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(Livro 1 Ao 6) Uma Proposta Indecente - S. S. Sahoo
(Livro 1 Ao 6) Uma Proposta Indecente - S. S. Sahoo
(Livro 1 Ao 6) Uma Proposta Indecente - S. S. Sahoo
Xavier Knight sabe que duas coisas garantem o interesse de uma garota:
carros rápidos e dinheiro.
Ele tem as duas coisas. Quando um escândalo o obriga a um casamento
arranjado com Angela Carson, uma zé-ninguém sem um tostão, ele
presume que ela seja uma interesseira — e promete fazer de sua vida um
inferno. Mas as aparências enganam, e às vezes os opostos não são tão
diferentes quanto parecem...
Título Original: The Arrangement
Autor Original: S. S. Sahoo
Classificação etária: 18+
Livro 1
Livro 2
Livro 3
Livro 4 - Sem Revisão
Livro 5 – Sem Revisão
Livro 6 – Sem Revisão
Livro 1
Capítulo 1
Um contrato por uma alma
ANGELA
BRAD
Eu não podia acreditar que ela tinha dito sim. Mesmo sendo um
homem de negócios muito bem sucedido, mesmo acostumado a ser
tratado como o magnata que eu era, ainda me encontrei sem palavras.
Havia algo tão inocente sobre ela.
E ainda assim, aqui estava ela, apertando as mãos em um arranjo que
forçaria sua vida por um caminho diferente. Eu poderia concordar em
pagar as contas médicas de seu pai, mas de alguma forma, eu ainda me
sentia em dívida com ela.
Alguns dias haviam se passado desde que eu a havia localizado no
pequeno hospital de New Jersey, e hoje era o dia em que nos reuniríamos
para discutir os mínimos detalhes do acordo.
Eu a convidei para um chá no Plaza, e ela aceitou prontamente. E
quando ela perguntou:
— Qual praça? — Eu não pude deixar de rir; a garota foi
inequivocamente encantadora.
Eu tinha acabado de me sentar à minha mesa habitual, aquela no
canto com poltronas de veludo de ambos os lados. Era verdade que
muitos dos meus associados frequentavam esta sala de jantar, mas esta
mesa, escondida atrás de arranjos florais, facilitava evitá-los.
Eu estava apenas verificando meus e-mails quando senti toda a
disposição da sala mudar, como se uma rajada de vento tivesse entrado
numa sauna, deixando todos lá dentro refrescados.
Olhei para cima, e lá estava ela. Ela entrou nervosamente na sala,
olhando em volta como uma criança perdida. Eu não pude deixar de
sorrir e me sentir ainda mais seguro sobre meu plano.
ANGELA
Acordei assustada esta manhã, surpresa com como tinha conseguido
dormir até tarde. Tomei chá com Brad Knight, agendado para o início da
tarde. Cara, pensei, essa é uma frase que eu nunca pensei que diria. O que as
pessoas vestem para um chá da tarde?
Um terno de negócios?
Um vestido de babado?
Pensei em pedir ajuda a Em, mas depois teria que explicar com quem
eu estava me encontrando, e por quê. E isso me pareceu ter mais um
problema totalmente diferente. Então, em vez disso, vesti minhas roupas
normais, um jeans e uma blusinha, calcei minhas botas pretas favoritas, e
saí.
Após consultar o Google, soube que o Plaza não era na verdade uma
praça, mas o Plaza Hotel. Frequentado por pessoas ricas, o Plaza tinha
uma mistura de negócios e celebridades.
E o chá da tarde não era apenas de camomila ou pekoe tipo orange.
Foi um evento. Eu li tudo isso no trem, olhando para o jeans que eu havia
escolhido usar. Eu era um peixe fora d’água, isso era claro. Meus nervos
estavam cada vez mais à flor da pele.
Será que eles sequer me deixariam entrar?
Assim que entrei, o porteiro saiu correndo de trás de sua mesa e
colocou uma mão no ar, parando-me.
— Madame?
— Oi, sim, — eu gaguejei. — Estou aqui para o chá?
Ele apenas levantou uma sobrancelha.
— Vou me encontrar com o Sr. Knight, — eu disse, também não
acreditando muito nisso. Mas dizer o nome dele foi o suficiente.
— Ah, perfeito, — ele disse, seu sotaque francês o torna ainda mais
intimidante. — Siga-me.
Assim que ele abriu as portas da sala de jantar, eu fiquei sem ar. A
decoração era tão meticulosamente arranjada, tão impossivelmente bem
coordenada, que eu sentia que apenas caminhar por ali seria arruiná-la.
Olhei ao meu redor, de mesa em mesa, sentindo-me como uma
estrangeira. E então vi Brad no fundo, levantando-se e acenando. O
concierge, ainda ao meu lado, levantou outra sobrancelha para mim.
— Obrigado por sua ajuda, — eu disse suavemente, e atravessei as
mesas de pessoas que eu só tinha visto em revistas. Caramba.
— Sente-se, — disse Brad assim que eu me aproximei. Ele apontou
para a cadeira de veludo em frente a ele, e eu senti como se tivesse
afundado em uma nuvem no momento em que me sentei. — Obrigado
por se juntar a mim.
— Obrigada por me convidar, — respondi, cheia de nervosismo. —
Este lugar é incrível.
— Isso?— ele disse, olhando em volta. — Isso não é nada. — Mas ele
tinha um sorriso no rosto, sinalizando que estava brincando. — É algo a
que você vai se acostumar.
— Não acho que poderia.
— Acredite em mim, — ele disse, — o brilho e o glamour se
desgastam. Há um limite para quantas garrafas de champanhe você pode
comprar antes de perceber que não tem ninguém com quem goste de
dividi-las. Mas é por isso que você está aqui.
— Você bebe champanhe no chá? — perguntei, confusa. Nesse
momento, o garçom apareceu, usando uma gravata borboleta. Pensei que
ele poderia ser um modelo. Ele olhou para o Brad.
— Sr. Knight? O de sempre?
Brad acenou com a cabeça e ele desapareceu sem sequer olhar para
mim. Então Brad se inclinou para frente, e eu pude perceber que ele
estava se preparando para começar A Conversa.
— Então, Angela. O que você pode não saber sobre meu filho, Xavier,
é que ele já passou por muita coisa. Crescer comigo como pai não é fácil,
ao contrário do que muitos poderiam acreditar. Há muita pressão. E
pressão em lugares pequenos....
— Causa uma explosão, — eu terminei. E então senti sangue correndo
para as minhas bochechas. Teria eu acabado de interromper o Brad
Knight?
Mas ele apenas acenou para mim.
— Exatamente. Xavier tem andado por todo o lado ultimamente. E eu
acho que você... você tem a capacidade de fazê-lo criar raízes em algum
lugar. Para lembrá-lo do que é importante. Isso é o que estou propondo.
— Então, eu me caso com seu filho, e você garante a saúde do meu
pai... suas contas médicas...
— Tudo será pago, — ele disse, com uma certeza que me fez confiar
nele. — Desde que você me garanta que nosso acordo, nosso arranjo,
nunca será dito a mais ninguém. — Ninguém pode saber por que você
está fazendo o que está fazendo. Nem sua família, nem seus amigos. E
nem Xavier. Nunca meu filho.
Ele me entregou um documento com várias páginas. Eu vi que era um
contrato, com pelo menos trinta cláusulas. E então o rosto do meu pai
passou pela minha mente — o rosto que eu tinha visto na cama do
hospital, todo pálido e fraco.
Minha mente estava me dizendo para parar, para pensar sobre isso,
mas era como se minha mão estivesse trabalhando sozinha. Tirei a
caneta chique da mão do Brad Knight e assinei o contrato.
Depois, ainda com as mãos tremendo, tomei um gole do chá
fumegante que o garçom-modelo colocou diante de mim.
Brad: Xavier?
ANGELA
A água quente caía sobre minha pele, mas por mais que eu esfregasse,
eu ainda me sentia suja.
Que nojo.
Eu não podia acreditar como Xavier tinha falado comigo. Eu não
podia acreditar no que ele pensava de mim — que eu estava atrás do
dinheiro dele e do nome de sua família.
A ideia de usar alguém assim era suficiente para me deixar enojada, e
ainda assim era exatamente o tipo de pessoa que ele tanto acreditava que
eu fosse.
Foi aí que a ironia me atingiu.
Eu fui atrás de seu dinheiro.
Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em
casar com Xavier Knight.
Mas eu não era uma oportunista egoísta.
Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai.
Mas isso melhora as coisas?
Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada ao
redor do meu corpo. Qualquer coisa para não me deixar em pedaços.
Sequei-me e vesti meu pijama de forma robótica, minha mente estava
longe.
Quando desmaiei na cama, meus olhos caíram sobre um quadro
emoldurado do outro lado do meu quarto. Era uma foto de mim, Danny,
Lucas e meu pai.
Todos nós parecíamos tão felizes.
Nosso pai parecia tão saudável.
A foto foi tirada na última Ação de Graças. Danny tinha queimado o
peru e Lucas tinha feito muito recheio, mas estava perfeito.
Todos nós nos esprememos no sofá velho e gasto da sala de estar e
assistimos a uma partida de futebol sem nos preocuparmos com o
futuro.
Coloquei minha cabeça em minhas mãos.
Como tudo mudou tanto em apenas um ano?
Nosso pai foi sempre um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele
assumiu o papel de ambos. Ele era a única constante, uma rocha
constante na tempestade da vida.
E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele ia...
Lucas: Sério?
Angela: Oops...
XAVIER
Não sei o que deu em mim quando decidi visitar a família de Angela
no Dia de Ação de Graças.
Talvez tenha sido uma curiosidade mórbida.
Talvez eu quisesse ver como era a família de uma oportunista.
Talvez eu quisesse conhecer seus pontos fracos para poder expulsá-la
da cidade antes do temido dia do nosso casamento.
Mas tudo o que encontrei foi um momento embaraçoso ao redor da
mesa de jantar e uma refeição de merda.
Eu dei outra mordida no peru, conseguindo de alguma forma manter
uma cara séria.
Por mais que eu o encharcasse com molho, ainda sentia mais vontade
de dar uma mordida na porra do deserto do Saara.
— Mais recheio?
Procurei o irmão mais velho oferecendo-me outra colher cheia de
esterco. Ele estava obviamente tentando ser educado, mas eu sabia que
ele estava se forçando a isso.
Eu pude sentir a hostilidade em ondas de toda família.
— Por favor, — eu disse, segurando meu prato para um recheio mais
insípido. — Meus cumprimentos ao chef.
— Pelo menos alguém lembrou de trazer a torta, — comentou o outro
irmão. Ele estava tentando preencher o silêncio. — Você poderia ter dito
que traria, Angie.
— Eu queria que fosse uma surpresa, — Angela se engasgou.
— Bem, com certeza foi uma das grandes, — murmurou o pai. Ele me
olhou fixamente, e eu, em troca, coloquei um sorriso falso no meu rosto.
Ele definitivamente estava desgastado com a idade. Parecia que ele tinha
acabado de sair do hospital.
— Então, como vocês dois se conheceram? — ele grunhiu.
— É uma história engraçada, na verdade. — Eu dei um sorriso afiado à
minha noiva oportunista. — Mas Angela conta melhor do que eu.
Ela imediatamente ficou muito vermelha. Seu rosto parecia ter sido
cozido em um forno por muito tempo. Eu toquei a carne seca no meu
prato.
Tenho certeza que vocês têm muito em comum, coitados.
— Nós nos encontramos inesperadamente...
Sentei-me e ouvi Angela contar uma balela sobre como nos
encontramos em um lugar modesto. Contribuí com acenos de cabeça e
sorrisos, além de um ou dois risos nos momentos apropriados.
Não tenho certeza do que esperava encontrar ao ir à casa de Angela.
Um covil de cobras?
Uma família cigana itinerante de golpistas?
Eu esperava que eles tentassem me bajular. Para pedir coisas ou
lisonjear o peixe grande que sua filha havia pescado em sua linha de
mentiras.
Mas até onde pude perceber, eles pareciam uma família velha
entediante e regular. Eles eram superprotetores e preocupados com sua
preciosa filha e irmã. Aos seus olhos, ela não podia fazer nada de errado.
Ela era uma santa.
Um anjo.
Mas este anjo estava mentindo.
Eu a observei com os olhos focados.
Falando em um nível completamente superficial, Angela era muito
bonita. Não tinha como negar isso. Ela tinha um cabelo loiro luxurioso,
olhos brilhantes e inteligentes, e o tipo de corpo que faria qualquer
homem sonhar acordado.
Ela era uma mistura de a garota que morava ao lado com uma mulher
pinup da revista Playboy.
— Parece que vocês dois estão se indo bem rápido, — disse o pai. — O
que você gosta em Angela? O que o fez propor à minha filha?
— Pai! — ela protestou.
Eu dei uma olhada na Angela. Seus olhos de corsa eram largos e
suplicantes.
Eu poderia ter dito a verdade naquele instante.
Ter contado à família seu segredinho.
Mas isso não me teria feito nenhum bem.
Tudo o que eu sabia era que, se eu casasse com esta mulher, meu pai
me garantiria minha posição na empresa. Eu acabaria recebendo meu
direito de nascença como CEO da Knight Enterprises.
E se isso significava enganar esta família de caipiras de Nova Jersey,
que assim seja.
— O que ela tem para não se gostar? — eu perguntei. Eu olhei nos
olhos de Angela. — Sua filha é linda. Ela é a mulher mais compassiva e
gentil que já conheci. E eu sei que ela vai ser honesta e leal para o resto de
nossas vidas juntos.
Angela desviou o olhar e teve a decência de olhar para baixo com
vergonha.
— Hmm... — o papai oportunista grunhiu e enfiou uma colher cheia
de purê de batata na boca.
Ele não parecia totalmente convencido, mas abandonou o assunto por
enquanto.
Senti a mão de Angela apertando a minha por baixo da mesa. Ela me
olhou de relance e me disse em silêncio: — Obrigada.
Por uma fração de segundo senti a tensão em meus ombros relaxar.
Minha irritação e raiva desapareceram sob o seu toque, e me vi perdido
em seus olhos.
Mas então a parte racional do meu cérebro reprimiu o lado estúpido e
sentimental.
Afastei-me dela, mais zangado do que antes.
Não caia em seus truques.
Tudo o que as mulheres sempre querem é o seu dinheiro.
Seu status.
E se você baixar a guarda por um segundo sequer, elas vão arrancar seu
maldito coração.
— Parece que começou o segundo tempo do jogo, — disse um dos
irmãos. Os homens correram para a oportunidade de escapar da
conversa embaraçosa do jantar. Eu não os culpei.
— Eu cuido da louça, — eu disse quando começaram a pegar seus
pratos. — É o mínimo que posso fazer, sendo um convidado surpresa e
tudo mais.
— Obrigado, — disse o pai Longtooth. Ele começou a se deslocar até a
sala antes de parar e olhar para mim. — Você é ã de futebol?
— É claro, — eu disse. — Que se danem os Eagles.
Ele grunhiu sua aprovação antes de desaparecer na sala de estar, junto
com seus filhos.
Mas o mais problemático do grupo decidiu ficar.
Ela silenciosamente ajudou a limpar a mesa, recusando-se a encontrar
meu olhar.
— O que você ganha com isso? — eu perguntei.
ANGELA
BRAD
Angela: Banheiro.
Em:??
ANGELA
Angela: Ou o céu?
Angela: Em?
ANGELA
Angela: Ok.
Xavier: ONDE
Xavier: Está
Xavier: Você
Xavier: ???????
Eu estava no elevador, sonhando acordada com o banho quente que
estava prestes a tomar, quando as portas se abriram e me tiraram de
dentro dele. E ali, sentado na poltrona de cor creme na sala de estar,
estava Brad.
— Ah, lá está ela! Vem, vem, querida, — ele disse, de pé para me
cumprimentar.
Caminhei até ele e o beijei na bochecha, vendo meu marido
comovente no sofá em frente a ele. Xavier não ficou de pé.
— Eu não sabia que você estava vindo, eu teria ficado aqui, — eu disse.
— Bobagem, eu não queria perturbar seu dia. Alguma coisa divertida
planejada?
— Eu estava apenas correndo. — Meu olhar foi para Xavier. Seu olhar
estava um pouco pior do que de costume como se estivesse atirando
dardos em mim.
— Você tem algo divertido planejado, Xavier? — perguntei-lhe,
tentando mostrar a Brad que os recém-casados eram civilizados, pelo
menos.
— Eu vou trabalhar nos dias de semana, — ele disse, sendo
condescendente. — Na verdade estou atrasado, pai.
— Certo, certo, é claro, — disse Brad, levantando-se novamente. —
Bem, eu só queria aparecer e ver como os pombinhos estavam se saindo.
É tudo ótimo aqui, não é?
— Sim, — eu disse, e Xavier apenas acenou com a cabeça.
Brad veio me beijar na bochecha novamente, e depois apertou a mão
de seu filho.
— Estou feliz por você estar aqui, Angela, — ele disse antes de chegar
ao elevador. — Você agora faz parte da família.
— Eu também, — eu me engasguei. — Obrigada. — E então ele se foi.
Pensei que logo estaria livre para tomar um banho quando ouvi algo
se despedaçar atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier, parado e me encarando, fragmentos
do que um dia foi um vaso de vidro no chão na sua frente. Eu fiquei
chocada. Ele claramente tinha acabado de deixá-lo cair no chão.
— Limpe-o, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas em minha vida,
convidando meu próprio pai sem me avisar com antecedência, então eu
vou manda-lo de volta para você. Esta é uma confusão que eu fiz. Você a
limpa.
Fiquei atordoada.
— Eu não... eu não o convidei, — eu disse, sabendo que minha voz
estava soando mais fraca a cada segundo.
— Você pode mentir o quanto quiser. Não seria muito fora do caráter.
— Eu não estou mentindo. — Mas ele já estava batendo a porta de seu
quarto, e eu podia ouvir uma gargalhada feminina lá dentro.
Eu olhei para o vidro no chão, sabendo que não era meu feitio
simplesmente deixá-lo lá. Alguém poderia se machucar muito. Então,
encontrei a pá e pude varrer os fragmentos.
Eu pensei que estava sozinha quando ouvi a voz de Lucille atrás de
mim.
— Eu faço isso, — disse ela.
Eu me voltei para ela.
— Está tudo bem, estou quase terminando.
E então ela fez algo que eu nunca teria esperado. Ela caminhou na
minha frente, beijou seu dedo e pressionou-o na minha testa. Ela
pareceu maternal e firme, tudo de uma só vez.
Talvez tudo o que foi preciso foi suportar a raiva de meu marido para
me ganhar um aliado na cobertura. Mas quanto eu posso suportar?
Capítulo 9
A dor de ontem
ANGELA
Angela: Olá?
Angela: Oh!
Hoje não era o meu dia. E depois do tumulto do casamento, ter minha
nova esposa mudando-se para minha cobertura e ter o negócio da
propriedade da semana passada a um preço mais alto do que eu pensava,
eu realmente precisava que fosse o meu dia.
Tinha começado bem o suficiente. Cheguei à minha sessão de
ginástica matinal sem ninguém tentando falar comigo. Nada me
incomodava como as interrupções na academia, onde uma garota com
um top apertado ou um mano com uma camiseta agarrada me
reconhecia e tentava iniciar uma conversa. Eu não vou à academia para
conversar. Eu não vou lá para conhecer garotas, e com certeza não vou lá
para conhecer caras.
Ir à academia pela manhã tinha se tornado minha saída, desde que
tudo com ela aconteceu... no início do ano. Puxar ferro me fez esquecer o
fato de que meu coração havia sido esmagado. Tirava meu estresse e
minha raiva. Isto é, até eu sair da academia e tudo voltar a ser o mesmo.
Mas enquanto eu estava lá, isso me fazia sentir competente e em
controle. Como um homem.
Portanto, a academia desta manhã estava ótima. Esse não foi o
problema. O problema veio mais tarde, depois do almoço, quando recebi
uma ligação sobre uma de nossas propriedades em Paris. Atraso no
desenvolvimento, disse o empreiteiro. Algum problema com a obtenção
de autorizações da cidade, e tudo isso me pareceu uma besteira.
E meu pai, é claro. Ele não ficou muito entusiasmado em ouvir a
notícia. Porque qualquer coisa que dê errado enquanto eu estiver no
escritório é um reflexo do meu trabalho.
— Você não está dando seu melhor, Xavier, — ele disse.
— Isso estava fora do meu controle.
— Nada está fora de nosso controle. Você teve algumas semanas de
distração. Eu compreendo...
— Eu não estou distraído, porra.
— Cuidado com o seu tom.
E foi assim que aconteceu. Um barco podia afundar na porra do
Ártico, e se eu estivesse sentado em meu escritório, ele encontraria uma
razão para fazer disso minha culpa.
Portanto, o evento de gala que eu estava tentando evitar, aquele
programado para daqui algumas semanas em um de nossos outros hotéis
em Paris, agora eu terei que ir nele. Para que eu possa verificar
pessoalmente o empreiteiro e passar algum tempo 'mostrando a cara'
pela cidade.
‘Mostrar a cara’ era como meu pai gostava de descrever as pessoas
intimidadoras.
— Quando não o veem, não podem temê-lo, — é o que ele sempre diz.
Não que Brad Knight seja o cara mais intimidador do mundo. Você não
atravessaria a rua se o visse caminhando na sua direção à noite. Mas ele é
um homem com artilharia sem fim e com o bom senso de empregar
aqueles que sabem como usá-la. Então, sim, eu aprendi com o melhor, eu
diria.
Mas a última vez que estive em Paris, eu estava lá com quem me
fodeu. Aquela que pegou meu coração e o deixou cair da porra da Torre
Eiffel como se fosse um pedaço de chiclete mastigado. E nós estávamos lá
comprando seu vestido de noiva — aquele que ela quase usou no altar,
caminhando para mim.
Mandei Marco me buscar no escritório mais cedo para que eu pudesse
tentar me acalmar. Eu estava tentando pensar se havia alguma maneira
de sair de Paris, de ir ao evento de gala e mostrar a cara, quando o carro
parou. Estávamos quase em casa, apenas rastejando pela 6ª. Avenida, mas
o carro parou de andar.
— Mas que merda foi essa? — Eu gritei com o Marco.
— Não tenho certeza, chefe, — ele respondeu, depois estacionou o
carro e saiu.
Ele deu a volta pela frente e abriu o capô.
Eu vi vapor através do para-brisa. Que se dane isso, eu pensei. Não
estou morrendo em uma explosão de carro no centro da cidade. Eu notei
os carros e pedestres ao meu redor observando.
Coloquei meus óculos escuros e me afastei do carro, do Marco, sem
qualquer palavra.
ANGELA
ANGELA
Danny: Droga.
Danny: Desculpe
Eu estava a um quarteirão do hospital quando recebi as mensagens de
Danny, e mesmo sabendo o quanto ele e Lucas estavam trabalhando duro
nos últimos meses, mesmo sabendo que não poderia ficar bravo com ele
por priorizar o restaurante, uma parte de mim ficou chateada.
Era sempre difícil ver nosso pai no hospital, mas era ainda mais difícil
quando eu tinha que vê-lo sozinho.
Depois de consertar o carro de Xavier ontem à noite, eu tinha feito
massa e assistido TV na sala de estar, mas não o tinha visto na cobertura.
Ele estava escondido em seu quarto ou estava fora durante a noite,
porque eu ainda não o tinha visto quando saí para o trem naquela
manhã.
Claro, eu poderia ter conseguido um passeio de chofer até o hospital
com o cartão preto que Brad me deu, mas havia algo relaxante na viagem
de trem até Jersey. Além disso, gastar dinheiro de forma tão frívola ainda
me deixava desconfortável.
Agora era início da tarde, e eu entrei pelas portas giratórias,
imediatamente atingido por aquele distinto cheiro hospitalar — uma
mistura entre antisséptico e tristeza. Entrei no elevador com duas
enfermeiras vestidas de bata rosa e púrpura. Pareciam ter a minha idade,
e estavam brincando uma com a outra.
Eu acenei para as enfermeiras, desejando poder ser tão despreocupada
quanto elas pareciam ao sair do elevador, com meu coração pesado no
peito. Eu não tinha certeza do que estava prestes a ver, e estava me
preparando mentalmente para o pior.
Segui as placas no corredor, descendo um corredor, através de outro
conjunto de portas, até uma sala de espera. Aproximei-me do balcão da
recepção.
— Olá, — eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista.
Talvez se eu estivesse otimista o suficiente, isso mudaria a realidade. —
Estou aqui para visitar meu pai. Ken Carson.
— Ah, Ken. Que querido. Ele está no 820. Siga este corredor para
baixo, — disse a enfermeira, apontando para trás dela, — até que você
possa virar à direita. E então ele está na primeira porta à direita.
— Obrigada, — eu disse, e comecei pelo corredor.
— Ele está indo muito bem, — a enfermeira disse atrás de mim. — Ele
é guerreiro.
Eu sorri por isso, depois continuei em direção ao seu quarto.
Eu empurrei a porta para abrir uma fresta, coloquei minha cabeça e,
espreitei. Pude sentir a cor escorrer do meu rosto quase imediatamente.
Ele parecia ainda mais pálido, ainda mais frágil, do que da última vez
que o vi no hospital. Seus olhos estavam fechados, e ele estava conectado
a tantos fios e tubos diferentes que eu não conseguia entender o que era
o quê. Eu dei um passo para dentro.
— Pai?
Seus olhos tremeram por um segundo antes de abrir. Ele virou a
cabeça — com pouca força, mas o suficiente para me ver no canto — e o
sorriso mais tênue apareceu em seu rosto.
— Aí está minha garota, — ele disse, e sua voz era tão grave quanto a
de um fumante idoso.
— Oi, — eu disse, desejando que minhas lágrimas não viessem
enquanto eu corria para a cama. Envolvi meus braços à sua volta da
maneira mais gentil que pude.
— Como você está?
— Eu... estou ótimo, — ele se irritou. — Fale-me de você. Mas antes
disso, você pode me trazer uma bebida? Alguma coisa forte?
— Papai, — eu disse, olhando para ele. Eu tinha que sorrir. De alguma
forma, mesmo através de toda a doença, de toda a fraqueza, seus olhos
ainda conseguiram segurar suas travessuras.
Apertei sua mão e depois peguei o copo de água na mesa de cabeceira.
Trouxe o canudo até seus lábios e ele tomou alguns goles com gratidão.
— Como foi o casamento? — Meu pai tentou soar casual, mas a voz
dele estava grave de emoção. Eu podia dizer o quanto o machucou o fato
de ele não ter podido estar presente.
— Foi uma coisa chata, realmente, — eu disse, tentando manter meu
tom leve. — Muito abafado para o seu gosto. Você estaria apenas
gritando para sair dali.
— Angie...
— Falaremos mais sobre isso da próxima vez, — assegurei-lhe. — Por
enquanto, concentre-se em ficar melhor. A enfermeira diz que você é um
guerreiro.
— Fui uma vez, — ele disse. — E Gerard começou.
Eu ri. Senti aquela mesma onda de segurança — aquela em que eu
sabia que se ele ainda estivesse brincando, ele ficaria bem.
— Mas falando sério, Angie, sobre seu marido...
Houve uma batida na porta. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Eu
não queria ter aquela conversa nessa hora.
Não quando meu pai parecia tão frágil.
Um homem bonito de meia-idade carregando uma ficha em uma mão
e um café na outra caminhou para dentro, um sorriso no rosto.
— Dr. Kaller, — disse meu pai, suas palavras foram calorosas.
— Ei, grandalhão, — disse o médico. — Você já tem as senhoras te
visitando?
— Somente minha filha.
— Olá. — Eu ofereci minha mão para ele. — Eu sou Angela.
O médico colocou seu dossiê na mesa e apertou minha mão.
— Marc Kaller. — Estou no caso do seu pai desde que ele voltou para
cá, — explicou ele.
— Seu pai é um ícone ao redor destes salões, Angela. Ele tem esta
superpotência onde ele pode irritar qualquer um, e ele sempre recebe sua
sobremesa no minuto em que pede.
— Soa como ele. — Eu sorri.
O Dr. Kaller se abaixou para verificar seus sinais vitais, mediu sua
temperatura e, em seguida, pegou seu arquivo novamente e acenou para
meu pai.
— Posso falar com você no salão por um segundo, Angela? — ele me
perguntou.
— Oh, é claro, — respondi. — Volto em um minuto, — eu disse,
abaixando-me para beijar meu pai na bochecha.
— Ela é minha filha! Nada de tocar! — disse meu pai e saiu correndo
de sua cama enquanto nos retirávamos para o corredor.
Senti minhas bochechas queimando, mas não pude deixar de rir. Ao
menos meu pai ainda estava sendo pai.
Assim que o Dr. Kaller fechou a porta do quarto do pai e me
acompanhou alguns passos mais adiante pelo corredor, eu pude perceber
que havia algo ali. Seu rosto mudou, não mais oferecendo a expressão
despreocupada e fácil de usar que ele usou lá dentro do quarto. Algo mais
sombrio turvava seus olhos.
— Angela, eu só quero ter certeza de que você está em dia com tudo o
que está acontecendo com seu pai. Seus irmãos estiveram aqui ontem à
noite, mas houve mais algumas mudanças.
— Está bem.
— Você sabe que o tiramos do coma ontem, e ele tem respondido
bem. Mas ele ainda não está comendo sozinho, e sua esclerose... está
progredindo.
— Rapidamente. Poderíamos tentar combater cada um dos sintomas
individualmente, mas os esforços seriam superficiais e não preventivos.
Não há maneira de impedi-los de voltar, ou piorar. Portanto, o próximo
passo típico... é garantir que ele esteja o mais confortável possível... — Eu
não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que isso
significava. Isso significava desistir. O Dr. Kaller viu minha expressão e
continuou imediatamente.
— Mas há algo que quero trazer à tona. — É um tratamento
experimental. É uma combinação de medicamentos e práticas diárias de
reabilitação, tudo isso poderia ser feito no hospital. Mas não há nenhuma
precedência para este tratamento, Angela. Quero ter certeza de que você
entende que há riscos. Ainda não está nem no mercado.
— Então, você está dizendo que ou é... ou é um tratamento não
testado ou... nada?
Ele olhou para mim, olhos cheios de simpatia, ou piedade, ou algo
mais. Ele deu um rápido mas certo aceno de cabeça.
— É uma decisão difícil. Não mencionei isso a seus irmãos ontem à
noite porque queria ver como seriam as primeiras vinte e quatro horas
fora do coma para ele, por isso recomendo aos três que falem sobre isso.
De verdade, com base no que vocês se sentem confortáveis.
— Está bem, — eu disse, acenando para mim mesma. Meus irmãos.
Eles ajudariam a descobrir o que fazer.
— Oh, e Angela?
— Sim?
— O tratamento experimental... por ser tão novo, e tão complicado,
vem com uma etiqueta de preço bem grande.
— Oh.
— Se funcionar, é algo que poderia dar forças a seu pai por mais de
um ano — continuou ele. — E no momento, porque não se qualifica para
o seguro, a pílula e a reabilitação estão saindo cerca de mil dólares por
dia.
As palavras deixaram de ter significado para mim. Mil dólares por dia?
Essa pílula estava envolta em caviar de ouro? Mas depois pensei em Brad
e Xavier e na minha cobertura solitária. Eu tinha feito o arranjo por uma
razão.
Já eram 3 da manhã quando voltei para casa. Eu não queria deixar meu
pai imediatamente, e o trem estava atrasado para voltar para a cidade. Eu
estava exausta, subindo de elevador até a cobertura quando ouvi o rádio
pulsando através das paredes.
Quando a porta se abriu, tive que tapar meus ouvidos. A música estava
tão alta que pensei que nunca mais seria capaz de ouvir nada falado em
um volume normal.
Eu estava caminhando para meu quarto quando, de repente, a música
parou. Eu me virei, e lá estava Xavier. Ele estava usando jeans escuro e
uma camisa branca desabotoada até o umbigo. Seu rosto estava coberto
de uma barba nova e tinha olhos avermelhados.
Ele definitivamente havia estado festejando.
Pensei em quantos dias não nos víamos. Xavier provavelmente estava
bebendo e se divertindo até tarde.
— Aí está minha esposa, — ele disse. Eu o vi de olho na minha camisa
da Old Navy, e meu Converses surrados.
— Oi, Xavier, — eu disse, tentando manter minha distância. Mas
então as palavras do médico soaram na minha cabeça.
Um tratamento experimental. Mil dólares por dia.
Minha mente exausta estava inquieta. Talvez fosse melhor perguntar
primeiro a Xavier para que ele não ficasse bravo por eu ter ido escondida
até Brad. E ele estava claramente intoxicado, então talvez ele reagisse
melhor. Talvez ele tivesse um coração, desta vez. Sim, Eu pensei. Esta é
uma boa ideia.
Xavier estava tropeçando em direção à cozinha. Ele estava servindo-se
de um copo de vinho quando eu o segui e fiquei do outro lado do balcão.
— Ei, há algo que eu queria lhe perguntar, — eu disse, esperando que
minha voz tivesse pelo menos um pouco de confiança.
— O quê?— ele disse, bebendo o vinho.
— Meu pai... ele está...
— Oi, esposa. Já foi muito disso. — Ele me cortou e transformou sua
mão em uma boca de jacaré que se agitava para cima e para baixo. Um
sinal para falar. Ele está dizendo que estou falando demais.
— Se você apenas me deixar explicar...
— CALA. A BOCA. Quão mais claro eu tenho que ser, — ele disse, e
agora ele estava bebendo direto da garrafa. — As pessoas estão sempre
falando comigo. Sempre conversando. Eu só quero silêncio.
Esqueça isso, Eu pensei. Eu me virei e me dirigi para o meu quarto.
— Ei!, — ele gritou. Eu continuei andando. Mas depois ouvi-o correr
atrás de mim e senti uma mão no meu cotovelo antes que eu pudesse
fazer qualquer coisa. Ele me encurralou contra a parede. Seu aperto ao
redor da garrafa de vinho em suas mãos estava tão apertado que tive
medo que ela se quebrasse.
— Ei, — ele disse, mais suave, como se estivesse tentando flertar.
Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que
eu podia contar os cílios dele.
— Está bem, — eu disse. Tentei me afastar de suas mãos, mas ele se
manteve forte.
— As esposas devem fazer coisas por seus maridos. Para serem
esposas, — ele disse, e o fedor do álcool escorria dele.
— Vou para a cama, — disse com firmeza, e desta vez, forcei meu
caminho para fora de seu alcance.
Ele quebrou a garrafa de vinho na parede ao seu lado. O som me fez
pular, e quando me virei para enfrentá-lo novamente, ele me deu o
sorriso mais sério que eu já havia visto.
— Você vai aprender a fazer o que EU MANDO, — ele disse. — Você
vive aqui. Você vive de mim. Você vai aprender a ser útil.
Então ele estava caminhando na minha direção, e seus olhos corriam
por todo o meu corpo. Mas desta vez, eles não estavam olhando para as
manchas na minha camisa, nem para os buracos nos meus sapatos. Eu
sabia que ele estava imaginando o que estava por baixo.
— Xavier, pare, — eu pedi, minha voz implorando. Mas ele continuou.
— Você é uma puta oportunista, — ele disse. — Você deveria começar
a agir como tal. — Senti como se uma faca tivesse sido empurrada para
dentro do meu intestino. E então suas mãos estavam sobre meus ombros,
passando pelo meu cabelo.
— Você está bêbado, — eu disse, e minhas palavras o fizeram parar de
vaguear. Eu não sabia por que, mas sabia que era minha chance. Virei-me
para ir até meu quarto o mais rápido que pude, e foi quando vi Lucille
descendo o corredor.
Nós fechamos os olhos — ela podia ver a dor e o medo em mim, e eu
podia ver o instinto materno nela — e ela me acenou para dentro do meu
quarto. Quando passei por ela, ela agarrou minha mão e sussurrou:
— Eu cuido disso.
E então eu estava em meu quarto, com a porta trancada e meus
pulmões lentamente recarregando com ar.
Como passei da minha antiga vida para viver em uma casa que parece
uma zona de guerra?
Deitei-me na cama, minha mente foi passando de imagens do pai para
imagens do Xavier bêbado. Se alguém podia lidar com o Xavier bêbado,
era o pai.
Capítulo 11
Jogando o jogo
XAVIER
Xavier: Mulino
Xavier: 20: 00
ANGELA
ANGELA
XAVIER
Eu olhei para a tela do meu celular quando uma onda de raiva surgiu
em mim.
Minha esposa estava causando problemas para mim.
Novamente.
Não preciso desta merda.
Empurrei meu celular de volta para o bolso e tentei relaxar. Eu
precisava de uma cabeça fria para fechar este negócio.
Darei um trato na maldita esposa mais tarde.
Eu estava no Hatchback, um bar pitoresco no distrito financeiro, onde
homens que passavam o dia inteiro cuidando de negócios vinham para
descontrair. Não era meu cenário — nenhum lugar que oferecesse tacos
de foie gras era — mas Graden tinha sugerido isso, então aqui estava.
Depois do jantar que tivemos com nossas esposas, eu estava bastante
confiante de que o negócio estava prestes a se concretizar. Ele havia
pedido para nos encontrarmos para o happy hour desta noite, e eu tinha
a sensação de que iria para casa um homem muito mais feliz do que
quando acordei esta manhã.
O jantar tinha me colocado de bom humor, com certeza. Nada me fez
sentir tão bem quanto ganhar no meu trabalho, e este — este — era
certamente o meu maior ganho até agora.
Eram quase sete da tarde, e o bar estava lotado com mais Hugo Boss e
Giorgio Armani do que em uma loja de roupas. Homens entre vinte e
cinco e sessenta e cinco se misturavam, com as mãos cheias de uísque ou
cerveja.
Acho que em todo o espaço havia três mulheres, e duas delas eram
bartenders. Você teria pensado que era um bar gay em West Village, mas
todos os homens aqui dentro certamente não estavam enganados.
