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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Disciplina: Processos Lúdicos e Criativos no Desenvolvimento e na Aprendizagem


Docente: Renee Volpato Viaro
Discentes: Brena Carvalho Ferreira – 201810262911
Brenno Duarte Pereira de Medeiros – 201810261011

Avaliação
QUESTÃO A

Explique como Winnicott concebe os processos lúdicos e articule essa visão teórica com
sua futura prática educacional.

O Lúdico é um importante instrumento para o ensino-aprendizagem e


desenvolvimento, principalmente quando se trata de crianças. Ao falar de lúdico, logo se
remete a brincadeiras, jogos, faz de conta, mas se costuma deixar de lado o fato de que o
lúdico, para além do brincar, é prazeroso e possui sentido, não é algo “fora” do sujeito e
sim uma dimensão do pensamento. O que difere os seres humanos dos animais, é
justamente a capacidade de imaginar, criar, pensar e compartilhar coisas que não existem
ou que nunca viram.

Durante todo o desenvolvimento, o indivíduo passa por diversas etapas na vida.


A primeira, ocorre a partir de quando o bebê nasce até completar 6 meses de idade. Esta
fase é denominada por Winnicott como “Dependência absoluta”, onde o sujeito é
totalmente dependente do ambiente, para o bebê, ele e o ambiente são um só. Por isso é
necessário que a mãe atenda às necessidades do neném, dando a ele esse sentimento
ilusório de que é ele que está suprindo suas próprias necessidades. Entretanto, isso não
perdura a vida toda, depois o sujeito passará por frustrações e em algum momento, ele
não será atendido pelo ambiente, que é quando ocorre a desilusão.

A segunda etapa é marcada como "Dependência relativa”, ela ocorre dos 6 aos 18
meses, nesta fase, o bebê não é mais totalmente dependente do ambiente, é uma fase
intermediária, onde ele caminha “rumo a independência”, que é a terceira etapa. Nesta,
ocorre a separação do interno e externo.

Durante a dependência absoluta e a dependência relativa, o sujeito passa a


desenvolver a sua autonomia, este é o momento em que ele começa a se “separar” da mãe,
então no decorrer dessa transição, o bebê faz uso de objetos transicionais como por
exemplo um brinquedo, um pano, ou até mesmo um comportamento, como chupar dedo,
o que é denominado de fenômeno transicional, já que neste caso, não se trata
necessariamente de um objeto.

O brincar possui tempo e lugar, assim como o lúdico, não é uma ferramenta, o
brincar possui sentido para o sujeito e deve ser levado a sério. De acordo com Winnicott
(1975) o brincar traz experiências do sujeito e dos objetos percebidos por ele, posto que
desempenhe a função de comunicar conteúdos reais do indivíduo.

O lugar do brincar, segundo Winnicott, é no espaço potencial entre o bebê e a mãe.


A criatividade também se estabelece na relação materna, que ocorre logo no início da vida
do sujeito. O que se denomina de “criatividade primária”. Para Winnicott, criatividade é
ser você mesmo, e através dos objetos, fazendo uso deles para ser criativo, afinal de
contas, uma das formas de manifestar a criatividade e a ludicidade, é através da
brincadeira. A brincadeira também é importante para a saúde mental do indivíduo, por
meio desta atividade é possível que a criança se expresse, interaja com o meio, pense,
socialize, entre muitas outras infinitas possibilidades que o brincar proporciona.

Um outro conceito abordado por Winnicott é da experiência cultural, como


experiência ilusória compartilhada, como por exemplo o dinheiro, e a localização dos
países pelo mundo, a religião, entre outros.

Todos esses conceitos que Winnicott trata, possui grande contribuição para a
atuação pedagógica, principalmente na área em que atuamos, que é da Educação Básica,
no qual iremos lidar com o brincar, com o lúdico, a criatividade e de como todas essas
ações implicam diretamente com o social. Por exemplo, brincar envolve questões de
gênero, no qual ainda se discute sobre brinquedos de menina e de menino. Ainda no
brincar, no próprio espaço escolar, ainda se vê a desvalorização da brincadeira ou o mal
uso dela. O que afeta diretamente no desenvolvimento e na construção do sujeito. Então
saber e compreender esses conceitos, será um diferencial na prática educacional, na vida
e no processo de ensino-aprendizagem.

QUESTÃO B
Explique como Piaget concebe os processos lúdicos e articule essa visão teórica com sua
futura prática educacional.

