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FACULDADE MULTIVIX – CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

CURSO DE PSICOLOGIA

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO ESPECÍFICO II


CLÍNICA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

RAFAELA BASSANI GONÇALVES SECATO


10° PERÍODO

Cachoeiro de Itapemirim/ES
Dezembro de 2022
1. APRESENTAÇÃO.

O estágio específico em clínica psicológica em Terapia Cognitivo-


comportamental, realizado pelo 9º período no ano 2022/1, acontecerá
individualmente e sob supervisão da professora Giovanna C. Werneck. É de
suma importância a vivência desse estágio para os alunos, uma vez que, através
dele, vamos colocar em prática tudo que aprendemos e nossos estudos
conforme orientações de nossa supervisora. Além disso, vai possibilitar a troca
de experiências entre os alunos e agregar muito profissionalmente,
principalmente

2. DO LOCAL

O estágio acontecerá no Núcleo de Práticas Psicológicas (NPP) da Faculdade


Multivix (Campus 1), localizado à Rua Moreira, Bairro Independência, Cachoeiro
de Itapemirim – ES. O ambiente de atendimento contém três salas comuns e
uma sala lúdica voltada para o atendimento infantil. E a supervisão acontecerá
em sala de aula na mesma faculdade.

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

● Construir o conhecimento científico em Psicologia por meio de estratégias


de intervenção na Clínica Cognitivo-Comportamental;

3.2 Objetivos Específicos

● Compreender criticamente os processos relativos à intervenção e atuação


do psicólogo na Clínica Cognitivo-Comportamental, fundamentais ao
exercício da ética e da Psicologia como ciência e profissão;

● Problematizar o exercício profissional do psicólogo na clínica e sua


responsabilidade social/política/histórica no contexto da realidade
brasileira;
● Respeitar a ética na produção, implementação e divulgação de pesquisas,
trabalhos e informações na área da Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental;

● Planejar e implementar intervenções dentro da técnica e ética da Clínica


Cognitivo-Comportamental.

4. DESCRIÇÃO DOS ATENDIMENTOS E SUPERVISÕES

4.1 SEMANA 1: 01/08 a 05/08:

Aguardando redirecionamento de algum cliente. (Sem cliente).

4.2 SEMANA 2: 08/08 a 12/08:

Aguardando redirecionamento de algum cliente. (Sem cliente).

4.3 SEMANA 3: 15/08 a 19/08:

Aguardando redirecionamento de algum cliente. (Sem cliente).

4.4 SEMANA 4: 22/08 a 26/08:

Iniciei os atendimentos com um cliente novo, foi feita a anamnese com a mãe e,
posteriormente, na supervisão com a professora Giovanna, identificamos que o
meu cliente é irmão do cliente do aluno Renan. Com isso, foi solicitado a troca
para um novo cliente e, este, transferido para outra aluna.

Fiz a releitura do livro Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática de


Judith Beck (páginas 66 – 99) para conceituação do funcionamento da prática e
estrutura da terapia voltada para essa abordagem. O livro em questão relata os
processos de maneira exemplificada com casos clínicos e falas entre o terapeuta
e o cliente para melhor entendimento.

4.5 SEMANA 5: 29/08 a 02/09:

Comparecimento ao NPP para fazer solicitação de alteração do cliente.

4.6 SEMANA 6: 05/09 a 09/09:


Agendamento da nova cliente (menina, 8 anos). Nessa semana foi feita a
anamnese com a responsável pela criança, a irmã mais velha. A queixa inicial
da criança é luto devido à morte repentina da mãe. Para compreender melhor a
situação familiar da criança antes e após o falecimento da mãe, fiz a entrevista
com a irmã mais velha (24 anos) que ficou responsável pela criança pois o pai
voltou com o vício em bebidas após a perda da esposa, não tendo condições de
cuidar da menina. A irmã relata comportamentos de choro intensos e frequentes
majoritariamente na hora de dormir, agressividade (rebeldia) quando chamada
atenção da criança e falas que a deixaram preocupada como “quero morrer para
ir ficar com a mamãe”, “quando eu vou morrer para ver a mamãe?”.

Iniciei uma leitura de alguns trabalhos acerca do luto infantil para melhor
compreender o assunto, uma vez que deparar-se com a morte de quem se ama
quando não se possui recursos necessários para assimilar esse momento, como
para uma criança, é extremamente difícil. Posto isso, segundo Torres (1999, p.
119) o processo do luto na infância vai depender de diversos fatores como “[...]
a idade, a etapa do desenvolvimento em que a criança se encontra, de sua
estabilidade psicológica e emocional e da própria significação da perda, isto é,
da intensidade e diversidade dos laços afetivos”.

