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PRAIA - liVRE ACESSO - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA

CONSULTA ou definir, as "exigências fundamentais de ordena-


ção da cidade" (sic) com a livre iniciativa de decidir
Em face do art. 214, IX, da nova Constituição pekJ necessidade, conveniência, ou não, das desa-
do estado, questiona-se: propriações (Constituição Federal, art. 182, §§ 22 e
a) não estará o estado invadindo a competência 32), observados apenas os limites da legislação fe-
legislativa do municfpio e fixando parâmetros urba- deral (Constituição Federal, art. 182 § 42).
nfsticos? Observe-se que na Constituição de 1988, dife-
b) a restrição colocada nesse inciso IX do citado rente de todas as anteriores, o município deixa de ser
artigo resultará na impossibilidade de construção ou mera unidade integrante da organização dos estados
aproveitamento econÔmico de grande parte dos ter- e territ6rios, para assumir ele pr6prio a posição de
renos situados na orla marftima da cidade. O esva- elemento constitutivo da Federação e da Rep4blica,
ziamento econômico dessas propriedades não confi- no mesmo nfvel dos estados e do Distrito Federal,
gura desapropriação indireta e inconstitucional, em JlOSto que cada qual na sua &bita de ação específica.
desacordo com o previsto nos arts. 52, inciso XXIV ~ o que está agora no seu art. 12 - "A Rep4blica Fe-
e art. 182, § 32, da ConstituÍção Federal? derativa do Brasil (é) formada pela união indissolú-
vel dos estados e municfpios e do Distrito Federal
RESPOSTA ( •••)" (sic).
Tanto mais incisiva, pois, a lição de Francisco
Este é o disp<'sitivo a que alude a consulta: Campos, inspirada aliás em Marshall e Rui Barbosa:
"Art. 214 - O estado e os municfpios obri- "Implfcita ou expressa, é consubstancial a regra
gam-se, através de seus 6rgãos da administração de que nenhum dos Poderea, ou Governos, de cuja
direta e indireta, a: associação se compõe sua unidade (o de regime fe-
...
( ) derativo) deve interferir nas atividades legftimas do
IX - garantir livre acesso ls praias, proibindo-se outro, nem diretamente nem indiretamente, nem por
qualquer construção particular, inclusive muros, em vias diretas, oblfquas ou furtivas, poderá criar 6bi-
faixa de, no mfnimo, 60 metros, contados a partir da ces, embaraços, tropeços ou empecilhos ao exerefcio
linha de preamar máxima." das suas funções constitucionais e, sobretudo, one-
O dispositivo esvazia por inteiro o direito de rar, de qualquer maneira, diminuir ou destruir a efi-
propriedade particular, nas áreas não-edificadas, ar cácia dos meios, ou instrumentos, necessúios ou
compreendido o domínio 4til de terrenos de mari- adequados ti açlo dos seus 6rgIos, na 6rbita consti-
nha, e impossibilita aos proprietMios qualquer tucional de sua competência ([)irrito Constitucional,
aproveitamento, em seu uso proprio e exclusivo, 1956, v. I, p. 19).
não lhes permitindo sequer um muro divis6rio e Em inteiro desacordo com esse ensinamento, o
abrindo as propriedades, assim indiscriminadas, ao constituinte estadual, não obstante o municfpio ser
"livre acesso público"( Sic). Attis disto, a proibição hoje um dos associodos da composiçlo federativa,
alcança, implfcita, as edificações ali já existentes, criou para todos eles um &ice imensurável, com
impondo-lhes uma servidlo de recuo, ou alinba- destaque especial, como foi dito, para o do Salva-
mento, por efeito da qual, impedida qualquer obra dor: além da intromissão em matérias de sua com-
de reforma, ou reconstruçIo, essas propriedades petência constitucional privativa - o planejamento
tenderão gradativamente a deteriorar-se, em prejuf- urbano, o controle de uso e ocupação e parcela-
zo e até perda total de seu valor de mercado. mento do so/o, a imposição de "exig2ncias a pro-
Mais do que qualquer outro municfpio, o de Sal- prietdrios de s% não-edijialdo" (Constituiçio Fe-
vador, comprimido em um promont6rio, suportará deral, art. 182, § 42) - obriga-os a todos eles a desa-
fundamente os efeitos desse dispositivo sobre toda a propriarem aquelas áreas ou, independente de ato
larga e longa faixa marftima que o envolve: a redu- formal de desapropriação, responderem pelas cor-
ção de sua receita orçamentária em razão da depre- respondentes indenizações.
