Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/308903499
CITATIONS READS
0 792
1 author:
Paulo Esteireiro
Universidade NOVA de Lisboa
25 PUBLICATIONS 17 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Paulo Esteireiro on 06 October 2016.
ISBN 978-972-27-1706-9
9 789722 717069
Músicos Interpretam Camões
Canções sobre Poemas de Camões
na Primeira Metade do Século XX
Paulo Esteireiro
Editado por Imprensa Nacional-Casa da Moeda e Fundação Calouste Gulbenkian
Título: Músicos Interpretam Camões. Canções sobre Poemas de Camões na Primeira
Metade do Século XX
Autor: Paulo Esteireiro
7YVQLJ[VNYmÄJV!(UH*HYYLSOHZ
Pré-impressão e impressão: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Tiragem: 800 exemplares
Depósito legal: 280 586/08
ISBN: 978-972-27-1706-9
1.ª edição
Lisboa, Agosto de 2008
Prefácio 7
Introdução 13
5
1. Viana da Mota: o compositor e o género Lied 78
1.1. Verdes são as hortas 79
IV.2. A introdução do Lied no meio musical português 86
1. Luís de Freitas Branco: o compositor e o género Lied 86
1.1. A formosura desta fresca serra 87
1.2. O culto divinal se celebrava 93
9\P*VLSOV!VJVTWVZP[VYLVNtULYVLied 97
2.1. Aquela triste e leda madrugada 98
3. Cláudio Carneiro: o compositor e o género Lied 104
3.1. Nos olhos e na feição vos vi 104
3.2. Descalça vai para a fonte 109
IV.3. A «segunda geração» 115
1. Frederico de Freitas: o compositor e o género Lied 115
1.1. Sete anos de pastor Jacob servia 117
1.2. A formosura desta fresca serra 122
2. Fernando Lopes-Graça: o compositor e o género Lied 126
2.1. Sete anos de pastor Jacob servia 127
2.2. Alegres campos, verdes arvoredos 133
3. Jorge Croner de Vasconcelos: o compositor e o género Lied 142
3.1. Descalça vai para a fonte 142
4. Joly Braga Santos: o compositor e o género Lied 146
4.1. O céu, a terra, o vento sossegado 146
IV.4. A decadência do género 153
1. Filipe Pires: o compositor e o género Lied 153
1.1. Da alma e de quanto tiver 154
Conclusões 157
)PISPVNYHÄH 162
Anexos
I Poemas de Camões musicados 167
II Canções analisadas 171
III Lista de canções por compositor 219
0=-\UsLZKVHJVTWHUOHTLU[V
6
Prefácio
Teresa Cascudo
P
H\SV,Z[LPYLPYVLZJVSOL\JVTVSPTP[LWHYHVZL\[YHIHSOV\THYJV
cronológico que, grosso modo, coincide com o de um importan-
[L WYVJLZZV OPZ[}YPJV X\L WYVJ\YV\ H JVUZ[Y\sqV KL \TH PTH-
gem nacional de carácter cultural e identitário que distinguisse
Portugal. Aproximadamente entre 1880 e 1940, o dito processo articulou-se
com os acontecimentos políticos que convulsionaram o país, pautados por
mudanças de regime formalmente bastante abruptas. Se durante a Monar-
quia a militância no nacionalismo cultural foi uma forma de protesto, com a
República esse nacionalismo tornou-se uma questão de Estado. Depois, com
o Estado Novo, passou a ser, na mão dos seus ideólogos, um aspecto fulcral
para a sobrevivência do regime. A partir da década de 1930, a imagem de
Portugal construída institucionalmente pretendeu simular a eternidade. As-
sim, durante a II Guerra Mundial a propaganda do Estado Novo mostrava
as suas reconstituições do passado, destacando a excepcionalidade da paz
portuguesa: enquanto a ideia de Ocidente se despedaçava perante as atroci-
KHKLZWLYWL[YHKHZU\THN\LYYHZHUN\PUmYPH7VY[\NHSÄUHSTLU[LYLHWVY[\-
guesado», permanecia sereno e igual a si próprio, reconstituindo a relação
com o seu passado.
Neste estudo, Paulo Esteireiro focou a utilização, por parte dos composi-
tores portugueses, da obra do poeta Luís de Camões. O projecto do «reapor-
[\N\LZHTLU[V®KL7VY[\NHSJVTVtILTZHIPKV[PUOHHZZ\HZYHxaLZUVÄT
do século XIX, sendo que o seu principal teorizador, Afonso Lopes Vieira, ti-
UOHSPNHKVLZZH[YHUZMVYTHsqVKHJ\S[\YHLKHZTLU[HSPKHKLZnL\YVWLPaHsqV
do país. Esta ideia dominou desde então os esforços de um importante grupo
de artistas, entre os quais se destacaram alguns compositores. A data de re-
ferência que marca o início desse processo é, precisamente e tal como antes
se apontou, 1880, o ano em que foi comemorado o centenário de Camões.
