do paciente, tornar-se fundamental que o profissional
mortalidade, do tempo e do custo da hospitalização. Sua nutricionista procure novos métodos de oferecer um plano
prevalência varia de 20% a 50% em diferentes estudos, dietoterápico com ingestão adequada de nutrientes,
conforme critérios utilizados. Destaca-se que os pacientes colaborando assim para a redução desse problema (SOUZA e
podem encontrar-se desnutridos no momento da admissão ao NAKASATO, 2011).
hospital, sendo que muitos desenvolvem a desnutrição O objetivo deste trabalho foi relatar sobre a gastronomia
durante a hospitalização (VENZIN et al., 2009). Vários fatores hospitalar como cooperadora no restabelecimento do estado
colaboram para a desnutrição em pacientes hospitalizados. nutricional de pacientes hospitalizados desnutridos.
59 60
por outro, problemas nutricionais associados a processos
2. MATERIAIS E MÉTODOS patológicos (COUTINHO et al., 2008).
Dois dos principais estudos que pesquisaram a
Este trabalho foi desenvolvido através de uma revisão de prevalência da desnutrição hospitalar encontraram resultados
literatura. A pesquisa bibliográfica foi realizada em bases alarmantes. O estudo multicêntrico Inquérito Brasileiro de
eletrônicas de dados Lilacs, Bireme e Scielo, considerando-se Avaliação Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI), publicado no
como critérios de inclusão trabalhos originais e de revisão ano de 1997, que englobou 4.000 pacientes maiores de 18
publicados no período de 2001 a 2013 além de livros e anos, internados em hospitais da rede pública no Brasil,
dissertações, na língua portuguesa, inglesa e espanhola, apontou que 48,1% dos pacientes eram desnutridos, sendo
sendo utilizados os seguintes descritores: nutrição e que a desnutrição grave estava presente em 12,5% e a taxa
gastronomia, desnutrição, desnutrição hospitalar, gastronomia, de desnutrição aumentou com maior tempo de internação
gastronomia hospitalar e alimentação. Excluíram-se os artigos (WAITZBERG et al., 2001). Em 2003, o Estudo Latino-
que não tratavam especificamente do tema. Selecionando os Americano de Nutrição (ELAN), que incluiu 9.348 pacientes,
artigos e analisando-os na íntegra suas informações, divulgou uma prevalência de 50,2%, com 11,2% de
sintetizando os dados principais de cada artigo. desnutrição severa (CORREIA e CAMPOS, 2003).
Diversos fatores favorecem para o problema de
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES desnutrição em pacientes hospitalizados, como: frequentes
situações de jejum e perda de refeições para a realização de
3.1 A DESNUTRIÇÃO NO PACIENTE HOSPITALIZADO exames diagnósticos; uso prolongado de hidratação
endovenosa; refeições mal programadas, apresentadas ou
A desnutrição afeta prejudicialmente a estrutura corporal, distribuídas (horários, preparação, temperatura etc.); sintomas
a elasticidade, a função, a força, a resistência e a massa e manifestações da doença de base ou comorbidades que
muscular. Os desnutridos manifestam dificuldades na controlam a ingestão ou elevam os requerimentos nutricionais,
cicatrização de feridas, aumento das úlceras de pressão e tornando impossível atingir as necessidades e propiciando a
alterações nos mecanismos de defesa imunológica (SOUZA et depleção das reservas; efeitos colaterais de medicamentos
al., 2012). que interferem no processo de nutrição; inatividade física;
Ainda que tenha ocorrido uma redução expressiva da desconsideração da importância dos cuidados nutricionais
prevalência de desnutrição energético-proteica no Brasil, os pelos profissionais de saúde e diluição das responsabilidades
índices de letalidade por desnutrição grave em tratamento entre os membros da equipe (FUCHS et al., 2008).
hospitalar permanecem altos, expressando que a desnutrição Outro fator que auxilia na desnutrição hospitalar é a
ainda é uma realidade existente no âmbito hospitalar, que ausência de uma avaliação adequada do estado nutricional do
demonstra, por um lado, o perfil nutricional da população e, doente que ingressa e permanece no hospital (FUCHS et al.,
61 62
2008). Além dos fatores já relatados, em alguns casos a sensoriais e estimular a nutrição com prazer (JORGE e
prescrição dietética não é adequada, proporcionando um MACULEVICIUS, 2007).
desajuste entre a quantidade de energia e nutrientes oferecida A gastronomia hospitalar é um desafio para os
e os requerimentos nutricionais do paciente (GIRALDO et al., profissionais de nutrição, que devem respeitar as exigências
2007). da prescrição dietética, segundo as patologias apresentadas,
A desnutrição grave causa depleção nutricional global do e, ao mesmo tempo, oferecer uma refeição atrativa e saborosa
paciente. Esta condição provoca o aumento de complicações, (Proença et al., 2005). Outro desafio está relacionado à
da morbidade e mortalidade e compromete a qualidade de limitação de recursos financeiros, visto principalmente em
vida levando ao prolongamento de hospitalização e ao hospitais públicos, que dificultam a melhoria da refeição
aumento de custos, com grande compromisso social oferecida ao paciente (Castro et al.,2003).
(MALAFAIA, 2009). A dieta oferecida, em muitos hospitais, é inadequada em
relação a diversos aspectos, como os sensoriais. Como o
3.2 A GASTRONOMIA HOSPITALAR homem não se alimenta pensando apenas em sua nutrição, a
boa qualidade sensorial é o ponto-chave para que um alimento
A construção do gosto alimentar não se dá, seja consumido (VILLAR, 2007). Uma dieta hospitalar
especificamente, pelo seu aspecto nutricional. A comida não é atendendo a atributos psicossensoriais e simbólicos, de
apenas uma substância alimentar, mas também um modo, um reconhecimento individual e coletivo, pode aliviar o sofrimento
estilo e um jeito de alimentar-se. Consequentemente, do paciente originado do distanciamento de sua rotina habitual
alimentar-se é um ato nutricional e comer é um ato social (DICKINSON et al., 2005).
associado a usos, costumes, condutas, protocolos e situações A instalação de uma cozinha experimental dentro da
(SANTOS, 2005). Unidade de Nutrição e Dietética (UND) hospitalar tem sido
A gastronomia é definida como o conhecimento baseado muito útil, como tendência atual e inovadora nesse meio e,
de tudo o que se relaciona ao homem, na medida em que ele principalmente, como instrumento de promoção da qualidade.
se alimenta, com o objetivo principal de cuidar de sua Associando conceitos e práticas de técnica dietética e
conservação, preservando saudavelmente a espécie, por meio culinária, dietoterapia e análise sensorial, com o propósito de
da melhor alimentação possível, qualitativa e desenvolver preparações para uma clientela heterogênea e
quantitativamente (JORGE, 2008). especializada no âmbito de suas necessidades nutricionais,
No âmbito hospitalar, a gastronomia está compreendida auxiliando a valorização da terapia nutricional oral (JORGE,
como uma arte de conciliar a prescrição dietética e as 2008).
restrições alimentares de clientes à elaboração de refeições Segundo Villar (2007) em locais onde há a presença do
saudáveis e nutritivas, atrativas e saborosas, a fim de chef de cozinha e nutricionista, ambos devem trabalhar em
promover a associação de objetivos dietéticos, clínicos e união, transferindo entre si seus conhecimentos técnicos, de
63 64
modo que nenhum dos dois duvide da importância de suas aparência visual da bandeja de refeição e a disponibilidade de
assistências para a satisfação dos objetivos da nutrição e da utensílios adequados para alimentação, são peculiaridades
gastronomia no atendimento dos pacientes e seus que assumem alto grau de importância no conceito de
acompanhantes. qualidade da refeição servida (MORIMOTO e PALADINI,
Os hospitais que tentam melhorar o serviço de 2009).
alimentação, trazendo como recurso a gastronomia não deve Num estudo desenvolvido por Silva e Maurício (2013) em
se esquecer da relação entre as refeições componentes da uma unidade hospitalar privada na cidade de Maringá-PR, na
dieta oferecida ao paciente e suas características ala da maternidade de atendimento particular, com 26
socioculturais e pessoais. Sendo importante que o nutricionista pacientes hospitalizados. Foram realizadas cinco intervenções
reserve um tempo para conhecer cada novo paciente gastronômicas, sendo feito uma avaliação. Para a coleta de
(VILLAR, 2007). dados, foi empregado um questionário. Este era composto de
perguntas sobre a apresentação, o aroma, o sabor, a textura e
3.3 A APLICAÇÃO DA GASTRONOMIA HOSPITALAR EM a temperatura dos alimentos, bem como sobre a influência
PACIENTES DESNUTRIDOS desses fatores no aumento de apetite e a satisfação da
refeição servida antes das intervenções gastronômicas e após
A função terapêutica da alimentação tem evoluído a dieta ser modificada gastronomicamente, e também sobre o
através do avanço considerável dos conhecimentos atendimento da unidade hospitalar. Com base na análise
relacionados à dietética e à nutrição, sendo que a pesquisa estatística, percebeu-se que os dados recolhidos
nessas áreas permitiu novos pontos de vista acerca da terapia demonstraram diferenças significativas entre a refeição atual e
nutricional, evidenciando que a alimentação pode, de fato, a proposta na apresentação do prato, influenciando no
apresentar um papel significativo no processo saúde e doença aumento do apetite dos pacientes. Sobre a satisfação na
(DEMÁRIO et al., 2010). apresentação do prato, todas as entrevistadas responderam
A aceitação da alimentação por parte do paciente que sim, indicando satisfação total em relação à apresentação
internado é constituída por uma agregação de fatores próprios da refeição proposta.
ao estado da doença e de fatores relacionados ao serviço Quanto ao sabor que a refeição oferecia antes das
oferecido. Em um estudo realizado na cidade de Curitiba, que intervenções gastronômicas e ao que apresentava após estas,
entrevistou 216 pacientes com a finalidade de determinar as as mudanças foram perceptíveis na refeição proposta,
características da qualidade necessária no que se refere à indicando que as pacientes voluntárias aprovaram a
alimentação durante a internação hospitalar, notou-se que o adequação do tempero em relação à refeição atual oferecida
sabor, a temperatura, a variação do cardápio, a higiene dos na unidade hospitalar.
alimentos oferecidos, a cortesia no atendimento realizado pela Outro estudo, realizado em Santa Catarina, avaliou os
copeira e a aparência dessas ao servir a refeição, bem como a restos alimentares do almoço e do jantar dos pacientes antes
65 66
e após a introdução do sistema de hotelaria hospitalar para o averiguar o impacto da melhor aceitação provocada pela
setor privado. O principal resultado encontrado com essas gastronomia no estado nutricional dos pacientes, visto que,
alterações foi à redução dos restos de alimentos deixados como o demonstrado durante o desenvolvimento desse
pelos pacientes do setor particular no almoço. A qualidade da trabalho, a desnutrição é um problema de saúde pública no
matéria-prima, variedade do cardápio, apresentação e ambiente hospitalar que causa grave prejuízos nos
utensílios utilizados para servir as refeições e também a restabelecimento dos doentes, sendo interessante o
atenção da equipe às preferências alimentares do paciente desenvolvimento do maior número de planos viáveis para
influenciaram beneficamente na redução dos restos de reduzir seus índices. Consequentemente, com a
alimentos (PARISENTI et al., 2008). transformação do hospital num ambiente mais hospitaleiro e
O conhecimento da arte de cozinhar pode proporcionar conseguindo reduzir o impacto da internação sobre os
maior prazer a quem come tornando-se uma poderosa pacientes, dessa forma pode-se colaborar para a diminuição
ferramenta de trabalho para o profissional elaborar dietas da desnutrição hospitalar (SOUZA e NAKASATO, 2011).
saborosas e melhorar a adaptação dos pacientes (VILLAR,
2007). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aceitação da alimentação por parte do paciente
internado é crucial para uma ação efetiva da terapia Diante das informações obtidas depreende-se que a
nutricional. A evolução da gastronomia pode, então, permitir gastronomia hospitalar pode ser utilizada como uma
que dietas hospitalares, conhecidas pela insipidez, contribuam cooperadora na recuperação do estado nutricional de
para a terapêutica, agregando prazer ao valor nutricional do pacientes hospitalizados desnutridos, melhorando as
alimento (FRANGELA et al., 2007). características sensoriais das preparações, a apresentação
Ainda que tenham progredido os conceitos de hotelaria e das dietas e o atendimento aos pacientes. Contudo, apesar da
gastronomia hospitalar, tendo as dietas hospitalares sofrido intensa produção científica elaborada nos últimos anos sobre
mudanças mediante a situação atual, e devido a grande o impacto da hospitalização no estado nutricional de pacientes
influência da alimentação na recuperação de pacientes internados, necessita-se de mais estudos de campo que
hospitalizados, amplamente questionada nos estudos confirmem o benefício da gastronomia hospitalar.
pesquisados, foram achados poucos artigos debatendo o tema
da gastronomia hospitalar e menos ainda em relação a
estudos que observaram seu impactou na aceitação das
dietas pelos pacientes. Novos estudos devem ser produzidos
a fim de comprovar a melhora da adesão alimentar dos
pacientes por meio da aplicação de técnicas gastronômicas. É
necessário também que sejam feitos estudos que possam
67 68
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIRALDO, N. A. G.; GARCÍA, N. E. M.; PIÑERES, L. M.
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71 72
CAPÍTULO 06 outras naturezas no intuito de melhorar a ingestão das dietas
hospitalares.
A GASTRONOMIA COMO RECURSO PARA MELHORAR A
ACEITAÇÃO DE DIETAS INFANTIS EM AMBIENTE Palavras chave: Gastronomia; Resto Ingesta; Dieta Hospitalar.
HOSPITALAR
1 INTRODUÇÃO
1
Itana Myrtes Morato SALVIANO
Raphaela Araújo Veloso RODRIGUES2 Em indivíduos hospitalizados, o estado nutricional tem
1 Aluno do curso de Bacharelado em
Nutrição da UCFG; 2 Professora do curso influência direta sobre seu prognóstico clinico. Sabe-se que,
de Bacharelado em Nutrição da UFCG quando os pacientes apresentam riscos nutricionais, o tempo
de internação é aproximadamente 50% maior comparado com
RESUMO: A gastronomia apresenta-se como importante aqueles em estado nutricional adequado. Esse aumento traz
ferramenta a ser utilizada pelos profissionais nutricionistas maiores risco de complicações, de morbi mortalidade, e
para melhorar a aceitação de dietas hospitalares. O estudo maiores custos hospitalares (FONTOURA; CRUZ; VIEIRA;
teve objetivo de avaliar o impacto da apresentação das dietas 2006).
sobre sua aceitação pelos pacientes de um hospital municipal A desnutrição intra-hospitalar, tem em sua origem a
da cidade de Cuité/PB. A coleta de dados incluiu análise de 42 diminuição da ingestão alimentar do paciente hospitalizado,
dias, 21 dias utilizando apresentação padrão (AP) do hospital decorrente das mudanças alimentares, troca de hábitos e
e 21 dias com apresentação experimental (APEX). Para aferir horários das refeições (SOUZA, 2007). No paciente infantil, os
a aceitação das dietas hospitalares foram mensurados o indice riscos de desenvolver esse quadro é maior, tendo em vista a
de rejeição (IR) do almoço, que constitui a principal refeição do fragilidade e vulnerabilidade alimentar e nutricional do grupo
serviço. Foram avaliadas um total de 202 refeições, sendo 122 etário. A falta de apetite na criança enferma pode levar a uma
do grupo AP e 80 da APEX. No grupo AP, foi observado que o importante redução da ingestão de nutrientes, de energia e,
IR médio do cardápio A e B foi, respectivamente, 44,22% e consequentemente, a déficits de crescimento e
45,97%. Com a alteração para APEX, os valores médios de IR desenvolvimento. Além disso, o estado nutricional da criança
diminuíram para 31,70% no cardápio A e 31,95% no B. doente é fator determinante no prognóstico nas patologias
Mesmo com diminuição significativa, dos valores de IR após (GAARE, apud GUERRA, 2009).
mudança na apresentação das refeições, continuam acima Alimentar-se abrange uma identidade pessoal, cultural e
dos parâmetros considerados aceitáveis. Tais resultados social, e não apenas os nutrientes que alimentam um
demonstram que outros aspectos podem estar determinando a indivíduo. Negligenciar todos esses aspectos potencializa os
baixa aceitação das dietas. Sendo necessário intervenções de riscos de ocorrer uma baixa ingestão de alimentos para
qualquer individuo, hospitalizado ou não. Em muitos hospitais,
73 74
a dieta servida, é inadequada em relação a vários aspectos, da apresentação das refeições sobre este parâmetro em
como os sensoriais, contribuindo para a diminuição da pacientes hopitalizados (GUERRA, 2009). Nessa área, ainda
aceitação das dietas pelos seus pacientes e formação de são escassos os estudos desenvolvidos com crianças,
percepção negativas quanto à alimentação hospitalar destacando assim, a importância do desenvolvimento de
(CORBEAU, 2005). novas pesquisas, visto que melhoria na ingestão alimentar
Uma dieta servida com arte, na temperatura correta, através de cuidados com a preparação, possibilita uma
que aguce os órgãos dos sentidos pela aparência, cor, aroma, otimização na recuperação de indivíduos debilitados e
sabor e textura, colabora para aumentar a ingestão alimentar diminuição dos índices de desnutrição hospitalar. Desse
desses pacientes (GARCIA; LEANDRO-MERHI; PEREIRA, modo, o presente estudo tem por objetivo, avaliar a aceitação
2004; PRIETO et al., 2006). Nesse contexto, a gastronomia das dietas hospitalares após alteração na apresentação de
aparece como ferramenta essencial para melhorar a adesão refeições servidas para crianças internas em um hospital da
dos pacientes às suas dietas e tornar mais notório o “prazer” cidade de Cuité- PB.
ao se alimentar, aumentando a satisfação pelo alimento e não
somente pelo nutriente (WANSINK et al., 2003 apud HORTA 2. METODOLOGIA
et al., 2013).
Atualmente, os hospitais que procuram qualidade em A pesquisa foi realizada na ala pediátrica do Hospital e
alimentação ao cliente, aliam a dietoterapia à gastronomia. Maternidade Municipal de Cuité (HMMC), o mesmo possui 44
Essa combinação, acrescida da satisfação da clientela, hoje é leitos, destinado exclusivamente ao atendimento pelo Sistema
chamada de Gastronomia Hospitalar, e se tornou um grande Único de Saúde (SUS), dos quais 13 leitos são destinados à
diferencial para a qualidade dos serviços prestados pelos pediatria. Neste setor, são atendidas crianças de 29 dias aos
hospitais, visto que está diretamente ligada ao “prazer” e a 12 anos.
recuperação do cliente de saúde. O HMMC, possui um cardápio padrão composto
Atualmente, os hospitais que procuram qualidade da diariamente por um tipo de carne, uma guarnição, arroz, feijão
alimentação servida ao cliente, aliam a dietoterapia à e um tipo de salada. A instituição conta com dois cardápios
gastronomia. Essa combinação, hoje é chamada de semanais que se revezam durante o mês, sendo um cardápio
Gastronomia Hospitalar, e se tornou um grande diferencial (CARDÁPIO A) para a primeira e terceira semana do mês e
para a qualidade dos serviços prestados pelos hospitais, visto outro (CARDÁPIO B) para a segunda e quarta semana do mês
que está diretamente ligada não apenas com a recuperação (ANEXO C). Nos dois momentos da pesquisa (AP e APEX),
do cliente de saúde, mas com a satisfação e fidelização do foram usados os dois cardápios da instituição, de forma que
paciente. os dois momentos contemplaram todas as refeições servidas
Dado os vários aspectos que interferem na aceitação durante o mês.
das dietas hospitalares, alguns estudos avaliaram o impacto
75 76
A coleta de dados, desenvolvida durante o período de 2.1 ÍNDICE DE REJEITO
26 de maio a 13 de julho de 2014, acompanhando a
distribuição do almoço servido aos pacientes internados Para a aferição do índice de rejeito das refeições, todos
durante este período, sendo dividido em duas etapas, os pratos foram pesados após a sua montagem (antes da
conforme descrito a seguir. No estudo foram incluídos todos distribuição), e também quando recolhidos das enfermarias.
os pacientes com prescrição de dietas livres, que não Na pesagem dos pratos e bandejas foi utilizada uma balança
apresentavam restrição de nutrientes e/ ou alteração de Filizola modelo 9094-1, com carga mínima de 05g e máxima
textura, produzidas na copa/cozinha da Divisão de Nutrição e 30 kg, com precisão de 05g.
Dietética (DND). O índice de rejeito pode ser utilizado para avaliar a
Durante o primeiro momento da coleta de dados, da aceitação da dieta pelo paciente, o qual estabelece a relação
primeira a terceira semana, as refeições eram servidas de percentual entre o Peso da Refeição rejeitada (PR) e o Peso
forma tradicional, em bandejas plásticas com tampa, sem da Refeição Distribuída (PRD), representada pela fórmula: IR
nenhuma alteração na forma da dieta, constituindo o grupo da = PR x 100/PRD. Para a coleta de dados necessários ao
apresentação padrão (AP). Na etapa seguinte do estudo, as cálculo do IR foram utilizados os seguintes valores:
refeições sofreram alterações quanto sua apresentação, sem • Peso das refeições distribuídas: inicialmente,
haver nenhuma alteração na composição ou preparo das foram determinados os pesos dos utensílios utilizados
refeições. Após a mudança na apresentação das refeições, para o porcionamento das dietas, para obter o peso
denominada apresentação experimental (AEXP), o recipiente médio dos mesmos. Posteriormente, esses utensílios
plástico com tampa utilizado na AP foi substituído por pratos foram pesados com a dieta montada. Do valor total do
coloridos em forma de tartaruga com tampa, vasilha branca peso, reduziu o peso dos utensílios.
em plástico para porcionamento do feijão, talheres coloridos e • Peso dos restos das refeições: Após o
bandeja para servir de apoio aos utensílios. recolhimento dos utensílios nos leitos, os mesmos
Em todas as etapas foi calculado o índice de rejeito foram pesados novamente, para a obtenção e posterior
como instrumento para mensurar aceitação/rejeição da dieta cálculo do resto.
dos pacientes. O porcionamento das dietas AP e APEX foi
feito por uma funcionária da instituição, havendo mudança nos 2.2 ANÁLISES ESTATÍSTICAS
tamanhos das porções servidas.
Os dados de IR foram tabulados e analisados utilizando
o programa estatístico SigmaSTAT. Os dados foram
submetidos ao teste T não pareado e o nível de significância
foi estabelecido em P < 0,05. Os resultados estão
apresentados em valores de média (+ DP).
77 78
Ao total, foram avaliadas 202 dietas distribuídas na ala
3. RESULTADOS E DISCURSSÃO de pediatria durante o período de coleta de dados, destas, 122
foram servidas na AP e 80 na AEXP. Com relação aos valores
Para melhorar a aceitação das dietas, foram utilizadas médios semanais de IR, foi observada uma redução
estratégias de substituição dos utensílios e modificação na significativa (p<0,05) de 44,22% e 45,97% para 31,70% e
forma de apresentação das preparações, A figuras 1 ilustra os 31,95% com a mudança da apresentação da dieta para o
modos de apresentação das dietas, antes e após as cardápio A e B, respectivamente. Na análise da tabela 3,
alterações respectivamente. pode-se verificar que a diferença entre as médias de IR, foi
12,52% para o cardápio A e 14,02% para o cardápio B.

Tabela 3 – Valores médios do IR, de acordo com o cardápio


servido, e a forma de apresentação
Apresentação
Apresentação padrão experimental
IR(%) IR(%)
Cardápio
A 44, 22 (+18,16)a 31,70 (+12,49)b
Cardápio
B 45,97 (+11,42)a 31,95 (+10,37)b
Valores são médias (± DP).
Médias (+ DP) na mesma linha com letras diferentes apresentam diferença
estatística (p<0,05), segundo teste T não pareado.

Segundo Mezomo (2002), a avaliação do desperdício


para clientela enferma é considerada “ótima” quando possui
valores até 10%, “bom” até 15%, “regular” até 20% e
“péssimo” acima de 20%. Desse modo, apesar da melhora
Figura 1 – Registro fotográfico da apresentação do almoço na AP (A) e na significativa, os valores médios apresentados na pesquisa
AEXP (B). Foram usados os mesmos cardápios. Fonte: Registro da continuam acima do percentual considerado aceitável. As
Pesquisa. médias do IR, de acordo com o cardápio servido, e a forma de
apresentação, encontram-se na tabela 3.

79 80
Ainda de acordo com a classificação proposta por odor da PTS, aliada a falta de hábito alimentar de seu
Mezomo (2002), destaca-se que no grupo AP, apenas o consumo pelos brasileiros, tornam-a um alimento de pouca
cardápio de um dia se encaixava na classificação de bom (14, aceitação. Ainda que a instituição seja de caráter público e
28%) e um classificado como regular (17,27%), enquanto os apresente recursos financeiros limitados, é preciso buscar
demais se classificaram como péssimo. Com a alteração na novas alternativas para diminuir os dias em que a soja
apresentação (grupo APEX) das refeições servidas, foi aparece no cardápio, ou ainda diversificar as preparações.Os
observado que em dois dias dos cardápios se classificaram gráficos 1 e 2, ilustram a % RI, de acordo com o tipo de carne
como ótimo (8,93% e 9,76%), um dia classificado como bom servido.
(12,21%), três dias classificados como regular (18,81%, Vale salientar, que mesmo sendo de grande
19,70% e 19,23%), os demais se classificaram como péssimo. importância, a apresentação sozinha, não consegue adequar a
A análise dessa classificação confirma a hipótese inicial que a aceitação das dietas hospitalares, visto a variedade de fatores
forma de apresentação, influencia diretamente a aceitação e que interferem nessa aceitação. Entre eles destacam-se os
ingestão dos pacientes. hábitos alimentares das crianças, que em sua maioria tem seu
De modo semelhante, Horta et al., (2013) em estudo primeiro contato com a PTS e o fígado no ambiente hospitalar
realizado na ala pediátrica de um hospital municipal público de que é um ambiente totalmente estranho. Introduzir alimentos
Belo Horizonte/MG, revelou a melhora da média do resto novos na sua dieta é um grande desafio, que aliado ao tabu
ingestão, passaando de 32,5% antes da mudança na que muitas mães tem em relação a tais alimentos, observado
apresentação para 25,1% depois da mudança na durante o estudo, desencorajam o seu consumo. A repetição
apresentação das refeições, não sendo o suficiente para das preparações também tiveram grande impacto na
alterar sua classificação segundo Mezomo (2002). Entretanto percepção da dieta hospitalar pelos pacientes.
em estudo realizado por Rolim et al., (2011) em um hospital As preferências alimentares dos pacientes, planejamento
oncológico, de caráter filantrópico, na cidade de Natal/RN, o inadequado de refeições e o treinamento dos funcionários
índice de rejeito do almoço servido na clinica médica do para produção em relação ao tamanho da porção ofertada,
hospital após mudança na apresentação da refeição reduziu pode influenciar o desperdício de alimentos e influenciar
de 31% com bandejas para 17,86% utilizando pratos para negativamente a vontade do indivíduo de se alimentar
servir, que de acordo com os parâmetros de Mezomo (2002) a (HIRSCHBRUCH, 1998; LAGES, RIBEIRO, SOARES, 2013).
classificação do serviço evoluiu de péssimo para regular após
a intervenção.
Tanto na AP como na APEX, os dias com maior índice de
rejeito, foram os dias da semana que eram servidos proteína
texturizada de soja (PTS) como fonte proteica. Apesar de
apresentar baixos teores de gordura e colesterol, o sabor e o
81 82
Outros fatores que podem ter contribuido para que esses
percentuais, fossem tão altos, como por exemplo a ausência
% RI E TIPO DE CARNE SERVIDA da estimativa de adequação energética para a necessidade de
Soja cada paciente. Nonino-Borges et al., (2006) mostrou em seus
80
Fígad estudos que a subavaliação da capacidade de ingestão
70
o alimentar dos pacientes resultam na produção superestimada
60
50
de alimentos, e consequentemente, em desperdício. A dieta
40
Frang servida no hospital tem pouca quantidade de sal e não são
o usados temperos prontos, causando uma mudança na
30
20 percepção alimentar.
10 Estudos citados por Valério et al. (2011), a insatisfação
0 com a refeição servida, causando baixa aceitação da mesma,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 tem uma relação muito forte com a doença que gerou a
Dia internação, a falta de apetite, alterações no paladar, mudanças
Gráfico 1. Resto de ingestão, segundo o tipo de carne, antes da mudança de hábitos e insatisfações com o ambiente hospitalar e as
na apresentação das dietas a Apresentação Padrão (AP) preparações.

4. CONCLUSÃO
% RI E TIPO DE CARNE SERVIDA
Soja
60 Mudar a apresentação das dietas, mostrou diminuição
Fígado significativa do índice de rejeito e consequentemente melhorou
50
Frango sua aceitação na ala pediatrica do hospital de Cuité/PB.
40
Conciliar a produção de refeições, com os conhecimentos
30 gastronômicos e a terapia nutricional, constitui um desafio
20 constante do serviço no nutrição de unidade hospitalar.
10
Distribuição de dietas nutricionalmente balanceadas e que
Dia também atendam ás expectativas sensoriais e emocionais do
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
paciente garantem que estes recebam um serviço alimentar de
Dia qualidade garantida, melhorando o prognóstico clínico e
Gráfico 2. Resto de ingestão, segundo o tipo de carne, após a mudança na quebrando o tabu que comida de hospital é “ruim”.
apresentação das dietas, grupo apresentação experimental (APEX) Porém apesar de indispensável a apresentação sozinha
não é capaz de garantir a aceitação da deita hospitalar,
83 84
entretanto é preciso considerar o paciente, como indivíduo 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
inteiro, com histórias de vida, mitos, cultura alimentar, doença
e restrições. A visita diária de um nutricionista as enfermarias, CORBEAU, J. P. Alimentar-se no hospital: as dimensões
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dieta e adapta-lá de forma individualizada a cada paciente. W. D. Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de
São necessários que algumas medidas corretivas sejam Janeiro: FIOCRUZ, 2005. cap. 11, p. 227-238.
adotadas, como, treinamento de funcionários responsáveis
pelo porcionamento, pesquisas de aceitação das preparações FONTOURA, C. S. M.; CRUZ, D. O.; LONDERO, L. G.;
pelos pacientes, metas para diminuição do índice de rejeito, VIEIRA, R. M. Avaliação nutricional de paciente critico.
além do cuidado quanto ao tipo de utensílio utilizado para Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Porto Alegre, v. 18,
servir as refeições. É preciso também que mais estudos sejam n. 3, p. 298-306, jul./set. 2006.
desenvolvidos, a fim de identificar outros aspectos que
melhorem a aceitação da dieta hospitalar GARCIA, R. W. D.; LEANDRO-MERHI, V. A.; PEREIRA, A. M.
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87 88
CAPÍTULO 7 1. INTRODUÇÃO

UTILIZAÇÃO DE CINEMA NO ENSINO DE GASTRONOMIA: Na construção da formação acadêmica de profissionais


UMA RESENHA CRÍTICA SOBRE O FILME “COMO UM na área de alimentação exige-se a compatibilização de
CHEF” diferentes aspectos teórico-metodológicos. Com o objetivo de
se estabelecer a atuação profissional em diferentes práticas
Noádia Priscila Araújo RODRIGUES1 alimentares, de acordo com as necessidades da sociedade em
1Professor do curso de Bacharelado em Gastronomia da UFPB
que está inserido (Ferreira; Magalhães, 2007). A fim de
fomentar a integralidade e a intersetorialidade dos conceitos e
dos saberes, sem que esta abordagem substitua o diálogo no
RESUMO: A utilização de ferramentas e estratégias processo ensino-aprendizagem (Santos, 2005), pois, este
que promovam reflexão e gerem discussão no processo de deve ser a ferramenta central que promove reflexão, gera
ensino-aprendizagem a fim de fomentar a integralidade e a discussão e desperta a curiosidade em busca do
intersetorialidade dos conceitos e dos saberes, sem que esta conhecimento.
abordagem substitua o diálogo neste processo deve ser a O cinema tem sido utilizado como instrumento
ferramenta central para que desperte a curiosidade em busca educativo. Este fato tem sido descrito na literatura do ensino
do conhecimento. O presente trabalho é uma resenha crítica de graduação (DIEZ-GARCIA; CERVATO-MANCUSO, 2011).
do filme “Como um Chef” (2012). Elaborada para demonstrar O qual apresenta diversas vantagens. Tais como a sua
as informações que podem ser adquiridas no aspecto praticidade, acessibilidade, agregação do lazer ao processo
intelectual da formação do profissional do bacharel em educativo e a criação de um espaço para oportunidade para
gastronomia. Dentre as quais foram citadas as inter-relações abordagens de questões do cotidiano e das práticas no
entre Gastronomia Clássica e a Molecular, Princípios de ambiente profissional. Quais sejam: afetividade, postura
liderança em Serviços de Alimentação e as Práticas profissional, atitudes e valores e princípios. Mesmo com todas
alimentares na sociedade. E concluiu-se que a utilização do estas vantagens, este recurso tem sido subutilizado. A
cinema deve ser uma estratégia recomendada e incentivada projeção de filmes apresenta vantagem em relação à literatura
nos ambientes de ensino em gastronomia. como recurso educativo porque o receptor capta as
informações tanto pela via cognitiva quanto pela intelectual, e
Palavras-chave: Ensino. Filmes. Gastronomia. de forma plena e integral. (MAIA et al., 2005; BLASCO et al.,
2005; DIEZ-GARCIA; CERVATO-MANCUSO, 2011).
Por estas questões, escolheu-se elaborar uma resenha
crítica do filme “Como um Chef” (2012), para demonstrar as
informações que podem ser adquiridas no aspecto intelectual
89 90
da formação do profissional de gastronomia a partir da via alimentares da sociedade e da harmonização e contrastes que
cognitiva e aliando prazer ao processo de aprendizagem. podem existir nestas três questões.

2. MATERIAIS E MÉTODO 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este filme tem como título original “Comme un chef”, e A partir deste filme de cerca de 84 minutos, pode-se
tem a duração de 84 minutos. É uma comédia sob a direção estabelecer diversos aspectos na formação acadêmica em
de Daniel Cohen. Estreado em 2012. Conta a história de um gastronomia. Dentre as quais podemos citar as inter-relações
jovem cozinheiro, chamado Jacky, a procura de emprego e a seguir:
que não se rende às novas tendências e mudanças
alimentares. É amante da alta gastronomia. Autodidata, e fiel 3.1 GASTRONOMIA CLÁSSICA X GASTRONOMIA
aos princípios nos quais se espelhou oriundos do Chef de MOLECULAR
Cozinha Alexandre Lagarde, de um restaurante classificado
em alto nível, que está em sério conflito com o novo diretor do A ciência da gastronomia é a união dos elementos
grupo dono de seu restaurante, o Cargo Lagarde. Pois, este culturais e sociais. Utilizando as características geográficas,
diretor, pensando em obter maiores lucros, planeja demiti-lo, climáticas e ambientais disponíveis no local em que está
sem haver quebra de contrato para substituí-lo por um jovem inserida, temperada com os atributos políticos e econômicos,
chef "moderno" especializado em cozinha molecular, a qual é os quais em conjunto, determinam o fluxo, a demanda e a
mais lucrativa para a indústria de alimentos. Para tanto, o disponibilidade dos insumos que são a matéria-prima para a
restaurante deve diminuir na sua classificação atual. Em arte gastronômica.
breve, os críticos irão avaliar seu novo menu. E, devido as No decorrer dos séculos, diversos aspectos da cultura,
dificuldades impostas pelo diretor, ele está a procura de um da sociedade, do meio ambiente tem contribuído para as
novo auxiliar. Inesperadamente, descobre Jacky, o qual o modificações nas tendências gastronômicas que se
ajuda na resolução dos problemas e nas dificuldades pessoais apresentam. Uma delas é a mais recente chamada de
nas quais se encontra, o ajudando a redescobrir o prazer e a gastronomia molecular, que surgiu em 1992, pouco mais de 20
motivação na sua profissão e a redescobrir-se em novas anos, a qual tem sido confundida e criticada como uma
conquistas. Enquanto, Jacky se realiza como Chef de Cozinha tendência que vai de encontro com a tradição da cultura
de um autêntico restaurante que preza pela alta gastronomia. gastronômica clássica, persistente e forte, que foi consolidada
Durante a comédia e ação, gira em torno do filme, o no século XVIII.
clássico e o moderno da alta gastronomia, dos princípios de A gastronomia clássica foi a tendência ao refinamento
gestão em serviços de alimentação, das mudanças da culinária, a ênfase na qualidade em detrimento a
quantidade, as especificidades e destaque na aparência dos
91 92
pratos que surgiu na Itália e foi levada a França que gestão em serviços de alimentos. O gerenciamento está
popularizou e consagrou a gastronomia para o mundo. relacionado à organização de recursos, enquanto a liderança
A gastronomia molecular foi a busca pelas explicações está relacionada a influenciar pessoas para se obter
e técnicas científicas para o preparo dos pratos. Diz-se que é resultados e lidar com desafios.
a tendência da cozinha contemporânea, pois, alia as técnicas Pelo fato, das sociedades serem organizações
de laboratório as experiências culinárias descobertas ao longo dinâmicas, e a cultura ser um processo de aquisição de
da historia da gastronomia. conhecimento, experiências e vivencias adquiridas no decorrer
É neste contexto histórico-cultural, neste mix e do tempo, as preferencias e as exigências gastronômicas
contraste de tendências, técnicas e preferencias também podem mudar. Assim sendo, as empresas necessitam
gastronômicas que se desenvolve o enredo deste filme tão de um esforço especial para se tornarem empreendedoras. Ou
rico de sabores e aromas. seja, a organização empreendedora habilidade de inovar que
se refere a aptidão em apoiar novas ideias, novos
3.2 PRINCÍPIOS DE LIDERANÇA EM SERVIÇOS DE experimentos; a capacidade de assumir riscos na busca de
ALIMENTAÇÃO novos projetos; a pro-atividade na busca de novas
oportunidades de negócios e a autonomia aliada a
Liderança é a competência de alguém em exercer agressividade competitiva que relaciona a influencia na equipe
influencia sobre indivíduos e grupos e é um processo contínuo com a capacidade de responder as tendências de mercado e
de aprendizagem (VERGARA, 2007), na busca de alcançar apresentar respostas gente a demanda da concorrência.
resultados e objetivos comuns.
Atualmente, há uma tendência de que o líder deve ser No filme vemos um líder que tem dificuldades
aceito não pelo nível hierárquico que ocupa, mas pela maneira gerenciais e empreendedoras, porem, encontra alguém que
de relacionar-se e direcionar-se a equipe, portanto a possui estas duas qualidades, mas, que não sabe liderar.
autoridade passa a ser uma conquista. Quiçá, por este motivo ainda não se realizou como o Chef que
No aspecto que tange a gestão em serviços de sempre almejou ser. E ao se relacionarem, podem adquirir e
alimentação, uma liderança eficaz é fundamental para o aprender um com o outro e assim ambos amadurecem no
alcance dos objetivos da equipe. Para que se continue e se aspecto de gestão e liderança empreendedora em serviços de
prossiga na finalidade de buscar agradar aos comensais em alimentação.
todos os aspectos sensoriais e nutricionais que desejarem.
Em grandes estabelecimentos gastronômicos, veem-se
líderes consagrados e admirados pelo público em geral. É
importante destacar que, segundo Stefano (2008), liderança e
gerenciamento são aspectos diferentes da mesma moeda da
93 94
3.3 PRÁTICAS ALIMENTARES NA SOCIEDADE É neste contexto que se desenvolve o filme em
questão. O qual apesenta diferentes realidades de práticas
As práticas alimentares tem função importante na alimentares, por um lado, a monotonia alimentar em contraste
organização social dos grupos humanos. Na natureza, onde com os impulsos por práticas alimentares tradicionais. Por
se encontram os nutrientes necessários a sobrevivência, ao outro lado, o preparo de alimentos para fins de saúde sem a
ser humano é possível transforma-los para o consumo. Essa possibilidade de satisfação sensorial do mesmo que é
transformação é culturalmente construída com a sua história, despertada pela possibilidade de preparo dos mesmos de
em seu meio ambiente, com suas crenças, mitos e tabus. forma clássica e tradicional sem que se perca a fonte de
A cultura tem, portanto, a responsabilidade de nutrientes e substancias bioativas promotoras da saúde.
selecionar os alimentos e impor normas que prescrevem,
proíbem ou permitem o que comer. E são estas práticas que 4. CONCLUSÕES
dão identidade às diversas sociedades e tradições
(BALCHIUNAS, 2014). Evidenciando assim, que o Dentre os aspectos apresentados, pode-se
comportamento alimentar não busca, apenas, a satisfação das compreender a riqueza de atributos pedagógicos que a
necessidades fisiológicas, mas engloba os aspectos utilização do cinema pode apresentar para o processo de
biológicos, cognitivos e afetivos. ensino-aprendizagem na gastronomia.
Na sociedade contemporânea se observa uma A utilização deste filme pode enriquecer a metodologia
demanda pela satisfação da condições de saúde na de ensino dos temas abordados acima, quais são tendências
alimentação. É o que ... chama de medicalização da na gastronomia, gestão e liderança em serviços de
alimentação. Mas, o aspecto da satisfação e da sensorialidade alimentação e práticas e cultura alimentar na
na busca do prazer ao alimentar-se não se perde. E a contemporaneidade dentre outras questões e temas que
monotonia alimentar é um dos grandes problemas para a poderiam ser abordados, como sustentabilidade,
ausência de sucesso no processo “medicamentoso” das regionalidade, ecogastronomia, dentre outros.
práticas alimentares. Portanto, a utilização do cinema deve ser uma
A globalização, dentre os muitos benefícios para as estratégia recomendada e incentivada nos ambientes de
práticas alimentares da sociedade contemporânea, também ensino em gastronomia.
trouxe tendências alimentares monótonas e densamente
calóricas, criadas para um contexto de necessidade energética
de uma época, mas que prosseguiu, mediante as suas
facilidades de preparo em larga escala e facilidades
econômicas, até aos dias de hoje.

95 96
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estratégia de gestão de pessoas e o bem estar
organizacional: um estudo comparativo em duas
instituições financeiras internacionais. [tese – doutorado
em administração]. São Paulo: Universidade de São Paulo,
Faculdade de Economia, Administração e contabilidade; 2008,
187 p.

97 98
CAPÍTULO 08 apresenta leves sinais de estresse. O nutricionista enquanto
profissional comprometido com a saúde coletiva, pode se
AVALIAÇÃO DO ESTRESSE PERCEBIDO E SUA apropriar desse instrumento para verificar os problemas de
saúde que afeta no desempenho dessas atividades. Sugere-
INFLUÊNCIA NA SAÚDE DOS MANIPULADORES DE
se, então a promoção das práticas de ginástica laboral no local
ALIMENTOS de trabalho para impedir o aumento desse índice. E por
consequência uma diminuição na sobrecarga de trabalho.
Eduarda Emanuela Silva dos SANTOS1
Lucicreres Araújo MEDEIROS 2 Palavras-chave: Estresse. Manipulador de alimento.
Adriana Amorim de Farias LEAL3 Unidades produtoras de refeição.
1 Graduação em Nutrição pela Faculdade Mauricio de Nassau- Campus Campina Grande-PB.
2 Graduação em Nutrição pela Faculdade Mauricio de Nassau- Campus Campina Grande-PB.
3 Graduação em Farmácia pela Universidade Estadual da Paraíba -UEPB.
1. INTRODUÇÃO

A alimentação é um processo essencial no nosso


RESUMO: O mercado de trabalho no setor de alimentação,
organismo para a manutenção das funções vitais e tornou-se
está em crescimento acelerado, sobrecarregando os
progressivamente um elemento da cultura na população.
funcionários. Elevados níveis de estresse podem comprometer
Segundo Maricato (2002), a área de alimentação coletiva
o desempenho dos manipuladores de alimentos à medida que
surgiu no Brasil por volta de 1600 com a abertura de uma casa
interferem em fatores como produtividade, concentração e
de restauração em São Paulo, para atendimento aos viajantes.
tomada de decisão. O objetivo da pesquisa foi investigar o
Desde então a dimensão e a importância dessa área na
índice de estresse dos manipuladores de alimentos em
economia nacional podem ser medidas através de números
Unidades Produtoras de Refeição (UPR) com a aplicação do
gerados pelo segmento de alimentação. Até o final do ano de
Questionário de Estresse Percebido (QEP) e avaliar a
2014, a Associação Brasileira de Refeições Coletivas
influência desse resultado na saúde do trabalhador. Foi
(ABERC), que reúne as empresas prestadoras de serviço de
realizado um estudo transversal com abordagem quantitativa,
alimentação, estima o fornecimento de 12,5 milhões de
desenvolvido em dois tipos de unidades: duas UPR
refeições por dia, para instituições públicas ou privadas, e um
hospitalares, sendo um hospital público e outro privado, e
faturamento aproximado de 18,8 bilhões de reais (ABERC,
duas UPR comerciais privadas. A amostra foi composta por 50
2014). O mercado de trabalho por sua vez, acaba exigindo
manipuladores de alimentos, sendo 32 mulheres e 18 homens.
desses profissionais alta produtividade em tempo limitado,
Os resultados mostraram um Índice de Estresse Percebido
sendo necessário ajustar-se de maneira ágil a estas
(IEP) médio de 0,37 revelando que a população em questão
mudanças.
99 100
De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada nº 2. MATERIAIS E MÉTODO
216, de 2004, o termo “manipulador de alimentos” designa
toda a pessoa envolvida no processo produtivo, desde a Realizou-se um estudo transversal com abordagem
venda da matéria prima até o seu produto final (Vasconcelos, quantitativa, desenvolvido em dois tipos de unidades
2008). E por participar ativamente desse processo, o produtoras de alimento no município de Campina Grande –
manipulador pode reduzir o seu nível de produtividade e PB, escolhidas por conveniência, a saber: duas UPR
aumentar o nível de estresse. hospitalares, sendo um hospital público e outro privado, e
Nesse contexto, estudos relacionados ao estresse no duas UPR comerciais privadas.
trabalho têm sido aplicados nos diversos campos de atuação A amostra foi composta por todos os manipuladores
profissional, principalmente pela alta incidência e prevalência de alimentos que possuíam vínculo empregatício de no
do sofrimento mental do trabalhador (Ricardo, 2009). Se por mínimo seis meses na unidade em estudo, que trabalhavam
um lado há a evolução de inovações tecnológicas e no período diurno e que aceitaram participar voluntariamente
organizacionais, por outro as condições de trabalho e saúde da pesquisa, tal como também, a publicação dos resultados
do manipulador nas Unidades Produtoras de Refeição (UPR) em meio acadêmico.
são influenciadas pela falta de capacitação do trabalhador com Ressalta-se que foram excluídos os trabalhadores do
conhecimentos específicos, a qual evita a ocorrência de turno noturno, pois a responsável técnica não estava presente
acidentes de trabalho ou doenças profissionais (Barreto e na unidade neste período, o que impossibilitou o acesso ao
Branco, 2000). local.
O estresse é descrito pela Organização Mundial da A coleta de dados foi realizada antes dos
Saúde (OMS) como uma epidemia global, que afeta mais de manipuladores iniciarem as suas atividades no trabalho, de
90% da população, principalmente as que possuem alguma maneira individual e privativa. As entrevistas foram divididas
atividade profissional, e contribui para o aparecimento de em duas etapas na seguinte ordem: primeiramente foi aplicado
várias doenças, caracterizando-se assim, como um problema um formulário estruturado de Avaliação, para investigar o perfil
de saúde pública (Lima e Farias, 2005). epidemiológico da amostra, contendo dados
Diante do exposto, este estudo objetivou determinar o sociodemográficos e clínicos; em seguida foi aplicado o
índice de estresse percebido em manipuladores de alimentos, Questionário de Estresse Percebido – QEP, para avaliar
funcionários de unidades produtoras de refeição (UPR) no psicologicamente a presença de sintomas de estresse no
município de Campina Grande-PB. grupo estudado.
As seguintes variáveis clínicas foram
analisadas: pressão arterial e circunferência abdominal.
A medida da pressão arterial de consultório foi
realizada pelas pesquisadoras com aparelho automático
101 102
validado (OMROM HEM 705 CP), na respectiva unidade de (2004) traduziram para a língua portuguesa e o validaram
trabalho dos manipuladores. Os participantes não praticaram como Questionário de Estresse Percebido (QEP) para ser
exercício físico nos últimos 60 minutos, e também não usado por diversos grupos etários desde adolescentes até
ingeriram café, bebidas alcoólicas ou alimentos. Todos idosos. Este questionário é composto por 30 questões
estavam com a bexiga vazia e não fizeram uso do cigarro nos objetivas e pode ser dividido em 6 (seis) escalas que avaliam:
30 minutos anteriores. Após o repouso de 7 minutos em um • 1. Aceitação Social – A.S: (questões 5, 6, 12, 17,
ambiente calmo e sem ruídos, eles foram orientados a não 19, 20, 24);
falar durante o procedimento e ficar na posição sentada, com • 2. Sobrecarga – S.C: (questões 2, 4, 11, 18);
as pernas descruzadas, e com pés apoiados no chão. A • 3. Irritabilidade, Tensão e Fadiga – I.T.F:
aferição foi executada com o membro superior esquerdo (questões 1, 3, 8, 10, 14, 15, 16, 26, 27, 30);
apoiado na altura do coração; três vezes consecutivas, sendo • 4. Energia e Alegria – E.A: (questões 1, 13, 21,
o intervalo entre uma e outra medida de 1 a 2 minutos; com 25, 29);
manguito adequado ao tamanho do braço. • 5. Medo e Ansiedade – M.A: (questões 22, 28);
Dessa forma a classificação da pressão arterial normal • 6. Realização e Satisfação Pessoal – R.S.P:
foi realizada de acordo com a medida casual no consultório (> (questões 7, 9, 23).
18 anos), preconizada pela VI Diretriz Brasileira de
Hipertensão (2010) de pressão sistólica < 130 mmHg e Para responder a este questionário, foi utilizada uma escala
pressão diastólica < 85 mmHg. do tipo Likert de quatro pontos: (1 quase nunca, 2 às vezes, 3
Para a medida da Circunferência Abdominal (C.A) foi frequentemente e 4 quase sempre). Um número é atribuído a
utilizada uma fita métrica inextensível com precisão de 0,1 cm, cada célula e reflete a frequência com que se aplica à questão
no nível natural da cintura, no ponto médio entre a crista ilíaca à vida do manipulador de alimento. A variação máxima dentre
anterior superior e a última costela de acordo com a World essas variáveis é de 90 pontos.
Health Organization (WHO, 1997). Ao final da avaliação obteve-se o Índice de Estresse
O ponto de corte estabelecido para a medida da CA foi Percebido (IEP), obtido através da equação [(pontuação total –
preconizado pela (WHO, 2000), que classifica como risco 30) / 90]. O resultado pode variar de 0 a 1, sendo que, quanto
cardiovascular aumentado a medida da circunferência mais próximo do número 1, maior será o índice de estresse.
abdominal igual ou superior a 94 cm para os homens e 80 cm Também foram observados os índices referentes às escalas
em mulheres caucasianas. de: AS, SC, ITF, EA, MA e RSP. Contabilizados de acordo
A fim de avaliar o nível de estresse dos participantes com as fórmulas determinadas para cada escala, cujos valores
foi aplicado o O Perceived Sress Questionnaire (PSQ), se encontram na Tabela 1.
desenvolvido por Levenstein et al (1993) ele é caracterizado
por ter boa confiabilidade e aplicabilidade. Costa e Costa
103 104
Tabela 1: Índices e fórmulas para o cálculo das meio de medidas de frequência (absoluta e relativa) e as
variáveis referentes ao índice de estresse percebido. variáveis contínuas por meio de medidas de tendência central
ÍNDICE FÓRMULA (média, desvio padrão, valor mínimo e valor máximo).
Todos os manipuladores de alimentos foram
IEP (AS) Pontos – 7 esclarecidos quanto aos objetivos do estudo e quanto ao sigilo
21 dos dados coletados, e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido – TCLE, elaborado de acordo com os
IEP (SC) Pontos – 4 requisitos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de
12 Saúde (CNS) 196/96, sobre pesquisas envolvendo seres
humanos.
IEP (ITF) Pontos – 10
30
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
IEP (EA) Pontos – 5
15 O grupo de manipuladores da unidade hospitalar foi
composto por 23 trabalhadores, sendo 8 pertencentes ao
IEP (MA) Pontos – 2 hospital privado e 15 pertencentes ao hospital público. Os
6 manipuladores da unidade comercial foram constituídos por 27
trabalhadores. Assim, a amostra do estudo foi de 50
IEP (RSP) Pontos – 3 (cinquenta) manipuladores de alimentos.
18 A caracterização dos participantes da investigação foi
Fonte: Ricardo, 2009 realizada segundo os critérios de sexo, escolaridade, estado
Notas: 1. IEP- índice de estresse percebido civil e UPR. Os dados socioeconômicos estão descritos na
2. AS- aceitação social tabela 2.
3. SC- sobrecarga
4. ITF- irritabilidade, tensão e fadiga
5. EA- energia e alegria
6. MA- medo e ansiedade
7. RSP- realização e satisfação pessoal

Os dados foram armazenados e analisados em um


banco de dados no programa Microsoft Excel 2010.
Posteriormente, as variáveis categóricas foram descritas por

105 106
Tabela 2 - Distribuição dos voluntários por Quanto ao nível de escolaridade, predominou o ensino
variáveis sociodemográficas e unidade médio completo (74%). Dados semelhantes foram
produtora de refeição.
encontrados por Ferreira et al. (2013) confirmando uma média
Variáveis f* f%**
escolaridade entre os manipuladores de alimentos. A sua
Sexo contratação é favorecida devido a compreensão quanto as
práticas seguras e higiênicas na produção das refeições.
Masculino 18 36,0 Outro fator justificável para esse nível de escolaridade
é que 64% da amostra é composta por manipuladores do sexo
Feminino 32 64,0
feminino. Esses dados também são concordantes com o
Escolaridade
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) o
qual em suas pesquisas constatou que as mulheres são mais
Ensino Fundamental 13 26,0 escolarizadas do que os homens.
Completo Com relação à hipertensão arterial sistêmica, de acordo
Ensino Médio Completo 37 74,0 com pesquisas da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL,
Estado Civil
2010) existe uma associação inversa entre o nível de
Solteira (o) 26 52,0
escolaridade e o diagnóstico da hipertensão arterial sistêmica
(HAS), ou seja, quanto maior o nível de escolaridade, menor é
Casada (o) 24 48,0 o diagnóstico da hipertensão arterial. Esses dados também
foram encontrados na pesquisa. De acordo com a tabela 3 os
Unidade Produtora de Refeição participantes apresentaram os valores mínimo, máximo e
médio da pressão arterial sistólica e diastólica dentro dos
Comercial 27 54,0
valores considerados normais. Também foi analisado a
Hospitalar 23 46,0
circunferência abdominal utilizando os mesmos pontos de
cortes propostos para mulheres caucasianas.
Total 50 100,0

* frequência absoluta
** frequência relativa

107 108
(2009) afirma que os valores reduzidos do IEP são maiores
Tabela 3 - Média e classificação da circunferência abdominal, em dias de repouso do que em dia de atividade de trabalho.
pressão arterial sistólica e diastólica de acordo com o gênero. Entretanto Costa e Costa (2004), aplicou o mesmo
questionário em operadores de caixa de supermercado e
Variá Sexo Masculino Sexo Feminino encontraram uma média do IEP de 0,62; o que levou as
vel autoras a concluírem que a população estava com um elevado
nível de estresse, diferenciando dos achados do presente
Média Valor Valor Média Valor Valor estudo.
(±DP) Míni Máxi (±DP) Míni Máxi
mo mo mo mo Tabela 4 - Média e desvio padrão dos valores obtidos no
Questionário de Estresse Percebido.
P.A.S 122,23±4 110 129 110,45±4 90 115 Variável Média
(mmH ,45 ,24
g) (IEP) (± DP)

P.A.D 70,77±6, 60 90 68,34±2, 60 71 IEP Total 0,37 ±0,09


(mmH 31 67
Aceitação Social 0,25±0,16
g)
Sobrecarga 0,44±0,16
C.A 93,33±3, 85 108 79,25±5, 65 97
(cm) 64 33 Irritabilidade, tensão e 0,35±0,12
fadiga
Na análise da circunferência abdominal a média entre Energia e alegria 0,53±0,19
homens e mulheres estavam dentro dos valores preconizados
pela WHO, 2000. Segundo Lear et al. (2003) estes valores são Medo e ansiedade 0,26±0,24
também um bom preditor de risco de doenças metabólicas,
Realização e 0,20±0,09
principalmente HAS.
satisfação pessoal
Em relação ao Questionário de Estresse Percebido o
valor do Índice de Estresse Percebido (IEP) médio da amostra
foi de 0,37 conforme tabela 4. Segundo Sanz-Carrilo et al. Segundo Ribas et al. (2010) um dos prejuízos causados
(2002) valores reduzidos indicam um menor índice de eventos pelo estresse é a redução da atenção, no qual o manipulador
estressantes percebidos na população em estudo. Ricardo,

109 110
de alimento pode apresentar esse sintoma após 5 anos de Uma das melhorias possíveis é a prática da ginástica
trabalho. laboral, que pode ser incentivada no local de trabalho,
garantindo assim, uma diminuição na sobrecarga de trabalho e
No que diz respeito ao IEP na escala de sobrecarga, a preservação da saúde.
verificou-se uma alta frequência nas respostas das questões
(2,4,11,18), em que o manipulador sente-se com muitas
atribuições e pressão no seu local de trabalho. Após a 5. REFERÊNCIAS
aplicação do questionário de estresse percebido, Ricardo
(2009) também encontrou um alto IEP no item sobrecarga,
mas, através da prática de ginástica laboral na sua amostra, o ABERC- Associação das Empresas de Refeições Coletivas.
índice de estresse foi reduzido principalmente nas mulheres. Dados estatísticos e informações gerais. Disponível em:
http://www.aberc.com.br. Acesso em: 20 abr. 2014.

4. CONCLUSÕES BARRETO, A.C.; BRANCO, A.B. Influência da atividade


física sistematizada no estresse e na fadiga dos
trabalhadores do restaurante universitário da
O estudo revelou que a população em questão universidade de Brasília. Revista Brasileira Atividade Física
apresenta leves sinais de estresse principalmente no item de e Saúde. Londrina, v. 5, n. 2, p. 23-29, 2000.
sobrecarga, quando o manipulador tem que tomar decisões e
cumprir prazos. Acredita-se que todas as profissões que lidam BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde.
diariamente em alcançar metas, apresentam influência do Aprova as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
estresse. Deve-se salientar que o fato da amostra ter sido não- Pesquisas Envolvendo seres Humanos. Resolução nº 196
probabilística, impossibilita que os resultados encontrados de 10 de outubro de 1996.
neste trabalho sejam inferidos à população. Torna-se
importante para a empresa e também para os manipuladores BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
uma reflexão sobre os fatores desgastantes de suas Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
atividades e como eles podem contribuir para a diminuição Vigitel Brasil 2010: vigilância de fatores de risco e
desses índice. proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico.
O nutricionista enquanto profissional comprometido Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
com a saúde coletiva dos manipuladores, pode se apropriar de
instrumentos técnicos para verificar os problemas de saúde COSTA, D. U. S.; COSTA, M. F. Tradução para a língua
que afetam no desempenho das atividades. portuguesa e validação do Questionário de Percepção do

111 112
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Renata Alessandra Firmino WANDERLEY1


Jousianny Patrício da SILVA2
Kataryne Árabe Rima de OLIVEIRA3
Jossana Pereira de SOUSA4
1. Especialista em Nutrição Clínica – UGF; 2. Mestre em Ciências da Nutrição – UFPB;
3. Pós-graduanda em Ciências da Nutrição – UFPB; 4. Pós-graduanda em Nutrição – UFPE

RESUMO: A obesidade é considerada um problema de saúde


pública, constituindo-se em fator de risco para doenças
cardiovasculares. Uma alternativa natural para prevenção e
tratamento da obesidade é o chá verde, estudado nos últimos
anos devido ao seu conteúdo de catequinas. Por isso,
realizou-se uma revisão da literatura com enfoque na
potencialidade do chá verde na prevenção e tratamento da
obesidade. Foram pesquisados artigos científicos originais e
de revisão que demonstram a eficácia das catequinas no
controle e redução do peso corpóreo, atuando, possivelmente,
na termogênese e oxidação do substrato pela regulação de
enzimas do metabolismo hepático de lipídios, redução da
absorção de nutrientes e regulação do apetite. Apesar da
comprovada atuação do chá na obesidade, deve-se levar em
consideração que apresenta melhores resultados quando
associado à reeducação alimentar e atividade física regular.

Palavras-chave: Chá verde. Camellia sinensis. Catequina.


Obesidade.

115 116
os mecanismos de ação responsáveis por essas alterações
1. INTRODUÇÃO não estejam bem esclarecidos, o produto é bastante utilizado
devido à divulgação de seus efeitos, baixo custo e fácil
A obesidade está cada vez mais presente na sociedade, acesso. Indivíduos obesos, com sobrepeso e magros são os
tornando-se um problema de saúde pública e algo que deve que procuram e consomem o chá verde com a finalidade de
ser controlado, pois não é considerado apenas um problema emagrecer ou manter o peso (VERA-CRUZ et al., 2010).
“estético” (REPETTO et al., 2003). Segundo o Ministério da Devido às evidências existentes da interação entre o chá
Saúde, em 2011 o percentual de excesso de peso e verde e emagrecimento, doenças cardiovasculares e câncer,
obesidade da população brasileira eram 48,5 e 15,8%, vê-se a importância de se realizar uma revisão bibliográfica
respectivamente, portanto, uma doença de alta prevalência. sobre o referido tema, objetivando verificar a ação do chá na
Dados de 2013 apresentaram prevalência de sobrepeso acima prevenção e tratamento da obesidade e elucidar as hipóteses
de 50%, sendo fator de risco para outras doenças, pois dos mecanismos de atuação das suas catequinas .
promove aumento do LDL colesterol, dos triglicerídeos e
redução do HDL colesterol, fatores que contribuem para o 2. MATERIAIS E MÉTODOS
desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
No sentido de buscar alternativas naturais contra a O presente artigo consiste em uma revisão da literatura
obesidade, estudos têm demonstrado o efeito protetor do chá científica referente à abordagem do chá verde na prevenção e
verde (Camellia sinensis). Contém cafeína e componentes tratamento da obesidade. Foram pesquisados artigos
polifenólicos (flavanóis, flavandióis, flavonóides e ácidos científicos originais e de revisão, publicados de 2003 a 2013,
fenólicos) que totalizam cerca de 30% do peso seco das escritos em português e inglês, nas bases de dados: Pubmed,
folhas. Os flavanóis são encontrados em maior quantidade, Lilacs, Scielo e Medline; utilizando os termos descritores: chá
dentre os quais predominam as catequinas [(-)-epicatequina verde, Camellia sinensis, catequina, obesidade.
(EC), (-)-3-galato de epicatequina (GEC), (-)-epigalocatequina
(EGC) e 3-galato de epigalocatequina (EGCG)]. Geralmente, 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
após a fervura de 1 g de folhas de chá verde em 100 mL de
água obtém-se de 35-45 mg/100 mL de catequinas e 6 mg/100 3.1 MECANISMOS DE ATUAÇÃO DAS CATEQUINAS DO
mL de cafeína (LAMARÃO; FIALHO, 2009). CHÁ VERDE
Há evidências de efeitos do chá verde na redução da
gordura corporal e do quadro de dislipidemias em humanos e Ainda não há evidências comprovadas dos mecanismos
ratos (LAMARÃO; FIALHO, 2009). Além disso, é hipotensor, de atuação do chá verde na prevenção e tratamento da
antioxidante, anticancerígeno, reduz a glicose sanguínea e obesidade, porém, existem algumas hipóteses (GROVE;
atua como termogênico (BRAGA; BARLETA, 2007). Embora LAMBERT, 2010). Bose et al. (2008) e Wolfram et al. (2005),
117 118
relataram, em estudos com ratos e camundongos, circunferência da cintura e gordura corporal (WESTERTERP-
respectivamente, o mecanismo pelo qual os polifenóis do chá PLANTENGA et al., 2005).
podem modular o peso corporal e o balanço energético. Esses Raça e etnia também podem resistir à ação das CCV.
polifenóis, principalmente o EGCG, aumentariam a oxidação Indivíduos de origem asiática parecem ser mais sensíveis aos
de lipídios e a utilização de hidratos de carbono, e diminuiriam efeitos das catequinas no gasto de energia (RAINS et al.,
a absorção de carboidratos. 2011). Ainda, a diminuição da absorção de nutrientes pode ser
Trabalhos com seres humanos se concentram nos um potencial mecanismo de atuação anti-obesidade, por isso,
efeitos das catequinas do chá verde (CCV) na termogênese e dados de teste in vitro sugerem que CCV podem reduzir a
oxidação do substrato, os quais são mediados por atividade do absorção de glicose pela inibição de enzimas gastrointestinais
sistema nervoso simpático (SNS). Alterações no controle do envolvidas na digestão de nutrientes (α-amilase e α-
apetite, regulação de enzimas do metabolismo hepático de glucosidase). Também já foi demonstrado que as catequinas
lipídios e diminuição da absorção de nutrientes estão entre os diminuem a captação de glicose nas células intestinais e
possíveis mecanismos de atuação do chá. A cafeína resente inibem o transportador de glicose sódio-dependente.
no chá influenciaria a atividade do SNS pela inibição da
fosfodiesterase, enzima que degrada rapidamente no meio 3.2 CHÁ VERDE E OBESIDADE
intracelular a adenosina monofosfato cíclica (AMPc). Acredita-
se que catequinas e cafeína atuem sinergicamente (RAINS et O chá verde parece atuar na prevenção, tratamento da
al., 2011). obesidade e manutenção do peso, devido as suas
A cafeína é estimulante e atua de modo independente propriedades antiangiogênicas. Ratos da linhagem Wistar-
para aumentar o gasto energético, porém, a sua eficácia junto Hannover submetidos a tratamento com chá verde
à catequinas pode ser influenciada pela ingestão habitual da emagreceram, tanto os animais controles (não obesos, porém,
cafeína. A CCV + cafeína só será completamente eficaz tratados com chá verde) quanto os obesos também tratados
quando a ingestão de cafeína habitual é abaixo de um limiar com o chá e, de forma significativa quando comparados aos
determinado, pois, acima desse limiar, serão necessárias que não tiveram a suplementação do chá, mostrando-se,
doses mais elevadas de catequinas (KOVACS et al., 2004). assim, a ação do chá verde na perda de peso (VERA-CRUZ et
Essa teoria se mostrou consistente no estudo com homens al., 2010). Resultado semelhante ao de uma meta-análise com
tailandeses e mulheres na pós-menopausa, população que 11 estudos sobre o chá verde onde verificou-se que o
habitualmente consome baixos níveis de cafeína. Verificou-se consumo habitual de chá verde teve efeito benéfico sobre a
que o baixo consumo de CCV (141mg/d) + cafeína (87mg) em perda de peso e manutenção do peso após a perda (HURSEL
comparação com uma população placebo (sem cafeína), num et al., 2009).
período de 8 semanas, resultou em maiores perdas de peso, Auvichayapat et al. (2008), em estudo com 60 indivíduos
obesos divididos em dois grupos (um recebeu chá verde e o
119 120
outro placebo) e com todos os indivíduos consumindo uma das catequinas do chá verde. Porém, é importante observar
dieta isocalórica (2000 Kcal/dia) contendo três refeições que a dosagem de catequinas variou muito entre os estudos e
diárias durante doze semanas, observaram redução no peso nem todos levaram em consideração a alimentação
corporal a partir da quarta semana de tratamento no grupo que consumida pelos grupos e a atividade física dos mesmos. No
recebeu chá verde, não havendo alterações na ingestão geral, os autores foram unânimes em concluir que, em longo
alimentar, na saciedade e na atividade física. Em um estudo prazo, o consumo de bebidas contendo catequinas contribui
com 46 pacientes obesos, Suliburska et al. (2012) constataram para a prevenção de doenças relacionadas ao estilo de vida,
que após o consumo de 379 mg de extrato de chá verde, particularmente a obesidade, porque reduz gordura corporal e
verificou-se redução no índice de massa corporal, inibe a formação de LDL oxidada - fator de risco para
circunferência da cintura e nos níveis de colesterol total e arteriosclerose (NAGAO et al., 2005).
triglicerídeos. Bose et al. (2008) também demonstraram efeitos
na prevenção e tratamento da obesidade, administrando 7,0 3.3 EFEITOS ADVERSOS
mmol/g de dieta EGCG por 15 semanas em ratos machos
C57BL/6J, comparado com os controles alimentados com alto O consumo do chá verde por meio de suplementos
teor de gordura, além de apresentarem menor peso do tecido dietéticos tem aumentado muito nos últimos anos. Os
adiposo, glicemia de jejum e colesterol. suplementos contêm tipicamente 0,4-8mmol de EGCG e a
A relação entre consumo de chá verde e atividade física recomendação é de 1-2 cápsulas até 3 vezes ao dia,
também deve ser avaliada, pois pode influenciar nos resultando em uma dose total recomendada muito alta
resultados. Maki et al. (2009) examinaram a interação entre diariamente (LAMBERT et al., 2006). Apesar dos seus efeitos
exercício e consumo de chá verde na perda de peso em 107 benéficos, Bartels; Miller (2003) verificaram efeitos adversos
indivíduos com sobrepeso ou obesidade dos Estados Unidos. ocasionados pela ingestão excessiva e por um longo tempo,
Estes foram divididos em dois grupos (I: consumo de chá observando-se que, o consumo por 5 anos de chá obtido
verde – 625mg catequinas, II: placebo), com consumo de uma diariamente de 65 g de folhas pode levar à disfunção hepática,
vez por dia em adição a 180min de exercício/sem. Após 12 a constipação e até mesmo, à diminuição do apetite, insônia,
semanas de tratamento houve maior diminuição do peso hiperatividade, nervosismo, hipertensão, aumento dos
corpóreo no grupo que ingeriu as catequinas em comparação batimentos cardíacos e irritação gástrica. Além disso, a
com o grupo que consumiu o placebo, sendo, neste grupo, um cafeína pode levar a palpitações, dores de cabeça e vertigens.
efeito não significativo. Além disso, o grupo obteve maior
redução no total de gordura abdominal e de triglicerídeos no 3.4 RECOMENDAÇÃO DIÁRIA
soro do que no grupo controle.
Neste sentido, observa-se diminuição do peso em Estudos sugerem que o extrato do chá verde contendo
indivíduos obesos em vários estudos, destacando a eficácia 25% de EGCG é capaz de reduzir o apetite, além de aumentar
121 122
o catabolismo de gorduras. Todavia, ainda não se sabe reeducação alimentar e atividade física regular, justificada pelo
exatamente quais as doses que surtem tais efeitos, pois, estas fato de não haver consenso quanto à dose e ao modo de
variam largamente. Entretanto, é relatada como dose típica em administração ideais para obtenção do benefício.
torno de três copos por dia, o que equivale a, cerca de 240 a
320 mg de polifenóis (XU et al., 2004). Hernandez-Figueroa et 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
al. (2004) concluíram que o consumo de sete xícaras por dia
seria uma boa recomendação para a prevenção de doenças ADA Reports. Position of the American Dietetic Association:
cardiovasculares, quando associado a reeducação alimentar e functional foods. J Am Diet Assoc. 2004; 104(5):814-26.
atividade física regular. A American Dietetic Association (2004) AUVICHAYAPAT, P.; PRAPOCHANUNG, M.;
TUNKAMNERDTHAI, O.; SRIPANIDKULCHAI, B. O.;
sugere o consumo de 4-6 xícaras de chá verde ao dia, levando
AUVICHAYAPAT, N.; THINKHAMROP, B.; et. al. Effectiveness
em consideração a forma de preparo do chá, com o cuidado of green tea on weight reduction in obese Thais: a randomized,
de esquentar a água até pouco antes da ebulição e despejá-la controlled trial. Physiol Behav. 2008; 93(3): 486-91.
nas folhas bem devagar e do alto, objetivando a redução do BARTELS, C. L.; MILLER, S. J. Dietary supplements marketed
processo oxidativo. É importante considerar que o tempo de for weight loss. Nutr Clin Pract. 2003; 18(2): 156-69.
infusão não deve ultrapassar 2-3 minutos, pois o aquecimento BOSE, M.; LAMBERT, J. D.; JU, J. ; REUHL, K. R. ;
por longo tempo ocasiona perda dos compostos fenólicos. SHAPSES, S. A.; YANG, C. S. The major green tea
polyphenol, (-)-epigallocatechin-3-gallate, inhibits obesity,
Sendo assim, para cada litro de água devem-se ter quatro
metabolic syndrome, and fatty liver disease in high-fat-fed
colheres de sopa de erva fresca (LAMARÃO; FIALHO; 2009). mice. J Nutr. 2008, 138:1677–83.
BRAGA, A. A. D.; BARLETA, V. C. N. Alimento funcional: uma
4. CONCLUSÕES nova abordagem terapêutica das dislipidemias como
prevenção da doença aterosclerótica. Cadernos UniFOA;
Com o aumento da obesidade, meios dietéticos são cada 2007.
vez mais bem vindos para contribuir com a redução do peso e, GROVE, K. A.; LAMBERT, J. D. Laboratory, epidemiological,
and human intervention studies show that tea (Camellia
consequentemente, com a diminuição de das doenças
sinensis) may be useful in the prevention of obesity. J. Nutr.
cardiovasculares. Neste sentido, o chá verde tem se mostrado 2010, 140:446–53.
eficiente para a melhoria deste quadro, porém, o seu uso HERNANDEZ-FIGUEROA, T. T.; RODRIGUEZ-RODRIGUEZ,
isoladamente não surte efeitos importantes para a obesidade. E.; SANCHEZ-MUNIZ, F. J. The Green tea, a good choice for
Vê-se a importância de mais estudos para detalhar os cardiovascular disease prevention? Archivos
mecanismos de ação, em especial dos seus componentes Latinoamericanos de Nutrición. Caracas. 2004; 54:380-94.
HURSEL, R.; VIECHTBAUER, W.; WESTERTERP-
polifenóicos, permitindo verificar com precisão como ocorre a
PLANTENGA, M. S. The effects of green tea on weight loss
redução de peso corporal e prevenção da obesidade. A sua and weight maintenance: a meta-analysis. Int J Obes (Lond).
eficiência é demonstrada quando em conjunto com 2009;33:956–61.
123 124
KOVACS, E. M.; LEJEUNE, M. P.; NIJS, I.; WESTERTERP- sinensis) em ratos com obesidade induzida por dieta
PLANTENGA, M. S. Effects of green tea on weight hipercalórica. J. Bras. Patol. Med. Lab. 2010, 46(5):407-13.
maintenance after body-weight loss. Br J Nutr.2004,91:431–7. WESTERTERP-PLANTENGA, M. S. ; LEJEUNE, M. P. ;
LAMARÃO, R. C.; FIALHO, E. Aspectos funcionais das KOVACS, E. M. Body weight loss and weight maintenance in
catequinas do chá verde no metabolismo celular e sua relação relation to habitual caffeine intake and green tea
com a redução da gordura corporal.Rev. Nutr.2009;22:257-69. supplementation. Obes Res. 2005, 13:1195–204.
LAMBERT, J. D.; LEE, M. J.; DIAMOND, L.; JU, J.; HONG, J.; WOLFRAM, S.; RAEDERSTORFF, D.; WANG, Y.; TEIXEIRA,
BOSE, M.; NEWMARK, H. L.; YANG, C. S. Dose-dependent S. R.; ELSTE, V.; WEBER, P. Teavigo (epigallocatechin
levels of epigallocatechin-3-gallate in human colon cancer cells gallate) supplementation prevents obesity in rodents by
and mouse plasma and tissues. Drug Metab Dispos. 2006, reducing adipose tissue mass.Ann Nutr Metab.2005,49:54-63.
34:8–11. XU, J. Z.;YEUNG, S. Y.; CHANG, Q.; HUANG, Y.; CHEN, Z. Y.
MAKI, K. C.; REEVES, M. S.; FARMER, M.; YASUNAGA, K.; Comparison of antioxidant activity and bioavailability of tea
MATSUO, N.; KATSURAGI, Y.; KOMIKADO, M.; TOKIMITSU, epicatechins with their epimers. Br J Nutr. 2004; 91(6):873-81.
I.; WILDER, D.; JONES, F.; BLUMBERG, J. B.;
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NAGAO T.; KOMINE Y.; SOGA S.; MEGURO S.; HASE T.;
TANAKA Y.; TOKIMITSU I. Ingestion of a tea rich in catechins
leads to a reduction in body fat and malondialdehyde-modified
LDL in men. American Journal of Clinical Nutrition. 2005;
81:122-9.
RAINS, T. M.; AGARWAL, S.; MAKI, K. C. Antiobesity effects
of green tea catechins: a mechanistic review. Journal of
Nutritional Biochemistry. 2011, 22:1–7.
REPETTO, G.; RIZZOLLI, J.; BONATTO, C. Prevalência,
riscos e soluções na obesidade e sobrepeso: here, there, and
everywhere. Arq Bras Endocrinol Metab. 2003; 47:633-35.
SULIBURSKA, J. BOGDANSKI, P.; SZULINSKA, M.;
STEPIEN, M.; PUPEK-MUSIALIK, D.; JABLECKA, A. Effects
of green tea supplementation on elements, total antioxidants,
lipids, and glucose values in the serum of obese patients. Biol
Trace Elem Res. 2012;149(3):315-22.
VERA-CRUZ, M.; NUNES, E.; MENDONÇA, N.; CHAVES, E.;
FERNANDES, M. L. L. A.; Efeito do chá verde (Camelia

125 126
CAPÍTULO 10 1. INTRODUÇÃO

CANJICA: A confeitaria praticada e saboreada no Brasil é fruto da


RISCOS DURANTE O PROCESSAMENTO miscigenação das culturas dos povos que vieram para o solo
brasileiro com sua riqueza de sabores, cores, texturas e
preferencias alimentares. Pode-se dizer que sua origem está
Noádia Priscila Araújo RODRIGUES1 dividida entre indígena, africana escrava e portuguesa. Tendo
Jessica Bezerra dos Santos RODRIGUES2 sofrido influência, principalmente, destes povos, foi formada
1 Professor do curso de Bacharelado em Gastronomia da UFPB
2 Aluna do curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de alimentos da UFPB
uma variedade de novas receitas que se tornaram tradicionais
brasileiras ao longo da história.
Dentre as diversas preparações da doçaria brasileira,
RESUMO: A canjica é uma preparação típica da destaca-se a canjica ou curau, que é uma preparação típica
culinária brasileira. Também conhecida como curau ou papa dos festejos juninos no nordeste. Tem sido elaborada com
de milho. Ainda é preparada de forma artesanal em regiões espigas de milho verde, açúcar, coco e sal. Levando-se ao
brasileiras. E o seu consumo é aumentado no período junino, fogo, a mistura do extrato retirado dos grãos do milho, da
por ser o período de safra do produto base da preparação: o polpa do coco, o açúcar e um pouco de sal, até que atinja
milho. E, por ser a época dos festejos juninos, quando o consistência suficiente para desprender-se do recipiente em
consumo de alimentos a base de milho é intensificado. Porem que foi posto a altas temperaturas. Após esse processo, deve
poucos trabalhos faz alusão aos riscos que esse alimento ser acondicionada em tigela refratária, sob temperatura de
pode oferecer a segurança alimentar e quais as estratégias refrigeração, antes de ser consumida (BENTA, 2004).
que garantem uma produção segura deste prato sem O milho já era consumido no Brasil, antes do seu
comprometer a cultura alimentar. Foi pensando nestes descobrimento, era um item dos hábitos alimentares
aspectos que o presente trabalho apresenta um conjunto de indígenas, bem como da vocação agrícola nativa. O coco foi
atividades que contribuem para a qualidade higiênico-sanitária introduzido no país pela população africana, que chegou ao
da Canjica em todas as etapas de elaboração. Desde o país para suprir a necessidade de mão de obra escrava dos
recebimento dos insumos utilizados na produção até a colonizadores, e fazia parte dos hábitos alimentares dos
exposição para consumo. Como conclusão sugere-se que se negros. Este produto ganhou destaque na culinária nacional,
façam pesquisas para averiguar os riscos e a promoção da devido à adaptação ao solo e a facilidade de cultivo no litoral
segurança alimentar de preparações semelhantes. brasileiro, sendo bem aceito e utilizado na gastronomia destas
regiões. A utilização do açúcar, que era desconhecida pelos
Palavras-chave: APPCC. Canjica. Curau. demais povos que influenciaram a formação gastronômica

127 128
brasileira, foi um produto introduzido pelos colonizadores 2. METODOLOGIA
portugueses (FERREIRA, 2013; FREIXA; CHAVES, 2009).
De acordo com a Resolução CNNPA nº 12 de 1978 da O presente trabalho propôs-se da seguinte forma: foi
Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, os produtos de realizada uma revisão bibliográfica para verificar as principais
confeitaria são designados por nomes populares, ou de acordo formas de contaminação durante o processo de confecção da
com as substancias que os caracteriza. Dentre estes a canjica preparação conhecida como curau ou canjica.
ou curau, pode ser denominada de um tipo de manjar, que é
uma preparação à base de amidos, leite de coco e açúcar
(ANVISA, 1978). 3. RESULTADOS
Mas, uma preocupação surge e tem sido alvo de
estudos ao longo dos últimos séculos, que são os riscos do Com base em revisão bibliográfica, foram referenciados
ponto de vista da segurança alimentar decorrentes do os principais tipos de contaminação durante a manipulação e
consumo de alimentos produzidos de forma artesanal, que é a pesquisadas quais as práticas de fabricação destes
forma tradicional de se produzir esta preparação tão ingredientes que poderiam garantir segurança em cada etapa
apreciada, que é a canjica. de produção (BALCHIUNAS, 2014; SENAI, 2009; JAY, 2005;
Tendo em vista que as técnicas da confeitaria brasileira SENAC, 2004. BRASIL, 2004). São eles:
fazem parte do patrimônio cultural imaterial brasileiro, faz-se
efetivo preservá-las, da mesma forma que deve ser feito com 3.1 NO RECEBIMENTO
as florestas e construções, pois, é parte do que nos distingue
(FERREIRA, 2013). Sendo assim, é de suma importância Trata-se da aquisição dos ingredientes que serão
conhecer os riscos que o preparo destes pratos típicos e utilizados na elaboração da preparação.
tradicionais podem oferecer. Devem-se avaliar as características sensoriais e as
Portanto, a fim de contribuir com estas questões que se condições de acondicionamento e o transporte dos produtos, a
apresentam fundamentais para a promoção da segurança fim de se evitar que estes venham contaminados por bolores,
alimentar e nutricional do povo brasileiro, é que o presente que podem transmitir uma contaminação química, pela
trabalho se dispõe a oferecer uma abordagem dos perigos e formação de micotoxinas. São eles: Penicillium sp; Aspergillus
riscos durante o processamento artesanal de canjicas. flavus; Rizopus nigrificans. Ainda pode haver risco de
contaminação por Bacillus subtillis e mesentericus.

