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Questão 1 - Qual o conceito de Estado utilizado pelo Rei da Prússia Frederico II ao

dizer que poderia expropriar a terra do moleiro sem lhe dar um único centavo de
indenização, confiscando sua propriedade? Qual o conceito de Estado usado pelo
moleiro ao afirmar que ainda existem juízes em Berlim? Fundamente sua resposta,
explorando a diferença de significado do conceito de Estado, explorando autores
clássicos da filosofia política e os elementos constitutivos do Estado da teoria jurídica
clássica de Kelsen. (2,0 pontos). (RESPOSTA COM MÍNIMO DE 10 LINHAS E
MÁXIMO DE 20 LINHAS). *

Resposta:
É válido identificar o choque que ocorre no diálogo entre o Rei da Prússia e o
moleiro. Isso porque, ao visualizarem soluções distintas para um mesmo problema, estão
visualizando sistemas de governos diferentes e pautados em ideais de Estado igualmente
distintos. Assim, é possível dizer que o Rei observa uma forma de governo absolutista, forma
defendida por Thomas Hobbes, em que o rei seria detentor de máxima autoridade e poderia
governar deliberadamente. O Estado hobbesiano é tecido justamente através dessa ótica, e a
legitimidade desse rei soberano e com total poder vem justificada pelo estado de natureza em
que vivem os indivíduos, estado esse de guerra e desarmonia generalizada e, portanto,
necessitando de um rei que coloque ordem e garanta a segurança dos indivíduos. Dessa
forma, ao ser estabelecido o contrato social, todos os indivíduos concordam e precisam
delegar de todas as suas ações, tomando as ações do rei como suas próprias. Assim,
ratifica-se que o Rei da Prússia poderia estar se utilizando desse pensamento. Por outro lado,
explicita-se que a visão do moleiro com sua última fala, "Ainda há juízes em Berlim", traz
uma concepção de delegar a decisão da lide a um terceiro, envolvendo um outro poder, visão
essa que Montesquieu não cria, mas desenvolve de forma sólida.
Por fim, importa analisar a relação entre povo (moleiro), território (moinho) e
soberania (rei) - principais elementos constitutivos do Estado - que é observada por um viés
conflituoso na história explicitada, de modo que uma análise no que Kelsen diz em sua teoria
jurídica clássica é pertinente. Assim, em sua Teoria Monista, o jurista identifica Estado e
Direito, sendo o Estado regrado pelas normas jurídicas, bem como o poder do soberano
restringido por tais, logo a ideia do moleiro é a mais próxima do Estado kelseniano que
impõe os limites a todos os elementos e os submete às normas jurídicas postas.

Questão 2 - O fim do contrato social mencionado no título da reportagem pelo autor


representaria o fim do próprio Estado para Hobbes? Qual a diferença da teoria
contratualista de Hobbes em relação à teoria de Rousseau? Explique a diferença do
estado de natureza em cada uma desses autores e as finalidades que cada um teorizou
como objeto do contrato social. Ao final, conclua identificando a crítica dirigida por
Hegel apresenta à teoria do contrato social. (1,5 pontos). (RESPOSTA COM MÍNIMO
DE 10 LINHAS E MÁXIMO DE 20 LINHAS). *
Para Hobbes, o contrato social é entendido como meio de solucionar o estado de
guerra de todos contra todos que, para ele, seria o Estado de natureza. Assim sendo, é certo
dizer que o fim do contrato social, em quaisquer termos, representaria uma volta para o
estado de desordem e desarmonia proporcionado pelo estado de natureza da sociedade,
pondo, então, fim ao próprio Estado. Vale aqui ressaltar a grande diferença entre a teoria
contratualista de Hobbes e de Rousseau. Sendo assim, o estado de natureza hobbesiano
coloca-se como um estado de guerra de todos contra todos, como já mencionado, pois os
homens são todos tão iguais e maus por natureza que acabam atacando uns aos outros para
tentarem se proteger de um suposto futuro ataque. Dessa forma, o pacto social surge,
juntamente com a figura do soberano, para assegurar a vida dos indivíduos e que, para isso,
os membros da sociedade delegam suas liberdades e ações a esse soberano que teria poder
ilimitado em prol de lhes garantir segurança. Contrariamente a esse estado de guerra de
Hobbes, Rousseau vê o estado de natureza como um estado de perfeita harmonia, paz e
segurança. Entretanto, a partir do momento que surge a propriedade privada, esse estado de
natureza acaba sendo corrompido quando o homem torna-se individualista. Assim, o pacto
social surgiria acabando a "liberdade natural" e colocando no lugar uma "liberdade civil",
surgindo o Estado que deveria ser fruto da vontade coletiva - vontade geral. Por fim, é válido
pontuar a lúcida crítica trazida por Hegel à teoria contratualista, o qual afirma que não é o
homem que cria o Estado, mas o Estado que cria o homem, sendo impensável, desse modo,
que um contrato social criador do Estado pudesse existir. Para ele, o Estado é, antes de tudo,
uma formação histórica, concreta e não hipotética.

