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Participar de forma efetiva e natural do diálogo em diferentes ambientes, processar e trocar informações por meio da
audição, leitura, fala e escrita são metas terapêuticas para as crianças com deficiência auditiva que fazem parte de
programas de (re)habilitação aurioral1, possibilitando a elas independência, inclusão educacional e social.
Ao ingressarem na escola, um novo mundo de desafios se inicia para todas as crianças e, em especial, para crianças
com deficiência auditiva, que, por vezes, estão adquirindo habilidades de audição e de linguagem e terão que se engajar
em situações de comunicação com seus pares ouvintes e professores, aprender a ler, escrever e ainda apreender conteúdos
diversos.
É também um momento decisivo para as famílias, fato que pode gerar insegurança e estresse devido às implicações
para a vida de seu(sua) filho(a) e para a dinâmica familiar.
Já os professores de crianças com deficiência auditiva deverão prepararse para ensinar o conteúdo acadêmico e ainda
monitorar e auxiliar a criança no aprendizado de novas habilidades de audição e de linguagem ainda em desenvolvimento,
como destaca a literatura2,3. Nesse cenário, os professores ainda não se consideram preparados para receber estes alunos
em suas salas de aula.
O fonoaudiólogo de crianças com deficiência auditiva em idade escolar deve considerar estes aspectos no
gerenciamento terapêutico, mobilizando e orientando pais e professores que apoiarão a criança a desenvolverse em seu
potencial máximo, agora em um novo ambiente.
Considerando o tripé entre família, escola e terapeuta como fundamental para o desenvolvimento integral dessas
crianças1, este capítulo abordará os princípios para os bons resultados no desenvolvimento de crianças com deficiência
auditiva em idade escolar, destacará aspectos do trabalho terapêutico fonoaudiológico e das orientações aos pais e à
equipe escolar, que visam dar suporte ao desenvolvimento saudável da criança.
Antes da chegada na escola cada criança com deficiência auditiva terá uma bagagem de desenvolvimento da função
auditiva e linguística, algum nível de experiência com o uso de seus equipamentos auxiliares à audição, especialmente os
aparelhos de amplificação sonora individual (AASI) ou implante coclear (IC), sendo que algumas crianças podem já ter
experimentado o uso do sistema de frequência modulada (sistema FM)1,4,5. Além disso, cada criança terá em sua bagagem
algumas particularidades, como, por exemplo, o tempo de terapia fonoaudiológica realizada, a participação da família em
seu processo de (re)habilitação, as características individuais de personalidade, as habilidades cognitivas, entre outros
fatores.
Será escopo deste capítulo abordar o gerenciamento da terapia fonoaudiológica em crianças que participam de
ambientes de audição e linguagem oral.
Conhecer cada criança e seu contexto é fundamental e o fonoaudiólogo sempre deverá fazer uma análise do momento
do desenvolvimento em que a criança se encontra ajustando condutas para o atendimento das suas reais necessidades em
diferentes etapas7.
Da mesma forma, é muito importante que os professores compreendam a diversidade de alunos com deficiência
auditiva que podem estar na mesma sala de aula7,8; como exemplos:
• Alunos que experienciaram propostas terapêuticas para o desenvolvimento da audição e linguagem oral precocemente
• Alunos que experienciaram propostas terapêuticas para o desenvolvimento da audição e linguagem oral tardiamente
• Alunos que perderam a audição após adquirirem linguagem oral
• Alunos com perdas auditivas moderada e leve.
► Princípios para o desenvolvimento das crianças com de�ciência auditiva em idade escolar
Atualmente, crianças com deficiência auditiva têm maiores oportunidades de utilizar seu potencial máximo de audição
residual e alcançar desenvolvimento de linguagem típico de crianças ouvintes de mesma faixa etária6,9. Muitos fatores6,23
são responsáveis por estes resultados; entre os mais destacados na literatura estão:
• A detecção precoce das perdas auditivas que possibilita que as crianças recebam os recursos auxiliares à audição e
iniciem a habilitação adequada cada vez mais precocemente
• Os avanços da tecnologia que permitem o acesso de qualidade aos sons de fala, de modo que as crianças possam usar
sua audição como primeira via do desenvolvimento de linguagem.
