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com Willian Cruz

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AULA 1: BREVE HISTÓRIA DA BICICLETA

Linha do tempo da invenção e evolução


da bicicleta

A história da invenção da bicicleta, independen-


temente da construção em si, remonta ao século
XV, pela atribuição de um desenho de bicicleta
a Leonardo da Vinci encontrado pelos italianos
no século XX. Como qualquer outra invenção em
tempos mais remotos, esse feito gerou bastan-
te controvérsias, nesse caso com forte descon-
fiança de que o esboço tenha sido alterado. De
maneira semelhante, paira sobre a invenção do
celerífero, em 1790, a mesma desconfiança. Idea-
lizado pelo conde Mede Sivrac, a invenção desse
veículo está atrelada à narrativa de um jornalista
francês, ou seja, são invenções que não dispõem
de provas testemunhais ou físicas, como o en-
contro de uma relíquia e sua preservação. São in-
venções presentes em narrativas, e não em fatos.
Já o modelo inventado pelo barão Karl von Drais
em 1817 não só atende aos critérios de presença
histórica como decorre de eventos testemunha-
dos coletivamente e documentados.

1490 – Desenho do pintor


italiano Leonardo da Vinci
encontrado no século XX.

1790 – Celerífero: modelo


atribuído ao francês conde
Mede Sivrac

1817 – Draisiana: modelo


inventado na Alemanha pelo
barão Karl von Drais

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1870 – Penny-farthing: bici-
cleta com uma grande roda na
frente e uma pequena atrás

1876 – Safety bicycle: bicicle-


ta desenvolvida com trans-
missão na roda traseira

A partir da draisiana, uma série de transforma-


ções vão ocorrer, como os primeiros registros de
competições. Ainda no século XIX, entra em cena
a penny-farthing, modelo que, por contar com
uma enorme roda dianteira, provocava muitos
acidentes, levando a um aprimoramento que
tornou os modelos mais próximos das bicicle-
tas atuais. A safety bicycle, além de contar com
um sistema de transmissão, permitia ao ciclista
apoiar os pés no chão. A partir daí a bicicleta foi
sendo aprimorada e, ainda nos dias atuais, tem
sofrido enormes transformações.

A máquina de da Vinci

A primeira ideia de construção de uma bicicleta


envolve o famoso pintor renascentista Leonardo
da Vinci.

Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons.

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Esse esboço representaria um projeto elaborado
Transmissão pelo pintor italiano por volta de 1490 e contaria
é o sistema da bicicleta res- até mesmo com transmissão.
ponsável pela transformação
da força exercida pelas pernas O projeto provém da “página 897” do Códi-
do ciclista em movimento das go Atlântico, a obra mais ampla das ideias do
rodas. A transmissão é com- renascentista e, originalmente, tem duas ver-
posta pelas coroas, corrente, sões. Uma com apenas um piloto, e a outra
cassete, pedivela e pedais. com dois; no entanto, ambas recordam a pos-
tura de um ciclista, mesmo se na época a bi-
cicleta ainda não tinha sido criada. Com asas
que batem como as aves, a criação foi desen-
volvida quando da Vinci era bastante jovem.

Há inúmeras controvérsias sobre essa suposta


origem da bicicleta. Em 2017, a empresa Multi
Tranciati transformou o projeto em bicicleta. Em
um evento ciclístico, nesse mesmo ano, o mode-
lo percorreu as ruas na Itália. No entanto, o pró-
prio engenheiro da Multi Tranciati comenta que
“Essa bicicleta é provavelmente o projeto mais
polêmico e misterioso de Leonardo”.

De todo modo, verdadeira ou não, a bicicleta


desse desenho nunca chegou a ser construída
no século XV, não podendo ser considerada o
primeiro veículo em duas rodas.

O celerífero

Imagem: Domínio Público via Wikimedia Commons.

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O celerífero, criado pelo conde Méde Sivrac, teria
existido antes da revelação dos desenhos de da
Vinci. Não tinha pedais nem freio e tampouco
podia ser manobrado. Não tinha nada equiva-
lente a um sistema de transmissão, tampouco
um guidão. O condutor sentava-se nele e dava
impulso com os pés, no melhor estilo Fred Flints-
tone, e torcia pra não cair.

O destaque sobre esse invento é que algumas


pesquisas recentes dão conta de que nem mes-
mo o conde teria existido. Um jornalista francês
chamado Louis Baudry de Saunier (1865-1938),
movido pela vaidade ou por amor à terra natal,
quis dar à França a glória de ter criado a primeira
versão da bicicleta:

Saunier era um nacionalista ferrenho que es-


taria se sentindo muito mal com a humilhante
derrota da França na Guerra Franco-Prussia-
na (1870-1871): inventou a farsa de Sivrac para,
em uma revanche pessoal, dar ao próprio país
a glória do primeiro passo no surgimento da
bicicleta. Assim, o conde francês Sivrac teria
antecedido ao barão alemão Drais Von Sauer-
bronn, batizado Karl Friedrich Christian Lu-
dwig Drais, mais conhecido como Karl Drais
(1785-1851).

Com base em um critério mais justo de provas


históricas, a origem da invenção da bicicleta deve
ser atribuída aos alemães, já que a invenção co-
nhecida como draisiana tem sua comprovação
reconhecida e certificada documentalmente.

A máquina de andar de Drais

É consenso entre especialistas e historiadores


que a primeira bicicleta foi concebida e constru-
ída em 1817 pelo barão Karl von Drais, na Alema-
nha. Consistia em uma peça de madeira, com
o equivalente a um selim, e uma alavanca que

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servia de guidão. Não tinha pedais, menos ain-
Que tal ver como se andava
da transmissão. Dava-se impulso nela com os
em uma draisiana?
pés, alternadamente, para movimentá-la. Drais
Veja duas cenas de um filme
a chamava de “máquina de andar” e ele chegou
de 1923, Our Hospitality, de
percorrer 14 quilômetros em 1 hora. Ela foi paten-
Buster Kaeton, mostrando o
teada pelo barão e, apesar de ter sido copiada
personagem se locomovendo
por toda a Europa, não foi produzida de forma
em um modelo de Drais.
industrial. Hoje ela é conhecida como draisiana
Disponível em: youtu.be/cRNO-
em homenagem ao seu inventor.
btP_Fgo. Acesso em: 2 jul. 2022

Saiba mais
Pierre Lallement, nascido em
Pont-à-Mousson, em 25 de
outubro de 1843, e falecido em
Boston, em 29 de agosto de
1891, é considerado por alguns
pesquisadores o inventor da
Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons.
bicicleta.
Ele era um fabricante de carri-
nhos de bebês em Nancy, na As primeiras corridas: uma prova histórica
França. Em uma ocasião, viu
alguém com uma draisiana e O ano de 1829 testemunharia a primeira corri-
teve a ideia de construir o seu da de bicicletas de que se tem conhecimento. A
próprio veículo, fazendo então disputa teria ocorrido em Munique, secretamen-
a adaptação de uma transmis- te, para evitar a intervenção das autoridades. O
são, um mecanismo de pedi- vencedor dessa primeira competição percorreu
vela giratório e pedais fixados 11 quilômetros em 30 minutos. Assim, a draisia-
no cubo da roda dianteira. Com na, que já tinha demonstrado sua utilidade no
isso, construiu a primeira bici- deslocamento, passava então a ser reconhecida
cleta propriamente dita. também como equipamento esportivo.
Para saber mais, acesse:
pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Lal- Mas as corridas de bicicleta só foram se populari-
lement zar de fato com a invenção dos pedais, por volta
de 1860.

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Segundo alguns pesquisadores, a invenção dos
pedais deve-se ao francês Pierre Michaux. Entre-
tanto, conforme o historiador norte-americano
David Herlihy, quem os patenteou foi outro fran-
cês, Pierre Lallement. De qualquer modo, Mi-
chaux obteve o mérito de ter aberto uma fábrica
de bicicletas em 1857, iniciado o primeiro boom
das bicicletas na França e promovido um pode-
roso entusiasmo pelas bikes, que se espalharam
por toda Europa e Estados Unidos.

A penny-farthing

A penny-farthing era uma bicicleta com uma


grande roda na frente e uma pequena atrás. Sua
invenção data de mais ou menos 1870, tendo se
tornado bastante popular entre jovens endinhei-
rados dessa época. A roda maior permitia que as
pernas do ciclista ficassem numa posição em
que ele podia empregar mais força aos pedais,
alongando-as ao máximo, ao passo que o maior
diâmetro da roda dianteira permitia o aumento
da distância percorrida, bem como atingir maior
velocidade: a cada volta do pedal, a bicicleta per-
correria uma distância maior que a alcançada
por rodas de proporções convencionais.

Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons.

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Todavia, essa vantagem era limitada pelos riscos,
já que àquela altura do chão e com o pavimen-
to irregular, os acidentes eram inevitáveis. Essa
condição só mudaria com a invenção das pri-
meiras bicicletas com transmissão, inicialmen-
te com alavancas manobradas com os pés para
transmitir a força à roda traseira, tendo, pouco
tempo depois, sido desenvolvidos os mecanis-
mos com correntes semelhantes aos de que dis-
pomos hoje.

De proporções mais próximas das bicicletas atu-


ais, as rodas menores permitiam que o ciclista
colocasse os pés no chão ao parar, sem a neces-
sidade de desmontar da bicicleta.

As bicicletas de segurança

Justamente pelo aumento na segurança do


usuário, essas bicicletas eram anunciadas como
safety bicycles, bicicletas de segurança. Há atu-
almente, entre os especialistas, consenso de
que Henry Lawson, um engenheiro inglês, foi
o criador das safety bicycles em 1876, embora
haja relatos de que outro inglês, Thomas Hum-
ber, possa ter fabricado também uma bicicleta
desse tipo, oito anos antes, em 1868. De qualquer
maneira, esse foi um período bastante produti-
vo em termos de transformação desses veículos,
quando começam a ser chamados de bicicletas.
Antes disso, o nome utilizado era velocípede.

Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons.

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Os pneus com câmara de ar
Saiba mais
Por volta de 1830, o inventor
Até então, na melhor das hipóteses, as bicicletas
Charles Goodyear (1800-1860)
contavam com pneus de borracha sólida. A novi-
descobriu que a borracha
dade foi terem passado a ter uma câmara de ar
cozida com enxofre em altas
dentro deles, o que privilegiava o amortecimen-
temperaturas mantinha suas
to dos impactos. John Boyd Dunlop foi pioneiro
condições de elasticidade
nesse setor, tendo em 1887 produzido esse tipo
em qualquer temperatura. O
de pneu. Com isso, as pedaladas se tornam mais
norte-americano chamou esse
confortáveis, fazendo com que as penny-farthin-
processo de vulcanização.
gs, que contavam com pneus sólidos, caíssem
Aos poucos, os veículos come-
em desuso. A princípio, os pneus a ar eram co-
çaram a ganhar aros revestidos
lados nas rodas. Pouco depois, Édouard Miche-
de borracha que, contudo,
lin conseguiu prendê-los às rodas com engates,
eram duros e se quebravam
facilitando os reparos e as substituições futuras.
facilmente. [...]
Inicialmente, os pneus com câ-
A transmissão e o sistema Gran Sport
mara eram feitos apenas para
bicicletas, por não suporta-
A possibilidade de usar um mecanismo maior
rem muito peso. Tanto que os
na frente do que atrás da bicicleta permitia au-
primeiros pneus de caminhão
mentar sua velocidade. Teriam início aí também
eram maciços e assim continu-
os mecanismos de passagem de marchas, que
aram por muitos anos.
se popularizaram a partir de 1900. Mesmo assim,
ainda havia necessidade de parar a bicicleta e
(VELOSO, Norwil. A evolu-
desmontá-la para passar as marchas manual-
ção dos pneus. Revista M&T
mente, pegando a corrente com a mão e colo-
- Ed.254 - A Era das Máquinas
cando-a em outro mecanismo.
Junho 2021. Disponível em:
revistamt.com.br/Materias/
Isso durou pelo menos três décadas, quando,
Exibir/a-evolucao-dos-pneus.
em 1938, o primeiro sistema de passagem de
Acesso em: 19 maio 2022.)
marchas por meio de cabos foi finalmente de-
senvolvido. Competições como o Tour de France
promoviam o sistema, impulsionando sua pro-
dução e fomentando a concorrência entre os fa-
bricantes.

Em 1949, Tullio Campagnolo lançou o sistema


Gran Sport, que revolucionou essa tecnologia
tornando a passagem de marchas mais rápida e
suave, além de ter uma durabilidade bem maior.

Com pequenas melhorias ao longo das próximas

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três décadas, o sistema de troca de marchas só
foi ter uma mudança significativa nos anos 1980,
quando a Shimano criou o câmbio indexado,
que usamos até hoje, com uma troca bem mais
precisa, rápida e ao alcance dos dedos com um
simples clique.

Os impactos no desenvolvimento e
nos costumes

Diversas mudanças na sociedade só foram pos-


síveis graças à invenção e ao desenvolvimento
da bicicleta. Entre outros propiciados à socieda-
de, destacam-se:

• Meio de transporte acessível a todos


• Pavimentação de ruas e construção de
estradas
• A invenção de pneus de borracha

Os pneus criados por Michelin foram desenvolvi-


dos inicialmente para bicicletas. Por conta de seu
sucesso em competições, rapidamente foram
sendo adaptados para que pudessem ser usa-
dos nos automóveis, que à época começavam a
ser fabricados em larga escala. Assim, se alguns
desses impactos mudaram o rumo do desenvol-
vimento, não menos importantes foram aqueles
que transformaram as relações sociais e influen-
ciaram as transformações nos costumes do sé-
culo XIX em diante. A bicicleta teve um papel sig-
nificativo nas lutas empenhadas pelas mulheres
e que viriam redefinir o papel da figura feminina.

A bicicleta e os direitos das mulheres

Antes do advento da bicicleta, as mulheres de-


pendiam da permissão e tutela masculinas para
se deslocar. Lembremos que a maior parte dos
meios de transporte eram coletivos, fossem por
terra (carruagens, carroças e automóveis) ou por
meio de rios e mares (barco a vela, vapores e na-

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vios). Esses meios contavam ainda com horários
fixados, de partida e chegada, e com número de
pessoas permitido por viagem. A bicicleta mu-
daria essas condições em função de sua indivi-
dualidade.

O transporte individual proporciona uma


multitude de vantagens em relação a outras
modalidades de transporte. Nomeadamente,
uma maior flexibilidade tanto em termos de
horário como de trajeto.

Sendo a bicicleta um veículo de transporte in-


dividual acessível e bem-visto na sociedade, ela
permitiu que as mulheres pudessem circular
mais pelo espaço público, indo mais longe, em
horários por elas determinados, para se reunir
com outras mulheres sem a presença de ho-
mens. Fosse para discutir e trabalhar pelos seus
direitos ou apenas para se divertir, lá estavam
elas se deslocando em suas bicicletas.