Não que eles fossem totalmente homofóbicos, é claro — isso era ruim
para os negócios. Eles gostavam de mulheres. Eles só precisavam de
algum lugar para beber e falar como homens.
— Ei, aí está ele. Knight! — Eu me virei para encontrar Graden indo
até mim, com outro homem a reboque. Eu me levantei para apertar sua
mão.
— Como está indo? — perguntei, sorrindo calorosamente para
Graden. Eu estava pensando nas primeiras impressões, mas eu sabia que
o acompanhamento era igualmente importante. Pergunte a qualquer
mulher com quem eu tivesse dormido mais de uma vez. Eu era bom no
acompanhamento.
— Bom, bom, — respondeu Graden, dando tapinhas nas minhas
costas. — Obrigado por nos encontrar. Este é Mickey. Ele é o meu cara.
Um conselheiro, digamos assim.
— Ei, Mickey, — eu disse, apertando sua mão.
É disso que estou falando, eu pensei. O homem tinha trazido seu
assessor de negócios. Ele estava definitivamente mais do que interessado;
ele estava pronto para falar. Mal podia esperar para ver o olhar no rosto
do meu pai.
— O que os senhores estão bebendo? — Eu perguntei, acenando para
a bartender ao mesmo tempo.
Ela era bonita, de um jeito meio universitário, de Kansas.
— Vou tomar um Glenfiddich, — disse Mickey.
— Faça dois, — acrescentou Graden.
— Três Glenfiddich puros, por favor, — eu disse a bartender, atirando-
lhe um sorriso. Eu só acrescentei um 'por favor' quando a garota que
estava tomando meu pedido era alguém com quem eu dormiria. E esta
garota, com suas covinhas e seu sotaque sulista, era alguém que eu
levaria absolutamente para casa.
— Por que vocês não vão procurar uma mesa na parte de trás e eu levo
as bebidas? — Eu disse aos homens, e eles acenaram, andando para
encontrar um espaço vazio.
— Aqui está você, — disse a bartender, entregando-me as bebidas. Eu
dei a ela meu cartão. — Abro uma conta, Sr. Knight? — Ela piscou
inocentemente para mim.
— Claro, — eu lhe disse. — Estarei aqui por um tempo. — Eu lhe dei o
olhar, aquele que garantiu que ela soubesse que eu estava interessado em
mais do que bebidas.
— Eu gostaria disso, — respondeu ela, e soltou uma risada.
Levei as bebidas de volta para onde Mickey e Graden haviam
conseguido uma mesa. Estava tão lotado aqui que eu não me
surpreenderia se eles tivessem passado um cheque para obtê-lo. Graden
novamente deu-me um tapa nas costas enquanto eu me sentava.
— Obrigado, Xavier.
— Não por isso, chefe, — eu disse.
— Então, vamos ao que interessa. Mickey aqui quer ouvir seu tom, por
isso, estabeleça-o.
Eu olhei diretamente para Mickey. Ele parecia inofensivo o suficiente.
Seu cabelo encaracolado era grisalho um pouco nas pontas, e seus pés de
corvo eram definitivamente visíveis, mas seu terno era italiano, e seu
relógio era um Rolex de edição limitada.
Portanto, o homem tinha claramente feito uma boa escolha em um
momento ou outro.
— Está bem, Mickey. O negócio é o seguinte. O hotel Graden é
claramente uma propriedade que vale a pena. Só o local vê projeções
acima do dobro do que os outros lugares do mesmo bairro nos dariam. E
tem tido uma boa corrida. Uma puta corrida, desculpem minha
linguagem, cavalheiros.
Ambos soltaram uma gargalhada.
— Mas há um tempo e um lugar para sair. E eu sei sua perspectiva
sobre isso, — eu disse, olhando para Graden, — é que você quer sair
agora. Você quer sair, mas você quer olhar por cima do ombro e ver seu
legado.
— É isso que estou lhe oferecendo, Graden. A chance de ver uma
rebranding, de ver uma propriedade bem-sucedida se tornar ainda mais
bem-sucedida, mas também a chance de ver reconhecidos os anos que
você dedicou a ela... Homenageado. Sua pegada estará sempre lá se for
um hotel Knight. Isso eu posso lhe prometer.
Eu olhava de homem para homem, tentando avaliar a reação. Pensei
que tinha sido ótimo, mas ambos estavam demorando a digerir. Logo
quando eu estava prestes a dizer outra coisa, para preencher o silêncio
que lentamente se tornava ensurdecedor, Graden bateu palmas.
Uma vez, depois duas vezes. Depois três vezes.
— Isso, — ele disse, — foi lindo.
Olhei para Mickey, tentando iluminar quaisquer que fossem seus
pensamentos, mas seus olhos só tinham o mesmo olhar vidrado e
profundo para eles.
— Qual é o cronograma?, — perguntou ele, finalmente olhando para
mim.
— Estaríamos procurando começar a construção estética em seis
semanas, no máximo, — eu comecei. — Lobby, spa e academia de
ginástica para começar. O nosso objetivo é ter um novo restaurante no
telhado em funcionamento até março. Estamos visando profissionais de
negócios que querem o centro da cidade, então vamos precisar nos
diferenciar o melhor possível do centro.
Mickey acompanhou minhas palavras, acenando com a cabeça a cada
duas sentenças. Pensei que eu o tinha na mão. Por isso, continuei.
— Estou pensando na mistura entre o Mandarim Oriental e o NoMo.
Queremos a elegância de uma propriedade cinco estrelas estabelecida,
mas queremos que ela seja fresca, — eu disse, prestes a continuar falando
quando Graden levantou a mão e interrompeu.
— Espere um minuto, — ele disse, lendo algo em seu celular. —
Desculpe interromper, mas... que mundo pequeno... — murmurou ele.
Então ele olhou para mim. — Adivinhe quem minha esposa encontrou
hoje.
— Quem? — perguntei, esperando que ele não conseguisse ouvir a
impaciência em minha voz.
— Sua esposa! Jessica disse que viu suas compras com... um homem...
em La Sur, aquela loja de chapéus.
Ele o disse casualmente, mas o tom evidentemente mudou quando ele
disse "um homem". Ele estava me julgando, perguntando-se sobre minha
esposa e meu relacionamento. Perguntando-se quem era o homem.
Pensei imediatamente nos textos que Jessica me enviou antes.
Porra...
Eu não poderia tê-lo duvidando se ele poderia confiar em mim, não
agora.
Eu precisava ser compreensível.
Eu precisava ser compreensível e confiável.
— Que mundo pequeno! — Eu quase gritei, desta vez dando tapinhas
em seu ombro. — Aqueles chapéus, todos gostam deles. — Quando
Graden olhou para mim, um sorriso educado em seus lábios, algo havia
se deslocado em seus olhos. Eu podia ver a dúvida tomando conta.
Merda. A raiva corria pelas minhas veias como uma jangada por um
rio. Eu estava chateado. Eu desci meu uísque. Minha mulher estava lá
fora me envergonhando, interferindo nos negócios. Isso era inaceitável.
Eu não dei a mínima para com quem ela estava em particular, quando
os olhos não estavam por perto para vê-la. Eu fiz o que eu queria e ela
podia fazer o que queria.
Mas em público?
Nós éramos a porra do quadro de amor e lealdade. Sangrávamos o
casamento, dia sim, dia não. Como ela poderia ter sido tão estúpida?
Eu queria sair imediatamente do bar e lhe dar uma lição, deixá-la
saber o quão idiota ela tinha sido. Avisá-la sobre estar em público
novamente com aquele cara, ou com qualquer outro cara que não fosse
eu.
Não, que se foda isso. Ela nunca mais veria aquele cara de novo,
público ou privado. Era o mínimo que ela podia fazer, já que ela corria
pela cidade passando o cartão preto em chapéus de fantasia.
Mais um olhar sobre Mickey e eu sabia que a produtividade da noite
tinha acabado.
Uma vez que saí, os homens iam falar se podiam trabalhar com um
homem que não conseguia manter as rédeas sobre sua esposa.
Um homem que ou não sabia o que sua esposa andava fazendo, ou
não se importava.
Pensei, deixe-os ter a conversa agora. Abri um e-mail em meu
telefone, fingindo lê-lo e reagindo.
— Cavalheiros, — interrompi, — Eu adoraria sentar aqui com vocês a
noite toda, mas um colega precisa da minha ajuda. Desculpem-me por
encurtar a noite. — Ambos ficaram de pé quando eu o fiz, acenando para
mim.
— Manteremos contato, — disse Graden, a camaradagem em sua voz
se foi.
— Perfeito, — eu disse. — Boa noite.
Eu estava tão zangado que andei a toda velocidade para fora do bar,
esquecendo completamente meu cartão e a bartender do sul com as
covinhas.
Só quando Marco estava percorrendo a West Side Highway é que me
lembrei de ambos e senti ainda mais fúria entrar na minha corrente
sanguínea.
Ela fodeu com meus negócios.
Ela fodeu com a minha vida sexual.
Ela ia ter que aprender seu lugar.
Capítulo 14
Um Knight público
ANGELA
Danny: Angela.
Danny: Você tem que vir para ver o pai.
Angela: ???
— Pai?
— Entre, filhinha, — ele disse, claramente se esforçando para tirar
cada palavra.
— Danny disse que você estava se sentindo melhor.
— Eu estou, eu estou, — ele disse, pegando minha mão e a beijando.
O silêncio se estendeu por um segundo diante de seus olhos enrugados
em um sorriso. — Você não pode evitar a conversa para sempre.
Eu acenei com a cabeça. Senti-me como uma criança prestes a ser
repreendida. Como se eu tivesse sido pega em flagrante com a mão no
biscoito.
Mas em vez de um pote de biscoitos eu estava no fundo de uma teia
de mentiras e enganos. Era um segredo de bilhões de dólares onde a vida
do meu pai estava pendurada na balança.
Eu respirei fundo, me apoiando.
— Ei, se anime, — brincou ele. — Eu não estou bravo. Não vou dizer
como foi imprudente e louco se casar tão rápido.
— Você acabou de dizer.
— Ah, eu acho que sim. — Ele riu, e eu não pude deixar de rir com ele
com pesar. Eu mantive meu olhar no chão.
Se ele soubesse a verdade, ele poderia ter outro ataque cardíaco.
— Filhinha, olhe para mim, — ele disse, com seus olhos ficando
rosados. — Você está feliz?
Eu olhei para meu pai, o homem que eu mais amei na vida. Minha
pessoa favorita. E eu estava lá com ele, conversando com ele. Então
acenei com a cabeça, uma lágrima escapando bochecha abaixo.
— Então, não se preocupe comigo. Entendeu? Eu estou feliz. Estou
feliz por você. Eu estou orgulhoso. Minha filhinha é uma esposa. — Ele
apertou minha mão agora, e outra lágrima caiu.
— Não chore.
— Sinto muito.
— Então, fale-me sobre ele.
— Você o conheceu na Ação de Graças, lembra-se?
— Claro, mas eu mal conheço o cara. Quanto às primeiras impressões,
eu não fiquei impressionado. Parecia que você ia desmaiar a qualquer
segundo naquela ocasião.
— Eu estava apenas nervosa com o que todos vocês pensariam, — eu
disse. E era verdade. Mas provavelmente não pelas mesmas razões que o
pai estava pensando.
Eu não estava nervosa para apresentar meu noivo à família.
Eu estava nervosa com a revelação do segredo.
Levantei minha mão esquerda para enxugar as lágrimas da bochecha e
meu pai assobiou, olhando o anel no meu dedo.
— Nossa, isso é uma pedra, — ele disse.
— No fim das contas, Xavier é um Knight. Você não precisa se
preocupar com nada.
Os olhos de meu pai se estreitaram o suficiente para que eu
percebesse, como se ele estivesse juntando a coincidência de tudo, mas
depois eles voltaram ao normal. Eu me perguntava se eu tinha imaginado
tudo.
— Bem, estou feliz por minha filhinha ter alguém para cuidar dela, só
isso. Depois daquele último idiota. — Ele estava falando sobre o Sr.
Lemor.
Meus irmãos haviam dito a ele depois que eu deixei a empresa e
ajudaram a explicar ao meu pai porque eu estava deixando um emprego
tão perfeitamente adequado. Quando lhe disseram, papai tinha corrido
para seu quarto e emergiu alguns segundos mais tarde com um taco de
beisebol.
— Tudo bem, — ele disse, — onde está o filho da puta?
Mas eu não queria pensar no Sr. Lemor ou Xavier agora. Eu precisava
colocar o foco de novo no meu pai.
— Então, seu tratamento experimental começa amanhã?
— Sim, senhora.
— Vai funcionar.
Ele olhou para mim, seus olhos ficaram rosados novamente.
— Pode apostar que sim, — ele disse.
Puxei a cadeira de visitante para perto de sua cama e enfiei meus pés
debaixo de mim, segurando suas mãos com força. Eu sabia que teria que
voltar para a cidade em breve, mas por enquanto eu só queria um pouco
mais de tempo com meu pai.
Eu estava de volta ao trem. Havia algo tão reconfortante em ver
milhões de árvores passarem. Eu gostava de pensar sobre aquelas árvores,
sobre como elas estariam ali, crescendo e morrendo, crescendo e
morrendo, se alguém estava ali para vê-las ou não.
Foi humilhante pensar nisso. O mundo gira com ou sem você. Isso
realmente colocou minha vida em perspectiva. Eu era apenas mais um.
Meus problemas não eram os únicos problemas.
Mas já chega, eu disse a mim mesma. Sem mais lamentações. Amanhã
era um novo dia, e eu estava pronta para enfrentá-lo sem hesitar. Peguei
meu celular, procurando uma distração. Pensei em tentar o New York
Times.
Eu estava rolando e rolando, tentando encontrar um artigo para ler,
mas nada chamou minha atenção. Eu precisava de alguma coisa
divertida. Por isso, fiz o que qualquer pessoa de vinte e poucos anos faria.
Fui para as fofocas online.
Eu estava folheando o Yorker, um blog de fofocas baseado em NYC,
passando por histórias sobre o último escândalo da Bravo Housewives e
da Miss Teen America, quando vi algo que me impediu de ter frio.
Você já sentiu alguma vez uma reação tão visceralmente que pensou
que poderia ser fatal? Como um ataque de pânico tão ruim que você
parou de respirar?
Bem, isso foi o que foi. Meu coração parou. O barulho ao meu redor
recuou até que eu não conseguia ouvir nada. Minha visão estava turvada
por manchas brancas. Tive que segurar meu telefone até o rosto para ler
qualquer coisa, e quando o fiz, desejei não o ter feito.
Havia uma foto de mim e de Xavier em nossa noite de núpcias.
Sorrindo para a câmera, parecendo que estávamos apaixonados. E por
baixo daquela foto, havia outra foto. Uma que apresentava apenas a mim.
Eu estava olhando diretamente para dentro da câmera, meus cabelos
úmidos pendurados em linha reta. Meus olhos estavam largos. A foto me
mostrou da cintura para cima. E eu estava nua.
Como isso pode ser? Nunca tinha tirado uma foto de mim mesma nua
em minha vida. Eu nunca tinha tido um namorado! Como poderia existir
esta foto? E como ela está estampada em toda a Internet?
Eu tentei me acalmar. Está bem, Angela. Seja esperta. Procure por pistas.
Eu me esgueirei para a foto, agradecendo ao senhor pela barra preta
que cobria meus seios. Notei os armários ao fundo. Armários? Minha
mente correu. Onde eu tinha estado com armários?
E depois me atingiu: a academia da Gelsa. Era a única academia onde
eu já tinha ido. Isto foi tirado no vestiário. Eu devia estar me trocando,
mas quem teria sido capaz de tirar uma foto como esta sem eu ver?
Em: ANGELA!!!
Danny: Angela.
Danny: Ligue-me.
Danny: Agora.
Eu não podia acreditar nos meus olhos.
Minha melhor amiga, meu marido, meu irmão.
Todos eles tinham visto a minha foto de topless. Todos eles
presumiram que eu mesma a tinha tirado.
Fechei os olhos, e o diabinho na minha mente riu. É com isso que você
se preocupa? ele perguntou, dançando com sua forquilha. E o resto de
Nova Iorque?
Parecia que eu estava em cima de um penhasco alto, à beira do
precipício.
Meu fôlego chegou com um ar curto enquanto olhava ao redor do
trem.
Eu estava imaginando, ou todos estavam me mandando olhares
estranhos?
Encolhi-me em meu assento, apertando meus olhos.
A minha vida acabou...
Capítulo 15
Coração disfarçado
XAVIER
Brad: É claro.
ANGELA
Você teria pensado, nos dias de hoje, que as pessoas não estariam tão
interessadas em ver um par de peitos. Mas nas últimas vinte e quatro
horas, as únicas conversas que eu tinha ouvido eram orientadas, direta
ou indiretamente, em torno daqueles que pertenciam à minha esposa.
Os estampados por toda a Internet, os falados em todos os veículos de
imprensa, fofocas ou não.
Porque a imagem era real, e imagens reais não mentem.
Ao contrário dela.
Ela colocou aquele ato de "Tenho tanta classe", — aquele que faz você
sentir quase pena dela. Ela mencionou o nome de Harvard como se fosse
suficiente para justificar todas as merdas obscuras que ela fez. Como se
só porque ela tinha um diploma de primeira linha, ela pudesse lucrar em
qualquer círculo que lhe agradasse.
E fazer o inferno correr solto sobre o filho da mãe azarado a quem ela
estava destinada.
Então, sim, o trabalho hoje não foi grande coisa.
Nem mesmo meus colegas puderam evitar. Eles não paravam de me
perguntar se eu estava — a par — de diferentes situações. Um de meus
assistentes tentou se juntar a eles e eu o despedi.
Era melhor não testar um homem que tivesse que lidar com os nudes
vazados de sua esposa.
Quando falei com meu pai, ele disse que havia falado com Angela e ela
concordou com tudo, que ela não deveria falar com a imprensa, que
estaríamos tratando de tudo desde as RP até o jurídico. E que ela deveria
permanecer na cobertura até que a história morresse.
Enquanto o plano me incomodava ainda mais no início, pensando em
como eu encontraria a garota com mais frequência se ela estivesse
fechada dentro do condomínio do que se ela tivesse livre na cidade,
percebi que minha reputação tinha que vir acima do meu espaço pessoal.
Se ela me envergonhava em público ou desistia de um pouco de
espaço para respirar, a escolha era bem clara.
Marco abriu a porta do carro para mim na frente do meu prédio e eu
saí, passeando pelo saguão e entrando no elevador. Eu me perguntava se
eu deveria dar-lhe outra conversa severa, ou se meu pai tinha falado
sobre tudo.
Por que não? Eu pensei. Melhor tê-la assustada do que pensar que ela
poderia escapar com algo assim novamente.
Esse era o problema das mulheres. Mesmo aquelas que pareciam
confiáveis e normais sempre tinham algo na manga.
Era as que não se suspeitava que deveríamos suspeitar.
As portas se abriram, e eu entrei na cobertura.
— ANGELA! — Eu gritei. Não houve resposta. Caminhei direto para o
quarto dela, batendo na porta. — ANGELA, — gritei novamente,
colocando meu ouvido até a porta.
Mesmo se ela tivesse adormecido às nove da noite, não havia como ela
ter ficado dormindo durante o meu barulho.
— Ela saiu, — disse Lucille, correndo pelo corredor até mim.
— O quê? — Eu me enfureci, depois me senti mal por isso. Lucille não
merecia minha raiva. — Desculpe, mas... o quê?
— Ela saiu. — Lucille encolheu os ombros. — Você quer jantar?
— Não! — Então eu me peguei novamente com raiva. — Não, está
tudo bem. — E depois voltei a invadir o corredor para o elevador. Eu ia
encontrar minha esposa.
Xavier: RESPONDA-ME!!!
ANGELA
XAVIER
Xavier: 33ª e 6ª
Marco: A caminho
Marco subiu a 6ª Avenida com um timing perfeito, e assim que vi o
carro, deslizei para dentro.
Estávamos andando em silêncio no carro há alguns minutos quando
ela olhou para mim.
— Por que você é tão ruim comigo?, — perguntou ela, com uma voz
que parecia tão genuína que me pegou desprevenido.
— O quê?
— Por que você é tão ruim comigo? — ela repetiu. Não foi uma
pergunta que ela quis dizer como um insulto. Ela só queria saber.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e ela não se parecia com o
tipo de garota que eu imaginava que ela fosse.
Ela parecia jovem, e inocente, como se ainda não tivesse visto muito
do mundo.
Eu me vi amolecendo. Talvez fosse porque ela estava bêbada e não se
lembraria de nada amanhã, ou talvez fosse porque dizer isso em voz alta
fosse na verdade um pouco terapêutico.
Mas, em ambos os casos, eu lhe dei uma resposta.
— Eu não confio nas pessoas.
— Por quê?
— Já confiei no passado. E acaba sempre... sendo um erro.
— Você não merece isso, — disse ela, suas palavras tão docemente
simples.
— Eu teria me entregado a ela, — eu disse. Eu olhava para frente,
deixando a verdade emergir. — Eu teria dado tudo a ela. Mas ela... ela
tinha outras ideias.
Depois senti uma mão fria cobrindo a minha no assento. Eu vacilei,
olhando para baixo e vendo a mão da minha esposa. Quando olhei para o
rosto dela, vi o olhar dela pela janela.
Era como se ela soubesse me dar espaço, me deixar ter um momento
para mim mesmo.
Quando chegamos ao prédio, eu mesmo acenei para Marco e a ajudei
a sair do carro. Ela tinha ficado de alguma forma mais bêbada desde que
saímos do clube, e estava tropeçando por todo o lado.
Em vez de esperar que ela caísse, decidi tomar o assunto em minhas
próprias mãos e a colocar meus braços. Eu a carreguei como uma criança
pelo saguão e a sentei no banco quando estávamos no elevador.
Quando as portas se abriram, eu a levantei novamente e a
acompanhei até seu quarto, abrindo a porta e deixando-a cair sobre a
cama. Ela estava acabada, com seus olhos fechados e sua boca
ligeiramente entreaberta.
Ela parecia pacífica, e eu não queria acordá-la. Se ela acordar, alguém
vai ter que lidar com o vômito dela.
Então a deixei assim, cabeça no travesseiro, sapatos ainda calçados, e
fui servir-me de uma maldita bebida.
ANGELA
ANGELA
Brad: 19h00.
Brad: Homens como este não param a menos que sejam forçados
a isso. Agora você tem o poder.
BRAD
Eu não tinha certeza de que trazer Angela junto era a coisa certa a
fazer. Eu podia notar que ela era uma jovem sensível, e este homem a
havia humilhado e depreciado por um período substancial de tempo.
Eu mesmo queria matar o desgraçado, mas a Diretoria não teria
gostado disso.
A jovem que havia concordado em nos ajudar veio até nós através de
uma de minhas assistentes, que havia encontrado suas queixas contra
Lemor apresentadas ao departamento de RH da Gelsa há dois anos. Elas
haviam sido varridas para debaixo do tapete, é claro.
— Revisado e dispensado, — em termos técnicos. Mas ela ainda estava
trabalhando para a Gelsa como freelancer, e ainda que ela não estivesse
mais no prédio com Lemor diariamente, eu tinha certeza de que ele
ainda a atormentava.
Eu mesmo me aproximei da mulher e, expliquei a situação, que outra
mulher, querida por mim, havia sido afetada pelo mesmo homem das
mesmas maneiras e ele não hesitaria em arruinar outras vidas se não
fosse parado.
Eu queria lhe oferecer algo mais, algo como dinheiro, mas sabia que
isso não seria bom em um tribunal quando o filho da puta for julgado.
Então, em vez disso, brinquei com o coração dela e funcionou. Como
qualquer pessoa humana com consciência, a mulher tinha concordado
em parar o monstro que a tinha abusado, e outras depois dela.
Eu lhe disse para vir ao hotel às sete da tarde para uma suíte e lhe dei
todo o tratamento real. Cabelos, maquiagem, até mesmo uma massagem
para acalmar seus nervos. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
Quando entrei na suíte uma hora e meia depois, tive que admitir que
a jovem parecia radiante. O vestido que o estilista havia escolhido era
perfeito.
Era sedutor em sua sofisticação, e eu sabia que o maldito não teria
nenhuma chance.
— Você pode fazer isso, — eu lhe disse junto à porta. — Você é a
diferença entre ele se safar com suas ações e ter que pagar.
Ela acenou para mim, parecendo calma e recolhida.
— Eu sei. Eu dou conta.
Coloquei uma mão no ombro dela e a beijei na bochecha.
— Estou orgulhoso de você, — eu disse. — Obrigado.
Ela acenou para mim, depois abriu a porta e caminhou pelo corredor,
prestes a enfrentar o que certamente seria a noite mais assustadora de
sua vida.
ANGELA
BRAD
Angela: Em
Angela: Em????
Em não estava respondendo, mas eu precisava de alguém a quem
desabafar. E rápido. Vesti o primeiro jeans e blusa que pude encontrar e
corri do meu quarto para o elevador, mais rápido do que jamais havia
corrido antes.
Eu não abri meus olhos para além de um estreito olhar até que as
portas se fecharam.
Quando cheguei à floricultura da Em, o belo arranjo de flores fora da
vitrine me distraiu da cena que tinha acabado de suportar na cobertura.
A Em tinha organizado prateleiras de lindas plantas em vasos, com um
par de plantas em vasos maiores em ambos os lados da porta.
As flores eram coloridas e em plena floração, e tudo parecia perfeito.
Ao contrário do meu casamento.
Fiquei de tal forma presa em minha própria mente que abri a porta
sem me perguntar por que ela estava fechada. Em nunca fechou a porta
da loja durante o horário comercial.
— Você nunca vai adivinhar o que Xavier acabou de fazer com... —
Mas eu me afastei quando percebi o que estava acontecendo. Em estava
sentada no balcão, curtindo com um homem que estava entre as pernas
dela.
Eu estava prestes a balbuciar um pedido de desculpas e corri de volta
para fora quando o homem se virou para ver quem estava falando. E foi
quando eu vi o rosto do homem. Era Lucas.
Meu irmão Lucas.
Meu irmão Lucas se agarrando com minha melhor amiga.
Capítulo 20
Qualquer coisa por você
ANGELA
ANGELA
Xavier havia me mencionado que ele iria a uma galeria que estava em
exposição no SoHo 149 esta noite, o que para ele é bem surpreendente.
Ele nunca havia gostado de ir a nenhum evento cultural, a não ser que eu
o arrastasse até lá. Ou que sua ex-noiva o tivesse.
Houve um tempo em que, se ela mencionasse que não assistiria à
ópera, ele compraria seus ingressos para aquela noite.
Por isso, fiz algumas ligações. Eu tinha que saber o que meu filho
andava fazendo. E afinal um velho amigo meu, Alfred Kent, tinha
negócios com o Sr. Johnson, o proprietário da galeria.
Não demorou mais de um minuto ao telefone com o Sr. Johnson para
saber que havia uma exposição de um novo artista esta noite e que tudo
havia sido orquestrado por uma Angela Knight.
Assim que ouvi o nome dela, meu coração se alegrou. Ela não só
estava ajudando um talento desconhecido a encontrar uma exposição,
mas estava ajudando meu pobre menino a sair da escuridão.
Acabaram-se as bebidas alcoólicas em bares noturnos, sim senhor.
Meu filho estava saindo para a cidade com sua esposa.
E a isso... bem, eu não podia faltar.
Eu entrei no SoHo 149 e tentei ser discreto. Vi meu filho e Angela
andando de mãos dadas, e depois vi os dois conversando com um jovem
com uma roupa que o fazia artista até a última célula. Eles trocaram
algumas gentilezas.
Eu não pude ouvir muito, mas vi seus sorrisos e soube.
Em seguida, Xavier caminhou em direção ao bar e pegou um copo de
vinho, e eu vi Angela o seguir.
Então eu caminhei até os dois.
— Que noite! — exclamei, não conseguindo conter minha excitação.
Ambos foram maravilhosos.
— Brad, que surpresa, — disse Angela ao me ver. Ela envolveu seus
braços ao meu redor e me beijou na bochecha, e eu estava certa de que
minha amada poderia sentir o calor da jovem mulher até o céu.
— Eu não perderia isso.
— Eu não sabia que você viria, — disse Xavier, trazendo o copo aos
seus lábios.
— Vocês dois parecem um casal tão bonito. Tão encantador, tão
pensativo. Estou orgulhoso de você, filho, — eu disse, estendendo minha
mão para que ele apertasse.
Ele o fez, e realmente parecia que estava de volta. O filho que eu
sempre soube que ele era.
Voltei-me para Angela, aquela que o tinha feito voltar para casa.
O anjo que tinha agraciado minha vida e a vida daqueles de quem
mais gosto.
— E Angela. Você. Seu talento, sua generosidade. Ouvi dizer que você
encontrou o jovem com sua obra de arte nas paredes. Sua tenacidade e
seu olhar, querida, você é realmente algo. Estou tão orgulhoso. Tão, tão
orgulhoso.
Eu a puxei para outro abraço e a senti relaxar em meus braços. Percebi
como deve ser difícil para ela, com seu pai tremendamente doente. Eu
devo ter sido a coisa mais próxima que ela teve de seu pai.
Em cima da cabeça de Angela, eu olhei para meu filho. Ele estava me
observando abraçar a jovem mulher com uma intensidade tão profunda
que eu não entendia bem.
Talvez ele estivesse tão consumido com as duas pessoas que ele mais
amava se abraçando, que era quase demais para ele.
Eu o olhei mais uma vez e lhe ofereci um sorriso. Ele sorriu de volta, e
eu acenei com a cabeça.
E foi isso. Deve ser assim.
Capítulo 22
Linhas Cruzadas
ANGELA
Angela: Desculpe-me.
Angela: Ligue-me
Angela: 911
Angela: Lucas
Lucas: Opa.
Lucas: Por que você está assustadora? Pensei que tivesse dito que
estava tudo bem.
Angela: Mds
Angela: Lucas
Lucas: Ah.
Lucas: Merda
Lucas: ????
Angela: O dr. disse que temos que pensar nas próximas opções.
XAVIER
Mas que porra é essa? Meus olhos estavam abertos agora, apesar de
meu corpo estar gritando para que eu voltasse a dormir. Parecia que eu
tinha acabado de entrar na cama há alguns minutos.
Olhei ao meu lado, onde sempre havia uma ou outra mulher jovem.
Mas estava vazia.
Eu tentei abalar meu cérebro por um tempo e um dia. O que eu fiz
ontem à noite? Vi meu celular, mas estava do outro lado do meu quarto,
na mesa do café, junto à poltrona. Isso foi muito mais longe do que eu
estava disposto a ir para encontrar as respostas.
Pense, eu mesmo fiz o pedido. Ontem à noite foi a exposição de arte.
Não, esqueça isso. A exposição de arte foi na quinta-feira à noite.
Ontem à noite... ontem à noite não saí do escritório até tarde. E
quando eu saí, fui direto para Hatchback. Certo. Esse era o bar onde eu
tinha me encontrado com Graden para o happy hour há algumas
semanas atrás.
Pensei em passar por ali, tomar algumas bebidas — ou mais algumas
bebidas, devo dizer — e ver se aquela bartender com covinhas estava
trabalhando. Eu tinha aberto meu escritório com bourbon ontem cedo.
Eu precisava de algo para facilitar a banalidade da reunião da diretoria
no final da tarde.
Cheguei ao Hatchback já carregado, tendo que me segurar no
corrimão da escada interna. Fui até o bar, coloquei minhas mãos sobre o
balcão e me ergui direito.
Eu vi uma bartender morena, duas morenas... ah, a terceira era a
vencedora.
Era a garota com quem eu tinha deixado meu cartão, que parecia ser
do sul.
Eu a olhei fixamente até que ela olhou para mim, e quando ela olhou,
suas covinhas apareceram. Ela estava definitivamente sorrindo.
— Sr. Knight.
— Vim para encontrá-la, — eu disse, sem piscar os olhos. Se eu sabia
uma coisa sobre falar com as mulheres, era ser direto. Elas gostavam, e
isso me levou aonde eu queria estar mais rápido.
— Veio mesmo? — perguntou ela, com os cílios dela tremulando. —
Eu esperava que você passasse por aqui para pegar seu cartão de volta,
mas acho que seu assistente o pegou para você.
— Marco. — Eu acenei com a cabeça. — Ele limpa depois das minhas
trapalhadas.
— Você não me parece tão atrapalhado, — disse ela, brincando com o
colar em seu decote.
Fácil.
Demais.
Perguntei a que horas seu turno terminava, e ela disse que teria que
verificar o horário no escritório nos fundos, e se eu gostaria de ir checar
com ela?
Quando tomamos mais uns shots e colocamos nossas roupas de volta,
eu já tinha bebido uísque suficiente para impressionar um soldado
irlandês.
Esta porra de ressaca.
E foi isso. Eu joguei as cobertas de cima de mim, não me importando
que eu tivesse apenas com as cuecas em que eu tinha dormido. Nadei no
corredor e ouvi o som novamente.
Mas não havia ninguém lá.
Era como se minha mente estivesse pregando uma peça em mim. Eu
fui até a cozinha, mas definitivamente não havia ninguém lá. Fui até o
corredor... e foi quando a vi.
Ela estava de cócoras, de costas para mim, com as mãos trabalhando
rapidamente sob o armário abaixo da pia. Mas eu não percebi isso
primeiro.
O que eu notei foi a camiseta branca de tamanho exagerado que ela
usava e que mal cobria o rabo. Suas longas pernas estavam
completamente expostas, até as coxas.
Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu sabia que a odiava, a
mulher que não estava nem a um metro de mim, minha esposa.
Mas eu não podia me afastar dela. Não quando ela estava vestida desta
maneira. Meu Deus, controle-se, eu mesmo ordenei. Você não tem doze
anos, porra.
Eu limpei minha garganta. Sua cabeça se moveu para ver quem estava
lá, e seus largos olhos focados nos meus. Ela tinha olhos azuis, grandes e
macios como os de uma criança.
O resto de suas características eram igualmente delicadas. Desde a
leve curva de seu nariz até a cor rosada de sua boca, era como se seu rosto
tivesse sido desenhado.
Eu já estive com minha parte de mulheres bonitas, mas nenhuma
parecia tão inocente quanto ela.
Ela mordeu seu lábio.
— Desculpe, eu o incomodei? — Sim, você incomodou. Mas algo veio
sobre mim e, em vez de revelar a verdade, eu tive um impulso para acabar
com a preocupação dela.
— De jeito nenhum. Eu só vim buscar café e... o que você está
fazendo?
— Oh, eu posso fazer um para você, — disse ela, de pé. — O marido de
Lucille acabou de chegar, então ela foi ao seu encontro. — Mas eu não
estava prestando atenção nas palavras que saíam da boca dela, porque ela
tinha se levantado.
A camisa, embora curta enquanto ela estava agachada, agora mal
cobria sua região pélvica.
Eu não sabia dizer se ela não sabia ou não se importava.
— Tudo bem, — eu saí, mas ela já estava se movendo, colocando o
filtro na máquina de café e pegando um pouco de café.
— Sei que você tem aquela máquina de café expresso chique, mas não
sei como usá-la, então espero que você não se importe apenas com o café
normal.
Eu a observei enquanto ela se movia, a camiseta chegando
perigosamente perto de me mostrar mais do que uma pequena amostra.
Ela virou a cabeça sobre os ombros e levantou as sobrancelhas, e eu
percebi que eu não tinha respondido.
— Está ótimo. Ótimo. Ótimo, — eu disse, caindo sobre minhas
palavras. O que estava acontecendo? Eu nunca fiquei sem palavras. — O
que você estava fazendo... uh, lá embaixo?
— Oh, o carburador estava apenas um pouco entupido. Lucille ia
chamar o encanador, mas ele sempre demora alguns dias para chegar,
então pensei, por que não fazê-lo eu mesma?
— Você sabe como consertar o carburador?
Ela apenas mordeu o lábio e encolheu os ombros.
— Não é muito difícil. — Então ela abriu o armário acima de sua
cabeça, aquele com os copos. As canecas estavam na segunda prateleira,
então ela teria que chegar até ela.
Quando ela começou a chegar, eu mesmo corri e agarrei as canecas,
mas na pressa de manter suas áreas privadas, er, privadas, eu não levei em
conta o espaço pessoal.
Eu estava bem atrás dela, com a mão no armário, tentando pegar uma
caneca.
E ela se surpreendeu com meus movimentos e, ao fazê-lo, se voltou
para mim.
Assim, seu corpo mal vestido, aquele com as curvas que eu podia ver
muito claramente, foi pressionado contra mim.
Eu podia me sentir duro quase imediatamente, o que era estranho,
porque nunca me senti tão duro tão rapidamente, especialmente por
causa de um contato tão limitado.
— Sinto muito, — disse ela rapidamente, Virando-se e apoiando-se no
balcão. Mas isso não melhorou nada porque agora eu tinha uma visão
frontal completa dela.
Eu vi seus mamilos através da camiseta e pude ver a calcinha de renda
branca que ela estava usando por baixo.
Ela mordeu o lábio novamente, parecendo a mesma mistura nervosa e
inocente que ela sempre teve quando eu realmente prestava atenção.
Baixei a caneca até o balcão sem tirar meus olhos dela.
Ela levou a mão até o pescoço e o coçou, e a camiseta subiu mais um
centímetro, mostrando-me mais coxa do que eu podia aguentar.
Sem esperar mais um segundo, eu mergulhei nela.
Eu agarrei seu rosto e a beijei, o beijo mais gentil e caloroso que eu já
tinha tido há algum tempo.
Ela gostou tanto disso, que eu pude sentir.
Seus braços estavam envoltos em mim, mas mesmo assim, eu
precisava estar mais perto. Então eu a abracei com força e a levantei, suas
pernas agora envoltas em torno da minha cintura.
