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Repensando a avaliação da aprendizagem em sala de aula: uma análise da prática avaliativa

de uma professora do 2º ano do ensino fundamental

BUENO, Ivonete 152


RAMOS, Senhora Amábia Santos153

RESUMO: A avaliação da aprendizagem constitui uma fase primordial para o ensino em todas as fases escola-
res, sendo o caminho pelo qual é possível saber se a aprendizagem foi ou não alcançada. Nessa perspectiva, a
avaliação tem sua relevância em sala de aula uma vez que fornece subsídios para o professor desenvolver seu
trabalho voltado a atingir a aprendizagem do aluno. A presente comunicação possui como objetivo analisar a
concepção e os métodos que pautam a prática avaliativa de uma professora do 2º ano do ensino fundamental,
bem como os efeitos referentes aos resultados de aprendizagem. Para as análises dos dados fundamenta-se nos
estudos de Haydt (2002; 2004) Hoffamann (2003; 2006) Libâneo (1994) Luckesi (2005) Vasconcellos (2005)
entre outros que abordam e socializam o estudo da avaliação como prática educativa. Trata-se de uma pesquisa
teórico empírica, constituída pela aplicação de cinco questões discursivas destinadas à professora. Os relatos
contidos no questionário permitem analisar que os efeitos atingidos na aprendizagem dos alunos possuem re-
lação com a concepção adotada pela professora em sua prática avaliativa.

Palavras-Chave: Avaliação da aprendizagem. Concepção metodológica. Prática avaliativa.

1. INTRODUÇÃO

Este texto foi produzido a partir da pesquisa da prática avaliativa de uma professora do 2º no do Ensino
Fundamental, para tanto é necessário compreender a natureza do tema em questão. A avaliação faz parte de
nossas vidas. Desde o nosso nascimento somos acompanhados, e assim o processo avaliativo tem seu começo:
pelo médico, por nossos pais até chegarmos à escola. A avaliação fundamenta sua relevância na medida em
que ela fornece subsídios que proporcionam ao professor desenvolver um trabalho voltado a atingir a aprendi-
zagem do ensino pelo aluno, sendo assim, é necessário que ele (professor) tenha esse principio muito claro em
sua concepção. Nesse sentido, definimos que os objetivos constituindo as metas a serem alcançadas. Sendo que
o trabalho realizado prioriza analisar a prática avaliativa de uma professora do 2º ano o que inclui identificar
sua concepção da avaliação em sala de aula, apontando os métodos utilizados por ela, bem como os efeitos
causados na aprendizagem dos alunos.
Portanto, o presente artigo expõe seu conteúdo inicialmente pela revisão bibliográfica constituída pe-
los autores que abordam o tema, a seguir apresenta-se a metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa
e as análises dos dados coletados até o momento, por fim consideramos a conclusões obtidas pelas análises
realizadas.

152 Professora Mestre da Universidade Estadual de goiás.


153 Graduanda em Pedagogia – Unidade de Ciências Sócio-Econômica e Humanas da Universidade Estadual de goiás/UnUCSEH – UEG.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este estudo abordou autores que discutem a avaliação como instrumento da aprendizagem, sendo um
processo construtivo da uma prática avaliativa.
Destacando, por exemplo, as idéias de Hoffmann (2003; 2006) com Avaliação: mito e desafio uma
perspectiva construtivista que discute a avaliação numa tentativa de desmistificação em torno do currículo do
professor. A autora busca traçar caminhos destacando a experiência de professores na prática avaliativa mos-
trando a importância de discutir sobre a questão melhoria da qualidade de ensino, numa perspectiva inovadora
de avaliação, que considera o amadurecimento do aluno.
Em Avaliação do Processo Ensino – Aprendizagem Haydt (2004) conceitua o termo avaliar estando
associado a fazer prova, fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar de ano, isso é resultado de uma concep-
ção pedagógica arcaica, onde a educação é concebida como mera transmissão e memorização de informações
prontas e o aluno é visto como ser passivo e receptivo, onde a avaliação restringe a quantidade de informações
retidas, assumindo um caráter seletivo e competitivo.
No quadro abaixo e possível evidenciar a distinção entre testar, medir e avaliar.

TESTAR MEDIR AVALIAR


Verificar um desempenho através Interpretar dados quantitativos e qualita-
Descrever um fenômeno do
de situações previamente organi- tivos para obter um parecer de valor, ten-
ponto de vista quantitativo.
zadas, chamadas testes. do por base padrões ou critérios.