A norte-americana Amélia Bloomer, nascida


em 1818, foi uma importante defensora dos di-
reitos das mulheres. Pioneira em suas ações, ela
foi proprietária e editou um jornal com temática
exclusivamente feminina, chamado The Lily, pu-
blicado quinzenalmente de 1849 a 1853, fazendo
parte inclusive das primeiras experiências de mí-
dia alternativa com protagonismo feminino. Em
sua publicação, Bloomer promoveu uma mu-
dança nos padrões de vestimenta das mulhe-
res que seriam menos restritivos nas atividades
regulares. Embora Bloomer tenha se recusado a
levar o crédito por inventar a roupa, seu nome
foi associado a ela por ter escrito artigos sobre o
vestido incomum, ilustrações impressas em The
Lily, e ter usado o traje ela mesma.

Assim que se soube que eu estava usando o
vestido novo, as centenas de cartas chegaram
às minhas mãos de mulheres de todo o país

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fazendo perguntas sobre o vestido e pedindo
padrões – mostrando como as mulheres esta-
vam prontas e ansiosas para livrar-se do fardo
das saias longas e pesadas.

A chegada da bicicleta ao Brasil

As bicicletas chegaram ao Brasil no final do sé-


culo XIX, trazidas por imigrantes europeus que
desembarcavam em grande número, principal-
mente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

1885 – chegada das primeiras


bicicletas e dos primeiros clu-
bes de ciclismo no Brasil

1892 – Velódromo Nacional:


inaugurado no Rio após a Pro-
clamação da República

1898 – Caloi: surgia como


montadora de bicicleta, a par-
tir de peças importadas

1903 – Competição feminina:


primeira disputa no Velódro-
mo Paulistano

1948 – Caloi e Monark: po-


pularização da bike no Brasil,
criação nacional

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Inicialmente, as bicicletas eram artigos de luxo
por aqui, e os ciclistas eram pessoas da alta so-
ciedade, que ostentavam suas bikes como sím-
bolo de prestígio e de distinção social:

É interessante observar, por meio das pági-


nas do Almanak Laemmert, os anúncios de
fabricantes de bicicletas na cidade. Ainda que
timidamente, as propagandas vão ganhando
espaço nos jornais de grande circulação, ins-
crevendo o Rio de Janeiro em um processo
de modernidade cujos olhos se voltavam para
a Europa, especialmente para a França. Na
opinião de André Schetino, a utilização desse
artefato na capital federal era profundamente
influenciada pelos costumes parisienses e o
desejo de afrancesamento das elites durante
a Belle Époque carioca.

Em 1885, começaram a surgir clubes esportivos


que estimulavam o ciclismo, sobretudo no Rio
de Janeiro. Em 1892, passada a Proclamação da
República, surge o luxuoso Velódromo Nacional
no Rio de Janeiro, na Rua do Lavradio, que, além
de abrigar competições, ainda alugava bicicletas
e ensinava a pedalar!
As bicicletas ganharam as ruas do Rio e come-
çam a circular mais por aqui a partir de 1894,
quando passaram a ser importadas em grande
número, fazendo cair um pouco seu preço. Entre
os importadores mais importantes, destacava-
-se Émile Lambert, imigrante de origem france-
sa que, além de praticar o hipismo, também era
ciclista. Isso porque existia:

[...] uma íntima relação no mundo dos espor-


tes da cidade entre o turfe e a bicicleta e, por-
tanto, era possível observar Émile Lambert
transitando pelas duas esferas desportivas,
direta e indiretamente, como um verdadeiro
sportsman. Nesse caso, o uso dessa categoria
não se restringia apenas aos praticantes des-

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sas modalidades, mas designava todo àquele
que se entusiasmava com a modernidade e o
progresso no fin-de-siècle. No caso de Lam-
bert, a noção se adequa duplamente, pois
além de importador de bicicletas, era tam-
bém turfman [...].

A origem das fábricas brasileiras

A tradicional marca Caloi surgiu, nesse contexto,


no ano de 1898, trazendo equipamentos impor-
tados. Naquele momento, a circulação de bici-
cletas foi um movimento espontâneo em par-
ques e ruas. Mas ainda levaria cinquenta anos
para que se popularizassem de fato e impulsio-
nassem o crescimento da indústria nacional.

Outros velódromos foram construídos naquele


período, como o Velódromo Paulistano em 1895,
próximo de onde hoje fica a Praça Roosevelt, no
centro da capital paulista. Criado inicialmente
com pista plana e em saibro, logo depois foi re-
formado para ter pistas cimentadas, com incli-
nação nas curvas. Havia até uma revista semanal
em São Paulo, chamada A Bicycleta, editada por
um ciclista competidor, Otto Huffenbaecher.
As competições recebiam apostas como as cor-
ridas de cavalo e seguiam formato parecido, o
que estimulava o crescimento do ciclismo. Em
dias cheios, o Velódromo Paulistano chegava a
receber quatro mil pessoas, uma enorme audi-
ência para os padrões da época. A primeira prova
feminina aconteceu ali no ano de 1903, com três
moças disputando um “páreo” de 700 metros.

Infelizmente, sem o apoio de indústrias e de uma


entidade nacional que fortalecesse o esporte, os
eventos foram decaindo e os velódromos foram
desaparecendo. Alguns foram adaptados para o
futebol, que chegou aqui logo em seguida, como
o caso do Velódromo Paulistano, que passou a
ter um campo de futebol no espaço do meio da

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pista e recebeu o primeiro Campeonato Paulista
em 1902. Em 1916, o equipamento esportivo foi
demolido para a abertura da Rua Nestor Pesta-
na no centro de São Paulo.

As bicicletas só se tornam populares de fato por


aqui nos anos 1950. Monark e Caloi, que até en-
tão apenas importavam, iniciaram a fabricação
de bicicletas em 1948, tornando-as mais acessí-
veis. Ocorreu, então, um grande boom comer-
cial, com diversos pequenos fabricantes surgin-
do, mas com o domínio do mercado por esses
dois fabricantes até os anos 1990.

As bikes passaram a compor cada vez mais o ce-


nário urbano do país, sobretudo nas periferias
das grandes cidades e em regiões longe delas.
Nesse período, o mercado nacional acabou prio-
rizando o ciclismo de lazer, com pouco destaque
para equipamentos profissionais de competição
ou mesmo de deslocamento.

Bicicletas com temática de BMX foram muito


vendidas nos anos 1980, uma verdadeira febre
entre crianças e adolescentes. Na sequência, co-
Para assistir meçaram a fazer sucesso modelos inspirados no
Bora ver um filme? Caminho mountain-bike, que passaram a ser usados no
das Nuvens é um longa-me- dia a dia pela população, em função de sua ade-
tragem que conta a história quação à baixa qualidade da pavimentação no
de Romão (Wagner Moura), Brasil ou mesmo sua completa ausência. Mode-
desempregado que precisa los de baixo custo e pouca manutenção, como
sustentar a mulher Rose (Cláu- a Barra Forte e a Barra Circular, também foram
dia Abreu) e cinco filhos. Ro- muito vendidos para deslocamento e podem ser
mão decide partir em busca de vistos nas ruas até hoje.
um local onde sonha encontrar
um emprego com salário de As primeiras competições formais
R$ 1 mil no Rio de Janeiro. As-
sim, eles partem numa jornada Efetivamente, além de promover a mobilidade,
de 3,2 mil km, de Santa Rita, a bicicleta sempre foi percebida como instru-
no sertão da Paraíba, ao Rio de mento de lazer e esporte, desde as draisianas.
Janeiro, de bicicleta. Em 1868, em um parque de Paris, aconteceu a
primeira competição formal de que se tem um

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registro efetivo: uma corrida de velocípedes em
um circuito de pouco mais de 1 quilômetro, com
várias categorias e distribuição de medalhas:

A história mais aceita sobre a primeira corri-


da de bicicleta conta que a prova se deu em
um percurso de 1.200 m, em 1868, na Parc de
Saint-Cloud, em Paris. A corrida teve como
vencedor o inglês James Moore, que pedalou
uma bicicleta de madeira com rodas de ferro.
A bike está atualmente exposta no museu Ely,
em Cambridgeshire, na Inglaterra.

Evolução das primeiras competições

1868 – Primeira competição


formal. Realizada em Paris,
com distribuição de medalhas

1869 – Trajeto Paris-Rouen.


Primeira competição de
estrada

1903 – Tour de France: surgia


uma das mais conhecidas
competições no mundo

1909 – Giro d’Italia: nascia


outra tradicional prova de
longa duração

1976 – Repack: primeira prova


de mountain-bike

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A primeira competição de estrada aconteceu
também na França no ano seguinte, iniciando a
tradição do ciclismo no país. O trajeto Paris-Rou-
en foi de 123 quilômetros. Teriam sido distribuí-
dos um prêmio em dinheiro, uma bicicleta e me-
dalhas. Cento e vinte competidores disputaram
o prêmio, incluindo duas mulheres, que teriam
disputado a prova contra os homens. Contudo,
apenas 32 pessoas teriam completado a prova,
transcorrida em menos de 24 horas. O vencedor,
um inglês radicado na França chamado James
Moore, que completou a corrida em 10 horas e
40 minutos, tornou-se a primeira estrela do ci-
clismo ao vencer várias outras competições de-
pois dessa.

O tradicional Tour de France surgiria em 1903,


como uma corrida de seis etapas em um total
de 2.428 km, algo impressionante para aquela
época. Outra prova tradicional de longa duração
também teve início nessa época: o Giro d’Italia,
que iniciou em 1909.

As mountain bikes: origens

Como pode ser percebido até aqui, ao longo da


história desse veículo em duas rodas há contro-
vérsias em quase todos os pontos. Poucas vezes
há consenso quanto a uma ou outra caracterís-
tica. E não poderia ser diferente também quan-
to ao surgimento das bikes de todo terreno, ou
mountain bikes. Segundo alguns analistas, as
bicicletas são anteriores às estradas pavimen-
tadas, por essa razão há quem considere os ve-
locípedes originais e até as bicicletas utilizadas
com finalidade militar, como as famosas MO-05
do exército suíço, de 1905, como as primeiras bi-
cicletas off-road. Contudo, a maioria das pesso-
as considera como mountain bikes aquelas que
passaram a ser projetadas com o objetivo espe-
cífico de enfrentar terrenos sem pavimento.

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De qualquer maneira, essas adaptações come-
çaram a surgir em 1953, quando o norte-ameri-
cano John Finley Scott criou uma bicicleta com
marchas, pneus com cravos e guidão reto, com
a qual pudesse pedalar em terrenos irregulares.
Scott também foi um cicloativista, sendo pesso-
a-chave para convencer o legislativo da Califór-
nia de que as bicicletas eram veículos e que de-
veriam circular na rua junto com os carros, e não
por calçadas e parando a cada semáforo para
fazer a travessia. Essa decisão tornou-se parâme-
tro para compor a legislação de outros Estados,
tendo sido uma importantíssima conquista.

Mas, ainda assim, seriam necessários mais vinte


anos para que as mountain bikes se populari-
zassem. Em 21 de outubro de 1976 aconteceu a
primeira competição do que chamamos hoje de
mountain-bike: era a primeira edição da Repack,
com dez competidores, que teve como vence-
dor Alan Bonds. Por sinal, ele foi o único a não
cair da bike.

A corrida fez tanto sucesso que, muito em bre-


ve, seria disputada uma vez por semana, embora
sua frequência tenha diminuído um pouco de-
pois da nona edição. Entretanto, um ano depois
desse evento, as mountain bikes passam a ser
fabricadas e vendidas comercialmente. Foi nes-
sa época que Scott financiou um jovem compe-
tidor dessas corridas, Gary Fisher. Ele juntava os
quadros feitos à mão por Tom Ritchey com pe-
ças e componentes de todo o mundo, produzin-
do bicicletas que foram vendidas às centenas.

Das trilhas ao asfalto

No início do século XXI, principalmente com a


atuação de movimentos cicloativistas como a
Bicicletada, versão nacional semelhante à Criti-
cal Mass californiana, os ativistas começaram a
chamar atenção para o direito de se deslocar em

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bicicleta nas grandes cidades e sobre a necessi-
dade de proteção a quem circula por esse meio.
Aos poucos, a imprensa foi entendendo melhor
a bicicleta como meio de transporte. O desloca-
mento em bicicleta caiu no gosto da classe mé-
dia, pelos ganhos em termos de saúde e impac-
tos no meio ambiente, o que gerou a aceitação
do poder público e a consequente criação de
infraestrutura e até campanhas de respeito ao
ciclista. Ainda temos muito que progredir nesse
sentido, mas, para quem usa a bicicleta há al-
gum tempo para deslocamentos pela cidade, a
melhora é perceptível.

As cidades também foram se adaptando à pre-


sença das bikes, com espaços adequados para
sua circulação. Incialmente, a motivação era
atender ao seu uso crescente. Contudo, com o
advento do automóvel e sua produção em mas-
sa, passou-se a tentar regrar e restringir o uso
das bicicletas, privilegiando os veículos em qua-
tro rodas.

Data de 1885 a construção da primeira ciclovia,


na Holanda, graças a uma petição de moradores
de Utrecht, que queriam um espaço apropriado
para aprender a andar de bicicleta e para circu-
lar com elas. Surgiam também nessa época, na
Alemanha e nos Estados Unidos, ciclovias sob
demanda dos cidadãos, que queriam pavimen-
tos adequados para circular.

Na década de 1920, as ciclovias começaram a ser


usadas como um meio de tirar os ciclistas das
ruas, com a finalidade de que não atrapalhas-
sem os carros – principalmente na Alemanha,
onde em 1927 foram criadas diretrizes para a
construção de ciclovias. No período do regime
nazista, a construção de ciclovias fazia parte da
propaganda do Estado e do Partido, tendo assu-
mido status de pré-requisito para o progresso do
tráfego motorizado. Mesmo sendo maioria nas

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ruas na década de 1930, com aproximadamen-
te vinte bicicletas para cada três automóveis, os
ciclistas eram forçados a circular apenas nas ci-
clovias, que tinham péssima qualidade, cujo pa-
vimento era predominantemente irregular.

Os carros foram ocupando cada vez mais o espa-


ço que antes era das bicicletas, trazendo sérios
riscos para quem pedalava, desincentivando, por
fim, seu uso. Mesmo a Holanda, hoje referência
em mobilidade, sofreu esse processo, com uma
queda crescente no uso da bicicleta até a dé-
cada de 1970, quando os cidadãos começaram
a protestar contra a quantidade de mortes no
trânsito – sobretudo de crianças. Aliada à grande
crise do petróleo de 1973, essa situação fez com
que os holandeses reavaliassem o caminho que
estavam tomando e repensassem sua forma de
se deslocar.

Com a proibição do uso de carros aos domingos


para economizar gasolina, as políticas de incen-
tivo ao deslocamento com bicicleta e o fecha-
mento do centro das cidades aos automóveis –
mas, principalmente, em função da mobilização
sistemática de cidadãos em grandes protestos
reivindicando segurança e proteção aos ciclistas
– as bikes retomaram o cenário holandês. Hoje,
crianças pedalam sozinhas pelas cidades, prati-
camente sem risco de atropelamento.

