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129-144
1. INTRODUÇÃO
A avaliação é uma das temáticas recorrentes no contexto educativo por-
tuguês: ora é a avaliação dos alunos – o atual governo acaba de introduzir
neste ano alterações à legislação em vigor com o Despacho normativo n.º
1-F/2016, de 5 de abril –; ora é a avaliação de desempenho docente, que
conheceu episódios mais intensos entre 2007 e 2012; ora é a avaliação das
escolas que, desde a publicação da Lei n.º 31/2002, de 20 de dezembro, se
tem vindo a implementar quer através da avaliação externa promovida pela
Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) quer através da autoava-
liação de cada escola/agrupamento de escolas que, fruto da vontade dos
seus atores ou da obrigação legal, se tem vindo a estender por todo o país.
Neste artigo, problematiza-se a avaliação das escolas, explicitando concei-
tos e dando a conhecer o modo como um agrupamento de escolas procedeu
à implementação da autoavaliação. Deste modo, faremos em primeiro lugar
uma abordagem teórica procurando explicitar os conceitos-chave deste
trabalho: avaliação, autoavaliação e melhoria, focando-nos sobretudo na
autoavaliação. No ponto seguinte descreve-se a experiência de implemen-
tação do processo de autoavaliação num agrupamento de escolas, tendo
como ponto de partida uma ação de formação. Em conclusão referimo-
-nos à adoção de um modelo de autoavaliação inscrito numa perspetiva
do desenvolvimento e ancorado numa lógica de melhoria eficaz da escola.
Quadro 1.
Três perspetivas da avaliação (MacBeath e McGlynn, 2002)
Quadro 2.
Quatro gerações de avaliação, adaptado de Alaiz et al. (2003: 11-12)
Meta-avaliar
o
Divulgar a avaliação
o
Referencializar e interpretar
Avaliação o
Tratar e analisar os dados
o
Recolher a informação
o
Decisão
Garantir a qualidade
o
Traçar o plano
o
Iniciar o processo
1.º Iniciar o processo: Esta primeira tarefa levanta uma série de ques-
tões que é preciso definir de início, tais como: quem vai fazer o plano,
quem faz parte da equipa de planeamento da avaliação, se são docen-
tes com experiência ou simplesmente os que têm horário para isso. O
processo, para estes autores, inicia-se com quatro passos: constituição de
uma equipa; identificação e envolvimento dos diferentes atores educati-
vos; envolvimento de um amigo crítico; criação de um clima propício (ver
Quadro 3).
* Segundo Alaiz et al., o termo inglês stakeholders não se esgota na nossa tradução ‘actores educati-
vos’, uma vez que “a ideia de investimento, risco e interesse está subjacente ao termo stakeholder, mas
não necessariamente à designação ‘actores educativos’” (2003, nota de rodapé: 76).
** Alaiz et al. distinguem três formas de intervenção externa: acompanhante, amigo crítico, espe-
cialista em avaliação/consultor. Remetemos essa destrinça para (idem, 2003: 79).
2.º Traçar o plano: Esta é uma tarefa da equipa responsável que inclui
cinco atividades: elaboração das questões de avaliação em termos operacio-
nais; seleção de instrumentos e de procedimentos de recolha de dados; sele-
ção das fontes de informação; decisão sobre os processos de análise da infor-
mação; determinação e tempo para a sua implementação (Alaiz et al., 2003).
A consideração destas cinco atividades implica a elaboração de um design
de avaliação que contemple os seus procedimentos metodológicos. Para se
construir um design de avaliação, Alaiz et al. (2003) propõem cinco passos:
fazer um esboço da matriz do design; elaborar as questões de avaliação;
selecionar técnicas, instrumentos e fontes; estabelecer uma calendarização;
e completar a matriz do design.
4. DA AUTOAVALIAÇÃO À MELHORIA
Ao longo de cada sessão, seguindo uma dinâmica de formação-ação,
foram-se desenvolvendo atividades de grupo referentes a cada etapa do
processo. O grau de complexidade foi aumentando à medida que se avan-
çava na apropriação do processo de autoavaliação e na construção do refe-
rencial de avaliação. A apresentação do modelo de avaliação que a equipa
de autoavaliação elaborou manifesta a consciência de que o modelo cons-
truído assenta na perspetiva do desenvolvimento e numa lógica de pro-
cesso contínuo e sistemático de melhoria.
Deste modo, concordando que é “na mobilização dos resultados que
reside a utilidade da auto-avaliação” (Alaiz et al., 2003: 113), e perante a
consciência generalizada dos formandos de que o processo não terminava
ali, como processo que é a autoavaliação exigia passos subsequentes, ali-
cerçando-se numa conceção da autoavaliação como parte de um ciclo de
melhoria eficaz da escola (ver Figura 2).
Figura 2.
Ciclo da melhoria (Alaiz et al., 2003: 113)
Autoavaliação
Identificação de pontos fortes e
pontos fracos; resultados da melhoria;
recomendações
CONCLUSÃO
No processo de avaliação das escolas, a autoavaliação é um passo funda-
mental para se construir a melhoria do desempenho de cada organização.
O agrupamento de escolas optou pelo modelo de autoavaliação acima
apresentado, que assenta na perspetiva do desenvolvimento e se ancora
numa lógica de melhoria eficaz da escola. Esta opção trouxe novos desafios
aos seus intervenientes, nomeadamente à equipa de autoavaliação, e tem
contribuído para a apropriação de uma lógica de compromisso e de par-
tilha de responsabilidades como se constata pelos documentos entretanto
produzidos. Por outro lado, a introdução do processo de autoavaliação no
agrupamento de escolas em causa parece inscrever-se “num processo de
construção coletiva de capacidades para a melhoria” (Bolívar, 2014: 35).
Não que esta conceção estivesse explícita ao iniciar-se o processo, embora
implicitamente sempre se entendesse a implementação do processo de
autoavaliação como uma construção coletiva.