4.7 SEMANA 7: 12/09 a 16/09:

Nessa semana foi feito o primeiro atendimento com a criança. Por ser o primeiro
contato deixei-a à vontade para escolher o brinquedo que quisesse, porém, ela
ignorou todos os brinquedos e se sentou na poltrona da sala lúdica ao meu lado
e começou a conversar como se entendesse aquele lugar como uma adulta,
começou a conversar sobre a sua vida e contar tudo que tinha feito naquela
semana, contou da escola, de amigos, da perda da mãe, como se sentia, como
pai estava... tudo. Relatou que chorava todas as noites sentindo a falta da mãe
até dormir, mas que sabia que isso iria passar e que não queria “ficar triste para
sempre, pois precisavam seguir em frente” (ela e o pai). Após falar muito sobre
as coisas que gostava de fazer com a mãe, ela me pediu para no próximo
atendimento nós confeccionarmos uma caixinha dos sentimentos, para ela
escrever coisas que gostava de fazer e colocar dentro.
Na supervisão desta semana, a professora orientou que eu atendesse à
demanda da criança para o próximo atendimento e preparasse os materiais
necessários para confeccionarmos a caixinha.

Fiz a leitura das páginas 120-140 do livro Teoria cognitiva comportamental:


teoria e prática que fala o modelo da segunda sessão, que consiste em verificar
o humor do cliente, definindo a pauta do que será discutido baseado no que foi
apresentado anteriormente, explicando o modelo de funcionamento da terapia
cognitiva comportamental para o cliente, sendo a prioridade da sessão a pauta
definida. É importante saber como foi a semana do indivíduo e observar quais
atividades deverão ser prescritas para casa (BECK; BECK, 2013). Essa leitura
foi importante para compreender que no momento desse atendimento inicial é
preciso escutar as demandas trazidas pelo próprio cliente para determinar as
próximas ações, deixá-lo livre para falar abertamente o que precisar falar para
então compreendermos ao longo dos atendimentos o que é mais importante
para ele falar, de forma natural, sem que o terapeuta fique voltando todo o
tempo em um assunto que o cliente não traz de início.
4.8 SEMANA 8: 19/09 a 23/09:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois tinha apresentação de teatro
na escola.

Para a leitura dessa semana, buscando entender o comportamento da criança


que vive o luto, Raimbult (1979) afirma que para a criança não há mudança
somente na ausência repentina de um de seus genitores, mas sim em todo o
cenário que fica que, agora, precisa adaptar-se à falta daquele componente no
ambiente familiar, o que causa impactos comportamentais, emocionais e,
também, nos papéis que precisam ser reconfigurados. Winnicott (1982) diz que
a perda de um vínculo afetivo tão forte como o de uma mãe com um filho
provocam uma série de desajustes na realidade da criança, como insônia,
agressividade, comportamentos de regressão, entre outros.

4.9 SEMANA 9: 26/09 a 30/09:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois era semana de provas na
escola e a irmã responsável pediu para mudar a data dos atendimentos para
segundas feiras ao invés de quartas como estavam acontecendo devido a
mudança de disponibilidade dela.

A leitura dessa semana foi de um artigo de Zwielewski e Sant’ Ana (2016) sobre
o processo do luto e a terapia cognitivo-comportamental, que aborda as formas
de enfrentamento do luto, bem como pontua teoricamente sobre o que é o luto,
e traz técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental que podem ser trabalhadas
na clínica. Zwielewski e Sant’Ana (2016) pontuam que é comum o paciente
passar pelo processo de elaboração de pensamentos disfuncionais decorrentes
ao luto, trazendo dados colhidos em baterias psicológicas que avaliam
depressão e ansiedade, que são fatores que se atrelam ao processo de luto,
através do caso clínico que analisam no artigo. O artigo proporciona a
aproximação com a prática, no sentido de auxiliar a paciente a desenvolver
estratégias de enfrentamento e elaborar seus pensamentos disfuncionais.