Vários países do mundo têm seguido esse exem-


plo, através de planejamento para fomentar o
uso da bike ou de forma reativa, para atender à
demanda crescente. Assim, a bicicleta tem co-
meçado a ser compreendida como alternativa
de transporte necessária para que as cidades
se tornem mais sustentáveis. Isso também tem
acontecido no Brasil, de forma lenta, mas consis-
tente, com mais avanços que retrocessos.

O que o futuro nos reserva?

sescsp.org.br/ead 19
A bicicleta não desapareceu com o surgimento
do motor a combustão e nada indica que ela vá
deixar de existir, mas algumas transformações
são inevitáveis. Os quadros têm-se tornado mais
leves e resistentes, com materiais como fibra de
carbono e o próprio alumínio. Sua aerodinâmi-
ca e ergonomia também têm evoluído de for-
ma constante, adaptadas para cada tipo de uso.
Componentes eletrônicos têm cada vez mais
presença nas bikes, como os sistemas de câm-
bio automáticos, monitores de rotas, velocíme-
tros, sistemas de localização em GPS, entre ou-
tros recursos de monitoramento e melhora de
desempenho. E, é claro, as bicicletas elétricas, de
pedalada assistida, que têm se tornado cada vez
mais leves, com maior autonomia e preço cada
vez mais acessível. Haverá um momento em
que a escolha entre uma bicicleta elétrica e uma
convencional será uma mera questão de gosto,
não de custo.

Referências de pesquisa

A bicicleta de Leonardo da Vinci pode ser falsa


(em inglês): http://www.cyclepublishing.com/
history/leonardo%20da%20vinci%20bicycle.html

A farsa do Conde de Sivrac: http://


senhordospedais.blogspot.com/2011/09/historia-
da-bicicleta-farsa-de-sivrac.html

Mais sobre Sivrac: https://www.trekkingbrasil.


com/pedalando-pela-historia/

Teria a bicicleta sido inventada na China 2.500


anos atrás? Esse historiador acredita que sim:
https://metro.co.uk/2010/03/24/was-this-the-
worlds-first-ever-cycle-189288/

A draisiana:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Draisiana
https://www.mobilize.org.br/noticias/4306/

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draisiana-a-avo-alema-da-bicicleta.html

Livro com a história da bicicleta (em inglês):


https://books.google.com.br/books?id=VDlaT0
KxJfAC&lpg=PA416&ots=SN1TwDZwea&hl=pt-
BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false

Pierre Lallement e a invenção dos pedais:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Lallement

Pierre Michaux e sua fábrica de bicicletas:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Michaux

Livro Bicycle Design (em inglês): https://


books.google.com.br/books?id=a4IUAwAA
QBAJ&lpg=PA385&ots=ZwbvJKVJRi&hl=pt-
BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false

História dos modelos de bicicletas


(em inglês): https://www.webcitation.
org/6BosEOs6j?url=http://www.pedalinghistory.
com/PHhistory.html

Livro Bicycle: The History (em inglês):


https://archive.org/details/
bicyclehistory0000herl/page/216

Thomas Humber (em inglês):


https://web.archive.org/web/20120302003138/
http://www.humbercarmuseum.co.uk/history.
html

A história dos pneus de bicicleta (em inglês):


http://www.barthaynes.com/the-history-of-
bicycle-tires/

A história das marchas da bicicleta (em inglês):


https://www.sports-fitness.co.uk/blog/history-
and-evolution-of-bike-gears

O câmbio Gran Sport, de Campagnolo (em


inglês): https://cyclingmagazine.ca/sections/

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A bicicleta como ferramenta de emancipação


da mulher: http://vadebike.org/2013/03/bicicleta-
emancipacao-feminina/

Livro Wheels of Change: http://www.


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mudanca/

As primeiras ciclovias do mundo: https://


cidadesincomum.com/2016/01/05/as-primeiras-
ciclovias-do-mundo/

História das ciclovias: http://www.ta.org.br/site2/


Banco/6clipping/historia_ciclovias.pdf

Como os holandeses conseguiram suas


ciclovias: http://vadebike.org/2011/11/como-
surgiram-as-ciclovias-holandesas/

As ruas abertas nasceram em Bogotá há


mais de quarenta anos: https://marcosocosta.
wordpress.com/2015/10/25/as-ruas-abertas-de-
lazer-nasceram-em-bogota-ha-mais-de-40-
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A história da bicicleta em São Paulo: http://www.


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paulo/

James Moore, a primeira estrela do ciclismo


(em inglês): https://en.wikipedia.org/wiki/James_
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História do Tour de France (em inglês): http://


www.bikeraceinfo.com/tdf/tdf1903.html#story

A bicicleta utilizada pelo exército suíço (em


inglês): https://www.campfirecycling.com/
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that-and-more

História de John Scott (em inglês): https://


mmbhof.org/mtn-bike-hall-of-fame/history/
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História do mountain-bike (em inglês): https://


mmbhof.org/mtn-bike-hall-of-fame/history/

História da corrida Repack (em inglês): https://


mmbhof.org/mtn-bike-hall-of-fame/history/
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Mapas antigos de São Paulo mostrando o


Velódromo Paulistano: http://smul.prefeitura.
sp.gov.br/historico_demografico/1900.php

Livro Duas Rodas e um Destino, sobre a


origem do ciclismo no Brasil: https://books.
google.com.br/books?id=o4aWDwAAQ
BAJ&lpg=PA35&ots=R-8dU_9iCs&hl=pt-
BR&pg=PA32#v=onepage&f=false

Livro A Bola Rolou, sobre competições


de ciclismo em velódromo no
Brasil: https://books.google.com.
brbooks?id=Bc3eDQAAQBAJ&pg=PT58&lpg=
PT58&source=bl&ots=T_
UwwsG6kV&sig=ACfU3U20a53Pj-
A34E6uo2jyyqE4ycJe4g&hl=pt-BR&sa=X&ved=2
ahUKEwj0i4qvoMPoAhUjLLkGHa6yCmUQ6AE
wAXoECAkQAQ#v=onepage&f=false

A chegada da bicicleta ao Brasil, por Jonas


Soares de Souza: http://www.campoecidade.
com.br/chegada-da-bicicleta-ao-brasil/

O esporte e a modernidade em São Paulo:


práticas corporais no fim do século XIX e início
do XX, por Edivaldo Gois Júnior
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/
REPOSIP/88738/1/2-s2.0-84890086595.pdf

sescsp.org.br/ead 23
História dos velódromos na cidade de São
Paulo: https://www.ativo.com/bike/ciclismo/a-
historia-do-velodromo-na-consolacao-em-sao-
paulo/

O velódromo da Rua Augusta: http://www.


esquina.net.br/2017/11/23/o-velodromo-da-rua-
augusta-primeira-sede-do-club-athletico-
paulistano/

sescsp.org.br/ead 24
AULA 2: PRIMEIROS PASSOS, APTIDÃO FÍSICA E
SEGURANÇA VIÁRIA

São diversos os motivos que afastam as pessoas


do uso da bicicleta. Com base neles, vem-se re-
fletindo sobre algumas alternativas para mudar
essa situação. Portanto, um bom ponto de par-
tida é elencar as principais razões que podem
desestimular uma pessoa do uso da bicicleta de
modo geral. Entre elas, estão:

• não ter tido a oportunidade de aprender a


andar de bicicleta;
• acreditar que não tenha o condicionamen-
to físico necessário para pedalar;
• ter mais receio dos riscos, nas ruas, do que
confiança no pedal;
• desconhecimento mecânico sobre o fun-
cionamento de uma bicicleta.

Refletir sobre esses pontos implica compreen-


der como se aprende a andar de bicicleta, como
se obtém aptidão física para pedalar, quais itens
básicos e conhecimentos propiciam segurança
viária e conhecimentos suficientes sobre a me-
cânica da bicicleta para não ficar na mão quan-
do se estiver andando de bicicleta por aí.

Aprendendo a pedalar

O modo como uma criança aprende a andar de


bicicleta difere do modo como um adulto apren-
de, em muitos pontos. A criança, embora tenha
medo de cair, não sente vergonha disso. Já o
adulto tem enorme receio de ser motivo de riso
se, no aprendizado, desequilibrar-se e cair. Ora,
no processo de aprendizagem é normal o dese-
quilíbrio, tanto para um como para outro. O que
muda no processo de aprendizagem é como
isso deve ser encarado.

sescsp.org.br/ead 25
O método tradicional para ensinar uma criança
Glossário
consiste em iniciá-la em uma bicicleta com ro-
A rodinha de apoio é um recur-
dinhas de apoio. A habilidade do equilíbrio vem
so de segurança para crianças
com a prática diária. A cada período de tempo,
e jovens que estão aprendendo
deve-se trocar a altura dessas rodinhas para que
a andar de bicicleta. De modo
não toquem o chão constantemente e, assim,
geral, elas funcionam como
a criança possa adquirir a capacidade de equi-
meio de dar equilíbrio ao jovem
librar-se. Ao passo que a criança se sente mais
ciclista. Fixadas no parafuso das
segura, é recomendado remover uma das rodi-
rodas traseiras, as rodinhas são
nhas e, por fim, retirar a segunda.
ajustáveis em relação à altura
da roda. Por isso, esse recurso
Na maior parte das vezes, apenas seguindo es-
depende das especificações do
sas etapas a criança adquire o domínio da bike
aro da bicicleta.
e, dependendo da personalidade dela, vai de-
safiar outras formas de equilíbrio, por exemplo,
empinando a bicicleta com as rodas dianteira
ou traseira. No entanto, ela sempre vai depender
do auxílio físico e psicológico de um adulto, que
Saiba mais
inicialmente vai segurar a bicicleta pelo selim
O equilíbrio de um corpo é
para depois ir soltando quando perceber que a
observado quando a soma de
criança já tem o equilíbrio necessário para seguir
todas as forças que agem sobre
sozinha.
ele tem força resultante nula.
Para estar em equilíbrio, o obje-
O equilíbrio: balance bikes
to deve se encontrar em repou-
so ou realizando um movimen-
Existe um método que, talvez, possa ser decisi-
to na mesma direção com uma
vo na aprendizagem de uma criança – ou de um
velocidade constante. [...]
adulto – para adquirir o equilíbrio necessário.
Observe o exemplo abaixo.

Existem bicicletas sem pedais, conhecidas como


O corpo apresentado na ima-
balance bikes (em tradução livre: “bicicletas de
gem está em equilíbrio, pois as
equilíbrio”) e que lembram conceitualmente a
forças que atuam sobre ele se
draisiana. Esse modelo era essencialmente uma
anulam, ou seja, há um equi-
balance bike, apresentando o formato de bici-
líbrio entre as forças da direita
cleta mais simples que existe.
e esquerda, da mesma forma
que as forças para cima e para
Com esses modelos, a criança dá um impulso
baixo estão balanceadas.
com os pés (seja com ambos, ao mesmo tempo,
TODAMATÉRIA. Equilíbrio. Dis-
ou alternadamente) e tenta equilibrar o conjun-
ponível em: www.todamateria.
to inclinando sutilmente o corpo para um lado
com.br/equilibrio/. Aceso em: 25
ou para o outro para contrabalancear seu peso.
maio 2022.
As bicicletas sem pedais são bastante indicadas

sescsp.org.br/ead 26
para crianças abaixo dos cinco anos, fase em que
estão adquirindo a competência de equilibrar-se
e ainda têm certa dificuldade de fazer o movi-
mento de girar os pedais.

Essa capacidade, essencial para manter a pessoa


sobre a bicicleta em movimento, surge natural-
mente e é aprimorada pelo pequeno ciclista ao
longo da prática. Ele percebe que equilibrar-se
é contrabalancear os pesos do corpo no banco
da bicicleta. Ao passar para uma bicicleta maior,
com pedais, a criança já terá o mais importante,
o domínio do equilíbrio, e só precisará se acos-
tumar com o movimento de girar os pedais e a
fazer uso dos freios.

Movimento dos pedais

Como proceder em caso de crianças que já pas-


saram da idade, que tenham se acostumado
com as rodinhas ou que não tenham acesso a
uma bicicleta de equilíbrio? Ou, ainda, e se já ti-
verem chegado à adolescência ou à idade adul-
ta? Em todas essas circunstâncias, é possível
adaptar o método aplicado nas bikes de equi-
líbrio usando bicicletas comuns e utilizando-as
com pessoas de todas as idades.

Basta fazer a remoção dos pedais da bicicleta


e abaixar bastante o selim para que o aprendiz
consiga apoiar os dois pés no chão simultane-
amente. Assim ele poderá impulsioná-la com
os pés no solo e, ao mesmo tempo, apoiar-se
quando começar a perder o equilíbrio, evitando
a queda.

Do mesmo modo que com uma balance bike, o


próximo passo deve ser a aprendizagem da apli-
cação de força nos pedais para mover a bicicle-
ta e equilibrar-se ao mesmo tempo. Depois de a
criança – ou o adulto – conquistar a confiança do
equilíbrio e conseguir manter a bicicleta estável

sescsp.org.br/ead 27
por alguns metros, ela estará pronta para apren-
der a usar os pedais. Nesse momento, pedalar
passa a ser apenas uma questão de se habituar
ao movimento e à força necessária aplicada para
impulsionar o veículo.

Controle dos freios

Toda bicicleta deve ter freios obrigatoriamente,


já que se trata de um item de segurança. Deve-
-se sempre ensinar como utilizá-los ao longo do
aprendizado. Uma dica é orientar o aprendiz a
usar sempre o freio traseiro, que costuma ficar
do lado direito. Isso porque andar de bicicleta
exige adaptar-se às leis da física: a frenagem
dianteira afeta muito mais o equilíbrio do que o
freio traseiro. Se a pessoa frear de súbito com a
roda dianteira, a bicicleta vai empinar a roda tra-
seira e ela pode capotar; já com a frenagem da
roda traseira, a bike vai apenas derrapar.

Ações positivas

Há organizações, iniciativas e eventos para ensi-


nar adultos e crianças a andar de bicicleta. O pró-
prio Sesc costuma realizar atividades com esse
fim em alguns momentos. Outra opção gratuita
acontece através dos coletivos, como o Instituto
Aromeiazero e o Bike Anjo, que atuam em todo o
Brasil e em alguns outros países, ensinando pes-
soas de todas as idades a se equilibrarem numa
bicicleta e, com isso, a perderem o receio de pe-
dalar nas ruas das cidades.

Ganhando aptidão física para pedalar

Vencida a fase de aprendizagem do equilíbrio e


do domínio dos pedais e dos freios, para que o
ciclista complete seus conhecimentos de con-
dução da bicicleta e conquiste a confiança ne-
cessária, ele deve praticar o pedal em um am-
biente seguro. O indicado é que, antes de sair

sescsp.org.br/ead 28
inadvertidamente pelas ruas, ele pratique mais
em parques, praças, ciclovias ou mesmo na areia
da praia, ambientes onde estará protegido dos
carros e não terá de preocupar-se excessivamen-
te com o entorno, podendo focar no seu equilí-
brio e no prazer de andar de bicicleta e no de-
senvolvimento das demais habilidades que ela
propicia.

