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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

ISA- Instituto Superior Aberto


Curso: CIÊNCIAS JURÍDICAS
Disciplina: DIREITO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Docente: Leandro Gastão Paul (Mestre em Direito)

SEMANA 5
4 A 10 JUNHO DE 2023

Nome do aluno: ALBERTO XAVIER ALBERTO

Código n.º: 475880

LEIA A PERGUNTA COM ATENÇÃO E RESPONDA JUSTIFICADAMENTE:

Manuel Tovela é um jornalista eleito pelos seus pares, para os representar no Conselho
Superior da Comunicação Social, para um mandato de cinco anos.
Pessoa de confiança dos jornalistas e da Administração da televisão onde trabalha, foi
indicado para chefe da delegação na província de Manica, passando a ter outras
responsabilidades, para além das editoriais.
Passou ele, por exemplo, a controlar também as contas bancárias da delegação, uma
responsabilidade para a qual não foi preparado. Daí começar a fazer confusão entre o
dinheiro da instituição e o seu próprio dinheiro começando a tirar valores pequenos – e
como não o apanhavam -, aumentando os valores à medida que o tempo ia passando,
para gastos em assuntos pessoais.
Quando menos esperava, recebeu a visita da auditoria que rapidamente concluiu ter
havido desvio de fundos, na ordem de vários milhares de meticais. Os colegas ficaram
muito admirados com o comportamento do Tovela e Administração não o perdoou, tendo
metido uma queixa na Polícia, para além de instaurar um processo disciplinar.
Face às provas encontradas, Tovela foi expulso da empresa e condenado a 12 anos de
prisão maior. Como ele era o garante da família, dado que a esposa é doméstica, um dia
lembrou-se de que havia sido eleito para membro do Conselho Superior da Comunicação
Social e que, enquanto lá esteve, recebia mensalmente um subsídio, naquela qualidade.
Instruiu a esposa para que levasse uma carta sua, endereçada ao DAF-Departamento de
Administração e Finanças do CSCS, para que este passasse um cheque do tempo que não
havia recebido, desde que havia sido sentenciado.
Mas a carta que a mulher trouxe de volta deixou-o bastante consternado, porque lhe
informaram que o CSCS nada tinha a pagar.
Quid juris?

R: Da leitura atenta do caso em apreço, pode se levantar alguns problemas jurídicos a


saber: a práica do crime de enriquecimento ilícito, abuso de cargo ou função e peculato.
Relativamente ao crime de enriquecimento ilícito, dispõe o nº 1 do artigo 428 CP, que ʺo
servidor público que, por si ou por interposta pessoa, adquirir, possuir ou detiver
património sem origem lícita determinada, incompatível com os seus rendimentos ou
bens legítimos, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente, se pena
mais grave lhe não couber por força de outra disposição legalʺ, neste caso, estão
preenchidos os elementos incriminadores do tipo legal de enriquecimento ilícito, na
medida em que houve uma apropriação de valores monetários cujo fim é de origem não
licita. Outrossim, a doutrina jurídica define como enriquecimento ilicito o incremento
significativo do património de um funcionário público por ingressos que não podem ser
razoavelmente justificados por ele.
No que ao crime de abuso de cargo ou função diz respeito, estabelece o nr 1 do artigo 431
CP, que “o servidor público que fizer uso abusivo do seu cargo ou da sua função,
praticando actos ou omitindo ou retardando actos no exercício das suas funções, em
violação da lei, ordens ou instruções superiores com o fim de obter vantagem
patrimonial ou não patrimonial para si ou para terceiro, será punido com pena de prisão
até 2 anos e multa até 1 ano, salvas as penas de corrupção se houverem lugar”. Ora, a
partir do momento em que qualquer servidor público, actuar no intuito de fazer
prevalecer a sua vontade particular, desviando-se do interesse colectivo, ou seja, da
finalidade pública, preenche o tipo legal deste crime; tal facto se verifica na hipótese em
análise onde Manuel Tovela, aproveitando-se da sua função pratica actos lesivos ao
interesse do Conselho Superior da Comunicação Social, ao lograr vantagem monetária
para si em detrimento da instituição.
Na senda do crime de peculato, resulta do disposto no nr 1 do artigo 434 CP, que é um
crime pratido por um servidor público sobre quem se confia a guarda ou gestão de bens
móveis ou valores monetários, pertencentes ao Estado ou outras entidades privadas ou
particulares, apropriando-se deles para o interesse próprio, mediante uma aplicação
ilegal. O elemento incriminador do tipo legal de peculato é a posse do dinheiro ou de
algum bem em razão do cargo que o agente ocupa. Ora, Manuel Tovela, na sua qualidade
de delegado do Conselho Superior de Comunicação Social na Provincia de Manica, está
numa posição relevante para deter a posse dos bens da instituição que reprenstava. Logo,
se acham também preenchidos os elementos incriminadores de peculato.
Relativamente ao procedimento disciplinar e criminal, a Lei prevê que havendo espaço
para instauração do processo disciplinar, mesmo que esteja em curso o procedimento
criminal, este não impede a instauração daquele. Entretanto, o artigo 70 do REGFAE
estabelece os casos em que os familiares dum funcionário preso preventivamente podem
receber o subsidio em prisão preventiva. Sendo que a hipótese reporta-nos uma situação
de sentença condenatória, o direito à recepção do subsidio em prisão preventiva, cessa
imediatamente e ipsum factum, tal como o previsto no nr 5 do artigo 70 REGFAE, sendo
que não há qualquer mérito do pedido da familia de Manuel Tovela sob alegação de ter
sido suspenso o subsidio logo após a sentença, visto que o procedimento do CSCS tem
cobertura legal nos termos do disposto no nr 5 do artigo 70 REGFAE, que estabele o
seguinte: “O pagamento do subsídio cessa logo que for deduzida e recebida a acusação
pelo Tribunal”.

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