Demo (2005) traz a avaliação como um processo ambíguo contraditório ao ser extremamente comple-
xo e incompleto tendo que ser mantido sob cautela permanente, pois pode gerar atitudes agressivas e humi-
lhantes que selecionam e excluem. A prática educativa escolar está dirigida pela ‘pedagogia do exame’ e isso
fica mais visível na aplicação das provas, pois as atividades estão voltadas para um treinamento de ‘resolver
provas’ esta é análise feita por Luckesi (2005).
Nesta perspectiva, pretende – se abordar teoricamente os estudos sobre a temática alvo desta pesquisa
os autores supracitados acima, bem como outros que fizerem necessário para o desenvolvimento teórico e
metodológico do objeto de estudo.

3. Metodologia

A pesquisa se configura por uma metodologia de caráter teórico – empírico procedimento que envolve
trabalho de campo e revisão teórica afim de que após a coleta dos dados possa ser desenvolvida a análise dos
dados, na teoria tida por referencial. Tendo a avaliação como objeto de estudo os colaboradores da pesquisa
foram uma professora do 2º ano do Ensino Fundamental, e eventualmente os alunos154.
No contexto da sala temos a professora e seus 29 alunos. Formada em História (nível superior), desde
1994, trabalhando na Educação há 25 anos, e atuando em sala de aula nos anos iniciais há 16 anos, a professora
trabalha 40 horas semanais, nos turnos matutino (2º ano) e vespertino (1º ano). Para coleta dos dados foi entre-
gue à professora um questionário contendo cinco questões discursivas em que ela deveria descrever aspectos
de sua prática avaliativa.

154 Ressaltamos que estando a pesquisa em andamento apenas a professora participou até o presente momento, havendo necessidade os alunos serão
solicitados a colaborar com o estudo.
4. Apresentação e análise dos dados

As questões perguntadas à professora forma elencadas em tabelas, abrangendo. Posterior a cada qua-
dro de pergunta e resposta apresentamos as análises realizadas com a teoria que ancora o estudo.

“Avaliação contínua e graduada, verificando a participação e o desempenho integral de


cada aluno. Através de avaliações bimestrais; comportamento; organização, etc.”

O conceito de avaliação depende da postura filosófica adotada. Na fala da professora ela cita alguns
métodos, tentando explicar exemplificando. É perceptível apenas a visão da avaliação referente à aprendiza-
gem do aluno, não fica explícito em nenhum momento a avaliação como auxílio ao trabalho da professora.
Hoffamann (2006, p.15) afirma que “os educadores percebem a ação de educar e a ação de avaliar como dois
momentos distintos e não relacionados”. Quando a avaliação deveria representar uma ferramenta de auxílio
constante ao professor ela aqui é tida apenas como um instrumento legitimador do fracasso ou sucesso dos alu-
nos. Segundo Demo (2005, p.5), “o único sentido da avaliação é cuidar da aprendizagem”, nesse sentido tanto
o aluno quanto o professor são beneficiados pela utilização da avaliação, tendo em vista que a aprendizagem
ocorre através do ensino, a avaliação sustenta o ensino de maneira a fornecer informações que facilitarão o
trabalho do professor: ensinar.

“Os métodos que utilizo para avaliar meus alunos são através de leituras, textos orais e es-
critos, histórias, atividades diversificadas, cruzadinhas, desafios, lista de palavras, cartazes
de textos com ilustração, ditado visual, alfabeto móvel, receitas, bulas de remédios, panfletos
de lojas e supermercados, produção de textos através de histórias contadas, quebra cabeça
e jogos variados. Na matemática são usado mais matérias lúdicos”.

Aqui a resposta dada à questão refere-se aos métodos aplicados em duas disciplinas: português e ma-
temática. O que parece reforçar a preocupação que a escola tem no ensino das duas disciplinas. A professora
demonstra abranger várias atividades, mas não especifica a forma de avaliar que utiliza: avaliação inicial, ava-
liação formativa e avaliação final. Assim evidencia que não possui um método para avaliar seus alunos. Para
Haydt (2002), existem três técnicas básicas e uma grande variedade de instrumentos de avaliação: observação,
auto – avaliação e aplicação de provas dos seguintes tipos: argüição, dissertação e testagem. Os instrumentos
podem ser: registro da observação em fichas e caderno, registro da auto avaliação, prova oral, prova escrita
(dissertação o objetiva). Esses instrumentos têm como objetivos básicos: verificar o desenvolvimento cogni-
tivo, afetivo e psicosocial do educando em decorrência das experiências vivenciadas e determinar o aprovei-
tamento cognitivo do aluno, em decorrência da aprendizagem, isto de acordo com a técnica, ou seja, método
escolhido pelo professor.

“Os métodos que eu utilizo e acho que são válidos e os resultados são bem satisfatórios, pois
os alunos conseguem ter uma boa visão e domínio do conteúdo que são repassados.”