Regras de trânsito e segurança para bicicletas


nas ruas
Glossário
Artigo 58
A bicicleta, sendo um veículo, deve trafegar na
Nas vias urbanas e nas rurais
rua, e não na calçada, espaço de preferência do
de pista dupla, a circulação de
pedestre. Categorizada como veículo pelo Códi-
bicicletas deverá ocorrer, quan-
go de Trânsito Brasileiro (CTB), ela tem, inclusive,
do não houver ciclovia, ciclofai-
de acordo com o Artigo 58, prioridade em rela-
xa, ou acostamento, ou quando
ção aos demais veículos.
não for possível a utilização
destes, nos bordos da pista de
Conforme o Artigo 201 do CTB, os motoristas de-
rolamento, no mesmo sentido
vem ultrapassar uma bicicleta a um metro e meio
de circulação regulamentado
de distância, o que, na prática, significa mudar de
para a via, com preferência
faixa. Devem também reduzir a velocidade na
sobre os veículos automotores.
ultrapassagem. Mas essa lei é pouco conhecida.
Parágrafo único. A autoridade
E, quando conhecida, não é respeitada, depen-
de trânsito com circunscrição
dendo do bom senso dos motoristas, que nem
sobre a via poderá autorizar
sempre são cuidadosos. Por isso, seguem aqui
a circulação de bicicletas no
algumas boas dicas para aumentar a segurança
sentido contrário ao fluxo dos
e tornar os deslocamentos bem mais tranquilos.
veículos automotores, des-
de que dotado o trecho com
A escolha da rota talvez seja a principal “medida
ciclofaixa.
de segurança” no deslocamento de bicicleta. Em
(CTB Digital. Capítulo III - das
cinco passos, é possível descobrir o melhor ca-
normas gerais de circulação
minho para chegar a um determinado local de
e conduta. Disponível em:
bicicleta em uma grande cidade:
www.ctbdigital.com.br/artigo/
art58#:~:text=Nas%20vias%20
1) Comece pesquisando o mapa e buscan-
urbanas%20e%20nas,com%20
do o caminho mais curto e direto em vez de
prefer%C3%AAncia%20
pensar no caminho que costuma fazer de
sobre%20os%20ve%C3%ADcu-
carro ou de ônibus, geralmente por gran-
los. Acesso em: 25 maio 2022).
des avenidas e mais longo em quilometra-
gem.

sescsp.org.br/ead 29
2) Procure por ciclovias nesse caminho, caso
existam na sua cidade, e tente incluí-las no
trajeto. Por mais que possam ser apenas
uma simples faixa pintada no chão, trazem
mais segurança comparadas a pedalar no
meio dos carros.

3) Evite as avenidas sempre que possível.


Procure vias paralelas.

4) Identifique as subidas nesse trajeto. Às


vezes vale mais a pena dar a volta no quar-
teirão, no plano, do que encarar um trajeto
mais curto, porém de grande elevação: isso
gera um gasto maior de energia, sobretudo
logo no início do trajeto.

5) Escolha terminar a pedalada em um tre-


cho plano ou de descida para não chegar a
seu destino transpirando excessivamente.

15 pontos importantes sobre a conduta nas ruas

1. Iluminação
Nem sempre lembradas como item de seguran-
ça, as luzes da bicicleta ocupam um papel es-
sencial.

2. Capacete
Na condução segura da bicicleta, tem função de
protegê-lo, mesmo que não se pretenda fazer
manobras arriscadas ou abusar da velocidade.

3. Luvas e óculos
Não são itens imprescindíveis, mas convém usá-
-los, já que protegem as mãos em caso de queda
e os olhos contra poeira e detritos.

4. Contramão não
Há várias razões para pedalar na mão correta e to-
das elas visam à sua segurança. A seguir, outras
observações a esse respeito serão abordadas.

sescsp.org.br/ead 30
5. Afaste-se das portas
Cuidado com os carros parados, cujos motoristas
podem abrir a porta inesperadamente. Muitos
motoristas olham no retrovisor procurando o vo-
lume grande de um carro e acabam não vendo
uma bicicleta chegando, principalmente à noite.

6. Na direita, mas nem tanto


Ande sempre pela direita. Em alguns casos, pode
ser mais seguro usar a esquerda, quando a via é
de mão única, mas em pontos muito particula-
res e em raras exceções.

7. Sinalize sempre
É muito importante que os motoristas possam
prever sua trajetória, por isso sempre sinalize o
que pretende fazer usando sinais de mão.

8. Educação é uma via de mão dupla


Motoristas são bem suscetíveis a abordagens
educadas, retribuindo a gentileza caso notem
essa particularidade no ciclista.

9. Prefira ciclovias e ruas calmas


Ciclovias e ciclofaixas protegem a vida, pelo sim-
ples fato de separar os ciclistas do trânsito dos
demais veículos.

10. Calçada é para pedestres


Se precisar passar pela calçada ou atravessar na
faixa de pedestres, o Código de Trânsito Brasilei-
ro manda desmontar da bicicleta, como os mo-
tociclistas (conscientes) fazem (Art. 68 §1º).

11. Não fure o sinal


Não passe no sinal vermelho, pois pode aparecer
um carro em alta velocidade na transversal e não
haver tempo de reagir. Além de ser uma viola-
ção, os motoristas se sentem provocados.

12. Corredor de ônibus não


Em corredores de ônibus, alguns motoristas não

sescsp.org.br/ead 31
têm a menor paciência com ciclistas, porque
precisam sair da pista exclusiva para ultrapassá-
-los, e os motoristas dos carros não deixam.

13. Cuidado nas saídas à direita


Em saídas livres ou esquinas onde muitos carros
viram à direita, tome cuidado adicional.

14. Antecipe o que os motoristas farão


Sempre se adiante ao que as pessoas nos carros
podem fazer. Faça da lógica da direção defensi-
va uma regra indispensável para um ciclista.

15. Permita que os motoristas antecipem suas


ações
Não faça ziguezague, não entre em avenidas
sem olhar e não mude de pista sem sinalizar,
mesmo que o motorista mais próximo esteja
bem lá atrás.

Observações importantes

• Nunca pedale na contramão. A sensação de


segurança que isso dá é ilusória, pois quem
pode evitar o atropelamento é quem está
no veículo mais rápido e mais pesado. Se o
motorista for pego de surpresa, ele terá me-
nos tempo de reação, porque a bicicleta está
em sua direção e bem mais rápida do que
se estivessem ambos no mesmo sentido.
Em caso de colisão, o prejuízo é muito maior,
porque as duas velocidades são somadas.

Além disso, motoristas saindo de esquinas ou va-


gas de garagem vão olhar só para a direção de
onde esperam que veículos possam surgir, o que
vai provocar um choque frontal. Escolha sempre
andar no mesmo sentido dos automóveis, mes-
mo que isso lhe incomode um pouco. É bem
mais seguro.

• Outro ponto é passar longe das portas dos

sescsp.org.br/ead 32
carros estacionados, que podem abrir sem
aviso. Além de machucar com o impacto,
ainda podem atirar o ciclista na frente de
outro carro que esteja passando ao lado.

Andar sempre na faixa da direita é importante,


mas não é bom ficar muito no canto. O ideal é
ocupar a faixa, ou andar na linha do um terço
para não criar atritos desnecessários; os motoris-
tas devem mudar de faixa na ultrapassagem. Fi-
car muito no canto estimula os motoristas, sem
exceção, a passar na mesma faixa que o ciclis-
ta. E um pequeno toque no guidão é suficiente
para derrubar o ciclista.

Muito disso vai depender da cultura local e da


compreensão dos motoristas. Ao se notar que
o risco está sendo provocado propositalmente,
o melhor é abandonar a faixa. Mas não se pode
pedalar na calçada, o espaço pertence aos pe-
destres e se estará cometendo uma infração. O
ideal nessa situação é descer e empurrar a bike
ou procurar outro caminho. Deve-se ter pelos
pedestres o respeito e o cuidado que se espera
dos motoristas.

• Iluminação é um item importantíssimo se


o pedal for à noite. É importante ser visto
pelos motoristas de longe para que possam
prever sua trajetória e desviar a tempo. A luz
branca deve ser instalada na frente e verme-
lha atrás, para que saibam se o ciclista está
indo ou vindo. A luz piscando propicia que o
ciclista seja visto de longe.

• Ao pedalar nas ruas, deve-se sinalizar sem-


pre para que os motoristas saibam as inten-
ções do ciclista.

Sinalizar quando for mudar de faixa, quando for


virar em uma rua ou até mesmo quando for pa-
rar é uma ação importante. Além de o motoris-

sescsp.org.br/ead 33
ta antecipar o que o ciclista vai fazer e conseguir
prever sua trajetória, isso vai identificá-lo como
uma pessoa educada, que está pedindo licença,
levando-o provavelmente a retribuir essa educa-
ção tomando cuidado e distância, até mesmo
protegendo o ciclista dos outros carros.

• Nunca passar com o sinal vermelho. Além


do risco direto de atropelamento, alguns
motoristas veem isso como provocação e
podem criar situações de risco por puro re-
vanchismo.

Ser previsível e educado é a chave. Essas ações


funcionam pedagogicamente para ensinar os
motoristas a compreender o que o ciclista vai fa-
zer e mostrar que se pode conviver no trânsito.
Uma boa conduta indica respeito, estimulando
a difusão do bom senso e a rejeição dos estereó-
tipos inadequados sobre o ciclista.

Mecânica básica: o que é necessário saber para


não ficar na mão

Por fim, sempre existe algum receio de a bicicle-


ta nos deixar na mão no meio do caminho. Um
ponto que ajuda muito é ter a magrela sempre
revisada. A revisão feita nas oficinas serve para
detectar antecipadamente problemas que a
bike possa apresentar, em função de desgaste
de peças ou fadiga de material.

Numa revisão bem feita, além de regulagens de


câmbio e de freios e da lubrificação de partes im-
portantes, os mecânicos vão verificar desgastes na
transmissão, na caixa de direção, no movimento
central e outros itens. Podem também detectar
trincas no quadro com um exame visual detalha-
do. Por isso, é sempre importante levar a bicicleta a
uma loja de confiança com regularidade.

Ainda assim, imprevistos podem acontecer, e

sescsp.org.br/ead 34
vale a pena se preparar para lidar com eles. Um
pneu pode furar, por exemplo. Uma boa dica é
usar uma fita antifuro para reduzir a chance de
furar o pneu no caminho: uma fita de proteção
que é colocada dentro do pneu e que não deixa
o elemento perfurante chegar à câmara.

É recomendado aprender um pouquinho de


mecânica básica também. Nada muito comple-
xo: pelo menos saber recolocar a corrente no lu-
gar, dar uma regulada no freio e trocar a câma-
ra se o pneu furar. É um pouco trabalhoso, mas
nada de misterioso. Há inúmeros vídeos na inter-
net ensinando a fazer isso. Veja alguns links que
ensinam a fazer isso na seção das Referências de
pesquisa desse material. Não deixe de acessar!

Se, mesmo com todas essas dicas, ainda houver


algum receio de pedalar nas ruas, isso é natural.
Pra ajudar nessa iniciação, procurar ciclistas mais
experientes ou até mesmo grupos de pedalada
é uma boa medida.

Referências de pesquisa

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en.wikipedia.org/wiki/Balance_bicycle

Matéria sobre balance bikes: https://www.


redbull.com/br-pt/balance-bike-a-primeira-bike

Bike Anjo: https://bikeanjo.org/

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Mobilidade no Sistema Viário Principal: Volume
e Velocidade (dados sobre velocidade média
estão na página 47): http://www.cetsp.com.br/
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A bicicleta no Código de Trânsito: http://


vadebike.org/2004/08/o-que-o-codigo-de/

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15 dicas para pedalar com mais segurança nas
ruas: https://vadebike.org/2004/09/dicas-para-o-
ciclista-urbano/

Conheça as fitas antifuro e os pneus com


reforço: https://vadebike.org/2014/10/fita-
antifuro-mr-tuffy-instalacao/

Links tutoriais de manutenção

1. Regular freio: https://www.youtube.com/


watch?v=Lo7msUUTaLY

2. Regular câmbio: https://www.youtube.com/


watch?v=Wx-nqraNpjc

3. Trocar câmara furada:


1ª opção: https://www.youtube.com/
watch?v=L19SYOKwCq8
2ª opção: https://www.youtube.com/
watch?v=15UQQWcn9y4
4. Recolocar corrente: https://www.youtube.
com/watch?v=unlfYIMTy4Y

sescsp.org.br/ead 36
AULA 3: GRUPOS DE CICLISTAS - UMA REALIDADE BRASILEIRA
DO LAZER COM BICICLETA

Pedalando juntos!

Tendo visto os saberes desenvolvidos em torno


da prática do pedal individualmente, é interes-
sante entender a pedalada em grupo e como ela
pode ajudar quem está começando ou quem
quer ganhar coragem para usar mais a bike.
“Grupos de pedalada”, de modo geral, existem
desde a invenção da bicicleta. É natural que a
bicicleta promova encontros entre amigos, reu-
nindo-os para pedalar. Foi assim, inclusive, que
começaram as competições e corridas no sécu-
lo XIX. Foi também dessa forma que nasceu o
mountain-bike nos anos 1970.

Indicado para todos

Os grupos de pedal, sejam diurnos, de final de


semana ou noturnos, são uma realidade no Bra-
sil e muito procurados por iniciantes. Quem pre-
tende fazer um uso mais esportivo muitas vezes
se une a turmas de ciclistas com interesses em
comum, saindo em pedaladas coletivas. Além de
o grupo ser uma garantia da segurança, tanto
viária como em relação a assaltos, pedalar com
outras pessoas traz inúmeras vantagens.

A motivação é bem maior quando se tem aquela


turma combinando as saídas e se incentivando
a pedalar. A bicicleta reúne uma diversidade so-
cial enorme, permitindo conhecer pessoas com
outras experiências de vida, de outras faixas etá-
rias, profissões e círculos sociais. Isso enriquece
a visão de mundo e a opinião das pessoas, que
levam vidas muito diferentes umas das outras. É
um aprendizado pessoal incrível e que tem po-
tencial para melhorar o convívio social e estimu-
lar a empatia.

sescsp.org.br/ead 37
Essas pessoas também acabam te ensinando
muito sobre sua bike e sobre a pedalada em si,
desde como remendar um pneu furado até a
melhor técnica em cada situação de pedalada,
entre outras experiências.

Como sempre, é com alguém que começam


as coisas

Em São Paulo, a responsável pelo boom dos pas-


seios noturnos paulistanos tem nome e sobre-
nome: Renata Falzoni. Ela começou a usar a bike
como transporte em 1976 e, na volta da faculda-
de, passeava pedalando pela cidade à noite, an-
tes de ir para casa.