4.10 SEMANA 10: 03/10 a 07/10:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois estava doente.

Em concordância com a leitura da semana anterior, a leitura dessa semana, um


artigo de Leal (2020) acerca das estratégias da Psicologia Cognitivo
Comportamental no processo do luto, o autor diz que essa abordagem ajuda o
enlutado a produzir respostas saudáveis a partir da identificação e modificação
de comportamentos e pensamentos disfuncionais. Com isso, podemos
concordar em dizer que a Psicologia Cognitiva Comportamental pode dar
subsídios para que o cliente enlutado trabalhe o desenvolvimento de habilidades
que aliviem, de alguma forma, os sintomas do seu luto, como no caso da cliente
desse estágio que chega ao NPP com uma queixa inicial de comportamentos de
choro, agressividade e tristeza persistente devido à perda da mãe.

4.11 SEMANA 11: 10/10 a 14/10:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois estava doente.

Na leitura do artigo Morte Repentina de Genitores e Luto Infantil: Uma Revisão


da Literatura em Periódicos Científicos Brasileiros de Anton e Favero (2011), os
autores ressaltam a importância de o terapeuta não tentar fazer com que o
enlutado possa superar rapidamente esse processo, pois isso seria como um
mecanismo de mascarar a dor e sentimento da perda ao invés de senti-la, e que
isso pode trazer consequências piores até do que passar pelo luto naturalmente
para o paciente. Também frisa que não se deve evitar o assunto quando o
paciente o trouxer, nem se desviar, bem como não se deve insistir no mesmo
quando perceber que o paciente não deseja falar daquilo naquele momento.
O atendimento psicoterapêutico pode auxiliar a criança e sua família
no processo de elaboração da perda, ainda mais em situações em que
os adultos cuidadores também se encontram enlutados, apresentando
dificuldade de lidar com a situação e com a própria expressão de afetos
dolorosos por parte da criança. A expressão das emoções por meio do
diálogo ou do brinquedo, em um espaço seguro e acolhedor, como o
setting psicoterápico, por mais dolorosa que seja, pode auxiliar a todos
os envolvidos a atravessar este momento de vida desorganizador, de
forma mais adaptativa (ANTON; FAVERO, 2011).

4.12 SEMANA 12: 17/10 a 21/10:

Após um mês de faltas, a cliente compareceu ao atendimento e pudemos realizar


a confecção da caixinha dos sentimentos como ela havia pedido. Começamos
pensando em coisas que ela gostava de fazer e que a deixava feliz, ela relatou
muitos momentos com a mãe e com a família (pai e irmãs), bem como momentos
com amiguinhos na escola, como “gosto de desenhar minha mãe”; “gosto de
brincar com o Felipe (amigo) na escola”; “gosto de tomar sorvete com minha mãe
e meu pai”. Cada frase foi escrita em um papel colorido que dobrado e colocamos
dentro da caixa. Após isso, pintamos o exterior da caixa com tinta guache e
conversamos enquanto íamos fazendo o desenho, a criança por vezes
demonstrava muita maturidade ao falar coisas como “falei para o meu pai fazer
psicóloga também, assim ele fica bem e eu não preciso ficar me preocupando
com ele, se ele ficar bem eu fico bem” e, também, “meu pai só tem chorado, eu
já conversei com ele que não pode ficar chorando, tem que seguir em frente, não
podemos viver de tristeza”. Ao questionar sobre como ela mesma estava, ela
disse que já estava bem melhor, que não chorava mais toda noite, apesar de
sentir a presença da mãe na hora de dormir, ela não estava ficando triste mais.
Num outro momento, questionei à irmã responsável como ela estava e a irmã
confirmou que ela estava melhor e já não chorava mais chamando pela mãe.

Na supervisão dessa semana a professora questionou se eu achava que havia


necessidade de a criança continuar os atendimentos no semestre que vem e eu
entendo que não há necessidade caso a criança não queira continuar, uma vez
que o processo do luto vai acontecer de forma natural e com o tempo ela irá
acostumar-se e compreender a ausência da mãe. A professora orientou que eu
continuasse os atendimentos seguindo a partir das demandas que a criança
trouxesse no atendimento.
Na leitura da semana, Franco e Mazorra (2007) em seus estudos ressaltam que
nesse momento de luto a família fica muito fragilizada e que, nesse momento, a
psicoterapia torna-se um espaço essencial, principalmente, para a criança.
Pode-se definir o luto como um processo e não um estado. Barbosa (2010) cita
as três fases do luto que são: negação, pertence a uma fase em que ainda há a
procura. A segunda fase do luto acontece quando a pessoa se desorganiza e
experimenta o desespero, é onde se toma consciência da perda, reagindo com
choro, tristeza, entre outras reações, fase que a cliente se encontrava,
desesperando-se diariamente devido à falta da mãe e, por fim, numa terceira
fase já é possível uma reorganização e recuperação emocional, então ocorre o
restabelecimento

