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Amanda de Azevedo Pastori

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Antropologia Jurídica – Segundo Instrumento Avaliativo N1
Para o começo da contextualização antropológica, é preciso apresentar os antecedentes históricos da
tese, iniciando-se pelo contexto das Grandes Navegações, onde o europeu entrou em contato com povos
jamais vistos pelos mesmos ainda, com culturas distintas, os ocidentais estranharam, entretanto, houve um
grande interesse pela busca da colonização e bens naturais nativos. Após a decisão da conquista, foi
formatada uma estratégia religiosa para o avanço da colonização dos povos. No início do século XIX,
marcou-se o imperialismo, denominando a divisão de terras africanas e asiáticas, logo, potências europeias
foram a procura de territórios para a conquista, colocando os europeus em posição dominadora em relação
aos povos e culturas primitivas.
Segundo o autor Norbert Rouland, sendo ele de extrema importância para estudos e a formação de tal
disciplina, a antropologia jurídica surgiu em espaço da necessidade ao aprendizado em culturas e povos
ausentes do eixo europeu, e estabelecida como ciência, se iniciou com formas de compreensão das
formações humanas, em derivação aos estudos históricos na segunda metade do século XIX, inscrito em um
contexto marcado pela expansão imperialista, fornecido pelas escolas nacionais antropológicas e seus
campos de experimentação. Considera-se a relação entre a antropologia e o imperialismo como uma, a partir
do conceito afirmado por Max Weber, afinidade eletiva, uma vez que foi fornecido um arame de
informações para a dominação colonial da época.
Para apresentar a antropologia juntamente da dominação colonial, pode-se mencionar Robert Weaver
Shirley, que ao explicar o perfil antropológico, argumentou o colonialismo francês, no qual foi marcado por
uma dominação direta, expondo aos povos dominados a própria cultura europeia, e a expansão britânica,
marcada pelo domínio indireto da população, conservando seus costumes autênticos. Após o fluxo de
raciocínio contextualizado, Shirley afirma que a colonização de forma indireta é necessariamente melhor do
que a direta para o desenvolvimento antropológico.
Os Estados-soberanos fundaram a ideologia imperialista como uma soberania além de suas próprias
fronteiras, isto é, uma soberania expansionista. A antropologia forneceu uma legitimação, não só pela
expansão imperialista, como também para a dominação dos contextos coloniais, oferecendo a disciplina o
estudos dos chamados “povos primitivos”, sustentando a superioridade ocidental, onde outras estavam
propensas a serem dominadas, onde marcou-se o caráter etnocêntrico. A partir de registros históricos, pode-
se concluir que não-europeus eram tratados inferiormente, ademais, por serem considerados “fracos e
atrasados”, haveria uma facilidade em conquistá-los, convertendo os valores de civilizações primitivas e
homogeneizando áreas dominadas em identidades europeias.
A relação citada entre ambos os nichos apresentados refletiu na formação do campo de análise e
pesquisa da antropologia jurídica. Ao caracterizar o campo formado entre o fim do século XIX e o início do
XX, são notáveis os elementos constitutivos que formaram tal análise.
Em primeiro momento, tem-se o estudo limitado antropológico dos povos primitivos (sociedades
sem Estado), expressando o objeto atribuído ao saber, ao explicar tal ponto, considera-se a pesquisa da
antropologia descritiva e classificativa dos grupos sociais tidos como primitivos e subdesenvolvidos,
definidos assim por antropólogos. Entretanto, tal estudo entrou em crise relacionada as pesquisas científicas,
uma vez que a antropologia surgiu em contexto com outras disciplinas, inclusive próximas a elas, assim
como a sociologia, e por isso, os autores importaram-se em delimitar tais fronteiras entre as áreas, portanto,
foi especificado que os estudos antropológicos estudariam sociedades primitivas e os sociológicos, as
modernas. O conceito de população primitiva, a partir de Norbert Rouland, se tornou insustentável, pois
houve um constante desaparecimento desses povos em razão da independência e da desconstrução do olhar
etnocêntrico ocidental e, ao tal conceito se declinar, os antropólogos passaram a estudar sua própria cultura,
“invadindo” o campo sociológico, gerando a crise de delimitação entre as pesquisas.
Em segundo momento, é apresentado o etnocentrismo, que constituiu o enfoque do objeto, e, por
uma perspectiva evolucionista, baseada em uma superioridade da sociedade ocidental sobre as demais.
Embora seja complicado separar abordagens ideológicas científicas e morais, a descoberta do povo “não-
europeu”, segundo Anthony Giddens, caracterizou-se de forma interpretativa o modo que os antropólogos
enxergaram as culturas de outros povos diferentes dos ocidentais, logo, foram classificadas como
“primitivas”, estereotipando toda e qualquer abordagem histórica das sociedades dominadas. É notável que o
panorama etnocêntrico realiza uma comparação de grupos sociais, sendo os mesmos, generalizados. Tal tese
apresentou a “falha de método”, isto é, a falha das pesquisas científicas antropológicas, já que a visão das
sociedades em geral tornou-se vulnerável – Essa ideia foi designada de “antropologia de gabinete”, o
formato do etnocentrismo contaminou as pesquisas, já que se baseavam em um ponto de referência
histórico. Porém, o instrumento etnocêntrico entrou em crise, pela razão da superioridade do objetivismo
científico sobre o subjetivismo moral europeu, logo, os antropólogos reconfiguraram as pesquisas de campo,
adequando a elas, dados e análises empíricas.