129 130
contaminação por Staphylococcus aureus. Também pode
3.2 NO ARMAZENAMENTO haver contaminação química por resíduos de produtos de
higiene. Para evitar estes tipos de contaminação deve-se
Os produtos adquiridos para elaboração da receita proceder conforme as boas práticas de saúde e higiene para
serão armazenados até a sua utilização. Os ingredientes manipuladores de alimentos.
secos, tais como açúcar e sal devem ser armazenados à
temperatura máxima de 26ºC, sob condições adequadas de 3.5 NO TRATAMENTO TÉRMICO
ventilação e higiene. A temperatura deve ser monitorada
frequentemente, a fim de evitar a formação e contaminação de Durante o tratamento térmico, a mistura é submetida a
micotoxinas. As condições adequadas de higiene podem altas temperaturas por um período prolongado de tempo. O
prevenir a contaminação por meio de vetores e pragas. que pode eliminar as formas vegetativas de microrganismos.
Porem as formar esporuladas podem sobreviver a
3.3 NA QUANTIFICAÇÃO DOS INGREDIENTES temperaturas elevadas, se o alimento tiver sido contaminado
nas etapas anteriores. São eles os microrganismos bacilares e
Nesta fase, os ingredientes são quantificados conforme as toxinas produzidas.
a receita. De acordo com Benta (2004), para cada doze
espigas de milho, são utilizados um litro do extrato obtido da 3.6 NO RESFRIAMENTO
poupa do coco seco e 240 gramas de açúcar e cerca de um
grama de sal. Durante o resfriamento pode haver contaminação por
Nesta fase pode haver contaminação física por meio de bolores e por bacillus cereus. Portanto, o binômio tempo e
sujidades, fragmentos de insetos e fragmentos metálicos temperatura devem ser controlados. Uma das recomendações
oriundos dos recipientes, utensílios e ambiente em que a é de que ocorra a redução da temperatura a 21ºC em até duas
medição dos ingredientes irá se processar. Para tanto, deve- horas e a 4ºC em até mais seis horas.
se proceder adequadas práticas de higiene de guarda e
utilização de equipamentos e utensílios. 3.7 NA MANUTENÇÃO A FRIO OU DISTRIBUIÇÃO

3.4 NA MISTURA Nesta etapa deve-se evitar a oscilação de temperatura


para acima de 5ºC, que podem permitir a eclosão das formas
Nesta etapa, os ingredientes são misturados de forma esporuladas, bem como a manipulação inadequada que pode
homogênea. Pode haver contaminação biológica por promover a contaminação biológica por enterobactérias,
enterobactérias patogênicas, das quais pode-se exemplificar também devem ser acondicionados de forma adequada e
com Salmonella sp, Shigella sp. Escherichia coli. E
131 132
segura de forma a impedir contaminação química ou física por
substâncias indesejáveis. 4. CONCLUSÕES

RECEBIMENTO Através da presente pesquisa, pode-se observar que


existe uma escassez de trabalhos acerca deste tipo de
preparação típica da confeitaria brasileira, mas que pode ser
ARMAZENAMENTO
veículo de microrganismos e substâncias químicas
consideradas perigosas para a saúde humana. Bem como de
QUANTIFICAÇÃO fragmentos físicos que podem provocar danos à integridade
DOS física do consumidor. Desta forma, sugere-se que se façam
INGREDIENTES pesquisas para averiguar os riscos e a promoção da
segurança alimentar de preparações semelhantes.

MISTURA

TRATAMENTO
TÉRMICO

RESFRIAMENTO

MANUTENÇÃO A
FRIO OU
DISTRIBUIÇÃO
Figura 1: Fluxograma de elaboração de forma artesanal da
Canjica ou curau

133 134
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPÍTULO 11

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BRIGADEIRO


Resolução CNNPA nº 12, de 1978. COMERCIALIZADO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA PB

BALCHIUNAS, D. Gestão de UAN: Um resgate do binômio: Clarissa Medeiros de OLIVEIRA1


alimentação e nutrição. São Paulo: Roca, 2014 Karen Bianca Melo de SOUSA1
Kelly Thayane de Araújo SILVA1
BENTA, D. Comer bem. Ed. 76, São Paulo, Companhia Liliane Rodrigues de ANDRADE1
Editora Nacional, 2004. Gilcean Silva ALVES2
1 Alunas de Graduação do curso superior de tecnologia em Gestão Ambiental do Instituto
Ferreira, P. B. O doce brasileiro como identidade cultural. Federal da Paraiba-IFPB.
In: Congresso Internacional de Gastronomia – Mesa 2 Professor do curso superior de tecnologia em Gestão Ambiental do Instituto federal da
Tendências 2013, Senac: São Paulo, 05 a 07 de Novembro, Paraiba-IFPB
2013.
RESUMO: O brigadeiro é um dos doceS brasileiros mais
FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no
Mundo. Rio de Janeiro: Senac, 2009. populares e indispensáveis em festas e comemorações de
crianças e adultos. Por ser um doce produzido manualmente,
JAY, J. M. microbiologia de alimentos. Ed. 6, Porto Alegre: o menejo incoreto na hora da preparação aumenta o risco de
Artmed, 2005. desenvolvimento e proliferação de microorganismos, podendo
ocasionar diversos tipos de doenças. Objetivando avaliar a a
ORNELLAS, L.H. A alimentação através dos tempos. 2. ed.
Florianópolis: UFSC, 2000. qualidade microbiológica do mesmo, foram coletadas 09
amostras de brigadeiros em diferentes docerias e padarias na
SENAC. Manual de segurança e qualidade na distribuição cidade de Joçao Pessoa- PB. O padrão de qualidade
de alimentos: Padarias e Confeitarias. PAS Distribuição Rio microbiológica foi comparado com a Resolução RDC de 12 de
de Janeiro: SENAC/DN, 2004 Janeiro de 2011 da ANVISA, que regulamenta padrões para
SENAI. Guia de elaboração do plano APPCC: Mesa. Ed. 2, diversos alimentos. Na ausência de padrão para brigadeiros
PAS Mesa Brasilia: SENAI/DN, 2009. na RDC, as amostras foram comparadas com os parâmetros
para doce de leite. Diante dos resultados, fica evidente a
necessiadade de empregar melhores condições de higiene na
preparação do produto quanto dos utensílios utilizados, além
de evitar a exposição do alimento em locais inadequados para
garanti ao consumidor um produtos de qualidade.

135 136
agente infeccioso específico, ou pela toxina por ele produzida,
PALAVRAS-CHAVE: Brigadeiro; qualidade microbiológica; por meio da transmissão desse agente, ou de seu produto
ANVISA. tóxico.” As DTAs são consideradas um grande desafio para a
saúde pública em todos os países. Segundo o Centro de
controle e prevenção de doenças dos Estados Unidos (CDC,
1. INTRODUÇÃO 2011 apud Sá, 2012), nos dias contemporâneos, os surtos de
diarréia em escala global estão associados às DTAs.
Presente na maioria das festas infantis o brigadeiro é As DTAs podem ser provocadas por parasitas, toxinas,
um doce típico da culinária brasileira. Seus ingredientes são bactéria, vírus e substâncias tóxicas. Os sintomas das DTAs
basicamente leite condensado e chocolate. A origem do seu geralmente envolvem vômito, náuseas, diarréia, anorexia,
nome é desconhecida, porém uma das hipóteses é que o febre, mas também, de acordo com o agente etiológico,
nome foi dado ao doce em homenagem ao Brigadeiro Eduardo podem ocasionar afecções extra-intestinais (Ministério da
Gomes, candidato duas vezes a Presidente da República do saúde, 2010).
Brasil. Na sua primeira campanha em 1945, um grupo de Segundo o Ministério da Saúde (2010), a distribuição
cariocas criou o doce que era vendido nos comícios com o geográfica de DTAs no Brasil é generalizada em todo o mapa
intuito de arrecadar fundos para a campanha. Nessa época as nacional e os agentes etiológicos mais comuns são os de
festas eleitorais como as dos correligionários e dos cabos origem bacteriana, com destaque para Salmonella spp,
eleitorais eram bastante disputadas pela população, que Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Shigella spp, Bacillus
chamava cada vez mais outras pessoas para comerem o cereus e Clostridium perfringens.
“docinho do Brigadeiro” e participarem das festas. Por meio A RDC de 12 de janeiro de 2011, da ANVISA,
disso a guloseima recebeu o nome da patente de Eduardo regulamenta os padrões de qualidade microbiológica para
Gomes (HISTÓRIA DIGITAL, 2013). diversos grupos de alimentos, entretanto ela ainda não possui
Geralmente, para preparação do doce utilizam-se padrões para brigadeiros. Para execução do presente trabalho
materiais industrializados. Isso sugere que esses ingredientes as análises de brigadeiro foram comparadas com os
passaram por um processo que eliminam ou inibem a parâmetros para doce de leite. Segundo a RDC, a tolerância
proliferação de organismos patógenos. Entretanto a não para amostras indicativas de coliformes termotolerantes é de
adoção de normas para manipulação de alimentos podem 50 unidades formadoras de colônias e, para Salmonella sp/
provocar a contaminação e ocasionar diversas doenças. 25g, deve ser ausente.
Segundo a Resolução RDC de 12 de janeiro de 2011, Diante do exposto este estudo teve o objetivo de avaliar
de autoria da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária as características microbiológicas de brigadeiros tradicionais
(ANVISA), a Doença Transmitida por Alimento (DTA) é comercializados pelas docerias e padarias do município de
“causada pela ingestão de um alimento contaminado por um
137 138
João Pessoa. Os parâmetros analisados foram coliformes a 44,5° por 24 horas. Por fim, foi feita a contagem dos tubos
totais, Salmonella e Escherichia coli. que deram positivos e a determinação dos NMPs.
Com as diluições das análises de coliformes e utilizando o
2. MATERIAIS E MÉTODOS Ágar Salmonella como meio de cultura foram realizadas as
análises de salmonela. Foram separadas 09 placas de petri
Foram coletadas 09 amostras de brigadeiro no período de nas quais foram adicionadas os meio de cultura. Três placas
maio a junho de 2013 em diferentes docerias e padarias na receberam 1ml da primeira diluição, outras três placas
cidade de João Pessoa - Paraíba. Depois das coletas as receberam 1mL da segunda diluição e as ultimas três placas
amostras foram devidamente embaladas e submetidas à receberam 1mL da terceira. Depois desses procedimentos o
refrigeração até o momento das análises. Ágar Salmonella foi incubado a 35° por 24 horas. Após a
A metodologia empregada nas análises microbiológicas incubação as placas foram examinadas e identificadas a
foram as da RDC de 12 de Janeiro de 2011 da ANVISA. De presença ou ausência de colônias.
acordo com essa resolução os resultados para coliformes
totais e coliformes termotolerantes, são expressos em Número 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Mais Provável por grama ou mililitro (NMP/g ou mL). Quando
as análises utilizarem o plaqueamento, os resultados devem Os resultados das análises microbiológicas de brigadeiros
ser expressos em Unidades Formadoras de Colônias por comercializados em alguns pontos do município de João
grama ou mililitro (UFC/ g ou mL). Pessoa estão na tabela a seguir.
Para realização dos testes presuntivos e confirmativos para
coliformes totais e termotolerantes, pesou-se 25g de cada Tabela 1: Resultados das amostras de Brigadeiro
amostra de brigadeiro que foram dissolvidas em 225 ml de
água peptonada (para cada amostra) equivalente à primeira Amostras Coliformes Escherichia Salmonella
diluição 10-1. A partir desta foram realizadas as diluições 10-2 e Totais coli 25g
10-3. NMP NMP
Para o teste presuntivo para coliformes totais foi utilizado o
Amostra 1 >110.0 3.5 Presente
caldo Lactosado duplo, o qual foi incubado em estufa a 35° por
Amostra 2 29.0 4.4 Presente
48 horas, em seguida foi feita à leitura do NMP. Já o teste
confirmativo utilizou caldo verde brilhante que foi incubado a Amostra 3 110.0 21.0 Ausente
35° por 48 horas. Para as análises de coliformes Amostra 4 0.61 1.6 Ausente
termotolerantes (fecais) utilizou-se o caldo EC (Escherichia Amostra 5 1.5 2.4 Ausente
coli). Logo após o procedimento, o EC foi incubado em estufa
Amostra 6 0.61 21.0 Presente

139 140
Amostra 7 0.3 0.0 Presente aparecem, em média, 12 a 36 horas após o contato com o
Amostra 8 1.5 0.0 Ausente microrganismo, durante um e quatro dias. Nas crianças
pequenas e recém-nascidas, as salmoneloses podem ser
Amostra 9 1.1 0.0 Presente
bastante graves, já que a Salmonela pode atingir a corrente
RDC 50 50 Ausente circulatória e provocar lesões em outros órgãos (FRANCO e
LANDGRAF, 2004)
O grupo de coliformes totais é capaz de fermentar a lactose
A RDC de 12 de janeiro de 2011, da ANVISA, ao estabelecer em uma incubação com temperatura de 35-70°. Os coliform es
os parâmetros para doce de leite, indica que os valores de totais compõem o grupo de bactérias gram-negativas que, em
tolerância para amostras indicativas de coliformes é de 5 X 10 geral, não causam doenças. Os coliformes termotolerantes
NMP, com relação a Salmonela deve estar ausente . são microorganismos oriundos de excretas humanas,
Os alimentos contaminados são as fontes mais comuns de eliminados em grande quantidade nas fezes. Costumam ser
infecção. Por esse motivo a via oral humana é considerada a inofensivos quando restrito aos intestinos. Em caso de contato
“porta de entrada” para várias patologias. As doenças com outros órgãos do corpo, geralmente pela ingestão de
causadas pela salmonela são divididas em três grupos: a febre alimentos contaminados, podem causar gastroenterite e
tifóide, a febre entérica e enterocolites, mais conhecida por infecções como, abscesso no fígado, colecistite (infecção na
salmonelose, onde cada uma tem suas características e vesícula), entre outras infecções. (LOBO, 2009)
sintomas.
A febre tifóide só acomete o homem e, normalmente, é 4. CONCLUSÕES
transmitida por água e alimentos contaminados com material
fecal humano. Os sintomas incluem septicemia (multiplicação Estima-se que os dados anteriormente citados sejam
de Salmonela no sangue), febre alta, diarréia e superiores aos anunciados, pois muitos pacientes acometidos
vômitos.(FRANCO e LANDGRAF, 2004). de DTAs menos severas tende a se tratar em casa.
As febres entéricas são semelhantes à febre tifóide, mas os As DTAs poderiam acometer menos pessoas caso
sintomas são mais brandos. Geralmente ocorre septicemia, boas práticas de higiene, manuseio de alimentos, bem como
febre, vômito e diarréia. As febres entéricas duram, no escolha criteriosa de ingredientes fossem adotadas, além de
máximo, três semanas. Estas doenças também podem ser uma atuação mais eficaz dos órgãos de vigilância sanitária.
causadas por consumo de água e outros alimentos, Com relação às amostras de brigadeiros analisadas,
especialmente leites crus, vegetais crus, mariscos e ovos tomando a RDC ANVISA como referência, verificamos que a
(FRANCO e LANDGRAF, 2004). maioria das amostras de brigadeiros comercializados nas
As salmoneloses caracterizam-se por sintomas que incluem docerias e padarias do município de João pessoa estão fora
diarréia, febre, dores abdominais e vômitos. Os sintomas dos padrões. Em algumas amostras foram detectados a
141 142
presença de coliformes termotolerantes e também a presença 2009.Disponível em:
de Salmonella. Esses resultados apontam que não está <http://aquarios.uefs.br:8081/cris/media/pdf/lobo_2009.pdf>
havendo manuseio correto dos ingredientes e utensílios Acesso em 01/10/2013.
durante o preparo do alimento ou os brigadeiros são
SÁ, J.F.O.Caracterização microbiológica de doce de leite,
acondicionados em locais inadequados. Ressaltamos também leite Condensado e queijo minas padrão por metodologia
a importância de uma atuação mais presente da vigilância clássica e Padronização de multiplex para detecção de
sanitária para fiscalização desses estabelecimentos, bem patógenos por Pcr em tempo real. 2012 .f 103.Dissertação
como conscientização dos comerciantes ou até a promoção de (Mestrado em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados) -
cursos de capacitação de manipulação de alimentos. Universidade Federal de Juiz de Fora,Minas Gerais. 2012.

FANTÁSTICO, Reportagem: Origem do nome do doce


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
brigadeiro está ligada à história do Brasil. Disponível em
<http://g1.globo.com/fantastico/quadros/canal-
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Resolução RDC n. 12 de 02 de janeiro de 2001. f/noticia/2013/01/origem-do-nome-do-doce-brigadeiro-esta-
Dispõe sobre o regulamento técnico sobre padrões ligada-historia-do-brasil.html> Acesso em 03/10/2013.
microbiológicos para alimentos. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a47bab8047458 HISTÓRIA DIGITAL, A origem histórica do doce do
b909541d53fbc4c6735/RDC_12_2001.pdf?MOD=AJPERES> brigadeiro. Disponível em
Acesso em: 19 jul. 2013. <http://www.historiadigital.org/curiosidades/a-origem-historica-
do-doce-de-brigadeiro/> Acesso em 05/10/2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde-Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual LINGUA PORTUGUESA, O doce enigma do brigadeiro.
Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Disponível em <http://revistalingua.uol.com.br/textos/78/o-
Transmitidas por Alimentos. 1º edição. Brasília. Editora MS. doce-enigma-do-brigadeiro-255322-1.asp> Acesso em
2010.160.
01/11/2013.
FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos
Alimentos. São Paulo: Atheneu, 2004.

LOBO,P. T
.D.Avaliação Microbiológica do Pescado Fresco Comercial
izado no Centro de
Abastecimento do Município de Feira de Santana, Bahia,
2009.f 79. Monografia (Especialização em Biologia Celular) –
Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia.
143 144
CAPÍTULO 12

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE ACIDEZ TITULÁVEL EM


ÓLEO VEGETAL SUBMETIDO À FRITURA EM UM
SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO HOSPITALAR

Gabriela Lucas Pedro de LUCENA¹


Jefferson Carneiro de BARROS²
Sandra Regina Dantas BAÍA³
1Aluno do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Campina Grande, campus Cuité;
2Professor do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Campina Grande, campus cuité;
3Nutricionista do Serviço de Nutrição e dietética do Hospital Universitário Alcides Carneiro da
Universidade Federal de Campina Grande

RESUMO: A fritura é um método de cocção amplamente


usado que confere aos alimentos características sensoriais
únicas de odor, sabor e textura. Óleos vegetais submetidos ao
processo de fritura sob altas temperaturas e longos períodos
sofrem uma série de reações originando compostos de
degradação tóxicos prejudiciais à saúde. Este trabalho
objetivou avaliar as reações hidrolíticas ocorridas em óleo

BIOQUIMICA DOS vegetal submetido à fritura em uma unidade de alimentação


hospitalar através da determinação da acidez titulável.
Amostras do óleo de soja foram coletadas em três momentos

ALIMENTOS distintos: T0, óleo virgem sem aquecimento; T1, óleo em


tempo médio de uso sob fritura; e T2, óleo em ponto de
descarte. As temperaturas empregadas foram aferidas em
intervalos de 30 minutos e registradas nos tempos T0, T1 e
T2, utilizando-se termômetro infravermelho digital. A
determinação de acidez titulável foi realizada com base na
metodologia preconizada pelo Instituto Adolfo Lutz. Os
resultados obtidos demonstraram que todas as amostras
145 146
apresentaram-se dentro dos requisitos máximos permitidos que leva à formação de produtos com alta volatilidade e alta
para acidez, conforme recomendado pela legislação. Conclui- reatividade química (VERGARA et al., 2006). A rancidez
se que as reações hidrolíticas ocorridas não foram tão hidrolítica altera a qualidade do óleo que, além de resultar no
agressivas e, possivelmente, o óleo analisado estaria ainda desenvolvimento de odor e sabor desagradáveis, reduz o
próprio para uso com base no indicador acidez. Este ponto de fumaça (PEREDA et al., 2005).
reaproveitamento traria repercussões financeiras e A determinação do momento ideal de descarte tem
sustentáveis positivas para o Serviço. impacto econômico significante, implicando em aumento dos
Palavras-chave: Óleos Vegetais. Fritura. Serviços de custos quando o óleo é descartado precocemente, ou em
Alimentação. perda da qualidade do alimento quando o descarte do óleo é
efetuado tardiamente (SANIBAL; MANCINI-FILHO, 2002).
Leis e regulamentos para controle de qualidade e
1. INTRODUÇÃO descarte racional de óleos de fritura foram adotados por
poucos países. No Brasil, existe uma resolução que prevê
A fritura é um método de cocção antigo e amplamente alguns parâmetros físico-químicos para controle da adequação
usado em Serviços de alimentação por conferir aos alimentos de óleos e gorduras vegetais, dentre eles a acidez, que não
características organolépticas únicas de odor, sabor e textura, deve ultrapassar o limite máximo de 0,6 mg KOH/g de óleo,
agradando a diferentes grupos populacionais, além de ser um exceto para azeite de oliva. Porém este parâmetro não é
processo rápido e prático de preparo (CAMILO et al., 2010; específico para óleos de fritura (BRASIL, 2005; SANIBAL;
OSAWA; GONÇALVES; MENDES, 2010). MANCINI-FILHO, 2002). Já o Informe Técnico nº 11 da Anvisa
A desvantagem deste processo é que óleos e gorduras estabelece algumas recomendações sobre a utilização e
são aquecidos repetidamente sob altas temperaturas e por descarte de óleos e gorduras utilizados para fritura, dentre
longos períodos, o que leva a uma série de alterações físico- elas, a quantidade de ácidos graxos livres, que não deve ser
químicas com formação de compostos de degradação que são superior a 0,9% (BRASIL, 2004).
tóxicos e prejudiciais à saúde, podendo causar irritação do O monitoramento do uso e descarte de óleos de fritura
trato gastrintestinal, diarreia, doenças cardiovasculares e deve ser considerado uma questão de vigilância sanitária no
câncer (JORGE; LOPES, 2003; JORGE et al., 2005; Brasil (OSAWA; GONÇALVES; MENDES, 2010).
MENDONÇA et al., 2008). No Brasil, parte do óleo de fritura proveniente do
Dentre as alterações sofridas pelo óleo decorrentes da consumo humano é destinado à fabricação de sabões e à
fritura, a hidrólise ocorre devido à quebra de ligações do éster produção de biodiesel. Entretanto, a maior parte deste resíduo
no glicerídeo com a formação de ácidos graxos livres, é descartado em redes de esgotos, o que representa um crime
monoacilglicerois, diacilglicerois e glicerol. Essa reação é ambiental inaceitável, pois a pequena solubilidade dos óleos
favorecida pela presença de água em altas temperaturas, o vegetais na água constitui-se fator negativo no que se refere à
147 148
sua degradação em unidades de tratamento de despejos por
processos biológicos e, quando presentes em mananciais 2. MATERIAIS E MÉTODO
utilizados para abastecimento público, causam sérios
problemas no tratamento da água (BARBOSA; Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória,
PASQUALETTO, 2007). descritiva, com abordagem quantitativa e de caráter
Portanto, além de conhecer as condições de uso do óleo experimental, feita por estudo transversal. A coleta de
vegetal empregado no processo de fritura e determinar os amostras foi realizada em uma Unidade de Alimentação
fatores envolvidos na ocorrência de reações degradativas, é hospitalar localizada na cidade de Campina Grande, Paraíba.
imprescindível conhecer também a forma como seus produtos A seleção da Unidade foi feita através de análise do cardápio
residuais estão sendo descartados, que pode trazer prejuízos empregado, a fim de conhecer o uso e frequência da fritura
à população e ao ambiente. para o preparo de produtos de origem animal. O responsável
Entender as alterações sofridas por óleos vegetais técnico pelo serviço foi convidado a assinar um termo de
durante a fritura torna-se necessário para assegurar a consentimento para participação na pesquisa.
produção e oferta de produtos de qualidade nutricional. Neste Foram coletados 60 a 80 ml de óleo de soja usado em
sentido, este trabalho tem como finalidade determinar o índice fritura, utilizando-se papel filtro para remoção dos resíduos de
de acidez titulável apresentado pelo óleo vegetal submetido ao alimentos. As amostras foram armazenadas em frascos de
processo de fritura em um serviço de alimentação hospitalar, material plástico opaco, embalados com folha de alumínio,
tendo em vista que este índice representa um requisito devidamente fechados e armazenadas à temperatura de
específico de identidade e qualidade de óleos. Além disso, aproximadamente - 20°C. A coleta foi feita em três mo mentos
propõe-se com este trabalho discorrer sobre questões distintos e as amostras foram identificadas como T0, óleo de
importantes como uso, reuso e descarte racional de óleos de soja virgem sem aquecimento; T1, óleo em tempo médio de
fritura, considerando as questões financeiras e sustentáveis uso sob fritura; e T2, óleo de fritura em ponto de descarte
envolvidas. segundo critérios do serviço. A definição do tempo e
temperatura T1 foi feita com base na média do tempo gasto
para o preparo do alimento.
A temperatura empregada no processo de fritura foi
aferida ao longo do preparo dos produtos cárneos em
intervalos de 30 minutos. Para T1 e T2 foi feita a aferição da
temperatura do óleo na presença do alimento em cocção por
fritura, utilizando-se termômetro infravermelho digital
SCANTEMP, marca Incoterm, modelo ST-400, com faixa de

149 150
medição - 38 a + 365°C (± 1,5 °C). Para a amostra T0 liberados como resultado da hidrólise de alguns triglicerídeos
registrou-se a temperatura ambiente. (OETTERER; REGITANO-D’ARCE; SPOTO, 2006).
O transporte das amostras procedeu-se em caixas Na Tabela 1 são apresentados os resultados obtidos nas
isotérmicas e protegidas da luz até o Laboratório de análises de acidez titulável do óleo vegetal usado em fritura.
Bromatologia da Universidade Federal de Campina Grande, Observa-se que apenas as amostras referentes à preparação
campus Cuité, onde foi feita a determinação da acidez titulável D apresentaram diferenças estatísticas (p<0,05) entre o início
de acordo com as Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (T0) e final (T2) do processo de fritura, com aumento deste
(IAL, 2005). Todas as análises foram feitas em duplicata para índice. Porém não houve alteração entre os tempos inicial e
reduzir as margens de erro. Para a avaliação dos resultados intermediário, sugerindo a estabilização de ácidos graxos
referentes às análises de qualidade dos óleos foi aplicada a livres durante este período.
Análise de Variância (ANOVA) e teste de Tukey a 5%
probabilidade, para comparação das médias. Os resultados Tabela 1 – Tempo de preparo, temperatura empregada e
encontrados foram comparados a valores de referência médias das leituras de acidez titulável das amostras de óleo
previstos na legislação, tanto para óleos vegetais virgens, vegetal empregado em frituras de preparações de origem
equivalente a 0,6 mg KOH/g de acordo com a Resolução RDC animal.
nº 270 da Anvisa, como também ao recomendado pelo Acidez
Informe Técnico nº 11 da Anvisa, que define o valor máximo Tempo de titulável (%
Preparação Amostra Temperatura
preparo ácido
de 0,9% de ácidos graxos livres para óleos de fritura.
oleico)
T0 28,9 °C 0,20 ±0,10
1 h e 40
A T1 110,9 °C 0,33 ±0,09
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO min
T2 120,8 °C 0,33 ±0,09
T0 27,8 °C 0,13 ±0,00
2 h e 15
A avaliação das alterações físico-químicas sofridas por B T1 101,1 °C 0,13 ±0,00
min
óleos submetidos à fritura é de suma importância, tanto para T2 147 °C 0,33 ±0,09
pesquisadores quanto para consumidores e profissionais T0 28,8 °C 0,20 ±0,10
C 35min T1 297 °C 0,27 ±0,00
responsáveis por serviços de alimentação (DEL RÉ; JORGE,
T2 359 °C 0,33 ±0,09
2007). Um dos parâmetros usados para avaliar a qualidade do T0 27,9 °C
b
0,13 ±0,00
óleo é a determinação da acidez. 1 h e 55 b
D T1 110,7 °C 0,13 ±0,00
min a
O índice de acidez é definido como o número de T2 125,2 °C 0,27 ±0,00
miligramas de hidróxido de potássio necessário para Médias ± desvio-padrão com letras diferentes na mesma coluna diferiram
neutralizar os ácidos graxos livres em um grama de óleo, entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Fonte: dados da pesquisa.

151 152
O índice de acidez verificado nas análises físico- analisando a utilização do óleo de soja para fritura em UAN
químicas (Tabela 1) apresentou-se dentro do preconizado institucional, também encontraram teores de ácidos graxos
pela legislação em todas as amostras analisadas, já que a livres inferiores a 0,9% ao longo de todo o preparo de
Anvisa, através da RDC nº 270 (BRASIL, 2005) estabelece o alimentos diversos, estando, portanto, dentro dos padrões
valor máximo de 0,6 mg de KOH/g para óleos e gorduras recomendados (BRASIL, 2004; BRASIL, 2005).
vegetais refinados, porém este parâmetro não refere-se à A acidez está parcialmente ligada ao estado de
fritura. Já o Informe Técnico nº 11 define, entre outros conservação de óleos e gorduras. A medida que aumenta o
requisitos para óleos e gorduras utilizados em frituras, que a número de frituras, ocorre maior hidrólise do óleo e,
quantidade de ácidos graxos livres não seja superior a 0,9%, consequentemente, formação de ácidos graxos livres,
estando os resultados para acidez titulável de acordo com o responsáveis pelo aumento da acidez. Entretanto, a
preconizado também por esta legislação (BRASIL, 2004). velocidade de formação de ácidos graxos livres está ligada a
De acordo com a Tabela 1, houve aumento da acidez ao vários fatores, além do número de vezes em que o óleo é
longo do processo de fritura para as amostras referentes à reaquecido, como temperatura empregada na fritura, umidade
preparação D, o que sugere a ocorrência de reações do alimento, quantidade de partículas de alimento queimadas
hidrolíticas, com liberação de ácidos graxos livres. Os e depositadas no recipiente, e quantidade de ácidos graxos
resultados obtidos no presente estudo são semelhantes aos livres presentes tanto no alimento quanto no óleo, antes
encontrados por Del Ré e Jorge (2007), que ao estudarem o mesmo do aquecimento (JORGE et al., 2005; VERGARA et
comportamento de óleos vegetais diversos na fritura de al., 2006).
produtos cárneos empanados, observaram que os ácidos Exceto na preparação C, que atingiu níveis acima de 250
graxos aumentaram durante a fritura para todos os tipos de °C nos tempos T1 e T2 (Tabela 1), a temperatura empre gada
óleo, indicando o desenvolvimento de hidrólises, porém em manteve-se abaixo de 180 °C, limite máximo recomenda do
níveis baixos, com valores oscilando entre 0,11 e 0,37%. Do pela legislação para fritura, o que possivelmente contribuiu
mesmo modo, Jorge et al. (2005) constataram o aumento de para a adequação da acidez das amostras analisadas, pois a
ácidos graxos livres durante todo o processo de fritura com temperatura tem sido vista como um dos principais fatores
óleos vegetais diversos, incluindo ó óleo de soja. envolvidos na qualidade não só do óleo, como também do
Em outro estudo, Rios, Pereira e Abreu (2013), ao avaliar alimento frito (FREIRE; MANCINI-FILHO; FERREIRA, 2013).
a oxidação de óleos, gorduras e azeites em processo de Com relação ao descarte, de acordo com o Informe
fritura, observaram também o aumento da acidez titulável ao Técnico nº 11, estabelecimento comerciais que descartam
longo do processo, com valores de 0,23600 a 0,44396 mg uma quantidade significativa de óleo devem entrar em contato
KOH/g, porém abaixo dos requisitos máximos permitidos pela com empresas, órgãos ou entidades licenciados pelo órgão
legislação (BRASIL, 2004; BRASIL, 2005), corroborando com competente da área ambiental para o destino apropriado
o resultado do presente estudo. Jorge e Janieri (2004), (BRASIL, 2004). Observou-se que na Unidade estudada os
153 154
óleos de fritura descartados são fornecidos a uma empresa 4. CONCLUSÕES
local responsável pela produção de sabão. Segundo Wildner e
Hillig (2012), o óleo comestível residual é potencialmente A degradação ocorrida nas amostras de óleo estudadas
reciclável, servindo como matéria-prima na fabricação de não foi muito agressiva, já que a acidez manteve-se dentro
diversos produtos, tais como biodiesel, tintas, sabão, dos limites preconizados pela legislação para todas as
detergentes, entre outros. preparações. Desta forma, com base neste indicador sugere-
A avaliação da integridade de óleos de fritura e o se que o óleo estaria ainda em condições de reuso.
monitoramento do seu uso e descarte devem ser encarados A reutilização teria implicações financeiras e sustentáveis
como uma questão de vigilância sanitária, que tem como foco positivas à Instituição, porém mais testes devem ser
a inspeção do processo produtivo visando a qualidade do realizados para confirmar o nível de qualidade dos óleos
produto final (OSAWA; GONÇALVES; MENDES, 2010; usados em fritura pelo serviço.
BRASIL, 2005). A reutilização de óleos de fritura é comum em
serviços de alimentação, e pode ser realizada desde que
sejam atendidas as características mínimas de qualidade de
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
óleos e gorduras vegetais e as recomendações sobre boas
práticas para utilização e descarte destes produtos usados em
processos de fritura. BARBOSA, G. N.; PASQUALETTO, A. Aproveitamento do
O reaproveitamento feito de maneira segura tem impacto óleo residual de fritura na produção de
positivo no serviço, tanto por questões econômicas como biodiesel. Departamento de Engenharia Ambiental.
sustentáveis. É importante destacar também o descarte de Universidade Católica de Goiás, 2007.
óleos residuais que, quando efetuado de maneira incorreta,
em redes de esgoto, representa um crime ambiental, BRASIL, Informe Técnico nº 11, de 05 de outubro de 2004.
causando sérios problemas no tratamento de água. Serviços Óleos e gorduras utilizados em frituras. Agência Nacional de
de Alimentação e produtores domésticos devem buscar Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde. Disponível em: <
parceria com empresas e entidades responsáveis pelo http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/11_051004.htm>.
reaproveitamento do óleo vegetal residual proveniente do Acesso em: 25 de maio de 2014.
consumo humano, que pode ser destinado à fabricação de
sabões e produção de biodiesel. BRASIL, Resolução RDC ANVISA/MS nº. 270, de 22 de
setembro de 2005. Aprova o Regulamento Técnico para Óleos
Vegetais, Gorduras Vegetais e Creme Vegetal. Diário Oficial
da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de setembro de
2005.

155 156
CAMILO, V. M. A.; ALMEIDA, D. T.; ARAÚJO, M. P. N.; MENDONÇA, M. A.; BORGO, L. A.; ARAÚJO, W. M. C.;
CARDOSO, L. A.; ANDRADE, J. C.; BONELLI, M. Avaliação NOVAES, M. R. C. G. Alterações físico-químicas em óleos de
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1Alunas de Graduação em Nutrição da UFPB; 2 Profa. Dra. do curso de Nutrição da UFPB

RESUMO: As doenças cardiovasculares são as principais


causas de morbidade e mortalidade no mundo. Alguns fatores
podem contribuir para o desenvolvimento das doenças
cardiovasculares, sendo estes: dietas com elevado teor
energético, consumo elevado de gorduras saturadas e trans,
tabagismo e inatividade física. Os alimentos funcionais são
responsáveis por contribuir para a manutenção da saúde e
reduzir o risco de acometimentos por morbidades. A
importância da dieta na abordagem as doenças
cardiovasculares já é reconhecida, entretanto, os alimentos
funcionais que podem atuar trazendo benefícios no tratamento
e prevenção das mesmas ainda necessitam ser mais bem
fundamentados. Diante disso, este trabalho teve como objetivo
principal realizar uma revisão de literatura sobre como os
alimentos funcionais podem contribuir para o tratamento e
prevenção das doenças cardiovasculares. Foi desenvolvido
através de uma revisão de literatura com a inclusão de artigos
científicos publicados no período de 2004 a 2014. Dentre os
alimentos funcionais estudados por sua ação benéfica nas
doenças cardiovasculares, os principais são: ácidos graxos,
fitoesteróis, isoflavonas e flavonoides, as substâncias
159 160
antioxidantes e os peptídeos bioativos. Podemos concluir que açúcares e gorduras- produtos Light e Diet (VIEIRA et al.,
o consumo de alimentos funcionais associado a uma dieta 2006). Em meados dos anos 80, no Japão, foi introduzido o
equilibrada, podem prevenir e até mesmo reduzir os efeitos
termo alimento funcional. Esses alimentos são podem ser
causados pelas doenças cardiovasculares.
Palavras-chave: doenças cardiovasculares, alimentos similares aos convencionais, entretanto, demonstram
funcionais, manutenção da saúde. benefícios à saúde, além de suas funções nutricionais básicas
(STRINGUETA et al., 2007).Os alimentos funcionais são
1. INTRODUÇÃO
capazes de produzir efeitos fisiológicos favoráveis ao
organismo, podendo contribuir para a redução do risco das
As doenças cardiovasculares são as principais causas de
doenças cardiovasculares (COSTA; ROSA, 2010), dentre
morbidade e mortalidade no mundo, sendo suas principais
estes, alimentos que contenham ácidos graxos insaturados,
manifestações decorrentes da aterosclerose, como o infarto,
peptídeos bioativos, substâncias antioxidantes, fitoesterois,
as embolias e os acidentes vasculares cerebrais (ISHIGAKI et
entre outros nutrientes benéficos.
al., 2008). A Organização Mundial da Saúde estima que, em
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi
2020, as doenças cardiovasculares se tornarão a principal
realizar uma revisão de literatura sobre como os alimentos
causa de morte e incapacidade em todo o mundo (ERDMANN;
funcionais podem contribuir para o tratamento e prevenção
CHEUNG; SCHRODER, 2008). Alguns fatores podem
das doenças cardiovasculares.
contribuir para o desenvolvimento das doenças
cardiovasculares, sendo estes: dietas com elevado teor
energético, consumo elevado de gorduras saturadas e trans, 2. MATERIAIS E METÓDOS
tabagismo e inatividade física.
A preocupação com o tipo de alimentação consumida Este trabalho foi desenvolvido através de uma revisão de
pela população vem ocorrendo desde as décadas de 70 e 80. literatura, realizada nas seguintes bases eletrônicas de dados:
Nessa época foram realizados estudos para que ocorresse a Lilacs, Bireme e Scielo, considerando-se como critérios de
eliminação de componentes prejudiciais à saúde, assim como inclusão artigos científicos publicados no período de 2004 a
a produção de alimentos com baixos teores de energia, 2014, na língua portuguesa e inglesa, sendo utilizados os

161 162
seguintes descritores: alimentos funcionais, doenças devem ser obtidos em quantidades não tóxicas; e, por fim, os
cardiovasculares e benefícios dos alimentos funcionais. alimentos funcionais não são destinados ao tratamento ou
Excluíram-se os artigos que não tratavam especificamente do cura das doenças (PADILHA; PINHEIRO,2004).
tema. Os artigos foram selecionados e analisados na íntegra,
sendo posteriormente sintetizados os dados principais de cada 3.2 DOENÇAS CARDIOVASCULARES
artigo.
No Brasil, as doenças cardiovasculares são as
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO principais causas de morte, representando cerca de 20% do
total de óbitos de indivíduos com mais de 30 anos em 2009
3.1 ALIMENTOS FUNCIONAIS (MANSUR; FAVARATO, 2012). A principal manifestação
decorrente das doenças cardiovasculares é a aterosclerose
O termo alimentos funcionais foi introduzido inicialmente (ISHIGAKI et al., 2008) que é caracterizada como uma doença
no Japão nos anos 80 e se refere aos alimentos que auxiliam inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre devido à
funções específicas do corpo além de serem nutritivos, sendo agressão endotelial e que acomete principalmente a camada
estes alimentos definidos como “Alimentos para uso específico íntima de artérias de médio e grande calibre (SOCIEDADE
de saúde” em 1991 (MORAES; COLLA, 2006). BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007).
Os alimentos funcionais modulam as variadas funções
orgânicas, contribuindo para a manutenção da saúde e 3.3 ALIMENTOS FUNCIONAIS E DOENÇAS
reduzindo o risco de acometimentos por morbidades CARDIOVASCULARES
(PADILHA; PINHEIRO, 2004). Para que um alimento seja
considerado funcional este deve se enquadrar em alguns O consumo de alimentos funcionais em uma dieta
critérios, tais como: exercer ação metabólica ou fisiológica que equilibrada pode contribuir para a redução do risco das
contribua para a saúde física e para a redução de morbidades doenças cardiovasculares. (COSTA; ROSA, 2010)
crônicas; integrar a alimentação usual; os efeitos positivos

163 164
3.1 Benefícios dos ácidos graxos nas doenças Os ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) também
cardiovasculares são muito importantes na prevenção de doenças
cardiovasculares. São representados pelos ácidos graxos
Os principais ácidos graxos ômega-3 são: α-linolêico ômega-9, sendo o ácido oleico (18:1) o de maior importância
(18:3), o ácido docosaexaenoico DHA (22:6) e o ácido nos alimentos. As fontes alimentares do MUFA são: azeite de
eicosapentaenoico EPA (20:5). As principais fontes do EPA e oliva, óleos de canola e amendoim, oleaginosas (nozes,
DHA são peixes de água fria e óleo de peixe. E as principais amêndoas, castanhas, etc)., e frutas como abacate, açaí,
fontes do ácido α-linolêico são sementes de linhaça, vegetais tucumã e buriti. Os alimentos fonte de ácidos graxos
folhosos de coloração verde-escuro e óleos vegetais (oliva, monoinsaturados promovem uma maior proteção ao sistema
soja e canola) (MANCINI-FILHO, 2010). cardiovascular. Isso ocorre devido os MUFA serem capazes
O ácido eicosapentaenoico (EPA) é muito importante na de alterar a composição e o catabolismo das lipoproteínas,
saúde cardiovascular, apresentando propriedades anti- aumentando o HDL, reduzindo a síntese de VLDL e
inflamatórias, atuando na inibição da agregação plaquetária e diminuindo seus níveis plasmáticos, reduzindo o LDL e
alteração do perfil lipídico. Quanto às propriedades anti- tornando-os menos susceptíveis à oxidação (LEITE; ROSA,
inflamatórias o EPA favorece a síntese de eicosanoides, que 2010). Os MUFA reduzem ainda a agregação plaquetária,
possuem um menor potencial inflamatório, reduzindo, assim, a aumentam o tempo de fibrinólise e de coagulação e reduzem o
quimiotaxia de leucócitos (PIMENTEL et al., 2005). O EPA estado pró-trombótico, característico das doenças
inibe a agregação plaquetária, reduzindo a formação de cardiovasculares (CARLUCCIO et al., 2007).
trombos, que é um dos principais determinantes das
manifestações clínicas da aterosclerose. O EPA atua ainda na 3.3.2 Benefícios dos fitoesteróis nas doenças
alteração do perfil lipídico, inibindo a síntese de triglicerídeos, cardiovasculares
reduzindo a síntese de lipoproteínas de baixa densidade
(LDL), que são consideradas aterogênicas (MANCINI-FILHO, Os fitoesteróis (ou fitosteróis) são componentes
2010). esteroides naturais presentes nos óleos vegetais. São

165 166
encontrados em maior quantidade nos óleos de milho, encontrados em maior quantidade no reino vegetal,
girassol, soja e canola, mas também são encontrados nas especialmente no grão da soja (CÉSAR et al., 2007; KOKUBO
leguminosas, frutos e vegetais, porém em baixas et al., 2007).
concentrações. Atualmente estão sendo utilizados na adição Apesar de não ter sido estabelecido os mecanismos de
de produtos como margarinas, cream-cheeses, cremes ação, a maioria dos pesquisadores supõe que os efeitos
vegetais e molhos para salada (EUSSEN et al., 2011). No benéficos do consumo da proteína de soja/isoflavonas, na
organismo humano, os fitoesteróis são capazes de inibir a prevenção/controle das DCV, estejam relacionados com a
absorção do colesterol pelas micelas aumentando sua redução plasmática do colesterol total, LDL-c e triglicerídeos.
excreção pelo organismo (EUSSEN et al., 2011). Acredita-se também, que possuem ação antioxidante, atuando
Os fitoesteróis tem efeitos terapêuticos que atuam na na inibição de agregação plaquetária e na redução da pressão
redução da colesterolemia, podendo ser utilizados de forma sanguínea diastólica em mulheres, reduzindo os riscos de
isolada ou combinados a outros agentes tromboses e cardiopatias (KOKUBO et al., 2007; RIMBACH et
hipocolesterolemiantes. Porém, a suplementação de al., 2008).
fitoesteróis acarretou em uma discreta diminuição da absorção Os flavonoides são compostos fenólicos que
de vitaminas lipossolúveis, especialmente as vitaminas A e E desempenham ação antioxidante. Têm uma real importância
(MARTINS et al., 2004). na prevenção e tratamento da aterosclerose, pois os
flavonoides atuam como agente antiaterogênico (WHELAN et
3.3.3 Benefícios das isoflavonas e flavonoides nas al., 2004).
doenças cardiovasculares A uva, o vinho e os produtos derivados da uva contêm
grande quantidade de componentes fenólicos e o consumo
As isoflavonas são compostos fenólicos da subfamília desses está associado ao risco reduzido de eventos
dos flavonoides, pertencentes à classe dos fitoestrógenos, coronários, pois esses alimentos inibem a agregação
pois expressam estrutura e atividade semelhante ao estrógeno plaquetária. Os pacientes com doença arterial coronariana que
endógeno, como o estradiol. Esses compostos são ingeriram bebidas derivadas da uva observou-se uma melhora

167 168
da função endotelial, induzindo a vasodilatação dos vasos absorção de lipídeos e colesterol, visto que há menor
arteriais e inibindo a oxidação do colesterol LDL (GIEHL et al., formação de micelas, diminuindo os níveis de colesterol
2007). sanguíneo (COSTA; ROSA, 2010).

3.3.4 Benefícios do consumo de substâncias 3.3.5 Benefícios do consumo de peptídeos bioativos


antioxidantes nas doenças cardiovasculares nas doenças cardiovasculares

Os antioxidantes são substâncias que retardam ou Os peptídeos bioativos são peptídeos derivados de
previnem a oxidação de moléculas e os danos ocasionados às alimentos, contém de 3 a 20 resíduos de alimentos e exercem
células pelas espécies reativas de oxigênio (ERO) (SINGH; função nutricional e fisiológica. Estes encontram-se inativos
JIALAL, 2006). Os dentro do alimento e pode ser liberado por hidrólise
principais nutrientes que atuam como substâncias enzimática, durante a digestão gastrointestinal ou durante o
antioxidantes são o ácido ascórbico (vitamina C), os processamento de alimentos (HARTMANN; MEISEL, 2007).
flavonoides, o β-caroteno, o α-tocoferol, o zinco, o manganês, Os peptídeos bioativos podem ser encontrados no leite e
o cobre e o selênio (KENNEDY, 2006). O derivados, ovos, peixes, carnes, cereais (arroz, trigo, milho) e
consumo de frutas e verduras está associado à diminuição do soja (WANG; MEJIA, 2005; KORHONEN; PIHLANTO, 2006).
risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Isto
ocorre devido à presença de fibras solúveis e diversos Como os peptídeos bioativos modulam e melhoram as
compostos antioxidantes, que podem estar potencialmente funções fisiológicas, estes quando utilizados ao longo do
envolvidos na redução do risco de desenvolvimento da tempo, em quantidades e frequência apropriadas trazem
aterosclerose (MORAES; COLLA, 2006). benefícios a saúde atuando na prevenção ou tratamento de
A viscosidade e solubilidade em água das fibras doenças crônicas (PACHECO; ANTUNES, 2009). Estes
solúveis contribuem para o “sequestro de ácidos biliares” desempenham no sistema cardiovascular, ações anti-
secretados no fígado, o que resulta numa redução da hipertensiva antioxidante, antitrombótica e

169 170
hipocolesterolemizante; no sistema nervoso, atividades 5. REFERÊNCIAS
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funções quelante de minerais, inibidor de apetite e BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
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funcionais e ao estilo de vida saudável, contendo ácidos
CÉSAR, I.C. et al. Determinação de daidzeína, genisteína e
graxos mono e polinsaturados, fitoesterois e substâncias
gliciteína em cápsulas de isoflavonas por cromatografia em
antioxidantes podem prevenir e até mesmo reduzir os efeitos
camada delgada (CCD) e cromatografia líquida de alta
causados por este conjunto de patologias. Diante do exposto,
eficiência (CLAE). Rev. Bras. Farmacogn, v.17, n.4, p.616-
pode-se sugerir que os alimentos funcionais podem ser
625, 2007.
considerados promotores da saúde, pois auxiliam na
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diminuição dos riscos para desenvolver doenças
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175 176
CAPÍTULO 14 para Coliformes fecais e Salmonela apresentaram-se
negativos para todas as amostras. Verificou-se que dentre os
ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS DE três métodos de secagem, foi à 80ºC o maior rendimento
Abelmoschus esculentus (L.) Moench – QUIABOS proteico e menor número de UFC/g, sendo apenas esta
COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB. farinha viável ao consumo humano, de acordo com o
preconizado pela legislação.
Thalita Sévia Soares de ALMEIDA1 Palavras-chave: Abelmoschus esculentus (L.) Moenc.
José Nildo Vieira DEODATO1 Quiabo. Componentes físico-químicos.
Maria do Socorro Araujo RODRIGUES1
Gilcean Silva ALVES2
1. INTRODUÇÃO
Alfredina dos Santos ARAUJO3
1 Aluno de Pós-graduação em Sistemas Agroindustriais - UFCG; 2 Professor – IFPB; 3
Professor – UFCG – Campus Pombal. O Abelmoschus esculentus (L.) Moench, conhecido
popularmente como quiabo, quimbobô, gombô, quimbombô ou
RESUMO: Abelmoschus esculentus (L.) Moench é uma gobo é uma hortícola, pertencente à família Malvácea,
hortícola conhecida popularmente como quiabo, pertencente à bastante difundida na região Nordeste do Brasil, porém pouco
família Malvácea, bastante difundida na região Nordeste do difundida no restante do país (SOARES, 2010).
Brasil. Suas folhas e frutos são bastante consumidos em Possuidora de origem africana, mais exatamente da
diversas regiões do mundo por possuírem em sua composição Etiópia, sendo hoje em dia amplamente lavrada na África
componentes fundamentais para a dieta, além de compor a Ocidental, Índia, Sul da Europa, parte da Ásia, Filipinas e nas
culinária de determinados países. Portanto, o presente estudo Américas. Sendo bastante cultivado na Índia, ocupando o
objetivou a realização de análises físico-químicas e quinto lugar, junto ao tomate, quanto ao consumo dos seus
microbiológicas de farinha de quiabo. Os frutos para o estudo produtos (PENDRE et. al., 2011).
foram adquiridos em feira livre no município de Pombal – A planta é arbustiva anual, cujo caule é ereto e
Paraíba e analisadas no Laboratório Centro Vocacional e esverdeado ou avermelhado, alcançando altura de 1 a 1,7
Tecnológico (CVT) – campus Pombal. As amostras foram metros. É uma hortaliça de clima quente, por isso possui
processadas e transformadas em farinha por meio de grande capacidade de cultivos em clima tropical brasileiro
trituração e secagem em temperaturas de 70, 80 e 90ºC. (OLIVEIRA et. al. 2011). Possui rápida produção e custo
Dentre as análises físicas e químicas, procedeu-se a relativamente baixo (RESENDE, 1986), assim, conferindo uma
determinação de teor relativo de água, cinzas e proteínas, das alternativa de renda para o agricultor, por ser capaz de
microbiológicas, foram realizadas Coliformes fecais, produzir frutos e folhas utilizados na culinária.
Salmonella spp., Bacillus cereus, Staphylococcus spp., Suas folhas podem ser consumidas como saladas e,
Bolores e leveduras e contagem total de mesófilos. Os testes ainda, vem sendo adicionadas na alimentação animal
177 178
(TSUMBU et. al., 2012), por constituírem boa fonte de energia, Outro fator relevante a ser destacado é o baixo custo de
proteínas, vitaminas e minerais, em especial fósforo, cálcio e produção e excelente disponibilidade, sendo cultivados sem a
magnésio. A prática em se alimentar com as folhas é realizada necessidade de grandes investimentos financeiros, deste
pelos povos da África Ocidental, Central e por imigrantes que modo é acessível a pessoas de todas as classes sociais.
vivem na Europa Ocidental, porém, ainda, não é bem Portanto, diante da utilização e importância de tal
difundida no Brasil, devido a questões culturais e a carência vegetal como contribuinte social e econômico para a
de pesquisas científicas quanto às suas propriedades população agrícola e, ainda, considerando a escassez de
nutricionais (PENDRE, et. al. 2011). As sementes ainda estudos sobre determinada espécie, o presente estudo
fornecem um óleo aromático, que pode ser utilizado na objetivou a realização de análises físicas, químicas e
alimentação humana e na fabricação de margarinas (Müller, microbiológicas de farinha provenientes de quiabos adquiridos
1982). em feira livre no município de Pombal - Paraíba.
Os frutos possuem uma coloração verde intensa,
caracterizada por uma cápsula fibrosa, cheias de sementes 2. MATERIAIS E MÉTODOS
brancas arredondadas, firmes e sem manchas escuras,
podendo apresentar produção de 10 a 20 toneladas por Para o presente estudo foram utilizadas amostras de
hectare (AGRUJURIS, 2014). quiabo adquiridas em feira livre no município de Pombal –
Mota e colaboradores (2000) em seus estudos apontam Paraíba, na qual foram armazenadas, para transporte, em
que, do total do seu peso fresco, 89,9% é constituído de água, sacos plásticos, identificadas e acondicionadas em caixas
sendo, dessa forma, um problema para a conservação do isotérmicas e encaminhadas para o Laboratório Centro
produto, comportando um vegetal perecível e com curto Vocacional e Tecnológico (CVT) – pertencente à Universidade
período de conservação pós-colheita, logo sua Federal de Campina Grande (UFCG) campus Pombal, onde
comercialização é feita na forma in natura. foram submetidas às análises. No laboratório as amostras
No Brasil, é o fruto a principal parte da hortícola foram submetidas à sanitização e seleção das amostras, com
consumida. O quiabo é apontado como um alimento de alto objetivo de retirar pedaços de impurezas e ou com defeitos,
valor nutricional, contendo vitaminas do tipo A, B1 e C, cálcio e garantindo a qualidade do produto final. O fruto considerado
ferro (BRAGA, 1978; DAS, MUKHERJEE, DAS, 2012). Ainda é adequado apresentou boa aparência.
mencionado por Soares (2010) como medicamento tradicional, Em seguida os frutos sofreram despolpamento
por possuírem compostos fenólicos em sua constituição, manualmente para separação da parte desejada, mesocarpo,
substâncias antioxidantes as quais exercem ação protetora e procedeu-se trituração em liquidificador industrial. O produto
contra o desenvolvimento de processos degenerativos que da trituração foi lavado em água corrente e, então, secado em
conduzem às doenças e ao envelhecimento precoce. estufa de circulação de ar forçada, marca Sterilifer e modelo

179 180
CR/100, a temperatura de 70, 80 e 90ºC, com variação em b. Análises microbiológicas
tempo entre 24 a 48 horas. Os métodos utilizados foram contagem de bolores e
Após secagem as amostras foram processadas em leveduras pelo método de plaqueamento em superfície
moinho de faca, obtendo-se farinhas. Destas, foram realizadas utilizando meio Batata Dextrose Ágar (BDA). A contagem de
as análises físicas, químicas e testes presuntivos. Os testes bactérias aeróbias mesófilas e anaeróbias facultativas foi
foram realizados em triplicata e seguindo metodologia descrita realizada pelo método de plaqueamento em profundidade
pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). utilizando meio ágar nutriente. A contagem de coliformes totais
e termotolerantes foram realizadas por meio de teste
a. Análises físico-químicas presuntivo e confirmativo. Para a realização da análise de
Staphylococcus spp. foi inoculado por plaqueamento em
Para a determinação do Teor Relativo de Água (TRA) superfície em meio Ágar Baird-Parker (BP), foram realizadas
foram utilizadas 2 gramas (g) da amostra da amostra para a as contagens das colônias típicas. A detecção de Salmonella
determinação dos teores de umidade através do método de spp. foi realizada por meio de enriquecimento seletivo e por
secagem a 105°C, em estufa de ar marca De Leo, tipo A3 SE. confirmação preliminar das colônias típicas, com resultados
Quanto ao Teor de Cinzas, foi determinado através da sendo expressos como ausência ou presença do
calcinação, em mufla a 550ºC até peso constante, de microrganismo em 25g de amostra. A contagem de Bacillus
aproximadamente 5 g da amostra. cereus foi realizada utilizando-se o meio Ágar MYP base,
Para a determinação de proteínas foram pesados, em como sugerido por SILVA (2010).
tubos para digestão, cerca de 0,2 g de cada amostra, no qual
foram adicionados 1,5 g do catalisador e 3 mL de ácido 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
sulfúrico PA. A digestão ocorreu em bloco digestor, cujo seu
aquecimento foi aquecimento gradativo, com taxa de
Análises físicas da farinha do quiabo apontou redução
aquecimento de 50 a 400ºC. Assim, aos sistemas foram
considerável para os teores relativos de água em função da
acrescidos 30 mL de água destilada, 5 mL de hidróxido de
variação de temperaturas utilizadas nos três métodos de
sódio 63% e fenolftaleína como indicador, então sofreram
secagem, assim, consequentemente, um aumento gradativo
destilação de nitrogênio. As soluções destiladas foram
para o percentual de cinzas. Verificou-se que dentre os três
coletadas em béqueres contendo ácido bórico e os
métodos, foi à 80ºC o maior rendimento proteico, com 1,86%
indicadores (alaranjado de metila e verde de bromocresol) e
(Tabela 1).
tituladas com solução de ácido clorídrico a 0,1 molar.
Estudos realizados por Oliveira e colaboradores (2002)
ao avaliar a farinha da casca do maracujá, relataram para os
valores de cinzas e proteínas 0,92 e 1,06%, respectivamente,

181 182
apontando-se valores inferiores aos encontrados para o respectivamente, portanto não sendo adequando para o
presente estudo. consumo humano. Quanto à presença de Staphylococcus spp.
Baixo teor de cinzas ainda foi demonstrado em análises apresentou-se fora dos valores estabelecido na legislação
realizadas por Monteiro (2009) ao pesquisar a composição de para a farinha processada a temperatura de 70ºC, com
casca de abóbora fresca, apresentando 1,12%, no entanto o 1,03x103 UFC/g, enquanto que para as processadas a 80 e
teor proteico determinado foi de 2,28%, mostrando-se superior 90ºC os valores encontrados, podem ser aceitos (Tabela – 2).
quando comparado aos encontrados em farinhas do quiabo.
Tabela 2 – Testes presuntivos da farinha do quiabo submetidas
Tabela 1 – Composição centesimal de análises físico-químicas às secagens nas temperaturas de 70ºC, 80ºC e 90ºC.
da farinha do quiabo submetidas às secagens nas Análises Resultados
temperaturas de 70, 80 e 90ºC. Temperatura (ºC) 70 80 90
Análises Resultados (%) Coliformes Fecais Ausente Ausente Ausente
Temperatura (ºC) 70 80 90 (NMP/g)
Teor relativo de água 8,78 6,24 3,13 Salmonella spp. Ausente Ausente Ausente
Cinzas 6,95 7,47 7,94 Bacillus cereus 9,34x103 Ausente 1,12 x104
Proteínas 1,07 1,86 1,67 (UFC/g)
Dados: obtidos no estudo. Staphylococcus spp. 1,03 x103 1,6 1,6
(UFC/g)
Realizados e avaliados os testes microbiológicos, Bolores e leveduras 1,34 x103 0,34 x103 0,07 x103
apresentou-se negativo para Coliformes fecais e Salmonella (UFC/g)
CTM (UFC/g) 1,07 x103 0,25 x103 0,39 x103
spp. para as três temperaturas em estudo, semelhantemente Dados: obtidos no estudo. NMP/g: número mais provável por grama;
encontrado por Borges, Pereira e Lucena (2009) que, também, UFC/g: unidade formadora de Colônias por grama; CTM: Contagem Total
determinaram ausência de Salmonella spp. em pesquisa com de Mesófilos.
farinha de banana verde.
Parâmetros da RDC nº 12 de 2001 preconizam que Apesar da presença de bactérias mesófilas não ser
alimentos prontos, a base de cereais, farinhas, grãos e critério muito eficiente como indicador microbiano com relação
similares devem respeitar uma tolerância de amostra indicativa à presença de patógenos, elas mostram superficialmente o
de 103 UFC/g para Bacillus cereus e Staphylococcus aureus. grau de contaminação da matéria-prima. Quanto aos fungos,
No presente estudo não foi verificado contaminação sua presença torna-se indesejável, uma vez que, podem
quanto à presença de Bacillus cereus para a farinha do quiabo produzir micotoxinas capazes de trazer prejuízos à saúde
submetida à temperatura de 80ºC. Os valores encontrados pública (ICMSF, 1983).
para 70 e 90ºC apresentaram-se superior os limites máximos Os parâmetros para bactérias e fungos totais não são
estabelecidos pela ANVISA, com 9,34x103 e 1,12x104 UFC/g, preconizados pela legislação, no entanto considera-se

183 184
satisfatória para alimentos quando a contagem para tais 5. REFERÊNCIAS
microrganismos é de 104 UFC/g. A contagem de mesófilos e
de bolores e leveduras efetuadas nas amostras de farinhas AGRUJURIS. Cultura do quiabo. Disponível em
apresentaram-se menores que o valor estimado satisfatório. <http://www.agrojuris.eng.br/minicurso/culturadoquiabo/1.01cul
turaquiabo.htm>. Acesso em: 20/05/2014.
4. CONCLUSÕES BRASIL. Resolução – RDC nº 12, 2 de janeiro de 200.
Estabelece padrões microbiológicos de alimentos.
Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho pôde
da Saúde; 2001. Disponível em:
ser alcançado. Os testes apresentaram-se negativos para
http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.html.200.Acesso
Coliformes fecais e Salmonella spp. para as três temperaturas
em: 02 out. 2014.
utilizadas em estudo. Foi para a farinha submetida ao
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
processo de secagem a 80ºC o maior teor de proteína e
Instrução Normativa n° 62, de 26 de agosto de 2003. Of icializa
menor número de UFC/g para as análises microbiológicas
os Métodos Analíticos Oficiais para Análises Microbiológicas
realizadas, encontrando-se dentro dos limites máximos
para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Diário
estabelecidos pela ANVISA, tornando-se viável para consumo.
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília.
BRAGA, C.S. Quiabo. In: Grande manual globo de
agricultura, pecuária e receituário industrial. Porto Alegre,
v.3, n.1, p.109-111, 1978.
DAS, A.K.; MUKHERJEE,I.; DAS, S. K. Dissipation of
Flubendiamide in/Okra [Abelmoschus esculenta (L.) Moench]
Fruits. Bulletin of Environmental Contamination and
Toxicology, v.88, n.3, 2012.
PHILIPPI, J. M. de S. and MORETTO, E. Ocorrência
de Salmonella ecoliformes de origem fecal na canela em
pó (Cinnamomum cassia Blume a Cinnamomum
zeylanicum Nees) comercializada em Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 1995, vol.11,
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FRANCO, B. D. G. M; LANDGRAF, M. M. T. D. Microbiologia
dos Alimentos. São Paulo, Ed. Atheneu, 2005.