4.13 SEMANA 13: 24/10 a 28/10:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois estava viajando.

Para a autora Torres (2012), o processo do luto na criança desenvolve-se e sofre


influência de muitos aspectos que podem torná-lo mais fácil ou mais sofrido,
sendo eles o que outras pessoas falam para essa criança, como falam com essa
criança, como a família reage ao luto e perda daquele membro e como cobram
da criança que ela reaja de determinada maneira.

Mesmo não tendo muitas pesquisas acerca do processo do luto infantil,


principalmente em casos de perda de um dos genitores, Torres (2012) diz que o
modo com o genitor que ainda está vivo conduz o processo e o auxílio que este
presta a criança são muito importantes para a maneira em que essa criança irá
elaborar seu luto.

4.14 SEMANA 14: 31/10 a 04/10:

Fui para o atendimento, porém a cliente faltou pois estava viajando.

Ainda conforme a obra de Torres (2012), é essencial que alguém do círculo


familiar de confiança da criança, possivelmente o outro genitor ou algum irmão
mais velho, conte a verdade sobre o que houve para que a criança possa
elaborar a perda do ente de maneira mais segura e confortável, e para que ela
sinta que não está sozinha e que tem outras pessoas para lhe dar cuidado,
carinho e atenção.
Acerca do comportamento da criança frente ao luto, a autora diz que:

A criança pode negar inicialmente a morte, pode tornar-se agressiva


ou achar que foi ela mesma que a causou. Ainda que a criança possa
aparentemente não expressar tristeza, é nos gestos mais sutis que ela
parece como que regredir, ficar hostil com as demais pessoas com
quem convive ou tratar de seus brinquedos com violência (TORRES,
2012).

E, para ajudar na superação desse processo, a família não deve evitar falar
sobre a morte com a criança e sim responder suas dúvidas e ouvir o que a
criança tem a dizer sobre seus sentimentos, a fim de que não reforce na criança
o comportamento de que ela deva guardar suas dúvidas e sofrimento para si
(Torres, 2012).

4.15 SEMANA 15: 07/10 a 11/10:

No atendimento dessa semana, como havia algum tempo desde o último


atendimento, deixei-a mais à vontade para escolher o que gostaria de fazer já
que ela não se interessou pelos jogos cognitivos lúdicos que tentei sugerir. Ela
pediu para desenharmos porque ela queria dar um desenho para cada irmã.
Conversamos enquanto desenhávamos e não aprofundei as temáticas do
falecimento da mãe para deixar que ela trouxesse as demandas de sua
necessidade, para também perceber se o luto da mãe ainda se fazia parte central
de suas queixas a fim de avaliar a necessidade de a criança continuar com
atendimentos no próximo semestre. A criança levantou diversos assuntos a
respeito do cotidiano na escola, queixou-se de seu amigo Felipe – que é
cadeirante – não poder ir para a quadra de esportes pois não possui rampa na
escola que viabilize o acesso, dentre outras questões em torno disso. Citou a
mãe no curso da conversa brevemente, mas nada referente ao seu falecimento
ou sua ausência, então percebi que a morte/ ausência da mãe já não eram mais
suas queixas centrais, compreendendo que a mesma estava passando pelo
processo do luto de forma natural.

Citando Barbosa (2010) novamente, a criança não deve ser poupada das
reações e sofrimento que vem junto a perda de alguém, é necessário que a
criança compreenda que a morte é algo natural e inerente a todos e que aquilo
que se foi não pode mais voltar. Nesse sentido, o trabalho da família e psicólogo
é ser verdadeiro com a criança para que ela não fique no mundo da fantasia
imaginando que aquela pessoa que morreu pode voltar a vida, trazer a criança
para a realidade dos fatos, logicamente, na linguagem mais adequada possível
para a idade dela.

Barbosa (2010) afirma que na terceira fase do luto há o reestabelecimento, em


que a criança passa a demonstrar uma recuperação emocional diante do luto.
Fazendo relação com o exposto por Barbosa (2010), a cliente, nessa etapa do
atendimento, pode-se perceber uma evolução da menina para a terceira fase do
luto, onde ela naturalmente não demonstra mais comportamentos de tristeza
profunda e negação e, segundo a própria, não chora mais e começa a trazer
novas demandas para a sessão que não giram mais em torno da morte e
ausência da mãe.

