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Curso
Licenciatura em Pedagogia EaD
Disciplina
Educação, Corpo e Movimento
Professora
Lia Polegato Castelan
Diagramação
Sônia Maria Dias
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA1
1 O material desta disciplina foi produzido a partir de textos selecionados e/ou escritos pelos docentes. A organização e
disponibilização dos materiais em arquivo único visa exclusivamente a facilidade de acesso aos materiais selecionados, os
responsáveis reforçam os direitos autorais dos respectivos autores destacados no início de cada material utilizado.
Unidade III – O papel do professor e da pesquisa sobre os materiais
pedagógicos para o trabalho com as linguagens das crianças. Nesta unidade
discutiremos como o professor pode trabalhar as diferentes linguagens das crianças
e a importância de sua mediação em seus jogos e brincadeiras. Para que o professor
possa realizar essas mediações, de forma a potencializar as aprendizagens e
desenvolvimento infantis, é fundamental que ele próprio desenvolva e implemente em
seu cotidiano algumas habilidades de pesquisa, principalmente a observação e o
levantamento de hipóteses. Texto base: O papel do professor e da pesquisa sobre os
materiais pedagógicos para o trabalho com as linguagens das crianças. Maria
Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos.
Texto base: Pesquisa, materiais didáticos e sua relação com brinquedos, jogos e
brincadeiras, de Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos Espero que
tenhamos uma disciplina significativa, que colabore com a formação docente de
vocês. Estou à disposição para tirar dúvidas, ouvir críticas, sugestões ou mesmo para
um bate papo descontraído sobre o assunto. Aguardo ansiosa a participação de
vocês!
1
Introdução:
o movimento do corpo infantil
Marynelma Carmago Granhani e Lorena de Fátima Nadolny
Licenciatura em Pedagogia
Para Garanhani:
Autonomia e Identidade
corporal
MOVIMENTO
Ampliação do
Socialização conhecimento
de práticas
corporais infantis
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Saiba mais
Assim, brincando em atividades de intensa movimentação corporal, a criança desenvolverá os
seus diferentes aspectos, inclusive físico e motores e, ao mesmo tempo, poderá ser levada
a entender que esses movimentos têm significados, pois se manifestam com o objetivo de
expressão e comunicação. Poderá entender, também, que os movimentos corporais se mani-
festam em diversas práticas, como: os jogos e as brincadeiras, as ginásticas, as danças.
Uma proposta pedagógica com base nos eixos apresentados nos faz dar atenção para a se-
leção e organização de espaços e materiais que favoreçam o trabalho educativo com o movimento.
Esse procedimento é necessário para que a criança tenha oportunidade de diversas vivências e ex-
plorações de seu movimentar. Assim, a organização pedagógica do espaço o torna um ambiente de
aprendizagens e, consequentemente, de desenvolvimento. Para isso, deve ser planejado de forma
cuidadosa pelo profissional responsável pela educação da pequena infância.
No trabalho educativo com a linguagem, para assegurar a linguagem movimento faz-se
necessário:
Ao finalizar...
Ressaltamos que nessa nova concepção de educação da criança pequena, é possível identi-
ficar que o grande desafio para Educação Infantil foi – e ainda está sendo – o de estruturar um fazer
pedagógico que contemple tanto os cuidados necessários ao desenvolvimento da criança, quanto
aos conhecimentos a serem por ela apropriados.
Nesse contexto de proposições, destacamos o movimento do corpo e, em tese, a forma
como se apresenta pode ser um reflexo de mudanças nas interpretações realizadas sobre o mo-
vimento do corpo infantil nas concepções de desenvolvimento – procedentes dos estudos da psi-
cologia e da educação –, que norteiam, teoricamente, a construção das propostas e orientações
curriculares para a Educação Infantil (GARANHANI, 2004).
Ao entendermos que a instituição de Educação Infantil é o meio em que a criança pequena
extrai, experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da inserção e interação
em um grupo diferente do seu meio familiar, concluímos que a escola é um meio privilegiado para o
desenvolvimento da autonomia corporal e vivências de diversos modelos de movimentos corporais
provenientes da cultura em que se encontra.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
fantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3. v.
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre, Artes Médicas Sul,
2000.
GARANHANI, M. C. Educação Física. In: AMARAL, A. C. T.; CASAGRANDE, R. C. B.; CHULEK, V. Ensino
Fundamental de nove anos: orientações pedagógicas para os anos iniciais. Paraná: Secretaria de Es-
tado da Educação, 2010.