ciaçlo daquelas propriedades - terrenos e edifica- O direito de propriedade 6 mat&ia de lei federal
ções - todas elas base tributária de imposto predial e (Constituição Federal, art. 22, 1). Somente a ela,
territorial (art. 156, I, Constituiçlo Federal) e a in- pois, é dado defmir-lhe a aquisiçlo, o conte4do de
s6Iita intromisslo em mat&ia de sua competência ~res e sua perda.
privativa, seja para "legislar sobre assuntos de seu ~ certo que seu exercício pode ser disciplinado
interesse local" (Constituiçlo Federal, art. 30, 1), mediante restrições ou limitaÇ6es de ordem admi-
seja para promover, por decislo pr6pria, o "con- nistrativa (C6digo Civil, art. 572) - nIo porém tão
trole do uso, parcelamento e ocupaçlo do solo" rigorosas que suprimam aqueles poderes ou, ainda
(Constituição Federal, art. 30, VIII), seja para ado- quando os não suprimam, reduzam extraordinaria-
tar sua pr6pria "polftica de desenvolvimento urba- mente seu valor econÔmico.
no" (art. 182, CDput da mesma Constituiçlo Fede- O constituinte estadual, na medida em que pror-
ral), inclufdo, declaradamente, seu poder de impor, be construções e, vedando o levantamento de muro

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divisdrio, explíe aquelas propriedades, em campo Observe-se, por outro lado - e isto é do nosso
aberto, ao uso e gozo de todos, suprime aos pro- direito expresso - observe-se que sempre que a lei
prietários, de um sd golpe, seus direitos inerentes ao federal impede o exerdcio do direito de construir,
domfnio: o de construir (Código Civil, art. 524) e o ela própria ressalva de logo a garantia da indeniza-
de exclusiva fruiçlio (C6digo Civil, art. 524). E de- ção correspondente. Assim, por exemplo, o Código
precia a mais não poder o valor econÔmico dessas do Ar: "Quando tais restrições (resultantes da pro-
propriedades, "pois ninguém adquire terreno urba- ximidade de aeroportos) impedirem construções de
no em que seja vedada a construção: se o impedi- qualquer natureza, terão os proprietários vizinhos
mento de construçlo (ou de desmatamento) atingir a direito h indenização, fixada judicialmente, na falta
maior parte da propriedade, ou a sua totalidade, dei- de acordo direto" (Código do Ar - Decreto-lei n~
xant de ser limitaçlo para ser interdiçlo de uso da 32, de 1966; Decreto-lei n~ 83, de 1979. Assim
propriedade e, nesse caso, o Poder Pdblico ficará também o Código de Minas, ou de Mineração: •• As
obrigado a indenizar a restriç§o que aniquilou o di- servidões constituem-se mediante prévia indeniza-
reito dominial e suprimiu o valor econÔmico do ção do valor do terreno ocupado e dos prejufzos re-
bem. Se o Poder Pdblico retira do bem particular sultantes da ocupação" (Código de Minas 1968, art.
o seu valor econÔmico, há que indenizar o prejufzo 45). Assim, por sua vez, o Código de Águas (De-
causado ao proprietário. Essa regra que defIui do aeto n~ 24.645. de 1934, art. 32 e segs).
princfpio da solidariedade social, segundo o qual sd O desmembramento de poderes do domfnio par-
! legítimo o ônus suportado por todos, não tem ex- ticular imposto pelo Poder Pdblico em prejufzo do
ceção no direito p4trio, nem nas legislações estran- proprietário e proveito coletivo é, na correta con-
geiras" (Meirelles, Hely L., Dirdto Administrativo ceituação jurídica. uma servidão ptiblica, adminis-
BmsiJeiro, 1985, p. 538 - os grifos são nossos). trativa, e somente pode ser institurda mediante a
Ou, em outros termos: "as restriç6es não podem correspondente indenização, reparadora desse pre-
chegar a desintegrar o direito do proprietário, senão jufzo conseqüente. Nessa conceituação fica afastada
mediante a imposição de uma servidão ou desapro- a falsa objeção de que as servidões somente existem
priaçIo, caso em que a reparaçIo integral manterá entre prédios, um dominante, outro, serviente.