4.16 SEMANA 16: 14/10 a 18/10:

Não houve atendimento essa semana devido ao feriado que caiu no dia do
atendimento.

Na leitura dessa semana busquei por obras que abordassem as etapas do


processo terapêutico infantil para me preparar melhor para essa fase final do
atendimento visto que na semana seguinte será o último atendimento com a
criança.

Sobre o encerramento do processo psicoterapêutico infantil, Moura e Venturelli


(2004) afirmam que:

Durante as últimas sessões de terapia, é importante oferecer, à


criança, algum fechamento quanto à experiência vivida por esta. Isto
pode ser feito com um retrospecto do que ocorreu na terapia.
ressaltando as mudanças ocorridas devido ao seu empenho e
elogiando suas mudanças e atitudes de coragem e enfrentamento.
Deve-se estimular a criança a expressar seus sentimentos sobre estes
aspectos, e o terapeuta não pode deixar de apresentar os seus dizendo
que está feliz com seus progressos [...] (MOURA; VENTURELLI, 2004).

Os autores ainda sugestionam que a despedida do último atendimento pode ser


marcado pela confecção de uma cartinha ou desenho e de afeto (Moura;
Venturelli, 2004).

Nesse sentido, atrelando ao fato de que a atividade preferida da cliente é


desenhar, pensei em sugerir que façamos um desenho uma para a outra para.

4.17 SEMANA 17: 21/10 a 25/10:


No atendimento dessa semana, por ser o último, inicialmente conversei com a
irmã responsável pela criança para falar a respeito de documentações para
encaminhamento para o próximo semestre e para saber como a menina estava
ultimamente. A irmã contou que a criança estava extremamente chateada pois
havia descoberto há 3 dias (no fim de semana) que o pai está namorando outra
mulher e não havia contado para ela, e que ela estava sofrendo muito com isso
pois fica se perguntando se essa mulher vai fazer bem ao pai dela e se
comparando com a mulher. A irmã também falou que está tentando pegar a
guarda da criança na justiça e que a menina, por não entender bem o que isso
significa, acha que o pai está abrindo mão dela. A irmã pediu para que ela
continuasse os atendimentos no próximo semestre por julgar necessário ainda e
por achar que pode auxiliar no processo judicial para a criança lidar melhor com
essa situação. Foi feito o encaminhamento para ela continuar no próximo
semestre e eu chamei a criança para a sala lúdica para fazer o último
atendimento com ela. Ela estava bem cabisbaixa e ao ser questionada do
porquê, ela disse que era devido a aquele ser o último atendimento comigo e por
ter descoberto que o pai estava namorando e não contou para ela. Se questionou
muitas vezes durante os diálogos que tivemos se aquela mulher era “a certa para
ele” e se ela “vai fazer bem para ele”, sempre demonstrando preocupação
exagerada com o estado de bem-estar do pai, reforçando muitas vezes que ele
precisa abrir o olho e seguir em frente, e que quando ele se der conta de que
está com essa mulher, vai ver que fez burrice. Por vezes se questionou se ela (a
criança) era mais importante para o pai do que essa nova namorada,
considerando que ele não havia contado para ela do relacionamento. Outra coisa
que ela perguntou era o que significava guarda, pois a irmã dela estava tentando
pegar a guarda dela e ela estava com medo de que a proibissem de ver o pai,
eu logo expliquei que não ia mudar como é hoje, que era um papel que ia dizer
que ela mora com a irmã e que um juiz ia definir certinho os dias que ela iria
passar com o pai, mas que não a proibiriam de vê-lo. Ela ficou aliviada e falou
“ah, se é isso só então está bom, eu gosto de morar com a minha irmã”. A criança
falou que queria que eu continuasse a atendendo no próximo semestre e, para
fechar, fizemos cartinhas de despedida uma para a outra, ela desenhou um
coração com estrelas dentro, ao questionar o que significava aquele desenho
para ela, ela disse que o coração era eu (terapeuta) e significava amor, cuidado
e carinho e as estrelas eram ela pois ela era uma estrela como a sua mãe. Eu
fiz um desenho de nós duas juntas e dei para ela, que ficou muito feliz com a
cartinha. Nos despedimos e ela pediu para a irmã tirar uma foto nossa juntas
antes de irem embora!