Nos anos 1980, começou a fazer isso com amigos.


E, em 1989, as pessoas descobriram, em uma en-
trevista de rádio, que ela fazia esses passeios e
começaram a se juntar às pedaladas. Nascia ali
o Night Biker’s Club do Brasil, que serviu de refe-
rência e inspiração para a criação de muitos ou-
tros grupos pela cidade.

Troca de experiências

A maior parte dos saberes desenvolvidos com


a prática do pedal em grupo é absorvida prag-
maticamente, isto é, vendo os outros fazerem e
experimentando junto com eles as técnicas. Em
termos de atitude, a pessoa desenvolve a prática
da autonomia. Suas escolhas, por exemplo, do
que levar num trajeto quando estiver sozinha de
bicicleta pelas ruas advém da troca de experiên-
cias. As habilidades individuais propiciadas são
diversas e, de modo geral, a pessoa se sentirá
mais forte e capaz para usar a bicicleta em situ-
ações fora dos grupos, como em deslocamentos
rotineiros, sabendo como agir em cada situação
com a experiência que adquiriu com os colegas.

Esse foi o caminho, por exemplo, trilhado por Lí-

sescsp.org.br/ead 38
via Suarez, uma estudante de Letras da UFBA,
que em 2015, juntamente com mais duas cole-
gas estudantes, criou o La Frida Bike Café, um
projeto itinerante que circulava no câmpus da
universidade levando cultura, café e ideias sobre
o pedal. Participando de outros eventos, como o
Bicicultura, elas notaram uma característica que
alarmou o grupo:

[...] elas eram as únicas mulheres negras par-


ticipando de atividades como aquela. Somou-
-se com as lembranças de outras mulheres
querendo aprender a andar de bicicleta e
pronto: nasceu o segundo projeto do La Frida.
Batizado de “Preta, vem de Bike!”, a iniciativa
já ensinou mais de 150 mulheres a pedalar
por todo o Brasil. (Fonte: Correio 24h. Dispo-
nível em: https://www.correio24horas.com.br/
noticia/nid/bike-preta-coletivo-de-mulheres-
-negras-cria-centro-cultural-que-ensina-ate-
-mecanica/. Acesso em: 26 jul. 2022.)

Como são as pedaladas em grupo

As pedaladas em grupo podem variar quanto ao


dia, horário, percurso, intensidade e roteiro. Algu-
mas saem à noite, durante a semana nas cida-
des; outras saem aos finais de semana e podem
fazer trajetos também em trilhas ou estradas.

Há saídas específicas para iniciantes irem pe-


gando o jeito e melhorando o desempenho, com
trajetos que levam cerca de uma hora e entre 10
e 20 quilômetros.

Essas saídas para iniciantes são justamente uma


forma de receber bem e incentivar quem está
começando, passar dicas, ajudar a conhecer me-
lhor a bicicleta e a se integrar com ciclistas mais
experientes. Os requisitos costumam ser ape-
nas ter uma bicicleta com marchas e usar, como
equipamento, pelo menos capacete e luvas.

sescsp.org.br/ead 39
Se a pedalada for noturna, é importante tam-
bém ter iluminação na bicicleta, para ser visto
por quem dirige, adotando sempre o padrão do
trânsito: luz branca na frente, para os motoristas
saberem que o ciclista está chegando, e verme-
lha atrás, indicando que o ciclista está indo no
mesmo sentido que eles.

De onde saem e como se organizam

Os pontos de saída costumam ser combinados


pela internet, porque os percursos podem variar
bastante. A distância a ser percorrida e a intensi-
dade do passeio – leve, moderada ou avançada –,
também são divulgadas antes.

Para quem deseja começar e ainda não conhece


nenhum grupo, um bom caminho é perguntar
sobre a existência de algum deles em uma loja
especializada em comércio e manutenção de
bikes; se eles não tiverem um passeio próprio,
sempre terão alguma turma para indicar próxi-
ma do bairro.

Conforme visto até aqui, pedalar pelas ruas é


algo que permite ver a cidade em outra escala,
em outro ritmo, em imersão. Em um desloca-
mento tradicional na cidade, se está dentro dela,
fazendo parte das ruas. Com isso, desenvolve-se
um novo olhar sobre os lugares do seu cotidiano
e aprende-se a conhecer mais e de uma forma
mais afetiva a sua cidade.

Estatísticas sobre grupos de ciclistas

Podemos ver, a partir dos dados de dois estados


brasileiros, o perfil de comportamento dos gru-
pos de maneira regionalizada. Os dados foram
coletados pela Associação dos Ciclistas Urbanos
de São Paulo, a Ciclocidade, em parceria com o
Sesc Santo André e o Bike é Legal.

sescsp.org.br/ead 40
A pesquisa “Grupos de Pedal na Grande São
Referências de pesquisa Paulo”, um levantamento inédito sobre este
recorte da cultura da bicicleta na cidade, tem
Saia na Noite por objetivo explorar esse universo cultural,
No link a seguir, veja as entre- identificando características, mas também
vistas com participantes de o perfil, o comportamento, a relação com a
grupos de pedalada e com a bicicleta e a opinião de quem participa des-
guia do grupo feito por e para ses encontros periódicos de pedal. (Fonte:
mulheres, com sua idealiza- CICLOCIDADE Associação dos Ciclistas Urba-
dora, Teresa D’Aprile, partici- nos de São Paulo. Pesquisa Grupos de Pedal
pando ativamente do alto dos na Grande São Paulo – Relatório completo.
seus mais de 70 anos. 20/10/2017. Disponível em: https://www.cicloci-
Disponível em: https://vadebi- dade.org.br/noticias/pesquisa-grupos-de-pe-
ke.org/2017/10/saia-na-noite- dal-na-grande-sao-paulo-relatorio-completo/.
-pedalada-feminina-mulhe- Acesso em: 26 jul. 2022.)
res-ciclistas/. Acesso em: 26 jul.
2022. Em 2016 e 2017, foram realizadas pesquisas com
grupos de pedal na Grande São Paulo e na Re-
La Frida Bike gião Metropolitana do Rio de Janeiro. Os resul-
O movimento La Frida Bike tados mostraram algumas diferenças entre os
foi idealizado por cicloativis- grupos, de acordo com a região:
tas negras. Esse coletivo tem
como princípio “repensar his- Enquanto no Rio de Janeiro metade dos grupos
toricamente as construções sai com até 15 participantes por pedalada, na
das cidades em suas propor- região do Grande ABC 30% dos passeios saem
ções espaciais segregacionis- com mais de 100 pessoas.
tas sociorraciais”, em que os
centros urbanos são pensados Os paulistas fazem dois terços dos passeios du-
em função do monopólio rante a semana; já no Rio, mais da metade acon-
dos recursos e as políticas de tece aos finais de semana.
mobilidade feminina, aumen-
tando as desigualdades e pri- Os fluminenses fazem passeios mais longos:
vações de acesso, negando-se mais da metade das saídas supera os 50 quilô-
direitos e recursos básicos. metros de distância e tem mais de 3 horas de
Disponível em: https://www. duração; já em São Paulo a maioria das pedala-
lafridabike.com/. Acesso em: das fica entre 20 e 50 quilômetros de distância e
26 jul. 2022. tem até 3 horas de duração.

Pedala Itaquera Existem as pedaladas mais leves: 14% das saídas


Esse é um grupo da periferia em São Paulo e 15% das realizadas no Rio têm
localizado na zona leste da menos de 20 quilômetros de distância a serem
percorridos. Além disso, 21% das pedaladas flu-

sescsp.org.br/ead 41
minenses e cerca de 26% das realizadas por pau-
cidade de São Paulo e agrega listas foram classificadas como de nível fácil pe-
participantes de uma camada los organizadores.
social e cultural bem diversa
do eixo Pinheiros-Vila Mariana Por fim, é perfeitamente compreensível consi-
(seu representante é Sergio derar que se divertir sozinho é ótimo, mas ine-
Teles de Lima). Disponível em: gavelmente em grupo pode ser ainda melhor!
https://www.instagram.com/ Os grupos são incentivadores naturais da prática
pedalaitaqueraoficial/. Acesso esportiva, do lazer, da sociabilização, do aprendi-
em: 26 jul. 2022. zado, da autonomia e da convivência mais har-
moniosa em sociedade. Se a bicicleta mudou
Renata Falzoni e a origem a vida de alguém em particular, o contato com
dos passeios noturnos em outros ciclistas ensina a ser uma pessoa mais ob-
São Paulo servadora dos fatos que acontecem ao seu redor.
Disponível em: https://bikeele-
gal.com/a-origem-do-primei-
ro-grupo-de-pedal-noturno-
-no-brasil/. Acesso em: 26 jul.
2022.

Relatórios e pesquisas de gru-


po de pedal
Disponível em: https://www.
ciclocidade.org.br/noticias/
973-pesquisa-grupos-de-pe-
dal-na-grande-sao-paulo-rela-
torio-completo. Acesso em: 26
jul. 2022.
Disponível em: http://trans-
porteativo.org.br/contagens/
docs/gruposRMRJ.pdf. Acesso
em: 26 jul. 2022.
Disponível em: http://trans-
porteativo.org.br/ta/?p=10352.
Acesso em: 26 jul. 2022.

sescsp.org.br/ead 42
AULA 4: AS MODALIDADES ESPORTIVAS DO PEDAL

Como visto anteriormente, a criança aprende ini-


cialmente a equilibrar-se, que é uma habilidade
motora importante no aprendizado da bicicleta.
Com a prática, equilibrar-se se torna fácil, então,
é comum desafiar essa estabilidade soltando
as mãos, por exemplo. Ao aprender a controlar
a força imposta aos pedais, o ciclista descobre
que, se ele aplicar energia além da necessária
para a bicicleta andar, ela empina. Também des-
cobre que, em velocidade, freando bruscamen-
te, o pneu traseiro desliza e, manobrando para a
esquerda ou para a direita, ele controla os movi-
mentos da bike. Mais ainda, ele empina, dá cava-
lo de pau ou, freando o pneu dianteiro, empina a
traseira da bicicleta. Nessa etapa da vida, ele dei-
xa de apenas pedalar para efetivar o que pode
ser desenvolvido como prática esportiva.
Glossário
O BMX surgiu graças à admi-
Dependendo do que o ciclista gosta de fazer,
ração de jovens norte-america-
ele pode escolher alguma entre as modalidades
nos pelo motocross. A vontade
esportivas da bicicleta existentes e mostrar que
de imitar as manobras dos
elas não se restringem apenas a competições
ídolos aliada à falta de equipa-
nem são apenas para atletas profissionais: elas
mento fez com que bicicletas
podem ser encaradas como hobby, lazer ou mé-
fossem utilizadas em pistas de
todo de condicionamento físico por qualquer
terra. Nasceu, então, o Bicycle
pessoa que se interesse.
Motocross, ou simplesmente
BMX.
Existem inúmeras modalidades de esportes so-
REDE DO ESPORTE. Ciclismo
bre pedais. Das habilidades e malabarismos do
BMX. Disponível em: rededoes-
BMX ao ciclismo extremamente técnico de veló-
porte.gov.br/pt-br/megaeven-
dromo, as variações são muitas:
tos/olimpiadas/modalidades/
ciclismo-bmx#:~:text=O%20
• ciclismo de estrada;
BMX%20surgiu%20gra%C3%A-
• ciclismo de pista;
7as%20%C3%A0,Moto%20
• mountain bike;
Cross%2C%20ou%20simples-
• BMX;
mente%20BMX. Acesso em: 26
• trial.
maio 2022.

sescsp.org.br/ead 43
Ciclismo de estrada

Tudo começa no desenvolvimento da prática


do pedal e, em seguida, no aperfeiçoamento
das habilidades adquiridas. Ao longo do tempo,
cada pessoa vai se aproximando mais ou menos
de algumas delas. Pessoas que gostam de pe-
dalar sem interrupções, quase sem mudanças
de trajeto ou de velocidade, sem fazer manobras
Para assistir nem transpor obstáculos, se integram ao “giro”,
As bicicletas de Belleville conhecido também como ciclismo de estrada.
memorial.org.br/evento/as-bici-
cletas-de-belleville/ Essa modalidade teve início em 1869, na França,
As bicicletas de Belleville é uma com um trajeto de 123 quilômetros entre Paris e
animação francesa que conta Rouen.
a história de Champion, um
menino solitário que só sente Com o tempo, surgiram provas tradicionais,
alegria quando está em cima como o Tour de France, o Giro d’Italia e a Volta
de uma bike. Ao notar sua vo- a Espanha. O objetivo é percorrer longas distân-
cação, a avó do garoto come- cias em asfalto, por isso, geralmente, é praticado
ça a treiná-lo para participar em rodovias.
da Volta da França, principal
competição ciclística do país. Há competições que duram vários dias, interca-
Durante a disputa, Champion lando períodos de descanso. Quando há provas
é sequestrado por mafiosos. em equipes, os percursos chegam a ultrapassar
Sua avó e seu cachorro Bruno duzentos quilômetros.
partem então a sua busca, indo
parar em uma megalópole O sprint: pico de aceleração
localizada além do oceano,
chamada Belleville. Dentro de uma equipe, cada ciclista tem sua
(Dir.: Sylvain Chormet. Ano: função. Basicamente, os times decidem qual
2004. Classificação: Livre. Dura- dos atletas está em melhores condições para de-
ção: 80 min.) terminada situação ou percurso.

• Ao escolher o líder, o grupo, então, cria


uma estratégia para que esse atleta seja
poupado ao longo da trajetória e consiga
dar um sprint no final e vencer. Isso é feito
de várias formas:
1. pedalando na frente do líder para que
ele fique no vácuo e sofra menos com o
vento;

sescsp.org.br/ead 44
2. buscando água, suplementos ou outros
itens no carro de apoio da equipe;
3. ou até trocando de bicicleta com o líder
em caso de problemas mecânicos.

• Esses ciclistas de apoio são conhecidos


como gregários e são fundamentais para
que o líder vença a prova, sacrificando seu
resultado individual para ajudar a equipe.

• Os atletas com aptidão desenvolvida


para subidas são conhecidos como esca-
ladores. Eles são escolhidos para vencer
as provas ou etapas que envolvam uma
altimetria mais puxada. Em uma equipe,
todos os ciclistas são importantes, tra-
balhando para vencer a competição em
conjunto.

Há ainda as provas individuais, como as de con-


trarrelógio. Nelas, são medidos os tempos indi-
viduais de cada competidor, geralmente em
percursos um pouco menores, com até 80 quilô-
metros. Os participantes são liberados um a um
em intervalos regulares, sendo proibido formar
pelotões ou aproveitar o “vácuo” de outro ciclista.
As bicicletas usadas no ciclismo de estrada são
leves, aerodinâmicas e com pneus finos para re-
duzir o atrito com o solo, já que são utilizadas em
pavimento de asfalto, sem irregularidades ou
obstáculos.

