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RESTITUIÇÃO DE VALORES AO
ERÁRIO. EXISTÊNCIA DE BOA-FÉ NO RECEBIMENTO DAS PARCELAS INDEVIDAS. VERBA DE
NATUREZA SALARIAL, NÃO DECORRENTE DE CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA
POSTERIORMENTE REVOGADA. NÃO CABIMENTO DA RESTITUIÇÃO DE VALORES. ERRÔNEA
INTERPRETAÇÃO, MÁ APLICAÇÃO DA LEI OU ERRO POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
PRECEDENTES STJ. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. SENTENÇA MANTIDA. 1. A controvérsia nos
autos cinge-se à possibilidade da devolução de valores supostamente indevidos para fins de
ressarcimento ao erário. 2. Cumpre esclarecer, inicialmente, que não se trata o caso em
comento de verba resultante de provimento jurisdicional de caráter provisório, e, sim, de
hipótese de pagamento de verba de natureza salarial em decorrência de má aplicação da lei ou
erro por parte da Administração. 3. Narra a autora, que é servidora pública federal aposentada
e que foi notificada para repor ao erário os valores recebidos a título de auxílio
alimentação, recebidos nos períodos de licença para tratamento de saúde (processo
administrativo nº 35460.000476/2016-83). Afirma, ainda, que o INSS pretende cobrar os
valores relativos ao pagamento a maior, nos 406 dias em que ficou em licença, no período de
13/12/2011 a 05/11/2016, no total de R$ 7.327,45. Alega que apresentou recurso
administrativo, sob o argumento de que, por se tratar de verba alimentar, recebida de boa-fé
de sua parte, deve ser afastada a restituição. No entanto, o recurso foi indeferido. 4. Em que
pese haja previsão legal para o desconto de valores na folha de pagamento dos servidores
públicos, limitado a um percentual determinado, a jurisprudência é pacífica ao impedir tal
reposição ao erário nos casos de má aplicação ou interpretação errada da lei, aliada a boa-fé
dos servidores no recebimento do valor tido como indevido. 5. De ressaltar que o Superior
Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido de que não é cabível a restituição ao
erário de valores percebidos pelos servidores públicos em decorrência de erro da
Administração Pública, inadequada ou errônea interpretação da lei, desde que constatada a
boa-fé do beneficiado, pois em observância ao princípio da legítima confiança, o servidor, em
regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos pela Administração Pública,
pois gozam de presunção de legalidade. Precedentes STJ. 6. A Primeira Seção do STJ, no
julgamento do REsp 1.244.182/PB, de relatoria do Ministro Benedito Gonçalves, na sistemática
do art. 543-C do CPC, reafirmou o entendimento de que os valores pagos em decorrência de
errônea ou inadequada interpretação de lei, ou ainda de erro da Administração, não estão
sujeitos à repetição, tendo em vista a boa-fé do servidor público ou do beneficiado, que não
contribuiu para a realização do pagamento considerado indevido. Na mesma direção é o
entendimento das Turmas desta 3ª Corte Regional. 7. A sentença se encontra em consonância
com o entendimento consolidado no âmbito desta Corte Regional, no sentido de que não é
cabível a restituição de valores se estes foram recebidos de boa-fé pelo servidor e se houve
errônea interpretação, má aplicação da lei ou erro por parte da Administração Pública. 8. Deve
ser mantida a sentença que entendeu pela existência de boa-fé por parte da autora, ela não
teve influência na concessão do auxílio alimentação e, pelo que se depreende das decisões
administrativas, houve má aplicação da lei, ao deixar de observar o prazo de 24 meses previsto
para o afastamento deixar de ser considerado efetivo exercício do cargo. 9. A boa-fé é
princípio geral de direito e que se presume, já a má-fé deve ser cabalmente provada. Nesse
sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que "A presunção de
boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, sendo milenar a parêmia: a boa-fé se
presume; a má-fé se prova." (RESP 200701242518, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJE de
01/12/2014). 10. Apelação não provida.