185 186
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A.;
análises de alimentos. (Coor.) ZENEBON O., PAUCUET, N. TANIWAKI, M.H.; SANTOS, R.F.S.; GOMES, R.A.R. Manual
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FIRME, L.P.; NEVES, L.L.M. Caracterização físico-química de SOARES, G.S.F. Estudo da qualidade nutricional de
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Brasília, v.23, n.3, p.722-725, jul-set 2005. Abelmoschus esculentus (L.) MOENCH (quiabo).
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371, 2011.

187 188
CAPÍTULO 15 1.INTRODUÇÃO

PROPRIEDADES FUNCIONAIS DAS PROTEÍNAS DE Os molhos são uma emulsão semissólida em óleo
IMPORTÂNCIA EM MOLHOS E SOPAS vegetal, adicionada de um ou mais ingredientes acidificantes
(vinagre, suco de limão), um ou mais ingredientes à base de
Márlya Mayra Oliveira da SILVA¹ gema de ovo e amido, e outros ingredientes como leite, além
Kataryne Árabe Rimá de OLIVEIRA¹ de ingredientes opcionais, como sal, açúcar, glutamato
Jousianny Patricio da SILVA monossódico, estabilizantes, emulsificantes, temperos, ácido
Jossana Pereira de SOUSA málico e sequestrantes (U. S. GOVERNMENT, 2003). Podem
apresentar consistência líquida ou cremosa, sabor, suave ou
RESUMO: A adição de proteínas em molhos e sopas para picante. O mercado dispõe de uma grande variedade de
obtenção de produtos com características próprias é bastante molhos de fabricação industrial, cujo uso se destina a
comum. Por isso, objetivou-se realizar uma revisão condimentação de pratos (ORNELLAS, 2001).
bibliográfica sobre a funcionalidade de proteínas em molhos e A legislação define os molhos como o produto obtido pela
sopas. Foram consultados artigos científicos originais e de simples mistura de condimentos naturais ou elaborados, com
revisão, sendo os termos descritores utilizados na busca adição de outras substâncias alimentícias aprovadas, e
foram: proteína; propriedades funcionais; molhos; sopas. As apresentado sob a forma de pós, pasta, molho, em emulsão
propriedades não nutricionais dos componentes dos alimentos ou suspensão (BRASIL, 1978). Pode ser definido como um
são chamadas propriedades funcionais ou tecnológicas e meio líquido utilizado para adicionar sabor, umidade,
atuam sobre as características sensoriais e propriedades aparência e ajustar o sabor e a textura de preparações,
físicas do produto. Dentre as propriedades das proteínas podendo se apresentar quente, frio, salgado, liso ou com
pode-se citar: hidratação, solubilidade, viscosidade, pedaços. Para o preparo de molhos com textura, sabor e
gelificação, texturização, emulsificação e formação de aparência atraentes, são necessários equipamentos
espuma. Em molhos e sopas, mas especificamente, atuam as adequados, fundos de boa qualidade e uso de agentes
propriedades de hidratação, viscosidade e emulsificação, espessantes apropriados (AUTRAN, 2004).
sendo as proteínas lácteas, a proteína de soja e do ovo as O desenvolvimento de molhos industrializados requer muito
mais utilizadas. Mas, para que sejam produzidos alimentos de mais que dotes culinários, pois para a garantia da sua
qualidade, fatores intrínsecos e extrínsecos à proteína devem estabilidade e das suas propriedades sensoriais e reológicas
ser controlados. se faz necessário um cuidadoso conhecimento e experiência
Palavras-chave: Proteína. Propriedades funcionais. Molhos. na seleção dos ingredientes, tanto os principais, como o ovo,
Sopas. amido e leite, quanto os opcionais, geralmente condimentos e
aditivos, assim como dos processos e equipamentos, com
189 190
vistas à obtenção de produtos de boa qualidade e bastante diversificada devido ao número de ingredientes que
características próprias do produto (PIRES, 2008). podem ser adicionados, e que por isso conferem
As sopas são consideradas preparações líquidas ou características próprias a cada produto, com destaque para as
semilíquidas, com sabor e valor calórico que podem variar proteínas e suas propriedades funcionais. Portanto, o presente
bastante de acordo com sua composição. Sua utilização como trabalho objetivou realizar uma análise, com base na literatura,
alimento é uma forma cômoda de administrar nutrientes para dos aspectos relacionados à funcionalidade das proteínas em
comensais que apresentam dificuldade para se alimentar, molhos e sopas, no sentido de ampliar e divulgar informações
pois, devido à sua consistência, é de fácil ingestão, a cerca de suas propriedades.
principalmente quando se apresenta de forma homogênea
(sopa-purê). Pode ser um veículo para substâncias diversas,
como leite em pó, caseína, farinhas de misturas nutritivas,
2. MATERIAIS E MÉTODOS
vegetais e gelatinas. As formulações são bastante
diversificadas, apresentando vários sabores e ingredientes
que são facilmente diluídos em água ou leite por meio de uma O presente artigo consiste em uma análise das
rápida fervura. Por possuir essas características, a sopa é funcionalidades das proteínas em molhos e sopas, realizada
considerada uma refeição de fácil preparação e por isso inclui- com base na literatura científica. Foram pesquisados artigos
se na categoria de alimentos de conveniência (ORNELLAS, científicos originais e de revisão, publicados entre os anos de
2001). 1999 e 2009, perfazendo um período total de 10 anos, escritos
Segundo a legislação brasileira, a sopa desidratada é em língua portuguesa e inglesa. As bases de dados
um produto obtido pela mistura de ingredientes, tais como acessadas foram as disponíveis no portal de periódicos da
cereais e vegetais desidratados, farinha de cereais, leite em CAPES (www.periodicos.capes.gov.br) e os termos
pó, condimentos, massas alimentícias, extrato de carne e descritores utilizados na busca foram: proteína; propriedades
outros aprovados para este uso, como legumes pré-cozidos, funcionais; molhos; sopas. Após o levantamento bibliográfico,
desidratados, ovo desidratado, amido, semolina, dextrina, realizou-se a leitura exploratória do material encontrado e em
queijo ralado, sal, açúcar, óleo, gordura, manteiga, pequenos seguida, efetuou-se a leitura seletiva, a qual permitiu
pedaços de carne ou presunto desidratados, glutamato determinar quais informações eram de interesse desta
monossódico e condimentos diversos (ANVISA, 1978). Outros pesquisa.
ingredientes também podem ser observados, mas nem todos
estarão, necessariamente, em um mesmo produto. A
composição varia de acordo com a marca, sabor e tipo.
Estas informações indicam que a composição de
molhos e sopas produzidos pelas indústrias de alimentos é
191 192
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO componentes, devem ser estudados. Além disso, fatores
extrínsecos como pH, temperatura, condições do processo e
outros componentes do alimento levam à modificações na
3.1 PROTEÍNAS E SUAS PROPRIEDADES FUNCIONAIS
proteína quando se encontra no complexo alimentício.
O entendimento das várias funções e diferentes
As proteínas são moléculas complexas constituídas por
comportamentos das proteínas se faz necessário, pois em
carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, e às vezes,
cada tipo de alimento as proteínas podem apresentar
também apresenta em sua estrutura enxofre, ferro, cobre,
propriedades diversificadas. As interações existentes entre
fósforo e zinco, sendo os aminoácidos sua unidade básica,
proteínas e outros componentes dos alimentos devem ser
unidos entre si por ligações peptídicas, que juntamente com a
observadas, visando à obtenção de informações a respeito
disposição das ligações que estabilizam sua estrutura
das características do produto como um todo. A seguir será
determinam propriedades e funcionalidades. Desempenham
discutido o papel das propriedades funcionais das proteínas
papel importante em alimentos, inclusive em molhos e sopas,
presentes nas formulações de molhos e sopas desidratadas.
influenciando em suas diversas características (ORDÓÑEZ,
2005).
3.2 PROTEÍNAS EM MOLHOS E SOPAS
As propriedades não nutricionais que influenciam no
comportamento de certos componentes de um alimento são
Atualmente, proteínas como concentrados proteicos de
chamadas propriedades funcionais e atuam sobre
soro, caseinatos, proteínas isoladas de soja e de ovo são
características sensoriais e propriedades físicas de alimentos
utilizadas em diversos alimentos, inclusive molhos e sopas,
e ingredientes, desde o processamento até o consumo. As
como mostra a Figura 1, onde podem ser visualizados rótulos
propriedades funcionais das proteínas são: hidratação,
em embalagens de alguns molhos e sopas desidratadas
solubilidade, viscosidade, gelificação e texturização, onde a
existentes no mercado. Devido ao seu caráter anfifílico estas
interação proteína-água é dominante, e emulsificação e
moléculas agem como emulsificantes, pois são fáceis de
formação de espuma, onde a interação proteína-proteína
dispersar, são solúveis em água e, portanto, podem contribuir
predomina. Em molhos e sopas, observam-se as propriedades
para as propriedades reológicas do produto (WONG et al.,
de hidratação, viscosidade e emulsificação (ORDÓÑEZ,
1996; PIRES, 2008).
2005).
Entre as diversas propriedades funcionais relacionadas ao uso
Para que a proteína adicionada a determinado alimento
das proteínas lácteas como ingrediente em alimentos,
possa exercer sua função de maneira satisfatória, aspectos
destacam-se a solubilidade, capacidade de hidratação e
físicos e químicos como tamanho da proteína, composição e
retenção de água, além de propriedades emulsificantes e
sequência de aminoácidos, conformação, carga líquida,
espumantes. Os caseinatos de sódio e de cálcio diferem
distribuição das proteínas e capacidade de reação com outros
quanto às suas propriedades, pois o primeiro possui excelente
193 194
capacidade emulsificante e de retenção de água, enquanto
que para o segundo essa capacidade é reduzida na presença
de cloreto de sódio. Além do elevado valor nutritivo, as
proteínas do leite (caseínas e proteínas do soro) conferem aos
produtos formulados melhor aparência e características
sensoriais (WONG et al., 1996; FURTADO et al., 2001;
KRÜGER et al., 2003).
A proteína de soja possui facilidade de hidratação e
dispersão, emulsificação, estabilização, sendo sua
estabilidade ao aquecimento uma vantagem adicional (WANG;
FERNANDES; CABRAL, 2000; PIRES, 2008; CAMPOS et al.,
2009; RIAZ, 2009). As propriedades emulsificantes (atividade
emulsificante e estabilidade da emulsão) da proteína de soja
têm sido intimamente relacionadas ao seu conteúdo de
proteína ou nitrogênio solúvel. Este fato foi em parte,
confirmado pelos resultados obtidos no trabalho de Wang;
Fernandes; Cabral (2000), no qual foi observada uma boa
correlação positiva entre atividade emulsificante e nitrogênio
solúvel em água, porém uma baixa correlação positiva entre
Figura 1. A – rótulo de molho; B, C e D – rótulos de sopas desidratadas.
Estabilidade da Emulsão e Nitrogênio Solúvel em Água.

3.2.1 Hidratação

As proteínas com propriedade de hidratação interagem


com a água mediante pontes de hidrogênio, ligações dipolo-
dipolo ou cadeias laterais de aminoácidos (interação com
grupos ionizados). Portanto, se faz necessário e de extrema
importância um adequado número de aminoácidos com
cadeias laterais hidrofílicas para que estabeleçam, mais

195 196
facilmente, pontes de hidrogênio com a água, aumentando, relacionada ao diâmetro aparente das moléculas dispersas, o
assim, o processo de hidratação. que depende das características de cada proteína, das
Além do número de aminoácidos com cadeias interações proteína-água e proteína-proteína, além de ser
hidrofílicas, se faz necessária também a adequada influenciada pelo PH, temperatura, concentração proteica e
conformação das proteínas quando se fala em hidratação, pois salina, que levam a ruptura de pontes de hidrogênio ou
sua ordenação no espaço ao longo das cadeias polipeptídicas dissulfeto, modificando seu diâmetro aparente.
e sua organização tridimensional interferem nas interações O fenômeno da tixotropia ocorre quando há queda da
com a água. A estrutura também influencia nessa propriedade, viscosidade do produto após agitação e restabelecimento após
como no caso das micelas de caseína, onde há retenção de determinado tempo de repouso, devido à ruptura de pontes de
água fisicamente no seu interior quando esta penetra por hidrogênio entre as cadeias laterais da proteína quando a
capilaridade. solução é agitada. Com o passar do tempo a viscosidade é
Fatores extrínsecos como a concentração de proteínas, restabelecida devido à formação das pontes de hidrogênio
pH, temperatura e força iônica também apresentam relação desfeitas no período de agitação. Os caseinatos são utilizados
com a capacidade de absorção de água da proteína. Quanto como agentes para controlar a viscosidade em sopas
maior a concentração proteica, maior a absorção de água. Em cremosas enlatadas.
relação ao pH, quando mais distante do ponto isoelétrico, a Faz-se necessário destacar que ainda não foi possível
proteína encontra-se carregada positiva ou negativamente estabelecer relação direta entre as propriedades de
favorecendo sua hidratação. Em temperaturas elevadas a solubilidade e viscosidade, pois proteínas como as do soro do
capacidade de retenção de água é perdida em função da leite, são muito solúveis, mas apresentam pouca capacidade
quebra das pontes de hidrogênio e desnaturação. Se a de absorção de água e pouca viscosidade. Já os caseinatos,
concentração iônica é baixa, a hidratação pode aumentar já possuem elevada capacidade de absorção de água e
que os íons ligam-se as proteínas (efeito salting-in) e em viscosidade.
concentrações elevadas pode haver competição pela água
entre proteínas e íons, com consequente perda da capacidade 3.2.3 Emulsificação
de hidratação (salting-out).
Como citado anteriormente os molhos são emulsões, e suas
3.2.2 Viscosidade proteínas orientam-se de tal forma que seus extremos
hidrofóbicos e hidrofílicos se colocam na superfície óleo/água
reduzindo a tensão superficial. A distribuição homogênea e o
A viscosidade de molhos e sopas é uma das principais diâmetro das gotas dispersas determinam a qualidade da
características percebidas quando se consome estes emulsão, porém, além da capacidade emulsificante, a proteína
produtos, sendo bastante importante e diretamente deve possuir a capacidade de estabilizar essa emulsão. Para
197 198
que a proteína seja capaz de estabilizar emulsões, fatores 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
intrínsecos e extrínsecos devem ser rigorosamente
controlados.
Os fatores extrínsecos relacionados à capacidade AUTRAN, M. Gastronomia e segurança alimentar: Módulo
emulsificante das proteínas são o equipamento utilizado para produção de alimentos: técnicas culinárias e princípios
formar a emulsão, o aporte energético e a velocidade de básicos, 2004.
adição da fase hidrófoba, que não devem influenciar de forma
negativa. Os fatores intrínsecos são a solubilidade da proteína BRASIL, Comissão Nacional de Normas e Padrões para
(quanto mais solúvel maior a capacidade emulsificante); PH Alimentos – CNNPA. Resolução CNNPA n° 12 de 24 de julh o
(proteína da clara do ovo: capacidade emulsificante ótima no de 1978. Aprova as normas técnicas especiais. Diário Oficial
PH isoelétrico, caseínas e proteínas do soro do leite: da República Federativa do Brasil, Brasília, 24 de jul. 1978.
capacidade emulsificante ótima em pH distante do ponto Seção 1. pf. 1.
isoelétrico); temperatura (quanto maior, menor a estabilidade
da emulsão, devido a redução da viscosidade); e CAMPOS, D. C. P.; ANTONIASSI, R.; DELIZA, R.; FREITAS,
concentração proteica (quanto maior, maior a estabilidade da S. C.; FELBERG, I. Molho cremoso à base de extrato de soja:
emulsão). estabilidade, propriedades reológicas, valor nutricional e
Dentre as proteínas mais utilizadas em molhos e sopas, os aceitabilidade do consumidor. Ciência e Tecnologia dos
caseinatos são considerados os melhores quando se fala na Alimentos, v. 29, n. 4, p. 919-926, out.-dez. 2009.
propriedade emulsificante. Em contrapartida, as proteínas
globulares como as do soro do leite, a lisozima e a ovalbumina COULTATE, T. P. Alimentos: a química de seus
não apresentam capacidade emulsificante eficiente. componentes. 3ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004, 368p.
FURTADO, M. A. M.; GOMES, J. C.; SILVA, C. A. S.;
4. CONCLUSÕES ORNELLAS, C. B. D.; SILVESTRE, M. P. C. Propriedades
funcionais de hidrolisados de proteína láctea co-precipitada.
As proteínas lácteas, proteínas da soja e do ovo, Ciência e Agrotecnologia, v. 25, n. 3, p. 625-639, maio/jun.,
encontradas na composição de molhos e sopas, são de 2001
extrema importância para as características físicas e químicas
dos produtos, repercutindo em seus aspectos sensoriais, KRÜGER, C. C. H.; COMASSETTO, M. C. G.; CÂNDIDO, L.
tornando-os produtos agradáveis. No entanto, para que M. B.; BALDINI, V. L. S., SANTTUCCI, M. C.; SGARBIERI, V.
produtos de qualidade sensorial e tecnológica sejam C. Biscoitos tipo “cookie” e “snack” enriquecidos,
produzidos, fatores intrínsecos e extrínsecos à proteína devem respectivamente com caseína obtida por coagulação
ser analisados e controlados.
199 200
enzimática e caseinato de sódio. Ciência e Tecnologia dos
Alimentos, n. 23, v. 1, p. 81-86, jan.-abr. 2003.

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201 202
CAPÍTULO 16 repercutiu positivamente no caso clinico. Conclui-se que a
terapia nutricional é extremamente importante para a
TERAPIA E EVOLUÇÃO NUTRICIONAL EM PACIENTE recuperação da saúde do paciente, por auxiliar no tratamento
HOSPITALIZADO COM SÍNDROME NEF e controle da Síndrome Nefrótica e suas complicações,
RÓTICA: ESTUDO DE CASO melhorando sua qualidade de vida, entretanto a alimentação
juntamente com a terapêutica medicamentosa, são aspectos
Raabe Seabra de LIMA1 primordiais nesse processo de recuperação.
Ana Emilia NASCIMENTO¹
Janaina Almeida Dantas ESMERO2 Palavras-chave: Síndrome Nefrótica. Terapia Nutricional.
Carolina de Miranda GONDIM 2
Evolução Dietoterápica.
Sandra Regina Dantas BAIA3
1 Aluno da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) /CES/Cuité/PB; 2 Professores
MsC da UFCG/CES/Cuité/PB; 3 Nutricionista do Hospital Universitário Alcides
Carneiro/Campina Grande/PB
1. INTRODUÇÃO

RESUMO: A síndrome nefrótica é uma doença renal, A Síndrome Nefrótica compreende um grupo
caracterizada pela presença de proteinúria maciça, edema, heterogêneo de doenças cujas manifestações comuns
hipoproteinemia e dislipidemia. Acomete tanto adultos quanto derivam da perda da barreira glomerular à proteína plasmática
crianças, sendo causada por doenças primariamente renais ou (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2010). De acordo com Nachman
por diversas patologias. O objetivo deste trabalho foi relatar a et al. (2008), a SN é caracterizada pela presença de
terapia e evolução nutricional de uma paciente com Síndrome proteinúria maciça, edema, hipoproteinemia e dislipidemia.
Nefrótica, internada em um Hospital público de Campina Essa patologia acomete tanto adultos quanto crianças, sendo
Grande/PB. Paciente do sexo feminino diagnosticada com causada por doenças primariamente renais (SN idiopática ou
Síndrome Nefrotica, realizou-se acompanhamento durante a primária) ou por diversas patologias (SN secundária). A SN
internação, fornecendo uma alimentação adequada levando primária é a forma de maior prevalência, tanto em adultos
em consideração as recomendações propostas para a quanto em crianças e a anormalidade glomerular é a única
patologia em questão, no decorrer dos dias observou-se doença presente. Quando de origem secundária, ocorre
adesão da paciente a intervenção nutricional e terapêutica principalmente em decorrência do Diabetes mellitus, lúpus
medicamentoso, apresentando melhora no quadro clinico com eritematoso sistêmico, amiloidose, infecções bacterianas e
redução do edema em membros inferiores, superiores e face, virais, neoplasias, medicamentos, entre outras (SCHNAPER et
bem como redução de peso. De acordo com os dados al., 2007; NACHMAN et al., 2008; PORTH; MATFIN, 2010).
bioquímicos observou-se redução nos valores de sódio, Quando os sintomas se tornam persistentes, e não há
proteinúria, colesterol. Esse acompanhamento diariamente um tratamento correto da síndrome nefrótica, pode evoluir

203 204
para uma Insuficiência Renal Aguda (IRA), que é tratamento da dislipidemia, conforme protocolo específico do
caracterizada pela redução súbita na taxa de filtração Ministério da Saúde e, anticoagulação, no caso de fenômenos
glomerular (TFG) ou na quantidade de filtrado por unidade dos tromboembólicos (GLASSOCK, 2001; MORALES, 2006).
nefróns e pela alteração na capacidade do rim de eliminar a Os principais objetivos da terapia nutricional incluem
carga diária de excreção metabólica. controlar os sistemas associados à síndrome (edema,
Na maioria das vezes, os pacientes com SN hipoalbuminemia e hiperlipidemia), diminuir o risco de
desenvolvem hiperlipidemia, caracterizada por níveis elevados progressão para insuficiência renal e manter as reservas
de triglicerídeos e lipoproteínas de baixa densidade (LDL). nutricionais por intermédio da oferta de energia e proteína
Entretanto, os níveis de lipoproteínas de alta densidade (HDL) suficientes para manutenção de um balanço de nitrogênio
estão normais. Acredita-se que essas anormalidades estejam positivo (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2010).
relacionadas, ao menos em parte, à síntese aumentada de Este trabalho teve como objetivo relatar a terapia e
lipoproteínas no fígado em consequência de um aumento evolução nutricional de uma paciente com Síndrome Nefrótica
compensatório na produção de albumina. Devido aos níveis internada em um hospital público de Campina Grande/PB.
elevados de LDL, os indivíduos com SN correm risco
aumentado de desenvolvimento de aterosclerose. Associado a
isso, ocorre desorganização da função do sistema de 2. METODOLOGIA
coagulação produzida pela perda de fatores da coagulação e
anticoagulantes. Já o edema, decorre da retenção de água e Trata-se de um estudo observacional descritivo,
sódio, bem como da perda da albumina sérica. A retenção de desenvolvido em um hospital público na cidade de Campina
água e sódio parece decorrer do aumento compensatório de Grande/PB, em Junho de 2014.
aldosterona, estimulação do Sistema Nervoso Simpático Os dados foram coletados por meio do acesso ao
(SNS) e redução da secreção de fatores natriuréticos. O prontuário, prescrições e dados bioquímicos, após
edema inicia-se nas partes pendentes do corpo e depois, consentimento da paciente e da direção da Instituição.
porém se torna generalizado com a progressão da doença Foi aplicado um questionário para coleta de informações.
(PORTH; MATFIN, 2010). Na anamnese alimentar, constavam dados como horário e
O tratamento da SN compreende medidas gerais e fracionamento das refeições, tipos de preparações
específicas, selecionadas de acordo com o tipo da doença consumidas diariamente, quantidades dos alimentos em
primária renal. As medidas gerais incluem decisões medidas caseiras e frequência do consumo. Foram também
terapêuticas nutricionais como: restrição de sal, proteínas, identificadas as preferências, aversões e alergias alimentares;
gorduras; e medicamentosa, como: uso de diuréticos para além de antecedentes pessoais e familiares.
tratamento do edema, inibidores da enzima conversora da Para a avaliação antropométrica da paciente foi
angiotensina para redução da proteinúria, de estatinas para considerado peso e altura, para avaliação do estado
205 206
nutricional de acordo com o índice de massa corporal (IMC) e Após anamnese alimentar, foi observado que a paciente
estimativa das necessidades energéticas, de acordo com realizava apenas 3 (três) refeições por dia (dejejum, almoço e
Mahan, Escott-Stump (2010). jantar), consumia apenas uma porção de fruta/dia e tinha
O diagnóstico nutricional foi definido por meio de análise preferências por alimentos fritos. Relatou desconhecer
conjunta de informações, como o diagnóstico clínico e qualquer tipo de intolerância ou alergia alimentar.
bioquímico, o hábito alimentar relatado na anamnese e Na primeira avaliação antropométrica, observou-se um
antropometria. peso de 66,4 Kg e altura 1,61 m, com IMC de 25,61 Kg/m2 e
Com a definição do diagnóstico, realizou-se a estado nutricional de sobrepeso. Porém, vale ressaltar que a
intervenção nutricional por intermédio da conduta paciente apresentava-se edemaciada, influenciando nos
dietoterápica. A paciente recebeu uma dieta individualizada, dados de avaliação do estado nutricional. Após alta hospitalar,
com o valor calórico total (VCT) calculado de acordo com a o peso aferido foi 63,3 Kg, passando a um IMC de 24,4 Kg/m2
necessidade estimada e considerando as recomendações e um estado nutricional de eutrofia.
propostas para SN, de acordo com Mahan, Escott-Stump Durante a internação, foram prescritas as seguintes
(2010) e Riela e Martins (2013). medicações: prednisona, omeprazol e captopril. Segundo
A evolução dietoterápica foi realizada considerando a Mahan, Escott-Stump (2010), o tratamento de várias doenças
quadro clínico e nutricional da paciente no momento da requer o uso de medicamentos, frequentemente envolvendo o
admissão e após o intervalo de uma semana. uso de múltiplos dele, juntamente com um acompanhamento
nutricional adequado. De certa forma a dieta e utilização de
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO medicamentos, composição genética ou estado nutricional do
paciente podem reduzir a eficácia do fármaco ou aumentar
A paciente do sexo feminino, 32 anos, ensino sua toxicidade.
fundamental incompleto e renda familiar mensal menor que
um salário mínimo. Residente em zona urbana, em casa de Tabela 1: Demonstração da terapêutica utilizada na
alvenaria acabada. A mesma foi atendida em uma Unidade recuperação do paciente
Básica de Saúde (UBS) de sua cidade, apresentando edema
em membros inferiores (MMII), membros superiores (MMSS) e Medicamentos Dose Horário
face, há 5 (cinco) meses. Foram solicitados exames Omeprazol 20 mg 1 vez/dia
bioquímicos para investigação de proteinúria, Puran T4 25 mg Pela manhã
hipertrigliceridemia e hipoalbuminemia, a fim de direcionar Captopril 12,5 mg 1 hora antes da
uma hipótese diagnóstica e, posteriormente, foi encaminhada refeição
a um Nefrologista com posterior internação em um hospital Prednisona 60 mg 2 vez ao dia
público de Campina Grande/PB. Estatinas 20 mg
207 208
O tratamento de várias doenças requer o uso de o Estatinas: Este medicamento pode ter interação com
medicamentos, frequentemente envolvendo o uso de múltiplos algum tipo de medicamento e alguns alimentos, como
dele, juntamente com um acompanhamento nutricional suco de laranja pode aumentar a potência da estatina
adequado. De certa forma, a dieta e utilização de (PALHEIRO, 2014).
medicamentos, composição genética ou estado nutricional do
paciente podem reduzir a eficácia do fármaco ou aumentar A Tabela 1 traz informações dos medicamentos
sua toxicidade (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2010). Segue utilizados para melhora do quadro clinico da paciente.
abaixo os medicamentos utilizados pela paciente e suas
possíveis interações. Tabela 1 - Valores bioquímicos da paciente avaliada.
o Prednisona: Durante o tratamento com este DATA
Exames S
medicamento, deve-se atentar para uma dieta com 28/03 31/0 29/03 12/0 10/ 13/06 18/06
redução de sal, pois causa retenção de água e sódio, 3 4 05
aumenta a excreção de cálcio e potássio (MAHAN, TSH (mU/L) 10 - - - - - -
Colesterol (mg/dL) 498 - - - - 400 -
ESCOTT-STUMP, 2010).
Triglicerídeos ( - - - - - 264 -
o Omeprazol: Inibem a secreção de ácido gástrico e mg/dL)
elevam o pH gástrico, estes efeitos podem prejudicar a LDL (mg/dL) - 348 - - - - -
absorção de vitamina B12 e diminuir a absorção de HDL (mg/dL) - 99 - - - - -
cálcio, ferro, zinco, ácido fólico e β-caroteno (MAHAN, Proteinúria - - 3147 4320 1942 - -
ESCOTT-STUMP, 2010). (mg/24h) ,6
Albumina (g/dL) - - - - - 2,0 -
o Captopril: Não tem uma boa absorção quando
Creatinina (mg/dL) - - - - - 0,9 0,81
administrado próximo ou durante as refeições, portanto, Ureia (mg/dL) - - - - - - 50
recomenda-se que o mesmo deve ser administrado Sódio (mmol/L) - - - - - - 139
Potássio (mmol/L) - - - - - - 3,3
uma hora antes. É necessário evitar o consumo de
ginseng e gengibre, porque essas ervas medicinais
diminuem o efeito do medicamento (LOPES, A Tabela 1 mostra os exames bioquímicos da paciente
CARVALHO, FREITAS, 2010). avaliada. Como base nesses, observa-se que os valores de
o Puran T4: O medicamento quando ingerido próximo a Colesterol, Triglicerídeos e LDL apresentados, encontram-se
refeições que contenham sulfato ferroso reduz sua muito acima do desejável, que de acordo com Costa (2008),
absorção no trato gastrointestinal. Assim, deve-se onde o Colesterol deve ser < 200 mg/dL, os Triglicerídeos <
separar a administração de sais de ferro da 160 mg/dL e o LDL < 130 mg. Segundo Alves (2004), os
adminstração da levotiroxina tanto quanto possível valores de referência propostos para proteinúria devem ser <
(MEDICINANET, 2014). 300 mg/24 horas. Considerando essa variável, observa-se que

209 210
a paciente exibia valores muito acima do normal. Contudo, seja, 11% do VCT; com preferência para as proteínas de alto
pôde-se constatar que houve uma redução da proteinúria ao valor biológico. Essas recomendações foram propostas por
longo da admissão hospitalar; bem como do valor referente ao Morales et al. (2006), ressaltam que pacientes com Síndrome
colesterol total. Nefrótica não recomenda-se dietas hiperproteicas, porque
Considerando a recomendação proposta por Mahan, induz o aumento da proteinúria e sem aumento no nível sérico
Escott-Stump (2010) é possível inferir que o sódio se encontra de albumina.
abaixo dos valores de referência, se mostrando benéfico a Considerando a importante consequência da
paciente a fim de apresentar uma diurese satisfatória após hipercolesterolemia com potencial para induzir doença
repouso no leito e restrição leve de sódio. Segundo Chemim aterosclerótica, foi determinado 58,3g (525 kcal) de lipídeos
(2007) a recomendação para potássio é entre 40 e 70 mEq, os por dia (25% do VCT), com seleção nos tipos de gorduras
valores indicados no exame da paciente de mostraram abaixo (aproximadamente, 11% de monoinsaturada, 8% de poli-
do recomendado. A ureia está acima do recomendado, insaturada e 6% de saturada), com a finalidade de melhorar o
enquanto que a e creatinina se encontra dentro dos valores perfil lipídico da paciente. Além disso, foi recomendada uma
recomendados. oferta de colesterol dietético menor que 200mg/dia. Para
De acordo com Morales et al. (2006) a restrição de sódio Mahan, Escott-Stump (2010) a redução de lipídeos e
nesses pacientes é fundamental, pois muitos pacientes combinação com dietas pobre em colesterol, podem reduzir os
nefróticos em fases ativas da doença excretam uma índices de colesterol total, lipoproteína de baixa densidade
quantidade de sódio menor do que 10 mEq/dia. Desta forma, (LDL) e triglicerídeos em pacientes com síndrome nefrotica.
uma quantidade de sal na dieta menor do que 1g é muitas Nesses pacientes muitas vezes não há necessidade de utilizar
vezes impraticável, mesmo em pacientes hospitalizados. Mas, fármacos antilipêmicos, entretanto os pacientes sem resposta
essas restrições possibilita reduzir as doses de diuréticos ao tratamento apresentam dislipidemia persistente com o
necessárias para indução de um balanço de sódio negativo. desenvolvimento frequente de doença vascular, muitas vezes
O objetivo da conduta dietoterápica foi prioritariamente agravada pelo uso prolongado de corticosteroides e/ou
auxiliar no controle dos sintomas associados à síndrome diuréticos (Morales et al., 2006). Quanto aos carboidratos, foi
(edema, hipoalbuminemia, hiperlipidemia), manter um balanço proposto um total de 64% do VCT, correspondendo 333,9g/dia
nitrogenado positivo e garantir reservas nutricionais (1335,6 kcal), a fim de fornecer energia a paciente.
adequadas, diminuindo assim o risco de progressão para a Para o planejamento do cardápio, foi utilizada a ficha de
insuficiência renal. equivalentes proposta por Costa (2013) indicada para paciente
As necessidades energéticas foram estimadas em 2100 renal, considerando todas recomendações necessárias para
kcal, considerando a recomendação de 35/kcal/kg ideal/dia. essa patologia, tendo em vista que deve-se ter atenção e
Para a estimativa protéica, considerou-se 1,0g/kg de proteína selecionar bem os tipos de alimentos para melhor ou retardar
peso ideal/dia, perfazendo um total de 60g/dia (240 kcal), ou a progressão para Insuficiência renal.
211 212
Durante a internação a paciente recebeu dieta com alterações vasculares mais ou menos severas e tendência á
consistência normal e com restrição de sódio, respeitando as progressão para insuficiência renal terminal. Em contrapartida
recomendações propostas por Mahan, Escott-Stump (2010), houve melhora da paciente durante o tempo de hospitalização,
pois uma alimentação com grande quantidade de sódio pode com redução do edema, peso e melhora de seu quadro clinico.
sobrecarregar os rins e pior o estado nutricional da paciente. Ao receber alta hospitalar suas necessidades calóricas
De acordo com Mahan, Escott-Stump (2010), o edema reais foram estimadas, levando em consideração seus hábitos
indica um estado de sobrecarga corporal do total de sódio. e restrições alimentares em decorrência da Síndrome
Contudo, em virtude da baixa pressão oncótica no volume de Nefrótica. A dieta foi planejada pelo sistema de equivalentes
sangue circulante que resulta que resulta na hipoalbuminemia, determinando as quantidades necessárias e adequadas dos
esse volume pode ser reduzido, podendo mascarar o peso da alimentos, às recomendações foram seguidas de proteína,
paciente devido ao edema encontrado. carboidrato e lipídeos e determinadas conforme orientações
O cardápio foi calculado na ficha de equivalentes de Mahan, Escott-Stump (2010), Riela e Martins (2013). A
Monoinsaturada, Polinsaturada e Saturada (MPS), foi paciente foi orientada quanto aos cuidados básicos com os
selecionada as melhores fontes de gorduras de acordo com a alimentos permitidos, restritos e o uso do caderno de dieta.
quantidade necessária a patologia da paciente, a fim de Com a adesão da paciente a terapia nutricional e o uso de
melhorar os níveis de colesterol sanguíneo. Deu-se medicamentos, houve melhora em seu quadro clinico.
preferência a proteínas de alto valor biológico, pois contem
aminoácidos essenciais ao nosso corpo. Houve restrição 4. CONCLUSÕES
hídrica em decorrência do edema.
Com relação à evolução dietoterápica, observou-se uma A Terapia Nutricional é extremamente importante para a
boa aceitação em relação ao cardápio proposto. A paciente recuperação da saúde do paciente, por auxiliar no tratamento
não referiu intercorrências e alterações na motilidade e controle da Síndrome Nefrótica e suas complicações,
intestinal. Apresentou uma melhora clínica significativa a partir melhorando sua qualidade de vida. A alimentação juntamente
da associação do tratamento clínico e a introdução da terapia com a terapêutica medicamentosa, são aspectos primordiais
nutricional. para o processo de recuperação. É importante destacar a
Com a adesão da paciente a terapia nutricional e o uso importância da interação medicamento e nutriente, por esse
de medicamentos, houve melhora em seu quadro clinico. motivo, vê-se a necessidade de um acompanhamento por uma
Morales et al. (2006) relatam que os pacientes que não equipe multidisciplinar. O nutricionista é fundamental na
respondem ao tratamento da patologia básica e permanecem conduta dietoterápica, para determinar as necessidades
com síndrome nefrotica por longos períodos podem apresentar nutricionais de forma individualizada, considerando
desnutrição, aumento da incidência de toxicidade a drogas, preferências pessoais e culturais, particularidades da doença
infecções frequentes, deficiência de zinco, ferro e cobre, de base e doenças associadas.
213 214
A Síndrome Nefrótica é uma doença que exige um 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
acompanhamento adequado, já que pode progredir para uma
Insuficiência Renal caso não se tenha um controle e ALVES, M. A. R. Diagnóstico de Doença Renal Crônica:
tratamento corretos, pode estar associado ao aumento na taxa Avaliação de Proteinúria e Sedimento Urinário. Revista:
de mortalidade. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 26, n.3, 2004.
A redução do consumo de sódio, proteína e lipídios faz
parte do tratamento, objetivando melhorar o quadro clínico. COSTA, M. J. C. Nutrição clinica: uso do sistema por
Na literatura existem poucos dados sobre os resultados equivalentes na prática dietoterápica. João Pessoa – PB.
das estratégias de nefroproteção em pacientes com SN Editorada: UFPB, 2° edição, 2013, p. 326.
prolongada e, futuramente, o uso de drogas mais eficientes e
com menos efeitos colaterais poderá ampliar as possibilidades CHEMIM, S. M. Tratado de Alimentação, nutrição e
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Adriana Gomes César CARVALHO4
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Pós-graduanda da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (RIMUSH) no
Hospital Universitário Lauro Wanderley
http://www.cfcp.com.br/a/index.asp?n=28413&lg=pt. Acesso 2
Pós-graduanda em Nutrição Clínica pela Estácio e voluntária no Hospital Universitário Lauro
em 03 de julho de 2014. 3
Wanderley
Nutricionista do Hospital Universitário Lauro Wanderley
4
Nutricionista do Hospital Universitário Lauro Wanderley e integrante da Equipe
Multiprofissional de Terapia Nutricional

RIELLA, M. C.; MARTINS, C. Nutricão e o Rim. 2ª edição. Editora


GEN: Rio de Janeiro, 2013, 381p.
RESUMO: O relato visa demonstrar a atuação do nutricionista
na Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN),
SCHNAPER, H. W.; ROBSON, A. M.; KOPP, J. B. Nephrotic com ênfase na terapia parenteral. Teve como base a vivência
Syndrome: Minimal Change Nephropathy, Focal das nutricionistas que realizam atendimento aos pacientes
Glomeruloesclerosis, and Collapsing Glomerulopathy. internados em um Hospital Universitário, João Pessoa/PB.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. 8th ed, 2007, p. Foram objeto para sua elaboração atividades que fazem parte
1585-672. da rotina das nutricionistas, como: visitas diárias realizadas
aos pacientes, avaliação e acompanhamento do Estado
Nutricional (EN), acompanhamento da evolução clínica,
registro da evolução nutricional, bem como articulação com os
demais profissionais que compõe a EMTN e a equipe
assistencial. Percebeu-se a importância do nutricionista para
intervenção adequada na reabilitação do EN do paciente,
remetendo assim, uma resposta positiva no quadro clínico e
nutricional. O acompanhamento das nutricionistas durante a

217 218
administração da NPT permitiu a percepção da inadequação hospitalizados. Este suporte é realizado por um conjunto de
na oferta calórica prescrito. Nesta situação, a intervenção procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação
realizada pelas nutricionistas foi reavaliação das necessidades do estado nutricional do paciente por meio de uma solução ou
energéticas do paciente e apresentação de uma sugestão de emulsão estéril e apirogênica, composta basicamente de
evolução dietética à EMTN. Após a evolução foi possível carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais,
perceber melhora do EN por meio de avaliação nutricional destinada à administração intravenosa, com a finalidade de
objetiva e subjetiva. Concluiu-se que a proximidade do fornecer aos pacientes os nutrientes em quantidades
nutricionista com a EMTN e a equipe assistencial é fator necessárias, visando à síntese ou manutenção dos tecidos,
primordial o alcance do sucesso nesse tipo de terapia, órgãos ou sistemas (BRASIL, 1998).
minimizando as intercorrências e complicações. Essa terapia constitui uma parte essencial no tratamento
Palavras-chave: Equipe Multiprofissional de Terapia de alguns pacientes hospitalizados que apresentam empecilho
Nutricional. Estado Nutricional. Nutricionista. Parenteral. na alimentação via oral ou enteral ou, ainda, quando a
absorção dos nutrientes for incompleta ou insuficiente, quando
1. INTRODUÇÃO houver impossibilidade de utilizar o trato gastrintestinal durante
sete a dez dias, quando houver perda de peso superior a 10%
A desnutrição hospitalar é responsável por um grande do peso usual, e quando não houver contraindicação do seu
aumento da morbimortalidade. No doente hospitalizado a uso. É útil também na profilaxia e tratamento da desnutrição
desnutrição pode se instalar rapidamente devido ao estado de aguda, mediante o fornecimento de energia e proteínas para
hipercatabolismo que ocorre em resposta ao estresse prevenir o catabolismo proteico do paciente, em regime
metabólico comum nas enfermidades, traumatismos e hospitalar ou domiciliar (CAVALCANTE, 2010).
infecções, tornando a ingestão nutricional insuficiente quando Diante da complexidade dos diversos fatores envolvidos
não são assumidas medidas que corrijam o aporte energético- na monitoração do paciente hospitalizado e do risco de
proteico (WAITZBERG et al., 2001; PIASETZKI, 2011; ). surgimento da desnutrição no âmbito hospitalar, faz-se
Outro fator que pode contribuir para o surgimento e necessário a formação de uma equipe multidisciplinar que
agravamento do quadro de desnutrição nestas condições possa promover uma atenção holística ao paciente
clínicas é a pouca atenção que os profissionais de saúde dão hospitalizado assegurando uma atenção adequada e uma
ao cuidado nutricional, culminando com uma indicação de humanização no cuidar do paciente (LEITE, 2005).
terapia inadequada, deficiência na avaliação nutricional e Considerando a complexidade da terapia nutricional, a
monitoração pouco frequente (LEITE, 2005). Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio da
A terapia nutricional parenteral surge como solução por portaria 272, de 8 de Abril de 1998 da Secretaria de Vigilância
ser uma técnica na qual apresenta uma grande importância na Sanitária, do Ministério da Saúde regulamenta os requisitos
recuperação de pacientes clínicos ou cirúrgicos, mínimos da Terapia Nutricional Parenteral e cria a Equipe
219 220
Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) que deve ser 2. MATERIAIS E MÉTODO
constituída obrigatoriamente por pelo menos um profissional
de cada categoria, com treinamento específico para esta O relato foi baseado na vivencia das nutricionistas que
atividade, sendo estes: médico, nutricionista, enfermeiro e realizam atendimento aos pacientes internados na Clínica
farmacêutico, podendo ainda conter profissionais de outras Médica (CM) de um Hospital Universitário localizado na cidade
categorias. Essa multiprofissionalidade permite integrar, de João Pessoa – PB.
harmonizar e complementar os conhecimentos e habilidades A vivência relatada foi fundamentada na atuação da
dos integrantes da equipe promovendo uma escolha mais residente multiprofissional em nutrição do hospital universitário
adequada da Terapia Nutricional e cumprindo o objetivo de em questão, na atuação da nutricionista que realiza serviço
identificar, intervir e acompanhar o tratamento dos distúrbios voluntário na CM e na atuação rotineira da nutricionista da
nutricionais nos pacientes hospitalizados (BRASIL, 1998; clínica, que compõe também a EMTN do hospital.
LEITE, 2005). As atividades que fazem parte da rotina das
O nutricionista deve estar envolvido em todas as fases da nutricionistas, que foram objeto para a elaboração deste
terapia nutricional, assim como deve ser com todos os relato, compreenderam: as visitas diárias realizadas aos
membros integrantes da EMTN, todos envolvidos e pacientes submetidos à Nutrição Parenteral, avaliação e
trabalhando de maneira homogênea e coesa objetivando o acompanhamento do estado nutricional dos pacientes durante
beneficio do paciente e buscando o aprimoramento das todo o período de internação através da utilização de
técnicas de assistência nutricional para garantir assim protocolos preestabelecidos, acompanhamento da evolução
qualidade no serviço prestado e alcançar o pleno sucesso da clínica através de consulta ao prontuário e registro da
terapia (SILVEIRA, 2001). evolução nutricional, bem como articulação com os demais
O presente relato de experiência visa demonstrar a profissionais que compõe a EMTN e com toda a equipe
atuação do nutricionista na Equipe Multiprofissional de Terapia assistencial que estava envolvida no cuidado aos pacientes.
Nutricional – EMTN, com ênfase na terapia parenteral, como
parte fundamental e imprescindível na equipe para alcançar o
sucesso deste tipo de terapia.

221 222
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO necessidades energéticas do paciente, e apresentação de
uma sugestão de evolução dietética aos demais integrantes da
A partir da observação e vivência na assistência aos EMTN para que uma nova conduta fosse tomada, visando
pacientes internados no Hospital Universitário que atingir essas necessidades.
apresentavam necessidades nutricionais específicas, pode-se Após a correção na evolução da conduta, esta
reafirmar a importância do nutricionista para uma intervenção identificada inicialmente pelo trabalho das nutricionistas e
adequada por meio de Terapia Nutricional na reabilitação do apoiada pela EMTN, foi possível perceber a melhora do
estado nutricional do paciente, remetendo assim, uma estado nutricional por meio de avaliação nutricional objetiva e
resposta positiva no quadro clínico e nutricional dos pacientes. subjetiva. Destaca-se o ganho de peso e o retorno da
No hospital em questão, a EMTN tem atuação clínica na pigmentação natural de pelos e cabelos, corroborando com
avaliação direta aos pacientes por meio da solicitação da uma oferta de macronutrientes e micronutrientes adequada.
equipe médico-assistencial, a qual identifica a necessidade à A presença do nutricionista na EMTN e na clínica junto
terapia nutricional parenteral, inicialmente. aos demais nutricionistas foi fundamental na identificação
Anteriormente à escolha da Nutrição Parenteral Total precoce da necessidade de terapia parenteral e facilitou a
(NPT), a presença das nutricionistas é suporte imprescindível articulação com os demais profissionais integrantes da EMTN.
à EMTN, realizando avaliação nutricional e o Isso se deve também a proximidade da EMTN com a equipe
acompanhamento da evolução clínica por meio da rotina diária assistencial, culminando no sucesso desse tipo de terapia. A
na assistência aos pacientes hospitalizados. Através das quais realização de um monitoramento eficaz, minimizou as
foi possível perceber que as necessidades nutricionais desses intercorrências e complicações comuns neste tipo de terapia
pacientes não eram atingidas pela via digestiva. Sendo assim, por meio de intervenções rápidas. Promovendo assim, uma
optou-se da terapia nutricional parenteral como via para a recuperação do estado nutricional e consequentemente do
recuperação do estado nutricional dos pacientes, visto que se quadro clínico geral dos pacientes.
trata de um suporte nutricional específico para atingir as
necessidades e promover a recuperação desses pacientes
(LEITE, 2005).
O acompanhamento das nutricionistas aos pacientes
durante a administração da NPT permitiu a percepção da
inadequação da oferta calórica prescrito, em relação às
necessidades nutricionais, ou seja, a evolução da prescrição
médica não acompanhava a necessidade gerada pelo quadro
clínico e metabólico dos pacientes. Nessa situação a
intervenção realizada pelas nutricionistas foi reavaliação das
223 224
4. CONCLUSÕES 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Diante do relato, constatou-se que a atuação do BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 272 da Secretaria
nutricionista articulado com a EMTN e com toda a equipe de Nacional de Vigilância Sanitária. Regulamento para a
assistência envolvida no processo do cuidar do paciente, um Terapia de Nutrição Parenteral. Brasília, 1998.
favorecimento através da troca de informações importantes e
essenciais para a formação, atualização e crescimento de CAVALCANTE, P. A. Monitorização de pacientes
todos os sujeitos envolvidos neste processo. Desta forma, submetidos à terapia nutricional parenteral em um
Hospital Universitário. Fortaleza, 2010.
prestando uma assistência qualificada e humanizada aos
pacientes em uso da Nutrição Parenteral – NP, promovendo a EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE TERAPIA
diminuição do índice de morbimortalidade e reinternações NUTRICIONAL (EMTN) DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
hospitalares. DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Rotinas
Portanto, pode-se concluir que a Terapia Nutricional e normas de terapia nutricional parenteral e enteral no
adequada ao paciente se deve ao acompanhamento efetivo, e adulto e no idoso. Protocolo clínico. Disponível em
este quando realizado na perspectiva de diversos http://www.huufma.br/site/servicos/coloprocto/arquivos/prot
profissionais, promove um olhar específico e holístico, gerando ocolos_coloproctologia/PROTOCOLO_ROTINAS_E_NOR
uma conduta adequada, minimizando o tempo de internação MAS_DE_TERAPIA_NUTRICIONAL_PARENTERAL_E_E
hospitalar do paciente, por meio da recuperação do estado NTERAL_NO_ADULTO_E_NO_IDOSO.pdf. Acesso em 04
nutricional e clínico. de Setembro de 2014.

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study of 4000 patients. Nutrition. v. 17, n. 7-8, p.573-80,
2001. Jousianny Patricio da Silva1
Kataryne Árabe Rimá de Oliveira1
Jossana Pereira de Sousa1
1
Nutricionistas Doutorandas Pós Graduação em Nutrição - UFPB

RESUMO: Considerando a evidência de que alimentos que


não atuam apenas na nutrição apresentam propriedades
funcionais benéficas, o Allium sativum L. vem ganhando
destaque, por ser rico em compostos (alicina, aliina e ajone)
com ação benéfica à saúde. O presente trabalho objetivou
realizar uma revisão da literatura a respeito da funcionalidade
do A. sativum L. na saúde. Foram pesquisados artigos
científicos publicados nos últimos 15 anos com enfoque no
desempenho do alho como hipolipemiante, hipotensor,
anticoagulante, antitrombótico, antiagregante plaquetário,
antioxidante, antitumoral, antiparasitário, podendo-se os
benefícios da sua utilização e aplicação na prática clínica.
Mais pesquisas ainda são necessárias para confirmar os
achados, além de estabelecer as quantidades adequadas para
o consumo desse alimento funcional nas diferentes formas de
administração.
Palavras-chave: Alho, Alimento funcional, Saúde, Nutrição.

227 228
1. INTRODUÇÃO terapêutico. Tem ganhado destaque e sendo considerado um
potente alimento funcional, cuja propriedade é atribuída ao
A frase “deixe o alimento ser teu remédio e o remédio ser composto alicina, possuidor de ação antiviral, antifúngica e
teu alimento” defendida pelo pai da medicina, Hipócrates, há antibiótica, elevado teor de selênio, considerado antioxidante,
2.500 anos, vem sendo ratificada diante do conceito de e aliina que apresenta ação hipotensora e hipoglicemiante
compostos bioativos, considerados não nutrientes encontrados (DALONSO et al., 2009). Diante deste contexto, o presente
em alimentos que se encontram em evidência devido às suas trabalho objetivou realizar uma revisão da literatura sobre a
propriedades funcionais benéficas, atribuindo ao alimento o funcionalidade do Allium sativum L. na saúde, no sentido de
conceito de alimento funcional. São definidos como produtos ampliar e divulgar seus mecanismos de ação e hipóteses na
que contêm substâncias biologicamente ativas que, ao serem prevenção e tratamento de várias doenças.
incluídas na dieta usual, podem modular processos
metabólicos ou fisiológicos, resultando na redução do risco de 2. MATERIAIS E MÉTODOS
doenças e promovendo a manutenção da saúde (FAGUNDES;
COSTA, 2003). O presente artigo consistiu em uma revisão da literatura
A busca por alimentos funcionais corrobora com o científica referente à abordagem do alho enquanto alimento
avanço dessa área no âmbito da pesquisa científica, sendo funcional. Foram pesquisados artigos científicos originais e de
realizados vários estudos com enfoque nos efeitos dessas revisão, publicados entre os anos de 1997 e 2012, perfazendo
substâncias, cujo objetivo é desvendar novos alimentos que um período total de 15 anos, escritos em língua portuguesa e
possam contribuir no tratamento e prevenção de doenças, inglesa. As bases de dados acessadas foram Pubmed, Lilacs,
principalmente das doenças crônicas não transmissíveis. É Scielo, e Medline e os termos descritores utilizados na busca
importante ressaltar que não existem recomendações de dose foram: alimento funcional, alho (Allium sativum L), saúde,
mínima de ingestão diária para todos os compostos com nutrição.
propriedades funcionais relatados pela literatura (CARVALHO
et al., 2006). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relatos sobre o uso do alho (Allium sativum L.) como
alimento e tempero, assim como para o tratamento de Os Alimentos Funcionais surgiram no Japão, na década
algumas doenças, são bastante antigos, sendo o seu sucesso de 90, quando o governo passou a se preocupar com a
no tratamento de doenças cardíacas, tumores, vermes, crescente despesa na saúde da população, investindo em
mordidas e outras doenças, citado no Codex Ebers egípcio, pesquisas de determinados alimentos, que devido à presença
documento de 3.500 anos (RAHMAN, 2001). Diante dessas de componentes fisiologicamente ativos em sua composição,
observações, o alho adquiriu uma posição de destaque na poderiam beneficiar a saúde dos indivíduos (SILVEIRA et al.,
cultura de muitas populações como agente profilático e 2009). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a
229 230
alegação de propriedade funcional é conferida ao alimento que 3.1 EFEITO HIPOLIPEMIANTE
apresentar, além de suas funções nutricionais básicas, efeitos
metabólicos e/ou fisiológicos benéficos à saúde, devendo ser Resultados de testes com animais apontam que o alho é
seguro para o consumo sem supervisão médica (ANVISA, um alimento com efeito redutor de colesterol. Em estudo
2008). realizado com alho em pó demonstrou-se que os níveis
São conhecidas como alho as plantas do gênero Allium, séricos de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) em ratos
embora o nome se aplique particularmente ao Allium sativum foram suprimidos e o extrato de alho envelhecido reduziu o CT
L., uma planta cujo bulbo, conhecido como a “cabeça do alho”, em 15% e os TG em 30% em ratos alimentados com uma
é constituído por folhas escamiformes, denominadas dieta rica em colesterol (YEH; LIU, 2001). Em coelhos
popularmente como os “dentes do alho” (LEMOS JUNIOR; observou-se que o alho reduziu favoravelmente a relação LDL/
LEMOS, 2011). Pertence à família Alliacae e tem sua origem HDL-C devido à adição de pó de alho na dieta dos animais,
no Egito por volta de 3.700 a.C., sendo utilizado como além da constatação da redução do CT e LDL-C e do aumento
medicamento. É composto por 65% de água e possui vários dos níveis de HDL-C (KWON et al. 2003).
nutrientes, dentre eles, o selênio, zinco, fósforo, potássio, A inibição da síntese do colesterol é a maneira mais
aminoácidos livres, e as substâncias sulfuradas alicina e aliina eficaz para redução dos seus níveis séricos. Considerando
que conferem a maioria das suas propriedades benéficas, bem que esta via é multienzimática, vários estudos apontam que
como o forte odor característico desse alimento. constituintes do alho exercem influência sobre a atividade
A importância da cultura do alho tem aumentado nos enzimática, diminuindo a HMG-CoA redutase (3-hydroxy-3-
últimos anos, não só pelo seu uso como especiaria, mas methylglutaryl-coenzyme A) e a esqualeno mono-oxigenase,
também por suas qualidades terapêuticas. Desde a envolvidas na biossíntese de colesterol. Além disso,
comprovação de sua capacidade como alimento funcional, compostos mais hidrossolúveis como S-allylcysteine (SAC),
diversos estudos foram realizados no sentido de verificar os presente em extrato de alho envelhecido (AGE), são menos
prováveis benefícios do seu consumo. Entretanto, a citotóxicos e mais eficientes na inibição da biossíntese do
diversidade de resultados tem gerado controversa, devido aos colesterol, do que os compostos de enxofre lipossolúveis, tais
fatores de inclusão/exclusão dos estudos e a forma de como sulfeto de dialil (YEH; LIU, 2001).
administração da especiaria (cru, comprimido de pó, óleo do O alho também apresenta a capacidade de inibir a
alho macerado e extrato envelhecido), pois diferem em sua atividade da proteína transportadora de éster de colesterol
composição (RAHMAN; LOWE, 2006). (CETP) e modificar a relação LDL-C/HDL-C. A partir da
suplementação de alho, verificou-se que a atividade da CETP
foi significativamente reduzida quando comparada com a do
grupo de controle (KWON et al., 2003), uma vez que os
inibidores da CETP impedem a transferência de éster de
231 232
colesterol da HDL para lipoproteínas ricas em TG É importante ressaltar que o extrato de alho
(HARCHAOUI et al., 2007). Vale ressaltar que deve ser dada envelhecido é mais seguro do que o alho cru, pois este pode
atenção quando os resultados obtidos em ratos são apresentar efeitos prejudiciais, incluindo a redução dos
extrapolados para seres humanos, pois ratos e camundongos eritrócitos e aumento de reticulócitos (HARAUMA,
não possuem a CETP (CHEN et al., 2008). MORIGUCHI, 2006). Além disso, estudos apontam que o
Resultados apresentados por uma meta-análise, que efeito anti-hipertensivo do alho é mais intenso após 2-6 horas
incluía estudos duplo-cego randomizados e ensaios da administração e um efeito residual pode continuar até 24
controlados com placebo, objetivou investigar os efeitos do horas. Embora já bem conhecido o benefício dessa especiaria
alho nos perfis de lipídeos séricos e verificou que a cabe ressaltar que ainda permanece obscuro o mecanismo do
administração de alho foi superior ao placebo na redução do alho na redução da pressão sanguínea.
colesterol total sérico e nos níveis de TG, sem influência na Evidências sugerem que a atividade anti-hipertensiva é
LDL-C, HDL-C, Apo-B, e relação CT / HDL-C. Embora, o mediada por uma combinação mecanismos, um deles seria a
tamanho do efeito tenha sido modesto, a terapia pode menor atividade da enzima conversora de angiotensina (ECA),
beneficiar pacientes com risco de doenças cardiovasculares, verificada pelo consumo de alho em ratos 2R1C, sugerindo
já que também pode reduzir a pressão sanguínea e diminuir a que o efeito na redução da pressão arterial é parcialmente
viscosidade do plasma (TURNER et al., 2004). mediado pela inibição da ECA (SHARIFI et al., 2003). Outro
mecanismo aponta para a redução significativa da produção
3.2.EFEITO NA PRESSÃO SANGUÍNEA de tromboxano B2 e da prostaglandina-E2 em ratos 2R1C
alimentados com alho, indicando que efeitos redutores na
A hipertensão arterial é um dos maiores problemas de pressão arterial poderiam ter sido induzidos, em parte, pela
saúde pública no Brasil e poderia ser amenizada com o redução na síntese de prostanóides vasoconstritores. O
consumo desta especiaria, uma vez que o alho parece terceiro mecanismo seria pela indução da alicina no
desempenhar papel importante no tratamento da hipertensão. relaxamento de artérias pulmonares isoladas de ratos, sendo
Estudos em animais sugerem que o alho pode reduzir a esta resposta provavelmente mediada por meio da ativação do
pressão arterial, ação confirmada pelo estudo realizado com alho para a formação do NO. Corroborando com esta
ratos, onde se observou correlação negativa entre o consumo informação, estudo realizado com extrato de alho demonstrou
de alho e hipertensão (SHARIFI et al., 2003). No entanto, modular a produção e função do fator relaxante (NO) e fator
estudos com humanos têm gerado resultados conflitantes constrictivo (endotelina-1) em artérias pulmonares isoladas de
como verificado em uma meta-análise cuja conclusão foi de ratos (KU et al., 2002).
que o alho tem efeitos insignificantes sobre a pressão arterial
(ACKERMANN et al., 2001).

233 234
3.4 EFEITO ANTI-TROMBÓTICO E ANTI-AGREGANTE 3.5 EFEITO ANTIOXIDANTE
PLAQUETÁRIO
É uma das mais elucidadas na literatura. Uma das
O processo de agregação plaquetária e subsequente substâncias que garante esse benefício é a alicina, um dos
formação de trombo podem ser significativamente reduzidos principais compostos do alho, na qual age sequestrando o
pelo uso do alho e seus constituintes, sendo sua eficácia radical hidroxila. Além da alicina, o alho possui flavonóides
demonstrada pelo uso do extrato cru ou de diferentes tipos de (quercetina, apigenina e miricetina), os quais apresentam
preparações (por exemplo, óleos, etanol baseado no extrato, importante potencial antioxidante, com efeito protetor da
pó seco, extrato de alho envelhecido). Entretanto, a maioria partícula LDL-colesterol contra oxidação, reduzindo assim os
não é consumida nesta forma, mas, geralmente, cozido antes riscos cardiovasculares (LANZOTTI, 2006).
do consumo (CAVAGNARO et al., 2007).
O derivado do alho ajone tem mostrado inibir a 3.6 EFEITO ANTITUMORAL
agregação plaquetária in vitro. O sódio 2-propenil tiosulfeto
também apresenta capacidade de modulação da atividade da Estudos experimentais com modelos animais e em
cicloxigenase em células plaquetárias de cães impedindo a sistemas de cultura de células indicam que compostos do alho
agregação. O extrato de alho atua como anti-agregante por exibem efeitos inibitórios sobre a carcinogênese. Estudo in
meio da inibição da via da adenosina difosfato (ADP) e tem vitro e em ratos portadores do linfoma L5178Y avaliou os
seus efeitos comparáveis ao do clopidogrel (HIYASAT et al., efeitos da alicina sobre a atividade antitumoral e constatou
2009). melhora da secreção das citocinas IL-2, IFN-gama e TNF-alfa
a partir do plasma do rato, sendo estas citocinas associadas
3.3 EFEITO NA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA, com a benéfica resposta antitumoral Th1, o qual é
FIBRINÓLISE, E CIRCULAÇÃO característico de imunoterapias eficazes contra o câncer
(CAMBEROS; CAMBEROS, 2011).
O alho pode funcionar como coadjuvante na dissolução Dados de estudos epidemiológicos têm associado o
de coágulos e trombos, por meio do processo de fibrinólise. aumento do consumo de alho com uma incidência reduzida de
Estudos in vitro revelam que o extrato envelhecido atua na câncer em determinadas populações, como pode ser
circulação e propriedades do sangue pela prevenção da verificado num estudo epidemiológico de 22 ensaios clínicos
peroxidação lipídica e hemólise em eritrócitos oxidados, além com revisão sistemática e meta-análise, realizado nos Estados
de melhorar a fluidez dos eritrócitos de ratos Unidos, que objetivou verificar os hábitos de consumo do alho
hipercolesterolêmicos (KEMPAIAH; SRINIVASAN, 2005). na alimentação e o risco de câncer de estômago e colorretal.
Os resultados obtidos mostraram uma taxa menor de câncer

235 236
colorretal e gástrico para as pessoas que ingeriam alho estabelecimento de quantidades adequadas para o seu
(FLEISCHAUER et al., 2000). consumo nas diferentes formas de administração.

3.7 ATIVIDADE ANTIPARASITÁRIA


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Além da vasta gama de ações benéficas ao organismo, o
alho ainda possui ainda propriedade como agente Ackermann RT, Mulrow CD, Ramirez G, Gardner CD,
antiparasitário, atribuída a alicina. A substância inibiu o Morbidoni L, Lawrence VA. Garlic shows promise for improving
crescimento da Entamoeba histolytica e causou mudanças some cardiovascular risk factors. Arch Intern Med. 2001;
morfológicas nos vermes machos do Schistosoma mansoni 161:813–824.
após exposição in vitro (LIMA et al., 2011). Pesquisadores
constataram o efeito anti-helmíntico do tratamento com alho ANVISA. Alimentos com alegações de propriedades
no Aspiculuris tetraptera em camundongos Swiss albinos, funcionais e ou de saúde, novos alimentos/ingredientes,
inferindo que esse alimento é eficaz contra parasitas substâncias bioativas e probióticos: Lista de alegações de
nematoides em animais e humanos (AYAZ et al., 2008). Os propriedade funcional aprovadas. Brasília: ANVISA, 2008.
resultados apontam que esta propriedade é relevante,
inclusive do ponto de vista econômico, uma vez que ANAPA. Associação Nacional dos Produtores de Alho.
parasitoses são frequentes em populações carentes, podendo Perspectiva Safra 2012-2013. Marco Antônio Lucini.
tornar-se um recurso menos dispendioso para seu tratamento. [Internet]. 2012.

