(Livro 1 Ao 6) Uma Proposta Indecente - S. S. Sahoo

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Sinopse

Xavier Knight sabe que duas coisas garantem o interesse de uma garota:
carros rápidos e dinheiro.
Ele tem as duas coisas. Quando um escândalo o obriga a um casamento
arranjado com Angela Carson, uma zé-ninguém sem um tostão, ele
presume que ela seja uma interesseira — e promete fazer de sua vida um
inferno. Mas as aparências enganam, e às vezes os opostos não são tão
diferentes quanto parecem...
Título Original: The Arrangement
Autor Original: S. S. Sahoo
Classificação etária: 18+

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Sumário dos Livros

Livro 1
Livro 2
Livro 3
Livro 4 - Sem Revisão
Livro 5 – Sem Revisão
Livro 6 – Sem Revisão
Livro 1
Capítulo 1
Um contrato por uma alma

ANGELA

Todos pensam que são heróis.


Fantasiamos sobre momentos de glória — os que lemos em livros e vemos
em filmes.
Correr para um prédio em chamas para resgatar um cão? Claro.
Doar um rim para um amigo? Sem problemas.
Tentar impedir um assalto à mão armada? Fácil.
Mas a dura verdade é que não sabemos como reagiremos quando o
momento chegar. Não até que o assaltante tenha a arma apontada para sua
têmpora, e você possa sentir o cheiro do metal.
Você será forte o suficiente para isso? Para enfrentar a arma e dizer: —
Escolha-me. Atire em mim. Mate-me.
Quando chegar a hora, o que você escolherá?
Sua vida ou a deles?

Apertei a mão do meu pai, com meu coração na minha garganta.


Doeu vê-lo assim. Estava inconsciente na cama do hospital, com tubos
presos em seus braços e peito. Máquinas apitavam ao seu lado, e uma
máscara de oxigênio cobria seu rosto.
Lágrimas caíam pelo meu rosto, e eu as limpei pela milésima vez.
Ele era uma constante em minha vida. A âncora que mantinha nossa
família unida. Um pilar de força e saúde.
Lucas, meu irmão mais velho, apareceu à porta. Eu me aproximei e o
abracei.
— O que disse o médico? — eu perguntei.
Lucas olhou por cima do meu ombro para o meu pai.
— Vamos para o corredor.
Concordando, eu fui até meu pai e dei um beijo em sua testa antes de
seguir Lucas.
Na luz fluorescente do corredor do hospital, pousei meu olhar sobre
meu irmão. Olhando para seu cabelo desgrenhado, bochechas sem barba
e os círculos roxos profundos sob seus olhos, eu sabia que ele tinha tido
um dia difícil.
— Ouça, Angie... — Lucas começou. Ele pegou minha mão como fazia
quando eu era criança e tinha medo do escuro. — Preciso que você fique
calma, tudo bem? Seja forte. O diagnóstico... é muito ruim.
Eu acenei e respirei fundo.
— Nosso pai... — Lucas começou, parou, e depois desviou seu olhar
para o teto. Então limpou a garganta. — Ele teve um derrame.
Lágrimas frescas brotaram em meus olhos.
— Ainda não sabemos o quanto isso o afeta, mas eles acham que a
ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) teve algo a ver com isso, —
continuou ele.
— O que podemos fazer? — perguntei, com desespero em minha voz.
— Descansamos um pouco, — disse Danny, meu outro irmão, por trás
de mim. Ele se aproximou e me deu um abraço. — Os médicos ainda
estão fazendo alguns testes.
Meus dois irmãos deram uma olhada, e eu sabia que eles não estavam
me dizendo nada.
— O quê? — Eu exigi. — O que está acontecendo?
Lucas balançou a cabeça.
— Você tem uma entrevista chegando, não tem?— perguntou ele. —
Vá para casa e durma um pouco. Nós te ligamos quando soubermos mais,
está bem?
Eu lamentei. Não queria partir, mas sabia que meus irmãos estavam
certos. Era importante que eu conseguisse este emprego.
Nos despedimos e eu saí em direção ao frio ar noturno. Espiei as luzes
da cidade de Nova Iorque ao longe, com um pavor em meu estômago.
Eu me senti impotente.
Não havia nada que eu pudesse fazer?
XAVIER

A garota ao meu lado gemeu enquanto eu girava o volante, mandando


o carro para uma curva fechada. Ela riu, alterada pelo speed e champagne
que tomou.
— Xavier! — Ela mordeu o lábio, suas mãos correndo para cima ao
longo da minha coxa. Duas coisas garantem o interesse de uma garota.
O rugido de um carro veloz e uma porrada de dinheiro.
Acelerei meu Lamborghini pelas estradas cênicas de Mônaco. A loira
gostosa ao meu lado tremia de prazer, acariciando o volume em minhas
calças. Ela era uma modelo para um desfile de moda na cidade.
Já havíamos fodido algumas vezes.
Eu nem sabia o nome dela.
Eu sorria enquanto ela desabotoava minhas calças, suspirando de
prazer enquanto ela me levava na boca.
Isso é que é vida.
Acelerando pelas estradas da bela Mônaco atrás do volante de uma
Lamborghini e com meu pau na boca de uma modelo.
Nenhuma responsabilidade para uma empresa multibilionária.
Nenhum pai irritante vigiando cada passo que dou.
Sem putas traidoras que agiam pelas minhas costas e...
Eu passei por um sinal vermelho, e o clarão de uma sirene policial
gritou pelo ar noturno. Encostei, observando as luzes piscando em meu
espelho retrovisor.
— Puta merda, — murmurei.
A loira começou a olhar para cima, mas eu a empurrei de volta para o
meu pau.
— Eu mandei parar?
A modelo continuou seus esforços, ansiosa para agradar.
O policial saiu de seu carro e começou a abrir caminho até a minha
porta.
Bem, eu pensei, olhando para a cabeça balançando para cima e para
baixo no meu colo. Isso vai dar uma puta história.
BRAD

Chamei meu assistente ao meu escritório, resmungando alto sua


frustração. Era a terceira vez em menos de um mês que Xavier fazia
manchetes, e não por estar beijando a cabeça de bebês ou se oferecendo
como voluntário em hospitais.
Não.
Meu filho tinha sido preso em Mônaco por condução imprudente e
indecência pública.
Eu belisquei a ponta do meu nariz.
Houve uma batida na porta.
— Entre, — eu gritei sem olhar para cima. Ron, meu assistente de
vinte e seis anos, entrou. — Você viu a notícia?
A boca de Ron abriu e fechou algumas vezes.
Ele não precisava dizer nada. Eu duvidava que houvesse uma alma em
toda Nova Iorque que não a tivesse visto. A manchete estava em toda
parte.
— Ligue para os advogados e traga Frankie da RH para cá. Por favor.
Ron acenou com a cabeça e se retirou do meu escritório.
Atravessei a sala até a janela de vidro que preenchia toda a parede
norte do meu escritório, olhando para as ruas de Nova Iorque lá embaixo.
Eu teria que me exceder para garantir que as ações de meu filho não
tivessem nenhuma repercussão na empresa, ou nele. Eu gostava de dizer
que tinha dois filhos: Xavier e Knight Enterprises.
Separando-me dos empreendimentos petrolíferos de meus pais,
construí o principal conglomerado hoteleiro e hospitaleiro do mundo a
partir do zero. Minhas duas maiores alegrias na vida foram meu filho e
minha empresa.
E agora ambos estavam em perigo.
De novo.
Com pesar, o rosto de minha linda esposa vinha à mente.
Amélia. Quem me dera que você ainda estivesse aqui. Você saberia como
ajudar Xavier.
Meu olhar sobre as ruas foi desviado para o Central Park. Eu e minha
amada passeávamos juntos pelo parque, sentávamos e comíamos em um
banco junto às árvores.
— Ron! — eu gritei. Ouvi o deslize da porta do meu escritório. —
Cancele minhas reuniões. Vou dar um passeio.
ANGELA

Caminhei ao longo dos caminhos íngremes do Central Park, tentando


limpar minha mente. Estava voltando da floricultura da Em, depois de
fechar a loja.
Os longos troncos dos salgueiros envergavam com a brisa fria do final
de verão. Os cisnes flutuavam ao longo da superfície transparente de um
lago próximo. A conversa das crianças brincando voava pelo ar, e os
amantes se abraçavam na grama.
Eu coloquei um buquê de lírios em meus braços, tendo algum
conforto em seu cheiro suave. Meu coração ainda doía ao pensar em meu
pai no hospital, mas eu tinha que me manter forte.
Notei um senhor mais velho sentado sozinho em um banco; seus
olhos fechados em oração. Não sei o que me levou à sua direção, mas
antes de me dar conta, eu estava ao seu lado. Ele parecia tão triste.
Tão quebrado.
— Com licença — eu falei.
Ele abriu os olhos, piscando com surpresa enquanto olhava para mim.
— Pois não, — ele respondeu.
— Eu só queria perguntar se você estava bem, — eu disse. — Você
parecia um pouco... pra baixo.
Ele se inclinou para frente sobre o banco e apontou para uma placa
gravada na parte de trás.
— Estou apenas me lembrando de alguém importante para mim, —
disse ele, com uma voz grave.
Eu li a gravura.
Para Amélia, amada esposa e amada mãe. 16/10/1962 — 04/04/2011
Meu coração se partiu.
Eu lhe entreguei meu buquê de lírios, sorrindo.
— Para Amélia, — eu ofereci.
— Obrigado —. Ele se adiantou para pegar o ramo de flores, com as
mãos tremendo. — Posso perguntar seu nome?
— Angela Carson, — respondi.
BRAD

Eu vi Angela partir, com uma sensação de paz que afugentava o que


preocupava meu coração. Eu dei tapinhas no banco, sorrindo para o céu.
Obrigado, meu amor. Você me mostrou a resposta.
Pus minha mão no bolso do meu casaco, puxando meu telefone.
— Ron, me dê o máximo de informação possível sobre Angela Carson.
— Examinei o buquê que ela havia me dado, notando o nome da florista
na embalagem de papel.
FLORICULTURA DA EM.
Eu acenei para mim mesmo, pois um plano se formava em minha
mente.
— E traga meu filho de volta para Nova Iorque.

Danny: Angie. Venha rápido Danny: É sobre nosso pai.

Angela: O que aconteceu?!

Danny: Ele teve um ataque cardíaco.

— Conseguimos ressuscitar seu pai, — disse o médico, com uma voz


grave. — As vítimas de derrame são suscetíveis a ataques cardíacos nas
primeiras vinte e quatro horas após o derrame. Estamos de olho nele e
continuaremos a fazer testes para ver o que podemos fazer. — A maneira
como ele disse fez parecer que não estava confiante de que haveria
muito.
— Obrigado, doutor, — disse Lucas.
O médico acenou com a cabeça e nos deixou.
— Quanto tempo o papai vai ter que ficar aqui? — perguntei. — Não
parece que ele esteja em condições de voltar para casa.
— Talvez não tenhamos escolha, — disse Danny.
— O que isso quer dizer? — eu perguntei.
Meus irmãos olharam um para o outro. Meu coração bateu no meu
peito. Pude sentir más notícias chegando. Finalmente, Lucas voltou-se
para mim.
— Não temos como mantê-lo aqui, Angie.
Pestanejei.
— O quê?
Danny passou as mãos pelo cabelo, com o rosto pálido.
— Estamos falidos.
— Como? O restaurante... — O restaurante tinha sido a vida do meu
pai quando éramos crianças. Nossa mãe também tinha trabalhado lá, até
adoecer. Meus irmãos assumiram o controle assim que terminaram a
faculdade.
— Ele aguentou por uns anos. A recessão teve seu preço. Nosso pai
colocou uma segunda hipoteca sobre a casa para tentar nos ajudar. —
Lucas suspirou. Ele parecia derrotado.
— Por que você não me disse? — eu perguntei. — Tenho uma
entrevista em breve, então talvez...
Mas Danny estava balançando a cabeça.
— As contas do hospital estão chegando em breve...
Eu não podia ficar mais lá — no corredor, no hospital. Era muito
claustrofóbico. Eu me afastei de meus irmãos. Minhas pernas trêmulas
me levaram pelos corredores e escadas abaixo até que me encontrei do
lado de fora, em frente ao hospital.
Era o meio da noite, então não havia ninguém para me ver cair de
joelhos no meio da calçada. Ou assim eu pensei...
— Com licença — disse uma voz profunda atrás de mim.
Soluçando, olhei para cima e vi um homem perto de mim.
— Sim, posso ajudá-lo? — murmurei, limpando meus olhos.
O homem se ajoelhou diante de mim, e eu ofeguei enquanto o
reconhecia.
Era o homem que eu havia encontrado antes no Central Park. Aquele
a quem dei meu buquê de lírios.
— Perdoe minha intromissão. Meu nome é Brad Knight.
Fiquei sem ar. Brad Knight?
O Brad Knight?
O bilionário por trás das Knight Enterprises?
— Eh, — gaguejei.
— Eu sei de sua situação, Angela, e posso ajudar. Eu posso ajudar com
as contas médicas de seu pai.
Minha cabeça girou. Os alarmes tocaram em minha mente.
Como é que ele sabe disso tudo? O que ele quer de mim?
— Eu pagarei por tudo. E me certificarei de que seu pai seja bem
cuidado. Você só tem que fazer uma coisa por mim. — Ele parecia tão
genuíno, mas havia uma pitada de desespero em sua voz. Ele se
recompôs, olhando diretamente nos meus olhos.
— Preciso que você se case com meu filho.
Capítulo 2
Desespero Sombrio

ANGELA Emily franziu a sobrancelha enquanto me via comer um pote de


sorvete Ben and Jerry em meu pijama, com meu cabelo amarrado de
forma bagunçada.
— Você está bem? — ela perguntou.
— Super, — eu disse com a boca cheia de chocolate.
Ela suspirou, pegando seu próprio pote de sorvete do freezer. Sentou-
se ao meu lado, enfiando uma colher cheia de baunilha na boca.
— Põe pra fora, — exigiu.
— Estou muito estressada, — admiti. — Meu pai está no hospital, e
vamos ter problemas para pagar as contas. — Acabei de ter uma
entrevista com Curixon, e receio ter estragado tudo, e... — minha voz
vacilou.
E um certo bilionário fez um pedido ridículo na outra noite.
Mas eu não queria contar à Emily.
Como eu poderia?
— Você não estragou tudo, — Em me assegurou.
— Você foi ótima, não é? Você mesmo me disse.
— Pensei que fui, — eu disse. — Agora já não tenho tanta certeza.
Era verdade; eu realmente tinha me dado bem com o entrevistador.
Curixon era uma grande empresa, e eu esperava finalmente poder dar
bom uso ao meu diploma de engenharia em Harvard. Havia passado os
últimos meses trabalhando meio período na floricultura da Em.
Ela até me deixou morar com ela em seu apartamento.
Eu estaria totalmente ferrada se não fosse por ela.
— Você salvou minha vida, Em, — eu comecei. — Se não fosse por
você me deixar ficar aqui...
— Chega de drama, — ela disse antes que eu pudesse agradecê-la
novamente. — Você sabe que tem permissão para ficar o tempo que
quiser. Só não quero ver você desperdiçar sua vida varrendo o chão da
minha floricultura quando você poderia estar trabalhando em algum
lugar como Curixon. Mesmo que você traga ãs e admiradores aleatórios
pra loja. Você é muito esperta para isso, Angie.
Meu coração parou por um instante.
Em não reconheceu Brad, então. Graças a Deus.
— De qualquer forma, estou de saída. — Em se levantou, jogando sua
colher na pia e o pote de sorvete vazio no lixo. — Fique bem. — Ela
calçou os sapatos, e antes que eu desse por isso, ela tinha desaparecido.
Eu estava sozinha.
Minha mente se voltou para a outra noite. Honestamente, eu pensei
que era tudo uma espécie de sonho louco. Mas quando percorri os
contatos do meu telefone, seu nome ainda estava lá.
Brad Knight.
Eu rastejei para fora da sala de estar e fui para minha cama,
enrolando-me em uma bola. Fechei os olhos e deixei a minha mente
voltar para aquela noite.

— O quê?! — Eu me afastei de Brad, colocando um espaço entre nós.


— Isto é algum tipo de brincadeira?
Ele me observou, balançando a cabeça para si mesmo.
— Lamento muito, — disse ele. — Eu me antecipei. Por favor, deixe-
me explicar.
Olhei para trás de mim. As portas do hospital não estavam muito
longe. Eu poderia correr para lá se fosse preciso.
Além disso, havia algo naquele homem que me fazia querer confiar
nele. Ele parecia tão sincero e bondoso. Talvez fosse por causa da sua
idade?
Eu acenei com cautela, gesticulando para que ele continuasse.
— Depois que você foi tão boa para mim esta tarde, eu sabia que tinha
que pagar seu ato de bondade. Visitei a floricultura da Em. Era de lá que
vinha o buquê que você estava segurando.
— Sim, mas...
— Eu vi isso no papel. E falei com a Em, uma garota adorável. E depois
perguntei de você, Sra. Angela Carson. Ela disse que a conhecia bem. Que
você estava em um pequeno hospital em Nova Jersey porque seu pai
tinha acabado de adoecer.
Eu acenei, ainda incrédula em toda esta conversa.
— E por favor, perdoe a pergunta, mas sua família não tem os recursos
necessários para manter seus cuidados... seu tratamento, sua estadia no
hospital, o mais confortável possível, tem?
Eu neguei com a cabeça.
— É aí que eu posso te ajudar, Angela. Podemos nos ajudar. — Ele
sorriu, seus olhos desapareceram em meio às rugas de pé de galinha.
— Então, você quer que eu me case com seu filho, — repeti suas
palavras de antes. Senti como se fossem alienígenas saindo da minha
boca.
Brad acenou com a cabeça.
Pensei no que eu sabia sobre o filho de Brad.
Xavier Knight.
Eu o conhecia, é claro. Como eu não poderia? Ele era uma celebridade.
Rico nojento e lindo de morrer.
Qualquer garota se lançaria à chance de ser sua esposa.
Mas ele parecia ser do tipo rebelde. Eu tinha visto as manchetes e
artigos sobre ele, de vez em quando, durante os últimos meses.
Sexo.
Drogas.
Corridas.
Ele era selvagem.
Perigoso.
Um arrepio corria pela minha espinha, mas não conseguia dizer se era
por medo ou excitação.
— Mas por que eu? — eu perguntei. — Tenho certeza de que você
poderia encontrar um milhão de meninas que são mais bonitas e mais
bem-sucedidas do que eu. Alguém mais adequado para seu filho.
— Você é uma alma pura, minha querida. Você pode não saber, mas é
rara. Eu quero o melhor para meu filho, como qualquer pai faria. Eu acho
que você pode ajudá-lo. Confio em meu instinto, e meu instinto agora
diz que isto vai funcionar.
Pestanejei.
Uma alma pura? O que isso quer dizer?
— Mas o casamento não é apenas um pedaço de papel, — eu
argumentei. — Você não pode simplesmente assinar um contrato e se
apaixonar.
— Isso pode ser verdade, mas o amor é paciente.
— Como você sabe que não vou me casar com seu filho e depois me
divorciar dele no dia seguinte? — Eu estava me fazendo de advogada do
diabo, já que precisava de respostas para esta hipótese confusa.
Em vez de se afastar, ele se aproximou de mim e pegou minha mão.
Seu toque foi caloroso e estranhamente reconfortante.
— Eu não acredito que você faria isso, Angela. Como eu disse, sua
alma é pura. Mas se você precisar de algum tipo de plano de seguro, olhe
para trás.
Eu virei e vi o hospital, iluminado pelos candeeiros da rua.
— As contas médicas não são brincadeira. Tratamentos, reabilitação,
atendimento 24 horas. Tudo isso custa dinheiro, querida. Se você
cumprir sua parte do acordo, eu lhe prometo, pela minha vida, que
também cumprirei minha parte.
Minha mente estava agitada. Tinha que haver uma maneira diferente.
— Eu tenho uma segunda entrevista para este trabalho amanhã. Posso
ser capaz de...
— Angela, — disse ele, interrompendo-me. — Você sabe quanto custa
uma noite de internação no hospital? Setecentos dólares a cada noite.
Um exame de sangue de rotina custa duzentos e cinquenta dólares. Se
eles, Deus nos livre, tiverem que usar o desfibrilador, são mais quinze mil
dólares.
Fechei meus olhos.
— Por favor. Por favor, pare. Dê-me só um minuto para pensar. —
Tentei organizar meus pensamentos confusos.
Meu pai.
O restaurante.
Meus irmãos.
Anos de dívidas.
Um novo emprego.
Curixon pagava bem. Se eu conseguisse a posição, eu poderia pagar as
coisas lentamente.
Emily me deixaria viver com ela por mais um tempo se isso
significasse salvar a vida do meu pai.
Como eu poderia me casar com um homem que não amava e muito
menos conhecia?
— Por que você está me ajudando? — eu perguntei.
— Quando você veio até mim esta tarde, — começou ele, — você
respondeu a uma oração que eu havia enviado ao céu. Você me deu
forças quando eu precisei. Por isso, agora estou aqui para responder suas
orações. Estou aqui para lhe dar força, e é assim que eu posso fazer.
Pensei sobre isso, minha respiração saía entre breves intervalos.
Eu estava realmente considerando isso?
— Angela? — Brad me chamou suavemente.
— Posso ao menos ter algum tempo para pensar sobre isso? — eu
perguntei. — Isto é muita coisa para assimilar.
— É claro, — ele disse.
Brad me entregou um cartão de visita, feito de um metal fino e leve.
Acho que papel é muito plebeu para um bilionário, pensei de certa forma
delirante.
— Ligue-me quando decidir. — Ele sorriu para mim antes de se virar.
— Eu realmente acredito que isso vai funcionar, Angela. Eu realmente
acredito.
Meu telefone tocou, acordando-me do meu devaneio. Virei sobre
minha cama, verificando o identificador de chamadas.
CURIXON LTD.
Eu me enfiei direito na cama, com meu coração martelando no peito.
Está bem, está bem, está bem, está bem.
Eu respirei fundo.
— Olá? — Eu disse, disposta a não tremer minha voz.
— Olá, é a Angela Carson falando?— disse uma voz feminina do outro
lado da linha.
— É ela.
— Olá, Angela. Só estou ligando para informar que infelizmente
decidimos seguir em frente com outros candidatos a este trabalho.
— Oh. — Meu coração afundou.
— Manteremos sua solicitação arquivada caso outra posição se torne
disponível.
— Está bem. Obrigada.
O que mais eu poderia dizer?
Depois de mais alguns segundos de dolorosas trocas de palavras,
desmaiei no travesseiro, com a cara primeiro.
Então minha entrevista não foi tão boa assim.
Senti lágrimas de frustração brotarem em meus olhos, e as deixei de
molho no travesseiro. Havia muito mais em jogo do que apenas pagar as
contas e ter algum dinheiro para gastar.
A vida do meu pai estava em jogo.
Peguei meu telefone, rodando pelos meus contatos.
Olhei fixamente para o número de Brad Knight, meu polegar pairando
sobre o botão de chamada.
Não é que eu tenha muita escolha.
Aperto o botão de discagem, selando meu destino.
— Olá? — Brad atendeu.
— Olá Sr. Knight, é a Angela.
— Angela! — Ele me cumprimentou calorosamente. — Fico feliz que
tenha ligado. — Então, posso presumir que...? — Ele deixou a pergunta
no ar.
Eu respirei fundo. Senti que seria esmagada por baixo do peso das
palavras que se formavam em minha boca.
— Sim, — eu disse. — Eu aceito.
Senti algo dentro do meu coração se encolher e morrer.
— Eu me casarei com seu filho.
Capítulo 3
Despertar Brusco

BRAD

Eu não podia acreditar que ela tinha dito sim. Mesmo sendo um
homem de negócios muito bem sucedido, mesmo acostumado a ser
tratado como o magnata que eu era, ainda me encontrei sem palavras.
Havia algo tão inocente sobre ela.
E ainda assim, aqui estava ela, apertando as mãos em um arranjo que
forçaria sua vida por um caminho diferente. Eu poderia concordar em
pagar as contas médicas de seu pai, mas de alguma forma, eu ainda me
sentia em dívida com ela.
Alguns dias haviam se passado desde que eu a havia localizado no
pequeno hospital de New Jersey, e hoje era o dia em que nos reuniríamos
para discutir os mínimos detalhes do acordo.
Eu a convidei para um chá no Plaza, e ela aceitou prontamente. E
quando ela perguntou:
— Qual praça? — Eu não pude deixar de rir; a garota foi
inequivocamente encantadora.
Eu tinha acabado de me sentar à minha mesa habitual, aquela no
canto com poltronas de veludo de ambos os lados. Era verdade que
muitos dos meus associados frequentavam esta sala de jantar, mas esta
mesa, escondida atrás de arranjos florais, facilitava evitá-los.
Eu estava apenas verificando meus e-mails quando senti toda a
disposição da sala mudar, como se uma rajada de vento tivesse entrado
numa sauna, deixando todos lá dentro refrescados.
Olhei para cima, e lá estava ela. Ela entrou nervosamente na sala,
olhando em volta como uma criança perdida. Eu não pude deixar de
sorrir e me sentir ainda mais seguro sobre meu plano.
ANGELA
Acordei assustada esta manhã, surpresa com como tinha conseguido
dormir até tarde. Tomei chá com Brad Knight, agendado para o início da
tarde. Cara, pensei, essa é uma frase que eu nunca pensei que diria. O que as
pessoas vestem para um chá da tarde?
Um terno de negócios?
Um vestido de babado?
Pensei em pedir ajuda a Em, mas depois teria que explicar com quem
eu estava me encontrando, e por quê. E isso me pareceu ter mais um
problema totalmente diferente. Então, em vez disso, vesti minhas roupas
normais, um jeans e uma blusinha, calcei minhas botas pretas favoritas, e
saí.
Após consultar o Google, soube que o Plaza não era na verdade uma
praça, mas o Plaza Hotel. Frequentado por pessoas ricas, o Plaza tinha
uma mistura de negócios e celebridades.
E o chá da tarde não era apenas de camomila ou pekoe tipo orange.
Foi um evento. Eu li tudo isso no trem, olhando para o jeans que eu havia
escolhido usar. Eu era um peixe fora d’água, isso era claro. Meus nervos
estavam cada vez mais à flor da pele.
Será que eles sequer me deixariam entrar?
Assim que entrei, o porteiro saiu correndo de trás de sua mesa e
colocou uma mão no ar, parando-me.
— Madame?
— Oi, sim, — eu gaguejei. — Estou aqui para o chá?
Ele apenas levantou uma sobrancelha.
— Vou me encontrar com o Sr. Knight, — eu disse, também não
acreditando muito nisso. Mas dizer o nome dele foi o suficiente.
— Ah, perfeito, — ele disse, seu sotaque francês o torna ainda mais
intimidante. — Siga-me.
Assim que ele abriu as portas da sala de jantar, eu fiquei sem ar. A
decoração era tão meticulosamente arranjada, tão impossivelmente bem
coordenada, que eu sentia que apenas caminhar por ali seria arruiná-la.
Olhei ao meu redor, de mesa em mesa, sentindo-me como uma
estrangeira. E então vi Brad no fundo, levantando-se e acenando. O
concierge, ainda ao meu lado, levantou outra sobrancelha para mim.
— Obrigado por sua ajuda, — eu disse suavemente, e atravessei as
mesas de pessoas que eu só tinha visto em revistas. Caramba.
— Sente-se, — disse Brad assim que eu me aproximei. Ele apontou
para a cadeira de veludo em frente a ele, e eu senti como se tivesse
afundado em uma nuvem no momento em que me sentei. — Obrigado
por se juntar a mim.
— Obrigada por me convidar, — respondi, cheia de nervosismo. —
Este lugar é incrível.
— Isso?— ele disse, olhando em volta. — Isso não é nada. — Mas ele
tinha um sorriso no rosto, sinalizando que estava brincando. — É algo a
que você vai se acostumar.
— Não acho que poderia.
— Acredite em mim, — ele disse, — o brilho e o glamour se
desgastam. Há um limite para quantas garrafas de champanhe você pode
comprar antes de perceber que não tem ninguém com quem goste de
dividi-las. Mas é por isso que você está aqui.
— Você bebe champanhe no chá? — perguntei, confusa. Nesse
momento, o garçom apareceu, usando uma gravata borboleta. Pensei que
ele poderia ser um modelo. Ele olhou para o Brad.
— Sr. Knight? O de sempre?
Brad acenou com a cabeça e ele desapareceu sem sequer olhar para
mim. Então Brad se inclinou para frente, e eu pude perceber que ele
estava se preparando para começar A Conversa.
— Então, Angela. O que você pode não saber sobre meu filho, Xavier,
é que ele já passou por muita coisa. Crescer comigo como pai não é fácil,
ao contrário do que muitos poderiam acreditar. Há muita pressão. E
pressão em lugares pequenos....
— Causa uma explosão, — eu terminei. E então senti sangue correndo
para as minhas bochechas. Teria eu acabado de interromper o Brad
Knight?
Mas ele apenas acenou para mim.
— Exatamente. Xavier tem andado por todo o lado ultimamente. E eu
acho que você... você tem a capacidade de fazê-lo criar raízes em algum
lugar. Para lembrá-lo do que é importante. Isso é o que estou propondo.
— Então, eu me caso com seu filho, e você garante a saúde do meu
pai... suas contas médicas...
— Tudo será pago, — ele disse, com uma certeza que me fez confiar
nele. — Desde que você me garanta que nosso acordo, nosso arranjo,
nunca será dito a mais ninguém. — Ninguém pode saber por que você
está fazendo o que está fazendo. Nem sua família, nem seus amigos. E
nem Xavier. Nunca meu filho.
Ele me entregou um documento com várias páginas. Eu vi que era um
contrato, com pelo menos trinta cláusulas. E então o rosto do meu pai
passou pela minha mente — o rosto que eu tinha visto na cama do
hospital, todo pálido e fraco.
Minha mente estava me dizendo para parar, para pensar sobre isso,
mas era como se minha mão estivesse trabalhando sozinha. Tirei a
caneta chique da mão do Brad Knight e assinei o contrato.
Depois, ainda com as mãos tremendo, tomei um gole do chá
fumegante que o garçom-modelo colocou diante de mim.

Brad: 15h, Central Park.

Brad: Sessão de fotos do casamento.

Brad: Devo enviar um carro?

Angela: Tudo bem.

Angela: Eu pego o trem.

Alguns dias após a reunião no Plaza, Brad estava me enviando


instruções. Eu nunca tinha ouvido falar de uma sessão fotográfica de
casamento antes. Claro, eu sabia que os noivos tiravam fotos no
casamento, mas semanas antes?
Brad tinha me dito para usar o que eu achasse confortável, então eu
presumia que seria casual. Mas assim que saí da estação Columbus
Circle, vi Brad de pé na borda do parque. Ele estava na frente de um
trailer — o tipo de trailer que os atores usam quando estão filmando
cenas. Ele me acenou, com verdadeira excitação no rosto.
— Angela! Aqui!
— Estou indo! — Eu disse, quase gritando. Não foi bem um grito nem
uma voz interior.
Quando atravessei a rua e estava a poucos passos de chegar até Brad,
ele abriu a porta do trailer. Eu podia ver o caos se desdobrando lá dentro.
— Há aqui um cabeleireiro, um maquiador e um estilista para você, —
ele disse, batendo palmas. — Não tenha pressa. Vamos começar a filmar
na hora mágica.
— A hora mágica? — perguntei, porque essa era a coisa mais recente e
confusa que ele tinha dito.
— Entre 16h30 e 18h30, — respondeu ele. Então ele sussurrou: — É o
que eles me dizem, de qualquer forma.
Antes que eu pudesse responder, uma das mulheres estilosas dentro
do trailer me puxou e fechou a porta atrás dela.

Xavier: Chegarei tarde.

Brad: Isso é inaceitável, Xavier.

Brad: Xavier?

Brad: Filho, responda-me.


Eu não podia acreditar no rosto que vi olhando para mim no espelho.
Meu cabelo havia sido empilhado em cima da minha cabeça, em uma
coisa complicada de trançar o nó superior, com um par de fios soltos
emoldurando meu rosto. Parecia extravagante e descontraído ao mesmo
tempo. Então, em outras palavras, não parecia nada comigo.
A maquiadora, Sky, demorou mais de uma hora para fazer meu rosto.
Meus olhos estavam suavemente forrados com tinta marrom escuro, e o
blush em minhas bochechas me fazia parecer toda rosada. Eu nunca usei
maquiagem, além do pincel ocasional de rímel, e ter tanto em mim
parecia que eu estava brincando de me vestir como adultos.
— Já está pronta…? — Brad disse, batendo na porta semi-aberta. Mas
ele parou quando me viu.
Eu estava com um vestido de renda branca que ia até meus joelhos, e
um par de saltos de sete centímetros que me dava ansiedade. Eu mal
conseguia andar sem cair, mas ninguém ao meu redor parecia se
importar. Brad tomou conta da minha aparência.
— Você está linda, — ele disse de forma paternal, e eu imediatamente
imaginei meu próprio pai dizendo a mesma coisa. Eu sorri.
Ele pegou minha mão e me levou para fora, certificando-se de que eu
estivesse pisando bem a grama. Quase caí algumas vezes, mas quando vi
a sessão fotográfica montada no parque, esqueci os sapatos.
Havia luzes amarradas nas árvores, um enorme cobertor de
piquenique na grama, e um buffet de charcutarias e garrafas de vinho
geladas em uma mesa próxima. Parecia uma propaganda em um
programa da HGTV.
— Isto é... incrível, — eu disse, voltando-me para Brad.
— Espere até ver o casamento, — ele disse, piscando. Tudo isso foi
inacreditável. Olhei novamente em volta, percebendo o que estava
faltando.
— Onde está o Xavier?
Brad hesitou — a primeira vez que eu o vi inseguro assim, mas antes
que ele conseguisse falar, sua atenção se deslocou para algo atrás de mim.
Um enorme sorriso envolveu seu rosto.
— Desculpe-me, querida, — ele disse, e então passou rapidamente por
mim, indo abraçar seu filho.
Foi quando eu o vi. Xavier Knight, com seu um metro e noventa de
altura. Ele era alto, moreno e bonito. Isso ficou claro imediatamente. Ele
abraçou seu pai e depois me olhou nos olhos, com toda a frieza.
Brad o levou até onde eu estava, e me beijou na bochecha com um
suave "Olá".
— Oi, — eu disse, com olhos no chão, sentindo as palmas das mãos
começarem a suar.
A sessão fotográfica propriamente dita foi feita em quinze minutos.
Estávamos sorrindo e olhando um para o outro nos olhos. Bem,
tentando, de qualquer forma.
Olhar para ele era como olhar para o sol. Ele tinha uma intensidade
que era quase insuportável. Mas cada vez que eu desviava o olhar, o
fotógrafo gritava: — Nos olhos dele! — E um fotógrafo extravagante
gritar pra você era ainda mais embaraçoso do que o rubor que vinha
sempre que eu fazia contato visual com meu noivo.
— Isso vai impressionar o The Times, — disse o fotógrafo quando
terminamos. — Não via um casal tão atraente desde Jennifer e Brad.
Apesar de tê-lo ouvido claramente, eu sabia que ele não poderia estar
falando de mim. Eu estava estranha, e minhas bochechas já devem estar
da cor de tomates maduros.
Mas então vi Xavier caminhar na minha direção, uma garrafa de vinho
em sua mão, e meus nervos ficaram ainda mais altos. Ele vai esperar algo
de você. Você precisa fazer alguma coisa com elegância. Mas eu nunca
havia tido um namorado antes, então, como minha mente continuava
agitada, eu não tinha certeza de como proceder.
Eu vi Brad a alguns metros de distância, apertando a mão do
fotógrafo, e ele me viu olhando e sorriu. E então ele viu seu filho vir em
minha direção, e seu sorriso cresceu. Voltei para Xavier, que estava quase
bem na minha frente.
— Foi um prazer conhecê-lo, — eu disse, porque me senti obrigada a
dizer algo, mas não sabia bem por onde começar. Ele sorriu para mim,
mas algo pareceu estranho. Havia algo sinistro nele, em seu sorriso.
Como se algo não estivesse certo na expressão de Xavier.
Eu olhei para o chão, esperando que ele dissesse algo. Mas em vez
disso, ele levou seus lábios até a minha bochecha.
— Eu não sei quem você é, — começou ele, suas palavras me bateram
logo no ouvido. — Eu não sei o que você quer. Mas você não me engana.
Não caio nesse cabelo, maquiagem e vestido. Você não me engana.
Seus lábios escovaram o outro lado do meu rosto agora, e então ele
sussurrou mais veneno.
— Não caio nessa, sua puta oportunista. E eu te odeio, porra.
Capítulo 4
Mentiroso Mentiroso

ANGELA

A água quente caía sobre minha pele, mas por mais que eu esfregasse,
eu ainda me sentia suja.
Que nojo.
Eu não podia acreditar como Xavier tinha falado comigo. Eu não
podia acreditar no que ele pensava de mim — que eu estava atrás do
dinheiro dele e do nome de sua família.
A ideia de usar alguém assim era suficiente para me deixar enojada, e
ainda assim era exatamente o tipo de pessoa que ele tanto acreditava que
eu fosse.
Foi aí que a ironia me atingiu.
Eu fui atrás de seu dinheiro.
Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em
casar com Xavier Knight.
Mas eu não era uma oportunista egoísta.
Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai.
Mas isso melhora as coisas?
Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada ao
redor do meu corpo. Qualquer coisa para não me deixar em pedaços.
Sequei-me e vesti meu pijama de forma robótica, minha mente estava
longe.
Quando desmaiei na cama, meus olhos caíram sobre um quadro
emoldurado do outro lado do meu quarto. Era uma foto de mim, Danny,
Lucas e meu pai.
Todos nós parecíamos tão felizes.
Nosso pai parecia tão saudável.
A foto foi tirada na última Ação de Graças. Danny tinha queimado o
peru e Lucas tinha feito muito recheio, mas estava perfeito.
Todos nós nos esprememos no sofá velho e gasto da sala de estar e
assistimos a uma partida de futebol sem nos preocuparmos com o
futuro.
Coloquei minha cabeça em minhas mãos.
Como tudo mudou tanto em apenas um ano?
Nosso pai foi sempre um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele
assumiu o papel de ambos. Ele era a única constante, uma rocha
constante na tempestade da vida.
E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele ia...

Em: Olá, menina.

Em: Tá a fim de (emoji de sushi – 🍣) à noite?


Eu olhava para os pequenos emojis de sushi, a pequena e
despretensiosa imagem que me salvava dos meus pensamentos.
A última coisa que eu queria fazer era sair em público. Meus
cobertores sussurraram sedutoramente para mim, tentando-me com a
promessa de escuridão e silêncio.
Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que fosse
para escapar dos meus pensamentos por uma noite.
Para me afastar da memória de Xavier me encarando com seus olhos
azuis...

Angela: OK, te encontro no lugar de sempre em 40 min Em:


Uhuuulll

— Você é bom demais para Curixon de qualquer forma, — disse Em,


colocando mais um pedaço de sashimi de salmão em sua boca.
Mergulhei meu nigiri de atum em molho de soja, cantarolando sem
compromisso.
— Ainda não entendi, — murmurei. — Tive uma sensação tão boa
depois das minhas entrevistas.
— Bem, eles que saíram perdendo. — Em arrancou um prato de sushi
de salmão da esteira transportadora na nossa frente. Ela estava
rapidamente acumulando uma pequena torre de pratos vazios ao seu
lado.
Eu mastiguei minha comida sem degustar.
Se ao menos Curixon tivesse dado certo. Talvez eu não tivesse
acabado ficando noiva de um bilionário odioso.
Meus olhos vagueavam preguiçosamente sobre a esteira lenta diante
de mim. Eu tinha tantas escolhas, mas nenhuma delas era nem um pouco
atraente.
Em colocou um rolo de salmão no meu prato vazio.
— De qualquer forma, não viemos aqui para chorar. — Ela sorriu para
mim, e eu não pude deixar de sentir meu espírito se elevar um pouco. —
Feliz pré-Ação de Graças.
— Feliz pré-Ação de Graças, — eu respondi, e batemos nossos pedaços
de sushi juntos antes de comê-los.
Todos os anos, Em e eu temos nossa própria refeição de pré-Ação de
Graças antes de irmos passar com nossas famílias.
— De qualquer forma, — disse Em ao redor de uma boca cheia de
comida, — você ouviu falar da agitação no Central Park hoje cedo?
— Hmm?
— Aparentemente, um casal mega-rico realizou uma sessão
fotográfica chique pré-casamento. Eles até bloquearam uma seção inteira
para que ninguém conseguisse se aproximar.
Eu me engasguei, tentando ao máximo não enviar pedaços de sushi
voando sobre a esteira.
Em me deslizou um copo de água.
— Não é? Quão louco é isso? — Ela suspirou, melancólica. — Imagine
ser tão rico e apaixonado que você poderia reservar o Central Park.
Eu bebi um pouco de água, depois limpei minha garganta.
— Sim, eu imagino que...
Eu não podia exatamente dizer a ela que aquilo era minha sessão
fotográfica pré-casamento.
Nem eu poderia corrigi-la.
Claro, Xavier era mega rico.
Mas nós definitivamente não estávamos apaixonados.
O olhar de ódio e repugnância de Xavier me passou pela mente
novamente.
Nada poderia estar mais longe da verdade.
— Angela? Você está bem?
Eu pestanejei, caindo em meus pensamentos.
— Claro, — eu menti.
— Parece que você viu um fantasma...
— S-Só um pouco cansada, acho.
Em me olhou fixamente, seus olhos procuravam os meus. Eu nunca
fui uma boa mentirosa. E Em me conhecia melhor do que ninguém.
Mas eu não poderia dizer a verdade, nem se quisesse. Eu não poderia
dizer a ninguém. Nem mesmo à minha família. Eles provavelmente
acabariam descobrindo. Era impossível esconder para sempre um
casamento tão proeminente.
Mas eles nunca poderiam saber a verdade sobre meu acordo com Brad
Knight.
Eu fui literalmente contratada para mentir.
E assim o fiz.
— De qualquer forma, tenho que fazer alguns preparativos de última
hora para o Dia de Ação de Graças de amanhã, — eu menti novamente.
— Eu vou pra casa.
— Certo, — disse Em, com um tom neutro. Eu não podia dizer se ela
acreditava ou não em mim, mas ela abandonou o assunto.
Levantamo-nos e, depois de pagar, saímos para o ar fresco noturno.
Sentia meu coração pesado de culpa. Tinha que mentir para minha
melhor amiga.
E isso foi apenas o começo...
Lucas: Não se esqueça da torta Angela: (3 emojis de espanto 😲
😲😲) Lucas: ...

Lucas: Sério?

Angela: Oops...

Lucas: Nova York muda as pessoas.

Angela: Eu vou voltar pra buscar.

Lucas: Não se preocupe, tudo bem.

Lucas: Só ajude com o peru antes que Danny o queime.

Frustrada, encostei-me na minha cadeira e fechei os olhos.


Eu não podia acreditar que tinha esquecido a torta de nozes. Era
praticamente um dos pontos básicos no Dia de Ação de Graças.
Mas é que eu estava com a cabeça cheia.
O trem passou por cima de um pequeno obstáculo, e eu me movi no
meu assento, encostando minha cabeça contra a janela e olhando para
um mundo que desaparecia.
Eu estaria em Heller em uma hora; queria que já estivesse lá.
Meu pai nos garantiu que ele estava bem o suficiente para ter o Dia de
Ação de Graças em casa.
Meus irmãos continuavam me dizendo como ele estava muito melhor,
e eu mesma mal podia esperar para vê-lo. Mal podia esperar para ver
todos.
Eu senti meu coração relaxar. Percebi o quanto estava aliviada por
estar saindo de Nova Iorque. Mesmo que fosse apenas por alguns dias,
algum tempo longe do drama do contrato seria bom para mim.
Isso me daria espaço para respirar e elaborar um plano.

Depois do que me pareceu um século, eu estava finalmente subindo


os degraus da frente da minha casa de infância.
Eu bati à porta e Lucas respondeu, envolvendo-me em um grande
abraço de urso.
— Você cheira a trem, — ele disse, puxando-me para dentro de casa.
— Prazer em vê-lo também, — eu disse, pondo minha língua de fora.
Eu entrei e uma onda de nostalgia me atingiu.
Foi aqui que eu cresci. A casa que me tinha visto celebrar e lamentar
na vida em medidas iguais.
Era aqui que eu e Em costumávamos assistir filmes só para adultos,
onde Lucas e eu costumávamos construir castelos de travesseiros e
comer Nutella do pote.
Mas estar de volta agora, com tudo o que havia acontecido, parecia
diferente.
Era como se de alguma forma esta casa não pudesse mais me proteger
do mundo exterior.
— É ela? Angie? — E lá estava ele, vindo para o corredor em uma
cadeira de rodas. Ele se parecia mais com o pai que conhecia do que com
o homem na cama do hospital.
— PAI! — Eu saltei na sua direção, abraçando-o com força. Ele
realmente parecia mais saudável. Vê-lo fora do hospital fortaleceu minha
determinação.
Se aturar um bilionário zangado significasse que meu pai ficaria bem...
então que assim seja.
— Meu Deus, Angie, estou aqui, — ele disse, rindo. — Eu não vou a
lugar nenhum, minha filha. A menos que você me empurre até lá.
— Eu sei. — Tentei limpar sorrateiramente uma lágrima antes que ela
me saísse do olho. — Estou feliz em vê-lo. Você está ótimo.
— Pronta para ver o peru?
— Você quer dizer Danny? — Eu brincava.
— EU OUVI ISSO! — Danny gritou da sala de estar. Eu sabia que ele já
estava sentado no sofá assistindo futebol, seus olhos colados à TV.
Não consegui impedir que um sorriso bobo se espalhasse pelo meu
rosto.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Nossa campainha tocou, e todos nós olhamos para a porta em
confusão.
— Estamos esperando alguém? — perguntei ao Lucas.
— Não. — Seus olhos se iluminaram por um segundo. — Você
convidou a Em?
— Não, ela deveria estar com a mãe dela. — Caminhei em direção à
porta e a abri...
E de repente, meu pequeno santuário de Ação de Graças foi desfeito
em pedaços.
Porque ali parado, bonito, perfeito e completamente deslocado, com
uma caixa de torta de nozes nos braços, estava Xavier Knight.
Ele me mostrou um sorriso brilhante, mas não chegou aos seus olhos.
Eles pareciam frios. Calculistas. Como um lobo que brincava com sua
comida antes de começar a matança.
— Olá, querida, — ele zombou.
Meu coração deu um pontapé pelo exagero. Eu estava prestes a ter um
ataque de pânico total. Minha família nem sabia que eu estava saindo
com alguém, muito menos casando com o solteiro mais rico da cidade de
Nova Iorque.
— O que você está fazendo aqui...
— Angela? — O pai chamou às minhas costas. — Quem é esse?
Um poço de pavor se abriu em meu estômago quando ouvi minha
família se aproximar de mim.
— U-um, isto é...
Xavier avançou ao meu lado, seu comportamento cruel e zombeteiro
desapareceu em um piscar de olhos.
Ele enrolou um braço na minha cintura, e sorriu para mim, sua
expressão exalando amor e carinho. Ele parecia a definição do parceiro
perfeito.
Mas eu o conhecia de verdade.
Ele me odiava profundamente. Seu toque parecia mais amarras do que
um abraço. Eu senti os olhares de meu pai e de meu irmão focados no
gesto e meu rosto queimando de vergonha e constrangimento.
— Eu sou Xavier, — disse meu torturador, com sua voz amanteigada.
— Eu sou o noivo de sua filha.
Capítulo 5
Toda Amarrada

XAVIER

Não sei o que deu em mim quando decidi visitar a família de Angela
no Dia de Ação de Graças.
Talvez tenha sido uma curiosidade mórbida.
Talvez eu quisesse ver como era a família de uma oportunista.
Talvez eu quisesse conhecer seus pontos fracos para poder expulsá-la
da cidade antes do temido dia do nosso casamento.
Mas tudo o que encontrei foi um momento embaraçoso ao redor da
mesa de jantar e uma refeição de merda.
Eu dei outra mordida no peru, conseguindo de alguma forma manter
uma cara séria.
Por mais que eu o encharcasse com molho, ainda sentia mais vontade
de dar uma mordida na porra do deserto do Saara.
— Mais recheio?
Procurei o irmão mais velho oferecendo-me outra colher cheia de
esterco. Ele estava obviamente tentando ser educado, mas eu sabia que
ele estava se forçando a isso.
Eu pude sentir a hostilidade em ondas de toda família.
— Por favor, — eu disse, segurando meu prato para um recheio mais
insípido. — Meus cumprimentos ao chef.
— Pelo menos alguém lembrou de trazer a torta, — comentou o outro
irmão. Ele estava tentando preencher o silêncio. — Você poderia ter dito
que traria, Angie.
— Eu queria que fosse uma surpresa, — Angela se engasgou.
— Bem, com certeza foi uma das grandes, — murmurou o pai. Ele me
olhou fixamente, e eu, em troca, coloquei um sorriso falso no meu rosto.
Ele definitivamente estava desgastado com a idade. Parecia que ele tinha
acabado de sair do hospital.
— Então, como vocês dois se conheceram? — ele grunhiu.
— É uma história engraçada, na verdade. — Eu dei um sorriso afiado à
minha noiva oportunista. — Mas Angela conta melhor do que eu.
Ela imediatamente ficou muito vermelha. Seu rosto parecia ter sido
cozido em um forno por muito tempo. Eu toquei a carne seca no meu
prato.
Tenho certeza que vocês têm muito em comum, coitados.
— Nós nos encontramos inesperadamente...
Sentei-me e ouvi Angela contar uma balela sobre como nos
encontramos em um lugar modesto. Contribuí com acenos de cabeça e
sorrisos, além de um ou dois risos nos momentos apropriados.
Não tenho certeza do que esperava encontrar ao ir à casa de Angela.
Um covil de cobras?
Uma família cigana itinerante de golpistas?
Eu esperava que eles tentassem me bajular. Para pedir coisas ou
lisonjear o peixe grande que sua filha havia pescado em sua linha de
mentiras.
Mas até onde pude perceber, eles pareciam uma família velha
entediante e regular. Eles eram superprotetores e preocupados com sua
preciosa filha e irmã. Aos seus olhos, ela não podia fazer nada de errado.
Ela era uma santa.
Um anjo.
Mas este anjo estava mentindo.
Eu a observei com os olhos focados.
Falando em um nível completamente superficial, Angela era muito
bonita. Não tinha como negar isso. Ela tinha um cabelo loiro luxurioso,
olhos brilhantes e inteligentes, e o tipo de corpo que faria qualquer
homem sonhar acordado.
Ela era uma mistura de a garota que morava ao lado com uma mulher
pinup da revista Playboy.
— Parece que vocês dois estão se indo bem rápido, — disse o pai. — O
que você gosta em Angela? O que o fez propor à minha filha?
— Pai! — ela protestou.
Eu dei uma olhada na Angela. Seus olhos de corsa eram largos e
suplicantes.
Eu poderia ter dito a verdade naquele instante.
Ter contado à família seu segredinho.
Mas isso não me teria feito nenhum bem.
Tudo o que eu sabia era que, se eu casasse com esta mulher, meu pai
me garantiria minha posição na empresa. Eu acabaria recebendo meu
direito de nascença como CEO da Knight Enterprises.
E se isso significava enganar esta família de caipiras de Nova Jersey,
que assim seja.
— O que ela tem para não se gostar? — eu perguntei. Eu olhei nos
olhos de Angela. — Sua filha é linda. Ela é a mulher mais compassiva e
gentil que já conheci. E eu sei que ela vai ser honesta e leal para o resto de
nossas vidas juntos.
Angela desviou o olhar e teve a decência de olhar para baixo com
vergonha.
— Hmm... — o papai oportunista grunhiu e enfiou uma colher cheia
de purê de batata na boca.
Ele não parecia totalmente convencido, mas abandonou o assunto por
enquanto.
Senti a mão de Angela apertando a minha por baixo da mesa. Ela me
olhou de relance e me disse em silêncio: — Obrigada.
Por uma fração de segundo senti a tensão em meus ombros relaxar.
Minha irritação e raiva desapareceram sob o seu toque, e me vi perdido
em seus olhos.
Mas então a parte racional do meu cérebro reprimiu o lado estúpido e
sentimental.
Afastei-me dela, mais zangado do que antes.
Não caia em seus truques.
Tudo o que as mulheres sempre querem é o seu dinheiro.
Seu status.
E se você baixar a guarda por um segundo sequer, elas vão arrancar seu
maldito coração.
— Parece que começou o segundo tempo do jogo, — disse um dos
irmãos. Os homens correram para a oportunidade de escapar da
conversa embaraçosa do jantar. Eu não os culpei.
— Eu cuido da louça, — eu disse quando começaram a pegar seus
pratos. — É o mínimo que posso fazer, sendo um convidado surpresa e
tudo mais.
— Obrigado, — disse o pai Longtooth. Ele começou a se deslocar até a
sala antes de parar e olhar para mim. — Você é ã de futebol?
— É claro, — eu disse. — Que se danem os Eagles.
Ele grunhiu sua aprovação antes de desaparecer na sala de estar, junto
com seus filhos.
Mas o mais problemático do grupo decidiu ficar.
Ela silenciosamente ajudou a limpar a mesa, recusando-se a encontrar
meu olhar.
— O que você ganha com isso? — eu perguntei.
ANGELA

Eu quase deixei cair o prato que estava segurando.


— Você está chantageando meu pai? — Xavier continuou. — Por que
diabos ele quer que eu me case com você?
— Não estou chantageando ninguém, — eu disse.
— Então o que diabos está acontecendo? — Ele se aproximou e se
elevou sobre mim. Mas ele não estava tentando me intimidar.
Pela primeira vez desde que eu conheci Xavier, ele parecia sincero. Sua
expressão aberta e confusa não era atuação.
— Seja honesta comigo, — ele disse, com uma voz baixa.
As borboletas vibraram em meu estômago.
Meu coração bateu nos meus ouvidos.
Este foi um vislumbre do homem por trás da máscara cruel.
Ele estava estendendo um ramo de oliveira.
Estará tudo bem se eu lhe disser a verdade?
Ele vai me odiar menos? Odiar-me mais?
Seremos capazes de ter um relacionamento real?
Abri a boca, mas as palavras não vieram. A verdade foi selada por trás
do contrato que eu havia assinado com Brad.
— Eu... eu realmente gosto de você, e pensei que poderíamos ter uma
vida feliz juntos. — As palavras soaram frágeis e fracas, mesmo para os
meus próprios ouvidos.
O rosto de Xavier escureceu, e eu vi o ramo de oliveira pegar fogo
diante de mim. Ele se afastou de mim, aquela máscara cruel e fria
deslizava de volta para o lugar de antes.
— Você está errada sobre isso, — ele disse, suas palavras tão afiadas
quanto uma faca. — Nossa vida juntos vai ser qualquer coisa exceto feliz.

— ISSO NÃO É REAL! ISSO NÃO PODE SER REAL!


Minha amiga Em refletiu meus pensamentos quando ela chutou seus
sapatos e correu através do chão de mármore aquecido.
Olhei à minha volta na suíte nupcial do hotel Tribeca dos Knight. O
lugar parecia mais um museu do que um quarto. Era tudo tão perfeito.
Mas eu não consegui sequer sentir o mínimo de excitação dentro de
mim mesma.
Na semana entre o Dia de Ação de Graças e o casamento, meu pai
tinha tido outro derrame.
Eles o colocaram em coma induzido há alguns dias. Eu queria correr
para o lado dele, mas Lucas e Danny me disseram que não havia nada que
eu pudesse fazer. Ele estava estável.
E eles não sabiam quanto tempo ele ficaria em coma...
Senti lágrimas brotando em meus olhos.
Meu pai não estaria lá para me acompanhar até o altar.
Em voltou da grande cozinha e me entregou um copo.
— Mimosas? — Eu franzi a sobrancelha para a bebida. — Ainda mal
passou do almoço.
— Garota, se houver algum dia que você pode beber um pouco mais
cedo, é hoje. — Ela bebericou seu próprio coquetel. — Você vai se casar.
Eu tinha contado para Em a mesma história que contei para minha
família. Tinha contado a mentira com tanta frequência que eu mesma
quase começava a acreditar nisso.
— Um brinde a você, — disse Em, batendo seu copo ao meu. — Estou
tão feliz por você estar feliz. — Ela olhou diretamente para mim ao dizer
aquilo, os olhos dela analisando os meus. Era quase como se ela estivesse
esperando eu, para confirmar.
Uma batida na porta me salvou de responder. Em apressou-se e a
abriu, revelando um bando de mulheres de aparência fabulosa em
uniformes todos pretos.
— Nós somos a equipe nupcial, — disse a da frente. Notei a Sky, a
maquiadora da sessão fotográfica, entre elas.
As mulheres marcharam para o quarto e começaram a montar seus
equipamentos no banheiro do tamanho de um quarto. Uma delas
apontou para mim e, com um movimento brusco de seu queixo, fez um
gesto para que eu a seguisse.
Todas trabalharam na minha aparência durante o que pareceram
horas. As mulheres eram como um quarteto de fadas madrinhas furiosas,
transformando-me em Cinderela por chicotadas antes do baile.
Eu não estava acostumada a ser mimada. Sempre que eu levantava um
dedo para ajustar alguma coisa, eu era repreendida com olhares duros e
assobios agudos.
Elas usaram em mim produtos de beleza que eu nunca havia visto
antes em minha vida.
Aparentemente, meu vestido foi desenhado pessoalmente por alguém
chamado Alexander Wang.
Sentime entorpecida. Quase como se eu estivesse tendo uma
experiência fora do corpo. Mas quando todas elas terminaram, quando
eu me vi no espelho, tudo entrou em foco.
Não sou eu. Não é possível.
Mas era. Minha pele estava envolta em uma seda destinada a uma
rainha. A maneira como ela se arrastava e se agarrava, a maneira como o
marfim fazia minha pele brilhar, a maneira como o espartilho abraçava
minha figura e a cauda caía diretamente atrás de mim no chão, tudo era
perfeito.
Perfeito demais.
— OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS, — Em gemeu e
correu em direção ao reflexo, admirando o vestido.
— Você está tão bonita. Você está tão real. O que é este vestido? Onde
posso conseguir um?
— Em, — eu disse depois de alguns segundos, meus olhos ainda
fixados em mim no espelho. — Está acontecendo. Eu vou me casar.
Ela se aproximou de mim e apertou minha mão.
— Você vai, Angie. Você vai.

Em tinha ido se sentar em seu lugar no banco da frente — porque ela


era minha dama de honra, Brad tinha insistido que apenas Xavier e eu
ficássemos de pé na plataforma elevada. A equipe nupcial também tinha
ido embora, então era só eu, sozinha, numa suíte grande demais. Estava
num vestido que eu não deveria estar usando, com o cabelo todo para
cima, e meu rosto contornado e realçado.
Era isso.
Respirei fundo e tomei outro gole de champanhe, depois abri a porta e
saí. No segundo em que o fiz, ouvi meu nome ser chamado do fundo do
corredor. Virei-me para encontrar Danny, todo bem-vestido com o
smoking. Eu sabia que ele não tinha um smoking, que provavelmente era
alugado ou emprestado por um amigo, e isso me fez sorrir. Isso me fez
sorrir.
— Oi, Danny, — eu disse enquanto ele me dava um abraço de urso.
— Você está deslumbrante, — ele disse. — Isso é uma loucura.
— Eu sei.
— Eu esperava te encontrar antes... você sabe, antes do seu grande
momento, — ele disse, e não conseguiu mais me olhar nos olhos. —
Lucas está reservando nossos assentos lá dentro, mas... Olhe, mana, eu
sei que nós lhe fizemos passar um mau bocado por causa disso. Mas você
tem que saber, Angie, estamos orgulhosos de você. O papai também está.
— Você acha?
— Ele está orgulhoso de tudo o que você faz, você sabe disso. Você é a
mais inteligente de nós, — ele disse. E eu sabia que ele estava falando
sério, o que pesava ainda mais no meu coração. — Mas se esse filho da
puta alguma vez fizer algo para te machucar, você sabe que temos um pé-
de-cabra do tamanho do Kentucky em nosso galpão.
Eu não pude evitar as lágrimas nos olhos.
— Eu sei, Dan, — eu disse, tentando olhar para o teto para que as
lágrimas não caíssem e arruinassem o trabalho árduo da Sky. Eu não
estava me sentindo muito inteligente. — Obrigada.
Ele apertou meu ombro de maneira fraternal.
— Vejo você lá dentro. — E então ele andou de volta pelo corredor.
Eu tomei uma inspiração de ar. Agora era tudo por minha conta.
— Ei, — ele gritou, quase na porta.
— Sim?
— Não tropece, — ele disse. E então entrou na sala onde o meu futuro
seria decidido. E, passo a passo, pouco a pouco, eu também o fiz.
XAVIER

O atrevimento daquela garota. Eu não podia acreditar que ela foi em


frente com o casamento depois do que eu havia dito a ela. Isso selou o
negócio. Ela definitivamente estava nele pelo dinheiro. Nenhuma garota
respeitável, normal e simpática se casaria com o homem que lhe disse
que ele a odiava... ainda mais na sessão de fotos do casamento.
Basicamente, no Dia de Ação de Graças, eu havia dito a ela que nossa
vida seria um inferno.
Eu olhei para a sala à minha frente. Meu pai tinha planejado tudo. O
maior salão de baile do nosso hotel em Tribeca, lírios brancos cobrindo
todas as superfícies. Quinhentas pessoas lá para assistir ao espetáculo,
para ver seu único filho se transformar em um homem.
Se isso não provasse o quanto eu queria o maldito emprego na
empresa, então nada o faria.
E então o rosto dela preencheu minha mente. A outra ela. Aquela que
me fez pensar que eu era capaz de amar e depois partiu meu coração bem
na minha frente, rindo o tempo todo.
Assim que eu comecei a me preocupar com meu passado, o violinista
começou a tocar. Foda-se. Chegou a hora.
Eu vi meu pai no banco da frente parecendo mais satisfeito do que
nunca. Tive que admitir, foi bom vê-lo assim, sorrindo e se divertindo.
Ele e mamãe tinham estado tão apaixonados por todo o seu casamento,
até que ela faleceu. Ele tinha se tornado mais estoico depois, mais
recluso. Mas ali, nos bancos, ele ria e abraçava a todos.
As grandes portas se abriram, e meus olhos se deslocaram para o
fundo da sala. As pessoas nos bancos se levantaram. Pensei no casamento
de meus pais, e em como havia sido lindo. Esse não seria assim.
Não.
É melhor que esta menina esteja pronta para o pior casamento de sua
vida.
Capítulo 6
Não Viaje

BRAD

Não há nenhuma celebração como um casamento. Em meus sessenta


anos de vida, essa foi talvez a única coisa que eu poderia dizer com
certeza em um determinado dia. A decoração, o vestuário, o espetáculo
em si — tudo em nome do amor. E o amor — o amor real, o verdadeiro
amor — era a única coisa em que eu tinha fé.
E então o que foi que este velho orquestrou?
Não importava que eu tivesse sido o único a encontrar o anjo que
poderia ajudar a salvar meu filho. O que importava era que ele estivesse
aberto a ela. Claro, foi preciso convencimento. As crianças hoje em dia
não aceitam instruções como costumávamos fazer com nossos pais, mas
isso não era nem aqui nem lá.
Assim que eu pus na mesa o papel — meu papel — na empresa na
frente do rosto de Xavier, ele havia aceitado. O casamento, o trabalho,
tudo. Seu coração estava aberto para que ela entrasse nele, e isso era tudo
o que importava.
Hoje olhei ao redor do salão, cheio de familiares e amigos, associados
e clientes, e não pude deixar de me sentir orgulhoso. O organizador do
casamento havia acertado na mosca.
A sala estava coberta de flores — lírios brancos, é claro — e
ornamentos leves pendurados em postes ao longo das paredes. Havia
uma plataforma elevada onde os votos seriam feitos, e o padre estava de
pé atrás de Xavier enquanto esperavam a noiva.
Os bancos tinham sido especialmente instalados para combinar com o
piso de carvalho, e vieram com almofadas de marfim. O florista tinha
entrelaçado lírios em cada banco, e havia pequenas luzes brilhantes entre
eles. A sala inteira estava radiante, como deveria estar.
Fiquei feliz em ver os bancos cheios até a borda, embora não
tivéssemos permitido que a imprensa assistisse à cerimônia lá dentro. Eu
queria que o maior número possível de olhares sobre meu filho e sua
nova esposa testemunhassem o dia em que suas vidas mudariam. Eu
sabia no fundo do meu coração que esta era a decisão certa para ele, e eu
estava tão orgulhoso de estar lá para vê-lo. Só desejava que Amelia
estivesse aqui ao meu lado. Enquanto olhei ao redor, acenando aos
convidados com os quais fiz contato visual, não pude deixar de pensar na
minha amada — a razão de estarmos todos aqui hoje, a razão pela qual
pude encontrar orientação e, por sua vez, guiar meu filho. Eu sentia falta
dela todos os dias, mas hoje sentia falta de algo a mais.
Então as portas se abriram, e todos os convidados se levantaram.
Quando me virei, olhei e vi minha querida Angela, minha querida
nora, andando pelo corredor, senti minha amada ali mesmo comigo.
ANGELA

Não tropece. Não tropece.


As palavras de Lucas se repetiam em meus ouvidos, e eu não sabia se
os nervos ou os sapatos eram a razão pela qual eu pensava que poderia.
Eu não tinha tantos olhos em mim desde que... esqueça isso. Eu nunca
tinha tido tantos olhos em mim.
Foi emocionante subir até o altar no meu casamento, sozinha. Eu não
fui uma daquelas meninas que haviam crescido sonhando com seu
casamento ou qualquer outra coisa, mas eu sempre pensei que meu pai
estaria ao meu lado, acompanhando-me até o altar. Mas ele estava a
quilômetros de distância, em uma cama de hospital. Em coma.
Não chore, Angela, ordenei-me. Há muita gente assistindo.
Finalmente, cheguei à plataforma elevada. Tomei minha posição em
frente ao meu noivo, o homem que me odiava mais do que qualquer
outra pessoa. O homem que mal me conhecia, mas que também estava
salvando a vida do meu pai, mesmo que ele não o soubesse.
Eu lhe dei um sorriso nervoso. Ele apenas me encarou de volta.
O padre sorriu para mim, depois para Xavier, e depois gritou para a
multidão:
— Sentem-se. Estamos hoje aqui reunidos para testemunhar o santo
matrimônio e o compromisso de amor entre Angela Carson e Xavier
Knight...
E depois disso, sua voz se afastou e eu me perdi em pensamentos.
Olhei para Xavier, vi seus olhos escuros e sua mandíbula robusta. Vi a
barba fina em seu queixo, como se ele fosse descolado demais para se
barbear no dia de seu casamento. Depois observei seu smoking, o tipo de
smoking que deixaria o departamento de fantasias da Gossip Girl com
inveja. Tinha sido provavelmente projetado por alguém fabuloso como
Armani, ou Dolce & Gabbana, talvez até feito sob medida. Era preto e
elegante e tudo o que um homem poderia querer.
E ainda assim, eu colocaria dinheiro no fato de que Xavier não poderia
se importar menos com seu smoking. Ou com este casamento. Ou com
qualquer outra coisa, na verdade.
— Angela?
O padre me olhou com expectativa, e eu senti cada olhar da sala
pousar sobre mim. Minhas bochechas queimaram. Onde nós estávamos?
O que eu deveria dizer?
— Eu aceito? — Eu me recompus, e o padre sorriu, acenando com a
cabeça.
E então ele se voltou para Xavier. — E Xavier Knight, você aceita
Angela Carson para ser sua legítima esposa, na pobreza e na riqueza, na
saúde e na doença, até que a morte os separe?
— Eu aceito, — ele disse, como se lhe tivessem perguntado se ele
achava que o sal era um tempero útil.
— Bem, então, senhoras e senhores, eu vos declaro marido e mulher.
Xavier, você pode beijar sua noiva.
Havia gritos e aplausos dos espectadores, e eu esperava nervosamente
por qualquer movimento do Xavier. Eu estava esperando um beijo
simulado, um aperto de mão, ou talvez até mesmo uma bofetada na cara.
Mas o que ele fez em seguida me surpreendeu ainda mais.
Ele se inclinou para frente até seus lábios quase tocarem os meus, e
sorriu quando disse:
— Sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu
quero é arruinar você.
E então ele me beijou nos lábios, enquanto a minha mente e meus
olhos se enchiam de lágrimas.
Quando ele finalmente se afastou, virou-se e saiu da plataforma à
minha frente, recebendo os parabéns dos convidados enquanto voltava a
subir o corredor. Eu não podia acreditar como ele foi capaz de cuspir
fogo em mim para rir com todos os outros, como se nada tivesse
acontecido.
O padre, vendo minhas lágrimas, me deu uma palmadinha nas costas.
— É sempre um dia emocionante. Desejo-lhes a sorte dos céus, — ele
disse.
Depois de um segundo, eu pensei, que eu poderia ter agora. E então
segui meu marido para fora de nossa cerimônia de casamento.

Em: Onde você tá?

Angela: Banheiro.

Angela: Eu quero ir embora.

Em: É o seu casamento...

Angela: Há algo que tenho que te dizer.

Angela: Sobre por que eu me casei com ele.

Em:??

Em: Olá? Angie?


Eu estava no banheiro, sentada no chão frio.
Coloquei meu telefone de volta em minha bolsa.
Eu ainda estava vestindo meu vestido, mas não consegui ficar na pista
de dança por mais um segundo.
Eu estava cansada de ter que fingir sorrisos e beijos no ar para cada
pessoa que Brad me apresentava, e estava ainda mais cansada de ter que
aceitar as felicitações de pessoas que eu não conhecia.
Eu sabia que já havia contado demais a Em, mas não me importava.
Meus pés doíam, meus lábios estavam rachados e sentia meu coração
sem forças. Eu estava apenas... cansada.
Houve uma batida na porta, e então ouvi Em me chamar.
— Angie?
Sem me levantar, fui abrir a fechadura e ela entrou. Ela me viu no
chão, bochechas molhadas, rímel provavelmente no meu rosto.
— Angie, o que está acontecendo? O que você tem para me dizer?
— É... demais, — eu disse.
— O que foi esse texto? Por que você se casou com ele?
Era essa a hora. A hora de admitir a verdade, de pedir ajuda a Em.
Nossos olhos estavam conectados e eu queria tanto revelar tudo. Mas
minha boca estava congelada. Eu não podia dizer nada. Ela olhava para
baixo, como se estivesse ferida pelo meu silêncio.
— Você quer que eu traga Xavier?
— Não! — Eu quase gritei com ela. A hora havia passado. — Não, ele
não iria entender. Eu só... é tudo tão estranho para mim.
Ela sentou-se do meu lado, mal conseguindo apertar suas pernas ao
lado das minhas. Só o ato me fez sorrir.
— Eu entendo. Eu te entendo. Sim, isso é uma loucura. É esmagador,
estranho e aterrorizante. Mas o importante não é o caviar ou os sapatos
Christina Labootin...
— Christian Louboutin. Eu acho.
— Tanto faz. Você sabe o que quero dizer. O importante é que você
ama Xavier, e ele te ama. E há muito amor aqui hoje à noite, celebrando
com vocês. — Ela se inclinou para mais perto de mim e agarrou minha
mão. — Eu sei que seu pai adoraria estar aqui, Angie. Ele teria
enlouquecido, vendo todos vocês vestidos assim.
— Ele provavelmente estaria bebendo de cabeça para baixo.
— Angela, acho que ninguém aqui conhece esse jeito de beber. — Ela
tinha razão. Mas depois eu a vi hesitar. — Você realmente o ama, certo?
— Quem, Xavier?
— Sim, — disse ela, sua impaciência agora era clara. — Xavier. O
homem com quem você acabou de se casar.
— Sim, — eu disse suavemente, mas com os olhos no chão. — Sim.
— Então vamos voltar lá para fora. — A voz dela era leve e alegre
enquanto ela me ajudava a levantar. Eu não pude deixar de pensar se ela
acreditou em mim. E mesmo que acreditasse, o que minha melhor amiga
pensaria sobre a garota que casou com o rico playboy duas semanas
depois de conhecê-lo?

— Mais uma, — disse Xavier por trás de mim enquanto eu ia buscar


um copo de água no bar.
— O quê?
— Mais uma dança que temos que fazer, — ele disse novamente, e
desta vez pude sentir o cheiro do álcool em seu hálito. Ele olhou para um
casal de meia-idade. — Eles queriam nos ver dançar.
— Eles querem nos ver dançar?
— Eu não faço perguntas. Eles são clientes, eles querem que
dancemos, vamos dançar.
— Certo, — eu disse enquanto ele agarrava minha mão, metade
puxava e metade me guiava até o casal.
— Angela, querida, você está simplesmente linda, — disse a mulher
com muito botox.
— Obrigada, — eu saí antes que ela continuasse.
— Mal podemos esperar para ver você e Xavier fazendo um pequeno
baile — você sabe o que eles dizem. Você pode ver o amor na dança, —
disse ela, e eu lamentei interiormente.
Se eles quisessem ver amor, deveriam procurar em outro lugar. Mas
em vez de reclamar, eu segui Xavier até a pista de dança e o deixei me
girar pela sala, elogiando-me por ter trocado o champanhe pela água.
Caso contrário, eu não teria tanta certeza de que o salmão grelhado
ficaria dentro de mim.
Quando terminamos, eu esperei que Xavier dissesse "obrigado", "bom
trabalho" ou qualquer coisa remotamente agradável. Afinal, eu havia
acabado de lhe fazer um favor. Em vez disso, ele só acenou para os
clientes, atirou um olhar vazio em mim e depois decolou na outra
direção.
— Aí está você, Angela, — ouvi atrás de mim, e me virei para
encontrar Brad. Ele parecia muito feliz, e eu também fiquei por ele estar
se divertindo. Realmente, eu estava.
— Estou aqui, — eu disse, sorrindo para ele. — Você fez um trabalho
maravilhoso com tudo. De verdade, é tudo incrível.
— Fico feliz que você pense assim. — Então, ele pôs a mão em seu
bolso e puxou uma chave de quarto de hotel. — Isso é para a suíte de lua-
de-mel, minha querida. Eu já dei a de Xavier a ele. Vão, divirtam-se. Amor
jovem, não há nada melhor, — ele disse, e parecia que essa última parte
era mais para ele do que para mim. Ele se virou, batendo palmas, e se
afastou de mim antes que eu pudesse agradecer a ele.
Não querendo mais nada com a festa e sem saber para onde Xavier
tinha ido, dirigi-me para os elevadores e, uma vez lá dentro, bati no botão
para o último andar. Todas essas suítes chiques, a comida gourmet e o
licor caro — nada disso me deixava mais confortável com minha escolha.
Pense em seu pai, eu me lembrava. Ele precisa de você.
Quando cheguei ao último andar, tive que caminhar o que me
pareceu uma milha antes de chegar à porta da suíte.
Eu deslizei a chave do quarto para dentro da fenda e vi a luz ficar
verde. Depois, empurrei a porta para abrir e entrei, respirando pela
primeira vez desde que eu tinha começado o corredor. Fechei a porta
atrás de mim e acendi a luz, chutando meus sapatos e ouvindo meus pés
gritarem: — OBRIGADO!
Eu estava começando a me lembrar que precisaria de alguém para me
deixar sair deste espartilho quando ouvi uma voz masculina vindo de
uma das salas. Provavelmente Xavier, pensei. Então, parti em direção à
sala, esperando que, se eu pedisse gentilmente, ele me ajudaria. Não de
uma forma sexual — de jeito nenhum.
Eu me senti desconfortável só de pensar nisso. Mas eu queria dormir
em algo que não fosse um espartilho apertado e não pensei que o estilista
com o cabelo amarrado apertadamente apreciaria que eu subisse na cama
na obra-prima do Sr. Wang. Então, quando cheguei ao quarto, abri a
porta sem pensar, e...
Eu fiquei sem ar. Ali, diante de mim, a poucos metros de distância, em
cima da cama almofadada king-size com os lençóis de 1000 fios
totalmente brancos, estava meu marido.
E ajoelhada, com o rosto nos lençóis e o rabo no ar, gemendo quando
os movimentos vinham cada vez mais rápidos, era uma mulher
bronzeada e de cabelos escuros.
Mas não apenas qualquer mulher bronzeada e de cabelos escuros.
Era Sky. A maquiadora.
Xavier virou-se para ver quem tinha aberto a porta. Ele não parou de
se mexer, ou mesmo diminuiu sua movimentação. Apenas sorriu. E
continuou gemendo.
— Ei, Angela, você se importa de fechar a porta ao sair?
Capítulo 7
Afogando no céu

ANGELA

Na noite do meu casamento, eu tinha saído da suíte de lua-de-mel o


mais rápido que pude. E depois dormi na suíte nupcial, sozinha.
Não era suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher
no dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher
que eu conhecia, uma mulher com quem eu tinha passado algum tempo
naquele dia. Uma mulher que sabia como eram os meus poros de perto.
Era como se ele estivesse tentando me machucar de propósito, para me
punir por casar com ele.
Ontem de manhã, depois de sair do hotel o mais rápido que pude,
tinha me enterrado de volta em meu quarto no Brooklyn. Em tinha
voltado para Heller para visitar sua mãe, então eu tinha o lugar todo para
mim.
Eu havia passado 24 horas observando o Netflix e pedindo comida,
mas quando acordei esta manhã, ainda não me sentia melhor.
Provavelmente porque eu sabia o que era hoje... tanto quanto tentei me
convencer do contrário.
Hoje foi o dia em que tudo se tornou verdadeiramente real.
Na semana passada, Brad havia sugerido que adiássemos nossa lua-de-
mel até Xavier fechar o negócio em que estava trabalhando para a
empresa, para que ele pudesse se concentrar nas férias e realmente
aproveitá-las. Eu tinha concordado imediatamente. A ideia de passar
tempo de qualidade com Xavier Knight era suficiente para me deixar
enjoada.
Mas hoje eu deveria me mudar para nossa nova casa. Eu estava prestes
a passar muito mais tempo, de qualidade ou não, com meu marido.
Eu tinha pesquisado no Google o endereço assim que Brad me enviou
ontem. Estava no prédio mais exclusivo do Central Park South, e era a
cobertura. O que significava que o último andar era todo nosso. O
Google disse que tinha uma vista fantástica do parque e da cidade, um
elevador privado, um spa interno equipado com sauna e seis quartos.
Tudo isso me fez pensar em algo.
Seis quartos? Na cidade de Nova Iorque? Olhei à minha volta os
trezentos metros quadrados que Em e eu dividimos em seu apartamento.
Estava apertado, claro, mas me sentia em casa. Eu tinha começado e
terminado de arrumar minha mala dentro de uma hora, depois me fiz
um sanduíche. Eu dei uma mordida, mas mal conseguia engolir sem
querer vomitar. Meu estômago parecia travar quando eu estava nervosa.
Joguei o sanduíche no lixo e puxei minha mala para fora do
apartamento, acenando ao primeiro táxi que passou.
Nós aceleramos em Manhattan e, antes que eu me desse conta,
estávamos em frente ao meu novo prédio. Eu abri a porta do carro e,
antes que eu pudesse sair com os dois pés, um dos porteiros
uniformizados se apressou em vir até mim. Ele parecia genuinamente
perturbado por eu não ter esperado por ele para abrir a porta do carro.
— Bom dia, Sra. Knight.
Eu vacilei, mas depois me recuperei. Não foi culpa dele que fosse meu
nome.
— Bom dia, — eu disse. — Qual é o seu nome? — Ele olhou para mim
como se eu tivesse feito algo errado novamente.
— Pete.
— Oi, Pete, — eu disse. Eu não sabia de nenhuma das regras não ditas
que claramente corriam desenfreadas com essas pessoas, mas achei bobo
não saber o nome de alguém com quem eu estaria interagindo muito.
Pete pegou minha mala e me guiou através do enorme lobby,
passando pelos elevadores, até o meu próprio elevador privado com o
selo PH.
— Você quer que eu suba com a mala?
— Tudo bem, eu posso levar, se for mais fácil.
— O que você preferir, Sra. Knight. — Lá estava ele novamente.
— Posso levar, — eu disse, e ele empurrou a mala no elevador e
esperou que as portas se fechassem entre nós. Quando fecharam, sentei-
me no banco almofadado atrás de mim — sim, o elevador tinha um
banco dentro dele — e tentei me concentrar na minha respiração.
Inspirar por três, exalar por três inspirar por três, exalar por...
As portas se abriram, e eu vi o que parecia ser um palácio estendido
diante de mim. Meu exercício respiratório havia voado pela janela. Eu
estava tentando recuperar o fôlego quando entrei no saguão da minha
nova casa.
A luz natural entrava através das janelas do chão ao teto que revestiam
a parede. Era uma sala de estar de conceito aberto, o que significava que
eu podia ver a sala, a biblioteca e a cozinha de onde eu estiver parada.
A ampla sala de estar foi decorada em tons de bege e creme, e incluía
dois sofás para quatro pessoas, um par de poltronas de couro creme e
uma televisão de tela plana tão grande que podia ser uma tela de cinema.
A cozinha parecia o sonho de um chefe de cozinha. A geladeira, os
fornos e os fogões pareciam todos de última geração. O melhor que o
dinheiro podia comprar.
E quando virei minha cabeça para começar a admirar a biblioteca,
ouvi um 'Olá?' do fundo do corredor.
Virei e vi uma senhora de aparência leve, provavelmente na casa dos
cinquenta anos, vestida com um uniforme de camareira, caminhando na
minha direção. Seus movimentos eram tão rápidos e coordenados que
era hipnotizante observá-la.
— Olá, — repetiu ela, e eu percebi que ainda não tinha respondido.
— Oi, — eu disse. — Desculpe. Eu sou Angela... er... Knight. Acabo de
me mudar.
— Sim. Sim, — disse ela, e antes de chegar até mim, ela girou nos
calcanhares e começou a recuar rapidamente pelo corredor. — Eu sou
Lucille. Venha por aqui. Eu lhe mostro o espaço. — O sotaque dela era
definitivamente europeu, mas eu não distingui de onde imediatamente.
Eu a segui, puxando minha mala atrás de mim.
— De onde você é? — perguntei, tentando conversar. Eu precisaria de
um aliado neste palácio, isso ficou claro.
— Eu moro aqui. Em Nova Iorque. — E assim mesmo, sem sequer
olhar, ela deixou claro que não queria falar. Pelo menos não comigo.
Depois de passar o que parecia ser um punhado de portas fechadas,
finalmente chegamos na porta certa. Ela virou a maçaneta e me deixou
entrar primeiro, e deixe-me dizer, era lindo. Eu certamente não fiquei
desapontada.
Os pisos eram de madeira e cobertos com tapetes de pelúcia branca, as
paredes eram cor de casca de ovo, havia espelhos em forma de arte
pendurados sobre eles, e a cama parecia uma nuvem, toda fofa e branca.
É lindo, eu disse novamente para mim mesma.
Mas não era como o resto do condomínio. Na verdade, não. Cada
quarto que eu tinha visto até agora parecia que tinha sido adaptado para
a realeza, ou uma capa de revista de decoração de interiores. Ou um
knight. E esta sala... pareceu um pensamento posterior. Mas então eu me
detive. O que eu estava dizendo? Eu estava reclamando? Em quem eu
tinha me tornado? O que meu pai diria se tivesse me ouvido?
— É bonito, — eu disse, voltando-me a Lucille. Mas a Lucille apenas
bufava — sim, bufava — e voltava rapidamente pelo corredor.

Angela: Em não vai acreditar nisso...

Angela: Esta cama...

Angela: É uma nuvem.

Angela: Ou o céu?

Angela: Em?

Angela: Você está aí?


O som do elevador. Não havia como enganar. Alguém mais estava
subindo. O dia inteiro tinha sido só eu e Lucille, embora ela fosse
praticamente invisível. Eu fiquei ocupada desfazendo a mala, mas mesmo
quando fui buscar um copo de água na cozinha, não a vi nem ouvi.
Mas agora, alguém mais estava aqui.
Pressionei meu ouvido até a porta, escutando o toque da abertura da
porta do elevador. Segurei a respiração, esperando poder saber de quem
era a voz.
— Eu não sei quantas vezes tenho que dizer a vocês. Aquecedores de
assento ligados, aquecidos, — uma voz masculina estrondosa trovejou da
área da sala de estar. Bem, essa não foi muito difícil. O marido está em
casa.
— É claro. Desculpe, senhor.
Pensei em ficar fora do fogo cruzado e permanecer no meu quarto,
mas eu sabia que eventualmente teria que cumprimentá-lo. Talvez fosse
melhor acabar com isso agora, para mostrar a ele que estava pronta para
iniciar uma relação civilizada. Afinal, estávamos vivendo juntos agora.
Então eu saí, entrei no corredor e vi um Xavier escrevendo algo em seu
telefone.
O homem que ele estava castigando estava vestido de preto, tinha a
cabeça raspada e segurava óculos de sol de aviador em suas mãos. Ele
parecia calmo e incrivelmente intimidante. O homem virou-se para mim
primeiro, depois limpou sua garganta e olhou para Xavier. Xavier olhou
para cima. Ele me viu, não mostrando qualquer expressão.
— Marco, esta é minha esposa. — Da maneira como ele disse esposa,
você teria pensado que ele teria dito — mosquito que não me deixa em
paz. — E então ele saiu, indo para uma porta que eu presumia ser seu
quarto e a batendo atrás dele.
Eu recorri ao Marco.
— Oi, Marco. Prazer em conhecê-lo. Eu sou Angela.
— Ei, — ele disse, frio como gelo, enquanto saía direto para uma sala
diferente. Ele claramente também não estava na Equipe Angela.
Em uma cobertura tão grande, com tudo que uma garota poderia
querer, eu nunca me senti tão só.
Pensei que ligar para Em, ela me ajudaria. Ela ainda não tinha
respondido aos minhas mensagens, o que era estranho, mas talvez ela
não as tivesse ouvido chegar. Quando eu estava de volta ao meu quarto,
eu liguei para ela e senti um alívio puro quando ela atendeu ao terceiro
toque.
— Olá?
— EM!
— Olá, Angie. — Ela parecia distraída.
— Onde você está? Está tudo bem?
— Estou apenas na loja. Do que você precisa? — Do que eu preciso?
— Oh, nada. Eu só... só sinto sua falta. E do apartamento.
— Você acabou de chegar aí. E sua cama parece ótima. — Então, ela
recebeu as mensagens.
— Oh, é mesmo. Quero dizer, é linda.
Indescritivelmente incrível.
— Mm, — disse ela, e desta vez eu estava certa de que ela parecia
distante.
— Mas não é nada parecido com o que foi dividir o pequeno
apartamento com você, Em. Sinto falta do aconchego. O quanto nos
divertimos.
— Angela, você está aí há cinco minutos. Você vai se acostumar com
isso. Como com todo o resto, — ela disse.
— O que isso quer dizer?
— Só isso... olha, estou feliz que esteja feliz, está bem? — Ela
continuava dizendo isso — quando estávamos nos preparando na suíte
nupcial, quando ela me deu um beijo de despedida no casamento, e
novamente agora. Eu começava a me perguntar se era uma desaprovação
disfarçada de simpatia.
— Obrigada, — foi tudo o que pude dizer.
— Olha, tenho que ir, está bem? Está chegando um cliente. — Eu sabia
que isso não poderia ter sido verdade. Eram seis da tarde de uma
segunda-feira.
— Posso ser honesta com você? — eu perguntei.
— Sempre, — disse ela, e desta vez ela soou mais suave.
— Eu não sei se me encaixo aqui, Em. É um mundo tão estranho em
que eles vivem. Todo mundo é... frio. E há estas regras. Ninguém diz
quais são a você. Eles só esperam que você saiba...
— Angie. Ouça-me. Você escolheu esta vida, está bem? Você decidiu se
casar com ele. Não posso continuar segurando sua mão e lhe dizendo o
que você quer ouvir. Este é o caminho que você escolheu, e você vai se
acostumar a ele — a cama de nuvens, os sapatos chiques, tudo isso. Agora
eu realmente tenho que ir. — E ela desligou.
Em nunca tinha desligado antes, nem tinha sido tão afiada com suas
palavras. Claro, já tínhamos tido brigas antes, mas nunca sobre decisões
importantes na vida. E sempre tínhamos sido capazes de falar sobre isso.
Eu liguei novamente. A chamada foi direto para a caixa postal. Ela
claramente não queria conversar comigo. Minha vida estava em absoluta
desordem, e a única pessoa que eu podia culpar era eu mesma.
Afundei-me mais na cama de nuvens, jogando minhas mãos sobre o
meu rosto. Meus olhos se abriram e depois se fecharam. Em seguida,
abertos. Em seguida, fechados. Desejei, nesse momento, que o leito de
nuvens me engolisse inteira.
Capítulo 8
Mensagem afiada

ANGELA

Lucas: desculpe, não posso falar.

Angela: Ok.

Angela: Sem problemas.


Atirei meu telefone para o outro lado da cama. Eram sete da manhã, e
eu tinha passado minha primeira noite na cobertura. Depois de desligar
o telefone com Em ontem à noite, eu não tinha saído do meu quarto
novamente. Eu tinha vestido meu pijama, afundado em meu novo
colchão e mantive meus olhos fechados até chegar o sono.
Pensei que adormecer tão cedo ontem à noite teria me deixado
acordar refrescada, otimista sobre o dia que chegava, mas, em vez disso,
eu tinha acordado sentindo-me igualmente solitária. Os espelhos ao
redor da sala também não estavam ajudando; eles apenas me lembravam
que eu era a única aqui.
Eu tinha tentado ligar para o Lucas. Normalmente, uma conversa
rápida com ele poderia me animar em qualquer dia. Suas piadas sempre
tiveram uma maneira de me lembrar de não me levar muito a sério. Mas
mesmo ele não queria conversar esta manhã.
Eu me sentei, vendo meu rosto refletido em um espelho oval na
parede do outro lado do cômodo. Eu olhava tão brava quanto me sentia.
Eu tinha colocado meu cabelo comprido amarrado antes de adormecer, e
agora não estava apenas desarrumado, tinha perdido todo o trançado que
havia feito. Então eu tinha os cabelos apontando para todas as direções,
além da pele que precisava ser hidratada e os lábios que precisavam de
um manteiga de cacau.
Mas eu sabia que arrumar-me não me faria realmente sentir melhor,
então decidi fazer algo a respeito do meu estado de espírito primeiro.
Saltei da cama, vesti uma legging velha e uma camiseta esportiva, amarrei
meu cabelo em um rabo de cavalo, calcei meus tênis e saí.
Por sorte, não cruzei com ninguém, pois me apressei a entrar no
elevador. Achei que não conseguia lidar com uma hostilidade tão cedo.
Pressionei 'L' para o lobby e me maravilhei com a velocidade do elevador,
descendo rapidamente os trinta e cinco andares e me deixando no andar
térreo em dez segundos. Achei que nunca me acostumaria a isso.
Andei pelo saguão, colocando meus fones na orelha. Havia residentes
que se sentavam em cima dos móveis luxuosos e outros que conversavam
uns com os outros pela porta da sala do correio.
Todos eles pareciam ser ricos, como se, mesmo em suas roupas
matinais casuais, ainda fossem melhores do que todos os outros. Eu
ainda tinha meus olhos neles quando estava quase na porta e esbarrei
diretamente em Pete, o porteiro.
— Nossa, — eu soltei, e ele se apressou para me firmar.
— Você está bem, Sra. Knight?— perguntou ele, preocupado com a
cara de susto. Eu vi os residentes se virarem para ver o que era a confusão
e senti um calor na minha cara.
— Eu estou bem. Estou bem, — eu mesmo disse rapidamente,
empurrando a porta para abrir. — Sinto muito, — eu disse, dando-lhe
uma olhada rápida antes de sair. Agora eu realmente precisava de ar.
A brisa fria de outono atingiu meu rosto imediatamente, e ajudou a
me tirar de meus pensamentos. Virei à direita e depois esperei que a luz
do semáforo mudasse, pulando para cima e para baixo no lugar para
manter meu ritmo cardíaco acelerado. Quando ficou verde, eu corri para
o outro lado da rua e me dirigi ao Central Park.
Ao percorrer grupos de turistas, famílias e pessoas que só queriam ver
um pouco de natureza logo pela manhã, eu não pude deixar de sorrir.
Todos estavam aqui juntos, aproveitando a vida e dando o melhor de si, e
por alguma razão eu não conseguia explicar, fui acostumada com um
sentimento de esperança. Se eles podiam estar aqui fora tentando,
fazendo seu melhor, então eu também poderia fazê-lo.
Esse sentimento de esperança foi o que me motivou a correr mais
rápido do que em meses, usando as crianças risonhas e os jogadores de
futebol grunhindo na grama ao meu lado como espectadores que eu
estava tentando impressionar. Quando parei para respirar, eu já tinha
corrido pouco mais de cinco quilômetros. Nada mal, pensei eu, dando
tapinhas figurativos no ombro. Caminhei por um tempo para me
acalmar, deixando a endorfina correr pelo meu corpo, e então atravessei
a rua e entrei numa cafeteria antiga na esquina.
Não vi ninguém trabalhando atrás do balcão quando entrei pela
primeira vez, então olhei em volta, confusa. Foi quando eu vi o homem
sentado em um pequeno banco ao lado do balcão, quase escondido de
onde eu estava parada. Ele estava lendo o New York Times, e claramente
não tinha ouvido ninguém entrar na loja.
Ou isso, ou ele simplesmente não se importava em se levantar e ajudar
um cliente. Mas eu estava de tão de bom humor com minha corrida, que
nem me importava. Fui até o barista e, parado bem na sua frente,
comecei a conversar.
— Olá! — Eu disse alegremente, e ele olhou para mim. Ele parecia
estar perto da minha idade, com olhos quentes e um sorriso fácil.
— Isso foi um olá e tanto, — ele disse. — Você deve estar de bom
humor.
— Acho que sim. Agora, pelo menos... — Eu disse.
— Agora?— perguntou ele, de pé e dirigindo-se para trás do balcão.
Mas não antes que eu pudesse ver a página do jornal que ele estava
lendo: Página Seis.
— Estes últimos dias têm sido uma montanha-russa. Mas eu
simplesmente, não sei, fiquei farta deles — ... Eu supus, metade para meu
benefício e metade para o dele.
— Ah, uma daquelas semanas, hein? Bem, o que posso lhe oferecer?
Olhei ao redor da cafeteria, só percebendo agora que ela estava
completamente vazia. Uma cafeteria quase vazia? Isso nunca aconteceu
em Nova Iorque. Então meus olhos chegaram ao menu do café, no
quadro-negro encostado na parede do balcão. Eu o escaneei.
— Vou querer o café com leite de hortelã-pimenta, — eu disse.
— Escolha interessante, — respondeu o barista, começando a
trabalhar no café expresso. — Você corre na vizinhança?
— Pelo parque, sim, — eu disse. — Acabo de me mudar para cá, na
verdade.
— Oh, legal, — ele disse, vaporizando o leite. — Por onde?
— Bem perto do parque.
— Que rua?
Eu estava tentando evitar dizer isso, sabendo o quanto o nome da rua
soaria pretensioso. Especialmente para um barista. Mas eu também não
queria ser rude.
— Central Park South, — quase sussurrei. Ele me olhou de relance,
não dando muito. Eu sentia que tinha que me justificar de alguma forma.
— Meu marido... ele já vivia no prédio. Por isso, vou morar com ele.
— Você acaba de se casar, ou algo assim?
Eu acenei com a cabeça.
— Há apenas alguns dias, na verdade.
— Bem, parabéns, — ele disse, sorrindo para mim. Mas então, de
repente, algo mudou nos olhos do barista, e ele olhou diretamente para
mim novamente. — Eu sei quem você é, — ele disse, derramando o leite
sobre o café expresso. — Você é a nova esposa de Xavier Knight.
Eu olhei para o chão, com a vontade de pegar meu café e ir embora.
Mas eu ainda não havia pago.
— Certo?— ele pressionou.
— Sim, — eu disse.
— Eu sabia! Eu a reconheci do anúncio do Times. E suas fotos de
casamento estão por toda parte. Duh, é claro que é você.
Ele me entregou meu copo, inclinando-se para frente sobre o balcão e
realmente me medindo.
— Então, por que a montanha-russa dessa semana?
— Oh, não é nada. Quanto devo a você?
— Uma resposta real, — ele disse, mas depois sorriu. — É por conta da
casa. Você é um cliente de primeira viagem.
— Você não tem que fazer isso...
— Ah, de verdade, — ele disse, colocando a mão no ar. — É um prazer
conhecê-la. Tome a bebida. Eu sou Dustin. Dustin Stirling. — E ele
estendeu sua mão. Eu a apertei.
— Angela... Knight.
— Olá, Angela. Ok. Então, de volta a você. Você não precisa me dizer
nada, porque eu sou claramente um estranho, mas seja qual for o seu
estado de espírito, saiba que você o tem muito bem. Você é casada com o
homem mais rico e legal da cidade. Sério. Toda garota quer devorá-lo, e
todo homem quer ser ele. Ou devorá-lo. Se é que você me entende
— Não, eu... eu entendo, — eu gaguejei, não acostumada à sua forma
de falar sem filtro. — Estou muito feliz. De estar casada. Sério.
Ele manteve seus olhos em mim, e eu esperava que eu não estivesse
dando nada.
— De qualquer forma, obrigada pelo café com leite. É delicioso. E foi
um prazer conhecê-lo, — eu disse, virando para a porta.
— Ei, eu estou aqui, tipo, sempre, — ele disse à minha figura indo
embora. — Se você quiser um amigo, ou um outro café com leite de
hortelã-pimenta ridiculamente bom, venha até aqui.
— Certo, — eu disse, oferecendo um último aceno antes de voltar
para a rua onde ninguém sabia de meus segredos. Verifiquei meu telefone
para ver se tinha alguma ligação perdida do Lucas, mas tudo o que vi foi
uma tela preta. Meu celular não tinha mais bateria, provavelmente ficou
sem enquanto eu estava correndo. Ótimo.

Xavier: ONDE

Xavier: Está

Xavier: Você

Xavier: ???????
Eu estava no elevador, sonhando acordada com o banho quente que
estava prestes a tomar, quando as portas se abriram e me tiraram de
dentro dele. E ali, sentado na poltrona de cor creme na sala de estar,
estava Brad.
— Ah, lá está ela! Vem, vem, querida, — ele disse, de pé para me
cumprimentar.
Caminhei até ele e o beijei na bochecha, vendo meu marido
comovente no sofá em frente a ele. Xavier não ficou de pé.
— Eu não sabia que você estava vindo, eu teria ficado aqui, — eu disse.
— Bobagem, eu não queria perturbar seu dia. Alguma coisa divertida
planejada?
— Eu estava apenas correndo. — Meu olhar foi para Xavier. Seu olhar
estava um pouco pior do que de costume como se estivesse atirando
dardos em mim.
— Você tem algo divertido planejado, Xavier? — perguntei-lhe,
tentando mostrar a Brad que os recém-casados eram civilizados, pelo
menos.
— Eu vou trabalhar nos dias de semana, — ele disse, sendo
condescendente. — Na verdade estou atrasado, pai.
— Certo, certo, é claro, — disse Brad, levantando-se novamente. —
Bem, eu só queria aparecer e ver como os pombinhos estavam se saindo.
É tudo ótimo aqui, não é?
— Sim, — eu disse, e Xavier apenas acenou com a cabeça.
Brad veio me beijar na bochecha novamente, e depois apertou a mão
de seu filho.
— Estou feliz por você estar aqui, Angela, — ele disse antes de chegar
ao elevador. — Você agora faz parte da família.
— Eu também, — eu me engasguei. — Obrigada. — E então ele se foi.
Pensei que logo estaria livre para tomar um banho quando ouvi algo
se despedaçar atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier, parado e me encarando, fragmentos
do que um dia foi um vaso de vidro no chão na sua frente. Eu fiquei
chocada. Ele claramente tinha acabado de deixá-lo cair no chão.
— Limpe-o, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas em minha vida,
convidando meu próprio pai sem me avisar com antecedência, então eu
vou manda-lo de volta para você. Esta é uma confusão que eu fiz. Você a
limpa.
Fiquei atordoada.
— Eu não... eu não o convidei, — eu disse, sabendo que minha voz
estava soando mais fraca a cada segundo.
— Você pode mentir o quanto quiser. Não seria muito fora do caráter.
— Eu não estou mentindo. — Mas ele já estava batendo a porta de seu
quarto, e eu podia ouvir uma gargalhada feminina lá dentro.
Eu olhei para o vidro no chão, sabendo que não era meu feitio
simplesmente deixá-lo lá. Alguém poderia se machucar muito. Então,
encontrei a pá e pude varrer os fragmentos.
Eu pensei que estava sozinha quando ouvi a voz de Lucille atrás de
mim.
— Eu faço isso, — disse ela.
Eu me voltei para ela.
— Está tudo bem, estou quase terminando.
E então ela fez algo que eu nunca teria esperado. Ela caminhou na
minha frente, beijou seu dedo e pressionou-o na minha testa. Ela
pareceu maternal e firme, tudo de uma só vez.
Talvez tudo o que foi preciso foi suportar a raiva de meu marido para
me ganhar um aliado na cobertura. Mas quanto eu posso suportar?
Capítulo 9
A dor de ontem

ANGELA

Desconhecido: Olá, Angela?

Desconhecido: Esta é Betty. De Curixon.

Angela: Olá?

Desconhecido: Eu sou o assistente do Sr. Kinfold.

Angela: Oh!

Angela: Em que posso ajudá-los?

Desconhecido: Na verdade, acho que posso ajudá-la...

Desconhecido: Você poderia me encontrar para um café esta


tarde?

Desconhecido: Starbucks na 54a com a 3a.


Eu estava a um quarteirão do Starbucks onde eu deveria encontrar
Betty. O Sr. Kinfold era um grande Vice Presidente de uma importante
empresa de tecnologia, e eu realmente pensei que tinha arrasado na
entrevista. Eu tinha saído do escritório do centro da cidade, convencida
de que tinha o emprego.
Ele era um homem simpático. E tinha uma filha da minha idade e foi
rápido em me dizer o quão impressionante era a minha média na
universidade. Nós nos demos bem. Então, quando recebi o e-mail de
rejeição alguns dias após a entrevista, tive que lê-lo três vezes antes de
entender o que ele dizia. Que eu não tinha conseguido o emprego. Que
eu não era boa o suficiente.
Mas agora, com sua assistente me estendendo a mão, senti a pequena
excitação das borboletas em meu estômago começar a vibrar. Talvez o Sr.
Kinfold tenha percebido seu erro e tenha enviado sua assistente para me
pedir desculpas, para ver se eu ainda estava precisando de um emprego.
Eu respirei fundo para acalmar meus nervos e abri a porta, deixando
um homem de negócios sair antes que eu entrasse na cafeteria
movimentada.
Olhei à minha volta, vendo muitos trabalhadores de terno digitando
em seus laptops e telefones, com um café na frente de cada um deles. Eu
estava tentando me lembrar de como era Betty. Será que ela tinha cabelo
ruivo? Ou era marrom escuro e encaracolado?
Mas então eu ouvi:
— Angela! Aqui! — Eu me virei, seguindo a voz para uma pequena
mesa na parte do fundo da loja. Estava apertada entre duas outras mesas,
uma tomada por um universitário que cheirava a cigarros, e outra por
uma babá com duas crianças loiras que se contorciam. Betty, que de fato
tinha cabelos castanhos escuros e encaracolados, estava de pé com um
sorriso educado no rosto. Ela parecia nervosa.
— Oi, — ela disse, oferecendo sua mão para um aperto de mão.
— Prazer em vê-la novamente, — eu disse, sacudindo-o. Nós duas nos
sentamos.
— Obrigado por me encontrar, — ela começou, e eu a vi escanear o
Starbucks como se ela estivesse se certificando de que ninguém
importante ouvisse suas próximas palavras.
— Sei que isto não é exatamente convencional, e sei que da última vez
que você ouviu falar de nós, não conseguiu o emprego...
Aqui vamos nós, eu pensei. Este é o momento que vou lembrar para
sempre.
— Mas eu só... eu queria que você soubesse o porquê. Por que você
não conseguiu o emprego.
— Oh... — Eu me afastei, meu desapontamento é palpável. Isso não
era uma oferta de emprego. Era uma análise detalhada de onde eu havia
errado.
— O Sr. Kinfold gostou de você. Na verdade, você era sua melhor
escolha.
— Eu era...
— Eu já estava escrevendo seu contrato quando ele recebeu.
Recebeu o quê?
Tenho certeza de que parecia tão confusa quanto realmente estava. E
os olhos dela se movendo nervosamente não estavam ajudando. Ela se
inclinava para frente, seus cotovelos sobre a mesa e seu rosto a apenas
alguns centímetros do meu.
— Você estava trabalhando na Gelsa Inc. antes, certo? Em Jersey?
Eu acenei com a cabeça.
— O Sr. Kinfold... recebeu um documento da Gelsa. Do Sr. Lemor,
especificamente. — Eu me agarrei ao nome, e depois senti meu corpo
inteiro travado. O Sr. Lemor era meu antigo chefe. Ele foi a razão de eu
ter me mudado para Nova Iorque.
— O Sr. Lemor nos escreveu uma carta... foi um aviso.
— Um aviso sobre mim? — eu perguntei, incrédula.
— Não. Mais como um aviso para nós. A Gelsa é uma empresa
multinacional com poder sobre muitos de nossos clientes. Ela tem a
capacidade de interromper nossos negócios em um nível maciço. E
Lemor... Ele se certificou de que, se a contratássemos, ele dificultaria as
coisas para nós.
— Mas isso é... isso é ilegal, — eu me engasguei.
Ela suspirou.
— Ilegal, imoral, são todas essas coisas. Lemor é conhecido no setor.
Ele é o cara que luta em cada batalha como se fosse a Terceira Guerra
Mundial, sabe? O Sr. Kinfold é um bom homem, mas ele não queria
arriscar.
— Não quando há tantos engenheiros mecânicos de nível básico. Eu
entendo, — eu disse, apesar de ter sido inundada por uma melancolia.
— Eu nem deveria saber, mas li bem a carta quando a recebemos. Eu
leio a maior parte do correio do Sr. Kinfold, mas isso... nunca tinha visto
nada assim. Eu poderia me meter em sérios problemas se alguém
descobrisse que eu lhe disse, mas achei que você merecia saber, — ela
disse, atravessando a mesa e dando tapinhas na minha mão. O contato
físico me surpreendeu, mas me pareceu genuíno. — Eu não sei o que
aconteceu entre você e Lemor, mas ele está claramente mantendo o
controle sobre você. E ele esta paralisando a maioria das empresas.
Portanto... tenha cuidado, — disse ela. — Homens poderosos não
pensam duas vezes em foder com mulheres jovens, sabe? — Ela pegou
seu café e sua bolsa, e ficou de pé.
— Obrigado. Por me contar, — eu disse, e ela acenou com a cabeça
antes de ir embora.
Suas palavras continuaram brincando na minha mente. Homens
poderosos não pensam duas vezes em foder com mulheres jovens.
Ela estava certa. E eu sabia disso em primeira mão. O Sr. Lemor era o
homem que eu mais temia ver há onze meses. Ele não era apenas meu
patrão. Ele era o homem que tinha me perseguido e assediado
sexualmente. E ele era também, aparentemente, o homem que não me
deixava esquecer, sem contar o que não poderia fazer à minha carreira.
XAVIER

Hoje não era o meu dia. E depois do tumulto do casamento, ter minha
nova esposa mudando-se para minha cobertura e ter o negócio da
propriedade da semana passada a um preço mais alto do que eu pensava,
eu realmente precisava que fosse o meu dia.
Tinha começado bem o suficiente. Cheguei à minha sessão de
ginástica matinal sem ninguém tentando falar comigo. Nada me
incomodava como as interrupções na academia, onde uma garota com
um top apertado ou um mano com uma camiseta agarrada me
reconhecia e tentava iniciar uma conversa. Eu não vou à academia para
conversar. Eu não vou lá para conhecer garotas, e com certeza não vou lá
para conhecer caras.
Ir à academia pela manhã tinha se tornado minha saída, desde que
tudo com ela aconteceu... no início do ano. Puxar ferro me fez esquecer o
fato de que meu coração havia sido esmagado. Tirava meu estresse e
minha raiva. Isto é, até eu sair da academia e tudo voltar a ser o mesmo.
Mas enquanto eu estava lá, isso me fazia sentir competente e em
controle. Como um homem.
Portanto, a academia desta manhã estava ótima. Esse não foi o
problema. O problema veio mais tarde, depois do almoço, quando recebi
uma ligação sobre uma de nossas propriedades em Paris. Atraso no
desenvolvimento, disse o empreiteiro. Algum problema com a obtenção
de autorizações da cidade, e tudo isso me pareceu uma besteira.
E meu pai, é claro. Ele não ficou muito entusiasmado em ouvir a
notícia. Porque qualquer coisa que dê errado enquanto eu estiver no
escritório é um reflexo do meu trabalho.
— Você não está dando seu melhor, Xavier, — ele disse.
— Isso estava fora do meu controle.
— Nada está fora de nosso controle. Você teve algumas semanas de
distração. Eu compreendo...
— Eu não estou distraído, porra.
— Cuidado com o seu tom.
E foi assim que aconteceu. Um barco podia afundar na porra do
Ártico, e se eu estivesse sentado em meu escritório, ele encontraria uma
razão para fazer disso minha culpa.
Portanto, o evento de gala que eu estava tentando evitar, aquele
programado para daqui algumas semanas em um de nossos outros hotéis
em Paris, agora eu terei que ir nele. Para que eu possa verificar
pessoalmente o empreiteiro e passar algum tempo 'mostrando a cara'
pela cidade.
‘Mostrar a cara’ era como meu pai gostava de descrever as pessoas
intimidadoras.
— Quando não o veem, não podem temê-lo, — é o que ele sempre diz.
Não que Brad Knight seja o cara mais intimidador do mundo. Você não
atravessaria a rua se o visse caminhando na sua direção à noite. Mas ele é
um homem com artilharia sem fim e com o bom senso de empregar
aqueles que sabem como usá-la. Então, sim, eu aprendi com o melhor, eu
diria.
Mas a última vez que estive em Paris, eu estava lá com quem me
fodeu. Aquela que pegou meu coração e o deixou cair da porra da Torre
Eiffel como se fosse um pedaço de chiclete mastigado. E nós estávamos lá
comprando seu vestido de noiva — aquele que ela quase usou no altar,
caminhando para mim.
Mandei Marco me buscar no escritório mais cedo para que eu pudesse
tentar me acalmar. Eu estava tentando pensar se havia alguma maneira
de sair de Paris, de ir ao evento de gala e mostrar a cara, quando o carro
parou. Estávamos quase em casa, apenas rastejando pela 6ª. Avenida, mas
o carro parou de andar.
— Mas que merda foi essa? — Eu gritei com o Marco.
— Não tenho certeza, chefe, — ele respondeu, depois estacionou o
carro e saiu.
Ele deu a volta pela frente e abriu o capô.
Eu vi vapor através do para-brisa. Que se dane isso, eu pensei. Não
estou morrendo em uma explosão de carro no centro da cidade. Eu notei
os carros e pedestres ao meu redor observando.
Coloquei meus óculos escuros e me afastei do carro, do Marco, sem
qualquer palavra.
ANGELA

Eu tinha deixado o Starbucks atordoada. Se Lemor não tivesse


enviado aquela carta, eu estaria trabalhando para o Sr. Kinfold. Eu não
teria precisado aceitar o acordo de Brad Knight, e eu não seria o saco de
pancada de Xavier Knight. Tudo estaria normal com minha melhor
amiga e minha família ficaria orgulhosa de mim.
Eu estava subindo a 6ª, quase na 57ª, quando vi o mesmo Bentley de
carvão que Xavier dirigia. Bem — não dirigia, mas que conduziam para
ele. Marco, o motorista, dirigia-o. Eu esgueirei os olhos, lendo a placa do
carro.
Que coincidência, eu pensei. Aquele era o carro do Xavier. E estava
amontoado entre os carros, preso no trânsito congestionado.
De repente, o carro soltou um som e desacelerou, parando
completamente. Após alguns segundos, Marco saiu do banco do
motorista e foi até o capô, puxando-o para cima. Eu vi uma nuvem de
fumaça ao redor dele.
Provavelmente, um motor superaquecido.
Eu me perguntava se Marco era inteligente o suficiente para manter o
líquido de refrigeração no porta-malas. Eu estava a cerca de meio
quarteirão do carro quando vi Xavier saltar do banco de trás e bater à
porta, e andar pela calçada sem uma palavra para Marco.
Pensei tê-lo visto em seu pior momento, mas o homem continuou
provando que eu estava errada.
Quando cheguei ao carro, vi Marco empurrando e pressionando as
coisas por baixo do capô.
— Ei, — eu disse. — Você precisa de ajuda? — Levou um segundo para
ele me reconhecer, mas depois o fez.
— O que você sabe sobre carros?
Eu me curvei e apontei para a mangueira de resfriamento, a coisa que
estava tão degradada que você podia praticamente ver buracos no aço.
— A mangueira precisa ser substituída, — eu disse. — Mas, por
enquanto, um fluxo de fluido de resfriamento serve. Você tem algum na
parte de trás?
Ele olhou para mim como se eu estivesse falando latim.
— Provavelmente uma garrafa azul, — eu disse, mas desta vez mais
devagar. — Vai ter escrito, 'líquido de refrigeração'.
Ele olhou para mim, provavelmente tentando descobrir se eu estava
tirando sarro dele ou não. Quando eu mostrei um sorriso, ele me deu um
aceno e foi até o porta-malas, retornando alguns momentos depois com
o líquido.
— Fantástico, obrigada, — eu disse, e pude começar a trabalhar.

Quando Marco e eu voltamos ao prédio quinze minutos depois, eu


tinha aprendido um pouco sobre ele. Ele cresceu fora de Boston e fez
duas excursões na Marinha antes de ser contratado pela equipe de
segurança de Brad Knight, e agora seu trabalho era cuidar de Xavier. E
conduzi-lo por aí. Não é exatamente uma promoção a meu ver.
Marco veio para abrir a porta traseira do carro para mim e, quando o
fez, perguntei-lhe:
— Ei, Marco? Você se importa de manter isso entre nós?
— O que você quer dizer?
— Que eu ajudei com o carro. Eu não quero que Xavier... hm,
descubra.
— Por quê?
— Parece que não é o que deveria fazer, eu acho.
— Oh. Está bem, claro, — ele disse, com confusão aparente.
— Boa noite, — eu disse, indo direto através das portas. Eu não sabia
se podia confiar no Marco para manter o segredo entre nós, e já podia
sentir meus nervos se debatendo. Eu sabia que, se Xavier descobrisse, ele
encontraria algum motivo para me castigar. E eu não podia suportar
mais hostilidade hoje. Tinha tanta certeza disso.
Capítulo 10
A agressão do luto

ANGELA

Angela: Estou quase lá.

Danny: Droga.

Danny: Fiquei preso no restaurante.

Danny: Desculpe
Eu estava a um quarteirão do hospital quando recebi as mensagens de
Danny, e mesmo sabendo o quanto ele e Lucas estavam trabalhando duro
nos últimos meses, mesmo sabendo que não poderia ficar bravo com ele
por priorizar o restaurante, uma parte de mim ficou chateada.
Era sempre difícil ver nosso pai no hospital, mas era ainda mais difícil
quando eu tinha que vê-lo sozinho.
Depois de consertar o carro de Xavier ontem à noite, eu tinha feito
massa e assistido TV na sala de estar, mas não o tinha visto na cobertura.
Ele estava escondido em seu quarto ou estava fora durante a noite,
porque eu ainda não o tinha visto quando saí para o trem naquela
manhã.
Claro, eu poderia ter conseguido um passeio de chofer até o hospital
com o cartão preto que Brad me deu, mas havia algo relaxante na viagem
de trem até Jersey. Além disso, gastar dinheiro de forma tão frívola ainda
me deixava desconfortável.
Agora era início da tarde, e eu entrei pelas portas giratórias,
imediatamente atingido por aquele distinto cheiro hospitalar — uma
mistura entre antisséptico e tristeza. Entrei no elevador com duas
enfermeiras vestidas de bata rosa e púrpura. Pareciam ter a minha idade,
e estavam brincando uma com a outra.
Eu acenei para as enfermeiras, desejando poder ser tão despreocupada
quanto elas pareciam ao sair do elevador, com meu coração pesado no
peito. Eu não tinha certeza do que estava prestes a ver, e estava me
preparando mentalmente para o pior.
Segui as placas no corredor, descendo um corredor, através de outro
conjunto de portas, até uma sala de espera. Aproximei-me do balcão da
recepção.
— Olá, — eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista.
Talvez se eu estivesse otimista o suficiente, isso mudaria a realidade. —
Estou aqui para visitar meu pai. Ken Carson.
— Ah, Ken. Que querido. Ele está no 820. Siga este corredor para
baixo, — disse a enfermeira, apontando para trás dela, — até que você
possa virar à direita. E então ele está na primeira porta à direita.
— Obrigada, — eu disse, e comecei pelo corredor.
— Ele está indo muito bem, — a enfermeira disse atrás de mim. — Ele
é guerreiro.
Eu sorri por isso, depois continuei em direção ao seu quarto.
Eu empurrei a porta para abrir uma fresta, coloquei minha cabeça e,
espreitei. Pude sentir a cor escorrer do meu rosto quase imediatamente.
Ele parecia ainda mais pálido, ainda mais frágil, do que da última vez
que o vi no hospital. Seus olhos estavam fechados, e ele estava conectado
a tantos fios e tubos diferentes que eu não conseguia entender o que era
o quê. Eu dei um passo para dentro.
— Pai?
Seus olhos tremeram por um segundo antes de abrir. Ele virou a
cabeça — com pouca força, mas o suficiente para me ver no canto — e o
sorriso mais tênue apareceu em seu rosto.
— Aí está minha garota, — ele disse, e sua voz era tão grave quanto a
de um fumante idoso.
— Oi, — eu disse, desejando que minhas lágrimas não viessem
enquanto eu corria para a cama. Envolvi meus braços à sua volta da
maneira mais gentil que pude.
— Como você está?
— Eu... estou ótimo, — ele se irritou. — Fale-me de você. Mas antes
disso, você pode me trazer uma bebida? Alguma coisa forte?
— Papai, — eu disse, olhando para ele. Eu tinha que sorrir. De alguma
forma, mesmo através de toda a doença, de toda a fraqueza, seus olhos
ainda conseguiram segurar suas travessuras.
Apertei sua mão e depois peguei o copo de água na mesa de cabeceira.
Trouxe o canudo até seus lábios e ele tomou alguns goles com gratidão.
— Como foi o casamento? — Meu pai tentou soar casual, mas a voz
dele estava grave de emoção. Eu podia dizer o quanto o machucou o fato
de ele não ter podido estar presente.
— Foi uma coisa chata, realmente, — eu disse, tentando manter meu
tom leve. — Muito abafado para o seu gosto. Você estaria apenas
gritando para sair dali.
— Angie...
— Falaremos mais sobre isso da próxima vez, — assegurei-lhe. — Por
enquanto, concentre-se em ficar melhor. A enfermeira diz que você é um
guerreiro.
— Fui uma vez, — ele disse. — E Gerard começou.
Eu ri. Senti aquela mesma onda de segurança — aquela em que eu
sabia que se ele ainda estivesse brincando, ele ficaria bem.
— Mas falando sério, Angie, sobre seu marido...
Houve uma batida na porta. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Eu
não queria ter aquela conversa nessa hora.
Não quando meu pai parecia tão frágil.
Um homem bonito de meia-idade carregando uma ficha em uma mão
e um café na outra caminhou para dentro, um sorriso no rosto.
— Dr. Kaller, — disse meu pai, suas palavras foram calorosas.
— Ei, grandalhão, — disse o médico. — Você já tem as senhoras te
visitando?
— Somente minha filha.
— Olá. — Eu ofereci minha mão para ele. — Eu sou Angela.
O médico colocou seu dossiê na mesa e apertou minha mão.
— Marc Kaller. — Estou no caso do seu pai desde que ele voltou para
cá, — explicou ele.
— Seu pai é um ícone ao redor destes salões, Angela. Ele tem esta
superpotência onde ele pode irritar qualquer um, e ele sempre recebe sua
sobremesa no minuto em que pede.
— Soa como ele. — Eu sorri.
O Dr. Kaller se abaixou para verificar seus sinais vitais, mediu sua
temperatura e, em seguida, pegou seu arquivo novamente e acenou para
meu pai.
— Posso falar com você no salão por um segundo, Angela? — ele me
perguntou.
— Oh, é claro, — respondi. — Volto em um minuto, — eu disse,
abaixando-me para beijar meu pai na bochecha.
— Ela é minha filha! Nada de tocar! — disse meu pai e saiu correndo
de sua cama enquanto nos retirávamos para o corredor.
Senti minhas bochechas queimando, mas não pude deixar de rir. Ao
menos meu pai ainda estava sendo pai.
Assim que o Dr. Kaller fechou a porta do quarto do pai e me
acompanhou alguns passos mais adiante pelo corredor, eu pude perceber
que havia algo ali. Seu rosto mudou, não mais oferecendo a expressão
despreocupada e fácil de usar que ele usou lá dentro do quarto. Algo mais
sombrio turvava seus olhos.
— Angela, eu só quero ter certeza de que você está em dia com tudo o
que está acontecendo com seu pai. Seus irmãos estiveram aqui ontem à
noite, mas houve mais algumas mudanças.
— Está bem.
— Você sabe que o tiramos do coma ontem, e ele tem respondido
bem. Mas ele ainda não está comendo sozinho, e sua esclerose... está
progredindo.
— Rapidamente. Poderíamos tentar combater cada um dos sintomas
individualmente, mas os esforços seriam superficiais e não preventivos.
Não há maneira de impedi-los de voltar, ou piorar. Portanto, o próximo
passo típico... é garantir que ele esteja o mais confortável possível... — Eu
não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que isso
significava. Isso significava desistir. O Dr. Kaller viu minha expressão e
continuou imediatamente.
— Mas há algo que quero trazer à tona. — É um tratamento
experimental. É uma combinação de medicamentos e práticas diárias de
reabilitação, tudo isso poderia ser feito no hospital. Mas não há nenhuma
precedência para este tratamento, Angela. Quero ter certeza de que você
entende que há riscos. Ainda não está nem no mercado.
— Então, você está dizendo que ou é... ou é um tratamento não
testado ou... nada?
Ele olhou para mim, olhos cheios de simpatia, ou piedade, ou algo
mais. Ele deu um rápido mas certo aceno de cabeça.
— É uma decisão difícil. Não mencionei isso a seus irmãos ontem à
noite porque queria ver como seriam as primeiras vinte e quatro horas
fora do coma para ele, por isso recomendo aos três que falem sobre isso.
De verdade, com base no que vocês se sentem confortáveis.
— Está bem, — eu disse, acenando para mim mesma. Meus irmãos.
Eles ajudariam a descobrir o que fazer.
— Oh, e Angela?
— Sim?
— O tratamento experimental... por ser tão novo, e tão complicado,
vem com uma etiqueta de preço bem grande.
— Oh.
— Se funcionar, é algo que poderia dar forças a seu pai por mais de
um ano — continuou ele. — E no momento, porque não se qualifica para
o seguro, a pílula e a reabilitação estão saindo cerca de mil dólares por
dia.
As palavras deixaram de ter significado para mim. Mil dólares por dia?
Essa pílula estava envolta em caviar de ouro? Mas depois pensei em Brad
e Xavier e na minha cobertura solitária. Eu tinha feito o arranjo por uma
razão.
Já eram 3 da manhã quando voltei para casa. Eu não queria deixar meu
pai imediatamente, e o trem estava atrasado para voltar para a cidade. Eu
estava exausta, subindo de elevador até a cobertura quando ouvi o rádio
pulsando através das paredes.
Quando a porta se abriu, tive que tapar meus ouvidos. A música estava
tão alta que pensei que nunca mais seria capaz de ouvir nada falado em
um volume normal.
Eu estava caminhando para meu quarto quando, de repente, a música
parou. Eu me virei, e lá estava Xavier. Ele estava usando jeans escuro e
uma camisa branca desabotoada até o umbigo. Seu rosto estava coberto
de uma barba nova e tinha olhos avermelhados.
Ele definitivamente havia estado festejando.
Pensei em quantos dias não nos víamos. Xavier provavelmente estava
bebendo e se divertindo até tarde.
— Aí está minha esposa, — ele disse. Eu o vi de olho na minha camisa
da Old Navy, e meu Converses surrados.
— Oi, Xavier, — eu disse, tentando manter minha distância. Mas
então as palavras do médico soaram na minha cabeça.
Um tratamento experimental. Mil dólares por dia.
Minha mente exausta estava inquieta. Talvez fosse melhor perguntar
primeiro a Xavier para que ele não ficasse bravo por eu ter ido escondida
até Brad. E ele estava claramente intoxicado, então talvez ele reagisse
melhor. Talvez ele tivesse um coração, desta vez. Sim, Eu pensei. Esta é
uma boa ideia.
Xavier estava tropeçando em direção à cozinha. Ele estava servindo-se
de um copo de vinho quando eu o segui e fiquei do outro lado do balcão.
— Ei, há algo que eu queria lhe perguntar, — eu disse, esperando que
minha voz tivesse pelo menos um pouco de confiança.
— O quê?— ele disse, bebendo o vinho.
— Meu pai... ele está...
— Oi, esposa. Já foi muito disso. — Ele me cortou e transformou sua
mão em uma boca de jacaré que se agitava para cima e para baixo. Um
sinal para falar. Ele está dizendo que estou falando demais.
— Se você apenas me deixar explicar...
— CALA. A BOCA. Quão mais claro eu tenho que ser, — ele disse, e
agora ele estava bebendo direto da garrafa. — As pessoas estão sempre
falando comigo. Sempre conversando. Eu só quero silêncio.
Esqueça isso, Eu pensei. Eu me virei e me dirigi para o meu quarto.
— Ei!, — ele gritou. Eu continuei andando. Mas depois ouvi-o correr
atrás de mim e senti uma mão no meu cotovelo antes que eu pudesse
fazer qualquer coisa. Ele me encurralou contra a parede. Seu aperto ao
redor da garrafa de vinho em suas mãos estava tão apertado que tive
medo que ela se quebrasse.
— Ei, — ele disse, mais suave, como se estivesse tentando flertar.
Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que
eu podia contar os cílios dele.
— Está bem, — eu disse. Tentei me afastar de suas mãos, mas ele se
manteve forte.
— As esposas devem fazer coisas por seus maridos. Para serem
esposas, — ele disse, e o fedor do álcool escorria dele.
— Vou para a cama, — disse com firmeza, e desta vez, forcei meu
caminho para fora de seu alcance.
Ele quebrou a garrafa de vinho na parede ao seu lado. O som me fez
pular, e quando me virei para enfrentá-lo novamente, ele me deu o
sorriso mais sério que eu já havia visto.
— Você vai aprender a fazer o que EU MANDO, — ele disse. — Você
vive aqui. Você vive de mim. Você vai aprender a ser útil.
Então ele estava caminhando na minha direção, e seus olhos corriam
por todo o meu corpo. Mas desta vez, eles não estavam olhando para as
manchas na minha camisa, nem para os buracos nos meus sapatos. Eu
sabia que ele estava imaginando o que estava por baixo.
— Xavier, pare, — eu pedi, minha voz implorando. Mas ele continuou.
— Você é uma puta oportunista, — ele disse. — Você deveria começar
a agir como tal. — Senti como se uma faca tivesse sido empurrada para
dentro do meu intestino. E então suas mãos estavam sobre meus ombros,
passando pelo meu cabelo.
— Você está bêbado, — eu disse, e minhas palavras o fizeram parar de
vaguear. Eu não sabia por que, mas sabia que era minha chance. Virei-me
para ir até meu quarto o mais rápido que pude, e foi quando vi Lucille
descendo o corredor.
Nós fechamos os olhos — ela podia ver a dor e o medo em mim, e eu
podia ver o instinto materno nela — e ela me acenou para dentro do meu
quarto. Quando passei por ela, ela agarrou minha mão e sussurrou:
— Eu cuido disso.
E então eu estava em meu quarto, com a porta trancada e meus
pulmões lentamente recarregando com ar.
Como passei da minha antiga vida para viver em uma casa que parece
uma zona de guerra?
Deitei-me na cama, minha mente foi passando de imagens do pai para
imagens do Xavier bêbado. Se alguém podia lidar com o Xavier bêbado,
era o pai.
Capítulo 11
Jogando o jogo

XAVIER

Acordei com uma maldita dor de cabeça assassina. Ouvidos zunindo,


cabeça doendo e a boca com um gosto estranho. Procurei água e
encontrei uma na minha cabeceira. Lucille, pensei, lembrando-me
vagamente dela me acompanhando ao meu quarto ontem à noite. Que
maldito anjo.
Eu tinha sonhado com ela... aquela que me partiu o coração, aquela
que me arruinou.
Eu não sonhava com ela há algumas semanas, e isso não estava
facilitando a minha ressaca. No sonho, ela estava ao meu lado no meu
carro. Estávamos correndo por uma pista de aeroporto, nada além de
quilômetros de asfalto diante de nós. Mas meus olhos não estavam na
estrada; eles estavam nela. Ela estava girando um fio de cabelo comprido
ao redor de seu dedo, e seus olhos brilhavam para mim.
E então ela se virou para mim e, em sua voz suave, com seu tom de
julgamento, ela disse:
— Você está bêbado.
E então meus olhos se abriram e eu estava acordado.
Vesti-me para o trabalho e saí do prédio, quase dando um soco na cara
do Marco por me perguntar se eu queria parar para o café da manhã.
Parecia que eu queria parar para o café da manhã? Só de pensar na
comida era suficiente para me fazer vomitar em todo o banco de couro
cinza-carvão feito sob medida. Quando cheguei ao escritório, meu pai
estava sentado no meu sofá.
— Isto é uma surpresa, — eu disse, terminando o resto de minha água
e sentando na cadeira em frente a ele.
— Meu Deus, Xavier, — ele disse, balançando a cabeça. — Você está
fedendo.
— Eu não tive tempo de tomar banho esta manhã.
— Bem, você cheira como se tivesse tomado banho em 1 ontem à
noite.
Eu estava prestes a dizer algo de volta, mas pensei melhor sobre isso.
Eu sorri.
— Em que posso ajudá-lo esta manhã, pai?
Ele colocou suas mãos sobre os joelhos.
— Só queria que você soubesse que combinei um jantar para você,
com o Sr. Graden e sua esposa. — O Sr. Graden era o proprietário de um
hotel no Soho que estávamos tentando comprar e mudar de nome, e
estávamos em discussões com ele há mais de um ano. Mas ele estava cada
vez mais a bordo com a ideia, recentemente.
— Oh, ele aceitou?
— Não foi um aceite completo, mas agora ele está mais interessado,
com certeza. Você terá que fazer seu melhor trabalho hoje à noite.
— Eu faço sempre o meu melhor trabalho, — eu disse.
— Veremos sobre isso. — Ele se levantou para ir. — Oh, e traga
Angela. Graden vai trazer sua esposa. Jessica, eu acho que esse é nome
dela. Vai humanizá-lo.
Angela. Lembrei mais da noite de ontem: eu a agarrando, chamando-a
de vadia oportunista. Ótimo. Eu tinha certeza de que ela estaria ansiosa
para causar uma boa impressão.
— Você entendeu? — Meu pai olhou para mim com expectativa. Ficou
claro que ele não iria embora até que eu confirmasse seu plano.
— Eu entendo. Sim. — Isso ia ser interessante.

Xavier: Mulino

Xavier: 20: 00

ANGELA

Eu tinha acabado de falar ao telefone com Brad quando recebi as


mensagens de Xavier. Brad tinha me dado a resposta de que havia um
jantar — muito importante — com associados comerciais potenciais, — e
estava esperando que eu fosse. Ele disse que não seria nada além de
divertido para mim. Meu único trabalho seria usar meu charme para
tornar a noite o mais divertida possível para o casal que se juntou a nós.
Mas a ideia de estar em qualquer lugar com Xavier, de ter que fingir
que não éramos apenas amigáveis, mas apaixonados, era simplesmente
absurda para mim.
Mas pensei em meu pai, eu me lembrei.
Ele precisava do tratamento; era a única opção.
E, por mais difícil que fosse para mim admitir, eu estava meio grata
por Xavier ter estado tão bêbado. Isso significava que eu não precisava lhe
dar nenhuma explicação sobre meu pai, o que significava que eu não
havia violado o contrato. Eu balancei a cabeça para mim mesma. Como
pude estar tão fora de mim que pensei que era uma boa ideia?
Olhei meu armário e encontrei minha roupa mais elegante: um
macacão de seda esmeralda com uma laço na cintura. Eu o tinha
comprado com a Em há alguns anos para usar na festa de formatura da
minha turma em Harvard. Mas, no último segundo, eu tinha decidido
usar um vestido preto simples e velho.
Esta noite seria a noite do macacão. Eu tirei o cabide do armário e o
pendurei em um gancho na parede. Depois passei uma escova pelo
cabelo, maravilhando-me com o tempo que tinha demorado. Demasiado
longo. Eu precisava de uma mudança.
Caminhei até minha mesa e abri a gaveta, tirando um cartão de visita
que Brad havia me dado no dia da sessão fotográfica do casamento.
— Se houver algo que você precisar, qualquer coisa, eles podem ajudá-
la aqui, — ele disse, entregando-me o cartão. O Carlyle Studios foi
inscrito na parte de cima e, por baixo, lia-se: Cabelo. O rosto. Estilo.
Eu disquei o número de telefone no meu celular.
— Olá?
— Olá, aqui é Angela... Angela Knight.
Ouvi sussurros abafados no fundo. Então:
— Oh! Olá, Sra. Knight. Em que posso ajudá-la?
— Eu esperava... cortar meu cabelo.
Quando sai dos estúdios Carlyle, meu cabelo estava dois centímetros
mais curto, em camadas que o faziam parecer volumoso e brilhante. Eu
sabia que o que estava por dentro era o que mais importava, mas não
pude deixar de pensar que, às vezes, quando me sentia perdida, ter meu
exterior montado poderia ser melhor coisa a se fazer.
— Uau. Você está incrível, — disse Pete, o porteiro, enquanto eu
caminhava pela porta que ele segurava aberta. Eram sete quarenta e
cinco, e eu estava pronta para ir ao centro da cidade.
Meu cabelo parecia o mesmo de quando deixei o Carlyle Studios
naquela tarde. Ele salpicava sobre meus ombros em ondas suaves, as
camadas fazendo com que as mechas parecessem estar sempre em
movimento. Eu tinha até mesmo feito um esforço com minha
maquiagem.
E o macacão realmente caiu como uma luva. A seda se agarrou a todas
as minhas curvas, e minha pequena cintura estava em exposição graças
ao laço, e o decote mostrava apenas o suficiente para não ser demais.
— Obrigado, Pete, — eu disse, e falei sério. Foi bom ter um voto de
confiança antes de entrar no jantar com o homem que me acusou
verbalmente na noite passada.
Pete acenou por uma cabine, e eu entrei, rolando a janela para baixo e
observando como as luzes brilhantes passavam por mim. Quando
chegamos ao restaurante, eu saí da cabine e caminhei até a anfitriã.
— A mesa de Xavier Knight, — eu disse, surpresa com minha própria
confiança. Deve ter sido o corte de cabelo.
— Por aqui, — disse ela.
Quando cheguei à mesa, vi que eu era a última a chegar. Xavier
parecia mais elegante em um terno chique, como um ex-aluno dos
sonhos de uma escola preparatória.
Do outro lado dele estavam os associados comerciais muito
importantes, presumi. O homem tinha provavelmente cerca de quarenta
e cinco anos, com cabelos grisalhos e um rosto atraente e amigável. Ele
estava com um terno azul marinho e seu relógio brilhava sob as luzes do
restaurante.
Sua esposa sentou-se ao seu lado e parecia uma modelo. Ela tinha
todos os traços elegantes e traços macios, e usava um vestido de pêssego
com um decote grande.
Quando eles me viram, cada um dos homens se levantou. Xavier
colocou um braço em volta da minha cintura e beijou minha bochecha,
fazendo bem o papel de marido. Eu vacilei, mas acho que ninguém
notou.
— Oi, querida, — ele disse em voz alta.
— Oi, — eu disse, instruindo-me a apenas sobreviver àquele encontro.
— Jay Graden, — disse o homem em frente a Xavier, estendendo a
mão.
— Prazer em conhecê-lo, — eu disse, e quando apertamos as mãos, a
outra mão dele veio para cobrir a minha. Parecia quente, como se eu
pudesse confiar nele.
E então andei em volta da mesa para a Sra. Graden, que também me
ofereceu sua mão. Mas seus movimentos foram mais lentos, e não
trememos tanto quanto nos abraçamos por um momento.
— Olá, querida, — ela disse, e eu me agarrei a cada palavra. Tudo nela
parecia que tinha saído de uma revista.
Sentei-me, e um garçom imediatamente encheu meu copo com vinho
branco. Tomei um gole, sabendo que precisaria dele.
— Então, vamos falar de negócios? Eu sei que você está procurando
um novo proprietário, e nossa rebranding não faria nada além de elevar o
nome de sua família, — começou Xavier, mas foi interrompido.
— Pare, Xavier. Ainda nem pedimos nossos aperitivos. Vamos parar
com a conversa de negócios. Para o bem das belas senhoras.
— Com certeza, — Xavier ajustou, não mostrando nem mesmo uma
lasca de aborrecimento. Fiquei impressionada. — Diga-me, como foi
Milão?
— Ooh, foi divino, — gemeu a Sra. Graden de seu assento. — A moda,
o vinho, tudo. Divino. — Eu nunca tinha ouvido ninguém falar como ela
antes, não na vida real. Era como se ela soubesse que todos os olhos
estavam sobre ela, e foi isso que lhe deu o impulso para continuar.
— Maravilhoso, — Sr. Graden deslumbrava. — Estivemos lá por
quanto tempo, quinze dias, querida? Não foi o suficiente. Vocês dois
deveriam aparecer por lá.
— Vamos acrescentá-la à lista, querida... — disse Xavier, dirigindo a
pergunta para mim.
— Oh, sim, — eu respondi, esperando que minha surpresa não fosse
perceptível. — Definitivamente. Acrescentada à lista. — Senti minhas
bochechas queimando. Talvez tenha sido do vinho, ou talvez tenha sido
pela atenção.
Ou talvez seja a mentira que você está contando, sentada à mesa como se
tudo entre você e seu marido fosse alegre, eu pensei.
— Com licença, — eu disse, e empurrei minha cadeira para trás para
que eu pudesse ficar de pé. Antes que pudesse ver qualquer reação deles,
dirigi-me ao banheiro.
Salpiquei água em minhas mãos, desejando não estar usando tanta
maquiagem para poder fazer o mesmo com meu rosto. Eu me olhava no
espelho e tentava reconhecer a garota que conhecia antes de tudo isso.
Eu não tinha certeza de poder vê-la.
Quando eu saí do banheiro, senti uma mão agarrar meu ombro.
— Ei, — disse a voz, e eu me virei para encontrar Xavier. — Olha, —
ele começou: — Sei que a noite passada foi zuada. Eu estava bêbado.
Provavelmente disse alguma merda que eu não deveria ter dito.
Os olhos dele estavam se movendo, como ele não estivesse
acostumado a pedir desculpas.
— Mas este jantar é realmente importante. Por isso, preciso que fique
quieta e ria quando contam piadas, está bem? O que quer que você
precise me dizer, faça-o depois de sairmos. Certo?
Fiquei atordoada. Aqui estava eu, pensando que Xavier só se
importava com Xavier. Mas agora estava claro que ele também se
importava com a empresa de seu pai. Isso não significava que eu o tivesse
perdoado, mas também não queria fazer nada para ferir Brad.
— Tudo bem, — eu disse, e voltei para a mesa. Quando nos sentamos
de volta, o Sr. e a Sra. Graden estavam olhando um para os olhos do
outro. Não foi até que Xavier limpou a garganta que eles perceberam que
estávamos de volta.
— Ah, bem-vindos, — disse o Sr. Graden. — Espero que vocês não se
importem. Pedimos algumas entradas.
— Perfeito, — disse Xavier.
— Ótimo, — eu ecoei.
O Sr. Graden apertou as mãos.
— Então, Xavier. Conte-me sobre a mulher que te fisgou. É bom ver
você finalmente sossegado.
Xavier olhou para mim.
— Bem, eu conheci Angela, e nós... instantaneamente...
Eu vi que ele estava se afogando. Eu sabia que ele não sabia nada a
meu respeito.
— Ele sempre fica sufocado contando a história, — eu disse,
interrompendo a tempo, e os olhos dos Gradens se voltaram para mim.
— Nos encontramos em uma loja de bolinhos na cidade, na verdade.
Eu olhei para Xavier.
— Eu tinha acabado de sair de uma entrevista e precisava de algo para
me animar, e Xavier também estava tendo um dia ruim. Pegamos os
pedidos do outro por engano e... começamos a conversar. O resto, bem,
tudo se encaixou no lugar.
A Sra. Graden bateu palmas, gemendo de novo.
— Tão bonito.
— E para o que você estava sendo entrevistada? — perguntou o Sr.
Graden.
— Uma posição de engenharia mecânica. Em Curixon.
— Eu conheço Curixon. Engenharia mecânica? — Ele parecia
estupefato. Meu querido marido também parecia.
— Sim, — eu disse. — Essa é minha formação, então esse era o
trabalho que eu estava procurando.
— Estou vendo. E onde você obteve seu diploma?
— Harvard.
— Você estudou engenharia em Harvard? — perguntou o Sr. Graden,
sem sequer tentar esconder sua surpresa. Ele olhou de mim para Xavier,
que estava tentando engolir seu próprio choque.
— Fui realmente afortunada. Foi uma experiência maravilhosa, — eu
disse honestamente.
— Você, senhor, — disse o Sr. Graden, voltando-se para Xavier, —
encontrou um tesouro de uma esposa.
Os olhos de Xavier ficaram em mim, e eu não conseguia mais ler a
expressão em seu rosto. Mas quando ele falou, talvez pela primeira vez
em todo o tempo em que eu o conhecia, suas palavras soaram genuínas.
Ele disse, lenta e simplesmente:
— Parece que sim.
Capítulo 12
Adivinhe quem está de volta

ANGELA

Desconhecido: Eu não era bom o suficiente, mas Xavier Knight é...

Desconhecido: Tenho olhos em todos os lugares.

Desconhecido: Você não pode fugir de mim.

Desconhecido: Boa sorte, Sra. Carson.

Desconhecido: Você vai precisar.


Olhei para as milhares de mensagens recebidas no meu telefone,
sentindo o meu estômago revirar com cada uma delas. Meu telefone
estava sobre a mesa, e Dustin tentou espreitar para ver o que estava
deixando meu rosto pálido.
— O que é isso?, — perguntou ele. Nós estávamos em sua cafeteria, e
ela estava novamente vazia.
Eu tinha passado pela loja sempre que ia dar uma corrida, o que tinha
sido frequente nas duas últimas semanas. Correr me deixava espairecer
um pouco, e isso me deu uma válvula de escape. E fugir daquela
cobertura... bem, isso foi uma benção se eu já tivesse visto uma.
Embora, esta manhã, minha corrida não tivesse sido uma fuga tão
grande quanto uma hora ininterrupta para pensar.
A segunda parte do jantar de ontem à noite tinha corrido bastante
bem, com Xavier e eu até conseguindo rir algumas vezes um com o
outro.
Quando ele pegou minha mão para me ajudar a levantar da cadeira
quando estávamos saindo, pareceu quase natural. Ele tinha me ajudado
em seu Bentley, e então, explicando que ia encontrar um amigo para uma
bebida por perto, Marco me levou para casa.
Tudo isso foi mais do que civilizado. Foi amigável, como se ele tivesse
me conhecido e agora não me odiasse. Talvez ele até gostasse de mim.
Tudo ficaria muito mais fácil se pudéssemos nos dar bem. Não
sentiria cobertura tão perigosa o tempo todo, e talvez eu até começasse a
me sentir em casa no lugar onde eu vivia.
Estes foram os pensamentos que tive em minha corrida desta manhã
— embora cheios de possibilidades, também estavam cheios de
esperança.
Mas agora, aqui estava eu com Dustin, sentada em uma mesa na loja
vazia, bebendo lattes de hortelã-pimenta e falando sobre um filme que
ele tinha visto ontem à noite.
E foi quando as mensagens começaram a chegar, que minha atenção
passou da recapitulação animada de Dustin para o meu telefone. Mesmo
sendo um número desconhecido, eu sabia exatamente de quem ele era.
— Olá? — perguntou Dustin, acenando sua mão diante dos meus
olhos. — Quem é?
— Não é nada, — eu disse.
— Se não fosse nada, você não pareceria ter visto apenas o fantasma
do Michael Jackson. — Desembucha, — ele empurrou.
Olhei para ele, vendo o rosto bonito de um barista de vinte e quatro
anos olhando para mim. Seus olhos gentis pareciam me lembrar que, por
ora, com Em não respondendo a mim e meus irmãos constantemente
ocupados com o restaurante, ele era o único amigo que eu tinha.
— Certo. Está bem. É o meu antigo chefe, — eu disse, com olhos
abatidos. Eu estava tirando minhas cutículas, tentando me distrair da dor
que estava sentindo por dentro.
— Quem é ele?
— Ele era o chefe da Gelsa, uma empresa tecnológica realmente
importante. O fundador original era de minha cidade, Heller, por isso a
sede fica lá. Eu trabalhei para ele por pouco mais de onze meses.
— Certo... você não está me dando muito aqui, Angela.
Eu suspirei. Depois olhei para Dustin.
— Ele estava... ele estava tentando me fazer... dormir com ele. O
tempo todo que eu trabalhei lá. No início, ele me convidava para jantar.
Mas quando eu continuava a rejeitá-lo, ele começou a me obrigar a ir a
reuniões particulares em seu escritório.
— Ele tentava tocar na minha perna ou no meu ombro. E quando
parei de ir, a situação piorou. Ele me ligava, deixava mensagens na caixa
postal, e me seguia para casa do trabalho. No final, era como se eu não
pudesse ir às compras sem vê-lo em algum lugar ao fundo. Era muito
ruim.
— Meu Deus, — ele disse, com sua mão voando para pegar a minha.
Eu olhei para nossas mãos e ele sabia o que eu estava pensando. — Oh,
eu sei que você é casada, Angela. Não se preocupe. Não estou interessado
em você... bem, não estou interessado em mulheres, — ele disse. — Mas
de volta a você.
E rápido assim, ele havia me revelado algo tão privado que eu me senti
bem revelando meu problema. Estava à vontade.
— Eu tentei desistir. Durante um mês inteiro, embora o trabalho fosse
incrível e eu adorasse o trabalho, simplesmente não consegui lidar com
seu assédio constante.
— Eu havia trocado meus números algumas vezes, mas ele sempre
conseguia me localizar. Comecei a ter ataques de pânico. Finalmente
contei aos meus irmãos o que estava acontecendo, e foram eles que me
deram forças para realmente desistir.
— E depois?
— Pedi minha demissão e ele me chamou ao seu escritório. Entrei e
me certifiquei de que a porta fosse deixada aberta. Ele tirou a carta de
demissão de minhas mãos e sussurrou, com a voz mais cruel que você
possa imaginar, que eu nunca mais trabalharia. Ele disse que uma vez que
deixasse sua empresa, era isso. Ele se certificaria de que eu nunca poderia
ser contratada. — Eu olhei para Dustin, e tinha certeza de que ele podia
ver a dor em meus olhos.
— Ele me disse que eu não deveria ter dito não.
— Querida, — disse Dustin, e ele apertou minhas mãos ainda mais, —
você não merece isso. Ninguém merece isso, especialmente você. — Ele
agarrou meu telefone e leu as mensagens.
— Meu Deus. Você já foi à polícia?
Eu acenei com a cabeça.
— Quando começou, e depois novamente antes de desistir com meus
irmãos. Mas eles disseram que eu não tinha nenhuma prova. Além disso,
ele é um grande e poderoso CEO, e eu sou apenas alguém inexperiente
de vinte e três anos de idade. As probabilidades nunca estiveram a meu
favor.
— Então você só o está ignorando?
— Ele estragou muito da minha vida, mas... eu realmente não posso
fazer nada. Ele tem o poder e recursos. Ele vai desistir eventualmente,
certo?
— Você já contou ao Xavier? Ele provavelmente poderia ajudar...
— Não! — eu gritei. Depois olhei novamente para baixo. — Não quero
que ele pense que eu sou uma donzela em apuros. É... é embaraçoso.
Dustin olhou para mim com tanta pena que pensei em chorar.
— Não, pare com isso, — ele disse, levando-me às lágrimas. — Não
desperdice nenhuma lágrima pelo seu chefe horrível, esse filho da puta.
Você me entendeu?
Eu confirmei.
— Sabe de uma coisa? Que se dane isso. Nós vamos aproveitar o dia.
— O quê? O que você quer dizer com isso? — Mas Dustin já estava
levantando, limpando o balcão e fechando a caixa registradora. Ele virou
a placa na janela.
— Dustin! Você pode fazer isso?
Ele olhou para mim e encolheu os ombros.
— Eu não sei. Provavelmente não. Mas, ei, eu acabei de fazer.
Depois ele me ofereceu sua mão, e eu a agarrei, e ele me guiou para
fora da cafeteria, quarteirão abaixo, até uma estação de trem.
Quando saímos na Prince Street, bem no coração do Soho, Dustin me
arrastou para um spa de unhas enfiado em um porão na esquina.
Quando entramos, eu fiquei impressionada com o quanto o spa
parecia luxuoso por dentro; o exterior tinha sido tão desinteressante.
Tudo era mármore: os pisos, as mesas de manicure e as paredes. Todos os
técnicos de unhas estavam vestidos de branco, e havia uma música suave
e melódica.
— Dustin! — um coral de técnicos chamou quando entramos.
— Como você pode ver, sou um cliente habitual, — disse-me ele antes
de acenar para eles. — Venho aqui sempre que estou tendo um dia de
merda, — explicou ele. — Nada que uma boa pedicure não possa
consertar, não é?
Uma técnica enérgica saltou para cima de nós, agarrando cada uma de
nossas mãos.
— O que será hoje?, — perguntou ela.
— A obra, — disse Dustin, sem me consultar.
— A obra! — repetiu a técnica, e convocou outra. Esta tinha cabelos
longos e trançados, mas era um pouco mais tímida.
Ela pegou minha mão e me guiou até o lugar para pedicure. Eu tirei
meus sapatos e me preparei para tirar minha mente dos horrores do meu
passado.

Quando chegamos à nossa quarta loja, eu quase tinha esquecido as


mensagens de texto. Tínhamos conseguido manicures e pedicures, uma
limpeza de pele cada um, e depois fomos às compras.
Fomos a três lojas sem parar, onde Dustin me convenceu a comprar
dois vestidos slinky, um blazer e o par de jeans mais apertado que eu já
tive.
— Sua bunda parece que pode estar em um vídeo Kanye, — ele disse, e
depois pegou meu cartão e o roubou ele mesmo. — Você e seu marido
vão me agradecer mais tarde.
Meu marido. Mas antes que eu pudesse me debruçar sobre Xavier, ou
ter algum tempo para sentir mais melancolia, Dustin estava me puxando
para a loja número cinco.
Esta era uma loja de chapéus, onde chapéus de todas as formas e
tamanhos revestiam as paredes. Eles tinham apenas uma coisa em
comum: seus preços exorbitantes.
— Meu Deus, há tanto tempo eu queria um desses, — exclamou
Dustin, conferindo o fedora de bronze em sua cabeça no espelho.
— Parece... bom? — Eu ofereci.
— Sim, parece bom. Por oitocentos dólares, é melhor.
— Oitocentos dólares! Por um chapéu?
— Não é apenas um chapéu, — ele disse, tapando meu ombro. — E
uma declaração.
Eu não pude deixar de rir. Havia algo tão bom em estar perto de
Dustin.
Não precisei observar tudo o que eu disse ou ficar atenta ao
significado de seus comentários. Foi fácil, como sair com a Em. Ele se
importava comigo porque eu era eu, não por causa do meu novo
sobrenome.
Eu o vi se olhando no espelho e fui tomada pelo desejo de fazer algo
agradável para ele. Ele havia tirado minha mente de meu antigo chefe, de
Xavier, por um dia inteiro.
Ele era um verdadeiro amigo quando eu não tinha mais ninguém a
quem me apoiar.
— Ei, Dustin, — eu disse, movendo-me para que ele me passasse o
chapéu.
— Você quer provar?
Eu apenas balancei a cabeça e a levei para a caixa registradora. A
vendedora olhou para mim com ceticismo, como se ela não acreditasse
que eu fosse realmente pagar por isso. Afinal, eu estava usando meu
Converse surrado.
Mas eu lhe entreguei o cartão preto dos Knight, e sua boca quase caiu.
— Oh-meu-deus, é sério? — perguntou Dustin, com sua boca aberta.
Eu sorri para ele, depois me dirigi ao vendedor.
— Se você puder embrulhá-lo, seria ótimo.
— Claro, — ela respondeu, passando o cartão e assistindo enquanto
eu assinava o recibo. Em seguida, ela embrulhou o chapéu em um lindo
pacotinho, amarrando-o com um laço azul-claro.
Ela me entregou, e eu o entreguei a Dustin, bem quando um rosto
familiar entrou pela porta.
Era a Sra. Graden, a esposa do sócio comercial muito importante dos
Knight. Ela me reconheceu imediatamente, seu rosto estava aquecido
quando veio para beijar minhas bochechas no ar.
— Querida!, — exclamou ela. Então ela se voltou para Dustin, de olho
nele e depois de olho em mim. Ela notou a sacola na mão dele. — Estes
chapéus, — disse ela.
— Exatamente, — disse Dustin, acenando profusamente e oferecendo
sua mão a ela.
— Eu sou Dustin. Dustin Stirling.
Ela o deixou apertar a mão dela.
— Jessica, — ela disse a um volume logo acima de um sussurro, e
depois voltou-se para mim.
— Já estávamos de saída, — eu disse, na esperança de me retirar desta
situação o mais rápido possível.
Era divertido estar neste mundo quando éramos apenas eu e Dustin,
mas ter uma verdadeira socialite lá, uma que me conhecia e ao meu
marido, tirou toda a diversão da brincadeira dele. E eu me senti nervosa,
por alguma razão eu não conseguia me controlar.
— Foi bom ver você, — acrescentei, e ela sorriu calorosamente, seus
dentes brilhavam mais do que uma lâmpada. Ela beijou minhas
bochechas mais uma vez, e então, com um último, — Ciao, — ela voltou
sua atenção para um chapéu preto na parede distante.
Dustin e eu saímos da loja, e quando olhei para trás pelo vidro da
frente, tive quase a certeza de ter visto Jessica nos observando partir.
XAVIER

Meu telefone tocou no meu bolso.


Eu franzi a sobrancelha ao sair do carro e puxei meu celular. Esqueci
de colocá-lo no silencioso. Eu sempre o fazia antes das grandes reuniões
de negócios. Eu estava bem fora do local da reunião e precisava do foco.
Mesmo assim, eu não pude deixar de olhar para a tela.
Era uma mensagem de Jessica. A esposa de Graden, o homem de
negócios que eu estava prestes a conhecer. Estávamos prestes a fechar
um grande negócio.
Eu gemi.
Provavelmente não devo ignorar isso então.
Mas quando olhei as mensagens, eu desejava ter ignorado.

Jessica: Xavier! Você precisa ficar de olho na sua esposa.

Jessica: Eu a vi fazendo compras hoje.

Jessica: Com outro homem.

Jessica: E pareciam ser muito amigáveis um com o outro...


Capítulo 13
Tão perto, tão longe

XAVIER

Eu olhei para a tela do meu celular quando uma onda de raiva surgiu
em mim.
Minha esposa estava causando problemas para mim.
Novamente.
Não preciso desta merda.
Empurrei meu celular de volta para o bolso e tentei relaxar. Eu
precisava de uma cabeça fria para fechar este negócio.
Darei um trato na maldita esposa mais tarde.
Eu estava no Hatchback, um bar pitoresco no distrito financeiro, onde
homens que passavam o dia inteiro cuidando de negócios vinham para
descontrair. Não era meu cenário — nenhum lugar que oferecesse tacos
de foie gras era — mas Graden tinha sugerido isso, então aqui estava.
Depois do jantar que tivemos com nossas esposas, eu estava bastante
confiante de que o negócio estava prestes a se concretizar. Ele havia
pedido para nos encontrarmos para o happy hour desta noite, e eu tinha
a sensação de que iria para casa um homem muito mais feliz do que
quando acordei esta manhã.
O jantar tinha me colocado de bom humor, com certeza. Nada me fez
sentir tão bem quanto ganhar no meu trabalho, e este — este — era
certamente o meu maior ganho até agora.
Eram quase sete da tarde, e o bar estava lotado com mais Hugo Boss e
Giorgio Armani do que em uma loja de roupas. Homens entre vinte e
cinco e sessenta e cinco se misturavam, com as mãos cheias de uísque ou
cerveja.
Acho que em todo o espaço havia três mulheres, e duas delas eram
bartenders. Você teria pensado que era um bar gay em West Village, mas
todos os homens aqui dentro certamente não estavam enganados.
Não que eles fossem totalmente homofóbicos, é claro — isso era ruim
para os negócios. Eles gostavam de mulheres. Eles só precisavam de
algum lugar para beber e falar como homens.
— Ei, aí está ele. Knight! — Eu me virei para encontrar Graden indo
até mim, com outro homem a reboque. Eu me levantei para apertar sua
mão.
— Como está indo? — perguntei, sorrindo calorosamente para
Graden. Eu estava pensando nas primeiras impressões, mas eu sabia que
o acompanhamento era igualmente importante. Pergunte a qualquer
mulher com quem eu tivesse dormido mais de uma vez. Eu era bom no
acompanhamento.
— Bom, bom, — respondeu Graden, dando tapinhas nas minhas
costas. — Obrigado por nos encontrar. Este é Mickey. Ele é o meu cara.
Um conselheiro, digamos assim.
— Ei, Mickey, — eu disse, apertando sua mão.
É disso que estou falando, eu pensei. O homem tinha trazido seu
assessor de negócios. Ele estava definitivamente mais do que interessado;
ele estava pronto para falar. Mal podia esperar para ver o olhar no rosto
do meu pai.
— O que os senhores estão bebendo? — Eu perguntei, acenando para
a bartender ao mesmo tempo.
Ela era bonita, de um jeito meio universitário, de Kansas.
— Vou tomar um Glenfiddich, — disse Mickey.
— Faça dois, — acrescentou Graden.
— Três Glenfiddich puros, por favor, — eu disse a bartender, atirando-
lhe um sorriso. Eu só acrescentei um 'por favor' quando a garota que
estava tomando meu pedido era alguém com quem eu dormiria. E esta
garota, com suas covinhas e seu sotaque sulista, era alguém que eu
levaria absolutamente para casa.
— Por que vocês não vão procurar uma mesa na parte de trás e eu levo
as bebidas? — Eu disse aos homens, e eles acenaram, andando para
encontrar um espaço vazio.
— Aqui está você, — disse a bartender, entregando-me as bebidas. Eu
dei a ela meu cartão. — Abro uma conta, Sr. Knight? — Ela piscou
inocentemente para mim.
— Claro, — eu lhe disse. — Estarei aqui por um tempo. — Eu lhe dei o
olhar, aquele que garantiu que ela soubesse que eu estava interessado em
mais do que bebidas.
— Eu gostaria disso, — respondeu ela, e soltou uma risada.
Levei as bebidas de volta para onde Mickey e Graden haviam
conseguido uma mesa. Estava tão lotado aqui que eu não me
surpreenderia se eles tivessem passado um cheque para obtê-lo. Graden
novamente deu-me um tapa nas costas enquanto eu me sentava.
— Obrigado, Xavier.
— Não por isso, chefe, — eu disse.
— Então, vamos ao que interessa. Mickey aqui quer ouvir seu tom, por
isso, estabeleça-o.
Eu olhei diretamente para Mickey. Ele parecia inofensivo o suficiente.
Seu cabelo encaracolado era grisalho um pouco nas pontas, e seus pés de
corvo eram definitivamente visíveis, mas seu terno era italiano, e seu
relógio era um Rolex de edição limitada.
Portanto, o homem tinha claramente feito uma boa escolha em um
momento ou outro.
— Está bem, Mickey. O negócio é o seguinte. O hotel Graden é
claramente uma propriedade que vale a pena. Só o local vê projeções
acima do dobro do que os outros lugares do mesmo bairro nos dariam. E
tem tido uma boa corrida. Uma puta corrida, desculpem minha
linguagem, cavalheiros.
Ambos soltaram uma gargalhada.
— Mas há um tempo e um lugar para sair. E eu sei sua perspectiva
sobre isso, — eu disse, olhando para Graden, — é que você quer sair
agora. Você quer sair, mas você quer olhar por cima do ombro e ver seu
legado.
— É isso que estou lhe oferecendo, Graden. A chance de ver uma
rebranding, de ver uma propriedade bem-sucedida se tornar ainda mais
bem-sucedida, mas também a chance de ver reconhecidos os anos que
você dedicou a ela... Homenageado. Sua pegada estará sempre lá se for
um hotel Knight. Isso eu posso lhe prometer.
Eu olhava de homem para homem, tentando avaliar a reação. Pensei
que tinha sido ótimo, mas ambos estavam demorando a digerir. Logo
quando eu estava prestes a dizer outra coisa, para preencher o silêncio
que lentamente se tornava ensurdecedor, Graden bateu palmas.
Uma vez, depois duas vezes. Depois três vezes.
— Isso, — ele disse, — foi lindo.
Olhei para Mickey, tentando iluminar quaisquer que fossem seus
pensamentos, mas seus olhos só tinham o mesmo olhar vidrado e
profundo para eles.
— Qual é o cronograma?, — perguntou ele, finalmente olhando para
mim.
— Estaríamos procurando começar a construção estética em seis
semanas, no máximo, — eu comecei. — Lobby, spa e academia de
ginástica para começar. O nosso objetivo é ter um novo restaurante no
telhado em funcionamento até março. Estamos visando profissionais de
negócios que querem o centro da cidade, então vamos precisar nos
diferenciar o melhor possível do centro.
Mickey acompanhou minhas palavras, acenando com a cabeça a cada
duas sentenças. Pensei que eu o tinha na mão. Por isso, continuei.
— Estou pensando na mistura entre o Mandarim Oriental e o NoMo.
Queremos a elegância de uma propriedade cinco estrelas estabelecida,
mas queremos que ela seja fresca, — eu disse, prestes a continuar falando
quando Graden levantou a mão e interrompeu.
— Espere um minuto, — ele disse, lendo algo em seu celular. —
Desculpe interromper, mas... que mundo pequeno... — murmurou ele.
Então ele olhou para mim. — Adivinhe quem minha esposa encontrou
hoje.
— Quem? — perguntei, esperando que ele não conseguisse ouvir a
impaciência em minha voz.
— Sua esposa! Jessica disse que viu suas compras com... um homem...
em La Sur, aquela loja de chapéus.
Ele o disse casualmente, mas o tom evidentemente mudou quando ele
disse "um homem". Ele estava me julgando, perguntando-se sobre minha
esposa e meu relacionamento. Perguntando-se quem era o homem.
Pensei imediatamente nos textos que Jessica me enviou antes.
Porra...
Eu não poderia tê-lo duvidando se ele poderia confiar em mim, não
agora.
Eu precisava ser compreensível.
Eu precisava ser compreensível e confiável.
— Que mundo pequeno! — Eu quase gritei, desta vez dando tapinhas
em seu ombro. — Aqueles chapéus, todos gostam deles. — Quando
Graden olhou para mim, um sorriso educado em seus lábios, algo havia
se deslocado em seus olhos. Eu podia ver a dúvida tomando conta.
Merda. A raiva corria pelas minhas veias como uma jangada por um
rio. Eu estava chateado. Eu desci meu uísque. Minha mulher estava lá
fora me envergonhando, interferindo nos negócios. Isso era inaceitável.
Eu não dei a mínima para com quem ela estava em particular, quando
os olhos não estavam por perto para vê-la. Eu fiz o que eu queria e ela
podia fazer o que queria.
Mas em público?
Nós éramos a porra do quadro de amor e lealdade. Sangrávamos o
casamento, dia sim, dia não. Como ela poderia ter sido tão estúpida?
Eu queria sair imediatamente do bar e lhe dar uma lição, deixá-la
saber o quão idiota ela tinha sido. Avisá-la sobre estar em público
novamente com aquele cara, ou com qualquer outro cara que não fosse
eu.
Não, que se foda isso. Ela nunca mais veria aquele cara de novo,
público ou privado. Era o mínimo que ela podia fazer, já que ela corria
pela cidade passando o cartão preto em chapéus de fantasia.
Mais um olhar sobre Mickey e eu sabia que a produtividade da noite
tinha acabado.
Uma vez que saí, os homens iam falar se podiam trabalhar com um
homem que não conseguia manter as rédeas sobre sua esposa.
Um homem que ou não sabia o que sua esposa andava fazendo, ou
não se importava.
Pensei, deixe-os ter a conversa agora. Abri um e-mail em meu
telefone, fingindo lê-lo e reagindo.
— Cavalheiros, — interrompi, — Eu adoraria sentar aqui com vocês a
noite toda, mas um colega precisa da minha ajuda. Desculpem-me por
encurtar a noite. — Ambos ficaram de pé quando eu o fiz, acenando para
mim.
— Manteremos contato, — disse Graden, a camaradagem em sua voz
se foi.
— Perfeito, — eu disse. — Boa noite.
Eu estava tão zangado que andei a toda velocidade para fora do bar,
esquecendo completamente meu cartão e a bartender do sul com as
covinhas.
Só quando Marco estava percorrendo a West Side Highway é que me
lembrei de ambos e senti ainda mais fúria entrar na minha corrente
sanguínea.
Ela fodeu com meus negócios.
Ela fodeu com a minha vida sexual.
Ela ia ter que aprender seu lugar.
Capítulo 14
Um Knight público

ANGELA

Eu estava em casa cozinhando biscoitos. Eu sei que parecia tosco,


como uma espécie de dona de casa de um milhão de anos atrás, mas eu
adorava assar.
Eu era ã de qualquer coisa que exigisse que eu usasse minhas mãos
para criar algo, qualquer coisa que viesse com uma receita. Eu tinha
acabado de colocar os biscoitos no forno quando ouvi o elevador zumbir.
Olhei pelo corredor do meu quarto, pensando se eu teria tempo
suficiente para chegar lá antes que as portas do elevador se abrissem. Mas
antes que eu pudesse terminar o pensamento, as portas se abriram.
E ali estava Xavier, de olhos vermelhos, com o terno pendurado sobre
o braço. Antes que eu conseguisse dizer uma palavra — ou pensar em
dizer — ele estava marchando até mim, e palavras saíam de seus lábios.
— Com que filho da puta você estava comprando hoje?
— O quê?
— Quem era o homem?
— Meu amigo? Dustin.
— Oh. Dustin, — ele disse, e ficou claro que ele estava zombando de
mim. — Deixe-me deixar algo muito claro para você, Sra. Knight. Tudo o
que você faz nesta cidade chega em mim. TUDO.
Eu estava tão confusa que nem sabia por onde começar. Pensei em
voltar às compras com o Dustin.
— Tive uma reunião de negócios com a Graden hoje à noite, — ele
balbuciou. Oh. Sim, tínhamos encontrado com a Jessica. Aí estava minha
resposta.
— Ele disse que sua esposa a viu fazendo compras... com um homem.
— Foi o ciúme que eu detectei em sua voz?
— Estou me lixando para o que você faz no seu tempo livre, no seu
próprio espaço, — ele disse, me jogando na cara. Talvez não tenha
ciúmes, eu pensei. — Mas você não interfere nos meus negócios. Você
não vai me envergonhar novamente. Você me entende?
— Sim, mas eu não queria interferir...
— ME ESCUTE. — Ele bateu com a mão no balcão da cozinha. —
Você não deve estar em público com nenhum homem que não seja eu.
Você pode ter custado à empresa a merda do NEGÓCIO. Você entendeu
isso? Você percebe o quão estúpida você foi? Eu te proíbo de ver esse
homem até o fechamento do negócio.
— Você me proíbe?
— Você me ouviu. Você está vivendo sob meu teto, usando meu
dinheiro, você pode obedecer a uma simples regra. Além disso, se o bom
velho pai descobrisse que você estava fazendo alguma coisa para ferrar
este negócio, você teria mais a responder do que apenas a mim. — Suas
palavras eram tão grossas, tão afiadas, que eu as sentia me cortar.
Eu não tinha mais nenhuma energia dentro de mim. Pensei nas
mensagens de texto do Sr. Lemor, sobre meu pai, e olhei em volta para
minha nova vida. Eu estava cansada de lutar para encontrar o lado bom.
Ao ver a desistência no meu rosto, Xavier se virou e marchou até seu
quarto, batendo a porta.
— Ele é meu único amigo, — eu disse suavemente à cozinha vazia,
como se dizer as palavras ajudasse a tornar menos real o que acabara de
acontecer. Mas nada veio em resposta. Olhei à minha volta, sentindo-me
perdida. Ainda era só eu e meus biscoitos.

Claro, eu já tinha me sentido sozinha neste quarto cem vezes antes.


Mas esta era a primeira vez que eu não tinha Em e não tinha Dustin.
Ambas as minhas redes de segurança da cidade de Nova Iorque, antigas e
novas, não queriam ter nada a ver comigo.
Eu tinha ligado para Dustin depois que Xavier explodiu comigo,
contando-lhe sobre a regra que me proibia de vê-lo. Eu tinha tentado rir
disso, me certificando de que ele soubesse o quão absurdo eu achava que
era.
Mas Dustin não tinha rido.
— Xavier Knight proibiu você de me ver? Como eu, especificamente?
— Sim, — eu tinha respondido. — Mas é só até o fechamento deste
negócio...
— Isso é uma bagunça. Muito bagunçado. Eu não posso ter o maior
nome da cidade me odiando dessa maneira, — disse Dustin. — Parece
que há um alvo nas minhas costas ou algo assim.
— O quê? Não, Dustin, ele só está exagerando...
— Angela, tenho que ir, está bem? — E então ele desligou. Assim
mesmo, nossa amizade parecia ter acabado.
Acho que entendi por que ele estava tão agitado. Eu sabia como era
ser apontado como o inimigo por uma pessoa no poder. Como era
assustador saber que eles tinham mais controle sobre seu futuro do que
você.
Mas agora, não era apenas o Sr. Lemor que controlava minha vida.
Era meu marido, também.
Já era ruim o bastante eu ter que viver com Xavier, ter que ouvi-lo
gritar comigo pelas menores razões. Mas agora ele estava cortando
ativamente minhas relações pessoais, como se minha vida não
importasse nem um pouco.
Ele claramente não tinha respeito por mim. Ele pensou que eu tinha
casado com ele por seu dinheiro e seu nome, e eu não podia me defender
ou explicar nada — não sem quebrar as cláusulas.
Quanto tempo eu poderia ficar tão solitária?
Quantas semanas, meses, anos eu poderia passar sem ter um
verdadeiro amigo?
Minha tristeza se transformou em frustração, depois em fúria com
Xavier, mas também em fúria pela injustiça da vida. Eu estava
começando a enlouquecer, quando meu telefone se iluminou com uma
mensagem de texto.
Desconhecido: Pare de me ignorar.

Desconhecido: Vai se arrepender.


E meu sangue fervia ainda mais. Eu sabia que era o Sr. Lemor. A
audácia dos homens com poder e dinheiro para tentar controlar cada
minuto do meu dia; era inacreditável.
Quem eles pensavam que eram?
Por que eles pensaram que poderiam mandar em mim como uma
criança?
Então meu telefone tocou.
Você só pode estar de brincadeira! Eu deixo sair o som mais animalesco
— um som que eu nem sabia que era capaz de fazer — e respondo.
Mas eu não esperei que ele falasse.
— ME. DEIXE. EM PAZ! — Eu gritei pelo telefone.
Eu estava ofegante. Acho que nunca havia falado com alguém assim
antes, e meu coração batia mais alto do que um tambor. Estava tremendo
enquanto esperava por uma resposta — qualquer coisa.
Depois ouvi uma voz calma, tão controlada que soava quase doce, do
outro lado.
— Você vai desejar, — ele disse, — não ter dito isso para mim.
Joguei meu telefone do outro lado da cama, o mais longe possível de
mim.
Minhas mãos ainda estavam tremendo.
Saltei ao som das mensagens recebidas. Parte de mim queria ignorar o
telefone, mas minha curiosidade levou o melhor de mim. Eu precisava
saber o que ele estava dizendo. Era como dirigir por um acidente de carro
na rodovia. Você tinha que olhar porque, de alguma forma, não saber era
pior.
Rastejei até o canto da minha cama, onde o telefone estava deitado
com a face voltada para baixo, e lentamente o virei. Eu nunca tinha
ficado tão aliviada. O nome de Danny piscava sobre a tela.

Danny: Angela.
Danny: Você tem que vir para ver o pai.

Angela: ???

Angela: Está tudo bem?

Danny: Ele está bem.

Danny: Mas ele está fazendo uma birra.

Angela: Por quê?

Danny: Aparentemente você tem evitado falar sobre seu


casamento

Danny: Ele não quer adiar mais.


Merda. Outro problema a ser resolvido.
Eu havia evitado falar sobre isso.
Eu simplesmente não tinha coragem de continuar mentindo
diretamente na cara do meu pai. Mas essa era a única opção além de
evitar o assunto, então eu teria que fazer isso.
Eu soltei um grande fôlego e saí da cama, retirando meu pijama. Puxei
um par de jeans, uma camiseta, e amarrei meus Converses, depois me
dirigi para a porta.
Eu não tinha certeza se seria capaz de manter as mentiras na sua
frente.
Especialmente não quando ele estava indo tão mal.
Mas eu tinha que ser forte, por causa dele.

— Pai?
— Entre, filhinha, — ele disse, claramente se esforçando para tirar
cada palavra.
— Danny disse que você estava se sentindo melhor.
— Eu estou, eu estou, — ele disse, pegando minha mão e a beijando.
O silêncio se estendeu por um segundo diante de seus olhos enrugados
em um sorriso. — Você não pode evitar a conversa para sempre.
Eu acenei com a cabeça. Senti-me como uma criança prestes a ser
repreendida. Como se eu tivesse sido pega em flagrante com a mão no
biscoito.
Mas em vez de um pote de biscoitos eu estava no fundo de uma teia
de mentiras e enganos. Era um segredo de bilhões de dólares onde a vida
do meu pai estava pendurada na balança.
Eu respirei fundo, me apoiando.
— Ei, se anime, — brincou ele. — Eu não estou bravo. Não vou dizer
como foi imprudente e louco se casar tão rápido.
— Você acabou de dizer.
— Ah, eu acho que sim. — Ele riu, e eu não pude deixar de rir com ele
com pesar. Eu mantive meu olhar no chão.
Se ele soubesse a verdade, ele poderia ter outro ataque cardíaco.
— Filhinha, olhe para mim, — ele disse, com seus olhos ficando
rosados. — Você está feliz?
Eu olhei para meu pai, o homem que eu mais amei na vida. Minha
pessoa favorita. E eu estava lá com ele, conversando com ele. Então
acenei com a cabeça, uma lágrima escapando bochecha abaixo.
— Então, não se preocupe comigo. Entendeu? Eu estou feliz. Estou
feliz por você. Eu estou orgulhoso. Minha filhinha é uma esposa. — Ele
apertou minha mão agora, e outra lágrima caiu.
— Não chore.
— Sinto muito.
— Então, fale-me sobre ele.
— Você o conheceu na Ação de Graças, lembra-se?
— Claro, mas eu mal conheço o cara. Quanto às primeiras impressões,
eu não fiquei impressionado. Parecia que você ia desmaiar a qualquer
segundo naquela ocasião.
— Eu estava apenas nervosa com o que todos vocês pensariam, — eu
disse. E era verdade. Mas provavelmente não pelas mesmas razões que o
pai estava pensando.
Eu não estava nervosa para apresentar meu noivo à família.
Eu estava nervosa com a revelação do segredo.
Levantei minha mão esquerda para enxugar as lágrimas da bochecha e
meu pai assobiou, olhando o anel no meu dedo.
— Nossa, isso é uma pedra, — ele disse.
— No fim das contas, Xavier é um Knight. Você não precisa se
preocupar com nada.
Os olhos de meu pai se estreitaram o suficiente para que eu
percebesse, como se ele estivesse juntando a coincidência de tudo, mas
depois eles voltaram ao normal. Eu me perguntava se eu tinha imaginado
tudo.
— Bem, estou feliz por minha filhinha ter alguém para cuidar dela, só
isso. Depois daquele último idiota. — Ele estava falando sobre o Sr.
Lemor.
Meus irmãos haviam dito a ele depois que eu deixei a empresa e
ajudaram a explicar ao meu pai porque eu estava deixando um emprego
tão perfeitamente adequado. Quando lhe disseram, papai tinha corrido
para seu quarto e emergiu alguns segundos mais tarde com um taco de
beisebol.
— Tudo bem, — ele disse, — onde está o filho da puta?
Mas eu não queria pensar no Sr. Lemor ou Xavier agora. Eu precisava
colocar o foco de novo no meu pai.
— Então, seu tratamento experimental começa amanhã?
— Sim, senhora.
— Vai funcionar.
Ele olhou para mim, seus olhos ficaram rosados novamente.
— Pode apostar que sim, — ele disse.
Puxei a cadeira de visitante para perto de sua cama e enfiei meus pés
debaixo de mim, segurando suas mãos com força. Eu sabia que teria que
voltar para a cidade em breve, mas por enquanto eu só queria um pouco
mais de tempo com meu pai.
Eu estava de volta ao trem. Havia algo tão reconfortante em ver
milhões de árvores passarem. Eu gostava de pensar sobre aquelas árvores,
sobre como elas estariam ali, crescendo e morrendo, crescendo e
morrendo, se alguém estava ali para vê-las ou não.
Foi humilhante pensar nisso. O mundo gira com ou sem você. Isso
realmente colocou minha vida em perspectiva. Eu era apenas mais um.
Meus problemas não eram os únicos problemas.
Mas já chega, eu disse a mim mesma. Sem mais lamentações. Amanhã
era um novo dia, e eu estava pronta para enfrentá-lo sem hesitar. Peguei
meu celular, procurando uma distração. Pensei em tentar o New York
Times.
Eu estava rolando e rolando, tentando encontrar um artigo para ler,
mas nada chamou minha atenção. Eu precisava de alguma coisa
divertida. Por isso, fiz o que qualquer pessoa de vinte e poucos anos faria.
Fui para as fofocas online.
Eu estava folheando o Yorker, um blog de fofocas baseado em NYC,
passando por histórias sobre o último escândalo da Bravo Housewives e
da Miss Teen America, quando vi algo que me impediu de ter frio.
Você já sentiu alguma vez uma reação tão visceralmente que pensou
que poderia ser fatal? Como um ataque de pânico tão ruim que você
parou de respirar?
Bem, isso foi o que foi. Meu coração parou. O barulho ao meu redor
recuou até que eu não conseguia ouvir nada. Minha visão estava turvada
por manchas brancas. Tive que segurar meu telefone até o rosto para ler
qualquer coisa, e quando o fiz, desejei não o ter feito.
Havia uma foto de mim e de Xavier em nossa noite de núpcias.
Sorrindo para a câmera, parecendo que estávamos apaixonados. E por
baixo daquela foto, havia outra foto. Uma que apresentava apenas a mim.
Eu estava olhando diretamente para dentro da câmera, meus cabelos
úmidos pendurados em linha reta. Meus olhos estavam largos. A foto me
mostrou da cintura para cima. E eu estava nua.
Como isso pode ser? Nunca tinha tirado uma foto de mim mesma nua
em minha vida. Eu nunca tinha tido um namorado! Como poderia existir
esta foto? E como ela está estampada em toda a Internet?
Eu tentei me acalmar. Está bem, Angela. Seja esperta. Procure por pistas.
Eu me esgueirei para a foto, agradecendo ao senhor pela barra preta
que cobria meus seios. Notei os armários ao fundo. Armários? Minha
mente correu. Onde eu tinha estado com armários?
E depois me atingiu: a academia da Gelsa. Era a única academia onde
eu já tinha ido. Isto foi tirado no vestiário. Eu devia estar me trocando,
mas quem teria sido capaz de tirar uma foto como esta sem eu ver?

Desconhecido: Eu sempre venço.

Desconhecido: Você nunca mais vai trabalhar.


Sr. Lemor.
É claro.
Eu queria matá-lo.
Fiquei tão dominada pela raiva e pela humilhação que não tive
coragem de pensar em como ele poderia ter feito isso. Agora não.
Agora, eu precisava entrar em contato com o Yorker e fazer com que
eles retirassem o artigo. Então eu precisaria vasculhar o resto da internet
para procurar resíduos...

Em: ANGELA!!!

Em: VOCÊ VIU? PQP???

Em: ESTÁ EM TODO LUGAR!!!


Oh, meu Deus. Ai, meu Deus!
Já era ruim o suficiente que a Em estivesse falando comigo. Ela vinha
ignorando meus textos há dias.
Okay, relaxe. Faça você mesmo o Google e encontre os sites com a foto e
peça-lhes calmamente que a removam.
Eu mesmo pesquisei no Google. E encontrei a mesma imagem, em
vários websites. Mais sites do que eu poderia contar. Alguns mais
respeitáveis, outros menos.
E aqueles sites não regulamentados, aqueles que visavam a clickbait a
qualquer custo? Eles não se preocuparam em colocar a barra preta sobre
meu peito.
Fui exposta para que o mundo inteiro visse.

Xavier: Seus nudes estão na internet.

Xavier: Lembra-se quando eu te disse para não me


ENVERGONHAR?

Danny: Angela.

Danny: Ligue-me.

Danny: Agora.
Eu não podia acreditar nos meus olhos.
Minha melhor amiga, meu marido, meu irmão.
Todos eles tinham visto a minha foto de topless. Todos eles
presumiram que eu mesma a tinha tirado.
Fechei os olhos, e o diabinho na minha mente riu. É com isso que você
se preocupa? ele perguntou, dançando com sua forquilha. E o resto de
Nova Iorque?
Parecia que eu estava em cima de um penhasco alto, à beira do
precipício.
Meu fôlego chegou com um ar curto enquanto olhava ao redor do
trem.
Eu estava imaginando, ou todos estavam me mandando olhares
estranhos?
Encolhi-me em meu assento, apertando meus olhos.
A minha vida acabou...
Capítulo 15
Coração disfarçado

XAVIER

Eu não podia acreditar. Pensei que a garota tinha entendido o que eu


estava dizendo na outra noite, quando eu deixei bem claro que ela
deveria ficar fora dos holofotes.
Pensei que até mesmo um bebê teria sido capaz de me entender.
Mas aparentemente não.
Ou ela não tinha me entendido, o que significava que ela era tão burra
quanto um bloco de madeira, ou então ela tinha procurado
propositadamente a pior maneira que podia para me ferrar. E não apenas
eu, mas meus negócios.
O que significava que ela havia mexido com os negócios de meu pai. A
imprensa podia me chamar do que eles queriam — egoísta, cheio de mim
mesmo, o que quer que fosse — mas a verdade é que eu nunca quis que
meu pai se ferisse como resultado de algo que eu fiz.
Eu não sabia se esta era sua retaliação da noite em que eu estava
bêbado, ou do dia em que eu havia esmagado o vaso no chão, ou algo
completamente diferente, mas era claramente uma resposta a algo.
Ou então não era, e ela estava tão desesperada para jogar seu rosto no
mundo, para se tornar famosa a qualquer custo, que ela havia liberado
seus próprios nudes.
Essa seria a explicação mais psicótica. Eu conhecia algumas socialites
muito atentadas, mas nenhuma delas iria tão longe.
Eu estava furioso. Independentemente do seu raciocínio, a foto havia
vazado.
E estava em todos os lugares. Não era suficiente que ela tivesse de
alguma forma enganado meu pai e casado com o nome de Knight?
Por que ela precisava arruinar tudo o resto para mim, também?
Eu estava andando no chão do meu escritório quando meu pai entrou.
Eu queria pular e enfiar meu dedo na cara dele, para gritar:
— Isto é culpa SUA!
Mas eu não podia falar com ele dessa maneira, nem mesmo agora.
Talvez ele fosse um pouco confiante demais às vezes, mas ele ainda era o
homem que cuidou de mim durante toda a minha vida.
Então, tentei me controlar enquanto ele se aproximava de mim.
— Filho, — ele começou, com seu rosto grave, — Não consigo
imaginar o que você está sentindo.
— Estou muito chateado, — eu disse, batendo com o punho na mão
para dar ênfase.
Ele respirou fundo.
— Cuidaremos do maldito que vazou aquelas fotos, — ele disse.
E foi aí que percebi que nunca havia sequer considerado a
possibilidade de outra pessoa vazar as fotos. Mas eu confiei em meu
instinto.
Se parecia e cheirava como uma puta à procura de ouro e de atenção,
então provavelmente era.
— Comecemos do início, — eu disse. — Redução de danos.
— Temos a equipe de Frankie em Relações Públicas que lida com os
pontos de venda online, e Steph, da editora, cuidará da impressão.
Donnie está atirando calúnias para qualquer um que ouça. Isto será
varrido para debaixo do tapete até o final do dia, — disse meu pai, com os
olhos bem abertos.
— Meu Deus. Tudo bem, — respondi. — Obrigada por ter o controle
disso.
— Você é meu filho. E ela é minha filha, — disse meu pai.
Eu podia sentir o sangue começar a aquecer em minhas veias, e eu
sabia que tinha que tirá-lo do meu escritório antes que eu explodisse.
— Preciso de algum tempo sozinho.
— Claro, — ele disse, e com um último olhar simpático, ele deixou a
sala. Eu me certifiquei de fechar a porta atrás dele.
ANGELA
Eu havia desligado meu telefone no trem e ele permaneceu desligado
o dia todo. Além da minha viagem da estação Penn para casa, eu tinha
estado sozinha. E pela primeira vez, eu não estava reclamando. Sozinha
significava não ser alvo de olhos curiosos, sem perguntas.
Significava estar segura.
Quando cheguei à Penn Station, arrumei meu cabelo na frente do
rosto e comprei o primeiro boné I ❤ NY que pude encontrar.
Depois usei o número de serviço do carro que Brad me tinha dado há
semanas, aquele que eu nunca tinha precisado usar antes. Normalmente
eu preferia o metrô, mas hoje eu precisava da privacidade que os vidros
escuros me traziam. Quando meu carro da cidade parou, subi e deixei o
silêncio passar por cima de mim. Quando chegamos ao prédio, saí e
desviei tanto o olhar do porteiro que passei correndo. Mas não consegui.
Tenho certeza que todos e até suas mães tinham visto a foto, tinham
formado algum tipo de opinião sobre a garota que a tiraria. E a soltaram.
Eu não queria ver essa opinião nos olhos de ninguém.
Corri pelo saguão, permitindo-me finalmente respirar assim que as
portas do elevador se fecharam. E quando cheguei à cobertura, pisei no
meu quarto o mais silenciosamente possível no caso de alguém mais
estar em casa.
Eu não precisava de Lucille ou Marco — ou, Deus me livre, Xavier —
tendo a chance de me fazer qualquer pergunta. Eu não podia aceitar.
Fechei minha porta silenciosamente e fui para a cama, finalmente
deixando sair a emoção. As lágrimas vieram de maneira forte e rápida, e
eu empurrei meu rosto para dentro do travesseiro para silenciar os sons
de lamentação.
Depois veio a raiva, e meus gemidos se transformaram em gritos.
Não é justo. Não é JUSTO!
Agora eu estava socando o travesseiro, um punho fechado contra a
superfície mole.
Minha vida havia passado do normal para o terrível, do típico para o
mais distante do típico, em um mês. E tudo tinha começado com Brad
Knight.
Tudo tinha começado porque me foi oferecida uma maneira fácil de
resolver meus problemas, e eu tinha aceito sem considerar as
consequências. Eu tinha certeza de que o Sr. Lemor tinha visto fotos
minhas e de Xavier nas notícias, ou ouvido que tínhamos nos casado, e
era por isso que ele estava aparecendo assim agora.
Ele não queria que mais ninguém me tivesse.
Se eu tivesse acabado de pedir um empréstimo ao banco, ou
encontrado outro emprego em outra indústria, com o qual o Sr. Lemor
não pudesse interferir, eu teria conseguido pagar pelo tratamento do
meu pai.
Mas eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Seu custo de
tratamento já era de quase cinquenta mil dólares, e isso antes do teste.
Esta era a única solução.
Mas valeu a pena a destruição total da minha vida?
Enquanto estivesse fechada nesta torre de marfim, não saberia o que
seria capaz de fazer sozinha. Talvez sair daqui e colocar minha vida
novamente nos trilhos fosse a chave para encontrar um emprego de
verdade e ajudar meu pai.
Sem qualquer interferência bilionária. Eu tinha certeza de que poderia
haver algum tipo de plano de pagamento. Alguma coisa.
Liguei meu celular, ignorando todas mensagens e chamadas perdidas
que piscavam na tela. Eu queria falar com uma pessoa, e apenas uma
pessoa.

Angela: Posso ir até você?

Brad: É claro.

Brad: Nos encontramos lá fora.


Troquei de roupa e saí da cobertura. Eu tinha chamado o carro de
volta, e ele estava esperando lá fora. Eu estava andando pelo saguão,
ainda cabisbaixa, quando ouvi uma voz a alguns metros de mim dizendo
algo.
Quando meus olhos se levantaram para ver quem tinha falado, a voz
se repetiu.
— Que vergonha, — disse Pete, o porteiro. Ele abriu a porta, e eu não
podia dizer se ele estava me culpando ou tendo piedade de mim. Eu olhei
para o chão e entrei no carro da cidade.
Ele chegou ao prédio de escritórios onde a empresa Knight estava
instalada, e Brad estava esperando do lado de fora. Ele viu o carro e
deslizou para dentro imediatamente.
— Querida, — ele disse, me envolvendo em um abraço. Pensei que já
tinha dominado minhas emoções até então, mas as lágrimas não
paravam de chegar. — Está tudo bem. Está tudo bem. Ponha pra fora, —
ele disse, esfregando minhas costas.
— Desculpe, — eu chorei em seu ombro.
— Está tudo bem. Estamos nessa. Está tudo sendo consertado
enquanto falamos.
— Consertado?
— Temos a melhor das melhores equipes de RH, Angela, e é melhor
você acreditar que é a prioridade número um. — O próximo outlet,
online ou impresso, que compartilhar aquela foto ou até mesmo
mencionar seu nome, será processado e processado novamente. Você
entendeu?
Eu acenei com a cabeça. Mas o peso sobre meus ombros ainda estava
lá, me lembrando como era difícil ficar de pé quando estava de pé com os
Knight.
— Brad, eu tenho que... falar com você. — Eu solucei e ele me
entregou um lenço.
— O que é isso? — Ele me olhou com tanta gentileza, tanta
preocupação genuína, que me senti mal ao dizer o que estava prestes a
dizer. Mas eu tinha que desabafar.
Limpei meu nariz e depois comecei.
— Não posso mais fazer parte do arranjo, — eu disse. — É demais. É
muito difícil. Xavier me despreza, eu sei que sim, e o resto de minha
família e amigos não entendem este mundo. E eu também não, Brad. Eu
me sinto como uma estrangeira em minha própria casa. Não sei como
falar, nem como agir, e os olhos estão sempre voltados para mim. Há
muita pressão. E agora, isso....
Eu exalei, surpresa por ter falado tudo isso.
— As pessoas estão atrás de mim.
Eu estava esperando que Brad abrisse a porta do carro e me
empurrasse para fora, para me castigar, ou gritar comigo, ou me
chamasse de estúpida. Mas, em vez disso, ele pegou minha mão na dele.
— Doce menina, há algo tão honesto em seu coração, — ele disse.
— Obrigado por ter sido tão sincera comigo. Sabe, há um bilhão de
meninas que matariam suas próprias mães para estar em sua posição. É
verdade, — ele disse, para meu choque.
— Peço desculpas pela morbidez, mas você tem acesso à riqueza e ao
status que a maioria só sonha.
— Mas eu não... eu não quero nada disso.
— Exatamente, — ele disse, e tocou a ponta do meu nariz. — Sei como
o mundo deve parecer a você agora. Mas você vai se adaptar. Você é uma
garota inteligente. Você virá a saber que as notícias de hoje já são as de
ontem. As pessoas estão atrás de você porque você tem o que elas
querem.
— Mas o que você também tem é um exército de pessoas prontas para
protegê-la. E quanto a Xavier... — ele disse, lançando um rápido olhar
pela janela, em direção ao prédio onde seu filho estava. — Há muita coisa
que você não sabe sobre ele, minha querida. Muita coisa. Eu sei que
todos os defeitos que estão espalhados pelas colunas de fofocas são
verdadeiros. Que ele é um garoto de festa, um mulherengo. Que ele gasta
dinheiro como se fosse água em uma floresta tropical.
— Não estou tentando insultar seu filho, Brad, — eu disse
suavemente. — Eu só não vejo como nós... jamais poderíamos funcionar.
Nós somos tão diferentes...
— Ah, — Brad me interrompeu. — Mas é aí que você está errada. É
verdade que seu coração é puro e o dele tem estado ao redor do
quarteirão. Mas deixe-me assegurar-lhe que o coração dele está muito
presente. Ele está apenas escondido, no momento.
Eu me esgueirei, sem ter certeza de que Brad realmente conhecia seu
filho.
— Deixem-me contar-lhe uma história. Uma história sobre um jovem
que se apaixonou por uma jovem mulher. Um jovem que estava tão louco
de amor que ofereceu à jovem o que o coração dela desejava. O mundo. E
eles estavam prestes a se casar, e ele nunca havia se enchido de tanta
alegria.
— E, na véspera do casamento, a jovem decolou. Desapareceu. Com o
anel de noivado que poderia lhe comprar uma nova vida, e o amigo mais
antigo do jovem.
Deixei as palavras de Brad afundarem em mim, chocada.
Xavier teve seu coração partido, seu anel roubado. Ele foi traído por
sua noiva e seu melhor amigo. Sua festa, seus gritos, sua incapacidade de
confiar em alguém fora daqueles que ele realmente conhecia, tudo
começava a fazer sentido.
— Por favor, doce menina, — disse Brad, ainda agarrando minha mão.
— Dê outra oportunidade ao meu filho. Dê uma chance ao arranjo. Ele
está ali em algum lugar. Eu sei que você pode ajudar a trazê-lo de volta.
Eu olhei para o bilionário abnegado que estava diante de mim, que
queria tanto ver seu filho se tornar o homem que ele sabia que poderia
ser.
E eu vi meu próprio pai, deitado na cama do hospital, orgulhoso de
sua filha e prestes a iniciar um tratamento experimental que poderia
salvar sua vida.
Talvez o peso ainda estivesse em meus ombros e talvez eu não tivesse
ideia que novos horrores o amanhã traria. Mas sentada ali, no fundo do
carro, estacionado do lado de fora do extravagante edifício de escritórios,
eu senti que pelo menos tinha algum propósito.
Como se houvesse algo que eu pudesse fazer. E me deu a entender que
eu não estava lá apenas para ajudar meu pai.
Eu estava lá para ajudar meu marido, o homem com o coração
partido.
Capítulo 16
Território Novo

ANGELA

Vamos lá. Atenda. Por favor.


— Alô?, — ela finalmente respondeu.
— Oi, Em, — eu disse, prendendo minha respiração para sua reação.
Tinham passado algumas semanas desde a última vez que nos falamos.
Não porque eu não tivesse tentado falar com ela — devo ter enviado dez
mensagens por semana — mas porque ela não tinha interesse em
responder.
Não foi como nas outras vezes em que nos metemos em brigas
estúpidas e uma de nós ficou brava, mas depois fizemos as pazes no dia
seguinte e rimos sobre isso por causa de biscoitos com gotas de
chocolate.
Não, isso foi muito diferente. Isso dava a entender que a Em estivesse
brava. Parecia que ela havia... superado isso. Me superado.
Ela estava esperando por mim para dizer algo. Para provar que havia
um motivo para eu estar ligando, mesmo depois que ela evitou
claramente minhas tentativas anteriores.
Queria que eu fosse nessas coisas.
Você conhece o ditado que diz que os pais exaltados dizem sobre seus
filhos que falam rápido? Como eles seriam capazes de vender gelo para
esquimós, ou algo parecido?
Bem, eu nunca tive essa capacidade.
Lucas, claro. Ele estava sempre falando para sair dos problemas, com
os professores, com nosso pai, com qualquer pessoa.
Mas eu... eu não tinha rede de segurança. Não podia confiar em mim
mesmo para criar uma sequência de desculpas ao cair de um chapéu.
Como resultado, eu me tornei muito boa em seguir regras.
Se você não tiver problemas, não tem necessidade de se livrar deles.
Mas agora, aqui estava eu, minha mente andando em círculos. Por
onde eu poderia sequer começar? Como eu poderia verbalizar o quanto
eu queria minha melhor amiga de volta, sem explicar mais nada?
— Em, escute... — Eu comecei, e depois tive uma vontade muito
semelhante à que eu tinha quando era criança, quando Lucas estava
falando sobre uma história animada e eu estava observando o rosto de
nosso pai, não acreditando nela.
Não, o vizinho não chutou a bola de futebol pela janela do carro de
nosso pai. E assim eu soltava a verdade.
— Em, papai está doente, — eu disse, pensando que era um bom lugar
para começar.
— Eu sei, Angie, — disse ela, sua voz era mais suave. — Lucas tem me
atualizado. — Lucas? Mas isso me saiu da cabeça tão rápido quanto
entrou, porque eu já estava me preparando para o que eu ia dizer a
seguir.
— Suas contas, seus tratamentos... não havia como. — Eu estava
sufocando lágrimas, surpresa com como tudo isso soou repugnante
quando eu disse em voz alta.
— Não tínhamos condições de arcar com isso.
— Mas você é casada com um Knight pelo amor de Deus, — disse ela,
e depois parou imediatamente. Como se ela estivesse entendendo.
Eu respirei fundo.
— Conheci Brad Knight sem saber quem ele era. Ele parecia tão...
triste. Ele estava sozinho em um banco de jardim no dia em que eu
descobri que tinha chegado à próxima rodada de entrevistas, e eu estava
distribuindo aqueles lírios no parque. Eu perguntei se ele estava bem.
Conversamos, muito brevemente, e eu meio que me esqueci dele. Mas ele
me localizou, Em, logo depois que meu pai teve o primeiro derrame. E
ele... ele fez uma... proposta.
— Proposta?
— Se eu o ajudasse a consertar o coração de seu filho, ele me ajudaria
a consertar a saúde de meu pai.
Ouvi uma forte inalação de ar através do telefone.
— Eu sei. Eu sei. Mas é o meu pai, Em, e ele está sozinho na cama do
hospital. Há estes tubos... que saem de dentro dele. E ele é tão frágil. —
Eu comecei a soluçar.
— Shhh, Angie, shh. Está tudo bem. — E eu quase pude senti-la
acariciando meu cabelo.
Apertei meus olhos.
— Eu o odeio, Em.
— Seu pai?
— Xavier. Ele é horrível. Ele é tão cruel comigo. Ele acha que eu me
casei com ele por seu dinheiro, ou para ser uma Knight. Ele não tem ideia
do papai.
— Por que você não lhe diz?
— É contra as regras. Eu assinei este contrato com Brad...
— 'Um contrato'?
— Ele é um bilionário. Tenho certeza de que ele faz com que todos à
sua volta assinem contratos.
— Isso é verdade. — Em riu. E eu senti o alívio inundar meu corpo.
Talvez ela estivesse finalmente compreendendo. — Então, se você não
pode lhe dizer, você também não pode...
— Te dizer, — eu terminei. — Mas eu tive que dizer. Eu não podia
continuar... continuar mentindo sobre isso. Estou tão triste, Em. Tão
sozinha. Todos pensam que sou este monstro que se casaria por dinheiro,
e sei que não deveria me importar com o que as pessoas pensam, mas é
difícil ser tão odiada por todos, especialmente quando sua metade
superior nua é exibida em todos os blogs...
— Sim, posso perguntar sobre isso?
— Sr. Lemor, — eu disse, e ela novamente ofegou.
— NÃO!
— Sim.
— Aquele filho da mãe, — ela rosnou. — Mas como?
— Eu não tenho ideia, — suspirei. Tinha pensado tanto sobre isso,
mas ainda não conseguia entender. — Foi tirada na academia da Gelsa.
No vestiário.
— Você foi até a polícia, certo?
— Brad me fez prometer que eu o deixaria lidar com isso. Na verdade,
agora eu deveria estar trancada na cobertura. Ter um paparazzi ou
qualquer um que fosse tirar uma foto minha lá fora neste momento só
pioraria as coisas. Para os Knight e para mim.
— Você está em quarentena?
— É para minha segurança.
— Você se ouve, Angie? Levante-se. Vista-se, — instruiu Em. — Estarei
lá fora em trinta.
— O quê?
— Você me ouviu. Ponha seu traseiro em algo bonito.
— Em, não é uma boa ideia. Não quero mais colunas de fofocas
falando de mim. Você pode simplesmente vir até aqui? Posso fazer
biscoitos com gotas de chocolate como costumávamos fazer...
— Angela. Você não precisa de um biscoito com gotas de chocolate.
Você precisa de um martini. Agora, repita depois de mim: Estou saindo
da quarentena.
— Estou saindo da quarentena, — eu disse, tentando parecer mais
convencida do que sentia. Mas se isso significava que a Em estava de
volta à minha vida, acho que eu ia beber o martini.
Em me pegou em um táxi, e aceleramos no centro da cidade.
Estávamos fazendo nosso caminho pelo distrito de Meatpacking quando
Em bateu no banco do passageiro na frente dela.
— Aqui, senhor! Descemos aqui!
Ela deu dinheiro ao motorista e me puxou para fora do carro.
Estávamos em frente ao Iceberg, o mais novo e mais quente clube da
cidade. A fila parecia ter um quilômetro de comprimento, e todos nela
estavam bem vestidos e bonitos.
Voltei-me para a Em.
— Não podemos entrar ali!!
— Não só podemos — ela sorriu para mim pecaminosamente — mas
iremos.
— Mas, Em! Olhe para eles. — Eu olhei para a linha, depois para
minha própria roupa.
Claro, eu estava com meu novo jeans, aqueles que Dustin dizia —
fizeram da minha bunda uma peça central, — mas isso não foi suficiente
para me aceitar nele.
Ela me agarrou pelos ombros e me olhou bem nos olhos.
— Angela, você precisa disso. Nós precisamos disso. Então pegue
minha mão e deixe-me usar seu novo sobrenome para nos levar para este
clube.
Havia algo tão natural em seguir as instruções de Em, como se minha
mente tivesse acabado de rebobinar de volta ao ensino médio.
Ela sempre teve uma maneira de saber o que era melhor para mim,
mesmo quando parecia ser a decisão mais assustadora que eu poderia
tomar.
Assim que suas sobrancelhas se levantaram, esperando pela minha
aprovação, eu acenei rapidamente. E rapidamente, ela pegou minha mão
e nos levou, passando pelas pessoas bonitas, até a porta.
XAVIER

Você teria pensado, nos dias de hoje, que as pessoas não estariam tão
interessadas em ver um par de peitos. Mas nas últimas vinte e quatro
horas, as únicas conversas que eu tinha ouvido eram orientadas, direta
ou indiretamente, em torno daqueles que pertenciam à minha esposa.
Os estampados por toda a Internet, os falados em todos os veículos de
imprensa, fofocas ou não.
Porque a imagem era real, e imagens reais não mentem.
Ao contrário dela.
Ela colocou aquele ato de "Tenho tanta classe", — aquele que faz você
sentir quase pena dela. Ela mencionou o nome de Harvard como se fosse
suficiente para justificar todas as merdas obscuras que ela fez. Como se
só porque ela tinha um diploma de primeira linha, ela pudesse lucrar em
qualquer círculo que lhe agradasse.
E fazer o inferno correr solto sobre o filho da mãe azarado a quem ela
estava destinada.
Então, sim, o trabalho hoje não foi grande coisa.
Nem mesmo meus colegas puderam evitar. Eles não paravam de me
perguntar se eu estava — a par — de diferentes situações. Um de meus
assistentes tentou se juntar a eles e eu o despedi.
Era melhor não testar um homem que tivesse que lidar com os nudes
vazados de sua esposa.
Quando falei com meu pai, ele disse que havia falado com Angela e ela
concordou com tudo, que ela não deveria falar com a imprensa, que
estaríamos tratando de tudo desde as RP até o jurídico. E que ela deveria
permanecer na cobertura até que a história morresse.
Enquanto o plano me incomodava ainda mais no início, pensando em
como eu encontraria a garota com mais frequência se ela estivesse
fechada dentro do condomínio do que se ela tivesse livre na cidade,
percebi que minha reputação tinha que vir acima do meu espaço pessoal.
Se ela me envergonhava em público ou desistia de um pouco de
espaço para respirar, a escolha era bem clara.
Marco abriu a porta do carro para mim na frente do meu prédio e eu
saí, passeando pelo saguão e entrando no elevador. Eu me perguntava se
eu deveria dar-lhe outra conversa severa, ou se meu pai tinha falado
sobre tudo.
Por que não? Eu pensei. Melhor tê-la assustada do que pensar que ela
poderia escapar com algo assim novamente.
Esse era o problema das mulheres. Mesmo aquelas que pareciam
confiáveis e normais sempre tinham algo na manga.
Era as que não se suspeitava que deveríamos suspeitar.
As portas se abriram, e eu entrei na cobertura.
— ANGELA! — Eu gritei. Não houve resposta. Caminhei direto para o
quarto dela, batendo na porta. — ANGELA, — gritei novamente,
colocando meu ouvido até a porta.
Mesmo se ela tivesse adormecido às nove da noite, não havia como ela
ter ficado dormindo durante o meu barulho.
— Ela saiu, — disse Lucille, correndo pelo corredor até mim.
— O quê? — Eu me enfureci, depois me senti mal por isso. Lucille não
merecia minha raiva. — Desculpe, mas... o quê?
— Ela saiu. — Lucille encolheu os ombros. — Você quer jantar?
— Não! — Então eu me peguei novamente com raiva. — Não, está
tudo bem. — E depois voltei a invadir o corredor para o elevador. Eu ia
encontrar minha esposa.

Xavier: ONDE VOCÊ ESTÁ ?

Xavier: VOCÊ DEVERIA ESTAR NA COBERTURA!

Xavier: ISSO NÃO É PIADA!

Xavier: RESPONDA-ME!!!

ANGELA

Tirei o celular vibrando do bolso de trás e, vendo que era o Xavier,


voltei a colocá-lo lá. Eu estava me sentindo bem e não precisava que ele
me trouxesse de volta para baixo.
Tomei mais um gole do Jack e da Coca-Cola que a Em havia me dado,
surpresa com o quão doce era e como desceu suavemente.
— É tão bom! — Eu gritei para Em.
— O quê?, — perguntou ela, com a mão ao ouvido. Estava uma
loucura aqui dentro.
O DJ estava tocando algo chamado — trap music, — e a batida pulsava
por todo o clube. Nós estávamos na seção VIP.
Assim que Em mencionou meu sobrenome, o porteiro nos conduziu
até a área fechada no andar de cima. Tínhamos nosso próprio bar, nossos
próprios banheiros e até mesmo um — concierge, — caso precisássemos
de alguma coisa.
Voltei-me para Em misteriosamente quando a concierge disse que
essa última parte era para nós agora, e ela apenas me acenou indo
embora.
— Não se preocupe com isso, — disse ela, de uma forma que me fez
pensar que ela estava se referindo a drogas ou outras coisas ilícitas.
Mas agora, em vez de me preocupar em me repetir novamente, eu
apenas tomei mais um gole da deliciosa bebida. Em estava dançando,
seus quadris balançando com o tempo ao ritmo da música.
Ela parecia não precisar de esforço, tão graciosa, e eu desejava poder
ser mais como ela. Mais no momento. Tomei outro gole, e outro, até que
nada mais saiu do canudo.
Eu olhei para o copo, percebendo que estava vazio.
Eu precisava de mais. Eu estava me sentindo bem pela primeira vez
em muito tempo, e não queria que isso acabasse.
— Eu vou... — Eu disse a Em, que estava indo até o bar, mas logo
depois, eu senti alguém agarrar minha cintura.
— Precisa de um refil?
Eu me virei para ver quem estava falando comigo, e tenho quase
certeza de que eu ofegava audivelmente.
Ele era lindo, como uma espécie de Hércules. Cabelos dourados, olhos
verde-esmeralda, alto e musculoso. Ele usava uma camisa branca debaixo
de um casaco preto, e carregava a confiança de alguém que sabia que se
parecia com um deus grego.
— Eu sou Carrey. Oliver Carrey, — ele disse enquanto beijava minha
bochecha.
Eu dei risadas.
— Eu sou Angela.
— Vamos?, — ele disse, e eu acenei com a cabeça, então ele amarrou
seu braço através do meu e me guiou até o bar. Eu olhei para Em, mas ela
ainda estava dançando.
Eu sorri, sentindo-me no momento pela primeira vez.
O rosto de Xavier me passou pela cabeça, mas eu o afastei com a
mesma rapidez.
Ele sempre foi tão mau pra mim. Tão cruel e desconfiado...
Eu estava aqui para me divertir depois de um dia estressante. O que
havia de errado com isso? Então e se eu falasse com um cara gostoso?
Senti sua mão descansar no meu pequeno dorso enquanto ele me
conduzia em direção ao bar. Eu olhei para ele e ele me mostrou um
sorriso brilhante.
E se isso não ficar só na conversa? uma pequena voz na minha cabeça
sussurrou.
Capítulo 17
Três é demais

XAVIER

Ela não só estava ignorando a regra de ficar em casa, mas também


estava ignorando minhas mensagens. Foi preciso um maldito conhecido
meu vê-la no Iceberg para que eu descobrisse onde diabos ela estava.
Quando parei, senti-me como a porra do Hulk.
Fiquei surpreso que minha camisa Calvin Klein não tivesse rasgado.
Eu saltei do carro antes que Marco pudesse abrir a porta e subi até a
entrada, mal consegui esperar que o cara da porta abrisse antes de entrar
tempestuosamente.
Eu não estava interessado em perder mais tempo.
Subi as escadas até a seção VIP, onde uma socialite que mal conhecia,
uma não gostosa suficiente para transar, tinha me dito que minha esposa
estava aqui. Olhei à minha volta, tentando olhar na escuridão.
Eu odiava estar sóbrio em baladas. Era como se estivesse em um
campo de batalha sem adrenalina.
Você começa a questionar tudo.
Eu estava caminhando através de corpos contorcidos, empurrando
qualquer mão que tentasse me agarrar. Eu não estava aqui para socializar
— isso eu deixei claro. Então, uma garota de aparência familiar chamou
minha atenção, sentada em uma mesa com o que parecia ser um atleta
profissional.
Futebol, talvez. Ela tinha cabelos escuros com franja, pele pálida e o
que parecia ser um sorriso permanente em seu rosto.
Ela definitivamente tinha estado no primeiro banco no casamento.
Eu andei até a mesa e bati nela no ombro.
— Angela?, — eu perguntei.
— O quê?
— ANGELA!
Ela me ouviu daquela vez, e parecia que ela também me reconhecia.
Ela apenas rolou os olhos e encolheu os ombros e depois voltou para a
conversa com os jogadores de futebol.
Sacudi a cabeça e soltei um rosnado, mas a música afogou-o.
Eu continuei procurando. Continuei tecendo através de vestidos e
ternos, saltos altos e mocassins, até que me encontrei no bar. Eu estava
prestes a pedir uma bebida quando vi cabelos loiros pelo canto do olho.
Eu virei minha cabeça em direção a ela, e lá estava ela.
Minha amada esposa.
Rindo com outro homem.
Eu não poderia explicar a raiva a você se tentasse. Foi tudo
consumido, como uma traição. Não porque ela estava flertando com um
homem, é claro.
Eu não podia dar a mínima para o que esta garota fazia com outros
homens.
Eu não fiquei com ciúmes.
Não, foi uma questão de respeito. Era sobre ela não me envergonhar
no clube mais exclusivo da cidade, aquele em que ela não teria sido
autorizada a entrar se não tivesse jogado meu nome na porta.
— ANGELA.
Ela se virou imediatamente, seu rosto corado ficou pálido.
— Vamos, — eu disse, colocando seu copo quase vazio no balcão do
bar e agarrando seu ombro.
— Não, — ela chorou.
— Ei, cara. — O cara loiro colocou a mão no meu braço. — A garota
ainda não quer sair.
— Tire a porra mão de cima de mim, cara, — eu disse, quase
esperando que eu pudesse brigar.
Não, esqueça isso. Eu tinha que pensar em minha imagem. Voltei para
Angela.
— Nós estamos indo. Agora.
— Mas eu estou me divertindo, — disse ela, soando como uma
maldita criança.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa para me irritar, eu
peguei sua mão e a agarrei o mais forte que pude sem machucá-la,
levando-a para fora da sala, descendo as escadas, e para a calçada.
— Mas... — ela começou.
— Entre, — eu disse, apontando para a porta que Marco lhe segurava
aberta.
— Não, — disse ela, seus braços cruzados. — Se eu tiver que ir, quero
andar.
— Você quer andar? Estamos em novembro.
— Eu não me importo, — disse ela. Eu não tinha ouvido este tipo de
desafio em sua voz antes. Não querendo fazer uma cena no meio do
Meatpacking, eu deixei fazer como quisesse.
— Tudo bem, — eu me passei. — Eu vou com você.
Ela foi para a rua e eu tive que persegui-la. Quando chegamos à 32ª,
ainda não tínhamos trocado uma palavra.
E seus olhos não paravam de se fechar. Parecia que ela ia adormecer
no meio do caminho.

Xavier: 33ª e 6ª

Marco: A caminho
Marco subiu a 6ª Avenida com um timing perfeito, e assim que vi o
carro, deslizei para dentro.
Estávamos andando em silêncio no carro há alguns minutos quando
ela olhou para mim.
— Por que você é tão ruim comigo?, — perguntou ela, com uma voz
que parecia tão genuína que me pegou desprevenido.
— O quê?
— Por que você é tão ruim comigo? — ela repetiu. Não foi uma
pergunta que ela quis dizer como um insulto. Ela só queria saber.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e ela não se parecia com o
tipo de garota que eu imaginava que ela fosse.
Ela parecia jovem, e inocente, como se ainda não tivesse visto muito
do mundo.
Eu me vi amolecendo. Talvez fosse porque ela estava bêbada e não se
lembraria de nada amanhã, ou talvez fosse porque dizer isso em voz alta
fosse na verdade um pouco terapêutico.
Mas, em ambos os casos, eu lhe dei uma resposta.
— Eu não confio nas pessoas.
— Por quê?
— Já confiei no passado. E acaba sempre... sendo um erro.
— Você não merece isso, — disse ela, suas palavras tão docemente
simples.
— Eu teria me entregado a ela, — eu disse. Eu olhava para frente,
deixando a verdade emergir. — Eu teria dado tudo a ela. Mas ela... ela
tinha outras ideias.
Depois senti uma mão fria cobrindo a minha no assento. Eu vacilei,
olhando para baixo e vendo a mão da minha esposa. Quando olhei para o
rosto dela, vi o olhar dela pela janela.
Era como se ela soubesse me dar espaço, me deixar ter um momento
para mim mesmo.
Quando chegamos ao prédio, eu mesmo acenei para Marco e a ajudei
a sair do carro. Ela tinha ficado de alguma forma mais bêbada desde que
saímos do clube, e estava tropeçando por todo o lado.
Em vez de esperar que ela caísse, decidi tomar o assunto em minhas
próprias mãos e a colocar meus braços. Eu a carreguei como uma criança
pelo saguão e a sentei no banco quando estávamos no elevador.
Quando as portas se abriram, eu a levantei novamente e a
acompanhei até seu quarto, abrindo a porta e deixando-a cair sobre a
cama. Ela estava acabada, com seus olhos fechados e sua boca
ligeiramente entreaberta.
Ela parecia pacífica, e eu não queria acordá-la. Se ela acordar, alguém
vai ter que lidar com o vômito dela.
Então a deixei assim, cabeça no travesseiro, sapatos ainda calçados, e
fui servir-me de uma maldita bebida.
ANGELA

Acordei com um susto, ouvindo os pássaros cantando bem do lado de


fora da minha janela. Minha cabeça estava doendo.
Que horas eram?
Por que a janela estava aberta?
Por que parecia que eu estava usando sapatos?
Abri os olhos lentamente, piscando diante da luz que preenchia minha
visão. Depois de um momento de ajuste, inclinei lentamente a cabeça
para baixo até olhar para o meu corpo.
Parecia que eu ainda estava, de fato, usando meus sapatos. E meus
jeans, minha camisa e meu blazer, com provavelmente a cara ainda cheia
de maquiagem.
Ah. Estava me lembrando de tudo.
Em e eu no Iceberg. Os coquetéis doces, doces. O homem
misteriosamente lindo...
E Xavier. Ele vindo me encontrar, ordenando-me que saísse do clube.
Permitindo-me andar e, quando eu não podia mais andar, pedindo a
Marco para nos buscar.
A maneira como ele olhou para mim no carro, como se estivesse
realmente me vendo pela primeira vez. E a maneira como ele falava sobre
a mulher que o machucara.
Ele foi tão honesto, tão ele mesmo. Eu não me lembrava muito depois
disso, mas de alguma forma tinha chegado à minha cama sã e salva.
Supondo que eu não tivesse chegado aqui sozinha, o que era mais que
provável, dado o quão intoxicada eu estava — o que era um problema
totalmente diferente — o Xavier tinha me colocado na cama e me
deixado vestida.
Tenho certeza que se ele quisesse, ele poderia ter tentado... ou feito...
seu pior, como se eu fosse uma de suas outras garotas.
● Mas ele não o fez. Parecia que eu estava vendo um lado diferente de
Xavier, o lado que Brad tinha me prometido que existia.
Saí da cama e, ouvindo vozes no salão, abri minha porta. Eu estava
andando pelo corredor com a intenção de agradecer a Xavier quando ele
ouviu meus passos e se virou. Ele estava fumegando.
— ... E VOCÊ! — ele gritou, e eu instintivamente cobri meus ouvidos.
Isso foi muito mais alto do que minha ressaca poderia suportar. — Você
me fez correr como uma BABÁ a noite toda! NÃO é meu trabalho cuidar
de você.
— Eu só vim pra dizer obrigada, — eu saí com parcimônia. Isso não
ajudou. Marco, que tinha sido o destinatário de seus gritos antes de eu
entrar na sala, apenas olhou para seus pés.
— Eu não preciso do seu OBRIGADO! PRECISO QUE MINHA
ESPOSA NÃO CORRA PELA CIDADE DE NOVA IORQUE ME
ENVERGONHANDO A CADA DIA. O que há de tão complicado nisso?
Eu estava tremendo agora, disposta a não chorar.
Eu estava errada.
Eu sabia exatamente quem era Xavier.
Eu estava olhando em frente, tentando não olhar diretamente para
ele, quando ele se aproximou de mim. Desta vez ele falou a um volume
normal, com uma voz mais suave: — Não basta que você leve meu
dinheiro e meu nome? Você precisa pegar minha imagem e pisar nela
também?
Havia tanto veneno em sua voz que pensei que poderia realmente me
envenenar. Então eu corri para o elevador, empurrando meus soluços até
que as portas se fechassem atrás de mim e eu pudesse chorar em paz.
Quando elas abriram novamente no lobby, limpei minhas bochechas
molhadas e me apressei a passar. Então eu estava do lado de fora, na
calçada, e comecei a andar.
Encontrei-me do lado de fora da porta da cafeteria de Dustin,
abrindo-a antes que eu pudesse me convencer a não fazê-lo. Estava vazia,
como sempre.
Quando Dustin me viu, sua expressão ficou sombria.
— Eu pensei que você não podia falar com pessoas como eu, — ele
disse.
— Dustin, não se tratava de você. Foi porque a esposa do colega de
Xavier me viu fazendo compras com outro homem, e em seu estranho
círculo de elite, isso é ruim. Desculpe-me, está bem? Mas não se tratava
de você. Era sobre me castigar. Levar meu único amigo embora.
Ele amoleceu e me olhou com um olhar sério.
— Sabe, quando você entrou na loja pela primeira vez, eu sabia quem
você era. E eu não me importava em ser seu amigo. Só pensei que ficar
perto de você me daria alguma... publicidade.
A cor em meu rosto sumiu.
— Publicidade?
Ele olhou para baixo.
— Não estou orgulhoso disso. Mas eu pensei que qualquer uma que
seja casada com Xavier Knight tem que ser uma cretina. Então, o que há
de errado em usar alguém que o mereça? Mas então...
— Você estava tentando me usar por causa do meu sobrenome? —
Xavier estava certo.
— Logo no início, sim. Mas isso mudou! Acredite, eu não dei a
mínima para a publicidade quando estávamos realmente andando juntos.
Bem, isso é uma mentira. É claro que eu me importava com a
publicidade. Mas sua amizade era mais importante para mim...
Minha mente estava em colapso.
— Dustin, pare. Publicidade para quê?
— Minha arte, — ele disse calmamente. Nunca o havia ouvido dizer
uma palavra tão silenciosamente.
— Sua arte?
— Eu sou um artista. Um em dificuldades, é por isso que trabalho
aqui. Eu não queria magoar ninguém, principalmente você. Apenas
pensei... as pessoas querem saber o que a esposa de Xavier Knight está
fazendo. Com quem ela está andando. Então, se me vissem, estariam
interessados em ver meu trabalho.
Eu olhei para Dustin. Eu sabia o que era convencer-se a usar alguém
para um bem maior.
E ele estava sendo honesto comigo agora. Seus olhos pareciam
genuínos. E ajudar as pessoas sempre me dava um golpe de endorfina.
— Se você tivesse me dito isso no início, eu o teria ajudado.
— Eu sei disso agora, — ele disse. — Mas antes eu pensava que você
era apenas mais uma louca por dinheiro. Sem ofensa.
— Me mostra.
— Te mostrar o quê?
— Sua arte.
Dustin puxou seu celular e mexeu nele até encontrar um quadro que
ele pintou. Era bom. Bom o suficiente para que eu abrisse a boca antes
que eu pudesse pensar bem nas palavras.
— Se você me prometer que não mente mais, então eu o ajudarei.
— Você está falando sério?, — perguntou ele, chocado. Eu acenei
antes de ter tempo de considerar como poderia ajudar, ou se era a coisa
inteligente a fazer.
Antes que o rosto de Xavier enchesse minha mente e eu soubesse que
teria outra pessoa a quem responder.

