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Biomecânica aplicada ao pilates clínico

Apresentação
O pilates é um método amplamente utilizado em todo o mundo como modalidade de atividade
física e como modalidade de tratamento também. É inserido em protocolos de tratamento para
inúmeras disfunções e destinado a populações especiais, como idosos, gestantes, crianças,
adolescentes, entre outros.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer como é a biomecânica básica do pilates, os
princípios básicos do alinhamento do paciente e, ainda, de que maneira estes conhecimentos
podem ser inseridos na prática diária, conhecimentos essenciais ao fisioterapeuta.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar como é a biomecânica dos principais exercícios do pilates.


• Descrever o alinhamento corporal adequado durante os exercícios.
• Aplicar o conceito de estabilidade versus mobilidade em razão dos distúrbios cinético-
funcionais.
Infográfico
O pilates clínico, realizado por profissionais de fisioterapia, pode ser utilizado tanto para fins
preventivos como reabilitativos. É empregado com alguns ajustes e modificações de exercícios de
acordo com a população atendida e, ainda, de acordo com as condições individuais de cada
paciente.

No que refere-se ao emprego deste método, ele atualmente é utilizado por populações específicas
como idosos, crianças, gestantes, obesos, atletas, entre outros.

O Infográfico a seguir trata dessas aplicações do pilates clínico e os objetivos de tratamento em


cada uma das populações especiais a que é empregado.
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Conteúdo do livro
O método pilates é um dos inúmeros recursos atuais disponíveis aos profissionais de fisioterapia
para ampliarem o escopo de ações destinadas à saúde de seus pacientes. Muitas pessoas podem se
beneficiar do pilates, tanto em situações em que já apresentem disfunções cinético-funcionais,
como de maneira a preveni-las.

Neste sentido, o fisioterapeuta precisa estar apto a atender os pacientes da melhor forma possível
e, para isso, necessita conhecer os princípios de biomecânica aplicados ao pilates.

Leia mais sobre esse assunto no capítulo Biomecânica aplicada ao pilates clínico, da obra Terapias
Manuais.

Boa leitura.
TERAPIAS MANUAIS

Aline Andressa Matiello


Biomecânica aplicada
ao Pilates clínico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar como é a biomecânica dos principais exercícios do Pilates.


 Descrever o alinhamento corporal adequado durante os exercícios.
 Aplicar o conceito de estabilidade versus mobilidade em razão dos
distúrbios cinético-funcionais.

Introdução
O Pilates é um método utilizado no Brasil e em todo o mundo tanto
como modalidade de atividade física como de tratamento. Ele permite
uma série de adaptações, podendo ser utilizado em diversas populações
com situações clínicas e funcionais específicas, como gestantes, idosos,
pacientes com problemas de coluna, entre muitas outras indicações
(COUTINHO, 2019). Quando realizada por fisioterapeutas e utilizada para
fins de prevenção e tratamento de disfunções, essa modalidade recebe
o nome de Pilates clínico. Nesse sentido, o fisioterapeuta precisa poder
atender ao paciente aplicando conhecimentos básicos do método e,
ainda, inserindo os conceitos e as definições da biomecânica nos seus
atendimentos.
A biomecânica se pauta no estudo da ciência que se encontra por
trás dos movimentos. Na área do Pilates, trata-se de um conhecimento
primordial do profissional de fisioterapia, uma vez que este precisa co-
nhecer a biomecânica dos exercícios para utilizá-los de maneira efetiva
e segura nos seus atendimentos.
Neste capítulo, você vai estudar a biomecânica dos principais exer-
cícios do Pilates e conhecerá como realizar o alinhamento corporal ade-
quado durante a sua execução. Além disso, aprenderá como aplicar os
conceitos de estabilidade e mobilidade nas disfunções cinético-funcionais
mais comuns.
2 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Compreendendo o Pilates clínico


Para Liposcki, Ribeiro e Schneider (2016), o Pilates pode ser utilizado tanto
para reabilitação de pacientes como para condicionamento físico. Quando é
aplicada para fins de reabilitação de pacientes, essa modalidade recebe o nome
de Pilates clínico, que consiste numa adaptação do método Pilates convencional
realizada exclusivamente por profissionais de fisioterapia.
O Pilates clínico está indicado para diversas populações, incluindo desde
pacientes sedentários até populações especiais, como gestantes e idosos. Os
princípios utilizados nessa aplicação do Pilates são os mesmos propostos por
Joseph Pilates; entretanto, considera-se que o paciente pode apresentar qualquer
alteração cinético-funcional. Desse modo, é necessário adaptar os exercícios
à condição clínica e funcional apresentada pelo paciente.
Esse método serve, na prática do fisioterapeuta, como um tratamento para
a reabilitação e a prevenção de distúrbios cinético-funcionais, como problemas
posturais e de coluna, entre outras patologias. Vale ressaltar que o Pilates
clínico não possui um repertório de exercícios específicos, mas, como você
já viu, utiliza o repertório original proposto por Joseph Pilates, adaptando os
exercícios conforme as necessidades do paciente e/ou as respectivas patologias.
Assim como no método convencional, o Pilates clínico pode ser realizado
em aulas individuais ou em grupo, mas sempre mantendo atenção especial
às reais necessidades do paciente, que são evidenciadas na avaliação que
antecede o início da prática. Nessa avaliação, o profissional observa e identi-
fica quaisquer necessidades específicas do paciente, analisando indicações,
contraindicações e recomendações médicas. A partir disso, é elaborado um
plano de tratamento direcionado.
Comparado com o Pilates convencional, que foca na área fitness, o Pilates
clínico se diferencia por alguns fatores. Um deles diz respeito às indicações e
ao enfoque dos exercícios: no Pilates fitness, determinados exercícios podem
ser absolutamente contraindicados para algumas patologias, porque trabalham
o corpo todo sem particularidades. O Pilates clínico, por sua vez, utiliza-se
de exercícios para recuperar ou prevenir lesões, com enfoque em músculos e
regiões anatômicas específicos. Entretanto, como o Pilates clínico abordado
neste capítulo se pauta nos princípios do método convencional, o alinhamento,
a biomecânica e os conceitos básicos são os mesmos.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 3

Biomecânica aplicada aos exercícios do Pilates


Conhecer os músculos que atuam em determinado exercício do Pilates e
o objetivo para o qual ele é utilizado ajuda o profissional fisioterapeuta a
aplicar os princípios do método e defi nir corretamente os melhores exercícios
a serem realizados. A seguir, são descritos alguns dos principais exercícios
do Pilates, os seus objetivos, os músculos que trabalharão no movimento
e os cuidados necessários de forma a respeitar a biomecânica corporal
de um paciente acometido por alguma disfunção ou, ainda, prevenir um
problema futuro.
Entretanto, há uma gama de outros exercícios que não serão abordados
neste capítulo. Para conhecer a biomecânica de cada um deles, você pode se
aprofundar no assunto realizando a leitura de livros e materiais complemen-
tares, a fim de compreender e conhecer um repertório maior de exercícios.