O teórico Jean Piaget em seus estudos buscou entender como se dá o processo do


conhecimento. Ele defendia que o indivíduo ao longo de sua vida constrói o
conhecimento, e que mesmo que o desenvolvimento dependa da maturação biológica, o
sujeito é ativo no seu processo de aprendizagem. Ele dividiu o desenvolvimento humano
em estágios (sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal),
visto que acreditava em uma continuidade acerca do desenvolvimento. Para Piaget o
desenvolvimento é como um prédio, onde cada andar é equivalente a uma fase e cada fase
é construída/desenvolvida sobre a anterior. Para que seja possível essa construção o ser
humano passa por um processo de adaptação, o qual compreende dois subprocessos a
assimilação e acomodação. Piaget defende que os indivíduos têm uma necessidade por se
manter equilibrados, porém a aprendizagem ocorre quando o indivíduo entra em
desequilíbrio. O desequilíbrio é causado pela falta de estruturas mentais adequadas que
possam dar conta de responder à determinadas demandas. Então, ao se deparar com o
novo/desconhecido e não haver estruturas mentais capazes de responder ao meio, o
indivíduo entra em desequilíbrio e realiza a assimilação, compreendendo esse algo novo
com base no que já possui de experiência vivenciada, ampliando assim o seu repertório.
Quando o indivíduo entra em contato com o novo, mas que agora não é tão desconhecido,
o indivíduo faz a acomodação, atribuindo novas percepções às estruturas mentais pré-
construídas, refinando assim o conhecimento que possui. Quando faz esse processo de
equilibração o indivíduo está adaptado com relação ao meio.

Durante a brincadeira a criança também passa por esse processo, ao atribuir


situações da vida cotidiana em suas brincadeiras a criança está imitando e transformando
as suas estruturas mentais pré-existentes. Por exemplo quando a criança brinca de dar
banho em uma boneca, está acomodando o conhecimento novo (dar banho em boneca)
em uma estrutura mental já estabelecida, fazendo a imitação de quando seus pais lhe dão
banho. É aí que se encaixa a Gênese da Representação pois é na representação que o
indivíduo seleciona conhecimentos anteriores e os evoca simbolicamente em um contexto
diferente do seu contexto original, por exemplo quando a criança abre um caderno e faz
de conta que é um notebook. Nessa situação citada ela está evocando simbolicamente o
uso do notebook, utilizando o caderno (significante) como se fosse um notebook
(significado).
Já durante o jogo, aquele que joga impõe sobre a realidade as suas estruturas
mentais existentes, sendo assim um objeto pode ter o valor atribuído que o indivíduo
desejar pois é a forma como o indivíduo concebe aquele novo conhecimento, criando
estruturas mentais capazes de dar conta daquela situação. Logo, ao jogar o indivíduo cria
as regras, faz o que bem entender ao interagir com o novo, visto que o jogo se orienta
pelo prazer desse indivíduo.

Piaget classifica os jogos infantis em 3 estruturas sendo essas o jogo de exercício,


de símbolo e de regra. O jogo de exercício se caracteriza pela repetição de sequências de
ações ou de manipulação porque é prazeroso ao indivíduo (GIACOMETTI et al., 2013).
Já o jogo simbólico se caracteriza pelo faz de conta, são etapas e essa capacidade de
imaginação vai evoluindo. É quando o indivíduo começa a representar com um objeto
presente (significante) um objeto que está ausente (significado), ela inicia esse processo
consigo mesma, de forma egocêntrica e com o tempo passa a simbolizar com outros que
não consigo mesma. Com a evolução do simbólico a criança passa a ela própria ser o
símbolo, então começa-se a se transformar e imaginar ser o que não é, cria histórias e
cenas que inventou. Durante o jogo simbólico a criança pode vivenciar uma experiência
ou reviver alguma situação, com base simplesmente nos seus desejos individuais. Com o
tempo essa imaginação passa a ser tomada de forma fiel aos acontecimentos e deixa de
contar com invenções. Sendo assim, inicia-se como uma representação distorcida da
realidade a partir da vontade do sujeito e termina como uma representação fiel da
realidade. Enquanto isso, o jogo de regra se caracteriza pela socialização dos indivíduos,
onde esses aprendem e estabelecem as regras durante uma atividade. Essas regras se
dividem entre transmitidas e espontâneas, as regras transmitidas são as socialmente
elaboradas, previamente estabelecidas pelo meio social como por exemplo as regras de
um jogo de queimada, já as regras espontâneas são aquelas criadas em uma atividade
definida naquela situação, por exemplo quando decide-se jogar “pular carniça” onde cada
um cria uma regra do que todos devem fazer.

Essa forma de conceber o desenvolvimento humano e o jogo nos possibilita pensar


na prática do professor. É de extrema importância entender em que fase do
desenvolvimento os alunos se encontram e qual é o tipo de jogo a ser desempenhado na
determinada faixa etária. A partir disso, o professor pode elaborar a sua prática, propor
atividades e estimular os alunos proporcionando novas aprendizagens, levando-os a se
desequilibrarem e buscarem o equilíbrio, realizando assimilação e acomodação frente ao
novo. Desse modo, é importante o lúdico na prática do professor, de modo que seja um
profissional mais capacitado a se envolver e possibilitar um ambiente rico de
desenvolvimento para os seus alunos.

Referências Bibliográficas

GIACOMETTI, Valéria; BARCELOS, Rosiclaire; DIAS, Carmen Lúcia. O Jogo


Educativo na Educação Infantil. Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente
Prudente, 21 a 24 de outubro, 2013. Colloquium Humanarum, vol. 10, n. Especial, Jul–
Dez, 2013, p. 1099-1105.
WINNICOTT, D. W. O brincar: uma exposição teórica. In: WINNICOTT, D. W. O
brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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