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Conceitos de Teologia

Material Teórico
Introdução à Teologia – Aproximações

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Elton de Oliveira Nunes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Introdução à Teologia – Aproximações

• Introdução
• O que é Teologia?
• Teologia – Primeiras Conceituações
• A Teologia e o seu Lugar no Campo dos Saberes

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Definir a teologia e classificá-la dentro do campo do conhecimento.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Contextualização

Figura 1

Tudo começa por uma boa introdução. Qualquer que seja a área ou Ciência,
pesquisa ou investigação, é necessário entender as bases primárias do assunto
e do objeto que se quer conhecer. Por isso, é necessário para o aluno que
inicia o estudo de uma nova Ciência, o conhecimento prévio da mesma, suas
definições, conceituações e sua posição dentro do vasto campo dos saberes.
A Teologia, enquanto Ciência, tem suas especificidades, sua história, suas
definições, suas aproximações e afastamentos com outros campos do saber.
Por isso, é fundamental começar pela introdução. O que é teologia? Como esta
é considerada dentro da academia? Como foi aceita e de que trata o estudo
teológico? Perguntas fundamentais para se adentrar em um território novo e
muitas vezes completamente desconhecido. Por isso incentivamos você a buscar
nessa primeira unidade as informações básicas e introdutórias, mas extremamente
relevantes para um bom início de formação do futuro teólogo.

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Introdução
Você já deve ter ouvido a piada que se faz ao teólogo. Se não ouviu, eu reproduzo
para você como uma forma de introdução aos nossos estudos.

o que você
estuda?

Teologia

Filosofia?

Não,
Teologia

Sociologia?

Teologia!

Ah, isso...
mas isso
dá dinheiro?

A-deus

Figura 1
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Isso diz muito sobre a Teologia, as Ciências, a sociedade e o conhecimento que


se tem sobre os estudos e suas finalidades. O estudo de uma Ciência não se resume
ao “ganhar dinheiro”. Aliás, é um mito muito recorrente em nossa sociedade o da
ideia que existem áreas ou estudos ou profissões que “dão muito dinheiro”.

Pois bem, não existem áreas assim, existem profissões que são mais valorizadas
em nossa sociedade de consumo. No entanto, aqueles que atingem o patamar
dessas áreas são um número muito reduzido. Podemos perceber isso pelo futebol.
Milhares de pessoas tentam ser jogador, centenas conseguem, mas os que ganham
muito dinheiro formam uma minoria. Então, isso ocorre em todas as áreas.

É a vocação, o esforço, a aplicação, o talento e as oportunidades que levam


alguém a atingir o ápice de sua profissão e isso determina o retorno financeiro. Isso
não é ingenuidade. Existem profissões e áreas desqualificadas pela sociedade, mas
não significa que aquela área não vale nada, que os profissionais são incompetentes
ou que aquela Ciência é “ruim”.

Você Sabia? Importante!

A palavra profissão é uma palavra teológica, ela nasce do latim “profissio”, de profissão,
declaração de fé. Assim, a escolha da profissão deve ser uma questão de vocação, sua
própria “profissio”.

Ao escolher estudar Teologia e se formar como teólogo, a pessoa busca sua


vocação, sua área de atuação profissional que irá realizar seus anseios e não apenas
um “meio de ganhar muito dinheiro”. Acabamos de fazer uma análise da sociedade
a partir da Teologia.

O que é Teologia?
A definição de uma área, de uma Ciência, ou mesmo de um objeto não é
fácil. Um dos exemplos mais comuns que nos ajuda a entender é tentar definir
uma cadeira.

Já ouvi inúmeras definições sobre cadeira: “algo feito para sentar”, ou “objeto de madeira
Explor

que as pessoas usam para sentar”, ou ainda, “uma coisa de quatro pernas feita para sentar”.
Pois bem, pare por alguns segundos e defina você a cadeira... Entendeu o problema?

As definições ajudam a compreender a realidade criada por nós. O que fazemos


é nomeá-la dando-lhe um significado que passa a nos pertencer.

Assim, sol, lua, estrelas, Maria, João, casa, enfim, todas as nomeações passam
a fazer parte do universo conhecido por nós, nomeado por nós.