Tal panorama modifica as expectativas de famílias, educadores e do fonoaudiólogo quanto aos resultados esperados e
imprime a tal profissional a necessidade de atualização constante quanto às possibilidades dos recursos auxiliares à
audição e quanto ao direcionamento terapêutico voltado à família e à escola.
O fonoaudiólogo, portanto, mais do que centralizar a criança no planejamento das metas terapêuticas, deve atuar de
maneira integral junto aos pais e professores para que eles possam praticar o uso da audição como um ato constante e
natural, enriquecendo os ambientes de audição, linguagem oral e linguagem escrita no dia a dia com a criança.
Mesmo com bons resultados de desenvolvimento de audição e de linguagem, ao entrar na escola, a criança poderá
apresentar dificuldades em acompanhar conversações em sala de aula, poderá sentirse apreensiva e insegura quanto ao
que escutou ou ainda apresentar dificuldades de apreensão dos conteúdos escolares.
Neste contexto, a terapia fonoaudiológica de crianças em idade escolar deverá seguir os princípios da abordagem
aurioral1.
► Usar consistente e apropriadamente os recursos auxiliares à audição. Cabe ao fonoaudiólogo orientar
pais, professores e crianças a respeito do manuseio e cuidados com cada recurso utilizado, sejam eles AASI, implante
coclear (IC) ou sistema FM, sendo que a criança pode usar um, dois ou até os três tipos de recursos. Assim, o professor da
criança deve estar completamente à vontade com o manuseio e plenamente consciente da importância do uso contínuo dos
dispositivos na escola. O uso do sistema FM, em especial, tornouse mais recentemente uma realidade para crianças por
meio de adaptação pelo Sistema Único de Saúde (Portaria no 1.274, de 25 de junho de 2013) e deve ser continuamente
acompanhado de orientações fonoaudiológicas à escola. Orientar os pais a realizar o acompanhamento periódico para os
ajustes dos dispositivos e avaliações também é fundamental. Além disto, a independência da criança quanto ao manuseio
destes dispositivos deve ser considerada e quando compreendido oportuno o treinamento deverá ser feito. Se desde o
início do processo de (re)habilitação a conscientização de cuidados e manuseio com os dispositivos for realizada,
intercorrências como quebras e mau uso de dispositivos serão evitadas, fato extremamente importante para a garantia do
acesso auditivo, condição fundamental para o desenvolvimento da criança. O trabalho de conscientização em grupo com
crianças com deficiência auditiva pode ser utilizado como fator de estimulação para a melhoria do tempo de uso e
principalmente da manutenção dos cuidados com eles.
► Compreender a linguagem oral em uso em diferentes ambientes. Talvez esta premissa seja a mais
desafiadora a crianças, famílias, escola e fonoaudiólogos, que poderão enfrentar diversas condições no percurso de
desenvolvimento das habilidades auditivas que influenciam diretamente o desenvolvimento ótimo das habilidades
linguísticas da criança1,2. Alimentar os ambientes de audição e de linguagem em casa e na escola traz oportunidades de
prevenção de dificuldades de compreensão de mensagens no ambiente escolar. Desta forma, o professor deve
compreender que tão importante quanto o uso do sistema FM na escola é a utilização de estratégias de comunicação que
garantam que a criança compreendeu o conteúdo da mensagem. Em situações simples, como por exemplo uma instrução
oferecida pelo professor, tentar clarificar a mensagem com uma fala mais pausada, pedir para que a criança explique o
que entendeu da instrução, refrasear, são estratégias fundamentais para a compreensão do que é dito em sala de aula,
especialmente para crianças no início da escolarização. Também é importante que o fonoaudiólogo inclua no
planejamento terapêutico simulações de situações e tarefas de escuta diversificadas (silêncio × ruído, diferentes
distâncias, por exemplo).