Bridge (ponte)
O objetivo desse exercício é atuar no controle segmentar na coluna lombar.
O foco muscular é trabalhar abdominais, latíssimo do dorso, psoas, eretores
da espinha, isquiotibiais e glúteos. Dessa forma, ele atua na mobilidade de
coluna vertebral e na estabilidade de cintura pélvica.
Nesse exercício, o paciente é posicionado em decúbito dorsal, com joelhos
flexionados e pés apoiados no solo, com membros superiores ao longo do
corpo. Para realizar o movimento, ele deverá contrair os músculos abdominais
e elevar lentamente a coluna do solo, iniciando pela base. A elevação deve
ser feita até que o paciente consiga manter o alinhamento corporal adequado.
O comando dado para o paciente é rolar a coluna para cima e para baixo,
vértebra por vértebra. O profissional deve ficar atento e evitar que o paciente
eleve excessivamente o tronco, fazendo hiperlordose.
Esse exercício é muito utilizado em pacientes com disfunções lombares,
por exemplo, que não possam realizar flexão de tronco em virtude de alguns
tipos de hérnias de disco. Nesses casos, o exercício da ponte pode ser utilizado
para ganhar mobilidade e fortalecer a região lombo-pélvica sem sobrecarregar
a área afetada pela disfunção. A Figura 1 ilustra a realização desse movimento.
4 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 1. Bridge.
Fonte: Massey (2012, p. 142) e bus109/Shutterstock.com.

Mermaid (sereia)
O objetivo desse exercício é alongar os músculos flexores laterais profundos do
tronco e atuar na melhora da mobilidade de coluna. O seu foco muscular são os
oblíquos abdominais, o quadrado do lombo e o latíssimo do dorso e peitorais.
Para a execução desse exercício, o paciente deverá sentar-se com um joelho
em frente ao corpo, deixando o outro joelho flexionado e em rotação medial.
Na sequência, deverá apoiar uma das mãos e inclinar o corpo para o lado do
joelho que está voltado para trás.
Nesse exercício, você deve orientar o paciente a levar o peso corporal para
frente, apoiando-se no quadril da perna que está posicionada à frente, sem
colocar pressão na perna localizada na parte posterior. Tente orientá-lo a realizar
o movimento de maneira sutil, fazendo um “C” com a lateral do tronco. Na
clínica, o mermaid pode ser empregado no atendimento de gestantes, podendo
ser realizado tanto no solo como nos equipamentos, durante todas as fases da
gestação. Veja na Figura 2 a execução do movimento.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 5

Figura 2. Mermaid.
Fonte: Massey (2012, p. 140) e lunamarina/Shutterstock.com.

Seal (foca)
Esse exercício atuará nos flexores e estabilizadores anteriores da coluna ver-
tebral, como o reto do abdome, o oblíquo externo, o oblíquo interno e o
transverso. Para isso, o paciente deve fazer uma inclinação pélvica posterior,
fletir a coluna e rolar o corpo para trás com as mãos posicionadas na face
lateral dos tornozelos. Ao chegar na posição sentada, o paciente deve tentar
“aplaudir com as plantas dos pés”, sem tocá-las no chão. A Figura 3 ilustra
o movimento.
Segundo Isacowitz e Clippinger (2013), o seal serve como um alongamento
dinâmico dos extensores da coluna vertebral e enfatiza a utilização coordenada
dos músculos abdominais para manter uma curva em “C” da coluna vertebral
durante o movimento de rolamento, além de favorecer o equilíbrio. Ele é
indicado, por exemplo, para pacientes com retificações de coluna lombar e
torácica que tenham dificuldade em mobilizar adequadamente as vértebras.
Assim, esse exercício permite uma mobilidade vertebral, associada a outros
benefícios no Pilates clínico.
6 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 3. Seal.
Fonte: Massey (2012, p. 132) e lunamarina/Shutterstock.com.

Leg pull back (elevação da perna de costas)


O objetivo biomecânico desse exercício é ativar alguns músculos, fortalecendo-
-os ao mesmo tempo em que se alonga a parede torácica anterior. O seu foco
muscular são os músculos latíssimo do dorso, glúteos, isquiotibiais, quadríceps,
peitorais e flexores do quadril.
Para a execução, o paciente deve se sentar ereto com as pernas estendidas em
paralelo à sua frente e as mãos apoiadas no solo, um pouco atrás dos quadris,
os dedos apontando para a frente. O movimento será o de elevar os quadris
do solo, usando os abdominais profundos e os glúteos para sustentar uma
posição de suporte com as mãos e os calcanhares. Após manter essa posição,
o paciente deve imitar um chute com uma perna o mais alto que puder. Na
sequência, a perna é abaixada, o movimento é repetido com a outra perna e,
por fim, os quadris voltam ao solo para a posição inicial. Veja a execução do
movimento na Figura 4.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 7

Figura 4. Leg pull back.


Fonte: Massey (2012, p. 124)

Swimming (natação)
Esse exercício permite um fortalecimento dos extensores das costas e melhora
a estabilidade do tronco e a coordenação de todo o movimento. Ele realiza a
ativação de músculos da parte anterior do tórax, que permanecem em isometria,
e a ativação de flexores do quadril e de extensores da coluna.
Para executar esse movimento, o paciente é deitado de decúbito ventral
com os braços estendidos à sua frente, as palmas das mãos voltadas para
baixo e as pernas um pouco afastadas. Ele deve elevar o peito, os braços
e as pernas do solo, mantendo uma posição estendida/alongada. A seguir,
com um movimento coordenado, deve alternar a elevação de braços e pernas
em uma velocidade constante, como se estivesse nadando. Para evitar uma
extensão excessiva da coluna lombar, você deve garantir que a musculatura
abdominal do paciente esteja bem ativada durante todo o exercício, evitando
compensações. Na Figura 5, você pode conferir os músculos ativados com
esse movimento.
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Figura 5. Swimming.
Fonte: Massey (2012, p. 120) e Vladimir Sviracevic/Shutterstock.com.

O swimming é empregado numa série de disfunções cinético-funcionais,


como as que cursam com hipercifose torácica e outras afecções que limitem
a extensão da coluna vertebral. Além disso, pode ser empregado na maioria
dos quadros de hérnias discais.