Bikes leves e de pneus finos também são usadas


no ciclismo de pista, mas com algumas diferenças.

Ciclismo de pista

O ciclismo de pista é praticado em velódromos


com bicicletas de roda fixa, sem marchas e sem
freios.

Em provas de velocidade, dois atletas dão vá-

sescsp.org.br/ead 45
rias voltas lentas até o cronômetro ser acionado,
quando então explodem em velocidade, che-
gando a mais de 70 quilômetros por hora.

Há também provas envolvendo equipes, seja re-


vezando quem fica na frente para puxar a fila,
seja “descartando” o primeiro da fila a cada volta.
A Keirin é uma prova em que uma moto puxa a
fila de ciclistas, fazendo vácuo para eles até que
estejam em determinada velocidade, saindo
então da frente para que terminem a prova em
uma disputa acelerada.

Outra modalidade da corrida de pista é a Om-


nium, uma competição que combina vários ti-
pos de prova e leva mais de um dia, exigindo o
máximo dos participantes.

O ciclismo de pista não é tão acessível, porque,


Glossário para praticá-lo, é preciso um velódromo – in-
O termo mountain, do inglês, felizmente algo raro no Brasil. Mas, havendo
significa “montanha”. Outra acesso a uma estrutura dessas e o desejo de
variação com mesmo sentido é começar no ciclismo de pista, o ideal é conhe-
o termo, em inglês, hill (colina, cer os ciclistas que frequentam o local e trocar
montanha, morro). No Brasil, informações com eles. É uma modalidade que
grande parte dos morros estão exige muito do ciclista, sendo extremamente
em cidades, ocupados pela interessante.
população, caracterizando
essa paisagem como urbana. Além disso, com provas muito bonitas, o ciclis-
Descer de bike nesse tipo de mo de pista é um dos esportes que mais distri-
morro tornou-se uma prova bui medalhas nas Olimpíadas, justamente pela
do mountain-bike: o downhill quantidade de modalidades que contempla.
urbano.
Um outro uso esportivo da bicicleta que tam-
bém está nas Olimpíadas e é um dos mais co-
(Foto do primeiro Circuito de nhecidos é o mountain-bike.
MTB de Favelas, no Rio, em
2013. Disponível em: vadebike. Mountain-bike
org/2013/03/circuito-mtb-de-
-favelas-downhill-urbano-rio/. As competições com bicicletas de montanha ou
Acesso em: 27 maio 2022.) todo terreno surgiram nos anos 1970, na Califór-
nia, e se popularizaram nas décadas seguintes.

sescsp.org.br/ead 46
No Brasil, com nossa fartura de estradas de terra,
montanhas e trilhas, é um esporte bem popular.
Essa modalidade propicia o contato permanen-
te com a natureza, adequando-se a quem gosta
de pedalar em terreno irregular e vencer obstá-
culos enquanto admira a paisagem.

Existem várias modalidades consideradas parte


do mountain-bike, sendo a principal o cross-cou-
ntry ou XCO. Ela é praticada em circuitos que
costumam ter algo em torno de 30 quilômetros,
mas que podem chegar a até 100 quilômetro-
sem algumas competições. Geralmente aconte-
ce em um circuito fechado, em que o atleta dá
mais de uma volta. Possui vários tipos de obstá-
culos, de pedras a poças de lama, com subidas
e descidas, exigindo bastante dos competidores.
Os ciclistas largam juntos, e vence quem termi-
nar a prova primeiro. Aliás, uma competição bas-
tante conhecida e que inclui o cross-country é a
Copa do Mundo de Mountain Bike.

As bicicletas utilizadas no cross-country devem


ser leves, mas as características principais são
os pneus, mais largos do que os do ciclismo de
pista e com cravos para fixar a bike nas curvas e
descidas. As bicicletas possuem suspensão pelo
menos dianteira, algumas tendo também sus-
pensão traseira, e muitas vezes os freios são a
disco, por causa do barro.

Trip Trail, Maratona ou XCM

O trip trail, Maratona ou XCM traz similaridades


com o cross-country, mas o percurso é mais lon-
go e o circuito pode levar de um local ao outro
em vez de voltar ao ponto de partida. Possui tre-
chos de trilhas, estradas de terra e pode até en-
globar um pouco de asfalto. Os percursos mais
longos são os que levam o nome de Maratona,
podendo durar de dois a três dias. O tipo de bi-
cicleta é o mesmo do cross-country. Uma das

sescsp.org.br/ead 47
competições desse tipo no Brasil é o Big Biker,
com várias etapas distribuídas ao longo do ano.
O formato trip trail exige mais resistência do ci-
clista do que explosão.

Downhill ou DH

Outra modalidade bastante praticada é o Dow-


nhill ou DH, que consiste em pistas somente de
descida, eventualmente com alguns poucos tre-
chos planos. Os percursos costumam ser bem
íngremes, curtos e rápidos; em terreno natural
ou artificial, com pedras, raízes; pontos de salto
(conhecidos como jumps); vãos que o ciclista tem
que transpor (chamados de gaps); e grandes de-
graus dos quais ele deve saltar (os drops). Os com-
petidores descem a montanha (colina ou morro)
individualmente e seus tempos são medidos.

As bicicletas precisam ter bons freios, boas sus-


pensões na dianteira e na traseira para amortecer
as quedas e serem bem resistentes para aguentar
os impactos. Por isso, são mais pesadas do que as
que se usam no cross-country. Por oferecer um
risco maior, a modalidade é praticada com capa-
cetes fechados que protegem o queixo, luvas de
dedo fechado, joelheiras, caneleiras e muitas vezes
até colete para proteção cervical. Além de habili-
dade e um pouco de coragem, o downhill deman-
da mais capacidade de explosão de quem pratica,
para disparar com agilidade morro abaixo.

Veja a descida de Felipe Fer- A Copa do Mundo de Mountain Bike também


nandes em 2014 das Escadas contempla o downhill. É uma competição tradi-
de Santos Descida das Escadas cional muito conhecida aqui no Brasil a Descida
de Santos. das Escadas de Santos, que ocorre anualmente e
Vídeo: Qualificação de Felipe tem até transmissão ao vivo em TV aberta.
Fernandes. Disponível em:
www.youtube.com/watch?- BMX
v=XdNbpNUfqtw. Acesso em:
26 jul. 2022 O BMX é uma modalidade esportiva bem dife-
rente das que foram vistas até aqui. É praticada

sescsp.org.br/ead 48
com bikes menores, de aro 20, que surgiram
imitando as motocicletas do motocross. Daí o
nome BMX: Bicycle Motocross. O BMX costu-
ma atrair um público bastante jovem, sendo
por vezes um estilo de vida, como o skate. No
Brasil, foi no começo dos anos 1980 que o BMX
explodiu, com um modelo popular lançado
pela Monark.

O BMX foi desenvolvido para quem gosta de


manobras e de mostrar sua habilidade e equi-
líbrio. Alguma das subdivisões – ou estilos – do
BMX são bastante agradáveis. Vejamos algu-
mas.

Algumas modalidades

Existem as corridas de BMX (o BMX Racing) e as


manobras de BMX (o BMX Freestyle).

A corrida acontece em um circuito parecido


com o de motocross, com obstáculos como
jumps e curvas de parede. Os competidores
largam juntos, saindo de um portão de largada
chamado gate. É preciso muita força de explo-
são e bastante técnica para superar os obstá-
culos.

Dirt Jumping

Já o Freestyle tem várias subdivisões, dependen-


do das manobras e da estrutura utilizada. O Dirt
Jumping é praticado em rampas de terra, que
podem estar em sequência.

Vert ou Vertical

O Vert – ou Vertical – também é praticado em


rampas, mas com formato em U, os chamados
half-pipes. As manobras são feitas nas bordas
da rampa, com grandes saltos em que os atletas
mostram toda sua habilidade.

sescsp.org.br/ead 49
Street

O Street é praticado nas ruas de forma pareci-


da com o skate, usando obstáculos encontrados
nas cidades, como escadas, corrimãos, bancos e
paredes.

Park

O Park lembra o Street, mas é praticado em cir-


cuitos fechados, que podem ser bikeparks ou
mesmo skateparks, em pistas montadas com di-
versos obstáculos, como rampas, bancadas, mu-
ros, corrimãos, paredes e até half-pipes.

Flatland

E, por fim, o Flatland, que é um estilo de BMX


sem obstáculos, usando apenas a própria bicicle-
ta para fazer as manobras. As bikes de Flatland
são um pouco diferentes, tanto na geometria
quanto nos componentes, para facilitar as rota-
ções e acrobacias.

Trial

Por último, outra modalidade muito interessan-


te do ciclismo, que também envolve obstáculos,
é o Trial, em que os competidores devem trans-
Glossário por obstáculos como cavaletes, troncos, pedras,
Grip latões, muros e até carros. Além de passar por
Termo em inglês que, no ciclis- tudo isso, os ciclistas não podem tocar o chão ou
mo, refere-se à manopla (em- os obstáculos com o corpo, porque perdem pon-
borrachamento das pontas do tos a cada vez que isso acontece.
guidão da bicicleta nos quais as
mãos se fixam para dar firmeza A bicicleta é bem diferente: o quadro é peque-
à pegada do ciclista). Significa no e reforçado, geralmente sem selim, com o
também “firmeza”. Dai referir- movimento central bem alto, protetor na coroa,
-se, no Trial, à fixidez promovida freios a disco hidráulicos e pneus mais vazios
pela borracha do pneu traseiro para aumentar o grip – principalmente o trasei-
da bicicleta. ro, que é mais largo e feito com borracha mais
mole.

sescsp.org.br/ead 50
A seguir, é possível conferir alguns links para
orientar sua pesquisa. Além de todas essas mo-
dalidades esportivas, há mais um tipo de uso
da bicicleta que é bem interessante para quem
gosta de visitar novos lugares, admirar belas pai-
sagens, conhecer cidades e pessoas diferentes,
tudo isso em pedaladas com longas distâncias,
mas pouca pressa: o cicloturismo.

Referências de pesquisa

Entenda o trabalho de equipe no ciclismo de


estrada http://globoesporte.globo.com/eu-atle-
ta/treinos/noticia/2014/03/entenda-um-pouco-
-mais-do-ciclismo-de-estrada-e-do-trabalho-
-em-equipe.html

Dicionário Olímpico: Ciclismo de Estrada


http://www.dicionarioolimpico.com.br/ciclismo-
-de-estrada

Ciclismo de Estrada na Wikipedia


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclismo_de_estra-
da

Modalidades do Mountain-Bike
https://www.trilhaseaventuras.com.br/modalida-
des-mountain-bike/

Big Biker
http://www.bigbiker.com.br/

Descida das Escadas de Santos


https://www.santos.sp.gov.br/?q=portal/descida-
-das-escadas-de-santos

BMX
https://infobike.com.br/bmx/

BMX Race
http://www.dicionarioolimpico.com.br/ciclismo-
-bmx

sescsp.org.br/ead 51
O que é BMX?
https://www.youtube.com/watch?v=kz144-BK-
FLk

BMX Flatland
https://ateondedeuprairdebicicleta.com.br/co-
nheca-modalidade-bmx-flatland/

Como funcionam as provas de ciclismo de pista


http://vadebike.org/2016/08/ciclismo-de-pista-
-velodromo-olimpiadas-rio-2016/

Bike Trial por Edu Capivara


https://www.youtube.com/watch?v=0csO8V-
fw5NQ

Como é uma bicicleta de Bike Trial


https://www.youtube.com/watch?v=fg6QVhK-
FDs4

sescsp.org.br/ead 52
AULA 5: CICLOTURISMO

Viajando no pedal
Glossário
A expressão cicloturismo é Uma prática muito instigante e enriquecedora
empregada, de modo geral, é o cicloturismo, que se refere especificamente
para referir-se a viagens feitas a viagens feitas com a bicicleta, seja no campo
com bicicletas em uma cidade, ou na cidade. Mesmo os passeios de um único
de uma cidade para outra, de dia, sem pernoites, que não necessitam de tanto
um estado para outro estado planejamento em relação à bagagem ou equi-
ou para outro país. Esse tipo pamento, também se encaixam nessa nossa de-
de deslocamento tem du- finição.
ração variável, de um dia ou
vários, exigindo planejamento A seguir, vejamos alguns pontos a que o ciclista
de roteiro e uma organização precisa se ater para experimentar, com autono-
criteriosa de bagagem e equi- mia, sua viagem de bicicleta, seja ela de um dia,
pamentos na preparação do uma semana ou um ano, seja no Brasil ou no ex-
programa, isto é, antes do início terior, em ambientes com estrutura ou em luga-
da viagem. res mais inóspitos.

Vamos viajar?

Por que viajar de bicicleta?

Uma viagem de cicloturismo propicia muitos


benefícios pessoais. Essa experiência, além de
ser um desafio pessoal, possibilita exercitar a au-
tonomia e o autoconhecimento.

Não existe uma só maneira de fazer uma viagem


de bicicleta. As cicloviagens podem ser realiza-
das por uma pessoa sozinha, em dupla ou em
grupo, dependendo das condições da pessoa ou
do que ela está procurando.

• Desafio pessoal?
• Autoconhecimento?
• Quais motivações levam a uma viagem
de cicloturismo?

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A viagem solitária traz mais desafios, sendo mais
enriquecedora em termos individuais: elevação
da autonomia ou produção de autoconheci-
mento.

Entretanto, viajar com outras pessoas significa


contar com ajuda, tanto para problemas mecâ-
nicos quanto para administrar o cansaço físico
e mental na estrada. Os cicloturistas se apoiam,
dividem a comida, compartilham histórias. Esse
tipo de viagem cria vínculos que podem durar
uma vida.

Aprendizados práticos

Só ou acompanhado, viajar de bicicleta propor-


ciona um aprendizado mais “técnico”, por assim
dizer. De pronto, o ciclista deve aprender a ser
minimalista, levando só o necessário, escolhen-
do bem equipamentos, roupas e ferramentas,
porque cada grama de peso conta, e o espaço é
limitado.

Também se aprende a elaborar uma programa-


ção de alimentação, consumo e armazenamen-
to de água. Aprende-se a dosar o esforço reque-
rido para não gastar toda a energia de uma vez,
Saiba Mais fazendo o planejamento adequado das paradas.
Alforje Além disso, aprende-se a escolher bem a bici-
Trata-se de um bolsa dupla, cleta e a organizar seu material, acondicionando
fechada em ambas as extre- tudo em alforjes ou bolsas na bike. Em seguida,
midades e aberta no meio (por o ciclista aprende a contemplar o mundo.
onde se dobra), formando duas
bolsas iguais para distribuir o Viajar de bicicleta é sempre uma experiência in-
peso nos dois lados. tensa. O ciclista se depara com as mais diversas
situações, tanto desafios físicos e psicológicos
quanto situações positivas e memoráveis.