► Trabalhar com a independência comunicativa da criança. É tendência que o fonoaudiólogo trabalhe com
crianças em idade escolar já incluídas em salas de aula comuns no ensino regular, desde a préescola. Devese buscar,
portanto, facilitar o processamento de informações linguísticas complexas por meio da audição desde cedo. Além disso, o
treinamento do uso de estratégias de comunicação com a criança é útil e importante.
► Avaliar de forma contínua a terapia e utilizar medidas que auxiliem no planejamento terapêutico.
Além da avaliação constante para a revisão das metas terapêuticas, o fonoaudiólogo pode utilizar testes padronizados,
escalas e inventários com pais e professores, que o auxiliarão não apenas no ajuste de metas, mas também na orientação
específica à família e à escola, baseandose nas necessidades individuais da criança, de seus familiares e professores.
► Auxiliar professores para a inclusão escolar efetiva. Encontros periódicos para orientação e discussão de
necessidades da criança no ambiente escolar são importantes. A observação de terapias da criança pelo professor também
é uma estratégia a ser considerada. Oferecer materiais como livros e manuais com conteúdos sobre a deficiência auditiva
pode impulsionar a compreensão dos professores. Cursos para grupos de professores também podem ser realizados com
resultados exitosos.
O Quadro 60.1 apresenta uma síntese dos fatores positivos e negativos que afetam o desenvolvimento da criança com
deficiência auditiva2,4,5,6,23 com aspectos específicos relacionados às crianças em idade escolar, destacados pela literatura.
Quadro 60.1 Fatores que in᠀�uenciam o desenvolvimento de crianças com de�ciência auditiva em idade escolar.
Adaptação precoce de recursos auxiliares à audição. Pouco tempo de privação Uso incorreto ou inconsistente dos recursos auxiliares à audição
sensorial
Participação efetiva da família no processo de (re)habilitação e desenvolvimento Pouca permeabilidade da família ao processo de (re)habilitação e pouca
acadêmico participação da família na escola
Todos os pro�ssionais, família e escola compartilham os mesmos objetivos de Objetivos diversos em cada local de vivência da criança
desenvolvimento e expectativas de sucesso
Ambiente escolar colabora com o desenvolvimento das habilidades de audição e Criança passa muito tempo em ambientes de audição e linguagem de pouca
de linguagem. A audição é valorizada interação e/ou em ambientes em que existem poucas razões para escutar
Expectativas reais. Con�ança no potencial da criança, família e escola Expectativas altas ou baixas demais
Preocupação do professor com o aprendizado da criança. Possibilidades de reforço Ambiente escolar pouco colaborativo. Poucas ou inexistentes possibilidades de
escolar, professor itinerante e recursos educacionais adequados às necessidades recursos educacionais adequados à criança que auxiliem na apreensão do
da criança conteúdo acadêmico
Comunicação clara e regular entre pais e escola Comunicação pobre entre familiares, pro�ssionais e escola
Habilidades sociais desenvolvidas na criança. É capaz de defender suas Pouco desenvolvimento de habilidades sociais. Comportamento inadequado para
necessidades na escola a faixa etária. Di�culdades em se inserir no grupo escolar
Criança assume a responsabilidade de usar corretamente e cuidar de seus DEAS Criança pouco consciente e não assume a responsabilidade de usar corretamente e
cuidar de seus DEAS
Criança é automotivada para aprender Criança com rendimento acadêmico ruim/fraco. Não participa ativamente de seu
aprendizado
Criança utiliza estratégias de comunicação Criança refém nas situações de comunicação. Pode isolar-se. Não utiliza estratégias
de comunicação
Nenhuma de�ciência associada ou outros comprometimentos relacionados à Outros comprometimentos relativos aos aspectos cognitivos de aprendizagem não
aprendizagem relacionados à audição. De�ciências associadas
• Resolver problemas em histórias curtas e charadas lidas para a criança
• Escrever e seguir instruções complexas
• Realizar atividades simultâneas às tarefas de escuta, como fazer anotações
• Compreender histórias e textos acadêmicos lidos com ruído de fundo
• Compreender histórias gravadas e músicas, com registro escrito do que compreendeu
• Expandir a memória de trabalho para dígitos, palavras e pseudopalavras, frases e histórias curtas em situação de
silêncio × ruído
• Ditar palavras, frases e textos em situações de escuta com distâncias diferentes, variação de destaques acústicos e nas
situações silêncio × ruído
• Nas tarefas de audição utilizar a sabotagem auditiva torna a criança atenta a processar efetivamente o que escutou.