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Pois bem, existem duas maneiras básicas para definir alguma coisa. Uma pelo
que ela é (ontologia) e outra pela sua função, ou o que ela faz (operacionalidade).
O mesmo ocorre com uma área de pesquisa, uma Ciência. É preciso trabalhar uma
definição que nos ajude a entender exatamente o que aquela área faz, o que ela é.

Como definir uma Ciência?


Explor

Ciência: oriunda do latim: “scientia”, sua origem significa conhecimento ou saber.

Ao longo do processo histórico, o conceito de Ciência foi mudando e atual-


mente entende-se por Ciência todo o conhecimento adquirido através do estudo
ou da prática, baseado em métodos e princípios previamente estabelecidos para
aferir os resultados obtidos e passíveis de serem reproduzidos. Porém, apesar do
conceito de Ciência, muitos ainda objetam que a Teologia não poderia, a rigor,
ser denominada uma Ciência. Esta controvérsia remonta à antiga classificação de
Ciência distinta da fé. Essa distinção, que separava fé e razão, remonta ao século
XIII com Tomás de Aquino. Muito tempo depois, no século XVIII, o Iluminismo
também rechaçará a Teologia com o argumento de que esta só servia à religião,
nas proposições dos dogmas de fé.

Quer se aprofundar no conhecimento da ciência? Veja: BERNAL, John Desmond. A ciência na


Explor

história. Lisboa, LIVROS HORIZONTE, 1975.

No auge da discussão iluminista surgiu um movimento denominado materialis-


mo científico ou cientificismo, que afirmava que o método científico apresentado
por eles era a única possibilidade real e completamente viável para o conhecimento
da verdade, e de que apenas a matéria e a energia eram as formas da realidade
fundamental do universo. Dessa forma, a Teologia estava excluída desse processo,
visto que partia não da análise empírica e verificável do real (material), mas dos
dogmas de fé.

As ciências modernas foram definidas no contexto europeu entre os séculos XVI a XVIII e se
Explor

consolidaram no período denominado de Iluminismo.


Para entender esse processo e entender o que é a teologia nessa perspectiva, ver:
https://goo.gl/DNhQaW

O materialismo científico reduz a realidade ao que é possível de ser captado pelo


ser humano através dos seus sentidos e passível de ser controlado e examinado
em laboratório a partir de métodos de verificação empírica. Outro ponto do
materialismo é a não interferência ou isenção completa do indivíduo na busca e
análise de entendimento do objeto.

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Outro ponto interessante é a questão do postulado da liberdade que o mate-


rialismo cientifico apregoava. Para a busca do conhecimento toda a verdade é
neutra, e para se alcançar a verdade (conhecimento) a Ciência teria de ser livre
de quaisquer pressupostos éticos e morais. Sendo a Teologia uma área que lida
com a religião e com pressupostos éticos, a Teologia seria, assim, desqualificada
como Ciência.
Postulava-se um distanciamento do objeto para a não interferência dos re-
sultados. O cientista era tido como alguém que busca descobrir e entender a
verdade (as leis universais dos objetos) para depois prevê-la (o comportamento
causal e os efeitos das dinâmicas sobre o objeto) e, por fim, controlá-la (o do-
mínio completo do objeto).
Essa era a grande meta das Ciências modernas. Muitos iluministas achavam que
até a morte seria dominada e o ser humano iria controlar o universo, as doenças,
a natureza, toda a criação, enfim.
Este delírio de controle adentrou os séculos XIX e XX e revelou-se extremamente
complexo e mesmo fatal em alguns casos. O século XX, auge da era técnica do ser
humano, tornou-se o século das guerras. A humanidade aproximou-se do colapso total.
Os críticos (filósofos, psicólogos, historiadores, poetas, sociólogos e teólogos)
levantaram suas vozes para essa marcha da insensatez e do perigo que esta car-
regava em si. O positivismo e depois o cientificismo cobraram um alto preço pela
arrogância humana.

Para conhecer a trajetória e a crítica sobre Positivismo e o Cientificismo, ver: HORKHEIMER,


Explor

Max. O eclipse da razão. Portugal, ANTIGONA, 2015.