Eu estava voltando para a cobertura quando meu telefone tocou. Era o


Brad.
— Olá?
— Oi, Angela, querida. Há algo que eu gostaria de falar com você.
Você pode me encontrar no Plaza?
— Claro que sim, — eu disse. Pelo menos agora eu sabia que o Plaza
não era uma praça na verdade.
— Sobre o que seria?
— É sobre o Sr. Lemor, — disse Brad, com sua voz fria.
Meu sangue se transformou em gelo.
— Temos uma maneira de derrubá-lo, — prosseguiu Brad. — E
precisamos de sua ajuda.
Capítulo 18
P lanejando o Futuro

ANGELA

Cheguei ao Plaza, sentindo-me mais do que um pouco nervosa.


Do que o Brad estava falando? Poderíamos realmente deter o Sr. Lemor?
Desta vez eu não precisei da ajuda do concierge para encontrar a sala
de jantar, nem ele me impediu antes que eu mesmo pudesse chegar lá.
Andei pela sala, sorrindo educadamente para as senhoras e senhores — e
eles eram senhoras e senhores — que eu passei no caminho.
Quando cheguei à mesa do Brad, ele estava de pé.
— Oi, querida, — ele disse, e caminhou para beijar minha bochecha.
— Oi, Brad, — eu disse, na verdade me sentindo um pouco mais à
vontade em sua presença.
— Sente-se, por favor. — Sentei-me na cadeira em frente a ele.
Eu suspirei.
Aqui vamos nós.
— Então, sobre o que você disse ao telefone... — Eu comecei.
— O Sr. Lemor não vai fazer mais nada, Angela, não se preocupe.
Bem... ele não será alguém com quem você precisará se preocupar depois
de hoje.
Eu havia contado tudo sobre o Sr. Lemor no carro do lado de fora de
seu escritório, logo após o vazamento da foto. Eu havia contado a ele
sobre os onze meses e meio cansativos que eu havia passado trabalhando
para ele, como ele me perseguia e me ameaçava até eu não aguentar
mais.
Brad prometeu que faria tudo o que pudesse para detê-lo. Eu só não
acreditava que isso pudesse acontecer tão rápido.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.
— Minha equipe elaborou um pequeno plano para garantir que seja
feita justiça. Lemor vai se comportar da maneira como tem se
comportado continuamente, mas desta vez ele será pego. E o
Departamento de Justiça de Nova Iorque terá algo a dizer sobre as
consequências.
— Eu não estou... eu não estou entendendo, — eu disse, assim que um
garçom trouxe sanduíches e scones pequenos e outro serviu champagne
e chá para nós.
— Encontramos uma mulher que também trabalhou perto de Lemor,
uma mulher que foi submetida ao mesmo assédio que você mesmo
conheceu. Ela está disposta a nos ajudar, — explicou ele.
— Dessa forma, quando a história se desenrolar, você estará longe
dela. Uma nota lateral distante, não a heroína principal.
— Quem é ela? — Eu sussurrei.
— Receio não poder lhe dizer isso, — ele disse, mordendo um bolinho
de semente de papoula e de limão. Havia um pouco de farelo em seu
lábio superior.
— Prometemos à jovem o anonimato, para nosso melhor controle da
situação. Ela estará em um de meus hotéis esta noite, o hotel que Lemor
frequenta. Ele vai vê-la no bar e... bem, como dizem, o resto será história.
— Como... como você vai pegá-lo?
— Mandei instalar câmeras, — ele disse, lavando o scone com um gole
de champagne.
Minha mente estava andando em círculos. Era como algo fora de um
filme de James Bond.
— Eu quero ver, — eu disse. Não podia acreditar que tive a coragem
de falar com tanta certeza, ao Brad Knight no Hotel Plaza, nada menos
que isso.
Mas eu precisava ver o homem que me atormentava cair.
— Você pode lidar com isso? — Ele olhou para mim, com ar de figura
paterna. Eu sabia o que meu próprio pai diria — nunca. Eu era delicada
demais para ver algo assim.
Mas, no fundo, eu sabia que isso não era verdade. Eu podia lidar com
isso. Eu precisava lidar com isso. Ver Lemor ser pego era a única maneira
que eu tinha para poder seguir em frente superar o que ele me fazia
passar. Era agora ou nunca.
Então tomei um gole de champanhe, sentindo imediatamente um
zumbido de confiança na minha mente.
E quando olhei para Brad Knight, o homem mais poderoso de Nova
Iorque, disse com minha voz mais confiante:
— Sim.

Brad: 19h00.

Brad: Quarto 913.

Desconhecido: Estive pensando...

Desconhecido: Não tenho certeza se esta é uma boa ideia.

Brad: Pense nas outras mulheres. Se você não o impedir, mais se


machucarão.

Brad: Homens como este não param a menos que sejam forçados
a isso. Agora você tem o poder.

Desconhecido: Você está certo...

Desconhecido: Vamos acabar com isso.

BRAD

Eu não tinha certeza de que trazer Angela junto era a coisa certa a
fazer. Eu podia notar que ela era uma jovem sensível, e este homem a
havia humilhado e depreciado por um período substancial de tempo.
Eu mesmo queria matar o desgraçado, mas a Diretoria não teria
gostado disso.
A jovem que havia concordado em nos ajudar veio até nós através de
uma de minhas assistentes, que havia encontrado suas queixas contra
Lemor apresentadas ao departamento de RH da Gelsa há dois anos. Elas
haviam sido varridas para debaixo do tapete, é claro.
— Revisado e dispensado, — em termos técnicos. Mas ela ainda estava
trabalhando para a Gelsa como freelancer, e ainda que ela não estivesse
mais no prédio com Lemor diariamente, eu tinha certeza de que ele
ainda a atormentava.
Eu mesmo me aproximei da mulher e, expliquei a situação, que outra
mulher, querida por mim, havia sido afetada pelo mesmo homem das
mesmas maneiras e ele não hesitaria em arruinar outras vidas se não
fosse parado.
Eu queria lhe oferecer algo mais, algo como dinheiro, mas sabia que
isso não seria bom em um tribunal quando o filho da puta for julgado.
Então, em vez disso, brinquei com o coração dela e funcionou. Como
qualquer pessoa humana com consciência, a mulher tinha concordado
em parar o monstro que a tinha abusado, e outras depois dela.
Eu lhe disse para vir ao hotel às sete da tarde para uma suíte e lhe dei
todo o tratamento real. Cabelos, maquiagem, até mesmo uma massagem
para acalmar seus nervos. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
Quando entrei na suíte uma hora e meia depois, tive que admitir que
a jovem parecia radiante. O vestido que o estilista havia escolhido era
perfeito.
Era sedutor em sua sofisticação, e eu sabia que o maldito não teria
nenhuma chance.
— Você pode fazer isso, — eu lhe disse junto à porta. — Você é a
diferença entre ele se safar com suas ações e ter que pagar.
Ela acenou para mim, parecendo calma e recolhida.
— Eu sei. Eu dou conta.
Coloquei uma mão no ombro dela e a beijei na bochecha.
— Estou orgulhoso de você, — eu disse. — Obrigado.
Ela acenou para mim, depois abriu a porta e caminhou pelo corredor,
prestes a enfrentar o que certamente seria a noite mais assustadora de
sua vida.
ANGELA

Brad tinha me dito para encontrá-lo no quarto 913 às oito e quarenta e


cinco, mas eu estava tão ansiosa que cheguei ao Hotel Tribeca uma hora
mais cedo e andei em círculos em torno dele. Era o hotel onde eu tinha
me casado, mas nesta noite, eu estava nervosa por estar lá por uma outra
razão.
Finalmente, às oito e trinta e cinco, eu me deixei entrar no lobby.
Caminhei até o banco do elevador, tentando casualmente espreitar o bar
do hotel à minha esquerda. Mas eu não vi nenhum rosto familiar.
Eu andei de elevador até o nono andar e caminhei até o quarto. Bati à
porta, e ela se abriu na segunda batida.
— Você está pronta? — perguntou Brad. Eu acenei rapidamente, e ele
me deixou entrar.
Lá dentro, havia um burburinho de atividade. A suíte se encaixava
confortavelmente em todas as telas montadas para exibir ângulos
diferentes de dois lugares: o bar do hotel e um quarto de hotel vazio.
Atrás das telas estavam três homens, cada um vestindo preto e usando
um fone de ouvido. Um sentado estava atrás de um laptop, onde parecia
que tinha algum tipo de controle de áudio.
Agora parecia mesmo um filme de James Bond.
— Eles são policiais? — perguntei tranquilamente ao Brad.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Minha equipe de segurança, — explicou ele. — Eles também fazem
trabalho de informação.
Eu acenei novamente, sem palavras. Não podia acreditar que ele tinha
feito tudo isso por mim, para destruir o homem que tinha se esforçado
tanto para me destruir.
— Obrigada, — eu disse com sinceridade. Ele pegou minha mão na
dele, e eu pude ver a suavidade em seus olhos.
— Estamos prontos, — um dos homens de preto, gritou para o quarto.
Os olhos de todos estavam focados em uma das telas, onde uma
mulher de vestido preto tinha acabado de sentar-se no bar. O barman foi
até ela, e ela disse algo que não podíamos ouvir.
Poucos momentos depois, ele lhe trouxe um martini.
— Não se preocupe, ela não está bebendo, — disseme Brad. — Ela e o
barman sabem que ela só vai beber bebidas sem álcool esta noite.
Inteligente, eu pensei. Fiquei surpreso com o quanto pensava sobre
isso. Movi meus olhos em direção a todas as telas, tentando encontrar
uma que mostrasse seu rosto. Mas tudo o que vi foram suas costas e seus
cabelos castanhos encaracolados.
— Aqui vamos nós! — Um homem diferente de preto gritou, e todos
os olhos voltaram novamente para a tela.
E meu coração parou. Lá estava ele.
Sr. Lemor, todo o um metro e setenta dele, vestido com um terno que
fez o seu melhor para esconder sua figura. Ele andava com o queixo tão
alto que sempre me perguntei como ele não tropeçava.
E ele estava indo numa linha reta até onde a mulher misteriosa se
sentava.
Eu estremeci, pensando no medo que ela devia estar suportando, o
medo que estávamos observando na câmera. Não me pareceu justo.
— Mas não conseguimos ouvir nada, — disse a Brad, meus olhos
colaram na tela quando Lemor tocou o ombro da mulher e sorriu.
— Podemos, — ele disse, movendo-se para o fone de ouvido
escondido em seu ouvido direito. Eu era a única que estava sem um na
sala. — Achei melhor que não ouvisse a voz dele.
— Eu quero ouvir.
As sobrancelhas de Brad subiram novamente.
— Eu não quero que você reviva...
— Não. Eu preciso ver e ouvir tudo. Se ela está passando por isso, eu
não quero que ela fique sozinha.
Depois de um segundo, ele acenou com a cabeça. Ele caminhou até a
mesa e pegou outro fone de ouvido, ajudando-me a colocá-lo. E então ele
apertou o botão ON.
Instantaneamente ouvi o zumbido no bar. Mas tudo isso desapareceu
quando ouvi as primeiras palavras de Lemor.
— Você se importa se eu me juntar a você?
Ele fez a pergunta como se a mulher dizer que não seria o necessário
para que ele se afastasse. Mas eu o conhecia. Ele nunca simplesmente se
afastou.
— Claro, — disse ela, e eu fiquei imediatamente impressionada com o
quanto ela me parecia familiar.
— Esse é um vestido e tanto, — disse Lemor, e eu o vi levantar um
pedaço do cabelo da mulher de seu ombro. Observei o corpo inteiro dela
tenso e o sorriso tomou o rosto dele.
E naquele momento, ela se virou para o lado, para ver se alguém no
bar havia notado sua ousadia. A câmera captou uma imagem clara de seu
rosto, e sua respiração se prendeu.
Sua voz parecia familiar porque ela era familiar.
Era Betty, a mulher que me encontrou para tomar café, que me avisou
sobre a interferência de Lemor em minha vida.
Minha boca secou enquanto me imaginava em sua posição. Ela foi tão
corajosa. Tão forte. E tudo o que eu estava fazendo era sentar-me aqui,
vendo como Brad e Betty faziam tudo isso.
Deve haver algo que eu possa fazer para ajudar...
Capítulo 19
Um brinde à vingança

BRAD

Eu estava preocupado com ela. Com as coisas que ela estava


testemunhando, as coisas das quais eu não conseguia protegê-la. Ela era
forte e eu não tinha dúvidas sobre isso.
Você tinha que ser forte depois de passar pelo que ela tinha passado.
Mas Angela, ela era uma guerreira. A maneira como ela lidou com
tudo, a maneira como ela estava tão concentrada em garantir o sucesso
da batalha que ela não se preocupou consigo mesma.
Então foi por isso que o fiz.
Estávamos vendo o desgraçado flertar com Betty, a jovem que havia
concordado em ajudar, quando dei uma olhada em Angela. Ela estava
pálida como um fantasma, seus olhos mais largos do que eu jamais os vi.
Ela não estava piscando, não estava se movendo. Então eu a ajudei a
sentar em uma cadeira, em algum lugar ela ainda teria uma linha de visão
direta para as telas.
Eu sabia que ela iria resistir se eu lhe pedisse para desviar o olhar.
Eu lhe trouxe uma garrafa de água, mas ela foi ignorada. Ela estava
seguindo em frente e eu não pude deixar de me sentir responsável.
Mas, novamente, eu sabia que se fosse eu, eu gostaria de vê-lo. Tudo
isso.
Eu não conseguiria superar a questão para seguir em frente de outra
forma.
— Posso lhe arranjar outro? — Lemor perguntou à jovem mulher,
sinalizando para o barman.
— Claro, — disse Betty, e até meus velhos ouvidos podiam dizer que
sua voz estava cheia de nervosismo.
O barman fez as bebidas e, por uma fração de segundo, tive medo que
Lemor o visse despejar água tônica no martini da Betty em vez de vodca,
mas ele tinha tanta atenção no peito dela que não olhou para mais nada.
— Devo dizer que estou agradavelmente surpreendido com sua
simpatia esta noite, Sra. Watson.
— Me chame de Betty, — ela respondeu. Eu olhei para Angela, que
encolheu. Embora toda a situação fosse difícil de ser observada, só ela
podia realmente compreender a magnitude da dor.
— Muito bem, então, Betty. Um brinde, — ele disse, levantando seu
copo cheio. Ela fez o mesmo com seu segundo martini.
— A novas amizades, — ele disse, e eu queria esmurrar o desgraçado
através da tela. Ela sorriu com um sorriso esticado, e eles tocaram os
copos.
Logo depois, Angela olhou para mim, e parecia uma criança.
— Talvez você estivesse certo, — disse ela. — Talvez isso seja muito
difícil.
Tomei um assento ao lado dela, e sabendo que tudo o que podia fazer
era contar a verdade, comecei a falar.
ANGELA

Depois que o Lemor e a Betty brindaram, eu podia sentir meu


estômago se agitando. Eu não sabia se ia vomitar ou desmaiar, mas
parecia que ia ser definitivamente um dos dois.
E depois tive que me lembrar que esta era a parte mais fácil. O
verdadeiro problema ainda nem sequer havia começado.
Virei-me para encontrar Brad ao meu lado. Quando ele chegou à
mesa? Eu estava tão concentrada nas telas que não tinha ideia do que
estava acontecendo ao meu redor.
No segundo momento em que sentiu meu olhar sobre ele, ele se virou,
e vendo como estava ansioso para me ajudar, para tornar tudo isso
melhor, isso me fez sentir ainda mais.
— Talvez você estivesse certo. Talvez isso seja muito difícil, — eu
disse. — E isso é apenas o começo.
Esse era o pensamento que não me escaparia, que eu teria que
observar aquele monstro na outra tela, a que gravava o quarto do hotel,
não o bar do hotel. Eu teria que vê-lo fazer o que ele nunca tentou
comigo.
Eu era uma garota crescida e sabia o que estava por vir. Mas a ideia era
suficiente para me fazer correr para fora do hotel.
Claro, eu já sabia no que estava me metendo. Mas vendo isso em ação,
vendo Betty, aquela que tinha me ajudado, colocar-se nesta situação...
Eu não tinha certeza se tinha em mim o necessário para lidar com
isso.
Tirei o fone de ouvido da orelha, colocando-o sobre a mesa. Brad
tinha tomado um lugar ao meu lado, e agora ele olhava para mim, algo
entre a pena e a firmeza cambiando em seu rosto.
— Eu não vou mentir para você, — ele disse. — Não vai ser bonito. E
você pode sair desta sala a qualquer momento, sabendo que Lemor
nunca mais será uma ameaça para você.
Ele colocou uma mão em cima da minha, e seu calor escorreu através
de mim, de alguma forma me acalmando.
— Mas se fosse eu, e este fosse meu pesadelo, eu ficaria. Eu ficaria e
veria o filho da puta se incriminando na câmera, para ter certeza de que
eu tinha algo em minha mente para reproduzir que não fosse ele
ganhando. Eu gostaria de vê-lo cair.
As palavras de Brad afundaram em mim, e eu sabia que ele estava
certo. Eu precisava me sentir capacitada, apenas uma vez, quando se
tratava de Lemor.
E sentada aqui nesta suíte, observando cada movimento dele, sabendo
de algo que ele não sabia, era fortalecedor.
Com um aceno lento, voltei a colocar o fone no meu ouvido. Você
pode fazer isso, eu disse a mim mesma.
Após sua quarta bebida, Lemor fez a pergunta.
— Você gostaria de subir as escadas? Eu tenho uma reserva
permanente neste hotel todos os fins de semana. Os dias de semana em
Jersey são o suficiente para mim.
Betty riu, e quase pareceu genuína. Fiquei impressionada com o
desempenho dela. Se tivesse sido eu, já teria me acovardado há muito
tempo.
— Eu também tenho um quarto aqui, — disse ela, — uma pequena
estadia.
— Oh, adorável! — ele disse, claramente um pouco mais do que
bêbado. Ele pediu a conta ao barman e ofereceu seu cartão.
Quando o barman o levou, ele disse:
— Traga isso para minha suíte, hein, garoto? Não há tempo para
esperar por ela agora.
E então ele ajudou a Betty a sair de seu banco, não fazendo nenhuma
tentativa de esconder o fato de que ele a estava sondando.
Eles deixaram o bar juntos, e nós os vimos andando até o banco do
elevador. Durante um minuto e meio eles estiveram no elevador e
caminhando até seu quarto de hotel, não pudemos vê-los ou ouvi-los.
Aquele minuto e meio me enlouqueceu. E se ele lhe fez alguma coisa?
E se nós não o pegamos? E se chegássemos tarde demais?
Mas então eles estavam abrindo a porta do quarto do hotel.
— AQUI Vamos! — Um dos homens de preto gritou, e eu suspirei.
Nós estávamos de volta.
Lemor abriu a geladeira do frigobar e abriu uma garrafa de
champagne enquanto Betty olhava nervosamente em volta do quarto. Ela
aceitou uma taça de champanhe, eles brindaram novamente, e eu tive
que me lembrar de respirar.
— Sabe, Betty, você é sempre bem-vinda a voltar para a equipe Gelsa
para sempre, em tempo integral. Sinto saudades de tê-la por perto no
escritório. Vê-la andando pelo corredor... — ele disse, dirigindo seus
comentários aos seios dela.
— Na verdade, eu adoraria ter você trabalhando na minha equipe, sob
minhas ordens, diretamente. —
— Qual é sua proposta exatamente? — ela perguntou, inclinando-se
para mais perto dele.
Eu tive que engolir a bílis na garganta. Eu não tinha ideia de como ela
estava se mantendo tão firme.
— Bem, podemos arranjar algo, tenho certeza. Se você me faz feliz, eu
posso fazer você muito, muito feliz. Tudo o que eu disser na Gelsa é
ordem, minha querida. Está na hora de você deixar Curixon.
Ele rodou um pedaço de cabelo dela em torno de seu dedo, o rosto
dele a poucos centímetros do dela.
— Se você me fizer companhia, farei com que você tenha um papel
real na Gelsa. Acabou-se o trabalho de assistente. Vamos colocá-la na
gerência.
— Então, se eu dormir com você... você me recrutará para a gerência?
Isso é mais do que um salário de seis dígitos.
— E você mereceria cada centavo disso.
— É isso aí, rapazes! — outro homem de preto gritou, e dois deles
correram para a porta.
— Mexam-se, mexam-se, mexam-se. — Então eles estavam fora da
suíte, e eu esperava que eles chegassem a tempo.
— E daí? — Lemor lhe perguntou, baixando ainda mais o rosto. Ela
estava visivelmente tremendo agora, isso eu podia notar.
Eu pude ver o champanhe em sua mão dançando dentro do copo.
— Apresse-se, — eu sussurrei, desejando que os homens já chegassem
lá.
— Então... — Betty respondeu, tão baixo que eu mal consegui ouvir.
E então ele a beijou, sua taça de champanhe caiu no chão enquanto
ele a empurrava de volta para a cama, empurrando-a. Eu joguei meu fone
de ouvido no chão e empurrei minha cadeira para longe da mesa.
— NÃO! — Eu gritei, sentindo as lágrimas e o vômito vindo. Brad
colocou uma mão no meu ombro.
— Está tudo bem, Angela, está tudo bem...
Mas eu simplesmente o empurrei. Eu não podia acreditar. Lemor
estava em cima dela, tocando-a, e ela não conseguia empurrá-lo...
— Veja! — Brad disse, apontando para a tela.
Limpei meus olhos e olhei. Lá estavam eles, batendo na sala e
arrancando Lemor de cima dela. Ele foi jogado no chão por um,
enquanto o outro ajudava Betty a correr para fora da sala.
Minha respiração estava por toda parte, e Brad estendeu a garrafa de
água para mim.
— Está feito, — ele disse enquanto eu bebia um gole.
— Está tudo acabado. Vamos mantê-lo em uma sala separada até a
chegada da polícia. Teremos as fitas prontas.
— Para onde ela vai agora? — perguntei entre as respirações
ofegantes.
— Casa, — disse Brad. — Todos nós podemos ir para casa.
Pensei na cobertura. Nunca havia parecido tão segura.

Acordei no sábado de manhã com um barulho de batida. No meu


passeio de carro de Tribeca para casa ontem à noite, não consegui parar
de pensar na força da Betty. Como ela havia perseverado em uma
situação tão difícil.
Foi inspirador.
Eu queria sentir esse tipo de força. A última vez que senti isso foi
quando fiz minha entrevista com o Sr. Kinfold, quando tive a certeza de
que minhas qualificações me tornariam a pessoa certa para o trabalho.
Mas desde minha rejeição, e com tudo o que havia acontecido com
meu pai e os Knight, me faltava essa sensação de certeza. Eu não me
sentia no controle de nada.
Perdi a sensação de ter um emprego em que sabia que seria bom. Um
emprego que me fez sentir produtiva, como se eu pudesse fazer a
diferença.
Com Lemor não sendo mais uma ameaça, eu poderia começar a tentar
novamente, de verdade, sem medo do que ele poderia fazer. O
pensamento me fez sorrir, mesmo que minhas mãos ainda tremessem
intensamente de tudo o que eu tinha observado no quarto do hotel.
Quando voltei à cobertura, estava exausta e adormeci quase
imediatamente. E se não fosse por este baque, aposto que poderia ter
dormido ainda mais tempo.
Eu não me dei ao trabalho de trocar meu pijama enquanto saía da
sala. Xavier normalmente não acordava até a tarde de sábado. Pensei que
a batida estava vindo da cozinha, mas ao me aproximar da porta do
quarto do Xavier, percebi que estava meio aberta.
E antes que eu pudesse me deter, eu tinha dado um passo muito
grande — e tinha uma linha clara de visão para o quarto de Xavier. Onde
ele estava intimamente enredado não com uma, mas com duas mulheres.
Meu suspiro saiu antes que eu pudesse pará-lo, e foi suficientemente
alto para a atenção dos três. Eu nunca havia sentido o calor subir tão
rapidamente até minhas bochechas.
Eles estavam todos... tão nus. E assim emaranhados, como chicletes
em cabelos encaracolados.
— Sinto muito! Desculpe, — eu gaguejei, mas Xavier apenas riu. E as
mulheres se juntaram a ele.
— Venha, querida, junte-se a nós! Está quente aqui dentro, — ele
disse, tão humilhante como sempre. As mulheres continuavam rindo. Fui
humilhada.
— Essa é minha esposa, — ouvi-o dizer enquanto corria de volta ao
meu quarto.

Angela: Eu preciso de você

Angela: Em

Angela: Em????
Em não estava respondendo, mas eu precisava de alguém a quem
desabafar. E rápido. Vesti o primeiro jeans e blusa que pude encontrar e
corri do meu quarto para o elevador, mais rápido do que jamais havia
corrido antes.
Eu não abri meus olhos para além de um estreito olhar até que as
portas se fecharam.
Quando cheguei à floricultura da Em, o belo arranjo de flores fora da
vitrine me distraiu da cena que tinha acabado de suportar na cobertura.
A Em tinha organizado prateleiras de lindas plantas em vasos, com um
par de plantas em vasos maiores em ambos os lados da porta.
As flores eram coloridas e em plena floração, e tudo parecia perfeito.
Ao contrário do meu casamento.
Fiquei de tal forma presa em minha própria mente que abri a porta
sem me perguntar por que ela estava fechada. Em nunca fechou a porta
da loja durante o horário comercial.
— Você nunca vai adivinhar o que Xavier acabou de fazer com... —
Mas eu me afastei quando percebi o que estava acontecendo. Em estava
sentada no balcão, curtindo com um homem que estava entre as pernas
dela.
Eu estava prestes a balbuciar um pedido de desculpas e corri de volta
para fora quando o homem se virou para ver quem estava falando. E foi
quando eu vi o rosto do homem. Era Lucas.
Meu irmão Lucas.
Meu irmão Lucas se agarrando com minha melhor amiga.
Capítulo 20
Qualquer coisa por você

ANGELA

— ... e eu entrei e ela estava no balcão, pegando MEU IRMÃO!


— NÃO! — Dustin estava extasiado, com olhos tão abertos quanto os
meus.
— Eu sei, — eu disse, querendo contar a ele o que eu tinha visto com
Xavier também, mas sabendo que não podia. Dustin ainda pensava que
Xavier e eu nos amávamos.
Estivemos no SoHo 149, uma das galerias mais exclusivas da cidade,
montando para a exposição de Dustin naquela noite. Eu estava
ajudando-o a descarregar os quadros da van alugada e revelando o que eu
tinha visto entre Em e Lucas no dia anterior.
— O que eles disseram a você?
— Nada! — Eu mesma exclamei, ainda não acreditava muito em tudo
isso.
Minha melhor amiga e meu irmão. Há quanto tempo eles mentiam
sobre isso? Eles estavam se pegando no meu casamento? Na minha
formatura na faculdade?
Parecia uma traição clichê.
— Fiquei tão chocada que acabei por sair correndo.
— Eles tentaram ligar para você?
— Em me ligou, umas seis vezes. E Lucas deixou algumas mensagens
na caixa postal. Mas eu ainda não sei o que dizer a eles.
— Bem, como você se sente?, — perguntou ele, e percebi que poderia
haver um mundo onde eu não estivesse louca. Onde eu estava feliz por
duas das minhas pessoas favoritas se encontrarem.
Mas ainda era estranho.
— Eu não sei.
Tiramos os dois últimos quadros envoltos em plástico bolha do baú e
os acompanhamos até a galeria, colocando-os sobre as mesas ao lado dos
outros. Havia doze ao todo, mas não consegui ver nenhum deles sob as
camadas protetoras de plástico.
— Podemos desembrulha-los? — eu perguntei.
Ele estava circulando o espaço agora, olhando de parede vazia para
parede vazia. Era uma galeria bastante grande, com um layout de
conceito aberto que usava pilares para lhe dar forma. As paredes eram
brancas e os pisos eram de madeira para que toda a atenção estivesse
voltada para o trabalho do artista.
— Quero pregar a sequência primeiro, — respondeu ele, ainda
analisando as paredes.
Eu podia dizer que ele estava nervoso, mesmo que ainda estivesse
agindo como se estivesse confiante. Desde o momento em que chegamos
à galeria e conhecemos o Sr. Johnson, o proprietário, até o momento, ele
tinha balançado as mãos em punhos e batido lentamente com eles nas
pernas.
— Vai ser incrível, — eu disse, indo para ficar ao seu lado.
Coloquei uma mão em seu ombro e apertei. Ele olhou para mim e
sorriu, e depois voltou para as paredes.
— Acho que vamos de preto e branco e deixamos sangrar em cor, e
depois, para o final, eu lhes darei escala de cinza. Uma metáfora. Regras,
caos, depois a realização de que nenhuma das duas existe sem a outra.
Fiquei atordoada. Quem diria que Dustin Stirling era tão eloquente?
— Não tenho ideia do que você disse, mas parece ótimo.
Ele acenou com a cabeça.
— Eu também pensei assim.
Pedi para almoçarmos, e ele veio quase imediatamente. Sentamos no
chão frio e devoramos nosso Lo Mein, e eu não pude deixar de me sentir
bem. Eu havia usado o nome Knight para assegurar o SoHo 149 para a
noite.
Quando o contatei na semana passada, o Sr. Johnson não estava
muito receptivo à ideia de um desconhecido usando sua galeria, mas eu
lhe assegurei que Dustin tinha talento de classe mundial porque, bem,
um Knight saberia, certo?
Ele disse que precisaria de algum tempo para pensar sobre isso, então
quando ele finalmente me chamou de volta ontem à noite, fiquei
surpresa.
Levou cerca de meia hora para convencê-lo, mas ele acabou
concordando, e mesmo que eu tremesse do outro lado da ligação, eu
estava orgulhosa de mim mesma por manter minha voz calma o tempo
todo. Ou, pelo menos, a maior parte do tempo.
O SoHo 149 permitiria a Dustin ter sua primeira exposição de arte real
em um lugar que praticamente lhe garantiria patronos, o que era
obviamente importante para um recém-chegado.
E não apenas patronos, mas pessoas que conheciam e se preocupavam
com a arte.
Quando eu lhe disse que havia arranjado a galeria para sua exposição,
pensei que ele ia desmaiar.
— Obrigado, obrigado, obrigado! — ele cantou, e depois correu ao
redor do balcão do café para me abraçar.
Ele me levantou do chão e me girou, e foi o suficiente para tirar minha
mente de toda essa coisa de Em/Lucas. De qualquer forma, por um
tempo.
Dustin saiu imediatamente do café e alugou uma van, colocou seus
doze quadros favoritos no porta-malas, e eu o encontrei no centro da
cidade. O Sr. Johnson fechou a galeria durante a tarde para que Dustin
pudesse se instalar.
Como tudo foi tão de última hora, todo o processo foi apressado, mas
o SoHo 149 foi reservado para o mês seguinte.
Quando dei a Dustin a opção de esperar, ele gritou:
— Não! Chega de esperar!
E assim foi.
— Seria engraçado se fizéssemos tudo isso e ninguém viesse, — ele
disse, me puxando para fora de meus pensamentos. — Como se fôssemos
uma árvore na floresta e ninguém nos visse cair, será que realmente
caímos?
— Dustin, você está no SoHo 149. É o melhor dos melhores, de acordo
com o The New Yorker, de qualquer forma. As pessoas virão.
— Você está certa, — ele disse, enfiando mais macarrão em sua boca.
Então ele olhou para mim. — Você acha que Xavier poderia passar por
aqui? — Meu estômago esfriou. Xavier. Eu ainda não lhe havia contado
nada disso. Não era como se falássemos muito de qualquer maneira, mas
eu sabia que ele ficaria bravo. Ele sempre ficou.
Os olhos de Dustin estavam me suplicando agora; ambos sabíamos
que a presença de Xavier significava que haveria mais socialites e
imprensa na galeria.
— Eu não sei, Dustin...
— Você poderia perguntar? Por favor... — Eu olhei para meu amigo,
para os nervos claramente tomando conta de seu corpo. Respirei fundo e
acenei com a cabeça. Que tipo de amiga eu seria se não me colocasse em
risco?

Lucas: Pare de me ignorar.

Lucas: Angie, vamos lá.


Eu estava no elevador do prédio de escritórios do Xavier quando vi as
mensagens de Lucas. Queria responder, de verdade, mas ainda não
conseguia descobrir o que dizer. Então deixei cair o telefone de volta na
minha bolsa.
O elevador abriu suavemente, e eu saí para o 38° andar. Vi o balcão da
recepção e fui até lá.
Pensei que vir ao escritório de Xavier seria uma boa ideia porque ele
teria que me deixar entrar e não poderia gritar.
Afinal, eu era sua esposa, então o que pensariam seus colegas se ele me
chamasse de palavrões?
Mas agora eu estava percebendo como eu era um peixe fora d’água.
Meu cabelo estava amarrado num laço e bagunçado, além disso estava
com meus jeans rasgados e camiseta branca, embora perfeitos para um
dia ajudando a organizar uma galeria, não eram trajes típicos de um
escritório. E tinha meu Converse.
Mas era tarde demais; a recepcionista já tinha me visto.
— Oi, estou aqui para ver meu marido. Xavier Knight?
— Oh, claro, — ela disse, correndo ao redor de sua mesa e movendo-
se para que eu a seguisse. — Venha por aqui.
Eu não podia acreditar. A mulher, provavelmente por volta da minha
idade, estava me tratando como se estivesse... intimidada ou algo assim.
Acho que nunca intimidei ninguém em toda a minha vida.
— É lindo lá fora, — eu disse, tentando colocá-la à vontade enquanto
andávamos pelos corredores.
— Oh, com certeza, Sra. Knight, — ela respondeu rapidamente.
O que está acontecendo?
Quando chegamos ao escritório de Xavier, ela bateu à porta de vidro
fechada. Tudo era vidro: a porta, as paredes... Eu podia ver tudo dentro
do escritório, inclusive meu marido. Ele estava vestido inteligentemente
com um terno preto com um botão azul pálido, e estava esfregando as
têmporas quando a recepcionista bateu.
Ele a viu, depois a mim, e se levantou lentamente. Em seguida, ele
caminhou até a porta e a abriu.
— Você sabe que deve me chamar antes de deixar um visitante entrar,
— ele disse, suas palavras dirigidas à recepcionista.
— Eu... eu sei, — ela gaguejava. Eu queria abraçá-la.
— A culpa foi minha, — eu disse. — Tenho algo para falar com você
sobre o que não podia esperar em casa.
— Bem, entre, querida, — respondeu ele, enfatizando a última palavra
e abrindo mais a porta. Entrei no escritório, pensando no que me havia
metido.
— Feche a porta atrás de você, — instruiu ele. Ponderei minhas
opções, percebendo que não tinha uma razão válida para não fazê-lo.
Uma que eu podia verbalizar, de qualquer forma.
— Desculpe interromper seu dia, — eu disse suavemente, esperando
que pudéssemos ser civilizados. Eu abordaria o assunto com leveza,
casualmente, e talvez ele não fosse tão odioso. Apertei minhas mãos na
frente dos quadris, tentando impedi-los de tremer.
— O que é isso?, — perguntou ele. Ele estava de volta atrás de sua
mesa, inclinado sobre seu computador, verificando algo.
— Você tem planos para hoje à noite?
— Por quê? — ele esbravejou, com sua cabeça chicoteando para
enfrentar a minha.
— Eu... meu amigo, ele está tendo uma exposição de arte. No SoHo
149. E eu pensei que seria bom para... se você vir, — eu disse, certa de que
ele seria capaz de notar minha voz trêmula.
E esperando que ele não a usasse contra mim. Mas ele apenas riu.
— Você me quer em uma exposição de arte? Para quê, levar mais
pessoas para lá? Conseguir mais imprensa? — Ele estava me analisando
para obter respostas. — Você é transparente, você sabe.
— Sim, — eu disse, suavemente, mas com firmeza. — Você traria mais
pessoas e mais publicidade.
— Você quer uma medalha?
— O quê?
— Por sua honestidade, — ele disse, seu sarcasmo me mordia.
— Mas eu pensei que seria bom para você também. — Agora ele olhou
para mim novamente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria
para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos
amigos dele.
Mordi a bochecha, à espera de sua resposta.
A ideia tinha acabado de chegar a mim alguns segundos antes de eu
dizer em voz alta, e eu sabia que seria ou inteligente ou
devastadoramente estúpido.
Parecia que eu estava esperando que Anúbis pesasse meu coração.
XAVIER

Ela teve a coragem de vir ao meu escritório como se tivesse o direito


de estar aqui. Meu dia já estava em declínio. Meu pai tinha vindo me
avisar que Graden não tinha respondido a nenhuma de suas ligações e
perguntou se ele tinha me dito alguma coisa sobre a proposta.
Eu também não lhe contei o que aconteceu quando recebemos as
bebidas do happy hour ou como ele não tinha atendido nenhuma das
minhas ligações. Eu não pude.
Então, sim, eu estava chateado com o negócio da Graden.
Fiquei chateado por meu pai continuar olhando por cima do meu
ombro, esperando que eu estragasse tudo.
E agora eu estava chateado por ela estar aqui no meu escritório,
parecendo toda nervosa e gentil, mesmo sabendo que não enganavamos
ninguém. Fazia parte do jogo dela, sendo de fala mansa. Foi como ela se
safou com toda a merda que fez.
Mas nenhuma mulher que se casasse com um Knight, que escolhesse
dinheiro e nome em vez de dignidade, poderia ser gentil. Debaixo de sua
maciez havia um dragão respirando fogo, e eu queria ter certeza de que a
moça sabia que não poderia me queimar.
— Mas eu pensei que seria bom para você também, — disse ela, sobre
eu fazer uma aparição na exposição de arte de seu amigo.
Quanto culhão ela tinha para girar na minha frente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria
para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos
amigos dele.
Olhei para ela, vi ela desviar seus olhos do meu olhar, suas mãos se
segurando bem. Suas bochechas ficaram mais avermelhadas a cada
segundo.
Ela é uma especialista, eu me lembrei. Uma perita em desempenhar o
papel.
Mas depois pensei em Graden e no negócio que eu estava tão perto de
fazer antes que ela estragasse tudo. Talvez ter uma foto minha na
imprensa e o cara com quem ela tinha ido às compras o acalmasse.
Talvez ele acreditasse que minha esposa era leal.
Esperei mais alguns instantes, deixando-a ficar na tensão. Eu tinha
certeza de que ela estava ficando louca, esperando minha resposta, e eu
adorava ter esse tipo de poder.
— A que horas? — Finalmente, eu perguntei. Seus olhos encontraram
os meus imediatamente e se abriram.
— Oito e trinta.
— Certifique-se de que o The Times esteja lá, — eu disse, e então me
sentei novamente na minha mesa.
Se eu fosse aparecer na imprensa em alguma exposição de arte sem
nome no centro da cidade, seria melhor que fosse o The Times. Lancei
um olhar de volta para minha esposa, que ainda estava ali, uma expressão
em seu rosto que parecia que ela não sabia dizer se isso era realidade ou
não.
Eu limpei minha garganta. Deixe-me em paz.
— Desculpe. Desculpe, — ela disse então empurrou a porta do
escritório para abrir. — Obrigado, Xavier, — ela disse, voltando para mim
antes de sair. Parecia genuíno, mas eu não o reconheci.
E então ela se foi.
Capítulo 21
Mais do que um show

ANGELA

Dustin: Estou enlouquecendo.

Dustin: As portas abertas em 2.

Dustin: Onde vc está?


Vi meu telefone acender com novas mensagens e corri para a
escrivaninha, onde ele estava. Eu sabia que estava atrasada, o que não era
meu feitio.
Mas depois do estresse da conversa com Xavier em seu escritório, eu
precisava de algo para me relaxar, então tomei um banho quente,
tentando esfoliar minha ansiedade.
Apressei-me para entrar no pequeno vestido preto que havia
comprado com o Dustin, a única coisa que eu mesma havia encontrado
na loja. Era lindo em sua simplicidade, uma saia clássica de linha A com
top ajustado e um decote conservador.
Em seguida, coloquei umas sapatilhas e corri da cobertura, felizmente
encontrando um táxi do lado de fora.
Eu tinha esquecido de pedir um carro quando estava no andar de cima
e não tinha tempo de pegar o metrô, então só me restava um táxi.
Quando cheguei ao SoHo 149, já estava quinze minutos atrasada. Mas
quando olhei através das janelas da loja do chão ao teto, minha culpa se
dissipou. O lugar estava lotado.
Paguei ao motorista do táxi e pulei para fora, caminhando até o
guarda de segurança junto à porta. Era uma bela noite de outono, e o céu
noturno criou o cenário perfeito para a festa bem iluminada que
acontecia lá dentro.
— Olá! Sou amiga do Dustin, — exclamei. O segurança acabou de me
olhar, segurando sua prancheta.
— Nome?
— Angela. Angela Knight. — Ele se afastou imediatamente, abrindo a
porta para mim. Assim que entrei pela porta, fui atingida pelo calor de
uma sala lotada.
Pessoas bem vestidas e interessantes se movimentavam pela galeria,
segurando taças de vinho e rindo umas com as outras. As pinturas
estavam penduradas nas paredes, e grupos de pessoas estavam em frente
a cada uma delas, apontando e apreciando.
Meu coração disparou. Não podia acreditar que tínhamos conseguido.
Ele tinha conseguido. Eu estava tão feliz por ele, tão orgulhosa.
— Angela! Aqui. — Eu ouvi a voz de Dustin do outro lado da galeria.
Virei-me e o encontrei, vestido com um blazer verde-marinho e calças
pretas brilhantes, junto à barra no canto. Ele estava conversando com um
homem mais velho de óculos. Eu caminhei até eles.
— Olá! — exclamei, beijando sua bochecha. — Isso é incrível!
— Não é? — acrescentou ele, claramente tonto. — Angela, este é o Sr.
Sorento. Sr. Sorento, apresento-lhe Angela Knight.
— Oi, — eu disse, apertando a mão do Sr. Sorento.
— Prazer em conhecê-la.
— O Sr. Sorento é o gerente da Garagem em Tribeca.
— Oh?. — Eu disse, tentando ser indiferente sobre o fato de que eu
não tinha ideia do que isso era. De repente, uma mulher estilosa, com
um casaco de couro e batom de coral, apareceu atrás do Dustin.
— Sr. Stirling. Tina Carlyle do The Times. Eu esperava ter uma palavra
com... — Dustin me deu um olhar ohmeudeusohmeudeus e depois se
voltou para a mulher.
— Tina. Querida. Eu estava pensando que você nunca apareceria, —
ele disse, seu charme no nível 1.000 enquanto a guiava pelo cotovelo até
uma parte mais silenciosa da sala.
Isso deixou o Sr. Sorento e eu juntos, ao lado bar. Meu lado
introvertido quis se despedir e apreciar a arte sozinha, mas havia algo
inspirador em ver Dustin sair de sua zona de conforto e se dar tão bem.
Talvez fosse a hora de eu fazer o mesmo. Então, respirei fundo e me
virei para o homem que estava diante de mim.
— Sr. Sorento, me fale sobre a Garagem?
Afinal, a Garagem era o ponto alto das modernas galerias de arte em
Nova Iorque. Não estava tão estabelecida como a Bird em Williamsburg
ou The Juniper no Upper East Side, mas de qualquer forma estava
recebendo atenção constante da imprensa e dos compradores.
O Sr. Sorento era o gerente, o que significava que ele estava
encarregado de encontrar a arte que a galeria expunha. Portanto, era um
grande negócio que ele estava aqui na exposição de Dustin, e um negócio
ainda maior com o qual ele tinha procurado ativamente Dustin para
falar.
Ele havia dito que Dustin havia falado com ele sobre sua inspiração
para a pintura e sua infância difícil e que se sentira semelhante a ele por
ambas as explicações.
Eu estava muito contente por meu amigo. Claro, eu sabia que iríamos
encher a galeria — graças ao meu marido — mas não tinha ideia de que
teríamos uma resposta tão positiva por parte das pessoas da indústria.
— Como você o encontrou? — perguntou-me o Sr. Sorento.
— O que você quer dizer?
— Dustin, — ele disse, e eu pensei no dia em que nos encontramos na
cafeteria.
— Eu estava correndo no parque, e parei para tomar um café. Dustin
estava trabalhando nessa cafeteria fofa, e começamos a conversar, — eu
disse, dando a ele toda a história. O Sr. Sorrento estava acenando com a
cabeça.
— Você tem um olho bom, — ele disse, e agora eu entendi. Ele pensou
que eu fiz o que ele fez. Ele pensou que eu encontrava artistas e lhes dava
oportunidades.
— Oh, eu não estou no ramo. Dustin é apenas um amigo meu, — eu
expliquei, e o Sr. Sorrento me olhou com um olhar de curiosidade.
— Vocês eram amigos antes de ver a arte dele? — Eu confirmei. O Sr.
Sorrento tomou seu vinho e encolheu os ombros.
— Acho que isso é inteligente. Dustin é uma ave rara, mas geralmente,
quanto melhor a arte, pior o amigo. Foi um prazer conhecê-la, Sra.
Knight, — ele disse, dando um aperto no cotovelo antes de se virar e
encontrar um novo grupo para conversar.
Aconteceu que a noção do Sr. Sorrento de mim como recrutadora ou
caçadora de talentos ou qualquer que fosse o título do trabalho não era
toda aquela novela.
Ao longo da noite, conversei com alguns outros gerentes de galerias,
alguns críticos de imprensa e muitos compradores sérios.
Todos me elogiaram por um trabalho bem feito, como se a arte de
Dustin fosse um resultado direto da minha iniciativa. Embora eu
quisesse um trabalho em que pudesse ser boa, para me fazer sentir
competente e forte, não era exatamente isso que eu tinha em mente.
XAVIER

Entrei na galeria e fiquei francamente surpreso com o quanto ela


estava cheia. E cheia de pessoas de qualidade.
Reconheci Tina e Marc do The Times, Sylvia do The New Yorker, e
aqueles críticos esotéricos irritantes, Paul e Benny, usando o mesmo
tweed que sempre usaram.
Como se eles fossem banqueiros na Depressão ou algo assim.
Depois vi minha querida esposa, com um vestido preto básico que
fazia sua pele parecer muito mais pálida em comparação. Não um pálido
doente, mas um pálido que parecia não ver sol há cerca de um ano.
Claro, ela era bonita, objetivamente, mas eu não pude evitar minha
reação instintiva toda vez que a via. Raiva. Apenas pura, sempre presente,
sempre crescente, raiva.
Eu fechei os olhos com ela e tenho quase certeza de ter visto seu lábio
tremer em resposta. Ótimo.
— Querida! — Eu gritei do outro lado da sala, e todos ao meu redor se
viraram para ver quem eu estava chamando. Vi suas expressões se
encherem de reconhecimento "Oh, sua esposa!" e a expressão de Angela
se encher de preocupação. Percebendo que se eu esperasse que ela se
aproximasse de mim, eu ficaria esperando muito tempo, comecei a
caminhar em direção a ela.
— Que show, — exclamei, esperando que ela pegasse o sarcasmo na
minha voz.
Ela me abraçou e beijou minhas bochechas, e eu pude sentir seu corpo
iluminado tremer, como um cachorro pequeno que acabou de sair do
banho.
— Obrigada por ter vindo, — disse ela, em voz alta o suficiente para
que aqueles ao nosso redor pudessem ouvir. Ela estava desempenhando o
mesmo papel que eu, e qualquer culpa que eu possa ter sentido por ter
causado seus tremores foi embora, sem mais nem menos. Ela sabia o que
tinha assinado.
— Onde está o homem do momento? — perguntei, escaneando a sala.
Nesse momento, eu senti uma mão no ombro e girei para encontrar
Benny, o crítico que usava tweed.
Ele estendeu sua mão para que eu apertasse.
— Sr. Knight, — ele disse, — sempre um prazer.
— Oi, Benny boy, — respondi, dando-lhe um sacudida. Os três copos
de uísque que eu tinha bebido a caminho do SoHo 149 tinham acalmado
meu temperamento, claro, mas também me deram um impulso para me
divertir um pouco.
— Você está procurando por Dustin? Ele está junto à peça final, ao
redor daquele pilar ali mesmo, — apontou Benny.
— Maravilhoso, — eu disse, batendo nas costas do Benny com um
pouco mais de força do que eu precisava. — Simplesmente maravilhoso.
Oh, Angela! — Eu cantei, e todos os olhos voltaram a cair em cima dela.
As bochechas dela estavam visivelmente vermelhas. Cara, ela é boa em
fingir que não gosta da atenção.
Ela se aproximou de mim, e eu agarrei sua mão, e juntos caminhamos
até a pintura final.
— E este deve ser o Dustin!
Dustin, o homem que me envergonhou aos olhos do público, que
pode ou não ter arruinado o melhor negócio em potencial que eu já havia
fechado por conta própria, estava na minha frente. Estávamos mais ou
menos na mesma altura, ambos com mandíbulas robustas e o tipo de
olhos que viram sua porção de merda na vida.
Ele não se acovardou, como a maioria das pessoas fez. Em vez disso,
ele estendeu uma mão.
— Xavier Knight, — ele disse simplesmente. — Obrigado por ter vindo
à minha exposição.
Ouvi uma câmera disparar, talvez tenha visto um flash ou dois.
— Qualquer coisa por Angela, — eu disse, e dei um bom sorriso. Eu
não tinha certeza do que Dustin sabia, ou o que ele queria, mas havia
muita coisa não dita aqui.
Estava me irritando, me fazendo querer agarrá-lo pelo estúpido casaco
que ele estava usando e empurrá-lo contra a parede até que ele me
implorasse que o deixasse ir.
Mas eu não consegui. Havia imprensa aqui.
BRAD

Xavier havia me mencionado que ele iria a uma galeria que estava em
exposição no SoHo 149 esta noite, o que para ele é bem surpreendente.
Ele nunca havia gostado de ir a nenhum evento cultural, a não ser que eu
o arrastasse até lá. Ou que sua ex-noiva o tivesse.
Houve um tempo em que, se ela mencionasse que não assistiria à
ópera, ele compraria seus ingressos para aquela noite.
Por isso, fiz algumas ligações. Eu tinha que saber o que meu filho
andava fazendo. E afinal um velho amigo meu, Alfred Kent, tinha
negócios com o Sr. Johnson, o proprietário da galeria.
Não demorou mais de um minuto ao telefone com o Sr. Johnson para
saber que havia uma exposição de um novo artista esta noite e que tudo
havia sido orquestrado por uma Angela Knight.
Assim que ouvi o nome dela, meu coração se alegrou. Ela não só
estava ajudando um talento desconhecido a encontrar uma exposição,
mas estava ajudando meu pobre menino a sair da escuridão.
Acabaram-se as bebidas alcoólicas em bares noturnos, sim senhor.
Meu filho estava saindo para a cidade com sua esposa.
E a isso... bem, eu não podia faltar.
Eu entrei no SoHo 149 e tentei ser discreto. Vi meu filho e Angela
andando de mãos dadas, e depois vi os dois conversando com um jovem
com uma roupa que o fazia artista até a última célula. Eles trocaram
algumas gentilezas.
Eu não pude ouvir muito, mas vi seus sorrisos e soube.
Em seguida, Xavier caminhou em direção ao bar e pegou um copo de
vinho, e eu vi Angela o seguir.
Então eu caminhei até os dois.
— Que noite! — exclamei, não conseguindo conter minha excitação.
Ambos foram maravilhosos.
— Brad, que surpresa, — disse Angela ao me ver. Ela envolveu seus
braços ao meu redor e me beijou na bochecha, e eu estava certa de que
minha amada poderia sentir o calor da jovem mulher até o céu.
— Eu não perderia isso.
— Eu não sabia que você viria, — disse Xavier, trazendo o copo aos
seus lábios.
— Vocês dois parecem um casal tão bonito. Tão encantador, tão
pensativo. Estou orgulhoso de você, filho, — eu disse, estendendo minha
mão para que ele apertasse.
Ele o fez, e realmente parecia que estava de volta. O filho que eu
sempre soube que ele era.
Voltei-me para Angela, aquela que o tinha feito voltar para casa.
O anjo que tinha agraciado minha vida e a vida daqueles de quem
mais gosto.
— E Angela. Você. Seu talento, sua generosidade. Ouvi dizer que você
encontrou o jovem com sua obra de arte nas paredes. Sua tenacidade e
seu olhar, querida, você é realmente algo. Estou tão orgulhoso. Tão, tão
orgulhoso.
Eu a puxei para outro abraço e a senti relaxar em meus braços. Percebi
como deve ser difícil para ela, com seu pai tremendamente doente. Eu
devo ter sido a coisa mais próxima que ela teve de seu pai.
Em cima da cabeça de Angela, eu olhei para meu filho. Ele estava me
observando abraçar a jovem mulher com uma intensidade tão profunda
que eu não entendia bem.
Talvez ele estivesse tão consumido com as duas pessoas que ele mais
amava se abraçando, que era quase demais para ele.
Eu o olhei mais uma vez e lhe ofereci um sorriso. Ele sorriu de volta, e
eu acenei com a cabeça.
E foi isso. Deve ser assim.
Capítulo 22
Linhas Cruzadas

ANGELA

Eu acordei com um grande sorriso no rosto. Essa foi talvez a primeira


vez, na minha cama grande e fofa, na minha grande e fofa cobertura, que
isso havia acontecido.
A exposição de arte foi incrível. Não só o trabalho de Dustin foi
incrivelmente bem recebido, mas todos com quem eu tinha falado
tinham sido tão... simpáticos.
Depois de todos os parceiros de negócios e amigos da família que
conheci através dos Knight, no casamento e em outros lugares, fiquei
com a impressão de que nunca me daria bem com ninguém do círculo
deles.
Mas ontem à noite eu senti algo diferente. Eu me senti apreciada e...
não sei, visível.
Talvez fosse porque eles faziam parte de um subconjunto diferente.
Claro, as pessoas de lá ontem à noite tinham sido importantes e bem-
sucedidas. Mas eles não eram empresários corporativos que
consideravam uma viagem a St. Barths um fim de semana decente.
Não, eles eram amantes de arte. Cultos, com estilo e mente aberta de
uma forma que parecia muito diferente, em vez de se preocupar com
isso.
Talvez eu tivesse encontrado meu grupo.
Fiquei animada e com vontade de compartilhar minha noite com
todos que conhecia. Eu tinha planos de ir a Jersey e ver o meu pai hoje, o
que era perfeito. Eu sabia que ele ficaria tão feliz por eu ter ajudado a
organizar uma exposição de arte de sucesso.
Ele ficaria feliz que eu tivesse ajudado meu amigo a obter o
reconhecimento que ele merecia. E depois que vi meu pai, pensei em
passar na casa da Em e compartilhar com ela.
Ainda não tínhamos falado sobre ela e Lucas, mas agora meu bom
humor estava me ajudando com isso também.
Parecia o momento certo para discutir tudo.
Assim que pensei nela e em Lucas, percebi que provavelmente seria
uma boa ideia avisá-lo de que eu iria ao hospital. Eu também ainda não
havia respondido às suas mensagens, então peguei meu celular e,
respirando fundo, mandei-lhe uma mensagem.

Angela: Olá Lucas.

Lucas: Oh agora você responde.

Angela: Desculpe-me.

Angela: Eu não sabia o que dizer.

Lucas: Me desculpa também.

Lucas: Não sabia como te dizer.

Angela: Está... tudo bem.

Angela: Eu amo vocês dois.

Lucas: Você está realmente de acordo com isso?

Angela: Eu não sei.

Lucas: Bem, isso já é um bom começo.

Angela: Estou indo para o hospital agora.

Angela: Você quer vir?

Lucas: Quem me dera poder.

Lucas: Preso no restaurante.


Eu suspirei. Sentime bem por ter tirado a limpo isso com ele, mas
realmente desejei que ele viesse ver nosso pai comigo. Era sempre difícil
vê-lo sozinha, e Lucas tinha uma maneira de cortar a tensão.
Mesmo quando estávamos rodeados de doenças e más notícias, ele
conseguiu fazer com que eu sorrisse. Mas hoje, eu teria que ir sozinha.
Tomei banho, me vesti e depois comecei minha viagem.
Quando cheguei ao hospital, já era tarde e o lugar estava agitado com
a atividade. Vi mais sorrisos no saguão do que jamais havia visto lá antes,
e isso me fez sorrir também.
Talvez eu não precisasse do apoio moral de Lucas, afinal de contas. Eu
tinha um bom pressentimento. Sobre o dia, sobre o papai, sobre mim
mesma.
Não achei que nada pudesse me derrubar.
Quando cheguei ao quarto do meu pai, vi que a porta dele estava
fechada.
Eu bati e depois abri, vendo um grande feixe de cobertores em cima da
cama do hospital.
— Pai? — Houve um momento de silêncio em que eu não tinha
certeza de onde procurar. Ele ainda estava preso à cadeira de rodas, para
não estar no banheiro sem uma enfermeira por perto para ajudar.
Talvez ele estivesse fora da sala?
Mas depois houve um grunhido de baixo da pilha de cobertores, e
uma mão frágil emergiu. Ele tirou os cobertores de um rosto — um rosto
que pertencia ao papai.
Seus olhos haviam afundado ainda mais em seu rosto. Sua pele estava
pálida o suficiente para que eu pudesse ver o azul das veias em seus
braços. Ele sempre foi meio careca, mas agora parecia ainda mais careca.
Eu tentei não reagir, tentei não mostrar a ele minha surpresa ou
preocupação, mas não acho que tenha feito um bom trabalho.
— Filhinha, venha aqui, — ele disse, segurando uma mão trêmula. —
Continuo sendo eu.
Eu queria que minhas lágrimas fossem e incomodassem outra pessoa.
Hoje não cairiam. Hoje não.
Eu fui até meu pai e me curvei para dar-lhe um abraço, beijando-o na
bochecha.
É
— É tão bom te ver, papai.
— É sempre bom ver você, pequena.
— Como você está?
— As pílulas estão me deixando lento. Não sei o que te dizer. — Ele
tinha começado os testes no fim de semana passado, e todos nós
pensamos que ele melhoraria depois que começasse. Mas ele parecia...
pior.
— Você se sente melhor no geral?
— Ainda não, mas o médico diz que é normal. Tem que ficar pior
antes de melhorar. — Eu dei um aperto em seus dedos magros.
— É esse o espírito, — eu disse. Eu me sentia mal por ter demorado
tanto tempo para voltar.
Eu deveria ter aparecido antes.
Eu deveria ter sido mais presente.
Houve uma batida na porta. Ambos nos viramos para encontrar o Dr.
Kaller colocando apenas a cabeça na sala.
— É seguro entrar?
— Olá, Dr. Kaller, — eu disse, aliviada por ter outra pessoa na sala.
Especialmente alguém que foi treinado para saber o que dizer em
situações como esta.
— Como você está, Angela?
— Eu estou bem, estou bem. Como você está?
— Bem, obrigado. Ei, quando terminar a visita com o campeão, você
pode passar pelo meu escritório? É logo ao fundo do corredor.
— Claro, — eu disse, tentando não pensar sobre o que isso significava.
Parecia uma chamada para o escritório do diretor, só que não seria eu
que estaria em apuros. Seria meu pai.
O Dr. Kaller acenou para nós e depois voltou para o corredor, e eu
voltei para o meu pai. Tentei recuperar a sensação que tinha hoje cedo,
pensando que poderia ser contagioso. Eu queria que meu pai sentisse as
endorfinas.
— Pai, adivinha só.
— O que eu sou, um bebê?, — perguntou ele, mas sorriu e me deu um
aperto de mão.
— Escute, — eu comecei. — Meu amigo, Dustin, é um artista. Mas ele
nunca tinha tido seu trabalho visto por ninguém antes. Então eu o ajudei
a planejar uma exposição de arte nesta galeria de arte do centro da
cidade. Foi ontem à noite! Todos adoraram, papai. Todo mundo adorou.
Meu pai olhou para mim, e eu vi as lágrimas se acumularem em seus
olhos. Como se ele não acreditasse que eu me tornasse esta pessoa, este
adulto, que tenta coisas novas e conseguiu.
Ele estava olhando para mim da mesma forma que o fez em minhas
cerimônias de formatura e em meus jogos de vôlei, com o orgulho
radiante de seu rosto.
— Olhe para você, — ele disse, e levou minha mão aos seus lábios. Ele
beijou a parte de cima e eu não conseguia me lembrar de um tempo em
que ele tinha sido tão abertamente suave.
— Você é uma mulher. Você é sua própria mulher. — Eu me curvei
novamente, e desta vez eu o segurei e não soltei.

O Dr. Kaller olhou para cima quando eu bati na porta semi-aberta de


seu escritório.
— Angela, entre.
Entrei e sentei-me, e ele apertou as mãos no colo.
— Os testes estão causando danos ao seu pai. Os medicamentos são
fortes, mas por alguma razão, ele está respondendo mais seriamente às
complicações do que os outros.
— O que... o que isso significa?
— Seus sintomas são piores. E eles estão afetando sua qualidade de
vida de forma bastante intensa. É claro que é algo em que se deve pensar.
Minha mente estava girando. Sua qualidade de vida?
— Então você está dizendo...
— Eu não estou dizendo nada. Não definitivamente. É algo que você e
seus irmãos devem levar em consideração, só isso. Se seu pai continuar
piorando, talvez não valha a pena continuar por este caminho.
— Mas não há outro caminho, — eu disse, minha voz era mansa. —
Você acha que devemos apenas 'deixá-lo confortável'?
Eu repeti as palavras que ele me disse da última vez que conversamos.
— Ele é um guerreiro, — eu disse. E apesar de meu volume ser baixo,
meu tom era outro.
O Dr. Kaller olhou para mim como se eu estivesse em uma ponte que
estava prestes a ruir.

Angela: Ligue-me

Angela: 911

Angela: Lucas

Angela: Atenda seu telefone!

Angela: Eu preciso que você RESPONDA Angela: Lucas!!!

Lucas: Opa.

Lucas: Estou aqui mesmo.

Lucas: Por que você está assustadora? Pensei que tivesse dito que
estava tudo bem.

Angela: SÓ ATENDA O SEU TELEFONE!

Lucas: Eu te disse que estou no restaurante.

Lucas: Você se assusta com nada.

Lucas: Você disse que nos ama.

Lucas: Vamos ser felizes.

Angela: Do que você está falando?!!?


Lucas: Você está ficando louca sem motivo.

Lucas: Eu não posso fazer isso agora.

Lucas: O restaurante está ocupado.

Angela: Mds

Angela: Lucas

Angela: É sobre o pai.

Angela: NÃO sua vida amorosa!!!

Lucas: Ah.

Lucas: Merda

Lucas: ????

Angela: Ele está piorando.

Angela: O dr. disse que temos que pensar nas próximas opções.

Lucas: O que isso significa?

Lucas: Próximas opções????

Angela: Basta me ligar.

Angela: Quando você não estiver muito ocupado.


Foi uma longa viagem de trem de volta. Toda a energia positiva que eu
tinha quando acordei esta manhã tinha se evaporado. As endorfinas
tinham desaparecido há muito tempo.
Agora era só eu e meus pensamentos. Meus pensamentos fumegantes.
Eu não podia acreditar no Lucas. Ele pensou que eu estava me
assustando com ele e a Em, embora eu tivesse dito esta manhã que iria
superar isso! Ele me chamou de louca, disse que eu estava reagindo
demais.
Mas foi ele quem fez tudo escondido, que começou algo com minha
melhor amiga sem sequer me perguntar primeiro.
Quais eram as regras para algo assim? Eu não sabia. Eu nem sabia
quem saberia. Mas eu sabia que deveria ter sido consultada em algum
momento. E eu não fui.
Lá vou eu querendo clarear as coisas, eu pensei. Não estava com
vontade de falar sobre nada com Lucas ou Em agora, nem sobre a luxúria
um pelo outro, nem sobre a exposição de arte. De alguma forma, a
traição parecia fresca.
E então meus pensamentos se voltaram para o meu pai. Como ele
parecia fraco naquela cama de hospital, como eu estava desesperada para
ajudá-lo.
Não era justo que fosse ele quem estava passando por isso. Ele não
merecia.
Pensei no Dr. Kaller e no que ele tinha dito. Que tínhamos duas
opções: desistir ou fazê-lo suportar mais dor por uma razão incerta.
Eu não tinha certeza do que era pior.
Eu me dispus a parar de pensar nisso. Não me faria bem, nem a mim
nem ao meu pai, ter um ataque de pânico no trem.
Parecia que minhas entranhas estavam tão enroscadas que poderiam
implodir, mas mesmo tentando mudar meus pensamentos de volta para
a noite passada, para a exposição de arte, não estava ajudando. Então eu
virei minha cabeça para a janela e tentei me concentrar nas árvores que
passavam tão rapidamente que mal conseguia vê-las.
Quando voltei à cobertura, caminhei pelo elevador, entrei no corredor
e depois parei.
Ali estava Xavier, de costas para mim, debruçado sobre o balcão da
cozinha.
Não senti a habitual falta de ar, o medo que vinha com a sua presença
por perto. Talvez fosse porque eu estava tão emocionalmente exausta
depois deste dia ou talvez fosse porque ele era menos ameaçador quando
estava de costas para mim. Eu não sabia.
Ele não tinha camisa, e suas calças pretas estavam penduradas nos
quadris. E então eu estava admirando seus músculos das costas antes de
poder me deter, o modo como seus ombros largos contrastavam com sua
cintura afunilada e seus quadris.
Ele tinha algum tipo de cicatriz desde o quadril esquerdo até o ombro
direito que eu nunca tinha visto antes.
Por que você teria visto isso? Eu mesma me repreendi.
Ao vê-lo assim, nu e aberto, ele parecia quase vulnerável. Eu não sabia
como ele não tinha me ouvido entrar, com o ding do elevador e tudo
mais, mas ele não tinha mexido um músculo desde o minuto em que eu
cheguei ali.
Eu me perguntava o que havia me possuído.
Será que eu estava tão desesperada por aquelas endorfinas que eu fui
levada a olhar para o homem que tinha sido tão consistentemente
horrível para mim?
Sacudi a cabeça e entrei no corredor, tentando fazer meus passos mais
altos para que ele percebesse que não estava sozinho.
Mas à medida que eu me aproximava cada vez mais, ele permanecia na
mesma posição. Eu estava quase na cozinha quando vi os fones em seus
ouvidos. Ah. Ele estava escutando música.
Antes que ele pudesse me ver, eu passei por ele e entrei em meu
quarto.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, e eu respirei fundo,
deixando-a sair. Infelizmente, a confusão do dia não saiu com ela.
Capítulo 23
Doce como o pecado

XAVIER

Mas que porra é essa? Meus olhos estavam abertos agora, apesar de
meu corpo estar gritando para que eu voltasse a dormir. Parecia que eu
tinha acabado de entrar na cama há alguns minutos.
Olhei ao meu lado, onde sempre havia uma ou outra mulher jovem.
Mas estava vazia.
Eu tentei abalar meu cérebro por um tempo e um dia. O que eu fiz
ontem à noite? Vi meu celular, mas estava do outro lado do meu quarto,
na mesa do café, junto à poltrona. Isso foi muito mais longe do que eu
estava disposto a ir para encontrar as respostas.
Pense, eu mesmo fiz o pedido. Ontem à noite foi a exposição de arte.
Não, esqueça isso. A exposição de arte foi na quinta-feira à noite.
Ontem à noite... ontem à noite não saí do escritório até tarde. E
quando eu saí, fui direto para Hatchback. Certo. Esse era o bar onde eu
tinha me encontrado com Graden para o happy hour há algumas
semanas atrás.
Pensei em passar por ali, tomar algumas bebidas — ou mais algumas
bebidas, devo dizer — e ver se aquela bartender com covinhas estava
trabalhando. Eu tinha aberto meu escritório com bourbon ontem cedo.
Eu precisava de algo para facilitar a banalidade da reunião da diretoria
no final da tarde.
Cheguei ao Hatchback já carregado, tendo que me segurar no
corrimão da escada interna. Fui até o bar, coloquei minhas mãos sobre o
balcão e me ergui direito.
Eu vi uma bartender morena, duas morenas... ah, a terceira era a
vencedora.
Era a garota com quem eu tinha deixado meu cartão, que parecia ser
do sul.
Eu a olhei fixamente até que ela olhou para mim, e quando ela olhou,
suas covinhas apareceram. Ela estava definitivamente sorrindo.
— Sr. Knight.
— Vim para encontrá-la, — eu disse, sem piscar os olhos. Se eu sabia
uma coisa sobre falar com as mulheres, era ser direto. Elas gostavam, e
isso me levou aonde eu queria estar mais rápido.
— Veio mesmo? — perguntou ela, com os cílios dela tremulando. —
Eu esperava que você passasse por aqui para pegar seu cartão de volta,
mas acho que seu assistente o pegou para você.
— Marco. — Eu acenei com a cabeça. — Ele limpa depois das minhas
trapalhadas.
— Você não me parece tão atrapalhado, — disse ela, brincando com o
colar em seu decote.
Fácil.
Demais.
Perguntei a que horas seu turno terminava, e ela disse que teria que
verificar o horário no escritório nos fundos, e se eu gostaria de ir checar
com ela?
Quando tomamos mais uns shots e colocamos nossas roupas de volta,
eu já tinha bebido uísque suficiente para impressionar um soldado
irlandês.
Esta porra de ressaca.
E foi isso. Eu joguei as cobertas de cima de mim, não me importando
que eu tivesse apenas com as cuecas em que eu tinha dormido. Nadei no
corredor e ouvi o som novamente.
Mas não havia ninguém lá.
Era como se minha mente estivesse pregando uma peça em mim. Eu
fui até a cozinha, mas definitivamente não havia ninguém lá. Fui até o
corredor... e foi quando a vi.
Ela estava de cócoras, de costas para mim, com as mãos trabalhando
rapidamente sob o armário abaixo da pia. Mas eu não percebi isso
primeiro.
O que eu notei foi a camiseta branca de tamanho exagerado que ela
usava e que mal cobria o rabo. Suas longas pernas estavam
completamente expostas, até as coxas.
Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu sabia que a odiava, a
mulher que não estava nem a um metro de mim, minha esposa.
Mas eu não podia me afastar dela. Não quando ela estava vestida desta
maneira. Meu Deus, controle-se, eu mesmo ordenei. Você não tem doze
anos, porra.
Eu limpei minha garganta. Sua cabeça se moveu para ver quem estava
lá, e seus largos olhos focados nos meus. Ela tinha olhos azuis, grandes e
macios como os de uma criança.
O resto de suas características eram igualmente delicadas. Desde a
leve curva de seu nariz até a cor rosada de sua boca, era como se seu rosto
tivesse sido desenhado.
Eu já estive com minha parte de mulheres bonitas, mas nenhuma
parecia tão inocente quanto ela.
Ela mordeu seu lábio.
— Desculpe, eu o incomodei? — Sim, você incomodou. Mas algo veio
sobre mim e, em vez de revelar a verdade, eu tive um impulso para acabar
com a preocupação dela.
— De jeito nenhum. Eu só vim buscar café e... o que você está
fazendo?
— Oh, eu posso fazer um para você, — disse ela, de pé. — O marido de
Lucille acabou de chegar, então ela foi ao seu encontro. — Mas eu não
estava prestando atenção nas palavras que saíam da boca dela, porque ela
tinha se levantado.
A camisa, embora curta enquanto ela estava agachada, agora mal
cobria sua região pélvica.
Eu não sabia dizer se ela não sabia ou não se importava.
— Tudo bem, — eu saí, mas ela já estava se movendo, colocando o
filtro na máquina de café e pegando um pouco de café.
— Sei que você tem aquela máquina de café expresso chique, mas não
sei como usá-la, então espero que você não se importe apenas com o café
normal.
Eu a observei enquanto ela se movia, a camiseta chegando
perigosamente perto de me mostrar mais do que uma pequena amostra.
Ela virou a cabeça sobre os ombros e levantou as sobrancelhas, e eu
percebi que eu não tinha respondido.
— Está ótimo. Ótimo. Ótimo, — eu disse, caindo sobre minhas
palavras. O que estava acontecendo? Eu nunca fiquei sem palavras. — O
que você estava fazendo... uh, lá embaixo?
— Oh, o carburador estava apenas um pouco entupido. Lucille ia
chamar o encanador, mas ele sempre demora alguns dias para chegar,
então pensei, por que não fazê-lo eu mesma?
— Você sabe como consertar o carburador?
Ela apenas mordeu o lábio e encolheu os ombros.
— Não é muito difícil. — Então ela abriu o armário acima de sua
cabeça, aquele com os copos. As canecas estavam na segunda prateleira,
então ela teria que chegar até ela.
Quando ela começou a chegar, eu mesmo corri e agarrei as canecas,
mas na pressa de manter suas áreas privadas, er, privadas, eu não levei em
conta o espaço pessoal.
Eu estava bem atrás dela, com a mão no armário, tentando pegar uma
caneca.
E ela se surpreendeu com meus movimentos e, ao fazê-lo, se voltou
para mim.
Assim, seu corpo mal vestido, aquele com as curvas que eu podia ver
muito claramente, foi pressionado contra mim.
Eu podia me sentir duro quase imediatamente, o que era estranho,
porque nunca me senti tão duro tão rapidamente, especialmente por
causa de um contato tão limitado.
— Sinto muito, — disse ela rapidamente, Virando-se e apoiando-se no
balcão. Mas isso não melhorou nada porque agora eu tinha uma visão
frontal completa dela.
Eu vi seus mamilos através da camiseta e pude ver a calcinha de renda
branca que ela estava usando por baixo.
Ela mordeu o lábio novamente, parecendo a mesma mistura nervosa e
inocente que ela sempre teve quando eu realmente prestava atenção.
Baixei a caneca até o balcão sem tirar meus olhos dela.
Ela levou a mão até o pescoço e o coçou, e a camiseta subiu mais um
centímetro, mostrando-me mais coxa do que eu podia aguentar.
Sem esperar mais um segundo, eu mergulhei nela.
Eu agarrei seu rosto e a beijei, o beijo mais gentil e caloroso que eu já
tinha tido há algum tempo.
Ela gostou tanto disso, que eu pude sentir.
Seus braços estavam envoltos em mim, mas mesmo assim, eu
precisava estar mais perto. Então eu a abracei com força e a levantei, suas
pernas agora envoltas em torno da minha cintura.
O calor irradiava de seus quadris para minha virilha. Ela estava
balançando, girando, e eu pensei que iria perder o controle ali mesmo.
Meu Deus, parece que você tem doze anos, eu mesmo me castiguei.
Empurrei-a para o balcão e abri-lhe as pernas, entrando entre elas.
Então, comecei a sentir o que havia ali. Comecei pelos lábios dela,
deixando-a beijar meu dedo indicador, deixando-a levá-lo à boca. Ela
chupou, me olhando bem nos olhos. Algo sobre aquela inocência, e
aqueles lábios... caralho.
Segui minhas mãos para baixo, sobre seu pescoço e até seus seios.
Toquei seus mamilos através do tecido fino e ouvi um gemido escapar de
seus lábios.
— Isso parece... agradável, — sussurrou ela, e havia algo de tão
virtuoso na maneira como ela dizia. Como se ela estivesse genuinamente
surpresa.
Massageei seus seios mais intensamente e pus meu rosto para baixo e
chupei um mamilo através da camisa. Ela gemeu novamente, e eu estava
pronto para tomá-la logo ali.
Mas eu sabia que ela precisava de mais. Ela merecia mais, pensei, e eu
não tinha ideia de onde tinha vindo esse tipo de pensamento.
Enquanto eu chupava o outro mamilo dela, comecei a puxar a
camiseta dela para cima. Primeiro ela expôs a parte superior da coxa,
depois a calcinha, depois o estômago liso. Beijei sua barriga e tirei a
camiseta de seus seios, que depois também beijei.
Eu a puxei até o fim e observei como o cabelo comprido dela caía de
volta depois. E então olhei para ela, nua, exceto pela renda, e a urgência
ficou mais forte.
Ela estendeu a mão, tocando meu peito nu, e o contato me fez
estremecer. Foi só então que percebi que estava tão nu quanto ela.
Comigo apenas em minha cueca, ela teria sido capaz de dizer que eu
estava excitado o tempo todo.
E depois estávamos nos beijando novamente, e eu estava brincando
com a bainha da calcinha dela.
E então passei um dedo por cima dela e ouvi um gemido mais alto em
resposta. Esfreguei-me em círculos, cada vez mais rápido, até que seus
olhos se fecharam e ela estava ofegante.
— Oh... oh meu Deus... oh meu Deus... — ela gemeu, e todo o corpo
dela tremeu. Então seus olhos se abriram, e ela mordeu o lábio. — Eu
nunca me senti... assim antes.
— Você não? — eu perguntei, beijando o pescoço dela.
— Nada tão... intenso. — Isso me deixou ainda mais selvagem,
sabendo que eu fui o primeiro a lhe dar essa sensação. Depois senti a
mão dela sobre mim, subindo e descendo o meu comprimento.
Lutei para me controlar, mas vê-la, senti-la, tudo isso estava se
tornando demais.
Eu a levantei do balcão e a beijei profundamente enquanto me
agachei no chão, depois me sentei, ela estava se agachando.
Depois ela se inclinava e me beijava, e eu a agarrava, mas mesmo
assim não era suficiente.
Eu me tirei de minha cueca e deslizei sua calcinha para o lado, e então
eu estava lá dentro. Eu estava empurrando, e ela estava encontrando cada
empurrão com um movimento próprio, de alguma forma tomando o
atrito muito mais intenso.
Ela estava gemendo, e eu não conseguia parar de vê-la — a maneira
como seu corpo se mexia, como ela tocava seus próprios seios, seu
próprio quadril — eu queria que aquela visão durasse para sempre.
Ela voltou para mim, com as mãos segurando meu rosto enquanto
movia seus quadris para cima e para baixo, para cima e para baixo.
— Isso parece... tão bom, — disse ela, com sua voz rouca.
E alguns momentos depois, com seus movimentos se acelerando e
minha urgência conhecendo novas alturas, nós dois gritamos. Eu não
conseguia me lembrar da última vez que havia terminado assim.
O baque, o mesmo baque, fez com que meus olhos ficassem bem
abertos.
E eu estava de volta na minha cama, no meu quarto. Olhei à minha
volta, confuso. Então eu a vi ao meu lado.
A bartender. A do Hatchback, a que tem as covinhas. Ela estava de pé,
olhando para mim, com a mão no estômago.
Eu a empurrei para longe de mim, sabendo que se sua mão se movesse
mais longe ela sentiria mais do que ela esperava.
— O que é isso, — perguntou ela, sobre o som, mas agora o sotaque
dela me incomodava.
— Você pode ir verificar?
Ela encolheu os ombros e acenou com a cabeça, saindo da cama.
Mesmo em sua calcinha preta e sutiã, com sua figura inacreditável e sua
disposição de garota de república, eu não estava pensando em transar
com ela.
Ela abriu uma fresta na porta e chamou.
— Olá?
Ouvi os passos se aproximando. Depois a voz de Lucille.
— Desculpe, senhorita, estou fazendo pãezinhos.
— Que horas são, Lucille? — Eu gritei da cama.
— Dez e trinta, Sr. Xavier.
Eu suspirei enquanto a bartender fechava a porta e voltava para a
cama, subindo por cima de mim e espreitando para baixo.
— Estou pronta para mais diversão, — disse ela, mas meu foco não
poderia estar mais longe.
Capítulo 24
Expectativas malignas

XAVIER

A bartender ainda estava de joelhos, olhando para mim em sua


lingerie quando ouvi o toque do elevador.
— Quem diabos é agora? — Eu resmunguei, sentando.
Ela colocou uma mão no meu peito.
— A empregada vai atender, não vai? — ela disse, seu sotaque piorou
minha dor de cabeça.
Eu ainda estava pensando no sonho que eu tinha tido, aquele em que
eu estava envolvido em uma cena de sexo íntima, apaixonada e
duradoura com minha esposa.
A esposa que eu odiava.
— ANGELA! XAVIER!
Merda. Essa era a voz do meu pai. Na sala. Fora do quarto onde eu
estava atualmente dividindo a cama com uma bartender quase nua,
minha esposa dormia em um quarto diferente.
Saltei da cama e mexi para vestir o par de jeans mais próximo que
pude encontrar.
— Você precisa ir, — eu disse a bartender, mal olhei para ela.
— Você está... você está falando sério?
Eu acenei com a cabeça.
— Agora.
— CRIANÇAS, É UM DIA AGRADÁVEL DEMAIS PARA VOCÊS
DORMIREM TANTO!
Ele ainda estava no foyer pelos sons. Joguei uma camiseta e encontrei
o vestido da bartender no chão, atirando-o para ela.
— Vai, vai.
Eu estava tentando pensar em uma maneira de levar Angela ao meu
quarto — apenas pelas aparências, é claro — quando vi o celular na
minha mesa-de-cabeceira acender.

Angela: Seu pai está aqui.

Xavier: Eu sei, eu tenho ouvidos.

Angela: Ele vai saber que dormimos separados.

Angela: Ele não pode saber que...

Xavier: Eu sei.

Xavier: Estou tentando pensar.

Angela: Há uma garota com você que não deveria estar aí.

Xavier: Eu tenho que escondê-la.

Xavier: Onde está meu pai?

Angela: Acho que junto ao elevador ainda.

Angela: Se ele for para a cozinha você pode levá-la


sorrateiramente para fora Xavier: Mas como vou levá-la até lá.

Xavier: Precisamos fazer com que ele se concentre em algo.

Xavier: Além de nós.

Angela: Lucille está aqui.

Angela: Ela pode ajudar.

Xavier: Estou pensando.

Angela: Eu posso ouvi-lo andando.


Xavier: EU SEI.

Xavier: Ainda pensando.

Angela: Ele não pode ver a garota, Xavier.


Estava pensando em como responder a isso quando houve uma batida
à minha porta.
Foda-se.
— Um minuto, pai! — Eu gritei, rachando meu cérebro para encontrar
uma saída. Mas depois ouvi Lucille do outro lado.
— Sou eu! Eu venho com uma toalha! — Corri para a porta e abri uma
fresta, o suficiente para ver seu rosto e pegar a toalha.
— A Sra. Angela teve uma ideia. Se faça de doente. Como um cão. E vá
para o quarto dela. Eu tomo conta da menina.
Ela passou por mim quando disse isso, olhando diretamente para a
bartender tentando se fechar novamente no vestido da noite passada.
Eu não tinha outra solução, então acenei e peguei a toalha. Antes de
Lucille me deixar fechar a porta, ela sussurrou: — Aja naturalmente e seu
pai não vai perceber.
Eu balancei a cabeça. Aqui estava eu, de ressaca e recebendo conselhos
de minha empregada. Quem diria que este dia chegaria.
Eu fechei a porta e fui até o banheiro da suíte. Salpiquei água quente
no rosto e esfreguei meus olhos até ficarem vermelhos, e depois usei as
duas mãos para bagunçar meu cabelo. Dei algumas bofetadas no rosto,
com força, tornando minhas bochechas rosadas.
Depois deslizei para fora do jeans que tinha acabado de vestir e
encontrei um par de calças de moletom velhas no meu armário. Estiquei
o colarinho da minha camiseta até que ela parecesse abatida.
E eu dei uma olhada no espelho. Ótimo.
Voltei para o quarto. A bartender olhou para cima, chocada, cobrindo
seu rosto.
— O que aconteceu com você? — Essa era a resposta que eu estava
esperando. Agora eu convenceria meu pai e a menina a não se sentirem
tão chateados por serem expulsos.
— Estou doente, — eu disse, acompanhando sua bolsa até ela. — Eis o
que vai acontecer. Você vai precisar ser tão sorrateira quanto uma espiã...
— O quê? Por quê?
— Bem. Eu sou casado, — eu disse. — Mas você já sabia disso, então
poupe o drama.
Seus olhos se alargaram. Eu não gostava de ser cruel com meninas que
não o mereciam, mas ultimamente a linha que determinava quem era
estava indiscernível para mim.
Ela dormiu de boa vontade com um homem casado, então quão
inocente ela poderia ser?
— Vou correr para a sala de estar e Lucille vai colocá-la no elevador.
Mantenha sua cabeça baixa até estar na rua lá fora. Entendeu? Quer que
eu repita?
Ela parecia que ia chorar.
Quer ela fosse inocente ou não, eu não tinha tempo para lágrimas,
então peguei a mão dela na minha e a olhei bem nos olhos.
— Eu me diverti com você. Você é uma ótima garota. Agora eu preciso
que você me ajude. Você pode fazer isso?
Ela amoleceu, olhou para o chão e, em seguida, piscou os olhos para
mim. Ela estava definitivamente quente, então por que eu não senti
nada?
— Tá bom, — disse ela suavemente.
— Boa menina, — eu disse, e lhe dei um beijo na bochecha.
— Até a próxima vez. — E então eu amarrei a toalha molhada ao redor
do pescoço e abri a porta, deixando sair uma tosse intensa.
ANGELA

No segundo em que ouvi a tosse de Xavier, abri a porta do meu


quarto. Este teria que ser a performance de uma vida inteira.
Eu não queria fazer nada para ferir Brad, e se ele descobrisse a verdade
sobre nossa situação de vida, sobre seu filho trazer para casa mulheres
diferentes a cada noite, ele definitivamente ficaria entristecido.
Então eu corri para o salão.
— Xavier! Estou chegando! — Ele parecia terrível. Seu rosto estava
suado e vermelho, e eu nunca o havia visto antes com roupas tão
esfarrapadas. Ele continuava tossindo.
— Eu não — Ele parou para tossir — sei o que está acontecendo.
— Tudo bem, — eu disse, agarrando-o pelo braço e puxando-o para
mais perto do meu quarto. — Vai ficar tudo bem.
— Oh, querido, — ouvi Brad dizer por trás de nós enquanto nos
seguia até o meu quarto. Senti os olhos dele observando. — Posso fazer
alguma coisa?
— Tudo bem. Vou pegar o xarope para tosse... — Xavier soltou outra
tosse enorme, e eu o embalei em meus braços, esfregando seus braços. Eu
costumava cuidar de Lucas quando ele estava doente, então isso não era
novidade para mim.
Xavier não parecia ser Xavier. Parecia apenas um garoto que precisava
da minha ajuda.
Ele tossiu novamente.
— Xavier, vou só correr para o meu banheiro e pegar o...
— Besteira, — disse Brad. — Eu pego. Diga em qual gaveta está.
— Está no armário dos remédios! — Eu disse, e Xavier e eu fechamos
os olhos. Brad estava quase no meu banheiro quando vi Lucille correr da
cozinha para o quarto de Xavier.
Ela estava sem dúvida guiando a pobre garota para dentro do elevador.
Ouvi os fracos sons de abertura e fechamento das portas do elevador
e, alguns segundos depois, Brad voltou com a garrafa em suas mãos.
— Bem aqui, — ele disse.
Eu não pude deixar de sorrir.
Todos nós nos mudamos para a sala, e depois da apresentação que
acabamos de fazer, estando perto de Xavier não nos sentimos tão hostis.
Ele continuava me dando olhares estranhos, olhares que demoravam,
mas eu apenas encolhi os ombros.
Talvez ele nunca tivesse sido cuidadoso por alguém que não fosse
pago pra isso — mesmo que ele estivesse apenas fingindo estar doente.
— A razão de eu ter vindo, — começou Brad, sentado em uma
poltrona de couro em frente a nós no sofá, — é para dar aos dois um
pouco de boas notícias. — Ele olhou de mim, ainda em meu pijama com
meu cabelo em rabo de cavalo, para seu filho de pele manchada.
— Vocês dois parecem que poderiam usar boas notícias. — Ele soltou
um risinho.
— Lamento que tenha vindo em uma manhã tão difícil, — eu disse. —
Xavier me pediu para dormir no quarto de hóspedes ontem à noite para
que eu não pegasse a gripe dele. — Xavier olhou para mim, como se
estivesse procurando algo em meu rosto. Então ele voltou para o pai dele.
— Não queria que ela ficasse doente por minha causa.
— Meus pombinhos, — Brad se acalmou. — Ok, o negócio é o
seguinte. Xavier, você sabe sobre a quarta-feira de gala.
Xavier acenou com a cabeça.
— Até lá já estarei melhor.
— Claro que estará! Angela, você também se juntará a nós.
A cabeça de Xavier levou um tiro.
— O quê? Pensei que era só você e eu na mesa.
— Era, — disse Brad. — Mas então Grant, você se lembra de Grant, ele
decidiu trazer sua esposa junto. E o resto dos meninos seguiram o
exemplo. Então agora é menos uma mesa de negócios e mais uma mesa
social. Então, Angela virá junto. Se não se importar, querida.
— Claro, — eu gaguejei. Um evento de gala?
— Maravilhoso. É esta quarta-feira. Xavier lhe dará os detalhes. Tenho
certeza de que ele está morrendo de vontade de exibi-la. — Brad ficou de
pé, batendo palmas uma vez.
— Vou embora agora, e deixo você voltar à sua recuperação.
Caminhei até ele e lhe beijei a bochecha.
— Obrigada por ter vindo, — eu disse.
— Você vai adorar. Paris, no inverno. Não há nada mais romântico.
O que ele acabou de dizer! Eu olhei para Xavier, mas sua cabeça estava
abaixada, olhando para o chão. Então voltei para Brad.
— Paris? — Eu sussurrei.
— Xavier não lhe disse? É lá que é o evento de gala, querida. — Ele
beijou minha outra bochecha e deixou Lucille acompanhá-lo até o
elevador. Quando as portas fecharam, olhei para Xavier, ainda em estado
de choque.
— Vamos a Paris?
— Por que você não disse não? — perguntou ele, imediatamente
depois de eu ter falado. Ele parecia bravo.
Eu estava tão confusa. Eu pensava que estávamos nos entendendo.
Tínhamos acabado de usar o trabalho em equipe para convencer Brad de
que estávamos realmente apaixonados, então eu estava pelo menos
esperando que fôssemos civilizados quando ele partiu.
Mas ele não tinha ido nem cinco segundos antes de Xavier começar a
gritar comigo, como se tivesse esquecido tudo o que eu tinha acabado de
fazer por ele. Este era o Xavier que eu estava mais acostumada a ver,
aquele que me deixava nervosa.
— Você queria que eu dissesse não?
— Por que eu gostaria que você dissesse sim? — gritou ele, de pé. —
Esta era para ser uma viagem de negócios. Para assinar um acordo muito
importante. E depois do negócio que você arruinou, você e seu amigo
artista, eu preciso que este seja perfeito.
Eu dei alguns passos para trás. Ele não estava fazendo nenhum
sentido. Eu não sabia como responder.
— Eu... sinto muito.
— Você está arrependida?
— A ideia não foi minha, — eu disse calmamente, olhando para o
chão. — Eu tenho coisas para fazer na cidade na quinta-feira. Tenho uma
entrevista para um trabalho. Agora eu não poderei ir a isso.
Mesmo que eu estivesse dando uma desculpa, era verdade. Eu tinha
uma entrevista. Era em uma startup tecnológica chamada Jumper.
Era uma empresa pequena, mas que vinha se destacando no mundo
da tecnologia. Quando eu os procurei, eles não tinham ouvido falar de
mim ou do meu chefe.
Ajudou que eu tivesse usado meu nome de solteira, é claro, mas
mesmo assim. Fiquei entusiasmada pela entrevista, pela oportunidade de
me tornar útil a uma empresa que estava fazendo grandes coisas.
Mas agora eu teria que cancelar para poder ajudar os Knight. Quanto
mais eu pensava sobre isso, mais frustrada ficava. Mais um exemplo de
que eu coloco minha vida de lado para que os Knight pudessem tirar de
mim o que precisavam.
E nenhum agradecimento em troca. Era como se todas as coisas que
eu tivesse feito por eles passassem despercebidas.
Pior do que passar despercebidas, ele gritava.
— Oh, pobre alma! Você não poderá ir a uma entrevista! Eu não
poderei conseguir uma parceria multimilionária de rebranding porque o
Graden odeia você! Porque ele sabe que você é uma oportunista! Por isso,
preciso deste acordo de Paris para compensar TODAS AS COISAS QUE
VOCÊ ESTÁ ARRUINANDO!
Eu senti as lágrimas chegando. Tentei apertar meus olhos para segurá-
las, mas não adiantava.
— Você tem a audácia de reclamar por ter sido convidada, — disse
Xavier, mudando de tom agora. — Você deveria estar muito grata.
Capítulo 25
Nas nuvens

ANGELA

Eu estava tendo um daqueles momentos musicais. Aqueles em que


você se sente de certa forma e tenta ouvir música que a fará sentir algo
mais. Era terça-feira de manhã, e eu tinha que me encontrar com Xavier
no aeroporto em uma hora.
Eu estava sentindo uma mistura de emoções: assustada, chateada,
frustrada.
Assustada, porque a ideia de estar em uma cidade estrangeira sozinha
com Xavier era uma ideia que eu nunca tinha tido que enfrentar antes.
Perturbada, porque desde que Brad tinha vindo no domingo, Xavier
não tinha nem mesmo olhado para mim, muito menos pedido desculpas.
Era como se ele estivesse me evitando ativamente.
Apesar de ter sido ele quem gritou comigo, que me assustou, foi como
se me ver fosse muito difícil para ele.
E frustrada porque eu ainda estava irritada, já que minha vida tinha
que esperar sempre que Brad ou Xavier precisavam de mim e que Xavier
nunca reconheceu que era difícil para mim também.
Mas debaixo de todas essas emoções, não pude deixar de me lembrar
que eu estava indo para Paris. Eu estava indo para a única cidade que
toda garotinha sonhava em visitar.
E eu tinha que ir.
Na verdade, a música estava ajudando a aumentar minha animação.
Eu estava dobrando as blusas em uma mala que Lucille trouxe para mim
e até me senti dando um pouco de brilho no refrão.
Eu havia contado ao papai sobre minha viagem pelo telefone ontem à
noite, mas não havia falado com mais ninguém. Meu pai parecia estar
com um som rouco e fraco, assim como quando eu o visitei na semana
passada.
Mas ele ainda era meu pai, continuava a contar piadas sobre eu comer
pernas de sapo.
— Se eu não ouvir você coaxar quando você voltar, ficarei
desapontado, — ele disse.
Eu queria ligar para Lucas e dizer-lhe, mas as coisas ainda estavam
estranhas.
Tínhamos conversado brevemente sobre nosso pai, prometendo
marcar uma hora com Danny e o Dr. Kaller para rever todas as opções,
mas o Dr. Kaller tinha recomendado manter o pai nos testes até o final
do mês. Portanto, não tínhamos necessidade de nos vermos.
Decidi que ligaria para ele assim que voltasse a Nova Iorque. Ele era
meu melhor amigo, meu irmão, e eu sentia falta dele. Enquanto ele
estava feliz, eu estava feliz.
Em, por outro lado, tinha me ligado muito. Tínhamos falado algumas
vezes esta semana, mas toda conversa tinha sido curta. Eu não fiz
nenhuma pergunta urgente, nem ela deu respostas detalhadas.
Assim, fingimos que tudo estava normal e que nada tinha acontecido.
Mas por alguma razão, embora tenhamos falado no domingo à noite, eu
não lhe havia contado sobre Paris.
Percebi que eu queria que alguém além do meu pai ficasse
entusiasmado por mim, para compartilhar minha pequena animação.
Então eu peguei meu celular e enviei uma mensagem de texto para ela.

Angela: Tenho novidades.

Angela: Grandes novidades.

Em:?????

Em: Manda

Angela: Começa com um 'P'...

Em: Xavier vai ser PAPAI?!?

Angela: MDS
Angela: NÃO

Angela:!!!!!!!

Em: Então eu preciso de uma dica melhor

Em: Paris?

Em: Oh, meu DEUS!

Angela: P... A... R... I... S...

Em: PARIS!?!?!?!

Angela: Sim!

Angela: Estou saindo em uma hora.

Em: Angie

Em: Costumávamos sonhar com Paris

Angela: Eu sei!

Angela: Estou entusiasmada

Em: Como estão as coisas com o Xavier?

Angela: Estão... ok

Angela: Com seus altos e baixos.

Em: Ao menos você terá Paris.


Cheguei ao aeroporto e encontrei Marco esperando por mim junto às
portas do Terminal 3.
— Pronta?, — perguntou ele, tirando minha mala rolante de mim. Eu
acenei, e começamos a caminhar para um elevador junto à parede lateral.
O elevador era tripulado por um ascensorista com um terno preto,
usando óculos escuros, mesmo estando nós dentro do prédio. O homem
apenas acenou com a cabeça para Marco e apertou o botão para baixo.
Marco e eu descemos com o elevador, e depois as portas se abriram.
Andamos pelo chão até chegarmos a umas portas, e Marco manteve
uma aberta para mim enquanto andávamos do lado de fora. Estávamos
em uma pista de decolagem, isso estava claro.
Vi um Range Rover estacionado e, a alguns metros à sua frente, um
jato. Eu não podia acreditar. Ninguém tinha me dito que estávamos
pegando um jato. Marco andou à minha frente, e eu corri para
acompanhar.
— Isso é... isso é só para nós?
Ele olhou para mim e sorriu. Xavier já estava subindo as escadas para
o jato quando o alcançamos. Eu olhei para Marco, e ele me pediu que o
seguisse. Então eu comecei a subir.
Fiquei sem palavras. O interior do jato estava imaculado, como nada
que eu já tivesse visto antes. A última vez que estive em um avião eu
tinha sete anos de idade.
Minha mãe e meu pai haviam me levado, Lucas e Danny para a Flórida
para ver nossos avós. Os pais de minha mãe moravam lá, e tínhamos
passado um fim de semana com eles.
Lembro-me do voo ser aterrador, com muita turbulência. Eu não
tinha voltado a bordo de um avião desde então. Mas isso, isso não parecia
um avião. Parecia um palácio futurista, com assentos de couro
caramelizado e cobertores em cima.
Até mesmo as comissárias de bordo pareciam celebridades. Olhei em
volta e vi Brad em uma cadeira, uma máscara de olhos sobre seu rosto.
— Eu não estou dormindo, — ele disse, como se me sentisse olhando.
Ele tirou um canto da máscara dos olhos. — Oi, querida.
— Olá! — Eu disse.
— Xavier foi para o quarto para dormir um pouco. Você pode se juntar
a ele, se quiser. — Eu estremeci com a ideia de dividir uma cama com
Xavier no meio do céu... Eu nem conseguia pensar nisso.
— Tudo bem, eu fico aqui fora com você.
— Escolha qualquer lugar que quiser. — Sentei-me ao lado de uma
janela e apertei bem o cinto de segurança. Eu não podia acreditar que,
em poucas horas, eu estaria em Paris.
XAVIER

Aterrissamos em Paris e entramos no Mercedes G-Wagon que estava


esperando no asfalto, acelerando diretamente para o hotel. Era o meio da
noite aqui, e eu estava pronto para chegar à cidade.
Não me importava que eu deveria mostrar a cara amanhã de manhã.
Paris não dormiu, assim como eu também não. Quando paramos, entrei
no hotel sem esperar pela Angela.
Meu pai levou um carro separado para o hotel, então eu não precisei
me preocupar com suas perguntas. O que foi bom porque eu não
suportava mais estar no mesmo espaço que ela.
Depois daquela noite, daquele sonho, eu tinha tido mais dois sonhos
como aquele. Era como se ela não deixasse meu subconsciente em paz. E
eu também não conseguia me afastar dela quando estava acordado.
Eu a queria fora da minha cabeça e fora da minha vida. Eu sabia que
não gostava da garota. Eu sabia que ela era uma pequena oportunista que
só se importava com uma coisa — usando o que os Knight tinham a seu
favor.
Então eu não sabia porque uma parte de mim estava tão
visceralmente cativada por ela.
Eu sacudi esses pensamentos e peguei a chave do quarto do atendente
da recepção.
— Obrigado, — eu disse, virei e me dirigi para o elevador. Entrei na
suíte e estava colocando minhas coisas no quarto principal quando a
porta se abriu.
Era Angela, com os olhos mais fechados do que nunca.
— Oh. Estamos no mesmo quarto.
— Claro que estamos, — eu soltei. — Meu pai fez os preparativos.
— Certo, — disse ela. — Desculpe.
— Este é meu, — eu disse, e depois fechei a porta para não ter que vê-
la mais. Ouvi-a empurrando a cabeça para os outros quartos, tentando
encontrar outro.
Eu tirei a roupa que havia usado no voo e vesti uma roupa diferente e
depois voltei para a área principal da suíte.
— Eu vou sair. O evento de gala é amanhã às sete e meia.
A porta dela se abriu e ela espreitou para fora.
— Entendi, — disse ela suavemente.
Fizemos contato visual por um momento e depois abri a porta da
frente e caminhei pelo corredor.
ANGELA

Eu estava em meu quarto na suíte do hotel, olhando pela janela. Era a


manhã seguinte, e me senti refrescada quando acordei. Eu nem tinha
ouvido Xavier chegar em casa depois de uma festa. E agora, eu estava
olhando para a cidade que estava diante de mim.
Claro, era triste que eu estivesse na cidade do romance sozinha. Mas
eu não queria ficar pensando nisso.

Brad: Estou na sua porta.

Brad: Abra, por favor.


Eu aconcheguei meus cabelos ondulados atrás das orelhas e corri para
fora do meu quarto até a porta da frente da suíte. Abri e lá estava Brad,
parecendo muito europeu em um blazer azul.
Ele beijou minhas duas bochechas e depois me entregou um envelope.
— Querida, bem-vinda a Paris, — ele disse, pronunciando Paris à
maneira francesa.
— É incrível, — eu soltei.
— A primeira vez sempre é. — Ele piscou o olho. — Pegue isso. Vá
para o endereço no cartão. — Eu abri o envelope e encontrei um cartão
de visita em branco, com um endereço rabiscado no verso.
— O que é isso?
— Um mundo totalmente novo, — ele disse, apertando meu braço. —
Encontre um vestido para você. Para hoje à noite, — acrescentou ele,
depois se virou.
Eu o vi desaparecer pelo corredor e não pude deixar de me sentir
entusiasmada. Brad sempre me fez sentir como uma princesa, mesmo
quando seu filho me fazia sentir como um sapo.
Dei mais uma olhada no quarto do Xavier, pensando se ele estava lá
dentro.
E então saí para o corredor, com a bolsa no ombro e o cartão de visita
na mão. Ia encontrar um vestido.
Quando cheguei ao endereço, vi que se tratava de uma loja de roupas
especializada. Os mais sofisticados e intrincados vestidos que eu já tinha
visto.
Quando me apresentei à senhora chique atrás do balcão, a que tinha
cabelos grisalhos e com batom vermelho brilhante, ela me olhou de cima
a baixo. Depois ela deixou rolar um sorriso lento pelo rosto.
— Bom, — disse ela. Ela começou a puxar os vestidos para baixo e
colocá-los no trocador, que era mais como uma suíte.
Ela me trouxe uma taça de champanhe para beber enquanto
trabalhava, e quando tinha o número de vestidos com os quais estava
feliz, ela tirou a taça das minhas mãos.
— Você. Vá, — disse ela, apontando para o trocador. Ela me entregou
o primeiro vestido, uma obra-prima sem alças amarelo pálido que era
elegante e original ao mesmo tempo.
Ela me ajudou a colocá-lo, e quando estávamos olhando para ele no
espelho, ela arranhou o nariz e deu um abanão na cabeça.
— Próximo.
E esse foi o processo. Ela me ajudava a vestir um vestido, a coçar o
nariz, a abanar a cabeça e a voltar para a prancheta de desenho. Até que
experimentei o preto. Era de veludo preto, o que soava estranho, mas ao
vê-lo... uau.
Foi espetacular. Apertou meu corpo, mas ainda estava confortável. E
quando a senhora o viu, sua mão foi até o coração e ela arfou. Eu sabia
que era esse.
Ela o embalou e o levou para a frente.
— Tenho o cartão de Monsieur Knight no arquivo, — disse ela e me
deu um par de stilettos pretos em uma bolsa separada. — Você usa isso.
Eu acenei com a cabeça.
— Certo. Obrigada.
A senhora estava apenas imprimindo o recibo quando outra
vendedora, mais jovem, com um cabelo loiro e olhos verdes brilhantes,
veio até o registro.
Ela disse algo à senhora em francês, o que eu não entendi. Mas então
ouvi a senhora responder, com a palavra "Knight" na frase.
A menina loira disparou seus olhos de volta para mim, me olhando de
cima a baixo de uma forma que me fez sentir violada. Então ela riu e se
voltou para a senhora que me ajudou.
— Não. — Ela riu novamente, a senhora bateu em seu braço, e então a
garota foi embora. Eu não sabia o que tinha acabado de acontecer, mas a
endorfina deixou meu corpo tão acelerado quanto chegou.
Eu peguei a sacola de roupa e de sapatos da senhora.
— Obrigada, — eu disse, com meus olhos no chão enquanto eu saía
correndo da loja. Eles provavelmente estavam falando sobre como o
vestido não deveria ser usado por uma pessoa como eu.
Como se não enganasse ninguém, no evento de gala, em Paris, ou em
qualquer lugar. Todos podiam ver que eu não pertencia a este lugar.
Capítulo 26
Atrasado para o riso

ANGELA

Angela: Estamos indo juntos?

Angela: Para o evento de gala?

Angela: Xavier

Angela: Olá?
A suíte do hotel estava vazia quando voltei, e Xavier não estava
respondendo às minhas mensagens. Eu me preparei em meu quarto,
sozinha, pensando que quando eu terminasse, Xavier já estaria de volta
de onde quer que estivesse.
Eu sabia que ele tinha amigos em Paris, que ele tinha negócios a fazer,
mas não esperava que ele me abandonasse completamente no segundo
em que chegássemos aqui.
Vamos, Angela, eu mesma me repreendi. É claro que Xavier Knight a
abandonou.
Já estava com o vestido agora, e eu me olhava no espelho. Mesmo
depois do banho quente que tomei, ainda não me sentia como se o tecido
merecesse me cobrir.
Fechei os olhos e tentei me convencer a sentir novamente os
sentimentos que havia sentido da primeira vez que me vi usando o
vestido no espelho. Na loja, no trocador gigante, com a vendedora chique
ofegando em aprovação.
Naquele instante, eu me sentia digna.
Puxei meus cabelos na frente de meus ombros, levando minha
ondulação naturalmente macia até logo abaixo da linha do pescoço do
vestido. Apliquei algumas pinceladas de rímel e coloquei um pouco de
bálsamo labial para acrescentar um pouco de umidade.
Estavam secos desde o voo. Depois verifiquei o relógio.
Eu estava ficando sem tempo para esperar que Xavier voltasse para a
suíte. O evento de gala era lá embaixo, no salão de baile, mas eu tinha
que tomar uma decisão.
Eu poderia esperar que ele voltasse, e possivelmente ser castigado por
Brad por estar atrasado, ou poderia descer a tempo e ser castigada por
Xavier por não esperar por ele. Até eu sabia que maridos e esposas,
inclusive aqueles que não estavam exatamente apaixonados, deveriam
entrar juntos nesses eventos.
Ponderei minhas opções. Eu tinha sido castigada por Xavier quase
todos os dias desde que nos casamos. Embora não fosse a coisa mais
agradável de suportar, muitas vezes terminando comigo em lágrimas,
não achei que fosse tão doloroso quanto o desapontamento de Brad.
Brad sempre foi gentil comigo, como se acreditasse em mim, e eu não
queria que isso desaparecesse. Eu queria que ele continuasse a ter
orgulho de mim como nora.
Então peguei minha bolsa, endireitei minha aliança e saí da suíte do
hotel às sete e vinte e seis da noite.
Assim que as portas se abriram, vi um homem usando um terno e um
fone de ouvido sinalizando para eu atravessar o conjunto de portas à
minha direita. Virei minha cabeça, conseguindo ver mais três homens de
terno com fones de ouvido, um na frente de cada um dos elevadores.
Este vai ser um espetáculo e tanto, pensei eu.
— Mademoiselle?, — o homem designado para o meu elevador disse
impacientemente. Sua mão continuou apontando para as portas atrás
dele.
— Desculpe, — eu disse, andando o mais rápido que pude nos saltos
de dez centímetros que a vendedora tinha me dado. Meus pés já estavam
apertados, mas consegui chegar inteira até as portas. E então as empurrei
para abrir.
Por dentro, parecia um casamento real. O salão de baile era enorme.
Tentei perceber onde terminava, mas parecia o horizonte. Cada vez que
eu pensava entender onde estava em relação a ele, o final parecia ficar
mais distante.
Para onde quer que eu olhasse havia lustres dourados, peças centrais
douradas, joias de ouro.
Havia um tapete dourado à minha esquerda e um grupo de pessoas
lindas em roupas inimaginavelmente bonitas esperando sua vez de
descer por ele.
Em frente ao tapete, havia uma fila de fotógrafos, suas câmeras
piscando com a pressa de touros atacando um toureiro.
Outro homem com um fone acenava para eu entrar. Olhei em volta
freneticamente. A ideia de ser fotografada sozinha, com todos os olhos e
lentes dos fotógrafos sobre mim, era aterrorizante.
E então eu o vi.
Sempre em frente, falando com um bando de mulheres
impossivelmente magras. Ele estava usando suas mãos para fazer grandes
gestos, parecendo tão animado como sempre. Daqui eu podia ver o
sorriso em seu rosto. Eu não podia acreditar.
Ele tinha vindo para o evento de gala sem mim.
O homem com o fone de ouvido diante de mim se virou para ver o
que eu estava olhando, e não deve ter tido problemas para perceber que
era Xavier.
— Você quer que eu vá buscar seu marido para que vocês possam tirar
uma foto juntos, Madame Knight?, — perguntou ele, com um sotaque
francês forte.
— Uh... isso seria... ótimo, — eu disse, sentindo minhas bochechas
ficarem vermelhas sob o olhar daqueles ao meu redor. Então o homem
saiu correndo para trazer Xavier até mim, e eu esperei as palavras
inflamadas que eu sabia que ele diria quando chegasse.
Aguente firme, eu me instruí. Era apenas uma noite. E foi para Brad.
Eu vi que o homem tinha chegado a Xavier e estava apontando para
mim. Eu desviei meus olhos quando eles começaram a caminhar na
minha direção e, sem querer, olharam para um homem de meia-idade,
baixo e robusto, vestindo uma gola rolê preta debaixo de seu terno
trespassado.
Senti os cabelos em meus braços se levantarem por uma razão que
não pude nomear. Talvez tenha sido a intensidade com que ele olhou
para mim.
Voltei para a frente da sala, a tempo de ver Xavier dar os últimos
passos até mim.
— Oi, querida, — ele disse, alto o suficiente para que aqueles ao meu
redor pudessem ouvir. Ele beijou ambas as minhas bochechas. — Você
está linda.
— Obrigada, — eu disse. Embora parte de mim soubesse que era só
para disfarçar, as palavras que saíram de sua boca ajudaram a elevar a
minha confiança. Era quase nossa vez de caminhar no tapete, e a senhora
encarregada de organizar todos saudou Xavier pelo nome.
— Bem-vindo de volta, monsieur, — disse ela, ignorando-me
completamente. Eles trocaram algumas palavras, e então ela o dirigiu
para o centro do tapete. Ele me olhou de volta, segurando sua mão com
expectativa.
Eu nunca tinha ficado tão feliz em pegar a mão do meu marido. Ele
olhou diretamente para as câmeras e deu seu rosto de sempre: meio
sorriso com uma mandíbula fixa, olhos levemente esguios.
Depois de um segundo de observação do que ele estava fazendo,
tentei sorrir o melhor que pude. Eu não queria exagerar, mas também
não queria parecer que não estava me divertindo. Por isso sorri
genuinamente, com a boca fechada.
Depois do que pareceu uma vida inteira, Xavier me tirou do tapete.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um casal mais velho nos
parou, nos cumprimentando.
— Xavier! Ela é adorável, — exclamou a senhora, me medindo.
— Obrigada, — eu disse, com olhos no chão. Eu sentia que ia ter uma
overdose de atenção.
— Você se saiu bem, filho, — disse o homem, batendo no ombro de
Xavier.
— Eu tento, Grant. Você sabe disso. — O casal riu.
— Pensamos que você estaria em nossa mesa? — perguntou a mulher.
— Eu também pensava assim, mas meu pai teve uma reorganização de
última hora. Parece que queria todas as crianças na mesa das crianças.
— Nesse caso, é melhor você me guardar uma dança, Xavier, — disse a
mulher enquanto afastava seu marido.
— Vou reservar três pra você, — respondeu ele, piscando. Ele estava
em seu habitat.
— Vamos para a mesa, — ele me disse, decolando na direção das
mesas redondas que cobriam a maior parte do espaço.
Ao nos aproximarmos daquela mesa em que muitas das meninas com
quem o vi falar antes estavam sentadas, senti as palmas das minhas mãos
suarem. Essas meninas pareciam modelos, como o tipo de mulheres que
iam ao Pilates e namoravam celebridades.
O tipo de mulher que não ficaria deslocada ao lado de Xavier em um
tapete dourado.
Todas elas se viraram quando chegamos à mesa, e Xavier na verdade
levou um tempo para me apresentar.
— Senhoras, — começou ele, — esta é Angela. Minha esposa.
As mulheres olharam de Xavier até mim. Eu mantive minha
respiração — seus olhos cobriram cada centímetro de mim enquanto eu
esperava — e então, finalmente, aquela sentada mais próxima de onde
estávamos, começou a bater palmas.
Calma. E então as outras mulheres, todas elas se juntaram a nós.
Até que todas as quatro, com seus vestidos de grande comprimento,
estavam aplaudindo. Eu estava confusa.
Estavam me aprovando? Ou estavam zombando de mim?
Esta era uma estranha saudação de costume na França?
Mas então a líder falou.
— Ela é belle, — ela zombou, apesar de eu achar que sabia que a belle
era uma coisa boa. Como linda. Xavier sorriu, como se estivesse na
brincadeira, e puxou uma cadeira para fora para sentar.
Olhei para ele por algum tipo de explicação, mas quando ele sentiu
meu olhar, voltou-se para mim e disse:
— Venha, sente-se. — Então eu puxei o assento ao lado dele e sentei-
me.
As mulheres tinham começado a falar entre si novamente, a mais
próxima de Xavier puxando-o para a conversa, e eu novamente fiquei do
lado de fora. Um garçom apareceu atrás de mim e disse algo em francês
que eu não entendia.
Eu não queria ser objeto de mais atenção, por isso acenei com a
cabeça para ele. Ele repetiu as mesmas palavras novamente, e eu abri a
boca, mas nada saiu.
— Ela terá o Grigio, — a mulher ao lado de Xavier falou ao garçom.
Fui humilhada, me chutando por não ter apenas pedido que ele falasse
inglês. Todos falam inglês. O servidor acenou com a cabeça e caminhou
até o balde de gelo que segurava duas garrafas, trazendo uma e servindo-
me um copo.
Eu tomei um gole, meus nervos estavam inquietos.
— Calma, senhora, — disse a líder em voz alta do outro lado da mesa.
— Este fica nervoso quando sua mulher fica bêbada. — Ela piscou o olho,
olhando para Xavier.
Senti minhas bochechas queimarem pela milionésima vez. Será que
ela estava insinuando que ela e Xavier tinham...?
— Não seja ruim, Darla, — respondeu Xavier, chutando uma perna
sobre a outra e inclinando-se para trás em sua cadeira.
— Por quê? É assim que você gosta de mim, não? — Ela piscou o olho
de novo. As mulheres todas riram. Eu não podia acreditar nela, nem
nelas. Eu estava sentada aqui do lado. Ele era meu marido.
— Com licença, — eu disse calmamente, empurrando minha cadeira
para trás e deixando a mesa. Eu precisava de algum espaço para respirar.
Havia um bar junto à parede, e estava bem vazio. Eu passei por cima e
pedi um copo de água com gás. O barman o trouxe quase imediatamente,
mas antes que eu pudesse agradecê-lo, senti uma mão no ombro.
— Essa não é uma bebida forte o suficiente para uma senhora tão
bonita, — disse o homem de antes, o de gola alta, com um sotaque
francês forte.
Olhei para sua mão, ainda descansando em cima do meu ombro nu.
— Tudo bem, — eu respondi. Agarrei minha bebida para me afastar,
mas sua mão apertou minha mão.
— Não posso convencê-la a tomar uma bebida comigo...
— Talvez mais tarde, — eu disse, encolhendo os ombros. Eu não
queria ser rude, mas havia algo nele que fazia meus sentidos ficarem em
guarda. Peguei meu copo e caminhei ao redor da circunferência do salão
de baile, absorvendo durante todo o tempo todos os detalhes que tinham
sido arranjados.
Quando voltei para a mesa, já havia cestas de pão e manteiga. Tomei
meu lugar, as mulheres e Xavier ainda estavam de conversa.
Deixe-os falar. Eu teria um pedaço de pão, pensei, e peguei a cesta.
Ao deixar cair um pãozinho fresco em meu prato e espalhar um pouco
de manteiga sobre ele, fiquei tão preocupada com o cheiro bom que não
percebi que a conversa ao meu redor havia parado.
Eu trouxe um grande pedaço de pão para a minha boca e mordi —
estava delicioso — mas depois ouvi a mulher mais próxima de Xavier
dizer:
— Ela come pão?
Eu engoli, olhando para as mulheres que me olhavam com
repugnância. Nenhuma delas estava comendo. Nem mesmo Xavier
estava.
— Sua esposa, — começou a líder, olhando diretamente para meu
marido. — Ela estará gorda antes que você perceba.
— A gordura é melhor que ser brega, — outra se intrometeu.
— Pelo menos quando você é brega, você não está roubando o
dinheiro de outro.
Meus ouvidos começaram a zumbir. Sangue correu para o meu rosto.
Eles estavam falando de mim.
E assim abertamente, sem vergonha alguma. Os insultos continuavam
vindo, cada um pior do que o último, e Xavier apenas sentado ali, um
sorriso em seu rosto.
Sempre pensei que meu marido seria um homem que me defenderia,
que me protegeria e que se asseguraria que eu estivesse longe do perigo.
Mas em vez disso, meu marido apenas tomou outro gole de seu vinho
gelado e riu junto com as mulheres que não comeram pão.
Capítulo 27
Sob Ataque

ANGELA

Era um borrão. Eles estavam rindo, todos eles, e eu me sentia como se


estivesse em um palco com um holofote gigante sobre mim, com o
público capaz de ver meus pontos mais fracos, de apontar minhas
vulnerabilidades, sem muito esforço.
Eu nunca havia sido objeto de tal intimidação antes. Não que eu
tivesse sido popular no colegial — nem de longe — mas nunca fui aquela
em quem as crianças legais concentravam sua atenção.
Eu era quieta e desaparecia facilmente, então fazer troça de mim não
teria sido muito divertido.
Mas aqui, em um lugar como este? Eu fiquei sem chão. Eu sabia que
neste vestido, com esta multidão, eu parecia que estava tentando
desesperadamente me encaixar. E eu tinha me casado com Xavier
Knight, que era a pièce de resistance da elite.
Portanto, eu era um alvo fácil. Mas mesmo assim, eu não podia
acreditar que eles me tratavam assim. Estávamos fora do colegial. Eles
não deveria ter previsto isso?
Eu estava no banheiro, no banco para deficientes. Normalmente eu
nunca ficaria ali porque isso não era justo para as mulheres em cadeira de
rodas que realmente precisavam, mas era uma emergência.
As lágrimas tinham começado a vir quando eu estava correndo o mais
rápido que meus calcanhares podiam me carregar para fora do salão, e a
única coisa em que eu podia pensar era que eu precisava de um lugar
seguro para me esconder.
O banheiro para deficientes era o único aberto, portanto era minha
única opção. Eu não podia ter mais nenhum dos participantes do evento
tirando sarro de mim, então saltei para dentro e tranquei a porta o mais
rápido que pude.
Angela: Em

Angela: Está aí?

Em: Sim, na loja.

Em: Apenas ajudando um cliente, vc está bem?

Angela: Sim...

Angela: Eu estou bem


Eu não sabia porque não disse a verdade a Em, que eu era o motivo de
riso de toda a cidade. Que eu obviamente não pertencia a esse mundo,
como eu vinha dizendo o tempo todo.
Que meu próprio marido teria derramado sangue de porco sobre mim
se isso fizesse parte do plano que as meninas tinham conspirado.
Mas então percebi que era porque nunca tinha sido humilhada desta
maneira antes. Nunca tinha ficado tão envergonhada e constrangida, ao
ponto de falar se tornar uma dificuldade tão grande.
Pensei que minha bússola moral, e minha adesão a segui-la, garantiria
que eu pudesse sempre ficar de pé e ter orgulho de minhas ações. Mas
aqui estava eu, em um banheiro para deficientes, soluçando porque tinha
comido um pouco de pão.
Tirei um lenço de papel do rolo e sequei minhas bochechas. Estava
cansada de me sentir mal comigo mesma. E parecia que o tempo todo eu
tinha conhecido os Knight, que era tudo o que eu tinha feito.
Eu assoei meu nariz com o papel higiênico e decidi que era o
suficiente.
Chega de sentir pena de mim mesma.
Acabei com esse coitadismo.
Eu estava aqui por Brad, e era apenas uma noite. Consegui usar um
vestido fabuloso e estar rodeada de ouro em todos os lugares que olhava.
Então eu empurrava a humilhação para o lado e eu coloquei um
sorriso no meu rosto, e talvez se eu tentasse o suficiente, eu pudesse me
enganar e me divertir um pouco.
Eu reapliquei meu bálsamo labial, e depois saí do banheiro. O
banheiro estava cheio quando entrei, mas agora estava vazio. Talvez isso
fosse um sinal de que ninguém mais se meteria comigo.
Caminhei até o espelho e, colocando minhas mãos sobre o mármore
frio do balcão, me olhei nos olhos.
— Você é Angela Carson. — Eu balancei a cabeça. Eu teria que ser real
comigo mesmo.
Eu comecei de novo.
— Você é Angela Knight, — eu disse. — E você vai superar isso.
Eu o disse com uma intensidade tão calma que eu,
surpreendentemente, acreditei nas palavras. Certifiquei-me de que não
havia rímel sob meus olhos, e depois saí do banheiro.
Brad, de smoking, saiu do banheiro dos homens quando eu emergi. Eu
o vi primeiro.
— Olá! — exclamei, e ele me viu, um enorme sorriso crescendo em
seu rosto.
— Angela, — declarou ele, me pegando pela mão e me girando. —
Você é simplesmente arrebatadora.
— Obrigada, — eu disse, corando novamente. Mas, desta vez, por uma
boa razão.
— Não, obrigado. Por ter vindo. Eu sei que Xavier está agradecido por
você estar aqui.
Mordi a língua antes de poder contar-lhe qualquer história sobre
meus companheiros de mesa.
— Claro, — eu disse em seu lugar. — Eu conheci algumas de suas
amigas.
— Oh, as senhoras? Sim, ele as conhece desde a escola preparatória. As
melhores da França. Venha, venha, eu a acompanho de volta à mesa.
Meu estômago se espreitava, mas eu ergui a cabeça e aceitei o
cotovelo de Brad enquanto andávamos através das mesas. Quando
chegamos à minha, Brad limpou sua garganta.
Havia um refrão de "Olá! Brad!" e "Prazer em vê-lo"!
E depois de inclinar-se sobre cada mulher e ter tido uma breve
conversa com elas, Brad deu tapinhas nas costas de Xavier, beijou sua
mão e acenou, e então ele saiu para conversar com outro participante. As
mulheres voltaram sua atenção para mim.
— Para onde você foi? — perguntou a líder.
A mulher ao lado dela bateu algumas vezes na narina e depois
levantou a sobrancelha para mim, como se ela estivesse implicando algo
que eu não entendia.
— Uma drogada, também? — perguntou-lhe a mulher ao lado de
Xavier.
— Ah, sim, — respondeu a líder. — Isso faz sentido. Ela usa o dinheiro
para as drogas. Classique, não?
Tudo o que eu tinha dito a mim mesma no banheiro foi embora. Eu
não podia mais estar nesta mesa, nem por mais um segundo.
Então eu peguei minha bolsa na parte de trás da cadeira e fui embora,
ouvindo as mulheres e o riso de Xavier atrás de mim. Eu não sabia para
onde estava indo, mas sabia que precisava sair de lá.
O jantar ainda nem tinha sido servido, mas era demais. O vestido
apertado e estes malditos sapatos estavam dificultando o movimento
para além de um ritmo de caminhada, mas eu estava determinada a sair
da sala o mais rápido que podia.
Finalmente entrei pelas portas e estava de volta ao elevador, mas
parei, vendo Brad falando com um dos homens de fones em frente aos
elevadores.
Ele estava tendo uma conversa animada, e eu não queria que ele me
visse partir.
Voltei para as portas que abriam a gala. Não pude voltar para dentro,
de jeito nenhum. Olhei em volta, tentando manter meus movimentos
lentos e sutis para que Brad não me visse no canto do olho dele.
Eu vi uma porta. Não sabia aonde ela levava, mas neste momento, não
me importava. Abri-a o mais silenciosamente que pude e a fechei da
mesma maneira.
Agora eu estava em um corredor, e o segui até outra porta. Empurrei-a
e entrei no que parecia ser outro salão de baile, só que este era menor e
não decorado.
Havia uma dispersão de mesas e cadeiras, um pequeno palco e um bar.
Estava escuro, e estava vazio. E uma sala vazia era tudo o que eu
realmente precisava.
Sentei-me no chão, contra a parede, e deixei cair as lágrimas. Desta
vez, não tentei detê-las.
Poucos momentos depois, a porta do salão de baile se abriu, e eu
vacilei enquanto a luz entrava. Quando a porta se fechou e meus olhos se
ajustaram à penumbra, eu percebi que era o homem da gola rolê.
— Olá, — ele disse, aproximando-se de mim. — Eu o vi sair, e você
parece tão... tão triste, que pensei em vir para ter certeza de que você está
bem.
Ele se ajoelhou na minha frente, e acho que viu as lágrimas.
— Oh não! Oh não, linda senhora, por que as lágrimas?
— Eu estou bem, — eu disse, farejando. Eu tentei me levantar, mas ele
colocou suas mãos sobre meus joelhos e me empurrou de volta para o
chão.
— Você não está em condições de sair, mademoiselle, — começou ele.
— Diga-me. Diga a Jacques o que está errado.
— É que... não estou me sentindo muito bem, — eu disse, notando
que suas mãos ainda estavam sobre meus joelhos.
Seus polegares estavam se movendo em círculos agora, subindo
lentamente pelas minhas pernas. Tentei novamente me levantar, mas
suas mãos eram muito pesadas, empurrando-me para baixo.
— Eu estou bem. Vou procurar meu marido agora.
— Oh, seu marido? É por isso que você não quer tomar a bebida
comigo?
— O quê? Oh... não... eu só... eu não estava com muita sede.
— Não minta para Jacques, — ele disse, me encarando com a mesma
intensidade de antes.
Eu estava mais do que desconfortável agora. Seus olhos escuros
pareciam assombrosos, e esta sala estava tão vazia. Eu senti suas mãos
alcançarem minhas coxas.
— Por favor... por favor, pare, — eu disse, tentando tirar as mãos dele.
— Parar o quê?, — ele disse, e lambeu os lábios.
— Você é tão magnífica. Você irradia. Desde o momento em que te vi,
hmmm, — ele disse, e sem nenhum aviso prévio, ele se espreitou para
frente, pressionando seu corpo contra o meu.
Os lábios dele estavam no meu pescoço, e eu estava gritando com a
minha cabeça contra a parede, longe dele.
— Pare! Pare! — Eu gritei, mas não adiantava.
Todo o peso dele estava em cima de mim, e então sua mão veio ao
meu rosto para puxá-lo de volta para baixo para que seus lábios
pudessem encontrar os meus. Eu me senti como se estivesse debaixo
d'água, me afogando, vendo a cena em câmera lenta em algum lugar fora
do meu próprio corpo.
— MMMMMM, — eu tentei gritar, mas era como se seus lábios
estivessem colados aos meus.
Eu estava procurando algo no chão ao redor, qualquer coisa que eu
pudesse usar para tirá-lo de cima de mim. Foi quando eu me lembrei dos
meus sapatos.
Estiquei o máximo que pude, e ele apenas gemeu em resposta, à
medida que mais do meu corpo foi sendo pressionado contra ele. Eu
estava quase alcançando, então consegui, meus dedos se fecharam ao
redor do salto e o tirei do meu pé.
Ele estava se mexendo e gemendo, e todas as células do meu corpo
gritavam de agonia.
Levantei o sapato e, com toda a força que pude reunir, enfiei o salto na
parte de trás de seu pescoço.
Seus olhos se abriram e ele soltou um — AAHHH!
Suas mãos se moveram para a parte de trás do pescoço para verificar a
gravidade, e eu o empurrei com tudo o que tinha, correndo para a porta.
Eu não olhei para trás, não enquanto corria pelo corredor lateral, não
enquanto corria pela primeira porta e entrava no elevador, e não
enquanto as portas do elevador se fechavam, mantendo-me segura
dentro de mim.
Eu não podia processar o que tinha acabado de acontecer.
Tudo o que eu sabia era que tinha que voltar para a suíte, agora.
O elevador finalmente chegou ao meu andar, e eu corri pelo corredor
até estar em frente à porta da suíte.
Enfiei o cartão-chave na fechadura e pulei de pé em pé até que a luz
verde piscou.
Foi só então que percebi que havia deixado um dos sapatos no salão
de baile.
Uma vez lá dentro, desmaiei contra a parede, afundando no chão.
Estava tremendo insanamente, minha mente estava girando, e sentia que
vomitaria a qualquer segundo.
Eu toquei meu corpo a procura de ferimentos. Meus lábios se
sentiram inchados pelo contato, mas fora isso, eu estava bem.
De repente, tive este desejo avassalador de estar tão longe deste
vestido quanto humanamente possível. Estava se tomando
claustrofóbico, sua forma de apertar meu corpo e a espessura de seu
tecido.
Eu precisava sair.
Eu mesmo o desabotoei, ali mesmo, e o deixei no chão.
No meio da suíte em minha roupa íntima, finalmente senti que podia
respirar.
Capítulo 28
Surpresa, Surpresa

XAVIER

Eu me senti mal com a maneira como Darla e o resto das meninas


francesas trataram Angela?
Sinceramente, sim.
Darla era a maior filha da puta que eu conhecia, e nem mesmo a
garota que se abanava no meu dinheiro merecia esse tipo de tratamento.
Mas ao mesmo tempo, era como se fosse o reino animal. Era preciso
apenas deixar as mulheres correrem umas contra as outras até estarem
cansadas o suficiente para vir para a cama.
Darla e eu, tínhamos tido uma caso na escola preparatória. Era casual,
nunca mais do que sexo. Para mim, de qualquer forma. Mas ela parecia
nunca ter superado isso.
Assim, enquanto ela era uma cuzona para todos, ela era uma cuzona
com um lado de raiva incontrolável e cheia de ciúme para qualquer
garota que eu trouxesse comigo. Angela deixando a mesa havia sido uma
vitória em seus olhos.
Ela mandou o garçom trazer uma garrafa de champanhe para a mesa,
e uma vez que ela a abriu, estávamos fazendo o pedido em dois minutos.
Eu havia esquecido como eram os franceses — eles podiam beber.
Tomei meu terceiro copo e me inclinei para trás, absorvendo a mesa.
Mulheres bonitas em todos os lugares.
E claro, elas podiam beber. Mas eu também podia.
Cerca de uma hora depois, quando a mesa estava repleta de chocolate
e soufflés Grand Mamier, eu vi meu pai caminhar até nós.
— Senhoras, — ele disse, e então ele tomou um lugar na cadeira vaga
de Angela. — Onde está Angela?
— Ela não estava se sentindo bem. Uma enxaqueca, — respondi sem
pausas.
— Ah, que pena, — ele disse, abanando a cabeça.
— Pobre garota. Ela é realmente uma boa garota, Xavier.
— Eu sei.
— Você sabe? — ele disse, com seu olhar sem pestanejar. Eu acenei
com a cabeça. Dois poderiam jogar este jogo.
— Ótimo, — continuou ele, — porque tenho uma surpresa para vocês
dois. Vamos, vamos até a suíte e dar-lhe a notícia.
— Já? Ainda mal terminamos a sobremesa.
— Sua esposa está em sofrimento, Xavier. Você não estar com ela já é
espantoso. — Então terminei o copo de Pinot Grigio que Angela mal
havia tocado, e segui meu pai para fora da gala.
A desgraçada, ela realmente arruinou tudo.
ANGELA

Eu estava no banho, há o que parecia ser um século. Eu havia tomado


banho primeiro, precisando tirar toda a grosseria de cima de mim, vendo
como a água quente batia na minha pele e se juntava aos meus pés.
Quando me senti limpa, empurrei a rolha para o ralo e me sentei,
vendo a banheira encher.
E eu estava aqui, sentada na água fervente, desde então. Sentia-me
bem, com o calor. Como um lembrete de que meu corpo ainda podia
sentir, que ainda estava intacto.
Fechei meus olhos. Talvez eu ficasse aqui para sempre. Xavier
provavelmente nem notaria. Minhas mãos foram para os joelhos, onde o
francês havia primeiro colocado suas mãos. Depois subi pelas minhas
pernas, até minhas coxas, da mesma forma que as mãos dele o fizeram.
Por mais difícil que fosse lembrar, eu não queria esquecer. Mesmo
depois de tudo o que havia acontecido com Lemor, este era um novo
sentimento para mim. Eu nunca tinha tido alguém, um homem,
colocando suas mãos em mim daquela maneira.
Enfiei minhas unhas na pele pálida das coxas. Eu queria me lembrar
desse tipo de dor. Esse tipo de desamparo. Para que cada vez que eu
estivesse prestes a reclamar de ter um dia ruim, ou ouvir alguma garota
estúpida me insultar, eu me lembraria de como era o verdadeiro terror.
— Olá? Angela?. — Meus olhos se atreveram a olhar a porta fechada
do banheiro. Isso soou como o Brad. Por que ele estava aqui? Eles tinham
ouvido o que tinha acontecido? Quem teria dito a eles? Quem mais viu?
Apressei-me para tirar o plugue do ralo e me enrolei uma toalha de
hotel. Em seguida, abri a porta.
— Eu estava apenas tomando banho, — eu disse, ouvindo minha
hesitação na voz. Essas foram as primeiras palavras que eu disse em voz
alta desde o salão de baile.
— Não se apresse, vamos esperar, — Brad falou de volta. Entrei em
meu quarto e encontrei um roupão pendurado no armário, pelo qual
troquei a toalha. Sentindo-me adequadamente coberta, entrei na área
comum.
Tanto Brad quanto Xavier estavam sentados, e olharam para mim
quando eu entrei.
— Como você está se sentindo? Você já tomou alguma coisa? —
perguntou Brad.
— Não... não, eu acho que vou ficar bem. Só um pouco de descanso. É
tudo o que eu preciso.
— É claro, vou deixá-los a sós em um momento. Mas primeiro... — Ele
fez uma pausa, tirando algo do bolso do casaco. Parecia um daqueles
chaveiros turísticos que se podia comprar no aeroporto, mas eu não
conseguia perceber quais eram as letras.
— São Tomás? — disse Xavier, esticando seus olhos para o chaveiro.
— São Tomás! É uma ilha, uma ilha privada, no Caribe, — exclamou
Brad, claramente entusiasmado. — Praias de areia branca, oceano
límpido e um dos melhores resorts do mundo.
— Estou confusa... — Eu disse, a seguir.
— Eu também, — Xavier completou.
— Vocês vão lá, — disse Brad, levantando-se e abotoando seu blazer.
— Vocês dois. Vocês partem amanhã, e vão pegar o jato. Feliz lua-de-mel,
— ele disse com um piscar de olhos, e depois caminhou até a porta.
— O quê? Amanhã? — perguntei, minha voz tremia.
— Isso é impossível. Tenho outra reunião com o gerente da
propriedade amanhã...
— Errado. Estou assumindo a reunião no seu lugar. Seu casamento,
seu amor, que vem primeiro.
Um painel de fúria cobriu o rosto de Xavier, mas desapareceu um
segundo depois.
— O jato sai às nove horas da manhã. Não deixe Jack esperando. Você
sabe como ele fica com atrasos. — E então a porta se abriu e fechou, e
Brad se foi.
— Jack? — foi a única palavra que pude dizer.
— O piloto, — disse Xavier, de pé. Ele jogou um travesseiro contra o
chão. — Isso é uma farsa.
— Eu sei, — eu disse. — Eu... eu concordo, — acrescentei.
— Você concorda? Bem, isso me deixa tão contente, — ele disse,
pingando sarcasmo de sua língua. Então ele viu algo junto à porta. Eu
segui seu olhar e senti meu estômago cair. Ele caminhou até ele,
lentamente, e o pegou.
Meu vestido.
Eu sabia o que ele ia dizer antes de abrir a boca.
— Presumo que este seja o seu vestido, — ele disse.
Eu acenei com a cabeça. Era tudo o que eu conseguia.
— E você simplesmente... deixou-o. No chão.
— Xavier, deixe-me explicar, — sussurrei, as lágrimas voltaram a vir.
Foi surpreendente que eu ainda tivesse lágrimas. Ele se aproximou
mais de mim, e ainda mais, e depois deixou cair o vestido sobre meu
ombro.
Eu estava esperando pelos gritos, pelas palavras duras e pela
crueldade. Mas em vez disso ele sorriu para mim, não mais do que um
centímetro entre nós. O sorriso era frio e sinistro, como se tivesse algum
significado fora do meu entendimento.
E com mais um segundo dele mirando em mim, me olhando, com
nada mais do que aquele sorriso sinistro, senti como se tivesse algo
errado.
E então ele se virou e saiu pela porta, da mesma forma que seu pai
havia feito. E novamente fui deixada sozinha, com apenas os
pensamentos que corriam ao redor de minha mente.
De alguma forma, as armas silenciosas eram piores do que as que
gritavam com facas jogadas em minha direção; foram elas que rasgaram a
minha pele e deixaram sua marca bem no meu coração.
Eu estaria em lua-de-mel com um homem que me odiava. Rastejei até
a cama, acariciando as enormes almofadas ao meu redor. Fechei meus
olhos.
Parte de mim estava entusiasmada em ir dormir porque qualquer
sonho seria melhor do que hoje. Mas a outra parte de mim se dispôs a
ficar acordada. Porque quanto mais cedo eu adormecesse, mais cedo eu
seria confrontada por Xavier.
Em um jato só para nós.

Eu acordei com suor frio. O edredom estava meio fora da cama, e os


travesseiros haviam sido espalhados ao meu redor. Ou eu estava lutando
contra um fantasma durante o sono ou meu sonho não havia sido
melhor do que os acontecimentos de ontem.
Eu vi a luz entrar pela janela e virei para o relógio: 8:37 da manhã.
Tudo o que eu queria fazer era ficar na cama, assistir a um filme e fingir
que o mundo lá fora não existia.
Mas em vez disso, eu tinha vinte e três minutos para fazer as malas e
me encontrar com Xavier lá fora, onde um carro nos levaria a um jato
que nos levaria a uma ilha.
Eu nunca tinha temido algo tão luxuoso em minha vida. Saltei da
cama e, tirando um par de jeans e uma camiseta de manga comprida da
minha mala, tirei o roupão de banho.
Vesti as roupas e, em seguida, eu fui até o banheiro para verificar meu
rosto. Meus olhos ainda estavam vermelhos, como se eu não tivesse
parado de chorar, e não tinha energia para me maquiar. Então amarrei
meu cabelo com um laço no topo da cabeça e dei o dia por terminado.
Eu levei minha mala até o saguão sem esperar para ver se Xavier ainda
estava na suíte. Eu tinha aprendido minha lição ontem: ele não ia esperar
por mim, não importava o destino.
No meu caminho através do foyer, meus olhos se atreveram a dar a
volta por todos os lados. Eu estava com a paranoia de encontrar o
homem francês com a gola rolê, então eu estava agradecida pela
atividade matinal que acontecia ao meu redor.
Mesmo se eu o visse, não estaria sozinha.
Funcionários e hóspedes do hotel passaram pelo lobby em alta
velocidade, tomando café e conversando alegremente. O homem não
podia tentar nada aqui. Mas eu não o vi, e consegui chegar até o carro da
frente sem nenhuma interrupção.
O motorista colocou minha mala no porta-malas e depois me ajudou
a entrar no banco de trás, e assim que Xavier saiu do saguão e saltou para
dentro do carro, estávamos a caminho.
Nos dirigimos direto para o asfalto, e o motorista me ajudou a sair do
carro. Ele levou minha mala até o pessoal do aeroporto, que, por sua vez,
a carregou para o jato.
Subi as escadas da mesma forma que tinha feito em Nova Iorque,
novamente atrás de Xavier. Quando cheguei ao interior do jato, esperava
ter a mesma reação ohmeudeus.
Mas em vez disso me senti dormente, como se nada mais pudesse me
surpreender ou me impressionar. Tomei o mesmo lugar que tinha no
caminho para Paris, e Xavier foi para o quarto sem dizer uma palavra
para mim.
— Patricia, você se importa? — ele perguntou a caminho de lá. Uma
bela atendente de bordo com cabelo ruivo correu atrás dele,
desaparecendo no quarto.
Fechei meus olhos. Ainda dormente.
O avião decolou pouco depois e, desta vez, eu estava muito menos
preocupada. Talvez tenha sido por ter passado por tanto horror nas
últimas vinte e quatro horas que viajar milhares de milhas acima de
todos os outros foi uma mudança bem-vinda.
Ou talvez fosse porque eu estava me adaptando mais rápido do que eu
pensava.
Estávamos voando há cerca de seis horas, e eu estava terminando um
saco de batatas fritas, quando ouvi o piloto falar pelo intercomunicador.
— Sr. e Sra. Knight, este é Jack, seu capitão. Só queria avisá-los sobre
uma possível turbulência a que estamos a caminho, devido a um tempo
estranho que se instalou de repente.
Ele foi interrompido pela queda rápida do meu estômago. Parecia que
o avião tinha acabado de mergulhar por mil milhas, como se eu estivesse
na parte assustadora da montanha-russa, mas não havia nenhuma pista
abaixo.
Procurei por alguém que me dissesse que isso era normal. Mas
Patricia não tinha saído do quarto de Xavier e a outra comissária de
bordo não estava em nenhum lugar à vista.
Voltamos a cair. Minha respiração começou a ficar mais rápida. E
depois caímos novamente, desta vez por ainda mais tempo.
A voz de Jack retomou,— ... mais do que o esperado, peço desculpas
pelo...
E então estávamos pulando para cima e para baixo, como se o céu
fosse um trampolim, e na próxima vez que olhei pela janela, vi uma
chama vindo da asa do avião.
Isso não é bom.
Isso não é normal.
A outra comissária de bordo saiu correndo de uma área na frente do
jato, seus brincos dançavam agressivamente com seus movimentos.
— Vista isto, — ela gritou comigo, jogando um colete salva-vidas na
minha direção.
Meu coração estava batendo fora de controle quando deslizei minha
cabeça pelo colete laranja. Eu não sabia o que estava acontecendo, e
então o avião caiu novamente, e antes que eu pudesse me deter, eu estava
vomitando no assento ao meu lado.
E então caímos novamente, mas desta vez, não paramos.
Meu estômago estava todo na minha garganta, meus olhos estavam
fechados e imaginei que estava em um daqueles passeios de parque de
diversões que te levantavam e depois te deixavam cair.
Tudo estava escuro. Eu não sabia se isso era porque meus olhos ainda
estavam fechados ou porque não havia mais nada para ver. Não sentia o
ponto de impacto e não podia dizer se sentia alguma dor.
Tudo o que eu sabia era que tudo tinha acabado quase tão
rapidamente quanto tinha começado.
Capítulo 29
Descoberta solitária

ANGELA

Meus olhos se abriram lentamente, um de cada vez, e imediatamente


senti uma dor abrasadora em minha perna. A minha direita. Minha mão
se movia em direção à dor, e sentia algo molhado. Tinha que ser sangue.
Tudo era um borrão. Eu tinha embarcado no jato com Xavier. Ele foi
para o quarto com a aeromoça, eu estava na cadeira... e depois caímos... e
a asa estava pegando fogo...
Percebi que minha cabeça, deitada, estava olhando diretamente para o
céu.
Eu não estava mais dentro de nada. Virei minha cabeça para o lado,
depois para o outro lado, e meu entorno ficou bem claro.
O jato estava bem ao meu lado, mas eu estava em uma praia.
— Olá? — Eu chamei, ainda na mesma posição. Eu estava de costas,
com medo de me mexer por medo de agravar meus ferimentos. Eu tinha
visto os programas médicos na TV.
Eu sabia que o choque tinha uma maneira de mascarar a dor que você
sentia.
Minha perna latejou, como que para dizer, você pode me sentir, não é
mesmo?
Eu me empurrei para cima, nos cotovelos, e olhei em volta. Eu não vi
ninguém perto de mim. Na verdade, eu não vi ninguém. O que eu vi foi o
avião, monstruoso no tamanho de perto, e percebi a sorte que eu tinha
tido.
Se eu tivesse caído um metro mais perto, eu teria sido enterrada
debaixo dele. Mas de alguma forma eu caí do céu apenas com uma perna
machucada.
Finalmente espreitei a minha perna, mordendo o meu lábio. Eu não
era boa com sangue, mas sabia que teria que ser eu mesma a cuidar disso.
Especialmente se eu estivesse sozinha aqui.
Sempre fui eu quem estava em casa para cuidar de Lucas ou Danny
quando eles estavam doentes ou quando precisavam ser levados às
urgências por causa de uma lesão esportiva.
Eu os tinha visto levar pontos suficientes para conhecer o
procedimento. E quando olhei para a incisão em minha coxa, ela se
parecia muito com uma ferida que precisava de pontos.
Consegui sair do meu próprio corpo e cuidar do corte como se
pertencesse a outra pessoa. Tirei minha camiseta de manga comprida e a
enrolei em volta da coxa, tentando estancar o sangramento. Mais tarde
eu encontraria algo para me costurar.
Eu decidi tentar ficar de pé. Havia mais quatro pessoas no voo, e todas
elas tinham que estar em algum lugar. Comecei a mancar, um passo de
cada vez, ao redor do avião.
Eu estava assustada com o que iria encontrar. Rezei para que não
houvesse corpos, mas depois revisei minha oração para dizer que não
houvesse cadáveres. Eu queria todos os corpos vivos que eu pudesse
conseguir.
— Tem alguém aqui? — Eu chamei novamente, minha voz sendo um
forte contraste contra o silêncio da ilha. Era assombroso estar aqui e não
ver uma alma. Eu continuava andando pelo jato, não encontrando nada
nem ninguém.
Meu celular tinha desaparecido, e eu não tinha nenhuma fonte de
alimento ou água. Pensei no que eu sabia: que uma pessoa podia ficar
três dias sem água e trinta dias sem comida antes de sucumbir à
desidratação ou à desnutrição.
Você estará fora daqui antes disso, eu mesma assegurei. Xavier Knight
está desaparecido. Eles virão.
— Xavier? — Eu gritei, com saudades dele pela primeira vez na minha
vida. Comecei a voltar para a ilha, onde estavam as árvores.
Eu estava caminhando através das árvores, tecendo dentro e fora
delas, quando cheguei ao final, encontrando mais areia e água do outro
lado. Caí na areia, sentindo seu calor me aquecer do frio da brisa do
oceano.
Olhei ao meu redor. Era o oposto da cidade de Nova Iorque, com a
correria de pessoas, tráfego, edifícios altos e um fluxo infinito de
atividades.
Como diabos eu acabei aqui?
Há pouco tempo atrás eu era uma garota normal, tentando viver em
Nova Iorque.
E agora...
Agora eu era a esposa de um bilionário apenas em nome, encalhada
em uma ilha deserta. Eu estava ferida, assustada e completamente
sozinha.
Eu olhei para o céu azul brilhante e vi uma nuvem solitária passar
preguiçosamente.
Se apenas eu pudesse flutuar na brisa e ser livre...
Uma brisa suave passou por cima de mim e eu senti uma calma
repentina assentar em meu peito.
Talvez tenha sido melhor assim.
Aqui fora, eu não precisava mais me preocupar com nada.
Sem mais paparazzi intrometidos ou redes de notícias tentando
escavar minha vida privada ou inventar mentiras sobre mim.
Sem mais olhares esnobes ou abusos da elite rica com os quais eu
nunca teria me dado bem.
Acabaram-se os maridos abusivos que me odiavam.
Sem mais vender minha alma por contas hospitalares que eu nunca
poderia pagar.
Chega de mentir para mim mesma...
Fechei os olhos, e me senti à deriva junto com a maré.
— Angela...
Meus olhos se abriram e me sentei tão rápido que minha cabeça girou.
Aquela voz...
Olhei em volta, com esperança a encher meu peito.
E lá estava ele. Olhamos de relance, seus olhos mais azuis que as
profundezas do oceano diante de mim.
— Xavier, — eu solucei. Talvez por fim conseguiríamos sair desta ilha.
Mas então Xavier desmaiou.
Eu me mexi, ignorando a dor na minha perna. Tropecei em direção ao
local onde ele estava de barriga para baixo na areia.
Antes que eu pudesse me deter, minhas mãos estavam sobre ele,
rolando-o para me encarar.
Suas costas estavam agora tocando a areia, e seu rosto estava cinzento.
Ele tinha um grande galo na testa e uma lesão ao seu lado. Seus olhos
estavam fechados, e seus lábios secos como o deserto.
— Xavier, — eu sussurrei. Ele parecia morto. Tentei sentir seu pulso,
mas minhas mãos tremiam tanto que não conseguia sentir.
Então eu coloquei minha bochecha até sua boca e esperei para sentir
um sopro. Esperei pelo que parecia ser a eternidade, segurando minha
própria respiração para não perder nada.
Nada.
Eu respirei fundo e tentei sentir o pulso novamente. Desejei que
minhas mãos parassem de tremer.
Por favor, por favor, por favor..
Mas eu não conseguia sentir nada. Nem um único batimento.
Lágrimas brotaram em meus olhos.
Xavier se foi...
Capítulo 30
Quem resgatou quem?

XAVIER

Estou morto.
Eu não tinha certeza onde estava, mas sabia disso com certeza.
Eu estava flutuando em um vazio sem fim e escuro. Eu não podia
sentir meu corpo. Eu nem tinha certeza se ainda tinha um.
Era só eu, sozinho, com meus pensamentos disformes.
Flashes de memória se desdobraram em minha mente.
O rosto da mulher que eu amava. A mulher que havia partido meu
coração.
A angústia da traição.
O golpe do desgosto do coração.
O calor de fúria que consome tudo.
A raiva voltou a mim agora, aqui nos meus momentos finais. Pude
senti-la me queimando.
Então é assim que termina...
Lembrei-me de ver Angela na praia antes que meu corpo desistisse.
Seus cabelos brilhavam dourados ao sol, seus olhos refletiam o oceano
cintilante ao nosso redor.
Uma pancada de arrependimento me atingiu.
Eu a tinha tratado como merda. Pior que merda, na verdade. E,
sinceramente, ela não merecia nada disso.
Engraçado como a morte finalmente colocou tudo em perspectiva
quando já era tarde demais.
Eu me rendi à escuridão, me deixando ir...
Mas então eu senti algo.
Uma suave pressão sobre meus lábios. A sensação era como uma brisa
refrescante, respirando vida em meus pulmões, enchendo meu coração.
Meus olhos se abriram. Respirei fundo, com um sopro agitado.
E eu estava olhando nos olhos de um anjo.
ANGELA

— Graças a Deus, graças a Deus, — eu disse. Coloquei a cabeça de


Xavier no colo, tirando os cabelos dos olhos dele.
— Ang... — Ele começou a tossir violentamente.
— Shh, — eu insisti. — Não tente falar. Descanse um pouco.
Mas Xavier parecia determinado a falar. Eu franzi a sobrancelha de
preocupação. O que era tão importante que ele tinha a dizer?
— Obrigado... — ele disse, mas mal era um sussurro.
Ele fechou os olhos, e por um segundo eu temi o pior. Mas a constante
movimentação em seu peito levou esses pensamentos para longe.
Ele está mal.
Ele tinha um corte feio na testa, e parecia que seu ombro estava
deslocado. Fiz uma careta quando coloquei seu ombro de volta em um
movimento. Arranquei um pedaço da minha camisa para fazer uma
tipoia para ele.
Olhei novamente ao redor da ilha deserta, uma nova determinação
me enchia.
Eu não estava mais sobrevivendo apenas por mim. Tinha que lutar
tanto por mim quanto por Xavier, pelo menos até ele acordar.
Eu nunca o havia visto tão indefeso, e parte de mim até gostava de ver
este lado humano dele.
Quando ele estava com dores, quando estava ferido, ele era como o
resto de nós.
Deixei Xavier na areia para tentar nos encontrar comida. Eu sabia que
o sol ia se pôr logo, e estava preocupada com o quanto ele estava pálido.
Então, olhei em volta, analisando minhas opções. A floresta parecia
poder abrigar um bando de diferentes tipos de animais, mas eu sabia que
com minha perna não poderia correr ou lutar se eles não aceitassem bem
a ideia de serem comidos. Por dois intrusos humanos, nada menos que
isso.
Por isso, eu fui para o mar.
Afundei-me na água, gostando da maneira como o líquido frio
salpicava minhas pernas. Toda a areia que se agarrou aos meus
tornozelos saiu no segundo em que entrei nas ondas, e me senti
imediatamente limpa.
Percebi que, se eu fosse pescar algum peixe, precisaria ir mais fundo. E
eu ia precisar de uma espécie de arma.
Então, voltei para a margem e encontrei a árvore mais próxima. Eu
peguei um pequeno galho que estava bem perto da minha cabeça e raspei
sua ponta contra a árvore até que ele ficou parcialmente afiado.
Então eu tirei meus jeans, não querendo deixá-los encharcados. Se
estivesse frio à noite, eu ficaria feliz em ter um par de calças secas para
vestir.
Armada com minha lança improvisada, voltei para a água. A água
salgada me machucou no início. Doeu tanto que eu gritei, gritando para
o céu, enquanto as lágrimas caíam livremente.
Mas era um tipo diferente de dor. O tipo de dor que me fez sentir
livre, como se eu não tivesse que esconder o que estava passando.
Talvez fosse a situação ou o ambiente em que eu estava, mas eu senti
que merecia chorar e gritar aqui tanto quanto eu queria. Depois que a
dor diminuiu e meus olhos secaram um pouco, eu abaixei todo o meu
rosto debaixo d'água.
Voltei para a superfície, esfreguei os olhos e depois comecei a nadar
até o mar.
Assim que fui mais fundo, decidi mergulhar e ver com o que eu estava
trabalhando. Mantive meus olhos abertos, e após alguns momentos, eles
se ajustaram à queima do sal.
Eu vi um peixe do tamanho da palma de um homem adulto.
Eu apunhalei-o de imediato, minha lança atravessando seu pequeno
corpo.
Quando emergi, levei a lança até meu rosto em choque.
Lá estava ele, meu peixinho. Eu tinha encontrado comida para nós
sozinha.
Meu pai vai adorar esta história, pensei eu, e então percebi que esta
história começou quando meu avião caiu. Então talvez ele não adorasse
tudo isso.
Segurando minha lança como um troféu, voltei para a costa.
XAVIER

Meu corpo inteiro estava pulsando com um tipo distinto de dor, como
quando você acorda após uma noite de muita festa e sente cada órgão
dentro de você reclamando. Isso era o que estava acontecendo comigo
agora.
Meu corpo inteiro sentiu o peso do acidente.
O sol estava se pondo forte sobre mim, então eu me inclinei sobre
meu ombro bom para me inclinar melhor contra a brisa. O vento frio
atingiu meu rosto, e quase me relaxou. Eu estava olhando para o oceano
quando vi uma figura emergindo da água.
Não apenas uma figura qualquer, mas a figura de Angela. A figura de
minha esposa, quase totalmente exposta.
Pisquei, tentando perceber o que ela estava vestindo, se é que estava
vestindo algo. Vi a parte de cima da camiseta dela — ela tinha rasgado o
fundo da camisa para fazer uma tipoia para meu braço — e alguma
calcinhas.
Mas foi só isso.
Mesmo sabendo que era errado olhar para ela assim, sem que ela
soubesse, não conseguia arrancar meus olhos dela.
E o sonho repetido que eu tinha voltava agora — dela em várias etapas
de nudez, dela me implorar por mais.
Eu esfreguei os olhos. Recompondo-me. Ela estava cuidando de mim.
O mínimo que eu podia fazer era tratá-la com respeito. Especialmente
depois da maneira como eu a tinha tratado por tanto tempo antes.
Eu a vi pegar seus jeans ao lado de uma árvore a alguns metros de
distância e puxá-los, e então ela começou a caminhar até mim. Fechei
meus olhos, fingindo estar descansando.
— Estou de volta, e olha o que eu tenho, — exclamou ela. Abri meus
olhos e vi um galho de árvore com uma ponta afiada.
Ela mesma deve ter afiado, eu pensei, atordoado. Na ponta afiada
havia um peixe.
— Você está com fome?, — perguntou ela.
— Como você...
— Não foi muito difícil, — disse ela, modesta. — Eu sou boa com
minhas mãos. Meu pai me ensinou a consertar carros quando eu era
jovem, e depois disso, consertar praticamente qualquer outra coisa se
tornou fácil.
Huh. Pensei em quando o Bentley quebrou em Midtown, e o Marco
me disse que uma mulher aleatória tinha parado para ajudá-lo a
consertar. Poderia ser...
Mas antes que eu pudesse dar sentido a qualquer coisa, Angela estava
arrancando um pedaço do peixe e me entregou.
— Eu sei que não é exatamente filé mignon, mas você precisa comer
alguma coisa. Por favor.
Então eu a deixei me alimentar com o primeiro pedaço de peixe e
depois com outro. E antes que eu soubesse, ela tinha me alimentado com
tudo, não comendo nada.
— E você? — eu perguntei.
— Não se preocupe comigo, — disse ela, e naquele momento, tive a
certeza de que não conhecia essa mulher de jeito nenhum.
Que tipo de pessoa trataria alguém como eu, alguém que se esforçou
para tornar sua vida mais difícil, com tanta gentileza? Se ela estivesse
atrás do meu dinheiro, não seria a seu favor ter me deixado morrer?
Se eu fosse ela, provavelmente teria sido isso que eu teria feito.
Mas em vez disso, aqui estava ela, cuidando dos meus ferimentos e me
alimentando de peixes que ela mesma havia pescado. Parecia surreal,
como se ela fosse um anjo colocado ali por uma razão.
Eu tentei me sentar sozinho, mas ela viu minha dificuldade e me
ajudou. Quando estava de pé, toquei as costas da mão na testa e senti a
umidade.
— É suor, não sangue, — disse ela, lendo minha mente. — Você está
com calor? Você quer tirar isso? — perguntou ela, movendo-se para a
camisa que não tinha utilidade em uma ilha.
Eu acenei, e ela me ajudou a tirar por trás. Ela ficou atrás de mim por
um momento depois de ter saído, e eu pensei ter sentido o olhar dela nas
minhas costas.
Na minha cicatriz.
— O que aconteceu? — perguntou ela em silêncio.
Eu não queria falar sobre isso, não agora. Não precisava de outro
lembrete de dor; eu já tinha o bastante. Mas eu queria responder-lhe,
dar-lhe algo depois de tudo o que ela me havia dado.
— Eu estive em um acidente de carro, — eu disse.
— Recentemente?
— Há cerca de um ano.
Eu estava olhando para o chão, pegando areia e vendo-a cair. Ela
voltou e sentou-se ao meu lado, vendo-me brincar com a areia também.
Ficamos ali sentados em silêncio durante horas, conhecendo-nos
através das palavras que não dissemos.
ANGELA

Este foi um Xavier diferente. Um Xavier que me agradeceu, que sorriu


para mim, que me respondeu em frases completas sem um toque de
sarcasmo. Era como se ele tivesse se tornado uma pessoa completamente
diferente.
Isso, ou ele tinha começado a me ver como uma pessoa
completamente diferente.
Estávamos sentados no mesmo lugar na areia, deixando que o silêncio
fácil tomasse conta, enquanto o sol se punha. A temperatura havia
baixado, mas não muito.
Eu me senti confortável, como se não tivesse nada com que me
preocupar.
Eu sabia que, pela manhã, eu realmente começaria a me preocupar.
Mas, por enquanto, eu estava em paz. Mais ou menos. Agora eu estava de
costas, contando com as estrelas no céu.
Foi quando eu ouvi isso.
Estava se aproximando cada vez mais, mas reconheci o som
imediatamente.
Um helicóptero.
Estava muito escuro para eu ver qualquer coisa no céu, mas eu estava
certa de que estava lá, vindo por nós. Eu acordei Xavier.
— Xavier, ei, acorde, — eu disse. — Eles estão aqui. Eles estão aqui
atrás de nós.
Xavier sentou-se, esfregando o sono de seus olhos, e olhou em volta.
Alguns minutos depois, um helicóptero estava pousando perto do jato
destruído.
Eu ajudei Xavier a levantar e juntos mancamos em direção a ele.
Um homem com um traje militar estava inspecionando o exterior do
jato quando nos ouviu chamar por ele.
— EI! — eu gritei. — Nós estamos aqui!
Ele se voltou para nós.
— Sra. Knight? Sr. Knight?, — ele chamou de volta.
— SIM! — Eu gritei, cheia de alívio. Quando chegamos até ele, ele
chamou outro homem a bordo do helicóptero, que nos ajudou a subir.
Colocamos os cintos de segurança nos assentos de couro e nos deram
fones de ouvido grandes para minimizar o som. Um enorme cobertor foi
jogado sobre mim e outro sobre Xavier.
Eu olhei para ele, meu marido, e ele me olhou de volta. Eu não sabia o
que dizer. Eu nem sabia se deveria dizer alguma coisa.
— Muito bem, pessoal, estamos prontos. Vamos levá-los para casa em
segurança.
— E os outros? Eles estão... — Eu me afastei.
— Eles foram encontrados em uma ilha diferente, a alguns
quilômetros de distância. Devem ter sido atirados do avião. Estão a
caminho de um hospital enquanto falamos.
Eu soltei um suspiro de alívio — pelo menos todos estavam bem. E
então o helicóptero estava decolando, voando conosco de volta para o
céu onde estávamos há apenas algumas horas.
Observei a pequena ilha se afastar, a escuridão engolindo-a inteira.
— Odeio voar, — eu disse.
— Eu também, — respondeu ele. Virei-me para olhar pela janela ao
meu lado, vendo nada além de escuridão. Eu não sabia como seria a vida
quando Xavier e eu voltássemos para Nova Iorque.
Eu não sabia se ele voltaria a ser o monstro que me castigava ou se
continuaríamos de mãos dadas.
Tudo o que eu sabia era que gostava de estar lá para ele. Eu gostava de
cuidar dele e ajudá-lo a se sentir bem.
E eu gostava de pensar que talvez Brad tivesse tido razão, que havia
mais no Xavier Knight do que se via.
Senti a mão de Xavier encostar na minha. Um toque suave, quase
hesitante. Eu estendi a mão e, lentamente, nossos dedos se entrelaçaram.
Nós não dissemos mais nada. Não precisávamos dizer nada. Ambos
nos consolamos só de termos um ao outro lá.
Fechei meus olhos e sorri, apreciando seu calor.
Talvez este acidente de avião tenha sido a melhor coisa que nos
poderia ter acontecido…
Livro 2

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
Abra seus Olhos

BRAD

Fogo.
Destroços.
Eu não conseguia tirar meus olhos da tela. Eles finalmente
encontraram os restos do avião, mas ainda não haviam falado nada sobre
sobreviventes.
Eu não tinha ideia se meu filho e minha nora estavam vivos ou...
Eu não podia me permitir pensar nessa palavra. Recusei-me a dizer
essa palavra em voz alta. A mesma palavra que as pessoas usaram quando
falaram sobre minha esposa. Minha amada Amelia.
E pensar que, além de perdê-la, também poderia perder a única
família que me restava, era demais para um velho como eu.
As vozes na televisão recusaram-se a me dar paz.
— Acabou de chegar. Agora soubemos que há várias vítimas na queda
do avião no Caribe. Mas nada ainda sobre o destino do bilionário Xavier
Knight ou de sua nova esposa, Angela Knight...
Peguei o controle remoto e silenciei as vozes. Assistir minha vida
desmoronar era uma coisa, mas ter que ouvir isso?
— Isso é tudo culpa sua, — eu sussurrei para mim mesmo com os
dentes cerrados. — Se você não os tivesse forçado a ir naquela lua de
mel...
Lágrimas me atacaram. Eu joguei o controle remoto contra a parede,
encontrando algum prazer nele se despedaçando. Foi bom destruir algo
agora.
Mas, no fundo, eu sabia que esse prazer teria vida curta.
Como eu deveria continuar a partir daqui? Como eu iria me perdoar
se meus piores medos se concretizassem?
De repente, meu celular vibrou no bolso e corri para pegá-lo, com as
mãos tremendo. Eu sabia que, com um apertar de botão, minha vida,
minha dinastia, meu futuro como eu sempre imaginei, poderiam ser
apagados.
Mas quando abri as mensagens de texto do meu assistente, Ron, meus
olhos se arregalaram em descrença.

Ron: Chefe!!!

Ron: Acabei de falar com as autoridades haitianas.

Ron: Você não vai acreditar…

Brad: O quê?

Brad: Pelo amor de Deus, Ron!

Brad: FALA.

Ron: Eles estão vivos!!!

Ron: Xavier e Angela.

Ron: Ambos estão vivos.

Ron: Eles estão sendo transportados para Miami agora.

Brad: Eles estão bem?

Ron: Apenas ferimentos leves. Alguma perda de sangue,


desidratação.

Ron: Mas eles vão ficar bem.

Brad: Você tem CERTEZA?

Brad: Você tem certeza absoluta?

Brad: Não vou aguentar outra perda, Ron.


Brad: Preciso de provas.

Essas mãos. A aliança de casamento no dedo da garota. Eu


reconheceria aquele anel em qualquer lugar. Afinal, o anel de Angela já
pertenceu à minha Amelia.
Era verdade. Ron estava certo. Eles realmente estavam vivos.

Ron: Isso é de dentro do helicóptero.

Ron: Disseram a eles para não tirar fotos de rostos, caso isso vaze.

Ron: Mas tenho certeza que você pode dizer se são eles...

Brad: Prepare meu avião, Ron.

Brad: Eu vou até eles em Miami.

Ron: É pra já, chefe!

Rapidamente peguei minhas coisas e saí do meu escritório, tentando


conter as lágrimas de alívio. Normalmente, eu nunca demonstraria
emoção na frente de meus funcionários.
Mas hoje não era um dia normal.
Eu podia sentir todos eles me observando enquanto corria para o
elevador. Eu podia sentir sua pena, sua preocupação, sua angústia, mas
eles não sabiam o que eu sabia — que Xavier e Angela estavam a salvo.
Eu não acreditaria até que os visse com meus próprios olhos, mas meu
coração me dizia que era verdade.
Amélia, pensei. Você vai ter que esperar um pouco mais, meu amor. Seu
filho e sua nora têm muito mais vida para viver.
XAVIER
Minhas pálpebras pareciam duras como concreto. Não havia maneira
de elas se moverem tão cedo.
Sabia que precisaria abrir meus olhos uma hora, mas a escuridão era
tão reconfortante. Claro, pensava assim depois de toda aquela luz forte,
aquele sol implacável, aquele breve tempo que ela e eu compartilhamos
na ilha...
Angela.
Eu me lembrei agora. Angela. Como ela cuidou de mim, me
alimentou, cuidou de minhas feridas. A garota que eu constantemente
insultava, a garota que eu chamava de puta oportunista, a garota com
quem eu era casado.
Minha esposa.
Pisquei e abri um olho. Depois o outro. Tudo ao meu redor estava
embaçado, mas eu podia vagamente distinguir o ambiente frio e estéril
de um quarto de hospital.
Por um segundo, eu queria fechar meus olhos e voltar para a
escuridão — eu estava tão cansado — mas então pensei em Angela
novamente.
Eu precisava vê-la. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem
também. Que ela estava ao meu lado, mas quando virei a cabeça, a cama
ao lado da minha estava vazia.
Onde ela estava?!
— Enfermeira... — eu resmunguei. — ENFERMEIRA!!!
Minha boca estava tão seca, como se alguém tivesse derramado areia
em minha garganta, mas nada disso importava agora. Eu precisava
encontrá-la.
Uma enfermeira robusta e carrancuda entrou com um tablet e
começou a verificar meus sinais vitais. Ela nem me olhou nos olhos.
— Onde ela está? — Eu perguntei.
Mas a enfermeira ou não me ouviu ou só deu de ombros. Percebi que
ela estava com um fone de ouvido, o outro pendurado no peito, tocando
REM. Quem ainda ouvia REM?
— Eu te fiz uma pergunta, — eu disse, ficando irritado. — Onde ela
está?!
A enfermeira finalmente fez contato visual comigo e encolheu os
ombros. Não pude acreditar na audácia da filha da puta. Senti a raiva
crescendo em meu peito, brotando em meu pescoço, avermelhando o
meu rosto.
Essa gorda desleixada tem ideia de com quem ela está falando? Eu sou o
Xavier Knight. Eu deveria ter dez enfermeiras, todas me idolatrando ao
mesmo tempo!
Claramente, ninguém comunicou o quão importante eu era para a
enfermeira porque ela começou a caminhar em direção à porta.
— EI! — Eu gritei, e ela finalmente se virou. — Minha esposa. Angela
Knight.
— O que é que tem? — ela perguntou friamente.
— Ela está... — eu comecei e parei.
De repente, achei difícil completar a frase. Emoção, carinho, esses
sentimentos estranhos me pegaram e me estrangularam. Eu ainda não
sabia se ela tinha sobrevivido.
— Por favor, — eu disse, embora não estivesse acostumado a usar essa
palavra. — Apenas me diga. Ela está bem?
Algo nos olhos da enfermeira mudou. Um toque de compaixão, talvez.
Então ela acenou com a cabeça.
— Ela está bem no final do corredor. Não se preocupe.
Então ela saiu, me deixando sozinho. Soltei um suspiro de alívio,
grato.
Eu não sabia em que ponto Angela havia se tornado alguém que eu
parei de odiar, mas tudo parecia diferente agora.
Não esquecia a maneira como ela olhou para mim com aqueles olhos
azuis brilhantes. Esse cabelo loiro despenteado. Aquele corpo perfeito
descendo na água...
Mas que porra é essa?
Eu estava fantasiando com Angela agora?
Talvez eu simplesmente tenha sofrido uma concussão e por isso não
estava pensando direito por ora. Estávamos de volta ao mundo real, e isso
significava que teríamos que continuar nossas rotinas e eu teria que
aprender a odiá-la novamente.
Não é?
De alguma forma, agora, eu não tinha tanta certeza.

— Xavier!
Algumas horas depois, a porta do meu quarto de hospital se abriu e
meu pai correu para dentro. Eu nunca o tinha visto tão... desleixado.
Seu cabelo normalmente penteado estava apontando para diferentes
direções. Parecia que ele tinha jogado seu terno Brioni feito sob medida
em um liquidificador. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e nada
parecidos com aqueles olhos claros e duros do CEO que eu sempre
respeitei e temi enquanto crescia.
— Pai? — Eu perguntei, surpreso. — Você está uma bagunça. Você está
bem?
— Eu estou...?
Meu pai balançou a cabeça, agarrando meu ombro, sorrindo, mas o
sorriso parecia tão cheio de dor.
— Eu pensei que tinha perdido você, Xavier. Eu pensei...
— Ei, está tudo bem, velho, — eu disse, me sentindo um pouco
desconfortável.
Não gostei de ver alguém tão poderoso cair de joelhos. A única outra
vez na minha vida em que vi meu pai agir assim foi quando minha mãe
morreu.
— Xavier, — ele disse, sentando-se ao lado da minha cama, com os
olhos lacrimejantes. — Quando a notícia saiu, eles disseram que havia
vítimas e...
— Quem? — Eu perguntei, de repente tenso. — Quem morreu no
avião?
Meu pai olhou para o lado, triste.
— O piloto, Jim.
Merda. Eu conhecia Jim quase toda a minha vida. Ele voou com meu
pai e eu ao redor do mundo mais vezes do que eu poderia contar.
— Meu Deus, — eu disse, surpreso com o quão devastado eu me
sentia. — Alguém falou com a família dele?
Meu pai acenou com a cabeça solenemente.
— Já entramos em contato e oferecemos uma compensação generosa,
não que isso possa substituí-lo.
— Isso é bom, — eu disse, mas não me senti bem. Não parecia certo de
jeito nenhum.
— Estou muito grato, filho, — disse meu pai novamente. — Depois da
sua mãe, a ideia de perder você também... Eu não aguentaria.
A enormidade do que ele viveu, as noites sem dormir, o terror e a
angústia, finalmente me atingiu. Por pior que tenha sido para Angela e eu
na ilha, pelo menos tínhamos um ao outro.
Não havia nenhuma área cinzenta. Nós sobreviveríamos ou
morreríamos, mas para meu pai, cada segundo que passava sem saber o
que havia acontecido conosco deve ter sido uma agonia indescritível.
Peguei sua mão, embora fosse estranho para mim ser tão emotivo.
— Estou bem, pai. Está tudo bem.
Ele acenou com a cabeça, enxugando uma lágrima. Então ele olhou
em volta, carrancudo.
— Onde está Angela?

Quando a enfermeira, com a atitude mal-humorada de sempre,


finalmente concordou em me deixar sair do quarto com meu pai e visitar
Angela, nos aproximamos lentamente de seu quarto.
As feridas em meus braços ainda doíam e eu tinha que tomar cuidado
para não me esforçar demais. Meu pai gentilmente me deu apoio e,
abrindo a porta, me conduziu para a sala.
Lá estava ela. Quieta e imóvel como a própria Bela Adormecida.
Minha esposa.
Angela Knight.
A garota estranha que eu sempre pensei ser um demônio, mas que era,
na verdade, um anjo disfarçado. Meu pai balançou a cabeça, olhando
para ela.
— Ela é tão linda e pura, Xavier, — ele disse. — Não apenas sua
aparência. Mas sua alma também. Você não consegue ver?
Eu nunca fui capaz de entender o que meu pai viu em Angela até
agora, observá-la deitada ali, seu peito subindo e descendo, seus olhos
fechados... Eu senti uma sensação estranha tomar conta de mim.
A princípio pensei que, assim que voltássemos ao mundo real, tudo
voltaria ao normal. Mas agora, enquanto olhava para ela, percebi que isso
era impossível.
O que tínhamos compartilhado na ilha era tão primitivo, tão puro, tão
real, que não havia mais retorno.
— Eu sei o que você quer dizer, pai, — eu admiti. — Eu não acho que
teria sobrevivido sem ela.
— Ela salvou você?
Em mais de uma maneira, pensei. Em vez disso, eu apenas balancei a
cabeça. Então eu lentamente me aproximei de sua cama e sentei ao lado
dela, segurando sua mão fria.
Quando ela acordaria? E o que ela pensaria quando olhasse para mim
agora?
Angela me veria como um monstro por todos os meus maus tratos?
Ou ela me veria como alguém diferente?
Como o homem que realmente era por baixo dessa pele dura.
— Acorde, Angela, — eu implorei a ela. — Abra os olhos.
Mas seus olhos permaneceram fechados. Por um segundo, o
pensamento mais estúpido do mundo passou pela minha cabeça. Que eu
poderia ter que beijá-la para trazê-la de volta à vida. Como aquele conto
de fadas idiota.
Sim. Definitivamente concussão.
Abaixei-me e apertei suavemente a mão dela. Ela parecia tão delicada.
Vulnerável.
Ela começou a se mexer ao meu toque e meu coração deu um salto no
peito.
Ela abriu os olhos, aquelas orbes azuis brilhantes olhando direto para
mim.
— Você está acordada, — eu disse, com uma voz gentil.
Angela olhou em volta e pude ver a confusão se instalando.
— Você está segura agora, — eu assegurei a ela.
— Onde estou? — ela perguntou, com voz trêmula.
Algo em sua voz me preocupou. Ela parecia apavorada.
— Angela, estamos em um hospital. Está tudo bem.
Ela olhou para baixo e viu que sua mão estava na minha. Ela puxou a
mão de mim e guardou-a sobre o peito, tentando se inclinar para longe
de mim em sua cama.
— Angela...? — Eu poderia dizer que algo ruim estava acontecendo.
Mas eu nunca poderia estar preparado para o que ela disse a seguir.
— Quem... — Ela respirou fundo, tentando se acalmar. — Quem é
você?
Capítulo 2
Perto de Casa

XAVIER

— Sua esposa tem um caso raro de amnésia retrógrada, — disse o


médico.
— E o que é isso? — Eu exigi.
O médico e eu estávamos sentados no quarto de Angela. Ela estava
dormindo em paz e parecia uma pessoa perfeitamente saudável.
A não ser pelo fato de seu problema não ser visível.
— É essencialmente uma reação mental retardada a eventos de
extrema angústia psicológica ou física. Sobreviver a um acidente de avião
é muito estressante...
— Ok, sim, claro. — Eu o interrompi, impaciente. — Ela vai melhorar?
— Esperamos uma recuperação total, Sr. Knight, — ele me garantiu.
— Pode demorar alguns dias, ou mesmo algumas horas. A melhor coisa
que você pode fazer é estar aqui para ela.
O médico saiu para nos dar um pouco de privacidade.
Olhei para Angela, sem ter a menor ideia do que fazer.
ANGELA

Eu mastiguei o sanduíche que a enfermeira tinha me dado enquanto


olhava para o homem em meu quarto.
Ele olhava pensativamente para fora da janela, recusando-se a fazer
qualquer contato visual comigo.
— Então, Xavier... — eu tentei. — Somos casados?
Eu o vi enrijecer.
— Sim.
— Hmm...
As enfermeiras disseram que minha memória voltaria em breve, mas
até então, este homem era um estranho.
Um estranho muito bonito, admito.
Eu não conseguia identificar exatamente o porquê, mas era como se
houvesse uma parede de aço entre nós. Não era exatamente como eu
esperava ser tratada por meu marido.
— Fomos felizes? — Eu perguntei.
Ele riu, um som curto e amargo.
— Na verdade não, — ele admitiu. — Desculpe.
— Oh.
O silêncio entre nós se estendeu. Continuei a mordiscar meu
sanduíche, mais para ter algo a fazer do que por fome.
— Talvez fosse melhor se sua memória de mim nunca mais voltasse,
— ele disse de repente. — Você não precisa ser casada com um estranho.
Pisquei para ele, pego de surpresa.
— Por que isso?
— Eu não tenho sido exatamente... bom para você... — Sua voz falhou,
e eu pude sentir a imensa dor que suas palavras carregavam.
— Não.. eu acho que seria muito triste. Eu quero minha memória de
volta.
— Mesmo que ela não seja boa? — ele perguntou.
— Eu confio em mim no passado, — eu disse. — Devo ter me casado
com você por um bom motivo, certo? — Eu sorri, tentando confortá-lo.
Ele parecia tão angustiado.
Ele suspirou e balançou a cabeça, cruzando olhares pela primeira vez.
Meu coração quase parou. Eu poderia me perder nesses olhos...
— O que eu fiz para merecer você? — ele se perguntou.
— Eu não sei, você me diz, — eu disse. — Amnésia, lembra?
Ele riu de novo, mas desta vez parecia genuíno. O som enviou
borboletas vibrando em volta do meu estômago.
Xavier estava tão preocupado com nosso passado, mas ele parecia bom
para mim.
Quão ruim poderia ter sido?

Muito ruim.
Depois que minhas memórias voltaram para mim, nós rapidamente
voltamos para Nova Iorque.
Tínhamos acabado de sair do aeroporto e Marco estava nos
conduzindo pela agitação normal da cidade.
Este era o Xavier do qual me lembrava — frio, insensível, olhando pela
janela durante todo o trajeto para casa. Ele não disse uma palavra para
mim.
Mas o que havia a dizer?
Como deveríamos processar tudo o que acabamos de passar? Xavier
continuaria a me odiar agora que estávamos de volta?
Eu tinha que admitir, se ele ainda me odiava ou não, o silêncio era
certamente preferível a ele gritando comigo o tempo todo.
— Marco, — Xavier disse, sacudindo-me do meu estupor. — Me deixe
no trabalho, sim? Eu tenho muito que colocar em dia.
— Claro, senhor, — disse Marco, sempre obediente.
Eu pensei sobre Xavier, surpresa. Ele já era realmente capaz de voltar
ao trabalho? Ele tinha acabado de sobreviver a um acidente de avião!
Mas com certeza, cinco minutos depois, Marco estava estacionando
no prédio da Knight Enterprises e abrindo a porta do carro para Xavier.
Ele estava prestes a sair quando parou e olhou para mim.
— Hum, — ele disse, parecendo incerto sobre o que dizer. — Vá
devagar... eu acho?
Então ele bateu à porta do carro e se dirigiu para dentro de seu prédio.
Petrifiquei-me em descrença. Vá devagar? Isso era tudo que ele tinha a
dizer?
Eu me encontrei confusa e nem um pouco surpresa. Quem era eu
para fazer o grande Xavier Knight mudar? Ele era quem ele era.
Um acidente de avião, uma experiência quase mortal, um vínculo
estranho em uma ilha distante — nada disso importava agora que ele
estava de volta ao lugar a que pertencia.
Marco voltou para o carro.
— Tudo bem, Sra. Knight. De volta para casa?
Eu pensei sobre isso. Casa. Claro, Marco se referia ao apartamento de
cobertura que eu dividia com Xavier, mas onde nunca me senti em casa,
não de verdade.
Não. Eu sabia para onde queria ir.
— Quer saber, Marco, — eu disse. — Eu gostaria de parar em algum
lugar primeiro.

— Angie!!!
A porta da frente se abriu e braços fortes me envolveram, me
levantando do chão. Mesmo quando minha perna bateu contra a dele e
latejou de dor, eu sorri.
Porque, finalmente, eu estava cercada pelas pessoas que amava. De
volta para casa em Heller, onde fui criada.
— Danny, você pode me colocar no chão, — eu disse, rindo um pouco.
— Estou bem.
— Você não tem ideia de como todos nós estávamos com medo, irmã,
— disse Danny, me abaixando e acenando para que eu entrasse. — Lucas
começou a tricotar apenas para acalmar os nervos.
— Ele começou?
Atrás dele estava Lucas, balançando a cabeça, mas sorrindo. Claro que
não. Mesmo nos momentos mais assustadores, Danny estava sempre
brincando. Fazendo todos nós nos sentirmos melhor.
Ao lado de Lucas, fiquei surpresa ao ver Em. Por um segundo, não
consegui entender o que ela estava fazendo aqui. Ela era uma das minhas
melhores amigas, não me entenda mal, mas ela não era da família.
— Graças a Deus você está bem, — ela disse, correndo e me abraçando
com força. Havia lágrimas em seus olhos. E de repente me lembrei.
Em e Lucas estavam juntos. Eram um casal.
Como eu havia esquecido?
— Estou... estou feliz por você estar aqui, — consegui dizer.
Na verdade, a ideia de minha melhor amiga namorar meu irmão ainda
me deixava um pouco brava. Eu estava feliz por eles, obviamente, mas era
difícil entender isso.
E não era um fato que eu esperava confrontar ao voltar para casa.
Finalmente, meu pai apareceu. Suas bochechas pareciam rosadas e
saudáveis, e seu sorriso era enorme.
— Lá está ela, — ele disse. — Minha filhinha.
De repente, havia lágrimas em meus olhos. Quando fiquei presa na
ilha, quando toda esperança parecia perdida, pensei em meu pai e se
algum dia o veria novamente.
E aqui estava eu. Aqui estava ele. Aqui estávamos nós juntos.
— Pai, eu estou... — eu disse, mas não pude continuar. Um soluço
involuntário deixou minha garganta e eu estava correndo em sua direção,
jogando meus braços em volta de seu pescoço.
— Está tudo bem, — ele disse, segurando-me, acariciando suavemente
minha cabeça. — Está tudo bem, Angie. Estou bem. Estamos todos aqui.
Ficamos todos ali mais tempo, congelados, tentando nos agarrar a
esse momento, a essa gratidão por termos nos reunido, apesar de tudo.
Finalmente, me afastei do meu pai e enxuguei minhas lágrimas.
— Você vê essa garota? Pele e osso! — ele disse a Lucas. — Vamos,
temos que alimentá-la e pronto!
Eu ri, sentindo um calor dentro do qual nenhum sol do Caribe
poderia chegar perto de competir.

— Você fez o quê?!


— Eu peguei um peixe! É tão difícil de acreditar?
Danny estava me olhando com descrença. Todos na mesa estavam
olhando para mim como se eu fosse uma pessoa completamente
diferente.
— Gente, não é grande coisa, — eu disse, corando. — Papai costumava
levar todos nós para caçar. Você não acha que aprendi alguns truques ao
longo do caminho?
— Não achei que você fosse capaz de matar alguma coisa, — disse
Danny. — Eu vou na verdade. Estou com medo de você agora.
Todos nós rimos. Notei Lucas e Em segurando as mãos debaixo da
mesa e desviei o olhar. Esse era um assunto que eu pretendia evitar o
máximo que pudesse.
Em vez disso, olhei para meu pai.
— Então, como você está se sentindo? — Eu perguntei.
— Melhor, minha filha, — ele disse, dando uma grande mordida na
lasanha. — Muito melhor. Meu apetite voltou e, em alguns dias, posso
até correr um pouco.
— Então, o tratamento está realmente funcionando?
Meu pai deu de ombros, mas quando olhei para Danny, ele estava
sorrindo, como se dissesse: Sim, Angie. Está realmente funcionando.
Havia tantas perguntas que eu queria fazer, mas elas podiam esperar.
Por enquanto, eu só queria comer uma deliciosa refeição caseira, rir das
piadas de Danny e ser grata por estar passando esse momento em casa.
Em minha verdadeira casa.
Não com Xavier.
Como se ela estivesse lendo minha mente, Em acenou com a cabeça
para mim.
— Aliás, como está o marido?
XAVIER

Alguém estava falando comigo sobre fluxogramas, sobre um novo


hotel Knight, sobre uma próxima apresentação, mas eu não ouvi uma
palavra.
Tudo o que eu conseguia pensar era em Angela.
— Sr. Knight? Temos a sua aprovação?
— Oh, claro, — eu disse, com os olhos vidrados.
— Maravilhoso, — disse um dos meus principais executivos. — Vamos
fazer a bola rolar e mantê-los atualizados!
Eu balancei a cabeça e preguiçosamente virei de lado na minha
cadeira quando ele saiu do meu escritório. Eu olhei pela janela para
Manhattan. Claro, era uma ilha, mas poderia ter sido mais diferente do
que a última em que estive?
Eu sei que deveria ter dito algo para Angela no hospital, no avião, no
carro, mas não sabia por onde começar.
Oh, então agora que você salvou minha vida e tudo, você acha que
podemos superar o fato de que você se casou comigo pelo meu dinheiro e fez
da minha vida um inferno?
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. Eu gostaria de ainda
poder odiá-la, que eu pudesse me reconectar com minha raiva e chamá-la
exatamente do que ela era — uma puta atrás de dinheiro.
Mas só de pensar nisso, me fez passar mal.
É isso que eles chamam de culpa?
O que diabos estava acontecendo comigo? Um segundo, eu queria
cuspir na cara da garota, e no próximo, eu queria abraçá-la. Meu cérebro
estava um caos. Parecia que eu não conseguiria pensar direito nem se
minha vida dependesse disso.
Eu queria culpar a queda do avião. Uma doença física era mais fácil de
diagnosticar, mas não podia me enganar. Isso era sobre meus
sentimentos por Angela de alguma forma.
Eu simplesmente não conseguia entender o que diabos meus
sentimentos estavam me dizendo.
— Xavier?
Virei-me para ver meu pai entrar em meu escritório. Ele parecia
melhor, embora ainda exausto. As bolsas sob seus olhos traíram seu
comportamento.
— Você realmente deveria estar em casa, — ele disse, sentando-se à
minha frente.
— Isso é o que todo mundo vive me dizendo.
Ele bateu na mesa entre nós, suspirando.
— É muito cedo para falar, mas se você está insistindo em trabalhar,
acho que posso também.
— O que é? — Eu perguntei, franzindo a testa.
Meu pai tinha aquele olhar, o olhar que dizia que ele estava prestes a
lançar algo em mim. Algo que eu não gostaria. De jeito nenhum.
— No momento, sua imagem de relações públicas é... como posso
dizer isso? — Meu pai fez uma pausa. — É ruim, Xavier. As fotos de
Angela...
— Isso foi culpa dela.
— Os rumores de que você andou dormindo por aí. — Fiquei em
silêncio sobre isso. Meu pai estava me olhando com um daqueles olhares
furiosos que significava: Não vou nem perguntar se isso é verdade porque
não quero saber.
— E então o avião caiu.
Eu zombei.
— Isso não deveria nos fazer parecer... não sei, como vítimas?
— Sim. Patético. Impotente. Incapaz de dirigir um negócio porque
você ficou muito traumatizado.
— Por favor, — eu disse, desaprovando. — Você sabe que eu...
— Não, Xavier. No momento, não sei de nada. E nem o conselho. Você
precisa fazer algo para mostrar a eles que está no controle.
— Tudo bem, — eu disse. — Diga.
— O Jubileu de Prata é daqui a dois meses. Como você sabe, parte da
noite inclui uma competição anual de dança.
— Você não pode estar falando sério.
— Você e Angela vão participar. Você precisa dançar na frente de
todos. Mostre como você está confiante. Como você está apaixonado.
Entendeu?
— Isso é ridículo. Achei que seria algo relacionado a negócios. Não um
maldito...
— Xavier, — meu pai disse severamente. — Eu não te peço muito, mas
estou pedindo isso. Quase perdi você e a Angela e... Por favor. Se não for
pela empresa, faça isso por mim.
Suspirei e desviei o olhar, sabendo que convencer Angela a dançar
comigo, especialmente quando ela tinha uma lesão na perna, seria quase
impossível.

Xavier: Onde você está?

Xavier: Estou em casa e você não está aqui.

Angela: Desculpe.

Angela: Eu precisava ver minha família.

Xavier: PORRA

Xavier: POR QUE VOCÊ NÃO...

Xavier: Deixa pra lá.

Xavier: Tanto faz.

Xavier: Eu preciso te pedir uma coisa.

Angela: O que é?

Xavier: Não

Xavier: Pessoalmente.

Angela: Ah, tudo bem se conversarmos amanhã?

Angela: Já é tarde...

Xavier: Tá bom

Eu joguei meu telefone de lado, frustrado. Sentei-me sozinho na


minha cobertura. Bem, não totalmente sozinho. Lucille já havia me
abraçado e tentado me fazer sentar e comer.
Mas agora, eu não tinha apetite. A ideia de pedir um favor a Angela
estava me consumindo por dentro.
Depois de todas as coisas horríveis que eu disse a ela, depois da
maneira baixa como a tratei, como ela me retribuiu? Salvando minha
vida.
Presumir que ela faria mais por mim agora era a definição de
insanidade.
Se eu fosse ela, odiaria cada célula do meu corpo. Eu nunca iria querer
me ver novamente, muito menos ser minha parceira de dança no Jubileu
de Prata.
Nunca pensei em um milhão de anos que esse seria o meu problema.
Seja legal, pensei. Seja encantador. Mas com essa garota, com Angela, eu
nunca pensei que teria que tentar.
Eu sabia que, se não conseguisse convencê-la, meu pai poderia muito
bem me substituir como CEO da Knight Enterprises. Os negócios
sempre vêm em primeiro lugar. E pensar que todo o meu futuro
dependia de alguma dança idiota!
Isso me fez querer arrancar meu cabelo. Nada fazia sentido agora. No
trabalho. No relacionamento com a minha doce esposa oportunista.
A questão se repetia indefinidamente em minha própria cabeça,
parecendo cada vez mais ridícula. Mas eu tive que admitir que não tinha
ideia de como achar uma solução.
Como diabos eu convenceria minha própria esposa a dançar comigo?
O elevador para nossa cobertura se abriu e uma mulher entrou. A
princípio pensei que fosse Angela, mas o barulho de saltos altos no chão
me disse que não podia ser ela.
Uma morena peituda entrou na cozinha, seu vestido preto apertava
suas curvas pecaminosas.
— Ei, Xavier — ronronou Serena. — Seu porteiro me deixou subir.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Serena era
uma das muitas mulheres com quem eu dormia regularmente.
Ela se aproximou de mim e sentou-se no meu colo, seu perfume
inebriante.
— Ouvi dizer que você acabou de voltar de um acidente de avião...
deve ter sido muito assustador para você. — Ela começou a passar a mão
pela minha coxa. — Você deve ter muito... estresse para ser aliviado.
Normalmente, Xavier Knight teria carregado Serena de volta para seu
quarto e fodido com ela.
Mas agora, o rosto de Angela apareceu em minha mente.
Merda.
Nosso tempo juntos na ilha me mudou... para melhor ou para pior.
Serena continuou a piscar os cílios para mim, mordendo o lábio
inferior suculento.
Merda! O que devo fazer?
Capítulo 3
Outros Amantes

XAVIER

Na manhã seguinte, acordei e, por um segundo, poderia jurar que


ainda estava na praia. Eu podia sentir os grãos de areia arranhando
minhas costas, ouvir os sons das ondas batendo na praia, e cheirar a brisa
fresca do oceano.
Mas quando abri os olhos, vi o teto com painéis de madeira e percebi
que estava de volta à minha enorme e luxuosa cama king-size. De volta à
cidade de Nova Iorque.
Suspirei de alívio. Eram os mesmos lençóis de microfibra, a almofada
Zen Chi com casca de trigo sarraceno, o humidificador centrífugo que
mantinha a temperatura e a qualidade do ar do meu quarto agradáveis...
Essas eram as marcas da casa de um bilionário. A riqueza que
acumulei, as riquezas que ganhei por meio de pura coragem, todas essas
coisas eram minhas por direito.
Minhas.
De Xavier Knight.
Mas...
Tendo sido despojado de todos esses itens naquela ilha, reduzido a
nada mais do que um homem tentando sobreviver, vivendo cada hora
como se fosse a última, eu não pude deixar de me sentir... transformado.
Os bens materiais que uma vez me trouxeram tanto prazer pareciam
tolos e vazios agora. Eu estava confortável, mas a que custo?
Meu Deus.
Que diabos está acontecendo comigo?
Pensei em Angela e me lembrei que hoje teria que falar com ela sobre
essa competição de dança do Jubileu de Prata.
Ugh.
A ideia por si só me fez estremecer. A última coisa no mundo que eu
queria era pedir um favor a uma mulher, mas depois de falar com meu
pai, eu sabia que não tinha escolha.
Talvez fazer isso ajude a esclarecer o que você sente por ela! Meu cérebro
estava tentando encontrar justificativas agora. Ótimo.
Eu me levantei e me estiquei, vestindo um robe. Eu esperava que ela
ainda não tivesse voltado da casa de seu pai em Heller. Eu precisava de
uma xícara de café primeiro.
Café Kopi luwak, o melhor do mundo. Mais uma lembrança da minha
riqueza ridícula.
Dei um passo para o corredor e ouvi duas vozes distantes. Risadas.
— ... você sabe que isso não é verdade!
— Angela, pare de agir de forma tão humilde pelo menos uma vez na
vida.
Um homem estava falando com minha esposa, fazendo-a rir e gritar.
Quem é esse agora?
Apressei meu passo, correndo pelo corredor e virando uma esquina.
Lá estava ela. Angela, vestindo nada além de um quimono, exibindo uma
sugestão de decote, com as pernas nuas expostas.
A VAGABUNDA!
— Que porra é essa? — Eu disse, fervendo.
Sentado em frente a ela estava um homem cujo rosto eu ainda não
tinha visto. Ele virou a cabeça e sorriu, acenando.
— Xavier, bem-vindo ao lar! — Disse Dustin.
Dustin. Claro, era a porra do Dustin. O projeto de estimação de
Angela, o artista que ajudamos a transformar em um superstar. Seu
pequeno brinquedo.
— O que você está fazendo aqui, Dusty? — Eu perguntei, bagunçando
intencionalmente seu nome mais uma vez.
— Dustin, — ele corrigiu. — Eu só queria checar como estava minha
melhor amiga. E você, é claro, Xavier. Estou tão feliz que vocês dois
estejam bem.
Fiquei surpreso com o olhar que Dustin me deu. Como se seus olhos
estivessem viajando. Como se ele estivesse me examinando.
Mas por que diabos ele estaria fazendo isso se estava obcecado por
Angela? Eu empurrei o pensamento de lado e permiti que minha raiva
inflamada crescesse em vez disso.
— Achei que tivéssemos combinado que você e eu íamos conversar, —
falei para Angela com os dentes cerrados. — O que ele está fazendo aqui?
— Oh, eu não sabia exatamente que horas você queria... — Mas ela
parou, vendo que cada palavra que saía de sua boca estava apenas me
deixando com mais raiva.
Minhas mãos estavam cerradas em punhos. Se eu fosse um desenho
animado, o vapor estaria saindo das minhas orelhas agora mesmo.
Por quê? Porque ela desconsiderou nossos planos, foi por isso. Não
tinha nada a ver com o fato de que ela parecia tão confortável com outro
homem, não é?
— Não há necessidade de ficar chateado, Xavier, — disse Dustin,
levantando-se. — Passei sem avisar. Angela...
— Angela pode falar por si mesma. Não é verdade?
— Xavier... — ela disse. — Eu... eu só queria falar com meu amigo.
— Seu amigo?!
Eu olhei para Dustin. Para seu olhar de hipster tão descolado, seu
rosto perfeitamente simétrico. E por alguma estranha razão que não
consegui explicar, fiquei com ciúmes.
Eu gostaria de poder fazer Angela sorrir e rir do jeito que Dustin fez.
Eu gostaria de poder ter seu charme descontraído. O calor dele.
Eu gostaria que ela olhasse para mim do jeito que ela olhava para ele.
Eu estava louco? Talvez. Eu não sabia o que diabos tinha acontecido
comigo. Meu cérebro estava me dizendo que eu não deveria me importar
nem um pouco. Ela era um meio para um fim, minha esposa apenas no
papel. A maneira como mantenho meu papel como CEO da Knight
Enterprises. Era isso.
Mas meu corpo estava dizendo algo diferente. Cada segundo passado
com aqueles dois juntos na mesma sala estava fazendo minha pele
arrepiar. Era um inferno.
— Esta é a minha casa! — Eu gritei. — Quem entra e sai depende de
MIM, entendeu? E não de você, porra. E definitivamente nenhum Dustin
é bem-vindo aqui.
— Por favor, Xavier... — Angela gaguejou.
Ela parecia apavorada, mas por quê?
ANGELA

Eu estava olhando para Xavier, mas não estava realmente vendo ele.
Eu estava vendo o Sr. Lemor, meu antigo chefe, que tentou arruinar
minha carreira e minha vida por rejeitá-lo.
Eu estava vendo o parceiro de negócios de Xavier, aquele francês
assustador, Jacques, que tentou fazer o que queria comigo.
Quando eu olhei para Xavier agora, eu estava vendo cada homem
violento, cada homem zangado, cada monstro terrível que assombrava
meus sonhos.
Desde a queda do avião, eu fiquei mais assustada com tudo. Mas nada,
ninguém me assustou tanto quanto o homem a quem chamei de marido.
— Desculpe, Angela, — Dustin disse baixinho para mim entre as
explosões de Xavier. — Eu vou sair... — Eu queria implorar a Dustin para
ficar, para me proteger, mas também sabia que era a presença dele que
havia irritado Xavier.
Seria melhor se ele fosse embora?
Finalmente, ouvimos as portas do elevador se fecharem, e éramos
apenas Xavier e eu sozinhos. Ele ficou quieto de repente, e sua expressão
mudou.
Eu não conseguia entender o que ele estava pensando. Eu nunca fui
capaz de entrar na cabeça de Xavier Knight. Que bem isso me faria agora?
Ele claramente ainda me odiava mais do que odiava qualquer pessoa
no mundo. Não é?
XAVIER

Ela parecia assustada. Ela parecia traumatizada. Ela parecia que


desmaiaria bem ali, no meio da nossa sala.
E o pior é que era por minha causa.
Eu parei e balancei minha cabeça. Eu tinha entrado nesta sala para
pedir um favor a Angela e, em vez disso, explodi com ela, gritando sobre a
presença desse amigo dela. Mas agora ele se foi e eu ainda estava bravo.
Tinha raiva de mim mesmo.
Eu precisava limpar minha cabeça. Eu precisava ficar longe dela. E
rápido.
— Angela, eu... — comecei, mas não sabia como terminar. Por um
segundo, ela quase pareceu esperançosa, como se eu pudesse tentar
consertar as coisas.
Mas isso só me confundiu mais.
Sem uma segunda olhada, me virei e saí da sala. E daí, se eu tinha
assustado Angela um pouco. Não foi minha culpa que eu a peguei
flertando com outro homem.
Talvez ele fosse seu amante. Como eu deveria saber? Aposto que sim.
Aposto que ela já se prostituiu e só usava o olhar inocente para me fazer
pensar que ela era dócil e doce.
De qualquer forma, o que isso me importa? Ela não tinha nenhum
significado para mim.
Eu certamente tive minhas amantes, não? Talvez fosse disso que eu
precisava agora. Um pouco de sexo sem sentido para tirar minha mente
de toda essa merda.
Com essa ideia martelando em meu cérebro, peguei meu telefone. Eu
sabia exatamente qual garota estaria disposta.
Ela era bonita. Tímida. E muito boa na cama.

Xavier: Ei.

Xavier: Estou de volta.

Penny: MDS!!!

Penny: XAVIER!!!

Penny: Você está bem???


Penny: Tenho assistido ao noticiário… Não acredito...

Xavier: Estou bem.

Penny: Graças a Deus.

Penny: Bem-vindo de volta.

Xavier: Obg

Xavier: O que você está fazendo?

Penny: Só estudando. Você sabe como são as aulas de


administração... o prestígio da NYU e tudo mais.

Penny: Oh! Eu consegui um show cantando jazz em um clube no


Brooklyn!

Penny: Você deveria vir. (emoji feliz com as bochecas rosadas)

Xavier: Que seja. Esqueça os estudos.

Xavier: Venha.

Penny: Por quê?

Xavier: Você sabe por quê.

Penny: Xavier... Gosto muito de você, mas sua esposa não ficaria
chateada?

Xavier: Chateada com o quê? Quero sua opinião sobre alguns


relatórios trimestrais

Xavier: O que você estava pensando? (emoji piscando o olho)

Penny: (emoji revirando os olhos)

Xavier: estou brincando. Mas, sério, venha.


Penny: Ah, por favor, ainda sou uma estudante! Não sou uma
empresária famosa. (emoji de olhos fechados e língua para fora)

Xavier: Você é a pessoa mais inteligente que conheço.

Xavier: Vamos.

Penny: Ok, tudo bem.

Penny: Vejo você daqui a pouco!

Senti uma pontada de culpa quando coloquei meu telefone no


gancho.
Penny era uma garota gentil... acabou de sair de um relacionamento
de merda. E eu sabia que uma vez que a tivesse sozinha, ela não seria
capaz de resistir a mim.
Eu afastei esses sentimentos.
Qualquer que seja.
Eu preciso de uma boa foda.
ANGELA

Depois do estranho encontro com Xavier esta manhã, todos os tipos


de pensamentos estavam passando pela minha cabeça. Então decidi
correr e limpar minha mente.
Suar, ofegar, me mexer — ajudou muito.
Minha perna ainda estava doendo, obviamente, mas eu notava que
estava melhorando e logo eu estaria saudável como antes.
Saudável fisicamente, mas não mentalmente.
Percebi que talvez tenha sido errado da minha parte convidar Dustin
esta manhã. Ele tentou me proteger, alegando que ele apareceu sozinho,
mas a verdade é que eu sentia falta do rosto do meu amigo e queria que
ele soubesse que eu estava bem.
De qualquer forma eu deveria ter pensado sobre os sentimentos de
Xavier. Eu sabia o quanto ele não gostava de Dustin e sabia que tínhamos
planos para discutir algo. Planos que eu estraguei totalmente.
Sim, eu poderia ter ficado com medo das explosões de Xavier, mas
desta vez, sua raiva não parecia vir de um ódio genuíno.
Ele não me chamou de oportunista. Nem uma vez.
Ele não mencionou o fato de que eu me casei com ele por causa de seu
dinheiro, por mais impreciso que isso possa ser.
Ele parecia perturbado e fora de si, latindo como um cachorrinho
ferido. Eu me perguntei do que realmente se tratava.
Fiquei pensando no Xavier que conheci naquela ilha e em como ele
parecia distante agora. Talvez, se eu apenas pedisse desculpas, eu pudesse
me reconectar com ele?
Eu tive que tentar.
Quando cheguei em casa, corri para o chuveiro. Eu não queria
aparecer na porta de seu quarto toda suada e nojenta.
Eu queria estar no meu estado mais apresentável.
Ao sentir a cascata de água quente pelo meu corpo, suspirei, satisfeita.
Era tão bom estar limpa depois de estar coberta de areia e sujeira naquela
ilha.
Cada banho agora parecia um renascimento completo. Eu apreciava
cada gota.
E quando saí, me enxugando e me vestindo, pensei em tudo o que
tinha a agradecer.
Eu pude ver minha família. Meu melhor amigo de infância. Meu
artista/barista favorito.
E agora eu tinha a chance de acertar as coisas com meu marido
distante. Depois da experiência de vida ou morte na ilha, como uma
pequena conversa poderia me assustar?
Eu respirei fundo, olhando no espelho.
— Apenas diga a ele que você sente muito, — disse a mim mesma. —
Você pode fazer isso, Angela.
Não usei nenhuma maquiagem. Eu queria estar o mais perto de mim
mesma quando me aproximasse do quarto de Xavier.
Reunindo minha coragem, caminhei pelo corredor, me aproximando
de sua porta.
— Xavier, — comecei a dizer enquanto levantei minha mão para bater.
Mas então eu ouvi.
Uma voz de mulher. Gemendo. De homem. Grunhindo.
O bater repetido que só poderia significar uma coisa.
Xavier estava fazendo sexo com outra mulher.
Abaixei minha mão em descrença e lentamente dei um passo para
trás, os olhos lacrimejando. Como pude ser tão idiota? Claro que ele não
mudou!
Nada mudou!
Xavier Knight transaria com quem quisesse enquanto vivesse, casado
ou não. Por que eu estava tão chateada? Por que eu estava com tanta
raiva?
Eu não sabia, mas decidi naquele momento nunca mais tentar me
desculpar com Xavier novamente. Se ele queria me machucar, tudo bem.
Mas eu não tenho que aguentar nada disso.
Lucas gostava de dizer que eu não tinha um osso maldoso em meu
corpo, mas escapava de Danny todas as suas travessuras e piadas
desagradáveis. Posso não ser má, mas era uma mestra em dar gelo.
Xavier Knight estava prestes a perceber que não tinha ideia de com
quem estava se metendo.
Capítulo 4
Ponto de Virada

XAVIER

Xavier: Angela.

Xavier: Ainda precisamos conversar.

Angela: Claro.

Angela: Quando?

Xavier: Eu só preciso fazer um café primeiro.

Angela: Já fiz alguns.

Xavier: Oh

Xavier: Ótimo

Xavier: Acho que agora então.

Angela: Já estou lá embaixo.


Não funcionou. Transar não funcionou, porra. No momento em que
gozei, esperava que uma espécie de liberação me invadisse. Mas assim
que terminei e sai de Penny, a cantora de lounge com quem eu dormia
intermitentemente nos últimos meses, a frustração voltou.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Até meu corpo parecia estar se rebelando contra mim.
Penny estava quente com sua pele lisa, sua bunda gostosa e aquelas
malditas covinhas.
Não era possível ver à primeira vista, com seus suéteres enormes e
estilo de nerd dos livros.
Mas uma vez sem roupa...
— Pegue suas coisas e vá embora, — eu disse rispidamente.
Penny suspirou enquanto vestia suas roupas. Ela olhou para mim, e a
tristeza em seus olhos enviou uma pontada de dor em mim.
— Não devíamos ter feito isso, — ela disse.
— Você parecia estar se divertindo muito, — murmurei. Ela gritava e
suas notas altas quase quebraram todas as janelas do apartamento.
Penny corou, pegando suas coisas.
— Essa é a última vez, Xavier. Eu me sinto mal por sua esposa.
— Isso não é da sua conta.
Ela foi embora, e eu sabia o quão magoada ela estava.
Mas eu me importava? Ela era apenas uma peça secundária. Eu me
perguntei se minha amada esposa tinha nos ouvido. Não tínhamos ficado
quietos.
Por que uma parte de mim esperava que Angela nos tivesse ouvido?
Possivelmente apenas o meu lado mais cruel, aquele que queria esfregar
isso no rosto dela, para dizer — Eu também tenho meu próprio Dustin.
Eu também estou me lixando pra você!
Isso era mesmo verdade? Filha da puta, minha mente estava uma
bagunça ultimamente.
Eu sabia que, assim que Penny saísse daqui, teria que falar com Angela
sobre essa competição de dança. Droga. Foi a última coisa no mundo que
eu tive vontade de trazer à tona.
Especialmente agora que eu gritei com ela por nada, mas eu tinha que
acabar com isso eventualmente.
Para minha surpresa, porém, Angela respondeu muito rapidamente às
minhas mensagens, e algo sobre o tom delas parecia frio.
Era tão diferente da garota sempre tão gentil, tão inocente, e isso me
pegou completamente desprevenido. Será que Angela estava finalmente
aprendendo a se defender?
Ainda que fosse dessa forma passivo-agressiva das mensagens de
texto?
Não importa. Eu simplesmente tiraria esse negócio do Jubileu de
Prata do caminho e voltaria meu foco para o que mais importava: o
trabalho.
Desci as escadas e encontrei Angela já servindo duas xícaras de café.
Ela colocou o meu no balcão e se virou de lado, olhando o calendário e
tomando goles com os lábios finos.
Sim, ela estava definitivamente chateada.
— Eu tenho que falar com você sobre uma coisa, — eu disse. — Eu
queria fazer isso antes, mas você me surpreendeu com Dustin e...
Ela ainda não tinha se virado para me encarar. Meu Deus, isso é
estranho. Eu senti aquela sensação estranha subir em minhas entranhas,
aquela que as pessoas tendem a chamar de culpa. Mas eu não admitiria
nenhum delito. De jeito nenhum.
Quando você era um Knight, você nunca estava errado. Ou pelo
menos era o que eu sempre me dizia.
— De qualquer forma, — eu disse, — é sobre um evento chamado
Jubileu de Prata. Acontece uma vez por ano e...
Ugh. Eu não podia acreditar que realmente tive que convidá-la para
dançar comigo. Isso me fez sentir tão humilhado. Garotas pediam para
dançar comigo e não o contrário.
— Eu sei, — disse Angela, interrompendo minha linha de
pensamento. — Brad já me contou sobre isso. Devemos dançar juntos.
Eu parei, em choque total. Ela tinha acabado de dizer que já tinha
falado com meu pai sobre isso?
— Espere, — eu disse, tentando me orientar. — Você quer dizer... há
quanto tempo você...
— Ele me enviou uma mensagem na noite passada. — Desde quando
Angela e meu pai trocavam mensagens de texto? Senti uma estranha
pontada de ciúme crescendo em meu peito novamente, mas a reprimi. É
do meu pai que estávamos falando.
Não era como se ele estivesse dando em cima de Angela.
— Ok, — eu disse, tomando um longo gole de café.
— Então, uh, o que você acha?
Angela olhou para mim e eu vi aquela inocência se mexendo em seus
olhos. Isso, misturado com sua nova frieza, era um coquetel estranho de
engolir.
— Eu disse a ele que sim, claro. Depois de tudo que ele fez por mim,
eu faria qualquer coisa por Brad.
Por Brad. Tudo o que ele fez por ela.
Ela estava tentando me deixar louco? Desnecessário dizer que estava
funcionando, porra. Não era preciso ser um cientista para analisar o
significado oculto de suas palavras.
Eu não estou fazendo isso por você, Xavier. Não te devo nada, Xavier. Eu
te odeio, Xavier.
Ok, talvez ela não me odiasse, mas ela tem razões pra isso, eu acho.
— Bem, isso resolve tudo, — eu disse, olhando para o meu café para
evitar seu olhar. — Nós vamos ter que ter aulas. Já se passaram anos
desde que dancei. Bem, quero dizer.
— Tudo o que você disser, — ela disse, obediente.
Mesmo assim, pude detectar um traço de atrevimento. Meu Deus, isso
a tornava ainda mais atraente!
— Obrigado pelo café, — eu disse.
Então me virei para subir as escadas e me preparar para o dia. Era um
sábado, claro, mas isso não significava que eu não pudesse trabalhar.
— Xavier, — disse Angela, parando-me. — Você provavelmente
deveria tomar banho. Você ainda cheira a... a ela.
Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Ela tinha me
ouvido com Penny. Então, por que não parecia nem um pouco
satisfatório?
E daí, disse para mim mesmo. Não seria a primeira vez que ela me viu
— traindo. Mas desta vez, Angela sabia, e eu sabia, que algo estava
diferente.

Angela: Ei, Em.

Angela: Você está trabalhando hoje?

Em: Sim!
Em: Você quer passar por aqui?

Em: Pegar algumas flores?

Angela: Sim.

Angela: E falar com você, claro.

Em: Duh

Em: Vem logo pra cá!

ANGELA

A última vez que vi Em, ela estava segurando a mão do meu irmão
embaixo da mesa de jantar na casa da minha infância. Eu não precisava
dessa Em agora. Eu precisava da Em que me deu um emprego na
floricultura quando Curixon me rejeitou.
Precisava da garota que compraria sushi comigo à meia-noite, mesmo
quando nós duas sabíamos que o peixe tinha uma grande chance de nos
causar uma intoxicação alimentar.
A garota que eu chamei de minha melhor amiga por anos.
Entrando na floricultura, fui imediatamente confrontada com um
milhão de aromas avassaladores, todos eles se sobrepondo. O toque
atraente de Daphne, o aroma frutado da madressilva e o picante dos
lírios Stargazer.
Juntos, as flores deveriam ter entrado em conflito. Os aromas
deveriam ter sido completamente esmagadores, como às vezes era
quando você entrava em uma loja de flores.
Mas na loja de Em, esse nunca foi o caso. De alguma forma, todas as
fragrâncias se misturam perfeitamente, como se ela tivesse criado uma
química quase perfeita, vaso por vaso, planta por planta.
Era como, pensei, era como se as flores tivessem assinado um acordo de
paz.
Acordo.
Essa palavra nunca significaria a mesma coisa para mim agora.
— Aí está você! — Em disse, largando a tesoura. — Você quer me
ajudar a embrulhar isso?
— Claro, — eu disse, me aproximando, sorrindo. — Isso se eu ainda
consigo me lembrar como fazer.
— É como andar de bicicleta, Angie. Você sempre foi melhor nisso do
que eu, de qualquer maneira.
Fiquei ao lado de Em e comecei a organizar as flores, pensando
novamente nessa palavra. Acordo. Quase me fez estremecer.
— O que é? — Em perguntou, percebendo minha carranca. — Você
parece... desligada.
— Oh, é só... o Xavier. De novo.
— Ele ainda está sendo terrível?
Comecei a acenar com a cabeça. Então parei. Eu balancei minha
cabeça. Então parei. Eu não tinha certeza do que sentia, mas não era
clareza. Quando olhei para Em, sabia que ela me ouviria. Mesmo que
saísse tudo confuso, ela ouviria e seria compreensiva.
Então comecei a dizer a ela como me sentia.
— Na ilha, Xavier e eu... pensei que tínhamos criado um vínculo. Era
como se estivéssemos compartilhando algo intenso, e não sei... especial?
Parece bobo.
— Não, não parece, Angie, — disse Em, agarrando minha mão. —
Continue.
— Bem, — eu disse, respirando, — Eu cuidei dele. Ele estava mais
ferido do que eu, então eu cuidei de suas feridas e o alimentei, e... o jeito
que ele olhou para mim, Em... Ninguém nunca olhou para mim desse
jeito antes.
— Isso parece lindo.
Eu balancei a cabeça tristemente.
— Era. E então voltamos para Nova Iorque e... tudo mudou.
— Como? — Em perguntou, franzindo o cenho.
Eu não sabia por onde começar. Então, eu apenas contei a ela toda a
história, ocasionalmente parando para continuar arrumando as flores e
para pensar sobre meus sentimentos. Quando terminei, Em suspirou.
— Angie, parece que... ele está deixando você muito infeliz.
— Nem sempre.
— Mas na maioria das vezes, não é?
Eu concordei. Em me virou para que eu a olhasse bem nos olhos.
Portanto, não pude desviar para as flores pela primeira vez.
— Não é somente porque seu pai está doente que você aceitou se
casar com o Xavier?
— Sim. O que você está dizendo?
— Ele está melhorando, Angie! Você o viu com seus próprios olhos.
Em estava certa. Parecia que a saúde do meu pai estava melhorando
drasticamente, mas isso não mudou nada, mudou?
— Então? — Eu perguntei.
— Então, — Em disse, impaciente, — isso significa que você não
precisa mais respeitar o acordo por muito mais tempo. Especialmente
agora que você conseguiu aquele grande acordo daquela enorme revista.
Você pode pagar a maioria das contas sozinha.
Desde que a primeira revista online vazou meus nudes, Brad os atacou
com tanta força legal que eles concordaram com um pagamento em
dinheiro ridiculamente grande, que agora estava descansando feliz em
minha conta bancária.
Foi um dos gestos mais gentis do pai de Xavier.
Mas nunca parei para pensar que...
— Angie, — disse Em, — talvez você não precise mais desse acordo.
Talvez seja hora de acabar com isso.
Acabar com meu casamento com Xavier Knight. Pedir o divórcio.
Deixá-lo.
Depois de tudo que passamos, poderia ser tão simples assim?
E, mais importante, era isso que eu realmente queria?
Capítulo 5
O pé Errado

ANGELA

Quadris balançando. Gotejamento de suor. Mãos apertando.


Eu estava no meio de uma aula de dança e nunca tinha estado tão
perto de outra pessoa na minha vida. Muito menos... Xavier.
— E vire!
Com a mão agarrada às minhas costas, Xavier me girou de repente e
eu senti o ar escapar de meus pulmões. Eu me sentia desequilibrada,
vacilante e desajeitada, diferente de todas as outras pessoas na sala, todas
as quais se moviam como dançarinas profissionais.
Todo mundo era tão ágil, gracioso e irritantemente bom nisso. Todos,
exceto eu.
Felizmente, Xavier estava guiando. Caso contrário, provavelmente
teríamos caído no chão agora.
— Bom! Agora, mais perto.
Kiki, nossa instrutora de dança, uma loira linda com um corpo fino
como papel, vestindo nada além de uma malha muito reveladora,
colocou a mão no pescoço de Xavier.
— Ainda mais perto, Sr. Knight, — ela ronronou.
Senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Um instinto animal
dentro de mim despertou. Foi uma repulsa tão pura, um ódio repentino
tão inebriante que quase esqueci de mim.
Eu acabei de dizer... ódio? Eu não odiava nada nem ninguém! O que
estava acontecendo?
— Você se move muito bem, Sr. Knight, — ela disse enquanto Xavier
me conduzia em outro passo. — Com uma parceira adequada, quem sabe
do que você seria capaz.
Meu Deus, eu queria fazer essa mulher tropeçar e vê-la cair em cima
de sua bunda magra! Então era assim ser alguém possessivo? Eu acabei de
sentir ciúme de Xavier?
Isso não fazia sentido. Alguns dias atrás, eu estava conversando com
Em e discutindo a possibilidade de terminar totalmente o casamento.
Agora eu estava com ciúme?
Talvez fossem apenas meus hormônios ou um efeito colateral de
sentir as mãos de Xavier em mim, tocando meu corpo, me girando como
uma boneca de pano.
Como se eu fosse dele para fazer o que ele quisesse.
E de certa forma, suponho que sim. Afinal, eu era a esposa de Xavier,
pelo menos no papel.
— Deixe-me guiar, — ele disse em voz baixa.
Mas ele não parecia zangado, mais entretido do que qualquer coisa.
Franzi a testa, confusa, e então percebi que, tomada pela ansiedade,
comecei a direcionar nossos movimentos.
— Você precisa ser mais graciosa, Sra. Knight, — disse Kiki com uma
risada. — Tente parar de pensar demais e apenas respirar...
É fácil falar.
Um casal passou por nós, movendo-se em perfeita sintonia, e me vi
tão maravilhada com seus belos movimentos fluidos que não consegui
observar meus pés e...
— Angela!
BUM! Eu caí de bunda no meio da pista de dança. Ouvi algumas
pessoas suspirarem. Eu juro que peguei Kiki rindo antes que ela se
abaixasse para oferecer ajuda, colocando um olhar de pena em seu rosto.
— Oh, coitadinha, — ela disse sem sinceridade.
— Deixa que eu ajudo, — disse Xavier, ajoelhando-se e me dando uma
mão. — Vamos. Está tudo bem.
Fiquei surpresa com seu tom de voz gentil, com sua falta de
impaciência com a minha inépcia óbvia quando se tratava de dança.
Era este o mesmo Xavier que estava gritando comigo apenas alguns
dias atrás? Foi difícil acreditar.
Quando ambos nos levantamos, respirei fundo e olhei para Xavier. Era
como se eu o estivesse vendo pela primeira vez. Como seus músculos,
encharcados de suor, incharam. Como seu queixo forte e seus olhos
escuros brilharam com malícia.
Ele parecia, e eu nunca tinha descrito ninguém dessa forma antes,
sexy.
De dar água na boca.
Um tipo único.
E pensar que este lindo espécime era meu marido...
Angela! Eu me castiguei. Saia dessa. Este é o XAVIER com o qual você
está fantasiando.
Mas parecia que eu não era a única que tinha olhos para Xavier.
Quando olhei ao redor da sala, vi muitas mulheres olhando para ele,
praticamente babando.
Kiki era a pior de todas. Ela pegou a mão dele.
— Aqui, Sra. Knight, — ela disse secamente. — Deixe-me mostrar
como isso é feito.
Ela acenou com a cabeça para um colega instrutor, que reiniciou a
música, e de repente Xavier e Kiki estavam girando ao redor da sala. Ela
não conseguia manter as mãos longe dele.
Suas mãos estavam vagando por ele, eu percebi. De suas costas, mais
para baixo, para seu...
Oh meu Deus. Ela acabou de apertar a bunda dele?
Senti aquela raiva estranha explodir dentro de mim novamente. Um
desejo de pisar na pista de dança e arrancá-lo dela me consumiu, mas
consegui me controlar.
Lembre-se. Ele é ruim para você. Você estava pensando em um divórcio!
Mas enquanto Xavier e Kiki dançavam, percebi que seus olhos nunca
encontraram os dela. Eles ficaram apenas comigo. Mesmo enquanto
segurava outra mulher, ele estava olhando para mim.
Isso me fez corar quando um calor pulsante me atingiu.
Ninguém nunca havia me olhado com esses olhos.
Especialmente nunca Xavier...
XAVIER
Chegamos em casa, suados e nojentos, e imediatamente nos
separamos para tomar banho. Marco havia nos levado e, embora não
falássemos, eu disse a ele para tocar a mesma música que dançamos na
aula.
Notei o canto do lábio de Angela se curvando em um sorriso e torci
por dentro. Então ela gostou! Eu sabia!
Quando a aula de dança começou e nossas mãos se entrelaçaram,
parecia que algo em minha mente tinha sido invertido. Toda a minha
raiva, minha confusão, por um breve momento... desapareceu.
Em seu lugar estava uma atração física pura. Meu cérebro ainda não
estava fazendo nenhum sentido, mas caramba, sentir o corpo de Angela
contra o meu fez todo tipo de coisa comigo.
Quando entrei no banheiro, pronto para tomar banho, pensei em
como poderia melhorar essa sensação. Eu estava prestes a me despir e
começar quando ouvi uma exclamação silenciosa.
— Sr. Knight!
Eu parei. No chuveiro, a empregada, Lucille, estava limpando. Droga.
— Oh, Lucille, — eu disse, corando, tentando cobrir meu crescente
tesão. — Eu não sabia que você estava aqui.
— Desculpe, Sr. Knight. Eu estou limpando!
Pude ver. Merda. O que eu vou fazer? Estava fedendo. Eu precisava
tomar banho, mas o banheiro estava ocupado.
Então, um pensamento cruzou minha mente.
— Devo sair e deixar você...
— Não, Lucille, — eu disse. — Há mais de um chuveiro neste
apartamento.