PALOMO, S. M. S. Linguagem e linguagens. Eccos Revista Científica, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 9-15, dez.
2001.
SILVA, E. J. S. A Educação Física como componente curricular na Educação Infantil: elementos para
uma proposta de ensino. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 6, n. 3, p. 127-142,
maio 2005.
Sugestões de leitura
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre, Artes Médicas Sul,
2000.
GARANHANI, M. C. A Educação Física na Educação Infantil: uma proposta em construção. In: AN-
DRADE FILHO, N. F.; SCHNEIDER, O. Educação Física para a Educação Infantil: conhecimento e espe-
cificidade. São Cristóvão: UFS, 2008.
FOLHA ONLINE. Mapa do brincar. Disponível em: <http://goo.gl/MsrfC>. Acesso em: 8 ago. 2016.
O Mapa do Brincar é uma iniciativa da Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha de S. Paulo. Esse
projeto foi lançado em maio de 2009 e convidou crianças de todo o país a contar quais são suas
brincadeiras de hoje. Do conjunto de textos, desenhos, fotos e até vídeos enviados pelas crianças,
550 brincadeiras foram selecionadas para este site.
FILGUEIRAS, I. P.; FREYBERGER, A. Brincadeiras e jogos no parque. Revista Avisa Lá, São Paulo, Cre-
cheplan, n. 11, p. 11-19, jul. 2002.
FRIEDMANN, A. A arte de brincar: brincadeiras e jogos tradicionais. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
PRUDDEN, S; SUSSMAN, J. Tradução de Mônica Mattar Oliva. Ginástica para crianças. São Paulo:
Martins Fontes, 1982.
SOLER, R. Jogos cooperativos para a Educação Infantil. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
2
As linguagens corporais e
seus significados e sentidos
Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos
Licenciatura em Pedagogia
Unidade 2
Vimos que o brincar, como uma linguagem corporal que expressa e mani-
festa os movimentos do corpo, é negligenciado em detrimento de conteúdos de
cunho puramente intelectual. Então, o que você pensa a respeito das seguintes
questões: essa prática escolar tem relação com a separação entre corpo e men-
te? Será que o movimentar-se é sempre sinônimo de bagunça na sala de aula?
O corpo é um instrumento de apreensão da cultura? A linguagem desse corpo
em movimento pode ser uma forma de diálogo com a realidade?
A linguagem corporal diz muitas coisas, tanto para nós quanto para aqueles
que nos rodeiam. Muitas vezes procuramos controlar nossas expressões e gestos
para tentarmos amenizar ou disfarçar determinadas situações, pois a linguagem
verbal, quase sempre, está atrelada à linguagem corporal. Como um cozinheiro
pode acreditar que sua comida ficou saborosa se dizemos que “sim” e ao mesmo
tempo o nosso rosto diz “não”?
26
2.3.1 Breve histórico sobre o Corpo
6 Veja o texto de Maria Febles Elejalde, no qual a autora apresenta um histórico e os sistemas
de conhecimento do corpo produzidos por diferentes culturas. Disponível em: <http://pepsic.
bvs-psi.org.br/pdf/rcp/v20n3/13.pdf>. Acesso em: 26 out. 2009.
27
braço apenas, uma perna, virar-se, etc. Assim, por intermédio de movimentos sim-
ples, o bebê vai desenvolvendo movimentos cada vez mais complexos, tais como:
sentar, engatinhar, andar, etc. Todas essas mudanças, aparentemente óbvias e
simples, envolvem processos complexos de desenvolvimento do cérebro e do
pensamento do ser humano mediados pelas relações sociais.
Desde os primeiros dias, o bebê precisa ter os pés, as mãos, o corpo livre,
para começar a descobrir as coisas que é capaz de fazer ao se mexer, virar
de um lado a outro, levantar as pernas, ou seja, produzir movimentos que irão
contribuir para o seu desenvolvimento psíquico. Essas condições, que marcam
a vida do bebê, diferem substancialmente das condições do desenvolvimento
intrauterino. Para poder adaptar-se às novas condições externas, o bebê dispõe
de alguns reflexos incondicionados, como alimentação, defesa e orientação. En-
tretanto, tais reflexos não garantem adaptação às novas condições de vida:
Como esse quadro pode ser revertido? Será que a escola pode contribuir
para que essa necessidade de movimento e desenvolvimento da linguagem cor-
poral das crianças não se limite às imposições da vida diária?