Apesar disso, por muitos anos, a Teologia foi relegada a segundo plano, fora da
academia e restrita aos espaços das religiões e confessionalidades. A Teologia não
era considerada uma Ciência em sentido estrito, mas apenas um saber de segunda
monta, algo que interessava apenas a religiosos.
A Teologia era entendida como a Ciência que estuda o que não se vê (a divindade
ou divindades) o que não se toca (o mundo espiritual), o que não se pode comprovar
por meios laboratoriais, mas apenas na subjetividade da fé.
Esta estrutura de Ciência positivista e uma cultura cientificista na academia
acabaram por ser desconsideradas pela própria academia em diversas críticas ao
longo dos séculos. Atualmente a Ciência se abre para o humano, para outros tipos
de conhecimento e para o pensamento abstrato, para as teorias do complexo, das
incertezas. Mas o que ocorreu décadas atrás na Europa e nos EUA, demorou para
chegar ao Brasil, sempre com um déficit educacional e científico.
Só após muitas lutas por parte de setores educacionais junto aos governos, a
Teologia foi galgando o espaço próprio e recebendo o devido valor, como ocorre há
séculos na Europa, EUA e outras partes do mundo (trataremos mais profundamente
desse assunto na segunda aula).

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A relevância da Teologia é que sua produção nos leva a entender a sociedade,
o ser humano e o próprio mundo, suas dinâmicas e suas singularidades. Por sua
própria natureza, a Teologia é interdisciplinar, ela conversa com as outras Ciências
e áreas do saber e leva a uma prática consciente como uma vocatio, vocação.
Então, estudar Teologia é uma questão de vocação, de querer conhecer
o mundo, o ser humano e a sociedade. Outro ponto interessante é a inflexão que
ela propõe, ser uma área tanto teórica quanto prática. Dessa forma, a Teologia
é eminentemente prática, de ação social, de transformação e crítica à sociedade.
É uma Ciência teórico-prática que busca a práxis, ou a reflexão sobre a prática e a
ação prática reflexiva.
Se adentramos na História da Teologia vamos descobrir que no Ocidente os
poetas gregos foram os primeiros a se intitularem “teólogos” e a Teologia referia-se
às discussões filosóficas a respeito do princípio e do fundamento de todas as coisas;
dos deuses e do mundo: teogonias e cosmogonias.

Figura 2

Para entender, então, o que é teologia, precisamos aprofundar ainda mais o


conceito do termo. Etimologicamente, a palavra teologia é a composição de duas
palavras gregas: theós (deus) e logia (estudo ou Ciência).

Dessa forma, em princípio, a Teologia é definida como a disciplina que estuda


“deus” ou “os deuses”, “a divindade” ou “as divindades”. É evidente que somente
a questão etimológica não nos dá uma dimensão aprofundada da Teologia como
campo de estudos. Diversos problemas se apresentam a partir do entendimento
sobre “o estudo de deus”.

Apresentamos alguns desses problemas:


1. Como estudar “deus” ou “os deuses” ou ainda “a divindade” ou “as divinda-
des”? Quais os parâmetros para definir e analisar um ser supremo, Invisível?
2. O estudo de “deus” significa que temos “deus como objeto”. Ora, não é
possível transformar “deus” em um objeto tal qual fazem as Ciências que
tem seu objeto definido.

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

3. Se “deus” é o objeto de estudos, como aferir que os resultados correspon-


dem à realidade? Como examinar “deus”?

A Ciência Teológica requer rigor e método no exame de seu objeto, porém, a


divindade (deus) não pode ser objeto de nossas observações empíricas e de nossas
análises laboratoriais. Assim, a etimologia nos aproxima do saber teológico, mas
não esgota a questão.

Para ser considerada uma Ciência, a Teologia precisa comportar alguns dos
critérios do conhecimento científico. O primeiro é a questão da definição precisa
do objeto de estudo.

O segundo critério é a metodologia de investigação desse objeto, sujeito à análise


e verificação de cada etapa da análise. Assim, o teólogo pode comprovar suas
afirmações e as outras Ciências podem verificar seus argumentos.

O terceiro critério é a objetividade do estudo para que haja possibilidade de tal


verificação. Quais as fontes? Quais as técnicas de verificação?