Em relação à linguagem oral, é importante que sejam trabalhados previamente conceitos que são exigidos na etapa
escolar como as noções de classificação, números, cores, formas, tamanho, igualdade, quantidade, entre outras.
Atividades que envolvam a dramatização e compreensão de histórias também devem ser parte do planejamento
terapêutico1,7.
Trabalhar com sinônimos e antônimos auxilia no desenvolvimento do vocabulário e na compreensão de textos.
Nesta etapa a criança deve ser levada a:
• Aprender novos significados de palavras conhecidas
• Aprender novas palavras que representem conceitos conhecidos (p. ex., a palavra imagem para a figura ou desenho)
• Aprender novas palavras que deem suporte ao aprendizado de novos conceitos.
Usar jogos de pistas, trabalhando com associações entre objetos e suas categorias é outra atividade importante. Jogos
em que a criança deve realizar julgamentos, como a brincadeira de verdadeiro ou falso, também são interessantes para a
integração de escuta ativa e linguagem. O trabalho com as expressões idiomáticas e gírias também deve ser contemplado.
Além disso, enfatizar o uso de estruturas sintáticas complexas, com destaque para as palavras de função (preposições,
pronomes), adjetivos, verbos que expressam sentimentos e pensamentos e uso da voz passiva são pontos importantes no
planejamento das estratégias e no material de linguagem a ser utilizado. Alguns exemplos são:
• Exemplo 1: relatar um livro lido, um filme assistido, um passeio. (Inicialmente a criança pode contar ao terapeuta para
que este seja seu escriba...)
• Exemplo 2: “Eu fico alegre quando... E você?” (Descrever situações em que você fica alegre e estimular a criança a
fazer o mesmo – incentivar o registro escrito)
• Exemplo 3: “Meu sonho” (Contar um sonho à criança e estimulála a lembrar e relatar um sonho. Podem ser feitas
perguntas como: onde se passava o sonho?, quem estava nele?, você teve medo?, estava contente?)... Também pode ser
feito um desenho e registro escrito nesta atividade.
As tarefas com as habilidades metalinguísticas, por exemplo, de consciência sintática (inverter e organizar frases) e de
consciência fonológica (trabalhar com poesia, parlendas, estabelecer a relação fonemagrafema, inverter sílabas e
fonemas para encontrar palavras, fazer análise e síntese de palavras), são fundamentais, dadas as evidências do papel de
tais habilidades como preditivas do desenvolvimento da leitura e escrita.
• Exemplo 1: a partir de uma música escolhida pela criança, fazer a análise sintática/fonológica... “Quantas palavras há
nesta frase?”/“Na música, quantas palavras começam com ta?”/“Quantas terminam com lo?”
• Exemplo 2: utilizando jogos como lince, trilha e outros, praticar com a criança a análise/síntese/transposição silábica e
fonêmica das palavras em uso/figuras do jogo. (“Sofá – quantas sílabas tem?, quais são os sons desta palavra?, que
outras palavras eu posso formar com estes sons?, e se eu inverter as sílabas, que palavra eu consigo formar?”).