7 Sobre isso, assista ao vídeo Crianças Imitam Adultos. Disponível em: <http://www.youtube.
com/watch?v=lpLypCLT0vM>. Acesso em: 26 out. 2009.
8 Cf. Rocha (1986). 29
Figura 1 O movimento na escola.
Você já tentou se colocar no lugar delas? Mesmo sendo adulto, você gosta
de ficar horas sentado em aulas nas quais não se pode falar? Consegue imagi-
nar o quanto deve ser difícil para as crianças, principalmente as de 6 a 10 anos,
terem o seu tempo limitado para os jogos, brincadeiras, equipamentos do parque
(como o tanque de areia e os brinquedos), passando horas fazendo atividades
escritas em papel? Imagine, agora, os bebês ficando o dia todo em berços e as
crianças de 1 a 6 anos em ambientes que não possuem brinquedos (ou então
os possuem em uma quantidade limitada, o que gera brigas) e que saem das
quatro paredes de uma sala por poucos minutos durante um dia todo.
Por agradáveis que possam ser, por exemplo, as relações íntimas que a crian-
ça sente “em casa”, o “dois” que o professor lhe deu assombrá-la-á inevitavel-
mente. [...] Um dois é algo de muito diferente de uma recriminação da educa-
dora do jardim-de-infância. A nota cristaliza em si, por assim dizer, as novas
relações, uma nova forma de comunicação em que a criança entrou agora.
O que você pensa sobre isso? Será que os conhecimentos sobre leitura
e escrita, ciências, matemática, entre outros tipicamente escolares, não podem
ser desenvolvidos, também, por meio da brincadeira e do movimento, que ex-
pressam diferentes linguagens corporais e, ainda, em ambientes que não ne-
cessariamente precisam ser sempre em salas?
A criança aprende melhor qualquer conteúdo por meio do aspecto lúdico, tam-
bém, porque ele a auxilia a ver sentido na atividade. Segundo Mukhina (1996),
P: Quem sabe pular corda? Quem souber vai ensinar quem não sabe. Va-
mos pensar o que é pular corda?
9 Mais informações sobre as obras de Pieter Bruegel estão disponíveis em: <http://www.ibiblio.
32 org/wm/paint/auth/bruegel/>. Acesso em: 05 nov. 2009.
P: É só pular?
C: Não, é pra rodar também (a mesma criança anterior gira o corpo ao mes-
mo tempo em que pula).
P: Tá, mas para não errar, mesmo se estivermos rodando, como a gente faz
para pular?
P: Ah! Quando a corda vier para baixo a gente pula. Então, tem um jeito
de se pular? (chamo uma criança que não está participando da discus-
são). Ele falou que a corda, quando passar embaixo, a gente pula. Então,
quando a corda estiver em cima, a gente não pula?
C: Não, a gente fica assim (a criança que estava respondendo aos ques-
tionamentos ficou em pé, com as pernas bem esticadas) e quando vem,
nóis pula.
P: Ah! O que você acha? (direciono-me novamente para aquela criança que
estava quieta. Ela não responde. Dirijo-me às demais crianças). Gente,
o que vocês acham? Será que é isso? O que vocês acham fulano, sicrano,
que sabem pular corda, vocês acham que o fulano (a criança que estava
dialogando comigo) está certo? Quem sabe pular corda? (várias crian-
ças levantam as mãos gritando “eu”). Vocês acham que ele está certo?
Vários autores como Vigotsky (1993; 1995; 1996), Leontiev (1978), Elkonin
(1998) e Mukhina (1996) tratam do tema atividade em suas pesquisas. Eles
defendem que em cada momento da vida de uma pessoa existe uma atividade
principal que vai impulsionar seu desenvolvimento. A atividade principal ou do-
minante não é aquela que o indivíduo realiza mais ou que gosta mais de fazer,
mas sim aquela que promove desenvolvimento psíquico:
Sob esse enfoque, não é qualquer atividade que vai promover o desenvol-
vimento psíquico e global ou a somatória de vários tipos isolados de atividades.
Há que se compreender que alguns tipos de atividade desempenham um papel
principal no desenvolvimento, enquanto outras desempenham um papel secun-
dário. São as características e o conteúdo dessas atividades que orientam o
seu transcurso.
34
Portanto, a atividade que a criança desenvolve nesse primeiro momento
é a comunicação emocional direta (ELKONIN, 1987). A satisfação das necessi-
dades da criança, realizada por completo pelos adultos que cuidam dela, gesta
uma forma específica de relação da criança com esses adultos.