O calor irradiava de seus quadris para minha virilha. Ela estava
balançando, girando, e eu pensei que iria perder o controle ali mesmo.
Meu Deus, parece que você tem doze anos, eu mesmo me castiguei.
Empurrei-a para o balcão e abri-lhe as pernas, entrando entre elas.
Então, comecei a sentir o que havia ali. Comecei pelos lábios dela,
deixando-a beijar meu dedo indicador, deixando-a levá-lo à boca. Ela
chupou, me olhando bem nos olhos. Algo sobre aquela inocência, e
aqueles lábios... caralho.
Segui minhas mãos para baixo, sobre seu pescoço e até seus seios.
Toquei seus mamilos através do tecido fino e ouvi um gemido escapar de
seus lábios.
— Isso parece... agradável, — sussurrou ela, e havia algo de tão
virtuoso na maneira como ela dizia. Como se ela estivesse genuinamente
surpresa.
Massageei seus seios mais intensamente e pus meu rosto para baixo e
chupei um mamilo através da camisa. Ela gemeu novamente, e eu estava
pronto para tomá-la logo ali.
Mas eu sabia que ela precisava de mais. Ela merecia mais, pensei, e eu
não tinha ideia de onde tinha vindo esse tipo de pensamento.
Enquanto eu chupava o outro mamilo dela, comecei a puxar a
camiseta dela para cima. Primeiro ela expôs a parte superior da coxa,
depois a calcinha, depois o estômago liso. Beijei sua barriga e tirei a
camiseta de seus seios, que depois também beijei.
Eu a puxei até o fim e observei como o cabelo comprido dela caía de
volta depois. E então olhei para ela, nua, exceto pela renda, e a urgência
ficou mais forte.
Ela estendeu a mão, tocando meu peito nu, e o contato me fez
estremecer. Foi só então que percebi que estava tão nu quanto ela.
Comigo apenas em minha cueca, ela teria sido capaz de dizer que eu
estava excitado o tempo todo.
E depois estávamos nos beijando novamente, e eu estava brincando
com a bainha da calcinha dela.
E então passei um dedo por cima dela e ouvi um gemido mais alto em
resposta. Esfreguei-me em círculos, cada vez mais rápido, até que seus
olhos se fecharam e ela estava ofegante.
— Oh... oh meu Deus... oh meu Deus... — ela gemeu, e todo o corpo
dela tremeu. Então seus olhos se abriram, e ela mordeu o lábio. — Eu
nunca me senti... assim antes.
— Você não? — eu perguntei, beijando o pescoço dela.
— Nada tão... intenso. — Isso me deixou ainda mais selvagem,
sabendo que eu fui o primeiro a lhe dar essa sensação. Depois senti a
mão dela sobre mim, subindo e descendo o meu comprimento.
Lutei para me controlar, mas vê-la, senti-la, tudo isso estava se
tornando demais.
Eu a levantei do balcão e a beijei profundamente enquanto me
agachei no chão, depois me sentei, ela estava se agachando.
Depois ela se inclinava e me beijava, e eu a agarrava, mas mesmo
assim não era suficiente.
Eu me tirei de minha cueca e deslizei sua calcinha para o lado, e então
eu estava lá dentro. Eu estava empurrando, e ela estava encontrando cada
empurrão com um movimento próprio, de alguma forma tomando o
atrito muito mais intenso.
Ela estava gemendo, e eu não conseguia parar de vê-la — a maneira
como seu corpo se mexia, como ela tocava seus próprios seios, seu
próprio quadril — eu queria que aquela visão durasse para sempre.
Ela voltou para mim, com as mãos segurando meu rosto enquanto
movia seus quadris para cima e para baixo, para cima e para baixo.
— Isso parece... tão bom, — disse ela, com sua voz rouca.
E alguns momentos depois, com seus movimentos se acelerando e
minha urgência conhecendo novas alturas, nós dois gritamos. Eu não
conseguia me lembrar da última vez que havia terminado assim.
O baque, o mesmo baque, fez com que meus olhos ficassem bem
abertos.
E eu estava de volta na minha cama, no meu quarto. Olhei à minha
volta, confuso. Então eu a vi ao meu lado.
A bartender. A do Hatchback, a que tem as covinhas. Ela estava de pé,
olhando para mim, com a mão no estômago.
Eu a empurrei para longe de mim, sabendo que se sua mão se movesse
mais longe ela sentiria mais do que ela esperava.
— O que é isso, — perguntou ela, sobre o som, mas agora o sotaque
dela me incomodava.
— Você pode ir verificar?
Ela encolheu os ombros e acenou com a cabeça, saindo da cama.
Mesmo em sua calcinha preta e sutiã, com sua figura inacreditável e sua
disposição de garota de república, eu não estava pensando em transar
com ela.
Ela abriu uma fresta na porta e chamou.
— Olá?
Ouvi os passos se aproximando. Depois a voz de Lucille.
— Desculpe, senhorita, estou fazendo pãezinhos.
— Que horas são, Lucille? — Eu gritei da cama.
— Dez e trinta, Sr. Xavier.
Eu suspirei enquanto a bartender fechava a porta e voltava para a
cama, subindo por cima de mim e espreitando para baixo.
— Estou pronta para mais diversão, — disse ela, mas meu foco não
poderia estar mais longe.
Capítulo 24
Expectativas malignas
XAVIER
Xavier: Eu sei.
Angela: Há uma garota com você que não deveria estar aí.
ANGELA
Em:?????
Em: Manda
Angela: MDS
Angela: NÃO
Angela:!!!!!!!
Em: Paris?
Em: PARIS!?!?!?!
Angela: Sim!
Em: Angie
Angela: Eu sei!
Angela: Estão... ok
ANGELA
Angela: Xavier
Angela: Olá?
A suíte do hotel estava vazia quando voltei, e Xavier não estava
respondendo às minhas mensagens. Eu me preparei em meu quarto,
sozinha, pensando que quando eu terminasse, Xavier já estaria de volta
de onde quer que estivesse.
Eu sabia que ele tinha amigos em Paris, que ele tinha negócios a fazer,
mas não esperava que ele me abandonasse completamente no segundo
em que chegássemos aqui.
Vamos, Angela, eu mesma me repreendi. É claro que Xavier Knight a
abandonou.
Já estava com o vestido agora, e eu me olhava no espelho. Mesmo
depois do banho quente que tomei, ainda não me sentia como se o tecido
merecesse me cobrir.
Fechei os olhos e tentei me convencer a sentir novamente os
sentimentos que havia sentido da primeira vez que me vi usando o
vestido no espelho. Na loja, no trocador gigante, com a vendedora chique
ofegando em aprovação.
Naquele instante, eu me sentia digna.
Puxei meus cabelos na frente de meus ombros, levando minha
ondulação naturalmente macia até logo abaixo da linha do pescoço do
vestido. Apliquei algumas pinceladas de rímel e coloquei um pouco de
bálsamo labial para acrescentar um pouco de umidade.
Estavam secos desde o voo. Depois verifiquei o relógio.
Eu estava ficando sem tempo para esperar que Xavier voltasse para a
suíte. O evento de gala era lá embaixo, no salão de baile, mas eu tinha
que tomar uma decisão.
Eu poderia esperar que ele voltasse, e possivelmente ser castigado por
Brad por estar atrasado, ou poderia descer a tempo e ser castigada por
Xavier por não esperar por ele. Até eu sabia que maridos e esposas,
inclusive aqueles que não estavam exatamente apaixonados, deveriam
entrar juntos nesses eventos.
Ponderei minhas opções. Eu tinha sido castigada por Xavier quase
todos os dias desde que nos casamos. Embora não fosse a coisa mais
agradável de suportar, muitas vezes terminando comigo em lágrimas,
não achei que fosse tão doloroso quanto o desapontamento de Brad.
Brad sempre foi gentil comigo, como se acreditasse em mim, e eu não
queria que isso desaparecesse. Eu queria que ele continuasse a ter
orgulho de mim como nora.
Então peguei minha bolsa, endireitei minha aliança e saí da suíte do
hotel às sete e vinte e seis da noite.
Assim que as portas se abriram, vi um homem usando um terno e um
fone de ouvido sinalizando para eu atravessar o conjunto de portas à
minha direita. Virei minha cabeça, conseguindo ver mais três homens de
terno com fones de ouvido, um na frente de cada um dos elevadores.
Este vai ser um espetáculo e tanto, pensei eu.
— Mademoiselle?, — o homem designado para o meu elevador disse
impacientemente. Sua mão continuou apontando para as portas atrás
dele.
— Desculpe, — eu disse, andando o mais rápido que pude nos saltos
de dez centímetros que a vendedora tinha me dado. Meus pés já estavam
apertados, mas consegui chegar inteira até as portas. E então as empurrei
para abrir.
Por dentro, parecia um casamento real. O salão de baile era enorme.
Tentei perceber onde terminava, mas parecia o horizonte. Cada vez que
eu pensava entender onde estava em relação a ele, o final parecia ficar
mais distante.
Para onde quer que eu olhasse havia lustres dourados, peças centrais
douradas, joias de ouro.
Havia um tapete dourado à minha esquerda e um grupo de pessoas
lindas em roupas inimaginavelmente bonitas esperando sua vez de
descer por ele.
Em frente ao tapete, havia uma fila de fotógrafos, suas câmeras
piscando com a pressa de touros atacando um toureiro.
Outro homem com um fone acenava para eu entrar. Olhei em volta
freneticamente. A ideia de ser fotografada sozinha, com todos os olhos e
lentes dos fotógrafos sobre mim, era aterrorizante.
E então eu o vi.
Sempre em frente, falando com um bando de mulheres
impossivelmente magras. Ele estava usando suas mãos para fazer grandes
gestos, parecendo tão animado como sempre. Daqui eu podia ver o
sorriso em seu rosto. Eu não podia acreditar.
Ele tinha vindo para o evento de gala sem mim.
O homem com o fone de ouvido diante de mim se virou para ver o
que eu estava olhando, e não deve ter tido problemas para perceber que
era Xavier.
— Você quer que eu vá buscar seu marido para que vocês possam tirar
uma foto juntos, Madame Knight?, — perguntou ele, com um sotaque
francês forte.
— Uh... isso seria... ótimo, — eu disse, sentindo minhas bochechas
ficarem vermelhas sob o olhar daqueles ao meu redor. Então o homem
saiu correndo para trazer Xavier até mim, e eu esperei as palavras
inflamadas que eu sabia que ele diria quando chegasse.
Aguente firme, eu me instruí. Era apenas uma noite. E foi para Brad.
Eu vi que o homem tinha chegado a Xavier e estava apontando para
mim. Eu desviei meus olhos quando eles começaram a caminhar na
minha direção e, sem querer, olharam para um homem de meia-idade,
baixo e robusto, vestindo uma gola rolê preta debaixo de seu terno
trespassado.
Senti os cabelos em meus braços se levantarem por uma razão que
não pude nomear. Talvez tenha sido a intensidade com que ele olhou
para mim.
Voltei para a frente da sala, a tempo de ver Xavier dar os últimos
passos até mim.
— Oi, querida, — ele disse, alto o suficiente para que aqueles ao meu
redor pudessem ouvir. Ele beijou ambas as minhas bochechas. — Você
está linda.
— Obrigada, — eu disse. Embora parte de mim soubesse que era só
para disfarçar, as palavras que saíram de sua boca ajudaram a elevar a
minha confiança. Era quase nossa vez de caminhar no tapete, e a senhora
encarregada de organizar todos saudou Xavier pelo nome.
— Bem-vindo de volta, monsieur, — disse ela, ignorando-me
completamente. Eles trocaram algumas palavras, e então ela o dirigiu
para o centro do tapete. Ele me olhou de volta, segurando sua mão com
expectativa.
Eu nunca tinha ficado tão feliz em pegar a mão do meu marido. Ele
olhou diretamente para as câmeras e deu seu rosto de sempre: meio
sorriso com uma mandíbula fixa, olhos levemente esguios.
Depois de um segundo de observação do que ele estava fazendo,
tentei sorrir o melhor que pude. Eu não queria exagerar, mas também
não queria parecer que não estava me divertindo. Por isso sorri
genuinamente, com a boca fechada.
Depois do que pareceu uma vida inteira, Xavier me tirou do tapete.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um casal mais velho nos
parou, nos cumprimentando.
— Xavier! Ela é adorável, — exclamou a senhora, me medindo.
— Obrigada, — eu disse, com olhos no chão. Eu sentia que ia ter uma
overdose de atenção.
— Você se saiu bem, filho, — disse o homem, batendo no ombro de
Xavier.
— Eu tento, Grant. Você sabe disso. — O casal riu.
— Pensamos que você estaria em nossa mesa? — perguntou a mulher.
— Eu também pensava assim, mas meu pai teve uma reorganização de
última hora. Parece que queria todas as crianças na mesa das crianças.
— Nesse caso, é melhor você me guardar uma dança, Xavier, — disse a
mulher enquanto afastava seu marido.
— Vou reservar três pra você, — respondeu ele, piscando. Ele estava
em seu habitat.
— Vamos para a mesa, — ele me disse, decolando na direção das
mesas redondas que cobriam a maior parte do espaço.
Ao nos aproximarmos daquela mesa em que muitas das meninas com
quem o vi falar antes estavam sentadas, senti as palmas das minhas mãos
suarem. Essas meninas pareciam modelos, como o tipo de mulheres que
iam ao Pilates e namoravam celebridades.
O tipo de mulher que não ficaria deslocada ao lado de Xavier em um
tapete dourado.
Todas elas se viraram quando chegamos à mesa, e Xavier na verdade
levou um tempo para me apresentar.
— Senhoras, — começou ele, — esta é Angela. Minha esposa.
As mulheres olharam de Xavier até mim. Eu mantive minha
respiração — seus olhos cobriram cada centímetro de mim enquanto eu
esperava — e então, finalmente, aquela sentada mais próxima de onde
estávamos, começou a bater palmas.
Calma. E então as outras mulheres, todas elas se juntaram a nós.
Até que todas as quatro, com seus vestidos de grande comprimento,
estavam aplaudindo. Eu estava confusa.
Estavam me aprovando? Ou estavam zombando de mim?
Esta era uma estranha saudação de costume na França?
Mas então a líder falou.
— Ela é belle, — ela zombou, apesar de eu achar que sabia que a belle
era uma coisa boa. Como linda. Xavier sorriu, como se estivesse na
brincadeira, e puxou uma cadeira para fora para sentar.
Olhei para ele por algum tipo de explicação, mas quando ele sentiu
meu olhar, voltou-se para mim e disse:
— Venha, sente-se. — Então eu puxei o assento ao lado dele e sentei-
me.
As mulheres tinham começado a falar entre si novamente, a mais
próxima de Xavier puxando-o para a conversa, e eu novamente fiquei do
lado de fora. Um garçom apareceu atrás de mim e disse algo em francês
que eu não entendia.
Eu não queria ser objeto de mais atenção, por isso acenei com a
cabeça para ele. Ele repetiu as mesmas palavras novamente, e eu abri a
boca, mas nada saiu.
— Ela terá o Grigio, — a mulher ao lado de Xavier falou ao garçom.
Fui humilhada, me chutando por não ter apenas pedido que ele falasse
inglês. Todos falam inglês. O servidor acenou com a cabeça e caminhou
até o balde de gelo que segurava duas garrafas, trazendo uma e servindo-
me um copo.
Eu tomei um gole, meus nervos estavam inquietos.
— Calma, senhora, — disse a líder em voz alta do outro lado da mesa.
— Este fica nervoso quando sua mulher fica bêbada. — Ela piscou o olho,
olhando para Xavier.
Senti minhas bochechas queimarem pela milionésima vez. Será que
ela estava insinuando que ela e Xavier tinham...?
— Não seja ruim, Darla, — respondeu Xavier, chutando uma perna
sobre a outra e inclinando-se para trás em sua cadeira.
— Por quê? É assim que você gosta de mim, não? — Ela piscou o olho
de novo. As mulheres todas riram. Eu não podia acreditar nela, nem
nelas. Eu estava sentada aqui do lado. Ele era meu marido.
— Com licença, — eu disse calmamente, empurrando minha cadeira
para trás e deixando a mesa. Eu precisava de algum espaço para respirar.
Havia um bar junto à parede, e estava bem vazio. Eu passei por cima e
pedi um copo de água com gás. O barman o trouxe quase imediatamente,
mas antes que eu pudesse agradecê-lo, senti uma mão no ombro.
— Essa não é uma bebida forte o suficiente para uma senhora tão
bonita, — disse o homem de antes, o de gola alta, com um sotaque
francês forte.
Olhei para sua mão, ainda descansando em cima do meu ombro nu.
— Tudo bem, — eu respondi. Agarrei minha bebida para me afastar,
mas sua mão apertou minha mão.
— Não posso convencê-la a tomar uma bebida comigo...
— Talvez mais tarde, — eu disse, encolhendo os ombros. Eu não
queria ser rude, mas havia algo nele que fazia meus sentidos ficarem em
guarda. Peguei meu copo e caminhei ao redor da circunferência do salão
de baile, absorvendo durante todo o tempo todos os detalhes que tinham
sido arranjados.
Quando voltei para a mesa, já havia cestas de pão e manteiga. Tomei
meu lugar, as mulheres e Xavier ainda estavam de conversa.
Deixe-os falar. Eu teria um pedaço de pão, pensei, e peguei a cesta.
Ao deixar cair um pãozinho fresco em meu prato e espalhar um pouco
de manteiga sobre ele, fiquei tão preocupada com o cheiro bom que não
percebi que a conversa ao meu redor havia parado.
Eu trouxe um grande pedaço de pão para a minha boca e mordi —
estava delicioso — mas depois ouvi a mulher mais próxima de Xavier
dizer:
— Ela come pão?
Eu engoli, olhando para as mulheres que me olhavam com
repugnância. Nenhuma delas estava comendo. Nem mesmo Xavier
estava.
— Sua esposa, — começou a líder, olhando diretamente para meu
marido. — Ela estará gorda antes que você perceba.
— A gordura é melhor que ser brega, — outra se intrometeu.
— Pelo menos quando você é brega, você não está roubando o
dinheiro de outro.
Meus ouvidos começaram a zumbir. Sangue correu para o meu rosto.
Eles estavam falando de mim.
E assim abertamente, sem vergonha alguma. Os insultos continuavam
vindo, cada um pior do que o último, e Xavier apenas sentado ali, um
sorriso em seu rosto.
Sempre pensei que meu marido seria um homem que me defenderia,
que me protegeria e que se asseguraria que eu estivesse longe do perigo.
Mas em vez disso, meu marido apenas tomou outro gole de seu vinho
gelado e riu junto com as mulheres que não comeram pão.
Capítulo 27
Sob Ataque
ANGELA
Angela: Sim...
XAVIER
ANGELA
XAVIER
Estou morto.
Eu não tinha certeza onde estava, mas sabia disso com certeza.
Eu estava flutuando em um vazio sem fim e escuro. Eu não podia
sentir meu corpo. Eu nem tinha certeza se ainda tinha um.
Era só eu, sozinho, com meus pensamentos disformes.
Flashes de memória se desdobraram em minha mente.
O rosto da mulher que eu amava. A mulher que havia partido meu
coração.
A angústia da traição.
O golpe do desgosto do coração.
O calor de fúria que consome tudo.
A raiva voltou a mim agora, aqui nos meus momentos finais. Pude
senti-la me queimando.
Então é assim que termina...
Lembrei-me de ver Angela na praia antes que meu corpo desistisse.
Seus cabelos brilhavam dourados ao sol, seus olhos refletiam o oceano
cintilante ao nosso redor.
Uma pancada de arrependimento me atingiu.
Eu a tinha tratado como merda. Pior que merda, na verdade. E,
sinceramente, ela não merecia nada disso.
Engraçado como a morte finalmente colocou tudo em perspectiva
quando já era tarde demais.
Eu me rendi à escuridão, me deixando ir...
Mas então eu senti algo.
Uma suave pressão sobre meus lábios. A sensação era como uma brisa
refrescante, respirando vida em meus pulmões, enchendo meu coração.
Meus olhos se abriram. Respirei fundo, com um sopro agitado.
E eu estava olhando nos olhos de um anjo.
ANGELA
Meu corpo inteiro estava pulsando com um tipo distinto de dor, como
quando você acorda após uma noite de muita festa e sente cada órgão
dentro de você reclamando. Isso era o que estava acontecendo comigo
agora.
Meu corpo inteiro sentiu o peso do acidente.
O sol estava se pondo forte sobre mim, então eu me inclinei sobre
meu ombro bom para me inclinar melhor contra a brisa. O vento frio
atingiu meu rosto, e quase me relaxou. Eu estava olhando para o oceano
quando vi uma figura emergindo da água.
Não apenas uma figura qualquer, mas a figura de Angela. A figura de
minha esposa, quase totalmente exposta.
Pisquei, tentando perceber o que ela estava vestindo, se é que estava
vestindo algo. Vi a parte de cima da camiseta dela — ela tinha rasgado o
fundo da camisa para fazer uma tipoia para meu braço — e alguma
calcinhas.
Mas foi só isso.
Mesmo sabendo que era errado olhar para ela assim, sem que ela
soubesse, não conseguia arrancar meus olhos dela.
E o sonho repetido que eu tinha voltava agora — dela em várias etapas
de nudez, dela me implorar por mais.
Eu esfreguei os olhos. Recompondo-me. Ela estava cuidando de mim.
O mínimo que eu podia fazer era tratá-la com respeito. Especialmente
depois da maneira como eu a tinha tratado por tanto tempo antes.
Eu a vi pegar seus jeans ao lado de uma árvore a alguns metros de
distância e puxá-los, e então ela começou a caminhar até mim. Fechei
meus olhos, fingindo estar descansando.
— Estou de volta, e olha o que eu tenho, — exclamou ela. Abri meus
olhos e vi um galho de árvore com uma ponta afiada.
Ela mesma deve ter afiado, eu pensei, atordoado. Na ponta afiada
havia um peixe.
— Você está com fome?, — perguntou ela.
— Como você...
— Não foi muito difícil, — disse ela, modesta. — Eu sou boa com
minhas mãos. Meu pai me ensinou a consertar carros quando eu era
jovem, e depois disso, consertar praticamente qualquer outra coisa se
tornou fácil.
Huh. Pensei em quando o Bentley quebrou em Midtown, e o Marco
me disse que uma mulher aleatória tinha parado para ajudá-lo a
consertar. Poderia ser...
Mas antes que eu pudesse dar sentido a qualquer coisa, Angela estava
arrancando um pedaço do peixe e me entregou.
— Eu sei que não é exatamente filé mignon, mas você precisa comer
alguma coisa. Por favor.
Então eu a deixei me alimentar com o primeiro pedaço de peixe e
depois com outro. E antes que eu soubesse, ela tinha me alimentado com
tudo, não comendo nada.
— E você? — eu perguntei.
— Não se preocupe comigo, — disse ela, e naquele momento, tive a
certeza de que não conhecia essa mulher de jeito nenhum.
Que tipo de pessoa trataria alguém como eu, alguém que se esforçou
para tornar sua vida mais difícil, com tanta gentileza? Se ela estivesse
atrás do meu dinheiro, não seria a seu favor ter me deixado morrer?
Se eu fosse ela, provavelmente teria sido isso que eu teria feito.
Mas em vez disso, aqui estava ela, cuidando dos meus ferimentos e me
alimentando de peixes que ela mesma havia pescado. Parecia surreal,
como se ela fosse um anjo colocado ali por uma razão.
Eu tentei me sentar sozinho, mas ela viu minha dificuldade e me
ajudou. Quando estava de pé, toquei as costas da mão na testa e senti a
umidade.
— É suor, não sangue, — disse ela, lendo minha mente. — Você está
com calor? Você quer tirar isso? — perguntou ela, movendo-se para a
camisa que não tinha utilidade em uma ilha.
Eu acenei, e ela me ajudou a tirar por trás. Ela ficou atrás de mim por
um momento depois de ter saído, e eu pensei ter sentido o olhar dela nas
minhas costas.
Na minha cicatriz.
— O que aconteceu? — perguntou ela em silêncio.
Eu não queria falar sobre isso, não agora. Não precisava de outro
lembrete de dor; eu já tinha o bastante. Mas eu queria responder-lhe,
dar-lhe algo depois de tudo o que ela me havia dado.
— Eu estive em um acidente de carro, — eu disse.
— Recentemente?
— Há cerca de um ano.
Eu estava olhando para o chão, pegando areia e vendo-a cair. Ela
voltou e sentou-se ao meu lado, vendo-me brincar com a areia também.
Ficamos ali sentados em silêncio durante horas, conhecendo-nos
através das palavras que não dissemos.
ANGELA
BRAD
Fogo.
Destroços.
Eu não conseguia tirar meus olhos da tela. Eles finalmente
encontraram os restos do avião, mas ainda não haviam falado nada sobre
sobreviventes.
Eu não tinha ideia se meu filho e minha nora estavam vivos ou...
Eu não podia me permitir pensar nessa palavra. Recusei-me a dizer
essa palavra em voz alta. A mesma palavra que as pessoas usaram quando
falaram sobre minha esposa. Minha amada Amelia.
E pensar que, além de perdê-la, também poderia perder a única
família que me restava, era demais para um velho como eu.
As vozes na televisão recusaram-se a me dar paz.
— Acabou de chegar. Agora soubemos que há várias vítimas na queda
do avião no Caribe. Mas nada ainda sobre o destino do bilionário Xavier
Knight ou de sua nova esposa, Angela Knight...
Peguei o controle remoto e silenciei as vozes. Assistir minha vida
desmoronar era uma coisa, mas ter que ouvir isso?
— Isso é tudo culpa sua, — eu sussurrei para mim mesmo com os
dentes cerrados. — Se você não os tivesse forçado a ir naquela lua de
mel...
Lágrimas me atacaram. Eu joguei o controle remoto contra a parede,
encontrando algum prazer nele se despedaçando. Foi bom destruir algo
agora.
Mas, no fundo, eu sabia que esse prazer teria vida curta.
Como eu deveria continuar a partir daqui? Como eu iria me perdoar
se meus piores medos se concretizassem?
De repente, meu celular vibrou no bolso e corri para pegá-lo, com as
mãos tremendo. Eu sabia que, com um apertar de botão, minha vida,
minha dinastia, meu futuro como eu sempre imaginei, poderiam ser
apagados.
Mas quando abri as mensagens de texto do meu assistente, Ron, meus
olhos se arregalaram em descrença.
Ron: Chefe!!!
Brad: O quê?
Brad: FALA.
Ron: Disseram a eles para não tirar fotos de rostos, caso isso vaze.
Ron: Mas tenho certeza que você pode dizer se são eles...
— Xavier!
Algumas horas depois, a porta do meu quarto de hospital se abriu e
meu pai correu para dentro. Eu nunca o tinha visto tão... desleixado.
Seu cabelo normalmente penteado estava apontando para diferentes
direções. Parecia que ele tinha jogado seu terno Brioni feito sob medida
em um liquidificador. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e nada
parecidos com aqueles olhos claros e duros do CEO que eu sempre
respeitei e temi enquanto crescia.
— Pai? — Eu perguntei, surpreso. — Você está uma bagunça. Você está
bem?
— Eu estou...?
Meu pai balançou a cabeça, agarrando meu ombro, sorrindo, mas o
sorriso parecia tão cheio de dor.
— Eu pensei que tinha perdido você, Xavier. Eu pensei...
— Ei, está tudo bem, velho, — eu disse, me sentindo um pouco
desconfortável.
Não gostei de ver alguém tão poderoso cair de joelhos. A única outra
vez na minha vida em que vi meu pai agir assim foi quando minha mãe
morreu.
— Xavier, — ele disse, sentando-se ao lado da minha cama, com os
olhos lacrimejantes. — Quando a notícia saiu, eles disseram que havia
vítimas e...
— Quem? — Eu perguntei, de repente tenso. — Quem morreu no
avião?
Meu pai olhou para o lado, triste.
— O piloto, Jim.
Merda. Eu conhecia Jim quase toda a minha vida. Ele voou com meu
pai e eu ao redor do mundo mais vezes do que eu poderia contar.
— Meu Deus, — eu disse, surpreso com o quão devastado eu me
sentia. — Alguém falou com a família dele?
Meu pai acenou com a cabeça solenemente.
— Já entramos em contato e oferecemos uma compensação generosa,
não que isso possa substituí-lo.
— Isso é bom, — eu disse, mas não me senti bem. Não parecia certo de
jeito nenhum.
— Estou muito grato, filho, — disse meu pai novamente. — Depois da
sua mãe, a ideia de perder você também... Eu não aguentaria.
A enormidade do que ele viveu, as noites sem dormir, o terror e a
angústia, finalmente me atingiu. Por pior que tenha sido para Angela e eu
na ilha, pelo menos tínhamos um ao outro.
Não havia nenhuma área cinzenta. Nós sobreviveríamos ou
morreríamos, mas para meu pai, cada segundo que passava sem saber o
que havia acontecido conosco deve ter sido uma agonia indescritível.
Peguei sua mão, embora fosse estranho para mim ser tão emotivo.
— Estou bem, pai. Está tudo bem.
Ele acenou com a cabeça, enxugando uma lágrima. Então ele olhou
em volta, carrancudo.
— Onde está Angela?
XAVIER
Muito ruim.
Depois que minhas memórias voltaram para mim, nós rapidamente
voltamos para Nova Iorque.
Tínhamos acabado de sair do aeroporto e Marco estava nos
conduzindo pela agitação normal da cidade.
Este era o Xavier do qual me lembrava — frio, insensível, olhando pela
janela durante todo o trajeto para casa. Ele não disse uma palavra para
mim.
Mas o que havia a dizer?
Como deveríamos processar tudo o que acabamos de passar? Xavier
continuaria a me odiar agora que estávamos de volta?
Eu tinha que admitir, se ele ainda me odiava ou não, o silêncio era
certamente preferível a ele gritando comigo o tempo todo.
— Marco, — Xavier disse, sacudindo-me do meu estupor. — Me deixe
no trabalho, sim? Eu tenho muito que colocar em dia.
— Claro, senhor, — disse Marco, sempre obediente.
Eu pensei sobre Xavier, surpresa. Ele já era realmente capaz de voltar
ao trabalho? Ele tinha acabado de sobreviver a um acidente de avião!
Mas com certeza, cinco minutos depois, Marco estava estacionando
no prédio da Knight Enterprises e abrindo a porta do carro para Xavier.
Ele estava prestes a sair quando parou e olhou para mim.
— Hum, — ele disse, parecendo incerto sobre o que dizer. — Vá
devagar... eu acho?
Então ele bateu à porta do carro e se dirigiu para dentro de seu prédio.
Petrifiquei-me em descrença. Vá devagar? Isso era tudo que ele tinha a
dizer?
Eu me encontrei confusa e nem um pouco surpresa. Quem era eu
para fazer o grande Xavier Knight mudar? Ele era quem ele era.
Um acidente de avião, uma experiência quase mortal, um vínculo
estranho em uma ilha distante — nada disso importava agora que ele
estava de volta ao lugar a que pertencia.
Marco voltou para o carro.
— Tudo bem, Sra. Knight. De volta para casa?
Eu pensei sobre isso. Casa. Claro, Marco se referia ao apartamento de
cobertura que eu dividia com Xavier, mas onde nunca me senti em casa,
não de verdade.
Não. Eu sabia para onde queria ir.
— Quer saber, Marco, — eu disse. — Eu gostaria de parar em algum
lugar primeiro.
— Angie!!!
A porta da frente se abriu e braços fortes me envolveram, me
levantando do chão. Mesmo quando minha perna bateu contra a dele e
latejou de dor, eu sorri.
Porque, finalmente, eu estava cercada pelas pessoas que amava. De
volta para casa em Heller, onde fui criada.
— Danny, você pode me colocar no chão, — eu disse, rindo um pouco.
— Estou bem.
— Você não tem ideia de como todos nós estávamos com medo, irmã,
— disse Danny, me abaixando e acenando para que eu entrasse. — Lucas
começou a tricotar apenas para acalmar os nervos.
— Ele começou?
Atrás dele estava Lucas, balançando a cabeça, mas sorrindo. Claro que
não. Mesmo nos momentos mais assustadores, Danny estava sempre
brincando. Fazendo todos nós nos sentirmos melhor.
Ao lado de Lucas, fiquei surpresa ao ver Em. Por um segundo, não
consegui entender o que ela estava fazendo aqui. Ela era uma das minhas
melhores amigas, não me entenda mal, mas ela não era da família.
— Graças a Deus você está bem, — ela disse, correndo e me abraçando
com força. Havia lágrimas em seus olhos. E de repente me lembrei.
Em e Lucas estavam juntos. Eram um casal.
Como eu havia esquecido?
— Estou... estou feliz por você estar aqui, — consegui dizer.
Na verdade, a ideia de minha melhor amiga namorar meu irmão ainda
me deixava um pouco brava. Eu estava feliz por eles, obviamente, mas era
difícil entender isso.
E não era um fato que eu esperava confrontar ao voltar para casa.
Finalmente, meu pai apareceu. Suas bochechas pareciam rosadas e
saudáveis, e seu sorriso era enorme.
— Lá está ela, — ele disse. — Minha filhinha.
De repente, havia lágrimas em meus olhos. Quando fiquei presa na
ilha, quando toda esperança parecia perdida, pensei em meu pai e se
algum dia o veria novamente.
E aqui estava eu. Aqui estava ele. Aqui estávamos nós juntos.
— Pai, eu estou... — eu disse, mas não pude continuar. Um soluço
involuntário deixou minha garganta e eu estava correndo em sua direção,
jogando meus braços em volta de seu pescoço.
— Está tudo bem, — ele disse, segurando-me, acariciando suavemente
minha cabeça. — Está tudo bem, Angie. Estou bem. Estamos todos aqui.
Ficamos todos ali mais tempo, congelados, tentando nos agarrar a
esse momento, a essa gratidão por termos nos reunido, apesar de tudo.
Finalmente, me afastei do meu pai e enxuguei minhas lágrimas.
— Você vê essa garota? Pele e osso! — ele disse a Lucas. — Vamos,
temos que alimentá-la e pronto!
Eu ri, sentindo um calor dentro do qual nenhum sol do Caribe
poderia chegar perto de competir.
Angela: Desculpe.
Xavier: PORRA
Angela: O que é?
Xavier: Não
Xavier: Pessoalmente.
Angela: Já é tarde...
Xavier: Tá bom
XAVIER
Eu estava olhando para Xavier, mas não estava realmente vendo ele.
Eu estava vendo o Sr. Lemor, meu antigo chefe, que tentou arruinar
minha carreira e minha vida por rejeitá-lo.
Eu estava vendo o parceiro de negócios de Xavier, aquele francês
assustador, Jacques, que tentou fazer o que queria comigo.
Quando eu olhei para Xavier agora, eu estava vendo cada homem
violento, cada homem zangado, cada monstro terrível que assombrava
meus sonhos.
Desde a queda do avião, eu fiquei mais assustada com tudo. Mas nada,
ninguém me assustou tanto quanto o homem a quem chamei de marido.
— Desculpe, Angela, — Dustin disse baixinho para mim entre as
explosões de Xavier. — Eu vou sair... — Eu queria implorar a Dustin para
ficar, para me proteger, mas também sabia que era a presença dele que
havia irritado Xavier.
Seria melhor se ele fosse embora?
Finalmente, ouvimos as portas do elevador se fecharem, e éramos
apenas Xavier e eu sozinhos. Ele ficou quieto de repente, e sua expressão
mudou.
Eu não conseguia entender o que ele estava pensando. Eu nunca fui
capaz de entrar na cabeça de Xavier Knight. Que bem isso me faria agora?
Ele claramente ainda me odiava mais do que odiava qualquer pessoa
no mundo. Não é?
XAVIER
Xavier: Ei.
Penny: MDS!!!
Penny: XAVIER!!!
Xavier: Obg
Xavier: Venha.
Penny: Xavier... Gosto muito de você, mas sua esposa não ficaria
chateada?
Xavier: Vamos.
XAVIER
Xavier: Angela.
Angela: Claro.
Angela: Quando?
Angela: Já fiz alguns.
Xavier: Oh
Xavier: Ótimo
Em: Sim!
Em: Você quer passar por aqui?
Angela: Sim.
Em: Duh
ANGELA
A última vez que vi Em, ela estava segurando a mão do meu irmão
embaixo da mesa de jantar na casa da minha infância. Eu não precisava
dessa Em agora. Eu precisava da Em que me deu um emprego na
floricultura quando Curixon me rejeitou.
Precisava da garota que compraria sushi comigo à meia-noite, mesmo
quando nós duas sabíamos que o peixe tinha uma grande chance de nos
causar uma intoxicação alimentar.
A garota que eu chamei de minha melhor amiga por anos.
Entrando na floricultura, fui imediatamente confrontada com um
milhão de aromas avassaladores, todos eles se sobrepondo. O toque
atraente de Daphne, o aroma frutado da madressilva e o picante dos
lírios Stargazer.
Juntos, as flores deveriam ter entrado em conflito. Os aromas
deveriam ter sido completamente esmagadores, como às vezes era
quando você entrava em uma loja de flores.
Mas na loja de Em, esse nunca foi o caso. De alguma forma, todas as
fragrâncias se misturam perfeitamente, como se ela tivesse criado uma
química quase perfeita, vaso por vaso, planta por planta.
Era como, pensei, era como se as flores tivessem assinado um acordo de
paz.
Acordo.
Essa palavra nunca significaria a mesma coisa para mim agora.
— Aí está você! — Em disse, largando a tesoura. — Você quer me
ajudar a embrulhar isso?
— Claro, — eu disse, me aproximando, sorrindo. — Isso se eu ainda
consigo me lembrar como fazer.
— É como andar de bicicleta, Angie. Você sempre foi melhor nisso do
que eu, de qualquer maneira.
Fiquei ao lado de Em e comecei a organizar as flores, pensando
novamente nessa palavra. Acordo. Quase me fez estremecer.