Capitalizar a atenção e a vocação das crianças para os recursos de informática e multimídia e fazer uso dos programas
computacionais de treinamento de habilidades de audição, linguagem e habilidades metalinguísticas pode ser muito
motivador e útil no cumprimento das metas terapêuticas.
O uso de estratégias para monitorar e controlar a atenção e a memória e tomar decisões de como proceder e o que
analisar em determinada tarefa é essencial para as crianças com deficiência auditiva em idade escolar. Tais estratégias são
denominadas metacognitivas e otimizam a compreensão de textos, tornando a criança mais segura para tais tarefas.
• Exemplo 1: auxiliar a criança a extrair o significado de textos (verificar com a criança, por exemplo, tipo de letra,
ilustrações, tipo de material escrito – jornal, revista, livro, folheto de propaganda etc., se parece uma carta, uma
música, uma notícia, um poema, um bilhete, um cartão etc. “Qual é sua função?, que tipo de pontuação possui?, há
palavras conhecidas no texto?”).
Outras estratégias metacognitivas são: reconhecer e memorizar os nomes dos personagens do texto lido, as ideias
principais, a ordem das ações e das características das personagens que aparecem no texto.
• Exemplo 2: ainda quanto ao uso de estratégias metacognitivas: ler mais devagar; reler o texto; tentar predizer o
conteúdo que vem em seguida tomando por base os conhecimentos prévios e os conteúdos que já foram lidos; buscar o
significado das palavras apoiandose no texto e/ou em uma fonte de consulta são estratégias facilitadoras que devem
ser incentivadas.
A produção de textos também é uma valiosa ferramenta na terapia de crianças em idade escolar. Diversas
competências podem ser trabalhadas, envolvendo a linguagem como um todo. Alguns exemplos:
• Exemplo 1: compor com a criança: cartas, bilhetes, cartões, trabalhando seus usos e funções
• Exemplo 2: complementar ações: Um dia..., Era uma vez..., Se eu tivesse asas..., Minha mãe....
• Exemplo 3: estruturar narrativas:Uma vez ........................., porque ............................. então,….................... Um pouco
depois, finalmente”
• Exemplo 4: atividades de conversar sobre... utilizando murais, figuras de minimistérios ou trechos de histórias e frases;
a partir de tal atividade encorajar o registro escrito e trabalhar com a elaboração e aprimoramento dos textos
• Exemplo 5: perguntar, responder, explicar, argumentar, expor, descrever, resumir são atividades comunicativas
importantes que fazem parte do “discurso escrito”.
O aprimoramento dos padrões de articulação e qualidade vocal pode ser necessário para a melhoria da inteligibilidade
de fala da criança, propiciando diminuição das quebras na comunicação e maior autoconfiança, especialmente quando
envolve pessoas desconhecidas.
Nas situações escolares, nem sempre o que é dito pelos professores ou colegas é compreendido pela criança, assim
como nem sempre o que é dito pela criança com deficiência auditiva é imediatamente compreendido pelos colegas e
professores9. Assim, o uso de estratégias de comunicação (ECs) pela criança colabora para a melhora geral da
comunicação com pessoas desconhecidas que, em princípio, serão seus professores, funcionários da escola e colegas de
classe5. Destacase que a comunicação bemsucedida é fundamental para o desenvolvimento das habilidades sociais da
criança, que serão requeridas o tempo todo no ambiente escolar.
Dessa forma, a instrução formal de ECs deve incluir a revisão de comportamentos de escuta/comunicação efetivos (p.
ex., prestar atenção, olhar para o interlocutor, tentar identificar pontoschave da conversa), bem como solicitar ao falante
que clarifique a mensagem (p. ex., “Quando você não entender a mensagem, peça à pessoa para dizer mais devagar, dizer
uma palavrachave etc.”). Pode ser utilizado como material um livro confeccionado em terapia ou em casa, com desenhos
da criança dialogando e utilizando as estratégias de comunicação. Os pais e professores também deverão praticar uso de
ECs com a criança.