Por último, a Ciência requer coerência entre as proposições do objeto em


questão, demonstrando uma racionalidade e uma lógica na argumentação e na
comprovação dos fatos apresentados e das teorias e das hipóteses levantadas.
Como assevera Harbin : “O método científico se baseia na utilização de premissas,
hipóteses, teorias e leis da natureza”.

Leia a obra:
Explor

HARBIN, Christopher B. Introdução à Teologia Sistemática. Rio Grande do Sul, SEMINÁRIO


TEOLÓGICO BATISTA DO RIO GRANDE DO SUL, 2006. p.35.

Porém, há que se ter em mente que a Teologia não é uma Ciência Natural como
é a Biologia ou a Matemática. Estamos trabalhando com a ideia de Ciência em
sentido amplo.

Muitos acabam por confundir Teologia com seus correlatos mais próximos,
por exemplo, com o conceito de religião. É verdade que ela está vinculada a
uma religião (como veremos adiante), mas não é a religião, já que esta pode
tanto ser um movimento, uma ideia ou um sistema institucional. No entanto, a
Teologia é uma reflexão-ação sobre pontos basilares da religião a partir do seu
Texto Sagrado.

Outros confundem Teologia com fé. A fé é um componente da religião e será


um dos pontos de reflexão da Teologia, mas não são a mesma coisa. A fé é um
sentimento gerado a partir de uma certeza pessoal, um convencimento pessoal.
Ela independe de provas científicas ou de comprovações matemáticas. A Teologia
estuda a fé como um dos componentes de sua área de pesquisa.

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Outra confusão se faz entre Teologia e Igreja. A igreja é uma instituição religiosa
que pertence a uma determinada religião. Novamente a Teologia se interessa e
estuda a relação entre igreja e religião, mas não se confunde com a igreja enquanto
objeto de reflexão.

Por último, podemos citar a doutrina ou o dogma. Estes têm a ver com a
racionalização da fé. A doutrina nasce de uma declaração sistematizada de um dos
pontos da fé. A Teologia também se preocupa em estudar as doutrinas e os dogmas,
mas não se resume a eles. Para maior entendimento, analise o quadro abaixo:

Teologia

Religião

Igreja

Doutrinas

Figura 3

Dessa forma, você pode perceber que tanto a religião, quanto a fé, a igreja e as
doutrinas serão pontos de análise da Teologia, mas estas não se confundem.

Teologia – Primeiras Conceituações


Chegamos então na questão da conceituação da Teologia. A Teologia é o estudo
da realidade, do ser humano e da sociedade a partir do Texto Sagrado ou da Fala
Sagrada ou Dito Sagrado. Existem religiões que possuem o Texto Sagrado, fruto
de um processo histórico e social constitutivo de sua própria caminhada. Outras
possuem a Fala Sagrada, determinada pela falta de sistematização da vocalização em
signos gráficos de determinado grupo ou povo. Os ditos de revelação considerados
como base de sua religião, passados de pai para filho, de geração a geração, que
remonta à história da criação do ser humano, suas origens e a sua fé. Porém, todas
as religiões possuem ou o Texto Sagrado ou a Fala Sagrada.

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Figura 4
Por exemplo, o Zoroastrismo é uma religião fundada na antiga Pérsia,
considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. Tem seus
fundamentos fixados no Avesta. Os pressupostos do sistema foram estabelecidos
por Zoroastro (Zaratustra).
A doutrina de Zoroastro foi transmitida oralmente e recolhida nos gathas, os
cânticos do Avesta, conjunto de livros sagrados da religião. A base do Avesta é
um conjunto de hinos (gathas) que falam do deus criador Ahura Mazda. Divide-se
o Avesta em cinco livros principais: o Yasna, o Vispered, o Vendidad, o Yashts e o
Khordah Avesta.
Já o Hinduísmo é uma religião cujo nome foi criação dos ingleses em 1830.
O termo correto do Hinduísmo como religião é Sanâtana-Dharma, significando
uma norma perene de existência, a que sempre foi reconhecida. É uma
tradição que é o próprio fundamento das coisas e não tem, portanto, um
fundador. A mentalidade hindu mobiliza-se mais por uma ortopraxia do que por
uma ortodoxia.
Os Textos Sagrados são compilações e sínteses realizados durante o processo
de transformação da religião ao longo de milhares de anos. São cinco grupos de
textos que são utilizados para orientação, ritual e purificação.
Denominam-se vedas os quatro textos, escritos em sânscrito. Eles formam a
base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a
mais antiga literatura da língua indo-europeia. A palavra veda, significa conhecer.