Os imprevistos fazem parte da experiência

Por mais que se planeje a viagem minuciosa-


mente, os imprevistos podem aparecer a qual-

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quer momento: uma chuva torrencial, um ani-
mal no meio da mata, uma pessoa que precisa
de ajuda, a vontade de ficar mais tempo num
local ou ponto turístico, uma mudança de rumo
que leve a conhecer uma localidade diferente da
planejada, seja por um erro de rota ou até um
encontro com outro ciclista que leve para novos
caminhos e experiências. É importante atentar-
-se para o que pode trazer complicações, mas
manter-se aberto para os improvisos positivos,
transformando-os em oportunidades.

Cada cicloviagem muda um pouquinho a pes-


soa. Faz compreender melhor os limites e poten-
cialidades do próprio corpo e a si próprio.

Planejando a cicloviagem

O que um ciclista precisa para começar sua pri-


meira viagem de cicloturismo? Primeiro ele vai
precisar decidir como quer fazer essa viagem:

• Vai com algum amigo mais experiente?


• Vai buscar um grupo que esteja de via-
gem marcada?
• Vai procurar uma empresa que forneça
essa experiência?
• Ou pretende começar sozinho mesmo,
encarando o desafio de cabeça erguida?

Em qualquer um dos casos, é importantíssimo


fazer uma revisão completa na bicicleta para re-
duzir as chances de ela deixar o ciclista na mão
pelo caminho.

É importante precaver-se, levando pelo menos


as ferramentas básicas:

• bomba de ar;
• câmara de ar reserva;
• kit de remendo;
• chaves para abrir a corrente e para todos

sescsp.org.br/ead 55
os parafusos da sua bicicleta, allen ou tra-
dicionais;
• lacres de plástico (enforca-gato) e um
pouco de arame.

Esses itens podem ajudar em caso de alguma


coisa inesperada acontecer pelo caminho. Um
item muito útil é o elástico com ganchos nas
pontas, chamado de aranha.

Outra lembrança muito importante é que tudo


que o ciclista levar deve caber na mochila ou em
bolsas. Quanto mais pesado o conjunto, maior o
esforço para pedalar. Por isso, deve-se ficar aten-
to para o fato de que o peso e o volume de cada
item fazem parte do planejamento.

O ciclista pode colocar tudo numa mochila gran-


de, mas o peso vai cansar bastante as suas costas
ao longo do caminho, podendo até deixá-lo com
dores.

É recomendado instalar bagageiros na bicicle-


ta, para poder levar tudo isso em alforjes. Geral-
mente, um bagageiro traseiro com um alforje
grande de cada lado é suficiente para levar tudo.
Caso haja necessidade de mais espaço, pode-se
instalar um bagageiro dianteiro também, com
alforjes um pouco menores.

Água e comida talvez sejam os itens mais impor-


tantes. Deve-se planejar bem onde acomodá-los
e a duração do seu tempo de consumo, já que
são de reposição diária. Recomenda-se levar uns
dois litros de água, considerando o tempo para
chegar em algum lugar onde possa reabastecer
as garrafas. Quanto à comida, é importante levar
alimentos salgados, e não apenas doces.

Os itens de higiene pessoal, como um desodo-


rante, escova e pasta de dente, sabonete, itens
de barbear ou absorventes, devem ocupar pou-

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co espaço. E é sempre bom ter um rolo de papel
higiênico na bagagem por precaução. Uma dica
é tirar o tubo de papelão em que as folhas são
enroladas para reduzir um pouco o volume.

Também é interessante levar uma toalha peque-


na, que ocupe o mínimo possível de espaço, e
protetor solar.

As roupas costumam ocupar o maior espaço na


bagagem. Um meio econômico de organizar
esse volume é começar colocando em cima da
cama toda a roupa que pensou em levar. Em se-
guida, é importante avaliar:

• Essas peças são mais leves, mais ade-


quadas à transpiração?
• Quais ocupam menos espaço? Deve-se
pensar em quais usar a cada dia e selecio-
nar o mínimo necessário para levar.
• Dar pouca consideração à vaidade e le-
var o mínimo possível de roupas para não
se cansar demais com peso desnecessá-
rio.

Tenha em mente que existe a possibilidade tam-


bém de, se necessário, comprar uma peça de
roupa barata pelo caminho. Sacos plásticos po-
dem ser usados para proteger as roupas da chu-
va, para guardar roupa suja e para não deixar lixo
pelo caminho.

Todo lixo que for produzido deve ser carregado


até um local adequado para descarte. É impres-
cindível ser consciente! Além de poluir estradas,
matas e rios, o lixo jogado pelo caminho pode
ser engolido por animais silvestres, que podem
morrer por conta disso.

Documentos, carteirinha do plano de saúde ou


do SUS, informações sobre tipo sanguíneo e tele-
fones para ligar em caso de emergência devem

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sempre fazer parte da bagagem. Se o destino for
o exterior, é recomendado fazer um seguro-via-
gem.

Levar dinheiro em espécie também é uma dica:


não é uma boa ideia confiar apenas no cartão,
pois pode-se precisar comprar algo em um lu-
gar que não o aceite.

Ter um mapa impresso da região que o ciclista


vai explorar também é muito importante. Não
confie só no mapa do celular, porque ele pode
ficar sem bateria, sem sinal ou ser danificado.
Como a impressão de um mapa de papel pode
borrar caso ele seja molhado, pode-se colocá-lo
dentro de um plástico transparente.

Por último, é muito importante que, antes de co-


meçar a cicloviagem, o ciclista faça um check-up
médico e visite o dentista, principalmente se for
ficar muitos dias na estrada. Afinal, não só a bike
deve estar em perfeitas condições, mas a saúde
da pessoa que vai conduzi-la também.

Opções para fazer cicloturismo

Em uma viagem de mais de um dia, surge aque-


la dúvida. Onde dormir? E a resposta para isso é
que existem diferentes opções. É possível dividir
as cicloviagens em duas categorias quanto ao
custo e à autonomia:

• A cicloviagem roots, com menos custos.


• A cicloviagem confortável, que implica
mais gastos.

Viagem roots

Nesse caso, o ciclista se prepara pra acampar.


Leva fogareiro, uma barraca pequena e comi-
da para preparar na estrada, gastando pouco e
sem precisar de apoio. Pode-se tanto acampar

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no meio do mato como em um cantinho de um
posto de gasolina ou de algum outro estabele-
cimento no caminho. Isso não é difícil de con-
seguir: normalmente as pessoas acolhem com
facilidade quem está viajando de bicicleta.

Viagem confortável

Nessa opção, o ciclista come em restaurantes e


dorme em pousadas ou hotéis, gastando um
pouco mais para ter essa comodidade. Se tiver
uma programação bem definida, pode fazer as
reservas de hospedagem com antecedência para
evitar imprevistos, embora isso engesse um pou-
co a agenda. Em cidades ou regiões turísticas,
principalmente em épocas de alta temporada, é
sempre bom fazer reserva antecipadamente.

Mesclando conforto e desafio

Também é possível programar um pouco de


cada tipo ao longo do percurso. Isso depende do
estilo de cada um, das condições financeiras e
também da duração da viagem. Viajar por um
mês dormindo toda noite em hotéis, por exem-
plo, pode ter um custo muito elevado.

Redes de apoio a cicloturistas


Saiba Mais
Warmshowers é um serviço Existe ainda outra alternativa: as redes de apoio
de troca de hospitalidade sem a cicloturistas, que oferecem uma refeição, em-
finalidade comercial para ciclo- prestam um chuveiro e até uma cama confor-
turistas em passeios de bicicle- tável a quem viaja pedalando, fazendo isso por
ta pelo mundo. A plataforma pura admiração, afinidade e para conhecer as
oferece várias dicas e assegura histórias dos cicloturistas. A mais tradicional é
que, ao receber um ciclovia- a Warmshowers, nome em inglês que signifi-
jante, os anfitriões não devem ca chuveiros quentes. Ela tem integrantes no
cobrar pela hospedagem. mundo todo, inclusive no Brasil. É interessante
Saiba mais acessando o link: inscrever-se não só para usufruir da rede, mas
br.warmshowers.org/. também para receber cicloviajantes!
Acesso em: 30 maio 2022.
Com ajuda das redes de apoio, você pode ter

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acesso ao melhor de cada lugar. Por exemplo,
aquela cachoeira escondida que só os morado-
res conhecem e que algum cicloturista já tenha
desbravado.

Existem grupos no Facebook e outros fóruns on-


-line, por exemplo, que reúnem cicloturistas de
todo país. Neles há trocas de experiências, reco-
mendações e muitas fotos e relatos inspiradores.
Há até um guia, em formato de livro eletrônico,
que reúne relatos e conselhos de cicloturistas
em relação a hospedagem em vários destinos
do país.

Viajar de bicicleta usando a força das próprias


pernas para transpor longas distâncias, com cal-
ma e tranquilidade, é uma experiência inesque-
cível. É uma viagem tanto pela estrada quanto
por dentro de si mesmo. Há tempo para refletir
sobre os rumos da vida, a relação com pessoas
próximas e distantes, sobre o momento da vida
à altura da viagem. É uma meditação em movi-
mento, de onde a pessoa volta muito melhor.

Referências de pesquisa

Vale Europeu
http://vadebike.org/2018/07/circuito-vale-euro-
peu-santa-catarina-primeira-cicloviagem-ciclo-
turismo/

Guia de Hospedagem para Cicloturistas


http://vadebike.org/2016/04/guia-de-hospeda-
gem-para-cicloturistas-no-brasil-ate-onde-deu-
-pra-ir-de-bicicleta/

As redes de hospedagem a cicloviajantes


http://vadebike.org/2014/10/cicloturismo-apoio-a-
limentacao-hospedagem-moradores-ciclistas/

Warmshowers
https://br.warmshowers.org/

sescsp.org.br/ead 60
Grupos sobre cicloturismo no Facebook
https://web.facebook.com/groups/cicloturismo-
brasil/
https://web.facebook.com/groups/cicloturismo-
br/
https://web.facebook.com/clubedecicloturismo/

sescsp.org.br/ead 61
AULA 6: ESTRUTURAS CICLOVIÁRIAS E ATUAÇÃO DA
SOCIEDADE CIVIL

Durante uma viagem e, principalmente, no dia


a dia, precisamos nos locomover dentro de cida-
des. Para isso, ruas, alamedas, avenidas, margi-
nais, estradas e rodovias são construídas a fim de
viabilizar os acessos de um ponto a outro. Sendo
a bicicleta um veículo, embora não motorizado,
ela depende dessas e de outras intervenções,
seja em perímetro urbano ou rural, para prote-
ger a vida de quem pedala. É a organização da
sociedade civil que influencia a construção e a
adaptação das cidades a essas estruturas. A fun-
ção primordial de todas elas não é apenas ga-
rantir o fluxo, mas sobretudo, e principalmente,
proteger a vida.

Ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas

Há três tipos principais de estrutura cicloviária


de circulação: ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas.

Saiba Mais
• A ciclovia é um espaço segregado, com
Compartilhamento de vias:
uma separação física isolando os ciclistas
priorizando a bicicleta
dos demais veículos.
• A ciclofaixa, por sua vez, é um espaço
As vias sinalizadas indicam a
com apenas uma pintura, eventualmente
presença e a preferência da
com tachões, sinalizando os limites.
bicicleta sobre os demais
• A ciclorrota é uma rota sinalizada por
veículos, como rege o código
placas de trânsito para bicicletas, em que,
de trânsito para todas as vias.
geralmente, há avisos para os motoristas
Portanto, o principal objetivo
sobre a presença de bicicletas e sobre sua
de uma ciclorrota é garantir o
prioridade na via.
óbvio, o direito de circulação
das bicicletas.
A diferença entre a ciclofaixa e uma ciclovia é es-
sencialmente o nível da segregação (separação
Foto: Ciclocidade.
física). Isso acaba impondo um traço distintivo
muito discreto entre os dois termos, ocasionan-
Para saber mais, acesse o link:
do, na linguagem popular, o uso do nome “ciclo-
vadebike.org/ciclorrotas/.
via” para estruturas diferentes. É uma diferença

sescsp.org.br/ead 62
técnica. O nível de segregação deve ser decidido
de acordo com as características do viário.

Uma ciclorrota deve ter elementos para acalmar


o tráfego e forçar os motoristas a reduzirem a ve-
locidade, de modo que não coloquem os ciclis-
tas em risco.

Ciclovias e ciclofaixas são estruturas de extrema


importância para proteger os ciclistas. Países em
que o uso da bicicleta está integrado ao dia a dia
das pessoas possuem uma ampla rede cicloviá-
ria, que permite que até mesmo as crianças pos-
sam ir à escola pedalando sem os pais e pratica-
mente sem riscos no viário.

Para se ter uma ideia, quando a cidade de São


Paulo iniciou a implantação massiva de ciclovias
em 2015, as mortes de ciclistas caíram 60% na ci-
dade, enquanto a quantidade de pessoas peda-
lando subiu 66%, ocorrendo um fenômeno bem
interessante: pais e mães passaram a ser vistos
pedalando com seus filhos pelas ruas, usando as
ciclofaixas e ciclovias implantadas, algo que an-
tes era raro de se ver.

Temos ainda as chamadas Ciclofaixas de Lazer,


espaços segregados (com cones) com dia e ho-
rário para funcionamento. Geralmente aconte-
cem aos domingos e feriados em grandes cida-
des brasileiras, ocupando uma faixa de avenidas
de grande circulação.

Esses espaços são um convite à população para


que se ocupe as ruas pedalando. Na capital pau-
lista, nos dez anos em que o serviço operou sem
interrupção, as Ciclofaixas de Lazer atraíam mais
de 100 mil pessoas por edição, tanto para se exer-
citar como para passear com a família.

Muitas dessas pessoas saíram às ruas pedalando


pela primeira vez nesse tipo de estrutura, desco-

sescsp.org.br/ead 63
brindo que é possível se deslocar e se exercitar
com a bicicleta e que pessoas comuns conse-
guem cobrir grandes distâncias com a magrela.
Outro benefício é que as crianças que usam esses
espaços crescem compreendendo que é possível
ir de um ponto a outro da cidade usando a bici-
cleta, em vez do carro ou do transporte público, e
o quanto isso pode ser divertido e saudável.

Segurança para todos

Essas estruturas cicloviárias não apenas prote-


gem quem está pedalando, mas também quem
está a pé e até quem está nos carros. Geralmen-
te, ao implantar uma ciclovia ou ciclofaixa numa
avenida, é necessário estreitar um pouco as fai-
xas de rolamento para os carros. E isso tem um
impacto positivo, pois atua como acalmamento
de tráfego, fazendo com que os motoristas redu-
zam naturalmente a velocidade e, com isso, com
que as colisões e atropelamentos diminuam.

Quando a faixa para circulação de bicicletas é


implantada em uma avenida, o espaço atraves-
sado pelo pedestre em que circulam os automó-
veis diminui, reduzindo a exposição ao risco de
atropelamento por automóvel.

Em outra situação, quando se substitui uma


área de estacionamento por uma ciclovia ou ci-
clofaixa, a visibilidade dos motoristas em relação
aos pedestres atravessando a via aumenta, per-
mitindo a precaução. Os pedestres passam a vi-
sualizar melhor os carros se aproximando para
planejar o momento de atravessar a via.