incdlume o patrimônio daquele". Bielsa, Rafael, Desse desmentido são exemplos marcantes os cami-
Derecho administrativo, 1947. v. 3, p. 394). nhos pdblicos (Lacerda de Almeida: Direito das
CoisDs lI, § 103, nota 4) e as servidões pessoais
A ab1açfo do direito de construir, a1i4s, equiva- (Teixeira de Freitas: Consolidação, art. 47, n~ 6;
le, s6 por ai, a um ato expropriat6rio, já que a ex-
Clovis Bevilaqua. obs. ao art. 713 do Cód. Civil.). A
propriaçlo ocorre não somente quando implique
servidão consiste não somente em um nom facere,
transferência da propriedade a outrem, mas tam-
mas também em ter de suportar o proprietário que
bém. de forma indireta, quando se priva seu titular
outrem exerça poderes que, normalmente, só a ele
de exercer os direitos a ela inerentes: rubi consistam
caberiam, de modo exclusivo.
dell'espropriazione non ~ il trasferimento, bens!,
come testenomia lo stesso !limo deUa parola,l'abla- O preceito é de ordem constitucional: onde hou-
ziooo di un diritto o di facoltà inerenti a um diritto" ver dano, resultante de ação, ou omissão, do Poder
(Sandulli, Aldo. Natura ed effetti dell'imposizione Pt1blico, haverá a correspondente indenização
di Vincoli Paesistici. In: Revista TrimestraJe di Di- (Constituição Federal, art. 5~, XXII, art. 37 § 6~.
rilto Pdblico;p. 829-30. 1961). Este é um prindpio fundamental, reiterado em todas
a nossas Constituições; e é por extensão dele que se
Por isso, exatamente por isso - por não ser a ex- repete, todos os dias que, quando ocorra desapro-
propriação um modo de transferência, mas sd de priaçAo de um imóvel, se uma sua parte remanes-
extinção da propriedade (Código Civil, art. 590) que cente perde suas condições normais de aproveita-
passa ao expropriante a dtulo originário (ac. Trib. mento econÔmico, ou de utilização pessoal do pro-
SP in Revista dos Tribunais, 442, 172), com a con- prietário, o valor dessa 4res entra no qunntum da in-
versão do direito real em direito de cr!dito fi indeni- denização total:
zaçIo (R. Bielsa - exatamente por isso ! que a ela se "Quando na desapropriação a 4res remanescente
equipara a "compresaione rilevante" dos poderes do se torna improdutiva, a indenização deve abrangê-la
proprietário, entre 08 quais o de construir, e se diz na sua totalidade" (ac. Trib. S. Paulo, In: Revista
que "n vincolo urbanistico ~ forse una delle figure
Direito Administrativo, 319, 310; ibid. In: Revista
pià tipiche di questa forma larvata di espropriazio-
Direito Administrativo, 104, 217; ibid. Revista dos
00" (Bruno Cavallo-Giampiero di Plinio "Man. di
Tribunais, 515, 175; ibid. 229, 160; ibid. 268, 458;
DiT. Pubblico tkfEcx)fJomia", 1983, p. 133-43).
ibid 302, 296; ibid. 346, 174; 328,328; 327, 258;
Tamb&l da( 6 que se diz. quando isso ocorre, isto é,
Revista Jurisprudlncia Tribunais Júri de São Paulo,
quando se esvazia o direito de propriedade, que há aí
43, 51, etc.)
uma "expropriation mat6rielle", que "équivaut fi
Ou, no mesmo sentido:
une expropriation proprement dite ou formelk", de
que resulta dano a ser, por igual, indenizado - "dont "NIo se pode compreender que a Administração
la garantie de la propri~ exige la dparation" (An- não desaproprie e não permita a construção" (ac.
~ Grisel, DiT. Administr. Suisse, 1970,404). Trib. S. Paulo, Revista dos Tribunais 251, 238).