Teaser (abdominal em V)
Esse exercício tem como foco fortalecer os flexores do corpo (abdominais,
flexores do quadril e flexores do pescoço), além de melhorar o controle dos
flexores do quadril e auxiliar no desenvolvimento do equilíbrio estático. Para
isso, faz a ativação muscular de quadríceps, adutores, glúteos, isquiotibiais e
os grupos musculares extensores das costas.
Para realizá-lo, o paciente sai da posição deitada de decúbito dorsal com
as pernas elevadas e estendidas e com os braços ao lado do corpo, as palmas
viradas para cima. Com fluidez, ele vai flexionar o tronco e elevá-lo até
alcançar a posição ereta da coluna, para depois retornar à posição inicial.
A Figura 6 mostra a grande ativação muscular proporcionada por esse
exercício.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 9

Figura 6. Teaser.
Fonte: Massey (2012, p. 116) e fizkes/Shutterstock.com.

Dissociação de cintura pélvica e coluna lombar


Os exercícios que trabalham a dissociação lombo-pélvica são utilizados em
casos de pacientes com hipomobilidade dessas estruturas ou para pacientes
gestantes, permitindo o desenvolvimento do equilíbrio, o controle do corpo, a
10 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

consciência corporal e a dissociação da coluna lombo-pélvica. Nesses casos,


você pode utilizar a bola suíça como acessório e pedir que o paciente fique
sentado nela, alinhado da forma correta, e realize movimentos de anteroversão,
retroversão e lateroflexão do quadril. Veja um exemplo de posição para esse
movimento na Figura 7.

Figura 7. Dissociação de cintura lombo-pélvica.


Fonte: Josep Suria/Shutterstock.com.

Compreendendo o alinhamento corporal


durante os exercícios de Pilates
O alinhamento corporal é descrito como o posicionamento relativo dos seg-
mentos corporais, como a disposição da cabeça em relação aos ombros. Ele
recebe o nome de alinhamento estático quando o corpo estiver parado, e
de alinhamento dinâmico quando estiver em movimento (ISACOWITZ;
CLIPPINGER, 2013).
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 11

Geralmente, livros de anatomia costumam trazer a imagem de uma postura


ideal como sendo a de um corpo humano em pé, de cabeça ereta, pernas e
pés em paralelo, com glúteos e abdome contraídos. Entretanto, na prática
essa postura não é, de forma alguma, apenas estática: mesmo quando o corpo
está parado nessa posição, estruturas das mais diversas áreas do corpo atuam
constantemente para manter o alinhamento entre elas, mesmo durante os
movimentos funcionais, como sentar, caminhar, correr, agachar. Da mesma
forma, elas trabalham para manter o alinhamento também durante a prática
dos exercícios físicos (REYNEKE, 2009).
Nesse sentido, tanto o alinhamento estático como o dinâmico são funda-
mentais para o Pilates, uma vez que esse método objetiva sobretudo melhorar
a consciência desse alinhamento e alcançar o alinhamento corporal desejado
na postura estática e durante a realização dos exercícios. Assim, a primeira
atitude de um fisioterapeuta ao analisar seu paciente no Pilates é observar a
postura dele, tanto estática quanto caminhando. Vale lembrar que a postura
adotada é, na verdade, o resultado de um grande mecanismo de equilíbrio
entre as diversas estruturas corporais, que podem ou não estar alinhadas.
Logo, a presença de desequilíbrios pode ser visualizada nessa inspeção inicial
e indicar um dos objetivos de tratamento para esse paciente.
Na posição estática em pé, o alinhamento ideal é aquele em que a cabeça,
o tronco e a pelve estão alinhados um sobre o outro e sobre os pés. Quando
esse alinhamento acontece, o gasto de energia do corpo para manter essa
postura é pequeno. Isacowitz e Clippinger (2013) sugere que o paciente seja
posicionado em lateral à frente do fisioterapeuta. O profissional deve analisar
o posicionamento dos segmentos corporais em relação a uma linha vertical,
que pode ser um fio de prumo ou uma linha imaginária.
Para posicionar o paciente, a linha deve inicialmente ficar à frente do
tornozelo e, a partir daí, analisam-se os seguintes pontos corporais: lóbulo da
orelha, meio da ponta do ombro, meio da caixa do tórax, trocânter maior do
fêmur, ponto imediatamente anterior ao centro do joelho e área imediatamente
anterior ao tornozelo. Veja essa postura de avaliação de alinhamento corporal
estático na Figura 8.
Diante disso, ao buscar um alinhamento adequado do seu paciente, você,
enquanto profissional, deve assegurar que todas as estruturas estejam o mais
alinhadas possível. Desse modo, o corpo vai gastar um mínimo de energia
para se manter posicionado — ao contrário do que aconteceria caso o corpo
estivesse desalinhado, gerando um gasto energético alto e desnecessário.
12 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 8. (a) Alinhamento corporal adequado na postura


estática. (b) Postura desalinhada.
Fonte: Reyneke (2009, p. 63).

Por isso, você pode utilizar alguns itens para fazer a conferência do ali-
nhamento do paciente durante a execução dos exercícios de Pilates, conforme
descrito a seguir.

 Pés: devem estar em posição neutra, evitando que estejam em rotação


interna ou externa.
 Joelhos: deve-se preconizar que os joelhos estejam estendidos, mas não
excessivamente, ao ponto de causarem uma hiperextensão.
 Cintura pélvica: a pelve deve ser mantida numa posição neutra, evi-
tando inclinações anterior ou posterior.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 13

 Coluna vertebral: durante o alinhamento, a coluna vertebral deve estar


em uma posição que mantenha a sua curvatura fisiológica, evitando que
algumas curvaturas fiquem excessivamente aumentadas ou reduzidas.
 Ombros: devem estar alinhados com a cabeça, evitando que estejam
direcionados excessivamente para frente ou para trás e que estejam
muito próximos da orelha.
 Cintura escapular: as escápulas devem estar em posição neutra, evi-
tando posturas em que elas fiquem muito abertas ou fechadas.
 Cabeça: deve estar alinhada de modo que não esteja em projeção anterior
ou posterior em relação à linha imaginária que passa no centro do corpo.
A Figura 9 mostra alinhamentos de cabeça adequados e não adequados.

Figura 9. Alinhamento de cabeça.


Fonte: Massey (2012, p. 40).