4. CONCLUSÕES Ayaz E, Türel I, Gül A, Yilmaz O. Evaluation of the


anthelmentic activity of garlic (Allium sativum) in mice naturally
Evidências direcionam o alho como uma agente na infected with Aspiculuris tetrapter. Recent Pat Antiinfect Drug
prevenção e tratamento de doenças, por suas propriedades Discov. 2008;3(2):149-52.
hipolipemiante, hipotensora, antitrombótica, antiagregante
plaquetária, anticoagulante, antioxidante, antitumoral e Camberos EP, Camberos CP. Antitumoral activity of allicin
antiparasitária. Logo, pode ser considerado um alimento from garlic. Boletin Latinoamericano y del Caribe de
funcional com vasto campo de atuação na clínica. No entanto, Plantas Medicinales y Aromáticas. 2011; 10 (5): 423 – 428.
mais pesquisas precisam ser realizadas para confirmar seus
efeitos, convencer profissionais da saúde, consumidores e Carvalho PGB, Machado CMM, Moretti CL, Fonseca MEN.
órgãos regulamentadores de seus benefícios, além do Hortaliças como alimentos funcionais. Horticultura Brasileira.
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NUTRIÇÃO E
ENVELHECIMENTO

241 242
CAPÍTULO 19 alimentação saudável e a prática de exercícios físicos,
possibilitando dessa forma, um envelhecer mais sadio.
A ALIMENTAÇÃO COMO FATOR PREPONDERANTE DE Palavras Chave: nutrição; envelhecimento, qualidade de vida
UM ENVELHECIMENTO SADIO
1. INTRODUÇÃO
Maria Betânia Vanderlei de CARVALHO¹
Juliana Paiva Goes SILVA² Nos últimos 50 anos, o número de pessoas com idade
Luciana Maria MartinêsVAZ³
1.Graduando FPB; 2 Professor FPB; 3 Professor FPB
acima de 65 anos, aumentou consideravelmente,
principalmente nos países desenvolvidos e em
Resumo: Nos últimos 50 anos, o número de pessoas com desenvolvimento como o Brasil. Em nosso país, o processo de
idade acima de 65 anos, aumentou consideravelmente, envelhecimento da população tem ocorrido de forma rápida e
principalmente nos países desenvolvidos e em intensa, acompanhando o movimento dos outros países
desenvolvimento como o Brasil. Em nosso país, o processo de latinos. O censo mais recente afirma que já são mais de 20
envelhecimento da população tem ocorrido de forma rápida e milhões de pessoas idosas. Em 2025 esse número deve
intensa, acompanhando o movimento dos outros países passar para 32 milhões.
latinos. Tendo como foco a longevidade populacional, este Esse aumento da longevidade populacional traz consigo
trabalho apresenta uma discussão acerca da interferência da várias consequências, como por exemplo, o grande aumento
alimentação no processo de envelhecimento, enfatizando as de gastos do serviço público em saúde e prevenção.
mudanças que ocorrem com a pessoa idosa em suas várias Envelhecer é um processo natural, porém provoca diversas
dimensões. Esse estudo tem a finalidade de destacar o papel alterações fisiológicas, que afetam diretamente a saúde do
da alimentação durante a senescência. O trabalho foi idoso. Portanto uma alimentação adequada exerce um papel
realizado através de uma revisão bibliográfica. A estratégia de bastante relevante na forma que se envelhece, permitindo ao
buscas incluiu pesquisas em bases científicas eletrônicas, idoso uma velhice saudável com autonomia física e psíquica.
livros, revistas, impressos e digitais. Mediante o estudo foi É muito diversificada a maneira que cada um
possível observar que a nutrição está cada vez mais relevante envelhece. Às necessidades nutricionais são individuais, em
para população idosa e de forma preponderante pode razão das diferenças no processo degenerativo e da
determinar a forma que se vai envelhecer. Segundo os ocorrência de doenças. No Brasil é preocupante o estado
resultados encontrados nesta revisão, percebemos que as nutricional da população com mais de 60 anos, decorrentes da
alterações fisiológicas próprias do envelhecer possuem um má alimentação, que se dá por excesso ou por déficit de
papel significativo durante a senescência, entretanto é nutrientes. À medida que envelhecemos há uma maior
possível minimizar ou retardar essas alterações com uma incidência de doenças crônicas, o que torna o processo

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alimentar, extremamente relevante para uma melhor qualidade revistas, impressos e digitais. Utilizou-se da base eletrônica
de vida. Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Apesar do uso de
No decorrer do envelhecimento, as pessoas tendem a ferramentas de busca na internet, deu-se um enfoque maior a
comer menos e acabam recebendo poucas calorias e livros impressos, tanto os clássicos, quanto os
nutrientes importantes, tendo como agravante o fato que pode contemporâneos.
haver uma diminuição na digestão e absorção dos alimentos
nesse momento da vida. Pesquisas indicam que o consumo 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de cálcio, vitamina B12, e ácido fólico durante esta época da
vida, ficam abaixo das quantidades diárias recomendadas. A
ingestão adequada de alimentos proporciona uma ingestão 3.1 A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO
adequada dos componentes nutricionais necessários para um
envelhecer com qualidade. No começo da nossa história, o homem primitivo
As consequências de uma má alimentação, durante o costumava andar por aí em grupo, caçando e coletando
processo do envelhecimento, são inúmeras e uma alimentos, atravessou um longo período até chegar a
alimentação saudável é imprescindível em qualquer fase da agricultura que apenas surgiu por volta de 10 mil anos atrás,
vida, principalmente nesse grupo etário, em quem a incidência quando se iniciou o cultivo de plantas e a domesticação de
de doenças crônica é muita prevalente. animais. Por volta de 500 anos atrás, as navegações
Diante deste tema tão preocupante, se faz necessário permitiram a primeira onda de globalização, mas até meados
um estudo que analise a interferência e as consequências da do século passado, o sistema de produção de alimentos
alimentação na vida do idoso, de forma que a nutrição possa predominante era baseado em pequenas propriedades
alcançar o seu objetivo de contribuir para que as pessoas familiares quase auto-suficientes. O mundo só veio a se
tenham um envelhecimento bem sucedido. transformar novamente com a Revolução Industrial, há cerca
de dois séculos.
2. MATERIAL E MÉTODO No século XX, os desafios de alimentar grandes
populações urbanas pareciam ter sido plenamente resolvidos
Como metodologia para essa investigação, optou-se com o aparecimento da comida enlatada, congelada,
por uma pesquisa bibliográfica. O referencial teórico foi industrializada e do fastfood. Portanto, não se levou em
embasado em revisão de literatura, no qual foram abordados consideração que, com essas mudanças, o cardápio ficaria
assuntos relativos ao envelhecimento, tendo sido consultados cada vez menos nutritivo. Na década de 60, a agricultura
vários fontes relativas à temática. A estratégia de buscas orgânica e a alimentação natural começaram a tomar força.
incluiu pesquisa em bases científicas eletrônicas, livros, Foi uma tomada de consciência que representou um resgate à
tradição. O século XXI se inicia preocupado em trazer à nossa
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mesa os alimentos mais nutritivos, naturais, e cultivados da indivíduo será preponderante para um desenvolvimento pleno
melhor forma possível. Uma verdadeira volta ao passado, com e satisfatório.
cuidado especial com a nossa saúde e com a do planeta Os nutrientes essenciais têm sido definidos como
também. substâncias químicas encontradas nos alimentos, que não
A alimentação é o processo pelo qual os organismos podem, de modo algum, ser sintetizados em quantidade pelo
obtêm e assimilam alimentos ou nutrientes para as suas organismo humano, mas que são necessários à vida, ao
funções vitais, incluindo o crescimento, movimento e crescimento e à reparação dos tecidos (MAHAN 2011). O
reprodução. nosso organismo precisa de muitas substâncias que são de
De acordo com o artigo 25 da Declaração Universal dos extrema relevância, como as proteínas, carboidratos,
Direitos Humanos: Todo indivíduo tem o direito a um padrão vitaminas, sais minerais, lipídeos entre outras.
de vida adequado que assegure a si, assim como a sua Segundo Moraes (2008), as proteínas são elementos
família, saúde e bem-estar, em especial “alimentação”, estruturais e funcionais fundamentais a todas às células e
vestuário, habitação, assistência médica e serviços sociais participam de interações metabólicas substanciais. Essa
necessários. A alimentação constitui um direito fundamental à interação metabólica está amplamente relacionada ao
garantia da sobrevivência e manutenção da saúde e dignidade metabolismo de energia e de outros nutrientes. Depois da
das populações água, as proteínas são os compostos químicos mais
O alimento fornece energia e materiais “construtores” abundantes no organismo humano.
das diversas substâncias essenciais ao crescimento e Os carboidratos são energia armazenada. São
sobrevivência dos seres vivos. As formas como os nutrientes sintetizados pelas plantas, a partir da água e do dióxido de
se tornam partes integrantes do organismo e contribuem para carbono e se utilizam da energia solar. Os carboidratos
o seu funcionamento depende dos processos bioquímicos e constituem a fonte mais importante de energia alimentar
fisiológicos que direcionam suas ações. disponível no mundo e as matérias primas principais são
A importância da alimentação em todo ciclo da vida é cereais, com milho, aveia, arroz, cevada e centeio.
indiscutível, contudo sua relevância durante períodos De acordo com Mahan (2011) as vitaminas são
específicos, como a infância e o envelhecimento vem sendo nutrientes orgânicos essenciais nas várias reações do
progressivamente considerada. metabolismo, regulando-as. Em sua deficiência surgem as
Segundo Mahan (2011), estabelecer bons hábitos chamadas doenças da carência. Algumas vitaminas são
dietéticos durante a infância diminuem a possibilidade de hidrossolúveis, enquanto outras só se dissolvem em gorduras.
comportamentos inapropriados mais tarde na vida. Práticas Entre as lipossolúveis estão as vitaminas A, D, E e K. As
dietéticas visando à prevenção de doenças degenerativas que outras são hidrossolúveis. A vitamina D não é encontrada
se desenvolvem posteriormente na vida devem ser instituídas pronta na maioria dos alimentos; estes contêm, em geral, um
na infância. A qualidade do consumo dos nutrientes pelo
247 248
precursor que se transforma na vitamina quando exposto aos 3.2 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
raios ultravioletas da luz solar.
Os sais minerais também conhecidos somente como Entende-se por envelhecimento as alterações
minerais podem ser definidos como: "Substâncias de origem fisiológicas que ocorrem ao longo do tempo em organismos
inorgânica, que fazem parte dos tecidos duros do organismo, multicelulares. O envelhecimento pode então ser definido
como ossos e dentes, também encontrados nos tecidos moles como o processo de mudança evolutivo da estrutura biológica,
como músculos, células sangüíneas e sistema nervoso. psicológica e social do indivíduo que, inicia-se antes do
Possuem função reguladora, contribuindo para a função nascimento e continua ao longo da vida.
osmótica, equilíbrio ácido-básico, estímulos nervosos, ritmo A OMS (Organização Mundial de Saúde) considera
cardíaco e atividade metabólica.” São essenciais na idoso todo indivíduo que ultrapasse os 60 anos de idade.
constituição dos tecidos corpóreos, além disso, fazem parte do Atualmente ocorre uma acelerada transição demográfica de
processo de crescimento e desenvolvimento humanos. forma globalizada. Segundo o IBGE, em 2050, aqui no Brasil
(MAHAN,2011). teremos mais idosos que crianças de o a 14 anos .
Segundo Rauen (2008), os lipídeos constituem um Porém, segundo Papalia (2009) a idade de 65 anos é o
grupo de compostos que se dissolvem nos solventes ponto de partida para a entrada na idade adulta avançada, a
orgânicos, como gasolina ou clorofórmio, mas geralmente são última fase da vida. Apesar disso muitos adultos nessa idade -
insolúveis em água. Muitos estudiosos consideram que as ou mesmo aos 75 anos ou 85 anos – não se sentem velhos.
gorduras e os óleos devam ser evitados pelo seu papel na Grande parte deste crescimento se deve ao
obesidade, entretanto, além de melhorar o sabor e a desenvolvimento econômico, à uma melhor nutrição e a
palatabilidade dos alimentos, os lipídeos contribuem para a avanços tecnológico e científicos, que permitem um
nutrição adequada, porque são importantes fontes de energia. envelhecer com muito mais qualidade. O indivíduo idoso está
Os alimentos são uma importante fonte no tratamento e envelhecendo, o número de idosos com mais de 85 anos
na prevenção de doenças. Há 2500 anos, “Hipócrates”, o pai triplicou nas últimas décadas.
da medicina já dizia. "Que o teu alimento seja o teu remédio e De acordo com Lids (1983), o envelhecimento não é um
que teu remédio seja o teu alimento". Para alimentar-se de problema, mas uma parte natural do ciclo de vida, sendo
forma correta é preciso respeitar as leis da alimentação, a desejável que constitua uma oportunidade para viver de forma
quantidade, a qualidade, a harmonia e a adequação. saudável e autônoma o mais tempo possível, o que implica
Problemas de alimentação em todas as idades incluem tanto a uma ação integrada ao nível da mudança de comportamentos
desnutrição como o consumo excessivo de calorias, que hoje e atitudes da população em geral e da formação dos
representa um problema de saúde publica. Uma alimentação profissionais de saúde e de outros campos de intervenção
equilibrada possibilita uma ingestão de todos os componentes social.
nutricionais necessários a um envelhecer com qualidade.
249 250
Fatores individuais podem contribuir para a ocorrência variações podem estar relacionadas com a ingestão ou não de
de doenças ao longo da vida, no entanto em muitas situações, nutrientes.
o declínio das funções está intimamente relacionado com Cuidar de milhões de idosos será o maior desafio do
fatores externos, como o aparecimento de depressões, o estilo século XXI. Esse fato tem preocupado os estudiosos e
de vida e os fenômenos de solidão. fomentado as muitas pesquisas e estudos sobre o processo
Segundo Oliveira (2005), o processo de envelhecimento do envelhecimento. Durante muito tempo se falou que o Brasil
engloba muito mais do que mudanças física no corpo. era um país jovem, não é mais. A redução das taxas de
Aspectos emocionais, cognitivos e sociais também contribuem fecundidade e a diminuição das doenças infecto-contagiosas,
para a configuração de um velhice bem sucedida. Sendo constituem fatores que explicam o aumento da expectativa de
assim, pensar a qualidade de vida na velhice requer observar vida. Porém, os sistemas sociais de saúde estão
a multimensionalidade e a multidirecionalidade destes completamente despreparados para acolher esse contingente
constructos. . maior de idosos, dada a maior prevalência de doenças
Para Monteiro (2001), ainda que o envelhecimento crônicas e incapacidade física e mental, que representam
populacional expresse uma conquista da humanidade, assim um custo assistencial bastante elevado, com os quais
apresenta múltiplas conseqüências sociais, médicas, culturais às políticas públicas não tem a devida preocupação.
e econômicas. O ministério da saúde afirma que as principais doenças
O processo do envelhecer é caracterizado por várias detectadas em pessoas da terceira idade são: hipertensão,
mudanças físicas e psíquicossociais. E segundo Neri (2013) a diabetes, artrite ou reumatismo e doenças cardiovasculares.
velhice é percebida como a fase do desenvolvimento humano Sendo assim, o estilo de vida, e a forma como se
que carrega mais estigmas e atributos negativos. Essas alimentouque o idoso adotou antes de envelhecer é fator
transformações pelas quais passa o indivíduo que alcança a preponderante de uma velhice saudável. Como ocorrem
senescência demandam mudanças na relação do idoso com o muitas mudanças fisiológicas durante o envelhecimento, que
tempo e com o mundo. interferem no apetite e na absorção de nutrientes, hábitos
O aumento da longevidade provoca o surgimento de alimentares e exercícios físicos podem ter grande impacto na
uma reflexão mais ampla. Como ter um envelhecimento bem qualidade de vida do indivíduo que chegará a senescência.
sucedido? Já que o envelhecimento trás consigo uma série de Diversas alterações funcionais estão presentes nessa
doenças crônicas e um declínio físico que vai acentuando-se fase da vida. As funções sensoriais como paladar, olfato,
com o avanço da idade. De acordo com Manhan(2011), a visão, audição e tato representam as primeiras transformações
medida que envelhecemos, todos passamos por alterações da percebidas durante o processo do envelhecimento. As
composição corporal, da performance física e das funções dos alterações palatinas e do olfato interferem diretamente na
órgãos. Entretanto existe ampla variação entre os indivíduos alimentação, modificando no idoso às percepções do cheiro e
quanto ao grau de declínio das funções cognitivas. Essas do sabor do alimento, no reduzindo o apetite. A perda da visão
251 252
e da audição do idoso compromete sua autonomia, produzindo 3.3 NUTRIÇÃO NO ENVELHECIMENTO
alterações psíquicas como a depressão que tem se tornado
muito prevalente na terceira idade. O sono também é fator À medida que envelhecemos passamos por muitas
importante de qualidade de vida. modificações na nossa composição corporal, que varia de
No Brasil, políticas voltadas ao idoso são bastante indivíduo para indivíduo. Muitos são os fatores que contribuem
raras. O reconhecimento dos direitos da pessoa idosa, para que essas alterações ocorram de forma tão variante. O
somente ocorreu em 1994, com a criação da Política Nacional estilo de vida, as condições econômicas, condições de higiene
do Idoso, reafirmada e aprimorada pelo Estatuto do Idoso, em e principalmente a alimentação interfere diretamente na forma
2003, que destacou o papel do estado na promoção de de envelhecer.
mecanismos que garantam esse direito. O Estatuto do Idoso Segundo Valentin (2013), as alterações da composição
foi criado como um decreto- lei, a partir das disposições sobre corporal durante o processo de envelhecimento incluem
o idoso contidas na constituição de 1988. Foi o dispositivo que perdas de massa corporal magra, massa óssea, água corporal
iniciou de fato a mudança sobre a forma que a velhice é e aumento proporcional da massa de gordura. São alterações
percebida e tratada pela sociedade. que provocam uma maior incidência de doenças crônicas no
Em 2050, 30% da população brasileira terá mais de 60 período da senescência.
anos. Diante desta estatística, o Brasil começa a entrar no Com o envelhecer ocorre uma sensível mudança no
padrão Europeu e Americano no que diz respeito à terceira sentido gustativo do indivíduo, alterando o prazer de alimentar-
idade. Segundo pesquisas do IBGE, a expectativa de vida no se, que se não observada pode levar o idoso a desnutrição.
país, que alcançava 41,5 anos sete décadas atrás, atualmente Há uma redução também nas necessidades energéticas da
ultrapassa os 73 anos, tornando às mudanças pessoa idosa, o que corrobora entre outros fatores com um
comportamentais imprescindíveis para o aumento da inadequado consumo de nutrientes por parte do idoso.
longevidade. A prática de exercícios físicos e uma alimentação
O serviço público e a sociedade terão que se adequar adequada são medidas relevantes que auxiliam para um
aos novos tempos, quebrando os paradigmas que tratam o envelhecimento ativo. A alimentação deve ser variada,
idoso de forma criminosa, tratando-os de modo marginalizados equilibrada e segura. A alimentação rica em gorduras, sal e
dentro da sociedade. Segundo Beauvoir (1990), para algumas açúcares possibilita a presença de doenças como a
sociedades a velhice não existe. Há apenas pessoas menos osteoporose, diabetes e hipertensão, que sofrem influência
jovens que outras, e nada mais. direta da alimentação.
Uma nutrição adequada fornece a base para a
promoção da saúde e a prevenção da doença resultando
assim numa melhor qualidade de vida. Existem evidências
crescentes de que os idosos necessitem de maiores
253 254
quantidades de vitamina D, B12 e de cálcio. De acordo com preparos inadequados. Além do que, idosos são mais
Moraes (2008), a vitamina E desempenha importante papel na sensíveis a intoxicações alimentares e o seu sistema
manutenção dos neurônios e na prevenção da morte celular, imunológico vai se tornando muito mais debilitado com o
por ser o único antioxidante lipossolúvel de cadeia ramificada avançar da idade, ficando mais predispostos a adoecerem,
existente nas membranas biológicas. A ingestão diária de como também levam mais tempo para se recuperarem.
frutas, vegetais, grãos integrais e laticínios, assim como a O declínio das funções orgânicas e da capacidade
inclusão na dieta de carnes magras, peixes, carnes de aves e funcional do indivíduo torna-o mais suscetível a doenças e
legumes, assegura o fornecimento dos nutrientes necessários comprometem as suas necessidades nutricionais. Fatores
para numa dieta adequada durante o envelhecimento. sócio-econômicos também interferem nas condições
Muitas pesquisas tem relacionado a deficiência da nutricionais da pessoa idosa. Portanto a vulnerabilidade
vitamina B12 com a doença de Alzheimer. Pesquisadores própria da faixa etária necessita de acompanhamento e apoio,
afirmam que ao envelhecer, as pessoas diminuem a principalmente da família.
capacidade de absorver a vitamina B12 dos alimentos.
Vitamina essencial, para a manutenção do sistema nervoso e 4. CONCLUSÕES
a formação de hemácias. A deficiência de B12 resulta em uma
anemia. Os sintomas da deficiência de B12 são: fraqueza O aumento da expectativa de vida no Brasil e no mundo tem
muscular, fadiga, tremores, desequilíbrio, incontinência, provocado muitos problemas, entretanto de certa forma
pressão baixa, depressão, problemas de humor e memória também tem provocado a comunidade científica e a sociedade
fraca. civil a focar o envelhecimento com a atenção exigida pela
Segundo Caixeta (2012), a Doença de Alzheimer é uma questão. É impossível fechar os olhos para essa demanda.
patologia degenerativa que acomete o cérebro. Usualmente é Faz-se imperativo ter um novo olhar sobre essa fase evolutiva
de natureza crônica e progressiva, comprometendo funções do homem que por tanto tempo ficou esquecida.
corticais superiores como a memória, o pensamento, a A busca por compreender como a nutrição interfere nas
linguagem e o julgamento crítico. Pacientes portadores dessa capacidades funcionais dos idosos nos apontou que muitos
patologia necessita de um cuidado todo especial em relação à são os fatores que causam interferência na promoção e
alimentação. Há uma sensível perda de peso e no estágio final prevenção da saúde do idoso. Sendo assim torna-se relevante
da doença, em decorrência das alterações físicas e das realizar investigações acerca de fatores ambientais,
desordens psiquiátricas esse paciente fica bastante vulnerável econômicos, psicossociais, educacionais e de estilo de vida
a distúrbios alimentares. para que sejam avaliados em conjunto com as modificações
A segurança alimentar é fator importante nessa faixa do envelhecimento.
etária, problemas com a memória, por exemplo, podem Segundo os resultados encontrados nesta revisão,
desencadear riscos à saúde do idoso. Podendo acarretar percebemos que as alterações fisiológicas próprias do
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envelhecer possuem um papel significativo durante a Também o poder público e a família têm responsabilidades
senescência, entretanto é possível minimizar ou retardar para com essas novas gerações de idosos, sujeitos de direitos
essas alterações com uma alimentação saudável e a prática aos quais devem ser garantidosa vivência de uma velhice
de exercícios físicos, possibilitando dessa forma, um integrada socialmente, que lhes permitam mais qualidade de
envelhecer mais sadio. Os resultados encontrados nas vida.
produções científicas brasileiras sobre essa questão Partindo dos resultados desse estudo, consideramos a
demonstram semelhança com estudos universais. relevância das intervenções na alimentação da pessoa idosa,
Esta pesquisa constatou que os resultados encontrados realizando uma adequação nutricional de acordo com as
apontam muitas possibilidades de beneficiar o idoso, necessidades específicas dessa fase.
auxiliando-o na conquista de uma vida mais autônoma, com Fica o entendimento que há muito para ser pesquisado,
uma melhora expressiva na auto-estima da pessoa idosa. discutido e analisado. O surgimento de novas pesquisas é
A sociedade ainda percebe a velhice de forma estereotipada. fundamental para corroborar e trazer novos dados para este
Os estereótipos negativos fazem parte da cultura ocidental, e estudo. Uma investigação de campo que venha acrescer
são originados pelo baixo conhecimento e informação sobre o informações faz-se necessária para elucidar outros
envelhecimento, o que torna bastante significante os dados questionamentos que surgiram durante a pesquisa, como
das pesquisas com base nos pressupostos do modelo de uma também contribuir com conhecimentos já referidos na literatura
velhice bem sucedida. . Ratificando assim, que pessoas especializada.
idosas podem ter uma velhice bastante ativa, modificando o Destacamos que pesquisas dessa natureza proporcionam a
olhar que se tem sobre a velhice, de que ficar “velho” é fim do afirmação da nutrição como ciência competente no estudo dos
caminho, e que resta apenas esperar a morte chegar. processos do envelhecimento, visto que uma velhice bem
A educação nutricional também contribui para que os idosos sucedida tem uma relação diretacom uma dieta equilibrada e
descubram que envelhecer saudavelmente pode fazer toda a harmoniosa no consumo de nutrientes o que conduz em
diferença durante esta fase da vida, que é a mais longa entre seuque da manutenção da capacidade funcional , do idoso.
todas as faixas etárias, Compor uma alimentação balanceada, Vale ressaltar também, que estudos sobre o tema podem
nutricionalmente adequada e manter hábitos de vida saudável contribuir na implementação de políticas públicas inclusivas,
pode tornar a velhice uma fase agradável e cheia de que promovam formas de viver mais saudáveis, auxiliando
descobertas. preservação da saúde e da qualidade de vida na velhice. Não
Buscar subsídios e condições que permitam uma velhice podemos deixar de levar em conta, que entre os ciclos de vida
bem sucedida não é só uma questão pessoal de quem está do ser humano esse é o mais longo. Portanto torna-se
nesse processo evolutivo, mas também um desafio para toda imperativo direcionar o olhar, acolher e cuidar dessa
a sociedade, que não pode se omitir de suas população de idosos que só aumenta a cada dia.
responsabilidades em relação às pessoas com mais idade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
257 258
ALMEIDA, O.P. Biologia Molecular da doença de PAPALIA, D. E. e Colaboradores. Desenvolvimento humano.
Alzheimer: Uma luz no fim do túnel? Rev. Assoc. Med. 10° ed. Porto Alegre: 2010.
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RAUEN, M. S et al. Avaliação do estado nutricional do
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LIDS, T. A pessoa-Seu desenvolvimento durante o ciclo


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NERI, Anita L. Fragilidade e qualidade de vida na velhice.


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OLIVEIRA, B. H. Sobre a saúde e qualidade de vida no


Envelhecimento. Textos envelhecimentos. Ed. Artmed. São
Paulo, 2005.
259 260
CAPÍTULO 20

REVISANDO A TERAPIA NUTRICIONAL NA SEPSE:


conceitos e recomendações no cuidado ao paciente crítico

Júllia Santos SOUZA1


Thaise Anataly Maria de ARAÚJO1
Katiana Araújo dos SANTOS2
Adriana Gomes Cézar CARVALHO3
Giseuda Dias MONTEIRO3
1 Nutricionista residente multiprofissional do Hospital Universitário Lauro Wanderley ;2

Nutricionista voluntário no Hospital Universitário Lauro Wanderley;3 Nutricionista no Hospital

Universitário Lauro Wanderley e mestranda em saúde coletiva e gestão hospitalar pela

Faculdade do Norte do Paraná

RESUMO: A sepse é uma infecção associada à inflamação


sistêmica, possuindo quatro classificações: a Síndrome da
Resposta Inflamatória Sistêmica, sepse, sepse grave e choque
séptico, sendo estas uma progressão da doença. Visto que na
RECOMENDAÇÕES sepse o catabolismo das proteínas é elevado, faz-se
necessário um adequado suporte nutricional ao paciente.
Neste âmbito, o presente trabalho objetiva realizar consolidado

NUTRICIONAIS sobre as referencias que tratam da sepse e do contexto


nutricional no enfoque da mesma. Refere-se que na maioria
dos casos o paciente séptico encontra-se impossibilitado de se
alimentar pela via oral, é priorizado o uso da terapia nutricional
(TN) enteral e/ou parenteral. Sendo a administração de
nutrientes por via enteral e/ou parenteral a elementos
importantes para a definição da TN. Neste sentido, as

261 262
guidelines indicam recomendações específicas tanto para a que quando não tratada de forma adequada pode evoluir para
energia, quanto aos macro e micronutrientes. Dessa forma, o sepse grave e choque séptico.
nutricionista deve avaliar qual das recomendações se adéqua A sepse é causada pela interação entre o
mais eficazmente ao perfil do estado nutricional do usuário; microorganismo infectante e a resposta imunológica, pró-
verificado a partir das avaliações nutricionais destinadas ao inflamatória e pró-coagulante do hospedeiro. Dessa forma, as
paciente crítico. No decorrer das explanações ainda se principais variáveis fisiopatológicas da sepse dependem da
abordam a utilização de fibras e imunomoduladores aos resposta do hospedeiro e as características do organismo
pacientes em questão. Ante o exposto, ressalta-se a função do infectante. Como consequência do explanado, a progressão
nutricionista nas discussões do cuidado integral ao usuário, da sepse ocorre quando o hospedeiro não é capaz de
visando à reversão da sepse. combater a infecção primária, e isto pode ocorrer devido
resistência a opsonização, à fagocitose, a antibióticos e
presença de superantígenos (HENKIN et al., 2009).
Palavras-chave: Sepse; Terapia Nutricional; Paciente crítico O início do quadro clínico se manifesta por alterações
inespecíficas e sutis dos sinais vitais, não sendo percebida em
seus estágios iniciais, o que é preocupante, pois quanto antes
1 INTRODUÇÃO for tratada, melhor a chance de sobrevivência do paciente.
(PIZZOLATTI, 2004).
Em 1991, a American College of Chest O diagnóstico é sugerido pelos achados clínicos e
Physicians/Society of Critical Care Medicine (ACCP/SCCM) laboratoriais inespecíficos e confirmado, posteriormente, pelo
realizaram uma Conferência para fornecer um sistema isolamento do agente etiológico (utilizando-se culturas de
conceitual, e ao mesmo tempo prático, para definir a Síndrome diferentes materiais biológicos). Os sintomas clínicos e
da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), sepse e suas exames utilizados na identificação da sepse são: hipertermia
sequelas. O Consenso Brasileiro de Sepse, formulado em (>38ºC) ou hipotermia (<36ºC); taquicardia (frequência
fevereiro de 2003, utilizou os mesmos parâmetros e definições cardíaca>90bpm); taquipnéia (frequência respiratória>20ipm);
do Consenso do ACCP e da SCCM por considerá-los os mais oligúria ou anúria (ou balanço hídrico positivo), sendo menor
simples e aplicáveis para diagnóstico da SIRS à beira do leito, que 20ml de urina/kg/dia; leucocitose (>12.000 células/mm3)
visto a importância de rápida identificação para melhor ou leucopenia (<4.000 células/mm³) ou, ainda, leucócitos
prognóstico. normais com mais de 10% de formas imaturas. E Métodos de
Segundo Surving Sepsis Campaing (2012), sepse é a imagem - como a radiografia, a ultrassonografia, o
presença (provável ou diagnosticada) de infecção com foco ecocardigrama, a tomografia computadorizada e a
conhecido junto com manifestações sistêmicas de infecção, ressonância magnética -, podem ser de grande utilidade, não

263 264
só para o diagnóstico, mas também para a avaliação evolutiva
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2011). 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sepse possui quatro estágios, que são: a SIRS, onde
há a presença de 2 ou mais sintomas de infecção, sem foco A sepse é uma infecção associada à inflamação
conhecido; sepse, que é a presença de dois ou mais sintomas sistêmica. Nos Estados Unidos, a sepse é a principal causa de
de infecção com foco provável ou diagnosticado; sepse grave, mortalidade hospitalar entre os pacientes adultos. No Brasil,
sendo a presença de dois ou mais sintomas, foco conhecido uma média de 25% dos pacientes internados em unidades de
ou provável e presença de disfunção orgânica e hipoperfusão terapia intensiva (UTI) são diagnósticos com sepse grave ou
tecidual; choque séptico, são todos os sintomas supracitados choque séptico, e isto contribui para maiores taxas de
somado a necessidade de droga vasoativa para ressuscitação mortalidade conforme o agravamento da doença, sepse
volêmica adequada. (34,7%), sepse grave (47,3%) e choque séptico
A SIRS provoca alterações do metabolismo, que levam (52,2%)(PASINATO et al., 2013).
a uma perda acelerada de massa magra, tornando o paciente Nos casos de pacientes sépticos, as necessidades
mais suscetível ao efeito anabólico do aporte nutricional. nutricionais estão aumentadas, precisando de terapia
Dessa forma, é importante a adequada oferta de nutrientes nutricional intensiva. Isto é devido à resposta metabólica
para prevenir a desnutrição proteico calórica, visto que a aguda à sepse, que promove um gasto energético basal
desnutrição contribui para a redução da imunidade, aumentando, levando a um catabolismo intenso (DIESTEL,
aumentando o risco de infecções, hipoproteínemia e edema, 2013).
bem como redução de cicatrização, aumento do tempo de Raramente consegue-se utilizar a via oral para
permanência hospitalar e consequente aumento dos custos. alimentar o paciente séptico, pois o mesmo possui diversos
Com o decorrer dos anos, organizações e sociedades fatores que impossibilitam esta via, como o rebaixamento do
profissionais vêm desenvolvendo diretrizes direcionadas à nível de consciência, alterações gastrointestinais, por
terapia nutricional do paciente critico, entre eles, o séptico, encontrar-se em uso de tubo oro-traqueal (TOT), entre outros.
com o objetivo de definir as estratégias sobre a conduta a ser Dessa forma, quando o paciente não possui critérios que
adotada para estes pacientes (PASINATO et al., 2013). Ante o contraindiquem qualquer tipo de alimentação, como alterações
exposto, o presente trabalho visa realizar um apanhando hemodinâmicas, é preciso fazer uso de vias alternativas para o
sobre as referencias que tratam da sepse e do contexto suporte nutricional, como a nutrição enteral e parenteral, para
nutricional no enfoque da mesma. minimizar o risco de agravamento ou desenvolvimento de
desnutrição (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2011).
Segundo a Resolução RCD nº 63 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde , de 6/7/00,
define nutrição enteral como sendo:
265 266
“ (...) alimento para fins especiais, com grandes vantagens em relação à nutrição parenteral, por ser
ingestão controlada de nutrientes, na forma mais fisiológicas. Dentre as vantagens podemos citar: a
isolada ou combinada, de composição manutenção da integridade do trato gastrointestinal, a redução
da frequência de complicações, a minimização do risco de
definida ou estimada, especialmente
translocação bacteriana e o menor custo. O uso da nutrição
formulada e elaborada por uso de sondas ou parenteral (NP) reserva-se para as situações nas quais a via
via oral, industrializada ou não, utilizada enteral não for suficiente para atender as necessidades
exclusiva ou parcialmente para substituir ou nutricionais estimadas, podendo utilizar a NE/NP combinadas
complementar a alimentação oral em ou nos contextos em que a utilização do trato gastrintestinal
estiver impossibilitada usar a NP total (SIQUEIRA-BATISTA et
pacientes desnutridos ou não, conforme suas
al., 2011).
necessidades nutricionais, em regime No que diz respeito ao inicio precoce da nutrição enteral
hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, (NE), recomendam que, se o paciente tiver condições
visando a síntese ou manutenção dos fisiológicas e hemodinâmicas de se alimentar, a mesma seja
tecidos, órgãos ou sistemas” iniciada dentro de 24 a 48 horas (PASINATO et al., 2013).
Para avaliação do estado nutricional do paciente grave,
Segundo o que consta no Procedimento Operacional
a Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de
Padrão de Enfermagem do Hospital Getúlio Vargas, a nutrição
Medicina (2011) recomendam a avaliação subjetiva global
parenteral é conceituada como a administração dos nutrientes
(ASG). Sendo imprescindível, resgatar a história de perda de
necessários à sobrevivência, como água, eletrólitos, glicose,
peso recente e durante a estada no hospital, a quantidade de
proteínas, sais minerais e vitaminas, por uma via que não seja
dieta efetivamente ingerida (administrada), o grau de
através do trato gastrointestinal, sendo utilizada a via
catabolismo, as condições associadas à via de administração,
endovenosa, através de cateter venoso central, permitindo
ao tempo para o início da TN e à baixa tolerabilidade e (ou)
assim manutenção da homeostase.
absorção de nutrientes. No entanto, os meios tradicionais de
Conceitua-se terapia nutricional (TN) como a
avaliação do estado nutricional, como a antropometria,
administração de nutrientes, que pode ser por via enteral e/ou
bioquímica e medida das circunferências e pregas corporais,
parenteral, com o objetivo terapêutico de ofertar proteínas,
são influenciadas pelo acúmulo de líquido no espaço
calorias, minerais, vitaminas e água, de forma individualizada
extracelular (balanço hídrico positivo) que faz com que ocorra
para cada paciente, que, por algum motivo, não possa receber
mudanças bruscas no peso e dilui proteínas viscerais,
alimentação via oral (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2012).
interferindo na interpretação do resultado final da avaliação do
Recomenda-se dar preferência a nutrição enteral (NE)
doente grave.
como via de administração de nutrientes, pois apresenta

267 268
A SIRS cataboliza grande quantidade de proteínas Para a recomendação de energia a ASPEN (2009)
plasmáticas, diminuindo sua concentração independentemente preconiza que seja ofertado de 25 a 30 kcal/kg para o paciente
do processo de desnutrição. Conforme o quadro clínico do séptico eutrófico, já para o paciente obeso (Índice de massa
paciente se estabiliza, e a fase de recuperação é iniciada, a corpórea>30 kg/m²) usar de 11 a 14 kcal/kg de peso atual ou
avaliação nutricional convencional passa a ser útil e desejável 22 a 25 kcal/kg de peso ideal. Já a ESPEN (2006), não leva
(Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de em consideração o índice de massa corpórea (IMC), mas sim
Medicina). Todavia, ainda cabe mencionar que poucos a fase em que se encontra a sepse, recomendando uma oferta
hospitais dispõem dos equipamentos necessários a avaliação de 20 a 25 kcal/kg na fase aguda e 25 a 30 kcal/kg na fase de
adequada deste usuário, que geralmente se encontram recuperação.
restritos ao leito, o que dificulta o seu manejo, inviabilizando a Segundo a ASPEN (2009), a indicação do aporte
utilização dos instrumentos rotineiramente recomendados. proteico varia entre 1,2 a 2,0 g de proteína/kg/dia em
A estimativa das necessidades energéticas pode ser pacientes com IMC < 30 kg/m², ≥ 2 g de proteína/kg peso
feita através de diversas formas, como a calorimetria indireta, ideal/dia para pacientes com IMC 30 e 40 kg/m² e ≥ 2,5 g de
equações preditivas (como Harris Benedict, Scholfield, Ireton- proteína/kg de peso ideal/dia quando o IMC > 40 kg/m². Na
Jones, etc) ou regra de bolso (kcal/ kg de peso), levando em ESPEN (2006) não há recomendação proteica para pacientes
consideração os requerimentos nutricionais de cada paciente críticos, já na ESPEN (2009) de nutrição parenteral sugere-se
individualmente e de acordo com a sua tolerância (DIESTEL, de 1,3 a 1,5 g/kg/dia.
2013). Porém, a mais utilizada na rotina hospitalar é a regra de A ASPEN (2009) não chegou a resultados conclusivos
bolso. quanto a recomendação de necessidade de carboidrato diária.
Diante disto sugiram os guidelines, que são revisões De acordo com a ESPEN (2006), a ingestão diária de
clinicas praticas publicadas por sociedades de nutrição para carboidratos pode ser de 3 a 5g. E para nutrição parenteral
as condutas nutricionais do paciente critico. As principais são (ESPEN, 2009) é de no máximo 2g/kg/dia.
a American Society of Enteral and Parenteral Nutrition Salienta-se que no tocante aos lipídeos, nenhuma dos
(ASPEN), a European Society for Clinical Nutrition and guidelines citados chegou a uma conclusão quanto a
Metabolism (ESPEN) e a Canadian Critical Care Clinical recomendação de lipídeos para a nutrição enteral. Já para a
Practice Guidelines Committee (CCPG, 2003). Cabendo terapia nutricional parenteral as recomendações são: ASPEN
explanar que a última citada não conseguiu estimar a (2009) na 1ª semana de internação nas unidades intensivas
necessidade energética e de macronutrientes, uma vez que não utilizar na formulação da parenteral com lipídeos à base
utilizou a equações preditivas ou calorimetria indireta, exceto de soja e a ESPEN (2009) sugere um aporte lipídico de 0,7 a
para lipídios, onde o recomendado é que na 1ª semana de 1,5 g/kg/dia.
internação nas unidades intensivas não utilizar formulação de Quanto aos micronutrientes, ASPEN (2009), indica que
parenteral com lipídeos à base de soja. todos os pacientes críticos submetidos a terapia nutricional
269 270
recebam suplementação de vitaminas antioxidantes e crítico. Já a ASPEN (2009), recomenda a utilização de dietas
minerais-traços, principalmente selênio, zinco e cobre. Porém, enterais enriquecidas com nutrientes imunomoduladores para
estudos adicionais são necessários para estimar as dosagens pacientes críticos submetidos a cirurgias eletivas, queimados,
e associações benéficas. com câncer de cabeça e pescoço, com trauma, em ventilação
Neste escopo, a imunonutrição vem ganhando espaço mecânica e portadores de sepse grave a moderada. Porém,
na terapia nutricional que engloba o paciente crítico. Entende- vale salientar, que deve-se atentar para casos de pacientes
se como imunonutrição a capacidade dos nutrientes em com sepse grave, nos quais a sua utilização não esta
influenciar a atividade de células do sistema imune de maneira indicada.
clinicamente benéfica (DIESTEL, 2013). A ação desses Siqueira-Batista e colaboradores (2011), afirmaram que
imunonutrientes em pacientes que recebem nutrição a suplementação com glutamina intravenosa deve ser a opção
enteral/parenteral pode ser notada na modificação dos adotada, uma vez que imunologicamente ativam a resposta
processos pró-inflamatórios (incluindo o estresse oxidativo) e eficaz do sistema em pauta e dos enterócitos.
na manutenção da flora intestinal, melhorando a barreira e No tocante as recomendações de fibras, tem-se
prevenindo a translocação bacteriana (CALDER, P.C., 2003). especificidades que necessitam ser consideradas, tais como:
As fórmulas imunomoduladoras são enriquecidas, em paciente com diarreia utilizar apenas fibra solúvel e
principalmente com glutamina, arginina, nucleotídeos, ácidos exclusão de todo tipo de fibra no caso de pacientes em risco
graxos ômega 3 e antioxidantes. Estes nutrientes são de isquemia intestinal ou dismotilidade severa. Com relação
indicados na perspectiva de modular a resposta imune e aos probióticos, se administrados em quantidades adequadas,
inflamatória, vislumbrando a redução da incidência, promovem benefício a saúde do hospedeiro. Porém, não
principalmente, de complicações infecciosas. Dessa forma, existem estudos para recomendações em pacientes graves,
almeja-se auxiliar numa recuperação mais ágil de pacientes provavelmente pela dificuldade de estudar a grande variedade
graves e minimizar o tempo de internação nas unidades de espécies probióticas (DIESTEL, 2013).
hospitalares. Ante o exposto no presente trabalho, o nutricionista em
Os estudiosos vêm discutindo que o aumento da conjunto com a equipe multiprofissional deve estar atento à
arginina tende a elevar a produção de óxido nítrico, fato que evolução do quadro clinico e nutricional, visando à rotineira
prejudica a recuperação orgânica na inflamação; diante disto o adequação da terapia nutricional implementada, o que é de
benefício da utilização dos imunonutrientes permanece fundamental importância à recuperação do paciente crítico.
controverso, havendo inclusive relatos de ampliação da taxa
de mortalidade vinculada à utilização do nutriente supracitado
(DIESTEL, 2013).
Ante o exposto, a CCPG (2003) não indica o uso de
dietas suplementadas com arginina em paciente em estado
271 272
3 CONCLUSÕES presente explanação, para que fomente a garantia de seu
reconhecimento no cuidado integral ao paciente grave.
A sepse é um agravo que vem acometendo um
percentual considerável da população mundial e
consequentemente brasileira. Neste sentido o conhecimento 4 REFERENCIAS
sobre os estágios da mesma é de fundamental importância,
para que se possa realizar uma assistência adequada ao AMERICAN COLLEGE OF CHEST PHYSICIANS/SOCIETY
usuário, com vistas à reversão do quadro. OF CRITICAL CARE MEDICINE CONSENSUS
No contexto do supracitado, estudos demonstram que a CONFERENCE COMMITTEE: ACCP/SCCM. Consensus
terapia nutricional se enquadra enquanto fator primordial dos Conference: Definitions for sepse and organ failure and
cuidados ao paciente em sepse, o que gerou interesse por guidelines for the use of innovative therapies in sepse. Critical
parte de diversas associações em desenvolver Care Medicine. 20, p. 864-874, 1992.
recomendações específicas ao paciente crítico com esse
diagnóstico.
CALDER, P.C. Immunonutrition. Brit Med J. 327, p. 117–8,
Dessa forma, indicações energéticas, de macro e
micronutrientes estão disponíveis e o profissional nutricionista, 2003.
a partir de avaliação nutricional qualificada, deve prescrever a
terapia nutricional de maneira singularizada e qualificada, com CRITICAL CARE CLINICAL PRACTICE GUIDELINES
vistas ao auxílio na recuperação do usuário.
Ainda neste escopo, a imunoterapia vem sendo utilizada COMMITTEE. Canadian clinical practice guidelines for nutrition
com objetivo de auxiliar na recuperação de pacientes críticos, support in mechanically ventilated, critically ill adult patients.
diminuindo inclusive o tempo de internação. Entretanto, sua JPEN J Parenter Enteral Nutrition. 25(5), p. 355-73, 2003.
utilização ainda não é consenso, segundo os estudos
utilizados.
O tema em pauta merece destaque no cenário da saúde do DIESTEL, C.F. Terapia nutricional no paciente crítico. Revista
paciente crítico, cabendo ainda reflexão sobre a fragilidade do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro,12(3),
dos insumos disponíveis, tanto no que se refere à avaliação
p. 78-84, 2013.
nutricional quanto na disponibilidade de fórmulas nutricionais
com as características indicadas pelas guidelines.
Cabe ao nutricionista discutir - com profissionais das demais HENKIN, C.J.M.R.F.; COELHO, J.C.; PAGANELLA, M.C.;
categorias - de maneira ampla e apropriada o abordado na SIQUEIRA, R.M.; DIAS, F.,S. Sepse: uma visão atual. Scientia
Medica, v. 19, n. 3, p. 135-145, Porto Alegre, Jul./Set. 2009.

273 274
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CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DOS
ALIMENTOS

277 278
CAPITULO 21 nutrientes, havendo boa aceitação sensorial, elevada intenção
de compra, demonstrando grande potencial de mercado.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA,
MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL DE DIFERENTES Palavras-chave: conservação, sabor, aroma, pimenta branca.
FORMULAÇÕES DO CAMARÃO MARINHO
(Litopenaeus vannamei) DEFUMADO 1 INTRODUÇÃO

Inês Maria Barbosa Nunes QUEIROGA1


Lenietti Galiza GAMA1 O camarão apresenta alto valor nutricional, bastante
Fernanda dos Santos Nunes de MELO1 apreciado pelos consumidores, sendo fonte de proteínas com
Ricardo Targino MOREIRA2 alto valor biológico e minerais (PEDROSA; COZZOLINO,
Katharina Kardinele Barros Sassi 1 2001) além de ácidos graxos poli-insaturados. Constitui um
1 Aluno do PPGCTA UFPB; 2 Professor do PPGCTA UFPB
alimento altamente perecível devido ao pH próximo da
neutralidade, elevada atividade de água, composição química
RESUMO: O camarão é um alimento muito apreciado, e gorduras insaturadas passíveis de oxidação (ROCHA, 2010).
entretanto, perecível, tendo em vista suas características A espécie marinha (Litopenaeus vannamei) é cultivada em
biológicas, físicas e químicas. A técnica de defumação é uma todo o mundo, sendo responsável por quase toda produção da
tecnologia de conservação explorada para conferir qualidade aquicultura marinha do Brasil (GONÇALVES; GOMES, 2008).
microbiológica e sensorial, uma vez que, amplia a vida de A técnica de defumação é um dos métodos mais
prateleira do produto. O objetivo dessa pesquisa foi analisar a antigos de conservação dos alimentos, uma vez que provocam
influencia do uso da defumação no camarão Litopenaeus mudanças nos atributos sensoriais como odor, sabor,
vannamei, submetido a diferentes formulações de salmora, coloração e textura (SIGURGISLADOTTIR et al., 2000). A
nas características físico-quimicas e sensoriais. Os camarões fumaça é constituída por numerosos compostos como ácidos,
filetados, foram levados à salmouragem sob três formulações fenóis, ésteres, cetonas, carbonilas e hidrocarbonetos
distintas, F1, F2 e F3, sendo F0 a amostra controle. As policíclicos, os quais são transferidos para o produto pela
amostras foram defumadas a quente (75 ºC), por duas horas. deposição na superfície e subsequente penetração na carne
Foram realizadas análises físico-químicas de pH, atividade de (ASSIS et. al, 2009).
água (Aw), umidade, cinzas, lipídeos totais e proteínas, para Além disso, tem como finalidade estender a vida útil do
cada formulação, bem como teste afetivo de aceitação e produto, em virtude dos efeitos combinados da salga, cocção,
intenção de compra. O processo alterou a composição secagem e deposição de substâncias químicas bactericidas
proximal do camarão, promovendo uma concentração dos presentes na fumaça (ASSIS et al., 2009). O êxito na
preparação de defumados depende da aplicação da fumaça e
279 280
da combinação de fatores físicos e químicos, sendo 2.2 PREPARO DA SALMOURA
necessário um controle rigoroso de cada uma das etapas
(GONÇALVES; PRENTICEHERNANDEZ, 1998). Nesse Os insumos usados na salmoura foram doados pela
processo ocorre a redução da atividade de água, mediante Unidade Móvel de Beneficiamento de Pescado. Três soluções
desidratação, e alteração do pH pela ação dos compostos da foram preparadas variando o sal e a pimenta (Tabela 1).
fumaça, evitando a ação microbiológica.
O mercado para as pimentas é muito segmentado e Tabela 1. Formulações utilizadas para os quatro
diversificado, devido a grande variedade de produtos e tratamentos propostos:
subprodutos, usos e formas de consumo, sendo dividido Ingredientes/Formulações F1 F2 F3 F0
basicamente em produtos in natura, formas processadas e Sal 20 25 30 20
ornamentais. (ARAÚJO, 2009). Sal de cura 2 2 2 2
Com este trabalho objetiva-se avaliar o efeito da Pimenta Branca 0,5 0,7 2,5 -
defumação e aplicação de pimenta branca na composição Antioxidante 2 2 2 2
proximal, características microbiológicas e sensoriais do F1; F2; F3; F0= formulações 1, 2, 3 e 4, respectivamente. *Valores

camarão marinho Litopenaeus vannamei. expressos em % para 100g de amostra.

2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.3 ELABORAÇÃO DO CAMARÃO DEFUMADO


ADICIONADO DE PIMENTA BRANCA
2.1 OBTENÇÃO, TRANSPORTE E PREPARO DA
MATÉRIA-PRIMA
Os filés foram divididos em quatro partes iguais, três
foram imersas em salmouras com concentrações variadas de
Para a realização dos experimentos foram utilizados
sal e pimenta (Tabela 1), sendo F0 a amostra controle. As
três quilos de filé de camarão da espécie Litopenaeus
amostras permaneceram sob temperatura de refrigeração por
vannamei inteiros (80 - 100 peças/kg), adquiridos no Mercado
12 horas, a seguir, foram levadas ao defumador por 2 horas à
do Peixe localizado na Praia de Tambaú, Estado da Paraíba.
temperatura de 75 ºC. Após esse processo, as amostras foram
Em seguida os camarões foram transportados em caixas
embaladas bandejas de poliestireno expandido medindo 20 x
isotérmicas com gelo até a Unidade Móvel de Beneficiamento
14,5cm e cobertos com filme de PVC, permanecendo em
de Pescado do IFPB Campus Cabedelo. Posteriormente os
freezer vertical à temperatura de 0 ºC até o momento das
filés foram imersos em água clorada a 5 ppm, visando a
análises.
redução da carga bacteriana inicial, com temperatura abaixo
de 5 ºC,

281 282
2.4 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS códigos de três dígitos aleatorizados e diferentes para cada
julgador, seguindo um delineamento em blocos completos
Nas amostras de camarão in natura e defumado foram balanceados. Os julgadores fizeram as avaliações em cabines
realizadas determinações físico-químicas em triplicata para apropriadas, isolados, com luz branca e em temperatura
cada um dos tratamentos. Umidade, cinzas, lipídeos totais e ambiente. Durante o teste sensorial, foram disponibilizados
proteínas, de acordo com a metodologia da AOAC (1990); para os julgadores, água e biscoito água e sal, para minimizar
Potencial hidrogeniônico (pH) de acordo com o preconizado o efeito de resíduos entre uma amostra outra (MEILGARD,
pelo Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2005); Atividade de água CIVILLE, 1991).
realizada em medidor eletrônico de atividade de água, sendo Por meio de uma escala de intenção de compra com
realizada de acordo com o recomendado pelo manual do cinco pontos (5=“provavelmente compraria”, 1=“provavelmente
referido equipamento. Os resultados encontrados foram não compraria”, e, no ponto intermediário 3=“talvez compraria,
expressos em porcentagem. talvez não compraria”), os julgadores expressaram sua
vontade em comprar o produto.
2.5 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

As recomendações contidas na RDC n° 12 de 2001, 3. ANÁLISE ESTATISTICA


anexo I, GRUPO 7, item d, estabelecem que o limite máximo
microbiológico para a qualidade do camarão defumado no Para a análise sensorial, empregou-se um
Brasil na contagem de Coliformes a 45 ºC é 102 UFC/g, para delineamento em blocos casualizados (DBC), em que cada
Staphylococcus aureus 5 x 102 UFC/g e determina que não provador foi considerado um bloco, com sessenta repetições
deve ser detectada a presença de Samonella sp. em 25 g de por tratamento. Os resultados das análises microbiológicas e
amostra (BRASIL, 2001). físico-químicas, assim como da análise sensorial, foram
submetidos à análise de variância (ANOVA – one way) e as
2.6 ANÁLISE SENSORIAL médias comparadas pelo teste de Dunnett, nível de 5%
(p≤0,05), utilizando o programa STATISTIC 7.0, (FERREIRA,
2008).
Foi aplicado um teste afetivo de aceitação, com
avaliação dos atributos de aroma, sabor, textura e impressão
global, mediante uma escala hedônica de nove pontos, (9
=“gostei muitíssimo”, 5=“não gostei nem desgostei”;
1=“desgostei muitíssimo”). A análise contou com a
participação de 60 julgadores, e consistiu em disponibilizar
amostras dispostas randomicamente em bandejas, com
283 284
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1: Média e desvio padrão dos parâmetros físico-
químicos do camarão Litopenaeus vannamei defumado e in
Com o processo de defumação os camarões sofreram natura.
alterações nos teores de umidade, proteínas, lipídios totais e
cinzas (Tabela 1), havendo diferença estatística entre a Parâmetros Formulações
amostra controle e as demais. Segundo Franco et al. (2010) a
composição do pescado assume grande importância F1 F2 F3 F0
tecnológica, pois afeta seu rendimento, sabor e textura. Após Aw 0,99 ±
0,95 ± 0,98 ± 0,97 ±
a defumação, evidentes alterações podem ser observadas na 0,00a 0,00a 0,00a 0,00a
composição do produto. Houve redução significativa (p<0,05)
pH 6,36 ± 6,31 ± 6,25 ± 6,71 ±
da umidade e consequentemente concentração dos nutrientes,
bem como um acréscimo no teor de cinzas decorrente da 0,01a 0,04a 0,02a 0,07a
absorção de cloreto de sódio pelo músculo durante o processo Umid (%) 49,41 ± 46,62 ± 42,20 ± 78,21 ±
de imersão nas salmouras (SILVA et. al, 2010). GONÇALVES;
0,07a 0,69a 10,95a 0,24b
CEZARINI, (2008), assim como LIRA et al., (2013), também
observaram aumento nos percentuais de cinzas em pescados Cinzas (%) 4,33 ± 4,95 ± 4,33 ± 3,12 ±
defumados quando comparados à amostras in natura. 0,09b 0,03b 0,01b 0,16a
Não houve diferença estatística entre as amostras em
Prot (%) 36,56 ± 35,65 ± 38,79 ± 17,56 ±
relação a atividade de água, e os valores foram considerados
adequados. Considerando que valor de pH acima de 7,6 0,36b 0,40b 1,48b 0,16a
caracteriza produto não comestível (SHAMSHAD et al., 1990), Lipíd (%) 2,09 ± 2,85 ± 2,37 ± 1,82 ±
as amostras desta pesquisa mostraram-se adequadas para 0,23b 0,22b 0,11b 0,27a
consumo, os valores de pH associados ao teor de sal
*Para cada parâmetro, médias na mesma linha seguidas da mesma letra
constituem obstáculo ao desenvolvimento microbiano. Hassan não diferem entre si pelo teste de Dunnet (P > 0,05).
(1988) relatou que a defumação provoca redução do pH do **F1, F2, F3 = formulações 1, 2 e 3 testadas. F0 = amostras sem
condimentos, in natura (controle).
produto devido à absorção de algumas substâncias da
fumaça, à perda de umidade e às reações de fenois, polifenois
e compostos carbonílicos com as proteínas sulfuradas e Os resultados de proteína no produto defumado estão
alguns grupos de aminoácidos, respectivamente. Tal fato foi de acordo com GONÇALVES et al., (1998), SILVA et al.,
observado nesta pesquisa, não havendo diferença estatística (2010), encontraram valores de até 45,89 % no camarão
entre as amostras. defumado, e 16,80 % no mesmo produto in natura,

285 286
confirmando que em pescados defumados o conteúdo de a deposição de substâncias químicas bactericidas presentes
proteína é mais alto que no pescado fresco. na fumaça exercem ação sinérgica na prevenção do
TRAFICANTE et al. (2010) observaram valores de crescimento microbiano e permitem desenvolver produto com
2,39% e 2,85% de lipídios totais em camarões marinhos umidade intermediária, estável sob o ponto de vista
defumados com e sem ervas aromáticas, respectivamente, microbiológico, e, portanto com vida-de-prateleira prolongada
valores estes superiores aos observados no experimento de sob temperatura ambiente (LIRA, 2013).
SILVA et al., (2010) e semelhantes aos obtidos nesta Os estafilococos são bactérias halotolerantes e capazes
pesquisa. O teor de lipídios totais é superior em camarões de se desenvolver em meios com uma atividade da água tão
marinhos comparados com camarões de água doce, em baixa como 0,86 (CUNHA NETO et al., 2002). Além disso, os
virtude do tipo de alimento disponível no meio, uma vez que, estafilococos são os agentes patogênicos mais comumente
no ambiente marinho há grande disponibilidade de alimento envolvidos em surtos de intoxicação alimentar (MELO et al.,
natural, como zooplâncton e principalmente fitoplâncton, com 2014). Born (2012) obteve resultados semelhantes ao do
elevados valores de ácidos graxos poli-insaturados, refletindo presente trabalho, não encontrando contaminação por
diretamente no teor de lipídios totais no músculo dos Staphylococcus spp. em camarões inteiros e descascados
organismos que o consomem (BRAGAGNOLO; RODRIGUEZ- frescos, vendidos a granel, e em camarões descascados
AMAYA, 1997). congelados crus e cozidos, comercializados em um mercado
O camarão utilizado no presente trabalho não no município de Porto Alegre.Em trabalho realizado por Melo
apresentou contaminação por nenhum dos microrganismos et al. (2014), onde foram analisadas 18 amostras de camarão
analisados (coliformes a 35 °C, coliformes a 45 °C, seco salgado defumado, 14 (88,8%) estavam contaminadas
Staphylococcusspp. e Salmonella sp.) em todas as com Staphylococcuscoagulase positiva, sendo que as
formulações de camarão defumado, estando de acordo com o contagens deste microrganismo apresentaram variação de
especificado pela legislação (BRASIL, 2001). 2,2x10³ a 3,05x105 UFC/g.
Este resultado foi semelhante ao encontrado por O microrganismo Salmonella sp. é uma bactéria
Cerqueira (2013) que avaliou a qualidade microbiológica do patogênica encontrada nos tratos intestinais de mamíferos,
camarão salgado e seco comercializado no Mercado Municipal aves, anfíbios, répteis, crustáceos e moluscos, nestes últimos
de Cruz das Almas, BA, as amostras de camarão por poluição da orla litorânea (GAVA, 2008; MELO, 2012). Os
encontraram-se próprias para o consumo quando relacionadas resultados do presente trabalho corroboram com os
à contaminação por bactérias do grupo coliformes. Lira et al., encontrados por Lira et al., (2013) e Sousa et al., (2011), onde
(2013) encontrou contagens de coliformes à 45ºC entre <3,0 a Salmonella sp. esteve ausente em camarão in natura e
43 NMP/g, em camarão in natura e defumado. Na produção do defumado.
camarão defumado, a combinação de fatores como adição de Os camarões defumados apresentaram maior
cloreto de sódio (eficaz depressor da umidade), uso do calor e intensidade de aroma e sabor característico de produto cárneo
287 288
defumado. Havendo diferença significativa (P < 0,05) entre as conferir sabor, cor e aroma típicos ao produto (SOUZA, 2004).
formulações com amostras defumadas em relação às A vida de prateleira do pescado defumado é ampliada,
amostras não submetidas ao processamento, para todos os mantido nas mesmas condições de amostras não submetidas
atributos avaliados (Tabela 2). ao processamento, e com este processo pôde-se obter um
produto característico por suas qualidades sensoriais,
Tabela 2: Média e desvio padrão das notas atribuídas às inovador e com valor agregado (SILVA, 2010).
formulações do camarão Litopenaeus vannamei defumado e in Não houve variação estatística em relação à intenção
natura. de compra do produto, com 68% julgadores demonstrando
que certamente comprariam as amostras. Trabalhos
Atributos Formulações realizados com outros pescados apresentaram resultados
positivos quanto a aceitação e intenção de compra, pela
F1 F2 F3 F0
análise sensorial do produto defumado (SOUZA et al., 2004;
Aroma 7,3 ± 7,3 ± 7,5 ± 6,8 ± GOULAS; KOTOMINAS, 2005).
0,01b 0,03b 0,01b 0,02a
Sabor 7,7 ± 7,2 ± 7,6 ± 6,9 ±
0,09b 0,09b 0,02b 0,02a Intenção de compra
Textura 6,7 ± 6,6 ± 6,9 ± 7,5 ±
0,03ª 0,03a 0,09a 0,02b certamente não compraria

Impressão 7,7± 7,2 ± 7,8 ± 6,6 ± provavelmente não compraria F0


F3
Global 0,09b 0,02b 0,09b 0,01a talvez compraria, talvez não
F2
*Para cada atributo, médias na mesma linha seguidas da mesma letra não provavelmente compraria
F1
diferem entre si pelo teste de Dunnett (P > 0,05). certamente compraria

0 5 10 15 20 25 30
Houve perda sensorial no atributo de textura, o que é
justificado pela desidratação ocorrida na redução da umidade. Figura 1: Histograma com os resultados da análise de intenção de compra
Os resultados de impressão global mostram uniformidade nos do camarão marinho Litopenaeus vannamei defumado e in natura.
resultados, indicando maior aceitabilidade sensorial por parte
dos julgadores.
Em alguns países, a defumação já não se constitui
apenas de um método de preservação, ademais, é forma de

289 290
5. CONCLUSÕES CERQUEIRA, B. N. Qualidade sanitária do camarão salgado e
seco comercializado no mercado municipal de Cruz das
A aceitação dos produtos defumados demonstra que Almas, BA. Monografia (Bacharel em Biologia).
este processamento contribui para agregar valor ao pescado Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Cruz Das
dessas espécies e incentivar o seu consumo, com potencial Almas, 2013.
poder de comercialização. O processo alterou a composição
proximal do camarão, promovendo uma concentração dos CUNHA NETO, A., SILVA, C.G.M.; STAMFORD, T.L.M.
nutrientes, havendo boa aceitação sensorial, elevada intenção Staphylococcusenterotoxigênicos em alimentos in natura e
de compra, demonstrando grande potencial de mercado, processados no Estado de Pernambuco, Brasil. Revista
mostrando ser uma ótima alternativa de matéria-prima, de boa Ciência e Tecnologia dos Alimentos, v. 22, n. 3, p. 263-271,
qualidade, saudável e saborosa, levando a oferta de um 2002.
produto inédito, pronto para o consumo.
Sugerem-se novos estudos relacionados ao uso desse GAVA. A. J. Tecnologia de alimentos: princípios e
processamento, a fim de melhorar aspectos econômicos, aplicações. São Paulo: Editora Nobel, 2008.
ambientais e de saúde, bem como a forma de apresentação e
a definição de padrões físico-químicos do produto devem ser GONÇALVES, A.A.; CEZARINI, R. Agregando valor ao
realizados para complementar os resultados. pescado de água doce: defumação de filés de jundiá
(Rhamdia quelen). Revista Brasileira de Engenharia de
Pesca, v.3, p.63-79, 2008.
6. REFERENCIAS
LIRA, G. M.; SILVA, M. C. D.; SILVA, K. W. B.; PADILHA, B.
BORN, L. C. Pesquisa de estafilococos coagulase positiva M.; CAVALCANTI, S. A. T. Q.; OLIVEIRA, K. I. V.;
em camarões comercializados em diferentes ALBUQUERQUE, A. L. I. Avaliação da qualidade físico-
apresentações. Monografia (Especialização em Produção, química e microbiológica do camarão espigão
Higiene e Tecnologia de Alimentos de Origem Animal). Porto (Xiphopenaeuskroyeri, Heller, 1862) in natura e
Alegre, 2012. defumado.B.CEPPA, Curitiba, v. 31, n. 1, jan./jun. 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência nacional de Vigilância MELO, F. S. N. Obtenção de aguardente de mel de acordo
Sanitária - ANVISA.Resolução CNNPA. N° 12 de 02 de com a florada típica do Sertão Paraibano. Monografia
Janeiro de 2001. Regulamento Técnico sobre os Padrões (Graduação em Engenharia de Alimentos) Universidade
Microbiológicos para Alimentos. Federal de Campina Grande. Pombal, 2012.

291 292
MELO, M. B. P. C.; TREVISAN, A. B.; MACEDO, V. P.; CAPITULO 22
ANDRADE, S. S.; SANTOS, D. N.; LIMA, E. B.; SILVA, R. V.;
PEREIRA, N. C.; SILVA, M. C. A. Pesquisa de ELABORAÇÃO DE AGUARDENTE DE MEL DE ABELHA
Staphylococcuscoagulase positiva em camarão seco Apis mellifera DE ACORDO COM A FLORADA TÍPICA DO
salgado defumado comercializado no estado da Bahia. SERTÃO PARAIBANO
Disponível em: <
http://www.sovergs.com.br/site/38conbravet/resumos/193.pdf>. Fernanda dos Santos Nunes de MELO1
Acesso em: maio de 2014. Wiaslan Figueiredo MARTINS2
Janailson da Costa ALMEIDA3
João Felipe SANTIAGO NETO4
SILVA, A.F.; GODOY, L.C.; FRANCO, M.L.R.S.; ASSIS, M.F.,
Alfredina dos Santos ARAÚJO5
SOUZA, N.E.; VISENTAINER, J.V. Avaliação sensorial e 1 Aluna de mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA/UFPB); 2 Aluno de
composição proximal de camarões de água mestrado em Engenharia de Alimentos (EQA/UFSC); 3 Aluno de graduação em Engenharia
de Alimentos (CCTA/UFCG); 4 Aluno de Bacharelado em Agroindústria (UFPB); 5 Professora
doce Macrobrachiumrosembergii defumados. Ciência Animal
(CCTA/UFCG)
Brasileira, v.11, p.770-774, 2010. DOI:
10.5216/cab.v11i4.4221.
RESUMO: A indústria de aguardente têm se expandido e
SOUSA, E. B.; LIMA, M. V.; FABRÍCIO, G. S.; ROCHA, S. S.; diversificado seus produtos. Então, visando esta diversificação
FIGUEIREDO, M. J. Avaliação físico-química e de produtos, o presente trabalho teve por objetivo acompanhar
microbiológica de carne de camarão cultivado a cinética da fermentação, realizar a produção e
(Litopenaeus vannamei). I Semana Acadêmica da caracterização de aguardente de mel de abelha Apis mellifera.
Engenharia de Alimentos de Pombal. Pombal, 2011. Foi utilizado no sistema fermentativo o fermento biológico
fresco de panificação Saccharomyces cerevisiae. Efetuaram-
se análises de graduação alcoólica, densidade e acidez da
bebida de acordo com os métodos oficiais. O tempo total de
fermentação foi de aproximadamente de 132 horas,
verificando a estabilização do teor de sólidos solúveis a partir
de 84 horas de fermentação. O rendimento fermentativo foi de
79,3%. Obteve-se de 18 L de mosto um total de 2,3 L de
destilado. A densidade encontrada foi de 0,930 g/L, o teor
alcoólico foi de 54 °GL e a acidez volátil da aguarden te foi de
60 mg/100 mL de álcool anidro, estando em conformidade
com o padrão oficial brasileiro. O rendimento do processo de

293 294
destilação foi de 79,2%. De acordo com os parâmetros de características similares à da tradicional aguardente
produtividade e rendimento, conclui-se que a aguardente de (MOUCHRECK FILHO et al., 2011).
mel é uma alternativa viável para o aproveitamento dos méis Neste contexto, este trabalho teve por objetivo realizar a
produzidos no Sertão Paraibano. produção da aguardente de mel em escala laboratorial e
Palavras-chave: Destilação. Fermentação. Saccharomyces acompanhar o processo por avaliação dos parâmetros físico-
cerevisiae. químicos, assim como verificar a qualidade da bebida obtida
de acordo com o padrão de qualidade estabelecido pela
1. INTRODUÇÃO legislação vigente.

A apicultura é uma atividade importante no Nordeste 2. MATERIAIS E MÉTODO


brasileiro, constituindo-se em uma alternativa capaz de poder
aumentar o nível sócio-econômico das pessoas que ali Foram utilizados quatro litros de mel de abelha
habitam aproveitando o potencial das áreas onde existe a proveniente do Sertão Paraibano. As amostras foram
exploração apícola. Na Paraíba apesar do estado ser coletadas e conduzidas em recipiente estéril ao Centro
sacrificado pela instabilidade climática, é notável o Vocacional Tecnológico de Pombal- PB (CVT/UFCG). O mosto
crescimento e o espaço que a apicultura vem ocupando. A foi preparado através da diluição do mel em água. Para a
produção de mel tem se consolidado como uma das principais preparação do inoculo utilizou-se fermento fresco biológico
alternativas de geração de renda nas cidades do interior prensado de panificação Saccharomyces cerevisiae da marca
Paraibano (TARGINO, 2005). Fleischmann Royal na quantidade de 20 g/L de mosto. A
O principal produtor de cana-de-açúcar do mundo é o fermentação foi acompanhada no período de doze em doze
Brasil, sendo o maior percentual desta produção utilizada na horas durante cinco dias, mediante analises físico-químicas do
síntese de álcool combustível. É também utilizada como conteúdo de sólidos solúveis, pH e acidez (IAL, 2008).
matéria-prima para a produção de aguardente, no entanto, A destilação foi realizada no Laboratório de Química de
novas perspectivas indicam a utilização de outras fontes na Biomassa da Universidade Federal de Campina Grande no
elaboração desta bebida (MAIA, 2000). Dentre as várias fontes Campus de Campina Grande, obteve-se a aguardente
que podem ser utilizadas para a produção de bebida destilada, desejada por meio de um sistema de destilação simples, na
podemos citar o mel de abelha. qual se determinaram o teor alcoólico, a acidez volátil,
A aguardente de mel é uma bebida feita do mosto densidade e o volume extraído. As análises bromatológicas da
fermentado de mel e água, que posteriormente é destilada em bebida foram realizadas no Laboratório de Microbiologia de
alambiques. É novidade para o mercado brasileiro e o produto Alimentos – NUPEA/ CCT/UEPB (IAL, 2008).
existente ainda é obtido artesanalmente e em pequena escala.
Sua formulação e processo de produção apresentam
295 296
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tipo do mel utilizado neste experimento apresentou


uma concentração de açúcares em torno de 79,6°Brix. Não foi
necessário efetuar qualquer correção de pH do mosto, pois o
mesmo apresentou pH inicial de 4,32, faixa de pH ótimo que
deve estar entre 4,0 e 4,5 para conduzir uma boa fermentação
alcoólica (LOPES et al., 2005). O experimento foi conduzido à
temperatura ambiente, variando entre 26 e 34°C, de acordo
com o ideal sugerido pela literatura que especifica valores
entre 25 e 35°C dependendo da levedura (DELANOE;
MAILLARD; MAISONDIEU, 1989; REGULY, 1998;
AQUARONE; BORNAZI; SCHMIDE, 2001). O teor alcoólico
final do fermentado de mel foi de 12,6°GL, de acordo com a
legislação (BRASIL, 2008). A fermentação foi acompanhada
pela determinação do conteúdo de sólidos solúveis, pH e
acidez, realizando-se a primeira análise após 12 horas da
inoculação e finalizando após 132 horas. A Figura 1 apresenta
os resultados médios das determinações de sólidos solúveis
(°Brix) realizadas no decorrer da fermentação alcoólica do Figura 1. Variação do teor de Sólidos Solúveis durante a fermentação
mosto do mel de abelhas.

A concentração de sólidos solúveis foi reduzida de 18,6


°Brix inicial a valores de 7,3 ° Brix, em 84 horas, mantendo-se
constante desse ponto até às 132 horas de fermentação. Isto
deve-se provavelmente, à presença de açúcares não
fermentecíveis no mosto de mel. Este fato também ocorreu no
fermentado de laranja (CORAZZA; RODRIGUES; NOZAKI,
2001) e no fermentado da polpa do fruto de mandacaru
(ALMEIDA et al., 2011).

297 298
As variações de pH e acidez total ocorridas durante a
fermentação aparecem nas Figuras 2 e 3.

Figura 3. Variação da acidez total durante a fermentação


Figura 2. Variação do pH durante a fermentação

Observa-se na Figura 6, que o pH do fermentado de mel


mostrou uma variação pequena, de 3,4 a 4,3. Do mesmo
modo, a acidez total elevou-se apenas no início,
permanecendo praticamente constante durante a fermentação,
numa média de valores entre 6,0 e 7,3 %. As variações de pH
e acidez durante o processo fermentativo (Figura 2 e 3) são
decorrentes da produção de ácidos orgânicos, como ácido
lático, acético e succínico (BORZANI; AQUARONI; LIMA
1983). Comportamentos semelhantes na acidez e pH, durante
o processo fermentativo, também, foram verificadas por

299 300
Bortolini; Sant’anna; Torres (2001), Andrade; Pantoja; Maeda Tabela I. Comparação entre os valores experimentais das
(2003), Torres Neto et al., (2006) e Almeida et al., (2006). análises físico-químicas realizadas e os padrões estabelecidos
O teor alcoólico e rendimento da fermentação foram de pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (BRASIL,
12,6 °GL e de 79,3 %, respectivamente. Pereira (2008) obteve 2009).
rendimento de 45% na produção de fermentado de mel. Em
trabalho realizado por Ilha et al., (2008) o rendimento foi de 41, PARÂMETROS RESULTADOS PARÂMETROS
53% na produção de fermentado de mel de abelhas ANALISADOS EXPERIMENTAIS ESTABELECIDOS
africanizadas (Apis mellifera L.) do tipo silvestre.
Durante a destilação da aguardente de mel, de dezoito
Min. Máx.
litros de mosto obteve-se um total de aproximadamente dois
litros de destilado, sendo apenas a segunda porção da Acidez volátil 60 - 150
destilação (coração), cerca de 1840 mL (80%) reservada e (mg/100mL)
armazenada. Na fração coração, são coletados os principais e
mais desejáveis compostos da aguardente (GECA, 2014). Os Grau Alcoólico 54 38 54
resultados das análises físico-químicas da aguardente (°GL)
produzida a partir de mel de Apis mellifera estão descritos na
Densidade 0,906 Não consta
Tabela I.
(g/L)

Os valores experimentais da aguardente de mel de Apis


mellifera encontram-se de acordo com os limites estabelecidos
(BRASIL, 2009).
Neste trabalho o rendimento foi de 79,2%, isto quer
dizer que de todo álcool produzido pela fermentação apenas
79,2% foi recuperado pela destilação, o que é até certo ponto
normal, porque o vinhoto ou vinhaça que é descartado
também apresenta um pequeno percentual de álcool. Cleto;
Mutton (2004) realizaram trabalho sobre o rendimento e
composição das aguardentes de cana, laranja e uva com
utilização de lecitina no processo fermentativo e obtiveram
resultados dos rendimentos alcoólicos das aguardentes

301 302
obtidas dos mostos de uva, cana e laranja de, bebida fermentada do Cereus jamacaru P. DC. Revista Verde
respectivamente, 66,8; 65,3 e 64,6%. Em trabalho realizado (Mossoró – RN – Brasil) v.6, n.2, p. 176 – 183, 2011.
por Lacerda (2009) na elaboração de aguardente de banana ANDRADE, J.S.; PANTOJA, L.; MAEDA, R.N. Melhoria do
de forma artesanal, o rendimento para a aguardente a partir de rendimento e do processo de obtenção da bebida alcoólica de
banana prata foi de 57%, já para a variedade de banana pupunha (Bactris gasipaes Kunth). Ciênc. Tecnol. Aliment.
pacovan foi de 51%. Campinas, v.23(supl), p. 34-38, 2003.
AQUARONE, E.; BORNAZI, W. SCHMIDE W. Biotecnologia
4. CONCLUSÕES industrial: biotecnologia na produção de alimentos. São
Paulo: Ed. Edgard Blucher, 2001. v. 4, 523p.
Os parâmetros de rendimento e produtividade confirmam BORTOLINI, F.; SANT´ANNA, E. S.; TORRES, R. C.
que a levedura comercial Saccharomyces cereviseae foi Comportamento das fermentações alcoólica e acética de
eficiente no processo fermentativo, produzindo uma sucos de kiwi (Actinidia deliciosa); Composição dos mostos e
concentração de etanol dentro da faixa determinada pela métodos de fermentação acética. Ciênc. Tecnol. Aliment.
legislação brasileira. A aguardente de mel de abelha Campinas, v.21, n.2, p. 236-243, 2001.
apresentou uma concentração de etanol e acidez volátil de BORZANI, W.; AQUARONI, E.; LIMA, U.A. Engenharia
acordo com os padrões legais definidos pelo Decreto Federal. Bioquímica, v.3 São Paulo: Edgard Blücher, 1983.
A partir dos resultados apresentados podemos considerar que BRASIL. Instrução Normativa n. 64, de 23 de abril de 2008.
a aguardente é uma alternativa viável para o aproveitamento Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Anexo III,
dos méis, que além de ser comercializado na sua forma Regulamento Técnico para a Fixação dos Padrões de
original, pode ser transformado em produto derivado, reduz os Identidade e Qualidade para Hidromel. Diário Oficial da
custos da atividade e viabiliza a apicultura. União, Brasília, DF, 24 abr. 2008.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto nº 6.871, 4 jun. 2009.Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Dispõe sobre a
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303 304
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CORAZZA, M. L.; RODRIGUES, D. G.; NOZAKI, J. MOUCHREK FILHO, V. E.; ALMEIDA, E. B.; FILHO, J. E. M.;
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estudo da produção de fermentado do fruto da palma

305 306
CAPITULO 23

AVALIAÇÃO PARASITOLÓGICA DE ALFACES (Lactuca


sativa) PROVENIENTES DOS SISTEMAS DE CULTIVO
TRADICIONAL E HIDROPÔNICO COMERCIALIZADOS NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOAO DO CARIRI-PB.

Sonáli Amaral de LIMA1


Rodrigo Vieira ALVES2
Tereziana Silva da COSTA3
João Utemberg Lucas BEZERRA4
Kepler Borges FRANÇA5
1
Graduanda em Nutrição – FMN ; Doutorando (a) em Engenharia Química –
2 3
UFCG ; Mestranda em Engenharia Química – UFCG ; Graduando em
4
Química Industrial– UEPB ; Professor da Unidade Acadêmica de
5
Engenharia Química – UFCG .

