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Obrigações do Falido Tal escrituração tem por funções: organizar os negócios, servir de prova da

atividade para terceiros.


Além dos efeitos já citados, a decretação da falência impõe ao falido um dever
geral de colaboração no processo falimentar. Os livros atendem tanto ao interesse do empresário no sentido da organização
das suas atividades, quanto ao interesse público no sentido da fiscalização
Embora não tenha mais condições de superar a crise, o falido deve colaborar dessas atividades
para a liquidação mais pronta e efetiva do seu patrimônio.

Nesse sentido, ele deverá auxiliar especialmente o juiz e o administrador judicial,


na medida em que ninguém melhor do que o próprio para dar informações e 3. Restrições à liberdade de locomoção
prestar esclarecimentos essenciais ao bom andamento do processo.
Outra obrigação imposta ao falido e ao administrador ou liquidante da sociedade
falida consiste em “não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem
motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante”.
1. Termo de comparecimento nos autos
O que ocorre nesse caso é tão somente uma restrição justificável da liberdade de
A primeira obrigação que se impõe ao falido e aos administradores ou liquidantes locomoção desses sujeitos.
da sociedade falida é o comparecimento em juízo para firmar um termo de
comparecimento, prestando informações iniciais e se colocando à Pela importância da colaboração desses sujeitos, é essencial que o juízo tenha
disposição para colaborar com o processo. ciência de onde eles se encontram, isto é, qualquer deslocamento, no território
nacional ou fora dele, deverá ser comunicado.
A princípio, tal obrigação deverá ser cumprida a partir da intimação da decisão
Em todo caso, haverá a necessidade de um justo motivo para esse deslocamento
que decretou a falência, independentemente da existência de qualquer recurso
e deverá o falido ou o administrador da sociedade falida deixar um procurador
contra tal decisão.
para representá‐lo quando for necessário.
Contudo, em razão do grande número de elementos exigidos, é recomendável
que se intime inicialmente o falido para apresentar as informações em juízo e,
posteriormente, para assinar o termo de comparecimento, racionalizando o
trabalho.
4. Comparecimento aos atos da falência e manifestações

Outra obrigação imposta ao falido e ao administrador ou liquidante da sociedade


O referido termo de comparecimento deverá conter inicialmente a qualificação
falida é o comparecimento a todos os atos da falência.
completa do falido ou dos administradores da sociedade falida, em especial o
nome, a nacionalidade, o estado civil e o endereço completo do domicílio. Em inúmeras oportunidades, a legislação exige o comparecimento do falido em
certos atos, como assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame
Dentro da mesma perspectiva, exige‐se, no caso de sociedades, a identificação (nome e
dos livros.
endereço) de todos os sócios, acionistas controladores, diretores ou
administradores da sociedade. Além do comparecimento a certos atos do processo de falência, o falido e o
administrador ou liquidante da sociedade da sociedade falida também têm o dever
de se manifestar em diversas ocasiões no processo.

2. Entrega de bens, livros, papéis e documentos

A decretação da falência também impõe ao falido e ao administrador ou liquidante


5. Prestação de informações e lista de credores
da sociedade falida a entrega de bens, livros e documentos em juízo.
Em decorrência do dever geral de colaboração, caberá ao falido e ao
Com isso, permite‐se um processo mais ágil e mais barato, atentando aos administrador ou liquidante da sociedade falida a prestação de informações
princípios da economia e da celeridade processual que devem reger toda a solicitadas pelo juiz, pelo administrador judicial, pelo Ministério Público ou por
falência. credores sobre circunstâncias e fatos que interessem ao processo.

A lei impõe como obrigação comum a todos os empresários, ressalvado o Os pedidos de informação devem ser fundamentados e devem guardar relação
pequeno empresário (o art. 1.179, § 2o, do Código Civil dispensa o pequeno com a atuação no processo de falência ou de recuperação judicial.
empresário da escrituração), a manutenção de uma escrituração contábil dos Não sendo prestadas as informações, haverá intimação pessoal para o
negócios de que participam. comparecimento em juízo e prestação de depoimento na presença do
administrador, sob pena de configuração do crime de desobediência.
Ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo e, no processo falimentar, credores e, por isso, ele deve fiscalizar as medidas tomadas pelo administrador
não é diferente  incriminar judicial para esse pagamento

Em razão desse interesse, também cabe a ele o direito de requerer as


providências necessárias para a conservação desses bens, como o eventual
6. Auxílio ao administrador judicial requerimento para venda imediata de bens de fácil deterioração.

Como no processo de falência o administrador será o órgão mais atuante, impõe‐ Da mesma forma, cabe‐lhe intervir como assistente nos processos em que a
se ao falido e ao administrador ou liquidante da sociedade falida um dever geral massa falida for interessada, podendo requerer o que entender de direito e até
de auxílio ao administrador judicial. interpor recursos.

