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REPUBLlCA DE ANGOLA

TRIBUNAL SUPREMO
LUANDA

ACÓRDÃO

PROC. N.o 377/2000

NO TRIBUNAL SUPREMO OS JUIZES DA CAMARA DO CÍVEL,


ADMINISTRATIVO E LABORAL ACÓRDAM, EM CONFERENCIA EM NOME
DO POVO.

x X X
JOSÉ ANTÓNIO MARIA VANDA, solteiro, de 33 anos de idade,
contramestre, natural do Soyo e residente nesta cidade, propôs e fez seguir na Sala do
Trabalho do Tribunal Provincial de Luanda, uma acção de recurso em matéria
disciplinar, contra a empresa "SCHUMBERGER OVERSEAS, S.A. com fundamento
nos factos que a seguir,se resu..rnem:

Que em 6 de Fevereiro de 1989 o autor celebrou contrato de trabalho por


tempo indeterminado com a Ré, passando a desempenhar as funções de contra-mestre e
auferindo o salário mensal de USD 550,00.

0ue-em-9--de-Setembro-de-1998,o-autor-tomou--conhecimento-da-cessação-
de relação jurídica laboral que o ligava a ré por virtude da instauração de um processo
disciplinar que lhe foi movido.

Que o referido processo disciplinar foi lhe instaurado pelo facto de em 2 de


Novembro de 1997, ter utilizado uma viatura da empresa, devidamente autorizado pelo
seu chefe imediato, a fim de resolver uma questão que se prendia com a permanência de
uma grua da empresa D.L.H. na área da empresa onde laborava.

Que ao efectuar o percurso que o conduziria a D.L.H. teve um acidente de


viação de qual resultou o capotamento da viatura com danos materiais diversos e lesões
corporais na pessoa do autor.

Que o acidente não foi intencional, tendo resultado antes do rebentamento


de um dos pneus dianteiros da viatura e verificou-se quando se encontrava na sua
actividade laboral, razão pelo qual acha o despedimento ilegal.

iYlodclo e.\clus:vo Jo C.Ci.J. - 7 !()()


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Terminou requerendo que se declare nulo o processo disciplinar e a ré
condenada a reintegra-lo no seu local de trabalho com as mesmas funções; a pagar-lhe
os salários em atraso e a indemniza-lo pelos prejuízos causados pelo acidente de
trabalho.

Juntou 18 documentos

Citado para contestar, veio a ré fazegló por excepção e por impugnação


(fls.26 a 43).
Por excepção invocou:

A ilegalidade da ré; a caducidade da acção; a ineptidão da petição inicial e o


valor da acção.

Por impugnação sustentou:

Que é verdade que o autor esteve vinculado a ré desde Fevereiro de 1985 e


até a data da extinção do vinculo laboral exercia as funções de contra- mestre. Contudo,
é falso o alegado nos restantes artigos da petição inicial, porquanto, no dia em que
ocorreu o acidente de viação, o autor, em total desrespeito pelas normas internas em
vigor na ré e sem prévia autorização do seu superior hierárquico, retirou do parque a
viatura de marca Peugeot-105 por motivos meramente pessoais e, violando as regras de
transito, conduziu a referida viatura a velocidade de 60 Km/hora, numa zona da estrada
onde não era permitido exceder-se a velocidade de 40 Km/hora.

Que por exceder o limite máximo de velocidade permitido por lei, o autor
perdeu o controlo da viatura, despistou-se e danificou-a provocando danos avaliados em
USD 4.280,00

CHAMENTO A AUTORIA E LITIGANCIA DE MÁ- FÉ

Que a ré, em cumprimento do disposto no art.o 141.0 da L.G.T. transferiu a


sua responsabilidade civil emergente de acidentes de trabalho para a ENSA, por
---,contrato-de...segurO-tituladO-peIOS-apólice...n~lAQ559~-----------------

Que como ressalta da documentação junta aos autos, encontra-se já a correr


o processo de acidente de trabalho, tendo a referida ENSA assumido integral
responsabilidade por todos os danos eventualmente sofridos pelo autor, pelo que a
dedução deste pedido mais não consubstancia do que pura má-fé do autor.

Que assim sendo requer a ré, que nos termos do disposto nos artigos 325.0 e
sgs. do C.P. Civil, o chamamento a autoria da ENSA-UE.E. e a condução do autor,
como litigante de má-fé numa indemnização não inferior a USD 1.000,00 e em multa a
favor deste Tribunal nos termos dos artigos 456.° e 457.° do c.P. Civil.

Terminou requerendo que fossem Julgados procedentes a excepções


invocadas e absolvido do pedido ou da instância, confirmando-se a sanção de
despedimento sem aviso prévio aplicada ao autor.

Ou:
Improcedente e não provado o recurso ora interposto e a ré absolvida do
pedido; procedente o incidente de chamamento a autoria da ENSA.UE.E e condenar-se
o autor como litigante de má-fé em multa e indemnização.