RESUMO: A alface (Lactuca sativa) é umas das hortaliças


folhosas mais comercializadas no Brasil e no mundo. O cultivo
da alface vem sendo realizado nas formas tradicional,
hidropônica e orgânica, que oferecem características
diferenciadas na produção, podendo influenciar nas
propriedades desta hortaliça. São amplamente recomendadas
SAÚDE E SEGURANÇA como parte da alimentação diária por seu grande aporte de
vitaminas, sais minerais, fibras alimentares e baixo valor
calórico, sendo largamente utilizada em dietas, o que favorece
ALIMENTAR o seu consumo sob a forma crua, possibilitando a ocorrência
de enfermidades intestinais. O objetivo deste trabalho foi
realizar uma avaliação parasitológica em amostras de alfaces,
variedade crespa, provenientes dos sistemas de cultivo
convencional e hidropônico, comercializadas na cidade de São
João do Cariri-PB. Os resultados obtidos revelaram que, em
todas as amostras, independente do sistema de cultivo,

307 308
ocorreu algum tipo de contaminação, sendo que nas amostras características diferenciadas na produção, podendo influenciar
contendo alface de cultivo convencional houve uma maior nas propriedades desta hortaliça.
variedade de parasitas. De acordo com os resultados obtidos O alimento convencional é aquele produzido com o uso
observa-se o elevado risco de doenças veiculadas pelas do solo, de adubos químicos altamente solúveis e com o uso
hortaliças como as alfaces consumidas cruas, e considera-se de agrotóxicos. O alimento orgânico é aquele produzido com o
de suma importância que existam ações básicas de higiene uso do solo equilibrado, ou seja, um solo vivo com boas
dos consumidores, ressaltando-se a importância de uma boa condições para que a planta se desenvolva bem e produza
lavagem e desinfecção das folhas antes do consumo. alimento sadio e sem resíduos tóxicos. Diferentemente da
alface orgânica e da convencional que são hortadas
Palavras-chave: Lactuca sativa, alface crespa, avaliação diretamente no solo, as alfaces hidropônicas são cultivadas
parasitológica. dentro de tubos plásticos perfurados por onde circulam a água
e os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. O
cultivo hidropônico protege a hortaliça contra fatores adversos
1. INTRODUÇAO do meio ambiente, como chuvas, geadas e ventos fortes entre
outros, favorecendo a sua produtividade. E por serem criadas
As hortaliças, por seu colorido e variedade de sabor, em um ambiente controlado, elas crescem mais saudáveis
melhoram as características sensoriais do cardápio, (ORNELAS, 2011).
favorecendo sua aceitação (ORNELAS, 2011). Apesar das Atualmente as hortaliças in natura, como a alface
diferenças climáticas e hábitos alimentares distintos a alface é (Lactuca sativa), são amplamente recomendadas como parte
uma das hortaliças mais populares plantadas e consumidas no da alimentação diária por seu grande aporte de vitaminas, sais
Brasil e no mundo. Podendo ser cultivada em diferentes minerais, fibras alimentares e baixo valor calórico, sendo
modalidades, competindo ao produtor rural determinar a forma largamente utilizada em dietas. Contudo, ao serem atraídos
que melhor se adéqua a sua realidade. pelos benefícios oferecidos pelos vegetais, os consumidores
A alface (Lactuca sativa) é uma das hortaliças de maior se expõem aos riscos de infecções por enteroparasitas uma
consumo no país, pois faz parte do hábito alimentar do vez que se consumidas cruas na forma de saladas podem
brasileiro. Geralmente é consumida em forma de salada crua e servir como via de transmissão quando higienizadas
é encontrada em grande variedade: alface-lisa, alface- inadequadamente. Estas enteroparasitoses, prejudiciais à
americana, alface-romana, alface-crespa e alface-roxa saúde humana, causam diarréias, anemias, hemorragias,
(PHILIPPI, 2003). desequilíbrios nutricionais e em alguns casos o individuo pode
O cultivo da alface vem sendo realizado nas formas chegar a óbito como uma das suas principais consequências
tradicional, hidropônica e orgânica, que oferecem (COSTANTIN et.al, 2013).

309 310
A contaminação de alfaces por enteroparasitas pode 2. MATERIAIS E MÉTODOS
ocorrer de diversas formas, sendo as principais pela utilização
da água contaminada por fezes de origem humana ou pela Foram analisadas 10 amostras de alfaces, variedade
contaminação do solo por uso de adubo orgânico com dejetos crespa, sendo 5 provenientes do cultivo convencional
fecais, como também através da poeira contendo dejetos adquiridas em um mercado da cidade de São João do Cariri-
animais levada pelo vento. PB e as demais provenientes de plantio hidropônico,
O exame parasitológico de hortaliças permite a adquiridas diretamente na cooperativa fornecedora do produto
visualização dos ovos e larvas de helmintos e cistos de localizada na mesma cidade. As Figuras 1 e 2 mostram os
protozoários através do método de sedimentação por dois tipos de cultivo das amostras utilizadas neste trabalho.
centrifugação. As técnicas são pouco desenvolvidas, pois,
além da semelhança entre os cistos, ovos e larvas de
parasitas do homem, animais e mesmo de vegetais, as
hortaliças acumulam grãos de pólen, partículas vegetais e
contaminantes do solo, dificultando a visualização e a
identificação parasitológica (OLIVEIRA & GERMANO, 1992).
A análise parasitológica de hortaliças tem como objetivo
identificar os parasitas intestinais do homem, através da
pesquisa das diferentes formas parasitárias que são
eliminadas nas fezes, sendo de grande importância para a
Saúde Pública, pois, fornece dados do estado higiênico das
hortaliças e permite o controle das condições em que foram
cultivadas, armazenadas e preparadas.
Com base nesses aspectos, o presente estudo teve Figura 1 –Alface de cultivo Figura 2 –Alface de cultivo hidropônico
convencional
como objetivo avaliar a possível presença de parasitas nas
alfaces variedade crespa provenientes dos sistemas de cultivo
convencional e hidropônico comercializadas no município de
São João do Cariri-PB.

311 312
As amostras hidropônicas foram transportadas nas
próprias embalagens em que estavam sendo vendidas. As
amostras de alface convencional, por não estarem embaladas,
foram acondicionadas em saco de polietileno descartável.
Todas as amostras foram identificadas e encaminhadas em
caixa isotérmica ao Laboratório de Referencia em
Dessalinização-LABDES, na Universidade Federal de
Campina Grande para serem analisadas.
A metodologia empregada foi enxaguadura seguida de
sedimentação espontânea e centrifugação simples,
semelhante ao método de Hoffmann (PARTELI &
GONÇALVES, 2005; OLIVEIRA & GERMANO, 1992; ROCHA
et al. 2008).
As alfaces foram desfolhadas, desprezando-se partes
Figura 3- Homogeneização das amostras Figura 4- Filtragem das amostras
deterioradas e talos, pelo processo manual com a utilização de
luvas descartáveis de látex, sendo um par para cada amostra.
Para a análise parasitológica, foram pesados 25 g de
Após sedimentação durante 24 h, foi descartado cerca
cada amostra e misturou-se com 225 mL de água destilada
de 150 mL do sobrenadante, e o restante contendo o
em sacos plásticos de polietileno descartáveis, em seguida
sedimento foi colocado em dois tubos e centrifugados a 3000
homogeneizada manualmente por 15 minutos. Realizou-se
rpm por 5 minutos. Pipetaram-se gotas dos sedimentos das
uma filtragem em gaze de 4 dobras, recolhendo o filtrado em
amostras centrifugadas para lâminas de microscopia,
erlenmeyers de 250 mL, como pode ser observado nas Figura
cobrindo-se com lamínulas. Procedeu-se a análise
3 e 4.
microscópica com aumentos de 40x e 100x, de acordo com a
necessidade (PARTELI e GONÇALVES, 2005).

313 314
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos revelaram que, em todas as


amostras, independente do sistema de cultivo, ocorreu algum
tipo de contaminação, sendo que nas amostras contendo
alface de cultivo convencional houve uma maior variedade de
parasitas.
Na análise parasitológica, foram identificados alguns
parasitas intestinais tais como helmintos e protozoários.
A contaminação das amostras de alface hidropônico
vendidos na cooperativa mostrou-se inferior ao de alface
convencional comercializado em supermercado, o que pode
ser explicado pelo fato de que as alfaces hidropônicas estão Figura 4 – Imagens de formas parasitárias encontradas nas verduras analisadas.
menos expostas à contaminação, já que são cultivados sem Em A, cistos de Giardia sp.; em B, trophozoito de Entamoeba coli, em C, ovo
contato com a terra diferentemente do convencional. infértil de Áscaris lumbricoides; em D, ovos de Hymenolepis diminuta; em E,
Nas 10 amostras de hortaliças analisadas, puderam ser Oocisto imaturo de Cystoisospora belli; em F, ovos de Schistosoma mansoni e
evidenciados 7 tipos de parasitas, Figura 4, que indicam ou
representam riscos à saúde da população, o que evidencia e Fonte: Atlas de Parasitologia, 1988.
sugere diferentes formas de contaminação.
Os resultados da alface de cultivo hidropônico mostram
que em todas as amostras foram encontrados cistos de
Entamoeba sp., em três amostras foram encontrados cistos de
Giardia sp., em duas amostras foram encontrados oocisto
de Cystoisospora belli e em apenas uma amostra foram
detectados ovos inférteis de Ascaris lumbricóides, como pode
ser visto na Tabela 1.
Nas amostras da alface convencional observou-se uma
variedade bem maior de parasitas. Foram encontrados ovos
de Hymenolepis diminuta, oocistos imaturo de Cystoisospora
belli contendo dois esporoblastos e cistos de Entamoeba
coli em duas amostras, também foram encontrados ovos de
Schistosoma mansoni e cistos de Giardia sp. em três
315 316
amostras, e ovos de Enterobius vermiculares em quatro semelhantes foram Entamoeba spp., Giardia sp., Ascaris sp. e
amostras. Hymenolepis spp.
Tabela 1: Formas parasitárias encontradas nas Cystoisospora belli e Enterobius vermiculares também
amostras das alfaces. foram encontrados por Constantin et al. (2013) em análise
Hidropônico Convencional parasitológica de amostras de alface. Araújo et al. (2013)
Ascaris lumbricóides Enterobius vermiculares também encontrou Schistosoma mansoni, além de Ascaris
Amost lumbricóides e Giardia sp.
Entamoeba sp. Hymenolepis diminuta
ra 1 Os helmintos Ascaris lumbricóides, Schistosoma
Cystoisospora belli Giardia sp.
Giardia sp. mansoni e Enterobius vermiculares, e o protozoário
Amost Giardia sp. Cystoisospora belli Cystoisospora belli são responsáveis pelas doenças
ra 2 Entamoeba sp. Hymenolepis diminuta Ascaridíase, Esquistossomíase, Enterobíase (ou Oxiuríase) e
Enterobius vermiculares Cistoisosporíase, respectivamente. Quanto aos demais
Ascaris lumbricoides parasitas, não foi identificado suas espécies patogênicas, que
Giardia sp. Enterobius vermiculares são Hymenolepis nana, Entamoeba histolytica e Giardia
Amost lamblia (BRASIL, 1998).
Entamoeba sp. Entamoeba Coli
ra 3
trophozoite
Schistosoma mansoni 4. CONCLUSÃO
Schistosoma mansoni
A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que as
Isospora belli Cystoisospora belli
Amost hortaliças ingeridas in natura podem se tornar um grande
Entamoeba sp. Ascaris lumbricoides
ra 4 veiculador de doenças parasitárias para o homem. Isso é
Entamoeba coli
ocasionado devido a falta de conhecimento de um grande
trophozoite
número de manipuladores de alimentos que
Ascaris lumbricoides
consequentemente não praticam a forma adequada de
Amost Entamoeba sp. Giardia sp.
higienização das hortaliças, tornando-se um problema para a
ra 5 Giardia sp. Enterobius vermiculares
Saúde Pública.
Schistosoma mansoni
Verificou-se uma grande variedade de parasitas nas
Fonte: Autor.
hortaliças convencionais comercializadas no mercado quando
comparada a alface hidropônica, esta contaminação pode ser
Alguns parasitas encontrados neste trabalho também
oriunda ainda do cultivo inadequado, ou da água que é
foram encontrados por Santos (2012) que analisou amostras
utilizada para irrigação.
de alface, variedade crespa, comercializadas em
supermercados de Campina Grande-PB. Os parasitas
317 318
Considerando a possibilidade de contaminação fecal e protozoários intestinais. Rev. Saúde Pública, n. 26, p. 332-
o elevado risco de doenças veiculadas pelas hortaliças como a 335, 1992.
alface, consumidas cruas, é de suma importância que existam ORNELLAS, L, H.; Técnica dietética: seleção e preparo de
ações básicas de higiene dos consumidores sobre a alimentos. Atheneu Editora. 8 ed. Revista e ampliada. São
importância de uma boa lavagem e desinfecção das folhas Paulo, 2003.
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OLIVEIRA C. A. F, GERMANO P. M. L. Estudo da ocorrência
de enteroparasitos em hortaliças comercializadas na região
metropolitana de São Paulo – SP, Brasil. II – Pesquisa de

319 320
processamento para obtenção do mesmo. Com relação as
análises físico-químicas, o picles apresentou um elevado teor
CAPÍTULO 24 umidade 92,28%, cinzas 1,47%, proteína 1,92% e pH de
3,63%. Estes resultado de pH encontra-se dentro dos padrões
ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE estabelecidos com valor abaixo de 4,5, que não é propicio ao
MICROBIOLÓGICA E FISICOQUÍMICA DE PICLES DE crescimento de alguns microrganismos.
QUIABO Palavras-Chaves: Quiabo, Fruto, Picles.

Milena Nascimento da SILVA 1 1. INTRODUÇÃO


Morgana Aragão ARAÚJO 1
José Nildo Vieira DEODATO2 O quiabeiro (Abelmoschus eculentus (L) Moench)
Gilcean Silva ALVES3 considerada como hortaliça pertencente à família das
Alfredina dos Santos ARAÚJO4 Malváceas, consumida em grande escala, encontra excelentes
1Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG; 2 Mestrando em Sistemas Agroindustriais,
PPGSA,; 3 D. Sc. Professor de Microbiologia, IFPB; 4 Professora adjunto IV CCTA, UFCG; condições no Brasil para o seu cultivo, principalmente no que
diz respeito ao clima, sendo popularmente cultivado nas
RESUMO: O quiabeiro (Abelmoschus eculentus (L) Moench) regiões Nordeste e Sudeste. A planta apresenta algumas
pertencente à família botanica Malváceas e seu fruto, é uma características desejáveis como ciclo rápido, custo de
capsula fibrosa cheia de sementes brancas redondas de cor produção economicamente viável, resistência a pragas e alto
verde intenso, firme e sem manchas escuras, ele se comporta valor alimentício e nutritivo (Mota et al., 2000). É considerada
como uma horticola perecivel com período de conservação uma planta rústica, tolerante ao calor e não exige tecnologia
pós colheita extremamente curto. o presente trabalho tem muito avançada para seu cultivo (OLIVEIRA et al., 2007). Pois
como objetivo elaborar picles de quiabo e avaliar a sua a produção inicia-se rapidamente após o plantio,
qualidade microbiológica e físico-química, visando incentivar o representando uma boa alternativa de renda para o agricultor
consumo dessa hortaliça de elevado valor nutricional. Foram (RIBAS et al, 2003).
realizados analises microbiológicos de coliformes à 35°C e O quiabo, fruto do quiabeiro, é uma cápsula de consistência
45°C, Psicrotróficos, Contagem Total de Mesofilos (C.T.M ), viscosa cheia de sementes brancas e redondas, que
Staphylococcus aureus e Salmonella spp/25g. e quanto as apresenta alto valor alimentício e nutritivo com aproveitamento
parâmetros físico-químicas, foram verificados os níveis de completo como uma fonte de fibras, cálcio, sais minerais e
umidade; cinzas, proteínas e pH. após esse estudo observou- vitaminas (PEDROSA et al 1983; DUZYAMAN 1997)
se as condições microbiológica, o picles de quiabo A partir do momento em que os frutos são colhidos, esses
apresentou-se isento de qualquer contaminante microbiano, começam processos que irão alterar a sanidade e qualidades
que mostra a eficiência da manipulação e condução eficaz do sensoriais. Para retardar ou inibir muitas dessas alterações
321 322
são empregados métodos de conservação ou uma
combinação deles, para que se tornem eficientes os efeitos 2. MATERIAIS E MÉTODO
desejáveis nos alimentos (EVANGELISTA, 2003).Por ter um
efeito inibidor do crescimento microbiano, a acidificação é um 2.1 MATERIAIS
método de conservação usado desde tempos remotos para
prolongar a vida útil dos alimentos (PEREDA et al., 2005). Os frutos de quiabo foram adquiridos no centro comercial da
No caso de conservas de picles, a acidificação é uma medida cidade de Pombal-PB, em seguida transportados ao Centro
importante que contribui para a segurança da saúde do Vocacional Tecnológico (CVT) da referida cidade, sendo
consumidor. A acidificação pode ser feita pela adição direta de armazenado sob refrigeração. Para a elaboração dos picles
ácido e possui vantagens como: permitir a esterilização foram utilizados: quiabo, açúcar cristal, sal de cozinha e
simples (a temperatura de ebulição da água), reduzir ou evitar vinagre branco convencional, potes de vidro. Todos obtidos
descolorações, preservar a textura do produto, além de junto à rede de supermercados da cidade.
melhorar o sabor (OETTERER et al, 2006). fazendo parte dos
mais importantes produtos obtidos de origem vegetal com 2.2 PROCESSAMENTO
parcial ou total fermentação láctica, sendo que no Brasil a
fabricação destes produtos não é tratado com grande Os quiabos inicialmente passaram por um processo de
relevância. No sul do país, esses produtos são mais aceitos seleção, onde eram selecionados de acordo com o tamanho, e
devido, principalmente, à colonização européia(GAVA; com a sua coloração, os quiabos selecionados encontravam-
SILVA;FRIAS, 2008). Picles é um produto indiano tradicional, se em estado de maturação semi-maduro, sem injúrias e
pronto para comer e que tem uma vida de prateleira estável danos físicos.
(GADEKAR et al., 2010). eles são obtidos pela imersão de Inicialmente, as amostras de quiabo foram lavadas em água
hortaliças em vinagre condimentado, tendo como tratamento corrente, e devidamente sanitizados em água clorada a 20
preliminar apenas branqueamento. O picles preparado com ppm, e em seguida submetido ao aquecimento em fogão
matéria-prima fermentada possui sabor agradável e é industrial em uma solução contendo água, açúcar e sal já
reputado de qualidade superior a do que é normalmente previamente aquecida por 30 minutos.
encontrado no mercado (LIMA et al.,2006). Após essa cocção, deixou-se o conteúdo em descanso por
um período de 24 horas, em seguida retirou-se os frutos e
Assim, o objetivo do presente trabalho foi de elaborar picles transferindo-os para potes de vidros com capacidade de 500
de quiabo e avaliar a sua qualidade microbiológica e físico- ml esterilizados. Cada pote contendo em média 300 g da
química, visando o incentivo do consumo de uma hortaliça de amostra e completo o nível com vinagre até cobrir os frutos de
importante valor nutricional através da praticidade do picles. quiabo por completo.

323 324
Na etapa seguinte, prosseguiu-se a exaustão, onde os previamente calibrado com solução tampão de pH 4,00 e 7,00.
recipientes foram colocados em uma panela contendo água Todas as análises foram realizadas em triplicada, seguindo a
em ebulição e ficaram por 1 hora com as tampas semi- técnica descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008).
fechadas, para a remoção do oxigênio do interior dos vidros.
Em seguida, os vidros foram fechados, esfriados e coberto 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
com papel alumínio para evitar a incidência de luz e deixado
em repouso por 7 dias em um local escuro e temperatura De acordo com os resultados obtidos com relação a análise
ambiente, em seguida acondicionado em geladeira a 4° C por microbiológica, verificou-se a ausência total de contaminantes
mais 7 dias. em todos os parâmetros: Coliformes Totais e Termotolerantes,
Contagem Total de Mesofilo (C.T.M), Psicrotróficos,
2.2.1 Análise Microbiológica Staphylococcus aureus e Salmonella spp/25g. Esse resultado
ressalta a qualidade durante a execussão das etapas de
Após o processamento de obtenção do picles de quiabo, as processamento do produto obtido e demonstra que o mesmo
amostras foram submetidas a avaliação da qualidade foi submetido às boas práticas de fabricação, estando dentro
microbiológica, seguindo metodologia descrita por SILVA dos padrões higiênico-sanitários conforme recomenda RDC n.
(2010), onde foram efetuadas as análises de coliformes à 12/2001. contagens elevadas de coliformes totais podem
35°C e 45°C, contagem total de mesofilos (C.T.M), indicar processamento em condições higiênico-sanitárias
Psicrotrópicos, Staphylococcus aureus e Salmonella spp/25g. insatisfatórias .De acordo com Franco e Landgraf (2004) as
doenças causadas pela salmonella podem ter consequências
2.2.2 Análise Físico-química graves, principalmente em crianças e pessoas com o sistema
imunológico fragilizado, podendo levar até ao óbito. A média
O picles elaborado de quiabo foi submetidos as dos resultados obtidos a partir das análises físico-químicas
análises físico-químicas, Onde o teor de umidade foi estão descritos na Tabela 1.
determinado através do método de secagem a 105 °C, em
estufa de circulação de ar, já o teor de cinzas foram
carbonizadas até cessar a liberação da fumaça e,
posteriormente, calcinadas em mufla a 550 ºC até peso
constante. Para a determinação do teor de proteínas, foi
utilizada a técnica do destilador micro-Kjeldahl e bloco
digestor, baseado em hidrólise e posterior destilação da
amostra, utilizando o fator 6,25 x % N. o pH foi determinado Tabela 1- Resultados das médias da caracterização físico-
através do método potenciométrico, com pHmetro de bancada química de picles .
325 326
Características Valor Desvio Padrão enterocolítica, Listeria Monocytogenes, Salmonella spp.,
(DP) dentre outros.
Umidade 92,28 +0,20 Então o valor encontrado de (3,63) faz com que este produto
Cinzas 1,47 +0,08 esteja em excelente condições de armazenagem, alem disto,
Proteínas 1,92 +0,55 Carvalho et al. (2014) encontrou valores similares de pH de
pH 3,63 +0,06 4,10 e 4,20 para os respectivos picles de pepino e nabo.

De acordo com a Tabela 1, verificou-se que o picles produzido 4. CONCLUSÕES


apresentou elevada umidade (acima de 90 %), estando dentro
aos valores encontrados por Carvalho et al. (2014), onde O procedimento de acidificação aplicado foi bem sucedido,
analisou de picles de pepino (Cucumis sativus L.) e com nabo uma vez que o picle de quiabo apresentou-se isento de
(Brassica campestris L. var. rapa) orgânicos produzidos por qualquer tipo de contaminante microbiano e o valore de pH
agricultores familiares na cidade de Mossoró - RN, e abaixo de 4,5, que é o recomendado pela resolução vigente.
encontraram valores 94,20 e 92,61 respectivamente. Com relação as análises físico-químicas, o picles
Estes valores de teores de cinzas obtidas são inferiores ao apresentou um elevado teor umidade (92,28), cinzas (1,47),
encontrados por Carvalho et al. (2014), que foi de 2,83 para o proteína (1,92) e pH de (3,63). Sugerindo-se a realização de
pepino e de 3,21 para o nabo e por Caetano et al 2013 que mais estudos, que possa possibilitar aceitabilidade e tempo de
trabalhou com picles de abobrinha italiana e obteve 3,54. Este armazenamento desse produto.
valores estes valores são justificados pelo alto nível de
minerais existentes neles. 5. REFERÊNCIAS
Com relação ao teor de proteínas, Carvalho et al. (2014)
CAETANO, K. S.; LEÃO, M. F.; GONÇALVES, C. R.
encontrou 1,33 e 0,48, para o pepino e o nabo
PARIZOTTO, D.; ROCHA, D. Desenvolvimento e controle de
respectivamente sendo ambos valores encontrados inferiores
qualidade de picles não fermentado de abobrinha italiana.
ao obtido neste estudo. De acordo com Raupp et al. (2008), o
Enciclopédia biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia,
processamento de conservas acidificadas seguras ao
v.9, N.16; p. 697-710. 2013.
consumo humano requer a aplicação conjunta de
CARVALHO, J. D. S.; GOUVÊA, F. S.; FERREIRA, E. H. R.;
procedimentos de tratamento térmico e acidificação. Um
BARBOSA, M. I. M. J.; BARBOSA JR, J. L., Caracterização
procedimento de acidificação bem sucedido deve resultar em
química, qualidade microbiológica e aspectos nutricionais de
um pH no produto abaixo ou igual a 4,5. De acordo com JAY
picles elaborados com pepino (Cucumis sativus L.) e com
(2005), valores de pH acima de 4,5 apresentam elevado risco
nabo (Brassica campestris L. var. rapa) orgânicos produzidos
o crescimento de microorganismos patogênicos como Yersinia

327 328
por agricultores familiares. Revista Verde (Mossoró – RN), v. OLIVEIRA, R. D. L., SILVA, M. B., AGUIAR, N. D. C.,
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329 330
uso, além de estabelecer uma forma prática e autoexplicativa
para a construção do mesmo.
Elaboração de material didático para a construção
Palavras-chave: alimentos seguros, POPs, modelos.
de Procedimentos Operacionais Padronizados
para unidades de alimentação e nutrição. 1 INTRODUÇÃO

Jaíne Severino dos SANTOS¹ Com o passar dos anos as pessoas reservam cada vez
Carolina de Miranda GONDIM¹ menos tempo para a elaboração da sua alimentação, e isso é
1 Aluna de Graduação de Nutrição da UFCG;
2 Docente do curso de Nutrição da UFCG
refletido no maior número de refeições realizadas fora do
domicílio. Há uma crescente preocupação com esse estilo de
RESUMO: Com o passar dos anos as pessoas reservam cada vida pelo fato de, na maioria das vezes, ser seguido de más
vez menos tempo para elaboração da sua alimentação, isso é práticas alimentares que podem levar à doenças crônicas não
refletido no maior número de refeições realizadas fora do transmissíveis, assim como, ao aumento da susceptibilidade
domicílio. Há uma crescente preocupação com esse estilo de às doenças causadas por contaminação química, física e
vida e com aumento da susceptibilidade às doenças causadas microbiológica dos alimentos, as chamadas doenças
por contaminação química, física e microbiológica dos transmitidas por alimentos (DTAs), devido às más práticas de
alimentos. Na tentativa de melhorar a qualidade sanitária e produção e comercialização dos alimentos (ANDREOTTI,
segurança dos alimentos, alguns instrumentos de controle 2003).
foram desenvolvidos, dentre eles o Manual de Boas Práticas e Na tentativa de melhorar a qualidade sanitária e
os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs). Esses segurança dos alimentos, alguns instrumentos de controle
documentos possibilitam um controle efetivo do para produção e comercialização foram desenvolvidos, dentre
processamento do alimento, desde a recepção da matéria- eles o Manual de Boas Práticas (MBP) e os Procedimentos
prima até a distribuição do produto final, garantindo a Operacionais Padronizados (POPs). Segundo a Resolução da
produção de alimentos seguros. O trabalho tem como objetivo Diretoria Colegiada da ANVISA, RDC n°216/04 que “Dispõe
relatar a experiência de discentes e docentes, na utilização de sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços
um modelo padrão para a elaboração de procedimentos de Alimentação”, o MBP é um documento que descreve as
operacionais padronizados. A metodologia utilizada foi uma operações realizadas pelo estabelecimento, enquanto os
revisão de literatura. Obteve-se como resultado o modelo POPs estabelecem de forma objetiva as instruções
padrão para construção do POP. A elaboração do material sequenciais para a realização de operações rotineiras e
didático vem contribuindo positivamente na formação de específicas na manipulação de alimentos. Ambos os
alunos do curso de bacharelado em Nutrição da UFCG, por documentos são cobrados pelo sistema de vigilância sanitária
facilitar o entendimento sobre o documento e sua finalidade de aos estabelecimentos produtores e comercializadores de
331 332
alimentos, devendo estar acessíveis aos funcionários
envolvidos e disponíveis à autoridade sanitária quando O presente trabalho trata-se de um relato de
requerido. experiência da monitoria, da disciplina Higiene e Legislação
Tais documentos possibilitam um controle efetivo do Sanitária de Alimentos do curso de Bacharelado em Nutrição
processamento dos alimentos, desde a recepção da matéria- da Universidade Federal de Campina Grande campus Cuité,
prima até a distribuição do produto final, garantindo a realizada no período de fevereiro de 2013 a junho de 2014.
produção de alimentos seguros. Segundo Nascimento Neto Com base na Resolução ANVISA RDC n°275/02 que
(2003), um alimento considerado seguro é aquele que não “Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos
oferece perigo à saúde do consumidor, logo, estabelecimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos
comerciais que preparam e distribuem alimentos, preocupados Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de
com a qualidade e idoneidade dos seus produtos, estão Verificação das Boas Práticas de Fabricação em
aderindo ao programa de Boas Práticas de Higiene (BPH). Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos”,
No entanto, Pineze, 2003, em estudo sobre a elaboração na RDC n°216/04, assim como no “Guia Passo a Passo para a
de POPs na indústria farmacêutica, relata que “quando se Implantação das Boas Práticas e do Sistema APPCC para
busca a elaboração de tais procedimentos, geralmente a base Consultor: MESA” (SENAI, 2009), elaborou-se um modelo
de literatura acaba sendo a própria resolução, a qual por ter padrão para a construção de todos os POPs para unidades de
formato genérico, pouco esclarece nos termos detalhados o alimentação e nutrição (figura 1), determinados pela própria
que tais procedimentos precisam atender”. Outro sim, muitas RDC n°216/04, a saber: higiene das instalações,
das referências utilizadas fazem parte de programas equipamentos, móveis e utensílios; controle integrado de
institucionais e por isso apresentam reprodutibilidade vetores e pragas urbanas; higiene e saúde dos manipuladores
comprometida. e por fim higiene dos reservatórios de água.
Portanto, torna-se imperiosa a elaboração de Tal modelo foi utilizado por discentes do curso de
metodologias que possam ajudar na formação de profissionais Graduação em Nutrição da UFCG, na elaboração dos POPs
realmente capacitados a elaborar e implantar tais ferramentas para instituições públicas ou privadas, produtoras e/ou
de controle da segurança dos alimentos. comercializadoras de alimentos, existentes no município de
Diante do exposto, o presente trabalho tem como Cuité ou regiões circunvizinhas, como etapa do processo
objetivo relatar a experiência de discentes e docentes, na avaliativo da disciplina higiene e legislação sanitária de
utilização de um modelo padrão para fins didáticos na alimentos.
elaboração de procedimentos operacionais padronizados.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

333 334
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO • Determinar as áreas ou setores da unidade onde POP se
aplica

A elaboração do "Modelo padrão para elaboração dos


procedimentos operacionais padronizados para unidades de 3. DEFINIÇÕES/TERMINOLOGIA
alimentação e nutrição" (figura 1), proporcionou a • Definir os termos ou expressões não comuns, abreviaturas
padronização dos POPs elaborados pelos discentes e símbolos utilizados no documento
minimizando as dificuldades apresentadas pelos mesmos. • Devem estar em ordem alfabética
4. RESPONSABILIDADE (Quem?):
O modelo contempla os tópicos considerados essenciais
• Definir quem são os responsáveis:
para todos os POPs: cabeçalho; rodapé; objetivo; documentos o Pela execução;
de referência; campo de aplicação; definições/terminologias; o Pelo monitoramento;
responsabilidades; descrição dos procedimentos; o Pela verificação;
monitoramento; ação corretiva; verificação; arquivamento de Exemplo:
registros e registro das alterações. FUNÇÃO RESPONSÁVEL
POP nº ___ Execução dos procedimentos

Procedimento Operacional Monitoramento


Data
Padronizado – POP Verificação
LOGOMARCA
Mês/ Ano
DA EMPRESA
Revisão:
Nome do POP
--- POP nº ___
Página ___de ___ Procedimento
Operacional
Data
OBJETIVO (Por quê?): LOGOMARCA DA Padronizado –
POP Mês/ Ano
• Indicar de maneira clara e objetiva ao que se destina o
POP EMPRESA
Revisão:
Nome do POP ---
1. DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA:
Página ___de ___
• Indicar a lista de documentos que foram consultados
• Em ordem alfabética
• Segundo ABNT

2. CAMPO DE APLICAÇÃO/ABRANGÊNCIA (Onde?): (Continua)

335 336
o Quando será feito o monitoramento? (diariamente,
semanalmente, mensalmente, etc.)

Elaborado por: Exemplo:


Alunos do 4º O QUÊ? COMO? QUANDO?
Verificado por: Aprovado por:
período do
curso de Observação visual
Professora Nome dos e preenchimento
Bacharelado em
Carolina de Nutricionistas da do check-list
Nutrição da Instalações Semanalmente
Miranda Gondim Unidade “Higienização das
UFCG período
X instalações”
(Apêndice x)

5. DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE 7. AÇÃO CORRETIVA


HIGIENIZAÇÃO E FREQUÊNCIA (Como?/ Quando?): Durante o monitoramento, quando são observadas falhas na
• Deverá ser descrito o passo a passo ou instruções de
trabalho para cada atividade a ser executada; execução das atividades, devem ser tomadas medidas corretivas de
• Além da descrição em forma de texto deverão existir curto e longo prazo. Dessa maneira, para cada possível falha na
figuras que facilitem a compreensão das etapas descritas.
execução das atividades deverá ser prevista uma ação corretiva, que
EXEMPLO: poderá ser apresentada de forma geral
Todos os procedimentos de higienização e suas respectivas
frequências estão descritos no Apêndice x. POP nº ___

Procedimento
6.1. MATERIAL NECESSÁRIO Data
Operacional
• Neste item deverão ser descritos todos os materiais LOGOMARCA DA Padronizado – POP Mês/ Ano
necessários para a execução dos procedimentos em ordem EMPRESA
alfabética. Revisão:
Nome do POP ---
6. MONITORAMENTO (Como? / Quando?)
Página ___de
• Deverá ser descrito como será realizado o monitoramento ___
de cada procedimento de higienização descrito no item 7,
de acordo com as perguntas abaixo listadas:
o O que será monitorado? (Continua)
o Como o responsável fará o monitoramento?
(através de Check-list, observação visual, etc.)

337 338
Elaborado por: reincidência do fato.
Verificado por: Aprovado por:
Alunos do 4º
período do curso 8. VERIFICAÇÃO
Professora Nome dos
de Bacharelado • Iniciar com um pequeno texto explicativo sobre o que é a
Carolina de Nutricionistas da
em Nutrição da verificação, deixando claro sua função de avaliar se o
Miranda Gondim Unidade
UFCG período X monitoramento está sendo executado. Dessa maneira, as
perguntas abaixo deverão ser objetivamente respondidas.
Exemplo:
CORREÇÃO EM CORREÇÃO EM O QUÊ? COMO? QUANDO?
OCORRÊNCIA
CURTO PRAZO LONGO PRAZO Adicionar todas as
Existe um programa planilhas utilizadas e
de capacitação ou citadas no Mensalmente,
outra ação corretiva monitoramento Observação visual semestralmente,
Viabilizar a correção
de longo prazo? Ex: (Exemplo: Check-list anualmente, etc.
1ª imediata
Capacitação, reunião “Higienização das
com setor Instalações”)
responsável, etc..
Advertência e/ou 9. ARQUIVAMENTO DE REGISTROS (Como? / Onde? /
Quando?):
elaboração de • Neste item deve ser descrita a forma como os documentos,
Viabilizar a correção
documento que planilhas, etc. serão arquivados (pela data, ordem
2ª imediata alfabética, etc.); onde serão arquivados (pastas, gavetas /
comprove a escritório, arquivo morto, etc.) e por quanto tempo.
reincidência do fato.
O QUÊ? COMO? ONDE? QUANDO?
Demissão e/ou
Indexação por Pastas
Viabilizar a correção elaboração de Check-list 1 ano
data específicas
3ª imediata documento que
comprove a

339 340
Muitos dos discentes e até mesmo profissionais da área
10. REGISTRO DAS ALTERAÇÕES quando se deparam com a necessidade de elaboração dos
• Os POPs devem ser periodicamente revisados e, a cada POPs acreditam que a padronização dos procedimentos nada
revisão, devem ser registradas todas as alterações que mais é do que da simples definição das instruções sequenciais
serão realizadas no mesmo através de uma planilha,
para aquilo que se propõe fazer. Dessa maneira, a partir dos
constando a data da revisão, o número e a descrição da
alteração. tópicos cabeçalho, rodapé, objetivos, campo de aplicação e
Exemplo: definições ou terminologias, consegue-se definir a
Nº DA caracterização do documento, assim como a identidade do
DATA DESCRIÇÃO DA ALTERAÇÃO serviço de alimentação. Já os documentos de referência
REVISÃO
conferem ao documento sua característica científica, cujas
ações estão pautadas no conhecimento. Os tópicos
responsabilidades e descrição dos procedimentos
correspondemàs definições de responsabilidades para cada
etapa do processo e a descrição passo a passo de como o
11. APÊNDICES E ANEXOS mesmo deve ser realizado, dessa maneira, compreendem o
• Todos apêndices e anexos citados no documento devem eixo principal quanto à qualidade do serviço prestado. O
ser apresentados nesse item. monitoramento, ação corretiva e a verificação estão
relacionados ao gerenciamento do processo, também
Elaborado configurando como uma etapade grande importância, uma vez
por: que sem o devido monitoramento dos procedimentos
Alunos do Aprovado por: executados e a tomada de ação pertinente, não há um
Verificado por:
4º período controle efetivo das ações e possivelmente o controle de
do curso de Nome dos
Professora Carolina qualidade de produção dos alimentos torna-se ineficaz.
Bacharelado Nutricionistas da
de Miranda Gondim Os documentos produzidos a partir do modelo padrão,
em Nutrição Unidade
da UFCG apresentaram melhor clareza, organização e objetividade em
período X relação aos trabalhos apresentados antes da elaboração e
disponibilização do mesmo. Isso é confirmado no relato de
Figura 1 - Modelo padrão para a elaboração dos procedimentos alguns discentes, que utilizaram o modelo padrão na
operacionais padronizados em unidades de alimentação e nutrição. construção do POP, quando questionados sobre os resultados
gerados a partir da disponibilização do material. A seguir
foram transcritos dois relatos de discentes que fizeram a
utilização do modelo:
341 342
“A elaboração do POP sem o modelo padrão seria uma ANDREOTTI, A.; BALERONI, F. H.; PAROSCHI, V. H. B; PANZA, S.
dificuldade ainda maior, pois se trata de um documento de G. A. Importância do treinamento para manipuladores de alimentos
em relação à higiene pessoal. Iniciação Científica Cesumar. v. 5,
trabalhosa elaboração. O modelo disponibilizado foi de grande n. 1, p. 29-33, jan/jun. 2003.
valia para a construção do POP, um bom facilitador desse
processo tendo em vista a complexidade de se organizar as BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC n° 275, de 21 de
ideias de forma clara, objetiva, organizada e de fácil outubro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico de
procedimentos operacionais padronizados aplicados aos
compreensão” (J.A.L.S., 22 anos, aluna do 5°perído). estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a
“O modelo do POP é muito bom, acredito que as lista de verificação das boas práticas de fabricação em
dificuldades seriam imensas sem esse material. Com ele a estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Diário
elaboração ainda é muito difícil, imagina sem nenhum modelo Oficial da União, Brasília, 2002.
para nos nortear! Todos nós sabemos que o POP é um BRASIL. Ministério da saúde. Agência Nacional de Vigilância
documento seqüencial, mas por onde começar organizar as Sanitária. Resolução RDC nº216, de 15 de setembro de 2004.
informações? Como dispor isso em tabelas? Portanto, esse Dispõe sobre o regulamento técnico de boas práticas para serviços
modelo foi bom para mostrar a organização estrutural do POP, de alimentação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 set.2004.
facilitando muito a montagem do documento.” (G.S.B., 19 NASCIMENTO NETO, F. Roteiro Para Elaboração de Manual de
anos, aluna do 4° período). Boas Práticas. 2 ed. São Paulo: Senac, 2003.

4 CONCLUSÕES PINEZE, E. C.; CONSONI, R. C.; MARQUES, L. C. Procedimentos


operacionais de uma indústria farmacêutica: proposta de critérios de
elaboração. Fármacos e Medicamentos, v. 23, p. 26-32, 2003.
A elaboração do material didático vem contribuindo
positivamente na formação de alunos do curso de bacharelado SENAI/Departamento Nacional. Guia Passo a Passo para a
em Nutrição da UFCG, por facilitar o entendimento sobre o Implantação das Boas Práticas e do Sistema APPCC para
Consultor:MESA. PAS Mesa. Brasília:SENAI/DN, 2009.
documento e sua finalidade de uso, além de estabelecer uma
forma prática e autoexplicativa para a construção do mesmo,
favorecendo dessa maneira, a formação de profissionais que,
ao concluírem a graduação, abarcam o mercado de trabalho
com conhecimento e experiência na construção de
documentos importantes ao controle e segurança dos
alimentos produzidos em unidades de alimentação e nutrição.

5 REFERÊNCIAS

343 344
CAPÍTULO 25 positiva no manuseio dos alimentos, elevando a saúde e bem
estar dos idosos e funcionários.

IMPLANTAÇÃO DE MEDIDAS DE SEGURANÇA


Palavras-chave: Segurança alimentar; Contaminação de
ALIMENTAR EM UM ABRIGO DE IDOSOS
alimentos; Qualidade de vida.

Vanessa Alves ANDRADE 1. INTRODUÇÃO


Graduanda em Nutrição, FIP, vanessaalves.andrade@hotmail.com
Ana Letícia Antunes de Oliveira LOPES 2.
Graduanda em Nutrição, FIP, lelecaantunes@hotmail.com
A segurança alimentar é um desafio atual e visa à oferta
Francisco Alexandre SARAIVA-JÚNIOR
Graduando em Biomedicina, FIP, junior.tbn7@gmail.com de alimentos livres de agentes que promovem risco à saúde
Jessyellen Pereira de LIMA das pessoas. Assim, a fiscalização da qualidade dos alimentos
Graduanda em Nutrição, FIP, jessyellenlima@hotmail.com deve ser feita não só no produto final, mas em todas as etapas
Jorge Luiz Silva ARAÚJO-FILHO
Professor Orientador, Doutor, FIP, jorgearaujofilho@gmail.com
da preparação, desde o armazenamento e processamento, até
a distribuição para a ingesta (SILVA, 2006).
A qualidade de uma refeição é influenciada por
inúmeros fatores, entre eles a qualidade da matéria-prima, a
RESUMO: De acordo com a Organização Mundial de Saúde
higiene dos utensílios utilizados, manipuladores envolvidos no
(OMS), cerca de 26% das doenças provocadas por bactérias
processo, bem como o monitoramento de parâmetros, como
contaminantes de alimentos são causadas por contaminação
tempo e temperatura. A temperatura é um fator importante
oriunda dos próprios manipuladores. Diante desse fato o
para a população microbiológica presente nos alimentos, por
presente trabalho objetivou implantar medidas de segurança
isso a distribuição deve ocorrer com controle de tempo e
alimentar, utilizando diretrizes da Agência Nacional de
temperatura para minimizar a multiplicação microbiana e
Vigilância Sanitária (ANVISA) em um abrigo de idosos,
proteger de novas contaminações (KAWASAKI, 2007).
população essa que vem crescendo de forma acelerada no
Brasil. Para isso realizou-se uma avaliação da estrutura do Os perigos microbiológicos são as principais causas de
ambiente, além de treinamento dos manipuladores abordando contaminação dos alimentos e os manipuladores constituem a
métodos corretos de manuseio dos alimentos e do local de origem do problema e são grandes responsáveis pela sua
preparo dos mesmos, fatores que comprovadamente impedem contaminação microbiológica (SOUZA, 2006). O controle da
a proliferação microbiológica. Após o treinamento e algumas contaminação por microorganismos deterioradores e
alterações na estrutura observou-se uma transformação patogênicos nos serviços de alimentação é difícil e complexo
devido à grande variedade de alimentos preparados. Há
345 346
também o risco potencial de os manipuladores de alimentos explícitos, a fiscalização através da avaliação microbiológica
serem portadores assintomáticos de microrganismos do ambiente, dos utensílios, equipamentos e manipuladores,
patogênicos (MITCHEL, 2007). pode beneficiar a qualidade do serviço alimentício oferecido ao
usuário (ANDRADE et al., 2000).
Contaminações na preparação de alimentos são
responsáveis por uma grande incidência dos surtos de Diante dessas informações o referente trabalho teve por
doenças alimentares no Brasil, isto por causa da má finalidade levar informações precisas e preventivas de
higienização dos materiais (ANDRADE, 2003; CHESCA et al., segurança alimentar e saúde para esta instituição, embasadas
2003). Dentre as doenças transportadas pelos alimentos, no em estudos que fazem referência a importância e aos
Brasil, entre 1999 e 2002, foram estimados o aparecimento em malefícios que os microorganismos podem causar nos
certa de 176 surtos por Salmonella Sp, 60 por Staphylococcus indivíduos devido à contaminação ou deterioração dos
aureus, 09 por coliformes fecais e 06 por Shigella Sp. Neste alimentos, promovendo assim a segurança alimentar dos
mesmo período, foram notificados em São Paulo 878 surtos idosos por meio de mudanças do ambiente, e a forma de
de enfermidades transmitidas devido à contaminação de manuseio dos alimentos.
alimentos, com 20.471 de ocorrências (SILVA, 2005).
A higienização dos utensílios nos ambientes de
preparação de alimentos é de fundamental importância para a 2. METODOLOGIA
redução da quantidade de microorganismos nas superfícies. A
grande maioria das contaminações é causada pelo processo
de lavagem que é feito de forma incorreta, proporcionando O referente trabalho trata-se de um estudo
assim doenças de origem alimentar (SREBERNICH et al., observacional, onde foram realizadas visitas in loco,
2005). especificamente na Instituição de Longa Permanência para
Aparelhamentos e objetos que estão em contato direto Idosos (ILPI) de uma cidade do sertão da Paraíba, esse que
com os alimentos, devem passar firmemente por uma abriga vinte e cinco idosos, dos quais doze são homens e
avaliação microbiológica para domínio da eficácia do treze mulheres.
procedimento de higienização, evitando-se a contaminação Como prioridade, verificou-se a higiene das pessoas
dos alimentos produzidos (ANDRADE, 2003; MONTEIRO; que preparavam os alimentos, o estado dos mesmos, limpeza
BRUNA, 2008). do ambiente de manuseio das comidas, uso dos
Profissionais que trabalham diretamente com a Equipamentos de proteção Individuais (EPI’s), e
produção de alimentos devem ter atuações acima de tudo Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC’s). Foi considerado
preventivas. Baseado em planos de amostragem bem também as Normas Regulamentadoras do Ministério do
trabalho e Emprego, exigências da Agência Nacional de
347 348
Vigilância Sanitária (ANVISA), órgãos ambientais e a chão estava molhado quando muitos entravam. Foi proibido
orientação de um profissional consultor em biossegurança, entrada de pessoas fumando na cozinha, pois alguns idosos
com experiência na adequação dessas normas em inúmeros entravam fumando no local. Instalaram-se as sinalizações
ambientes. Além disso, disponibilizou-se treinamentos para necessárias para a segurança da preparação dos alimentos e
todos os funcionários desta instituição visando à segurança do ambiente, devido ao risco de contaminação.
deste ambiente. Explicou-se as responsáveis pela limpeza do banheiro
e enfermaria que não entrassem na cozinha com os aventais,
luvas e botas que usavam na limpeza, pois estavam levando
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES os microrganismos do banheiro e enfermaria para a cozinha, o
que chamamos de contaminação cruzada.
Ao começar o almoço foi alertada a importância do
De início, fez-se uma observação de como os cuidado de lavar as mãos antes de preparar a comida
funcionários que cuidavam das refeições se comportavam no mostrando-os a forma correta de fazê-la. Os produtos de
preparo do almoço dos idosos, deixando-os a vontade para limpeza se encontravam muito próximos ao fogão, assim como
agir normalmente. Visto que alguns cuidados com a o lixo. Logo, as modificações devidas foram feitas, realocando-
higienização dos alimentos foram esquecidos, como por os para local adequado. Demonstrou-se como armazenar
exemplo: lavar e selecionar os alimentos antes do preparo. corretamente as carnes e frios em geral de acordo com suas
Notou-se a falta do uso da touca, de luvas no preparo dos respectivas temperaturas de acondicionamento, e após a
alimentos, e pouca higienização individual e ambiental no limpeza da geladeira e freezer foram selecionados os
recinto, por exemplo. alimentos que estavam próprios para consumo, removendo os
Partindo deste ponto, no dia seguinte elaborou-se um que se encontravam estragados ou impróprios; tampou-se de
roteiro de boas práticas, baseado no Manual de Boas Práticas forma à isolar os alimentos que estavam desprotegidos, como
de Manipulação dos Alimentos inscrito pela ANVISA, para as frutas cortadas, vasilhas abertas, etc. Concluída a limpeza e
pessoas responsáveis pela cozinha, e as cuidadoras e higienização dos alimentos, continuou-se auxiliando no
responsáveis do local utilizarem. preparo do almoço, aconselhando a importância da touca.
Concluiu-se com sucesso essa parte prática, conseguindo de
Foi chamada a atenção das auxiliares, pois durante as
forma satisfatória obter a compreensão da responsável pelas
visitas observou-se a presença constante de pessoas da
refeições.
limpeza, cuidadoras, e até mesmo dos idosos na cozinha,
inclusive no momento em que as refeições estavam sendo Houve colaboração na limpeza do local para dar início
feitas. Também foram relatados os riscos físicos para os ao preparo da refeição. Após a lavagem da cozinha, ressaltou-
idosos, pois a cerâmica da cozinha não era antiderrapante e o se a importância de um ambiente limpo antes, durante e
349 350
depois do preparo dos alimentos, atentando para a higiene intoxicação alimentar ou até mesmo infecções, visto que as
não só do ambiente, mas, também dos alimentos, o que pessoas residentes no abrigo são de idade avançada e,
evitaria uma série de problemas, como a própria relatou um portanto, mais susceptíveis a doenças. Ao atentar para esse
problema com infestação de baratas e outros insetos. Houve fato, as responsáveis pelo manuseio dos alimentos
uma conversa explicativa, onde foram tiradas as dúvidas e aprenderam a importância de seguir a risca as normas pré-
deu-se continuidade com a sequência do roteiro e a estabelecidas e ensinadas como uma forma de prevenção de
higienização dos alimentos. contaminação até para elas, visto que muitas também
consomem desses alimentos. Desta forma, considera-se que a
solução para a melhoria do funcionamento da cozinha e a
garantia de alimentos seguros para idosos destas instituições
depende prioritariamente do treinamento e supervisão do
pessoal envolvido.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Figura1: Aspecto do ambiente de preparação de alimentos antes ANDRADE, N. J. et al. Avaliação das condições
(esquerda) e após (direita) a intervenção do projeto. microbiológicas em unidades de alimentação e nutrição.
Ciênc. Agrotec., v..27, n.3, p.590-596, maio/jun. 2003.

4. CONCLUSÕES
ANDRADE, N. J.; DIAS, A. S.; CARELI, R. T. Elaboração e
implantação de sistemas de higienização de microindústrias
Após avaliação inicial podemos constatar que a da região de Viçosa. In: SIMPÓSIO DE EXTENSÃO
qualidade da segurança alimentar na instituição estava UNIVERSITÁRIA DA UFV, 1., 2000 Viçosa. Resumos...
insatisfatória e precária, diante dessa realidade, iniciamos Viçosa: UFV, 2000. p. 37
intervenções sobre orientações e treinamentos como
determinam as diretrizes da ANVISA, ressaltando a
Jones TF, Angulo FJ. Eating in restaurants: a risk factor for
importância de cada processo para evitar problemas
foodborne disease? Clin Infect Dis. 2006; 43(10):1324-8.
decorrentes de presença de microrganismos nos alimentos, e
para que estes riscos não possam levar a casos de
351 352
Kawasaki VM, Cyrillo DC, Machado FMS. Sistematização de Souza LHL. A manipulação inadequada dos alimentos:
dados de tempo e temperatura para avaliação da fator de contaminação. Hig Aliment. 2006; 20(146):32-9.
segurança higiênico-sanitária, em unidades de
alimentação e nutrição. Hig Aliment. 2007; 21(149):35-40.
SREBERNICH, S. M. et al. Microbiological evaluation of
commercial sponges, used in industrial kitchens in the
LOPES, Aline Cristine Souza et al. Consumo de nutrientes em city of Campinas, SP. Rev. Hig. Aliment; v.19, n.132, p.75-78,
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cozinhas profissionais. VII Seminário Brasileiro do Aço
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<http://www.nucleoinox.org.br/new/downloads/inox04/alim_01.
pdf>. Acesso em 4 set 2008.

SILVA, L. F. Procedimento Operacional Padronizado de


Higienização como Requisito para Segurança Alimentar
em Unidade de Alimentação. 2006. 69 f. Dissertação
(Mestrado) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, 2006.

353 354
CAPÍTULO 27 resíduos orgânicos (637,1kg em três meses) foram coletados
e utilizados para produção do humús, sendo então
SUSTENTABILIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR: direcionados para cultivo de novas hortaliças.Por meio de
IMPLANTAÇÃO DE UMA HORTA ORGÂNICA NO estratégias como essas, que são de fácil implantação e
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE manutenção, torna-se possível proporcionar alimentos seguros
FEDERAL DE CAMPINA GRANDE, CAMPUS CUITÉ. e saudáveis de forma sustentável.

Miniamy Pereira NÓBREGA1 Palavras-chave: Orgânicos, saúde, sustentabilidade.


Rayanne da Silva BEZERRA1
Carolina de Miranda GONDIM² 1 INTRODUÇÃO
Janaina Almeida Dantas ESMERO²
1 Aluna do curso de Graduação em Nutrição pela UFCG; 2 Professora do curso de
Graduação em Nutrição pela UFCG; Segurança Alimentar e Nutricional tem sido um termo
plenamente discutido em diversas áreas e de uma forma
RESUMO: Segurança alimentar e nutricional consiste na resumida seu conceito consiste no direito de todos ao acesso
realização do direito de todos ao acesso regular e permanente regular e permanente a alimentos de qualidade, tendo como
a alimentos de qualidade, tendo como base práticas base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem
alimentares que sejam ambiental, econômica e socialmente a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
sustentáveis. Nesse contexto, temos que o consumo diário de econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).
alimentos contaminados com agrotóxicos estão relacionados a Partindo desse conceito traz-se uma reflexão a respeito
agravos a saúde da população, bem como ao meio ambiente. do consumo de alimentos e a forma como os mesmos são
Dessa forma, os produtos orgânicos mostram-se como uma produzidos em grande escala no Brasil e outras regiões do
alternativa de produção de alimentos, que minimizam esses mundo. A necessidade da utilização de agrotóxicos e
impactos. Portanto, este trabalho objetiva relatar experiências fertilizantes, no intuito de manter uma alta produtividade, tem
vividas por alunos e professores na implantação de uma horta levado a uma série de estudos que apontam para a presença
na Universidade Federal de Campina Grande, campus cuité. de contaminantes químicos em alimentos, identificando-os
Para tanto, foi inicialmente realizado o processo de como possíveis precursores para o desenvolvimento de
compostagem, tendo como subsidio a utilização de sobras inúmeras patologias, segundo análise de amostras coletadas
limpas advindas do processamento das refeições do em todas as 26 Unidades Federadas do Brasil, realizadas pelo
restaurante universitário do campus, produzindo a partir Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
desses um adubo utilizado para fertilização do solo e cultivo Alimentos (PARA) da ANVISA (apud CARNEIRO, 2012), um
da horta. Nesse aspecto, observou-se impactos positivos ao terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos
ambiente e saúde, visto que uma quantidade significativa de brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos.
355 356
Segundo a Word Health Organization (WHO) (apud Federal de Campina Grande (UFCG), na implantação e
SANTOS, 2014) e Carneiro (2012) a exposição a resíduos de manutenção de uma horta orgânica no campus de Cuité.
agrotóxicos podem acarretar efeitos agudos, como fraqueza,
espasmos musculares, convulsões, náuseas, vômitos, dentre 2 MATERIAIS E MÉTODO
outros. Além de efeitos crônicos que podem ser
desencadeados em logo prazo como câncer, malformações Trata-se de um relato de experiência relativo à
congênitas, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais. implantação de uma horta orgânica em um campus
Para Schilter (apud SANTOS, 2014) esse quadro é universitário.
preocupante, posto que, mesmo que os resquícios desses Inicialmente foi realizado o processo de
produtos tóxicos estejam dentro da tolerância prevista pelos biocompostagem dos resíduos limpos de alimentos, como
órgãos oficiais, podem não ser seguros para grupos de risco cascas, alimentos considerados muito maduros ou fora do
como crianças e bebês. Além disso, há ainda o risco de padrão para a produção de refeições, sobras limpas, entre
contaminação através do meio ambiente, envolvendo a água, outros, gerados no restaurante universitário do campus da
o solo e o ar contaminados. UFCG em Cuité-PB. Os resíduos eram coletados e pesados
O Brasil é hoje classificado como o maior produtor de diariamente, sendo posteriormente cortados em pedaços e
agrotóxicos do mundo (RIGOTTO, 2012), além disso, a depositadas em compostores, produzidos a partir de galões de
ANVISA aponta que “dos 50 agrotóxicos utilizados nas água mineral vencidos ou outros recipientes recicláveis. A
lavouras de nosso país 22 são proibidos na Uniao Européia” cada camada de alimentos depositada era realizada a
(CARNEIRO, 2012). cobertura da mesma com pó de serra, oriundo das madeireiras
O sistema de agricultura biológica ou orgânica surge da cidade, no intuito de se fazer o controle da umidade do
então como uma proposta de produção de alimentos que composto. Quando os compostores alcançavam um volume de
provoca o mínimo de danos aos ecossistemas, aos animais ou aproximadamente 70% da sua capacidade, dava-se início ao
seres humanos, agregando ainda outros benefícios voltados à controle do processo de compostagem que consistia na
sustentabilidade como a fertilização dos solos realizada a verificação diária da temperatura, aeração, umidade e odor.
partir de resíduos orgânicos gerados diariamente e Para a aferição da temperatura foi utilizado um
descartados em grandes lixões. termômetro digital tipo espeto (French Cooking by France® -
Diante da importância de todo o contexto envolto à com hastes de aço inoxidável de 15 cm) com o propósito de
alimentação segura e saudável, assim como das formas identificar a fase da compostagem. Já a aeração do composto
viáveis de sustentabilidade, o presente trabalho teve a era possibilitada a partir do revolvimento do material. Quanto à
finalidade de relatar a experiência vivida por alunos e umidade e odor, sempre que eram observadas alterações
professores, em um projeto de extensão da Universidade negativas, como excesso de água e odor desagradável,

357 358
adicionavam-se volumes maiores do pó de serra ou material
de jardinagem.
Quando o composto apresentava as características
almejadas de húmus(solto, com coloração escura e com
cheiro e consistência de terra) era então peneirado e utilizado
para a fertilização do solo e cultivo da horta que ocorreu em
parceria com o técnico agrícola do Canteiro Cheiro Verde,
unidade produtora e comercializadora de hortaliças sediada no
Figura 1. Produção dos compostores
município de Nova Floresta-PB, que cedeu parte das
sementes e mudas. Foram inicialmente cultivadas hortaliças
As coletas dos resíduos limpos de alimentos foram
de uso comum no RU como coentro, alface, tomate,
realizadas durante três meses e apresentaram quantidades
manjericão, hortelã, salsa, pimentão, beterraba, cenoura e
significativas de resíduos, sendo seu maior volume composto
maracujá, cujo quantitativo estava de acordo com a área
principalmente de partes vegetais não utilizadas. Na tabela 1
disponibilizada para essa finalidade.
descrita abaixo são demonstrados os quantitativos mensais de
material coletado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Quantidade mensal de resíduos orgânicos gerados
a partir de sobras limpas e aparas de alimentos produzidos no
restaurante universitário da UFCG campus Cuité
Sobre a quantidade de compostores utilizados no presente
Número de dias Quantidade
projeto, temos que para a construção de cada compostor Mês
com coleta (dias) coletada (kg)
foram utilizados dois galões de água mineral vencidos e
Junho 16 161,8
através da coleta de 14 galões doados por mercados
Julho 17 212,2
localizados na cidade produziu-se então 7 compostores. Além
Agosto 20 263,1
disso, foram elaborados compostores reutilizando baldes de
TOTAL 637,1
tinta de 20L vazios, resultando na produção de mais 3
compostores.
Ao observar a quantidade de resíduos que foi coletado
durante três meses é perceptível o impacto positivo da
compostagem sobre o meio ambiente, visto que, conforme
Santos (apud GÜNTHER; MANIERO, 2013), com a
minimização de resíduos, por meio da redução na fonte,

359 360
reutilização e reciclagem, há a oferta não somente de características ideais de utilização) em aproximadamente 60
benefícios ambientais mais também econômicos, pela dias, contrapondo-se ao encontrado na literatura em que o
diminuição de gastos com tratamento/disposição final e maior tempo final de compostagem é aproximadamente 120 a 130
eficiência no processo produtivo. dias (TEIXEIRA et al., 2004). Tal fato possivelmente está
No entanto, parte desse montante produzido pode ser relacionado ao controle diário efetivado quanto aos
reduzida através da melhoria das técnicas de parâmetros de processamento; ao tipo de alimento utilizado,
reaproveitamento dos alimentos para consumo humano. sendo principalmente vegetais in natura; assim como ao clima
Spinellie e Calle (2009) relatam que a capacitação de quente da região, o que pode ter favorecido o
funcionários é uma excelente ferramenta para a redução do desenvolvimento microbiano. A quantidade de resíduos em
volume de resíduos sólidos gerados, visto que o conhecimento cada compostor também pode ter relação direta com o tempo
de técnicas corretas de manipulação de hortifrutis e o final do processamento por apresentar um volume pequeno,
adequado dimensionamento do per capita podem reduzir de principalmente quando comparado ao processo de
forma significativa o volume dos resíduos produzidos. compostagem em pilhas, nos quais são utilizados grandes
Vale ressaltar ainda que devido à elevada demanda de volumes de resíduos. De acordo com Wangen (2010) o tempo
resíduos gerados diariamente foi necessária outra via de de decomposição/maturação da matéria orgânica depende da
alternativa para realização da compostagem, para isso foi temperatura e da umidade, da quantidade e do tipo de material
necessário a compostagem em solo, porém não serão a ser compostado.
relatados dados referentes a essa proposta no presente
trabalho.

Figura 3. Produção do húmus

Figura 2. Coleta e preparo do material: Pesagem, corte e deposição nos


Ao finalizar o processo de compostagem e obter-se o
compostores. adubo orgânico, foram então semeadas e plantadas
respectivamente as hortaliças em três canteiros de
Quanto ao processamento e produção do húmus, aproximadamente 3,5mX60cm, sendo distribuídas de forma
observou-se que este apresentou processamento rápido, diversificada, evitando-se dessa maneira o cultivo único por
chegando ao seu estágio final (momento em que atinge as canteiro, sendo então aguadas diariamente.

361 362
e proliferação de pragas urbanas. Além disso, a utilização de
alimentos isentos de qualquer substância química, além de
preservar o meio ambiente, proporciona aos comensais uma
alimentação de fato mais segura quanto à qualidade dos
alimentos, diminuindo os riscos de possíveis danos à saúde,
sejam eles atuais ou futuros.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Figura 4. Implantação e manutenção da horta BRASIL. Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN
Iuliano (apud GÜNTHER;MANIERO, 2013) relata que com vistas em assegurar o direito humano à alimentação
apesar da utilização de hortas em espaços educacionais não adequada e dá outras providências. Brasília, DF, 15 set. 2006.
ser uma novidade no cenário da promoção de saúde, poucas
CARNEIRO, F.F.; PIGNATI, W.; RIGOTTO, R.M.; AUGUSTO,
instituições apropriam-se dessa oportunidade e menos ainda L.G.S. RIZOLLO,A.; MULLER, N.M.; ALEXANDRE, V.P.;
se discute em estudos como abordar esse espaço com os FRIEDRICH, K.; MELLO, M. S.C. Dossiê ABRASCO –Um alerta
alunos. sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. ABRASCO, Rio
Além de tudo, é notório que a manutenção de espaços de Janeiro, abril de 2012. 1ª Parte. 98p.
como esses é considerada fácil e não exige a utilização de
GÜNTHER, V. M. R.; MANIERO, A. M. Ecohorta: tecnologia
grandes recursos, portanto deve ser constantemente
social para a sustentabilidade urbana. São Paulo: Faculdade
incentivada frente aos diversos benefícios que ideias como de Saúde Pública, 2013. 40p.
essas podem proporcionar para a saúde e meio ambiente.
RIGOTTO, R.M; CARNEIRO, F. F.; MARINHO, A. M. C. P.;
4 CONCLUSAO ROCHA, M. M.; FERREIRA, M. J. M. F.; PESSOA, V. M.;
TEIXEIRA, A. C. A.; SILVA, M. L. V.; BRAGA, L. Q. V.;
TEIXEIRA, M. M. O verde da economia no campo: desafios à
Diante do exposto é possível associar a produção de pesquisa e às políticas públicas para a promoção da saúde no
alimentos, saúde e sustentabilidade em práticas simples que avanço da modernização agrícola. Ciência e Saúde Coletiva.
Fortaleza, v. 17, n. 6, p. 1533-1542, 2012.
podem ser reproduzidas em qualquer espaço, seja ele
domiciliar ou não. Os resíduos orgânicos gerados, quando SANTOS, F ; FERNANDES, P. F ; ROCKETT, F. C ;OLIVEIRA, A.
bem destinados, podem prevenir ou diminuir problemas B. A. Avaliação da inserção de alimentos orgânicos provenientes
socioambientais agregando valor a produção orgânica de da agricultura familiar na alimentação escolar, em municípios dos
alimentos e diminuindo os problemas relacionados aos lixões
363 364
territórios rurais do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência saúde CAPÍTULO 28
coletiva. 2014, v. 19, n. 5, p. 1429-1436, 2014.

SPINELLI, M. G. N.; CALE, L. R. Avaliação de resíduos sólidos CONDIÇÕES HIGIENICO SANITÁRIA DO SERVIÇO DE
em uma unidade de alimentação e nutrição. Revista Simbio- ALIMENTAÇÃO DE UMA CRECHE DO MUNICÍPIO DE
logias.v. 2, n. 1, p. 21-30, 2009.
PITIMBU-PB
TEIXEIRA, L. B.; GERMANO, V. L. C.; OLIVEIRA, R. F.;
JÚNIOR, J. F. Processo de compostagem, a partir de lixo Hélida Thailana Silva NASCIMENTO1
orgânico urbano, em leira estática com ventilação natural. Fabiano Silva SANTOS1
Belém: Embrapa, 2004, 8 p. (Circular Técnica, 33). André Luiz Mendonça do NASCIMENTO¹
Noádia Priscila Araújo RODRIGUES2
WANGEN, D. R. B.; FREITAS, I. C. V. Compostagem doméstica: 1 Alunos do Curso de Gastronomia da UFPB; 2 Professora da UFPB
alternativa de aproveitamento de resíduos sólidos orgânicos.
Revista brasileira de agroecologia. v. 1, n. 2, p. 81-88, 2010.
Resumo: Sendo a creche um ambiente de ensino para
crianças menores de três anos de idade, aumenta-se a
preocupação com a segurança alimentar, já que esse pode ser
um meio de contaminação e propagação de doenças. Este
trabalho teve como objetivo analisar as condições higiênico-
sanitária e as boas práticas de manipulação de uma creche do
município de Pitimbu-Pb, cujos dados foram coletados através
da observação das condições de funcionamento da cozinha e
da aplicação de checklist baseado na Resolução/CD/FNDE nº
26/2013 (Art. 33) e a RDC 216/2004. Os resultados foram
adquiridos através das avaliações dos checklist o qual revelou
que, a cozinha se encontrava em más condições de
funcionamento colocando em risco a merenda produzida
nessa instituição. Um dos maiores fatores de riscos se
encontrava na ação dos manipuladores. As possíveis soluções
a serem aplicadas seriam o investimento em capacitação e
treinamentos para as merendeiras, a elaboração de um plano
de ação e um manual de boas práticas que esteja de acordo
com a realidade da creche e também algumas reformas.

365 366
alimentos saudáveis e ricos em nutrientes, pois alimentando
Palavras-chaves: Creche, Segurança Alimentar, Checklist, uma criança adequadamente irá permiti lá se desenvolver com
Boas Práticas de Manipulação. uma boa saúde intelectual e física, diminuindo ou mesmo
evitando o aparecimento de distúrbios e deficiências
1. INTRODUÇÃO nutricionais. (OLIVEIRA; et al, 2008).
O alimento é essencial tanto para o crescimento quanto
Os termos creche e pré- escola são geralmente para a formação física e mental, mas não se pode esquecer
confundidos, uma vez que a primeira é destinada para que, além disso, ele pode ser causador de diversas doenças
crianças de zero a três anos, enquanto a pré-escola abrangem principalmente de origem microbiológica. Segundo Richards;
alunos de quatro a seis anos de idade. (GALLASSINI, 2008). et. al, (1993), a merenda escolar é de fácil contaminação por
Por se tratar de uma instituição que cujo funcionamento é essa ser produzida em grandes quantidades, por ter um
em tempo integral, nos dias atuais a creche pública vem armazenamento inadequado, havendo demora na distribuição
ajudando a muitas famílias, principalmente pelo fato das e até mesmo as más condições de higiene e saúde do
mulheres nas ultimas décadas terem ultrapassado os limites manipulador de alimentos nesse caso a merendeira.
do lar e ao invés de ficar em casa cuidando dos filhos estão O simples fato das refeições realizadas durante o
saindo para trabalhar. período de permanência das crianças na creche pode
No entanto, sendo considerada como educação infantil, é representar para elas praticamente a única oportunidade ao
de grande importância não só nas creches, mas nas escolas acesso diário a comida rica nutricionalmente, aumentando a
em geral a garantia da segurança alimentar, da manipulação responsabilidade para os manipuladores, no sentido de não
de alimentos, de um ambiente limpo e livre de contaminantes. expor os alunos a complicações originadas por doenças que
Por se tratar de Unidades de Alimentação e Nutrição muitas vezes são transmitidas por uma manipulação incorreta,
(UAN). Segundo Cardoso; et al, (2010), as refeições podendo trazer insegurança no consumo das refeições.
produzidas nas cantinas escolares devem suprir às (MOREIRA et. al)
necessidades nutricionais da clientela atendida, os alunos, Hoje existe uma preocupação com a segurança alimentar
oferecendo produtos adequados de acordo com os aspectos uma vez que alimentos contaminados por microrganismos
sensorial e nutricional, mas, principalmente, produtos seguros podem causar infecções ou intoxicação levando a níveis mais
quanto à condição higiênico-sanitária para a garantia de saúde graves em crianças e idosos, diante disso Oliveira; et al,
e bem estar. (2003), asseguraram que a educação e o treinamento dos
Uma das principais responsabilidades da creche é a manipuladores são a melhores maneiras para garantir a
alimentação, pelo fato de estar relacionada a alunos nos seus qualidade da alimentação.
primeiros anos de vida, necessita que na merenda inclua Sabe-se que não existe uma legislação exclusiva para
cozinhas de creche ou escolas, portanto a legislação é a
367 368
mesma utilizada para cozinhas industriais a RDC 216 que 3. RESULTADOS E DISCURSSÃO
dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para
serviços de alimentação, na qual abordam as atividades de Os resultados que serão descritos a seguir foram obtidos
preparação, armazenamento, manipulação, transporte de através da analise dos checklist.
alimentos prontos e os meios de exposição que o alimento A creche funciona em tempo integral de 07h15min as
pode sofrer. 17h00min, a qual é servida os seguintes tipos de refeições: o
Devido à importância da segurança alimentar na saúde desjejum, o lanche da manhã e da tarde, o almoço e o jantar.
das crianças, esse estudo tem como objetivo avaliar as Boas A distribuição e o consumo da merenda são feitas em uma
Práticas de Fabricação- BPFs e as condições higiênico sala de aula que também funciona como refeitório atendendo
sanitárias em uma determinada creche no município de em média trinta alunos até o almoço e dezoito o restos do dia,
Pitimbu-PB. as merendeiras procuram adotar meios para que não haja
sobras atendendo assim apenas os alunos, evitando o
2. MATERIAIS E MÉTODOS desperdício.
Na avaliação dos edifícios e instalações foi visto que
Esse trabalho faz parte do projeto de iniciação cientifica
tanto na área de preparo, quanto na de armazenamento dos
da UFPB o qual foi realizado por meio da aplicação de
alimentos o piso e paredes apresentavam íntegros, limpos e
checklist que tem como base a Resolução/CD/FNDE nº
livre de rachaduras conforme a figura 1 já os ralos eram
26/2013 (Art. 33) e a RDC 216/2004.
sifonados com tampa de proteção impedindo a entrada de
Através dos checklist foram observadas as boas práticas
baratas e roedores, além disso, estava em boas condições de
de fabricação, as condições dos edifícios e instalações da
higiene e em todos os setores as instalações elétricas são
área de preparo e de armazenamento dos alimentos, a higiene
embutidas de tal forma a permitir a higienização dos
dos manipuladores e dos equipamentos, o recebimento da
ambientes.
merenda, os processos de produção, a higiene ambiental, o
cuidado com o lixo, com a água e também a questão do
controle de vetores e pragas.