Entrei no banheiro da Angela sem me preocupar em bater. Afinal, esta


era minha casa. E as mulheres eram notoriamente lentas no banheiro. Eu
provavelmente seria capaz de pular no chuveiro antes mesmo que ela...
Oh.
Meu.
Deus.
Com um pequeno grito, Angela se cobriu. Ela estava seminua, sem
camisa, parada no meio do banheiro, vestindo nada além de sua calcinha
preta.
E, meu Deus, ela era linda.
— Xavier, — ela disse, sem fôlego. — O que... o que você está fazendo
aqui?
Ela estava cobrindo os seios, mas eu ainda podia ver a leve curva deles
sob suas mãos e como eram perfeitamente formados.
Por um segundo, me perguntei se deveria me virar e dar espaço a ela.
Talvez fosse algum tipo de violação, mas pensei melhor.
Por que eu tinha que me esconder de minha esposa?
Tirei minha cueca e depois a deixei cair, e Angela rapidamente se
virou, corando.
— Desculpe, querida, — eu disse com um sorriso. — Lucile está
limpando meu banheiro. E estou com pressa para trabalhar. Espero que
você não se importe.
Eu me aproximei de Angela e vi seus olhos baixarem e se arregalarem.
Como se ela nunca tivesse visto a aparência de um homem de verdade.
Até agora.
ANGELA

Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Xavier, totalmente


nu, caminhando em minha direção. Ele estava prestes a tentar algo? Eu
instintivamente dei um passo para trás, com medo, mas para minha
surpresa, Xavier apenas passou direto por mim e entrou no chuveiro.
Segurei meus seios, temendo por minha vida. Eu não queria que ele
visse NADA, mas eu o tinha visto e... uau.
Foi tudo o que consegui pensar.
Foi tudo o que pude dizer.
Eu continuei olhando, não conseguia parar. Eu queria...
Não, muito obrigada, eu não queria nada! Eu queria correr o mais
rápido que pudesse para fora do banheiro, mas senti como se meus pés
estivessem amarrados ao chão. Era como se eu estivesse congelada.
Xavier entrou no chuveiro e abriu a água. Eu observei quando ela
espirrou contra seu corpo. Contra o... você sabe o quê...
Meu Deus eu precisava parar com isso!
— Hum, desculpe, — eu disse estupidamente. — Eu só vou...
— Eu deixei a porta do chuveiro aberta por um motivo, Angela, —
disse Xavier com um sorriso. — Você é bem-vinda para se juntar a mim.
Nós dois precisamos de um banho, não é? — Eu definitivamente
precisava de um banho, mas de forma alguma eu entraria naquele banho
com ele e com... aquilo.
Eu não conseguia acreditar como ele era ousado. Mas então me
lembrei de com quantas mulheres ele dormiu, e tudo fez sentido.
Lembrando daquelas garotas, seus gemidos, seus olhos arregalados em
êxtase, eu tive uma visão repentina de mim mesma sendo uma delas.
Mas não.
Eu não daria a Xavier Knight essa satisfação.
Eu estava prestes a me virar quando Xavier se virou e vi suas costas
expostas. A longa cicatriz descendo por ele.
A mesma que ele havia me falado na ilha. Eu me perguntei novamente
como exatamente ele a tinha conseguido. Quais foram as circunstâncias?
Mas, enquanto Xavier não estava disposto a se abrir, eu não estava
disposta a me considerar atraída por ele. Mesmo que meu corpo
implorasse por seu toque.
Eu me virei e saí do banheiro, ouvindo Xavier chamar atrás de mim.
— Minha doce esposa é uma puritana!
Ai. Eu estava tão envergonhada. Mesmo que eu tivesse saído do
banheiro, parecia que sua imagem tinha sido gravada em minhas retinas.
Ver Xavier nu era diferente de tudo que eu já experimentei. Meu pulso
disparou, minha pele formigou e meu interior alcançou sua temperatura
máxima.
Meu corpo estava reagindo sem consultar minha mente, e eu não
pude deixar de me perguntar quando isso aconteceria novamente.
Quando eu veria o corpo nu do meu marido novamente?
Capítulo 6
Paus e pedras

ANGELA

— Oh. Meu. Deus. Angela!


Dustin quase deixou cair meu cappuccino no chão quando contei a
ele o que tinha acontecido entre mim e Xavier no banheiro.
Ele rapidamente se sentou na minha frente, deslizando por cima do
balcão, ignorando os outros dois clientes que esperavam ele voltar para
fazerem o pedido.
— Detalhes, garota. Eu preciso deles. Agora mesmo.
Corei, sem saber por onde começar. Eu não conseguia parar de repetir
a cena indefinidamente na minha cabeça.
Xavier me pegando seminua.
Xavier tirando a roupa.
Xavier no chuveiro, a água brilhando contra seu peito musculoso,
escorrendo para o seu...
— Alôôôôô? — Dustin disse, acenando com a mão diante dos meus
olhos. — Pare de sonhar acordada e comece a falar, mocinha.
— Uh, bem... — eu disse, incerta. — Eu pensei por um segundo que
ele estava vindo em minha direção, mas... então ele entrou no chuveiro.
— E ele deixou a porta do chuveiro aberta, não é? Dizendo
basicamente: entre. Em mais de uma maneira.
Eu engasguei um pouco com a piada, mas Dustin deu uma gargalhada,
se achando o homem mais engraçado do mundo. Eu neguei com a
cabeça.
— Não, eu acho que ele estava apenas bagunçando minha cabeça. Ele
realmente não quer…
— Angela!
Dustin ergueu as mãos e suspirou, exasperado.
— Sua vida está finalmente começando a ficar interessante! Por que
você está tentando diminuir o tom quando está tão emocionante?
— Estou apenas sendo realista, Dustin, — eu disse defensivamente. —
Ele não gosta de mim. Ele dorme com quem ele quer. Eu sou apenas a
garota com quem ele tem que viver.
— E com quem ele tira a roupa.
— Talvez...
Dustin sorriu maliciosamente.
— Então?
Eu fiz uma careta, confusa.
— O quê?
— Você viu o dele?
Eu desviei o olhar, sentindo a cor subir às minhas bochechas. —
Dustin, — disse baixinho, — por favor, estamos em público.
— Com certeza! Você viu o dele! Quão grande era? Era enorme? Não,
era minúsculo, não era? Isso explicaria sua obsessão por todos aqueles
enormes hotéis Knight. Está compensando. Estou errado?
— NÃO! — Eu gritei sem querer. Coloquei a mão na boca, cobrindo-a,
surpresa comigo mesma. Os dois clientes, agora batendo os pés com
impaciência, me lançaram olhares curiosos.
O sorriso de Dustin cresceu ainda mais.
— Então não é pequeno. Entendo...
Na verdade, ver o de Xavier... aham... certamente foi memorável, mas
não era no que me fixava. Tudo o que eu conseguia pensar era naquela
cicatriz nas costas.
Para mim, foi um lembrete de como nos tornamos próximos na ilha.
Como ele finalmente se abriu sobre o acidente de carro, apenas para me
ignorar novamente.
Eu queria muito saber a história toda, mas como poderia perguntar a
ele?
— Por favor, Dustin, — falei, tentando mudar de assunto. — Isso já é
tão estranho para mim. Você tem que deixar isso ainda mais estranho?
— Desculpe, Angie, — ele disse, dando de ombros. — Não posso
evitar. Sou um artista sem um tostão que precisa de inspiração. O que
posso dizer?
Eu ri e virei meus olhos.
— Quase sem um tostão ultimamente, pelo que ouvi.
— É verdade, — ele disse com um aceno cortês. — Estou muito
melhor, graças a toda a sua ajuda. Com a galeria e tudo mais. Mas
também sou um grande gastador, então...
— É por isso que você ainda trabalha aqui.
— Sim.
— Como eles ainda não demitiram você?
— Eu não faço ideia. Espere um momento.
Dustin finalmente se levantou e se aproximou dos clientes, agora
parecendo positivamente furiosos com o tempo que eles tiveram que
esperar. Dustin não pareceu se importar nem um pouco. Ele apenas deu
um sorriso e anotou os pedidos.
Eu ri para mim mesma. Não havia ninguém como Dustin no mundo.
Claro, eu poderia falar com Em sobre a maioria das coisas, mas quando
se tratava de qualquer coisa relacionada a sexo, Dustin era sempre minha
primeira parada.
Porque ele já fez muito isso e gostava de falar sobre o tema, e de
alguma forma, mesmo sendo um homem gay, ele sabia muito mais sobre
corpos femininos do que eu.
Além disso, não era como se eu pudesse falar com Em sobre essas
coisas quando ela estava namorando meu irmão. Eu tinha zero interesse
em ouvir sobre sua vida sexual ou em sequer correr o risco em abrir essa
porta.
Ai. Só de pensar nisso me deu vontade de vomitar. Era tudo super
confuso, mas quando se tratava de conversar com Dustin, eu não
reclamava. Como uma virgem de 23 anos, eu precisava de toda
informação que pudesse obter.
Eu estava prestes a tomar um gole do meu cappuccino — esfriando
rapidamente — quando senti meu telefone vibrar na minha bolsa. O que
foi agora? Eu me perguntei, suspirando.
Número desconhecido: Olá, linda senhora. (emoji piscando o
olho)

Número desconhecido: Sentiu minha falta?

Angela: ???

Angela: Quem é?

Número desconhecido: Oh, Angela...

Número desconhecido: Não aja como se não soubesse.

Angela: ???

Angela: Quem é?

Angela: Isso é meio estranho.

Angela: Por favor, me deixe em paz.

Número desconhecido: Por favor, me deixe em paz.

Número desconhecido: (emoji com cara de esperto)

Número desconhecido: Oh não, não.

Número desconhecido: Acho que não.

Número desconhecido: Nós dois sabemos que você sente minha


falta.

Número desconhecido: Você precisa de mim.

Angela: Pare.

Angela: Isso não é engraçado.

Angela: Vou à polícia.

Número desconhecido: (3 emojis de gatos rindo)


Número desconhecido: tão fofo quando você resiste.

Angela: NÃO ESTOU BRINCANDO.

Número desconhecido: Por favor, Angela.

Número desconhecido: Você sabe a verdade.

Número desconhecido: Ninguém me diz não...

Joguei meu telefone de lado como se estivesse em chamas. Eu


escorreguei para trás na minha cadeira. Eu não conseguia respirar.
Minhas mãos tremiam. Meus dentes batiam. Meus dedos do pé estavam
dormentes.
Eu estava apavorada.
Não poderia ser ele, poderia?
— Angie?
Eu virei minha cabeça, os olhos arregalados, certa de que estava
prestes a vê-lo se materializar. Mas era apenas Dustin.
Ele parecia preocupado.
— Angie, qual é o problema? Você parece ter visto um fantasma.
— Eu... eu... — gaguejei, incapaz de falar com coerência. — Ele me
mandou uma mensagem, Dustin.
— Quem? Xavier?
Eu neguei com a cabeça. Eu mal conseguia pronunciar seu nome em
voz alta. Era como aquela brincadeira de infância da loira do banheiro,
dizer o nome no espelho três vezes e ela aparecer e me agarrar?
Eu estava enlouquecendo, mas não sabia de que outra forma poderia
estar agora.
— Angie, fale comigo! — Dustin disse, sentando na minha frente,
agarrando minhas mãos.
— Eu acho que é o... Sr. Lemor.
O rosto de Dustin ficou pálido. Eu tinha contado a ele tudo sobre meu
antigo chefe, como ele fez da missão de sua vida me destruir, para
garantir que eu nunca fosse contratada por nenhuma empresa
novamente.
Tudo porque ousei rejeitá-lo.
Depois que Brad o prendeu naquela armadilha, alguns meses atrás,
pensei que nunca mais teria que ouvir ou pensar em seu nome
novamente.
Ele estava na prisão agora! Como ele poderia me mandar mensagens?
— Posso dar uma olhada? — Dustin perguntou, pegando meu
telefone.
Eu confirmei, inclinando-me para desbloquear para que ele pudesse
ler as mensagens. Mas, para minha surpresa, Dustin franziu a testa.
— Tem certeza que é ele? Ele está na prisão, certo? Isso significa que
ele precisaria usar o sistema de mensagens da prisão. Este número não
está listado.
Meus olhos se arregalaram. Sistema de mensagens da prisão? Como
Dustin sabia disso? Ele me deu um sorriso tímido.
— Eu tenho um tio estranho que venho visitando na prisão há anos.
Você aprende essas coisas.
— Mas tem que ser ele, Dustin, — eu disse, balançando a cabeça. —
Não há mais ninguém que queira me machucar como ele. Especialmente
depois do que fiz. Depois que o mandei para a prisão.
Dustin acenou com a cabeça, mas encolheu os ombros.
— Mesmo que seja ele, Angie, posso te dizer uma coisa. São apenas
palavras. Ele está atrás das grades. Ele não pode tocar em você na vida
real. Você está segura.
— Mas e se…
— Não perca tempo imaginando os piores cenários. Confie em mim.
Fiquei surpresa com o quão sério Dustin estava se tornando agora. Ele
nunca tinha realmente se aberto comigo sobre seu passado antes.
Portanto, esta era uma nova camada do meu amigo geralmente
despreocupado.
— Desde que eu era criança, meu tio sempre manteve contato e fez
essas promessas na prisão. Dizendo que vai sair em breve. Dizendo que
vai me levar para a Disneylândia. Depois, quando ficasse mais velho e ele
sair da prisão, me levaria a Milão para o fashion week.
Eu sorri.
— Ele parece fofo.
— Ele é, — disse Dustin, sorrindo tristemente. — Mas ele também é
um mentiroso, Angie. Ele nunca vai sair da prisão. Todas as suas
mensagens, todas as suas promessas, são apenas isso. Conversa vazia.
Dustin bateu no meu telefone de forma tranquilizadora.
— Esse é o mesmo caso. Conversa vazia. Você vai ficar bem, minha
amiga.
Eu me senti tão confortada por Dustin, tão cuidada, que não pude
evitar. Eu joguei meus braços em volta do pescoço e o abracei com força.
— Obrigado, Dustin.
— Não por isso. Agora, é melhor nos soltarmos. Existem mais clientes
que parecem querer me matar.
Eu ri e o deixei ir, observando enquanto ele se aproximava para
receber mais pedidos, e grata além das palavras que alguém estava lá para
me acalmar quando eu estava com medo.
São apenas palavras vazias, eu repeti para mim mesmo. Elas não podem
te machucar. Você está segura.

Corri de volta para casa, sentindo-me cafeinada, rejuvenescida e


pronta para enfrentar o mundo, com as garantias de Dustin repetindo-se
em minha cabeça.
Parecia uma frase que eu poderia aplicar a quase qualquer situação.
Mesmo se Em estiver me dizendo detalhes íntimos demais sobre ela e
meu irmão?
Apenas palavras.
Mesmo se nosso médico estivesse descrevendo ainda mais coisas que
poderiam dar errado com meu pai?
Apenas palavras.
Se Xavier estava gritando comigo?
Apenas palavras. Apenas palavras. Apenas palavras.
Então, quando as portas do elevador se abriram, me senti preparada
para qualquer que fosse seu último ataque. Imagine minha surpresa
quando o vi rolando uma mala em minha direção.
Oh, meu Deus. Ele está... se mudando?
— Finalmente você chegou, — disse
Xavier.
— Apresse-se e tome um banho.
— Espere, — eu perguntei, confusa. — O que está acontecendo?
— Arrume suas malas. Estamos saindo para o fim de semana.
Saindo? Para onde?
De repente, percebi que havia apenas um problema com o mantra de
Dustin. Apenas palavras não ajudava quando uma ação era necessária.
— Onde estamos indo? — Perguntei a Xavier quando ele passou por
mim, entrando no elevador.
Ele me olhou e deu um meio sorriso, dando de ombros.
— E estragar a surpresa? Onde está a diversão nisso?
Capítulo 7
Homem de Família

ANGELA

A bela paisagem estava passando por nós enquanto rodavamos ao


longo da rodovia Sunrise. Eu nunca fui aos Hamptons na minha vida,
mas tinha ouvido tantas histórias sobre a área ao longo dos anos que tive
uma imagem mental de como a área poderia ser.
Meus sonhos mais loucos não poderiam ter me preparado para a
visão.
As praias, as fazendas, as casas de cascalho do século XVIII, todas
gigantescas e imaculadamente cuidadas, eram coisas demais para
processar para uma garota de cidade pequena como eu.
Eu olhei para Xavier. Ele estava dirigindo, o que era uma novidade. Ele
decidiu dar a Marco uma merecida folga, algo que me pareceu
estranhamente caridoso.
Não que eu estivesse questionando isso. Se alguém merecia um tempo
com sua família, era Marco, talvez o meu favorito da equipe pessoal de
Xavier.
Xavier usava luvas de dirigir e óculos escuros de grife, tão focado na
estrada que mal parecia notar nossos arredores deslumbrantes.
Acho que ele estava acostumado com eles.
Mas então ele percebeu que eu o observava e me lançou um olhar
divertido.
— Tem algo em mente, Angela?
— Ah, não. Eu só estava... admirando como é lindo aqui.
— Você realmente quer saber para onde estamos indo, não é?
Eu concordei. Na verdade, o suspense estava me matando. As
surpresas com Xavier raramente eram boas.
— Tudo bem, para que não nos envergonhemos andando às cegas,
vou te falar, — disse Xavier, sorrindo, — desta vez.
Foi esta a sua tentativa de flertar? Eu não sabia o que fazer com isso.
Só esperei que ele me dissesse para onde estávamos indo.
— Você se lembra da tia Heather?
Eu pisquei para ele, confusa. Quem?
— Não? — ele perguntou. — Que tal seus filhos, Liam ou Cole? Ou
minha outra tia, Stella? Ou...
Ele continuou a dizer nomes que soavam confusos, e eu continuei a
olhar para ele sem expressão. Finalmente, ele percebeu que eu não tinha
ideia de quem eles eram.
— Eles são minha grande família. Você os conheceu brevemente no
casamento.
Isso explica tudo. Poucos dias eu conseguia me lembrar com menos
clareza do que o dia do meu casamento. Tinha sido um borrão de
excitação, horror e confusão.
Todos os rostos, os nomes... nenhum deles ficou comigo. Apenas as
palavras sussurradas de Xavier para mim no altar eram o que eu
conseguia lembrar.
— Eu sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu quero
é arruinar você.
Estremeci só de pensar nisso. Xavier percebeu minha expressão,
porque ele tirou os óculos e olhou para mim de perto.
— Ei, — ele disse, — não há nada para se preocupar. Meus parentes
são legais. Um pouco exagerados, claro, mas legais. Tenho certeza que
eles gostam de você. Muito.
Diferente de você, pensei, mas fiquei muito surpresa com o quão legal
ele estava sendo, para variar.
— Lembre-se, — ele disse, voltando-se para a estrada, — eles pensam
que somos casados. Casados de verdade. Então, vamos ter que brincar
um pouco. Acha que dá conta?
Eu confirmei com a cabeça, mas estava nervosa. Eu odiava ter que
fingir qualquer coisa. Isso ia contra a minha natureza. E fingir que se ama
um homem que não me ama parecia especialmente difícil.
— Sabe, — ele disse, pensando: — Sei que você não é a pior pessoa do
mundo, Angela. Eu costumava pensar assim. Mas agora...
Isso abateu meus pensamentos negativos. Xavier estava realmente
tentando ser decente pela primeira vez. Talvez só para que ele pudesse
me levar nessa viagem ridícula. Mas ainda assim...
— Eu ainda não te entendo. Não entendo por que uma mulher se
casaria com um estranho. De qualquer maneira, não importa. Está feito.
Somos um casal, então temos que agir como um.
Agora, ele não estava me chamando de puta oportunista, mas acho que
ainda estava pensando nisso.
Grande melhoria.
A chicotada que eu estava experimentando agora não podia nem ser
colocada em palavras. Ele foi bom em um segundo e frio no seguinte.
Ele era lindo, sexy e flertava comigo por um momento, e então ele era
um idiota.
Em vez de comentar sobre isso, eu apenas acenei com a cabeça
solenemente.
— Eu entendo, Xavier, — eu disse, lembrando que ainda tinha uma
carta na manga.
Eu ainda poderia encerrar o acordo, se fosse necessário.

Quando finalmente chegamos à propriedade Knight, senti como se


minha língua tivesse inchado, tornando qualquer conversa impossível.
Foi o resultado da minha ansiedade ou do meu espanto.
Nunca tinha visto uma casa tão bonita em minha vida. Um lar. Quem
eu estava enganando? Você poderia colocar cinquenta casas na
propriedade. Era ampla e tinha uma impressionante arquitetura colonial.
Parecia um sonho.
Xavier e eu saímos do carro, e um motorista rapidamente pegou as
chaves, acenando para Xavier e eu.
— Sr. e Sra. Knight, bem-vindos!
Eles pegaram nossas malas e Xavier me levou em direção a um
pequeno grupo de pessoas de aparência bela reunidas sob um gazebo,
servindo-se de aperitivos gourmet e espumantes.
Eu reconheci apenas um deles, e fiquei muito grata por ele estar aqui.
— Angela, querida! — Brad exclamou, se aproximando e me puxando
para um abraço caloroso. — Bem-vinda. Considere esta sua casa longe de
casa.
— Obrigado, Brad, — eu disse, ainda um pouco atordoada.
— Todo mundo quer falar com você, é claro. Eles quase não tiveram a
chance de ir ao casamento.
Eu concordei, mas sentindo meus nervos assumirem o controle e meu
corpo enrijecer. Como eu seria capaz de lembrar do nome de todos que
me cumprimentassem?
Felizmente, no fim das contas, não precisei me preocupar com isso.
— Bem, ela é absolutamente radiante!
Virei-me para ver uma mulher de aparência plástica com um sorriso
excessivamente grande, embora amigável, se aproximando de mim. Ela
agarrou minha mão como se fôssemos velhas amigas.
— Tia Heather, querida, — ela disse, me lembrando. — Não se
preocupe. Eu não esperava que você se lembrasse. Ao contrário deste
bando, todos pensam que são o centro do universo. Venha, deixe-me
mostrar a você.
Ela pegou meu braço antes que eu pudesse impedi-la. Virei-me para
ver Xavier pegando uma taça de champanhe e segurando-a na minha
direção, ligeiramente divertido, como se dissesse vivas!

— E aquela ali é minha sobrinha Rochelle. Apenas dezoito anos, mas


de acordo com o mexerico, muito rodada na nossa cidade. Se você me
entende.
Eu não entendi metade das palavras que saíram da boca da tia
Heather, mas pelo menos ela estava me apresentando a todos. Ela acenou
com a cabeça para dois caras de aparência semelhante.
— Esses são os irmãos dela, Ethan e Henry. Ethan é bem-apessoado.
Henry... nem tanto.
Henry me olhou de cima a baixo e zombou. A aversão imediata que
senti por ele foi poderosa e confusa. Quase sempre dei a todos o
benefício da dúvida.
Talvez fosse apenas a influência maliciosa da tia Heather passando
para mim.
— Há um pequeno boato circulando sobre Henry, você sabe —
Heather disse, balançando a cabeça enquanto eu o observava se
aproximar de Xavier no gazebo. — Ele estava concorrendo para assumir a
empresa da família. Ficou entre ele e seu marido. Desnecessário dizer
que Xavier venceu.
Isso era novidade para mim. Sempre pensei que Xavier fosse o único
herdeiro potencial da empresa e da fortuna.
— Então, poderia ter sido Henry em vez disso? — Eu perguntei,
surpresa.
A Tia Heather assentiu.
— E ele está chateado com isso até hoje, se quer saber minha opinião.
Observei os dois homens conversando e me perguntei o que eles
poderiam estar discutindo. Não que fosse da minha conta, mas aprender
toda essa história da família com a tia Heather despertou minha
curiosidade.
O que mais você está escondendo, Xavier?
XAVIER

— Então, Xavier, me diga. Os rumores são verdadeiros?


Henry, o porco de merda, estava tentando me incitar a uma discussão.
Mas eu não ia dar a ele a satisfação de uma resposta.
— O conselho está realmente tão preocupado com sua competência
como CEO que está forçando você a competir no Jubileu de Prata? Para
provar a si mesmo através da dança? O que é isso, Footloose? Se eu fosse
você, me sentiria... humilhado.
— Pelo menos tenho uma empresa, Henry, — respondi friamente.
— Porque papai está entregando para você. Seja honesto, Xavier.
Quando você construiu algo por conta própria?
Eu balancei minha cabeça, fingindo simpatia.
— Deve ser difícil, Henry. Ficar sentado à margem. Assistir a empresa
crescer dez vezes mais do que antes em dois anos, enquanto tudo o que
você pode fazer é dar um passo aqui e outro ali.
— Poderia ter sido vinte vezes comigo no comando, — Henry
respondeu com um sorriso de escárnio.
— Poderia, poderia, poderia. Você quer a verdade, primo? Tenho pena
de você.
Era sempre bom esfregar sal na ferida do desgraçado. Anos atrás, ele
tentou de tudo para roubar o que era meu por direito.
Se não fosse pelo fato de que compartilhamos sangue, eu o teria
matado enquanto dormia. Ultimamente, no entanto, meu
temperamento não estava tão explosivo como costumava ser.
O fato de que fui capaz de ignorar um insulto de Henry, dentre todas
as pessoas, foi um grande avanço. Eu não tinha certeza o que tinha
mudado para me deixar com menos raiva o tempo todo... mas tinha uma
ideia.
Eu olhei para Angela novamente, ocupada conversando com a tia
Heather e, uma sensação estranha brotou dentro de mim. Na verdade, eu
gostava de vê-la perto da minha família.
Eu gostei de trazê-la para os Hamptons.
Eu estava começando a realmente gostar dela como pessoa e, por sua
vez, acho que estava começando a gostar mais de mim mesmo. Henry me
insultou? E daí? Eu poderia aguentar.
Angela estava me ensinando uma ou duas coisas sobre compaixão,
acho.
Eu estava prestes a me virar — não mais interessado em nada que
Henry tinha a dizer sobre negócios — quando ele agarrou meu braço.
— Há outro boato, sabe? — ele disse, sorrindo. — Sobre você e sua
esposa. O casamento aconteceu de repente. Num segundo, um estranho,
e no próximo, você é casado. Parece quase... forjado.
— Cuidado, — eu rosnei.
Meus punhos estavam cerrados e meus dentes, trincados. Falar merda
sobre mim, ok, mas falar merda sobre minha esposa? Henry percebeu
que a provocação estava funcionando. Porque ele se aproximou.
— Será que ela é uma daquelas esposas por correspondência? Ou
talvez algo mais simples? Uma prostituta humilde que você encontrou na
rua?
Henry percebeu que eu estava ficando bravo. Ele queria me incitar a
uma briga. Ele se aproximou, um sorriso de filho da puta em seu rosto.
— Quanto é? — ele sussurrou. — Eu quero saber se ela é boa o
suficiente.
Eu não sei o que aconteceu a seguir.
Eu vi vermelho.
E depois havia sangue por toda parte.
Capítulo 8
Conversa Íntima

XAVIER

Senti mãos me agarrando, puxando e rasgando, tentando me fazer


parar. Mas não consegui. Eu queria fazer o desgraçado sofrer pelas
palavras sujas que saíram de sua boca.
— XAVIER, JÁ CHEGA!
Eu congelei no meio de um soco, erguendo os olhos para ver meu pai
me encarando, horrorizado.
— Ele... — eu disse, ofegante. — Você não ouviu o que ele disse sobre
Angela.
Henry era uma poça de sangue, deitado no chão e segurando o nariz.
— Meu Deus, acho que está quebrado! IDIOTA!
— Oh, cale a boca, Henry, — sua mãe, Stella, repreendeu. — Todos
nós sabemos que você mesmo causou isso.
— Não é desculpa, — disse Brad, olhando para mim com severidade.
— Alguém o ajude a se levantar. Tire-o daqui.
Ethan, irmão de Henry, chamou a ajuda, que correu e levou Henry
embora. Ele me lançou um último olhar de ódio antes de ser levado para
dentro de casa.
Eu me virei para meu pai.
— O quê?
— Quer saber, Xavier, — ele disse, fervendo, — essa sua raiva vai ser a
sua morte, eu juro.
— Ele a chamou...
— Eu não me importo como ele a chamou. Pelo que Marco me
contou, sei que você também a chama de algumas coisas cruéis.
Eu olhei para baixo, com vergonha. Sempre esqueço que Marco
costumava levar meu pai de carro também e que às vezes eles
conversavam em particular.
Enfim, era verdade. Eu já chamei Angela de puta.
Uma prostituta.
Uma vadia.
Até de monstro.
Eu a chamei de nomes muito piores do que qualquer um que escapou
da boca de Henry, com certeza. Talvez, eu pensei, quando eu estava dando
um soco nele, eu estava realmente imaginando como seria dar um soco em
mim mesmo.
Ser punido por ser tão nojento, tão cruel.
— Olhe para sua esposa, Xavier, — disse meu pai. — Olhe para o rosto
dela.
Eu me virei e olhei para Angela. O que vi fez meu coração doer, um
coração que eu não sabia que era capaz de doer. Apenas a raiva e a
amargura haviam inflamado ali por anos.
Mas agora, quando olhei para Angela, vi como toda a minha raiva,
minha violência, a estava afetando. Eu tinha aterrorizado a menina.
Ela estava se encolhendo como se eu tivesse agredido fisicamente ela,
não Henry. Ela era tão empática ou simplesmente tão traumatizada? Ela
tinha sido fisicamente ferida antes?
Eu não queria que ela me visse assim. Agora não. Nunca. Meus dedos
estavam ensanguentados e manchas do sangue de Henry cobriam minha
camisa.
— Eu... — eu disse, sem saber o que dizer ao meu pai. — Eu vou me
trocar.
— Faça isso, — disse Brad. — Troque-se, Xavier. Pelo amor de Angela.
Eu olhei mais uma vez para Angela, que estava sendo consolada pela
tia Heather agora, e então me virei. O que diabos aconteceu comigo?
Desde quando eu me importava o suficiente com a garota para
defender sua honra?
ANGELA
Eu estava com medo do jantar. A ideia de ter que sentar ao lado de
Xavier e fingir que o amava depois de vê-lo bater na cara de alguém era
estranha demais.
Mas depois que tia Heather e Brad me garantiram que Xavier estava
simplesmente exagerando, que Henry ficaria bem e que eu não gostaria
de perder uma comida tão ridiculamente boa, confortei-me um pouco e
segui adiante com o planejado.
Basta passar o fim de semana, disse a mim mesma. Em seguida, aguarde
mais uma semana de aulas de dança. Depois, atravesse o Jubileu de Prata.
Por Brad. E acabou.
Então, era o fim.
De alguma forma, eu sabia que era uma ilusão, que meu acordo com
Xavier se estenderia por mais tempo. Sempre haveria algo a seguir.
Algum evento. Alguma reunião de família. Algum motivo para manter a
questão suspensa.
A não ser que eu colocasse meu pé no chão e dissesse que já não dava
mais, isso duraria para sempre.
Eu não sabia quanto mais raiva e pressão meu coração poderia
aguentar.
Mas, pelo menos esta noite, para Brad, eu continuaria a desempenhar
o papel de esposa amorosa de Xavier, mesmo se tivesse medo dele.
Quando entramos na sala de jantar, uma linda sala que parecia poder
acomodar cem pessoas, não apenas as vinte ou mais que estavam aqui, vi
que Xavier já estava sentado, esperando por mim.
Ele usava um smoking e parecia que tinha se barbeado pela primeira
vez — sem barba por fazer. Ele se limpou muito bem, eu tinha que
admitir, embora seus nós dos dedos, machucados, falassem a verdade.
Sentei-me ao lado dele e mantive meus olhos grudados no meu prato
vazio. Contanto que eu não tivesse que interagir muito com ele, estaria
tudo bem.
— Ei, — ele disse, mas eu não olhei para cima. — Sobre hoje, eu só
queria dizer...
Agora eu não pude deixar de olhar para ele. Eu precisava saber. Xavier
Knight estava realmente prestes a se desculpar?
— Eu... eu não queria te assustar, Angela. Meu primo, ele pode me
irritar e...
Ele não iria se desculpar. Ele provavelmente nunca o fez em sua vida
adulta inteira. Afinal, ele era um Knight. Mas isso foi o mais perto que
chegou disso e, o fato de que ele estava tentando me comoveu de alguma
forma.
Sua expressão, dolorida e frustrada como estava, mostrava que ele se
importava o suficiente para tentar.
— Está tudo bem, Xavier, — eu disse, e eu realmente quis dizer isso. —
Eu não sei a história toda de qualquer maneira. Quem sou eu para julgar?
A maneira como ele olhou para mim foi estranha. Quase como se ele
estivesse sentindo verdadeira devoção por mim. Quase como se... ele
pudesse me beijar.
Deve ser coisa da minha cabeça, certo?
— O jantar está servido!
Um grupo de garçons entrou na sala e todos se sentaram, prontos para
comer o que parecia ser uma refeição incrível. Nunca tinha visto tantos
pratos na minha vida!
Até Henry, com o nariz enfaixado, estava sentado em um smoking,
levando uma garfada de comida à boca e comendo em um silêncio
carrancudo.
Depois de um tempo, Xavier se virou para mim, sussurrando:
— Você notou?
— O quê? — Eu perguntei, confusa. — Quão boa é a comida? Seu pai
não estava brincando.
— Não, boba, — ele disse. — Que todo mundo está nos observando.
Dei uma olhada ao redor da sala. Era verdade. Embora eles tenham
feito um bom trabalho escondendo isso, usando conversa fiada e sua
comida como disfarce, todos continuavam olhando para nós.
— Porque eles estão fazendo isso? — Eu perguntei, corando, de
repente autoconsciente.
— Eles querem ver se somos afetuosos. Se somos, você sabe, um casal
amoroso.
— Oh, — eu disse, lembrando-me do que Xavier tinha me perguntado
no carro. — Temos que, hum, beijar ou algo assim?
Até mesmo perguntar me fez estremecer. A única vez que beijei Xavier
foi em nosso casamento, e esse foi um dos piores momentos da minha
vida.
— Não, isso seria muito chamativo. Muito óbvio, — ele disse, e eu dei
um suspiro de alívio.
— Então o que vamos fazer?
Xavier considerou uma das travessas de prata, que continha um peixe
perfeitamente grelhado com couve e pesto, e seus olhos brilharam.
— Você se lembra de me alimentar na ilha?
— Com o peixe, claro, — eu disse, sorrindo um pouco. Foi uma das
nossas únicas boas lembranças. — O que tem isso?
— Por que não fazemos isso de novo?
— Você quer dizer...
Ele acenou com a cabeça docemente. Foi um dos gestos mais
adoráveis que eu já vi um homem fazer. Um olhar de — vá em frente, —
um olhar de — por favor, por favor — um olhar que eu não pensei que
Xavier Knight, de todas as pessoas, pudesse me dar.
Servi o peixe no meu prato e, em seguida, peguei delicadamente meu
garfo e o perfurei. Ele se desfez com o contato, exatamente como os
peixes deveriam. Então, com cuidado, levantei o garfo e levei aos lábios
de Xavier.
Ele fechou a boca em torno dele e fechou os olhos, sorrindo. Como se
fosse o peixe mais saboroso que ele já tinha comido.
— Como está? — Eu perguntei, rindo um pouco. Era engraçado vê-lo
tão apaixonado por um peixe.
— Bom. Não tão bom quanto o que você pegou. Mas muito bom.
Quando ele abriu os olhos e olhou para mim, senti que poderia
continuar olhando para eles para sempre. Tão escuros, sem fim e cheios
de mistério.
Então eu pisquei e me lembrei de onde estávamos — cercados por
seus parentes no jantar. Voltei para o meu prato e continuei a comer.
Eu vagamente percebi quando olhei ao redor da mesa que todos
pareciam estar sorrindo, especialmente tia Heather.
XAVIER

Quando subimos para o nosso quarto depois do jantar, percebi que


Angela e eu íamos ter que dividir a mesma cama. Eu não tinha parado
para pensar nisso antes.
Agora, é claro, parecia óbvio. Se estivéssemos em uma casa cheia de
parentes, não poderíamos entrar em dois quartos sem que alguém
percebesse.
Mas não era algo que havíamos discutido, e me senti mal por ter
jogado isso sobre ela.
Eu tinha que admitir que outra parte mais diabólica de mim gostaria
de ver o choque no rosto tão inocente daquela garotinha.
— Espere... — Angela disse quando entramos. — Eu só vejo uma
cama. Eu durmo em outro lugar ou...
— Receio que não, — eu admiti, lentamente começando a desabotoar
meu smoking.
O rosto de Angela ficou vermelho como um tomate.
— Xavier... eu não vou... dormir naquela cama com você.
— Você não tem muita escolha, Angela. Não se preocupe. Eu vou me
comportar. Sem brincadeiras. Eu prometo.
Uma promessa, admiti, que pode ser difícil de manter. Um lampejo de
como ela seria, parcialmente despida em seu caminho para o chuveiro,
me atingiu como um maremoto.
Comporte-se, Eu me repreendi. Você deve muito a ela.
A boca de Angela abriu e fechou. Ela mal conseguia processar o que
estava para acontecer, e eu não a culpei.
Nós nunca tínhamos compartilhado uma cama antes. Portanto, este
foi um grande passo. Mesmo se fôssemos tecnicamente marido e mulher.
Eu me virei, dando-lhe privacidade para se trocar, resistindo à vontade
de virar a cabeça e dar uma olhada nela.
Eu estava apenas vestindo minha cueca boxer agora, como contorno
claro do meu pau, mas eu não me importei. Era natural. E, de qualquer
maneira, Angela já tinha visto mais de mim. Quando finalmente me virei,
ela já estava na cama, as cobertas até o queixo.
Eu ri um pouco. Ela parecia uma garotinha de olhos arregalados,
assustada e inocente.
— Aqui, — eu disse, agarrando um cobertor para fazer uma barreira
entre nós. — Uma divisão. Assim você se sente ainda mais confortável,
ok?
Ela acenou com a cabeça e corou, os olhos passando rapidamente para
minha boxer e depois para longe.
— Tudo bem olhar, — eu disse com uma piscadela enquanto me
sentava ao lado dela, me cobrindo com um cobertor.
Havia uma parede de tecido nos separando — eu poderia dizer que
Angela estava usando uma camisola de qualquer maneira, então não era
como se ela estivesse nua por baixo — mas ainda assim, a garota estava
dura como uma tábua.
— Eu não quero te deixar desconfortável, mas você se importa se eu,
uh, virar de lado? — Eu perguntei. — Eu não consigo dormir de costas.
— Você quer dizer de... conchinha?
— Sim, assim.
— Uh... ok.
Angela se virou e eu também. Ainda havia muito espaço entre nós,
mas eu podia sentir o calor irradiando de seu corpo, me aquecendo,
fazendo-me sentir ainda mais atraído por ela.
Eu queria tanto me jogar pra mais perto... sentir aquela bunda bem
torneada contra meu pau... ouvir sua vozinha gemer.
Ok, se eu não parasse de pensar assim, e rápido, minha ereção
provavelmente rasgaria esses lençóis. Eu precisava mudar de assunto na
minha cabeça.
O que não foi sexy?
O que não me excitou?
Então o rosto dele passou pela minha mente, e eu sabia exatamente
sobre o que falar.
— Posso, uh, te perguntar uma coisa, Angela? — Eu disse.
Ela se virou lentamente para me encarar, constantemente desviando o
olhar. Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir sua
respiração no meu queixo.
— Dustin... — eu disse. — Então ele é... alguém com quem você...
Angela franziu a testa, tentando juntar o que eu estava perguntando.
Então sua expressão mudou. Ela riu — riu de verdade!
Eu fiquei ainda mais confuso. Ninguém nunca riu na minha cara.
— O que é? — Eu perguntei, me sentindo frustrado por algum motivo.
— O que é tão engraçado?
— Dustin, ele é...
Mas ela não conseguia se controlar. Eu senti uma pequena chama de
raiva queimando em meu peito. Eu era ridículo assim para ela? Ele era
um homem muito melhor do que eu?
Então ela terminou a frase, e tudo fez sentido.
— Ele é gay, Xavier, — ela disse, continuando a rir.
Rolei de costas e espalmei o rosto, sentindo-me o maior idiota do
mundo.
— Como é que eu não... — comecei. — Meu Deus.
E agora eu estava rindo também. Estávamos ambos rindo, e foi um
dos melhores e mais arrebatadores momentos que já compartilhamos.
A sensação de alívio que senti, sabendo que Dustin não era meu
concorrente, foi enorme. Eu ainda não tinha certeza de por que me
importava tanto.
Mas quando apagamos as luzes e nós dois conseguimos respirar, com
nossos corpos a apenas alguns centímetros de distância, senti Angela
lentamente começar a relaxar.
— Boa noite, Xavier, — ela disse calmamente.
— Boa noite, Angela, — respondi.
Ela pode não ter notado, mas sua mão, espalmada entre nós, estava a
apenas alguns centímetros da minha metade inferior. Eu me senti
crescendo novamente.
De alguma forma eu sabia, se um de nós não adormecesse primeiro,
Angela estava prestes a sentir exatamente do que Xavier Knight era
feito...
Capítulo 9
Sinais Misturados

ANGELA

Eu nunca tinha ouvido falar do bolero antes, mas no segundo em que


a música começou, eu sabia que seria o que Xavier e eu dançaríamos no
Jubileu de Prata.
Desde que voltamos daquele estranho fim de semana nos Hamptons,
Xavier e eu estávamos... não sei como descrever, a não ser como... mais
próximos.
Não era como se estivéssemos conversando o tempo todo ou mesmo
respirando o mesmo ar. Quase não o via porque ele estava muito
ocupado no trabalho. Mas à noite, quando ele voltava do trabalho, nos
sentávamos juntos e comíamos o que Lucille havia preparado para nós.
Normalmente, comíamos em silêncio, mas de vez em quando, eu
pegava Xavier olhando para mim estranhamente do outro lado da mesa.
E então ele baixava os olhos, quase como se fosse tímido.
Xavier Knight, tímido?!
Não poderia ser possível. Provavelmente não o estava lendo direito, só
isso.
Mesmo assim, eu tinha que admitir que, desde que compartilhamos a
mesma cama, parecia que havíamos ultrapassado algum tipo de barreira
imaginária. Como se tivéssemos passado de nos odiarmos para nos
aceitarmos para então...
Talvez realmente gostando da companhia um do outro?
Novamente, eu provavelmente estava apenas sendo otimista. Xavier
Knight deixou claro em muitas ocasiões o que ele realmente sentia por
mim.
Mas esta noite, quando voltamos para nossas aulas de dança com Kiki,
explorando os diferentes tipos de dança de salão e decidindo qual seria a
mais adequada para a competição, pude sentir uma espécie de
eletricidade no ar.
Nunca tínhamos nos tocado tanto fisicamente. Mesmo que nenhuma
das danças fosse realmente boa para nós, ainda era emocionante.
— Sra. Knight, por favor, tente se soltar, — Kiki repreendeu.
Estávamos no meio de uma valsa e me senti uma idiota. Um, dois, três.
Um, dois, três. Um, dois, três. Era repetitivo e minha mente não parava de
vagar.
Claramente, Kiki notava porque ela estava estalando a língua, com os
braços cruzados. Corei, dando um passo para trás de Xavier e colocando a
mão no meu pescoço.
— Podemos tentar outro... tipo?
— Você precisa dominar os passos básicos de toda dança de salão se
deseja aprender bem uma, — respondeu Kiki.
Mas, para minha surpresa, Xavier se virou para Kiki.
— Na verdade, eu concordo com minha esposa. Eu também não gosto
de valsa. Qual é o próximo?
Kiki olhou para o lado, surpresa e frustrada, e então se aproximou do
cara que comandava a música. Eu dei a Xavier um pequeno sorriso como
se quisesse agradecer. Ele enxugou a testa.
Eu não tinha percebido como ele estava suado até agora, mas não era
nojento para mim. Foi viril. Sua pele parecia brilhar, cada um de seus
músculos mais claramente definidos do que eu já tinha visto.
Isso me fez imaginar o que ele era capaz de fora da dança...
— Angela? — ele perguntou, sorrindo um pouco.
Eu desviei o olhar, corando.
— Desculpe, acabei de me distrair.
— Eu notei, — ele respondeu com um sorriso.
A música mudou, felizmente, e o assunto também. Estávamos
experimentando o tango agora. Mas, Jesus, isso era muito difícil. Era
muito sexy, e cada vez que Xavier agarrava minha perna ou me puxava
para seu peito, minha resposta era corar e enrijecer.
Depois disso, veio o balanço. Foi emocionante e divertido, mas Xavier
e eu não conseguimos acertar o tempo, que era extremamente rápido.
Kiki parecia que estava prestes a enlouquecer conosco. Seu corpo
ridiculamente esguio, seu rosto estreito, de repente não pareciam mais
tão intimidantes para mim.
Não quando Xavier parecia ter olhos apenas para mim.
— Tudo bem, — ela disse, batendo palmas. — Vamos experimentar o
bolero. Eu vou acompanhar vocês dois. Passo a passo. Mesmo se você não
precisar da minha ajuda, Xavier.
Quando ela falou com Xavier, sua voz normalmente estridente e
comandante tornou-se suave e amanteigada. As técnicas de sedução dela
poderiam ser mais transparentes?
Mas então a música espanhola sensual começou a tocar, e eu senti a
mão de Xavier pressionar contra minhas costas, e todos os pensamentos
negativos deixaram minha mente.
O ritmo lento, os movimentos sensuais deliberados, os olhos fixos um
no outro.
Eu estava hipnotizada.
De alguma forma, meu corpo começou a se mover por conta própria,
encontrando o ritmo, movendo-se em sintonia com o de Xavier. Parecia
tão natural e certo.
Por um momento, parecia que não havia ninguém na sala além de
nós. Sem Kiki. Nenhum outro dançarino profissional. Só Xavier e eu...
Então eu vi uma mão estranha vagar pelo bíceps protuberante de
Xavier, e minha fantasia foi destruída.
— Bom, Xavier, — Kiki sussurrou. — Não tenha medo de assumir o
comando. Esta dança é sobre dominação, sobre tomar o que é seu... sobre
ser um homem.
Lentamente, Kiki trouxe suas mãos para onde as nossas estavam
entrelaçadas, e ela deslizou entre nós, fazendo de nós um estranho trio
giratório.
Xavier olhou para ela de cima a baixo, e eu poderia jurar que o vi
lamber os lábios. Como se ter duas mulheres em cima dele fosse o
melhor presente que um homem pudesse receber.
Idiota!
Eu queria sair da dança. Eu queria ir embora, mas a música, suave,
melódica e atraente, não me deixava ir.
Senti o calor do corpo de Xavier contra o meu, a frieza da mãozinha
frágil de Kiki. A cada movimento, seus olhos pareciam passar
rapidamente dela para mim, como se ele não pudesse decidir qual
parceiro preferia.
— Nunca tenha medo de fazer uma escolha, Xavier, — Kiki sussurrou.
— Esta dança, ao contrário das outras, pode até ser executada sozinha...
Eu entendi o que ela estava dizendo. Ela queria que Xavier me
colocasse de lado, para me deixar na pista de dança sozinha.
Ela estava louca?
A competição deveria ser sobre nós dois mostrando à companhia de
Xavier o quão forte éramos como um casal. Eu precisava colocar meus
sentimentos de lado — por mais confusos que fossem — e considerar
isso de uma perspectiva puramente profissional.
Como dançar com Kiki ajudaria Xavier?
Ele não pareceu se importar. Não agora. Ele sorriu e a girou,
claramente apreciando a maneira como o corpo dela balançava em
direção ao dele com total abandono, com paixão.
Devo ter parecido um bloco de tetris em comparação, encaixando no
lugar certo, mas um quadrado sem graça.
— Angela, — disse Xavier, me pegando de surpresa, — você tem o
dom pra coisa.
Agora ele estava me girando. O que diabos estava acontecendo? Ele
me queria ou Kiki ou nós duas? Uma vez playboy, sempre playboy, eu
acho.
Quando a música finalmente terminou, eu recuei abruptamente,
respirando fundo, tentando recompor meus pensamentos. Kiki
continuou segurando Xavier por alguns segundos a mais.
Mais uma vez, fiquei chateada, consumida por uma raiva ciumenta
que mal conseguia entender. Não era como se Xavier e eu fôssemos um
casal de verdade. Ele poderia olhar e tocar a garota que quisesse.
Talvez eu tenha sido enganada por uma falsa sensação de segurança.
Só porque estávamos gostando de estar perto um do outro não
significava que Xavier tivesse algum sentimento por mim.
Claro que não, Angela, eu me reprimi. Ele nunca se importou com você.
Com esse pensamento constante em minha mente, me virei e me
dirigi para a porta. Eu ia tomar banho, me trocar e tentar não pensar
naqueles primeiros belos momentos do bolero, onde fomos só eu e o
Xavier...
E mais ninguém no mundo.
XAVIER

Eu nunca pensei que Angela conseguiria. Quando meu pai nos pediu
pela primeira vez para fazer esta competição de dança, eu estava com
medo. A ideia de ter que dançar com alguém tão claramente inocente e
desacostumada a ser tocada parecia terrível.
Como ela seria capaz de dançar se mal conseguia segurar a porra da
minha mão sem tremer? Quando começamos, eu senti como se tivesse
provado que estava certo.
A garota era descoordenada demais, pisando nos meus pés, dizendo
"desculpe" a cada segundo como uma idiota.
Mas então o bolero começou e...
Era como se eu estivesse dançando com outra mulher.
Quando Kiki se juntou a nós, eu me diverti com a reação de Angela.
Ela claramente não gostou da nossa instrutora de dança, e você poderia
culpá-la?
Kiki era magra como um graveto, com cabelo descolorido de Khaleesi
e tinha os movimentos furtivos de um gato. Ela era a concepção de
beleza pura de muitos homens, mas não minha.
Não, sinceramente, achei Kiki totalmente repulsiva, especialmente a
maneira como ela se agarrou a mim.
Mas eu entretive suas provocações desagradáveis porque eu gostava
de ver o quão incomodada e brava isso deixava minha esposa. Isso foi
cruel? Talvez um pouco.
O ciúme era uma cor nova no rosto tão angelical de Angela. Isso
mexeu comigo.
A ideia de que faríamos essa dança novamente na frente de centenas
de pessoas me excitou além da medida.
No caminho para casa, me perguntei se deveria dizer a Angela o
quanto gostava de dançar com ela, mas decidi não fazer isso. Sempre
mantive minhas cartas perto do meu peito quando se tratava de cortejar
alguém.
Eu não estava prestes a mudar meus métodos agora.
Só quando estávamos em casa e ouvi um grito distante, junto com
uma porta sendo batida, que pensei que talvez tivesse me enganado...
ANGELA

Um colar. O colar de outra garota estava lá no armário esperando por


mim. Como se eu fosse uma segunda opção barata. Como se Xavier
pudesse dar a mesma joia e pensar que eu não notaria.
O que havia de errado com ele?!
Não foi o suficiente para flertar com Kiki bem na minha frente. Será
que ele realmente pensou que me deixar este colar usado, obviamente
para outra garota, iria me conquistar?
Antes que eu pudesse me recompor, gritei de raiva.
— AHHH!
Então peguei o colar, com um pingente gravado com duas iniciais de
outra garota "Para PS", e joguei o mais forte que pude.
Ricocheteou na parede oposta do meu quarto e depois deslizou para
debaixo da minha cama.
Eu desabei no meu colchão.
Eu estava tão chateada que não conseguia nem pensar direito. Como
Xavier pode ter sido tão estúpido, me deixando um colar para outra
garota? Ele estava apenas tentando bagunçar minha cabeça?
Neste ponto, eu estava cansada de fazer suposições estúpidas. Talvez
Em estivesse certa. Talvez fosse realmente hora de encerrar o acordo de
uma vez por todas.
Fiquei deitada lá com o rosto enterrado nos travesseiros por um
tempo, fumegando.
Eu estava prestes a me preparar para dormir quando ouvi uma batida
na minha porta.
— Angela? — Xavier chamou enquanto entrava.
— O que você... — Minha voz morreu na minha garganta.
Xavier estava ali, seminu com apenas uma toalha em volta da cintura.
A água escorria de seus ombros largos, para baixo em seu abdômen
esculpido...
O repentino calor queimando dentro de mim expulsou toda a raiva do
meu corpo... e a substituiu por outra coisa.
— Eu estava pensando que poderíamos conversar... — ele disse, sua
voz baixa.
Eu engoli em seco.
Por que parecia que isso não terminaria apenas... falando?
Capítulo 10
A Verdade sobre Angela

ANGELA

Marco me levou até Heller, embora eu tenha insistido que poderia


pegar o trem. Ultimamente, ele tem feito todos esses pequenos favores
para mim, como esperar do lado de fora do café de Dustin, mesmo
quando eu disse a ele que ficaria feliz em correr na volta.
Eu não sabia exatamente quando tínhamos nos tornado próximos,
mas estava grata por ter um aliado. Lucille, por mais legal que fosse,
nunca colocaria nada ou ninguém acima de sua lealdade a Xavier.
No momento, ter Marco lá para me levar para casa o mais rápido
possível foi extremamente bom. Ele deve ter notado a angústia em meu
rosto, porque ele estava pisando no acelerador um pouco mais forte do
que o normal hoje.
Era isso ou ele poderia ver como eu ficava nervosamente checando
meu telefone a cada cinco minutos, esperando que Danny me
atualizasse.
A ideia de que algo poderia estar errado com a saúde do meu pai... de
novo... eu não sabia se meu coração aguentaria.
— Droga, Danny, — eu disse, jogando meu telefone na minha bolsa e
colocando minha cabeça em minhas mãos. — Apenas me responda. Por
favor.
Mas meu telefone permaneceu em silêncio.
Como isso pôde acontecer?
Depois de tudo que investi para ter certeza de que meu pai ficaria
bem. Depois de experimentar este novo tratamento experimental.
Depois de concordar em me casar com Xavier Knight, entre todas as
pessoas...
Não poderia ser tudo em vão, não é?
Pensei novamente naquele colar horrível que encontrei no meu
quarto e me perguntei o que Xavier estava tramando. Poderia ter sido
apenas um erro honesto?
Sabendo o quão cruel ele poderia ser, eu duvidei.
Meu telefone vibrou e eu saltei em sua direção, correndo para
desbloqueá-lo, esperando que me desse algumas respostas sobre meu pai.
Mas não foi Danny quem havia mandado uma mensagem…

Xavier: Cadê você?

Xavier: Por que você saiu?

Angela: Tudo bem. Você não precisa fazer isso.

Xavier: ?

Xavier: O quê?

Xavier: Você está bem?

Angela: Você não precisa fingir que se importa.

Angela: Vou ficar bem.

Angela: Tchau.

Eu desliguei meu telefone. Doeu falar assim com Xavier, mas eu


precisava disso agora. Eu não conseguia lidar com tantas crises de uma
vez.
Foi estranho ouvir como ele estava... preocupado. Não estava
acostumada com esse seu lado, mas eu disse a mim mesma para limpar
minha mente.
Agora, eu só tinha tempo para meu pai.
Quando Marco parou ao lado da minha casa de infância, pulei do
carro o mais rápido possível. Eu abri a porta da frente.
— Danny? Lucas? Pai?!
— Estamos aqui! — Eu ouvi Danny gritar.
Corri para a sala, esperando ver algo terrível. Mas, para minha
surpresa, os meninos estavam sentados no sofá, assistindo ao jogo de
futebol americano, passando petiscos de um lado para outro. Ao lado
deles estava meu pai, parecendo feliz e em forma como sempre.
— O quê... — eu comecei, sem fôlego. — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — Danny perguntou. — Você está falando
sobre as boas novas? Minhas mensagens não foram enviadas ou... oh.
Danny pegou seu telefone, percebendo que estava em modo avião. Ele
me lançou um olhar de desculpas.
— O último texto não deve ter ido.
— Por que você simplesmente não ligou para ela? — meu pai
perguntou.
— Achei que ela tivesse recebido minhas mensagens, pai.
— Gente, podemos ficar quietos? — Lucas perguntou, com os olhos
grudados na tela. — Os Giants estão na linha de dez jardas.
— Alguém, por favor, explique o que está acontecendo! — Eu quase
gritei, pasma.
Finalmente, papai se levantou e, se aproximou. Ele estava sorrindo,
seus olhos brilhando.
— Adivinha o quê, filhinha. Seu pai vai ficar bem.
— Você quer dizer...
Danny se aproximou e me deu um abraço.
— Isso mesmo. Funcionou, Angie. O tratamento. Ele... ele salvou o
papai.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu olhei de Danny
para o rosto do meu pai. Finalmente, Lucas se levantou e, embora doesse
para ele parar de assistir ao jogo, ele se juntou a nós também.
— É verdade, — disse Lucas. — Ele ainda estará conosco por mais
tempo.
— E te dando uma surra na bocha, Lucas, — disse Danny.
Todos nós rimos, mas eu podia sentir as lágrimas, as lágrimas mais
felizes do mundo, transbordando em minhas pálpebras.
— Pai, eu não posso acreditar. Eu estava tão assustada. Eu pensei...
— Eu sei, — ele disse. — Você nunca terá que se preocupar de novo,
filhinha. Eu prometo.
Sem mais, me joguei nos braços de meu pai e chorei. Não, eu não só
chorei. Chorei aos prantos. Eu estava tão sobrecarregada de sentimento
que tremia.
E meu pai e meus dois irmãos me seguraram sabe-se lá por quanto
tempo. Éramos a família mais grata do mundo.
Por fim, nos separamos e Lucas olhou para a TV, estremecendo.
— Perdemos o touchdown, droga!
E novamente todos nós rimos. E eu sabia que, quando se tratasse de
minha família, haveria muito mais risos e muito menos lágrimas de agora
em diante.
XAVIER

Bati na porta do escritório do meu pai. Ele estava localizado em um


canto de vidro maciço do quadragésimo terceiro andar, com uma vista
deslumbrante do centro de Manhattan.
Quando eu entrei, ele estava terminando uma ligação com seu típico
comportamento horrível à vista de todos. Era a arma secreta do homem
— a capacidade de desarmar qualquer pessoa com seu charme direto.
Não havia jogos, não havia besteira quando se tratava de Brad Knight.
Ele era o verdadeiro negócio. E sua gentileza, junto com a mente de um
capitalista calculista, fez dele o CEO mais poderoso de toda a cidade.
Murdoch, Soros, Musk — eles não tinham nada contra meu pai.
Às vezes eu me perguntava por que não havia herdado o gene bom. —
Por que eu sempre fui um desgraçado mal-humorado o tempo todo?
Isso me serviu bem nos negócios, não me entenda mal, mas onde
estava o coração aberto do meu pai? Tinha sido esmagado, junto com
tudo o mais, naquele acidente de carro há mais de um ano?
— Filho, estou feliz que você esteja aqui, — disse meu pai, jogando o
telefone de lado. — Queria perguntar como vão as aulas de dança.
Eu revirei meus olhos.
— Por favor, podemos falar sobre qualquer coisa além da minha vida
privada pelo menos uma vez?
— Temos uma reunião às cinco da tarde para falar de negócios. Então,
o que mais isso poderia ser?
Como de costume, ele era sagaz demais. Suspirei e me sentei em uma
cadeira, de frente para ele.
— Eu queria te perguntar... sobre a mamãe.
Meu pai franziu a testa, surpreso. Este foi um assunto que evitávamos
a todo custo. Eu sabia que ele queria falar comigo sobre ela, mas foi para
isso também que ele pagava três terapeutas.
Brad Knight e Xavier Knight não conversavam sobre sentimentos, não
normalmente.
— O que tem ela? — ele perguntou. — Vá em frente. Você pode me
perguntar qualquer coisa.
— Como... como você soube que ela era a mulher da sua vida?
Eu quase fiz essa pergunta ao meu pai uma vez antes, mas felizmente,
eu resisti. A mulher por quem eu estava apaixonado não era digna de
comparação.
Mas Angela...
De alguma forma, ultimamente, eu estava ficando cada vez mais
obcecado por ela. Eu queria saber se isso era apenas algum efeito
colateral ridículo, se isso estava de acordo com o casamento mais
estranho da história ou...
Ou era algo de verdade.
Meu pai sorriu gentilmente.
— Filho, eu soube no momento em que coloquei os olhos nela.
— Mesmo? — Eu perguntei, surpreso. — Você sabia que era a mamãe
desde o primeiro segundo?
Era difícil de acreditar, como um conto de fadas estúpido. Amor à
primeira vista. Só de pensar nessas palavras me deu vontade de vomitar
um arco-íris.
— Não. — Meu pai balançou a cabeça. — Eu não estava falando sobre
Amélia.
— Você quer dizer...
Ele assentiu. Ele soube desde o primeiro momento em que pôs os
olhos em Angela que ela era a pessoa certa para mim?! Eu queria zombar.
Eu queria me levantar e sair furioso de seu escritório. Eu senti como se
ele estivesse zombando de mim.
Pela expressão sincera que ele tinha, eu sabia que não era o caso.
— Amélia e eu, demoramos para nos aproximarmos. Todos os casais
verdadeiros, os que duram, também demoram. Às vezes era difícil, mas
quando finalmente nos vimos como realmente éramos, isso fez toda a
diferença no mundo.
Eu me perguntei se o mesmo poderia ser verdade para Angela e eu.
Nossa história ser como a de meu pai e minha mãe, um lento
desenvolvimento construído em mal-entendidos, raiva e desconfiança?
— Pai, estou muito confuso sobre como me sinto agora, — admiti. —
Nunca acreditei realmente que pudesse... hum... de novo.
Eu não queria dizer a palavra que ficava entre "poderia" e "de novo".
Dizer amor em voz alta tornaria isso real. E ainda havia muita incerteza.
Por que ela teria se casado comigo pelo meu dinheiro se valia a pena
amar? Finalmente fiz a meu pai a pergunta que estava morrendo de
vontade de fazer há semanas.
— Onde você a encontrou, pai?
Meu pai parou de olhar pela janela, com seus olhos nadando em
sentimentos.
— Nós tínhamos um acordo, ela e eu. Não devíamos falar sobre isso.
Mas... acho que é hora de você saber.
— Saber o quê? — Eu perguntei, franzindo a testa. — Que acordo?
— Filho... Angela não se casou com você por sua fortuna. Ela não
concordou em se casar com um estranho porque você era um Knight. Ela
se casou com você porque o pai dela estava doente e eu me ofereci para
ajudar a pagar suas contas médicas em troca.
Meu queixo caiu. Meus olhos saltaram. Meu estômago parecia estar se
revirando. Isso não podia ser verdade, não é? O tempo todo... Angela agia
com um desejo altruísta de salvar seu próprio pai?
E meu pai escondeu isso de mim?!
— Diga-me que isso não é verdade, — eu disse, com a voz baixa e
baixa. — Você não faria isso.
— Eu fiz, Xavier, — disse meu pai, encontrando meu olhar. — E eu
sinto muito por enganar você. Mas eu sabia que se você fosse informado,
você teria visto isso como caridade e nunca teria dado a ela um momento
sequer. Eu tive que mentir para você. Para que você possa aprender a
amar novamente.
Eu me levantei. Minha cabeça estava girando. Tudo ao meu redor
parecia derreter. Todas as vezes que gritei com Angela voltaram correndo
para mim.
Todas as coisas horríveis de que a chamei. Por nada.
— Como você pôde fazer isso? — Eu perguntei, e então senti minha
voz se elevar. — COMO DIABOS VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO?!
Eu nunca tinha gritado com meu pai antes na minha vida. Isso ia
contra a minha própria natureza. A raiva estava reservada para meus
inimigos, não para minha família, mas nunca me senti tão traído por
ninguém em minha vida.
E pensar que... todo esse tempo, Angela realmente era um anjo.
— Eu sei que você está com raiva, — ele disse. — Você tem todo o
direito de estar assim.
— Eu não consigo nem olhar para você! — Eu soltei, jogando minhas
mãos na minha cabeça. — Como você pôde fazer isso comigo? Com ela?
Você sabe o quão cruel eu tenho sido com ela? O que eu já disse a ela?
— Eu imaginei, — ele disse, balançando a cabeça tristemente. — Mas
eu sabia que ela iria ficar. Porque eu sabia que ela era pura e cuidaria de
você, apesar de tudo. Você não entende, filho? Isso é o que é amor.
Eu me virei para a porta. Eu precisava ir até Angela. Eu precisava
consertar isso, mas parei quando minha mão encontrou a alça.
— Como... — eu comecei. — Como vou ganhar Angela, pai?
Eu me virei e olhei para meu pai mais uma vez. Eu não queria seu
conselho. Não acreditei em uma palavra que ele diria, mas também sabia
que, sem ele, estava condenado.
Ele sorriu e encolheu os ombros, como se o que estava prestes a dizer
fosse a tarefa mais simples do mundo.
— Se você a quiser, Xavier, — ele disse, — diga a ela como se sente.
Diga a ela como você se sente.
Eu não tinha a menor ideia de como conseguiria fazer isso. Mas eu
sabia que precisava tentar. Angela merecia muito.
Abri a porta e corri para fora do escritório sem dizer outra palavra.
Eu não quis dizer isso, Angela. Perdoe-me, Angela. Estou apaixonado por
você, Angela.
Mas Angela acreditaria em mim?
Capítulo 11
Um Encontro tardio

ANGELA

Xavier: Ei.

Xavier: Você está em casa?

Angela: Sim, por quê?

Xavier: Isso pode parecer loucura, mas…

Xavier: Eu tenho uma surpresa.

Angela: ...

Angela: Você quer dizer para mim?

Xavier: Não, para Lucille.

Xavier: Claro, para você!

Xavier: Marco estará pronto com o carro em 30.

Xavier: Vista algo legal, ok?

Xavier: (emoji piscando) Eu encarei meu celular sem acreditar. Xavier


Knight tinha realmente acabado de me enviar um emoji? Um emoji de
uma carinha piscando?
O mundo deve ter virado de cabeça para baixo enquanto eu dormia,
porque ele não se parecia nem um pouco com o homem a quem chamava
de meu marido. Desde que soube das notícias maravilhosas sobre a saúde
de meu pai, quase não conseguia pensar direito.
Voltei para casa e passei o dia andando de um lado para o outro e
limpando, tentando me acalmar. Mas não podia acreditar. O acordo
valeu a pena, e agora meu pai estava bem de saúde.
Isso significava que ele estava seguro, ele viveria, ele continuaria a
cozinhar o peru ridiculamente gorduroso todos os anos, mas também
significava...
Meu casamento falso com Xavier, finalmente, poderia acabar. Não
havia necessidade de continuar a fingir, não se meu pai continuasse
saudável. Quanto às contas médicas, eu mesma poderia pagá-las com o
tempo, imaginei.
Certamente Brad entenderia, mas e quanto a Xavier?
Eu não sabia como falar com ele. Eu tinha certeza de que ele ficaria
louco de raiva. Eu precisava me preparar e colocar qualquer armadura
mental que me restava para resistir ao que com certeza seria um
xingamento e um insulto atrás do outro.
Aí esse texto apareceu, me surpreendendo ainda mais. Que surpresa
Xavier estava planejando para esta noite?
Mesmo que tivesse que dar más notícias, estava decidida a ir com uma
boa aparência. Afinal, ele me disse para me vestir bem. Então,
vasculhando meu armário, escolhi um vestido que Dustin escolheu para
mim pessoalmente.
Um vestido vintage Christian Dior de 1990 feito de seda preta e
branca com botas pretas e um blazer vermelho impressionante. Era
possivelmente a roupa mais ousada que eu já vi, uma que eu tinha
certeza que não poderia usar.
Mas quando saí do provador, o queixo de Dustin praticamente caiu no
chão.
— Garota, — ele disse, — você parece a própria definição de sexo. É
sério. Pegue um dicionário. Procure. Abaixo de sexo, haverá uma foto sua
com essa roupa. Muito SEDUTORA.
Eu corei, é claro, mas agora, olhando para mim mesma no espelho,
pude ver o que Dustin estava dizendo. Eu parecia bem.
Eu não sabia sobre a definição de sexo, visto que sabia pouco sobre o
assunto de qualquer maneira, mas me fez sentir bem em me vestir como
alguém confiante.
Mesmo que não fosse exatamente assim que eu me sentia por dentro,
às vezes você tinha que projetar para fora para enganar a si mesma ou aos
outros. Algo assim.
Novamente, eu estava citando Dustin.
Finalmente, quando terminei de aplicar a maquiagem, uma mistura
minimalista de sombra lavanda e uma pitada de rímel, saí e me aproximei
do carro.
Marco segurou a porta aberta e acenou com a cabeça, grunhindo. Foi
o mais próximo que ele chegou de um sorriso.
— Sra. Knight.
— Obrigada, Marco.
Ele fechou a porta quando entrei. Na hora em que ele se sentou no
banco do motorista, inclinei-me para a frente.
— Será que meu marido lhe disse aonde está me levando?
Marco me olhou com cautela pelo retrovisor.
— Você sabe que eu não posso te dizer isso, Srta. Knight.
Suspirei e recostei-me na cadeira. — Valeu a tentativa.
Sempre gostei do fato de Marco me chamar de Srta. Knight, e não de
senhora, mesmo que tecnicamente eu fosse uma mulher casada, isso me
fazia sentir mais perto da minha idade.
Mais importante ainda, me lembrou que meu casamento com Xavier
não era cem por cento autêntico. Depois desta noite, eu nunca teria que
ser chamada de Sra. Knight novamente se não quisesse, pensei.
Observei o carro nos levar por Manhattan e fiquei surpresa quando
deslizamos tão perto do rio ao longo da 29ª. O céu noturno estava se
tornando um lindo tom de azul e, ao nosso redor, as luzes da cidade
estavam piscando.
— Marco, você tem certeza de que está certo? — Eu perguntei quando
ele estacionou ao lado de um grande restaurante chique.
— Apenas cumprindo ordens, Srta. Knight.
Ele saiu e abriu a porta para mim. O que está acontecendo? Este lugar
parecia um lugar onde você poderia levar um... encontro, não a esposa
com quem você foi forçado a se casar.
— Angela, aqui está você.
Virei-me, surpresa ao ver Xavier sentado em um banco, vestido com
um de seus melhores ternos. Ele se levantou e se aproximou, sorrindo.
— Espero que você esteja com fome.
— Você quer dizer que... nós vamos para lá...
— Para comer, obviamente. Isso é surpreendente?
Certamente foi. Eu não sabia o que dizer. Eu apenas olhei para Xavier
como se ele fosse um estranho, uma pessoa completamente nova. E, de
certa forma, era isso que ele parecia.
Havia uma suavidade por trás de seus olhos escuros que eu nunca
tinha reconhecido. Ele pegou minha mão e me levou em direção à porta.
— Vamos lá, mal posso esperar para você ver a vista.

O restaurante era um dos espaços mais bonitos e ornamentados em


que já estive. A vista do East River, juntamente com a decoração chique e
moderna do próprio restaurante, era absolutamente deslumbrante.
Não havia uma única pessoa sentada além de Xavier e eu — ele
claramente alugou o restaurante inteiro para a ocasião — e quando os
garçons nos cumprimentaram e nos levaram para a nossa mesa, tive a
suspeita de que era, de fato, um encontro.
— Xavier, — eu disse enquanto chegávamos a nossos lugares, — isso é
muito bom, mas o que está acontecendo?
— Um marido não pode levar a esposa para uma boa refeição?
Eu corei. Por mais gentil que fosse o sentimento, também era
extremamente estranho. Eu entendia que nós fingirmos ser casados na
frente de sua família e colegas, mas por que isso quando éramos apenas
nós dois?
Estávamos cercados por velas acesas e flores frescas. Parecia o set do
The Bachelor. Excessivamente romântico, quase falso.
Assim como nosso casamento.
Eu olhei para o menu. Tudo estava em francês e impossível de
entender. Eu o abaixei e respirei fundo.
— Eu realmente aprecio que você esteja, hum, sendo tão legal, mas...
— O que há de errado?
— Eu simplesmente não entendo por que de repente.
— Você está certa, — ele disse, me interrompendo. — Você merece
uma explicação. Angela. Há muito que quero dizer, mas acho que vou
começar dizendo que...
Ele está prestes a se desculpar? O rosto de Xavier parecia em conflito.
Era claramente contra todos os seus instintos ser tão autoconsciente.
— Percebi que nunca agradeci de verdade por ter salvado minha vida,
Angela. Na ilha.
— Por favor, — eu disse, olhando para baixo. — Eu só fiz o que
qualquer um faria.
— Não! — Xavier exclamou ferozmente e, em seguida, novamente
com mais suavidade. — Não, Angela. Eu não acho que isso seja verdade.
Acho que você é a pessoa mais altruísta que já conheci.
Uau. De onde está vindo isso?! Eu me senti oprimida, e o ambiente, por
mais bonito que fosse, certamente não estava ajudando.
— E tudo isso? — Eu perguntei.
— Achei que seria uma boa maneira de retribuir. É apenas o começo,
mas...
— Xavier, — eu disse, balançando minha cabeça, — isso é muito gentil
de sua parte, mas você mal me conhece. Se você me conhecesse, saberia
que não me sinto confortável em grandes restaurantes chiques.
— Oh... Você não quer?
Eu balancei minha cabeça. Não tive a intenção de ignorar o que era
claramente a ideia romântica de Xavier, mas ele tinha o direito de saber.
— Se você realmente parasse para conversar comigo, — eu disse
baixinho, — você saberia que o que eu realmente gosto são coisas
simples. Como uma pizzaria de última geração.
Xavier acenou com a cabeça, compreendendo, seus olhos brilhando
com uma ideia. O que ele estava pensando agora? Eu estava muito
nervosa para perguntar.
O garçom se aproximou.
— Senhor, madame, vocês decidiram o que gostariam de comer?
— Nada, — disse Xavier, levantando-se e jogando o guardanapo na
mesa. — Vamos, Angela.
Ele me ofereceu sua mão e eu o encarei, estupefata. O garçom parecia
igualmente confuso.
— Sr. Knight, me perdoe. Há algo errado? Vocês pagaram para ter todo
o estabelecimento só para vocês esta noite.
— Estou ciente, — ele disse com um sorriso. — Aproveite uma noite
de folga. É por minha conta. Angela.
Antes que eu percebesse, Xavier pegou meu braço e estávamos saindo
pela porta.
— O que estamos fazendo? — Eu perguntei, envergonhada.
Xavier piscou.
— Você gosta de pizza. Vamos comer pizza.
E com isso, ele me levou até o carro. Marco ligou o motor e deixamos
o restaurante chique à beira do rio para trás.
Eu odiava admitir, mas foi talvez a coisa mais espontânea e romântica
que alguém já fez por mim...

Estávamos na Joe's Pizza em Greenwich, ambos ridiculamente bem


vestidos, dando uma mordida em nossa segunda fatia quando caímos na
gargalhada.
Todo nova-iorquino normal que entrou nos deu um olhar infeliz
como se dissesse: Ótimo. Gente rica. Lá se vai a vizinhança.
Foi tão engraçado que mal consegui comer. Xavier pegou minha mão.
— Xavier, não, — eu disse, tentando me afastar. — Está gordurosa!
— Eu não me importo, — ele disse.
Senti um frio na barriga quando meu coração parou e olhei para
Xavier sob uma luz completamente nova. E pensar que tinha começado
esta noite planejando anunciar nosso divórcio.
Como eu possivelmente traria isso à tona agora?
Eu não podia.
Não quando ele estava sendo tão doce.
Vou ter que esperar o momento certo, disse a mim mesma. Com certeza,
essa noite acabaria e tudo voltaria ao normal, como sempre acontecia.
— Angela, — ele disse, interrompendo minha linha de pensamento, —
você está certa. Eu mal te conheço. E... eu quero saber tudo. Então.
Conte-me algo sobre você.
— Como o quê?
— Não sei. Sobre o que as pessoas costumam falar nos encontros? O
que te excita e te irrita? Maneiras favoritas de passar uma tarde de
domingo? Você é uma garota de longas caminhadas na praia? Ou é mais
como uma compradora compulsiva?
Xavier parecia nervoso. Ele realmente parecia e soava nervoso. Foi
adorável. Eu me peguei sorrindo e ele parou de divagar para olhar para
mim.
— O quê?
— Você disse encontro, — eu apontei.
— Bem, e não é?
Eu concordei. Eu acho que sim. Ele suspirou, parecendo um pouco
melancólico.
— Me desculpe por ter demorado tanto, Angela. Se eu soubesse...
Eu queria perguntar a ele o que ele quis dizer. Se soubesse o quê? Mas
eu nunca tive chance. Porque Xavier pegou o último pedaço de pizza do
meu prato e deu uma mordida enorme.
— Ei! — Eu gritei de brincadeira. — Eu ia comer isso.
— Essa é uma implicância minha, — ele admitiu entre mordidas. —
Deixando a comida esfriar.
— E se o meu for dividir refeições?
— Então... acho que estamos ferrados.
Novamente, nós rimos. E foi a sensação mais maravilhosa do mundo.
Parecia fácil, sem amarras. Parecia honesto.
Enquanto Xavier continuava a comer, me perguntei se eu estava
errada em fazê-lo esperar.
Talvez quando ele estava tão feliz, desse tipo... talvez esta fosse a
melhor hora para falar sobre o fim do acordo.
Mas agora, quando olhei para ele, não tive certeza de que era isso que
eu queria.
— Xavier, — eu disse baixinho, — eu preciso te dizer uma coisa...
Ele acenou com a cabeça pacientemente. Eu respirei fundo, abri
minha boca e falei.
Capítulo 12
Ilusões amorosas

ANGELA

Eu não poderia dizer a Xavier que queria terminar nosso casamento.


Eu não tinha isso em mim.
Eu tinha me acovardado na noite do nosso encontro e disse a ele que
estava nervosa com o próximo Jubileu.
Eu sabia que não conseguiria esta noite também, não enquanto seus
braços me segurassem com força, me puxando para mais perto, me
envolvendo em um abraço repentino.
Xavier e eu estávamos dançando de novo, ensaiando para o grande
show, daqui a apenas uma semana. Mas algo sobre este ensaio parecia
estranho.
Por um lado, não havia sinal de Kiki. Na verdade, quando olhei ao
redor do estúdio, não havia sinal de nenhum instrutor ou dançarino em
qualquer lugar.
Xavier e eu estávamos completamente sozinhos.
Ele me girou, a batida sedutora do bolero nos impulsionando para
frente e para trás, enquanto nos virávamos um para o outro. Eu podia
sentir o calor que emanava de seu peito toda vez que estávamos
separados por um fio de cabelo.
Como eu desejava descansar minha cabeça nele, sentir os músculos
que eu admirava por tanto tempo.
Angela, Eu me repreendi, o que deu em você?
Percebi então que as habituais luzes de LED no teto estavam apagadas
esta noite. Em vez disso, um holofote parecia estar nos iluminando
enquanto dançávamos, resistindo e depois cedendo aos movimentos um
do outro.
Nós nos sentimos em sincronia esta noite. Sentimos como se
estivéssemos fazendo essa dança por séculos, esse cabo de guerra sensual,
essa estranha relação de amor e ódio, essa dança.
— Você nem sempre é um anjo, é? — Xavier perguntou, com os olhos
misteriosos.
Ele me empurrou suavemente e eu caí, esperando sentir o piso de
madeira, mas para minha surpresa, embaixo de mim havia uma cama de
almofadas.
Onde isso estava um segundo atrás? Como chegou aqui? Eu tinha tantas
perguntas, mas conforme Xavier lentamente se abaixou em cima de mim,
cada pensamento fugiu do meu cérebro.
Ele estava arrastando os dedos ao longo da minha pele nua, me
fazendo estremecer de prazer. Eu empurrei sua mão, envergonhada.
— Xavier, não... — eu disse.
— É isso que você quer? — ele perguntou, sorrindo. — Você quer que
eu pare, Angela?
Eu não disse nada. Eu não podia admitir que queria muito que ele
continuasse. Para chegar ainda mais perto de mim. Para respirar em meu
pescoço e... e...
— Um demônio disfarçado... — ele disse com um sorriso malicioso. —
Eu sabia.
E então, antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Xavier me
beijou. Eu só tinha provado seus lábios uma vez antes — em nossa noite
de núpcias — tinha sido forçado, não natural e errado.
Mas isso... isso foi tudo que eu sempre esperei. O puxão de seus lábios
famintos. A sugestão de dentes quando ele mordeu meu lábio
suavemente. O gemido suave escapando do meu.
Isso me fez esquecer de mim mesma. Isso me fez esquecer que, apenas
alguns segundos atrás, estávamos praticando uma dança. A música
continuava, provocando-nos, incitando-nos a ir mais longe.
Para explorar os corpos um do outro. Para...
— Xavier, — eu engasguei, com medo. — Eu não sei o que estou
fazendo. Eu... eu...
— Confie em mim, — ele disse. — Eu vou cuidar de você.
Eu olhei dentro daqueles olhos escuros e balancei a cabeça. Havia um
milhão de razões pelas quais eu deveria ter resistido, mas havia uma
influência irresistível nas palavras de Xavier agora.
Eu não pude ignorar isso. Eu não pude lutar contra isso. Eu tive que
ceder. Eu queria ceder.
Ele me beijou novamente, mas desta vez, sua língua entrou na minha
boca, deslizando contra a minha, persuadindo-me a fazer o mesmo.
Com cada lambida e gosto lúdico, eu me sentia umedecer em lugares
que nunca tinham estado tão quentes antes.
— Eu quero você, Angela, — Xavier sussurrou. — Só você.
— Xavier... — Suspirei, fechando os olhos.
Então ele estava beijando meu pescoço e eu arqueava todo o meu
corpo em sua direção, como se implorasse para invadir outras partes de
mim.
Eu ouvi seu cinto desabotoar. Eu o senti puxar lentamente minha
calcinha para baixo.
Oh, meu Deus.
Isso finalmente iria acontecer. Eu ia perder minha virgindade com
Xavier Knight, bem aqui no meio da pista de dança, iluminada por um
holofote enquanto o ritmo lento do bolero nos fazia serenatas.
— Você está pronta, Angela? — Xavier perguntou.
Eu abri meus olhos e olhei para ele. Eu puxei seu rosto para perto do
meu e o beijei. Sim, silenciosamente me comuniquei com ele. Me tome.
E assim que Xavier pressionou para frente, e meus olhos rolaram para
trás em êxtase, e uma explosão de sentimentos tomou conta de mim...

— O QUÊ?
Sentei-me na cama com um sobressalto, hiperventilando. Eu estava
sozinha. Era no meio da noite. Eu estava no meu quarto.
Tudo que eu tinha acabado de experimentar era um sonho...
Um sonho sexual. Eu tinha acabado de ter um sonho sexual com
Xavier.
O que.
Foi.
Isso.
Levantei-me e corri para o banheiro, lavando meu rosto e me olhando
no espelho. Mal pude reconhecer a garota que me encarou de volta.
— Angela, — disse a mim mesma, — estamos com grandes problemas
agora.

Angela: Em.

Angela: Preciso falar com você.

Angela: O mais rápido possível.

Em: Algo errado, Angie?

Angela: Não consigo explicar por texto.

Em: Ok

Em: Você pode me encontrar na minha casa?

Angela: (emoji de dedo para cima) Angela: Chego em 15


minutos.

— E então ele colocou seu... hum... na minha...


Em estava olhando para mim, confusa, depois que eu me desconectei
um pouco do sonho e fui para a casa dela na manhã seguinte. Ela nunca
foi uma puritana. Então, minha dificuldade em falar sobre o assunto
sempre a confundiu.
— Diga logo, Angie, — ela disse. — Foi apenas um sonho. Você
transou?
— NÃO! — Eu gritei.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. Até eu me surpreendi. Por que
eu estava reagindo a isso de maneira tão exagerada?
— Quer dizer... não, — eu disse mais baixinho. — Acho que não.
Estávamos prestes a fazer isso, e então acordei.
— Parece muito... confuso.
Em voltou a arrumar a máquina de lavar louça, parecendo
preocupada, mas uma pitada de aborrecimento em seu tom me fez
franzir a testa.
— Eu disse algo errado, Em?
— É só... quer dizer, Angie, vamos lá. Você ao menos sabe o que quer?
— O que você quer dizer?
— Olha, — ela disse, Virando-se com um prato na mão, — estou
ficando cansada de ouvir você ficar indo e vindo. Um segundo você o
odeia. No próximo você está obcecada por ele. Como sua amiga, devo
avisar quando algo não for saudável. Acho que isso se qualifica.
Minhas bochechas enrubesceram. De repente, me senti confusa e
indignada, uma emoção à qual não estava acostumada.
— Você não sabe nada sobre nós, — eu disse, tentando e falhando em
impedir que minha voz vacilasse.
— Agora existe um 'nós’? Uma semana atrás, você estava falando sobre
se divorciar.
— Você está certa, ok! Eu sou confusa! Me desculpa!
Eu me virei, cruzando os braços. Eu não podia acreditar que minha
própria amiga não estava disposta a me apoiar agora, quando eu mais
precisava dela.
Ela suspirou e abaixou o prato, sentando-se ao meu lado.
— Ei, eu não queria julgar, Angie, — ela disse. — Desculpa.
— Eu simplesmente não entendo por que você está reagindo assim.
Eu entendo que Xavier e eu estamos em um lugar estranho, mas por que
você não pode tentar ser mais compreensiva?
Então eu olhei para ela e percebi que havia lágrimas em seus olhos.
Era eu quem estava percebendo algo aqui? Fui eu que não foi compreensiva?
— Em, o que é?
— Faz um tempo que quero falar com você sobre isso, mas não sei
como. Porque ele é seu irmão, e percebo que é estranho que estejamos
juntos e...
Lucas. Isso era tudo sobre Lucas. Claro!
— O que está acontecendo, Em? — Eu perguntei, agarrando a mão
dela. — Você pode me dizer qualquer coisa. Lamento ter sido tão egoísta
ultimamente.
Ela balançou a cabeça.
— Entendo. Se fosse meu irmão, seria difícil para mim também. É
apenas...
— O quê?
— Ultimamente, Lucas tem estado tão distante. Não sei o que fiz. Por
semanas, tudo foi incrível entre nós. Estava perfeito. Mas agora? Não sei
mais, Angie.
Em chorou um pouco e eu peguei um lenço para ela.
Eu gostaria de ter sabido sobre isso antes para poder ter falado com o
Lucas. De repente, me senti uma péssima amiga. Eu estava tão envolvida
no meu mundo e no de Xavier que não tinha parado para pensar em mais
ninguém.
Mas eu sabia que Lucas estava levando Em a sério. Eu vi a maneira
como ele olhou para ela. Antes de Em, as meninas eram apenas
distrações para ele.
Era algo sobre a qual Danny e eu costumávamos brincar. Mesmo
sendo irmãos, Lucas e eu não poderíamos ter saído mais diferentes.
— Angela, a santa. E Lucas... o galinha, — Danny diria, esquivando-se
enquanto eu tentava bater nele.
Era tudo verdade de qualquer maneira. Ele nunca tratou nenhuma
garota da maneira como tratou Em. Eu sabia que ela era especial. Eu
sabia disso mesmo quando éramos crianças e Lucas agia tímido perto
dela durante nossas brincadeiras.
— Em, — eu disse, sorrindo, — Lucas provavelmente está apenas
sendo um idiota. Você não precisa se preocupar. Ele vai mudar de ideia.
— Mas e se ele não mudar? E se eu fiz algo errado e tudo acabar? Eu só
queria que ele falasse comigo, Angie.
Um plano começava a se formar na minha cabeça. Então me levantei
repentinamente. Em franziu a testa, surpresa.
— Levante-se, Em.
— Por quê?
— Confie em mim, ok?
Em seguiu minhas ordens, levantando-se, ainda enxugando os olhos.
— Me dê suas mãos.
— Pra quê?
— Vai fazer ou não?
Em suspirou e deixou o lenço sobre a mesa, oferecendo as mãos. Eu as
peguei e olhei em seus olhos.
— Me escute, Em, — eu disse calmamente. — Eu conheço meu irmão.
E eu sei o que ele sente por você. Deixe-me falar com ele e acertar as
coisas, pode ser?
— Angie, não dá. Eu não quero que ele pense que eu preciso de
terceiros para...
— Em — eu disse insistentemente. — Por favor. Lucas merece uma
chance de se explicar, mas ele não é o melhor quando se trata de
expressar seus sentimentos. Deixe-me fazer o que deveria ter feito
semanas atrás. Deixe-me ajudá-la.
Em suspirou e sorriu.
— Tudo bem, Angie. Se você insiste.
Eu a puxei para um abraço. Ela riu.
— Eu acho que Xavier está começando a contagiar você. Não me
lembro de você nunca ter sido tão exigente.
Nós duas rimos.
Ela estava certa. Eu me sentia diferente, mas eu teria que lidar com
Xavier mais tarde.
No momento, havia apenas uma pessoa em quem eu precisava me
concentrar, e essa pessoa era meu irmão.

Angela: Lucas. (emoji bravo)


Angela: Qual é o seu problema?

Lucas: hein?

Lucas: do que você está falando?

Angela: ESTOU FALANDO SOBRE A EM.

Lucas: ah

Lucas: É meio complicado, mana.

Angela: Por que você não fala com ela?

Angela: Por que você está tão distante?

Lucas: Espera

Lucas: O quê?

Lucas: É isso que ela pensa?

Angela: SIM, Lucas.

Lucas: Merda.

Lucas: Não era isso que eu queria.

Angela: O que você queria?

Lucas: Angie

Lucas: Acho que preciso da sua ajuda.

Angela: Com o quê???

Angela: O que você fez?

Lucas: Não foi o que eu fiz.

Lucas: É o que estou prestes a fazer...


Angela: Você não está fazendo sentido, Lucas Lucas: Angie...

Lucas: Eu preciso que você me ajude a escolher um anel.

Angela: UM ANEL???

Lucas: Vou propor a Em em casamento.


Capítulo 13
Uma velha chama

XAVIER

Penny: Ei.

Penny: É penny.

Xavier: Eu sei.

Xavier: Eu tenho o seu número...

Penny: Ah, certo

Penny: Você está em casa?

Penny: Eu preciso te ver.

Xavier: Eu pensei que você disse que não transaríamos mais.

Penny: Não, é isso...

Penny: Caramba... você tem que deixar tudo estranho?

Xavier: O que você quer então?

Penny: Estou procurando algo.

Puta que pariu. A última coisa que eu queria pensar era na Penny
agora. Mas acho que não tive escolha a não ser deixá-la vir se ela
realmente tivesse deixado algo aqui. Isso ou ela estava apenas
procurando outra desculpa para tirar minha roupa.
Isso ainda estava para ser determinado.
Agora que eu tinha aprendido a verdade sobre Angela — sobre o anjo
que ela realmente era — e depois do nosso encontro com pizza, que foi
uma das melhores noites que tive em meses, eu não tinha olhos para
nenhuma outra garota.
Meu pau tinha alguns desejos aqui e ali? Claro, mas estava fazendo o
possível para resistir à tentação. Angela claramente não era esse tipo de
garota. Levaria tempo para conquistá-la.
E levá-la para minha cama.
À noite, eu ficava fantasiando sobre ela e como seria deixá-la nua.
Me angustiava saber que ela estava a apenas algumas portas de
distância e eu não podia tocá-la.
Um Knight bilionário como eu não estava acostumado a não
conseguir o que queria. Mas, pela primeira vez, eu teria que aprender a
ser paciente.
Angela valia a pena.
Quando ouvi o barulho do elevador, me preparei. Não ceda à tentação,
Xavier. Ela não é nem tão boa assim. Apenas dê a ela o que ela quer e dê o
fora.
Mas quando as portas se abriram e vi Penny parada ali, fiquei
imediatamente impressionado com o quão gostosa ela estava.
Lembrei-me da sensação de bater nela, o tapa naquela bunda gostosa,
o gosto de seu suor quando mordi seu ombro...
— Ei, Xavier, — ela disse, sorrindo. — É bom te ver. — Ela estava
alheia aos meus pensamentos enquanto se inclinava para um abraço sem
jeito. Senti a pressão de seu peito através de seu grande suéter de lã.
Limpei minha garganta, tentando clarear minha mente no processo.
Foco, Xavier. Você pode se masturbar mais tarde. Não estrague tudo com
Angela.
— Então o que você quer? — Eu perguntei, tentando parecer estar
calmo.
— Me desculpa por aparecer assim. É só que... da última vez que estive
aqui, acho que quando estávamos, hum... você sabe... estávamos tirando
tudo às pressas, o meu colar deve ter...
— Você pode ir direto ao ponto, Penny?
Eu estava rapidamente ficando impaciente. Penny acenou com a
cabeça, colocando a mão em seu pescoço delicado. Pensei em como ela
me disse para estrangulá-la da última vez...
Pare com isso, Xavier, minha voz interior avisou novamente. Mantenha
o controle.
— Meu colar, — explicou Penny. — Eu perdi ele aqui.
— Então? Pegue outro. Vou te dar um cheque.
O rosto de Penny corou um pouco quando ela olhou para o lado,
horrorizada.
— Eu não sou uma prostituta, Xavier. Eu não quero seu dinheiro. Vim
aqui porque gosto mesmo de você.
Suspirei. A desgraçada estava tentando me fazer sentir culpado e
estava funcionando.
— Ok, ok, — eu disse, tentando parecer. — O que ele tem de tão
especial? Não podemos simplesmente substituí-lo?
Ela balançou a cabeça. — Tem um pingente com minhas iniciais. É
insubstituível. Um de cada tipo.
— Não me diga que... É do seu ex, não é?
Seu silêncio me disse tudo que eu precisava saber.
— Droga, Penny, é melhor que você perca de vez essa coisa então.
Agora vá para casa e...
— Por favor, — ela interrompeu, sua voz baixa. — Eu só... eu preciso
dele, tá bom?
Ela se recusou a encontrar meus olhos, e eu poderia dizer que ela
estava lutando contra as lágrimas. Eu esfreguei minha nuca, com o
silêncio constrangedor se estendendo entre nós.
Meu Deus, eu odiava essa merda.
Por que ela ainda estava presa a um idiota abusivo estava além de
mim. Eu nem conhecia o cara e pensar nele fez meu sangue ferver.
Espere... Por que eu estava me importando com isso?
— Tudo bem, tudo bem, — eu disse, dando um passo para o lado. —
Vamos dar uma olhada.
Estávamos revistando meu quarto, mas achamos o colar? Não. Então
continuamos nossa busca. A certa altura, olhei para Penny, curvada,
olhando embaixo da cama...
Senti uma vontade repentina de pular em cima dela, de tomá-la por
trás, de torná-la minha novamente.
Droga, cara! Eu claramente precisava transar, e o mais rápido possível,
ou o problema só pioraria. Ela se virou e caiu contra a parede, parecendo
agitada.
— Não consigo encontrar em lugar nenhum, — Penny gemeu. —
Onde está, Xavier?
— Não sei.
— Mas eu tenho que encontrá-lo. Você não entende!
De repente, Penny parecia desesperada. Quando perco algo
importante também fico chateado, mas por que o pânico?
Normalmente, minha paciência já teria se esgotado, e eu a teria
chutado para fora da minha casa. Mas talvez a bondade de Angela tenha
tido um impacto sobre mim ou algo assim, porque, em vez disso, me
sentei ao lado de Penny.
— Você pode me dizer, você sabe, — eu disse sem jeito. — Porque
isso... é importante para você.
Penny me olhou estranhamente, quase como se ela não pudesse me
reconhecer, mas então ela começou.
— Você se lembra do meu namorado, certo?
Eu concordei. Nunca fui um grande ã dele, mas trabalhamos juntos e
tínhamos que manter o relacionamento cordial.
Quando Penny finalmente criou coragem e terminou com ele... bem,
eu estava lá.
Não de uma forma romântica e emocional.
Apenas para o sexo.
Felizmente, o idiota do ex de Penny morava principalmente em Paris,
então eu não precisava ver sua cara feia com frequência.
— Ele está vindo para Nova Iorque na próxima semana, — Penny
continuou.
— E... eu meio que concordei em vê-lo novamente.
Eu a encarei como se de repente nela tivesse crescido uma segunda
cabeça.
— Você é idiota?
— Talvez...
Ela nem estava negando.
— Olha, eu não sei todos os detalhes e não me importo o suficiente
para ouvi-los, mas ele era abusivo, certo? Foi por isso que você terminou
com ele!
— Ele diz que mudou...
— Não me venha com essa merda, Penny. Você sabe tão bem quanto
eu que ele está mentindo descaradamente.
— Você não o conhece como eu. — Sua voz começou a aumentar, e eu
não sabia se ela estava tentando me convencer ou a si mesma. — Eu
posso mudá-lo. Eu posso ajudá-lo com seus problemas.
Por que ela estava sendo tão teimosa?
Por que ela não conseguia ver o óbvio?
Por que isso me deixou tão furioso?
— Eu conheço o tipo dele, — eu soltei. — Ele é manipulador, sem
coração e, assim que conseguir o que quer de você, ele a jogará no lixo.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Penny.
— Tipo como você?
Suas palavras foram como um tapa na cara — uma chuva fria de
realidade bem sobre minha cabeça quente.
— Você trata sua esposa como todas as outras mulheres em sua vida?
— ela perguntou.
Era isso então.
A razão pela qual suas palavras me atingiram com tanta força. Por que
vê-la tão chateada com seu ex me irritou imediatamente.
Era como se olhar no espelho.
Angela era como Penny.
E eu era como o ex-namorado idiota da Penny.
Eu não aguentava mais um segundo.
— Você precisa ir, — eu disse em voz baixa.
Penny nem mesmo discutiu. Ela se levantou, cabisbaixa. Ela parecia
tentar desaparecer em seu suéter enorme.
— Eu pensei que você tivesse mudado, Xavier, — ela disse
calmamente. — Eu pensei que talvez houvesse alguma bondade em você,
mas você ainda é o mesmo. Sem coração.
Então ela saiu pela porta, me deixando sem palavras.
Ela estava certa?
Eu era realmente tão frio?
Enquanto a seguia até o elevador, senti uma necessidade repentina e
bizarra de me desculpar. Dizer apenas as palavras — sinto muito — e
pronto. Não pode ser tão ruim, não é?
Não, disse a mim mesmo. Ela é indigna de seu pedido de desculpas.
Deixe-a ir e continue com sua vida.
Mas quando Penny estava prestes a apertar o botão para chamar o
elevador, as portas se abriram. Parada do outro lado estava...
NÃO!!!!
ANGELA

Eu me senti positivamente tonta enquanto voltava para casa depois de


ver Lucas. Eu não conseguia acreditar que meu irmão realmente proporia
casamento a minha melhor amiga .
Fazia um dia que ele havia me contado a notícia, e decidi passar a
noite em Heller para ajudá-lo a deixar tudo pronto. Agora, eu estava
voltando para a cobertura de Xavier, mas tudo que eu conseguia pensar
era em Lucas e Em.
Foi estranho me acostumar com os dois como um casal. Mas agora
que eu sabia que eles estavam levando muito a sério, e tão sério que
possivelmente se casariam, parecia que toda a estranheza tinha valido a
pena.
Minha melhor amiga estava prestes a se tornar minha cunhada. Claro,
eu tinha dado uma bronca em Lucas sobre como se comunicar
corretamente para que ele pudesse acertar as coisas com Em primeiro.
Mas então nós nos divertimos muito comprando o anel. Eu sabia
exatamente o que minha amiga gostaria. Como florista, ela tinha uma
obsessão específica por todas as coisas terrenas e refeitas.
Em vez de ir a uma joalheria típica, levei Lucas a um lugar famoso por
seus diamantes sem conflito e joias refeitas. Havia peças antigas
impressionantes que as mulheres usaram por centenas de anos antes de
serem remodeladas em algo moderno e deslumbrante.
Esse tipo de história era algo que eu sabia que Em apreciaria. Quando
Lucas bateu no meu ombro e disse: — O que você acha deste? — Eu senti
minha respiração parar.
Foi o anel mais lindo que eu já vi.
Uma delicada faixa de prata entrelaçada com um rubi rosa no centro,
circundado por minúsculos diamantes. Parecia algo de um sonho.
Como algo feito para Em.
Meus olhos brilharam com lágrimas enquanto sorria para meu irmão.
— É perfeito, Lucas. Ela vai adorar.
Depois que ele comprou e discutimos a maneira como ele proporia, eu
corri para casa, sentindo uma mistura de alegria e inveja.
Eu nunca teria um momento como Em estava prestes a experimentar,
o momento em que o amor da sua vida se ajoelha e pede que você passe a
vida com ele.
Não, minhas memórias eram de um acordo de vida ou morte que fui
forçada a fazer com o pai do meu marido.
Sim, Xavier tinha sido mais doce ultimamente, mas eu ainda não
estava convencida de que ele havia mudado totalmente. Eu também sabia
que nunca seríamos capazes de retroceder o relógio para que pudéssemos
ter um dia de casamento adequado.
Então, novamente... talvez eu estivesse subestimando Xavier. Talvez
um casamento de verdade, um amor verdadeiro entre nós, ainda
estivesse na mesa.
Depois de ver esse milagre acontecer entre Em e Lucas, tudo parecia
possível.
Quando finalmente saí do táxi e entrei no prédio, senti que estava
prestes a explodir de positividade e entusiasmo pelo futuro.
Entrei no elevador, esperando pacientemente enquanto ele me levava
para o último andar. Com uma campainha, as portas se abriram e eu
entrei no meu apartamento, apenas para parar, congelada.
De pé na minha frente estava outra mulher, com as bochechas
molhadas de lágrimas. Ela parecia adorável, linda e melhor do que eu em
todos os sentidos.
E atrás dela estava Xavier.
Parecia que eu tinha acabado de pegar meu marido traidor em
flagrante. Novamente.
E tudo dentro de mim, todos aqueles pensamentos otimistas e
arrepios de excitação, desapareceram tão rapidamente quanto vieram.
Capítulo 14
Mudança de coração

XAVIER

— Angela, não é o que parece!


Mesmo quando as palavras saíram da minha boca, eu sabia o quão
clichê e ridículo elas soavam, mas não pude evitar.
Ela estava olhando para Penny e… MERDA! CARALHO! — ela ia
pensar que eu estava transando com alguém de novo.
Depois de todo o progresso que estávamos fazendo ultimamente, essa
era a última coisa de que eu precisava. Pela primeira vez, eu não a estava
traindo ativamente. Sinceramente, estava apenas tentando ser legal e foi
isso que recebi em troca.
Porra, nenhuma boa ação fica impune, eu acho.
Eu queria xingar Penny, chamá-la de vadia inútil. Ela estava tornando
minha vida tão complicada, e para quê?
Por um pingente que seu ex-namorado deu a ela? Quem se importa!
Antes que eu pudesse gritar com Penny ou tentar me desculpar, algo
ainda mais surpreendente aconteceu.
Penny segurou a mão de Angela.
— É verdade, — ela disse. — Meu nome é Penny. Eu estava aqui
procurando por algo. Nós não estávamos...
Os olhos de Angela se arregalaram. Por um segundo, uma emoção
varreu seu rosto. Quase parecia alívio. Então ela se importava!
— Não é da minha conta, de qualquer maneira, — ela disse
humildemente. — Vocês dois podem fazer o que quiserem, de verdade.
— Não, tente entender, — disse Penny. — Xavier e eu...
costumávamos ser próximos. Mas não mais. Nós terminamos. Ele se
preocupa muito mais com você do que comigo.
Os olhos de Angela se voltaram para os meus. Não consegui ler a
expressão, mas senti minha respiração ficar presa na garganta. Como se
este fosse um momento decisivo. Se ela acreditasse em Penny...
Ainda tínhamos uma chance.
Eu ainda poderia conquistá-la.
Eu ainda poderia mostrar a Angela que eu mudei.
Mas se ela não acreditasse em Penny...
Penny se virou e olhou para mim, e mesmo que ela ainda parecesse
magoada com o quão cruel eu fui com ela, ela deve ter lido minha
expressão, porque sorriu gentilmente.
— Xavier... ele estava realmente apenas tentando ser legal. Para me
ajudar a encontrar algo que deixei aqui.
Não pude acreditar em sua gentileza, sua bondade.
Ela sempre foi legal, mas eu nunca a tinha visto como algo mais do
que a linda estudante de administração que era boa na cama. Mas
claramente havia uma pessoa real ali.
Uma pessoa com quem eu tinha sido desnecessariamente horrível.
Assim como com Angela antes dela...
— O que você deixou? — Angela perguntou com uma carranca.
— Um colar. Um pingente de... de alguém muito especial para mim.
Tem minhas iniciais nele. PS
Angela parecia ainda mais surpresa agora. Suas bochechas se
encheram de cor.
— Eu sei onde está, Penny. Um segundo.
Angela entrou na cobertura, passando por nós dois e caminhou pelo
corredor, nos deixando sozinhos. Eu me virei para Penny, me sentindo
envergonhado.
— Você não precisava fazer isso, — eu disse. — Para me defender.
— Eu não fiz isso por você, Xavier, — ela disse. — Eu fiz isso por ela.
Ela claramente se preocupa muito com você. Eu podia ver nos olhos dela.
— Penny, me...
Eu queria me desculpar, mas minha boca simplesmente não conseguia
formular as palavras. Eu balancei minha cabeça, enojado comigo mesmo.
— Eu não deveria ter gritado com você. Liguei para você... Não sei o
que há de errado comigo.
O olhar de Penny se suavizou. Ela deu um passo em minha direção.
— Eu sei, Xavier. Eu sei que você ainda está com raiva. Com raiva do
mundo, de todos. Com você também, eu acho. Mas... pela primeira vez,
posso sentir outra coisa.
— O quê? — Eu perguntei. Eu não tinha ideia do que Penny estava
falando.
Ela sorriu.
— Não é óbvio? Amor, Xavier.
Eu? Apaixonado por... Angela? Isso parecia um exagero. Claro, eu
estava desenvolvendo sentimentos, mas não havia necessidade de soltar
essa bomba. Antes que eu pudesse me defender, Penny colocou a mão no
meu ombro, me interrompendo.
— Você não precisa explicar. É óbvio. Na maneira como você olha para
ela. A maneira como você está tentando, embora nem sempre
conseguindo, ser mais decente. Se você pode ver ou não, Xavier, não sei,
mas eu posso. Você está apaixonado.
Penny estava certa? Era essa a sensação estranha e desconfortável?
Não parecia com nada que eu havia sentido antes. Com Claudia, minha
ex, tinha sido uma fonte jorrando felicidade seguida pela tristeza mais
profunda que eu já conheci.
Eram esses altos e baixos loucos que imaginava ser normal. Era como
eu pensei que o amor deveria ser.
Mas com Angela... foi uma chama lenta, impulsionada pela confusão e
mal-entendidos, e então um desenvolvimento silencioso de confiança,
pra depois...
Eu não sabia dar nome a isso.
— Xavier, — Penny disse, me puxando de volta para o planeta Terra,
— não lute contra isso. A mudança. Posso ver que a Angela revela o que
há de melhor em você. Tente ceder, ok?
Eu deveria concordar com Penny? Desde quando alguma garota com
quem eu transava tinha o direito de me dizer como devo conduzir minha
vida?
Desde quando ela se tornou uma expert no assunto?
Mas era como se meu corpo estivesse se movendo contra minha
própria mente, porque de repente eu estava confirmando com a cabeça.
Ela sorriu, enxugando uma lágrima de seus olhos enquanto passos
ressoavam atrás de nós. Eu me virei para ver que Angela havia retornado,
com um colar na mão.
— É isso, Penny? — ela perguntou docemente, entregando-o. — Eu o
encontrei no meu quarto outro dia. Lucille deve ter pensado que era
meu. — Penny olhou para ele, girando-o de forma que as iniciais
gravadas ficassem visíveis. Então ela o segurou contra o peito, parecendo
muito grata.
— É isso. Muito obrigado, Angela.
— Claro. Posso perguntar... o que isso significa para você?
Os olhos de Penny se voltaram para mim e depois de volta para
Angela.
— É de alguém com quem me importo muito. Algo que tenho certeza
de que você pode entender.
As bochechas de Angela coraram, mas ela acenou com a cabeça.
— Obrigado novamente. Muito. E boa sorte com tudo.
Então, com isso, Penny se virou e saiu pela porta, deixando nós dois
sem palavras. Por um segundo, olhei para Angela, me perguntando se eu
devia a ela mais alguma explicação.
Mas ela se virou para mim.
— Bem, isso foi meio estranho.
Eu ri.
— Foi.
— Vejo você no jantar? Eu esperava dar uma corrida.
— Claro.
Ela acenou com a cabeça e se dirigiu para seu quarto. Eu me perguntei
se ela precisava correr apenas para se afastar de mim, mas decidi não
pensar demais.
Antes que eu pudesse me conter, gritei o nome dela.
— Angela!
Ela se virou, surpresa.
— Sim?
— Estou... uh... contando os minutos até o jantar.
Que porra é essa? Isso foi o melhor que eu poderia fazer? Eu costumava
ser tão bom. O que aconteceu com o Knight Xavier que deixava as
garotas com as pernas tremendo?
Mas Angela sorriu.
— O mesmo aqui, Xavier.
Então ela saiu e percebi que estava prendendo a respiração.

Em: Não sei o que você disse ao Lucas.

Em: Mas MUITO obrigada, Angie.

Em: Ele voltou a ser ele mesmo!!!

Angela: De nada, Em.

Angela: Eu sabia que tudo daria certo.

Em: Como estão as coisas com o Xavier?

Angela: Hum...

Angela: Bom, eu acho.

Angela: Não tenho certeza.

Angela: É confuso.

Em: Bem

Em: Estou aqui se precisar conversar sobre isso, ok?

Angela: Obrigada.

ANGELA
Era tão difícil manter segredos de Em. Claro que estava feliz que meu
irmão estava sendo gentil com ela novamente, mas eu gostaria que ela
soubesse o que eu fiz...
Que ele estava prestes a propor em casamento!
E então, eu sabia que provavelmente poderia contar a ela tudo sobre o
estranho incidente com Penny e Xavier, mas parecia muito para mandar
por mensagem. E ela provavelmente interpretaria mal. E… deixa pra lá.
A corrida ajudou a clarear minha cabeça, de modo que, quando nos
sentamos para jantar, eu fui capaz de relembrar o dia com alguma clareza
e novas percepções.
Estávamos comendo em silêncio, alguma música espanhola tocando
ao fundo, quando decidi fazer uma pergunta a Xavier.
— Então, — comecei, — você está nervoso?
— Sobre hoje? Como você disse, foi estranho, mas...
— Não sobre hoje, — eu disse, rindo levemente. — Sobre este fim de
semana. O Jubileu de Prata finalmente chegou!
— Oh, merda, você tem razão.
Nós dois rimos, percebendo que não éramos páreo para o que viria.
— Não vamos ganhar de jeito nenhum, não é? — Xavier perguntou.
Eu fiz uma careta, fingindo estar ofendida.
— Talvez seja assim que você se sinta, mas eu sou uma Knight, e os
Knight ganham competições, não é?
O sorriso de Xavier se alargou.
— Eu gosto quando você fala assim.
— Como o quê?
— Como uma capitalista. É sexy.
Eu corei. Tudo tem que ser sobre sexo com esse cara?
— No entanto, já faz um tempo desde o nosso último treino, — eu
disse, mudando de assunto. — Espero me lembrar de todas as etapas.
— Bem, — ele disse com um encolher de ombros, baixando o garfo e a
faca, — por que não praticamos agora?
— Você quer dizer aqui?
— Por que não! O apartamento é grande o suficiente para parecer
uma pista de dança, não é?
Baixei meus talheres, sorrindo e aceitando o desafio.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos lá.

Nós nos movemos no ritmo da batida no meio do apartamento, com


nossos pés descalços deslizando pelo chão de madeira. Nossas mãos se
tocaram delicadamente, tomando cuidado para não segurar muito forte
para que pudéssemos completar nossos movimentos facilmente.
Eu me peguei curtindo a dança pela primeira vez. O ritmo do bolero
em um espaço tão confortável e familiar como este apartamento parecia
íntimo agora.
— Eu não acho que precisávamos praticar, Angela, — disse Xavier
entre as voltas. — Somos mestres já.
— Vai dar azar, Xavier! — Eu o repreendi de brincadeira.
Ele me puxou para trás, continuando.
— Só estou dizendo que, mesmo que não ganhemos, somos bons
nisso.
— Você acha?
— Eu sei que sim.
Eu sorri. Nunca me senti tão segura nos braços de alguém antes. Eu
queria que a música continuasse indefinidamente. Para nos dar uma
desculpa por estarmos tão perto.
Mas é claro, como sempre, acabou.
— Sr. Knight, — eu disse, balançando a cabeça e fazendo um
cumprimento cordial.
— Sra. Knight, — ele respondeu com uma reverência.
Então, nós dois nos viramos e seguimos nossos caminhos separados.
Eu senti minha nuca formigar... como se os olhos de alguém estivessem
em mim. E quando me virei, peguei Xavier olhando para mim. Ele
rapidamente se virou e entrou em um corredor.
Eu ri, divertida e um pouco chocada pela descrença. Xavier estava
agindo como um garoto de colegial apaixonado, e isso era adorável.
Quando voltei para o meu quarto, porém, notei uma enxurrada de
novas mensagens na minha tela. A princípio, pensei que fosse Em.
Mas quando vi quem era o remetente, meu sorriso se evaporou
instantaneamente.

Número desconhecido: Olá de novo, linda senhora.

Número desconhecido:já faz muito tempo...

Angela: Quem é?!

Angela: Sr. Lemor???

Número desconhecido: Errado!

Número desconhecido: Tente novamente, doce Angela.

Angela: Eu disse para você me deixar em paz!!!!

Angela: O QUE VOCÊ QUER?!

Número desconhecido: Você, é claro.

Número desconhecido: Eu quero você.

Número desconhecido: Eu terei você.

Angela: NÃO

Angela: VOCÊ NÃO VAI!

Número desconhecido: Você nunca aprende?

Número desconhecido: Ninguém me diz não...


Capítulo 15
O Jubileu de P rata

ANGELA

Luzes piscaram. Multidões gritaram. Sorrisos deslumbrados.


Estávamos no meio de um tapete vermelho para o Jubileu de Prata e
eu mal conseguia ver direito. Havia tantos flashes quanto membros da
imprensa aqui.
Para onde quer que me virasse, alguém gritava comigo.
— Sra. Knight! Quem desenhou esse vestido?!
— Sra. Knight! Você pode posar com seu marido?!
— Sra. Knight! O que você tem a dizer aos seus ãs?!
Fãs? Desde quando eu tenho ãs? Xavier estava sorrindo e acenando,
claramente acostumado com isso, vestido com um smoking elegante. Eu,
entretanto, usava um vestido de cocktail de chiffon com um glamoroso
detalhe dourado, que eu sabia que brilharia na pista de dança.
Mesmo que Xavier insistisse que eu parecia vestir — um milhão de
dólares, — eu me sentia deslocada e extremamente nervosa. Não era só
porque eu estava prestes a dançar na frente de uma multidão enorme de
pessoas importantes.
Foi por causa daqueles textos estranhos que eu recebi. Eu não tinha
pensado em quem poderia estar tentando mexer comigo por um tempo.
A última vez que recebi uma mensagem como essa foi depois do último
ensaio em casa para o baile.
Achei que poderia ser o que Dustin havia dito. — Apenas palavras.
Agora eu não tinha tanta certeza. Parecia haver uma ameaça oculta
nas palavras, uma promessa de que algo terrível estava para acontecer. Eu
não conseguia tirar a última frase da minha cabeça.
— Ninguém me diz não...
Ele, quem quer que fosse, havia dito isso da última vez também. Foi
tão assustador. As ameaças permearam meu ser, fazendo-me sentir como
se minhas mãos fossem de gelo e minhas pernas de gelatina.
Como eu poderia dançar de forma coordenada esta noite depois de
receber mensagens como essa?
— Ei, — eu ouvi uma voz rouca sussurrar ao meu lado. — Você está
bem?
Virei-me para ver Xavier, parecendo preocupado. Acho que não estava
escondendo meu nervosismo muito bem. Tentei fingir um sorriso.
— Tudo bem, — eu disse. — Devíamos sorrir para uma foto, certo?
— Angela, se você não quiser, não precisamos. Já temos tarefas demais
esta noite.
Ele estava sendo tão legal, tão apoiador. Eu mal podia acreditar que
este era o mesmo Xavier que uma vez me chamou de puta oportunista,
entre outras coisas.
— Você tem certeza? — Eu perguntei. — Parece que é o que se espera
de nós.
— Vamos.
Xavier pegou minha mão e me levou para dentro do enorme salão de
baile sem dizer qualquer palavra. Fiquei extremamente grata por estar
longe das câmeras.
Mas agora havia novos obstáculos para enfrentar. Os ricos convidados
do Jubileu de Prata, que incluía membros da Knight Enterprises e outros
empresários importantes.
Xavier tentou escapar da maioria das cordialidades e nos levar o mais
rápido possível aos nossos lugares, mas alguma conversa fiada foi
necessária. Quando chegamos à nossa mesa, eu estava sem fôlego.
— Aqui, sente-se, — ele disse. — Vou pegar um pouco de água para
nós.
— Quando começa a competição? — Eu perguntei.
Eu só queria acabar com isso logo. Ele colocou a mão no meu ombro
nu. A sensação de sua pele áspera na minha me fez estremecer de
excitação.
— Assim que todos estiverem dentro, Angela. Não se preocupe. Está
no papo.
Nós conseguimos.
Eu queria gravar essas palavras em meu cérebro. Elas eram tão casuais
e reconfortantes, exatamente o que eu precisava. Com isso, Xavier se
virou para nos encontrar um pouco de água.
Eu sorri um pouco, tentando deixar aquelas mensagens assustadoras
para trás. Eu tinha um novo mantra para preencher esse espaço.
Nós conseguimos, pensei.
Isso mesmo...

— Por favor, seja bem-vindo ao palco... Sr. e Sra. Knight!


A multidão aplaudiu descontroladamente quando Xavier e eu nos
levantamos e nos aproximamos da pista de dança. Eu podia me sentir
suando de ansiedade. Eu estava tanto assustada quanto animada.
Finalmente, quando chegamos ao meio da pista de dança, os aplausos
cessaram e tudo ficou quieto, Xavier me puxou para perto e sussurrou em
meu ouvido.
— É só você e eu, Angela. Ninguém mais importa. Não agora. OK?
Aqueles olhos escuros nunca pareceram tão cheios de luz. Eu quase
engasguei. Ele era tão lindo. Eu sei, é estranho chamar um homem de
belo, mas foi assim que Xavier apareceu naquele momento.
Como uma espécie de deus grego, elevando-se acima de mim,
oferecendo-me sua mão perfeitamente esculpida. Oferecia para mim, um
nada, um ninguém, uma camponesa.
Ele queria me levantar, mostrar ao mundo que eu era dele, que,
naquele momento, éramos tudo o que importava. E eu queria dizer sim a
tudo.
O bolero começou, o violão espanhol dedilhada suavemente, fazendo-
nos balançar e deslizar em torno um do outro como uma imagem no
espelho...
Vagamente, eu podia sentir centenas de olhos nos seguindo, mas havia
apenas dois olhos que me deixaram em transe. E esses eram de Xavier.
A intensidade daquele olhar era diferente de tudo que eu já tinha
visto. Enquanto ele me girava, eu podia sentir a força de seus músculos
fortes me impulsionando. Quando ele me puxou para perto, senti seu
hálito quente contra minha bochecha pálida.
Cada movimento seu era dominante e poderoso. E, ainda assim, nós
circulamos em perfeita sincronia, nossa dança era mais do que uma
dança.
Era uma conversa que estávamos tendo desde o primeiro momento
em que nos conhecemos, o momento em que ele me xingou. Foi, ao
mesmo tempo, assustador e seguro. Zangado e calmo. Sexy e doce.
Eram todos os opostos do mundo reunidos em um.
Enquanto ele me levantava no ar, com as mãos em volta da minha
cintura, percebi que muito dessa dança parecia exatamente como o
sonho que eu tive com Xavier.
Os holofotes.
A sensação de que estávamos totalmente sozinhos.
A música sensual.
Só faltou a cama de almofadas e, quanto ao que se seguiu, nem
acreditei que fui até lá no meio desta dança. Não parava de pensar nisso.
O sonho sexual.
Mas eu podia ver nos olhos vorazes de Xavier. Ele estava sentindo o
mesmo. A tensão sexual, a necessidade de liberação.
Mas eu não poderia dar a ele, não é? Para Xavier Knight? Depois de
tudo que ele fez comigo?
Eu poderia realmente fingir que estava tudo bem, que nosso
casamento era um casamento normal e que agora era esperado que
fizéssemos sexo? Quando a dança terminasse, quem seria Xavier e eu?
A última etapa, a pose final. Em seguida, a sala estava de pé, cobrindo-
nos de aplausos. Eu olhei para Xavier, sorrindo, seus olhos brilhando, e
eu sabia que não aguentaria.
Assim que saímos da pista de dança, não parei na mesa. Fui direto
para as portas e corri do salão de baile para a noite o mais rápido que
meus pés conseguiram.
Estava nevando — a primeira neve do ano — e eu não tinha casaco,
mas não me importei.
Eu precisava fugir.
Dele.
De mim.
De tudo.
XAVIER

— Angela! ANGELA! ESPERA!


Eu estava correndo atrás dela o mais rápido que pude. Estava frio e ela
não usava nada além de um vestido de festa, pelo amor de Deus! Para
onde ela estava indo?!
— Angela, por favor!
Eu finalmente consegui alcançá-la no meio de uma faixa de pedestres.
Eu agarrei seu braço antes que ela pudesse chegar ao outro lado da rua.
De cada lado de nós, carros passavam ruidosamente, aumentando a
intensidade do momento.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei a ela. — Angela, olhe para
mim!
Tentei colocar meu casaco nela, mas ela resistiu, me afastando. Por
um segundo, pensei que ela estava prestes a entrar no trânsito e tive que
agarrar seus ombros com força.
— Angela, PARE!
Ela finalmente parou e olhou para mim, e eu percebi que havia
lágrimas naqueles olhos grandes e lindos.
— O que aconteceu? — Eu perguntei.
— Tudo, Xavier! — ela exclamou. — É tudo. Tudo o que somos. Tudo
que não somos. Eu não consigo mais manter isso direito. Eu sinto que
estou enlouquecendo.
— Eu sei que foram uns meses confusos, mas…
— Confusos? Não consigo nem me reconhecer mais no espelho,
Xavier!
Eu nunca a tinha ouvido levantar a voz assim. Suas bochechas
estavam vermelhas, seu rímel escorrendo. O frio intenso a fazia tremer.
— Vamos entrar, — eu disse, vendo o homenzinho na faixa de
pedestres brilhar em verde. — Podemos conversar sobre tudo.
— Não, — ela disse, resistindo. — Não quero mais falar. Eu quero
saber. O que nós somos? O que isso significa para você, Xavier? De
verdade?
Eu respirei fundo. Por um tempo, eu sabia que precisava me confessar
a Angela, mas tive muito medo de começar. Agora, no meio da cidade de
Nova Iorque, quando a neve começou a cair, eu sabia que não havia jeito.
Já era hora.
— Angela, eu sei por que você se casou comigo, — comecei. — Meu
pai me contou tudo. Sobre as contas médicas do seu pai. Sobre o acordo.
Eu... — E finalmente, eu disse a palavra que nunca havia dito antes, a
única palavra certa para este momento.
— Eu sinto muito. Sinto muito, Angela. Por tudo. Pelas coisas que te
chamei. Pela maneira como te tratei. Se eu soubesse o tempo todo que
não se tratava de dinheiro, que era um ato altruísta...
Meus olhos ardiam. Eu podia sentir as lágrimas que queriam fluir. Mas
não, porra — eu não permitiria. Eu ainda tinha muito a dizer. Angela me
observou com os olhos arregalados.
— Eu não posso me perdoar por quão horrível eu fui com você,
Angela. Depois de tudo que você fez por mim. Depois que você salvou
minha vida. Eu entendo se você quiser terminar o casamento.
— Xavier, eu não posso... — Ela tentou falar. — Brad e eu tínhamos
um acordo.
— Dane-se o acordo. Se você quer ser livre, deveria ser, Angela. Você
merece isso. Eu mesmo vou rasgar o acordo! Mas...
E agora eu olhei para baixo. Se eu continuasse olhando para aqueles
olhos puros e perfeitos, eu sabia que eu quebraria. Quebraria em mil
pedaços. E perderia o controle.
— Vou deixar você ir se for preciso, Angela, mas você deve saber que é
a última coisa que quero. Eu... eu quero que você fique, Angela. Fique.
Eu não sabia o que Angela estava prestes a dizer, mas sabia que
quaisquer que fossem as próximas palavras que saíssem de sua boca, elas
mudariam tudo...
— O que você quer, Angela? — Eu perguntei. — Você fica?
Capítulo 16
Começar de Novo

ANGELA

— O que você quer, Angela?


O que eu quero?
Em tinha me feito a mesma pergunta apenas algumas semanas atrás.
Meus lábios se separaram em resposta, mas descobri, novamente, que
não conseguia formar as palavras.
A resposta não era tão simples.
Não era uma questão do tipo vestido vermelho ou azul. Sushi ou
macarrão. Isso era felicidade e amor. Tristeza e morte.
Era minha vida. O futuro da minha família.
Quando minha mente começou a girar com pensamentos e
memórias, fechei os olhos, incapaz de me concentrar com o peso do
olhar perscrutador de Xavier em mim.

Não era o suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher
no dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher
que eu conhecia, uma mulher com quem passei um tempo naquele dia.
Uma mulher que sabia como eram meus poros de perto. Era como se ele
estivesse propositalmente tentando me machucar, me punir por ter me
casado com ele.
— Limpe, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas na minha vida, convidando
meu próprio pai sem me dar nenhum aviso prévio, então eu devolvo para
você. Esta é uma bagunça que fiz. Você limpa.

— Ei, — ele disse, mais suavemente, como se estivesse tentando


flertar. Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia
disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que eu
podia contar seus cílios.
— Ok, — eu disse. Eu tentei me desvencilhar de suas mãos, mas ele me
segurou com força.
— Sabe, as esposas devem fazer coisas para seus maridos. Para serem
esposas de verdade, — ele disse, com um odor de álcool saindo dele.

— ... o amor é paciente...


— ... puta oportunista...
— ... o amor é gentil...
— ... eu te odeio pra caralho...
— ... o amor nunca falha...
— ... o que eu quero é arruinar você...
— Não, — eu finalmente disse, me surpreendendo.
Com os olhos abertos, me forcei a não vacilar enquanto observava a
expressão de Xavier cair.
— E-eu não estou pronta para ficar, para continuar casada com você.
Xavier engoliu em seco.
— Eu entendo. Eu...
— Mas — Eu levantei meu dedo — Eu gostaria de começar de novo.
Se estiver tudo bem?
Eu ouvi o ar whoosh saindo dos pulmões de Xavier como se ele tivesse
levado um soco no estômago. Um sorriso radiante se espalhou por seus
lábios.
— Eu não gostaria de mais nada.
Ele me envolveu em seus braços, de repente me abraçando.
— Nesse caso — seu hálito doce soprou em minhas bochechas — Eu
gostaria de convidar você para sair. Na próxima sexta, talvez? Eu conheço
uma pizzaria bonitinha...
Incapaz de me conter, eu ri.
— Isso parece maravilhoso.
— Angela, eu... — Xavier parou, lambeu os lábios e me apertou mais
antes de recuar. — Vamos entrar. Está congelando. E eles estão prestes a
anunciar os vencedores.
Com os braços em volta dos meus ombros, deixei Xavier me levar de
volta para o outro lado da rua e para o salão de banquetes.
Apesar da neve caindo nas ruas, eu me sentia aquecida. Brilhante. Era
como se estivesse andando nas nuvens.
Se havia uma coisa que eu sabia, era que você sempre precisava pesar
o que era bom e o que era ruim. Desde que conheci Xavier, minha vida
teve seus altos e baixos, mas não havia dúvidas em minha mente de que o
bem superava em muito o mal.
Especialmente depois que voltamos da ilha.
Era como se meu marido tivesse se tornado uma nova pessoa. Não
seria justo usar tudo o que ele disse no passado contra ele.
— Chegou o momento que todos esperávamos, — falou o locutor
enquanto Xavier e eu nos dirigíamos ao centro da pista e ocupávamos
nosso lugar entre os outros participantes. — É hora de anunciar os
vencedores. Primeiro, em terceiro lugar...
Aplausos educados atravessaram o ar.
— Em segundo lugar...
Eu não conseguia me concentrar nas palavras que o locutor estava
dizendo. De qualquer maneira, não importava se ganhamos ou não. Eu já
tinha ganhado um prêmio melhor do que poderia esperar esta noite.
Seria ganancioso esperar algo mais.
Em vez disso, deixei minha alegria irradiar através de mim, senti
minha pele formigar quando minha mão tocou a de Xavier, e minhas
bochechas queimaram de tanto sorrir.
Houve um estrondo e o estouro do champanhe quando os vencedores
do segundo e primeiro lugar foram anunciados. Glitter e confete
tomaram o ambiente. Balões caíram do teto.
Xavier praguejou ao meu lado, e então fui levantada, girando no ar.
Eu ouvi suas palavras sem fôlego enquanto seus lábios roçavam meu
ouvido, — Eu não posso acreditar.
Então, eu estava em um pódio e um enorme ramo de flores foi
colocado em meus braços enquanto a multidão aplaudia.
— Parabéns, meus filhos, — disse Brad, aparecendo abaixo de nós. Ele
me ajudou a descer do degrau e esmagou o buquê de rosas brancas entre
nós enquanto me abraçava.
— Muito obrigado, Sr. Knight! Não posso acreditar que ganhamos. —
Lágrimas de alegria encheram meus olhos.
Brad sorriu.
— Você dançou lindamente! Estou orgulhoso de você. — Seus olhos
brilharam para encontrar os de seu filho. — De vocês dois. Agora, vamos
pegar algumas bebidas. A noite ainda é uma criança!
Xavier me puxou através da multidão em direção ao bar. As luzes das
câmeras e os sorrisos dos convidados não pareciam tão malévolos agora.
Não, agora eu era invencível.
Eu rapidamente me desculpei, deixando Xavier fazer o pedido para
nós enquanto eu deslizava para o banheiro. Depois de dançar e chorar, eu
sabia que devia estar uma bagunça.
Na pia do banheiro, joguei um pouco de água no rosto e apliquei
novas camadas de rímel e batom. Então, decidindo aproveitar o
momento de calma, tirei meu celular da minha bolsa. Havia três
mensagens de texto de Em.

Em: MDS! MDS! MDS!

Em: ANGIE!

Em: Lucas me PROPÔS EM CASAMENTO!

Eu não tinha certeza se era possível, mas parecia que meu sorriso
ficou ainda maior. Rapidamente, digitei minha resposta.

Angela: UHU! Parabéns!

Em: Você sabia?

Em: Como você me deixou reclamar semana passada!?

Angela: Eu sabia que tudo acabaria bem. Estou tão feliz por vocês
dois!

Em: Você será minha dama de honra?

Angela: Claro! Você sabe que pode contar comigo sempre.

Fizemos planos de nos encontrar para começar a fazer os preparativos


para o casamento e depois nos despedimos.
Era engraçado como a vida tinha um jeito de mudar as coisas.
Apenas algumas semanas atrás, eu não conseguia ver o lado positivo
de nada. Agora era como se em todos os lugares em que eu sintonizasse o
mundo estivesse dourado com o mais brilhante e puro ouro.
XAVIER

Ela disse sim.


Não conseguia me lembrar da última vez que estive tão feliz, da última
vez que sorri tanto.
Angela concordou em namorar comigo, quis me dar uma segunda
chance. Eu não merecia que um anjo tão perfeito tivesse misericórdia de
mim depois do ódio que destilei em Nova Iorque no ano passado.
Claro, não foi perfeito, mas foi muito mais do que eu merecia. Ela
ainda era minha, e eu me certificaria de não decepcioná-la novamente.
Subindo no pódio com Angela, aceitando nosso troféu de ouro, posso
muito bem estar no topo do mundo.
Nada parecia tão bom — escalar o Everest, se tornar CEO, terminar
uma maratona. Nem mesmo a porra do glitter que caiu em meu terno de
seda poderia me irritar.
Mais tarde, enquanto dirigíamos pela noite, com as luzes da cidade
formando um caleidoscópio de cores no banco de trás, deixei meus olhos
vagarem sobre o anjo adormecido ao meu lado. Ela desmaiou no segundo
em que o motor foi ligado.
Sua melhor amiga e irmão estavam se casando, ela disse.
E ela seria a dama de honra.
Sim, ela disse.
Excitação demais, eu suponho.
— Devo ajudar a Srta. Knight a ir para o quarto dela, senhor? — Marco
perguntou baixinho quando paramos na frente do nosso prédio. Ele
desafivelou o cinto de segurança.
— Não, eu farei isso. Você pode ir para casa passar a noite.
Cuidadosamente, me levantei do carro e levantei Angela em meus
braços. Com a cabeça pressionada contra minha lapela, agradeci ao
porteiro enquanto ele nos ajudava a atravessar o saguão e entrar no
elevador. Mais e mais alto, subimos até a cobertura.
Para nossa casa.
Deus, ela me derreteu como alguém apaixonado. Pior ainda, fiquei
feliz com isso. Papai estava certo: Angela me tinha nas mãos.
As portas do elevador se abriram e as luzes apagadas do corredor
piscaram quando eu pisei no corredor, com minha noiva em meus
braços. Lá embaixo, o barulho e a vida da cidade zumbiam, distantes
demais para nos perturbar.
Eu levei Angela para o quarto dela, embora eu tivesse pensado em
levá-la para o meu. Ela não estava pronta para isso ainda. Meus lençóis
também não estavam limpos o suficiente.
Em vez disso, coloquei-a com cuidado em sua cama, ainda em seu
vestido, tirei os Jimmy Choos de seus pés e a cobri com uma colcha
pendurada nas costas de uma poltrona próxima.
Quando o luar iluminou sua pele com um brilho iridescente, de
repente eu senti que precisava correr, ou gritar, ou me mover.
No entanto, essa não era a raiva costumeira que corria em minhas
veias. Era algo que eu não sentia há muito tempo. Algo melhor do que
raiva — esperança.
Achei que não fosse possível. Depois de toda a dor e traição que
experimentei no ano passado, eu tinha certeza de que não era feito para
amar. Eu tinha certeza de que o destino havia forjado um propósito
diferente para mim, um de conquista, retidão e poder.
Ninguém jamais teve sucesso por meio do amor, dizia a mim mesmo.
Era só um peso na vida. Apenas te atrapalharia. Era inútil.
Elon Musk e Oprah não precisavam de amor para dominar o mundo,
nem eu.
Nas últimas semanas, tudo isso mudou.
Nada parecia mais importante do que isso. Do que ela.
Sentando na beira do colchão, afastei o cabelo dourado solto de sua
testa.
— Que tipo de feitiço você colocou em mim?
Inclinei-me e pressionei o mais leve dos beijos em sua testa.
— Boa noite, meu anjo.
Capítulo 17
Sempre teremos Paris

ANGELA

Mergulhando no calor do café, sacudi meu guarda-chuva e o deixei


pendurado no suporte ao lado da porta junto com meu casaco úmido.
Em já estava na maior mesa, com xícaras de café e diversos materiais
de casamento em sua parte superior. Ela ergueu os olhos da revista de
noivas que estava folheando enquanto eu deslizava para o banco ao lado
dela.
— Você parece feliz.
Peguei uma revista.
— Estou muito animada por você.
— Eu não acredito, — Dustin zombou do outro lado da mesa. Ele
tinha um raminho de flor na orelha e se abanava com um punhado de
amostras de tecido. — Acho que nossa pequena Rainha Dançante tem
um segredo.
Eu examinei a cafeteria, tomando cuidado para me certificar de que
estava vazia antes de revelar quaisquer detalhes. Eu sabia muito bem
como os boatos se espalham rapidamente e se transformam em notícias
quando chegavam aos ouvidos errados.
Pode não ser meu corpo nu desta vez, mas eu tinha certeza que se
alguém soubesse que meu relacionamento com Xavier estava em ruínas,
eu veria no noticiário das seis.
— Xavier e eu estamos namorando.
— Oh. Olha só. Finalmente! — Dustin disse, batendo palmas. — Eu
sabia que você cederia uma hora!
Minhas bochechas esquentaram e eu me senti encolhendo os ombros.
— Ele tem estado tão... diferente, ultimamente.
— Sim, desde que você viu seu...
— Em? — Interrompi antes que Dustin pudesse terminar a frase.
Minha amiga ficou de queixo caído com o meu anúncio, e um pouco
da minha confiança também foi pra baixo.
Em fechou sua revista.
— Estou feliz por você. Realmente estou. Eu só... ele tem sido tão
terrível com você, Angie. Você estava pronta para se divorciar do homem
há uma semana. Só não quero ver você se machucar.
Peguei sua mão, apertando seus dedos.
— Eu sei. Ele está diferente agora. Eu posso sentir isso.
Ela ofereceu um pequeno sorriso e acenou com a cabeça.
— Eu estou aqui, não importa o que aconteça. Sempre.
— Bem, eu, por exemplo, estou muito feliz. — Dustin deixou seus
antebraços caírem sobre a mesa, suas palmas batendo contra a madeira
como se para acentuar seu ponto.
— Eu não estaria aqui se não fosse por vocês dois. Você e seu, às vezes
marido, são os motivos pelos quais minha carreira decolou. Quem sabe
onde eu estaria se você não tivesse me ajudado com minha primeira
exposição?
Ele acenou com a mão no ar. Poderia ter sido tão dramático quanto
pretendia se não estivéssemos sentados no café onde ele ainda trabalhava
meio período.
Emily riu, ganhando um olhar furioso.
— Hater, — Dustin atirou de volta.
— Bem, você tornou isso mais fácil, — eu o assegurei. — Você é tão
talentoso.
— Você tem que me deixar retribuir de alguma forma.
Eu balancei minha cabeça. Xavier tinha coisas mais do que suficientes
para nós dois. Além disso, seria errado aceitar algo do meu amigo por um
favor tão simples.
— Eu não poderia.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu sei exatamente o que você precisa... um original de Dustin
Sterling. Oh, por favor, deixe-me pintar para você.
Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Se isso o deixava tão feliz,
eu não sabia como recusar.
— Sim, gostaria muito disso.
— Fabuloso! Espere só. Vou pintar algo tão bom que você vai se
divorciar de seu terrível marido de verdade desta vez e se casar comigo,
— Dustin se emocionou.
— Ei! — Foi a vez de Em me defender. — Pare de nos assediar e vá
fazer um café com leite.
— Tudo bem, mas você está pagando por eles desta vez, srta. Sassafras.
— Dustin se levantou da mesa.
Eu não pude conter minha risada quando Em gritou de volta:
— É SENHORA Sassafras para você!
Dustin a ignorou enquanto se abaixava atrás do balcão. Em nenhum
momento, eu podia sentir o cheiro do café moído e ouvir o whoosh e
borbulhar do leite fumegante.
— Então, estou pensando no seguinte. — Em deslizou uma pilha de
recortes de revistas e anotações rabiscadas em minha direção. — Um
casamento na primavera.
— Tão cedo! — Eu engasguei, honestamente surpresa.
Eu não deveria ter sido tão crítica; Xavier e eu tínhamos nos casado há
apenas algumas semanas, sem nunca nos termos conhecido. Em e Lucas
estavam namorando há quase um ano e se conheciam desde sempre.
— Bem, eu quero que as peças centrais sejam peônias, e você sabe que
elas estão melhores em maio, — explicou Em.
Ela folheou os papéis, retirando outro.
— Eu quero magenta e branco para as cores.
— Ah, não. Por favor, branco não. Isso é tão básico, — Dustin chamou
enquanto colocava canela nos picos de espuma recém-formados.
— É um casamento. — Em revirou os olhos. — Tem que ter branco.
— Oh, não, querida, — Dustin chamou. — É tudo sobre marfim no
ano que vem. Além disso, marfim ficará muito melhor com sua pele clara
do que apenas branco.
— Isso foi quase um elogio, — eu disse. Então, com um bufo
determinado, me virei para Em. — E como posso ajudar?
— Bem, precisamos de um oficiante, e acho que Lucas gostaria de se
casar com o padre da capelinha que vocês frequentavam. Você sabe o
nome dele? Ah, e sua tia... ela é vegana, certo?
Eu não pude evitar, mas me joguei no planejamento do casamento.
Não era apenas a emoção de ver minha melhor amiga e meu irmão tão
felizes juntos. É que nunca tive a oportunidade de planejar meu próprio
casamento.
Brad tinha organizado tudo. E embora tivesse sido grandioso e lindo,
não tinha sido meu. Não havia nada de mim ou de Xavier.
Em queria uma apresentação de slides com imagens dela e Lucas para
mostrar durante a recepção.
Sua música favorita tocaria para sua primeira dança como marido e
mulher.
Eles escreveriam seus próprios votos.
Parecia mágico. Ter tanto dos dois em detalhes tornaria esse dia
memorável para sempre.
Eu nunca tive a oportunidade de ter meu dia perfeito e me lembraria
do meu casamento por um motivo completamente diferente.
Meu marido e eu não tínhamos dançado nossa música favorita.
Nós não tínhamos uma música favorita.
Não tínhamos dormido na mesma cama em nossa noite de núpcias.
Na verdade, meu marido dormiu com outra mulher.
Com um suspiro, passei para outra imagem de vestidos de noiva.
Não havia sentido em deixar o passado me derrubar. A noite passada
foi espetacular. Se a minha vida e a de Xavier continuassem assim, o que
coisas tolas como dançar para Ed Sheeran importavam?
A campainha sobre a porta soou, tirando-me dos meus pensamentos.
Uma rajada de ar frio entrou, levantando fotos de vestidos e arranjos de
flores da mesa. Lutei para agarrá-los antes que pousassem no chão
úmido.
— Olá! — Dustin falou. — Posso ajudar?
— O que você gostaria, mon coeur?
Um choque de medo percorreu minha espinha. Eu conhecia aquela
voz. Ela havia assombrado meus sonhos por meses.
Eu estava de costas para o balcão, mas o pânico me prendeu no lugar,
incapaz de me virar para confirmar se minhas suspeitas estavam corretas.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de
gordura e chantili? — Mal ouvi a resposta da mulher com as batidas do
meu coração, mas uma pontada de familiaridade ecoou ao som de sua
voz também.
— E um croissant de chocolate? — O homem perguntou com seu
forte sotaque francês.
— Não, Jacques, já é o bastante.
Meu estômago embrulhou.
Eu tinha razão.
Era Jacques, o homem de Paris.
Minha respiração parou e fechei os olhos com força.
Eu podia sentir o fantasma de suas mãos em minhas coxas, seus lábios
em meu pescoço.
Eu precisava sair daqui.
— Deixe-me mimá-la, mon coeur. Ninguém me diz não.
Foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre minha
cabeça. Antes que eu pudesse me conter, minha cabeça girou para
encarar o casal.
Os olhos de Jacques estavam fixos em mim, um sorriso malicioso abria
em seu rosto.
A mulher em seu braço era Penny. Penny, que esteve em casa há
apenas alguns dias. Penny, que Xavier tinha...
Eu estava com náuseas.
Seguindo o olhar de Jacques, os olhos de Penny pousaram em mim.
— Oh, meu Deus, Angela!
— Angie? — Ouvi baixinho Em sussurrar.
Ela provavelmente se perguntou quem eram essas pessoas, porque
minha pele ficou branca como a neve.
Penny me puxou para um breve abraço.
— Jacques, esta é Angela, uma... amiga. Angela, este é meu amigo
Jacques. Ele é da França.
— Somos apenas amigos agora, mon cheri? — Ele beijou a mão de
Penny, ela corou e desviou o olhar.
— S-sim, — ela gaguejou, soando totalmente não convincente. —
Amigos. — Ela olhou entre mim e Jacques. — Vocês dois se conhecem?
Jacques sorriu para mim como um lobo sorriria para uma ovelha.
— Nós nos encontramos brevemente. No baile de gala em Paris, não
é? — Ele pegou a mão de Penny. — Como vocês se conheceram? — Ele
esperava uma resposta, mas eu não conseguia falar, não conseguia me
mover.
Penny sabia o que ele fazia? Como ele era? Ela tinha hematomas como
eu tive depois da última vez que encontrei seu namorado? Era por ele que
ela estava chorando da última vez que a vi?
— Ah... — Penny se atrapalhou, percebendo seu erro. — Eu acho que
foi na festa sazonal do Iate Clube?
Eu não tinha ideia sobre qualquer tipo de iate clube, mas me
encontrei confirmando com a cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Eu finalmente consegui falar.
— Só visitando. Tanto para negócios como para lazer. — Jacques
piscou.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de
gordura, e chantili, com um croissant de chocolate para... Jock? — Dustin
chamou.
— Desculpe, estamos com um pouco de pressa. Que bom ver você,
Angela! — Penny puxou Jacques em direção ao balcão, onde o pedido
estava esperando.
Houve outra rajada de vento frio e então eles se foram.
Abaixei minha cabeça em minhas mãos e tentei acalmar minha
respiração frenética.
Inspira... um, dois, três. Expira... um, dois, três.
— Angie? Angela? O que há de errado? — Em colocou sua mão fria na
minha nuca.
— Aquele homem... — Eu balancei minha cabeça. Aquelas palavras...
Eram iguais às mensagens que me foram enviadas.
Eu estava errada.
As mensagens não eram do Sr. Lemor, que estava na prisão.
Elas eram de Jacques.
Jacques, que agora estava em Nova Iorque…
Capítulo 18
Mal-me-quer

ANGELA

— O que está cozinhando, filhinha? Cheira muito bem! — Papai


enfiou a cabeça na cozinha.
— Lasanha. — Eu sorri, passando manteiga em uma fatia de baguete.
— Bem, lembre-me de agradecer ao seu marido por trabalhar neste
fim de semana. Não diga a Danny, mas não vejo comida tão boa há
semanas!
Papai pegou uma fatia de pão de alho que eu estava preparando. Eu
bati na sua mão. — Sem manteiga! Ordens médicas, lembra?
— Nosso segredinho? — Papai piscou e mudou de assunto: — Como
está aquele seu marido?
— Oh, Xavier está bem.
— Bem? Nenhuma filha minha teria se conformado com muito bem!
— Papai brincou, indo buscar outro pedaço de pão.
Eu deslizei a tigela de salada para ele.
Uma ovação irrompeu da TV na outra sala.
— Os gritos da torcida! — Papai colocou o pão na boca, correndo em
direção ao som.
Eu ri, ouvindo seu canto de vitória. Os Giants devem ter marcado.
Sorrindo, coloquei o pão de alho no forno para torrar.
Era bom estar de volta à pequena casa em que cresci. Fiquei feliz por
ter aceitado a oferta de Em para visitar minha cidade natal com o
pretexto de verificar alguns locais de casamento. Isso me tirou da cidade
e me deu algum tempo para me reagrupar e descobrir o que fazer com
Jacques.
Eu tinha enviado uma mensagem para Xavier antes, deixando-o saber
que eu estaria fora. Eu sabia que ele trabalharia o fim de semana todo e
não queria ficar sozinha no apartamento.
Claro, talvez eu estivesse fugindo dos meus problemas, mas não
queria preocupar Xavier, ou meu pai e irmão, que já eram excessivamente
cautelosos comigo depois do que tinha acontecido com o Sr. Lemor.
Outra ovação da TV.
— Que besteira! Foi o outro time, — papai relatou quando reapareceu
na porta da cozinha. — Desculpe, filhinha, o que você estava dizendo?
— Nada, Xavier e eu estamos indo muito bem.
— Bem, fico feliz em ouvir isso, querida, mas gostaria de ouvir um
pouco mais do que 'ótimo'. Você vai se casar por um ano em breve, e eu
mal conheci o cara. Você quase nunca fala sobre ele.
A única desvantagem de ter papai de volta ao normal era que ele
estava de volta ao normal. Ele não perdia um detalhe sequer, como
quando éramos crianças.
— É sério, pai
— Olha, filhinha, você tem estado quieta desde que você chegou aqui.
Há algo de errado? Está tudo bem entre vocês dois?
Eu não sei o que me fez dizer isso. Talvez eu estivesse preocupada em
contar a ele sobre Jacques se continuasse a ser pressionada, ou talvez
tantos meses guardando segredos de meu pai tenham desgastado minha
determinação, mas me peguei dizendo: — Eu disse a Xavier que não
quero ficar casada com ele.
Os olhos do meu pai se arregalaram. — O que ele fez pra você?
— Nada, — eu disse, rapidamente recuando.
— Isso não é verdade, — papai disse, esfregando minhas costas. —
Ninguém quer terminar um casamento por nada.
— Não é tão simples assim.
Papai se encostou no balcão. — Você está falando algo sem sentido. O
que foi, filha?
De repente, eu sabia que era a hora. Eu precisava contar a verdade ao
meu pai. Eu valorizava seu conselho acima de tudo. Ele me apoiou
durante toda a minha vida. Se alguém pudesse me ajudar a resolver as
coisas complicadas que eu estava sentindo por Xavier, seria ele.
— Olha, pai, preciso te contar uma coisa, mas acho que você deveria
se sentar.
— Você está me deixando nervoso aqui, Angie. — Ele riu
desconfortavelmente enquanto eu o levava para o sofá.
— Por favor, deixe-me dizer tudo antes de falar e tente manter a
mente aberta, ok?
Ele assentiu.
— Eu não conheci Xavier em uma loja de bolinhos. Não éramos
perdidamente apaixonados um pelo outro. Os Knights concordaram em
pagar as contas do seu hospital se Xavier e eu nos casássemos.
Pronto. Eu disse. A verdade foi revelada.
Sentindo-me como se tivesse cinco anos de novo e tivesse roubado
um biscoito antes do jantar, mordi minha bochecha e esperei pelo
veredito do meu pai.
— Eu sei.
Eu pisquei. — O quê?
— Eu sei, minha filha.
— Como?
— Em me contou, — papai admitiu.
Meu queixo caiu. — Em fez o quê?
— Olha, não fique brava com sua melhor amiga. — Papai ergueu a
mão. — Ela só estava tentando te proteger. Veio a mim alguns meses
atrás. Ela pensou que talvez eu pudesse te convencer do contrário.
Eu balancei minha cabeça. — Você sabia esse tempo todo e não disse
nada? Achei que você ficaria furioso comigo.
— Oh, eu quebrei umas coisas quando ouvi falar disso pela primeira
vez. Depois de ter tempo para digerir, porém, lembrei-me de como eu
criei você inteligente. Como você fez a coisa certa quando aquele seu
chefe maltratou você.
— E eu sabia que não devia enfiar o nariz em lugares onde não era
bem-vindo. Eu tinha que confiar que você resolveria as coisas por conta
própria. Que você faria a coisa certa. Eu estava errado?
Com lágrimas transbordando de meus olhos, eu balancei minha
cabeça. — Estamos namorando, pai.
— Namorando? Você acabou de me dizer que quer o divórcio!
— Não, não... — Eu funguei. — Pai, acho que...
A porta da frente se abriu e Em, Lucas e Danny entraram.
Eu rapidamente limpei as lágrimas dos meus olhos. Nossa conversa
acabou por ora.
— Como estamos indo? — Danny perguntou.
— O quê? Oh, da última vez que verifiquei, tínhamos quatro de
vantagem, — relatou papai.
Meus irmãos passaram pela cozinha e foram para a sala de estar, onde
os ouvi vaiar na TV.
— O que você achou da sala? — Falei para Em.
— Nah, — ela respondeu, com a voz abafada enquanto puxava o
cachecol. — Muita bagunça.
— Bem, sente-se, — eu disse a ela, colocando minha cabeça no
corredor. — O jantar está quase pronto.
Papai desligou a TV. — Não vejo por que você não pode se casar no
restaurante.
Em mordeu o lábio, fingindo estar ocupada se acomodando em seu
assento.
— É perfeitamente razoável não querer que nossos convidados do
casamento comam com cartazes de Johnny Cash os observando, — Lucas
respondeu, não pela primeira vez hoje.
— Quem não ama Johnny?
Antes que alguém pudesse responder, a campainha tocou.
— Quem poderia ser? — Papai se perguntou enquanto Danny gritava:
— EU ATENDO!
Meu cronômetro apitou e eu voltei para a cozinha para tirar a lasanha
e o pão de alho do forno.
— Filha, — papai chamou. — É para você.
— Pra mim? — Com a lasanha nas mãos, chutei a porta do forno e
voltei para a sala. — Quem está procurando...
Parado diante da porta da frente ao lado de Danny, parecendo tão
surpreso quanto eu devo ter parecido, estava Xavier.
— Angela! — Xavier parecia aliviado. Em menos de cinco passos, ele
cruzou a sala para ficar diante de mim. Houve um momento estranho
enquanto Xavier tentava me cumprimentar, o prato fumegante de
lasanha entre nós.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei quando ele
finalmente se conformou em beijar minha bochecha.
— Você realmente acha que eu te deixaria sozinha durante todo o fim
de semana? — Ele respondeu, exibindo um de seus sorrisos de cem watts.
— Angie? — Papai disse, provavelmente se perguntando se ele
precisava pegar seu taco de beisebol.
Contornei Xavier e coloquei a lasanha na mesa. — Está tudo bem, pai.
Ele ergueu as mãos. — Tudo bem. Nesse caso, posso pegar seu casaco,
bonitão?
— É com você, — murmurei enquanto passava por Xavier no caminho
de volta para a cozinha.
— Oh, sim, obrigado... — Houve uma pausa hesitante enquanto
Xavier provavelmente tentava se lembrar do nome do meu pai.
— Kenneth, — ele finalmente declarou, parecendo um pouco
surpreso.
Depois de guardar o casaco, papai disse: — A maioria das pessoas me
chama de Ken.
Xavier riu. — Ken, então. É bom ver você de novo depois de todo esse
tempo.
Papai pigarreou. — Sr. Carson talvez seja melhor.
Peguei o pão de alho do forno e outro par de utensílios incompatíveis
da gaveta, depois fui para a sala de estar para salvar os dois. — Pai, você
vai começar a servir? Aqui, Xavier, você pode se sentar ao meu lado.
— Vou servir, filha. — Papai pegou a espátula que eu deixei na frente
de seu lugar à mesa. — Como você quer, bonitão?
— Como? — Xavier tossiu.
Danny riu. Chutei sua canela por baixo da mesa.
— A lasanha, — disse papai.
Xavier colocou o guardanapo de papel que entreguei a ele em seu colo.
— Eu normalmente os tenho ao dente.
— Temo que você não pode ter tudo, bonitão, — respondeu papai, me
fazendo estremecer.
— Há queijo extra na metade, — expliquei.
Os olhos de Xavier se arregalaram. — Ah. Então, uma quantidade
normal de queijo será suficiente, Sr. Carson.
Papai cortou um pedaço de lasanha e jogou no prato de Xavier.
— Você está de dieta? — Danny perguntou, ganhando outro chute.
Xavier pegou seu garfo. — Não, apenas prefiro provar a qualidade em
vez de ter quantidade.
Papai encolheu os ombros. — Mais pra mim.
Um silêncio constrangedor encheu o ar enquanto papai servia o resto
de nós. Xavier estava lá há menos de cinco minutos e parecia tão
confortável quanto Martha Stewart na prisão.
Depois da conversa que papai e eu tivemos antes da chegada surpresa
de Xavier, eu tinha certeza que a prisão era exatamente onde ele esperava
que meu marido fosse parar.
Lucas pigarreou. — É uma surpresa ver você, Xavier. Angie disse que
você estava trabalhando neste fim de semana.
Eu dei a ele um sorriso agradecido e aceitei a tigela de salada de Em.
— Decidi mudar minha programação. Sei que já estive aqui uma vez,
mas isso foi há quase um ano. Não queria perder a oportunidade de ver
melhor onde Angela cresceu.
Xavier estendeu a mão e apertou meu antebraço. Eu não tinha certeza
se era um gesto afetuoso ou um pedido de ajuda.
— Mudar sua programação? — Danny disse com a boca cheia de pão
de alho. — Eu li no jornal que um de seus hotéis está sendo destruído
neste fim de semana. Isso não soa como algo que você gostaria de perder.
— Bem... — Xavier começou.
Papai o interrompeu. — Destruindo um hotel? Os negócios estão indo
bem, bonitão?
Xavier largou o garfo, a linha de seu ombro ficando rígida. — Não
tenho certeza se agora é realmente o momento apropriado para...
Papai deu um tapinha nas costas dele. — Ah, vamos, somos todos uma
família aqui, certo?
— O hotel está sendo destruído porque compramos todo o quarteirão
ao redor dele. Um novo resort de última geração será construído ao
longo da orla.
Papai assobiou.
Xavier continuou. — Como está indo seu negócio?
Eu mordi meu lábio. Sim, minha família estava sendo um pouco
injusta. Fiquei surpresa com o quão bem Xavier estava aceitando isso, na
verdade. Mas perguntar sobre o restaurante quase falido do meu pai foi
um golpe baixo.
Não tinha certeza se deveria intervir ou se o comentário era merecido.
Xavier sabia que a mesada mensal que ele me deu contribuiu para tirar o
negócio da minha família da sarjeta?
— Excelente! — Danny respondeu um pouco rápido demais.
Papai acenou com a cabeça. — Em e Lu vão se casar lá.
— É uma das nossas opções, pai, — Lucas emendou.
Grata pela mudança de assunto, fui rápida para embarcar.
— Em prefere se casar na cidade, — eu disse a Xavier.
— Um sonho, ao que parece. — Em suspirou. — Você sabe como é em
Nova Iorque. Tudo custa um braço e uma perna.
— Por que você não se casa em um dos hotéis Knight? — Xavier
perguntou.
Engasguei com o gole de água que acabara de tomar. — Xavier, hum...
querido, acho que está um pouco fora da faixa de preço deles.
— Seria por minha conta... nossa. Angela e eu. Pense nisso como um
presente de casamento.
Um calor de agradecimento se espalhou por mim.
Desde quando Xavier fazia coisas boas?
Um desejo repentino de tocá-lo, de agradecê-lo, como eu já tinha visto
casais fazerem dezenas de vezes antes, borbulhou em mim. Xavier e eu
normalmente não nos tocávamos, a não ser quando dançávamos.
Eu podia tocá-lo?
Hesitante, estendi a mão e coloquei dois dedos no joelho de Xavier.
As costas de Xavier se endireitaram com o toque e sua mão encontrou
a minha, entrelaçando nossos dedos. O gesto íntimo me fez corar.
— O que você acha, Lucas? — Em perguntou. Eu podia ver sua
empolgação enquanto prendia a respiração, esperando a resposta do meu
irmão.
Depois de um rápido olhar para nosso pai, Lucas consentiu, dizendo:
— Se isso te agradar.
Em gritou. — Obrigada! Obrigada.
Tomando um gole de sua cerveja, papai bufou. — Isso é muito gentil
da sua parte, bonitão.
Xavier sorriu. — É o mínimo que posso fazer.
— Por que você não me ajuda a limpar, bonitão? — Papai se levantou
da mesa. — Eu quero falar com você por um minuto.
Uma sensação pesada começou a crescer em meu peito e eu pulei de
pé. — Eu vou te ajudar, pai.
— Deixe isso para nós, meninos, filha. Você já cozinhou tudo.
Lentamente, eu deslizei de volta na minha cadeira.
— Tudo bem. Fico feliz em ajudar, — disse Xavier, pegando meu
prato.
Não estava convencida de que era uma boa ideia. Tive medo de que, se
deixasse os dois sozinhos, um deles acabasse morto.
Incapaz de detê-los, observei Xavier e papai desaparecerem na
cozinha.
XAVIER

— Então, Sr. Carson, Angela me disse que você é um ã dos Knicks.


— Sim, — o pai de Angela respondeu. Ele era charmoso... em um
estilo caipira com flanela e espingarda em punho.
Fui até a máquina de lavar louça, com minha mente no passado.
Não pude deixar de me lembrar da primeira vez que visitei a casa de
infância de Angela.
Naquela época, eu apareci com... intenções menos do que ideais.
Eu queria descobrir algo sobre a família que eu pensei que estava atrás
do meu dinheiro — descobrir qualquer sujeira que eu pudesse usar para
destruir Angela e os Carsons.
Não que eu fosse dizer isso a Ken, a menos que eu quisesse morrer
aqui.
Não, desta vez eu estava lá para conhecê-los. Para fazer parte do
mundo de Angela.
Só não estrague tudo, Xavier.
Já fazia muito tempo que eu não brincava de — conhecer a família, —
e os jabs que os irmãos e o pai de Angela estavam jogando em mim eram,
no mínimo, um teste de paciência.
Não tinha pensado muito no que aconteceria quando chegasse lá
depois de receber a mensagem de que Angela estava indo para casa no
fim de semana. Eu simplesmente pulei no carro.
Você está aqui por ela, eu me lembrei, não pela primeira vez, enquanto
colocava minha pilha de pratos sujos na pia.
Arregacei as mangas do meu suéter de cashmere. O único lugar onde
eu seria pego lavando a louça era na casa dos Carson.
— Olha, bonitão, — disse o Sr. Carson, colocando de lado sua própria
pilha de pratos. Ele se virou para mim, com uma carranca em seu rosto
envelhecido. — Não sou um homem de muitas palavras, por isso vou ser
breve. Há apenas uma coisa que eu quero saber e espero que você me
responda honestamente. Tudo bem?
— Tudo bem.
— Você realmente ama minha filha ou não?
Capítulo 19
MINHA

ANGELA — Ainda vamos ao Marv's hoje à noite? — Em perguntou,


puxando a perna dela para cima da cadeira. Estávamos planejando ir
tomar uns drinques no único clube da cidade esta noite para comemorar
o noivado, só nós, garotas.
Eu tive um calafrio quando memórias confusas de Xavier me
arrastando para fora de um clube começaram a vir à tona.
— Não tenho certeza se é uma ideia tão boa. Não acho que seja
realmente a praia de Xavier.
— Seu homem não é famoso por festejar? — Danny gritou por cima
do ombro, e então deu um soco no ar quando os Giants marcaram.
Danny e Lucas tinham ligado a TV atrás de nós e estavam gritando com
os jogadores.
— Ele pode ficar aqui e assistir futebol americano com os meninos, —
Em ofereceu.
Eu a observei desenhar um pequeno coração em um pouco de sal que
havia derramado sobre a mesa.
— Não sei.
Nosso sofá xadrez irregular da sala parecia algo que despertaria o mau
humor de Xavier.
Eu não saberia o que fazer se as coisas realmente esquentassem entre
Xavier e minha família. Quem eu escolheria?
No passado, escolheria minha família num piscar de olhos. As coisas
com Xavier estavam tão boas ultimamente, que seria uma vergonha ter
que realmente encerrar as coisas por causa de uma discussão boba.
Em bufou.
— Bem, por que simplesmente não perguntamos a ele, hein? Xavier?!
Nem um segundo depois, Xavier saiu da cozinha, sua expressão estava
em algum lugar entre "Estou com azia" e "Alguém arranhou minha
Ferrari". Ele foi rapidamente seguido por um pai de aparência
presunçosa, que tinha uma cerveja nova na mão.
Opa.
Eu sabia que não deveria ter deixado papai falar com ele sozinho. E se
papai dissesse a Xavier que sabia sobre o acordo? Ou que eu disse a ele
que queria o divórcio? Ou perguntou a Xavier o que ele fez para me
machucar?
— O que há de errado? — Xavier me perguntou, em vez de Em.
Em não pareceu notar.
— Angie e eu vamos sair para nos divertir hoje à noite. Você quer ir
junto ou ficar aqui e assistir ao jogo com os meninos?
A expressão de Xavier escureceu por um instante antes de seu sorriso
de sempre iluminar seu rosto.
— Sair parece uma ótima ideia. Na verdade, por que não vamos todos?
Danny ergueu a mão.
— Prefiro ficar aqui com o papai.
— Um encontro duplo, então? — Xavier sugeriu, olhando para mim,
Lucas e Em.
— Sério? — Eu soltei enquanto Em batia palmas e dizia: — Ótimo!
Xavier pescou as chaves do carro do bolso.
— Vão se preparar, garotas, e eu vou pegar minhas coisas do carro.
XAVIER

— Você realmente ama minha filha ou não?


Foi uma boa pergunta. Uma que qualquer bom pai faria antes de um
casamento. Claro, o velho estava no hospital, mas ele poderia ter enviado
um dos irmãos de Angela para me examinar.
Não, em vez disso ele deixou sua filha se casar comigo, e agora ele teve
a audácia de perguntar se eu amava minha esposa ou não.
Com a mala Louis Vuitton na mão, fechei o porta-malas com força
demais.
Agora, além de tudo, Angela queria sair. Para a porra de um clube.
Esse era o último lugar que eu queria ir. Especialmente aqui no meio
do nada. Mas havia apenas um lugar onde eu queria ficar ainda menos, e
era dentro daquela casa.
Eu já estava esperando aqui por dez minutos, porém não podia deixá-
la sair sozinha. Eu não a perderia de vista. Se eu fizesse, outro homem
poderia...
Soltei um suspiro, fazendo uma grande baforada de vapor flutuar no
ar frio como se eu tivesse fumado um charuto.
Quando a necessidade iminente de socar algo diminuiu, subi os
degraus da frente e entrei pela porta destrancada.
Merda.
Minha bolsa escorregou dos meus dedos e caiu com um baque no
tapete felpudo.
Angela estava parada na base da escada, usando o vestido vermelho
mais curto e justo que eu já a tinha visto usar, curvando-se para amarrar
os saltos.
A porta se fechou atrás de mim, fazendo-a se levantar.
— Como estou? — Ela girou em um círculo, com seus olhos grandes
piscando para mim.
Lentamente, corri meus olhos por seu corpo.
Como se você quisesse ser comida. Troque de roupa agora.
As palavras estavam na ponta da minha língua. Então, com o canto
dos olhos, vi Ken.
E, em vez disso, engoli e dei um passo em direção a Angela, colocando
minhas mãos em seus quadris.
— Bela.
Incapaz de evitar, puxei seu corpo apertado contra o meu. Ela soltou
um pequeno suspiro que fez meu pau doer.
Eu tinha razão.
Esta noite seria terrível.
Vinte minutos depois, estávamos no Marv’s.
Visto de fora, parecia uma prisão, um prédio baixo e atarracado feito
de lajes de concreto com um segurança obeso verificando as identidades
na frente.
Por dentro não era muito melhor, uma sala que fedia a mijo e cerveja
velha com uma luz estroboscópica no centro.
O plano, meu plano, — quando chegamos era assumir uma das
cabines de vinil pegajoso, beber um copo de uísque aguado com Angela
no meu colo, e então dar o fora do lugar.
Em vez disso, Em tinha arrancado Angela do meu braço no segundo
em que entramos e gritou com um garçom que passava por tequila.
— Onde elas estão indo? — Eu tive que gritar por cima da música
eletrônica alta para que Lucas pudesse me ouvir.
Ele deu de ombros, passando por mim na direção do bar.
— Provavelmente dançar.
Sem outra escolha, mergulhei na pista com jovens de espinhas na cara
e mães solteiras.
Eu precisava encontrar Angela. Agora.
No instante em que pisei na pista de dança, uma mulher com grossos
cachos negros se jogou em mim e começou a mexer sua bunda contra
minha virilha. Reflexivamente, agarrei seus quadris e, com a mesma
rapidez, a empurrei de lado.
Ela agarrou minha mão, girou para me encarar e colocou os braços em
volta do meu pescoço.
Estávamos tão perto que pude ver seus cílios grossos agrupados com
pedaços de rímel barato.
— O que há de errado, gostosão? Não quer dançar? — ela ronronou.
— Não com você.
Eu me desvencilhei, apenas para encontrar em um bando de garotos
de fraternidade vestindo camisas de time. Eles estavam entoando algum
tipo de grito de vitória enquanto dois de seus compadres bebiam cerveja
no centro do grupo.
Finalmente, quando passei por eles, avistei rapidamente um cabelo
loiro.
Lá estava ela, girando em círculos com Em, bem sob a porra da luz
estroboscópica.
— Angela, — eu falei, passando meus braços em volta de sua cintura.
Ela se mexeu contra o meu aperto e riu.
— Xavier!
Eu a girei para me encarar, observando suas bochechas coradas e
olhos vidrados.
Angela colocou os braços no meu ombro e deslizou uma de suas
longas pernas por fora da minha.
— Dance comigo.
Envolvendo minha mão em sua coxa, gritei de volta: — Quantos shots
você tomou?
Ela bateu no queixo com o dedo indicador.
— Dois? Quatro? Dez?
— Dez?!
— TRÊS! — Em falou do nosso lado. Ela jogou as mãos para o alto e
deslizou contra Lucas, que havia aparecido com uma cerveja na mão.
Angela apontou para Em.
— É isso! Ela está certa. Foram três.
Dobrando meus joelhos, eu peguei a outra perna de Angela, pegando-
a como uma noiva.
— Vamos pegar um pouco de água.
— Eu posso andar sozinha! — ela insistiu, mexendo-se novamente
enquanto eu desviava para o bar. Seu sapato tinha um papel higiênico
grudado quando passamos.
— Eu sei, meu anjo, mas eu gosto de carregar você.
— Isso é gentil. Você tem sido tããão legal ultimamente. Você sabe
disso?
— Você é sempre legal.
— Muito bom, — ela concordou solenemente.
Sentando Angela em uma banqueta, acenei para um dos bartenders.
Um cara alto e magro com um fiapo de uma barba ruiva apareceu. Ele
devia ser apenas alguns anos mais novo do que eu, mas claramente tinha
ido muito menos longe na vida, se sua camiseta do Iron Maiden fosse um
indicador.
— O que você quer?
— Imagino que você não tenha o Glenfiddich 1937?
Entendi seu olhar vazio como um não.
— Apenas me dê a coisa mais forte que você tem e um copo d'água.
Quando me virei, encontrei o segundo barman entregando a Angela o
que parecia um Jack Daniels com Coca.
— Que porra é essa? — Eu gritei.
— Uau, cara. — O filho da puta com cavanhaque jogou as mãos para o
alto. — Fica tranquilo.
Angela agarrou meu bíceps.
— Por favor, não fale assim com Bob.
— Você não consegue ver o quanto ela bebeu? — Eu disse, pegando o
copo que ele colocou de Angela em meu punho.
O barman, aparentemente Bob, acenou com a mão para cima e para
baixo.
— Ela parece ótima para mim.
Antes que eu pudesse pensar duas vezes, todo o conteúdo do drink,
incluindo o copo, voou em direção ao peito do barman.
O Sr. Cavanhaque gritou uma série de palavrões enquanto eu jogava
Angela por cima do ombro.
Ela bateu seus pequenos punhos nas minhas costas.
— Ponha-me no chão!
— Estamos saindo, — eu gritei enquanto nos dirigíamos para os
meninos da fraternidade. Eles me deram um sinal de positivo quando eu
passei, por ter uma garota em cima do meu ombro ou por ter encharcado
o barman, eu não tinha certeza. Não importava. Eu só precisava sair da
porra do clube.
— Xa-vier! — Angela balbuciou quando saímos para a rua. — Ponha-
me no chão!
Assim eu fiz. Eu a deixei deslizar pelo meu corpo e, uma vez que ela
parou de balançar nos calcanhares, dei um passo para longe. Então outro.
Corri minhas mãos pelo meu cabelo.
— Que raios foi aquilo? — Angela colocou as mãos nos quadris. Se a
última vez que eu a vi bêbada foi algo inesquecível, o álcool fluindo em
suas veias agora a estava deixando mal-humorada.
Isso era perigoso agora, quando eu estava procurando uma briga.
— Você me diz, — eu rosnei.
Ela se aproximou de mim.
— Eu conheço Bob desde o jardim de infância. Ele estava sendo
amigável.
— Sim, vocês dois pareciam realmente amigáveis! Devo arrumar um
quarto para você esta noite?
— Por que você sempre faz isso?
— O quê?
Angela jogou as mãos para o alto.
— Isso! Agir como um idiota possessivo sempre que sairmos para
algum lugar. Sempre que outro homem diz oi para mim. É sempre assim
quando qualquer homem olha na minha direção.
Todo o fogo em mim de repente desapareceu.
— Angela, eu... sinto muito.
— O que disse? — Suas sobrancelhas se ergueram.
Eu ri baixinho e dei um passo em sua direção.
— Eu merecia isso.
Tomando-a em meus braços, recomecei.
— Sinto muito, Angela. Eu sei que posso ser um cuzão às vezes, mas...
minha ex me deixou pelo meu melhor amigo. Eu não posso... eu não
posso fazer isso de novo. A ideia de outro homem te tocando me deixa
louco.
— Estou bem aqui, Xavier. Eu não vou a lugar nenhum, — Angela
sussurrou e então pressionou seus lábios nos meus.
Eu congelei, como um adolescente que nunca tinha sido beijado
antes, em pânico.
Que porra é essa?
Eu já tinha sido beijado antes. Eu beijei centenas de mulheres.
Esta não era apenas outra mulher.
Foi Angela.
Angela, que não conseguia nem dizer a palavra "beijo" sem gaguejar ou
corar, muito menos iniciar um.
No entanto, ali estava ela.
Ali estava ela.
Consegui mover meus lábios e enrolar meus dedos em seu cabelo
dourado espesso.
Nós nunca tínhamos nos beijado antes, não de verdade, o que era uma
pena, porque não foi como nenhum beijo que eu já tive.
Quando nossos lábios se separaram e nós olhamos sem fôlego nos
olhos um do outro, eu me peguei esperando que não fosse o último.
Capítulo 20
Lembretes

ANGELA

Com um gemido, pressionei minhas mãos em meus olhos.


Minha cabeça latejava, minha boca tinha um gosto estranho e meu
estômago estava embrulhado.
O que diabos aconteceu na noite passada?
Houve uma leve batida na porta.
— Sim?
Xavier entrou na sala, com um copo de água em uma mão e um
grande sorriso no rosto.
— Bom Dia.
Eu apertei os olhos contra a luz que se filtrava pela árvore em frente
de casa. Estávamos no quarto da minha infância. Adesivos com estrelas
foram colados no teto. E luzes cintilantes foram enroladas em colunas de
madeira.
Esse não era um lugar para Xavier, não com seus ombros largos em
sua camiseta apertada de dez mil.
— Bom Dia. — Eu me inclinei para um lado da cama e puxei meus
lençóis de bolinhas até o queixo.
Xavier se sentou na beira do colchão, fazendo as molas rangerem. Ele
me entregou o copo d'água e uma aspirina.
Grata, engoli a pílula e coloquei o copo na mesa de cabeceira.
— O que aconteceu ontem à noite?
Um brilho acendeu nos olhos de Xavier.
— Você não se lembra?
— Nada depois da terceira dose de tequila, — eu admiti.
A expressão de Xavier se desfez.
— Mesmo? Nada mesmo?
— Não, por quê? Aconteceu alguma coisa? — Minha frequência
cardíaca aumentou um pouco, com o latejar na minha cabeça ficando
mais alto. Alguém se machucou?
— Foi a nossa primeira vez, — disse Xavier, pegando minhas mãos nas
suas.
Meu estômago embrulhou.
— Você não quer dizer...?
Xavier acenou com a cabeça.
— Eu não posso acreditar que você não se lembra disso. Quer dizer,
não foi exatamente do jeito que eu pensei que seria, mas do jeito que
você se jogou em mim, eu não pude resistir.
Xavier e eu transamos ontem à noite?
Não, não pode ser. Não era possível, mas o jeito que ele estava
sorrindo para mim...
Eu não conseguia respirar.
Lágrimas encheram meus olhos.
— Por favor, me diga que você está brincando.
— Ei, ei, shh, — Xavier silenciou, enxugando minhas lágrimas com os
polegares. — Estou brincando um pouco. Foi só um beijo. Eu prometo
que teremos mais.
Eu solucei.
— Um beijo?
— Sim. — Xavier franziu a testa. — O que você achou que eu quis
dizer? Que dormimos juntos?
— Sim!
— Na casa do seu pai? Com seu irmão dormindo a menos de um
metro e meio de distância? Enquanto você estava bêbada?
Puxei os lençóis mais para cima, cobrindo meu rosto.
— Foi você quem disse que era 'nossa primeira vez'.
— Ei, — disse Xavier, puxando os lençóis de volta para baixo. Ele
procurou meu rosto com cuidado, como se estivesse tentando encontrar
algo. — Angela, você é virgem?
Hesitei, não tendo certeza se estava pronta para compartilhar algo tão
privado com ele, e então assenti lentamente uma vez.
Xavier me pegou em seus braços fortes, me segurando perto de seu
peito.
— Nunca pense que eu tiraria isso de você. Entendeu? Não, a menos
que você queira. A não ser que você peça que o faça.
— Ok, — eu respirei em seu pescoço.
Ele se afastou um pouco, observando meus olhos marejados e minhas
bochechas manchadas de água.
— OK?
— Entendi.
— Bom. — Xavier sorriu. — E, querida, a primeira vez que fizermos
sexo, você pode ter certeza de que nunca vai esquecer.
Eu poderia ter derretido. Ali. Poderia desaparecer em meu lençol.
Porém, havia mais uma questão importante.
— Você está com raiva de mim por esquecer nosso primeiro beijo de
verdade?
Em resposta, Xavier se aproximou e beijou o canto da minha boca e
depois o centro.
— Não, — respondeu ele, com a voz grave, enquanto minha cabeça
girava, — porque posso lembrá-la disso quantas vezes você quiser.

Dustin: Ei, amiga.

Dustin: Eu tenho uma surpresa pra vocêêêê.

Dustin: Sua OBRA-PRIMA está quase pronta.

Angela: Estou tão animada!

Dustin: Você pode passar pelo meu estúdio hoje se quiser.

Dustin: Estou ANSIOSO pra você ver.

Angela: Voltando para a cidade com Xavier agora.


Angela: Posso aparecer esta tarde, está tudo bem?

Dustin: Ohhhh, um fim de semana quente fora?

Angela: Difícil. Eu vou te informar mais tarde.

Dustin: Com certeza.

Dustin: Até mais tarde, baby.

Xavier me deixou fora do estúdio de Dustin e me deu um beijo de


despedida. Ele estava indo para casa para conseguir adiantar algum
trabalho de última hora antes de segunda-feira.
Lucille estava de folga, já que nós dois estávamos fora, então planejei
comprar alguns mantimentos no caminho para casa e fazer o jantar para
Xavier. Eu deveria ter contado a Xavier sobre as mensagens de Jacques no
caminho de volta para a cidade, mas não tive coragem. Eu não queria
estragar essa nova frágil coisa entre nós.
Isso poderia esperar até hoje à noite, depois da sobremesa.
— Olá? — Chamei, abrindo a porta deslizante do estúdio de Dustin.
Na verdade, era um loft apertado em uma igreja reformada no Brooklyn.
Eu estive aqui apenas uma vez antes, na época de sua exposição.
Quando entrei na sala, como chão manchado de tinta, as janelas
enormes e o cheiro úmido de tinta secando me acalmaram como da
primeira vez.
— Na hora certa! — Dustin disse, saindo de trás de um cavalete. Ele
estava descalço e usava um avental sujo. — Sente-se.
Com cuidado para não empurrar as telas empilhadas ao longo das
paredes, fui até o sofá e me sentei nas almofadas cheias, enviando
partículas de poeira pelos raios de sol da tarde.
— Conte-me sobre o seu fim de semana. Eu só preciso de um segundo
para terminar isso, — Dustin murmurou, franzindo a testa para a pintura
à sua frente.
— Foi... ótimo, — eu disse a ele, sabendo que estava sorrindo muito.
— Excelente?
— Nós nos beijamos.
— Estava na hora! Se você esperasse mais, eu iria na frente. Como foi?
Ele é bom com a língua? Aposto que ele é um mordedor, — Dustin
divagou com entusiasmo, flutuando de um pensamento para outro.
— Não sei se devo dizer, — admiti, fazendo Dustin revirar os olhos.
— Garota, por favor. Você sabe que não vou dizer nada. Ninguém
acreditaria em mim de qualquer maneira. Além disso, se eu fosse contar
qualquer coisa para aquela moça na Fox, esperaria por algo melhor do
que um simples beijo. Sem ofensa.
— Não ofendeu.
Dustin acenou para mim.
— Esqueça isso por enquanto e venha conferir isso.
Mandando mais poeira para voar enquanto eu me levantava,
contornei os tubos de tinta descartados e pincéis ao seu lado.
— Oh, uau.
Eu não pude evitar um suspiro quando olhei para a pintura diante de
mim. A tela era tão alta quanto eu, com tons de cinza e azuis escuros,
com detalhes de ouro e vermelho. No centro, havia duas figuras.
O primeiro era um anjo, com longos cabelos dourados que caíam
sobre asas com penas. Ela parecia serena, majestosa, envolta em seu
brilhante vestido de marfim.
Ela estendia a mão para a segunda figura — um cavaleiro das trevas.
Com a cabeça baixa, ele se ajoelhava aos pés do anjo, com seu escudo
manchado de sangue e espada jogados atrás dele.
— É lindo, — eu respirei, incapaz de encontrar qualquer outra palavra.
— Não é? — Dustin soltou. — Estou tão feliz que você gostou. Você
ainda não me mostrou todo o seu apartamento, então não tenho certeza
de onde vai colocá-lo. Acho que deve haver algum lugar naquela sua
cobertura.
— Eu sei exatamente o lugar, — eu prometi. — Muito obrigado,
Dustin, de verdade.
— Não me agradeça ainda. Eu tenho que ficar com ele só mais um
pouco. Mandarei entregá-lo em sua casa o mais rápido possível.
Depois de sair do estúdio de Dustin, passei pela Whole Foods e peguei
os ingredientes de que precisava para o jantar.
Queria fazer uma torta, usando a receita que minha mãe me ensinou
quando eu era pequena. Hoje parecia que precisava de algo especial.
Peguei alguns petiscos extras também, alguns dos favoritos de Em
seriam estocados para quando ela viesse planejar mais o casamento.
Eu teria que convidar Dustin da próxima vez também, e então ele
poderia ver seu quadro pendurado no apartamento.
Peguei um táxi com minhas sacolas de supermercado, para que Marco
não precisasse dirigir pela cidade, e fui para casa.
Finalmente, as coisas pareciam fáceis, certas. Descobri, talvez pela
primeira vez na vida, que estava animada para voltar para o nosso
apartamento. O sentimento era estranho para mim depois de meses
temendo o enorme espaço em branco, e eu não tinha certeza do que
fazer com ele. Devia ser bom demais para ser verdade.
Eu praticamente saltei do saguão para o elevador quando chegou.
Xavier estava lá. Eu poderia dar um beijo de alô nele.
Quando o elevador diminuiu até parar no último andar, pensei ter
ouvido os sons abafados de homens rindo e franzi a testa.
Xavier disse que tinha trabalho a fazer, então por que parecia que
estava acontecendo uma festa?
As portas se abriram e eu saí para a sala de estar quando outra rodada
de risadas irrompeu.
O ar estava pesado com a fumaça, e o cheiro forte de bebida fez meu
estômago, ainda sensível, revirar.
— Xavier?
Sem resposta.
Segui os sons até a sala de estar para encontrar cinco homens, em
roupas igualmente chiques, recostados no sofá e nas cadeiras.
— Angela. — Xavier sorriu, pulando da chaise longue.
Ele pegou as sacolas de compras de mim e jogou o braço sobre meus
ombros.
— Senhores, para aqueles que ainda não a conhecem, esta criatura
incrivelmente bela é minha esposa!
Os homens gritaram e aplaudiram quando Xavier me deu um beijo
desleixado.
— Sinto muito pela surpresa, Angela, — disse Xavier, apenas para
mim. — Eu adiei minha reunião com esses caras ontem para que eu
pudesse passar o fim de semana com você. Achei que o mínimo que
poderia fazer era convidá-los para que pudéssemos fazer negócios com
uma bebida adequada.
— Sem problemas, — eu disse a ele. — Devo fazer alguns lanches?
— Isso seria maravilhoso!
Xavier beijou minha bochecha novamente e depois se juntou aos
homens.
Eu estava prestes a ir para a cozinha quando meu sangue gelou.
Porque ali, sentado na última poltrona do sofá, uísque na mão, estava
Jacques.
E ele estava olhando diretamente para mim.
Capítulo 21
Histórias de Guerra

ANGELA

Minhas mãos tremiam muito para cortar vegetais para o crudités. Em


vez disso, enchi as tigelas com batatas fritas e coloquei biscoitos e queijo
nos pratos. Cada movimento parecia rígido e automático, como se eu
tivesse me transformado em uma esposa robô dos anos 1950.
Jacques está aqui. Jacques está aqui. Jacques está aqui.
O pensamento me acertava com as batidas de meu coração.
Meu abusador está na minha sala de estar.
Eu deveria ter contado a alguém imediatamente. Se não Xavier, então
Brad. Brad, que foi tão incrível da última vez que um homem me
perseguiu.
Talvez se eu dissesse algo agora — mesmo que os outros homens, ou
meu marido, não acreditassem em mim — isso pudesse fazer Jacques ir
embora, fazê-lo fugir de mim.
Tentando puxar a tampa de um recipiente com molho, sibilei quando
cortei meu dedo. O sangue escorria da superfície da ferida. Enfiei o dedo
na boca e chupei o sangue.
— Precisa de ajuda com isso?
Eu dei um salto, com o coração martelando, e voltei para a geladeira.
Xavier. É apenas Xavier.
Sua sobrancelha franziu e ele deu um passo mais perto.
— Está tudo bem?
Está... agora é minha chance.
Só que as palavras não se formavam. Em vez disso, uma centena de
pensamentos de Xavier atacaram minha mente.
Xavier me proibindo de estar perto de outros homens.
Xavier chutando Dustin para fora da cobertura.
Xavier jogando uma bebida em Bob.
— A ideia de outro homem tocar em você me deixa louco...
Se ele soubesse o que Jacques fez, que ele me tocou, de que lado ele
estaria? Seria Jacques quem receberia a ira de Xavier ou eu?
Eu me encontrei confirmando com a cabeça.
— S-sim, é claro. Você pode... você pode deixar as batatas. Eu vou atrás
de você com o resto.
Xavier pegou as tigelas cheias.
— Você vai se sentar com a gente? Vou te servir uma taça de vinho.
Ele não esperou pela minha resposta. Por que ele iria? Eu não tinha
aonde ir. Nada a fazer além de gastar seu dinheiro e sentar ao seu lado e
brincar de casinha.
Eu engoli a bile na minha garganta. Abri o molho. Peguei as travessas
restantes.
E fui atrás dele.
Sempre atrás dele.
Os homens aplaudiram quando eu apareci com mais comida.
— Pegue isso da Angela, pode ser, Charlie? — Xavier chamou do bar.
Um homem careca em um colete de suéter azul — Charlie — se
levantou e pegou os pratos de queijo e biscoitos de mim.
Tentei agradecê-lo, mas não consegui, então passei meus braços em
volta de mim. Se eu segurasse com força, talvez o tremor parasse. Talvez
eu me sinta mais inteira.
Xavier saiu do bar para reocupar seu lugar na chaise longue e estendeu
o braço para mim. Juntei-me a ele, mas sentei-me na extremidade oposta
da espreguiçadeira, fora de alcance.
Ele ofereceu uma taça de vinho e eu neguei. Xavier tomou um longo
gole do copo e se aproximou um pouco mais de mim para que pudesse
colocar a mão livre no meu joelho.
Eu vacilei, ganhando um olhar de soslaio.
Algo que um dos homens disse o distraiu antes que ele pudesse fazer
um comentário.
Estando o mais imóvel possível, invisível, tentei ouvir, apenas tentei
não estar aqui.
— Minha esposa me mataria se eu ficasse longe por mais de uma
semana, — disse o homem bem na minha frente. Acho que ouvi um dos
homens chamá-lo de Carlos.
— Isso é porque você tem que treiná-la direito, — respondeu o
homem ao lado dele. — Eu apenas mando a minha para o spa quando
preciso de um tempo sozinho.
— Vá se ferrar, Jim, — respondeu Carlos, pegando um punhado de
batatas fritas. — Sua esposa estava no fim de semana de meninos da
Praxel Inc. no ano passado.
— Tinha um spa no resort, não tinha?
Eles começaram a rir novamente.
De repente, senti o peso de um olhar sobre mim e os pelos da minha
nuca se arrepiaram.
XAVIER

Angela estava branca ao meu lado. Ela era pálida normalmente, mas
isso era diferente, mais fantasmagórico, como se todo o sangue tivesse
sido drenado dela.
Algo parecia errado, mas ela insistiu que estava bem. Talvez sua
ressaca estivesse demorando um pouco mais do que o normal para
sumir.
Tomei um gole de Shiraz, saboreando o caramelo.
Como esperado, a visita dos meninos mudou de negócios para lazer.
Em nossos círculos sociais, às vezes era difícil distinguir entre os dois.
Normalmente, eu estaria lá com eles, trocando histórias de guerra.
Esta noite, por algum motivo, suas histórias de conquista não soaram tão
engraçadas.
Eu esperava que Angela na sala os fizesse mudar de assunto, mas
parecia que eles beberam Manhattans demais para se importar.
— Acho que Jacques é quem tem o melhor plano, — brincou Paul. —
Deixa sua senhora aqui enquanto ele corre pela Europa. Como isso
funciona?
Ouvi Angela inspirar rapidamente ao meu lado, então deslizei para
mais perto dela.
É o assunto que a está incomodando?
Pelo menos ela me deixaria tocá-la agora.
É algo que eu disse?
Eu olhei para Paul.
— Mas essa não é bem a história verdadeira. Ele foi porque Penny deu
um fora nele. — Eu ri e os meninos concordaram.
Mas quando olhei para Jacques, ele não estava sorrindo junto com o
resto de nós.
— Eu cutuquei a ferida? — Eu provoquei. — Vamos, amigo, estamos
apenas brincando com você.
Jacques abriu um sorriso, mas não chegou aos seus olhos.
— Penny está apenas se fazendo de difícil, — ele disse. — Ninguém diz
não para mim.
Angela enrijeceu ao meu lado e eu lancei a ela outro olhar
questionador. Ela não encontrou meu olhar.
— Você está bem? — Eu sussurrei para ela.
— Hum...
— Vamos, — Jim gemeu, interrompendo Angela. — Qual é o seu
segredo? Claro, ela terminou com você, mas eu vi o jeito que ela estava
pendurada em seu braço, Jacques. Essa garota quer você dentro dela.
— Eu sou um amante latino bonito, — Carlos interrompeu, — e eu
ainda teria minhas bolas arrancadas se eu não visse minha garota por um
mês.
Jacques tomou um gole de seu uísque e olhou para mim por um breve
momento antes de se virar para Carlos.
— Nós dois somos solteiros. Tenho certeza que ela vê outros homens,
e eu vejo outras mulheres. Basta ter um pouco de mente aberta.
Eu engoli em seco. Ele sabe que eu dormi com Penny?
Se ele sabia, não soou como se ele se importasse.
Minha mão apertou meu copo. A coitada merece mais do que isso.
Espere.
De onde diabos saiu isso? Desde quando eu me importo com coisas
tão triviais como transar?
Jim riu.
— Sim, todas elas dizem que têm a mente aberta até descobrirem que
você tem algo a mais. Então elas enlouquecem! Aposto que foi assim que
Jacques conseguiu aquela cicatriz no pescoço. Penny o surpreendeu
montando uma prostituta e o atacou por trás.
Eu cerrei meus dentes, tentando não dizer algo de que me
arrependeria. Normalmente, eu riria de um comentário como esse, mas
algo no tom de Jacques me arrepiou.
— Quase certo. — Jacques girou o licor âmbar em seu copo. — Eu
ganhei isso de uma mulher em Paris. — Angela choramingou e eu
estendi a mão para colocá-la ao meu lado. Ela encolheu os ombros e tirou
meu braço dela. Ela tremia como uma folha ao meu lado.
Como um cachorro que foi chutado muitas vezes.
Todo o progresso por água abaixo.
Os outros caras ficaram em silêncio, esperando que Jacques
continuasse sua história.
Ele torceu o lábio, os olhos brilhando em minha direção novamente.
— Foi em um baile. Uma mulher... ela era pequena e loira com seios
grandes. A... como você diz? Uma mulher que dá corda. A noite toda. Ela
me queria. O que eu poderia fazer?
— Você está zoando, — disse Paul. — Coisas assim não acontecem na
vida real.
Eu apertei minha mandíbula.
Jacques continuou.
— Fomos para uma sala privada. Ela arrancou minhas roupas. Pediu-
me para dizer que ela era linda.
— Então? — Carlos perguntou.
— Eu não poderia mentir. — Jacques encolheu os ombros. — Eu disse
a ela que não era verdade. Então ela me golpeou com o sapato.
Os caras começaram a rir quando ouvi Angela murmurar:
— Com licença. Ela deu um pulo e correu pelo corredor.
— Ao sexo frágil. — Paul ergueu o copo.
ANGELA

Tudo o que tinha em meu estômago foi parar no banheiro.


Eu cuspi, de maneira muito desagradável, na privada antes de dar
descarga.
Com a bochecha apoiada na porcelana fria, diminui a respiração.
Jacques estava falando sobre mim. Eu tinha certeza disso. Os detalhes
podem ter sido distorcidos a seu favor, mas eu sabia que era eu. Para ele,
eu era apenas mais uma garota. Eu queria, estava pedindo por isso.
Xavier falou da mulher com quem ele dormiu assim. Eu o ouvi
menosprezá-las e ouvi-o chutá-las para fora de casa depois que ele já não
queria mais.
Ele pensava em mim como Jacques pensava? Como uma conquista?
Como um prêmio?
Eu não tinha certeza do que era pior: ser seu brinquedo ou a escória
sob o sapato.
A sala estava encolhendo, toda a cobertura ficando menor.
Eu não estava segura em lugar nenhum. Não em Nova Iorque. Não em
Paris. Nem mesmo em minha própria casa.
Eu era casada com um dos homens mais poderosos do país e ainda era
caçada.
Eu ainda não estava segura.
XAVIER

— Foi algo que eu disse? — Jacques perguntou quando a porta do


quarto se fechou atrás de Angela.
Todos os caras olharam para mim com os olhos arregalados.
— Ela está menstruada, — murmurei distraidamente, apenas para
fazê-los calar a boca, e ganhei um coro de sons simpáticos.
Definitivamente, algo estava errado com Angela. Ela passou pelo
inferno nos últimos meses, principalmente nas minhas mãos, e eu nunca
a vi reagir assim.
Tive o desejo repentino de ir até ela, ajudá-la.
Eu só tinha que tirar esses filhos da puta da minha casa primeiro.
— Tudo bem, meninos. A festa acabou, — eu declarei e bebi o resto do
vinho.
Meus colegas me olharam perplexos.
— Vocês me ouviram. Eu tenho coisas pra fazer.
Todos eles resmungaram, mas se levantaram, tontos demais para dar a
mínima para minhas maneiras.
Eu disse um "bom te ver" enquanto eles vestiam suas jaquetas, só para
me redimir de alguma forma.
Jacques parou em frente ao elevador, deixando a porta fechar com o
resto dos homens dentro.
— Espero que sua esposa esteja bem.
Pressionei o botão para chamar o elevador. Apertei novamente.
— Eu também.
— Por favor, dê a ela meus cumprimentos. Espero ter a chance de vê-
la novamente em breve.
— Podemos ligar e marcar algo. — Onde diabos está o elevador?
Eu não ouvi sua resposta ou as palavras que ele falou depois disso. Eu
estava muito focado em chegar até Angela.
Finalmente, as portas do elevador se abriram novamente. Jacques
sorriu e deu um tapinha no meu braço enquanto entrava.
— Se não, guardarei a memória da festa de gala do ano passado!
No segundo em que ele desapareceu, girei nos calcanhares, indo para
os quartos. Eu estava na frente da porta de Angela, com a mão na
maçaneta, quando as palavras de Jacques finalmente me atravessaram.
Gala do ano passado?
O que diabos isso queria dizer? Jacques e Angela se conheceram na
festa de gala?
Um pensamento repentino me ocorreu, fazendo minha mão apertar a
maçaneta.
Certamente, Angela não era a garota loira de sua história. Minha
noiva virgem não poderia ser a prostituta devassa que ele descreveu, não
é?
Um calor familiar passou por mim e abri a porta do quarto.
— Angela?
Capítulo 22
Ferida

ANGELA

Eu consegui rastejar do banheiro e subir na minha cama. Em posição


fetal, sob o enorme edredom fofo, eu me senti como se tivesse sido
engolida.
Eu não conseguia respirar, não conseguia me mover. Eu me senti em
carne viva, como se tivesse sido aberta e deixada para os pássaros me
rasgarem em pedaços. Como isso pode estar acontecendo de novo?
Talvez eu precisasse me mudar para casa definitivamente desta vez.
Arrume um emprego na oficina mecânica da cidade. Ajude a cuidar do
papai. Fique fora de vista.
Valeria a pena desistir de meus sonhos por um pouco de paz e
sossego?
Não é como se eu os estivesse vivendo agora.
— Angela? — Xavier chamou, batendo à porta do meu quarto.
Eu estremeci, me encolhendo mais em minha posição, esperando seu
ataque verbal.
O edredom foi jogado para trás. Xavier elevou-se sobre mim, o peito
arfando.
— Sua menti... — ele rangeu e então parou.
Uma nova onda de pânico cresceu dentro de mim quando seu olhar
escuro percorreu meu corpo, observando a posição fetal que eu estava
deitada e minhas bochechas manchadas de lágrimas.
Então algo mudou.
A testa de Xavier franziu e sua respiração desacelerou.
Ele se arrastou para a cama ao meu lado, apertando-me contra seu
peito e puxando as cobertas sobre nós.
Eu congelei quando ele se acomodou atrás de mim, me apertou mais
perto e deu o mais leve dos beijos na minha bochecha.
— O que está machucando você, meu anjo? — Eu podia sentir suas
palavras reverberando em seu peito contra minhas costas.
Eu balancei minha cabeça, e minha voz, quando falei, soou seca.
— Eu não acho que posso te dizer.
Estou com medo de te dizer.
Xavier murmurou. Seus dedos começaram a traçar pequenos círculos
em meu quadril. Não havia nada exigente no toque, nada sexual.
Uma espécie de calma começou a tomar conta de mim, originando-se
daquele ponto e se espalhando para fora.
Ele suspirou.
— Já que você não quer falar comigo, você iria comigo a um lugar?
Pensei por um momento, esperando que o terror surgisse e me
agarrasse de novo, mas não veio.
Se Xavier quisesse ter a sua chance comigo, ele não perderia tempo me
levando em público primeiro. Havia testemunhas lá. Se Xavier odiava
algo mais do que eu, era eu estragando sua imagem pública.
Eu acenei com minha cabeça uma vez.
— Você pode andar?
Eu confirmei, embora não tivesse certeza se era verdade, se minhas
pernas seriam fortes o suficiente para me segurar.
— Vou buscar nossos casacos, — ele disse. — Espere aqui.

Xavier me levou ao Central Park. Caminhamos pelas trilhas sinuosas,


subindo e contornando o Castelo de Belvedere, passando pelo lago. As
passarelas e os campos, que fervilhavam de gente no verão, estavam
vazios agora.
Puxei meu cachecol sobre meu nariz frio e respirei fundo o ar gélido.
Parecia um pouco mais fácil respirar aqui enquanto caminhávamos.
O ritmo de Xavier começou a diminuir. Olhei em volta, tentando me
orientar, e percebi que estávamos no caminho que eu costumava tomar
quando voltava da loja de Em para casa.
Havia algo mais que parecia especial naquele lugar. Mas eu não
consegui me lembrar.
Ele me puxou para um banco que ficava de frente para um lago com
um antigo salgueiro à sua margem. Ficamos sentados, olhando para a
água congelada, para o pôr do sol pintando sua superfície gélida com
tons roxos e dourados.
— Eu venho aqui para pensar, — Xavier começou. — Para limpar
minha cabeça.
Ele soltou um suspiro, fazendo o vapor sair de sua boca como a de um
dragão.
— Papai me disse que foi aqui que ele conheceu você.
É por isso que este local parece tão familiar.
— Eu estava distribuindo lírios.
Xavier se virou para olhar para mim.
— Ele disse que foi assim que soube que você era especial. Eles eram
os favoritos dela.
— De quem era o favorito? — Eu sussurrei.
Xavier acenou com a cabeça para a parte de trás do banco e a placa lá.
— Minha mãe.
Meus lábios caíram em um pequeno 'o'. A grama, o lago e o salgueiro
pareciam sagrados de repente.
Xavier nunca tinha falado comigo sobre sua mãe antes, nunca tinha
sequer mencionado ela. Eu estava com medo de falar, de estragar esse
momento congelado no tempo.
Eu senti um pouco da dor no meu peito se erguer. Este era o Xavier
que eu tinha visto em breves flashes nos últimos meses.
O verdadeiro Xavier. Eu tinha certeza disso
— Eu vim muito aqui depois do acidente. Depois... — Ele parou e
lambeu os lábios.
Eu esperei, deixando-o tempo para escolher as palavras. Eu pude ver
como era difícil falar sobre isso. Talvez ele nunca tenha feito isso antes.
Quando ele começou de novo, sua voz estava mais forte.
— Você viu a cicatriz nas minhas costas.
Não foi uma pergunta. Nós dois sabemos que eu tinha visto muito
mais do que antes.
— Estava chovendo na noite em que a consegui, — começou Xavier.
— Eu estava voltando de uma viagem de negócios para casa.
Ele parou, como se doesse lembrar, como se ele não quisesse lembrar.
— Quando eu entrei e encontrei eles juntos, eu perdi o controle. Saí
correndo do apartamento para a rua. Claudia, minha ex, me seguiu e saiu
da calçada assim que um táxi apareceu virando a esquina. Eu a empurrei,
mas não fui rápido o suficiente para pular para fora do caminho também.
Xavier respirou fundo.
— Isso machuca. Isso ainda dói, Angela. Todos os dias. E sempre que
vejo, penso nela e me machuco de uma maneira totalmente nova.
Novas lágrimas brotaram em meus olhos e eu estendi a mão para
pegar sua mão enluvada.
— Sinto muito que você se machucou.
Xavier deu uma risada sombria.
— Você não tem nada para se desculpar. Ainda mais você. Estou
tentando te dizer algo aqui. Que a dor que tenho carregado não foi tão
ruim recentemente. Às vezes, até esqueço que está lá. Isso é por sua
causa. Porque você distribui lírios para estranhos. Porque eu sei de fato
que você seria a única a pular na frente de um carro por mim.
— Xavier, eu.. — Comecei, mas parei quando um nó se formou na
minha garganta. Em vez disso, joguei meus braços ao redor dele.
— Você me salvou, Angela, — disse Xavier, com os lábios perto da
minha orelha. — E não apenas naquela maldita ilha.
Eu solucei, apertando Xavier mais perto. O vazio em mim quase se foi
agora, como se suas palavras tivessem me curado.
Eu nunca acreditei, nunca esperei, que Xavier fosse ser tão honesto
comigo. Não achei que sua personalidade autoritária de macho alfa
permitisse tais gestos íntimos. Nunca estive tão feliz por estar errada.
— Eu posso ver que você está sofrendo, Angela, — Xavier continuou,
afastando-se. Ele segurou minhas bochechas em suas mãos grandes e
ásperas. — Eu quero que você saiba que pode contar comigo também.
Que estou aqui. Eu posso ser essa pessoa novamente. O tipo de homem
que pula na frente de um carro. Por você, eu estaria disposto a fazer
qualquer coisa, mesmo que isso significasse voltar para aquela porra de
ilha. Eu só espero que você me deixe provar isso para você. — Havia mais
em suas palavras do que parecia. Eu podia ver isso agora.
Sua abertura foi algo novo para mim. Era como um ramo de oliveira.
Um trampolim na direção certa para nós como casal. Claro, os últimos
dias desde que concordei em começar a namorar Xavier foram
tumultuosos. Mas eu tinha concordado em tentar.
Eu sabia o que tinha que fazer. Era hora de confessar. Eu só podia
rezar para que isso nos aproximasse e não fosse a gota d'água que
arruinou nosso casamento.
Eu respirei fundo.
— Xavier, há algo que preciso te dizer...
Capítulo 23
Passado e P resente

XAVIER

Pai: Xavier, o que está acontecendo?

Pai: Ron acabou de me informar que o contrato de Paris está


cancelado.

Pai: Isso são meses de trabalho jogados no lixo.

Pai: Encontre-me no escritório às 6 da manhã para discutir.

Pai: Para deixar as coisas ainda mais claras, é uma reunião


MANDATÓRIA.

— Bom dia, chefe, — Ron cumprimentou enquanto eu passava por


sua mesa no dia seguinte. Ainda estava escuro, mal amanhecia e o
escritório estava vazio.
Feliz merda de segunda-feira para mim.
— Obrigado pelo café, — eu respondi, pegando a xícara fumegante de
sua mão. — Ele já está aí?
— Pode apostar que sim. Você vai precisar que eu faça anotações? —
Ron perguntou, sempre ansioso.
— Não. Preciso que você reúna todo mundo do projeto de Paris. Vou
falar com eles às oito em ponto.
Não esperei pela resposta de Ron, simplesmente abri a porta do meu
escritório. Papai estava parado no meio da sala.
Ele deveria estar semi-aposentado, o que quer que isso significasse,
mas ele tinha o hábito de aparecer no meu escritório como se ainda fosse
o dono do lugar. Eu deveria estar grato por ele estar tão feliz em —
ajudar, — mas na maioria das vezes, isso apenas me irritava.
— Pai... — eu comecei, apenas para que ele me cortasse.
— Não estou interessado nas suas desculpas, filho.
Deixei-me cair na cadeira e esfreguei minhas têmporas, sentindo uma
enxaqueca chegando. Não tive tempo para uma bronca esta manhã. Eu
não tinha dormido o suficiente para uma.
— Você cometeu um grande erro, — papai continuou, andando de um
lado para o outro na frente da minha mesa. Ele sempre se movia quando
estava bravo, como se o problema fosse algum tipo de tigre ou urso que
ele pudesse assustar se tornando maior.
Só que eu já havia sido sua vítima vezes demais para me assustar com
gestos e gritos.
— Não pude acreditar quando soube que você rescindiu nosso
contrato com Jacques ontem à noite. Meu filho, meu novo filho não faz
esse tipo de coisa. Foi isso que o velho Xavier de corrida de carros,
gastador de dinheiro e irresponsável fazia. Não o Xavier a quem confiei a
Knight Enterprises.
Tomei um gole do meu café e tentei novamente.
— Pai, eu...
Papai cruzou os braços.
— Como você pôde sabotar o projeto assim, Xavier? São meses de
trabalho que foram jogados água abaixo. Levará semanas para recolocar
as coisas em funcionamento e encontrar outro parceiro.
Cansado da agressão verbal do velho, cerrei os dentes e gritei para ele.
— JACQUES TENTOU ESTUPRAR ANGELA!!!
O rosto de meu pai se desfez imediatamente. Ele caiu em uma das
cadeiras de convidados no lado oposto da mesa.
— O quê?
— Jacques tentou estuprar Angela, — eu repeti, dessa vez em silêncio.
Doeu pra caralho dizer as palavras, saber que eu tinha falhado com ela.
A noite passada foi um grande testemunho de quanto eu estive
trabalhando em meu temperamento. Sentei-me em silêncio enquanto
Angela me contava o que ele tinha feito com ela.
Como ele a encurralou. Tocou nela. Eu deixei a fúria tomar conta de
mim, crescer no meu estômago. Então, depois que chegamos em casa e
Angela estava dormindo em segurança, eu canalizei a fúria para algo
poderoso.
— Quando? Como? — Papai perguntou.
— Paris. Ele a perseguiu. Ele a prendeu em uma sala ao lado do local,
— eu disse a ele. — Já liguei para o hotel e pedi para liberar a filmagem da
câmera de segurança para mim.
— Você chamou as autoridades? Preciso envolver minha equipe? —
Papai puxou o celular do bolso. Ele era a expressão da calma agora,
focado apenas nos negócios e em sua determinação.
— Sim, sim, claro, — respondi. Doeu um pouco, sua falta de confiança
em minhas habilidades, a falta de confiança em meu desejo de proteger
minha esposa.
Doeu ainda mais saber que eu merecia.
— A polícia está procurando por ele agora. Parece que o desgraçado
pegou um avião particular de volta para a França. A Interpol está
esperando para pegá-lo no aeroporto.
Papai se recostou na cadeira, com as sobrancelhas levantadas.
— Você fez um bom trabalho, filho.
— Eles não o pegaram ainda.
— Elas vão pegar. Você tem alguma ideia de qual foi o motivo dele?
Eu esperava que ele não fizesse essa pergunta, mas ninguém se tornou
tão poderoso quanto meu pai sem fazer perguntas difíceis.
Limpei a garganta e olhei para baixo, incapaz de sustentar o olhar de
meu pai quando admiti: — Acho que pode ter sido por vingança.
— Vingança pelo quê, Xavier?
Senti a vergonha esquentar meu corpo.
— Por eu ter dormido com a namorada dele.
Papai ergueu a mão.
— Eu não quero saber mais. Apenas me diga que você terminou.
— Eu terminei.
— E a garota está bem?
Eu concordei.
— Eu a coloquei em um de nossos hotéis. Eu não queria que ela se
machucasse por causa de algo que eu fiz.
Papai acenou com a cabeça.
— Você fez bem, filho. Agora saia.
— O quê? — Eu recuei, com a mão apertando minha caneca.
Foi só isso? Bom trabalho, agora saia enquanto eu cuido disso?
— Você precisa estar com Angela agora. Ela está extremamente
vulnerável, — explicou papai.
Sim, com certeza.
Foi por isso que fiquei acordado a noite toda com ela nos braços até
ela adormecer. Por isso eu estava fazendo ligações para caçar o
desgraçado francês. Por isso rasguei o maior contrato que a empresa já
teve em meu período como CEO.
— Eu preciso estar aqui, e ver isso até o fim. Não ficar em casa,
esperando que tudo acabe bem, — eu disse, fervendo. — Ele colocou as
mãos nela, pai. Ele a feriu. Não posso deixá-lo escapar impune.
— Não deixaremos, — respondeu papai. — Mas há mais nessa história
que você não sabe, Xavier. Este não é o primeiro homem a ameaçar
Angela.
— O que diabos isso quer dizer?
Senti a fúria começar a crescer novamente quando meu pai me
contou a verdade por trás dos nudes de Angela que vazaram. Como seu
antigo chefe a perseguiu, ameaçou, e como eles esconderam de mim a
pedido de Angela.
Ela não tinha confiado em mim com a verdade. Por que ela iria? Eu a
repreendi quando as fotos chegaram ao noticiário. Eu a tinha chamado
de uma caçadora de atenção, uma puta oportunista, uma vagabunda
mentirosa.
Eu não poderia estar mais longe da verdade.
— Eu fui um filho da puta do caralho, — eu respirei quando papai
terminou.
Os lábios de meu pai se curvaram em um pequeno sorriso.
— Sim, você foi. Você tem uma chance de se redimir agora. Vá até ela.
Eu vou cuidar de tudo aqui.
Eu me encontrei balançando a cabeça, de pé.
— Obrigado.
Eu falhei com Angela de mais maneiras do que eu imaginava. Eu não
deixaria isso acontecer novamente.
— E, filho? — Meu pai chamou quando eu estava na metade do
caminho para fora da porta. — Estou orgulhoso de você. Você fez um
bom trabalho.
ANGELA

— Você achou as fotos do local? — Eu ouvi Em perguntar.


Sua voz parecia distante, como se eu estivesse debaixo d'água.
Eu balancei minha cabeça, tirando-me de meus pensamentos.
— Ah, não, desculpe.
Em franziu a testa e abaixou a tela do meu laptop.
— Está tudo bem, Angie? Você está horrível.
Eu provavelmente deveria ter ficado mais apresentável antes de ela
chegar. A verdade é que eu estava simplesmente cansada demais para
tentar. Teria sido mais gentil com ela cancelar nosso encontro.
No entanto, um pouco de tempo com minha amiga parecia a receita
perfeita para tirar minha mente da noite passada. Em vez de ajudar,
estive olhando para a tela do meu computador durante a última hora,
incapaz de afastar a sensação dos olhos de Jacques em mim.
Mas eu não poderia dizer isso a Em. Eu não poderia preocupá-la.
Eu já disse a Xavier na noite passada com resultados não tão bons. Ele
não gritou. Na verdade, ele não fez nada.
Uma espécie de paralisia misteriosa o dominou enquanto ele fazia os
movimentos de me levar de volta para casa e sentar-se comigo até eu
adormecer. A raiva teria sido melhor do que este silêncio. Qualquer coisa
teria sido melhor do que nada.
— Só não dormi bem. — Eu ofereci a ela um pequeno sorriso. — Mais
café deve resolver o problema.
Eu me levantei e fui à cozinha fazer mais.
Tinha sido boba em acreditar que Xavier se importava mais comigo do
que com seu trabalho. Eu não sabia muito sobre as operações da Knight
Enterprises, mas sabia o suficiente para entender que Jacques era uma
peça-chave em suas participações na Europa. Seria uma má publicidade
se surgisse a notícia de que a Knight Enterprises estava trabalhando com
um estuprador.
Enchi minha caneca e voltei a me sentar ao lado de Em na mesa.
— Vou encontrar essas fotos agora. Você encontrou algum vestido de
dama de honra de que goste?
— Sim, alguns. Há um vestido básico aqui que eu acho que fica bem.
— Enquanto ela girava seu laptop em minha direção, meu celular vibrou
na mesa.
Eu o peguei, meu coração afundando ao ler as mensagens recebidas.

Dustin: Tenho notícias terríveis.

Dustin: Meu estúdio foi invadido ontem à noite.

Angela: Ah, não! Você está bem?

Dustin: Estou bem.

Angela: E suas pinturas?

Dustin: Intocadas, exceto por uma...

Dustin: O maldito roubou seu quadro.

Dustin: Sinto muito Angela: Não seja bobo. Estou feliz que você
não esteja ferido!

Dustin: Eu prometo que vou fazer um novo para você Angela:


Alguma ideia de quem pode ser o responsável?

Dustin: A polícia está investigando isso.


Dustin: Espero que eles encontrem minha obra-prima em breve.

— Tem certeza que está bem? — Em perguntou, vendo minha


expressão sombria.
— Alguém invadiu o estúdio de Dustin, — respondi, desligando o
telefone.
— Ele está bem?
— Sim, eles roubaram a pintura que ele fez para mim. O de Xavier e
eu.
— Sem ofensa, mas quem mais gostaria de uma pintura de vocês dois?
Só havia um nome que me veio à cabeça: Jacques.
Foi um pensamento ridículo. Jacques não conhecia Dustin. Não havia
como ele saber que a pintura existia.
Se o tivesse feito, era mais provável que o queimasse do que pendurá-
lo sobre a lareira. Ainda assim, de alguma forma eu sabia que ele era o
responsável.
Eu coloquei minhas mãos trêmulas no meu colo, escondendo-as de
Em.
— Angie, você realmente não parece tão bem. — Em franziu a testa,
seu olhar passando por mim. — Tem certeza de que não há algo que você
queira falar?
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu balancei minha
cabeça.
— Sinto muito, Em. Eu não posso.
Parecendo entender, Em me puxou para um abraço.
Eu não deixaria que fosse como da última vez. Não deixaria ninguém
se machucar por mim. Quando minhas fotos vazaram no noticiário, isso
não afetou apenas a mim, mas também a Brad, Xavier e minha família.
Desta vez, Dustin foi atacado. Era apenas uma questão de tempo antes
que alguém se machucasse.
Jacques estava vindo atrás de mim.
A única pergunta era: quando?
Capítulo 24
Em seus Braços

XAVIER

— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram. Não


fazia sentido, porque ainda era cedo e ela poderia estar dormindo.
Angela era normalmente uma pessoa matinal, mas eu precisava ouvir
sua voz, precisava vê-la para acreditar que ela estava bem.
— Ela não está aqui, — respondeu uma voz. Eu congelei no meio de
um passo e me virei em direção a sua fonte.
— Em, — eu disse em saudação. Ela estava sentada de pernas cruzadas
no sofá, um computador no colo. — Onde ela está?
Em passou a mão pelo cabelo.
— Ela desapareceu no corredor. Corri para um dos quartos. Tentei
falar com ela, mas ela não quis.
Meu estômago se revirou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não sei. Ela simplesmente começou a chorar. Eu... — Em franziu a
testa. — Eu acho que ela precisa de você agora.
O meu relacionamento com Em era difícil, para dizer o mínimo. Eu
sabia que ela não gostava de mim. Por que ela gostaria? As meninas
sempre contavam tudo às suas melhores amigas.
Eu tinha certeza que ela sabia todas as coisas terríveis que eu fiz para
Angela. Ouvi-la admitir que Angela precisava de mim foi um grande
passo, uma indicação de que devo ter feito algo certo.
Ela se levantou e começou a recolher suas coisas ao redor da sala.
Tirei meu telefone do bolso e digitei uma mensagem rápida.
— Marco vai te levar para casa.
— Tudo bem, — Em dispensou.
— Por favor, é o mínimo que posso fazer. Obrigado por estar aqui por
ela.
Assim que Em desapareceu no elevador, fui em direção aos quartos.
No final do corredor, a porta de Angela estava aberta. Eu espiei para
dentro, apenas para encontrar o quarto vazio. Com uma carranca, me
virei para encarar a porta do meu próprio quarto fechada e gentilmente a
abri.
Angela estava deitada no centro da cama, os cobertores puxados para
cima, a cabeça enterrada nos travesseiros.
Em qualquer outra situação, eu teria ficado emocionado em vê-la ali.
Sonhos com Angela na minha cama com as pernas bem abertas, gritando
em êxtase, me atormentaram por semanas.
Apenas a memória deles foi o suficiente para fazer meu pau se
contorcer.
Mas sacudi minha cabeça. Agora definitivamente não era a hora.
Com cuidado para não perturbá-la, sentei-me na beira do colchão.
— O que há de errado, meu anjo?
Eu ouvi sua respiração rápida.
— Xavier, — ela respirou. — O que você está fazendo aqui?
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa, — eu provoquei enquanto
ela se endireitava.
As bochechas de Angela ficaram rosadas.
— É o único lugar onde me sinto segura.
Quase me exaltei. Ela não estava tornando isso mais fácil.
Reposicionando-me, perguntei: — Segura do quê?
— O estúdio de Dustin foi invadido. A única coisa que foi roubada foi
uma pintura nossa, — ela disse. — Foi Jacques. Tinha que ser.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Ela não se sentia
segura, não se sentia protegida. Eu falhei com ela.
Estendi a mão e a envolvi em meus braços, passando a mão para cima
e para baixo em suas costas.
— Ele se foi, Angela. As autoridades estão procurando por ele agora.
Marco está no saguão lá embaixo. Eu estou aqui com você. Você está
segura.
Angela inspirou profundamente. Na expiração, eu a senti relaxar
sobre mim.
— O que você está fazendo em casa?
— Você realmente achou que eu te deixaria sozinha depois do que
você me disse? — Eu perguntei. — Tive que ir ao escritório para verificar
as coisas. Resolvi o contrato com o Jacques. Assim que o time de Paris foi
informado, eu voltei.
— Você rescindiu o contrato de Jacques?
— Claro, Angela. Como eu poderia trabalhar com um homem que fez
coisas tão terríveis com você?
Angela fungou.
— Você fez tudo isso por mim?
A resposta veio rapidamente, sem dúvida.
— Eu faria qualquer coisa por você.
ANGELA

Eu faria qualquer coisa por você.


