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Responsabilidade civil extracontratual

Estamos perante uma situação de responsabilidade civil extracontratual uma vez que (…) estando em causa a violação de
direitos absolutos. Para resolver esta questão podemos recorrer ao RR II, se estiverem preenchidos os seus âmbitos de
aplicação material, temporal e espacial. Caso não estejam preenchidos, temos de recorrer ao Art 45.º CC, que é a norma de
conflitos que regula a rc extracontratual.
No que diz respeito ao âmbito material (Art 1.º e 2.º RRII), o regulamento é aplicável quando estejam em causa relações
extracontratuais que envolvam conflitos de leis, com a ressalva das situações elencada no Art 1nº2 do RR II. Ao Art 1.º, n.º 2, al.
g), do RR II tem de ser feita uma interpretação restritiva e vamos admitir que está incluído no âmbito do regulamento a violação
dos direitos de personalidade, com exceção dos delitos de imprensa. No caso, estamos perante danos provocados aos pais pela
morte da filha (há uma violação de direitos absolutos), há danos não patrimoniais (que são pedidos), existe um conflito de leis,
uma vez que se trata de um acidente que ocorreu no Camboja, os pais e a filha têm nacionalidade francesa, a residência
habitual da filha é em Portugal e a agência de viagens Mundivoyage tem sede em França e estabelecimento em Portugal.
No que concerne ao âmbito espacial (Art 3.º do RR II), o Regulamento Roma II tem caráter universal, o que significa que a lei
designada pelas normas de conflitos do regulamento será aplicada ainda que não seja a lei de um Estado-Membro.
Relativamente ao âmbito temporal (Art 32.º do RR II), o regulamento é aplicável aos factos ocorridos após 11 de janeiro de
2009. Este acidente ocorreu em 2010, logo está preenchido o âmbito temporal.
A este regulamento estão subjacentes vários princípios fundamentais, nomeadamente o princípio da autonomia da vontade, o
princípio da tendência para a especialização das normas de conflitos, o princípio da primazia do meio social comum, o princípio
da lex loci delicti commissi (concretizada enquanto lei do lugar do dano), o princípio do equilíbrio entre a segurança e certeza
jurídica e a flexibilização, o princípio do reconhecimento de efeitos a normas de aplicação imediata (NAI) de um Estado que não
seja a lex delicti, ou que seja, mas fora do seu âmbito de aplicação e o princípio do reconhecimento de interesses nacionais
através da ROPI.
O Art 15.º do RR II vai delimitar o âmbito da lei aplicável (lex delicti), isto é, a lei que vamos apurar nos termos das normas de
conflito do RR II. (#apurar a alínea aplicável ao caso e justificar) Atendendo à pretensão dos pais, temos de apurar se eles têm
direito a esta indemnização pelos danos morais. Assim, vamos aplicar a alínea f) – a lei do delito irá regular as pessoas com
direito à reparação. Analisado o âmbito da lei aplicável, e porque o RR II consagra o princípio da tendência para a especialização
das normas de conflitos, que temos de verificar se existe alguma norma de conflitos especial que possa resolver esta questão
(art. 5º-13º RRII). (Se existir, resolvemos pela norma especial, caso contrário resolvemos pelas normas gerais (14º RRII –
quando há escolha de lei ou 4º RRII - enquanto critério geral na falta de escolha de lei ou escolha inválida)). No caso sub
iudice, há a violação de um direito absoluto, pelo que não há nenhuma norma especial que regule esta situação. Assim sendo,
aplicamos as regras gerais (Art 14.º e 4.º do RR II) - Para além disso, no caso concreto, não houve escolha de lei. Embora eles
tenham escolheram a lei do Camboja, esta refere-se apenas às obrigações contratuais, mas não para as obrigações
extracontratuais, logo, não pode ser aproveitada automaticamente para as obrigações extracontratuais, devido aos requisitos
mais exigentes do Art 14.º do RR II (a escolha para as obrigações contratuais foi feita para regular essa relação de consumo e
não para outras responsabilidades). Assim, para este aspeto, não houve escolha de lei. Logo, vamos aplicar o Art 4.º do RR II.
Art. 14º - A escolha da lei resulta do p. da autonomia da vontade e permite às partes por um uma questão de segurança e
certeza jurídica, possam escolher a lei que melhor tutela os seus interesses. Aqui temos que apurar se existe uma escolha de lei
valida. Para isso é necessário que estejam preenchidos cumulativamente os requisitos: 1. A escolha de lei também pode ser
expressa ou tácita (Art 14.º, n.º 1, do RR II); 2. A escolha não pode prejudicar direitos de terceiros (Art 14.º, n.º 1, do RR II); 3.
A escolha só pode incidir sobre o direito de um Estado (argumento literal retirado dos Art 3.º e 14.º, nº 1, 2 e 3, do RR II); 4. A
escolha de lei deve respeitar a aplicação das disposições imperativas da lei que está em contacto com os elementos
relevantes da situação no momento da ocorrência do facto delitual (Art 14.º, n.º 2, do RR II) e deve ainda respeitar a
aplicação das disposições imperativas do direito da UE, quando é escolhida a lei de um terceiro Estado, quando os elementos
relevantes da situação estão localizados na UE no momento da ocorrência do facto delitual (Art 14.º, n.º 3, do RR II); 5. A
convenção pode ser anterior ou posterior ao facto que deu origem ao dano (Art 14.º, n.º 3, do RR II). Mas quando é anterior,
obedece ainda a requisitos adicionais: só é válida se as partes envolvidas desenvolverem atividades económicas e desde que a
escolha de lei tenha sido livremente negociada pelas partes (exclui os contratos de adesão), isto atendendo ao considerando 31;
visa a proteção das partes mais fracas.
Não sendo uma escolha válida ou não havendo escolha de lei resta-nos a regra geral em mataeria de responsabilidade civil
extracontratual prevista no art. 4º RRII. O princípio fundamental nesta matéria é o do meio social comum, que é concretizado
no elemento de conexão da residência habitual comum do lesado e da pessoa cuja responsabilidade é invocada (Art 4.º, n.º 2,
do RR II) – temos de ver se o lesado e esta pessoa têm residência habitual comum. Esta conexão é definida em função do
princípio de proximidade com as partes e do princípio da confiança, uma vez que é a lei que as partes melhor conhecem e com
a qual conformam habitualmente o seu comportamento e, por isso, esperam que seja aplicada essa lei. A pessoa cuja
responsabilidade é invocada é aquela pessoa cuja responsabilidade se pretende apurar no processo que pode não ser o autor
material do dano, pode não ser o agente (#...) – 23ºnº1 RRII – art. 4nº1 - subsidiariamente, apurar se 4nº3 é aplicado ou não

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