— O que é? — Em perguntou, percebendo minha carranca. — Você
parece... desligada.
— Oh, é só... o Xavier. De novo.
— Ele ainda está sendo terrível?
Comecei a acenar com a cabeça. Então parei. Eu balancei minha
cabeça. Então parei. Eu não tinha certeza do que sentia, mas não era
clareza. Quando olhei para Em, sabia que ela me ouviria. Mesmo que
saísse tudo confuso, ela ouviria e seria compreensiva.
Então comecei a dizer a ela como me sentia.
— Na ilha, Xavier e eu... pensei que tínhamos criado um vínculo. Era
como se estivéssemos compartilhando algo intenso, e não sei... especial?
Parece bobo.
— Não, não parece, Angie, — disse Em, agarrando minha mão. —
Continue.
— Bem, — eu disse, respirando, — Eu cuidei dele. Ele estava mais
ferido do que eu, então eu cuidei de suas feridas e o alimentei, e... o jeito
que ele olhou para mim, Em... Ninguém nunca olhou para mim desse
jeito antes.
— Isso parece lindo.
Eu balancei a cabeça tristemente.
— Era. E então voltamos para Nova Iorque e... tudo mudou.
— Como? — Em perguntou, franzindo o cenho.
Eu não sabia por onde começar. Então, eu apenas contei a ela toda a
história, ocasionalmente parando para continuar arrumando as flores e
para pensar sobre meus sentimentos. Quando terminei, Em suspirou.
— Angie, parece que... ele está deixando você muito infeliz.
— Nem sempre.
— Mas na maioria das vezes, não é?
Eu concordei. Em me virou para que eu a olhasse bem nos olhos.
Portanto, não pude desviar para as flores pela primeira vez.
— Não é somente porque seu pai está doente que você aceitou se
casar com o Xavier?
— Sim. O que você está dizendo?
— Ele está melhorando, Angie! Você o viu com seus próprios olhos.
Em estava certa. Parecia que a saúde do meu pai estava melhorando
drasticamente, mas isso não mudou nada, mudou?
— Então? — Eu perguntei.
— Então, — Em disse, impaciente, — isso significa que você não
precisa mais respeitar o acordo por muito mais tempo. Especialmente
agora que você conseguiu aquele grande acordo daquela enorme revista.
Você pode pagar a maioria das contas sozinha.
Desde que a primeira revista online vazou meus nudes, Brad os atacou
com tanta força legal que eles concordaram com um pagamento em
dinheiro ridiculamente grande, que agora estava descansando feliz em
minha conta bancária.
Foi um dos gestos mais gentis do pai de Xavier.
Mas nunca parei para pensar que...
— Angie, — disse Em, — talvez você não precise mais desse acordo.
Talvez seja hora de acabar com isso.
Acabar com meu casamento com Xavier Knight. Pedir o divórcio.
Deixá-lo.
Depois de tudo que passamos, poderia ser tão simples assim?
E, mais importante, era isso que eu realmente queria?
Capítulo 5
O pé Errado
ANGELA
ANGELA
Angela: ???
Angela: Quem é?
Angela: ???
Angela: Quem é?
Angela: Pare.
ANGELA
XAVIER
ANGELA
Eu nunca pensei que Angela conseguiria. Quando meu pai nos pediu
pela primeira vez para fazer esta competição de dança, eu estava com
medo. A ideia de ter que dançar com alguém tão claramente inocente e
desacostumada a ser tocada parecia terrível.
Como ela seria capaz de dançar se mal conseguia segurar a porra da
minha mão sem tremer? Quando começamos, eu senti como se tivesse
provado que estava certo.
A garota era descoordenada demais, pisando nos meus pés, dizendo
"desculpe" a cada segundo como uma idiota.
Mas então o bolero começou e...
Era como se eu estivesse dançando com outra mulher.
Quando Kiki se juntou a nós, eu me diverti com a reação de Angela.
Ela claramente não gostou da nossa instrutora de dança, e você poderia
culpá-la?
Kiki era magra como um graveto, com cabelo descolorido de Khaleesi
e tinha os movimentos furtivos de um gato. Ela era a concepção de
beleza pura de muitos homens, mas não minha.
Não, sinceramente, achei Kiki totalmente repulsiva, especialmente a
maneira como ela se agarrou a mim.
Mas eu entretive suas provocações desagradáveis porque eu gostava
de ver o quão incomodada e brava isso deixava minha esposa. Isso foi
cruel? Talvez um pouco.
O ciúme era uma cor nova no rosto tão angelical de Angela. Isso
mexeu comigo.
A ideia de que faríamos essa dança novamente na frente de centenas
de pessoas me excitou além da medida.
No caminho para casa, me perguntei se deveria dizer a Angela o
quanto gostava de dançar com ela, mas decidi não fazer isso. Sempre
mantive minhas cartas perto do meu peito quando se tratava de cortejar
alguém.
Eu não estava prestes a mudar meus métodos agora.
Só quando estávamos em casa e ouvi um grito distante, junto com
uma porta sendo batida, que pensei que talvez tivesse me enganado...
ANGELA
ANGELA
Xavier: ?
Xavier: O quê?
Angela: Tchau.
ANGELA
Xavier: Ei.
Angela: ...
ANGELA
— O QUÊ?
Sentei-me na cama com um sobressalto, hiperventilando. Eu estava
sozinha. Era no meio da noite. Eu estava no meu quarto.
Tudo que eu tinha acabado de experimentar era um sonho...
Um sonho sexual. Eu tinha acabado de ter um sonho sexual com
Xavier.
O que.
Foi.
Isso.
Levantei-me e corri para o banheiro, lavando meu rosto e me olhando
no espelho. Mal pude reconhecer a garota que me encarou de volta.
— Angela, — disse a mim mesma, — estamos com grandes problemas
agora.
Angela: Em.
Em: Ok
Lucas: hein?
Lucas: ah
Lucas: Espera
Lucas: O quê?
Lucas: Merda.
Lucas: Angie
Angela: UM ANEL???
XAVIER
Penny: Ei.
Penny: É penny.
Xavier: Eu sei.
Puta que pariu. A última coisa que eu queria pensar era na Penny
agora. Mas acho que não tive escolha a não ser deixá-la vir se ela
realmente tivesse deixado algo aqui. Isso ou ela estava apenas
procurando outra desculpa para tirar minha roupa.
Isso ainda estava para ser determinado.
Agora que eu tinha aprendido a verdade sobre Angela — sobre o anjo
que ela realmente era — e depois do nosso encontro com pizza, que foi
uma das melhores noites que tive em meses, eu não tinha olhos para
nenhuma outra garota.
Meu pau tinha alguns desejos aqui e ali? Claro, mas estava fazendo o
possível para resistir à tentação. Angela claramente não era esse tipo de
garota. Levaria tempo para conquistá-la.
E levá-la para minha cama.
À noite, eu ficava fantasiando sobre ela e como seria deixá-la nua.
Me angustiava saber que ela estava a apenas algumas portas de
distância e eu não podia tocá-la.
Um Knight bilionário como eu não estava acostumado a não
conseguir o que queria. Mas, pela primeira vez, eu teria que aprender a
ser paciente.
Angela valia a pena.
Quando ouvi o barulho do elevador, me preparei. Não ceda à tentação,
Xavier. Ela não é nem tão boa assim. Apenas dê a ela o que ela quer e dê o
fora.
Mas quando as portas se abriram e vi Penny parada ali, fiquei
imediatamente impressionado com o quão gostosa ela estava.
Lembrei-me da sensação de bater nela, o tapa naquela bunda gostosa,
o gosto de seu suor quando mordi seu ombro...
— Ei, Xavier, — ela disse, sorrindo. — É bom te ver. — Ela estava
alheia aos meus pensamentos enquanto se inclinava para um abraço sem
jeito. Senti a pressão de seu peito através de seu grande suéter de lã.
Limpei minha garganta, tentando clarear minha mente no processo.
Foco, Xavier. Você pode se masturbar mais tarde. Não estrague tudo com
Angela.
— Então o que você quer? — Eu perguntei, tentando parecer estar
calmo.
— Me desculpa por aparecer assim. É só que... da última vez que estive
aqui, acho que quando estávamos, hum... você sabe... estávamos tirando
tudo às pressas, o meu colar deve ter...
— Você pode ir direto ao ponto, Penny?
Eu estava rapidamente ficando impaciente. Penny acenou com a
cabeça, colocando a mão em seu pescoço delicado. Pensei em como ela
me disse para estrangulá-la da última vez...
Pare com isso, Xavier, minha voz interior avisou novamente. Mantenha
o controle.
— Meu colar, — explicou Penny. — Eu perdi ele aqui.
— Então? Pegue outro. Vou te dar um cheque.
O rosto de Penny corou um pouco quando ela olhou para o lado,
horrorizada.
— Eu não sou uma prostituta, Xavier. Eu não quero seu dinheiro. Vim
aqui porque gosto mesmo de você.
Suspirei. A desgraçada estava tentando me fazer sentir culpado e
estava funcionando.
— Ok, ok, — eu disse, tentando parecer. — O que ele tem de tão
especial? Não podemos simplesmente substituí-lo?
Ela balançou a cabeça. — Tem um pingente com minhas iniciais. É
insubstituível. Um de cada tipo.
— Não me diga que... É do seu ex, não é?
Seu silêncio me disse tudo que eu precisava saber.
— Droga, Penny, é melhor que você perca de vez essa coisa então.
Agora vá para casa e...
— Por favor, — ela interrompeu, sua voz baixa. — Eu só... eu preciso
dele, tá bom?
Ela se recusou a encontrar meus olhos, e eu poderia dizer que ela
estava lutando contra as lágrimas. Eu esfreguei minha nuca, com o
silêncio constrangedor se estendendo entre nós.
Meu Deus, eu odiava essa merda.
Por que ela ainda estava presa a um idiota abusivo estava além de
mim. Eu nem conhecia o cara e pensar nele fez meu sangue ferver.
Espere... Por que eu estava me importando com isso?
— Tudo bem, tudo bem, — eu disse, dando um passo para o lado. —
Vamos dar uma olhada.
Estávamos revistando meu quarto, mas achamos o colar? Não. Então
continuamos nossa busca. A certa altura, olhei para Penny, curvada,
olhando embaixo da cama...
Senti uma vontade repentina de pular em cima dela, de tomá-la por
trás, de torná-la minha novamente.
Droga, cara! Eu claramente precisava transar, e o mais rápido possível,
ou o problema só pioraria. Ela se virou e caiu contra a parede, parecendo
agitada.
— Não consigo encontrar em lugar nenhum, — Penny gemeu. —
Onde está, Xavier?
— Não sei.
— Mas eu tenho que encontrá-lo. Você não entende!
De repente, Penny parecia desesperada. Quando perco algo
importante também fico chateado, mas por que o pânico?
Normalmente, minha paciência já teria se esgotado, e eu a teria
chutado para fora da minha casa. Mas talvez a bondade de Angela tenha
tido um impacto sobre mim ou algo assim, porque, em vez disso, me
sentei ao lado de Penny.
— Você pode me dizer, você sabe, — eu disse sem jeito. — Porque
isso... é importante para você.
Penny me olhou estranhamente, quase como se ela não pudesse me
reconhecer, mas então ela começou.
— Você se lembra do meu namorado, certo?
Eu concordei. Nunca fui um grande ã dele, mas trabalhamos juntos e
tínhamos que manter o relacionamento cordial.
Quando Penny finalmente criou coragem e terminou com ele... bem,
eu estava lá.
Não de uma forma romântica e emocional.
Apenas para o sexo.
Felizmente, o idiota do ex de Penny morava principalmente em Paris,
então eu não precisava ver sua cara feia com frequência.
— Ele está vindo para Nova Iorque na próxima semana, — Penny
continuou.
— E... eu meio que concordei em vê-lo novamente.
Eu a encarei como se de repente nela tivesse crescido uma segunda
cabeça.
— Você é idiota?
— Talvez...
Ela nem estava negando.
— Olha, eu não sei todos os detalhes e não me importo o suficiente
para ouvi-los, mas ele era abusivo, certo? Foi por isso que você terminou
com ele!
— Ele diz que mudou...
— Não me venha com essa merda, Penny. Você sabe tão bem quanto
eu que ele está mentindo descaradamente.
— Você não o conhece como eu. — Sua voz começou a aumentar, e eu
não sabia se ela estava tentando me convencer ou a si mesma. — Eu
posso mudá-lo. Eu posso ajudá-lo com seus problemas.
Por que ela estava sendo tão teimosa?
Por que ela não conseguia ver o óbvio?
Por que isso me deixou tão furioso?
— Eu conheço o tipo dele, — eu soltei. — Ele é manipulador, sem
coração e, assim que conseguir o que quer de você, ele a jogará no lixo.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Penny.
— Tipo como você?
Suas palavras foram como um tapa na cara — uma chuva fria de
realidade bem sobre minha cabeça quente.
— Você trata sua esposa como todas as outras mulheres em sua vida?
— ela perguntou.
Era isso então.
A razão pela qual suas palavras me atingiram com tanta força. Por que
vê-la tão chateada com seu ex me irritou imediatamente.
Era como se olhar no espelho.
Angela era como Penny.
E eu era como o ex-namorado idiota da Penny.
Eu não aguentava mais um segundo.
— Você precisa ir, — eu disse em voz baixa.
Penny nem mesmo discutiu. Ela se levantou, cabisbaixa. Ela parecia
tentar desaparecer em seu suéter enorme.
— Eu pensei que você tivesse mudado, Xavier, — ela disse
calmamente. — Eu pensei que talvez houvesse alguma bondade em você,
mas você ainda é o mesmo. Sem coração.
Então ela saiu pela porta, me deixando sem palavras.
Ela estava certa?
Eu era realmente tão frio?
Enquanto a seguia até o elevador, senti uma necessidade repentina e
bizarra de me desculpar. Dizer apenas as palavras — sinto muito — e
pronto. Não pode ser tão ruim, não é?
Não, disse a mim mesmo. Ela é indigna de seu pedido de desculpas.
Deixe-a ir e continue com sua vida.
Mas quando Penny estava prestes a apertar o botão para chamar o
elevador, as portas se abriram. Parada do outro lado estava...
NÃO!!!!
ANGELA
XAVIER
Angela: Hum...
Angela: É confuso.
Em: Bem
Angela: Obrigada.
ANGELA
Era tão difícil manter segredos de Em. Claro que estava feliz que meu
irmão estava sendo gentil com ela novamente, mas eu gostaria que ela
soubesse o que eu fiz...
Que ele estava prestes a propor em casamento!
E então, eu sabia que provavelmente poderia contar a ela tudo sobre o
estranho incidente com Penny e Xavier, mas parecia muito para mandar
por mensagem. E ela provavelmente interpretaria mal. E… deixa pra lá.
A corrida ajudou a clarear minha cabeça, de modo que, quando nos
sentamos para jantar, eu fui capaz de relembrar o dia com alguma clareza
e novas percepções.
Estávamos comendo em silêncio, alguma música espanhola tocando
ao fundo, quando decidi fazer uma pergunta a Xavier.
— Então, — comecei, — você está nervoso?
— Sobre hoje? Como você disse, foi estranho, mas...
— Não sobre hoje, — eu disse, rindo levemente. — Sobre este fim de
semana. O Jubileu de Prata finalmente chegou!
— Oh, merda, você tem razão.
Nós dois rimos, percebendo que não éramos páreo para o que viria.
— Não vamos ganhar de jeito nenhum, não é? — Xavier perguntou.
Eu fiz uma careta, fingindo estar ofendida.
— Talvez seja assim que você se sinta, mas eu sou uma Knight, e os
Knight ganham competições, não é?
O sorriso de Xavier se alargou.
— Eu gosto quando você fala assim.
— Como o quê?
— Como uma capitalista. É sexy.
Eu corei. Tudo tem que ser sobre sexo com esse cara?
— No entanto, já faz um tempo desde o nosso último treino, — eu
disse, mudando de assunto. — Espero me lembrar de todas as etapas.
— Bem, — ele disse com um encolher de ombros, baixando o garfo e a
faca, — por que não praticamos agora?
— Você quer dizer aqui?
— Por que não! O apartamento é grande o suficiente para parecer
uma pista de dança, não é?
Baixei meus talheres, sorrindo e aceitando o desafio.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos lá.
Angela: NÃO
ANGELA
ANGELA
Não era o suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher
no dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher
que eu conhecia, uma mulher com quem passei um tempo naquele dia.
Uma mulher que sabia como eram meus poros de perto. Era como se ele
estivesse propositalmente tentando me machucar, me punir por ter me
casado com ele.
— Limpe, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas na minha vida, convidando
meu próprio pai sem me dar nenhum aviso prévio, então eu devolvo para
você. Esta é uma bagunça que fiz. Você limpa.
Em: ANGIE!
Eu não tinha certeza se era possível, mas parecia que meu sorriso
ficou ainda maior. Rapidamente, digitei minha resposta.
Angela: Eu sabia que tudo acabaria bem. Estou tão feliz por vocês
dois!
ANGELA
ANGELA
ANGELA
ANGELA
Angela estava branca ao meu lado. Ela era pálida normalmente, mas
isso era diferente, mais fantasmagórico, como se todo o sangue tivesse
sido drenado dela.
Algo parecia errado, mas ela insistiu que estava bem. Talvez sua
ressaca estivesse demorando um pouco mais do que o normal para
sumir.
Tomei um gole de Shiraz, saboreando o caramelo.
Como esperado, a visita dos meninos mudou de negócios para lazer.
Em nossos círculos sociais, às vezes era difícil distinguir entre os dois.
Normalmente, eu estaria lá com eles, trocando histórias de guerra.
Esta noite, por algum motivo, suas histórias de conquista não soaram tão
engraçadas.
Eu esperava que Angela na sala os fizesse mudar de assunto, mas
parecia que eles beberam Manhattans demais para se importar.
— Acho que Jacques é quem tem o melhor plano, — brincou Paul. —
Deixa sua senhora aqui enquanto ele corre pela Europa. Como isso
funciona?
Ouvi Angela inspirar rapidamente ao meu lado, então deslizei para
mais perto dela.
É o assunto que a está incomodando?
Pelo menos ela me deixaria tocá-la agora.
É algo que eu disse?
Eu olhei para Paul.
— Mas essa não é bem a história verdadeira. Ele foi porque Penny deu
um fora nele. — Eu ri e os meninos concordaram.
Mas quando olhei para Jacques, ele não estava sorrindo junto com o
resto de nós.
— Eu cutuquei a ferida? — Eu provoquei. — Vamos, amigo, estamos
apenas brincando com você.
Jacques abriu um sorriso, mas não chegou aos seus olhos.
— Penny está apenas se fazendo de difícil, — ele disse. — Ninguém diz
não para mim.
Angela enrijeceu ao meu lado e eu lancei a ela outro olhar
questionador. Ela não encontrou meu olhar.
— Você está bem? — Eu sussurrei para ela.
— Hum...
— Vamos, — Jim gemeu, interrompendo Angela. — Qual é o seu
segredo? Claro, ela terminou com você, mas eu vi o jeito que ela estava
pendurada em seu braço, Jacques. Essa garota quer você dentro dela.
— Eu sou um amante latino bonito, — Carlos interrompeu, — e eu
ainda teria minhas bolas arrancadas se eu não visse minha garota por um
mês.
Jacques tomou um gole de seu uísque e olhou para mim por um breve
momento antes de se virar para Carlos.
— Nós dois somos solteiros. Tenho certeza que ela vê outros homens,
e eu vejo outras mulheres. Basta ter um pouco de mente aberta.
Eu engoli em seco. Ele sabe que eu dormi com Penny?
Se ele sabia, não soou como se ele se importasse.
Minha mão apertou meu copo. A coitada merece mais do que isso.
Espere.
De onde diabos saiu isso? Desde quando eu me importo com coisas
tão triviais como transar?
Jim riu.
— Sim, todas elas dizem que têm a mente aberta até descobrirem que
você tem algo a mais. Então elas enlouquecem! Aposto que foi assim que
Jacques conseguiu aquela cicatriz no pescoço. Penny o surpreendeu
montando uma prostituta e o atacou por trás.
Eu cerrei meus dentes, tentando não dizer algo de que me
arrependeria. Normalmente, eu riria de um comentário como esse, mas
algo no tom de Jacques me arrepiou.
— Quase certo. — Jacques girou o licor âmbar em seu copo. — Eu
ganhei isso de uma mulher em Paris. — Angela choramingou e eu
estendi a mão para colocá-la ao meu lado. Ela encolheu os ombros e tirou
meu braço dela. Ela tremia como uma folha ao meu lado.
Como um cachorro que foi chutado muitas vezes.
Todo o progresso por água abaixo.
Os outros caras ficaram em silêncio, esperando que Jacques
continuasse sua história.
Ele torceu o lábio, os olhos brilhando em minha direção novamente.
— Foi em um baile. Uma mulher... ela era pequena e loira com seios
grandes. A... como você diz? Uma mulher que dá corda. A noite toda. Ela
me queria. O que eu poderia fazer?
— Você está zoando, — disse Paul. — Coisas assim não acontecem na
vida real.
Eu apertei minha mandíbula.
Jacques continuou.
— Fomos para uma sala privada. Ela arrancou minhas roupas. Pediu-
me para dizer que ela era linda.
— Então? — Carlos perguntou.
— Eu não poderia mentir. — Jacques encolheu os ombros. — Eu disse
a ela que não era verdade. Então ela me golpeou com o sapato.
Os caras começaram a rir quando ouvi Angela murmurar:
— Com licença. Ela deu um pulo e correu pelo corredor.
— Ao sexo frágil. — Paul ergueu o copo.
ANGELA
ANGELA
XAVIER
Dustin: Sinto muito Angela: Não seja bobo. Estou feliz que você
não esteja ferido!
XAVIER
ANGELA
Xavier: Angela...
XAVIER
ANGELA
Xavier: A polícia?
XAVIER
Merda.
Esta era a última coisa que eu precisava agora.
Foi pra esse tipo de emergência que contratei seguranças. Agora eu
tinha que ir ao escritório para mostrar àqueles idiotas como fazer seu
trabalho.
Eu olhei por cima do meu celular e peguei os olhos de Angela.
Em ainda estava falando a mil milhas por minuto com ela enquanto
Angela acenou com a cabeça em resposta, incapaz de falar uma palavra.
Fui para trás de Angela, tirei o cabelo de seu ombro e sussurrei: —
Preciso ir ao escritório por um minuto.
— Você me prometeu que não trabalharia, — Angela sussurrou de
volta. Emily continuou a tagarelar, sem se importar.
Corri minha mão pelo lado de Angela em um pedido de desculpas
silencioso.
— Isto é uma emergência. O escritório fica na mesma rua. Estarei de
volta antes que você sinta minha falta.
Angela acenou com a cabeça. Dei um beijo em seu ombro nu e depois
voltei para a multidão.
Eu deixei claro que não estava disponível para negócios esta noite. É
melhor Ron ter uma boa razão para isso.
ANGELA
XAVIER
Penny: Você estava certo. Deveria ter cortado os laços com aquele
canalha.
Xavier: Ele tem algum lugar na cidade? Algum lugar que ele
possa levá-la?
Xavier: rápido.
Xavier: Penny???
Xavier: OBRIGADO.
ANGELA
ANGELA
Foi difícil correr com os braços atrás de mim, mas corri para as portas
de metal abertas do armazém o mais rápido que pude.
Eu estava no meio do caminho até a porta quando ouvi passos
pesados se aproximando rapidamente atrás de mim, e então Jacques me
jogou com força no chão.
Meu queixo bateu no chão de concreto com uma força de bater os
dentes, e o sangue encheu minha boca.
— Sua filha da puta, — Jacques cuspiu, montando sobre minha
cintura.
Ele se levantou, me colocando de pé ao lado dele.
— Você quer brincar? Eu conheço um jogo.
Ele me empurrou, fazendo-me voar em direção a uma caixa próxima.
Ela se estilhaçou sob meu peso. Pedaços de madeira cortaram minhas
costas, fazendo-me gritar.
Então Jacques já estava em cima de mim me levantando novamente.
— Shh agora, mademoiselle. Jacques está aqui.
Ele me arrastou até uma viga no centro do espaço e amarrou minhas
mãos em torno dela.
— Você é mais corajosa do que eu pensava, não como as putas de
sempre de Xavier.
Eu caí contra o poste de metal, os joelhos tremendo, e cuspi um
bocado de sangue.
Garantido que eu não pudesse ir a lugar nenhum, Jacques cruzou a
sala em direção a sua faca esquecida.
— Ele vai te matar, — disse em voz alta, surpreendendo-me com
minhas palavras violentas.
Mas eu sabia que elas eram verdadeiras. Xavier tinha machucado as
pessoas por muito menos do que isso. Se ele me encontrasse assim,
sangrando e ferida, ele caçaria Jacques até o dia em que ele morresse.
Jacques pegou a faca e segurou-a com força nas mãos.
— Talvez, mas não antes de eu conseguir o que quero.
Esperança era tudo que eu tinha agora. Espero que alguém tenha
percebido que eu estava desaparecida. Espero que Xavier esteja a
caminho de me encontrar.
Eu só tinha que esperar um pouco mais.
XAVIER
XAVIER
ANGELA
Mais tarde naquele dia, houve uma batida na porta do meu quarto de
hospital. As enfermeiras não batiam, minha família havia ido embora e
Xavier havia ido para casa tomar banho. Quem poderia ser?
— Olá?
A porta se abriu lentamente e Dustin enfiou a cabeça para dentro da
sala.
— Oi.
Eu sorri, endireitando-me na cama do hospital.
— Que bom te ver!
— Mesmo? — As sobrancelhas de Dustin se ergueram. Ele
rapidamente fechou a porta atrás de si e se aproximou da cama. Ele
estava carregando algo grande e quadrado e embrulhado em papel pardo.
— Claro, — eu disse a ele com uma careta. — Por que eu não ficaria
feliz em te ver?
— Porque você ter sido sequestrada foi tudo culpa minha?
Naquele momento, meu peito apertou e meu coração doeu pelo meu
amigo.
— É isso mesmo o que você pensa?
Os ombros de Dustin caíram.
— Se eu não tivesse vendido sua pintura para aquele francês horrível,
nada disso teria acontecido. Eu fui completamente egoísta.
— Você não tinha como saber o que aconteceria, Dustin. Eu entendo
fazer coisas desesperadas quando o dinheiro fica apertado. Eu o perdoo
por vender o quadro, mas Jacques teria encontrado uma maneira de
chegar até mim de uma forma ou de outra. Não foi sua culpa.
— Bem, eu fiz uma nova pintura para você. Uma melhor ainda, —
disse Dustin, levantando o pacote. Ele o colocou ao pé da cama e
começou a rasgar o papel da embalagem.
Eu me engasguei, com as mãos voando para cobrir minha boca
enquanto a pintura abaixo era revelada.
— Você se superou.
A pintura não era tão fantástica quanto o estilo de sempre de Dustin,
nem tão obscura quanto o anjo e o cavaleiro. Em vez disso, havia um
casal dançando no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque.
BRAD
Nada dizia adeus como uma festa, e eu tinha que admitir que fazia
muito tempo que não via uma festa tão espetacular no iate clube. Mesmo
a festa anual não conseguiu conter a extravagância desta noite.
Angela realmente se superou.
E tudo em minha honra, nada menos.
Apesar das festividades ao meu redor, não pude deixar de sentir uma
certa melancolia.
A festa era para celebrar publicamente minha aposentadoria oficial da
Knight Enterprises. Quarenta anos de trabalho e luta para construir a
maior empresa de petróleo do mundo, seguida pela marca de hotel de
luxo mais procurada do mundo.
Tudo se resumia a isso, a quinhentos dos meus amigos e colegas mais
próximos em suas melhores roupas de domingo, batendo papo no iate
clube.
Não se engane quanto a mim.
Pude sentir apenas a maior gratidão por meus camaradas e seu desejo
de comemorar minhas realizações.
A bebida com infusão de manga e morango com cobertura de
morango, chamada The Bradlini em minha homenagem, e a banda ao
vivo tocando minhas músicas favoritas me alegraram muito.
Um único pensamento, porém, me deixou sentado em minha cadeira,
perseguindo cubos de gelo em meu copo com um pequeno guarda-chuva
rosa. Um único pensamento agarrou meu antigo coração.
Isso é tudo que resta?
— O que você está fazendo aí atrás, meu velho? — meu filho disse de
repente, batendo-me no ombro.
Meu filho, meu orgulho e alegria, Xavier.
Uma vez, eu me preocupei que ele não pudesse herdar minha
propriedade. No ano passado, ele provou seu valor duas vezes. Era por
isso que eu estava deixando o cargo.
Xavier não precisava mais da minha orientação, nem mesmo em meio
período. Ele era um homem em seu auge, cheio da fome necessária para
ser um grande empresário, com o desejo de crescer ainda mais.
Ele traria honra ao nome dos Knight, ao nosso legado.
— Estou apenas aproveitando o momento para absorver tudo, — eu
disse a ele, então me virei para falar com sua linda esposa. — Você
realmente se superou, minha querida.
Angela corou, como sempre, uma visão de altruísmo e graça.
— Foi um prazer.
— Por que você não entra na festa? — Xavier pediu novamente. Ele
pegou um Bradlini de um garçom que passava e o estendeu para mim.
— A dança vai começar em breve, — acrescentou Angela.
Aceitei o copo de bebida espumosa da cor do pôr-do-sol.
— Vocês dois vão. Eu vou em seguida.
Eles trocaram um olhar rápido e então Xavier pegou a mão de sua
esposa e a conduziu para a pista de dança.
Como seria ser jovem de novo?
Esse era o truque. Eu me sentia exatamente como há quarenta anos.
Tão vibrante. Tão faminto. Como se eu pudesse acordar todas as manhãs
e invadir Wall Street.
Mas bastou eu olhar no espelho para me lembrar da verdade. Então,
ao observar as rugas e a calvície, percebi que não era possível, que havia
chegado a hora de passar a tocha.
Isso é tudo que resta?
Eu vivi uma boa vida. Eu tinha um amor tão grande quanto os dos
contos de fadas. Eu criei um filho que era minha coisa preferida no
mundo. Minha carreira foi mais bem-sucedida do que a maioria jamais
poderia esperar alcançar.
O que sobrou?
Enquanto eu deixava a conversa e o barulho da festa de aposentadoria
tomarem conta de mim, meus olhos se fecharam.
Amelia, pensei. Meu amor. O que vem depois? O que você faz depois de
fazer tudo?
De repente, um tom agudo atravessou o iate clube. Estremeci, com os
ouvidos zumbindo e abri os olhos.
Uma mulher estava no centro do palco, uma jovem sensual, com
quadris largos e pele morena.
— Desculpe por isso, — disse ela, atrapalhando-se com o microfone.
— Agora, se vocês não se importarem, gostaria de começar com um dos
meus favoritos.
Ela contou com a banda, e então as notas mais doces que eu já ouvi
encheram o ar.
Como se estivesse possuído, me vi de pé em minha cadeira, meus
ossos de sessenta e cinco anos me levando para mais perto.
Mais perto dos encantamentos que dominavam o palco.
Mais perto de um futuro desconhecido.
O que pode sobrar?
ANGELA
Dois meses.
Dois meses malditos.
Isso tinha que ser um recorde. Se não for um recorde mundial, será
um recorde pessoal.
Eu não conseguia me lembrar de ter passado mais de dois dias sem
sexo, muito menos dois meses.
Angela estava nervosa. Ela queria esperar.
Eu entendia isso, logicamente. Emocionalmente, porém, eu estava
pronto para bater na cabeça dela e arrastá-la para uma caverna e dar um
jeito nela.
A necessidade de tocar em Angela, de sentir seu corpo esfregar contra
o meu, era constante.
Sua mão no meu ombro, o roçar de sua perna contra a minha, nossos
dedos entrelaçados... Os menores toques se transformaram na dança
mais erótica.
Mesmo esta noite, em uma sala cheia de pessoas mais velhas, na festa
de aposentadoria do meu pai, enquanto minha ex-namoradinha olhava,
tudo que eu conseguia pensar era em possuí-la ali mesmo, no meio da
pista de dança.
Tudo que eu queria era levá-la para casa, tirar seu vestido branco
apertado e destruí-la.
A luxúria frequentemente me deixava fora de mim. Num segundo eu
estava gentil e carinhoso, no próximo, frio e mal-humorado.
Quando paramos em frente ao nosso prédio no final da noite, me vi
flutuando para frente e para trás entre os dois.
— Boa noite, Marco, — disse Angela enquanto eu a ajudava no banco
de trás.
Eu coloquei minha mão em suas costas, empurrando-a em direção à
porta, antes que Marco pudesse responder.
— Vamos entrar.
Ela olhou para mim enquanto cruzávamos o saguão.
— Está tudo bem?
— Tudo bem, — eu disse de volta, fechando minha mão livre em um
punho.
Ela continuou a tagarelar nervosamente enquanto entrávamos no
elevador, com o rubor subindo em suas bochechas enquanto ela
observava meus ombros tensos.
Tínhamos jogado esse jogo inúmeras vezes nas últimas semanas. Ela
sabia exatamente o que estava errado. O que eu queria. O que eu não
poderia ter.
— Você comeu o suficiente? Eu poderia preparar alguma coisinha.
Eu...
Eu precisava foder algo, ou socar algo, o que se apresentasse primeiro.
As portas do elevador abriram e corri para a cobertura.
— Xavier?
Certo, Angela me perguntou algo.
Eu parei ao lado da cozinha e girei nos calcanhares.
— Eu não estou com fome.
Angela vagarosamente caminhou em minha direção, com suas
sobrancelhas franzidas de preocupação.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ela estava a centímetros de mim
agora, tão perto que nossos peitos se tocaram. Ela levantou uma das
mãos e envolveu minha nuca.
Quase gemi com o contato.
Lambi meus lábios, tentando ignorar a dor crescente na minha virilha.
— O que você precisa, Angela?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Te agradecer. Eu me diverti muito com você esta noite.
Ela se inclinou e pressionou seus lábios nos meus no mais delicado
dos beijos.
Começou como uma faísca. De repente, todo o meu corpo estava em
chamas.
Em menos de um segundo, levantei Angela em um braço e usei o
outro para limpar o balcão da cozinha.
Castiçais, saleiros e temperos caíram no chão de madeira quando eu a
coloquei no balcão.
— Xavier, — ela respirou.
Eu puxei o zíper de seu vestido para baixo e deixei minhas mãos
correrem sobre a pele agora nua de suas costas.
Angela envolveu suas pernas em volta de mim, me puxando para mais
perto.
Seus dedos se enrolaram em meu cabelo enquanto eu tirava meu
paletó e comecei a desabotoar os botões da minha camisa social.
Estiquei-me até atrás dela novamente, com os dedos encontrando o
fecho de seu sutiã.
Por um segundo, pensei que ela me deixaria fazer isso.
Ela finalmente me daria acesso a seus seios fartos.
Me deixaria tomá-la como eu queria.
Então, eu senti uma pressão familiar contra meu peito e suas
mãozinhas me empurraram para longe dela.
— Xavier, pare.
Eu rosnei, me afastando do balcão, para longe dela e pelo corredor.
— Onde você está indo? — sua vozinha me chamou.
Eu não pude evitar uma crescente raiva em minha voz enquanto
rosnei minha resposta.
— Para a porra do chuveiro.
ANGELA
ANGELA
XAVIER
ANGELA
ANGELA
ANGELA
Angela: Sério?
Brad: Sim.
Angela: Desculpa!
Xavier: Reunião???
Xavier: Só se apresse.
Angela: Eu também!
ANGELA
— Você o quê?
— Eu consegui um emprego para você, — repetiu Xavier, com seu
sorriso crescendo cada vez mais.
Ele está brincando?
Apenas alguns dias atrás, ele estava me dando um sermão sobre como
eu não precisava de um emprego. Agora ele saiu e encontrou um para
mim?
Eu abri e fechei minha boca algumas vezes, incapaz de encontrar as
palavras — quaisquer palavras — para responder.
— Lembrei-me de você me dizendo que trabalhava em uma empresa
aeroespacial quando nos conhecemos, — explicou Xavier. — Tenho um
amigo de um amigo que é CTO da SkyTech. Ele disse que há uma vaga de
estágio no departamento de engenharia e está disposto a levá-la a bordo.
— Eu o quê? Isso é loucura, — eu consegui balbuciar. Eu me inscrevi
para o estágio da SkyTech no ano passado, quando meu pai estava no
hospital e fui rejeitada.
Agora, de repente, eles me querem?
Xavier encolheu os ombros, em seguida, pegou seus utensílios.
— Seria um favor pessoal. Eu sei que você está pronta para isso.
Meu estômago se revirou e eu empurrei meu prato, de repente sem
fome. Não era minha habilidade que eles queriam. Eu era apenas um
parágrafo em uma troca de negócios. Parte da negociação. Um favor a
um amigo.
— Eu posso imaginar isso agora, — Xavier tagarelou. — Minha linda
esposa, chefe de engenharia da SkyTech.
Era disso que se tratava, Xavier me transformando em sua esposa de
sonho. Se eu precisasse de um emprego, seria um que ele aprovasse. Em
seus termos. Usando sua influência.
Contudo, isso não era sobre ele. Pela primeira vez, eu queria fazer algo
por mim mesma.
— Eu já tenho um emprego, — eu disse calmamente.
Xavier engasgou com a boca cheia de carne mal passada.
— O quê?
Sentei-me um pouco mais ereta na cadeira.
— Eu já tenho um emprego.
Ele tomou um gole de vinho tinto.
— Onde?
— Bem... eu acho que por mim mesma. Como um freelancer.
— Fazendo o quê?
Peguei meu garfo e comecei a mover os vegetais picados em meu
prato.
— Planejamento de eventos.
As sobrancelhas de Xavier se ergueram.
— Planejamento de eventos? Achei que você tivesse se formado em
engenharia mecânica.
— Sim.