No segundo em que as palavras saíram dos lábios de Xavier, eu sabia
que estava errada. Ele estava aqui por mim. Comigo.
— Eu não sei o que dizer, — eu disse a ele honestamente.
— Você não precisa dizer nada, — respondeu Xavier. — Apenas
descanse.
— Mas Em... — Eu me lembrei de repente que tinha abandonado
minha amiga na sala de estar.
— Deite-se.
— Mas... — Eu me movi para ficar de pé, mas Xavier me parou com
uma mão no meu ombro.
— Angela, — ele rosnou. — Em foi embora. Agora, por favor, você
precisa descansar.
Ele estava certo. Quase não dormi na noite anterior. E pelos círculos
roxos sob seus olhos que Xavier também não tinha dormido muito.
— Tudo bem, mas só se você ficar comigo.
As sobrancelhas de Xavier levantaram. Ele provavelmente estava
chocado com o quão direta eu fui. Sendo sincera, eu também fiquei um
pouco surpresa.
Eu sabia que me sentiria mais segura com ele aqui. Não era nada para
me envergonhar, era? Além disso, não seria a primeira vez que
dividiríamos a cama.
— Tudo bem, — ele disse e tirou os sapatos.
Eu joguei para trás o edredom que cheirava a ele. Xavier deslizou ao
meu lado, ainda em sua camisa e calça sociais.
Deitamos lado a lado de costas, exatamente como nos Hamptons. Só
que, ao contrário dos Hamptons, não havia barreira de cobertor entre
nós.
— Xavier? Você se importaria se eu virasse de lado? — Eu perguntei.
Xavier endureceu ao meu lado.
— Ok, — ele disse novamente.
Virei-me para encará-lo e, em seguida, com o coração acelerado,
estendi a mão para colocar a mão no peito musculoso de Xavier.
— Obrigada, — eu sussurrei, sabendo que ele entenderia que eu quis
dizer as palavras mais do que apenas o reposicionamento. Não era o
suficiente, mas eu não sabia mais como expressar minha gratidão.
Em resposta, Xavier se virou para mim. Seu braço livre me envolveu,
segurando-me contra ele até que cada centímetro de nossos corpos
estivesse pressionado um contra o outro.
Eu nunca tinha estado tão perto de um homem antes, nunca tinha
sentido tanto de uma vez. De alguma forma, não parecia o suficiente. Eu
queria mais. De repente, eu sabia o que precisava fazer, como poderia
agradecê-lo.
Xavier entendia mais ações do que palavras. Ele quebrou vasos, deu
socos e já fez sexo violento.
Se eu quisesse agradecê-lo direitamente, precisaria falar sua língua.
— Xavier? — Eu olhei para cima para encontrar seus olhos escuros
sobre mim, procurando. Perguntando.
— Está tudo bem, — eu sussurrei.
Esse foi todo o incentivo de que Xavier precisava. Ele fechou a lacuna
entre nós e pressionou seus lábios nos meus.
O beijo foi suave no início, simples, nada exigente. Eu podia sentir seu
desejo nele. Em seus lábios persistentes. Na forma como sua mão
pressionou minha parte inferior das costas.
Eu respondi avidamente.
O primeiro beijo se transformou em um segundo e depois em um
terceiro.
Eu gemi quando ele chupou meu lábio inferior, pegou-o entre os
dentes e, em seguida, deslizou sua língua em minha boca.
Xavier nos virou, prendendo minhas mãos sobre minha cabeça.
Estávamos peito a peito, com os quadris se esfregando.
— Xavier, — eu ofeguei, minha cabeça nadando com seu cheiro. Então
eu engasguei quando senti algo duro roçar na minha coxa. — Xavier!
— Sim? — ele gemeu, movendo seus lábios para baixo para chupar
meu pescoço.
Eu gritei quando a protuberância roçou contra mim novamente e me
endireitei.
Xavier se ajoelhou sobre mim, o peito arfando, sua masculinidade
ereta entre nós, mal contida em suas calças.
Eu não conseguia parar de olhar para ele. Mal pude engolir a
necessidade repentina de tocá-lo, de senti-lo deslizar... Eu rapidamente
cobri meus olhos com as mãos.
— Eu não posso, — eu disse a ele. — Eu não estou pronta, Xavier. Me
desculpa.
— Olhe para mim, Angela, — Ele respondeu
Xavier. Então, quando eu não tirei minhas mãos, ele disse novamente:
— Olhe para mim. Eu espiei por entre meus dedos. Xavier olhou para
mim, com a sobrancelha levantada.
— O que eu te disse?
— Que não faríamos sexo até que eu estivesse pronta.
— Então por que você está se escondendo de mim?
Eu deixei minhas mãos caírem no meu colo.
— Me desculpa. Eu só... entrei em pânico.
— Eu não posso evitar, Angela, — disse Xavier, deitando-se ao meu
lado. Ele estendeu o braço como uma oferta silenciosa, e eu me acomodei
contra seu peito, com cuidado para evitar ficar muito perto de sua
situação.
— Eu quero você, — Xavier continuou, descarado. — Não estou
dizendo isso para forçá-la a nada. É apenas a verdade. Eu não posso
evitar.
Eu nunca tinha entendido como ele conseguia falar sobre coisas tão
íntimas de forma tão clara. Suponho que talvez tenha vindo com a
prática.
Enquanto eu estava deitada em seu peito, com nossas pernas
entrelaçadas, eu descobri que, pela primeira vez, eu não estava com medo
de quão atrevido Xavier era. Sendo honesta comigo mesma, estava
gostando. Ele me fez sentir desejada de uma forma que ninguém mais
fez.
Finalmente segura, eu lentamente adormeci nos braços de Xavier,
com uma verdade ressoando em minha mente. Nunca estive tão perto de
qualquer homem, mas não conseguia imaginar que fosse qualquer outra
pessoa que não fosse Xavier.

Naquela noite, e todas as noites depois, adormeci envolta em Xavier.


Lentamente, eu estava ficando cada vez mais incapaz de negar que algo
parecia certo entre nós. Como se fossemos feitos para nos encontrar.
Como se fôssemos um casal predestinado.
Eu tinha encontrado um lar no local mais improvável que poderia ter
imaginado.
Todas as manhãs, quando acordei em seus braços, três palavras
saltaram para a frente da minha mente. Todas as manhãs, eu as engolia.
Era muito cedo. Não havia como elas serem verdadeiras. De jeito
nenhum isso poderia ser real. Nunca esperaria por isso.
Eu nunca entendi por que elas eram tão difíceis de dizer até este
momento. Cada vez que elas estavam na ponta da língua, meu estômago
revirava e eu tinha que engoli-las de volta.
Não seja gananciosa, Eu me repreendia. Você já conseguiu mais do que
poderia esperar. Jacques se foi. Você está segura. Isso é o suficiente por agora.
Estava ficando cada vez mais difícil manter isso para mim.
— Bom dia, — Xavier sussurrou, puxando-me contra seu peito nu e
esculpido.
Eu te amo.
— Bom dia, — respondi com um beijo em seu ombro.
Ele cobriu os olhos com o braço.
— Que horas temos que estar lá?
— Em uma hora. Você deveria entrar no chuveiro.
Xavier sorriu.
— Entra comigo?
— Em seus sonhos, — eu atirei de volta.
E então ele me beijou, e as três palavras borbulharam novamente.
Eu te amo.
Hoje era o dia do casamento de Em e Lucas. Um dia para celebrar o
amor. Talvez, esta noite, eu finalmente teria coragem para dizer as
palavras em voz alta. Talvez eu dissesse a Xavier que o amava.
Enquanto ele se levantava da cama e se dirigia ao banheiro, uma
sensação de aperto no estômago começou a crescer.
Não há nada para se preocupar, eu me repreendi quando ouvi o
chuveiro ligar. Como sempre, ele deixou a porta do banheiro aberta em
um convite.
Por alguma razão, porém, não conseguia afastar a sensação de que
tudo isso era bom demais para ser verdade.
Que eu não teria a chance de dizer a Xavier como me sentia.
Que toda a minha sorte estava prestes a se tornar muito, muito para
mim...
Capítulo 25
Doce Reunião

ANGELA

A suíte nupcial do Midtown Knights Hotel fervilhava com tanta


atividade. Meninas em vários estados de nudez corriam de cômodo em
cômodo. No centro de tudo, parecendo uma rainha com uma coroa de
rolos empilhados na cabeça, estava Em.
— Você está nervosa? — Eu perguntei da cadeira ao lado dela
enquanto uma mulher aplicava base na minha testa.
— Um pouco, — Em admitiu, seguido rapidamente por, — Não sobre
me casar com Lucas. É todo o resto. As pessoas. Os votos. A dança. Eu só
quero que o dia acabe.
— Eu entendo.
Mas eu não entendia na verdade, não realmente. Em e Lucas
planejaram cada segundo deste dia. Não havia mais nada com que se
preocupar.
Em cobriu os olhos com as mãos, bloqueando o acesso do maquiador
aos cílios.
— Eu não posso acreditar que estou me casando com seu irmão.
— Eu não aceitaria de outra maneira, — respondi honestamente. Ter
duas pessoas que eu tanto amava se apaixonando uma pela outra era um
sonho.
Em sempre foi como uma irmã para mim. Agora seria oficial.
Um dos assistentes sorriu para Em.
— Acho que estamos prontos para colocá-la em seu vestido.
Todas as garotas, agora envoltas em seda magenta, amontoaram-se no
closet para assistir Em deslizar em seu vestido Vera Wang de costas
abertas. Quando os rolos foram puxados de seu cabelo, uma série de oohs
e aahs soou através do espaço apertado.
— Você está linda, Em, — eu disse à minha amiga, apertando seus
dedos.
Era verdade. Em estava deslumbrante com o vestido de renda marfim,
a epítome de uma noiva corada. Tanto que não pude evitar a pontada de
ciúme que cresceu dentro de mim.
Em acenou para os olhos dela com a mão livre.
— Você vai me fazer chorar.
As lágrimas que chorei no dia do meu casamento não foram felizes
como as dela. Eu temia caminhar pelo corredor até o altar. Eu me
perguntei se algum dia teria outra chance de ter o casamento perfeito ou
se o dia do meu casamento sempre seria marcado pela mágoa e raiva.
De qualquer forma, eu nunca teria um dia como Lucas e Em. O meu
amor e o de Xavier nunca seria como o deles.
Meu celular vibrou no meu bolso. Com ele em mãos, pedi licença para
sair do closet, deixando Em com as outras meninas.

Xavier: Posso te ver em seu vestido?

Xavier: Não consigo parar de pensar nisso.

Angela: Desculpe, você conhece as regras...

Angela: O noivo não pode ver a noiva antes do casamento.

Xavier: Preciso te lembrar que já somos casados, Sra. Knight?

Xavier: Eu acho que isso me concede o direito de fazer o que eu


quiser com você.

Angela: Não me lembro de me propor.

Xavier: Angela...

Angela: Suponho que um pequeno vislumbre não faria mal.

Angela: [anexo: Episódio55_Content2_leg@2x. png]


Xavier: Meu Deus.

Xavier: Eu preciso te ver agora.

Xavier: Encontre-me no elevador em 10.

XAVIER

Coloquei meu telefone no bolso da camisa do meu smoking e


estremeci quando uma pulsação familiar começou a crescer em minhas
bolas.
As últimas semanas foram terríveis. Dia e noite, pensamentos de
Angela me atormentavam, deixando-me duro e com muito tesão.
Não conseguia me lembrar da última vez que me masturbava tanto.
Mas não pareceu ajudar, por mais frequente que fosse. Meu pau duro
voltava como um relógio, e geralmente com uma vingança.
Agora, a visão dos tornozelos de Angela me fez como um adolescente
privado de sexo.
Esta manhã, no chuveiro, tinha sido o pensamento dela entrando pela
porta aberta do banheiro e se juntando a mim sob o fluxo quente.
Riachos de água escorrendo por seus seios nus.
Seu suspiro quando eu chupei um de seus mamilos pontiagudos em minha
boca.
Minha mão apertando sua bunda firme e escorregadia.
— Está tudo bem, bonitão?
Eu balancei minha cabeça.
— Huh?
O Sr. Carson estava me encarando do outro lado da sala, seus olhos se
estreitando.
Porra.
— Sim, tudo bem. Muito trabalho. — Limpei a garganta e me
reorganizei artisticamente no sofá. A última coisa que eu precisava era o
pai da minha esposa me pegando com uma ereção enorme.
Eu fui convidado para me preparar com o noivo e seus padrinhos.
Embora eu não estivesse na festa de casamento como Angela estava, eu
aparentemente ainda contava como família e era esperado que fizesse
um bom show.
Que sorte a minha.
Honestamente, eu teria ficado mais feliz em trabalhar em casa por
mais algumas horas do que ficar por aqui e fingir ser um dos meninos. Eu
sabia que significaria muito para Angela se eu fosse bonzinho.
O dia estava mais tranquilo do que um pau lubrificado até que decidi
dar uma olhada em Angela. Até que ela me enviou a foto de sua perna.
— Tem certeza de que está bem, bonitão? — O Sr. Carson perguntou
novamente.
Não, não estou bem. Eu tenho fodido sua filha por semanas, e minhas
bolas doem tanto que tenho certeza de que qualquer esperança para futuros
filhos desapareceu.
Eu precisava de algo para tirá-lo do meu pé. Felizmente, eu vim
preparado.
Eu estive cogitando algo por algumas semanas, desde a última vez que
estive com a família de Angela, na verdade. Com toda a baboseira
romântica flutuando no ar, eu sabia que hoje era minha melhor chance.
— Na verdade, eu gostaria de falar com você no corredor por um
minuto, se estiver tudo bem, Sr. Carson.
Ele olhou de mim para os outros caras. Ao contrário das mulheres,
esse lado da festa nupcial levou dez segundos para vestir os ternos e
colocar um pouco de gel no cabelo. Desde então, eles assistiam ao jogo
na tela de plasma.
— Claro, bonitão, — o Sr. Carson falou lentamente e me seguiu para
fora da suíte.
No segundo em que a porta se fechou, minhas mãos ficaram úmidas.
— Eu, ah...
Não conseguia me lembrar da última vez que me senti assim, a última
vez que estive nervoso com qualquer coisa.
A boa notícia foi que os nervos fizeram meu pau recuar em direção ao
meu estômago.
— Estive pensando no que você me perguntou da última vez que nos
vimos, — comecei.
O Sr. Carson acenou com a cabeça.
— Você perguntou se eu amava sua filha ou não.
— E você me disse que precisava de mais tempo para responder.
Então?
— Eu a amo. — Foi a primeira vez que disse essas palavras em voz alta.
— E gostaria de pedir sua bênção para fazer as coisas certas dessa vez. Eu
quero dar a Angela um casamento de verdade. Um onde você pode levá-
la até o altar, onde podemos compartilhar nossa primeira dança. Vou até
escrever meus próprios votos, se ela quiser.
— Sim, — respondeu o Sr. Carson muito rapidamente, com lágrimas
nos olhos.
— Mesmo? — Eu perguntei, antes que eu pudesse me impedir.
O Sr. Carson jogou seus braços em volta de mim.
— Bem, a escolha é dela, bonitão. Mas, do meu lado, nada me faria
mais feliz. Você tem sido um verdadeiro cavalheiro nos últimos meses,
apoiando Angie nos altos e baixos com minha saúde, ajudando-a a
sobreviver ao acidente de avião, pagando para que meu filho pudesse se
casar neste hotel. Você é um cara legal.
— Eu... — Meu celular vibrou no bolso, me fazendo dar um passo para
trás. — Eu preciso atender. Eu sinto muito. E obrigado, Sr. Carson.
Exultante, corri pelo corredor em direção aos elevadores.
ANGELA

— Idiota, — murmurei para mim mesmo. — Tão idiota.


Eu estava subindo e descendo no elevador por cinco minutos agora, e
ainda não havia sinal de Xavier.
Ele estava apenas brincando com você.
E funcionou. Eu coloquei meu vestido e agarrei meu buquê, muito
ansiosa para agradá-lo, para me distrair de toda a felicidade conjugal ao
meu redor.
Ele não estava vindo.
Apertei o botão do meu andar, pronta para retornar derrotada à suíte
nupcial. A cerimônia começaria em breve, de qualquer maneira.
Provavelmente foi melhor assim.
Quando o elevador se aproximou do sétimo andar, ele diminuiu a
velocidade e as portas se abriram. Lá estava Xavier, ofegante, seus olhos
escuros de luxúria.
Em duas passadas, ele cruzou o elevador, me pressionou contra a
parede espelhada e capturou minha boca na dele.
As mãos de Xavier desceram pela minha cintura até que ele estivesse
segurando minha bunda. Eu engasguei quando ele me levantou do chão
e envolveu minhas pernas ao redor de seus quadris, gemendo quando
senti sua excitação me pressionar.
Meu buquê de peônias caiu na porta do elevador enquanto minhas
mãos enrolavam em seu cabelo escuro.
— Você está me matando, — Xavier rangeu, mordendo minha orelha.
Ele pressionou um beijo em meu pescoço e então se moveu para baixo,
arrastando beijos e mordidas na minha garganta. — Você não pode ver o
quanto eu te quero.
O elevador apitou e Xavier me deixou cair antes que as portas
pudessem se abrir. Ele deu um passo na minha frente protetoramente,
bloqueando-me de quem quer que tenha se juntado a nós.
— Olá, — ele cumprimentou, sua voz cheia de luxúria. Eu o observei
se abaixar e pegar meu buquê do chão, segurando todas as flores na
frente de sua virilha.
Uma risada feminina respondeu.
Com as bochechas queimando, eu rapidamente endireitei minhas
roupas, com vergonha de espiar por trás dele para investigar nossa
companhia.
A porta se abriu novamente e nossa convidada saiu.
Xavier soltou um suspiro, a linha de seus ombros caiu e se virou para
mim.
— Isso foi inesperado. — Ele sorriu, as mãos voltando para minha
cintura.
— Eu já havia desistido de você, — eu disse a ele e então corei quando
ele deu uma boa olhada em mim.
— E perder isso? Você está deslumbrante, Angela. — Ele me beijou de
novo, mais lento dessa vez.
— Nós temos que ir, — eu disse quando nos separamos. — A
cerimônia vai começar em breve. — Ele se inclinou como se fosse me
beijar pela terceira vez, e eu me virei com uma risadinha, fazendo seus
lábios pousarem na minha bochecha. — Xavier!
— Tudo bem, tudo bem, — ele disse e deu um passo para trás em
derrota. — Mas vamos terminar isso mais tarde.
Chegamos à capela bem a tempo. Lá dentro, o piano já havia
começado a tocar e as vozes dos convidados baixaram para um sussurro
maçante.
— Aí está você! — Em gritou quando Xavier e eu viramos a esquina, de
mãos dadas.
— É minha culpa, — disse Xavier a ela, ganhando uma careta de volta.
Ele beijou minha bochecha antes de deslizar pelas portas para tomar
seu lugar entre os outros convidados.
Eu tomei meu lugar na linha de damas de honra e padrinhos. Na hora
certa, a marcha nupcial começou a tocar e começamos nosso caminho
pelo corredor.
Quando estávamos todos em nossos lugares na frente da capela, a
música cresceu. Todos os convidados do casamento se levantaram
quando Em entrou, mais feliz do que eu já tinha visto.
Enquanto ela flutuava pelo corredor em direção a Lucas, um
movimento no fundo da sala chamou minha atenção.
Senti o sangue sumir do meu rosto enquanto uma onda de terror me
percorria. Jacques estava aqui. Eu tinha certeza disso. Eu o vi.
Rapidamente, examinei os rostos dos convidados na última fila
novamente, mas não consegui identificá-lo.
Fechei meus olhos, diminuindo minha respiração acelerada.
Ele não está aqui.
Você está segura.
Xavier prometeu.
Embora não tenha sido a primeira promessa que Xavier quebrou...
Capítulo 26
Uma dança final

ANGELA

Com os dedos tremendo, fiquei na mesa principal, esperando os


convidados se acalmarem ao meu redor. Como dama de honra, fui
obrigada a fazer um discurso.
Foi realmente uma honra poder dar minha bênção ao meu irmão e
melhor amiga. Isso não significava que eu não estava nervosa,
especialmente porque a única experiência que tive de amor não foi nada
romântica.
Finalmente, respirei fundo, ignorando o peso de centenas de olhares
sobre mim, e comecei.
— Hmm... Oi, meu nome é Angela, e eu... eu conheço Lucas e Emily
minha vida inteira. Lucas, meu irmão, eu não tive escolha em tê-lo na
minha vida. Ele simplesmente estava lá, todos os dias, sem falhar. Em...
Emily eu conheci na escola e, desde então, tenho escolhido todos os dias
mantê-la em minha vida.
Um coro de admiração irrompeu pela sala, dando-me coragem
enquanto eu continuava.
— É nessa amizade que eu quero me concentrar, nessa escolha,
enquanto eu lhes ofereço minhas palavras finais de... hmm, conselho,
enquanto vocês dão seus primeiros passos nesta jornada como marido e
mulher.
— Eu... estou casada há menos de um ano, mas as lições que aprendi
por ser amiga de Em me ajudaram em cada etapa do caminho.
Meus olhos encontraram os de Xavier na multidão. Ele sustentou meu
olhar, com seus olhos escuros ardendo, enquanto eu continuava meu
discurso.
— Amizades, como casamentos, não são um caminho fácil. Existem
curvas, buracos e morros pelos quais você precisa navegar. Nem sempre é
fácil. Não é sempre um mar de flores.
— A coisa mais importante que aprendi é que você, hum, tem a
chance de refazer tudo todas as manhãs. A cada dia, você pode escolher
novamente. Escolher um novo caminho. Escolher ser um bom amigo.
Um bom parceiro. Escolher o amor.
— Meu conselho para vocês, Lucas e Em, é continuar fazendo essa
escolha. Se você fizer isso, vocês conquistarão todos os obstáculos que
encontrarem, não importa o caminho que vocês tomem.
Com os olhos marejados, levantei minha taça de vinho.
— Para Em e Lucas. Que vocês sempre escolham o amor.

Eu deslizei meu caminho através dos dançarinos, procurando por um


par familiar de olhos escuros. Esta noite foi a noite. Eu tinha certeza
disso agora. Eu diria a Xavier que o amava. Eu escolheria o amor.
Eu só tinha que encontrar meu amado primeiro.
Quanto mais demorava para encontrar Xavier, mais nervosa eu ficava.
Havia tantos corpos. Qualquer um deles poderia ser...
Não. Jacques não está aqui.
Ele não pode estar.
Não era ele na cerimônia.
Meus olhos estavam pregando peças em mim.
— Me concede essa dança?
Eu pulei quando um par de braços fortes se curvou em volta da minha
cintura.
Encontrei.
— Seria um prazer, — respondi, já me sentindo mais à vontade.
Xavier me levou para o centro da pista de dança e começamos a
balançar entre os outros casais. Eu coloquei minha cabeça em sua lapela,
respirando seu cheiro enquanto girávamos.
O jantar acabou, os discursos terminaram e o bolo foi cortado. Tudo o
que restou foi dançar.
— Como foi sua refeição? — Eu perguntei preocupada. — Desculpe,
não pude sentar com você.
Xavier não teve permissão para sentar comigo, pois eu estava sentada
na mesa principal. Mas eu sabia que Em tinha tentado encontrar alguém
compatível com ele para se sentar junto.
Xavier bufou.
— Sentei-me ao lado de um idiota de meia-idade que possui um
Airbnb. Tenho certeza que você pode imaginar sobre o que ele queria
falar.
Eu ri quando Xavier me jogou para trás, ganhando alguns olhares de
dançarinos próximos.
— Seu discurso foi lindo, — disse Xavier quando ficamos cara a cara
novamente.
As palavras borbulharam novamente. Eu te amo.
— Obrigada. — Eu corei.
Ele abaixou a cabeça, roçando os lábios na minha orelha, e sussurrou:
— Quando vamos para casa? Estive pensando em tirar esse vestido de
você a noite toda.
A mão de Xavier deslizou pelas minhas costas até minha bunda.
Eu engasguei, golpeando sua mão.
— Comporte-se!
— Angie! Oh, meu Deus, Angie! — gritou Em, de repente se apertando
entre Xavier e eu.
Ela jogou os braços em volta de mim.
— Muito obrigada!
Eu dei a Xavier um olhar de desculpas por cima do ombro da minha
amiga. Claramente Em tinha bebido um pouco demais.
— Eu não poderia ter feito tudo isso sem você! — ela continuou a
falar. — E o seu discurso! Foi tão bom.
— Foi um prazer, — eu assegurei a ela, dando tapinhas em suas costas.
— Você mereceu seu dia perfeito, Em.
Ron: 911 no escritório, Chefe.

Xavier: Meu pai está de plantão esta noite.

Ron: Eu tentei ligar para ele. Ele não está respondendo.

Xavier: Provavelmente porque estamos em um casamento.

Xavier: Isso pode esperar?

Ron: Receio que não!

Ron: Alguém acionou os alarmes de segurança Ron: Nossa


equipe de segurança está cuidando disso.

Ron: Eles precisam da sua aprovação para envolver a polícia.

Xavier: A polícia?

Xavier: O que aconteceu?

Ron: É difícil de explicar...

Ron: Seria melhor você mesmo verificar as coisas, senhor.

Xavier: Estou a caminho.

XAVIER

Merda.
Esta era a última coisa que eu precisava agora.
Foi pra esse tipo de emergência que contratei seguranças. Agora eu
tinha que ir ao escritório para mostrar àqueles idiotas como fazer seu
trabalho.
Eu olhei por cima do meu celular e peguei os olhos de Angela.
Em ainda estava falando a mil milhas por minuto com ela enquanto
Angela acenou com a cabeça em resposta, incapaz de falar uma palavra.
Fui para trás de Angela, tirei o cabelo de seu ombro e sussurrei: —
Preciso ir ao escritório por um minuto.
— Você me prometeu que não trabalharia, — Angela sussurrou de
volta. Emily continuou a tagarelar, sem se importar.
Corri minha mão pelo lado de Angela em um pedido de desculpas
silencioso.
— Isto é uma emergência. O escritório fica na mesma rua. Estarei de
volta antes que você sinta minha falta.
Angela acenou com a cabeça. Dei um beijo em seu ombro nu e depois
voltei para a multidão.
Eu deixei claro que não estava disponível para negócios esta noite. É
melhor Ron ter uma boa razão para isso.
ANGELA

Enquanto eu observava Xavier desaparecer no meio da multidão, a


ansiedade familiar começou a rastejar de volta.
Tudo bem. Está tudo bem.
Mas não parecia. A sensação de estar numa areia movediça, que senti
o dia todo, estava começando a parecer que me engoliria.
Em tagarelou ao meu lado, e eu estava tão feliz que ela não percebeu
que eu havia parado de contribuir com a conversa.
Ar. Talvez eu só precisasse de um pouco de ar fresco.
Tinha sido um longo dia.
Eu provavelmente bebi muito também.
— Acho que vou sair por um minuto, — anunciei de repente.
Em parou e disse:
— Devo ir com você?
— Não, não. Fique com seus convidados. Será só um minuto.
— Tudo bem, — disse Em, andando. — Mas você ainda me deve uma
dança.
XAVIER
Quando cheguei ao prédio, um membro da equipe de segurança me
encontrou na porta.
— O que diabos aconteceu? — Eu exigi.
O homem de meia-idade e obeso, vestindo um colete com fita
reflexiva, foi rápido em responder.
— Houve uma invasão no último andar, Sr. Knight. O diretor está lá
agora esperando por você.
Fui para o elevador, sem esperar que ele me alcançasse.
O zelador provavelmente acionou o alarme por acidente. Ou algum
estagiário sobrecarregado foi pego roubando material de escritório. Algo
que não vale meu tempo.
O elevador abriu. Ron estava no corredor, esperando minha chegada.
— Bom te ver, senhor, — ele disse, caminhando ao meu lado.
— É melhor não ser um alarme falso, — eu falei.
— Não, senhor. Receio que não seja, senhor.
— Sr. Knight, — chamou um homem alto de pele escura e bigode. Ele
estava parado no final do corredor, em frente às portas do meu escritório
— Meu nome é Sr. Taff. Eu sou o chefe da sua equipe de segurança.
— Você me tirou de uma noite maravilhosa com minha esposa, Sr.
Taff, — respondi. — É melhor que valha a pena.
O Sr. Taff abriu a porta do meu escritório.
— Veja por si mesmo, senhor.
No início, não consegui encontrar nada de errado. Meu escritório
estava como eu o deixara, como sempre. Nenhum vidro quebrado,
nenhum fogo, nenhum cadáver.
Eu cerrei meus dentes. Como esperado, tudo estava em seu lugar.
Então eu vi. A fotografia do horizonte de Nova Iorque, que
normalmente ficava acima da minha mesa, havia sumido. Outra coisa
estava pendurada em seu lugar.
Eu fiz uma careta, me aproximando.
A pintura era enorme, quase tão alta quanto eu. Fora lindo outrora.
Dava pra ver. Mas agora a tela estava destruída.
De um lado, um lindo anjo de cabelos dourados estava de pé,
intocado. Outra figura, que antes estava ajoelhada a seus pés, agora
permanecia apenas parcialmente. A melhor parte de seu corpo foi
arranhada, seu rosto havia sido arrancado.
Quanto mais eu olhava, pior ficava a sensação de aperto no estômago.
O anjo era a imagem cuspida de Angela. Não havia dúvida sobre isso,
o que só poderia significar uma coisa: eu era o cavaleiro destroçado. Eu
teria que ser um idiota para chegar a qualquer outra conclusão.
A mensagem foi clara.
A pintura era uma ameaça.
Restava apenas uma pergunta: quem era o artista?
Meus olhos dispararam para o canto inferior da pintura.
— Alguém chame Dustin Sterling no telefone, agora.
ANGELA

O ar frio da noite atingiu minhas bochechas muito quentes e braços


nus quando entrei nos jardins do hotel.
Respirei fundo, deixando a quietude da noite de primavera me
acalmar.
Você está sendo ridícula.
O dia todo foi perfeito. Em estava nas nuvens. Em breve, Xavier e eu
poderíamos voltar para nosso apartamento e nos aninhar na cama.
Eu poderia dizer a ele aquelas três pequenas palavras que eu estava
morrendo de vontade de dizer a ele.
Atravessei o pátio de pedra e me sentei em um banco em frente a um
pequeno lago.
O pensamento de Xavier me fez imaginar o que poderia tê-lo tirado
do casamento.
Uma emergência, ele disse. Que tipo de emergência aconteceu às dez
da noite de um sábado?
Estremeci quando outra brisa soprou pelas árvores, fazendo-me
cruzar os braços contra o peito. Então, da sombra ao lado das portas,
uma voz falou: — Posso lhe oferecer uma bebida, mademoiselle?
Meu coração parou.
— O que você está fazendo aqui?
Jacques sorriu, dando um passo em minha direção.
— Eu vi você sair e você parecia tão... tão triste que pensei em vir me
certificar de que você estava bem.
Estávamos no jardim do hotel. Havia centenas de pessoas do outro
lado das portas. Ele não ousaria me tocar agora, não é?
— Xavier está aqui. — Eu me descobri mentindo. — Se eu gritar, ele
virá correndo.
Meu coração estava disparado no peito, e minhas mãos, úmidas no
banco de pedra frio. Eu sabia o que viria a seguir. Os dedos de Jacques
agarrariam minhas coxas e seus lábios atacariam meu pescoço.
Nós já dançamos essa dança antes.
Frenética, virei minha cabeça, procurando desesperadamente por
outra saída.
Eu não poderia deixá-lo vencer.
Não podia deixá-lo chegar tão perto de novo.
Jacques riu e lentamente começou a dar um passo em minha direção.
— Receio, mademoiselle, que seu marido esteja bastante ocupado no
momento.
— Por favor... Por favor, pare, — eu disse, me levantando.
Jacques deu mais um passo à frente.
— Parar o quê?
Eu abri minha boca para gritar, mas não fui rápida o suficiente.
Jacques saltou para frente, jogando-me para trás.
Uma dor aguda floresceu em minha têmpora.
Minha visão turvou.
Então havia apenas... preto.
Capítulo 27
Tudo

XAVIER

— Atenda o seu celular, — eu sussurrei. — Atenda o seu maldito


celular.
Dustin não estava respondendo. Ele provavelmente estava se
divertindo muito no casamento para ouvir seu telefone.
A linha caiu. Apertei o botão de rediscagem.
— Precisamos dar um jeito nisso, — gritei para Marco.
A primeira vez que Dustin não atendeu, eu decidi rastreá-lo e pulei de
volta para o meu carro. Parecia uma ótima ideia até que ficamos presos
no trânsito a quatro quadras do hotel.
Do banco da frente, Marco murmurou sua resposta usual.
— É Nova Iorque.
Isso não foi bom o suficiente desta vez. Não estava atrasado para uma
partida de pólo ou uma reunião no iate clube. Angela estava em perigo.
— Esqueça, — eu bati e abri a porta dos fundos, guardando meu
celular e saindo para a rua.
— Sr. Knight! — Marco me chamou. Mas era tarde demais. Eu já
estava na metade do quarteirão.
Ela estava certa. Angela estava certa.
Jacques ainda estava na cidade.
Ela estava certa e eu não tinha escutado, eu não tinha acreditado nela.
Por que eu nunca acredito nela?
Corri passando por um casal, batendo no ombro do homem, e fui
embora antes que ele pudesse gritar algo.
Angela. Eu preciso falar com Angela.
Se ele a tocou...
Não. Ela estava em um casamento. Em um salão de baile cheio de
gente. Intocável.
Mesmo assim...
Eu corri mais rápido.
Eu não a perderia, não poderia perder outra pessoa que eu amava.
Eu derrapei até parar do lado de fora das portas da frente do hotel,
meus sapatos sociais deslizando no cimento da calçada.
O porteiro abriu a porta e eu entrei no saguão.
Papai já estava lá, esperando por mim.
— Xavier! — ele gritou, e então franziu a testa ao ver meu estado
desgrenhado. — O que aconteceu, filho?
— Jacques, — eu ofeguei. — Ele está aqui. Ele está atrás de Angela.
Temos que encontrá-la.
— A polícia?
— Eu já liguei para eles. Pai, por favor, — eu implorei.
— Vá verificar o salão de baile. Vou mandar o pessoal vasculhar o
hotel. Nós a encontraremos, Xavier.
— Obrigado. — Eu corri para as escadas, não precisando de mais
instruções.
Dentro do salão, o casamento ainda estava em pleno andamento. Eu
corri pela multidão freneticamente, esperando ver um lampejo de cabelo
dourado ou ouvir sua risada familiar.
Meu olhar procurava a cor magenta do vestido. Mas era impossível
distinguir uma dama de honra da outra.
— Não, não, não, — eu murmurei, apoiando-me em um garçom e
quase fazendo sua bandeja tombar.
Então avistei um cabelo penteado familiar num círculo de convidados.
Dustin.
Eu empurrei a multidão e agarrei seu braço.
— Por que você não está atendendo o celular?
— Xavier! — Dustin disse, jogando um braço sobre meus ombros. Ele
estava feliz. Muito feliz. — Como você está? O que posso fazer por você?
Ele está bêbado, eu percebi. Ótimo.
Eu apertei a base do meu nariz, tentando muito não gritar com o
amigo de Angela.
— Eu tenho uma pergunta sobre uma de suas pinturas.
— Xavier Knight está interessado em uma de minhas pinturas? —
Dustin perguntou, alto demais. Notei que algumas das pessoas com
quem ele estava falando se aproximaram.
O plebeu da ascensão social.
— Sim. Um anjo, — eu disse a ele.
— O que eu fiz para você e Angela? — ele perguntou.
Para mim e Angela? Fechei os olhos, tentando pensar. Angela disse algo
sobre uma pintura.
— Ela não te contou? — Dustin disse, baixando a voz para que só eu
pudesse ouvir. — Foi roubado.
— Por quem?
— A polícia investigou isso, — respondeu Dusty rápido demais.
— Não minta para mim, Dusty, ou vou encerrar sua carreira de pintor
mais rápido do que você pode dizer moccachino. — Eu não estava com
humor para seus jogos.
Com um olhar de soslaio para seus novos amigos, Dustin suspirou.
— Ok, olhe. Vou te dizer a verdade, mas você tem que prometer não
contar a Angela.
— Está bem.
— Eu vendi. Eu não queria, mas me ofereceram uma ridícula quantia
de dinheiro por ele e....
— Para quem você vendeu? — Eu atirei de volta.
— Não me lembro do nome dele.
— Como ele era?
Dustin riu:
— Bem, posso te dizer uma coisa. Eu com certeza comeria a baguete
dele, se é que você me entende.
Meu peito se apertou. Dusty havia revelado uma pista sem saber.
— Ele era francês?
— Ah, sim! Você deve saber de quem estou falando. Ele entrou no café
outro dia com uma garota no braço. Angela parecia conhecê-los. Ele...
Eu recuei, para longe dele, meus temores foram confirmados.
Jacques estava por trás disso.
Jacques estava solto em Nova Iorque.
Jacques havia levado o quadro.
E eu deixei Angela sozinha.
Eu precisava encontrá-la agora.
— Xavier! — uma voz chamou atrás de mim. Eu me virei para
encontrar Em vindo em minha direção.
Eu tinha deixado Angela com Em. Talvez ela soubesse onde estava.
Será que...
— Você viu, Angela? — ela perguntou. — Ela me deve uma dança.
— Não, eu a deixei com você, — eu disse, um pouco rispidamente.
Em franziu a testa.
— Ela disse que precisava de um pouco de ar.
— Merda, — eu sussurrei, passando as mãos no meu cabelo.
Se ela foi para fora...
— Há algo errado, Xavier? — Em perguntou.
— Não tenho certeza. Eu só preciso encontrá-la.
Angela não tinha saído para a frente do hotel, então só havia um outro
lugar onde ela poderia ter ido para tomar um pouco de ar... os jardins.
Virei-me e fui para o outro lado da sala.
As portas se abriram para um pátio fechado. Se fosse uma noite mais
quente, os convidados do casamento estariam bebendo seu champanhe
sob as luzes cintilantes. Em vez disso, os jardins estavam vazios.
Eu estava ficando sem opções, sem tempo. Minha única esperança
agora era que eles a tivessem encontrado em outro lugar do hotel.
Fui para o saguão e localizei meu pai.
— E então? — ele perguntou.
Eu já sabia pelo seu tom que o pessoal do hotel não a tinha
encontrado.
— Ela sumiu. — Eu disse, desamparado. — O desgraçado a pegou...
Meu pai pigarreou.
— Xavier.
— Bonitão?
Virei-me para encontrar o Sr. Carson parado atrás de mim, junto com
Em, Lucas, Danny e Dustin.
— Em disse que Angie está desaparecida, bonitão. Isso é verdade?
Seus olhos estavam em mim, esperando que eu os consolasse, que lhes
dissesse que não era verdade.
Eu desejei a Deus que eu pudesse. Em vez disso, eu disse: — Ela está
certa.Em começou a chorar, e então ela foi puxada para o peito de Lucas.
— Estamos fazendo todo o possível para localizá-la, — meu pai disse.
Ele colocou a mão no meu ombro, como se soubesse que de repente falar
era impossível para mim, que meu peito doía muito para respirar. — Nós
vamos encontrá-la.
ANGELA

— Por favor, — eu implorei, com a voz rouca de tanto gritar. — Por


favor, deixe-me ir.
Como todas as outras vezes que perguntei, Jacques me ignorou.
Eu gemi quando fui sacudida para o lado e minha cabeça bateu contra
o painel de metal frio atrás de mim.
Estávamos em um veículo. Isso eu sabia. Eu podia ouvir o motor
próximo de mim. Sentia a frenagem e as curvas enquanto passávamos
pelo tráfego.
Há quanto tempo estávamos dirigindo, ou para onde, era um
mistério.
Quando acordei, estava deitada de costas, cega. Jacques colocou algo
escuro sobre minha cabeça. Eu podia sentir o material áspero se mover e
umedecer a cada respiração que eu dava.
Minhas mãos estavam entrelaçadas nas minhas costas, com os laços
tão apertados que eu estava começando a perder a sensibilidade nas
pontas dos dedos.
Era isso. O fim. Tinha que ser. Ninguém sabia que eu estava
desaparecida, para onde havia ido, com quem estava.
— Por favor, deixe-me ir. — Eu tentei de novo. — Você pode ter o que
quiser. Se é dinheiro que você quer.
Uma risada sombria respondeu.
Pelo menos foi alguma coisa.
— Não estou atrás de dinheiro, — Jacques me disse.
— Então o quê?
— Vingança.
A caminhonete diminuiu a velocidade até parar. Ouvi a porta da
frente abrir e fechar, o barulho de sapatos no cascalho enquanto Jacques
dava a volta na parte detrás.
As portas do painel se abriram e eu soltei um grito de gelar o sangue
quando uma mão envolveu meu tornozelo e me puxou para fora da
caminhonete.
XAVIER

Estávamos sentados na suíte nupcial — todos os sete de nós —


esperando.
A polícia esteve aqui. Já havia contado tudo a eles.
Disseram que seu quarto de hotel estava vazio.
Que não havia cobrança em seus cartões de crédito.
E que estavam fazendo o possível para encontrá-la.
Não era o suficiente.
Isso não era bom o suficiente.
— Eu não posso simplesmente sentar aqui, — eu disse.
Não podia ser isso. Devia haver algo que eu não havia percebido.
Outra pista. Qualquer que fosse. Nada.
— Você já fez tudo que podia, filho, — meu pai disse, observando
enquanto eu andava de um lado para o outro ao longo da cama.
— Eu não acredito. Alguém deve ter visto algo. Alguém sabe onde ela
está.
— Filho, — meu pai disse de novo, olhando de mim para os amigos e
familiares de Angela.
Então eu entendi.
Eu estava assustando eles.
Bom. Eles deveriam estar com um puta medo. Angela estava
desaparecida e ninguém estava fazendo porra nenhuma. Não...
Penny.
Eu parei.
— Penny, — eu disse, em voz alta desta vez, remexendo no bolso em
busca do telefone.
Talvez Jacques tenha entrado em contato com ela. Talvez ela soubesse
onde ele estava.
Pressionei seu número com meu polegar.
A ligação caiu.
Eu caí de volta no sofá, derrotado.
Então meu telefone vibrou.

Penny: Você precisa de algo?

Xavier: Eu preciso falar com você.

Xavier: Atenda seu telefone.

Penny: Estou em uma palestra agora o que quer?

Xavier: Onde está Jacques?

Penny: MDS. nem me faça começar.

Penny: Você estava certo. Deveria ter cortado os laços com aquele
canalha.

Xavier: Penny Xavier: Angela está desaparecida.

Xavier: Acho que Jacques pode estar por trás disso.


Penny: Ah não....

Xavier: Quando foi a última vez que você o viu?

Penny: Alguns dias atrás...

Xavier: Ele tem algum lugar na cidade? Algum lugar que ele
possa levá-la?

Penny: Deixe-me pensar...

Xavier: rápido.

Xavier: por favor.

Xavier: Penny???

Penny: Ele é dono de um armazém à beira-mar!

Penny: geralmente está vazio. Ele gosta de dar festas lá às vezes.

Xavier: OBRIGADO.

ANGELA

De repente, o tecido foi arrancado da minha cabeça.


Pisquei enquanto meus olhos se ajustavam à luz brilhante artificial.
Com a cabeça latejando, tentei ficar de pé. Mantenha o foco.
Eu estava parada na entrada de uma espécie de armazém. Os caixotes
estavam empilhados em fileiras altas, estendendo-se na frente e atrás de
mim.
Pisquei novamente quando uma sombra apareceu sobre mim,
bloqueando a luz, e Jacques entrou em foco.
— Uma mulher tão bonita, — ele falou, passando um dedo pelo meu
queixo. E riu quando eu recuei.
— Por que você está fazendo isso?
A expressão de Jacques ficou sombria.
— Você não deveria ter me rejeitado em Paris. Se você me deixasse ter
o que eu queria, estaríamos quites. Agora ele tirou tudo de mim. Então,
vou tirar tudo dele.
Tirando uma faca do cinto, um sorriso se espalhou em seu rosto.
Capítulo 28
Tarde demais

ANGELA

Jacques cometeu um erro.


Embora seu plano tivesse funcionado até agora, ele negligenciou um
pequeno detalhe.
Ele me subestimou.
Como se eu fosse uma donzela desmaiada em perigo, Jacques me
deixou em pé no meio do armazém, acreditando que eu estava fraca
demais para pensar que poderia escapar.
Minha cabeça pode estar zumbindo e meus braços podem estar
amarrados, mas eu ainda tinha minhas pernas, e ele era um tolo em
pensar que eu não as usaria.
Posso não ter sido a mais extrovertida ou autoconfiante, mas
valorizava minha vida.
Eu queria ver minha família novamente. Dizer a Xavier que eu o
amava. Ser uma boa esposa, filha, amiga. E eu não ia deixar Jacques tirar
isso de mim.
Assim que Jacques estava perto o suficiente, eu chutei, acertando-o
bem entre as pernas com o salto do meu sapato preto.
Com a faca caindo no chão, Jacques caiu de joelhos com um grunhido
e eu corri para a porta.
XAVIER

— Saia, — eu gritei, abrindo a porta do lado do motorista do meu


Lamborghini.
Estávamos na frente do hotel. Alguns pedestres viraram a cabeça ao
ouvir minha voz alta.
— Pra fora. Agora. — Eu gritei novamente quando Marco não se
moveu. — Deixe as chaves.
Meu motorista saiu do carro e eu deslizei para o banco do motorista.
Eu não tinha tempo para tráfego ou semáforos vermelhos. Eu precisava
chegar até Angela agora.
Ron tinha encontrado o endereço do armazém de Jacques e não
queria deixar mais nada me impedir de chegar lá o mais rápido possível.
— Filho, — meu pai chamou, aproximando-se da janela do carro. —
Você deve esperar pela polícia.
— Eles podem me seguir. — Eu mudei de marcha. — Não tenho mais
tempo a perder.
Se a pintura fosse um indicador, Jacques tinha feito tudo isso para se
vingar de mim.
Pela Penny.
Por arruinar sua carreira.
Por mandar a polícia atrás dele.
Foi minha culpa ele ter levado Angela.
Se ele a tocasse, a machucasse, era por minha causa.
Eu não poderia deixar isso acontecer.
Com os pneus cantando, eu entrei na rua movimentada.
Uma sinfonia de luzes e sirenes apareceu diante de mim, cortando um
caminho pela cidade.
— Estou indo, Angela, — murmurei para mim mesmo.
Eu só esperava chegar antes que fosse tarde demais.
ANGELA

Foi difícil correr com os braços atrás de mim, mas corri para as portas
de metal abertas do armazém o mais rápido que pude.
Eu estava no meio do caminho até a porta quando ouvi passos
pesados se aproximando rapidamente atrás de mim, e então Jacques me
jogou com força no chão.
Meu queixo bateu no chão de concreto com uma força de bater os
dentes, e o sangue encheu minha boca.
— Sua filha da puta, — Jacques cuspiu, montando sobre minha
cintura.
Ele se levantou, me colocando de pé ao lado dele.
— Você quer brincar? Eu conheço um jogo.
Ele me empurrou, fazendo-me voar em direção a uma caixa próxima.
Ela se estilhaçou sob meu peso. Pedaços de madeira cortaram minhas
costas, fazendo-me gritar.
Então Jacques já estava em cima de mim me levantando novamente.
— Shh agora, mademoiselle. Jacques está aqui.
Ele me arrastou até uma viga no centro do espaço e amarrou minhas
mãos em torno dela.
— Você é mais corajosa do que eu pensava, não como as putas de
sempre de Xavier.
Eu caí contra o poste de metal, os joelhos tremendo, e cuspi um
bocado de sangue.
Garantido que eu não pudesse ir a lugar nenhum, Jacques cruzou a
sala em direção a sua faca esquecida.
— Ele vai te matar, — disse em voz alta, surpreendendo-me com
minhas palavras violentas.
Mas eu sabia que elas eram verdadeiras. Xavier tinha machucado as
pessoas por muito menos do que isso. Se ele me encontrasse assim,
sangrando e ferida, ele caçaria Jacques até o dia em que ele morresse.
Jacques pegou a faca e segurou-a com força nas mãos.
— Talvez, mas não antes de eu conseguir o que quero.
Esperança era tudo que eu tinha agora. Espero que alguém tenha
percebido que eu estava desaparecida. Espero que Xavier esteja a
caminho de me encontrar.
Eu só tinha que esperar um pouco mais.
XAVIER

Com o coração martelando, eu corri pelas ruas.


Eu tinha deixado minha escolta pra trás. Eu mal conseguia ouvir suas
sirenes agora.
Meu veículo era muito mais rápido, muito superior.
Mas ainda não rápido o suficiente.
Ainda esta manhã eu estava perguntando ao Sr. Carson se eu poderia
me casar com Angela.
Eu estava pronto dessa vez. Eu sabia que Angela era tudo que eu
poderia querer e muito mais.
Estávamos juntos há meses. Eu perdi muito tempo valioso odiando-a.
Agora era tarde demais.
Agora talvez eu nunca tenha a chance de dizer a verdade a ela.
Para dizer a ela que eu estava errado.
Para dizer a ela que a amava.
ANGELA

O sangue pingou no chão abaixo de mim, a escuridão começava a


tomar conta da minha visão enquanto o metal afiado da lâmina
pressionava minha garganta.
Eu não duraria muito mais tempo.
— Vou marcar você como você me marcou. — Jacques sussurrou,
empurrando a faca mais fundo na carne macia do pescoço.
— Mas, primeiro, temos alguns negócios inacabados.
Senti a lâmina se mover para baixo, cortando minha clavícula,
descendo pelo centro do meu peito, entre meus seios. Então Jacques
grunhiu, e ouvi o som de tecido rasgando.
O ar frio da noite sussurrou contra minha pele recém-exposta.
Pedaços do meu vestido de dama de honra caíram no chão.
Jacques me olhou de cima a baixo, observando minha calcinha de
renda branca e o peito sem sutiã, com a cabeça inclinada para o lado.
— Não é o que eu imaginei que Xavier Knight escolheria, mas você vai
dar pro gasto.
Jacques se aproximou. Seu hálito azedo se espalhou pelo meu rosto
coberto de lágrimas enquanto ele se atrapalhava com o cinto.
Ele largou a faca, agarrou rudemente meus seios com as mãos úmidas
e beliscou meus mamilos.
Eu gritei debilmente, já exausta e com a perda de sangue deixando
meus membros fracos e pesados.
Jacques tentou enfiar a perna entre minhas coxas, espalhando minhas
pernas. Usei minha força restante para mantê-las fechadas, juntas.
— Não me faça amarrar suas pernas também, — ele sussurrou.
Eu apertei com mais força.
Não que eu estivesse com medo de morrer. Eu estava com medo de
deixar tudo para trás. Eu conhecia a dor de perder alguém, conhecia o
buraco que isso deixou no seu coração, na sua vida.
Eu tinha visto o que isso tinha feito com meu pai e irmãos, com Brad,
com Xavier. Eu não queria fazer isso com eles. Não queria causar tanta
dor a ninguém que eu amava. Ou, pior ainda, dar a Jacques a gratificação
de tê-los machucado.
Eu não tinha mais muita escolha. Lentamente, eu podia sentir minhas
energias sendo drenadas do meu corpo.
— Isso tudo poderia ter terminado se você apenas me deixasse ter o
que eu queria em Paris. — Jacques lambeu o lado do meu pescoço. —
Agora vai ser uma bagunça. Quando terminar, terei que te matar.
— Você não precisa, — eu disse, pulando enquanto seus dedos ásperos
deslizavam ao longo do cós da minha calcinha.
— Sim, — disse Jacques. — Ele tirou tudo de mim. Meu amor. Meu
trabalho. Minha vida. Ele tem que pagar.
Ele chutou minhas pernas.
Eu caí no chão de concreto e me encolhi como uma bola. Meus
ombros doeram, enquanto meus braços eram torcidos em torno do
mastro, com as amarras mordendo a pele já em carne viva de meus
pulsos.
Posso não ter muita força sobrando, mas com certeza usaria o pouco
que restava para tornar isso o mais difícil possível para ele.
— Sua vadia.
Eu deixei meus olhos fecharem.
Sinto muito, Xavier.
Eu te amo.
BRAD

— Amélia, — eu sussurrei, com olhos fechados. — Nosso filho precisa


de você agora.
Eu não era um homem que confiava nas igrejas para milagres — não
quando minha Amélia morreu, não depois da queda do avião — mas
achei que agora seria a hora de começar. De joelhos, na capela do hotel,
pude sentir um poder se movendo por mim, um calor se instalando em
meu peito.
— Nossa Angela foi tirada de nós. Xavier precisa de você, meu amor.
Ele não é forte o suficiente para perdê-la também. Dê a eles — dê a todos
nós — a força de que precisamos para passar por essas horas sombrias.
Guie-nos para o caminho certo. Mantenha-a segura. Por favor, mantenha
Angela segura. Não há... não há mais nada que eu possa fazer.
Não foi apenas pelo meu filho que orei, mas pelos amigos e familiares
de Angela. Por mim.
Angela era uma das almas mais puras e brilhantes que já tive a chance
de encontrar, e eu sabia que o mundo seria um lugar muito mais sombrio
sem ela.
— Por favor, — eu sussurrei, apertando minhas mãos diante de mim.
— Por favor, traga-os de volta em segurança.
XAVIER

Encontrei o armazém, um prédio longo de um andar ao longo da


costa. Havia um furgão na frente dele. Luzes brilhavam de dentro.
Tinha que ser aqui. Mas eu será que cheguei a tempo?
Desliguei o motor do Lamborghini e pulei para fora do carro.
O cascalho rangia sob meus sapatos enquanto eu corria para as portas
do armazém. Elas foram abertas, com a luz vazando ao pátio externo.
Eu não sabia o que me esperava lá dentro. Não importava mais. Não
havia tempo pra isso.
Com os olhos semicerrados pela forte luz sintética, passei pela porta
do armazém.
E lá estava ele: Jacques. Com roupas manchadas de sangue e as mãos
manchadas de vermelho, ele estava sobre um corpo.
Abaixo dele, mole no chão de concreto, estava Angela, com seda
magenta e sangue carmesim acumulando-se ao seu redor.
Não.
Não pode ser.
Não estou muito atrasado.
Ele não pode vencer.
Uma onda de fúria tomou conta de mim, com minhas mãos se
fechando em punhos.
Eu não aceitaria isso. Não poderia.
Esta deveria ser minha segunda chance.
Eu a amava.
Eu a amo, pelo amor de Deus.
O destino poderia ser tão cruel?
— JACQUES! — Minha voz ecoou pelo armazém.
Ainda curvado sobre Angela, Jacques se virou para mim, com um
sorriso doentio se espalhando em seus lábios.
— Xavier. — Ele sorriu. — Que surpresa. Acho que há algumas coisas
que devemos discutir.
Tirei meu paletó Armani, deixei-o cair no chão do armazém e agarrei
um pé de cabra de uma caixa próxima, avançando em direção a ele.
Não havia mais nada para discutir.
Ele destruiu tudo.
Arregaçando as mangas da minha camisa social, eu zombei.
— Terminamos isso agora.
Capítulo 29
Ok

XAVIER

Eu golpeei o pé-de-cabra na cabeça de Jacques.


Ele caiu no chão, lutando por uma faca que estava em uma poça de
sangue de Angela.
Começamos a circular um ao outro — com o corpo de Angela entre
nós — como dois leões lutando por sua presa.
— Vamos, — eu provoquei. — Vamos, seu desgraçado francês imundo!
Vem me pegar. Isso é o que você queria, não era?
Jacques rosnou e mergulhou em minha direção.
Eu desviei, esquivando-me de sua lâmina, balançando meu pé de
cabra nele novamente.
Houve um estalo nauseante quando o metal atingiu seu flanco.
Jacques grunhiu, caindo de joelhos.
Arrisquei um olhar por cima do ombro para Angela, tentei ver se ela
estava se movendo, respirando.
— Você tirou tudo de mim! — Jacques gritou, pondo-se de pé. — Por
quê?
Meu punho apertou o pé-de-cabra, preparando-me para seu próximo
ataque.
— Por que não?
Era verdade. Não havia um bom motivo. Nada que o fizesse se sentir
melhor. Tudo começou porque eu dormi com Penny.
Eu fiz isso porque podia. Porque não me importei com as repercussões
de nada do que fiz. Porque eu estava errado.
Mas agora era tarde demais.
— Você já tinha tudo, — gritou Jacques, atacando.
Não fui rápido o suficiente desta vez. O ombro de Jacques bateu em
mim, me jogando no chão.
Eu gemi quando uma dor aguda cortou meu braço.
Então estávamos rolando. As pernas chutaram e os punhos voaram
enquanto lutavamos.
Finalmente, consegui prender Jacques embaixo de mim e me levantei
de modo que me sentasse em seu peito.
Eu joguei meu punho direito em seu rosto. Então meu esquerdo. E foi
assim repetidamente enquanto ele resistia embaixo de mim.
Eu o atacava implacavelmente.
Eu deixei a dor tomar conta de mim. Abastecer-me. Guiar-me.
Eu queria machucá-lo como ele me machucou, como ele machucou
Angela.
Lentamente, Jacques parou de lutar, parou de se mover.
Eu sabia que poderia continuar. Eu poderia socá-lo até que seu último
suspiro deixasse seu corpo, mas quando olhei para cima, avistei Angela e
meus punhos começaram a desacelerar.
Não valia a pena. A dor não resolveria isso. A raiva não melhoraria
nada. Eu já tinha vivido isso antes, percorrido esse caminho muitas vezes.
Desta vez, eu escolheria uma forma diferente.
Com os nós dos dedos cobertos de sangue — tanto os de Jacques
quanto os meus, — eu me levantei e pisei em seu corpo imóvel.
Cambaleei pelo chão do armazém e caí de joelhos ao lado de Angela.
Ela estava deitada no chão, quase nua, com os braços torcidos atrás
dela em um ângulo terrível. Eu rapidamente puxei as cordas que a
prendiam à viga em que Jacques a amarrou. E com os dedos sangrando,
consegui libertá-la.
Sirenes tocaram à distância enquanto eu colocava Angela em meu
colo.
— Tarde demais, — gritei comigo mesmo. — Você chegou tarde
demais.
Com as mãos trêmulas, afastei os fios dourados de cabelo de seu rosto,
deixando os soluços me tomarem.
Não conseguia me lembrar da última vez que chorei. Não conseguia
me lembrar da última vez que me permiti machucar tanto. Por anos, eu
tranquei a dor dentro de mim. Eu não aguentava mais, não suportava
isso. A visão de Angela ensanguentada em meus braços me destruiu.
Pressionei meu rosto ao dela, esperando — tendo esperanças — sentir
sua respiração na minha pele. Veio, mas era muito fraca.
Eu estava perdendo ela.
— Sinto muito, — eu sussurrei, balançando-a para frente e para trás.
— Sinto muito, Angela.
As sirenes ficaram mais altas. Eu a segurei contra meu peito,
esperando que seus olhos abrissem. Esperando poder vê-la sorrir mais
uma vez.
— Eu escolho de novo, — eu disse a ela. — Eu escolho você.
Uma pequena linha apareceu entre os olhos de Angela.
Não era possível.
Pisquei e, com a voz trêmula, perguntei:
— Angela?
Pouco a pouco, os olhos de Angela se abriram.
Minha respiração ficou presa na minha garganta. Eu estava com medo
de me mover. Com medo de respirar.
Angela franziu a testa por um momento, e então os cantos de seus
lábios se curvaram quando seus olhos se focaram em mim.
— Você veio, — ela disse, com a voz fraca.
Eu beijei sua testa.
— Claro, meu anjo.
De repente, o rosto de Angela caiu, seu doce sorriso foi substituído
por terror.
Olhei por cima do ombro a tempo de ver Jacques parado atrás de nós,
com o pé-de-cabra nas mãos, indo direto na minha cabeça.
ANGELA

— Xavier! — Eu gritei quando Jacques balançou o pé-de-cabra na


direção da cabeça de Xavier.
Em seguida, um grande estrondo ecoou pelo armazém, terminando
com o conflito.
Jacques congelou, seus olhos reviraram, e ele desabou no chão.
— Está tudo bem, — Xavier respirou acima de mim como uma oração.
— Você está segura. Você está segura. Eu estou aqui.
Ele veio.
Xavier veio.
Estou a salvo.
Então fomos cercados. Os cães latiram. Pessoas gritaram. Sirenes
soaram.
Meus olhos ficaram pesados novamente. Sons e imagens se
misturaram num borrão.
— Você está ferido, Sr. Knight?
— Precisamos levá-lo ao hospital.
— Nós cuidaremos dela agora, Sr. Knight.
Mãos fortes se apertaram ao meu redor. Fui erguida.
Uma luz brilhante encheu minha visão e um calor começou a me
encher.
— Você está segura agora, meu anjo.
— Estou aqui. Estou aqui.
Estou aqui.
XAVIER

Quando Jacques caiu no chão atrás de nós, a polícia invadiu o


armazém com as armas levantadas.
Eles se espalharam entre as caixas.
Eu fiquei no chão, segurando meu anjo em meus braços.
— Não me deixe, — ela sussurrou, com as pálpebras fechando
novamente.
— Fique comigo, Angela, — implorei.
— Não me deixe, — ela disse novamente.
— Estou aqui, — prometi. — Estou aqui.
— Sr. Knight, — alguém disse.
Pisquei e olhei para o lado.
Havia um policial ajoelhado ao meu lado.
— Você está ferido, Sr. Knight?
Eu balancei minha cabeça, confuso com sua pergunta.
O que isso importa? Ele não conseguia ver o quanto Angela estava
machucada?
Ele estendeu a mão e pressionou dois dedos contra a garganta de
Angela.
— Precisamos deixar os paramédicos examinarem sua esposa.
— Sim, — eu concordei. — Por favor.
— Você tem que deixá-la ser tratada agora, Sr. Knight.
— Não, eu preciso ficar com ela. Eu prometi que ficaria com ela.
— Sr. Knight, temo que não seja possível. Vocês...
Eu parei de ouvir. O idiota não entendeu.
Pegando Angela em meus braços, eu me coloquei de joelhos, e de pé.
Eu podia ver a ambulância esperando do lado de fora do armazém.
— Você vai ficar bem, — sussurrei para Angela, dando um passo em
direção à ambulância, depois outro. — Estamos quase lá.
Os paramédicos pularam da traseira da ambulância, correndo em
minha direção com uma maca entre eles.
— Nós cuidaremos disso a partir daqui, Sr. Knight, — disse um deles,
parando diante de mim.
— Você precisa soltá-la agora, Sr. Knight, — disse o outro.
— Eu não vou. Eu preciso ficar com ela.
Por que ninguém entende como isso é importante?
O segundo paramédico — uma mulher pelo que percebi — falou
novamente.
— Você pode ficar com ela, Sr. Knight, mas você precisa colocá-la na
maca agora. Se você quer que a ajudemos, você precisa deixá-la aqui.
Eu cedi, colocando Angela na maca. Em um segundo, ela foi levada
embora pelo primeiro paramédico e carregada para a parte de trás da
ambulância.
— Vamos, Sr. Knight. Você também, — disse o segundo.
Eu os segui. Subi na parte de trás da ambulância. Sentei-me no banco.
As portas traseiras da ambulância se fecharam e as sirenes começaram a
soar mais alto do que nunca.
Uma das mãos de Angela, a mais próxima de mim, estava pendurada
na maca. Estendi a mão e a agarrei, enrolando seus dedos frios nos meus.
— Ela vai ficar bem, Sr. Knight, — a mulher me disse, apertando meu
ombro.
— Você não sabe disso, — rebati, agarrando com mais força a mão de
Angela.
— Eu sei, — ela disse, — que faremos tudo o que pudermos por ela. Eu
sei que a Sra. Knight ficará muito chateada se você não nos deixar cuidar
de você também.
Eu me calei e deixei a paramédica olhar para meu braço, minhas mãos,
minha cabeça.
— Há alguém para quem você deveria ligar? — o paramédico
perguntou.
Merda.
Meu pai. Em. Sr. Carson.
— Sim, — eu disse e tirei meu celular do bolso.
Com dedos trêmulos, encontrei o número de papai e apertei o botão
de chamada.
Ele atendeu ao primeiro toque.
— Pai?
— Xavier, — disse meu pai, a voz cheia de um certo tipo de reverência.
— Estou aqui, pai, — eu disse. — Estou bem.
Houve um momento de silêncio enquanto ele reunia coragem para
fazer a pergunta.
A única pergunta que importava.
— Angela?
Novas lágrimas encheram meus olhos.
— Não sei.
— Está tudo bem, filho. Tudo ficará bem.
— Estamos indo para o hospital, — eu disse a ele.
— OK. Estamos indo. Nos encontraremos lá.
A linha ficou muda.
As sirenes continuaram a soar.
O paramédico tirou o telefone das minhas mãos.
Deitei na maca e fechei os olhos.
Por favor, orei. Por favor apenas deixe ela ficar bem.
Deixe Angela ficar bem.
Capítulo 30
Anjo

ANGELA

Acordei com um barulho de bipe. O som tinha uma batida uniforme,


no tempo com a minha cabeça latejante, no tempo com o meu batimento
cardíaco.
Com um gemido, abri meus olhos, estremecendo quando uma luz
ofuscante e estéril tomou minha visão.
Eu estava em um quarto de hospital. Isso estava claro, mas como eu
vim parar aqui?
Então lembrei de tudo rapidamente.
Jacques.
O armazém.
A faca.
Xavier. Onde está Xavier?
O bipe acelerou quando me movi para jogar para trás os cobertores do
hospital, apenas para descobrir que não conseguia. Algo estava
segurando minha mão.
Eu olhei para baixo. Xavier estava sentado ao lado da minha cama,
dormindo com um braço segurando sua cabeça. E sua outra mão
segurava a minha.
Eu sorri. Xavier estava aqui. Ele ficou comigo.
Estendi minha outra mão e gentilmente passei pelo seu cabelo.
Xavier se ergueu de um salto, seus olhos procurando freneticamente
pela sala até que pousaram em mim.
— Você acordou.
— Sim, — respondi com um sorriso.
Xavier deu um pulo, jogando os braços em volta de mim, fazendo-me
estremecer quando a dor desceu pelas minhas costas.
— É tão bom ouvir sua voz.
É tão bom ouvir sua voz.
— Desde quando você diz coisas assim?
— Eu pensei que tinha perdido você, Angela, — Xavier chorou,
afastando-se.
— Isso é mais sua cara.
— Como você está se sentindo? Quer que eu chame a enfermeira? Eu
vou chamar a enfermeira. — Xavier se levantou, alcançando o botão de
chamada de emergência na parede.
— Estou bem, — eu disse a ele. — Calma.
Ele hesitou por um momento, pareceu decidir acreditar em mim e
lentamente voltou à sua cadeira.
— Xavier, — eu disse, olhando para o meu colo. — O que aconteceu?
Eu não tinha certeza se estava pronta para saber a resposta. Sendo
sincera comigo mesma, estava com medo de saber a verdade.
Mas eu sabia que tinha que perguntar. Eu precisava saber o que havia
acontecido. Do contrário, ficaria imaginando o resto da minha vida. Eu
imaginaria o pior.
Xavier pigarreou, tendo a decência de parecer desconfortável.
Esse não era o tipo de coisa sobre a qual falávamos normalmente.
Coisas difíceis. Coisas importantes.
Ele começou a recitar uma lista de palavras médicas como concussão,
lacerações e suturas.
— Eu fui...? — Não consegui dizer a palavra.
Os olhos de Xavier se arregalaram, entendendo o que eu estava
perguntando.
— Não. Eu, uh, eu pedi para os médicos verificarem.
Um peso repentino foi retirado de meus ombros. Jacques não
conseguiu. Ele não tinha me estuprado.
— E Jacques?
— Morreu, — respondeu Xavier, não parecendo nem um pouco
arrependido. — A polícia atirou nele. — Eu balancei a cabeça, esperando
que o toque de tristeza que caiu sobre mim com a notícia não
transparecesse em meu rosto. Jacques tinha feito coisas terríveis. Eu sabia
disso, mas também sabia que ele as tinha feito por causa da dor. Ele havia
perdido o amor de sua vida e sua carreira. Pessoas já fizeram muito pior
por muito menos.
— E você, Xavier? Você se machucou? — Com base em sua camisa
amassada e na nuca, em sua mandíbula, Xavier não tinha ido para casa
ainda.
— Apenas alguns arranhões e hematomas, — ele desdenhou. Então
ele pegou minha mão novamente, segurando-a com as suas. — Eu estava
apavorado, Angela.
— Estou aqui, — eu disse a ele, levando minha mão livre até sua
bochecha. — Estou aqui por sua causa. Não sei como te agradecer.
— Ver você sorrir de novo é mais do que eu jamais poderia esperar. —
Ele levou minha mão aos lábios e deu um beijo delicado em meus dedos.
— Há algumas pessoas lá fora que ficarão muito felizes em vê-la
acordada.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
— Aqui? Agora?
— Sim, anjo. Você está pronta para isso?
— Claro.
Xavier se levantou e cruzou a sala, desaparecendo pela porta. Ele
voltou um momento depois com uma multidão de pessoas atrás. Meu
pai, Brad, Danny, Lucas e Em todos amontoados no quarto do hospital.
— Filhinha, — papai disse, correndo para o meu lado. — É tão bom
ver você acordada.
Seus olhos azuis brilhantes nadaram com lágrimas. Estendi a mão
para ele e segurei com força sua grande mão envelhecida.
— Não achou que poderia se livrar de mim tão fácil, não é? Como
estão os Giants?
— Eles estão indo para o Super Bowl, — ele respondeu, com um
sorriso grande.
Em veio a seguir. Ela jogou os braços em volta dos meus ombros o
melhor que pôde com todos os monitores e tubos ao meu redor.
— Nunca mais faça isso!
— Eu sinto muito por ter arruinado o seu casamento, — eu disse a ela,
apertando de volta.
— Nem comece com tudo isso! — Em disse.
— Mas...
— Eu disse não. Estou muito feliz por ter minha melhor amiga de
volta.
Eles ficaram sentados mais um pouco, rindo e discutindo entre si.
Recostei-me na cama do hospital, ouvindo, observando e absorvendo
minha família.
Eu me senti a garota mais sortuda do mundo.
Eu estava tendo uma segunda chance, um recomeço.
Haveria um novo dia, e outro depois desse, e eu poderia vê-los.
Conhecer os filhos de Em e Lucas. Assistir aos Giants com meu pai. Ver
Danny se apaixonar.
E Xavier estaria lá. Ao meu lado. Sempre. Exatamente como ele
prometeu.

Mais tarde naquele dia, houve uma batida na porta do meu quarto de
hospital. As enfermeiras não batiam, minha família havia ido embora e
Xavier havia ido para casa tomar banho. Quem poderia ser?
— Olá?
A porta se abriu lentamente e Dustin enfiou a cabeça para dentro da
sala.
— Oi.
Eu sorri, endireitando-me na cama do hospital.
— Que bom te ver!
— Mesmo? — As sobrancelhas de Dustin se ergueram. Ele
rapidamente fechou a porta atrás de si e se aproximou da cama. Ele
estava carregando algo grande e quadrado e embrulhado em papel pardo.
— Claro, — eu disse a ele com uma careta. — Por que eu não ficaria
feliz em te ver?
— Porque você ter sido sequestrada foi tudo culpa minha?
Naquele momento, meu peito apertou e meu coração doeu pelo meu
amigo.
— É isso mesmo o que você pensa?
Os ombros de Dustin caíram.
— Se eu não tivesse vendido sua pintura para aquele francês horrível,
nada disso teria acontecido. Eu fui completamente egoísta.
— Você não tinha como saber o que aconteceria, Dustin. Eu entendo
fazer coisas desesperadas quando o dinheiro fica apertado. Eu o perdoo
por vender o quadro, mas Jacques teria encontrado uma maneira de
chegar até mim de uma forma ou de outra. Não foi sua culpa.
— Bem, eu fiz uma nova pintura para você. Uma melhor ainda, —
disse Dustin, levantando o pacote. Ele o colocou ao pé da cama e
começou a rasgar o papel da embalagem.
Eu me engasguei, com as mãos voando para cobrir minha boca
enquanto a pintura abaixo era revelada.
— Você se superou.
A pintura não era tão fantástica quanto o estilo de sempre de Dustin,
nem tão obscura quanto o anjo e o cavaleiro. Em vez disso, havia um
casal dançando no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque.

Poucos dias depois, tive alta do hospital.


Xavier foi inflexível sobre ser o único a me pegar no hospital e se
recusou a me deixar andar até o carro. Em vez disso, ele me empurrou
pelos corredores numa cadeira de rodas até a saída do hospital.
Ele tinha sido superprotetor nos últimos dias, ainda mais do que o
normal. Mesmo assim, toda vez que ele mexia em meus pés que ficavam
frios ou uma enfermeira não arrumava meus travesseiros, eu sentia
aquelas três pequenas palavras borbulhando à superfície novamente.
Eu não conseguia me lembrar muito sobre a noite em que fui
sequestrada, mas eu tinha certeza de uma coisa. Xavier tinha vindo. Ele
me salvou de Jacques. Foi a coisa mais corajosa e altruísta que alguém já
fez por mim.
Embora Xavier não tenha dito isso, eu sabia que ele sentia por mim o
mesmo que eu sentia por ele. Ele provou isso naquela noite e todos os
dias desde quando ele se sentou ao meu lado no hospital.
— É bom te ver de novo, Srta. Knight, — disse Marco, segurando a
porta traseira do carro aberta para mim.
— É bom te ver também, Marco. — Eu sorri, aceitando a mão de
Xavier quando me levantei da cadeira de rodas e deslizei para o banco de
trás do carro.
Xavier se sentou ao meu lado e pegou minha mão novamente,
deixando nossos dedos entrelaçados deitarem no assento do meio entre
nós.
— Você está animada para chegar em casa? — ele perguntou quando
entramos no trânsito.
— Mais do que você pode imaginar.
Meu estômago vibrou um pouco com suas palavras. Casa. Tínhamos
uma casa juntos, Xavier e eu. Eu pertencia a algum lugar. Pertencia a
alguém.
Parecia impossível. Depois de tudo que passamos, do quão longe
chegamos, Xavier e eu ainda estávamos juntos.
Papai estava saudável.
O restaurante da minha família não estava mais em dívida.
Em estava feliz.
Não havia mais nada que eu pudesse esperar.
Paramos em frente ao nosso prédio e borboletas começaram a vibrar
no meu estômago.
Xavier me ajudou a entrar e atravessar o saguão até o elevador.
Lentamente, subimos cada vez mais alto em direção à cobertura.
Quando as portas do elevador abriram em nosso andar, Xavier deu um
passo à frente, apenas para ser interrompido quando nossas mãos, ainda
ligadas, ficaram tensas entre nós.
Eu me congelei, com os dois pés firmemente plantados no elevador.
— Está tudo bem, Angela? — Xavier franziu a testa.
Eu sorri, e lágrimas de felicidade transbordaram de meus olhos.
— É só que…
Dar um único passo parecia uma distância intransponível. Era como
uma linha de chegada de uma corrida da qual não estava ciente.
No elevador, o velho mundo permaneceu, um passado cheio de ódio e
mágoa.
A um passo de distância estava Xavier, um futuro impossível, que
acenava para mim, esperava por mim, se eu apenas fosse corajosa o
suficiente para agarrá-lo.
Eu estava equilibrada, com cuidado, na beira de um precipício. Tudo o
que restava era pular.
Fiquei emocionada, inundada, e as palavras saíram de meus lábios.
— Eu te amo.
Eu pulei.
Livro 3

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
Grand F inale

Dois Meses Depois

BRAD

Nada dizia adeus como uma festa, e eu tinha que admitir que fazia
muito tempo que não via uma festa tão espetacular no iate clube. Mesmo
a festa anual não conseguiu conter a extravagância desta noite.
Angela realmente se superou.
E tudo em minha honra, nada menos.
Apesar das festividades ao meu redor, não pude deixar de sentir uma
certa melancolia.
A festa era para celebrar publicamente minha aposentadoria oficial da
Knight Enterprises. Quarenta anos de trabalho e luta para construir a
maior empresa de petróleo do mundo, seguida pela marca de hotel de
luxo mais procurada do mundo.
Tudo se resumia a isso, a quinhentos dos meus amigos e colegas mais
próximos em suas melhores roupas de domingo, batendo papo no iate
clube.
Não se engane quanto a mim.
Pude sentir apenas a maior gratidão por meus camaradas e seu desejo
de comemorar minhas realizações.
A bebida com infusão de manga e morango com cobertura de
morango, chamada The Bradlini em minha homenagem, e a banda ao
vivo tocando minhas músicas favoritas me alegraram muito.
Um único pensamento, porém, me deixou sentado em minha cadeira,
perseguindo cubos de gelo em meu copo com um pequeno guarda-chuva
rosa. Um único pensamento agarrou meu antigo coração.
Isso é tudo que resta?
— O que você está fazendo aí atrás, meu velho? — meu filho disse de
repente, batendo-me no ombro.
Meu filho, meu orgulho e alegria, Xavier.
Uma vez, eu me preocupei que ele não pudesse herdar minha
propriedade. No ano passado, ele provou seu valor duas vezes. Era por
isso que eu estava deixando o cargo.
Xavier não precisava mais da minha orientação, nem mesmo em meio
período. Ele era um homem em seu auge, cheio da fome necessária para
ser um grande empresário, com o desejo de crescer ainda mais.
Ele traria honra ao nome dos Knight, ao nosso legado.
— Estou apenas aproveitando o momento para absorver tudo, — eu
disse a ele, então me virei para falar com sua linda esposa. — Você
realmente se superou, minha querida.
Angela corou, como sempre, uma visão de altruísmo e graça.
— Foi um prazer.
— Por que você não entra na festa? — Xavier pediu novamente. Ele
pegou um Bradlini de um garçom que passava e o estendeu para mim.
— A dança vai começar em breve, — acrescentou Angela.
Aceitei o copo de bebida espumosa da cor do pôr-do-sol.
— Vocês dois vão. Eu vou em seguida.
Eles trocaram um olhar rápido e então Xavier pegou a mão de sua
esposa e a conduziu para a pista de dança.
Como seria ser jovem de novo?
Esse era o truque. Eu me sentia exatamente como há quarenta anos.
Tão vibrante. Tão faminto. Como se eu pudesse acordar todas as manhãs
e invadir Wall Street.
Mas bastou eu olhar no espelho para me lembrar da verdade. Então,
ao observar as rugas e a calvície, percebi que não era possível, que havia
chegado a hora de passar a tocha.
Isso é tudo que resta?
Eu vivi uma boa vida. Eu tinha um amor tão grande quanto os dos
contos de fadas. Eu criei um filho que era minha coisa preferida no
mundo. Minha carreira foi mais bem-sucedida do que a maioria jamais
poderia esperar alcançar.
O que sobrou?
Enquanto eu deixava a conversa e o barulho da festa de aposentadoria
tomarem conta de mim, meus olhos se fecharam.
Amelia, pensei. Meu amor. O que vem depois? O que você faz depois de
fazer tudo?
De repente, um tom agudo atravessou o iate clube. Estremeci, com os
ouvidos zumbindo e abri os olhos.
Uma mulher estava no centro do palco, uma jovem sensual, com
quadris largos e pele morena.
— Desculpe por isso, — disse ela, atrapalhando-se com o microfone.
— Agora, se vocês não se importarem, gostaria de começar com um dos
meus favoritos.
Ela contou com a banda, e então as notas mais doces que eu já ouvi
encheram o ar.
Como se estivesse possuído, me vi de pé em minha cadeira, meus
ossos de sessenta e cinco anos me levando para mais perto.
Mais perto dos encantamentos que dominavam o palco.
Mais perto de um futuro desconhecido.
O que pode sobrar?
ANGELA

— Viu, eu te disse. Está tudo bem, — Xavier disse, puxando-me em


seus braços.
Eu não estava convencida, mas deixei que ele me segurasse mesmo
assim, me guiando enquanto começamos a balançar com a música da
banda.
A dança ainda não havia começado, não propriamente, mas eu não
queria dizer a Xavier que éramos o único casal na pista de dança. Não
com a forma como ele estava olhando para mim agora.
Em vez disso, deixei seus braços fortes servirem de conforto enquanto
me preocupava com seu pai.
Brad não parecia ele mesmo a noite toda.
Quando ele me abordou para planejar sua festa de aposentadoria,
fiquei animada com a oportunidade de ajudar. Brad tinha feito tanto por
Xavier e por mim que foi uma honra ser capaz de retribuir, mesmo que
apenas um pouco.
Mas não pude deixar de pensar que havia feito algo errado.
Dei uma olhada por cima do ombro de Xavier. Brad ainda estava em
sua cadeira, com os olhos agora fechados.
— Eu não acho que ele vai dançar com a gente — sussurrei para
Xavier.
Eu o senti suspirar.
— Angela, por favor, tente se divertir. Você planejou uma festa
maravilhosa. Se eu conheço meu pai, a última coisa que ele quer é todo
mundo mexendo com ele.
Eu apertei meu abraço em torno dele e comecei a prestar atenção aos
passos que ele estava me guiando.
— Ok.
Eu tinha uma surpresa chegando em breve, de qualquer maneira. Se
isso não animasse Brad, nada mais o faria.
Como se fosse uma deixa, outro ruído estridente atravessou o iate
clube, fazendo-me perder o equilíbrio. Xavier me puxou com mais força
contra o peito, me impedindo de tropeçar e de fazer papel de boba.
— O que ela está fazendo aqui? — ele perguntou, com os olhos fixos
no palco.
Eu me virei também e sorri quando Penny pegou o microfone.
— Era o mínimo que eu podia fazer, — eu disse a Xavier.
— Para quê?
— Pela ajuda dela no meu resgate.
Os lábios de Xavier pressionaram em uma linha fina quando Penny
começou a cantar.
Seu relacionamento com Penny era complicado. Honestamente, ela
era uma pessoa maravilhosa. Muito gentil e surpreendentemente tímida
para alguém que subiu ao palco de forma tão convincente.
Mas acho que ela lembrou Xavier de uma época de sua vida da qual ele
não gostava.
Uma época em que ele era uma pessoa mais malvada e mais raivosa.
Acho que foi como olhar para trás, para fotos estranhas da infância.
Encolhendo-se com o quão estúpido e idiota você parecia... cem vezes
pior.
Talvez convidá-la tenha sido um erro.
Mas Penny era uma cantora, e uma muito boa. Ela conhecia todas as
favoritas de Brad.
Além disso, eu não pretendia contratá-la.
Eu encontrei o nome dela por acidente em uma lista de cantores para
eventos. Assim que eu o vi, eu soube que tinha que ligar para ela, para
agradecê-la.
Xavier me disse que foi Penny quem deu a ele a pista final meses atrás.
Se não fosse por ela, Xavier não teria encontrado o armazém para
onde Jacques me levou. Ele não teria chegado a tempo.
Jacques morreu naquele dia e, apesar das coisas terríveis que ele fez,
eu sabia que havia pessoas por aí que o amavam, que confiavam nele.
Pessoas como Penny.
O mínimo que eu podia fazer era dar a ela um trabalho que ela era
mais do que capaz de fazer.
Parecia que tinha sido uma boa escolha também, porque com o canto
do olho, percebi que Brad havia se levantado e estava indo lentamente
para a pista de dança.
Ele estava paralisado, seus olhos grudados em Penny enquanto ela
cantava os acordes finais de — Dream a Little Dream of Me.
— Olha, — eu sussurrei para Xavier, apontando para Brad.
— Eu vi, — ele respondeu. Sua voz rouca me fez virar para encará-lo, e
percebi que ele estava olhando para mim.
A música mudou, uma lenta batida espanhola enchendo o ar. Xavier
me puxou contra seu corpo musculoso e duro.
Eu engasguei quando sua mão desceu pelas minhas costas até minha
bunda.
— Xavier!
Meu marido se sentia confortável demais com exibições íntimas em
público.
Foi difícil para eu iniciar um simples beijo na privacidade da nossa
própria casa, muito menos tocá-lo quando estávamos em uma sala cheia
de pessoas.
— Vamos? — Sua perna deslizou entre as minhas quando ele começou
a me conduzir nos passos familiares do bolero.
Eu senti minhas bochechas aquecerem.
— Não tenho certeza se este é o momento certo.
Nós ficamos mais próximos nos últimos meses, e eu me sentia mais
conectada a ele do que nunca, mas não tinha certeza de por que precisava
provar isso deixando-o me apalpar a cada vez que saíamos de casa.
O tipo de afeto que ele parecia desejar era tão estranho para mim que
era opressor.
Xavier beijou meu ombro nu, em seguida, meu pescoço.
— Não posso gostar de dançar com minha esposa?
— C-claro, é só...
Minhas palavras sumiram, meio porque perdi a coragem de dizê-las,
meio porque Xavier me beijou.
XAVIER

Dois meses.
Dois meses malditos.
Isso tinha que ser um recorde. Se não for um recorde mundial, será
um recorde pessoal.
Eu não conseguia me lembrar de ter passado mais de dois dias sem
sexo, muito menos dois meses.
Angela estava nervosa. Ela queria esperar.
Eu entendia isso, logicamente. Emocionalmente, porém, eu estava
pronto para bater na cabeça dela e arrastá-la para uma caverna e dar um
jeito nela.
A necessidade de tocar em Angela, de sentir seu corpo esfregar contra
o meu, era constante.
Sua mão no meu ombro, o roçar de sua perna contra a minha, nossos
dedos entrelaçados... Os menores toques se transformaram na dança
mais erótica.
Mesmo esta noite, em uma sala cheia de pessoas mais velhas, na festa
de aposentadoria do meu pai, enquanto minha ex-namoradinha olhava,
tudo que eu conseguia pensar era em possuí-la ali mesmo, no meio da
pista de dança.
Tudo que eu queria era levá-la para casa, tirar seu vestido branco
apertado e destruí-la.
A luxúria frequentemente me deixava fora de mim. Num segundo eu
estava gentil e carinhoso, no próximo, frio e mal-humorado.
Quando paramos em frente ao nosso prédio no final da noite, me vi
flutuando para frente e para trás entre os dois.
— Boa noite, Marco, — disse Angela enquanto eu a ajudava no banco
de trás.
Eu coloquei minha mão em suas costas, empurrando-a em direção à
porta, antes que Marco pudesse responder.
— Vamos entrar.
Ela olhou para mim enquanto cruzávamos o saguão.
— Está tudo bem?
— Tudo bem, — eu disse de volta, fechando minha mão livre em um
punho.
Ela continuou a tagarelar nervosamente enquanto entrávamos no
elevador, com o rubor subindo em suas bochechas enquanto ela
observava meus ombros tensos.
Tínhamos jogado esse jogo inúmeras vezes nas últimas semanas. Ela
sabia exatamente o que estava errado. O que eu queria. O que eu não
poderia ter.
— Você comeu o suficiente? Eu poderia preparar alguma coisinha.
Eu...
Eu precisava foder algo, ou socar algo, o que se apresentasse primeiro.
As portas do elevador abriram e corri para a cobertura.
— Xavier?
Certo, Angela me perguntou algo.
Eu parei ao lado da cozinha e girei nos calcanhares.
— Eu não estou com fome.
Angela vagarosamente caminhou em minha direção, com suas
sobrancelhas franzidas de preocupação.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ela estava a centímetros de mim
agora, tão perto que nossos peitos se tocaram. Ela levantou uma das
mãos e envolveu minha nuca.
Quase gemi com o contato.
Lambi meus lábios, tentando ignorar a dor crescente na minha virilha.
— O que você precisa, Angela?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Te agradecer. Eu me diverti muito com você esta noite.
Ela se inclinou e pressionou seus lábios nos meus no mais delicado
dos beijos.
Começou como uma faísca. De repente, todo o meu corpo estava em
chamas.
Em menos de um segundo, levantei Angela em um braço e usei o
outro para limpar o balcão da cozinha.
Castiçais, saleiros e temperos caíram no chão de madeira quando eu a
coloquei no balcão.
— Xavier, — ela respirou.
Eu puxei o zíper de seu vestido para baixo e deixei minhas mãos
correrem sobre a pele agora nua de suas costas.
Angela envolveu suas pernas em volta de mim, me puxando para mais
perto.
Seus dedos se enrolaram em meu cabelo enquanto eu tirava meu
paletó e comecei a desabotoar os botões da minha camisa social.
Estiquei-me até atrás dela novamente, com os dedos encontrando o
fecho de seu sutiã.
Por um segundo, pensei que ela me deixaria fazer isso.
Ela finalmente me daria acesso a seus seios fartos.
Me deixaria tomá-la como eu queria.
Então, eu senti uma pressão familiar contra meu peito e suas
mãozinhas me empurraram para longe dela.
— Xavier, pare.
Eu rosnei, me afastando do balcão, para longe dela e pelo corredor.
— Onde você está indo? — sua vozinha me chamou.
Eu não pude evitar uma crescente raiva em minha voz enquanto
rosnei minha resposta.
— Para a porra do chuveiro.
ANGELA

Sentei-me no balcão, meio vestida, com o coração disparado no peito,


tentando recuperar o fôlego.
Eu ainda podia sentir as mãos de Xavier em mim. Pedindo.
Implorando.
Eu sabia que teria que ceder logo.
Já estávamos namorando há mais de dois meses, éramos marido e
mulher há quase um ano, mas nosso casamento ainda não havia sido
consumado.
Xavier foi paciente comigo. Nunca pressionando. Nunca forçando.
Apreciei seus esforços mais do que ele poderia imaginar.
Eu podia ver que isso estava afetando ele, mas ele precisava de um
escape.
Nós chegamos perto algumas vezes, mas eu sempre o impedi de ir
mais longe.
Você está sendo boba, eu disse a mim mesma e pulei do balcão. Não há
nada a temer.
Esse era meu novo mantra. Não há nada a temer.
No entanto, não importa quantas vezes eu dissesse isso, não
parecíamos estar mais perto de fazer amor.
Cada vez que Xavier e eu estávamos perto, uma onda de pânico
tomava conta de mim e eu o afastava.
Exatamente como agora.
Quando me abaixei para pegar o saleiro agora lascado, ouvi o chuveiro
ligar no corredor e uma determinação de aço me atingiu.
Eu amava Xavier. Era hora de mostrar a ele o quanto. Esta noite foi a
noite. Não há nada a temer.
Tirei meu vestido dos ombros, deixando-o cair no chão da sala e dei
um passo em direção ao quarto de Xavier.
Então outro.
Não há nada a temer
Ele havia deixado a porta do banheiro aberta, como sempre. Um
convite. O vapor subiu para o quarto, quase suplicante.
Não há nada a temer
Desabotoei meu sutiã, tirei minha calcinha e passei pela porta aberta
do banheiro.
Eu não podia deixar meu medo me segurar mais. Eu não o evitaria
mais. Em privado ou público.
Xavier estava no chuveiro, com os olhos fechados e a cabeça jogada
para trás. O vapor saiu de seus ombros. Ele tinha uma mão apoiada
contra a parede de azulejos, a outra em volta do seu...
Eu não pude evitar o suspiro que escapou dos meus lábios. Minha
mão voou para cobrir minha boca, mas era tarde demais. Ele tinha
ouvido.
A cabeça de Xavier girou, seus olhos se arregalaram quando pousaram
em mim, e sua mão cessou seu movimento contínuo. Ele correu para se
cobrir.
— Merda, — ele murmurou, e a compreensão do que eu havia
acabado de ver me atingiu brutalmente.
Capítulo 2
As Consequências

ANGELA

Angela: Está tudo certo pra hoje?

Dustin: Sim, senhora!

Angela: Ótimo! Necessito de aconselhamento.

Dustin: Você tem minha atenção!

Dustin: Eu ganho alguma pista?

Angela: (emoji de três macacos tampando o olho) Dustin: Ah,


vamos. Não pode ser tão ruim.

Angela: Eu peguei o Xavier, sabe...

Dustin: Não, acho que não.

Angela: (emoji de mão, berinjela e gotas de água) Dustin: Oh


Dustin: OHHHHH

Angela: Sim, estarei aí em 30 minutos.


Quando entrei no café, encontrei Dustin no meio de uma escada ao
longo da parede oposta, com uma pintura enorme nas mãos.
Também não era a única ali. As paredes agora estavam cobertas com
suas pinturas.
Eu deveria estar encontrando ele e Em para o nosso encontro
semanal, mas parecia que Dustin já estava com as mãos ocupadas.
— Uau, — eu disse, parando no meio do pequeno espaço.
— Você gostou? — Dustin ligou.
— Eu adorei, — respondi, com os olhos correndo sobre as obras de
arte coloridas. — Seu chefe concordou com isso?
— Que chefe? — Dustin riu. Ele terminou de pendurar o quadro nas
mãos e começou a descer a escada. — Eu comprei o lugar.
— O quê?
Dustin estendeu os braços.
— Você me ouviu. Eu precisava de um lugar onde pudesse mostrar
meu trabalho. Algum lugar onde as pessoas pudessem apreciar arte sem a
pretensão de uma galeria. Achei que este era o lugar perfeito.
Eu sorri e cruzei a cafeteria para envolver meu amigo em um abraço.
— Parabéns!
— Obrigado, eu...
Um estrondo na sala dos fundos o interrompeu. Dustin revirou os
olhos e gritou: — Ben!
Um adolescente magro de avental apareceu aos tropeços.
— O que é que foi isso? — Dustin perguntou, com as mãos na cintura.
— Eu, uh, eu derrubei uma pilha de filtros de café, — Ben murmurou.
Os olhos do menino se voltaram para mim por um segundo e depois
para o chão.
— Bem, lembre-se do que eu disse, — disse Dustin.
— Se você quebrar...
— Eu tenho que comprar. Eu sei, — Ben completou.
— Não se esqueça disso. — Dustin apontou para a máquina de café
expresso. — Agora, faça dois cafés com leite para nós.
Dustin se sentou à nossa mesa de sempre, suas pinturas esquecidas
por enquanto. Sentei-me em frente a ele, ainda tentando assimilar tudo.
— Não quero ser rude, mas como você conseguiu comprar este lugar?
— Eu me perguntei.
Não que eu não estivesse feliz por meu amigo. Eu sabia que Dustin
não ganhava muito com sua arte, e ele tinha um histórico de gastar o
pouco dinheiro que tinha por perto. Eu só não queria vê-lo com
problemas.
— Bem, — ele começou. — Tudo começou há algumas semanas, na
época em que você foi levada por aquele francês horrível. Acho que
algumas pessoas viram o quadro que ele roubou no noticiário. Tenho
vendido peças com bastante regularidade desde então.
Meu estômago embrulhou.
— Você ganhou dinheiro com meu sequestro?
Dustin ficou boquiaberto.
— Bem, falando desse jeito... Você não está brava, está?
Eu estava brava?
Brava porque meu amigo estava finalmente realizando seus sonhos de
ser um artista de sucesso? Eu não poderia estar, mesmo que ele estivesse
lucrando por ser meu amigo, e com as consequências de uma noite
terrível.
— N-não, estou feliz por você, — consegui dizer a ele enquanto Ben
chegava com nossos cafés com leite. Ele demorou um pouco demais
conosco, até que Dustin o dispensou.
— Então, me diga exatamente o que aconteceu. — Dustin se inclinou
para frente, sempre ansioso pelas últimas fofocas. — Ou devemos esperar
por Em?
Às vezes, eu poderia jurar que ele estava mais investido na falta de
sexo entre mim e Xavier do que eu.
Corei quando a memória da noite passada explodiu.
— Eu, uh...
Fui salva pelo toque do sino, sinalizando a chegada de outra pessoa.
Dustin e eu olhamos para a porta e então nos levantamos para dar as
boas-vindas à convidada.
— Em, — eu gritei, puxando minha amiga para um abraço. — É tão
bom ver você!
Em e Lucas partiram em lua de mel algumas semanas depois que eu
recebi alta do hospital. Nós tínhamos mandado mensagens algumas
vezes desde que eles se foram, e eu tinha visto fotos de sua viagem para a
Grécia no Instagram, mas não havia nada como vê-la pessoalmente
novamente.
— Ei, garota! Sente-se, sente-se, — disse Dustin. Depois, mais alto: —
BEN! CAPPUCCINO, AGORA!
Em puxou uma cadeira para a mesa e se juntou ao nosso pequeno
círculo.
— Como estão as coisas? — Eu perguntei, pegando meu café.
— Tudo é tão mágico, — disse Em, com os olhos vidrados. —
Esperem. E vocês verão o que quero dizer, um dia.
Ela me deu um olhar de desculpas como se eu não tivesse ideia do que
ela estava falando. Como se eu nunca soubesse.
Senti uma pontada de dor no peito.
Só porque Xavier e eu não tínhamos nos casado por amor não
significava que não poderíamos compartilhar a mesma conexão com
qualquer outro casal, não é?
Talvez sim.
Talvez sempre houvesse uma espécie de desconexão entre nós e
seríamos mantidos juntos apenas por dependência forçada e luxúria?
— Bem, — disse Dustin, — Angela estava prestes a compartilhar suas
próprias notícias empolgantes.
Em engasgou.
— Você e Xavier...
Eu balancei minha cabeça.
— Não exatamente.
— Você vai ter que ser um pouco mais específica para nós, Angie, —
disse Dustin. — Como você pode 'não exatamente' fazer isso?
Ben chegou então, entregando a bebida de Em, dando-me um minuto
a mais para achar minhas palavras.
Enquanto ele fugia, fiquei na defensiva.
— Bem, eu queria. Eu ia fazer. Veja, chegamos em casa da festa de
aposentadoria de Brad e começamos a nos beijar na cozinha.
— Que tesão, — Dustin interrompeu, fazendo-me corar.
Em deu um tapinha no meu braço.
— Continue.
— Xavier disse que ia tomar banho. Então... então eu o segui. Quando
entrei no banheiro para me juntar a ele, ele estava... você sabe.
— O quê? — Em perguntou.
Eu forcei a palavra a sair.
— Se masturbando.
— Você o ajudou a terminar? — Dustin disse, sem perder o ritmo.
Eu balancei minha cabeça.
— Não! Não, eu saí.
— Saiu? — disse Em.
Dustin franziu a testa.
— Tipo, fugiu?
Eu balancei a cabeça, certa de que estava da cor de um tomate agora.
— Oh, Angela. — Dustin ergueu as mãos. — Você deu uma dentro!
— Como assim? — Murmurei. Chegar em Xavier assim não parecia ser
uma dentro. Parecia mais como um — cair fora.
— Se ele está fazendo isso, para que ele precisa de mim?
Dustin e Em trocaram olhares antes de Em pegar minha mão.
— É claro que Xavier quer mais, Angie. O que está te segurando?
— Não sei, — admiti. — Eu percebo o quanto ele quer transar. Mas
parece tão importante. Eu não quero bagunçar tudo.
— Bem, talvez seja hora de você falar com Xavier sobre como você se
sente. Você não pode esperar ter um bom sexo se não falar sobre as
coisas.
Eu fiz uma careta com o conselho da minha amiga. Eu não queria
pensar sobre ela e meu irmão discutindo esse tipo de coisa, muito menos
fazê-lo.
Mas ela estava certa. Talvez eu estivesse vendo tudo errado. Talvez eu
tenha exagerado um pouco.
— Eu me sinto mal. — Lágrimas encheram meus olhos. — Como se eu
o estivesse desapontando. Quanto mais eu o faço esperar, mais frustrado
ele fica. Estou sendo uma esposa terrível.
— Que se dane isso, — disse Dustin. — Você fará sexo quando estiver
bem e pronta. Se Xavier disser algo diferente, ele é um canalha. Não deixe
ninguém te forçar a nada, nem mesmo Em e eu.
Em acenou com a cabeça.
— Você está pensando demais nisso, Angie. Você só precisa de algo
para tirar sua mente das coisas.
Ela estava certa. Eu estava pensando demais nisso. Isso estava se
repetindo em minha mente por semanas. Cada pensamento que eu tive
desde que voltei do hospital girava em torno de Xavier.
Quando ele voltaria para casa?
O que será que ele quer para o jantar?
Que filme assistiríamos juntos?
Quanta falta dele eu sentiria quando ele viajasse a trabalho?
Com meu pai se sentindo melhor, e Xavier e eu nos dando bem, havia
pouco mais para ocupar meus pensamentos.
A única coisa que me impediu de enlouquecer nas últimas semanas foi
planejar a festa de Brad. Agora que tudo acabou, eu fui deixada por conta
própria novamente, ficando apenas com Xavier para me preocupar.
Certamente, isso não poderia ser saudável.
De repente, uma ideia me atingiu.
— Gente, acho que sei como consertar isso.
XAVIER

Angela me pegou me masturbando.


Não havia dúvida.
Eu sonhei com ela entrando naquele banheiro por semanas. Fantasiei
com ela entrando no chuveiro, e envolvendo a mão em volta do meu pau.
Só a realidade poderia ter superado minha imaginação.
Eu já tinha feito isso por mulheres antes, me masturbado por elas,
nelas. Normalmente era muito excitante.
Desta vez, porém, foi diferente... provavelmente por causa do horror
que passou pelo rosto de Angela antes de ela sair correndo do banheiro.
O que ela esperava?
Eu não era como ela.
Eu não era um monge.
Eu precisava de sexo. Eu precisava gozar.
Se não pela mão dela, então pela minha.
Eu teria que falar com ela, dizer a ela que eu era um homem. Um
homem com necessidades.
Eu fiz uma careta, abaixando minha cabeça para a minha mesa.
Que azar da porra. Eu tinha mulheres fazendo fila para ter a chance de
transar e acabei ficando com a única mulher que não suportava ver meu
pau.
— Xavier! — Meu pai gritou de repente, me fazendo pular.
Ele entrou no meu escritório.
Estava subitamente de pé, passando a mão pelo meu cabelo.
Exatamente o que eu precisava.
— Estou no meio de algo, pai.
Ele se sentou na cadeira do outro lado da minha mesa, olhou ao redor
do meu escritório vazio, para a minha mesa vazia e ergueu uma
sobrancelha.
Eu olhei para ele.
— Você não deveria estar aposentado?
— Estava esvaziando meu escritório.
— E?
— E eu queria entrar e dizer olá ao meu filho. — Ele deu um sorriso de
gato Cheshire.
— Mm-hm, — eu respondi, abrindo meu laptop.
Eu poderia pelo menos fingir estar ocupado.
— Então, aquela festa foi incrível, hein? — Ele continuou.
— Foi, — eu concordei.
— Aquela cantora também. Ela tem muito pulmão.
Eu olhei por cima da tela do meu computador.
— Penny?
— É esse o nome dela? — Meu pai disse, de repente muito interessado
em endireitar as pastas de arquivo no canto da minha mesa.
Felizmente, Ron escolheu aquele momento para nos interromper.
— Está tudo pronto para partir, senhor, — ele disse ao meu pai. —
Suas coisas já estão no carro.
— Excelente! — Meu pai ficou de pé e acenou para Ron. — Então, há
apenas uma coisa a fazer.
Papai olhou para mim e Ron.
— Filho, deixo-o em boas mãos.
Eu pisquei.
— O quê?
Ele não esperava que...
— Ron me serviu bem por dez anos, — papai disse, dando um tapinha
nas costas de seu assistente.
Ron sorriu e teve a decência de parecer pelo menos um pouco
envergonhado.
— Foi uma honra, senhor.
Eu hesitei.
— Você está esperando que eu o leve a bordo?
— É claro, — disse papai.
— Ele não é um prédio ou um contrato, pai. Ele é uma pessoa. Sua
pessoa. Eu não vou permitir.
Meu pai franziu a testa.
— O que você está dizendo?
Ele com certeza não estava facilitando as coisas.
Soltei um suspiro e me virei para Ron.
— Você está demitido.
O sangue foi drenado do rosto do pobre coitado.
— O quê? — ele gaguejou quando meu pai começou, — Xavier...
— Não, — eu interrompi. — É minha empresa agora, pai. Não posso
sentir que você está olhando por cima do meu ombro vinte e quatro
horas por dia, sete dias por semana. Eu preciso começar de novo. Você
tem que entender isso.
— Ron tem sido leal..
— Tenho certeza de que Ron é um cara ótimo, mas ele é seu cara.
Minha decisão é final. — Eu olhei para os dois. — Agora, se me dão
licença, tenho uma ligação em dois minutos.
— Muito bem, — disse papai. — Vamos, Ron. Eu vou te pagar o
almoço.
Ele deu um passo em direção à porta, mas Ron parecia estar
congelado ao lado da minha mesa.
— Eu não posso acreditar.
Suspirei.
— Eu posso ligar para Henry. Ele pode saber sobre uma posição
aberta. Tenho certeza de que há outro executivo por aí que irá querê-lo.
— Mas eu dediquei minha vida inteira à Knight Enterprises por dez
anos, — disse Ron, franzindo a testa.
Meu pai suspirou e se virou.
— Nós encontraremos um emprego para você em outro lugar, — ele
prometeu a Ron, jogando o braço sobre os ombros e guiando-o em
direção à porta. — Talvez haja até um espaço aberto em outro
departamento.
Assim que a dupla saiu do meu escritório, deixei minha cabeça cair de
volta na minha mesa.
Meu dia não poderia ficar pior.
Meu telefone zumbiu ao lado da minha cabeça.
Na hora certa.
Com um gemido, eu o peguei.
No entanto, não era uma chamada recebida. Em vez disso, uma
mensagem de Angela iluminou minha tela.

Angela: Precisamos conversar.


Capítulo 3
Solitário

XAVIER

— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram.


— Na cozinha, — ela respondeu.
Ouvi sons de metal na madeira e o chiar de óleo.
Ela deve estar cozinhando.
Entrei na sala de estar e joguei minha bolsa na espreguiçadeira, em
seguida, me virei para a cozinha.
Com certeza, Angela estava ocupada cortando vegetais na ilha com
tampo de mármore.
— Olá, querido. — Ela sorriu, erguendo os olhos do trabalho.
Eu caminhei para o outro lado do balcão.
— Onde está Lucille?
Angela encolheu os ombros. — Eu dei a ela o resto da noite de folga. O
marido dela está na cidade.
— Você sabe que não precisa cozinhar, certo? — Eu disse, me sentindo
como um disco quebrado.
Esta não foi a primeira vez que tivemos essa conversa nos últimos
meses. Estava ficando cada vez mais frequente eu voltar para casa e
encontrar Angela no fogão.
Não que ela fosse uma má cozinheira. Pelo contrário, eu realmente
adoro a comida de Angela.
Tinha mais a ver com o princípio disso. Angela não precisava
cozinhar. Eu poderia ter outra pessoa para cozinhar para nós. Havia
coisas mais importantes com as quais minha esposa ocupar seu tempo.
— Eu gosto de cozinhar, — ela disse, recitando sua resposta usual.
Eu apertei minha mandíbula, segurando minha réplica.
Esta noite não era a noite para debater de novo o mesmo tópico.
Havia coisas mais críticas para discutir.
Com base na mensagem de texto que recebi de Angela, ela também
não estava feliz com o desenrolar dos acontecimentos da noite anterior.
Mas ela não queria me dar mais informações pelo telefone, então
passei a tarde toda preocupado com o momento em que voltasse para
casa.
Eu não sabia como falar com ela sobre o que ela tinha visto na noite
passada. Para ser honesto, estava um pouco chateado por ter que
conversar sobre isso.
Eu era um homem crescido e era o meu banho.
Minha casa, por falar nisso.
Isso significava que eu tinha permissão para fazer o que eu quisesse,
quando eu quisesse.
Se isso significava uma punheta, que fosse.
Além disso, foi ela quem entrou.
Eu estava sendo paciente e esperando por ela, mas ela realmente não
podia esperar que eu não fizesse nada até que ela estivesse pronta, não é?
— Você disse que queria conversar? — Eu solicitei, observando Angela
deslizar cebolas de sua tábua de cortar e colocá-las na frigideira quente.
— Ah, sim! — ela respondeu animadamente.
Bem, essa foi uma resposta diferente da que eu esperava. A reação
normal de Angela a qualquer coisa relacionada a sexo era ficar com a cor
de uma beterraba.
— Tem havido muita tensão entre nós ultimamente, — ela começou e
abriu a geladeira. — E essa tensão formou um desequilíbrio em nosso
relacionamento.
Eu cantarolei evasivamente. Desequilíbrio era definitivamente uma
maneira de definir isso.
Eu disse ao pai de Angela meses atrás que estava pronto para me casar
com ela... corretamente desta vez. Mas ainda não tinha acontecido.
Eu não tinha mais certeza se seria em breve. Ficou claro pelo modo
como Angela continuou me afastando que ela não estava pronta.
Angela voltou ao fogão e começou a despejar mais ingredientes na
panela. Um aroma rico e exótico encheu o ar ao nosso redor.
— A noite passada foi incrível, — ela continuou. — Fazia tempo que
não me sentia tão viva.
Meu queixo caiu um pouco. Ela estava falando sobre me pegar
masturbando?
Ela parecia apavorada quando confrontou meu pau na noite passada,
não viva.
Acho que não entendi alguma coisa, certo?
Limpei a garganta, tentando encontrar uma maneira de responder
sem dizer nada. Sem jogá-la fora de qualquer tangente em que ela se
meteu.
— Eu... fico feliz em ouvir isso.
— Eu quero mais disso, — ela continuou, determinada.
Eu não pude acreditar.
Angela estava dizendo que queria mais?
Será que minha noiva virginal pura finalmente quer ser fodida?
Eu realmente não estava vendo nenhuma outra interpretação aqui.
— Tem certeza? — Eu me esquivei. — Pela forma como deixamos as
coisas, não parecia que você estava pronta.
Ela se encostou no balcão, sorrindo de orelha a orelha.
— Era só nervosismo. Nunca fiz nada parecido antes. E acho que
esperei o suficiente... Acho que está na hora, Xavier.
Caminhando para o outro lado do balcão, parei na frente dela,
sentindo como se um tijolo de dez toneladas tivesse sido tirado do meu
peito.
— Você não tem ideia de quanto tempo estou esperando para ouvir
você dizer isso.
Pegando seu rosto entre minhas mãos, eu a beijei, suavemente no
início, depois com mais fome.
Eu tinha entrado em pânico a tarde toda por nada, pensando que teria
que ter uma discussão de relacionamento com minha esposa. Agora ela
estava praticamente me implorando para pegar ela aqui mesmo na
cozinha.
Eu me senti ficando duro e, pela primeira vez, não tentei esconder.
Em vez disso, eu a encostei no balcão, prendendo-a entre o mármore e
eu.
Meus dedos mergulharam sob a bainha de seu suéter, espalhando por
suas costelas.
Eu precisava ficar mais perto.
Eu precisava foder ela.
De repente, senti um familiar empurrando contra meu peito.
— Xavier, — Angela murmurou. Eu ouvi uma hesitação em sua voz.
— Mas que porra é essa? — Eu resmunguei antes que pudesse me
conter. Ela tinha acabado de dizer que queria. Isso não era uma merda de
luz verde?
Seu olhar caiu.
— Acho que podemos ter tido um mal-entendido.
Eu me afastei do balcão, com o peito arfando.
— Você acabou de me dizer ou não que queria sexo?
Eu estava muito chateado para ser paciente. Muito frustrado para
escolher bem minhas palavras.
Os olhos de Angela se arregalaram.
— Não! Quero dizer... não, Xavier...
Eu acenei para ela.
— Não, não. Eu entendi. Nós nunca vamos fazer sexo.
— Isso não é verdade. — Ela cruzou os braços sobre o estômago. Era
algo que ela fazia quando estava com medo, eu já havia percebido. Como
se ela estivesse tentando se tornar menor ou proteger seus órgãos
internos como você faz em um ataque de urso pardo.
— Sim, bem, parece que sim. Por que você acha que eu estava me
masturbando noite passada? Estou morrendo aqui, Angela.
— Sinto muito, — disse ela.
— Não, porra, — eu rosnei e enrolei minhas mãos no meu cabelo. —
Pare de dizer que você sente muito, porra.
— Eu... eu não sei mais o que dizer.
Só Deus pra me ajudar
Eu respirei fundo.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Você sabe que não vou
pressioná-la. Não há nada para se desculpar. É só que... Do que você
estava falando se não era sexo?
— Um trabalho. — Em seguida, endireitando os ombros um pouco, de
novo, ela disse mais alto: — Eu quero conseguir um emprego.
— Para que diabos você quer um emprego?
Ela encolheu os ombros.
— Pra que eu tenha algo para fazer. Portanto, tenho algo de que me
orgulhar. Não posso simplesmente ficar sentada o dia todo esperando
você voltar para casa.
Eu apertei a base do meu nariz. Tentando manter meu nível de voz,
respondi: — Você não precisa de emprego, Angela. Você me tem.
— Eu preciso de mais.
Suas palavras foram como um soco no estômago.
— Primeiro você não me deixa fazer amor com você, não me deixa
dar-lhe prazer, e agora também não sou um provedor bom o suficiente?
Eu sabia que era um golpe baixo, mas para minha mente privada de
sexo e sobrecarregada de testosterona, era assim que parecia.
Angela estremeceu quando minha voz ficou mais alta.
— Você está distorcendo minhas palavras.
— Eu... — Eu estava prestes a responder quando um cheiro pungente
me fez parar. — O que é aquilo?
— Ah, não! — Angela passou por mim. Ela pegou a panela de legumes
em chamas e a jogou na pia. O vapor subiu em uma nuvem com um
grande assobio quando a água fria da torneira encharcou a comida
carbonizada.
Puxei meu telefone do bolso do meu terno.
— Estou pedindo pizza.

Angela: Quer almoçar comigo amanhã?


Brad: Isso parece maravilhoso!

Brad: Só queria saber o que eu faria comigo mesmo.

Brad: Estar aposentado não é só o que parece!

Angela: Eu sei como você se sente.

Brad: Vamos nos encontrar no The Plaza?

Angela: Sua mesa normal?

Brad: Sim. Nos vemos lá, minha querida!

ANGELA

— Angela, querida, — disse Brad enquanto me puxava para um abraço


na tarde seguinte. — É tão bom te ver.
— É bom te ver também, — eu disse e sentei na poltrona dourada em
frente a ele.
— Espero que você não se importe, — começou Brad, acomodando-se
novamente, — mas tomei a liberdade de pedir o nosso de sempre.
Uma gratidão pela generosidade de Brad tomou conta de mim.
— Maravilhoso!
— Você acredita que já se passou quase um ano desde que nos
conhecemos aqui? — ele disse.
Eu olhei para os lustres de cristal e as folhas de palmeira que caíam
sobre nossas cabeças.
— De jeito nenhum. Achei que nunca conseguiria me acostumar com
isso.
— Mas você se acostumou, como eu prometi que faria, — Brad me
assegurou, com orgulho evidente em sua voz.
Tive que admitir que ele estava certo. A primeira vez que encontrei
Brad para tomar chá, não sabia o que era o Plaza. Agora, eu tinha me
tornado assídua no Palm Court. A equipe sabia meu nome. Reconheciam
meu rosto. Memorizaram meu pedido.
De alguma forma, eu ainda não sentia que pertencia a este lugar.
Mesmo com meu vestido Kate Spade e saltos Stuart Weitzman, eu sentia
como se estivesse fantasiada.
— Pelo menos não estou de jeans rasgados. — Eu sorri, relembrando
nosso primeiro encontro.
— Você é deslumbrante, — elogiou Brad. — Então, a que devo o
prazer? Parecia que você estava atrás de mais do que saber das novas.
Eu me contorci no assento de veludo, tentando encontrar as palavras
para explicar a situação. Não que fosse tão difícil, mas era um pouco
desconcertante.
Ultimamente, não precisava de Brad para me guiar tanto quanto
antes. Não precisava que ele me dissesse qual garfo usar ou o que
significava — traje esporte fino. — Por outro lado, Xavier havia
trabalhado muito para tomar seu lugar, para preencher seu papel como
meu parceiro.
Xavier e eu estávamos nos comunicando bem recentemente, pelo
menos até a noite passada.
De alguma forma, pedir conselhos a Brad novamente parecia uma
violação da confiança recém-formada que Xavier e eu estávamos
construindo.
No entanto, eu não tinha certeza do que mais fazer. Xavier não
parecia aberto a qualquer tipo de ideia agora que não acabasse com nós
dois nus.
Os casais têm tantos problemas de comunicação?
Eu não poderia imaginar que verdadeiras almas gêmeas jamais
discordassem como nós.
Quando você ama alguém, você deveria estar na mesma página sobre
tudo.
Xavier e eu nem estávamos no mesmo livro.
— Xavier e eu brigamos, — eu disse a Brad.
— Lamento muito ouvir isso, minha querida, — disse Brad, sempre
solidário, sempre calmo. — Mas essas coisas são naturais. Sobre o que foi
a discussão?
— Eu disse a ele que queria um emprego.
— Bem, parece uma ideia maravilhosa!
O garçom chegou então e descarregou um bule de porcelana fina e
xícaras de chá, bem como uma bandeja com delicados sanduíches e
doces, em nossa mesa.
Assim que ele saiu, servi-me de um sanduíche de pepino.
— Também achei. Mas Xavier não gosta da ideia.
As sobrancelhas de Brad se uniram.
— Bem, o que você espera fazer?
— Meu diploma é em engenharia mecânica, — eu disse e dei uma
mordida no sanduíche. — Mas tenho muito pouca experiência prática.
Brad colocou um bolo de mirtilo na boca.
— E você quer seguir essa carreira?
— Não tenho certeza se estou pronta para trabalhar em um emprego
de tempo integral, — admiti. — Eu só preciso de algo para me manter
ocupada.
Qualquer trabalho que eu aceitasse teria que ser adequado ao nome
Knight.
Eu sabia. Eu aprendi, mais de uma vez, o peso que o legado de Knight
carregava.
Isso também significava que eu não poderia aceitar nenhum emprego
antigo em um café ou estagiar em uma empresa de engenharia. Então, eu
não sabia por onde começar minha busca por emprego.
Brad se recostou na cadeira, batendo o dedo no queixo.
— Sim, eu entendo. Acho que posso ter uma solução. Você me daria
alguns dias para examinar algumas coisas?
— Claro! — Se Brad tivesse alguma pista de trabalho, eu esperaria o
tempo necessário. Se ele pudesse me ajudar a encontrar um emprego
aceitável, eu sabia que poderia aquecer Xavier com a ideia.
— Há algo que eu esperava que você pudesse me ajudar em troca, —
disse Brad, repentinamente ocupado em mexer o chá.
— Oh? — Eu respondi, felizmente surpresa. — Certo. O que você
precisar.
Brad tinha feito mais por minha família e por mim do que eu jamais
pensaria ser possível. Eu faria tudo o que pudesse para retribuir essa
generosidade.
— Não tenho certeza de como dizer isso, então você vai ter que me
perdoar se eu divagar, mas... Receio estar enfrentando um problema
semelhante, Angela.
Meu coração afundou no meu peito. Estendi a mão, por cima das
xícaras de chá e iguarias, para colocar minha mão na dele.
Brad sorriu para mim e apertou minha mão. Então, com um grande
suspiro, ele continuou.
— Sei que faz menos de uma semana, mas não posso continuar assim.
Sem trabalho para ocupar meu tempo, não tenho ideia do que fazer
comigo mesmo.
Eu balancei a cabeça em compreensão.
— Você está solitário.
— Solitário?
— Se você tivesse algo para fazer ou alguém em quem pensar além de
você, acho que seria muito mais feliz, — eu disse.
Eu conhecia a sensação muito bem.
Eu me senti da mesma forma depois que me casei com Xavier no ano
passado. Como se eu fosse a única pessoa que restou no mundo. Como se
eu tivesse sido esquecida.
Ainda bem que nosso relacionamento havia melhorado, mas eu ainda
me sentia solitária alguns dias quando estava sozinha em nossa enorme
cobertura.
Era por isso que eu queria um emprego.
— Ora, acabei de me aposentar, então não consigo um emprego, —
disse Brad.
— Que tal um amigo? Alguém que você pudesse visitar? Alguém com
quem você pudesse fazer coisas? — Eu sugeri.
— Como uma namorada? — Brad balançou a cabeça. — Eu não acho
que seja isso. Tive meu grande amor pela Amelia. Você só consegue isso
uma vez na vida.
— Existem diferentes tipos de amor, — insisti, feliz com a distração de
ter a chance de consertar um problema de uma vez, em vez de sentir que
eu o estava incomodando.
— Eu acho que você poderia encontrar alguém que te faça feliz.
Brad franziu os lábios.
— Não tenho certeza se me sentiria bem sobre isso.
— Apenas pense sobre isso, ok? Eu posso te ajudar se você quiser.
— Como eles estão chamando isso hoje em dia? Braço direito!
Eu ri.
— Sim, eu ficaria feliz em ser seu braço direito.
— Eu vou... vou pensar sobre isso. — Ele acenou com a cabeça, e então
um sorriso brilhante iluminou seu rosto. — Você sabe o que mais pode
me animar?
— O que seria? — Eu perguntei, pegando um pedaço de bolo de
chocolate.
— Netos.
Eu engasguei, sem ter certeza se meu sogro estava brincando — ou se
era um pedido sério.
Capítulo 4
Outra Garota

ANGELA

Eu não pude deixar de ficar de mau humor no caminho de volta para


casa do Plaza.
Por que parecia que tudo o que alguém queria falar ultimamente era
sobre a minha vida sexual com Xavier?
Dustin aproveitou a chance de ouvir os menores detalhes sobre a
masculinidade de Xavier.
Em me olhava com simpatia toda vez que o assunto de
relacionamentos físicos era abordado.
E agora Brad estava perguntando sobre netos?
Era realmente tão inacreditável que Xavier e eu não tivéssemos
dormido juntos ainda?
Realmente tão chocante que eu não estava me jogando nele a cada
cinco minutos?
Nós nos conhecíamos há menos de um ano.
Gostávamos um do outro por menos de alguns meses.
Alguém mais se comportaria de maneira tão diferente em nossa
situação?
A resposta veio rapidamente: sim.
Centenas de mulheres se jogaram em Xavier sem saber nada sobre ele,
além de seu sobrenome.
Ele estava acostumado à atenção... muita atenção.
E estava claramente sentindo falta com base no que interrompi na
outra noite.
Eu estava certa quando disse a ele que havia um desequilíbrio em
nosso relacionamento, mas não identifiquei a causa.
Não tinha nada a ver com o fato de eu ter um emprego — e tudo a ver
com SEXO.
Quando paramos do lado de fora do prédio, agradeci a Marco e me
dirigi para o saguão.
Xavier não estaria em casa por um tempo. Eu ainda tinha tempo para
organizar meus pensamentos, para pensar sobre o que fazer.
Não era que eu tivesse medo de fazer sexo ou que fosse imune ao
charme Casanova de meu marido. Foi algo menos tangível que me
impediu de me entregar totalmente a Xavier.
Para mim, sexo era a maneira mais íntima de conhecer uma pessoa.
Algo compartilhado entre almas gêmeas e os mais verdadeiros amantes.
As ações anteriores de Xavier deixaram claro que ele não tinha as
mesmas crenças, que fazer amor não significava para ele a mesma coisa
que significava para mim.
Eu não sabia onde isso nos deixava.
Eu o amava. Eu disse a ele, sempre que pude.
E eu pensei que ele também me amava. Mas, ao contrário de mim,
Xavier ainda não tinha proferido essas três pequenas palavras.
Como eu poderia deixá-lo amar meu corpo quando eu não sabia se ele
amava minha alma? Quando eu não sabia que não era apenas sexo? Que
eu não era apenas outra garota?
As portas do elevador abriram e eu entrei na cobertura, com meus
saltos batendo no chão de madeira.
Eu estava passando pela cozinha quando ouvi.
Uma batida rítmica.
Uma mulher gemendo.
Grunhidos masculinos profundos.
Eu parei no meio do caminho, com meu estômago revirando por um
motivo totalmente novo.
Seguindo os sons até a cozinha, parei diante da despensa. A porta
deslizante balançou com o som das batidas.
Lágrimas de repente encheram meus olhos e minha mão voou para
cobrir minha boca, para silenciar meus soluços.
Xavier estava lá com outra mulher.
A certeza disso ressoou por mim, e me cortou.
Esta estaria longe de ser a primeira vez que eu o peguei tendo um
caso, não era a primeira vez que ele exibiu suas conquistas em nosso
apartamento.
No entanto, esta foi a primeira vez que ele fez isso desde que
concordamos em tentar. Tentar dar uma chance a nós.
Parecia que ele não queria mais, como se tivesse ficado entediado
comigo, assim como, de alguma forma, sempre esperei que ele fizesse.
Furiosa, limpei as lágrimas do meu rosto.
Eu estava certa em esperar.
Xavier não se importava comigo. Ele não me ama. Nunca amou.
O idiota simplesmente amava sexo.
Eu estava furiosa, com minha mente disparada e meu coração partido,
quando as portas do elevador abriram novamente de repente, me
fazendo virar.
Fiquei boquiaberta quando Xavier entrou na cobertura.
— Olá, meu anjo, — ele cumprimentou, e então sua expressão se
desfez quando ele viu minhas bochechas manchadas de lágrimas. — O
que há de errado? O que aconteceu?
Ele largou sua bolsa na porta e cruzou a sala em minha direção, suas
sobrancelhas levantando quando ele percebeu as batidas que ecoavam
pela sala de estar.
— Isso é...?
Eu concordei.
Xavier passou por mim, alcançando a porta da despensa.
Quando o painel de vidro fosco se abriu, eu engasguei.
Lucille estava na despensa, seus braços — e pernas — envolvendo um
homem calvo com um bigode grisalho.
— Sr. Knight!
— Puta merda!
Xavier saltou para o lado, puxando-me com ele, enquanto Lucille e o
homem tropeçavam para fora da despensa, endireitando as roupas.
— Eu sinto muito, Sr. e Sra. Knight! — Lucille disse, passando as mãos
pelos cabelos despenteados. Ela tinha marcas de mãos de farinha na
frente da blusa.
— Eu, ah, — Xavier hesitou, esfregando a nuca. Suas bochechas
estavam vermelhas. Foi a primeira vez que acho que o vi perturbado.
— Este é o seu marido? — Eu disse, quebrando o silêncio
constrangedor.
Lucille acenou com a cabeça e moveu-se para segurar o braço do
homem. Então ela pareceu pensar melhor e deixou os braços caírem ao
lado do corpo.
— Sim, este é Tony. Ele estava na Itália.
Tony estendeu a mão para Xavier.
Xavier olhou para a mão de Tony, em seguida, cruzou os braços sobre
o peito.
— Por que você e Tony não vão para casa passar a noite, Lucille, —
disse Xavier, finalmente encontrando sua voz. — Eu estava pensando em
levar Angela para jantar, de qualquer maneira.
— Não, não, Sr. Knight. Eu cozinharei, — Lucille disse, voltando a se
enfiar na despensa.
— Por favor, — Xavier chamou atrás dela. — Eu insisto.
— Sim, está bem. Obrigada, Sr. Knight, — Lucille disse, enxotando o
marido em direção ao elevador.
— Boa noite, Sr. e Sra. Knight.
— Boa noite, — gritei sem jeito.
No segundo em que as portas se fecharam atrás deles, Xavier caiu na
gargalhada.
— O que foi isso? — Eu perguntei, encontrando-me rindo também,
com sua alegria contagiante. A risada foi boa, catártica, depois do
desgosto que senti apenas alguns minutos atrás.
Eu alisei as linhas do meu vestido, tentando recuperar a compostura,
tentando ignorar o quão culpada eu me sentia por presumir que era
Xavier na despensa.
Ele tinha estado bem ultimamente, mas era difícil esquecer que as
coisas nem sempre foram boas. E isso não significava que eu deva sempre
esperar o pior dele.
Isso não seria justo.
Xavier balançou a cabeça.
— Que tal um dim sum?
— Você está falando sério?
Ele assentiu.
— Não tenho como comer nesta cozinha depois de ver onde estavam
as mãos de Lucille.
Quarenta minutos depois, estávamos na parte alta da cidade em um
lugar onde Xavier sabia que eu amava.
Estávamos sentados em um pequeno banco perto da janela.
As únicas outras pessoas no restaurante eram dois idosos jogando
mahjong em uma mesa perto da caixa registradora.
— Você viu o rosto de Lucille? — Eu ri, beliscando um pedaço de
brócolis entre meus pauzinhos.
— Eu estava muito focado em não olhar para outras áreas. — Xavier
riu, mordendo algum pak choi. — Não é de admirar que você a tenha
deixado sair mais cedo ultimamente.
Eu sorri e coloquei outro bolinho na boca.
— Eu disse a ela que ela não precisava trabalhar enquanto o marido
estivesse aqui. Ela insistiu!
Xavier fez uma careta.
— Espero que eles não tenham feito isso em nenhum outro lugar da
casa. — Tudo naquele momento era perfeitamente imperfeito, um bom
curativo após a dor daquela tarde. Depois do medo de que Xavier tivesse
caído em seus velhos hábitos. O medo de que eu não tivesse sido o
suficiente para ele. Depois de tudo que passamos, eu ainda não era o
suficiente para ele.
Xavier franziu a testa, seus olhos escuros passando rapidamente entre
a comida na minha frente e ele.
— Você pensou que era eu na despensa, não é?
Respirei fundo, mas não queria mentir.
— Sim, — eu admiti.
Um músculo em sua mandíbula saltou. Então ele se virou em seu
banquinho e puxou o meu para mais perto dele para que eu me sentasse
entre suas pernas.
Eu olhei para baixo, incapaz de sustentar seu olhar intenso.
— Olhe para mim, Angela. — Ele enganchou um dedo sob meu
queixo, levantando minha cabeça.
Eu respirei fundo, deixando meus olhos correrem sobre ele — percebi
o quão ridículo seu terno Prada parecia quando ele se empoleirou na
banqueta de vinil rasgado, como metade de seu rosto ficou vermelho
pelo brilho de um letreiro de néon do lado de fora, junto com a linha
afiada de sua mandíbula e de seus lábios carnudos.
— Eu sei que estou longe de ser um santo, — Xavier começou. — Mas
eu poderia jurar por qualquer Deus que você me pedir, pra fazer você
acreditar em mim, que eu não comi uma única mulher desde antes do
Jubileu de Prata.
— Xavier. — Corei com suas palavras, enrubescendo quando a culpa
por questionar sua fidelidade borbulhou novamente.
Eu não deveria ter duvidado dele.
Eu não tinha motivo para isso.
— Não, escute. Eu não quero mais ninguém. Só você, Angela. E porra,
eu quero você. Não sei o que mais posso fazer para fazer você acreditar
em mim.
— M-mas se você está... — dei uma olhada em nossos amigos
jogadores de mahjong para ter certeza de que não estavam ouvindo — …
se masturbando, então obviamente não estou fazendo você feliz.
Xavier riu.
— Eu preferia ter mais cinco anos de punheta do que uma garota nova
na minha cama todas as noites. Eu já fiz isso. Acredite em mim quando
digo que isso é muito melhor. Você é melhor.
— E se eu for péssima na cama? — Eu soltei, enquanto preocupações
vêm à tona agora que a tampa havia sido liberada.
Xavier riu.
— Eu prometo, você não será. E se for, terei o maior prazer em lhe
ensinar algumas coisas.
Eu engoli em seco.
— Eu gostaria disso. Posso fazer algo? Você sabe. Para facilitar até que
eu esteja pronta?
Xavier gemeu, pegando seus hashis novamente e começou a arrancar
os restos de sua comida.
— Infelizmente, até o pensamento de você em calças de moletom e
uma camiseta furada parece atraente agora.
— Sem moletom, entendi. — Eu sorri, já me sentindo mais leve.
Nosso relacionamento pode não ser perfeito, mas eu tinha que
acreditar que encontraríamos nosso caminho, mesmo que não fosse o
mesmo que todo mundo.
Xavier sorriu.
— Bom, agora, você está pronta para voltar? Acho que a casa teve
tempo suficiente para arejar.
Capítulo 5
Trabalho

ANGELA

Brad: Boas notícias!

Brad: Encontrei o emprego perfeito para você.

Angela: Sério?

Brad: Com certeza!

Angela: Muito obrigada.

Brad: Você não quer saber o que é?

Angela: Claro que sim!

Brad: Planejamento de eventos.

Angela: Planejamento de eventos?

Brad: A ideia surgiu do nada.

Brad: Você fez um trabalho incrível na minha festa de


aposentadoria.

Angela: Não sei...

Brad: Você será esplêndida, minha querida!

Brad: Eu realmente acredito que você tem um talento.

Angela: Acho que posso tentar.


Brad: Maravilhoso. Você vai conhecer seu primeiro cliente hoje.

Angela: Tipo, HOJE hoje??

Brad: Sim.

Brad: Isso é um problema?

Angela: Não, não.

Angela: Envie os detalhes.

Angela: Muito obrigada pela ajuda!


Duas horas depois, eu estava sentada no Boathouse, mexendo
nervosamente no guardanapo.
Brad me disse que eu me encontraria com alguém do conselho da
Animas, uma organização sem fins lucrativos focada na preservação de
animais em extinção.
Eu não sabia nada sobre como dirigir uma organização sem fins
lucrativos, ativismo por animais em extinção, ou mesmo planejamento
de eventos para esse assunto.
Essa coisa toda estava começando a parecer um erro.
— Tem certeza de que não posso oferecer algo para beber? — o
garçom perguntou ao meu lado, parecendo um pouco irado.
— Hum... — Eu estava sentada no restaurante por quase quarenta e
cinco minutos agora. Eu estava tão nervosa que cheguei meia hora mais
cedo, e agora o cliente estava quase quinze minutos atrasado.
Abri o menu de bebidas e recitei a primeira coisa que li.
— Uma mimosa, por favor.
— Faça duas, — chamou uma voz rouca atrás de mim.
Virei na minha cadeira para ver uma mulher deslizando pelas mesas
em minha direção.
Tudo sobre como ela se apresentava era grande, de seus cachos ruivos
grossos e boca larga até seus saltos de quinze centímetros e óculos
escuros Chanel.
O garçom saiu correndo, claramente intimidado, enquanto a mulher
puxava a cadeira na minha frente e se sentava na beirada.
— Desculpe pelo atraso, Angie! — Então, entendendo minha
expressão de surpresa, ela acrescentou: — Ou você prefere Angela?
— Pode ser Angie, — eu gritei, observando seu batom laranja
brilhante e o lenço de pele quase combinando em seu pescoço. — Isso é
raposa?
— Sim, não é glamoroso? Comprei no Bamey's. — Ela estendeu uma
ponta na minha direção, como se para me encorajar a sentir o pelo.
Eu fiz uma careta.
— Perdoe-me, mas você não trabalha com ativismo animal?
A mulher riu.
— Já estava morto quando o comprei.
Eu não tinha certeza se era essa a questão, mas não parecia ser da
minha conta apontar isso.
O garçom voltou com nossas bebidas, salvando-me da minha boca
grande.
— Gostaria de pedir agora?
— Os ovos Benedict, por favor, — disse a mulher, sem abrir o
cardápio. — Mas, por favor, não cozinhe mal o presunto desta vez.
— Claro, madame. E para você? — O garçom virou para mim.
De alguma forma, nos quarenta minutos que tive de me preparar para
esse momento, não havia pensado em abrir o cardápio nenhuma vez. Eu
já estive aqui antes, com Xavier, mas ele sempre pediu a comida. Eu
agarrei por um fragmento de memória.
O que eu comi da última vez que estive aqui?
— Quiche?
Felizmente, o garçom acenou com a cabeça e desapareceu novamente.
Limpei a garganta e tirei um caderno da minha bolsa, tentando
parecer que sabia o que estava fazendo. Como se eu tivesse feito isso
antes.
— Então, Sra... — Eu congelei. Brad não me disse quem eu iria
conhecer.
— Me chame de Didi, — disse a mulher, com um grande sorriso.
Ela estendeu a mão sobre a mesa.
— Não se preocupe, Brad não sabia que eu estava vindo.
Normalmente, meu assistente lida com esse tipo de coisas, mas quando
eu soube que a Angela Knight organizaria a arrecadação de fundos, eu
sabia que tinha que conhecê-la pessoalmente.
Peguei sua mão que esperava.
— Estou honrada.
— Oh, sério, querida, a honra é minha.
Didi se recostou na cadeira e tomou um longo gole de sua mimosa.
— Então, hum... me fale sobre o evento que você está realizando, — eu
disse.
— Fazemos um evento anual, um leilão dos melhores de Nova York,
para arrecadar dinheiro para a Animas, — começou Didi. — Tudo terá de
ser organizado, desde as peças a leiloar ao bufê.
— Oh, uau, — eu disse, rabiscando suas palavras no meu caderno.
— Você não precisa se preocupar com isso ainda. — Didi sorriu.
Eu parei de escrever.
— Não?
— Não. Primeiro, quero que você organize o jantar da diretoria. É
semana que vem. Pense nisso como uma espécie de teste.
— Um teste?
— Eu preciso ver do que você é feita antes de entregar o leilão. — Didi
sorriu. — Não se preocupe, Angie. Já posso dizer que você vai se sair bem.
O garçom chegou com nossos pratos, e eu rapidamente tirei meu
caderno do caminho.
— Ovos Benedict e a quiche Lorraine.
— Então, Angie, — disse Didi, cortando seus ovos Benedict e fazendo
a gema escorrer em seu prato, — fale-me sobre você.
— Não há muito o que saber, — eu disse estendendo a mão para o
saleiro.
Didi apontou para mim com sua faca.
— Eu não posso acreditar que isso é verdade. Você é Angela Knight!
Você roubou o solteiro mais cobiçado de Nova York. Isso não é tarefa
fácil.
Havia algo em seu tom que fez meu estômago apertar.
Ciúme, talvez.
Seria possível que Didi fosse uma das muitas mulheres de Xavier? Se a
organização sem fins lucrativos para a qual ela trabalhava era uma
instituição de caridade para a qual a Knight Enterprises doava, havia
incontáveis festas de Natal e almoços que teriam fornecido a cobertura
perfeita para um romance.
Certamente Brad não me arranjaria uma das que já aqueceram a cama
de Xavier. A menos que ele não soubesse...
De repente, me peguei perguntando:
— Você conhece Xavier?
— Nossas famílias seguem os mesmos círculos, — disse Didi,
descartando a questão. — Fomos para a mesma escola particular.
Fizemos aulas no iate clube juntos. Verões nos Hamptons. Você sabe,
coisas normais.
Eu concordei. Talvez tenha sido daí que veio o senso de estilo de Didi
e seu falatório. Sempre pensei que fossem apenas peculiaridades do
próprio Xavier.
Agora eu percebi que eles podem ser sintomas de ter sido criado na
classe alta.
— Então vocês se conhecem bem? — Eu perguntei.
Didi encolheu os ombros.
— Eu suponho que já fomos próximos. Mas você sabe como é.
Eu não sabia. Em e eu éramos amigas desde que éramos crianças. Não
havia mais ninguém. E definitivamente não havia nenhum iate clube ou
fim de semana nos Hamptons.
Eu balancei a cabeça de qualquer maneira e dei uma mordida na
minha quiche para evitar elaborar.
Eu não tinha certeza do que estava acontecendo aqui. Foi uma
reunião de negócios? Uma entrevista? Brunch com uma amiga?
— Como você e Xavier se conheceram? — Didi perguntou. — Quer
dizer, já li os artigos, mas é sempre muito melhor ouvir a história da
fonte.
— Realmente era tão simples quanto isso, — eu disse a ela depois de
engolir. — Nós nos conhecemos uma tarde em uma loja de bolinhos, e o
resto é história.
— O amor verdadeiro. — Didi sorriu. — E o planejamento de eventos?
Como você entrou nisso?
— Na verdade, só recentemente descobri que tinha uma vocação para
isso, — comecei a dizer.
Parecia algo que você lia em uma revista feminina ou ouvia na HGTV.
Com sorte, algo exatamente que Didi conhecia bem.
— Eu gostaria de ter pensado nisso, — disse ela.
Eu fiz uma careta.
— O que você quer dizer?
Didi riu.
— Você não entra em organizações sem fins lucrativos pelo dinheiro,
querida. Você sabe como o jogo funciona. É tudo uma questão de
imagem.
Eu me peguei sorrindo. Era raro encontrar alguém tão franco e direto
entre os amigos e conhecidos dos Knights.
— Eu sei bem.
O brunch transformou-se em almoço e o almoço em coquetéis.
Quando eu estava voltando para casa pelo Central Park, o sol tinha
começado a se pôr.
Eu gostava de Didi. Muito. Ela estava cheia de uma paixão, motivação
e diversão, que eu sentia falta.
Nós duas não poderíamos ser mais diferentes, mas de alguma forma
sua boca ruidosa e seu cabelo grande se misturaram bem com meus
sorrisos tímidos e bochechas coradas.
Na verdade, ela me lembrava um pouco Xavier. Eles eram forças a
serem consideradas.
Talvez seja por isso que ela e eu nos demos tão bem.
Assim como com meu marido impetuoso, eu era a água para resfriar
suas chamas.
Fosse o que fosse, eu adorava estar perto dela. Ela me fez sentir
fortalecida, como se eu pudesse fazer o que quisesse, ser o que quisesse.
Quando saí do parque e fui para a rua, meu celular vibrou no bolso.

Xavier: Cadê você?

Xavier: Cheguei em casa e você não está aqui.

Angela: Desculpa!

Angela: Estou na rua.

Angela: Minha reunião demorou muito.

Xavier: Reunião???

Xavier: Deixa pra lá.

Xavier: Só se apresse.

Xavier: Tenho algumas notícias empolgantes.

Angela: Eu também!

Angela: Te vejo em um minuto.

Cheia de uma nova animação, acelerei meu passo.


Xavier ficaria orgulhoso de mim, feliz por mim. Eu tinha certeza disso.
Não só tinha encontrado um emprego aceitável, mas também estaria
trabalhando para uma de suas velhas amigas.
Quando entrei na cobertura, Xavier estava em pé, inclinado sobre a
mesa de jantar, acendendo as velas.
Pratos fumegantes de carne Kobe e legumes em juliana esperavam em
nossos lugares, embora Lucille não estivesse em lugar nenhum.
Xavier parecia ter gastado um tempo para tudo isso.
Ele ainda estava de terno, mas o paletó e a gravata estavam mais
soltos. As mangas de sua camisa estavam enroladas até os cotovelos e os
dois primeiros botões de sua camisa estavam abertos.
— Boa noite, esposa. — Ele sorriu enquanto eu caminhava em sua
direção.
— Boa noite, Xavier.
Ele beijou minha bochecha e, em seguida, se afastou para admirar
meu vestido.
— Você está linda.
— Para que tudo isso? — Eu perguntei quando ele puxou minha
cadeira.
Normalmente jantávamos juntos, mas não normalmente à luz de
velas, com música de orquestra tocando ao fundo, e raramente usando a
porcelana boa.
Xavier puxou sua própria cadeira.
— Eu disse que tinha uma surpresa, não disse?
Borboletas começaram a se agitar no meu estômago quando ele pegou
minhas mãos.
— Angela, consegui um emprego para você.
Capítulo 6
Jantar e Sobremesa

ANGELA

— Você o quê?
— Eu consegui um emprego para você, — repetiu Xavier, com seu
sorriso crescendo cada vez mais.
Ele está brincando?
Apenas alguns dias atrás, ele estava me dando um sermão sobre como
eu não precisava de um emprego. Agora ele saiu e encontrou um para
mim?
Eu abri e fechei minha boca algumas vezes, incapaz de encontrar as
palavras — quaisquer palavras — para responder.
— Lembrei-me de você me dizendo que trabalhava em uma empresa
aeroespacial quando nos conhecemos, — explicou Xavier. — Tenho um
amigo de um amigo que é CTO da SkyTech. Ele disse que há uma vaga de
estágio no departamento de engenharia e está disposto a levá-la a bordo.
— Eu o quê? Isso é loucura, — eu consegui balbuciar. Eu me inscrevi
para o estágio da SkyTech no ano passado, quando meu pai estava no
hospital e fui rejeitada.
Agora, de repente, eles me querem?
Xavier encolheu os ombros, em seguida, pegou seus utensílios.
— Seria um favor pessoal. Eu sei que você está pronta para isso.
Meu estômago se revirou e eu empurrei meu prato, de repente sem
fome. Não era minha habilidade que eles queriam. Eu era apenas um
parágrafo em uma troca de negócios. Parte da negociação. Um favor a
um amigo.
— Eu posso imaginar isso agora, — Xavier tagarelou. — Minha linda
esposa, chefe de engenharia da SkyTech.
Era disso que se tratava, Xavier me transformando em sua esposa de
sonho. Se eu precisasse de um emprego, seria um que ele aprovasse. Em
seus termos. Usando sua influência.
Contudo, isso não era sobre ele. Pela primeira vez, eu queria fazer algo
por mim mesma.
— Eu já tenho um emprego, — eu disse calmamente.
Xavier engasgou com a boca cheia de carne mal passada.
— O quê?
Sentei-me um pouco mais ereta na cadeira.
— Eu já tenho um emprego.
Ele tomou um gole de vinho tinto.
— Onde?
— Bem... eu acho que por mim mesma. Como um freelancer.
— Fazendo o quê?
Peguei meu garfo e comecei a mover os vegetais picados em meu
prato.
— Planejamento de eventos.
As sobrancelhas de Xavier se ergueram.
— Planejamento de eventos? Achei que você tivesse se formado em
engenharia mecânica.
— Sim.
Xavier deixou cair seus talheres em seu prato meio vazio.
— Então por que diabos você quer fazer planejamento de eventos?
Senti uma veia de raiva borbulhar, um mecanismo de defesa contra o
tom cada vez mais condescendente de Xavier.
— Sou boa em engenharia mecânica, mas sou muito apaixonada por
planejamento de eventos.
Xavier bufou.
— Perfeito. Então, me esforcei para garantir este emprego para você e
agora você vai jogar tudo fora para realizar seu sonho de uma semana de
se tornar uma planejadora de eventos. Você não tem experiência. Como
você vai encontrar clientes?
— Eu já tenho uma, na verdade. Eu a conheci no almoço hoje. Meu
primeiro evento está planejado para a próxima semana.
— Como você conseguiu o emprego, Angela? Não posso permitir que
você planeje bar mitzvahs para estranhos e festas de aposentadoria. Eu já
posso ver as manchetes, — Xavier rosnou.
Ele se levantou da cadeira e passou as mãos pelos cabelos enquanto
olhava para a cidade pelas janelas.
— Seu pai arrumou isso, — eu disse, me levantando também.
— Claro! — Xavier retrucou, Virando-se para me encarar. — Eu
deveria saber. Meu pai ainda tem você sob seu controle. Você é sua
pequena Eliza Doolittle.
Eu cruzei meus braços.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa que vocês dois estão sempre planejando pelas minhas
costas. Eu disse que você não precisava de um emprego e você vendeu
sua triste história para meu pai. Então ele apareceu para salvá-la, como
sempre. Você não confia em mim? Você não tem fé em mim?
— Isso não é justo, Xavier, — eu empurrei de volta. — Você não pode
fazer isso ser sobre você. Você não pode ficar com raiva de mim por
encontrar uma solução sem você.
— Pelo amor de Deus, Angela, — Xavier disse, se aproximando, — Eu
consegui um emprego para você. Eu já desisti das mulheres. Eu levo você
para sair. Tudo o que faço é ouvir você.
Eu balancei a cabeça, deixando cair meus braços.
— Bem, sinto muito por ter sido tão difícil para você.
— Angela... — Xavier se enfureceu e parou. Suas narinas dilataram-se.
Um músculo em sua mandíbula saltou.
Eu dei um passo para trás.
Xavier nunca me machucou. Nunca machucaria.
Eu sabia. Mas o olhar em seus olhos agora era perigoso.
Meus lábios se abriram, mas antes que eu pudesse me desculpar pelas
coisas que eu disse, Xavier agarrou meu braço, puxando-me contra ele e
pressionando seus lábios nos meus.
XAVIER
Angela engasgou quando nossos lábios se chocaram em uma confusão
de dentes e língua. Peguei seu lábio inferior cheio entre os dentes e
mordi com força, ganhando outra inspiração rápida.
Suas mãozinhas deslizaram pelo meu peito, segurando a gola da
minha camisa e me puxando para mais perto dela.
Mesmo que ela usasse salto, eu estava alguns centímetros acima dela,
e era difícil chegar perto o suficiente.
Já fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Já que eu tinha essa
necessidade urgente de enterrar meu pau em uma mulher.
Foder era uma coisa. Isso era fácil, divertido, independente.
O que eu precisava de Angela era muito mais...
E o fato de que ela não estava dando para mim estava me deixando
louco.
Eu coloquei minhas mãos em seu cabelo macio e deslizei minha
língua em sua boca.
Eu enlouqueceria logo se não pudesse levá-la. Se ela não me deixasse
ficar com ela.
O que mais poderia ser feito? O que mais eu poderia fazer para provar
a ela que a queria? Que eu queria que nós déssemos certo?
Uma explosão de surpresa passou por mim quando a senti abrir um
dos botões da minha camisa. Então outro.
Angela nunca deu o primeiro passo, nunca iniciou o contato. Esta foi
a primeira vez, e eu não estava longe de impedi-la.
Eu não pude conter o gemido que veio enquanto ela corria as mãos
pelo meu peito nu, enquanto suas unhas arranhavam ao longo das
marcas do meu abdômen.
Mais baixo. Muito mais baixo.
Mais duro.
Mais.
Sem quebrar o contato, coloquei um braço atrás de mim e agarrei as
costas de uma das cadeiras da sala de jantar, girando-a. Passei meu outro
braço em volta da cintura de Angela, levantando-a no meu colo enquanto
me recostava na cadeira.
Eu quase perdi o controle quando seus quadris se apertaram contra os
meus, enquanto ela colocava seus braços em volta do meu pescoço,
puxando-nos impossivelmente para mais perto.
Minhas mãos correram da cintura para as coxas, mergulhando sob a
bainha do vestido.
Angela gemeu, balançando os quadris para a frente, enquanto meus
dedos se espalharam na parte de trás de suas pernas e cravaram em sua
bunda.
Ela estava com a porra da calcinha de renda.
O tecido delicado estava praticamente implorando para ser rasgado.
Mas eu não poderia, ainda não. Ela nunca me deixou brincar tanto
antes, e eu não iria desperdiçá-lo rasgando roupas íntimas.
Em vez disso, levantei minhas mãos e peguei seus longos cachos
dourados em um punho. Gentilmente, puxei sua cabeça para o lado,
quebrando nosso contato.
Ela se jogou para mais perto, como se estivesse determinada a não
parar, e empurrou seus quadris para frente novamente.
Eu senti seu calor através do tecido do meu terno.
Não havia quase nada entre seu núcleo quente e meu pau.
— Não dá pra sentir o quanto eu te quero? — Eu sussurrei, beliscando
e beijando sua garganta.
— Sim, — ela respirou, com sua voz soando distante.
Eu trouxe minha mão livre para pegar seu seio e deslizei meu polegar
sobre a seda, sobre seu mamilo enrugado.
Enganchei meus dedos ao longo do decote profundo, puxando-o e a
renda de seu sutiã para baixo.
Quando seu seio de porcelana cheio saltou livre, puxei a cabeça de
Angela para trás e coloquei seu mamilo em minha boca.
— Xavier, — ela gemeu, sua mão apertando meu antebraço.
— Você não vai me deixar ter o que eu quero?
ANGELA
Sim, eu queria dizer a ele. Sim.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta quando Xavier
circulou sua língua em torno do meu mamilo duro.
Meus dedos agarraram seu cabelo escuro, e eu apertei meus quadris
nele, precisando sentir sua dureza contra mim. Querendo estar dentro de
mim.
Eu quero você mais do que tudo.
Neste momento, nada mais importava.
— Sim, — eu implorei. — Xavier, por favor.
Não havia outras palavras que eu pudesse usar para expressar o que eu
queria, o que eu precisava.
Estremeci quando ele deu um beijo entre meus seios, correu o nariz
pelo meu esterno, beijou a junção do meu pescoço e ombro.
— Fala que você me quer.
A ordem era dura e suave ao mesmo tempo. Como sorvete no café
quente. Ou um diamante envolto em veludo.
— Eu quero, — eu prometi.
Xavier me puxou de volta e me beijou novamente, me deixando tonta.
Eu respondi ansiosa, faminta.
Sua mão livre deslizou pela minha coxa, cada vez mais alto, até que
seu polegar percorreu a costura ao longo do centro da minha calcinha.
Eu gemi, pressionando em seu toque, e então... um telefone tocou.
Como um alarme de incêndio, trouxe a realidade para um foco rígido
e nítido.
— Ignore, — disse Xavier, apertando as mãos em volta da minha
cintura.
— Eu não posso. — Recebi muitas ligações de emergência para
ignorar o toque.
Eu me empurrei para cima e para longe dele e corri para pegar minha
bolsa em uma poltrona na sala de estar.
— Olá?
— Angela, — disse Brad da outra linha. — Só pensei em ligar e ver
como foi sua reunião hoje. Espero não estar interrompendo nada.
— Na verdade... — Eu comecei, apenas para ter minhas palavras
sumindo enquanto eu observava o olhar cheio de luxúria de Xavier, e
uma faísca familiar de medo apareceu dentro de mim. Eu trouxe a mão
aos meus lábios inchados.
O que eu fiz?
Nunca me senti tão fora de controle em toda a minha vida.
Se Brad não tivesse ligado naquele momento, poderíamos ter...
Eu engoli em seco.
Claramente, eu tomei muitas mimosas no Boathouse esta tarde.
Eu nunca poderia imaginar fazer amor depois de discutir assim. Eu
nem sabia que era possível ficar com tanta raiva de alguém e ao mesmo
tempo querer tanto esse alguém.
— Angela? — Disse Brad. — Posso ligar de volta em outra hora.
— Não, — eu disse, virando as costas para Xavier. — Pode ser agora.
Eu ouvi Xavier murmurando atrás de mim enquanto eu descia o
corredor para o meu antigo quarto. Fecho a porta atrás de mim.
— Então, como foi sua reunião? — Brad perguntou enquanto eu
pressionava minhas costas contra a porta e escorregava para o chão de
madeira. Senti minhas bochechas e pescoço corarem, meu próprio
coração batendo forte no peito.
— Bem, — eu consegui dizer. — Ótimo, na verdade.
— Que notícia maravilhosa! — Brad gritou.
— Na verdade, também tenho novidades para você, — eu disse. — Eu
encontrei uma maneira de achar um encontro para você.
Capítulo 7
Tentando

BRAD

Apesar de serem três da tarde, o restaurante estava lotado. Vi todos os


participantes do encontro rápido pela janela e hesitei.
Talvez isso não seja uma boa ideia...
Eu balancei minha cabeça. Eu estava sendo ridículo. Era apenas um
encontro, muitos encontros... como entrevistas.
Foi isso. Eu entrevistei milhares de candidatos para a Knight
Enterprises. Hoje poderia ser tão diferente?
Encontrar um bom CEO ou assistente era tão difícil quanto encontrar
um parceiro.
Só que já faz cinquenta anos desde a última vez que fiz uma entrevista
para preencher uma posição como aquela, desde que procurei uma
pessoa importante.
Eu sabia que algumas pessoas passavam por amantes como sapatos.
Mas eu nunca fui assim. Pode me chamar de antiquado, mas eu
acreditava que havia uma pessoa para todos.
Eu já tive a minha.
Mas então as palavras de Angela da noite passada voltaram flutuando
para mim. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu não precisasse encontrar
outra. Talvez eu pudesse encontrar três ou quatro.
Afinal, eu tive um punhado de assistentes antes de Ron, cada um com
suas próprias aptidões e peculiaridades, mas confiei em cada um deles da
mesma forma.
— Você está aqui para o evento de encontro rápido para idosos,
senhor?
Virei-me para encontrar uma jovem enfiando a cabeça para fora da
porta do restaurante e percebi que devo ter parecido bastante peculiar
aqui fora, espiando pela janela.
Eu respirei fundo.
— Eu, ah, sim. Suponho que sim.
— Venha então. — Ela sorriu brilhantemente e segurou a porta aberta
para mim. — Estamos prestes a começar.
Lá dentro, ela me entregou um crachá e um marcador permanente.
Rapidamente rabisquei meu primeiro nome no adesivo e, em seguida,
colei na lapela da minha jaqueta.
— Ótimo — a jovem olhou para o meu crachá — Brad. Se você puder
se sentar, vamos começar agora.
Eu examinei o restaurante.
As mesas foram dispostas individualmente, com duas cadeiras. Os
assentos estavam ocupados por homens e mulheres, a maioria com vários
tons de cabelo prateado.
Havia apenas uma cadeira aberta, em frente a uma senhora
rechonchuda com grandes óculos cor de mostarda e um cabelo curto e
inclinado.
O visual não era o mais profissional, mas ela tinha um toque artístico.
Criatividade era uma característica que descobri ser uma vantagem nos
colegas. Talvez isso não fosse tão terrível quanto eu suspeitava.
A mulher ergueu a mão e acenou ao me ver se aproximando.
— Oi!
— Olá, como vai você? — Eu sentei em frente a ela.
— Muito bem! — ela quase cantou. — Meu nome é Dorothy. Meus
amigos me chamam de Dot.
— É um prazer conhecê-la, Dot. Eu sou o Brad.
— Brad? — Seus lábios pintados de violeta se abriram. — Isso deve ser
o destino. O herói do meu último livro se chamava Brad.
— Você gosta de ler? — Imaginei.
— Oh não, eu sou uma escritora, — Dot disse.
Bem, essa era uma profissão respeitável.
— Eu conheceria algum de seus trabalhos?
Dot deu um sorriso liso e ergueu uma de suas sobrancelhas
desenhadas.
— Você gosta de erotismo ocidental?
As duas entrevistas seguintes foram tão terríveis quanto a primeira.
Cada um começou bem. As mulheres pareciam bem polidas e se
portavam bem. Mas no meio do — encontro, — eu descobriria algo
desagradável.
Se não fosse escrever pornografia, era uma relação doentia com gatos
de estimação ou uma aversão à comida espanhola.
Não havia ninguém aqui. O mais próximo que cheguei foi de vinte e
sete. na melhor das hipóteses. Tinha sido bobagem acreditar que alguma
mulher jamais seria capaz de chegar perto da perfeição da minha Amelia.
Eu estava tentando parecer interessado na última mulher me
contando sobre sua recente viagem às Bahamas quando algo chamou
minha atenção.
Virei-me para encontrar uma banda montada no canto oposto da sala
e, com eles, a cantora da minha festa de aposentadoria.
Penny, Xavier a tinha chamado.
Assim como no iate clube, de repente me vi de pé, inexplicavelmente
gravitando em sua direção.
— Perdoe-me, um momento, — eu murmurei para o meu par, sem ao
menos um segundo olhar por cima do ombro.
Eu atravessei as mesas em direção à banda.
— Com licença?
— Sim? — Penny se virou para mim. Um sorriso iluminou seu rosto.
— Oh, olá, Sr. Knight.
Eu senti minhas bochechas corarem.
Ela se lembra de mim.
— Por favor, me chame de Brad.
Ela tinha um braço em um pedestal de microfone e mudou seu peso
para colocar um de seus quadris curvilíneos para o lado.
— Tudo bem, Brad. Como está a aposentadoria?
Eu engoli em seco.
— Tenho certeza que você pode ver com base em onde estamos.
Penny riu. O som era melódico, como a brisa da primavera passando
pelas folhas.
— Acho que este lugar é adorável, — disse ela.
— Não tão adorável quanto sua voz para cantar, — eu disse.
Suas bochechas enrubesceram e eu senti meu coração palpitar como
se eu fosse trinta anos mais jovem.
— Obrigada, — disse ela.
— O que te fez querer ser cantora? — Eu perguntei.
— Oh, mas eu não sou de verdade, é apenas um trabalho de meio
período. Eu acabei de me formar na NYU, na verdade.
— Artes?
— Negócios, na verdade. — Ela riu da minha expressão de surpresa. —
Quem diria que seria difícil encontrar um emprego em finanças na Big
Apple? Certamente não eu.
— Mas parece que você pertence ao palco, — eu disse seriamente. —
Por que negócios?
— Eu entendo muito isso na verdade... — Ela ergueu o queixo,
pensativa. — Sendo sincera, prefiro muito mais estar enrolada em casa,
com uma xícara de chá ao lado da cama e um bom livro nas mãos. Mas
eu... tenho que pagar as contas de alguma forma.
— De repente, estou me sentindo muito grato por suas contas. De que
outra forma eu seria capaz de desfrutar da sua voz?
Ela riu docemente.
— Hum, obrigada?
— É uma pena que o seu público não seja muito atencioso. — Eu olhei
para a estranha coleção de idosos, suas peculiaridades e estranhezas em
plena exibição.
— Acho que é fofo, — disse Penny. — Nunca é tarde para encontrar
aquela pessoa especial. — Ela parecia melancólica e eu podia ver o leve
traço de dor escondido em seus olhos.
Suas palavras fizeram meu estômago revirar.
Talvez ela esteja certa...
— Eles parecem um grupo divertido, — acrescentou ela, tentando
iluminar o humor repentinamente sombrio.
— Eu estive fora do jogo por um tempo, mas da última vez que
verifiquei, não havia nada de divertido em jogar cribbage e ler padrões de
tricô, — respondi.
Os olhos escuros de Penny brilharam.
— Então qual é a sua ideia de diversão?
Minha resposta veio rapidamente. Não havia como pará-la.
— Eu poderia mostrar a você, se você quiser.
As sobrancelhas de Penny se ergueram e minha respiração ficou presa
no peito.
Eu fui muito ousado.
O que eu estava pensando?
Ela tinha menos da metade da minha idade.
Eu trouxe minha mão até a minha nuca, tentando encontrar as
palavras para me desculpar.
Antes que eu pudesse, Penny disse:
— Eu gostaria muito disso.
Foi a minha vez de ficar surpreso.
— Mesmo?
Penny piscou e parecia que seu cérebro estava alcançando sua boca.
Ela ficou vermelha quando acenou para o equipamento musical atrás
dela.
— Eu, uh, termino às nove, — ela gaguejou. — Se você quiser ficar por
aqui, talvez possamos pegar uma bebida...?
— Ó-ótimo. Eu vou. — Eu coloquei o polegar sobre meu ombro. —
Melhor voltar.
Ela sorriu para mim, e de repente eu senti como se tivesse criado asas
e pudesse voar.
— OK. Falo com você mais tarde, Brad.
ANGELA

— Meu Deus! — Eu disse baixinho enquanto abria caminho pela porta


do café de Dustin.
— Meu Deus mesmo! — Em respondeu atrás de mim.
O lugar estava lotado, todas as mesas ocupadas, a fila indo até a porta.
Eu nunca tinha visto isso tão ocupado.
— Nossa mesa está ocupada. — Em fez beicinho.
— Pronto, — eu disse, apontando para um sofá desleixado contra a
parede oposta, onde um casal estava vestindo os casacos.
— Eu acho que eles estão indo embora. Por que você não vai guardar a
mesa e eu vou esperar na fila para fazer o pedido?
Em acenou com a cabeça e entrou na multidão.
Eu estava animada para me encontrar com meus amigos para nossa
atualização semanal esta manhã.
Parecia que Dustin estaria muito ocupado para se juntar a nós.
Ele estava atrás do balcão com Ben, os dois em uma dança estranha
enquanto flutuavam entre a caixa registradora e a máquina de café
expresso.
Finalmente, Dustin chamou minha atenção e acenou para que eu
entrasse na caixa registradora.
— Ei, Angela!
Hesitei, sem saber se deveria deixar meu lugar na fila. Não seria justo
se eu tivesse um serviço especial só porque Dustin era meu amigo.
— Vou trazer suas bebidas, — Dustin chamou, não me deixando
escolha.
Senti alguns pares de olhos me seguirem enquanto me movia para me
juntar a Em no sofá.
Parecia que a notícia da minha cafeteria secreta favorita tinha sido
divulgada.
— Então, — Em disse enquanto eu me sentava ao lado dela, — como
vão as coisas entre você e Xavier? Você teve a conversa?
Olhei ao redor da sala ocupada. Havia muitas pessoas por perto que
podiam ouvir conversas privadas.
— Está tudo ótimo! — Eu menti. — Que tal você e Lucas?
Eu esperava que ela entendesse por que rejeitei a pergunta. Que ela
não me pressionaria por mais.
Felizmente, embora muitas vezes seja uma preocupação, Em se abriu
mais facilmente do que um livro.
— Não sei o que fazer, Angie.
— Sobre o quê?
— Lucas e eu temos tentado engravidar, — ela revelou.
— Isso é incrível, — eu disse. — Eu estou tão feliz por você!
E eu estava. Eu não conseguia pensar em nada melhor do que ter uma
sobrinha ou sobrinho correndo por aí. Mas não pude sentir a sensação de
afundar que começou a crescer no meu estômago.
Em e eu sempre estivemos na mesma página. Estivemos na mesma
turma durante todo o ensino fundamental e médio, havíamos ido para a
faculdade ao mesmo tempo e conseguido nossos primeiros empregos
com semanas de diferença.
Agora, parecia que um abismo se abriu entre nós. Em estava falando
sobre ter filhos. Eu ainda era virgem.
Quando eu fiquei tão para trás?
Em balançou a cabeça e as lágrimas encheram seus olhos.
— Não, não é. Temos tentado desde nossa lua de mel, mas não está
acontecendo. Já tentei de tudo. Parei de beber cafeína. Eu coloco meus
pés na parede depois que fazemos sexo. Estou rastreando minha
ovulação. Nada disso está funcionando.
Puxei minha amiga para um abraço.
— Ei, ei. Vai ficar tudo bem.
— E se não ficar? E se houver algo errado comigo, ou com Lucas, e não
pudermos ter filhos? — Em fungou.
— Existem outras opções, — eu disse. — Mas você está se adiantando
demais aqui, Em. Faz apenas algumas semanas. Você não pode apressar
esse tipo de coisa. Isso vai acontecer no seu devido tempo.
Em assentiu fracamente.
— Você tem razão. Estou sendo boba.
— Eu tenho algo que pode te animar, — eu disse. — Eu preciso te
contratar.
— Me contratar?
Eu concordei.
— Posso estar planejando um grande evento em algumas semanas e
vou precisar de peças centrais. Não consegui pensar em mais ninguém
que preferisse fazer os arranjos.
— Um evento? — Em disse.
— Sim, consegui minha primeira cliente, — expliquei. — Ela trabalha
na Animas. Estou organizando um jantar para eles esta semana e, se der
certo, eles me pediram para organizar sua arrecadação de fundos anual.
Foi a vez de Em me puxar para um abraço.
— São notícias fantásticas!
Dustin chegou com nossos cafés com leite. Ele colocou as canecas na
mesa e desabou no sofá entre nós.
— Então, o que eu perdi?
— Não se preocupe conosco! — Em empurrou seu braço. — Você tem
mais com o que se preocupar. Este lugar está lotado!
Dustin enxugou a testa.
— Eu sei. Já vendi três peças hoje.
Meu celular vibrou no bolso e eu rapidamente o peguei enquanto
meus amigos continuavam a bater papo.

Didi: Está tudo ótimo para o jantar!

Didi: Estou realmente impressionada!!!

Eu sorri com as mensagens.


Até agora, planejar o jantar tinha sido moleza. Tudo estava pronto. E o
mais importante, Didi parecia animada com meu trabalho.
Se as coisas continuassem assim, não havia dúvida de que também
planejaria o leilão.

Angela: Fico feliz em ouvir isso!


Didi: Há apenas algumas mudanças de última hora...

Didi: Outro convidado respondeu ao convite Didi: Então, vamos


precisar de outro lugar à mesa Didi: Ela também é vegana e
alérgica a soja.

Didi: O diretor também mudou seu voo e não vai pousar até as 7
agora.

Didi: Então a refeição precisa ser adiada em uma hora.

Meu coração afundou em meu peito quando tantas mensagens


seguidas apareceram na tela. Faltavam menos de vinte e quatro horas
para o jantar.
Como poderia terminar tudo isso a tempo?
Capítulo 8
Sem Reservas

ANGELA

Às oito da noite seguinte, eu estava sem tempo.


A hora do jantar havia chegado.
Eu andava de um lado para o outro no bar do Tavem on the Green.
O jantar estava acontecendo na Sala do Central Park. Eu podia ver a
mesa circular aparecendo e desaparecendo de vista através da porta ao
longo do outro lado do bar.
Um punhado de convidados já havia chegado e estavam servindo
coquetéis.
Ao longo da parede oposta ficava a entrada, onde o anfitrião saudava
os recém-chegados ao restaurante. Sorri quando ela passou com um
cavalheiro mais velho em um terno azul-marinho impecável. Eu
reconheci seu rosto sardento da lista de convidados.
Respire fundo, eu me lembrei.
Eu fiz tudo o que pude para cuidar da lista de mudanças de última
hora que Didi me enviou ontem à tarde. Não havia mais nada que eu
pudesse fazer agora — exceto esperar.
— Aí está você, querida!
Virei-me para encontrar Didi trotando em minha direção com saltos
de gladiador metálicos. Ela estava magnífica em seu vestido estampado
de leopardo na altura do joelho, com seus cachos ruivos de alguma forma
maiores do que da última vez que nos conhecemos.
— Você está aqui. — Eu sorri enquanto ela beijava minhas bochechas
no ar. Instantaneamente, me senti mais brilhante, como se simplesmente
estar mais perto dela me desse um impulso instantâneo de confiança.
— Todos os convidados, menos dois, já chegaram. Estão servindo
bebidas na sala principal. Assim que os dois últimos chegarem, podemos
começar com o primeiro prato e...
— Respire, Angie, — disse Didi. Ela olhou por cima do meu ombro
para a sala de jantar. — Você foi ótima. Diga aos servidores para
adicionarem outra configuração de lugar à mesa e venha se sentar.
— À mesa? — Eu hesitei.
— Por que não? — Didi riu. — Venha desfrutar dos frutos do seu
trabalho.
Eu dei a ela um grande sorriso enquanto um sentimento de orgulho
me enchia.
— Obrigada.
— Bom. Agora venha, vou apresentá-la a todos.
Depois de uma palavra rápida com o anfitrião, corri atrás de Didi para
a sala de jantar.
Ela já estava contando uma história. Os membros do conselho caíram
na gargalhada enquanto ela gesticulava descontroladamente.
Aproximei-me dela e Didi me olhou duas vezes, e então ela jogou o
braço em volta do meu ombro.
— Senhores, Margret, é um grande prazer apresentar a Sra. Angela
Knight.
Corei e dei um pequeno aceno de cabeça para os convidados que
haviam ficado em silêncio.
— Olá.
— Angela é uma planejadora de eventos extraordinária. Ela pode ser a
encarregada do leilão deste ano, — Didi continuou.
Notei alguns pares de olhos passando rapidamente entre nós.
Algumas sobrancelhas se ergueram. Girei minha aliança de casamento no
dedo e olhei para o chão.
Talvez eu devesse ter recusado o convite de Didi.
Era normal que o planejador do evento participasse da festa?
Ou foi meu sobrenome que causou a mudez de todos?
Margret — a única outra mulher à mesa — foi a primeira a quebrar o
silêncio.
— É maravilhoso ter você a bordo.
Havia dois ouvintes e os homens ergueram os copos, tilintando-os.
— Sente-se, sente-se, — pediu Didi, dando um tapinha nas costas da
cadeira ao lado daquela que ela estava antes.
Nós duas nos sentamos e os membros do conselho começaram a
conversar entre si mais uma vez. Eu examinei seus rostos, tentando
resistir à vontade de me afundar na minha cadeira.
Nunca estive perto de tantas pessoas elegantes ao mesmo tempo, e
definitivamente não enquanto tentava impressioná-los o suficiente para
ser contratada.
— Povo difícil, hein? — Didi sussurrou.
Eu ri, instantaneamente me sentindo aliviada por ela ter me puxado
para uma conversa.
— Já enfrentei pior.
— Eu não tenho dúvidas. Eu...
— Desculpe pelo atraso, — disse uma voz feminina com leve sotaque,
interrompendo Didi.
— O tráfego estava horrível.
Tive calafrios. Eu reconheci aquele tom nasal.
A mulher deu a volta para o outro lado da mesa e sentou-se em frente
à minha.
Era uma das senhoras que conheci na Festa de Gala em Paris.
Uma das garotas muito magras e de cabelos lisos com quem Xavier
tinha ido para a escola.
Quando ela empoleirou sua bunda ossuda na ponta da cadeira, seu
olhar encontrou o meu, e um sorriso liso se espalhou por seus lábios.
— Ah, a esposa. — Seus olhos afiados se voltaram para Didi. — Très
intéressant.
— Legal da sua parte se juntar a nós, Darla, — disse Didi, com uma
voz gélida.
Parecia que eu não era a única que teve um encontro desagradável
com a modelo francesa.
Pelo menos ela estava sozinha neste momento. Talvez ela fosse menos
má sem seu grupo em torno dela, apoiando-a.
Fiz sinal para um garçom que passava. Em poucos minutos, pratos de
salada estavam sendo entregues à mesa.
— Então, Angela, — disse um homem careca à minha esquerda, —
você começou a coletar os itens para o leilão?
— N-Não, ainda não. — Corei enquanto lutava para pronunciar as
palavras.
— Coletando itens? — Disse Darla.
— Se você tivesse chegado a tempo, — disse Didi, — você saberia que
Angela é a planejadora do evento que organizará o leilão deste ano.
Uma das sobrancelhas perfeitamente torneadas de Darla se ergueu.
— Você está planejando o evento? Você foi cortada das contas dos
Knights?
O homem ao meu lado riu.
Traidor.
Minhas bochechas ficaram mais vermelhas.
Felizmente, Didi veio em meu resgate novamente.
— Alguns de nós gostam de fazer mais com as nossas vidas do que
brincar de se fantasiar, Darla. — Franzi os lábios, não totalmente
chateada com Didi por fazer tal comentário, mas me sentindo culpada
pelas palavras duras.
Talvez não tenha sido uma ideia tão boa participar do jantar.
Os pratos de salada foram retirados e substituídos pelo nosso prato
principal.
Quando seu prato foi colocado diante dela, Darla franziu o nariz.
— Risoto para veganos. Que original.
— Tenho certeza de que podemos encontrar mais alface comum para
você, — disse Didi. — Eu não gostaria que você saísse da dieta.
Darla cruzou os braços e recostou-se na cadeira.
— Xavier estará presente no leilão este ano?
Eu engoli em seco, e o pedaço de batata que acabei de comer ficou
preso na minha garganta. Darla estava tramando algo. Eu sabia.
— Eu não perguntei a ele ainda.
— Espero que sim, — ela continuou. — É sempre bom ver velhos
amigos. Você não acha, Didi?
— Prefiro fazer novos, — respondeu Didi.
Darla riu.
— Acho que todos nós sabemos o quanto você é boa em fazer amigos.
O homem ao meu lado engasgou com seu lombo.
— Se não fosse, a Animas não receberia tanto destaque na imprensa,
— disparou Didi.
Darla franziu os lábios brilhantes.
— Eu poderia pensar em algumas coisas que você poderia fazer para
chegar na primeira página.
— Que tal conversarmos sobre o que poderíamos fazer para obter o
leilão na imprensa? — Margret interrompeu do outro lado da mesa,
olhando incisivamente para Darla e Didi.
O homem ao meu lado fez um pequeno ruído de desaprovação. Se era
pela conversa rápida das mulheres ou pela interrupção de Margret, eu
não tinha certeza.
Eu peguei outra batata, incapaz de evitar a sensação de que de alguma
forma eu tinha me colocado no meio de uma discussão de longa data.
Quando a sobremesa chegou e mais alguns drinques foram servidos, a
festa estava de volta aos trilhos.
Quando terminei a última mordida da minha torta de chocolate, Didi
se aproximou.
— Você realmente se superou, Angie.
Eu corei.
— Você acha?
— Com certeza. Enviarei os detalhes do leilão pela manhã.
Uma excitação borbulhou dentro de mim.
— Então eu consegui mesmo o emprego?
— Você já tinha ele. — Didi sorriu. Então sua expressão ficou mais
séria. — Sinto muito por Pepé Le Pew ali. Eu não sabia que você já tinha
tido o prazer de a conhecer.
Inclinei-me para mais perto dela.
— Obrigada por me defender.
Didi acenou com uma de suas mãos bem cuidadas.
— Foi um prazer, acredite em mim. É um campo de batalha lá fora,
Angie. Comparada com as outras mulheres que conheci, você é uma brisa
fresca. Fico feliz em te proteger.
Eu poderia voar. Saltava no ar e flutuava nas nuvens.
Didi gostou de mim, e mais do que minhas habilidades de
planejamento de eventos.
Meu primeiro instinto sobre ela estava certo. Ela era uma boa amiga.
Minha amiga.
Quando finalmente consegui sair, algumas horas depois, Marco estava
esperando por mim no Lamborghini. Depois de dar um abraço de
despedida em Didi, deslizei para o banco detrás.
— Você teve uma boa noite, Srta. Knight? — ele perguntou da frente.
— Incrível, — respondi, sorrindo. Não tinha certeza se era o
champanhe ou o fato de que a noite tinha corrido bem, mas podia jurar
que estava brilhando.
O jantar foi um sucesso. E assegurei o próximo leilão. Eu consegui.
Eu realmente consegui.
Fiz uma dancinha alegre no assento de couro.
Não conseguia me lembrar de uma vez em que me senti tão bem-
sucedida, tão confiante.
Nem mesmo ao entrar em Harvard ou passar nos exames finais havia
me sentido tão bem.
Talvez tenha sido porque eu finalmente corri um risco e saí da minha
zona de conforto. Tentei algo em que talvez não fosse boa. Me expus.
Pensei em Didi, em seu carisma e determinação.
Aposto que ela se sentia assim o tempo todo. Como um céu cheio de
estrelas. Como descer da sua montanha-russa favorita.
E ela gostava de mim, tímida, desajeitada e gaguejante.
Só que, perto dela, eu não me sentia como antes.
Eu me senti mágica. Poderosa. Como se eu pudesse fazer qualquer
coisa.
Quando o carro parou em um sinal vermelho, o brilho que senti se
transformou em um incêndio, bem no fundo da minha barriga.
Havia outra coisa que eu queria.
Alguém.
Eu venci muitos dos meus medos no evento desta noite, mas ainda
havia um obstáculo que eu precisava superar.
Seria uma pena não aproveitar a coragem líquida que corria em
minhas veias para conquistá-la também.
— Devo acompanhá-la? — Marco disse quando paramos na frente do
meu prédio.
Eu já estava na metade do caminho para fora da porta do carro.
— Não, obrigada! Tenha uma boa noite.
A viagem pelo saguão e pelo elevador foi um borrão.
Tudo que eu podia sentir era o martelar do meu coração no meu
peito, o formigamento nas pontas dos meus dedos e aquele calor
pulsante profundo no meu núcleo.
Esta noite é a noite.
Estou pronta.
Eu quero isso.
— Xavier, — chamei enquanto entrava na cobertura escura.
As luzes da sala estavam apagadas, com o brilho das luzes da cidade
entrando pelas janelas.
Entrei no corredor.
— Xavier?
Empurrei a porta de seu quarto. Nosso quarto.
Xavier estava na cama, o edredom puxado até os quadris, o laptop
equilibrado em suas pernas.
O calor pulsante em mim escureceu, aprofundou-se em uma pulsação
derretida enquanto eu observava os planos nus de seu peito.
Ele ergueu uma sobrancelha, com os olhos indo do meu peito arfante
até os dedos dos pés.
— Você chegou.
Larguei minha bolsa no chão e dei um passo em direção à beira da
cama, jogando minha perna sobre ele, montando em seus quadris.
Ele rapidamente tirou seu laptop do caminho.
— Uau, Angela.
Eu dei a ele um olhar, um que mostrou a ele minha paixão, minhas
cartas. Eu estava colocando tudo na mesa.
— Estou pronta, — eu simplesmente disse, e então esmaguei meus
lábios nos dele.
Capítulo 9
Falando em Línguas

XAVIER

Dizer que eu estava incrivelmente confuso seria um eufemismo. Os


últimos dias foram os mais difíceis.
Eu não tinha ideia do que diabos Angela queria.
Tudo o que eu fazia parecia aborrecê-la.
Ela queria sexo, mas depois ela não queria sexo.
Ela queria um emprego e ficou com raiva de mim quando eu
encontrei um.
Ela queria ser engenheira mecânica. Não, espere, uma planejadora de
eventos. Na próxima semana, provavelmente uma astronauta.
Eu não conseguia acompanhar.
Tudo que eu queria fazer era fazê-la feliz, mas estava me agarrando a
qualquer coisa tentando descobrir como.
Eu não tinha certeza se ela sabia mais alguma coisa.
Eu tinha esquecido do quão trabalhoso era todo esse maldito negócio
de ter uma namorada.
Angela saiu para o jantar que ela planejou e não voltaria até tarde.
Isso significava que finalmente tinha uma noite sozinho.
Para pensar.
Planejar.
E descobrir como diabos fazê-la feliz para que eu pudesse ter alguma
maldita paz de espírito.
Não me entenda mal. Eu me preocupava com Angela. Eu a queria em
minha vida. Mas também tornou a vida muito mais complicada.
Pior ainda, pareciamos estar num impasse na área de relacionamento
ultimamente.
Como se nós dois tivéssemos montado acampamento em lados
opostos de um rio e estivéssemos nos recusando a pular na porra de um
barco.
Eu não tinha a mínima ideia de quando o rio apareceu ou por que eu
era o único que precisava cruzá-lo. Eu nem tinha certeza do porquê de
não querer.
Tudo que eu sabia era que algo estava quebrado e eu precisava
consertar.
Foi assim que me vi — na minha primeira noite livre em meses —
fazendo a mesma coisa que fizera com todo o meu tempo livre nos
últimos meses: tentando descobrir os detalhes de como faria a pergunta.
Era mais fácil falar do que fazer.
Angela era uma romântica. Ela chorou quando assistimos Diário de
uma Paixão. Ela se importava com as coisas, como guardar sua virgindade
para O Cara Certo. Ela gostava de grandes gestos.
Eu poderia fazer grandes gestos.
Só que alugar um dirigível ou colocar sua fotografia na Times Square
não era o meu estilo. Precisava ser pessoal.
Privado.
Especial.
E eu não tinha ideia do caralho o que isso era.
Ultimamente, eu estava ainda mais confuso sobre se ela estava mesmo
pronta para dar o próximo passo. Se ela realmente queria.
Eu não era especialista em casamentos, mas tinha bastante certeza de
que a noiva não deveria ficar apavorada com a ideia de ver o pau do
noivo.
Ouvi os elevadores abrindo, em seguida, saltos altos batendo no
corredor.
Angela estava em casa. Eu rapidamente fechei as guias do meu
navegador e abri uma planilha em branco.
Ótimo, mais uma noite perdida. Eu não estava nem perto de uma
resposta.
Para piorar as coisas, eu podia sentir que estava ficando duro, como se
o pensamento dela se aproximando de mim fosse excitante.
Ela provavelmente estava num vestido sexy.
Usando várias cores vivas.
Cores que cravariam em minhas costas quando ela jogou suas pernas
sobre meus ombros enquanto eu me dirigia para dentro repetidamente,
mais e mais fundo.
— Xavier? — Sua voz me separou de meus pensamentos.
Puxei meu computador mais alto no meu colo, escondendo a
evidência da minha excitação, enquanto ela entrava no quarto.
Eu tinha razão.
Ela parecia sexy com qualquer vestido estampado de flores que a
fizesse parecer uma professora de jardim de infância muito gostosa.
Ou uma fada.
Ou alguma deusa da pureza cujo trabalho era atormentar os homens
até que entrassem em combustão devido à abstinência sexual.
— Você chegou, — eu disse, com minha voz um pouco alta.
Então, sem qualquer tipo de aviso, Angela se jogou em mim.
Em menos de um segundo, ela estava em mim. Sentada em mim.
Beijando-me.
Eu rapidamente joguei meu laptop para o lado.
Amarrando minha mão em seu cabelo, inclinei sua cabeça e, em
seguida, coloquei minha língua em sua boca.
— Estou pronta, — ela respirou, e suas mãozinhas moveram-se para
os botões de pérola na frente de seu vestido e começaram a abri-los.
Estou sonhando?
Desde quando meu anjo era tão seguro, tão confiante... tão sexy?
Mas eu não a deixaria ter toda a diversão. Eu não queria perder a
oportunidade de desembrulhá-la lentamente pela primeira vez.
Angela deixou escapar um pequeno suspiro quando eu nos virei de
repente para que ela se deitasse de costas e eu estava montado nela.
Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu que eu estava pelado
na cama. Percebi um lampejo de hesitação em seu rosto, e então suas
mãos deslizaram por minhas coxas nuas.
Soltei um gemido, meus olhos tremulando fechados com a sensação
de seus dedos traçando minha pele.
Ela está tão perto....
Eu não conseguia perder o foco.
Com um aceno de cabeça, abri meus olhos e continuei trabalhando
para baixo os botões de seu vestido.
— Você é linda, — eu disse a ela quando terminei e ela ficou nua
diante de mim.
Ela ainda estava de sutiã e calcinha, mas era o máximo dela que eu já
tinha visto de uma vez. Deixei meus olhos vagarem pelas planícies e vales
de sua pele pálida.
As marcas ao lado dos ossos do quadril.
Seus eram seios cheios, empinados e reais.
A curva de sua clavícula, onde eu podia ver a vibração de seu pulso.
— Perfeito, — eu murmurei, me abaixando sobre ela, capturando seus
lábios novamente.
Ela se mexeu embaixo de mim, quase impaciente. Senti quando ela
deslizou as mãos entre nós, até a cintura de sua calcinha, para poder tirá-
la.
Eu fiz uma careta e movi meus lábios para beijar sua linha da
mandíbula.
Angela arqueou em minha direção. No começo, achei que ela queria
se aproximar, mas então senti o tecido do sutiã deslizar entre nossos
peitos.
Em algum lugar da minha mente nublada pela luxúria, um sinal de
alerta disparou.
Eu agarrei os pulsos de Angela, prendendo-os acima de sua cabeça.
Teria sido tão fácil tomá-la. Para abrir as pernas e deslizar para dentro
dela. O velho Xavier teria.
Mas eu não fiz. Não poderia. Porque o novo Xavier se preocupava com
coisas como sentimentos, usava metáforas sobre barcos e rios e perdia
noites livres procurando maneiras de fazer sua esposa feliz.
Em vez disso, empurrei-me para trás e disse:
— O que você está fazendo?
— O que parece que estou fazendo? — Angela disse, sem fôlego, e
empurrou seus quadris contra os meus.
Deus, me dê forças.
— Pare, Angela, — eu disse, talvez um pouco duramente demais. Era
impossível para mim ser um poeta de merda com seu corpo nu
deslizando debaixo de mim. Eu precisava que ela parasse. Para me ouvir.
— Por quê? — ela disse, fazendo beicinho. — Você não quer fazer
amor comigo?
— Não.
ANGELA

A palavra ecoou em nosso quarto, me fazendo congelar.


Senti lágrimas quentes começarem a brotar em meus olhos enquanto
a rejeição corria por mim.
A confiança e a empolgação que me carregaram durante toda a noite
esvoaçaram para fora de mim.
Eu tentei me virar, me enrolar em uma bola, para escapar do corpo nu
de Xavier acima de mim. Mas não consegui. Ele se sentou firme e
decidido sobre mim, prendendo-me no lugar como uma borboleta em
uma tela.
— Merda, — disse Xavier. — Não foi isso que eu quis dizer.
Eu não pude responder. Eu não sabia como.
Xavier amava sexo. Era um de seus passatempos favoritos. E ele
simplesmente recusou.
Virou-me para baixo.
— Angela, — ele disse. Então ele praguejou novamente, liberando
minhas mãos.
Eu as trouxe para baixo e as cruzei sobre o meu peito, me escondendo
dele.
Quando Xavier falou novamente, sua voz era mais suave. Estava mais
controlado.
— Você acha que eu não quero dormir com você? Você não poderia
estar mais errada. Olhe para mim, Angela.
Eu funguei e lentamente abri um olho. Depois o outro.
O corpo nu de Xavier elevou-se sobre mim como uma estátua de
Adônis.
Meus olhos correram sobre ele, de seu cabelo desgrenhado e lábios
inchados pelo beijo, para seu peito e abdômen musculosos, para sua
masculinidade muito ereta, que de repente percebi que estava
surpreendentemente perto do meu rosto.
Eu me senti corar.
— Eu penso em foder você a cada segundo de cada dia, — ele rosnou.
— Sonho acordado com você curvada sobre a mesa do meu escritório.
Penso em deslizar meus dedos dentro de você no banco detrás do carro.
Todas as noites, quando vamos para a cama, quero te possuir.
— Então por que você não toma agora?
Xavier olhou para baixo.
— Eu quero que sua primeira vez seja especial. Eu não vou permitir
que você jogue fora assim.
Meus olhos começaram a lacrimejar novamente, por um motivo
totalmente diferente desta vez.
Xavier ouviu e se importou. O suficiente para me impedir — até de
mim mesma.
Eu ofereci a ele um pequeno sorriso.
— Como vamos continuar a partir daqui, então?
Os olhos de Xavier voltaram para os meus com um brilho perverso.
— Existem outras maneiras de nos divertirmos.
Eu engasguei quando ele se abaixou em cima de mim novamente e
beijou meu pescoço, em seguida, meu ombro.
— Isso não é o que... — eu respirei e então perdi as palavras quando
sua boca se fechou em volta do meu mamilo.
Era mais difícil se concentrar. Mais difícil de esquecer sobre como...
nós dois estávamos nus, agora que o fogo que tinha me alimentado antes
tinha ido embora.
Eu estava muito ciente de como de repente não tinha ideia do que
fazer com meus membros. Muito consciente de que minha cintura não
era nem de longe tão pequena quanto a de Darla.
Mas o que quer que ele estivesse fazendo com sua boca — sua língua
— estava me fazendo queimar de uma maneira nova, uma que eu não
tinha certeza se estava confortável.
Com as mãos em volta dos meus quadris, Xavier desceu pelo meu
corpo. Ele beijou uma trilha dos meus seios até o umbigo para...
— Xavier! — Eu me endireitei, juntando meus joelhos o melhor que
pude com ele entre eles.
— Relaxe, — ele murmurou, apertando as mãos em meus quadris.
— Mas... — Ele não poderia estar pensando em colocar seus lábios lá,
poderia?
— Por favor, deixe-me agradar você, — disse Xavier, abaixando a testa
na minha barriga.
Eu nunca tinha ouvido ele usar aquele tom antes. Nunca tinha ouvido
tanto desejo e necessidade em sua voz.
Eu fiz isso com ele?
Eu sabia que Xavier precisava de sexo, mas nunca pensei que houvesse
algo que o dirigisse além da testosterona e do desejo de dominação.
Talvez eu estivesse errada.
Talvez os olhos cheios de luxúria de Xavier e as mãos agarrando
fossem sua maneira de pedir algo mais. Sua maneira de me dizer que
queria me conhecer mais intimamente.
Não era a mesma coisa que eu queria? A mesma coisa que eu esperava
há meses?
Com uma respiração profunda, relaxei meu corpo e deitei na cama.
Xavier pareceu entender e deu um beijo lento e demorado na parte
interna de uma das minhas coxas. Depois na outra.
Abri mais minhas pernas, concedendo-lhe acesso à minha parte mais
privada.
Nunca estive tão perto de um homem antes.
Nunca deixei um homem tão perto de mim. O momento parecia
intenso, pesado e cheio de eletricidade.
A língua de Xavier disparou para fora, sacudindo contra a pérola no
ápice das minhas coxas.
Uma onda de prazer passou por mim, fazendo minhas costas
arquearem para fora da cama.
— Meu Deus...
Encorajado, Xavier grunhiu e moveu a língua mais rápido, circulando
meu clitóris.
O calor começou a crescer em meu núcleo. Meus mamilos
endureceram. Eu coloquei minha mão em seu cabelo, torcendo meus
dedos pelas mechas escuras.
Xavier moveu uma de suas mãos do meu quadril e usou seus dedos
para separar meus lábios sensíveis. Sua língua quente lambeu e depois se
lançou para dentro de mim, me fazendo gritar.
O calor se espalhou dentro de mim, pulsando, formigando, no ritmo
de seus movimentos.
Minha respiração se transformou em ofegante enquanto sua língua
continuava a se mover para dentro e para fora, perfurando-me uma e
outra vez.
— Xavier, — eu disse, com os olhos bem fechados, eu não posso.
As palavras eram absurdas. Sem significado. Elas eram a coisa mais
próxima que eu poderia usar para expressar meus sentimentos. Dizer a
ele que o calor que vinha crescendo dentro de mim era agora um inferno.
Que meu coração estava batendo mais rápido do que antes.
Que minha cabeça estava tão leve que eu tinha certeza que desmaiaria
se ele continuasse.
— Por favor, — eu implorei, arqueando-me mais perto dele. — Por
favor.
Então eu estourei.
Explodi.
Uma luz saiu de mim e preencheu a sala.
E depois, quando fiquei deitada sem fôlego e aberta como uma estrela
recém-nascida, Xavier sussurrou: — Eu te amo.
Capítulo 10
Tal pai, tal F ilho

ANGELA

Bati na porta da frente do café de Dustin. Era cedo, logo após o


amanhecer. As ruas estavam silenciosas em comparação a como estariam
em algumas horas.
Pelas janelas do café, vi a luz sobre o balcão piscar e então Dustin
correu pelo café até a porta e destrancou-a.
— Bom dia! — Eu disse enquanto entrava pela porta.
— Você está mais animada — resmungou Dustin, trancando a porta
novamente.
O café demoraria uma hora para abrir.
Acordei cedo para dar uma corrida e fiquei satisfeita quando recebi
uma mensagem de Dustin no meio do caminho, perguntando se eu
queria ir vê-lo.
Com o café tão lotado ultimamente e Dustin tão ocupado
administrando o lugar e vendendo sua arte, encontros matinais eram a
única oportunidade de nos ver.
E esta manhã era uma em que eu precisava do meu amigo.
Dustin voltou para trás do balcão e começou sua rotina. Eu subi numa
das banquetas do bar, balançando minhas pernas para frente e para trás.
— Então como foi sua noite? — Disse Dustin.
Um grande sorriso se espalhou pelos meus lábios.
— Incrível.
— Viu, eu te disse. Você é uma planejadora de eventos extraordinária.
Eu derramei um pouco de açúcar no balcão e usei meus dedos para
desenhar um pequeno coração. Não foi o jantar que tornou minha noite
tão incrível, mas eu não tinha certeza de como abordar o assunto com
Dustin. Em vez disso, eu disse: — Também fui contratada para o leilão.
Dustin se acomodou no chão, perto da geladeira, e começou a repor o
leite.
— Claro que você foi. Eles seriam estúpidos se não a contratassem. Só
a publicidade...
— Você gostaria de doar uma peça para o leilão?
Dustin ergueu os olhos.
— Sério?
— Claro, por que não? — Seu trabalho era conhecido bem o suficiente
agora. Seria um prêmio adequado e, se alguém importante o suficiente
comprasse, aumentaria a popularidade de Dustin como artista.
As sobrancelhas de Dustin se juntaram, com seu olhar caindo para o
piso de concreto polido.
— Você está sempre me ajudando. Eu me sinto um pouco mal por não
poder retribuir da mesma forma.
— Você é meu amigo, — eu disse a ele. — Isso é o que os amigos
fazem. E você me ajuda. Sua exposição foi o primeiro evento que
planejei, não foi? E você é quem me ajuda a navegar em todos os detalhes
difíceis de meu relacionamento com Xavier.
— Acho que você está certa, — ele disse, levantando-se.
— Eu sei que estou certa.
— Oh, sim! Obrigado. — Dustin bateu palmas e foi até a máquina de
café expresso. — Isso exige uma celebração.
Eu olhei para o açúcar novamente, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Há algo mais para comemorar também.
Ocupado em sua nuvem de vapor, Dustin cantarolou em resposta.
— Xavier disse 'eu te amo' na noite passada.
— O quê? — Dustin gritou — então praguejou quando o leite quente
borbulhou.
Eu sorri novamente. A mesma sensação de tontura que tive ontem à
noite estava voltando com força total. A manhã toda eu me senti
eufórica. Eu praticamente flutuei durante minha corrida.
Ele disse as três pequenas palavras que eu estava esperando.
Isso eu esperava.
Claro, ele só as disse depois de ser seduzido pelo meu corpo nu, mas
ainda assim as disse. Ele ainda me amava.
Dustin colocou dois cafés com leite no balcão.
— Eu sabia que devia haver uma razão para você estar brilhando!
Achei que fosse aquele novo hidratante que comprei para você. Mas o
amor é um tipo diferente de soro, não é? ME. CONTE. TUDO.
Inclinei-me mais perto, apoiando meus cotovelos na bancada.
— Bem, cheguei em casa depois do jantar ontem à noite e me senti
tão bem... Eu meio que me joguei em cima dele.
— ANGELA! — Dustin ofegou, cobrindo a mão com a boca.
— Eu sei. Eu sei. Mas o Xavier me parou. Disse que não queria...
Dustin me cortou.
— Aquele DESGRAÇADO!
Eu levantei um dedo.
— Não, não, foi muito gentil. Ele disse que queria esperar. Que minha
primeira vez seria especial.
— Vocês são demais. — Dustin torceu o nariz. — Só espero encontrar
alguém que me faça ficar com os olhos tão pegajosos quanto você e
Xavier.
Tomei um gole do meu café.
— Isso não é tudo. Eu meio que o deixei... ir... lá embaixo. Com sua
boca.
Dustin engasgou com a boca cheia de café.
— Me-u-De-us, — ele disse entre tosses. — Angela, sua putinha.
FINALMENTE.
Corei pelo que devia ser a milésima vez.
— Foi... indescritível. Eletrizante. Como um tiro de luz na minha
espinha.
— Então, ele é tão bom quanto se supõe. — Dustin apertou os lábios.
Eu fiz uma careta.
— Por quê?
— Ele teria que ser, para fazer você gozar em sua primeira tentativa
assim. Ou você tinha muito tesão acumulado, ou ele era bom pra caralho
— Dustin! — Eu disse, cobrindo meus olhos.
— O quê? Nem todo mundo é bom com a língua. Eu deveria saber. Eu
conheci minha porção de parafusos terríveis. Havia um cara que...
— Não quero saber, — eu disse. — Apenas me prometa que você fará
essa pintura.
Dustin concordou.
— Com certeza! Na verdade, acabei de encontrar a inspiração perfeita.
Vou começar agora.
Olhei em volta do café ainda escuro.
— Você não precisa terminar de arrumar?
Dustin revirou os olhos.
— Farei com que Ben o faça quando chegar aqui. Mas antes de entrar
na arte, quero ouvir mais sobre o seu mau comportamento.
Eu não pude evitar. E comecei a rir.

Brad: Vocês dois estão livres para jantar na próxima semana?

Angela: Basta dizer um dia e eu dou um jeito :) Xavier: Minha


única noite aberta é terça-feira.

Brad: Terça-feira seria esplêndido.

Brad: 20h no Waldorf?

Xavier: Claro Angela: Qual é a ocasião?

Brad: Bem, acho que conheci alguém especial.

Brad: Eu quero que vocês dois a conheçam.


Ó
Angela: Ótima notícia!

Angela: Ficaríamos honrados!

Xavier: O QUÊ!?

Xavier: O que você quer dizer com alguém especial?

Xavier: Uma mulher?

Xavier: Como?

Xavier: Quem é ela?

Xavier: Quanto dinheiro ela quer?

Angela: Xavier...

Brad: Por favor, filho, isso é muito importante para mim.

Brad: Você pediu para ser incluído nas conversas.

Brad: Não me faça lamentar a decisão.

Xavier: (3 emojis com carinha de tédio) Angela: Estaremos lá.

Brad: Ok.

XAVIER

Isso era ridículo. Nunca, em mil anos, eu pensaria que conheceria a


namorada do meu próprio pai.
Ele deveria encontrar minhas amigas, não o contrário.
Em vez disso, eu era o responsável. Eu era o casado. O estabelecido.
Enquanto isso, ele aparentemente estava vagando pela cidade, pegando
mulheres a torto e a direito.
Tudo parecia uma grande inversão de papéis cósmicos.
Como punição por todos os anos que passei fazendo a mesma coisa
com ele.
A única diferença era que eu tinha feito isso na casa dos vinte anos.
Não nos meus sessenta.
Não depois de mais de trinta anos de um casamento feliz.
— Nós temos que ir? — Perguntei a Angela de dentro do meu closet.
— Claro que sim, — respondeu ela da outra sala, sem pestanejar. —
Você deveria estar feliz por seu pai.
Peguei dois laços da prateleira e, em seguida, segui sua voz até o
banheiro. Ela estava sentada na penteadeira, aplicando uma leve camada
de pó dourado cintilante nas pálpebras.
— Qual o motivo para estar feliz? Ele já está apaixonado. Isso é apenas
uma aventura ridícula para chamar a atenção, — eu disse e segurei as
gravatas para sua inspeção. — Por que ele não conseguiu um cachorro
como uma pessoa idosa normal?
— O roxo, — disse Angela calmamente, e então voltou ao assunto em
questão. — É disso que se trata? Você está preocupado que a mulher vá
substituir sua mãe?
Eu cerrei meus dentes, com uma dor apertando meu peito.
— Isso é ridículo. Ninguém poderia substituir minha mãe.
Angela ergueu uma sobrancelha para mim no espelho, mas não disse
mais nada.
Joguei a gravata rejeitada na bancada do banheiro e amarrei a outra na
nuca.
— Quem você pensa que ela é, afinal?
— Talvez alguém que ele conheceu no evento de encontros rápidos, —
Angela respondeu suavemente.
Encontros o quê?!
— Como é que é?
Angela girou no banco da penteadeira.
— Algumas semanas atrás, seu pai me disse que estava se sentindo
solitário. Eu encontrei um evento de encontros rápidos para ele
participar, para que ele pudesse conhecer algumas pessoas da sua idade.
Eu puxei o nó da minha gravata com força.
— Então, isso é tudo culpa sua.
— Xavier, você pediu para ser incluído nas conversas entre eu e seu
pai. Se você quiser se manter incluído, terá que se comportar. É apenas
um jantar.
Sentei-me na beirada da banheira.
— Se fosse apenas algum doce ou jogador de bingo, eu ficaria feliz em
sentar. Mas ele a chamou de 'alguém especial', Angela. E eles se
conhecem há quanto tempo? Ela está planejando algo. Eu sei isso.
Angela balançou a cabeça.
— Você acha que todas as mulheres são más?
Dei de ombros.
— Bem, eu não acho que elas sejam todas boas, se é isso que você está
perguntando.
Ela revirou os olhos e se levantou, alisando as linhas de seu vestido
preto apertado.
— Pronto para ir?
Por um momento, não consegui responder. Eu estava muito distraído,
pensando na outra noite. Estava quase a ponto de tirar o vestido de seu
corpo e festejar sua pele novamente.
Em vez disso, balancei a cabeça e me empurrei para fora da banheira.
— Sim.
Pegamos nossos casacos e saímos, onde Marco estava esperando no
Audi.
— O Waldorf, — eu disse a ele enquanto Angela e eu subíamos no
banco de trás. Então, quando entramos no trânsito, eu disse: — Você não
acha que eles vão se casar, é?
— Não, parece que ele só quer que a conheçamos, — disse Angela. Ela
agarrou minha mão, segurando-a com as suas. — Por favor, não se
preocupe tanto. É só um jantar. Você deveria estar feliz por ele estar feliz.
Eu sabia disso, eu sabia, mas não pude evitar de sentir que algo daria
terrivelmente errado.
As coisas estavam melhorando entre mim e Angela.
Eu não fui um desgraçado sortudo o suficiente para ter tudo na vida
dando certo. Algo aconteceria. Sempre era assim.
— Vou me comportar, — prometi quando paramos em frente ao
famoso hotel.
Respirei fundo para me equilibrar. Negociei com grandes empresários.
Almocei com Zuckerberg e Jobs. Eu poderia lidar com o jantar com uma
velhinha gentil.
De mãos dadas, entramos.
— Mesa para Knight, — eu disse à recepcionista do restaurante
Peacock Alley do hotel.
— Por aqui, — ela disse, nos levando para o labirinto de mesas.
Com o estômago apertando em um nó, examinei os rostos dos
clientes. Finalmente, encontrei o sorriso familiar do meu pai. Ele estava
rindo, com o braço em volta dos ombros de...
Eu parei no meio do caminho, puxando Angela junto comigo.
— Precisamos sair. Agora, — eu disse.
— O quê? Por quê? — Angela perguntou.
Eu concordei.
Angela esticou o pescoço, seguindo meu gesto.
— Oh.
Oh estava certo pra caralho.
Não era uma vovó doce e velha assando biscoitos que meu pai estava
segurando.
Era Penny de pele caramelo, bunda gorda e lábios deliciosos.
A garota com quem eu costumava transar.
Capítulo 11
Segundos

ANGELA

— Não, — disse Xavier, dando um passo para trás e cruzando os


braços sobre o meu peito. — Eu não vou lá.
Olhei para as pessoas à nossa volta, para a recepcionista que havia
parado para nos esperar.
— Não seja bobo, Xavier. Nós temos que ir. Dissemos que iríamos.
— Você me prometeu que seria a avó de alguém. — Ele apontou um
dedo em direção à mesa onde seu pai estava sentado. — Isso não é vovó
de ninguém. É a Penny.
— Eu sei, — eu disse a ele, me aproximando, baixando minha voz. —
Por favor, vamos apenas examinar e ver o que eles dizem. Eles já nos
viram de qualquer maneira.
Honestamente, fiquei tão surpresa quanto Xavier ao ver Penny
sentada à mesa com Brad.
Eu sabia que devia a eles o benefício da dúvida.
Talvez o relacionamento deles fosse platônico. Talvez eles fossem
apenas amigos. Talvez não fossem, mas quem era eu para julgar?
Xavier franziu o cenho.
— Por favor, — eu disse. — Por mim?
Suas narinas dilataram-se, um músculo em sua mandíbula saltou e ele
disse: — Tudo bem.
Eu dei um pequeno sorriso para a anfitriã, e ela começou a nos
conduzir em direção ao outro casal.
— Angela, Xavier, — anunciou Brad quando nos aproximamos da
mesa. Ele abriu os braços, levantando-se de um salto.
— É bom ver você, — eu disse a Brad quando nos abraçamos.
— Obrigado por terem vindo, — ele disse. — Eu gostaria de apresentá-
los à minha namorada, Penny. Eu acredito que vocês já se conheciam
antes.
— Essa é uma maneira de dizer, — ouvi Xavier murmurar ao meu
lado.
Tanto esforço para serem apenas amigos e deu nisso.
Lentamente, Penny ficou ao lado de Brad. Ela estava deslumbrante em
seu vestido prateado, e se o sorriso em seu rosto era alguma indicação,
ela estava feliz. Realmente, genuinamente feliz.
Eu passei meus braços em volta dela também.
— Bom te ver de novo.
— Bom te ver também, — ela disse e então olhou por cima do meu
ombro. — E você, Xavier.
Xavier não respondeu. Ele simplesmente se deixou cair na cadeira
mais próxima e acenou para um garçom que passava.
— Vodka. Pura. Com limão.
— Então, — eu disse enquanto o resto de nós tomava nossos assentos,
— como vocês dois, ah, se conheceram?
Parecia uma pergunta natural. Mesmo que eu conhecesse Penny por
um tempo já, eu não sabia como ela e o pai de Xavier se cruzaram de uma
maneira... íntima.
— Bem, é claro que nos conhecemos na festa da minha aposentadoria,
— começou Brad, pegando a mão de Penny. — Mas então nós nos
encontramos naquele evento de encontros rápidos para o qual você me
inscreveu, Angela. E somos inseparáveis desde então.
Eu levantei minhas sobrancelhas e olhei para Penny.
— Você estava em um evento de encontro rápido para idosos?
— Onde mais ela encontraria sugar daddies? — Xavier disse baixinho.
Penny riu levemente, embora eu vi um breve flash de desconforto em
seus olhos.
— Não, minha banda estava tocando no mesmo restaurante. Eu cantei
na hora do coquetel.
— Não consegui tirar minhas mãos dela desde então — disse Brad,
beijando as costas da mão dela. — Minha Penny da sorte.
O garçom chegou então com a bebida de Xavier. Xavier o arrancou das
mãos trêmulas do garçom e bebeu o copo de um só gole.
— Outro por favor.
— Isso é maravilhoso, — eu disse ao casal à nossa frente. — Mesmo.
Parabéns.
Brad sorriu para Penny, e os dois compartilharam um olhar tão íntimo
que eu tive que desviar o olhar. Corei, com meus olhos fixos no meu colo.
Eu quase teria preferido que eles tivessem apenas começado a
namorar em vez disso.
Foi bom ver Brad tão feliz. Mas eu tinha que admitir que era um
pouco demais.
Segurar a mão de Xavier em público me fez corar.
E mesmo que Brad e Penny não estivessem tecnicamente fazendo
demonstrações públicas de afeto... os dois deveriam ter guardado isso
para quando estivessem sozinhos.
Especialmente quando os conhecemos como um casal pela primeira
vez.
Especialmente quando Xavier parecia mais prestes a explodir a cada
segundo que passava...
Havia outros pontos de interrogação surgindo também. Mais
sombrios.
O tipo de pergunta que eu tinha quase certeza de que arruinaria
alguns casais.
Brad sabia que Penny e Xavier dormiram juntos?
Ele sabia que ela era a ex-namorada de Jacques?
Jacques, que havia sequestrado e tentado me estuprar?
Ele não poderia saber, não é?
XAVIER

Engoli minha terceira vodca.


Eu não aguentava ver meu pai olhar para Penny daquele jeito, com os
olhos arregalados.
Como se ela realmente significasse algo para ele.
Como se ela fosse uma substituta da mamãe.
Eu sabia que este jantar era um erro desde o início, mas isso era muito
pior do que eu poderia ter imaginado.
Não só papai se apaixonou por alguém que tinha menos da metade de
sua idade, como ele escolheu uma das mulheres com quem eu estive em
mais de uma ocasião.
Memórias de Penny continuavam passando pela minha mente.
Memórias de seus lábios em volta do meu pau, de sua bunda gorda
balançando enquanto eu metia nela, dela gemendo meu nome, seus
dedos arranhando minhas costas.
Então as memórias mudaram. E não era em mim que suas mãos e
lábios estavam; era em meu pai.
Bati meu copo vazio na mesa e peguei o vinho de Angela.
Não havia bebida suficiente em todo o maldito mundo para isso. Esse
era o tipo de coisa que levou anos de terapia e drogas pesadas para
endireitar.
Ele não sabia, não é?
Meu pai não era tão fodido.
Mas Penny sabia.
Ela contou a ele?
Ele se importou?
Ele gostou?
Tomei um longo gole de vinho tinto e girei em volta da boca.
— Xavier, — Angela sussurrou ao meu lado depois que ela terminou
de colocar seu pedido.
Ela estava preocupada.
Ela estava sempre preocupada.
Por mim ou sobre mim.
Eu não tinha certeza de qual era dessa vez. Talvez ambos.
Eu não queria sua pena. Seu conforto. Eu só precisava que isso
acabasse. Rapidamente.
Então, assim que o garçom desapareceu, olhei Penny nos olhos e falei.
— Ele sabe a verdade?
ANGELA

Minha respiração ficou presa na minha garganta quando o silêncio


caiu sobre a mesa, com a pergunta de Xavier pairando no ar.
— Xavier, não, — eu disse e estendi a mão para colocar minha mão em
sua perna.
Penny pigarreou.
— Está tudo bem, Angela.
— Não, não está tudo bem, porra, — Xavier cuspiu. — Ele sabe?
— Filho, por favor, — disse Brad, olhando em volta para se certificar
de que ninguém nos ouvia. — Este dificilmente é o lugar...
— Você escolheu este lugar, pai. — Xavier zombou. — Foi você quem
decidiu me dizer que estava namorando de novo, em público. Foi você
quem escolheu uma mulher três vezes mais jovem do que você.
— Eu acho que talvez seja hora de ir, — eu sugeri suavemente,
colocando a mão em seu ombro.
Se as pessoas não estivessem olhando antes, estavam agora, atraídas
pelos gritos de Xavier. Metade do restaurante estava nos observando.
Assistindo Xavier.
— Não, — disse Xavier, encolhendo os ombros. — Devemos nos
conhecer, vamos nos conhecer. — Com o canto do olho, percebi um
movimento. Quando me virei para o outro lado da sala, meu estômago
despencou.
Tínhamos chamado a atenção de mais do que apenas alguns clientes
do restaurante.
— Xavier… — eu comecei novamente. Eu tive que contar a ele. Para
avisá-lo. Havia um homem, meio escondido atrás de um pilar, com um
celular apontado para nós.
Mas Xavier não tinha interesse em ouvir.
XAVIER
— Que tal eu te contar o quão bem Penny e eu nos conhecemos,
hmm? — Eu sorri diabolicamente.
— Você contou a ele sobre o auditório na NYU? Ou que tal quando
você e eu trepamos secretamente na biblioteca?
Penny engasgou, de repente tendo a decência de parecer tão
indignada quanto eu.
— Como você ousa, Xavier.
— Eu? Como você ousa! Você sabia que ele era meu pai.
— Por que não falamos sobre isso mais tarde, Xavier, — meu pai disse,
puxando Penny para ele. Protegendo a puta oportunista de mim.
Ele não viu o que ela estava fazendo? Quem ela era?
Ela não o amava. Ela amava seu dinheiro.
Meu pai já teve o amor de sua vida.
Isso não era nada além de sexo e mentiras, e eu não iria deixá-los
acreditar em mais nada.
— Não, vamos falar sobre isso agora, — eu atirei de volta.
A fúria estava borbulhando agora. Impossível de conter. Abastecido
por vodka e palitos de pão de parmesão.
— Vamos falar sobre o fato de que você está namorando uma mulher
com quem eu transei. Que fiz gritar de prazer. Que me implorou para
gozar dentro dela.
— Você cruzou a linha, Xavier! — Papai disse, com o rosto vermelho.
Ao lado dele, Penny assistia com olhos arregalados. Ela passou os
braços em volta da cintura — como se de repente tivesse escolhido ser
modesta.
Ser a porra de um ser humano decente.
Bem, era tarde demais.
— Não, são vocês dois que cruzaram, — eu cuspi de volta.
— Xavier, — Angela sussurrou novamente ao meu lado. Eu a senti
puxar a manga do meu casaco.
Com minha sorte, minha esposa provavelmente ficou do lado deles.
Provavelmente comprou suas mentiras.
Eu era a única pessoa que conseguia ver essa situação com clareza?
ANGELA

O homem com o telefone havia se aproximado agora. Ele estava a


apenas algumas mesas de distância.
Xavier estava fazendo um espetáculo tão grande que o homem não
precisava esconder. Não havia um único olho no restaurante olhando
para o cinegrafista. Porque todos eles estavam olhando para nós.
Eu sabia que minhas bochechas ficariam vermelhas, com a atenção e a
vergonha pelas ações de Xavier.
Há muito tempo não estivemos em uma situação que fizesse com que
a raiva de Xavier se manifestasse. Eu quase tinha esquecido o quão
incontroláveis seus acessos de raiva eram.
Só que, desta vez, eu só poderia culpá-lo pela metade.
Ele estava sofrendo. Eu pude ver isso.
Não esperava que uma criança aceitasse bem o namoro de um dos
pais com alguém jovem, muito menos quando era alguém com quem eles
próprios namoraram primeiro.
Não importava quem estava certo ou errado, eu precisava fazer com
que Xavier se acalmasse, antes que ele fizesse algo de que realmente se
arrependesse.
— Xavier, tem gente assistindo, — eu disse e agarrei sua mão,
apertando com força, fazendo-o olhar para mim.
Seus olhos escuros brilharam nos meus por um segundo, apenas para
atirar de volta para seu pai.
— Você quer Angela também, não é?
Fiquei boquiaberta.
— Você está sempre falando sobre como ela é parecida com minha
mãe, — Xavier continuou. — Você está morrendo de vontade de transar
com ela.
— Já basta disso, Xavier. Saia agora. Antes de envergonhar ainda mais
esta família, — disse Brad ao filho.
— Não se preocupe, — disse Xavier, levantando-se e jogando o
guardanapo sobre a mesa. — Você e aquela prostituta já causaram mais
constrangimento a esta família do que eu jamais poderia.
Antes que alguém tivesse a chance de responder, Penny se levantou da
mesa e deu um tapa no rosto de Xavier.
Câmeras piscaram. Pessoas aplaudiram.
Penny saiu correndo no meio da multidão, Brad logo atrás dela. Xavier
saiu furioso na direção oposta.
Afundei ainda mais em meu assento quando três garçons chegaram,
com os braços cheios de pratos quentes.
— O Peixe?
Capítulo 12
As Línguas do amor

ANGELA

Didi: O que diabos está acontecendo?!

Didi: Damas dos Knights: Pai e filho brigam por amantes em


comum. Xavier Knight estava indignado ontem... The Hourly Post
(Publicado 1h) Angela: Eu sei, parece ruim.
Angela: Mas tenho tudo sob controle.

Didi: Brad está dormindo com a ex de Xavier? Só quando você


pensou que as coisas com a família favorita de Nova York não
poderiam... NEW YORK MINUTE (Publicado 6h) Didi: Knights em
um sonho freudiano! Os clientes do restaurante Peacock puderam
desfrutar de um show e tanto... The Evening News (Publicado 3h) Didi:
Xavier protege Angela de um pai louco por sexo! Xavier Knight
foi forçado a proteger Angela de seu pai depois de Brad... The
New York Prophet. (Publicado 6h) Didi: Isso não parece estar sob
controle Didi: Não posso ter o leilão perto de má imprensa como
esta Angela: Que tal nos encontrarmos esta tarde?

Angela: Posso mostrar meu plano de ação.

Didi: Ok, venha ao meu escritório às 13h Deixei cair o celular na


cama ao meu lado e gemi.
Meu celular ficou aceso durante toda a manhã com alertas de notícias.
Se isso não fosse terrível o suficiente, minha família também estava
me enviando mensagens, perguntando se o que eles tinham visto nas
notícias era verdade.
Você e Xavier estão bem?
Aquele desgraçado está te traindo?
Por que você não volta um pouco para casa para comer?
SANTO DRAMA! Venha me ver no café
Agora, acima de tudo, meu trabalho pode estar comprometido. Eu
nem tinha pensado no fato de que Didi poderia encontrar as fotos. Que
ela poderia decidir me tirar do evento.
Estendi minha mão para o outro lado da cama, o lado de Xavier, o
lado vazio.
Ele saiu cedo esta manhã, antes do amanhecer, sem dúvida para tentar
se antecipar a esse pesadelo de relações públicas.
Eu tentei falar com ele na noite passada sobre tudo o que tinha
acontecido, mas ele não queria ouvir. Ele estava muito cheio de raiva
para pensar com clareza.
Essa seria uma conversa para hoje à noite, quando as coisas estivessem
esperançosamente mais calmas.
Tendo adiado o dia por muito tempo, joguei para trás os cobertores e
saí da cama. Eu só tinha uma hora restante até que eu tivesse que
encontrar Didi.

— Angie. — Didi cumprimentou sem levantar os olhos quando


apareci na porta aberta de seu escritório. — Por favor, entre. Feche a
porta.
A sede da Animas era uma fábrica modesta e reaproveitada em
Tribeca.
Uma recepcionista me conduziu por um espaço aberto e arejado até
um pequeno escritório no segundo andar.
— Obrigada, — eu respondi, fechando a porta de metal.
Sentei-me na cadeira do lado oposto da mesa de Didi.
Depois da escrivaninha, um cabideiro e uma planta de casa no canto
da sala, havia pouco espaço para mais.
Eu examinei sua mesa desordenada. Documentos e pastas de arquivos
de todos os tipos diferentes espalhados e empilhados na superfície.
Apontei para uma foto emoldurada de uma menina de cabelo de fogo
no canto oposto da mesa.
— Quem é?
— Minha filha, — disse Didi, largando o arquivo que estava lendo.
Demorou um pouco mais do que deveria para responder.
— Ela é linda.
Aqui neste escritório, Didi não era a mulher de negócios com voz de
aço com a qual eu havia me acostumado. Ela era mais suave de alguma
forma, mais humana.
— Então, o leilão, — disse. — Faltam apenas algumas semanas agora.
Eu concordei.
— Sim, quase tudo está definido. As doações, flores, bufê...
— Sim, sim, — disse Didi. — Eu li todos os seus e-mails. Tudo parece
esplêndido.
— Então o que você quer discutir?
— As notícias desta manhã, — disse Didi.
Eu olhei para o meu colo.
— Sim, eu sei que parece ruim, mas a equipe de relações públicas de
Xavier está nisso. A coisa toda será esquecida muito antes do leilão.
Didi recostou-se na cadeira.
— Eu sei como isso funciona. Afinal, estou em marketing. Além disso,
eu mesma fiz manchetes uma ou duas vezes.
— Então, sobre o que é essa reunião? — Eu fiz uma careta.
— Você. — Didi sorriu, caindo para frente para apoiar os cotovelos na
mesa. — Eu só queria saber se você estava bem. Eu sei que pode ser
muito... tudo isso. Especialmente se você não cresceu com isso.
Senti o primeiro sinal de lágrimas formigando em meus olhos e um
desejo irresistível de abraçar a mulher à minha frente.
Ela poderia estar gritando comigo sobre o mal que as notícias fizeram.
Ela poderia ter me despedido. Em vez disso, ela queria saber se eu estava
bem.
— Tem acontecido muita coisa ultimamente, — eu me peguei
admitindo.
Pode não ter sido apropriado abrir-me para um cliente assim, mas foi
muito bom conversar com alguém que não estava envolvido na situação.
Para alguém que não era tendencioso para Xavier ou para mim.
Didi acenou com a cabeça.
— Você falou com Xavier sobre alguma coisa?
— Eu tento, mas... mas as coisas têm estado um pouco estranhas entre
nós ultimamente.
— Estranho como? — Didi franziu a testa.
Hesitei por um segundo, me perguntando se seria uma boa ideia
entrar em tudo isso. Mas Didi tinha sido uma boa amiga. Ela me
contratou para o leilão e me defendeu da Darla. Ela se importou.
Respirei fundo.
— Não nos conhecíamos muito bem antes de nos casarmos, e acho
que isso está chegando até nós agora. Tem sido difícil se comunicar sobre
as coisas. Cada vez que conversamos, parece que não nos entendemos. Só
quero sentir que estamos na mesma página.
— Vou te contar uma coisa que minha mãe me ensinou, — disse Didi,
sua voz séria voltando. — Ela costumava dizer que o amor é falado em
várias línguas. Algumas pessoas através do toque, outras através das
palavras, algumas com presentes.
— Às vezes os relacionamentos se desintegram, mesmo quando duas
pessoas se amam muito, simplesmente porque não entendem como
expressar o que sentem para que seu parceiro os compreenda.
Uma expressão coquete encheu seu rosto.
— Se Xavier é como eu me lembro dele, ele é uma pessoa muito física.
Aposto que ele precisa de expressões físicas para se sentir amado.
Eu corei.
— Expressões físicas?
Didi encolheu os ombros.
— Sim. Afagos, beijos, sexo.
Ela riu, seus olhos nas minhas bochechas.
— Se a cor do seu rosto é alguma indicação, eu diria que você tem
uma linguagem de amor diferente.
Eu balancei a cabeça, corando ainda mais.
Didi suspirou.
— Se você quer se comunicar bem, aprenda a falar a mesma língua.
Ou, pelo menos, para falar duas.
Eu deixei suas palavras pairarem sobre mim.
Pensei em como Xavier parecia precisar de estimulação sexual mais do
que precisava de ar para respirar.
Palavras quase nunca eram suficientes para acalmá-lo, mas o toque
físico poderia mudar seu humor em um piscar de olhos.
Talvez houvesse algo de verdade nisso.
Talvez eu não tivesse dito a Xavier que o amava da maneira certa.
Talvez fosse por isso que parecíamos estar constantemente à beira de
uma briga nas últimas semanas.
Meu coração doeu com esse pensamento. Xavier estava chateado,
magoado, e eu não estava ao seu lado da maneira que ele precisava que
eu estivesse.
Isso tudo mudaria esta noite.
Eu estaria ao seu lado.
Eu iria mostrar a ele como me sentia de uma forma que ele
entendesse.