Assim, sabese que o desempenho escolar de crianças com deficiência auditiva pode ser afetado pela percepção da
fala e pelo desenvolvimento da linguagem. No entanto, outras habilidades tais como a “Teoria da Mente” (TOM) e os
processos neurocognitivos têm sido investigados como chaves para a explicação da variabilidade de resultados
encontrados no desenvolvimento de crianças com deficiência auditiva.2224
É fundamental, portanto, que sejam incorporadas às estratégias terapêuticas atividades que envolvam:
• Dramatizações com objetos que simulam personagens ou dramatizações de histórias em que cada participante da
terapia representará um personagem
• Leitura e dramatização de histórias cujas pistas sejam essenciais para a compreensão da mesma (p. ex., histórias
simples como chapeuzinho vermelho ou cachinhos dourados e os três ursos trazem pistas não explícitas sobre o
pensamento das personagens)
• Jogos de adivinhação
• Caixasurpresa (colocar em uma caixa de fósforos ou bombons qualquer coisa que não seja o esperado pela criança e
trabalhar a falsa crença)
• Jogos, cartões ou histórias que tragam as expressões faciais para o trabalho com os sentimentos e “estados de espírito”
• Cartões com situaçõesproblema (p. ex., quem quebrou a cadeira? O que o menino pensou quando rasgou o papel?,
entre outras).
Além disto, as funções executivas que integram basicamente as capacidades necessárias para a resolução de
problemas e que envolvem: planejamento (pensar antes para se atingir um objetivo), flexibilidade cognitiva (capacidade
de mudar de foco e adaptarse a diferentes demandas e contextos), memória de trabalho (capacidade de manter a
informação em mente, transformála e integrála com outras informações), atenção seletiva (focalizar a atenção e não se
distrair com diferentes estímulos do ambiente), controle inibitório (controlar comportamentos quando estes não são
adequados), monitoramento (monitorar processos mentais) são habilidades importantes a serem constantemente
trabalhadas em terapia fonoaudiológica.
Dada sua importância para o desenvolvimento acadêmico e social, as orientações à família e à escola também devem
contemplar estratégias para o melhor desenvolvimento destas habilidades. Um programa de intervenção em funções
executivas foi desenvolvido em português para a aplicação em contexto escolar, o qual mostrase bastante pertinente para
uso com as crianças com deficiência auditiva em idade escolar26.
Para crianças com intervenção tardia ou com outras dificuldades associadas, mais sessões de terapia são indicadas.
Além do planejamento terapêutico, contar com a integração entre as habilidades de audição, linguagem oral e escrita, e
pode ser necessário realizar sessões de treino formal em aspectos específicos, por exemplo, intervenção fonológica
específica, oficinas de elaboração de textos, entre outras metas.
Quadro 60.2 Síntese de protocolos de avaliação de crianças com de�ciência auditiva em idade escolar.
Escala Reynell de desenvolvimento da 1 a 6 anos e 11 meses Linguagem receptiva e Traduzido. Uso em pesquisas
linguagem (RDLS)14 expressiva(estrutura, conteúdo e
vocabulário)
Teste de linguagem (ABFW)15 2 a 12 anos Linguagem, nas áreas de fonologia, Disponível para aplicação
vocabulário, ᠀�uência e pragmática
Avaliação fonológica da criança (AFC)16 A partir de 3 anos Fonologia Disponível para aplicação
Prova de consciência sintática (PCS)19 1a a 4a série do ensino fundamental Consciência sintática Disponível para aplicação
Avaliação da compreensão leitora de A partir da 3a série do ensino Leitura oral e silenciosa Compreensão Disponível para aplicação
textos expositivos20 fundamental de leitura
Teste de desempenho escolar (TDE)21 1a a 8a séries Matemática, leitura e escrita Disponível para aplicação
Ortogra�a
Ressaltase que outros protocolos que analisam habilidades de percepção auditiva da fala (abordados em capítulo
específico), linguagem oral e escrita, habilidades metalinguísticas, de atenção e memória podem ser empregados na
avaliação de crianças em idade escolar. Notamse a necessidade de pesquisas sobre o uso de vários instrumentos no
acompanhamento do desenvolvimento de crianças com deficiência auditiva e a existência de inúmeros protocolos
específicos na literatura internacional. Sua utilidade e aplicabilidade devem também ser estudadas.