Ira, assim como outras crianças observadas, não revela depois da comida
uma reação emocional positiva. Ao concentrar o olhar no rosto do adulto e ao
escutar sua voz acusou uma inibição dos movimentos gerais que, após 10
segundos, transformaram-se num sorriso expressivo que durou 35 segundos
(MUKHINA, 1996, p. 81).
Segundo Mukhina (1996), essas ações que a criança realiza com os obje-
tos permitem-lhe aprender a utilizar as propriedades externas destes, ou seja,
da mesma forma que manipula o lápis, manipula também a colher ou um pau.
No esteio dessas ações, engendra-se uma nova forma de atitude frente ao mundo
dos objetos: estes se tornam não mais simples objetos apalpados, mas instru-
mentos que têm uma forma determinada para seu uso, um domínio dos seus
35
procedimentos, socialmente elaborada, e necessita-se aprender a cumprir a fun-
ção que lhes designou a experiência social.
Sob a direção dos adultos e em constante contato com eles, a criança aprende
a atuar com os objetos, por meio dos quais satisfaz suas variadas necessida-
des (comer com a colher, beber com a xícara, abotoar os botões, colocar
as meias, etc.). No começo, os adultos executam as ações junto com a crian-
ça e somente de uma maneira progressiva a deixam com liberdade, vigiando
e corrigindo constantemente seus movimentos. Quando a organização e o
método de ensino são bons, a criança aprende com perfeição as maneiras
corretas de atuar com os objetos (ELKONIN, 1969b, p. 508, grifo do autor,
tradução nossa).
Esse é o elemento chave nas brincadeiras das crianças. É a ação que deter-
mina a imaginação da criança. Fica claro que a brincadeira é o espaço no qual a
criança, por meio da ação, torna possíveis as várias formas de aquisições cultu-
rais. Nela, as condições da ação da criança podem ser modificadas: pode-se usar
papel, em vez de algodão; um pedacinho de madeira ou um simples pauzinho,
em vez de agulhas; um líquido imaginário em vez de álcool, mas o conteúdo e a
sequência da ação devem, obrigatoriamente, corresponder à situação real.
Mello et al. (2008) entrevistaram professores que lecionam para essa faixa
etária, os quais percebem esse período de mudança, definindo-o como um período
de comportamento “difícil” da criança, tanto com relação à disciplina, quanto à
aprendizagem, conforme o relato abaixo:
Imagine você entrando num salão, no qual tem uma festa, e quando você
chega não vê nada decorado, apenas paredes brancas, com o centro do salão
vazio. Como você se sentiria nesse espaço?
Agora imagine uma criança, em uma sala de aula a qual o professor pre-
fere manter o espaço vazio, com paredes não decoradas e os brinquedos e ob-
jetos guardados em armários. É comum encontrarmos creches que organizam
o espaço dessa forma, com poucos objetos e brinquedos guardados para evitar
que as crianças estraguem.
Nesse caso, o que está sendo oportunizado para que essa criança desenvol-
va aprendizagens importantes para a sua convivência em sociedade? Resta-lhe
brincar com o cadarço do tênis. Essa linguagem corporal nos ajuda a enxergar
alegria e prazer na atividade da criança?
O ambiente é visto como algo que educa a criança; na verdade, ele é consi-
derado o “terceiro educador”, juntamente com a equipe de dois professores
(conforme organização de Reggio Emilia).
44
A fim de agir como um educador para a criança, o ambiente precisa ser flexí-
vel; deve passar por uma modificação freqüente pelas crianças e pelos pro-
fessores a fim de permanecer atualizado e sensível às suas necessidades de
serem protagonistas na construção de seu conhecimento. Tudo o que cerca
as pessoas na escola e o que usam – os objetos, os materiais e as estrutu-
ras – não são vistos como elementos cognitivos passivos, mas ao contrário,
como elementos que condicionam e são condicionados pelas ações dos indi-
víduos que agem nela (MALAGUZZI apud EDWARDS et al., 1999, p. 157).
Uma atenção especial, então, deve ser dada à preparação do ambiente quan-
do falamos de qualidade na Educação Infantil. Olhar se os espaços convidam as
crianças a investigarem o mundo, se possibilitam a interação, a expressão de sua
linguagem, a movimentação corporal, o isolamento, quando necessário, e a criação
artística.