Alinhamento corporal dinâmico durante


os exercícios do Pilates
Durante a aula de Pilates, é necessário que o paciente consiga sentir o alinha-
mento corporal correto inicialmente na postura estática, para depois utilizá-lo
na execução dos exercícios. Isacowitz e Clippinger (2013) comenta que, com
a ativação repetitiva dos músculos recrutados no alinhamento adequado,
o corpo automaticamente começa a realizar as correções de maneira mais
eficiente ao longo do tempo.
Para conseguir isso, você pode utilizar comandos muito simples durante a
aula para auxiliar o paciente nesse ganho do alinhamento durante a execução do
exercício. Esses comandos são práticos e de fácil entendimento pelo paciente,
que, ao ouvi-los, buscará realinhar-se conforme a postura ideal.
14 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Ao longo dos anos, a fim de buscar o alinhamento corporal, alguns profissionais


passaram a utilizar esses comandos de maneira exagerada ou, em alguns casos,
usar comandos muito rigorosos, o que não se espera no método Pilates. Por isso,
é necessário ficar atento a esse cuidado, buscando comandos suaves (ISACOWITZ;
CLIPPINGER, 2013).

Essa prática deve partir de um princípio de funcionalidade, com comandos


comuns, mas também com o incremento de comandos adicionais conforme a
necessidade evidenciada pelo profissional. Entre os comandos normalmente
utilizados para buscar o alinhamento durante os exercícios estão os seguintes
(ISACOWITZ; CLIPPINGER, 2013):

1. traga o umbigo ou a parede abdominal em direção à coluna vertebral;


2. traga a coluna vertebral em direção ao solo;
3. contraia a musculatura do abdome;
4. mantenha a caixa torácica para baixo e para trás;
5. alongue o seu pescoço;
6. faça uma curva em “C”;
7. traga o seu queixo em direção ao seu tórax;
8. movimente uma vértebra de cada vez;
9. mantenha a pelve e a parte lombar da coluna vertebral em posições
neutras;
10. sente-se e mantenha as costas eretas;
11. mantenha a cintura escapular em posição neutra ou abaixadas;
12. alongue braços e pernas no sentido distal.

1º comando: traga o umbigo ou a parede abdominal em direção


à coluna vertebral

Esse comando se refere ao objetivo de evitar que o abdome do paciente fique


protuso durante a execução dos exercícios. Para isso, você pode pedir para
que o seu paciente imagine uma linha na face interna do umbigo e leve-a
em direção à coluna vertebral. Esse comando faz com que a circunferência
da cintura fique levemente menor. Outra maneira de orientar o paciente
nesse alinhamento é pedir que posicione as suas mãos no abdome e sinta
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 15

o movimento de levar a parede abdominal em direção às costas, sentindo-


-o com as mãos. Quando bem executado, esse comando está diretamente
relacionado com uma maior ativação da musculatura profunda de abdome,
como o transverso do abdome.

2º comando: traga a coluna vertebral em direção ao solo

Para exercícios em que o paciente estiver em decúbito dorsal, você pode


utilizar esse comando de forma a enfatizar a contração abdominal e evitar
compensações mecânicas. Em alguns exercícios realizados na postura deitada
de barriga para cima com as pernas elevadas, como o exercício the hundred,
a lombar pode sair excessivamente do solo, fazendo uma extensão exagerada
e, com isso, sobrecarregando a coluna lombar. Nesse caso, é importante que
esse comando seja utilizado.
Você pode pedir para o paciente elevar as pernas até o ponto em que
consegue manter a coluna vertebral (nesse caso, a lombar) tocando o solo ou
bem próxima a ele. Na Figura 10, é possível visualizar esse exercício e a força
realizada por meio desse comando.

Figura 10. The hundred.


Fonte: Charles Masters/Shutterstock.com.
16 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

3º comando: contraia a musculatura do abdome

Esse comando é utilizado pelo profissional para tracionar para cima a inserção
distal dos abdominais, reto do abdome e oblíquos, de modo a produzir uma
inclinação pélvica posterior. Esse comando será muito utilizado em exercícios
do Pilates que necessitem de inclinação pélvica posterior associada a flexão
de coluna lombar, como em exercícios cujo objetivo é o arredondamento da
coluna. A Figura 11 mostra a postura inicial do exercício chamado de rolling
back, em que há necessidade de uma flexão de coluna lombar e, por isso,
utiliza-se esse comando.

Figura 11. Rolling back.


Fonte: lunamarina/Shutterstock.com.

Esse mesmo comando também pode ser utilizado para prevenir uma in-
clinação pélvica anterior em exercícios nos quais os membros estejam em
movimento com a coluna em extensão, como no exercício do double kick
(Figura 12). Nesse caso, ao pedir para o paciente contrair a musculatura
abdominal, você evita que as costas hiperestendam além do limite desejado.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 17

Figura 12. Double kick.


Fonte: fizkes/Shutterstock.com.

4º comando: mantenha a caixa torácica para baixo e para trás

Na execução dos exercícios, é muito comum que o paciente, tentando manter


uma postura melhor, faça uma contração exagerada dos extensores de coluna,
de modo que a caixa torácica seja projetada para a frente. Esse comando
também facilita a execução de exercícios que necessitem de flexão importante
de coluna vertebral, como o roll up, mostrado na Figura 13. Ele ativa a região
superior de abdominais, de modo que a caixa torácica se mantenha numa
posição neutra durante os exercícios.

Figura 13. Roll up.


Fonte: Charles Masters/Shutterstock.com.
18 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Em outros exercícios que necessitem dessa flexão da coluna, utilizar esse


comando permite que se obtenha uma flexão de coluna vertebral máxima para
manter a curvatura em um formato de “C” completo, como no exercício jack
knife, mostrado na Figura 14.

Figura 14. Jack knife.


Fonte: Charles Masters/Shutterstock.com.

5º comando: alongue o seu pescoço

Durante a execução de exercícios, é comum que o pescoço faça um arco ex-


cessivo, causando uma projeção anterior do queixo. Assim, pedir para que o
paciente alongue a parte de trás do pescoço em direção ao teto evita que esse
erro de alinhamento aconteça na execução de um exercício. Esse comando
pode ser utilizado com o paciente em decúbito dorsal: peça para o paciente
colocar o queixo para baixo e para trás, fazendo com que haja contato da parte
posterior do pescoço com o solo. Em termos biomecânicos, esse movimento
envolve o uso dos flexores do pescoço e, ao mesmo tempo, relaxa os extensores,
que normalmente estão encurtados.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 19

6º comando: faça uma curva em “C” com a sua coluna

Esse comando evita um erro muito comum na execução de uma série de exercí-
cios do Pilates. Geralmente, em vez de flexionar toda a coluna, o paciente tende
a fazer apenas uma flexão do pescoço e da parte superior da coluna torácica,
enquanto o restante da coluna permanece plano ou estendido. A utilização
correta desse comando permite que a cabeça, a coluna e a pelve formem um
“C” com concavidade anterior de maneira homogênea, como na Figura 15:
veja a flexão de toda a coluna no exercício de the neck pull.