• Escutar com atenção a criança
• Garantir que a criança tenha compreendido a mensagem utilizando estratégias de comunicação e encorajála a dizer
quando não escutou ou não compreendeu.
• Auxiliar a criança na interação verbal e social com seus pares, se este for um aspecto observado como uma dificuldade
para ela
• Estar em contato e trocar informações com os demais professores da criança e com seus pais e terapeutas
• Apoiar e utilizar adequadamente os sistemas auxiliares à audição em sala de aula – FM
• Promover tarefas em que a colaboração de colegas/pares aconteça na sala de aula
• Trabalhar dentro da zona de desenvolvimento proximal (nível entre o desempenho independente da criança –
habilidades atuais e seu desempenho com ajuda – habilidade em potencial), adaptando atividades quando necessário.
■ Orientações à família
A participação das famílias nas sessões de terapia fonoaudiólogica continua a ser um aspecto importante na etapa
escolar. Os pais deverão compreender que seu(sua) filho(a) terá uma série de desafios para o desenvolvimento de novas
habilidades para o aproveitamento máximo de seu potencial de aprendizagem na escola. Incentivar constantemente a
leitura de livros, visitas às bibliotecas, feira de livros, experienciar novos ambientes e criar o hábito de realizar relatos
escritos das vivências (a própria criança escreverá em seu caderno de experiências, por exemplo) além de avançar nas
experiências com as habilidades auditivas integradas às situações de linguagem no dia a dia são aspectos que deverão ser
trabalhados nas orientações com a família1.
Em relação ao ambiente escolar, algumas questões importantes devem ser observadas na visita inicial e na escolha da
escola pela família:
• Conhecer a política da escola quanto às crianças com necessidades educacionais especiais
• Questionar a escola sobre a experiência prévia com outras crianças com deficiência auditiva e as possibilidades de
planejamento individualizado e acompanhamento com reforços e outros recursos educacionais apropriados para a
criança em questão
• Visitar as instalações da sala de aula e observar se a acústica é favorável, incluindo ruído de trânsito ao redor, posição
da sala, tamanho, reverberação
• No caso de crianças que tenham o sistema FM, estar certo de que os professores o utilizarão efetivamente em sala de
aula.
■ Trabalho em equipe
Profissionais da psicologia, psicopedagogia e pedagogia geralmente são parceiros do fonoaudiólogo no atendimento
às necessidades de crianças em idade escolar. Trabalhar em equipe visando à elaboração de metas comuns e ter um
diálogo constante para sua reavaliação é imprescindível para o melhor aproveitamento possível de todos os serviços
terapêuticos e educacionais oferecidos a criança e sua família.
► Conclusões
Os desafios na terapia fonoaudiológica de crianças com deficiência auditiva em idade escolar serão proporcionais às
condições e ao contexto de cada criança, família e escola.
O presente capítulo destacou pontos a serem refletidos pelo fonoaudiólogo para a tomada de decisões sobre as metas
terapêuticas que deverão abranger, em níveis mais avançados, habilidades requeridas em situações externas ao cenário
terapêutico.
Expectativas reais e positivas a respeito do desenvolvimento da criança e a terapia baseada no tripé “famíliacriança
escola” nortearão o êxito do trabalho desenvolvido.
A realização de pesquisas com a população de crianças com deficiência auditiva em idade escolar no momento atual
contribuirá com evidências e novas perspectivas para a atuação fonoaudiológica.
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