45
2.7 Saiba mais
Para saber mais sobre os assuntos que foram tratados nesta unidade, uti-
lize as referências a seguir.
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35
3
O papel do professor e da
pesquisa sobre os materiais
pedagógicos para o trabalho
com asa linguagens das
crianças
Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos
Licenciatura em Pedagogia
UNIDADE 3
Nosso papel é transformar esse quadro, pois quem mais perde nesse pro-
cesso é a criança, uma vez que ao invés de potencializarmos suas aprendiza-
gens, as limitamos. Já aprendemos que nossas concepções direcionam nossas
escolhas metodológicas como professores, portanto, precisamos refletir muito
sobre elas e sobre a qualidade de educação que estamos proporcionando às
crianças de 0 a 10 anos.
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3.3 Quais as relações entre o papel do professor e o papel
da pesquisa sobre os materiais pedagógicos para
o desenvolvimento das linguagens das crianças?
O adulto tem grande influência sobre a criança, a qual o toma como modelo
ideal de comportamento, imitando-o, na tentativa de compreender as relações
que ela vivencia cotidianamente. Essa imitação, expressa por intermédio das
linguagens corporais (como vimos na unidade anterior), varia de acordo com a
atividade principal e com os contextos nos quais a criança está inserida.
Vimos nas unidades anteriores que durante a sua vida o homem assimila
as experiências produzidas socialmente por intermédio da aquisição de signifi-
cados. A significação exerce, assim, a função de mediadora na assimilação da
experiência humana pelo homem. A apropriação desses significados depende-
rá do sentido subjetivo que cada indivíduo imprime a eles, sentido esse que se
cria na vida e na atividade social desse indivíduo. Isso quer dizer que o sentido
da ação torna-se consciente quando há uma relação objetiva entre o que impele
o indivíduo a agir e aquilo para o qual a sua ação se orienta como resultado
imediato. Em outras palavras, quando há uma relação entre o motivo e o fim da
ação. Nessa perspectiva, a prática pedagógica é por natureza intencional, ou
seja, a atividade do professor está vinculada à formulação de fins e subjacente
a valores produzidos pela sociedade. Então, a mediação intencional que cabe ao
professor exercer no ensino dos conteúdos escolares envolve atividades que
tenham sentido para as crianças (MELLO, 2001).
50
3.3.1 O papel do professor e a zona de desenvolvimento proximal
Assim, qualquer objeto como uma panela, uma caixa de papelão, uma bo-
neca ou um carrinho pode se transformar em um brinquedo para a criança. Estes
últimos, tipicamente, já estão caracterizados como brinquedos pela sociedade.
52
• Primeiro, eles seguem os objetos com os olhos. Um objeto sólido e colo-
rido, pendurado à sua vista, é adequado, pois o controle motor evolui na
direção da cabeça aos pés.
O jogo é cultural, social, histórico e nele a criança aprende sobre seus di-
reitos e deveres, ao cumprir suas obrigações impostas pelas regras.
55
• Oferecer materiais, espaços e ambientes variados para que as crian-
ças possam desenvolver suas potencialidades referentes a linguagens
e expressões.
• Dialogar com as crianças sobre o que elas estão realizando nas atividades
de jogos e brincadeiras. Essa forma de verbalização é um importante fa-
tor de tomada de consciência, pelas crianças, de suas ações. Entretanto,
o professor precisa observar muito bem as crianças ao brincarem, antes
de fazer esses tipos de intervenções, pois ao invés de potencializar suas
aprendizagens pode interrompê-las ou inibi-las.
56
3.5 Considerações finais
Para saber mais sobre os assuntos que foram tratados nesta unidade, uti-
lize as referências a seguir.
57
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Educação
& Sociedade, Campinas, v. 18, n. 59, ago. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scie-
lo.php?pid=S0101-73301997000200011&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 nov. 2009.
BEZERRA, Edson Alves. A Importância Do Jogo Na Educação Infantil. Disponível em:
<http://www.webartigos.com/articles/2984/1/a-importancia-do-jogo-na-educacao-infantil/
pagina1.html>. Acesso em: 12 nov. 2009.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 2, jul. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?pid=S1517-97022001000200003&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em:
12 nov. 2009.
LEFEVRE, Renata. Salas de Aulas nas Escolas Infantis e o Uso de Brinquedos e Mate-
riais Pedagógicos. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 23., 2003, Poços de Caldas. Anais...