Figura 15. The neck pull.


Fonte: Revista Pilates (2014, documento on-line).

7º comando: traga o queixo em direção ao seu tórax

Em alguns exercícios em decúbito dorsal que envolvam a flexão de pescoço,


muitos pacientes acabam fletindo exageradamente o pescoço, de modo a
encostar ou quase encostar o queixo no peito. A postura de trazer o queixo em
direção ao esterno auxilia na contração de abdominais; entretanto, se for um
movimento exagerado, sobrecarrega outras estruturas. Por isso, você pode pedir
que o paciente faça a flexão do pescoço, quando necessário, mas tente manter
20 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

um espaço entre o queixo e o esterno semelhante ao espaço ocupado pela sua


mão fechada ou por um limão. Na prática, o exercício single leg stretch precisa
de uma flexão de cervical que não pode ser exagerada, por isso se utiliza esse
comando, mantendo um alinhamento perfeito, como mostrado na Figura 16.

Figura 16. Single leg stretch.


Fonte: Michael C. Gray/Shutterstock.com.

8º comando: movimente uma vértebra de cada vez

Para evitar que, durante a execução dos exercícios, uma porção muito grande
da coluna se mova sem mobilidade (coluna plana), causando movimentos
bruscos, pede-se para o paciente movimentar uma vértebra de cada vez. Esse
comando proporciona a mobilidade de todos os segmentos vertebrais.

O vídeo disponível no link a seguir traz a execução do exercício roll up. Observe o
comando dado pela instrutora de Pilates para fazer o movimento vértebra por vértebra,
encostando uma a uma no equipamento no retorno do movimento, e fletindo uma
a uma na transição do movimento de deitado para sentado.

https://qrgo.page.link/3kSU4
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 21

9º comando: mantenha a pelve e a parte lombar da coluna


vertebral em posições neutras

A maioria dos comandos utilizados tende a fazer uma flexão da coluna vertebral
enquanto a cintura pélvica é inclinada para trás. Entretanto, um comando
exagerado de flexão de coluna pode inclinar exageradamente a pelve para
trás, desalinhando-a. Nesses casos, o objetivo é tentar deixar a pelve o mais
neutra possível durante a execução de exercícios que façam a flexão do tronco
superior, como no chest lift (Figura 17).

Figura 17. Chest lift.


Fonte: Adaptada de Isacowitz e Clippinger (2013).

10º comando: sente-se e mantenha as costas eretas

Esse comando evita que, ao ficar sentado, o paciente colapse a coluna para
baixo e para frente, empurrando a pelve para trás. Por isso, pede-se, nos
exercícios do Pilates em postura sentada, que paciente imagine uma linha
atrás da sua coluna e eleve-a em direção ao teto, como no exercício do teaser,
mostrado na Figura 18.
22 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 18. Teaser.


Fonte: Lucian Coman/Shutterstock.com.

11º comando: mantenha a cintura escapular em posição neutra


ou abaixada

Durante a execução dos exercícios, esse comando faz com que a cintura es-
capular se mantenha alinhada, mesmo com os membros superiores e a coluna
sendo movimentada. Com isso, é possível dar estabilidade ao movimento.

12º comando: alongue braços e pernas no sentido distal

Você pode solicitar que o paciente imagine alguém puxando os seus braços e
pernas ao mesmo tempo para longe do seu corpo, enquanto o corpo se mantém
estável. Esse comando pode ser utilizado no exercício swimming, fazendo com
que ele seja executado com o alinhamento perfeito, como ilustra a Figura 19.

Figura 19. Swimming.


Fonte: crack studio/Shutterstock.com.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 23

Basicamente, você pôde perceber que o alinhamento dinâmico — o ali-


nhamento corporal durante a realização dos exercícios do Pilates — é tão
importante quanto o alinhamento estático da postura. Os comandos elencados
anteriormente servem para auxiliar o profissional nas orientações acerca da
execução dos exercícios. Entretanto, vale ressaltar que cada paciente necessita
de comandos específicos, de acordo com os exercícios e com o seu próprio
alinhamento prévio, presença de dor ou qualquer outra disfunção que exija
modificações.

Entendendo os conceitos de estabilidade


e mobilidade
Compreender os conceitos de estabilidade e de mobilidade no Pilates é essencial
para que você possa atuar de maneira efetiva e segura com o método. Cintas
(2019) comenta que o conceito de estabilidade na área da física está relacio-
nado com uma energia potencial que pode ser armazenada pelo corpo. Essa
energia potencial pode ser transformada em energia cinética, isto é, energia
de movimento, a qual é transferida pelas estruturas anatômicas, como ossos,
tendões, ligamentos e músculos, a fim de gerar estabilidade quando o corpo
está realizando um movimento.
O conceito de estabilidade no Pilates está diretamente relacionado a um
dos princípios do método: a capacidade de o power house, também chamado
de centro de força, estar ativado durante a execução dos exercícios e gerar
estabilidade suficiente para que o movimento aconteça de maneira a não
prejudicar nenhuma estrutura. O centro de força é composto pelos músculos
abdominais transverso do abdome, multífidos, diafragma e os músculos do
assoalho pélvico. Juntos, esses músculos são responsáveis pela estabilização
tanto estática como dinâmica do corpo (MARES et al., 2012).
A estabilidade é essencial para o equilíbrio de forças na coluna vertebral,
estabilizando-a durante os exercícios, mantendo um alinhamento adequado e
proporcionando uma base estável de suporte para os mais diversos movimentos.
Stanmore (2006) comenta que o Pilates atua sobre a estabilidade proximal do
corpo humano, realizando um controle do tronco sem tensionar a coluna, para
que todos os movimentos realizados aconteçam em uma base estável e forte.
A Figura 20 mostra o power house (destacado), reforçando a sua importância
para a estabilidade.
24 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 20. Power house.


Fonte: Revista Pilates (2017, documento on-line).