Já era tarde da noite quando cheguei em casa.


Depois do meu encontro com Didi, eu me encontrei com Em e Dustin
no café para dissipar todos os rumores que eles leram online.
Eu também soube que Em e Lucas encontraram uma clínica de
fertilidade e que Dustin estava quase terminando sua peça para o leilão.
Mas ele estava sendo reservado sobre isso e não me deu nenhuma
pista sobre o que a peça se tratava.
— Olá, Lucille, — chamei enquanto entrava na cobertura.
Nossa empregada estava na pia da cozinha lavando batatas.
— Boa noite, Sra. Knight. O Sr. Knight está em seu escritório.
— Ótimo, obrigada, — eu disse a ela, descendo o corredor. Larguei
minha bolsa em nosso quarto e depois me dirigi ao final do corredor,
para o escritório.
Precisávamos conversar sobre a noite passada e não parecia haver um
momento melhor do que o presente.
O jantar estaria pronto em breve, e se não falássemos agora, isso
significaria outra refeição em silêncio.
Bati de leve à porta do escritório, começando a abrir quando um
grunhido respondeu.
Xavier estava sentado na mesa com tampo de vidro, seu computador
aberto na frente dele. Seus olhos piscaram para mim, e ele apontou para
sua orelha, para os fones de ouvido sem fio aninhados ali. Ele estava em
uma ligação.
— Eu não me importo quanto custa, — Xavier rugiu para a pessoa na
linha. — Quero que o vídeo seja removido do site deles. Dê a eles o que
for necessário.
Cruzei a sala e girei minha aliança de casamento ao redor do meu
dedo enquanto esperava ao lado de Xavier.
Então as palavras de Didi voltaram para mim.
Se eu quisesse ter a melhor chance de essa conversa correr bem,
precisava falar com Xavier de uma forma que ele entendesse.
Respirando fundo, joguei minha perna sobre a de Xavier, montando
em seu colo e separando-o de seu computador.
Ele não gritou ou me empurrou. Em vez disso, uma de suas
sobrancelhas se ergueu, sua mão pousou na minha perna.
— S-sim, isso vai ficar bom. Diga-me assim que terminar.
Com a mão livre, Xavier puxou os fones de ouvido e os jogou sobre a
mesa atrás de mim.
Seus olhos correram por mim, lábios se curvando em um pequeno
sorriso.
— O que eu fiz para merecer essa surpresa?
— Precisamos conversar, — eu disse antes de perder a coragem. Antes
que ele pudesse me distrair com seus lábios ou dedos.
Xavier soltou um longo suspiro.
— Nós já estamos.
— Ontem à noite — eu comecei, arrancando um dos botões de sua
camisa.
— Eu sei. Eu... — Ele parou, pressionando os lábios em uma linha fina.
Eu apliquei minhas mãos contra seu peito e as deixei deslizar para
cima e ao redor de seu pescoço.
— Tudo bem. Eu também fiquei surpresa. É demais para absorver.
— Ele nunca esteve com ninguém além da minha mãe, — admitiu
Xavier, mantendo meus olhos firmes. — E Penny não é nada parecida
com minha mãe.
— Eu sei que é difícil, — eu disse gentilmente. — Mas seu pai fez tudo
por você, Xavier. E para o bem ou para o mal, ele é a razão de estarmos
juntos.
Xavier se inclinou para frente, descansando a testa no meu ombro e
envolvendo os braços em volta de mim.
— Por que tem que ser ela?
Eu coloquei meus dedos em seus cabelos.
— Os dois pareciam felizes. Acho que devemos pelo menos tentar
estar feliz por eles.
— Ela é a ex-namorada de Jacques, — ele disse suavemente. — Como
você está bem com isso?
Eu soltei um suspiro.
— Você não pode escolher quem você ama, Xavier. Além disso, ela
terminou com ele, certo? Tenho certeza de que deve ter exigido muita
coragem... especialmente depois do que você me contou sobre eles.
Xavier me contou sobre como Penny ficou com Jacques por muito
tempo, apesar de seu abuso.
Meu coração doeu por ela.
Eu definitivamente poderia simpatizar com cuidar de alguém que te
machucou.
Eu sorri para Xavier.
Especialmente quando você podia ver o que havia de bom dentro
deles, tentando sair...
Ele me observou em silêncio e me perguntei o que se passava em sua
mente.
— Penny passou por muita dor de cabeça, Xavier. Ela está apenas
tentando ser feliz... e todo mundo merece isso.
Xavier cantarolou em resposta. Não estava bem concordando, mas ele
não estava gritando ou quebrando coisas também.
— Eu quero me desculpar, — ele disse, se afastando. Seus olhos
escuros seguraram os meus. — Pelo que eu disse sobre você ontem à
noite também. Por ignorar você.
Eu sorri.
— Acho que você aprendeu a lição.
Xavier gemeu, deixando sua cabeça cair para trás contra a cadeira do
escritório.
— Você não tem ideia de quanto foi uma dor de cabeça hoje.
Normalmente, meu pai lida com toda essa merda de relações públicas,
mas ele não atendia minhas ligações.
— Bem feito para você, — eu brinquei e então imediatamente me
arrependi, quando a expressão de Xavier escureceu.
— O que é que foi isso? — ele perguntou, inclinando-se para frente
para morder meu ombro de brincadeira. — Angela Knight acabou de
dizer algo maldoso?
Eu ri, tentando me livrar de seu aperto, apenas para ter Xavier
apertando seus braços em volta de mim.
— Eu acho que não, — ele rosnou, suas mordidas se transformando
em beijos.
— Xavier! — Eu chorei quando seus dedos se moveram para minhas
costelas.
Então meu celular vibrou na bolsa.
Xavier ergueu a sobrancelha provocativamente, mas parou seu ataque,
me deixando pegar meu telefone.

Em: Eu preciso que você me leve ao hospital Angela: O que há de


errado?

Em: É o Lucas.

Em: Ele sofreu um acidente de carro.

Angela: Já estou indo.


Capítulo 13
P ronto ou Não

ANGELA

Eu estava esperando no Hospital Mount Sinai por duas horas quando


Lucas e Em finalmente entraram na sala de espera.
No segundo que os vi, pulei da cadeira e joguei meus braços em volta
do meu irmão.
— Oh meu Deus, você está bem?
— Estou bem, Angie, — disse Lucas, me apertando com força. —
Apenas alguns arranhões e hematomas. Os médicos só queriam ter
certeza de que minha cabeça estava bem.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, dando um passo para trás.
Havia uma bandagem em sua têmpora e alguns pontos em seu
antebraço.
— Algum idiota não leu a placa de pare, — disse Lucas. — Ele estava
em pior estado do que eu, pobre coitado.
— Você precisa ficar para mais exames? — Eu me preocupei.
— Não, o doutor disse que estou pronto para voltar pra casa — Lucas
assegurou, estremecendo ao colocar o braço sobre os ombros de Em.
Ela se enrolou ao lado dele, parecendo cerca de cem vezes mais calma
do que quando eu a peguei e a trouxe para o hospital.
Eu sabia muito bem como era receber uma chamada de emergência
no meio da noite.
Era fácil imaginar que o pior havia acontecido e que você nunca mais
veria seu ente querido.
— Bem, vamos levar vocês dois para casa então, — eu disse, ocupando
o lugar do lado livre do meu irmão e passando meu braço em volta de sua
cintura. — Apenas me dê dois minutos para fazer uma parada no
caminho.
Eu os conduzi em direção à saída e, após um breve desvio na cafeteria
do hospital, para o ar fresco da primavera.
Marco esperava no Audi, em frente ao hospital.
Xavier estava determinado a vir comigo para o hospital.
Ele só foi convencido a ficar e terminar seu trabalho quando eu
prometi que deixaria Marco me levar.
Já passava da meia-noite e Marco ainda não tinha chegado em casa.
— Você pode nos levar para a casa de Em, por favor, Marco? — Eu
perguntei ao motorista enquanto nos amontoamos no banco detrás.
Estendi a mão e entreguei a ele o café que comprei ao sair.
— Obrigada.
— O prazer é meu, Srta. Knight, — respondeu Marco, aceitando o
copo de isopor. Ele acenou com a cabeça em agradecimento e então
tomou um grande gole de café e saiu para a rua.
— Há algumas más notícias, — disse Lucas. Seus olhos se voltaram
para Em, que se sentou entre nós, por um momento antes de pousar em
mim. — O caminhão que eu dirigia estava cheio dos seus pedidos, Angie.
Senti um aperto em meu peito.
— Você quer dizer as flores para o leilão de amanhã?
Lucas acenou com a cabeça.
— Eu estava no meio do transporte do berçário para a nossa oficina
quando aconteceu o acidente. Você deveria ter visto a rua depois. A coisa
toda estava coberta de flores brancas.
— Está tudo bem, — eu disse a ele. — Podemos conseguir mais. Ainda
há tempo pela manhã.
— Não há como conseguirmos mais três mil orquídeas brancas em
menos de vinte e quatro horas. Especialmente não com um caminhão
destruído, — Em disse, pegando minha mão na dela. — Sinto muito,
Angie.
Meus ombros caíram. Eu fiz o pedido de flores para todo o evento com
Em. Não ter flores significava mesas vazias, sem decoração para as peças
do leilão, sem arranjos.
Sem flores, o salão estaria nu.
Respirei fundo para me acalmar. Tinha que haver outra maneira. Eu
só precisava pensar. Respirar.
— O importante é que você não se machucou, — eu disse, meio para
fazer minha amiga e meu irmão se sentirem melhor e meio para me
lembrar do fato.
— Eu posso fazer algumas ligações, — Em ofereceu. — Eles não vão
voltar até de manhã.
— Tudo bem. Eu vou dar um jeito. Você e Lucas já tiveram emoção
suficiente por uma noite, — eu assegurei a eles.
— Por favor, — disse Em. — É o mínimo que posso fazer. Vou
consertar isso, Angie.
— Ok, — eu concordei quando paramos na frente do prédio deles. —
Mas de manhã, por favor.
— Obrigado por vir em meu resgate. — Lucas piscou e foi ajudado por
Em no banco detrás.
— Boa noite. — Acenei.
Assim que a porta se fechou, coloquei meu rosto em minhas mãos.
O leilão estava a menos de 24 horas de distância, e todas as minhas
flores estavam espalhadas em algum lugar nas ruas sujas de Nova York.
Está tudo bem. Uma das conexões de Em terá o que eu preciso.
Ainda há tempo.
Ainda há esperança.
Afinal, quão difícil pode ser encontrar flores?

— O que você quer dizer com você não consegue encontrar as flores?
— Eu disse no meu celular na manhã seguinte.
Eu estava no meio do salão de banquetes do Tribeca Knight Hotel. Os
funcionários do hotel esvoaçavam ao meu redor.
Mesas estavam sendo montadas, cadeiras retiradas, pôsteres e luzes
eram pendurados, mas não havia uma única flor à vista.
— Você disse que um de seus amigos aceitaria o pedido, — pressionei.
Do outro lado da linha, Em suspirou.
— Eu disse que eles talvez aceitem. Sinto muito, Angie. Não sei o que
mais posso fazer. Liguei para todo mundo que conheço. Ninguém
consegue tantas orquídeas em tão pouco tempo.
— E quanto à frésia, então? — Eu perguntei, procurando uma solução.
— Não está na temporada, — Em me disse. — Tulipas e narcisos são
as únicas coisas que você pode encontrar nessa quantidade nesta época
do ano. Eu realmente sinto muito.
— Não é sua culpa, — eu disse, fechando meus olhos. A última coisa
que eu queria era que minha amiga se sentisse culpada por algo que
estava fora de seu controle. — Te vejo mais tarde, ok?
Desliguei antes que Em tivesse a chance de responder. Eu não queria
que ela ouvisse nenhuma evidência das lágrimas que brotaram dos meus
olhos e fizeram minha garganta doer.
O leilão começa em menos de doze horas agora, e eu ainda não tinha
flores.
Eu falhei.
Xavier estava certo. Eu não fui feita para esse tipo de coisa. Eu deveria
ter feito o estágio que ele encontrou para mim.
Agora o evento estava arruinado.
Meu celular vibrou na minha mão e eu rapidamente desbloqueei meu
telefone, esperando que fosse Em com algumas boas notícias.

Xavier: Como está indo a montagem?

Meus dedos pairaram sobre o teclado por um momento enquanto eu


considerava mentir. A última coisa que eu precisava agora era Xavier se
gabando de como ele estava certo.
Mas eu chacoalhei minha cabeça. Mentir não resolveria nada.

Angela: Nada bem.


Xavier: Por quê?

Xavier: Parece ótimo aqui!

Aqui?
Oh, não...
Com uma inspiração rápida, eu rapidamente me virei, procurando no
corredor o contorno familiar dos ombros largos de Xavier.
De repente, senti alguém se aproximar por trás de mim e um par de
mãos ásperas envolveram minha barriga.
— Surpresa, — Xavier respirou próximo ao meu ouvido.
— O que você está fazendo aqui? — Eu disse muito rápido. Limpei
minhas bochechas, esperando que ele não tivesse visto as lágrimas.
— Eu estava na área para uma reunião e pensei em dar uma passada
para verificar as coisas. — Eu o senti encolher os ombros. — Além disso,
você sabe que o lugar é meu, certo?
Xavier me girou, e o sorriso em seu rosto caiu instantaneamente
quando ele viu meus olhos vermelhos inchados.
— O que há de errado?
Novas lágrimas encheram meus olhos quando a derrota caiu sobre
mim.
— Eu não tenho flores.
— Eu pensei que Em estava fazendo os arranjos. — Xavier enxugou as
lágrimas do meu rosto com os polegares.
— Ela estava, mas as flores ficaram arruinadas no acidente em que
Lucas estava ontem à noite, — eu admiti, finalmente cedendo e me
pressionando contra ele, deixando-o envolver seus braços em volta de
mim.
— Por que você não disse nada? — Disse Xavier.
— Achei que pudesse cuidar disso, mas ligamos para todas as
floriculturas de Nova Iorque, e o aviso é muito curto para conseguir o
que preciso. Eu não sei o que fazer.
Xavier riu.
— Angela, querida. Não há nada com que se preocupar.
— Como você pode dizer isso? Sem flores, todo o evento está
arruinado. Você estava certo; tudo isso foi um engano. Não sou
planejadora de eventos.
Xavier enganchou o dedo sob meu queixo, me forçando a olhar para
ele.
— Você confia em mim?
— Sim, — eu disse sem hesitação.
— Então não se preocupe com as flores. Eu cuidarei disso.
Como Xavier poderia dar um jeito nisso?
Ele gritaria para as flores crescerem mais rápido?
— Mas...
Xavier ergueu uma sobrancelha, interrompendo minhas palavras.
— Confie em mim, — ele disse, colocando um beijo na minha cabeça.
— Quando você estiver vestida para a noite, terá flores.
— Ok. — Eu solucei.
— Ok, — disse Xavier. — Agora, você quer uma carona de volta para
casa?
Eu balancei a cabeça e deixei Xavier pegar minha mão e me levar para
fora do salão de banquetes.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Tudo o que restou foi esperar.

Um banho quente e relaxante estava esperando por mim quando


voltamos para a cobertura.
Lembrando-me de agradecer a Lucille por ser tão atenciosa,
mergulhei na água com sabão, deixando-a aliviar o estresse que vinha
carregando desde a noite anterior.
Eu deixei meus olhos fecharem, respirando fundo algumas vezes para
acalmar meus nervos.
O salão estava pronto, as peças que estavam sendo leiloadas haviam
chegado e os bufês já se preparavam nas cozinhas dos hotéis.
Tudo estava pronto... exceto as flores.
Mesmo que a noite toda tenha sido um fracasso, eu estava orgulhosa
do que havia conquistado.
Eu nunca tinha feito nada assim antes na minha vida. Pelo menos,
nada nessa escala. A exposição de arte e a festa de aposentadoria não
eram nada comparadas ao leilão.
Com ou sem flores, eu fiz o melhor que pude, e isso tinha que contar
para alguma coisa.
Quando eu estava com a toalha seca, Lucille veio se juntar a mim e eu
me sentei na penteadeira. Juntas, trabalhamos para trançar e torcer meu
cabelo comprido em uma pilha de aparência luxuosa no topo da minha
cabeça.
Eu apliquei o mínimo de maquiagem — um pouco de cor em minhas
bochechas, um pouco de rímel, um pouco de brilho ao redor dos meus
olhos.
Finalmente, eu vesti meu vestido vermelho-sangue cavado nas costas.
Foi mais revelador do que eu estava acostumada, mas o corte e a cor
me fizeram sentir poderosa e corajosa. Eu imaginei que quanto mais eu
pudesse ter agora, melhor.
Uma bolsa envelope preta e um par de sapatos de salto agulha
dourados finalizaram o visual.
— Pronta ou não, — sussurrei para mim mesma enquanto examinava
meu reflexo no espelho.
— Oh, meu Deus, — eu respirei enquanto entrava no salão de
banquetes trinta minutos depois.
O chão estava coberto de feixes de orquídeas brancas, toda a sala
tomada por seu aroma.
No centro de tudo isso estava Xavier, com as mãos nos quadris.
— Como você fez isso? — Eu disse, com os saltos estalando no chão
enquanto eu cruzava a sala até ele.
— Você está deslumbrante, — ele disse, ignorando minha pergunta.
— De onde veio tudo isso?
Xavier sorriu.
— Angela, você é uma Knight agora. Por mais que eu saiba que você
odeie dar carteirada, nosso nome carrega poder. Não levei mais de meia
hora para encontrar todas as malditas flores de orquídea branca da
cidade e traze-las a este hotel.
— Obrigada, — eu respirei, jogando meus braços ao redor de seu
pescoço. — Muito obrigada.
— Da próxima vez, — disse Xavier, recuando e me olhando nos olhos,
— peça ajuda mais cedo. Você não está sozinha nisso, Angela. Quero
ajudá-la a realizar seus sonhos, não importa quais sejam.
— E se eu decidir ser uma encanadora? — Perguntei, sorrindo.
— Mesmo assim. Agora, há algumas pessoas aqui que estão esperando
para descobrir o que fazer com todas essas flores, e você tem — ele olhou
para o relógio — duas horas até que os convidados cheguem.
— Obrigada, — eu disse novamente, beijando sua bochecha, e então
corri em direção aos buquês.
Xavier tinha me salvado desta vez, mas ainda havia uma longa noite
pela frente.
E talvez fosse o nervosismo ou a síndrome de impostor, mas tive a
sensação dolorosa de que outro desastre me esperava. No entanto,
quando olhei das flores para Xavier e vice-versa, tive uma espécie de
esperança.
Esperava que fôssemos uma equipe e pudéssemos enfrentar qualquer
coisa.
De cabeça erguida.
Juntos.
Capítulo 14
Aberto ao Público

BRAD

— Angela, querida, você se superou! — Eu disse, constrangendo


minha nora. Eu recuei, segurando-a com o braço esticado. — E você está
divina!
— Você sempre diz isso. — Angela sorriu e beijou Penny nas
bochechas.
Aqueceu meu coração ver as duas juntas, amigáveis. Feliz mesmo.
Depois do jantar na outra noite, eu sabia que seria um risco trazer
Penny como meu par esta noite, mas me recusei a mantê-la escondida.
Eu a amava, não importa o que o mundo, ou mesmo meu próprio
filho, acreditasse. E ela merecia ser amada.
Olhei em volta para o corredor movimentado. A sala estava cheia com
os melhores de Nova Iorque, com suas peles, sedas e diamantes. Eles riam
e brindavam com taças de champanhe no reformado salão de baile do
pós-guerra.
Entre os lustres cintilantes e o doce cheiro de orquídeas pairando no
ar, a festa tinha uma sensação de luxo antigo que teria feito Audrey
Hepburn e Grace Kelly se sentirem em casa.
E então havia Penny, em seu moletom enorme.
— Você sabe que eles nem deveriam ter deixado você entrar, — eu a
provoquei. — Há um código de vestimenta.
— Claro, mas estou com o Brad Knight. — Ela riu, agitando os braços
para cima e para baixo enquanto suas mangas balançavam no ar. — Isso
vem com seu próprio conjunto de vantagens.
— Como comparecer a um evento formal de pijama? — Eu me
perguntei.
— Estou tão cansada de usar vestidos, — Penny insistiu. — Eu faço
isso o suficiente sempre que tenho que cantar.
Eu sorri, balançando minha cabeça, maravilhado.
Mesmo em suas roupas casuais, Penny ofuscou todos os outros ali.
E eu tinha que admitir que meio que preferia quando ela não estava
toda arrumada para o palco.
Ela parecia mais confortável.
Natural.
Linda.
Penny percebeu que eu estava olhando. Ela corou e olhou para baixo,
de repente descobrindo que seus sapatos Converse eram incrivelmente
interessantes.
Angela pigarreou com uma pequena risada.
— Hum, oi, — ela brincou. — Ainda aqui.
Eu sorri e olhei para minha nora.
— Onde está Xavier? — Eu perguntei a Angela.
— Conseguindo algumas bebidas para nós, — disse Angela, segurando
uma taça de champanhe vazia. — Só pensei em dar um pulo e dizer olá
antes do início dos lances.
— Mal posso esperar para ver o que está em leilão, — disse Penny ao
meu lado. Ela tinha uma afinidade com o que chamava de móveis —
retrô. — Todo o apartamento dela parecia algo da minha infância.
— Existem algumas peças ótimas, se assim posso dizer, — disse
Angela, seu blush característico pintando suas bochechas de vermelho.
Um par de ombros largos familiares chamou minha atenção, me
fazendo virar.
— Ron, — chamei, avistando meu antigo assistente enquanto ele
pegava um canapé de uma das bandejas de prata do garçom. Com um
sorriso tenso, ele se aproximou de nosso grupo.
— É ótimo ver você. Estou tão feliz que você decidiu vir, — eu disse a
ele, apertando sua mão. — Eu ainda me sinto péssimo sobre como meu
filho tratou você.
— O que Xavier fez? — Angela perguntou, com suas sobrancelhas
franzindo de preocupação.
— Ele demitiu Ron! — Eu disse a ela, jogando meu braço sobre o
ombro do pobre menino. — Disse que sentiria como se eu estivesse
observando cada movimento seu com Ron lá.
— Eu entendo a escolha, — disse Ron. — Tive acesso íntimo a todos
os aspectos dos negócios e da vida privada da Knight por anos. Xavier
precisa de um novo começo para se sentir confiante em sua nova função.
— Você sempre foi um homem honrado, — eu disse a ele, batendo em
suas costas.
— Oh! — Angela disse de repente, jogando a mão no ar em um
pequeno aceno. — Ali está minha chefe.
Seu entusiasmo era cativante.
— Você deve nos apresentar, — eu disse.
Angela me deu um olhar confuso.
— Vocês já não se conhecem? Você é quem nos conectou.
— Trabalho com a Animas há anos, — disse a ela. — Barbra, a chefe de
marketing, se aposentou alguns meses antes de mim. Eu não conheci sua
substituta.
— Bem, você vai amá-la. Vou buscá-la e já volto. — Eu assisti a Angela
disparar através da multidão para o lado de uma mulher.
Quando a mulher se virou para nós para abraçar Angela, meu coração
parou no meu peito. O cabelo ruivo, as roupas espalhafatosas... não podia
ser.
— Brad, — ouvi Penny dizer. Sua voz parecia distante. Como se
estivéssemos em lados opostos de um túnel. — Brad, o que há de errado?
Parece que você viu um fantasma.
— Oh, não, — eu sussurrei, balançando minha cabeça. — O que eu
fiz?
ANGELA

Enquanto eu me curvava no meio da multidão em direção a Didi, com


o brilho esmeralda de seu vestido brilhando como a pele de uma cobra
sob a luz do lustre, eu não pude evitar a agitação de nervos que encheu
meu estômago.
O evento estava perfeito até agora.
As pessoas estavam bebendo, sorrindo, conversando, e a sala parecia
exatamente como eu imaginei, os canapés estavam incríveis e os lances
começariam a qualquer segundo.
Tudo parecia ótimo, mas sem o selo de aprovação de Didi, tudo seria
em vão.
Quando me aproximei dela e do grupo de membros do conselho da
Animas com quem ela estava falando, estendi a mão e coloquei minha
mão em seu ombro.
— Desculpa por interromper.
— Angie, — disse Didi, pegando minha mão na dela e beijando meu
rosto no ar. — O lugar parece ótimo! As pessoas já estão comentando
sobre como o leilão deste ano está muito melhor, e o leilão ainda nem
começou.
— Fico muito feliz em ouvir isso, — eu disse a ela, apertando suas
mãos com força. — Eu tenho algumas pessoas que eu gostaria que você
conhecesse. Se eu puder te roubar por um segundo.
— É claro, é claro. — Ela puxou uma das mãos e acenou. — Mostre o
caminho.
Quando me virei para levar Didi de volta para Brad e Penny, um
grande estrondo ecoou pelo corredor, fazendo todos olharem para a
frente da sala.
A leiloeira estava no palco na outra extremidade da sala, batendo seu
martelo.
— Boa noite, senhoras e senhores, — ela disse. — O leilão já está
aberto. Vamos começar com o primeiro item.
Dois homens carregaram um grande retângulo coberto com tecido até
o centro do palco.
— Esta pintura é uma peça original do artista Dustin Sterling. A
licitação começará em dez mil dólares.
O pano foi arrancado da pintura e a sala explodiu em um suspiro
coletivo.
Meu sangue gelou em minhas veias.
Minha taça de champanhe vazia se espatifou no chão.
— Ai, meu Deus, — ouvi Didi dizer. — Aquele é...
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça e olhar para o palco
onde, em detalhes realistas, estava uma representação perfeita de Xavier.
Se masturbando.
XAVIER

Um bocado de negroni saiu dos meus lábios e tive um ataque de tosse.


— Que porra? — Murmurei, enxugando o queixo com as costas da
mão e olhando para baixo para garantir que não tinha cuspido em todo o
meu terno Valentino.
Alguns dos outros convidados da festa se viraram para olhar para
mim. Seja porque eu acabei de dar banho em todos eles com Negroni ou
por causa da réplica em tamanho real do meu corpo nu exibida no palco,
eu não tinha certeza de qual.
Tudo que eu sabia era que precisava encontrar o maldito Dusty para
poder torcer seu pescoço esquelético.
Como Angela pode ter deixado esta peça no leilão?
Como Dusty sabia como eu parecia?
Enquanto eu abria caminho por entre a multidão de pessoas, ainda
segurando duas bebidas, placas começaram a voar no ar.
— Dez mil dólares. Eu tenho dez mil dólares.
Eu ouvi quinze mil dólares? — o leiloeiro tinha começado.
Senti uma pontada de raiva tingida de vergonha aquecer minha nuca.
Quem diabos iria querer uma pintura minha puxando meu pau
pendurado sobre a lareira?
— Vinte mil dólares. Eu tenho vinte mil dólares. Eu ouvi trinta mil
dólares?
Isso estava ficando fora de controle. Onde diabos Dusty poderia estar?
Parei no centro do corredor, esticando o pescoço, usando minha
vantagem de altura para espiar por cima da multidão.
Eu congelei por um segundo, quando uma cabeça de cabelo vermelho
de aparência familiar chamou minha atenção, mas então balancei minha
cabeça.
Não, não pode ser.
Ela não vinha para esse tipo de coisa.
Ela não seria tão insensata.
Fui tirado de meus pensamentos um segundo depois, quando meus
olhos pousaram em outra pessoa, alguém melhor, e eles estavam
apontando direto para mim.
— Xavier! — Angela disse, com seus olhos arregalados enquanto ela
atravessava a multidão e batia no meu peito.
— Bellini? — Ofereci a ela um dos copos em minhas mãos e disse: —
Que porra é essa?
— Não tinha ideia, — disse ela. — Ele não me contou. Você tem que
me perdoar.
— Apenas me ajude a encontrar Dustin e tirar aquela peça do palco,
— eu disse a ela, caminhando em direção ao leiloeiro.
— O quê? Não! — Angela gritou, pegando meu antebraço. — Não
podemos tirá-la. Você já arrecadou quinhentos mil dólares para a
Animas.
— Quinhentos mil dólares? Alguém está pagando quinhentos mil
dólares por uma pintura minha me masturbando? — Eu repeti,
atordoado. E olhei de volta para a pintura, — Eu realmente pareço muito
bem.
— Xavier, — disse Angela novamente.
— O quê? Eu nunca percebi o quão bom artista Dustin era antes.
Angela revirou os olhos.
Dei de ombros.
— Você disse que não podemos retirá-lo do leilão. O que eu deveria
fazer?
— Dê um lance, — sugeriu Angela, puxando minha placa do bolso do
meu terno. — A menos que você queira que um estranho compre seu
retrato nu.
— Setecentos e cinquenta mil dólares? — o leiloeiro chamou.
Angela ergueu nossa placa no ar.
— Eu tenho setecentos e cinquenta mil dólares. Eu ouvi oitocentos
mil dólares?
Um novo punhado de placas disparou, me fazendo gemer. Angela se
moveu para levantar o nosso novamente, mas eu estendi a mão,
agarrando a placa.
— Não adianta, — eu disse a ela. — Há muita competição. Não vou
pagar um milhão de dólares por uma pintura do meu próprio pau duro.
Vamos encontrar meu pai. Ele saberá o que fazer.
Se ele estiver disposto a ajudar...
Eu não tinha falado com meu pai desde aquela noite no restaurante.
Eu disse um monte de coisas estúpidas. Estúpidas o suficiente para que
eu não o culpasse se ele não quisesse nada comigo.
— Eu os deixei lá, — Angela disse, me levando em direção ao outro
lado da sala.
A multidão explodiu em aplausos ao nosso redor quando a licitação
do quadro foi encerrada e a próxima peça foi trazida para o palco.
— Brad! — Angela chamou antes de mim, e meu pai e Penny
apareceram. — Brad, a pintura.
— Eu sei, querida, — ele concordou solenemente.
— Eu sinto muito, — disse Angela a ele. — Não fazia ideia que a
pintura era do... Xavier.
— Está tudo bem, minha querida. Nenhum dano causado, — papai
garantiu a ela, puxando-a para um abraço de um braço só.
— Sem problemas? — Eu perguntei. — Alguém acabou de comprar
uma pintura minha daquele jeito.
— Eu comprei, — disse papai.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
— Você? Por quê?
— Eu não poderia ter uma pintura do meu filho com seus ovos e
bacon soltos em público, — meu pai disse. — Especialmente depois da
má imprensa no início desta semana.
Eu senti uma sensação desconfortável crescer dentro de mim. Uma
que eu não estava acostumado a sentir. Uma que apenas meu pai e
Angela poderiam me fazer sentir. Meus olhos caíram para o chão como
se eu de repente estivesse fascinado com o design dos meus oxfords, e o
calor começou a subir pelo meu pescoço.
Vergonha.
Culpa.
Arrependimento.
Eu engoli em seco e depois olhei para cima, olhei meu pai nos olhos.
— Obrigado.
— Está tudo bem, filho — ele disse, estendendo a mão e colocando a
mão no meu ombro.
Havia mais palavras borbulhando agora, como se, uma vez que eu
dissesse uma coisa boa, fosse impossível parar.
— E eu... sinto muito por como me comportei na outra noite. Estou
feliz que você encontrou alguém, pai.
O sorriso do meu pai cresceu dez vezes, e ele me envolveu em um
abraço.
— Obrigado, meu menino.
Eu me virei e olhei para Penny por cima do ombro do meu pai.
— Eu também me desculpo com você. Está claro que você está
fazendo meu pai um homem muito feliz.
A linha defensiva de seus ombros caiu, com um pequeno sorriso
brincando nas bordas de seus lábios carnudos. Ela acenou com a cabeça
uma vez, aceitando o pedido de desculpas, seus olhos dançando entre
Angela e eu.
— Estou feliz que você encontrou seu alguém também.
Com o canto do olho, vi um flash vermelho e meu coração parou no
meu peito.
Novamente, eu balancei minha cabeça.
Não. Não poderia ser. Eu estava errado.
Ela não estava aqui.
— Que tal outra bebida? — Papai sugeriu.
Eu me encontrei balançando a cabeça.
— Ah, um segundo, acabei de ver Didi de novo, — disse Angela. — Eu
quero apresentá-la a todos.
— Didi? — Eu fiz uma careta.
— Minha chefe, — disse Angela, e então chamou:
— Didi!
— Oh, não, — meu pai sussurrou ao meu lado, puxando Penny para
perto de seu lado.
Meus olhos se voltaram para ele.
— Eu não tinha ideia, — ele me disse com fervor. — Acredite em mim,
Xavier.
Minha visão ficou vermelha quando Angela puxou outra mulher para
nosso pequeno círculo.
De repente, minha gravata estava muito apertada. Não consegui
respirar ar suficiente.
Meu pulso martelou em meus ouvidos.
A sala começou a girar ao meu redor.
— Claudia, — eu me peguei dizendo, olhando-a bem nos olhos.
Angela se virou para mim.
— Não, é Didi.
Eu balancei minha cabeça.
— Acho que reconheceria a mulher de quem estava noivo.
Capítulo 15
Trovão e Relâmpago

CLAUDIA

Passaram-se anos desde a última vez que estivemos em um quarto


juntos. Anos desde que vi seu rosto, ou senti suas mãos em meu corpo,
ou ouvi as palavras doces que ele sussurrou em meu ouvido.
Minha vida com Xavier parecia ter acontecido séculos atrás, e pode
muito bem ter sido.
Eu era diferente então. Diferente agora.
No entanto, ele parecia o mesmo. Tão sombrio e perigoso, como um
jovem Zeus, crepitando com energia e poder.
Muitas vezes me peguei pensando nele, em nós. Foi tudo há muito
tempo, as memórias eram brilhantes, mas borradas, como o mundo
girando do lado de fora de um passeio de carrossel. O romance, a paixão,
o sexo... tudo tinha sido real?
A memória da maneira como nossos quadris haviam se firmado
juntos, a maneira como nossos lábios e línguas lutavam pelo domínio,
era muito vívida para não ser.
Xavier e eu éramos bons juntos da mesma forma que o trovão e o
relâmpago. Nosso amor foi alto, brilhante e rápido... e acabou tão rápido
quanto havia começado.
Pelo que li, nossa tempestade deixou muitos danos colaterais. Muita
raiva, mágoa e álcool.
Pelo menos eu não era a única com dor.
Mas então ela chegou, quase da noite para o dia, como se tivesse sido
arrancada de uma loja de bonecas e trazida à vida.
Uma pequena Barbie.
Uma princesa perfeita e dócil.
Seu anjo.
De repente, ele estava sorrindo novamente. Feliz novamente. Cheio.
Enquanto isso, fui esquecida. Deixada de lado. Isso me sangrou até
ficar seca e apodrecer.
Não era justo.
Eu merecia mais, melhor e não ia deixar ninguém me impedir de
conseguir. Não ele, não o homem que me fodeu, e definitivamente não
Angela.
Eu podia ver o pânico crescendo nele enquanto agarrava sua esposa e
fugia do salão.
Nós nos conhecíamos muito bem para ele ter ficado. Ter esperado
para ver o que aconteceria, o que eu faria... Esses jogos de gato e rato
eram o que nós dois mais jogávamos.
Angela, sua ratinha minúscula, não passava de um brinquedo. Isso
ficou claro desde o momento em que nos conhecemos. Eu a fiz obedecer
a todos os meus pedidos. Uma mulher assim não poderia lidar com um
Knight.
Não, Xavier precisava de uma leoa, uma mulher forte, e deixe-me
dizer, eu estava à espreita. A única pergunta era: quando eu atacaria?
Eu procurei na multidão no leilão, e meus olhos pegaram o jovem de
ombros largos com quem Brad tinha falado antes, e sorri.
Perfeito.
XAVIER

Minha visão estava vermelha.


Não havia nenhum pensamento por trás do que veio a seguir, apenas
puro instinto animal que me fez agarrar Angela pelo braço e correr.
Eu encontrei a porta com meus olhos e empurrei a multidão em
direção a ela.
Não importava quem estava no meu caminho ou quem parou para
cumprimentar. Eu os empurrei de lado, fixado em passar pela porta
aberta.
Saia. Saia. Saia.
Mais rápido. Mais. Mais.
A necessidade de fugir, de colocar o máximo de distância entre ela e
nós estava me consumindo.
Eu não tinha visto minha ex-noiva desde a noite em que a encontrei
transando com meu melhor amigo.
Desde que eles me traíram.
Desde a noite em que voltei para casa de uma viagem de negócios para
encontrá-la montada em Daniel, estilo cowgirl, no centro da minha
cama.
Minha resposta naquela noite foi a mesma de agora. Afaste-se. Saia.
Corra.
Eu corri direto para a rua, mas ela me seguiu. Gritou comigo. Mil
desculpas saindo de seus lábios.
Eu revivi o momento que veio a seguir mais vezes que eu queria
lembrar. Um táxi dobrando a esquina, vindo direto para ela.
Algum instinto primitivo, ainda voltado para proteger a pessoa que eu
amava, me fez virar e empurrar Claudia para fora do caminho, levando o
impacto eu mesmo.
Tudo depois disso foi dor.
Meu corpo.
Meu coração.
Minha vida inteira, porra.
Eu perdi tudo naquela noite. A mulher que eu amava, minha melhor
amiga, eu mesmo.
Eu usava a cicatriz nas minhas costas como um lembrete constante de
tudo. Eu podia sentir isso queimando agora, como se estar tão perto de
Claudia depois de todo esse ano o tivesse deixado inflamado. Como se
tudo estivesse acontecendo de novo.
Corri para fora do hotel e fui para a rua, só que dessa vez Marco estava
lá esperando.
Carros buzinaram. Portas bateram.
Alguém estava falando perto de mim. Ao meu lado. Dizendo meu
nome.
No entanto, eu não conseguia me concentrar na palavra. Não quando
meu coração estava batendo tão rápido que doía. Não com a sensação de
formigamento que vibrou sob minha pele.
Mais rápido.
Mais longe.
Mais.
Pensamentos e memórias borrados juntos apareceram.
Claudia envolta em meus braços. Claudia me surpreendendo com
uma viagem a St. Barts no meu vigésimo quinto aniversário. A cabeça de
Claudia jogada para trás em êxtase enquanto montava no pênis de
Daniel.
Achei que tinha escapado de tudo isso. A dor, o medo e o ódio. Mas de
repente eu soube que nunca faria isso. Se Claudia estivesse de volta, isso
só poderia significar uma coisa. Ela queria algo.
Mas o quê?
ANGELA

Eu nunca tinha visto Xavier assim antes.


Não achei que o homem soubesse o que era o medo, mas a expressão
em seus olhos quando viu Didi foi de completo terror.
Mesmo agora, enquanto andava de um lado para o outro no piso de
madeira da sala de estar da cobertura, ele ainda zumbia com a energia
nervosa.
Tentei falar com ele, acalmá-lo, no saguão do hotel e no carro, com
pouco sucesso.
Eu não sabia o que fazer com a situação. Havia tantas perguntas que
não paravam de surgir. Com o estado atual de Xavier, não parecia que eu
receberia respostas tão cedo.
— Xavier, — tentei novamente. Eu estava parada a poucos metros
dele, ao lado do sofá.
Nada ainda.
Eu mordi meu lábio, a preocupação me lavando.
Eu precisava de uma nova técnica se quisesse alguma chance de
chegar até ele.
Xavier se virou na frente da sala e eu entrei em seu caminho, jogando
minhas mãos para pressionar suavemente seu peito.
— Xavier.
Finalmente, seus olhos encontraram os meus.
— Angela.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei com cuidado. — Você
está me assustando. Me fala o que está acontecendo. Como posso ajudar?
— Não consigo descobrir o que ela quer, — ele disse. — Por que ela fez
isso. Deve haver um plano. Meu Deus, está calor aqui.
Ele puxou a gravata, tentando abrir espaço na garganta, mas suas
mãos tremiam muito para conseguir.
Gentilmente, eu fui até ele, afastei suas mãos e puxei a gravata
borboleta de seu pescoço, desfazendo alguns botões de sua camisa ao
mesmo tempo.
— Que tal pegarmos um pouco de ar? — Eu sugeri.
Ele me seguiu pelo corredor e subiu as escadas que levavam ao
telhado. Tínhamos um jardim lá, completo com terraço e piscina.
Contudo, raramente era usado, exceto nas poucas vezes nos meses de
verão que eu podia sair para ler em uma das espreguiçadeiras.
Peguei Xavier pela mão e o levei para uma daquelas espreguiçadeiras
agora. Fiz ele se sentar ao meu lado.
— O que ela fez com você? — Eu me perguntei baixinho, procurando
seus olhos.
Xavier franziu a testa, cerrando as mãos em seu colo.
— Eu disse a você o que ela fez.
Ele tinha. Eu sabia a verdade. Sabia que ele a pegou o traindo com seu
melhor amigo. Sabia que ela era a razão das cicatrizes nas costas e no
coração.
Ainda assim, sua reação foi muito forte. Eu encontrei outra questão
borbulhando à superfície, a única explicação que fazia sentido para mim.
— Você ainda ama ela?
Xavier inalou audivelmente, seus olhos escuros brilhando nos meus.
— Não.
Eu estremeci de alívio.
— Então por que você está agindo dessa maneira?
— Ela está planejando algo, — ele disse. — Só não sei o quê.
— O que ela possivelmente estaria planejando?
Xavier balançou a cabeça.
— Eu não sei, mas é o que ela faz. Claudia toma o que quer, custe o
que custar. Não posso deixar que ela me machuque assim de novo. Não
posso perder mais pessoas que amo.
Coloquei minha mão em sua bochecha pálida.
— Você não vai perder ninguém.
— Você não sabe disso. Você não a conhece como eu. Você está
trabalhando com ela há semanas, e tudo o que ela fez foi te alimentar
com mentiras.
— Xavier...
— Não, Angela. Eu não quero que você a veja novamente. Por favor.
Eu te amo muito. Eu-eu não posso...
Suas palavras foram cortadas por um músculo pulando em sua
mandíbula enquanto ele lutava com qualquer escuridão que o tivesse
agarrado.
Eu congelei por um momento quando suas palavras me atingiram.
Eu te amo.
Foi a primeira vez que ele disse isso para mim sem ver meu corpo nu.
Eu sabia então do que se tratava. Como eu poderia consertar.
Lentamente, inclinei-me e dei um beijo em sua bochecha.
— Eu também te amo.
Xavier se acalmou, então coloquei outro beijo em seus lábios.
— E eu não vou a lugar nenhum, — eu prometi. — Eu estou bem aqui.
A tensão o abandonou quando eu o beijei novamente.
Ele respondeu ansioso, faminto.
— Diga-me que você é minha.
— Eu sou sua, — eu jurei, falando sério.
Sua mão veio e se enroscou no meu cabelo, sua testa apoiada na
minha.
— Eu preciso de você agora.
— Você me tem.
Estendendo a mão, comecei a abrir caminho para os botões de sua
camisa.
Xavier tirou o paletó e depois me deixou tirar a camisa de seus ombros
largos.
Arrepios se formaram em uma trilha em sua pele enquanto eu corria
meus dedos ao longo de seu peito nu.
Xavier estremeceu.
Meu vestido veio a seguir. Saiu por cima da minha cabeça.
Então Xavier estava me empurrando contra a poltrona, seu corpo
pairando sobre mim. Peito com peito, quadris se esfregando.
Xavier mordeu minha orelha, meu pescoço, meu ombro, com sua mão
descendo pelas minhas costelas para alcançar o topo da minha calcinha.
Pela primeira vez, nenhum medo surgiu. Em vez disso, cravei minhas
unhas em suas costas, precisando dele mais perto.
Encorajado, sua mão mergulhou sob a bainha da minha calcinha, seus
dedos habilmente encontrando meu pequeno centro de nervos.
Eu engasguei, uma onda de prazer rolando sobre mim, enquanto seu
dedo circulava.
A mão de Xavier se moveu para baixo, mais perto do meu núcleo, e ele
soltou um gemido.
— Porra, você está molhada.
— Eu quero você, — eu respirei, com a cabeça girando.
Xavier grunhiu e deslizou minha calcinha pelas minhas pernas. Ele se
atrapalhou com o cinto e tirou os sapatos e as calças.
E então estávamos nos movendo.
Dançando.
Colidindo.
E eu não estava com medo.
Quando chegou a hora, Xavier trabalhou comigo através da dor,
transformou-a em um pico tão brilhante e cegante que eu estava
gritando seu nome.
Depois, quando eu estava envolta em Xavier e me sentia mais
completa do que o céu salpicado de estrelas acima de nós, ele disse: —
Case-se comigo.
Eu ri, corando.
— Estou falando sério, — disse Xavier, empurrando-se um pouco.
Ele pegou minha mão esquerda e deslizou meu anel de noivado do
meu dedo.
Meus olhos se arregalaram quando ele caiu de joelhos diante da
espreguiçadeira, ainda completamente nu.
— Angela, você vai me permitir a honra de fazer isso direito? Fazendo
do jeito que deveria da primeira vez? Eu te amo. Mais do que eu jamais
acreditei ser possível. Você quer se casar comigo?
Lágrimas encheram meus olhos e estendi minha mão trêmula.
— Sim.
Capítulo 16
O dia seguinte

ANGELA

Eu estava grávida.
Ou pelo menos o mundo pensou que eu estava grávida.
Aparentemente, o mundo incluía as pessoas em minha vida que
deveriam definitivamente saber que eu não estava grávida.
As manchetes eram como tiros disparados, marcando o início de
interrogatórios de telefonemas que chegavam ao meu correio de voz. A
cada segundo, outro telefonema vinha em minha direção.
Agora, todos a quem eu tinha dado meu número tinham me colocado
na discagem rápida.
Meu telefone estava mudo. Eu mal conseguia ouvir meus próprios
pensamentos sobre os sons de alertas de notícias aparecendo na tela do
meu computador como jatos comerciais caindo do céu.
Eu folheei as mensagens de voz, excluindo mensagens preocupadas
como se isso pudesse apagar o caos.
BEEP.
— MDS. Você está grávida? — Dustin disse na máquina. — A In Touch
me ligou, e eu queria saber se eu poderia dar a eles um comentário sobre
seu estado emocional, sendo que eu sou seu número um...
BEEP.
— Angie, por que você não nos contou as notícias incríveis? — Papai
entrou na conversa. — Eu não posso acreditar que finalmente vou ser avô
e tive que descobrir na Us Weekly. Precisamos comemorar...
BEEP.
— Ei, querida, é o Brad. Achei que provavelmente fossem apenas as
revistas... Juro que tentaram publicar que eu estava grávido alguns anos
atrás. Alguma narrativa estranha sobre alienígenas, você sabe, lixo. Mas,
para o caso de não ser uma inseminação artificial de Netuno, ligue-me
rápido antes de eu falir uma empresa de mídia...
BEEP.
— Angela, é a Lucille. Assim que eu chegar em casa, farei meu
ensopado pré-natal especial...
BEEP.
— IRMÃ! Você precisa me ligar agora, ok? Isso é realmente enorme, e
você simplesmente não pode continuar ignorando as ligações de todos.
Eu sabia que não poderia continuar negligenciando o que todos
estavam dizendo. Mas eu poderia ignorar por agora, certo?
Xavier já estava viajando para o Japão para um evento de negócios no
fim de semana, 3. 000 milhas acima da crise. Eu estava sozinha e — de
acordo com as notícias — com meu filho ainda não nascido.
Eu não suportaria sair de seus lençóis de cetim e enfrentar o mundo,
especialmente porque eles ainda tinham seu cheiro almiscarado.
Era quase meio-dia e meu estômago doía por algo, qualquer coisa,
para comer.
Mas eu estava com mais fome de estar perto dele, perto da sensação
de seu corpo se inclinando sobre mim, pressionando minhas mãos para
baixo, seu peito contra meus seios. A maneira como ele me beijou
enquanto abria o zíper do meu vestido, deslizando entre esses lençóis...
Agora eu sabia o quão insuportável tinha sido para ele, ter que esperar
todos aqueles meses por mim. Ele acabou escapando de mim esta manhã,
e já parecia que eu poderia implodir de desejo.
Não pude deixar de lembrar como, depois, eu me encaixaria
perfeitamente no recanto entre seu peito e ombro. Como seus braços
aparados me envolveriam como veludo. Eu não conseguia entender
como ele podia ser tão firme e ao mesmo tempo tão macio, como uma
garota trêmula protegida por mãos de titânio.
Mas agora, o mundo exterior já havia invadido nossa festa.
Nosso romance foi um alerta de notícias.
O relatório era que Xavier e eu, que acabávamos de nos tornar um
casal de verdade, estávamos nos tornando pais.
As manchetes levantaram a questão de "Estou grávida?" dentro da
minha cabeça como açúcar passando por claras de ovo. Era tudo fofo,
mas vazio. Isso obstruiu minhas ondas cerebrais, me tornando incapaz de
pensar em qualquer coisa além disso.
Como os tabloides souberam informar sobre minha — gravidez —
logo depois que Xavier e eu finalmente fizemos aquilo? O momento era
perturbadoramente perfeito.
Abaixei minha barriga. Eu estava inchada, tudo bem, mas tão inchada?
Acordei com náuseas, mas também acordei com milhares de sites que
analisavam meu estado ginecológico. Isso foi o suficiente para deixar
qualquer um doente.
Com minha sorte, provavelmente ficaria grávida exatamente quando
não queria... e queria estar pensando na noite passada.
Eu queria estar enrolada ao lado dele, respirando sua essência com
cada inspiração. Eu queria estar tremendo com ele explodindo dentro de
mim, e seu corpo jorrando sobre mim como uma chuva de meteoros
espetacular.
Era como se suas unhas ainda estivessem cravando em minhas costas,
seus lábios ainda dançando ao longo do meu pescoço... Eu dei a ele tudo
de mim, e ele me deu uma nova pessoa de volta. Cada célula em mim
renasceu, despertou e ansiava por ele mais e mais.
Mas, em vez de Xavier, minhas mãos estavam cheias de mensagens de
voz.
Todos queriam saber o que estava acontecendo, mesmo que eu mal
tivesse acordado, ainda presa na memória vibrante de ontem.
Bem... nem todos.
BEEP. BEEP.
Meu celular vibrou com uma mensagem de Em. Em!
Já era hora.
Eu normalmente despejo todas as minhas emoções confusas sobre ela
o mais rápido possível. Ela provavelmente estava confusa sobre por que
eu não a tinha informado ainda. Peguei meu telefone, pronta para
desabafar com ela sobre Xavier, sobre as manchetes e sobre Didi.

Em: O que diabos está acontecendo?


Angela: Por onde você andou?

Angela: Eu tenho muito para te contar.

Em: Duvido, quero ouvir.

Em: Ugh, isso é tão injusto, Angie.

Em: Não acredito em você.

Angela: O que você quer dizer?

Angela: Desculpa.

Angela: Podemos nos encontrar?

Em: Okay

Em: Onde?

Angela: Que tal uma terapia?

Em: Eu preciso de comida reconfortante.

Angela: (3 emojis de sorvete) Em: Talvez.

Angela: O sorveteiro na Quinta?

Em: Vejo você lá.

Enquanto eu caminhava entre as butiques e restaurantes exuberantes,


tive o cuidado de ficar longe de qualquer loja de maternidade. Caramba,
eu nem queria estar perto de um bebê.
Nós nos conhecemos no centro da cidade, onde até as toalhas eram de
alta costura. Luzes de contos de fadas cobriam o exterior de cada
exposição hipnotizante. Segui o caminho arborizado, percebendo que as
pessoas estavam olhando para mim — me reconhecendo.
Isso era impossível. As pessoas sabiam meu sobrenome, não eu.
Mas agora, eles conheciam meu rosto. Senti seus olhos em mim
enquanto me dirigia para a barraca de gelato, onde a única pessoa que eu
encontraria lá não se importava em olhar para mim.
Em já estava comendo sua delícia de mocha de avelã, nem mesmo
percebendo que eu estava lá.
Eu verifiquei meu relógio. Cheguei cinco minutos adiantada. Ela
pediu antes de eu chegar aqui?
Sempre fomos meio bobas, porque eu nunca conseguia me decidir
sobre um sabor e ela sempre queria experimentar dois.
— Você não esperou por mim! — Eu brinquei, apertando Em em um
abraço. Ela não envolveu seus braços em volta de mim. Em fez uma
careta, os olhos inchados de desprezo.
— Bem, Angie, você não esperou por mim.
Sobre o que ela estava falando?
— O que você quer dizer? Estou cinco minutos adiantada, —
expliquei.
— Eu não estou falando sobre isso. Estou falando sobre o que todos
estão falando, Angie, — disse ela, esfregando minha barriga. Eu tirei a
mão dela.
— Ouça aqui, sobre toda a gravidez...
— Eu nem sabia que você e Xavier estavam transando! — ela deixou
escapar.
Eu olhei ao redor em pânico. Parecia que ninguém tinha ouvido falar,
mas a ideia de alguém descobrir que eu ainda estava conhecendo meu
marido me fez sentir como um refrigerante sendo sacudido, pronto para
explodir em uma confusão escura e aquosa.
— Bem... — Eu sorri, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas
com a memória da noite passada. — Acabamos de fazer. Uma vez.
— Você transou uma vez, e agora está grávida?! Só pode estar
brincando comigo. Lucas e eu estamos tentando engravidar há meses, —
Em respondeu. — Eu não posso acreditar nisso. Eu sinto... O que há de
errado comigo?
— Oh, Em, não há nada de errado com você, — eu disse, percebendo
que essa possibilidade na minha vida era uma seta gigante de néon
apontando o que não havia acontecido com ela. — Talvez seja... seu
parceiro?
— Você quer dizer meu marido? Você é a irmã dele? — Em disparou de
volta.
Meu nariz enrugou em desgosto.
— Ugh, não me lembre. Não acredito que você transou com ele! — Eu
gemi.
— Oh, querida, levei ele à loucura, — ela enfatizou, piscando para
mim, feliz por me servir de um desconforto vingativo.
— Em, pare com isso antes que eu vomite no seu sorvete! — Eu gritei.
Sim, eu estava com nojo, mas feliz por ela não estar com raiva de mim
por seus problemas de gravidez. Eu certamente precisava da minha
melhor amiga para me ajudar a superar o meu.
— Escute, Em. As únicas pessoas que dizem que estou grávida
trabalham para tabloides. É uma notícia, não a história verdadeira, —
expliquei.
— Então, você não está grávida? — Em disse, com seus olhos
brilhando.
Por mais que eu ache que ela quisesse apoiar, ela não podia. Ela
precisava de apoio.
Você não poderia ser uma ponte e o carro passando por ela ao mesmo
tempo.
— Não, eu nunca estive grávida, — admiti.
Eu precisaria dizer isso cem vezes para todas as pessoas que
importavam.
Quem se importava com o que um bando de estranhos pensava? Em
nove meses, eles enfrentariam muitas decepções.
Mas para papai e Brad, e quase todos os outros que me conheceram
antes de eu ser digna das manchetes, essa decepção viria assim que eu
voltasse para casa.
— Então espere, eu estava tão obcecada com meu útero inútil que não
processei algo que você disse, — disse Em. — Você e Xavier selaram o
acordo?
— Nós fizemos amor, Em, — eu sussurrei, tão emocionada por
finalmente contar a alguém a verdadeira notícia monumental.
— Garota, você TRANSOU! Eu estou tão feliz por você! — ela
exclamou, rindo enquanto eu ficava cada vez mais quente e
provavelmente vermelha.
Peguei seu sorvete e dei uma mordida enorme.
— Pegue o seu, Angie! — Em repreendeu de brincadeira.
— Oh, desculpe. Eu só precisava resfriar o ar. — Eu ri de volta.
Em, ainda impressionada com minha ousadia, começou a gritar.
— Tudo bem então, minha deusa. É hora de uma festa de despedida,
— ela brincou. Sobre o que ela estava falando? Quem estava indo
embora? Eu lancei a ela um olhar perplexo.
— Pela sua virgindade, — ela explicou e pediu meu próprio sundae de
sorvete.
As coisas finalmente voltaram ao normal.
Eu verifiquei meu telefone para ver a hora. Em e eu ainda tínhamos
muito o que conversar, mas então meus olhos se fixaram nas notificações
no meu telefone.
Eu tinha mensagens esperando por mim.

Didi: Escute, Angela, preciso me explicar.

Didi: Podemos nos encontrar?


Capítulo 17
Um Universo Secreto

ANGELA

A única coisa que eu sabia sobre Didi era que ela era uma mentirosa.
Ela mentiu sobre quem ela era, o que ela queria e por que ela me
contratou.
Didi tomou um gole de café. Eu tomei um gole do meu. Nós não
falamos.
Não conversamos pelos últimos doze minutos.
Eu realmente não tinha muito a dizer.
Não havia razão para a ex-noiva de Xavier estar na minha vida, muito
menos no meu café favorito em Chelsea.
Eu não queria falar com ela.
Eu nunca teria falado com ela se soubesse quem ela era, mesmo se ela
tivesse dito a verdade desde o início.
Mas ela não o fez.
— Eu não sei o que dizer, exceto que eu sinto muito. Sério, — Didi
disse, com seus olhos penetrantemente intensos. — Por favor, diga-me o
que posso fazer para consertar as coisas e farei isso.
— Eu não sei como você pode consertar isso, Didi...
— Na verdade, é Claudia. Eu escolhi Didi para que Xavier não
soubesse que eu estava contratando você, — ela admitiu. Eu não podia
acreditar até onde Didi, quero dizer, Claudia, tinha ido — e para quê?
— Por que você fez isso? — Eu perguntei.
— Bem, você sabe que Xavier e eu estivemos juntos por quase uma
década e...
— Não, por que você me contratou? — Eu indaguei, sem saber se
deveria esperar uma resposta verdadeira.
— Eu acho... é porque eu preciso da sua ajuda, Angela. Eu preciso
muito disso, — ela disse, nervosamente mexendo em seu café. — Você vê
que este não é o primeiro erro que cometi...
Qualquer erro que Claudia estava lutando para trazer à tona era
pesado. Eu podia ver isso em seu rosto. Mas não saber o que era, me
sufocou, me deixou enjoada, embora fosse problema dela.
Eu precisava saber o que era.
— Todos nós cometemos erros, Claudia. O que há de errado? — Eu
pressionei. Ela não respondeu, então fiz outra pergunta. — Quando isso
aconteceu?
— Três anos atrás... quando Xavier me engravidou.
Engravidou?
Isso significa que... não poderia ser.
Xavier não tem filho.
— Não importa a direção que Xavier e eu estivéssemos indo, sempre
parecia que estávamos batendo um no outro, — Claudia disse em uma
voz distante. — Ele estava com tanta raiva de tudo e de todos.
Eu sabia que ela era uma mentirosa, mas suas palavras soaram
verdadeiras, me atingindo como se eu fosse uma igreja abandonada.
E Claudia estava sentada lá em confissão.
— Eu era o seu saco de pancadas emocional, a única pessoa a quem ele
podia dizer qualquer coisa e que pensava que nunca daria o troco. Eu
nem me sentia mais humana.
— Mas vocês eram noivos, certo?
— Sim. Nós íamos nos casar, basicamente nos odiando. Eu não
poderia fazer com que algo tão especial parecesse um castigo para ele ou
para mim. Então eu terminei. Eu terminei todo o nosso relacionamento.
Terminou?
— Xavier descreveu isso um pouco diferente. Ele disse, — eu limpei
minha garganta, — que ele pegou você com outro homem.
Didi suspirou:
— Sim, é verdade. Xavier queria tentar resolver as coisas depois. Eu
recusei.
— E o bebê? — Eu perguntei, pensando na menina ruiva na foto na
mesa de Didi.
— Ela tem três anos agora. O nome dela é Sophie, — disse Claudia. —
Ela não é apenas minha filha. Ela é meu universo. Antes de ela nascer,
não tive coragem de contar a Xavier sobre ela.
Eu não pude acreditar.
Xavier... tinha uma filha.
Uma filha que ele não conhecia.
Uma filha com Claudia, alguém que eu não conhecia.
Eu podia sentir meu estômago afundar dentro de mim como se
estivesse cheio de cimento.
Uma emoção tremia pelo meu corpo, a sensação de cimento subindo
pela minha garganta, onde um caroço estava crescendo. Eu me senti
como uma estátua congelada de dor, deixada em um museu para
apodrecer na solidão observada.
Sua confissão foi demais para eu aguentar.
Meus ossos congelaram dentro de mim como fósseis.
Meus pensamentos eram armadilhas pegajosas e sujas das quais não
podia escapar, profundas o suficiente para me afogar inteira.
Os olhos de Claudia estavam brilhantes de vergonha.
— Eu fui uma idiota. Eu sei disso. Eu não estava pensando em Sophie,
ou que ela precisaria de seu pai. Eu estava pensando em mim e em como
eu precisava ficar longe dele, — Claudia elaborou, com uma respiração
instável.
Cada uma de suas palavras foi um anzol agarrado à minha carne.
Eu não sabia qual linha me puxou ainda mais para o desespero.
Seria a filha de Xavier que vivia sem ele, como um membro fantasma?
Era porque Claudia estava tão desesperada para se reconectar que ela
estava disposta a me manipular?
Será que nossa amizade tinha sido apenas um estratagema para se
aproximar de Xavier?
Ou foi o fato de que Xavier e minha futura família foram destruídos
antes mesmo de começar?
— Agora, é tarde demais para dizer a Xavier. Se ele descobrisse que
perdeu três anos da vida de sua filha, seria insuportável — continuou
Claudia.
— Então você acha que ele deveria perder mais memórias? — Eu
ponderei em voz alta.
Era errado para ela manter esse segredo — essa pessoa — de Xavier.
Ele tinha o direito de se envolver na vida da filha, não tinha?
Ela não queria que ele estivesse presente na vida da filha, e não apenas
ser um estranho com o mesmo DNA?
— Escute, Angela. Você está apenas ouvindo os fatos. Há anos agonizo
com eles, — afirmou Claudia. — Ser mãe solteira é como tentar construir
uma montanha de areia. E acordar sabendo que, mesmo que você esteja
fazendo o seu melhor, nunca será boa o suficiente.
Pensei em meu pai e em como tínhamos sido duros com ele quando
ele nos criou sozinho. Ele nos deu tudo o que tinha, mas sempre pedimos
mais tempo, mais esforço, mais ele.
Não é de se admirar que, quando fôssemos adultos, seu coração estava
se partindo. Tínhamos retirado muito de sua saúde para nós mesmos.
Eu ainda não entendia por que Claudia não queria que Xavier
soubesse sobre o bebê, mas foi um grande sacrifício — para ela e sua filha
— e um que eu não conseguia entender. Mesmo que eu tentasse. Porque
eu estava do lado de fora, olhando para dentro.
Ela estava certa. Não era minha função julgar suas escolhas ou seu
silêncio.
— Eu ganho um bom dinheiro na Animas, mas não é o suficiente para
criar uma filha, especialmente sem pensão alimentícia, — observou
Claudia.
— Xavier pagaria isso. É sua responsabilidade, — eu disse.
— Não. Eu não posso pedir isso. Não posso complicar suas vidas mais
do que já fiz. Já fui muito egoísta, Angie — disse Claudia, colocando a
mão sobre a minha em simpatia. — Não posso pedir mais nada, exceto
que você mantenha meu segredo.
Naquele segundo, percebi que, ao não pedir nada, Claudia estava
pedindo tudo.
XAVIER

Eu mal podia esperar que Angela voltasse para casa.


Honestamente, eu queria arrancar a porra do relógio da parede,
quebrar o tempo pela metade para que ela pudesse vir mais cedo.
Eu não queria mais foder ninguém além do meu anjo, mas queria
possuí-la o tempo todo.
Eu tive muitas mulheres bonitas na minha cama, mas Angela foi a
primeira pessoa com quem eu realmente me conectei... a primeira em
que realmente confiei. Por completo.
Eu amei Claudia. Mesmo. Eu amei sua voz, sua atitude ousada, o jeito
que ela não aceitou nenhuma das minhas besteiras. Mas, na realidade, ela
pensava que eu era uma grande besteira.
Quando ela foi embora, isso foi o suficiente para me cortar ao meio.
Eu senti como se minhas melhores partes tivessem desaparecido.
Mas quando descobri que ela me traiu com meu melhor amigo,
Daniel, percebi que ela era a pior parte de mim.
No início, doeu tanto que eu não conseguia respirar. Ou falar. Ou me
mexer.
Mas então... foi como uma injeção de Novocaína no coração. Eu
estava tão entorpecido... Eu não era eu. Eu era um manequim que podia
andar. Então foi isso que eu fiz — eu caminhei. No mundo todo.
Entrando e saindo de resorts caros, carros caros e mulheres caras.
Até Angela. Ela me deu o poder de sentir novamente, e a noite passada
foi tão gostosa. Sua pele macia na minha...
Por um lado, ela me fez querer fazer coisas de relacionamento, como
abraçar.
Por outro lado, eu queria jogá-la na mesa da cozinha e transar com ela
até que o mogno se partisse ao meio.
Agora eu estava morrendo de vontade de ela voltar para casa, segurá-
la contra meu peito e beijar o mundo todo.
Foi quando ouvi passos se aproximando.
Assim que Angela entrou pela porta, eu corri na sua direção,
levantando-a, entrelaçando suas pernas em volta dos meus quadris. Eu a
joguei no sofá, deixando beijos em sua cabeça, queixo, clavícula.
Peguei sua mão, colocando um beijo suave nela.
E então coloquei meus dedos em seu coração.
Estava batendo fora de controle.
ANGELA

Xavier estava a centímetros do meu rosto, mas a uma galáxia de


distância.
O silêncio que prometi a Claudia deslizou entre nós, ocupando muito
espaço.
Ele me viu, me viu de verdade, mas não conseguiu se conectar de
verdade comigo. Porque eu estava escondendo algo. Minha armadura
estava levantada, embora eu estivesse deitada em cima dele.
Eu o estava protegendo da verdade.
— Você é o meu mundo inteiro, Angela, — Xavier professou,
mordiscando o lado da minha orelha. As ondas de choque prazerosas
galopavam por mim, tentando me distrair dos fatos que me consumiam
por dentro.
Percebi que, sim, eu era o seu mundo.
Mas Sophie... sua filha... ela poderia ser seu universo.
Fechei meus olhos, desejando, pela primeira vez, realmente manter a
verdade dentro de mim.
Capítulo 18
Virando o jogo

ANGELA

Xavier era alérgico a manteiga de amendoim, mas adorava chocolate.


Deitei esparramada ao longo da mesa da cozinha enquanto ele regava
cacau derretido para cima e para baixo de minhas coxas, seguindo os
caminhos açucarados com a língua.
Eu podia sentir meus dedos me segurando enquanto a sensação
tomava conta de mim, podia senti-lo deslizar meu vestido do meu peito,
com a confeitaria quente caindo em círculos na minha pele.
Xavier colocou seus lábios contra meus seios, limpando a calda de
chocolate com a língua. Ele permaneceu se pressionando contra mim,
sua respiração colidindo com o calor.
O ar frio na minha carne molhada me fez estremecer de prazer
enquanto ele colocava a boca no meu mamilo e o chupava suavemente.
Ele olhou para mim, seus olhos travessos enquanto minha respiração
ficava instável.
Eu busquei ar quando Xavier cavou uma colher profundamente no
chocolate derretido e jogou em meu vestido.
— Xavier! — Eu exalei, chocada que ele estava fazendo isso. Mas antes
que eu pudesse questioná-lo mais, ele puxou minha cabeça contra a dele
para um beijo profundo e ofegante.
— Acho que você vai ter que tirar, agora está sujo, — ele disse,
desembrulhando meu vestido e deixando-o no chão.
Seus dedos tiraram minha calcinha, abandonando-a no chão
enquanto ele se aproximava de mim.
Eu caí de costas enquanto ele me beijava de cima a baixo no meu
torso, minhas pernas, meu pescoço.
Enquanto eu me contorcia de alegria, a mesa fria da cozinha me
deixou ainda mais excitada.
Mordi meu lábio com força, agarrando cada parte de Xavier que eu
podia alcançar.
Respirações sônicas profundas começaram a escapar de mim.
— Oh, Angela, — Xavier sussurrou. — Meu anjo, meu...
A campainha da porta tocou de repente, interrompendo nossos
movimentos.
Xavier rosnou enquanto seus olhos piscavam em direção à porta.
— Não se mova, — ele avisou, se afastando de mim.
Eu ri e rolei sobre meu estômago, observando seu corpo nu disparar
em direção ao elevador.
— O que é? — Xavier gritou ao interfone. Sua mão se abaixou,
envolvendo em torno de sua masculinidade ereta e movendo-se
languidamente para cima e para baixo.
Eu mordi meu lábio. Assistindo. Espera. Querendo.
— Desculpe interromper seu fim de semana, Sr. Knight, — o porteiro
disse através do dispositivo. — Só quero que você saiba que acabei de
deixar um visitante subir.
Os olhos de Xavier se arregalaram, sua mão parando seus
movimentos.
— O quê?
— Ele disse que era o pai da Sra. Knight, — disse o porteiro, e então
sua voz foi cortada quando Xavier soltou o botão de chamada.
— Puta merda, — ele disse, com os olhos disparando das portas do
elevador para o meu corpo nu. — Porra, porra, porra.
Rolei para fora da mesa, pegando meu vestido do chão, enquanto ele
corria de volta para a cozinha e, ao acaso, pegava um alqueire de bananas
e os segurava contra sua virilha.
— Isso não vai funcionar, — eu sibilei, conseguindo puxar meu
vestido pela cabeça quando as portas do elevador se abriram.
— Filhinha! — meu pai anunciou, entrando na sala de estar.
Em pânico, Xavier caiu no chão atrás da bancada da cozinha.
— E-ei, pai, — eu disse, enrubescendo e tentando não pensar no
chocolate pegajoso por toda a minha pele, vestido e cabelo.
— O que você está fazendo aqui?
Os olhos de papai se arregalaram quando ele viu minhas roupas, o
recipiente de calda de chocolate na mesa e...
Oh.
Meu.
Deus.
Meu sutiã azul marinho estava no chão, na terra de ninguém entre
meu pai e eu.
Fiquei tão envergonhada que tive vontade de bater na parede e selar-
me dentro do gesso.
Eu estava tão animada que Xavier e eu estávamos finalmente
conhecendo os corpos um do outro, para traçar os mapas na pele um do
outro.
Mas papai não deveria ser uma testemunha disso!
— Bem, — papai começou, — vim fazer uma surpresa para você, mas
posso ver que peguei você no meio de alguma coisa.
— Como você sabia onde me encontrar? — Eu perguntei, distraindo-o
para que eu pudesse dar uma olhada em Xavier.
Ele tinha se arrastado até o final do balcão e estava tentando pegar sua
calça de moletom Versace. Eles ficaram onde haviam sido descartados
sem cerimônia no final da mesa de jantar, apenas fora de seu alcance.
— Eu peguei o endereço com Em, — papai disse, observando
enquanto eu abria caminho até as calças. — Como eu disse, queria fazer
uma surpresa para você.
Chegando ao final da mesa, chutei a calça de moletom para a cozinha.
— Surpreender-me como?
— Bem, eu vi as notícias, — disse papai. — Então, pensei em vir e lhe
dar um presente de chá de bebê antecipado.
Meu estômago embrulhou. Eu adiei dizer ao meu pai que não estava
realmente grávida, recusando-me a retornar suas ligações. Não porque eu
queria ignorá-lo, mas porquê... responder à pergunta tinha sido demais.
Parecia que tudo o que eu estava fazendo era responder à pergunta.
E eu sabia que papai ficaria muito feliz com a notícia de uma gravidez,
com a notícia de um neto. Eu só não queria matar sua alegria. Mas agora
ele estava aqui.
Eu deveria saber que ele não esperaria eu retornar sua ligação.
— Pai, eu… — eu comecei, mas Xavier, tendo lutado para colocar suas
calças, me salvou de responder.
— Sr. Carson, — ele disse, surgindo atrás do balcão.
Os olhos do meu pai dispararam quando ele viu o peito nu de Xavier.
— Bonitão... Eu estava me perguntando onde você estava. Vocês dois
deveriam, ah, se endireitar. Danny está a caminho.
— Danny? — Eu me perguntei.
— Sim, nós dois vamos construir um berçário para você.
Oh, Deus. Eu abri minha boca para falar, mas as palavras não saíram.
Papai estava tão animado com isso. Se eu pegasse isso dele, quebraria
seu coração, fisicamente.
Eu não podia arriscar dizer a verdade a ele, não é?
Xavier não me notou em pânico silencioso. Ele tentou dizer ao papai o
que eu não conseguia.
— Isso é completamente desnecessário, Sr. Carson, não estamos
esperando um...
— Eu sei que vocês, Knights, provavelmente têm construtores e
designers de classe mundial — este é o lugar que você tem aqui — mas
um bebê precisa de algo construído com o carinho que só a família pode
dar, — papai disse, interrompendo-o.
Eu tinha que dizer algo antes que ele começasse a quebrar paredes.
— Obrigado, pai, sério. Mas eu não estou grávida, — eu disse.
— Eram apenas notícias de tabloide. As pessoas escrevem todo tipo de
coisas malucas sobre minha família, Sr. Carson, — Xavier elaborou.
Meu pai franziu a testa em descrença.
— Então por que você esperou tanto para dizer isso? — ele sondou, se
aproximando de mim.
— Bem... eu, uh, nunca disse a ninguém que estava grávida em
primeiro lugar. Foi... hum... um boato que outra pessoa começou, — eu
tentei explicar, com muito medo de admitir que gostava da sensação de
suas esperanças estarem crescendo.
Gostei da sensação de fazer meu pai feliz.
Deixando-o orgulhoso.
E dizer a ele parecia... machucá-lo.
— Mas espere, vocês dois estão aparentemente tentando como loucos,
— papai afirmou, não querendo aceitar que ele não teria um neto tão
cedo. — Pelo amor de Deus, você está coberta de calda de chocolate,
Angie.
Fiquei boquiaberta. Eu vi Xavier tentando segurar sua risada por
dentro.
— Sr. Carson, agradeço seu... interesse, mas isso é particular, — ele
conseguiu dizer, puramente por minha causa, eu sabia. Mas papai não
estava aceitando. Suas perguntas tornaram-se ainda mais invasivas.
— Vocês dois estão usando proteção? — Papai questionou, como se
estivesse tentando chegar ao fundo desse mistério.
Mas essa foi a gota d'água para mim.
Eu não poderia ficar na cozinha um segundo a mais, não depois que
meu pai, meu pai. estava comentando sobre essa situação.
Eu fugi da sala. Parecia que havia baratas rastejando sob minha pele.
Por causa de como isso tinha sido nojento, sim, mas também porque as
intuições de meu pai estavam corretas. Não estávamos usando proteção.
Eu posso estar grávida.
Deus, eu esperava que não estivesse. E depois do que descobri hoje
cedo...
Xavier nem sabia sobre seu primeiro filho.
Minha respiração ficou instável enquanto eu pensava sobre o que
significaria trazer uma criança para nossa família destruída, para todos
esses segredos abrasadores e mentiras desequilibradas.
Eu me recompus quando meu celular tocou.

Em: Angie, estou atrasada.


Em: Estou ATRASADA!

Angela: Para quê?

Em: meu CICLO está atrasado.

Em: Acho que estou grávida.

Em: Mds, chorando...

Angela: Você fez um teste?

Em: Comprando um agora.

Angela: Compre 2.

Angela: Por favor.

Em: Espere, o quê?

Em: Tipo, 1 para você?

Angela: Sim.

Em: Mds!

XAVIER

Isso já se tornou ridículo pra caralho.


Angela e eu fizemos sexo uma vez.
Uma e meia se você contar antes de Ken nos interromper.
Ela não estava grávida. Todo mundo queria tanto que ela estivesse, de
nossos pais aos tabloides, que ela se convenceu de que poderia estar.
Quando Em veio com o teste, ela trouxe uma porra de uma comitiva
com ela.
Lucas e Danny entraram com ela como se fôssemos assistir futebol,
jogando high-five e abrindo algumas cervejas. Parecia um circo, como se
Angela e minha noite íntima tivessem se tornado um evento público.
Eu não conseguia acreditar que esses eram os pensamentos que eu
estava tendo, mas tudo que eu queria era ficar sozinho com minha
esposa! Aninhado ao lado dela. Sentindo sua pele, seu calor, seu conforto.
Mas em vez disso, eu tinha isso.
Essa comoção.
Esse caos.
E não havia nada privado, nada reconfortante nisso.
ANGELA

Lucas, Danny e papai estavam espreitando do lado de fora do


banheiro enquanto Em me entregava o teste.
— Gente, Angela e eu precisamos de privacidade, — disse Em. Eles
não se mexeram.
— Estamos muito animados e queremos estar com vocês, a cada passo
do caminho, — Lucas empurrou de volta, recusando-se a nos dar espaço.
— Você vai nos assistir fazer xixi nos testes? — desafiou Em. Eu amei
como ela sabia como falar por si mesma — e por mim — sem nenhum
medo. Ela empurrou os homens para fora da sala e fechou a porta.
— Desculpe, eles insistiram em vir, — Em sussurrou. — Parte da razão
pela qual eu queria que eles saíssem daqui é para que eu pudesse me
desculpar por ser tão chata no outro dia.
Eu levantei minhas sobrancelhas em surpresa. Eu não tinha julgado
Em pela raiva que ela sentiu de mim quando ela pensou que eu estava
grávida, mas a memória permaneceu.
Honestamente, achei que ela me apoiaria sob uma tempestade na
mídia, e não ficaria desapontada por ela não ser a única com as notícias.
Ela me entregou o teste de gravidez e olhou para a parede do banheiro
enquanto eu fazia xixi nele. Na faculdade, nós dividíamos banheiros o
tempo todo. Ela mal fechava a porta quando éramos colegas de quarto no
ano passado.
Isso era normal para nós, mas ainda assim, com apostas tão altas,
parecia algo além de íntimo.
— Eu fui uma melhor amiga de merda, Angie. Eu estava tão brava por
não ser capaz de engravidar, e me culpei por tanto tempo, que no
segundo que soube que você estava esperando um bebê, projetei todas as
minhas inseguranças confusas em você, — Em admitiu.
Eu inalei suas palavras, o que tornou o ar espesso e vulnerável.
Levantei-me e coloquei o teste no balcão enquanto Em pegava o dela.
— Tudo bem. — Eu sorri pra ela. — Eu sei que você está passando por
muita coisa também. Estou muito feliz por estarmos fazendo isso juntas
agora.
— Eu realmente quero isso, Angie. Para nós duas, — ela disse.
Eu encarei a parede, sorrindo.
Foi tão bom receber um pedido de desculpas sem ter que pedi-lo. Já
havia desistido de nossa pseudo-briga. No entanto, era importante que
Emily não tivesse.
Ela bateu seu teste ao lado do meu. Eu me virei para ela.
— Você sabe que será uma mãe incrível, uma mãe muito legal, assim
que chegar a hora certa.
Em pegou minha mão e então ela acenou com a cabeça.
— Só espero que a hora seja agora.
Tentei manter meu sorriso firme, mesmo com a preocupação
correndo em minha mente. Eu não. pensei comigo mesma. Eu realmente
não sei.
XAVIER

Para a família de Angela, os vinte minutos que as meninas levaram


para fazer os testes de gravidez foram insuportáveis.
Para mim, foi uma perda de tempo.
Angela não engravidaria depois de um ataque de intimidade. A
probabilidade disso era quase nenhuma.
Se fosse algo que realmente aconteceu, você sabe quantos filhos eu
teria por aí?
Isso era ridículo.
E Ken estava ficando ainda mais ridículo a cada segundo.
— Aposto que as duas estão grávidas, — previu ele, agarrando o braço
de Lucas. — Eu sinto isso nos meus ossos.
— Isso seria tão fofo, — concordou Danny, me surpreendendo com
seu entusiasmo. Danny era o mais varonil da família e aqui estava ele
delirando como uma universitária.
— Os bebês podem ser melhores amigos. Poderíamos comprar roupas
combinando para eles e fazer festas de aniversário em conjunto.
— Você realmente acha que elas estão grávidas ao mesmo tempo, e
que têm a mesma data de parto? — Eu soltei. — Isso é ridículo.
Lucas olhou para mim.
Ridículo.
Foi a única palavra que passou pela minha cabeça.
— Você não está nem um pouco animado para ter um bebê? — Lucas
perguntou, olhando para mim como se ele não pudesse me entender. Era
isso.
— NÃO HÁ BEBÊ NENHUM! — Eu trovejei.
ANGELA

Em e eu olhamos para nossos testes, os resultados desaparecendo


lentamente. Eles estavam um ao lado do outro, e meus olhos voaram de
um para o outro.
Eu podia sentir cada músculo dentro de mim ficando tenso.
Meus pulmões estavam tendo dificuldade para conseguir ar.
Meus dedos tremiam.
Meus joelhos dobraram.
E foi então que apareceram os resultados.
As pequenas marcas, claras como o dia.
Um dos testes deu negativo. Foi o que vi primeiro.
Mas o outro... Eu olhei para Em, com nossos olhos cheios de lágrimas.
Uma de nós estava grávida.
Capítulo 19
Uma pausa grávida

ANGELA

Em saiu do banheiro antes de mim, seus olhos brilhando com


lágrimas de alegria.
— Estou grávida! — Ela aplaudiu, e a sala explodiu em excitação.
Todos ficaram em êxtase com a notícia.
Exceto por mim.
Não sabia explicar, mas um pedaço de mim queimou de decepção.
Eu gostaria de estar grávida?
Não, não havia como.
Xavier e eu estávamos descobrindo como amar um ao outro.
Não seria justo levar uma criança a essa loucura.
Agora não, pelo menos.
E isso foi antes de pensar em toda questão Claudia/Didi.
Enquanto eu observava Em pular nos braços de Lucas, meu pai
pegando os dois em um abraço exultante, eu percebi qual era a âncora
que fazia meu estômago afundar.
Não fiquei desapontada. Eu era a decepção. A única coisa, a única
coisa importante para nossos pais era dar a eles netos, adicionar galhos à
árvore genealógica que eles plantaram para nós. E eu não estava fazendo
isso. Eu não estava pronta — ainda não.
Xavier estava pronto?
Então me dei conta.
Ele já tinha uma filha.
Como ele poderia não saber? Ele ao menos queria saber?
Não era como se Claudia ainda estivesse com ele, certo? Se ele
descobrisse... ele gostaria de voltar para ela?
Não era como se eu pudesse impedi-los. Eles eram uma família. Xavier
e eu éramos um acordo.
Eu lancei um olhar para Xavier enquanto Emily jogou os braços em
volta de mim, colocando a cabeça no meu ombro em êxtase.
— Não acredito que vou ser mãe, Angie. Eu não sabia que podia me
sentir tão feliz, — ela sussurrou.
Eu a apertei com todas as minhas forças, sorrindo.
— Eu te amo, Em. E eu também a amarei.
— Quem disse que estou tendo uma menina?
— Eu disse. — Eu ri, deixando os pontos de interrogação dentro de
mim se transformarem em pontos de exclamação. Todo mundo estava
comemorando. Lucas estava brilhando, radiante de excitação, como se
tivesse engolido o nascer do sol. Nunca o vi tão luminoso.
— Então ela será sua sobrinha. A melhor parte de tudo isso é que
minha família é sua família agora, — disse Emily.
Naquele momento, eu queria esvaziar todos os arquivos de dor dentro
de mim, dobrar todos os meus medos em guindastes de papel e, em
seguida, dar cada pedaço de mim para Em e sua futura filha.
Fiquei feliz por ela — por todos nós. Nada era mais importante do que
essa criança.
Isso foi o que eu disse a mim mesma, repetidamente. Mas os medos
confusos do que Xavier não sabia — o segredo que eu agora estava
mantendo ativamente — ainda ocupavam um canto escuro assustador
em minha mente.
XAVIER

Quando soube da notícia, meu pai insistiu que ele levasse toda a
família para um jantar de comemoração no lugar mais exclusivo que
pudesse.
O pai e os irmãos de Angela estavam entusiasmados com a comida
gourmet gratuita, mas não sabiam realmente o preço.
Quando a família de Angela encontrou seus lugares no elegante
restaurante de sushi, papai entrou com as mãos entrelaçadas nas de
Penny.
Eu olhei para Angela.
Como ele poderia trazer essa mulher para nosso evento familiar
particular?
Ela não era nada além da drogada que uma vez implorou para estar na
minha cama.
Tentei controlar minha respiração, para abafar minha raiva, mas vê-
los juntos ainda foi um choque para mim.
Ao mesmo tempo, porém, meu pai parecia feliz. Ele estava
praticamente brilhando.
Eu não o tinha visto rir tanto em décadas.
Talvez tenha valido a pena essa situação fodida.
Ele merecia ser feliz.
Enquanto o garçom nos servia martinis de lichia de cor creme, eu
tomei um gole generoso.
Angela percebeu e apertou minha mão, mas eu estava muito ocupado
observando meu pai.
Ele não conseguia tirar os olhos de Penny, não conseguia parar de
sorrir para ela.
Eu bebi mais.
Ele merece ser feliz, eu me lembrei.
Mas então meu olhar mudou para ela.
Ela estava claramente tentando minimizar a questão — ela usava uma
camiseta casual de grandes dimensões e alguns jeans rasgados.
Mas ela não conseguia esconder a bolsa de grife Chanel pendurada no
ombro, ou a pulseira de platina com diamantes em seu pulso.
As vantagens de namorar um Knight. Pensei antes que pudesse me conter.
E isso foi o suficiente para a raiva mostrar seu rosto.
— Penny, deve ser bom estar sentada em um restaurante sofisticado,
sem ter que cantar. — Eu a golpeei com minhas palavras.
— Bem, eu adoro cantar, mas estar aqui é bom, — Penny respondeu,
ilesa.
— Sempre é! — Papai concordou, sorrindo.
Nossos aperitivos haviam chegado e eu não perdi tempo em enfiar na
boca atum apimentado com molho de pêssego.
Depois de literalmente escolher minha esposa, o homem não
conseguiu considerar meus sentimentos — ou mostrar decência humana
— antes de tentar substituir minha mãe.
Eu simplesmente não conseguia entender o que ele viu nela. Sua
história com Jacques, o psicopata. Seus traços delicados, seu cabelo
encaracolado.
Ela era gostosa, mas não gostosa pra casar.
Ela era um tapa buraco.
Era isso.
E agora que ela estava presa ao quadril de meu pai, empurrando-a
direto para os holofotes de Knight, toda a cidade de Nova Iorque tinha
um passe de acesso total para a recuperação de meu pai, décadas em
formação.
Mas apesar de tudo isso, apesar da imprensa negativa e das bocas
abertas ao vê-los, era como se ele nem se importasse.
E a reputação dos Knights era algo com que papai sempre se
preocupou.
Foi por isso que ele se levantou de manhã e foi o último pensamento
que teve antes de dormir.
A única razão pela qual ele me deixou escapar impune foi porque eu
era seu filho. Ele amava ser meu pai mais do que ser um Knight.
Então me dei conta.
Penny significava tanto para meu pai?
— Você realmente acha que ele está feliz? — Sussurrei no ouvido de
Angela.
Ela inclinou a cabeça para Brad, que estava rindo enquanto assistia
Penny lutar com seus hashis. O pãozinho de manga com salmão da
garota estava virando mingau em seu prato.
— Não é óbvio? — Angela sorriu de volta para mim.
BRAD
Eu queria ser feliz, de verdade.
Penny era suave e especial. Ela não conseguia preencher o vazio da
minha esposa perdida, mas sua voz delicada era como um fio carmesim
que poderia costurar a ferida com alegria.
Mas sentar naquela mesa, comemorando o nascimento do neto de
outra pessoa, me fez ansiar por mais. Por uma nova vida, um neto meu.
Xavier e Angela estavam juntos há um ano, um ano inteiro, e ainda
não se falava sobre planejamento familiar. Mesmo que eu nunca tivesse
deixado os dois me ouvirem dizer isso, me doeu. Eu não queria nada
mais do que mimar um ou dois netos meus!
— Parabéns ao meu filho maravilhoso, Lucas, e à sua linda esposa,
Em! É uma pena que você não tenha tido essa notícia quando eu estava
doente. Eu juro, ouvir que eu estava tendo um neto teria consertado meu
coração e nos salvado de muito estresse! — Ken brincou, enquanto todos
ergueram suas taças de cristal em comemoração.
Não pude deixar de sentir um pouco de ciúme do homem. Nós dois
fomos criados por mundos diferentes. Não havia dúvida sobre isso. Meus
mocassins de couro italiano e suas botas arranhadas pertenciam a
universos diferentes, mas o pai de Angela parecia feliz.
O homem tinha passado por tudo com sua saúde no ano passado e,
ainda assim, eu nunca tinha visto uma pessoa mais alegre.
Era como se ele tivesse tudo o que poderia desejar. Como se ele
estivesse contente.
Eu nunca estive contente em minha vida, sempre precisei da próxima
coisa. Caramba, eu estava fazendo isso agora, pensando em pressionar
meu filho a ter filhos apenas para que eu pudesse conhecer a alegria de
ser avô.
Eu me levantei da mesa, tremendo. Eu não queria que minha família
me visse assim — tão descontrolado.
— Com licença, — eu murmurei e corri em direção aos banheiros, em
direção à privacidade, em direção a um lugar onde eu pudesse ficar de
mau humor sem falar tudo sobre mim.
Sob a luz fraca das lanternas penduradas sobre mim, joguei um pouco
de água no rosto. Inspire. Expire. Inspire. Expire.
Recomponha-se.
Eu me virei para a porta, observando enquanto Ken entrava. Tentei
fixar um sorriso em meu rosto.
Brilhante.
— Muito obrigado por nos trazer aqui. Este restaurante é excelente.
Juro que nem os peixes resistiriam a esse sushi, — ele disse.
— É um prazer, Ken. É o mínimo que posso fazer. Eu não posso
acreditar que Em e Lucas acabaram de se casar e já estão tendo filhos. É
tão emocionante, — eu disse, tentando manter minha dignidade, fazer a
coisa honrosa.
O homem tinha todo o direito de estar feliz.
— Eu sei que você está chateado, — ele respondeu.
— P-por que eu estaria? — Eu me atrapalhei, tentando manter minha
compostura. Não era frequente um homem me pegar de guarda baixa.
— Porque também estou chateado.
Eu fiz uma careta.
— Você está? Por quê?
— Angela e Xavier são um casal lindo. Já se passou um ano e estou...
esperando alguns netos lindos. Não é?
— Sim, — eu admiti. — Mas esta noite é sobre Em e Lucas.
— Nah, é sobre família, — Ken disparou de volta. — Brad, você e eu
somos uma família e precisamos encorajar nossos filhos a construir as
suas.
— Você quer dizer a eles o que está em nossas mentes? Isso é como
pressão de grupo, Ken. Eu não posso fazer isso...
— Oh, mas eu posso.
Eu olhei para o homem na minha frente, vendo um brilho em seus
olhos.
— O que você está falando? — Eu perguntei.
— Um pouco de culpa para ajudar a fazer o truque. Pelo menos esta
condição cardíaca pode finalmente ser bem aproveitada.
Eu não pude evitar. Eu soltei uma risada. Fiquei chocado que Ken
fosse tão ousado, mas uma parte de mim também ficou impressionada.
ANGELA

Assim que o garçom ateou fogo ao sorvete frito, papai e Brad voltaram
do banheiro, trocando olhares amigáveis. Foi surpreendente e ótimo ver
Xavier e minha família se dando bem.
— Você tem que cavar primeiro, Em, — eu disse, entregando a ela uma
colher. Ela sorriu, esperando que as chamas parassem de ondular sobre a
iguaria, e então deu uma grande mordida.
— Ok, eu faria coisas ilegais por esta sobremesa. E sério! — ela
exclamou. — Vou ter um segundo filho só para podermos voltar a este
lugar.
— Ou podemos voltar quando você engravidar, Angela, — disse meu
pai.
Senti minhas bochechas queimarem, meu rosto provavelmente se
transformando numa rosa manchada.
— Angela é mais o tipo de garota tímida, Ken, você sabe disso —
respondeu Xavier facilmente.
— Você tem razão. Acho que o que estou tentando dizer é que vocês
dois estão casados há um ano, e Emily e Lucas acabaram de fazer seus
votos, — meu pai respondeu.
O que ele estava fazendo?
Ele não precisava nos lembrar.
— Eles não estão prontos, — Brad interrompeu, um sorriso se
formando em seus lábios.
Eu vi nossos pais trocando olhares.
Eles planejaram uma emboscada no banheiro masculino?
Papai se esticou sobre a mesa e pegou minha mão.
— Angie, e se algo acontecer ao meu coração de novo? Não suporto a
ideia de deixar este mundo sem ter um neto seu para me despedir.
Ele não ousaria.
Parte de mim não conseguia acreditar na maneira como ele estava
jogando suas cartas, mas a outra parte se encheu de hipóteses. E se ele
estivesse certo?
E se tivesse que acontecer agora?
— Não diga isso, pai. Não posso suportar a ideia de que algo aconteça
com você, — respondi, sentindo o peso do mundo se comprimindo em
um nó na garganta.
Tentei desviar o olhar, mas ele não deixou.
— Você já está prestes a se tornar um vovô!
— E quanto a Brad? Xavier, você é seu único filho. Ele não merece um
neto?
Foi então que senti meu rosto perder a cor.
A verdade passou por mim em ondas elétricas.
Brad tinha uma neta e não sabia que ela existia.
Quando prometi guardar o segredo para Claudia, não apenas jurei
escondê-lo de Xavier. Eu também estava enganando Brad.
Meu sogro era a razão de eu ainda ter um pai. Ele não apenas me deu
Xavier, mas também salvou a pessoa mais importante da minha vida
antes dele.
Esconder a neta dele era como amputar um galho de sua árvore
genealógica.
Eu olhei fixamente para Xavier. Como ele poderia não saber?
O segredo parecia mil telefones tocando dentro de mim, precisando
ser atendidos.
As palavras estavam prontas para sair da minha boca. Então, coloquei
o máximo de sorvete possível lá dentro, praticamente devorando a
sobremesa inteira.
Xavier agarrou minha colher enquanto eu mergulhava para outra
mordida. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, alarmado.
— Tem algo errado? — ele pressionou.
Eu balancei minha cabeça, fechando meus olhos com força. Contar a
verdade, aqui, na frente de todos, iria matá-lo. Eu precisava ficar em
silêncio, mesmo que isso estivesse me matando.
Mas ele não me deixaria morrer em paz.
Ele aproximou o rosto, olhando profundamente nos meus olhos.
— O que está acontecendo? Você está... escondendo algo?
Capítulo 20
O P reço certo

ANGELA

Angela: Podemos nos encontrar?

Didi: Você está bem?

Angela: Sim, é só que...

Angela: Não tenho certeza se posso manter esse segredo por


muito mais tempo.

Didi: Você prometeu.

Angela: Eu sei.

Angela: Mas eu não gosto de esconder coisas do Xavier.

Angela: Eu realmente acho que você deveria falar com ele...

Didi: Eu vou.

Didi: Em breve.

Angela: O que significa em breve?

Didi: Há algumas coisas que ainda preciso resolver.

Angela: Que coisas?

Angela: Talvez eu possa ajudar.

Didi: Ok.
Didi: Vamos nos encontrar.

Didi: Posso explicar.

Eu não queria que Xavier soubesse para onde eu estava indo. Isso
significava que Marco também não poderia saber.
Então, peguei o metrô para o Bronx, correndo de um trem para outro
no frio intenso.
A última vez que peguei o metrô para o Bronx foi bem quando me
mudei para a cidade, quando os trens ainda me confundiam, e eu estava
muito preocupada em não parecer uma turista.
Agora, eu conhecia o sistema de metrô como a palma da minha mão.
E embora o fato de ser dirigido por Marco ter tornado o deslocamento
muito mais fácil, havia algo de muito libertador em navegar sozinha
pelas plataformas do metrô. Foi como uma lufada de ar fresco, bem
quando eu precisava.
Ao mesmo tempo, eu mal conseguia sentir. Eu estava cheia da dura
realidade de que Xavier tinha uma filha — com Claudia.
Claudia tinha que dizer algo sobre isso. Para ele. Eu não sabia por
quanto tempo mais eu poderia me torturar mantendo seu segredo.
Nós nos encontramos num parque em seu bairro no Bronx, o que foi
bom. Nunca veríamos um Knight nesta parte da cidade.
A menos que você conte comigo, eu me lembrei.
Eu me perguntei se eu era realmente uma Knight agora. Conspirando,
conhecendo mulheres pelas costas do meu esposo... talvez eu finalmente
tivesse ganhado meu lugar na família intocável.
Eu esperei no parquinho.
Claudia queria que nos encontrássemos no balanço. Ela não estava lá.
Eu esperei, sentada em um, com minhas pernas me balançando para
frente e para trás em ansiedade. Quando Claudia passou de cinco
minutos atrasada para dez, e depois para vinte, eu balançava mais e mais,
desesperada por uma distração.
E se ela não vier? Eu pensei. Terei que esconder a verdade de Xavier para
sempre?
Quando eu estava prestes a pular do balanço e sair correndo dali,
Claudia correu até mim, parecendo um pouco exausta e com frio. No
entanto, de alguma forma, seu cabelo ruivo brilhante era perfeito,
mesmo com o vento forte.
— Ei, desculpe, o trabalho me atrasou, — ela disse.
— Sem problemas..., — eu murmurei, sem saber por onde começar.
Eu diminuí o movimento do balanço. Ela se sentou ao meu lado.
— Tenho trabalhado muitas horas extras. A pré-escola está prestes a
começar e, claro, eles querem que as mensalidades sejam pagas com
meses de antecedência.
— Oh. — Eu poderia apenas dizer isso? Eu me perguntei. Posso apenas
dizer a ela que Xavier precisava saber?
Se ela não pudesse contar a ele, eu contaria. Eu não pude evitar.
Nunca fui boa em guardar segredos, muito menos de alguém que amava.
— Ouça... vou contar a Xavier sobre Sophie, — afirmou Claudia antes
que as palavras pudessem borbulhar na minha garganta.
— Quando?
— Quando eu puder.
— Por que você não pode fazer isso agora? — Eu me perguntei em voz
alta, pensando em como seria mais fácil ter a verdade revelada.
Claudia respirou fundo, com dor.
— As coisas não estão tão boas para mim financeiramente no
momento. Trabalhar para uma organização sem fins lucrativos não é,
bem, tão lucrativo. Sophie precisa de tantas coisas e não posso dar a ela.
Se eu for para Xavier agora, ele pensará que estou atrás de seu dinheiro,
que estou apenas tentando usá-lo...
Eu gostaria de não saber como era a sensação, mas podia me lembrar
vividamente de como Xavier me odiava quando pensava que eu estava
apenas em sua vida para tirar dele.
— Eu prometo, Angela, vou entrar em contato assim que tiver
dinheiro suficiente para garantir que nossa filha esteja na pré-escola.
Apenas me dê um pouco de tempo. Eu não vou dormir até que possa
consertar isso. Faz muito tempo que não tenho uma boa noite de sono —
disse Claudia, com a voz embargada.
Eu pude ver que ela estava usando todo o seu poder para não chorar, e
meu coração estava pesado no meu peito.
Não era justo.
Eu estava vivendo uma boa vida com Xavier, comendo caviar e
dormindo em lençóis de seda, enquanto Didi e Sophie mal conseguiam
sobreviver.
Eu assisti meu pai criar meus irmãos e eu como pai solteiro. Eu
reconheci a mesma luta em Didi, agora. Ela precisava de apoio.
— O que seria necessário para consertar isso? — Eu perguntei. Didi
me ajudou muito na minha carreira. Certamente havia algo que eu
poderia fazer em troca para aliviar sua carga.
— O que você quer dizer? — Claudia respondeu, com as lágrimas em
seus olhos se transformando em um brilho.
Dei de ombros, tentando pensar em coisas que poderiam ter ajudado
meu pai quando eu estava crescendo.
— Eu poderia ajudá-la a encontrar uma babá, comprar alguns
mantimentos... O que você precisa?
Os olhos de Didi caíram para o chão.
— O pagamento inicial para a pré-escola dela é o que mais está
doendo agora.
Respirei fundo. Eu sabia que as pré-escolas não eram baratas, embora
alguns milhares de dólares dificilmente prejudicariam as contas
bancárias de Knight. Eu tinha certeza que Didi me pagaria assim que as
coisas mudassem para ela...
— Se você não tivesse que pensar nas contas da pré-escola, você
contaria a verdade para Xavier? — Eu me perguntei.
— Você poderia fazer isso?
Mordi meu lábio, me perguntando se eu poderia... se eu deveria.
Era isso realmente o que eu estava oferecendo?
Parecia a melhor solução.
Colocar Sophie em uma pré-escola tiraria muita pressão de Didi.
Talvez com menos estresse, ela seria capaz de resolver contar a Xavier
sobre sua filha.
Dei de ombros.
— Se é disso que você precisa, por que não?!
— Mas por quê? Por que você me ajudaria? — Claudia sondou.
— Nós duas só queremos que isso funcione, certo? — Eu disse. — Para
Sophie. Vocês duas não precisam estar sozinhas. Posso te ajudar. Xavier
pode te ajudar. Mas você precisa ser honesta e dizer a verdade a ele.
— Tudo bem, — disse Claudia enquanto me agarrava, puxando-me
para um abraço caloroso. — Obrigada, — ela sussurrou em meu cabelo.
— Obrigada, Angela. Muito obrigada, — repetiu Claudia, com a voz ainda
trêmula.
Eu a abracei de volta, esperando que isso não fosse um erro.
Esperando que isso trouxesse Xavier mais perto de sua filha e não o
separasse de mim.

— MEU DEUS, você deu o dinheiro a ela? — Dustin gritou,


derramando o café com leite que ele estava me servindo.
— Bem, ainda não..., — eu disse, me perguntando se contar a ele era
uma boa ideia.
— Droga. Eu gostaria de ter o filho de um bilionário. Em vez disso,
sou apenas um artista faminto, fazendo café, tentando dormir nos
intervalos, — brincou Dustin.
— Dustin, — eu repreendi, olhando para os clientes bebendo café ao
nosso redor e esperando que nenhum deles estivesse ouvindo.
A última coisa que eu precisava era a notícia do filho da ex noiva de
Xavier chegando aos jornais antes que Didi tivesse a chance de falar com
ele.
Dustin encolheu os ombros.
— Se essa coisa de pintar não der certo, vou precisar de alguém para
cuidar de mim. Não tenho outros talentos.
Eu acenei para ele, tomando meu café com leite de lavanda. Então eu
tossi.
Nojento.
Parecia que eu estava comendo plantas enlameadas.
Tentei manter o gosto amargo na boca em segredo — e não rir porque
Dustin não era particularmente bom em fazer café.
Mas eu tinha que admitir, quando se tratava de correr riscos
estranhos, meu amigo foi o primeiro a experimentar florais no café. Isso
valeu a pena.
— Isso não é verdade, — assegurei-lhe e depois nos direcionei de volta
ao problema em questão. — Então você acha que eu não deveria fazer
isso? Dar o dinheiro a ela, quero dizer.
— Se eu te dissesse que Xavier me engravidou, você me daria
dinheiro?
— Isso não é uma piada, Dustin. Isso é sério, — eu choraminguei,
deixando cair meu rosto em minhas mãos.
— Desculpe, Angie. Eu sei que é. Estou feliz que você veio até mim
para desabafar, — observou Dustin, estendendo o braço sobre a mesa e
dando um tapinha na minha mão. — Mesmo se eu estiver piorando, pelo
menos você estava rindo um segundo atrás, certo? Mesmo que fosse
apenas no café com leite de lavanda?
Com isso, sorri. Eu estava feliz por ter ido até ele também.
O segredo me fez sentir tão solitária, como se houvesse uma caixa de
vidro ao meu redor e todos os outros estivessem apenas olhando para
dentro.
Alguém precisava saber o que eu estava fazendo, apenas para ter
certeza de que não sentia que tudo isso era apenas eu sonhando, presa e
pisoteada em um pesadelo louco.
— Não sei o que te dizer, Angie, — admitiu Dustin. — Eu acho que
você precisa confiar em seu instinto. O que parece certo?
Eu olhei para ele. Nada mais parecia certo. Eu não sabia como me
meti no meio dessa grande bagunça emaranhada. Mas eu sabia que não
gostava da ideia de Didi batalhando sozinha.
— Acho que preciso dar o dinheiro a ela, — decidi em voz alta.
— Vadia sortuda. — Dustin piscou e se inclinou para mais perto, com
seus olhos brilhando como sempre faziam quando ele fofocava. — Como
ela se parece?
— Quem?
Dustin revirou os olhos para mim.
Suspirei.
— Confiante. Ela também é bonita.
— Seja específica. Você acha que Xavier tem um tipo?
— Bem... ela é ruiva. Suas roupas são mais barulhentas do que um
show de rock and roll, — observei. Ele olhou para mim preocupado. —
Isso significa alguma coisa? — Eu perguntei, com meus olhos se
arregalando.
— Hum... claro que não. Talvez ela fosse loira quando eles
namoraram, — Dustin respondeu.
— O que você quer dizer? Você acha que ele prefere estar com alguém
como ela?
Dustin tomou um gole de café, e seu nariz enrugou com o gosto.
— Querida, seu sobrenome é Knight. Isso significa que você é o tipo
dele.
— E se os tipos não importam? Quero dizer, Xavier é o tipo de todo
mundo. Nunca conheci uma garota que não estivesse interessada nele.
— Dinheiro é uma coisa muito atraente, querida, — Dustin me
lembrou enquanto caminhava para trás do balcão para jogar seu café com
leite no lixo e começar com alguns novos.
Eu senti minhas bochechas queimarem. Eu conhecia muito bem o
poder de atração do dinheiro.
Quando você olha para isso de forma objetiva, o dinheiro foi como eu
acabei me casando com Xavier em primeiro lugar. E agora eu estava
parecendo mal para uma mulher em uma situação igualmente
desesperadora.
Desde quando me tornei tão hipócrita?
Não deveria importar quem era o tipo de Xavier, quem era casado com
ele ou quem tinha seu filho. Didi era uma amiga, minha amiga, e ela
precisava de ajuda.
Depois de deixar Dustin, corri até o banco. O caixa sorriu para mim
quando coloquei meu código.
Seus olhos se arregalaram assim que viu a quantia na conta bancária
conjunta dos Knight.
Ele ainda estava confuso quando eu pedi o dinheiro.
— Eu, hum, gostaria de retirar dezesseis mil dólares, por favor, — eu
praticamente sussurrei.
O caixa me olhou de cima a baixo, mudando de me medir para
mensurar o que tinha na tela.
— Você é a única titular da conta? — ela me perguntou.
— Como é? — Eu respondi, confusa. A única titular da conta?
— Bem, para uma quantia tão alta, temos que notificar o custodiante
da conta sobre o saque, — disse ela. — Vou apenas verificar o arquivo da
conta.
— O guardião da conta? O que isso significa? — Eu questionei.
— Vamos apenas enviar um e-mail rápido para a pessoa que iniciou a
conta para ver se ela aprova a transação.
Minha pulsação acelerou. O suor começou a se formar ao longo do
meu couro cabeludo.
Eu não estava fazendo nada ilegal.
Tudo ficará bem, tentei me assegurar.
Mas ainda assim... era ruim. Era muito, muito ruim.
Eu não queria que Xavier descobrisse sobre sua filha assim, porque eu
fui traída por um banco! E ele saberia que Claudia não apenas mentiu
para ele, mas que eu também estava envolvida. E a única razão pela qual
ele descobriu foi porquê... porque...
— Espere... deixa pra lá, — eu gritei para o caixa. — Eu não preciso
mais do dinheiro, então se você pudesse cancelar o...
— Eu já enviei o pedido, — ele interrompeu, com a irritação
escorrendo de seu tom.
Acabou.
Qualquer chance de redenção, de resgatar Xavier do redemoinho que
ele estava prestes a ser sugado, se foi.
O objetivo de conseguir o dinheiro, de ajudar Claudia
financeiramente, era manter as coisas escondidas, mas agora tudo estava
explodindo.
Não haveria sossego.
Na verdade, eu já podia imaginar o tipo de volume que me envolveria
assim que tudo ficasse claro.
Gritos insuportáveis.
Gritos.
Perguntas e respostas voando pelo ar.
Tudo dirigido a mim.
BEEP. BEEP.
O som de uma mensagem recebida no meu telefone tocou no ar, me
fazendo estremecer.
Acabou.
Tudo estava prestes a explodir, tudo porque fui burra demais para
perceber que não poderia simplesmente sacar milhares e milhares de
dólares sem que alguém descobrisse.
Eu decepcionei todo mundo, Xavier, Claudia e até mesmo a pobre
Sophie, tudo em um único descuido.
Eu respirei fundo.
E então tirei meu celular do bolso, olhando diretamente para a tela.

Brad: Está tudo bem?

Brad: Por que você precisa de tanto dinheiro?

Brad: Seu pai está doente de novo?

Brad: Angela!!!
Capítulo 21
A maçã e a árvore

ANGELA

Eu senti como se meu telefone estivesse prestes a queimar minha


mão, para então queimar o solo e, em seguida, queimar a terra, até o
núcleo.
Eu não tinha respondido às mensagens de Brad. Eu não conseguia
enfrentar o dilema em que me coloquei. Mas agora ele estava me ligando.
TRIM! TRIM!
O caixa olhou para mim, parecendo cada vez mais desconfiado.
— Você vai atender? — ele sondou. Eu não sabia como responder, ou
mesmo se eu poderia responder.
Eu abri minha boca para falar, mas suspiros, em vez de palavras,
saíram.
TRIM! TRIM! TRIM!
Eu estava petrificada. Eu podia sentir o medo subindo pela minha
carne como gelo, me congelando em um estado de inatividade. Caramba!
— Acho que há um problema aqui, — o caixa gritou para seu gerente.
O medo ardente de que este homem aleatório fosse a única a contar a
Brad — ou Xavier — em vez de mim... Foi o que levou meu corpo a voltar
à realidade, para minha mente começar a funcionar.
— Não há nada de errado... eu... entendi, — murmurei para o caixa e
para o gerente, tentando forçar o sorriso mais doce e seguro que pude.
Eu atendi o telefone.
— Olá? — Eu disse, falhando em soar calma.
— Minha querida Angela, está tudo bem? Acabei de receber um e-mail
do Bank of America, — respondeu Brad.
— Oh... bem, na verdade estou aqui agora, sim. Sou... sou eu.
— Então você estava fazendo o saque?
— Sim. Eu estava, — eu respondi, tentando soar normal em uma
situação nada normal.
Brad sabia que eu não era do tipo que gastava grandes quantias de
dinheiro em compras, ou em saídas, ou em qualquer lugar.
Eu era uma velha garota de jeans e camiseta, de ponta a ponta.
Independentemente do dinheiro a que tive acesso.
Mas esse saque... eu sabia que teria que ser explicado. De alguma
forma.
— Por quê? Para que você precisa desse tipo de dinheiro, querida? —
Perguntou Brad. Ele não parecia irritado ou descontente, nem um pouco.
Ele parecia genuinamente preocupado.
Eu me perguntei se ele podia ouvir meu coração batendo como um
tambor ao telefone. Eu podia sentir meu corpo esquentando, minhas
orelhas latejando, dedos tremendo, como se cada centímetro de mim
estivesse infectado com puro pânico.
— Uh... Eu realmente, hum, precisava... — eu disse, tropeçando nas
minhas palavras.
— Seu pai está bem? — Perguntou Brad. — Por favor, Angela. Você
pode me dizer.
— Ele está bem. Eu também estou bem, Brad. Mesmo. Eu só... não sei
o que dizer. Eu...
Eu olhei para o caixa.
Em seus olhos estreitos, eu era uma ladra.
— Quer saber, você não precisa dizer nada, Angela, — disse Brad com
firmeza.
Uma onda de choque percorreu meu corpo.
— O que você quer dizer?
— Eu confio em você. Sempre confiei em você. Se você precisa do
dinheiro, deve ser por um bom motivo. Além disso, é tão pouco.
Esqueci que, para um Knight, dezesseis mil dólares não era ultrajante.
— Obrigada, Brad. Mesmo. Assim que eu puder explicar o que está
acontecendo, eu irei, — eu prometi.
Brad riu.
— Não se preocupe com isso, Angela. Comece a trabalhar para me dar
netos! — E assim, o calor voltou às minhas bochechas, iluminando meu
rosto em chamas.
Isso de novo não.
— Brad, quero dizer, eu... — A linha telefônica foi cortada.
Um VRUUMMM emergiu da mesa do caixa. O dinheiro saiu disparado
da máquina, como se fosse uma encenação, só para mim.
Eu não pude acreditar.
Eu fiz isso.
Tudo se normalizaria para Sophie, para Claudia, e Xavier não
descobriria a verdade em algum banco do centro da cidade. Ele
descobriria corretamente, quando fosse a hora certa.
O caixa enfiou o dinheiro em um envelope imaculado. Ele estava tão
descrente quanto eu.
— Obrigada. — Eu sorri para ele enquanto pegava o envelope de sua
mão. Ao sair do banco, me misturando aos outros pedestres na calçada,
não pude deixar de sentir uma pontada de orgulho.
Eu estava fazendo a diferença na vida dessa garotinha, na vida da filha
do Xavier.
Não importava o quão bagunçado tudo estava prestes a ficar, isso
colocou um sorriso verdadeiro e honesto em meu rosto.

Angela: Estou com o dinheiro.

Claudia: Você pode passar na minha casa.

Claudia: Eu tenho muito o que fazer agora.

Angela: Ok, me mande seu endereço.

Quando Claudia abriu a porta de tela rasgada de seu apartamento,


tornou-se óbvio que ela precisava do dinheiro semanas atrás.
Em suas roupas vivazes e perfeitamente cortadas, Claudia não
combinava com o apartamento em nada. Peguei o envelope de dinheiro,
encontrando no ar o cheiro de carne fresca fervendo.
— Você gosta de hambúrgueres? — Claudia disse, medindo meu
interesse no cheiro delicioso.
Ela entrou na cozinha. Me pegando congelada no lugar, ela acenou
para mim.
E foi então que a vi — Sophie, borbulhando de alegria em seu assento.
Obviamente, ela era adorável; qualquer criança de três anos era.
Mas Sophie era a cara de Claudia, com mechas encaracoladas
castanho-avermelhadas saindo de sua cabecinha. Seus olhos, vibrantes e
alertas, percorreram a sala com curiosidade, engajados em cada canto e
fissura ao seu redor.
Claudia virou os hambúrgueres. Ela acenou com a cabeça para os
pães.
— Você me ajuda? — ela perguntou.
Puxei-os para fora e coloquei-os em pratos.
— Desculpe, tudo o que temos é plástico. É mais fácil com uma
criança. — Claudia riu.
— Imagino que seja. É muito... muito acolhedor aqui, — eu disse a ela.
Era para ser um elogio, mas pude vê-la estremecer. Ser caseira não era
exatamente o que as garotas do Upper East Side sonhavam quando
imaginavam seu futuro.
— Pode comer, — disse Claudia, entregando-me um hambúrguer.
— Ei, pimentinha! — Claudia murmurou para Sophie, entrelaçando
os dedinhos da criança nos dela. Ela moveu Sophie para frente e para trás
em uma pequena dança, fazendo-a explodir em risadas irresistíveis.
Claudia colocou o hambúrguer no prato de Sophie.
No entanto, os braços agitados de Sophie derrubaram o prato da
mesa.
Crac.
Fechei os olhos, preparando-me para o grito inevitável.
Não veio.
Levantei minhas pálpebras para encontrar Claudia limpando debaixo
de Sophie, que parecia tão tranquila como uma casa de chá na costa do
Japão, imperturbada.
Uau. Se ela conseguiu transformar a filha de Xavier em monge, Claudia
deve ser a melhor mãe da história, pensei.
— Eu sempre faço um extra, só para garantir! — ela disse enquanto
voltava para o fogão.
O que ela não fez certo? Se Claudia era o tipo de Xavier, seu tipo era
perfeito. O tipo de mulher que sabe instintivamente como ser mãe, como
controlar uma sala de reuniões, como iluminar uma sala com uma
história.
Eu não poderia fazer isso.
Nunca fui boa em estar perto de pessoas.
Nunca foi... nunca foi eu.
De repente, senti calor. Muito quente. Desconfortavelmente quente.
Como se o peso da expectativa estivesse caindo sobre mim.
Eu precisava sair daqui. Larguei o prato no balcão, tendo apenas dado
uma mordida no hambúrguer, e puxei o envelope da bolsa.
— Aqui, — eu disse a Claudia, colocando suavemente o envelope ao
lado do prato. — Sinto muito, tenho que ir.
Quanto mais tempo eu ficava aqui, menor me sentia. Porque não
parava de pensar que...
Xavier não me escolheu.
Brad o fez.
Por muito tempo, Xavier odiou essa decisão. Ele nem mesmo me
queria em sua vida. Eu era um incômodo respiratório.
Mas Claudia... Ele queria cada centímetro dela, desde o início. Ela era
os fogos de artifício e eu era apenas uma estrela em seu céu.
Uma mensagem vibrou no meu bolso.

Xavier: Cadê você?

Angela: Estou fazendo compras.


Xavier: Mande seu endereço pro Marco.

Angela: Estou meio que no meio de alguma coisa...

Angela: está tudo bem?

Xavier: você descobrirá em breve; ) Xavier: Você mandou sua


localização?

Angela: Eu posso te encontrar aí.

Xavier: Não

Xavier: Não pode.

Xavier: Vai estragar a surpresa.

Angela: Eu prometo que não vou procurar.

Angela: Basta colocar no Uber.

Xavier: Ótimo.

Xavier: Você almoçou?

Angela: Na verdade, não.

Xavier: Perfeito.

XAVIER

Quando pedi a Angie para renovar nossos votos, fiquei, é claro,


animado com o significado por trás do ritual. O amor prometido, a
unidade prometida, o futuro prometido. Mas mais do que isso, eu estava
animado para ver o sorriso em seu rosto enquanto fazíamos as coisas
certas. Realmente certas.
E mais do que isso?
Eu estava realmente muito animado com o bolo.
Esperando no bistrô mais exclusivo de Manhattan, certifiquei-me de
que eles preparam todos os tipos de bolo para nós. Trufa de chocolate e
framboesa, caramelo salgado, cappuccino, praliné de avelã do sul e até
mesmo os tipos femininos, como limão e morango.
Quando Angela entrou na loja, ela parecia uma princesa. Seu rosto
estava vermelho de frio, com seus lábios e bochechas rosadas de todas as
maneiras certas.
Ela viu a sobremesa espalhada antes de me ver, e seus olhos brilharam.
Fui até ela, envolvendo minhas mãos em torno dela.
— Oi, — eu sussurrei em seu ouvido, dando-lhe um beijo suave.
— Oi pra você. — Ela sorriu de volta para mim.
— Você está pronta para um negócio sério? — Eu perguntei a ela. —
Não posso casar novamente com você se não sei se você é uma garota de
veludo vermelho ou doce de leite.
Ela riu, deixando-me guiá-la até a mesa. Pegamos nossos lugares.
— Como é que isso funciona? — ela perguntou.
— Bem, é um método muito sério. Como um laboratório de biologia.
Muitos passos cansativos, — eu disse a ela, pegando uma garfada de
caramelo e levando à sua boca. Ela deu uma mordida, praticamente
gemendo de prazer.
— Você gosta disso? — Eu perguntei. Ela assentiu com a cabeça e
pegou uma colher do Death By Chocolate, colocando-a na minha boca.
Droga.
Chocolate quente, droga.
Eu me aproximei dela enquanto passávamos por todas as delícias,
sentindo o calor irradiar de seu corpo.
— Eu simplesmente não consigo escolher. Eles são todos tão perfeitos,
— disse Angela, olhando para todos os bolos em potencial. Ela olhou
para mim através dos cílios, lambendo um pedaço de creme dos lábios.
— Sabe, há uma coisa que não consideramos, — respondi, passando
meus dedos por sua coxa. Ela estava usando jeans justos e botas até o
joelho, e as botas nunca deixavam de me deixar louco. — Qual sabor a
deixaria mais satisfeita em nossa noite de núpcias?
Enquanto eu olhava em seus olhos, percebi que ela estava ficando
nervosa com a direção do meu flerte. A ousadia disso. Mesmo assim, ela
não desviou o olhar.
Será que eu finalmente estava corrompendo minha esposa?
ANGELA

Antes que eu percebesse, estávamos de volta em casa, com os lábios de


Xavier pressionando os meus, seus dedos sob as alças do meu sutiã
enquanto ele beijava todo o meu pescoço.
Ele tirou meu sutiã azul-petróleo de cima de mim e me empurrou no
sofá.
Ele segurou meus seios com os dedos, esfregando meu decote.
Então ele pressionou sua língua contra meus mamilos, circulando, em
êxtase.
— Eu quero fazer você gritar, — Xavier sussurrou. Algo sobre o tom
amoroso de sua voz e as palavras descaradas que ele estava dizendo me
levaram ainda mais além.
Eu precisava dele.
Ele me ajudou a tirar minhas botas e, em seguida, puxou meu jeans
para baixo, deixando-me com nada além de minha calcinha.
Xavier beijou minhas coxas, deslizando os dedos cada vez mais perto
de mim. Eu mal conseguia respirar, estava tremendo tanto, com tanta
fome dele — por tudo dele.
Como ele sabe fazer tudo isso? Para me fazer gemer? Para me fazer tremer?
Eu me perguntei, observando enquanto ele tirava a camisa.
Foi então que me dei conta.
Claudia.
Ela o ensinou.
Eles fizeram isso juntos.
Ele fez isso pra ela.
— Pare, pare... eu não posso, — eu saí, me afastando dele. Xavier
congelou, observando enquanto meu corpo quase nu cruzava o corredor.
Eu podia ver a decepção estampada em seu rosto.
— Você não pode o quê, meu anjo? O que há de errado? — Ele
perguntou, com preocupação misturada à frustração em sua voz.
— Nada, — eu consegui dizer, escondendo meu rosto em minhas
mãos.
— Angela... — Ele parou, fechando o espaço entre nós. Ele
gentilmente removeu minhas mãos do meu rosto e me olhou bem nos
olhos.
— O que está acontecendo?
Eu respirei fundo.
— Não consigo parar de pensar nela. Em você e ela... juntos...
— Eu e quem?
— Claudia, — eu disse, com minha voz tremendo. — Tem certeza de
que ainda não está apaixonado por ela?
Capítulo 22
F lash

XAVIER

Xavier: Precisamos conversar.

Claudia: Quem está falando?

Xavier: Adivinhe, Didi.

Claudia: Xavier... já faz muito tempo.

Xavier: Encontre-me na exposição Dali amanhã às 2.


Se há uma coisa em que Claudia era boa, era estragar minha vida.
Mas eu pensei que tinha ficado melhor em me proteger, em pará-la.
Até que ela de alguma forma pegou Angela em sua loucura, levando-a
para um passeio que a consumia. O tipo de passeio que ela não conseguia
tirar da cabeça por tempo suficiente para agir intimamente comigo.
Brincar comigo era uma coisa. Eu era um menino crescido.
Eu poderia lidar com isso, mas colocar Angela em jogos mentais,
manipular sua inocência — sua pureza — era um jogo totalmente
diferente.
E eu não toleraria isso.
Especialmente quando a mulher que orquestra a loucura foi a mulher
que partiu meu coração.
Ela realmente me deu um baita baque. Éramos reais, pelo menos,
pensei que éramos.
Quando eu a pedi em casamento, eu realmente queria oferecer tudo a
ela. Dar a ela o mundo. Dar a ela meu coração.
E então eu a peguei me traindo.
Com meu melhor amigo.
Achei que seríamos capazes de superar isso, mas Claudia deixou claro
que ela havia terminado.
Se não fosse por meu pai me empurrando para a Angela, eu
provavelmente ainda estaria sozinho, amuado e isolado do resto do
mundo, saindo apenas para ter brincadeiras aleatórias para lamber
minhas feridas. Claro, elas eram modelos. Claro, elas eram o sonho de
qualquer cara.
Mas não foi satisfatório.
Não foi realmente nada, para ser honesto.
Agora, eu tinha tudo de novo. Uma mulher que eu não apenas amava,
mas confiava. Uma mulher que eu conhecia como sendo honesta,
cuidadosa, e uma mulher que se preocupava comigo, que queria o
melhor para mim.
E Claudia estava arriscando isso.
Tudo que eu preciso é um motivo para arruiná-la, pensei comigo mesmo
enquanto caminhava em direção a ela. Eu disse a ela para me encontrar
no Museu de Arte Moderna, esperando que o silêncio obrigatório me
impedisse de gritar com ela. Me impedisse de perder minha cabeça.
Esperançosamente.
Claudia não tinha se vestido para o museu. Ela parecia que estava indo
para um baile de gala, seu vestido perfeitamente passado e seu cabelo
bem arrumado.
Ela sempre parecia seu melhor quando estava na pior, porra. Ela
estava deslumbrante quando me traiu com meu melhor amigo, e ainda
mais linda quando cancelou nosso noivado para fugir com ele.
— Fiquei surpresa que você quisesse me ver, — Claudia admitiu
enquanto olhava para os relógios gotejantes de Salvador Dali. Era minha
pintura favorita, mas eu não conseguia nem apreciá-la ao lado daquela
mulher.
— Espero que esta seja a última vez que te verei, Claudia, — eu disse
uniformemente. — Estou casado agora.
— Eu sei.
— Então você está fazendo tudo que pode para destruir isso?
Claudia baixou os olhos. Eu não poderia dizer se a culpa estava
pesando sobre ela ou se ela estava tentando evitar meu olhar para que eu
não pudesse dizer o que ela estava pensando.
Afinal, eu conhecia bem seu rosto mentiroso.
Eu já tinha visto isso mil vezes antes.
— Angela é uma garota legal, — disse ela, com um tom soando
genuíno.
E você é uma vadia doida, pensei. Ouvir o nome de Angela saindo de
sua boca imediatamente fez meu sangue ferver.
— Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu não sei que ela vai
cair na sua e acreditar que você é a boa pessoa que diz ser? É muito fácil
cair nos seus jogos, — eu disse, fervendo. — Mas ela tem a mim para
protegê-la.
Claudia olhou para mim e foi como se seus olhos estivessem
perfurando minha alma.
— Eu te conheço melhor do que você pensa, Xavier, — disse ela
suavemente.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Por que estamos no MoMa? Você estava com medo de não
conseguir manter a calma.
Senti o suor acumular em minhas palmas. Por que fiquei surpreso?
Não havia nada que ela não usaria contra mim, incluindo minha própria
raiva.
— Eu não vou entrar nisso com você. Nem agora, nem nunca. Você
não vale a pena. Eu só queria dizer a você, pessoalmente, para ficar longe.
De mim, de Angela. Você não faz parte de nossas vidas. — Quando as
palavras a invadiram, eu vi seus lábios se curvarem em uma espécie de
sorriso malicioso.
Algo estava acontecendo.
— É uma coisa desagradável de se dizer à mãe de sua filha, — ela
respondeu.
Eu parei.
Congelado.
Meu sangue esquentou.
Minha mente começou a correr.
Isso não poderia... não havia como...
Ela estava alcançando... Não, ela estava indo com tudo.
— Eu não quero ouvir suas besteiras, Claudia.
— Sem besteira. Você precisa saber disso, Xavier. Eu preciso que você
saiba disso, — ela respondeu lentamente, como se, com cada sílaba, a
terra abaixo de nós pudesse rachar. — Eu tenho uma filha. O nome dela é
Sophie e ela tem três anos. Ela está querendo conhecer seu pai. Você.
Merda.
MERDA!
Merda de merda.
Eu queria gritar que ela estava mentindo, porra.
Eu queria gritar tão alto que o mundo ao meu redor se apagasse, que
ela fosse apagada da minha memória.
Mas não consegui.
Uma bomba atômica detonou dentro de mim, espalhando questões
radioativas em minha corrente sanguínea.
Onde está Sophie?
Ela é realmente minha filha?
Como Claudia pôde mantê-la longe de mim? Por que ela a escondeu de
mim?
Por que ela mencionaria isso agora que Angela e eu somos felizes?
Ela trouxe isso à tona porque Angela e eu somos felizes?
Eu queria jogar as pinturas das paredes e despedaçá-las.
Para perder cada grama da pessoa que eu era.
Mas não consegui.
A raiva invadiu meu corpo tão rapidamente que não consegui me
mover. Eu não conseguia respirar. Eu era uma estátua cimentada em
choque líquido, mais pedra do que homem.
E então Claudia veio para o segundo round.
Ela me puxou contra ela, chocando seus lábios contra os meus em um
beijo amaldiçoado.
CLAUDIA

Flash.
Enquanto eu segurava Xavier contra mim, observei o fotógrafo
capturar nossos lábios se fechando.
Flash.
Corri minhas mãos por seus cabelos e ouvidos para que ele não
pudesse ouvir os cliques do obturador.
Flash.
Por um segundo escorregadio, foi bom, como quando, quando você se
corta, a adrenalina bombeia com o sangue, lembrando você de que ainda
é frágil. Que você ainda está viva.
Flash.
Xavier me empurrou para longe dele com força violenta. Quase bati
no chão, mas fiquei parada, desafiadora, com as pernas tremendo.
Eu tinha acertado em cheio.
— Que diabos está errado com você? — Ele fervia, com sua pele
normalmente bronzeada parecendo horrível.
— Eu... eu pensei que nós éramos uma família. Precisamos fazer isso
funcionar, por nossa filha, — eu implorei, tentando o meu melhor para
soar confusa e com o coração partido.
Mas os olhos de Xavier brilharam de raiva. Eu poderia dizer que ele
não estava acreditando.
— Se você quisesse, não teria deixado três anos se passarem, Claudia.
Você diz que me conhece? Bem, eu te conheço. Você não está aqui pela
sua filha. Você está aqui por você, — ele cuspiu em mim.
— Nossa filha, — eu sibilei, observando as palavras cortá-lo como
pontas de flecha.
— Prove, — ele respondeu no verdadeiro estilo Xavier. — Eu parei de
acreditar em você há muito tempo, e não vou começar de novo agora.
Prove que a criança é minha e podemos conversar novamente.
Eu sabia que ele era um homem difícil. Você não ganhou um lugar
entre os melhores e mais brilhantes do mundo escolhendo a maneira
mais fácil de resolver as discussões.
O que eu não adicionei aos meus cálculos foi que seu ódio por mim
era profundo o suficiente para permanecer resoluto, mesmo com uma
criança na mistura.
Por alguma razão, eu senti uma centelha da paixão, que costumava
correr entre nós, explodir.
Eu alguma vez o amei? Eu honestamente não sabia.
Achei que tinha adorado a ideia dele, de como ele era o homem que
tinha tudo, o herói da história. Meu Deus, até mesmo seu nome era
corajoso e nobre — Knight.
Mas quando nosso noivado acabou, ele se tornou mais Noite do que
Knight, um feitiço escuro lançado sobre mim, que fez até mesmo uma
sala lotada parecer vazia. Era como se eu não pudesse fugir de sua
sombra.
Quando eu estava com ele, ele lançava uma sombra sobre toda a
opulência que nos cercava.
Quando eu estava sem ele, toda aquela opulência estava escondida de
mim. Fora do meu alcance.
— Eu sou um homem poderoso, Claudia.
— Eu sei, — respondi, rindo por dentro.
Ele era um grande fantoche que não conseguia identificar suas cordas
de renda.
— Mas eu sou um inimigo ainda pior, — ele declarou, com seus olhos
vermelhos e brilhantes. — Escolha seu próximo movimento com cautela.
A última vez que o vi tão instável foi na vez em que o vi todos aqueles
anos atrás. Quando eu arruinei sua vida pela primeira vez. Ele descobriu
algo naquela noite que partiu seu coração em dois.
E agora, quatro anos depois, eu estava fazendo isso de novo.
Dando a ele uma notícia da qual ele não poderia se recuperar.
Contando a ele um segredo que não apenas destruiria a vida que ele
conhecia, mas alteraria o curso de seu futuro.
Quase me surpreendeu não sentir a menor sombra de culpa. Olhando
para ele, vendo o dinheiro praticamente pingando de cada centímetro de
sua pele, do suéter de cashmere aos sapatos de couro italiano, ele era um
alvo.
E eu estava jogando com ele.
Assim que vendesse a foto do playboy bilionário traindo sua esposa
perfeita e celestial, eu provaria meu gosto de riquezas. O gosto que eu
merecia, por dedicar todo esse tempo. Foi preciso mais do que uma sorte
cega para fazer alguém acreditar que estava em um relacionamento
perfeito.
E eu estava prestes a ser recompensada por meus talentos.
XAVIER

Um pai. Eu posso ser a porra de um pai.


Eu senti que ia vomitar.
Eu não tinha ideia do que fazer com uma criança, e ter uma com
Claudia abriria todos os tipos de portas que eu tinha trancado há muito
tempo. Umas que eu não tinha intenção de abrir nunca mais.
Eu balancei minha cabeça.
Não é verdade.
Não pode ser verdade.
Ela está mentindo.
Porque era isso que Claudia fazia. Ela mentia, enganava e manipulava
todos para conseguir o que queria.
Era uma das coisas que eu achava tão atraente nela, sua assertividade
competitiva. Agora ela tinha voltado para me atacar.
Ela e eu sempre usamos proteção. Eu estive fora por duas semanas em
uma viagem de negócios antes de voltar para casa para encontrá-la com
Daniel. A garota poderia ser facilmente dele. Ou qualquer outra pessoa
com quem ela estava me traindo.
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo e fechei os
olhos, respirando fundo.
Eu precisava me acalmar e pensar nisso de forma racional. Claudia me
queria vulnerável, instável. Foi assim que ela cravou suas garras.
Eu não conseguia acreditar que Claudia pensava que poderia se vingar
de mim jogando uma criança na minha cara. O que ela estava esperando?
Uma grande reunião de família feliz? Eu não passaria outra noite sob os
lençóis daquela vadia nem por todo o dinheiro do mundo, muito menos
brincar de casinha com ela.
Enquanto uma parte de mim desejava poder conhecer a criança, vê-la
com meus próprios olhos, uma parte maior de mim se recusou a negociar
com uma terrorista.
A criança não era apenas uma criança. Ela era a arma com a qual
Claudia confiaria para dividir minha vida, para demolir tudo de bom que
eu tinha. Eu não poderia deixá-la fazer isso.
Mesmo que isso significasse não conhecer minha própria filha, eu
protegeria tudo o que Angela e eu criamos para nós mesmos — a
qualquer custo. Eu já tinha tomado essa decisão e a manteria.
Então, assim que a porra da Claudia me beijou, eu dei o fora de lá. Eu
tornei a ideia de que tinha uma filha como uma ferida grande demais
para pontos.
Eu não sangraria por aquela vadia manipuladora, não mais. Eu já tive
muita dor com ela.
Agora, as coisas eram diferentes. Agora eu tinha uma mulher por
quem daria minha vida.
Ela era a razão de eu acordar todos os dias não apenas contente, mas
feliz.
Quando as portas do elevador do nosso apartamento se abriram, eu
entrei, pronto para pressionar meu peito no dela.
Eu precisava sentir o calor de sua pele, de seu ser, em mim. Eu
precisava dela para me confortar, para me dizer que nada fora de nós
importava.
Não agora, pelo menos.
— Ei, Angela, eu cuidei da questão, — gritei, caminhando pelo
corredor até a cozinha. Foi quando encontrei Angela inclinada sobre a
bancada, tremendo de soluços.
— O que aconteceu? O que há de errado? — Eu perguntei, correndo
até ela.
Ela tentou formar palavras, mas elas foram vencidas por gritos de
angústia.
Tentei embalá-la, para confortá-la, mas ela apenas me empurrou.
Isso machuca. Não fisicamente, mas emocionalmente, como se ela
estivesse me tratando como um estranho invadindo seu espaço. Não
como seu marido, e não como o amor de sua vida.
— O que está acontecendo, Angie? — Eu implorei.
Então ela olhou para mim e meu coração parou. Seus olhos estavam
cobertos de lágrimas e seus lábios tremiam. Me matou vê-la com tanta
dor.
Angela pegou seu telefone e tudo o que eu estava sentindo ficou dez
vezes pior.
Porque tinha uma foto na tela de Claudia me beijando. Estava na
primeira página de um site de fofocas, mas logo seria notícia nacional.
Na foto, os braços de Claudia estavam em volta de mim com força.
Nossos olhos estavam fechados, nossos corpos bem juntos. Eu parecia
um participante voluntário, não uma vítima.
— Não é o que parece, Angela. Sério, eu posso...
— Você disse que não a amava! — Angela chorou. E então ela deixou
cair o telefone no balcão, como se fosse muito doloroso de segurar.
E ela correu — direto para o quarto, trancando a porta atrás dela.
Porra.
Capítulo 23
Esqueça, mas não perdoe

ANGELA

— Ele é um babaca do caralho, Angie! — Dustin se enfureceu


enquanto arrumava o sofá de sua sala para mim.
— Me desculpe, eu não tenho um quarto de verdade para você. Mudar
de um estúdio de merda para um de um quarto foi uma melhora, mas
não o suficiente para abrigar uma melhor amiga chateada, eu acho, — ele
brincou.
Eu sabia que ele estava tentando aliviar o clima, então ofereci minha
melhor tentativa de sorrir.
No entanto, provavelmente ainda parecia que eu estava prestes a
chorar.
Assim que Xavier parou de bater na porta do nosso quarto,
implorando-me para deixá-lo entrar, pressionei meu ouvido na porta e
ouvi seus passos recuando pelo corredor.
Eu sabia que a janela de oportunidade que eu tinha para escapar era
pequena, então enxuguei as lágrimas do meu rosto, respirei fundo e abri
a porta.
E então corri o mais rápido que pude na ponta dos pés, todo o
caminho até o elevador. Quando as portas do elevador se fecharam, eu
finalmente liberei o ar que estava segurando. Então corri direto para a
casa de Dustin.
— Sério, Angela, você não merece esse tipo de babaquice, ok? Você é
boa demais para ele, — continuou Dustin, colocando uma mão amiga no
meu ombro.
Mas ainda que muito grata por ele estar me deixando ficar com ele,
por ele estar me dando ouvidos e por todos os abraços que eu precisava,
algo sobre a maneira como Dustin estava criticando Xavier me deixou...
inquieta.
— Podemos falar sobre outra coisa? — Eu perguntei, indo até o sofá.
Eu precisava parar de falar sobre minha vida amorosa indo por água
abaixo, sobre o homem que me traiu. Novamente.
Não que eu não tivesse mil reclamações sobre ele. Meu corpo parecia
uma máquina de vender sentimentos. Basta apertar um botão e uma
retrospectiva cairia, como eu deveria saber que Xavier me trairia.
Ele sempre me traiu.
Ele provavelmente nunca parou.
— Garota, você precisa desabafar. É sério. Se você mantiver tudo
fechado, isso vai corroer seu corpo pequeno.
— Não quero desabafar, Dustin. Eu não quero falar nada.
— Mas ele FODEU COM TUDO! — Dustin gritou. — E você precisa
saber que você merece alguém melhor.
— Você não sabe a história completa, — falei antes que pudesse me
conter. — Você não sabe o que Xavier e eu... o que não tínhamos falado
entre nós...
Dustin ficou boquiaberto.
— Como é que é? Você está tentando me dizer que não sei sobre ser
tratada como merda por homens de merda? — Dustin respondeu. —
Cher? Dolly Parton? Barbra Streisand? Já ouviu falar delas?
— Hum, é claro, — eu respondi, imediatamente confusa. Eu não
estava tentando dizer isso a Dustin, de jeito nenhum, mas ele pensar que
isso era o que minha vagueza implicava era muito melhor do que saber a
verdade.
Que eu sabia de algo que Xavier não sabia.
Que eu sabia que ele tinha uma filha... com sua ex.
A quem ele claramente ainda amava.
— O que elas são? — Dustin sondou.
— O quê?
— Cher. Dolly. Barbra.
— Cantoras? — Eu adivinhei, ainda sem ter ideia do que ele estava
tentando provar.
— Verdade. Mas, mais importante, falso. Elas são ícones gays. Quem
você acha que sustentou toda a sua discografia de meninos que tratam o
amor como um jogo doentio? Quem se recusou a descartá-los enquanto
eles ultrapassaram seu auge de Hollywood?
Ele fez uma pausa dramática como se eu soubesse do que ele estava
falando.
— Milhares de gays. Porque sabemos como é, Angie. As únicas pessoas
que os homens fodem e fodem mais do que as mulheres são os outros
homens!
— Não tenho dúvidas de que você sabe como me sinto, Dustin, — eu
disse lentamente, tentando acalmar um pouco sua resposta dramática. —
Só estou dizendo que... não estou com vontade de pensar nisso. Não
agora. Prefiro me distrair.
Dustin olhou para mim e, depois de alguns momentos, acenou com a
cabeça.
— Ok. Sim. Seu trauma é o meu trauma, Angela.
Eu dei a ele um olhar interrogativo. Ele sorriu e se sentou ao meu
lado, agarrando minhas mãos nas dele.
— Você quer assistir a clipes de cães se reunindo com seus pais
soldados que acabaram de voltar da guerra? — Ele perguntou.
Uma risadinha escapou da minha garganta antes que eu pudesse detê-
la. E depois outra. E então, simplesmente assim, eu me perdi em um
ataque de risos, com meus olhos bem fechados.
Eu podia ouvir a risada de Dustin ao fundo, podia sentir suas mãos
ainda envolvendo as minhas, mas não conseguia me concentrar nele. Eu
estava muito ocupada focando no absurdo de todo o resto.
Uma semana atrás, eu estava tão feliz com minha vida.
Eu me sentia tão forte.
E agora... era como se o tapete tivesse sido puxado debaixo de mim,
revelando que nunca houve um piso debaixo dele.
XAVIER

Qualquer atuação que eu estava fazendo, fingindo que eu sabia o que


diabos fazer com Claudia, estava acabada.
Quando a deixei no MoMa, realmente acreditei que havia resolvido o
problema. Eu esmaguei o problema antes que ficasse fora de controle.
Mas agora, isso estava claramente errado.
Tudo. Errado. Porra.
Estava oficialmente fora de controle e eu tinha falhado oficialmente
em esmagá-lo.
Era como se Claudia tivesse derramado ácido emocional por toda a
minha vida, destruindo as raízes que me conectavam a qualquer coisa
resistente.
Angela havia desaparecido do apartamento. Meu pai estava ignorando
minhas ligações. Mesmo Lucille não conseguia manter o contato visual.
Quando perguntei onde estava o leite de amêndoa, ela apontou sem
olhar para mim.
Tentei enviar uma mensagem de texto para Angela.
Tentei ligar, deixar mensagens de voz, tudo.
Até tentei ligar para Em.
Mas tudo que consegui foi um monte de nada.
Por mais agravante que isso fosse, enquanto eu estava sentado
sozinho no balcão da cozinha, bebendo meu café da manhã, não era
realmente surpreendente. Fiquei furioso quando cheguei em casa,
furioso porque Angela nem me deixou tentar explicar.
Mas então eu parei.
E me ocorreu que ela tinha visto uma foto comigo e minha ex-noiva
nos beijando. Que o resto de Nova Iorque, o resto do mundo também
poderia ver a foto.
Se as situações fossem invertidas, eu estaria fazendo muito pior do
que dar um tempo. Então parei de ligar para ela a cada cinco minutos.
Parei de enviar mensagens desesperadas e parei de incomodar seus
amigos.
Ela sabia onde eu estava.
Quando Angela estiver pronta para falar comigo, ela voltaria.
Ela voltaria para casa.
Por mais que eu tenha repetido essa lógica para mim mesmo ao longo
das últimas sete horas, eu não conseguia me forçar a realmente desistir.
Eu não podia simplesmente sentar e não fazer nada, esperando que ela
voltasse para casa. Esperando que ela voltasse para mim.
Embora eu não quisesse depender de meu pai para trazê-la de volta,
eu sabia que ela e meu pai tinham uma ligação especial.
Ela confiava nele muito antes de confiar em mim.
Então terminei meu café e fui para o elevador, pronto para embarcar
em uma viagem matinal para o centro da cidade.
Assim que cheguei ao prédio de meu pai no Upper East Side, o
porteiro abriu a pesada porta de carvalho.
— Bom dia, Sr. Knight. — Ele acenou para mim.
Eu balancei a cabeça de volta, correndo direto pelas portas até o
saguão.
Então eu estava no elevador particular do meu pai, indo para a
cobertura, um lugar grande demais para uma família de cinco pessoas,
quanto mais para um cara. Mas eu realmente não era de falar.
Eu não era estranho a residências luxuosas.
Não foi até eu estar no elevador que me ocorreu algo. Meu próprio pai
pode não acreditar em mim. Ele poderia pensar que a imagem e as
implicações dela eram reais.
Um pensamento esperançoso surgiu em minha mente. Talvez ele não
tenha visto.
Mas eu me esquivei.
Não seja estúpido. Claro que ele viu. Cinco de seus caras de relações
públicas provavelmente já enviaram fotos para ele.
Ele pode pensar que estou fazendo minhas velhas merdas, meu
comportamento de bad boy e festeiro. E claro, eu poderia tentar
convencê-lo do contrário, mas as ações falavam mais alto do que
palavras. Isso foi o que ele sempre me disse.
E ele viu minhas ações anteriores.
Ele tinha visto a maneira como eu tratava as mulheres antes de
Angela.
Uma vez mulherengo, sempre mulherengo.
Mas ele era meu pai. Ele seria capaz de olhar nos meus olhos e ver a
verdade, não é? Ele conheceria meu verdadeiro eu, não a versão fodida
que eles criaram para tabloides.
Ele saberia que eu estava loucamente apaixonado por Angela.
Que eu faria qualquer coisa para protegê-la, mesmo que isso
significasse ficar fora da vida da minha talvez filha.
As portas se abriram e eu entrei no saguão. Imediatamente fiquei
impressionado com o quão diferente parecia. Parecia que alguém
realmente estava morando nele.
Os cobertores de pele de carneiro foram jogados sobre o sofá de couro
feito à mão, os travesseiros de chiffon de dois mil dólares estavam
espalhados por todo o piso de madeira de avelã e, meu Deus, parecia que
ele estava lendo alguns de seus raros livros antigos.
Meu pai estava tentando se aposentar e, vendo seu terreno, parecia
um bom ajuste.
— Olá, pai? — Eu gritei. Ninguém respondeu.
Esperei mais alguns segundos.
— Pai? — Eu tentei de novo.
Foi quando ouvi passos.
O arrastar de chinelos macios — um som distinto que eu mesmo ouvi
algumas vezes.
Merda.
Este era um resultado que eu não tinha pensado.
Uma possibilidade que nem havia passado pela minha cabeça.
Eu fui lá para ver meu pai, para pedir-lhe conselhos — para ajudar a
salvar meu relacionamento — mas nunca esperei ser confrontado com
Penny.
Eu trouxe meus dedos para o meu cabelo, passando-os pelas minhas
mechas como se o mero movimento fosse o suficiente para me tirar dessa
situação.
Mas não foi.
Porque Penny estava saindo da porta no final do corredor, sua camisa
de botão muito grande expondo seu ombro nu, vindo direto na minha
direção.
BRAD

Já fazia muito tempo que meu coração não doía tanto.


Em minha vida, vi fotos de meu filho fazendo várias coisas ultrajantes
na imprensa. Mas ele beijando Claudia, sua ex-noiva, enquanto ele era
casado com a mulher mais doce da terra? Isso foi, de longe, a pior.
Eu ansiava por ele, pela confusão e raiva que ele devia estar sentindo
com o retorno dela para sua vida. Rezei para que Angela fosse capaz de
ver além disso, para ver a verdade, para que eles pudessem superar esse
obstáculo juntos.
Isso era o mais importante — que eles permanecessem juntos.
Com a necessidade de ajudar, de fazer alguma coisa, resolvi ir direto à
fonte. Não havia dúvidas em minha mente de quem estava por trás de
toda essa dor.
Meu motorista me deixou em um bar no Bronx.
No instante em que vi a foto nos tabloides, entrei em contato com ela.
A mulher era uma coisa ruim, uma coisa terrível, e era hora de tratá-la
como tal. Eu entrei no bar surrado, vendo-a já em uma mesa. Coloquei a
pasta de couro em sua superfície pegajosa.
— Seja qual for a quantia que você está planejando chantagear meu
filho, isso é mais, — eu disse, mantendo minha voz firme.
Era difícil acreditar que, depois de todos os anos que a tratamos como
família, e todos os anos que Xavier perdeu para a dor da separação, ela
voltaria e faria isso.
Tiraria vantagem de nós desta maneira.
Ela abriu a pasta e encontrou quinhentos mil dólares em dinheiro.
— Não tenho mais fotos de Xavier. Você está me pagando por pagar,
— disse ela, ainda com os olhos no dinheiro. — Não estou chantageando
ninguém.
— Estou pagando para você deixar minha família em paz. Eu sei que
você e Xavier têm sua história, Claudia. Sempre pensei que você fosse
uma garota doce, sob toda aquela manipulação, — eu disse a ela.
Eu a vi estremecer.
— Mas agora você não está apenas o machucando. Você está
machucando Angela, e ela não é como você. Ela age por pureza, por
retidão, e ela não merece ser magoada. Então pegue o dinheiro. E fique
longe dos Knights.
Observei Claudia engolir as palavras.
Depois de alguns momentos, ela deu um leve aceno de cabeça e
endireitou os ombros, deslizando para fora de seu assento.
Ela fechou a pasta e, depois de me lançar uma última olhada, saiu do
bar.
Bem, pensei, respirando fundo, está resolvido.
Quando voltei para o meu carro, tentei limpar a sujeira das minhas
mãos. Mas então percebi que não era a viscosidade da mesa que estava
grudada na minha pele. Era a sujeira de toda a situação.
XAVIER

— Onde está meu pai? — Perguntei a Penny, mal fazendo contato


visual. Se dependesse de mim, eu não estaria falando com ela, mas
precisava de respostas. Portanto, reter o contato visual foi o melhor que
pude fazer.
— Fazendo negócios, — Penny respondeu.
— Ele está aposentado.
— Apenas no papel. — Ela sorriu, e eu imediatamente me arrependi
de erguer meus olhos até seu rosto. A audácia dela em sorrir. Por apenas
estar no apartamento do meu pai. Como se ela morasse lá. Como se ela
fosse a dona do lugar.
Penny claramente apenas saltou de um homem rico para o outro
como um sapo em um lírio.
— Então, o que você está fazendo aqui, Penny? — Eu disse, dando um
passo mais perto, forçando-a a me olhar nos olhos. Forçando-a a ver isso,
embora meu pai pudesse ser cego de amor, eu certamente não era.
Eu queria que meu pai fosse feliz, com certeza. Mas quando sua
pequena bolha de euforia estourou, eu também queria ter uma pilha de
evidências contra a mulher que a estourou.
— Este é meu apartamento, Xavier, — Penny respondeu, com os olhos
arregalados parecendo sérios.
— Desde quando? — Eu perguntei, pasmo por meu pai deixá-la entrar
tão rápido.
— Algumas semanas.
Porra.
Enquanto eu pensava em maneiras de dizer ao meu pai para ter
cuidado — para cuidar dele de vadias oportunistas procurando uma
cobertura palaciana para chamar de lar — eu pude ver que Penny estava
me avaliando.
— Eu sei que você não gosta de mim, Xavier, mas...
— Você pulou de mim para o meu pai, — eu interrompi. — Sem
mencionar que você namorou aquele psicopata Jacques. Sério, Penny, o
que diabos há de errado com você?
Penny recuou de dor.
— Jacques... foi uma época sombria na minha vida. Mas eu terminei
com ele como você — Não, eu não gosto de você, — interrompi antes que
pudesse ouvir sua história triste novamente. — Mas, além de meus
sentimentos pessoais, você não me deu nenhuma razão para confiar em
você. Objetivamente.
Em vez de fugir com minhas palavras duras, ou cair em um poço de
lágrimas, Penny apenas apertou as mãos com força na frente dela.
— Você confiou em mim o suficiente para ir àquele armazém para
salvar Angela, — ela atirou de volta, com um pouco de fogo em seus
olhos.
Eu engoli a resposta amarga se formando em minha garganta.
Ela estava certa.
Logicamente, de qualquer maneira.
Mas sempre que eu olhava para ela, podia sentir o calor subindo pela
minha nuca. Algo se contorcendo sob minha pele que me deixou furioso.
O que há de errado comigo?
— Eu sei. Eu sei como parece, ok? Eu não sou burra, — disse ela,
olhando para o chão.
Mordi minha língua e ela continuou.
— Mas eu amo ele. Amo seu pai de verdade, Xavier. E farei tudo o que
puder para que isso funcione.
— Você o ama, Penny? Ou você ama o dinheiro dele?
— Nunca foi por dinheiro, Xavier.
— Okay, certo. Posso ver todas as suas novas joias e roupas de grife e...
— Brad me faz usar isso! — Penny disse. Ela riu de repente, o som me
pegando de surpresa. — Na verdade, brigamos um pouco sobre isso... Ele
gosta de me mimar.
— Eu não acredito em você.
Penny suspirou, olhando-me diretamente nos olhos.
— Lembra antes? Quando você e eu costumávamos... — ela fez uma
pausa — nos vermos. Quando você estava presente depois que eu
terminei com Jacques. Você costumava tentar me dar todos esses
presentes, e eu nunca aceitei nenhum deles.
Eu fiquei em silêncio.
Eu não pude negar.
— Eu sei que você pensa que eu sou uma interesseira. Que eu
simplesmente me apego a qualquer homem com dinheiro que vejo. Mas
Brad... Brad é o primeiro homem com quem estive que quer que eu seja
uma pessoa.
Penny sorriu. Ela parecia melancólica e feliz, e...
Parece que ela está apaixonada.
— Ele não quer apenas me ouvir cantar bem. Ele quer ler todos os
livros que eu recomendo a ele. Ele quer jogar jogos de tabuleiro comigo.
— Ele quer me ouvir falar, discutir, ficar com raiva, ser caótica e... e...
humana. Posso ser esquisita e idiota com ele. Então, sim, eu o amo.
— E não tem nada a ver com o dinheiro? — Eu pressionei. Pode ter
sido indelicado — ou totalmente rude — mas eu precisava saber. Eu
precisava ouvi-la dizer isso.
— Eu adoraria aquele homem se ele estivesse quebrado, limpando o
palco depois que eu fiz meu show, — disse ela. — Assim como Angela
ama você, Xavier.
— Você não sabe do que está falando, — eu disse, não querendo entrar
nisso, na minha vida privada no momento atual. Mas Penny não estava
desistindo.
— Não, você não sabe do que estou falando. Eu vi a foto, Xavier. E eu
sei que o que quer que seja... não foi você. Não o você que você é agora,
pelo menos.
Tentei recuar, para impedir que a conversa continuasse, mas Penny
apenas se aproximou de mim e agarrou minha mão.
— Angela vai te perdoar. Se você merece o perdão dela. Você precisa
lutar por ela, Xavier.
Eu fiquei sem palavras.
Até aquele momento, eu tinha pensado que o ato de menina doce de
Penny era tudo uma fachada.
Uma armadilha para atrair seu próximo alvo.
Mas talvez — apenas talvez — eu estivesse errado.
Capítulo 24
(In)Visível

ANGELA

Lucas: Onde você está?

Angela: No café de Dustin.

Lucas: Tô tentando ligar pra você.

Angela: Desculpa, o sinal não é muito bom aqui.

Angela: Está tudo bem?

Lucas: Em está no hospital.

Lucas: Eles não conseguem encontrar o batimento cardíaco do


bebê.

Angela: Ai, meu Deus.

Angela: Estou indo.

Conforme eu crescia, as pessoas me perguntavam o que eu escolheria


como meu superpoder.
Sempre disse que escolheria a invisibilidade.
O poder de se esconder, mas ainda assim ter acesso ao mundo. Para
ver, para ouvir, mas sem a pressão da interação.
Eu sonharia em ser invisível.
Honestamente, de muitas maneiras, eu já estava. Na escola, eu sabia a
resposta, mas não levantava a mão. Em casa, eu queria coisas, mas queria
que todos os outros tivessem sua lista de desejos satisfeita primeiro.
Para mim, se pudesse ficar invisível, eu estaria completa. Eu poderia
me mover por este mundo como um eco, ondulando em uma graça
silenciosa. Eu poderia fazer a coisa certa e não sofrer a pressão de poder
ser exposta.
Assim, haveria mais espaço para todos os outros, certo?
Mas quando eu soube que eles tinham perdido o batimento cardíaco
do bebê de Em — minha sobrinha — eu não queria ser invisível, não
mais.
Eu escolheria um superpoder diferente.
A capacidade de voar. Para chegar lá o mais rápido que pudesse, livre
de tráfego, estacionamento ou estradas.
Mas assim que cheguei ao hospital, estava de volta ao meu eu meio
transparente. Encontrei meu pai, que me olhou como se tivesse visto um
fantasma.
Eu não conseguia acreditar que depois de lutar para viver, depois de
fazer tudo que podia para estar vivo para encontrar seus netos, ele estava
de volta a uma masmorra estéril. Só que desta vez, ele não estava lutando
por si mesmo. Ele estava assistindo a luta de seu neto.
No quarto do hospital, o ar estava pesado de indignação. Lucas se
sentou ao lado de Emily, que estava na cama, segurando sua mão com
força. Papai andava de um lado para o outro enquanto a médica jogava
jargões para nós.
— Vou verificar suas medidas fetais. Só precisamos nos preocupar se
não houver batimento cardíaco fetal em um embrião com comprimento
entre cabeça e nádega maior que cinco milímetros, — disse ela, passando
os dedos pela barriga de Em.
— O que isso significa? — Lucas respondeu, com sua voz carregada de
pânico.
— O técnico de ultrassom chegará em breve para ver se você precisa
de um ultrassom transvaginal ou de um ultrassom abdominal 2D ou 3D,
— explicou a médica.
Aparências de confusão dispararam pela sala como estilhaços.
— Por favor, estamos com medo. Diga-nos o que está acontecendo! —
Em explodiu.
— Acabei de lhe dizer, senhorita, — respondeu a médica.
— Ela quer dizer nos diga o que está acontecendo em português, —
meu pai esclareceu.
— Ela está dizendo que há trovões, mas não necessariamente uma
tempestade, — uma voz anunciou da porta. Todos nós giramos nossas
cabeças e lá estava ele. O homem que amei.
O homem dos meus sonhos.
O homem de quem eu tinha tanta raiva.
O homem que me traiu.
O homem com quem eu me sentia segura.
— Certo? — Xavier perguntou, sua pergunta dirigida à médica. Ela
acenou com a cabeça, claramente tão atraída por ele quanto eu.
— Certo. Não há necessidade para ficar triste ainda, — ela assegurou a
Em. — Vamos fazer esses testes, e então teremos as respostas. Nós vamos
chegar ao fundo disso.
Eu sabia que as palavras da médica se destinavam à emergência
médica em questão, mas não pude deixar de desviá-las em direção ao
meu relacionamento com o homem parado na porta.
Nós chegaremos ao fundo disso.
Porque, se não o fizermos, eu não acho que meu coração será o mesmo.
XAVIER

Eu não tinha certeza se Angela me queria aqui. Mas


independentemente de tudo o que aconteceu, eu sabia que ela precisava
de mim aqui. Ela precisava de alguém estável em quem pudesse confiar.
E mesmo com a tempestade de merda que eu trouxe sobre nós, aquele
cara ainda era eu.
A única coisa era que ninguém mais na sala pensava assim.
Em estreitou os olhos para mim.
— Tire ele daqui, — disse ela a Lucas, uma mão apoiada em seu
estômago.
Lucas olhou para mim, inseguro.
Então Angela se aproximou de mim e minha respiração ficou presa na
garganta.
— Tudo bem. Entendi, — ela disse ao irmão e depois me guiou para
fora da sala.
Estendi o embrulho de macarrão com queijo que trouxera para o
hospital, sentindo-me uma idiota com ele nas mãos, mas ofereci mesmo
assim.
— Lucille diz que Em sempre pede isso quando ela vem, — eu disse
enquanto entregava a ela o macarrão. — Achei que ela precisava de um
pouco de comida reconfortante.
— Obrigada, — respondeu Angela, claramente sem saber como agir. O
olhar desconfortável que ela me deu doeu como uma maldita abelha.
— Eu sei que você provavelmente quer que eu vá embora, — eu disse,
sem saber se contar a ela que Claudia me beijou apenas faria parecer que
eu tinha feito uma emboscada agora. Eu tive que fazer tudo o que podia
para evitar fazer ainda mais merda.
— Apenas vá embora, Xavier. Eu tenho que estar aqui por Em, por
minha família... — Ela parou.
— Nossa família. Eu me torno tio quando você vira tia, Angela. E eu
quero estar aqui por você.
— Hoje. Mas amanhã, você pode querer estar lá pela Claudia, — ela
respondeu. — Você tem uma família, uma filha.
Espere, o quê?
— Como... como você sabe sobre isso? — Eu perguntei antes que
pudesse me conter, e então estremeci. Agora parecia que eu estava
tentando esconder essa parte dela, que eu estava bravo por ela já saber.
— A Claudia me disse, — ela disse suavemente. — E eu... eu a conheci.
— Você conheceu quem?
— A garota, Xavier. O nome dela é Sophie. — Quando os olhos
arregalados de Angela encontraram os meus, meu estômago afundou
ainda mais. Não apenas essa criança era real, mas minha esposa a
conheceu.
— Sophie pode não ser minha, — respondi, tentando encontrar uma
saída. Tentando trazer alguma aparência de esperança para a situação.
— Mas e se ela for? — Angela sondou, com os olhos me procurando
enquanto eu tentava responder e falhei. Ela não estava perguntando de
uma forma mordaz. Ela estava dizendo isso de uma maneira genuína e
real. E isso doeu muito mais.
— Não sei. Eu... há muito que quero discutir com você. Você é meu
amor, não vê isso? Eu só... não é hora de desvendar a bagunça, não agora.
— Você não tem que explicar. Eu entendo, — ela respondeu.
— Entende mesmo?
— Eu era uma substituta na sua vida, a esposa que você precisava até
que você pudesse resolver as coisas com a que você queria, certo?
Suas palavras estavam me cortando, mais afiadas do que qualquer
lâmina que eu conhecia.
— Não. — Eu balancei minha cabeça, tentando o meu melhor para
encontrar uma maneira de convencê-la do que eu sabia ser verdade. —
Eu amo você...
— Mas eu não sou ela, — disse ela, interrompendo minha frase.
Foi quando vi as lágrimas brotando de seus olhos.
— E graças a Deus você não é, — respondi sem perder o ritmo.
— Angela, eu a amei uma vez. Anos atrás. E então descobri quem ela
realmente é. Com filha ou sem filha, você é tudo para mim. Você não vê
isso? É só você. Então você pode me odiar. Você pode me implorar para
sair. Mas não vou. Vou ficar aqui até que Em esteja bem. Até que você
esteja bem. Quer você goste ou não, — eu disse a ela.
— Eu não gosto disso, — disse Angela, com os olhos no chão.
Eu poderia jurar que ela me deu um tapa na cara.
— Você não quer?
— Não. E eu realmente gostaria se... Xavier, se eu significar alguma
coisa pra você... É melhor se você apenas ir para casa.
ANGELA

Nos dias em que Em estava no hospital, cada um de nós se revezava


em seu quarto. Não importava se ela estava acordada ou dormindo.
Queríamos que ela soubesse que nunca estaria sozinha.
Nesse momento em particular, ela estava dormindo profundamente.
Papai e eu nos sentamos ao lado dela.
— Estou farto de estar aqui, — admitiu papai. — Bem quando eu
pensei que estaria fora do hospital para sempre, aqui estamos nós.
Eu concordei.
— Eu simplesmente não entendo por que isso continua acontecendo.
Somos boas pessoas, não somos?
— Claro, Angela, — ele respondeu, segurando minha mão. — Não
estamos sendo punidos.
— Não me sinto assim.
— Querida, sim, essas coisas horríveis continuam acontecendo. Eu
preferia estar em um chá de bebê do que num quarto de hospital. Mas
adivinhe. Continuamos sobrevivendo, todas às vezes, — ele disse, me
apertando. Eu descansei minha cabeça em seu ombro.
— Em é forte, e tenho certeza que meu neto é ainda mais forte, — ele
disse.
— Você está certo, pai. — Eu exalei. — Lamento estar sendo tão fraca.
Ele se virou para mim, colocando a mão em cada um dos meus
ombros.
— O que você está falando? Você é a mais forte de todos nós. Os
sacrifícios que você fez? Ninguém nesta família teve a coragem que você
teve, Angie.
— Casar com um estranho não foi corajoso, pai, — eu o lembrei.
Especialmente um traidor.
— Querida, casar com alguém é corajoso.
— Nós não temos um casamento de verdade. Você viu a foto. Todo
mundo viu.
— E daí? — meu pai perguntou.
Ele estava falando sério?
Como ele não poderia estar indignado?
Fui humilhada, exposta publicamente, de novo.
— Parecia que ela o estava beijando, não que ele estivesse
participando. Além disso, como eles conseguiram aquela foto naquele
exato momento? — Papai perguntou, como se estivesse discutindo com
um júri. — Você conhece a mulher, certo?
— Sim.
— Ela é honesta?
Claudia... ela era perfeita.
Uma boa mãe apenas tentando consertar as coisas para sua filha.
Não era?
Mas eu a conheci quando ela era Didi.
Quando ela estava mentindo sobre ser ex-noiva de Xavier.
Peguei meu telefone, puxando a foto horrível... e percebi que não era
realmente horrível.
Foi perfeito — tirado na distância certa, na luz certa, com a lente e a
moldura certas. Impossível de conseguir se não tivesse sido encenado.
Merda, teria sido quase impossível tirar essa foto.
Eu me virei para o papai. Ele parecia muito preocupado.
— Você acha que eu deveria ficar com Xavier? — Eu perguntei.
Papai se levantou e espreitou a cabeça para fora, em direção à sala de
espera.
— Dê uma olhada, — ele disse, acenando com a cabeça para onde ele
estava olhando. Levantei-me da cadeira e caminhei lentamente em
direção ao meu pai, meus olhos seguindo sua linha de visão.
E, com certeza, lá estava ele.
Meu marido.
Xavier.
Dormindo em uma cadeira de sala de espera miserável. Em uma sala
de espera vazia.
Papai colocou um braço em volta dos meus ombros e sussurrou em
meu ouvido: — Parece que ele vai ficar com você.
XAVIER
O amor vai te bagunçar. Ele fará com que você queira tanto alguém
que, quando não o tiver ao seu lado, preferirá não estar acordado.
Curvado sobre o assento de merda da sala de espera, me perguntei por
quanto tempo ficaria aqui. Quanto tempo levaria para o bebê de Emily
ficar bem, para Angela e eu ficarmos bem, para acordarmos para algo que
não parecia um pesadelo.
Abrir os olhos foi como abrir uma lata de pavor. Até que eu pude
entender o que estava vendo.
Porque lá estava Angela, olhando para mim.
— Xavier... — ela disse suavemente.
— Como está Em? — Eu perguntei, esfregando o sono dos meus
olhos.
— Eles encontraram o batimento cardíaco, — ela respondeu,
pressionando minhas mãos contra seu peito. Eu podia sentir seu coração
batendo forte, e me senti tão perto dela que não queria que ela abaixasse
minha mão. Nem agora, nem nunca.
— Eu também, — eu disse a ela, sussurrando. — Você me fodeu muito
bem, sabia disso?
— O quê?
— A ideia de perder você, Angela, é pior do que a ideia de perder
qualquer outra coisa. Fui a Claudia para te proteger. Ela... eu não queria...
● — Foi uma armação, não foi?
Fios dourados tinham saído de seu coque, deixando-a parecendo uma
deusa em decadência.
— Eu vou te mostrar o que é um beijo de verdade, — eu declarei,
puxando Angela suavemente para mim, unindo nossos lábios. Eu agarrei
seu cabelo, puxando-a para o assento.
Ela montou em mim, minhas pernas entre as pernas dela, e passou as
mãos famintas pelo meu peito.
Nossas línguas entrelaçadas, dedos entrelaçados, olhos fechados.
Eu precisava disso.
Eu sentia falta disso.
Este era meu lar.
Eu a peguei, levando-a para fora da sala de espera vazia e para uma
sala abandonada no final do corredor. Eu a pressionei contra a parede,
me perdendo em seu cheiro, em seu cabelo, em seus gemidos.
Tudo que eu queria agora era estar com ela.
— Tranque a porta, — ela murmurou em meu ouvido, e eu fiquei mais
do que feliz em fazer o que ela disse.
Capítulo 25
Feche o negócio

ANGELA

Xavier me prendeu contra a porta de um quarto vazio do hospital. Eu


sabia que era inapropriado. Minha melhor amiga e meu pai estavam no
final do corredor, esperando para descobrir o destino de uma criança. E
aqui estávamos nós, nos agarrando.
Mas não parecia impróprio.
Parecia pontuar um — eu — esquecido por muito tempo. Parecia a
única opção, a única maneira de voltar ao normal.
Estava bem.
Foi tão bom.
Tão bom que todo o medo que eu tive sobre Xavier ainda amando
Claudia, sobre ele a escolher em vez de mim, se dissolveu no ar. Ele
estava aqui comigo. Ele estava me beijando.
Ele não estava acampado esperando por ela.
Ele estava aqui, esperando esta emergência emocional sair.
Ele estava me tocando, por toda parte, me fazendo sentir de uma
maneira que ninguém mais poderia. Pressionei meu peito nele, sentindo
um formigamento feliz irradiar por mim.
Coloquei meus braços em volta do pescoço dele, tocando sua barba
por fazer. Adorei a sensação que senti ao arranhar minhas bochechas
nuas, como fez minhas pernas tremerem de êxtase.
Passei minhas mãos por seus cabelos escuros, empurrando-os para
trás e puxando-o para perto de mim.
Foi quando ele pressionou seus lábios em meu pescoço.
Eu engasguei quando senti sua língua desenhar ao longo da minha
pele.
Eu não sabia o que era mais gostoso. A maneira como ele me tocou
fisicamente ou a maneira como ele não se importava se fôssemos pegos.
Ele estava tão seguro de si, tão focado em mim, que era como se ele
tivesse esquecido completamente onde estávamos.
Me contorcendo embaixo dele, coloquei minhas mãos entre nós, meus
dedos correndo pelos botões de sua camisa. As mãos de Xavier foram
para seu cinto, sua calça caindo no chão em torno de seus sapatos.
Meu vestido veio em seguida, por cima da minha cabeça.
Quando Xavier deu um passo para trás, seu olhar encoberto percorreu
meu corpo agora nu.
Mesmo que ainda me fizesse corar, adorei sentir seus olhos em mim,
vendo aquele sorriso malicioso aparecer. Eu sabia que ele estava
imaginando algo louco.
Uma sensação avassaladora de intimidade tomou conta de mim. Do
amor.
Mas Xavier não apenas me amava.
Ele me queria. Tudo de mim.
Ele me desejava tanto que não tive medo de desejá-lo, desejar o
melhor e as partes mais safadas dele.
Dominado pela confiança, sussurrei:
— Faça o que quiser, apenas faça rápido.
Ele respondeu me girando e me curvando. Minhas mãos balançaram
em volta dos meus tornozelos, meu cabelo caindo em volta do meu rosto.
Eu podia sentir sua respiração na minha coluna, seu corpo traçando
ao longo do meu, e ele se inclinou sobre mim e deu um beijo na minha
nuca, entre minhas omoplatas.
Eu ansiava por me sentir mais perto dele e me levantei novamente,
pressionando cada uma das minhas curvas contra seus ângulos,
entrelaçando nossos tornozelos, pressionando minhas costas contra seu
peito, minha cabeça contra seu ombro.
Suas mãos alcançaram meus seios enquanto ele balançava para frente
e para trás, sua dureza deslizando ao longo da minha umidade.
Então suas mãos se separaram em direções diferentes. Uma mão se
curvou para envolver a base do meu pescoço em um aperto suave, e a
outra deslizou para baixo entre as minhas pernas, girando sobre o meu
clitóris.
Eu soltei um gemido.
— Mais.
— Tanto quanto você quiser, — respondeu ele e, em seguida, me fez
gritar.
Estremeci de felicidade quando senti Xavier empurrar ainda mais
dentro de mim, sentindo seu corpo mais forte e mais profundo do que
nunca.
Tudo o que pude fazer foi gritar por mais.
Nosso casamento, nosso amor, não foi um bilhete de loteria da sorte.
Era um cubo de Rubik que teríamos que continuar resolvendo conforme
nossas cores mudavam.
Era um quebra-cabeça, não um obstáculo.
Seria difícil, mas se isso fosse qualquer indicação, também seria muito
divertido.
CLAUDIA

Você já teve um momento que porra estou fazendo!


O tipo de momento que faz você analisar toda a sua vida, que faz você
se perguntar onde você pegou o caminho errado que a levou a essa
situação desesperadora?
Eu nem me sentia presente com seu corpo sobre o meu. Como eu
poderia? Seu suor estava por toda a minha pele, sua respiração pesada
bem no meu rosto.
Objetivamente, ele não estava fazendo nada de errado.
Ele estava tocando nos lugares certos, beijando aquele ponto do meu
pescoço que eu gostava, falando sujo sem soar vulgar.
Mas mesmo assim, não foi o suficiente.
Nada foi suficiente.
O dinheiro que ganhei com a foto de Xavier e eu — a foto que vendi
para os tabloides e blogs de fofoca — encheu minha conta bancária, mas
nada mais. Eu poderia ter sido capaz de me presentear com Chanel ou
uma noite no Plaza, mas isso não significava nada.
Não para mim, não mais.
Dinheiro era apenas isso.
Dinheiro.
Ainda me deixou querendo, me deixou precisando, algo mais. Algo
mais quente, mais conectado, mais aterrado.
Merda.
Eu gostaria de poder pegar o dinheiro e fugir. Eu queria de verdade.
Eu gostaria que dinheiro fosse suficiente para acelerar minha
adrenalina, para me fazer sentir tão viva e rejuvenescida como costumava
ser, mas não foi. Não mais.
E então havia Xavier. Ter que vê-lo, ter que vê-lo com ela.
Saber que alguém como ele, alguém como aquele bilionário playboy
havia encontrado o amor — e eu estava sozinha — parecia que eu seria
assim para sempre.
Lembrando-me da minha fraqueza.
De tudo o que eu não tinha, tudo o que não conseguia segurar.
E, no fundo, mesmo quando Xavier e eu estávamos juntos, mesmo
quando éramos felizes, apaixonados, nunca pensei que ele realmente
quisesse se casar comigo. Ele só queria a aprovação de seu pai — na
forma de uma mulher.
Então eu o traí. Daniel era tudo que Xavier não era — obcecado por
mim, generoso com seu carinho, sempre ao meu lado quando eu
precisava dele. Mas mesmo depois que nosso segredo foi revelado, não
duramos.
Não poderíamos ter durado.
Havia um holofote muito forte — muito ódio e descrença —
direcionado diretamente para nós. Seria como se casar em um campo de
batalha. Uma vitória se tivéssemos sucesso, mas as probabilidades
estavam contra nós, disparando balas em nossa carne vulnerável.
— Você é tão... gostosa... — O homem em cima de mim grunhiu, e
minha mente voltou ao presente. À situação em que me coloquei porque
queria me sentir viva novamente.
— Você também, — eu sussurrei de volta. Eu estava completamente
entediada, mas percebi que o coitado estava quase acabando. Portanto,
devia deixá-lo aproveitar.
Com um gemido final, ele gozou e então rolou de cima de mim. Ele
me puxou para perto dele para que meu rosto ficasse pressionado em seu
peito pálido. Depois de alguns momentos, não consegui segurar minhas
perguntas por mais tempo.
— Você trouxe? — Eu perguntei.
Ron acenou com a cabeça.
Nossa conexão era de conveniência. Nós dois fomos descartados por
Xavier.
O bilionário absorveu tudo o que tínhamos para oferecer e nos deixou
como um lago sem água, um cemitério de memórias submersas. Quando
Xavier descobriu sobre Daniel e eu, ele envergonhou seu amigo em
público, arruinando sua reputação e garantindo que ninguém ousasse
acabar comigo.
E Ron, Xavier o havia despedido sem ao menos um bom motivo.
Depois de décadas servindo seu pai, Xavier herdou o assistente como se
ele fosse uma herança de família. Quando ele decidiu que Ron não era de
seu gosto, ele o cuspiu.
Como eu, Ron precisava lutar.
De maneiras que Daniel nunca poderia.
Tudo o que precisou foi correr para ele depois que ele foi demitido.
Ron e eu nos conhecíamos desde quando eu estava namorando Xavier,
todos aqueles anos atrás. O assistente de Brad nunca estava muito atrás
de Brad, então ele estaria em reuniões familiares e eventos sociais.
E assim eu o encontrei em um Starbucks no distrito financeiro
algumas semanas atrás. Ele me contou o que aconteceu, como ele ainda
estava procurando trabalho. Como ele estava começando a ficar nervoso.
Foi quando eu vi o que ele era: outra pessoa que tinha sido fodida pelos
Knights.
Outra pessoa com informações que eu poderia usar.
E outra pessoa que, sejamos honestos, queria me ferrar.
Então eu o deixei entrar no meu apartamento, e ele me deixou entrar
em sua mente. E cara, ele tinha um grande cofre cheio de informações
ultrassecretas sobre os Knights.
— Eu trouxe. — Ron acenou com a cabeça, beijando minha testa antes
de estender a mão e colocar uma pasta na cama. Ele abriu sua pasta,
escolhendo um longo contrato.
Eu peguei de suas mãos. Estava mais que encantada.
O documento traçava um acordo entre Angela e Xavier, um acordo de
casamento, em troca de dinheiro.
Eles nem mesmo se conheceram antes de ela concordar em ser sua
esposa.
Faz sentido, zombei internamente. A única maneira de Xavier conseguir
que uma mulher esteja com ele é se ela não o tivesse conhecido, se ela não o
conhecesse.
Xavier tinha, para todos os efeitos, alugado uma mulher. Por um preço
colossal. Mas agora seu contrato com ela havia acabado.
Conforme eu folheava as páginas intermináveis do acordo, me sentia
energizada. Essa foi a adrenalina que eu estava procurando, a sensação de
vivacidade que eu tanto desejava.
Logo o mundo inteiro saberia a verdade sobre Angela e Xavier.
Eu me senti tonta.
Eu estava com calor.
— Ei, Ron. — Eu me aninhei de volta para o homem tenso. — Pronto
pro segundo round?
Capítulo 26
Conhecimento Público

XAVIER

Eu não conseguia acreditar nos meus olhos.


Eu literalmente não pude acreditar neles.
No começo, achei que fosse um sonho. Um pesadelo.
Talvez eu tivesse comido um brownie com um pouco de erva
misturada sem saber, e esse fosse o barato.
Talvez, apenas talvez, isso fosse uma invenção da minha imaginação.
Mas então eu pisquei e os alertas de notícias ainda estavam lá no meu
telefone. E então mais deles apareceram. E ainda mais.
XAVIER KNIGHT COMPROU SUA NOVA NOIVA
CASAMENTO DE KNIGHT FEITO POR DINHEIRO
ANGELA & XAVIER KNIGHT SÃO UM ACORDO PAGO
Eu queria gritar. Eu queria bater na parede com meu punho, infligir
dor em algo que não era eu. Para focar em machucar alguém, em vez de
focar em minha própria dor.
Eu corri todo trajeto até o prédio do meu pai, não dando a mínima
para que o vento forte parecesse uma bofetada na cara a cada passo que
eu dava. No momento em que seu elevador particular estava abrindo em
seu foyer, eu já estava gritando.
— PAI! — Eu uivei.
Ele cambaleou, parecendo meio adormecido.
— Shhh, Penny e eu dormimos tarde, Xavier, — ele disse, esfregando o
couro cabeludo.
— Acho que você não viu as notícias? — Eu perguntei.
— Acabei de sair da cama. O que está acontecendo? — Papai
pressionou.
— Alguém vazou o acordo. Você sabe, o acordo que você forçou a mim
e a Angela.
— Isso não é possível, — papai disse, sua voz forte e nivelada. Ele
estava totalmente acordado agora.
— Cada página, cada condição, cada detalhe que você exigiu de
Angela. Eles são publicados para o mundo ver.
Eu me aproximei dele.
— O mundo inteiro pensa que eu tive que pagar para ter uma garota.
Eles pensam que eu sou um idiota de pau mole que precisa de seu pai pra
transar.
— Não fale assim comigo, Xavier, — meu pai ordenou. Eu o ignorei.
— E pior, eles acham que Angela é uma noiva de aluguel interesseira!
Você sabe o que acabou de fazer com a vida dela? Para minha vida? — Eu
me enfureci.
Eu estava cansado de me fazer de bonzinho. Não importava o que eu
dissesse. Não havia mais nada que eu pudesse perder. Ele não poderia me
tentar a fazer a coisa certa jogando a empresa na minha cara, jogando um
papel ou, não sei, a memória de minha mãe.
Tudo isso caiu por terra quando ele começou a trepar com minha ex.
O poder do meu pai se foi. Não havia mais nada que ele pudesse tirar
de mim.
Nem mesmo Angela. Ela estava com tanta vergonha de estar perto de
mim, respirando o mesmo oxigênio. E agora ela foi marcada como uma
mulher de aluguel, como se ela fosse minha prostituta em vez do sangue
em minhas veias, mantendo todos os músculos vivos.
Não havia como ela voltar para mim depois disso.
E eu não poderia culpá-la.
Eu também não voltaria.
A pior parte é que nem era verdade. Os jornais não se importaram
com o fato de Angela estar tentando manter seu pai vivo. Eles não se
importaram que ela fizesse meu coração disparar para fora do meu peito,
disparando como um despertador apreensivo.
— Quem você acha que fez isso? — Papai perguntou com cuidado.
Como se ele soubesse que eu tinha uma bomba amarrada ao peito e não
tivesse certeza de quando pressionaria o botão.
— Minha querida ex-namorada, — eu cuspi.
— Claudia?
— Claro que é Claudia, pai. Quem mais? — Eu zombei.
Observei meu pai respirar fundo. Então seus olhos se levantaram
lentamente até que encontraram os meus.
— Filho, isso não é possível. Eu me certifiquei disso. Eu fiz questão de
que ela te deixasse em paz.
Eu congelei.
— O que diabos você fez? — Eu rosnei.
— O que qualquer um na minha posição faria. Eu paguei para ela
parar de prejudicar minha família, — meu pai revelou.
Aí eu fiquei muito furioso.
— Isso não funciona com pessoas como ela! — Eu gritei. — Você
acabou de dar a ela mais recursos para nos atacar! Ela não vai parar até
que minha vida seja tão patética quanto a dela. Você não entende?
Talvez meu pai fosse um homem de bom coração, mas eu não era.
Tudo com Claudia... nunca foi sobre dinheiro. Sempre foi sobre tortura.
E meu pai tinha caído no seu jogo.
Meus olhos correram para ele, e pela primeira vez na minha vida, eu vi
o homem como ele era. Sua bondade era apenas um disfarce, escondendo
a verdade em seu âmago — sua obsessão por controle.
Ele daria, daria e daria, apenas para ser conhecido como a pessoa que
deu.
Só assim ele poderia controlar o resultado, sem qualquer chance de
fracasso.
A raiva saiu de mim. Eu não conseguia mais segurar.
— Eu não posso acreditar que uma pessoa poderia fazer tanta merda.
Coagindo a mim e a Angela a um casamento fodido? Mentindo para cada
um de nós sobre o que estávamos fazendo? Financiar a mulher que partiu
meu coração.
— Tudo o que fiz, fiz por você! — Meu pai respondeu, com agonia em
todas as suas feições. Meu pai começou a hiperventilar, curvando-se
sobre o sofá de dor. Ele estava gaguejando através de respirações
dolorosas, como se eu tivesse dado um soco em seu estômago.
Eu não me importei.
— Não, você fez tudo por você, — eu insisti. — Não acredito que
somos parentes. Não acredito que vim de você.
Eu quis dizer isso.
Papai queria que eu vivesse uma vida que ele não poderia. Mamãe
estava morta e, em vez de se recuperar de seu próprio trauma, ele queria
que eu fizesse isso por ele. Ele queria que eu tivesse o casamento que ele
perdeu, em vez de me permitir abrir meu próprio caminho.
Ele queria que eu seguisse em frente por ele.
Eu me sinto enojado.
— Você não pode ir embora, — disse papai, aninhando-se no sofá.
Mas eu já estava na porta, decidido a deixar essa bagunça para trás.
— Fique olhando, — declarei, embora tivesse ouvido a urgência em
sua voz.
— Não. Há mais uma coisa que você precisa saber.
ANGELA

O amor não devia ser uma tortura.


Eu sabia.
Sim, com certeza.
Mas mesmo sabendo disso, não poderia ir embora. Não do amor que
tive por Xavier. Mesmo que nosso amor fosse uma tortura, mesmo que,
todos os dias, eu ficasse chocada com as novas maneiras como ele era
capaz de me trazer dor, eu não poderia virar as costas para ele.
Podia?
Todo o nosso relacionamento tinha sido um ciclo de dominós da
altura de um arranha-céu caindo sobre nós. Eu mal conseguia me mover
de tão esmagada pelo peso deles. E o mundo inteiro foi convidado a
observar, a ver os danos.
Neste ponto, eu não tinha certeza se havia momentos felizes o
suficiente entre Xavier e eu para enfaixar as feridas abertas e agonizantes.
Principalmente este.
Para o mundo, eu não era mais Angela. Não, agora eu era o pior tipo
de pessoa. Do tipo que se casa por dinheiro. O tipo que finge amor em
troca de estabilidade financeira.
Desde que me casei com Xavier, a sociedade me conheceu como sua
esposa. Foi difícil se acostumar com aquele título. Demorou e exigiu
prática. Houve um tempo em que tudo que eu queria era voltar para a
Angela que eu era antes dele.
Mas agora, tudo que eu queria era voltar a ser Angela Knight.
Para a mulher que Xavier se casou, só porque eu podia.
Mas não conseguiria. Nem agora, nem nunca.
Porque o acordo estava lá, público, para o mundo ver.
E eu não era nada além daquela garota.
Aquela garota que se casou com um estranho por algum dinheiro.
Aquela garota que mentiu para o mundo, fingindo ter amor por causa
da ganância.
Aquela garota cujo rosto bonito era apenas uma máscara para as
profundezas da repulsiva hediondez por baixo.
A humilhação era... insuportável.
Queimou minha pele, gelou meus ossos e envolveu meu coração em
arame farpado.
Onde quer que eu fosse, meu nome era sinônimo de oportunista.
De interesseira.
Vadia gananciosa.
Para todos, Angela Knight era a mulher que vendeu sua alma por um
anel de diamante.
Eu encarei minha aliança de casamento. Eu me senti ridicularizada
por seu brilho, seu design elaborado e grandioso.
Eles estavam certos.
Eu estava fingindo.
Este anel, este quarto, este luxo, não fui eu. Eu nunca colocaria um
guardanapo na pizza antes de comê-la. Eu nunca teria certeza de que
meu sutiã combinava com minha calcinha ou que meu cabelo estava
preso com segurança em um penteado elaborado.
Eu tinha sido uma invasora nesta festa que Xavier chamava de lar.
E eu sempre seria.
Eu arranquei o anel de diamante do meu dedo e o coloquei na minha
mesa de cabeceira.
Se renovássemos nossos votos de casamento agora, seria uma piada. Já
éramos motivo de riso.
Precisávamos cancelar.
Talvez precisássemos cancelar tudo.
Este romance era uma fera amaldiçoada, sempre levantando uma
nova cabeça mais violenta e mais feia.
Talvez a única maneira de acabar com a dor fosse divorciar-se e deixar
tudo para trás.
Mas eu poderia fazer isso?
Eu poderia esquecer o homem que amei tão intensamente, tão
completamente e genuinamente?
Eu não conseguia parar de pensar em Xavier, não conseguia parar de
me preocupar por ele. Mesmo quando eu estava com raiva dele. Mesmo
quando ele estava errado.
Eu acho que isso era amor — tortura quando está ao redor de nossos
dedos, tortura quando cai através deles.
Minhas mãos estavam vazias agora, meus dedos estéreis.
Crrrr. Crrrr.
Alguém estava caminhando pela madeira dura.
O que significava... Xavier estava de volta.
Eu levantei o anel, olhando seus detalhes glamorosos. Certamente não
era pra mim. Mas, caramba, ele era — exagerado, mas delicado.
Eu deslizei a aliança de volta no meu dedo, assim que Xavier entrou
no quarto.
— Você está bem? — Ele perguntou, pressionando minha cabeça
contra seu peito. Eu não pensei que estar tão perto dele me faria sentir
melhor — que qualquer coisa poderia me fazer sentir melhor — mas aqui
estava eu. Me sentindo melhor.
— Eu não sei, Xavier. Eu não sei, — eu murmurei, e então os soluços
vieram.
Ele suspirou.
— Lamento dizer isso, mas tenho mais novidades...
Eu olhei para ele, tentando vê-lo através das lágrimas.
— Sophie não é minha, — revelou Xavier. Eu olhei para ele, atordoada.
— O que você quer dizer? — Eu funguei.
— Meu pai fez algumas pesquisas... Sophie é filha de Daniel. O DNA
prova isso. O nome dele está até na certidão de nascimento, — explicou
Xavier. — Ela inventou tudo para chegar a mim... a você e a mim.
— Isso não é... quero dizer... é impossível. Ela ama Sophie, — eu
gaguejei. Como Claudia pôde jogar xadrez com a vida da filha assim?
— Talvez, Angela, mas isso não significa que ela não usou a porra da
criança para nos machucar e roubar, — Xavier respondeu, passando as
mãos pelo meu cabelo.
Era por isso que ela não queria pensão alimentícia de Xavier. Sophie
não era filha dele, e isso significava que eu não era sua madrasta.
Os olhos de Xavier estavam injetados. Nunca o vi tão arrasado, tão
furioso. Ele não se parecia consigo mesmo. Ele parecia perigoso, como
uma besta abusada liberada de sua jaula. Pronto para a vingança.
— Vou acabar com eles, — declarou ele.
— Xavier... — Eu disse, tentando acalmá-lo.
— Não. — Ele me cortou, beijando-me nos lábios. — Vou acabar com
todos eles.
Capítulo 27
Superexposto

XAVIER

Angela e eu estávamos cercados por mil câmeras, mas desta vez, fui eu
quem as ligou.
Desde que a notícia de que Angela e eu tínhamos um casamento
arranjado, fomos perseguidos por paparazzi desesperados, pressionando-
nos por detalhes.
Agora era hora de confessar.
Desta vez, mostraremos nossas cartas. Sem mais segredos, sem mais
mentiras. Angela e eu tínhamos algo real e não tínhamos nada a
esconder.
A coletiva de imprensa estava marcada para começar em vinte
minutos. Mas isso não impediu os perseguidores persistentes com
câmeras do lado de fora do nosso camarim.
Eu sabia o que eles queriam.
Eles queriam nos pegar carrancudos, nos pegar lutando. Qualquer
coisa que provasse que éramos tão falsos quanto eles pensavam que
éramos.
— Você tem certeza disso? — Angela perguntou, com sua voz suave
preenchendo o espaço entre nós.
Mesmo que ela tenha me feito a mesma pergunta um milhão de vezes,
e mesmo que eu tenha respondido com confiança todas as vezes que ela
perguntou, ela ainda tinha dúvidas.
Não que eu pudesse culpá-la.
A garota foi arrastada pela lama, tudo porque ela se envolveu no caos
que era a minha vida.
Antes de eu fazer as ligações para garantir esta entrevista coletiva na
noite passada, Angela olhou para mim com seus olhos arregalados, sua
boca se abrindo em um meio sorriso.
— Devíamos voltar para a ilha. Aquela em que caímos. — Ela deu uma
risadinha. — Não haverá nenhuma câmera lá. Nenhum paparazzi. Será
apenas eu e você.
Rimos juntos e eu a beijei, maravilhado com a sorte que tive.
Ela estava certa, é claro. Se pudéssemos chegar a algum lugar onde
pudéssemos estar um com o outro, sem complicações, seria muito mais
fácil.
Mas eu era um Knight, e coisas assim não eram fáceis para minha
família.
— Não podemos fugir, — sussurrei para ela em resposta.
— Eu sei. — Ela acenou com a cabeça, esfregando minha bochecha. —
Enquanto estivermos aqui, juntos, serei feliz.
— Promete? — Eu perguntei a ela, me arrependendo
instantaneamente. Porque eu não podia pedir isso a ela; era demais.
Depois de tudo que eu a fiz passar, até mesmo pedir para ela ficar ao meu
lado era demais.
— Eu prometo, — ela murmurou, me beijando novamente.
E eu exalei.
— Xavier? Tem certeza? — Angela perguntou novamente, me
trazendo de volta ao camarim. Aproximei-me dela, puxando-a para um
abraço apertado.
— Tenho tanta certeza disso quanto de que te amo, — respondi,
beijando sua testa.
Mesmo com todo o pânico consumindo-a, ela não pôde deixar de
sorrir.
— Ok, então, — ela disse, endireitando minha gravata. Eu sorri,
colocando minha mão sobre a dela.
— Arrasa eles.
Eu tirei um pouco de cabelo do seu rosto, colocando suas bochechas
macias em minhas mãos.
— Por você, — respondi, pressionando seus lábios contra os meus, —
qualquer coisa.
CLAUDIA

Nada poderia tornar o caos de buscar minha filha depois da escola


melhor.
A nova babá se ofereceu para pegar Sophie na escola, mas eu
simplesmente não conseguia dizer sim. Eu não conseguia evitar uma
diversão assim.
Além disso, só porque eu podia pagar por ajuda não significava que
queria tudo isso.
O objetivo disso era poder pegar Sophie todos os dias depois da
escola, levá-la a qualquer atividade extracurricular que ela escolhesse. Eu
queria dar a ela a vida que ela queria. Eu queria ter certeza de que ela
tinha tudo.
E para fazer isso, precisava de recursos.
Recursos e um pouco de diversão. Para me manter sã.
Eu saí do carro, agarrei Sophie da professora e a ajudei a entrar no
carro. Assim que ela estava segura em sua cadeirinha, sentei ao volante.
— Música! Música! — Minha garotinha cantou.
— Como quiser. — Eu sorri de volta para ela pelo retrovisor. E então
coloquei a trilha sonora de Frozen, deixando a batida passar pelo carro.

Ron: Ei, gata.

Ron: Tenho pensado em você.

Ron: Vamos para Cipriani Wall St esta noite.

Claudia: Não posso.

Ron: Outro dia então?

Claudia: Ocupada.

Ron: Que tal amanhã?


Claudia: Isso também não vai dar.

Ron: Por que não?

Ron: Tudo bem?

Claudia: Eu não queria fazer isso por msg, mas...

Claudia: Acho que não devemos mais nos ver.

Ron: O quê?

Ron: Por quê?

Claudia: Só não gosto de você.

Ron: Você está brincando?

Ron: Você me usou!

Ron: Você só queria o contrato do acordo.

Claudia:...

Claudia: Sinto muito, Ron.

Ron: Não, você não sente.

Ron: Você não é melhor que os Knights.

Ron: Vocês todos se merecem.

Ron: Fodam-se todos vocês.

XAVIER

De pé no palanque, eu estava tão apavorado que não conseguia nem


ler meu discurso.
Isso não era meu feitio, o que fez meu pulso disparar ainda mais
rápido. Eu podia sentir o suor escorrendo em minhas têmporas, e minha
gravata parecia muito apertada.
Se eu não pudesse consertar nossa reputação, perderia a empresa.
Nossas ações já haviam caído por causa de todo o caos.
Pobre papai... papai.
Eu não podia acreditar o quão duro eu tinha sido com ele.
Depois disso, eu preciso me desculpar por ser um idiota.
Todos os repórteres estavam gritando perguntas para mim. Limpei a
garganta o mais alto que pude para que pudesse pelo menos responder
algumas.
— Corre o boato de que minha esposa assinou um contrato antes de
se casar comigo, em troca de dinheiro, — anunciei. A multidão de
jornalistas ficou em silêncio. — Não estou aqui para contestar. Estou
aqui para lhe dizer que é a verdade.
Houve um rugido ao meu redor. Todos começaram a cuspir
manchetes em suas câmeras.
Xavier Knight confirma...
... Angela Knight era uma...
... um amor falso, mas uma funcionária de verdade...
Eles não esperaram que eu chegasse à parte boa.
— Essa é a verdade, mas não toda a verdade, — proclamei. — Antes de
me casar, eu era infeliz. Eu vi todos os tipos de mulheres, mas estava
completamente sozinho. Meu pai conheceu Angela e soube
imediatamente que ela era tudo de que eu precisava. Ela não era uma
interesseira. Na verdade, ela tinha muito mais a oferecer do que eu.
Respirei fundo e continuei.
— Mas eu era teimoso. Eu estava emocionalmente isolado. Eu nem
mesmo acalentaria o pensamento de amor, mas meu pai se recusou a me
deixar ficar com sua empresa, a única coisa com a qual eu poderia me
conectar, a menos que casasse com Angela. Então eu fiz.
Eu olhei para Angela. Seu rosto estava inchado de tanto chorar. Suas
bochechas estavam vermelhas, desconfortáveis com os segredos que eu
estava revelando. Mas eu precisava contar mais.
Eu precisava contar tudo.
— Essa foi a melhor escolha que já fiz, — expliquei à multidão. — No
começo, eu era como todos vocês. Eu julguei Angela mal. Achei que ela
estava com fome de dinheiro, disposta a fazer qualquer coisa pela vida da
classe alta, mas ela não estava.
Mais uma vez, arrisquei um olhar para Angela. Seus olhos estavam
fechados, como se ela não pudesse suportar assistir.
— O pai de Angela precisava de uma grande cirurgia cardíaca e a
família dela não tinha recursos para ajudá-lo. Então ela se casou comigo
para pagar suas contas médicas. Angela faria qualquer coisa por sua
família, incluindo se casar com um lixo que ela nunca conheceu.
Eu ouvi um suspiro do grupo de repórteres na minha frente.
Bom.
— Agora, Angela e eu somos uma família. Faremos qualquer coisa um
pelo outro. E isso inclui confessar tudo. Sobre a nossa história.
Um repórter estiloso do Cosmopolitan apareceu na frente da
multidão, chamando por mim.
— Você ao menos gosta dela? — ela comentou.
E finalmente meu pulso desacelerou, meus poros pararam de suar e
meu coração se abriu. Eu sorri.
— Não. Eu não gosto dela.Eu sou exagerado, cafona e apaixonado por
ela. Angela Knight me faz querer ouvir músicas de Taylor Swift. Ela me
faz ansiar pelas férias e me deixa aproveitar as coisas da vida que vêm de
graça. Eu a amo tanto que vou me casar novamente — desta vez de
verdade.
Uma repórter mansa e leal levantou a mão. Sem fôlego e oprimido por
ter acabado de arrancar minha pele para uma multidão avaliar meu
coração, eu a chamei.
— Sr. Knight, você está com raiva de seu pai por forçá-lo a um
casamento arranjado? — ela questionou.
— Não... eu estou muito grato pelo que ele fez. Tudo o que tenho
neste mundo... é por causa dele, — respondi. E então me afastei do
palanque e saí do palco, orgulhoso da verdade que deixei para trás.
BRAD

Enquanto eu me sentava sozinho em minha poltrona de couro


favorita, com os olhos espreitando pela janela de vidro do chão ao teto
em meu escritório em casa, e minha mente girando com os eventos das
últimas seis horas.
Eu não podia acreditar que Xavier me odiasse tanto.
Eu não podia acreditar que tinha deixado as coisas saírem do controle.
Eu não conseguia acreditar que o mundo inteiro conhecia os segredos
de nossa família.
Tentei me tranquilizar, dizer a mim mesmo que poderia pensar em
algo para consertar. Sempre havia uma maneira de consertar as coisas.
Assim que as coisas voltarem ao normal, Xavier vai me perdoar.
Isso foi o que eu disse a mim mesmo.
Apenas descubra uma maneira de fazer com que eles voltem ao normal.
Meu filho estava certo, é claro.
Eu tinha feito o acordo para mim.
Eu queria que ele se casasse porque não suportaria ver a luz da minha
vida se extinguir, tudo porque não havia ninguém para cuidar de suas
chamas. Eu não queria que meu menino lindo, inteligente e teimoso
ficasse sozinho.
A vida não foi feita para ser vivida sozinha.
E agora ele não estava mais sozinho. Ele tinha Angela ao seu lado, para
ajudá-lo a enfrentar o caos do mundo de frente.
Mesmo que ele me desprezasse, o fim justificou os meios. Ele a tinha,
e isso era tudo que eu sempre quis.
Então, talvez eu fosse algum tipo de maníaco por controle.
Talvez eu gostasse de poder mover as peças do quebra-cabeça, para
orquestrar a felicidade daqueles que eu amava.
E daí? Eu pensei com um sorriso.
Então percebi a dor mais profunda e intensa que já senti. Como um
machado no meu crânio. Eu congelei.
Então, eu vomitei.
Em seguida, o tremor começou. Meu corpo inteiro paralisou, com
minha cabeça vibrando sem controle. A cada novo tremor, uma agonia
excruciante passou por mim.
Procurei por algo — qualquer coisa — em que pudesse me concentrar,
uma distração que pudesse me agarrar neste momento de dor inabalável.
Mas minha visão estava embaralhada. A luz parecia anzóis perfurando
meus olhos.
Então parecia que eu não tinha olhos.
Cada parte do corpo parecia que estava evaporando em nada.
Eu senti a vida em cada membro esvair e desaparecer.
Eu não podia morrer.
Assim não.
Agora não.
Tinha que lutar, pela minha vida, pelo meu filho.
Eu não estava pronto para Amélia ainda.
Eu respirei com tudo que pude, mas não adiantou.
Eu respirei e soube que era a última vez.
Capítulo 28
Referência

XAVIER

— Um aneurisma cerebral começa com um vaso sanguíneo, — disse o


médico.
As palavras ecoaram por mim enquanto eu deslizava para o chão do
hospital. Eu estava mole, como se tivesse transcendido meu próprio
corpo, como se tivesse perdido a posse de meus membros.
A dor lacerante era tão profunda, tão indescritível, que tinha que
assumir uma forma física. Isso tinha que me queimar e derreter meus
ossos.
Eu encarei as luzes fluorescentes, com minha mente voltando para a
cobertura do meu pai.

Eu estava correndo para ele, para meu pai, para que pudesse me
desculpar. Para que eu pudesse pedir desculpas por ser tão idiota. Por ser
ingrato, duro e injusto.
Eu subi no elevador, ensaiando minhas desculpas a meu pai, pensando
na maneira correta de expressar meu remorso.
O que você fez, armando Angela e eu, não foi um erro, pensei. Foi um
presente, mesmo que tenha sido algo fodido.
Talvez ele tenha feito o casamento um pouco para ele, mas no final
das contas, eu tenho que acordar ao lado dela.
Era eu que tinha que segurar sua cintura fina e perfeita. Era quem
sabia que era amado por uma mulher tão perfeita para mim, uma mulher
que só meu pai poderia saber que foi feita para me amar.
Culpá-lo por nossos problemas era egoísmo.
Fui eu quem me envolvi com Claudia, e se havia alguém que fodeu
minha vida, foi ela. Sempre era ela.
Assim que as portas do elevador abriram, corri para o saguão de papai.
Com sorte, ele ouviu a coletiva de imprensa. Esperançosamente, ele
ouviu minhas respostas sinceras, como eu não tinha mais medo de
confessar a verdade.
De admitir meu amor.
— Pai? — Eu gritei, esperando por uma resposta. Esperando pelo som
de seus pés, de chinelos, caminhando pelo corredor. Mas não havia nada.
O saguão estava silencioso como um maldito centro para surdos.
Andei para frente e para trás, sentindo que algo estava acontecendo.
— Pai? — chamei novamente, decidindo sair pelo corredor. Ele não
estava na sala de estar, na sala de jantar ou na cozinha. Ele não estava no
banheiro de hóspedes ou na biblioteca.
A porta de seu escritório em casa estava fechada.
Tentei bater.
Toc toc.
Toc toc.
Toc toc.
Nada.
Eu tentei a maçaneta, e ela se mexeu sob minhas mãos, a porta se
abrindo com um movimento fluido. Foi quando eu o vi. Estava caído de
frente, dobrando-se sobre si mesmo, na poltrona perto da janela.
— PAPAI! — Eu gritei, correndo em direção a ele. — POR FAVOR!
PAPAI! — Gritei ao sentir o pulso.

— Os vasos sanguíneos atingiram um tamanho perigoso no cérebro,


— disse o médico, me trazendo de volta à realidade.
Os paramédicos colocaram papai em uma maca.
Seus olhos não abriram.
Suas mãos não tremeram.
Sua respiração nem mesmo ficou embaçada no ar fresco de fevereiro.
Tirei meu casaco, cobrindo seu corpo despido com ele, tentando
proteger sua carne insaturada do frio.
— Pai, estou aqui. Eu não vou a lugar nenhum, eu juro, — eu sussurrei
em seu ouvido, sem saber se ele podia me ouvir.
— Muitas vezes parece uma fruta pendurada em um galho, — disse o
médico, continuando sua explicação, e meu desconforto em ouvir tudo
aquilo. — Se o vaso sanguíneo se rompe, causa sangramento no cérebro.
Assim que chegamos ao Hospital Bellevue, jalecos brancos
esvoaçavam sobre papai como pombas.
Eles o arrastaram para dentro, para a sala de cirurgia, tentando cortá-
lo e colá-lo novamente.
Angela sentou-se comigo, mas eu não conseguia sentir suas mãos em
volta das minhas.
Eu não sentia nada.
Nada, exceto o barulho estridente e violento dentro da minha cabeça.
Meu corpo era um edifício e todos os alarmes de incêndio estavam
gritando.
— Ele vai sobreviver, — Angela disse suavemente depois de horas de
espera, mas eu não tinha certeza se era por ela ou por mim. — Ele tem
que fazer isso. Por favor, ele tem que fazer isso.
No segundo em que o médico se aproximou de mim, soube que meu
pai havia partido.
Que eu receberia um discurso sobre como eles fizeram tudo o que
podiam. Eles tentaram o seu melhor, mas eles não conseguiram. Ele não
sobreviveu. Estava já muito debilitado.
Eu poderia dizer tudo isso pelo olhar agonizante que o médico estava
me dando.
A cirurgia não funcionou.
O sangue vazando matou todas as células ao seu redor.
Também aumentou a pressão dentro de seu crânio, destruindo o
suprimento de oxigênio.
Ele estava sufocando dentro de sua própria mente.
Eu sentia o mesmo.
Eu sabia exatamente o que diabos isso era.
ANGELA

Eu queria soluçar, mas não consegui.


Pelo menos não hoje.
O funeral tinha que ser planejado, os convidados, administrados, os
paparazzi, exilados. Xavier estava indiferente, uma concha sem nenhum
sinal de vida.
Como ele poderia ser outra coisa?
Pelo menos Em deu uma mão amiga. Ela tinha vindo com montes e
montes de flores, enchendo todo o espaço com lírios brancos.
A flor favorita de Brad.
A flor que trouxe os Knights para minha vida.
No dia mais amargo de nossas vidas, ela se certificou de que o ar
estivesse tingido de doçura.
Quando chegou a hora das pessoas fazerem discursos, eram
principalmente parceiros de negócios. Pessoas que fizeram acordos de
desenvolvimento com Brad, que se sentaram ao lado dele em inúmeras
salas de reuniões.
Xavier estava traumatizado demais para falar. Eu poderia dizer que ele
odiava cada segundo que os homens de terno atestavam a personalidade
de Brad, como se eles realmente o conhecessem.
Até Penny, que estava sentada no banco à nossa esquerda, parou de
soluçar por tempo suficiente para lançar olhares perplexos a esses
homens.
Como se eles tivessem a audácia de marcar o fim da vida de um
homem com uma história de sua perspicácia para os negócios.
Como se a soma de suas realizações fosse sua empresa, não sua
família.
Não as pessoas que ele amava.
Não foi assim que Brad deixou este mundo — lembrado pelas pessoas
que não o conheciam, que o respeitavam por ganhar milhões, não por
como ele os doou tão generosamente.
Eu não queria falar.
Havia muitas pessoas.
Eu odiava falar em público.
O público ainda pensava que eu era uma mentirosa interesseira.
Mesmo assim, quando o último milionário de terno desceu do
palanque, eu me peguei gravitando em direção a ele. Como se eu
estivesse flutuando, não andando, até o microfone.
— O dia em que conheci Brad Knight foi o pior dia da minha vida, —
falei lentamente, com a voz trêmula. — Até hoje.
Xavier olhou para mim, surpreso.
Mas então ele acenou com a cabeça e seus olhos me imploraram para
continuar.
— Brad acreditava nas pessoas da mesma forma que alguns de nós
acreditam em Deus. Se ele confiou em você, ele confiou em você de
corpo e alma. Sua fé nos outros era sua religião, — concluí.
— Se medirmos a influência em dólares, há muitas pessoas poderosas
aqui hoje. Mas Brad teria a mesma influência se você esvaziasse sua conta
bancária. Ele tinha o dom de ver o potencial e daria tudo o que tivesse
para deixá-lo crescer.
Eu respirei fundo.
— Brad se aproximou de mim naquele dia horrível, há mais de um
ano. Ele me pediu para fazer parte de sua família e perguntou se poderia
me ajudar a salvar a minha. Ele salvou meu pai. Ele me salvou, — eu
admiti, e meus olhos voaram para os de Xavier.
— E ele salvou meu marido.
Xavier tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu nunca o tinha visto chorar antes, e isso me fez querer envolvê-lo
em meus braços, para protegê-lo da dor.
— Brad nos deu tudo. Ele nos deu um ao outro e, com isso, nos deu a
capacidade de sobreviver sem ele.
XAVIER

Estava um dia muito frio e chuvoso para ir ao Central Park, mas


Angela insistiu.
Eu estava tão entorpecido que ela poderia ter me arrastado para
qualquer lugar.
Meu corpo parecia carne ensanguentada. Não sobrou nada de mim —
nenhuma capacidade mental, nenhuma capacidade emocional, nenhuma
capacidade espiritual. Eu não era nada mais do que uma criatura morta,
esperando para ser esfolada.
Porque se meu corpo pudesse dar algo a alguém, estaria fazendo mais
do que atualmente faz por mim.
Sentamos em um banco do parque, com Angela tentando me
ressuscitar.
— Este era o lugar especial deles, — afirmou Angela, apontando para o
banco. Ela estava tentando me lembrar de como meus pais sempre
estiveram aqui.
Mas isso apenas me lembrou de que, agora, os dois se foram.
Eu tinha mandado meu pai embora sem um adeus e, pior, a última vez
que nos falamos foi a pior briga que já tivemos. Ele morreu pensando que
eu o odiava, pensando que eu era ingrato por tudo que ele lutou tanto
para me dar.
Ele morreu depois que eu destruí nosso relacionamento até virar uma
polpa sangrenta.
Suspirei, querendo ficar sozinho.
Eu não queria ninguém — especialmente Angela — perto de mim.
Eu não merecia seu amor.
Eu não merecia amor de forma alguma.
Eu era um animal. Não, uma besta.
Uma criatura tão cruel que não tinha lugar na porra do reino animal.
Um monstro.
— Xavier, eu preciso que você fale comigo, — Angela pressionou.
— O que você quer que eu diga? — Eu disse.
— Algo, por favor.
— As últimas palavras que disse a meu pai foram que não conseguia
acreditar que éramos pai e filho, — admiti.
Angela olhou para seus pés.
— Eu sei, — ela murmurou.
O quê? Como?
— Seu pai me ligou para ver se você estava bem antes da coletiva de
imprensa, — Angela explicou, lentamente encontrando meus olhos. —
Ele estava preocupado com você. Ele sabia que você ia se desculpar,
Xavier. Ele já tinha te perdoado.
Besteira.
Ela estava apenas mentindo para me fazer sentir melhor.
— Mas eu não me desculpei. E agora eu... eu nunca vou conseguir.
Essas foram as últimas palavras que eu disse a ele, — eu engasguei,
tentando empurrar minhas lágrimas de volta em meus olhos.
Angela balançou a cabeça.
— Não, Xavier. Só porque ele faleceu, não significa que ele não está
mais entre nós. Você sabe disso. Brad está cuidando de nós, como sempre
fez. Eu posso sentir, — disse ela. — Essas não foram suas últimas palavras
para ele. Ele ainda está ouvindo. Você quer dizer algo para ele? Apenas
faça agora, aqui.
Eu olhei para ela e me dei conta então, enquanto arrepios cobriam
cada centímetro da minha pele, o quão sortudo eu era.
Fechei os olhos, desejando ver meu pai.
Desejando imaginar seu rosto, seus olhos carinhosos e seu sorriso
bobo.
Sinto muito, pai.
Eu sinto muito mesmo.
Você foi o pai perfeito — em todos os sentidos.
Você me mostrou o que significa ser um homem.
E você me perdoou por estragar tudo.
Todas as vezes, você me perdoou.
Todas as vezes, você me recebeu de volta, de braços abertos.
E você me deu ela.
Você a encontrou para mim.
Você encontrou o amor por mim.
Eu te amo.
Sentirei sua falta todos os dias.
Estou tão orgulhoso — tão orgulhoso — de ser seu filho.
Quando abri meus olhos novamente, Angela estava sorrindo para
mim. Ela agarrou minha mão e deu um aperto, e então se levantou,
puxando-me com ela.
— Adeus, Brad, — disse ela baixinho, olhando diretamente para a
placa no banco. Havíamos corrigido as inscrições para que se lesse Rest in
Peace, Amélia & Brad Knight. Agora papai estava de volta com mamãe.
— Adeus, — eu sussurrei para a placa. — Eu amo vocês dois.
Capítulo 29
Registro Permanente

XAVIER

Ron: Bro

Ron: Ei

Ron: Xavier

Xavier: O que vc quer?

Ron: Estou do lado de fora.

Xavier: Fora de onde?

Ron: Sua casa!! vai sair!?

Xavier: Sai daqui.

Ron: Não

Ron: Sai você.

Ron: Eu tenho (3 emojis de copo de cerveja) Xavier: você está


bêbado?

Ron: Siiimmm.

Ron: Vem aqui Xavier: Saindo kct.

A campainha tocou, fazendo-me ranger os dentes. Rapidamente, pulei


da cama e corri para atender antes que o som acordasse Angela.
— Sr. Knight, — a voz do porteiro estalou pelo interfone. — Há um
homem muito embriagado aqui para ver você. Devo escoltá-lo à saída ou
mandá-lo subir?
Liguei o monitor de vídeo. Ron estava cambaleando pelo saguão atrás
do porteiro.
Ele estava tão bêbado que mal conseguia andar.
Queria chamar a polícia, mas Angela e eu não aguentaríamos mais um
escândalo. Os paparazzi haviam recuado desde o funeral, e eu não
conseguia suportar a ideia de fazê-los começar tudo de novo.
— XAAAAVIEEEEEEER! — Ron uivou, como um cachorro clamando
por atenção.
Se não fosse tão chato, teria sido impressionante.
O porteiro olhou por cima do ombro.
— Senhor?
Porra.
— Estou descendo, — eu suspirei. O pobre coitado merecia isso. Ele
não tinha ficado tão chateado por nada.
Eu joguei minha jaqueta e corri para o elevador. Então eu estava no
saguão, caminhando até o idiota bêbado balançando na entrada.
Assim que ele me viu, ele aplaudiu.
— Não posso permitir que ele faça tanto barulho no saguão, — disse o
porteiro.
Eu cerrei meus dentes, então agarrei o braço de Ron.
— Vamos.
O porteiro cruzou os braços sobre o peito enquanto eu arrastava Ron
de volta para o elevador.
Ron estava andando como se tivesse acabado de aprender.
Tropeçando e caindo a cada passo, ele manteve os olhos fixos na manga
do meu casaco.
— Você gasta MAIS em penas de ganso do que em FUNCIONÁRIOS.
Me pagaram uma merreca. Você é um merda, — ele resmungou.
Revirei os olhos, resistindo ao desejo de empurrar o filho da puta para
o chão. Um escândalo público dentro do meu maldito prédio não era o
que eu precisava.
Assim que consegui colocá-lo no elevador, coloquei-o no banco
almofadado.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Para ser honesto, eu
estava genuinamente curioso.
Ron olhou para mim e começou a chorar como um maldito
adolescente que descobriu que seu cachorro doente não fora enviado
para uma fazenda.
— Você é o único que sabe o que estou sentindo, — ele lamentou.
— Incompetente e bêbado? — Eu perguntei. — Não sei do que está
falando. Não agora, de qualquer maneira.
— Não... Claudia. Ela é...
Oh, Deus.
Por favor não me diga que esse idiota tem dormido com Claudia. É
sério.
Embora parecesse uma punição bastante precisa para os dois.
— Ela partiu meu coração!!!!! — Ron gritou, assim que as portas do
elevador abriram.
Angela disparou para o foyer, com os olhos arregalados de surpresa.
— Ron? O que você está fazendo? Você está bem? — Ela perguntou,
ajudando-o a sair do elevador. Ela me lançou um olhar confuso.
— Esta foi uma má ideia. Ele está indo embora, — eu disse, tentando
arrastar Ron de volta para o elevador. Mas Angela manteve seu domínio
sobre ele.
— Claudia meeee largou. Me tirou tudo, aquela vadia! — Ron
lamentou.
Eu traduzi.
— Eu acho que ele e Claudia estavam envolvidos, e ele veio aqui para
ser solidário?
— Romanticamente? — Angela disse, com seus olhos arregalados. —
Eles estavam...
— TRANSANDO! E eu a ajudei a foder vocês dois, mas então... ela me
fodeu pioooor ainda — Ron admitiu.
Angela e eu trocamos olhares.
Ron... Ele tinha acabado de confessar.
Não foi?
Isso foi uma confissão?
Angela foi até a cozinha pegar água para ele enquanto eu carregava o
idiota inútil para o sofá.
— Sinto muito, — Ron murmurou.
— Desculpe pelo quê? — Eu o persegui.
— Fui eu. Eu vazei, — ele soluçou.
— Vazou o quê?
Angela voltou para a sala com o copo na mão. Os olhos de Ron
correram dos dela para os meus em pânico.
Angela entregou a água a Ron, taciturna.
— Ele vazou o acordo. Foi assim que se tornou público, — ela
concluiu.
Aquele imbecil de merda!
Claro. Eu estava pronto para pegar seu crânio vazio entre minhas
mãos e esmagá-lo. Eu queria amassar sua cabeça como um pedaço de
papel. Foi uma boa coisa eu tê-lo despedido.
Ele não era apenas incompetente e desleal, mas também perigoso.
Como ele ousa ter a coragem de vir aqui para limpar sua consciência?
Não havia nenhuma maneira de dar a ele qualquer paz de espírito.
— Você está aqui para se desculpar? — Angela perguntou, sempre
tentando ver o melhor, mesmo nas piores pessoas.
— Não aceito, seu idiota, — eu rosnei, agarrando sua camisa e
puxando-o para mim. Eu olhei para ele, profundamente em seus olhos
brilhantes de bêbado. — Sua vida está arruinada, você sabe disso?
Ele acenou com a cabeça, muito angustiado para deixar o pânico
penetrar. Ele tomou um longo gole de água, ficando cada vez mais sóbrio.
— Eu sei... ela arruinou tudo pra mim. Eu não espero que você me
perdoe. Eu não me perdoo, — Ron admitiu.
Eu podia ver Angela sentindo pena dele, seus olhos amolecendo como
manteiga no microondas, mas eu não estava acreditando.
— Por que você está realmente aqui, Ron?
Ele respirou fundo. Então ele engoliu em seco.
— Você era um chefe terrível. E nós, assistentes, conversamos. Cada
assistente que você já teve o odiou, Xavier.
— Vá direto ao ponto, — eu exigi, fervendo.
— Eu coloquei um dispositivo de gravação em seu escritório. Horas e
horas de abuso emocional contra seus funcionários foram registradas. E
Claudia, foi tudo ideia dela. Foi ela quem me deu a coisinha que fez a
gravação.
— Você não...
Mas Ron deu um tapinha no bolso da calça jeans, como se estivesse
procurando algo com urgência. Então ele puxou seu telefone, clicou em
um botão e algo começou a tocar.
Era a voz de Claudia.
— Ei, Johnny, US Weekly precisa ouvir essas gravações. É o maior furo
sobre os Knights que já tive. Você vai querer esta exclusiva, — sua voz
soou do telefone.
Meus olhos se voltaram para Ron e depois para Angela.
Isso era mais do que chantagem.
Isso era extorsão.
— Eu tenho muito mais do que isso, — disse Ron, inclinando-se para
a frente no sofá. Por um segundo, ele parecia que cairia, mas ele se
firmou.
— Sabe o que isso significa? — Eu perguntei a Angela.
Seus olhos estavam mais arregalados do que eu já tinha visto. Mas ela,
muito lentamente, muito cautelosamente, assentiu.
— Claudia está em apuros, — ela sussurrou.
ANGELA

Xavier queria Claudia na prisão. Ele já havia baixado todas as


gravações de Ron e ligado para seus advogados. Ele estava indo tão
rápido que mal tinha discutido isso comigo.
Eu queria que Claudia fosse punida por todos os estragos que ela
causou, claro.
Eu queria que ela deixasse minha família em paz.
Mas eu não queria que isso custasse a sua família. A ideia de Sophie
ser arrancada de Claudia e ficar sem pais, sem pessoas que a amavam, que
podiam cuidar dela, era devastadora.
O sentimento de culpa era insuportável.
Eu me enrolei na cama e não pude deixar de soluçar.
Ouvindo meus gritos, Xavier terminou seu telefonema com o quarto
advogado do dia.
— Tudo vai acabar logo, meu anjo, — ele prometeu, vindo se deitar ao
meu lado. Ele passou os braços em volta da minha cintura, tentando me
acalmar. Mas ele não entendeu.
— Para quem, Xavier? Não para Sophie. Se mandarmos Claudia para a
prisão... — Eu engasguei, tentando recuperar o fôlego.
— Não é problema nosso. Sophie não é minha filha, Angela. Ela é o
produto da pior memória da minha vida.
— Mas ela é filha de alguém! Ela é uma criança, e precisamos protegê-
la, — eu disse suavemente.
— Esse era o trabalho de Claudia. Ela escolheu nos assediar em vez de
cuidar de sua filha — Xavier respondeu, com seus olhos enlouquecidos
de raiva.
— Eu sei. — Eu concordei.
Eu sabia que Claudia estava perturbada. Ela estava com o coração
partido. Ela provavelmente ainda estava apaixonada por Xavier, e essa era
a única razão plausível para ela arriscar tanto para destruí-lo.
Mesmo assim, não odiava a mulher.
E certamente não queria massacrá-la com taxas legais e prisão.
Eu não poderia fazer isso, não com outro ser humano.
Não com uma mãe.
Comecei a hiperventilar. Xavier me apertou com mais força.
— Tudo bem. Tudo vai dar certo. Eu prometo. O que você precisa? —
ele sussurrou.
— Eu preciso que você conserte isso de outra maneira, — eu disse a
ele.
XAVIER

Os olhos de Claudia estavam pintados de terror.