Poços de Caldas: ANPED, 2003. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/23/
textos/0722t.PDF>. Acesso em: 12 nov. 2009.
______. Brincar: A Linguagem do Corpo e do Movimento. Disponível em: <www.pedago-
gico.com.br/pa08.html>. Acesso em: 12 nov. 2009.
MOLCHO, Samy. A Linguagem Corporal da Criança. São Paulo: Gente, 2007.
OLIVEIRA, Alexandre A. C. A Linguagem Corporal da Criança e o Aprendizado: o Brincar
Subestimado. Disponível em: <http://cev.org.br/biblioteca/a-linguagem-corporal-crianca-o-
aprendizado-o-brincar-subestimado>. Acesso em: 12 nov. 2009.
SODRÉ, Liana Gonçalves Pontes. As Indicações das Crianças sobre uma Edificação Adap-
tada para a Educação Infantil. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 5, n. 1, p. 73-91, jun.
2005. Disponível em: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1808-
42812005000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=>. Acesso em: 12 nov. 2009.
Acesse o site:
<http://www.culturainfancia.com.br>.
58
35
4
Práticas pedagógicas,
cultura e linguagens
corporais a partir de
brinquedos, jogos e
brincadeiras
Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos
Licenciatura em Pedagogia
Num espaço menor, como é o caso de uma sala de aula, o professor, nos
primeiros dias do ano letivo, com uma turma desconhecida, segue procedimentos
didáticos, geralmente empíricos, para poder conhecer as crianças que estão a
sua frente. Sua vivência e experiência na carreira são as bases ou o suporte
necessário para o enfrentamento dessas situações que ocorrem a cada ano ou
a cada semestre em sua vida, ao longo de sua carreira.
36
2.3 A dignidade humana e o direito de ser criança
Iniciamos este texto com uma poesia de Ruth Rocha que nos faz refletir
sobre os direitos da criança, que estão em vigor no documento da Declaração
Universal dos Direitos da Criança, adotada e proclamada pela Resolução 217
A (III), da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Dos direitos declarados no citado documento, um em especial será foco de nos-
sa discussão nesta unidade: o princípio 7o, que expõe:
a criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a activi-
dades recreativas, que devem ser orientados para os mesmos objectivos da
educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por
promover o gozo destes direitos (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREI-
TOS DA CRIANÇA, p. 4, grifo nosso).
39
A importância do adulto fazer uma mediação intencional em seu trabalho
com as crianças nos primeiros meses de vida é fundamental para o desenvolvi-
mento psíquico, físico e cognitivo delas. Ao invés de imobilidade, o adulto deve
oferecer ao bebê possibilidades de vários movimentos, direcionados à elabo-
ração de independência da criança, de forma a se relacionar com os objetos e
com outras pessoas em uma atividade conjunta com o adulto.
Jogar uma bola para o bebê alcançar e manusear; colocar à sua frente
objetos coloridos e interessantes para provocar nele o impulso em direção a uma
posição que ele ainda não consegue sozinho; preparar um percurso com algumas
dificuldades cabíveis de serem transpassadas são algumas atividades importantes
para o desenvolvimento da orientação espacial, das habilidades motoras e sen-
soriais das crianças.
Segundo Arce & Silva (2009), o ambiente do berçário deve ser muito bem
planejado e preparado de modo a estimular o desenvolvimento das habilidades
e capacidades do bebê, e permitir que ele conheça o mundo por meio de seus
cinco sentidos. Cabe ao docente também criar novas metodologias de trabalho.
40
Figura 1 Ambientes preparados para o trabalho com bebês de seis meses a um ano e
dois meses de idade, em uma creche pública brasileira.
41
Conhecendo como ocorre o desenvolvimento psicológico da criança, o adulto
pode planejar sua intervenção de forma a criar necessidades de aprendizagens em
níveis que a criança ainda não alcançou, ou está prestes a fazê-lo, mas com a aju-
da do professor, que consegue realizar a atividade com sentido para sua vida.
Nas escolas de educação infantil, o brincar pode ser concebido como uma
atividade natural da criança ou como instrumento didático do(a) professor(a).
Sousa Lima nos auxilia nessa reflexão, ao discutir a organização dos espaços
tanto pelos adultos como pelas crianças:
Tente imaginar um cenário que traz duas crianças, um menino e uma me-
nina, com aproximadamente a mesma idade, por volta dos seis anos, brincando
debaixo de uma simples cabana feita de pano. A menina parece querer se fan-
tasiar, com uma saia rodada de tule, blusa cor rosa e uma vassoura na mão; já
o menino aparece muito risonho, sentado no chão, com um chapéu de mágico
azul. A fotografia ilustra um espaço de brincadeira, tão comum entre crianças
da idade descrita.