Juntou procuração forense e dois documentos


A fls. 51 o Mm-Juiz "a quo" ordenou que se desentranhasse e devolvesse ao
recorrente a réplica e o documento que a acompanhava, por, a seu ver no processo
laboral não ser permitido tal articulado.

De seguida foi proferido o acórdão de fls. 56 a 60 que conhecendo da


excepção de caducidade invocada pela recorrida a absolveu do pedido.

Inconformado com a decisão proferido interpôs o recorrente o recurso de


fls. 67, que foi admitido na espécie de apelação, com subida imediata e efeito
meramente devolutivo (fls. 68)

Apresentando as suas alegações (fls. 71 a 72), sintetizou-as o recorrente com

a seJuinte conclusão.
Por o acto ter sido praticado no primeiro dia útil seguinte ao termo do prazo
e com base non.05 do art.O 145.° do C.P.Civil, deverá considerar-se improcedente a
excepção de caducidade que conduziu a absolvição de recorrida e o processo prosseguir
os seus termos até final

Contra alegando, apresentou a recorrida doutas e extensas alegações, com


não menos extensas conclusões e terminou requerendo que se julgue deserto, ou em
alternativa se negue provimento ao recurso e se mantenha o acórdão recorrido.

x X X
Cumpridas as formalidades legais, subiram os autos a esta instancia, tendo o
M.o P.Oemitido douto parecer onde sustenta que se deve levar em consideração ajusto
impedimento-face-a-prova-doeumental-de-fls-:-73-apresentado-pelo-reeorrente-nos--termos--------
do n.o 4 do art.o 145 do c.P. Civil.

Correram as demais vistos legais.


Cumpre-nos agora, apreciar e decidir.

X X X
QUESTÕES PROCESSUAIS

1- A fls. 51 o M.o Juiz "a quo" ordenou o desentranhamento e devolução ao


recorrente' da réplica à contestação da recorrida, sustentando a sua decisão no facto "de
no processo laboral não ser permitido este articulado"sic.

Não se nos figura correcta a posição assumida, porquanto, quer a lei 9/81,
quer o Dec. Exec. Conj. n.o 3/92, quer a lei 22-B/92 são omissas a este respeito. Ora,
contendo estes diplomas legais a normas de procedimento, sendo consequentemente,
Improcedente e não provado o recurso ora interposto e a ré absolvida do
pedido; procedente o incidente de chamamento a autoria da ENSAU.E.E e condenar-se
o autor como litigante de má-fé em multa e indemnização.

Juntou procuração forense e dois documentos


A fis. 51 o Mm-Juiz "a quo" ordenou que se desentranhasse e devolvesse ao
recorrente a réplica e o documento que a acompanhava, por, a seu ver no processo
laboral não ser permitido tal articulado.

De seguida foi proferido o acórdão de fis. 56 a 60 que conhecendo da


excepção de caducidade invocada pela recorrida a absolveu do pedido.

Inconformado com a decisão proferido interpôs o recorrente o recurso de


fis. 67, que· foi admitido na espécie de apelação, com subida imediata e efeito
meramente devolutivo (fis. 68)

. Apresentando as suas alegações (fis. 71 a 72), sintetizou-as o recorrente com


a seiutnte conclusão.
Por o acto ter sido praticado no primeiro dia útil seguinte ao termo do prazo
e com base no n.05 do art.o 145.° do C.P. Civil, deverá considerar-se improcedente a
excepção de caducidade que conduziu a absolvição de recorrida e o processo prosseguir
os seus termos até final

Contra alegando, apresentou a recorrida doutas e extensas alegações, com


não menos extensas conclusões e terminou requerendo que se julgue deserto, ou em
alternativa se negue provimento ao recurso e se mantenha o acórdão recorrido.

x X X
Cumpridas as formalidades legais, subiram os autos a esta instancia, tendo o
M. ° P. ° emitido douto parecer onde sustenta que se deve levar em consideração a justo
---impedimento-face-a-prova-doctlmental-de-:fl~7-3-apresentado-pelo-reeorrente-nos-termos- -------
do n.O4 do art.O 145 do C.P.Civil.

Correram as demais vistos legais.


Cumpre-nos agora, apreciar e decidir.

X X X
QUESTÕES PROCESSUAIS

1- A fis. 51 o M.OJuiz "a quo" ordenou o desentranhamento e devolução ao


recorrente· da réplica à contestação da recorrida, sustentando a sua decisão no facto "de
no processo laboral não ser permitido este articulado"sic.

Não se nos figura correcta a posição assumida, porquanto, quer a lei 9/81,
quer o Dec. Exec. Conj. n.o 3/92, quer a lei 22-B/92 são omissas a este respeito. Ora,
contendo estes diplomas legais a normas de procedimento, sendo consequentemente,
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leis adjectivas e porque em um deles (Dec. Exec. Conj. 3/92) contem uma nonna
orientadora que estabelece que nos casos omissos... poder-se-à recorrer a qualquer
nonna ou principio processual do ordenamento jurídico angolano que se adapte á
especial natureza deste processo, fácil se toma concluir, que no nosso ordenamento
jurídico o diploma legal do qual o intérprete se deve socorrer, nos casos omissos é,
certamente, o Código de Processo Civil.