Eu tinha acabado de tocar as gravações para ela. Eu gostava de vê-la se
contorcer em pânico, sabendo que ela não poderia fugir da bagunça que
causou.
Tudo o que ela podia fazer era sentar e implorar.
— Por favor, Xavier. Por favor, — ela rastejou. — Eu precisava do
dinheiro. Não consigo fazer com que Daniel pague pensão alimentícia.
Eu nem sei onde ele está.
— Então você decidiu chantagear pelo nosso dinheiro? — Eu não
pude acreditar. Ela não tem acesso ao idiota que ela precisava, então ela
tinha tentado nos foder.
Claudia baixou os olhos.
Seu constrangimento deixou claro que eu estava certo.
— Eu sinto muito. Mesmo. Mas, Xavier, por que você me trouxe aqui?
— Claudia perguntou, olhando em volta para Bryant Park.
A poucos metros de distância estava a fonte.
Três anos atrás, eu a pedi em casamento bem aqui. Era verão, e a água
da fonte estava tão alta que estávamos cobertos de névoa.
Agora, era apenas neblina.
— Porque eu precisava de um lembrete de que nem sempre te odiei —
eu disse.
— Faça o que você precisar, Xavier, de verdade. Mas você não precisa
me separar de Sophie. Por favor, ela já teve um dos pais que a abandonou,
— Claudia implorou.
Tirei um envelope do bolso.
— Há duas passagens aéreas e a escritura de uma casa aqui dentro. Eu
não sei onde você estará. Minha antiga assistente resolveu todos os
detalhes, — expliquei, entregando-lhe o envelope. — Você terá tudo o
que você precisa. Você leva Sophie e dá o fora da minha vida. Pra sempre.
Claudia olhou para o envelope sem acreditar. Ela olhou para mim com
olhos confusos e agradecidos.
— Combinado, — ela concordou, estendendo a mão para apertar a
minha. Mas eu me afastei. Eu não suportava a ideia de ela me tocar.
— Por favor, Xavier, espero que você possa me perdoar.
Mas eu não devia a ela um pedido de desculpas aceito.
Eu não devia nada a ela.
Eu devia a mim o direito de seguir em frente.
— Eu não posso te perdoar. Mas eu posso te esquecer, — eu disse.
Então eu fui embora, deixando-a em minhas memórias.
Capítulo 30
O Acordo Perfeito

ANGELA

Era o dia do meu casamento.


Novamente.
Isolada no meu camarim, fiquei de calcinha e sutiã.
A última vez que coloquei um vestido de noiva, estava cercada de
pessoas.
Quando andei até o altar, havia uma multidão ao meu redor. Eu olhei
para Xavier no altar e prometi estar com ele na saúde e na doença, e eu
estava completamente sozinha.
Hoje eu não estaria casada com Xavier.
Eu estava me casando com ele.
Eu não era uma troca, mas uma promessa. Honestamente, o que eu
estava prometendo a Xavier não era diferente das coisas que já tínhamos
feito. Estar presente em meio a provações e tragédias? Nós tínhamos
feito isso.
Entre meu pai e o pai dele, acidentes de avião e parceiros de negócios
agressivos, tivemos provações e tragédias suficientes para durar uma vida
inteira.
Ocorreu-me que, quando Brad faleceu, o acordo havia morrido com
ele.
Não havia mais ninguém para decepcionar e nenhuma conta de
médico a pagar.
A teia que ele havia costurado, amarrando Xavier e eu juntos, tinha se
desfeito, então era hora de darmos o nó.
Era hora de nos livrarmos de nossas inseguranças como uma segunda
pele. Era hora de dizer sim, e realmente fazer o que fosse necessário para
que nosso amor sobrevivesse.
Coloquei meu vestido de noiva.
Era um vestido magnífico de organza texturizado, com corpete
drapeado embelezado com delicadas rendas.
Eu olhei para meu reflexo.
Eu parecia... de tirar o fôlego.
Mas, ao contrário da última vez, ainda parecia comigo.
Eu estava com um vestido de noiva, não uma fantasia.
Subi as escadas do convés inferior até a enorme seção principal do
veleiro.
O verão havia chegado e sua brisa nos impeliu pelo porto de Nova
Iorque. Meu pai estava esperando, com o pôr do sol destacando seu rosto
brilhante.
Percebi que este não era apenas o primeiro casamento de verdade para
mim, mas para ele também.
Papai envolveu seu braço em volta da minha cintura e me
acompanhou até o altar.
Enquanto eu olhava para os rostos pelos quais eu passava, sorri o
maior de todos os sorrisos.
Todos ao meu redor sabiam quais coberturas eu gostava na minha
pizza, como eu era antes de saber como fazer minha maquiagem e que
amava Xavier mais do que respirar.
Em sorriu para mim, com sua barriga de grávida saliente em seu
vestido de verão de cetim.
Dustin sorriu e apontou para Danny, balbuciando para mim:
— Ele é tão gostoso!
Estávamos rodeados por alfazemas, rosas brancas e pequenos lírios
castanhos. O cheiro era atraente, mas eu não conseguia respirar porque
estava muito sobrecarregada. De alegria, claro.
Meus pensamentos estavam vibrando como uma migração de
borboletas monarca voando pelas Montanhas Rochosas, com milhares de
asas piscando no ar.
Gratidão.
Essa era a palavra que eu procurava. Era a única com que poderia
descrever adequadamente a massa de emoções girando em meu
estômago.
Assim que o veleiro cruzou ao lado da Estátua da Liberdade, cheguei
ao altar.
Eu encarei Xavier. Seu terno tinha um corte perfeito, permitindo que
seus ombros largos se acomodassem em perfeita harmonia com seus
braços atléticos. Eu examinei cada centímetro dele, cada ângulo e veia,
sabendo que esta noite, e para sempre depois, eles pertenceriam a mim.
XAVIER

Enquanto as velas ondulavam no céu tangerina, o pastor me


perguntou se eu aceitaria essa mulher como minha esposa.
Eu já a havia levado para ilhas abandonadas, para coletivas de
imprensa, salas de emergência e funerais.
Eu e ela já havíamos vivido o inferno.
Eu a tinha levado para minha casa e a observei fazer um lar que
parecia o paraíso.
Eu tinha tirado sua virgindade.
Eu a tinha confundido com uma interesseira, por um erro.
Eu a tinha dado como certa.
E eu a tinha tomado como minha esposa há muito tempo.
Mas naquele altar, eu só queria tirar a dor.
Eu queria fazer isso até o fim dos tempos?
Foda-se, sim, eu aceito.
Sim.
Sim.
Sim.
Antes que eu percebesse, nossos votos foram renovados e estávamos
nos beijando da maneira como deveríamos no dia do nosso primeiro
casamento.
Da maneira que a deixasse saber que se ela ficasse cega, eu escreveria
seus poemas de amor em braile.
Da maneira que se ela ficasse surda, eu ainda mostraria a ela todas as
minhas melhores partes.
Da maneira que prometi que se não pudéssemos nos tocar, ela ainda
sentiria minha presença.
Eu estava prometendo amá-la do jeito que faço tudo o mais — de
forma irresponsável, apaixonada, sabendo que posso não acertar todas as
vezes. E ela sabia disso. E ela aceitou.
O barco entrou em erupção de comemoração assim que nos casamos
novamente.
Mas quando nos sentamos para comer o banquete, não consegui olhar
para Angela.
Meus olhos estavam grudados no assento vazio à minha frente. Onde
meu pai deveria estar sentado. Decidimos que a melhor maneira de
homenageá-lo seria deixando uma cadeira vazia para ele. Por seu espírito.
Para sua memória.
Mas isso significava que havia um lembrete físico de que ele havia
partido.
Meus olhos se fixaram na cadeira vazia e me senti vazio.
Embora tenham passado meses desde que papai se foi, este foi o
primeiro marco do qual ele se ausentou. Foi a primeira vez que eu não
pude olhar para ele e saber se eu estava fodendo com tudo, ou ficando
mais maduro, gloriosamente.
O peso da morte de papai foi tão grande que mal consegui pegar no
garfo.
Angela tirou das minhas mãos e me alimentou. Ela passou o braço em
volta de mim, mexendo no meu cabelo.
— O que há de errado, Xavier? — Ela perguntou, inocente como
sempre.
— Eu acho... eu não posso comemorar nada sabendo que ele se foi, —
eu admiti. — Tudo o que ele queria era me ver como um pai, e eu não
pude nem fazer isso por ele.
Angela olhou para mim duramente e por muito tempo.
— Tudo o que Brad sempre quis foi que fizéssemos isso, Xavier. Para
você não ficar sozinho, — disse ela. — Eu prometo que você nunca estará
sozinho. Na verdade, estamos comemorando hoje por ele. Em sua honra.
Suas palavras eram como o ar puro em uma tempestade de areia. Esta
era a nossa hora de ignorar todas as merdas e nos alegrar por termos
sobrevivido a tanta merda juntos. Então, tirei minha cabeça da
melancolia e me permiti sentir feliz.
E mais do que feliz... amado.
ANGELA

Xavier estava me levando para o nosso quarto de hotel, no estilo


nupcial antiquado, mas eu me esquivei de seu abraço.
Eu não queria mais doçura. Eu não queria cavalheirismo. Eu queria
estar presa na cama. Eu queria que ele me tratasse como alguém igual,
uma parceira tão experiente quanto ele. Eu queria que ele me fizesse
gritar.
Eu me afastei dele e o joguei contra a parede, beijando-o com todas as
minhas forças. Com sua surpresa, Xavier conseguiu agarrar meus pulsos,
me girar e abrir o zíper do meu vestido.
— Você está mal-humorada esta noite, esposa.
— Só para você, marido, — retruquei com um sorriso.
Rendas no valor de milhares de dólares foram jogadas no chão, e
então ele rasgou minha calcinha.
Ele pegou meus pulsos com uma mão musculosa e traçou meu torso
com a outra. Seus dedos permaneceram em meus mamilos, cavando em
meus quadris apertados.
Então ele me abaixou no chão, suavemente, e meus joelhos fizeram
contato com o mármore, meu corpo ainda envolto em camadas de
tecido.
Eu o observei abrir o zíper das calças, olhando para mim com um
sorriso sujo. Ele se libertou do tecido.
Ele estava latejando e rígido enquanto eu torcia minhas mãos em
torno dele. Eu corri para cima e para baixo enquanto envolvia meus
lábios em torno de sua ponta.
Com meus olhos nele, circulei minha língua em torno dele e sua
respiração ficou pesada.
Ainda assim, Xavier manteve os olhos em mim, imaginando quem eu
me tornei.
Tomei mais e mais dele, surpreendendo a nós dois. Suas pernas
tremiam, sua voz vibrava com gemidos esmagadores até que foi demais.
Ele tinha que me ter, tudo de mim, imediatamente.
Ele agarrou meu pescoço, prendendo-me de costas.
Xavier puxou minhas pernas para cima, beijando meus tornozelos
com entusiasmo terno.
Sua língua estava em toda parte, sua respiração eletrizante na minha
carne.
Comecei a tremer, perdendo o controle. Ele alcançou a pele entre
minhas coxas com a língua e lambeu.
Todo o meu corpo estremeceu, meus ombros envergaram juntos, meu
pescoço foi estendido para trás.
Enquanto eu gritava, ele entrava em mim, uma e outra vez.
Cada estocada era mais profunda, mais rápida, mais entorpecente e
deliciosa.
Eu ainda estava pulsando, e Xavier cruzou meus tornozelos em volta
do pescoço, em seguida, passou os dedos pela raiz do meu cabelo.
Ele não terminou.
Ele beliscou meus mamilos no ritmo com o resto de seu corpo,
girando entre o prazer e a nitidez.
Era como estar em uma ducha fria e depois ser imerso em salpicos de
calor escaldante.
Cada célula de mim estava encharcada.
Cada célula de mim pertencia a ele.
Eu não aceitaria de outra maneira.
— Eu te amo, Sra. Knight, — disse Xavier entre as respirações.
— Eu te amo mais, Sr. Knight, — eu respondi, tão perto do limite, de
me perder, que eu não podia esperar mais um segundo.
O caos, a excitação, a espontaneidade e a paixão.
Era realmente o acordo perfeito.
Em: Angie!

Em: Desculpe te mandar uma mensagem na noite de núpcias...

Em: Mas ainda estou neste barco.

Em: E minha bolsa estourou!


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Capítulo 1
Sexo na praia

ANGELA

Frequentemente presumimos que os momentos mais felizes da vida


serão aqueles que planejamos. Os grandes eventos: aniversários,
formaturas, casamentos... os dias que nos preparamos, os eventos que
antecipamos.
Mas sempre achei que os momentos que menos esperava me traziam
mais alegria.
Eu ficava espremida entre meus irmãos no banco detrás enquanto
papai cantava junto com a estação de rádio country, e eu percebia: não
fica melhor do que isso.
Isso era felicidade. Isso era paz.
Contudo, novamente, pode-se supor que eu seria mais feliz em minha
lua de mel em Bali, deitada na praia, ouvindo o barulho das ondas. Eu
ficaria feliz em passar um tempo em um resort de luxo com meu marido,
que parecia o Príncipe Encantado e tinha dinheiro suficiente para me
comprar um reino.
E você estaria certo.
Depois de um cochilo agradável ao sol do fim da tarde, abri os olhos.
Meu marido, Xavier, estava olhando para mim. Seu torso bronzeado
brilhava com gotas de água do mar e meu coração quase explodiu ao vê-
lo.
Meu Deus, sim. Eu estava feliz.
Claro, nosso relacionamento não era um conto de fadas. Mal
podíamos fazer uma pausa. Pouco antes do nosso segundo casamento.
fomos apanhados em um escândalo de paternidade. Depois, perdemos
meu sogro. Brad. por causa de um aneurisma cerebral estranho.
Mas agora, depois de muitas semanas, tudo finalmente parecia dar
certo.
— Ei. anjo, — Xavier sussurrou. Apoiando-se em um braço forte, ele se
inclinou para me beijar. Ele se afastou e eu fiquei instantaneamente
perdida em seus olhos deslumbrantes, tão azuis quanto o vasto oceano
diante de nós.
Dois drinques de laranja ornamentados apareceram em uma mesa
baixa, entregues por um garçom elegantemente vestido.
— Pedi um mai tai para você, — explicou meu marido com uma
piscadela. — Espero que você não se importe.
— Nem um pouco, Sr. Knight, — sorri, sonolenta por causa do sol.
Quando levantei minha taça, admirei o enorme diamante que brilhava
em meu dedo bronzeado.
Embora eu nunca tivesse escolhido algo tão chamativo, era
totalmente o gosto do meu marido. E por esse motivo, eu adorei.
— Saúde, Sra. Knight, — Xavier exclamou, segurando meu olhar. —
Por estar aqui com você. E, claro, por Bali.
Levando o copo aos lábios, ele olhou para o oceano, que estava se
transformando em um azul profundo sob o sol poente.
Nunca o tinha visto mais relaxado. Eu queria traçar cada linha
definida de seu corpo musculoso. Eu queria cercá-lo como um escudo
humano para que nada pudesse tocar sua felicidade.
Claro, eu não podia. Eu só pude sentar ao lado dele, apreciando a
vista.
Eu sabia que estar aqui fazia Xavier se sentir próximo de seu pai. Brad
e Amélia foram a Bali em lua de mel e voltaram muitas vezes com o filho
único.
Ele ainda olhava para a paisagem da ilha com a empolgação de um
garotinho. Estando aqui com ele, fui arrebatada pela magia também.
— Temos uma hora até o jantar, querida, — disse ele, olhando para o
relógio. — Eu deixei algo na cama que mal posso esperar para ver você
vestir.
Eu ri. dando um beijo em sua bochecha. — Mal posso esperar! — Eu
respirei. — Acho que vou me arrumar agora.
— Vejo você na villa, — disse ele, segurando minha mão até o último
segundo enquanto eu me afastava.
Não era normal eu demorar tanto para ficar pronta. Mas. desde que
chegamos a Bali, eu havia deixado de lado minha aversão ao glamour.
Sim, o esplendor do resort era diferente de tudo que eu tinha
experimentado antes, mas meu marido estava aqui. E eu pertencia
exatamente ao seu lado.
Quando a areia sob meus pés se transformou em um calçadão de
madeira que conduzia ao longo da praia até nossa villa, refleti sobre as
duas últimas semanas em Bali.
Xavier e eu deixamos Nova Iorque para nossa lua de mel quase dois
meses depois do planejado. Queríamos ter certeza de que tudo estava
bem com Em e seu novo bebê, e Xavier teve que resolver algumas coisas
no trabalho.
Nossa noite de núpcias não foi exatamente como esperávamos. Xavier
e eu pulamos da cama e entramos em um táxi direto para o hospital.
Demos folga a Marco, pensando que nada poderia nos tirar de nosso
apartamento. Mas então, é claro, algo aconteceu.
E não teríamos perdido por nada no mundo.
Xavier ficou sentado a noite toda na sala de espera com meu pai
ansioso enquanto eu segurava a mão de Em durante cada contração.
Isso durou uma eternidade, Em sofrendo e empurrando enquanto
Lucas, Danny e papai apareciam na porta a cada cinco minutos para uma
atualização. (Em se recusou a deixá-los entrar no quarto.)
Mas finalmente, com o amanhecer, veio a menina mais linda. Em a
chamou de Bella, e todos nós imediatamente esquecemos sobre a noite
difícil.
Quando Xavier e eu desabamos sobre nossos lençóis de algodão
egípcio, estávamos cansados demais até para fazer amor. Nossa noite de
núpcias havia acabado e já era a manhã seguinte. Tínhamos planejado
partir para Bali naquela tarde, mas sabíamos que teríamos que reagendar
o jato particular.
— Estou estabelecendo uma regra, — ele disse enquanto aninhava
minha cabeça em suas mãos. — Sem telefones em Bali. Durante as três
semanas inteiras. Sem notícias, sem mensagens de texto, nada... só eu e
você.
— Hmmm, — murmurei com um sorriso, me perguntando se esse
CEO poderia passar um dia sequer sem verificar seu e-mail.
Mas com certeza, ele estava falando sério. E até minha família achou
que era uma boa ideia. Xavier e eu passamos os próximos dias nos
certificando de que nossos assuntos de trabalho estavam em ordem para
que pudéssemos relaxar totalmente em nossa lua de mel.
Eu estava planejando a festa de abertura do mais novo hotel da Knight
Enterprises em Los Angeles. O objetivo da festa era mostrar a opulência
da propriedade, para que não precisasse de muitos enfeites. Consegui
colocar tudo no lugar antes de partirmos.
Quando chegamos a Bali. Xavier trancou cerimoniosamente os dois
iPhones no cofre da villa. Desde então, estamos isolados de nossas vidas
em casa.
E eu tive que admitir, eu adorei.
Não havia nenhum bipe ou vibração na mesa de cabeceira, e eu deixei
as horas se misturarem em longos banhos de sol.
Deslizando a porta de vidro da vila fechada atrás de mim, olhei para o
enorme quarto e soltei um suspiro. Nós realmente estávamos no paraíso.
Como se o quarto em si não bastasse, a praia ficava bem na nossa porta.
Tudo o que precisávamos fazer era cruzar nosso convés.
Eu praticamente flutuei pelo tapete branco imaculado até a cama,
onde corri meus dedos pelo vestido de seda branca que Xavier comprou
para mim.
Era simples e elegante, com um decote profundo e uma saia longa.
Eu sabia que o decote iria mostrar muita pele, mas mal podia esperar
para sentir o material em meu corpo.
Embora eu possa ter evitado um vestido como esse no passado, estar
em Bali me fez sentir muito relaxada. Eu estava bronzeada por longos
dias ao sol. e o tempo todo sozinha com meu adorado marido me fez
sentir mais confiante do que nunca.
Pulei para o banheiro e deixei o chuveiro lavar o sal da minha pele. Saí
em uma nuvem quente de vapor e peguei um pouco de babosa.
Levantando minha perna na beira da banheira de hidromassagem,
hidratei meu corpo antes de borrifar Chanel n° 5 na minha clavícula.
Eu estava olhando para o espelho embaçado quando Xavier abriu a
porta.
— Eu esperava pegar você assim, — ele sorriu através do vapor, vindo
em minha direção.
Eu não pude deixar de rir enquanto ele passava o dedo na minha
canela. Xavier usava uma toalha em volta da cintura e eu fui trazido de
volta para suas travessuras no chuveiro meses atrás...
Quando eu coloquei os olhos em um homem nu pela primeira vez na
minha vida.
Aquele playboy arrogante era um homem diferente do Xavier que eu
conhecia agora. E eu era uma mulher diferente.
Ele beijou minha bochecha antes de ir para o chuveiro, tirando sua
toalha ao longo do caminho.
Eu coloquei minha maquiagem diante do espelho, observando o
reflexo de meu marido enquanto ele ensaboava seu corpo divino, e
captando seus olhares demorados.
XAVIER

Água quente choveu sobre mim. Era bom, é claro, mas eu precisaria
interromper o banho.
Olhei através do vidro para minha esposa, nua diante do espelho.
Quando ela ficou na ponta dos pés, admirei sua bunda perfeita. Suas
marquinhas de bronzeado só a deixaram mais incrivelmente sexy.
Desliguei o chuveiro, interrompendo o fluxo de água. Já era o
suficiente.
Quando saí do chuveiro, ela se virou, a escova de rímel ainda
posicionada perto do olho.
— Você terminou...? — Ela começou, mas fez uma pausa enquanto
seus olhos viajavam pelo meu corpo gotejante até minha ereção maciça.
Não foi a primeira vez que minha esposa me viu com uma ereção no
chuveiro, mas ela não era mais a virgem ruborizada de antes.
Ok, talvez ela ainda tenha ficado corada. Mas ela não desviou o olhar.
Diminuí o espaço entre nós, segurando-a por trás. A pele macia de sua
bunda contra o meu pau me fez suspirar, e me inclinei para cheirar o
perfume em seu pescoço.
Meu cabelo pingou água em cima dela, mas ela não protestou.
Observei como seus mamilos endureceram, então peguei um de seus
seios em minha mão.
— E o jantar? — Ela sussurrou, virando-se para me encarar e correndo
os dedos pela minha barriga antes de envolvê-los em torno do meu
membro.
Eu fiquei ainda mais duro, me esforçando para tocá-la.
— Eles vão segurar a mesa, — eu prometi.
E então eu a levantei, carregando-a em meus braços para a nossa cama
enorme.
Eu a deitei e subi ao lado dela, sobre as pilhas de lençóis como nuvens
brancas, até estar em cima dela.
Meu cabelo encharcado pingava gotas de água em sua pele.
Ela se contorceu embaixo de mim, agarrando minhas costas e me
puxando para mais perto.
Ela abriu as pernas, envolvendo-as em volta da minha cintura.
Abaixei-me e cuidadosamente toquei o doce espaço entre elas. Ela já
estava molhada e esperando por mim, e vi seus olhos azuis rolarem em
êxtase.
— Eu preciso de você, — eu disse a ela. Quantas vezes eu disse essas
palavras nesta cama? Demais para contar. — Eu preciso de você o tempo
todo. Para todo sempre.
Angela abriu os olhos e sustentou meu olhar enquanto tocava meu
rosto.
— Você me tem, — disse ela com um sorriso.
E então ela deslizou a mão pelo meu corpo até a minha
masculinidade, e me inclinou para dentro dela.
Inclinei-me e, finalmente, éramos um.
Fiquei parado por um momento, sentindo-a ao meu redor,
observando-a me observar.
— Eu te amo, Angela.
— Eu também te amo, — ela gemeu.
Ela apertou as pernas com mais força, me incentivando, e eu dei a ela
o que ela queria. Eu empurrei para dentro dela, abaixando meu peso para
que pudesse enfiar livremente.
Suas respirações e gemidos demorados rapidamente me trouxeram ao
meu limiar.
Eu queria gozar, mas não antes dela.
Metendo superficialmente e rapidamente, me movi do jeito que sabia
que ela gostava. Ela me puxou para mais perto, mais perto...
— Estou prestes a gozar, — ela sussurrou em meu ouvido.
Sim.
Goze.
E então ela gritou, o lindo som enchendo a sala enorme.
Logo depois dela, eu gozei, me dando mais a ela a cada estocada. As
ondas de prazer bateram em mim como o oceano fora de nossa janela,
enorme e implacável.
Quando acabou, eu rolei para fora dela e a puxei em meus braços.
Meu mundo inteiro estava ali naquela cama.
Eu estava no meu lugar favorito. Sozinho com Angela, em Bali. Se ao
menos pudéssemos ficar lá para sempre.
Mas nossos dias no paraíso estavam contados.
Capítulo 2
Negócios suspeitos

XAVIER

De todas as coisas que eu queria mostrar a Angela em Bali, era com


isso que eu estava mais animado. A casa na praia era nada menos que
mágica.
E aquecendo-se com o brilho da nossa vida amorosa, o restaurante da
vila era ainda mais bonito do que eu me lembrava.
Sentamos no deck que dava para o oceano e o pôr do sol vermelho e
laranja escaldante. Nada poderia vencer isso.
Mas então eu olhei de volta para o outro lado da mesa, para minha
esposa de perfil enquanto ela olhava para a vista, com seu cabelo loiro
caindo em volta do rosto, e sua pele bronzeada sob o lindo vestido
branco que comprei para ela...
Isso é ainda melhor.
Eu senti que meu coração poderia explodir do meu peito, na mesa ao
lado dos primeiros pratos do menu de degustação e nossas taças de
chardonnay francês.
— É muito importante estar aqui com você, — comecei. — Obrigado
por ter vindo. Eu sei que não é exatamente a sua cena.
— Não. — Angela sorriu, balançando a cabeça. — Eu adoro isso.
Quase parece que Brad está aqui; este lugar me lembra muito dele. —
Lágrimas quentes surgiram atrás dos meus olhos por um momento. Ela
tinha lido minha mente.
O restaurante era cinco estrelas, mas havia algo de descontraído nele.
Era um tipo de lugar com areia entre os dedos dos pés. Afinal, era bem
em cima da praia.
Foi por isso que meu pai adorou. E eu pensei que Angela iria adorar
também.
— Este era o restaurante preferido dos meus pais no inundo. E esta
era a mesa favorita deles.
Eu sabia que ela não gostaria que eu alugasse o lugar inteiro, então
apenas me certifiquei de que tivéssemos a melhor mesa do local. A mesa
dos meus pais. Aninhado no canto do convés, mas mais próximo da água.
Dei uma mordida no ceviche, saboreando o limão antes de engoli-lo
com vinho. Eu sorri para o anjo que era minha esposa, estabelecendo-se
em nossa noite perfeita juntos.
— Eu sei que você tem pensado muito neles desde que chegamos aqui,
— disse Angela, seus olhos suaves como os de uma corça. Ela colocou os
dedos no meu braço e, mais uma vez, meu coração inchou no peito.
— Sim, — eu admiti, olhando para minhas mãos.
— Achei que estar em Bali me faria sentir mais saudades do papai.
Sim, claro, mas é mais como se eu estivesse apenas... lembrando dele.
— Isso é o que ele teria desejado, — disse ela, inclinando a cabeça para
o céu em chamas. A luz vermelha do sol dançou em seu vestido. — Para
você celebrar a vida dele.
Com uma das mãos segurei a dela e com a outra terminei minha taça
de vinho. Quando um garçom se materializou para enchê-la, pensei nas
palavras de Angela.
Segundo os advogados de meu pai, ele queria que se passassem seis
meses antes da leitura de seu testamento. Ele queria que celebrássemos
sua vida sem pensar nas coisas que ele deixou para trás.
— Gosto de pensar em quando meus pais estiveram aqui em lua de
mel, — eu disse, sorrindo. — Quando eles eram jovens, e meu pai ainda
dirigia a companhia de petróleo antes de começar com os hotéis... e eles
falaram sobre ter um filho...
Angela sorriu conscientemente para mim, o que me incentivou.
— Isso me faz pensar sobre isso também. Me faz perceber o quanto
quero ter uma família com você. E não apenas porque papai queria tanto
um neto... quero criar um filho com você.
Eu me inclinei na direção dela. — Eu quero fazer tudo com você.
Seu sorriso se alargou. Quando olhei para ela, parecia que éramos as
únicas pessoas no restaurante. Meu Deus, no mundo.
Só eu e essa mulher que virou minha vida de cabeça para baixo, que
me olhou como se eu fosse o homem bom que nunca pensei que poderia
ser.
De seus lábios perfeitos veio a voz de um anjo: — Eu também quero
tudo.
ANGELA

Acordei cedo quando o sol apareceu sobre o oceano, com o céu


listrado de rosa e laranja. Não pela primeira vez na viagem, senti como se
tivesse acordado em um sonho.
A janela estava aberta. O bater das ondas que me embalou para dormir
todas as noites me tirou dos meus sonhos pela manhã.
Significava que acordei cedo, mas não me importei. Eu adorava ver o
sol nascer, entrando e saindo do sono. Eu adorava assistir Xavier
enquanto ele dormia.
Na luz pálida, deixei meus olhos percorrerem seus traços perfeitos
sem a timidez que às vezes sentia em suas horas de vigília. Aqui,
dormindo ao meu lado, meu marido estava tão chocantemente bonito
como sempre.
Mas dormindo, ele parecia tão despreocupado e inocente como uma
criança.
Incapaz de conter meu amor, beijei sua bochecha.
Eu não queria perturbá-lo, mas seus olhos piscaram e se abriram. Ele
sorriu preguiçosamente para mim.
— Levantou cedo de novo, pelo que vejo, — ele sussurrou, levando os
dedos ao meu rosto.
Eu concordei.
Nós só tínhamos mais dois dias em Bali. Embora eu não quisesse ir
embora, estava animada com o que viria a seguir. Eu sabia que onde quer
que eu fosse, Xavier estaria ao meu lado.
Depois de Bali, íamos para Los Angeles para a inauguração do hotel.
Tive a sensação de que essa parte de nossas vidas seria diferente das
outras. O quarteto de jazz que contratei estava fazendo um show
esgotado no Hollywood Bowl na noite anterior à abertura. A noite seria
tão elegante quanto a própria propriedade.
Eu não me deixaria mais ser alvo de garotas malvadas. Ou homens
malvados, para falar a verdade.
Eu permaneceria firme no tapete vermelho, posando para os paparazzi
com meu marido. Xavier tinha me dito que eu era linda tantas vezes que
finalmente comecei a acreditar que era verdade.
Decidi que usaria meu novo vestido branco para o evento.
Era estranho para uma noiva usar tanto branco? Depois de seu
segundo casamento?
Eu não me importava. O amor de meu marido me deu confiança para
fazer o que eu quisesse. Dizer o que eu quiser, me vestir como eu quiser,
fazer amor como eu quiser...
Xavier passou o braço em volta da minha cintura, puxando-me para
perto dele. Sua pele estava tão quente de sono que meus músculos
relaxaram completamente. Antes que eu percebesse, eu estava dormindo
novamente também.
Quando acordei de novo, o sol estava alto.
Xavier estava vestido com uma túnica branca bonita, empurrando um
carrinho em direção ao deck.
— Serviço de quarto? — Eu perguntei, me questionando há quanto
tempo eu estava dormindo.
— O café da manhã está servido! — Ele anunciou.
— Waffles para a princesa.
Eu sorri, pulando da cama e colocando meu próprio robe.
Eu o segui até o deck, onde ele estava organizando nossa refeição na
mesa que estava lá.
— Eu disse ao entregador que montaria a mesa sozinho, — disse ele,
piscando os olhos. — Ele não queria que eu me desse ao trabalho, mas
acabei convencendo-o.
Ele caminhou em minha direção, olhando para mim por baixo de seus
cílios escuros.
— Ninguém pode ver minha esposa na cama, — disse ele, puxando-
me para um beijo. — Exceto eu.
Eu ri.
— Obrigado pelo café da manhã.
O sol forte fez minha cabeça doer. Pensando em todo o vinho que
acompanhou o menu de degustação da noite anterior, percebi que estava
com uma pequena ressaca.
— Vou pegar meus óculos de sol, — eu disse, entrando.
— Eu também estou de ressaca, — disse Xavier. — Mas nada cura uma
ressaca como o serviço de quarto.
Eu sentei na minha cadeira em frente a ele, o mundo agradavelmente
sombreado.
Depois de uma grande mordida no waffle, perguntei: — O que está na
agenda para hoje?
Ele sorriu para mim como se conhecesse uma piada e eu fosse o ponto
final. — Você vai ver.
— O que isso significa? — Perguntei.
— Estamos indo para uma viagem de campo. Fora da propriedade.
Para encontrar alguns amigos meus. E eu recomendo que você use
sapatos confortáveis.
Uma hora depois, estacionamos nosso jipe na entrada de uma floresta.
Uma parede de rocha, com séculos de idade, estava coberta de musgo
verde brilhante. A floresta era exuberante e profunda.
Xavier nunca mencionou que tinha amigos em Bali antes, e eu estava
rezando para que eles não fossem nada parecidos com as modelos
esnobes que Conheci em Paris...
— Você tem amigos aqui? — Eu perguntei enquanto Xavier me
ajudava a descer do veículo.
— Claro, — disse ele com um sorriso, apontando para a placa:
SAGRADO SANTUÁRIO DA FLORESTA DO MACACO
— Os macacos são meus amigos! — Ele gritou, me pegando para um
abraço.
Eu ri, balançando minha cabeça. — Você me pegou, — eu admiti.
Assim que começamos a andar, notei macacos em todos os lugares.
Havia mamães macacas agarradas aos seus bebês, macacos pulando
nos tornozelos dos turistas, em suas costas e cabeças...
— Isso é selvagem.
— Louco, hein? — Xavier perguntou. Ele apertou minha mão. — Não
se preocupe, não vou deixar nenhum macaco pegar você.
Ele beliscou meu lado, me provocando. Eu ri, porém seu sorriso
desapareceu. — Mas, falando sério, não olhe nos olhos deles.
Eu ri incerta quando um macaco se lançou sobre uma menina,
fazendo-a gritar.
— Vamos continuar caminhando. — Ele nos guiou ao redor da família
grande da menina, que conseguira separar o macaco da menina, mas não
do pai.
Eu amei como meu marido parecia determinado, me guiando através
dos turistas na floresta. — Viemos aqui para que eu possa mostrar este
templo... Só não consigo me lembrar exatamente como chegar lá.
Enquanto eu mantinha o ritmo ao lado dele, admirava o rosto do meu
marido... sua mandíbula tão afiada que poderia cortar pedra, e a barba
que ele vinha crescendo desde que chegamos aqui.
Ele sorriu para mim, e eu encontrei seus olhos através das lentes
escuras de nossos óculos de sol. Ao nosso redor, a floresta verde profunda
ressoava com macacos tagarelas e pássaros grasnando. Xavier me
aconselhou a usar meu short cáqui e uma camisa de botão, além do
chapéu novo que ele comprou para mim. Eu me senti como se estivesse
em um safári.
Talvez em outro momento da minha vida, eu ficaria com medo. Mas
não fiquei. A mão de meu marido estava firme e segura ao redor da
minha. E eu também provei que era forte.
Aproximamo-nos de uma fratura na copa das árvores. Quando
entramos numa área aberta, Xavier disse: — Lá vamos nós!
Então apareceu um enorme templo, com estátuas guardando o lugar
do lado de fora.
— Oh, meu Deus.
Foi feito inteiramente de pedra. E a pedra estava completamente
coberta por um musgo verde eletrizante. Parecia antigo e futurista ao
mesmo tempo.
Xavier e eu contornamos o templo, admirando as estátuas de deuses
hindus.
Esta área estava, para minha surpresa, relativamente ausente de
visitantes. Visitantes humanos, pois havia muitos macacos. Mas parecia
que até os macacos lá estavam se calando. Isso fez com que todo o lugar
parecesse sagrado. Preso entre o tempo.
Caminhamos em silêncio. Pensei em tirar minha câmera para tirar
fotos, mas algo me disse que minha memória bastaria. As fotos não
podiam fazer justiça.
Somente quando estávamos de volta sob a cobertura da copa da
floresta é que começamos a conversar novamente.
Eu praticamente pulei no caminho, eu estava tão animada com o
templo assustadoramente bonito e a promessa da floresta densa à nossa
frente.
— É tão incrível, certo? Ver isso faz o tempo parar ou algo assim.
— Eu sei! — Eu falei, estendendo a mão para beijar seu rosto.
Ele sorriu e novamente eu me senti como se ele fosse um garotinho,
como se fôssemos duas crianças em uma aventura.
Nesse momento, um macaco pousou na cabeça de Xavier. Deve ter
saltado de um galho de árvore porque o atingiu como um raio.
— Uau! — Xavier disse, alcançando acima de sua cabeça para agarrar o
macaco. Tentei ajudar, mas a criatura estava decidida. Ele estendeu a
mão ágil e agarrou os óculos de sol de Xavier.
O macaco os arrancou e saltou de novo antes que eu pudesse reagir.
— Ei! — Xavier gritou, avançando em direção ao macaco, que subiu
no galho mais alto da árvore. O infeliz bilionário sacudiu o galho,
fazendo voar as folhas, mas não conseguiu incomodar o macaco.
— Você está brincando comigo?! — Ele gritou para o pequeno ladrão.
Outros turistas se reuniram para assistir à briga de meu marido. Eu ri
tanto que as lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Quando ele se virou, sua boca estava aberta em descrença.
— Aqueles eram Gucci! — Ele gritou.
De volta ao hotel, Xavier e eu colocamos nossos trajes de banho para
um mergulho noturno no oceano.
— Vou precisar comprar novos óculos de sol, — queixou-se Xavier. —
Espero que haja algo decente na loja de presentes.
— Tenho certeza que encontraremos algo, — assegurei-lhe. beijando
seu nariz sardento. — Agora vamos!
Quando eu estava abrindo a porta de vidro deslizante, ouvi um iPhone
ping!
— Achei que tivéssemos colocado nossos telefones no modo
silencioso. — Eu disse, franzindo a testa.
— Minha bateria deve estar prestes a morrer, — respondeu meu
marido, olhando para o cofre.
— Tenho certeza de que não é nada...
Eu segui Xavier para o ar tropical, olhando para o cofre. Embora nós
dois quiséssemos negar, não poderíamos ficar no paraíso para sempre.
Capítulo 3
Hollywood Knight

ANGELA

Só quando estávamos no carro enviado pela Hollywood Knight eu


liguei meu telefone novamente. Ele acendeu de volta à vida quando eu
abaixei a janela do banco detrás, deixando entrar o ar quente da noite.
Califórnia. Mesmo este estado, tão longe de Nova Jersey, parecia
familiar para mim depois de viajar pelo mundo.
O Escalade preto tinha garrafas de água gelada nos suportes para
copos. Xavier passou um para mim.
Eu beijei seu rosto.
Então as mensagens começaram a chegar.

Pai: Querida, o jogo começou e os nachos terminaram! A única


coisa que falta é você. Beijos Pai: OS GIANTS GANHARAM!!!!!

Dustin: Devo gastar $ 500 em um par de mocassins Gucci?

Dustin: Eles são vintage e adoráveis Dustin: Sim ou sim?

Dustin:??

Dustin:??

Dustin: Ah, certo. Sem telefone.

Dustin: Que fofo.


Dustin: Te amo, sua vadia. Me mande uma mensagem quando
voltar.

Em: Eu sei que você não está com o seu telefone, mas estou com
saudades!! Espero que Bali seja incrível.

Em: ser mãe é uma loucura.

Em: mal posso esperar por um dia entre garotas com você.
Eu sorri enquanto palavras e imagens das últimas semanas fluíam
como se estivessem viajando através de uma máquina do tempo.
Xavier estava olhando para seu telefone também.
De volta ao mundo real, pensei comigo mesma. Inclinei-me para beijar
meu marido novamente. Com ele, até o mundo real não era tão ruim.
XAVIER

A mais nova propriedade dos Knight deveria ser a mais glamorosa até
agora, e depois de alguns dias de estadia, Angela e eu concordamos que
era mesmo.
Estávamos hospedados no hotel durante a pré-inauguração exclusiva,
em que menos da metade dos quartos estavam disponíveis. Antes da
festa, nossos clientes mais leais experimentariam luxo e serviços sem
precedentes.
O burburinho no ar confirmou o que eu já sabia: havíamos nos
superado com Hollywood Knight.
Sair de Bali foi como sair do paraíso, embora estivéssemos mais ou
menos em férias.
O carro do Hollywood Knight nos levou por uma rota panorâmica por
Los Angeles, passando pelo icônico letreiro de Hollywood enquanto
dirigíamos pela movimentada Hollywood Boulevard. Pela janela, vi as
estrelas dos meus artistas favoritos brilhando nas calçadas. E aquele era o
meu chapa, Leo DiCaprio, que vimos sair de um Coffee Bean?
Bem, isso não é tão ruim.
E então, depois do que pareceu uma vida inteira de viagens, estávamos
lá.
O Hollywood Knight. Logo acima da movimentada Sunset Strip.
Assim que descemos do carro, sentimos o glamour descontraído do
lugar.
Havia um piano de cauda no saguão, localizado perto do restobar,
onde um pianista de jazz tocava todas as noites para os nossos
convidados.
O local foi projetado para mergulhar nossos hóspedes no brilho e
charme da velha Hollywood, mantendo a simplicidade elegante do século
XXI. O interior do hotel era de madeira clara e mármore branco, e
parecia que não havia nenhum ângulo em todo o lugar. Eram linhas lisas
e suaves.
Passamos os dias seguintes cuidando dos detalhes finais da festa de
abertura e tomando sol na piscina infinita.
Dormi até tarde na suíte de lua de mel. deixando as férias se
estenderem enquanto Angela fugia para as reuniões com o bufê.
E então, antes que percebêssemos, era a noite da festa. Observei
Angela se preparar na frente do espelho de corpo inteiro e fechei o zíper
de seu vestido de seda branca.
Coloquei um terno de linho azul e juntos descemos a grande escadaria
para o evento de fim de semana mais quente de Los Angeles.
O saguão brilhava com a luz de 100 velas e o burburinho dos foliões.
Champanhe fluiu e um quarteto encheu a sala com um jazz suave.
Eu tinha que admitir, esta era a nossa propriedade mais
impressionante. Era perfeitamente simples. Olhei para minha linda
esposa, cujo cabelo loiro estava puxado para trás em um coque
bagunçado, observando a cena com os olhos arregalados.
Observá-la aqueceu meu coração.
Papai ficaria muito orgulhoso dela.
Ela encontrou meu olho e mordeu o lábio enquanto sorria.
E ele ficaria orgulhoso de mim, de como eu era bom para ela.
E isso era tudo o que importava.
ANGELA

Na noite do evento, o saguão fervilhava de conversas e risadas


graciosas. Fiquei ao lado do quarteto tocando ao lado do piano de cauda
e admirei meu trabalho.
A festa foi exatamente o que eu esperava que fosse — sem esforço e
glamourosa. Convidados da lista A desfilaram no tapete vermelho
enquanto os garçons distribuíam arte comestível de um chef famoso.
Xavier apareceu ao meu lado com duas taças de champanhe. Ele
tilintou a dele na minha.
— Saúde, querida, — ele disse, seus olhos brilhando, — para você! Por
planejar a festa de inauguração de maior sucesso que um hotel Knight já
viu.
Fechei meus olhos quando ele se inclinou para me beijar.
— Três pessoas já pediram para comprar suítes, — disse ele com uma
piscadela.
Um casal passeando de repente mudou de direção, e a mulher
imponente conduziu seu homem em nossa direção.
Oh, Deus.
Não pude evitar a súbita onda de ansiedade que senti. Esta jovem era
claramente uma modelo, seu sorriso era um escárnio velado.
Ela era uma das ex-amantes de Xavier?
— Bonsoir, mon cheri, — ela cumprimentou, inclinando-se em direção
a Xavier para cumprimentar com dois beijos.
Certo. Uma antiga colega de classe da França.
A mulher não se preocupou em se apresentar a mim. Em vez disso, ela
tirou um cacho castanho da testa com a unha em forma de garra e ficou
ali me olhando de cima a baixo.
Eu senti meu rosto esquentar. Quantas vezes eu encolhi diante do
olhar crítico de uma bela mulher?
Seus lábios franziram em desgosto. Embora isso geralmente me faça
querer derreter no chão, desaparecendo de vista, esta noite foi diferente.
Esta foi a minha festa e eu estava ao lado do meu marido. Que direito
essa mulher tinha de impulsionar seu próprio ego, e esmagar o meu?
— Eu sou Angela, — eu disse, quebrando o silêncio enquanto estendia
minha mão para ela. Ela estendeu a mão com cuidado e segurou-a entre
suas unhas afiadas e bem cuidadas. Não quebrei o contato visual o tempo
todo. A sobrancelha da modelo franziu.
Eu — estava intimidando?
O casal arrogante se afastou de nós, com a mulher sacudindo o cabelo.
— E ela é Celine, — disse Xavier, virando-se para mim. — Eu nunca a
vi sem palavras.
Nesse momento, uma senhora glamourosa com uma cabeça de cachos
brancos dos anos 1920 colocou a mão sobre o cotovelo de Xavier.
— Senhorita Marlboro, — disse ele, — se eu não te conhecesse,
pensaria que você estava me seguindo.
A mulher riu da piada de Xavier, mas sorriu para mim sob os óculos de
armação vermelha de gato com falsa timidez.
— Não, Xavier, — ela ronronou. — Achei que já era hora de encontrar
essa criatura divina da qual tanto ouvi falar.
Eu sorri de volta para ela, observando seu temo de duas peças feito de
cetim com estampa de leopardo. Seu glamour excêntrico me disse que
ela era uma força a ser reconhecida.
— Marlena Marlboro. — disse ela, afastando-se do meu marido e
cobrindo as mãos com as minhas.
— Angela, — eu disse, deixando nosso aperto de mão durar.
Não pude deixar de sentir um magnetismo pela velha.
— Marlena era uma amiga querida do meu pai, — explicou Xavier.
— E eu sinto muito por ter perdido seu velório. Eu estava amarrada
em Veneza para a Bienal. Parecia errado, mas eu sei que ele gostaria que
eu perseguisse minha arte.
Marlena fez uma pausa e as lágrimas brilharam em seus olhos, mesmo
enquanto sorria. — Brad me conheceu quando eu era uma criaturinha
ambiciosa. Mais tarde na vida, quando ambos perdemos nossos grandes
amores, Brad e eu tivemos uma correspondência longa e significativa.
Xavier franziu a testa. — Meu pai escrevia cartas?
— Oh, sim! Ele era um escritor e tanto, na verdade. — Enquanto ela
acenava para um homem elegante em nosso círculo, Xavier aproveitou a
oportunidade para diminuir a distância entre nós. Ele sutilmente correu
o dedo sobre a pele exposta da parte inferior das minhas costas, enviando
arrepios na minha espinha.
— Rupert! — Marlena deu uma risadinha, abraçando o cavalheiro. —
Por favor, conheçam o Sr. e a Sra. Knight.
— É um prazer. — Rupert acena graciosamente com a cabeça. — Mas
que propriedade deslumbrante. Não é uma festa fabulosa?
— De fato! — Marlena arrulhou.
— Tenho que agradecer a minha esposa por isso. — Xavier sorriu para
mim e eu senti minhas bochechas corarem. Eu pensei que estava
mantendo a calma, mas meu reflexo de rubor me entregou toda vez...
— Foi você que produziu o evento? — Rupert pergunta, e quando eu
concordo, ele suspira de alívio.
— Você é bem a mulher que eu estava procurando. Meu novo espaço
de arte abre em Nova Iorque em algumas semanas, e eu preciso de ajuda
para me preparar...
— Oh, sério? — Eu perguntei, minha mente já girando com ideias.
— Oh, sim! A exposição de abertura é uma retrospectiva das pinturas
de Marlena, — Rupert continuou.
— Angela tem experiência em eventos de galeria, — Xavier
acrescentou. — Ela planejou uma inauguração que lançou a carreira de
um jovem pintor!
Corei com toda a atenção, mas fiquei feliz com a ajuda do meu
marido.
Marlena e Rupert trocaram um olhar travesso.
— Seria maravilhoso trabalharmos juntos! — Rupert propôs.
— Uau! — Eu jorrei. Este evento não poderia ter soado mais fabuloso.
— Vou te dar meu cartão. Por que você não me liga depois do fim de
semana?
Agarrei o pedaço fino de cartolina entre meus dedos, mal acreditando
que tinha tido tanta sorte.
— Perfeito. — Eu disse, sorrindo.
XAVIER

Fiquei tão orgulhoso quanto o pai de um quarterback vencedor do


Super Bowl ao ver Angela fazer contatos.
Ela não era apenas a produtora do evento, mas também a anfitriã. Ou
era anfitriã comigo.
Ela estava abraçando sua posição social, e isso me fez querer
mergulhá-la no chão e dar-lhe um grande beijo bem aqui no meio da
festa.
Se papai pudesse nos ver agora.
Quando puxei Angela para o canto do salão, ela riu, apertando minha
mão.
— Estou me divertindo, — ela sussurrou.
— Não soe tão surpresa!
Eu beijei sua testa.
Então, meu telefone começou a tocar. Quando o tirei do bolso da
calça, apareceu o nome do meu advogado.
Esta não era uma ligação que eu pudesse ignorar.
— Harry, — eu disse como uma saudação.
— Xavier. Que bom que atendeu.
— Sim, estou meio que no meio de algo.
— Serei breve. O testamento de seu pai está pronto para ser lido.
Eu engoli em seco.
Já haviam se passado seis meses desde que papai faleceu. Não sabia
que temia a leitura de seu testamento. Tornou tudo mais... real.
— Oh, tudo bem. Quando e onde?
— Amanhã ao meio-dia em meu escritório.
— Obrigado, Harry. Angela e eu estaremos no primeiro voo de Los
Angeles. Te vejo lá...
— Xavier, mais uma coisa. Só quero avisar que há algumas... surpresas
no testamento.
— Uhhh, — eu gaguejei, me perguntando o que diabos isso poderia
significar.
Será que o velho deixou tudo para a caridade? Pensei no acordo que
ele fez com Angela alguns anos atrás. O truque que ele aplicou para que
eu pudesse encontrar a mulher dos meus sonhos. Meu velho certamente
foi criativo com a maneira como gastava seu dinheiro.
Mas essa era a fortuna dos Knights de que estávamos falando. Ele não
teria feito nada muito caprichoso... teria?
— Vejo você amanhã, Xavier. Obrigado.
Eu abri minha boca, mas o tom de discagem já estava tocando.
Suspirei, colocando meu telefone de volta no bolso.
Angela me olhou com curiosidade.
— Temos que estar em Nova Iorque amanhã, — eu disse a ela. meus
ombros caindo sob o peso de tudo isso. — As férias acabaram, querida.
Capítulo 4
Seja feita a tua vontade

XAVIER

Embora o escritório do advogado em Midtown fosse refrigerado por


um ar-condicionado central, eu estava pegando fogo. Eu desfiz o
primeiro botão da minha camisa e olhei para Angela desesperadamente.
Estávamos no escritório há apenas cinco minutos, mas eu já estava
perdendo o controle.
Ela apertou minha mão. Ela também não estava exatamente
confortável, sentada entre Penny e eu. Nós três éramos as únicas pessoas
na sala ao lado do advogado, que passava os dedos pelo bigode farto e
castanho.
Penny também mal conseguia se controlar. Seus olhos estavam
começando a lacrimejar e ela enrolou um lenço de papel em seu punho.
Eu me senti tenso com a presença dela, a raiva ameaçando crescer
dentro de mim.
Mas tentei me controlar. Eu tinha quase certeza de que Penny não era
a vagabunda oportunista que eu inicialmente pensei que ela fosse. Ela era
apenas uma garota que queria ser feliz e ela encontrou essa felicidade
com meu pai.
Mas vê-la lá na leitura do testamento lançou uma sombra escura sobre
esses pensamentos.
Há quanto tempo ela conhecia meu pai?
Não o suficiente para CONHECÊ-LO.
Não o suficiente para ganhar um lugar nesta sala.
Provavelmente foi isso que ela planejou durante o tempo que
passaram juntos. Fique com um velho antes que ele fique senil, mas não
antes que ele possa mudar seu testamento...
Agora eu entendi por que papai queria esperar seis meses. Se eu
estivesse aqui logo depois de perdê-lo, quando a dor ainda era tão
recente, teria gritado para Penny sair da sala. Ou algo pior.
Eu exalei pelo nariz. Pela primeira vez na vida, tentei banir meus
pensamentos mordazes.
— Bem-vindos à família do falecido Brad Knight. Agradeço por
estarem aqui hoje.
Eu olhei para ele. Ele ajeitou a gravata borboleta.
— Embora nos encontremos em circunstâncias nada afortunadas,
lemos o Ultimo Testamento de Brad Knight para celebrar sua vida e tudo
o que ele conquistou.
O advogado pegou uma pasta de couro marrom de sua mesa e abriu-a.
— Sem mais delongas, vou ler uma carta de Brad Knight, seguida de
seu testamento.
Ele pigarreou.
— Para a minha família. Enquanto escrevo isto, antecipo um tempo
em que não estarei mais com vocês. Escrevo com amor e otimismo no
coração ao pensar em todos vocês: Xavier, meu único filho, Angela,
minha única filha e minha querida e doce Penny.
— Talvez vocês estejam se perguntando por que escolhi deixar seis
meses entre meu falecimento e a distribuição de meus bens materiais. A
logística da morte ocupa o cérebro, e eu queria que vocês se lembrassem
de mim com o seu coração, mesmo que apenas por um curto período de
tempo.
Eu ouvi Angela fungar ao meu lado. Eu sabia que ela estava lutando
contra as lágrimas por minha causa, pelo que eu era grato. Se eu a visse
chorando, não poderia me conter...
— As próximas páginas detalham a herança que cada um de vocês
receberá. Que essas coisas os ajudem a alcançar seus sonhos. Espero que
eles tragam a vocês uma fração da alegria que vocês me deram em minha
vida.
— Agora estou com meu grande amor. Amélia, em algum grande
além. Saiba que estou em paz. Sou grato por deixar minhas posses desta
vida em mãos tão dignas e capazes.
— Com todo meu amor, Brad.
Meu nariz doeu, como sempre faz antes de chorar. Naquele momento,
eu não me importava com o dinheiro ou as posses de meu pai. Eu só
queria ele— o homem que sempre soube o que dizer. O homem que não
tinha medo de mostrar amor ou de arriscar tudo por outra pessoa.
Quantas vezes ele havia se arriscado comigo? Quantas vezes eu o
decepcionei?
Eu nunca faria isso de novo. Olhei para minha esposa ao meu lado,
seus olhos transbordando de amor. Tudo o que papai queria era que eu
encontrasse o amor verdadeiro como ele encontrou com minha mãe. Ele
o encontrou para mim e me ajudou a salvá-lo antes que fosse tarde
demais...
De certa forma, meu pai viveu através de Angela. Aos olhos dela, eu
era o homem que ele sabia que eu poderia ser.
— Para Angela — 1, continuou o advogado, — minha nora e querida
amiga, deixo os jogos de jantar de porcelana Wedgwood da minha mãe,
minha biblioteca particular, meu Jaguar conversível e dez milhões de
dólares.
A respiração de Angela ficou presa ao meu lado. Certamente a
generosidade de meu pai a surpreendeu. Mas não a mim.
— Para Xavier, meu orgulho e alegria, zelador do negócio que
construí. Agradeço sua dedicação à Knight Enterprises como seu
destemido CEO. E eu deixo para você...
Sentei-me ereto, limpando minha garganta. Fiquei nervoso, ou talvez
animado, ao pensar no meu telefonema de ontem. O que no testamento
de meu pai poderia me surpreender?
minha coleção de carros esportivos e a garagem de Manhattan, as
joias de sua mãe, três caixas de meus pertences para serem
compartilhadas com Angela e um bilhão de dólares.
Suspirei aliviado. Nada parecia fora do comum. Meu pai cuidou de
mim durante toda a minha vida e agora, mesmo com ele morto, não seria
diferente.
Eu fiquei um pouco surpreso com os carros esportivos. Quanto tempo
papai passou gritando comigo por correr na estrada? Quantas das minhas
multas por excesso de velocidade ele pagou? O velho sempre teve senso
de humor...
— Minha riqueza restante, eu doo para várias instituições de caridade
em nome de minha amada Amélia Knight.
— E para a querida Penny, que me mostrou que eu não precisava ficar
sozinho, deixo a cobertura Central Park West...
Meu estômago se agitou. Eu não pensei que ele deixaria seu lugar
comigo, mas para Penny?!
— '... e eu a considero minha sucessora como presidente do conselho
da Knight Enterprises... '
Uma tosse saiu da minha garganta como se meu corpo estivesse
rejeitando o que acabei de ouvir.
Penny era a presidenta!?
Eu senti como se o ar condicionado estivesse bombeando gás tóxico
para o quarto. Eu estava queimando e não conseguia mais respirar.
O advogado falava sem parar, mas não ouvi nada.
Bastou um olhar para o rosto chocado de Penny, seus lábios grossos
franzidos em um — O, — para me avisar que eu tinha que sair.
Agora.
Eu tirei minha mão da de Angela e corri para a porta. Em vez de
esperar pelo elevador, subi as escadas de dois em dois, descendo os sete
andares.
Só pensava na empresa. Claro, meu pai deixou para mim. Mas, assim
como quando ele estava vivo, ele não podia confiar em mim.
Ele precisava de alguém para me vigiar em seu lugar.
Claro, Penny se formou na NYU em administração de empresas.
Claro, ela era praticamente um gênio quando se tratava de
balanceamento de contas.
Mas ela era melhor do que eu?
De jeito nenhum.
E ainda pior...
Ela era minha ex.
ANGELA
Corri para fora do escritório do advogado atrás de Xavier.
Não consegui encontrá-lo no corredor, mas lá estava ele na rua, com a
camisa desabotoada e suando tanto que o cabelo grudava na testa.
Alguns momentos depois. Marco parou e Xavier quase se jogou no
banco detrás.
— Querida! — Eu gritei uma vez que estávamos trancados dentro do
carro e voando pela cidade.
— Abra as janelas, Marco! — Xavier gritou, inclinando a cabeça para
trás enquanto ele hiperventilava.
— Xavier... — eu comecei. Ele parecia que estava prestes a explodir. Eu
conheço ele. Eu o tinha visto chateado, mas nunca assim.
Marco encontrou meu olhar no espelho retrovisor e ergueu as
sobrancelhas.
Tentei imaginar o que Xavier poderia ter sentido. Eu sabia que isso era
mais do que apenas uma empresa. Tratava-se da confiança de seu pai.
— Xavier, — eu disse novamente, desta vez com o meu nível de voz.
Eu estava tentando ser um farol em uma tempestade, tentando conduzi-
lo de volta para águas calmas.
Não precisava ser tão ruim, certo? Meu marido estava agindo como se
isso fosse o fim do mundo. — Talvez você nem perceba que ela está no
conselho. Ou talvez ela seja útil! Tenho certeza de que ela seguirá bem os
passos de Brad...
Seu corpo estava tenso e o ar, carregado, como se ele fosse um fio
elétrico. Minhas palavras de conforto não foram de nenhum consolo.
— Vamos tirar o resto do dia de folga, — eu disse, pressionando seu
peito com minha mão aberta. — Podemos nos acomodar e pedir comida
para viagem. Amanhã é um novo dia...
Ele exalou ao meu toque. Com isso, eu o senti relaxar um pouco.
— Parece bom, anjo.
Eu estava desfazendo minha mala no quarto quando ouvi a
campainha tocar.
Eu caminhei pelo longo corredor da cobertura. Por mais difícil que
tenha sido deixar Bali e depois Los Angeles, era bom estar em casa.
— Olá? — Chamei no interfone.
— Alguém está aqui com caixas de Brad Knight. Devo deixá-lo levar?
— O porteiro respondeu.
— Oh! Sim, por favor!
Eu não esperava que receberíamos nossa herança tão rapidamente,
apenas algumas horas depois que o testamento de Brad foi lido, mas eu
estava animada.
Quando voltamos para o apartamento, Xavier pulou no chuveiro e
depois em suas roupas de ginástica. Ele estava fazendo um longo treino,
que eu aprovei.
Foi um de seus mecanismos de enfrentamento mais saudáveis.
O entregador carregou três grandes caixas de papelão para a sala.
Agradeci quando ele saiu.
Sozinho com as caixas, me encontrei em um dilema.
Devo esperar que Xavier os abra? O testamento de Brad dizia que ele
os deixou para nós dois, e meus dedos estavam formigando de ansiedade.
As caixas também foram decoradas com grandes laços vermelhos.
Brad sempre deu presentes incríveis, e eu tinha a sensação de que não
seria diferente. Eu só podia imaginar o que havia dentro.
Enquanto brincava com a fita em uma das caixas, elaborei um plano.
Eu o abriria o suficiente para espiar dentro... e então Xavier e eu
poderíamos desempacotá-los juntos.
Com a tesoura de cozinha, cortei a fita. Então, dobrei as abas de
papelão...
No topo da caixa havia pilhas de cadernos com capas de couro gastas.
Antes que eu pudesse me conter, peguei um. Eu o abri para encontrar
um registro datado escrito à mão em tinta escura. Eu reconheci o diário
instantaneamente.
Brad.
A página foi datada de 15/06/19.
Fechei o livro e o segurei contra o peito, sentindo como se Brad
estivesse na sala comigo. Eu me peguei prendendo a respiração, mas
sabia que não poderia continuar lendo sem mostrar a Xavier.
Não fazia ideia de que Brad algum dia mantinha um diário..., mas
então me lembrei das palavras de Marlena Marlboro.
Brad era um escritor. E ele nos deixou seus diários.
XAVIER

Através da névoa da minha ressaca, observei o elevador subir os


andares até meu escritório na Knight Enterprises.
Angela tentou me consolar na noite anterior, mostrando-me os
diários que meu pai aparentemente manteve por anos e pedindo comida
chinesa suficiente para alimentar uma fraternidade.
Apreciei seu esforço, mas sabia que só havia uma coisa que poderia me
acalmar: muito uísque.
O elevador abriu para o corredor bem iluminado do escritório.
O bater da minha sola no chão de ladrilhos alertou a equipe da minha
presença. Meus funcionários se viraram para me olhar. O chefe estava de
volta à cidade.
— Bethany, — eu chamei enquanto estava perto da mesa da
recepcionista. Ela estava conversando com uma garota de terninho cuja
energia nervosa me dizia que ela era uma nova contratada. — Um Advil
com meu café com leite, por favor.
— Oh, Xavier! Desculpe, não tenho seu café pronto. Eu não sabia que
você estaria hoje.
— Basta trazer para o meu escritório, — eu resmunguei. — Em dobro.
Continuando além das mesas, fiz uma pausa. Parecia que estava
chovendo, mas o sol estava brilhando lá fora.
— Austin! De onde vem essa trilha sonora? Estamos em uma maldita
floresta tropical?
— Ei, chefe, — Austin respondeu. — E algo novo que estamos
tentando. Pode ajudar na produtividade. Está no e-mail revisado da
política de conduta.
— Hmmm, — eu rosnei, nunca diminuindo meu passo.
Que tal este e-mail? Claro, eu estive fora do escritório por algumas
semanas e meu pai tinha ido embora. Era natural que as coisas
mudassem. Mas eu senti um cheiro estranho.
Penny.
Eu continuei à espreita. Passei pelo meu escritório e, quando me
aproximei do de meu pai, diminuí o ritmo.
Mesmo depois que ele se aposentou, o escritório permaneceu seu. O
que faríamos com isso agora que ele se foi de verdade?
Aproximei-me do escritório e então meu sangue gelou. Meu coração
parou no meu peito.
O do meu pai já havia sido substituído. E onde estava seu nome, agora
dizia:
PENNY KNIGHT
Capítulo 5
Laços de família

ANGELA

A cafeteria de Dustin estava movimentada quando cheguei. Ele


praticamente gritou quando me viu. Todos os clientes hipsters se viraram
para olhar.
Enquanto eu corava, ele exultou e me levou para minha mesa favorita,
marcada com uma placa artesanal — RESERVADO.
— Dê-me dez minutos e então sou todo seu.
Sorri ao vê-lo recuar para trás do balcão, o avental amarrado nas
costas.
Decidi aproveitar a oportunidade para ligar para o Rupert da festa em
LA. Segurando seu cartão de visita nas mãos, tentei acalmar meus nervos
enquanto o telefone tocava.
— Rupert Hall! — Uma voz amigável cumprimentou.
— Oh, Rupert! Oi. É a Angela. Da festa do Hollywood Knight.
— Angela, estou tão feliz que você ligou. Você ainda está interessada
em ajudar na minha abertura?
— Eu estou! Gostaria de saber se você poderia me dar alguns detalhes.
— Fantástico. Você tem uma caneta? Vou te dar as especificações.
Abri meu caderninho e comecei a fazer anotações.
— Ok, o evento é na próxima sexta-feira, então teremos um pouco
mais de uma semana para planejá-lo. Adoraria ter um quarteto de jazz
como você teve em LA. Precisamos de um fornecedor e um barman.
Marlena quer que sirvamos carne, mas eu sou vegano...
Eu estava escrevendo o mais rápido que podia, tentando anotar os
detalhes que vinham sem parar. — E quero impressões das pinturas de
Marlena, em tamanho de pôster e cartão-postal, que possamos vender à
noite... e você precisará encontrar técnicos para instalar a exposição. As
telas estão sendo transportadas de Berlim, então precisarão ser esticadas
novamente...
Rupert continuou mal descrevendo uma tarefa complexa antes de
partir para a próxima.
Eu olhei para cima para ver Dustin sentado na minha frente, seus
olhos arregalados como se dissessem, que merda é mais importante do que
eu agora?
— Rupert, eu...
— Eu sei, querida. É melhor nos encontrarmos. Se você estiver pronta
para o trabalho, claro. Ah, e nosso orçamento é bastante generoso — $80.
000 — e ainda cuidaremos bem de você. O que você diz?
— Eu aceito! — Eu disse para Rupert enquanto sorria para Dustin.
— Fantástico, — Rupert suspirou. — Manteremos contato, querida.
Aproveite o dia.
Desliguei a ligação e não pude deixar de gritar de alegria. Depois de
pesquisar o nome de Rupert no Google, descobri que ele era um galerista
de enorme sucesso e que sua estreia em Nova Iorque era muito
aguardada.
Eu mal podia esperar para fazer parte disso.
— Então... quem era? — Dustin perguntou, empurrando um latte de
lavanda sobre a mesa para mim. A flor na espuma estava perfeita.
— Obrigado, Dustin. Você está melhorando!
— Ah, não. O novo barista fofo que contratei fez isso. — Ele apoiou o
queixo nas mãos. — Então... eu preciso ouvir tudo. Mas primeiro, me diga
quem estava no telefone.
Inclinei-me para o meu amigo, zombando de sua linguagem corporal
fofoqueira.
— Aquele era Rupert Hall, um galerista abrindo um novo espaço no
SoHo. — Eu joguei meu cabelo para trás do ombro. — E eu estou
planejando o evento.
Dustin suspirou pelo nariz.
— Sua vadia sortuda! Você merece isso. Eu posso vir?!
— É claro! Você tem que vir, — eu disse, tomando meu café com leite.
— Na verdade, estou meio nervosa. Vai ser uma quantidade louca de
trabalho, e foi isso que ouvi hoje...
Dustin me olhou pensativo, girando os anéis nos dedos.
— Eu sei, — disse ele com um sorriso. — Contrate um assistente!
Quão fofo seria isso? — Eu não pude deixar de sorrir de volta. Eu, ter um
assistente? Por que não? Antes, eu sentia que estava fingindo ser uma
produtora de eventos. Mas agora, eu era uma de verdade.
— Sabe, Dustin, gosto da sua maneira de pensar.
Meu amigo deu de ombros e fingiu mexer no cabelo como eu.
Revirando os olhos, coloquei meu café com leite de volta no pires.
— Ok, agora eu tenho que lhe contar sobre Bali...

XAVIER

Virei a chave na fechadura e abri a porta da cobertura. Fiquei muito


grato por ver meu anjo no sofá da sala de estar. Com um gemido, eu
imediatamente caí de barriga no sofá em frente a ela.
— Bem-vindo ao lar, querido! — Ela disse, como se eu não aparentasse
nem soasse como a morte.
Eu olhei para o meu lado para encontrá-la ocupada em seu laptop. Ela
nem estava olhando para mim!
— O que você está fazendo? — Eu resmunguei.
Ela fechou o computador e sorriu.
— Acabei de postar um anúncio. Estou planejando o show de abertura
de arte que Rupert e Marlena mencionaram em Los Angeles, e vou
contratar um assistente!
Sua excitação foi quase o suficiente para me tirar do meu estupor
deprimido. Mas não exatamente o suficiente.
— Longo dia de trabalho? — Ela perguntou, franzindo a testa. Ela se
sentou ao meu lado e se inclinou para beijar meu pescoço.
Apenas estar perto dela fez meu corpo derreter no sofá de couro
macio ainda mais fundo.
Suspirei.
— O dia mais longo de todos os tempos.
— Conte-me sobre isso.
Eu me virei e fiquei deitado de costas. Ela desabotoou minha camisa e
passou as mãos no meu peito. O gesto me acalmou e eu olhei em seus
olhos amorosos.
— Foi tão ruim, Angela. Você não vai acreditar. — Só de falar com ela
me fez sentir como se tivesse tirado um grande peso dos meus ombros.
Ela não disse nada enquanto esperava que eu continuasse. — Então.
Penny não é apenas uma acionista, ela está trabalhando no escritório! E
não apenas no escritório, ela assumiu o escritório do papai! Ela está no
maldito Conselho de Executivos e ela não sabe merda nenhuma de
negócios.
Cobri meus olhos com a mão e suspirei novamente. Eu nem tinha
contado a ela a pior parte ainda.
— Penny não tem um diploma em administração? — Angela
perguntou. — Lembro-me de que Brad ficava se gabando para mim de
que ela se formara com distinção.
— Claro, ela é inteligente, mas isso não significa que ela pode
simplesmente pular direto para o topo! — Eu gemi. — E como se meu pai
não confiasse em mim o suficiente para cuidar dos negócios sozinho.
— Oh, Xavier. Tenho certeza de que foi muito difícil para você... —
Essa foi a subestimação do século.
— Então, se ela está no conselho, ela tem muito poder?
— Ela consegue um voto. Assim como eu consigo um voto.
Observei Angela lutar por uma resposta positiva.
— Bem... você é um bom líder, querido. E acho que ela sempre gostou
de você. Talvez você tenha ganhado uma nova aliada.
— Fica pior, Angela, — eu disse, empurrando meus braços para que eu
ficasse sentado no sofá, encostado no apoio de braço.
Sua sobrancelha franziu mais profundamente enquanto ela ficava
ainda mais preocupada.
— Ela também é minha madrasta, — eu suspirei. Senti as lágrimas
subirem aos meus olhos, mas não desviei o olhar dela.
— O que você quer dizer? — Angela sussurrou.
— Papai se casou com ela. Angela. Em segredo. Ela é uma Knight. E,
tecnicamente, ela é minha madrasta.
Eu balancei minha cabeça. Como se não fosse o suficiente para meu
pai namorar minha antiga paixão, ele teve que se casar com ela também.
Desde que meu pai morreu, eu havia me familiarizado demais com os
sentimentos de perda e tristeza. Mas agora, eu estava confuso e com
raiva, e as emoções conflitantes fizeram meu coração parecer um
brinquedo de mastigar compartilhado por um bando de rottweilers.
Angela colocou as mãos no meu rosto, embalando minha cabeça.
Eu encarei seus olhos e tentei sorrir. Ela estremeceu e eu sabia que
minha expressão estava desfeita na melhor das hipóteses.
— Isso é louco, — ela disse, finalmente.
Eu esperava que ela tentasse racionalizar a situação, dissesse que meu
pai tinha seus motivos, que merecia ser feliz, que queria o melhor para
nós.
Eu sabia que tudo isso era verdade, mas não era o que eu precisava
ouvir.
Eu precisava de alguém para me dizer que eu não era louco. Eu
precisava ouvir que o mundo inteiro estava louco e eu estava preso no
meio dele. E eu não sabia até que ela me deu isso.
— Eu te amo, — eu suspirei, puxando seu rosto perfeito para perto do
meu para que eu pudesse beijá-la.
ANGELA

Meu coração inchou no meu peito quando beijei Xavier. Eu gostaria


de poder tirar toda a sua dor.
— Eu te amo, Xavier, — eu disse.
Ele parecia um cachorrinho chutado na rua. Tudo que eu podia fazer
era acariciar atrás das orelhas dele, mas queria deixar tudo melhor.
— E tudo aqui, — eu continuei, apontando para o nosso apartamento,
e então puxando-o para mais perto de mim, — é bom. Está sob controle.
E tudo depende de nós.
Ele sorriu.
— Como você sempre sabe o que dizer?
— Eu não! — Eu rebati, inclinando-me para beijá-lo. — Você sabe.
Você me faz lembrar o que é importante. E isso, você e eu, é tudo o que
importa. — Xavier beijou meu pescoço antes de me olhar atentamente.
Prendi a respiração, imaginando o que ele diria.
— Você é minha família agora, — ele continuou.
— Você é tudo que eu tenho. Somos apenas nós e a família que
formamos juntos.
Ele passou o braço em volta da minha cintura.
— Isso é o que eu quero mais do que qualquer coisa, — ele sussurrou.
— Ter uma família com você.
Pequenos fogos de artifício explodiram em meu coração enquanto eu
olhava para o homem diante de mim.
A estrada que nos trouxe até aqui era rochosa e sinuosa. Tinha sido
tão difícil que às vezes eu não queria nada mais do que sair do carro.
Mas agora, eu estava muito grata por ter me segurado. Só porque
saltado no escuro é que estávamos prontos para ir até a luz...
O calor em meu coração irradiou para fora, em minhas mãos que
desfizeram o resto dos botões da camisa de Xavier.
Alcancei o tecido, sentindo sua pele e os músculos tensos de seu
abdômen.
Nossos beijos se tornaram mais profundos, mais desesperados. Ele
ficou de joelhos, então me empurrou de volta no sofá, se abaixando em
cima de mim.
Quando senti sua ereção contra minha coxa, gemi, tentando alcançá-
la.
— Eu quero você, — eu sussurrei enquanto o apertava, sentindo-o
ficar ainda mais forte sob o meu toque. — Vamos fazer um bebê. — Suas
mãos estavam por todo o meu corpo, alcançando meu vestido. Ele
segurou minha bunda e então moveu seus dedos para baixo de mim,
sentindo a umidade que já encharcava minha calcinha.
Eu desfiz seu cinto e, em seguida, o botão de sua calça enquanto
massageava seu membro com a outra mão. Ele rosnou.
Finalmente, ele entrou em minha calcinha e gentilmente enfiou o
dedo dentro de mim. Eu gemi, e seu sorriso travesso me fez querer saber
exatamente em que coisa safada ele estava pensando...
Mas antes que eu pudesse descobrir, nosso interfone tocou. Era o
porteiro, alertando-nos de um visitante.
— De novo?! — Eu explodi, e Xavier colocou o dedo em meus lábios.
Eu o peguei na boca, mas fiquei quieto, rezando para que o visitante fosse
embora para que pudéssemos terminar o que começamos.
Mas então a batida voltou.
— Você está brincando comigo? — Eu gemi.
Capítulo 6
A assistente perfeita

XAVIER

Trim! Trim!
O som continuou enquanto eu abotoava minhas calças.
— Um minuto, porra! — Eu gritei, tentando reorganizar a
protuberância em minhas calças para ser menos perceptível.
— Xavier, — Angela assobiou. — E se for... algo importante?
Amarrei um moletom na cintura para esconder minha ereção.
'Eu não poderia dar me importar menos.
Finalmente, o vestido de Angela estava em ordem, e eu estava decente
também. Ela balançou a cabeça, tão frustrada com a interrupção quanto
eu. Coloquei minha mão na parte inferior de suas costas e, juntos,
caminhamos até a porta.
Eu abri a porta e não fiz nenhuma tentativa de esconder meu desgosto
pela pessoa que estava diante de nós.
— Henry, — eu cuspi. — O que diabos você está fazendo aqui?
O palhaço estava vestido com toda a sua glória de mauricinho, como
se tivesse navegado dos Hamptons para nossa cobertura.
Ele estava rodando uma garrafa magnum de champanhe Dom
Perignon vintage em um carrinho de prata.
— E o que diabos vamos fazer com isso? — Eu perguntei, antes que ele
pudesse responder.
Meu primo franziu a testa com a minha franqueza. Ao meu lado,
Angela cruzou os braços.
— Olá para você também, querida prima, — ele disse sarcasticamente.
— Eu trouxe um presente para você. É para vocês dois. Eu teria trazido
para o casamento, mas não fui convidado.
— Foi uma cerimônia íntima, — eu disse com um encolher de
ombros. — Mas se eu me lembrasse que você era um festeiro, talvez eu
tivesse aberto uma exceção.
— Olha, cara. Pense nisso como uma oferta de paz. Sinto muito por
ter instigado você nos Hamptons e estou feliz por você e sua esposa. Eu
realmente estou.
Henry suspirou. Claramente, se desculpar o deixou desconfortável, e
eu notei que Angela apreciou o gesto.
Mas eu não era convencido tão facilmente.
Lembrei-me do que ele disse sobre Angela nos Hamptons que me fez
estourar na cara dele. Que ela era uma noiva por correspondência.
Alguma prostituta. Não, um homem como Henry não mudou de opinião
por causa da bondade de seu coração.
Ele estava aqui porque queria algo.
— Não sei, Hen, — comecei usando o apelido de infância que sempre
o fazia se contorcer. — Eu sinto que isso tem menos a ver com o
casamento e mais a ver com o testamento do meu pai.
Eu levantei uma sobrancelha para o pequeno bastardo arrogante.
— Eu admito, — Henry revelou, — minha família ficou um pouco
magoada quando soubemos que fomos deixados de fora do testamento
de Brad. Tia Heather, em especial.
— Achamos que seria uma boa ideia se eu viesse falar com você,
apenas para ter certeza de que não há nenhum... ressentimento ou algo
assim, entre a Knight Enterprises e nós.
Senti meu sangue começar a ferver. Henry era o mesmo quando meu
pai estava vivo. Ele sempre foi um filho da puta aproveitador, sempre
tentando ganhar algo. Assim como eu suspeitei, ele não deu a mínima
para a morte do meu pai. Ele só queria seu dinheiro e poder, e agora ele
viu uma maneira de obtê-los.
— Já basta da sua festa de piedade. Henry. Se sua família precisasse de
ajuda, meu pai teria colocado você no testamento. Mas ele estava
pensando na empresa...
Minhas mãos se fecharam em punhos enquanto minha voz soava no
corredor.
— E há comoção suficiente na Knight Enterprises hoje em dia sem
você enfiar a cabeça nas coisas. Então, saia!
Apontei para o elevador, meu peito arfando.
Mas Henry ficou pregado bem na porta, um sorriso puxando os cantos
de sua pequena boca presunçosa.
— Comoção na Knight, hein? — Ele zombou. — Ouvi dizer que o
velho Brad deixou para Penny a maior parte da empresa. Mas não percebi
o quanto isso estava mexendo com você.
Eu fervi. Se meu primo misturasse mais uma metáfora em minha casa,
eu teria que chamar uma ambulância para levá-lo daqui para fora.
— Vá embora, Henry.
— Acho que você quer fazer isso da maneira mais difícil, primo.
Quero ter uma palavra a dizer nos negócios da minha família. E agora
que Brad se foi, não há ninguém protegendo você.
Ele girou sobre o calcanhar de seu mocassim e caminhou pelo
corredor. Angela pegou minha mão e pude sentir seus olhos preocupados
em mim.
Pouco antes de eu bater à porta, Henry chamou:
— Você não é mais o menino de ouro do papai, X!
ANGELA

Xavier e eu acordamos cedo. Ele foi para a academia e eu fiz uma


longa corrida no Central Park. A interrupção de Henry na noite anterior
me deixou frustrada — e não apenas porque ele nos interrompeu no
momento mais inoportuno.
Odiava ver meu marido tendo problemas no trabalho. Mas tentei
seguir meu próprio conselho e ser grata pelo que tínhamos: um ao outro.
E, felizmente, eu tinha meu próprio trabalho para me distrair.
Fiquei muito feliz ao descobrir que recebi muitas inscrições de meu
anúncio de emprego online. Comecei a agendar entrevistas para mais
tarde naquele mesmo dia.
Caminhando pela Quinta Avenida, me senti muito bem. Eu sabia que
estava bem vestida com minha saia cinza e sapatos de bico fino. O ar de
verão estava perfumado e vivo, e eu respirei tudo, animada para a tarefa à
minha frente.
Programei minhas entrevistas na cafeteria de Dustin, é claro, e
cheguei para descobrir que ele havia colocado a mesma placa
improvisada — RESERVADO — na minha mesa favorita.
Quando me sentei. Dustin apareceu de trás do balcão e sentou-se na
cadeira à minha frente.
— Olá, senhora chefe, — ele me cumprimentou, deslizando um
mochaccino gelado.
— Obrigado, senhor chefe, — respondi timidamente.
— Quando nossa primeira vítima chega? — Ele perguntou.
— Meu primeiro assistente em potencial chega em... — Eu verifiquei o
Rolex em meu pulso. — Cinco minutos.
Expulsei Dustin para poder revisar minhas anotações e, quando ergui
os olhos novamente, vi um menino tímido perto do balcão que parecia
totalmente perdido.
Eu acenei para ele.
— Você deve ser o Tom!
O menino ficou vermelho como um tomate por cima do nó da
gravata.
— O-oi, Sra. Knight.
— Me chame de Angela. — Eu sorri e ele sentou-se à minha frente. —
Então li em sua inscrição que você coordena todas as viagens da equipe
de debate da faculdade. Que interessante! Diga-me o que você gosta
sobre planejamento.
Ele pigarreou, afrouxando a gravata. Eu tentei fazer minha cara mais
bonita, mas eu estava claramente intimidando esse pobre garoto.
— Eu, uh... eu gosto... quando paramos no McDonald's no caminho de
volta para o campus?
Dustin apareceu atrás de Tom e colocou um cappuccino na frente
dele. Meu amigo mostrou a língua e passou o dedo pela garganta.
As próximas entrevistas foram tão trágicas quanto a primeira, e
Dustin deu seu selo de desaprovação a cada vez.
Finalmente, tive apenas mais uma reunião e rezei para que essa garota
fosse a escolhida.
— Angela Knight? — Uma voz me chamou enquanto eu folheava
minhas anotações, a maioria delas apenas grandes e gordos — Não —
escritos repetidamente.
— Oh! Calla Lily? — A garota diante de mim era doce, sorria e seu
aperto de mão era forte.
Ela tinha cabelo loiro encaracolado e pilhas de pulseiras de sementes
em ambos os pulsos. Seu visual era descolado, mas ainda profissional. Eu
estava gostando de tudo.
— Sente-se, — praticamente cantei. — Você poderia me falar um
pouco sobre você?
— Eu adoraria! — Ela começou. — Bem, eu sou extrovertida, então
fico energizada por estar perto de outras pessoas... e nada me deixa mais
feliz do que criar um espaço onde as pessoas possam se reunir e se
expressar.
Essa garota estava falando minha língua. Fiquei emocionada.
— Eu também sou assim! — Eu jorrei. — Conte-me sobre um evento
que você planejou recentemente. Talvez algo com o grupo ambientalista
que você mencionou?
Dustin colocou um branco liso na mesa diante dela e demorou-se para
ouvir sua resposta.
— Bem. no meu coven, oferecemos uma grande festa a cada lua cheia
e convidamos todos os grupos pagãos e satanistas locais... — Eu
praticamente cuspi meu café e Dustin sufocou uma risada. Seus olhos
estavam arregalados de exasperação e ele balançou a cabeça lentamente.
Suspirei, olhando para a doce e sorridente garota diante de mim,
sabendo que ainda não tinha encontrado minha assistente perfeita...
Meia hora depois, saí do café e decidi dar uma longa caminhada pelo
parque. Eu sabia que seria um desafio encontrar uma assistente, mas não
pensei que seria tão difícil!
O Central Park estava cheio de ciclistas, famílias e empresários em
seus intervalos para o almoço. Todo mundo estava curtindo o sol.
De repente, ouvi o lindo som de um violino. Por capricho, segui a
música, que terminou quando me deparei com um grupo de jovens
aplaudindo sentados em cobertores de piquenique.
Ao lado deles, uma mesa estava cheia de bandejas de charcutaria,
queijos e crudités.
Aproximei-me de sua reunião e observei uma jovem com um longo
vestido amarelo agradecer a todos por terem vindo e convidar os outros
para saborearem a comida. Suas amigas aplaudiram e assobiaram,
agradecendo por seu trabalho árduo.
Enquanto os convidados formavam uma fila ao lado da mesa de
refrescos, a garota de vestido amarelo afastou-se para o lado e sorriu,
admirando seus esforços.
Eu sabia que precisava falar com ela.
— Com licença, — chamei atrás dela. Ela se virou e sua expressão foi
calorosa e aberta. — Não quero incomodar você..., mas não pude deixar
de admirar este lindo evento!
Eu estendi minha mão e apertamos.
— Eu sou Angela Knight.
— Eu sou Zoe, — ela disse, claramente imperturbável pelo meu nome.
Talvez ela não tivesse ouvido falar dos Knights... o que a tornava uma
candidata ainda mais atraente.
Limpei minha garganta, de repente nervosa. Eu sabia que essa garota
era perfeita.
— Vim aqui porque também sou produtora de eventos, — disse eu,
esperando não estar muito ansiosa. — E na verdade... estou procurando
uma assistente...
Capítulo 7
Fechando o negócio

XAVIER

— Não se preocupe. Dave! Tem mais de onde veio isso, — eu gritei


enquanto derramava alguns dedos de Jameson Gold em seu copo.
Claro, o trabalho não andava fácil ultimamente. Mas aqui estava eu,
fazendo o que fazia de melhor...
Fechando a porra do negócio.
Uma estação de esqui, montanha incluída, era exatamente o que a
Knight Enterprises precisava para chegar ao próximo nível de serviço de
luxo. E nos Alpes suíços, nada menos.
Eu estava perto de torná-lo meu.
Sentei-me casualmente na minha mesa, de frente para os dois
empresários reunidos em meu escritório de canto.
— Um brinde aos Alpes! — Eu brindei. Todos nós batemos nossos
copos juntos. Depois de tomar um gole, continuei: — E a muitas viagens
de esqui com as esposas — hein, meninos?
Eles aplaudiram, comendo tudo.
Foi muito fácil. Eu sabia o que os homens queriam ouvir, e era uma
combinação bem simples de bebida fluindo e notas sussurrando. —
Minha esposa não suporta o frio, — reclamou Joseph, estudando seu
punhado de anéis de ouro.
— Então, leve a amante! — Dave gritou, batendo em suas costas.
Todos nós gargalhamos até ficarmos com o rosto vermelho.
Claro, eu era um novo homem agora — leal à minha esposa, em
contato com minhas emoções e assim por diante — mas esses caras não
precisavam saber disso.
— Agora, senhores, — eu comecei, pronto para ir para a matança. —
Podemos conversar sobre números por um minuto?
— Não tão rápido aí, — Dave disse, esvaziando seu copo. — Vamos
tomar um shot, X. O que você acha?
— É claro! — Eu concordei, embora em minha cabeça eu amaldiçoasse
o desgraçado. Ele não ficaria satisfeito até que eu tropeçasse em um
estupor de embriaguez. Terminei meu copo e enchi os nossos dois com
uísque.
— Não tão rápido, X! — Dave gritou, abaixando-se sobre um joelho.
— Você vai se ajoelhar para isso! Assim como meus irmãos costumavam
fazer na Alpha Delta Phi!
Puta merda.
Eu não estava com vontade de reviver as fantasias da fraternidade de
Dave. mas me ajoelhei ao lado dele e soltamos um barulhento — Saúde!
Com minha cabeça inclinada para trás, ouvi a porta do meu escritório
se abrir. Quase cuspi minha dose quando abaixei meu copo — Penny
acabara de entrar na sala.
— Penny?! — Eu lati.
— Olá, cavalheiros. — Ela sorriu, caindo no assento de couro livre e
cruzando as pernas bem torneadas na altura dos joelhos. — Joseph, é
bom ver você de novo.
— Você também! — O pobre coitado deixou escapar. Seus olhos
percorreram seu corpo, seu modesto vestido casual de negócios
insinuando o corpo bem torneado que ela tinha por baixo.
Voltei para o meu lugar na minha mesa, cruzando os braços sobre o
peito e desejando que a sala não girasse.
Levei toda a minha compostura para não gritar com Penny para ir
embora.
Eu vi o que ela estava fazendo.
Penny geralmente era uma garota quieta e reservada — pelo menos
até ela subir ao palco. Pude ver que ela estava canalizando a mesma
energia nesta reunião.
E esses pobres filhos da puta estavam caindo na armadilha.
Decidi apenas continuar a reunião como se ela não estivesse lá.
— Então, vamos voltar ao assunto. Os números... — Comecei.
— Oh, Xavier, isso não é divertido, — Penny interrompeu.
Quem essa vadia pensava que era? Fumaça deve ter saído dos meus
ouvidos de tanta raiva.
— Eu prometi a Joseph que contaria a ele nossos planos para o spa, —
ela continuou.
Os dois homens estavam prestando atenção em cada palavra dela. Eu
dificilmente poderia dizer a ela para dar o fora.
Tudo bem então. Eu jogaria o jogo dela e melhor. — Oh, sim, — eu
disse. — A reforma que planejamos vai revitalizar totalmente o espaço
existente. Pense em mais vidro, mais lareiras, tudo branco como a neve
fora das janelas do chão ao teto.
Os homens acenaram para mim com aprovação antes de seus olhares
voltarem naturalmente para as panturrilhas nuas de Penny.
— Precisamente. E poderemos utilizar a água do vizinho Lago Moritz,
criando uma piscina coberta de água doce — a única desse tipo em toda a
Suíça!
— Ooooh, — Joseph jorrou. — Isso é simplesmente fantástico. Penny.
Jesus Cristo. Revirei os olhos.
— Nós também pensamos assim. — minha antiga paixão concordou.
— Tudo bem. tudo bem. Podemos conversar sobre negócios agora, —
afirmou Dave.
Finalmente. Inclinei-me, pronto para ele dizer o número...
— Podemos vender a propriedade por trinta milhões e, no futuro,
dividiremos o lucro em setenta por cento para você e trinta por cento
para nós.
Perfeito. Os números tocaram em meus ouvidos como sinos. Parecia
uma doce vitória.
— Vamos levar...
— Vamos levar algum tempo para olhar outras propriedades, — Penny
interrompeu. — Não estamos dispostos a aceitar uma participação de
setenta por cento, mas agradeço a dedicação de seu tempo, senhores.
Puta. Que. Pariu!
Quem essa mulher pensava que era? Eu pulei da minha mesa,
clamando por uma maneira de salvar o negócio.
— Gente, eu... — comecei, mas não tinha certeza do que dizer. A boca
de Dave estava aberta em choque. Joseph procurou o rosto de seu
parceiro de negócios.
Penny estava de pé, alisando sua saia.
Enquanto eu olhava para ela, ela piscou.
— Foi bom vê-los novamente, senhores, — ela disse, conduzindo-os
para fora da porta. — Vocês ouvirão de nós em breve.
Joseph e Dave partiram em estado de choque e álcool. Assim que as
portas se fecharam, me virei para Penny, pronto para soltar algumas boas
palavras.
Ela desabou na cadeira de couro com um grande suspiro.
— Ugh, não acredito que conseguimos isso! — Ela disse.
Ela abanou as bochechas vermelhas com as mãos.
— Eu nunca realmente fechei um negócio antes.
Claro, eu pratiquei. mas é muito diferente quando estou sozinha no
meu quarto de pijama... — Ela riu, balançando a cabeça maravilhada.
Por um segundo, fiquei sem palavras.
Era como se ela fosse uma pessoa diferente.
— Fechado um negócio?! — Eu exigi. — Está mais para ter arruinado!
O que diabos você está pensando?!
— Huh? — Os olhos de Penny estavam arregalados de confusão. —
Nós conversamos sobre isso ontem, Xavier. Estávamos executando a
rotina de mocinho e bandido, certo?
Do que ela está falando?
Minha expressão foi aparentemente toda a resposta que ela precisava.
Ela pareceu murchar, sua excitação desaparecendo.
— Você não estava ouvindo, estava? — Um olhar de preocupação
brilhou em seu rosto. — Oh meu Deus, se você não sabia, deve ter
parecido que eu atropelei você. Puxa, Xavier, sinto muito.
Eu respirei fundo enquanto pensava em ontem.
Eu me lembrava vagamente de uma reunião que tivemos..., mas estava
distraído. Eu tinha um monte de merda com que lidar, e a inserção de
Penny na empresa não foi uma coisa fácil de se acostumar.
— Está tudo bem, eu acho... — Penny suspirou. — Confie em mim,
ok? As coisas irão funcionar.
Ela se levantou e me deixou sozinho fumando.
Confiar em Penny?
Isso era definitivamente algo mais fácil de dizer do que fazer...
ANGELA

— Então, este é o lugar da Marlena. — Eu inclinei a tela na direção de


Zoe. — Olha só essas esculturas que ela fez há alguns anos! Elas não são
loucas?!
Minha nova assistente e eu olhamos para o meu MacBook, cativadas
pelos monstros de silicone fluorescente que Marlena havia criado.
— Incrível. E olhe! Eles eram enormes! Há uma foto de Marlena ao
lado deles.
Um híbrido de hipopótamo-coelho amarelo neon estava praticamente
no queixo de Marlena. A artista olhou maliciosamente para nós por trás
de seus óculos vermelhos característicos.
Eu sorri para Zoe. Ela ainda estava olhando para o trabalho de
Marlena, e seu entusiasmo genuíno me emocionou.
Quando ofereci o emprego a Zoe no parque, ela aceitou
imediatamente. Eu a convidei para ir até a cobertura para um café e um
planejamento, para que pudéssemos conversar sobre os detalhes do
trabalho.
Bem, eu disse — apartamento — quando a convidei, então Zoe ficou
naturalmente surpresa com o quão... confortável o lugar era.
— Olha, o único evento que tenho no momento é a inauguração da
galeria..., mas espero ter mais trabalhos em breve. Que tal eu pagar a
você apenas pelo primeiro mês e depois partirmos daí?
Zoe acenou com a cabeça. — Isso parece ótimo.
— Ótimo. Portanto, o trabalho será de meio período, cerca de vinte
horas por semana, mas às vezes mais. O que você acha de três mil dólares
por mês?
Zoe mal conseguiu esconder sua expressão de choque. Eu sabia que
era muito dinheiro, mas queria ajudar essa jovem.
— Isso é tão generoso da sua parte.
Dei de ombros. — Então, agora que está resolvido, vamos falar do
evento!
Peguei meu caderno e examinei minhas tarefas.
— As pinturas de Marlena precisam ser esticadas na galeria, então
vamos precisar de uma grande equipe técnica...
Eu estava prestes a digitar uma pesquisa no Google quando Zoe falou.
— Oh, eu conheço uma equipe grande! Meu irmão mais velho tem um
negócio de manuseio de arte.
— Que fantástico!
— Ele adoraria ajudar, tenho certeza. Vou mandar uma mensagem
para ele agora.
Fiz uma verificação ao lado da minha nota de — manuseio de arte.
— Você tem uma família muito talentosa, — eu disse. — Meus pais
são músicos, — explicou ela, — e sempre nos incentivaram a ser
criativos.
— Como o show que você organizou no parque outro dia! — Eu sorri.
— Você também toca algum instrumento?
— Não, eu só gosto de ouvir, — Zoe disse. Então ela corou. — Mas eu
adoro dançar. — Eu não pude deixar de ficar encantada com a jovem.
Seus olhos castanhos eram honestos e ela era claramente humilde,
embora fosse tão capaz.
Eu poderia dizer que Zoe era tímida, mas ela era jovem. Ela me
lembrou de mim mesma alguns anos antes. Tão animada...
— Eu também adoro dançar! — Eu gritei. — Bem, meu marido e eu
amamos o bolero.
Ela deu uma risadinha. — O bolero é super divertido.
— Então, eu vou deixar você ir pra casa por hoje, — eu disse,
levantando da minha cadeira e puxando-a para um abraço rápido. —
Muito obrigada pelo seu trabalho árduo! Eu não posso te dizer o quão
sortuda eu sou por ter te encontrado. Você está livre para se encontrar
novamente amanhã?
Ela concordou, e então eu a acompanhei até o elevador e a liberei.
Sozinha no meu apartamento, eu praticamente pulei de volta para a
mesa da sala de jantar. Eu senti que encontrei a assistente perfeita. E eu
tinha que admitir — eu adorava ser chefe!
Foi incrível dar a alguém a oportunidade de guiar uma jovem
promissora por meio de um projeto.
Suspirei feliz, recostando-me na cadeira.
Decidi abordar mais uma coisa na minha lista de tarefas a fazer e
peguei meu telefone.
Angela: Oi, garota! Como você está?

Em: Ei

Em: Deus

Em: Tão cansada

Em: Mas bem

Em: Deus

Em: Tão cansada

Em: Mas bem

Angela: Tenho uma pergunta para você!

Angela: Envolve flores

Angela: Você teria interesse em fazer arranjos para a inauguração


de uma galeria de arte que estou planejando?

Angela: Vai ser incrível!

Em: Uh...

Em: Acho que não, Angie. Eu sinto muito.


Em: Eu só quero focar em Bella agora.

Em: Espero que você entenda!

Angela: Claro
Coloquei meu telefone virado para baixo sobre a mesa.
Eu entendi bem? Claro que sim, em teoria. Mas então por que me
senti triste de repente, depois de estar tão feliz? E por que eu me sentia
tão longe da minha melhor amiga e cunhada?
Porque embora ela estivesse apenas em Nova Jersey, estávamos em
lugares totalmente diferentes agora. E eu não tinha percebido isso. Em
estava casada, mas eu também. E Xavier e eu também planejávamos
construir uma família.
Claro, Em teve um bebê, e isso mudou tudo. Talvez eu simplesmente
não tenha percebido o quanto...
Em parecia tão disposta a deixar de lado um grande trabalho para
passar mais tempo com a Bella. Em breve eu poderia deixar minha
carreira de lado? Bem quando estava começando a decolar?
Eu balancei minha cabeça e me levantei da mesa. Eu estava pensando
muito.
Olhando para a cobertura banhada pelo sol do meio-dia, eu sabia
exatamente o que poderia me distrair.
Xavier e eu tínhamos organizado os diários de Brad em uma estante
especial. Como se estivesse atraída por um ímã, caminhei em direção a
eles.
Peguei um livro de couro fino e abri em uma página aleatória. Eu
imediatamente engasguei. Nada poderia ter me preparado para as
primeiras palavras do diário de Brad...
Capítulo 8
Diário de Brad

BRAD

07/09/1980, Martha's Vineyard


Eu não posso acreditar que aquela vadia da Amélia me venceu na Regata.
Lembrei-me dela imediatamente. A garota que conheci no Central Park!
Mas eu não conseguia acreditar que estava vendo ela aqui.
Tenho que admitir, quando a vi parada na doca, nem pensei que ela
estava na competição.
Achei que ela fosse a namorada de alguém ou a modelo que o clube de vela
contratou para entregar o troféu. Ela tem pernas de um quilômetro de
comprimento e cabelos castanhos que usava soltos, balançando em volta da
cintura.
Então, quando a vi subir em seu Sunfish, meu primeiro pensamento foi:
bem, espero que ela seja solteira.
Mas então eles dispararam a arma e todos nós saímos. Ela estava sempre à
minha frente, então eu tive que vê-la puxar as cordas com aqueles braços
bronzeados e oleados que brilhavam ao sol, seu corpinho ágil quando se
dobrava repentinamente na cintura ou nos joelhos...
Desnecessário dizer que eu não estava prestando a maior atenção ao meu
próprio barco. Ela é uma ótima marinheira também. Ela chegou em primeiro
lugar, comigo em segundo.
Subi no cais atrás dela e coloquei de lado meu orgulho na esperança de
conseguir um encontro.
Mas ela não prestou muita atenção em mim.
Enquanto eu a parabenizava, tirando meus óculos de sol, ela me olhou
como se já conhecesse gente como eu: arrogante, rico e esperando vencer a
competição.
Eu nem tive tempo de perguntar a ela quanto tempo ela ficaria na ilha,
muito menos se eu poderia levá-la para sair, porque seus amiguinhos vieram
correndo e gritando, pulando para cima e para baixo.
Então Walt, Joe e Tommy vieram de Yale para me dar os parabéns, mas
principalmente para dar uma olhada mais de perto na garota marinheira e
seu grupo de amigos.
Chamei o grupo para perguntar se eles iriam para a festa mais tarde. Suas
amigas bobas disseram que não perderiam, mas Amélia não disse nada.
Todos nós fomos ao Tommy para comemorar antes da festa. Estávamos
bebendo o uísque de seu pai e conversando sobre começar em Wall Street.
Tenho sorte porque posso ir direto com meu pai. Vai ficar tudo bem com o
petróleo, mas até o papai sabe que quero começar algo sozinho assim que
colocar os pés no chão.
Eu tenho meu grande plano, que é trabalhar minha carreira na Knight
alguns anos antes de seguir meu próprio caminho. Papai diz que
hospitalidade é um negócio brutal, mas acho que me convém.
Enfim, mais tarde naquela noite foi a festa no iate clube.
Mamãe estava lá, e suas amigas me bajulavam como sempre fazem, mas
papai me chamou de lado e exigiu saber por que eu consegui o segundo lugar
O que eu poderia dizer a ele? Que alguma garota bonita me distraiu? Eu
nunca ouvir ia o fim disso.
Depois de sair dessa, ajudei o pessoal a fazer uma fogueira na praia e
então todos os jovens desceram.
Eu estava bebendo cerveja e esperando pela Amélia. Finalmente, ela
apareceu, usando um vestido curto branco com gola. A roupa dela me
distraia ainda mais do que o short que ela usava no veleiro.
Ela estava cercada por seus amigos. Eu queria falar com ela, mas então
Walt me passou um baseado e eu fiquei com vergonha.
Finalmente, eventualmente, sentei-me ao lado dela em um tronco de
madeira flutuante.
Ela olhou para mim como se soubesse que eu iria sentar ao seu lado, como
se fosse apenas uma questão de tempo.
Quando perguntei, ela disse que foi para a escola em Vassar e estudou
história da arte. Eu disse a ela que acabei de terminar em Wharton e que
estou me mudando para Manhattan.
Eu estava pensando sobre o quão perto Vassar é da cidade, mas eu não
disse isso, é claro.
Acontece que ela está aqui em Vineyard com sua amiga de faculdade. Sua
família passa o verão em Cape Cod.
Eu perguntei a ela se ela já tinha ido ao Bonnie's e ela disse que não, e eu
disse, bem, sua amiga não é muito boa então, porque Bonnie's tem o melhor
sorvete do mundo!
Ela sabia para onde eu estava indo com tudo isso, e ela apenas sorriu. Ela
tem esse jeito de te mostrar tudo e nada com seu sorriso.
Então eu disse a ela que poderia levá-la no dia seguinte se ela quisesse, e
ela disse que claro.
Isso é hoje. Vou buscá-la em algumas horas.
07/10/1975, Martha's Vineyard
Ontem à noite foi meu primeiro encontro com Amélia.
Quando desci para a cozinha à tarde, mamãe perguntou se eu estava
saindo para encontrar uma garota. De alguma forma, ela sempre notava.
Talvez porque eu penteio meu cabelo.
Eu disse a ela que sim, mas não diria quem. Contudo, se esta noite corresse
bem, talvez eu a convidasse para jantar algum dia.
Isso deixou minha mãe muito feliz.
Quando eu finalmente sai, foi um daqueles dias perfeitos em que as
nuvens eram grandes e fofas, mas nunca bloqueavam o sol.
Subi a longa entrada para a casa de Seymour. Peguei as escadas até a
varanda e bati.
Amélia abriu a porta e fechou-a rapidamente atrás dela, como se ela não
quisesse fazer uma cena com a minha presença. Eu entendi, já que ela é sua
convidada e tudo mais.
Ela ficou quieta no início, na garagem. Era apenas o som de seus chinelos
e meus sapatos de barco. Fiquei nervoso porque não teríamos um bom tempo
juntos.
Mas então, quando estávamos caminhando por alguns minutos,
começamos a falar sobre vela, e seu cachorro em casa, e as aulas que ela
queria ter no próximo semestre.
Fizemos uma longa caminhada até a sorveteria, o que me serviu muito
bem.
Então estávamos na sorveteria e eu paguei por tudo, é claro. Eu comprei
um sundae com calda de chocolate quente e ela acabou comprando um cone
de chocolate.
Nós conversamos sobre a faculdade enquanto comíamos. Ela disse que
seus amigos da escola eram diferentes de seus amigos em casa. Eu disse que os
meus eram iguais. Eu nunca tinha pensado nisso antes, mas era verdade.
Ela ficou pensativa ou triste por um minuto, o que me deixou nervoso. Foi
difícil para mim entendê-la. Talvez ela estivesse pensando em como éramos
diferentes, quando eu não achava que éramos tão diferentes.
Mas o momento passou e estávamos nos divertindo novamente.
Caminhamos até o porto e segurei sua mão. Estava quente.
Eventualmente, o sol se pôs, e ela me disse que deveria voltar.
No caminho para a casa dela, eu estava pensando em quando poderia
beijá-la. Sua porta era a escolha óbvia, mas ela tinha sido tão rápida ao sair
que eu me preocupei que ela corresse para dentro.
Decidi pela caixa de correio, mas então a caixa de correio veio e foi
embora. Ao nos aproximarmos da casa, perguntei se ela gostaria de vir jantar
comigo algum dia.
Ela me deu aquele sorriso de quem já sabe algo de novo e disse OK.
Com certeza, a amiga dela estava na varanda quando voltamos. Eu
definitivamente não poderia beijá-la, e Amélia mal olhou para mim quando
disse adeus.
Voltei para casa olhando as estrelas e me sentindo um pouco incerto. Não
sei o que é, mas hoje também não consigo parar de pensar em Amélia.
XAVIER

Eu estava tão agitado, mesmo depois do meu longo intervalo para o


almoço, que subi as escadas de volta ao escritório.
Bem, eu subi as escadas para os primeiros oito andares, e então entrei
no elevador para os vinte restantes.
Em minha defesa, meu estômago estava cheio de ostras e caranguejos.
Depois que Penny estourou o maldito negócio da Suíça, eu precisei
sair do escritório antes que eu estourasse algo.
Eu tinha ido ao restaurante de frutos do mar que meu pai sempre
amou, pensando nele enquanto eu engolia os bivalves crus... e tomava
uma vodca, ou duas.
Tentei descobrir como meu pai teria reagido.
Ele ficaria orgulhoso de mim por levar uma hora para se acalmar, eu
sabia. Mas acabei resolvendo que mesmo meu pai sensato não aceitaria
tal anarquia. Em seu próprio escritório, nada menos!
Tentei me lembrar desse suposto plano de jogo que Penny havia
mencionado.
Quando eu concordei em fechar um negócio lado a lado com ela?
Eu estava seriamente distraído o suficiente para concordar com algo
tão estranho sem nem mesmo perceber?
Eu era Xavier Knight.
Eu nunca precisei de ajuda.
Quanto mais eu pensava nisso, mais convencido eu ficava de que
Penny estava apenas brincando comigo.
Isso, ou eu posso ter bebido muitos seltzers de vodca no almoço.
Não, eu não podia ficar parado enquanto Penny destruía o nosso
objetivo!
O elevador abriu e eu corri para o escritório da Knight Enterprises
como um touro vendo uma capa vermelha. E Penny era a porra do
toureiro.
Abri a porta do escritório de Penny sem bater, encontrando-a parada
perto de uma janela, olhando para o horizonte de Manhattan. Ela parecia
estar acabando de desligar o telefone.
— Como você ousa... — Comecei com um grunhido, minhas mãos
endurecendo em punhos.
Mas antes que eu pudesse realmente me soltar, ela pulou de alegria e
veio correndo para um abraço.
— Xavier! — Ela explodiu, sua voz ecoando pela sala espaçosa. —
Conseguimos! Fechamos o negócio!
Meus músculos ficaram tensos, a raiva que eu sentia desapareceu de
puro choque. Eu mal pude registrar que minha ex-companheira-de-foda-
agora-madrasta estava me abraçando.
Que pensamento maluco é esse...
— Nós o quê? — Perguntei.
— O negócio da Suíça! Conseguimos! — Ela deu um passo para trás
para olhar para mim, seu rosto se iluminou de pura emoção. — Alô?
Xavier?
Ela acenou com a mão na frente do meu rosto, então estalou algumas
vezes para garantir.
— Os detalhes? — Eu engasguei, incapaz de formar uma frase
completa.
— Oitenta e vinte, — ela sorriu com orgulho. — A nosso favor, é claro.
Minha mente girou.
Oitenta?
Esses números eram inéditos.
Impossível
Nenhum empresário sensato concordaria com tais termos.
Mas aparentemente...
— Joseph é um fofo. — Ela riu. — Eu poderia dizer que ele realmente
queria que o negócio acontecesse também. Ele só precisava de um
pequeno choque para lembrá-lo de que ele poderia perdê-lo...
Sua voz sumiu enquanto ela me encarava.
Talvez porque eu estava olhando para ela como se ela fosse uma
pessoa louca.
— Hum. — Ela hesitou. — Eu deveria ter tentado oitenta e cinco por
cento?
— Não, — eu disse. — Não, isso é...
Bom pra caralho.
— Nada mal, — eu terminei desajeitadamente.
Penny sorriu, cheia de orgulho.
— E também abre um novo precedente. Podemos abrir com oitenta
por cento como nosso ponto de partida a partir de agora. — Ela se virou e
foi até a janela, olhando para a vista impressionante de Nova Iorque.
— Estou tão feliz por finalmente poder colocar meu diploma em
prática. — Ela suspirou. — Formamos uma grande equipe, Xavier.
Eu fiz uma careta.
Ela continuou insistindo que faríamos isso juntos. Que esse era um
plano que tínhamos feito. Mas eu não conseguia me lembrar de
concordar com nada disso.
Foi tudo Penny.
Ela fez um negócio melhor do que eu.
E isso me irritou pra caralho.
O velho Xavier Knight teria visto a possibilidade imediatamente.
Eu estava distraído.
Eu estava ficando mole.
— Certo, — eu disse. — Bem, estou feliz que seu plano não tenha nos
ferrado.
Com isso, deixei seu escritório. Quando voltei ao meu, fiquei
encostado na porta, suando.
Eu precisava me recompor.
Ou então Penny pegaria a Knight Enterprises bem debaixo do meu
nariz.
Capítulo 9
A exposição de Marlena

ANGELA

Enquanto eu olhava para a galeria por cima da minha taça de martini,


percebi que estava me acostumando com esta sensação:
Orgulho.
Meu coração estava tão grande quanto um marshmallow no micro-
ondas.
Até eu tive que admitir que me superei com este evento. Rupert estava
bebendo o coquetel exclusivo da noite, o Marlena Martini, e uma
multidão se reuniu ao redor da mesa de mercadorias para comprar uma
cópia do trabalho do artista.
Zoe estava sorrindo e conversando com Marlena.
Eu sabia que minha nova assistente era uma grande parte do motivo
do sucesso do evento.
Nos últimos dias. Zoe e eu passamos incontáveis horas no espaço da
galeria. Éramos curadoras, além de produtoras, ajudando Marlena a
decidir onde suas peças deveriam ser penduradas depois que as telas
fossem esticadas novamente.
O trabalho de Marlena parecia incrível no espaço aberto da galeria.
Sua exposição foi intitulada — Os amigos da senhora Liberdade — e
apresentava representações alegres e coloridas de — Mademoiselle
Magnificence — e — Senor Sovereignty, — entre outros.
— Outro evento fantástico, — uma voz baixa sussurrou em meu
ouvido.
— Xavier! — Eu falei, girando para abraçar meu marido. Ele ainda
estava com o temo do escritório e seu cabelo estava um pouco
despenteado, o que só o deixava mais sexy.
Ele me beijou, passando os dedos pelo meu cabelo, que eu usei solto
para um look mais casual. Afinal, estávamos no Village.
Eu senti olhos em nós. Esse era outro sentimento com o qual eu
estava acostumada.
— Olhe para os pássaros do amor! — A voz do meu pai soou e eu me
virei para vê-lo se aproximando de nós com Em e meus irmãos ao seu
lado.
— Ei. mamãe! — Eu a cumprimentei, puxando-a para um abraço. Eu
apertei os ombros da minha melhor amiga. Ela parecia exausta, mas
estava usando maquiagem, que eu não a via usar há semanas. — Esta é a
minha primeira vez desde o bebê, — ela jorrou, — e estou tão feliz por
você ter escolhido martinis de cranberry para o evento, não posso nem
dizer o quanto a você.
— Esse é o Marlena Martini para você, — brinquei. — Mas fiquei feliz
em saber que era sua bebida favorita também!
Nos acomodamos em nossa conversa familiar, Xavier perguntando ao
meu pai sobre os consertos no deck e Em divulgando as dificuldades da
amamentação.
Depois de alguns minutos, me afastei para encontrar Marlena e
Rupert. Com certeza, estavam rindo juntos na frente da pintura de
Marlena da estátua da liberdade usando um biquíni, subindo de volta em
seu estande na Baía de Nova Iorque. — Parabéns a vocês dois! — Eu
disse. — A inauguração é um grande sucesso.
— Oh, querida! Tenho que te agradecer! — Marlena jorrou, seus olhos
brilhando por trás da moldura vermelha. — E você, meu caro amigo!
Eu observei enquanto Marlena e Rupert se abraçavam.
Quando a festa do amor acabou, Rupert se virou para mim.
— Sério, Angela, você tornou este evento tão perfeito para mim! Posso
me concentrar no que realmente importa... a arte! Já vendemos cinco
pinturas!
— Uau! — Eu exalei. Eu nem queria perguntar quanto custava uma
Marlena Marlboro.
— Oh! Hannah! Por favor, conheça a Angela, extraordinária
produtora de eventos.
Rupert estava parado ao lado de uma mulher alta usando óculos
escuros dentro de casa. Ela exalava estilo e poder com sua franja dura e
bob.
Eu apertei sua mão e me apresentei, mas a misteriosa mulher não
disse nada. E então, tão rapidamente quanto veio, ela se afastou.
— Quem era aquela? — Perguntei a Rupert.
— Aquela era Hannah Flintour, — ele sussurrou. — Editora-chefe da
revista Vague. Ela está procurando alguém para ajudar na festa de gala
anual. O produtor deles falhou e eles precisam de uma substituição...
Eu levantei minhas sobrancelhas. Que interessante...
Eu peguei o olhar de Zoe do outro lado da sala e acenei para ela.
Pegando martinis da bandeja de um garçom que passava, forneci bebidas
frescas para minha assistente e nossos clientes.
— Para a exposição! E muitos mais! — Eu gritei. Todos nós erguemos
nossas taças.
— Para sua equipe fantástica! — Rupert repetiu.
— Para... como vocês se chamam? — Marlena perguntou, tomando
um gole.
— Uh, eu não tenho um nome ainda, na verdade, — eu disse. Eu não
tinha pensado muito nisso antes.
— Talvez de ‘A Z’, — sugeriu Marlena.
Eventos de A Z. pensei comigo mesma, sorrindo para minha assistente.
Agora, isso não soou nem um pouco ruim.
DUSTIN

No segundo em que coloquei minha bota Jimmy Choo de salto alto no


espaço da galeria, eu soube que Angela tinha feito isso de novo.
Só minha própria exposição era tão cheia de estrelas e glamour,
quando eu era um artista da fome.
Eu ri para mim mesmo, pensando naquela época, praticamente eras
atrás agora, quando eu agarrei um martini e fiz uma pose.
Claro, eu estava com uma roupa que exigia atenção. Usei minha calça
de couro preta mais respirável com uma camisa de botão de linho branco
simples, que enfeitei com uma verdadeira pilha de colares de ouro que
comprei em uma loja vintage no SoHo.
Na minha cabeça, eu usava o chapéu de feltro que a própria Angela
comprou para mim quando estávamos nos tornando amigos. Um chapéu
dourado pode ser considerado brega. mas não do jeito que eu o usava.
— Angie! — Chamei enquanto desfilava pela multidão, com os saltos
estalando. Eu vi seus acenos lindos. Eu reconheceria aquela loira natural
em qualquer lugar.
— Dustie, — ela gritou, retribuindo meu beijo duplo. — Você
finalmente chegou! E esta é exatamente a mulher que eu quero que você
conheça.
Angela deu um passo para trás, alargando o círculo de pessoas, e eu vi
diante de mim a viúva mais fabulosa em que pus os olhos.
Eu a reconheci instantaneamente.
A Marlena Marlboro.
— Marlena, — eu sussurrei, minha boca aberta.
Ela me deu um sorrisinho tímido, como se me reconhecesse como um
dos seus. Mal sabia ela!
— Dustin também é pintor. E é um grande amigo meu.
Segurei a mãozinha decorada de Marlena na minha.
Todas as coisas bonitas que essas mãos fizeram...
— Sim, ouvi falar da sua exposição fabulosa, — murmurou Marlena.
— A notícia de suas pinturas viajou por todo o Atlântico até Berlim!
'Uau! — Eu gritei.
A conversa continuou, mas eu mantive meus olhos nesta criatura
divina, seu batom vermelho brilhante e aqueles óculos adoráveis.
Eu quero ser igual a você quando crescer, pensei comigo mesmo.
— Sabe, eu reconheceria aquele chapéu em qualquer lugar, — disse
uma voz profunda, como se viesse de um sonho.
Afastei-me do círculo para encontrar um homem diabolicamente
bonito parado diante de mim. Perto de mim, devo acrescentar.
Ele tinha penteado seu cabelo encaracolado e seus lindos olhos verdes
brilharam para mim. Engoli em seco.
— Já nos encontramos antes? — Consegui dizer, sentindo como se a
galeria esquentasse alguns graus.
Arrisquei uma olhada para baixo, verificando a roupa do homem
misterioso. Ele usava uma camisa estampada ousada sob um terno de
corte elegante. Eu desviei meus olhos de seus sapatos brilhantes,
admirando sua constituição atlética.
— Não, — disse ele com um sorriso. Um sorriso que quase me fez cair
das botas. — Eu conheço o chapéu...
Eu estreitei meus olhos para ele, levando minha taça de martini aos
lábios e esperando que ele continuasse.
— Eu deveria, afinal, já que sou o homem que o projetou.
— Anthony Jacobs? Em carne e osso? — Eu disse, mostrando a ele meu
melhor ardor.
— De fato, — ele retornou. — E a quem devo o prazer?
— Dustin Stirling, — eu disse. — E o prazer é todo meu.
Anthony estendeu a mão e eu peguei, surpresa com seu aperto firme.
Agradavelmente surpreso, é claro.
— Sabe, Dustin, eu costumava querer esquecer que alguma vez
desenhei um acessório tão desajeitado... — Ele se inclinou, o canto
daqueles lábios perfeitos virando para cima. — Mas eu nunca vi ninguém
usá-lo como você.
O elogio fez meu coração cantar.
— Isso é porque não há ninguém como eu. — Eu pisquei.
XAVIER

Eu agarrei a mão de Angela e a levei para longe do grupo de bate-papo.


Eu já tive o suficiente das apresentações e da conversa fiada... Eu queria
ficar sozinho com minha esposa, mesmo que apenas por um segundo.
— Você sabe que eu não posso sair da festa, — Angela repreendeu,
adivinhando meu plano enquanto eu me dirigia para os banheiros.
— Eu só estou procurando um pouco de privacidade, — eu disse com
um encolher de ombros. Eu fui para atrás de uma parede e nos
encontramos sozinhos.
Passei meus braços em volta da cintura dela e a puxei para um beijo.
Agora isso estava melhor.
Ela se afastou, tocando meu rosto e sorrindo com conhecimento de
causa.
— Espere um pouco, seu safado, — ela rosnou.
Voltamos para a festa e, quando vi quem estava diante de nós, tive
vontade de correr para o banheiro masculino. Mas Angela e eu fomos
vistos.
Era Penny, e ela parecia ter acabado de ver um fantasma.
— Bela exposição. Angela, — Penny conseguiu dizer, tentando sorrir,
mas saiu como uma careta. — Xavier, eu preciso falar com você.
— Angela e eu estávamos prestes a sair... — Eu disse com os dentes
cerrados, pronto para fugir do lugar, mesmo se eu tivesse que pular por
uma janela.
— Não posso esperar! — Ela deixou escapar.
Eu estava prestes a conduzir Angela pela galeria pela terceira vez, mas
minha esposa se recusou a se mover.
— O que é, Penny? — Ela perguntou.
Penny olhou entre nós antes de suspirar.
— O valor das nossas ações despencou durante todo o mês. Não
divulgamos informações sobre nosso novo acordo, e o mercado presumiu
que estávamos estagnando sem Brad... — Penny explicou, recuperando o
fôlego antes do golpe devastador final.
— Alguém arrebatou uma participação de trinta por cento da Knight
Enterprises. Foi Henry Knight. Seu primo acabou de comprar um lugar
no conselho.
Capítulo 10
Uma vista de milhões de dólares

XAVIER

— Querido! — Angela chamou da cozinha.


Eu estava tirando os sapatos de trabalho quando ela veio correndo,
com o vestido e o avental esvoaçantes, os chinelos voando, quase me
jogando no chão.
Seu entusiasmo me fez sorrir, mesmo depois de um dos dias de
trabalho mais longos da minha vida.
Jazz estava tocando na cozinha. Senti um cheiro delicioso. Eu sabia
que era sua famosa lasanha.
— Alguém está feliz em me ver, — observei.
— Eu poderia dizer a mesma coisa, — resmunguei.
Ela me segurou pelos ombros e me olhou penetrantemente. Eu sabia
que ela queria ouvir o que estava me incomodando...
Mas contar a ela sobre o longo dia no escritório seria como reviver
tudo de novo.
Eu não queria mais pensar em Penny pairando fora do meu escritório
como uma abelha e esperando o pior.
Caramba, foi tão doloroso pensar nisso à tarde, Henry entrou no
escritório da Knight Enterprises como se fosse o dono do lugar, gritando
por mim como se tivesse comprado os outros setenta por cento da minha
empresa.
Só a memória já me fez estremecer.
Eu não consegui me igualar ao entusiasmo de Angela. Saí para o nosso
quarto para tirar o temo.
Talvez se eu colocar algo mais confortável, me sinta mais confortável
também.
Ela seguiu em meus calcanhares, esperando enquanto eu colocava
minha calça de moletom.
Quando estava vestido, gemi, caindo de barriga na cama. Angela
aninhou-se ao meu lado. Passei meus braços em volta de seu corpinho
quente.
Eu beijei suas bochechas até os lábios.
— Você está bebendo vinho? — Perguntei.
— Sim, — disse ela com um sorriso, beijando minha têmpora, — e o
jantar está quase pronto.
— Mmmmmm.
— Talvez você se sinta melhor depois de comer, — sugeriu ela. —
Além disso, Xavier, você realmente deveria ler os diários de Brad! Eu li
algumas páginas, e elas me surpreenderam. Eu me senti tão perto dele.
Eu fiz uma careta.
— Não sei...
Ainda era muito cedo para mim. Eu não acho que poderia suportar a
dor de me sentir perto dele, sabendo que nunca estaríamos fisicamente
juntos novamente.
Angela não me forçou. Fomos para a sala de jantar, onde a mesa já
estava posta. Longas velas tremeluziam em seus suportes de prata sobre
uma toalha de mesa branca imaculada.
Eu sabia que deveria estar agradecido, mas não conseguia afastar a
sensação de que a Knight Enterprises estava prestes a ser roubada de
mim.
Como se Penny não bastasse, agora tenho que pensar em Henry também...
— Eu vou pegar a lasanha, — disse Angela, colocando meu
guardanapo no meu colo e enchendo meu copo com um Merlot vintage.
— Tome uma bebida! Isso vai fazer você se sentir melhor.
Ela me beijou na bochecha e eu a observei entrar na cozinha, os
cordões de seu avental amarrados bem acima de sua bunda perfeita.
Tomei um gole, mal provando o vinho, embora fosse luxuoso. Quando
Angela voltou com a caçarola entre as duas mãos, resolvi tirar os
negócios da minha mente o melhor que pude e me concentrar no que
importava: Ela.
Ela serviu um quadrado grande e fumegante no meu prato e depois no
dela. Sentamos juntos em uma das extremidades da enorme mesa de
jantar, comigo na cabeceira e ela ao meu lado.
— Obrigado. Angela, — eu disse, apertando sua coxa sob a mesa.
Ela sorriu para mim com um grande pedaço de queijo na boca.
— Adivinhe, — ela incitou, praticamente saltando em sua cadeira.
— Você é a melhor esposa do mundo? — Eu chutei, fixando-a com
meu olhar mais ardente.
— Não! Fala sério. — Ela deu um tapa na minha coxa, mas também
deu uma risadinha feliz.
— Marlena está apaixonada por você porque a exposição foi muito
boa?
— Oh, por favor. — Ela revirou os olhos. — Se ela está apaixonada por
alguém, é você.
Dei de ombros.
— Uh...
— Ok, eu vou te dizer, — Angela cedeu, deixando o garfo cair no prato
com um barulho. — Todas as pinturas de Marlena foram vendidas na
inauguração!
— Isso é fantástico. — Sorri para mim mesmo, pensando no papel que
tive em sua felicidade e imaginando sua alegria quando a exposição
terminasse e ela recebesse uma entrega especial... Tive de pular para
pegar uma das pinturas de Marlena. Eles foram arrebatados como doces.
Eu agarrei a mão dela que estava segurando a borda da mesa.
— Estou tão orgulhoso de você.
E eu realmente estava.
— Isso não é tudo, — ela continuou. — Conheci uma mulher no
evento chamada Hannah Flintour. Ela é editora da revista Vague. Você já
ouviu falar dela?
Meu queixo caiu. Angela deu uma risadinha de deleite. Claro que já
tinha ouvido falar da mulher. Nós a conhecemos algumas vezes em
eventos de moda na cidade. Flintour tinha a reputação de ser fria e
implacável, e ela não tentava convencer ninguém do contrário.
Dito isso, ela era a realeza da moda. E qualquer um que pudesse
aquecer o coração da rainha do gelo estava feito para o resto da vida.
— Bem. Vague tem uma festa de gala todo ano, e eles estão
procurando por um novo produtor... — Angela continuou, seus olhos
brilhando. — E Rupert disse que ela ficou impressionada comigo!
— Não estou nem um pouco surpreso, minha querida. — Inclinei-me
e beijei sua bochecha.
— Não estou esperando nada, é claro, — acrescentou ela
apressadamente, — mas é simplesmente emocionante.
Mudei meu olhar para o meu prato, que estava vazio. Eu estava
animado por minha esposa, mas também fiquei surpreso que sua carreira
com eventos tenha se tornado tão séria.
Achei que fosse apenas algo para preencher o tempo dela... Quer dizer,
obviamente não precisávamos do dinheiro.
Mas Vague era o negócio verdadeiro; não havia maneira de contornar
isso.
Recostei-me na cadeira, apoiando as mãos na barriga cheia. Eu deixei
meus olhos fecharem.
— Você está cansado? — Angela perguntou, desapontada.
Acho que não fiquei entusiasmado o suficiente com Hannah Flintour.
Mas como eu poderia explicar a ela que a última coisa que eu queria
pensar era no trabalho? Mesmo se fosse dela e não meu?
— Não cansado. Mas eu adoraria deitar um pouco, — eu sussurrei,
olhando para ela.
Ela sorriu, mordendo o lábio. Quem diria que a virgem com quem me
casei se tornaria uma assanhada?
— Isso é tão engraçado, — disse ela, — porque preciso descansar os
pés também.
Esse foi todo o convite de que precisava.
Eu me levantei e peguei a mão de Angela, levando-a para a sala.
Podemos ir para a cama mais tarde.
Agora, eu queria levá-la para a espreguiçadeira.
ANGELA
Xavier e eu ficamos na sala de estar. A única luz vinha do horizonte de
Manhattan que brilhava através das janelas do chão ao teto.
Nosso prédio era o mais alto ao redor, e nós estávamos no último
andar. Devíamos ter a melhor vista de toda Manhattan...
Eu senti como se fôssemos apenas nós dois, no topo do mundo. Foi
totalmente romântico.
E muito sexy.
Xavier olhou para mim como se não pudesse se importar menos com
a vista.
Ele desfez o nó do meu avental e se inclinou no meu pescoço,
mordiscando minha orelha antes de sussurrar: — Eu não posso te dizer o
quanto eu te quero agora.
Talvez fosse a vista — a energia de toda a cidade — mas me senti
estranhamente ousada.
— Então me mostre, — eu disse.
Corri minhas mãos pelo peito firme do meu marido, seu abdômen
tanquinho e, finalmente, até sua virilha. Encontrei seu pau e comecei a
massageá-lo com ambas as mãos, sentindo-o enrijecer sob meu toque.
Xavier gemeu.
— Tire tudo, — ele implorou.
Ele tirou a camisa enquanto eu puxei para baixo sua calça de moletom
de cashmere, caindo de joelhos na frente dele. Sua ereção estava
esticando sob sua cueca boxer preta, mas eu queria continuar a tocá-lo
assim.
Continuei a estimulá-lo com minha mão, explorando seu corpo
enquanto ainda estava escondido para mim. Beijei a trilha de pelo que
descia por seu estômago antes de me mover para baixo, envolvendo meus
lábios em torno de seu membro sólido através do material macio.
Eu pressionei minha língua contra ele até que a umidade o
encharcasse.
— Oh, meu Deus, Angie, — Xavier engasgou, passando as mãos pelo
meu cabelo.
Eu sabia que o estava surpreendendo. Eu estava me surpreendendo.
Mas me senti bem.
Eu me levantei novamente e tirei sua cueca, seu pau sólido como uma
rocha enquanto ele o inclinava em minha direção.
Ele levantou meu vestido sobre minha cabeça e desabotoou meu sutiã.
Ele beijou meus seios, passando o dedo sob a faixa da minha calcinha
antes de tirá-la.
— Eu preciso de você, — ele sussurrou.
Perdido no desejo, tornei-me estranhamente ousada. — Eu preciso de
você também... Deixe-me fazer amor com você.
Não precisei dizer a ele duas vezes. Xavier reclinou-se na
espreguiçadeira e abriu os braços para mim.
Seu corpo perfeito parecia ainda mais irreal na luz fraca enquanto eu
subia em cima dele, montando nele.
— Me pega, — eu sussurrei, e ele correu seus dedos pela minha coxa,
me fazendo estremecer de antecipação. Finalmente, eu o senti contra o
meu lugar mais sensível, onde eu estava encharcada e esperando por ele.
Quando ele gentilmente empurrou seu dedo dentro de mim, eu resisti
contra ele. Os olhos de meu marido em mim, observando-me desfrutar
de seu toque, me fizeram sentir como uma deusa.
Com a outra mão, ele segurou meu seio.
Eu não aguentava mais.
Eu acariciei seu membro uma última vez antes de posicioná-lo sob
mim. E então eu afundei em cima dele.
Finalmente.
Parecia beber água depois de um dia ao sol.
Colocando a peça final de um quebra-cabeça. Era como coçar uma
coceira. Foi perfeito.
Meu corpo assumiu o controle enquanto eu o montava, sentindo suas
mãos na minha cintura. Eu precisava dele mais profundamente, de novo
e de novo.
Senti meus seios balançando, mas não me importei.
Os gemidos de meu marido só me deixaram mais e mais excitada,
aumentando a sensação de calor dentro de mim.
O aperto de Xavier aumentou, e eu sabia que ele estava atingindo seu
pico. Eu estava ainda mais animada porque ele estava se perdendo no
meu ritmo.
Eu era a única no controle.
— Oh, Angela, — gritou ele, — estou quase gozando.
— Eu também. — Eu gemi. inclinando-me para que nossos rostos
ficassem próximos um do outro. Continuei me movendo em cima dele,
sua respiração irregular em meu ouvido. Eu me empurrei nele,
precisando dele cada vez mais fundo.
Seu corpo ficou tenso sob mim, e eu sabia que ele estava prestes a
perder o controle. Isso trouxe a sensação de um clímax dentro de mim, e
juntos nós gozamos, seu pau pulsando dentro de mim enquanto minhas
paredes se contraíam em torno dele.
Minha energia gasta, eu desabei sobre ele, e ele passou os braços em
volta de mim.
— Uau, — ele ofegou.
— Eu sei.
Eu me apoiei em meus braços e sorri para ele, meu cabelo nos
envolvendo em uma cortina de privacidade. Ele ainda estava dentro de
mim.
— Como devemos nomeá-lo? — Ele sussurrou.
Eu estava prestes a pedir um esclarecimento, mas então percebi e
apenas sorri.
— Arlington? Rupert? — Ele sugeriu enquanto eu ria. — Belinda,
Valerie, Madeleine...
— Stella, — eu sussurrei. Eu nunca tinha pensado no nome antes, mas
parecia... certo.
— Stella, — ele repetiu. Ele se sentou e me beijou.
Só então ouvi um toque soando na pilha de roupas jogadas no chão.
Afastei-me de meu marido e estendi a mão para pegá-lo.
Recebi um novo e-mail... de Hannah Flintour.
Abrindo meu telefone com um dedo trêmulo, mal pude acreditar nos
meus olhos.
— Xavier!!! — Eu gritei. — Eu consegui uma entrevista para o Vague
Gala!
Capítulo 11
P lanejamento para a Vague

ANGELA

Dustin entregou dois mechas de hortelã gelados na minha mesa


regular em seu estabelecimento.
A cafeteria estava ainda mais movimentada do que o normal, com
jovens trabalhando remotamente em seus laptops e descolados de
macacão que deviam ter vindo do Brooklyn.
— Obrigada, Dustie.
Eu joguei um beijo para ele antes de voltar para Zoe.
— Ok, então... — comecei examinando minhas anotações. Eu havia
passado o dia anterior examinando as edições anteriores da revista
Vague, recortando fotos e tentando entrar na mentalidade da elite da
moda de Nova Iorque.
— Todos os anos eles escolhem um tema para a sua Gala, — expliquei.
— E o tema tem que inspirar muitos looks diferentes. Afinal, é uma festa
à fantasia.
Passei a detalhar a reunião. — Na próxima semana, terei uma reunião
com o comitê de gala onde apresentarei o tema que decidirmos... e se eles
gostarem mais, então o evento é nosso!
Tomei um gole do meu café. O mocha de menta foi o primeiro café
que tomei na loja de Dustin e ainda era o meu favorito.
Zoe tirou uma pasta da bolsa e abriu suas extensas anotações.
— Eu fiz muito brainstorming ontem, — disse ela, — e tenho uma
ideia que acho realmente boa. O resto é eh.
Eu sorri. — Vamos ver isso!
Zoe pegou uma reprodução de uma pintura grega e me entregou.
Ele mostrava figuras em marrom claro vestindo togas e enfeites
elaborados contra um fundo preto. — Esse é Dionísio. — Ela apontou
para a figura envolta em videiras, e ele carregava nos braços uma grande
vasilha de vinho.
— E aquele, — ela continuou gesticulando para a outra figura, que
estava sentada e tocando uma pequena harpa, — é Apoio.
Eu olhei para ela, esperando que ela explicasse sobre o que estava
falando. Ela estava inclinada sobre a mesa, claramente animada para
explicar seu plano.
— Então, os dois eram filhos de Zeus, mas Apoio tinha tudo a ver com
ordem, lógica e pensamento racional... enquanto Dionísio era o deus do
caos e da dança, do vinho e da emoção.
Eu franzi minha sobrancelha, ainda sem ter certeza de onde ela queria
chegar com tudo isso. Ela continuou, implacável.
— Que tal isso para um tema? Caos e OrdEm: Dionísio vs. Apoio.
Os convidados podem escolher qual deus governará seu visual
durante a noite... e seu comportamento.
Ela sorriu diabolicamente.
Eu não estava convencida. Minha confusão deve ter aparecido em
meu rosto porque ela continuou: — Além disso, as pessoas podiam
apenas brincar de Grécia Antiga para se inspirar. Todo mundo adora os
gregos.
Eu não queria decepcioná-la facilmente. A ideia dela foi certamente
criativa, mas eu pensei que era demais.
— Esse é um tema muito legal, — comecei, — e você está certa. Todo
mundo adora a Grécia Antiga. Mas estou preocupada que seja um
pouco... complicado.
Eu fiz uma careta quando o sorriso de Zoe desapareceu. Ela olhou
para o colo por um momento antes de reunir um sorriso novamente. —
Eu entendo, — disse ela com um pequeno encolher de ombros. — Agora
me diga sua ideia.
Agora eu sorri.
Eu abanei uma seleção de fotos diante dela.
Lady Gaga usando um elaborado capacete de prata. Uma modelo
caminhando pela passarela no último show de Alexander McQueen.
Finalmente, um stormtrooper de Star Wars.
Zoe me olhou com ceticismo, mas exibia um pequeno sorriso astuto.
— O futuro da moda, — eu disse, abanando as mãos diante de mim
como se visse as palavras em luzes.
Zoe acenou com a cabeça. — Eu gosto disso.
— Imagine as roupas que as pessoas vão inventar! — Eu jorrei.
— Verdade! — Zoe enfiou a imagem grega de volta
em sua pasta. — E simples e divertido.
— Obrigado, — eu disse. Eu sabia que era uma escolha certa.
Zoe suspirou, apoiando a cabeça no punho. — Gosto da minha ideia
pelo aspecto social. Mas acho que é um pouco complicado...
Eu acenei com minha mão.
— Não se preocupe com isso. Mas vamos com o Futuro da Moda para
a proposta.
Ela acenou com a cabeça. Eu esperava não ter ferido os sentimentos
de minha assistente, mas estava claro para mim — minha ideia era
melhor. Nesse momento, Dustin puxou uma cadeira e se juntou a nós à
mesa.
— Oi. queridas, — disse ele. jogando a cabeça para trás para que seu
cabelo brilhante caísse para trás.
— Dustin! — Eu gritei. — Você não está deslumbrante hoje?
Era verdade. Ele estava parecendo especialmente fabuloso.
— Eu sei, — disse ele com uma piscadela. — E porque estou
apaixonado.
Eu suspirei.
Dustin está apaixonado? 1
— Sim, — ele continuou, sem avisar. — Eu Conheci um homem...
Dustin suspirou, olhando para o teto.
Meus olhos encontraram os de Zoe e sorrimos.
— Estou tão animada por você! — Eu gritei. — Então, é oficial ou o
quê?!
Ele revirou os olhos. — Oh, Angela. Você é tão antiquada. Claro que
não é oficial. Acabamos de nos conhecer na exposição. Mas tenho a
sensação de que estou no caminho certo.
Eu apertei o braço do meu melhor amigo. Eu não poderia estar mais
feliz por Dustin.
Ao olhar para minha assistente, soube que ela se sentia da mesma
maneira.
Estávamos todos envolvidos em algo grande.
XAVIER

Eu cerrei meus dentes e cerrei meu punho sob a mesa.


Esta reunião do conselho já estava indo água abaixo, e só estávamos
conversando por dez minutos.
Eu estava em meu lugar apropriado, à cabeceira da mesa, mas estava
ao lado de Penny e Henry. Já era ruim o suficiente que eles estivessem na
sala, muito menos em posições de poder.
Poder que ambos estavam exercendo.
Isso me deu dor de cabeça.
— Vamos falar de reformas para a estação de esqui. Nosso orçamento
é muito grande, mas ainda precisaremos ser estratégicos, — disse
Matthew, um membro sênior do conselho que conhecia bem meu pai e
sempre atuou como moderador.
— O spa é nossa maior prioridade, — comecei. — É necessário que o
resort também seja viável para clientes que não praticam esqui.
— Estaremos reformando todas as instalações do spa, — acrescentou
Penny.
Ela ainda estava um pouco estranha na mesa executiva, mas estava
aprendendo rápido. Para minha grande irritação, todos pareciam gostar
dela.
— Aqui, detalhamos nossos planos para uma piscina de água doce em
um rio lento... — Ela apontou para a tela, onde uma imagem protótipo de
uma piscina sob uma cúpula de vidro brilhante apareceu.
— Eu não sei, não. — A voz de Henry soou como pregos em um
quadro-negro. — E um resort de esqui, então acho importante que nos
concentremos no esqui-.
Eu mal podia acreditar que o imbecil arrancou uma risadinha de
alguns de nossos membros mais velhos do conselho com aquele
comentário.
Ele estufou o peito e pigarreou. Eu olhei para ele.
— As melhorias nas montanhas que descrevi aqui exigiriam a maior
parte do orçamento, mas acho que receberiam os maiores dividendos. —
Henry pressionou o controle remoto para revelar uma simulação
animada de uma gôndola luxuosa se aproximando de um chalé e restobar
no meio da montanha.
Os membros do conselho soltaram um hmmm coletivo. Eu revirei
meus olhos. Não pude evitar.
— Concordo que precisaremos substituir alguns dos elevadores e
gôndolas na montanha, — comecei, — mas um restobar nomeio da
montanha? Isso é realmente necessário? Imagine os processos que
poderíamos enfrentar com hóspedes embriagados descendo uma ladeira
do diamante negro!
Suspirei, exasperado.
Henry riu, jogando a cabeça para trás.
— Estamos falando da Europa\ Nunca haveria complicações por causa
de um simples bar.
Tudo bem. Isso foi o suficiente.
— Eu estive na Europa, seu idiota! — Eu cuspi antes que pudesse me
conter. — Eu fui para a porra de um colégio interno francês!
Algumas pessoas murmuraram. Eu sabia que estava ficando fora de
controle, mas não pude evitar.
Diabos, eu não queria evitar isso.
Eu queria dar ao meu primo algo que realmente apagasse aquele
sorriso presunçoso de seu rosto.
— Xavier... — Penny começou olhando ao redor desconfortavelmente.
Eu olhei para ela. Eu alcancei meu limite com ela também.
Ambos eram apenas oportunistas, tentando tirar tudo o que podiam
do meu pai. E agora, de mim. Eu tentei ser bonzinho, mas isso não me
levou a lugar nenhum.
— Isso é besteira\ — Eu bati meu punho na mesa. — Alguém mais
nesta sala realmente se preocupa em criar uma propriedade lucrativa?!
A mesa ficou quieta.
Tranquei os olhos com cada membro do conselho, desafiando
qualquer um a falar.
— E então? — Eu exigi.
— Por que não começamos com uma votação? — Penny sugeriu,
quebrando o silêncio. — Opção um... gôndolas e restobar. Opção dois...
gôndolas quando necessário e reforma do spa. Todos para a opção um,
levantem as mãos.
Henry ergueu a mão como o animal de estimação do professor da
primeira série.
Apenas duas mãos estavam no ar.
— Todos para a opção dois...
Eu levantei meu braço com o resto, olhando para Henry.
— A segunda opção é... — Penny concluiu, ocupando-se em escrever
notas para evitar a atmosfera tensa na sala de reuniões.
Eu podia vê-la olhar para mim de vez em quando, e a preocupação em
seus olhos me irritava ainda mais.
Eu não encontraria seu olhar. Quem diabos ela pensava que era,
minha babá?
Minha madrasta...?
Só o pensamento me deu vontade de vomitar.
Eu mantive meus olhos fixos em Henry, meu punho ainda fechado na
mesa.
Ele não parecia perturbado por não conseguir o que queria. Na
verdade, o desgraçado estava sorrindo.
Então eu entendi.
Henry não dava a mínima para o resort. Tudo o que importava era me
fazer ficar mal.
Como um líder inadequado.
Olhei ao redor da sala para encontrar os membros do conselho
trocando olhares com os olhos arregalados e murmurando baixinho
entre si.
Meu primo idiota estava conseguindo?
Capítulo 12
P reparações

ANGELA

De pé em uma sala de reuniões da revista Vague, eu poderia dizer que


não fiquei tão intimidada desde... sempre.
Literalmente, sempre.
Eu tinha visto minha cota de garotas malvadas e mulheres bonitas.
Mas o grupo diante de mim estava em um nível totalmente diferente.
Essas pessoas eram mais do que supermodelos. Eram os homens e
mulheres que escolhiam as supermodelos.
Eu alisei minhas mãos para baixo da saia do meu vestido para limpar
minhas palmas suadas.
Xavier tinha me ajudado a escolher minha roupa, e fiquei feliz que
alguém com um gosto impecável já tivesse aprovado meu look. Eu usei
um vestido vermelho estruturado com uma blusa de gola alta simulada.
Estava ajustado, mas não apertado. Confiante, mas não vistoso. Sexy,
mas não vulgar.
Xavier me garantiu tudo isso.
Minha peça de referência foram meus sapatos. Eram saltos plataforma
pretos com um design assimétrico. Um tinha um laço de fita translúcido
no arco do meu pé e o outro no calcanhar.
Eu estava de pé, mesmo que tremesse nos calcanhares.
— Então. — Eu comecei, já me xingando por minha entrada fraca no
assunto. — Obrigada por me receber. Estou animada para compartilhar
minhas ideias para a Gala.
Hannah Flintour fez uma careta para mim. Seus olhos estavam
escondidos pelos óculos de sol, mas seu rosto denunciava seu desgosto.
Eu cliquei no pequeno controle remoto e a foto de Lady Gaga com o
capacete apareceu. Em seguida, a passarela de Alexander McQueen. Eu
tinha escolhido as mesmas imagens que mostrei para Zoe.
Então Cheguei ao slide final:
O FUTURO DA MODA
— Na Gala deste ano, vamos imaginar o que ainda acontecerá. Nossos
convidados irão revelar o futuro inovador que eles imaginam. — Eu
entreguei as falas que ensaiava no meu espelho.
— Será uma noite de expectativa. Juntos, criaremos 'O Futuro da
Moda’.
Com meu discurso proferido, sorri para os rostos ao meu redor, sem
fôlego e esperançosa.
Mas os editores da Vague não demonstraram nenhum sinal de
entusiasmo. Seus rostos eram tão planos quanto o papel embaralhado em
suas mãos.
Eu engoli em seco.
Foi Hannah Flintour quem falou primeiro.
— É parecido com a festa no jardim da Vague dois verões atrás.
Chamamos ela de 'Futuro da Moda’.
Sua menção foi sem emoção, mas eu sabia que este tinha sido um
golpe devastador.
Como pude ser tão idiota?! Não tinha feito minha pesquisa. Eu nem
conhecia os outros temas que Vague havia usado no passado.
— Oh, — eu disse, com esforço. Recusei-me a acreditar que
simplesmente perdi minha chance. Mas o que mais eu poderia dizer a
eles?
O que mais poderia impressionar os magnatas da Vague? O que
poderia ter o poder de um soco?
Minha boca estava seca. Eu não tinha nada.
Mas então eu percebi.
Caos e Ordem.
— Bem. então, imagine isso. Apoio e Dionísio.
Os dois filhos são de Zeus, mas não poderiam ser mais diferentes. Um
era a lógica, o outro, o impulso. A cabeça e o coração.
' — Caos e OrdEm: Dionísio vs. Apolo. ' Nossos hóspedes podem
escolher o deus que desejam incorporar. Será uma noite de
opostos.
O grupo ainda estava em silêncio, mas o ar na sala parecia mudar.
Eles poderiam estar...
Interessados?
— Nós poderíamos ter dois lados da festa, — eu continuei. — O lado
de Apoio seria cheio de arte, jazz e comida sofisticada, enquanto o lado
de Dioniso teria vinho, vícios, música para dançar. Seria... um lindo caos.
A mesa dos editores exibia as mesmas expressões em branco.
Eu estava suando, parado diante deles, esperando praticamente uma
eternidade até que um deles falasse.
— Eu gosto, — disse um homem com uma jaqueta de couro vermelha.
— O deus do vinho e o deus da razão, — comentou uma mulher. —
Funciona.
Então a própria Hannah Flintour abriu a boca.
— Os convidados podem escolher que deus encarnar na forma como
se vestem... e na forma como se comportam.
A sala explodiu em risadas abafadas.
Sim! Pensei. O selo de aprovação da própria rainha.
— Obrigada pelo seu tempo... Angela, — Hannah disse, checando suas
anotações. — Entraremos em contato com você dentro de uma semana.
Eu balancei a cabeça e juntei meus pertences. Quando fechei a porta
da sala de reuniões atrás de mim, soltei um suspiro como se o tivesse
prendido o tempo todo.
Em seguida, saí pelos corredores sagrados de Vague com meus saltos
batendo no chão branco.
Hannah Flintour gostou da minha ideia!
XAVIER

— Outra rodada! — Eu gritei.


Há alguns anos, eu teria aproveitado a oportunidade para me
aproximar das belas e peitudas bartenders do Hatchback, mas hoje eu era
alguém sério.
Apenas bebidas.
— Obrigado, amigo! — Rodney gritou, batendo seu copo vazio contra
o meu antes de nós dois terminarmos nossas bebidas.
Eu não conseguia lembrar qual era aquele número antigo. Cinco? Foi
o suficiente para me fazer sentir solto.
Claro, era por isso que eu estava aqui. Para liberar a tensão. E todos os
empresários que povoavam este bar tiveram a mesma ideia.
Então, é hora de relaxar.
— Então, Xavier, — Will de Wall Street chamou do sofá de couro em
nosso círculo. — Como vai a Knight sem o velho olhando por cima do
seu ombro?
— Ele ainda está! — Eu gritei, aceitando o copo recém-enchido que foi
colocado diante de mim.
— Não é sempre assim! — Rodney gritou. — Foi a mesma coisa
quando o velho Bernard faleceu. Ele me nomeou CEO, claro, mas
preencheu o conselho com seus comparsas.
— Você não vai acreditar no que meu velho fez, — eu gemi. Todos os
meus companheiros se inclinaram para ouvir a notícia suculenta, e eu
tomei um bom gole.
— Ele fez a maldita namorada dele ser a presidente do conselho! —
Rugi.
Os caras explodiram em gargalhadas. Até então, a situação era uma
tragédia. De repente, eu também pude ver o humor nisso. E então eu
estava rindo muito.
— Ela deve ter pegado o coitado pelas bolas! — Rodney entrou na
conversa e eu ri até chorar.
De repente, Will parou de rir.
Virei atrás de mim para ver uma mulher caminhando em nossa
direção, seu corpo bem torneado aparecendo mesmo por baixo de seu
modesto traje de negócios.
Era Penny.
Vê-la no bar masculino me pareceu totalmente hilário. Quando ela
chegou ao nosso lado, eu estava rindo muito para me dirigir a ela.
— Xavier, eu esperava falar com você, — ela começou. Seu tom era
sério, mas eu entendia o que estava em jogo.
— Ei, querida, — Rodney chamou.
— Esta é a garota de quem falei! — Eu gargalhei. Os meninos e eu
perdemos qualquer noção de seriedade de novo.
— Xavier... — Penny olhou para mim e meus amigos de bebida com
cautela. — Podemos conversar um minuto sobre o trabalho?
Ela olhou para mim como se eu fosse uma bomba-relógio — falou
como se achasse que poderia me desarmar mantendo o tom de voz.
Mas era tarde demais.
Eu estava além do ponto de retorno.
Quem Penny pensava que era vindo para este lugar de negócios? Este
era praticamente um bar exclusivo para homens. Ela estava em território
hostil e eu não ia jogar bem.
— Pelo menos seu pai tinha bom gosto, — Rodney me disse baixinho.
— Isso é verdade... e eu saberia — eu acertei primeiro!! — Eu nem me
incomodei em manter minha voz baixa.
— Xavier! — Penny gritou, indignada. Ela deu uma rápida olhada ao
redor do bar. — As pessoas estão nos gravando... — Ela sussurrou
ferozmente.
Eu olhei ao nosso redor. Alguns homens estavam com seus telefones
pendurados. Mas por que eu me importaria?
— Sim? — Eu murmurei. — Isso te excita? Desculpe, mas não estamos
dando um show a eles, não importa o quanto você queira... — As mãos de
Penny se fecharam em punhos e, por um segundo, pensei que ela fosse
me bater. Quase dei boas-vindas à violência. Talvez tenha sido
exatamente o choque que eu precisava.
Em vez disso, ela apenas olhou para mim com desgosto.
— Se Brad pudesse te ver agora... — Ela se virou e saiu sem dizer uma
palavra.
Eu não pensei duas vezes nela.
— Outra rodada! — Chamei.
Rodney me deu um tapa nas costas. — 'Ah, garoto, — ele disse com
um arroto.
ANGELA

Eu estava morrendo de vontade de contar a Xavier sobre meu dia


emocionante. Eu estava na cobertura, esperando que ele voltasse. Ele
provavelmente estava perdendo força após uma semana estressante no
trabalho.
Eu não me importei.
Tive a atividade perfeita para ocupar meu tempo. Abrindo o diário de
Brad de onde eu havia parado, sentei no sofá de couro macio e comecei a
ler.
BRAD

15/07/1975, Martha's Vineyard


Amélia deixou a ilha hoje.
Ela está indo para casa na Pensilvânia para trabalhar como garçonete até
o recomeço das aulas.
Eu ainda tenho um mês aqui, e estou preocupado em passar o tempo todo
pensando nela.
Na segunda-feira, Amélia veio jantar. Ela ficou tímida no início, mas
papai preparou todos os coquetéis para nós, e ela e mamãe começaram a
conversar sobre arte, e então a noite passou rápido.
Eu sabia que mamãe a adorou. Ela ficou olhando entre nós como se algo
importante estivesse acontecendo.
Foi meio constrangedor, mas também foi bom.
Quando eu acompanhei Amélia de volta para a casa de sua amiga Lyla,
eu finalmente a beijei. Nós nos beijamos por um tempo, mas não tanto
quanto eu queria, e então ela entrou sem dizer uma palavra.
Naquela noite eu fiquei louco porque eu não sabia quando iria vê-la
novamente. Ela disse que estaria ocupada.
Passei o dia seguinte na praia com meus amigos, depois fomos jantar na
cidade. Eu estava no limite o tempo todo, esperando ver Amélia toda vez que
dobrasse uma esquina.
Os próximos dias são meio confusos para mim agora.
Eu a vi, finalmente, na fogueira na praia. Ela estava com seus amigos, e eu
sabia que ela me viu, mas ela não apareceu.
Eu caminhei direto para ela, colocando areia em meus mocassins.
Enquanto estávamos sentados perto do fogo, eu disse a ela que pensava
nela o tempo todo e queria vê-la o máximo que pudesse antes de ela ir
embora.
Eu sabia que isso a deixava feliz, embora ela não tenha dito nada em
resposta. Ela pegou minha mão, no entanto, e mais tarde, ela me beijou.
Como isso aconteceu tão rápido? Ontem à noite, sua última aqui, nós
deitamos sob as estrelas em um cobertor por horas.
Eu a segurei em meus braços e me perguntei se era assim que o amor
parecia. Quase quis dizer a ela o que estava pensando, mas não ousei.
Eu disse que Vassar é muito perto de Nova Iorque, e gostaria de visitá-la lá
se ela não se importasse. Ela disse que tudo bem.
Eu disse que ela poderia me visitar também, e ela disse que sim.
Meu coração disparou do meu peito, até as estrelas e vice-versa.
Quando nos despedimos, tentei memorizar como ela se sentia em meus
braços, como sua pele estava quente sob minhas mãos...
Fui para a cama sentindo como se o mundo fosse maior e melhor do que
eu jamais imaginei antes.
Agora estou sentado na praia com mamãe, me xingando porque nunca
perguntei a Amélia —
ANGELA

Meu celular tocou e quebrou minha concentração.


Eu não queria deixar o inundo de Brad. Eu queria ficar ali. revivendo
seu verão mágico com Amélia, o amor de sua vida sobre o qual eu tinha
ouvido falar tanto.
Mas e se a ligação fosse da Vague?
Eu pulei da minha cadeira e peguei meu telefone.
A tela piscou:
HANNAH FLINTOUR
De jeito nenhum!
Eu suspirei. Aceitei a chamada, respondendo sem fôlego.
— Olá?!
Capítulo 13
Altos e baixos

ANGELA

— Angela? — Perguntou a voz ao telefone.


— É ela, — eu sussurrei.
— Quem fala é Hannah Flintour.
Sentei-me para não cair no chão se desmaiasse.
— Então. — Hannah Flintour continuou, — todos nós amamos sua
proposta do Caos e da Ordem.
Eu sorri.
— Dionísio e Apoio. Tão inteligente e a nossa cara. —
— Obrigada! — Eu falei, meu sorriso ocupando todo o meu rosto.
— Acabamos de ter uma longa discussão aqui na Vague... — Hannah
começou, e eu prendi a respiração. — E adoraríamos trabalhar com você
para a Gala!
MDS
Eu estava sonhando?!
Ou eu acabei de conseguir a Gala?!
— Estou muito feliz em ouvir isso! — Eu explodi. Meus joelhos
estavam balançando para cima e para baixo de excitação.
— Agora. Angela, antes de fazermos qualquer negócio aqui, quero ser
honesta com você por um segundo.
— Tudo bem... — eu disse, certa de que nada que ela pudesse dizer me
faria mudar de ideia.
Eu estava planejando a Gala.
— Trabalhar conosco na Gala é o sonho de qualquer produtor de
eventos. Mas é um trabalho incrivelmente difícil.
— E estou pronto para...
— Um minuto, querida. Esta tarefa exigirá toda a sua atenção durante
os dois meses que antecedem o evento. É mais do que um trabalho de
tempo integral. Não é fácil e não é para os fracos de coração.
Eu engoli em seco. Mesmo assim, não havia dúvidas em minha mente.
— Eu entendo, Hannah, — eu disse a ela. — E estou pronta para o
desafio.
Eu exalei, estabelecendo-me na realidade do meu novo trabalho. — É
uma honra trabalhar com você nisso!
— Fico feliz em ouvir isso. Angela. Entrarei em contato amanhã com
mais detalhes. Ciao ciao!
— Incrível. Muito obrigada! Ciao!
Eu encarei meu telefone.
Eu acabei de dizer ciao?
Quem sou eu?!
Eu era a mulher que estava planejando a GALA\!
Eu me levantei e fiz uma dança feliz.
Havia tantas pessoas para quem eu queria contar.
Mas primeiro?
Zoe!
Angela: Ei, garota.

Angela: Tenho GRANDES notícias.

Angela: Você está livre para me encontrar amanhã de manhã? Na


cafeteria do Dustin?
ZOE: Sim!
ZOE: Mal posso esperar.
Eu estava muito animada para ficar parada. Continuei minha dança
boba até a caixa de som da sala de estar.
— Alexa, toque algo que eu possa dançar!
Eu mal podia esperar que Xavier voltasse para casa, mas até então,
gostaria de comemorar com Alexa.
ABBA despejou do alto-falante. Eu aumentei.
— Oh, yes! — Eu cantei, tocando air guitar e pulando ao redor da sala.
XAVIER

Voltei para casa e encontrei minha esposa dando uma festa dançante
sozinha no apartamento.
Já era tarde e eu estava bêbado. Fiquei feliz em vê-la. mas não estava
com vontade de dançar. Embora eu tenha me divertido muito no
Hatchback, as coisas começaram a ficar significativamente menos
divertidas depois que Penny foi embora.
Claro, eu fui rude e cruel. Mas eu só estava brincando. Todo inundo
sabia disso.
Certo?
— Vamos! — Angela chamou, puxando minha mão para que eu me
juntasse a ela.
— Vou esperar aqui, — eu disse, caindo no sofá.
Meu corpo afundou no couro macio. Eu me senti como um balão
vazio.
Eu assisti minha esposa fazer o cha-cha, e então ela se virou e
balançou sua bunda bem torneada para mim.
— Sente-se aqui comigo! — Eu implorei.
Fiquei feliz em vê-la tão feliz, mas tudo que eu queria era estar perto
dela. Tão perto que não tive que pensar em mais nada...
Ela pulou no sofá e montou em mim.
— Então me diga o que te fez tão feliz, — eu pedi, olhando em seus
olhos brilhantes.
A música ainda estava alta, então ela se inclinou e aproximou meu
rosto com as mãos.
— Peguei a GALA!!! — Ela explodiu, gritando de alegria.
Eu encarei minha esposa. Não havia entendido suas palavras.
Quão bêbado eu estava?
— Eu sei, — ela continuou. — Eu também mal posso acreditar!
Então me dei conta. Angela iria planejar a Gala Anual da Vague.
Claro, eu sabia que Angela tinha verdadeiro talento. Mas por alguma
razão, eu não tinha considerado que tudo daria tão certo...
— Parabéns, querida! — Eu disse, puxando-a para baixo para que eu
pudesse beijá-la. — Eu estou tão feliz por você.
— Obrigada, — ela jorrou. — Vai dar muito trabalho... mas mal posso
esperar.
— Quanto trabalho? — Perguntei.
— Dias longos, — disse ela. — Hannah disse que seria mais do que em
tempo integral até a Gala! Vou fazer hora extra, assim como você! — Ela
ainda estava sorrindo, esperando que eu comemorasse com ela. Mas eu
simplesmente não conseguia reunir o entusiasmo.
Talvez, em algum lugar no fundo da minha mente, eu não quisesse que
Angela tivesse o evento de Gala. Claro, eu queria que ela realizasse seus
sonhos, mas não tinha percebido que seus sonhos eram sobre trabalho.
Achei que eles envolviam fazer uma família. Comigo.
— Quando é a Gala?
— Em dois meses, — ela respondeu, franzindo a testa.
— Dois meses, Angie?
Eu sabia que meu desapontamento era claro, mas estava chateado. Eu
não poderia lidar com isso agora.
Achei que em dois meses Angela poderia estar grávida. E estaríamos
no caminho para ter uma família unida.
Para cumprir o último desejo do meu pai...
Eu me levantei de repente. Angela se levantou ao meu lado, colocando
as mãos no meu peito.
— Claro que é em dois meses, — disse ela, e sua voz era baixa. — O
que há de errado, amor?
Eu encolhi os ombros para longe de seu toque, sem encontrar seus
olhos.
Eu não poderia dizer a ela o que sentia.
— Por favor! — Ela disse, tentando se segurar em mim enquanto eu
me retirava para o meu quarto. — Me diga o que está errado!
— Alexa, desligue a maldita música!!! — Eu gritei. Finalmente, tudo
ficou quieto.
Suspirei. Esta semana durou um século. Tudo que eu queria era
dormir.
— Angela, eu pensei que nós dois queríamos ter uma família. Tipo,
começando agora. Mas agora eu vejo quais são suas prioridades. — Ela
ficou boquiaberta. Eu vi que o que eu disse havia cutucado uma ferida.
— Querido... — Ela tentou.
Eu não estava esperando para ouvir suas explicações.
— Tenho de dormir, — disse eu.
— Eu ainda quero uma família! O que são alguns meses?! Eles vão
voar. Podemos continuar tentando agora!
Ela divagou desesperadamente, seguindo-me enquanto eu me despia
no meu quarto.
— Tudo ficará bem, Xavier. A Gala não mudará nada!
Apenas com minha cueca samba-canção, subi direto na cama. Eu
estava cansado demais para escovar os dentes.
— Podemos...
— Angela, — eu disse, minha voz tensa. — Eu preciso ir para a cama. E
eu acho que seria melhor se eu dormir sozinho esta noite.
Meus olhos já estavam fechados e puxei o cobertor sobre minha
cabeça.
ANGELA

Como foi possível passar de tão feliz para tão triste?


Se a vida era uma série de altos e baixos, eu estava abaixo do nível do
mar agora. E eu havia caído do topo do Monte Everest.
Arrastei meus pés até a porta do meu quarto e olhei para a silhueta na
cama.
Se eu ao menos pudesse me enterrar ali com meu marido e envolvê-lo
em meus braços com tanta força que pudesse desfazer a noite que
acabamos de ter.
Talvez se eu tivesse tocado no assunto de forma diferente... se eu
tivesse mostrado a ele que nossa família ainda era a primeira na minha
lista de prioridades...
Mas, honestamente, ficar grávida nem tinha passado pela minha
cabeça durante o meu telefonema com Hannah Flintour. Eu estava
focada em realizar meu sonho.
E eu não queria me desculpar por isso.
Demorei-me na porta por mais um momento. Por mais que eu odiasse
deixá-lo, eu queria respeitar o desejo de Xavier de ficar sozinho.
A sala escura era uma cidade fantasma sem a música de dança. Peguei
o diário de Brad da prateleira e levei-o comigo para o quarto de hóspedes.
Acendi a luz do quarto que costumava ser meu.
Ao cruzar o tapete e sentar na cama, pensei em todas as noites que
passei aqui. Quão estranho Xavier era para mim no passado. E quão
estranho é seu mundo...
Pode ter sido há muito tempo. Meu marido era um homem
totalmente diferente do playboy com quem me casei.
Seu mundo de poder e luxo se tornou meu mundo.
Eu escovei meus dentes no banheiro adjacente. Percebendo que todo
o meu pijama estava no quarto principal, tirei a roupa e coloquei o
roupão que estava pendurado na porta, como se nosso apartamento fosse
um hotel.
Rasguei a capa do edredom e subi na cama. A extensão de lençóis
brancos me acolheu e de alguma forma acalmou minha tristeza.
Não querendo me perder em meus próprios pensamentos, peguei o
diário de Brad da mesinha de cabeceira e pressionei o livro de couro
contra meu peito.
Se você ainda estivesse aqui.
Eu sabia que Brad entenderia essa sensação de estar dividido entre o
trabalho e a família.
Abri seu diário no lugar que parei no início desta noite, quando
Amélia tinha acabado de deixar Martha's Vineyard. e Brad estava deitado
ao sol, sentindo sua falta...
BRAD

Agora estou sentado na praia com mamãe, me xingando porque nunca


perguntei a Amélia o que ela pensava de Martha's Vineyard.
Se eu soubesse disso, talvez eu fosse capaz de entendê-la. Ela estava sempre
pensando, observando silenciosamente a cena, e eu pensei que ela estava se
divertindo, mas agora não posso ter certeza.
Eu só espero que ela tenha gostado daqui. Se ela realmente gostou, isso
pode significar que ela realmente gostou de mim.
Acho que não sei o que fazer com tudo isso, e agora que ela se foi, me
pergunto o que ela me deixou para segurar.
Não é como se ela fosse tão fácil de se conviver, o que parece algo que as
pessoas querem...
Muitas vezes eu me sentia nervoso com ela, como se não tivesse certeza se
disse a coisa certa.
Normalmente, eu nunca me preocupo com coisas assim.
Mas sempre que Amélia estava por perto, ela era a única pessoa que eu via.
Ela era a coisa mais brilhante da ilha, e agora que ela se foi, estou no escuro.
Acho que todo o sol está subindo para minha cabeça. E mamãe fica me
perguntando se planejamos manter contato...
Estou ficando louco pensando em tudo isso e me sentindo meio solitário.
Mais algumas semanas antes de eu ir para Nova Iorque. Sempre pensei
que é quando minha vida realmente começaria. Especialmente agora que
Amélia pode me visitar lá...
Acho que vou dar um mergulho. Talvez então eu consiga parar de pensar
ANGELA
Fechei o diário de Brad e coloquei minha mão em sua superfície
macia.
Eu gostaria de poder voltar no tempo e confortá-lo quando ele era tão
jovem e sofria. Eu diria a ele para não se preocupar porque ele e Amélia
encontrariam o amor verdadeiro.
Eles construiriam uma bela vida juntos.
Não se preocupe... Vai dar tudo certo.
Tentei me agarrar a essas palavras. Ler sobre a solidão de Brad
enquanto eu estava tão sozinha aliviou meu fardo de alguma forma.
Fechei os olhos, pensando em Brad. jovem e deitado ao sol, e em
Xavier, dormindo sozinho em nosso quarto. E então eu também
adormeci...
Capítulo 14
Sendo babá de Bella

XAVIER

Tentando tirar o melhor proveito da minha ressaca e do estresse


conjugal, fui cedo para o escritório.
Bethany me trouxe meu café com leite e um pouco de Advil, e eu
consumi ambos enquanto olhava para o horizonte de Manhattan.
Essa era a visão de um CEO.
Eu olhei para o caos do tráfego abaixo e os passageiros correndo como
formigas.
Isso me deixou com os pés no chão. Isso tirou minha mente da minha
briga com Angela na noite anterior e me trouxe de volta a quem eu era.
CEO da Knight Enterprises.
Filho do meu pai.
A porra de um líder.
Com meus mocassins Tod's descansando em minha mesa, eu senti
uma calma acelerada. Eu ia ter um bom dia. A tensão em torno do resort
suíço havia começado a diminuir e estávamos parados, esperando os
empreiteiros começarem.
Eu poderia concentrar a energia em outro lugar... e sabia exatamente
o que fazer.
Eu não ficaria aqui, olhando para a cidade de Nova Iorque como um
falcão solitário. Não, eu sairia e veria as pessoas.
Gastaria um tempo vendo a cara das pessoas. — Medir a temperatura
da empresa, — como meu pai costumava dizer.
Eu me levantei e abotoei minha jaqueta. Depois de um último olhar
de admiração para minha cidade, a melhor cidade do mundo, eu saí do
escritório.
Encontrei o estado normal de comoção.
Telefones tocando, digitação frenética, reuniões improvisadas na
copiadora.
Ah, sim. Este era o meu nicho na selva de concreto.
— Bom trabalho, Austin! — Eu falei enquanto dobrava a esquina das
mesas no andar, correndo em direção à máquina de café expresso.
Encontrei duas mulheres paradas na cozinha, e ambas não eram
familiares para mim.
— Bom dia! — Eu as cumprimentei. — Vocês são nossas novas
recepcionistas? É um prazer me apresentar. Xavier Knight, CEO.
Eu apertei a mão de uma delas.
— Na verdade, sou sua mais nova consultora, — explicou ela. — Riley
Smith. Temos uma reunião com Penny em algumas horas.
Eu dei a ela meu sorriso vencedor.
— Meu erro! Quando li o e-mail, pensei que Riley fosse um homem!
A mulher ao lado dela tossiu.
— Acontece o tempo todo, — Riley me assegurou.
— E você é—? — Perguntei à outra mulher, mas fui interrompido
porque Penny entrou na cozinha.
— Bom dia, Riley e Maria! — Penny disse, alegre como um pássaro.
Ela mal olhou na minha direção enquanto a máquina de café expresso
zumbia.
— Xavier.
— Penny.
Então ela ainda estava irritada com meu mau comportamento no
Hatchback. Ah. bem. Ela superaria isso mais cedo ou mais tarde.
Quando a máquina parou, fui confrontado com o som abafado da
chuva saindo dos alto-falantes do escritório.
— O que diabos é isso? — Perguntei. — E como se estivéssemos na
porra de uma floresta tropical ou algo assim, hein, pessoal?
— Eu gosto disso! — Riley sorriu. — E é bom para a produtividade. É
uma tendência em Wall Street.
— Eu também acho que é bom. — Maria olhou para mim. Droga, ela
era uma filha da puta! — Foi ideia sua, Xavier?
— Foi minha, — disse Penny, mexendo no açúcar.
Eu cruzei meus braços, focando no pequeno nó de cabelo preto e
lustroso amarrado em seu pescoço. Na época em que Penny e eu
costumávamos... uh, confraternizar, ela usava o cabelo solto e cacheado,
caindo em cascata sobre suas costas, acima de sua bunda espetacular.
Era meio fofo ela brincar de se vestir para o escritório.
— Penny, gostaria de repassar algumas coisas com você antes da
reunião mais tarde. — Riley pediu.
— Bem, vamos conversar agora! — Eu disse.
— Também gostaria de ouvir no que você está trabalhando.
— Levaria muito tempo para informá-lo, — disse Penny, finalmente
me encarando, — depois que você perdeu nosso último encontro.
— Quando—?
— Ontem, — Penny encarou, — quando você saiu do trabalho mais
cedo.
Caralho. Eu saí para o Hatchback um pouco antes do fim do
expediente
Penny ergueu sua caneca. — Todos nós conversaremos em algumas
horas, Xavier.
Ela saiu e as duas mulheres a seguiram.
Eu as observei irem embora e então fui deixado sozinho. Eu cerrei
minhas mãos em punhos. Por que essas mulheres, minhas funcionárias,
estavam dando preferência a Penny? Como se ela fosse sua líder?
Voltei correndo para o meu escritório, onde cuidaria de negócios reais.
Eu manteria minha cabeça baixa o dia todo, cumprindo tarefas da minha
lista. Eu mostraria a toda a equipe que era um líder capaz.
Sentando na minha mesa, abri meu laptop, que apitou a cada novo e-
mail que chegava.
Peguei meu telefone de mesa e apertei a discagem rápida.
— Bethany, traga-me outro café com leite!
ANGELA
Zoe chegou à cafeteria de Dustin no momento em que Dustin estava
entregando dois cafés com leite de aveia em nossa mesa.
— Bom, vocês dois estão aqui! — Eu gritei, colocando minhas mãos
sobre a mesa, me preparando para dar a notícia. Meu melhor amigo e
minha assistente me encararam atentamente.
— Nós conseguimos a GALAI
Tenho certeza de que meu sorriso podia ser visto do espaço. Eu só
descobri ontem à noite, mas parecia que estava mantendo a notícia para
mim mesma há anos.
— Eu sabia\ — Zoe gritou.
— Eu também, meninas! — Dustin respondeu. Ele tirou o resto do
café de sua bandeja, certamente destinado a algum outro cliente, e
segurou-o no ar. — Saúde para vocês! E para a festa do século!
Nós alegremente brindamos com nossas canecas.
— Tenho que ir fazer outro macchiato de caramelo, — explicou
Dustin depois de terminar o drinque.
— Vocês festeiras, divirtam-se!!
Eu assisti feliz enquanto meu amigo se afastava, e então me virei para
Zoe. Seus olhos estavam arregalados e brilhantes. Ela foi a única outra
pessoa que entendeu que isso era um grande negócio. E era tudo nosso.
— Conte-me tudo sobre a reunião, — ela ordenou.
— Eu sabia que eles amariam você!
Corei, pensando naquela reunião terrível. Eles me amaram mesmo?
Eles me escolheram, então acho que sim!
— Zoe, foi insano, — comecei. — Era uma mesa cheia de gente muito
intimidadora. O grupo mais estiloso que você já viu. E Hannah Flintour
manteve seus óculos de sol o tempo todo.
'Não! ''Zoe exclamou.
— Sim! Então, apresentei o tema Futuro da Moda, e eles não pareciam
muito interessados...
Não queria admitir para minha assistente que eles já haviam usado o
tema. Eu não queria mentir, mas o momento passou e deixei de fora o
detalhe.
Zoe prestou atenção em cada palavra minha.
— Mas então eu lancei o Caos e Ordem, e eles amaram\ — Eu jorrei.
— Meu Deus!! — Zoe gritou. — Então, estamos usando minha ideia?!
Dei de ombros. — Bem, sim, se você quiser pensar dessa maneira!
— Você disse a eles que eu que tive a ideia? — Zoe perguntou, ainda
mal conseguindo conter sua empolgação.
— Bem. não exatamente... — eu disse. Eu deveria ter dito? — Não
houve realmente uma oportunidade de trazer isso à tona...
O sorriso de Zoe vacilou.
— Certo, é claro, — ela murmurou, olhando para sua xícara de café. A
energia em nossa mesa mudou imediatamente. O que acabou de
acontecer?
— Eu tenho que usar o banheiro, — Zoe disse rapidamente,
levantando-se sem olhar nos meus olhos.
Eu concordei. Então Zoe saiu correndo da sala tão rapidamente que
parecia que estava pegando fogo. — Para onde ela está indo? — Dustin
perguntou, deslizando para a cadeira livre.
Suspirei. — Estou preocupada que Zoe esteja chateada.
Mas como ela poderia estar? Eu estava pagando por seu trabalho e
suas ideias. Éramos uma equipe. Teria sido estranho creditar a ela o tema
da reunião da Vague. Certo?!
Expliquei a situação a Dustin. Ele franziu a testa, pensando.
— Não sei, Angie. — disse ele por fim. — Foi ideia dela. Talvez ela não
se sinta valorizada.
Mordi meu lábio, perdida em pensamentos. Não gostei de ver minha
assistente chateada. Mas se Zoe estava se sentindo desvalorizada, eu
sabia exatamente como mostrar a ela o quanto ela significava para mim.
Algumas horas depois, eu estava no Washington Square Park para
encontrar Em e Bella. Eu estava animada para levar minha-melhor-
amiga-que-virou-irmã para almoçar e passar algum tempo com o bebê.
Em estava atrasada, então eu sentei em um banco assistindo um
mímico fazer malabarismos com pinos de boliche.
— Angie! — Uma voz exasperada chamou meu nome. Virei-me para
encontrar Em, empurrando o carrinho de Bella e parecendo totalmente
enlameado.
— Em. — Eu pulei para abraçá-la, esperando que meu rosto não
traísse meu choque.
Quando eu a segurei com o braço estendido, ela estava em uma forma
mais áspera do que eu já tinha visto. Ela tinha bolsas escuras sob os olhos
e uma espécie de dreadlock brotando do lado direito da cabeça.
— A bebê acabou de dormir, — disse ela com um suspiro. Eu olhei
para a bebezinha perfeita sentada no carrinho, tão pacífica quanto um
anjo.
— Graças a Deus! — Ela continuou. — Bella tem me mantida acordada
por dias. Deixe-me dizer, Angie, todas as coisas horríveis que dizem sobre
ser mãe são verdadeiras.
Ela se sentou no banco e fechou os olhos.
— Meu Deus, Em, — eu disse, me acomodando ao lado dela.
— Me desculpe, eu não tenho mais energia, — Em começou, Virando-
se para mim novamente. — Eu queria, mas não tenho dormido muito, e
Bella continua...
— Em, — eu interrompi, — Eu tenho uma ideia melhor. Estou
dizendo isso como sua irmã — você está exausta! Por mais que eu queira
passar mais tempo com você, o que você precisa é um momento para si
mesma.
Ela olhou para mim como se estivesse prestes a chorar. Então eu
continuei:
— Que tal agora se você tirar a tarde de folga e ir ao spa? Eu conheço
um ótimo lugar bem aqui. Será meu prazer. E vou tomar conta de Bella à
tarde.
— Não sei, Angie...
Eu podia ver a hesitação em seus olhos. Eu sabia que ela não queria
me decepcionar e definitivamente não queria admitir que precisava de
uma pausa.
Puxei minha irmã para um grande abraço, tentando dizer a ela com
meu abraço o que eu não poderia dizer com minhas palavras.
Eu te amo.
Eu entendo.
Você merece isso.
— Você realmente é um anjo, Angela, — disse Em, sorrindo, as
lágrimas brilhando em seus olhos.
— Não chore! — Eu repreendi.
— Eu sei. Tenho estado tão emocionada esses dias. Talvez seja porque
eu não durmo mais. — Em suspirou novamente e balançou o carrinho de
Bella suavemente com a mão. — Tem certeza que pode lidar com ela?
— E claro! — Eu prometi. — Estou animada para ter algum tempo a
sós com minha sobrinha.
Em passou os próximos cinco minutos detalhando como cuidar de
uma criança de cinco meses.
Ela me mostrou o enorme kit de suprimentos que trazia para todos os
lugares, que incluía brinquedos, mamadeiras e chupetas.
Depois que ela disse adeus a Bella por mais alguns minutos, eu
finalmente a convenci a ir.
— Nossa, — eu sussurrei baixinho enquanto estava sozinha perto do
carrinho.
Em nunca teve um osso sentimental em seu corpo. Mas ter um bebê a
transformou completamente.
Eu olhei para a pequena Bella. adormecida e totalmente alheia a todo
o barulho que fizemos sobre ela.
— Oi. pequenina. — Eu olhei para ela, cativada por seu rosto. Seu
nariz minúsculo com narinas ainda menores de cada lado. Seus pequenos
lábios, enrugados e perfeitos.
Ela era um querubim. E ela era minha sobrinha.
Este pequeno espécime divino veio de minha melhor amiga e meu
irmão. E ela mudou todas as nossas vidas para sempre.
Claro, enquanto olhava para este lindo bebê, me perguntei como seria
ter o meu. Imagine quanto amor eu sentiria por algo que veio de mim.
Eu amava muito Bella. mas Em me mostrou que nada poderia se
comparar ao amor de uma mãe. Minha briga com Xavier ainda
assombrava minha mente. Resolvi naquele momento que mostraria a
meu marido o quão sério eu estava pensando em constituir uma família.
Eu queria minha própria bonequinha, com os olhos azuis de Xavier.
Eu queria olhar para alguém do jeito que Em olhou para Bella.
— Tudo bem, boneca, — eu disse para a criança pacífica. — Vamos dar
um passeio.
Assim que comecei a empurrar o carrinho, Bella abriu seus lindos
olhinhos.
— Olá, fofinha. — eu murmurei.
Ela olhou para mim por um momento antes de seus olhos se fecharem
novamente. Seu rosto se contraiu e ficou vermelho...
Então ela gritou como se estivesse sendo assassinada!
Capítulo 15
Os bebês mudam tudo

ANGELA

Bella estava tendo um acesso de raiva quando o carro de Marco


acelerou na parte alta da cidade.
Acontece que, não importa quantas vezes você diga — Shhhh,
bebezinho, — os bebês não ouvem. Eu aprendi isso da pior maneira.
Quando Bella começou a chorar no Washington Square Park, tentei
balançar o carrinho para frente e para trás. Quando isso não funcionou,
eu a peguei em meus braços, mas isso só a fez chorar mais.
Olhei em volta, esperando desesperadamente que uma doula ou
parteira pudesse estar passeando no parque. Mas ninguém veio em meu
auxílio. Na verdade, as pessoas me olhavam como se eu fosse louca. Ou
mesmo abusiva.
Eu precisava de reforços.
Em estava fora de questão. Eu sabia que ela viria correndo, mas a
última coisa que eu queria era arruinar seu relaxamento.
Então liguei para Marco. Felizmente, ele estava por perto e chegou
rapidamente. Ele dobrou o carrinho no banco de trás enquanto eu
amarrava o bebê gritando na cadeirinha que ele pegou.
O choro do bebê era mais alto do que qualquer buzina tocando ao
nosso redor.
— Espero que Lucille saiba como ajudar, — gritei enquanto tentava
fazer Bella beber uma garrafa de fórmula. Ela não estava interessada.
Marco me deu um sorriso tenso no retrovisor. — Tenho certeza que
ela vai ajudar.
O porteiro me ajudou a colocar Bella e sua carruagem no elevador. Eu
segurei o bebê chorando no meu peito durante a viagem mais longa da
minha vida.
Finalmente, entrei no apartamento. Coloquei Bella no sofá. Ela agitou
os braços e as pernas em seu macacão listrado rosa.
Quando olhei para cima, Lucille estava parada perto da cozinha,
olhando para nós.
— Você sabe como consolar um bebê? — Eu perguntei a ela,
desesperada.
Lucille arregalou os olhos e balançou a cabeça.
Merda.
— Bem, você pode tentar me ajudar?! — Eu implorei.
Lucille caminhou na ponta dos pés em nossa direção como se Bella
fosse uma bomba que poderia explodir a qualquer momento.
Juntos, olhamos para a criança chorando.
— Eu tentei alimentá-la, embalá-la... — Fiz uma lista mental de coisas
que os bebês precisavam.
— Precisamos verificar a fralda, — disse Lucille gravemente.
Eu encontrei seu olhar e assenti.
Não tínhamos trocador para o bebê, então optamos pela mesa da sala
de jantar. Tirei suas roupas minúsculas e desfiz as abas pegajosas,
horrorizada com o que poderia encontrar dentro...
Mas quando tirei a fralda completamente, descobri que estava limpa.
Então qual era o problema?!
Olhei para Lucille em busca de respostas. Ela encolheu os ombros e
gesticulou com as mãos. Ela estava sem ideias.
Peguei a bolsa de fraldas enorme de Em, conseguindo prender uma
nova fralda em Bella.
Eu coloquei os braços pequeninos do bebê em suas mangas
pequeninas e suas minúsculas pernas em suas minúsculas calças, até que
ela estivesse toda vestida.
Então, milagrosamente, o bebê parou de chorar. Seu silêncio foi o som
mais doce que eu já ouvi. Superada pelo alívio e felicidade, me virei para
Lucille com um enorme sorriso no rosto. Ela me deu um grande sinal de
positivo.
Meu alívio se dissipou rapidamente. Não podíamos simplesmente
deixar o bebê dormir na mesa da sala de jantar, não é? Que tipo de
cuidadora permitiria isso?
O que Em pensaria?
— Precisamos movê-la, — sussurrei para Lucille.
Lucille balançou a cabeça com fervor. Eu balancei a cabeça de volta.
Continuamos assim por alguns segundos a mais. Eu estava com um
bebê há apenas uma hora e já estava perdendo a cabeça.
Voltei para a tarefa em mãos. Se eu pudesse mover Bella para seu
carrinho sem acordá-la, ela poderia dormir confortável e feliz.
Juntei minha coragem e estendi a mão para o bebê. Lucille cobriu os
olhos.
Eu aninhei uma mão sob seus ombros e sua cabeça, e a outra sob seu
traseiro...
Mas então Bella acordou. E no segundo que ela acordou, ela estava
chorando.
Lucille me lançou um olhar que em qualquer língua significaria: Eu
avisei.
Eu queria chorar também, olhando para o bebê infeliz.
E realmente tão ruim estar sob meus cuidados? Eu queria perguntar a
ela.
Eu puxei minhas mãos e esperei que o bebê pudesse voltar ao seu
estado de paz. Mas não tive tanta sorte.
O que mais eu poderia ter feito? Eu estava exausta. E sem ideias.
Eu estava pegando meu celular para ligar para Lucas quando a porta
da cobertura se abriu.
— Lar Doce Lar! — Ele disse. — Espere... isso é um bebê?
XAVIER

Voltei para casa para encontrar Angela, Lucille e Bella, todas na sala de
estar.
— O que Bella está fazendo na mesa da sala de jantar? — Perguntei.
Não pude deixar de sorrir ao observar a cena diante de mim, mas todas as
três mulheres, jovens e velhas, estavam claramente infelizes.
— Eu estava trocando a fralda, — explicou Angela como se fosse
óbvio.
— E ela ainda está chateada... — eu disse, as engrenagens girando. —
Você já tentou enfaixá-la?
Minha esposa olhou para mim como se eu fosse uma pessoa
completamente diferente.
— Enfaixar, — eu repeti. — Tentou?
Angela caiu na cadeira da sala de jantar. — Eu não sei como enfaixar
um bebê! — Ela gritou, sua voz falhando.
Aproximei-me da criaturinha gritando na mesa. Mesmo quando ela
fez um som tão horrível, Bella ainda era totalmente adorável.
— Angela, você poderia pegar meu cachecol de cashmere azul para
mim? Está pendurado no guarda-roupa.
Só posso imaginar o olhar desconfiado que minha esposa me lançou,
mas ela saiu da sala.
Claro, eu não sabia exatamente como fazer isso. Mas me lembrei de
assistir tia Heather enfaixar um dos bebês da minha prima como um
embrulho alguns anos atrás.
Quão difícil pode ser?
— Nós vamos te fazer feliz, hein, bebê, — eu disse a Bella. Ela
continuou a chorar, mas tive a sensação de que poderia fazê-la se sentir
melhor.
Angela voltou com o cachecol. Eu levantei Bella e coloquei o tecido
macio embaixo dela. Comecei a enrolar o tecido em seu lado esquerdo,
colocando seu braço ao lado do corpo em uma ligeira curva. Em seguida,
envolvi seus pés e, em seguida, envolvi seu braço direito.
Bella estava enrolada. E então ela parou de chorar.
Eu levantei este pequeno pacote incrível e a embalei em meus braços.
Eu ri um pouco para mim mesmo porque estava tão feliz que eu tinha
sido capaz de ajudá-la.
Quando olhei, Angela estava bem ao meu lado. Seus olhos me
disseram que ela tinha se apaixonado por mim novamente.
Bom.
— Onde você aprendeu afazer isso? — Ela perguntou.
— Só meio que inventei, — admiti. E então pisquei. Angela ficou na
ponta dos pés e me beijou. Assim que nossos lábios se tocaram, senti
alívio e amor irradiando de seu corpo.
Seu beijo foi como voltar para casa. Parecia um pedido de desculpas.
Ela não se afastou. Sua mão estava apertando meu braço e ela se
inclinou para mim. Ela queria estar perto de mim. Eu pude sentir isso.
Quando finalmente acabou, meu sorriso mostrou a ela que a
discussão da noite anterior havia ficado para trás. Claro, tínhamos nossas
questões.
Tínhamos algumas coisas para resolver.
Mas segurar este bebê em meus braços, com o amor da minha vida ao
meu lado, me fez ser o homem mais feliz do mundo.
Eu só podia imaginar como seria se a criança fosse minha...
ANGELA

Eu segurei as lágrimas enquanto observava Xavier e Bella. Meu marido


aproximou a cabeça de cabelo ralo do bebê e beijou-a suavemente.
Como era possível sentir tanto amor?
As últimas horas foram uma verdadeira montanha-russa emocional.
Como eu passei tão rapidamente de um colapso nervoso para a
felicidade amorosa?
Pensei na Em antes. Ela também estava prestes a desmoronar algumas
vezes em nossa breve conversa.
O que havia neste bebê que nos lançou, duas mulheres capazes, em
espirais emocionais?
Um bebê era um pacote de alegria. Mas eu percebi que os bebês
também traziam intensos flashes de medo, orgulho, dúvida... Todos
atacando ao acaso.
Um bebê mudou tudo. Agora eu finalmente entendia o peso disso.
Enquanto eu observava Xavier confortar Bella com confiança, senti
uma onda insana de amor e adoração.
Este homem era meu. E ele era perfeito.
Nossa briga na noite anterior acabou, e tudo o que importava estava
bem aqui e agora.
Eu queria me desculpar por tudo. Eu queria beijá-lo o dia todo, fazer
amor a noite toda e ter lindos bebês juntos, para todo o sempre.
Esse sonho que compartilhamos era a única coisa que importava
naquele momento.
Meu marido sorriu para mim.
— Eu te amo!!! — Eu quase gritei.

— Como foi. mana? — Lucas me perguntou depois que abri a porta


para ele. Bella estava dormindo em seu carrinho, mas Lucas
imediatamente a ergueu com as mãos gentis de um pai.
— Você não está com medo de acordá-la?! — Perguntei.
Ele encolheu os ombros. — Ela estava chorando muito, hein? — Ele
perguntou com conhecimento de causa.
— Uh, sim. — Eu acenei com a cabeça. — Mas prometa não contar a
Em. Xavier a acalmou. Ele foi incrível com ela.
Meu irmão sorriu para mim com o mesmo sorriso bobo de sempre. —
Isso é porque ele tem jeito pra ser pai.
Como de costume, não pude deixar de rir de seu comentário.
Fiquei assustada com o meu telefone zumbindo no bolso.
Quando foi a última vez que verifiquei meu telefone?
Era Hannah Flintour.
— Tenho que atender, — disse a Lucas e me despedi dele e do bebê. —
Alô?
— Angela, é Hannah, — sua voz fria respondeu.
— Você tem um minuto?
— Claro, um segundo.
Segurei meu telefone no meu peito enquanto beijava Xavier. Corri
minha outra mão pelo seu cabelo. Eu só queria ficar sozinha com ele, mas
precisava atender.
'Eu te amo, — disse ele.
— Eu também, — eu sussurrei, e senti sua mão na minha cintura até o
último momento possível.
Sozinha na cozinha, peguei o telefone novamente.
— Ok, Hannah. E aí?
Eu a ouvi suspirar. — Bem, você não vai acreditar, — ela começou, —
mas precisamos encontrar um local diferente para a Gala deste ano.
— O quê?! — Eu explodi.
A Gala da Vague era sempre no mesmo lugar — o Museu de História
Natural.
Isso fazia parte da identidade do evento.
Mudar era algo louco. Obviamente, Hannah Flintour também não
estava feliz com isso.
— Por quê? — Perguntei.
— Digamos apenas algumas relações azedas.
— Ok...
Que diabos? A Vague tinha uma rixa secreta com o museu?
— Bem, precisaremos encontrar um novo local que tenha um poder,
como o Museu de História Natural...
Hannah continuou, e por um momento, observei Xavier e Lucas
bajulando Bella. Então precisei pegar uma caneta e um caderno.
A ligação se transformou em uma reunião e, quando desliguei o
telefone, o relógio do forno disse que era meia-noite.
Eu estava cansada demais. E agora Zoe e eu tínhamos outro projeto
para adicionar à lista: Encontrar o novo local perfeito.
Eu fui para o quarto principal. Deparei-me com a luz apagada e Xavier
dormindo.
Era engraçado como as coisas haviam mudado. Agora Lucas tinha um
bebê e Xavier estava dormindo à meia-noite. Enquanto isso, eu estava no
telefone com Hannah Flintour...
Tirei minhas roupas e subi na cama nua. aninhada contra meu
marido.
Se ao menos ele ainda estivesse acordado, pensei enquanto o segurava.
Eu queria fazer amor.
Mas meus olhos também estavam fechando.
Amanhã está sempre aí...
Capítulo 16
Negócios ou lazer?

DUSTIN

— Então, o que você acha?


— O roxo, — eu disse com convicção.
— Definitivamente o roxo.
Os olhos de Jake brilharam com aprovação. — Você tem um dom para
isso, você sabe.
— Um grande elogio, vindo do próprio incomparável Anthony Jacobs!
— Eu gritei.
— Oh, por favor. — Jake revirou os olhos, seus longos cílios
capturando os raios de sol empoeirados do meu apartamento.
Eu sorri preguiçosamente, observando-o vasculhar enormes faixas de
tecido, deixando de lado a seda roxa brilhante que eu tinha escolhido.
Meu apartamento estava em seu estado perpétuo de caos organizado:
cavaletes perdidos, salpicos de cor, pilhas de telas e o cheiro de acrílico e
óleos, tudo misturado como um dos sonhos febris de Picasso.
Eu adorava isso, mas sempre senti que algo estava faltando. Algo que
desse unidade ao lugar, um centro calmo para a energia vibrante e
espontânea para a sala.
Olhando para Jake, eu sabia que tinha encontrado.
Seu cabelo recém-saído da cama era de um castanho dourado à luz do
sol, seus olhos verdes brilhantes cintilavam com vida. Eu o observei
franzir a testa e morder o lábio inferior enquanto contemplava o
próximo pedaço de tecido e, de repente, desejei que aqueles fossem meus
dentes em seus lábios.
Eu ri, balançando minha cabeça, maravilhado.
Jake me deixou com os olhos arregalados.
Eu coloquei meu queixo em minhas mãos enquanto o observava
trabalhar.
Eu me pergunto se é assim que Angela se sente em relação a Xavier?
Lembrei-me de ter dito a Angela, brincando, que um dia esperava
encontrar alguém que me deixasse todo bonitinho e com olhos de corça,
mas, no fundo, nunca realmente esperava por isso. Quero dizer, acredite
em mim, eu consegui sobreviver. Mas eu nunca conheci ninguém que
chegasse perto de ser um namorado.
Exceto Jake...
Jake pareceu sentir meu olhar. Ele olhou para cima com uma
sobrancelha arqueada, um desafio em seus olhos. — O quê? — Ele sorriu.
A inspiração me atingiu como um raio, como uma liquidação em
minha butique favorita.
Vendemos tudo! 90% de desconto!
Eu pulei do sofá.
— Não se mova! — Eu chorei.
— Huh? — Jake perguntou, incrédulo.
— Não. não, não. — Aproximei-me dele e arrumei cuidadosamente
sua postura para que fosse como antes. Coloquei minhas mãos em seus
quadris, cutucando-o para se apoiar em uma perna, guiando suas mãos
para descansar em sua cintura. Peguei seu rosto em minhas mãos,
tentando organizar sua expressão naquele sorriso brincalhão e desafiador
de um momento atrás.
Senti meu coração batendo forte enquanto olhava em seus olhos,
minhas mãos ainda em concha em torno de suas bochechas.
— Não se mova, — eu sussurrei.
Jake revirou os olhos, um leve rubor em suas bochechas.
— Bem, — ele solicitou. — Apresse-se, Sr. Artista.
Você sabe que não posso ficar parado por muito tempo.
Eu abri um sorriso para ele enquanto tentava pegar minhas tintas e
montar um cavalete. Sentei-me na frente dele, encontrando o ângulo
perfeito onde a claraboia pousava perfeitamente no topo de sua cabeça.
Ele era minha peça central. Uma âncora em um redemoinho de cor e
movimento.
Olha só pra mim, ficando todo pegajoso. Angela iria rir de mim com
certeza.
Ficamos em silêncio por um tempo. Jake ficou o mais imóvel que
pôde, atendendo ao meu pedido, enquanto eu esboçava a cena diante de
mim na tela.
— Eu não estava brincando, você sabe, — disse Jake.
— Hum?
— Você realmente tem talento para design de moda.
— Bem, duh. Você já olhou para mim? — Eu olhei para ele por trás da
tela, torcendo meu rosto na expressão mais estranha que eu poderia
fazer.
Ele riu, e o som me fez sentir leve como uma pena.
— Você poderia ter um futuro no design, Dustin. Se você quisesse,
claro.
Comecei a trabalhar com mais cores na tela, revirando a ideia na
minha mente.
— A Coleção Dustin Stirling, de Anthony
Jacobs. Isso boa bem.
— Espere aí, figurão, você tem que criar um design primeiro, — disse
ele.
— Vou resolver isso logo depois de terminar minha pièce de résistance,
— eu disse, transbordando de confiança.
Eu o ouvi suspirar, diversão em sua respiração.
— Bem, é melhor que sua pièce-de-qualquer-coisa esteja chegando
rapidamente. Minha perna está começando a doer.
Eu sorri enquanto olhava para ele por cima da tela. Tive a sensação de
que haveria muito mais pinturas por vir.
ANGELA

— Obrigado, Marco, ligo para você quando estiver pronto para ir.
Ele acenou com a cabeça enquanto fechava a janela, e eu o observei
dar para fora da garagem. O carro de luxo parecia muito deslocado ao
lado da caminhonete degradada do meu pai no subúrbio de Nova Jersey.
Eu puxei meu vestido de grife, de repente me sentindo envergonhada.
Quando foi a última vez que usei jeans?
— O que você está fazendo parada aí na garagem, sua esquisita?
Eu me virei para ver Lucas encostado na porta e com um sorriso no
rosto.
Eu mostrei minha língua para ele enquanto marchava escada acima,
inclinando-me para um abraço. Eu olhei para ele.
Ele parecia cansado.
Havia olheiras sob seus olhos e parecia que fazia um tempo desde que
ele se barbeou.
— Como vai a nova vida do papai? — Perguntei.
— É ótima, você não percebe? — Ele riu. — Estou dormindo três horas
inteiras por noite.
Eu dei um tapinha em seu ombro, dando um aperto encorajador.
— Mas vale a pena, certo?
— Oh, Bella é a alegria da minha vida. — Lucas sorriu, e eu pude ver a
felicidade genuína brilhando em seu exterior abatido. — Eu só queria que
os bebês não fizessem tanto cocô. Tem uma montanha de fraldas usadas
no lixo. Angela. Uma montanha.
Eu enruguei meu nariz enquanto o empurrava para entrar na casa. O
zumbido da TV misturava-se ao aroma sedutor de uma caçarola de
queijo pegajosa assando no forno. Senti meus ombros relaxarem um
pouco e a tensão escapar do meu corpo enquanto eu caminhava pelos
corredores familiares até a sala de estar.
— Ei, filhinha, — papai chamou do sofá.
Eu me apertei ao lado dele, dando-lhe um abraço apertado.
— Olá, pai. — Meus olhos se desviaram para a TV, o noticiário do
meio-dia soando ao fundo. — Onde está o Danny?
— Oh, ele está terminando no restaurante. As coisas estão ficando
agitadas, com a grande reabertura e tudo.
— Reabrindo? — Eu fiz uma careta.
— Oh, sim, — papai disse casualmente. — Estamos colocando uma
nova camada de tinta no local. Achei que seria uma boa maneira de dar
um pouco de vida a ele, talvez trazer alguns rostos novos.
— Oh.
Papai olhou de lado para mim. — Angela?
Levantei-me do sofá um pouco rápido demais, cambaleando um
pouco para me equilibrar.
— Eu vou ajudar com a caçarola.
Fui até a cozinha e pude sentir os olhos de papai nas minhas costas.
Eles estão reabrindo o restaurante? Por que eles não me disseram
nada? Eles se esqueceram de me dizer ou simplesmente não se
preocuparam em me contar? Ou talvez sim. e eu simplesmente não
estava prestando atenção no momento...
Eu balancei minha cabeça, tentando limpar os pensamentos da minha
mente. Um nó começou a se formar no meu estômago, mas isso pode ter
sido apenas a minha fome falando.
Encontrei Em na cozinha removendo a caçarola e colocando-a em
cima do fogão. Ela parecia muito melhor depois da ida ao spa. Embora
ela ainda tivesse olheiras, havia uma determinação brilhante neles, em
vez de um desespero.
— Ei, Angie, — ela disse, me abraçando com as luvas de cozinha ainda
colocadas. Eu a apertei de volta, feliz por meu pequeno presente a ter
ajudado.
— Onde está Bella? — Perguntei.
— Ela está dormindo lá em cima, finalmente. — Em riu. — Ajude-me
a pôr a mesa, sim?
Tínhamos acabado de colocar os pratos e talheres quando Lucas
entrou na cozinha com Danny logo atrás dele. Danny desabou em uma
cadeira com um gemido.
— Cara, estou morrendo de fome. Oh, ei, Angela.
Cortei para ele um grande pedaço da caçarola, colocando uma pilha
de queijo derretido em seu prato.
— Como vai a reabertura? — Perguntei.
— Caçarola de queijo de novo? — Ele reclamou.
— Se não gosta, não coma, — disse Em.
Danny deu uma mordida, falando alto. — Quase pronto. Vou voltar
para lá depois de um almoço rápido, — ele suspirou, virando-se para
mim. — E um monte de trabalho. Especialmente agora que Lucas está
fugindo de mim.
— Pulando para fora? — Lucas disse incrédulo enquanto se sentava ao
lado de Danny. — Você quer enfrentar a montanha de cocô?
— Você está exagerando, — Danny acusou.
— Não. — Papai interrompeu enquanto saía da sala de estar. —
Literalmente uma montanha de cocô.
Danny continuou a comer sua comida, sem ser perturbado pela
imagem mental nojenta. — De qualquer maneira, o trabalho está ficando
mais difícil com a bebê Bella ocupando todo o seu tempo.
Sentei-me ao lado de papai e Emma, cortando uma fatia para mim. A
brincadeira em torno da mesa da sala de jantar foi fácil, e eu senti o nó
em meu estômago se desfazendo lentamente. Afinal, eles eram uma
família.
— Falando em trabalho e bebê Bella, — eu disse. — Como você está
encontrando tempo para administrar a floricultura, Em? Deve ser difícil
fazer as duas coisas.
— Muito difícil, — Em concordou. — É por isso que Lucas e eu
decidimos vender a loja.
Quase engasguei com a caçarola cheia de queijo.
Papai me deu um tapinha nas costas rudemente, me entregando um
copo d'água. Eu engoli.
— O quê? — Eu engasguei quando a morte por caçarola foi evitada. —
Não era esse o seu sonho, Em? Uma floricultura em Nova York?
— Era, — Em concordou. — Mas agora tenho um novo sonho. E é ser
mãe.
— Bem desse jeito? — Perguntei.
— Simples assim, — ela confirmou, pegando a mão de Lucas do outro
lado da mesa.
Tentei envolver minha cabeça em torno disso. Parecia que era ontem
quando Em finalmente abriu sua loja em Nova Iorque. Lembro-me de
como ela estava animada, o brilho e a paixão em seus olhos enquanto
arrumava as flores da maneira certa.
E agora ela estava desistindo de tudo.
— Você não conseguiu encontrar um meio-termo? — Eu perguntei,
espantada.
— Bem. talvez, — Em cedeu. — Mas também pensamos que o
dinheiro poderia ser usado para comprar uma casa.
— Queríamos nosso próprio lugar para criar nossa família, —
acrescentou Lucas.
Fiquei tonto, meu apetite repentinamente perdido. Tudo estava
mudando tão rápido.
Muito rápido.
Sem mim.
— Oh, eu sei, — eu disse com um sorriso. — Posso comprar uma casa
nova para vocês dois! — Eu esperava abraços e risos, não o silêncio
desconfortável que me cumprimentou.
— Angela... — Em disse. Ela olhou para Lucas.
— Agradecemos a ideia, mas acho que gostaríamos de fazer isso nós
mesmos. — Meu irmão olhou para mim de forma estranha, quase como
se ele não soubesse quem eu era.
Senti o nó voltar ao meu estômago, apertando minhas entranhas
como um torno.
— Isso é muito dinheiro, filhinha. — Papai ergueu uma sobrancelha
para mim.
— Nem um pouco, — eu insisti. — São apenas algumas centenas de
milhares...
— Calma aí, Sra. Knight, — ele brincou. — Você está cercado por
pessoas comuns nesta mesa, lembra?
Minhas palavras morreram em meus lábios.
Desde quando não sou considerada parte do grupo? Quando me
tomei uma estranha?
Tentei sorrir, tentando engolir o pânico que borbulhava na minha
garganta. Eu me sentia uma estranha na minha família. Eu senti como se
eles tivessem seguido em frente sem mim, que eu havia me desviado em
um novo caminho sem nem mesmo perceber o quão longe eu havia
vagado.
— Desculpe, pessoal, acabei de lembrar que tenho um trabalho para
pôr em dia esta noite. — A desculpa parecia vazia em meus ouvidos, mas
parecia funcionar. — Vejo vocês na próxima vez, ok?
— Você precisa de uma carona para a estação de trem? — Danny
perguntou.
— De jeito nenhum, — Lucas brincou. — Nossa irmã é levada em um
beamer agora, você não sabia? — Eu ri enquanto me afastava, mas
parecia que estava engolindo vidro quebrado.
— Ei. docinho, — papai chamou. Parei para olhar para ele e havia
preocupação em seus olhos. — Se cuida.
Eu balancei a cabeça, abrindo a porta da frente e fechando-a atrás de
mim.
Eu realmente mudei tanto? Eu era realmente tão diferente?
Eu caminhei até o meio-fio, o número de Marco já digitado no meu
telefone, meus pensamentos em um turbilhão.
Em tinha desistido de seu sonho por sua filha.
Por sua família.
Eu posso fazer o mesmo?
Capítulo 17
Um castelo transformado em prisão

XAVIER

Sentei-me nas familiares cadeiras de couro de pelúcia na sala de


reuniões da Knight Enterprises, olhando para a longa mesa de mogno e
as cadeiras vazias diante de mim.
Eu amava esse lugar.
Do meu lugar de comando na cabeceira da mesa, fechei inúmeros
negócios aqui. Eu senti o sangue bombear em minhas veias quando me
aproximei de um cliente, senti o momento em que eles cederiam às
minhas propostas tão seguramente quanto um predador poderia sentir o
momento de atacar.
Eu falei sobre os concorrentes, destruí os rivais, tudo nessa posição de
poder.
Foi uma adrenalina alta.
Uma onda de excitação.
A emoção de saber que eu era o homem mais poderoso da sala.
Na cidade.
Estávamos prestes a realizar uma reunião sobre as margens de lucro
projetadas para o novo resort nos Alpes.
Eu deveria estar subindo pelas paredes, olhando para a vista
impressionante de Nova York enquanto ensaiava minhas propostas
baixinho. Eu deveria estar limpando minha mente e afiando minha
língua, pronta para derrubar qualquer contra-argumento que ousasse ser
levantado contra mim.
Mas eu não estava pensando em nada disso.
Em vez disso, estava pensando em meu pai.
Eu estava pensando em meus momentos finais com ele, a raiva e o
arrependimento ainda queimando em mim.
Pensava sobre como ele egoistamente decidiu se casar novamente sem
me contar, como ele egoistamente decidiu dar a Penny, minha ex-
companheira de merda que se tornou madrasta, uma participação na minha
empresa, sem me contar.
Fiz um esforço consciente para relaxar meu aperto no apoio de braço
antes de rasgar o couro. Eu tive que firmar minha respiração antes de
jogar a porra da cadeira pela janela.
Eu sabia que papai não fez nada para me magoar.
Ele só queria encontrar a felicidade.
Ele apenas fez o que achou que seria o melhor.
Isso não significa que não doeu pra caralho, que não me levou até a
raiva.
Fiz um esforço consciente para relaxar meu aperto no apoio de braço
antes de rasgar o couro. Eu tive que firmar minha respiração antes de
jogar a porra da cadeira pela janela.
Eu sabia que papai não fez nada para me magoar.
Ele só queria encontrar a felicidade.
Ele apenas fez o que achou que seria o melhor.
Isso não significa que não doeu pra caralho, que não me levou até a
raiva.
Ainda assim, o que eu não daria para tê-lo de volta. Tê-lo aqui para
que ele pudesse ver seu neto, ver a linda família que eu queria ter com a
Angela.
Meu anjo.
Pensando nela, toda a raiva se esvaiu. Todo o estresse, o
aborrecimento, desapareceram como um caso de uma noite no início da
manhã.
Mesmo as coisas que eu amava no negócio não podiam ser
comparadas. A emoção de fechar um negócio não chegou nem perto da
emoção de ter sua pele na minha, o som dela suspirando meu nome.
Fechei os olhos e me imaginei voltando para casa depois de um dia
exaustivo de trabalho, tudo para que eu pudesse ver seu rosto se iluminar
quando ela se virou e seus olhos pousaram nos meus.
Xavier.
Eu sorri. Quase pude ouvir sua voz.
— Xavier?
Espere. Isso não soa como ela.
— Xavier!
Meus olhos se abriram e os assentos vazios diante de mim foram
preenchidos de repente.
Penny estava inclinada na cadeira à minha direita, seus olhos
brilhando de preocupação.
— Você está bem? — Ela colocou a mão na minha testa. — Você não
parece estar com febre... — Afastei a mão dela com um pouco de força
demais. Tentei ignorar a dor em seus olhos.
Você não é a porra da minha mãe.
— Parece que pegamos nosso CEO babando, — Henry zombou. — Por
que você não vai tirar uma soneca, Xavier? Vamos apenas te informar
depois.
Algumas pessoas abafaram o riso baixinho.
E assim, raiva e desprezo inundaram tudo à minha volta.
Puta que pariu.
Eu sorri como punhais para a sala, e as pessoas que riram encolheram
em seus assentos. Henry olhou para trás, imperturbável.
— Ok, vamos continuar, — disse Penny, tentando acalmar a tensão na
sala. — As projeções para o resort nos Alpes parecem boas. Eu estimaria
um aumento de dezessete por cento nos lucros até o final do trimestre.
— Hmm, — eu murmurei. O último lugar que eu queria estar agora
era nesta sala de reuniões, cercado por um bando de cobras e idiotas.
Penny fechou este negócio. Ela pode lidar com o trabalho pesado.
— ... O construtor nos disse que a nova extensão será concluída logo
que...
O que Angela está fazendo agora? Eu me perguntei. Pensei em vê-la
segurando a pequena Bella em nosso apartamento, e um sorriso apareceu
em meus lábios.
— Xavier.
Eu pisquei.
Penny estava franzindo a testa novamente, e o olhar de Henry estava
cheio de veneno. A sala da diretoria ficou em silêncio.
— O que Penny acabou de dizer? — Henry exigiu.
— O quê?
— Você me ouviu.
Meus olhos se estreitaram.
— Ela estava falando sobre como a nova extensão do resort seria
concluída em breve, — eu disse entre dentes.
Quem diabos Henry pensa que é?
— Qual construtor?
— O que é isso, um teste surpresa?
— Responda a maldita pergunta, Xavier.
Olhei ao redor da sala, repleta de rostos cheios de expectativa. Até
Penny estava olhando para mim, esperando por uma resposta.
— Dream Mason, — eu disse.
Henry se recostou na cadeira, bajulador como sempre.
— Xavier... — Penny pareceu hesitar por um segundo antes de
continuar. — Nós rejeitamos Dream Mason. Sua cotação de materiais era
muito alta.
— Bom. — Dei de ombros. — Muito bem, temos bom senso.
— Dream Mason, — eu disse.
Henry se recostou na cadeira, bajulador como sempre.
— Xavier... — Penny pareceu hesitar por um segundo antes de
continuar. — Nós rejeitamos Dream Mason. Sua cotação de materiais era
muito alta.
— Bom. — Dei de ombros. — Muito bem, temos bom senso.
— Inacreditável. — Henry se inclinou para a frente em sua cadeira,
olhando ao redor da sala. — Dá para acreditar que esse cara é nosso
CEO?
— O que você disse? — Eu rosnei.
Ele me encarou, e eu tive que lutar com tudo que eu tinha para ficar
no meu lugar e não me levantar e olhar seu rosto presunçoso.
— Você não limpou seus ouvidos recentemente, Xavier? E como se
você não pudesse ouvir nada hoje. Não é o que estamos falando, não é o
que está acontecendo com nosso próximo grande projeto...
Eu me atirei para fora da minha cadeira, que caiu no chão atrás de
mim.
Penny se inclinou para frente, capturando meu olhar. Havia uma
mensagem silenciosa em seus olhos.
Um apelo.
Ele não vale a pena, me disse.
Henry deu um sorriso de satisfação.
Este filho da puta estava me provocando. Ele queria que eu o pegasse
pela gola de sua camisa e o espancasse até deixá-lo sem sentidos. Ele está
tentando brincar com o conselho, me fazer parecer um vilão. Quer me
fazer parecer incompetente.
E o que mais me irritou foi que estava funcionando.
Avancei na direção de Henry e ele se virou para mim, preparando-se
para uma luta.
— Xavier! — Penny gritou.
Passei correndo por Henry, indo direto para as portas.
— Covarde, — ele sussurrou.
— Vou tomar um pouco de ar fresco, — fervi.
Empurrei as portas com força, abrindo caminho pelo corredor. Eu
ouvi o som de saltos altos atrás de mim no corredor.
Deixe-me em paz.
— Xavier! — Penny chamou. Ela meio que correu para me alcançar,
parando para bloquear meu caminho. — Droga, Xavier. Espere!
Eu olhei para ela, raiva borbulhando em meu peito.
Ela me agarrou pelo braço e me arrastou para o escritório do meu pai.
Não, eu tive que me lembrar. Seu escritório, agora.
Ela fechou a porta, empurrando suas costas contra ela. Ela olhou para
mim, uma determinação de aço brilhando em seus olhos.
— Nós precisamos conversar.
ANGELA

Eu estava exausto.
Eu não conseguia afastar aquela sensação horrível de mal-estar se
formando na boca do estômago depois de deixar a casa da minha família
em Nova Jersey. A viagem de carro de volta a Nova Iorque pareceu durar
séculos, e eu me peguei pulando para cima e para baixo no assento. Eu
me sentia inquieta. Eu tinha que fazer algo.
Algo.
Então me dediquei ao meu trabalho. Zoe e eu estávamos procurando
locais para a Gala, e passamos o dia todo em Nova Iorque.
Estivemos em vários armazéns, em um museu de ciências e até em um
navio abandonado no porto. Nenhum deles parecia ser o adequado. O
local tinha que ser perfeito. Cheio de talento e personalidade como o
museu, um espaço digno da Gala. Nenhum dos lugares que visitamos
chegou perto.
Meus pés doíam e minha cabeça latejava, mas me arrastei para frente,
determinada a encontrar pelo menos um local possível até o final do dia.
Não ajudou o fato de Zoe estar estranhamente quieta também.
Ela parecia desinteressada, sua personalidade naturalmente
borbulhante estava subjugada. Sempre que eu tentava tirar ideias dela,
ela me dava respostas concisas de uma palavra.
Estávamos descendo a rua trinta e dois, abatidas após um dia
infrutífero de buscas, quando o vi.
Uma grande estrutura ergueu-se no céu. Parecia quase estranho,
camadas de níveis circulares projetando-se para cima, sua superfície
reflexiva de bronze brilhando com o pôr do sol.
— Você vê isso também ou estou ficando louca? — Eu perguntei a
Zoe.
Ela olhou e viu a estrutura, seus olhos brilhando.
— Oh, acabou! — Ela disse.
— Sabe o que aquilo é?
Ela acenou com a cabeça, um pouco de seu eu natural retornando.
— E uma nova estrutura que eles construíram para a Hudson Yards
chamada The Ves sei. Aparentemente, é como um labirinto lá dentro,
enrolando-se no céu.
— Zoe, é isso! — Olhando para o The Vessel, eu sabia que era aqui que
eu queria que a Gala acontecesse.
Lustroso.
Moderno.
Um símbolo de uma nova Nova Iorque em evolução.
— Você quer alugar Hudson Yards para a Gala? — Zoe perguntou,
incrédula.
Eu assenti com um brilho nos meus olhos.
— Eles não eram mesquinhos com nosso orçamento. Vamos ser
ousadas em nossa escolha, — disse com uma piscadela.
Ela encolheu os ombros e parecia que estava segurando um pouco de
seu entusiasmo. — Você é a chefe.
Inclinei minha cabeça para olhar para ela, me perguntando o que
estava acontecendo em sua cabeça. Liguei meu braço ao dela e a senti
enrijecer, só um pouco.
Decidi ignorar por enquanto.
— Vamos jantar, vamos?
Zoe e eu encontramos um lugar com um pad thai forte.
Gosto de pensar que o silêncio durante a refeição foi porque a comida
era muito boa. mas algo me dizia que era algo mais.
Desde que conseguimos o show de Gala. Zoe estava agindo de forma
estranha. Ela ficou chateada por eu não especificar que o argumento de
venda foi baseado na ideia dela?
Éramos uma equipe, não éramos? O que isso importa?
— Ei. Zoe, — eu comecei. Eu vasculhei minha bolsa enquanto ela
pegava seu pad thai.
— Sim?
— Eu tenho algo para você. — Peguei a pequena caixa preta e deslizei
sobre a mesa em direção a ela. Observei Zoe abri-lo, examinando os
pequenos brincos de diamante aninhados dentro.
— Para que serve isso? — ela perguntou.
— Eu só queria comprar algo para você, — eu disse com um encolher
de ombros. — Eu senti que não estávamos na mesma página por um
tempo e achei que isso poderia animá-la um pouco.
— Então você comprou brincos para mim?
— Você gosta deles? — Eu perguntei, sorrindo.
— Hum, sim, Angela. Eles são legais. Obrigada. — Ela fechou a caixa,
colocando-a na bolsa.
Meu sorriso vacilou um pouco. Ela não parecia muito feliz.
— Escute, eu vou encerrar por hoje. Vamos discutir os detalhes do
Hudson Yards amanhã, certo? Acho que preciso ir para casa e descansar
um pouco.
— Zoe se levantou, deixando algum dinheiro na mesa.
— Você está bem?
— Sim, tudo bem. Falo com você amanhã, Angela. — Eu a observei ir,
o toque metálico da campainha da porta soando quando ela entrou na
noite.
Peguei o resto da minha comida, olhando para a nota de vinte dólares
amassada que Zoe havia deixado na mesa. Peguei minha carteira e
descobri que minhas mãos tremiam um pouco.
Pensei em quando estive em Nova Jersey.
Eu me sentia uma estranha para minha própria família. Agora Zoe
estava distante.
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, sentada sozinha à mesa.
O que eu estava fazendo de errado?
Capítulo 18
P roblemas familiares

PENNY

Eu olhei para Xavier enquanto ele andava pelo meu escritório, a


tensão em cada linha de seu corpo.
Ele estava chateado. Era fácil saber.
Eu tinha mais do que o meu quinhão de experiência com homens
raivosos.
Seus dentes cerrariam.
Seus olhos escureceriam.
Suas mãos se fechariam em punhos.
E então eles pairavam sobre mim cada vez maiores...
Fechei os olhos com força, levando a mão à garganta.
Jacques se foi. Você tem que se concentrar no que está à sua frente.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que ameaçava me
engolir por inteira.
Quando Brad me pediu em casamento, para esquecer todos os
estigmas e fugir, meu mundo inteiro mudou. O sol parecia mais forte. A
comida tinha um gosto melhor. Eu era a garota mais feliz do planeta.
Mas a vida era cruel e destruiu nosso amor quando ele mal havia
começado.
Agora eu estava no antigo escritório de Brad. preocupada com o
futuro de uma empresa multibilionária e a estabilidade emocional de
meu novo enteado.
Enteado.
Eu abri meus olhos e vi que ele ainda estava andando como um
animal selvagem.
Como uma besta presa em uma gaiola.
Ver Xavier como enteado era impossível. Eu não poderia magicamente
me tornar uma figura materna para ele. Além disso, ele era mais velho
Joque eu...
E não é como se eu fosse imediatamente alguma extraordinária mulher
de negócios.
Eu estava tão confusa e — por mais que ele nunca admitisse —
assustada quanto Xavier.
Mas pelo menos eu estava tentando.
Era muito esperar uma ajudinha de Xavier?
Meus olhos estavam começando a arder e eu pisquei ferozmente, me
recusando a deixar as lágrimas derramarem.
Em vez disso, canalizei minha frustração em minha voz.
— O que há de errado com você?! — Perguntei.
Ele parou de andar e olhou para mim. Seus olhos brilharam como se
quisesse envolver as mãos em volta da minha garganta. Ele deu dois
passos largos até a minha mesa, pairando sobre ela e sobre mim.
— O que há de errado comigo? — Ele gritou. — O que há de errado
comigo?
Tentei não vacilar, meu coração batendo forte na garganta.
Mantenha-se forte. Penny.
— A porra do mundo inteiro enlouqueceu! — Ele gritou furioso para
mim, e não pude deixar de soltar um pequeno suspiro de alívio. — Eu
preciso explicar como essa situação é fodida. Penny? Você é tão estúpida?
— Eu entendo, Xavier. As coisas estão realmente confusas agora,
mas...
— Se você entendeu, então por que estamos falando sobre essa
merda? Vou demitir cada um desses idiotas, suas novas políticas de RH
que se danem. Eu vou...
— Pelo menos estou tentando, Xavier! — Eu o cortei.
Ele parou no meio do discurso, me encarando com agudeza.
— Você não acha que eu estou tão confuso quanto você? Eu amava
Brad. Xavier, mas quando concordei em me casar com ele, quando
concordei em ajudar a proteger a empresa que ele tanto amava, pensei
que ele estaria aqui comigo.
Observei um pouco da raiva deixá-lo, em seu lugar nascia uma lenta e
crescente tristeza.
— Eu quero fazer isso funcionar, Xavier. Tanto pelo bem de Brad
quanto pelo seu. Mas eu preciso que você me ajude aqui. O que Henry
disse naquela sala de reuniões...
Eu vi seus punhos cerrarem.
— ... Para ser honesto, ele expôs você. Todo mundo poderia dizer que
você realmente não se importava lá.
— Você pode me culpar? — Ele perguntou. — Isso nem era meu
negócio. Era seu. Se você não consegue nem mesmo lidar com os
pequenos detalhes, então...
— Eu posso culpar você, Xavier. Esta é a sua empresa. Você é o CEO.
Aja como tal.
Eu podia ver a raiva borbulhando dentro dele novamente. Abri uma
gaveta da minha escrivaninha e tirei a foto que esperava que o ajudasse a
acalmá-lo.
Ofereci-o como uma oferta de paz.
XAVIER

Eu olhei para a foto que Penny segurava nas mãos.