369 370
Figura 1: cozinha da creche Fonte: Imagem da Pesquisa,2014
Figura 2: Janelas e Portas Fonte: Imagem da Pesquisa, 2014.

A iluminação era uniforme sem a presença de cantos


escuros, porém uma vez posicionadas na área de
Segundo a RDC as portas e janelas devem ser de
manipulação não apresentava nenhum sistema de proteção
fechamento automático, se houver aberturas elas precisam ser contra quedas e acidente, isso iria garantir a integridade física
providas de telas milimetradas removíveis para facilitar a e uma melhor segurança no trabalho. Assim como a RDC
exige é inexistente a utilização de ventiladores ou qualquer
limpeza periódica (ANVISA, 2004). E ao contrário do que a
outro aparelho de ar condicionado nas áreas de manipulação,
legislação exige as portas e janelas da área de preparo são de no qual identificou que a ventilação é natural advinda de
madeiras, na cor azul escuro de acordo com a imagem 2, são aberturas de janelas. Ainda é nula a existência da instalação
dotadas de fechamento manual, as janelas possuem aberturas de lavatórios exclusivos para a as mãos dos manipuladores e
diante dessa situação as merendeiras deixam de lavar as
sem a presença de tela milimetrada podendo assim, haver
mãos com frequência e quando lavam é na pia de
contaminação cruzada quando o manipulador abre a mesma e manipulação e higienização dos utensílios e equipamentos.
também facilita a entrada de pragas pelas aberturas das A higienização da cozinha é feita após o termino do
trabalho, contudo não seguem os critérios estabelecidos pela
mesmas, o teto da cozinha estava com goteiras e alguns
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que
bolores e por ser composto de telhas é de difícil higienização. deveria ter uma ordem de lavagem com água e sabão ou

371 372
detergente, enxague e desinfecção química: deixar o Já os estoques dos alimentos perecíveis são feitos em
desinfetante em contato mínimo de 15 minutos e por ultimo refrigeradores (geladeiras) o qual foi visto que o número
enxágue. Ainda não é excluída a ação de varrer a cozinha a
desses equipamentos é insuficiente para manter o alimento
seco.
O armazenamento dos alimentos fica em um local de seguro, havia dois refrigeradores a porta de um, estava
fácil acesso a cozinha, as portas seguem as mesmas fechada com o auxilio de um cabo de vassoura conforme
características citadas anteriormente na área de preparo dos
figura 4, os equipamentos não estavam limpos, havia o
alimentos, mas ao contrario da cozinha o teto é constituído de
laje sendo de fácil higienização e ainda estava integro limpo, acumulo de gelo nas paredes e teto. Diante do que foi exposto
livre de rachaduras e bolores, no local onde fica o estoque é nesse parágrafo, pode-se constatar a não garantia de alimento
isento de janela, mas foi observada a existência de um cobogó
seguro já que não há um controle de higiene e nem de
conforme figura 3, o qual se encontrava coberto por uma
espécie de papelão e fita adesiva, segundo a vice-diretora da temperatura, embora seja respeitada a ausência de caixas de
creche esse método foi usado para evitar a entrada de insetos papelão nos refrigeradores, a distribuição dos alimentos é feita
e pragas. Nesse local os alimentos são armazenados de forma de forma desorganizada podendo acarretar em uma
organizada em prateleiras feitas de concreto e revestidas com
cerâmica, sua higienização é feita por meio de lavagens; e a contaminação cruzada. E o material de limpeza é armazenado
retirada de produtos do estoque obedece ao sistema PEPS em armários localizado na secretaria ficando assim distante do
(Primeiro que entra é o primeiro que sai). setor de preparo e armazenamento.

Figura 3: Cobogó da dispensa Fonte: Imagem da Pesquisa, 2014.

373 374
termômetro a temperatura, examinar a existência de cristais
de gelo. E os alimentos reprovados precisam ser
imediatamente devolvidos ou identificados para devolução.
(ANVISA, 1999).
Na creche os fornecedores são selecionados com o tipo
de gestão do município e através de licitação e chamada
pública, para garantir a qualidade dos produtos a serem
adquiridos na alimentação escolar é feita uma descrição
detalhada dos gêneros no edital, a merenda é entregue a cada
15 dias, a entrega dos alimentos perecíveis e não perecíveis
são feitas em uma combe da prefeitura de Pitimbu, na
recepção só é analisada a data de validade na qual nunca
aconteceu de vim produtos vencidos.
No total há duas merendeiras uma trabalha no turno da
manhã e outra à tarde, mas quando foi aplicado o checklist por
motivos pessoais nenhum manipulador se encontrava e quem
se encarregou de fazer a merenda daquele dia foi à vice-
diretora, portanto o que for dito a respeito dos manipuladores
foi informações adquiridas a partir da mesma. Os
manipuladores trabalham sem uniforme completo usando
apenas a touca, os exames médicos não são renováveis
podendo ser um meio de transmissão de doenças e até
mesmo contaminação cruzada, trabalham com adornos e não
Figura 4: Geladeira escorada com um cabo de vassoura são afastados quando sofrem afecções clinicas, e como não
Fonte: Imagem da Pesquisa, 2014. usam uniformes também não tem vestiários e além disso, elas
não são instruídas a nenhuma prática higiênico sanitária.
Para garantir uma boa e segura preparação deve-se Na creche é disponível um banheiro exclusivo para os
pesquisar e conhecer bem os fornecedores além de verificar funcionários e fica localizada na secretaria da direção, a porta
as condições de higiene do transporte de entrega e do segue o mesmo padrão da área de preparo, não tem janela
entregador, nos insumos, analisar as características do havendo apenas um cobogó, apresentando-se em um bom
alimento, as embalagens que devem estar intactas e com a estado de conservação, é adotado de vaso sanitário com
data de validade em dia, em alimentos perecíveis verificar com tampa, mas a descarga estava com problema sendo feita
375 376
através de um balde, no banheiro há uma pia com torneira pipa e seu armazenamento é improvisado em tambores de
dotada de fechamento manual e provida de água corrente plástico tampados conforme figura5.
para a lavagem das mãos, porem estavam ausentes produtos
para a higiene pessoal tais como o sabão anticéptico e o papel
descartável, a lixeira é aberta a qual está fora do padrão que
deveria ser tampada e com acionamento por pedal, os
sanitários ainda são conectados a fossa asséptica que fica na
parte externa ao lado da cozinha.
Foram feitas algumas analises a respeito do pré-preparo
e preparo dos alimentos, o descongelamento é realizado em
condições seguras sob-refrigeração, a higienização de
hortifrutes seguem os critérios de retirar partes do alimento
que estão em deterioração, lavagem em água corrente,
imersão do alimento em solução clorada nesse caso elas
usam cerca de uma colher de água sanitária para um litro de
água potável, mas o ideal seria a utilização de hipoclorito de
sódio, pois provavelmente tem a presença de alvejante na
composição da água sanitária e em seguida elas fazem o
enxague dos mesmos em água potável; não é oferecido
alimentos submetidos à fritura que por se tratar de crianças é
de extrema importância, e os ovos servidos são submetidos à
cocção até o ponto de gema dura sendo excluídas
preparações feitas a partir do ovo cru. Quando a merenda é
pronta, logo é servida, assim o tempo de exposição não
ultrapassa duas horas.
A água do setor de alimentação utilizada tanto para
Figura 5: Baldes de água sendo enchidos;
limpeza quanto na higienização dos equipamentos e utensílios Fonte: Imagem da Pesquisa, 2014.
é proveniente da rede pública sendo direcionada para caixa
d’água e sua higienização é feita a cada seis meses pelos O manejo de resíduos da área de preparo é feita em
agentes de saúde do município. Já para o preparo dos recipientes dotados de tampa acionadas com contato manual,
alimentos a água utilizada vem de uma fonte localizada em íntegros e com saco plásticos que são retirados sempre que
Praia Azul- PB, o transporte dessa água é realizada em carro
377 378
preciso e são estocados em um lixeiro aberto (sem tampa) informações sobre o que uma alimentação insegura pode
localizado na frente da creche ficando a prefeitura responsável causar.
pela coleta diária dos resíduos. A principio, o controle de O que caberiam nas reformas seria a construção de um
vetores e pragas é feitos por meio da prevenção mantendo os refeitório com lavatório para as crianças, também a edificação
ralos tampados e higienizados, além da dedetização feita por de lavatórios na área de preparo dos alimentos, e a compra
empresa terceirizada uma vez no ano, porem não existe dos uniformes. Outra solução cabível seria a adoção e a
nenhum documento na creche que comprove o controle conscientização do uso de uniformes, pois, além de influenciar
integrado de vetores e pragas. na segurança alimentar é um ato de segurança do trabalho; e
proibir a utilização do uso de adorno o qual poderá ocasionar
4. CONCLUSÕES riscos físicos.
Deve-se fazer a implantação de pelo menos os quatro
Através dos resultados apresentados nas analise dos POPS - Procedimento Operacional Padronizado obrigatório na
checklist pode-se observar uma falta de boas práticas nos escola, de acesso aos manipuladores de alimentos que são o
aspectos que envolvem a manipulação dos alimentos e POP Higienização de instalações, equipamentos e móveis;
também um grande problema na estrutura e nos POP Controle integrado de vetores e pragas urbanas; POP
equipamentos. Higienização do reservatório; POP Higiene e saúde dos
Sabendo da importância da segurança alimentar e diante manipuladores.
dos resultados obtidos, uma possível solução seria o Portanto, é necessária a adoção das possíveis soluções
investimento em treinamentos e capacitação nos serviços de por parte do responsável técnico junto com a prefeitura
alimentação e também a compra de novos equipamentos, a municipal fazendo sempre que possível à inspeção e
elaboração de um plano de ação e um manual de boas monitoramento na creche e ad0otando políticas de
práticas de acordo com a realidade da creche e também conscientização para as merendeiras. Criar junto com os
algumas reformas. professores oficinas para os alunos incentivando a adoção da
Diante dos resultados pode-se constatar que de certa comida saudável e a importância da higiene alimentar.
forma as merendeiras tem uma noção de boas práticas dos
serviços de alimentos e sabe um pouco da importância de
uma alimentação segura, porém só o treinamento e
capacitação das merendeiras não adiantaria muita coisa se
depois não houvesse uma inspeção e nem monitoramento de
tais atos. Também era de excelente importância elaborar
campanha e palestras para os alunos no intuito de transmitir

379 380
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ambiente urbano pobre: ressonâncias no ecossistema
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381 382
CAPÍTULO 29 Práticas de Manipulação de Alimentos por parte das
merendeiras participantes do projeto, porém, é de extrema
VERIFICAÇÃO DO(S) CONHECIMENTO(S) DE necessidade oferecer de forma intensiva treinamentos sobre
MERENDEIRAS SOBRE BOAS PRÁTICAS DE BPF, para garanti uma melhor qualidade nas refeições.
MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS: UMA VISÃO
EXTENSIONISTA DO CURSO DE GASTRONOMIA DA Palavras-chave: Alimentação Escolar. BPF. Higiene dos
UFPB alimentos. Gastronomia.

Fabiano Silva dos SANTOS1


Hélida Thailana Silva NASCIMENTO1 1. INTRODUÇÃO
André Luiz Medonça NASCIMENTO1
Noádia Priscila Araújo RODRIGUES2 Sabe-se que atualmente existe uma preocupação com a
1. Alunos do curso de Bacharelado em Gastronomia pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB); 2. Mestre em Ciências da Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba e qualidade dos alimentos, que depende das Boas Práticas de
Professora do curso de Bacharelado em Gastronomia da UFPB. Manipulação de Alimentos para que se obtenha alimentos
seguros do ponto vista nutricional, físico-químico e
RESUMO: Quando se prepara grandes quantidades de microbiológico. Assim os treinamentos com os manipuladores
alimentos, como é o caso das merendas escolares, aumenta- de alimentos na área de produção de refeições no mundo e no
se os perigos microbiológicos, caso haja, uma manipulação Brasil, por extensão, têm-se tornado constante entre os
inadequada desses alimentos. Neste contexto, o manipulador nutricionistas e demais profissionais da área de alimentos a
de alimentos tem uma forte ligação na cadeia epidemiologia oferta de treinamentos para os Manipuladores de Alimentos da
da intoxicação alimentar, tornando-o assim um indivíduo Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) (ABREU et al.,
incisivo no conjunto de processos que se disseminam os 2012).
microrganismos patogênicos. Assim se torna de extrema Torna-se necessário à observação que a atividade de
importância o conhecimento dos manipuladores, no caso treinar os manipuladores de alimentos não é tão simples
desse trabalho as merendeiras em boas práticas de (SOUZA SILVA et al., 2012).
manipulação de alimentos (BPF’s). Desta forma, tal estudo Para ver a importância dessas merendeiras é preciso
teve por objetivo verificar, através de dinâmicas feitas com as saber um pouco do Programa Nacional de Alimentação
merendeiras de uma escola municipal no município de Escolar (PNAE), conhecido como merenda escolar, criado em
Pitimbu, o conhecimento prévio sobre as Boas Práticas de 1955, repassa recursos financeiros para garantir a oferta da
Manipulação de Alimentos. Trata-se de um estudo transversal, alimentação escolar aos alunos da Educação Infantil (creche e
do tipo descritivo e analítico. Constatou-se que existem pré-escola) e do Ensino Fundamental matriculados em escolas
conhecimentos prévios sobre algumas normas de Boas
383 384
públicas e filantrópicas cadastradas no Ministério da Educação Com base nessas informações, este trabalho teve por
(BRASIL, 2006). objetivo avaliar o conhecimento das merendeiras da Escola
Com isso a preocupação com a qualidade nos serviços Municipal Maria Tavares de Pitimbu-PB, sobre higiene pessoal
de alimentação coletiva tem se tornando mais importante e BPF na produção de alimentos.
quando se refere ao PNAE, cuja clientela atendida nas escolas
públicas e entidades filantrópicas da pré-escola ao ensino 2. MATERIAIS E MÉTODOS
fundamental, integra a faixa de idade que é considerada mais
vulnerável as doenças advinda de uma alimentação Trata-se de um estudo transversal, do tipo descritivo e
inadequada aliada as condições socioeconômicas precárias analítico. A realização desse estudo foi feito nas dependências
deste segmento (VIEIRA et al., 2005). da cantina da Escola Municipal Maria Tavares com uma
As Boas Praticas de Fabricação (BPF) são um conjunto de merendeira e uma auxiliar de merendeira no município de
normas empregadas em produtos, processos, serviços e Pitimbu- PB. Com base na Resolução - RDC n° 275, de 2 1 de
edificações, visando a promoção e a certificação da qualidade outubro de 2002. Foram realizadas duas dinâmicas para
e da segurança do alimento. No Brasil, as BPF são legalmente avaliar os reais conhecimentos das merendeiras sobre higiene
regidas pela a Portaria n° 1428, de 26 de novembro d e 1993 pessoal e BPF na produção de alimentos.
(BRASIL, 1993) e a Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de Por se tratar de uma extensão é autorizado à utilização de
1997 (BRASIL, 1997). A qualidade da matéria- prima, a fotos para mostrar nesse trabalho as dinâmicas e os referidos
arquitetura dos equipamentos e das instalações, as condições resultados. As Dinâmicas realizadas foram uma encenação no
higiênicas do ambiente de trabalho, as técnicas de qual os participantes deveriam acertar sete erros de
manipulação dos alimentos, a saúde dos funcionários são manipulação higiênica dos alimentos e a outra foi realizada
fatores importantes a serem considerados na produção de afim de verificar se ambas as merendeiras junto com os
alimentos seguros e de qualidade, devendo ser considerados extensionistas sabiam fazer o procedimento de lavar as mãos
nas BPF. conforme a legislação recomenda, essa dinâmica consistia em
Desta forma, segundo Nascimento e Barbosa (2007) por um pouco de tinta guache nas mãos e os participantes
quando há a implantação das BPFs, principalmente para os com os olhos fechados deveriam lavar corretamente sem
manipuladores de alimentos de escolas e creches é deixa nenhum espaço sem a tinta. Por questões Éticas as
imprescindível para garantir a qualidade alimentar. O merendeiras serão identificadas pela letra A e B. A seguir
treinamento e aplicação é a forma mais eficaz e econômica serão mostrado através de imagens as dinâmicas com o
para superar as inadequações existentes na manipulação de respectivos resultados.
alimentos, evitando deste modo a contaminação cruzada, o
armazenamento e o preparo inadequados e as contaminações
por parte dos próprios manipuladores.
385 386
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos dá-se através das respostas dadas


pela merendeira e pela auxiliar, tudo observado e anotado em
um caderno no decorrer das dinâmicas, a fim de perceber as
reações das mesmas. A seguir será mostrado como foi feito as
dinâmicas e em seguida os resultados obtidos.
A figura 1 demostra a dinâmica dos sete erros, que foi
feito da seguinte forma, um aluno extensionista entrou na
cantina sem toca, sem o uniforme adequado, portando relógio
e pulseira e não houve a lavagem das mãos, em seguida ele
manipulou vários alimentos com os mesmos utensílios sem Figura 1. Dinâmica dos 7 Erros. Pitimbu- PB, 2014.
que houvesse a higienização adequada caracterizando a Fonte: Arquivo Próprio, 2014.

contaminação cruzada. Segundo as BPF (BRASIL, 1993) e a


Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997 (BRA SIL, Observa-se nessa imagem que a recepção das
1997) que diz que qualidade da matéria- prima depende das manipuladoras foi de surpresa e de impacto por se virem em
condições higiênicas do ambiente de trabalho, as técnicas de uma situação habitual com um toque de emoção, durante o
manipulação dos alimentos uma vez que, o manipulador tem desenvolver da dinâmica a merendeira começou a falar que o
uma forte ligação na cadeia epidemiologia da intoxicação manipular não deveria manipular vários alimentos na mesma
alimentar, tornando-o assim um indivíduo incisivo no conjunto tábua sem a devida higienização, dando a entender que
de processos que se disseminam os microrganismos poderia haver a contaminação cruzada entre os diversos
patogênicos. alimentos manipulados, já a merendeira B indagou que o
manipulador não deveria ter entrado na cantina sem a
utilização de toca. As BPF são os melhores procedimentos
utilizados para tornar mais eficaz e econômica a manipulação
de alimentos, evitando assim a contaminação cruzada, o
armazenamento e o preparo inadequados e as contaminações
por parte dos próprios manipuladores (BRASIL, 1997).
Na imagem 2, é possivel observar a segunda dinâmica,
na qual foi dividido em duas equipes, sendo um extensionista
e uma merendeira e ambos teriam que fechar os olhos, foi
posto na mão de todos uma quantidade x de tinta guache azul

387 388
e a proposta era: eles tentarem lavar as mãos de forma .
correta como se é dito na legislação sem deixar nenhum
espaço sem que houvesse tinta azul em suas mãos. Em
diversos trabalhos foram diagnosticados as falhas no processo
de higienização dos manipuladores que segundo Ribeiro et al.,
(2000) ressaltam a importância da lavagem das mãos como
principal medida para reduzir a quantidade de microrganismos,
melhorando a segurança alimentar.
De acordo com Góes e colaboradores (2001) a
educação e o treinamento periódico dos manipuladores de
alimentos, são importantes para a manutenção da qualidade
higiênico-sanitária dos produtos alimentícios, já que a maioria
das toxinfecções alimentares está relacionada com a
contaminação do alimento pelo manipulador. Figura 2. Dinâmica de como lavar as mãos corretamente. Pitimbu- PB,
2014. Fonte: Arquivo Próprio, 2014.
Na imagem seguinte foi verificado que mesmo por se
tratar de uma dinâmica na qual estava sendo posto o desafio
Em um estudo realizado por Souza Silva e
de quem sabia ou não lavar corretamente as mãos, se tornou
colaboradores, (2012) ao estudar as condições higiênico-
um momento de descontração, a dupla que conseguiu deixar sanitárias em um refeitório universitário avaliaram diferentes
menos espaços em branco foi o da extencionista e da aspectos relacionados às boas práticas, e observaram que o
merendeira B.
item uniformização, encontrava-se dentro dos padrões
exigidos, com 100% de adequação. Os manipuladores
apresentavam-se com uniformes completos e limpos,
utilizavam a touca corretamente e não utilizavam adornos no
local de trabalho.
Tal afirmativa corrobora com resultados alcançados por
Oliveira e Faria (2012), os quais avaliaram a contaminação
nas mãos de manipuladores de alimentos em uma UAN na
cidade de Cuiabá.. Eles ressaltam ainda a necessidade de se
fazer uma avaliação capaz de observar a aprendizagem dos
manipuladores, além da avaliação diária para observar se

389 390
estes conhecimentos, repassados nos treinamentos, estão Vale ressaltar que os treinamentos sobre boas práticas de
sendo utilizados na prática cotidiana. manipulação feita com os manipuladores de alimentos são
Outro trabalho realizado por Ribeiro e Schmidt (2007), importantes quando se fala em segurança alimentar, do ponto
relatou que, em um estabelecimento, nos Estados Unidos, a de vista da higiene alimentar.
lavagem de mãos não era frequente. Isso pode ser um ponto
crítico na preparação de alimentos, por poder desencadear a 5. REFERÊNCIAS
ocorrência de uma doença de origem alimentar (DTA).
ABREU, E. S.; TOIMIL, R. F. S.; SILVA, A. P.; KURIBAYASHI,
C. L.; SILVA, J. C.; VITO, P. S. Monitoramento da temperatura
4. CONCLUSÕES de refeições quentes transportadas porcionadas. E-Scientia, v.
5, n. 1, p. 03-08, 2012.
Com relação a merenda escolar que atende um amplo
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria MS n° 1.428, de
número de crianças em diferentes faixas de idades, nas
26 de novembro de 1993. Regulamento Técnico par Inspeção
escolas e creches, se torna necessário uma qualidade sem
Sanitária dos Alimentos.
margem de erros, uma vez que existem muitos pontos críticos
no processo. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 326, de 30 de
Como o manipulador é considerado o principal meio de julho de 1997. Regulamentação técnico sobre as condições
contaminação, a higiene pessoal e a aplicação de BPFs irão higiênicos-sanitárias e de boas práticas de fabricação para
propiciar a redução de risco por contaminação cruzada dos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
alimentos. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução no. 015, de 25
Como observado nas dinâmicas, as merendeiras da escola de agosto de 2000. Ministério da Educação – Fundo Nacional
possuem certo conhecimento sobre BPFs, uma vez que, já para Desenvolvimento da Educação.
utilizam de alguma forma técnicas de boas práticas, como
GÓES, J. A. W.; FURTUNATO, D. M. M.; VELOSO, I. S.;
higiene pessoal, porém o treinamento contínuo sobre a
SANTOS, J. M. Capacitação dos manipuladores de alimentos
produção de alimentos dentro dos parâmetros utilizados nas
e a qualidade da alimentação servida. Revista Higiene
BPF é essencial e deve ser realizado de forma lúdica, para o
Alimentar, v. 15, n. 82, p. 20-22, 2001.
aprendizado e fixação dos conhecimentos a fim de se garantir
um alimento de qualidade. NASCIMENTO, G. A.; BARBOSA, J. S. BPF – Boas Práticas
Porém, como sabemos as precariedades das condições de de Fabricação: uma revisão. Revista Higiene Alimentar, v.
manipulação dos alimentos pelas merendeiras, muitas das 21, n. 148, p.24-30, 2007.
vezes estão ligadas a falta de utensílios adequados para OLIVEIRA, R. R. A.; FARIA, C. P. Desenvolvimento, validação
manter essa qualidade. e implantação de procedimento operacional padronizado, para
391 392
higiene e saúde dos manipuladores de alimentos. Revista
Higiene Alimentar, n. 26, v. 210/211, p.56-60, 2012.
RIBEIRO, K. L.; SCHMIDT, V. Caracterização de
manipuladores de alimentos em escolas municipais de
Viamão, RS. Revista Higiene Alimentar, v. 21, n. 157, p. 58-
64, 2007.
RIBEIRO, Ana Cristina; REIS, Denio Oliveira; ROSSI, Daise
Aparecida. Procedimentos de higienização das mãos de
manipuladores, em uma indústria frigorífica. Higiene
Alimentar, v. 14, n. 70, p. 52-57, 2000.
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São Paulo, Prefeitura do Município de São Paulo.
Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação de Vigilância
em Saúde, Gerência de Comunicação e Educação, 2004a.

SOUZA SILVA, G.; SANTOS, R. F.; SILVA, R. C.;


CARVALHO, V. T.; SILVA, C. B.; PLÁCIDO, V. N. Avaliação
das condições higiênico-sanitárias do serviço de alimentação
(refeitório) do instituto federal sertão Pernambucano- campus
zona rural. In: VII CONGRESSO NORTE NORDESTE DE
PESQUISA E INOVAÇÃO. 2012. Tocantins, Anais do VII POLÍTICAS PÚBLICAS
Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação-VII
CONNEPI. Palmas: IFTO, 2012, p. 01-06. CORRELATAS À
VIEIRA, Claudete R. Nascimento; SILVA, Roberta Ribeiro;
MATINO, Hércia Stampini Duarte; CHAVASCO, Jorge Kleber.
Qualidade microbiológica da merenda escolar servida nas
ALIMENTAÇÃO E
escolas estaduais de Poços de Caldas. Higiene Alimentar,
v.19, n. 128, p. 90- 93, 2005. NUTRIÇÃO

393 394
exposto, o presente trabalho visa explanar sobre a maneira
CAPÍTULO 30 como o Município de João Pessoa organiza o
acompanhamento das condicionalidades da saúde, segundo
A ORGANIZAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DAS nossa percepção, enquanto nutricionistas da Rede de Atenção
CONDICIONALIDADES DA SAÚDE DO PROGRAMA à Saúde (RAS) do referido município. No decorrer do relato,
BOLSA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO PARAIBANO: relato de discutimos sobre a maneira como se estabelece o
experiência de nutricionistas inseridos na Rede de Atenção à acompanhamento do Programa em tela, bem como avanços e
Saúde fragilidades neste contexto. Destacamos que o nutricionista
pode ser um profissional fortalecedor deste processo, estando
Thaise Anataly Maria de ARAÚJO1 incluso em equipe multiprofissional e interdisciplinar,
Júllia Santos de SOUZA1 fomentando o cuidado integral e longitudinal dos usuários
Adriana Gomes Cézar CARVALHO2 beneficiários do programa.
Giseuda Dias MONTEIRO2
Katiana Araújo dos SANTOS3
1Residente Multiprofissional do Hospital Universitário Lauro Wanderley; ; 3 Nutricionista no Palavras-chaves: Condicionalidades, Equipes de Saúde da
Hospital Universitário Lauro Wanderley e mestranda em saúde coletiva e gestão hospitalar Família, Programa Bolsa Família.
pela Faculdade do Norte do Paraná; 3Nutricionista voluntária do Hospital Universitário Lauro
Wanderley
1 INTRODUÇÃO

Os primórdios históricos, bem como o advento do


RESUMO: O Programa Bolsa Família (PBF) apresenta três capitalismo são marcos da preocupação em prover assistência
eixos principais focados na transferência de renda, social aos mais pobres. Neste âmbito, tem-se que discussões
condicionalidades e ações e programas complementares. a respeito da associação entre a assistência e o trabalho
Sendo assim, as famílias beneficiárias necessitam cumprir, perpassam a ruptura com os padrões de relações típicas da
dentre a agenda de compromissos, as condicionalidades da ordem feudal e a visibilidade e emergência da pobreza no
saúde. Nesta perspectiva, o poder público deve ofertar tocante à questão social (MONNERAT et al, 2007).
contrapartida de serviços e, desta forma, os responsáveis pelo Deste modo, foram criados no Brasil, em meados da
acompanhamento e preenchimento dos Mapas de década de 90, os programas de transferência condicionada de
Acompanhamento do Bolsa Família são as Equipes de Saúde renda destinada à população em situação de pobreza. Porém,
da Família, existindo vigências semestrais, gerando até o ano de 2003 ainda havia experiências diferentes entre os
alimentação do Sistema vinculado ao Programa. Ante o Estados além das propostas federais, e somente no ano

395 396
supracitado, com a criação do Programa Bolsa Família (PBF), O PBF orienta uma gestão descentralizada, intersetorial
ocorreu a pactuação desses programas em nível nacional com e dotada de controle social. Sendo interessante reforçar que
aumento significativo de cobertura. as famílias beneficiadas também devem cumprir uma agenda
A legitimação do PBF ocorreu através da Medida de compromissos, as denominadas condicionalidades, as
Provisória nº 132 e marcou a unificação dos programas quais necessitam de contrapartida do poder público, no
federais Bolsa Escola, Auxílio Gás e Cartão Alimentação. tocante à oferta de saúde, educação e assistência social. É
Este, de inicio era voltado às famílias com renda per capita de válido explanar que em situação de não cumprimento de tais
até 100 reais e, a partir de 2006, de até 120 reais. As exigências, as famílias beneficiárias podem ser desligadas do
principais diferenças do programa em relação às experiências Programa (MONNERAT et al, 2007; SILVA, 2007).
de transferência de renda desenvolvidas durante a década de O Ministério da Saúde/MS é o órgão responsável pela
90 foram a possibilidade de extensão do benefício para gestão do acompanhamento das condicionalidades na área da
famílias pobres, sem filhos ou indivíduos biologicamente saúde, sendo este acompanhamento realizado pelas equipes
vulneráveis, além da utilização do Cadastro Único, criado de saúde dos municípios e dos estados, com apoio da
durando o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, Secretaria Nacional de Renda e Cidadania/Ministério do
como ferramenta para demarcar a população alvo. Desenvolvimento Social (BRASIL, 2012)
Foram conservadas algumas das condicionalidades Ante o supracitado, as condicionalidades de
estabelecidas nos programas anteriores de transferência de responsabilidade do setor saúde: acompanhar o cartão de
renda, como, o acompanhamento pré-natal, exigência de vacinação e o crescimento e desenvolvimento das crianças
frequência escolar das crianças de 7 a 15 anos e o menores de 7 anos e mulheres na faixa etária de 14 a 44 anos
monitoramento, por meio da rede pública de saúde, do quem se gestantes ou nutrizes (lactentes), devem realizar pré-
crescimento e desenvolvimento infantis e do esquema de natal e o acompanhamento da sua saúde e do bebê (BRASIL,
vacinação. De maneira simultânea, foram inseridas novas 2012). Entretanto, sabe-se que, talvez essas
ações complementares, que buscam fortalecer as "portas de condicionalidades, no caso da saúde, não ajudem a melhorar
saída" da pobreza, como apoio a agricultura familiar, cursos de os indicadores de saúde como um todo, pois essa melhora vai
alfabetização de adultos e microcrédito e capacitação depender de ações integrais, que envolvam todos os níveis do
profissional. sistema de saúde e não apenas algumas ações específicas;
Diante de críticas sobre o viés assistencialista dos expõe-se que o mérito dessa questão não cabe ao presente
programas de combate a pobreza no Brasil, o PBF envolveria trabalho (FONSECA; VIANA, 2007).
contrapartidas sociais destinadas a modificações mais amplas A Estratégia Saúde da Família é uma tentativa de
nos perfis de vulnerabilidade social e acesso aos direitos transformar as práticas da atenção à saúde e o trabalho dos
sociais. profissionais que nele atuam, sendo considerada alavanca
para a modificação do sistema como um todo. Além disso,
397 398
explana-se que visa centrar a atenção na saúde e conferir 2 RELATO
ênfase à integralidade das ações, focalizando o indivíduo
como sujeito integrado à família e à comunidade (BRASIL, Segundo Holliday (2006), a sistematização das
1996). Diante disto, no município de João Pessoa, os experiências configura-se em um desafio político pedagógico
corresponsáveis pelo acompanhamento e preenchimento dos pautado na relação dialógica e na busca da “interpretação
Mapas de Acompanhamento do Bolsa Família, no âmbito das crítica dos processos vividos”. Diante disso, o presente
condicionalidades de saúde, são as Equipes de Saúde da trabalho subsidia-se na percepção obtida por profissionais da
Família. Onde existem vigências semestrais, resultando em RAS do Município de João Pessoa, Paraíba, no que diz
alimentação do Sistema vinculado ao Programa. respeito à condução da organização do monitoramento das
O profissional da nutrição, por sua vez, encontra-se condicionalidades da saúde preconizadas pelo Programa
inserido na Rede de Atenção à Saúde (Ras) através dos Bolsa Família.
diversos níveis de atenção à saúde, como: Hospitais, Centros Salientamos que este relato se torna possível pela
de Atenção Integral à Saúde (Cais), Unidades Básicas de nossa inserção profissional na RAS, inclusive por uma de nós
Saúde, Serviço de Atenção Domiciliar e Estratégia Saúde da ter participado do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
Família, por meio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família do município em questão. Ressalta-se que na ocasião o Nasf
(Nasf), o qual se encontra no modelo de Apoio Matricial no adotava estrutura de Apoio Matricial, no qual se tornou
Município de João Pessoa e possui - entre suas atribuições – possível apropriar-se dos processos de trabalho das Equipes.
a de monitorar e avaliar em conjunto com a ESF os No concernente ao Programa Bolsa Família, os espaços de
indicadores de saúde, bem como acompanhar e desenvolver reunião de Equipe, ocorridos uma vez na semana, foram um
ações de prevenção e promoção da saúde. Este escopo dos momentos que permitiram a realização das reflexões ora
oportuniza ao profissional nutricionista a percepção de como pautadas, bem como o monitoramento do preenchimento dos
as ações de saúde, recomendadas pelo Programa citado, vem Mapas Semestrais de Acompanhamento do Programa em
desenvolvendo-se nos espaços em que atua. discussão, além da participação no Núcleo de Apoio à
Ante o exposto, o objetivo do presente trabalho é relatar Segurança Alimentar e Nutricional (Nasan), grupo de trabalho
acerca da percepção de nutricionistas da RAS quanto à que será melhor enfatizado a seguir.
organização do acompanhamento das condicionalidades da Ante o exposto, tem-se que o Nasan, vinculado à Área
saúde pelo município de João Pessoa, Paraíba. Temática de Saúde da Criança e Adolescente da Secretaria
Municipal de Saúde de João Pessoa, foi instituído visando
conferir um acompanhamento ampliado e qualificado às
demandas da nutrição em âmbito municipal, inclusive no
tocante ao PBF, contando com nutricionistas de toda rede e,

399 400
em especial, com os lotados no Nasf de cada Distrito Sanitário seus endereços, para que todos os contemplados pelo PBF
da cidade. viessem pesar e verificar a estatura, acrescentando-se
Durante as reuniões, que ocorriam quinzenalmente e inclusive os demais componentes da família, ou seja, não se
atualmente ocorrem mais espaçadamente, os representantes seguia o recomendado pelas próprias condicionalidades da
da área temática supracitada repassavam os informes tecidos saúde, quanto ao público alvo, já explicitado anteriormente. No
pelos Ministérios envolvidos com a gestão do Programa os caso das crianças o cartão de vacina também era avaliado.
quais compartilhavam os temas discutidos nas reuniões Assim sendo, avaliamos que o cuidado em saúde ficava
técnicas e matriciais, que ocorriam uma vez por semana cada aquém do esperado, uma vez que o quantitativo de usuários
e – dessa forma – objetivavam que as pautas fossem para realização desse procedimento era considerável,
repassadas para os membros das Equipes de Saúde da impossibilitando avaliação dos resultados obtidos e realização
Família. de possíveis orientações pertinentes quanto às necessidades
Ressaltamos que, por não haver nutricionista na Equipe de saúde inferidas. Dessa forma, o objetivo tanto do Programa
Mínima do Saúde da Família, os profissionais lotados o Nasf quanto da Atenção Primária a Saúde (APS), nesta perspectiva
não possuíam possibilidade de acompanhar diretamente todas não era alcançado em sua plenitude e, consequentemente,
as famílias cadastradas no PBF e, por isso, a estratégia do não se verificavam evoluções consideráveis dos indicadores
matriciamento era a mais efetiva, vislumbrando-se o de saúde da população assistida na localidade em questão, no
acompanhamento qualificado e o cumprimento de meta tocante ao que o PBF poderia potencializar positivamente.
estabelecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e da Diante das estratégias explicitadas, as Equipes foram
Saúde pelos demais profissionais da Equipe. sendo sensibilizadas quanto à importância de que os dados
É neste contexto que cabe explanarmos sobre as que devem ser computados na planilha de acompanhamento
informações do número de famílias acompanhadas pela do Programa são os conquistados a partir dos atendimentos,
agenda da saúde, que são coletadas duas vezes por ano para sejam individuais ou coletivos, ao longo do semestre,
registro no Departamento de Informática do Sistema Único de tentando-se, dessa maneira, potencializar as Linhas de
Saúde (DATASUS), sendo esses dados averiguados pelas Cuidado que perpassam as condicionalidades da saúde
Equipes e monitorados pelo Ministério da Saúde de acordo atribuídas ao Bolsa Família, a exemplo da: Saúde da Criança
com as vigências pactuadas, tal qual expostas inferiormente: e da Mulher.
1º Período: janeiro a junho Durante a evolução gradativa da maneira de como se
2º Período: julho a dezembro (BRASIL, 2012). acompanham os beneficiários do PBF, verificou-se que
Conferindo-se um recordatório do acompanhamento em algumas Equipes criaram livros, no qual há os campos
tela, afirmamos que inicialmente as Equipes de Saúde da solicitados no Mapa Oficial do PBF. Nos campos criados são
Família destinavam datas a partir da chegada dos Mapas anotados os dados dos usuários que vem à consulta, os quais
Oficiais, que já contém os nomes dos usuários beneficiários e são posteriormente apenas repassados aos Mapas da
401 402
Vigência, o que facilita o registro, uma vez que as próprias adotadas, apresentamos enquanto resultado parcial da
Equipes afirmam possuir pouco tempo destinado ao primeira vigência de 2014 o acompanhamento de 39.675
preenchimento desses mapas, o que por vezes prejudica a beneficiários, de um total de 46.616, resultando em 85,11%, o
cobertura desse acompanhamento. que ainda não foi amplamente divulgado pela Secretaria
Além disso, amplia a possibilidade de orientar, Municipal de Saúde, a qual o fará com o resultado final. Com
acompanhar longitudinalmente e encaminhar os usuários - esse resultado, ultrapassou-se o Pacto pela Saúde acordado
caso necessário - qualificando os dados informados, bem entre o Programa Bolsa Família e a Estratégia Saúde da
como o cuidado aos usuários de cada Equipe. Família, que estabeleceu uma meta de 73% de famílias
Ainda no tocante ao fomentar do acompanhamento das beneficiadas acompanhadas pela rede de cuidados, o que
condicionalidades da saúde do PBF, encaramos como positiva demonstra a evolução do Município no cumprimento das
a realização de oficinas sobre o Sistema de Vigilância condicionalidades do setor saúde.
Alimentar e Nutricional (SISVAN), que objetivava Ante o exposto, afirmamos que os matriciamentos e
primordialmente promover dados contínuos sobre as informes sobre o Programa em questão vêm corroborando
condições nutricionais e alimentares da população e encontra- maior eficácia do acompanhamento das condicionalidades de
se vinculado ao Programa através do SISVAN módulo de saúde, todavia refletimos que não necessariamente significa
gestão. Na ocasião desses matriciamentos, apresentaram-se melhoria da qualidade das informações prestadas e do
todos os formulários utilizados para implementação do cuidado continuado às famílias contempladas pelo mesmo.
SISVAN, bem como a maneira adequada de preenchimento É interessante comentarmos que, apesar das evoluções
dos mesmos, focando-se ainda no planejamento necessário citadas, ainda existe fragilidade em alguns integrantes das
ao desenvolvimento do Sistema pela Equipe. Reforça-se que Equipes de Saúde da Família, de diversos níveis de
dentre os formulários a ser preenchidos para a alimentação do escolaridade (superior, técnico ou médio) em compreenderem
Sistema, encontram-se os marcadores de consumo alimentar, o contexto ampliado das condicionalidades da saúde para o
que indicam a qualidade da alimentação em suas PBF, encarando-as apenas como o registro de informações
características tanto positivas, quanto negativas, assim sendo, como peso e altura, desconsiderando o significado que os
torna-se possível inferir se houve melhoria da alimentação dos resultados desses indicadores podem conferir ao avaliar o
beneficiários do PBF após serem contemplados pelo usuário em sua integralidade.
Programa. Entretanto reforçamos a importância de atualização No escopo do supracitado, cabe explanar sobre a
desses matriciamentos mediante a possível evolução dos puericultura, que é uma ferramenta que visa acompanhar o
sistemas de informação para o E-Sus. crescimento e desenvolvimento infantil e cuja faixa etária de
Corroborando a melhoria da cobertura do realização preconizada pelo Ministério da Saúde se
acompanhamento das condicionalidades da saúde do PBF assemelha ao acompanhamento do Bolsa Família, sendo isso
pela Estratégia Saúde da Família a partir das medidas justificado pelo fato das crianças serem mais vulneráveis e,
403 404
dessa forma, priorizadas nas políticas sociais de governo; o busca de realizar a cobertura adequada desse cuidado com as
que também se encontra atrelado às experiências exitosas mulheres das áreas de abrangência.
trazidas em estudos acerca das repercussões de programas No escopo do supracitado, consideramos importante
de transferência de renda condicionada na América Latina e salientar que as necessidades singulares dos indivíduos
África (DFID, 2006) os quais demonstraram, dentre outros devem ser consideradas e o olhar ampliado para o
aspectos, a redução da mortalidade infantil e melhoria das preconizado pela Estratégia Saúde da Família, a exemplo de
condições nutricionais das famílias atendidas. grupos educativos e realização de visitas domiciliares podem
Todavia, a puericultura realizada pelas Equipes ainda ser estratégias interessantes no tocante à promoção da saúde,
possui muita fragilidade, mesmo havendo capacitações prevenção de patologias e identificação de situações de risco.
promovidas aos profissionais sobre o tema, podendo-se Sendo assim, o envolvimento da equipe multiprofissional é
utilizar das interconsultas, objetivando à potencialização dessa fundamental no acompanhamento do público alvo do PBF
prática, já que as próprias cadernetas das crianças estão (GOMES, 2011).
sendo subutilizadas, não havendo o preenchimento adequado Apostilamos ainda que, embora o programa tenha
e explicação aos responsáveis pela criança da importância buscado a articulação entre alternativas seletivas e
daquele acompanhamento, o que confere ainda mais respaldo emergenciais de redução da pobreza e ações capazes de
à mudança de prática ocorrida nos últimos anos, no que diz potencializar e ampliar o impacto redistributivo de políticas
respeito às informações contidas nos Mapas. públicas, dificuldades significativas na estruturação e
O planejamento familiar abrange outro aspecto que regulamentação das ações e a fragilidade dos mecanismos de
perpassa o acompanhamento preconizado pelo PBF e deve monitoramento, conforme exposto no presente trabalho,
ser potencializado, já que as mulheres em idade fértil comprometeram as mudanças de natureza institucional e
igualmente necessitam ser acompanhadas pelas organizacional exigidas para a obtenção de resultados
condicionalidades da saúde. Contudo, as dificuldades nos criando, assim, limites e desafios para a gestão local; bem
aspectos qualitativos dessa demanda ainda possuem como comprometem o alcance dos objetivos ligados à criação
relevância, sendo o número considerável de gestantes das chamadas “portas de saída” do programa (MAGALHÃES
adolescentes merecedor de um olhar ampliado e a realização et al, 2007).
de planos de ação. Nesse sentido, o município de João Ressaltamos que a existência de áreas de influência, ou
Pessoa também possui dentre os indicadores de saúde meta seja, dos territórios sem cobertura da Estratégia Saúde da
focada na cobertura da prevenção do câncer cérvico-uterino Família, que se dá por conta do acelerado aumento
nas mulheres de 25 a 64 anos, o que transcorre parte da faixa populacional, se enquadra nos desafios do acompanhamento
etária preconizada pelo PBF e pode fomentar o cuidado em realizado pelo município em questão, uma vez que o cuidado
saúde dessas mulheres, estando as Equipes sempre em longitudinal torna-se inviável. Entretanto, cabe comentarmos
que o município dispõe de estratégias, para tentar minimizar
405 406
esta situação, como a disponibilização de Equipe de Atenção Salienta-se que o arcabouço legal que perpassa as
Básica (com exceção de Agente Comunitário de Saúde) em políticas públicas envolvidas com a temática em pauta passam
dois Cais, conferindo ao menos a possibilidade do por constantes modificações, cabendo aos gestores e
preenchimento do Mapa Semestral referente aos usuários que trabalhadores da saúde atualizar-se no tocante à construção
procurarem o serviço. de novas estratégias de condução das discutidas
Ao longo deste relato, dialogamos sobre avanços e condicionalidades. Não podemos esquecer da importância da
desafios referentes ao PBF no município de João Pessoa, participação popular no tocante à incessante luta pela garantia
podendo elencar outros diversos, mediante as experiências de seus direitos, que deveria ocorrer com mais afinco.
vivenciadas. Sendo importante explicitarmos a importância da Enquanto nutricionistas, entendemos que essa
corresponsabilização dos beneficiários no tocante ao categoria profissional por compor o Nasf pode ser
cumprimento das condicionalidades do Programa, o que ainda fortalecedora do processo de cuidado aos beneficiários do
necessita ser incentivado. Desta forma, um dos eixos que Programa em questão, atuando desde a realização de
beneficiários, profissionais e gestores precisam fortalecer é a interconsultas com os demais profissionais das Equipes a
educação permanente em saúde, visando fomentar um esses usuários, que possuem tamanha vulnerabilidade sócio-
adequado cumprimento das condicionalidades da saúde econômica-cultural, bem como fomentando matriciamentos
vinculadas ao PBF. sobre o tema, o que também influencia no desenvolvimento da
Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Salientamos
ainda a importância de que este trabalho ocorra multi e
3 COMENTÁRIOS interdisciplinarmente, sempre com vistas à integralidade dos
atores envolvidos no processo descrito.
Ante o exposto, percebemos que muito já se avançou
no que diz respeito ao acompanhamento das
condicionalidades da saúde através das estratégias
desenvolvidas pela equipe gestora do Município em tela e
implementadas pelas Equipes de Saúde da Família. Deve-se,
contudo, compreender que apesar do desenvolvimento
descrito, ainda existem muitos desafios que necessitam ser
superados, sendo a construção de estratégias
potencializadoras do acompanhamento efetivo dos usuários
beneficiários do Bolsa Família, um caminho essencial para o
alcance dessas perspectivas.

407 408
4 REFERÊNCIAS HOLLIDAY, O. J. Para sistematizar experiências. Tradução de:
Maria Viviana V. Resende. 2. ed., revista. – Brasília: MMA,
2006. 128 p. ; 24 cm. (Série Monitoramento e Avaliação, 2)
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1524, 2007.
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3, February, 2006. centrais na política de transferência de renda no Brasil.
Ciênc.Saúde Coletiva, v. 12, n. 6, pp. 1429-1439, 2007.
FONSECA, A. M. F. & VIANA, A. L. Á. Direito à saúde,
atenção básica e transferências condicionadas de renda na
América Latina. Ciênc.Saúde Coletiva, v. 12, n. 6, pp. 1505-
1512, 2007.

GOMES, F. B. F.Avaliação do Impacto das Intervenções no


Programação de Acompanhamento das Crianças no Primeiro
Ano de Vida na Estratégias de Saúde da Família Vila do
Príncipe do Município de Serro – MG. Universidade Federal de
Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Núcleo de Educação
em Saúde Coletiva. Corinto, 2011. 40f. Monografia
(Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família).
Disponível em:
<http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2692.
pdf>. Acesso em: 25 de Agosto de 2014.

409 410
CAPÍTULO 31

STAPHYLOCOCCUS AUREUS: FATORES DE


PATOGENICIDADE E INTOXICAÇÃO ALIMENTAR

Kataryne Árabe Rimá de OLIVEIRA1


Jossana Pereira de SOUSA2
Jousianny Patricio da SILVA3
1. Pós-graduando em Ciências da Nutrição - UFPB; 2. Pós-graduando em Nutrição – UFPE;
3. Metre em Ciências da Nutrição – UFPB.

RESUMO: Dentre os micro-organismos capazes de causar


Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA’s) destaca-se o
Staphylococcus aureus, que provoca uma intoxicação
alimentar típica e cuja patogenicidade está associada à sua
capacidade de crescer em variáveis condições e produzir
compostos extracelulares. Diante deste contexto, objetivou-se
realizar uma revisão bibliográfica sobre os fatores de
patogenicidade e a intoxicação alimentar estafilocócica. Foram
pesquisados artigos científicos originais e de revisão com
enfoque na patogenicidade e na intoxicação alimentar
causada pelo micro-organismo. S. aureus é uma espécie
microbiana que produz e secreta 30 ou mais fatores de
patogenicidade específicos, com destaque para proteínas
(toxinas), enzimas extracelulares e componentes da superfície
celular, nos quais os níveis de expressão são regulados por

MICROBIOLOGIA uma rede de interação de reguladores. As enterotoxinas que


causam a intoxicação alimentar são termoestáveis
permanecendo ativas no alimento por um longo período de
tempo. Dentre os gêneros alimentícios frequentemente
envolvidos destacam-se os produtos lácteos, produtos de
confeitaria, carnes curadas, saladas, recheios de sanduíche,
ovos e massas alimentícias. A elucidação das características
411 412
poderá facilitar no delineamento de estratégias de controle sistemas de regulação, o locus agr e o sistema SAE.
eficazes no propósito de diminuir o número de surtos (SAMBANTHAMOORTHY; SMELTZER; ELASRI, 2006).
provocados por esse micro-organismo. Dentre os gêneros alimentícios frequentemente
envolvidos em intoxicação alimentar estafilocócica destacam-
Palavras-chave: Staphylococcus aureus. Intoxicação se os produtos lácteos, produtos de confeitaria, carnes frescas
alimentar. Fatores de patogenicidade. e curadas, saladas, refeições prontas, recheios de sanduíche,
ovos e massas alimentícias (LE LOIR; BARON; GAUTIER,
1. INTRODUÇÃO 2003). Diante deste contexto o presente trabalho objetivou
realizar uma revisão bibliográfica a cerca da patogenicidade e
As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) intoxicação alimentar estafilocócica, no sentido de ampliar e
contaminados com micro-organismos patogênicos ou toxinas divulgar informações necessárias para o delineamento de
são um constante motivo de preocupação para a indústria medidas de controle de crescimento e sobrevivência desse
alimentícia, agentes fiscalizadores e consumidores de todo o micro-organismo.
mundo (SILVA et al., 2010). Dentre os diversos micro-
organismos envolvidos com DTAs, Staphylococcus aureus (S. 2. MATERIAIS E MÉTODOS
aureus) se destaca, sendo considerado um dos mais
importantes causadores de doenças em notificações pelo O presente artigo consiste em uma revisão da literatura
mundo (BOEREMA et al., 2006). científica referente à patogenicidade e intoxicação alimentar
A DTA causada por S. aureus é uma intoxicação típica, causada por S. aureus. Foram pesquisados artigos científicos
que ocorre devido à ingestão de alimentos que contêm as originais e de revisão, publicados entre os anos de 2000 e
Enterotoxinas (SE) pré-formadas e sua patogenicidade está 2014, perfazendo um período total de 14 anos, escritos em
associada com a sua capacidade de crescer em variáveis língua portuguesa e inglesa. As bases de dados acessadas
condições intrínsecas e extrínsecas e produzir diversos foram as disponíveis no portal de periódicos da CAPES
compostos extracelulares. Hemólise, núclease, coagulase, (www.periodicos.capes.gov.br) e os termos descritores
lipase, exotoxinas e enterotoxinas estão entre as proteínas e utilizados na busca foram: Staphylococcus aureus; fatores
enzimas extracelulares produzidas por S. aureus (DINGES; de patogenicidade; intoxicação alimentar estafilocócica. Após
ORWIN; SCHLIEVERT, 2000). o levantamento bibliográfico, realizou-se uma leitura
A síntese das proteínas estafilocócicas depende exploratória do material encontrado e em seguida efetuou-se a
diretamente da expressão de genes codificadores e ainda de leitura seletiva, a qual permitiu determinar quais informações
genes reguladores (JARRAUD et al., 2001). A regulação eram realmente de interesse desta pesquisa.
ocorre principalmente pela família de proteínas SarA e de dois

413 414
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO sendo extremamente vantajoso por fornecer proteção contra
adversidades e resistência a antimicrobianos (ARCIOLA;
3.1 FATORES DE PATOGENICIDADE DE S. AUREUS BALDASSARRI; MONTANARO, 2001).
Hemolisinas são proteínas extracelulares secretadas
S. aureus produzem e secretam 30 ou mais fatores de pelas cepas mais patogênicas de S. aureus e são dotadas de
patogenicidade específicos que interagem com as defesas do propriedades hemolítica, citotóxica e dermonecrótica
hospedeiro garantindo êxito em sua instalação e manutenção (DINGES; ORWIN; SCHLIEVERT, 2000). Vários tipos de
nos tecidos e que estão associados à sua capacidade células humanas podem ser afetadas pelas hemolisinas,
enterotoxigênica (DINGES; ORWIN; SCHLIEVERT, 2000). incluindo eritrócitos, linfócitos, monócitos, macrófagos e
Entre esses fatores destacam-se as proteínas/toxinas, células epiteliais.
enzimas extracelulares e os componentes da superfície As exotoxinas secretadas por S. aureus pertencentes à
celular. família de toxinas pirogênicas (SE e Toxina da Síndrome do
Nuclease, coagulase, proteases, lipase, hialuronidase, Choque Toxico 1 -TSST-1) e à família das toxinas esfoliativas
são algumas enzimas produzidas por esse patógeno. Juntas, podem possuir atividade imunomoduladora de superantígeno.
capacitam o micro-organismo a resistir às defesas do São consideradas superantígenos por estimularem uma
hospedeiro, aderir às células e moléculas da matriz resposta inespecífica de linfócitos T e a liberação aumentada
intercelular, invadir ou destruir as células, e a propagar-se de citocinas (BALABAN; RASOOLY, 2000).
dentro dos tecidos, podendo também disponibilizar os Os níveis de expressão das proteínas estafilocócicas são
nutrientes necessários para o crescimento bacteriano regulados por uma rede de interação de reguladores, os quais
(DINGES; ORWIN; SCHLIEVERT, 2000). incluem a família de proteínas SarA e de dois sistemas de
A proteína A possui a capacidade de se ligar e interagir regulação, o agr e o sistema SAE. O locus agr é um dos
com imunoglobulinas especificas (IgG) e não-específicas, sistemas mais bem estudados e sua expressão é ativada
além de outros componentes do hospedeiro. Tal quando as culturas bacterianas entram na fase de crescimento
comportamento torna a bactéria mais resistente à ação pós-exponencial, de forma dependente da densidade celular,
fagocítica dos neutrófilos (HARTLEIB et al., 2000). característica do Sistema quorum sensing dos S. aureus.
Peptidioglicanos e ácidos teicóicos estimulam a produção de (SAMBANTHAMOORTHY; SMELTZER; ELASRI, 2006).
citocinas, enquanto as adenisinas são proteínas que se ligam Devido as suas diversas características de
à fibronectina, ao colágeno e ao fibrinogênio, promovendo a patogenicidade, esses micro-organismos são responsáveis por
aderência da bactéria às células do hospedeiro. uma variedade de infecções invasivas agudas como furúnculo,
S. aureus também produze biofilme, uma matriz de impetigo, pústulas, além de processos mais extensos e graves
exopolissacarídeo, formada após o crescimento em meios como pneumonia, endocardites, meningites, artrite bacteriana.
especiais. Este muco agrupa as bactérias em microcolônias, As toxinas produzidas também apresentam ampla variedade
415 416
de manifestações clínicas, como celulite, Síndrome de Choque irritação da mucosa do estômago e intestino delgado
Tóxico, Síndrome da pele escaldada e intoxicação alimentar. (DINGES; ORWIN; SCHLIEVERT, 2000).
Em geral, a bactéria cresce no alimento e produz toxinas
3.2 INTOXICAÇÃO ALIMENTAR ESTAFILOCÓCICA sem danificar a qualidade e aceitação do produto. Muitos
alimentos ricos em proteínas manipulados extensivamente ou
em que outras bactérias crescem pouco, e que têm
As DTA’s são consideradas, atualmente, um grande
inadequação da sua temperatura ideal, estão associadas à
problema para a saúde pública mundial. Os contaminantes
gastrenterite estafilocócica. Dentre os gêneros alimentícios
microbiológicos, principalmente os bacterianos, são os
frequentemente envolvidos em intoxicação alimentar
agentes mais associados aos quadros de toxinfecções
estafilocócica destacam-se os produtos lácteos, produtos de
alimentares. Dentre esses, encontra-se o S. aureus, um dos
confeitaria, carnes frescas e curadas, saladas, refeições,
mais relacionados a surtos alimentares (LE LOIR; BARON;
recheios de sanduíche, ovos e massas alimentícias (LE LOIR;
GAUTIER, 2003).
BARON; GAUTIER, 2003).
A intoxicação alimentar ocasionada pelo S. aureus é
mais caracterizada por uma toxemia do que por uma infecção,
3.2.1 Enterotoxinas estafilocócicas
sendo então causada pela ingestão de alimentos com a
presença de SE pré-formadas pelas cepas enterotoxigênicas
As enterotoxinas estafilocócicas (SE) pertencem à
durante sua multiplicação, e não pelo efeito direto da bactéria
grande família das toxinas pirogênicas produzidas por S.
(SCHERRER et al., 2004).
aureus, partilhando características filogenéticas, estruturais,
A doença tem início repentino e severo com sintomas
funcionais e de sequência homóloga (BALABAN; RASOOLY,
que variam com o grau de suscetibilidade e peso do indivíduo,
2000).
concentração da enterotoxina no alimento e a quantidade do
As exoproteínas constituem grupo de proteínas de
alimento consumido (LE LOIR; BARON; GAUTIER, 2003). O
cadeia simples, com baixa massa molecular e ponto isoelétrico
período de incubação oscila entre 30 minutos e 8 horas,
entre 7,0 a 8,6. São ricas em aminoácidos lisina, ácido
porém os sintomas aparecem entre 2 e 4 horas após a
aspártico, ácido glutâmico e resíduos de tirosina. A maioria
ingestão do alimento contaminado, na maioria dos casos
apresenta alça de cistina, necessária para sua própria
(BANNERMAN, 2003).
configuração, e a qual está, provavelmente, envolvida na sua
A ação emética (vômito), sintoma observado com maior
atividade emética.
frequência na intoxicação estafilocócica, parece ter sítios
As SEs são hidrossolúveis e resistentes à ação de
localizados no intestino. A ação diarreica constitui o segundo
enzimas proteolíticas do sistema digestivo, permanecendo
sintoma mais comum na intoxicação. Embora seu mecanismo
ativas após a ingestão (LE LOIR; BARON; GAUTIER, 2003).
de ação ainda não esteja bem esclarecido, causa inflamação e
São termoestáveis possuindo a capacidade de resistir a
417 418
tratamentos térmicos como a pasteurização e a ultra 5. REFERÊNCIAS
pasteurização, o que leva essas toxinas a permanecerem
ativas no alimento por um longo período de tempo (CARMO et ARCIOLA C R, BALDASSARRI L, MONTANARO L. Presence
al., 2002). of icaA and icaD genes and slime production in a collection of
A produção da toxina ocorre durante toda fase do Staphylococcal strains from catheter-associated infections.
crescimento bacteriano, mas principalmente durante a fase Journal Clin. Microbiol, n. 39, p. 2151-2156, 2001.
exponencial (SORIANO et al., 2002). As condições ótimas de BALABAN, N.; RASOOLY, A. Staphylococcal enterotoxins.
temperatura, pH, atmosfera e atividade de água para International Journal of Food Microbiology, Amsterdam, v.
crescimento de Staphylococcus diferem das condições para 61, n. 1, p. 1-10, 2000.
produção de enterotoxinas, isso indica que poderá haver BANNERMAN, T. L. Staphylococcus, Micrococcus, and other
crescimento da bactéria e não ocorrer síntese de catalase positive coci that grow aerobically. In: MURRAY, P.R.;
enterotoxinas (RAY, 2005). BARON, E. J.; JORGENSEN, J. H.; PFALLER, M. A.;
As enterotoxinas estafilocócicas são codificadas por YOLKEN, R. H. (Ed.). Manual of clinical microbiology, ed. 8,
genes presentes em elementos genéticos móveis como Washington, D. C.: ASM, v. 1. p. 384-404, 2003.
bacteriófagos, plasmídeos, cromossomo e ilhas de BLAIOTTA, G. et al. Biotyping of
patogenicidade cromossomal. A associação com elementos EnterotoxigenicStaphylococcus aureus by Enterotoxin Gene
genéticos móveis implica numa transferência horizontal dos Cluster (egc) Polymorfism and spa Typing Analyses. Applied
genes destes superantígenos entre isolados de S. aureus e and Environmental Microbiology, Washington, v. 72, n. 9, p.
num importante papel na evolução desse micro-organismo 6117-6123, 2006
como um potencial patógeno (BLAIOTTA et al., 2006). BOEREMA, J.A.; CLEMENS, R.; BRIGHTWELL, G. Evaluation
of molecular methods to determine enterotoxigenic status and
4. CONCLUSÕES molecular genotype of bovine, ovine, human and food isolates
of Staphylococcus aureus. International Journal of Food
Os aspectos levantados nesta revisão descreveram um Microbiology, n. 107, p. 192-201, 2006.
dos maiores agentes etiológicos causadores de DTAs, CARMO, L. S. et al. Food poisoning due to enterotoxigenic
relacionando os seus fatores de patogenicidade e a strains of Staphylococcus present in minas cheese and raw
intoxicação alimentar que provocam por meio da ingestão de Milk in Brazil. Food Microbiology, v. 19, p. 9-14, 2002.
suas enterotoxinas. A divulgação dessas características DINGES, M. M.; ORWIN, P. M.; SCHLIEVERT, P. M.
poderá facilitar o delineamento de estratégias de controle Exotoxins of Staphylococcus aureus.
eficazes no propósito de diminuir o número de surtos ClinicalMicrobiologyReviews, Minneapolis, v. 13, n. 1, p.
provocados por esse micro-organismo. 16-34, 2000.

419 420
HARTLEIB J. et al. Protein A is the von Willebrand factor CAPÍTULO 32
binding protein on Staphylococcus aureus. Blood, n. 96, p.
2149-56, 2000. ANÁLISE DAS CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICA DE UMA
JARRAUD, S. et al. Egc highly prevalent operon of UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
enterotoxingene, forms a putative nursery of superantigens in INSTITUCIONAL
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Research, v. 2, n. 1, p. 63-76, 2003. Priscila Silva CUNHA1
RAY, B. Fundamental Food Microbiology; ed. 3; Crc press, Jefferson Carneiro de BARROS2
1Aluno do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG. Nemilia80@gmail.com
2005.
2Professor do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG
SAMBANTHAMOORTHY, K.; SMELTZER, M. S.; ELASRI M.
O. Identification and characterization of msa (SA1233), a gene
involved in expression of SarA and several virulence factors in
Staphylococcus aureus. Microbiology, n. 152, p. 2559-2572, RESUMO: Os alimentos destinados ao consumo humano
2006. estão sujeitos à contaminação, desde sua origem até a
SCHERRER, D. et al. Phenotypic and genotypic distribuição e consumo final. Nos serviços de alimentação, a
characteristics of Staphylococcus aureus isolates from raw higienização do ambiente contribui de forma decisiva para a
bulk-tank milk samples of goats and sheep. Veterinary manutenção da qualidade higiênico-sanitária dos alimentos.
Microbiology, v. 101, p. 101-107, 2004. Entretanto, quando tais procedimentos não são realizados de
SORIANO, J. M. et al. Enterotoxigenic staphylococci and their forma correta, colaboram para a contaminação cruzada dos
toxins in restaurant foods. Trends in Food Science and alimentos. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições
Technology, v. 13, n. 2, p. 60-67, 2002. microbiológicas do ar ambiente das áreas de pré-preparo e
preparo de alimentos de uma Unidade de Alimentação e
Nutrição Institucional do município de Cuité. As amostras do ar
ambiente foram coletadas pela técnica de sedimentação
simples, que consistiu na exposição de placas de Petri durante
15 minutos ao ar ambiente das áreas analisadas para
pesquisa de Bacillus cereus, fungos filamentosos e leveduras.
Os resultados obtidos do ar ambiente nas áreas analisadas
quanto à pesquisa de B. cereus e fungos filamentosos e
421 422
leveduras, demonstraram baixas contagens, especialmente trabalho é uma questão cuja importância começa a ser sentida
para fungos filamentosos e leveduras, que ficaram abaixo do e compartilhada também por indústrias de alimentos,
preconizado pelos órgãos oficiais. Portanto, é necessário um restaurantes e cozinhas domésticas (MILAGRES, 2004).
efetivo controle higiênico-sanitário do ambiente, bem como um Desta forma, a qualidade microbiológica do ar ambiente em
acompanhamento regular dos processos de limpeza e locais de manipulação de alimentos pode comprometer
desinfecção de oferecer um alimento seguro ao consumidor. diretamente a segurança microbiológica dos alimentos e/ou a
Palavras-chave: Ar ambiente. Higienização. Contaminação manutenção de sua inocuidade (LEMOS, 2011), podendo
microbiológica. acarretar consequências diretas ao consumidor destes
serviços pelo aumento dos riscos para Doenças Transmitidas
1. INTRODUÇÃO por Alimentos (DTA’s) (COELHO et al., 2010).
A transmissão destas doenças está relacionada ao
Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) consistem consumo de alimentos que são muito manipulados e às más
em serviços responsáveis pela operacionalização e condições de armazenamento e acondicionamento, que
fornecimento de refeições balanceadas nutricionalmente e permitem a exposição direta ao ambiente, propiciando a
dentro de padrões higiênico-sanitários aceitáveis a contaminação e posterior veiculação desses patógenos aos
coletividades, com o objetivo de atender as necessidades consumidores através da contaminação cruzada entre
nutricionais de sua clientela, de acordo com os limites produtos crus e processados (MÜRMANN et al., 2008;
financeiros da instituição ou serviço (ABREU; PINTO; RODRIGUES; BERTIN; ASSIS, 2004).
SPINELLI, 2013). Neste sentido, a qualidade de uma refeição pode ser
Nestes Serviços, é evidente a relação do potencial de influenciada por inúmeros fatores tais como: qualidade da
contaminação dos micro-organismos patogênicos nos matéria-prima, higiene de utensílios utilizados, manipuladores
alimentos durante o seu processamento e distribuição. Muitas envolvidos no processo, bem como o monitoramento de
bactérias patogênicas e deteriorantes de importância em parâmetros como tempo e temperatura (KAWASAKI;
alimentos são capazes de se aderir às superfícies de contato CYRILLO; MACHADO, 2007; EMRICH; VIÇOSA; CRUZ,
com alimentos, como também estarem presentes no ar de 2006). Outros fatores que merecem atenção por apresentarem
ambientes de preparo e distribuição, e permanecerem viáveis riscos à qualidade microbiológica dos alimentos são as
mesmo após a limpeza e desinfecção (AMMOR et al., 2004; estruturas físicas inadequadas, por impedirem o fluxo
RODE et al., 2007). No decorrer da produção, o ar do ordenado de produção; a higiene deficiente do ambiente e a
ambiente pode contaminar os alimentos com estes micro- desqualificação profissional (CAFERATTE et al., 2007).
organismos (SALUSTIANO et al., 2003). A eficiência das práticas de higiene é necessária em
A confirmação do ar como agente de transmissão de todas as etapas da cadeia de produção de alimentos. Nas
micro-organismos patogénicos para alimentos e superfícies de indústrias e serviços de alimentação, a higienização contempla
423 424
as etapas de limpeza e sanitização das superfícies de Para pesquisa, foi empregada a técnica de
alimentos, manipuladores, ambientes de processamento, sedimentação simples, conforme metodologia preconizada
equipamentos e utensílios (PRAXEDES, 2003). pela American Public Health Association - APHA (EVANCHO
Para que a qualidade dos alimentos seja garantida ao et al., 2001), que constituiu na exposição de placas de Petri
consumidor, devem-se evitar as doenças de origem alimentar, contendo ágar Batata Dextrose (Himédia) para determinar a
enfatizando as situações que visem a prevenção da contagem de fungos filamentosos e leveduras. As placas
veiculação de agentes patogênicos de maior severidade e as foram distribuídas sobre as bancadas dos ambientes, onde
condições de maior risco (ABREU; PINTO; SPINELLI, 2013). foram abertas e expostas por 15 minutos. Transcorrido o
Neste sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar tempo da coleta, as placas foram fechadas, identificadas e
o nível de contaminação do ar ambiente por Bacillus cereus, acondicionadas em caixas isotérmicas contendo gelo e
fungos filamentosos e leveduras das áreas de pré-preparo de transportadas ao Laboratório de Microbiologia de Alimentos,
vegetais e carnes e área de cocção de uma Unidade de onde permaneceram à temperatura ambiente (± 25 ºC) por
Alimentação e Nutrição Institucional do município de Cuité-PB, cinco dias e, em seguida, realizada a contagem das colônias
a fim de verificar se os procedimentos de higienização expressas em Unidades Formadoras de Colônia/cm2/semana
adotados pelo serviço estão sendo eficazes. (UFC/cm2/semana).
Para a pesquisa de Bacillus cereus, placas de Petri
2. MATERIAIS E MÉTODOS contendo meio seletivo ágar Base Bacillus cereus (Himédia)
adicionando de emulsão de gema de ovo foram distribuídas
O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, nas áreas pré-preparo de vegetais, carnes e área de cocção,
exploratória e quantitativa, realizada no mês de julho de 2014 as quais ficaram expostas ao ar ambiente por 15 minutos e,
em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional, a em seguida, encaminhadas ao Laboratório de Microbiologia de
qual se empregou procedimentos técnicos de campo e alimentos, onde permaneceram incubadas a 30 °C por 24
laboratório. horas. Os resultados das contagens foram expressos em
A coleta das amostras foi realizada no período da UFC/cm2/semana, de acordo com a metodologia proposta
manhã após os procedimentos de higienização das áreas de Silva et al. (2010).
pré-preparo de carnes, vegetais e área de cocção, e
transportadas sob refrigeração em caixa isotérmica para o
Laboratório de Microbiologia de Alimentos do curso de
Bacharelado em Nutrição da Universidade Federal de
Campina Grande - UFCG, campus de Cuité – PB onde se
procederam as análises.

