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SENTENÇA
I - RELATÓRIO
Sustentou a autora, em suma, como fundamento de sua pretensão: a) haver requerido sua
habilitação na pensão militar junto à CAPITANIA DOS PORTOS DE PERNAMBUCO
-CPPE, na condição de companheira do Sr. JOÃO BATISTA NERY DA SILVA, falecido
em 23 de junho de 2017 (como SD do MINISTÉRIO DA MARINHA, matrícula nº
64159264), a qual restou indeferida, em 29 de agosto de 2017, sob o fundamento de não
comprovação da união estável; b) haver ingressado com ação de união estável na Justiça
Estadual, e após tal reconhecimento, ter requerido novamente, em 22/03/22, sua
habilitação na pensão militar, sendo mais uma vez indeferida, desta vez sob a alegação da
impossibilidade de se reconhecer a união estável ante o fato do segurado/falecido - ainda
que separado de fato - ser casado com outra mulher; c) o falecido - embora separado de
fato - na data do óbito ainda era casado com SUELEIDE BATISTA PEDROSA DA SILVA -
que é a atual beneficiária da pensão militar, havendo, portanto, a necessidade dela
compor a lide, na condição de litisconsorte passiva necessária; d) quando a autora e o
falecido passaram a conviver em união estável, ambos já se encontravam separados de
fato, o que os enquadram na condição de companheiros, com fulcro na alínea c) do art. 7º
da Lei nº 3765/60, com alterações introduzidas pela MP nº 2215-10/2001, além do §3° do
art. 226 da CF/88 e da Lei nº 9278/96; e) ademais, pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça "a existência de casamento válido não obsta o reconhecimento da
união estável, desde que haja separação de fato ou judicial entre os casados"; f) antes de
conhecer o de cujus, a autora teve 2 filhos de um relacionamento anterior (ROSIMERY
LIRA DA CRUZ e JOSÉ INALDO FRANCISCO DA CRUZ), e o falecido, por sua vez, era
genitor de dois filhos vivos, a saber: JOSÉ CARLOS NERY DA SILVA e ARTAGÉCIA
PEDROSA NERY DA SILVA; g) a partir da convivência com a autora, iniciada em
15/11/1990, o falecido passou a ser responsável pela criação e sustento dos filhos desta,
mantendo o sustento dos seus filhos que fixaram residência com a genitora, ex-esposa do
falecido, na cidade de Olinda - PE; sendo, inclusive, mantida a convivência familiar entre
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filhos e enteados e netos até a data do óbito do segurado, quando, por iniciativa dos filhos
do de cujus e da sua ex-esposa - houve rompimento dos laços afetivos; h) defender que a
sentença cível que julgou procedente o pedido de declaração de existência de união
estável com o ora falecido é, sim, documento apto à comprovação da referida relação,
especialmente porque se trata de decisão proferida por juízo competente, a qual se deve
conferir plena eficácia jurídica, em que pese a UNIÃO não ter figurado como parte,
porque sendo a jurisprudência do STJ pacífica no sentido de competir à Justiça Estadual
operar o reconhecimento de relações de união estável, ainda que haja o escopo mediato de
obter prestações ou benefícios junto a autarquias ou empresas públicas federais, ficaria o
juízo federal a ela vinculado, não em virtude da extensão dos efeitos da coisa julgada, mas
em virtude da própria eficácia declaratória da sentença lá proferida, de caráter vinculante
e contra todos, uma vez prolatada pelo órgão do poder judiciário incumbido, pela
Constituição Federal, de examinar as demandas relacionadas ao direito de família e
sucessões; i) além disso, a sra. SUELEIDE BATISTA PEDROSA DA SILVA, na data do
óbito, já se encontrava separada há mais de 27 anos, residindo, inclusive, na cidade de
Olinda - PE; embora a separação de fato não tenha gerado a extinção formal do casamento
com a ex-esposa, que sequer dependia economicamente do falecido, e nem percebia
pensão alimentícia, afastando-se, sua condição de dependente na forma da alínea a ou c
do art. 7º da Lei nº 3765/60; j) por fim, comprovada a união estável da autora com o
falecido, não há necessidade de comprovação de dependência econômica, visto que esta é
presumida. Como comprovação documental de suas alegações, juntou à inicial: fotos de
família, comprovantes de endereço em comum, além de escritura pública de união estável
e reconhecimento judicial da mesma. Requereu a concessão do benefício da gratuidade da
justiça, assim como a prioridade de tramitação por se tratar de pessoa idosa.