Já o conceito de mobilidade está relacionado a um conceito amplo, referindo-


-se à capacidade que as estruturas anatômicas como músculos e articulações
possuem de realizar graus variados de amplitudes de movimento. Quanto
maior a capacidade que uma estrutura tem de realizar um movimento em
grande amplitude, maior é a mobilidade apresentada por ela.
Analisando esses dois conceitos, você pode pensar que, na verdade, eles
possuem características opostas; porém, na prática diária, atuam de modo a
equilibrar os movimentos realizados nos exercícios do Pilates. Além disso, se
um desses conceitos estiver ocorrendo de maneira mais intensa, haverá um
desequilíbrio funcional.
A estabilidade, por exemplo, é muito importante para manter as estruturas
estáveis durante a realização dos movimentos, e esse conceito deve ser inserido
na prática do profissional de Pilates. Entretanto, se ela for trabalhada de maneira
exagerada, o paciente desenvolverá uma rigidez excessiva e, com isso, a sua
mobilidade ficará reduzida. Por outro lado, se um paciente apresentar excesso
de mobilidade de alguma estrutura corporal durante os movimentos, a estabi-
lidade proporcionada pelas estruturas responsáveis pode não ser suficiente e
acabar limitando os movimentos. Com isso, os movimentos serão executados
acima da amplitude esperada, sobrecarregando estruturas. Isso explica, por
exemplo, por que alguns pacientes hipermóveis perdem a estabilidade das
estruturas próximas ao local de hipermobilidade.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 25

No Pilates, busca-se, por meio dos conceitos básicos, um equilíbrio entre a


estabilidade e a mobilidade. Para isso, são utilizados exercícios complexos, que
trabalham associando a capacidade de mobilidade e de estabilidade do corpo.

No Pilates, muitas vezes são utilizados conceitos da estabilização segmentar de maneira


exagerada, de modo que as estruturas de estabilidade ficam muito ativas, podendo
causar uma redução da mobilidade do paciente. Portanto, é necessário trabalhar tanto
estabilidade quanto mobilidade num programa de exercícios de Pilates (CINTAS, 2019).

Na prática do Pilates, o profissional deve ter como objetivo que o paciente se


apresente da maneira mais saudável possível, garantindo um trabalho completo
durante as aulas, que ofereça equilíbrio entre a mobilidade e a estabilidade
dos movimentos do corpo. O mais importante é que, no planejamento das
aulas, o profissional não se esqueça de mobilizar as estruturas e estabilizá-las,
prevenindo assim o risco de lesões.
Desse modo, pode-se afirmar que o enfoque do Pilates não é apenas a
estabilidade dos segmentos corporais, uma vez que, como você viu, se forem
trabalhos apenas exercícios com esse enfoque, o resultado será um corpo
rígido, o que não é fisiológico. Da mesma forma, se dermos enfoque apenas
na mobilidade, o corpo será flexível e móvel, mas nada estável. Por isso, o
foco de trabalho é o equilíbrio entre esses dois conceitos.
Muitos profissionais ainda confundem a estabilidade e a mobilidade no
Pilates, principalmente porque, no dia a dia, há algumas situações em que é
difícil identificar o que está sendo trabalhado e o que deve ser enfatizado nos
exercícios. Todavia, essa resposta depende da avaliação do paciente.

A reportagem da revista de Pilates disponível no link a seguir traz informações sobre


a mobilidade e a sua relação com a estabilidade no Pilates.

https://qrgo.page.link/fek6e
26 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Aplicando conceitos de estabilidade e mobilidade


nos distúrbios cinético-funcionais
Algumas regiões anatômicas do nosso corpo, por questões funcionais ou
patológicas, são um pouco mais móveis do que outras. Um exemplo disso é
a coluna lombar, que possui um pouco mais de mobilidade do que a coluna
torácica, em virtude de sua anatomia — isso é fisiológico.
Contudo, em alguns pacientes, pode haver uma redução mais acentuada da
mobilidade torácica. Nesse caso, a coluna torácica pode estar rígida, de modo
que a lombar se adapta e acaba realizando mais movimentos para compensar
esse desequilíbrio. Nesses casos, se a causa (isto é, a redução da mobilidade
torácica) não for resolvida, a coluna lombar fica sobrecarregada e, no longo
prazo, pode apresentar algum distúrbio cinético-funcional.
Nesse contexto, aplica-se o conceito de mobilidade e estabilidade. Para
corrigir esse desequilíbrio, é necessário melhorar a estabilidade da coluna
lombar, evitando que ela faça movimentos além da amplitude desejada.
Todavia, em associação com esse trabalho, o profissional também deve
trabalhar a mobilidade da coluna torácica, melhorando-a e, com isso, cor-
rigindo o desequilíbrio existente, que pode causar, por exemplo, um quadro
de lombalgia.
Cintas (2019) comenta que, na prática clínica, é possível encontrar pa-
cientes com maior tendência a estabilidade e outros a mobilidade, prin-
cipalmente no que se refere à coluna vertebral. Nesse sentido, surgem os
conceitos de coluna funcional estática e coluna funcional dinâmica. Vale
lembrar que a coluna vertebral possui curvaturas fisiológicas, que servem
para distribuir de maneira equilibrada a força gravitacional sobre as suas
estruturas anatômicas.
Na coluna chamada de funcional estática, as curvaturas fisiológicas estão
menos evidentes, ou seja, essa coluna está com menor mobilidade. Desse
modo, o equilíbrio está limitado, uma vez que, quanto menor a mobilidade,
menor a estabilidade e, consequentemente, o equilíbrio é reduzido. Já na
coluna funcional dinâmica, acontece o contrário: as curvaturas fisiológicas
estão acentuadas e possuem muito mais mobilidade do que o esperado; com
isso, estão mais predispostas a lesões. Veja na Figura 21 os tipos de colunas
funcionais com diferentes curvaturas.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 27

Figura 21. Tipos de colunas funcionais: (a) coluna com curvaturas


fisiológicas; (b) coluna com redução das curvaturas; (c) coluna com
aumento das curvaturas.
Fonte: Voll Pilates Group (2018, documento on-line).

Considerando os dois tipos de coluna funcional elencados, pode-se afirmar


que a coluna deve ser estável o suficiente para suportar a força gravitacional
e móvel o suficiente para gerar movimentos. Por isso, você deverá buscar, no
seu atendimento, a correção dos desequilíbrios cinético-funcionais que um
paciente possa apresentar, de modo a melhorar o padrão de movimentos e
prevenir lesões.
Pacientes com hiperlordoses e hipercifoses apresentam uma coluna con-
siderada funcional dinâmica. Nesse sentido, o tratamento deve enfatizar a
estabilidade das estruturas. No caso de uma hiperlordose lombar, em que
há aumento da mobilidade lombar, um exercício que pode ser aplicado para
enfatizar a estabilidade é o single leg stretch. Nesse caso, o exercício atuará
sobre a região lombar, fortalecendo as suas estruturas e melhorando a sua
estabilidade. Veja na Figura 22 os músculos envolvidos nesse exercício.
28 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 22. Single leg stretch.


Fonte: Isacowitz e Clippinger (2013, p. 82).

