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1. Introdução
2. Conceito e requisitos
3. Classificações da despesa pública
4. Realização da despesa pública e “escolhas trágicas”
5. Ilicitude do dispêndio e sanções
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Carlos Alexandre de Azevedo Campos
1. Introdução
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BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução ao Estudo das Finanças. Op. cit., p. 73.
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CURSO DE DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO
Os governantes não podem gastar à vontade, ou seja, não são livres para realizarem
as despesas públicas que desejarem. Existem limitações para estes gastos. A autorização
para efetivação das despesas públicas deve observar alguns requisitos:
Não obstante, um corte explicativo deve ser feito acerca do requisito da autorização
legislativa para o caso de despesas públicas voltadas para a satisfação de direitos
fundamentais, inclusive do mínimo existencial. Os direitos fundamentais e os sociais, esses
em sua expressão de mínimo existencial, devem ser garantidos pelo Estado mesmo se não
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Carlos Alexandre de Azevedo Campos
contemplados por políticas públicas ou por qualquer outra previsão legal, podendo a
execução dos serviços públicos correspondentes ser imposta judicialmente. 2 Na omissão do
legislador em estabelecer o dispêndio de recursos públicos para satisfação desses direitos
fundamentais, caberá ao Judiciário determinar a institucionalização das medidas necessárias
para a fruição desses direitos. A fundamentalidade desses direitos justificaria a
judicialização da despesa pública. Essa questão será retomada no tópico 4.
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Na já clássica e sempre lúcida lição de Ricardo Lobo Torres, O Direito ao Mínimo Existencial, Rio de
Janeiro: Renovar, 2009, p. , o direito ao mínimo existencial consiste no “direito às condições mínimas de
existência humana digna que não pode ser objeto de intervenção do Estado na via dos tributos (=imunidade)
e que ainda exige prestações estatais positivas”. No âmbito dos direitos sociais, essa garantia toca às pessoas
que se encontram abaixo da linha da pobreza e representa as condições mínimas à existência digna do ser
humano como condições iniciais da liberdade, de modo que ninguém pode ser privado destas condições
materiais aquém de um mínimo, sob pena de desaparecer a própria liberdade.
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HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 8ª ed., São Paulo: Atlas, p. 41/42.
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Por fim, cumpre destacar a classificação legal das despesas públicas, prevista na Lei
nº 4.320/64, que, em seu art. 12, divide as despesas públicas em despesas de capital e
despesas correntes. Esta conceituação é feita por lei e se esgota na lei, não tendo grande
aceitação no mundo doutrinário.
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quadrimestres do mandato ou que tenham parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem
que haja suficiente disponibilidade de caixa.
Tema fundamental que envolve a despesa pública é o dos limites de gastos públicos
em um cenário de necessidade de escolhas sobre “em que gastar” diante da pluralidade de
necessidades públicas e da possibilidade de escassez de recursos. Esse tema, tratado,
normalmente, sob o rótulo da “reserva do possível” (que será aprofundado no Capítulo IV),
alcança, principalmente, os processos de realização dos direitos sociais. A necessidade de
tornar efetivos os direitos sociais e econômicos não envolve apenas questões dogmáticas
relativas ao conteúdo e eficácia desses direitos, mas questões de fundo mais prático como a
escassez de recursos financeiros em um cenário de escolhas alocativas.
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SARMENTO, Daniel. A proteção judicial dos direitos sociais: alguns parâmetros ético-jurídicos. In:
SOUZA NETO, Cláudio Pereira e SARMENTO, Daniel (orgs.). Direitos Sociais: fundamentos,
judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 556.
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Sobre a falácia desses argumentos, cf. OLIVEIRA, Fernando Fróes. Finanças Públicas, Economia e
Legitimação: Alguns Argumentos em Defesa do Orçamento Autorizativo. Revista da Procuradoria Geral
do Estado do Rio de Janeiro nº 64, 2011.
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materiais; a perda da função pública; a suspensão dos direitos políticos, dessa feita por 5 a 8
anos; multa em dobro do dano patrimonial provocado; e a proibição de contratar, por cinco
anos, com o poder público. Já os atos contra os princípios da Administração Pública, como
fraudes e congêneres, as penas são o ressarcimento dos danos; a perda da função pública; a
suspensão dos direitos políticos por entre 3 a 5 anos; multa de até cem vezes a remuneração
recebida; além da proibição de contratar com o poder público por três anos.
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MOREIRA NETO. Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Renovar, p. 71 e ss.
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Cf. STF – Pleno, ARE 683.235/PA (RG), Rel. Min. Teori Zavascki.