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DIREITOS HUMANOS
1. Introdução
2. Controle de convencionalidade
Curso Ênfase © 2021 1
O controle de convencionalidade é exame da compatibilidade entre os atos internos de
um Estado e o corpus iuris internacional, especialmente aquele relacionado aos
Direitos Humanos, cuja promoção é da essência das funções de um defensor público,
seja ele de que grau funcional for, seja vinculado a qual Defensoria for.
Assim, importante notar que a atuação das defensorias se dá pari passu à atuação
jurisdicional, respeitando-se apenas as regras de competências e atribuições internas e
internacionais.
O juiz deve comparar os atos normativos que adota com todos os tratados. O
fundamento do controle de convencionalidade são os arts. 1º e 2º da CADH, que dizem
que o Estado tem o direito de ajustar seu direito interno à CADH e de dar cumprimento
a ela. Como os Estados têm o direito de ajustar o direito interno, os juízes têm
obrigação de julgar de acordo com o corpus iuris interamericano.
Art. 1º
Art. 2º
A Corte tem consciência de que os juízes e tribunais internos estão sujeitos ao império
da lei e, por isso, são obrigados a aplicar as disposições vigentes no ordenamento
jurídico. Mas quando um Estado ratifica um tratado internacional como a Convenção
Americana, seus juízes, como parte do aparato estatal, também estão submetidos a ela,
o que os obriga a velar para que os efeitos das disposições da Convenção não se vejam
diminuídos pela aplicação de leis contrárias a seu objeto e a seu fim e que, desde o
início, carecem de efeitos jurídicos. Em outras palavras, o Poder Judiciário deve exercer
uma espécie de “controle de convencionalidade” entre as normas jurídicas internas
aplicadas a casos concretos e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Nesta
tarefa, o Poder Judiciário deve levar em conta não apenas o tratado, mas também a
interpretação que a Corte Interamericana, intérprete última da Convenção Americana,
fez do mesmo.
Assim, o principal precedente foi Almonacid Arellano vs. Chile (2006), ainda que
antes dele já se tenha mencionado o controle de convencionalidade na CADH, mas, de
todo modo, foi nesse caso que se afirmou a obrigação de todos os juízes do sistema
interamericano realizarem o controle de convencionalidade.
Outra questão inovadora, que tem sido pouco falada no Brasil, é o fato de que não
apenas autoridades judiciais, mas as administrativas, de acordo com a Corte IDH,
também devem fazer o controle de convencionalidade. A Corte afirmou isso no
caso Gelman vs. Uruguai (2011). Essa questão ainda carece de debates e
amadurecimento interno em cada Estado, devendo ser verificada a forma como as
autoridades administrativas farão isso.
Atenção!
Atualmente temos o Tratado de Nova York sobre pessoas deficientes e seu protocolo
facultativo, além do Tratado de Marraqueche sobre inclusão de pessoas cegas, todos
aprovados na forma referida acima e, portanto, ostentando status de emenda
constitucional.
Sem embargo, não se pode olvidar da atribuição, pelo STF, de status supralegal aos
tratados de direitos humanos não aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/1988.
Como exemplo, podemos citar o Pacto de São José da Costa Rica.
O referido controle por parte dos juízes e tribunais locais é um verdadeiro dever,
decorrendo da própria ordem pública internacional, de sorte que não pode ser afastado
sob qualquer pretexto, sob pena de responsabilidade internacional do Estado
(MAZZUOLI, 2017).
Art. 64
Atenção!
3. Conflito de interpretação
Em havendo conflito entre uma decisão interna e outra proferida por Tribunal
Internacional, segundo o professor e procurador da república André de Carvalho
Ramos, aplicando-se a teoria do duplo controle, revela-se a inexistência de um conflito
real, na medida em que se deve prestigiar a decisão do chamado intérprete final, que é
aquele competente em relação àquela decisão.
(...)
Em segundo lugar, porque, como observou ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS, não existe
conflito entre a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF 153 e a da Corte
Interamericana no caso GOMES LUND. O que há é exercício do sistema de duplo
controle, adotado em nosso país como decorrência da Constituição da República e da
integração à Convenção Americana sobre Direitos Humanos: o controle de
constitucionalidade nacional e o controle de convencionalidade internacional.
Já a teoria do diálogo das fontes propõe, como o próprio nome deixa entrever, uma
solução dialógica entre o direito interno e o decidido pelo tribunal internacional.
Teoria desenvolvida pelo alemão Erik Jaime, foi trabalhada no Brasil por Cláudia Lima
Marques.
Consiste na ideia de que as normas jurídicas não se excluem, ainda que pertencentes a
ramos jurídicos distintos, mas se complementam por meio de uma solução dialógica
entre elas, buscando-se áreas convergentes e harmonizando zonas divergentes.