Outro exemplo é o Judaismo, uma das três principais religiões abraâmicas,


definida como a “religião, filosofia e modo de vida” do povo judeu. É conside-
rado pelos judeus religiosos como a expressão do relacionamento e da aliança
desenvolvida entre Deus com os Filhos de Israel. O judaísmo afirma uma con-
tinuidade histórica que abrange mais de 3.000 anos. É uma das mais antigas
religiões monoteístas.
Seu Texto Sagrado é chamado de Tanakh. Essa designação é a palavra hebraica
formada com as iniciais das palavras Torah, Nevi’im, Ketuvim: que significam
“Lei, Profetas e Escritos”. São as três partes da Bíblia Hebraica.

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Importante, também, é a Fé Bahá’i foi fundada por Bahá’u’lláh em 1844 na
antiga Pérsia. É uma religião que não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdó-
cio. Os seguidores são chamados como Bahá’u’lláh e baseiam-se no contínuo
progresso da civilização e no respeito à humanidade. É uma religião monoteísta
e crê que Deus é o criador de tudo e de todos. Deus, na Fé Bahá’i, é eterno e
inacessível. Os Manifestantes de Deus são mensageiros divinos e vieram para
educar a humanidade.
Os Bahá’is possuem um Texto Sagrado, designado de “As Escrituras”. Esses
textos definem que o propósito da vida é o crescimento espiritual, sendo este um
desenvolvimento gradual, continuando eternamente após a morte.
O mais conhecido no Ocidente, o Cristianismo, é uma religião centrada na
vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como apresentados no Novo
Testamento. A fé cristã centra-se no cumprimento das profecias oriundas da
revelação judaica (denominada de Antigo Testamento) e nos escritos dos apóstolos
e testemunhas de Jesus (reveladas e denominadas de Novo Testamento).
Historicamente, o Cristianismo também herdou do Judaísmo sua tradição de fé
e incorporou ao seu Texto Sagrado, o Texto Sagrado dos judeus. Assim, formou-
se a Bíblia composta da Tanakh (chamado de Antigo Testamento) e do Novo
Testamento. Como nos assevera Von Sinner:
O objeto da teologia acadêmica, então, não é propriamente Deus, mas
o falar de Deus. Analisa como a fé está sendo explicitada, com quais
argumentos, recorrendo a quais fontes de que modo, e observando e
analisando os diferentes modos de se fazer a explicação da fé. Nesta
observação, entra também o contexto, tanto histórico, desde a exegese
bíblica até a história da doutrina, quanto atual, procurando fazer uma
teologia relevante para o contexto contemporâneo em determinado lugar,
sem esquecer a catolicidade da fé, ou seja, a coerência da fé ao longo do
tempo e no conjunto das vozes do ecumenismo hodierno.

Veja: Op. Cit. SINNER, R.. Teologia como ciência. Estudos Teológicos, América do Norte, 47,
Explor

dez. 2012. Disponível em: https://goo.gl/Me04sg. Acesso em: 12 Out. 2016. p. 63.

Dessa forma, podemos entender que a Teologia nasce na reflexão sobre o Texto
Sagrado e na utilização desse texto pela religião. Não há religião sem revelação
de alguma espécie (texto ou fala), assim como não há Teologia Acadêmica sem
objeto de análise.

Quer conhecer mais sobre as religiões? Veja: PALMER, Martin; O’BRIEN, Joanne. O Atlas das
Explor

Religiões. São Paulo, PUBLIFOLHA, 2008.