A professora demonstra acreditar na eficácia dos métodos que utiliza, tendo como parâmetro a assimi-
lação do conteúdo pelos alunos, porém Luckesi (2004, p. 4-6) em seus estudos nos mostra que a avaliação deve
ser um instrumento de construção da aprendizagem, ele afirma que: “avaliar significa subsidiar a construção do
melhor resultado possível e não pura e simplesmente aprovar ou reprovar alguma coisa.” Diante desse quadro
o que fica evidente é que na visão da professora basta o aluno dizer que entendeu o conteúdo ensinado, para que
a aprendizagem se efetive concretamente na verdade a avaliação serve para orientar os processos formadores,
evitando assim, resultados insatisfatórios.
a) “Nada.”
b) “Eu gostaria que fossemos mais valorizados e respeitados.”
c) “Mesmo que eu queira eu não tenho superioridade para fazer mudanças dentro da escola.”
d) “Na minha sala de aula as mudanças que deveriam ser feitas, já foram realizadas.”

Ao observarmos as respostas, notamos que a professora não acredita em construção do conhecimento,


na medida em que demonstra baixa auto-estima em relação à profissão e falta de autonomia para efetivação
das ações pedagógicas dentro da escola. Segundo Hoffmann (2006, p. 15), “um professor que não avalia cons-
tantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo do termo, instala sua docência em verdades
absolutas, pré-moldadas e terminais.” Isso pode ser observado quando a professora diz que em sua sala não é
necessário fazer mudanças, uma vez que segundo ela já foram feitas, desconhecendo, portanto, ser o homem
em qualquer instância de sua vida passivo de transformações, diversificações.

“O bom professor é aquele que é honesto que cumpre rigorosamente seus deveres, tem amor
ao próximo e acredita em Deus.”

Percebemos que há uma grande preocupação da professora em cumprir em as exigências da escola em
detrimento às necessidades do aluno, mas “[...] o equivoco se encontra nas exigências burocráticas da escola
e do sistema.” HOFFMANN (2006, p.15). Também é possível perceber o aspecto da responsabilidade que o
professor deve ter no cumprimento das suas tarefas. Vale ressaltar o aspecto humano, no sentido de afeição
quando a professora fala do amor ao próximo e da fé em Deus. A professora nesse caso não se refere ao tra-
balho docente, não fala das atribuições cabidas ao professor e não evidencia o papel profissional do professor
enquanto mediador do conhecimento aos alunos. Libâneo (1994, p. 202) afirma que a avaliação pode ajudar na
autopercepção do professor, ele explica que “a avaliação é, também, um termômetro dos esforços do professor.
Ao analisar os resultados do rendimento escolar dos alunos, obtêm informações sobre o desenvolvimento do
seu próprio trabalho.” Sendo papel da avaliação cuidar da aprendizagem o papel do bom professor seria o de
cuidar do ensino, contando então com o respaldo da avaliação.

5. Conclusão

Quando iniciamos nossas investigações percebemos a importância da concepção do professor frente à


prática avaliativa que ele (professor) adota. Diante disso procuramos conhecer e compreender a concepção de
uma professora tendo em vista que a forma que concebemos o conceito de avaliação implicará na metodologia
que aplicaremos em sala de aula.
Estando o estudo em andamento consideramos que o aperfeiçoamento da avaliação da aprendizagem
depende da sensibilização do professor, as mudanças de concepções são necessárias (quando se tem consciên-
cia das concepções), isso porque o professor pode desconhecer a concepção que está por detrás de sua pratica
avaliativa. De acordo com Vasconcellos: “[...] os condicionantes da prática do sujeito são decorrentes tanto da
dimensão objetiva quanto da subjetiva, sendo que uma exige a outra, uma tende a negar a outra, e nesse mo-
vimento se superam, propiciando avanços históricos.” Ou seja, o professor pode não ter conhecimento da sua
prática avaliativa, como também pode ter e não refletir, não provocar mudança de paradigma, enfim ser mero
reprodutor do ensino.
6. Referências Bibliográficas

ANDRÉ, M. E. D.A. (Org.). Pedagogia das diferenças na sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 2006.

DEMO, P. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005.

HAYDT, R. C. C. Avaliação do processo ensino aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004.

HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2002.

HOFFMANN, J. Avaliação: mito e desafio uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Editora Mediação, 2006.

HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré – escola à universidade. Porto
Alegre: Editora Mediação, 2003.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2005.

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2007.

VASCOCELLOS, C.S. Avaliação da aprendizagem: praticas de mudança por uma práxis transformadora.
São Paulo: Libertad, 2005.

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