Auxílio será prestado com zelo e presteza, isto é, prestado de forma diligente e da Embora tenha uma atuação processual mais restrita, o falido continua a ter
maneira mais rápida possível, tendo em vista os próprios objetivos do processo interesse e legitimidade para atuar nesses processos.
de falência.
Outrossim, ele terá o direito de requerer o que for necessário para a proteção dos
seus direitos.

7. Descumprimento das obrigações Ademais, a própria Lei n. 11.101/2005 prevê alguns direitos específicos ao falido,
como por exemplo, a apresentação de impugnação de créditos (art. 8o) e a
Lei n. 11.101/2005 impõe ao falido e ao administrador da sociedade falida uma participação na assembleia de credores, sem direito a voto.
série de obrigações decorrentes do dever de colaboração no processo de
Dissolução da sociedade falida
falência.
O último efeito da decretação da falência quanto à pessoa do falido aplica‐se
Ao chamar esse crime de desobediência, o legislador quis trazer a mesma exclusivamente às sociedades falidas.
disciplina do crime de desobediência previsto no art. 330 do Código Penal, isto é,
pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses e multa, ressaltando ‐ se
Nestas, a decretação da falência tem o condão de dar início ao processo de
que a aplicação da multa seria totalmente inócua. dissolução das sociedades, isto é, a decretação da falência é o marco inicial
da extinção da sociedade.
Outrossim, o juiz poderá determinar expressamente, como efeito secundário da
sentença condenatória:

1. a proibição do exercício da atividade empresarial, A dissolução lato sensu é o processo de encerramento da sociedade que objetiva
a extinção da pessoa jurídica. Esse processo deve ter um marco inicial, isto é,
deve ocorrer um fato para desencadear todo o processo. Esse fato é o que
2. o impedimento para o exercício de cargo de administrador ou membro
denominamos dissolução stricto sensu, que pode ser entendido como a causa do
de conselho fiscal de sociedade encerramento da sociedade

3. a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócios. Nesse momento, opera‐se uma alteração no objetivo da sociedade.

Em vez de objetivar a produção dos lucros, a sociedade passa a objetivar o acerto


Direitos do Falido: de sua situação patrimonial.

São assegurados certos direitos, em especial para a defesa de seus interesses. No caso das sociedades empresárias, qualquer que seja a forma adotada, a
O art. 103, parágrafo único, da Lei n. 11.101/2005 assegura ao falido os direitos de falência representa esse marco inicial do processo de dissolução.
fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias para a
conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos A ausência de patrimônio suficiente para honrar o pagamento de todos os
em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e credores da companhia é um traço normalmente ligado à falência e, por isso, o
interpondo os recursos cabíveis. fim do processo de falência leva ao fim do patrimônio social e,
consequentemente, à inexequibilidade de qualquer objetivo a que se tenha
O falido perde, com a falência, a administração de seus bens, mas não perde
proposto a sociedade.
imediatamente a propriedade.
Por isso, com a decretação da falência, inicia‐se o processo de dissolução da
Em razão disso, é natural que lhe seja assegurado o direito de fiscalização da
sociedade.
administração da massa falida
Dentro dessa perspectiva, faz‐se necessária a liquidação do patrimônio da
Seu interesse também é no sentido do pagamento do maior número possível de
sociedade falida, o que ocorrerá por meio de um procedimento especial previsto
na Lei n. 11.101/2005.

Nessa liquidação, será apurado o ativo da sociedade falida e pago o passivo.


Finda a liquidação, encerra‐se o processo de falência.
A extinção do processo de falência não significa a extinção das
obrigações do falido, as quais só serão extintas nos casos previstos no
art. 158 da Lei n. 11.101/2005.”

Embora a existência de ações em curso não seja um óbice à extinção das


sociedades, a presença de obrigações não solvidas ao fim do processo de
falência impede essa extinção.

Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I – o pagamento de todos os


créditos;
II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco por cento) dos
créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir a
referida porcentagem se para isso não tiver sido suficiente a integral liquidação do ativo;

V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência, ressalvada a


utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a
satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado;

VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei
Embora a existência de ações em curso não seja um óbice à extinção das
sociedades, a presença de obrigações não solvidas ao fim do processo de
falência impede essa extinção.

Apenas com a extinção das obrigações é que acreditamos ser possível a extinção
da sociedade falida.

Prova disso é a necessidade de comunicação dessa extinção a todas as pessoas


comunicadas da falência.

Ora, se a sociedade já houvesse sido extinta, não haveria necessidade de


comunicação.

Ademais, os anexos da Instrução Normativa n. 10/2013 do Departamento de


Registro Empresarial e Inovação – DREI que tratam da sociedade limitada e da
sociedade anônima preveem o arquivamento da notícia da extinção das
obrigações.
Contudo, isto é muito raro.

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