Em terceiro momento, o último elemento mencionado é o saber “vocacionado”, de forma weberiana,
à gestão de populações, que formava a antropologia, não só para contextos sociais, mas também para fins
políticos para sustentar a dominação colonial europeia, onde é retratado um discurso explorador. Os estudos
antropológicos, como nas tese supracitadas anteriormente, eram direcionadas aos povos primitivos, porém,
esse estudo gerou uma “vocação” antecipada para dominar, logo, o nicho do objetivo total da antropologia
foi desviado, uma vez que estava sendo utilizada para a expansão política, e não para o estudo das
sociedades cientificas, promovendo sua crise.
A partir de discursos de Norbert Rouland, a antropologia passou a ser uma ideologia possivelmente -
pensada a partir do século XVIII, mesmo que suas originais obras contextualizaram o século XIX, porém, é
possível apresentar os aspectos fundamentais caracterizados pela perspectiva antropológica no âmbito dos
estudos sociojurídicos, que transformaram, os estudos possivelmente realizados antecedentes, para obras
importantes efetivadas em XIX.
Para contextualizar a primeira característica fundamental da abordagem antropológica, é colocado
em questão a generalização da vocação, já citada na análise anteriormente. Segundo Rouland, os estudos da
antropologia jurídica são efetivados por formatações culturais e sociais, logo, inicialmente há uma visão de
uma “vocação totalizante”, personalizada pelos aspectos comuns entre as sociedades. Com o auxílio disso,
Rouland distingue a etnografia, etnologia e antropologia jurídica, sendo elas, respectivamente, a coleta de
dados jurídicos relacionados as práticas no acervo de uma sociedade, a interpretação articulada dos níveis
desses pontos em grupos sociais e o ordenamento da cultura humana, comparando com os sistemas jurídicos
sociais referenciados.
Se baseando na segunda característica fundamental para os estudos antropológicos tem-se a
consignação de uma perspectiva vista de maneira externa da análise, apresentada na tese de Donald Black –
Sociological Justice. A tese citada apresenta os fatos jurídicos, nos quais o autor se refere como regras
lógicas, que possuem valores universais, de perspectiva geral quanto a participação de todos, marcados por
uma decisão prática, e cita também, relacionando, fatores sociológicos, especificados por grupos sociais,
onde inserem-se princípios de comportamento variáveis, de perspectiva observadora, e que, ao invés de se
objetivar em resoluções, tem como fim a explicação científica.
Em sua terceira característica fundamental, pode-se contextualizar pelo caráter zetético, sendo ele
crítico-problematizador, sendo ele explicado por Theodor Viehweg, relacionando o enfoque dogmático com
tal caráter. Ao apresentar o dogmático, o autor se baseia em ressalvar os pontos de partida que iniciam a
decisão do conflito, e, apresentando o zetético, baseia-se na tese problematizadora dos conflitos, e não em
suas decisões. Pode-se apresentar também o Tercio Sampaio Ferraz Jr, que cita a zetética como uma fonte
investigativa das disciplinas que admitem, de forma indireta, fenômenos jurídicos.
Ao apresentar a quarta característica, contextualiza-se o caráter zetético crítico-problematizador, que,
segundo Tercio Sampaio Ferraz Junior, se distingue de saberes empíricos, de forma experimental, analítica e
metafísica, e caracteriza as zetéticas empírica e analítica como para fins teóricos (puras) ou fins práticos
(aplicadas). Logo, o autor apresenta a antropologia jurídica como uma zetética empírica pura, uma vez que
retrata a experiência para uma finalidade teórica.
A sua quinta característica fundamental é consistida pela pretensão de descentramento relativamente
às categorias, valores, instituições e racionalidade ocidental. É possível considerar a antropologia como uma
ciência formatada pela alteridade, uma vez que se estuda sociedades para proporcionar mais conhecimento
para as mesmas, mesmo pautando-se pela recusa de certas culturas distintas, e isso, o antropólogo francês
Claude-Lévi-Strauss designa de expatriação. O descentramento da antropologia relacionada com os fatores
valorizados conduz a mesma para uma apresentação da crítica zetética, expressando o fundamento da crítica
a razão da sociedade
Por fim, podemos colocar em evidência a sexta característica que caracterizou a perspectiva
antropológica no âmbito dos estudos sociojurídicos, que relaciona o instrumento de vigilância
epistemológica contra o etnocentrismo. Ao afirmar que os estudos antropológicos funcionam como um
instrumento epistemológico, é inferido que os antropólogos e etnólogos não se infiltrem na ilusão da
universalização de experiências da análise do desenvolvimento do etnocentrismo, e sua importância para tal
conteúdo, logo, para construir um obstáculo epistemológico, há de vencer uma compreensão jurídica, e não
apenas sociológica, assim como eram compreendidos por formas etnocêntricas.

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