Xavier deixou cair seus talheres em seu prato meio vazio.
— Então por que diabos você quer fazer planejamento de eventos?
Senti uma veia de raiva borbulhar, um mecanismo de defesa contra o
tom cada vez mais condescendente de Xavier.
— Sou boa em engenharia mecânica, mas sou muito apaixonada por
planejamento de eventos.
Xavier bufou.
— Perfeito. Então, me esforcei para garantir este emprego para você e
agora você vai jogar tudo fora para realizar seu sonho de uma semana de
se tornar uma planejadora de eventos. Você não tem experiência. Como
você vai encontrar clientes?
— Eu já tenho uma, na verdade. Eu a conheci no almoço hoje. Meu
primeiro evento está planejado para a próxima semana.
— Como você conseguiu o emprego, Angela? Não posso permitir que
você planeje bar mitzvahs para estranhos e festas de aposentadoria. Eu já
posso ver as manchetes, — Xavier rosnou.
Ele se levantou da cadeira e passou as mãos pelos cabelos enquanto
olhava para a cidade pelas janelas.
— Seu pai arrumou isso, — eu disse, me levantando também.
— Claro! — Xavier retrucou, Virando-se para me encarar. — Eu
deveria saber. Meu pai ainda tem você sob seu controle. Você é sua
pequena Eliza Doolittle.
Eu cruzei meus braços.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa que vocês dois estão sempre planejando pelas minhas
costas. Eu disse que você não precisava de um emprego e você vendeu
sua triste história para meu pai. Então ele apareceu para salvá-la, como
sempre. Você não confia em mim? Você não tem fé em mim?
— Isso não é justo, Xavier, — eu empurrei de volta. — Você não pode
fazer isso ser sobre você. Você não pode ficar com raiva de mim por
encontrar uma solução sem você.
— Pelo amor de Deus, Angela, — Xavier disse, se aproximando, — Eu
consegui um emprego para você. Eu já desisti das mulheres. Eu levo você
para sair. Tudo o que faço é ouvir você.
Eu balancei a cabeça, deixando cair meus braços.
— Bem, sinto muito por ter sido tão difícil para você.
— Angela... — Xavier se enfureceu e parou. Suas narinas dilataram-se.
Um músculo em sua mandíbula saltou.
Eu dei um passo para trás.
Xavier nunca me machucou. Nunca machucaria.
Eu sabia. Mas o olhar em seus olhos agora era perigoso.
Meus lábios se abriram, mas antes que eu pudesse me desculpar pelas
coisas que eu disse, Xavier agarrou meu braço, puxando-me contra ele e
pressionando seus lábios nos meus.
XAVIER
Angela engasgou quando nossos lábios se chocaram em uma confusão
de dentes e língua. Peguei seu lábio inferior cheio entre os dentes e
mordi com força, ganhando outra inspiração rápida.
Suas mãozinhas deslizaram pelo meu peito, segurando a gola da
minha camisa e me puxando para mais perto dela.
Mesmo que ela usasse salto, eu estava alguns centímetros acima dela,
e era difícil chegar perto o suficiente.
Já fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Já que eu tinha essa
necessidade urgente de enterrar meu pau em uma mulher.
Foder era uma coisa. Isso era fácil, divertido, independente.
O que eu precisava de Angela era muito mais...
E o fato de que ela não estava dando para mim estava me deixando
louco.
Eu coloquei minhas mãos em seu cabelo macio e deslizei minha
língua em sua boca.
Eu enlouqueceria logo se não pudesse levá-la. Se ela não me deixasse
ficar com ela.
O que mais poderia ser feito? O que mais eu poderia fazer para provar
a ela que a queria? Que eu queria que nós déssemos certo?
Uma explosão de surpresa passou por mim quando a senti abrir um
dos botões da minha camisa. Então outro.
Angela nunca deu o primeiro passo, nunca iniciou o contato. Esta foi
a primeira vez, e eu não estava longe de impedi-la.
Eu não pude conter o gemido que veio enquanto ela corria as mãos
pelo meu peito nu, enquanto suas unhas arranhavam ao longo das
marcas do meu abdômen.
Mais baixo. Muito mais baixo.
Mais duro.
Mais.
Sem quebrar o contato, coloquei um braço atrás de mim e agarrei as
costas de uma das cadeiras da sala de jantar, girando-a. Passei meu outro
braço em volta da cintura de Angela, levantando-a no meu colo enquanto
me recostava na cadeira.
Eu quase perdi o controle quando seus quadris se apertaram contra os
meus, enquanto ela colocava seus braços em volta do meu pescoço,
puxando-nos impossivelmente para mais perto.
Minhas mãos correram da cintura para as coxas, mergulhando sob a
bainha do vestido.
Angela gemeu, balançando os quadris para a frente, enquanto meus
dedos se espalharam na parte de trás de suas pernas e cravaram em sua
bunda.
Ela estava com a porra da calcinha de renda.
O tecido delicado estava praticamente implorando para ser rasgado.
Mas eu não poderia, ainda não. Ela nunca me deixou brincar tanto
antes, e eu não iria desperdiçá-lo rasgando roupas íntimas.
Em vez disso, levantei minhas mãos e peguei seus longos cachos
dourados em um punho. Gentilmente, puxei sua cabeça para o lado,
quebrando nosso contato.
Ela se jogou para mais perto, como se estivesse determinada a não
parar, e empurrou seus quadris para frente novamente.
Eu senti seu calor através do tecido do meu terno.
Não havia quase nada entre seu núcleo quente e meu pau.
— Não dá pra sentir o quanto eu te quero? — Eu sussurrei, beliscando
e beijando sua garganta.
— Sim, — ela respirou, com sua voz soando distante.
Eu trouxe minha mão livre para pegar seu seio e deslizei meu polegar
sobre a seda, sobre seu mamilo enrugado.
Enganchei meus dedos ao longo do decote profundo, puxando-o e a
renda de seu sutiã para baixo.
Quando seu seio de porcelana cheio saltou livre, puxei a cabeça de
Angela para trás e coloquei seu mamilo em minha boca.
— Xavier, — ela gemeu, sua mão apertando meu antebraço.
— Você não vai me deixar ter o que eu quero?
ANGELA
Sim, eu queria dizer a ele. Sim.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta quando Xavier
circulou sua língua em torno do meu mamilo duro.
Meus dedos agarraram seu cabelo escuro, e eu apertei meus quadris
nele, precisando sentir sua dureza contra mim. Querendo estar dentro de
mim.
Eu quero você mais do que tudo.
Neste momento, nada mais importava.
— Sim, — eu implorei. — Xavier, por favor.
Não havia outras palavras que eu pudesse usar para expressar o que eu
queria, o que eu precisava.
Estremeci quando ele deu um beijo entre meus seios, correu o nariz
pelo meu esterno, beijou a junção do meu pescoço e ombro.
— Fala que você me quer.
A ordem era dura e suave ao mesmo tempo. Como sorvete no café
quente. Ou um diamante envolto em veludo.
— Eu quero, — eu prometi.
Xavier me puxou de volta e me beijou novamente, me deixando tonta.
Eu respondi ansiosa, faminta.
Sua mão livre deslizou pela minha coxa, cada vez mais alto, até que
seu polegar percorreu a costura ao longo do centro da minha calcinha.
Eu gemi, pressionando em seu toque, e então... um telefone tocou.
Como um alarme de incêndio, trouxe a realidade para um foco rígido
e nítido.
— Ignore, — disse Xavier, apertando as mãos em volta da minha
cintura.
— Eu não posso. — Recebi muitas ligações de emergência para
ignorar o toque.
Eu me empurrei para cima e para longe dele e corri para pegar minha
bolsa em uma poltrona na sala de estar.
— Olá?
— Angela, — disse Brad da outra linha. — Só pensei em ligar e ver
como foi sua reunião hoje. Espero não estar interrompendo nada.
— Na verdade... — Eu comecei, apenas para ter minhas palavras
sumindo enquanto eu observava o olhar cheio de luxúria de Xavier, e
uma faísca familiar de medo apareceu dentro de mim. Eu trouxe a mão
aos meus lábios inchados.
O que eu fiz?
Nunca me senti tão fora de controle em toda a minha vida.
Se Brad não tivesse ligado naquele momento, poderíamos ter...
Eu engoli em seco.
Claramente, eu tomei muitas mimosas no Boathouse esta tarde.
Eu nunca poderia imaginar fazer amor depois de discutir assim. Eu
nem sabia que era possível ficar com tanta raiva de alguém e ao mesmo
tempo querer tanto esse alguém.
— Angela? — Disse Brad. — Posso ligar de volta em outra hora.
— Não, — eu disse, virando as costas para Xavier. — Pode ser agora.
Eu ouvi Xavier murmurando atrás de mim enquanto eu descia o
corredor para o meu antigo quarto. Fecho a porta atrás de mim.
— Então, como foi sua reunião? — Brad perguntou enquanto eu
pressionava minhas costas contra a porta e escorregava para o chão de
madeira. Senti minhas bochechas e pescoço corarem, meu próprio
coração batendo forte no peito.
— Bem, — eu consegui dizer. — Ótimo, na verdade.
— Que notícia maravilhosa! — Brad gritou.
— Na verdade, também tenho novidades para você, — eu disse. — Eu
encontrei uma maneira de achar um encontro para você.
Capítulo 7
Tentando
BRAD
Didi: O diretor também mudou seu voo e não vai pousar até as 7
agora.
ANGELA
XAVIER
ANGELA
Xavier: O QUÊ!?
Xavier: Como?
Angela: Xavier...
Brad: Ok.
XAVIER
ANGELA
ANGELA
Em: É o Lucas.
ANGELA
— O que você quer dizer com você não consegue encontrar as flores?
— Eu disse no meu celular na manhã seguinte.
Eu estava no meio do salão de banquetes do Tribeca Knight Hotel. Os
funcionários do hotel esvoaçavam ao meu redor.
Mesas estavam sendo montadas, cadeiras retiradas, pôsteres e luzes
eram pendurados, mas não havia uma única flor à vista.
— Você disse que um de seus amigos aceitaria o pedido, — pressionei.
Do outro lado da linha, Em suspirou.
— Eu disse que eles talvez aceitem. Sinto muito, Angie. Não sei o que
mais posso fazer. Liguei para todo mundo que conheço. Ninguém
consegue tantas orquídeas em tão pouco tempo.
— E quanto à frésia, então? — Eu perguntei, procurando uma solução.
— Não está na temporada, — Em me disse. — Tulipas e narcisos são
as únicas coisas que você pode encontrar nessa quantidade nesta época
do ano. Eu realmente sinto muito.
— Não é sua culpa, — eu disse, fechando meus olhos. A última coisa
que eu queria era que minha amiga se sentisse culpada por algo que
estava fora de seu controle. — Te vejo mais tarde, ok?
Desliguei antes que Em tivesse a chance de responder. Eu não queria
que ela ouvisse nenhuma evidência das lágrimas que brotaram dos meus
olhos e fizeram minha garganta doer.
O leilão começa em menos de doze horas agora, e eu ainda não tinha
flores.
Eu falhei.
Xavier estava certo. Eu não fui feita para esse tipo de coisa. Eu deveria
ter feito o estágio que ele encontrou para mim.
Agora o evento estava arruinado.
Meu celular vibrou na minha mão e eu rapidamente desbloqueei meu
telefone, esperando que fosse Em com algumas boas notícias.
Aqui?
Oh, não...
Com uma inspiração rápida, eu rapidamente me virei, procurando no
corredor o contorno familiar dos ombros largos de Xavier.
De repente, senti alguém se aproximar por trás de mim e um par de
mãos ásperas envolveram minha barriga.
— Surpresa, — Xavier respirou próximo ao meu ouvido.
— O que você está fazendo aqui? — Eu disse muito rápido. Limpei
minhas bochechas, esperando que ele não tivesse visto as lágrimas.
— Eu estava na área para uma reunião e pensei em dar uma passada
para verificar as coisas. — Eu o senti encolher os ombros. — Além disso,
você sabe que o lugar é meu, certo?
Xavier me girou, e o sorriso em seu rosto caiu instantaneamente
quando ele viu meus olhos vermelhos inchados.
— O que há de errado?
Novas lágrimas encheram meus olhos quando a derrota caiu sobre
mim.
— Eu não tenho flores.
— Eu pensei que Em estava fazendo os arranjos. — Xavier enxugou as
lágrimas do meu rosto com os polegares.
— Ela estava, mas as flores ficaram arruinadas no acidente em que
Lucas estava ontem à noite, — eu admiti, finalmente cedendo e me
pressionando contra ele, deixando-o envolver seus braços em volta de
mim.
— Por que você não disse nada? — Disse Xavier.
— Achei que pudesse cuidar disso, mas ligamos para todas as
floriculturas de Nova Iorque, e o aviso é muito curto para conseguir o
que preciso. Eu não sei o que fazer.
Xavier riu.
— Angela, querida. Não há nada com que se preocupar.
— Como você pode dizer isso? Sem flores, todo o evento está
arruinado. Você estava certo; tudo isso foi um engano. Não sou
planejadora de eventos.
Xavier enganchou o dedo sob meu queixo, me forçando a olhar para
ele.
— Você confia em mim?
— Sim, — eu disse sem hesitação.
— Então não se preocupe com as flores. Eu cuidarei disso.
Como Xavier poderia dar um jeito nisso?
Ele gritaria para as flores crescerem mais rápido?
— Mas...
Xavier ergueu uma sobrancelha, interrompendo minhas palavras.
— Confie em mim, — ele disse, colocando um beijo na minha cabeça.
— Quando você estiver vestida para a noite, terá flores.
— Ok. — Eu solucei.
— Ok, — disse Xavier. — Agora, você quer uma carona de volta para
casa?
Eu balancei a cabeça e deixei Xavier pegar minha mão e me levar para
fora do salão de banquetes.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Tudo o que restou foi esperar.
BRAD
CLAUDIA
ANGELA
Eu estava grávida.
Ou pelo menos o mundo pensou que eu estava grávida.
Aparentemente, o mundo incluía as pessoas em minha vida que
deveriam definitivamente saber que eu não estava grávida.
As manchetes eram como tiros disparados, marcando o início de
interrogatórios de telefonemas que chegavam ao meu correio de voz. A
cada segundo, outro telefonema vinha em minha direção.
Agora, todos a quem eu tinha dado meu número tinham me colocado
na discagem rápida.
Meu telefone estava mudo. Eu mal conseguia ouvir meus próprios
pensamentos sobre os sons de alertas de notícias aparecendo na tela do
meu computador como jatos comerciais caindo do céu.
Eu folheei as mensagens de voz, excluindo mensagens preocupadas
como se isso pudesse apagar o caos.
BEEP.
— MDS. Você está grávida? — Dustin disse na máquina. — A In Touch
me ligou, e eu queria saber se eu poderia dar a eles um comentário sobre
seu estado emocional, sendo que eu sou seu número um...
BEEP.
— Angie, por que você não nos contou as notícias incríveis? — Papai
entrou na conversa. — Eu não posso acreditar que finalmente vou ser avô
e tive que descobrir na Us Weekly. Precisamos comemorar...
BEEP.
— Ei, querida, é o Brad. Achei que provavelmente fossem apenas as
revistas... Juro que tentaram publicar que eu estava grávido alguns anos
atrás. Alguma narrativa estranha sobre alienígenas, você sabe, lixo. Mas,
para o caso de não ser uma inseminação artificial de Netuno, ligue-me
rápido antes de eu falir uma empresa de mídia...
BEEP.
— Angela, é a Lucille. Assim que eu chegar em casa, farei meu
ensopado pré-natal especial...
BEEP.
— IRMÃ! Você precisa me ligar agora, ok? Isso é realmente enorme, e
você simplesmente não pode continuar ignorando as ligações de todos.
Eu sabia que não poderia continuar negligenciando o que todos
estavam dizendo. Mas eu poderia ignorar por agora, certo?
Xavier já estava viajando para o Japão para um evento de negócios no
fim de semana, 3. 000 milhas acima da crise. Eu estava sozinha e — de
acordo com as notícias — com meu filho ainda não nascido.
Eu não suportaria sair de seus lençóis de cetim e enfrentar o mundo,
especialmente porque eles ainda tinham seu cheiro almiscarado.
Era quase meio-dia e meu estômago doía por algo, qualquer coisa,
para comer.
Mas eu estava com mais fome de estar perto dele, perto da sensação
de seu corpo se inclinando sobre mim, pressionando minhas mãos para
baixo, seu peito contra meus seios. A maneira como ele me beijou
enquanto abria o zíper do meu vestido, deslizando entre esses lençóis...
Agora eu sabia o quão insuportável tinha sido para ele, ter que esperar
todos aqueles meses por mim. Ele acabou escapando de mim esta manhã,
e já parecia que eu poderia implodir de desejo.
Não pude deixar de lembrar como, depois, eu me encaixaria
perfeitamente no recanto entre seu peito e ombro. Como seus braços
aparados me envolveriam como veludo. Eu não conseguia entender
como ele podia ser tão firme e ao mesmo tempo tão macio, como uma
garota trêmula protegida por mãos de titânio.
Mas agora, o mundo exterior já havia invadido nossa festa.
Nosso romance foi um alerta de notícias.
O relatório era que Xavier e eu, que acabávamos de nos tornar um
casal de verdade, estávamos nos tornando pais.
As manchetes levantaram a questão de "Estou grávida?" dentro da
minha cabeça como açúcar passando por claras de ovo. Era tudo fofo,
mas vazio. Isso obstruiu minhas ondas cerebrais, me tornando incapaz de
pensar em qualquer coisa além disso.
Como os tabloides souberam informar sobre minha — gravidez —
logo depois que Xavier e eu finalmente fizemos aquilo? O momento era
perturbadoramente perfeito.
Abaixei minha barriga. Eu estava inchada, tudo bem, mas tão inchada?
Acordei com náuseas, mas também acordei com milhares de sites que
analisavam meu estado ginecológico. Isso foi o suficiente para deixar
qualquer um doente.
Com minha sorte, provavelmente ficaria grávida exatamente quando
não queria... e queria estar pensando na noite passada.
Eu queria estar enrolada ao lado dele, respirando sua essência com
cada inspiração. Eu queria estar tremendo com ele explodindo dentro de
mim, e seu corpo jorrando sobre mim como uma chuva de meteoros
espetacular.
Era como se suas unhas ainda estivessem cravando em minhas costas,
seus lábios ainda dançando ao longo do meu pescoço... Eu dei a ele tudo
de mim, e ele me deu uma nova pessoa de volta. Cada célula em mim
renasceu, despertou e ansiava por ele mais e mais.
Mas, em vez de Xavier, minhas mãos estavam cheias de mensagens de
voz.
Todos queriam saber o que estava acontecendo, mesmo que eu mal
tivesse acordado, ainda presa na memória vibrante de ontem.
Bem... nem todos.
BEEP. BEEP.
Meu celular vibrou com uma mensagem de Em. Em!
Já era hora.
Eu normalmente despejo todas as minhas emoções confusas sobre ela
o mais rápido possível. Ela provavelmente estava confusa sobre por que
eu não a tinha informado ainda. Peguei meu telefone, pronta para
desabafar com ela sobre Xavier, sobre as manchetes e sobre Didi.
Angela: Desculpa.
Em: Okay
Em: Onde?
ANGELA
A única coisa que eu sabia sobre Didi era que ela era uma mentirosa.
Ela mentiu sobre quem ela era, o que ela queria e por que ela me
contratou.
Didi tomou um gole de café. Eu tomei um gole do meu. Nós não
falamos.
Não conversamos pelos últimos doze minutos.
Eu realmente não tinha muito a dizer.
Não havia razão para a ex-noiva de Xavier estar na minha vida, muito
menos no meu café favorito em Chelsea.
Eu não queria falar com ela.
Eu nunca teria falado com ela se soubesse quem ela era, mesmo se ela
tivesse dito a verdade desde o início.
Mas ela não o fez.
— Eu não sei o que dizer, exceto que eu sinto muito. Sério, — Didi
disse, com seus olhos penetrantemente intensos. — Por favor, diga-me o
que posso fazer para consertar as coisas e farei isso.
— Eu não sei como você pode consertar isso, Didi...
— Na verdade, é Claudia. Eu escolhi Didi para que Xavier não
soubesse que eu estava contratando você, — ela admitiu. Eu não podia
acreditar até onde Didi, quero dizer, Claudia, tinha ido — e para quê?
— Por que você fez isso? — Eu perguntei.
— Bem, você sabe que Xavier e eu estivemos juntos por quase uma
década e...
— Não, por que você me contratou? — Eu indaguei, sem saber se
deveria esperar uma resposta verdadeira.
— Eu acho... é porque eu preciso da sua ajuda, Angela. Eu preciso
muito disso, — ela disse, nervosamente mexendo em seu café. — Você vê
que este não é o primeiro erro que cometi...
Qualquer erro que Claudia estava lutando para trazer à tona era
pesado. Eu podia ver isso em seu rosto. Mas não saber o que era, me
sufocou, me deixou enjoada, embora fosse problema dela.
Eu precisava saber o que era.
— Todos nós cometemos erros, Claudia. O que há de errado? — Eu
pressionei. Ela não respondeu, então fiz outra pergunta. — Quando isso
aconteceu?
— Três anos atrás... quando Xavier me engravidou.
Engravidou?
Isso significa que... não poderia ser.
Xavier não tem filho.
— Não importa a direção que Xavier e eu estivéssemos indo, sempre
parecia que estávamos batendo um no outro, — Claudia disse em uma
voz distante. — Ele estava com tanta raiva de tudo e de todos.
Eu sabia que ela era uma mentirosa, mas suas palavras soaram
verdadeiras, me atingindo como se eu fosse uma igreja abandonada.
E Claudia estava sentada lá em confissão.
— Eu era o seu saco de pancadas emocional, a única pessoa a quem ele
podia dizer qualquer coisa e que pensava que nunca daria o troco. Eu
nem me sentia mais humana.
— Mas vocês eram noivos, certo?
— Sim. Nós íamos nos casar, basicamente nos odiando. Eu não
poderia fazer com que algo tão especial parecesse um castigo para ele ou
para mim. Então eu terminei. Eu terminei todo o nosso relacionamento.
Terminou?
— Xavier descreveu isso um pouco diferente. Ele disse, — eu limpei
minha garganta, — que ele pegou você com outro homem.
Didi suspirou:
— Sim, é verdade. Xavier queria tentar resolver as coisas depois. Eu
recusei.
— E o bebê? — Eu perguntei, pensando na menina ruiva na foto na
mesa de Didi.
— Ela tem três anos agora. O nome dela é Sophie, — disse Claudia. —
Ela não é apenas minha filha. Ela é meu universo. Antes de ela nascer,
não tive coragem de contar a Xavier sobre ela.
Eu não pude acreditar.
Xavier... tinha uma filha.
Uma filha que ele não conhecia.
Uma filha com Claudia, alguém que eu não conhecia.
Eu podia sentir meu estômago afundar dentro de mim como se
estivesse cheio de cimento.
Uma emoção tremia pelo meu corpo, a sensação de cimento subindo
pela minha garganta, onde um caroço estava crescendo. Eu me senti
como uma estátua congelada de dor, deixada em um museu para
apodrecer na solidão observada.
Sua confissão foi demais para eu aguentar.
Meus ossos congelaram dentro de mim como fósseis.
Meus pensamentos eram armadilhas pegajosas e sujas das quais não
podia escapar, profundas o suficiente para me afogar inteira.
Os olhos de Claudia estavam brilhantes de vergonha.
— Eu fui uma idiota. Eu sei disso. Eu não estava pensando em Sophie,
ou que ela precisaria de seu pai. Eu estava pensando em mim e em como
eu precisava ficar longe dele, — Claudia elaborou, com uma respiração
instável.
Cada uma de suas palavras foi um anzol agarrado à minha carne.
Eu não sabia qual linha me puxou ainda mais para o desespero.
Seria a filha de Xavier que vivia sem ele, como um membro fantasma?
Era porque Claudia estava tão desesperada para se reconectar que ela
estava disposta a me manipular?
Será que nossa amizade tinha sido apenas um estratagema para se
aproximar de Xavier?
Ou foi o fato de que Xavier e minha futura família foram destruídos
antes mesmo de começar?
— Agora, é tarde demais para dizer a Xavier. Se ele descobrisse que
perdeu três anos da vida de sua filha, seria insuportável — continuou
Claudia.
— Então você acha que ele deveria perder mais memórias? — Eu
ponderei em voz alta.
Era errado para ela manter esse segredo — essa pessoa — de Xavier.
Ele tinha o direito de se envolver na vida da filha, não tinha?
Ela não queria que ele estivesse presente na vida da filha, e não apenas
ser um estranho com o mesmo DNA?
— Escute, Angela. Você está apenas ouvindo os fatos. Há anos agonizo
com eles, — afirmou Claudia. — Ser mãe solteira é como tentar construir
uma montanha de areia. E acordar sabendo que, mesmo que você esteja
fazendo o seu melhor, nunca será boa o suficiente.
Pensei em meu pai e em como tínhamos sido duros com ele quando
ele nos criou sozinho. Ele nos deu tudo o que tinha, mas sempre pedimos
mais tempo, mais esforço, mais ele.
Não é de se admirar que, quando fôssemos adultos, seu coração estava
se partindo. Tínhamos retirado muito de sua saúde para nós mesmos.
Eu ainda não entendia por que Claudia não queria que Xavier
soubesse sobre o bebê, mas foi um grande sacrifício — para ela e sua filha
— e um que eu não conseguia entender. Mesmo que eu tentasse. Porque
eu estava do lado de fora, olhando para dentro.
Ela estava certa. Não era minha função julgar suas escolhas ou seu
silêncio.
— Eu ganho um bom dinheiro na Animas, mas não é o suficiente para
criar uma filha, especialmente sem pensão alimentícia, — observou
Claudia.
— Xavier pagaria isso. É sua responsabilidade, — eu disse.
— Não. Eu não posso pedir isso. Não posso complicar suas vidas mais
do que já fiz. Já fui muito egoísta, Angie — disse Claudia, colocando a
mão sobre a minha em simpatia. — Não posso pedir mais nada, exceto
que você mantenha meu segredo.
Naquele segundo, percebi que, ao não pedir nada, Claudia estava
pedindo tudo.
XAVIER
ANGELA
Angela: Compre 2.
Angela: Sim.
Em: Mds!
XAVIER
ANGELA
Quando soube da notícia, meu pai insistiu que ele levasse toda a
família para um jantar de comemoração no lugar mais exclusivo que
pudesse.
O pai e os irmãos de Angela estavam entusiasmados com a comida
gourmet gratuita, mas não sabiam realmente o preço.
Quando a família de Angela encontrou seus lugares no elegante
restaurante de sushi, papai entrou com as mãos entrelaçadas nas de
Penny.
Eu olhei para Angela.
Como ele poderia trazer essa mulher para nosso evento familiar
particular?
Ela não era nada além da drogada que uma vez implorou para estar na
minha cama.
Tentei controlar minha respiração, para abafar minha raiva, mas vê-
los juntos ainda foi um choque para mim.
Ao mesmo tempo, porém, meu pai parecia feliz. Ele estava
praticamente brilhando.
Eu não o tinha visto rir tanto em décadas.
Talvez tenha valido a pena essa situação fodida.
Ele merecia ser feliz.
Enquanto o garçom nos servia martinis de lichia de cor creme, eu
tomei um gole generoso.
Angela percebeu e apertou minha mão, mas eu estava muito ocupado
observando meu pai.
Ele não conseguia tirar os olhos de Penny, não conseguia parar de
sorrir para ela.
Eu bebi mais.
Ele merece ser feliz, eu me lembrei.
Mas então meu olhar mudou para ela.
Ela estava claramente tentando minimizar a questão — ela usava uma
camiseta casual de grandes dimensões e alguns jeans rasgados.
Mas ela não conseguia esconder a bolsa de grife Chanel pendurada no
ombro, ou a pulseira de platina com diamantes em seu pulso.
As vantagens de namorar um Knight. Pensei antes que pudesse me conter.
E isso foi o suficiente para a raiva mostrar seu rosto.
— Penny, deve ser bom estar sentada em um restaurante sofisticado,
sem ter que cantar. — Eu a golpeei com minhas palavras.
— Bem, eu adoro cantar, mas estar aqui é bom, — Penny respondeu,
ilesa.
— Sempre é! — Papai concordou, sorrindo.
Nossos aperitivos haviam chegado e eu não perdi tempo em enfiar na
boca atum apimentado com molho de pêssego.
Depois de literalmente escolher minha esposa, o homem não
conseguiu considerar meus sentimentos — ou mostrar decência humana
— antes de tentar substituir minha mãe.
Eu simplesmente não conseguia entender o que ele viu nela. Sua
história com Jacques, o psicopata. Seus traços delicados, seu cabelo
encaracolado.
Ela era gostosa, mas não gostosa pra casar.
Ela era um tapa buraco.
Era isso.
E agora que ela estava presa ao quadril de meu pai, empurrando-a
direto para os holofotes de Knight, toda a cidade de Nova Iorque tinha
um passe de acesso total para a recuperação de meu pai, décadas em
formação.
Mas apesar de tudo isso, apesar da imprensa negativa e das bocas
abertas ao vê-los, era como se ele nem se importasse.
E a reputação dos Knights era algo com que papai sempre se
preocupou.
Foi por isso que ele se levantou de manhã e foi o último pensamento
que teve antes de dormir.
A única razão pela qual ele me deixou escapar impune foi porque eu
era seu filho. Ele amava ser meu pai mais do que ser um Knight.
Então me dei conta.
Penny significava tanto para meu pai?
— Você realmente acha que ele está feliz? — Sussurrei no ouvido de
Angela.
Ela inclinou a cabeça para Brad, que estava rindo enquanto assistia
Penny lutar com seus hashis. O pãozinho de manga com salmão da
garota estava virando mingau em seu prato.
— Não é óbvio? — Angela sorriu de volta para mim.
BRAD
Eu queria ser feliz, de verdade.
Penny era suave e especial. Ela não conseguia preencher o vazio da
minha esposa perdida, mas sua voz delicada era como um fio carmesim
que poderia costurar a ferida com alegria.
Mas sentar naquela mesa, comemorando o nascimento do neto de
outra pessoa, me fez ansiar por mais. Por uma nova vida, um neto meu.
Xavier e Angela estavam juntos há um ano, um ano inteiro, e ainda
não se falava sobre planejamento familiar. Mesmo que eu nunca tivesse
deixado os dois me ouvirem dizer isso, me doeu. Eu não queria nada
mais do que mimar um ou dois netos meus!
— Parabéns ao meu filho maravilhoso, Lucas, e à sua linda esposa,
Em! É uma pena que você não tenha tido essa notícia quando eu estava
doente. Eu juro, ouvir que eu estava tendo um neto teria consertado meu
coração e nos salvado de muito estresse! — Ken brincou, enquanto todos
ergueram suas taças de cristal em comemoração.
Não pude deixar de sentir um pouco de ciúme do homem. Nós dois
fomos criados por mundos diferentes. Não havia dúvida sobre isso. Meus
mocassins de couro italiano e suas botas arranhadas pertenciam a
universos diferentes, mas o pai de Angela parecia feliz.
O homem tinha passado por tudo com sua saúde no ano passado e,
ainda assim, eu nunca tinha visto uma pessoa mais alegre.
Era como se ele tivesse tudo o que poderia desejar. Como se ele
estivesse contente.
Eu nunca estive contente em minha vida, sempre precisei da próxima
coisa. Caramba, eu estava fazendo isso agora, pensando em pressionar
meu filho a ter filhos apenas para que eu pudesse conhecer a alegria de
ser avô.
Eu me levantei da mesa, tremendo. Eu não queria que minha família
me visse assim — tão descontrolado.
— Com licença, — eu murmurei e corri em direção aos banheiros, em
direção à privacidade, em direção a um lugar onde eu pudesse ficar de
mau humor sem falar tudo sobre mim.
Sob a luz fraca das lanternas penduradas sobre mim, joguei um pouco
de água no rosto. Inspire. Expire. Inspire. Expire.
Recomponha-se.
Eu me virei para a porta, observando enquanto Ken entrava. Tentei
fixar um sorriso em meu rosto.
Brilhante.
— Muito obrigado por nos trazer aqui. Este restaurante é excelente.
Juro que nem os peixes resistiriam a esse sushi, — ele disse.
— É um prazer, Ken. É o mínimo que posso fazer. Eu não posso
acreditar que Em e Lucas acabaram de se casar e já estão tendo filhos. É
tão emocionante, — eu disse, tentando manter minha dignidade, fazer a
coisa honrosa.
O homem tinha todo o direito de estar feliz.
— Eu sei que você está chateado, — ele respondeu.
— P-por que eu estaria? — Eu me atrapalhei, tentando manter minha
compostura. Não era frequente um homem me pegar de guarda baixa.
— Porque também estou chateado.
Eu fiz uma careta.
— Você está? Por quê?
— Angela e Xavier são um casal lindo. Já se passou um ano e estou...
esperando alguns netos lindos. Não é?
— Sim, — eu admiti. — Mas esta noite é sobre Em e Lucas.
— Nah, é sobre família, — Ken disparou de volta. — Brad, você e eu
somos uma família e precisamos encorajar nossos filhos a construir as
suas.
— Você quer dizer a eles o que está em nossas mentes? Isso é como
pressão de grupo, Ken. Eu não posso fazer isso...
— Oh, mas eu posso.
Eu olhei para o homem na minha frente, vendo um brilho em seus
olhos.
— O que você está falando? — Eu perguntei.
— Um pouco de culpa para ajudar a fazer o truque. Pelo menos esta
condição cardíaca pode finalmente ser bem aproveitada.
Eu não pude evitar. Eu soltei uma risada. Fiquei chocado que Ken
fosse tão ousado, mas uma parte de mim também ficou impressionada.
ANGELA
Assim que o garçom ateou fogo ao sorvete frito, papai e Brad voltaram
do banheiro, trocando olhares amigáveis. Foi surpreendente e ótimo ver
Xavier e minha família se dando bem.
— Você tem que cavar primeiro, Em, — eu disse, entregando a ela uma
colher. Ela sorriu, esperando que as chamas parassem de ondular sobre a
iguaria, e então deu uma grande mordida.
— Ok, eu faria coisas ilegais por esta sobremesa. E sério! — ela
exclamou. — Vou ter um segundo filho só para podermos voltar a este
lugar.
— Ou podemos voltar quando você engravidar, Angela, — disse meu
pai.
Senti minhas bochechas queimarem, meu rosto provavelmente se
transformando numa rosa manchada.
— Angela é mais o tipo de garota tímida, Ken, você sabe disso —
respondeu Xavier facilmente.
— Você tem razão. Acho que o que estou tentando dizer é que vocês
dois estão casados há um ano, e Emily e Lucas acabaram de fazer seus
votos, — meu pai respondeu.
O que ele estava fazendo?
Ele não precisava nos lembrar.
— Eles não estão prontos, — Brad interrompeu, um sorriso se
formando em seus lábios.
Eu vi nossos pais trocando olhares.
Eles planejaram uma emboscada no banheiro masculino?
Papai se esticou sobre a mesa e pegou minha mão.
— Angie, e se algo acontecer ao meu coração de novo? Não suporto a
ideia de deixar este mundo sem ter um neto seu para me despedir.
Ele não ousaria.
Parte de mim não conseguia acreditar na maneira como ele estava
jogando suas cartas, mas a outra parte se encheu de hipóteses. E se ele
estivesse certo?
E se tivesse que acontecer agora?
— Não diga isso, pai. Não posso suportar a ideia de que algo aconteça
com você, — respondi, sentindo o peso do mundo se comprimindo em
um nó na garganta.
Tentei desviar o olhar, mas ele não deixou.
— Você já está prestes a se tornar um vovô!
— E quanto a Brad? Xavier, você é seu único filho. Ele não merece um
neto?
Foi então que senti meu rosto perder a cor.
A verdade passou por mim em ondas elétricas.
Brad tinha uma neta e não sabia que ela existia.
Quando prometi guardar o segredo para Claudia, não apenas jurei
escondê-lo de Xavier. Eu também estava enganando Brad.
Meu sogro era a razão de eu ainda ter um pai. Ele não apenas me deu
Xavier, mas também salvou a pessoa mais importante da minha vida
antes dele.
Esconder a neta dele era como amputar um galho de sua árvore
genealógica.
Eu olhei fixamente para Xavier. Como ele poderia não saber?
O segredo parecia mil telefones tocando dentro de mim, precisando
ser atendidos.
As palavras estavam prontas para sair da minha boca. Então, coloquei
o máximo de sorvete possível lá dentro, praticamente devorando a
sobremesa inteira.
Xavier agarrou minha colher enquanto eu mergulhava para outra
mordida. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, alarmado.
— Tem algo errado? — ele pressionou.
Eu balancei minha cabeça, fechando meus olhos com força. Contar a
verdade, aqui, na frente de todos, iria matá-lo. Eu precisava ficar em
silêncio, mesmo que isso estivesse me matando.
Mas ele não me deixaria morrer em paz.
Ele aproximou o rosto, olhando profundamente nos meus olhos.
— O que está acontecendo? Você está... escondendo algo?
Capítulo 20
O P reço certo
ANGELA
Angela: Eu sei.
Didi: Eu vou.
Didi: Em breve.
Didi: Ok.
Didi: Vamos nos encontrar.
Eu não queria que Xavier soubesse para onde eu estava indo. Isso
significava que Marco também não poderia saber.
Então, peguei o metrô para o Bronx, correndo de um trem para outro
no frio intenso.
A última vez que peguei o metrô para o Bronx foi bem quando me
mudei para a cidade, quando os trens ainda me confundiam, e eu estava
muito preocupada em não parecer uma turista.
Agora, eu conhecia o sistema de metrô como a palma da minha mão.
E embora o fato de ser dirigido por Marco ter tornado o deslocamento
muito mais fácil, havia algo de muito libertador em navegar sozinha
pelas plataformas do metrô. Foi como uma lufada de ar fresco, bem
quando eu precisava.