Tente imaginar agora uma criança que está na escola e carrega uma bo-
neca em seu colo. A menina está sentada na carteira e, em cima dela, objetos,
como lápis, papel e um estojo, o que demonstra um dia comum de atividades
escolares. Porém, esse objeto a mais, uma boneca, semelhante a um bebê
recém-nascido, está em seus braços, no mesmo momento em que a criança
escreve em uma folha de papel. A imagem parece demonstrar que a infância e a
brincadeira ainda estão impregnadas nessa criança que já frequenta a escola.
46
Escola de nove anos... O que é isso? São crianças de seis anos que es-
tariam nas escolas de Educação Infantil e vieram para a escola de Ensino
Fundamental. Eu não vi ninguém da Secretaria da Educação [vir aqui] para
ver se a escola tinha estrutura. Na creche tem brinquedo, parque... Aqui não
temos. Simplesmente, a partir de seis anos: no Ensino Fundamental. [...]
Os professores devem brincar... Onde? Aqui, se eu for brincar, atrapalho
oito salas. O dia da Educação Física e Artística eles brincam. Deixo para
essas professoras brincarem. Na sala de aula, eu faço lição. Tem brinquedo,
mas eu não coloco as crianças lá [refere-se à uma área externa, ao fundo
da escola]. Tem pregos saindo para fora, tudo quebrado. Se acontecer algo
a culpa é minha, vocês não vão reclamar para a Prefeitura... É para mim.
Brincar aonde? Aqui na sala? Só com os brinquedos. De vez em quando!
Olhem o espaço! Só quando afasto as carteiras. Olha o pátio! Aqui nessa
escola o que mais tem são anjos guardando as crianças, porque: olha as
colunas! As crianças brincam aí! Quando eu vejo, me dá até um frio na bar-
riga (FERREIRA, 2010, p. 4).
Essa concepção de que agora não precisa mais brincar está ligada à pró-
pria concepção de criança e de seus processos educativos. Ferreira entrevistou
também os pais das crianças. Abaixo um trecho de uma entrevista revela a
concepção da mãe sobre essa questão:
Além disso, não podemos nos esquecer das crianças portadoras de ne-
cessidades especiais que estudam na rede regular de ensino na educação bá-
sica, conforme a Resolução CNE/CEB no 2/2001, no artigo 2o determina que:
47
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas
organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacio-
nais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de
qualidade para todos (BRASIL, 2001).
48
2.5 Estudos complementares
49
35
5
Pesquisa, materiais
didáticos e sua relação com
brinquedos, jogos e
brincadeiras
Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido Campos
Licenciatura em Pedagogia
Tal termo tem sido utilizado nas escolas de forma muito superficial, tanto pe-
los alunos como pelos professores, subentendendo-o como a mera navegação em
sites da Internet, que contribuem para o consumismo ou modismo exacerbado.
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Além disso, as informações são tantas e com tamanha heterogeneidade,
dispostas em infinitos links que direcionam para outros tantos, que os indivíduos,
muitas vezes, se perdem nesse emaranhado. Os professores com pouco tempo
disponível acabam por desistir ou contentam-se com a primeira informação que
encontram.
Esse poderoso instrumento poderá ser útil aos docentes para melhor com-
preender os comportamentos das crianças, interpretar o que elas falam entre si,
identificar formas de intervenção mais adequadas nas atividades das crianças, de
modo a potencializar suas aprendizagens, reorganizar o ambiente e os espaços
nos quais elas realizam as atividades, repensar os conteúdos e metodologias
adotadas, propor atividades alternativas, relacionar as atividades propostas à vi-
vência das crianças, avaliar o desempenho das crianças, bem como a sua própria
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prática pedagógica.
Com base em todos esses benefícios advindos da habilidade de observa-
ção, podemos dizer ainda que esse instrumento modifica o olhar do professor e
suas próprias concepções, uma vez que, ao observar, registrar e refletir sobre
o que anotou, ele tem a possibilidade de rever concepções que cristalizam pre-
conceitos e interpretações inadequadas sobre a criança e suas ações. Entretanto,
essa análise precisa estar pautada não apenas na experiência prática docente,
mas em pressupostos teóricos que lhe ajudarão a superar tais concepções, e
propor atividades com mais chances de aprendizagens para todas as crianças.