8\HZLWVKLYxHTVZHÄYTHYX\LUVWYPUJxWPV¯MVP*HTLZ(PUKHK\YHU[LH
4VUHYX\PHVWVL[H[PUOHZPKVLZJVSOPKVJVTVLTISLTHWHYHHPKLU[PKHKL
J\S[\YHSKVWHxZ\THIVHWHY[LKHX\HSHZZLU[V\UHZ\HOPZ[}YPHSP[LYmYPH(
YLMLYvUJPHTHPZPTWVY[HU[LWHYHWLYJLILYLZZH[YHUZMLYvUJPHt;L}ÄSV)YHNH
VX\HSWYVJSHTV\HWHY[PYKLÄUZKHKtJHKHKL HVYNHUPJPKHKLKHSP[L-
ratura portuguesa, resultante do «individualismo nacional» e especialmente
«documentada» na poesia. A partir da literatura lírica medieval, ao mesmo
[LTWV UHJPVUHS L WVW\SHY [YHsV\ \TH SPUOH L]VS\[P]H X\L H[YH]LZZH]H VZ
7
Prefácio
9
A canção é toda a alma de um Povo em mangas de camisa. O «Lied» a
linda gravata que o Povo se viu um dia na necessidade de pôr. E de camisa e
gravata foi tomar parte no concerto do Mundo.
Augusto de Santa-Rita1
;L}ÄSV)YHNH2
O
domínio da música vocal portuguesa alterou-se profunda-
mente na transição do século XIX para o XX. Ao longo dos
primeiros cinquenta anos do século XX, todos os principais
compositores portugueses dedicaram-se — em maior ou
menor grau — à composição de canções para canto e piano em língua portu-
guesa, e abandonaram completamente a composição de óperas em italiano,
e quase por completo o próprio género ópera. Nomes como Viana da Mota,
Luís de Freitas Branco, Cláudio Carneiro, Frederico de Freitas, Fernando Lo-
pes-Graça, Jorge Croner de Vasconcelos, Joly Braga Santos e Filipe Pires, são
HSN\UZJHZVZX\LL_LTWSPÄJHTHUV]HWYLMLYvUJPHWLSVNtULYVJHUsqV
Se tivermos em consideração a situação musical portuguesa ao longo do
século XIX, em que o principal género cultivado pelos compositores portu-
gueses era a ópera cantada em língua italiana, e que a canção em língua
WVY[\N\LZHLZ[H]HSVUNLKLÄN\YHYLU[YLVZNtULYVZWYLMLYPKVZKVZJVTWVZP-
[VYLZLU[qVJVUÄYTHZLHL_PZ[vUJPHKL\THWYVM\UKHT\KHUsHUHZP[\HsqV
da música vocal portuguesa, no período aqui em estudo.
As explicações para esta mudança musical são ainda escassas. Embora já
existam, por um lado, alguns estudos e ensaios que ajudam a compreender
TLSOVY H ZP[\HsqV T\ZPJHS WVY[\N\LZH UH WYPTLPYH TL[HKL KV ZtJ\SV ??
por outro lado, pouco, ou mesmo quase nada ainda foi feito no domínio da
análise musical, muito particularmente na área da canção em língua portu-
guesa. O único estudo sobre o domínio da canção portuguesa é um pequeno
livro de José Bettencourt da Câmara publicado na colecção O Essencial da
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, intitulado O Essencial sobre a Música
Portuguesa para Canto e Piano3, que é bastante sintético, carecendo de uma
análise musical mais aprofundada, que fugiria bastante aos objectivos da
colecção em que se insere o livro.
Deste modo, o presente estudo pretende ser um pequeno e fragmentário
contributo para um domínio em que muitas perguntas continuam à espera
de uma primeira resposta ou, pelo menos, de dados que comprovem ou re-
futem respostas até agora pouco fundamentadas por análises musicais apro-
fundadas, e leituras críticas e cuidadosas de documentos da época.