Ao mesmo tempo, eu mal conseguia sentir. Eu estava cheia da dura
realidade de que Xavier tinha uma filha — com Claudia.
Claudia tinha que dizer algo sobre isso. Para ele. Eu não sabia por
quanto tempo mais eu poderia me torturar mantendo seu segredo.
Nós nos encontramos num parque em seu bairro no Bronx, o que foi
bom. Nunca veríamos um Knight nesta parte da cidade.
A menos que você conte comigo, eu me lembrei.
Eu me perguntei se eu era realmente uma Knight agora. Conspirando,
conhecendo mulheres pelas costas do meu esposo... talvez eu finalmente
tivesse ganhado meu lugar na família intocável.
Eu esperei no parquinho.
Claudia queria que nos encontrássemos no balanço. Ela não estava lá.
Eu esperei, sentada em um, com minhas pernas me balançando para
frente e para trás em ansiedade. Quando Claudia passou de cinco
minutos atrasada para dez, e depois para vinte, eu balançava mais e mais,
desesperada por uma distração.
E se ela não vier? Eu pensei. Terei que esconder a verdade de Xavier para
sempre?
Quando eu estava prestes a pular do balanço e sair correndo dali,
Claudia correu até mim, parecendo um pouco exausta e com frio. No
entanto, de alguma forma, seu cabelo ruivo brilhante era perfeito,
mesmo com o vento forte.
— Ei, desculpe, o trabalho me atrasou, — ela disse.
— Sem problemas..., — eu murmurei, sem saber por onde começar.
Eu diminuí o movimento do balanço. Ela se sentou ao meu lado.
— Tenho trabalhado muitas horas extras. A pré-escola está prestes a
começar e, claro, eles querem que as mensalidades sejam pagas com
meses de antecedência.
— Oh. — Eu poderia apenas dizer isso? Eu me perguntei. Posso apenas
dizer a ela que Xavier precisava saber?
Se ela não pudesse contar a ele, eu contaria. Eu não pude evitar.
Nunca fui boa em guardar segredos, muito menos de alguém que amava.
— Ouça... vou contar a Xavier sobre Sophie, — afirmou Claudia antes
que as palavras pudessem borbulhar na minha garganta.
— Quando?
— Quando eu puder.
— Por que você não pode fazer isso agora? — Eu me perguntei em voz
alta, pensando em como seria mais fácil ter a verdade revelada.
Claudia respirou fundo, com dor.
— As coisas não estão tão boas para mim financeiramente no
momento. Trabalhar para uma organização sem fins lucrativos não é,
bem, tão lucrativo. Sophie precisa de tantas coisas e não posso dar a ela.
Se eu for para Xavier agora, ele pensará que estou atrás de seu dinheiro,
que estou apenas tentando usá-lo...
Eu gostaria de não saber como era a sensação, mas podia me lembrar
vividamente de como Xavier me odiava quando pensava que eu estava
apenas em sua vida para tirar dele.
— Eu prometo, Angela, vou entrar em contato assim que tiver
dinheiro suficiente para garantir que nossa filha esteja na pré-escola.
Apenas me dê um pouco de tempo. Eu não vou dormir até que possa
consertar isso. Faz muito tempo que não tenho uma boa noite de sono —
disse Claudia, com a voz embargada.
Eu pude ver que ela estava usando todo o seu poder para não chorar, e
meu coração estava pesado no meu peito.
Não era justo.
Eu estava vivendo uma boa vida com Xavier, comendo caviar e
dormindo em lençóis de seda, enquanto Didi e Sophie mal conseguiam
sobreviver.
Eu assisti meu pai criar meus irmãos e eu como pai solteiro. Eu
reconheci a mesma luta em Didi, agora. Ela precisava de apoio.
— O que seria necessário para consertar isso? — Eu perguntei. Didi
me ajudou muito na minha carreira. Certamente havia algo que eu
poderia fazer em troca para aliviar sua carga.
— O que você quer dizer? — Claudia respondeu, com as lágrimas em
seus olhos se transformando em um brilho.
Dei de ombros, tentando pensar em coisas que poderiam ter ajudado
meu pai quando eu estava crescendo.
— Eu poderia ajudá-la a encontrar uma babá, comprar alguns
mantimentos... O que você precisa?
Os olhos de Didi caíram para o chão.
— O pagamento inicial para a pré-escola dela é o que mais está
doendo agora.
Respirei fundo. Eu sabia que as pré-escolas não eram baratas, embora
alguns milhares de dólares dificilmente prejudicariam as contas
bancárias de Knight. Eu tinha certeza que Didi me pagaria assim que as
coisas mudassem para ela...
— Se você não tivesse que pensar nas contas da pré-escola, você
contaria a verdade para Xavier? — Eu me perguntei.
— Você poderia fazer isso?
Mordi meu lábio, me perguntando se eu poderia... se eu deveria.
Era isso realmente o que eu estava oferecendo?
Parecia a melhor solução.
Colocar Sophie em uma pré-escola tiraria muita pressão de Didi.
Talvez com menos estresse, ela seria capaz de resolver contar a Xavier
sobre sua filha.
Dei de ombros.
— Se é disso que você precisa, por que não?!
— Mas por quê? Por que você me ajudaria? — Claudia sondou.
— Nós duas só queremos que isso funcione, certo? — Eu disse. — Para
Sophie. Vocês duas não precisam estar sozinhas. Posso te ajudar. Xavier
pode te ajudar. Mas você precisa ser honesta e dizer a verdade a ele.
— Tudo bem, — disse Claudia enquanto me agarrava, puxando-me
para um abraço caloroso. — Obrigada, — ela sussurrou em meu cabelo.
— Obrigada, Angela. Muito obrigada, — repetiu Claudia, com a voz ainda
trêmula.
Eu a abracei de volta, esperando que isso não fosse um erro.
Esperando que isso trouxesse Xavier mais perto de sua filha e não o
separasse de mim.
Brad: Angela!!!
Capítulo 21
A maçã e a árvore
ANGELA
Xavier: Não
Xavier: Ótimo.
Xavier: Perfeito.
XAVIER
XAVIER
Flash.
Enquanto eu segurava Xavier contra mim, observei o fotógrafo
capturar nossos lábios se fechando.
Flash.
Corri minhas mãos por seus cabelos e ouvidos para que ele não
pudesse ouvir os cliques do obturador.
Flash.
Por um segundo escorregadio, foi bom, como quando, quando você se
corta, a adrenalina bombeia com o sangue, lembrando você de que ainda
é frágil. Que você ainda está viva.
Flash.
Xavier me empurrou para longe dele com força violenta. Quase bati
no chão, mas fiquei parada, desafiadora, com as pernas tremendo.
Eu tinha acertado em cheio.
— Que diabos está errado com você? — Ele fervia, com sua pele
normalmente bronzeada parecendo horrível.
— Eu... eu pensei que nós éramos uma família. Precisamos fazer isso
funcionar, por nossa filha, — eu implorei, tentando o meu melhor para
soar confusa e com o coração partido.
Mas os olhos de Xavier brilharam de raiva. Eu poderia dizer que ele
não estava acreditando.
— Se você quisesse, não teria deixado três anos se passarem, Claudia.
Você diz que me conhece? Bem, eu te conheço. Você não está aqui pela
sua filha. Você está aqui por você, — ele cuspiu em mim.
— Nossa filha, — eu sibilei, observando as palavras cortá-lo como
pontas de flecha.
— Prove, — ele respondeu no verdadeiro estilo Xavier. — Eu parei de
acreditar em você há muito tempo, e não vou começar de novo agora.
Prove que a criança é minha e podemos conversar novamente.
Eu sabia que ele era um homem difícil. Você não ganhou um lugar
entre os melhores e mais brilhantes do mundo escolhendo a maneira
mais fácil de resolver as discussões.
O que eu não adicionei aos meus cálculos foi que seu ódio por mim
era profundo o suficiente para permanecer resoluto, mesmo com uma
criança na mistura.
Por alguma razão, eu senti uma centelha da paixão, que costumava
correr entre nós, explodir.
Eu alguma vez o amei? Eu honestamente não sabia.
Achei que tinha adorado a ideia dele, de como ele era o homem que
tinha tudo, o herói da história. Meu Deus, até mesmo seu nome era
corajoso e nobre — Knight.
Mas quando nosso noivado acabou, ele se tornou mais Noite do que
Knight, um feitiço escuro lançado sobre mim, que fez até mesmo uma
sala lotada parecer vazia. Era como se eu não pudesse fugir de sua
sombra.
Quando eu estava com ele, ele lançava uma sombra sobre toda a
opulência que nos cercava.
Quando eu estava sem ele, toda aquela opulência estava escondida de
mim. Fora do meu alcance.
— Eu sou um homem poderoso, Claudia.
— Eu sei, — respondi, rindo por dentro.
Ele era um grande fantoche que não conseguia identificar suas cordas
de renda.
— Mas eu sou um inimigo ainda pior, — ele declarou, com seus olhos
vermelhos e brilhantes. — Escolha seu próximo movimento com cautela.
A última vez que o vi tão instável foi na vez em que o vi todos aqueles
anos atrás. Quando eu arruinei sua vida pela primeira vez. Ele descobriu
algo naquela noite que partiu seu coração em dois.
E agora, quatro anos depois, eu estava fazendo isso de novo.
Dando a ele uma notícia da qual ele não poderia se recuperar.
Contando a ele um segredo que não apenas destruiria a vida que ele
conhecia, mas alteraria o curso de seu futuro.
Quase me surpreendeu não sentir a menor sombra de culpa. Olhando
para ele, vendo o dinheiro praticamente pingando de cada centímetro de
sua pele, do suéter de cashmere aos sapatos de couro italiano, ele era um
alvo.
E eu estava jogando com ele.
Assim que vendesse a foto do playboy bilionário traindo sua esposa
perfeita e celestial, eu provaria meu gosto de riquezas. O gosto que eu
merecia, por dedicar todo esse tempo. Foi preciso mais do que uma sorte
cega para fazer alguém acreditar que estava em um relacionamento
perfeito.
E eu estava prestes a ser recompensada por meus talentos.
XAVIER
ANGELA
ANGELA
ANGELA
XAVIER
XAVIER
Angela e eu estávamos cercados por mil câmeras, mas desta vez, fui eu
quem as ligou.
Desde que a notícia de que Angela e eu tínhamos um casamento
arranjado, fomos perseguidos por paparazzi desesperados, pressionando-
nos por detalhes.
Agora era hora de confessar.
Desta vez, mostraremos nossas cartas. Sem mais segredos, sem mais
mentiras. Angela e eu tínhamos algo real e não tínhamos nada a
esconder.
A coletiva de imprensa estava marcada para começar em vinte
minutos. Mas isso não impediu os perseguidores persistentes com
câmeras do lado de fora do nosso camarim.
Eu sabia o que eles queriam.
Eles queriam nos pegar carrancudos, nos pegar lutando. Qualquer
coisa que provasse que éramos tão falsos quanto eles pensavam que
éramos.
— Você tem certeza disso? — Angela perguntou, com sua voz suave
preenchendo o espaço entre nós.
Mesmo que ela tenha me feito a mesma pergunta um milhão de vezes,
e mesmo que eu tenha respondido com confiança todas as vezes que ela
perguntou, ela ainda tinha dúvidas.
Não que eu pudesse culpá-la.
A garota foi arrastada pela lama, tudo porque ela se envolveu no caos
que era a minha vida.
Antes de eu fazer as ligações para garantir esta entrevista coletiva na
noite passada, Angela olhou para mim com seus olhos arregalados, sua
boca se abrindo em um meio sorriso.
— Devíamos voltar para a ilha. Aquela em que caímos. — Ela deu uma
risadinha. — Não haverá nenhuma câmera lá. Nenhum paparazzi. Será
apenas eu e você.
Rimos juntos e eu a beijei, maravilhado com a sorte que tive.
Ela estava certa, é claro. Se pudéssemos chegar a algum lugar onde
pudéssemos estar um com o outro, sem complicações, seria muito mais
fácil.
Mas eu era um Knight, e coisas assim não eram fáceis para minha
família.
— Não podemos fugir, — sussurrei para ela em resposta.
— Eu sei. — Ela acenou com a cabeça, esfregando minha bochecha. —
Enquanto estivermos aqui, juntos, serei feliz.
— Promete? — Eu perguntei a ela, me arrependendo
instantaneamente. Porque eu não podia pedir isso a ela; era demais.
Depois de tudo que eu a fiz passar, até mesmo pedir para ela ficar ao meu
lado era demais.
— Eu prometo, — ela murmurou, me beijando novamente.
E eu exalei.
— Xavier? Tem certeza? — Angela perguntou novamente, me
trazendo de volta ao camarim. Aproximei-me dela, puxando-a para um
abraço apertado.
— Tenho tanta certeza disso quanto de que te amo, — respondi,
beijando sua testa.
Mesmo com todo o pânico consumindo-a, ela não pôde deixar de
sorrir.
— Ok, então, — ela disse, endireitando minha gravata. Eu sorri,
colocando minha mão sobre a dela.
— Arrasa eles.
Eu tirei um pouco de cabelo do seu rosto, colocando suas bochechas
macias em minhas mãos.
— Por você, — respondi, pressionando seus lábios contra os meus, —
qualquer coisa.
CLAUDIA
Claudia: Ocupada.
Ron: O quê?
Claudia:...
XAVIER
XAVIER
Eu estava correndo para ele, para meu pai, para que pudesse me
desculpar. Para que eu pudesse pedir desculpas por ser tão idiota. Por ser
ingrato, duro e injusto.
Eu subi no elevador, ensaiando minhas desculpas a meu pai, pensando
na maneira correta de expressar meu remorso.
O que você fez, armando Angela e eu, não foi um erro, pensei. Foi um
presente, mesmo que tenha sido algo fodido.
Talvez ele tenha feito o casamento um pouco para ele, mas no final
das contas, eu tenho que acordar ao lado dela.
Era eu que tinha que segurar sua cintura fina e perfeita. Era quem
sabia que era amado por uma mulher tão perfeita para mim, uma mulher
que só meu pai poderia saber que foi feita para me amar.
Culpá-lo por nossos problemas era egoísmo.
Fui eu quem me envolvi com Claudia, e se havia alguém que fodeu
minha vida, foi ela. Sempre era ela.
Assim que as portas do elevador abriram, corri para o saguão de papai.
Com sorte, ele ouviu a coletiva de imprensa. Esperançosamente, ele
ouviu minhas respostas sinceras, como eu não tinha mais medo de
confessar a verdade.
De admitir meu amor.
— Pai? — Eu gritei, esperando por uma resposta. Esperando pelo som
de seus pés, de chinelos, caminhando pelo corredor. Mas não havia nada.
O saguão estava silencioso como um maldito centro para surdos.
Andei para frente e para trás, sentindo que algo estava acontecendo.
— Pai? — chamei novamente, decidindo sair pelo corredor. Ele não
estava na sala de estar, na sala de jantar ou na cozinha. Ele não estava no
banheiro de hóspedes ou na biblioteca.
A porta de seu escritório em casa estava fechada.
Tentei bater.
Toc toc.
Toc toc.
Toc toc.
Nada.
Eu tentei a maçaneta, e ela se mexeu sob minhas mãos, a porta se
abrindo com um movimento fluido. Foi quando eu o vi. Estava caído de
frente, dobrando-se sobre si mesmo, na poltrona perto da janela.
— PAPAI! — Eu gritei, correndo em direção a ele. — POR FAVOR!
PAPAI! — Gritei ao sentir o pulso.
XAVIER
Ron: Bro
Ron: Ei
Ron: Xavier
Ron: Não
Ron: Siiimmm.
ANGELA
ANGELA
Água quente choveu sobre mim. Era bom, é claro, mas eu precisaria
interromper o banho.
Olhei através do vidro para minha esposa, nua diante do espelho.
Quando ela ficou na ponta dos pés, admirei sua bunda perfeita. Suas
marquinhas de bronzeado só a deixaram mais incrivelmente sexy.
Desliguei o chuveiro, interrompendo o fluxo de água. Já era o
suficiente.
Quando saí do chuveiro, ela se virou, a escova de rímel ainda
posicionada perto do olho.
— Você terminou...? — Ela começou, mas fez uma pausa enquanto
seus olhos viajavam pelo meu corpo gotejante até minha ereção maciça.
Não foi a primeira vez que minha esposa me viu com uma ereção no
chuveiro, mas ela não era mais a virgem ruborizada de antes.
Ok, talvez ela ainda tenha ficado corada. Mas ela não desviou o olhar.
Diminuí o espaço entre nós, segurando-a por trás. A pele macia de sua
bunda contra o meu pau me fez suspirar, e me inclinei para cheirar o
perfume em seu pescoço.
Meu cabelo pingou água em cima dela, mas ela não protestou.
Observei como seus mamilos endureceram, então peguei um de seus
seios em minha mão.
— E o jantar? — Ela sussurrou, virando-se para me encarar e correndo
os dedos pela minha barriga antes de envolvê-los em torno do meu
membro.
Eu fiquei ainda mais duro, me esforçando para tocá-la.
— Eles vão segurar a mesa, — eu prometi.
E então eu a levantei, carregando-a em meus braços para a nossa cama
enorme.
Eu a deitei e subi ao lado dela, sobre as pilhas de lençóis como nuvens
brancas, até estar em cima dela.
Meu cabelo encharcado pingava gotas de água em sua pele.
Ela se contorceu embaixo de mim, agarrando minhas costas e me
puxando para mais perto.
Ela abriu as pernas, envolvendo-as em volta da minha cintura.
Abaixei-me e cuidadosamente toquei o doce espaço entre elas. Ela já
estava molhada e esperando por mim, e vi seus olhos azuis rolarem em
êxtase.
— Eu preciso de você, — eu disse a ela. Quantas vezes eu disse essas
palavras nesta cama? Demais para contar. — Eu preciso de você o tempo
todo. Para todo sempre.
Angela abriu os olhos e sustentou meu olhar enquanto tocava meu
rosto.
— Você me tem, — disse ela com um sorriso.
E então ela deslizou a mão pelo meu corpo até a minha
masculinidade, e me inclinou para dentro dela.
Inclinei-me e, finalmente, éramos um.
Fiquei parado por um momento, sentindo-a ao meu redor,
observando-a me observar.
— Eu te amo, Angela.
— Eu também te amo, — ela gemeu.
Ela apertou as pernas com mais força, me incentivando, e eu dei a ela
o que ela queria. Eu empurrei para dentro dela, abaixando meu peso para
que pudesse enfiar livremente.
Suas respirações e gemidos demorados rapidamente me trouxeram ao
meu limiar.
Eu queria gozar, mas não antes dela.
Metendo superficialmente e rapidamente, me movi do jeito que sabia
que ela gostava. Ela me puxou para mais perto, mais perto...
— Estou prestes a gozar, — ela sussurrou em meu ouvido.
Sim.
Goze.
E então ela gritou, o lindo som enchendo a sala enorme.
Logo depois dela, eu gozei, me dando mais a ela a cada estocada. As
ondas de prazer bateram em mim como o oceano fora de nossa janela,
enorme e implacável.
Quando acabou, eu rolei para fora dela e a puxei em meus braços.
Meu mundo inteiro estava ali naquela cama.
Eu estava no meu lugar favorito. Sozinho com Angela, em Bali. Se ao
menos pudéssemos ficar lá para sempre.
Mas nossos dias no paraíso estavam contados.
Capítulo 2
Negócios suspeitos
XAVIER
ANGELA
Dustin:??
Dustin:??
Em: Eu sei que você não está com o seu telefone, mas estou com
saudades!! Espero que Bali seja incrível.
Em: mal posso esperar por um dia entre garotas com você.
Eu sorri enquanto palavras e imagens das últimas semanas fluíam
como se estivessem viajando através de uma máquina do tempo.
Xavier estava olhando para seu telefone também.
De volta ao mundo real, pensei comigo mesma. Inclinei-me para beijar
meu marido novamente. Com ele, até o mundo real não era tão ruim.
XAVIER
A mais nova propriedade dos Knight deveria ser a mais glamorosa até
agora, e depois de alguns dias de estadia, Angela e eu concordamos que
era mesmo.
Estávamos hospedados no hotel durante a pré-inauguração exclusiva,
em que menos da metade dos quartos estavam disponíveis. Antes da
festa, nossos clientes mais leais experimentariam luxo e serviços sem
precedentes.
O burburinho no ar confirmou o que eu já sabia: havíamos nos
superado com Hollywood Knight.
Sair de Bali foi como sair do paraíso, embora estivéssemos mais ou
menos em férias.
O carro do Hollywood Knight nos levou por uma rota panorâmica por
Los Angeles, passando pelo icônico letreiro de Hollywood enquanto
dirigíamos pela movimentada Hollywood Boulevard. Pela janela, vi as
estrelas dos meus artistas favoritos brilhando nas calçadas. E aquele era o
meu chapa, Leo DiCaprio, que vimos sair de um Coffee Bean?
Bem, isso não é tão ruim.
E então, depois do que pareceu uma vida inteira de viagens, estávamos
lá.
O Hollywood Knight. Logo acima da movimentada Sunset Strip.
Assim que descemos do carro, sentimos o glamour descontraído do
lugar.
Havia um piano de cauda no saguão, localizado perto do restobar,
onde um pianista de jazz tocava todas as noites para os nossos
convidados.
O local foi projetado para mergulhar nossos hóspedes no brilho e
charme da velha Hollywood, mantendo a simplicidade elegante do século
XXI. O interior do hotel era de madeira clara e mármore branco, e
parecia que não havia nenhum ângulo em todo o lugar. Eram linhas lisas
e suaves.
Passamos os dias seguintes cuidando dos detalhes finais da festa de
abertura e tomando sol na piscina infinita.
Dormi até tarde na suíte de lua de mel. deixando as férias se
estenderem enquanto Angela fugia para as reuniões com o bufê.
E então, antes que percebêssemos, era a noite da festa. Observei
Angela se preparar na frente do espelho de corpo inteiro e fechei o zíper
de seu vestido de seda branca.
Coloquei um terno de linho azul e juntos descemos a grande escadaria
para o evento de fim de semana mais quente de Los Angeles.
O saguão brilhava com a luz de 100 velas e o burburinho dos foliões.
Champanhe fluiu e um quarteto encheu a sala com um jazz suave.
Eu tinha que admitir, esta era a nossa propriedade mais
impressionante. Era perfeitamente simples. Olhei para minha linda
esposa, cujo cabelo loiro estava puxado para trás em um coque
bagunçado, observando a cena com os olhos arregalados.
Observá-la aqueceu meu coração.
Papai ficaria muito orgulhoso dela.
Ela encontrou meu olho e mordeu o lábio enquanto sorria.
E ele ficaria orgulhoso de mim, de como eu era bom para ela.
E isso era tudo o que importava.
ANGELA
XAVIER
ANGELA
XAVIER
XAVIER
Trim! Trim!
O som continuou enquanto eu abotoava minhas calças.
— Um minuto, porra! — Eu gritei, tentando reorganizar a
protuberância em minhas calças para ser menos perceptível.
— Xavier, — Angela assobiou. — E se for... algo importante?
Amarrei um moletom na cintura para esconder minha ereção.
'Eu não poderia dar me importar menos.
Finalmente, o vestido de Angela estava em ordem, e eu estava decente
também. Ela balançou a cabeça, tão frustrada com a interrupção quanto
eu. Coloquei minha mão na parte inferior de suas costas e, juntos,
caminhamos até a porta.
Eu abri a porta e não fiz nenhuma tentativa de esconder meu desgosto
pela pessoa que estava diante de nós.
— Henry, — eu cuspi. — O que diabos você está fazendo aqui?
O palhaço estava vestido com toda a sua glória de mauricinho, como
se tivesse navegado dos Hamptons para nossa cobertura.
Ele estava rodando uma garrafa magnum de champanhe Dom
Perignon vintage em um carrinho de prata.
— E o que diabos vamos fazer com isso? — Eu perguntei, antes que ele
pudesse responder.
Meu primo franziu a testa com a minha franqueza. Ao meu lado,
Angela cruzou os braços.
— Olá para você também, querida prima, — ele disse sarcasticamente.
— Eu trouxe um presente para você. É para vocês dois. Eu teria trazido
para o casamento, mas não fui convidado.
— Foi uma cerimônia íntima, — eu disse com um encolher de
ombros. — Mas se eu me lembrasse que você era um festeiro, talvez eu
tivesse aberto uma exceção.
— Olha, cara. Pense nisso como uma oferta de paz. Sinto muito por
ter instigado você nos Hamptons e estou feliz por você e sua esposa. Eu
realmente estou.
Henry suspirou. Claramente, se desculpar o deixou desconfortável, e
eu notei que Angela apreciou o gesto.
Mas eu não era convencido tão facilmente.
Lembrei-me do que ele disse sobre Angela nos Hamptons que me fez
estourar na cara dele. Que ela era uma noiva por correspondência.
Alguma prostituta. Não, um homem como Henry não mudou de opinião
por causa da bondade de seu coração.
Ele estava aqui porque queria algo.
— Não sei, Hen, — comecei usando o apelido de infância que sempre
o fazia se contorcer. — Eu sinto que isso tem menos a ver com o
casamento e mais a ver com o testamento do meu pai.
Eu levantei uma sobrancelha para o pequeno bastardo arrogante.
— Eu admito, — Henry revelou, — minha família ficou um pouco
magoada quando soubemos que fomos deixados de fora do testamento
de Brad. Tia Heather, em especial.
— Achamos que seria uma boa ideia se eu viesse falar com você,
apenas para ter certeza de que não há nenhum... ressentimento ou algo
assim, entre a Knight Enterprises e nós.
Senti meu sangue começar a ferver. Henry era o mesmo quando meu
pai estava vivo. Ele sempre foi um filho da puta aproveitador, sempre
tentando ganhar algo. Assim como eu suspeitei, ele não deu a mínima
para a morte do meu pai. Ele só queria seu dinheiro e poder, e agora ele
viu uma maneira de obtê-los.
— Já basta da sua festa de piedade. Henry. Se sua família precisasse de
ajuda, meu pai teria colocado você no testamento. Mas ele estava
pensando na empresa...
Minhas mãos se fecharam em punhos enquanto minha voz soava no
corredor.
— E há comoção suficiente na Knight Enterprises hoje em dia sem
você enfiar a cabeça nas coisas. Então, saia!
Apontei para o elevador, meu peito arfando.
Mas Henry ficou pregado bem na porta, um sorriso puxando os cantos
de sua pequena boca presunçosa.
— Comoção na Knight, hein? — Ele zombou. — Ouvi dizer que o
velho Brad deixou para Penny a maior parte da empresa. Mas não percebi
o quanto isso estava mexendo com você.
Eu fervi. Se meu primo misturasse mais uma metáfora em minha casa,
eu teria que chamar uma ambulância para levá-lo daqui para fora.
— Vá embora, Henry.
— Acho que você quer fazer isso da maneira mais difícil, primo.
Quero ter uma palavra a dizer nos negócios da minha família. E agora
que Brad se foi, não há ninguém protegendo você.
Ele girou sobre o calcanhar de seu mocassim e caminhou pelo
corredor. Angela pegou minha mão e pude sentir seus olhos preocupados
em mim.
Pouco antes de eu bater à porta, Henry chamou:
— Você não é mais o menino de ouro do papai, X!
ANGELA
XAVIER
Em: Ei
Em: Deus
Em: Deus
Em: Uh...
Angela: Claro
Coloquei meu telefone virado para baixo sobre a mesa.
Eu entendi bem? Claro que sim, em teoria. Mas então por que me
senti triste de repente, depois de estar tão feliz? E por que eu me sentia
tão longe da minha melhor amiga e cunhada?
Porque embora ela estivesse apenas em Nova Jersey, estávamos em
lugares totalmente diferentes agora. E eu não tinha percebido isso. Em
estava casada, mas eu também. E Xavier e eu também planejávamos
construir uma família.
Claro, Em teve um bebê, e isso mudou tudo. Talvez eu simplesmente
não tenha percebido o quanto...
Em parecia tão disposta a deixar de lado um grande trabalho para
passar mais tempo com a Bella. Em breve eu poderia deixar minha
carreira de lado? Bem quando estava começando a decolar?
Eu balancei minha cabeça e me levantei da mesa. Eu estava pensando
muito.
Olhando para a cobertura banhada pelo sol do meio-dia, eu sabia
exatamente o que poderia me distrair.
Xavier e eu tínhamos organizado os diários de Brad em uma estante
especial. Como se estivesse atraída por um ímã, caminhei em direção a
eles.
Peguei um livro de couro fino e abri em uma página aleatória. Eu
imediatamente engasguei. Nada poderia ter me preparado para as
primeiras palavras do diário de Brad...
Capítulo 8
Diário de Brad
BRAD
ANGELA
XAVIER
ANGELA
ANGELA
ANGELA
Voltei para casa e encontrei minha esposa dando uma festa dançante
sozinha no apartamento.
Já era tarde e eu estava bêbado. Fiquei feliz em vê-la. mas não estava
com vontade de dançar. Embora eu tenha me divertido muito no
Hatchback, as coisas começaram a ficar significativamente menos
divertidas depois que Penny foi embora.
Claro, eu fui rude e cruel. Mas eu só estava brincando. Todo inundo
sabia disso.
Certo?
— Vamos! — Angela chamou, puxando minha mão para que eu me
juntasse a ela.
— Vou esperar aqui, — eu disse, caindo no sofá.
Meu corpo afundou no couro macio. Eu me senti como um balão
vazio.
Eu assisti minha esposa fazer o cha-cha, e então ela se virou e
balançou sua bunda bem torneada para mim.
— Sente-se aqui comigo! — Eu implorei.
Fiquei feliz em vê-la tão feliz, mas tudo que eu queria era estar perto
dela. Tão perto que não tive que pensar em mais nada...
Ela pulou no sofá e montou em mim.
— Então me diga o que te fez tão feliz, — eu pedi, olhando em seus
olhos brilhantes.
A música ainda estava alta, então ela se inclinou e aproximou meu
rosto com as mãos.
— Peguei a GALA!!! — Ela explodiu, gritando de alegria.
Eu encarei minha esposa. Não havia entendido suas palavras.
Quão bêbado eu estava?
— Eu sei, — ela continuou. — Eu também mal posso acreditar!
Então me dei conta. Angela iria planejar a Gala Anual da Vague.
Claro, eu sabia que Angela tinha verdadeiro talento. Mas por alguma
razão, eu não tinha considerado que tudo daria tão certo...
— Parabéns, querida! — Eu disse, puxando-a para baixo para que eu
pudesse beijá-la. — Eu estou tão feliz por você.
— Obrigada, — ela jorrou. — Vai dar muito trabalho... mas mal posso
esperar.
— Quanto trabalho? — Perguntei.
— Dias longos, — disse ela. — Hannah disse que seria mais do que em
tempo integral até a Gala! Vou fazer hora extra, assim como você! — Ela
ainda estava sorrindo, esperando que eu comemorasse com ela. Mas eu
simplesmente não conseguia reunir o entusiasmo.
Talvez, em algum lugar no fundo da minha mente, eu não quisesse que
Angela tivesse o evento de Gala. Claro, eu queria que ela realizasse seus
sonhos, mas não tinha percebido que seus sonhos eram sobre trabalho.
Achei que eles envolviam fazer uma família. Comigo.
— Quando é a Gala?
— Em dois meses, — ela respondeu, franzindo a testa.
— Dois meses, Angie?
Eu sabia que meu desapontamento era claro, mas estava chateado. Eu
não poderia lidar com isso agora.
Achei que em dois meses Angela poderia estar grávida. E estaríamos
no caminho para ter uma família unida.
Para cumprir o último desejo do meu pai...
Eu me levantei de repente. Angela se levantou ao meu lado, colocando
as mãos no meu peito.
— Claro que é em dois meses, — disse ela, e sua voz era baixa. — O
que há de errado, amor?
Eu encolhi os ombros para longe de seu toque, sem encontrar seus
olhos.
Eu não poderia dizer a ela o que sentia.
— Por favor! — Ela disse, tentando se segurar em mim enquanto eu
me retirava para o meu quarto. — Me diga o que está errado!
— Alexa, desligue a maldita música!!! — Eu gritei. Finalmente, tudo
ficou quieto.
Suspirei. Esta semana durou um século. Tudo que eu queria era
dormir.
— Angela, eu pensei que nós dois queríamos ter uma família. Tipo,
começando agora. Mas agora eu vejo quais são suas prioridades. — Ela
ficou boquiaberta. Eu vi que o que eu disse havia cutucado uma ferida.
— Querido... — Ela tentou.
Eu não estava esperando para ouvir suas explicações.
— Tenho de dormir, — disse eu.
— Eu ainda quero uma família! O que são alguns meses?! Eles vão
voar. Podemos continuar tentando agora!
Ela divagou desesperadamente, seguindo-me enquanto eu me despia
no meu quarto.
— Tudo ficará bem, Xavier. A Gala não mudará nada!
Apenas com minha cueca samba-canção, subi direto na cama. Eu
estava cansado demais para escovar os dentes.
— Podemos...
— Angela, — eu disse, minha voz tensa. — Eu preciso ir para a cama. E
eu acho que seria melhor se eu dormir sozinho esta noite.
Meus olhos já estavam fechados e puxei o cobertor sobre minha
cabeça.
ANGELA
XAVIER
ANGELA
Voltei para casa para encontrar Angela, Lucille e Bella, todas na sala de
estar.
— O que Bella está fazendo na mesa da sala de jantar? — Perguntei.
Não pude deixar de sorrir ao observar a cena diante de mim, mas todas as
três mulheres, jovens e velhas, estavam claramente infelizes.
— Eu estava trocando a fralda, — explicou Angela como se fosse
óbvio.
— E ela ainda está chateada... — eu disse, as engrenagens girando. —
Você já tentou enfaixá-la?
Minha esposa olhou para mim como se eu fosse uma pessoa
completamente diferente.
— Enfaixar, — eu repeti. — Tentou?
Angela caiu na cadeira da sala de jantar. — Eu não sei como enfaixar
um bebê! — Ela gritou, sua voz falhando.
Aproximei-me da criaturinha gritando na mesa. Mesmo quando ela
fez um som tão horrível, Bella ainda era totalmente adorável.
— Angela, você poderia pegar meu cachecol de cashmere azul para
mim? Está pendurado no guarda-roupa.
Só posso imaginar o olhar desconfiado que minha esposa me lançou,
mas ela saiu da sala.
Claro, eu não sabia exatamente como fazer isso. Mas me lembrei de
assistir tia Heather enfaixar um dos bebês da minha prima como um
embrulho alguns anos atrás.
Quão difícil pode ser?
— Nós vamos te fazer feliz, hein, bebê, — eu disse a Bella. Ela
continuou a chorar, mas tive a sensação de que poderia fazê-la se sentir
melhor.
Angela voltou com o cachecol. Eu levantei Bella e coloquei o tecido
macio embaixo dela. Comecei a enrolar o tecido em seu lado esquerdo,
colocando seu braço ao lado do corpo em uma ligeira curva. Em seguida,
envolvi seus pés e, em seguida, envolvi seu braço direito.
Bella estava enrolada. E então ela parou de chorar.
Eu levantei este pequeno pacote incrível e a embalei em meus braços.
Eu ri um pouco para mim mesmo porque estava tão feliz que eu tinha
sido capaz de ajudá-la.
Quando olhei, Angela estava bem ao meu lado. Seus olhos me
disseram que ela tinha se apaixonado por mim novamente.
Bom.
— Onde você aprendeu afazer isso? — Ela perguntou.
— Só meio que inventei, — admiti. E então pisquei. Angela ficou na
ponta dos pés e me beijou. Assim que nossos lábios se tocaram, senti
alívio e amor irradiando de seu corpo.
Seu beijo foi como voltar para casa. Parecia um pedido de desculpas.
Ela não se afastou. Sua mão estava apertando meu braço e ela se
inclinou para mim. Ela queria estar perto de mim. Eu pude sentir isso.
Quando finalmente acabou, meu sorriso mostrou a ela que a
discussão da noite anterior havia ficado para trás. Claro, tínhamos nossas
questões.
Tínhamos algumas coisas para resolver.
Mas segurar este bebê em meus braços, com o amor da minha vida ao
meu lado, me fez ser o homem mais feliz do mundo.
Eu só podia imaginar como seria se a criança fosse minha...
ANGELA
DUSTIN
— Obrigado, Marco, ligo para você quando estiver pronto para ir.
Ele acenou com a cabeça enquanto fechava a janela, e eu o observei
dar para fora da garagem. O carro de luxo parecia muito deslocado ao
lado da caminhonete degradada do meu pai no subúrbio de Nova Jersey.
Eu puxei meu vestido de grife, de repente me sentindo envergonhada.
Quando foi a última vez que usei jeans?
— O que você está fazendo parada aí na garagem, sua esquisita?
Eu me virei para ver Lucas encostado na porta e com um sorriso no
rosto.
Eu mostrei minha língua para ele enquanto marchava escada acima,
inclinando-me para um abraço. Eu olhei para ele.
Ele parecia cansado.
Havia olheiras sob seus olhos e parecia que fazia um tempo desde que
ele se barbeou.
— Como vai a nova vida do papai? — Perguntei.
— É ótima, você não percebe? — Ele riu. — Estou dormindo três horas
inteiras por noite.
Eu dei um tapinha em seu ombro, dando um aperto encorajador.
— Mas vale a pena, certo?
— Oh, Bella é a alegria da minha vida. — Lucas sorriu, e eu pude ver a
felicidade genuína brilhando em seu exterior abatido. — Eu só queria que
os bebês não fizessem tanto cocô. Tem uma montanha de fraldas usadas
no lixo. Angela. Uma montanha.
Eu enruguei meu nariz enquanto o empurrava para entrar na casa. O
zumbido da TV misturava-se ao aroma sedutor de uma caçarola de
queijo pegajosa assando no forno. Senti meus ombros relaxarem um
pouco e a tensão escapar do meu corpo enquanto eu caminhava pelos
corredores familiares até a sala de estar.