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

No quadro abaixo apresentamos uma breve lista sobre diversas religiões e seus
Textos Sagrados:
Quadro 1. Referente às religiões e seus textos sagrados
Religião Data Origem Texto sagrado
Zoroatrismo 1750 a.C. Pérsia Avesta
Hinduísmo 1500 a.C. Índia Vedas
Judaísmo 1200 a.C. Israel Tanakh
Cristianismo 30 d.C. Israel Bíblia
Islamismo 570 d.C. Arábia Corão
Sikhismo 1500 d.C. Punjab Adi Granth; Dasam Granth, Bhai
A Escritura Divina; os Hinos
Tenrikyo 1838 Japão
Sagrados; As Indicações Divinas
Fé Bahá’ì 1863 d.C. Arábia Escrituras
Igreja Messiânica 1935 d.C. Japão Alicerces do Paraíso
Fonte: elaborado pelo autor

Poderíamos listar uma miríade de religiões e apresentar seus Textos Sagrados.


Mas esse quadro nos dá uma ideia de que as religiões gravitam a partir da revelação
que se consolida na Fala Sagrada ou no Texto Sagrado.

Pois bem, a Ciência Teológica será o estudo das ações e declarações do Texto
Sagrado. O objeto da Teologia, enquanto Ciência, será o próprio Texto Sagrado
e tudo aquilo que gravita em torno dele. Por isso, teremos uma Teologia Cristã,
ligada à Bíblia, uma Teologia Hindu, ligada aos Vedas, uma Teologia Kardecista,
ligada aos textos de Kardec (o Evangelho segundo o Espiritismo) e assim por diante.

A Teologia também se preocupa com o que se diz sobre o Texto Sagrado (a


doutrina da igreja) e o que se faz em nome do Texto Sagrado (a ação da igreja),
a leitura de mundo e ação no mundo a partir do Texto Sagrado, além de analisar
o próprio Texto Sagrado como objeto de investigação e sistematização teológica.

A Teologia e o seu Lugar no Campo


dos Saberes
Ao longo do tempo, buscou-se classificar e identificar povos, raças, pessoas,
animais, as Ciências e a própria informação. Desse modo, segundo Diemer , foram
surgindo quatro grandes orientações de classificação: uma orientação ontológica
(classificação dos seres), uma orientação gnosiológica (classificação das Ciências),
uma orientação biblioteconômica (classificação dos livros) e uma orientação
informacional (classificação das informações).

DIEMER, A., “L’Ordre (Classification) Universel des Savoirs comme Probléme de Philosophie
Explor

et d’Organisation”. In: WOJCIECHOWSKI, J.A. (Ed.), Conceptual basis of the Classification


of Knowledge. Munchen, VERLAG DOKUMENTATION, 1974. p. 144-160.

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A própria academia se preocupou em buscar a classificação das Ciências em um
processo que se iniciou a partir do século XVII e se intensificou no século XIX. Com
a Filosofia das Ciências buscou-se entender cada vez mais a própria constituição
da Ciência e a constituição de novos ramos fundamentais do conhecimento
científico (desde a Biologia e as primeiras Ciências humanas, como a Sociologia e
a Psicologia, até os ramos científicos mais especializados). Assim, é com Augusto
Comte, Ampère e Spencer que a classificação das Ciências se tornará um problema
central da filosofia das Ciências.
A Teologia tem seu lugar no campo dos saberes como uma área de pesquisa
acadêmica de terceiro grau (científica). Ao longo da história essa posição variou
muito. A Teologia já foi considerada a rainha das Ciências e também já foi descartada
do rol das Ciências acadêmicas. Porém, ao longo de um complexo processo de idas
e vindas, a Teologia acabou por fazer parte da academia brasileira e goza de um
crescente prestígio no Brasil que vai percebendo a cada dia o seu valor.
Esse processo no Brasil iniciou-se pelo reconhecimento do Ministério da
Educação que em 1999 declarou a Teologia como área de conhecimento e de
produção compatível com as necessidades da sociedade e da própria academia,
formando pessoas em uma área de atividades compatíveis com a necessidade da
sociedade (formação profissional e cidadã). Existindo campo de atuação para os
egressos dos estudos teológicos, em 2004, PARECER N.º: CNE/CES 0063/2004
foi aprovado pelo então ministro da Educação.