No single leg stretch, os músculos que serão ativados primeiramente


e de forma mais acentuada são o reto do abdome, o oblíquo externo do
abdome e o oblíquo interno do abdome. Ainda, serão ativados de forma
secundária os flexores do quadril: iliopsoas, reto femoral, glúteo máximo,
isquiotibiais, entre outros. Para Isacowitz e Clippinger (2013), esse exercício
atua na estabilidade e é valioso para essa função, pois enfoca os músculos
abdominais.
O exercício pode ser empregado em disfunções clínicas lombares como
quadros de espondilolisteses em graus indicativos de tratamento con-
servador. Nesse caso, ele atuará reforçando a cintura pélvica e a coluna
lombar, dando estabilidade para essa coluna, que se encontra instável por
conta da afecção.
Por outro lado, colunas funcionais estáticas apresentam pouca mobilidade
enquanto são exageradamente estáveis. Nesses casos, incluem-se as disfun-
ções vertebrais que cursam com retificações. O objetivo do tratamento desse
distúrbio cinético-funcional é ganhar mobilidade, e um exercício que auxilia
muito no ganho de mobilidade de coluna vertebral é o roll up, mostrado na
Figura 23.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 29

Figura 23. Roll up.


Fonte: Isacowitz e Clippinger (2013, p. 73).

Nesse exercício, os músculos que são ativados inicialmente são os


flexores da coluna vertebral e, de maneira secundária, uma série de outros
músculos. O objetivo principal é orientar o paciente a realizar o movi-
mento articulando a coluna, vértebra por vértebra, visando o máximo de
movimento de cada uma delas. Assim, evita-se que a coluna se mova em
“bloco”, de maneira rígida.
Outro exercício que pode ser empregado com o objetivo de melhorar
a mobilidade é o rolling like a ball. Esse movimento articula a coluna
vertebral de maneira diferente: à medida que o corpo vai para trás, o peso
corporal atua sobre cada uma das vértebras e auxilia no ganho da flexão
vertebral, que está limitada em pacientes com retificações. A Figura 24
mostra esse exercício.
30 Biomecânica aplicada ao Pilates clínico

Figura 24. Rolling like a ball.


Fonte: Isacowitz e Clippinger (2013, p. 100).

Assim como os distúrbios cinético-funcionais da coluna, os exercícios


podem ser aplicados a distúrbios de outras partes do corpo. Alguns deles
podem cursar com falta de estabilidade ou falta de mobilidade dos membros,
como ombros, joelhos, tornozelos, seguindo o mesmo princípio de tratamento
dos distúrbios cinético-funcionais da coluna.
Demais distúrbios que podem ser demandas de pacientes para o Pilates
clínico são escolioses, hérnias de disco, osteoporose, osteopenia, incontinência
urinária, alterações decorrentes do processo de gestação e alterações decorrentes
do processo de envelhecimento. Outra possibilidade de tratamento com essa
modalidade de Pilates é a de pacientes acometidos por patologias neurológicas.
Nesse sentido, o Pilates clínico pode ser empregado no tratamento de pacientes
idosos, gestantes, pacientes neurológicos, crianças, adolescentes, entre outras
populações, desde que seja adaptado conforme as reais necessidades de cada
paciente. O princípio a ser utilizado é o mesmo, mas o profissional deve realizar
a avaliação do paciente para definir quais exercícios devem ser enfatizados.
Biomecânica aplicada ao Pilates clínico 31

CINTAS, J. Biomecânica do Pilates. [S. l.: s. n., 2019]. E-book.


ISACOWITZ, R.; CLIPPINGER, K. Anatomia do Pilates: guia ilustrado de Pilates de solo
para estabilidade do corpo e equilíbrio. Barueri: Manole, 2013.
LIPOSCKI, D. B.; RIBEIRO, A. C. W.; SCHNEIDER, R. H. Utilização do método Pilates: re-
abilitação e condicionamento físico. Fisioterapia Brasil, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 56–58,
2016. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2017/12/876513/utilizacao-do-
-metodo-Pilates.pdf. Acesso em: 14 out. 2019.  
MARES, G. et al. A importância da estabilização central no método Pilates: uma revisão
sistemática. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 25, n. 2, p. 445–451, 2012. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/fm/v25n2/v25n2a22.pdf. Acesso em: 14 out. 2019.
MASSEY, P. Pilates: uma abordagem anatômica. Barueri: Manole, 2012.
REVISTA PILATES. Power house: você sabe o que é? 2017. Disponível em: https://revista-
Pilates.com.br/power-house-voce-sabe-o-que-e/. Acesso em: 14 out. 2019.
REYNEKE, D. Pilates moderno: a perfeita forma física ao seu alcance. Barueri: Manole, 2009.
STANMORE, T. Pilates para as costas: exercícios para as costas, os ombros e o pescoço.
Barueri: Manole, 2006.
VOLL PILATES GROUP. Retificação da coluna: como tratar com o método Pilates? 2018.
Disponível em: https://blogPilates.com.br/tratamento-da-retificacao-da-coluna/. Acesso
em: 14 out. 2019.
REVISTA PILATES. Puxada pelo pescoço. 2014. Disponível em: https://revistapilates.com.
br/puxada-pelo-pescoco-neck-pull/. Acesso em: 18 out. 2019.

Leitura recomendada
REVISTA PILATES. A estabilidade e mobilidade nas articulações. 2016. Disponível em: https://
revistaPilates.com.br/a-importancia-da-harmonia-entre-a-estabilidade-e-mobilidade-
-nas-articulacoes/. Acesso em: 14 out. 2019.
Dica do professor
A prática do Pilates na gestação visa primeiramente manter ou garantir um corpo saudável, forte e
equilibrado, que é um requisito para uma gestação saudável. Neste período, é comum o
aparecimento de alterações osteomusculares, como diástases abdominais, lombalgias, dor na região
de sínfise púbica, alterações do assoalho pélvico, etc.

O Pilates pode ser empregado de maneira a prevenir estas alterações e, ainda, auxiliar no
tratamento. Para isso, são utilizados exercícios do repertório do Pilates, mas com alguns cuidados e
precauções visando a segurança e saúde da paciente.

A Dica do Professor trata do tema “Pilates clínico: abordagem de gestantes”.

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Exercícios

1) O Pilates é um método utilizado no mundo todo, tanto para prevenção de doenças como
para o tratamento delas. Nos últimos anos, este método passou por inúmeras adaptações,
surgindo vertentes em várias áreas. Dentre elas, tem-se o Pilates clínico. Sobre as
características do Pilates denominado clínico, assinale a alternativa correta:

A) É realizado apenas por profissionais da área da fisioterapia e, por ser clínico, é indicado
apenas para situações em que haja necessidade de tratamento de alguma disfunção
osteomuscular.

B) Pode ser realizado por qualquer profissional da área da saúde, uma vez que se destina ao
atendimento de pessoas saudáveis e também a pacientes com queixa de alguma disfunção.

