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Capítulo 22

M odelo comportamental da ansiedade


Amilton Martins dos StUitos'
l/nivcrsidtidc fínis C'ukis - Mogi d,is C'ru/cs - SJo Pdulo

A s manifestações objetivas da ansiedade são inespecíficas, e comumente es­


tão associadas a diversos estados emocionais, tais como medo, expectativa, ira, entre
outros. Essas manifestações são as reações físicas sentidas pelas pessoas, dentre algu­
mas pode-se citar: sudorese, taquicardia, tremores, calafrios, etc.
A ansiedade pode ser considerada normal ou patológica. Sendo assim, como
diferenciar um estado normal de um patológico?. Esta avaliação deve levar em conside­
ração quatro aspectos: Intensidade; Duração; Interferência; e Freqüência com a qual
ocorrem os sintomas. Caso sejam considerados desproporcionais pode-se considerar a
ansiedade patológica. Contudo, esta é uma decisão arbitrária e subjetiva de quem ava­
lia (Gentil, 1997).
Desta forma, Gentil (1997, pg.28) afirma que “somente podemos saber se al­
guém está ansioso por dedução, ou questionando e comparando sua resposta com
nossa própria experiência e conceito de ansiedade”.
De acordo com o DSM IV os transtornos de ansiedade classificados são:

1Psicólogo co laborador ilo A M HAN. Professor da U niversidade Hras ('u b a s - Mogi das C'm/.cs - Silo Paulo.

Sobre comportamento e cofiniç<lo 189


• Transtornos de pânico com agorafobia.
• Transtornos de pânico sem agorafobia.
• Transtorno obsessivo-compulsivo.
• Transtorno de estresse pós-compulsivo.
• Transtorno de estresse pós-traumático.
• Transtorno de ansiedade generalizada.
• Transtorno de ansiedade devido a uma condição módica geral.
• Transtorno de ansiedade induzida por substância.
• Transtorno de ansiedade não especificado.
• Agorafobia sem história de transtorno de pânico.
• Fobia específica.
• Fobia social.
Tanto a ansiedade quanto o medo possuem suas raízes nas reações de defesas.
Neste sentido, quando uma pessoa se defronta com uma situação de perigo, que ame­
aça seu bem-estar ou sua sobrevivência, o organismo se prepara para enfrentar ou
fugir. Quando esta ameaça é apenas potencial, ou seja, quando o indivíduo identifica a
situação como a possibilidade de receber uma punição, entende-se esta resposta como
ansiedade. Contudo quando o perigo é real, e a reação é desencadeada por estímulos
bem definidos, tem-se o medo (Graeff & Brandão, 1999).
Até aqui foi feita uma diferenciação entre a ansiedade normal e patológica, e
entre ansiedade e medo, mas como o modelo comportamental entende a ansiedade.
Para entender a ansiedade no modelo comportamental, é necessário antes dis­
cutirmos alguns aspectos centrais dentro da análise do comportamento.
Um dos pontos mais importantes no modelo comportamental ó a análise funcio­
nal. Skinner (1974) afirma que “as variáveis externas das quais o comportamento é
função dão margem ao que pode ser chamado de análise causai ou funcional. Tenta­
mos prever e controlar o comportamento de um organismo individual". Portanto, a aná­
lise funcional ó a possibilidade de se descrever quais as variáveis que estão controlando
o comportamento. Neste mesmo livro, Skinner comenta “ uma formulação adequada da
interação entre um organismo e seu ambiente deve sempre especificar três coisas: a
ocasião em que a resposta ocorre; a própria resposta; e as conseqüências reforçadoras".
Isto significa fazer a análise da tríplice contingência, que tem como pressuposto
básico a fórmula:
S R— C —
A importância da análise funcional, se caracteriza pela possibilidade de o analista
do comportamento conseguir identificar quais os estímulos que determinam a emissão
de um determinado comportamento, assim como quais as conseqüências que mantém
este comportamento.
Neste sentido, Meyer (1997), afirma que a análise funcional ó o instrumento
básico de trabalho do analista de comportamento, pois possibilita identificar as
contingên- cias que estão operando um comportamento, assim como inferir quais as
que operaram no passado. Estando com essas informações, pode-se propor ou criar
novas relações de contingências que alterem os padrões de comportamento dos indi­
víduos. "Mudanças de comportamento só se dão quando ocorrem mudanças nas con­
tingências" (Meyer, 1997 pg.32).
O comportamento das pessoas pode ser controlado pelas contingências ou por
regras. Os comportamentos controlados pelas contingências, são aqueles que estão as

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sociados ao ambiente, enquanto que os que são controlados pelas regras estão associ­
ados a regras que agem como "instrução" para o comportamento, por exemplo “é proi­
bido passar no farol vermelho".
De acordo com Guedes (1997) o comportamento de seguir regras é instalado
pela comunidade verbal, pois depende da cultura e dos valores sociais. Contudo, se os
comportamentos governados por regras só ocorrem na presença das mesmas, pode-se
concluir que as regras não ensinam para a vida, ou seja, se as conseqüências naturais
para tais comportamentos não aparecerem, eles deixarão de ser emitidos. Neste senti­
do pode-se dizer que os comportamentos governados pelas regras também dependem
das contingências.
Outro aspecto importante ó o papel das emoções no modelo comportamental.
As emoções são vistas como comportamentos encobertos, pois ocorrem sob a
pele e o único que tem acesso ao que acontece consigo, ó o próprio sujeito (Delitti e
Meyer, 1995).
Para Skinner, (1974) os sentimentos e outros estados subjetivos, não são causas
de comportamentos observáveis, mas sim comportamentos, e, portanto, devem ser ana­
lisados como tal.
Neste sentido, as emoções são vistas como conseqüências/respostas de uma
situação anterior. Portanto, a ansiedade, vista como resposta emocional, deve ser en­
tendida dentro de uma análise funcional, identificando quais as contingências que a
matóm no repertório comportamental do indivíduo.
Conhecendo-se a função do comportamento ansioso no dia-a-dia do cliente, ó
possível alterar as contingências que operaram o comportamento ansioso e com isto
promover mudança de comportamento.

Bibliografia

DELITTI, M. & MEYER, S. B. O Uso dos Encobertos na Prática da Terapia


Comportamental. In: Rangó, B. Psicoterapia Comportamental Cognitiva - Trans­
tornos Psiquiátricos. Ed PSY, Campinas SP, 1995.
GENTIL, V. Ansiedade e Transtornos Ansiosos. In: Gentil e Cols Pânico, Fobias e
Obssessões. Ed. EdUsp. SP, 1997.
GUEDES, M. L. O comportamento Governado por Regras na Prática Clínica. In: Banaco,
R. A. Sobre Comportamento e Cogniçâo. Vol. 1., Ed. Arbytes, SP, 1997.
GRAEFF, F. G. & BRANDÃO, M. L. Neurobiologia das Doenas Mentais. Ed. Lemos, SP,
1999.
MEYER, S. B. O Conceito de Análise Funcional. In: Delitti, M. Sobre o Comportamento
e Cogniçâo, Vol. 2 . Ed. Arbytes, SP, 1997.
SKINNER, B. F. Ciôncia e Compotamento Humano. Ed. Edart SP, 1974.

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