Questão 3 – Os “atos secretos” do Senado representaram que tipo de arranjo


institucional no ambiente estatal brasileiro? Na classificação de Helmke e Levistsky,
identifique o tipo de interação as instituições formais e informais nesse caso,
explicitando a regra formal, a regra informal. É possível falar em “Rule by Law” ou
“Rule of Law” para o exemplo acima? É possível compreender que havia
“accountability horizontal” no período dos atos secretos do Senado? Fundamente sua
resposta explorando o conceito de separação de poderes e contando o número de pontos
de veto para o caso. Ao final, afirme se é possível falar em democracia para o período
dos atos secretos, usando a classificação de Mainwaring e Daniel Brinks na obra a
classificação dos regimes políticos na América Latina. (2,5 pontos) (RESPOSTA COM
MÍNIMO DE 15 LINHAS E MÁXIMO DE 30 LINHAS) *

Observa-se, nesse caso, de forma evidente, que o arranjo institucional empregado


pelos “atos secretos” se configuram como sendo de divergência por competição. Isso porque
as regras do jogo da instituição formal - Senado - estão sendo sobrepostas pelas regras de
jogo informais, de modo que os interesses particulares dos grupos ali envolvidos acabam
ditando como as organizações devem se comportar. Logo, explicita-se uma divergência por
competição. Assim, percebe-se a existência de um típico caso de “Rule by Law”, uma vez
que a letra da lei tem seu objetivo desvirtuado para atender de modo oportunístico às
pretensões de um grupo específico. Além disso, é possível que se perceba que não houve,
nesse caso, a accountability horizontal, isso acontece porque não houve o controle do Estado
sobre as demais instituições, já que só vieram exercer esse tipo de controle, através da
fiscalização, muito tempo depois do início de tais atos. Dá-se a importância, portanto, da
accountability horizontal, bem como da separação dos poderes e seus respectivos freios e
contrapesos, uma vez que existe a real necessidade de fiscalização e regulação efetiva dos
poderes em questão para que, dessa forma, haja grandes realizações de objetivos do Estado
preservando o caráter de justiça dentro de tal Estado. Nesse viés, torna-se importante
perceber os pontos de veto, dado que são formas de obter essa regulação e controle do
Estado, apontado até então como de grande importância. Assim, de forma conceitual
identifica-se os pontos de veto como mecanismos capazes de controlar, dificultar e obstruir o
exercício do poder por meio de órgãos estatais. No caso acima explicitado, o ponto de veto
pode ser visto no momento em que o Supremo Tribunal Federal torna o disfarçado
nepotismo, mais precisamente o nepotismo cruzado, em se tratando de um ato
inconstitucional. Por último, é possível depreender que no período em que os atos secretos
ocorreram, o Brasil passa por uma semidemocracia, segundo classificação de Mainwaring, já
que existe violação parcial de certos critérios, colocados como essenciais para que um Estado
seja democrático. Entre esses critérios parcialmente violados, está o respeito às liberdades
civis do indivíduo, sendo, por isso, uma semidemocracia.

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