Uma foto da minha mãe.
Ela parecia radiante em um vestido de verão. Mesmo o grande chapéu
de sol não conseguia esconder seu sorriso brilhante.
— Era a foto favorita de Brad, — ela disse baixinho. — Ele me disse
que sempre que estava frustrado ou inseguro, ele olhava para a foto e isso
o ajudava a acalmá-lo. Limpe sua cabeça. Talvez te ajude também.
Era uma foto da mamãe que eu nunca tinha visto antes. Peguei a foto
em minhas mãos, tentando encontrar a paz que meu pai parecia
encontrar quando olhou para ela.
Mas só conseguia pensar em como Penny parecia saber mais sobre
papai do que eu. Como isso me fez sentir desconfortável.
Eu poderia confiar nela?
Mulheres manipuladoras já haviam me queimado antes. Isso era algo
que eu nunca perderia, um instinto de proteger o que era meu dos
mentirosos e trapaceiros do mundo.
Claro, Angela veio e provou que eu estava errado, mas essa era Angela.
Essa garota poderia transformar um assassino em série em um santo.
Papai encontrou Angela para mim.
Certamente eu poderia confiar em seu julgamento mais uma vez com
Penny?
Ela estendeu a mão com cuidado, descansando os dedos nas minhas
mãos, seu toque leve como uma pena.
— Eu não estou aqui para substituir Amélia, Xavier.
Eu nunca quis. Eu nunca poderia.
Eu me afastei de seu toque, sinos de alarme disparando em minha
mente.
Foi a coisa perfeita que ela poderia dizer para ganhar minha confiança.
Perfeito demais.
Foi um movimento perfeitamente calculado. Um pelo qual me recusei
a cair.
— Tudo bem. — Eu disse. — Vou trabalhar mais com você. No
mínimo, isso dará a Henry menos munição para atirar em mim.
Penny sorriu, o alívio relaxando o arco tenso de seus ombros.
Quem sabe, talvez ela estivesse sendo genuína. Mas eu não morderia a
isca. Ainda não. Eu trabalharia junto com ela por enquanto, mas ao
primeiro sinal de que ela estava aqui para me prejudicar, eu a chutaria
pessoalmente pela porta da frente.
Os desejos de papai que se danem.
ANGELA

Eu joguei os sais de banho na banheira, observando a mágica


acontecer. O cheiro de rosas rolou sobre mim, espuma de sabão e pétalas
de rosa flutuando na superfície da água.
Eu mergulhei na água fumegante, suspirando de satisfação enquanto
o calor se infiltrava em meus ossos exaustos. Eu deixei a espuma lavar
minha pele, a água me envolvendo em um abraço suave.
Fechei os olhos, afundando mais na banheira, soprando bolhas na
superfície da água.
Foi um dia longo e estressante.
Qual a melhor maneira de relaxar do que um banho de espuma?
Ainda me lembrava dos dias em que era criança, quando pegava todo
o sabonete da cozinha e enchia a banheira com ele para poder fazer meus
próprios banhos de espuma improvisados. Eu fazia explosões na água,
ria, até começar a enrugar os dedos.
Acontece que o detergente não é o melhor produto para a sua pele.
Eu ri, lembrando-me do rosto chocado de papai quando ele percebeu
que precisava sair e comprar mais detergente por causa de sua filha
maluca.
Agora, aqui estava eu, em um apartamento de cobertura no topo da
cidade de Nova Iorque, desfrutando de um luxuoso banho misturado
com flores e óleos essenciais em uma banheira de hidromassagem de
última geração.
Muito longe do detergente de outrora, com certeza.
Muito longe daquela garotinha suburbana na banheira...
Eu me enrolei em uma bola, abraçando meus joelhos no meu peito.
Eu ainda era eu, não era?
Se eu me olhasse no espelho, ainda veria a simples e velha Angela.
Então, por que me sinto um estranho em minha própria pele?
Fui salva da espiral de meus pensamentos quando a porta do banheiro
se abriu.
Xavier estava lá na porta, seus olhos perfurando os meus.
— Bem-vindo ao lar. — Eu sorri para ele. — Vai me fazer companhia?
Ele fechou a lacuna entre nós em três longas passadas, escorregando
na banheira antes mesmo de tirar a roupa. Água com sabão transbordou
da banheira de hidromassagem e se espalhou pelo chão do banheiro.
— Xavier! — Eu engasguei, rindo. — Pelo menos tire a roupa...
Seus lábios estavam nos meus, sufocando as palavras antes que
pudessem deixar minha boca. Senti suas mãos envolverem minha
cintura, sua língua correndo ao longo da parte inferior do meu lábio,
implorando para entrar.
Eu gemia no beijo, e ele aproveitou a oportunidade para entrelaçar
sua língua com a minha. Este beijo se aprofundou, tão quente e pesado
que me deixou tonta e com falta de ar. Uma onda de excitação percorreu
meu corpo, apesar da água quente.
Ele começou a traçar beijos no meu pescoço, na minha clavícula, e eu
enrolei meus dedos em seus cabelos, empurrando para cima para sentir o
máximo que pude do meu corpo.
Havia algo tão gostoso em como ele nem esperou para tirar a roupa
antes de entrar na banheira.
Como se ele não pudesse esperar para colocar as mãos em mim...
Eu senti meu interior gritar com luxúria. Minhas mãos se
atrapalharam desajeitadamente, tentando desabotoar sua camisa.
Xavier se inclinou para trás e rasgou sua camisa, os botões voando
pelo banheiro enquanto ele revelava seu peito e abdômen esculpidos,
brilhando molhados com água e sabão.
Oh, meu...
Seus lábios estavam nos meus mais uma vez, e eu me inclinei na água
para acariciá-lo através de suas calças. De alguma forma, consegui tirá-las
de cima dele e logo senti sua dor latejante pulsando entre minhas coxas.
Eu queimei de necessidade, esfregando contra o comprimento dele.
— Pode vir, — eu gemi em seu ouvido, mordendo seu lóbulo para
garantir.
Ele não precisava de mais incentivo.
Eu gritei quando o senti me encher até a borda, minhas unhas
arranhando suas costas. Nós rapidamente construímos um ritmo, meu
corpo inteiro cantando com prazer. A água espirrou para frente e para
trás ao nosso redor, pétalas de rosa e espuma derramando
descuidadamente sobre a banheira.
De repente, Xavier me girou, me curvando sobre a borda da banheira
de hidromassagem enquanto me pegava por trás. Gritei de novo, minha
voz rouca de tanto gritar seu nome.
— Xavier, — eu gemi. — Xavier!
Ele grunhiu, seu ritmo ficando mais frenético e errático. Ele estava
chegando perto do clímax, e eu também. Senti uma onda de pânico,
irracional e indesejada, crescer dentro de mim.
A vida parecia estar correndo a uma velocidade vertiginosa, deixando-
me na poeira muito, muito para trás.
Posso lidar com a adição de gravidez à mistura?
— Goze nas minhas costas, — eu disse. — Eu quero sentir você gozar
em cima de mim.
Xavier se inclinou sobre mim, uma mão descendo para torturar meu
clitóris enquanto a outra apertava meu mamilo, tudo no ritmo de suas
estocadas. Eu estava perdida em uma névoa de prazer, gritando quando
gozei, meu sexo convulsionando em tomo de seu pau latejante.
Eu o ouvi suspirar e rapidamente me afastei dele, sentindo seu pau
escorregar para fora de mim. Eu rapidamente empurrei de volta para ele,
apertando seu pau entre as minhas nádegas, esfregando-me nele até que
o senti passar por todas as minhas costas.
Suspirei, o alívio que senti rapidamente substituído por culpa.
O que Xavier iria dizer?
XAVIER

Eu gemi, cavalgando a onda do meu orgasmo, enquanto enterrei meu


pau na bunda de Angela.
A vista não era motivo para reclamar.
Ver sua bunda fluindo na curva de seus quadris e cintura estava me
mantendo como uma rocha sólida.
Mesmo se meu corpo pudesse continuar, eu senti como se o calor do
momento tivesse ido embora. Por que ela não queria que eu gozasse
dentro dela? Especialmente com nossas esperanças de começar uma
família...
O entendimento me atingiu com tanta força que parecia que me havia
despertado do estado em que me encontrava.
Ela realmente não queria começar uma família.
Senti uma pontada de dor deslizar em meu coração como uma adaga.
Seu trabalho era realmente tão importante?
Mais importante do que eu?
Não me entenda mal. Eu pensei que era muito sexy que ela quisesse
que eu gozasse em sua bunda. A maneira como ela disse isso, sua voz
geralmente tão doce e inocente, quase me fez explodir ali mesmo.
Recostei-me na banheira de hidromassagem, esperando Angela se
virar e olhar para mim.
Ela não fez nada disso.
Esperei mais um momento para ela dizer alguma coisa, mas ela ficou
em silêncio. Era como se ela estivesse no tribunal e esperando que eu a
julgasse.
Suspirei, saindo da banheira. Comecei a tirar minhas roupas
encharcadas, ligando o chuveiro.
— Xavier... — disse ela.
— Está tudo bem. — Tentei sorrir, mas percebi que não a enganei. —
As coisas estão muito ocupadas, certo? Vamos nos lavar e dormir um
pouco.
Eu olhei pra ela. Sua expressão era tão apologética que me machucou.
Isso meio que me irritou, para ser honesto.
Ela estava com pena de mim?
Afastei-me dela e entrei no chuveiro. Mesmo que eu ainda pudesse vê-
la através da porta de vidro, parecia que nunca tínhamos estado tão
separados.
Capítulo 19
Alguns conselhos paternos

XAVIER

O mundo passou em um borrão fora do carro, meus pensamentos


girando em minha cabeça com a mesma rapidez.
A noite anterior foi estranha, para dizer o mínimo.
Depois do meu banho, encontrei Angela esperando por mim na cama.
Ela estava olhando para mim com aqueles olhos grandes e inocentes dela,
um pedido de desculpas já em seus lábios.
Eu apenas balancei minha cabeça e dei a ela um sorriso indiferente,
afastando-me dela enquanto me preparava para dormir. Eu realmente
não queria falar sobre isso. Depois de um dia horrível no trabalho, a
última coisa que eu queria fazer era ter uma conversa difícil com minha
esposa.
Minha esposa, que pode ou não querer começar uma família comigo.
Quando acordei na manhã seguinte, Angela já tinha ido embora para
planejar mais de seu evento de gala.
Por um lado, eu estava orgulhoso dela por ser tão produtiva, tão
independente e focada no trabalho. Lembro-me de considerá-la uma
interesseira quando a Conheci, e ela estava provando ser tudo menos
isso.
Ela sairia e ganharia o dela.
Por outro lado, eu me sentia como em segundo plano, seu trabalho
era sua principal prioridade.
Eu ri uma vez, um som curto e amargo.
Provavelmente foi assim que Angela se sentiu quando começamos a
nos ver.
Doce ironia.
Eu sabia que não seria capaz de me concentrar adequadamente no
trabalho com isso me corroendo, então cancelei todas as minhas
reuniões e compromissos de hoje. Eu sabia que Penny ficaria chateada e
Henry teria um dia agitado no escritório sem mim, mas eu seria um
incômodo se fosse lá.
Então, aqui estava eu, a caminho de Nova Jersey. Não gosto de fugir
dos meus problemas. Eu tinha feito o suficiente disso, enchido minha
vida com bebidas e mulheres. Era hora de enfrentar as coisas de frente.
E se isso significasse ir me encontrar com meu sogro, então para o
inferno com isso, eu engoliria meu orgulho e faria isso.
Minha mão segurava com força um dos diários de meu pai.
Eu poderia estar pronto para ouvir alguns conselhos de Ken, mas não
tinha certeza se era forte o suficiente para ser capaz de ler o que estava
dentro dessas páginas.
Ainda não.
Eu não tinha certeza se algum dia teria.
Mesmo assim, por algum motivo, não consegui jogar o livrinho de
volta no porta-luvas. Passei minhas mãos sobre a capa de couro liso, me
confortando como um bebê agarrado ao seu cobertor favorito.
Eu olhei para o mundo passando por mim pela janela.
Quando me tornei tão fraco?
— Pode entrar, bonitão. — Ken segurou a porta aberta para mim
enquanto eu caminhava até a varanda da frente. Ele parecia mais
saudável cada vez que o via.
De certa forma, foi tudo graças a Ken que pude conhecer Angela. Se
não fosse por sua saúde debilitada na época, meu pai nunca teria feito a
proposta que mudou minha vida.
Eu era um idiota por estar grato por ele estar tão doente?
Talvez.
— Pode entrar, bonitão. — Ken segurou a porta aberta para mim
enquanto eu caminhava até a varanda da frente. Ele parecia mais
saudável cada vez que o via.
De certa forma, foi tudo graças a Ken que pude conhecer Angela. Se
não fosse por sua saúde debilitada na época, meu pai nunca teria feito a
proposta que mudou minha vida.
Eu era um idiota por estar grato por ele estar tão doente?
Talvez.
Ele estava melhor agora, então dispensei o pensamento da minha
mente.
Sentei-me à pequena mesa da cozinha enquanto ele remexia na
geladeira, tirando duas latas de cerveja. Ele deslizou uma pela mesa para
mim. Eu realmente não me importava com essas marcas baratas. Tinha
gosto de moedas de um centavo diluídas.
Mesmo assim, abri-a e tomei um gole, seguindo o exemplo de Ken.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo, o único som sendo o
tique-taque de um relógio pendurado na parede da cozinha.
— Onde estão todos os outros? — Eu me perguntei, enrolando.
— Danny está no restaurante, como sempre. Em e Lucas estão
visitando os pais de Em com Bella.
— Ah.
Tomei outro gole da água mijada.
— Por que você está aqui, bonitão? — Ken perguntou. Ele nunca
mediu palavras. Eu gostava disso. Ele era uma lufada de ar fresco vindo
dos parceiros de negócios enjoativos, sempre tramando e planejando
como eles poderiam tirar proveito de qualquer situação.
— É sobre Angela, — comecei.
— Com certeza não seria sobre qualquer outra coisa, seria? Angela é
praticamente a única coisa que temos em comum.
— Não posso argumentar contra isso, — admiti.
— Vá em frente, então, — disse ele, tomando um grande gole de
cerveja.
— Angela e eu temos tentado começar uma família.
Ele tossiu, cuspindo enquanto engasgava com um pouco de sua
cerveja. Esperei até que ele conseguisse respirar normalmente.
— Bem, vocês dois são casados, afinal, — disse ele. — Já estava na
hora. Eu estava começando a ficar preocupado.
— Especialmente depois que um dos últimos desejos do meu pai foi
ter um neto, eu queria ter um filho o mais rápido possível. Afinal,
estamos mais do que financeiramente estáveis. Tenho certeza de que
você não se oporia a ter outro neto correndo por aí também.
Ken assentiu, enxugando a mesa com uma toalha de papel.
— A questão é que não tenho certeza se estamos mais na mesma
página. Angela está meio distante. Ela está tão focada em seu trabalho
que começar uma família é uma prioridade distante.
Ele me observou falar, a cerveja em suas mãos esquecida.
— Chegou ao ponto em que nem tenho certeza se ela quer mais filhos,
— admiti.
Nós caímos no silêncio mais uma vez e comecei a me perguntar se vir
aqui era apenas uma perda de tempo. Eu estava prestes a me levantar
para sair quando Ken falou.
— Ela esteve aqui ontem, sabe. Para almoçar conosco. Ela estava
tentando esconder, mas eu poderia dizer que ela se sentia desconfortável.
Havia algo a incomodando. Ela parecia desconcertada conosco, mas o
mais importante, ela parecia desconcertada consigo mesma.
Quando Ken falava, geralmente era velado por humor e sarcasmo.
Ouvi-lo falar tão sinceramente me fez ouvir atentamente, prestando
atenção em cada palavra sua.
— Ela está mudando, Xavier. Acho que ela está se adaptando a ser a
Sra. Knight e está tentando se encontrar entre todo o glamour e brilho.
Você sabia que ela se ofereceu para comprar uma casa para Em e Lucas?
— Ele riu, balançando a cabeça. — A velha Angela teria pensado que isso
era tão ridículo quanto o resto de nós achava.
— Realmente não seria um problema, — eu disse. — Lá vai você
também. — Ken bebeu o resto de sua cerveja. — Sabe, quando te conheci,
não gostei de você, — disse ele de repente.
Eu ri. — Poucos homens gostam.
— E as mulheres? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Isso importa? — Eu rebati.
— Malditos bilionários, — ele murmurou. — O que quero dizer é que
dei minha bênção a vocês porque vi o quanto vocês se importavam com
Angela. Como você seria solidário e compreensivo, mesmo se não fosse
podre de rico.
Ken esmagou a lata de alumínio e jogou-a em uma caixa azul próxima.
— É disso que ela precisa agora. Seu apoio e compreensão. E sua
paciência, meu chapa. Ela vai se encontrar. Ela só precisa que você dê
apoio a ela.
Suspirei.
Não era exatamente um conselho inovador, mas de alguma forma
ouvi-lo sair da boca de Ken o fez soar verdadeiro.
— Paciência não é exatamente meu forte, Ken. Mas vou esperar por
ela. Ela vale a pena.
— Caramba, claro que vale.
Eu levantei a lata de cerveja para ele, engolindo tudo de uma vez.
— Você não está dirigindo, está? — Ken perguntou.
— Por favor, — eu disse, me levantando e caminhando até a porta da
frente.
Ele me seguiu até a varanda da frente, vendo Marco e o BMW beamer
estacionado em sua garagem.
— Malditos bilionários, — ele murmurou novamente.
— Nós vamos ficar presos aqui por um tempo, Xavier, — Marco disse
do banco do motorista. Parecia haver algum tipo de comoção à frente,
então o tráfego foi reduzido a um engarrafamento.
Abaixei a janela e coloquei minha cabeça para fora, olhando para o rio
de luzes de freio vermelhas diante de mim. Um ciclista passou voando
por mim, errando minha cabeça por pouco enquanto se afastava,
palavrões saindo de sua boca.
Sentei-me bufando, a janela me isolando do mundo exterior.
Meu olhar foi atraído para o diário discreto que estava na outra
extremidade do assento do carro. Lembrei-me da conversa que tive com
Ken e me perguntei se papai tinha algumas pérolas de sabedoria
escondidas naquelas páginas.
Ah, foda-se.
Peguei o diário e, com uma respiração profunda, abri em uma página
aleatória.
BRAD
23/06/1982, Manhattan
Amélia está irritada comigo. De novo.
Minha esposa era linda, a luz da minha vida. Mas eu seria um mentiroso
se dissesse que ela não me dá uma forte dor de cabeça de vez em quando.
Eu não posso exatamente evitar. Desta vez, pelo menos. Sei que prometi a
ela que, no verão, teria mais tempo para ficar com ela, mas a empresa exige
atenção. A Knight Enterprises está finalmente começando a avançar a sério.
O petróleo era fácil. Qualquer idiota poderia cavar um buraco e ter sorte.
Resorts e hotéis — agora isso é um desafio. Encontrar os melhores locais,
vencer os concorrentes pelo preço perfeito, criar um espaço que atrairia
clientes de todo o mundo — isso é uma emoção.
Ainda assim, nada disso vale a pena se Amélia não estiver a bordo. Ela
tinha ficado duvidosa sobre estar com um magnata como eu. para começar.
Eu prometi a ela que ela era minha prioridade, acima de qualquer projeto em
que eu pudesse agarrar Mas é no verão que a indústria das férias realmente
começa.
Isso significa mais trabalho para mim, obviamente.
Certo?
13/07/1982. Manhattan
Brad, seu gênio. Ela amou como você sabia que ela faria.
Os ingressos surpresa para Bali funcionaram perfeitamente. Amélia gritou
como uma criança animada. Ela provavelmente está correndo pela casa,
fazendo as malas como uma mulher possuída.
A empresa conseguirá sobreviver por duas semanas sem você.
E uma sensação estranha, não é?
Você não tira férias há anos. Mas talvez seja exatamente disso que você
precisa.
Às vezes você tem que dar um passo para trás e lembrar por que está
trabalhando tanto. Por que você está trabalhando tanto?
É para ela.
Sempre será para ela.
Além disso, você verá Amélia de maiô por quatorze dias seguidos.
A empresa pode esperar.
XAVIER

Fechei o diário com um raro sorriso nos lábios.


Parecia estranho ler suas palavras. Parecia um passo para trás no
tempo, como uma espiada privada na mente de meu pai.
Uma foto do amor de mamãe e papai.
Acho que é exatamente o que um diário é, não é?
Era estranho como eu era semelhante ao meu pai quando ele era um
jovem animado, vagando pelo mundo dos negócios. Um pouco
assustador e um pouco hilário.
Eu ri, fechando o livrinho.
Tive uma ideia.
Obrigado, pai.
Nosso novo resort ficava nos Alpes suíços, não era? A extensão estava
para ser concluída e precisaríamos de alguns executivos para ir ver o
projeto concluído, é claro.
Espero que Angela goste de esquiar
Capítulo 20
Numa fria

ANGELA

Inclinei-me sobre o parapeito da varanda do luxuoso chalé, minha


respiração formando e desaparecendo na minha frente em pequenas
baforadas congeladas.
A vista era incrivelmente bela.
Quase literalmente.
O vale congelado abaixo de mim brilhava como um mar de diamantes
ao sol, ventos vivos de neve erguendo-se altos e orgulhosos contra as
encostas suaves da encosta da montanha suíça.
Xavier me surpreendeu com uma escapada de fim de semana para os
Alpes suíços.
Lembrei-me de andar nervosamente no apartamento há dois dias, me
perguntando o que diria a ele quando chegasse em casa. Eu escapuli bem
cedo pela manhã, esperando me enterrar nos preparativos para a Gala e
atrasar as consequências de nosso, uh... incidente sexual. No segundo que
ele passou pela porta, as desculpas estavam derramando dos meus lábios,
mas ele me silenciou com um beijo.
— Você já esquiou? — Ele perguntou enquanto me segurava contra o
peito. Lembro-me de fechar os olhos enquanto o estrondo de sua voz
percorria meu corpo.
Eu tinha esquiado.
Uma vez.
Em uma excursão escolar quando era criança.
Mas eu estava cautelosamente otimista.
Esquiar era como andar de bicicleta, certo? Você nunca se esquece.
Eu passei o dia seguinte arrumando minhas tarefas, e o que eu não
consegui completar, dei a Zoe para fazer no fim de semana. As coisas
ainda estavam um pouco estranhas entre nós, mas ela aceitou a carga de
trabalho extra sem reclamar, então talvez as coisas estivessem
melhorando. Suspirei, satisfeita. Abracei meu suéter de lã Prada mais
perto do meu corpo, enchendo meus pulmões até a borda com o ar
fresco e gelado da montanha.
Quem diria que ter uma assistente poderia ser tão útil?
De repente, braços fortes envolveram minha cintura e uma caneca
fumegante de chocolate quente era apresentada diante de mim. Eu sorri
e recostei-me no peito de Xavier, envolvida em seu calor. Peguei a caneca
e segurei perto do meu rosto, o cheiro quente de chocolate derramando
sobre mim.
— Então, o que você acha do novo chalé? — Xavier me perguntou.
Tecnicamente, estávamos aqui a negócios.
Devíamos examinar as novas instalações e, como os primeiros
hóspedes a se hospedar na extensão do resort deveríamos testar a
experiência como um todo.
E nós pretendíamos fazer isso.
Completamente.
— É lindo, Xavier. Todos vocês fizeram um trabalho muito bom com o
lugar. — O novo chalé foi construído com uma combinação distinta de
madeira e vidro. O luxuoso resort oferece instalações de última geração
com uma estética rústica refrescante, mas elegante.
— Foi principalmente o trabalho de Penny, — Xavier murmurou atrás
de mim. Não pude ver seu rosto, mas havia algo em sua voz que me
preocupou.
Aborrecimento?
Ciúmes?
Eu me contorci em seus braços, virando-me para olhar em seus olhos,
mas quando olhei para ele, ele parecia tão calmo e composto como
sempre.
E tão incrivelmente bonito como sempre.
Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo nos lábios. Eu queria que fosse
um beijo rápido, mas sua mão serpenteou em meu cabelo e agarrou a
parte detrás da minha cabeça, prendendo meu rosto no dele enquanto
ele aprofundava o beijo.
Eu me derreti em seus braços e o mundo ao nosso redor desapareceu
enquanto eu também me perdia na sensação de seus lábios nos meus.
Ele se afastou, meus lábios ardendo contra o ar frio da montanha.
— Você criou um apetite, Sra. Knight? — Ele perguntou, sua voz
rouca.
Eu tracei círculos sem rumo no peito de Xavier com meu dedo. Era
verdade, eu não tinha comido nada desde que pousamos no início da
manhã.
Mas eu estava com fome de outra coisa...
Eu deixei minhas mãos vagarem para baixo em seu peito, deslizando
mais para baixo em seu corpo antes de dar uma volta e dar um aperto
brincalhão em sua bunda.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim. Eu dei a ele um sorriso
malicioso.
— Eu acho que você pode estar certo...
Em um movimento suave, Xavier me pegou. Envolvi minhas pernas
em torno de seu torso. — Nós vamos nos atrasar para o brunch, — Xavier
murmurou em meu pescoço.
Eu engasguei, pressionando meus lábios contra sua orelha.
— Tudo bem. — Eu sussurrei.
Xavier riu, lentamente emaranhando nossos corpos.
— Ainda estamos tecnicamente aqui a negócios, Angela. — Ele piscou
para mim, mas eu pude sentir que nem ele se convencia completamente
disso.
— Teremos mais tempo para isso mais tarde.
Eu o observei voltar para dentro, a preocupação me consumindo. Ele
ainda estava preocupado com o que aconteceu da última vez?
No entanto, ele estava certo. Não estávamos aqui apenas por lazer.
Suspirei enquanto o seguia para dentro.
Bem, eu poderia esperar pelo brunch, pelo menos.
XAVIER
Angela e eu saímos para a área de estar. A luz natural das enormes
janelas de vidro com vista para as encostas inundou o quarto de
inspiração escandinava, construído com grandes toras de madeira e
coberto com peles artificiais.
Pelo menos, foi o que foi dito no briefing.
Eu estava tão distraído que não vi nada disso. Minha mente ainda
estava fixada em quão assertiva Angela era, a sensação de suas pernas em
volta de mim.
Francamente, era muito sexy.
Normalmente eu a teria levado ali mesmo, uma reunião de brunch
que se danasse.
Mas minha conversa com Penny ainda estava fresca em minha mente.
Mesmo que eu não pudesse ter certeza de suas verdadeiras intenções,
seus pontos eram válidos.
Henry estava me fazendo passar por idiota por causa do meu
descuido.
Isso não aconteceria novamente.
Aproximamo-nos da mesa e encontramos Henry já à espera, com um
café da manhã continental preparado à sua frente. Ele se sentou ao lado
de uma mulher familiar, alta, ágil e bonita, seu olhar penetrante fazendo
Angela parar por um momento.
Daria.
— Você está bem? — Eu sussurrei.
Angela parecia um pouco pálida, os olhos arregalados.
Daria e Angela nunca se deram bem. E foi principalmente por minha
causa. Lembrei-me da primeira vez em que se encontraram na França,
como fiquei em silêncio e sorri enquanto Daria insultava minha então
falsa esposa.
Se eu pudesse viajar no tempo, me daria um soco na cara.
Vendo que isso era obviamente impossível, me contentei em dar um
aperto encorajador na mão de Angela.
Minha esposa acenou com a cabeça, sua boca uma linha sombria de
determinação.
Aproximamo-nos da mesa. A dupla se levantou para nos
cumprimentar.
— Bonjour, Xavier. — Daria se inclinou para um abraço e eu retribuí
sem entusiasmo.
— Angela, — veio a saudação concisa de Henry.
— Ei, Henry.
Sentamo-nos e Daria não perdeu tempo para se voltar para Angela.
— Ah. a esposa também está aqui. Estou surpresa. — Ela espetou um
morango com o garfo, levando a fruta aos lábios. Ela o colocou na boca,
falando em torno dele. — Eu tinha certeza que Xavier já teria se cansado
de você.
— Não se engasgue, Daria, — murmurei.
Angela pegou sua comida e sorriu de volta, embora fosse obviamente
forçado.
— Você mesma disse. Daria. Eu sou a esposa dele, não uma garota fácil
em busca de um caso, — disse Angela. — E é preciso ser uma garota fácil
para conhecer uma.
Minha esposa sorriu para ela, parecendo um demônio usando a
máscara de um santo padroeiro.
— Para referência futura — os casamentos duram um pouco mais do
que uma noite.
Quase engasguei com minha torrada.
Meus olhos se voltaram para minha esposa, e ela parecia tão calma e
controlada quanto um Knight poderia. Senti seus dedos procurando os
meus por baixo da mesa e pude sentir que ela tremia, muito levemente.
Eu dei outro aperto encorajador em sua mão.
Vá atrás dela, amor.
— Excusez-moi? — Daria disse, e seus olhos se estreitaram.
— Oh, desculpe, — respondeu Angela. Ela deu uma mordida em sua
torrada, imitando Daria. — Vocês dois estão noivos?
— Não, — Henry disse, olhando entre as duas mulheres. — Somos,
uh, amigos íntimos.
— Namoro, — Daria sibilou. — Estamos namorando.
— Hmm... — Angela meditou, dando outra mordida em sua torrada.
— O quê? — Daria rebateu.
— Onde vocês dois se conheceram? Numa cabine no banheiro
masculino?
Eu ri. Muito. Eu não pude evitar.
Minha linda, amorosa, doce e inocente esposa Angela estava
massacrando Daria. Simplesmente destruindo-a.
Observei enquanto a boca de Daria abria e fechava, seu rosto
vermelho de fúria. Até Henry estava sem palavras, com os olhos
arregalados.
Será que Angela realmente adivinhou corretamente? Oh, isso era ouro.
— Bem, vamos começar com a reunião, que tal? — Eu pressionei.
Henry e eu conversamos sobre negócios, sobre o estado do resort e
possíveis detalhes que poderíamos acertar antes da inauguração.
O tempo todo Henry nervoso olhando para Daria, que parecia um
tomate maduro.
Angela, por sua vez, comia em silêncio seu café da manhã, sempre
sorrindo para Daria sempre que seus olhos se encontravam. Eu
praticamente podia sentir a raiva crescendo da modelo francesa.
Eu amei cada segundo disso.
Eventualmente, nossa reunião chegou ao fim e eu aproveitei o
momento por tempo suficiente.
Eu me levantei, puxando Angela comigo.
— Bem. por mais agradável que tenha sido este brunch, é melhor
irmos embora. — Eu dei a eles uma última olhada, apreciando seus
rostos atordoados. — Vocês dois se merecem.
Nós dois fugimos, e mal conseguimos sair da sala antes de Angela
explodir em um ataque de risos. Seu rosto estava vermelho brilhante,
seus lindos olhos arregalados de descrença.
— Eu realmente fiz isso? — Ela perguntou, olhando para mim.
Eu a peguei em meus braços, girando-a em círculos.
— Eu não sabia que você tinha essa boca em você, — eu ri.
— Nem eu, — ela admitiu.
— Você já pensou em começar uma carreira como atriz? Talvez um
comediante de stand-up?
— De jeito nenhum. — Ela riu, encolhendo-se. — Eu morreria de
vergonha.
— Eu seria seu maior ã, — insisti.
— Então eu teria exatamente um ã.
Eu ri. amando a maneira fácil como nossas brincadeiras
ricocheteavam uma na outra. Tive a sorte de não só ter Angela como
minha esposa, mas também como minha melhor amiga.
Continuamos pelo corredor, onde as grandes janelas do chão ao teto
nos davam uma vista espetacular das encostas abaixo.
Coloquei Angela de volta no chão e ela se encostou na janela, olhando
animadamente para as colinas.
Ela se virou para mim, seus olhos brilhando.
— Vamos ao trabalho!
ANGELA

— Lembre-se! — Xavier chamou do topo da colina. — Faça uma pizza!


Uma pizza!
O vento açoitou meu rosto, a queda suave de neve se transformando
em uma rajada enquanto eu acelerava colina abaixo. Os flocos de neve
bateram em meus óculos, obscurecendo minha visão.
Essas coisas deveriam ter limpadores de para-brisa instalados.
Eu deslizei pelo que supostamente era a colina dos coelhos, mas
aparentemente a colina dos coelhos nos Alpes suíços não era brincadeira.
Ele descia a montanha em uma curva preguiçosa, flanqueado em cada
lado por outras formações altíssimas.
Parecia manejável o suficiente, e conversei com Xavier em me deixar
descer a colina sozinha.
Esquiar é como andar de bicicleta, certo? Pensei, me sentindo confiante.
Você nunca esquece de verdade.
Minha confiança durou cerca de dez segundos.
Meus esquis deslizaram sobre a neve suavemente compactada com
facilidade e eu continuei indo mais rápido.
E mais rápido.
O vento estava positivamente uivando em meus ouvidos agora, a neve
chicoteando ao meu redor furiosamente até que eu mal podia ver na
minha frente.
Quão rápido eu estava indo?
Senti meu corpo inteiro ficar tenso, meus dentes batendo em meu
crânio.
Virei meus pés para que meus dedos estivessem apontando um para o
outro, tentando fazer a forma de pizza com meus esquis que Xavier disse
que ajudaria a frear.
Só que eu devo ter bagunçado isso de alguma forma, porque a
próxima coisa que eu percebi era que estava caindo no ar, sem saber qual
direção era para cima ou para baixo.
Eu fiquei sem peso pelo que pareceu uma eternidade antes de bater
com força na neve. Eu ouvi um alto e sinistro SVAP enquanto eu
tombava e rolava.
Eu bati no tronco de uma árvore, gemendo enquanto esperava o
mundo parar de girar.
Pisquei até retomar parte da consciência, apenas para descobrir que
ainda não conseguia ver nada. A neve estava realmente caindo, ventos
fortes fazendo a árvore acima de mim balançar e gemer. Eu mal
conseguia ver dois metros à minha frente. Um vendaval atravessou a
linha das árvores e me atingiu com neve. Parecia uma chuva de vidro
quebrado.
Eu apertei meus óculos, mas não adiantou.
A visibilidade era zero.
Eu me examinei, lembrando do estalo alto que ouvi com pavor.
Felizmente, nada parecia estar quebrado. Os esquis haviam voado de
minhas botas, perdidos na tempestade que crescia ao meu redor. Tateei
ao redor e encontrei meio esqui saindo da neve ao meu lado.
Pelo menos era um esqui e não um osso.
— Xavier? — Chamei, mas o rugido do vento arrebatou minha voz.
Tentei me levantar, mas uma dor repentina queimou em meu
tornozelo e uma enorme rajada de vento me derrubou de volta.
Cutuquei meu tornozelo, estremecendo com o quão sensível estava.
Foi apenas uma torção.
Nada com risco de vida, mas no meio desta nevasca crescente...
— Xavier! — Tentei de novo, o medo congelando o sangue em minhas
veias.
Ou era a nevasca?
— Xavier!
Mas ele não respondeu.
A nevasca girou ao meu redor, me prendendo em uma gaiola
congelada.
E eu estava sozinha.
Capítulo 21
Nada poderia ser pior..

XAVIER

— ANGELA!
Eu gritei na tempestade, o desespero apertando meu coração.
Eu a observei descer a colina, me preparando para persegui-la. Foi
quando a tempestade nos atingiu.
Num momento ela estava lá, no próximo só via branco.
Seu idiota, eu me repreendi.
Seu estúpido, idiota de merda.
Gritei por ela novamente, os ventos ferozes queimando minha
garganta como uísque barato decorado com vidro esmagado.
Eu não me importei.
Eu gritaria com a garganta sangrando até ela me ouvir.
Por favor, me ouça...
— ANGELA!
Nada.
Apenas o uivo raivoso do vento.
Continuei descendo a encosta, tentando manter a velocidade
controlada. Meus instintos me incentivaram a acelerar para baixo, a toda
velocidade à frente. Mas eu não conseguia ver nada nesta branquitude, e
não poderia ajudar muito Angela se eu me matasse batendo em uma
árvore a toda velocidade.
Talvez Angela ainda estivesse nas encostas em algum lugar. Se eu
passasse por ela sem saber, nunca me perdoaria.
Eu praticamente cresci em esquis, mas a tempestade deixou até a
colina dos coelhos traiçoeira. Lutei para manter o equilíbrio enquanto o
vento me golpeava de todas as direções.
E se eu que tenho experiência estou tendo dificuldades, então...
Aguente firme, Angela.
A nevasca era implacável, e o frio infiltrava-se pelas dobras do meu
pesado equipamento de esqui. Meus dedos já estavam ficando dormentes
dentro das minhas luvas.
Uma rajada de vento bateu em mim como um trem de carga. Eu bati
no chão com força, batendo na neve. Eu fiquei ofegante, o vento batia em
mim como se tivesse levado um soco no estômago. Meus pés estavam
presos em um ângulo estranho, meus esquis projetavam-se para fora da
neve.
Tirei minhas botas das amarras, marchando pelas encostas.
— ANGELA! — Eu tentei de novo.
— ANGELA, PORRA!
Senti a raiva correndo em minhas veias, quentes o suficiente para que
eu pudesse jurar que a neve ao meu redor iria derreter.
Mas isso não aconteceu.
Continuou empilhando, empilhando, empilhando, e empilhando...
Eu bati meu punho no chão, a fúria escapando em um grito.
Meus dedos enluvados se enfiaram na neve e bateram em algo
embaixo. Algo duro. Escavando embaixo, descobri uma metade quebrada
de um esqui.
Angela.
Ela tinha que estar por perto.
Eu examinei meus arredores, desejando que meu olhar perfurasse a
parede de neve ao meu redor.
Espere, querida. Estou indo.
ANGELA

Eu me encolhi contra o tronco da árvore quando outro uivo de vento


passou por mim. Diante da árvore curvada, borrifos de neve raspavam
contra a pouca pele exposta que eu tinha como arame farpado.
Meu tornozelo latejava e choques de dor entravam em sincronia com
meu batimento cardíaco.
A adrenalina bombeou através de mim, meus instintos me incitando a
sair na tempestade para tentar encontrar abrigo. Cerrei os dentes,
fechando os olhos e me concentrando no tornozelo torcido.
A dor ali me ajudou a concentrar. Isso focalizou meus pensamentos.
Também foi um lembrete muito óbvio de que eu não iria muito longe
mancando em uma nevasca. Pelo menos a árvore contra a qual eu estava
encolhida fornecia a menor aparência de um quebra-vento.
Então eu sentei lá.
Era melhor economizar energia e esperar por ajuda do que exaurir e
me perder minhas forças na tempestade.
Eu me enrolei em uma bola, a nevasca implacavelmente batendo com
rajadas de neve em mim. Senti o frio passar por baixo das camadas de
minhas roupas, senti ele lançar um punho de ferro em torno de meus
ossos.
Eu comecei a tremer.
Era o frio?
Medo?
Eu não conseguia sentir meus dedos. Ou meus dedos do pé.
Eu vou morrer aqui?
Eu pisquei, e uma onda repentina de calma me inundou. Fechei meus
olhos, meus cílios congelados juntos. Memórias brilharam em minha
mente espontaneamente. Meu primeiro encontro desastroso com Xavier,
até o paraíso que havíamos encontrado em Bali.
Angela.
Imaginei sua voz profunda aveludada dizendo meu nome.
— Angela!
Eu sorri. Meu nome sempre soou como música em seus lábios. Quase
parecia que ele estava bem aqui comigo...
— ANGELA!
Meus olhos se abriram e lá estava ele.
Gelado da cabeça aos pés na neve e gelo, suas mãos apertando meus
ombros, esfregando meus braços, sacudindo a vida de volta em mim.
Meu próprio cavaleiro de armadura brilhante.
— Ei, Sr. Knight, — eu murmurei, me divertindo comigo mesma pelo
jogo de palavras. Minha cabeça caiu.
Por que eu estava com tanto sono?
Xavier está aqui agora.
Até minha própria voz dentro da minha cabeça parecia distante.
Você pode relaxar durma. Xavier irá protegê-lo.
Eu sorri, balançando a cabeça para mim mesma.
Eu fechei meus olhos.
A escuridão estava tão quente. Tão confortável...
— Angela!
Xavier me sacudiu vigorosamente. Eu forcei meus olhos a abrirem.
Minhas pálpebras pareciam pesadas como chumbo.
— Olhe para mim. Angela, — Xavier pediu, gritando através da
tempestade. Sua voz vacilou. Eu nunca o tinha ouvido falar assim antes.
Ele parecia... assustado.
— Você está ferida em algum lugar? — Ele perguntou.
— Acho que torci o tornozelo.
Ele olhou para minha perna e, embora eu não pudesse ver sua
expressão facial por baixo dos óculos e o borrão da tempestade, eu
poderia dizer que ele estava preocupado.
— Tudo bem. Eu vou te ajudar a levantar, ok? Nós vamos chegar a
algum abrigo.
— Mas podemos nos perder, — eu apontei.
— Não vamos. — Sua voz estava confiante. — O layout do resort está
gravado em minha mente. Há uma cabana próxima.
Concordei. Eu senti como se estivesse me movendo embaixo da água,
minha cabeça em uma névoa estranha. Os braços fortes de Xavier
envolveram minha cintura, seus ombros largos sustentando meu braço
enquanto ele carregava a maior parte do meu peso.
— OK. Um pé na frente do outro. Você está pronta? — Eu o senti me
dar um aperto encorajador.
Eu balancei a cabeça, tomando coragem por tê-lo ao meu lado.
Poderíamos estar no meio de uma nevasca, mas me senti completamente
segura em seus braços, mais resistente do que o tronco de qualquer
árvore.
— Vamos.
XAVIER

Eu chutei a porta da cabana de madeira, o vendaval da tempestade


quase arrancando a porta de suas dobradiças. A porta se abriu com
violência por uma raivosa explosão de neve invadindo o quarto.
Fechei a porta atrás de mim, lutando contra a força do vento. Esta
maldita nevasca realmente não queria nos deixar em paz.
Angela estava tremendo muito ao meu lado, e seus lábios ficaram
azuis de frio.
Embora a cabana não ficasse muito longe de onde estávamos, a
caminhada até aqui foi como estivéssemos na lama. Estávamos
congelados, gelo e neve aderindo a todas as superfícies de nossos corpos.
Mancamos em direção à lareira e coloquei Angela no tapete de pele de
animal diante dela. Estendi a mão e liguei o interruptor para ligar a
lareira a gás.
Sem lenha e fósforos aqui.
Eu me virei para Angela.
— Você está bem?
— Si-si-si... — ela gaguejou através do barulho de seus dentes por um
momento antes de desistir e assentir.
Eu andei pela cabana, arrancando cobertores e lençóis da mobília,
deixando-os amontoados ao lado de Angela. Eu rasguei meu
equipamento de esqui, me despindo até ficar completamente nu.
Fui até a Angela, começando a despi-la também. — Precisamos tirar
essas roupas congeladas de você, — eu disse.
Ela acenou com a cabeça, ajudando-me a tirar a roupa.
Normalmente, vendo seu corpo nu, eu teria enlouquecido de tesão.
Mas agora, sexo era a coisa mais distante da minha mente.
Eu só precisava colocar um pouco de calor de volta em seus ossos
congelados.
Ficamos de conchinha, nossos corpos nus à luz do fogo. Enrolei os
cobertores em torno de nós, envolvendo-a com tanto calor quanto eu
poderia.
Ficamos assim por um tempo, nossos corpos entrelaçados, o calor da
lareira enchendo lentamente a sala. O único som era o uivo furioso da
nevasca batendo nas janelas, além da nossa respiração e a batida
constante de nossos corações.
O tremor de Angela diminuiu lentamente e eu senti seu corpo
exausto ficar mole contra o meu.
— Xavier... — A voz de Angela era apenas um sussurro.
— Hum? — Empurrei meus lábios contra seu cabelo, sentindo o
cheiro dela.
— Eu sinto muito. Por antes.
Pensei em nosso tempo na banheira.
— Não há nada para se desculpar, — eu assegurei a ela.
— Não. de verdade, — ela insistiu. — E que há muita coisa
acontecendo, e...
Inclinei-me, virando suavemente seu rosto para o meu para que eu
pudesse beijá-la.
— Eu entendo. Sério. Apenas descanse um pouco agora.
Ela acenou com a cabeça e sorriu para mim, embora eu pudesse dizer
que seu coração não estava totalmente acreditando. Ela se virou e, em
poucos instantes, pude sentir sua respiração profunda e estável enquanto
caía em um sono exausto.
Suspirei, estabelecendo-me com ela segura em meus braços, antes de
finalmente cair em um sono profundo.
Sentei-me em meu escritório improvisado no meu quarto no chalé,
vasculhando a pilha de e-mails em minha caixa de entrada.
Angela estava tirando uma soneca, seu tornozelo enfaixado pela
equipe médica local.
Houve um grande susto ontem depois que o Sr. e a Sra. Knight
desapareceram na nevasca. A equipe de segurança do resort nos
encontrou rapidamente na manhã seguinte, e nós fomos levados de
motos de neve para ter certeza de que estávamos bem.
Tirando a torção do tornozelo de Angela e alguns machucados,
estávamos completamente saudáveis.
Tivemos muita sorte, considerando tudo.
Meu olhar se desviou para minha esposa adormecida. A tela do laptop
não tinha esperança de prender minha atenção. Admirei como Angela
era linda, o formato de seus lábios perfeitos, como seus cílios longos
lançavam sombras em suas bochechas.
Muita sorte.
Um flash vermelho na tela do laptop chamou minha atenção.
Um alerta automático de notícias.
O Drama Mais Recente da Saga Knight!
Eu fiz uma careta, clicando nele.
Isso era sobre a nevasca?
Meu estômago embrulhou quando vi um vídeo granulado meu no
Hatchback, furiosamente balbuciando palavras bêbado. Eu ouvi uma voz
de mulher discutindo comigo enquanto eu cuspia insultos em sua
direção.
Penny...
Outro alerta de notícias disparou.
Então outro.
E assim que Xavier Knight trata seus funcionários?
Xavier Knight—Mulherengo, Bêbado, CEO horrível?
Será que a Knight Enterprises sobreviverá a mais um escândalo?!
Senti a bile subir na minha garganta e a raiva me deixando vermelho.
Quem diabos estava por trás disso, desta vez?
Penny?
Henry?
Meu telefone tocou estridente e urgente. Eu olhei para o identificador
de chamadas.
— Que porra é essa? — Eu exigi ao telefone.
— Volte para Nova Iorque agora, — disse Penny. — Nós precisamos
conversar.
Capítulo 22
Por um fio

DUSTIN

— Aqui está sua camomila, — eu disse, colocando a caneca fumegante


na frente de Zoe.
— Obrigada. — Ela sorriu para mim. Zoe estava uma bagunça. Seu
cabelo estava preso em um coque frouxo, seus grandes óculos de
armação não faziam nada para esconder as bolsas sob seus olhos.
Ela pegou a maior mesa da cafeteria, a superfície cheia de pilhas sobre
pilhas de papelada que se erguiam ao acaso como um jogo de Jenga
bêbado.
— Precisa de mais alguma coisa? — Perguntei.
— Não, estou bem. Obrigada, Dustin.
Eu lancei um olhar de desaprovação sobre a mesa diante de mim.
— Parece que você precisa de ajuda.
Ela suspirou, olhando para a montanha de trabalho diante dela.
— Sim, bem, Angela provavelmente está voltando dos Alpes Suíços
agora...
— Espere um segundo, — eu disse, franzindo a testa. — Você está me
dizendo que Angela deixou você com todo esse trabalho no fim de
semana enquanto ela saiu de férias?
— Bem. não são férias, — Zoe disse. — Ela me disse que seu marido
precisava da ajuda dela para, hum, teste de instalações.
Puxei uma cadeira ao lado de Zoe enquanto processava o que ela
estava me dizendo. A fila no balcão estava crescendo lentamente, e eu
podia ver os olhares desesperados que meu novo contratado estava
lançando para mim do outro lado da sala.
Eu o poupei de um pequeno encolher de ombros, meus olhos
transmitindo uma mensagem simples.
Você pode lidar com isso.
— As instalações do novo resort nos Alpes suíços? — Perguntei.
— Sim.
— Então ela está esquiando.
Zoe suspirou novamente.
— Acho que sim.
— Garota, isso soa como férias para mim.
Ela tirou os óculos, girando os ombros e beliscando a ponta do nariz.
— Bem, ela é a chefe. Eu não tenho muita escolha, tenho?
Coloquei minha mão sobre a dela e dei um aperto encorajador.
— Você sempre tem uma escolha. Zoe.
Zoe tomou um gole de chá, encolhendo os ombros.
— A carga de trabalho é difícil, com certeza, mas Angela paga bem.
Consegui finalmente dar ao meu irmão mais novo aquele Playstation que
ele sempre quis no seu aniversário! — Ela sorriu, mas o momento se foi
rapidamente. — Pena que não posso estar lá para a festa.
— Por que não? — Perguntei.
— Bem, o aniversário dele é hoje.
Eu engasguei de horror.
— Então o que você está fazendo aqui, sua idiota? Vá à festa do seu
irmão!
Ela balançou a cabeça e me ofereceu um sorriso indiferente.
— Obrigada, Dustin, mas eu disse a Angela que poderia lidar com
tudo isso quando ela voltasse. Não se preocupe comigo, de verdade. Além
disso, o planejamento de eventos é meio que minha praia.
Eu apertei os olhos, olhando para ela de perto. Ela claramente tinha
paixão por seu trabalho. Mas ela parecia exausta.
Exausta demais...
Angela estava explorando essa pobre garota até os ossos.
— Você quer um muffin de bolo de cenoura? — Eu ofereci. — E por
conta da casa.
Ela riu. Desta vez, seu sorriso era genuíno.
— Claro, Dustin. Obrigada.
Ela voltou seu foco para a página à sua frente e eu balancei minha
cabeça, maravilhado.
Eu sabia que eu não teria tolerado algo assim.
Você contratou uma assistente incrível, Angela.
Não ferre isso.
Ben apareceu aleatoriamente em minha mente, o bom barista que
havia desistido de mim de repente alguns meses atrás. Eu olhei para o
meu novo barista, afogando-se na enxurrada de pedidos atrás do balcão.
Falando em chefes horríveis...
Eu ri, a ironia não passou despercebida por mim.
Eu me levantei, lançando-me para o resgate.
Acho que devo ajudar antes de perder outro.
Penny: A imprensa percebeu sua chegada... vai ter um circo
inteiro no aeroporto Penny: Tente manter a calma, ok?

Penny: Por favor?

Penny: Não queremos colocar mais lenha na fogueira.

Penny: Me responda, por favor Penny: Xavier!

XAVIER

Joguei meu celular na bolsa, colocando-o no modo silencioso antes


que Penny finalmente decidisse me ligar.
Eu não queria ouvir a voz dela. Não até que eu realmente tivesse que
fazer.
Nosso jato particular estava prestes a pousar no aeroporto.
Fiquei olhando pela janela, ansioso em meu assento.
Se Penny nunca tivesse entrado no Hatchback, nada disso teria
acontecido. Esse lugar era meu refúgio para relaxar e extravasar. E ela
entrou, a fonte do meu estresse, completamente ignorante das regras não
ditas do lugar.
Adicione lenha ao fogo, eu cuspi na minha cabeça. Foi você que jogou
um litro de gasolina quando entrou. Você até acendeu o maldito fósforo.
Senti o couro do meu apoio de braço ranger sob minhas mãos
enquanto apertava minha raiva na cadeira.
O avião pousou e eu já podia ver o bando de repórteres enfileirados
perto do terminal.
Quem vazou o vídeo?
Penny?
Não. isso não parecia seu estilo. Ela era mais o tipo de foder para
chegar ao poder.
Nah.
Parecia ser obra de Henry.
Quando eu colocar minhas mãos naquele filho da puta...
Meu aperto no apoio de braço aumentou.
Imaginei que fosse o pescoço de Henry.
ANGELA

Sentei-me em frente a Xavier no jato, meu estômago um nó de


ansiedade.
Ele estava chateado.
Eu podia ouvir o couro gemendo sob seu controle daqui.
Eu queria ir confortá-lo, mas reconhecia esse tipo de comportamento
de Xavier. Fazia algum tempo que não via isso, desde antes de
renovarmos nossos votos um pelo outro, quando nosso relacionamento
ainda era limitado por papel e tinta, em vez de confiança e amor.
Quando ele me odiava.
Nada que eu pudesse dizer a ele agora o consolaria.
As vezes era melhor deixá-lo pensar sozinho.
A melhor coisa que pude fazer foi ficar por perto. Eu estaria pronta
para apoiá-lo quando ele quisesse.
Ajustei a bolsa de gelo contra meu tornozelo.
Não era nada muito sério, apenas um pouco dolorido. Eu podia andar
bem, mas qualquer atividade extenuante foi descartada por algumas
semanas.
Eu não estaria correndo por um tempo.
Mas esse era o menor dos nossos problemas. Houve outro vazamento
de um vídeo polêmico, e a mídia de Nova Iorque estava mais uma vez em
alvoroço sobre Xavier e o futuro de sua empresa.
Problemas pareciam seguir nós dois a qualquer lugar. Nós os
atraíamos. Como ímãs. Foi esse o preço que pagamos por nos amarmos?
Luta e drama constantes?
No final das contas, isso não importava.
Eu pagaria qualquer preço por estar com Xavier.
Ainda assim, seria bom se tivéssemos uma pequena pausa...
Embora eu suponha que meu querido marido cabeça quente não
estava exatamente ajudando nesse aspecto.
Nosso avião parou e vi um mar de repórteres e paparazzi na pista.
Borboletas voaram em meu estômago.
Eu odiava estar no centro das atenções.
Xavier se levantou, oferecendo a mão para me firmar.
— Não fale com ninguém lá fora. Marco está por perto com o carro. —
Sua voz era tensa e controlada, um poço de fúria agitando-se logo abaixo
da superfície. — Fique perto de mim, ok?
Eu assenti com a cabeça, apertando sua mão.
— Sempre.
As portas do jato abriram e fui imediatamente cegada por uma
tempestade de flashes de câmeras. Os gritos e berros vieram logo depois,
como um trovão após um relâmpago. O barulho era uma parede física,
vozes batendo umas nas outras até que se tornou apenas um tumulto
ininteligível.
Descemos as escadas, o destacamento de segurança de Xavier nos
ajudando a percorrer o mar de repórteres.
— Xavier! Por que você é tão abusivo com seus funcionários?
— Há rumores de que você estava envolvido com aquela mulher no
vídeo. Você está traindo sua esposa?
— Angela!
Eu vacilei.
— Ele é abusivo em casa? O que você pode dizer sobre as ações do seu
marido? — Eu inadvertidamente parei em meu caminho, atordoada com
as acusações dos repórteres. O cinegrafista avançou, encorajado pela
minha resposta, lutando contra a segurança.
— Você manca, Angela. Xavier te machucou? Ele fez isso, não foi?
— Hum, não...
Xavier gentilmente me puxou junto, olhando para o repórter.
Se olhares pudessem matar...
Mas o repórter não desistia.
Ele conseguiu passar pela segurança, seu impulso o enviando para
cima de mim. Ele pisou no meu pé machucado e eu gritei de dor.
Ele parou abruptamente, seus olhos se arregalando.
— Sinto muito, — disse ele sobre o rugido da imprensa.
— Tudo bem...
O punho de Xavier colidiu com seu rosto. Eu ouvi um barulho
doentio, sangue espirrando no ar quando o repórter foi jogado no chão.
Houve um silêncio de choque, os olhos de todos em Xavier.
Ele se inclinou e arrancou a câmera das mãos do homem atordoado,
seu nariz uma bagunça sangrenta.
— Nunca mais toque na minha esposa de novo, seu merda. — A voz
de Xavier era mortal. Um arrepio de medo percorreu minha espinha. Na
verdade, eu senti que Xavier iria matá-lo se ele me tocasse novamente.
Em vez disso, Xavier ergueu a câmera acima de sua cabeça, batendo-a
violentamente no chão, os pedaços estilhaçados ricocheteando na
multidão.
Isso quebrou o encanto.
Um rugido de perguntas dividiu o ar ao meu redor, os flashes das
câmeras me cegaram e os próximos momentos foram um borrão. A
equipe de segurança convergiu ao nosso redor, movendo-nos ainda mais
rápido através da multidão agitada. Antes que eu percebesse, eu estava na
parte detrás do beamer, Xavier ao meu lado, Marco nos afastando do
corpo a corpo.
Meu coração ainda batia forte, a adrenalina rugindo em minhas veias
por causa da multidão da imprensa. Eu ainda podia ver a expressão nos
olhos de Xavier enquanto ele olhava para o repórter sangrando.
Eu nunca tinha visto Xavier tão... cruel.
Eu não pude deixar de me perguntar o quão longe Xavier iria para me
proteger.
— Você está machucada? — Xavier perguntou, seus olhos
transbordando de preocupação.
— Não, — eu menti. Meu tornozelo latejava, mas eu não queria que
ele ficasse ainda mais irritado.
Eu realmente temia pela vida daquele repórter.
— Henry, aquele desgraçado. Ele está por trás disso, eu sei disso.
Coloquei a mão na perna de Xavier.
— Xavier, você machucou aquele homem.
— Ele te machucou primeiro. — Ele rosnou.
— Foi um acidente, — insisti. — E todas aquelas pessoas também
viram...
— Deixa comigo, Angela. Não se preocupe. O que é importante é que
você esteja segura e que estamos indo para casa.
Eu assenti, querendo acreditar nele.
Havia uma dúvida se formando na boca do meu estômago. Respirei
fundo para tentar acalmar meus nervos em pedaços já. Provavelmente foi
apenas o estresse de todos aqueles repórteres.
Mas esse sentimento de pavor não ia embora.
Parecia um presságio...
Havia uma dúvida se formando na boca do meu estômago. Respirei
fundo para tentar acalmar meus nervos em pedaços já. Provavelmente foi
apenas o estresse de todos aqueles repórteres.
Mas esse sentimento de pavor não ia embora.
Parecia um presságio...
Capítulo 23
Chá com um pouco de desastre

ANGELA

Fiquei na ponta dos pés para dar um beijo de despedida em Xavier


enquanto ele entrava no elevador.
— Boa sorte no trabalho hoje, — eu disse. — Mantenha-me
informada, ok?
— Te aviso, — ele prometeu.
Eu sorri quando Xavier desapareceu atrás das portas do elevador. Eu
fiquei lá por mais um momento antes de me virar para me preparar para
o resto do dia.
O Gala seria em dois dias e eu teria uma reunião com Zoe no café de
Dustin em breve.
Nova Iorque ainda estava em alvoroço por causa das últimas ações de
Xavier.
Havia um vídeo incriminador flutuando em torno dele lançando
abusos contra um colega de trabalho desconhecido, embora eu tivesse
certeza de que era Penny. O vídeo estava tão granulado e desfocado que
você mal conseguia distinguir mais alguém além de Xavier, mas pude
reconhecer a voz de Penny.
Agora havia fotos dele agredindo um repórter no aeroporto.
Ouvi dizer que ele estava processando por danos.
Claro que sim, pensei. Quem não quer um pedaço de Xavier Knight?
Se pudéssemos ficar sozinhos, longe dos olhos curiosos do público...
Eu acho que isso vem no pacote de ser um bilionário e tudo.
Eu vasculhei meu guarda-roupa, me perguntando o que deveria vestir.
Embora o drama girasse em torno de meu marido, eu tinha certeza de
que alguns repórteres ansiosos me sinalizariam para fazer algumas
perguntas ridiculamente pessoais.
Eu me conformei com um moletom e minha camisa Oxford grande.
Amarrei meu cabelo em um coque apertado, escondendo-o sob um boné
de beisebol. Encontrei os grandes óculos escuros que usei em Bali e os
joguei sobre os olhos para obscurecer ainda mais meu rosto.
Eu me examinei no espelho.
Deve estar bom o suficiente, decidi.
Peguei o vestido que pedi para Zoe usar no Gala, fechando o zíper em
seu estojo protetor. Era um lindo vestido vermelho, a saia se alargando
em babados e babados. Era da Miu Miu. Jovem e ousado, era tão Zoe.
Com sorte, o presente iria ajudá-la a sair de qualquer depressão em que
ela estava.
Coloquei meu tênis favorito e apertei o botão para chamar o elevador.
Uma corrida realmente ajudaria a limpar minha mente, mas meu
tornozelo não seria capaz de aguentar.
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar minhas preocupações.
A Gala já estava no horizonte.
Eu tinha que me concentrar.
Eu andei pelas ruas movimentadas da cidade de Nova Iorque,
eventualmente entrando na cafeteria de Dustin, o cheiro de café e doces
me invadindo. Zoe já estava sentada à nossa mesa, com as pastas
empilhadas à sua frente.
Dustin saiu de trás, carregando duas canecas de chá em uma bandeja.
— Bem-vinda de volta. Angela. — A voz de Dustin me fez parar. Ele
geralmente ficava muito feliz e cheio de energia sempre que eu voltava de
uma viagem. Agora ele parecia retraído, mantendo sua saudação curta e
cortada.
Era apenas minha imaginação ou ele parecia um pouco frio?
— Ei, Dustin. — Eu balancei minha cabeça. Provavelmente estava
apenas imaginando coisas. Sentei na frente de Zoe enquanto Dustin
colocava nossas bebidas na nossa frente.
— Como foram as coisas enquanto estive fora? — Eu perguntei a Zoe.
Ela apontou para as pastas na minha frente. — Tudo feito! Todos os
detalhes foram resolvidos, e muitos deles só precisam da sua aprovação
final para serem processados.
— Trabalho incrível. Zoe! — Eu sorri. Ela parecia estar animada, sua
personalidade natural emergia novamente. Foi bom vê-la de volta de
bom humor. — Oh, eu trouxe algo para você.
— Huh?
Abri o zíper da bolsa protetora para mostrar o vestido.
— Eu comprei para você para que você possa usar um vestido bonito
para o Gala. Você provavelmente não tem nada para andar no tapete
vermelho, certo? — Girei o vestido, a saia flutuando no ar. — E da Miu
Miu! O que você acha? — Eu abri a sacola com um floreio, esperando os
gritos animados começarem.
Mas eles nunca vieram.
— Oh, — ela disse. Seu sorriso se foi. Ela parecia desanimada.
Meu coração afundou.
O que eu fiz agora?
— É lindo, Angela. Obrigada. — Ela sorriu enquanto pegava o vestido,
fechando o zíper e colocando-o sobre o assento ao lado dela. Ela não
parecia nada satisfeita.
— Você não gostou? — Perguntei. — Posso pegar outro para você.
— Não, é ótimo. De qualquer forma, — ela disse com desdém,
mudando rapidamente de assunto. Ela abriu uma das pastas, virando-a
para que eu pudesse ver. — Em relação à colocação das lanternas...
Meu telefone vibrou, interrompendo-a.
Era uma mensagem de Xavier.
Os lábios de Zoe se pressionaram em uma linha fina.
— Desculpe. Zoe, — eu murmurei. — Um segundo...
Xavier: Conseguimos acertar as coisas com aquele repórter idiota
em quem eu bati.

Xavier: Ele queria $ 2 milhões, você acredita nisso?

Angela: O que você fez?

Xavier: Paguei a ele $ 2 milhões.

Angela: o que você fez?


Xavier: Paguei a ele $ 2 milhões.

Xavier: Vale a pena evitar um caso de polícia.

Angela: Caramba.

Angela: Bom trabalho, querido Xavier: O outro vídeo vai ser mais
complicado.

Xavier: Tenho uma equipe de relações públicas trabalhando nisso.

Xavier: Eles não são tão bons quanto os de meu pai eram.

Angela: Vai ficar tudo bem?

Xavier: Sim, não se preocupe.

Xavier: Penny está chateada.

Xavier: Aquele desgraçado do Henry provavelmente está rindo


demais.

Xavier: Talvez eu deva empurrá-lo pela janela?

Angela: Xavier...

Xavier: Brincadeira. Como estão as coisas com você?

Angela: Certo...

Angela: Em uma reunião agora para o Gala.

Xavier: Ok. Boa sorte. Te vejo depois.


Eu olhei para cima para encontrar Zoe esperando pacientemente. Eu
ouvi Dustin limpar a garganta atrás do balcão, balançando a cabeça em
desaprovação para mim.
Senti meu coração pular uma batida, e a carranca de Dustin fez com
que alarmes disparassem em minha mente.
Eu me senti como uma aluna sendo pega com seu celular pelo
professor.
— Desculpe, — eu disse novamente. — Onde nós estávamos?
Zoe suspirou, começando de novo.
— Então, como eu estava dizendo, a colocação das lanternas no plano
original estava espalhada pelo Hudson Yard. não servindo realmente
muito além de iluminar os caminhos. Mas eu estava pensando...
Eu balancei a cabeça enquanto Zoe explicava as mudanças que ela fez
no plano e todos os pequenos detalhes corajosos que ela descobriu no
fim de semana.
Ela falou sobre a logística do evento, o número de convidados
esperados, a quantidade de vagas disponíveis, as bebidas e aperitivos que
seriam servidos...
Eu encontrei minha mente vagando de volta para Xavier.
Ele me garantiu que as coisas iam ficar bem na Knight Enterprises,
mas eu tive um mau pressentimento que se recusava a ir embora.
Algo parecia diferente desta vez.
Claro, a roupa suja de Xavier já havia sido levada em público antes, e
sempre havíamos conseguido, de alguma forma, deixar tudo melhor.
Mas isso foi quando Brad ainda estava vivo.
Não que eu não confiasse na capacidade do meu marido de manter a
empresa bem, mas Brad realmente foi a rocha que ancorou o Império
Knight em Nova Iorque.
Talvez tenha havido muitos escândalos.
Talvez tenha sido a gota d'água.
Esta foi a nossa primeira crise real sem Brad aqui para nos salvar...
— Angela?
Pisquei para encontrar Zoe olhando para mim com expectativa.
Ela me fez uma pergunta?
— Huh?
Um silêncio desconfortável preencheu o espaço entre nós.
— Qual foi a última coisa que ela disse? — Dustin exigiu de seu
balcão. Seus olhos se estreitaram para mim, sua voz tensa.
— Dustin... — Zoe disse.
O que estava acontecendo?
— Desculpe, minha mente estava em outro lugar, — eu disse. — Você
poderia repetir isso. Zoe?
— Inacreditável. — Dustin murmurou baixinho.
Eu me senti enrubescer de vergonha.
O que estava acontecendo comigo?
Eu vi Dustin balançando a cabeça para mim novamente. Eu o deixei
com raiva de alguma forma também?
Esperei que Zoe dissesse algo, mas ela apenas olhou para a mesa à sua
frente.
— ... mais fazer isso.
— Zoe?
— Eu não posso mais fazer isso, — ela repetiu. Ela se levantou e
juntou suas coisas com pressa, o vestido que comprei para ela
embrulhado em suas coisas.
Eu me levantei, alarmada.
— Espere, Zoe. Eu sinto muito. O que há de errado?
— 'O que há de errado'? — ela perguntou, incrédula. — Você é uma
chefe horrível, Angela. Isso é o que está errado. — Ela passou por mim e
eu estava chocada demais para fazer qualquer coisa a respeito.
Eu ouvi a porta abrir, o sininho tilintando enquanto Zoe desaparecia
nas ruas lá fora.
Sentei-me novamente, uma dormência se espalhando dentro de mim.
Eu encarei a montanha de documentos na minha frente, sem enxergá-los
de verdade.
Eu estava vagamente ciente de Dustin sentado na minha frente.
— Você mereceu isso, — disse ele com naturalidade.
— O que eu fiz? — Perguntei.
— Você realmente não sabe? — Dustin respondeu, mais surpreso do
que zangado.
Eu balancei minha cabeça, impotente.
Dustin deixou escapar um longo suspiro, balançando a cabeça em
derrota.
— Oh, garota...
— Você sabe? — Perguntei.
Dustin ficou em silêncio por um tempo, pensando em algo.
— Você sabia que a festa de aniversário do irmão mais novo de Zoe foi
no último fim de semana? — Ele perguntou.
— Eu nem sabia que ela tinha um irmão mais novo, — admiti.
— Há muitas coisas que você não sabe, Angela. — Ele suspirou
novamente em frustração. — Adivinha o que Zoe estava fazendo em vez
de ir à festa do irmão mais novo?
Ocorreu-me que as pilhas de papelada sobre a mesa eram uma dica
inevitável.
— Oh, meu Deus. — Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos.
— Mesmo que ela não tivesse uma festa de aniversário para ir,
empurrar todo esse trabalho para ela não era muito justo, Angela.
Especialmente se você estiver nos Alpes, esquiando, enquanto Zoe está
aqui trabalhando pra caramba.
Eu gemi, a culpa batendo em mim.
Dustin estava certo.
— Eu nem percebi, — eu disse. — Eu nunca tive uma assistente
antes...
— Ela não se sente valorizada. Você mal prestou atenção a todo o
trabalho árduo que ela fez. Você também ficaria irritada, não é?
Eu estava muito envolvida em meu próprio drama para perceber que
Zoe estava sofrendo. Havia tanta coisa acontecendo com Xavier, com sua
empresa...
Mas isso não era desculpa.
Eu relembrei todo o comportamento de Zoe e de repente tudo fez
sentido. Ela reagiu da mesma forma quando soube que eu não dei crédito
a ela pelo tema da Gala. Ela provavelmente se sentiu desvalorizada e
traída naquela época também.
— Dar aquele vestido a ela provavelmente também não ajudou, —
Dustin continuou. — Ela não quer se sentir como um caso de caridade.
— Sim. continue a numerar meus erros. Eu mereço.
— Você merece, — Dustin riu.
Era como oferecer para comprar uma casa para Em e Lucas
novamente.
Quem eu estava me transformando? Desde quando eu exibia dinheiro
como se fosse resolver todos os meus problemas?
Fiquei sentada em desespero por um tempo antes de Dustin falar
novamente.
— Então, o que você vai fazer agora? — Ele perguntou.
Eu examinei as pilhas de detalhes de eventos que Zoe tinha
cuidadosamente organizado para mim. Ela era uma assistente incrível e,
mais do que isso, uma pessoa genuinamente gentil.
E agora ela provavelmente me odiava.
Eu me senti em uma espiral, passando por todas as coisas que eu
poderia ter dito, todas as coisas que eu poderia ter feito...
Por que não percebi antes?
Eu sempre me orgulhei secretamente de minha empatia. Eu adorava
ser gentil com as pessoas. Adorava estender a mão àqueles em
necessidades.
Quem eu estava me tornando?
A pergunta de Dustin ecoou na minha mente.
Levantei-me, recolhendo todas as pastas com desânimo.
— Tenho um baile de gala para fazer em dois dias, — murmurei.
E acabei de perder Zoe.
Capítulo 24
Começo do F im

DUSTIN

— E Angela não tinha ideia? — Jake perguntou, seus olhos brilhando.


Eu revirei meus olhos. Ele parecia adorar o drama entre Angela e Zoe.
Foi na manhã seguinte ao desentendimento. Eu tinha passado a noite na
casa de Jake, um apartamento luxuoso no coração de Midtown.
Não era tão porra-eu-tenho-dinheiro quanto o apartamento de Xavier
e Angela, mas eu classificaria bem alto nessa escala. As janelas do chão ao
teto podem escurecer ou iluminar sob comando, proporcionando uma
vista deslumbrante de Nova Iorque, atualmente ao nascer do sol.
— Ela diz que não. — eu respondi. — Mas eu acredito nela. Essa
menina realmente tem um coração de ouro, mas às vezes ela pode não
perceber o que está acontecendo ao seu redor.
— E você é um dos amigos mais próximos dela, carne e unha, — ele
brincou. — Alguém precisa cuidar dela, eu acho.
— Quanta besteira, — eu ri, pegando um travesseiro de penas e joguei
no rosto dele.
Jake empurrou a arma fofa, imperturbável.
Ele rolou no colchão king-size, arrastando os lençóis de seda junto
com ele. Ele se apoiou nos cotovelos, apoiando o queixo nas mãos
enquanto me encarava.
— Então? O que eles farão agora? — Ele perguntou, extasiado.
Minha respiração ficou presa na minha garganta por um momento, o
sol nascente transformando seus cachos castanhos em ouro derretido,
manchas de cobre brilhando em seus olhos verdes vibrantes.
— Alôôôôôôô, — ele chamou. — Terra para Dustin?
Eu pisquei.
— O-o quê?
Jake franziu a testa, uma covinha na bochecha.
— Você ainda está meio dormindo? Eu perguntei o que Angela e Zoe
estão...
Eu o interrompi com um beijo rápido.
Eu vi seus olhos ficarem em branco por um momento, antes que ele
voltasse ao presente, seu rosto se contorcendo em uma carranca. Ele
pegou o travesseiro e me deu um tapa.
— Não, você não precisa disso! — Ele disse. — Não me distraia.
Detalhes! Eu quero detalhes! — Eu ri. maravilhando-me novamente com
o fato de ter encontrado esta pequena besta magnífica nos confins da
cidade de Nova Iorque.
— Está bem, está bem. — Sentei-me na cama, esticando o sono de
meus ossos. — Eu não tenho ideia do que eles vão fazer agora. Zoe saiu.
Angela provavelmente está com vergonha de falar com ela novamente,
então ela vai para o Baile de Gala sozinha.
Jake franziu a testa, sua carranca ficando pensativa.
— E você está bem com isso? — Ele perguntou finalmente.
Suspirei.
— Não, — eu disse. — Não, acho que não.
— Quero dizer, parece que Angela simplesmente não sabia, —
continuou Jake. — Também é meio que culpa de Zoe por não ter dito
nada, afinal.
— Você está certo, Jake.
— Como sempre, — ele respondeu presunçosamente. — Sim. Sim. —
Eu baguncei seu cabelo, para seu protesto. — Eu vou falar com Zoe,
certo?
— Angela ajudou você a começar sua carreira, não foi? — Ele cutucou.
— E o mínimo que você pode fazer.
— Eu sei, eu sei, — eu gemi. — Já estou indo. E aqui estava eu ansioso
por uma manhã preguiçosa com você.
— Você não pode ser preguiçoso perto de mim, Dustin. Agora leve sua
bunda gostosa lá fora. Você tem uma pilha de panquecas esperando por
você, se conseguir.
Levantei-me, vestindo um pouco de roupa, com a promessa de
panquecas me animando.
Jake me observou enquanto eu estava na soleira da porta do
apartamento.
— Xarope extra? — Eu confirmei.
— Sim. — Fui recompensado com um sorriso brilhante.
Fechei a porta atrás de mim, caminhando pelo corredor em direção ao
elevador.
Eu tinha um relacionamento para salvar.

Dustin: cadê você, garota?

Zoe: No Central Park, perto do Bethesda Terrace.

Zoe: Alimentando alguns pássaros!

Dustin: fica aí, quero falar com você sobre uma coisa Zoe:
Perfeito!
Eu entrei no Central Park, procurando por Zoe. Foi fácil encontrá-la.
Ela estava sentada em um banco, alimentando alguns pombos com
uma senhora idosa.
Deus, quão tipicamente angelical você pode ser? Essa garota rivaliza até
mesmo com Angela.
— Zoe! — Chamei.
Ela ergueu os olhos e sorriu para mim, despedindo-se da senhora de
aparência gentil. — Ei, Dustin, eu ia visitar seu café mais tarde, na
verdade. — Ela estendeu uma bolsa de temo.
— O que é isso? — Perguntei.
— E o vestido que Angela me deu, — disse ela. — Eu não queria pegar.
Eu meio que peguei tudo com pressa para sair de lá e... bem, eu não
preciso mais disso.
Eu balancei minha cabeça, empurrando o vestido de volta para ela.
— Dustin? — Ela disse, confusa.
— Fique com ele, — eu disse. — Nós precisamos conversar.
XAVIER

Eu estava no meu limite.


Essa equipe de relações públicas era incompetente ou estava
desperdiçando meu tempo de propósito.
Ambas as infrações mereciam a rescisão imediata de seus contratos.
Eu passei a noite aqui em meu escritório na Knight Enterprises,
apagando fogo após fogo. Eu já tinha bebido sabe-se lá quantas xícaras de
café, ficando até depois da meia-noite para colocar a situação sob
controle.
E isso que papai tinha que fazer toda vez que eu fodia tudo? Eu me
perguntei.
Se fosse, eu não dei a ele o devido crédito. Ele era um campeão e eu
fodi muito mais do que o meu quinhão.
Eu havia me trancado deliberadamente dentro de casa, recusando-me
a ver Penny ou Henry. Eu não tinha certeza se conseguiria manter a
calma se visse qualquer um de seus rostos.
Eu tinha ligado para Angela na noite anterior, dizendo a ela que não
seria capaz de voltar para casa à noite.
— Oh, — disse ela, a preocupação aparente até mesmo através do
telefone. — Você quer que eu vá até você? Posso trazer uma muda de
roupa para você, pelo menos.
Eu sorri. Essa era minha linda e atenciosa esposa. Ela nem estava
chateada por ser deixada sozinha durante a noite. Sua primeira
preocupação foi meu bem-estar. Só de ouvir a voz dela me acalmou um
pouco.
— Não, está tudo bem, não se preocupe com isso. Estarei em casa
amanhã à noite.
E a longa noite passou.
O dia seguinte veio e se foi, e eu finalmente estava terminando
quando o sol começou sua lenta descida.
Eu estava exausto. Eu tinha roubado alguns momentos de descanso ao
longo do dia — cinco minutos aqui, dez minutos ali. Ter um chuveiro
privativo no prédio também funcionou maravilhosamente. Ainda assim,
eu não podia esperar para estar na minha própria cama, com Angela em
meus braços, com todo esse show de merda atrás de mim.
Eu estava fazendo as malas para sair quando a porta do meu escritório
se abriu.
E lá estava Penny.
Tão irritante como sempre.
— Xavier, precisamos conversar...
Aí vamos nós.
Sua voz tão doce se encheu de preocupação.
Parecia tão falso. Tão forçado.
Um pico de fúria passou por mim, o tom condescendente em sua voz
me deixou vermelho.
— Bethany deixou você entrar, não é? — Perguntei.
Acrescentei minha secretária à lista de pessoas que despediria pela
manhã.
— Não é culpa de Bethany, — acrescentou ela rapidamente, lendo
meus pensamentos. — Não demita ela, por favor. Eu é que forcei minha
entrada.
— Eu especificamente disse a ela para não deixar ninguém entrar, e aqui
está você. Ela não consegue nem seguir instruções simples. Vou despedir
quem eu quiser. — Eu praticamente rosnei as palavras. — Eu sou a porra
do CEO.
— Bem, você não foi exatamente o melhor exemplo de CEO... — Pude
ver que Penny estava reunindo coragem, preparando-se para uma
discussão.
Eu olhei para ela. desafiando-a a continuar.
Para minha surpresa, ela o fez.
— Eu pedi para você tentar manter a calma no aeroporto, Xavier. Eu
até avisei que todos eles estariam lá... mas você surtou. Você surtou com
todos ao seu redor, as consequências que se danassem.
— Você não sabe do que está falando, — murmurei. — Eu não sei? —
Ela desafiou. — Quantos escândalos isso vai levar, Xavier? Eu sei que você
está passando por muita coisa, e estou tentando ajudá-lo com seus
problemas, mas...
— Oh, eu sei exatamente qual é o meu problema. — Eu bati meus
punhos na mesa, o mogno gemendo em protesto.
Penny se encolheu, um lampejo de medo em seus olhos.
Mas não consegui me conter. A raiva cresceu como um vulcão, e
Penny estava prestes a conseguir um lugar na primeira fila para a
erupção.
— Meu problema são todas as pessoas estúpidas que sugam dinheiro e
fama de mim. Meu problema são todos os idiotas nesta empresa que não
sabem fazer seus malditos trabalhos!
Eu bati na mesa de novo, um estalo alto me dizendo que a madeira
tinha acabado de quebrar.
— Todo mundo na porra do mundo é cego, menos eu? Eu sou a única
pessoa nesta cidade com algum bom senso?!
Minha garganta parecia desgastada, por causa da minha raiva.
— Meu problema é o Henry.
Eu olhei para Penny, com toda a raiva, estresse e veneno saindo de
mim.
— Meu problema é você.
As coisas teriam ficado bem se Penny e Henry simplesmente tivessem
desaparecido da minha vida.
— O que eu fiz? — Penny perguntou em voz baixa. — O que eu fiz
para que você me odiasse tanto?
Eu abri minha boca para gritar com ela. mas nenhuma palavra saiu.
Na minha cabeça, eu sabia que não tinha nenhum motivo verdadeiro
para desprezar Penny. O meu lado lógico sabia que ela realmente não era
uma pessoa mal-intencionada.
E isso me irritou ainda mais. Minha raiva era irracional. Sem sentido.
Eu sabia que no fundo do meu coração, havia uma parte escura e feia
em mim que eu estava tentando suprimir. Um pensamento que eu
tentava manter enterrado.
Mas Penny continuou forçando, arrastando-o cada vez mais perto da
superfície...
— Amar Brad era crime tão grande? — Sua voz falhou e ela teve que
levar um segundo para se recompor. — Encontrar a alegria em trabalhar
na Knight Enterprises é tão imperdoável?
Penny balançou a cabeça e eu pude ver a ameaça de lágrimas em seus
olhos.
Não chore, mulher.
— Me desculpe se eu te deixei desconfortável, Xavier, ou se você
sentiu que eu estava saindo da linha. Mas, honestamente, estou
tentando...
— É sua culpa que ele se foi.
Minhas palavras saíram como um sussurro, mas elas pararam Penny
em seu caminho.
Ela cambaleou para trás como se eu a tivesse golpeado, seu rosto uma
máscara de agonia. Minhas palavras foram uma adaga, e eu a apunhalei
direto no coração dela.
As lágrimas que ela estava tentando segurar transbordaram.
— Se não fosse por você, ele ainda estaria aqui, — eu disse, minha voz
aumentando. As palavras correram para fora de mim agora — aquela
parte escura e feia da minha alma mostrando seu rosto horrível.
Penny cobriu a boca, tentando abafar o soluço em sua garganta.
— Ele ainda estaria vivo. Ficaríamos felizes. Ele teria a chance de ver
seu neto. — Minha voz tremeu — se de raiva ou desespero, eu não sabia.
Minha mente voltou para aquele telefonema final que eu tive com ele,
as acusações que eu joguei nele. As últimas palavras que falei com meu
pai foram odiosas e cruéis. Eu senti algo quebrar dentro de mim.
— É TODA SUA CULPA, PORRA! — Eu gritei.
As palavras soaram verdadeiras.
Mas eu estava falando com Penny ou comigo mesmo?
— E tudo culpa sua, — eu repeti, me sentindo vazio. Penny cambaleou
em direção à porta, as lágrimas escorrendo livremente pelo rosto.
Eu cruzei uma linha, talvez uma da qual nunca pudesse voltar. Ela
parecia em estado de choque, como se não pudesse acreditar no que
estava ouvindo.
Honestamente, nem eu poderia
Ela abriu a porta do meu escritório, com o pé meio para fora quando
ela parou.
Ela olhou para mim e eu esperava que ela ficasse furiosa. Eu esperava
que ela odiasse minhas entranhas, desprezasse a pessoa horrível que eu
era.
Em vez disso, vi tristeza.
Tristeza e uma dor profunda, profunda que me cortou até o âmago.
— O conselho tem se reunido sem você. — Sua voz era um sussurro.
— Eu tenho defendido você, Xavier. Tentando convencê-los do
contrário... mas depois disso...
Ela balançou a cabeça tristemente. — Não tenho certeza se ainda
posso garantir algo para você.
Penny me olhou nos olhos e suas próximas palavras deveriam ter me
chocado. Elas deveriam ter me surpreendido, me irritado, qualquer coisa.
Mas não senti nada.
— Eles vão votar contra você como CEO.
Capítulo 25
Um pouco de descanso

ANGELA

Eu assisti enquanto o sol se punha no horizonte, as luzes de Nova


Iorque brilhando como estrelas no céu noturno.
Todos os detalhes do Gala foram verificados duas ou três vezes, foram
colocados todos os pingos nos is.
Zoe havia feito um trabalho incrível. Ela realmente tinha um talento
para planejar eventos, e eu só queria que ela estivesse lá comigo para ver
todo o seu trabalho árduo valer a pena.
A culpa me assaltou e tive vontade de afundar nos lençóis e
desaparecer.
E de quem é a culpa por ela não estar na Gala?
Meus olhos mudaram para meu reflexo na janela.
Trim, trim, trim.
Eu caminhei até a sala de estar, me enrolando no sofá.
Pelo menos Xavier estaria em casa logo.
Ele deve estar exausto depois de sua noite no escritório.
Embora a viagem aos Alpes tenha sido bastante agradável, sem incluir
a nevasca, é claro, não havia ajudado muito para recarregar as baterias, por
assim dizer.
No mínimo, acabou causando mais estresse do que valia a pena.
Nós dois tínhamos voltado para Nova Iorque exaustos, recém-saídos
de uma desgraça de gelo evitada e direto para o fogo que era nossa vida
profissional.
Alguns dizem que o mundo vai acabar em fogo... meditei.
Talvez estávamos tratando de tudo isso da maneira errada.
Caramba, se eu parasse pra pensar sobre isso, estávamos tentando
resolver muito dos nossos problemas com dinheiro...
Pensei em uma lista de verificação mental, eliminando itens um por
um.
1. Refúgio nos Alpes Suíços.
2. Vestido de gala de Zoe. Muito imprudente.
3. Os brincos de Zoe como uma oferta de paz. Muito errado.
4. Sentindo-se afastado de sua família? Oferece comprar uma casa para
eles!
Esse último em particular me fez estremecer de vergonha.
Houve outras vezes? Temia que provavelmente houvesse, mas me
acostumei tanto a ter riquezas que me esqueci delas e aceitei isso como a
norma. Eu pulei do sofá, com uma ideia vindo à mente. Eu senti um
sorriso se espalhar pelo meu rosto.
Eu precisava voltar às minhas raízes.
Voltar para os jeans surrados em vez de vestidos de grife, linhas de
metrô apertadas em vez de carros particulares.
Eu ainda tinha algum tempo antes de Xavier voltar.
Eu coloquei minha roupa de corrida, preparando-me para ir até o
Duane Reade mais próximo.
Era hora de acabar com o Ben & Jerry's.
XAVIER

Peguei o elevador privado até o nosso apartamento de cobertura, o


peso da responsabilidade pesando sobre meus ombros.
Eles estão tentando me tirar do meu cargo de CEO. Eles estão tentando
tirar tudo de mim.
Eu fiquei no meu escritório por mais um momento depois que Penny
saiu, de queixo caído como um idiota. Sua revelação foi como um banho
de água fria, minhas chamas de raiva apagadas.
Tudo o que restou foi poeira e cinzas.
Sempre presumi que seria o chefe da Knight Enterprises, aconteça o
que acontecer. Quero dizer, era a porra do meu sobrenome estampado
em todo o edifício, pelo amor de Deus.
Agora havia uma possibilidade muito real de perdê-lo, e isso me
forçou a ver as coisas sob uma nova luz. Uma nova perspectiva.
Eu odiava essa nova perspectiva. Eu desprezava isso tudo com todas as
minhas forças.
Eu pensei sobre isso. Pensei profundamente, tentando colocar meu
enorme ego de lado por apenas dois minutos. Tentei me distanciar um
pouco do problema para ter uma visão objetiva da situação e Cheguei a
uma única conclusão.
Eu me votaria para sair do cargo de CEO também. A Knight
Enterprises sofreu um golpe após o outro por causa do meu ego, e foi
uma espécie de milagre que a empresa ainda estivesse de pé.
O nome desse milagre era Brad Knight.
Milagres não duravam para sempre, e parecia que eu precisaria de
outro agora se tivesse alguma esperança de manter meu título de CEO.
Eu desabei no banco macio do elevador com minha cabeça em minhas
mãos.
Eu disse umas merdas para Penny.
Eu não a culpei pela morte de papai. Na verdade. Acabei de pensar na
coisa mais rancorosa e dolorosa que poderia dizer no momento e as
palavras flutuaram de meus lábios com a mesma naturalidade com que
respirava.
Você realmente é um merda.
Pelo menos Angela estava esperando por mim lá em cima. Eu
realmente não a merecia. Especialmente agora que nosso sustento estava
em perigo...
Minha respiração ficou presa na minha garganta quando eu entendi
uma coisa.
Você vai ter que contar a ela.
Antes que eu pudesse bolar um plano, as portas do elevador abriram.
Entrei em nosso apartamento, meus pés se arrastando como se eu
estivesse na frente de um pelotão de fuzilamento.
Dê-me o pelotão de fuzilamento em vez desse pesadelo, pensei.
— Bem-vindo de volta!
Eu olhei para cima e lá estava ela. Meu próprio anjo pessoal, vestida
com seu pijama de seda, seu cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo,
seus pés envoltos em chinelos de panda fofos.
Suas mãos estavam atrás das costas, escondendo algo de mim.
Ela olhou para mim e acenou com a cabeça conscientemente.
— Dia difícil? — Ela perguntou.
— Você não tem ideia, — eu ri, nem um pingo de humor no som.
— Bem, vamos consertar isso. — Ela saltou até mim, empurrando algo
no meu peito. Eu olhei para baixo para encontrar um tubo de Sorvete de
Biscoito de Caramelo Ben & Jerry e minhas sedas Armani empacotadas
juntas.
Ela ergueu seu próprio pote de sorvete de baunilha e sorriu para mim.
— O que é isso? — Perguntei.
— Troque de roupa, — ela exigiu enquanto pegava minha mão e me
levava até a nossa sala de estar. A visão me parou no meio do caminho.
Nossa elegante e sofisticada sala de estar foi transformada em algum
tipo de abominação de castelo de travesseiros. Cobertores feitos de
barracas improvisadas, luzes de Natal baratas penduradas ao longo de
tudo como arame farpado. Ela apresentou essa loucura para mim como o
Dr. Frankenstein exibindo seu monstro.
— Está vivo... — eu murmurei baixinho.
Angela sorriu, seus olhos brilhando maliciosamente.
— Estamos dando uma festa do pijama, — ela exigiu.
— E não aceito não como resposta.
ANGELA

Eu gritei de alegria ao ver Xavier comendo sorvete dentro do castelo


de travesseiros comigo, suas pernas cruzadas sob o brilho das luzes de
Natal. Eu tinha visto a relutância em seus olhos que beirava o horror,
mas ele finalmente cedeu às minhas demandas.
— Não se acostume com isso, — disse ele com a boca cheia de biscoito
de caramelo. — Sempre achei que os castelos de travesseiros eram
infantis, mesmo quando eu era criança.
Eu mostrei minha língua para ele.
— Tanto faz, sua alteza. É assim que nós, plebeus, nos divertimos.
Xavier bufou, e quase engasguei com minha colher de baunilha.
— Então você não falou com Zoe desde então? — Ele perguntou.
— Não. — eu suspirei, murchando. — Peguei e larguei o telefone um
milhão de vezes para tentar ligar para ela, mas sinto que incomodá-la
mais seria considerado assédio neste momento.
— Se isso a incomodava tanto, ela deveria ter dito algo, — disse
Xavier. Ele despejou os últimos pedaços de sorvete antes de jogar o balde
vazio em uma lata de lixo do outro lado da sala.
Bati palmas educadamente e ele me recompensou com um sorriso
malicioso.
— Além disso, — ele continuou. — Você vai arrasar na Gala, mesmo
sem ela.
— Talvez... mas foi minha culpa por não considerar como ela se sentia.
— Entreguei a ele meu pote vazio de sorvete e ele repetiu a ação,
jogando-o na lata de lixo. — Você joga basquete? — Eu perguntei,
impressionado.
— Não. Sou naturalmente atlético. — Ele piscou e eu revirei os olhos,
embora não conseguisse evitar que um sorriso aparecesse em meus
lábios.
— Que tal Penny? — Eu perguntei, minha voz baixa. Ele me contou
sobre sua explosão em seu escritório, e meu coração doeu por ambos.
Claramente, eles estavam sofrendo.
Matava-me não saber como fazer tudo melhor — como eu poderia
ajudar.
O humor de Xavier azedou. Eu rastejei até ele, me enrolando em seu
colo. Eu o senti suspirar quando seus braços me envolveram, sua
respiração fazendo cócegas no topo da minha cabeça.
— Eu não sei, — ele disse finalmente. — Acho que devo a ela um
pedido de desculpas, mas...
— Mas?
— Haverá uma reunião importante no trabalho em breve. — O tom
de sua voz mudou, e de repente eu tive borboletas nervosas passando
pelo meu estômago.
— Uma reunião para quê? — Perguntei.
Xavier não respondeu. Eu me virei em seu colo para olhar para ele.
— Xavier? — Tentei sentir o que ele estava pensando, mas não
consegui entender nada de seu rosto na luz fraca.
— Apenas sobre o futuro da empresa, — ele disse finalmente.
— Oh, entendo, — eu disse, embora eu realmente não soubesse. — Vai
ficar tudo bem?
— Sim, — ele disse, e sua voz estava cheia de uma determinação tão
feroz que meu coração começou a bater forte no meu peito. Por que ele
estava tão tenso? — Tudo vai ficar bem.
O clima em nosso pequeno castelo de travesseiros de repente se
tornou muito sufocante.
Oh, não, nada disso.
Eu me contorci em seu colo, pegando um travesseiro. Eu me virei,
jogando-o direto em seu rosto. Ele bateu nele, e apenas olhou para mim
em estado de choque.
— A-ha! Direto na cara, — eu gritei.
Ele agarrou o travesseiro, sua voz chegando a ser um rosnado. — Você
vai se arrepender disso, — ele avisou.
Eu sorri, vendo a tensão sumir de seus ombros. Eu me senti mais leve
do que há dias.
— Não me subestime, Sr. Knight, — respondi, confiante em minhas
habilidades de guerra de travesseiro.
E então a guerra começou.
XAVIER

Deitamos juntos, respirando pesadamente, o castelo de travesseiros


em ruínas ao nosso redor. Angela estava deitada em cima do meu peito,
seu cabelo uma bagunça, o suor escorrendo pelo pescoço, seu pijama de
seda escorregando de seus ombros.
Sua respiração fez cócegas em meu pescoço e eu me senti mexer e
endurecer debaixo dela.
Ela definitivamente percebeu, esfregando-se em mim, a única coisa
entre nós eram lençóis finos de seda. Angela gemeu, o som enviando
desejo correndo em minhas veias.
Mas havia algo que eu precisava ter certeza primeiro.
— Angela, — comecei.
— Xavier, — ela gemeu de volta. Eu cerrei meus dentes, desejando
controle sobre mim mesma.
— Sobre nossos planos para o futuro, — continuei.
— Sobre ter uma família...
Ela colocou um dedo nos meus lábios, olhando para mim, a cortina de
seu cabelo nos separando do resto do mundo.
— Podemos esperar para ter essa conversa até depois que nossos
problemas de trabalho tenham ficado para trás? — Ela perguntou. — Não
é que eu não queira começar uma família com você, Xavier. E apenas...
— Tudo bem. — Lembrei-me de minha conversa com Ken. — Vou
esperar o tempo que você precisar.
Seja paciente com ela. Ela vale a pena.
Ela sorriu para mim, radiante.
— Obrigada, — ela sussurrou, se abaixando para me beijar. Seus lábios
se arrastaram até minha orelha. — Embora isso não signifique que não
possamos nos divertir...
Ela começou a arrastar os lábios pelo meu pescoço, desabotoando
minha camisa enquanto beijava meu peito...
Eu gemi, apreciando a sensação de seus lábios na minha pele antes
que o pensamento do encontro iminente lampejasse em minha mente.
Não pude contar a Angela.
Mas eu com certeza não iria deixá-los tirar a empresa de mim. Eu
protegeria minha posição. Eu protegeria a segurança de nosso futuro
juntos.
Custe o que custar.
Capítulo 26
Perdido no escuro

ANGELA

Fiquei olhando pela janela do carro. As ruas passaram aceleradas do


lado de fora e meu coração disparou.
Esta noite definiria minha carreira como produtora de eventos.
A Gala.
Respirei fundo algumas vezes, tentando me assegurar de que havia
feito tudo que podia, que não importava se eu estivesse estressada ou
não, o evento ocorreria do mesmo jeito.
Qual era o sentido de se estressar, certo?
Se ao menos meu coração ouvisse meu cérebro.
A náusea fez minha cabeça girar. Algo se agitava no meu estômago,
mas de jeito nenhum eu iria me permitir vomitar.
Que desastre isso seria.
Me senti uma impostora com o vestido sob medida que desenhei para
o evento.
Caos e Ordem.
Impulso ou lógica.
Dionísio ou Apoio.
Todos os convidados escolheriam um lado para representar, suas
roupas e suas ações representariam sua divindade escolhida.
O evento em si seria dividido igualmente ao meio entre as duas
facções, embora os convidados estivessem livres para se mover e se
misturar livremente como quisessem.
Achei que era adequado, como produtora do evento, que meu vestido
refletisse os dois lados da moeda.
Eu usava um vestido assimétrico, cada lado representando um deus
diferente.
O lado de Apoio era um tecido de cor creme silencioso, mas ousado,
com renda dourada acentuada por toda parte, o tecido abraçando minha
pele antes de terminar na minha coxa. Ele falava de elegância, poder e, o
mais importante, ordem.
Essa ordem desapareceu e floresceu no vibrante e cintilante Dionísio,
cremes e dourados se transformando em roxos e castanhos brilhantes.
Redemoinhos de cor fluíam caoticamente pela minha cintura, alargando-
se em uma meia saia com babados que desciam até meu tornozelo, o
tecido cintilante que lembrava uma chama.
Espontaneidade. Movimento. Caos.
Eu usava meu cabelo solto em ondas soltas, saltos Louboutin pretos
adornando meus pés.
Um brinco de diamante foi perfurado na orelha de Apoio, um brinco
de videira pendurado na orelha de Dionísio.
— Você parece um ser de outro mundo. — Xavier apertou minha mão
no carro.
— Angela, vá-pra-casa, — eu murmurei sombriamente. Eu parecia
uma aberração. Um alienígena.
— Isso foi uma referência ET?
— Sim.
— Isso era para ser um elogio, Angela. Você está deslumbrante além
das palavras. A arte ganhou vida.
— Oh, certo. Picasso. Eu posso ver isso totalmente.
Xavier riu, e eu descobri que isso realmente ajudou a acalmar um
pouco meus nervos. Ele se inclinou e me deu um beijo rápido na
bochecha. — Você vai se sair bem. Angela. Acredite em si mesma. — Ele
sorriu encorajadoramente para mim antes que uma sombra caísse sobre
seu rosto. — Eu gostaria de estar lá para apoiá-lo, mas...
— Está tudo bem, — eu disse. — Sua reunião é muito importante,
certo? Você já veio para casa só para me ver partir para a Gala. Isso é mais
do que suficiente.
Xavier esteve fora o dia todo, preparando-se para qualquer grande
reunião que aconteceria amanhã.
Eu entendi porque ele não poderia vir. Eu sabia que, sem dúvida, se
meu marido pudesse se afastar do trabalho e vir para a Gala, ele o teria
feito.
Ainda assim, estaria mentindo se dissesse que não gostaria que ele
viesse de qualquer maneira.
Marco parou ao lado do Hudson Yards. Tudo que eu precisava fazer
era abrir a porta e sair. Eu respirei fundo, fechando meus olhos.
Senti os lábios de Xavier pressionarem suavemente nos meus, seu
toque persistente e doce. Senti meu pulso lento, meu coração batendo
em sincronia com o dele. Quando abri meus olhos, me perdi em seu
olhar.
— Vai ser incrível, — ele me assegurou com uma voz suave. — Agora
saia daí. amor.
Ele estendeu a mão e empurrou a porta, e minha respiração ficou
presa na garganta.
A Gala foi deslumbrante.
O tapete vermelho se estendia diante de mim, uma linha de um
vermelho brilhante que dividia o Hudson Yards no meio. O Vessel ficava
no final do tapete, cada metade perfeitamente alinhada entre os
acampamentos de Apoio e Dionísio.
E meu Deus, as estruturas.
O espaço parecia surreal, quase onírico, lá fora, no céu noturno. Era
como se o espaço tivesse sido arrancado de um livro de histórias e jogado
bem no meio da cidade de Nova Iorque.
Apoio estava à direita; lanternas altas com intervalos perfeitos
formavam uma grade no espaço. Fontes elegantes de esculturas de gelo
expeliam águas cristalinas, peças de arte e instalações decoravam o
espaço, e uma pequena orquestra foi montada exatamente no centro de
tudo, sua música flutuando na brisa noturna.
Dionísio era um borrão de movimento.
Malabaristas com fogo percorriam a área, acrobatas pendurados em
sedas coloridas, seus corpos se retorcendo e contorcendo ao som de uma
percussão frenética martelada por músicos vestidos de maneira
extravagante.
Apoio era como um museu elegante, Dionísio era um carnaval, os dois
colidindo um com o outro tendo The Vessel como peça central.
O ambicioso plano no papel ganhou vida.
Os convidados estavam vestidos quase tão extravagantemente quanto
eu, todo o terreno uma passarela de moda.
Era o sonho de um designer.
Se ao menos Zoe estivesse aqui comigo...
Virei-me para compartilhar minha emoção com Xavier, mas Marco já
havia ido embora.
Mais convidados passaram por mim no tapete, e de repente me senti
desesperadamente sozinha, apesar de estar no meio de uma multidão.
Minhas emoções despencaram imediatamente. Eu fui de uma vertigem
irracional para desnecessariamente ansiosa.
O que diabos está acontecendo comigo?
Respirei fundo, caminhando pelo tapete vermelho, tentando me
concentrar no meu trabalho. Fiz um olhar crítico sobre tudo,
certificando-me de que cada detalhe estava definido e em seu lugar.
Várias pessoas me cumprimentaram ao longo do tapete, comentando
sobre minha roupa ultrajante. Eu sorri, bancando a organizadora cordial,
tentando ao máximo não me atrapalhar com minhas palavras ou
tropeçar em meus pés.
Mesmo assim, desejei poder compartilhar esse momento com alguém.
Convidei todos, mas todos estavam ocupados com uma coisa ou
outra.
Em e Lucas tinham um bebê para cuidar.
Danny estava ocupado administrando o restaurante.
E, honestamente, essa não era a cena do papai. Eu me sentiria muito
mal submetendo-o a esse povo artístico. Ele provavelmente ficaria
entediado e voltaria para casa de qualquer maneira.
Eu examinei a multidão ao meu redor, desejando um rosto familiar.
— Ah. olha quem é. A mulher do momento. — Eu congelei. Eu
reconheceria aquele sotaque francês esganiçado em qualquer lugar.
Qualquer um, menos este rosto familiar, implorei silenciosamente.
Eu me virei e, com certeza, lá estava Daria. Ela estava deslumbrante
em seu vestido, o brilho selvagem de penas e correntes sugerindo que ela
pertencia ao lado de Dionísio.
— Oi, Daria. — Eu forcei um sorriso.
— Qual é o problema? — Ela perguntou, sua voz pingando com
preocupação fingida. — Você parece um pouco pálida. A pressão está
afetando você?
— Nem um pouco, — eu menti. — As coisas estão indo bem.
— Hmm, — ela murmurou, não convencida. — Eu gosto da sua roupa.
Se você fosse ousada e hedionda, eu diria que você realmente acertou em
cheio.
Daria apenas me encarou, como se esperasse pelo segundo que eu
cederia.
Foi quando vi Dustin, parecendo absolutamente ridículo em um temo
pastel.
— Bem, se você me dá licença... — Murmurei enquanto me afastava,
Daria me encarando o tempo todo.
— Dustin! — Eu gritei.
— Oh, Angela! — Ele se aproximou de mim e me deu um grande
abraço, tomando cuidado para não bagunçar meu vestido. — Você e Zoe
fizeram um trabalho maravilhoso. Quero dizer, olhe para este lugar!
Dançarinos com fogo? Uma orquestra inteira? — Ele beijou seus dedos.
Eu sorri, radiante com seu elogio.
— Onde está Jake? — Eu perguntei a ele.
— Oh, ele está em algum lugar de Apoio, sendo um quadrado. Eu
disse a ele que Dionísio é a melhor parte. Quero dizer, o deus do vinho e
das festas, certo? — Ele me cutucou, inclinando-se mais perto, uma
sobrancelha levantada. — E fertilidade.
Eu corei.
— Abrace o seu Dionísio interior, garota.
Eu ri, minha ansiedade desaparecendo.
— Talvez depois do trabalho, — eu disse com um sorriso.
Dustin parecia que ia dizer algo mais, mas seus olhos se arregalaram,
olhando para alguém por cima do meu ombro.
— Angela.
Eu girei, levando um susto ao ver Hannah Flintour parada atrás de
mim com seu olhar tão intimidante como sempre. Ela optou por não
usar um vestido, mas um smoking prata sob medida, com a cauda
alargando-se atrás dela.
Seu cabelo estava penteado para trás para acentuar ainda mais suas
maçãs do rosto proeminentes.
Oh, olá de novo, ansiedade.
— Hannah, — eu gritei. — Você está, uh, se divertindo?
Idiota, Eu me repreendi.
Ela ergueu uma sobrancelha, o que poderia muito bem ser uma
gargalhada estridente para alguém como ela.
— Relaxe, Angela. Você fez um bom trabalho aqui. Todo mundo
parece estar se divertindo. — Ela olhou em volta, balançando a cabeça
lentamente para si mesma. — Um trabalho muito bom.
— Obrigada, Hannah.
Ela estendeu a mão e eu a encarei estupidamente por um segundo
muito tempo antes de perceber que deveria apertar.
— Estou ansiosa para trabalhar com você novamente no futuro, —
disse ela.
Oh. Meu. Deus.
Eu me senti como se estivesse nas nuvens.
— Muito obrigada! — Eu soltei. — Eu não vou deixar você...
As luzes apagaram-se.
Todas elas.
Eu congelei, caindo das nuvens direto para a terra fria e rochosa.
Olhei em volta, e os convidados estavam confusos. Os músicos pararam
de tocar, os performers pararam seus atos, cautelosos para continuar na
luz fraca.
Hannah Flintour olhou em volta, confusão evidente em seu rosto.
— Isso faz parte do programa? — Ela perguntou.
Não. Entrei em pânico. Não, não faz.
— Podemos ter algumas dificuldades técnicas, — eu disse, tentando
ao máximo soar calma e composta, quando na verdade eu estava tudo
menos isso. Meus olhos estavam fixos na grande barraca elétrica nos
arredores do terreno do Gala. — Eu vou dar uma olhada nisso. Se você
me der licença...
Comecei a me encaminhar para a tenda quando um flash vermelho
chamou minha atenção.
Uma garota com um vestido vermelho familiar estava correndo para
longe da Gala, entrando na noite. Eu apertei os olhos, tentando dar uma
olhada melhor.
Zoe?
Fui segui-la quando percebi. Um poço de pavor se abriu em meu
estômago, a traição deslizando como uma faca entre minhas costelas.
Ela fez isso?
Por que mais ela estaria aqui? E por que ela estaria fugindo?
Lágrimas surgiram em meus olhos, mas eu mandei para longe, me
recusando a deixá-las cair.
Continuei caminhando em direção à área de elétrica, cambaleando no
escuro.
Eu precisava consertar esse problema.
A noite inteira dependia disso.
A multidão começou a murmurar, suas vozes aumentando de
desagrado. A equipe de gala circulava e os participantes da festa
tropeçavam uns nos outros na escuridão.
A Gala estava se transformando no caos.
Parecia que Dionísio faria o que queria.
Capítulo 27
É mais escuro antes do amanhecer ANGELA Atravessei a multidão
de participantes confusos, estremecendo a cada murmúrio de decepção e
aborrecimento.
— Que tipo de evento é esse? — Um homem de aparência altiva em
uma máscara de baile choramingou. — Se eu quisesse andar no escuro,
iria para uma daquelas boates que meu filho sempre...
— Quer parar de pisar no meu pé? — Uma mulher que parecia estar
usando uma roupa de bailarina sibilou.
Sua companheira, outra mulher vestindo um maiô rodeado por um
tutu, olhou para ela. — Não fui eu, Elaine. Culpe o homem pintado ao
seu lado.
O homem pintado, por sua vez, simplesmente encolheu os ombros.
Senti uma gota de suor rolar pela minha testa, meus olhos fixos na
distante barraca elétrica como um navio perdido caminhando em direção
a um farol.
Exceto que o farol estava escuro, e eu provavelmente me jogaria
contra a face do penhasco.
Uma mulher esbarrou em mim, fazendo-me tropeçar.
— Olha pra onde você está indo, — disse uma voz terrivelmente
familiar com sotaque francês.
Oh, por favor, agora não.
Daria se virou para me fixar com seu brilho, seus olhos brilhando
quando ela percebeu que era eu. — Oh, Angela, ma chérie, — ela soltou.
Ela olhou para mim e sorriu, inclinando-se para mais perto. Ela podia
sentir meu pânico.
Ela era um tubarão e havia sangue na água.
— Escolha interessante, ter toda a energia desligada. Por favor, diga-
me, qual foi a sua inspiração por trás disso?
— Existem apenas algumas dificuldades técnicas, Daria. Na verdade,
estou tentando descobrir isso... — Tentei contorná-la, mas ela bloqueou
meu caminho.
Ela enlaçou seus braços em volta dos meus, sorrindo brilhantemente
para mim.
— Oh, não seja tão modesta! Você não tem que fingir, — ela jorrou.
Sua voz aumentou, chamando a atenção de todos ao nosso redor. — Você
é a produtora do evento! A pessoa responsável por um evento tão
maravilhoso.
Todo mundo estava olhando e eu senti os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
— Por favor, — ela continuou, fazendo beicinho. — O suspense é
insuportável. Você não vai nos dizer o que está acontecendo?
Um murmúrio de concordância retumbou como uma onda na
multidão ao meu redor.
— Hum, — eu gaguejei. — Não é realmente...
— O que foi isso, ma chérie? — Ela interrompeu.
— Por favor, fale um pouco mais alto. Tenho certeza de que todos
estão ansiosos para ouvir o que você tem a dizer.
Minha cabeça girou, a Gala ao meu redor parecia balançar para frente
e para trás em um ângulo alarmante. A salada que comi no almoço
parecia determinada em sua liberdade. Eu podia sentir sua tentativa de
fuga subindo pela minha garganta.
Se eu fosse vomitar, poderia muito bem vomitar em Daria.
Isso iria mostrar a ela.
Aproximei-me dela, preparando-me para uma guerra bioquímica,
quando uma voz cortou a multidão.
— Com licença, senhoras e senhores. — Eu reconheceria aquela voz
forte e confiante em qualquer lugar.
Hannah Flintour.
Eu engoli a bile subindo na minha garganta.
Eca.
Ela cortou a multidão, rapidamente percebendo minha expressão de
pânico e a intenção malévola do braço de Daria entrelaçado com o meu.
Daria engoliu em seco, me soltando e dando um pequeno passo para
longe.
— Eu sei que vocês estão todos ansiosos, — Hannah se dirigiu àqueles
que se reuniram ao nosso redor, guardando um olhar particularmente
gelado para Daria. Observei Daria encolher em seu vestido. — Mas, por
favor, tenha um pouco de paciência.
— É claro que tudo isso faz parte do programa, — outra voz falou na
multidão. Ela se espremeu para chegar à frente, uma mulher mais velha
de aparência amável, resplandecente em seu vestido melindroso
inspirado nos loucos anos 20. — Dionísio é caótico, certo?
Eu engasguei, lágrimas de alívio brotando dos meus olhos.
Marlena Marlboro!
Murmúrios soaram por toda a multidão, muitos deles duvidosos.
Marlena piscou para mim.
Eu sorri, desejando poder abraçá-la sem fazer uma grande cena.
Hannah se aproximou de mim, me levando gentilmente em direção à
área de elétrica.
— Obrigada, — eu sussurrei.
— Conserte isso, — ela sussurrou de volta, seu tom abaixo de zero me
levando de volta para a nevasca suíça.
Eu assenti com a cabeça, abrindo caminho através da parede de
participantes.
Eu me arrastei em direção à tenda, passando por inúmeras cenas de
participantes insatisfeitos perambulando, confusos sobre o que fazer ali.
Pelo menos a orquestra começou a tocar novamente.
Pequenas misericórdias.
Eu finalmente Cheguei à enorme barraca, ouvindo o zumbido usual
dos geradores elétricos completamente silenciosos. Entrei e encontrei
alguns técnicos amontoados perto de um dos geradores, expressões
confusas em seus rostos.
— O que aconteceu? — Perguntei.
Steve, o eletricista chefe, se virou para mim.
— Desculpe, senhora, — disse ele, Virando-se para mim. — Os
geradores quebraram. Deve haver algum tipo de fiação defeituosa nessas
coisas.
— Você pode consertar isso?
Ele balançou sua cabeça. ' — Receio que não. Essas coisas precisam ser
devolvidas à fábrica para alguma manutenção pesada. Tivemos sorte de
não ter pegado fogo.
Eu engoli em seco.
— Que tal os backups? — Perguntei.
— Quebrados também. — Steve balançou a cabeça. — Nunca em
todos os meus anos todos os geradores explodiram de uma vez. — Sua
equipe ao redor dele assentiu, parecendo tão confusa quanto ele. —
Fizemos uma chamada para trazer geradores de backup, mas vai demorar
um pouco para eles chegarem.
— Quanto tempo?
— Três horas, pelo menos.
— Três horas?! — Eu praticamente gritei.
Ele acenou com a cabeça, parecendo apologético. — Eles têm que
carregá-los e despachá-los até aqui. No momento em que tirarmos esses
antigos do caminho e os novos forem todos conectados...
Meus ombros caíram, o desespero mostrando sua face.
— Desculpe, senhora, — disse Steve novamente.
Eu balancei minha cabeça. — Não é sua culpa, Steve. Mantenha-me
informado sobre o status dos backups, ok?
— Pode deixar.
Saí da tenda, respirando fundo.
Três horas.
Olhei para a escuridão do Gala e não pude deixar de ver isso como um
reflexo de como me sentia no momento.
Miserável.
Absolutamente miserável.
Fui até a rua lateral ao lado da barraca, sentando-me no meio-fio. Eu
estiquei minhas pernas, olhando para os ridículos saltos altos em meus
pés.
O que eu vou fazer agora?
— Você vai estragar seu vestido, sentada aí assim.
Eu olhei para cima.
— Zoe?
— Ei, Angela.
Eu me levantei, sorrindo quando a vi com o vestido que comprei para
ela. Zoe não poderia estar por trás disso. Não havia como ela sabotar
todos os geradores de uma vez. Eu não conseguia acreditar que o
pensamento tinha passado pela minha cabeça.
— O vestido fica bem em você, — eu disse.
— Obrigada.
O silêncio se estendeu entre nós, deixando o ar pesado.
Eu fui tão horrível com Zoe. Até suspeitei que ela havia sabotado o
evento que trabalhamos tanto para realizar. A vergonha me tomou e eu
disse as palavras que estavam ecoando em minha mente. — Me desculpa,
Zoe, — eu deixei escapar. As palavras vieram com pressa. — Eu não
deveria ter tratado você do jeito que eu fiz. Eu estava tão envolvida em
meu próprio drama que não percebi o quão terrível eu fui com você.
— Tudo bem.
— Eu sei. eu sei, eu sou horrível. Você pode me chamar de qualquer
coisa... — eu pausei. — Espere, o quê?
— Está tudo bem, — Zoe repetiu, rindo. — Dustin falou comigo sobre
isso. Provavelmente não ajudou o fato de eu ter ficado quieta sobre isso
também, então é minha culpa também.
A esperança chamejou dentro de mim, uma pequena chama que a
mais leve brisa poderia soprar.
— Então, você me perdoa? — Perguntei.
— Eu não estaria aqui se não o fizesse. — Ela sorriu. Eu dei um passo à
frente e a abracei, lágrimas de alívio brotando em meus olhos. Ela riu de
novo, me abraçando de volta.
— Oh, estou tão feliz que você está aqui, — eu soltei. — Tudo o que
planejamos saiu ótimo! — Então, meu rosto caiu. — Bem, pelo menos até
que a energia acabar.
— Sim, eu percebi. — Zoe olhou para a Gala à distância. — Mas não se
preocupe com isso. Já tomei conta de tudo.
Minhas sobrancelhas subiram até a linha do cabelo. — Você já cuidou
disso? Como? Steve me disse que a energia não estaria funcionando por
mais três horas.
— Eu usei nosso fundo de emergência, dã.
— Fundo de emergência?
— Eu expliquei isso para você no café de Dustin, — Zoe me lembrou
pacientemente. — Embora claramente você não estivesse prestando
atenção.
— Ops. — Eu corei. — Desculpa.
— Mm-hrn, já perdoada.
Suspirei de alívio. — Mas o que você fez?
— Oh, deve chegar a qualquer segundo agora... ah! — Ela gesticulou
para que eu me virasse. — Deleite seus olhos e cante meus feitos.
Eu me virei.
Caminhões começaram a chegar ao local. Alguns do lado de Apoio,
outros do lado de Dionísio. A multidão começou a se reunir ao redor
deles, e estiquei o pescoço tentando ter uma visão melhor. Então, um
milagre aconteceu.
Luz.
As pessoas nos caminhões de Dionísio distribuíram velas minúsculas
para a multidão. A luz se espalhou lentamente por toda a Gala enquanto
mais velas eram distribuídas, pequenas orbes de luz afastando a
escuridão.
Mas o lado de Apoio permaneceu escuro.
Pisquei furiosamente, esfregando meus olhos para essa nova
realidade. Eu estava vendo isso direito?
— Zoe! Você é incrível!
Ela ergueu um dedo. — Espere por isso...
Eu apertei meus olhos, olhando mais de perto. Os caminhões do lado
de Apoio também distribuíam algo. Mas o que...
Os dois lados começaram a convergir no meio, e de repente eu vi.
Os patronos de Apoio receberam lanternas de papel!
Os dois lados se juntaram, enquanto as pessoas de Dionísio
começaram a colocar suas velas dentro das lanternas de papel de Apoio.
A Gala parecia mágica.
Uma cama quente à luz de velas envolvia a Gala em um brilho laranja
quente, cintilando como estrelas na noite.
— Pessoas que representam Dionísio receberam uma vela, — Zoe
explicou. — Fogo. Crueza, selvageria e caos.
Eu conectei os pontos.
— E Apoio recebeu as lanternas de papel!
Zoe assentiu, sorrindo de orelha a orelha.
— O caos ganhou forma. E assim... — Ela abriu os braços em um
floreio dramático. — A beleza nasce.
Eu a abracei novamente, gritando.
— Oh, Zoe! Você é um gênio! Uma visionária!
— Mmm. sim, — ela ronronou. — Continue assim.
— Como você conseguiu tudo aqui tão rápido?
— Bem, usar o nome Knight certamente abre portas. — Ela piscou.
Eu ri, recuando para olhá-la nos olhos.
— Você vai voltar a trabalhar comigo? Não como minha assistente
desta vez. Como parceira.
— De A a Z? — Zoe sorriu.
— De A a Z, — eu concordei.
Observei enquanto o último equipamento era carregado no último
caminhão, a frota de veículos se preparando para deixar o Hudson Yards.
A Gala foi um sucesso estrondoso.
Hannah Flintour até esboçou um pequeno sorriso.
Hannah Flintour.
Sorrindo.
Eu reintroduzi Zoe como minha parceira para Hannah. e nossas
perspectivas futuras com ela pareciam brilhantes.
O último caminhão desapareceu e eu fui deixada sozinha. Olhei em
volta para o Hudson Yards vazio, uma sensação de melancolia tomando
conta de mim.
Suspirei, ligando para o Marco do meu celular.
No final, a noite correu bem.
Então, por que me sinto tão vazia?
Capítulo 28
O futuro, juntos

ANGELA

Desabei na cama, com preguiça de secar meu cabelo depois do banho.


No instante em que minha cabeça tocou no travesseiro, uma onda de
exaustão me atingiu.
Parecia que organizar a Gala tinha esgotado muito mais de mim do
que eu pensava, mesmo com a ajuda de Zoe.
Eu me enrolei em uma bola, segurando um travesseiro contra o peito
enquanto olhava para o horizonte da cidade de Nova Iorque.
Por que me senti tão insatisfeita?
Eu repassei a noite em minha mente.
A Gala acabou sendo exatamente como eu imaginava. Foi incrível
como nosso plano no papel se manifestou no mundo real.
Claro, a falta de energia foi muito estressante. mas graças ao
raciocínio rápido de Zoe, a Gala foi um sucesso ainda maior do que antes.
Eu salvei meu relacionamento com Zoe e senti que ele poderia estar
mais forte do que nunca.
Hannah Flintour se apaixonou por nossa execução e raciocínio
rápido, e ela basicamente garantiu que seríamos as primeiras a saber
quando ela planejar outro evento.
Então, o que estava faltando?
Suspirei, sabendo exatamente o que era.
Xavier não estava lá.
Papai não estava lá.
Lucas, Em e Danny não estavam lá.
Eu me lembrei de como eu mal tinha arranjado tempo para visitá-los,
sacrificando o tempo com a família para que pudesse me concentrar na
minha carreira. Havia aquela sensação terrível de estranhamento, a
sensação de que a vida estava levando todos cada vez mais para longe de
mim.
Minha carreira também foi uma fonte de tensão entre Xavier e eu.
Meu marido maravilhoso só queria começar uma família comigo, e o
pensamento me deixou radiante de alegria. Meu estômago embrulhou
nervosamente com a ideia de carregar um bebê, mas eu sabia que era
algo que Xavier e eu queríamos.
Eu estava tão obcecada com o planejamento de eventos, tão
consumida com o próximo evento. Eu gemi e rolei, jogando meu
cobertor por cima da minha cabeça e me fechando para o resto do
mundo.
Eu adorava produzir eventos. De verdade.
O desafio foi gratificante. A sensação de realização ao ver meu
trabalho árduo dando frutos foi incrível.
Mas não significava tanto se viesse à custa de relacionamentos com
aqueles que amo.
Eu queria ser capaz de compartilhar minha paixão com eles, não
escolher um em detrimento do outro.
Eu joguei os cobertores fora, sentando-me. um fogo queimando
dentro de mim.
Meus relacionamentos sofreram por causa da Gala, mas isso não
significa que eu não poderia compensá-los.
E isso começou com Xavier.
XAVIER

Eu deveria contar a Angela.


Olhei estupidamente para o chão do nosso elevador privado enquanto
era carregado para a nossa cobertura. Passei o dia no escritório falando
com os membros do conselho, tentando avaliar o humor dos executivos
antes da votação na reunião.
Não parecia bom.
Eu tinha encontrado tudo, desde olhares desinteressados até simpatia.
Nem precisei falar com Henry. Eu sabia onde ele estava.
O pior de tudo foi que Penny se recusou a falar comigo.
Ela se recusou até mesmo a me ver.
Não posso dizer que a culpei.
Portanto, passei a maior parte do meu dia agonizando sobre o que eu
poderia dizer para influenciar o voto a meu favor.
Frustrantemente, eu geralmente não obtive nada.
Eu deveria contar a Angela.
A ideia de dizer à minha esposa que talvez não tenha um emprego
amanhã me deu vontade de engolir vidro. Isso me fez querer me jogar de
um penhasco em um poço de víboras.
A vergonha queimava dentro de mim.
Você é Xavier Knight, Eu me repreendi.
Mas mais do que isso, eu era um marido.
De que você serve se não pode sustentar sua esposa? Se não pode sustentar
sua futura família?
Não, decidi. Vou convencer o conselho, e Angela não vai ficar sabendo.
Não há motivo para preocupá-la com algo que não vai acontecer.
As portas do elevador abriram e eu entrei na sala de estar, afrouxando
minha gravata. Desta vez, não havia um castelo de travesseiros
monstruoso.
Mas quase desejei que houvesse.
— Angela? — Chamei.
— Aqui, — ela chamou de nosso quarto.
Entrei e encontrei uma agradável surpresa esperando por mim.
Angela estava parada na janela, de costas para mim enquanto olhava
para o horizonte da cidade. Ela usava nada além de uma das minhas
camisas sociais, o tecido enorme terminando na parte superior de suas
coxas.
Ela se virou para mim. Os botões estavam desabotoados, a camisa mal
cobria seus seios, a linha lisa de seu estômago terminando sobre a
calcinha de renda preta.
Eu devorei a visão, mexendo com minha necessidade.
— Ei, — ela disse com um sorriso malicioso
— Olá. minha linda. — Fui deitar na cama e Angela rastejou até mim,
montando em minha cintura.
— Como foi o baile de gala? — Eu perguntei, minha voz rouca.
— Oh, foi lindo, Xavier. Eu gostaria que você pudesse ter estado lá
para ver isso.
— Eu vi. Bem, pelo menos um pouco. Já existem fotos circulando
online. — Sentei-me, meus braços em volta de seus quadris enquanto a
beijava.
— Estou tão orgulhoso de você.
Ela sorriu para mim e eu senti meu coração palpitar no meu peito.
— Há algo que quero falar, — disse ela.
— Hum? — Enterrei meu rosto em seu pescoço, respirando seu
cheiro.
— É sobre nós. — Ela me empurrou um pouco para trás para que
pudesse me olhar direito. — Eu sei que tenho estado muito ocupada com
o trabalho ultimamente. Tanto é que tenho estado nos negligenciando.
Eu já estava balançando a cabeça antes de ela terminar, mas ela
continuou.
— Eu só queria dizer que sinto muito. Sinto muito por machucar
você. Sinto muito por colocar meu trabalho acima de nós. — Ela pegou
minhas mãos nas dela e as colocou contra o peito. Senti seu coração
batendo forte sob meus dedos.
— Juro que sempre colocarei nós dois em primeiro lugar. Você é mais
importante para mim do que qualquer carreira.
Eu me senti transbordando de felicidade, toda a ansiedade e dúvida
desaparecendo como sombras diante do sol. Essa mulher em meus
braços era a pessoa mais atenciosa e amorosa que já Conheci, e tive a
sorte de chamá-la de minha esposa.
— Apenas nós dois? — Eu perguntei, minhas palavras carregadas de
significado.
Ela não me respondeu.
Ela apenas se inclinou e pressionou seus lábios nos meus, me
empurrando para a cama.
Eu retribuí o beijo, passando minha língua pelos lábios dela,
implorando para entrar. Ela obedeceu, e nossas línguas se entrelaçaram
em um beijo profundo e apaixonado.
Minhas mãos percorreram seu corpo, mapeando cada curva como se
fosse a primeira vez. Meu toque vagou por suas costas, sobre seus
quadris, até que eu estava segurando sua bunda. Eu apertei e a senti
gemer em nosso beijo.
Ela se afastou, ofegando por ar. Ela começou a desabotoar minha
camisa, abrindo caminho lentamente para baixo, como se tivéssemos
todo o tempo do mundo. Eu queria virá-la, imobilizá-la e tomá-la
agressivamente, mas resisti ao desejo.
Suas mãos desafivelaram meu cinto e eu tirei minhas calças, minha
rigidez esticando minha boxer.
Ela se pressionou no meu pau, seus quadris girando lentamente
enquanto ela se apertava contra mim. Eu gemi, deslizando minhas mãos
por sua barriga para provocar seus seios.
— Xavier, — ela engasgou, gritando quando eu belisquei seus
mamilos.
Ela puxou minha boxer, meu pau balançando livre enquanto ela
deslizava sua calcinha para o lado. Ela se posicionou sobre mim,
provocando-me, sua luxúria escorrendo sobre meu eixo.
Com uma lentidão agonizante, ela se abaixou sobre mim, envolvendo-
me em seu calor. Eu curvei meu quadril para frente, empurrando-me
profundamente dentro dela.
Ela gritou em êxtase e minha mente girou de prazer.
Senti suas paredes deslizarem e se contraírem em torno do meu pau
pulsante enquanto lentamente construímos um ritmo, nossos corpos se
movendo em sincronia um com o outro. Eu agarrei sua bunda, apertando
com força e movendo-as para cima e para baixo na velocidade das
minhas estocadas.
— Meu Deus, — ela ofegou. Ela estava chegando perto. Seus olhos
estavam fechados em concentração enquanto ela mordia o lábio, seus
seios saltando enquanto eu batia dentro dela uma e outra vez.
Porra, ela é tão gostosa.
— Xavier, — ela gritou. — Xavier, eu vou gozar!
Senti uma pressão crescendo dentro de mim, sua boceta tão
incrivelmente apertada ao meu redor. Eu a virei, jogando-a de costas,
seus tornozelos apoiados em meus ombros. Ela ficou sem ar, seus olhos
arregalados antes que eu me enfiasse selvagemente dentro dela,
mergulhando em uma dimensão mais profunda de êxtase.
— Oh, caralho, — Angela soltou, seus olhos rolando para a parte
detrás de sua cabeça.
Quase gozei ali.
Minha esposa nunca praguejou. Ouvi-la gritar assim enquanto eu a
fodia...
Aumentei meu ritmo, meu quadril empurrando freneticamente
enquanto me sentia perto do meu clímax.
— Xavier! — Suas costas arquearam, suas pernas travando atrás do
meu pescoço enquanto eu a sentia gozar, suas paredes praticamente
ordenhando meu pau.
— Porra, — eu grunhi. — Eu também vou!
— Dentro de mim, — ela gritou, ainda no meio de seu orgasmo. — Me
enche.
Eu gritei quando gozei, meu pau latejando quando me lancei bem no
fundo, sua boceta me apertando até ficar seco.
Caímos amontoados nos braços um do outro, com os cabelos
grudando na pele molhada de suor. Ela sorriu sonhadoramente para mim
antes de aninhar seu rosto no meu peito.
— Eu te amo, — ela sussurrou.
— Te amo mais.
— Impossível, — ela riu.
Eu sorri, beijando o topo de sua cabeça.
— Estou tão animada com o futuro, — ela sussurrou. — Eu não posso
esperar para ter uma família com você, Xavier.
— Eu também, querida. — Eu apertei meu abraço em torno dela,
pensamentos sobre a reunião de amanhã invadindo minha mente. Tinha
que manter minha posição.
O fracasso não era uma opção.
— Eu também.
Capítulo 29
Ponto de ruptura

XAVIER

Eu ajustei minha gravata no espelho enquanto Angela beijava meu


ombro por trás, com seus braços em volta de mim.
Seus olhos mal olhavam por cima do meu ombro, e sempre que meu
olhar encontrava o dela no espelho, seus olhos enrugavam daquela
maneira adorável que faziam quando ela sorria.
Eu ri.
— O quê? — Ela perguntou.
— Eu estava pensando em como você é fofa.
Seu rosto ficou vermelho antes de ela se esconder atrás das minhas
costas. Eu ri de novo. Eu prometi a mim mesmo que nunca daria isso
como garantido.
— A que horas você vai estar em casa? — Ela murmurou nas minhas
costas.
— Deve ser um dia curto hoje, — eu disse. Mancamos em direção ao
elevador, Angela se recusando a me soltar. — Você vai ser minha mochila
hoje?
— Estou um pouco pesada para uma mochila, — disse ela.
Abaixei-me de repente, envolvendo meus braços sob seus joelhos e
içando-a nas minhas costas.
Ela gritou, assustada quando a girei.
— Xavier! — Ela gritou, rindo.
Eu a trouxe para a sala de estar, colocando-a suavemente no sofá antes
de me virar para beijá-la.
— Nem um pouco pesado. — Eu pisquei.
Ela revirou os olhos para mim, sorrindo enquanto balançava a cabeça.
— Boa sorte, — disse ela.
Eu concordei. — Volto em breve.

Sentei-me na parte detrás do BMW beamer, meu humor piorando a


cada minuto. Quanto mais perto eu chegava do escritório, mais irritado
ficava.
Eu tinha ouvido pessoas descreverem seus entes queridos como o sol
antes, mas para mim, Angela era mais como uma nuvem.
Sabe aqueles dias realmente quentes em que o sol estava forte demais,
e você ficava chateado sempre que tinha que estar a céu aberto?
Era como lidar com o mundo exterior na maioria dos dias, raiva e
sarcasmo como substituto do protetor solar.
Mas Angela era suave. Gentil. Ela me protegia dos piores brilhos do
sol, e os dias eram mais agradáveis quando ela estava por perto.
Linda, até.
Agora minha própria nuvem pessoal se foi, pelo menos por enquanto,
e eu parecia estar dirigindo em direção ao meio de uma porra de uma
estrela.
Meu olhar desviou-se para o bolso lateral da porta do carro, um dos
diários do papai ainda estava preso nele desde que visitei Ken em Nova
Jersey.
Eu o agarrei, suspirando enquanto o abria.
Tudo bem, pai. Algum conselho de última hora?
BRAD

16/11/1983, Manhattan
Tive uma revelação hoje.
Eu estava sentado na banheira de hidromassagem mais cedo, depois de
um longo e frustrante dia na empresa, quando percebi.
Administrar uma empresa era como namorar uma mulher.
Genial, certo?
No começo, tudo é emocionante. Tudo é novo e fresco, as possibilidades
parecem infinitas. O céu é o limite e tal.
Você está conhecendo os trâmites, está descobrindo coisas novas e tudo
está aumentando.
Então, depois de um tempo, as coisas começam a se acalmar. Suas
emoções se nivelam quando você começa a construir uma rotina. A intensa
excitação se vai. Os selvagens noturnos não são mais tão atraentes.
Você tira seus óculos rosa e percebe que nem tudo é diversão e jogos. Há
trabalho a ser feito. Trabalho real e honesto. Você percebe que é melhor você
estar nisso por um longo tempo, porque se você não estiver, isso vai quebrar e
queimar bem rápido.
A dúvida começa a surgir. Vale a pena? É isso que você quer fazer pelo
resto da vida? Mais e mais coisas se acumulam, mais e mais estresse, até que
você alcance o que eu gosto de chamar de um ponto de ruptura.
Meu ponto de ruptura com a empresa é fácil. Eu paro quando estiver
falido.
Com Amélia, porém, isso é mais complicado.
Ela me disse hoje que queria filhos.
Nunca pensei muito em ter filhos. Nunca tive o desejo de ter um.
Então, quando ela tocou no assunto, me pegou desprevenido. E fiquei
surpreso ao descobrir que a ideia me assustava.
Isso me assustou muito.
Um pequeno eu correndo por aí? Como as pessoas não acham a ideia disso
aterrorizante? Quero dizer, e se ele acabasse por ser um idiota como eu? Essa
merda definitivamente seria a minha morte.
Quando eu disse a ela não, ela parecia arrasada. Com o coração partido.
Então nós brigamos. Um grande problema.
Eu pensei que estava acabado. Foi este o meu ponto de ruptura com
Amélia? Quer dizer, eu a amei até a morte. Mas será que nunca poderíamos
concordar?
O que eu faria por Amélia?
Bem, isso é óbvio.
Qualquer coisa.
Eu descobri o que pensei ser o meu ponto de ruptura e o superei. Eu não ia
deixar o medo controlar minha vida. Se Amélia queria ter filhos, essa é uma
jornada que eu estaria disposto a fazer com ela.
Quer dizer, não é como se eu fosse dar à luz a criança. Isso é por conta
dela. Eu só tinha que plantar a semente.
O que quero dizer, Brad, é que, quando você encontrar seu próximo ponto
de ruptura, terá de se perguntar se vale a pena o sacrifício para quebrá-lo. Se
não valer, faça as malas e passe para a próxima coisa.
A vida é muito curta para se preocupar com coisas estúpidas como medo
ou orgulho.
XAVIER

Fechei o diário com um sorriso triste nos lábios.


Não sabia que alguém poderia falar merda de mim depois da morte.
Desculpe, pai. Eu cresci para ser um merda, não foi?
Coloquei o diário de volta no bolso lateral, fechando os olhos. Eu sabia
o que tinha que fazer. E eu com certeza não iria gostar.

— Eu sinto muito.
A sala de reuniões estava trancada em um silêncio atordoante, tão
absoluto que provavelmente você poderia ouvir um alfinete cair nas ruas
lá fora.
Eu olhei ao redor da sala.
O rosto de Henry era uma máscara de choque.
Penny ainda se recusava a olhar para mim.
— Sinto muito, — repeti, caso eles pensassem que estavam sonhando.
Eles não estavam. Mas eu estava preso em meu próprio pesadelo pessoal.
— Eu sei que tenho sido um idiota, um misógino, um babaca
ignorante e todos os outros nomes que vocês provavelmente me
chamaram pelas minhas costas. — Uma risada soou ao redor da mesa,
mais de surpresa do que divertida.
— Vocês têm todos os motivos, motivos muito válidos, para me retirar
da presidência. Não trabalhei bem com outras pessoas e causei mais
crises de relações públicas do que gostaria de mencionar. Mas me
escutem.
— Eu sempre achei que teria controle sobre a Knight Enterprises.
Quero dizer, meu nome está no prédio. Achei que, enquanto os lucros
aumentassem e estivéssemos expandindo, eu poderia fazer o que diabos
eu quisesse. Claramente... — Fiz um gesto para a sala ao meu redor. — Eu
estava errado.
— Eu tratei todos vocês como merda em nome dos negócios. Mas não
é assim que um líder deve agir. Eu tive um monte de merdas pessoais
acontecendo na minha vida, mas isso não é desculpa. — Olhei ao redor
da mesa, fazendo contato visual com cada pessoa.
Penny ainda estava olhando para o chão.
— Eu juro, pelo meu orgulho como um Knight, que vou me sair
melhor de agora em diante. Apenas me deem mais uma chance.
Os executivos do conselho se entreolharam, inseguros, embora eu
pudesse ver que meu apelo havia chegado a eles. Alguns deles pareciam
estar considerando.
— Você realmente acha que pode apenas se desculpar e deixar tudo
isso para trás? — Henry perguntou. — Você acha que apenas dizer
desculpes vai nos fazer esquecer o quanto você foi um merda? Que
garantia temos de que você fará o que diz?
— Já dei a minha palavra, — disse eu. — Confie em mim. Por favor.
— Ridículo, — Henry zombou. — Alguém mais vai defendê-lo antes
de começarmos a votação?
Olhei ao redor da sala, mas ninguém encontrou meu olhar. Eu senti a
esperança dentro de mim se esvair até que meu olhar encontrou um par
de olhos castanhos brilhantes.
Penny.
PENNY

Xavier olhou para mim, seu apelo claro.


Eu senti o clima da sala balançando por um fio. Eles podem estar
dispostos a perdoá-lo, mas alguém precisava intervir e dizer algo em seu
nome.
Devo fazer isso? Eu me perguntei.
A questão era, até o momento em que Xavier explodiu comigo... me
acusando de ser responsável pela morte de Brad... eu estava planejando
fazer exatamente isso.
Eu fui a única pessoa na Time Xavier. Tentei convencer os outros
membros a portas fechadas de que Xavier merecia outra chance.
Mas parecia que Xavier nem queria que eu o ajudasse...
Pelo menos, não até agora.
E, para ser honesta...
Eu não tinha certeza se ainda tinha coragem de defender alguém que
me machucou tanto.
A situação toda era assustadoramente parecida com a minha situação
com Jacques. Continuei tentando e tentando ajudá-lo, apenas para ser
repetidamente rejeitada.
Talvez eu esteja destinada a ser um capacho para o resto da minha vida...
Eu olhei firmemente nos olhos de Xavier, tentando ver através de todo
o drama. Através de toda a raiva, mágoa e desprezo para vê-lo como o
homem que ele realmente era.
Eu sabia que ele não era realmente um playboy bilionário arrogante.
Ele não era realmente um empresário paranoico. Ele não era
realmente tão paranoico a ponto de pensar que qualquer um que
tentasse se aproximar dele estava atrás de sua influência, poder e
dinheiro.
O verdadeiro Xavier era o marido doce e amoroso que eu tinha visto
de relance quando ele estava com Angela.
Mas a questão era... ele poderia superar seus demônios e se tornar seu
verdadeiro eu na Knight Enterprises?
Sempre que estava no escritório, parecia zangado. Estressado. Ele
estava mais para um tubarão do que homem, espetando qualquer um que
ousasse tentar se aproximar dele.
Era quase como se o lugar fosse uma droga para ele.
Veneno.
Uma relação tóxica que o destruiria.
Seu pedido de desculpas era verdadeiro e genuíno, ou foi o grito de
guerra final de seus maus hábitos, agarrando-se para salvar sua vida?
O rosto sorridente de Brad passou pela minha mente e as memórias
da noite em que ele me convidou para entrar na Knight Enterprises
voltaram rapidamente para mim...
— Você não pode estar falando sério, — eu disse, rindo de seu pedido
ridículo. — Só porque eu venci você em um jogo de Banco Imobiliário não
significa que eu poderia fazer isso.
Estávamos sentados no jardim do telhado da cobertura de Brad, um jogo
de Banco Imobiliário quase terminado se estendia diante de nós. Ele sorriu
para mim e meu estômago deu um pequeno salto de animação.
Ele me encarou seriamente. Ele queria que eu me tornasse presidente da
Knight Enterprises.
— Você não sabe, querida? Todos os negócios são baseados no Banco
Imobiliário.
— Fala sério, por favor.
— Oh, mas estou. Bem, não sobre o Banco Imobiliário, mas sobre isso. —
Ele pegou minhas mãos nas suas, as luzes do horizonte de Nova Iorque
brilhando como estrelas na noite atrás dele.
— Acabei de me formar...
— Summa cum laude, — interrompeu Brad.
— Não tenho experiência!
— Penny, — disse ele, sorrindo suavemente.
— Acredite em mim, tenho olho para os negócios. E você é brilhante.
— Eu não sei sobre isso... — eu disse. Não havia como passar de uma
recém-formada na NYU a presidente de uma empresa multibilionária... por
mais capaz que Brad pensasse que eu era.
— Você já deu o salto antes, — disse Brad, seu dedo traçando a faixa de
platina simples em torno do meu dedo anelar — O que é mais um?
Era verdade.
Quando Brad me pediu em casamento, eu fiquei apavorada. Aterrorizada
com as consequências. Do que as pessoas pensariam de nós. De estigmas
sociais.
Mas eu também estava animada.
Exultante.
No final das contas... foi a melhor decisão da minha vida.
— Além disso, — Brad continuou. — Estarei por perto para ajudá-la se
você precisar. Mas tenho a sensação de que você vai me mandar embora por
querer ajudar muito em breve. — Ele piscou.
— Deixe-me pensar sobre isso. — eu consegui soltar. — Acredite em mim,
a última coisa com que você deve se preocupar é seu conhecimento de
negócios, — Brad me assegurou. — Lidar com Xavier será o mais difícil.
Um nó subiu na minha garganta.
— Certo, — eu gritei.
Brad sorriu e recostou-se na cadeira, olhando para a cidade que se
estendia diante de nós.
— Você é gentil. Penny. As vezes pode ser um defeito. Ele vai desafiar você.
Ele vai gritar, se enfurecer e batalhar com você todos os dias.
— Você está realmente tentando me convencer do negócio aqui, não está?
Brad riu, e o som acalmou alguns dos meus nervos.
— Mas a gentileza nem sempre é a resposta certa. — Ele olhou nos meus
olhos, e pude ver a sabedoria e inteligência feroz em seu olhar.
— Às vezes, Penny, o que é melhor nem sempre é tão óbvio. Você saberá a
resposta quando a vir. Tenho certeza disso.
Suspirei, aconchegando-me ao seu lado.
— Entendo, — menti. — Agora devo aplicar a cera ou retirar a cera,
sensei?
Brad riu de novo, iluminando seus olhos. — Karatê Kid? Sério? Eu não sou
tão velho.
— Continue se convencendo disso, — provoquei.
Eu encarei Xavier diretamente, o silêncio na sala sufocante.
O que meu coração diz?
E de repente eu soube.
Eu tinha me decidido.
Capítulo 30
Uma chama fraca

ANGELA Saltei de vela em vela, acendendo cada uma, cantarolando uma


melodia feliz baixinho.
Eu dei alguns passos para trás, admirando minha obra.
Jantar caseiro?
Apertei o botão play no meu controle remoto, os alto-falantes
escondidos por todo o apartamento tocando uma música suave e
romântica lounge.
Checado.
Lingerie com renda preta?
Eu espiei em nosso quarto, o chão e a cama cheios de pétalas de rosa, a
lingerie mais reveladora que eu já vi descansando sobre os lençóis de
seda.
Eu corei.
Checado.
Eu pulei para um espelho, verificando meu reflexo. Eu usava um
vestido branco simples, meu cabelo penteado caindo sobre meus ombros.
Eu usava pouca maquiagem, optando por protetor labial em vez de
batom.
Eu me sentia mais confortável assim.
Eu olhei para o relógio, meu estômago revirando nervosamente.
Xavier estaria em casa a qualquer segundo agora.
Mal posso esperar para contar a ele as novidades.
Eu planejei tudo perfeitamente em minha mente.
As portas do elevador abririam, e a primeira coisa que Xavier veria era
eu em meu vestido, o cheiro tentador de uma refeição caseira dando as
boas-vindas a ele.
Teríamos um jantar romântico à luz de velas enquanto ele me contava
sobre seu dia, e depois que ele bebesse e jantasse, eu contaria a ele a
surpresa.
Enfiei a mão em um dos bolsos do meu vestido, apertando o pequeno
objeto escondido dentro.
Ele estaria nas nuvens, naturalmente, e me carregaria para o nosso
quarto, onde veria as pétalas de rosa, a lingerie... seus olhos olhariam nos
meus, e...
E...
Eu gritei, me sentindo como uma garotinha preocupada com sua
primeira paixão.
Mordi meu lábio em uma tentativa de evitar que meu sorriso revelasse
algo.
Mal posso esperar para ver seu rosto quando ele descobrir!
Um som me dizia que nosso elevador estava subindo.
Ele está aqui!
Saltei para o meu lugar na frente do elevador, meu coração batendo
forte no peito. Observei o lento progresso do elevador subindo o prédio,
a antecipação insuportável.
Eu balancei, de um lado para o outro, minha energia borbulhando.
Observei meu vestido girar suavemente ao meu redor, o tecido leve
dançando no ar.
Trim.
O elevador abriu, meu marido do outro lado.
— Bem-vindo! — Eu sorri.
Avancei para abraçá-lo. mas parei, meu sorriso congelando no lugar.
Algo estava errado.
Xavier parecia em estado de choque.
Ele estava completamente abatido, a gravata torta, o cabelo uma
bagunça desgrenhada como se ele tivesse passado as mãos pelos cabelos
repetidamente, talvez até tivesse tentado arrancá-los pela raiz.
Mas o pior de tudo eram seus olhos.
Normalmente cheios de confiança e travessura, eles pareciam
sombrios. Mortos. Desprovidos de emoção. Eles tinham bordas
vermelhas e rios de sangue.
Ele estava chorando?
Eu me aproximei dele, a preocupação explodindo dentro de mim.
— Xavier? — Eu entrei em pânico. Minhas mãos se preocuparam com
ele, sem saber o que fazer. — Você está machucado? O que houve?
Ele não respondeu.
Ele apenas ficou lá, olhando para longe, com sua mente muito, muito
distante.
A porta do elevador começou a fechar, esbarrando em Xavier antes de
abrir novamente. Ainda assim, ele não se moveu.
Eu estendi as mãos trêmulas, segurando seu rosto.
— Xavier? — Eu disse, minha voz tremendo. — Você está me
assustando.
Eu o observei piscar, um lampejo de vida, de reconhecimento em seus
olhos quando ele finalmente olhou para mim.
— Angela, — disse ele, com a voz rouca.
Quebrou meu coração vê-lo assim.
— Vamos, — eu disse, puxando-o suavemente para dentro do nosso
apartamento.
Eu o levei para a sala de estar, passando pela cozinha e nosso jantar à
luz de velas. Eu o sentei no sofá. Eu tomei meu lugar suavemente ao lado
dele, meus braços em volta de sua cintura.
Eu apertei, tentando derramar meu amor e apoio nele.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo e pensei que talvez ele
falasse primeiro. Mas os minutos foram passando.
Devagar.
Agonizantemente devagar.
As velas começaram a queimar e a comida foi esfriando.
Eu não aguentava mais.
— Xavier? — Tentei.
Nada.
Coloquei minha mão em seu rosto, virando-o para que ele olhasse
para mim.
— O que aconteceu?
Ele olhou para mim e eu vi a culpa tomar conta dele.
— Sinto muito, — disse ele.
Meu estômago caiu, o pavor apertando meu coração.
— Pelo quê?
— Não fui totalmente honesto com você, Angela. — Ele falou devagar,
como se cada palavra trouxesse dor física para dizer em voz alta.
Eu me encolhi. me preparando para o pior. Sobre o que ele poderia ter
mentido? Houve outro desastre? Alguém de quem gostamos se
machucou?
Ele estava me traindo?
Minha mente conjurou cenário após cenário.
— É sobre a reunião no trabalho, — ele começou. O alívio me
inundou, seguido imediatamente pela vergonha. O que quer que tenha
acontecido, claramente abalou Xavier. Que tipo de parceiro eu era para
ficar aliviada com isso?
— Você pode me dizer qualquer coisa. — Eu dei a ele outro aperto
encorajador.
— A reunião foi sobre minha posição na empresa, — disse ele. — Eles
queriam me votar para não ser CEO.
Eu engasguei, o horror tomou conta de mim.
A julgar pela reação dele...
— Eles me expulsaram, Angela. — Ele parecia tão derrotado. Tão
quebrado. — Eu perdi a empresa do papai.
Passei meus braços em volta do pescoço dele, puxando-o para baixo
para que eu pudesse embalá-lo contra o meu peito. Eu acariciei seu
cabelo, oferecendo o pouco conforto que pude.
— Eu sinto muito, — eu disse.
Xavier não respondeu. Ele apenas me deixou segurá-lo.
— Eu tentei me desculpar com todos, — ele disse finalmente. — Eu
tentei fazer as pazes...
A raiva começou a crescer dentro de mim.
Como eles poderiam ter machucado Xavier assim? Claro, ele cometeu
alguns erros, mas eles não notaram o quanto essa posição significava para
ele?
Não se tratava apenas de ser o CEO de uma empresa que vale bilhões.
Este era o legado de Xavier.
Era uma de suas conexões mais fortes com Brad.
E eles tiraram tudo dele.
— Quem fez isto? — Eu praticamente rosnei. — Foi Henry?
Isso trouxe um pouco de vida de volta a Xavier.
— E se tivesse sido? — Ele perguntou, olhando para mim.
— Então eu vou acabar com ele, — eu jurei.
Xavier riu uma vez, um som curto e amargo.
— Em parte, — admitiu Xavier. — Mas é principalmente por minha
conta, Angela. Nem mesmo Penny me defenderia.
Meu coração se partiu pelo que parecia ser a centésima vez. Fiquei
surpresa ao ver que ainda havia pedaços pequenos para quebrar.
Penny...
— Talvez se eu não tivesse sido um idiota com ela. Talvez se eu não
tivesse dito tantas coisas horríveis... Ela disse que era para o melhor. —
Xavier enterrou seu rosto em meu peito.
Um pequeno soluço escapou da minha garganta e eu o sufoquei.
Eu tinha que ser forte por nós dois.
— A pior parte é que eu nem mesmo a culpo, — ele sussurrou. —
Papai pediu a ela que ajudasse a garantir a segurança da empresa. Ela só
estava fazendo o que achava certo.
— Mas não é certo, — insisti. — Xavier, você é o único que sabe o que é
melhor para a Knight Enterprises. E muito mais do que apenas uma
empresa para você.
— Não fiz um bom trabalho ao mostrar isso, — lamentou. —
Especialmente em relação a Penny.
Eu apenas o abracei com mais força. Nunca me senti tão impotente
antes. Não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer por Xavier
agora, e essa percepção foi como uma faca no estômago.
As velas queimaram lentamente, deixando-nos sentados no escuro.
As luzes da cidade de Nova Iorque apareciam nas nossas janelas, mas o
horizonte não parecia bonito para mim neste momento.
Parecia distante. Frio. Insensível e indiferente.
Senti uma pergunta borbulhando em meus lábios, e não pude evitar
que escapasse, não importa o quanto eu tentasse.
— O que acontece agora? — Perguntei.
Eu senti Xavier ficar tenso em meus braços.
— Não sei, — respondeu ele. As palavras me congelaram até os ossos.
— Não sei.
Xavier não era mais o CEO da Knight Enterprises.
O que isso significa para o nosso futuro?
Eu ainda amava Xavier. Eu ficaria com ele, não importando as
circunstâncias, eu não tinha dúvidas em minha mente.
Minha mão vagou para o meu estômago, descansando sobre a
pequena vida que estava dentro de mim.
O teste de gravidez positivo fez um buraco no meu bolso.
Não era mais apenas eu e Xavier.
Havia um pequeno para cuidar.
Nosso futuro.
Nossa família.
Eu olhei para Xavier, o amor da minha vida.
Ele parecia tão vulnerável, tão quebrado neste momento.
Como eu poderia dizer a ele que estava grávida?
Como eu poderia deixar cair o peso dessa responsabilidade sobre ele
agora?
Eu engoli o segredo, meu anúncio morrendo em meus lábios.
Eu não pude contar a ele.
Ainda não.
Ainda assim, aquela pergunta me incomodava, queimando um buraco
em meu coração. Fechei os olhos, o peso da incerteza me esmagando
como chumbo.
E agora?
Livro 5 - Sem Revisão

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
O Abismo Entre Nós

ANGELA

— Fique paradinha, ok? Você só sentirá uma leve picada.


Eu balancei a cabeça enquanto me preparava, fechando meus olhos
com força. Eu não pude assistir. A agulha me atingiu, e aquela sensação
horrível de sangue sugado subiu pelo meu braço até a base do meu
crânio.
— Ok, acabou.
Suspirei de alívio.
Eu odiava agulhas.
Eu abri meus olhos e encarei os olhos verdes surpreendentes do Dr.
Carmichael. Ele sorriu para mim de forma encorajadora enquanto
prendia uma bola de algodão no meu braço. Olhando para ele agora,
lembrei-me das palavras de Em antes de deixá-la na sala de espera.
Dr Carmichael é bonito, ela sussurrou maliciosamente. Tente se
lembrar que você é uma mulher casada.
Ela riu de mim quando revirei os olhos, mas ela estava certa.
O Dr. Leonard Carmichael era o médico pré-natal de Em, então ela o
recomendou para mim com entusiasmo. Ele também era muito bonito.
Ele era muito jovem para um médico, com cabelos loiros penteados
para trás e um sorriso ofuscante. Ele tinha uma mandíbula bem definida,
e eu poderia dizer que ele possuía uma constituição atlética, mesmo
através do jaleco de médico.
Ainda assim, por mais fácil de olhar que ele fosse, eu não sentia nada
por ele. Eu era casada com o homem mais incrível do planeta, mesmo
que ele estivesse passando por alguns momentos difíceis agora.
Xavier...
— Estou surpreso que seu marido não esteja aqui com você, Angela.
Eu fui tirada de meus pensamentos, pega de surpresa com a estranha
coincidência da declaração do Dr. Carmichael. Ele sorriu novamente,
dando um olhar penetrante para o anel em volta do meu dedo.
— Normalmente, os esperançosos futuros pais estão aqui juntos.
— Ele teria adorado estar aqui, — eu disse, rápida para defender
Xavier. — Ele tem estado muito ocupado ultimamente.
Também teria ajudado se ele soubesse que você estava aqui, Eu me
repreendi. Ele nem sabe que você pode estar grávida...
O Dr. Carmichael colocou uma mão gentil no meu braço. — Tenho
certeza que sim, — disse ele. — Eu não queria presumir nada.
Ele se levantou, coletando minha amostra de sangue.
— Vou levar isso ao laboratório agora. Teremos os resultados para
você em algumas horas.
— Obrigada, doutor, — eu disse.
— Me chame de Leo, — ele deu outro sorriso para mim.
Eu sorri de volta. Ele era muito amigável.
— Obrigada, Leo.
Eu podia ver por que Em o havia recomendado. Ele parecia
equilibrado e confiável. Eu não poderia estar mais feliz por tê-lo como
médico para me ajudar durante minha gravidez em potencial.
Voltei para a sala de espera para encontrar Em balançando as
sobrancelhas para mim.
— E então? — Ela perguntou.
— Saberemos com certeza em algumas horas, para podermos voltar
para casa, — eu disse. — Eles vão me ligar com os resultados.
— Eu sei disso, — Em continuou. — Estou falando do médico! Ele é
gostoso ou o quê?
Revirei os olhos, rindo de seu absurdo.
— Você sabe que você é casada também. Com o meu irmão, nada
menos!
— Não significa que eu não posso olhar, — ela disse, levantando o
nariz.
Saímos da clínica de Nova Jersey, e a velha caminhonete do meu pai já
esperava por nós no estacionamento. Não podia correr o risco de ir para
um hospital em Manhattan. Seria um fiasco se a imprensa soubesse que
eu poderia estar grávida.
Eu não poderia exatamente chamar Marco para uma carona também.
O BMW Beamer dos Knights chamaria muita atenção.
Então, eu peguei emprestada a caminhonete do meu pai. Não
conseguia acelerar além de 70 quilômetros por hora, e o motor tossia e
engasgava como um animal moribundo, mas ainda podia nos levar do
ponto A ao B.
De uma forma estranha, dirigir a velha picape era calmante. Algo
sobre o rádio quebrado, a falta de ar-condicionado e janelas de rolagem
manuais me dava segurança.
Em deslizou para o assento ao meu lado, e nós abrimos nosso
caminho pela estrada de volta para a casa do papai.
— Então, você finalmente vai dizer a todos se for oficial? — Em
perguntou.
Eu me peguei segurando o volante com um pouco mais de força.
— Eu deveria.
— Angie, isso é uma bagunça. — Eu podia sentir Em franzindo a testa
para mim, mas mantive meus olhos na estrada. — Estou feliz que você
me disse, mas você não deve manter isso em segredo. Não de Ken, e
especialmente não de Xavier.
O sangue correu em meu rosto, e minhas bochechas ficaram
vermelhas.
— Eu sei, Em, mas eu só preciso de um pouco de tempo para me
recompor antes de contar ao papai. E Xavier não está em um estado de
espírito saudável ultimamente...
Em zombou.
— Claro, é uma pena que Xavier tenha perdido o emprego, mas ele
precisa se recompor. Quero dizer, vocês ainda são podres de ricos.
— Não é tão simples assim, — eu disse. — Nunca foi sobre o dinheiro.
Era verdade. O título de Xavier como CEO significava muito mais para
ele do que seu salário. Era como se ele tivesse perdido uma parte de si
mesmo quando foi destituído de sua posição. Fazia um mês e era difícil
dizer que ele estava melhor...
— Tudo bem, tanto faz, — disse Em. — Mas ele provavelmente vai ser
pai em breve. Claro, estamos aguardando os resultados oficiais agora,
mas ambos sabemos que você está grávida.
Eu concordei. Eu sentia em meus ossos — aquela pequena vida dentro
de mim.
— Ele tem que se recuperar, Angie. Não apenas por você ou por ele,
mas pelo bebê.
Suspirei, sentindo um nó no peito.
Em estava certo, é claro.
Xavier era o amor da minha vida e o pai dos nossos futuros filhos. Mas
agora, ele não estava em condições de ser pai. Ele mal conseguia cuidar
de si mesmo.
— Ele vai melhorar, — eu disse.
Imaginei nossa cobertura. Ultimamente, estava quase toda escura e
vazia. Eu duvidava que Xavier estivesse em casa. Ele provavelmente
estava em algum lugar da cidade, com uma garrafa na mão. Meu coração
doeu.
Minha mão desceu para a minha barriga.
— Ele vai melhorar, — eu repeti.
Ele tem que melhorar. Certo?
XAVIER

Fiz uma careta para o copo de uísque vazio. Como diabos essa coisa já
está vazia? Eu acabei de pedir. Bati meus dedos contra a barra de
madeira, e o barman de aparência rude olhou para mim.
— Outro, — eu gaguejei.
O homem alcançou abaixo do bar e pegou uma garrafa sem rótulo,
derramando mais líquido âmbar preguiçosamente em meu copo. Ele
deslizou o meu copo, derramando um pouco na bancada. Pressionei meu
dedo na madeira escurecida, lambendo o pouco de uísque que pude do
meu dedo.
— Nem uma gota desperdiçada, — eu murmurei.
Olhei em volta para o bar sujo.
Estava quase vazio, o que era bom, porque o lugar era apertado como
o inferno. Havia apenas um ou dois caras de aparência lamentável
mantendo-se isolados em cantos opostos, olhando de forma sombria
para suas bebidas.
Uma única lâmpada bruxuleante iluminava o espaço. Mesas de
madeira lascadas eram cercadas por bancos de bar tortos que pareciam
ter sido retirados de um depósito de lixo.
O piso estava pegajoso e havia tantos grafites nas paredes que eu não
conseguia dizer sua cor original.
Eu realmente encontrei o cu do Judas.
Perfeito.
Nenhum maldito repórter iria me encontrar neste lugar.
Recentemente, eu estive na porra das manchetes novamente.
Empresas dos Knights sem um Knight!
A bagunça do bilionário custa a ele sua empresa!
Xavier Knight — A Queda.
Eu engoli minha bebida de uma vez, esperando que o uísque apagasse
o fogo furioso que queimava em meu estômago. Antes que eu pudesse
exigir outra bebida, o barman já estava enchendo meu copo.
Bom garoto.
Eu tenho outro título para você, pensei comigo mesmo.
Eu levantei o dedo médio no ar para ninguém e para todos.
Sim, foda-se você também, amigo.
Eu me virei para ver um dos clientes olhando para mim, com cerveja
pingando de sua barba desgrenhada. Ele tinha olhos redondos e um nariz
que parecia ter sido quebrado muitas vezes.
— O quê é, você quer brigar? — Sua voz soava como se ele tivesse
engolido um cinzeiro. Ele ergueu o nariz para mim, com um sorriso sem
dentes aparecendo em seu emaranhado de pelos faciais. — Vão brigar lá
fora, — o barman disse monotonamente, parecendo absolutamente
entediado. Ele deve ter se acostumado com isso. Eu olhei ao redor da
sala. Uma pequena briga não teria tomado este lugar pior pelo desgaste.
Voltei para minha bebida, ignorando aquele Popeye sem-teto.
— Isso, foi o que eu pensei, — o desgraçado gritou. Eu bebi minha
bebida novamente, observando com os olhos vidrados enquanto o
barman enchia o copo automaticamente.
Como diabos eu acabei aqui?
Pergunta retórica, obviamente.
Eu sabia por que estava aqui.
Eu fui expulso da porra da minha própria empresa.
Eu perdi meu direito como primogênito.
Faz um mês desde então. Na primeira semana, fiquei na minha
cobertura, confinado e sentindo pena de mim mesmo como um idiota.
Fiquei em casa enquanto Angela saía, planejando seu próximo evento.
Angela estava trabalhando enquanto eu fiquei em casa.
Desempregado.
Inútil.
Eu não aguentava mais. Como diabos eu poderia simplesmente ficar
sentado? Quão patético eu era como marido?
Como um homem!
Eu não sabia o que fazer comigo mesma. Eu fui constantemente à
academia e corri maratonas pela cidade, mas nada ajudou.
Eu estava com muita raiva.
Então, eu comecei a beber.
Não ficava com raiva quando bebia.
Eu não sentia nada.
Eu me afoguei em álcool até minha mente ficar em branco, até que as
vozes raivosas em minha cabeça fossem silenciadas.
Eu encontrei paz e sossego, mesmo que fosse nesse lixo de bar.
Meu telefone vibrou no meu bolso. Não precisei olhar para saber
quem estava ligando.
Angela.
Só de pensar no nome dela, uma dor apunhalou meu coração como
uma faca. Ela provavelmente estava muito preocupada.
Você não a merece.
Eu me arrastei para ficar de pé, jogando um maço de notas no balcão.
— Fique com o troco, — murmurei.
Eu chutei a porta, e as dobradiças enferrujadas gemeram em protesto
antes de eu sair cambaleando para o ar frio da noite. Eu olhei para a
esquerda e para a direita, com minha mente enevoada.
Porra, que caminho era para casa de novo?
Eu tropecei com os olhos turvos pela rua quando meu telefone vibrou
novamente. Eu li o texto de Angela, duas pequenas palavras me enviando
em uma espiral de culpa: Precisamos conversar.
Capítulo 2
Bafo de Uísque

ANGELA

As portas do elevador abriram. Entrei na sala de estar e desabei no


sofá. Eu encarei meu telefone, vendo minha carranca no reflexo preto da
tela.
Xavier não estava atendendo.
Eu mandei uma mensagem para ele. Com sorte, ele a veria, pelo
menos.
Olhei pelas janelas para a cidade abaixo.
Manhattan estava agitada como sempre, mesmo à noite.
Onde você está. Xavier?
Eu me enrolei, abraçando meus joelhos no meu peito.
Recebi a notícia assim que cheguei em casa da clínica. Os resultados
voltaram positivos.
Eu estava grávida há dois meses.
Eu meio que ri, meio chorei em meus joelhos.
Eu ia ter um filho.
Meu coração se encheu de amor, cheio até a borda — tanto que eu
tinha certeza que iria transbordar e explodir na sala ao meu redor.
Eu estava tão animada para conhecer meu filho. Quem ele puxaria?
Ele seria um menino ou uma menina? Ele se pareceria mais comigo ou
com o pai?
O pai deles...
E assim, minha felicidade foi perfurada.
Eu li meu texto novamente, duas pequenas palavras carregadas de
tanto significado. Claro, soou um pouco dramático e clichê, mas nós
precisamos conversar!
Xavier precisava saber sobre minha gravidez. Eu tinha que contar a ele.
Mas como eu poderia quando ele nem estava sóbrio na maior parte do
tempo? Como eu poderia quando mal nos falávamos, quando ele se
recusava até mesmo a tentar às vezes?
Eu me permiti resmungar mais alguns momentos antes de me arrastar
para longe das almofadas e em direção ao meu laptop. Eu não queria me
afundar em um poço de desespero. Provavelmente era ruim para o bebê.
Liguei meu MacBook e todas as minhas guias de trabalho apareceram
na tela. Marlena Marlboro pediu a Zoe e eu para organizarmos sua gala
em Tóquio. Eu me afastei da janela, não querendo me concentrar no
trabalho agora.
Eu encarei a guia vazia por um tempo antes que uma ideia me
ocorresse. Fui ao Pinterest, com minhas mãos voando pelo teclado.
ROUPAS BONITAS DE BEBÊ
Eu passei pelas imagens, sorrindo.
Eu vi um adorável macacão bebê de dinossauro, completo com pontas
macias correndo nas costas. Um lindo vestido rosa com uma fita
amarrada na cintura derreteu meu coração, e eu ri alto quando vi um
macacão com as palavras Eu tomo leite do peito, e VOCÊ? Impresso na
frente.
Minha busca acabou me levando aos berços, e me apaixonei por um
bege suave, projetado para se parecer com a carruagem de abóbora da
Cinderela.
Minha imaginação assumiu o controle.
Poderíamos usar o outro quarto do apartamento para o bebê.
Nós o repintaríamos. Talvez tenha um mural realmente lindo na
parede, algo com estrelas ou animais, ou, ou— O elevador soou e as
portas abriram.
Xavier estava de volta.
Antes de perceber o que estava fazendo, meus dedos fecharam todas
as guias relacionadas a bebês em meu navegador. Eu fiz uma careta para
mim mesma, balançando minha cabeça.
Eu tenho que dizer a ele.
Eu ouvi algo cair no chão e corri em direção ao elevador, com meu
coração saindo pela boca.
— Xavier? — Eu chamei, em pânico.
Eu o encontrei desmaiado.
— Xavier!
Corri para ele, tentando virá-lo para que pudesse ver seu rosto. Ele
rolou com um gemido e seus olhos injetados de sangue tremulando
abertos.
— Ei, meu anjo, — ele gemeu. Seu hálito cheirava a álcool.
Eu embalei sua cabeça no meu colo, com meu coração partido.
— Por que você está girando? — Ele perguntou.
— Quanto você bebeu?
Ele encolheu os ombros.
Eu acariciei seu rosto, afastando seu cabelo dos seus olhos.
— Você não atendeu o telefone, — sussurrei, forçando um sorriso.
Ele desviou o olhar, evitando meus olhos.
— Desculpa.
Inclinei-me para beijá-lo na testa.
— Contanto que você esteja seguro, — murmurei em sua pele.
Eu o senti enrijecer debaixo de mim. Ele rolou para longe, apoiando-
se na parede para que pudesse se levantar. Fui ajudá-lo, mas ele
estremeceu com o meu toque, lutando para ficar em seus próprios pés.
— Você não está com raiva de mim? — Ele resmungou.
— O quê?
— Você deveria estar com nojo de mim.
— Por que eu ficaria com nojo de você? — Eu perguntei, confusa.
Seu rosto se contorceu de dor enquanto ele cambaleava, indo em
direção ao nosso quarto.
— Xavier?
Ele me ignorou, cambaleando. Eu pairava em tomo dele, pensando se
deveria ajudá-lo a manter o equilíbrio. Tive a sensação de que ele não
queria que eu o tocasse. A sensação doeu.
Xavier abriu a porta do nosso quarto, caindo na cama.
— Eu sou um fracasso, — ele gemeu, com seu rosto enterrado em um
travesseiro. — Um inútil. Fui expulso da minha própria empresa, e agora
tudo que faço é beber e esconder meu rosto estúpido do mundo. É sobre
isso que você queria falar, certo?
— Não! — Gritei. — Queria te dizer que
— Não minta para mim, Angela. Eu sou um idiota. Você me defender
de mim mesmo só me faz sentir mais patético.
Sentei-me na beira da cama, com lágrimas nos olhos.
Ele não precisava do estresse extra de uma gravidez agora. Quão cruel
eu teria sido por colocar isso nas suas costas quando ele já estava
carregando tanto?
— Xavier, — minha voz tremeu. — Você não é um fracasso e não é
inútil. Eu me casei com você porque você é uma pessoa incrível, como
CEO da Knight Enterprises, ou não.
Sentei-me mais perto dele, colocando a mão em seu braço. Ele não
encolheu os ombros.
— Você está passando por um momento difícil agora, mas vai
melhorar. Eu sei que você vai.
— E se eu não quiser? — Ele demandou. Ele olhou para mim e havia
tanta dor em seus olhos que as lágrimas transbordaram dos meus olhos.
— E se eu for assim agora?
Eu não sabia o que dizer. Claramente, eu não estava conseguindo falar
com ele. Ele não acreditava em si mesmo. Pude ver que ele realmente
acreditava que era inútil; que ele era nojento, indigno de meu amor ou
afeto.
Eu vasculhei meu cérebro.
O que eu poderia dizer que o afetaria?
Ele me encarou e, quando não pude responder, o vi balançar a cabeça
para si mesmo, como se seus piores temores tivessem se confirmado.
— Eu sabia, — ele murmurou sombriamente. — Eu sou um maldito
vagabundo. Eu sou Eu o beijei, sentindo o gosto do uísque em seus
lábios.
Se eu não pudesse dizer a ele o quanto eu o amava, eu poderia pelo
menos mostrar a ele.
Aprofundei o beijo, passando minhas mãos freneticamente por seu
corpo. Eu o empurrei de costas e pressionei meu corpo com toda a força
que pude contra o dele, desejando preencher os buracos vazios dentro do
meu marido.
Xavier não respondia embaixo de mim, com seus lábios indiferentes
aos meus. Peguei suas mãos e as coloquei na minha cintura, esfregando
meus quadris nele. Suas mãos sem vida caíram no colchão.
A frustração cresceu dentro de mim. Arrastei meus lábios até seu
pescoço e mordi.
Forte.
Xavier gritou de dor e estendeu a mão para segurar meu rosto. Ele
gentilmente me empurrou para longe dele, e eu o encarei com lágrimas
nos olhos.
— Isso te acordou? — Eu perguntei, com minha voz trêmula.
Xavier olhou de volta.
Olhamos um para o outro e, por um momento, pensei que tinha
errado. Que tudo isso foi em vão. Então ele me puxou para baixo e me
beijou, com seu toque tão desesperado quanto o meu. Senti suas mãos
vagarem ao longo das minhas curvas até que pousaram na minha bunda.
Ele deu um aperto violento.
Eu gemi no beijo, com minhas mãos se atrapalhando para desfazer os
botões de sua camisa.
Ele se sentou e rasgou sua camisa, e eu passei minhas mãos em seu
peito e ao longo de seu abdômen, embriagando-me com a vista que
tinha. Suas mãos ásperas percorreram minhas coxas, puxando meu
vestido. Eu levantei meus braços para que ele pudesse tirá-lo.
Seus braços poderosos me envolveram, prendendo os meus ao meu
lado enquanto ele habilmente abria meu sutiã com uma mão. Ele jogou a
roupa debaixo e se inclinou para chupar meus seios.
Seus dentes morderam meu mamilo e eu gritei, com a dor se
misturando ao prazer. Ele passou a língua pelo meu mamilo para acalmar
o fogo.
Abaixei-me para acariciá-lo, com sua dureza esticando o tecido de sua
calça. Eu o senti gemer, as vibrações movendo-se de seu peito para o
meu.
A luxúria escorreu pela minha perna, e minha mente se perdeu em seu
cheiro.
— Me tome, — eu engasguei.
Xavier me empurrou de costas, posicionando-se entre as minhas
pernas enquanto tirava as calças. Seu pênis saltou livre de sua cueca
boxer. Lambi minhas mãos e me abaixei para acariciá-lo, sentindo sua
masculinidade quente e pesada em minhas mãos.
Eu empurrei meus quadris para cima para esfregar nele, deslizando
minha umidade ao longo de seu comprimento. Seu pau pulsava de
necessidade contra mim.
— Angela, — ele gemeu.
O fedor de bebida em seu hálito era insuportável.
De repente, eu estava com náuseas, meu cérebro girando em meu
crânio.
Meu estômago começou a subir pela minha garganta. Cobri minha
boca, empurrando freneticamente Xavier de cima de mim.
Eu ficaria enjoada.
Eu corri para o banheiro, fechando a porta atrás de mim.
— Angela? — Eu ouvi a voz de Xavier através da porta.
— Não entre! — Eu gritei.
Então eu vomitei.
XAVIER

Sentei-me no chão do lado de fora da porta do banheiro, ouvindo


minha esposa despejar tudo o que tinha dentro de si.
— Você está bem? — Falei, preocupado.
Silêncio.
— Angela?
. —.. Deve ter sido algo que eu comi, — ela disse, com sua voz baixa.
— Precisa de alguma coisa?
— Não, — ela disse. — Apenas... vá para a cama. Eu cuido disso.
— Eu posso ajudar... — Eu balancei a maçaneta da porta.
— Não! — Ela gritou, parecendo um pouco histérica. — Estou bem.
Levantei-me e voltei para o quarto, rastejando para debaixo dos
lençóis. Suas palavras doeram um pouco.
Uma mulher vomitou depois de ter intimidade com você, pensei comigo
mesmo. Essa é a primeira vez.
Logicamente, eu sabia que provavelmente não era por isso que Angela
vomitou.
Ainda assim, meu orgulho estava ferido. Não ajudou que ela se
recusou a me deixar ajudá-la também.
Eu rolei, raiva e confusão rastejando de volta para mim, deslizando
entre os lençóis. Com um gemido, puxei as cobertas sobre minha cabeça.
Eu gostaria de uma bebida.
Saí da cama e fui até a cozinha, pegando uma cerveja na geladeira. Eu
ainda podia ouvir Angela vomitando no banheiro.
Eu desabei na cama quando ouvi meu telefone vibrar em uma pilha de
minhas roupas descartadas.
Que porra é essa agora?
Steve: E ae, X. grande dia amanhã.

Steve: Você está pronto?


Joguei o telefone como se estivesse pegando fogo. Eu passei meu
braço sobre meus olhos, gemendo na escuridão.
Merda. Exatamente o que eu precisava.
Capítulo 3
Bolinho Chinês F rio

XAVIER

Olhei para o teto, sentindo-me claramente desconfortável enquanto


Angela ajustava minha gravata para mim. Ela deu um tapinha no meu
peito quando terminou, alisando os vincos do meu temo.
Ela sorriu quando olhei para ela.
— Você vai se dar bem, — disse ela.
Eu engoli a resposta amarga que queria se formar em meus lábios,
dando a ela um aceno de cabeça em vez disso.
As portas do elevador abriram atrás de mim e eu entrei, sentindo
como se tivesse embarcado em uma viagem expressa direto para a boca
de um vulcão ativo.
— Boa sorte! — Angela sorriu para mim, e eu coloquei um em meus
próprios lábios em troca.
Depois que as portas fecharam, suspirei, sentando no banco.
Tinha uma maldita entrevista de emprego.
As portas abriram para o saguão, e o chão à minha frente parecia mais
uma prancha de embarque de um navio pirata do que um elegante
caminho de mármore.
Saí pela porta da frente e entrei no BMW beamer, onde Marco já
estava esperando por mim.
— Indo para StelComm, certo? — Marco disse do banco do motorista.
— Infelizmente.
Marco acenou com a cabeça, rapidamente se misturando ao tráfego da
cidade.
Stellar Communications, on StelComm, para abreviar, era um dos
grandes da multimidia. Administrada por gerações pela família
Stevenson, ela se tomou efetivamente a principal empresa de
telecomunicações da cidade de Nova Iorque.
E Steve Stevenson (eu sei), filho do CEO Stephen Stevenson (pois é),
por acaso era um amigo de bebidas do Hatchback.
Tínhamos compartilhado muitas canecas durante minha gestão no
famoso bar e pedi um favor para conseguir uma entrevista — com o
incentivo de Angela.
Talvez outro emprego seja exatamente o que você precisa, disse ela com
seu sorriso angelical característico. Isso vai mantê-lo fora desses bares
assustadores dos quais eu continuo pedindo para você ficar longe.
Por mais que eu odiasse a ideia de trabalhar abaixo de alguém, Angela
tinha razão. Eu não poderia ficar lamentando para sempre. Eu tinha que
ser produtivo.
Isso começou com a procura de um emprego.
Ainda assim, isso não significa que eu estava entusiasmado com a
situação.
Eu fui o CEO de uma empresa que vale bilhões pelo amor de Deus.
Agora, aqui estava eu, sendo entrevistado para um cargo de consultor em
uma pequena empresa local em Nova Iorque com um valor que mal
chegava a nove dígitos.
Uma das manchetes de notícias populares passou pela minha mente.
Xavier Knight — A Queda.
Eu zombei.
Isso era um eufemismo.
Meu telefone vibrou no bolso, interrompendo minha reflexão.
Steve: Ei, X, mudança de planos.

Steve: Temos que atrasar sua entrevista em 2 horas.

Steve: O pessoal de RH está aqui e está fazendo um grande


alarido.

Xavier: Sério?

Xavier: O que devo fazer por 2 horas?


Steve: Você é um cara inteligente.

Steve: Você vai descobrir alguma coisa.


Eu joguei meu telefone no assento ao meu lado.
Steve, aquele filho da puta.
Que mentira descarada. Esse idiota sempre gostou de fazer minha
pele arrepiar. Eu olhei pela janela, de repente encontrando-me com
algum tempo para matar.
Pelo menos StelComm estava em Midtown.
Havia muito o que fazer no meio da cidade.
Muitos bares.
E minha garganta parecia um pouco seca.
Eu poderia usar algo para me acalmar antes da minha entrevista.
— Ei, Marco, — chamei.
— E aí, chefe?
— Leve-me ao Rum House, — eu disse. — Eu só vou tomar uma
bebida rápida.
ANGELA

— Não! — Zoe e eu gritamos em uníssono.


— Sim, — Dustin confirmou, parecendo um pouco tímido pela
primeira vez.
— Você vai propô-lo em casamento? — Minha voz aumentava uma
oitava com cada palavra, então quando eu disse em casamento eu tinha
certeza de que poderia quebrar alguns vidros.
Dustin assentiu com um sorriso de mil watts.
Zoe e eu apertamos as mãos, saltando em nossos assentos enquanto
gritamos de animação.
— Como você sabe que ele é o cara? — Zoe perguntou.
— Como você vai propor? — Eu exigi.
— Você já ganhou um anel? — Zoe acrescentou.
Dustin riu, erguendo as mãos, gostando da atenção.
— Vocês, vadias, não têm um evento para planejar em Tóquio? — Ele
perguntou.
Zoe e eu zombamos, optando por ignorar as montanhas de papelada
na mesa à nossa frente.
— Isso tem precedência agora, — eu disse.
Zoe acenou com a cabeça vigorosamente ao meu lado.
— Fale logo, — eu exigi.
— Como você sabe quem é ele? — Zoe pressionou.
Dustin pegou seu muffin de chocolate, com um olhar distante em
seus olhos. Eu nunca o tinha visto tão sério. Ele normalmente era tão
animado, sua personalidade era tão barulhenta e... chamativa.
— Eu não sei, — ele começou. — E só que... ele é sempre a primeira
coisa em que penso quando acordo — e antes de dormir. Eu olho para ele
e vejo sua casa. Quando penso no futuro, seu rosto está sempre lá.
— Oh, Dustin, — eu suspirei, tocada por suas palavras românticas.
— Está todo derretido! — Zoe riu.
— Calada, garota, — provocou Dustin.
— Você já sabe como vai propor? — Eu perguntei.
— Ainda não me decidi sobre nada, mas tenho algumas ideias, — disse
Dustin miseravelmente, com os olhos brilhando.
— Tipo o quê, como o quê? — Zoe perguntou, saltando em seu
assento.
A porta soou quando alguns clientes entraram no café. Dustin viu sua
chance de escapar e aproveitou. O vento frio de outono soprava para
dentro, farfalhando nossas pilhas de papelada.
— Bem, veja só, — disse ele com ênfase exagerada, — parece que
tenho que cuidar de alguns clientes!
— Olha o suspense! — Eu gritei atrás dele.
Zoe mostrou a língua.
Dustin piscou enquanto nos mostrava o dedo do meio, pegando seu
muffin enquanto avançava.
— Concentre-se em seu trabalho, senhoras, e talvez eu irei agraciá-las
com mais detalhes suculentos mais tarde.
Eu fiz uma careta enquanto olhava para a papelada.
A julgar por sua expressão, Zoe estava tentando queimá-lo com os
olhos.
Olhamos uma para a outra e começamos a rir.
— Nós realmente deveríamos terminar isso, — eu admiti. — Nós só
temos mais algumas semanas.
— Mas é tão chato comparado a Dustin! — Ela choramingou.
Rimos novamente.
— Está bem, está bem. Onde nós estávamos?
— Estávamos decidindo sobre a escultura de gelo, — Zoe me lembrou.
— Ah, certo. — Eu franzi meus lábios, batendo minha caneta contra
meu queixo. — Deve ser algo local, não é? Afinal, estaremos no Japão.
Marlena Marlboro contatou Zoe e eu para planejar a inauguração de
sua coleção de arte mais recente, com tema em tomo de uma abordagem
surrealista da natureza e dos espíritos. Zoe e eu sugerimos que
levássemos a gala para o Japão, para o cênico Lago Tanuki.
Marlena concordou.
— Bem, a gala está acontecendo no Lago Tanuki, certo? — Zoe virou a
tela do laptop para me mostrar a foto de um cachorro-guaxinim
adoravelmente fofo. — Por que não temos uma escultura de gelo Tanuki?
— Perfeito!
Zoe assentiu e começou a procurar uma foto de referência perfeita
para enviar ao escultor.
Olhei para a pilha infinita de licenças e contratos que precisava
revisar, empilhados como uma torre Jenga desleixada.
O Lago Tanuki era um belo local que apresentava uma vista
deslumbrante do Monte Fuji. A gala ao ar livre colocaria os clientes bem
no centro da beleza assombrosa do local: a natureza refletida nas peças
de arte e em seus arredores.
Por mais incrível que o conceito fosse, era um pesadelo logístico.
Os clientes tiveram que ir de táxi até o local do evento e de volta aos
seus hotéis. As peças de arte tiveram que ser cuidadosamente
transportadas e armazenadas, servidores de alimentos e artistas tiveram
que ser cuidados, geradores de energia tiveram que ser protegidos e
verificados três vezes...
Sem mencionar o risco inerente de clima ruim.
Arregacei as mangas e tomei um grande gole de chá momo.
Vai valer a pena.
Eu me abaixei e comecei a trabalhar.

Sentei-me sozinha na cozinha, distraidamente escolhendo o prato de


bolinho chinês na minha frente. Eu olhei para o relógio.
Quase meia noite.
Desbloqueei meu telefone e disquei o número de Xavier, embora já
soubesse que ele não atenderia. Eu comprei nosso pedido favorito de dim
sum no caminho do café até casa, cansada demais para cozinhar algo
quando chegar em casa. Depois de um longo dia de trabalho, a ideia de
aninhar-se ao lado de Xavier com um pão com carne de porco fumegante
nas mãos parecia divina.
Mas quando Cheguei em casa, encontrei a cobertura escura e vazia.
Xavier deveria estar em casa antes de mim.
Eu me enrolei na minha cadeira, com um pãozinho comido pela
metade frio e esquecido na mesa na minha frente.
Talvez a entrevista tenha demorado, pensei. Ou é apenas uma entrevista
muito intensa...
Eu disquei o número de Xavier novamente, apenas para preencher o
silêncio.
Sua mensagem de correio de voz tocou, uma gravação que eu tinha
ouvido com muita frequência ultimamente.
— Este é Xavier Knight. Deixe uma mensagem e eu entrarei em
contato com você.
— Oi, querido, — eu disse ao telefone. — Só estou me perguntando
onde você está... me ligue quando puder, ok? Espero que a entrevista
tenha corrido bem! Comprei alguns dos seus wontons favoritos para o
jantar, mas agora estão frios...
Eu parei, deixando a chamada terminar sozinha.
Fechei os olhos, com o cansaço fazendo com que parecessem pesos de
chumbo.
Onde você está, Xavier?
Capítulo 4
Qualquer Lugar, Menos aqui

XAVIER

Steve, aquele idiota.


Eu tropecei pelo saguão do hotel em direção ao elevador. Duas
mulheres mais velhas estavam saindo, sussurrando enquanto lançavam
olhares de julgamento em minha direção.
Eu olhei para elas quando passaram, e elas olharam para seus saltos
altos espalhafatosos, escondendo seus rostos atrás das golas altas de seus
casacos de pele enquanto corriam para longe.
Isso as calou.
Tateei a parede em busca do botão do elevador, lutando contra a
névoa de uísque e fumaça que enchia meu cérebro. Eu bati no botão
várias vezes até que as portas abriram. Mais uma vez, desabei bêbado no
banco do elevador.
Quantas vezes eu faria isso?
Eu tinha aparecido para a entrevista um pouco bêbado.
Não foi minha culpa. Eles foram os que atrasaram a maldita coisa por
duas horas. Eles não sabiam como meu tempo era valioso?
Além disso, eu sabia de fato que Steve e Stephen Stevenson faziam a
maior parte de seus negócios com coquetéis nas mãos. Era basicamente
uma exigência fechar negócios com uma bebida.
Por que eles estavam tão chateados por eu ter ficado bêbado?
Hipócritas do caralho.
Há hora e lugar para isso, eles disseram.
Faça-me o favor.
Quem eram eles para me dar um sermão sobre a hora certa, quando
não conseguiam nem cumprir seus próprios malditos horários?
A entrevista foi uma merda.
Obviamente.
Eles me disseram para ficar sóbrio; eu disse a eles para irem se foder.
Então fiz o que qualquer empresário sensato faria: desci até o bar mais
próximo e bebi até ficar bobo.
Eu ainda tive a presença de espírito de ir ao meu buraco de merda
favorito para manter os olhos curiosos da imprensa longe. Popeye sem-
teto olhou para mim como se eu fosse um cachorro mordido por pulgas
que simplesmente não voltaria para casa.
— De volta para a segunda rodada? — Ele perguntou, com sua voz
cravada na porra de um quadro-negro.
— Foda-se, eu só preciso de uma bebida.
Ele caiu na gargalhada. Ele engoliu a cerveja, com a espuma
escorrendo pela barba desgrenhada.
— Puxe uma cadeira. Vou beber mais do que você.
Normalmente, eu teria ignorado alguém como ele, mas estava irritado
o suficiente para aceitar seu desafio.
Puxei um banquinho, e a maldita coisa balançava violentamente
embaixo de mim.
— Vou tirar esse sorriso sem dentes do seu rosto, — falei.
As próximas horas foram um borrão.
Aquele desgraçado sabia beber, eu admito.
Lá estava eu, Xavier Knight, bilionário, indo shot atrás de shot com
algum perdedor em um bar sujo.
Aonde o mundo chegou?
As portas do elevador abriram para a cobertura, tirando-me dos meus
pensamentos. Arrastei-me para dentro e encontrei Angela dormindo na
mesa de jantar. Havia um prato de comida na frente dela, mal tocado.
Eu verifiquei meu telefone.
5 chamadas perdidas, 1 nova mensagem de voz.
A culpa ergueu sua cabeça feia.
— Ei, querida, — o correio de voz de Angela tocou. — Só estou me
perguntando onde você está...
Sentei-me ao lado de Angela, olhando para o dim sum frio. Eu não
conseguia nem olhar para ela. Não me sentia como o marido dela; sentia-
me como um impostor.
Você não a merece.
Peguei os wontons frios, enfiando-os na boca, sem me preocupar com
os pauzinhos. Eles estavam sem gosto. Ainda assim, eu os comi,
empurrando-os descuidadamente pela goela.
Angela comprou para mim. O mínimo que eu podia fazer era comê-
los.
ANGELA

Meus olhos se abriram e acordei para descobrir que ainda estava na


mesa de jantar. Esfreguei o sono dos meus olhos antes de perceber que
alguém estava sentado ao meu lado.
— Xavier, — eu disse, com o alívio me inundando.
Ele estava em casa.
Seguro.
Ele estava olhando para a mesa, com os olhos no prato vazio à sua
frente.
Pelo menos ele comeu.
Ele não me respondeu. Ele nem olhou para mim. Eu podia sentir o
cheiro de uísque saindo dele. Senti-me tonta mais uma vez, com meu
estômago embrulhando desconfortavelmente, mas me forcei a ficar.
Xavier precisava de mim aqui.
Eu me inclinei contra ele, descansando minha cabeça em seu ombro.
Eu o senti enrijecer ao meu toque e suas mãos se fecharam em punhos
sobre a mesa.
— Como foi a entrevista? — Eu perguntei gentilmente.
Nada.
Era como se ele fosse esculpido em pedra.
Senti as lágrimas brotando em meus olhos, mas as afastei para longe.
Eu tinha que ser forte. Eu tinha que encontrar uma maneira de tirar
Xavier dessa furada.
Ficamos sentados lá pelo que pareceu uma eternidade, sem dizer uma
palavra.
Estendi a mão para colocar minhas mãos sobre as dele e fiquei aliviada
quando ele não as tirou. Virei suas mãos, gentilmente soltando seus
dedos de seus punhos cerrados. Suas unhas deixaram sulcos profundos
na palma da mão, e tentei alisá-los.
Tentei pensar em algo que pudesse fazer. O amor da minha vida
estava sofrendo tanto e parecia que não havia como ajudá-lo.
Eu só pude segurar sua mão, preenchendo os espaços vazios entre
seus dedos com os meus.
— Venha para o Japão comigo, — eu disse de repente.
— O quê? — Sua voz estava rouca.
Não sei de onde veio a ideia, mas fui com ela.
— Venha comigo ao baile de gala de Marlena Marlboro. Vai ser lindo.
Você poderia mudar de cenário, — eu disse, ganhando força. — Depois
que o evento acabar, podemos fazer um tour pelo país um pouco.
Podemos ir para Tóquio. Podemos ir ver a floresta de bambu e o pagode
dourado!
Xavier não respondeu, mas eu podia sentir que ele estava refletindo
sobre isso.
— Além disso, você sempre me surpreende com viagens. Acho que é a
minha vez de convidá-lo pelo menos uma vez. — Virei minha cabeça,
beijando seu ombro. — Vamos nos afastar um pouco de Nova Iorque, ok?
Ele suspirou, abaixando-se para descansar sua cabeça na minha.
— Ok.
Um calor me inundou com seu toque. Soltei um suspiro que não
percebi que estava segurando. Parte de mim esperava que ele dissesse
não. Estávamos tão distantes ultimamente.
Passei meus braços em volta de sua cintura e apertei como se estivesse
perdida no mar, segurando um pedaço de madeira flutuante.
Eu não vou perder você.
— Vamos tirar você dessas roupas e colocá-lo na cama, — insisti. Eu o
puxei para cima e Xavier gemeu enquanto segurava sua cabeça.
— Obrigado, meu anjo, — disse ele.
— Por quê?
— Por estar aqui.
Eu balancei minha cabeça, sorrindo enquanto o levo em direção ao
nosso quarto, com sua mão na minha.
— Sempre.
PENNY

É com isso que Xavier sempre teve que lidar?


Eu desabei na minha cadeira, tentando o meu melhor para ignorar as
pilhas de pastas na minha mesa e as centenas de e-mails não lidos na
minha caixa de entrada.
Fechei os olhos, imaginando-me à beira-mar, com o sol na pele e um
Bradlini nas mãos. Eu quase podia sentir o cheiro do sal na brisa do
oceano.
Uma batida na porta me mandou de volta à realidade.
— Entre, — eu chamei.
Henry entrou, com o blazer pendurado no ombro e uma pilha de
papéis na dobra do braço.
— Não me diga... — eu gemi.
Henry jogou os papéis na minha mesa já lotada.
— Sim, desculpe, boneca, — ele disse.
— Não me chame assim.
Ele encolheu os ombros. — Estou decolando esta noite. Alguns dos
meninos queriam dar uma passada no Hatchback para tomar alguns
drinques para relaxar.
— Relaxar? — Eu perguntei. — Algum de vocês ao menos completou
seu trabalho do dia?
— Estamos progredindo, — Henry me assegurou, embora eu
acreditasse nele apenas até certo ponto. — Relaxe, Penny. Você está
começando a soar como Aquele que Não Deve Ser Nomeado.
Ele piscou.
Eu olhei de volta.
— Caramba, talvez você deva ir para casa também, — disse ele. —
Nenhum senso de humor.
— Isso é tudo? — Eu pressionei.
— Sim, — ele respondeu. — Vejo você amanhã, Penny. — Ele saiu do
escritório com um salto.
Quando a porta fechou atrás dele, afundei ainda mais na cadeira.
Peguei a foto de Brad que mantinha na minha mesa e encarei seu rosto
sorridente.
— Oh, Brad, — eu suspirei. — No que você me meteu? — As primeiras
semanas depois que Xavier foi destituído do cargo de CEO correram
bem. O escritório realmente parecia mais claro, mais calmo. Xavier havia
mantido todos em um padrão impossivelmente alto, e todos sentiam sua
pressão implacável para ter um desempenho superior.
Quando ele saiu, todos pareceram relaxar.
Um pouco demais, pensei.
As pessoas começaram a chegar tarde.
Alguns roubaram alguns minutos para sair mais cedo.
O trabalho começou a se acumular.
Os prazos se aproximavam e depois eram perdidos.
Nossas ações, lenta mas seguramente, começaram a cair.
Xavier pode ter governado com punho de ferro, mas manteve todos
eficientes e alertas. Ele foi a cola que manteve a Knight Enterprises unida.
No entanto, embora Xavier possa ter mantido a empresa unida, isso o
estava destruindo.
Isso trouxe todas as suas piores qualidades para o primeiro plano.
Sua impaciência.
Sua raiva.
Sua intensa necessidade de desempenho — o bem-estar de si mesmo e
daqueles ao seu redor que se danassem.
Pensei naquele dia fatídico... quando decidi não defender Xavier.
Ele estava claramente no caminho da autodestruição.
As palavras de sabedoria de Brad ecoaram em minha mente e, na hora,
eu tive certeza de que estava tomando a decisão certa.
Xavier tinha que encontrar sua própria identidade. Uma que não
estava presa ao — legado — na Knight Enterprises. E parecia que um
amor forte era a única coisa que poderia ajudar.
Deus sabe que tentei ser legal... e isso não me levou a lugar nenhum.
Mas olhando para o trabalho interminável se acumulando na minha
mesa...
Talvez dar a ele mais uma chance não fosse uma ideia tão ruim.
Henry com certeza também não ajudou em nada.
Ele havia sido nomeado CEO interino, pelo menos até encontrarmos
um substituto adequado.
Ele agiu como se fosse o dono do lugar, passando mais tempo perto do
bebedouro do que em sua mesa. Todos no escritório o amavam. Ele não
se certificou de que as coisas estavam trabalhando bem. Ele não exigiu
que nenhum trabalho fosse feito.
Tudo o que ele exigiu foi que você risse de suas piadas ruins.
Era como se ele tivesse acabado de pegar as chaves do carro novo de
seu pai, levando-o para passear por toda a cidade, mas nunca se
preocupou em encher o tanque depois.
Eu olhei os papéis na minha mesa.
Se eu o retirasse, provavelmente estaria acabado em...
O quê?
No próximo ano?
Devolvi a foto de Brad ao seu lugar na minha mesa, dando uma última
olhada antes de me virar para a tela do meu laptop.
Espero que tudo corra como você queria, Brad...
Capítulo 5
Pegue esse Espumante

ANGELA

— Oh, Angela, querida, você e Zoe se superaram!


Sorri com o elogio de Marlena, balançando a cabeça graciosamente
com o elogio.
— Sua arte facilitou encontrar inspiração para a gala. Zoe e eu não
podemos levar todo o crédito.
O guru da arte se inclinou para frente, com um sorriso afetuoso nos
lábios. Ela estava deslumbrante em seu quimono escarlate. O manto
estava intrincadamente dobrado em tomo de seu corpo, caindo em
elegantes cortinas de seda que representavam um padrão hipnótico de
flores e espíritos que giravam em tomo uns dos outros.
— Você realmente se tomou uma grande mulher, Angela. Você era
uma garota tímida que ficava vermelha com o menor elogio. Agora, olhe
para você. Conduzindo uma festa de gala não apenas com confiança, mas
com exuberância!
Eu ri. Agora, isso me fez corar.
— Oh, Marlena, você é muito gentil.
— Só estou sendo sincera, — ela insistiu. Ela balançou os braços na
festa de gala, com as mangas compridas do quimono caindo até a cintura.
— Veja o que você conquistou! Com a ajuda de Zoe, é claro.
Eu olhei em volta, e o orgulho crescia em meu peito.
Marlena estava certa. Nós nos superamos.
O evento de gala foi organizado próximo ao lago Tanuki, e o mundo
era uma mistura de cores.
O pôr do sol iluminou o céu em chamas, e o lago virou um reflexo dos
vermelhos, laranjas e roxos derretidos do sol poente. As árvores ao nosso
redor dançavam ao vento, com o toque arrepiante do outono
transformando verdes vibrantes em vestidos cor de ferrugem.
Convidados se misturavam com garçons e artistas sob grandes tendas
de festa transparentes, com lanternas japonesas tremeluzindo como
estrelas.
As peças de arte estavam perfeitamente espaçadas por toda parte,
formando um caminho que permitia que os convidados passassem
facilmente de uma experiência para outra.
E acima de tudo, dominando toda a gala à distância, estava o
magnífico monte Fuji. Sua beleza e força era um cenário de tirar o fôlego
para uma exposição de arte celebrando os mistérios mágicos da natureza.
— Espero que isso signifique que você também vai nos considerar
para seu próximo evento, Sra. Marlboro. — Eu pisquei para ela.
— E você também se tomou uma mulher de negócios esperta, — disse
Marlena. Ela me virou, me afastando de brincadeira. — Agora, afaste-se
de mim antes que eu desmaie com sua excelência!
Eu ri, brincando junto.
— Aproveite a sua gala, Marlena. Este é o seu momento. Vou dar uma
volta.
Ela me soprou um beijo antes de girar nos calcanhares em direção a
um grupo de admiradores.
Eu sorri enquanto a observava ir embora.
Eu andei ao redor da gala, cumprimentando os convidados enquanto
caminhava. As palavras de Marlena ficaram gravadas em minha mente.
Acho que realmente cresci.
Ainda me lembro de como fiquei nervosa quando organizei a primeira
exposição de arte de Dustin, mexendo em cada coisinha. Agora eu
poderia organizar tais eventos sem pestanejar.
Eu estava examinando uma pintura do que parecia ser um espírito
assombrado devorando um lírio, quando alguém me deu um tapinha no
ombro.
Eu me virei para encontrar Zoe atrás de mim.
— Como vai tudo? — Eu perguntei a ela.
— Tudo bem até agora, — disse ela. Seus olhos estavam brilhantes e
alertas, mas ela não parecia nem um pouco preocupada. — Estamos
começando a ficar sem champanhe, mas enviei um mensageiro. Os
convidados realmente parecem estar se divertindo.
O rosto de Xavier brilhou em minha mente. Eu não o via há um
tempo...
Eu examinei a multidão, mas não consegui identificá-lo. A gala
ocupava uma grande área e, além disso, estava escurecendo.
De repente, um homem pigarreou atrás de nós.
— Com licença, mas vocês são Angela e Zoe?
Ele era um cara mais velho e corpulento com um queixo redondo.
Seus olhos se encheram de pés de galinha enquanto ele sorria.
— Sim, — Zoe disse. — Como você adivinhou?
O homem ajustou o smoking, puxando o paletó com mais força sobre
os ombros largos.
— Marlena me disse para procurar a lua e as estrelas, — disse ele com
uma risada. — No início, pensei que ela estava sendo enigmática como
sempre, mas descobri que suas instruções eram bastante literais!
Zoe e eu usávamos quimonos irmãos, ambos forrados de pele para nos
fortalecer contra a noite fria de outono.
O dela era de um branco brilhante com detalhes em prata, uma lua
estilizada de seda preta costurada no tecido de seda. O meu era de um
preto profundo e dourado, com estrelas cadentes brilhando nas mangas e
nas costas.
— Você nos encontrou, — eu disse com um sorriso. — O que você está
achando do evento, Sr....?
— Oh, me perdoe. — Ele se curvou com um pequeno floreio. — Meu
nome é Bernard Loreley. O evento que vocês duas organizaram me
surpreendeu.
— Para onde? — Zoe perguntou.
Bernard franziu a testa em confusão.
— Como é?
— Você foi surpreendido... para onde? — Zoe repetiu com um sorriso
malicioso.
Bernard tropeçou em si mesmo, tentando encontrar uma resposta.
— Ela está apenas brincando com você, Bernard, — eu suspirei
enquanto Zoe ria ao meu lado. — Como podemos te ajudar?
Bernard tossiu enquanto se recompunha, sorrindo um pouco
enquanto suas bochechas ficavam rosadas. Ele era charmoso de uma
maneira doce, de um avó.
— Na verdade, gostaria de falar com você sobre seus serviços, — disse
ele. — Minha esposa e eu estaremos comemorando nosso
quinquagésimo aniversário em breve, e ela quer fazer um grande alarido
por causa disso.
— Oh, parabéns! — Zoe se emocionou, instantaneamente mais
envolvida na conversa. — Cinquenta anos! Vocês dois devem estar tão
apaixonados.
Bernard riu, e seus pés de galinha se aprofundaram. — Sim, eu acho
que sim. De qualquer forma, espero não estar me impondo?
— Oh, de jeito nenhum! — Zoe disse. — Certo, Angela?
Eu dei uma rápida olhada ao redor da gala, na esperança de ver Xavier.
— Claro que não, — eu disse, tentando me livrar da minha distração.
— Maravilhoso! Então, gostaria de apresentá-las à minha esposa. Ela
ficará emocionada em conhecê-las.
— Mostre o caminho, Bernard! — Zoe ficou entusiasmada. Ela me deu
uma cutucada e uma piscadela, balbuciando a palavra ponto! Antes de
seguir Bernard para a multidão.
Eu dei uma varredura final na festa.
— Angela? — Zoe chamou.
Eu balancei minha cabeça, voltando à realidade. Por que eu estava tão
preocupada?
Xavier poderia cuidar de si mesmo.
— Estou indo! — Gritei.
XAVIER

Tomei outro gole de champanhe, olhando ao redor para a festa de gala


em pleno andamento ao meu redor.
Angela era realmente incrível.
Eu sabia, é claro, que ela era uma produtora de eventos talentosa.
Afinal, ela havia conseguido o baile de gala para a Vague e Hannah
Flintour. Eu tinha visto as fotos do que ela fez no Hudson Yards.
Como não poderia?
Estava em todos os noticiários.
Mas estar no meio disso foi uma experiência totalmente diferente. A
atmosfera era perfeita; cada pequeno detalhe — desde a colocação das
pinturas em exibição, ao perfume de flores silvestres no ar — era
impecável.
Orgulho e vergonha guerreavam em meu peito.
Minha esposa era uma renomada produtora de eventos. Nomes da
elite clamavam por seus serviços, e o trabalho a levou a todo o planeta.
Ela era inteligente, esperta e muito gostosa para jogar fora.
E aqui estava eu, acompanhando o passeio.
Seu marido troféu.
Terminei o resto da minha bebida de uma vez. Antes que eu pudesse
procurar outra, um garçom elegantemente vestido já estava ao meu lado.
Peguei uma taça de champanhe, acenando com a cabeça para o
garçom enquanto ele desaparecia na multidão.
Impecável.
Eu andei pelo evento, tentando envolver minha cabeça em tomo das
pinturas. Eu olhei para uma enorme, com cerca de duas vezes o tamanho
da porta do meu quarto. Parecia uma campina tranquila, mas em vez de
grama, havia apenas centenas de fantasmas verdes magros.
Sempre que eu focava em um certo fantasma, o resto da pintura
parecia se mover ligeiramente, como se estivesse balançando sob um
vento imaginário. Quando olhei para a pintura como um todo, porém, a
obra de arte estava imóvel.
— Esquisito, — eu murmurei.
— Fale mais sobre isso.
Eu me virei e encontrei um homem parado ao meu lado. Ele usava um
quimono preto simples. Seu longo cabelo preto estava preso em um
topete.
Eu olhei duas vezes.
Eu conhecia aquela cara...
— O que foi, Xavier? — Ele sorriu.
— Shinji? — Eu perguntei, incrédulo. — Shinji
Takahashi?
— Em carne e osso, — ele acenou com a cabeça. — Como você está,
seu lindo filho da mãe?
Eu ri enquanto demos as mãos.
— Meu Deus, quando foi a última vez que nos vimos? Alguns anos
atrás — em Mônaco? — Fui instantaneamente transportado para trás no
tempo. Lembrei-me de noites quentes e mulheres gostosas, dinheiro
rápido e carros mais rápidos.
— Ao volante de um Pontiac Firebird, — ele balançou a cabeça. —
Você ainda corre?
— Nah, — eu disse. — Eu pendurei minhas luvas de corrida.
— Ei, cara, não odeie minhas luvas de corrida, — disse ele. — As
mulheres adoram as luvas.
— Sim, tanto faz.
— Mas é uma pena, — disse Shinji. — Há uma grande corrida
acontecendo em Tóquio amanhã. O prêmio é de cinquenta milhões de
ienes. Cerca de quinhentos mil em dólares americanos. Achei que você
pudesse se interessar... — Ele deixou o convite pendurado, balançando as
sobrancelhas como um idiota.
Eu ri.
— Você quer dizer tipo Tokyo Dri !
— Por favor, — Shinji pareceu ofendido. — Esse filme de merda não
faz justiça ao nosso esporte. Vamos lá.
— Nah, eu deixei tudo isso para trás.
— Bem, se você mudar de ideia, me ligue. — Ele me entregou um
cartão de visita com seu nome e número.
— Os corredores de rua têm cartões agora?
— Não, idiota, isso é apenas para o meu trabalho diário.
Eu ri, guardando o cartão.
— Obrigado, Shinji, mas agora estou casado. Correr não vale o risco.
— Procurei por Angela ao meu redor. Eu queria mostrá-la ao meu velho
amigo.
— A propósito, ouvi dizer que você foi expulso de sua empresa, —
disse Shinji. — E verdade?
Suas palavras foram como um soco no estômago. O vento foi
nocauteado de meus pulmões.
Até Shinji sabia.
— Sim, — eu engasguei.
— Ei, — ele ergueu sua própria taça de champanhe para um brinde. —
Foda-se essa merda.
Nós brindamos com as taças.
— Foda-se essa merda, — eu concordei.
Abaixamos nossos copos e, como mágica, outro garçom apareceu para
nos dar mais.
— Ei, se você não vai correr comigo amanhã, pelo menos beba
comigo. — Shinji dispensou o garçom. — Vamos ficar bêbados. Pelos
velhos tempos.
O sorriso do meu velho amigo era contagioso, e aquele jeito estúpido
com que ele mexia as sobrancelhas sempre me fazia rir. Peguei mais
champanhe da bandeja.
— Shinji, cara, você está falando a minha língua.
ANGELA

— Posso pegar uma mimosa virgem? — Eu perguntei ao barman.


Ela ergueu uma sobrancelha. — Você quer dizer um suco de laranja?
— Sim. — Eu sorri.
O barman acenou com a cabeça, deslizando um copo sobre o bar.
Bernard e sua esposa eram adoráveis. Eles esperavam hospedar sua
festa de aniversário em sua villa na Cidade do Cabo no início do próximo
ano. Zoe aproveitou a oportunidade e as primeiras negociações já
estavam em andamento.
Minha carreira estava realmente decolando.
Eu estava bebendo meu suco de laranja quando ouvi uma comoção no
centro da gala.
Algo estava errado?
Abri caminho pela multidão, rapidamente caminhando em direção à
comoção. Eu não deixaria nada arruinar esta noite perfeita.
Quando Cheguei mais perto, congelei, com o copo de suco de laranja
escorregando por entre meus dedos.
Eu encontrei Xavier.
Mas o que diabos ele estava fazendo?!
Capítulo 6
Espíritos ao pôr do sol

ANGELA

Normalmente, a visão de um Xavier seminu me deixava quente e


incomodada. Ele tinha um físico trincado pelo qual qualquer ator de
Hollywood mataria.
Mas esta noite, eu corei de um vermelho brilhante de vergonha
enquanto observava meu marido sem camisa escarranchado na escultura
de gelo de tanuki como se fosse um cavalo indomável.
Acho que estava com calor e incomodada, afinal.
— Para frente, guaxinim! — Ele gritou. Ele balançou a camisa como
um laço de cowboy enquanto esfregava os quadris no gelo, com as calças
encharcadas e o suor brilhando em seu abdômen.
A multidão ao seu redor estava em partes iguais rindo e horrorizada.
Alguns aplaudiram, alguns riram e outros tentaram gentilmente puxar
suas companheiras em transe para longe da cena. Um japonês de
aparência robusta com um topete estava particularmente barulhento,
rindo e instigando-o.
— Isso faz parte do itinerário? — Virei-me para encontrar Marlena
Marlboro olhando para Xavier, com um olhar perplexo em seu rosto. —
O Oriente encontra o Ocidente, talvez?
Naquele momento, desejei que um buraco se formasse embaixo de
mim e me engolisse por inteiro.
— Eu sinto muito, — eu gritei, com o pânico tomando minha voz
estridente. — Eu vou cuidar dele.
— Tire suas calças! — Uma mulher luxuriosa gritou de algum lugar no
fundo da multidão. Gritos e risadas seguiram seu pedido.
Xavier fez um show inclinando a cabeça para o lado, colocando a mão
em uma orelha.
— Bem, eu sou um homem do povo.
Ele sorriu enquanto mexia no cinto.
Aproximei-me dele, sentindo os olhos da multidão em mim.
Claro, eu estava me acostumando com a atenção. Mas não desse tipo.
— Xavier! — Eu sussurrei e gritei. — O que diabos você está fazendo?!
Demorou um segundo para seus olhos se concentrarem em mim, mas
quando o fizeram, seu sorriso se alargou, quase dividindo seu rosto ao
meio.
— Shinji! — Ele gritou. — Esta é minha esposa! Um pedaço do
paraíso, certo?
O robusto japonês se aproximou e eu o senti me olhando da cabeça
aos pés.
— Droga, você estava certo. Eu estou com inveja, — o homem que eu
supus ser Shinji disse. Ele parecia ter a idade de Xavier. Velhos amigos?
Ele olhou para cima e deu a Xavier um sorriso malicioso. — Se importa se
eu pegá-la emprestada por um tempo?
Decidi que não gostava de Shinji.
— Mantenha suas mãos imundas longe dela, — Xavier riu, não
levando-o a sério. Ele se abaixou para acertar a cabeça de Shinji, mas seu
amigo se esquivou dele com facilidade. O equilíbrio de Xavier vacilou,
seus músculos estavam tensos enquanto ele passava um braço ao redor
do pescoço do tanuki de gelo.
Um suspiro coletivo escapou da população feminina da multidão.
— Está gostando do show? — Xavier piscou para mim enquanto
movia seus quadris sugestivamente.
— Desça daí! — Clamei.
— Mas por quê? — Ele perguntou. — As pessoas estão se divertindo,
não estão? — Ele se virou para a multidão, abrindo os braços. Alguns
aplaudiram e gritaram, mas muitos olharam em silêncio.
— Huh. — Xavier franziu a testa. — Menos do que eu pensava.
— Estou falando sério, — eu sibilei. — Desça. Daí.
Meu marido piscou para mim, com meu tom deixando-o um pouco
sóbrio de todo champagne.
— Sua esposa é agressiva, — zombou Shinji.
Eu olhei para ele.
— Você disse a ele para fazer isso?
— Nossa, Sra. Knight, vá com calma, — ele riu. — Eu só tomei alguns
drinks com ele, só isso.
— Alguns? — Apontei para meu marido sem camisa.
Shinji encolheu os ombros.
— Ele nunca conseguiu segurar a bebida como eu. Falando nisso, você
também está com pouco champanhe.
— Obrigado por me avisar, — eu disse com os dentes cerrados.
Xavier se deixou cair no chão ao meu lado, seus braços enrolando em
volta da minha cintura enquanto ele tentava encontrar o equilíbrio.
Eu olhei para ele.
— Você.
— Eu. — ele respondeu, com um sorriso divertido nos lábios.
— Você vem comigo. — Eu agarrei seu pulso, arrastando-o para longe
do baile.
— Onde estamos indo? — Ele perguntou.
Corri para Zoe, seus olhos se arregalaram quando ela viu Xavier — e o
estado em que ele estava.
— Está tudo bem?
— Vou levar Xavier de volta para o hotel. Ele bebeu muito. —
Coloquei a mão no ombro de Zoe. — Você vai ficar bem aqui sozinha?
— Claro. — Zoe acenou com a cabeça. Ela olhou para o peito nu de
Xavier. — Hum, vai se divertir?
Passei por ela, sentindo cada par de olhos em nós enquanto
caminhávamos pela festa de gala.
Xavier apoiou o queixo no meu ombro.
— Voltar para o hotel? — Ele sussurrou em meu ouvido, com o cheiro
de champanhe em seu hálito. — Eu gosto do som disso.
Eu encolhi os ombros.
— Eu não posso acreditar em você.
— O quê? — Ele perguntou.
— Conversamos depois.
Nós finalmente chegamos aos arredores da gala. Uma frota de táxis
sofisticados esperava para levar os hóspedes de volta às suas
acomodações. Arrastei Xavier para dentro de um e, depois de algumas
palavras com o motorista, decolamos noite adentro.
Xavier se inclinou para mim, apalpando meu quimono.
— Você fica tão bem com esse vestido.
Eu o empurrei.
— Pare com isso, — eu disse com firmeza.
— O que você tem? — Xavier franziu a testa, com as sobrancelhas se
juntando em um nó frustrado. — Você quer falar sobre isso ou vai me
ignorar?
Eu lancei um olhar muito atento para a rua à frente. O motorista, por
sua vez, estava nos ignorando educadamente.
— Guarde para o hotel, Xavier.
— Tudo bem, — ele resmungou, afundando em seu assento.
Eu me irritei com a escuridão fora das janelas do carro. Eu nunca
tinha ficado tão irritada com Xavier antes. Observei seu reflexo enquanto
ele ficava de mau humor em seu assento.
Esta seria uma longa jornada.

— Então, qual é o problema? — Xavier perguntou, assim que a porta


do hotel se fechou atrás de nós.
Eu digo hotel, mas era mais um ryokan, uma pousada de estilo
japonês, completa com tatames e móveis de bambu.
Havia um lindo jardim zen do lado de fora do nosso quarto, o
borbulhar de uma fonte de bonsai misturando-se ao canto das cigarras
no ar noturno. Era um cenário tranquilo.
Mas eu estava longe de estar tranquila.
— Qual é o seu problema? — Eu repeti, incrédula. Xavier pareceu ficar
um pouco sóbrio na volta, mas ainda estava bêbado. — Você me
envergonhou, Xavier. Você fez papel de bobo.
— Ah, pare com isso, — disse Xavier, sem arrependimento. — Era uma
festa! Estávamos apenas nos divertindo um pouco.
— Era uma exposição de arte, Xavier. Não é uma porra de uma festa de
fraternidade! — Pensei no velho Xavier, o Xavier que desaparecia durante
a noite, apenas para voltar com outra mulher para a cama.
Ele estava se tornando aquele Xavier de novo?
O pensamento me apavorou.
— Eu pensei que você tinha mudado, — eu disse, com minha voz
baixa.
— Mudado! — Xavier soltou. Eu tropecei alguns passos para trás. —
Mudado? Se alguém mudou, é você, Angela. É como se você não gostasse
mais de se divertir. Por que você não bebe comigo?
Porque estou grávida.
— Se você esqueceu, Xavier, este é o meu trabalho. Eu estava
trabalhando.
Xavier balançou a cabeça, com seus pelos eriçados. — Eu não estou
falando apenas sobre esta noite. Nas últimas semanas também. Você está
sempre cansada. Você nunca quer sair. Você está entediada de mim?
— Não! — Eu disse. — É porquê...
— Porque o quê? — Ele pressionou.
Sentei-me na beira da cama, me sentindo tonta.
Porque estou grávida.
— Eu estive doente, — eu disse. — Não tenho me sentido muito bem
ultimamente.
— Doente? — Ele pairou sobre mim. — Okay, certo. Você parece estar
bem quando sai para se encontrar com Em e Dustin. Por que você só fica
doente quando está perto de mim?
Eu me encolhi.
— Até a última vez que tentamos fazer amor, — disse ele. — Você
vomitou. Eu sou realmente tão nojento? Você está realmente cansada de
mim?
— Você está falando sério? — Eu perguntei. Eu não pude acreditar
nisso. Depois de tudo que passamos, como ele poderia pensar isso? —
Você está sendo ridículo, Xavier. Você sabe que isso não é verdade.
Uma raiva irracional cresceu dentro de mim, lágrimas brotando em
meus olhos. Ele estava seriamente duvidando de que eu o amava? Que eu
não queria me divertir com ele?
Meu cérebro bateu contra o meu crânio, com um baque constante em
conjunto com o meu batimento cardíaco. A voz de Xavier ecoou pela
sala, batendo em meus ouvidos.
— Então me diga o que diabos está acontecendo, Angela! Você tem
que ser franca, porque, aparentemente, sou muito burro para saber o
que...
— Estou grávida! — Eu gritei.
Xavier cambaleou para trás, chocado.
— É porque estou grávida, ok? Tenho ficado com muitas náuseas e
tonturas, e quando estávamos fazendo amor naquela noite, senti o cheiro
de uísque em seu hálito. É por isso que eu vomitei.
Respirei fundo, tudo o que eu tinha guardado para mim mesma nos
últimos meses chegou em Xavier como um meteorito.
— Eu não posso beber, obviamente. Eu simplesmente estou muito
emocionada e confusa. Vamos ter um bebê e fiquei com medo do que
você pensaria. Havia um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo,
e eu não tinha certeza de como trazer isso à tona, e eu realmente sinto
muito Eu me parei, com minha garganta fechando enquanto eu
engasgava com minhas próximas palavras.
Eu disse a Xavier que estava grávida.
Ele ficou imóvel, quase como se estivesse congelado no tempo. Ele
parecia traumatizado.
Em estado de choque.
Cobri minha boca com a mão, meu coração na garganta.
O que eu fiz?
Capítulo 7
Ultimato

ANGELA

Fechei os olhos, esperando a explosão. Eu podia imaginar a expressão


de indignação e choque em seu rosto, ouvir a mordida em sua voz como
golpes de um chicote.
Como você pôde esconder isso de mim? Ele gritava.
Mas isso não aconteceu.
Em vez disso, seus braços me envolveram, com sua mão enrolando no
meu cabelo enquanto ele me pressionava em seu peito.
— Xavier? — Eu perguntei baixinho, com medo de que se falasse
muito alto, iria detoná-lo como uma bomba.
Ele segurou meu rosto com as mãos e olhou para mim com tanto
amor e adoração que meu coração quase parou.
— Você não está
Ele me beijou.
... bravo? Eu terminei em minha mente.
Senti sua língua correr ao longo do meu lábio inferior, implorando
por entrada.
Acho que não.
Ele aprofundou o beijo e eu gemi, com sua língua dominando a
minha.
Senti suas mãos descendo pelo meu pescoço, descendo até a seda do
meu quimono, passando pelos meus seios e pousando na minha cintura.
Eu engasguei quando ele me girou, com seus lábios encontrando meu
pescoço. Estendi a mão por trás para passar meus dedos por seu cabelo
enquanto ele desfazia a faixa que mantinha as dobras do meu quimono
juntas.
A seda deslizou pela minha pele, revelando minha nudez. O toque de
Xavier foi gentil, mas urgente. Senti suas mãos fortes roçarem minha
barriga e minhas coxas, e o espaço entre elas estremeceu de antecipação.
Recostei-me nele e senti sua dureza contra a minha bunda, esticando
suas calças. Cheguei para trás, abrindo o zíper de sua calça para que seu
pau balançasse livre.
Seus dedos provocaram meus lábios inferiores, em seguida,
arrastaram em direção ao meu clitóris. Minhas pernas tremiam enquanto
ele movia seus dedos em movimentos lentos e circulares. Eu tive que
envolver meus braços em volta do pescoço para não cair.
Eu movi meus quadris em conjunto com seus golpes, apertando sua
masculinidade no meio da minha bunda.
Ele não aumentou o ritmo, não empurrou com mais força, apenas
continuou com o mesmo movimento lento. Tentei esmagar seus dedos,
mas sempre que eu tentava, ele parava.
— Xavier... — Eu choraminguei.
Ele apenas mordeu meu pescoço com mais força, me fazendo gritar.
Comecei a sentir meu clímax crescendo dentro de mim. Eu engasguei
e gemi, com minha respiração ficando cada vez mais rápida até que ele
me fez gozar. Foi uma liberação longa e lenta, e minhas pernas
enfraquecidas cederam debaixo de mim.
Eu caí de joelhos no chão, com seu pau meu rosto por cima do meu
ombro.
Bem, já que estou aqui...
Eu o peguei em minhas mãos, correndo minha língua ao longo de seu
eixo. Ele gemeu ao meu toque, jogando a cabeça para trás de prazer.
Passei minha língua em círculos em tomo de sua ponta, esperando até
que ele olhasse para mim para pegá-lo todo. Nós nos olhamos enquanto
eu lentamente construía um ritmo, movendo-o para dentro e para fora
da minha boca.
Eu estava realmente excitada por estar de joelhos na frente de Xavier.
Ele parecia tão forte e poderoso acima de mim, mas ele era tão vulnerável
ao mesmo tempo. Parecia que ele era dominante, mas de alguma forma,
eu ainda estava no controle.
Eu senti minha luxúria escorrer pelas minhas coxas.
— Angela, — ele gemeu. Eu dei alguns golpes firmes em seu eixo,
ainda mantendo-o na minha boca. Eu estava em um transe sexual, com
minha mente cheia de seu cheiro e seu gosto na minha língua. O mundo
ao meu redor caiu, e havia apenas nós e nosso prazer.
Eu ouvi sua respiração engatar e seu pau começou a ficar tenso na
minha boca.
— Angela, — ele engasgou. — Eu vou...
Meus lábios escorregaram até sua ponta. Ele olhou para mim,
desesperado.
Eu olhei para ele enquanto beijava sua masculinidade, com um sorriso
malicioso em meus lábios.
— Eu quero que você goze dentro de mim.
Xavier me pegou e quase me jogou na cama. Eu ri enquanto me
afastava dele antes que ele me prendesse. Ele pressionou em mim e eu
ansiosamente arqueei minhas costas para encontrá-lo, com cada linha do
meu corpo contra o dele.
Ele se posicionou na minha entrada antes de empurrar com força para
dentro de mim.
Eu gritei de prazer, e sua cintura me esticou, moldando-me na forma
dele. Ele meteu em mim de novo e de novo, e meus seios saltavam com
sua força.
— Oh, meu Deus, — eu engasguei, e meus olhos rolaram na parte
detrás da minha cabeça. Eu estava delirando de prazer, com minha
mente entorpecida pela luxúria.
Ele metia em mim, acertando todos os pontos certos. Eu senti meu
clímax construir como uma tempestade perfeita...
— Xavier! — Eu gritei, sem fôlego.
Suas estocadas se tomaram mais frenéticas e sua respiração estava
quente e pesada. Ele estava chegando perto também.
— Goze para mim, — eu implorei em seu ouvido. — Pode me encher
toda com você. Por favor. — Ele gemeu. Seu pau estremeceu dentro de
mim e eu senti o calor úmido de sua carga.
Isso me enlouqueceu.
Senti minhas paredes se apertarem em tomo dele, espremendo até a
última gota. Eu alcancei o olho da tempestade dentro de mim e
finalmente estava em paz.
Por alguns momentos, eu não tinha certeza de onde eu terminava e
Xavier começava. Éramos apenas um emaranhado de membros e lençóis,
superando nossa euforia.
Ele desabou na cama ao meu lado. Eu plantei pequenos beijos em seu
peito enquanto me aninhava nele, sentindo o gosto do suor em sua pele.
Estremeci com o arrebatamento, sentindo-me inteira, feliz e segura.
— Aquilo foi...
Lutei para encontrar as palavras.
. —.. incrível, — eu terminei desajeitadamente.
Xavier riu, com seus braços me apertando. Suspirei, satisfeita.
— Bem, já faz um tempo... — sua voz falhou.
Eu estava começando a cochilar quando ele falou novamente.
— Angela?
— Hmm?
— Há quanto tempo você está grávida?
XAVIER

Senti Angela enrijecer em meus braços.