Porque começaram os compositores portugueses a compor canções para
canto e piano em língua portuguesa, e ComoVÄaLYHTMVYHTHZZPTHZK\HZ
=LYB*Ë4(9( D
13
Estudos Musicológicos
6WYPTLPYVNY\WVKLOPW}[LZLZJVYYLZWVUKLNYVZZVTVKVnZK\HZWYPU-
JPWHPZ[LZLZX\L[vTZPKVKLMLUKPKHZWHYHLZ[LWLYxVKV[HU[VUHZOPZ[}YPHZ
da música portuguesa, como por José Bettencourt da Câmara no já citado
LZ[\KV!HHWYV_PTHsqVKL7VY[\NHSHVZJLU[YVZL\YVWL\ZHWHY[PYKL"
LHPUÅ\vUJPHKVUHJPVUHSPZTVUHTZPJHUVWLYxVKVW}Z\S[PTH[VPUNSvZ
B*@4)965,)90;6 "5,9@L*(:;96 "L*Ë4(9( D
6ZLN\UKVNY\WVKLOPW}[LZLZIHZLPHZLU\THJHYHJ[LYPaHsqVKHmélodie
MYHUJLZHHW}ZZVMYLYHPUÅ\vUJPHKVLied ZJO\ILY[PHUVLMLJ[\HKHWLSVT\ZP-
J}SVNV-YP[Z5VZRLB56:2, D(ZZPTWYVJ\YV\ZL[LZ[HYULZ[L[YHIHSOV
se em Portugal ocorreu um processo análogo ao francês.
+LTVKVH[LZ[HYHZOPW}[LZLZSL]HU[HKHZHTL[VKVSVNPHLZJVSOPKH]H-
YPV\WHYHJHKH\TKVZKVPZTVTLU[VZWYPUJPWHPZKV[YHIHSOV5VWYPTLPYV
MVPJYPHKV\TTVKLSVJVTHSN\UZLSLTLU[VZPUÅ\LU[LZUVTLPVT\ZPJHSWVY-
tuguês, onde se seguiu a perspectiva dos compositores. Este modelo, cons-
truído em redor dos compositores, contém os elementos que se seguem:
YLSHJPVUHTLU[V JVT V TLPV PU[LSLJ[\HS WVY[\N\vZ" YLSHJPVUHTLU[V JVT V
TLPVT\ZPJHSL\YVWL\"NtULYVZJ\S[P]HKVZLHIHUKVUHKVZ"PUZ[P[\PsLZT\-
ZPJHPZJYPHKHZLKPZZVS]PKHZ"YLHJsqVKVWISPJV"LZ[H[\[VKVJVTWVZP[VY
14
Introdução
15
Estudos Musicológicos
K(UL_V0=·M\UsLZKVHJVTWHUOHTLU[VLUJVU[YHKHZHVSVUNVKLZ[L
[YHIHSOVJVT]mYPVZL_LTWSVZT\ZPJHPZWLY[LUJLU[LZnZJHUsLZHUHSPZHKHZ"
Finalmente, resta-me agradecer a algumas das pessoas que possibilitaram
a concretização deste estudo e sem as quais não teria sido possível, de modo
HSN\TLKP[mSV±WPHUPZ[H*HYSH:LP_HZn;LYLZH*\UOH4\ZL\KH4ZPJH
Portuguesa) e à Leonor Lains (Academia dos Amadores de Música), pelas
WYLJPVZHZ HQ\KHZ UV KPMxJPS WYVJLZZV KL HUNHYPHsqV KHZ ]mYPHZ JHUsLZ" HV
JVTWVZP[VYLTHLZ[YV7LKYV-PN\LPYLKVWLSVZPTWVY[HU[LZJVUZLSOVZWHYHH
WHY[LKLHUmSPZL"nZ7YVMLZZVYHZ+PUH4HJPHZL(SL_HUKYH9VKYPN\LZ0UZ[P[\[V
Politécnico de Bragança), pela simpatia com que me ajudaram no processo
KLYLJVSOHKLIPISPVNYHÄHUHZmYLHZKLHUmSPZLSP[LYmYPHLSPUN\xZ[PJH"HV+Y
)Y\UV4HYX\LZWLSHZWYV]LP[VZHZJVU]LYZHZZVIYLTL[VKVSVNPHZJPLU[xÄJHZ"
HVTL\PYTqVVVYNHUPZ[H(U[}UPV,Z[LPYLPYVWVY[LYWHY[PSOHKVJVTPNVVZ
ZL\Z YPJVZ JVUOLJPTLU[VZ KL OHYTVUPH HV [LJSHKV" HV TL\ VYPLU[HKVY V
Professor Doutor Manuel Carlos de Brito, pelo seu sentido crítico e prático
UHYLZVS\sqVKVZWYVISLTHZ"HVZLKP[VYLZ-\UKHsqV*HSV\Z[L.\SILURPHUL
0TWYLUZH5HJPVUHS*HZHKH4VLKHWVY]HSVYPaHYLTLZ[HVIYH"LÄUHSTLU-
[L HVZ TL\Z WHPZ L n TPUOH LZWVZH 9HX\LS .VTLZ *HTHJOV WVY [LYLT
sempre acreditado em mim.
16