A substituição de espaço de estacionamento


também evita carros manobrando na via para
estacionar, algo que reduz a visão de outros
motoristas e, muitas vezes, provoca manobras
bruscas, que podem resultar em colisão e atro-
pelamento. Além de todas essas vantagens em

sescsp.org.br/ead 64
relação à segurança viária, temos outros benefí-
cios. Estrutura induz demanda, ou seja:

• Quanto mais ciclovias, mais pessoas se


sentem seguras para utilizar a bicicleta.
• São menos pessoas usando carros ou
transporte público, o que, por si só, já fa-
cilita a vida de quem continuar usando
essas alternativas.
• Além de desocupar assentos (no trans-
porte público) e espaço viário (menos car-
ros nas ruas), a poluição do ar e a poluição
sonora são reduzidas, e ainda pode refletir
na redução de mortes no trânsito.

Espaço de convivência e estímulo à


atividade física

Incentivar o uso da bicicleta melhora até mesmo


a segurança pública. Espaços ociosos, pouco fre-
quentados e abandonados pelo poder público e
pelos cidadãos têm maior índice de criminalida-
de. As ciclovias promovem ocupação do espaço
público, tornando-o espaço de convivência, e
não apenas de passagem.

Além disso, o simples fato de usar a bicicleta


como transporte afasta as pessoas do seden-
tarismo e de todos os problemas de saúde que
dele decorrem. A atividade física regular pode:

• prevenir doenças cardíacas, AVCs e hi-


pertensão;
• prevenir e controlar o diabetes;
• aumentar a resistência aeróbica;
• reduzir a obesidade;
• ativar a musculatura de todo o corpo;
• diminuir a ocorrência de doenças crônicas;
• fazer bem para a saúde do idoso e au-
mentar seu tempo de vida.

Não é necessário ser um atleta de ponta: peque-

sescsp.org.br/ead 65
nos deslocamentos de bicicleta durante a sema-
na já poderão propiciar uma saúde melhor. Isso
também tem um impacto na sociedade como
um todo, reduzindo os gastos com saúde públi-
ca e diminuindo o afastamento de trabalhado-
res por motivo de doença.

Estímulo ao comércio

Saiba Mais Ao contrário da crença popular, o comércio tam-


“Um levantamento inédito bém se beneficia dessas estruturas. Afinal, os
realizado em São Paulo mostra ciclistas também são consumidores, que pas-
o quanto as bicicletas – e as sam em baixa velocidade diante das vitrines e
ciclovias – são importantes para não exigem grandes áreas de estacionamento,
a logística de entregas em um podendo facilmente parar em frente a uma loja,
dos mais tradicionais bairros entrar e conhecer um produto ou serviço. Co-
comerciais da cidade, o Bom merciantes mais conectados com as tendências
Retiro. de mercado já desenvolvem meios de atrair o
Coordenado pela Associação público ciclista, aproveitando o fluxo de clientes
Brasileira do Setor de Bicicletas potenciais nas ciclovias.
(Aliança Bike), em conjunto
com o Laboratório de Mobi- Um estudo da Portland State University mostrou
lidade Sustentável da UFRJ que quem vai às compras de bicicleta visita as lo-
(Labmob), o trabalho utilizou jas mais vezes e, na média, consome mais. Outro
metodologia da Transporte estudo mostra que, em Melbourne, na Austrália,
Ativo para levantar informações uma vaga de carro no comércio tem uma média
como quantidade de entregas de AU$ 65 de retorno por hora. Se substituirmos
diárias, de ciclistas-trabalha- esse espaço por seis vagas de bicicletas, o retor-
dores, razões para adoção de no passa a ser de AU$ 283 por hora.
bicicletas e triciclos e o volume
de recursos envolvidos nessa Sem contar o quanto as bicicletas ajudam nas en-
atividade econômica.” (CRUZ, tregas feitas pelo próprio comércio delivery, sejam
Willian. Como as bicicletas de alimentos ou insumos para pequenas indústrias.
ajudam o comércio do Bom
Retiro, em São Paulo. Vá de Atuação da sociedade
Bike, 2 mar. 2018).
Saiba Mais em: vadebike. Apesar de todos esses benefícios, ainda há bas-
org/2018/03/bicicletas-ciclovias- tante resistência às ciclovias, muito pelo concei-
-comercio-entregas-carguei- to enraizado na nossa sociedade de que as ruas
ras-triciclos-bom-retiro/. Acesso foram feitas para os carros. Na verdade, as ruas
em: 30 maio 2022). foram criadas para circulação de pessoas, depois
de cavalos e carroças. No século XIX, passam a

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ser dominadas pelas bicicletas e, só mais recen-
temente, pelos automóveis. De modo geral, as
ruas são de todos.

Mas o que pode ser feito para melhorar a estru-


tura cicloviária das cidades?

• Primeiramente, é essencial compreen-


der que, para conseguir convencer o po-
der público a implantar ciclovias, é preciso
ter contato com nossos representantes,
como os vereadores, por exemplo.
• Depois, buscar um vereador eleito em
sua cidade e obter seu apoio. Se ele não
quiser atender ou não se interessar pela
causa, procure outros vereadores. Tendo
recebido seu voto ou não, eles estão lá
para atender aos interesses dos cidadãos.

Na hora de argumentar, ajuda muito ter núme-


ros que mostrem a importância e a necessidade
de proteção a quem pedala. Junte-se com ami-
gos e façam uma contagem de ciclistas em um
ponto onde há muito fluxo, se possível no horário
de pico, fotografando cada ciclista que passa e
montando um relatório.

Junte matérias sobre acidentes com ciclistas, para


mostrar o risco que essas pessoas correm sem a
proteção do município. A produção de vídeos
mostrando situações de risco, como ônibus dis-
putando espaço na via com ciclistas, demonstra
como uma ciclovia evitaria esse risco. Imagens e
números são argumentos fundamentais para isso.

Redigir um abaixo-assinado também traz resul-


tado.

Novos tempos

Com a pandemia de coronavírus Sars Cov-2, o


uso da bicicleta ganhou novo impulso em todo

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o mundo. Após uma fase de forte isolamento ini-
cial em várias partes do mundo, com as pessoas
evitando até mesmo se exercitar, a bike come-
çou a ser percebida como ótima opção à aglo-
meração dos transportes coletivos e como saída
para retomar aos poucos o fluxo de pessoas nas
cidades.

Em Londres, vagas de estacionamento e pistas


de circulação de automóveis se tornaram ciclo-
vias ou calçadas mais largas ao longo da crise.
Com o objetivo de aumentar em dez vezes o uso
da bicicleta na capital do Reino Unido, a mudan-
ça começou com mil novas vagas para estacio-
nar bicicletas e 30 quilômetros de ciclovias. Ou-
tra medida foi restringir a circulação de carros no
centro da cidade, para estimular o uso da bicicle-
ta e as caminhadas.

Na Itália, o governo ofereceu bônus de até 500


euros para que pessoas comprassem uma bi-
cicleta, além de ampliar calçadas e ciclovias.
Em Milão, um plano para aumentar pedaladas
e caminhadas nos deslocamentos durante as
restrições de circulação visava transformar 35
quilômetros de vias, implantando ciclovias tem-
porárias, calçadas ampliadas, limite de 30 km/h
e priorização de circulação para quem estivesse
a pé ou de bike.

Já em Berlim, as ciclovias foram ampliadas e


alargadas durante a fase de distanciamento so-
cial, passando a ter pedestais de sinalização se-
parando-as do fluxo de automóveis, uma novi-
dade na cidade alemã. Isso foi feito para atender
ao aumento no uso da bicicleta, já que muitos
cidadãos trocaram o transporte público por ela.
Houve outros exemplos de priorização da bi-
cicleta em cidades icônicas, como Nova York e
Paris, tanto em ações temporárias, devido ao iso-
lamento social causado pelo coronavírus, como
em iniciativas de infraestrutura definitiva, para

sescsp.org.br/ead 68
além da pandemia. Isso só reforça que a bicicleta
é uma forma importante de deslocamento em
grandes cidades e que infraestrutura de prote-
ção é fundamental não apenas para proteger
quem pedala, o que já seria motivo suficiente,
mas também para incentivar que as pessoas
troquem o uso do carro e do transporte público
pela bike.

Isso traz benefícios para o trânsito, para a qua-


lidade do ar, para a saúde da população e para
a cidade como um todo, que passa contar com
cidadãos mais produtivos e saudáveis. Em 2006,
em comemoração do Dia Mundial Sem Carros
em São Paulo, algo foi feito por cidadãos que
acreditavam na seguinte ideia:

Um grito pode começar uma avalanche. De-


mos nossos gritos nesse dia. Se tivermos con-
seguido mudar um pouquinho a mentalidade
de meia dúzia de pessoas, se tivermos conse-
guido plantar sementinhas de conscientiza-
ção que vão florescer apenas daqui a uma dé-
cada, todo o esforço terá valido a pena. (CRUZ,
Willian. Como foi o Dia Mundial Sem Carros
2006 em São Paulo. 27/09/2006, atualizado
em 8/05/2011. Disponível em: https://vadebike.
org/2006/09/como-foi-o-dia-sem/. Acesso em:
27 jul. 2022.)

Chegamos ao final dessa nossa incursão pelo


universo da bicicleta com uma forte certeza de
que os esforços deram resultados. Ao longo do
curso eles foram a base fundamental que permi-
tiu comprovar os diversos usos da bike:

• transporte;
• esporte;
• lazer.

Desde então, desenvolveram-se o cicloturis-


mo e uma consciência de que podemos con-

sescsp.org.br/ead 69
tribuir para a ampliação da estrutura cicloviária
nas nossas cidades. Esperamos que você tenha
aproveitado ao máximo o curso. Sempre que for
possível, vá de bike!

Referências para pesquisa

Redução de acidentes com ciclistas e aumento


do uso da bicicleta
http://vadebike.org/2016/03/queda-mortes-ciclis-
tas-2015-sao-paulo-34-60-aumento-uso/
http://vadebike.org/2015/05/aumento-uso-ciclo-
via-numero-ciclistas-contagem-faria-lima/
http://vadebike.org/2017/05/levantamento-ciclo-
via-consolacao-contagem-ciclistas-cebrap/
http://vadebike.org/2015/09/contagem-ciclistas-
-paulista-aumento-fluxo-ciclovia/
http://vadebike.org/2014/09/contagem-ciclistas-
-aumento-bicicletas-inajar-eliseu-vergueiro/
http://vadebike.org/2015/05/contagem-ciclistas-
-ciclovia-eliseu-almeida-pirajussara/
http://vadebike.org/2014/11/semelhancas-evolu-
cao-bicicleta-nova-york-sao-paulo/
https://can.org.nz/article/more-proof-that-the-
res-safety-in-numbers-for-cyclists
https://www.treehugger.com/bikes/if-you-build-
-it-they-will-come-new-study-shows-bike-lanes-
-increase-ridership.html
https://www1.nyc.gov/html/dot/downloads/pdf/
cycling-in-the-city.pdf
h t t p : //w w w. e c o - p u b l i c . c o m /p u b l i -
c2/?id=100027495
https://www1.nyc.gov/html/dot/html/bicyclists/
bikestats.shtml

19 razões para implantar ciclovias


http://vadebike.org/2014/08/por-que-apoiar-ci-
clovias/

Faixas de rolamento mais estreitas tornam o


trânsito mais seguro (em inglês)

sescsp.org.br/ead 70
https://thecityf ix.com/blog/bigger-isnt-always-
-better-narrow-traff ic-lanes-make-cities-safer-
-subha-ranjan-banerjee-ben-welle/

Ciclovias protegem também os pedestres


http://vadebike.org/2016/03/ciclovias-ciclofaixas-
-protegem-pedestres-travessia-traffic-calming/

Incentivar a bicicleta melhora a segurança pú-


blica
http://vadebike.org/2012/11/enrique-penalosa-in-
centivar-bicicleta-melhora-seguranca-publica/

Bicicleta traz dinheiro ao comércio


http://vadebike.org/2015/02/comercio-aumento-
-vendas-ciclistas-sao-paulo/

Bicicletas ajudam nas entregas dos comércios


http://vadebike.org/2018/03/bicicletas-ciclovias-
-comercio-entregas-cargueiras-triciclos-bom-
-retiro/

Ciclofaixa de Fortaleza: criada por cidadãos, ofi-


cializada pela prefeitura
http://vadebike.org/2013/08/ciclofaixa-ana-bi-
lhar-fortaleza/
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/10/28/
ciclovias-estao-proximas-de-48percent-da-po-
pulacao-de-fortaleza-aponta-levantamento.ght-
ml

Recife
http://vadebike.org/2012/09/retirada-ciclofaixa-
-recife-protesto-ciclistas/
http://dados.recife.pe.gov.br/dataset/malha-ci-
cloviaria-do-recife

Curitiba
http://vadebike.org/2013/06/pintura-ciclofaixa-bi-
cicletas-asfalto/
https://porem.net/2019/11/07/entidades-criticam-
-falta-de-transparencia-da-prefeitura-de-curiti-

sescsp.org.br/ead 71
ba-no-plano-cicloviario/

Bike e pandemia
Londres decide ampliar espaços para ciclistas e
pedestres após relaxar isolamento
https: //g1.globo.com/jornal-nacional/noti-
cia/2020/05/19/londres-decide-ampliar-espacos-
-para-ciclistas-e-pedestres-apos-relaxar-isola-
mento.ghtml

Bônus bicicleta: Itália dá até 500 euros para com-


prar uma bike
https://gooutside.com.br/bonus-bicicleta-italia-
-da-ate-500-euros-para-comprar-uma-bike/

Londres proibirá carros no centro para estimular


caminhadas e ciclismo
https: //www.uol.com.br/nossa/noticias/reu-
ters/2020/05/15/londres-proibira-carros-no-cen-
tro-para-estimular-caminhadas-e-ciclismo.htm

Milan announces ambitious scheme to reduce


car use after lockdown
https: //www.theguardian.com/world/2020/
apr/21/milan-seeks-to-prevent-post-crisis-retur-
n-of-traffic-pollution

De Blasio: NYC Aims to Open Up 100 Miles of


Streets to Pedestrians During Crisis
https://www.nbcnewyork.com/news/coronavirus/
nyc-to-open-up-40-miles-of-streets-to-pedes-
trians-aims-for-100-miles-de-blasio/2391259/

Franceses tiram ferrugem da bicicleta na saída


do confinamento
https://viagem.estadao.com.br/noticias/geral,-
f ranceses-tiram-ferrugem-da-bicicleta-na-sai-
da-do-confinamento,70003314154

sescsp.org.br/ead 72
Este material de apoio é parte do curso Ciclismo e
Lazer. A formação é gratuita e está disponível na
plataforma de educação a distância do Sesc São
Paulo: sescsp.org.br/ead

sescsp.org.br/ead

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