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"Se ocorre o esvaziamento do conte4do econô- urbanização, instrumento e guia de funcionamento
mico da propriedade, o Estado deve pagar a indeni- da cidade (art. 30, vm e 182).
zação correspondente ao seu valor, como na desa- Aos estados cabem as normas gerais, de coorde-
propriaçlo por utilidade ptiblica." naçlio, concernentes e regUles metropolitanas e
(parecer Conselheiro-Geral da Reptiblica aglomerações definidas em lei complementar a que
Adroaldo Mesquita da Costa. In: Revista Direito Ad- alude o art. 25 § 3!! da Constituiçlo Fedenl- planos
ministraIivo, 82, 341; no mesmo sentido o também gerais, ou setoriais - nlo aquilo que a pr6pria Cons-
Conselheiro-Geral da Reptiblica, Ministro Carlos tituição Federal mlCIVOU, sem compet2ncia concor-
Medeiros Silva. In: Revista Direito Administrativo, rente, a 6rbita de açIo privativa dos municípios: o
67,248). planejamento local, de cada cidade, a 0CUfJ0Çá0 do
Ou,ainda: solo e controle do seu uso, no qual, por força de
"NIa pode a Administração (a Prefeitura) por compreensão, estio as /imitQções e condições desse
tempo indeterminado congelar a propriedade, cas- uso e ocupação - controle esse e limitaç6es a serem
sando a licença para construir, por estar o im6vel in- definidos pelo Poder PIIbIico municipal mediante lei
cluído no Plano de urbanizaçlo" - ac. Supremo sua, especIjiaJ, e aproW1Ç40 do C4mara respectiva
Tribunal Federal. In: Revista Direito Administrativo. (sic - art. 30, VV e 182 CXIpIlI e § I!!) e, em especial,
49,225). tais limitaç6es ou "cxig!ocias" referentes a "pro-
A publicação desse 41timo ac6rdão do Supremo priet4rio de solo urbano 1140 edificado" (sic art. 182,
Tribunal Federal foi enriquecida com o comentdrio § 4!!). A matéria nIo comporta competência con-
do eminente Prof. Caio Tácito que, além de subs- corrente, a menos que os textos constitucionais te-
tancial contribuição de ordem doutrinária, transcre- nham perdido sua força obrigat6ria.
ve outra decisão do Supremo Tribunal Federal, com Também é certo que, no regime constitucional
a, ~~ue do voto do Ministro Rocha Lag&: anterior - o município parcela da organizaç§o dos
• _ um direito do Poder Ptiblico desapropriar a estados e nlio relacionados, sequer cogitados, aque-
propril.. iade individual, particular, mas deve faz6-10 les seus poderes hoje expHcitos - o Supremo Tribu-
pelos meh'lS adequados, promovendo a indenização nal Federal admitiu limitaÇlio de gabarito de edifi-
respectiva. 1'\" caso, a Prefeitura entendeu estabele- cações urbanas, feita por lei estadual (Rev. Trim. Jur.
cer um plano u..-banístico, que não se sabe quando 101,474,id.Rev.Dir.Adm.162,225).
será realizado, abr:mgendo a área pertencente aos Mas uma tal orientaÇão é hoje incompatível com
recorrentes. Não é ju..to que eles fiquem com essa a Constituiçlio de 1988, já pela posiçlo dos municí-
área imensa, valiosa, sem .'uferir proveito dela." pios definida no seu art. I!!, como unidmle do Fe-
E o Prof. Caio Tácito: deração, no mesmo plano dos estados e do Distrito
"Se a prolongada inclusão ':'11 projetos de ali- Federal, já "'CIo texto expresso daqueles seus dispo-
nhamento, de execução incerta, ou ;"''"l}provável, in- sitivos.
terdita o direito de construir, ou torna o ~m inego- Já agora, nIo há como deixar de considerar os
ciável em virtude desse impedimento, p~ razoá- votos divergentes daquela orientação, entre os quais
vel assegurar ao proprietário a reparação do dii"P.ito o do eminente Ministro Moreira Alves:
lesado" (Revista Direito Administrativo, 49,225). "A prevalência no direito urbanístico é do Mu-
Observe-se, outrossim, que o Supremo Tribunal nicípio.