Por fim, ainda citando Moura e Venturelli (2004), deixar que a criança possua
papel ativo não só de autonomia, como de perceber e analisar sua própria
evolução e mudança comportamental é de extrema importância. Reforçar essa
conduta desde o início da terapia produz resultados mais positivos e minimiza a
incidência ou prolongação de comportamentos disfuncionais, permitindo e
facilitando não só a comunicação com a criança como a implementação de
técnicas terapêuticas a ela.

Desse modo, percebeu-se ao longo de todo processo terapêutico da cliente


enlutada que ela se demonstrou muito lucida acerca de todos os fatos,
inicialmente passando pela negação e tristeza profunda, mas com muita
consciência disso e, com o passar dos meses, uma melhora comportamental e
muita maturidade, até além das expectativas para sua idade, em lidar com o luto
da mãe. Sempre demonstrando-se bem e reforçando ela mesma o quanto
percebia sua própria melhora, a final, ela “precisava seguir em frente, mas nunca
ia esquecer sua mãe e um dia elas se encontrariam” (palavras da cliente). O
amparo familiar que a cliente teve da irmã mais velha que assumiu o posto de
responsável também foi de extrema significância para a criança passar pelo
processo do luto da forma mais “saudável” possível, apesar da criança
preocupar-se bastante com o bem-estar do pai frente a falta da mãe.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se considerar acerca desta disciplina, que os atendimentos realizados são


de grande valia no aprendizado da aplicação da terapia cognitiva
comportamental, no qual, através de atendimentos supervisionados, foi possível
avançar e evoluir enquanto acadêmico e futuro profissional na área de
psicologia. Importante frisar o quanto o acompanhamento de um professor
supervisor/ orientador nos atendimentos clínicos são essenciais para nós
enquanto profissionais, não somente para nortearmos, mas também para
entendermos e provocar uma autoanalise das afetações que os atendimentos
têm sobre nós alunos, pessoas, profissionais.

6. REFERÊNCIAS
ANTON, M. C.; FAVERO, E. Morte repentina de genitores e luto infantil: uma
revisão da literatura em periódicos científicos brasileiros. Interação em
Psicologia, Curitiba, v. 15, n. 1, oct. 2011. ISSN 1981-8076. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/16992>. Acesso em 20 nov.
2022. doi:http://dx.doi.org/10.5380/psi.v15i1.16992.
BARBOSA, A. Processo de Luto. In A. Barbosa & I. Neto (Eds.), Manual de
Cuidados Paliativos (2ª ed; pp. 111 - 125), 2010. Lisboa: Faculdade de
Medicina de Lisboa. Acesso em 20 nov. 2022.
BECK, J. S.; BECK, A. T. Terapia Cognitiva Comportamental: Teoria e prática.
2ª edição. Porto Alegre: Artmed 2013
FRANCO, M. H. P.; MAZORRA, L. A criança e o luto: vivências fantasmáticas
diante da morte do genitor. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) –
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. Acesso em 20
nov. 2022.
LEAL, S. G. DE M. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO
PROCESSO DE RESOLUÇÃO DO LUTO. Pretextos - Revista da Graduação
em Psicologia da PUC Minas, v. 5, n. 9, p. 683-697, 8 set. 2020. Acesso em 20
nov. 2022.
MOURA, C. B. de; VENTURELLI, M. B. Direcionamentos para a condução do
processo terapêutico comportamental com crianças. Rev. bras. ter. comport.
Cogn., São Paulo, v. 6, n. 1, p. 17-30, jun. 2004. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452004000100003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 26 nov. 2022.
RAIMBAULT, G. A criança e a morte: crianças doentes falam da morte:
problemas da clínica do luto. Tradução Roberto Cortes Lacerda. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1979. Acesso em 20 nov. 2022.
TORRES, W. C. A criança diante da morte: desafios. 2. ed. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1999.
TORRES, W.C. A criança diante da morte: desafios. 4ª ed. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2012.
WINNICOTT, D. W. A Criança e o seu Mundo. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1982.
ZWIELEWSKI, G; SANT'ANA, V. Detalhes de protocolo de luto e a terapia
cognitivo-comportamental. Rev. bras.ter. cogn. Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p.
27-34, jun. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5935/1808-
5687.20160005. Acesso em 20 nov. 2022.

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