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Por meio de decisão de id. 25468229, foi ratificado o benefício da gratuidade judiciária
concedido, a teor dos artigos 98 a 102 do CPC.
É o relato. Decido.
II - FUNDAMENTAÇÃO
Pretende a requerente a concessão de pensão por morte em seu favor, de forma integral,
em razão do falecimento de seu companheiro.
Quanto à prejudicial de prescrição, esta não atinge o fundo de direito e, sim, em caso de
eventual procedência do pedido, as parcelas vencidas e não pagas anteriores ao
quinquênio do ajuizamento da ação.
Isso porque, no caso, tem-se relação de trato sucessivo e, assim, aplica-se a Súmula
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85/STJ:
Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora,
quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação.
Cinge-se a controvérsia posta nos autos em saber se a parte autora tem direito à pensão
por morte postulada, na qualidade de companheira do militar falecido, Sr. JOÃO
BATISTA NERY DA SILVA.
Para a resolução da questão sob análise, faz-se necessário o exame da legislação vigente à
época do falecimento do instituidor da pensão. Com efeito, como pacificado na
jurisprudência pátria, "a lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é
aquela vigente na data do óbito do segurado" (STJ - Súmula n.º 340). Assim, benefícios da
mesma natureza são regidos pela lei vigente na data do óbito (princípio do tempus regit
actum).
No caso, considerando-se a data do óbito do de cujus, aplica-se a Lei n.º 3.765/60, que trata
das pensões militares.
A Lei nº. 3.765/60, que regulamenta a concessão de pensão militar, na dicção do art. 7º.,
com as modificações introduzidas pela Lei nº. 8.216/91, posteriormente alterada pela MP
2.215-10/2001, dispõe que:
a) cônjuge;
d) filhos ou enteados até vinte e um anos de idade ou até vinte e quatro anos
de idade, se estudantes universitários ou, se inválidos, enquanto durar a
invalidez; e
e) menor sob guarda ou tutela até vinte e um anos de idade ou, se estudante
universitário, até vinte e quatro anos de idade ou, se inválido, enquanto durar
a invalidez.
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No caso, observo que a autora logrou demonstrar o cumprimento dos requisitos legais
para a concessão do benefício pleiteado. Com efeito, foi comprovada a união estável da
autora com o falecido mediante sentença proferida na justiça estadual e transitada em
julgado (id. 23470653).
Assim, em tal processo foi julgado procedente o pedido para fim de declarar a união
estável post mortem mantida entre IVANETE LIRA DA SILVA (CPF nº 712.536.534-53) e
JOÃO BATISTA NERY DA SILVA (CPF Nº 101.009.974-49), pelo período de 27 (vinte e
sete) anos, que se iniciou em 1990 e findou no ano de 2017, ano do óbito do Sr. João,
conforme provas então colhidas.
Neste contexto, reputo comprovada a união estável entre a autora e o de cujus, que
mantinha uma relação amistosa com a ex-mulher, sem caracterização de casamento -
coabitação, obrigações conjugais etc.
Ressalto, por fim, que o benefício devido à autora corresponderá à divisão da metade da
pensão a ser rateada entre a demandante e a ex-esposa, que recebia pensão do falecido,
paga espontaneamente. Já as cotas-partes dos(as) filhos(as) da litisconsorte passiva, não
devem sofrer alteração em decorrência da presente decisão.
Assim, tenho como comprovada a versão de que a autora viveu em união estável com o
de cujus por mais de 20 anos, até o seu óbito, restando, também, comprovada a sua
condição de dependente para fins de percepção da pensão por morte de militar.
III - DISPOSITIVO
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companheira do Sr. JOÃO BATISTA NERY DA SILVA, rateando a cota-parte devida à ex-
esposa e suas filhas, nos termos da legislação aplicável à espécie.
Custas ex lege.
Processo: 0811674-23.2022.4.05.8300
Assinado eletronicamente por: 23070416485255300000027405195
ARA CARITA MUNIZ DA SILVA - Magistrado
Data e hora da assinatura: 07/07/2023 13:27:26
Identificador: 4058300.27324345
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