425 426
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO interpretação ambígua quanto às implicações de sua presença
nas áreas estudadas.
Os resultados apresentados no presente estudo,
Os resultados das análises microbiológicas do ar
possivelmente decorreram do fato de que as análises
ambiente das áreas de pré-preparo de vegetais, carnes e
realizadas em meio seletivo levaram em consideração apenas
cocção, estão apresentados na Tabela 1.
o crescimento das formas vegetativas da bactéria, que
normalmente não se mantém viáveis durante muito tempo em
Tabela 1 – Contaminação do ar ambiente por Bacillus
substratos inertes. Desta forma, a real exposição à
cereus, Fungos filamentosos e leveduras nas áreas de
processamento de alimentos de um restaurante institucional. contaminação por este patógeno pode ter sido subestimada,
UFC/cm2/semana tendo em vista que as formas esporuladas não foram
examinadas nesta pesquisa.
Fungos
Setoresa Entretanto, os níveis de contaminação para B. cereus
Bacillus cereus filamentos e apresentados neste estudo corroboram com os observados
leveduras por Coelho et al. (2010) em restaurantes comerciais, que
verificaram valores desde a não detecção (ND) até 2,1x101
Área de Cocção 11 < 30
UFC/cm2/semana para as áreas de pré-preparo de vegetais e
Pré-preparo de vegetais 10 ˂ 30
carnes.
Pré-preparo de carnes 15 ˂ 30
Em um estudo realizado por Soares et al. (2008), em
Padrão Oficial NE ≤ 30
dois restaurantes institucionais, encontraram resultados mais
Internacionalb expressivos, onde foram detectados a presença de B. cereus
Padrão Nacionalc NE 100 no ar ambiente dos setores de cocção, distribuição e self-
a service, compreendendo 84,4% do total de amostras
Examinado pela técnica de sedimentação simples; NE: Não estabelecido
b
APHA (EVANCHO et al., 2001) coletadas, sendo os pontos de maior contaminação a área de
c
Preconizado por Silva et al. (2010) cocção (38,4 UFC/m3), distribuição (28 UFC/m3) e self service
(27,6 UFC/m3).
De acordo com os dados da Tabela 1, observou-se
Apesar disso, quando os processos de higienização são
crescimento de colônias de B. cereus nas amostras do ar
realizados de forma precária nas áreas de processamento de
ambiente das áreas de processamento de alimentos,
alimentos, seja por inadequação no uso dos agentes
entretanto, este não foi significativo nos ambientes
sanitizantes e/ou pelo baixo nível de conhecimento dos
pesquisados. Segundo Coelho et al. (2010), ainda não há
manipuladores, pode contribuir para o desenvolvimento
recomendações específicas na literatura especializada para a
desses micro-organismos (MENDES; COELHO; AZEREDO,
contagem de B. cereus em ar ambiente, tornando a
2011). No entanto, a higiene e sanitização do ambiente e suas
427 428
condições estruturais adequadas podem influenciar na UFC/cm²/semana e, no de vegetais, 5,2x103 UFC/cm²/semana,
manutenção da qualidade original dos alimentos, impedindo se contrapondo ao verificado no presente estudo.
que tais fatores atuem como coadjuvante no processo de Todos os resultados apresentados nos estudos citados
contaminação e deterioração dos alimentos (SOUTHIER; apresentaram condições higiênicas inadequadas para o
NOVELLO, 2008). Por outro lado, a eliminação de patógenos processamento de alimentos, quando comparados ao
de materiais e ambientes tende a ser difícil, principalmente preconizado pela APHA (EVANCHO et al., 2001) e literatura
quando há a capacidade de adesão destes às superfícies de especializada. Para São José (2012), a contaminação
contato, os quais permanecerem viáveis após a limpeza e ambiental por fungos ambientais pode ser decorrente de
desinfecção (GOUNADAKI et al., 2008; LETHO et al., 2010). diversos fatores, dentre os quais a distribuição do ar nas áreas
Nas pesquisas realizadas para fungos filamentosos e de processamento de alimentos, os materiais e equipamentos
leveduras, contatou-se a presença desses micro-organismos, utilizados na higienização do ambiente, os procedimentos
porém em contagens abaixo de 30 UFC/cm2/semana (Tabela empregados e o layout do estabelecimento, o qual pode
1), conforme preconizado pela APHA (EVANCHO et al., 2001). influenciar na circulação e renovação do ar interno nos
As baixas contagens obtidas no presente estudo podem ser ambientes de processamento de alimentos.
decorrentes do processo de higienização empregado, que
pode ter sido eficaz para impedir o crescimento fúngico 4. CONCLUSÕES
ambiental.
Os estudos para fungos ambientais em ambientes de As Unidades de Alimentação e Nutrição são locais
processamento de alimentos mostram resultados adversos. propícios à contaminação de alimentos, pois são ambientes
Ferreira e Junqueira (2009) encontraram valores para fungos e que oferecem condições para desenvolvimento microbiano
leveduras na ordem de 2,15 log UFC/cm2/semana, indicando quando os procedimentos de higienização não são realizados
condições higiênicas insatisfatórias, com comprometimento da de maneira correta, podendo expor os alimentos a riscos de
vida de prateleira do produto final. Outro estudo desenvolvido contaminação. Desta forma, o monitoramento do controle
por Poerner et al. (2009), ao avaliarem a microbiota do ar higiênico-sanitário através de análises microbiológicas e
encontraram valores de 3,3x10² a 7,6x10² UFC/cm2/semana acompanhamento das atividades desenvolvidas no serviço,
para área de manipulação e área de exposição dos alimentos, são critérios essências para oferecer alimentos seguros aos
respectivamente, valores estes muito acima dos encontrados consumidores.
no presente estudo. Frente ao exposto, a qualidade microbiológica do ar
Resultados obtidos por Kochanski et al. (2009) em uma ambiente pode influenciar na contaminação dos alimentos
UAN, verificaram níveis elevados de fungos e leveduras nas durante a manipulação, entretanto, os resultados encontrados
áreas de pré-preparo de carnes, equivalente a 5,7x103 no presente estudo demonstraram contagens abaixo do

429 430
preconizado para fungos filamentosos e leveduras, indicando 5. REFERÊNCIAS
condições higiênico-sanitárias satisfatórias, demonstrando a
importância de se garantir práticas adequadas e periódicas de ABREU, E. S.,SPINELLI, M. G. N., PINTO, A. M. S. Gestão de
unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer.
higienização ambiental no serviço pesquisado.
São Paulo: Editora Metha, 2013, 342 p.
Apesar das contagens de Bacillus cereus não terem
sido significativas nos ambientes analisados, o fato de ainda AMMOR, S.; CHEVALLIER, I.; LAGUE, A.; LABADILE, J.;
não haver recomendações específicas na literatura TALON, R.; DUFOUR, E. Investigation of the selective
especializada para esse micro-organismo e as análises bactericidal effect of several decontaminating solutions on
realizadas não terem levado em consideração as formas bacterial biofilms including useful, spoilage and/or pathogenic
esporuladas deste patógeno, não estão afastados os riscos de bacteria. Food Microbiolological., v. 21, n. 1, p. 11-17, 2004.
contaminação ambiental para este patógeno.
CAFERATTE, G.; PIOVESAN, C. B.; BELMONTE, F. P.;
Neste sentido, para que haja um efetivo controle SACCOL, A. L. F.; STANGARLIN, L. Nível de conhecimento
higiênico-sanitário dos setores faz-se necessário um em Boas Práticas em Serviços de Alimentação da cidade de
acompanhamento regular dos processos de limpeza e Santa Maria – RS. Revista Disciplinarum Scientia, v. 8, n. 1,
desinfecção do ambiente, bem como a realização de p. 63-70, 2007.
reciclagens periódicas dos manipuladores, em especial quanto COELHO, A. I. M.; MILAGRES, R. C. R. M.; MARTINS, J. F.
aos procedimentos de Boas Práticas, a fim de manter a L.; AZEREDO, R. M. C.; SANTANA, A. M. C. Contaminação
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UFCG; 3 D. Sc. Professor de Microbiologia, IFPB; 4 Professora adjunto IV CCTA, UFCG;
Ciência Rural, v.38, n.2, 2008.

SOUTHIER, N.; NOVELLO, D. Treinamento, avaliação, e RESUMO: A palma forrageira (Opuntia fícusindica Mill) é uma
orientação de manipuladores, sobre práticas de higiene em cactácea bastante cultivada na região semiárida do nordeste.
uma unidade de alimentação e nutrição da cidade de Na alimentação humana, geralmente, são usados em
Guarapuava, PR. Revista Higiene Alimentar, v.22, n.162, p.
preparações culinárias os brotos de palma, os frutos in natura
45-50, 2008.
ou processados. Uma das maneiras de diversificar o uso da
palma forrageira seria a secagem e sua transformação em
farinhas para incorporação em diversos produtos. Desta forma
o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade microbiológica
e da farinha. As amostras foram coletadas na zona rural e
transportadas para o laboratório do Centro Vocacional e
Tecnológico /UFCG – Câmpus Pombal – PB, as mesmas
foram desidratadas até a total retirada da umidade em estufa
de circulação de ar nas seguintes temperaturas: 70 80 e 90
°C, posteriormente passaram por um liquidificador indust rial,
em seguida por um moinho de facas para a obtenção da
farinha. Após a obtenção foram realizada as análise
microbiológica de coliforme Termotolerantes, Staphylococcus
aureus, bacillus cereus, bactérias mesófilas, bolores e
leveduras e salmonella. Todas as amostras encontram-se
435 436
dentro dos limites estabelecidos. Conclui-se que as amostras distribuída nas zonas áridas e semi-áridas do mundo, contudo
de farinha de Palma forrageira apresentaram contagens sua real dimensão produtiva ainda não foi plenamente
microbianas dentro dos padrões estabelecidos pela legislação conhecida no Nordeste(LEITE, 2006)
vigente. A grande diversidade de usos e aplicações da palma
Palavras-chave: Palma, Farinha, Microbiologia. forrageira revela a versatilidade dessa espécie vegetal, que
apesar de ser cultivada no semiárido paraibano para
1. INTRODUÇÃO alimentação animal, não tem sua potencialidade explorada
plenamente. Em consequência, vêm sendo desperdiçadas
A palma (Opuntia e Nopalea) é uma cultura originária do excelentes oportunidades para melhoria dos índices sociais e
México, sendo atualmente cultivada em todo o mundo. econômicos desse espaço geográfico, mediante a geração de
Provavelmente foi introduzida no país durante o período de postos de trabalho, renda, oferta de alimentos e preservação
colonização para a produção da cochonilha do carmim. Em ambiental (CHIACHIO, 2006). São utilizadas na alimentação
1893, Barbosa Rodrigues recomendou o uso de Opuntia como humana, como preparações culinárias, os brotos da palma ou
forrageira para alimentação do gado nas épocas de seca raquetes jovens, denominados de verduras e o fruto da palma,
(Menezes et al., 2005). in natura ou processado (REINOLDS & ARIAS, 2004).
A palma forrageira é a opção de cultura xerófila com maior Os cladódios ou raquetes da palma e os frutos são
potencial de exploração no Nordeste, constituindo-se em frequentemente consumidos frescos ou processados na
importante recurso forrageiro nos períodos de estiagens, América Latina, sendo que somente os frutos frescos são mais
devido ao seu elevado potencial de produção de fitomassa nas difundidos no mercado Europeu e Norte-Americano
condições do Semiárido. Destaca-se por ser cultura de (FEUGANG et al., 2006). No Brasil várias receitas de pratos
elevado valor nutritivo, rústica, resistente à seca, com elevada com sabores regionais vêm sendo desenvolvidas por Guedes
eficiência de uso de água e amplamente incorporada ao (2002) e por Guedes et al. (2004).
processo produtivo da região (Guimarães Filho et al., 1995; A secagem é uma operação unitária de retirada de água de
Araújo Filho, 1977). um produto por evaporação ou sublimação, mediante
A maior área de palma forrageira no Nordeste se concentra aplicação de calor sob condições controladas. A secagem tem
no agreste e sertão dos estados de Alagoas e Pernambuco. A como finalidade conservar alimentos através da diminuição da
Palma está presente em todos os continentes com diversas atividade de água do mesmo. Nos últimos 50 anos, tanto a
finalidades podendo ser usada na alimentação de ruminantes, ciência quanto a tecnologia empenharam-se no sentido de
na alimentação humana, na produção de medicamentos, aprimorar novos sistemas na área de preservação de
cosméticos e corantes, na conservação e recuperação de alimentos, e esses esforços tornaram viável a desidratação de
solos, produção de biogás, cercas vivas, paisagismo, além de enorme variedade de produtos para fins comerciais.
uma infinidade de usos. É a planta mais explorada e (KAJIYAMA; PARK, 2008).
437 438
O melhoramento da qualidade da farinha representa um Após a obtenção da farinha as amostras P70, P80 e P90
acréscimo na qualidade do produto, uma oportunidade para se foram realizadas as seguintes avaliações da qualidade
agregar valor ao mesmo (SMANHOTTO, 2006). microbiológica, seguindo a Resolução – RDC n° 12, de 20 01,
No Brasil a diferenciação para cada farinha e sua que define o Regulamento Técnico para os padrões
especialidade, não tem tal relevância, portanto a otimização microbiológicos para alimentos (BRASIL, 2001). Onde foram
das farinhas é de grande importância, para que assim cada efetuadas as análises de Coliformes Totais e Termotolerantes,
tipo de farinha atenda as exigências dos determinados Contagem Total de Mesofilo (C.T.M), Psicotrópicos,
produtos finais (GUTKOSKI; ANTUNES, 1999). Portanto o Staphylococcus aureus, Bolores e Levedura e Salmonella
objetivo desse trabalho foi produzir farinha de palma, em spp/25g.
estufa de circulação de ar, nas temperaturas de 70, 80 e 90
°C, e de estudar suas características microbiológica e físico-
química 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2. MATERIAIS E MÉTODO Tabela 1: Resultados das medias microbiológicas das farinhas


de palma submetidas a diferente temperatura de secagem.
Parâmetros Microbiológicos
As folhas da palma foram coletadas na zona rural do Amostra Coliforme Sthapylococcu Bacillus Bactérias Contagem Salmonella
município de Pombal e transportadas para o laboratório do s 45°C s Coagulase Cereus Aeróbias de Bolores spp
(NMP/g) positiva (NMP/g Mesófilas e
Centro Vocacional e Tecnológico - UFCG – Pombal – PB, as (UFC/g) ) (NMP/g) Leveduras
mesmas foram inicialmente trituradas em um liquidificador do (UFC/g)
P70°C Ausente Ausente 6,8x10² 1,98x10² 1,98x10² Aus ente
tipo industrial e em seguida desidratadas até a total retirada da P80°C Ausente Ausente Ausent 3,82x10² 3,82x10² Ausente
umidade em estufa de circulação de ar nas seguintes e
P90°C Ausente Ausente Ausent 7,00x10² 7,00x10² Ausente
temperaturas (tratamentos): 70 80 e 90 °C. Após a secage m, e
as palmas foram moídas em moinho de facas com 4 lamina de
aço inoxidável. Ao final do processo obteve-se uma farinha A partir dos resultados obtidos na análise microbiológica
fina de coloração amarelada e odor característico que foi encontradas na farinhas da palma em diferentes temperaturas
acondicionada em sacos plásticos polipropileno estilizados observou-se que para coliformes a 45ºC, Staphylococcus spp
com capacidade de 250g, vedados, etiquetados e mantidos e salmonella sp estão ausentes, indicando que as farinhas
em temperatura controlada a 4° C. Todos os equipament os elaboradas não apresentaram condições insatisfatórias na
utilizados foram esterilizados para que não houvesse qualquer produção e/ou manipulação do alimento tornando-se própria
tipo de contaminação. Foram retiradas amostras para análises para o consumo humano.
microbiológicas com três repetições. Na análise de Bacillus Cereus houve apenas presença nas
amostra de P 70 º C, as demais foram ausente, entretanto
439 440
todas as amostras se encontram dentro dos padrões 4. CONCLUSÕES
estabelecido legislação vigente que é de 3 x 103UFC⁄g.
bactéria geralmente encontrada no solo e nos reservatórios Conclui-se que as amostras de farinha de Palma forrageira
naturais e, por essa razão, frequentemente contamina (Opuntia fícusindica Mill) apresentaram contagens microbianas
vegetais, cereais e tubérculos (GHELARDI et al., 2002) A dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente.
contaminação de alimentos por B. cereus constitui não somen- revelando que as mesmas não representam riscos à saúde do
te uma importante causa de deterioração, mas também está consumidor e não revelam problemas de produção, no que diz
associada à ocorrência de dois tipos de síndrome, devidos à respeito à extração da farinha de trigo e de estocagem do
ingestão de alimentos contaminados com cepas patogênicas produto.
produtoras de toxinas, uma emética e outra diarréica
(MINNAARD et al., 2001; AGATA et al., 2002; MCELROY et 5. REFERÊNCIAS
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Câmpus – Pombal – PB, 2012.

443 444
CAPÍTULO 34 um local escuro, logo após acondicionado em temperatura
controlada a 4° C por mais 7 dias. Os picles foram subme tido
AVALIAÇÃO MICROBIOLOGICA DE PICLES a analises microbiológica de coliforme 45°C, psicotróficos,
ELABORADOS APARTIR DE CACTÁCEAS Cereus staphylococus e salmonella sp e apresentarão resultados
squamosus (FACHEIRO) NO SEMIÁRIDO PARAIBANO. viáveis dentro dos padrões microbiológicos de qualidade
exigidos pela legislação vigente.
José Nildo Vieira DEODATO1 Palavras-chave: cactáceas. facheiro. picles.
Simone Sucupira MARTINS 2
Katianne Cristinne de MEDEIROS2 1. INTRODUÇÃO
Gilcean Silva ALVES3
Alfredina dos Santos ARAÚJO4
1 Mestrando em Sistemas Agroindústrias, PPGSA, UFCG, As Cactáceas são dicotiledôneas suculentas de diversos
2 Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG; 3 D. Sc. Professor de Microbiologia, IFPB, hábitos, podendo ser árvores, arbustos, trepadeiras, epífitas
João Pessoa; 4 D. Sc. Professora adjunta III CCTA, UFCG,Pombal.
ou geófitas; hastes (talos) podem ser colunares, roliços,
globulares, tuberculados, em forma de costeletas, asas ou
RESUMO: As cactáceas constituem um importante elemento achatados, geralmente segmentados sem folhas e com
da paisagem, apresentando caules suculentos, cobertos por espinhos. A família é composta de 100 gêneros e 1500
espinhos de diversas formas, tamanhos e dimensões. O espécies, distribuídas quase exclusivamente nas regiões
facheiro é uma espécie desta família de abrangente ocorrência secas das Américas (BARTHLOTT; HUNT, 1993), As diversas
no Semiárido Brasileiro. É uma planta perene, arbustiva, especializações para a economia de água, associados à alta
robusta, de tronco ereto com galhos laterais, porém pouco diversidade de formas e hábitos do grupo, contribuíram para
ramificada, de coloração verde escura, que apresentam que representantes de cactáceas consigam sobreviver em
espinhos agudos e flores grandes, alvas e isoladas vegetando uma ampla gama de condições climáticas e ecológicas, desde
nos piores tipos de solo, e resiste à vários meses de seca. No desertos, onde quase não chove como em parte do deserto de
presente trabalho produziu-se picles de facheiro com o intuito Atacama no nordeste do Chile, até ambientes úmidos de
de obter dados de característica microbiológica e incentivar floresta tropical que recebem mais de 2000 mm de chuva por
seu aproveitamento, como potencial nutricional e tecnológico. ano, além de encontrarem-se distribuídas desde o nível do
As matérias prima foram coletadas na zona rural de Pombal mar até cerca de 5.200 m altitude nos Andes (GIBSON;
PB e transportadas até o Centro Vocacional e Tecnológico/ NOBEL, 1986; TAYLOR 1997).
UFCG onde foram retirados os espinhos, selecionados, O Brasil é considerado o terceiro maior centro de diversidade
cortados, lavados, sanitizados e aquecido por 30 minutos. Em da família Cactaceae totalizando aproximadamente 200
seguida deixado em descanso por 24 horas e colocado em espécies (SOUZA; LORENZI, 2005), sendo muitas destas
vidro fechado, tampado, esfriado e repousando por 7 dias em
445 446
espécies endêmicas da Caatinga Nordestina, e que como o aspecto nutricional, a agregação de valor e adoção de
necessitam de maiores estudos (TAYLOR; ZAPPI, 2004). boas praticas de fabricação para promover e difundir este
No Nordeste, as cactáceas tornam-se cada vez mais uma potencial do semiárido ainda não explorado. Desta forma
alternativa alimentar e uma fonte rica em água para os animais propôs a conservação do mesmo e desenvolvendo assim,
na época seca. E é nesse imenso território onde ocorre, picles de facheiro.
naturalmente, uma grande e diversificada população de Picles são legumes, hortaliças e frutas conservadas em
cactos, a maioria dotada de espinhos, representados por mais salmoura ou em vinagre com ou sem fermentação lática, com
de vinte diferentes espécies (PINHEIRO et al, 2005). Cresce ou sem adição de açúcar ou especiarias. Os picles
em solos pedregosos e junto a outras espécies de cactáceas, fermentados são produzidos em salmoura de concentração
forma a paisagem típica da região semiárida do Brasil, sendo constante, na qual se desenvolvem as bactérias láticas. Já nos
encontrado nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, picles não fermentados a salmoura apresenta alta
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de concentração de sal para prevenir o crescimento microbiano
Minas Gerais (SILVA, 2009). (BENEVIDES; FURTANATO, 1998). Sendo que no Brasil a
Entre as cactáceas, destaca-se o facheiro que é uma fabricação destes produtos não é tratada com grande
cactácea xerófila, robusta, pouco ramificada, de cor verde- relevância. No sul do país, esses produtos são mais aceitos
escura, armada de espinhos agudos; com flores grandes devidos, principalmente, a colonização europeia (GAVA, et al
isoladas e altas (BARBOSA, 1998). Seu caule é suculento, 2008).
carnoso e verde, com formato externo geralmente cilíndrico. A segurança alimentar dessas conservas é obtido
Internamente, o caule apresenta cor amarelada, um combinando-se procedimentos de tratamento térmico e
parênquima armazenador de água e um cilindro vascular acidificação. Um procedimento de acidificação bem sucedido
(tecido de transporte), responsável pela nutrição do vegetal, deve, portanto, resultar em um pH no produto abaixo ou igual
sendo constituído de líber e de lenho (GUIZZO, 1994). a 4,5, segundo a norma oficial (BRASIL, 1999 apud GOMES et
O facheiro é empregado na alimentação humana e animal; al 2006) sendo que este permita o uso de um tratamento
no primeiro caso, geralmente como plantas frutíferas, e no térmico e não venha danificar a textura do facheiro.
segundo, como forragem, em que o caule é aproveitado. Mas, Na literatura existem poucas referências da composição
recentemente, com tratamento adequado tem-se utilizado centesimal do facheiro. Tal escassez de informações também
também os caules na alimentação humana, na produção de é observada na formação de picles. Por isto o objetivo deste
doces, bolos, bolachas, cocadas, musses, (LIMA et al 2007) e trabalho foi desenvolver picles de facheiro de modo que este
entre outros, Como biscoitos tipos Cookies e barras de cereais seja um alimento seguro do ponto de vista microbiológico e
(DEODATO, 2012). seguindo todas as recomendações da Agência Nacional de
Neste sentido, faz-se necessário a elaboração, Vigilância Sanitária.
processamento e desenvolvimentos de novos produtos, bem
447 448
em um local escuro e temperatura ambiente, após
2. MATERIAIS E MÉTODOS acondicionados em geladeira a 4° C por mais 7 dias. Logo
após as amostras de picles foram submetidas a avaliação da
O presente trabalho foi desenvolvido nos laboratórios do qualidade microbiológica, seguindo a Resolução – RDC n° 12,
Centro Vocacional Tecnológico de Pombal (CVT - UFCG). Foi de 2001, que define o Regulamento Técnico para os padrões
utilizado como matéria prima o Cereus squamosus (facheiro) microbiológicos para alimentos (BRASIL, 2001). Onde foram
proveniente da serra do Moleque no sítio Mocambo situado a efetuadas as análises de Coliformes 45°C, Contagem Total de
19 km do centro da cidade de Pombal. E foram coletados nos Mesofilo (C.T.M), Psicrotrópicos, Staphylococcus aureus spp e
meses de maio a junho de 2014 e acondicionado em caixas de Salmonella sp.
papelão e transportado para as análises. Onde foi submetido
cuidadosamente a retirada de todos os espinhos com auxilio 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de estiletes e facas de aço inoxidável, passando pela seleção
da matéria prima sem danos físicos e incidência visual de
contaminação microbiana. Tabela 1. Resultados das médias das analises microbiológica
Para a elaboração dos picles foram utilizados os seguintes das amostras de picles estudadas
ingredientes: facheiro, açúcar cristal, sal de cozinha e vinagre Parâmetros Microbiológicos
branco convencional. Todos obtidos junto à rede de Amostra Coliformes 45°C C.T.M Psicotróficos
supermercados da cidade. Inicialmente, as amostras de Pedaços Ausente Ausente Ausente
facheiro foram lavadas em água corrente, cortada em pedaços Rodelas Ausente Ausente Ausente
e em rodelas, em seguida levada sob aquecimento em fogão
industrial em uma solução de água, açúcar e sal já Os resultados expostos nas Tabelas 1 e 2 evidenciarão que
previamente aquecida por 30 minutos. E posterior deixada em 100% das amostras avaliadas no presente estudo estavam de
descanso no período de 24 horas, em seguida com o auxilio acordo com os padrões legais vigentes na Resolução RDC n°
de um pegador de massas, também esterilizado, colocou em 12, de 02 de Janeiro de 2001. Dessa forma podemos afirmar
potes de vidros com capacidade de 500 ml esterilizados, que não houve contaminações significativas durante a
contendo em média 300 g da amostra e completou o nível com manipulação, o processamento e a estocagem dos produtos
vinagre até cobrir por completo. Na etapa seguinte, a analisados, demonstrando que, uma vez que estas sejam
exaustão, os recipientes foram colocados em uma panela realizadas de forma correta, garantem a qualidade e a
contendo água em ebulição e ficaram por 1 hora com as segurança do alimento como produto final, podendo-se inferir
tampas semifechadas, para a remoção do oxigênio do interior que provavelmente as Boas Práticas de Fabricação foram
dos vidros. Logo após os vidros foram fechados, esfriados, aplicadas corretamente pelos manipuladores.
coberto com papel alumínio e deixado em repouso por 7 dias
449 450
Tabela 2. Resultados das médias das analises microbiológica Os picles de facheiro em pedaços e em rodelas estavam
das amostras de picles estudadas dentro dos padrões microbiológicos de qualidade exigidos pela
Amostra Parâmetros Microbiológicos Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sugerindo
Staphylococcus Salmonella que as normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) foram
Pedaços Ausente Ausente seguidas pelos manipuladores envolvidos no presente estudo.
Rodelas Ausente Ausente Sugere-se a realização de mais estudos, que possa
possibilitar tratamentos com diferentes graus de acidez na
Resultados obtidos em estudo realizado por Carvalho et al. elaboração dos picles, além de estudos que avaliem a
(2014), onde foram analisadas amostras de picles de pepino aceitabilidade e tempo de armazenamento dos novos
(Cucumis sativus L.) e com nabo (Brassica campestris L. var. produtos.
rapa) orgânicos produzidos por agricultores familiares na
cidade de Mossoró - RN, também demonstraram que 100% 5. REFERÊNCIAS
das amostras estavam de acordo com a legislação vigente,
semelhante ao que foi observado neste estudo.
Barbosa, H.P. Tabela de composição de alimentos do
Para Caetano et al, (2013) Os resultados negativos para as estado da Paraíba: setor agropecuário. 2. ed. João Pessoa:
análises microbiológica se deve ao fato de que a maioria dos UFPB, 1998. 128p.
microrganismos não consegue se multiplicar em baixos BARTHLOTT, W.; D. R. HUNT. Cactaceae. Pages 161-196 in
The Families and Genera of Vascular Plants. v. 2. K. Kubitzki
valores de pH e agentes patogênicos são reduzidos ou (ed.). Berlin, Springer-Verlag. 1993.
eliminados a níveis seguros com a adição de ácido acético. De BENEVIDES, C. M. J.; FURTANATO, D. M. N. Hortaliças
acordo com NASCIMENTO; NUNES; NUNES L. (2011), a acidificadas. Cienc. Tecnol. Alim. , Campinas, v. 18. N.3, p.
segurança microbiológica ainda é garantida pelo tratamento 271-274, 1998.
térmico dado ao produto, com o objetivo de eliminar possíveis BRASIL, Resolução n° 12 de 2 de janeiro de 2001.
formas de vida vegetativa remanescentes. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para
alimentos. Diário oficial da união, 2001.
CAETANO, K. S.; LEÃO, M. F.; GONÇALVES, C. R.
4. CONCLUSÕES PARIZOTTO, D.; ROCHA, D. Desenvolvimento e controle de
qualidade de picles não fermentado de abobrinha italiana.
Este trabalho mostrou que a cactácea facheiro apresenta Enciclopédia biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia,
características adequadas para ser utilizada como matéria v.9, N.16; p. 697-710. 2013.
prima para a elaboração de picles, bem como para o CARVALHO, J. D. S.; GOUVÊA, F. S.; FERREIRA, E. H. R.;
processamento de novos produtos, tornando-se uma BARBOSA, M. I. M. J.; BARBOSA JR, J. L., Caracterização
estratégia interessante para a indústria alimentícia. química, qualidade microbiológica e aspectos nutricionais de
picles elaborados com pepino (Cucumis sativus L.) e com
451 452
nabo (Brassica campestris L. var. rapa) orgânicos produzidos PINHEIRO. K. P.; BEZERRA. K. C.; AGUIAR, E. M.; SILVA, M.
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453 454
CAPÍTULO 35 microbiana foram ausentes. Conclui-se que os produtos
elaborados foram preparados de maneira correta e o
ELABORAÇÃO DO PERFIL MICROBIOLÓGICO DOS processamento térmico foi eficiente, a higienização dos
PRODUTOS DERIVADOS DE LEITE DE CABRA. utensílios e equipamentos e o cuidado rigoroso na
manipulação, tornando-os alimentos de qualidade e seguro ao
Karla Camyla Morais Da SILVA1 consumo.
Juliana Oliveira Dionizio FARIAS1 Palavras-chave: Leite de cabra, derivados,
Karla Danielle PEREIRA1
microbiologicamente.
Willianny de Medeiros COSTA1
Alfredina Dos Santos ARAÚJO2
1 Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG, camyla_morais@hotmail.com ; 1. INTRODUÇÃO
2 D. Sc. Professora adjunta III CCTA, UFCG.

A caprinocultura vem ganhando impulso no mercado


RESUMO: A produção do leite de cabra representa uma pelo potencial nutricional e como fonte alternativa de alimento
excelente alternativa alimentar, do ponto de vista nutricional e de alta qualidade. Porém, esta pratica ainda hoje, ocorre em
socioeconômico. É altamente susceptível ao crescimento um sistema informal, com técnica artesanal, comprometendo,
microbiano associado as técnicas higiênico-sanitárias na maioria dos casos, a qualidade da matéria-prima e
inadequadas durante as etapas produtivas da cadeia leiteira, derivados lácteos, bem como, a saúde do consumidor.
que viabilize a qualidade e a segurança dos derivados. Devido as suas excelentes características nutricionais
Objetivou-se caracterizar microbiologicamente os produtos que servem como substrato para diversos microrganismos o
lácteos elaborados a partir do leite de cabra. Coletou-se 8 leite deve ser obtido com máxima higiene e mantido em baixa
litros de leite de cabra no comercio informal de Pombal/PB, temperatura, desde a ordenha até o seu beneficiamento,
acondicionados em garrafa pet do próprio fornecedor, e visando garantir as características físicas, químicas e
transportadas em caixas térmicas para o laboratório de nutricionais do produto final (OLIVEIRA, 2008).
analises do Centro Vocacional Tecnológico, o leite de cabra foi Segundo ALVES et. al., (2009) a aceitação dos
submetido ao processo de pasteurização lenta, para a produtos lácteos fabricados a partir do leite de cabra sofre
elaboração dos produtos lácteos (queijo e bebida láctea), com algumas restrições devido a características sensoriais
controle rigoroso em toda a etapa do processamento. O leite peculiares como sabor e o aroma, proporcionado pelo elevado
de cabra pasteurizado e derivados foram analisados teor de ácidos graxos de cadeia curta (capróico, caprílico e
microbiologicamente quanto ao Número Mais Provável (NMP) cáprico).Esse fato decorre de mudanças sazonais, o leite de
de coliformes a 35ºC e coliformes a 45ºC, Bactérias aeróbias cabra produzido muitas vezes apresenta características
mesófilas, Staphylococcus ssp. e Salmonella sp/25g. Os irregulares que depreciam a qualidade dos seus derivados
resultados médios encontrados neste estudo para carga como: queijo e bebidas lácteas, resultando na redução do
455 456
tempo de prateleira do leite e derivados e colocar em risco a leite pasteurizado em recipiente estéril para avaliação
saúde do consumidor. microbiológica.
O queijo, como derivado tradicional do leite, apresentam Para a elaboração do queijo, utilizou-se 5L do leite
propriedades organolépticas e nutritivas, e é fabricado, de pasteurizado, foi resfriado a 35-40ºC, depois adicionados 4%
forma artesanal, comprometendo, na maioria dos casos, a de cloreto de cálcio. Adicionou-se o coalho industrial conforme
qualidade do produto e ocasionar uma intoxicação de origem a instrução do fabricante. Agitou-se o leite para a distribuição
alimentar pela elevada carga microbiana. uniformemente das enzimas, ficando em repouso na
O soro é um subproduto da indústria de queijo e de temperatura ambiente ate que a coalhada apresente-se firme
caseína, possui sabor ligeiramente ácido ou doce, e sua e homogênea. Processo de coagulação é de
constituição depende da técnica de coagulação e fabricação aproximadamente de 45 minutos, neste ponto, a massa
do queijo (GIRALDO-ZUNIGA et. al., 2004). Entre as várias sofrera fragmentação como o objetivo de promover a dessora.
formas de utilização do soro de queijo na indústria de Após o corte inicia lentamente a mexedura da massa para que
laticínios, está a formulação de novos produtos, como a possa ser retirada todo o soro e por fim, os queijos são
bebida láctea (OLIVEIRA, 2006). colocados nos recipientes para enformagem. Os queijos
O presente trabalho objetivou-se elaborar produtos confeccionados foram acondicionados em sacos plásticos,
lácteos derivados do leite de cabra, como queijo de coalho identificados com queijo contendo sal e outro. O lactossoro do
com sal e sem sal, utiliza o soro sem sal desta produção para queijo foi utilizado na elaboração da bebida láctea nas
a fabricação de bebidas lácteas fermentadas em diferentes concentrações de 20% e 30%. Este também foi submetido ao
concentrações do soro dentro dos padrões microbiológicos. processamento térmico, resfriado antes de serem adicionados
ao iogurte e armazenados em recipientes estéreis.
Na elaboração do iogurte foram utilizados
2. MATERIAIS E MÉTODO aproximadamente 3L do leite pasteurizado, foi resfriado ate
atingi 42C, adicionou-se 6% de açúcar e a cultura láctea. Foi
O leite de cabra in natura (8 Litros) foi adquirido no colocado em estufa controlada por aproximadamente 5 horas,
comercio informal da cidade de Pombal/PB, filtrado, para fermentação láctea. Posteriormente, colocou-se na
acondicionados em garrafa pet do próprio fornecedor, e geladeira a 5C a 7C por 24hs.
transportadas em caixas térmicas para o laboratório de Na fabricação da bebida láctea, foram produzidos 1L
analises do Centro Vocacional Tecnológico/UFCG, para a nas concentrações de 20% (iogurte+soro) e 1L nas
elaboração dos produtos lácteos. concentrações de 30%(iogurte+soro). Acondicionado em
Inicialmente o leite foi submetido ao tratamento térmico recipientes estéreis, para analise microbiológica.
(65°C por 30 minutos). Retirou-se aproximadamente 50 mL do Os parâmetros microbiológicos avaliados no leite de
cabra e em seus derivados foram: coliformes totais a 45C,
457 458
bactérias aeróbias mesófilas, Staphylococcus coagulase As bactérias psicotróficos são importantes deteriorantes
positiva e Salmonella sp/25g. de leite e derivados, em temperaturas de refrigeração por
períodos prolongados. Porém, de acordo com Arcuri, et al
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO (2008) a maioria das bactérias psicotróficas não sobrevive à
pasteurização. Nesta pesquisa não foi detectada a presença
A qualidade do leite é definida, por ter baixo número de de bactérias psicotróficas, e na legislação brasileira não
microrganismos deteriorantes, ausência de patógenos, baixa existem padrões estabelecidos para tais.
contagem de células somáticas e ausência de resíduos O leite de cabra pasteurizado e seus derivados não
químicos variados (ALVES, 2001). O tratamento térmico tem apresentaram Salmonella sp. em 25g de amostra, conforme os
por objetivo reduzi a carga microbiana (conforme mostra a padrões estabelecidos pela legislação vigente.
tabela 1), porém deve ser controlado para não afetar à Os resultados encontrados para os microrganismos de
qualidade final do leite. Staphylococcus Coagulase positiva e de bactérias aeróbias
mesófilas foram ausentes. Andrade (2009) afirma que o leite
Tabela 1: Média dos resultados microbiológicos para o leite de for obtido em má condições de higiene pode ser veículo de
Cabra Pasteurizado. microrganismos patogênicos. Isso mostra que a pasteurização
Parâmetros Microbiológicos Resultados Padrão lenta em banho-maria, mesmo quando feita com
obtidos equipamentos muito simples, pode ser eficaz para diminuir a
Coliformes a 45⁰C (NMP/mL) Ausente - contaminação do leite de cabra (ANDRADE et. al., 2008).
Salmonella ssp. Ausente Ausente A legislação brasileira determina que todos os queijos
Staphylococcus coagulase positiva Ausente - elaborados industrialmente devem ser fabricados com leite
(UFC/mL) pasteurizado, e que esse processo é eficiente na destruição
Bactérias aeróbias Mesófilos Ausente - da carga microbiana.Tabela 2 mostra os resultados das
(UFC/mL) medias microbiológicas do queijo de coalho com sal e sem sal
Bactérias psicotróficos (UFC/mL) Ausente - produzidos a partir do leite de cabra pasteurizado.
*Fonte: Análises de pesquisas

De acordo com a Tabela 1, podemos verificar a


ausência de coliformes à 45⁰C no leite de cabra pasteurizado.
A presença destes microrganismos são indicadores das
condições higiênico-sanitárias inadequadas durante a ordenha
e manipulação do leite de cabra.

459 460
Tabela 2: Média dos resultados das médias microbiológicas enquanto outros constituintes são removidos no soro. A
do queijo de coalho com sal e sem sal produzidos a partir do Tabela 3 apresenta os valores das medias microbiológicas
leite de cabra pasteurizado. encontradas para o soro de leite de cabra resultante do
Parâmetros Padrão Resultados obtidos processamento do queijo de coalho.
microbiológicos Queijo Queijo com Sal Queijo sem Sal
Coliformes a 5x10² Ausente Ausente Tabela 3: Valores das medias microbiológicas encontrados
45C (NMP/g) para o soro de leite de cabra resultante do processamento do
queijo de coalho.
Salmonella sp. Ausente Ausente Ausente
Parâmetros Padrão Resultados obtidos
Staphylococcus 5x10² Ausente Ausente
Coliformes a 45⁰C - -
Coagulase
(NMP/mL)
positiva (UFC/g)
Salmonella SP Ausente Ausente
Bactérias aeróbias - 2,3x102 2,0x103
Staphylococcus - 5,0 x10²
mesófilas (UFC/g)
coagulase positiva
* Fonte de pesquisa: Brasil,2001.
(UFC/mL)
Bacterias aeróbias - 2,3x104
Mesófilos (UFC/mL)
Analisando a Tabela 2, observou-se que apesar de *Fonte: Análises de pesquisas
outros autores terem relatado a presença de coliformes a
45C em amostras de queijo de leite de cabra, na ordem de Conforme mostrado na Tabela 3, dos microrganismos
até 2,4x106 NMP/g. No presente estudo, foi constatada a estudados, apenas para Staplhylococcus coagulase positiva e
ausência de coliformes a 45C, Salmonella sp., bactérias aeróbias mesófilos foram detectados valores médios
Staphylococcus coagulase positiva do queijo com sal e sem 5,0 x10² e 2,3x104 UFC/mL. A quantificação de
sal, indicando que houve a adoção das boas praticas de microrganismos mesófilos visa verificar a contaminação geral
fabricação para a elaboração dos produtos. de um alimento e tem sido usada como indicador da qualidade
Os resultados das médias para as bactérias aeróbias higiênica dos alimentos, fornecendo também uma idéia sobre
mesófilos do queijo com sal e sem sal foi de 2,3x102 e 2,0x103 seu tempo útil de conservação (FRANCO, 1996). Atualmente
UFC/g, respectivamente. Não existem valores máximos não existem na legislação brasileira para inspeção físico-
permitidos na legislação vigente. química e microbiológica de soro de leite.
A produção de bebida láctea adicionada de soro de
Ao transformar o leite em queijo constitui basicamente queijo vem ganhando mercado, devido a redução do impacto
em um processo de concentração do leite, no qual parte dos ambiental, evita o desperdício nutricional e agrega valor ao
componentes sólidos são agregados na forma de coalhada, subproduto. A tabela 4 refere-se aos resultados das medias
461 462
das analises microbiológicas para bebidas lácteas a base de 5. REFERÊNCIAS
leite de cabra nas concentrações de 20% e 30%.
Oliveira C.A.F. 2008. Qualidade do leite no processamento
Tabela 4: Resultados das medias microbiológicas para bebida de derivados. p.115- 129. In: Germano P.M.L. & Germano
láctea a base de leite de cabra em diferentes concentrações. M.I.S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. 3 ed. Editora
Parâmetros Padrões Resultados obtidos Varela, São Paulo.
Microbiológicos Bebida Bebida Bebida ALVES, L. L. et al. Aceitação sensorial e caracterização de
frozen yogurt de leite de cabra com adição de cultura
Láctea Láctea Láctea
probiótica e prebiótico. Ciência Rural, Santa Maria, v. 39, n. 9,
20% 30% p. 2595-2600, dez. 2006.
Coliformes a 45⁰C 10 Ausente Ausente ALVES, F.S.F. Análise de Pontos Críticos (PC) durante a
(NMP/mL) ordenha manual emecânica na qualidade do leite de cabra in
Salmonella sp. Ausente Ausente Ausente natura. Comunicado Técnico n. 58 EMBRAPA, Sobral, 2001.
4p.
Bacterias aeróbias - 5x10¹ 2,5x10¹ ANDRADE, A. P. C. de. Identificação bioquímica, molecular
mesófilos(UFC/mL) e pesquisa de genes codificadores de enterotoxinas de
*Fonte: Análises de pesquisas Sthaphylococus spp.isolados de Coalho. Universidade
Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias. Depto. de
As Bebidas Lácteas não apresentaram resultados para Engenharia de Alimentos, Dissertação (mestrado) – Fortaleza,
coliformes a 45⁰C e Salmonella sp/25g. Desta forma, acredita- 2009
se que as condições higiênico-sanitária e o tratamento térmico ARCURI, E. F. Contagem, isolamento e caracterização de
bactérias psicrotróficas contaminantes de leite cru
foram satisfatórios para a eliminação destes microrganismos. refrigerado. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.8, p.2250-
2255, nov, 2008
4. CONCLUSÕES ANDRADE, et al. Características microbiológicas e físico-
químicas do leite de cabra submetido à pasteurização lenta pós-
O leite de cabra após submete-se ao processo de envase e ao congelamento. Revista Ciência Rural, v.38,
pasteurização resultou na elaboração de produtos lácteos com n.5, ago, 2008.
GIRALDO-ZUÑIGA, A. D., et. al. Tecnologias aplicadas ao
carga reduzida ou eliminada de microrganismos patogênicos.
processamento do soro de queijo. Revista do Instituto de
Logo, nos produtos elaborados foram empregando nas boas Laticínios Cândido Tostes, v. 59, n. 340-341, p. 53-56, 2004.
praticas de fabricação, tornando-os produtos aptos para o FRANCO, B.D.G.M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos
consumo. alimentos. São Paulo, Atheneu, 181 p. 1996.

463 464
CAPÍTULO 36 bolores e leveduras não foram verificadas presença nas
farinhas. A contagem microbiana encontradas neste estudo,
PERFIL MICROBIOLÓGICO DAS FARINHAS demonstram que as farinhas foram elaboradas utilizando as
ELABORADAS A PARTIR DO MAXIXE CUCUMIS ANGURIA boas praticas de fabricação em toda cadeia produtiva,
L. EM DIFERENTES TEMPERATURAS DE SECAGEM. tornando-o um produto de qualidade e seguro ao consumo.

Karla Danielle PEREIRA1 1. INTRODUÇÃO


Karla Camyla Morais Da SILVA1
Juliana Oliveira Dionizio FARIAS1 O maxixe (Cucumis anguria L.) pertencente à família
Jose Nildo Vieira DEODATO2
Curcubitaceae. É uma hortaliça originária da África e
Alfredina Dos Santos ARAÚJO3
1 Graduando em Engenharia de Alimentos,UFCG, dani.karla@hotmail.com ; 2 Mestrando em amplamente distribuída nas regiões norte, nordeste e sudeste
Sistemas Agroindústrias, PPGSA, UFCG;3D. Sc. Professora adjunta III CCTA, UFCG. do Brasil (SANTOS, 2001). Constitui uma planta de fácil
crescimento, rústica, resistente às pragas e doenças, requer
RESUMO: O maxixe (Cucumis anguria L.) é uma hortaliça de poucos tratos fitossanitários e culturais, e apresenta
alta perecibilidade e de baixo consumo, porém apresenta prolongado período de frutificação, permitindo colheita
características nutricionais e funcionais importantes para escalonada (YOKOYAMA & SILVA JUNIOR, 1988). Em geral,
diversificação alimentícias no mercado. A elaboração de cresce espontaneamente em meio às culturas tradicionais,
farinhas constitui como alternativa, eliminando o desperdício e como as de milho e de feijão (BATISTA, SOUZA, NOGUEIRA
garantindo sua permanecia no período de estiagem. et. al., 2007), mas também pode ser cultivado.
Objetivou-se elaborar farinha a partir da semente e da casca A hortaliça maxixe apresenta formato ovalar, casca
do maxixe em diferentes temperaturas de secagem 70⁰C, espinhosa ou lisa e cor verde clara, nas condições ambientais
80⁰C e 90⁰C. e verificar a qualidade microbiológica destas. murcham e amarelam-se rapidamente, podendo ser mantidas
Após o tratamento térmico, foram avaliadas sem perdas de qualidade por três dias (LANA, (2005), apoud,
microbiologicamente quanto ao teste presuntivo, coliformes a LIMA,(2006)). O consumo desta hortaliça deve-se ocorre
35ºC e a 45ºC, Salmonella sp/25g., Bacillus cereus, bactérias imediatamente após a colheita, por se deteriora com facilidade
aeróbias mesófilas e contagem de Bolores e Leveduras. Os devido às suas características fisiológicas.
valores médios encontrados para Coliformes a 45ºC ausência, O maxixe é fonte de sais minerais, principalmente zinco,
exceto na amostra FC 70 ºC (0,3 NMP⁄g). Para contagens de e tem poucas calorias (LANA et. al., 2007, apoud,
bactérias aeróbias mesófilas obtidas em amostras de farinhas NASCIMENTO, 2011). Apresenta propriedades medicinais,
da casca e da semente do maxixe verificaram que os valores como ação emoliente, anti-helmíntica, anti-hemorroidal,
variaram de 4,00 x103 a 25,00x103 e 0,09 x103 a 1,50x 103 antiemética e laxativa. Por ser rico em zinco evita doenças na
UFC/g, respectivamente. Salmonella sp/25g. e contagem de
465 466
próstata, auxilia na redução do colesterol e na cicatrização de possui qualidades adequadas e satisfatórias na analise
ferimentos internos e externos (BRASIL, 2000). sensorial dos produtos elaborados. Galera, (2006) afirma que
No entanto, seu consumo pela população brasileira é permuta total da farinha de trigo por outras farinhas de cereais
muito baixo, seja cozido na maxixada, no feijão ou cru na ou de vegetais não tem alcançado grande aceitação da
salada, com aquisição alimentar domiciliar per capita em torno população, na analise sensorial; no entanto, a substituição
de 0,108% (IBGE, 2003, apoud, NASCIMENTO, 2011). Desta parcial é possível e permite a elaboração de produtos com
forma, é preciso que surgem alternativas inovadoras de melhores características nutricionais e maior aceitação.
mercado, utilizando esta hortaliça como ingrediente ou As farinhas de vegetais podem ser empregadas de
substituinte de outro alimento, preservando significativamente diferentes maneiras, como produtos de panificação,
seu sabor e sua qualidade por maior período de tempo. confeitaria, suplementos alimentares, entre outros. O
A elaboração de farinhas a partir do maxixe (Cucumis melhoramento da qualidade da farinha representa um
anguria L.) desperta a diversificação dos alimentos no acréscimo na qualidade do produto, uma oportunidade para se
mercado, agregando valor a esta hortaliça como uma agregar valor ao mesmo (SMANHOTTO, 2006).
alternativa de significância ecológica, econômica e social para A produção de farinha acontece artesanalmente, são
a região. produzidas em condições higiênico-sanitárias inadequadas,
De acordo com a Resolução Brasileira, (BRASIL, 2005) onde há incidência de animais domésticos ou pragas nos
a qual define a farinha como sendo produtos obtidos de partes locais de produção, equipamentos impróprios e mal
comestíveis de uma ou mais espécies de cereais, higienizados e em particular a falta de higienização dos
leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por manipuladores, corroborando com a elevada carga microbiana
moagem e ou outros processos tecnológicos considerados do produto acarretando sérios problemas a saúde.
seguros para produção de alimentos. O produto assim obtido Portanto, o objetivo deste trabalho foi elabora farinha a
recebe o nome de farinha, seguido do nome do vegetal de partir da hortaliça maxixe e verificar a qualidade microbiológica
origem e pode ser classificado como: farinha simples, quando e físico-química das farinhas elaboradas do maxixe Cucumis
obtido de uma só espécie vegetal (Ex: farinha de amendoim, anguria L. em diferentes temperaturas de secagem.
farinha de milho, entre outras); ou farinha mista, quando
ocorre mistura de farinhas de diferentes espécies de vegetais.
Dias; Leonel, (2006) descreve que a farinha caracteriza-
se em um alimento de alto valor energético, rico em amido,
contém fibras e alguns minerais como potássio, cálcio, fósforo,
sódio e ferro.
De modo geral, a tecnologia moderna vem estudando
alternativas para a substituição da farinha de trigo, o qual
467 468
2. MATERIAIS E MÉTODO 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O maxixe empregado no processamento foi proveniente A qualidade e a segurança alimentar são itens
do sitio Pinhões situado a 6 km do centro da cidade de fundamentais na manipulação de alimentos, em especial
Pombal-PB, a partir de cultura espontânea. Após a colheita, as durante as fases de produção. Velic, et. al., (2003) afirmam
hortaliças foram acondicionadas em caixas de papelão e que as frutas e Hortaliças sofrem um aumento na taxa de
transportadas, à temperatura ambiente, ao Laboratório de deterioração devido a transferência da microbiota da casca
Analises do Centro Vocacional Tecnológico - UFCG, Campus para a polpa, onde os microrganismos se desenvolvem,
Pombal-PB. Realizou-se critérios de seleção dos maxixes acarretando perdas nesses alimentos.
envolvendo os atributos de qualidade como: cor, A estabilidade de um alimento submetido ao
uniformização no tamanho dos frutos, grau de maturação, processamento de secagem se conserva por mais tempo que
quantidade e tamanho dos espículos para raspagem das o alimento in natura, pois a microbiota encontra baixa umidade
superfícies antes do processamento, ausência de injúrias e o que impede seu crescimento. A tabela 1 apresenta a media
incidência visual de contaminação microbiana. dos resultados microbiológicos das farinhas do maxixe
Os maxixes selecionados passaram inicialmente por submetidas a tratamento de secagem em diferentes
uma pré-lavagem com água corrente para completa remoção temperaturas.
dos resíduos de terra. Em seguida, foram imersos, por 10
minutos em solução de hipoclorito a 10%, posteriormente, os Tabela 1: Médias dos resultados microbiológicos obtidos da
maxixes inteiros foram lavados e passaram por um corte para farinha da casca e da casca do maxixe em função das diferentes
temperaturas de secagem
separação da casca e da semente. Parâmetros microbiológicos
Em seguida, as cascas e as sementes da hortaliça Bactérias Contagem
foram colocadas em estufa controlada para secagem em Amostras Coliformes aeróbias Bolores e Bacillus Salmonella
a 45⁰C mesofilas Leveduras cereus spp./25g
diferentes temperaturas 70⁰C, 80⁰C e 90⁰C, respectivamente.
(NMP/g) (UFC/g) (UFC/g) (UFC/g)
Após o tratamento térmico, foram submetidos a moagem no FS 70°C Ausente 1,50x 10
3
Ausente Ausente Ausente
moinho de facas para a elaboração das farinhas e em seguida FS 80º C Ausente 0,09 x10
3
Ausente Ausente Ausente
acondicionados em sacos plásticos, para analise imediata dos FS 90º C Ausente Ausente Ausente Presente Ausente
3
parâmetros microbiológicos. FC 70ºC 0,3 4,00 x10 Ausente Ausente Ausente
A avaliação microbiológica quanto ao teste presuntivo, FC 80ºC Ausente Ausente Ausente Presente Ausente
coliformes a 35ºC e a 45ºC, Salmonella sp/25g, Bacillus FC 90ºC Ausente 25,00x10
3
Ausente Presente Ausente
2 -
cereus, bactérias aeróbias mesófilas e contagem de Bolores e PADRÃO 10 - - Ausente
Leveduras. *FS( farinha da semente do maxixe); FC ( farinha da casca do maxixe)

469 470
Conforme apresentados na tabela 1, os resultados pH abaixo de 4,5, pode-se dizer que esta faixa de pH contribui
obtidos na análise microbiológica para as farinhas de maxixe para o crescimento e a ação deteriorante destes no alimento.
semente e a casca em diferentes temperaturas de secagem, Para as amostras de farinha da semente e da casca do
foram para os coliformes a 45⁰C ausência, exceto na amostra maxixe não foram verificadas presença de Salmonella sp. em
FC 70ºC (0,3 NMP⁄g), com valor dentro dos padrões vigente, 25g, conforme os padrões estabelecidos pela legislação
indicando que as mesmas foram elaboradas em condições vigente. De fato, indica que durante o preparo das farinhas
higiênico-sanitárias adequadas durante todas as etapas de ocorreu medidas de controle e prevenção em todas as etapas
produção e manipulação do alimento. A presença dos de produção, a fim de assegura a qualidade e a segurança do
microrganismos coliformes a 45⁰C infere-se dizer que o produto.
material fecal entrou em contato com o alimento, de forma
direta ou indireta. Na amostra FC 70ºC, também foi 4. CONCLUSÕES
diagnosticada a presença de enterobactérias.
Na contagem de bactérias aeróbias mesófilas obtidas A elaboração de farinhas extraídas das partes (casca e
em amostras de farinhas da casca e da semente do maxixe semente) do maxixe em diferentes temperaturas de secagem
verificaram que os valores variaram de 4,00 x103 a 25,00x103 e surge como alternativa viável para o aproveitamento do
0,09 x103 a 1,50x 103 UFC/g, respectivamente. Estes alimento, sendo empregadas como ingredientes na elaboração
resultados são indicadores de que maneira os alimentos foram de novos produtos em vista as suas características
processados. fisiológicas. Os níveis de contaminação não apresentaram
Bacillus cereus é uma bactéria geralmente encontrada diferenças significativas com relação aos microrganismos
no solo e nos reservatórios naturais e, por essa razão, termotolerantes, com exceção de FC70⁰C, inclusive com
frequentemente contamina vegetais, cereais e tubérculos, isolamento enterobactérias. A contagem microbiana
além de estar associada à contaminação por toxina emética encontradas neste estudo, demonstram que as farinhas foram
(GHELARDI et al., 2002; MINNAARD et al., 2001). Nas elaboradas utilizando as boas praticas de fabricação em toda
farinhas elaboradas com a casca e semente do maxixe, houve cadeia produtiva, tornando-o um produto de qualidade e
contaminação de Bacillus cereus nas amostras (FC 80°C, FC seguro para o consumo.
90ºC e FS90ºC), a qual pode ocasionar no alimento
deterioração.
As amostras de farinhas não apresentaram
contaminação por bolores e leveduras. As colônias de bolores
e leveduras ocorre pela exposição ao ar, falhas durante o
controle da temperatura e o acondicionamento do produto.
Supunha-se, portanto, que a maioria das hortaliças possuem
471 472
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GALERA, J. S. Substituição parcial da farinha de trigo por
farinha de arroz (Oriza sativa L. na produção de “sonho” –
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Maxixe. [200-] estudo modelo. dissertação de mestrado. USP, 2006.
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BATISTA, M.A.V.; SOUZA; J.P.; NOGUEIRA, D.H.; et al. foodpoisoning outbreaks. FEMS Microbiology Letters, Delf,
Caracterização física de frutos de maxixe comum colhidos v.208, n.1, p.129-134, 2002. Disponível em: <http://
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Sanitária. Resolução RDC nº. 12, de 02 de Janeiro de 2001. LIMA, A. S., et. al. Caracterização Centesimal de maxixe e sua
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MINNAARD, J. et al. Effect of Bacillus cereus exocellular
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DIAS, L. T.; LEONEL, M. Caracterização físico-química de E SENSORIAL DE CONSERVA DE MAXIXE (Cucumis
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Ciências agrotécnicas, Lavras, v.26, n.1, p. 188-197, 2006. ISSN 1982-422X , Vol. 6, número 1, jan-jun. 2011
Disponível em:
<www.cnph.embrapa.br/laborato/pos_colheita/dicas/maxixe.ht SANTOS, D.L.; CARDOSO, V.J.M. Thermal-biological aspects
m-14k>. on the seed germination of Cucumis anguria L.: influence of
the seed coat. Rev. Bras. Botânica, São Paulo, v. 24, n. 4, p.
435-440, 2001.

473 474
SMANHOTTO, A. et al. Características físicas e fisiológicas CAPÍTULO 37
na qualidade industrial de cultivares e linhagens de trigo e
triticale. Campina grande, 2006. MEL DE Apis mellifera: ESTUDO DA QUALIDADE
MICROBIOLÓGICA
VELIC, D.; PLANINIC, S.; VILIC, M. Influence of airflow
velocity on kinetics of convection aplle drying. Journal of Food João Felipe SANTIAGO NETO¹
Engineering, n. 64, p. 97-102, 2003. Fernanda dos Santos Nunes de MELO2
Wiaslan Figueiredo MARTINS3
YOKOYAMA, S.; SILVA JUNIOR, A. A. Maxixe: uma hortaliça
Janailson da Costa ALMEIDA4
pouco conhecida. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, Alfredina dos Santos ARAUJO5
v. 1, n. 3, p. 12-13, 1988. 1Aluno de Bacharelado em Agroindústria (CCHSA/UFPB). E-mail: felipe-
_santiago@hotmail.com; 2Aluna de mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos
(PPGCTA/UFPB); 3 Aluno de mestrado em Engenharia de Alimentos (EQA/UFSC); 4Aluno de
graduação em Engenharia de Alimentos (CCTA/UFCG); 5 Professora (CCTA/UFCG)

RESUMO: A flora microbiana do mel é variável, tendo sua


microbiota própria e a que é introduzida através de fatores
externos como manejo inadequado. O objetivo deste trabalho
foi avaliar a qualidade microbiológica dos méis de Apis
mellifera produzidos no Sertão Paraibano. Foram coletadas 31
amostras do mel de Apis mellifera em diferentes localidades
do Sertão Paraibano e foram encaminhados para o
Laboratório de Microbiologia de Alimentos do CVT/UFCG-
Pombal para a análise de coliformes a 35°C e 45°, Escherichia
coli., bactérias aeróbias mesófilas, Staphylococcus sp.,
Salmonella spp. e Bolores e Leveduras. Foram avaliadas
contaminação por coliformes a 35°C e 45°C em 45% e 13%
das amostras, respectivamente. Escherichia coli. esteve
presente em 10% das amostras analisadas. Bactérias
aeróbias mesófilas, Staphylococcus sp., Salmonella spp. e
bolores e leveduras foram evidenciados com porcentagens de
97%, 58%, 35% e 55% nos méis. Conclui-se que todas as
amostras do mel de Apis mellifera apresentaram

475 476
contaminação, evidenciando a falta de qualidade do méis que fazem com que o mel tenha um substrato pouco favorável
produzidos no Sertão Paraibano, sendo importante a ao desenvolvimento bacteriano. Por outro lado, o mel tem
implantação de Boas Práticas Apícolas para uma melhor propriedades distintas que inibem ou destroem a maior parte
qualidade do mel. dos microrganismos. Os microrganismos que poderão estar
presentes no mel são os que suportam a concentração
Palavras-chave: Apicultura, Contaminação, Segurança elevada de açúcar, acidez e carácter antimicrobiano do mel,
alimentar. principalmente leveduras, fungos e bactérias formadoras de
esporos (ALMEIDA, 2010).
1. INTRODUÇÃO Por ser um produto consumido geralmente in natura e
sua exploração e processamento ser realizada na maioria das
O mel é o produto alimentício produzido pelas abelhas vezes por pequenos produtores que não dispõe da aplicação
melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções de boas práticas de fabricação, o objetivo do trabalho foi
procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de determinar a qualidade microbiológica do mel de Apis mellifera
insetos sugadores de plantas que ficam sobre as partes vivas produzido no Sertão Paraibano.
destas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam
com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam 2. MATERIAL E MÉTODOS
maturar nos favos da colmeia (BRASIL, 2000). A produção de
mel no Brasil foi de 33.574 t, tendo o Nordeste produzido 2.1 PESAGEM E PREPARO DA AMOSTRA
7.700 t com a Paraíba representando 0,6% do total produzido
no Brasil (IBGE, 2012). Para o estudo foram coletadas 31 amostras de mel de
A qualidade microbiológica do mel varia, já que os Apis mellifera em diferentes localidades do Sertão Paraibano,
produtos apícolas apresentam uma microbiota própria que sendo acondicionados em caixas isotérmicas e identificadas
pode ser dividida em microrganismos peculiares, os quais são de M1 a M31. As análises foram realizadas no Laboratório de
introduzidos pelas próprias abelhas, e microrganismos Análises Microbiológicas de Alimentos do Centro Vocacional
considerados acidentais, que são introduzidos de forma Tecnológico (CVT) da Universidade Federal de Campina
indesejada devido à falta de higiene na manipulação e Grande (UFCG), Campus Pombal. A qualidade microbiológica
beneficiamento incorretos, onde as más condições de foi avaliada mediante pesquisa de coliformes a 35°C e 45°C,
armazenamento do mel também podem influenciar na Escherichia coli., bactérias aeróbias mesófilas,
qualidade microbiológica do produto (SCHLABITZ, 2010). O Staphylococcus sp., Salmonella spp./25g e Bolores e
mel é um alimento que apresenta pH ácido, umidade e Leveduras, seguindo a metodologia descrita por Silva, (2010).
atividade da água baixa (aw), viscosidade elevada, Para preparar a primeira diluição 10-1 utilizou-se 25 g de
concentração de açúcares e pressão osmótica alta, condições mel, adicionou-se 225 mL de água peptonada tamponada
477 478
esterilizada a 0,1%. A preparação das diluições decimais 2.4 DETERMINAÇÃO DE STAPHYLOCOCCUS SP.
subsequentes foram realizadas em tubos contendo 9mL do
mesmo diluente até 1/1000 (SILVA, 2010). Na determinação de Staphylococcus sp. utilizou-se o
método em superfície no meio de cultura Agar Baid-Parker
2.2 IDENTIFICAÇÃO DO GRUPO COLIFORME suplementado com solução de gema de ovo a 50% e telurito
de potássio a 3,5%. As placas foram incubadas a 35°C/48
Cada diluição foi semeada em três tubos, contendo horas. A solução de gema de ovo possibilita a verificação das
caldo Lauril Sulfato Triptose (LST), para a quantificação do atividades proteolítica e lipolítica do Staphylococcus sp., por
teste presuntivo de coliformes (NMP). A incubação ocorreu em meio do aparecimento de um halo de transparência e um de
estufa bacteriológica a 35 ± 2°C, por 48 horas e conside rados precipitação ao redor da colônia (colônias típicas), ao mesmo
positivos aqueles com presença de crescimento bacteriano ou tempo em que o Staphylococcus sp. reduz o telurito de
que apresentaram-se turvos. A partir dos tubos positivos no potássio produzindo colônias negras (SILVA, 2010).
teste presuntivo procedeu-se a repicagem para os tubos
contendo Caldo Verde Bile Brilhante 2%, com incubação a 36 2.5 SALMONELLA SPP.
± 1°C por 24 horas. A partir dos tubos positivos de colif ormes
a 35°C procedeu-se a repicagem para tubos contendo Caldo Na determinação de presença de Salmonella spp.
EC para confirmação de coliformes a 45°C (termotoleran tes), utilizou-se o método em superfície no meio de cultura
com incubação a 45 ± 0,2°C/ 24- 48 horas em banho-mari a Salmonella Differential Agar, incubando-se a temperatura de
com circulação de água modelo Q- 215M2 QUIMIS. Para 36 ± 1°C/48 h (SILVA, 2010).
determinação de Escherichia coli. realizou-se repicagem para
o meio EMB Agar (Eosine Mehylene Blye), incubando-se a 35 2.6 CONTAGEM DE BOLORES E LEVEDURAS
± 2 °C durante 48 horas (SILVA, 2010).
Para a quantificação de bolores e leveduras, semeou-se
2.3 BACTÉRIAS AERÓBIAS MESÓFILAS em profundidade 1mL de cada diluição decimal seriada, em
duplicata, utilizando o Ágar Batata Dextrose (BDA) acidificado
Para quantificação dos microrganismos mesófilos com ácido tartárico 10% até pH 3,5. A incubação deu-se em
utilizou-se a contagem padrão em placas com incubação a 36 estufa bacteriológica a temperatura ambiente por cinco dias
± 1°C/48 h pelo método de "Pour Plate", em Agar nut ritivo, (SILVA, 2010).
com duas repetições em cada diluição (SILVA, 2010).

479 480
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1- Resultados das análises microbiológicas do grupo
coliforme em amostras de méis de Apis mellifera do Sertão
Os resultados obtidos das análises do grupo coliforme, Paraibano.
coliforme a 35°C, coliforme a 45°C e Escherichia coli. estão Microrganismos
exposto na Tabela 1. AMOSTRA Coliformes a 35°C Coliformes a Escherichia
(NMP/g) 45°C (NMP/g) coli.
A presença de microrganismos do grupo coliformes M1 23 AUSENTE AUSENTE
M2 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
indica contaminação externa durante a manipulação e M3 9,1 9,1 PRESENTE
processamento, comprometendo, assim, a qualidade final do M4 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M5 23 AUSENTE AUSENTE
produto (PÉRICO, 2011). Para os resultados encontrados M6 3,6 AUSENTE AUSENTE
M7 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
(Tabela 1), cerca de 45% das amostras obtiveram a presença M8 >1100 20 AUSENTE
de coliformes a 35°C com resultados variando de 3,6 a >1 100 M9 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M10 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
NMP/g. Costa, (2013) encontrou resultados que variaram de M11 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
3,6 a 75 NMP/g para os mesmos microrganismos. Coliformes M12 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M13 23 AUSENTE AUSENTE
a 45°C esteve presente em aproximadamente 13% nas M14 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M15 9,1 9,1 PRESENTE
amostras analisadas com variação de 3,6 a 20 NMP/g. M16 9,1 3,6 PRESENTE
Mendes, (2010) analisou 13 amostras de méis M17 43 AUSENTE AUSENTE
M18 23 AUSENTE AUSENTE
comercializados em feiras livres em Mossoró, e encontrou M19 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M20 23 AUSENTE AUSENTE
contaminação em apenas uma das amostras para coliformes a M21 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
45°C. A contaminação por Escherichia coli. ocorreu em três M22 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M23 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
amostras (10%) M3, M15 e M16. Périco, (2011) avaliou a M24 9,1 AUSENTE AUSENTE
qualidade microbiológica de trinta amostras de méis de M25 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M26 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
diferentes marcas comercializados em Toledo - PR e todos os M27 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M28 9,1 AUSENTE AUSENTE
méis analisados apresentaram resultado negativo para a M29 AUSENTE AUSENTE AUSENTE
pesquisa de bactérias do grupo coliformes, não necessitando M30 21 AUSENTE AUSENTE
M31 3,6 AUSENTE AUSENTE
realizar a prova para Escherichia coli. e indicando boas
práticas de manipulação do mel em relação à colheita,
processamento e manipulação do produto.

