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Como fazer um plano de aula

 
Se tem algo que eu aprendi no meu quinto semestre na faculdade de
Letras foi fazer plano de aula. Em pelo menos três das disciplinas,
os trabalhos finais envolviam o planejamento utilizando a estrutura
clássica Objetivos > Tópicos do Conhecimento > Cronograma de
trabalho > Formas de Mediação > Recursos > Avaliação >
Bibliografia.
Seguindo aquela ideia de sistematizar conhecimentos que andam
espalhados e fragmentados pela web, esse artigo pretende detalhar
todo o processo de elaboração de um plano de aula e algumas
variações que podem ocorrer (dependendo da teoria pedagógica do
orientador ou da universidade). No final do texto, está disponível para
download, no formato PDF, um modelo de plano de aula feito por
mim nesse semestre que passou, o qual vamos analisar ao longo
desse artigo. Após lê-lo, não deixe de dar uma olhada no Curso de
Planejamento de Ensino do Portal Cursos 24h, com ele eu aprendi
diversos detalhes adicionais que sequer foram citados pelos
professores universitários.
Para que um plano de aula?

Para quem, como eu, está iniciando sua prática pedagógica, é muito
importante ter bem claro tudo que se pretende fazer durante uma
aula. Ter um plano detalhado que registre seus objetivos, a matéria
que será trabalhada, o material utilizado, o que será feito e quanto
tempo vai levar proporciona uma organização que pode ser a
diferença entre uma aula bem sucedida ou não. Eu mesmo já achei
tudo isso uma besteira, mas percebi na prática como a falta dessa
organização pode levar ao fracasso total.

Livros sobre planos de aula

Planos de aula de Português e Literatura

Os planos da área de Letras têm uma característica em comum que


torna sua elaboração semelhante: eles costumam partir de um texto
que o professor deseja trabalhar com a turma. A partir desse texto e
dos temas que se desprendem dele, são buscados outros recursos —
como músicas, vídeos ou imagens — a fim de tornar a proposta mais
rica e atraente para os alunos.

Para exemplificar, vou usar um plano de aula que fez parte do meu
relatório de estágio. Nesse plano, o objetivo era estudar um gênero
literário com os alunos, sem, contudo, recorrer à velha história de
passar uma lista de regras referentes a um determinado gênero (por
exemplo, dizer simplesmente que o conto é uma narrativa curta
composta por introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho).

Planejamento e seleção de material

Escolhi o gênero conto por ser um tipo de texto geralmente mais


curto, leve e de rápida leitura — de nada adiantaria escolher um
texto maravilhoso porém gigante, que os alunos passariam a aula
inteira lendo. Além disso, bons contos costumam prender o leitor logo
no primeiro parágrafo, coisa extremamente importante para alunos
do ensino médio que costumam ter uma imagem negativa da leitura
como sendo “chata”.

Escolhido o gênero, lembrei do autor que todo mundo gostava no


meu tempo de escola: Luis Fernando Veríssimo. Instantaneamente
lembrei do divertidíssimo conto Grande Edgar, que está no
livro Mentiras que os Homens Contam, o qual transformamos em
peça de teatro naquela época (eu atuei como o personagem principal,
acreditem).
O próximo passo é analisar que temas podem ser abordados a partir
desse texto. Na minha interpretação, vieram à tona assuntos como
“como nos distanciamos de pessoas importantes ao longo da vida”,
“como nos tornamos ‘apenas mais um’ aos olhos da sociedade”,
“como nós mesmos não nos damos a devida importância”, etc.

Com os temas de trabalho definidos, agora é possível pesquisar


materiais alternativos (no sentido audiovisual da palavra) que
possam enriquecer a aula. Eu segui para o caminho da música, que,
por geralmente ter letras que podem ser trabalhadas como poemas,
acabam diversificando os tipos de textos trabalhados, mas nada
impedia que imagens e/ou vídeos fossem utilizados. A música que
escolhi foi Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat (música e clip
abaixo):
Com o material escolhido e definido, é hora de organizar tudo
segundo aquela clássica estrutura acadêmica. Além disso, é preciso
pensar em como desenvolver a aula a partir dessa base.

Escrevendo o plano de aula

Um plano de aula sempre começa traçando objetivos. Tais objetivos


sempre devem começar por um verbo no infinitivo e, como regra
geral, devem ter um “para que”, ou seja, a frase deve ser composta
por duas sentenças. Assim:

Objetivo = Habilidade desenvolvida + qual a razão de desenvolver


essa habilidade.

Um exemplo:

Expressar suas ideias e opiniões de forma oral e


escrita para aprimorar sua capacidade comunicativa.

Eu disse que essa é uma regra geral pois alguns objetivos envolvem
habilidades tão amplas que fica difícil (e até sem sentido) definirmos
uma motivo para elas. Por exemplo:

Compreender e interpretar o texto e a música trabalhados.


Além disso, é importante lembrar que os objetivos de um plano de
aula sempre referem-se às habilidades e competências que o
aluno deverá desenvolver. Uma dica útil: ao elaborar seus objetivos
tenha em mente a frase “Ao término da aula, o aluno deverá ser
capaz de…”
 Identificar o gênero conto.

 Compreender e interpretar o texto e a música trabalhados.