A atividade, por sua vez, pode ser diferente em vários momentos: pode ter
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uma forma em um determinado espaço e tempo, pode ter maneiras diferentes
de ser realizada, etc., mas, segundo Leontiev (1978a), o que distingue umas das
outras é a diferença de seus objetos, ou como ele mesmo diz, o fundamental é
o “motivo”. Não existe atividade sem o motivo. Ainda segundo Leontiev (1978a),
e os fins não são inventados, os indivíduos não os estabelecem arbitrariamente, os
fins se dão sempre em condições objetivas. O motivo é o desencadeador da ativi-
dade que pode estar repleta de ações. O sentido da ação é justamente a relação
entre o motivo e o objeto ou objetivo da ação.
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Essa aprendizagem é tanto mais significativa quanto mais houver sentido
para ambos os participantes do processo de ensino/aprendizagem. Em vários
materiais didáticos, como por exemplo, os brinquedos, podemos encontrar obje-
tivadas práticas culturais da humanidade. Por isso a pesquisa sobre o tipo mais
adequado de brinquedo a determinada finalidade; às diferentes faixas etárias,
bem como o seu uso adequado, são imprescindíveis para garantir o sucesso do
que o professor se propõe.
Como nos alerta Mazzeu (1996, p. 1), “todo material didático traz em si [...] as
marcas de uma concepção teórica e pedagógica”, e que o uso irrefletido desses
materiais pode tornar o ensino mecânico, portanto, vazio de sentido, não possibili-
tando a almejada apropriação dos conteúdos de forma significativa. Para evitar isso,
vários educadores de diversos níveis de ensino defendem a elaboração dos mate-
riais didáticos de maneira conjunta (alunos e professores) como forma de potencia-
lizar os processos de mediação desses instrumentos e do próprio professor.
Algumas questões básicas são levantadas por esse autor com relação a
elaboração de materiais didáticos, as quais podem auxiliar os professores a refletir
sobre sua função nas aprendizagens das crianças. Tomemos como exemplo
uma análise sobre brinquedos:
Até o século XVIII, a produção de brinquedos não era realizada por fabrican-
tes especializados, e sim por artesãos, como entalhadores de madeira e fundidores
de estanho. Os principais brinquedos dessa época eram os soldadinhos de chum-
bo, os animais de madeira e as bonecas de cera (TREVISAN & GOMES, 1999).
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Segundo Machado:
Por meio das operações e ações realizadas pela criança nos brinquedos,
é possível assimilar à realidade humana. De acordo com Leontiev:
Então, por que não unirmos a reciclagem e a bricolagem no dia a dia escolar?
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Podemos construir os nossos próprios materiais pedagógicos junto com
todas as crianças, utilizando materiais recicláveis, por meio do processo de
bricolagem. Esse processo de construção dos brinquedos poderá envolver toda
a comunidade escolar, ou seja, incluir os pais, que também podem colaborar,
separando os materiais que serão utilizados (garrafa pet, latinha, jornal, etc.),
fornecendo exemplos de brinquedos da infância, etc. Todos os professores da
escola podem unir esforços em ampliar cada vez mais esse repertório de co-
nhecimento individual e coletivo, organizando formas alternativas de participação
conjunta, como por exemplo gincanas, jogos interclasses, atividades com as
famílias, etc. Assim, a confecção do brinquedo, o jogo e as brincadeiras extra-
polam o espaço escolar, os conteúdos tipicamente escolares e integram-se a
outros conhecimentos, vivências e pessoas.
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Os principais procedimentos que o professor deve implementar no traba-
lho de confecção de brinquedos com as crianças são os seguintes:
Como fazer:
Desenvolvimento: A bola feita com jornal pode ser utilizada pelas crian-
ças em diversas brincadeiras, por exemplo: batata-quente, lenço atrás, futebol,
voleibol, queimada, etc.
2) VAI E VEM
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Como fazer:
b) Passe os dois fios por dentro de uma metade (do gargalo para o centro).
Em seguida, passe os fios pela outra metade (do centro para o gargalo).
c) Passe a fita crepe para juntar as duas partes das garrafas, formando
um cilindro.
3) PETECA
Como fazer:
4) PÉ DE LATA
Como fazer:
A pintura que retrata essa casa mostra que ela ainda possuía em seu inte-
rior mais de 20 bonecas feitas em escala.
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