Federal tem admitido, nas áreas rurais, como medi- A competência dos estados e da UniIo é muito
da de segurança do tráfego rodoviário, uma servidão limitada.
de nlio edificar em faixas marginais de estradas fe- As restrições urbanísticas interferem direta ou
derais e estaduais, sem a correspondente indenização indiretamente numa esfera, cujo inteIe8SC é exclusi-
aos respectivos proprietários; mas ressalva que uma vo do município: a arr~ do imposto sobre
tal servidão não subsiste quando essas estradas pe- propriedade territorial é priVlU.o;? dos municípios. O
netrem a zona urbana, já que aí predomina a auto- estabelecimento de restrições quanto a.. .;'lbarito e d
nomia municipal (Rev. Trim. Jur. 122, 1045; ibid. drea destinado a construções influi na base Qt; ~­
116, 587 e 1067; ibid. 90, 333; ibid. 91, 69); por culo desse imposto, mas também impede surjam no-
outro lado, a indenização é devida, ainda mesmo nas vas unidades habitacionais ou, comerciais, sobre as
zonas rurais, quando "a limitaÇão reduza ou elimine quais incidirá esse tributo."
a utilização econômica do im6vel", ac. de 28.6.84
( •••) as limitações, para mais ou para menos, "do
inRev. Trim.Jur. 121, 199). limite do terreno sIo normos que se imiscuem indevi-
~ certo que o Estado tem o poder de legislar so-
tlomente na esfera do peculim interesse do Munid-
bre o direito urban&tico. Também o tem a Unilio pioU.
(Constituição Federal, art. 24, 1). Mas é evidente que
nem ela nem ele poderá sobrepor-se aos mundpios No mesmo sentido, o voto do Ministro Cunha
naquilo que a Constituição expressa como poderes a Peixoto:
eles reservados: não apenas o de legislarem sobre "A construção urbana define-se, pelo seu pro-
"assuntos de interesse local' (art. 30, 11) - e nada é prio qualificativo, como assunto peculiar da cidade
de maior interesse local do que a demarcação das e, conseqüentemente, das autoridades municipais."
áreas urbanas - e o de proverem sobre seu Plano de E, citando Hely L. Meirelles: "O controle das cons-

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truções é atribuição especffica do município" (votos proprietário. O direito de uso é um direito real,
dos Ministros Cunha Peixoto e Moreira Alves in o direito de fruir as utilidades da coisa (C6digo Civil,
Rev. Trim.Jurips, citada, v. 101,474 e segs.). 3rt. 713). Eliminado esse direito ínsito na proprie-
Posto isso, respondo: dade (art. 524, C6digo Civil), supresso o direito de
a) quanto ao primeiro item da consulta - sim. O construir (3rt. 572), o que é que restad ao proprie-
constituinte estadual invadiu a competência privati- tário, além de um título de papel, meramente fictí-
va dos municípios, e com isto violou o 3rt. 30, I e cio, sem qualquer sentido de ordem econc5mica ou
VIII, assim como o 3rt. 182, ambos da Constituição utilidade pessoal? Ainda aqui, o constituinte esta-
Federal, quando delimita área das edificações urba- dual, ao violar matéria regulada por direito federal
nas e a de espaços livres, interferindo assim no pla- (Constituição Federal, 3rt. 22, n, impõe aos munid-
nejamento das cidades, aí incluída a ordenação das pios um dever de expropriar e indenizar esses pro-
zonas de ocupação. prietários, não por deliberação propria, mas por de-
b) quanto ao segundo item - também sim. A terminação do estado; até porque não há como dis-
restrição do inciso IX impõe aos proprietários não tinguir de uma desapropriação formal essa forma
somente a supressão do seu direito de construir (C6- indireta de eliminar o direi to de propriedade parti-
digo Civil, 3rt. 572) mas também, ao abrir as pro- cular, adotada no citado 3rt. 214, IX a que a consulta
priedades ao livre acesso pdblico (sic), transfere h alude.
comunidade o uso das propriedades, com o que eli- ~ o parecer, S.MJ.
mina a substância mesma da propriedade - o direito Bahia, 6 de Novembro de 1989. - Lafayete Pon-
de uso, que, por definição, é proprio e exclusivo do di.

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