 Comparar as duas formas de abandono/distanciamento as quais o
texto e a música referem-se para dar-se conta de que o valor
individual das pessoas está cada vez menor em meio à multidão.
Existe uma briga terminológica que não acaba mais entre os
pedagogos, então alguns preferem que os objetivos
específicos sejam chamados de projeção de finalidades, mas isso
não muda a forma como devem ser escritos.
Em seguida, é hora de definir o cronograma dos trabalhos. Aqui,
basicamente, você deve escrever, de forma resumida, tudo que vai
fazer durante a aula e fazer uma estimativa de quanto tempo vai
levar cada passo. O meu ficou assim (assumindo que a aula seria de
dois períodos de 50 min. cada):
1. Apresentação da música Maior Abandonado, de Cazuza e
Frejat (5 min.).
2. Compreensão e interpretação da música de forma oral,
tentando levantar assuntos que se relacionem com o tema do
abandono/distanciamento entre pessoas, tratado no conto que
virá a seguir (20 min.).
3. Apresentação do conto Grande Edgar, assim como de seu
autor, Luis Fernando Veríssimo (5 min.).
4. Leitura silenciosa do conto (10 min.).
5. Leitura expressiva do conto pelo professor (5 min.).
6. Compreensão e interpretação do conto de forma oral,
destacando temas como “como nos distanciamos de pessoas
importantes ao longo da vida”, “como nos tornamos ‘apenas
mais um’ aos olhos da sociedade”, “como nós mesmos não
nos damos a devida importância”, etc. (25 min.).
7. Análise do conto conforme as estruturas características do
gênero (apresentação, complicação, clímax, desfecho) (15
min.).
8. Escrita de um pequeno texto que responda a pergunta “Quem
é o “maior abandonado do título da música?” (15 min.).
Terminado o cronograma, é hora de escrever a lista de Tópicos do
Conhecimento (ou, com o nome antigo, Conteúdo Programático).
Basicamente é uma lista de temas e assuntos estudados durante a
aula. Referem-se a fatos, conceitos e princípios, procedimentos,
atitudes, etc.
 Leitura, análise e interpretação do conto Grande Edgar, de Luis
Fernando Veríssimo.
 Leitura, análise e interpretação da música Maior Abandonado, de
Cazuza e Frejat.
 Gênero conto.
 Gênero letra de música.
Logo após, vem a parte mais trabalhosa do plano, que são
as Formas de Mediação (ouProcedimentos,
ou Operacionalização, ou qualquer outro nome que inventarem).
Aqui devem ser detalhados todos os passos listados no cronograma.
Escreve-se sobre ações, processos ou comportamentos que serão
propostos pelo professor durante a aula, sempre baseando-se nos
objetivos previstos.
A minha aula, por exemplo, eu separei em 3 momentos:

Primeiro Momento

Composta pela apresentação da música e por sua compreensão e


interpretação. Algumas questões orais deverão guiar a discussão, tais
como:

 O que é um “maior abandonado”, citado no título da música?


 Por que a música diz que “raspas e restos me interessam” (linhas
8 e 9), “mentiras sinceras me interessam” (linha 11)?
 O que são “mentiras sinceras”?
 Quem é o “tu” ao qual a música se refere?
 A que se refere a passagem “pequenas porções de ilusão” (linha
10)?
 Que tipo de proteção o “maior abandonado” deseja?

Segundo Momento

Apresentação do conto Grande Edgar, do livro de onde ele foi


retirado, As mentiras que os homens contam, e do autor Luis
Fernando Veríssimo. A obra pode passar de aluno em aluno para que
seja manuseada e vista mais de perto. Caso houver exemplares na
biblioteca, é importante que isso seja informado aos alunos.
Após é feita a leitura silenciosa pelos alunos e em seguida a leitura
expressiva pelo professor. A compreensão e interpretação é feita de
forma oral, guiada por questões como:

 Já lhe aconteceu situações parecidas com a do conto? De que


forma? Você esqueceu de alguém, ou alguém esqueceu quem
você era?
 Por que nos esquecemos tão facilmente dos outros?
 Por que confundimos estranhos com pessoas conhecidas?
 Por que o personagem “naturalmente” escolhe o caminho “menos
racional e recomendável, que leva à tragédia e à ruína”?
 Será que nós ou as outras pessoas são tão pouco importantes a
ponto de sermos esquecidos? Será que nós nos damos a devida
importância?
Terminada a discussão, é feita a entrega de um resumo teórico sobre
o gênero conto, com um pouco sobre sua história, principais autores
e características estruturais. O professor faz, junto com a turma, a
análise do conto Grande Edgar conforme aquelas características
(apresentação, complicação, clímax, desfecho).

Terceiro Momento

Feita a análise do gênero, faz-se a avaliação, que consiste na


elaboração de um pequeno texto que responda questões como
“Quem é o “maior abandonado do título da música?”, “Você conhece
maiores abandonados como aquele do qual a música fala?”, “O que
fazer para não virarmos maiores abandonados?”

—-

E com isso o plano de aula está praticamente feito. Faltam algumas


coisinhas como osRecursos que serão utilizados, que são aqueles
meios materiais ou humanos que fogem ao padrão de uma aula
“comum”, ou seja, ninguém vai colocar que vai usar giz e quadro
negro, mas aparelho de som, retroprojetor e outras coisas
específicas, sim:
 Aparelho de som

Finalmente chegamos ao item Avaliação, que, nas concepções mais


recentes, costuma ser definida como um “processo contínuo e global
com função de diagnosticar, acompanhar e avaliar” (daqueles textos
sem referência bibliográfica que alguns professores distribuem na
universidade). O importante é o seguinte: avaliação não é só prova.
A minha, para essa aula, ficou assim:
Levará em conta a participação do aluno nas discussões e também o
texto elaborado em aula, cujo tema permite que seja observado o
entendimento do aluno perante os conteúdos apresentados.

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