481 482
Foram encontrados resultados elevados para bactérias
Tabela 2 - Resultados das análises microbiológicas realizadas aeróbias mesófilas (Tabela 2) de 0,01x10² a 4x105 UFC/g,
em amostras de méis de Apis mellifera produzidas no Sertão estando apenas a amostra M31 ausente deste microrganismo.
Paraibano. Silva, (2013) encontrou resultados semelhantes também
Microrganismos
analisando méis do Sertão Paraibano em que os valores
Bactérias
Amostra aeróbias Staphylococcus Salmonella Bolores e Leveduras máximos foram 41,5x104. A contagem dessas bactérias é
mesófilas sp. (UFC/g) spp./25g (UFC/g) importante para indicar a qualidade higiênica dos alimentos,
(UFC/g)
M1 17x10² 0,16x10² PRESENTE AUSENTE mesmo que os patógenos estejam ausentes e/ou que não
M2 2981x10² 14x10² AUSENTE 0,96x10² tenham ocorrido alterações sensoriais no alimento, uma
M3 87x10² AUSENTE AUSENTE 1,7x10²
M4 2,5x10² 0,16x10² PRESENTE AUSENTE contagem alta aponta para um alimento insalubre para o
M5 0,05x10² 0,16x10² AUSENTE AUSENTE consumo (JAY, 2005).
M6 12x10² 1,66x10² PRESENTE 0,013x10²
M7 4x105 AUSENTE PRESENTE 6x10² A presença de Staphylococcus sp. (Tabela 2) ocorreu
M8 433x10² 1,66x10² PRESENTE AUSENTE em 58% das amostras de méis analisados com valores de
M9 176x10² 0,16x10² AUSENTE AUSENTE
M10 4444x10² AUSENTE AUSENTE 0,03x10² 0,01x10² a 2x105 UFC/g. Melo (2012) obteve ausência para
M11 157x10² AUSENTE AUSENTE AUSENTE Staphylococcus sp. ao analisar méis de acordo com a florada
M12 449x10² 2021x10² AUSENTE 1,66x10²
M13 4,15x10² 0,01x10² AUSENTE AUSENTE típica do Sertão Paraibano para produção de aguardente. Não
M14 0,16x10² AUSENTE AUSENTE AUSENTE existe uma concordância clara sobre a dose infectante capaz
M15 40x10² 0,01x10² AUSENTE 0,2x10²
M16 0,3x10² AUSENTE AUSENTE 0,01x10² de causar sintomatologia em seres humanos, mas alguns
M17 52x10² 0,2x10² PRESENTE 0,01x10² estimam em torno de 1mg/g de alimento com contaminação de
M18 1,85x10² AUSENTE PRESENTE AUSENTE
M19 9x10² 1,66x10² AUSENTE AUSENTE 106 células/g (GAVA, 2008). Segundo o Ministério da Saúde,
M20 3,5x10² 0,03x10² PRESENTE 0,16x10² no Brasil, dentre os agentes mais frequentes em surtos de
M21 0,01x10² AUSENTE AUSENTE AUSENTE
M22 1,2x10² AUSENTE PRESENTE 0,1x10² Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), o Staphylococcus
M23 7x10² AUSENTE PRESENTE AUSENTE sp., apresentou-se como o agente etiológico causador de 635
M24 8x10² 0,16x10² PRESENTE AUSENTE
M25 1104x10² 0,8x10² AUSENTE 0,16x10² surtos, correspondendo a 20,5% do total das notificações
M26 604x10² 0,16x10² AUSENTE AUSENTE ocorridas entre 1999 a 2009 (BRASIL, 2009).
M27 4489x10² AUSENTE PRESENTE 0,16x10²
M28 23x10² 0,01 x 10² AUSENTE 0,01x10² A Salmonella spp. são bacilos Gram-negativos não
M29 12x10² AUSENTE AUSENTE 0,03x10² produtores de esporos, anaeróbios facultativos, produtores de
M30 6,33x10² 0,5x10² PRESENTE 0,55x10²
M31 AUSENTE AUSENTE AUSENTE 3,33x10² gases a partir da glicose e utilizam o citrato como fonte de
Na Tabela 2 encontram-se os resultados das análises carbono (FRANCO; LANDGRAF, 2008). A Salmonelose trata-
de bactérias aeróbias mesófilas, Staphylococcus sp., se de uma infecção alimentar na qual células viáveis de
Salmonella spp. e Bolores e Leveduras. Salmonella spp. são ingeridas ocasionando gastroenterite.
Esta bactéria é encontrada nos tratos intestinais de
483 484
mamíferos, aves, anfíbios, répteis, crustáceos e moluscos, 4. CONCLUSÃO
nestes últimos por poluição da orla litorânea (GAVA, 2008). A
presença de Salmonella spp. (Tabela 2) ocorreu em Os resultados indicam qualidade higiênico-sanitária
aproximadamente 35% das amostras de méis. Silva, 2013 insatisfatória na produção do mel do Sertão Paraibano,
encontrou a presença de Salmonella spp. em 15,4% das 13 devendo haver o implemento das Boas Práticas Apícolas na
amostras de méis de Apis mellifera analisadas no Sertão região, em vista de se obter um produto com qualidade
Paraibano. Alves, 2011 analisando méis de três municípios do satisfatória e que seja seguro para o consumo da população.
estado do Ceará encontrou ausência de Salmonella spp.
Bolores e Leveduras (Tabela 2) foram encontrados em 5. REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS
aproximadamente 55% das amostras com valores mínimos de
0,01x10² e máximos de 6x10² UFC/g. Alves, 2009, encontrou ALVES, E. M., TOLEDO, V. de A. A. de, MARCHINI, L. C.,
valores máximos de 3,8x10¹ UFC/g de Bolores e Leveduras, SEREIAL, M. J., MORETI, A. C. de C. C., LORENZETTI, E. R.,
analisando 24 méis orgânicos de Apis mellifera de ilhas do alto NEVES, C. A., SANTOS, A. A. Presença de coliformes,
rio Paraná. Em pesquisa com méis na cidade de Tabuleiro do bolores e leveduras em amostras de mel orgânico de abelhas
Norte no Ceará, Santos, (2010) ao analisar sete amostras africanizadas das ilhas do alto rio Paraná. Ciência Rural, v.39,
encontrou valores que variaram de <10 a 6x10¹ UFC/g para n.7, out, 2009.
Bolores e Leveduras. Santos, (2013) ao analisar 49 amostras
de méis de Apis mellifera provenientes do Território Portal do ALMEIDA, C. M. V. de B. Detecção de contaminantes no
Sertão da Bahia encontrou contagem de bolores e leveduras mel. 2010. 94 f. Dissertação (Mestrado em Segurança
com mínimo de 1x10¹ e máximo de 6,5x10² UFC/g. O maior Alimentar) - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade
problema relacionado com a presença de bolores e leveduras Técnica de Lisboa. Lisboa, 2010.
é a fermentação, que resulta do consumo dos açúcares pelas
leveduras, com produção de numerosos subprodutos que ALVES, T. T. L., MENESES, A. R. V. de, SILVA, J. N.,
alteram o paladar e o aroma do mel (SANTOS, 2010). A PARENTE, G. D. L., NETO, J. P. de H. Caracterização físico-
presença desse microrganismo pode estar relacionado ao seu química e avaliação microbiológica de méis de abelhas nativas
processamento ou durante a extração, também sendo do Nordeste brasileiro. Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil)
importante o controle da umidade durante o armazenamento v.6, n.3, p.91 - 97 julho/setembro de 2011.
para inibir o crescimento do microrganismo. Outra
consideração é que a contaminação por estes microrganismos BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
pode estar associada a presença de poeira nas flores durante Instrução Normativa N°11 de 20 de outubro de 2000.
a visita das abelhas, uma vez que a maioria dos grupos destes Aprova o regulamento técnico de identidade e qualidade do
microrganismos é originária do solo ou ar (SILVA, 2010).
485 486
mel. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 23 out. 2000. Secção 1, p.23. MENDES, C. de G., ABRANTES, M. R., ROCHA, M. de O. C.,
PEREIRA, M. W. F., SOARES, K. M. de P., MESQUITA, L. X.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em de, AROUCHA, E. M., M., SILVA, J. B. A. da. Qualidade de
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Transmissão Hídrica e Alimentar. Análise epidemiológica município de Mossoró, RN. Acta Veterinária Brasílica, v.4,
dos surtos de doenças transmitidas por alimentos no n.3, p.190-192, 2010.
Brasil, 1999 – 2009. 2009c. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/analise_ep_surtos MELO, F. dos S. N. de. Obtenção de aguardente de mel de
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COSTA, W. M.; MEDEIROS, K. C.; RODRIGUES, M. S. A.; Pombal, 2012.
DEODATO, J. N. V.; RODRIGUES, A. A.; ARAUJO, A. S. Mel
de abelhas Apis mellifera: Condições higiênico sanitárias. III PÉRICO, E.; TIUMAN, T. S.; LAWICH, M. C.; KRUGER, R. L.
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Abelha e Meio ambiente: Desenvolvimento com comercializados no município de Toledo, Pr. Revista Ciências
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FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos SCHLABITZ, C.; SILVA, S.A.F.; SOUZA, C.F.V. 2010.
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Artmed, 2005.
487 488
de métodos de análise microbiológica de alimentos e CAPÍTULO 38
água. 4ª edição. São Paulo: Livraria Varela, 2010.
ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE Brassica
SILVA, E. V.; RODRIGUES, M. S. A.; ALBUQUERQUE, T. N.; oleraceae (REPOLHO ROXO) COMERCIALIZADOS NO
CANDIDO, A. F. M.; ARAUJO, A. S. Determinação da ALTO SERTÃO PARAIBANO
qualidade do mel de abelhas Apis melífera produzido no
Sertão Paraibano. Anais do XVIII Encontro Nacional e IV Janailson da Costa ALMEIDA1
Congresso Latino Americano de Analistas de Alimentos, Willianny Medeiros COSTA¹
São Paulo, 2013. Maria do Socorro Araujo RODRIGUES2
Alfredina dos Santos ARAUJO3
SANTOS, P. C. DOS S. Características físico-químicas e Gilcean Silva ALVES4
microbiológicas de méis de Apis mellifera Linnaeus, 1758 1Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG; 2 Mestranda em Sistemas Agroindustriais,

(Hymenoptera: Apidae) provenientes do território portal UFCG; 3 Professor adjunto III CCTA, UFCG; 4 Professor IFPB.

do sertão, Bahia. 2013. 61 f. Dissertação (Mestrado em


Ciências Agrárias) - Universidade Federal do Recôncavo da RESUMO: A contaminação microbiológica pode provocar
Bahia, Cruz das Almas, 2013. surtos alimentares, colocando em risco a saúde da população.
Diante disso, os repolhos sanitizados ou não, são passíveis de
contaminação e pode se tornar um alimento inseguro para o
consumo humano. Portanto, o presente trabalho objetivou em
analisar a qualidade microbiológica de 20 amostras de repolho
roxo comercializado na cidade de Pombal-PB, sendo que 10
amostras passaram pelo processo de sanitização com devida
finalidade de comparação. As amostras foram analisadas no
Laboratório de Microbiologia de Alimentos do Centro
Vocacional Tecnológico/UCFG Câmpus Pombal, onde foram
analisadas quanto a: Coliformes a 35°C e a 45°C, Bolor es e
Leveduras, Contagem total de bactérias aeróbias mesófilas
(CTM), Staphylococcus spp. e Salmonella sp/25g, utilizando
metodologia sugerida pelo MAPA. Onde foi possível observar
que apenas 70% das amostras com o recurso da sanitização
esta apta ao consumo humano segundo a legislação vigente

489 490
oferecendo a ausência de patógenos como a Salmonella 1999 a 2004, os custos com os casos de internamento por
sp/25g, logo as que não passaram por esse método da Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), foram de 280
sanitização, 100% das amostras não está apta ao consumo milhões de reais, com média de 46 milhões de reais por ano
humano, pois oferece risco a saúde do consumidor. (CARMO GMI, et al. 2005). A Food and Drug Administration -
Palavras-chave: Brassica oleraceae. Sanitização. FDA, relatou que de 1996 a 2006 setenta e dois surtos de
Microganismos. doenças de origem alimentar foram associados com o
consumo de produtos frescos.
1. INTRODUÇÃO Dentro deste contexto, o presente trabalho tem por
objetivo avaliar a qualidade microbiológica de 20 amostras de
O repolho roxo (Brassica oleracea) é uma hortaliça de repolho roxo antes e após a sanitização, para efeito
cabeça, formada por folhas espessas, cerosas, conchoidais e comparativo.
imbricadas numa sobreposição de folhas. Destaca-se como
fonte de vitamina C, mas também fornece vitaminas B1, B2, E
e K, além de sais minerais, sobretudo cálcio e fósforo. As
variedades mais apropriadas ao processamento mínimo são 2. MATERIAIS E MÉTODOS
as que têm alta compacidade da cabeça (cabeças mais
firmes), por oferecer maior resistência ao corte e, 2.1 SELEÇÃO E COLETA DAS AMOSTRAS
consequentemente, resultar num produto de melhor qualidade.
Estudos demonstram que o repolho é uma das principais As amostras de repolho roxo foram adquiridas no mercado
hortaliças escolhidas quando se deseja a agregação de valor, local da cidade de Pombal – PB, onde foram embaladas
sendo assim até mais valorizado que na sua forma in natura individualmente em sacos plásticos e transportadas em
(SILVA, 2007). condições ambiente para o Laboratório de Microbiologia de
A demanda por repolhos roxos é muito menor que a de Alimentos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), da
repolhos verdes, mas vem aumentando, especialmente em Universidade Federal de Campina Grande - Campus de
grandes centros. Em 2007, foram comercializados na Pombal. As hortaliças foram lavadas em água corrente, em
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de seguida, parte delas foram sanitizadas sendo imersas por
São Paulo (CEAGESP) cerca de 4 mil toneladas de repolho aproximadamente 15 minutos em água contendo 25 ml/L (uma
roxo, com preço médio mensal de R$ 0,61/kg (FILGUEIRA, colher de sopa) de água sanitária, com posterior imersão em
2008). Os produtos frescos e/ou processados têm sido água destilada.
veículos de contaminação por bactérias envolvidas em surtos,
que constituem um grande problema de saúde pública, sendo
responsáveis por elevados custos econômicos. No Brasil, de
491 492
2.2 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS 2.5 DETERMINAÇÃO DE STAPHYLOCOCCUS SP.

Na determinação de Staphylococcus sp. utilizou-se o


Foram submetidas à análise de qualidade higiênico método em superfície no meio de cultura Ágar Baid-Parker
sanitárias, de acordo com os parâmetros de Coliformes à 45°C suplementado com solução de gema de ovo a 50% e telurito
(NMP/g), Salmonella sp/25g (presença ou ausência), de potássio a 3,5 %. As placas foram incubadas a 35°C/48
Staphylococcus sp (UFC/g) e Bolores e Leveduras (UFC/g), horas. A solução de gema de ovo possibilita a verificação das
conforme metodologia descrita por Silva (2010). atividades proteolítica e lipolítica do Staphylococcus sp., por
meio do aparecimento de um halo de transparência e um de
2.3 DETERMINAÇÃO DE COLIFORMES
precipitação ao redor da colônia (colônias típicas), ao mesmo
tempo em que o Staphylococcus sp. reduz o telurito de
Homogeneizou-se 25 g de amostra de repolho roxo,
potássio produzindo colônias negras.
com 225 mL de Água Peptonada 0,1 %. Para o teste
presuntivo alíquotas de 1 mL de cada diluição foram 2.6 DETERMINAÇÃO DE BOLORES E LEVEDURAS
inoculadas em três tubos contendo 9 mL de Caldo Lauryl
Sulfato Triptose, com tubos de Duhran invertidos e incubados
a 35º ± 2 °C/24-48 h. A partir dos tubos com leitura positiva, foi Na determinação de Bolores e leveduras, utilizando-se
transferida uma alçada da cultura para o teste confirmatório no a técnica em profundidade, empregando-se o meio agar batata
Caldo Verde Brilhante Bile, incubados a 35 ± 2 °C/24 h para o dextrose fundido e acidificado com ácido tártarico a 10%. Após
caldo EC, incubados em banho-maria a 44,5 ºC/24 h para coli a solidificação do ágar, as placas foram incubadas uma
a 45 °C. Para a quantificação de foi utilizada a técni ca do temperatura de 25ºC durante 5 dias. Após este tempo foi feita
Número Mais Provável (NMP). a leitura das placas.

2.4 DETECÇÃO DE SALMONELLA SPP. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Staphylococcus sp. é uma bactéria que habita com


Na determinação de presença de Salmonella sp/25g
frequência a nasofaringe do ser humano, a partir da qual pode
utilizou-se o método em superfície no meio de cultura
facilmente contaminar as mãos do homem e penetrar no
Salmonella Diferential Ágar, incubando-se a temperatura de 36
alimento, causando a intoxicação alimentar estafilocócica
± 1 °C/48 h
(MARTINS, 2010). Na análise de Sthaphylococcus sp. as
amostras sanitizadas obtiveram valores variando da ausência
em uma das amostras até 4,0 x 10² UFC/g desse

493 494
microrganismos. Quanto aos resultados encontrados das 200000

Bacteria Aeróbicas
Mesófilas (UFC/g)
amostras não sanitizadas, apresentaram uma variação
150000
crescente de 2,0 x 101 a 2,1 103 UFC/g.
100000
2500
Staphylococcus

50000
spp. (UFC/g)

2000 0
1500
1000
500 Amostras
0
Figura 2: Resultados obtidos para a contagem total de bactérias aeróbias
mesófilas nas amostras de repolho roxo sanitizadas e não-sanitizadas.

Amostras

Figura 1: Resultados das medias obtidas para Sthaphylococcus sp nas


amostras de repolho roxo sanitizadas e não-sanitizadas.
200000

bolores e leveduras
A presença de bactérias nos alimentos, além de
favorecer a deterioração e/ou redução da vida útil desses 150000

(UFC/g)
produtos, possibilita a veiculação de patógenos, acarretando 100000
potenciais riscos à saúde do consumidor. Assim, a higiene
50000
correta dos alimentos é necessária para garantir a segurança
e a sua salubridade em todos os estágios de sua elaboração 0
até o produto final, minimizando a preocupação para a saúde
pública (CORTEZ, 2003). Para os resultados de bactérias
aeróbias mesófilas, as amostras sanitizadas demonstraram Amostras
valores variando de 6,3 x 10² UFC/g a 7,5 x 104 UFC/g,
enquanto as amostras não sanitizadas com valores mínimos
de 8,3 x 103 UFC/g e máximos de 1,5 x 105 UFC/g.
Figura 3: Resultados obtidos para bolores e leveduras nas amostras de
repolho roxo sanitizadas e não-sanitizadas

A presença de Bolores e Leveduras viáveis e em índice


elevados nos alimentos pode fornecer várias informações tais
495 496
como, condições higiênicas deficientes de equipamentos, indicação útil de contaminação pós-sanitização ou pós-
multiplicação no produto em decorrência de falhas no processo, evidencialmente práticas de higiene e sanificação
processamento e/ou estocagem e matéria-prima com aquém dos padrões requeridos para o processamento de
contaminação excessiva (SIQUEIRA, 1995). Os resultados alimentos. Para Coliformes a 45°C, apenas 20% das amost ras
obtidos nas contagens das amostras sanitizadas e não sanitizadas apresentaram este microrganismo com valores
sanitizadas para Bolores e Leveduras apresentaram valores máximos de 0,36 x 10 NMP/g. As amostras não sanitizadas
variando de 1,1 x 102 a 8,8 x 103 UFC/g e 5,3 x 102 a 1,7 x 105 demonstraram valores máximos de 1,2 x 102 NMP/g.
UFC/g respectivamente.
A salmonelose, por sua vez, é geralmente uma doença 4. CONCLUSÕES
autolimitada, apresentando cólicas abdominais, vômito, febre e
diarréia, e particularmente em crianças e idosos pode se
Foi possível observar que apenas 70% das amostras com
tornar grave (SAMUEL, 2007). Na pesquisa de Salmonella
o recurso da sanitização esta apta ao consumo humano
sp/25. 30% das amostras sanitizadas apresentaram
segundo a legislação vigente oferecendo a ausência de
contaminação, enquanto 100% das amostras não sanitizadas
patógenos como a Salmonella spp, logo as que não passaram
confirmaram presença deste patógeno.
por esse método da sanitização, nenhuma esta apta ao
RS presente RS ausente consumo humano, pois oferece risco a saúde do consumidor.
Recomenda-se que sejam aplicadas as Boas práticas de
Fabricação tanto nas técnicas de pós-colheita quanto nas
gôndolas dos mercados, para que haja a garantia de
qualidade para o consumidor.
30%

70%

Figura 4: Resultados obtidos para Salmonella spp nas amostras de


repolho roxo sanitizadas

A presença de Coliformes totais em alimentos


processados segundo SILVA (1997), é considerada uma
497 498
5. REFERÊNCIAS SAMUEL C.M et al. 2007, Consumption of risky foods
among adults at high risk for severe foodborne diseases:
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2014. EMBRAPA, CCTA, 1995, p. 159.

CORTEZ, A.L.L; et al. 2003 Indicadores de qualidade SILVA, Neusely da. Manual de métodos de análise
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FILGUEIRA, F. A. R. et al. 2008 Novo manual de


olericultura: agrotecnologia moderna na produção e
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MARTINS, W.F., et al. 2010 Avaliação microbiológica de


queijos tipo manteiga fabricados artesanalmente no
município de Pombal - PB. IV Congresso Brasileiro de
Qualidade do Leite, Florianópolis-SC, 2010.

499 500
CAPÍTULO 39 apresentando determinados microrganismos ou mesmo baixos
resultados, existe a necessidade de aplicação das boas
CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DE DOCES DE práticas de fabricação e a adoção de critérios rigorosos nas
LEITE PASTOSOS PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS medidas higiênico-sanitárias adotadas em todo
NA MICRORREGIÃO SERTANEJA DA PARAÍBA processamento de doces de leite produzidos artesanalmente.

Yaroslávia Ferreira PAIVA1; Palavras-chave: Doce de leite. Análises microbiológicas.


Everton Vieira da SILVA2; Qualidade. Sertão Paraibano.
Alfredina dos Santos ARAÚJO3;
1
Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG.
2
Doutorando em Química, UFPB; 1. INTRODUÇÃO
3
Profª D.Sc., UFCG;
De acordo com o Regulamento Técnico para Fixação de
RESUMO: Apesar do doce de leite não ser um produto Identidade e Qualidade de Doce de Leite aprovado pela
favorável à presença e/ou crescimento de microrganismos, Portaria n° 354, de 04 de setembro de 1997, do Minist ério da
devido à alta concentração de carboidratos, baixa atividade de Agricultura Pecuária e Abastecimento, entende-se por doce de
água e do contato com altas temperaturas durante a sua leite o produto, com ou sem adição de outras substâncias
fabricação, ele não é um produto inoculo. Portanto, objetivou- alimentícias, obtido por concentração e ação do calor à
se avaliar a qualidade microbiológica do doce de leite pressão normal ou reduzida do leite ou leite reconstituído, com
produzido artesanalmente e comercializado em cinco cidades ou sem adição de sólidos de origem láctea e/ou creme e
localizadas no Sertão Paraibano. Os doces foram analisados adicionado de sacarose (parcialmente substituída ou não por
quanto à presença de Salmonella spp., Coliformes à 35ºC e à monossacarídeos e/ou outros dissacarídeos).
45ºC, Staphylococcus spp. e Contagem total de bactérias A produção brasileira de doce de leite, embora tenha se
aeróbias Mesófilas (CTM), conforme metodologia descrita por mantido estável nos últimos dez anos, atingiu seu ápice em
Silva (2010). Os resultados obtidos para Coliformes à 35ºC e à 1995 com 52,3 toneladas produzidas (MACHADO, 2005; SÁ,
45ºC variaram de 0,52 a 3,15x10NMP/g e de 0 a 2012). Nos últimos cinco anos, a produção se encontra ao
3,13x10NMP/g, respectivamente. Quanto à existência de redor de 34 toneladas/ano (MADRONA, 2009; SÁ, 2012).
Staphylococcus spp. e CTM, os resultados apresentaram-se
entre 0 a 5,9x10UFC/g e 5,55x10² a 6,15x10³UFC/g,
respectivamente, estando dentro do padrão estabelecido pela Pode-se afirmar que a qualidade do produto final obtido
legislação vigente. Também verificou-se Salmonella spp. em depende da qualidade da matéria-prima. Deste modo, para a
duas cidades analisadas. Os dados obtidos nessa pesquisa elaboração de queijos e outros derivados lácteos, como o
nos reforçam que mesmo algumas amostras não doce de

501 502
leite, deve-se utilizar leite de boa qualidade, tanto em relação alimento e seu acondicionamento. Assim, esses
ao aspecto microbiológico, quanto a sua composição físico- microrganismos podem contaminar alimentos em qualquer um
química, já que tais características influenciam dos estágios de produção, beneficiamento, manuseio,
consideravelmente no processo de fabricação (SANCHEZ, processamento, acondicionamento, distribuição e/ou preparo
2004). para o consumo.
O doce de leite é um alimento menos perecível que o leite O exame microbiológico de um alimento pode ser
e de grande aceitação sensorial (DEMIATE, 2001; DESTRI, realizado, entre outros motivos, para verificar sua qualidade
2009). Mas, apesar de não ser um produto favorável à microbiológica ou se este satisfaz determinados critérios
presença e o crescimento de microrganismos, devido a alta microbiológicos. Os microrganismos indicadores são
concentração de carboidratos e assim, baixa atividade de pesquisados com o objetivo de verificar a qualidade higiênico-
água, além do contato com altas temperaturas durante a sua sanitária dos alimentos (FRANCO e LANDGRAF, 1996; SILVA
fabricação, ele não se torna um produto inoculo. ,2011).
Grande parte dos produtos lácteos do sertão paraibano são Nesse contexto, objetivou-se avaliar a qualidade
produzidos artesanalmente e obtidos do leite de animais microbiológica do doce de leite produzido artesanalmente e
advindos de criações de pequeno porte, nas zonas rurais das comercializado em cinco cidades localizadas na microrregião
próprias cidades, onde muitas vezes não possuem as mínimas sertaneja da Paraíba, entre os meses de dezembro de 2013 e
condições de extração, armazenamento e transporte junho de 2014, conforme legislação em vigor.
necessários a um alimento e/ou matéria-prima de qualidade.
Assim sendo, segundo Duarte (2005), os alimentos obtidos por 2. MATERIAIS E MÉTODOS
processos artesanais têm grande possibilidade de se
apresentarem contaminados, pelo uso de matérias-primas de Para a realização desse trabalho inicialmente foi realizado
fontes não-seguras, utensílios mal higienizados ou uma pesquisa sobre o comércio de doces de leite no Sertão,
contaminados, elaboração em condições impróprias e com o objetivo de identificar as cidades onde o comércio era
armazenamento e comercialização em temperatura mais efervescente. Posteriormente foram coletadas cinco
inadequada, fatores que contribuem para aumentar o risco de amostras em diferentes meses, obtidas de acordo com o modo
causarem enfermidades. de comercialização das mesmas de doces de leite produzidos
Sousa (2006) afirma que a microbiota de um alimento é de forma artesanal e comercializado, nas cidades de
constituída por microrganismos associados à matéria-prima e Aparecida, Pombal, Paulista, São Bentinho e Lastro, todas
por contaminantes, que foram adquiridos durante os situadas no sertão paraibano, entre os meses de dezembro de
processos de manuseio e processamento (pelos 2013 e junho de 2014, totalizando assim vinte e cinco
manipuladores de alimentos) e aqueles que tiveram condições amostras.
de sobreviver aos processos aplicados durante o preparo do
503 504
Após a coleta, as amostras foram transportadas 2.2. SALMONELA SPP.
imediatamente em temperatura ambiente, para o Laboratório
de Microbiologia de Alimentos (LMA), do Centro de Ciências e Pipetou-se assepticamente 0,1 ml da diluição de 10-1 para
Tecnologia Agroalimentar, da Universidade Federal de cada amostra, colocou-se em placas de Petri identificadas,
Campina Grande. contendo meio R ambach, invertidas e incubadas à 35ºC, por
As análises microbiológicas foram realizadas considerando 48h.
a Resolução RDC nº 12 de 02 de janeiro de 2001, da Anvisa,
que dispõe do regulamento técnico sobre padrões
microbiológicos para alimentos, em que o doce de leite deve 2.3. STAPHYLOCOCCUS SPP.
ser analisado quanto à presença de Salmonella spp.,
Coliformes a 35º e 45ºC e Staphylococcus spp.. Também Pipetou-se assepticamente 0,1 ml das diluições de 10-1 10-
2
foram realizadas análises de Contagem total de bactérias 10-3 para cada amostra, colocou-se em placas de Petri
aeróbias Mesófilas (CTM). Utilizou-se metodologia descrita por identificadas, contendo meio Baird Parker aditivado com
Silva (2010) em todos os procedimentos de análise, descritas emulsão de gema de ovo a 50% e Telurito de Potássio a 1%,
a seguir. invertidas e incubadas à 35ºC, por 48h.

2.1. COLIFORMES À 35ºC E À 45ºC 2.4. CONTAGEM TOTAL DE BACTÉRIAS AERÓBIAS


MESÓFILAS (CTM)
Cada diluição foi semeada em três tubos, contendo caldo
Lauril Sulfato Triptose (LST), para realização do teste Pipetou-se assepticamente 1,0 ml das diluições 10-1 10-2 e
presuntivo/24h a 35 ºC, em seguida transferiu-se uma alíquota 10-3 para cada amostra, colocou-se em placas de Petri
dos tubos positivos para cultura em meio Caldo Verde Bile identificadas e após, adicionou-se meio Agar Nutriente. As
Brilhante durante 24h a 35ºC para a quantificação do número placas foram invertidas e incubadas à 35-37ºC, por 48h.
mais provável de coliformes a 35ºC, onde os tubos que
apresentaram turvação e/ou bolhas (considerados positivos) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
foram repicados para o meio de cultura Caldo EC (NMP), para
a quantificação de Coliformes a 45 ºC. 3.1. COLIFORMES À 35ºC

Segundo Sousa (2006) os microrganismos indicadores são


comumente utilizados para avaliar as condições higiênicas de
alimentos; sua presença evidencia relação com o histórico da

505 506
amostra. As contagens de coliformes são muito utilizadas nas (2010). A existência desse microrganismo não indica
análises de alimentos contaminação fecal, porém demonstra que existe a
necessidade de melhorias durante as etapas de produção.
tratados termicamente. Nesse contexto, a presença de
bactérias gram-negativas, por exemplo, é um indicativo de
tratamentos térmicos inadequados ou de uma provável 3.2. COLIFORMES À 45ºC
contaminação posterior. Desse modo, na Figura 1 estão
dispostos os resultados obtidos nas análises microbiológicas Os coliformes fecais (a 45ºC), do ponto de vista sanitário,
para Coliformes à 35ºC. funcionam como indicadores capazes de evidenciar maior
35 probabilidade de que o alimento tenha entrado em contato
31,5 com material de origem fecal, indicando, com maior precisão,
30
a possível presença de patógenos entéricos (NOVAK;
25 ALMEIDA, 2002; LUND, 2007; SANTOS & MARQUES, 2010).
A Figura 2 mostra os resultados encontrados nas análises de
20
Coliformes à 45ºC, para todas as cidades analisadas.
15 .
10 3,5
10 3,13
3
5
0,543 2,644
0,52 2,5
0
Aparecida Paulista S. Bentinho Lastro Pombal
2

Figura 1. Resultados obtidos para Coliformes à 35ºC (NMP/g). 1,5


1,258

A Figura 1 acima demonstra que todas amostras das 1 0,788

cidades atenderam aos padrões estabelecidos na legislação


0,5
vigente, onde São Bentinho e Paulista obtiveram resultados 0 0
mais elevados, 3,15x10 NMP/g e 1,0x10 NMP/g, 0
respectivamente. Resultados superiores foram encontrados Aparecida Paulista S. Bentinho Lastro Pombal

em quatro das cinco amostras advindas do comércio informal Figura 2. Resultados obtidos para Coliformes à 45ºC (NMP/g)
de Currais Novos (RN), analisadas por Santos & Marques

507 508
De acordo com a Figura 2, as cidades que obtiveram higiênico-sanitárias significativas nas práticas agropecuárias
maiores resultados para Coliformes à 45ºC foram São sejam implementadas, a ocorrência de toxi-infecções
Bentinho e Pombal, com 3,13x10 NMP/g e 1,258 NMP/g alimentares tendo como causa Salmonella deve continuar.
respectivamente. As cidades de Aparecida e Lastro A Figura 3 a seguir, apresenta os dados obtidos para esse
apresentaram ausência, estando todas dentro do permitido microrganismo.
pela Resolução RDC nº 12 de 02 de janeiro de 2001, da 120%
Anvisa, onde o padrão para doce de leite é de 5x10 NMP/g. A 100%
ausência para esses microrganismos também foi encontrada 100%
por Destri (2009) que analisou doces de leite vendidos em 80%
feiras livres da cidade de Pelotas (RS), e por Sá (2012) que 80%
analisou doces de leite pastosos industrializados em diferentes
estados do país e comercializados no mercado de Juiz de 60%
Fora (MG). Apesar de estarem todas dentro do permitido, os
valores alcançados demonstram contato das matérias-primas, 40%

da água ou dos próprios manipuladores com material de


origem fecal, necessitando assim de maiores cuidados com os 20%

pontos anteriormente citados. 0% 0% 0%


0%
Aparecida Paulista S. Bentinho Lastro Pombal
3.3. SALMONELLA SPP.
Figura 3. Resultados obtidos para Salmonella spp.
A Salmonella spp. é uma bactéria entérica responsável por
graves intoxicações alimentares, sendo um dos principais As cidades de Aparecida, Paulista e Lastro não
agentes envolvidos em surtos registrados em vários países. apresentaram presença de Samonella spp.. Destri (2009), Sá
Segundo Bradshaw (1987), citado por Sá (2012) essa bactéria (2012) citados anteriormente e Sousa (2002), também
habita o trato gastrointestinal de todos os mamíferos de encontraram em seus
sangue quente, inclusive a espécie humana. E é incapaz de resultados, ausência para esse tipo de microrganismo. No
sobreviver à pasteurização; assim, os produtos lácteos se entanto, 80% das amostras de São Bentinho e 100% das de
contaminam pós-pasteurização. Pombal foram diagnosticadas com essa bactéria, o que
Para Sá (2012) é bastante claro que a ocorrência de provavelmente se deve aos erros durante a etapa de pós-
salmonelose na cadeia de alimentos em todo o mundo é produção e/ou acondicionamento, devendo assim, ser adotado
corrente e sua repercussão em saúde pública consiste em novos critérios higiênicos e melhorias nas etapas de
uma causa importante. Ao menos que mudanças estruturais e

509 510
pasteurização afim de eliminar a existência de Salmonella spp. 70
nos doces em questão. 59
60

3.4. STAPHYLOCOCCUS SPP.


50

O Staphylococcus spp. é um dos agentes mais comuns


40
responsáveis por surtos de intoxicação alimentar, por serem
normalmente transmitidos aos alimentos através de 30
manipuladores, portadores assintomáticos, uma vez que este
faz parte da microbiota transitória e residente do homem, e de 20
11,7
animais como o gado leiteiro portador de mastite (Stamford, 3,334
10
2006). Segundo Pereira (2001) uma variabilidade de alimentos 0 1
já foram incriminados epidemiológicamente sendo 0
frequentemente relatados como capazes de suportar o Aparecida Paulista S. Bentinho Lastro Pombal

desenvolvimento de Staphylococcus spp., bem como suas Figura 4. Resultados obtidos para Staphylococcus spp. (UFC/g)
enterotoxinas. Dentre os substratos alimentícios mais
relatados nos casos de intoxicação alimentar podem ser Nas amostras advindas das cidades de Aparecida não
destacados produtos lácteos, produtos de confeitaria, carnes foram encontrados esse tipo de microrganismos. As demais
frescas e curadas, ovos e massas alimentícias. cidades apresentaram resultados dentro do padrão exigido
Sendo assim, os dados encontrados para pela legislação que é de 10² UFC/g. TIMM (2007) encontrou
Staphylococcus spp. nos doces de leite analisados, se valores menores que 10 UFC/g em todas as suas amostras.
encontram na Figura 4. Por outro lado, valores muito superiores foram encontrados
por Pereira (2011), analisando doces de leite comercializados
no município de Patos, também localizado no sertão
paraibano. Embora se encontrem dentro do padrão permitido,
é necessário a adoção de critérios rigorosos para colocarem
pratica medidas higiênico-sanitárias no processamento e
manipulação, pois segundo Michelin (2006) a ausência de
Staphylococcus
e nem mesmo a sua presença em pequeno número são
garantia de que o alimento seja seguro.

511 512
3.5. CONTAGEM TOTAL DE BACTÉRIAS AERÓBIAS
MESÓFILAS Altas contagens de bactérias aeróbias Mesófilas foram
verificadas em todas as cidades analisadas, sendo São
Bentinho e Lastros as que apresentaram os mais elevados
Segundo a ICMSF (International Commissionon níveis, confirmando a necessidade de aplicação de boas
Microbiological Specifications for Foods) in Cunha & Silva práticas de fabricação em todas as etapas de produção e/ou
(2006) o número de microrganismo aeróbios e mesófilos acondicionamento dos doces de leite.
(contagem em placa) encontrado em um alimento tem sido um
dos indicadores microbiológicos da qualidade dos alimentos 4. CONCLUSÃO
mais comumente utilizados, indicando se a limpeza, a
desinfecção e o controle da temperatura durante o processo Os dados obtidos nessa pesquisa para todos os
de tratamento industrial, transporte e armazenamento foram microrganismos analisados nos reforçam que mesmo algumas
realizados de forma adequada. Esta determinação permite amostras não apresentando determinados microrganismos ou
também obter informação referente a alteração incipiente dos mesmo baixos resultados, o formato da produção ainda é
alimentos, sua provável vida útil, e a falta de controle no precário, não havendo cuidados com as matérias-primas,
descongelamento dos alimentos ou desvios na temperatura de formas de transporte e acondicionamento, existindo assim a
refrigeração estabelecida. necessidade de aplicação das boas práticas de fabricação e a
Nesse contexto, a Figura 5 apresenta as contagens obtidas adoção de critérios rigorosos nas medidas
para CTM. higiênico-sanitárias adotadas em todo processamento dos
7000 doces de leite produzidos artesanalmente.
6150
6000 5640

5. REFERÊNCIAS
5000

4000 BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância


3000 Sanitária. Resolução RDC 12, de 02 de janeiro de 2001.
Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para
2000
950 973 alimentos.
1000 555

0 BRASIL. Ministério de Estado da Agricultura, Pecuária e


Aparecida Paulista S. Bentinho Lastro Pombal Abastecimento. Instrução Normativa, de 4 de Setembro de
Figura 5. Resultados obtidos para Contagem total de bactérias aeróbias 1997. Regulamento Técnico Mercosul para fixação de
Mesófilas (UFC/g). identidade e qualidade de doce de leite. Diário Oficial da
513 514
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Maio/ago.2001.
515 516
SOUSA, C. L. et al. Avaliação Microbiológica e Físico- CAPÍTULO 40
química de doce de leite e requeijão produzidos com leite
de Bufála na Ilha do Marajó-PA. B.CEPPA, Curitiba, v.20, MICRO-ORGANISMOS INDICADORES DE QUALIDADE EM
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EM JOÃO PESSOA-PB
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pastoso. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 66 (3): 275-277, 2007. Rayanny Kyssy Pereira da SILVA1
Gabrielly Eliza Silva RAMOS2
Raquiele Barbosa de CARVALHO2
Jossana Pereira de SOUSA3
1 Aluno, Graduação em Nutrição, FMN; 2 Técnico de Laboratório, FMN; 3 Pós-graduando em
Nutrição, UFPE

RESUMO: O queijo é considerado um alimento de grande


comercialização, principalmente, devido à sua fácil aceitação.
No entanto, em decorrência de vários fatores, os queijos
podem ser alvos de bactérias deteriorantes e patogênicas, em
especial quando manipulados e armazenados de maneira
inadequada após o processamento. Por isso, o objetivo deste
trabalho foi avaliar a qualidade de queijo do tipo mussarela
fatiado comercializado nos supermercados de João Pessoa-
PB. Foram avaliadas oito amostras quanto à presença de
bactérias aeróbias mesófilas (CPP), bolores e leveduras
(CPBL) e enterobactérias. As contagens de bactérias
mesófilas oscilaram entre 4,03 (±0,17) e 5,67 (±0,11)
log10UFC/g, de CPBL variou de 5,44 (±0,85) a 6,81 (±0,07)
log10UFC/g e de enterobactérias foi de 4,11 (±0,38) a 5,00
(±0,00) log10UFC/g. A elevada contaminação das amostras
analisadas indica deficiência nas condições higiênicas e
sanitárias durante o processamento do alimento, assim como
indícios de contaminação pós-processamento. Diante destes
resultados vê-se a necessidade da utilização de uma matéria-
prima adequada, cumprimento das Boas Práticas de
517 518
Fabricação pelos manipuladores e controle da refrigeração do prima de qualidade, processado em condições de boa higiene,
produto para que o mesmo seja comercializado de forma armazenado, transportado e comercializado de maneira
segura e não traga prejuízos para a saúde do consumidor. adequada, a fim de evitar sua contaminação.
Queijos podem ser alvo de bactérias patogênicas como
Palavras-chave: Micro-organismos. Qualidade. Queijo Salmonella spp. e Staphylococcus aureus. A contaminação
mussarela fatiado. por S. aureus geralmente ocorre por meio dos manipuladores,
pois o agente está presente no trato respiratório, mucosas e
pele de humanos. Quanto a contaminação por Salmonella
1. INTRODUÇÃO spp., ocorre devido ao contato do alimento com material fecal,
e quando presente no alimento pode ser fator para rejeição de
O queijo é um alimento de grande comercialização, todo um lote produzido. A ocorrência de mofos em queijos
principalmente, devido a sua fácil aceitação (FURTADO, também é uma fonte de preocupação para os produtores, pois
2005). Segundo a Embrapa, o queijo mussarela encontra-se podem provocar alterações físicas levando a uma série de
entre os queijos mais consumidos no Brasil, devido ao seu prejuízos, inclusive à perda da mercadoria (FRANCO;
frequente uso em alimentos fast food. É um queijo de massa LANDGRAF, 2005).
filada, macio e relativamente úmido, quando acabado, Um grupo de bactérias importantes em queijo é o dos
apresenta, em média, a seguinte composição: 43 a 46% de coliformes, bactérias normalmente utilizadas como indicadores
umidade; 22 a 24% de gordura; teor de sal entre 1,6 a 1,8%; e da qualidade sanitária dos alimentos, pois, quando presentes
pH entre 5,1 e 5,3 (SILVA, 2005). no alimento fornecem informações sobre a ocorrência de
As características citadas anteriormente favorecem a contaminação de origem fecal e a provável presença de micro-
proliferação de micro-organismos patógenos, que oferecem organismos patogênicos. Assim, a presença desses micro-
risco a saúde do consumidor. A contaminação microbiana organismos poderá indicar falta de condições adequadas no
torna o produto em desacordo com os padrões microbiológicos tratamento térmico, má higienização de equipamentos e
vigentes de qualidade e segurança do produto, podendo gerar utensílios, manuseio inadequado, processamento inadequado
um aumento no número de casos de doenças e surtos (SILVA, ou contaminação pós-processamento (SANTOS-KOELLN et
2005). al., 2012).
A fabricação de queijos consiste uma série de operações O processo de fatiamento de queijo reúne uma série de
desde a produção de leite até o último dia de maturação e fatores críticos: pequenas porções que implicam maior relação
expedição para o mercado. Sua qualidade depende da área embalagem/peso produto e uma grande área exposta do
qualidade do leite, sendo necessário um rígido controle de produto devido ao fatiamento. Por conseguinte, este produto é
qualidade durante todo o processamento (FURTADO, 2005). mais suscetível à contaminação pelo ar, à retenção de
Portanto, o queijo deve ser produzido a partir de uma matéria- umidade relativa e, consequentemente, ao aumento da
519 520
atividade de água, facilitando dessa maneira a multiplicação diluições seriadas transferindo-se um mL da primeira diluição
bacteriana. Tais fatores, aliados à deficiência das boas (10-1) para um tubo contendo nove mL do diluente, obtendo-se
práticas de manipulação e às características intrínsecas do a diluição 10-2, e, a partir dessa suspensão foi preparada a
queijo, tendem a reduzir a vida de prateleira deste produto, diluição subsequente (10-3) em nove mL do diluente.
tornando-se um risco ao consumidor (FAI et al., 2011). A contagem padrão em placas de bactérias aeróbias
Devido a possível contaminação do produto torna-se mesófilas (CPP) foi realizada pela técnica de esgotamento,
cada vez mais necessário um rígido controle de qualidade com com auxílio de uma alça bacteriológica, para inoculação de
a finalidade de prevenir possíveis doenças transmitidas por 0,01mL na superfície de placas de Petri contendo Agar Mueller
alimentos (DTA’s). De acordo com a RDC nº 12, a legislação Hinton, e posterior incubação a 35ºC por 48 horas. As
brasileira vigente que apresenta os níveis máximos permitidos contagens de bolores e leveduras (CPBL) e enterobactérias
para contagens microbianas em alimentos, em queijo foram realizadas pela mesma técnica, com inoculação de
mussarela se faz necessária a contagem coliformes a 45 ºC, 0,01mL na superfície de Agar Sabouraud Dextrose e
Estafilococos coagulase positiva, Salmonella sp. e Listeria incubação a 25ºC por 3-5 dias, e Agar Eosina Azul de Metileno
monocytogenes (BRASIL, 2001). Diante deste contexto, este (EMB) e incubação a 35ºC por 48 horas, respectivamente.
trabalho tem por finalidade avaliar a qualidade higiênico- Os ensaios foram realizados em duplicata (n=16) e os
sanitária de queijo do tipo mussarela fatiado comercializado resultados das contagens apresentados em log10UFC/g como
nos supermercados de João Pessoa-PB. a média dos ensaios. A análise estatística foi realizada para
determinar diferenças significativas (p<0,05) entre as
amostras, utilizando-se ANOVA seguido do teste de Duncan,
2. MATERIAIS E MÉTODO no software Sigma Stat 3.5 (Jandel Scientific Software, San
Jose, Califórnia).
Amostras de queijo mussarela fatiado (oito) foram
adquiridas em diferentes supermercados de João Pessoa-PB
e encaminhadas assepticamente em caixas isotérmicas ao 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Laboratório Multidisciplinar de Microbiologia e Parasitologia da
Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa, para As contagens de bactérias aeróbias mesófilas, bolores e
avaliação microbiológica quanto à presença de bactérias leveduras e enterobactérias, expressas em log na base 10 de
aeróbias mesófilas, bolores e leveduras e enterobactérias, Unidade Formadora de Colônia por g (Log10UFC/g),
conforme metodologia proposta pela APHA (2001). encontradas nas amostras de queijo mussarela fatiado
Inicialmente, 10g de queijo mussarela fatiado foi diluído avaliadas podem ser visualizadas na Tabela 1.
em 90 mL de água de peptona 0,1% estéril (diluente),
correspondendo à diluição 10-1. Em seguida, foram realizadas
521 522
Tabela 1. Contagens microbianas em queijos mussarela é um dos principais indicadores microbiológicos para a
fatiados comercializados em supermercados de João Pessoa- qualidade do alimento.
PB. Os resultados obtidos para bolores e leveduras variaram
Amostras CPP CPBL Enterobactérias de 5,44 (±0,85) a 6,81 (±0,07) log10UFC/g, consideradas
(log10UFC/g) (log10UFC/g) (log10UFC/g) contagens elevadas, mas não foi observada diferença
bc a
QM1 4,74 (±0,01) 6,67 (±0,09) 4,32 (±0,09)a significativa (p<0,05) entre as contagens das oito amostras
QM2 5,13 (±0,21)b 6,73 (±0,01)a 4,84 (±0,13)a avaliadas. Bolores e leveduras são contaminantes comuns em
alimentos, representando uma considerável preocupação
QM3 4,72 (±0,03)b 5,44 (±0,85)a 4,82 (±0,16)a
devido ao seu poder deteriorativo e da capacidade de algumas
QM4 5,03 (±0,16)b 6,49 (±0,30)a 4,85 (±0,01)a espécies de fungos de produzirem micotoxinas (FRANCO;
QM5 4,03 (±0,17)c 5,80 (±0,02)a 5,00 (±0,00)a LANDGRAF, 2005). A presença de fungos filamentosos
(bolores) e leveduras viáveis em número elevado podem
QM6 4,80 (±0,34)b 6,13 (±0,07)a 4,11 (±0,38)a indicar deficientes condições higiênicas dos equipamentos,
QM7 4,94 (±0,19)b 6,09 (±0,55)a 4,54 (±0,76)a falhas no processamento e/ou armazenamento, além de
matéria prima excessivamente contaminada (LOURENÇO;
QM8 5,67 (±0,11)a 6,81 (±0,07)a 4,97 (±0,50)a
SOUSA, 2005).
Letras iguais na mesma coluna indicam que não houve diferença A contagem de enterobactérias variou entre 4,11 (±0,38)
significativa entre as amostras ao nível de 5% de significncia (p<0,05). e 5,00 (±0,00) log10UFC/g, o que indica produtos em condições
sanitárias insatisfatórias de acordo com a RDC nº 12, de 02 de
Os resultados da Contagem padrão em placas (CPP) Janeiro de 2001, que apresenta como limite máximo
variaram entre 4,03 (±0,17) e 5,67 (±0,11) log10UFC/g. A RDC permissível para este grupo de micro-organismo o valor de
nº12 (BRASIL, 2001) não estabelece limites para a contagem 3,69 log10UFC/g. Não foi observada diferença significativa
de bactérias aeróbias mesófilas em queijo mussarela, porém (p<0,05) entre as contagens das oito amostras avaliadas.
os valores encontrados podem ser considerados elevados, Os coliformes termotolerantes são micro-organismos
principalmente na amostra QM8. Estas contagens traduzem o indicadores de contaminação de origem fecal que se
somatório de uma série de fatores, dentro os quais, estão o relacionam com o nível de higiene da produção dos alimentos.
grau de contaminação das matérias-primas; condições de Os coliformes são um grupo de bactérias, sendo Escherichia
higiene do ambiente; cuidados no processamento para evitar coli a mais importante, que demonstra uma possível
multiplicação; e eficiência dos tratamentos utilizados para a contaminação do alimento por material fecal, oriunda da
redução das contagens. De acordo com Aycicek; Oguz; Karci higiene deficiente (LOPES; CRESTO; CARRARO, 2007).
(2006), a contagem em placas de bactérias aeróbias mesófilas Os manipuladores de alimentos assumem também
importante papel ao atuarem como fonte de disseminação de
523 524
micro-organismos patogênicos, inclusive os de origem fecal, Hygiene and Environmental Health. v. 209, n. 2, p. 197-201,
representando uma via de relevância epidemiológica na 2006.
transmissão de enteropatógenos (VANZO; AZEVEDO, 2003).
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 12, de 02 de
Janeiro de 2001. Aprova Regulamento técnico sobre os
4. CONCLUSÕES padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, 2001.
Devido às características nutricionais dos queijos e,
principalmente, o seu alto teor de umidade, estes alimentos FAI, A. E. C.; FIGUEIREDO, E. A. T.; VERDIN, S. E. F.;
são muito suscetíveis à contaminação microbiológica, por isso PINHEIRO, N. M. S.; BRAGA, A. R. C.; STAMFORD, T. L. M.
surge a necessidade de um maior controle no cumprimento Salmonella sp e Listeria monocytogenes em presunto suíno
dos Manuais de Boas práticas pelos fabricantes e o controle comercializado em supermercados de Fortaleza (CE, Brasil):
dos seus pontos críticos para que o produto não apresente fator de risco para a saúde pública. Ciência e Saúde
riscos para a saúde do consumidor. Coletiva, v.16, n. 2, p. 657-662, 2011.
A qualidade do queijo mussarela vai desde a obtenção
da sua matéria, processamento e armazenamento. A elevada FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. F. Microbiologia dos
incidência de micro-organismos transmitidos por alimentos. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.
manipuladores e equipamentos demonstra necessidade de
controle nessa etapa de produção para que o produto FURTADO, M. M. Principais problemas dos queijos:
comercializado esteja adequado para sua comercialização causas e prevenção. São Paulo: Fonte, 2005. 200p.
sem apresentar perigos aos consumidores.
LOPES, G.; CRESTO, R.; CARRARO, C. N. M. Análise
microbiológica de caldos de cana comercializados nas ruas de
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525 526
Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 3, n. 2, p. 66-74, CAPÍTULO 41
2009.

DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO DO QUEIJO DE


SILVA, F. T. Queijo Mussarela. Embrapa Informação
MANTEIGA E COALHO COMERCIALIZADO NOS
Tecnológica, Brasília, DF. 2005.
ESTABELECIMENTOS FORMAIS E FEIRAS LIVRES DE
JOÃO PESSOA-PB
VANZO, S. P.; AZEVEDO, R. V. P. Detecção de S. aureus em
manipuladores de alimentos – Perfil de resistência a
Gilcean Silva ALVES
antibióticos e quimioterápicos. Higiene Alimentar, v. 17, p. Helga Chaves de BRITO
114-123, 2003. Renata Wilma VASCONCELOS

RESUMO: Os queijos coalho e o queijo de manteiga


conhecido também como requeijão do sertão são produtos
muito consumidos na Região Nordeste das mais diversas
formas, assado, in natura, acompanhados e na preparação de
pratos típicos . Por ser um produto derivado do leite a sua
fabricação na maioria dos casos são preparados de forma
artesanal, no qual a grande maioria dos produtores não
possuem um controle rigoroso, exigido dos órgãos de
vigilância sanitária, isso facilita o desenvolvimento de
microrganismos patogênicos comprometendo a qualidade do
produto e o tornando impróprio para consumo, pois este
manuseio inadequado favorece o desenvolvimento das
chamadas DTAs (Doenças Transmitidas por Alimentos ), que
causa diversos transtornos de saúde a população. O presente
trabalho teve por finalidade analisar microbiologicamente
amostras de queijo coalho e manteiga, comercializados em
estabelecimentos formais e feiras livres do município de João
Pessoa.
Palavras-chave: Queijos, DTA, Analise Microbiológica

527 528
1.INTRODUÇÃO O queijo coalho é um produto muito popular no
Nordeste do Brasil e se caracteriza por ser um queijo de
Não se sabe ao certo como surgiu o queijo. massa branca, de formato retangular, com sabor levemente
Supõe-se que tenha sido a partir de quando o homem deixou ácido e salgado. Grande parte deste produto é produzido de
de ser nômade e passou a cultivar plantas e criar animais com forma artesanal e consumido pela população ainda cru, dentre
a finalidade de produzir alimentos para sua subsistência, as formas de comercialização, encontramos os queijos de
assim surgiu a obtenção do leite e consequentemente a coalho e manteiga, alvos deste presente estudo.
produção do queijo. Utilizava-se na época o estômago de Já o queijo manteiga, também conhecido como
ruminantes para armazenar o leite e o mesmo terminava requeijão do sertão, requeijão do nordeste e requeijão do
talhando e ao separar o soro tornava-se um leite mais ácido e norte, possui origem brasileira, de grande aceitação nas
de melhor sabor (VICENTE et al., 1996). regiões Norte e Nordeste do Brasil. Também produzido de
Outros autores afirma que a produção de queijo forma artesanal, apresenta deficiências Tecnológicas durante
primitivo era apenas o leite coagulado, desprovido de soro e as fases de fabricação, no armazenamento e na distribuição.
salgado. A partir da Idade Média, a fabricação de queijos finos (CAVALCANTE; COSTA, 2005).
ficaria restrita aos mosteiros católicos. A técnica de produção Apesar da popularidade desses alimentos na Região
queijeira modernizou-se no decorrer do tempo. Utilizam-se, em Nordeste, o processo artesanal, muitas vezes, não atende aos
alguns queijos, esporos de fungos n' água e adicionados ao requisitos mínimos de qualidade para ser destinado ao
leite, para mantê-lo mais tempo em condições de consumo. consumo humano. Não existem os devidos cuidados de
Já no Brasil a fabricação do queijo se firmou no início higiene na fabricação, transporte, condicionamento,
século XX mais precisamente por volta da década de 20 com comercialização e manipulação, sendo esses dois últimos de
a vinda de imigrantes dinamarqueses e holandeses que se maior destaque, devido muitos deles permanecerem sem
estabeleceram em algumas regiões do estado de Minas refrigeração, expostos aos vetores, propondo assim, a
Gerais (FURTADO, 1991). E que até hoje ainda se mantém, existência de insegurança microbiológica.
como uma região que melhor produz queijos no Brasil. Isto nos remete as questões das Doenças Transmitidas
E sabe-se que o queijo é um alimento de alto valor por Alimentos (DTAs), que conforme (BRASIL, 2001, s/p.)
nutritivo, composto por: caseína, gordura, água e pequenas “Doença Transmitida por Alimento causada pela ingestão de
quantidades de lactose, albuminas e sais solúveis do leite. No um alimento contaminado por um agente infeccioso específico,
qual o seu processo de produção se dá através da coagulação ou pela toxina por ele produzida, por meio da transmissão
do leite por ação de certas enzimas proteolíticas, ácido lático desse agente, ou de seu produto tóxico”. É um termo genérico,
produzido por microrganismos ou mesmo pela adição direta aplicado a uma síndrome, geralmente, constituída de anorexia,
deste ácido. (SANTOS et al, 2008). náuseas, vômitos e/ou diarréia. As DTA são atribuídas à
ingestão de alimentos ou água contaminados por bactérias,
529 530
vírus, parasitas, toxinas, agrotóxicos, produtos químicos e são internacionalmente considerados micro-organismos
metais pesados. indicadores da segurança microbiológica de alimentos
Além dos sintomas digestivos, podem ocorrer afecções (FORSYTHE, 2002).
extra-intestinais em diferentes órgãos e sistemas, como: Em nosso Estado, bem como em nossa cidade, é muito
meninges; rins; fígado; sistema nervoso central; terminações comum o consumo de produtos in natura como queijos,
nervosas periféricas; e outros, de acordo com o agente manteigas, dentre outros onde não há uma rigorosidade sob o
etiológico envolvido. O quadro clínico das DTA depende, seu processo produtivo. Dessa forma, é muito comum,
portanto, do agente etiológico envolvido e varia desde leve principalmente em crianças, crises diarréicas, onde em muitos
desconforto intestinal até quadros extremamente sérios, com casos não sabemos a origem de tal causa. Dessa forma pode-
desidratação grave, diarréia sanguinolenta, insuficiência renal se indagar: qual a qualidade microbiológica dos queijos de
aguda (síndrome hemolítica urêmica) e insuficiência coalho e manteiga comercializados nos estabelecimentos
respiratória (botulismo). formais (supermercados e mercadinhos) e nas feiras livres na
Diversos microrganismos podem contaminar o queijo, cidade de João Pessoa? Será que a contaminação do queijo,
destacando-se os coliformes totais (coliformes a 35°C) e os seja no processo produtivo, seja no de manuseio afeta de
termotolerantes (coliformes a 45°C), que são os bioindic adores maneira significativa a saúde da população, contribuindo com
mais utilizados para a verificação das condições de higiene as estatísticas de internação hospitalar?
dos alimentos. Os coliformes termotolerantes diferenciam-se A finalidade deste trabalho foi avaliar a qualidade
dos totais por fermentarem a lactose com produção de gás, a microbiológica de queijos coalho e de manteiga
uma temperatura de 44,5ºC. O principal representante do comercializados em estabelecimentos formais e feiras livres
grupo e o indicador específico de contaminação é a da cidade de João Pessoa PB para comprovar se o produto
Escherichia coli (GASPAROTTO; ROCHA; GRECELLÉ, 2008). está sendo comercializado dentro dos padrões microbiológicos
Outro microrganismo relacionado a contaminações do queijo é regulamentado pela legislação vigente e se estão próprios pra
o Staphylococcus aureus (ROCHA et al., 2006), presente no consumo.
nariz, pele, garganta e lesões infectadas da pele de
manipuladores, sendo que entre 20 e 50% dos indivíduos são 2. MATERIAL E MÉTODOS
portadores desse patógeno. Os manipuladores devem evitar Para este estudo foram analisados um total de 18
tossir nas mãos ou tocar os cabelos, nariz ou boca, lavando amostras, nove de queijo coalho e nove de queijo manteiga. A
sempre suas mãos antes de manusearem o alimento coleta foi feita no período de cada 15 dias com três amostras
(ADAMS; MOTARJEMI, 2002). de forma aleatória, em diferentes estabelecimentos de pontos
A utilização do grupo coliforme como indicador das comerciais, feiras livres, mercadinhos e padarias, localizados
condições higiênico sanitárias em alimentos é prática na cidade de João Pessoa, Paraíba-Brasil.
estabelecida há anos. Dos agentes bacterianos, os coliformes
531 532
Para as análises microbiológicas, foram pesadas na tabela abaixo ocorreu contaminação por falha na práticas
assepticamente 25 gramas do produto, sendo transferidos higiênico sanitária, em equipamentos, utensílios, EPIs e
para embalagem estéril, onde foram adicionados 225 ml de transporte. E a presença de Escherichia coli foi por contato
solução de água peptonada tamponada 1%. Amostra e com material fecal.
diluente foram homogeneizados em “stomacher”, a fim de
obter diluição inicial (10-1), seguida de diluições decimais, até Tabela 01. Contagem de Coliformes totais e Escherichia coli
a diluição 10-3. por (NMP/g) e plaqueamento pra contagem bolores e
Para análise de coliformes termotolerantes será leveduras por (UFC/g).
utilizada a técnica do número mais provável (NMP. g-1) e para
bolores e leveduras a técnica de contagem de Unidade
Formadora de Colônias (UFC/g) segundo a Instrução
Normativa nº 62, de 26 de agosto de 2003 (BRASIL, 2003).
Para a determinação de coliformes totais,
termotolerantes e Escherichia coli foi realizada a técnica de
tubos múltiplos utilizando os meios Caldo Lauril Sulfato
Triptose (CLS) Verde Bile Brilhante (V.B.) e Escherichia coli
(E.C.) e determinação de bolores e leveduras foi realizada em
placas de petri utilizando o meio Ágar Sabourand que consiste
na preparação do meio Ágar Sabourand diluído em água
destilada e após esse procedimento verter 2ml do meio em
Placas de petri e ao se solidificar inocular 1ml da amostra em
diluições de 10¹ à 10³ em triplicata.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O limite máximo permitido de Unidade Formadora de
As amostras de queijo coalho (Tabela 01) adquiridas e Colônia é de 5x 10² também para presença de bolores e
analisadas, 33% apresentaram contaminação por bactérias do leveduras. Nas amostras analisadas 22% apresentaram-se
grupo coliformes totais e 22%, presença de Escherichia coli, . acima do limite. Podendo ser observando os resultados abaixo
Segundo a Resolução RDC n° 12/01 da Agência Nacional d e (Tabela 01).
Vigilância Sanitária – ANVISA que regulamenta os padrões Das amostras de queijo manteiga analisadas, 22%
microbiológicos para alimentos o limite máximo permitido é de apresentaram coliformes totais e 22% Escherichia coli. Na
5x10², confirmando que as amostras citadas e representadas
533 534
contagem de bolores e leveduras houve presença de colônia (2006) observaram que 61% do queijo-de-minas,
em 11% estavam acima do limite permitido (Tabela 2). comercializado em supermercados de São Paulo,
apresentavam contagem de E. coli acima da recomendada
Tabela 2. Contagem de Coliformes totais e Escherichia coli pela legislação.
por (NMP/g) e plaqueamento para contagem de bolores e
levedura por (UFC/g) 4. CONCLUSÕES

Tendo em vista que os estabelecimentos nos quais


foram comprados este produto, em sua maioria encontram–se
em feiras livres, estão desprovidas dos equipamentos
adequados para refrigeração dos produtos, os mesmos são
colocados a céu aberto, expostos a vários fatores como:
ausência de refrigeração, falta de proteção, para evitar o
pouso de insetos sobre os produtos, exposição ao vento e ao
sol, sem falar da falta de alguns EPI’s (equipamentos de
proteção individual), como luvas, boné ou toucas, mascaras,
que não são utilizadas pelos comerciantes, além de fazer o
uso de um mesmo utensílio para varias finalidades como:
cortar a carne e o queijo com a mesma faca por exemplo
A legislação brasileira (Brasil, 2001) apresenta limite de
(contaminação cruzada).
tolerância de coliformes termotolerantes de 5,0 x102 NMP/g de
Isto tudo comprometem a segurança o produto,
amostra. De acordo com os resultados, observa-se que Com
corroborando para não ingestão destes tipos de queijos.
base neste limite, verifica-se que 36% dos queijos analisados
Mesmo o produto sendo comprado em padarias ou
não estavam aptos à comercialização e, conseqüentemente,
supermercado, ainda não se utiliza um manuseio do alimento
ao consumo humano. Os valores encontrados estão abaixo
corretamente, em alguns casos pode-se verificar a
aos apresentados por Loguercio e Aleixo (2001). Esses
contaminação cruzada e a falta de higiene com os demais
autores observaram que 93,3% dos queijos-de-minas
equipamentos ao qual o produto entra em contato (bancadas,
artesanais, comercializados na cidade de Cuiabá, MT,
tabuas, bandejas, sacos plásticos entre outros), assim
estavam fora dos padrões da legislação brasileira,
necessitando de uma fiscalização mais intensiva no que
demonstrando que a falta de higiene na cadeia do queijo é
condiz a comercialização deste produto em questão, visando
inerente ao tipo e à região de comercialização. Rocha et al.
assegurar o consumo seguro e obedecendo a legislação
535 536
vigente. Fato este que não ocorre nos diversos Saúde , 2005. BRANDÃO, A. S. P. Restrições econômicas e
estabelecimentos espalhados na cidade de João Pessoa/PB. institucionais à produção de leite na Região Sul. In: Restrições
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Fora. Anais... Juiz de Fora: Embrapa Gado de
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537 538
CAPÍTULO 42
NOGUEIRA, J. G. A embalagem como fator de agregação
de valor ao produto: Um estudo do segmento de queijos em ESTUDO DO CRESCIMENTO DE BACTÉRIAS EM
Juiz de Fora. Dissertação (mestrado) Área Sistema de Gestão IOGURTE ENRIQUECIDO COM GRÃOS
pela Qualidade Total. Universidade.
Wiaslan Figueiredo MARTINS1
SANTOS, et all. DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES DE Fernanda dos Santos Nunes de MELO2
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS ARTESANAIS Danielle de Sousa Severo3
DERIVADOS DO LEITE NO ESTADO DE SERGIPE. Rev. Everton Vieira da Silva4
Inst. Latic. “Cândido Tostes”, Jul/Ago, nº 363, 63: 17-25, Alfredina dos Santos ARAÚJO5
1Mestrando em Engenharia de Alimentos, EQA/UFSC;
2008. 2Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, CT/UFPB;
3Graduanda em Engenharia de Alimentos, UATA/CCTA/UFCG;
SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A Manual 4Doutorando em Química, UATA/CCTA/UFCG; 5Professora,

de métodos de análises microbiológicas de alimentos. São Doutora em Engenharia de Processos, UATA/CCTA/UFCG.

Paulo: Livraria Varela, 2001. 317p.


RESUMO: Com a crescente mudança nos hábitos alimentares
VARNAM, A.H., EVANS, M.G. Foodborne pathogens: an da população e o aumento da procura por alimentos mais
illustrated text. London: Wolfe, 1991. 557p. saudáveis, os produtos lácteos e os enriquecidos com fibras
estão dentre os principais produtos vendidos atualmente em
várias partes do mundo. O presente trabalho objetivou
desenvolver um iogurte enriquecido com grãos e estudar o
crescimento de bactérias psicrotróficas, mesófilas,
termodúricas e termófilas durante o armazenamento
isotérmico de refrigeração. O iogurte foi analisado quanto ao
número de bactérias psicrotróficas, mesófilas, termodúricas e
termófilas nos tempos 0, 24, 48, 72 e 96 horas de
armazenamento refrigerado. Os resultados das contagens de
psicrotróficos e mesófilos indicam deficiências no
processamento e na higienização de utensílios, sendo
necessário maior rigor no cumprimento das medidas higiênico-
sanitárias.
Palavras-chave: Microbiologia. Qualidade. Refrigeração.
539 540
2. MATERIAIS E MÉTODO
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento do iogurte e as análises
A população tem passado por mudanças nos hábitos microbiológicas foram realizados nos laboratórios
alimentares, uma vez que, devido aos avanços da ciência e ao pertencentes à Unidade Acadêmica de Tecnologia de
fácil acesso a informação, os consumidores passaram a Alimentos - UATA e no Centro Vocacional Tecnológico – CVT,
buscar alimentos com propriedades funcionais que contribuam do Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar – UFCG.
para uma vida mais saudável e de qualidade. Dentre os As matérias-primas utilizadas para a elaboração do iogurte
principais produtos vendidos em várias partes do mundo pelos foram leite UHT Italac® comercialmente distribuído
seus benefícios a saúde, estão os produtos lácteos e os (Goiasminas Indústria de Laticínios Ltda, Goiás, Brasil), açúcar
enriquecidos com fibras (LIMA FILHO, 1999; SOUZA et al., cristal União® (São Paulo, Brasil), Iogurte Natural Integral
2003; VIEIRA, 2009). Nestlé® (©Nestlé® Brasil Ltda, Araçatuba, São Paulo, Brasil),
O iogurte é um tipo de leite fermentado bastante difundido leite em pó Molico® (©Nestlé Brasil Ltda, Araçatuba, São
e apreciado, sendo ele o derivado fermentado do leite, mais Paulo, Brasil) e MIX 7 grãos Quaker® (©PepsiCo do Brasil,
popular e mais consumido mundialmente (BASTOS, 2009). São Paulo, Brasil) que contem os grãos aveia, amaranto,
Os microrganismos psicrotróficos são um grupo importante quinoa, linhaça, centeio, gérmen de trigo e cevada.
presente na indústria de leite sob o ponto de vista da Para a realização das análises microbiológicas, a amostra
deterioração. Com a adoção da refrigeração do leite desde a de Iogurte (25 g/amostra) foi diluída em 225 mL de água
ordenha até seu recebimento nos laticínios, a substituição da peptonada 0,1% e homogeneizadas em mesa agitadora orbital
microbiota de bactérias mesófilas produtoras de ácido láctico marca NOVA ÉTICA® em 200rpm durante 25 minutos. Na
por uma microbiota psicrotrófica produtora de enzimas tem análise de bactérias psicrotróficas, mesófilas, termodúricas e
sido favorecida e tem levado a diferentes alterações na termófilas alíquotas de diluições sucessivas da amostra (10-1,
qualidade do leite e de seus derivados (ALMEIDA, 1998; 10-2 e 10-3) foram semeadas em profundidade em duplicata,
GUIMARÃES, 1998). utilizando o meio de cultura Ágar Nutriente (Himedia, Curitiba-
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um iogurte PR). Na análise de bactérias psicotróficas a incubação deu-se
enriquecido com grãos e estudar o crescimento de bactérias em BOD a temperatura de 7°C por 10 dias. Na determin ação
psicrotróficas, mesófilas, termodúricas e termófilas durante o de bactérias mesófilas, termodúricas e termófilas a incubação
armazenamento isotérmico de refrigeração. deu-se em estufa bacteriológica a temperatura de 35, 42 e
55°C respectivamente por 48 horas. As análises
microbiológicas foram realizadas seguindo a metodologia
descrita por Brasil (2003).

541 542
O iogurte enriquecido de grãos foi elaborado conforme o 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
fluxograma (Figura 1) abaixo:
O padrão de identidade e qualidade de leites
Leite UHT + Leite em pó
fermentados (BRASIL, 2000) estabelece para o iogurte apenas
10% + Açúcar 10% os limites de contagem de bactérias láticas totais [mínimo 107
(UFC/g)] e contagem de leveduras específicas (ausentes).
Pasteurização 90°C Apesar das legislações vigentes não possuírem padrões de
durante 5 minutos crescimento para bactérias psicrotróficas, mesófilas,
termodúricas e termófilas no iogurte, estes microrganismos
são considerados importantes indicadores de qualidade de
alimentos. Os resultados do crescimento destas bactérias no
Resfriamento a 45°C iogurte armazenado em condição isotérmica de refrigeração
estão contidos na Tabela 1.
O iogurte analisado apresentou contagens de bactérias
psicrotróficas na ordem de 103 e 105 UFC/g ao longo de 96
Inoculo 10%
horas de armazenamento refrigerado, esses valores são
considerados altos se comparados com relatados por Reis
Incubação 43°C por 8 (2013) que, ao analisar 65 amostras de iogurte colhidas em
horas laticínios do Distrito Federal, apresentaram valor máximo de
1,9 x 101 UFC/g para este microrganismo. A presença desses
microrganismos pode ser devida a deficiências nos processos
Adição de grãos e
de limpeza e sanitização dos equipamentos utilizados na
homogeneização fabricação destes alimentos (FORSYTHE, 2002; JAY, 2005).
A contagem do crescimento de bactérias mesófilas no
iogurte atingiu um valor máximo de 3,60 x 106 UFC/g após três
Armazenamento em
dias (72 horas) sob refrigeração, provavelmente este
condição isotérmica crescimento está relacionado às variações de temperatura
de refrigeração (abusos de temperaturas) que ocorrem nos refrigeradores,
proporcionando um aumento no crescimento. Estes valores
Figura 1. Fluxograma de preparo do Iogurte enriquecido de grãos (CCTA-
foram considerados baixos, se comparados com os relatados
UFCG, 2014).
por Beukes et al., (2001) que encontraram média de 7,7 x 108
UFC/mL em leites fermentados fabricados em potes de barro
543 544
ou cabaças na África do Sul. Também, Reis (2013) observou Cordeiro et al., (2002), que analisaram quarenta e três
contagens médias de 5,3 x 104 UFC/mL para iogurtes de amostras de leite tipo "C" pasteurizado de quinze marcas
diversos laticínios. provenientes de diferentes micro-usinas do município de
Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, a análise
Tabela 3. Crescimento de bactérias psicrotróficas, mesófilas, revelou que 18,60%, 4,65%, 25,58% e 30,23% não estavam
termodúricas e termófilas no iogurte adicionado de grãos ao dentro das especificações legais para bactérias mesófilas,
longo do armazenamento isotérmico de refrigeração. termodúricas, coliformes totais e fecais respectivamente.
Tempo de Microrganismos
As bactérias termodúricas são associadas com falhas
armazenamento Bactérias Psicrotróficas Bactérias Mesófilas
(horas) crônicas ou persistentes de limpeza dos equipamentos de
(UFC/g) (UFC/g)
0 1,42 x 10
5
1,71 x 10
5 ordenha ou de contaminação originada do solo (BRITO, 2001).
24 3,03 x 10
5
3,28 x 10
5 Rezende et al., (2000) analisaram cento e vinte
3 5
48 6,00 x 10 3,02 x 10 amostras de leite UHT de quatro diferentes marcas
3 6
72 9,00 x 10 3,60 x 10 comerciais, adquiridas na região de Ribeirão Preto-SP e
4 5
96 3,80 x 10 2,67 x 10
tiverem resultados positivos para microrganismos indicadores
Tempo de Microrganismos
armazenamento
aeróbios ou facultativos mesófilos e termófilos viáveis de
Bactérias Termodúricas Bactérias Termófilas
(horas) (UFC/g) (UFC/g)
53,33% e de 44,17% respectivamente. Ou autores concluem
0 4,68 x 10
5
Ausente que a alta população de microrganismos indicadores mesófilos
5
24 4,47 x 10 Ausente e termófilos encontrados nas amostras analisadas indica a
5 3
48 2,96 x 10 5,33 x 10 necessidade de melhorias nas condições higiênico-sanitárias
5 2
72 1,06 x 10 5,10 x 10
4 adotadas no processo de obtenção do leite UHT, no sentido
96 4,00 x 10 Ausente
de minimizar as contaminações encontradas.

Não há referencia quanto à presença de bactérias


4. CONCLUSÕES
termodúricas e termófilas em produtos lácteos, no entanto a
contagem do crescimento de bactérias termodúricas no iogurte
Os resultados das contagens das bactérias no iogurte
apresentam-se na ordem de 104 e 105 UFC/g e de bactérias
podem indicar deficiências no processamento e na
termófilas na ordem de 102 e 103 UFC/g a partir de 48 horas
higienização de utensílios, sendo necessário maior rigor no
de armazenamento refrigerado.
cumprimento das medidas higiênico-sanitárias.
As bactérias termodúricas resistem à pasteurização
Há necessidade de mais estudos que permitam conclusões
porque suportam temperaturas mais altas (menos de 100º C)
sobre a influência destas bactérias na qualidade de produtos
ou produzem esporos que são formas de resistência contra
lácteos, bem como bem como verificar a temperatura de
condições adversas (BRITO, 2001). Em trabalho realizado por
refrigeração adequada para garantir a segurança do alimento.
545 546
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
5. REFERÊNCIAS 18/09/2003.
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Laticínios. Juiz de Fora, vol. 53, n. 304, 1998, p-26-29. BRITO, M.A.V.P.; BRITO, J.R.F. Qualidade do leite. In:
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Desafios do século XXI
Universidade de Brasília / Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária, 2013. O SIMPÓSIO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está
destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição,
farmácia, enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e
REZENDE, N. C. M.; ROSSI JÚNIOR, O. D.; NADER FILHO, tem como objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de
A.; AMARAL, L. A. Ocorrência de microrganismos indicadores palestras, mesa redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para
em leite UHT (®ultra-high-temperature) integral. Rev. Bras. que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e
da educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito
Ciênc. Vet. v. 7, n.1, p. 58-60, 2000.
Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a
Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a
Vida.
SOUZA, P. H. M.; SOUZA NETO, M. H.; MAIA, G. A. Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles:
Componentes funcionais nos alimentos. Boletim da SBCTA. Uso racional de medicamentos, Aplicações da Biotecnologia na Saúde,
v. 37, n. 2, p. 127-135, 2003. Política Nacional de Alimentação e Nutrição, Gastronomia, meio
ambiente e sustentabilidade, Patógenas emergentes associados ao
abastecimento de água para consumo humano, A saúde mental no
século XXI, um desafio dos profissionais de saúde, ducação Alimentar
VIEIRA, A.C.P. A percepção do consumidor diante dos
e Nutricional: uma estrategia de Segurança Alimentar do século XXI.
riscos alimentares: A importância da segurança dos Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros
alimentos. In: Âmbito Juridico, Rio Grande, XII,n.68, set 2009. frutos desse Evento: ODONTOLOGIA INTEGRADA, SAÚDE E MEIO
Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index. AMBIENTE: os desafios do século XXI, e NUTRIÇÃO E SAÚDE: os
php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6587>. Acesso desafios do século XXI, contribuirão para o conhecimento dos alunos
da área de Ciencias biológicas e Saúde.
em: 01 de agosto de 2014.
Este livro foi publicado em 2014

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