Conheça o PARECER N.º: CNE/CES 0063/2004,


Explor

Disponível em: https://goo.gl/9OMo6R

Ademais, a Teologia é uma área de estudos acadêmicos, pois atende aos


requisitos e pressupostos básicos de um campo de pesquisa, dentro de parâmetros
exigidos. A busca pela análise de um objeto definido a partir de uma metodologia
clara e verificável, produtora de resultados inteligíveis e passíveis de verificação.
Em resumo, podemos dizer que a Teologia é uma Ciência por que:
1. Possui um objeto próprio, pois é o estudo sobre a revelação de uma ou mais
divindades;
2. Elabora uma linguagem com conceitos claros e definidos;
3. Pauta-se por normas metodológicas para difundir seu saber;
4. Possui um corpo de pesquisa que produz conhecimento;
5. Difunde seu conhecimento para o benefício da humanidade;
6. Serve de contribuição para o debate acadêmico.

A Teologia tem seu objeto na prática do texto, no discurso sobre a prática


(liturgia, ensinamento e orientação) e na história da religião que detém o Texto
Sagrado (História do grupo religioso).

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Diversos outros campos e áreas estudam a religião e os Textos Sagrados


como objetos de pesquisas e análises. As Ciências humanas (Filosofia, Sociologia,
Psicologia, Antropologia, Educação, Política) têm na religião um dos seus objetos
de estudo. Porém, nenhuma delas se confunde com a Teologia.
A abordagem do fenômeno religioso, seja no grupo humano, seja na cultura,
seja no indivíduo ou como desdobramento social não interfere ou se choca com a
abordagem teológica.
Tampouco a área de Ciências da religião, também uma área reconhecida pela
academia como área de estudos científicos, não se confunde com a Teologia. As
Ciências da religião abordam o fenômeno religioso sobre o ponto de vista das
Ciências que tratam a religião como um de seus objetos em um ponto de vista
interdisciplinar e dialogal.
Já a Teologia examina a religião a partir do Texto Sagrado. É um exame
indireto. A Teologia não está preocupada ou se interessa exclusivamente pelo
objeto religião, mas passa a interpretar as ações da religião e a fala da religião
sobre o Texto Sagrado.
Dessa forma, temos diversas áreas buscando entender o fenômeno religioso,
mas sem uma interposição ou interferência epistemológica ou conceitual entre
essas áreas (Ciências).

teologia

filosofia educação

psicologia religião politica

sociologia ciencias da
religião

antropologia

Figura 5
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Assim, a Teologia tem seus próprios objetos de pesquisa, sua metodologia,


sua produção e sua relevância na formação científica e profissional que não se
confundem com as outras Ciências. Porém, é importante conhecer a história
da Teologia, seu desenvolvimento no Ocidente, sua trajetória na academia e na
sociedade. É o que veremos na próxima aula.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A teologia na universidade contemporânea
NEUTZLING, Inácio (Org). A teologia na universidade contemporânea. São Leopoldo,
EDITORA UNISINOS, 200.
Teologia e outros saberes: uma introdução ao pensamento teológico
PASSOS, João Décio. Teologia e outros saberes: uma introdução ao pensamento
teológico. São Paulo, PAULINAS, 2010.
Teologia Pública: reflexões sobre uma área de conhecimento e sua cidadania acadêmica
SOARES, Afonso Ligório & PASSOS, João Décio (Orgs). Teologia Pública: reflexões
sobre uma área de conhecimento e sua cidadania acadêmica. São Paulo, PAULINAS, 2011.
Introdução à Teologia Cristã
GONZALEZ, Justo & PÉREZ, Zaida M. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo,
HAGNOS, 2008.

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UNIDADE Introdução à Teologia – Aproximações

Referências
BOTTIGHEIMER, Christoph. Manual de teologia fundamental. Petrópolis,
EDITORA VOZES, 2014.

LIBANIO, João Afonso e MURAD, Afonso. Introdução à teologia, perfil,


enfoques e tarefas. 2ª. Ed. São Paulo, EDITORA LOYOLA, 1998.

MCGRATH, Alister. Teologia: sistemática, histórica e filosófica. São Paulo,


EDITORA VIDA NOVA, 2005.

MCGRATH, Alister. A Ciência de Deus: Uma Introdução à Teologia Científica.


Minas Gerais, EDITORA ULTIMATO, 2016.

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