— Ei, filhinha, — papai chamou do sofá.
Eu me apertei ao lado dele, dando-lhe um abraço apertado.
— Olá, pai. — Meus olhos se desviaram para a TV, o noticiário do
meio-dia soando ao fundo. — Onde está o Danny?
— Oh, ele está terminando no restaurante. As coisas estão ficando
agitadas, com a grande reabertura e tudo.
— Reabrindo? — Eu fiz uma careta.
— Oh, sim, — papai disse casualmente. — Estamos colocando uma
nova camada de tinta no local. Achei que seria uma boa maneira de dar
um pouco de vida a ele, talvez trazer alguns rostos novos.
— Oh.
Papai olhou de lado para mim. — Angela?
Levantei-me do sofá um pouco rápido demais, cambaleando um
pouco para me equilibrar.
— Eu vou ajudar com a caçarola.
Fui até a cozinha e pude sentir os olhos de papai nas minhas costas.
Eles estão reabrindo o restaurante? Por que eles não me disseram
nada? Eles se esqueceram de me dizer ou simplesmente não se
preocuparam em me contar? Ou talvez sim. e eu simplesmente não
estava prestando atenção no momento...
Eu balancei minha cabeça, tentando limpar os pensamentos da minha
mente. Um nó começou a se formar no meu estômago, mas isso pode ter
sido apenas a minha fome falando.
Encontrei Em na cozinha removendo a caçarola e colocando-a em
cima do fogão. Ela parecia muito melhor depois da ida ao spa. Embora
ela ainda tivesse olheiras, havia uma determinação brilhante neles, em
vez de um desespero.
— Ei, Angie, — ela disse, me abraçando com as luvas de cozinha ainda
colocadas. Eu a apertei de volta, feliz por meu pequeno presente a ter
ajudado.
— Onde está Bella? — Perguntei.
— Ela está dormindo lá em cima, finalmente. — Em riu. — Ajude-me
a pôr a mesa, sim?
Tínhamos acabado de colocar os pratos e talheres quando Lucas
entrou na cozinha com Danny logo atrás dele. Danny desabou em uma
cadeira com um gemido.
— Cara, estou morrendo de fome. Oh, ei, Angela.
Cortei para ele um grande pedaço da caçarola, colocando uma pilha
de queijo derretido em seu prato.
— Como vai a reabertura? — Perguntei.
— Caçarola de queijo de novo? — Ele reclamou.
— Se não gosta, não coma, — disse Em.
Danny deu uma mordida, falando alto. — Quase pronto. Vou voltar
para lá depois de um almoço rápido, — ele suspirou, virando-se para
mim. — E um monte de trabalho. Especialmente agora que Lucas está
fugindo de mim.
— Pulando para fora? — Lucas disse incrédulo enquanto se sentava ao
lado de Danny. — Você quer enfrentar a montanha de cocô?
— Você está exagerando, — Danny acusou.
— Não. — Papai interrompeu enquanto saía da sala de estar. —
Literalmente uma montanha de cocô.
Danny continuou a comer sua comida, sem ser perturbado pela
imagem mental nojenta. — De qualquer maneira, o trabalho está ficando
mais difícil com a bebê Bella ocupando todo o seu tempo.
Sentei-me ao lado de papai e Emma, cortando uma fatia para mim. A
brincadeira em torno da mesa da sala de jantar foi fácil, e eu senti o nó
em meu estômago se desfazendo lentamente. Afinal, eles eram uma
família.
— Falando em trabalho e bebê Bella, — eu disse. — Como você está
encontrando tempo para administrar a floricultura, Em? Deve ser difícil
fazer as duas coisas.
— Muito difícil, — Em concordou. — É por isso que Lucas e eu
decidimos vender a loja.
Quase engasguei com a caçarola cheia de queijo.
Papai me deu um tapinha nas costas rudemente, me entregando um
copo d'água. Eu engoli.
— O quê? — Eu engasguei quando a morte por caçarola foi evitada. —
Não era esse o seu sonho, Em? Uma floricultura em Nova York?
— Era, — Em concordou. — Mas agora tenho um novo sonho. E é ser
mãe.
— Bem desse jeito? — Perguntei.
— Simples assim, — ela confirmou, pegando a mão de Lucas do outro
lado da mesa.
Tentei envolver minha cabeça em torno disso. Parecia que era ontem
quando Em finalmente abriu sua loja em Nova Iorque. Lembro-me de
como ela estava animada, o brilho e a paixão em seus olhos enquanto
arrumava as flores da maneira certa.
E agora ela estava desistindo de tudo.
— Você não conseguiu encontrar um meio-termo? — Eu perguntei,
espantada.
— Bem. talvez, — Em cedeu. — Mas também pensamos que o
dinheiro poderia ser usado para comprar uma casa.
— Queríamos nosso próprio lugar para criar nossa família, —
acrescentou Lucas.
Fiquei tonto, meu apetite repentinamente perdido. Tudo estava
mudando tão rápido.
Muito rápido.
Sem mim.
— Oh, eu sei, — eu disse com um sorriso. — Posso comprar uma casa
nova para vocês dois! — Eu esperava abraços e risos, não o silêncio
desconfortável que me cumprimentou.
— Angela... — Em disse. Ela olhou para Lucas.
— Agradecemos a ideia, mas acho que gostaríamos de fazer isso nós
mesmos. — Meu irmão olhou para mim de forma estranha, quase como
se ele não soubesse quem eu era.
Senti o nó voltar ao meu estômago, apertando minhas entranhas
como um torno.
— Isso é muito dinheiro, filhinha. — Papai ergueu uma sobrancelha
para mim.
— Nem um pouco, — eu insisti. — São apenas algumas centenas de
milhares...
— Calma aí, Sra. Knight, — ele brincou. — Você está cercado por
pessoas comuns nesta mesa, lembra?
Minhas palavras morreram em meus lábios.
Desde quando não sou considerada parte do grupo? Quando me
tomei uma estranha?
Tentei sorrir, tentando engolir o pânico que borbulhava na minha
garganta. Eu me sentia uma estranha na minha família. Eu senti como se
eles tivessem seguido em frente sem mim, que eu havia me desviado em
um novo caminho sem nem mesmo perceber o quão longe eu havia
vagado.
— Desculpe, pessoal, acabei de lembrar que tenho um trabalho para
pôr em dia esta noite. — A desculpa parecia vazia em meus ouvidos, mas
parecia funcionar. — Vejo vocês na próxima vez, ok?
— Você precisa de uma carona para a estação de trem? — Danny
perguntou.
— De jeito nenhum, — Lucas brincou. — Nossa irmã é levada em um
beamer agora, você não sabia? — Eu ri enquanto me afastava, mas
parecia que estava engolindo vidro quebrado.
— Ei. docinho, — papai chamou. Parei para olhar para ele e havia
preocupação em seus olhos. — Se cuida.
Eu balancei a cabeça, abrindo a porta da frente e fechando-a atrás de
mim.
Eu realmente mudei tanto? Eu era realmente tão diferente?
Eu caminhei até o meio-fio, o número de Marco já digitado no meu
telefone, meus pensamentos em um turbilhão.
Em tinha desistido de seu sonho por sua filha.
Por sua família.
Eu posso fazer o mesmo?
Capítulo 17
Um castelo transformado em prisão
XAVIER
Eu estava exausto.
Eu não conseguia afastar aquela sensação horrível de mal-estar se
formando na boca do estômago depois de deixar a casa da minha família
em Nova Jersey. A viagem de carro de volta a Nova Iorque pareceu durar
séculos, e eu me peguei pulando para cima e para baixo no assento. Eu
me sentia inquieta. Eu tinha que fazer algo.
Algo.
Então me dediquei ao meu trabalho. Zoe e eu estávamos procurando
locais para a Gala, e passamos o dia todo em Nova Iorque.
Estivemos em vários armazéns, em um museu de ciências e até em um
navio abandonado no porto. Nenhum deles parecia ser o adequado. O
local tinha que ser perfeito. Cheio de talento e personalidade como o
museu, um espaço digno da Gala. Nenhum dos lugares que visitamos
chegou perto.
Meus pés doíam e minha cabeça latejava, mas me arrastei para frente,
determinada a encontrar pelo menos um local possível até o final do dia.
Não ajudou o fato de Zoe estar estranhamente quieta também.
Ela parecia desinteressada, sua personalidade naturalmente
borbulhante estava subjugada. Sempre que eu tentava tirar ideias dela,
ela me dava respostas concisas de uma palavra.
Estávamos descendo a rua trinta e dois, abatidas após um dia
infrutífero de buscas, quando o vi.
Uma grande estrutura ergueu-se no céu. Parecia quase estranho,
camadas de níveis circulares projetando-se para cima, sua superfície
reflexiva de bronze brilhando com o pôr do sol.
— Você vê isso também ou estou ficando louca? — Eu perguntei a
Zoe.
Ela olhou e viu a estrutura, seus olhos brilhando.
— Oh, acabou! — Ela disse.
— Sabe o que aquilo é?
Ela acenou com a cabeça, um pouco de seu eu natural retornando.
— E uma nova estrutura que eles construíram para a Hudson Yards
chamada The Ves sei. Aparentemente, é como um labirinto lá dentro,
enrolando-se no céu.
— Zoe, é isso! — Olhando para o The Vessel, eu sabia que era aqui que
eu queria que a Gala acontecesse.
Lustroso.
Moderno.
Um símbolo de uma nova Nova Iorque em evolução.
— Você quer alugar Hudson Yards para a Gala? — Zoe perguntou,
incrédula.
Eu assenti com um brilho nos meus olhos.
— Eles não eram mesquinhos com nosso orçamento. Vamos ser
ousadas em nossa escolha, — disse com uma piscadela.
Ela encolheu os ombros e parecia que estava segurando um pouco de
seu entusiasmo. — Você é a chefe.
Inclinei minha cabeça para olhar para ela, me perguntando o que
estava acontecendo em sua cabeça. Liguei meu braço ao dela e a senti
enrijecer, só um pouco.
Decidi ignorar por enquanto.
— Vamos jantar, vamos?
Zoe e eu encontramos um lugar com um pad thai forte.
Gosto de pensar que o silêncio durante a refeição foi porque a comida
era muito boa. mas algo me dizia que era algo mais.
Desde que conseguimos o show de Gala. Zoe estava agindo de forma
estranha. Ela ficou chateada por eu não especificar que o argumento de
venda foi baseado na ideia dela?
Éramos uma equipe, não éramos? O que isso importa?
— Ei. Zoe, — eu comecei. Eu vasculhei minha bolsa enquanto ela
pegava seu pad thai.
— Sim?
— Eu tenho algo para você. — Peguei a pequena caixa preta e deslizei
sobre a mesa em direção a ela. Observei Zoe abri-lo, examinando os
pequenos brincos de diamante aninhados dentro.
— Para que serve isso? — ela perguntou.
— Eu só queria comprar algo para você, — eu disse com um encolher
de ombros. — Eu senti que não estávamos na mesma página por um
tempo e achei que isso poderia animá-la um pouco.
— Então você comprou brincos para mim?
— Você gosta deles? — Eu perguntei, sorrindo.
— Hum, sim, Angela. Eles são legais. Obrigada. — Ela fechou a caixa,
colocando-a na bolsa.
Meu sorriso vacilou um pouco. Ela não parecia muito feliz.
— Escute, eu vou encerrar por hoje. Vamos discutir os detalhes do
Hudson Yards amanhã, certo? Acho que preciso ir para casa e descansar
um pouco.
— Zoe se levantou, deixando algum dinheiro na mesa.
— Você está bem?
— Sim, tudo bem. Falo com você amanhã, Angela. — Eu a observei ir,
o toque metálico da campainha da porta soando quando ela entrou na
noite.
Peguei o resto da minha comida, olhando para a nota de vinte dólares
amassada que Zoe havia deixado na mesa. Peguei minha carteira e
descobri que minhas mãos tremiam um pouco.
Pensei em quando estive em Nova Jersey.
Eu me sentia uma estranha para minha própria família. Agora Zoe
estava distante.
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, sentada sozinha à mesa.
O que eu estava fazendo de errado?
Capítulo 18
P roblemas familiares
PENNY
XAVIER
ANGELA
XAVIER
— ANGELA!
Eu gritei na tempestade, o desespero apertando meu coração.
Eu a observei descer a colina, me preparando para persegui-la. Foi
quando a tempestade nos atingiu.
Num momento ela estava lá, no próximo só via branco.
Seu idiota, eu me repreendi.
Seu estúpido, idiota de merda.
Gritei por ela novamente, os ventos ferozes queimando minha
garganta como uísque barato decorado com vidro esmagado.
Eu não me importei.
Eu gritaria com a garganta sangrando até ela me ouvir.
Por favor, me ouça...
— ANGELA!
Nada.
Apenas o uivo raivoso do vento.
Continuei descendo a encosta, tentando manter a velocidade
controlada. Meus instintos me incentivaram a acelerar para baixo, a toda
velocidade à frente. Mas eu não conseguia ver nada nesta branquitude, e
não poderia ajudar muito Angela se eu me matasse batendo em uma
árvore a toda velocidade.
Talvez Angela ainda estivesse nas encostas em algum lugar. Se eu
passasse por ela sem saber, nunca me perdoaria.
Eu praticamente cresci em esquis, mas a tempestade deixou até a
colina dos coelhos traiçoeira. Lutei para manter o equilíbrio enquanto o
vento me golpeava de todas as direções.
E se eu que tenho experiência estou tendo dificuldades, então...
Aguente firme, Angela.
A nevasca era implacável, e o frio infiltrava-se pelas dobras do meu
pesado equipamento de esqui. Meus dedos já estavam ficando dormentes
dentro das minhas luvas.
Uma rajada de vento bateu em mim como um trem de carga. Eu bati
no chão com força, batendo na neve. Eu fiquei ofegante, o vento batia em
mim como se tivesse levado um soco no estômago. Meus pés estavam
presos em um ângulo estranho, meus esquis projetavam-se para fora da
neve.
Tirei minhas botas das amarras, marchando pelas encostas.
— ANGELA! — Eu tentei de novo.
— ANGELA, PORRA!
Senti a raiva correndo em minhas veias, quentes o suficiente para que
eu pudesse jurar que a neve ao meu redor iria derreter.
Mas isso não aconteceu.
Continuou empilhando, empilhando, empilhando, e empilhando...
Eu bati meu punho no chão, a fúria escapando em um grito.
Meus dedos enluvados se enfiaram na neve e bateram em algo
embaixo. Algo duro. Escavando embaixo, descobri uma metade quebrada
de um esqui.
Angela.
Ela tinha que estar por perto.
Eu examinei meus arredores, desejando que meu olhar perfurasse a
parede de neve ao meu redor.
Espere, querida. Estou indo.
ANGELA
DUSTIN
XAVIER
ANGELA
Angela: Caramba.
Angela: Bom trabalho, querido Xavier: O outro vídeo vai ser mais
complicado.
Xavier: Eles não são tão bons quanto os de meu pai eram.
Angela: Xavier...
Angela: Certo...
DUSTIN
Dustin: fica aí, quero falar com você sobre uma coisa Zoe:
Perfeito!
Eu entrei no Central Park, procurando por Zoe. Foi fácil encontrá-la.
Ela estava sentada em um banco, alimentando alguns pombos com
uma senhora idosa.
Deus, quão tipicamente angelical você pode ser? Essa garota rivaliza até
mesmo com Angela.
— Zoe! — Chamei.
Ela ergueu os olhos e sorriu para mim, despedindo-se da senhora de
aparência gentil. — Ei, Dustin, eu ia visitar seu café mais tarde, na
verdade. — Ela estendeu uma bolsa de temo.
— O que é isso? — Perguntei.
— E o vestido que Angela me deu, — disse ela. — Eu não queria pegar.
Eu meio que peguei tudo com pressa para sair de lá e... bem, eu não
preciso mais disso.
Eu balancei minha cabeça, empurrando o vestido de volta para ela.
— Dustin? — Ela disse, confusa.
— Fique com ele, — eu disse. — Nós precisamos conversar.
XAVIER
ANGELA
ANGELA
ANGELA
XAVIER
16/11/1983, Manhattan
Tive uma revelação hoje.
Eu estava sentado na banheira de hidromassagem mais cedo, depois de
um longo e frustrante dia na empresa, quando percebi.
Administrar uma empresa era como namorar uma mulher.
Genial, certo?
No começo, tudo é emocionante. Tudo é novo e fresco, as possibilidades
parecem infinitas. O céu é o limite e tal.
Você está conhecendo os trâmites, está descobrindo coisas novas e tudo
está aumentando.
Então, depois de um tempo, as coisas começam a se acalmar. Suas
emoções se nivelam quando você começa a construir uma rotina. A intensa
excitação se vai. Os selvagens noturnos não são mais tão atraentes.
Você tira seus óculos rosa e percebe que nem tudo é diversão e jogos. Há
trabalho a ser feito. Trabalho real e honesto. Você percebe que é melhor você
estar nisso por um longo tempo, porque se você não estiver, isso vai quebrar e
queimar bem rápido.
A dúvida começa a surgir. Vale a pena? É isso que você quer fazer pelo
resto da vida? Mais e mais coisas se acumulam, mais e mais estresse, até que
você alcance o que eu gosto de chamar de um ponto de ruptura.
Meu ponto de ruptura com a empresa é fácil. Eu paro quando estiver
falido.
Com Amélia, porém, isso é mais complicado.
Ela me disse hoje que queria filhos.
Nunca pensei muito em ter filhos. Nunca tive o desejo de ter um.
Então, quando ela tocou no assunto, me pegou desprevenido. E fiquei
surpreso ao descobrir que a ideia me assustava.
Isso me assustou muito.
Um pequeno eu correndo por aí? Como as pessoas não acham a ideia disso
aterrorizante? Quero dizer, e se ele acabasse por ser um idiota como eu? Essa
merda definitivamente seria a minha morte.
Quando eu disse a ela não, ela parecia arrasada. Com o coração partido.
Então nós brigamos. Um grande problema.
Eu pensei que estava acabado. Foi este o meu ponto de ruptura com
Amélia? Quer dizer, eu a amei até a morte. Mas será que nunca poderíamos
concordar?
O que eu faria por Amélia?
Bem, isso é óbvio.
Qualquer coisa.
Eu descobri o que pensei ser o meu ponto de ruptura e o superei. Eu não ia
deixar o medo controlar minha vida. Se Amélia queria ter filhos, essa é uma
jornada que eu estaria disposto a fazer com ela.
Quer dizer, não é como se eu fosse dar à luz a criança. Isso é por conta
dela. Eu só tinha que plantar a semente.
O que quero dizer, Brad, é que, quando você encontrar seu próximo ponto
de ruptura, terá de se perguntar se vale a pena o sacrifício para quebrá-lo. Se
não valer, faça as malas e passe para a próxima coisa.
A vida é muito curta para se preocupar com coisas estúpidas como medo
ou orgulho.
XAVIER
— Eu sinto muito.
A sala de reuniões estava trancada em um silêncio atordoante, tão
absoluto que provavelmente você poderia ouvir um alfinete cair nas ruas
lá fora.
Eu olhei ao redor da sala.
O rosto de Henry era uma máscara de choque.
Penny ainda se recusava a olhar para mim.
— Sinto muito, — repeti, caso eles pensassem que estavam sonhando.
Eles não estavam. Mas eu estava preso em meu próprio pesadelo pessoal.
— Eu sei que tenho sido um idiota, um misógino, um babaca
ignorante e todos os outros nomes que vocês provavelmente me
chamaram pelas minhas costas. — Uma risada soou ao redor da mesa,
mais de surpresa do que divertida.
— Vocês têm todos os motivos, motivos muito válidos, para me retirar
da presidência. Não trabalhei bem com outras pessoas e causei mais
crises de relações públicas do que gostaria de mencionar. Mas me
escutem.
— Eu sempre achei que teria controle sobre a Knight Enterprises.
Quero dizer, meu nome está no prédio. Achei que, enquanto os lucros
aumentassem e estivéssemos expandindo, eu poderia fazer o que diabos
eu quisesse. Claramente... — Fiz um gesto para a sala ao meu redor. — Eu
estava errado.
— Eu tratei todos vocês como merda em nome dos negócios. Mas não
é assim que um líder deve agir. Eu tive um monte de merdas pessoais
acontecendo na minha vida, mas isso não é desculpa. — Olhei ao redor
da mesa, fazendo contato visual com cada pessoa.
Penny ainda estava olhando para o chão.
— Eu juro, pelo meu orgulho como um Knight, que vou me sair
melhor de agora em diante. Apenas me deem mais uma chance.
Os executivos do conselho se entreolharam, inseguros, embora eu
pudesse ver que meu apelo havia chegado a eles. Alguns deles pareciam
estar considerando.
— Você realmente acha que pode apenas se desculpar e deixar tudo
isso para trás? — Henry perguntou. — Você acha que apenas dizer
desculpes vai nos fazer esquecer o quanto você foi um merda? Que
garantia temos de que você fará o que diz?
— Já dei a minha palavra, — disse eu. — Confie em mim. Por favor.
— Ridículo, — Henry zombou. — Alguém mais vai defendê-lo antes
de começarmos a votação?
Olhei ao redor da sala, mas ninguém encontrou meu olhar. Eu senti a
esperança dentro de mim se esvair até que meu olhar encontrou um par
de olhos castanhos brilhantes.
Penny.
PENNY
ANGELA
Fiz uma careta para o copo de uísque vazio. Como diabos essa coisa já
está vazia? Eu acabei de pedir. Bati meus dedos contra a barra de
madeira, e o barman de aparência rude olhou para mim.
— Outro, — eu gaguejei.
O homem alcançou abaixo do bar e pegou uma garrafa sem rótulo,
derramando mais líquido âmbar preguiçosamente em meu copo. Ele
deslizou o meu copo, derramando um pouco na bancada. Pressionei meu
dedo na madeira escurecida, lambendo o pouco de uísque que pude do
meu dedo.
— Nem uma gota desperdiçada, — eu murmurei.
Olhei em volta para o bar sujo.
Estava quase vazio, o que era bom, porque o lugar era apertado como
o inferno. Havia apenas um ou dois caras de aparência lamentável
mantendo-se isolados em cantos opostos, olhando de forma sombria
para suas bebidas.
Uma única lâmpada bruxuleante iluminava o espaço. Mesas de
madeira lascadas eram cercadas por bancos de bar tortos que pareciam
ter sido retirados de um depósito de lixo.
O piso estava pegajoso e havia tantos grafites nas paredes que eu não
conseguia dizer sua cor original.
Eu realmente encontrei o cu do Judas.
Perfeito.
Nenhum maldito repórter iria me encontrar neste lugar.
Recentemente, eu estive na porra das manchetes novamente.
Empresas dos Knights sem um Knight!
A bagunça do bilionário custa a ele sua empresa!
Xavier Knight — A Queda.
Eu engoli minha bebida de uma vez, esperando que o uísque apagasse
o fogo furioso que queimava em meu estômago. Antes que eu pudesse
exigir outra bebida, o barman já estava enchendo meu copo.
Bom garoto.
Eu tenho outro título para você, pensei comigo mesmo.
Eu levantei o dedo médio no ar para ninguém e para todos.
Sim, foda-se você também, amigo.
Eu me virei para ver um dos clientes olhando para mim, com cerveja
pingando de sua barba desgrenhada. Ele tinha olhos redondos e um nariz
que parecia ter sido quebrado muitas vezes.
— O quê é, você quer brigar? — Sua voz soava como se ele tivesse
engolido um cinzeiro. Ele ergueu o nariz para mim, com um sorriso sem
dentes aparecendo em seu emaranhado de pelos faciais. — Vão brigar lá
fora, — o barman disse monotonamente, parecendo absolutamente
entediado. Ele deve ter se acostumado com isso. Eu olhei ao redor da
sala. Uma pequena briga não teria tomado este lugar pior pelo desgaste.
Voltei para minha bebida, ignorando aquele Popeye sem-teto.
— Isso, foi o que eu pensei, — o desgraçado gritou. Eu bebi minha
bebida novamente, observando com os olhos vidrados enquanto o
barman enchia o copo automaticamente.
Como diabos eu acabei aqui?
Pergunta retórica, obviamente.
Eu sabia por que estava aqui.
Eu fui expulso da porra da minha própria empresa.
Eu perdi meu direito como primogênito.
Faz um mês desde então. Na primeira semana, fiquei na minha
cobertura, confinado e sentindo pena de mim mesmo como um idiota.
Fiquei em casa enquanto Angela saía, planejando seu próximo evento.
Angela estava trabalhando enquanto eu fiquei em casa.
Desempregado.
Inútil.
Eu não aguentava mais. Como diabos eu poderia simplesmente ficar
sentado? Quão patético eu era como marido?
Como um homem!
Eu não sabia o que fazer comigo mesma. Eu fui constantemente à
academia e corri maratonas pela cidade, mas nada ajudou.
Eu estava com muita raiva.
Então, eu comecei a beber.
Não ficava com raiva quando bebia.
Eu não sentia nada.
Eu me afoguei em álcool até minha mente ficar em branco, até que as
vozes raivosas em minha cabeça fossem silenciadas.
Eu encontrei paz e sossego, mesmo que fosse nesse lixo de bar.
Meu telefone vibrou no meu bolso. Não precisei olhar para saber
quem estava ligando.
Angela.
Só de pensar no nome dela, uma dor apunhalou meu coração como
uma faca. Ela provavelmente estava muito preocupada.
Você não a merece.
Eu me arrastei para ficar de pé, jogando um maço de notas no balcão.
— Fique com o troco, — murmurei.
Eu chutei a porta, e as dobradiças enferrujadas gemeram em protesto
antes de eu sair cambaleando para o ar frio da noite. Eu olhei para a
esquerda e para a direita, com minha mente enevoada.
Porra, que caminho era para casa de novo?
Eu tropecei com os olhos turvos pela rua quando meu telefone vibrou
novamente. Eu li o texto de Angela, duas pequenas palavras me enviando
em uma espiral de culpa: Precisamos conversar.
Capítulo 2
Bafo de Uísque
ANGELA
XAVIER
Xavier: Sério?
XAVIER
ANGELA
ANGELA
ANGELA
XAVIER
XAVIER
ANGELA
— Doçuras ou travessuras!
Eu fiquei no elevador, atordoada. Em, Dustin e Zoe estavam todos
bem vestidos.
Em usava um chapéu de bruxa ridiculamente grande e Dustin parecia
uma espécie de pirata. Zoe, pelo menos, estava usando roupas normais.
— O que você deveria ser? — Eu perguntei a Zoe.
— Um serial killer, — ela disse, com o rosto sério.
— Huh? — Ela estava vestindo roupas casuais.
— Como isso pode ser um assassino em série?
— Porque você nunca pode notar quem ele é, — ela riu.
Eu revirei meus olhos.
— Vocês sabem que o Halloween foi semanas atrás, certo?
— Sim, mas nunca mais podemos nos vestir assim, — disse Em.
— Agora, deixe-nos entrar antes que você receba travessuras! —
Dustin ameaçou.
— Oh, não, sem travessuras! — Eu me afastei, deixando-os passar por
mim. Eles carregavam sacolas cheias de doces e salgadinhos. Zoe tinha
uma grande caixa de donuts.
Eu os segui até a sala de estar, que eu havia convertido em um glorioso
forte de travesseiros.
— Você trouxe os picles? — Eu perguntei a Em.
— Sim. — Ela se aproximou, entregando-os discretamente como se
estivéssemos traficando drogas.
Eu ri, escondendo meu prêmio nas minhas costas.
— Picles e donuts? — Dustin perguntou, com seu nariz enrugando em
desgosto.
— Eca, — Zoe concordou.
— Eu sou uma escrava dos meus desejos, — eu proclamei, e Em
acenava sabiamente ao meu lado. — O que você trouxe, Em?
— Rabanetes, — disse Em, com o rosto impassível.
— Rabanetes e mostarda.
Zoe engasgou.
— Cara, estou feliz por ter um pau, — Dustin riu.
Zoe vaiou.
— Vai, Time Sem-Pau! — Ela cantou.
Nós caímos na risada enquanto rastejamos para o forte de
travesseiros, que eu tinha enfeitado com luzes de Natal. Cada um de nós
tomou um canto, organizando nossos lanches como um bufê dos sonhos
das crianças. Zoe e Dustin se encolheram com minha combinação de
picles e donut.
— Então, — eu comecei. — Quem vai primeiro?
Todos nós olhamos para Dustin.
Ele sorriu.
— Bem, se todos vocês insistem, — ele gemeu dramaticamente. — Eu
pedi Jake em casamento!
Um coro animado sacudiu o forte enquanto nos atropelamos para
obter detalhes.
— Ele adora coisas sentimentais, então eu o levei para os Hamptons
por um fim de semana. Eu o levei ao longo da praia ao pôr do sol — Oh,
meu Deus! — Zoe disse.
Dustin a olhou de relance. — E enquanto caminhávamos, eu o levei a
uma tela e cavalete que eu havia montado antes — Isso é tão romântico!
— Zoe interrompeu. Em e eu colocamos nossas mãos em sua boca.
— Então, — continuou Dustin, — fiz com que ele posasse para mim
enquanto o pintava na praia ao pôr do sol.
— Ele ficou parado o tempo todo? — Em perguntou.
— Ele estava ficando impaciente, — Dustin riu.
— Nunca pintei tão rápido na minha vida. — Seus olhos vidrados
enquanto ele revivia a memória.
— Ele pensou que eu estava apenas pintando um retrato dele. Mas
quando mostrei a pintura a ele, eu me pintei de joelhos, propondo. Então
eu me ajoelhei e...
Dustin encolheu os ombros e sorriu radiante.
— Ele disse 'sim'.
Eu me senti derreter.
— Oh, Dustin, — eu suspirei.
— Que sonho, — Em concordou.
— Onde posso encontrar um cara hétero como você, Dustin? — Zoe
perguntou.
— Em lugar nenhum. Eu sou único! — Ele jogou fora algumas mãos
de jazz, parecendo absolutamente ridículo em sua roupa de pirata.
— Então, como você está, Em? — Dustin perguntou depois de uma
rodada de risos.
— Lucas e eu finalmente encontramos uma casa, — disse ela.
— Isso é incrível, Em! — Eu me aproximei e dei um abraço nela.
— Precisa de reformas, mas é realmente em um ótimo local com um
quintal enorme. Não é muito longe da casa do seu pai em Nova Jersey,
Angie. — Em sorriu. Ela era a imagem da felicidade. — Eu realmente
posso ver Bella crescendo lá.
— Estou com um pouco de inveja de todos vocês, — Zoe admitiu
enquanto mastigava alguns ursinhos de goma. — Ainda estou
procurando o homem certo.
— Você não precisa de um Sr. Certo, — disse Dustin.
— Você só precisa de um Sr. Certo Agora.
— Oh, por favor, — Zoe disse. — Todos aqui são casados, menos eu.
— Noivos, — Dustin corrigiu.
— Que seja.
Eu dei uma mordida no meu donut de chocolate, imediatamente
seguindo com um picles crocante enquanto os ouvia brigar.
Mmm, é isso.
Eu me sentia mais leve do que há semanas. Eu passei a maior parte do
meu tempo sozinha, me preocupando com Xavier. Estar em tão boa
companhia era revigorante. Eu realmente tinha amigos incríveis.
— Angela? — Em perguntou.
Eu pisquei.
— Huh?
— O que você queria nos dizer?
— Oh. — Eu sorri timidamente. — Estou tendo gêmeos.
Os três explodiram de animação. Tive de segurar o forte de
travesseiros para evitar que desabasse em cima de nós.
— Gêmeos! — Em gritou.
— Oh, eles vão ser tão adoráveis. — Zoe rastejou até mim, colocando
sua orelha na minha barriga.
— Eu não acho que você vai ouvir nada ainda, — eu ri.
— Você já pensou em nomes? — Perguntou Dustin. — Que tal o
pequeno Dustin e o pequeno Stirling?
— Ah, sim, com certeza. — Eu revirei meus olhos. — Não, eu
realmente não pensei sobre isso ainda. Eu nem sei sobre os gêneros.
— O que Xavier disse? — Zoe perguntou.
O clima mudou instantaneamente.
— Oh, uh, — eu gaguejei. — Ele ainda não sabe. Ele não tem atendido
o telefone no Japão.
Dustin olhou para Zoe, e eu a vi se encolher.
— Oh, desculpe, Angela...
— Ei, sem problemas! — Eu disse um pouco alto demais, forçando
uma risada. — Tenho certeza que ele vai mudar de ideia.
— Garota, foda-se ele, — disse Dustin.
— Duh, ela está grávida, — Zoe disse.
— Cale-se. — Dustin revirou os olhos para Zoe. — Angela, você não
precisa dele.
— Huh? — Sobre o que Dustin estava falando?
— Você é uma das mulheres mais fortes que conheço, — continuou
Dustin. — Você teve uma vida antes de Xavier, e você pode ter uma vida
depois dele, também.
— Além disso, se você não percebeu... — Dustin abriu os braços. —
Você é podre de rica! Você vai sobreviver.
Eu bufei.
O pensamento nunca passou pela minha cabeça.
Uma vida sem Xavier...
Eu poderia ser uma mãe solteira?
Meu coração apertou dolorosamente no meu peito, e minha
respiração vinha em suspiros leves. Meu corpo rejeitou a ideia com tanta
veemência que me deixou atordoada.
Pensei na minha infância. Crescendo sem minha mãe. Papai fez um
trabalho incrível, mas me lembro de sempre ter saudades da minha mãe.
Lembrei do ciúme que sentia quando via meus amigos em shows da
escola e em peças com ambos os pais.
Eu não queria isso para meus filhos.
Mas se Xavier nunca mais voltasse...
Antes que eu pudesse pensar muito sobre isso, Em se aproximou e me
envolveu em um abraço caloroso.
Respirei fundo, com os braços dela em volta de mim como uma
âncora.
— Você realmente deveria contar a Ken, Angie.
O rosto do papai surgiu em minha mente.
— Sim, — eu concordei. Eu tinha escondido a notícia por tempo
suficiente.
Eu sorri, imaginando a expressão em seu rosto quando eu disser a ele.
— Ele vai pirar totalmente.
XAVIER
XAVIER
Leo: Assim, quando ele voltar, você pode ensinar a ele tudo o que
sabe!
PENNY
— Você está pronto para ir? — Azusa perguntou, com sua voz
zumbindo no meu fone de ouvido.
Eu acelerei o motor do Izanami em resposta, com meu aperto no
volante.
— É isso que eu gosto de ouvir, — disse ela. — Este não é um circuito
típico, X. Eles vão me atualizar com o caminho conforme você avança.
Vou ficar de olho em você o tempo todo. — Inclinei-me para frente,
olhando para o céu noturno pelo para-brisa. Eu podia espiar as luzes
reveladoras dos drones, cintilando como satélites.
— Isso é muita alta tecnologia para uma corrida de rua, — observei.
— Super Bowl do underground, baby, — disse Shinji. Ele tinha seu
próprio fone de ouvido desta vez. Olhei para baixo na fila para os outros
quatro pilotos, cada um deles atrás do volante de um carro com grande
potência.
Isso ia ser difícil.
Uma multidão ansiosa alinhava-se nas ruas, tremendo de ansiedade.
Como de costume, uma modelo caminhou até o centro da estrada
com uma tira vermelha de pano nas mãos.
— A primeira parte é em linha reta abaixo de 600 metros, depois uma
curva fechada à esquerda, — relatou Azusa.
Eu concordei.
— Vamos fazer barulho.
O pano caiu.
ANGELA Leo e eu passeamos pelo Central Park, com a neve esmagando
sob nossas botas. O tempo estava ameno hoje. As pessoas estavam
fazendo bonecos e fortes de neve, enquanto outros deslizavam ao longo
do gelo de patins.
O ar fresco estava me ajudando a limpar minha mente. Eu tentei
esconder a evidência do meu choro com um pouco de maquiagem, mas
meus olhos ainda pareciam inchados e vermelhos.
— Então, sinto muito que esta não seja outra aula de Lamaze, — ele
começou. — Mas eu pensei que você poderia ser o tipo de garota que
gosta de passear no parque.
— Eu gosto, na verdade. Eu costumava andar aqui o tempo todo. —
Nunca me cansei do Central Park. Especialmente agora, vendo-o coberto
de neve. Era como cobertura de bolo. — Embora outra aula de Lamaze
não fosse tão ruim.
— Você só quer uma desculpa para receber outra massagem, —
brincou.
— Bem, você é bom com as mãos. Você deve considerar ser massagista
se toda essa coisa de médico não der certo.
— Você sabe o que mais essas mãos podem fazer? — Ele balançou os
dedos para mim, com um sorriso malicioso no rosto.
Eu dei um passo para longe dele.
— O quê?
Ele se abaixou e pegou um punhado de neve, jogando-o direto para
mim. Atingiu meu casaco com um baque surdo.
— Ei!
— Estou invicto nas lutas de bolas de neve, — disse ele. — E você vai
ser minha próxima vítima!
Eu me agachei, pegando um punhado de neve.
— Até a morte, então.
XAVIER
Ele encolheu até que ficamos apenas eu e Leo sentados no banco, com
minhas mãos nas dele. Ele olhou para mim com tanta preocupação e
vulnerabilidade que fui pega desprevenida.
— Eu vi o quanto você tem sofrido nos últimos meses, — disse ele. —
E eu odeio ver você assim. Eu odeio ver você sofrendo por causa dele.
Meu coração batia como o de um beija-flor.
Isso estava indo para onde eu pensei que estava indo?
— Angela, eu
De repente, meu celular tocou.
Qualquer que seja o feitiço sob o qual eu estava, de repente fui trazida
de volta ao mundo real, no meio do Central Park.
Eu tirei minha mão da de Leo, pegando meu celular. Sua expressão era
ilegível.