Ora, sendo certo que o direito de trabalho é sempre mais rigoroso nos seus
imperativos de celeridade e simplicidade processuais, também fácil se fonna a
conclusão, que a existir uma fonna processual adequado e indispensável as necessidades
da justiça social designadamente no que respeita à celeridade, simplicidade de
tramitação e imediação, seria a fonna de processo sumário regulada pelos artigos 783.°
a 792.° todos do C. P. Civil.

E é no art.o 785.° deste diploma legal que encontramos resposta sobre a


pennissão ou não do autor poder replicar, pois, o referido art.° dispõe o seguinte:

" Se for deduzida alguma excepção, pode o autor, nos cinco das
subsequentes à notificação ... responder o que se lhe oferecer, mas somente quanto a
matéria da excepção".

Confonne se observa da contestação da requerida, esta suscitou vanas


excepções sobressaindo dentre elas as de ilegitimidade e caducidade (fls. 26 e
sgs.).Sendo assim e atento ao disposto no artigo 785.° do C.P.Civil a réplica ou a
resposta a contestação (na tenninologia da lei) devia ser recebida.

Mal andou, pois, o Mm.OJuiz "a quo" ao rejeitajl.,la.


-~
x X X
2- A recorrida, ao apresentar a sua contestação (fls. 26 a 43), suscitou nela
várias excepções e um incidente de intervenção de terceiro. O Mm.o Juiz" a quo" ao
proferir a sentença conheceu da excepção de caducidade suscitada, que julgou
. .procedent~e,--correctamente,--não_conhece.LLas_Qutras_excepç.õ.es_pof_te.rem-±tcado _
prejudicadas com a solução dada a de caducidade (art.o 660.° n.O2 _1.a parte do C. P.
Civil). No entanto, em momento nenhum o M.o Juiz se pronunciou sobre o incidente de
intervenção de terceiro requerido, contrariando deste modo os comandos constantes dos
artigos 325.° a 329.° todos do c.P. Civil e que regulam o instituto do chamamento à
autoria.

Ora agindo assim praticou a omissão de um acto que a lei prescreve


susceptível de produzir uma nulidade, confonne o impõe o artigo 201.° do C. P. Civil.
Contudo, tal nulidade não será aqui conhecida por força do disposto no, artigo 202.° 2.a
parte do diploma legal já citado. Fica no entanto o alerta, para que o tribunal não se veja
confrontado com eventuais arguições de nulidades que emperram e retardam a
celeridade exigida aos processos laborais.

X X X
o OBJECTO DO RECURSO

Sustenta o recorrente nas suas alegações de recurso (fls. 71 a 72) que ao


caso" sub judice" aplica-se o art.o 14.0 da lei n.o 22-B/92 e não o artigo 63.0 da
L.G.T. Assim e porque o referido art.o 14.0 concede 20 dias ao trabalhador para
recorrer e tendo o requerimento de recurso da medida disciplinar que lhe foi
aplicada dado entrada 21 dias de pois, isto é, com um dia de atraso em relação ao
prazo estabelecido por lei, o acto devia ser praticado, condicionando-o apenas ao
pagamento de uma multa, conforme o impõe o art.o 145.0 n.o 5 do C. P. Civil.

Merece o nosso acolhimento a tese sustentada pelo recorrente.

Na verdade, a lei aplicável é efectivamente a Lei 22-B/92 e não a L.G.T. e


isto tendo em atenção ao que vai disposto no art.° 29 Lei 22-B/92 para não nos
embrenharmos em profundas considerações sobre a aplicação das leis no tempo. A ser
assim, o tempo decorrido entre a tomada de conhecimento da aplicação de medida
disciplinar (9/9/98) e a data da introdução do recurso (30/9/98) é efectivamente o de 21
dias, pois, na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia em que ocorreu o evento a
partir de qual o prazo começa a correr (art.o 279.° aI. b) do C. Civil).

Ora, tendo o recorrente introduzido em Juízo o requerimento de recurso no


primeira dia útil seguinte ao termo do prazo, isto é, com um dia de atraso, e sendo que a
validade do acto nesta circunstâncias se acha dependente do pagamento imediato da
multa a que se refere o n.o 5 do art.o 145.° do C. P. Civil, competia, pois, a secretária
judicial cobrar a multa respectiva ou, em caso de dúvida, submete-lo a despacho do Juiz
competente, para ordenar ou recusar o documento, conforme orienta o n.o 2 do art.o
166.° do C. P. Civil.

Não tendo sido cumprida essa formalidade essencial não pode ser imputada
ao recorrente qualquer responsabilidade sobre a omissão verificada.

Tal omissão, constitui, antes, uma nulidade visto que a irregularidade


praticada ~la secretaria judicial influiu decisivamente no exame da causa (art.o 201.° C.
P. Civil).
Deste modo, merece provimento o recurso ora interposto pelo recorrente,
pelo que ter-se-à de declarar nulo o acórdão recorrido.

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