C) O Pilates clínico utiliza um repertório de exercícios diferente do Pilates tradicional e, ainda, na


sua prática, faz uso de princípios que se diferem do Pilates original.

D) É realizado exclusivamente por fisioterapeutas e destinado a pessoas saudáveis, que buscam


a prevenção de doenças, e a pacientes já acometidos por algumas disfunções.

E) A principal característica do Pilates clínico é o enfoque dos exercícios, que, neste caso,
trabalha o corpo de maneira global e generalizada, sem utilizar-se de adaptações.

2) Na prática diária, o profissional de fisioterapia que atua com o Pilates deve buscar um
alinhamento adequado do paciente, assegurando-se de que todas as estruturas estejam o
mais alinhadas possível. Desse modo, o corpo irá gastar o mínimo de energia para se manter
posicionado, ao contrário do que aconteceria caso o corpo estivesse desalinhado, em que o
gasto energético seria alto e desnecessário.

I. Pés devem estar em posição neutra.

II. Joelhos devem estar o mais estendidos possível, em hiperextensão.

III. A coluna vertebral deve estar retificada, preconizando que as curvaturas sejam reduzidas.

IV. Ombros devem estar alinhados, evitando posicionamento a frente ou atrás.

V. Cabeça deve ser posicionada levemente anteriorizada.

São descrições do alinhamento correto no Pilates:


A) As alternativas I, II e III estão corretas.

B) As alternativas I e IV estão corretas.

C) As alternativas II e V estão corretas.

D) As alternativas III, IV e V estão corretas.

E) As alternativas I, II, III e IV estão corretas.

3) Durante as aulas de Pilates, o profissional pode utilizar comandos muito simples, de modo a
auxiliar o paciente na manutenção do alinhamento durante os exercícios. Esses comandos
são muito práticos e de fácil entendimento do paciente que, ao ouvi-los, buscará realinhar-se
conforme a postura ideal. Sobre o alinhamento, assinale a alternativa correta:

A) O comando de trazer a coluna vertebral em direção ao solo é utilizado em exercícios em pé,


para o paciente relaxar a musculatura abdominal.

B) O comando de trazer o umbigo em direção à coluna vertebral objetiva evitar que o abdômen
do paciente fique protuso durante a execução dos exercícios.

C) O comando de manter a caixa torácica para baixo e para trás facilita a execução de exercícios
que necessitem de extensão importante de coluna vertebral.

D) O comando de alongar o pescoço é importante porque garante um fortalecimento da


musculatura extensora da coluna cervical.

E) O comando que solicita que o paciente faça um C na coluna refere-se à necessidade do


paciente fazer este movimento apenas com o pescoço.

4) O alinhamento correto durante a execução dos exercícios do Pilates proporcionam que os


movimentos sejam executados com segurança de modo a atingir os objetivos e, ainda,
prevenir que afecções aconteçam em virtude do mau posicionamento. Sobre o
posicionamento adequado da cabeça e pescoço, assinale a alternativa correta:

A) Nos exercícios de flexão de tronco, o paciente deve fazer uma flexão da cervical importante,
tentando encostar o queixo do peito.

B) O espaço entre o queixo e o peito é de uma mão fechada, associado a uma anteriorização da
cabeça.
C) Durante os exercícios que façam a flexão de tronco, o paciente deve manter o olhar
direcionado ao teto, de modo a garantir o alinhamento.

D) O espaço adequado entre o queixo e peito é de um limão e deve ser mantido em todos os
exercícios que façam flexão de tronco.

E) Deve-se enfatizar que a curvatura do pescoço (cervical) seja reduzida ao máximo, buscando
uma coluna reta.

5) Mobilidade e estabilidade são conceitos muito utilizados na biomecânica do Pilates e podem


ser facilmente mal interpretados por profissionais que atuam na área. Reconhecer esses dois
conceitos e sua aplicação prática é essencial para se elaborar um plano de tratamento
adequado ao paciente.

I. A mobilidade é muito importante do ponto de vista de manter as estruturas estáveis


durante a realização dos movimentos.

II. Preconiza-se no Pilates clínico a atuação maior sobre a estabilidade em comparação com a
mobilidade.

III. Quanto maior a capacidade de uma estrutura em realizar um movimento (amplitude de


movimento), maior é a mobilidade dela.

IV. Uma coluna funcional estática necessita de exercícios que garantam maior mobilidade.

V. Uma coluna funcional dinâmica necessita de exercícios que garantam maior estabilidade.

Sobre este assunto, assinale a alternativa correta:

A) As alternativas I, II e V estão corretas.

B) As alternativas I, II, III, IV e V estão corretas.

C) As alternativas I, II e IV estão corretas.

D) As alternativas II, III e IV estão corretas.

E) As alternativas III, IV e V estão corretas.


Na prática
O Pilates clínico pode ser empregado no tratamento de uma série de disfunções cinético-
funcionais, incluindo as que acometem a coluna vertebral. Como exemplo destas disfunções, tem-
se as escolioses.

As escolioses são desvios posturais tridimensionais, que causam alterações posturais e, em alguns
casos, dor e limitação nas atividades diárias. O tratamento pode ser feito por meio de inúmeras
modalidades. Dentre elas, o uso do Pilates clínico, que, neste caso, tem como objetivo atuar nos
desequilíbrios existentes e melhorar o padrão dos movimentos do paciente, interferindo
diretamente na sintomatologia.

O Na Prática traz o relato de um caso de paciente com escoliose e a sugestão de um tratamento


com uso do método Pilates.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Benefícios do pilates
A reportagem publicada em 2017 na revista Pilates traz informações acerca do método, incluindo
os benefícios e os princípios de contrologia necessários para um bom desempenho durante a
execução dos exercícios.

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O que é pilates clínico?


A reportagem a seguir trata das diferenças existentes entre o pilates clínico e o pilates
convencional.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Efeitos do Método Pilates na postura corporal estática de


mulheres
O método Pilates é comumente conhecido por proporcionar benefícios na melhora da postura
corporal. Este artigo, publicado em 2016, trata dos efeitos do método Pilates na postura corporal
estática de mulheres por meio de uma revisão sistemática.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Pilates no tratamento de problemas emocionais


O método Pilates pode ser utilizado atualmente em uma variedade de disfunções a fim de melhorar
a qualidade de vida do paciente. Nos últimos anos, vem sendo empregado como tratamento
coadjuvante para pacientes com problemas emocionais, como ansiedade e depressão,
apresentando resultados positivos. Este artigo, publicado em 2017 na revista Pilates, trata da
aplicação do Pilates na depressão e na ansiedade.

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