— Desculpe... — eu murmurei. Eu olhei para o número. Eu não o
reconheci. Eu atendi o telefone.
— É Angela Knight? — Uma voz desconhecida perguntou.
— Sim, é ela.
— Estou ligando porque seu marido listou você como seu contato de
emergência.
Eu engasguei, com o medo apertando meu coração.
— Oh, meu Deus, — eu trouxe minha mão à minha boca. — Por favor,
não...
— Houve um acidente.
Capítulo 15
Demônios
XAVIER
ANGELA
Angela.
Eu encarei a porta em antecipação, esperando para ver com quem
Penny estava falando.
Tinha que ser Angela.
Quem mais se importaria em vir até mim? Quem não desistiu do meu
traseiro arrependido?
Em meu coração, eu sabia que não merecia outra visita de minha
esposa. Ela esteve aqui e saiu antes de eu acordar.
Talvez ela não voltasse mais. E como eu poderia culpá-la? O que eu dei
a ela para se agarrar?
Eu tinha desaparecido em uma nuvem fedorenta de arrotos de uísque
e fumaça de escapamento.
Por tudo que ela sabia, eu não tinha planejado voltar.
Tudo que eu queria era abraçá-la, dizer que planejava voltar para ela.
Lamentava tudo — a briga, meu comportamento estúpido e teimoso. Eu
estava planejando voltar. Antes do acidente. Antes que a bagunça
ficasse... ainda mais bagunçada.
Finalmente, ela entrou na sala.
Angela.
A luz da manhã, ela era um anjo. Ela era meu anjo.
Mas eu não sabia se ela me aceitaria desde que eu caí em desgraça.
Ela estava linda como sempre, com seu cabelo loiro solto sobre os
ombros.
E sua barriga! Ela estava aparecendo, e sua mão segurou como um ato
de conforto ou proteção.
Eu estive fora por muito tempo.
Eu perdi tudo isso.
Eu me senti numa espiral profunda de pensamentos.
— Xavier, — ela chorou. Lágrimas brilharam em seus olhos quando
ela veio para o meu lado, tocando o pulso que não estava conectado ao
intravenoso. Eu segurei sua mão, mas mal conseguia olhá-la nos olhos.
Eu nunca mereci ser seu marido. Mesmo antes de deixar tudo sair do
controle.
Agora, eu não merecia nem mesmo sua pena.
— Estou surpreso que você esteja aqui, — sussurrei, com minha voz
patética e pequena, — depois de tudo que fiz.
— É claro que estou aqui, — respondeu ela. Seus dedos roçaram
minha bochecha e eu finalmente encontrei seus olhos.
Eu vi alguma emoção cintilando em seu olhar.
Mas era amor?
— Eu sou sua esposa, — ela murmurou.
Senti a dor dentro de mim transformar-se em um sentimento mais
fácil, familiar: raiva. Era por isso que ela estava aqui. Obrigação.
Ela me deixou. Ela me disse para não voltar.
A rejeição que senti naquela noite voltou para mim fresca, como se
nunca tivesse partido.
— Achei que você queria me ver magoado quando saiu de Tóquio.
As palavras caíram entre nós como uma parede.
— Isso não é justo, — ela sussurrou.
Ela estava certa, mas isso não me impediu de me aprofundar mais.
— Você não me queria por perto. E você conseguiu o que queria.
Ela puxou sua mão da minha.
— Que porra é essa, Xavier? — Minha esposa perguntou. Ela estava
com raiva agora, o que era melhor do que quando estava triste. — Você
sabe que tenho ligado para você. Você acha que eu quero ficar grávida
sozinha?
— Eu acho que você não quer que eu te arraste para baixo. Eu apenas
te envergonho. Sempre achei que você ficaria melhor sem mim e,
finalmente, você percebeu isso também.
As mãos de Angela estavam fechadas em punhos.
O que eu estava fazendo? Não havia como voltar atrás agora.
— Xavier, eu tive que sair. Não estou mais pensando apenas em mim.
E não só você também. Eu tenho que pensar sobre os... os gêmeos.
O quê?
Os olhos de Angela estavam selvagens, quase ferozes, enquanto eu os
procurava.
— O que você quer dizer com gêmeos?!
— Por que você acha que estou ligando para você? — Ela gritou. Ela
olhou para sua barriga e a segurou, evitando meus olhos. Quando ela
falou novamente, sua voz era mais suave.
— Ou estou tendo gêmeos. Não sei se você quer estar por perto.
Sua voz falhou.
Eu me senti como se estivesse caindo de novo, nos travesseiros atrás
da minha cabeça. Caindo em desgraça mais uma vez.
Talvez eu pudesse afundar todo o caminho na maca até que todo o
meu corpo desaparecesse.
Eu tinha perdido muito.
Como eu poderia voltar?
Não havia como fugir da minha dor e culpa mais. Vieram em ondas
que me derrubaram e me deixaram sem fôlego. Toquei minha bochecha e
a encontrei molhada de lágrimas.
— Eu sinto muito, — eu consegui dizer. Minha voz subiu para Angela,
até as nuvens onde ela estava. Lá estava seu toque novamente, no meu
braço. — Shhhh. — Sua voz era mais do que eu merecia. Minha mão
tremia.
— Eu não tenho mais nada para oferecer a você, — eu sussurrei. —
Não tenho emprego, não tenho família... desperdicei muito do nosso
dinheiro.
Eu encontrei seus olhos, e ela olhou para mim como se estivesse
olhando para minha alma. — Eu nunca estive com você por qualquer um
desses motivos.
A confiança em sua voz foi um bálsamo para minhas feridas abertas,
mas não foi o suficiente para curá-las.
— Bem, meu pai também não está mais aqui. Agora não há nada
impedindo você.
Assim que as palavras feias foram ditas, fechei os lábios com força.
Angela recuou. Ela me olhou como se eu fosse alguém que ela não
conhecesse.
O que eu estava fazendo?
Eu estava atacando e não sabia como parar.
— Como você ousa? — Ela perguntou, com sua expressão dura. Isso
me gelou até os ossos. — Nada me segurando? Estou grávida de seus
filhos, porra, Xavier.
O palavrão ecoou no ar.
Este era um novo lado de Angela; um que eu nunca tinha visto antes.
Ela estava agindo de forma dura e fria.
Então eu entendi. Esse lado de Angela era novo. Ela o construiu por
minha causa. Para se proteger de mim.
Naquele momento, eu sabia que estava ficando sem chances. Se eu
não me recuperasse, Angela realmente me deixaria.
— Desculpe, — eu consegui dizer.
— Você acha que um 'desculpe' vai consertar tudo? — Ela perguntou.
— Porque não vai. Se você quiser estar aqui por nossos filhos, você
precisa provar que você merece.
Ela estreitou os olhos para mim, mas sua voz saiu baixa. — De novo.
Essas pequenas palavras me quebraram. Minha raiva debatida
apenas trouxe à tona o ponto de Angela: Já tinha feito isso antes.
Esta não foi a primeira vez que precisei provar meu valor para minha
esposa.
Esta não foi a primeira vez que eu a magoei.
Quando nos casamos, eu era horrível. Eu era um traidor. Eu solto
minha raiva em Angela sempre que posso.
Achei que aqueles dias haviam ficado muito para trás, mas era óbvio
que Angela nunca se esqueceu.
— Eu estraguei tudo, — eu admiti. — Eu ainda estou ferrado e não vai
sumir da noite para o dia.
A sobrancelha de Angela franziu. Ela não tinha certeza sobre isso. Eu
continuei.
— Eu sinto muito por te decepcionar. Eu quero ficar melhor. Quero
ser melhor para você e para nossa família.
Minha voz estava forte. Até a névoa em minha cabeça começou a se
dissipar.
— Eu juro para você, vou tentar melhorar se você ainda me aceitar de
volta.
A mandíbula de Angela estava rígida. Eu não sabia o que ela faria.
— Você ainda pode confiar em mim depois de tudo que fiz? — Eu
sussurrei.
Esperei por sua resposta como um náufrago, nadando no oceano. Ela
me daria o bote salva-vidas que eu precisava?
Capítulo 17
Terapia
XAVIER
Marco abriu a porta para mim e eu passei por ela com muletas. Eu dei
a ele um pequeno aceno de cabeça como agradecimento antes de
manobrar ao redor.
O solo não estava mais escorregadio, agora que o gelo estava
derretendo. No mês seguinte ao acidente, Nova Iorque explodiu com o
início da primavera.
Os carros velozes de Tóquio pareciam uma vida inteira de distância.
Agora, tudo estava lento.
Eu me tomei bastante adepto das minhas muletas. Usá-las era um
bom exercício para os braços. Mas esse era o único lado bom. As malditas
coisas estavam me deixando louco.
Suspirei, observando a sala de espera do terapeuta. Eu era o único ali.
— Sr. Knight? — Uma mulher entrou. Ela era alta e meio corpulenta.
Eu balancei a cabeça e ela pegou minha mão em seu aperto firme. —
Dra. Elmore, — ela se apresentou.
— Prazer em conhecê-lo, — resmunguei, deixando claro que não
estava feliz por estar lá.
Ela me levou pelo corredor até seu escritório, que era decorado com
pisos de madeira escura e vibrantes tapetes persas. Eu sentei no sofá de
couro marrom.
Ao meu lado estava uma espreguiçadeira, como se os pacientes
sempre se deitassem em desenhos animados. Não achei que alguém os
usasse desde Freud, mas era um toque legal.
Um lindo globo estava na mesa baixa diante de mim.
Estendi a mão para tocá-lo. Era incrustado com marfim.
— Você está interessado em antiguidades, Sr. Knight? — A Dra.
Elmore me perguntou de sua enorme poltrona.
— Na verdade, não, — respondi. — Acho que tenho uma queda por
globos.
Ela sorriu de uma forma que era reservada e calorosa ao mesmo
tempo.
— Então você gosta de viajar, — ela intuiu.
Dei de ombros. — Sim.
O silêncio desceu sobre a sala. Eu olhei ao redor. Como tudo isso
deveria funcionar? Ela me faria algumas perguntas, me daria bons
conselhos e depois resolveria todos os meus problemas? Concordei em
fazer terapia porque Angela achou que seria bom para mim. Mas eu
estava muito cético de que essa estranha pudesse me dizer algo sobre
mim que eu já não soubesse.
— Então... você precisa de um caderno ou algo assim antes de
começarmos? — Eu perguntei.
A Dra. Elmore balançou a cabeça. — Não vou tomar notas durante as
nossas sessões. Vamos apenas ter conversas.
Eu balancei a cabeça evasivamente.
— Você já fez terapia antes, Sr. Knight?
— Me chame de Xavier, — respondi. — E não, nunca.
E eu nunca planejei isso...
Claro, eu precisava fazer uma mudança. Quase me afoguei em uma
poça de bebida forte e quase perdi minha esposa e meus filhos ainda não
nascidos. Eu precisava me recuperar.
A terapia ajudou algumas pessoas. Mas não achei que isso pudesse me
ajudar.
Nada do que alguma estranha me dissesse me ajudaria a entender
meus problemas melhor do que já fazia.
— Tudo bem, Xavier, — Dr. Elmore continuou. — Eu sigo uma
abordagem direta. Sinta-se à vontade para perguntar sobre minha
metodologia a qualquer momento. E lembre-se, tudo o que discutimos
permanece nesta sala.
Eu balancei a cabeça novamente.
— Eu posso ver que você machucou sua perna. Você está com alguma
dor?
Eu olhei para minha perna direita danificada. — Não mais, — eu dei
de ombros. — O acidente foi há um mês. Arrancarei este maldito gesso
em duas semanas.
A Dra. Elmore cruzou as mãos. — Fico feliz em ouvir isso. Foi um
acidente de carro?
A noite passou diante dos meus olhos. A mão de Shinji batendo nas
minhas costas, me incentivando a entrar na corrida...
A voz de Asuza no meu ouvido, me incentivando. O motor de Izanami
acelerando ao meu menor toque.
A emoção da vitória que se transformou em terror momentos antes...
A colisão.
— Sim.
Nenhum de nós disse nada. Eu apenas olhei para o globo.
— Eu estava indo rápido demais, — acrescentei, depois parei. Por que
senti a necessidade de me explicar?
Mesmo assim, a Dra. Elmore estava quieta. Algo em seu silêncio me
fez querer continuar.
— Foi uma espécie de alerta, eu acho, — eu continuei, e então
finalmente olhei para ela. Sua expressão era pensativa, nem satisfeita
nem desapontada. Achei que ela estaria sorrindo. Afinal, caí direto na
armadilha dela, abrindo-me com tão pouco convite. Mas ela era
totalmente neutra. Uma verdadeira profissional.
Talvez eu quisesse conversar com alguém. O pensamento passou pela
minha mente e depois desapareceu.
— Você está acordando para o quê? — A Dra. Elmore perguntou.
Fiquei olhando para o continente europeu no mapa. Concentrei-me
na França e me lembrei de quando Angela e eu viajamos para lá. Antes de
estarmos apaixonados. De volta quando eu ainda era um completo
idiota.
Mas mais do que o passado, o presente estava pesando em minha
mente...
Desde que saí do hospital, Angela e eu morávamos juntos na
cobertura. Bem, depende de como você define — viver.
Angela insistia em dormir em seu antigo quarto e quase nunca ficava
em casa.
— Minha esposa está grávida, — respondi por fim.
— Ela vai ter gêmeos.
— Parabéns. — A Dra. Elmore permaneceu nivelada.
Nenhum falso entusiasmo tocou sua voz.
Mastiguei uma unha. — Eu não fui um marido muito bom por um
tempo, — eu disse, inspecionando meu dedo.
Ela ficou quieta.
Eu estava perdido em meus pensamentos, lembrando de Tóquio. Eu
estava bebendo muito então...
Minha vida parecia um pouco mais brilhante pelo fundo de um copo
de cerveja. Eu não tinha que pensar em decepcionar Angela ou meu pai.
Eu não precisava me perguntar por que a dor e a saudade ainda me
assombravam, quase um ano após sua morte.
Quando perdi meu título de CEO, não pude mais esconder quem eu
realmente era. Eu era um perdedor do caralho e, de repente, todos
sabiam disso.
Mas nas ruas de Tóquio, ao volante do carro mais rápido e sexy da
garagem de Asuza, me senti eu novamente. Ou, pelo menos, a pessoa que
eu queria ser.
A verdade era que eu não tinha mais ideia de quem realmente era.
— A parte mais difícil de fazer uma mudança é começar, — disse
Elmore. — E você já fez isso.
Eu encontrei seus olhos e dei um pequeno sorriso.
— Sim, talvez.
Mas, honestamente, eu não tinha certeza se acreditava nisso.
Meu telefone vibrou.
— Eu deveria verificar se... pode ser minha esposa.
Peguei meu telefone, mas não era Angela.
Era Shinji. Meu amigo estava me enviando mensagens de texto como
um louco desde que voltei para a cidade. Primeiro, ele estava preocupado
com a minha recuperação, mas quando soube que eu estava bem, tentou
me convencer a voltar.
Eu não ia, é claro. Embora eu não pudesse negar que sentia falta do
meu velho amigo.
Shinji: Ei, cara
Shinji: Você não vai acreditar nisso Shinji: Queria que você
estivesse aqui agora Shinji: Grande corrida hoje à noite e todos
estão apostando CONTRA Titã Shinji: Mas nós dois sabemos que
MF vai limpar Shinji: Quer entrar comigo?
XAVIER
XAVIER
XAVIER
XAVIER
ANGELA
ANGELA
XAVIER
ANGELA
XAVIER
XAVIER
BRAD
Caro Xavier,
Enquanto você lê isso, terei morrido há um ano.
Um ano que não estive com você, no escritório, no apartamento ou no bar
de ostras na West 72nd Street.
Imagino, enquanto escrevo aqui hoje, tudo o que virá para você naquele
ano. Haverá dor, certamente, e haverá alegria. Haverá testes. Haverá amor.
Espero que sempre haja amor suficiente para adoçar o que é azedo.
Nos últimos dias, pensei em como poderei cuidar de você mesmo quando
não for mais deste mundo.
Eu arrumei meu testamento. Decidi as coisas para deixar para você. Para
Angela.
Haverá dinheiro suficiente para carregá-lo para qualquer coisa que você
decida fazer.
Espero que as coisas que deixo para vocês proporcionem alguma alegria e
alguma orientação.
Decidi deixar meus diários para vocês. Tive essa ideia há muito tempo,
bem na época em que você nasceu. Desde então, minha escrita pessoal
pareceu mais importante para mim.
Ela serve a um propósito maior. Será visto por outros olhos além dos meus.
Deixo os diários com você e Angela parei que possam me entender e para
que se lembrem de sua mãe.
Eu imagino que pode ter sido estranho lê-los no começo, mas acho que vai
mudar com o tempo. Espero que depois de um tempo, as palavras não
pareçam vir de seu pai, mas simplesmente de um homem.
Em meus diários, você vê que nem sempre fui o homem que acabei sendo.
Nem sempre priorizei o amor e a família como faço agora.
Por muitos anos, fui jovem e zeloso, obcecado por dinheiro e prestígio.
Felizmente, Amelia esperou por mim.
Assim como Angela esperava por você.
Meu filho, você pode não pensar assim, mas existem muitas maneiras de
sermos iguais.
Nós dois nascemos de berços de ouro. Nós dois crescemos na melhor
cidade do mundo: Nova Iorque.
Fomos ambos bem educados, bem cuidados e cercados de amor e apoio
conforme fomos criados.
E quando terminamos a escola, fomos trabalhar com nossos pais.
Comecei no petróleo quando tinha vinte e dois anos. Ainda me lembro do
meu primeiro dia em nosso escritório de Wall Street.
Eu pensei, aqui estou eu, no lugar mais importante do mundo.
O primeiro ano foi assim. Eu era uma esponja, querendo aprender tudo
sobre negócios. Treinando para ser um tubarão.
Mas meu entusiasmo não durou.
Quando eu estava trabalhando para meu pai por quatro anos, tudo
mudou. Mas eu não tinha ideia do porquê. Eu pensei que estava deprimido.
Ficava irritado no trabalho. Distraído. Eu teria ataques no escritório e em
casa.
Eu estava uma bagunça. Levei quase um ano para entender. Tinha que
sair da empresa do meu pai.
Eu tinha que seguir meu próprio caminho. Fazer meu próprio sonho.
E, meu querido filho, eu quero isso para você também.
Eu sei que o ano passado foi difícil em mais de um aspecto. Eu sei que você
deixou seu posto na Knight, e não foi por sua própria vontade.
Não foi sua culpa. Era minha. Foi algo que arranjei.
Eu só posso imaginar como você se sentiu quando soube que eu dei meu
cargo de presidente para Penny. Só posso imaginar como foi quando Henry se
intrometeu.
E eu só posso imaginar como foi a sensação de ser dispensado de sua
posição como CEO.
Talvez tenha parecido que seu direito de primogeniture! estava sendo
tirado de você.
Mas sua posição como CEO não era seu direito de nascença. Não é o que
eu queria dar a você.
Não, seu direito de nascença é escolher seu próprio caminho. Seu direito de
nascença é escolher entre todas as possibilidades enormes do mundo.
Para escolher o plano de carreira que mais combina com você porque você
o ama.
Muitas vezes te vi no escritório, frustrado ou infeliz. Embora eu tenha
sugerido que você poderia preferir outra busca, acho que você nunca me
ouviu.
Você era muito parecido comigo.
Você tinha certeza de que trabalhava na Knight. Que você trabalhava
comigo.
Embora eu tenha certeza de que sua separação da Knight não foi fácil, eu
sei que é importante. Espero que tenha lhe dado clareza e espero que você
tenha mais clareza agora que sabe que era meu plano.
Em breve, Penny lhe oferecerá o cargo de CEO de volta. Pelo resto de
sua vida, se você quiser administrar a Knight Enterprises, você pode.
Espero que você possa me perdoar por este último arranjo.
Saiba que tudo o que fiz foi por amor
Foi tudo parei Amelia, e depois tudo parei você e ela. Quando ela se foi, era
tudo para você. Depois, para você e Angela. E depois, para você, Angela e
Penny.
O amor muda, transfere, continua.
Espero que você entenda essas palavras de um velho.
Enquanto as escrevo, penso em uma vida plena. Estava completa porque
você estava nela, meu filho.
Hoje e todos os dias, eu envio a você amor do além.
Seu pai,
Brad
XAVIER
Segurei a carta em minhas mãos trêmulas. Eu li uma vez, então deixei
as lágrimas embaçarem minha visão.
Pai, como você pôde fazer isso comigo?
Como você pôde ir embora tão cedo? Quando eu ainda tinha muito que
aprender?
Por que eu tive que sofrer? Por que essa dor não vai embora?
Eu me fiz uma centena de perguntas enquanto olhava para o túmulo
de meu pai.
Eu estava de joelhos, com o chão molhado, manchando minhas calças.
Eu estava derrotado.
Toda a minha dor — toda a minha confusão — foi arranjada. Meu pai
havia feito uma crise sob medida, só para mim.
Embora eu quisesse ficar com raiva, tudo o que sentia era saudade. As
lágrimas continuaram caindo.
Eu senti como se todo o meu corpo fosse um grande coração partido.
Uma grande ferida aberta.
Abri o papel novamente, traçando as dobras que meu pai havia feito.
Eu tinha entendido corretamente?
Eu tinha perdido minha posição na Knight porque meu pai pretendia
isso?
Seguindo suas falas novamente, eu sabia que sim. Foi tão louco que
deve ter sido verdade.
Oh, pai. Se você soubesse a bagunça que eu fiz.
Eu fechei meus olhos.
O plano de meu pai me enviou pela estrada mais obscura da minha
vida.
É isso que ele queria?
Papai esperava que perder meu emprego me obrigaria a decidir o que
realmente queria fazer.
Em vez disso, tive uma crise de identidade.
Eu não tinha apenas perdido meu emprego. Eu provei a mim mesmo
que era verdade minha eterna preocupação: eu não era bom o suficiente.
Eu não merecia o que tinha.
Perder meu emprego provou que eu não era digno de Angela e não iria
parar até que ela soubesse disso também.
As palavras da Dra. Elmore me tocaram.
Eu tinha queimado tudo apenas para provar que podia. Apenas para
manter qualquer aparência de controle.
— Mas esse é um preço muito alto a pagar apenas para provar seu próprio
valor — Suspirei, segurando minha cabeça em minhas mãos. Eu estava
com muita pena de sentir arrependimento. De sentir pena de mim
mesmo.
A própria fonte de minha insegurança era falsa.
Eu perdi meu emprego porque meu pai arranjou isso.
Joguei a carta no chão.
Eu queria ficar com raiva. Mas ao ler a carta, me senti mais perto de
meu pai desde que ele morreu. Eu me senti visto. E embora me sentisse
manipulado, me senti amado.
O último arranjo de meu pai me fez viver um inferno. Ou melhor, eu
me coloquei no inferno.
Eu me levantei, só então percebendo a chuva. Pegando a carta, olhei
mais uma vez para as palavras de meu pai.
Seu direito de nascença é escolher seu próprio caminho.
Limpei as lágrimas do meu rosto. Eu tinha chorado o suficiente por
um dia.
As coisas estavam fodidas. Mas as coisas também estavam bem.
No aniversário da morte do meu pai, tudo mudou — e nada mudou.
Amanhã seria um novo dia.
Eu continuaria seguindo em frente. Eu tentaria me livrar do passado
— das coisas que fiz.
Eu seguiria meu próprio caminho.
— Você não vai acreditar nisso, — eu disse enquanto entrava no
quarto.
Angela olhou para mim por cima de sua edição especial Home &
Gardens.
— Não se preocupe, vou regar suas plantas mais tarde.
Angela me deu uma olhada e cobriu o rosto com a revista.
— Você fez de novo? — Eu perguntei. — Angie...
— Você tem alguma ideia de como o repouso na cama é impossível?
Eu tenho que ficar nesta cama o dia todo — ela gemeu.
— OK. Tanto faz, — eu disse com desdém, caindo na cama ao lado de
minha esposa. Eu levantei o envelope para ela ver.
— Não, — ela murmurou, com sua boca aberta. Ela soube o que era
imediatamente.
— Quer ler? — Eu perguntei.
Angela ficou quieta por um minuto. Eu sabia que ela estava se
perguntando qual seria a coisa certa a fazer.
— Quero que você leia, — encorajei.
Ela acenou com a cabeça. — Mas venha aqui primeiro, — ela ordenou.
Eu subi nas cobertas para ela. Ela segurou meu rosto em suas mãos e
eu me deixei afundar nela. Que dia longo pra caralho tinha sido. Sentar-
se no escritório da Dra. Elmore parecia uma eternidade de distância, mas
tinha sido naquela mesma manhã.
Angela beijou minhas bochechas, suave e lentamente, como se
soubesse de tudo o que eu tinha passado.
Seu afeto me construiu. Quando seus lábios pousaram nos meus, eu a
beijei tão profundamente que contei tudo o que sentia sem palavras.
Estou exausto. Eu sinto muito. É apenas daqui para cima.
Nós nos beijamos por alguns momentos, e então apenas ficamos
próximos um do outro, respirando a respiração um do outro.
Eu finalmente me afastei, deitando enquanto Angela pegava a carta.
Enquanto ela lia, fechei meus olhos.
Eu fiquei à deriva entre dormir e acordar.
E quando abri meus olhos novamente, Angela estava me observando.
As lágrimas escorriam por seu rosto e as páginas da carta se
espalhavam pelos lençóis da cama.
— Xavier, eu sinto muito, — ela sussurrou.
— Está tudo bem, — eu respondi, e era verdade.
— Então... — ela continuou, enxugando as lágrimas
— O que você vai fazer agora?
Capítulo 28
P icles para a princesa
ANGELA
PENNY
XAVIER
Fora!
Foi tudo o que pensei enquanto minha dor deixava o ar do hospital
úmido e nebuloso ao meu redor.
Eu estava esperando há nove meses por isso.
Fora!
Todo o desconforto que eu sentia naquela época, todos os dias na
cama, estava aumentando para isso.
Todo o resto empalideceu em comparação a isso.
Fora!
Meu corpo estava sendo aberto.
Este foi o auge de tudo. Não poderia ficar pior do que isso.
XAVIER
Outro parto.
Angela estava mais calma dessa vez.
— Seu corpo está pronto! Agora você sabe o que fazer! — A Dra.
Goodman encorajou.
Quando Leah estava em seus braços, parecia que eu, Angela e nosso
bebê éramos os únicos na sala.
Agora, Angela manteve os olhos em mim.
Eles estavam se estreitando com a dor, mas ainda assim, seu amor
brilhava.
— É só você e eu, — eu sussurrei. — Só nós e nossos bebês.
Com um aperto final na minha mão, Angela deu à luz nosso segundo
filho.
ANGELA
ANGELA
ANGELA
XAVIER
ANGELA
Olhei pela janela, com minha cabeça nas nuvens — bem, acima das
nuvens... em meu jato particular.
Eu deveria estar correndo no campo com
Al. Verificando meus números três vezes.
Preparando-me para o maior encontro da curta mas lucrativa história
do Selo X.
Mas, em vez disso, meus pensamentos estavam com minha família em
Connecticut.
Angela e as crianças deveriam estar no St. Barnaby's agora...
É claro que me sentia culpado por deixar Angela sozinha para fazer o
tour.
Eu queria estar presente pelos meus filhos. Eu queria poder decidir em
que escola eles estudarão.
Mas a oportunidade com o Grand Prix de Bruxelas era boa demais
para desistir.
O Selo X estava em um momento crucial. O que Al e eu estávamos
fazendo agora determinaria a trajetória da empresa pelos próximos
cinquenta anos.
Eu tive que priorizar isso agora, para garantir nosso futuro.
Mas eu prometi a Angela que meu foco no negócio era apenas
temporário.
Depois que as coisas se acalmassem, eu passaria menos tempo no Selo
X e deixaria nas mãos competentes do meu parceiro.
Peguei meu telefone e liguei para Angela.
Se eu não pudesse estar lá para o tour, poderia pelo menos fazer um
FaceTime.
Angela atendeu e eu tive um vislumbre dela saindo do Beamer.
— Ei, querido, — disse ela.
— Ei... você está chegando lá agora? — Eu perguntei. Eu vi meus filhos
espiarem na tela e sorri quando os vi. — Vocês dois estão incomodando a
mamãe? — Eu perguntei.
— Não! — Leah declarou.
— Estamos atrasados por causa do vovó, — Ace concordou.
— Ken está aí?
— Ei, furão. — Ken espiou na tela e eu pude ver de perto o interior de
seu nariz.
— Papai insistiu que fôssemos na caminhonete dele. — Angela riu e
balançou a cabeça. — De qualquer forma, olhe, estamos aqui! — Angela
virou a câmera em direção aos portões de St. Barnaby's.
Eu olhei para a tela do meu telefone, tentando ver o máximo de
detalhes que pude.
Havia uma enorme cerca de ferro forjado coberta por trepadeiras que
pareciam colocadas deliberadamente. O terreno da escola além se abria
em caminhos de paralelepípedos ladeados por roseiras. Estátuas e fontes
de pedra erguiam-se entre edifícios antigos e imponentes.
A escola parecia ter sido construída pelos antigos romanos ou algo
assim.
— Esses são gárgulas? — Eu perguntei. — Tem certeza de que não
acabou em Yale ou algo assim?
Angela riu e me mostrou uma placa dourada perto do portão.
— St. Barnaby's, — ela leu as letras metálicas gravadas lá. — Isso é um
pouco demais, — Angela admitiu. — Mas é para isso que serve o tour!
Eu sorri. Eu não tinha dúvidas de que Angela seria capaz de farejar se a
escola era ou não certa para nossos filhos.
Eu vi Al tentando silenciosamente chamar minha atenção do outro
lado do jato. Ele estava batendo em seu pulso.
Eu olhei para o relógio. Apenas algumas horas até pousarmos.
— Desculpe, querida, eu tenho que me preparar para minha reunião
agora, — eu disse, relutante em desligar.
— Ok. Ei, crianças! Diga tchau ao seu pai! — Angela virou a câmera e
vi Leah e Ace correndo para o terreno da escola. Eles se viraram e
gritaram suas despedidas.
— Bem, lá vão eles. — Angela riu. — Boa sorte com sua reunião.
— Acabe com eles, bonitão, — acrescentou Ken, acenando um adeus.
Encerrei a ligação, sentindo-me mais fortalecido depois de ver minha
família. Agora eu poderia me concentrar em argumentos e números.
Eu sorri, com a confiança me enchendo.
O Selo X estava prestes a conquistar a Europa.
ANGELA
XAVIER
XAVIER
— Vê este mural?
A diretora de admissões estacionou nosso pequeno grupo de turistas
em frente a uma grande pintura colorida. Parecia que tinha sido criado
em uma aula de arte da primeira série.
— É um Jackson Pollock, — explicou a diretora, sem piscar por trás
dos óculos sem armação. — Ele doou quando seu sobrinho era estudante
aqui nos anos 50.
Jackson Pollock?!
Aproximei-me da tela. A peça abstrata parecia um pouco deslocada
nos antigos e imponentes corredores da Clifton Academy, outra escola
primária da Ivy League que eu esperava que aceitasse Ace e Leah.
Eu segurei meus filhos perto da minha cintura. Pareciam bonequinhas
em suas roupas bonitas e limpas. Eu esperava que eles continuassem
assim.
Perfeitos e inanimados.
— Parece que alguém comeu um monte de doces e vomitou, — Leah
sussurrou.
Fiz uma careta, rezando para que a outra mãe — uma mulher
glamorosa de cabelos negros que parecia alguns anos mais velha do que
eu — não tivesse ouvido a crítica de minha filha.
— Chama-se expressionismo abstrato, — expliquei baixinho. —
Pergunte ao tio Dustin sobre isso.
A diretora de admissões continuou pelo corredor, apontando mais
pinturas originais: um Mark Rothko (a filha era estudante), Edward
Hopper (filho do primo) e Elizabeth Payton (outro sobrinho).
Eu não conseguia parar de pensar no posters — Got Milk? — que
costumavam ser pendurados na lanchonete da minha alma mater.
Angela, você percorreu um caminho MUUUUITO longo.
— Eu não gosto deste lugar, — Leah murmurou para Ace. — Cheira a
livros antigos.
— Eu gosto de livros antigos, — Ace atirou de volta.
Leah gemeu. — Claro que você gosta.
— Ei, — eu comecei virando os dois para me encarar. Ajoelhei-me à
altura deles para um treinamento muito necessário. Não conseguiria
lidar com uma repetição de St. Barnaby's. Especialmente sem papai por
perto.
Eu pedi a ele para vir conosco para Clifton, mas ele não se sentiu bem
para a longa viagem de Nova Jersey.
Eu olhei nos olhos de Leah e Ace, esperando canalizar algumas das
habilidades parentais que ele me ensinou.
— Escutem, pessoal: só porque vocês não amam uma escola logo de
cara, não significa que vocês tem que descartá-la de cara. Ter opções é
uma coisa boa.
— Mas e se eu sei que não gosto daqui? — Eu segui o olhar de Leah
para um Dali particularmente assustador pendurado atrás de mim.
— Ainda nem vimos a escola inteira. Certo, Ace? — Sorri para meu
filho, tentando colocar alguém do meu lado.
Ace concordou. — Mamãe tem razão. Ainda não vimos as salas de aula
de ciências. — 'Ciência idiota. — Leah revirou os olhos. — Ok. Ótimo.
Eles correram para se juntar à diretora de admissões enquanto ela virava
em outro corredor. Soltei um grande suspiro de alívio.
— Eu te entendo, irmã.
Eu virei. Uma mãe de cabelos negros me deu um sorriso simpático.
Ela deu à sua filha — uma garotinha bonita com uma mochila de grife —
um tapinha no ombro antes de mandá-la atrás de Leah e Ace, e nós os
seguimos pelo corredor.
— E sua primeira vez? — Ela perguntou.
Eu concordei. — Dá pra notar?
— Você tem aquela aparência de cervo nos faróis, — disse a mãe. —
Lembra-me de quando eu levei meu filho mais velho para se juntar a este
circo.
— E um pouco opressor, — admiti. — Quer dizer, eu fui para a escola
pública. Lancheiras de plástico. Ônibus escolares amarelos. Dodgeball no
ginásio. Nada como... isso.
Fiz um gesto para o verdadeiro museu de arte pelo qual tínhamos
acabado de passar.
— O mesmo aqui. E, francamente, não me importaria de mandar
meus filhos para a escola pública, — disse a mãe. — Mas aqui é
Connecticut. Acompanhar os vizinhos é o nosso passatempo estadual.
Nós duas rimos. Ela tinha razão.
— Sou Angela Knight.
— Jenny Zhang.
Nós demos as mãos. Conhecer outra pessoa vivendo esse pesadelo foi
um grande alívio.
— Senhoras? — Disse a diretora de admissão. Jenny e eu discutimos
com nossos filhos, depois seguimos a mulher até uma biblioteca
cavernosa.
— Muitos dos livros mais antigos que você vê foram doados da
coleção pessoal de Theodor Geisel.
Você pode conhecê-lo melhor como Dr. Seuss. Seu afilhado era um
estudante aqui...
Quando a turnê terminou, encurralei a diretora de admissões. Leah e
Ace não ficaram exatamente entusiasmados — mesmo depois de ver um
laboratório de ciências adequado para a NASA — e eu queria ter certeza
de que eles teriam uma chance.
— É uma escola tão bonita, — falei com emoção do lado de fora do
escritório da diretora. — Tenho certeza de que as crianças poderiam
receber uma educação muito boa aqui.
— É claro que adoraríamos ter os filhos Knight, — disse ela. — Eu só
quero ter certeza de que é um ajuste completo. Podemos fazer uma
entrevista rápida?
— Claro! — Minha esperança aumentou. As crianças têm uma
chance!
Mais uma vez, o nome Knight estava abrindo portas. Normalmente,
eu não gostava de jogá-lo por aí. Mas sob essas circunstâncias...
— Ace? Leah? — Eu olhei para trás. Fiquei boquiaberta. A última vez
que verifiquei, as crianças estavam sentadas em um banco próximo.
Agora elas não estavam em lugar nenhum.
— Hum... Deixe-me encontrá-los primeiro. — Eu ri nervosamente. A
diretora de admissões sorriu.
— Sem problemas. Eu ajudo.
Caminhamos juntos por alguns corredores, olhando para as salas de
aula. Nada.
A cada segundo que passava, minha ansiedade aumentava.
Onde eles estão?!
Foi quando voltamos para o museu de arte de antes.
E encontrei Ace e Leah.
Suas mãos estavam cobertas por algum tipo de substância marrom, e
eles estavam alcançando o Jackson Pollock...
Prestes a respingar a pintura respingada.
Oh, meu DEUS!
— CRIANÇAS! Não, não, não!
Ace e Leah se viraram enquanto eu corria até eles, me inserindo entre
suas mãos gotejantes e o que quase certamente era uma obra de arte
extremamente valiosa.
— O que você pensa que está fazendo? — Eu exigi.
— Esta imagem é feia, — Leah encolheu os ombros. — Queríamos
fazer com que parecesse melhor.
— Não é feia, é... eu — o que está em suas mãos? — Eu levantei seus
pulsos para olhar mais de perto.
— Chocolate, — Ace disse, ajustando os óculos. — Vovó deu para nós.
Nós o derretemos sob uma lâmpada para fazer tinta.
— Tinta gostosa, — disse Leah, lambendo os dedos de sua mão livre.
A diretora de admissões pigarreou.
Eu olhei para cima quando ela se aproximou, com as mãos cobertas de
chocolate dos meus filhos presos nas minhas.
A expressão em seu rosto me disse tudo que eu precisava saber.
Knights ou não...
Não havia nenhuma chance de que Ace e Leah estivessem entrando na
Clifton Academy.
Estava ficando pra trás...
XAVIER
ANGELA
XAVIER
ANGELA
XAVIER