Quando ela me disse que estava grávida, fiquei muito feliz.
Eu seria pai!
Eu mal podia esperar para ver Angela crescer com nosso filho, mal
podia esperar para atender a todos os seus caprichos.
Eu já podia me imaginar segurando meu filho ou filha em meus
braços.
Mas depois que fizemos amor, suas palavras começaram a me acertar
de verdade.
Ela tem estado nauseada e tonta. Ela vomitou aquela vez em que
tentamos fazer amor.
Semanas atrás.
— Angela? — Perguntei de novo.
— Estou grávida há quase três meses, — disse ela.
Meus olhos quase saltaram das órbitas. Eu senti como se tivesse
levado um soco no estômago. — Três meses? — Eu me afastei dela,
sentando-me para olhar em seus olhos. Ela se sentou, segurando um
cobertor contra o peito. Era como se ela estivesse tentando se esconder
atrás dele. — Você tem mantido o fato de que está grávida de mim por
três meses?!
Minha voz se elevou e Angela estremeceu com o meu tom. Mas agora,
eu não me importava.
Ela esteve mentindo para mim.
— Eu só sei disso há dois meses, — disse ela em voz baixa.
— Oh, isso é muito melhor, — eu sibilei.
Angela estendeu a mão para me tocar, mas eu me afastei. Levantei-me
da cama, andando de um lado para o outro em nosso quarto. Eu podia
sentir a raiva queimando minhas entranhas e tentei me acalmar
respirando profundamente pelo nariz.
Essa merda não ajudou.
Eu parei e olhei para ela.
— Por que você não me contou?
— Não era o momento certo, — ela ofereceu.
— O momento? O momento? — Eu ri uma vez, com um som quebrado
e amargo. — Nós vivemos juntos, Angela. Eu sou a porra do seu marido.
Que tipo de desculpa idiota é essa?
— Não é uma desculpa! — Ela gritou. Lágrimas brotaram e
derramaram sobre suas bochechas. — Tinha muita coisa acontecendo,
Xavier! Você tinha acabado de perder o emprego e parecia tão estressado
e desesperado. Você mal estava voltando para casa... você estava sempre
bebendo...
— Então, é isso.
Eu sabia. Eu sempre soube disso. A vingança se estabeleceu em
minhas veias como um banho de gelo.
— Eu sei que não tenho sido exatamente um exemplo brilhante de ser
um bom marido ultimamente. Mas eu não pensei que você pensasse tão
pouco em mim a ponto de esconder uma gravidez.
Eu sufoquei uma risada amarga.
— Acho que alcancei um novo nível no fundo do poço.
— Não! — Angela se levantou da cama, tentando segurar minha mão.
— Xavier, me escute. — Eu a empurrei, usando um pouco mais de força
do que eu queria. Ela caiu de costas na cama, com uma expressão de
choque e dor gravada em seu rosto.
— Não me toque, — eu murmurei. — Você tem mentido para mim.
Angela ficou em silêncio por um tempo. Ela parecia tão pequena e
fragilizada na cama. Meu instinto era de ir até ela, envolvê-la em meus
braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas eu não faria isso.
Não poderia.
Não agora.
— Você não está sendo justo, — ela sussurrou.
— O quê?
— Você não está sendo justo, droga! — Ela gritou.
Ela jogou um travesseiro em mim.
— Como eu deveria te dizer quando você estava sempre
completamente bêbado? Como eu deveria te dizer quando você mal era
você mesmo nos últimos meses? Você parecia um fantasma, Xavier! —
Ela soluçou, com lágrimas histéricas escorrendo pelo seu rosto.
— Você deveria ser o pai dos meus filhos!
Angela olhou para mim, e eu sabia que sua expressão iria me
assombrar pelo resto da minha vida.
— Você vai ser pai, — disse ela. — Mas tudo o que vejo na minha
frente é uma bagunça.
ANGELA

Lamentei as palavras assim que saíram da minha boca.


O rosto de Xavier se enrugou de dor, e levou tudo dentro de mim para
não sair da cama e acalmá-lo.
Em vez disso, deixei minhas mãos pairarem protetoramente sobre
minha barriga.
Eu tinha que ser forte.
E não apenas por mim.
— Vou voltar para Nova Iorque pela manhã, Xavier, — falei. — Não
quero fazer uma turnê com você por Tóquio, se você vai ser assim.
Eu podia ver que minhas palavras eram como punhais em seu coração,
mas ele tinha que ouvir. Eu não mentiria mais para ele.
— Talvez possamos encontrar um terapeuta ou algo assim em Nova
Iorque... — Eu o observei cambalear pela sala, jogando apressadamente
em suas roupas descartadas. — Onde você está indo?
— Vou pegar uma bebida, — ele murmurou.
Fiquei boquiaberta.
Uma bebida? Agora? Sério?!
— Lá vai você de novo! — Eu gritei. — Fugindo para o fundo de uma
garrafa! — Ele vestiu o blazer, dirigindo-se para a porta. — Droga, Xavier,
me escute!
Ele me ignorou, abrindo a porta.
— Se você for embora, não se preocupe em voltar! — Eu gritei.
Ele congelou. Ele estava parcialmente fora da porta, e seu olhar travou
no meu.
Xavier parecia um animal enjaulado. Ele abriu a boca, virando-se para
mim e, por uma segunda vez, a esperança faiscou em meu peito.
Mas então seu rosto endureceu e seus olhos ficaram escuros e
vidrados.
Ele girou nos calcanhares e fechou a porta com força.
Meu coração se partiu em um milhão de pedaços minúsculos.
Eu fiquei em posição fetal, nua e sozinha.
E eu chorei, chorei, e chorei.
Capítulo 8
P reso ao Sol Nascente

XAVIER

Eu apertei os olhos para o nascer do sol, com a luz lançando dor em


meu cérebro.
Terra do Sol Nascente, pensei amargamente.
-Está mais para a Terra da Ressaca Nascente.
Voltei-me para o bar, olhando com os olhos turvos para o copo vazio
na minha frente.
Levantei um dedo e o proprietário, que era um velho que parecia ter
saído de um filme antigo de samurai, encheu outro copo e o deslizou ao
longo do balcão. Ele não falava nada de inglês, mas não precisava.
O álcool era uma linguagem universal.
Respirei fundo pelo nariz, com o ar fresco da montanha me dando
alguma clareza de pensamento.
Tomei um grande gole de cerveja para abafar.
Foda-se a clareza.
As palavras de Angela ainda ecoavam na minha cabeça, e não importa
o quanto eu bebesse, não conseguia esquecer o que ela disse.
— Se você sair, não se preocupe em voltar A memória estava envolta em
arame farpado e não pude evitar de tentar pegá-la repetidamente.
Sinceramente, eu merecia a dor.
Depois que parti, vaguei pela vila escura até que tropecei em uma
pequena via izakaya, um pub japonês. Os banquinhos ficavam bem na
frente do balcão, a única barreira do mundo exterior eram cortinas
curtas e manchadas.
Eu tinha que admitir, ainda era um grande upgrade daquele bueiro em
Nova Iorque.
Eu tive alguns assalariados de aparência miserável como companhia
durante a maior parte da noite, mas eles se espalharam como sombras
antes do amanhecer. Eles provavelmente voltariam ao trabalho.
Eu os invejei.
Pelo menos eles sabiam o que diabos estavam fazendo todos os dias.
Meu estômago roncou para mim, claramente chateado por eu não ter
me alimentado com nada além de Sapporo e champanhe. Eu
provavelmente não estava fazendo nenhum favor ao meu fígado
também.
Eu olhei para o menu, apontando para alguns caracteres japoneses
aleatoriamente.
O proprietário acenou com a cabeça e começou a fazer o prato, com a
brasa de sua grelha antiga enchendo o ar. Eu encarei o espaço enquanto a
fumaça flutuava por mim no ar do campo.
Angela provavelmente está no aeroporto agora...
Engoli o resto da minha cerveja e, antes que pudesse colocar o copo
no balcão, encontrei outro esperando por mim.
Olhei para o proprietário idoso, mas ele já estava de volta à grelha.
Esse cara me entende.
Eu o observei cozinhar por um tempo, tentando esvaziar minha
mente de tudo e qualquer coisa.
Angela te deixou.
Porra.
Tomei outro gole de cerveja.
O proprietário se virou e colocou um prato de espetos de carne diante
de mim, e a fumaça subiu preguiçosamente no ar frio da manhã. Eu
balancei a cabeça em agradecimento antes de dar uma mordida na carne
misteriosa.
Cordeiro.
Nunca fui ã de cordeiro. Muito agressivo para o meu gosto.
Mas agora, neste izakaya no meio do nada, com apenas um velho e
quieto japonês como companhia, era a coisa mais deliciosa do mundo.
O cordeiro queimou minha língua na descida, mas eu não dei a
mínima. Eu devorei os espetos, tentando preencher a sensação de vazio
dentro de mim com algo.
Nada.
Levantei os olhos para pedir outro, mas o velho já estava colocando
mais carne na grelha.
Meu novo melhor amigo.
Fechei os olhos, deixando o cheiro de cordeiro assado rodopiar ao
meu redor.
Angela não confia em você.
Oh, Deus.
Porra.
Caramba.
Eu tomei outro gole, mas não ajudou. Afinal, era verdade. Nenhuma
quantidade de álcool mudaria o que aconteceu. Angela não confiou em
mim o suficiente para me dizer que estava grávida.
E sinceramente?
Eu não dei a ela muitos motivos para confiar em mim.
Ela estava certa.
Tudo o que ela disse estava certo.
Não era como se eu não soubesse que estava agindo como um
vagabundo. Eu estava dizendo isso a mim mesmo nos últimos dois
meses. Mas ouvir direto da boca de Angela? Essa merda doeu.
O velho japonês se virou com minha salvação e eu devorei a nova
rodada de espetos, quase saboreando a queimadura na minha língua.
Talvez não seja tarde demais, uma vozinha saltou dentro de mim. Ligue
para Angela. Talvez você ainda possa chegar ao aeroporto e pegar o voo
para casa.
O pensamento me apavorou.
E se ela me rejeitasse? A memória da encarada de Angela passou pela
minha mente, e eu me encolhi com isso. Ela parecia tão zangada.
Eu balancei minha cabeça, dando uma mordida selvagem no cordeiro.
Não seja um coitado, Xavier. E hora de ser homem.
Tirei meu celular do bolso, mas outra coisa caiu no chão também.
Eu me inclinei para pegá-lo.
Era o cartão de Shinji.
Deveria haver uma corrida em Tóquio esta noite...
Por alguma razão, o alívio me inundou.
Eu tinha uma desculpa. Uma saída.
Eu não tinha que enfrentar Angela ainda.
Mas e se ela te perdoar? Aquela voz saltou em minha mente.
Eu encarei meu celular.
E se ela não quiser?
Ah, foda-se.
Eu disquei o número.
ANGELA — Chamada final para o Portão 7, Haneda para JFK. Por favor,
tenha seu cartão de embarque e passaporte em mãos. — O anúncio do
alto-falante zumbiu em meus ouvidos, aumentando minha dor de cabeça
latejante.
Com um gemido, me levantei da minha cadeira na sala VIP e fui em
direção ao portão. Meus pés se arrastavam por causa do meu coração
partido.
Xavier realmente não estava vindo.
Você disse a ele parei não voltar, Angela.
Eu queria me bater. Eu tinha sido dura demais?
Não dormi na noite passada depois da nossa briga. Eu fiz minhas
malas em uma névoa, movendo-me no piloto automático. Nossa briga
não parecia real.
Parecia mais um pesadelo vívido do que algo que realmente
aconteceu.
Meu celular vibrou no bolso e eu fiquei sem ar, com meu coração
disparando de esperança.
Xavier?
Eu verifiquei o identificador de chamadas.
Zoe.
Eu caí de volta para a terra. Terra solitária, miserável e estúpida.
— Olá, — eu murmurei.
— Angela? O avião está embarcando agora, onde você está?
— Estou a caminho, — disse eu, com uma voz sem vida. — Vejo você
em breve.
— Oh. — Houve uma pausa. — Ok, vejo você daqui a pouco.
Eu poderia dizer pelo tom de Zoe que ela sabia que algo estava errado.
Afinal, tínhamos voado para o Japão no jato particular de Xavier. Ela teria
que ser muito estúpida para não se perguntar por que de repente
estávamos pegando um voo comercial para casa.
Primeira classe, com certeza. Mas ainda assim.
Se eu deixasse o jato aqui em Tóquio, talvez ele mesmo o levasse de
volta para Nova Iorque. Minha maneira sutil de deixá-lo saber que o
queria em casa. Mas por que eu não poderia simplesmente contar a ele?
Não. Eu tinha que me manter firme. Eu estava certa, ele estava errado.
Parecia que eu estava pescando, mas em vez de pescar, eu estava
tentando fisgar meu marido. O jato era minha isca, e minha esperança
implícita era a linha.
Pena que nunca gostei muito de pescar.
Entrei no avião e desabei em meu assento como uma pilha de tijolos.
Zoe sentou ao meu lado com uma expressão preocupada.
— Você está bem? — Ela perguntou.
— Eu pareço bem? — Eu soltei.
Zoe piscou surpresa, e eu imediatamente me senti culpada. Nada
disso era culpa dela. Ela não merecia minha maldade.
— Desculpe, Zoe, — eu suspirei, afundando ainda mais na minha
cadeira. — Estou uma bagunça agora.
— E mesmo? — Ela perguntou sarcasticamente. — Eu nunca teria
notado.
Revirei os olhos, mas ela conseguiu arrancar um pequeno sorriso de
mim.
— Xavier estava sendo um idiota? — Ela perguntou. Eu abri minha
boca, meu primeiro instinto de defendê-lo, mas então fiz uma pausa. Eu
estive tentando ajudá-lo com seus problemas pacientemente por
semanas agora. O mínimo que ele podia fazer era tentar entender o que
eu estava passando.
— Sim, — eu disse. — Meio que sim.
Não senti nenhum tipo de alívio com as palavras. Não houve um
momento justo de convicção.
Apenas uma tristeza profunda e pesada.
Zoe estendeu a mão para apertar a minha.
— Tenho certeza de que ele vai mudar de ideia, — ela disse, piscando
para mim. — E se ele não fizer isso, vou colocar um pouco de bom senso
nele para você! — Ela flexionou, empurrando seus bíceps inexistentes.
Tentei rir, mas meu coração não estava presente.
— Obrigada, Zoe.
— Vou arrumar o resto da papelada quando chegarmos em casa. Você
deveria reservar um tempo para si mesma.
— Mas
— Não, sem mas. — Zoe se acomodou em sua cadeira, ajustando o
travesseiro luxuoso atrás da cabeça. — Seu trabalho agora é descansar
um pouco e colocar os pés debaixo de você, ok?
— Ok.
Zoe acenou com a cabeça, abaixando sua máscara de dormir.
Seguindo seu exemplo, abaixei a minha também finalmente, caí em
um sono leve.
As portas do elevador abriram, e a cobertura escura aparecia diante de
mim. Normalmente, voltar para casa era um grande alívio após um longo
dia de viagem. Eu jogaria minhas malas no chão, chutaria meus pés e
suspiraria de alívio.
Mas agora a cobertura não parecia um lar.
Era apenas um lugar. Um lugar vazio.
Eu me forcei a entrar antes que as portas do elevador fechassem,
deixando minhas malas na sala de estar. Meus pés me levaram
automaticamente para o nosso quarto, mas parei com a mão na
maçaneta.
Eu me virei e fui para o outro quarto em vez disso. O quarto em que
dormi antes de Xavier e eu sermos um casal de verdade.
Eu desabei sobre as cobertas, com uma exaustão profunda me
oprimindo.
Eu encarei o teto, com um buraco no meu peito.
Desejei que Zoe não tivesse pegado o resto da papelada. Foi um gesto
gentil, mas me deixou sem nada para fazer.
Eu não tinha nada para fazer a não ser me afundar em meus
pensamentos.
Lágrimas brotaram de meus olhos, mas eu as afastei. Eu pulei da cama
e fui para o banheiro para um banho de espuma.
Quando a água estava boa e com espuma, eu afundei, deixando a água
perfumada limpar minha pele.
Eu descansei minhas mãos sobre minha barriga e fiquei surpresa ao
descobrir que havia uma pequena protuberância crescendo ali.
Eu ri, mas saiu mais como um soluço.
— Pode ser apenas você e eu agora, — eu sussurrei para o meu bebê.
— Vai ficar tudo bem.
De repente, senti um impulso protetor dentro de mim, tentando
afogar a solidão esmagadora em meu coração. Quase deu certo.
Mas não exatamente.
— Tudo vai ficar bem, — eu repeti.
Capítulo 9
Tentações

XAVIER

O mundo tremeu, meu corpo era um escravo do baixo estrondoso que


pulsava no ar. Um mar de corpos se agitou e balançou ao meu redor ao
ritmo da música.
Eu não sabia o que diabos estava acontecendo — e eu adorei.
Eu não precisava pensar.
Apenas sentir.
As luzes piscantes eram hipnóticas, o cheiro de suor e perfume era
estonteante. Senti corpos se esfregando contra mim, mãos tateando e
acariciando, e me perdi em um labirinto de prazer.
De repente, uma mão áspera agarrou meu ombro e me virei para
encontrar Shinji sorrindo para mim como um maníaco. Ele me entregou
um copo do que eu presumi ser álcool e uma pílula de sabe-se-lá-o-quê.
Ele ergueu seu próprio copo, com uma pílula idêntica já em sua
língua.
Eu pus a coisa pra dentro sem hesitar.
Instantaneamente, um calor intenso se espalhou no meu estômago e
em minhas veias.
Oh, isso é foda, sim.
Ele gesticulou para que eu o seguisse e, juntos, vadeamos por entre a
multidão de festeiros empolgados.
Finalmente conseguimos sair da rave, com o estacionamento
subterrâneo praticamente tremendo ao nosso redor. Carros lotados
estavam alinhados em fileiras diante de nós, seus capôs levantados,
mostrando os motores bestiais lá dentro.
Os entusiastas de carros vagavam entre eles com câmeras caras em
volta do pescoço. Eles tiraram fotos dos supercarros e das modelos
seminuas curvadas sobre o capô ou deitadas nos telhados.
Shinji jogou o braço por cima do meu ombro enquanto colocava um
maço de dinheiro em minhas mãos.
— Ryuuga ganhou ontem à noite, — ele gritou por cima da música. —
Seu filho da puta — como você sabe? Tinha colocado 10K no Shogun Eu
sorri, abanando o maço em minhas mãos.
Uns sessenta mil.
Era conveniente que eles apostassem principalmente em dólares
americanos. Eu não queria a dor de cabeça de lidar com milhões de ienes
com cada aposta.
— Claro, Shogun tinha especificações melhores, mas eu não gostei da
aparência do motorista. Ryuuga por outro lado, ele parecia ter bolas de
aço.
— Como se você soubesse alguma coisa sobre bolas de aço, — Shinji
atirou de volta.
Eu o empurrei e nós dois tropeçamos em um carro, rindo como
idiotas.
Um coro de gritos nos expulsou. Shinji lançou de volta o que eu
presumi ser uma série de palavrões japoneses. Minha contribuição foi um
dedo médio.
Shinji se virou para mim, saltando para cima e para baixo, me
incentivando.
— Vamos, quero que você conheça alguém.
Entramos em um elevador, e a música estrondosa foi reduzida a um
ruído de fundo abafado. Shinji jogou uma bebida energética em mim e
eu a abri, com minha cabeça zumbindo.
Há quanto tempo estou em Tóquio agora?
Uma semana?
Duas?
Era fácil perder a noção do tempo no mundo veloz e furioso das
corridas subterrâneas. Tentei pensar no passado, mas minha memória
era um borrão de carros velozes, jogos de azar e muito, muito álcool.
Eu definitivamente tinha chamado a atenção de muitas mulheres.
Dinheiro e carros excitavam essas garotas como se fosse um interruptor.
O velho eu teria fodido cada uma.
Mas eu era diferente agora.
Casado.
Mesmo se minha esposa tivesse basicamente me dito para ir embora.
O elevador apitou e abriu.
Eu ouvi o alerta de um motor. Quase um segundo depois, três carros
passaram correndo na nossa frente, com seus pneus cantando enquanto
derrapavam no cimento. O cheiro de borracha queimada, fumaça e
gasolina premium encheu o ar, e eu inalei tudo como um viciado.
Shinji saiu para o telhado do complexo de estacionamento, onde havia
outra frota de supercarros em exibição. Passamos pelas fileiras,
caminhando em direção a um Acura NSX GT3 personalizado.
Admirei o design aerodinâmico e elegante, no qual o acabamento em
preto fosco engolia a luz ao seu redor. O capô foi aberto e parecia haver...
uma bunda saindo dele?
Porra, essas drogas estavam me atingindo com força.
Eu balancei minha cabeça e pisquei com força, mas a bunda ainda
estava lá.
Uma bunda gostosa e bem torneada.
— Azusa! — Shinji gritou.
A bunda, ao que parece, estava ligada a uma mulher.
Azusa se virou, colocando as mãos nos quadris. Ela usava um macacão
de mecânico, tão justo em suas curvas que a roupa deixava pouco para a
imaginação. O zíper da frente estava aberto, deixando sua barriga
tonificada e o sutiã cheio exposto.
Ela tinha olhos escuros e deslumbrantes, além de lábios carnudo e
longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo solto. Ela tinha um
pouco de fuligem na bochecha, suor escorrendo pelo pescoço e pela
frente.
Droga, ela é gostosa.
Shinji disse algo em japonês, e ela respondeu rapidamente, me
olhando de cima a baixo.
— Konnichiwa, — eu tentei.
— Seu japonês é terrível, — ela respondeu em um inglês perfeito.
— Seu inglês não é tão ruim, — eu atirei de volta.
— Xavier, este é Azusa, — Shinji interveio.
Azusa cruzou os braços enquanto me avaliava, inadvertidamente
empurrando seus seios incríveis juntos. Senti algo se agitar em minha
virilha e desviei meu olhar.
— Tem certeza que ele está pronto para isso? — Ela perguntou a
Shinji.
— Ah, sim, — disse Shinji. Ele me deu um tapinha nas costas. — Esse
cara é a porra de um garanhão.
— Pronto para quê? — Eu perguntei.
— Meu bebê, — Azusa deu um tapinha carinhoso no teto do carro, —
vai correr em poucos dias. Mas meu maldito motorista me irritou.
— Yusuke quebrou o pulso, — Shinji a lembrou.
— Você ainda pode dirigir com o pulso quebrado, — disse Azusa,
impassível. — De qualquer forma, estou sem motorista. E Shinji
recomendou você, bonzão.
— Uau, espere um pouco, — eu disse. — Você me quer atrás do
volante? Não corro desde Mônaco, Shinji.
Olhei para o carro e não pude deixar de me imaginar dirigindo.
Imaginei o motor gritando embaixo de mim, com a sensação do carro
mudando de marcha ao meu toque.
— Você tem o sangue de um piloto, Xavier, — disse Shinji, inclinando-
se. — Além disso, Azusa ficaria muito grata. — Ele balançou as
sobrancelhas para mim.
— Pare com isso. — Eu ri, socando seu ombro.
Azusa nos observou com um brilho nos olhos. Ela abriu a porta do
lado do motorista.
— Entre, bonzão. Veremos se ainda não podemos seduzi-lo. — Ela me
deu uma piscadela.
Eu entrei, e o assento de corrida de couro moldou-se a mim como se
eu fosse feito para ele.
Ela se inclinou, com os braços apoiados no teto do carro de forma que
seu peito ficasse bem na frente do meu rosto. Ela cheirava a uma flor
exótica.
Eu balancei minha cabeça.
Porra! Porra! Porra!
— Espere, você pode dirigir manualmente, certo? — Ela perguntou,
acenando com a cabeça para o câmbio manual.
— Você está mesmo perguntando isso? — Eu zombei.
Ela sorriu.
— Motores V6 duplos turboalimentados de 3. 5 litros. Chassis de
última geração. Tudo o que você poderia querer em um carro.
— A caixa de câmbio? — Eu perguntei.
— Corrida com mudanças sequenciais em seis velocidades. — Ela se
virou para mim, com um olhar de aprovação em seus olhos. — Você sabe
das coisas.
Eu ri. Essa garota era uma cabeça de engrenagem total. Eu me vi mais
interessado nela, nosso amor mútuo por carros era uma atração fácil.
Passei minha mão sobre o painel.
— Ela tem um nome? — Eu perguntei.
— Izamami.
— Linda, — eu respirei.
— Então, você está dentro ou fora? — Ela perguntou, com seus olhos
brilhando.
Coloquei minhas mãos sobre o volante, segurando-o com força.
— Estou dentro.
— AÊ, CARALHO! — Shinji gritou, socando o ar.
— NÓS TEMOS UM ESQUADRÃO!
— Ei! Calma lá! — Azusa riu.
Ela se virou para mim com um sorriso malicioso.
— Mostre-me como você é bom em lidar com um câmbio manual,
bonzão.
ANGELA
Eu encarei a imagem no ultrassom, boquiaberta em descrença.
Eu pisquei, esfregando meus olhos. A imagem ainda estava lá.
— Parabéns, Angela, — Dr. Carmichael sorriu. — Você vai ter gêmeos!
Gêmeos?
— Ei, doutor, — comecei.
— Leo, — ele me lembrou.
— Ei, Leo, — eu emendei. — Você pode me beliscar?
Ele riu da minha expressão atordoada.
— Desculpe, Angela, mas eu fiz um juramento. Não faça mal, e tudo
mais.
— Eu não direi se você não contar, — eu prometi.
— Talvez se você me pegasse fora do horário de trabalho, — disse ele
com uma piscadela, — caso contrário, você simplesmente terá que
acreditar na minha palavra.
— Gêmeos, — eu repeti. — Uau.
— Essa geralmente é a reação às notícias. — Ele começou a limpar o
gel na minha barriga. — Seu marido não pôde vir de novo?
Meu coração deu um pulo, e minha expressão se desfez.
— Oh, não, — eu disse. — Ele está ocupado.
Ele sorriu, tentando me animar. — Bem, você pode ligar para ele com
as novidades! Tenho certeza que ele ficará emocionado quando souber.
Eu balancei a cabeça, embora não acreditasse.
Ele provavelmente nem atenderia.
O Dr. Carmichael terminou de me limpar e se levantou para sair. —
Bem, eu diria que este checkup foi um sucesso! Te vejo a seguir — Nós
brigamos, na verdade, — eu disse antes que pudesse me conter. De onde
veio isso? Por que eu estava contando a ele?
Ele voltou a sentar-se.
— Você está bem? — Ele perguntou com preocupação genuína.
— S-sim, — eu gaguejei. — Desculpe, eu não queria colocar isso em
você.
— Não tem problema. — Ele balançou a cabeça, sorrindo. — Se quiser,
podemos conversar sobre isso.
Eu hesitei. Eu realmente deveria falar sobre isso com meu médico?
— Estamos... passando algum tempo separados, — eu disse
lentamente. — A gravidez veio em um momento estranho.
O Dr. Carmichael estendeu a mão para colocar sua mão sobre a minha
e deu um aperto suave. Seu toque era quente e reconfortante.
— A gravidez pode ser uma coisa muito estressante, — disse ele. — É
natural que às vezes cause algum atrito entre os casais. As coisas vão ficar
bem, eu prometo.
Eu balancei a cabeça, levando suas palavras a sério. Eu olhei em seus
olhos e descobri que me sentia mais calma. Mais no controle.
— Obrigada, doutor... er... Leo. Isso ajuda muito.
Ele sorriu, apertando minha mão novamente antes de se levantar.
— Vejo você novamente em algumas semanas.

Suspirei quando desliguei, o correio de voz de Xavier foi cortado.


Deixei o Japão há quase duas semanas. Ele realmente não voltaria? Eu
esperava pelo menos ser capaz de ligar para ele, mandar mensagem,
qualquer coisa.
Eu esperava que ele estivesse bem.
Ele estava pensando em mim?
Eu pus as mãos na minha barriga, lenta mas seguramente ficando
maior.
Ele estava pensando em nossos filhos?
Ultimamente, andava por aí com uma ferida aberta no peito. Parecia
que havia uma cratera onde meu coração deveria estar.
Eu andava como um zumbi, apenas seguindo os movimentos da vida
diária.
Sentei-me de pernas cruzadas na minha cama. O silêncio na cobertura
era ensurdecedor.
Lucille estava de férias prolongadas com o marido na Itália e só
voltaria depois do ano novo.
Eu me senti tão sozinha. As paredes ao meu redor estavam se
fechando.
Então, uma ideia me atingiu e abri meu telefone mais uma vez.
Angela: Ei, meninas! Alguém quer uma festa do pijama na minha
casa em breve? Tenho novidades para compartilhar Dustin: OMG.
SIM. Eu também tenho novidades Em: Temos que nos atualizar!
Vou dizer ao Lucas que vou sair à noite com as meninas Zoe: Sim,
sim, sim, sim!!
Eu sorri enquanto trocamos mensagens de texto, planejando para a
noite.
Acho que é exatamente disso que preciso.
Capítulo 10
Alguma Empresa Assustadora

ANGELA

— Doçuras ou travessuras!
Eu fiquei no elevador, atordoada. Em, Dustin e Zoe estavam todos
bem vestidos.
Em usava um chapéu de bruxa ridiculamente grande e Dustin parecia
uma espécie de pirata. Zoe, pelo menos, estava usando roupas normais.
— O que você deveria ser? — Eu perguntei a Zoe.
— Um serial killer, — ela disse, com o rosto sério.
— Huh? — Ela estava vestindo roupas casuais.
— Como isso pode ser um assassino em série?
— Porque você nunca pode notar quem ele é, — ela riu.
Eu revirei meus olhos.
— Vocês sabem que o Halloween foi semanas atrás, certo?
— Sim, mas nunca mais podemos nos vestir assim, — disse Em.
— Agora, deixe-nos entrar antes que você receba travessuras! —
Dustin ameaçou.
— Oh, não, sem travessuras! — Eu me afastei, deixando-os passar por
mim. Eles carregavam sacolas cheias de doces e salgadinhos. Zoe tinha
uma grande caixa de donuts.
Eu os segui até a sala de estar, que eu havia convertido em um glorioso
forte de travesseiros.
— Você trouxe os picles? — Eu perguntei a Em.
— Sim. — Ela se aproximou, entregando-os discretamente como se
estivéssemos traficando drogas.
Eu ri, escondendo meu prêmio nas minhas costas.
— Picles e donuts? — Dustin perguntou, com seu nariz enrugando em
desgosto.
— Eca, — Zoe concordou.
— Eu sou uma escrava dos meus desejos, — eu proclamei, e Em
acenava sabiamente ao meu lado. — O que você trouxe, Em?
— Rabanetes, — disse Em, com o rosto impassível.
— Rabanetes e mostarda.
Zoe engasgou.
— Cara, estou feliz por ter um pau, — Dustin riu.
Zoe vaiou.
— Vai, Time Sem-Pau! — Ela cantou.
Nós caímos na risada enquanto rastejamos para o forte de
travesseiros, que eu tinha enfeitado com luzes de Natal. Cada um de nós
tomou um canto, organizando nossos lanches como um bufê dos sonhos
das crianças. Zoe e Dustin se encolheram com minha combinação de
picles e donut.
— Então, — eu comecei. — Quem vai primeiro?
Todos nós olhamos para Dustin.
Ele sorriu.
— Bem, se todos vocês insistem, — ele gemeu dramaticamente. — Eu
pedi Jake em casamento!
Um coro animado sacudiu o forte enquanto nos atropelamos para
obter detalhes.
— Ele adora coisas sentimentais, então eu o levei para os Hamptons
por um fim de semana. Eu o levei ao longo da praia ao pôr do sol — Oh,
meu Deus! — Zoe disse.
Dustin a olhou de relance. — E enquanto caminhávamos, eu o levei a
uma tela e cavalete que eu havia montado antes — Isso é tão romântico!
— Zoe interrompeu. Em e eu colocamos nossas mãos em sua boca.
— Então, — continuou Dustin, — fiz com que ele posasse para mim
enquanto o pintava na praia ao pôr do sol.
— Ele ficou parado o tempo todo? — Em perguntou.
— Ele estava ficando impaciente, — Dustin riu.
— Nunca pintei tão rápido na minha vida. — Seus olhos vidrados
enquanto ele revivia a memória.
— Ele pensou que eu estava apenas pintando um retrato dele. Mas
quando mostrei a pintura a ele, eu me pintei de joelhos, propondo. Então
eu me ajoelhei e...
Dustin encolheu os ombros e sorriu radiante.
— Ele disse 'sim'.
Eu me senti derreter.
— Oh, Dustin, — eu suspirei.
— Que sonho, — Em concordou.
— Onde posso encontrar um cara hétero como você, Dustin? — Zoe
perguntou.
— Em lugar nenhum. Eu sou único! — Ele jogou fora algumas mãos
de jazz, parecendo absolutamente ridículo em sua roupa de pirata.
— Então, como você está, Em? — Dustin perguntou depois de uma
rodada de risos.
— Lucas e eu finalmente encontramos uma casa, — disse ela.
— Isso é incrível, Em! — Eu me aproximei e dei um abraço nela.
— Precisa de reformas, mas é realmente em um ótimo local com um
quintal enorme. Não é muito longe da casa do seu pai em Nova Jersey,
Angie. — Em sorriu. Ela era a imagem da felicidade. — Eu realmente
posso ver Bella crescendo lá.
— Estou com um pouco de inveja de todos vocês, — Zoe admitiu
enquanto mastigava alguns ursinhos de goma. — Ainda estou
procurando o homem certo.
— Você não precisa de um Sr. Certo, — disse Dustin.
— Você só precisa de um Sr. Certo Agora.
— Oh, por favor, — Zoe disse. — Todos aqui são casados, menos eu.
— Noivos, — Dustin corrigiu.
— Que seja.
Eu dei uma mordida no meu donut de chocolate, imediatamente
seguindo com um picles crocante enquanto os ouvia brigar.
Mmm, é isso.
Eu me sentia mais leve do que há semanas. Eu passei a maior parte do
meu tempo sozinha, me preocupando com Xavier. Estar em tão boa
companhia era revigorante. Eu realmente tinha amigos incríveis.
— Angela? — Em perguntou.
Eu pisquei.
— Huh?
— O que você queria nos dizer?
— Oh. — Eu sorri timidamente. — Estou tendo gêmeos.
Os três explodiram de animação. Tive de segurar o forte de
travesseiros para evitar que desabasse em cima de nós.
— Gêmeos! — Em gritou.
— Oh, eles vão ser tão adoráveis. — Zoe rastejou até mim, colocando
sua orelha na minha barriga.
— Eu não acho que você vai ouvir nada ainda, — eu ri.
— Você já pensou em nomes? — Perguntou Dustin. — Que tal o
pequeno Dustin e o pequeno Stirling?
— Ah, sim, com certeza. — Eu revirei meus olhos. — Não, eu
realmente não pensei sobre isso ainda. Eu nem sei sobre os gêneros.
— O que Xavier disse? — Zoe perguntou.
O clima mudou instantaneamente.
— Oh, uh, — eu gaguejei. — Ele ainda não sabe. Ele não tem atendido
o telefone no Japão.
Dustin olhou para Zoe, e eu a vi se encolher.
— Oh, desculpe, Angela...
— Ei, sem problemas! — Eu disse um pouco alto demais, forçando
uma risada. — Tenho certeza que ele vai mudar de ideia.
— Garota, foda-se ele, — disse Dustin.
— Duh, ela está grávida, — Zoe disse.
— Cale-se. — Dustin revirou os olhos para Zoe. — Angela, você não
precisa dele.
— Huh? — Sobre o que Dustin estava falando?
— Você é uma das mulheres mais fortes que conheço, — continuou
Dustin. — Você teve uma vida antes de Xavier, e você pode ter uma vida
depois dele, também.
— Além disso, se você não percebeu... — Dustin abriu os braços. —
Você é podre de rica! Você vai sobreviver.
Eu bufei.
O pensamento nunca passou pela minha cabeça.
Uma vida sem Xavier...
Eu poderia ser uma mãe solteira?
Meu coração apertou dolorosamente no meu peito, e minha
respiração vinha em suspiros leves. Meu corpo rejeitou a ideia com tanta
veemência que me deixou atordoada.
Pensei na minha infância. Crescendo sem minha mãe. Papai fez um
trabalho incrível, mas me lembro de sempre ter saudades da minha mãe.
Lembrei do ciúme que sentia quando via meus amigos em shows da
escola e em peças com ambos os pais.
Eu não queria isso para meus filhos.
Mas se Xavier nunca mais voltasse...
Antes que eu pudesse pensar muito sobre isso, Em se aproximou e me
envolveu em um abraço caloroso.
Respirei fundo, com os braços dela em volta de mim como uma
âncora.
— Você realmente deveria contar a Ken, Angie.
O rosto do papai surgiu em minha mente.
— Sim, — eu concordei. Eu tinha escondido a notícia por tempo
suficiente.
Eu sorri, imaginando a expressão em seu rosto quando eu disser a ele.
— Ele vai pirar totalmente.
XAVIER

Eu aprendi que Izanami, homônimo do carro, vinha da mitologia


japonesa. Ela era a deusa da criação e da morte; a temida senhora do
submundo, que jurou que mataria mil pessoas todos os dias depois que
seu marido a abandonou na terra dos mortos.
Quando perguntei a Azusa por que ela batizou seu carro com o nome
de um monstro, um sorriso de lobo se espalhou em seu rosto.
— Porque Lady Izanami é uma puta malvada.
Acelerei o motor e o escutei rugir, sentindo o carro ganhar vida ao
meu redor.
Puta malvada não define nem a metade.
— Ouça o ronco dela, — disse Azusa no meu fone de ouvido.
Azusa estava sentada ao lado da área de observação, com um laptop
no colo. Seus cabelos negros caíam debaixo do fone de ouvido, seus
minishorts eram um claro perigo de trânsito com quantas cabeças ela
estava virando.
Shinji estava ao lado dela, mastigando um saco de ervilhas wasabi.
— Todos os sistemas estão verdes, — disse ela, digitando. — É um
circuito simples, Xavier. Três curvas e uma reta até o final.
— Dê uma surra nele por mim.
Olhei para a minha direita para ver o idiota mencionado acima
olhando para mim enquanto cutucava o nariz, com seu cabelo espetado
fazendo-o parecer um porco-espinho com cocaína. Ele estava em um
mustang clássico, vestindo uma jaqueta de couro direto dos anos 1950.
Um gosto horrível pra cor alho.
Uma modelo passeou pela estrada na nossa frente, com uma tira de
pano vermelho nas mãos. Ela o ergueu acima da cabeça.
— Prepararem-se! — Ela avisou.
As pessoas aglomeravam-se nas margens das ruas desertas, sem
dúvida limpas por meios duvidosos. As luzes da rua piscaram no ar
noturno enquanto o mundo prendia a respiração.
O pano caiu.
O silêncio foi quebrado. Motores barulhentos e pneus guinchando
rasgaram o asfalto.
Fui jogado no assento enquanto decolava como uma bala, deixando
uma parte de mim mesma na poeira atrás de mim. Era a parte de mim
que continha todas as minhas preocupações, todas as minhas
inseguranças. Minha tensão se dissipou, substituída por uma excitação
inebriante.
Pisei na embreagem, mudando as marchas tão naturalmente quanto
respirava, com a adrenalina correndo em minhas veias.
Isso é o que estou procurando.
A primeira curva veio em minha direção e eu pisei no freio, sacudindo
o volante para enviar Izanami para o lado na curva. Eu pisei no
acelerador, o motor gritando enquanto eu mantinha o equilíbrio
delicado entre uma derrapagem elegante e um desgaste embaraçoso.
Saí disparado da primeira curva, girando o volante enquanto
estabilizava o carro na próxima reta.
Eu sorri como um maníaco e meu coração bateu como uma
britadeira.
Uma imagem perfeita pra caralho.
— É assim que se faz! — Azusa gritou no meu fone de ouvido. — Não
desista, X! Ele está bem atrás de você!
Eu olhei no espelho retrovisor por meio segundo. Azusa estava certa.
Nossos para-choques estavam praticamente se tocando.
A próxima curva veio correndo em minha direção. Comecei a aliviar
para a minha próxima derrapagem quando vi o mustang dar uma
guinada imprudente e selvagem, forçando-me a saltar por fora e dar
espaço. O outro carro passou rugindo por mim e lutei com o volante,
meus músculos se esforçando para não bater na calçada.
— Idiota de merda! — Eu gritei com os dentes cerrados.
Azusa disparou uma rajada de xingamentos japoneses em meu
ouvido. Eu não precisava falar a língua para saber que o que ela estava
dizendo não era bonito.
Enteio é assim que vai ser?
Eu apertei o volante com muita força, batendo no acelerador. Izanami
rugiu embaixo de mim, tão chateada quanto eu.
E melhor você torcer para que seu carro ganhe asas, idiota, porque estou
indo atrás de você.
Capítulo 11
Uma Confusão Espumosa

XAVIER

Eu vim girando para fora da curva final, pescoço a pescoço com o


idiota arrepiado no mustang. Nós nivelamos a reta, com nossos motores
acelerando enquanto forçamos nossos carros até seus limites.
Eu lancei um olhar para ele e descobri que ele estava olhando na
minha direção, com um sorriso selvagem em seu rosto encharcado de
suor.
Eu mostrei o dedo do meio para ele enquanto colocava Izanami na
próxima marcha.
Coma minha poeira, idiota.
Eu me afastei dele, decolando como um foguete pelas ruas vazias de
Tóquio e cruzando a linha de chegada.
Eu parei bruscamente, queimando pneu para uma boa comemoração.
— Exibido, — Azusa riu no meu fone de ouvido. Eu pulei para fora do
carro, emergindo vitorioso de uma nuvem de fumaça, com o cheiro de
borracha queimada e gasolina carregado no ar.
Câmeras piscaram.
Pessoas aplaudiram.
Eu me senti vivo.
Nos últimos meses, fui um perdedor. Um vagabundo. Uma desculpa
patética para um homem.
Quanto tempo se passou desde que fui um vencedor?
Eu levantei meu punho no ar, rugindo com poder. Eu olhei ao meu
redor para todos os rostos apaixonados, engolidos pelos gritos e aplausos.
Eu poderia me acostumar com isso.
Azusa saiu correndo da multidão e praticamente se lançou sobre mim.
Ela colocou os braços em volta do meu pescoço, as pernas em volta da
minha cintura enquanto ela ria sem fôlego em meu ouvido.
Ela se afastou para olhar para mim, seu rosto a centímetros do meu.
Ela estava sorrindo de orelha a orelha, e disse algo animadamente em sua
língua nativa.
— Em inglês! — Eu exigi.
— Você conseguiu! — Ela gritou acima da multidão.
— Mandou bem, foi um tiro certeiro!
Ela se inclinou para mim, apoiando o queixo no meu ombro. Eu podia
sentir seus seios pressionados em meu peito.
— Oi, Sasuke! — Ela gritou para o espinho de porco-espinho saindo
do mustang. — Vá se foder, vadia!
Shinji se materializou na multidão segurando algo nas costas. Azusa
se desvencilhou de mim e olhou desconfiada para Shinji. Ele sorriu
maliciosamente.
— Shinji... — ela avisou.
Shinji revelou a maior garrafa de champanhe que eu já vi.
— Não se atreva, — ela sibilou.
— YEEAAAHHHH! — Shinji gritou, abrindo a garrafa e regando
Azusa e eu com champanhe. Um grupo de outras garotas segurando
garrafas se juntou a eles, e os próximos momentos foram um borrão de
olhos ardentes e chuveiros espumosos.
Eu ri enquanto era banhado pela celebração, me sentindo mais leve do
que há meses. Azusa gritou e riu ao meu lado, seu braço enroscado no
meu.
Quando o champanhe secou, ela se afastou de mim, torcendo o álcool
para fora do cabelo. Eu não pude deixar de admirar seu corpo gotejante.
Quando ela lambeu os lábios para tirar o champanhe, me peguei
pensando que também não me importaria de provar.
Eu balancei minha cabeça.
O que diabos estou pensando?
Shinji jogou os braços em volta de nós dois.
— Você sabe o que precisamos fazer agora?
— Tomar um banho? — Azusa deu um tapa no estômago dele.
— Não! Ir para a balada, baby! — Shinji acenou em tomo de uma
grande pilha de dinheiro.
— Bem, não vamos levar meu carro para lá, — disse Azusa. — De jeito
nenhum vamos deixar meus assentos pegajosos.
Eu bati de volta outra dose, com a tequila queimando enquanto
descia. A rodela de limão estava na mesa à minha frente, mas resisti à
vontade de pegá-la.
— Vá em frente, — Azusa gritou por cima da música. — Eu sei que
você quer.
— Não, — eu gritei de volta. O bar ofereceu sua própria marca
especial de tequila, e havia o desafio de tomá-la sem nada. O gosto era
horrível pra caralho e minha garganta estava queimada, mas eu não
cederia.
Azusa me desafiou a fazer isso, então obviamente eu tinha que provar
que ela estava errada.
— Eu nem sinto isso, — eu menti.
— Tão durão, — Azusa disse sarcasticamente. Ela também tirou uma
foto e piscou antes de chupar uma fatia de limão.
— Ei! — Eu protestei.
— Eu prefiro ser inteligente do que durona, — ela brincou.
Ela mostrou a língua para mim antes de se derreter na pista de dança,
com seus olhos me desafiando a segui-la.
Pirralha atrevida.
Eu empurrei a multidão, perseguindo-a por um labirinto de corpos se
contorcendo. A música balançou meus ossos, com o álcool aumentando
minha emoção da corrida. Eu finalmente a alcancei, agarrando seu pulso
antes que ela pudesse se desviar.
Ela girou de volta para o meu peito, com seu corpo girando com a
batida. Eu dancei com ela, e minhas mãos mapearam a forma de suas
curvas. Sinais de alarme soaram em minha mente, mas foram
entorpecidos pelas substâncias em mim. Meu mundo encolheu, meu
único foco era a sensação de seu corpo no meu.
Eu senti a excitação crescendo em minhas calças. Rezei para que ela
não pudesse sentir minha ereção furiosa.
Mas, claramente, ela sentiu.
Ela sorriu timidamente para mim, sem medo da atenção extra. Ela se
virou e pressionou sua bunda em minha dureza, esticando-se para cima
de sua cabeça para enrolar os braços em volta do meu pescoço. Ela se
firmou em mim e eu gemi enquanto me empurrava para mais perto.
Suas mãos desceram do meu pescoço, alcançando atrás dela para
apalpar meu pau.., Angela.
Eu congelei, com minha respiração presa na minha garganta. O rosto
de minha amada esposa apareceu em minha mente.
Puta merda, que porra estou fazendo?
Eu me afastei de Azusa, escapando o mais rápido que pude do clube e
para a noite. Eu respirei fundo, com o ar fresco congelando em meus
pulmões.
Eu precisava limpar minha cabeça.
Apenas alguns minutos para me endireitar.
A loucura da noite estava me alcançando.
Eu me bati algumas vezes para garantir, a dor fez meus dentes
baterem.
Recomponha-se, Xavier, eu me repreendi.
— Eu não sabia que os meninos americanos eram tão tímidos.
Eu olhei para cima para encontrar Azusa olhando para mim, com as
mãos nos quadris. A julgar por suas bochechas avermelhadas, ela também
estava bêbada.
Ela caminhou em minha direção com um andar que parecia selvagem.
Ela era uma tigresa à espreita, circundando sua presa.
Meu coração batia forte no meu peito.
— Azusa, ouça, — comecei, tentando me explicar.
Mas antes que eu pudesse reagir, antes que eu pudesse piscar, ela me
interrompeu.
Seus lábios pressionaram contra os meus.
ANGELA
— Estou tendo gêmeos.
A cerveja do papai escorregou de seus dedos, fazendo uma bagunça
espumosa no chão da cozinha.
— Caramba, pai, — eu disse, me levantando para pegar uma toalha de
papel.
Ele me impediu de ficar de pé, colocando as mãos nos meus ombros.
'Você está brincando comigo? — Ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça e guiei suas mãos até meu estômago. Eu
estava vestindo um grande suéter de lã que escondia minha figura, então
ele não poderia notar à primeira vista.
Seus olhos esbugalharam-se quase tanto quanto a protuberância na
minha barriga, que ficava maior a cada dia.
Eu observei quando ele ficou com os olhos turvos. Um enorme sorriso
se espalhou por seu rosto, com os pés de galinha ao redor de seus olhos
se aprofundando. Eu nunca tinha realmente percebido como meu pai
estava ficando velho, mas agora, olhando para as rugas em sua pele e as
linhas ao redor de seus olhos, estava dolorosamente claro.
Comecei a chorar também, e ele me abraçou com força, com cuidado
para não esmagar minha barriga.
— Oh, filhinha. Estou tão feliz. — Sua voz falhou, cheia de emoção.
Eu meio que ri, meio que solucei.
— Eu também, pai.
Senti um enorme peso desaparecer dos meus ombros. Eu não percebi
o quanto esconder isso do meu pai estava me afetando.
Ele deu um passo para trás.
— Por que você não me contou antes? Você tem uma grande barriga já
aí.
Minha expressão se desfez.
— Eu... eu não sei, — eu disse verdadeiramente.
Talvez fosse porque eu estava muito estressada com a minha situação
em casa. A vida de Xavier estava uma bagunça, e agora parecia que nosso
casamento também estava.
Eu queria dar a notícia a papai de um lugar de pura felicidade e
entusiasmo, mas parecia que se eu contasse a ele antes de tudo ser
resolvido, isso teria contaminado as coisas de alguma forma.
Como se as notícias fossem menos especiais.
Eu esperei e esperei por alguma palavra de Xavier, mas as semanas
voaram sem nem mesmo uma mensagem.
Senti o buraco em meu peito se instalar e se expandir, ameaçando me
engolir por completo. Eu cerrei meus dentes, me forçando a me segurar.
Eu não iria desmoronar na frente do papai.
— Acho que só queria esclarecer meus sentimentos primeiro. Eu sinto
muito.
Ele apenas balançou a cabeça e sorriu.
— Contanto que tudo esteja bem. — Ele fez uma pausa e olhou para
mim com olhos perscrutadores. Sua garantia soou mais como uma
pergunta.
— A cerveja está se espalhando, — eu disse, evitando a pergunta.
— Sente-se, eu darei um jeito, — disse ele. — Você vai ser mamãe,
afinal.
Sentei-me, observando enquanto ele limpava a bagunça.
Eu não pude deixar de sorrir quando o ouvi resmungar e gemer,
estalando as costas enquanto limpava. Papai tentou não nos estragar com
muita frequência, mas quando o fazia, sempre parecia muito especial.
Mesmo que ele tentasse ser mais rígido com seus filhos, ele estava nas
mãos do amor de sua vida.
— Como era a mamãe quando estava grávida de mim? — Eu
perguntei.
Papai riu, sentando-se com um gemido. Ele não estava fazendo
nenhum favor às suas costas ou joelhos bancando a governanta.
— Oh, ela era outra coisa. As emoções sobem e descem com mais
frequência do que uma gangorra. Adorável em um segundo, depois uma
confusão de choro no próximo. — Papai tinha uma expressão distante
nos olhos, um pequeno sorriso nos lábios.
Esses sintomas pareciam estranhamente familiares.
— Acredite ou não, sua mãe me fez parecer o sensato.
— Você está definitivamente exagerando, — eu disse, sem ser
convencida.
— Oh, vamos lá, eu não sou tão impulsivo.
Eu tive que rir.
— Eu queria que ela ainda estivesse aqui, — eu disse.
— O mesmo aqui, garota.
Eu embalei minha barriga, imaginando as duas vidas crescendo dentro
de mim. Pode ter sido apenas minha imaginação, mas eu quase podia
sentir os braços de mamãe em volta de mim, um calor para o qual me
inclinei e me consolei.
Nós nos mudamos para a sala de estar, acomodando-nos no sofá.
Olhei em volta para os tapetes antigos, os painéis de madeira da parede,
os arranhões na parede que marcavam a altura que meus irmãos e eu
éramos a cada ano.
Eu morei aqui minha vida inteira. Foi aqui que me tomei a mulher que
era hoje.
E papai me criou principalmente sozinho.
Minha mente voltou para Xavier. Eu o imaginei se afastando, levando
toda a luz do meu mundo com ele.
— Como foi ser mãe solteira? — Eu perguntei de repente.
Senti meu pai ficar tenso ao meu lado.
— Por quê? Vou precisar tirar minha espingarda do galpão? — Ele
perguntou.
— Não! — Eu gritei, sem saber se ele estava falando sério ou
brincando. E ele disse que a mamãe fez ele parecer o sensato? — Eu só
estava pensando em como nossas vidas foram crescendo. Afinal, você
teve que lidar com três de nós.
Papai relaxou, embora não parecesse completamente convencido.
— É difícil, filhinha. Você não tem tempo para si mesmo e não sabe
realmente o que está fazendo. Você não tem seu parceiro com você para
ajudá-la ou manter tudo sob controle.
Ele estendeu a mão para pegar o descanso de perna, e o velho sofá
gemeu e rangeu em protesto quando ele encontrou a alavanca. Papai e
este sofá eram quase sinônimos em minha mente.
— Você meio que tropeça no dia a dia, lidando com cada dor de
cabeça que surge. Você tenta planejar, mas nada disso dá certo. Você está
sempre cansado, sempre inseguro e sempre se questionando. — Papai
sorriu, de repente parecendo uma década mais jovem.
— Mas vale a pena. Ver vocês três crescerem na minha frente foi o
melhor presente que já ganhei, e meu único arrependimento é que sua
mãe não poderia estar aqui para ver isso comigo.
— Tenho certeza que mamãe está assistindo de algum lugar, — eu
disse, enxugando uma lágrima. Papai fingiu mexer no sofá enquanto não
tão discretamente enxugava os olhos também.
— Sim, eu sei.
Ele jogou o braço em volta de mim e eu me inclinei para ele.
— Tem certeza que está tudo bem? Você sabe que pode me dizer
qualquer coisa.
Por um segundo, pensei em contar a papai tudo sobre o que estava
acontecendo comigo e Xavier. Talvez ele pudesse me dizer algo que
pudesse ajudar.
Ou talvez ele realmente pegasse sua espingarda e explodisse os miolos
de Xavier.
— Tenho certeza, — menti. — Está tudo ótimo, pai.
Eu me sentei no sofá ao lado dele, mas minha mente estava do outro
lado do mundo.
Uma premonição sombria lançou uma sombra sobre meu coração.
Alguma coisa ruim estava chegando. Eu não sabia o quê, mas podia
sentir.
Eu fechei meus olhos com força.
Espero estar errada.
Capítulo 12
Equipe Carmesim

Angela: Ei, Leo! Estou procurando uma aula de Lamaze.

Angela: Você tem alguma recomendação?

Leo: Claro! Vou te enviar um e-mail.

Leo: O que sempre recomendo é ótimo para casais.

Angela: Oh... na verdade, meu marido ainda está fora.

Angela: Você tem alguma que eu possa assistir sozinha?


Olhei pela janela para uma cidade nevada de Nova Iorque. A cidade
ainda estava tão movimentada como sempre, carros e táxis amarelos
obstruindo as estradas, pedestres amontoados manobrando em tomo de
calçadas cobertas de lama.
Eu me enterrei ainda mais no cobertor que puxei da minha cama para
a sala de estar, curtindo o calor da lareira elétrica.
O vento uivava nas janelas da cobertura, procurando uma maneira de
entrar.
As últimas semanas foram um borrão estranho para mim. Meus dias
consistiam principalmente em ficar em casa, pedir comida e assistir a
Netflix.
Eu estava tão entediada.
Eu ajudei Zoe um pouco a planejar a festa de cinquenta anos de
Bernard Loreley, mas ela insistiu que eu descansasse e me concentrasse
na gravidez.
Lembrei-me da festa de gala de Marlena Marlboro no Japão, onde
conhecemos o casal gentil.
Parecia que foi há muito tempo.
Outra vida, até.
Lembrei-me da minha última briga com o Xavier. O olhar ferido em
seus olhos, a visão de suas costas desaparecendo pela porta...
Sempre imaginei que Xavier e eu íamos às aulas de Lamaze juntos.
Agora eu estava sozinha.
Eu coloquei a mão sobre minha barriga, tirando força de meus filhos.
Isso era por eles.
Meu telefone vibrou.
Leo: Eu poderia encontrar um, mas não será tão bom quanto o de
casais.

Leo: Se você quiser, posso te acompanhar no lugar do seu marido.

Leo: Assim, quando ele voltar, você pode ensinar a ele tudo o que
sabe!

Leo: Eu sempre recomendo este em vez de uma aula solo para


que os casais saibam melhor o que esperar.
Eu li as mensagens, surpresa que ele sugerisse algo assim.
Eu refleti sobre isso.
O que ele estava dizendo fazia sentido. Xavier teria muito o que fazer
quando voltasse, e seria útil se eu já soubesse o que fazer.
Se ele voltasse...
Quais eram minhas outras opções?
Em?
Não, ela estava ocupada se mudando para sua nova casa com Lucas e
Bella. Eu não queria incomodá-la durante um momento tão importante
de sua vida.
Dustin sem dúvida passava todo o tempo com Jake. Eu poderia
imaginar os dois pombinhos vagando pela cidade, seu próprio país das
maravilhas do inverno.
Eu encolhi os ombros para mim mesma.
Por que não?
Angela: Tudo bem, se não for muito problema.
Leo: De jeito nenhum! Vou enviar os detalhes agora.

Angela: Te vejo em breve!


O e-mail chegou alguns momentos depois e li as informações.
Era uma clínica ao lado do hospital em Nova Jersey, e ele já tinha
marcado uma consulta para a tarde seguinte.
O que era apropriado para vestir em uma aula de Lamaze? Acho que
pijama ou calças de ioga ficariam bem, certo? Algo confortável.
Eu sorri, percebendo que estava um pouco animada para ver Leo fora
de seu escritório.
Ele sempre foi gentil e atencioso, e o coquetel louco de emoções
girando em minha mente parecia se estabelecer quando eu estava perto
dele.
Uma pequena risada me escapou.
Na verdade, eu tinha algo pelo qual ansiava.
Sentindo-me mais leve do que há meses, saltei para o armário,
vasculhando minhas roupas.
Talvez isso possa ser divertido.

— Angela! — Leo chamou, acenando para mim na área de espera.


Acenei de volta, pendurando meu casaco de inverno no cabide. Percebi
que esta foi a primeira vez que o vi sem o jaleco de médico.
Ele usava um suéter de cashmere que abraçava seu corpo atlético
confortavelmente, com as mangas enroladas até os cotovelos. Seu cabelo
loiro estava penteado de forma mais casual, e seus olhos verdes estavam
penetrantes como sempre.
Eu me peguei olhando a escultura de seus músculos; Tive que piscar
com força algumas vezes para sair dessa.
Eu me senti muito mal vestida com minhas calças de ioga e meu
moletom folgado de Harvard.
Sentei-me no assento ao lado dele, me sentindo constrangida.
— Você foi para Harvard? — Ele perguntou.
— Como você soube disso?
— Chutei, — ele riu. — Eu também sou um homem de Dartmouth.
— Oh, você é um Big Green? — Eu perguntei, referindo-me ao time de
futebol da escola. — Desculpe, mas meu sangue é Carmesim.
— Sim, isso é lamentável, — ele suspirou dramaticamente. — Talvez
isso não vá funcionar, então. Talvez você precise encontrar um novo
parceiro de Lamaze.
— Ei! Não fique bravo porque demos uma surra em seus caras muitas
vezes, — eu provoquei.
Nós compartilhamos uma risada e eu senti meu desconforto
desaparecer. Leo era uma boa companhia.
— É um pouco estranho estar grávida, — eu disse.
— O que você quer dizer? — Ele perguntou.
— Bem, realmente não parece que estou fazendo algo. Eu posso ver
meu estômago ficando maior... mas eu sinto que posso fazer algo mais,
sabe? — Eu balancei minha cabeça. — Talvez eu esteja sendo pessimista.
— Nem um pouco, — disse Leo. — Por que você não tenta um pouco
de jardinagem?
— Jardinagem? — A única experiência que tive com plantas foi
quando trabalhei na floricultura de Em. E mesmo assim, eu apenas movia
os potes. Ser responsável pela vida de uma planta estava me intimidando.
— Sim. A jardinagem pode satisfazer essa necessidade de nutrir algo.
Também a relaxará. E um analgésico comprovado.
Eu pensei sobre isso.
— Tudo bem, eu vou dar uma olhada nisso.
Obrigada, Leo.
— Angela?
Eu olhei para cima para encontrar uma senhora gentilmente mais
velha espreitando a cabeça para fora da sala ao lado.
— Sim, — eu disse, me levantando.
Ela sorriu para mim.
— Venha, estamos prontos para vocês dois.
Depois de tirar os sapatos, fomos levados a uma sala de aparência
confortável, com tapetes macios e cadeiras confortáveis.
A próxima meia hora foi gasta aprendendo e praticando várias
técnicas de respiração. Havia o método clássico e conhecido hee-hee-hoo,
embora aparentemente estivesse desatualizado. Descobri que preferia
muito mais uma respiração lenta e constante deliberada, inspirando e
expirando pelo nariz.
Wanda, nossa instrutora, me falou sobre a respiração diafragmática e
todos os outros benefícios complexos e científicos que ela trazia.
Leo acenou com a cabeça, mas a maior parte da informação se perdeu
em mim.
Inspire e expire, e você se sentirá mais relaxada era sobre a extensão da
minha retenção.
Depois disso, passamos por várias posições que poderiam ajudar com
minhas contrações e relaxamento.
Quase parecia uma aula de ioga. Havia — poses — para andar, ficar de
pé, inclinar-se, agachar-se... embora as que eu mais tive problemas
fossem para me ajoelhar.
Não que fossem difíceis, mas eram muito... íntimas.
Uma posição tinha Leo sentado em uma cadeira, e eu estava de
joelhos na frente dele, minha cabeça em seu colo. Era para ajudar com
dores nas costas e fazer o bebê girar para uma posição mais favorável.
Suspirei, imaginando o que Xavier pensaria se soubesse que eu estava
com a cabeça no colo de outro homem.
Outra posição me inclinou sobre uma bola de ioga, com Leo atrás de
mim. Wanda me disse que essa posição também ajudava com dores nas
costas e tinha o benefício adicional de seu parceiro poder fazer uma
massagem relaxante.
Senti as mãos de Leo em volta da minha cintura e ofeguei, uma onda
de eletricidade subindo pela minha espinha. Ele puxou as mãos.
— Você está bem? — Ele perguntou, preocupado. — Eu machuquei
você?
— Não, — eu murmurei, escondendo meu rosto debaixo do meu
cabelo. Eu podia me sentir queimando. — Você me surpreendeu um
pouco.
Que diabos?
Fechei meus olhos, desejando que meu coração parasse de bater tão
rápido.
Ele é seu médico, Angela! Relaxe!
Wanda guiou as mãos de Leo enquanto demonstrava a técnica
adequada para me massagear. Ela enfatizou para não colocar muita
pressão, o que empurraria o bebê para a bola de ioga.
Eu fechei meus olhos. As mãos de Leo eram boas. Ele tinha um toque
forte e gentil que se movia em círculos nas minhas costas, lentamente
desfazendo os nós em meus músculos.
O restante da sessão foi sobre políticas e procedimentos hospitalares.
Leo me garantiu que me enviaria uma cópia por e-mail, então eu não
precisava memorizar tudo o que Wanda disse.
— Avise-me se tiver outras perguntas, ok? — Wanda disse enquanto
caminhávamos para fora da porta.
— Ok. Muito obrigada, Wanda.
Ela se inclinou para um abraço.
— Vocês dois formam um casal muito atraente, — disse Wanda. —
Muitos maridos são tão atenciosos durante as aulas. — Ela piscou para
mim. — Você é muito sortuda.
Leo riu e eu senti que ficava vermelha.
— Oh, na verdade, ele não é meu marido, — eu gaguejei. — Ele é meu
médico, na verdade.
— Oh! — A boca de Wanda formou um pequeno O perfeito. — Me
desculpe!
— Sem problemas.
Afastei-me, olhando para os meus pés.
— Você está bem? — Leo perguntou.
— Sim, sim. Por quê?
— Você está vermelha como um tomate agora.
Eu olhei furiosamente para ele.
— Não tenho ideia do que você está falando.
Ele piscou e fingiu esfregar os olhos. Ele encolheu os ombros.
— Ainda vermelha.
— Bem, muito obrigada por vir para a aula comigo, Dr Carmichael.
Entrarei em contato sobre nosso próximo compromisso.
Eu pisei para longe dele, com meu coração batendo
descontroladamente no meu peito.
O que está acontecendo comigo?
Leo facilmente me acompanhou com seus passos largos.
— Ok, ok, me desculpe. — Ele riu enquanto eu colocava meu casaco
com raiva. — Isso foi bom, — ele disse seriamente. Seu tom me fez parar.
Ele não estava mais brincando. Ele parecia muito genuíno.
— Talvez possamos fazer isso de novo algum dia? — Ele perguntou. —
Bem, não isso de novo. — Ele gesticulou para a classe Lamaze. — Como
um café ou algo assim. Ou — quero dizer, se você quiser fazer outra aula
de Lamaze, eu ficaria bem com isso, mas... uh...
Eu ri enquanto o via tropeçar em suas palavras. Havia um pouco de
rosa em suas bochechas?
— Você está vermelho como um tomate, — eu disse. — Não tenho
ideia do que você está falando, — ele repetiu para mim.
Eu não pude deixar de ficar encantada. Ele era um pequeno raio de sol
após meses de escuridão.
— Claro, Leo. Um café seria bom.
Ele abriu um largo sorriso.
— Vejo você em breve, — disse ele.
Acenei um adeus enquanto saía. Marco já estava esperando por mim
no beamer. Não foi até que estávamos bem no caminho de volta para a
cidade de Nova Iorque quando me dei conta.
Eu tinha acabado de concordar em ir a um encontro?
O sangue correu para o meu rosto, com meu coração batendo forte na
minha garganta.
Não. Era apenas uma pequena reunião.
Como amigos.
As belas feições de Leo brilharam em minha mente, assim como a
sensação reconfortante de seu toque.
Eu balancei minha cabeça.
Só íamos tomar um café, nada mais.
Certo?
Capítulo 13
Navios Queimados

PENNY

Meus olhos estavam grudados na tela do computador na minha mesa,


aninhada entre pilhas e pilhas de papelada. As manchetes apareceram em
letras grandes e em negrito. E tinha nela uma linguagem sensacionalista
usada para gerar polêmica e cliques.
O PRÓXIMO ACONTECIMENTO CHOCANTE NA SAGA DE XAVIER
KNIGHT!
DE CEO PARA PILOTO DE CORRIDA DE RUA?!
XAVIER KNIGHT — PROCURADO NAS RUAS DE TÓQUIO!
FESTA DE KNIGHT NO JAPÃO!
Fotos de Xavier estavam por toda a internet. Aqui estava ele em uma
boate, claramente bêbado ou drogado. Lá estava ele na frente de um
carro de corrida sendo banhado em champanhe. Havia até um vídeo dele
queimando pneu na estrada, pneus cantando, fumaça saindo.
A culpa se abateu sobre mim como um trem de carga.
Isso é tudo culpa minha...
Logicamente, eu sabia que não havia como saber que Xavier se
tornaria um piloto de corrida de rua no Japão.
Perder a posição de CEO deveria ser o primeiro passo para reavaliar
sua vida e suas prioridades.
Era como interromper abruptamente algo que nunca havia mudado.
Ele era um adulto e era responsável por suas próprias ações.
E, no entanto, não pude deixar de pensar que talvez se ele tivesse
continuado como CEO, eu poderia tê-lo ajudado.
Eu poderia ter sido mais paciente com sua raiva. Poderia ter reagido
ainda mais gentilmente às suas explosões...
Eu balancei minha cabeça.
Você está se enganando, Penny.
O abuso não pode ser combatido com gentileza.
Eu, de todas as pessoas, deveria saber disso...
Abri uma garrafa de Advil, engolindo dois comprimidos com um gole
de café frio. Eu me tomei quase dependente de analgésicos nos últimos
dias, pois uma dor de cabeça latejante era minha companheira constante.
Pelo menos eu poderia contar com ela.
Estávamos nos tornando muito insuficientes no escritório.
A Knight Enterprises estava afundando lentamente e os funcionários
podiam sentir o cheiro. Então, como ratos, eles começaram a abandonar
o navio.
Eu me segurei e apertei a ponta do meu nariz.
Eles são pessoas. Penny. Não ratos.
Eu estava começando a soar como Xavier.
Honestamente, eu não poderia culpá-los.
Os outros membros do conselho pareciam estar buscando outros
empreendimentos mais lucrativos. Parecia que eu estava tentando
resistir a um maremoto.
E Henry... Henry estava surfando na onda.
Meu celular vibrou.
Falando no diabo.
Henry: Você viu essa merda?

Henry: Aquele idiota simplesmente não consegue se manter fora


das manchetes.

Henry: Nós o demitimos e nossas ações ainda caem por causa da


merda dele.

Henry: Talvez precisemos de uma reformulação da marca. Mudar


o nome da Knight Enterprises.

Henry: Vamos fazer uma reunião na segunda.


Henry: Estou pensando... Platinum Estates, o que você pensa?
Eu gemi, virando meu telefone para que eu não pudesse ver a tela.
Mas talvez Henry estivesse no caminho certo.
Uma reformulação da marca.
Não para a empresa, mas para mim.
Eu poderia simplesmente fugir. Eu poderia mudar meu nome e me
mudar para um país estrangeiro. Eu poderia sobreviver cantando
novamente. Boates, bares, qualquer coisa.
A vida era muito mais simples antes que o redemoinho conhecido
como Brad Knight invadisse minha vida e mudasse tudo.
Eu entretive o pensamento por alguns minutos.
Paris?
Berlim?
Roma?
Suspirei, limpando minha mente de tais fantasias.
A verdade é que gostava da minha situação.
E embora cantar fosse divertido... negócios realmente eram minha
verdadeira vocação. Eu sabia disso no segundo em que fiz minha
primeira introdução ao curso de economia na NYU.
Eu só precisava de uma ajudinha.
Eu não poderia fazer tudo sozinho.
Uma nova manchete apareceu na minha tela.
ROMANCE EM TÓQUIO: O CASAMENTO DE CAVALEIRO É EM
PERIGO?
Não...
Eu cliquei no artigo.
Apresentava uma foto borrada e granulada de um casal do lado de fora
de uma boate popular de Tóquio. Era indistinto e não dava para ver seus
rostos, mas o homem retratado na foto tinha uma semelhança
impressionante com Xavier.
Seus braços estavam em volta um do outro, e eles estavam no meio de
um beijo profundo e apaixonado.
Eu gemi, enterrando meu rosto em minhas mãos.
Xavier, seu idiota.
Ele deveria estar crescendo. Desenvolvendo-se em um homem adulto.
Em vez disso, aqui estava ele, não apenas destruindo o nome dos
Knights de novo, mas jogando seu casamento na sarjeta.
Eu coloquei minha cabeça na mesa, ouvindo o som de papéis
deslizando para o chão. Eu coloquei a foto de Brad no pequeno Monte
Everest de papelada.
Seu filho é uma dor de cabeça viva e que respira.
Eu encarei a foto e poderia ter jurado que ele piscou para mim.
Eu fechei meus olhos.
Eu realmente precisava dormir um pouco.
XAVIER

Inclinei-me na grade, olhando para o rio Meguro abaixo de mim, o sol


nas minhas costas. Era uma manhã nublada e o fogo da madrugada foi
abafado sob um pesado cobertor de nuvens.
Eu me encontrava aqui muitas vezes após as incontáveis noites de
festas e corridas.
Supostamente, o rio Meguro era famoso por suas árvores floridas de
sakura na primavera. Inúmeras pessoas vinham de todo o mundo para
apreciar a vista de tirar o fôlego.
Mas agora, no auge do inverno, as árvores estavam nuas.
Sem vida.
Fiquei olhando para a água escura abaixo de mim.
Eu me pergunto o quão longe estou do chão.
Eu não era suicida. Eu nunca pensei em desistir completamente da
vida.
Minha vida era muito preciosa para jogar fora.
Mas eu senti que um salto no rio poderia ajudar a clarear minha
cabeça. Um choque frio para me ajudar a sair de qualquer areia movediça
em que estive preso nos últimos dois meses.
Já se passaram alguns dias desde que Azusa me beijou.
Eu a empurrei, é claro, mas não rápido o suficiente.
Por um momento eu me perdi no beijo, com a sensação de seus lábios
elétricos — e por isso, eu provavelmente nunca me perdoaria.
Eu sabia que Shinji e Azusa estavam procurando por mim, mas não
queria vê-los. Eu precisava de um tempo sozinho — realmente sozinho
— para colocar meus pensamentos em ordem.
O vento de inverno me atingiu. Dedos gelados abriram caminho pelas
fendas do meu casaco de inverno. Eu puxei a jaqueta mais apertada
contra mim, protegendo-me de tanto frio quanto pude.
Eu imaginei Angela aqui comigo, tendo-a confortável e segura contra
o meu peito. O pensamento me aqueceu e, por um segundo, realmente
acreditei que ela estava aqui. Então voltei à realidade e estava sozinho
novamente.
Eu sentia a falta dela.
Puta merda, eu sinto falta dela.
Suspirei, com suas últimas palavras para mim flutuando no vento.
— Não se preocupe em voltar.
Eu nunca poderia.
Certo?
Peguei meu telefone. Estava desligado desde que liguei para Shinji
depois da minha briga com Angela. Fui ligá-lo, mas parei.
Na verdade, estava apavorado com a coisa.
Quando eu ligasse meu telefone, ele estaria inundado com mensagens
de texto e mensagens de voz?
Eu teria alguma mensagem?
Nem um único texto.
Nem uma única chamada perdida.
Angela provavelmente já havia feito uma nova vida para si mesma. Ela
merecia. Ela já havia perdido muito do seu tempo presa em um lixo como
eu. Nosso filho também merecia coisa melhor...
Eu me dobrei, segurando meu peito. Parecia que meu coração estava
perdendo vida. Enfiei meu telefone no bolso e olhei de volta para o rio.
— Você vai pular?
Virei-me para encontrar Azusa caminhando até mim, envolta em um
casaco de pele. Ela se inclinou ao meu lado na grade.
— Você está aqui para me impedir? — Eu perguntei.
— Nah, — ela disse. — Dê um mortal.
Eu ri sombriamente.
— Shinji e eu estamos procurando por você, sabe, — disse ela.
— Sim. — O silêncio se estendeu entre nós, os únicos sons eram a
água correndo e a brisa assobiando.
— Ouça, sobre a outra noite
— Eu não preciso ouvir isso, — Azusa me cortou.
Eu parei, olhando para ela com curiosidade.
— Eu não sei o que está acontecendo na sua vida fora do Japão, mas
realmente não é da minha conta. Nós dois estávamos bêbados e presos
no momento. Vamos deixar isso assim.
Eu pisquei.
— Sinceramente, Azusa, estou surpreso. Achei que você fosse mais...
— Psicopata? Apegada de forma irracional? — Ela sorriu. — Quero
dizer, fala sério. Você é gostoso, mas não tão gostoso.
Eu ri de novo, mas desta vez foi genuíno.
— Obrigado, — eu disse, realmente falando sério. Talvez eu não
devesse estar me levando tão a sério. Azusa claramente não estava.
— Então, estamos bem? — Ela perguntou, segurando seu punho.
— Sim. — Eu bati com o meu. — Está tudo bem entre a gente.
Ela se afastou do corrimão, descendo a rua.
— Shinji e eu estaremos naquele restaurante ali, — ela disse,
apontando para uma churrascaria próxima. — Junte-se a nós se decidir
não pular.
— E perder um churrasco? — Afastei-me do rio, seguindo-a pela
estrada. — Parece que não como há dias.
— Você vai voltar para Nova Iorque? — Shinji cuspiu com a boca cheia
de carne.
Coloquei outro pedaço de carne teriyaki na grelha, saboreando o
chiado da carne cozinhando. A fumaça flutuava em tomo de nossa
pequena cabine, e Azusa se inclinou para frente com entusiasmo,
praticamente babando.
— Sim. Eu já festejei aqui com vocês por tempo suficiente, eu acho.
— Oh, vamos lá, — Shinji choramingou. — Espere mais alguns dias!
Há uma corrida enorme chegando em breve. É como... O que vocês
americanos assistem? — Ele pensou consigo mesmo por um momento.
— E como o Super Dish das corridas underground!
— Super Bowl, — Azusa corrigiu, virando a carne na grelha.
— Sim, isso. — Shinji sorriu, com seu sorriso contagiante. — Mais
uma corrida, Xavier! Então você pode ir para casa e ser um homem de
família.
— Espere, — Azusa olhou para mim. — Você tem uma esposa?
— Um avião como esposa, — Shinji confirmou.
Azusa murmurou algo baixinho em japonês, voltando sua atenção
para a comida.
Shinji bufou.
— Então, é por isso que vocês dois estão procurando por mim? — Eu
perguntei.
— Não! — Shinji disse, indignado. — Estávamos seriamente
preocupados com você, cara.
— Mas também, sim, — acrescentou Azusa.
Peguei a carne cozida na grelha, colocando-a na boca. Queimou a
merda da minha língua, mas ver o rosto de Azusa valeu a pena.
— Ei! — Ela reclamou.
— Inacreditável, — eu disse, apreciando o sabor, apesar da minha boca
escaldante.
— Uma corrida final, — Shinji pediu. — Você pode extravasar a
selvageria que está segurando. Quando você voltar para Nova Iorque,
estará revigorado e satisfeito, tendo conquistado o cenário de corridas
underground de Tóquio.
Shinji ergueu sua caneca de cerveja, balançando as sobrancelhas para
mim.
— O que você disse?
Eu olhei para Azusa.
— Não vai doer, — disse ela, levantando sua própria taça.
Eu olhei para os dois. Ambos eram absolutamente imprevisíveis, mas
estavam aqui por mim em um dos momentos mais sombrios da minha
vida. Qual era a corrida final?
— Tudo bem, — eu disse, levantando meu copo.
— Estou dentro.
Capítulo 14
Uma Vida sem Vida

ANGELA Olhei para a tela do meu laptop, absorvendo as fotos de Xavier


como um demônio procurando uma solução. A última vez que o vi, ele
parecia tão magoado. Ele tinha fugido, na esperança de pegar os pedaços
de sua vida estilhaçados pelo álcool.
E fui eu que o chutei enquanto ele estava no chão.
A primeira foto carregou e me senti encher de emoções.
Eu respirei fundo.
Xavier estava bem. Ele ainda estava vivo, pelo menos. Seus olhos
pareciam fundos, com bolsas profundas pesando sobre eles. Ele estava
mais magro do que da última vez que o vi, e não de um jeito bom.
Lembrei-me de que ele costumava correr com carros quando era mais
jovem, especialmente depois que seu coração foi partido por Didi, sua ex.
Era isso que ele estava fazendo agora?
Ele estava lidando com um coração partido?
Eu olhei para uma foto dele tomando banho de champanhe ao lado de
um carro de corrida chique. Reconheci o homem de topete ao lado dele
na festa de gala de Marlena.
Shinji. certo?
Pelo menos ele estava com um amigo.
Havia outra mulher na foto, sob o braço de Xavier, rindo enquanto
tomava banho de champanhe também.
Meu coração parou. Ela era bonita. Ela também era amiga dele?
Talvez mais do que amiga?
Eu balancei minha cabeça.
Xavier não faria isso. Ele não era aquela pessoa maldosa e rancorosa
que era quando nos conhecemos. Estávamos passando por uma fase
difícil agora, mas ele era meu marido. Havíamos prometido nossas vidas
um ao outro.
Eu confiava nele, mesmo se estivéssemos meio mundo separados.
Eu cliquei nos vários artigos até que um chamou minha atenção.
ROMANCE EM TÓQUIO: O CASAMENTO DE KNIGHT ESTÁ EM
PERIGO?
Pisquei, lendo repetidamente.
Encolhi os ombros enquanto clicava no artigo.
Provavelmente era outra história inventada. Como uma Knight, eu me
acostumei a isso.
Havia uma foto borrada de um homem e uma mulher do lado de fora
de uma boate compartilhando um beijo apaixonado. Claro, parecia
Xavier, mas não podia ser ele.
Fechei a guia, balançando a cabeça. As coisas que os repórteres fariam
para obter um furo...
Uma gota d'água caiu no meu laptop.
Huh?
Eu olhei para o teto. Havia um vazamento? Não que eu pudesse ver.
Franzindo a testa, olhei de volta para o meu laptop quando outra gota
d'água caiu.
E outra.
Senti minhas bochechas úmidas e percebi com um sobressalto que
eram lágrimas.
Eu estava chorando?
Provavelmente nem era mesmo o Xavier Tentei enxugar as lágrimas, mas
elas continuaram vindo.
Ele não faria isso.
Eu sufoquei um soluço, cobrindo minha boca.
Ele não iria...
Eu desabei em mim mesma, com as lágrimas caindo
incontrolavelmente. Gritei o que restava dos restos do meu coração
partido. Parecia que um buraco se abriu debaixo de mim, e eu estava
caindo...
Cada vez mais fundo na escuridão.
Acabou.
Todas as emoções que eu estava suprimindo por semanas de repente
vieram à tona de uma vez. Era feio. Estava quebrado. Como os restos
estilhaçados de um naufrágio.
Eu vi o futuro que tínhamos juntos virar fumaça.
Certa vez, tive fantasias de ver nossos filhos crescerem juntos.
Imaginei que iríamos levá-los ao primeiro dia de aula, depois para a
faculdade... Eu me imaginei envelhecendo e ficando grisalho juntos,
cercados por lindos netos.
Mas agora eu estaria sozinha.
Meus filhos cresceriam sem o pai.
O interfone do elevador tocou.
Eu olhei para cima, meu rosto estava uma bagunça aquosa. Tentei
limpar o pior antes de atender a ligação.
— Sim?
— Sra. Knight, — disse o porteiro. — Há alguém aqui para te ver.
— Ei, Angela, — disse uma voz familiar.
— Leo?
— Você está bem? — Ele perguntou. Ele provavelmente poderia dizer
o quanto eu estava confusa apenas pela minha voz.
— Sim. — Eu respirei fundo, instável. — Você precisava de algo?
— Eu sei que isso é um pouco repentino, mas você quer sair para dar
um passeio comigo? — Ele perguntou.
— Hum...
— Ao redor do quarteirão. Talvez para o parque, ' ele sugeriu.
Olhei em volta para a cobertura vazia, para meu laptop manchado de
lágrimas. Estar com Leo seria infinitamente melhor do que sentar aqui.
— Tudo bem, — eu disse. — Desço em alguns minutos.
XAVIER

— Você está pronto para ir? — Azusa perguntou, com sua voz
zumbindo no meu fone de ouvido.
Eu acelerei o motor do Izanami em resposta, com meu aperto no
volante.
— É isso que eu gosto de ouvir, — disse ela. — Este não é um circuito
típico, X. Eles vão me atualizar com o caminho conforme você avança.
Vou ficar de olho em você o tempo todo. — Inclinei-me para frente,
olhando para o céu noturno pelo para-brisa. Eu podia espiar as luzes
reveladoras dos drones, cintilando como satélites.
— Isso é muita alta tecnologia para uma corrida de rua, — observei.
— Super Bowl do underground, baby, — disse Shinji. Ele tinha seu
próprio fone de ouvido desta vez. Olhei para baixo na fila para os outros
quatro pilotos, cada um deles atrás do volante de um carro com grande
potência.
Isso ia ser difícil.
Uma multidão ansiosa alinhava-se nas ruas, tremendo de ansiedade.
Como de costume, uma modelo caminhou até o centro da estrada
com uma tira vermelha de pano nas mãos.
— A primeira parte é em linha reta abaixo de 600 metros, depois uma
curva fechada à esquerda, — relatou Azusa.
Eu concordei.
— Vamos fazer barulho.
O pano caiu.
ANGELA Leo e eu passeamos pelo Central Park, com a neve esmagando
sob nossas botas. O tempo estava ameno hoje. As pessoas estavam
fazendo bonecos e fortes de neve, enquanto outros deslizavam ao longo
do gelo de patins.
O ar fresco estava me ajudando a limpar minha mente. Eu tentei
esconder a evidência do meu choro com um pouco de maquiagem, mas
meus olhos ainda pareciam inchados e vermelhos.
— Então, sinto muito que esta não seja outra aula de Lamaze, — ele
começou. — Mas eu pensei que você poderia ser o tipo de garota que
gosta de passear no parque.
— Eu gosto, na verdade. Eu costumava andar aqui o tempo todo. —
Nunca me cansei do Central Park. Especialmente agora, vendo-o coberto
de neve. Era como cobertura de bolo. — Embora outra aula de Lamaze
não fosse tão ruim.
— Você só quer uma desculpa para receber outra massagem, —
brincou.
— Bem, você é bom com as mãos. Você deve considerar ser massagista
se toda essa coisa de médico não der certo.
— Você sabe o que mais essas mãos podem fazer? — Ele balançou os
dedos para mim, com um sorriso malicioso no rosto.
Eu dei um passo para longe dele.
— O quê?
Ele se abaixou e pegou um punhado de neve, jogando-o direto para
mim. Atingiu meu casaco com um baque surdo.
— Ei!
— Estou invicto nas lutas de bolas de neve, — disse ele. — E você vai
ser minha próxima vítima!
Eu me agachei, pegando um punhado de neve.
— Até a morte, então.
XAVIER

— Próxima à direita! — Azusa ordenou.


Eu pisei no freio, sacudindo o volante para começar a derrapar na
curva. Suas instruções vieram no último segundo, então eu tive que me
revezar agressivamente. Comecei a sair dessa quando o motorista do
Lancer Evolution branco me cortou.
Eu bati no freio, cambaleando perigosamente. Eu me endireitei, mas
fiquei muito pra trás no processo.
— Caramba! — Eu bati minhas mãos no volante.
Este idiota tinha mexido comigo durante toda a corrida.
— Apenas recue, Xavier, — disse Shinji. — O motorista de Raijin é um
trapaceiro. Ele vai tirá-lo da estrada se achar que você vai ultrapassá-lo.
— Então você quer que eu desista?
— Não vale a pena. — Eu não conseguia vê-lo, mas sabia que Shinji
É
estava tão chateado quanto eu. — É apenas azar estarmos competindo
contra o Raijin.
— Foda-se isso. — Eu pisei no acelerador, e motor de Izanami roncou
como um demônio possuído enquanto eu corria rua abaixo. — Vou dar
uma lição nesse filho da puta.
— Não risque a tinta, — murmurou Azusa. — Próxima à esquerda!
ANGELA Eu ri, sem fôlego, tentando aquecer minhas mãos. Nós dois
estávamos cobertos de neve. Leo riu junto comigo, com seu cabelo loiro
salpicado de neve.
Sentamos um ao lado do outro em um banco, recuperando o fôlego.
De repente, eu pude ver como a vida poderia ser sem Xavier.
Se as coisas tivessem sido um pouco diferentes, se eu nunca tivesse
feito aquele acordo com Brad, talvez eu tivesse acabado com Leo.
Poderíamos ter nos conhecido depois das consultas de gravidez de
Em, nos conhecido...
Minha mente percorreu um caminho novo e estranho.
Mas não foi totalmente desagradável.
— Você está se sentindo melhor agora? — Leo perguntou.
Eu pausei.
— O que você quer dizer? — Eu perguntei, fingindo que não sabia do
que ele estava falando. Ele me lançou um olhar sério.
— Eu vi a notícia, Angela. Sobre o seu marido.
Meus olhos se arregalaram de choque. O que eu poderia dizer? Que eu
era uma esposa de merda cujo marido a trocou por uma garota em
Tóquio?
Leo gentilmente pegou minhas mãos nas dele.
Mesmo depois da luta de bolas de neve, elas eram calorosas e
reconfortantes.
— Preciso falar com você sobre uma coisa, — disse ele.
XAVIER
Ú
— Curva final, X! — Disse Azusa. — Última esquerda, e você está em
casa livre.
Eu vi a curva se aproximando e novamente vi o Lancer Evolution
branco se inclinando na minha frente para me interromper.
Não desta vez, idiota.
Eu deslizei para o lado na deriva, jogando o acelerador totalmente
aberto. Passei por ele e, por um segundo, senti a emoção da vitória
correndo em minhas veias.
Então seu carro bateu no meu.
Perdi o controle enquanto meu carro girava descontroladamente. Eu
me esforcei contra o volante, lutando pelo controle, mas não adiantou. O
barulho dos pneus me ensurdeceu e fiquei cego pelos faróis fortes.
Os faróis de um carro que se aproxima!
ANGELA O mundo ao meu redor pareceu desaparecer.

Ele encolheu até que ficamos apenas eu e Leo sentados no banco, com
minhas mãos nas dele. Ele olhou para mim com tanta preocupação e
vulnerabilidade que fui pega desprevenida.
— Eu vi o quanto você tem sofrido nos últimos meses, — disse ele. —
E eu odeio ver você assim. Eu odeio ver você sofrendo por causa dele.
Meu coração batia como o de um beija-flor.
Isso estava indo para onde eu pensei que estava indo?
— Angela, eu
De repente, meu celular tocou.
Qualquer que seja o feitiço sob o qual eu estava, de repente fui trazida
de volta ao mundo real, no meio do Central Park.
Eu tirei minha mão da de Leo, pegando meu celular. Sua expressão era
ilegível.
— Desculpe... — eu murmurei. Eu olhei para o número. Eu não o
reconheci. Eu atendi o telefone.
— É Angela Knight? — Uma voz desconhecida perguntou.
— Sim, é ela.
— Estou ligando porque seu marido listou você como seu contato de
emergência.
Eu engasguei, com o medo apertando meu coração.
— Oh, meu Deus, — eu trouxe minha mão à minha boca. — Por favor,
não...
— Houve um acidente.
Capítulo 15
Demônios

XAVIER

Eu não me lembro muito.


Luzes brilhantes.
Cores giratórias.
Choques ensurdecedores e silêncios absolutos.
E dor.
Muita e muita dor.
Eu olhei para os rostos de homens e mulheres mascarados. Um usava luvas
longas e brancas cobertas com meu sangue.
Lembro-me de uma silhueta enorme nas nuvens, um homem tão grande
que um trovão ribombava sempre que ele movia os braços. Eu tentei fugir,
virando uma esquina antes que ele me esmagasse com seus punhos poderosos.
Eu ouvi vozes. De um homem e de uma mulher.
Eu os conhecia, mas não conseguia lembrar seus nomes.
Eu ouvi palavras, mas não sabia seu significado.
Eu estava envolto em um casulo endurecido e, por mais que lutasse, não
conseguia me libertar. Eu mal conseguia me mover.
Isso me apavorou.
Eu estava me movendo. Rápido. No solo, depois no ar.
Mas o sonho foi pior do que todo o resto.
Um sonho que se repetiu indefinidamente.
Sempre começava da mesma maneira.
Eu estava caminhando por um túnel longo e escuro. Tão escuro que não
conseguia ver para onde estava indo, mas sabia que estava no subsolo. Um
vento quente soprou em meu rosto, tão forte que parecia que eu estava
entrando em um alto-forno.
Eu estava procurando por ela. E eu sempre a encontrava.
Eu ouvi a voz dela, chamando por mim na escuridão.
— Xavier, — ela chamava.
E eu sempre responderia.
Eu tropecei, cada vez mais fundo na escuridão, seguindo sua voz até que
eu estava bem na frente dela. Eu podia senti-la. Tocar nela.
Gostaríamos de fazer amor.
E foi então que o sentimento de pavor cresceu dentro de mim. Uma
sensação tão avassaladora que fiquei enraizado de medo.
Eu sabia que estava chegando. Cada vez que eu sabia que isso aconteceria.
Mas eu não pude fazer nada sobre isso.
Eu só pude assistir enquanto minhas mãos acendiam uma tocha,
iluminando o monstro que era minha noiva.
Carne podre caía de ossos quebradiços.
Furúnculos chorosos vazavam. Criaturas rastejaram sob sua pele, saindo
de suas narinas e entrando em suas órbitas oculares.
A deusa da criação e da morte. A terrível senhora do submundo.
— Angela.
Eu viraria e correria, o mais rápido que meus pés descalços pudessem me
levar. De volta ao túnel, de volta ao calor escaldante.
— Como você pôde me deixar? — Sua voz iria me assombrar. Suas
palavras rangiam em meus ouvidos enquanto eu corria.
— Como você pôde deixar nosso filho?
Eu corri e corri, com as palavras saltando ao meu redor até que se
fundiram em um rugido ensurdecedor Eu entraria em colapso, com meus
olhos fechados e as mãos desesperadamente agarradas aos meus ouvidos.
Então tudo pararia.
Silêncio.
Eu levantava, sem me lembrar de nada.
Havia apenas um longo túnel antes de mim, e o chamado de uma sereia
me atraindo para a escuridão.
E começaria de novo.
— Xavier...
Voltei aos meus sentidos lentamente.
Primeiro, veio a audiência. Houve um bipe lento e constante, e o som
da minha respiração.
Em seguida, veio o toque. Havia uma dor surda que se espalhou por
todo o meu corpo, junto com uma dor de cabeça assassina. Minha boca
estava mais seca do que o Saara, e eu não conseguia sentir minha perna
direita de jeito nenhum.
Isso provavelmente não é bom.
Eu apertei um olho aberto e imediatamente me arrependi.
A luz me cegou, enviando dor direto para o meu cérebro. Eu gemi;
minha garganta estava áspera pelo desuso.
— Xavier, — disse uma voz ao meu lado.
Pisquei algumas vezes, me forçando a me acostumar com a luz. Havia
uma mulher sentada ao meu lado, embora meus olhos ainda estivessem
embaçados.
— Angela? — Eu murmurei, com esperança florescendo em meu
peito.
— Penny, — ela respondeu, sua voz suave. — Desculpe desapontar.
Meus olhos focalizaram lentamente e lá estava Penny, sentada em
uma cadeira ao meu lado. Ela parecia exausta.
— Onde diabos eu estou? — Cada palavra queimou minha garganta.
Parecia que tinha engolido um galão de água do mar.
— Você está em um hospital em Nova Iorque. Você teve um baita
acidente, Xavier.
Minha mente voltou no tempo.
A virada final, aquele idiota do Evolution Lancer, Shinji e Azusa
gritando em meu ouvido, a luz ofuscante...
Eu estremeci quando o som de metal rasgado ecoou em meus
ouvidos. Eu sabia que nunca mais estaria atrás do volante correndo de
novo, isso era certo.
Ofereci a Penny um sorriso fraco. — Obrigado por vir.
Eu disse com sinceridade. Eu não esperava ninguém ao lado da minha
cama naquele momento. Especialmente Penny, depois de tudo que eu a
fiz passar.
Mas eu tinha que admitir, fiquei desapontado.
Uma pequena parte de mim ainda esperava que Angela me recebesse
de braços abertos. Alguma parte delirante e egocêntrica que achava que
eu a merecia.
Ela odeia sua coragem, Xavier.
Eu fiz um balanço de mim mesmo. Além do fato de que tudo doía, era
difícil respirar, e a perna que eu não conseguia sentir estava enrolada em
uma cinta de aparência extremamente complexa, eu estava bem. Havia
tubos e tubos saindo de meus braços.
Eu me senti como uma espécie de cobaia.
— Foi uma situação difícil, mas Tóquio tem alguns dos melhores
hospitais do mundo. Você tem sorte de estar aqui, Xavier.
Não me senti com sorte.
— Por que estou em Nova Iorque, então?
— Angela pediu, — disse Penny.
Eu senti um choque de vida quando ouvi seu nome.
— Ela está aqui? — Eu perguntei.
— Você a vê aqui? — Penny perguntou, sem remorsos.
Eu me encolhi.
— Não, — eu disse. — Mas acho que não estou surpreso.
PENNY

Isso foi maldoso. Penny.


Era tão óbvio que Xavier estava sofrendo, e não apenas fisicamente.
Eu podia ver a dor em seus olhos clara como o dia.
Ele provavelmente pensou que Angela não queria mais nada com ele.
E ele tinha um bom motivo para isso.
Eu o observei se atrapalhar um pouco mais.
Ele era a fonte da maioria das minhas dores de cabeça, então achei
justo que ele pagasse por isso um pouco mais.
Você definitivamente está ficando pior, pensei comigo mesmo.
— Ela está aqui, Xavier. — Eu dei um desconto a ele.
Ele olhou para mim, desconfiado.
— Ela está ao seu lado há horas. Os médicos tiveram que convencê-la
a ir e descansar um pouco pelo bem da gravidez. Ela provavelmente
estará de volta em breve.
Instantaneamente, ele parecia mais saudável.
Havia um brilho em seus olhos que não existia antes, um estado de
alerta na maneira como ele olhou para mim.
— Ela realmente é perfeita, não é? — Ele disse em voz alta, embora
provavelmente estivesse falando mais consigo mesmo do que comigo. —
O que eu fiz para merecê-la?
— Não foi o que quer que você esteve fazendo em Tóquio, com
certeza. — Suspirei.
Eu queria gritar com ele.
Eu queria deixar sair toda a minha frustração e raiva.
Isso definitivamente teria feito me sentir melhor. Mas não era disso
que Xavier precisava naquele momento. Era ele quem estava realmente
sofrendo.
E por mais que tentasse, não consegui repreendê-lo. Não conseguia
esfregar sal em suas feridas depois de toda a dor de cabeça que ele me
deu.
Eu simplesmente não conseguia odiar alguém.
Talvez houvesse algo errado comigo também. — Estou feliz que você
esteja bem, — eu disse. — Estou feliz que você esteja em casa.
— Você não vai gritar comigo? — Xavier perguntou. — Você não vai
perder a cabeça e me perguntar o que diabos eu estava pensando?
Eu balancei minha cabeça. — Pra que eu faria isso? Tenho certeza de
que você já sabe que o que fez foi errado... Além disso, quando você já
sentiu a necessidade de se explicar para mim? — Xavier ficou quieto por
um tempo, e o bipe constante do equipamento médico preencheu o
silêncio.
— Eu preferia que você ficasse com raiva de mim, — ele murmurou. —
Você ser legal agora é muito pior.
— Ah. — Eu sorri. — Doce, doce vingança.
Xavier riu, e a ação o fez estremecer.
— Brad definitivamente me deserdaria se visse isso.
— Sem dúvida, — concordei.
— Antes de sofrer o acidente em Tóquio... eu voltaria para Nova
Iorque. Sinceramente. — Ele olhou para mim com olhos suplicantes. —
Eu estraguei tudo e decidi ir para mais uma corrida, mas decidi voltar.
Eu não respondi.
Fiquei muito surpreso por ele estar me contando isso.
Xavier Knight estava se abrindo comigo?
O mundo estava virando de cabeça para baixo. — Eu sei que há algo
errado comigo. Eu sei que estraguei tudo. Eu quero ficar melhor. Eu sei
que posso... eu só preciso de uma chance para provar isso.
Lembrei-me daquela reunião fatídica na Knight Enterprises meses
atrás. Aqui Xavier estava diante de mim, defendendo seu argumento
novamente.
Mas desta vez...
Desta vez eu acreditei nele.
Este não foi o último grito de morte de um CEO orgulhoso tentando
salvar sua posição em uma empresa.
Este era Xavier.
O verdadeiro Xavier.
E ele sinceramente queria melhorar. Não apenas para si mesmo, mas
para aqueles com quem se importava.
Ele queria melhorar para Angela e para seu futuro filho.
O rosto de Brad apareceu em minha mente, com seus olhos gentis e
seu sorriso mais gentil.
Talvez as coisas vão dar certo afinal. Brad.
XAVIER

Esperei ansiosamente pela resposta de Penny.


Uma carranca.
Um sorriso.
-Sim, certo, saia daqui com essa besteira, idiota.
Qualquer coisa.
Era como defender minha situação a ela na Knight Enterprises mais
uma vez. Mas por alguma razão isso parecia muito mais importante para
mim.
Tipo, em vez de tentar convencê-la de que sou um bom CEO, eu
estava tentando convencê-la de que era...
O quê?
Um ser humano decente, porra?
Eu sabia que era difícil de vender isso. Eu esperava que ela me
chutasse para o meio-fio.
Ela tinha feito isso antes.
Claro, ela pode ter sido o voto decisivo que determinou se eu
manteria minha posição como CEO ou não, mas, surpreendentemente,
não usei isso contra ela.
Acho que, no fundo, senti que merecia toda a merda que estava
recebendo.
E, honestamente, minha experiência de quase morte abriu meus
olhos.
Eu sabia o que era importante para mim.
E isso era Angela.
Isso era minha família.
Penny piscou algumas vezes como se acordasse de um transe.
— Xavier, é realmente você?
— Difícil de acreditar, eu sei.
Ela riu. — Tudo bem. Você não tem que justificar nada para mim. Eu
acredito em você.
— Mas? — Eu perguntei.
— Mas, — ela continuou. — Eu realmente não sou quem você deveria
tentar convencer agora.
Penny me deixou sozinho na sala, fechando a porta atrás dela. Fechei
os olhos, e o bipe constante do monitor era como uma canção de ninar.
— Ele está acordado, — ouvi a voz de Penny murmurar do outro lado
da porta. Meus olhos se abriram. Alguém mais estava aqui para me ver.
Era ela. Eu podia sentir em meus ossos.
Tudo desapareceu, todo o meu ser focado em uma única pessoa.
Angela.
Capítulo 16
Turno da manhã

ANGELA

As portas elétricas que conduziam à ala de emergência abriram diante


de mim. Depois de ficar acordado a maior parte da noite, eu estava
cansado até os ossos. Minha mão instintivamente descansou na minha
barriga.
Meus gêmeos.
Na cobertura, eu tirei uma soneca por algumas horas, tomei um
banho e juntei algumas roupas para Xavier. Meu sono foi agitado. Eu
estava preocupada com ele.
Por muito tempo, tudo que eu queria era que ele voltasse para casa.
Mas não desse jeito. Nas semanas em que ficamos separados, ele não
retomou minhas ligações. Eu não sabia mais quem ele era.
Agora que ele estava de volta, eu oscilava entre ansiedade, raiva, alívio,
amor...
Meus nervos eram fios elétricos.
Estar no hospital não ajudou. Mesmo que as superfícies brancas
estéreis tenham sido lavadas na luz azul e calma do início da manhã, isso
não fez nada para me relaxar.
Eu me apresentei na recepção e a mulher me levou ao quarto do meu
marido.
Enquanto caminhamos pelo corredor, um homem saiu de uma das
salas adjacentes e fechou a porta. Minha respiração ficou presa. Eu
reconheceria aqueles ombros largos, cabelo loiro despenteado e andar
atlético em qualquer lugar. Era Leo.
MDSMDSMDS! Eu pensei comigo mesma. Meu coração disparou.
Por que meu médico estava trazendo esse tipo de reação em mim?
Na última vez que nos vimos, estávamos jogando bolas de neve. Foi
leve e divertido, mas também parecia que havia algo... intenso em nossa
brincadeira.
Talvez fosse a expressão em seus olhos...
O mesmo que eu vi agora, como Leo me notou.
Não. Minhas emoções estavam em frangalhos e meus hormônios
estavam em fúria. Deve ter sido isso.
— Angela, — ele chamou, com sua voz suave de preocupação
enquanto caminhava em minha direção. — Seu marido está bem?
Ele tocou meu ombro com a mão que não estava segurando uma pasta
de papel. — Você fugiu do parque tão rapidamente — eu só soube que
tinha acontecido um acidente.
— Sim, houve um acidente... — Comecei antes de perder a linha de
pensamento.
O dia anterior foi tão turbulento que mal consegui manter uma
conversa. E por alguma razão, ver Leo me deixou ainda mais
sobrecarregada.
— Ele está bem? — Leo pressionou.
— Sim. Graças a Deus. Sim.
O alívio me atingiu como uma droga. Apenas dizer essas palavras
liberou um pouco da tensão em meus ombros.
Ele está bem. Xavier ficará bem.
— Ótimo. — Leo sorriu para mim. — Ele ficará muito feliz em ver
você.
Algo em seu tom me fez desviar o olhar.
A recepcionista estava esperando por mim. E olhando para o Dr.
Carmichael.
Eu me afastei dos olhos perscrutadores de Leo e continuei pelo
corredor.
— Aqui está, — disse a recepcionista, entregando-me antes do quarto
do meu marido. Nesse momento, a porta abriu e Penny saiu para o
corredor.
Ela sorriu quando me viu, tentando o seu melhor para parecer
enérgica, embora eu pudesse dizer que ela estava tudo menos isso. As
bolsas sob seus olhos não mentiam.
Percebi que ela estava tentando me animar de qualquer maneira que
pudesse.
Eu posso ver porque você se apaixonou por ela. Brad.
Penny segurou minha mão.
Embora ela fosse uma amiga inesperada, sempre senti uma conexão
com ela.
— Ele está acordado, — ela disse suavemente. Ela me deu um pequeno
sorriso e saiu.
Eu fiquei na porta, hesitando.
Eu estava prestes a ver meu marido acordar pela primeira vez em
semanas incontáveis. O que ele estava fazendo em Tóquio até agora, de
todos os lugares no mundo?
Da última vez que estivemos juntos, tudo o que qualquer um de nós
queria era nos separar. Aparentemente, Xavier ainda queria isso.
Não era como se ele tivesse voltado para casa de propósito.
A dor da nossa separação me atingiu novamente. Ainda parecia fresco.
Mas engoli o nó na garganta. Eu precisava ser forte. Eu tinha que
pensar nos meus bebês. Com Xavier ou sem ele, a vida estava avançando.
Eu empurrei a maçaneta e entrei na sala.
XAVIER

Angela.
Eu encarei a porta em antecipação, esperando para ver com quem
Penny estava falando.
Tinha que ser Angela.
Quem mais se importaria em vir até mim? Quem não desistiu do meu
traseiro arrependido?
Em meu coração, eu sabia que não merecia outra visita de minha
esposa. Ela esteve aqui e saiu antes de eu acordar.
Talvez ela não voltasse mais. E como eu poderia culpá-la? O que eu dei
a ela para se agarrar?
Eu tinha desaparecido em uma nuvem fedorenta de arrotos de uísque
e fumaça de escapamento.
Por tudo que ela sabia, eu não tinha planejado voltar.
Tudo que eu queria era abraçá-la, dizer que planejava voltar para ela.
Lamentava tudo — a briga, meu comportamento estúpido e teimoso. Eu
estava planejando voltar. Antes do acidente. Antes que a bagunça
ficasse... ainda mais bagunçada.
Finalmente, ela entrou na sala.
Angela.
A luz da manhã, ela era um anjo. Ela era meu anjo.
Mas eu não sabia se ela me aceitaria desde que eu caí em desgraça.
Ela estava linda como sempre, com seu cabelo loiro solto sobre os
ombros.
E sua barriga! Ela estava aparecendo, e sua mão segurou como um ato
de conforto ou proteção.
Eu estive fora por muito tempo.
Eu perdi tudo isso.
Eu me senti numa espiral profunda de pensamentos.
— Xavier, — ela chorou. Lágrimas brilharam em seus olhos quando
ela veio para o meu lado, tocando o pulso que não estava conectado ao
intravenoso. Eu segurei sua mão, mas mal conseguia olhá-la nos olhos.
Eu nunca mereci ser seu marido. Mesmo antes de deixar tudo sair do
controle.
Agora, eu não merecia nem mesmo sua pena.
— Estou surpreso que você esteja aqui, — sussurrei, com minha voz
patética e pequena, — depois de tudo que fiz.
— É claro que estou aqui, — respondeu ela. Seus dedos roçaram
minha bochecha e eu finalmente encontrei seus olhos.
Eu vi alguma emoção cintilando em seu olhar.
Mas era amor?
— Eu sou sua esposa, — ela murmurou.
Senti a dor dentro de mim transformar-se em um sentimento mais
fácil, familiar: raiva. Era por isso que ela estava aqui. Obrigação.
Ela me deixou. Ela me disse para não voltar.
A rejeição que senti naquela noite voltou para mim fresca, como se
nunca tivesse partido.
— Achei que você queria me ver magoado quando saiu de Tóquio.
As palavras caíram entre nós como uma parede.
— Isso não é justo, — ela sussurrou.
Ela estava certa, mas isso não me impediu de me aprofundar mais.
— Você não me queria por perto. E você conseguiu o que queria.
Ela puxou sua mão da minha.
— Que porra é essa, Xavier? — Minha esposa perguntou. Ela estava
com raiva agora, o que era melhor do que quando estava triste. — Você
sabe que tenho ligado para você. Você acha que eu quero ficar grávida
sozinha?
— Eu acho que você não quer que eu te arraste para baixo. Eu apenas
te envergonho. Sempre achei que você ficaria melhor sem mim e,
finalmente, você percebeu isso também.
As mãos de Angela estavam fechadas em punhos.
O que eu estava fazendo? Não havia como voltar atrás agora.
— Xavier, eu tive que sair. Não estou mais pensando apenas em mim.
E não só você também. Eu tenho que pensar sobre os... os gêmeos.
O quê?
Os olhos de Angela estavam selvagens, quase ferozes, enquanto eu os
procurava.
— O que você quer dizer com gêmeos?!
— Por que você acha que estou ligando para você? — Ela gritou. Ela
olhou para sua barriga e a segurou, evitando meus olhos. Quando ela
falou novamente, sua voz era mais suave.
— Ou estou tendo gêmeos. Não sei se você quer estar por perto.
Sua voz falhou.
Eu me senti como se estivesse caindo de novo, nos travesseiros atrás
da minha cabeça. Caindo em desgraça mais uma vez.
Talvez eu pudesse afundar todo o caminho na maca até que todo o
meu corpo desaparecesse.
Eu tinha perdido muito.
Como eu poderia voltar?
Não havia como fugir da minha dor e culpa mais. Vieram em ondas
que me derrubaram e me deixaram sem fôlego. Toquei minha bochecha e
a encontrei molhada de lágrimas.
— Eu sinto muito, — eu consegui dizer. Minha voz subiu para Angela,
até as nuvens onde ela estava. Lá estava seu toque novamente, no meu
braço. — Shhhh. — Sua voz era mais do que eu merecia. Minha mão
tremia.
— Eu não tenho mais nada para oferecer a você, — eu sussurrei. —
Não tenho emprego, não tenho família... desperdicei muito do nosso
dinheiro.
Eu encontrei seus olhos, e ela olhou para mim como se estivesse
olhando para minha alma. — Eu nunca estive com você por qualquer um
desses motivos.
A confiança em sua voz foi um bálsamo para minhas feridas abertas,
mas não foi o suficiente para curá-las.
— Bem, meu pai também não está mais aqui. Agora não há nada
impedindo você.
Assim que as palavras feias foram ditas, fechei os lábios com força.
Angela recuou. Ela me olhou como se eu fosse alguém que ela não
conhecesse.
O que eu estava fazendo?
Eu estava atacando e não sabia como parar.
— Como você ousa? — Ela perguntou, com sua expressão dura. Isso
me gelou até os ossos. — Nada me segurando? Estou grávida de seus
filhos, porra, Xavier.
O palavrão ecoou no ar.
Este era um novo lado de Angela; um que eu nunca tinha visto antes.
Ela estava agindo de forma dura e fria.
Então eu entendi. Esse lado de Angela era novo. Ela o construiu por
minha causa. Para se proteger de mim.
Naquele momento, eu sabia que estava ficando sem chances. Se eu
não me recuperasse, Angela realmente me deixaria.
— Desculpe, — eu consegui dizer.
— Você acha que um 'desculpe' vai consertar tudo? — Ela perguntou.
— Porque não vai. Se você quiser estar aqui por nossos filhos, você
precisa provar que você merece.
Ela estreitou os olhos para mim, mas sua voz saiu baixa. — De novo.
Essas pequenas palavras me quebraram. Minha raiva debatida
apenas trouxe à tona o ponto de Angela: Já tinha feito isso antes.

Esta não foi a primeira vez que precisei provar meu valor para minha
esposa.
Esta não foi a primeira vez que eu a magoei.
Quando nos casamos, eu era horrível. Eu era um traidor. Eu solto
minha raiva em Angela sempre que posso.
Achei que aqueles dias haviam ficado muito para trás, mas era óbvio
que Angela nunca se esqueceu.
— Eu estraguei tudo, — eu admiti. — Eu ainda estou ferrado e não vai
sumir da noite para o dia.
A sobrancelha de Angela franziu. Ela não tinha certeza sobre isso. Eu
continuei.
— Eu sinto muito por te decepcionar. Eu quero ficar melhor. Quero
ser melhor para você e para nossa família.
Minha voz estava forte. Até a névoa em minha cabeça começou a se
dissipar.
— Eu juro para você, vou tentar melhorar se você ainda me aceitar de
volta.
A mandíbula de Angela estava rígida. Eu não sabia o que ela faria.
— Você ainda pode confiar em mim depois de tudo que fiz? — Eu
sussurrei.
Esperei por sua resposta como um náufrago, nadando no oceano. Ela
me daria o bote salva-vidas que eu precisava?
Capítulo 17
Terapia

XAVIER

Marco abriu a porta para mim e eu passei por ela com muletas. Eu dei
a ele um pequeno aceno de cabeça como agradecimento antes de
manobrar ao redor.
O solo não estava mais escorregadio, agora que o gelo estava
derretendo. No mês seguinte ao acidente, Nova Iorque explodiu com o
início da primavera.
Os carros velozes de Tóquio pareciam uma vida inteira de distância.
Agora, tudo estava lento.
Eu me tomei bastante adepto das minhas muletas. Usá-las era um
bom exercício para os braços. Mas esse era o único lado bom. As malditas
coisas estavam me deixando louco.
Suspirei, observando a sala de espera do terapeuta. Eu era o único ali.
— Sr. Knight? — Uma mulher entrou. Ela era alta e meio corpulenta.
Eu balancei a cabeça e ela pegou minha mão em seu aperto firme. —
Dra. Elmore, — ela se apresentou.
— Prazer em conhecê-lo, — resmunguei, deixando claro que não
estava feliz por estar lá.
Ela me levou pelo corredor até seu escritório, que era decorado com
pisos de madeira escura e vibrantes tapetes persas. Eu sentei no sofá de
couro marrom.
Ao meu lado estava uma espreguiçadeira, como se os pacientes
sempre se deitassem em desenhos animados. Não achei que alguém os
usasse desde Freud, mas era um toque legal.
Um lindo globo estava na mesa baixa diante de mim.
Estendi a mão para tocá-lo. Era incrustado com marfim.
— Você está interessado em antiguidades, Sr. Knight? — A Dra.
Elmore me perguntou de sua enorme poltrona.
— Na verdade, não, — respondi. — Acho que tenho uma queda por
globos.
Ela sorriu de uma forma que era reservada e calorosa ao mesmo
tempo.
— Então você gosta de viajar, — ela intuiu.
Dei de ombros. — Sim.
O silêncio desceu sobre a sala. Eu olhei ao redor. Como tudo isso
deveria funcionar? Ela me faria algumas perguntas, me daria bons
conselhos e depois resolveria todos os meus problemas? Concordei em
fazer terapia porque Angela achou que seria bom para mim. Mas eu
estava muito cético de que essa estranha pudesse me dizer algo sobre
mim que eu já não soubesse.
— Então... você precisa de um caderno ou algo assim antes de
começarmos? — Eu perguntei.
A Dra. Elmore balançou a cabeça. — Não vou tomar notas durante as
nossas sessões. Vamos apenas ter conversas.
Eu balancei a cabeça evasivamente.
— Você já fez terapia antes, Sr. Knight?
— Me chame de Xavier, — respondi. — E não, nunca.
E eu nunca planejei isso...
Claro, eu precisava fazer uma mudança. Quase me afoguei em uma
poça de bebida forte e quase perdi minha esposa e meus filhos ainda não
nascidos. Eu precisava me recuperar.
A terapia ajudou algumas pessoas. Mas não achei que isso pudesse me
ajudar.
Nada do que alguma estranha me dissesse me ajudaria a entender
meus problemas melhor do que já fazia.
— Tudo bem, Xavier, — Dr. Elmore continuou. — Eu sigo uma
abordagem direta. Sinta-se à vontade para perguntar sobre minha
metodologia a qualquer momento. E lembre-se, tudo o que discutimos
permanece nesta sala.
Eu balancei a cabeça novamente.
— Eu posso ver que você machucou sua perna. Você está com alguma
dor?
Eu olhei para minha perna direita danificada. — Não mais, — eu dei
de ombros. — O acidente foi há um mês. Arrancarei este maldito gesso
em duas semanas.
A Dra. Elmore cruzou as mãos. — Fico feliz em ouvir isso. Foi um
acidente de carro?
A noite passou diante dos meus olhos. A mão de Shinji batendo nas
minhas costas, me incentivando a entrar na corrida...
A voz de Asuza no meu ouvido, me incentivando. O motor de Izanami
acelerando ao meu menor toque.
A emoção da vitória que se transformou em terror momentos antes...
A colisão.
— Sim.
Nenhum de nós disse nada. Eu apenas olhei para o globo.
— Eu estava indo rápido demais, — acrescentei, depois parei. Por que
senti a necessidade de me explicar?
Mesmo assim, a Dra. Elmore estava quieta. Algo em seu silêncio me
fez querer continuar.
— Foi uma espécie de alerta, eu acho, — eu continuei, e então
finalmente olhei para ela. Sua expressão era pensativa, nem satisfeita
nem desapontada. Achei que ela estaria sorrindo. Afinal, caí direto na
armadilha dela, abrindo-me com tão pouco convite. Mas ela era
totalmente neutra. Uma verdadeira profissional.
Talvez eu quisesse conversar com alguém. O pensamento passou pela
minha mente e depois desapareceu.
— Você está acordando para o quê? — A Dra. Elmore perguntou.
Fiquei olhando para o continente europeu no mapa. Concentrei-me
na França e me lembrei de quando Angela e eu viajamos para lá. Antes de
estarmos apaixonados. De volta quando eu ainda era um completo
idiota.
Mas mais do que o passado, o presente estava pesando em minha
mente...
Desde que saí do hospital, Angela e eu morávamos juntos na
cobertura. Bem, depende de como você define — viver.
Angela insistia em dormir em seu antigo quarto e quase nunca ficava
em casa.
— Minha esposa está grávida, — respondi por fim.
— Ela vai ter gêmeos.
— Parabéns. — A Dra. Elmore permaneceu nivelada.
Nenhum falso entusiasmo tocou sua voz.
Mastiguei uma unha. — Eu não fui um marido muito bom por um
tempo, — eu disse, inspecionando meu dedo.
Ela ficou quieta.
Eu estava perdido em meus pensamentos, lembrando de Tóquio. Eu
estava bebendo muito então...
Minha vida parecia um pouco mais brilhante pelo fundo de um copo
de cerveja. Eu não tinha que pensar em decepcionar Angela ou meu pai.
Eu não precisava me perguntar por que a dor e a saudade ainda me
assombravam, quase um ano após sua morte.
Quando perdi meu título de CEO, não pude mais esconder quem eu
realmente era. Eu era um perdedor do caralho e, de repente, todos
sabiam disso.
Mas nas ruas de Tóquio, ao volante do carro mais rápido e sexy da
garagem de Asuza, me senti eu novamente. Ou, pelo menos, a pessoa que
eu queria ser.
A verdade era que eu não tinha mais ideia de quem realmente era.
— A parte mais difícil de fazer uma mudança é começar, — disse
Elmore. — E você já fez isso.
Eu encontrei seus olhos e dei um pequeno sorriso.
— Sim, talvez.
Mas, honestamente, eu não tinha certeza se acreditava nisso.
Meu telefone vibrou.
— Eu deveria verificar se... pode ser minha esposa.
Peguei meu telefone, mas não era Angela.
Era Shinji. Meu amigo estava me enviando mensagens de texto como
um louco desde que voltei para a cidade. Primeiro, ele estava preocupado
com a minha recuperação, mas quando soube que eu estava bem, tentou
me convencer a voltar.
Eu não ia, é claro. Embora eu não pudesse negar que sentia falta do
meu velho amigo.
Shinji: Ei, cara

Shinji: Você não vai acreditar nisso Shinji: Queria que você
estivesse aqui agora Shinji: Grande corrida hoje à noite e todos
estão apostando CONTRA Titã Shinji: Mas nós dois sabemos que
MF vai limpar Shinji: Quer entrar comigo?

Enfiei meu telefone de volta no bolso. Mesmo aqui, tão longe de


Tóquio, a fria corrida do acaso me seduziu.
Contra quem o Titan estava competindo? Que carro ele estava
dirigindo? Eu me perguntei o quão grande era o prêmio. Se Shinji e eu
apostássemos contra todos, o pagamento poderia ser enorme!
Eu olhei para a Dra. Elmore. Ela estava me olhando atentamente, sua
testa franzida quase imperceptivelmente.
ANGELA

— Oh, eu simplesmente amo lavanda, — disse Em, abrindo o pacote


de sementes.
— Eu sei que você gosta, — eu sorri. — É por isso que estou
cultivando.
Em e eu estávamos sentadas à mesa na varanda preparando meu
jardim de ervas. Leo mencionou que algumas mulheres achavam
terapêutico jardinagem durante a gravidez, e suas palavras ficaram
comigo.
Permite que você visualize o crescimento e alimente algo com as mãos.
Gostei da ideia. Eu sabia que meus bebês estavam crescendo — podia
senti-los chutando. Mas estar grávida realmente não parecia que eu os
estava alimentando. Parecia que eu era a casa deles.
Sua enorme casa bamboleante.
— Então, o gesso de Xavier deve sair logo, hein? — Em perguntou.
A única coisa positiva sobre o estresse no meu casamento era que eu
estava passando muito mais tempo com Em e Bella. Essa era realmente a
única coisa que me mantinha sã.
— Mais duas semanas, — respondi, enfiando os dedos no solo.
— Bom. Ele se sentirá mais confiante quando puder andar
novamente.
Eu considerei isso enquanto colocava água na pequena panela. Eu
esperava que Em estivesse certa. Xavier estava tão deprimido desde que
voltou de Tóquio que era difícil para mim ficar com raiva dele.
E eu queria continuar com raiva.
Eu não podia acreditar que ele me deixou sozinha. Isso quebrou todas
as promessas que ele fez para mim.
Mas era tão óbvio que ele estava sofrendo, até mesmo Em podia ver
isso. Isso me deixou triste. Ele estava com tanta raiva de si mesmo que
partiu meu coração.
— Sabe, — comecei, — quando Xavier estava em Tóquio, imaginei que
ele estava se divertindo muito. Festejando, bebendo, sendo mulherengo...
Em ergueu as sobrancelhas.
Observei para ver como Em iria responder. A verdade é que eu estive
pensando muito sobre as fotos de paparazzi de Xavier. Eu queria falar
sobre isso, mas não sabia como, sem Em me dizer o que eu já sabia...
Se Xavier realmente tivesse me traído, eu precisaria terminar as coisas
de verdade.
— É sobre as fotos? — Em perguntou. Como sempre, ela sabia
exatamente o que eu estava pensando. — Eu estava me perguntando por
que você não tinha tocado no assunto antes.
— Sim... — eu comecei.
— Você não perguntou a Xavier sobre isso ainda? — Em perguntou,
claramente chocada.
— Bem, eu...
— Você tem que perguntar, — disse Em.
Eu sabia que ela estava certa, mas fiquei tão impressionada. Xavier e
eu tínhamos tantas coisas para resolver, e eu estava evitando todas elas.
Eu não sabia por onde começar.
Meu marido me deixou sozinha, ignorando minhas ligações enquanto
eu estava grávida de seus filhos.
E quando ele finalmente voltou para casa, não foi por vontade própria.
Ele me disse que planejava voltar, mas eu não sabia se isso era verdade.
Essa era a pior parte.
Eu realmente não acreditava que Xavier iria me trair. Ele não era o
playboy que costumava ser.
Mas a maneira como Em olhou para mim me disse que eu não deveria
ter tanta certeza...
— Ele começou a terapia hoje, — soltei, na esperança de redirecionar
a conversa.
— Isso é bom.
Era bom. Fiquei feliz por Xavier ter seguido meu conselho. Talvez
alguém pudesse chegar até ele, mesmo que não fosse eu...
Desde que Xavier estava em casa, tivemos muitas conversas. Ele se
desculpou, rastejou, confessou seu amor.
Foi um bom começo, mas não era tudo que eu precisava. Eu precisava
que ele cuidasse de si mesmo, trabalhasse sua dor, sua depressão, suas
tendências ao alcoolismo...
E até então, eu precisava do meu espaço. Eu precisava ser forte para os
bebês.
Nesse momento, houve uma batida à porta de vidro deslizante. Era
Xavier, gesticulando com sua muleta.
Eu estava tão envolvida na minha conversa com Em que nem o ouvi
chegar.
Ele abriu a porta e Em já estava de pé, pronta para sair.
— Até mais, mamãe, — ela chamou, beijando minha bochecha. —
Tchau, bebês!
Ela olhou para meu marido. — Xavier.
— E bom ver você, Em, — ele respondeu, sorrindo como um santo. —
Você não vai ficar para o jantar? — Em já estava indo para a porta. — Não
posso! Tenho uma família para cuidar!
E então Xavier e eu ficamos sozinhos.
Ele olhou para mim como se quisesse me beijar, mas voltei para a
mesa e me sentei. Ele me seguiu em suas muletas e sentou-se na cadeira
ao lado da minha.
— Olha todas essas plantas! Muito legal, Angie.
Tenho certeza que seu jardim será...
— Xavier, — interrompi. Eu não estava com humor para conversa
fiada. Em estava certa. Tinha que falar com Xavier sobre as fotos. Agora.
— Precisamos falar sobre as fotos suas na imprensa de Tóquio. Eu sei
que os paparazzi têm um jeito de fazer tudo parecer pior. Mas não posso
mais não ter certeza.
Ele fez uma pausa, mas apenas por um momento. — Eu beijei outra
mulher. — Ele afundou como um balão vazio depois que as palavras
saíram. — Bem, ela me beijou, mas eu deveria tê-la impedido antes. Eu
estava bêbado. O que não é desculpa. E eu entendo se você nunca...
— Xavier, — interrompi.
Apesar do assunto da conversa, senti uma sensação de calma.
Finalmente, meu marido estava sendo aberto comigo.
A merda entre nós desapareceu. O abismo de culpa e vergonha, culpa
e insegurança desapareceu. Éramos apenas nós dois.
Eu vi Xavier como ele era. Magoado, arrependido. Mas o fato de ele
estar sendo honesto comigo mostrou que ele estava disposto a mudar.
Ele estava disposto a sair do buraco. E era disso que eu precisava.
Ele olhou para mim, confuso, mas eu dei a ele um pequeno sorriso. —
Obrigada por me dizer.
— Você não está brava?! — Ele perguntou, incrédulo.
— É claro que estou brava, — eu disse. — Mas estou farta de ficar
brava. Um beijo não é o fim do mundo.
Eu engoli em seco, balançando minha cabeça. Minha confiança tinha
ficado tão fraca.
— Prefiro me concentrar em seguir em frente, — continuei. — Quer
dizer, vamos ter filhos juntos.
Xavier sorriu. Era o seu sorriso verdadeiro, o que sempre me
conquistava. Aquele que eu não via há meses.
— Você é incrível, Angie, — disse meu marido.
— Obrigado por me aturar. Honestamente, não sei totalmente o que
aconteceu comigo. Mas estou trabalhando nisso.
Ele passou os dedos pelo meu rosto. — E a única coisa da qual tenho
certeza agora é você.
Eu agarrei sua mão e sorri.
Eu sabia que ele estava sendo honesto. Minhas ansiedades dos últimos
meses não foram resolvidas, mas agora um Band-Aid cobria parte da
ferida.
E nós tínhamos muito pelo que esperar. Mais tarde naquela semana,
descobriremos os gêneros de nossos bebês na festa de revelação que Zoe
insistiu em organizar.
Se Xavier e eu continuássemos nos concentrando no futuro, talvez
pudéssemos superar nosso passado...
Capítulo 18
A Grande revelação

XAVIER

— Aê, garoto! — Ken aplaudiu, batendo-me nas costas. Forte.


Meu sogro nunca teve certeza absoluta sobre mim. Eu sabia. Mas,
desde minha prolongada estada em Tóquio, ele não tinha sido tão
discreto com sua aversão.
O fato de eu ainda estar de muletas pode levar alguém a pensar que eu
poderia pegar leve. Mas esse não foi o caso hoje.
Nesta maldita festa de revelação do gênero dos gêmeos, Ken veio com
todos os tipos de tarefas para mim. Agora eu estava jogando
hambúrgueres na grelha.
— Lembre-se. O meu é mal passado, filho. — Ken estava parado bem
por cima do meu ombro, com os braços cruzados.
Obviamente, não fiquei muito feliz em dar uma festa na cobertura.
Muito menos uma festa de revelação de gênero.
Mas Angela queria, e eu não estava em posição de negar nada a ela. Eu
queria que ela fosse feliz, afinal.
Esta festa estava pior do que eu esperava. Todos haviam comparecido
ao evento. A família inteira de Angela, Dustin e seu noivo, Zoe...
Achei que ninguém viria por mim. Agora que papai estava morto,
Angela era a única família que eu tinha. Mas até a tia Heather apareceu,
arrastando Henry junto.
Eu estava na varanda, observando nossos convidados se misturando
na sala de estar. Eles estavam zumbindo de expectativa; todos bebiam
mojitos sem álcool, querendo saber da surpresa.
E ainda mais do que o gênero dos gêmeos, nossos convidados queriam
ver nossos rostos quando nós descobríssemos. Zoe tinha combinado com
o médico de Angela, e minha esposa e eu não sabíamos de nada.
Honestamente, eu não tinha pensado muito sobre como nossos bebês
seriam. Ambas as opções pareciam boas para mim.
Eu estava me equilibrando em um pé, tentando descobrir como
diabos cozinhar na grelha que Ken tinha trazido de Nova Jersey.
— Vire-os agora, filho, — Ken instruiu. E eu obedeci.
Senti meu sogro por cima do ombro. — Tudo é mais difícil em uma
perna, hein, X?
— Pode-se dizer que sim... — eu resmunguei.
— Você vai melhorar logo. E então você vai valorizar mais andar com
as duas pernas. — Ken se moveu ao meu lado e me olhou nos olhos. — Às
vezes é o que é preciso, filho. Temos que sentir perda para saber o que
temos.
Olhei para ele, com espátula na mão e fumaça de grelha voando em
meu rosto. Eu sabia do que ele estava falando. Não se tratava apenas da
minha perna. Era sobre Angela.
Eu engoli em seco. Claro, chegar perto de perder minha esposa me fez
perceber o quanto eu precisava dela. Mas também me fez pensar se ela
estava melhor sem mim.
Senti um tapa no braço.
— Ai! — Chorei. Ninguém tinha simpatia por mim? Eu estava ferido!
— Ei, primo, — Henry sorriu idiotamente. — Se importa se eu te
roubar por um minuto?
Ser roubado por Henry não era exatamente minha ideia de diversão,
mas era uma desculpa para fugir de Ken. Encolhi os ombros para meu
sogro e ele me enxotou, tomando meu lugar em sua churrasqueira.
Henry e eu nos acomodamos à mesa da varanda, observando os
convidados lá dentro conversando sob elaboradas tranças de fitas azuis e
rosa.
— Parabéns pela criança e tudo.
— Crianças, — eu corrigi.
— Huh?
— Vamos ter gêmeos, Henry, — eu disse, impassível.
— Oh, sim, legal, — meu primo disse com a boca cheia de
hambúrguer. Quando ele terminou a mordida, ele continuou. — Eu
queria falar com você sobre a empresa.
Eu olhei para ele. — E por que você iria querer fazer isso?
— Porque é um show de horrores, primo. — Henry lambeu a
mostarda de seu dedo. — Penny tem coisas demais para fazer. E meu
poder é principalmente simbólico, você sabe, mas eu não aguento mais ir
às reuniões do conselho.
A raiva cresceu em meu peito. Eu passei muitas noites me
perguntando o que estava acontecendo na Knight, e saber de verdade não
me fazia sentir melhor. Isso só me irritou.
Henry me expulsou da minha empresa apenas para jogá-la no lixo.
— Então não vá, Henry. Não é mais meu problema, porra.
Com isso, eu me levantei e o deixei.
Entrei no apartamento e observei Angela do outro lado da sala. Ela
usava um vestido rosa com um laço bem sobre a barriga. Ela estava rindo
com Dustin — o riso a tomava tão bonita.
O que eu não daria para atravessar a sala e tomá-la em meus braços.
Mas eu não sabia se ela estava pronta para isso ainda.
Quando ela me pressionou sobre as fotos de Tóquio alguns dias atrás,
coloquei minhas cartas na mesa. Eu disse a ela meu segredo. Eu havia
beijado outra mulher.
E eu senti que fizemos algum progresso.
Mesmo essa pequena parte nos levou quase seis semanas. O abismo
entre nós era tão profundo que, nesse ritmo, levaria anos para voltar
onde estávamos. Antes de tudo desmoronar.
Como se ela sentisse meu olhar, ela se virou e o encontrou. Eu
imaginei como eu deveria estar, afundado em minhas muletas, sozinho.
Ela me deu um pequeno sorriso.
— Todos, se reúnam em volta! — Em chamou. — E o momento que
todos vocês estavam esperando!
Angela, Xavier, para a piñata!
A enorme piñata em forma de urso de pelúcia estava pendurada no
teto no centro da sala.
Parecia absolutamente insano.
Era outra maneira de ser punido por ficar em Tóquio.
Embora tivesse sido mais adequado para uma pessoa ferida cortar um
bolo ou estourar um balão, em vez disso, empunhava uma vara enorme,
golpeando uma piñata enquanto me equilibrava em uma perna.
Eu manquei sob a piñata. Angela saltou graciosamente para o meu
lado e apertou minha mão. Embora já tivéssemos fingido ser um casal
feliz algumas vezes hoje, esse gesto parecia genuíno.
Eu apertei de volta, saboreando o contato com ela.
— Eu vou primeiro! — Ela disse. Em se aproximou e amarrou uma
venda em volta da cabeça de Angela.
Oh, certo. Esqueci da venda.
Então Em girou Angela pelos ombros até que ela ficasse desorientada.
Jesus Cristo.
Angela estava claramente se divertindo. Ela riu enquanto se lançava
na direção errada, enquanto toda a sua família e amigos aplaudiam e
indicavam o caminho certo.
Minha esposa ergueu a vara acima da cabeça e a deslizou para baixo.
Ela acertou o braço do ursinho de pelúcia, fazendo-o girar.
Todos riram e uivaram de tanto rir. O urso dançou acima da sala de
estar vazia. Pelo menos Zoe tinha pensado em mover a mesa de centro e
as luzes de Pé-
Eu estava me preparando mentalmente para a minha vez, mas Angela
não estava pronta para desistir ainda. Ela enviou outro golpe direto no
peito do ursinho. Ele fez um recuo e a multidão enlouqueceu.
Eu levantei minhas sobrancelhas. Eu não sabia que minha esposa
tinha tanta força nela.
Talvez ela estivesse fingindo que eu era o ursinho, pensei comigo mesmo.
Depois que Angela atacou o urso mais uma vez, Em interveio.
— Tudo bem, matadora! — Ela tocou o ombro de Angela. — Vamos
dar uma chance ao Xavier. — A multidão aplaudiu respeitosamente. Os
olhos de Ken brilharam como se ele não pudesse esperar para ver o que
aconteceria comigo.
Tentei sorrir, mas provavelmente saiu mais como uma careta.
Em se aproximou de mim com a venda.
— Eu estava pensando em te dar um tratamento especial, porque você
está de muletas e tudo mais, — ela anunciou, — mas você é muito bom
nessas coisas! Eu acho que você pode lidar com isso.
Ela amarrou a venda e eu fiquei no escuro.
Depois que Em me girou e eu pulei em um pé, estava livre para ir atrás
da piñata.
Com minhas muletas nas axilas, segurei as varas com as duas mãos. A
multidão me mandou virar à direita.
Senti a mão de Angela no meu braço, me puxando. Então, quando eu
terminei, todos me encorajaram a seguir em frente.
Eu movi o taco com um grande golpe. Ouvi o baque de uma colisão —
talvez a barriga do ursinho — e depois a chuva de objetos da piñata. Todo
mundo estava aplaudindo e gritando, e alguém estava tirando minha
venda. Quando pude ver novamente, Angela estava diante de mim. Um
sorriso iluminou seu rosto e havia lágrimas em seus olhos.
Como sempre, quando olhei para ela, o resto da sala desbotou.
Éramos apenas nós.
— Vamos ter um menino e uma menina, — ela me disse.
Um menino e uma menina. Meu coração cantou.
Confetes azul e rosa encheram o ar, girando ao nosso redor. Eu me
inclinei e a beijei.
Com seus lábios nos meus, parecia que nenhum tempo havia passado.
Mesmo que não tivéssemos nos beijado desde que Cheguei em casa.
Todas as vezes que me contive, todas as vezes que disse a mim mesmo
que ela não estava pronta... Todas desapareceram. Agora, era apenas isso.
Nós. Juntos novamente.
ANGELA

— Oh, meu Deus... — Eu gemi, desabando no sofá.


Xavier e eu tínhamos acabado de nos despedir dos últimos convidados
e eu estava exausta. Finalmente, éramos apenas nós na cobertura.
Eu olhei para a sala. Confetes cobriam o chão, e o ursinho de pelúcia
mutilado pendia do teto com um buraco no meio.
Xavier se abaixou ao meu lado, me oferecendo um copo d'água.
Tomei um gole e me inclinei, descansando minha cabeça em seu
ombro. Desde que Xavier voltou de Tóquio, não houve muito contato
casual entre nós.
Normalmente, eu me sentia como se estivéssemos separados por um
abismo, que eu tinha que cruzar em uma ponte de corda frágil. Eu tive
que ser cautelosa. Mas eu não sentia isso agora. Minhas mãos seguraram
minha barriga e eu relaxei no meu marido.
Pode ser tão simples quanto isso. Decidi apenas gostar de estar perto
dele.
Xavier moveu sua mão sobre a minha e juntos tocamos minha barriga
inchada.
— Um menino e uma menina, — ele sussurrou.
Eu o senti beijar minha cabeça.
Eu me permiti continuar a derreter nele. Naquele momento, esqueci
Tóquio, o fato de dormimos em quartos diferentes, todas as coisas que
nos mantinham separados...
As coisas eram diferentes agora.
Agora, havia esperança.
— Tenho uma consulta médica na próxima semana, — comecei. —
Você gostaria de vir?
Embora a ideia de Xavier e Leo na mesma sala me fizesse contorcer
um pouco, afastei o pensamento. Eu queria Xavier lá.
— Seria uma honra, — disse ele.
Eu sabia que ele estava sendo sincero. Ele queria estar lá também.
Olhei para a sala, coberta de confetes azuis e rosa. Talvez tudo ficasse
bem. Mesmo que nosso relacionamento não fosse perfeito. Tínhamos
algo perfeito no nosso futuro. Bem, duas coisas perfeitas.
Uma menina e um menino.
Capítulo 19
Visita ao Médico

XAVIER

— Angela! — O médico cantou, batendo palmas nas de minha esposa.


Ele se virou para mim. — Você deve ser Xavier.
— Xavier Knight, — eu disse, estendendo minha mão. Ele o pegou e
balançou. Fortemente.
Baixei minhas sobrancelhas para ele. Quem esse loirinho americano
pensava que era?
Mas sua atenção voltou rapidamente para Angela. Ele perguntou
como ela estava se sentindo e os dois travaram uma conversa um pouco
científica demais para o meu entendimento.
Não que eu fosse um novato em tomo de médicos. Desde o meu
acidente, praticamente tive um médico. Eu tive meu gesso removido
apenas um dia antes. Parecia o dia da formatura.
Meus médicos me disseram para pegar leve, mas eu preferia esticar as
pernas sempre que podia.
Como agora, quando o Dr. Carmichael estava conversando com
minha esposa. Levantei-me e descansei meu braço protetoramente na
poltrona reclinável de Angela.
O médico estava fazendo anotações em sua prancheta, então enfiou a
caneta atrás da orelha com uma risada irritante.
Quem diabos era esse cara? Era óbvio quem ele teria sido no colégio.
Quarterback, rei do baile... esse tipo de merda piegas.
— Como vai o jardim? — Ele perguntou a Angela.
— Oh, adorei! — Angela jorrou. — Plantei alfazema, morangos e
algumas ervas. Xavier e eu vamos comprar mais plantas depois daqui!
— Estou tão feliz em ouvir isso. Isso faz você se sentir melhor, não faz?
— Tentei não revirar os olhos.
Obviamente, ele estava feliz por ter minha esposa como paciente.
Qualquer um estaria. Angela era um raio de sol do caralho.
Mas quando pensei em quantas visitas ao médico Angela deveria ter
feito aqui sozinha, senti um nó no estômago.
E se meus instintos estivessem corretos, outra pessoa tinha se
intrometido para pegar minha folga.
A culpa caía sobre mim.
— Você estava muito certo, Leo. Obrigado novamente pela sugestão.
Eu fervi em silêncio. Então por isso que Angela tinha começado a
jardinagem.
Ordens médicas.
Pensar nos dois conversando sozinhos nesta sala me deixou doente.
Enquanto Angela ria de alguma piada idiota que esse brincalhão do
Dr. Carmichael fez, percebi que estava com ciúme.
Que sensação horrível.
E, infelizmente, uma que eu conhecia muito bem. Em outra época da
minha vida, esse seria todo o convite que eu precisava para começar uma
briga, mas nesse caso parei.
Angela não precisava de drama. Ela precisava de um marido.
Eu deixei de lado meu pequeno jogo de dominação e me sentei na
cadeira ao lado de minha esposa.
Estendi a mão e peguei a sua, dando-lhe um pequeno aperto. Ela
enviou um sorriso radiante em minha direção.
Parecia uma pequena vitória.
— Vocês querem ver os bebês? — Ela perguntou animadamente.
— Claro.
Eu sorri de volta para ela.
Angela levantou a camisa para que sua barriga redonda ficasse
exposta. O médico espalhou um pouco de gel e então tocou sua barriga
com a coisa do ultrassom.
Meus olhos estavam grudados na pequena tela da TV. Estava cheio de
listras pretas e brancas granuladas. No início, não havia muito para ver.
Mas só de saber que estava olhando para o ventre de Angela, onde tantas
coisas interessantes estavam acontecendo, parecia mágica.
Eu trouxe a mão dela aos meus lábios e a beijei.
Angela olhou para a tela com expectativa, talvez um pouco tensa.
— Lá vamos nós, — disse o Dr. Carmichael, e então,
instantaneamente, Angela começou a sorrir.
Eu encarei a tela para ver o contorno esboçado de um pequeno feijão.
Mas olhando mais de perto, vi uma cabeça e, em seguida, um braço...
Era um bebezinho.
Eu estava além da felicidade. Angela se virou para mim com lágrimas
nos olhos.
— Nosso bebê! — Ela sussurrou.
— Este é o seu filho, — explicou o médico. — E aqui está o batimento
cardíaco...
O som encheu a sala e Angela riu em meio às lágrimas. Sua mão
agarrou a minha com todas as suas forças. Eu amei.
Eu não conseguia imaginar nenhum sentimento que pudesse se
comparar a compartilhar isso com ela.
— Vamos encontrar a garotinha agora... — O Dr. Carmichael
continuou.
Ele navegou novamente através da estática do monitor até que
pousou em outro feijãozinho.
Eu estava tão animado para ver nosso segundo bebê.
Angela e eu sorrimos um para o outro como loucos.
— Eles têm dedos e tudo, — eu disse.
Ela riu e puxou minha mão, me puxando para mais perto. Inclinei-me
para a frente na cadeira até que nossos rostos quase se tocassem.
— Eles não são adoráveis? — Ela sussurrou.
Fechando o espaço entre nós, eu a beijei. Eu a beijei suavemente,
abraçando seu rosto. Eu a beijei como se ela fosse a deusa que era. Eu a
beijei como se estivéssemos totalmente sozinhos.
Quando nos afastamos, nossos sorrisos patetas se foram. Fomos
vencidos pelo poder do nosso amor. Tínhamos criado vida!
O Dr. Carmichael estava do outro lado do pequeno escritório,
rabiscando em sua prancheta.
— Os gêmeos parecem saudáveis e felizes, — ele anunciou.
Angela e eu nem sequer olhamos para ele.
Para mim, ela era a única pessoa que existia no universo.
O pensamento de que eu havia me sentido ameaçado por este homem
apenas alguns minutos antes foi repentinamente absurdo para mim.
Como eu pensei que alguém poderia chegar perto do que eu tinha
com minha esposa?
Tínhamos uma longa história. Nossa louca história de amor. Ninguém
poderia mexer com isso. Eu sabia disso agora.
O médico tinha todo o direito de me julgar. Eu não tinha estado aqui,
e por não estar aqui, eu não merecia estar aqui.
Mas eu estava de volta. O lugar escuro em que eu estava preso nunca
mais me reclamaria.
Eu prometi a mim mesmo que não perderia mais nada. Eu seria o
homem que merecia ser marido de Angela.
Eu seria o homem que merecia ser pai.
ANGELA

Marco parou o BMW em frente ao centro de jardinagem. Os olhos de


Xavier estavam grudados nas fotos do ultrassom durante todo o trajeto.
Inclinei-me e beijei sua bochecha. Sua empolgação significava mais
para mim do que qualquer pedido de desculpas.
A cada dia que passava, eu sentia a parede ao redor do meu coração
baixar. Eu a construí para me proteger, para ter certeza de que Xavier não
poderia me machucar novamente.
O que eu sabia o tempo todo ainda era verdade: ele me machucou
porque estava sofrendo. Ele estava tão absorto em sua própria dor que
não conseguia pensar em mais nada.
Ele não me deixou sozinha porque queria ficar longe de mim. Ele
tinha ficado em Tóquio porque achava que não era digno de meu perdão.
Embora isso não tenha mudado o fato de ele ter traído minha
confiança, de ter me deixado sozinha, mudou minha perspectiva.
Meu marido estava deprimido. Ele estava doente. E ele tinha que
piorar antes que pudesse melhorar as coisas entre nós.
Acalmou minha mente que sua saúde física estava melhorando. Seu
gesso havia sido removido e ele estava andando novamente.
E o entusiasmo de Xavier no escritório de Leo me deu esperança.
Ele precisava sair de sua cabeça. Ele precisava se concentrar em algo
maior do que ele e suas deficiências.
No escritório de Leo, percebi que ser pai era exatamente o que meu
marido precisava.
A depressão de Xavier o fez entrar em uma espiral no lugar mais
escuro de sua mente. Para melhorar, ele precisaria estender a mão.
Era assim que meu marido recuperaria sua confiança. E eu estava
pronta para ajudá-lo.
— Obrigada, Marco, — chamei, segurando a porta do carro. —
Estaremos de volta em uma hora ou mais.
Peguei a mão de Xavier enquanto nos dirigimos para a fazenda de
flores.
Meu bom humor melhorou quando passamos sob o arco gigante. O
sol da primavera aqueceu minhas costas, e o cheiro de solo e flores
saturavam o ar.
Também era bom estar no campo, longe do barulho da cidade. Estar
grávida me deixou sensível a buzinas de carros estridentes, andarilhos
insistentes — os incômodos da cidade a que me acostumei ao longo dos
anos.
Aqui, os jardins exuberantes se expandiram quase tanto quanto meus
olhos podiam ver.
— O que estamos procurando hoje? — Xavier perguntou.
— Em me deu uma lista, — eu disse, desdobrando o pedaço de papel.
— Pepinos, alface, cenoura... e endro. Para que eu possa fazer meus
próprios picles.
Xavier sorriu, beijando minha bochecha. Meus desejos de gravidez
faziam sentido para mim, mas confundiram meu marido.
— Existe alguma coisa que você gostaria de cultivar no jardim? — Eu
perguntei.
— Eu realmente não pensei sobre isso, — ele respondeu.
Fileiras e mais fileiras de verde nos cercavam.
Plantas de todos os tipos, flores de todas as cores desabrocharam.
— E uma espécie de paraíso aqui, — disse a mim mesma.
— Você está certa, — ele concordou, beijando minha têmpora. —
Quer apenas caminhar um pouco antes de fazermos compras?
Eu concordei. Xavier tinha lido minha mente.
Enquanto caminhamos pela vegetação, segurei o braço de meu
marido. Inclinei-me para cheirar as flores de uma laranjeira, para tocar as
folhas cerosas de uma planta de iúca.
Eu estava tão feliz por estar aqui com ele, cercada por coisas que
crescem. O dia estava quente e cheio de possibilidades.
— Eu nunca soube que você tinha uma queda por plantas, Angie, —
disse Xavier.
— Nem eu, — eu admiti, — mas agora eu vejo porque Em ama tanto.
Você pode ver algo crescer.
Ficamos em silêncio por um momento, caminhando pela pequena
floresta tropical. — Uau, — Xavier sussurrou, movendo-se em direção a
uma orquídea branca como um ímã. Era uma planta delicada, com uma
fileira de flores perfeitas. — Podemos cultivar isso no jardim?
Sua seriedade me fez rir. — Sim! — Eu respondi. — Bem, não no
jardim. Isso precisa crescer por dentro. As orquídeas são difíceis de
cuidar, mas tenho certeza de que você consegue. Será sua
responsabilidade, ok?
Ele assentiu com o entusiasmo de um garotinho prometendo cuidar
de um cachorrinho.
Eu sorri enquanto continuamos a andar.
— Você se sente maluco por não trabalhar? — Eu perguntei. Talvez
parecesse que a pergunta veio do nada, mas era algo que eu me
perguntava há um tempo.
Meu marido demorou um pouco antes de responder. — No começo,
sim. Eu não sabia o que fazer comigo mesmo quando não precisava estar
no escritório todos os dias. É por isso que eu estava bebendo tanto.
Ele olhou para o chão. — Isso é parte da razão pela qual eu fiquei em
Tóquio também. Era mais fácil estar longe do escritório, de Nova Iorque.
Mas agora eu me pergunto se eu queria estar na Knight Enterprise
porque sempre quis. Porque era familiar.
Eu encontrei seu olhar e ele me deu um sorriso triste. — Sinto falta do
trabalho, mas não sei se sinto falta do escritório.
Eu concordei.
— Esta é realmente uma grande oportunidade, — eu disse. — Você
pode escolher o que quer fazer. Para você.
Xavier não disse nada.
— Eu acho que seria bom para você, — eu continuei, com minha voz
suave. — Isso daria a você um senso de propósito para trabalhar
novamente.
Ele assentiu. — Eu sei que você está certa.
Eu não queria pressioná-lo, mas sabia que essa era a minha chance.
— Pode ser algo inesperado, — encorajei. — Nunca pensei que seria
uma produtora de eventos, mas acabei amando isso.
Xavier sorriu para mim. Havia malícia em seus olhos. Foi o sorriso que
sempre fez meu coração disparar.
— Ainda não sei exatamente o que será, — continuou ele. — Mas vou
arranjar um emprego em breve.
Não, uma carreira. Algo que eu realmente quero fazer.
Ele parou de andar e me puxou para perto dele. — Não se preocupe,
— ele sussurrou, beijando minha cabeça.
Eu fechei meus olhos. Eu não queria me preocupar.
Mas com nossa confiança recém-descoberta tão frágil, era difícil parar
de imaginá-la quebrando novamente.
Capítulo 20
Mestre Destilador

XAVIER

— Única, pura, — eu pedi ao barman vestido de flanela.


Olhando para o showroom da destilaria de uísque, suspirei. Eu estava
em um bar novamente. Metade de mim sabia que este era o último lugar
que eu deveria estar. Mas a outra metade não se importava.
Passei o dia folheando meus contatos, enviando e-mails para qualquer
pessoa que conhecesse meu pai, com quem trabalhei ou que possuía um
negócio na cidade. E ninguém havia respondido ainda.
Eu bati em uma parede. Eu não necessariamente queria voltar para um
escritório, mas era tudo que eu conhecia. O que mais poderia fazer?
Meu único outro sonho era carros de corrida. E isso obviamente não
era uma escolha sustentável.
Tomei um gole do bourbon no meu copo. Queimou minha garganta
enquanto descia.
Um dos velhos cadernos de meu pai estava no bar ao meu lado. Eu o
trouxe esperando que ele pudesse me dar alguma inspiração do além-
túmulo. Ele mudou de carreira em 1980, assim como eu estava fazendo
agora.
Eu gostaria que ele estivesse aqui comigo agora. Ele saberia
exatamente o que eu deveria fazer.
Mas suas palavras foram a segunda melhor coisa. Eu não tinha olhado
para seus diários desde que voltei de Tóquio. Era como se eu estivesse me
escondendo do meu pai. E eu estava cansado de me esconder.
Abri seu diário em uma página com orelhas e comecei a ler.
BRAD
29/11/1980 —Miami, Flórida
Estou escrevendo de uma cabana de praia, explodindo de energia. Amelia
está no spa.
Acho que estou experimentando o culminar das emoções confusas e
intensas que têm me atormentado nas últimas semanas.
Parece que minha mão está pegando fogo enquanto escrevo isso!
Como posso descrever tudo? Estou tão frustrado. Chego ao escritório
apenas para me sentir como um tigre enjaulado. Estou cheio de ideias, mas
nenhuma delas facilita o trabalho que tenho diante de mim.
Quando falo com papai, ele me olha como se eu tivesse duas cabeças.
É porque eu não consigo parar de pensar em viajar, e no que as pessoas
querem, o que as faz felizes. Minha mente está sempre a um milhão de milhas
do petróleo.
Ontem, descobri uma citação.
— Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe por sua
habilidade de subir em uma árvore, ele viverá toda a sua vida acreditando
que é estúpido.
Tudo se encaixou parei mim. Na petroleira, sou um peixe tentando subir
em uma árvore.
Eu nunca pensei que ficaria no petróleo. Eu sabia que iria seguir em frente
e começar meu próprio negócio eventualmente. Eu estava pensando em
hospitalidade.
Mas então eu me tornei complacente.
Acostumei-me a trabalhar com meu pai. Pensando como um magnata.
Agora eu sei que chegou a minha hora de seguir em frente. E eu sei
exatamente o que vou fazer.
Bastou essas pequenas férias.
Ontem à noite, Amelia e eu descemos para o saguão e observei enquanto
ela caminhava sobre o piso de mármore. Ela olhou para o teto, para o lustre
pendurado.
Ela era como uma criança na Disney World.
Isso me fez perceber que posso fazer um negócio com o que mais amo.
Posso fazer um negócio nas férias.
Sim, estou voltando para aquele velho sonho de hospitalidade. Mas agora
eu sei o que realmente significa. Vou construir hotéis.
Não será nada fácil. Não serão férias. Mas é para onde meu coração está
me levando.
Vai valer a pena. Quando voltarmos para casa em alguns dias, darei a
notícia ao meu pai.
Eu sei que ele vai entender. Talvez ele até fiquei aliviado.
Vou contar para Amelia no jantar hoje à noite. Temos uma mesa
reservada na praia.
Imagine todos os lugares que iremos juntos...
Ela vai ficar tão feliz, ela vai querer se casar comigo de novo!
XAVIER

Terminei o registro no diário e olhei para o espaço por cima do bar na


minha frente.
A empolgação de meu pai passou para mim através das páginas de seu
diário. Eu senti a mesma sensação de possibilidade.
Mas qual era minha área de interesse? O que eu amo?
Eu olhei para o meu copo vazio de uísque.
Huh.
Uísque.
Definitivamente era algo que eu amava, mas poderia ser um negócio?
Graças às minhas sessões com a Dra. Elmore, eu não estava mais em
um relacionamento tóxico com ele. Embora no início eu me opusesse a
toda essa coisa de terapia, eu realmente estava começando a estabelecer
hábitos mais saudáveis.
O que significava que eu poderia tomar uma bebida, assim, em vez de
beber até o esquecimento.
Eu tinha que admitir, a Dra. Elmore tinha me ajudado a trabalhar com
a coisa toda. Ela me fez perceber do que o álcool estava me ajudando a
escapar.
Claro, este bourbon artesanal era bom. Mas eu sabia que poderia ser
melhor. Eu poderia fazer isso?
O barman se aproximou de mim.
— Outra rodada? — Ele perguntou.
— Hoje não, — respondi.
— Gostou do bourbon do Tennessee?
— É legal, — eu disse. — Eu só estava me perguntando como teria o
gosto se fosse um pouco menos defumado.
Ele ergueu as sobrancelhas. — Parece que temos um especialista aqui!
Ele estendeu a mão para apertar a minha. — Eu sou Al, — ele
apresentou. — Eu sou um dos destiladores aqui. E eu estava lutando por
um bourbon mais frutado também.
Eu devolvi seu sorriso fácil. — Prazer em conhecê-lo, Al. Eu sou
Xavier. — Eu deslizei para fora da banqueta do bar, colocando o diário de
papai debaixo do braço. — Talvez eu te veja por aí.
— Antes de ir, — continuou o destilador, — deixe-me dar-lhe o meu
cartão de visita. Nunca se sabe, pode ser útil algum dia.
Ele me deu um sorriso quando peguei o cartão. Eu olhei para o nome
dele: Al Tenenbaum.
Então saí do bar, em direção ao sol forte.

Voltei para a cobertura para encontrar enormes caixas de papelão na


sala de estar.
— O que é isso? — Perguntei a Lucille, que estava cortando morangos
na cozinha.
— Para as crianças, — ela respondeu.
Huh.
Deve ser mobília. Mas Angela não mencionou nada para mim sobre
compras.
De repente, me lembrei de uma tarde, há mais de um ano, quando
Danny e Ken apareceram usando cintos de ferramentas, prontos para
construir um berçário para nós...
Meu telefone vibrou.
Angela: Meu pai e Danny estão vindo para ajudar com o quarto
dos

Angela: Desculpe, esqueci de mencionar!


De repente, o interfone tocou.
— Olá? — Eu perguntei no alto-falante.
— Os Carsons estão aqui, senhor, ' confirmou o porteiro.
Exatamente como eu suspeitava.
— Mande-os subir! — Eu disse.
Enquanto esperava que eles chegassem, tentei me lembrar se
tínhamos alguma ferramenta na cobertura. Inferno, eu não usava nem
uma chave de fenda desde que era criança.
Mas eu não deveria ter me preocupado. Logo, Ken e Danny estavam
entrando na cobertura carregando enormes caixas de ferramentas.
— Filho! — Ken chamou, me puxando para um abraço de urso.
— É bom ver você sobre duas pernas de novo, — acrescentou Danny,
batendo nas minhas costas. Eu não poderia ser mais diferente do que os
dois homens diante de mim, mas no tempo em que nos conhecemos,
aprendemos a nos encontrar no meio do caminho.
— Obrigado pelas coisas do berçário. E por ter vindo ajudar. E muito
atencioso da parte de vocês.
Ken dispensou minhas gentilezas.
— O prazer é meu! — Ele explodiu. — E eu sempre digo, você não
conhece um homem até vê-lo usar um martelo.
Ele sorriu para mim com expectativa. Aparentemente, eu ajudaria
neste projeto. Ou pelo menos, eu tentaria não estragar tudo.
— Nunca ouvi você dizer isso, — comentou Danny.
— Ah, bem, — Ken sorriu, imperturbável. — Mostre o caminho para o
berçário, chefe. — Uma hora depois, nós três estávamos cercados pelos
pedaços do segundo berço. Eu tinha assistido enquanto Ken e Danny
montavam o primeiro, e agora Ken esperava que eu assumisse o
comando.
Eu olhei ao meu redor, perdido. Como foi possível que algo tivesse
tantas peças?
— Uhhhh, — eu disse, perdido.
Ken não perdeu tempo, pegando duas peças da moldura e segurando-
as em um ângulo de noventa graus.
— Vocês têm muito trabalho a fazer antes que esses bebês cheguem,
— começou Ken. — Todo esse design sofisticado que você tem é bom e
tudo, mas não é bom para bebês. Assim que eles começarem a andar, eles
estarão batendo com a cabeça nas quinas de tudo.
Ele perfurou as peças juntas.
— E a varanda... — ele continuou. — Isso é um pesadelo de bebê.
Engoli em seco, imaginando dois bebês engatinhando na varanda da
cobertura, sessenta andares acima da calçada.
Como se Ken soubesse que estava chegando a algum lugar comigo, ele
decidiu ir direto ao ponto.
— Vocês podem até querer pensar em um novo lugar. A cidade não é
lugar para um bebê. Eles não terão um quintal para brincar.
— Eu não tinha quintal e cresci bem, — respondi. Ken estreitou os
olhos para mim, não acreditando em uma palavra.
Tive de admitir que ele tinha razão. Eu tinha boas lembranças de
brincar do lado de fora de nossa casa nos Hamptons, rolando na grama.
Quase não tinha lembranças da cidade.
É isso que eu queria para os gêmeos?
Claro, eu poderia construir um berço. Mas o que eu queria era dar aos
meus filhos o melhor lar possível...
A ideia me atingiu como um raio. Eu sabia exatamente o que fazer. E
eu não conseguia acreditar que não tinha pensado nisso antes...
Capítulo 21
O interior

XAVIER

Fiquei olhando para a sala vazia de madeira escura. Em um raio de luz


solar, partículas de poeira fluíram em correntes.
— Uh... — eu comecei, reconhecendo a corretora que me olhava
através de seus óculos. — É bom, mas não é meio... velho?
Ela permaneceu animada. — Este lindo vitoriano está aqui em New
Canaan desde 1900.
— Sim, — eu confirmei. — Isso é um pouco velho demais.
— Claro, — a ruiva alegre continuou, puxando seu estilete, — deixe-
me mostrar a você algo mais contemporâneo.
Eu a segui para fora da casa vitoriana. Parando por um momento na
varanda ao redor, respirei o ar perfumado do campo.
Marco e eu tínhamos dirigido apenas uma hora de Nova Iorque e
estávamos em um ambiente completamente novo.
Connecticut! O interior!
Eu estava imerso nos sons da natureza. Os pássaros, as abelhas e a
brisa entre as árvores.
A corretora estava abrindo a porta de seu Mustang conversível
vermelho.
— Você vai me seguir? — Ela perguntou. — Tenho a sensação de que
você vai adorar a próxima opção, Sr. Knight. E uma verdadeira joia
arquitetônica.
— Parece ótimo, — falei, subindo no banco detrás do BMW.
Marco e eu seguimos o carro dela. Estávamos cercados por bosques e
pequenas estradas sinuosas. New Canaan tinha um pequeno centro de
cidade com alguns restaurantes, um correio e um armazém geral, mas era
só isso.
Era uma vida simples. Era o lugar perfeito para crescer.
— Um bom descanso da cidade grande aqui, hein, Marco? — Eu
perguntei.
— Realmente, senhor! — Ele respondeu. — Tenho certeza de que
Angela vai adorar.
Eu sorri, descansando meu braço na janela aberta, deixando-o pegar a
brisa. Angela adoraria aqui.
Poucos minutos depois, entramos em uma longa entrada de
automóveis que continuou subindo a colina por cerca de um quilômetro.
Paramos em frente a uma casa moderna com telhado plano. As
paredes eram decoradas com madeira de teca, mas eram feitas
principalmente de vidro. Era uma casa de janelas.
— Um pouco diferente da última casa, você não concorda? — A
corretora chamou, jogando os óculos de sol no topo da cabeça.
— Totalmente, — eu concordei.
Ela me levou até a casa e girou a chave na porta da frente. Quando ela
entrou, segurei-a aberta para ela.
Por um momento, fiquei cego pelo flash familiar de uma câmera.
De novo, não.
Eu olhei para os arbustos, onde pude ver uma lente redonda. Antes
que eu pudesse me conter, mostrei o dedo indicador ao fotógrafo.
Essa foto arruinaria a surpresa para Angela? Ou pior, ela pensaria que
eu estava com outra mulher?
Justamente quando estávamos voltando aos trilhos...
Eu fiz uma careta, imaginando o pior. Mas assim que fechei a pesada
porta de madeira atrás de mim, minha raiva se dissipou. A casa era linda.
— Então, Sr. Knight, — a corretora de imóveis começou, sorrindo, —
bem-vindo à obra-prima de Eliot Noyes, aluno do inovador Marcel
Breuer.
Eu a encarei inexpressivamente.
— Arquitetos muito importantes, — ela explicou.
— Ah... lindo.
Os pisos eram feitos de ripas largas de madeira clara. Os quartos se
misturavam com o piso plano aberto. Todo o espaço estava banhado pela
luz brilhante da manhã.
— Uau, — eu exclamei, cruzando a sala e olhando para o quintal.
Era enorme. Ao lado da casa havia uma horta — um labirinto de
canteiros de flores estendendo-se além dela.
Parecia um conto de fadas.
— E realmente incrível, não é? — A corretora perguntou, parando ao
meu lado. — E você poderia facilmente instalar um playground ali para
as crianças.
Ela apontou para o canto direito do quintal, na orla da floresta.
Era perfeito.
A corretora de imóveis me conduziu por um quarto principal com
cortinas pesadas que cobriam as enormes janelas, os quatro quartos
restantes e uma cozinha enorme que agradaria a qualquer chef.
Imaginei Angela andando descalça pelo piso de madeira. Eu me
imaginei acendendo a lareira e lendo uma história para os gêmeos. Eu me
imaginei oferecendo o jantar de Natal com toda a família de Angela
reunida em tomo da mesa da sala de jantar.
— E meu, — eu disse.
A corretora de imóveis estava obviamente satisfeita. — Tem certeza?
— Ela perguntou. — Ainda não falamos sobre o preço.
— O dinheiro não é realmente um problema.
Eu sorri para ela. Embora eu tivesse queimado muito dinheiro em
Tóquio, ainda era verdade. Dinheiro não era problema.
Principalmente quando se tratava da coisa mais importante da minha
vida: minha família.
Marquei outra reunião para que pudéssemos cuidar da papelada
necessária e depois nos despedimos.
De fora, olhei para a bela casa. Minha casa. Nosso refúgio no campo.
Nosso pequeno pedaço do paraíso.
Depois de alguns momentos, pulei de volta para o BMW.
— É isso aí, Marco! — Eu disse a ele.
— É adorável, senhor.
— Com certeza é...
Marco nos levou de volta pela estrada sinuosa e eu olhei para a
floresta que um dia se tomaria uma visão familiar.
Este era o lugar perfeito para meus filhos crescerem.
Enquanto Marco nos levava de volta para Manhattan, eu me perdi em
devaneios.
Eu traria minha família para essa sorveteria aqui, aquele parquinho
ali...
Eu mal podia esperar para contar a Angela. Ela ficaria tão surpresa.
A casa era ótima, mas por mais que eu quisesse acreditar, sabia que
não iria consertar tudo. Eu tinha que mostrar a Angela que eu seria capaz
de construir uma vida que amaríamos, o que incluía um novo emprego
para mim também.
Peguei meu telefone e abri meu e-mail. Folheando minhas mensagens
enviadas, decidi acompanhar os contatos mais promissores.
Eu havia enviado e-mails para clientes e contatos antigos há uma
semana, e só tinha recebido resposta de alguns. E o que eu ouvi foi
totalmente negativo.
Suspirei. Eu odiava me degradar dessa maneira.
Eu odiava pedir oportunidades quando a última coisa que eu queria
era trabalhar para outra pessoa.
Como CEO da Knight Enterprises, fui a pessoa que dava
oportunidades.
Essa era uma parte importante de quem eu era e da qual não queria
desistir. Mesmo sem a companhia do meu pai.
Eu fechei meu telefone, olhando pela janela.
Henry me disse que Knight estava indo água abaixo. Talvez eu
pudesse estender a mão...
Não. Muito fácil.
Eu queria encontrar algo que fosse totalmente meu.
Mas o que poderia ser isso?
Eu queria trabalhar, sim. Mas em meus próprios termos.
Só então, as palavras de meu pai vieram a mim:
— Posso fazer um negócio com o que mais amo.
Essa percepção foi tudo o que ele precisou para mudar seus caminhos
de carreira e construir seu próprio negócio. Um negócio que não era
apenas lucrativo, mas gratificante.
Era uma ideia interessante. Eu deixei minha mente correr solta.
O que eu mais amo?
Eu também adorava viajar. Mas eu estava farto de hotéis. Eu adorava
carros legais, roupas legais, comida boa...
E então isso me atingiu.
Tirei um cartão de visita da minha carteira.
Al Tenenbaum
Mestre Destilador
Brooklyn, Nova Iorque
Não poderia machucar ligar, certo?
Xavier: Ei, Al.

Xavier: É o Xavier. Eu pedi o bourbon do Tennessee outro dia.

Xavier: Querendo saber se você tem algum tempo para se


encontrar esta semana. Tenho uma proposta de negócio...

ANGELA

Eu cavei com meus dedos no solo e aninhei as mudas de brócolis no


buraco.
Dei um pouco de água no terreno e sorri para o meu jardim. Tinha
crescido significativamente desde que Xavier e eu fomos para a fazenda
de flores.
As plantas cobriam quase metade da grande varanda. Eu tinha meus
vegetais, minhas frutas e minhas flores.
Eu teria que esperar o verão pela maioria das frutas e vegetais, mas
tinha o suficiente para me manter ocupada. A couve e a alface brotavam
novas folhas todos os dias e os jacintos começavam a crescer.
Olhando para todo o verde ao meu redor, senti uma explosão de
animação.
A primavera chegou. As coisas estavam crescendo, meus filhos entre
eles.
Eu olhei para minha barriga enorme. Como se um milagre não
bastasse, havia dois bebês crescendo ali.
Meu estômago enorme me fez sentir como uma baleia. Mas também
me fez sentir capaz. Era quase mágico.
Eu estava fazendo um menino e uma menina.
Ao mesmo tempo!
Foi um longo inverno. Estava frio e escuro, e durante grande parte
dele, eu me senti sozinha. Mas conforme a neve derretia, eu sabia que
estava mais forte por causa disso.
A primavera chegou e com ela veio meu marido.
A minha frente estavam dias mais longos. Eu comi tomates, morangos
e hortênsias de verão...
Uma batida à porta de vidro me tirou do meu devaneio.
Virei-me para encontrar Xavier de pé do outro lado, segurando um
buquê de rosas amarelas.
— Oh! — Exclamei, correndo para ele e cheirando as flores.
— Elas são lindos! — Eu jorrei. — Obrigada!
Meu marido sorriu para mim. O brilho em seus olhos estava de volta e
fez meu coração disparar.
— Você é linda, — ele respondeu com sua piscadela característica.
Peguei o enorme ramo de flores em meus braços.
— Alguém está de bom humor, — observei.
Foi contagiante. Eu não conseguia parar de sorrir.
— É porque tenho notícias empolgantes para você.
Eu levantei minhas sobrancelhas em expectativa. Xavier tinha
encontrado um novo emprego?!
— É para todos nós, — ele esclareceu, estendendo a mão para tocar
minha barriga.
Ficamos assim por um momento, sorrindo para os bebês lá dentro.
— Bem... o que é?
Ele pegou minha mão e me guiou até o sofá.
— Quando seu pai estava aqui outro dia, ele me fez pensar, — Xavier
começou, — sobre como, você sabe, uma cobertura pode não ser o lugar
perfeito para bebês.
Eu fiz uma careta. Eu não tinha pensado muito nisso. A cobertura
seria ótima para nossos bebês.
— Mas tenho certeza de que
— Então... — Xavier me interrompeu. — Eu comprei uma casa para
nós!
Meu queixo caiu.
— O quê?!
— Uma casa!
Xavier sorriu para mim com expectativa.
Eu não tinha ideia de como responder. A ideia era emocionante, mas o
que ele quis dizer?!
— É em Connecticut, — explicou ele. — É no meio do nada! Você vai
amar! Espere até ver o quintal e os jardins... podemos instalar um
playground para as crianças!
Eu comecei a rir. Eu não pude evitar. — Nossos filhos terão uma
infância como a sua, — continuou ele, — com um quintal para correr.
Peguei o rosto do meu marido em minhas mãos e o beijei. Eu estava
animada com a casa, mas estava mais animada com sua empolgação.
Isso significava que o Xavier que eu conhecia e amava estava voltando.
Capítulo 22
O casamento de Dustin

ANGELA

Do meu assento na primeira fila, vi os olhos de Dustin se encherem de


lágrimas. Ele ficou no altar observando seu noivo caminhar pelo
corredor.
Lágrimas subiram aos meus olhos também.
Uma versão não tão tradicional da canção do casamento tocava.
Eu me virei para ver Jake. Ele usava um temo azul-gelo feito
inteiramente de seda.
Hoje não foi nada tradicional. Mas foi totalmente lindo.
A cerimônia aconteceu em um celeiro e seria seguida por uma
recepção em um vinhedo próximo. A sensação era casual, mas
sofisticada. Divertida, mas devastadoramente chique.
Era tão Dustin.
Zoe se sentou ao meu lado e eu apertei sua mão. Ela organizou este
casamento sozinha e fez um trabalho incrível.
Peônias encheram vasos por todo o velho celeiro, e o cheiro me
embriagou.
Xavier se sentou do meu outro lado. Ele se inclinou para beijar minha
bochecha. Cercado por pessoas que eu amava, parecia que meu coração
tinha asas.
Quando os votos foram feitos e os dois se beijaram pela primeira vez
como um casal, todos gritaram em aprovação. Em seguida, todos os
convidados do casamento foram para o vinhedo. A vista da paisagem do
norte do estado de Nova Iorque era de tirar o fôlego. O sol estava se
pondo quando encontramos nossos lugares sob a grande tenda da festa.
Quando Dustin me pediu para ser sua madrinha, eu recusei
educadamente. Aos sete meses de gravidez de gêmeos, eu não estava
exatamente pronta para o desafio.
Dustin me garantiu que eu não teria que fazer nenhum trabalho. Ele
só queria que eu me sentasse à mesa com ele e Jake. Afinal, eu era a
melhor amiga dele, então estava certo.
Eventualmente, eu concordei. E eu compus um pequeno discurso para
homenagear meu amigo.
Quando todos estavam acomodados, eu me levantei e tilintei meu
copo de água com um garfo. Xavier, sentado ao meu lado, tocou minha
cintura com apoio.
— Olá, — eu gritei. A festa de casamento foi pequena o suficiente para
que eu não precisasse de um microfone.
— Ei, mamãe! — Zoe gritou de volta para mim. A multidão aplaudiu.
— Como a madrinha de Dustin, gostaria de dizer algumas palavras
sobre os recém-casados.
Dustin e Jake sorriram para mim enquanto se abraçavam.
— Eu me lembro quando Dustin conheceu Jake... — eu comecei, e
Dustin hesitou, ficando muito vermelho. — Uma semana depois, ele me
disse que estava apaixonado.
A multidão gritou, me incentivando.
— A primeira coisa que perguntei foi: 'É oficial? — 1 Eu sorri para mim
mesma, lembrando daquele dia na cafeteria de Dustin. — E Dustin
respondeu: 'Oh, Angela. Você é tão tradicional! — 1
Risos aumentaram da multidão e eu ri de mim mesma também. Então
me preparei para dar os socos emocionais.
— Dustin pode não ser tradicional, mas é um verdadeiro romântico.
Antes de conhecer Jake, ele derramou sua energia romântica em sua arte.
Eu olhei para Xavier. Ele revirou os olhos. Ele nunca tinha superado o
retrato explícito de Dustin dele, inspirado pela vez em que peguei Xavier
no chuveiro.
Não que eu pudesse culpá-lo.
— Dustin aplica a mesma atenção aos detalhes e criatividade em
todos os seus relacionamentos. Ele é atencioso e apaixonado. Nunca
consigo adivinhar o que ele vai dizer, mas sempre me faz rir ou sorrir.
Inclinei-me para a mão de Xavier e olhei para Dustin e Jake, o casal
feliz. Lágrimas turvaram minha visão.
— Conheci Dustin na mesma época em que conheci meu marido,
Xavier. Agora, Xavier e eu somos casados e felizes...
Não mencionei que Xavier e eu também éramos casados, mas não foi
exatamente feliz...
— E agora, Jake, Dustin tem você. Isso me deixa tão feliz que nós dois
tenhamos amor verdadeiro em nossas vidas.
Uma lágrima escorreu pela bochecha de Dustin. Eu sabia que ele
estava pensando em quão longe nós dois havíamos ido desde então.
— Hoje à noite, vamos comemorar o amor deles! — Eu chorei,
levantando meu copo de cidra espumante. — Um brinde a Jake e Dustin!
A multidão aplaudiu e eu me sentei. Minha fala acabou exatamente
como eu pretendia. Todos estavam sentindo o amor.
Mas ninguém mais do que eu, pensei, pousando a mão na barriga.
Eu inclinei minha cabeça no ombro de Xavier.
Ele beijou minha cabeça enquanto todos ao nosso redor começaram a
festejar.

Uma hora depois, o jantar foi servido e todos estavam entusiasmados


com o champanhe. Todos, exceto Xavier e eu, quero dizer. Meu marido
estava ficando sóbrio comigo em solidariedade.
A banda de jazz estava encerrando seu set, prestes a apresentar o
próximo ato. Todo mundo estava na ponta de seus assentos.
Essa era a grande surpresa da festa. Os convidados sabiam que um
popstar estaria tocando, mas não sabiam quem era.
— Juro por Deus, vai ser Pharrell, — Dustin adivinhou enquanto
endireitava a gravata borboleta de Jake.
— É um prazer dar as boas-vindas ao palco... — o baixista gritou, e a
multidão congelou. — Billie Eilish!!!!
— Oh. Meu. Deus, — Jake gritou, com seus olhos grudados no palco.
— Como diabos Zoe conseguiu Billie Eilish?! — Dustin olhou para
mim, boquiaberto.
Dei de ombros. Eu não ia contar a ele que tinha dado a Zoe o número
do agente dela. Ser uma Knight tinha suas vantagens.
A multidão foi à loucura, todos correndo para a pista de dança. Dustin
e Jake estavam na frente do grupo.
De repente, uma figura vestida com roupas enormes saltou para o
palco.
O coro de aplausos quase abafou sua música de abertura.
Xavier me puxou para mais perto. Juntos, observamos a cena se
desenrolar de nossa mesa.
— Quem diabos é Billie Eilish? — Ele perguntou.
Eu ri para mim mesma. Xavier pode ter sido famoso, mas ele não
poderia ter se importado menos com quem ela era.
Nesse momento, senti um toque em meu ombro. Eu olhei para o
rosto sorridente de uma linda mulher com cabelo escuro e pele morena.
— Oi, sou Megan, — ela me cumprimentou. — Sou uma velha amiga
de Jake. E você já conhece meus filhos...
Eu olhei para as duas crianças sorrindo para mim. Eu os reconheci
imediatamente como os que trouxeram o anel.
— Tom e Margot, digam oi para o casal simpático, — ela pediu.
Quando as crianças ficaram em silêncio, Megan se voltou para mim e
para Xavier. — Eles têm cinco anos. Você sabe como é.
— Eles são gêmeos? — Eu perguntei.
— Eles são! — Ela jorrou.
— Estou grávida de
— Eu ia mesmo perguntar, — Megan interrompeu, — se vocês
pudessem assisti-los por alguns minutos enquanto eu danço?
Olhei para Xavier, que não parecia estar se divertindo.
— Claro! — Eu disse. — Vai se divertir.
Megan nos deu um sorriso aliviado e correu para a pista de dança.
Os gêmeos ficaram ali, olhando para nós. Eles pareciam pequenos
adultos em suas roupas extravagantes. Meu Deus, adorável.
— Olá, Margot! Olá, Tom! Eu sou Angela, — eu me apresentei.
Eles permaneceram em silêncio.
Sem saber o que mais fazer, achei que eles poderiam estar
interessados em saber que eu teria gêmeos como eles.
— Está vendo minha barriga? — Eu comecei. — Lá dentro estão dois
bebês pequenininhos. Quando eles
— Você é rico? — Margot perguntou a Xavier. Ela cruzou os braços
sobre o vestido rosa.
— Isso não é da sua conta, — respondeu Xavier. — E também é
indelicado.
Eu estava prestes a repreendê-lo por ser tão franco com uma criança
quando Margot mostrou a língua para ele.
— Phhhhhhhh! — Ela cuspiu.
Xavier e eu nos olhamos nos olhos. OK. Então, essas crianças eram
encrenqueiras.
Lendo minha mente, Xavier tentou novamente. — Ei! Chega disso.
Vocês, crianças, vão brincar. Mas fiquem perto.
Margot colocou a língua de volta na boca e ela e o irmão correram
para a frente da mesa.
— Eu não sabia que você era tão obstinado, — eu disse, vendo Xavier
sob uma nova luz.
Ele beijou minha testa.
— Você tem que mostrar às crianças que você fala sério desde o início,
— explicou ele, — ou então elas se aproveitam de você.
Eu fiz uma careta. Parte de mim entendeu o que ele queria dizer, mas
também pensei que ele estava sendo muito pessimista.
— É isso que você vai fazer com nossos filhos? — Eu perguntei,
pegando sua mão.
— Não! — Ele me assegurou. — Nossos filhos serão anjinhos.
Eu sorri, encostando minha cabeça em seu peito.
Sim, nossos filhos serão anjinhos.
XAVIER
Eu assisti enquanto aqueles gêmeos malcriados perseguiam uns aos
outros ao redor das mesas.
Afagando o cabelo de Angela, deixei meus olhos viajarem por seu
corpo até sua barriga redonda. Nossos filhos não seriam nada assim. Nem
rudes, nem imprudentes.
Eles seriam cópias de minha esposa angelical. Nada como eu. Ou, ao
menos, assim eu esperava. O telefone de Angela tocou na mesa e eu o
entreguei a ela. Observei quando ela abriu o alerta. Quando a imagem
preencheu sua tela, meu coração quase parou.
Ela olhou para mim com um sorriso. Eu relaxei imediatamente.
— A corretora de imóveis? — Ela sorriu.
O título dizia:
Knight entra em casa em Connecticut com outra mulher
Eu concordei.
Ela trancou o telefone e colocou-o de volta na mesa, virado para baixo.
— A imprensa é muito previsível, — ela meditou, olhando para as
pessoas felizes que enchiam a pista de dança.
Uma onda de amor desabou sobre mim. Fiquei muito grato por
Angela não ter se envolvido no drama como a mídia queria.
— Mal posso esperar para ver nossa casa, — sussurrei em seu ouvido.
— Você vai adorar o quarto principal.
Ela sorriu para mim e estendeu a mão para beijar meu queixo.
— Eu sei que vou adorar, — disse ela. — Mas o que faremos com a
cobertura?
— Vamos ficar com ela, é claro, — eu disse. Nunca houve dúvidas em
minha mente. — O interior é ótimo e tudo, mas eu sou um garoto da
cidade no coração.
Angela riu, e eu tentei me concentrar naquele lindo som em vez do
sintetizador sangrando do palco.
— Podemos ir ao campo nos fins de semana, — comecei. — Para
férias, para o verão. Meu Deus, poderíamos passar todo o nosso tempo lá.
Eu não me importo, contanto que eu esteja com você.
Inclinei-me até meus lábios encontrarem os da minha esposa. Eu a
beijei profunda e lentamente. Eu queria que ela soubesse que não iria a
lugar nenhum. Nunca mais.
De repente, enquanto beijava minha esposa, sem incomodar ninguém,
fui atingido pela sensação mais dolorosa que o homem conhece.
Alguém acabara de me bater nas bolas.
— Ohhhhh! — Eu lamentei, me dobrando. Meus testículos latejavam
de dor, com a sensação serpenteando até meu estômago.
Angela deu um pulo de quase trinta centímetros no ar.
— O que aconteceu?! — Ela exclamou.
Eu queria saber a mesma coisa. Abaixei minha cabeça debaixo da mesa
para ver ninguém menos que a pequena Margot sorrindo para mim.
— Sua pequena—! — Eu gaguejei, agarrando-a por baixo da mesa, mas
ela conseguiu escapar. Ela gritou e riu enquanto corria, com seu irmão
mais novo correndo atrás dela.
Eu balancei minha cabeça.
— Garota do caralho, — eu murmurei.
Megan, que deveria ter vindo correndo quando ouviu meu grito de
agonia, materializou-se ao meu lado. Seu rosto estava branco como um
fantasma.
— Eu sinto muito, — ela se desculpou. — Acabei de começar a
namorar de novo, e as crianças continuam... agindo mal...
Eu não tinha nada a dizer para a mulher.
Eu me virei para Angela, cuja boca estava presa em um pequeno O
redondo.
— Ok, querida, — eu disse enquanto me levantava. Foi festa suficiente
para uma noite. — O que você acha de pegarmos a estrada?
Capítulo 23
Fazendo as Pazes

XAVIER

Eu estava diante do espelho, resmungando enquanto abotoava minha


camisa.
Pela primeira vez, eu não estava mal-humorado antes de uma reunião
porque estava de ressaca. Eu estava quase há uma semana sem beber
agora.
Diabos, eu tinha ido a um casamento e fiquei sóbrio. Eu era um novo
homem.
Não, eu estava com medo da reunião porque estava prestes a ver
Penny.
Angela se aproximou, parecendo uma deusa em sua roupa elástica.
Sua barriga inchou na frente dela enquanto ela me ajudava com minha
gravata.
— Eu sei que é difícil, — disse Angela, — mas você vai se sentir muito
bem quando acabar.
— Isso não é aula de ioga, Angie, — falei, impassível, mas mordi a
língua.
Não, não era ioga. Era uma missão suicida com minha maldita
madrasta.
Foi tudo ideia da Dra. Elmore. Já que o álcool desempenhou um papel
tão importante em meu acidente e queimaduras, ela achou que
deveríamos incorporar alguns inquilinos de AA em nossas sessões de
terapia.
Um deles estava — fazendo as pazes.
Eu havia consertado o relacionamento mais importante da minha
vida: aquele com Angela. Fiquei feliz em parar por aí, mas a Dra. Elmore
não quis. A quem mais eu havia atacado por causa da minha relação com
o álcool?
No segundo que ela perguntou, eu sabia. Penny.
Angela me encorajou a estender a mão para ela.
Tive a sensação de que Penny não era do tipo que esperava um pedido
de desculpas formal prolixo. Contanto que eu simplesmente parasse de
tratá-la como merda, poderíamos viver o resto de nossas vidas
perfeitamente bem.
Mas depois de tudo que Penny fez, depois de todas as besteiras que eu
a fiz passar... eu acho que ela merecia mais do que isso.
Não significava que eu tinha que gostar, no entanto.
— Obrigado por... me encorajar, — eu consegui dizer a minha esposa.
O elogio foi como tirar uma tira de cera, mas isso era outra coisa com a
qual eu queria me acostumar. Expressar gratidão.
Ela me deu seu sorriso radiante.
— Vejo você mais tarde, Angie, — eu disse, inclinando-me para beijá-
la. — Estarei em casa para o jantar.
PENNY

Eu verifiquei meu relógio pela centésima vez.


Sim, ainda faltam dois minutos para as quatro.
Suspirei, olhando pela janela do café. Eu tinha escolhido um local bem
próximo à porta, apenas no caso de precisar fazer uma fuga rápida.
— O que você quer hoje? — Perguntou o garçom. Uma pergunta
bastante inofensiva, mas ainda me fez pular.
— Só água por enquanto, — eu disse. — Vou encontrar alguém aqui.
Quando Xavier me pediu para me encontrar com ele em particular, eu
não tinha ideia do que esperar. Obviamente não era para negócios e, de
jeito nenhum, era para prazer.
Eu me mexi na cadeira.
Ver Xavier em particular me deixou nervosa.
Ele parecia estar dando passos honestos para chegar a um acordo com
seus demônios. Mas isso não apagou seu pavio curto e sua história de
explosões repentinas.
Ele nunca hesitou em me rasgar com qualquer veneno que surgia em
sua cabeça antes. Eu disse a mim mesma que ele estava apenas atacando
por causa das circunstâncias e não especificamente contra mim... mas
ainda assim.
Eu não podia negar que isso me machucava todas as vezes.
Por que aguentei tudo isso?
Mesmo com Jacques, eu finalmente Cheguei ao meu ponto de
ruptura. Eu reuni minha coragem e terminei com ele. Eliminei-o
completamente da minha vida.
Por que não pude fazer isso com Xavier?
Era por causa de nosso relacionamento na Knight Enterprises?
Ou pelo fato de que ele costumava ser meu amante há uma
eternidade?
Não.
Era porque Xavier era o último vínculo que eu tinha com Brad.
Cortar Xavier da minha vida teria sido como perder meu marido de
novo.
Suspirei, pensando em nosso relacionamento estranho e tóxico.
Acho que estou nisso por um longo tempo.
Até minhas memórias felizes vieram envoltas em arame farpado...
Então eu o vi. Imediatamente reconheci sua constituição alta e
atlética, seu andar casual. Xavier irrompeu no café e foi direto para a
minha mesa.
Eu segurei minhas mãos no meu colo.
Xavier se inclinou sobre as costas de sua cadeira, levantando-se antes
de se sentar.
Havia um leve brilho de suor em seu rosto e ele engoliu em seco.
— Eu realmente sinto muito, Penny, — ele explodiu como se a
antecipação de dizer essas palavras o tivesse literalmente deixado doente.
Ele engoliu em seco, examinando meu rosto. Esperando para ver o
que eu faria.
Pisquei para ele, com minha mente ficando em branco.
— Huh?
Xavier gemeu e se sentou na minha frente. Parecia que ele preferia
pular do topo do prédio da Knight Enterprises do que ficar sentado na
minha frente.
— Você vai me fazer dizer isso de novo? — Ele murmurou
sombriamente sob sua respiração por um momento antes de começar
novamente. — Sinto muito, Penny. Por tudo.
Eu ouvi as palavras saindo de sua boca, mas por algum motivo não
consegui entender.
— Hum. Pelo quê? Aconteceu alguma coisa?
— Você está sendo realmente sádica agora, porra, sabia? — Xavier se
inclinou para frente. — Sinto muito por tudo Penny. Todas as merdas
que fiz você passar. As acusações, os nomes, o ódio. Tudo isso.
Ele respirou fundo e, quando voltou a falar, sua voz estava mais suave.
— Na verdade, não acho que seja sua culpa que Brad se foi. Eu disse
isso no meu ponto mais baixo, e não tenho certeza se poderei compensar.
Mas posso começar com isso. Me desculpe.
Eu senti algo dentro de mim se desenrolar.
Um nó na minha alma que eu nem sabia que existia.
Senti uma gota d'água cair no meu colo e só então percebi que estava
chorando.
Xavier desviou o olhar e eu rapidamente enxuguei minhas lágrimas.
Eu estava tão acostumada a apenas rolar com os socos. Para varrer as
coisas para baixo do tapete e seguir em frente.
O pedido de desculpas inesperado de Xavier perfurou as defesas que
eu construí em tomo da parte mais ferida do meu coração, em seguida,
arrastei-o para fora da escuridão e para o sol.
— De onde veio isso? — Tentei manter minha voz leve. — Sua
terapeuta colocou você nisso?
— Ela sugeriu isso, — admitiu Xavier. — Mas Angela foi quem
realmente me convenceu a realmente me comprometer.
— Bem, graças a Deus por Angela.
— Você pode dizer isso de novo.
Xavier me deu aquele sorriso fácil que não pude deixar de devolver.
Ele fingiu enxugar a testa e afastar o suor. E então nós dois
começamos a rir.
Pensei nos meses de dificuldades e incertezas. Como eu questionei
cada movimento meu, contemplado fugir para começar uma nova vida.
Sentado lá com Xavier, entretanto, a tensão entre nós finalmente se
dissipou...
Eu poderia dizer com certeza que valeu a pena.
Eu tinha feito a escolha certa antes, quando o segui e o deixei sair da
empresa.
Foi um caminho longo, tortuoso e doloroso, mas finalmente pude ver
alguma luz no final.
Você estava certo. Brad. Talvez isso possa funcionai; afinal.
ANGELA

Eu estava no jardim, verificando se todas as minhas mudas tinham


água suficiente.
— Você está com sede, bebezinho? — Eu perguntei a uma muda de
brócolis.
Oh, meu Deus. Eu estava ficando louco?
Eu estava falando com o brócolis!
Sim, talvez fosse uma loucura, mas também era divertido. Toquei as
pequenas folhas e senti uma onda de amor e calor. Minhas emoções
estavam realmente fugindo de mim.
Devem ser aqueles hormônios do terceiro trimestre.
Olhei para o meu minúsculo reino mais uma vez antes de entrar na
cobertura. Assim que entrei, ouvi as portas do elevador tocarem e corri
para encontrar Xavier.
— Querida! — Ele gritou quando me viu. Ele me puxou para seus
braços e respirou o cheiro do meu cabelo.
— Como foi? — Eu perguntei. Mas eu já sabia pelo seu
comportamento. A reunião de Xavier com Penny correu bem.
— Foi bom, — respondeu ele, recuando e me cegando com um sorriso
vencedor. — Ela aceitou minhas desculpas.
Fiquei na ponta dos pés para beijar sua bochecha. — Eu sabia que ela
iria aceitar!
— Eu não, — ele riu. Ele me puxou para um abraço mais uma vez.
Nossos corpos relaxaram, afundando um no outro. Suas mãos
viajaram pelas minhas costas, segurando minha bunda.
Mesmo com minha barriga enorme, estávamos tão perto. Era como se
não houvesse nada entre nós. Minhas mãos estavam subindo, sob sua
camisa...
— Vamos para a cama, — ele sussurrou.
Peguei sua mão e fui à frente, encontrando os olhos de meu marido
por apenas um momento. Há quanto tempo não fazemos sexo?
Eu não estava exatamente de bom humor ultimamente. Meu corpo
estava tão cheio que a ideia de colocar qualquer outra coisa dentro dele
não me emocionava.
Mas o que quer que estivesse acontecendo agora parecia certo.
Caímos na cama.
— Não temos que fazer nada, — sussurrou Xavier. — Eu só quero
beijar você.
E assim mesmo, ele já estava.
Fomos cuidadosos no início, nossos toques leves enquanto eu coçava
as costas de Xavier, enquanto ele segurava minha barriga.
Mas, lentamente, fiquei mais desesperada. Eu o queria mais perto de
mim. Eu queria sentir suas mãos nos meus seios, nas minhas pernas... e
entre elas.
Eu queria tirar nossas roupas.
Xavier, atento a todos os meus sons e inclinações, realizou meus
desejos. Nossas roupas pareciam desaparecer no ar.
Deitei de costas enquanto meu marido trabalhava em meu corpo. Ele
beijou meu pescoço, me lambendo, descendo até que seus lábios estavam
provocando meus seios sensíveis. Eu arqueei minhas costas ao seu toque.
Passando meus dedos sobre seu abdômen e, em seguida, mais ao sul,
eu saboreei como seu corpo enrijeceu sob mim, antecipando minha mão
em sua masculinidade.
E então eu senti. Seu membro, grosso e macio, se esforçando para
mim. Ele era uma rocha sólida e um gemido escapou de sua garganta
quando minha mão o envolveu. Eu o apertei, sentindo sua
circunferência.
Eu o acariciei lentamente. Quando Cheguei a sua ponta, encontrei-a
já molhada, seu desejo transbordando.
Minhas pernas se abriram e Xavier não perdeu um momento. Ele
alcançou entre elas e acariciou meu clitóris levemente. Do jeito que ele
sabia que eu gostava. Eu estremeci e gemi de uma forma que não fazia há
anos.
Meu corpo estava aberto para ele. Quando ele alcançou um dedo mais
abaixo, mergulhando-o dentro de mim, minhas paredes pulsaram ao
redor dele em expectativa.
Nós dois estávamos tão prontos.
Embora já tivesse passado meses desde que fizemos amor, nossos
corpos se lembraram de tudo.
Eu me perguntei quantas vezes meu marido repassou essa mesma
cena em sua mente enquanto dormia sozinho. Eu sei que isso passou
pela minha cabeça mais de uma vez.
— Eu preciso de você, — eu choraminguei. Assim que as palavras
deixaram meus lábios, a boca de Xavier cobriu a minha em um beijo
profundo. Nossas línguas se abraçaram.
Entre minhas pernas, o dedo de Xavier foi mais fundo, empurrando
meu ponto G. Eu gritei.
— Venha aqui, — ordenou Xavier, embora seu tom fosse gentil. Ele
segurou meus quadris e me guiou para o lado da cama, de modo que
minha bunda chegou à borda.
Ele ficou no chão ao lado da cama, e eu levantei minhas pernas para
que meu sexo ficasse aberto para ele, na altura perfeita para ele entrar em
mim.
Ele definitivamente estava planejando isso.
Estendi a mão e o acariciei, puxando-o para mais perto enquanto o
guiava para dentro de mim.
Ele meteu em mim, com cada centímetro mais delicioso que o
próximo. Eu me contorcia embaixo dele e ele olhou para mim, devorando
meu corpo nu com os olhos.
— Está bom? — Ele perguntou.
— Pó, muito! — Eu gritei. Foi tão bom que esqueci que estava grávida.
Eu esqueci que meu corpo era capaz de qualquer coisa além de senti-lo.
— Me foda. Por favor, — eu implorei.
E então ele o fez. Ele deslizou para dentro e para fora de mim,
levantando minhas pernas para que meus joelhos estivessem em seus
ombros. Ele me fodeu rápido, mas gentilmente, e então lento, mas forte.
Eu agarrei meus seios enormes e esvoaçantes, gemendo embaixo dele.
— Querido, estou chegando perto, — eu avisei. Eu estava na beira do
penhasco, prestes a despencar. — Eu também, — ele gemeu, acelerando
seu ritmo. Com cada sacudida dos quadris de Xavier, ele me trouxe para
mais perto.
— Oh... porra, — Xavier gemeu. Senti seu pau apunhalando
profundamente dentro de mim, liberando sua semente.
Era tudo que eu precisava. Eu gozei forte, perdida na culminação do
meu desejo. Meu corpo latejava enquanto meus músculos se contraíam
no ritmo das correntes de prazer.
Quando acabou, afundei no colchão macio. Eu estava tão relaxada que
estava praticamente dormindo.
Xavier desabou ao meu lado e eu me aninhei em seus braços.
Estávamos ambos tão cansados, tão contentes, que adormecemos assim,
deitados de lado na cama.
XAVIER

Acordei no meio da noite com o rosto de Angela, iluminado pelo luar.


Ela era tão linda. Há quanto tempo não tenho essa visão íntima de
minha esposa? Quanto tempo se passou desde que eu mereci?
Sua cabeça descansou em meu braço e me inclinei para beijar sua
têmpora. Seus olhos piscaram abertos e encontraram os meus na
escuridão. Ela sorriu sonolenta.
— Eu não queria te acordar, — eu sussurrei.
Ela balançou a cabeça. — Eu tenho que ir ao banheiro, de qualquer
maneira.
Ela se levantou lentamente, segurando sua barriga, e eu deixei minha
mão cair no espaço onde ela estava. Estava molhado.
Minha mente sonolenta voltou a prestar atenção. Eu gozei tanto
assim?!
Eu abri meus olhos para ver uma mancha escura na cama.
Oh, Deus.
Peguei a luz da cabeceira. Quando ligou, meus piores medos se
tomaram realidade.
— Angie! — Eu gritei. — É sangue!!
Capítulo 24
Mistérios Médicos

ANGELA

Nunca brinquei muito com bonecas quando criança. Talvez fosse


porque eu tinha irmãos. Mesmo quando papai me comprou a Barbie que
eu estava morrendo pra ter de aniversário, isso não prendeu meu
interesse.
Eu nunca tive uma boneca. Nem uma Bitty ou aquelas que urinam.
Eu não era uma garotinha que sonhava em ser mãe.
Claro, nada disso importava. Não agora, quando eu estava prestes a
ser mãe de dois filhos.
Nos últimos sete meses, minha vida girou em tomo dos bebês
crescendo na minha barriga.
Ser mãe estava arraigado em minha identidade. E não tinha como
voltar atrás.
Mas enquanto o táxi acelerava durante a noite, levando Xavier e eu
para o hospital, me perguntei se tudo isso poderia ir embora.
Tão rápido quanto os gêmeos entraram na minha vida, eles poderiam
deixá-la.
A ansiedade envolveu seus tentáculos em volta do meu coração.
Fechei os olhos, tentando me concentrar em respirar regularmente.
Eu apertei a mão de Xavier.
Ele estava no assento do meio, mas se espremeu para ainda mais perto
de mim.
— Vai ficar tudo bem, querida, — ele disse. Mas sua voz estava tensa.
Eu sabia que ele estava pirando também.
— Sangue não significa nada. Necessariamente, — eu disse, tentando
confortar nós dois.
— Exatamente, — concordou Xavier.
Ele me puxou para perto dele, então minha cabeça descansou em seu
peito.
— Não poderia ser porque nós... fizemos sexo. Certo? — Ele
sussurrou.
Sua mão tremia na minha. De repente, fez sentido para mim. Ele
estava preocupado que isso fosse sua culpa.
— Não! — Eu respondi, olhando em seus olhos. — Não. Não se
preocupe.
Eu não tinha certeza, mas não valia a pena dizer isso a ele. Meu corpo
era um mistério para mim agora. Contudo, era ainda mais misterioso
para meu marido.
O táxi parou em frente ao hospital.
— Devo arranjar uma cadeira de rodas para você? — Xavier
perguntou, em pânico.
— Não, não, acho que estou bem, — insisti. Eu não sentia nenhuma
dor. Eu poderia pelo menos entrar.
Xavier me apoiou enquanto caminhávamos em direção às portas.
Dentro do prédio, tudo estava limpo e claro. Como se fosse um lugar fora
do tempo.
XAVIER

As enfermeiras imediatamente colocaram Angela em uma cadeira de


rodas e a levaram embora. Eu me senti um idiota. Por que não insisti para
que ela não andasse?
Ela estava sangrando durante o terceiro trimestre! Carregando
gêmeos!
A enfermeira que levou Angela embora explicou que ela precisava ver
um especialista sozinha antes que eu pudesse me juntar a ela.
— Dr. Carmichael está aqui! — Angela disse, virando o rosto para
olhar para mim. — Não temos sorte?
Ela estava até sorrindo. Enquanto isso, eu estava quase desmaiando.
Mas eu sabia que tinha que ser forte por ela. Um surto não ajudaria.
Observei Angela passar pelas portas de correr e desabei em uma
cadeira da sala de espera.
Eu deixei minha cabeça cair em minhas mãos.
Eu estava sozinho.
Minha mente estava enlouquecendo, escavando caminhos escuros em
espiral.
Isso foi minha culpa. Eu não conseguia manter meu desejo sob
controle. Eu apenas tive que foder com toda a minha esposa durante este
ponto crucial da gravidez!
Eu era um idiota de merda.
Talvez o sexo não fosse isso. Talvez o sangramento fosse resultado do
estresse que fiz ela passar quando fui embora. Como pude ser tão
egoísta? Por que diabos ela me aceitou de volta?
Joguei com cada explicação horrível. Em cada um, a culpa foi minha.
Eu queria uma merda de uma bebida. Eu queria esquecer esses
sentimentos. Eu queria esquecer que podia me sentir assim.
Mas os últimos meses me ensinaram que beber só faria com que eu
me sentisse pior.
Minha testa estava escorregadia de suor e senti o gosto doentio de
sangue na boca.
Eu estava mordendo minha bochecha, forte o suficiente para quebrar
a pele.
Eu encarei a porta deslizante. Eu estava uma bagunça pra caralho.
Eu estava sozinho e preso a mim mesmo, a pessoa que mais odiava.
Nunca me senti tão impotente. Nunca fui um espectador inútil da
minha própria vida.
Fechando os olhos com força, desejei que os minutos passassem.
Cada momento que me mantinha longe de minha esposa estava me
deixando louco. Mas tudo que pude fazer foi esperar.
ANGELA

Deitei na maca do pequeno quarto de hospital. A enfermeira correu


ao meu redor, verificando meus sinais vitais.
— Tudo parece normal para mim, — disse ela finalmente, tocando
meu ombro. — E isso é uma coisa boa.
Suspirei, sentindo a tensão deixar meus ombros. Talvez tudo ficasse
bem.
A porta se abriu e Leo entrou na sala.
— Angela, — ele me cumprimentou, procurando meu rosto com seus
olhos atentos. — Lamento vê-la novamente nestas condições, mas vamos
garantir que tudo esteja bem.
Ele se acomodou na cadeira ao meu lado e fez algumas perguntas à
enfermeira enquanto eu fechava os olhos. Eu estava exausta. Eu nem
sabia que era tarde.
— Vamos fazer uma ultrassonografia rápida, tudo bem? — Leo
perguntou.
— Claro, — eu concordei, levantando minha camisa com as mãos
trêmulas.
Leo começou a trabalhar e logo senti o gel frio na barriga.
Cada vez que eu fazia uma ultrassonografia, ficava nervosa. Mas
nunca assim. Lágrimas arderam em meus olhos.
— Angela, respire fundo, — Leo instruiu. A autoridade em sua voz
ajudou um pouco. — É um bom sinal que você não esteja sentindo dor.
Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio.
Eu queria me apegar aos bons sinais, mas só conseguia pensar nos
ruins.
— E... aí estamos nós, — disse o Dr. Carmichael.
— Ambas as crianças têm batimentos cardíacos estáveis.
Eu exalei, colocando meu peso na cama embaixo de mim.
Meus bebês estavam bem.
As lágrimas começaram a fluir, mas agora eram lágrimas de alívio.
— Graças a Deus, — eu suspirei.
Eu me inclinei para trás, fechando meus olhos.
Meus bebês ficariam bem.
Quando abri meus olhos novamente, Leo estava olhando para mim
com uma expressão ilegível no rosto.
A enfermeira foi embora. Nós estávamos sozinhos.
— Eu tenho que dizer a Xavier, — exclamei de repente. — Temos que
dizer a ele! — Eu empurrei meus braços.
— Espera, espera, espera! Não tão rápido, — Leo avisou com um
pequeno sorriso. — Vamos contar a ele em um minuto. Eu tenho que te
fazer algumas perguntas.
Depois que o alívio inicial passou, minha mente começou a ficar
agitada novamente.
— Por que eu estava sangrando?! — Eu exigi.
— Tudo parece bem na ultrassonografia... — explicou o médico. — É
por isso que eu tenho que perguntar. Existem algumas possibilidades.
Prendi minha respiração.
— Nenhuma delas é séria! — Leo acrescentou, percebendo minha
angústia.
Eu dei ao médico um pequeno sorriso. Agora que eu sabia que meus
bebês ficariam bem, tudo que eu queria era ver Xavier.
Eu o imaginei sentado sozinho na sala de espera, esperando por
notícias. Imaginando o pior...
— Você tem fumado cigarros?
Eu voltei para a pergunta do médico.
— Não, — respondi.
— Ok, — ele me deu um pequeno sorriso. — Você tem usado cocaína?
— Não! — Eu disse, corando imediatamente. — Eu nunca fiz isso.
Ele acenou com a cabeça, um pequeno sorriso brincando em sua boca.
Eu me mexi. Quantas perguntas sobraram?
— Tudo bem, então. Você tem estado sob algum estresse
ultimamente? — O Dr. Carmichael se inclinou para mim, sua expressão
ficando séria. — Eu sei que as coisas estavam um pouco complicadas com
o seu marido...
Eu levantei minhas sobrancelhas. Fiquei um pouco surpresa por ele
estar sendo tão direto. — As coisas estão melhores, — afirmei. E
acreditava mesmo que sim. — Não tenho estado sob muito estresse.
— Você teve relações sexuais recentemente? — Leo perguntou,
olhando para sua prancheta.
— Sim. Noite passada. Isso poderia ter algo a ver com isso?
Eu senti minhas bochechas corarem. Eu estava corando porque estava
falando sobre sexo? Ou foi porque senti algo não dito na pergunta do
médico? — Provavelmente seria isso, — Dr. Carmichael disse
calmamente. — Pelo relatório da enfermeira, parece que foi muito
sangue, certo?
Eu concordei.
— Para estar seguro, eu recomendaria repouso na cama até que seu
período de gestação termine em um mês. Para prevenir o parto
prematuro.
— Tudo bem, — respondi.
Um mês de repouso na cama.
Leo marcou outra coisa em sua prancheta antes de olhar para mim.
Seu olhar sério me fez desviar o olhar.
— Isso é tudo o que eu tenho. Vou mandar chamar Xavier.
Quando o médico se levantou e saiu da sala, senti uma sensação
estranha se instalar no meu estômago. Leo tinha sido mais do que um
médico para mim quando Xavier se foi?
Claro, era um amigo para mim. Mas ele sentiu algo... mais intenso?
Limpei minhas mãos suadas na minha legging. Não importa.
Leo era um cavalheiro. Ele nunca tentaria nada comigo, e eu sabia
disso.
Se ele alguma vez tivesse tido esperança de que algo pudesse
acontecer entre nós, certamente já teria deixado passar.
Meus pensamentos foram interrompidos quando Xavier entrou
correndo na sala. Ele imediatamente me puxou para um abraço.
— Está tudo bem, — ele sussurrou. Ele beijou minha bochecha, me
segurando contra ele.
— Eu sei, querido, — eu respondi, agarrando-o tão firmemente
quanto pude. — Está tudo bem.
Por alguns momentos, meu marido me abraçou e eu deixei minha
mente ficar em branco. Eu apenas senti. Senti amor e alívio, ambos tão
fortes que me deixaram tonta.
Xavier se afastou de mim, cheio de vida.
Energizado com as boas notícias.
Eu mal ouvi quando Leo explicou a situação do repouso na cama para
ele, e uma enfermeira trouxe uma cadeira de rodas para mim.
Sentado confortavelmente em meu novo carro, Xavier me empurrou
para fora do quarto do hospital. No corredor, éramos apenas nós.
Da minha cadeira, olhei para o queixo do meu marido. Uma sensação
de alívio relaxou meus músculos.
A noite tinha sido longa e estressante, e eu ficaria na minha cama
pelos próximos trinta dias. Mas eu sabia que estava em boas mãos.
Capítulo 25
Selo X

XAVIER

Cruzei os braços e olhei para o local. Com a ajuda de Al, eu encontrei


uma destilaria de uísque recém-desocupada no Brooklyn bem a tempo de
pegá-la.
Era um diamante bruto. Depois de um pouco de trabalho, este lugar
estaria funcionando como uma máquina bem oleada, produzindo o
melhor uísque ao norte de Kentucky.
Selo X. E assim que eu o chamaria.
Eu caminhei pelo terreno do meu novo escritório, sorrindo para mim
mesmo.
Imagine se os caras do Hatchback ouvissem sobre isso!
Isso iria mostrar a eles, pensei. A maioria desses caras não retomou
meus e-mails ou ligações desde que perdi meu emprego.
Acho que nossas amizades dependiam do meu título de CEO.
Pensando bem, não dava a mínima para o que eles pensavam de mim.
Aprovando-me ou não.
Embora não tivesse sido fácil, agora eu estava feliz por não ser mais
um membro honorário do clube de meninos de Wall Street. Era um estilo
de vida glamoroso, com certeza, mas não trouxe à tona o que havia de
melhor em mim.
Para dizer o mínimo.
Agora que eu tinha saído, eu podia ver isso.
Al era o tipo de homem com quem eu jamais pensei que faria
negócios. Apenas um olhar para ele o teria confirmado, com sua barba,
flanela e jeans.
Não, meu círculo restrito incluía apenas vigaristas urbanos. Tubarões.
Mas esqueci o mais importante sobre os tubarões... eles mordem.
E fiquei feliz por deixar aquelas águas turbulentas para trás.
Al era um homem confiável. Ele tinha a cabeça fria.
Pelos planos que havíamos traçado para a destilaria Selo X, eu poderia
dizer que ele também não era nenhum novato nos negócios. Ele entendia
a importância das finanças, do lucro, mas nunca se deixou levar por isso.
Para Al, era uma questão de paixão. Era sobre a arte do uísque.
— Se você criar um produto verdadeiramente bonito, todo o resto se
encaixará no lugar certo, — Al me disse.
Essa ideia ficou comigo. Isso me fez pensar que havia muito que eu
poderia aprender com um homem como Al Tenenbaum.
Perdido em pensamentos, olhei para a maquinaria de metal brilhante.
Em apenas alguns meses, este lugar estaria pronto para funcionar. Eu
ajudaria Angela com os recém-nascidos e depois mergulharia de cabeça
no projeto.
Senti uma mão pousar no meu ombro.
— Ei, X, — veio a voz áspera de Al.
— É bom ver você, Al, — cumprimentei meu parceiro, apertando sua
mão. — Parece bom, hein?
Al cruzou os braços, com a camisa de flanela enrolada até os
cotovelos.
— Ela com certeza é uma beleza, — ele concordou, me dando seu
sorriso amigável.
Ficamos ali por um momento, apenas admirando a vista.
— Eu tenho um presente para você, — eu disse, abrindo a pasta aos
meus pés. Retirei da sacola uma garrafa de Nikka Taketsuru Pure Malt, o
melhor uísque japonês, e dois copos de cristal.
Entreguei a garrafa para Al. Ele inspecionou a etiqueta e soltou um
assobio.
— Você se superou, Xavier, — disse ele. — Devemos fazer as honras?
Eu concordei. Fazia quase um mês desde que bebi pela última vez e
esta parecia uma ocasião digna.
Nós nos acomodamos em uma mesa dobrável no local, e Al colocou
um pouco do líquido âmbar suave em meu copo.
— Saúde, — ele chamou, erguendo o copo, — para o Selo X!
— Para o futuro do uísque! — Eu respondi.
Cada um de nós bebeu um pouco, saboreando o sabor profundo e
ardente.
— Esta é à minha maneira de dizer obrigado, — expliquei, — por me
orientar neste projeto. Eu conheci você em um momento crucial, e não
consigo pensar em um parceiro melhor.
Al sorriu para mim. — Eu me sinto da mesma forma.
Ele começou a encher seu copo vazio e gesticulou para o meu.
— Agora não, — respondi, olhando para as minhas mãos. — Sabe, Al,
só quero dizer que tive um pequeno... um problema com a bebida por um
tempo.
Não consegui encontrar seus olhos, mas continuei.
— Eu amo uísque e tudo, mas tenho que ir com calma.
— Compreendo, parceiro, — Al respondeu. — É muito comum em
nosso negócio. E eu respeito você por me dizer.
— Para fazer este trabalho, você tem que amá-lo. E parte do amor é
respeito. Então, parece que você está no caminho certo.
Retribuí seu sorriso e me virei para olhar nosso novo espaço mais uma
vez. Al estava certo. Parecia que estava no caminho certo.
PENNY

Eu deixei minha visão entrar e sair de foco enquanto olhava para o


computador. Área de trabalho de Brad.
O mesmo que ele usou antes de morrer.
Em alguns anos, o computador seria substituído e haveria uma coisa a
menos nesta sala que meu falecido marido havia tocado.
Esses eram os lugares estranhos que minha mente estava indo.
Memórias melancólicas. A obsessão por tudo isso havia mudado — e
tudo permanecia o mesmo — desde a morte de Brad.
Ambas as coisas estavam me perturbando.
Em apenas alguns dias, foi o aniversário do dia em que Brad morreu.
Ele tinha partido há quase um ano.
Pensei que, com o passar dos meses, Brad se tomaria uma boa
lembrança. Eu pensei que seria capaz de seguir em frente. Mas a ferida
deixada por sua perda ainda estava aberta.
Eu sabia que nunca superaria sua perda.
Eu teria que aprender a viver com essa dor em meu coração.
Mas eu esperava pelo menos ser capaz de me contentar sozinha. Para
acordar de manhã sem desesperadamente chegar ao seu lado da cama.
Eu não estava lá ainda. Eu não estava em lugar nenhum.
Eu estava presa na terra de ninguém do luto.
Minha cabeça estava apoiada na mesa quando ouvi uma batida à
minha porta. Eu me levantei e abri, encontrando Bethany, a
recepcionista.
— Acabou de chegar para você, — disse ela, passando-me uma
pequena caixa de papelão.
Peguei dela e imediatamente fechei a porta.
Embora não houvesse endereço do remetente, eu poderia ter
reconhecido aquela letra em qualquer lugar. Era de Brad.
Encontrei um envelope e um pequeno presente embrulhado dentro
do pacote. Eu rasguei o envelope. Comecei a ler enquanto voltava para
minha mesa.
Minha querida Penny,
Esta carta chega a você quase um ano após minha morte.
Eu a escrevo agora porque quero que você saiba que estarei enviando amor
e luz para você. Embora eu possa não ser um homem espiritual, sempre
acreditei que os mortos não nos deixam completamente.
Saiba que, quando eu partir, vou abençoá-la do grande além.
Você pode sentir isso?
Eu ri em meio às minhas lágrimas. A sensação foi bizarra. Mas Brad
estava certo. Sua carta me fez sentir... abençoada.
Eu quero que você saiba que tudo o que você sente hoje está bem. E normal
aproveitar a vida em toda a sua plenitude juvenil. Espero que seja isso que
você esteja fazendo hoje.
Mas também não há problema em se sentir triste.
A única coisa que você não pode fazer é se sentir culpada por seu processo
de luto.
Ao ler essas linhas, meu coração parou. Brad previu exatamente como
eu estaria me sentindo hoje. E suas palavras me libertaram de alguns dos
meus conflitos internos.
Ontem à noite, conversamos sobre Knight e se você terá ou não um cargo
na empresa algum dia. Não posso dizer o quanto significa para mim que você
esteja disposta a se envolver com a empresa. Isso significa que meu amado
filho Xavier também fará parte de sua vida.
Como você sabe, no aniversário da minha morte, Xavier saberá de tudo.
Espero que as coisas na Knight se tornem mais estáveis depois disso.
Saiba que você pode sair quando quiser. Fique na empresa apenas
enquanto isso te deixar feliz.
Não importa onde você esteja no mundo, estarei sorrindo para você.
Você é uma luz na minha vida. Penny. Todos os dias sou grato por você.
Eu não sei quando minha hora chegará, mas temo que possa ser em breve.
E assim que a vida é.
Espero que tenhamos muito mais tempo juntos e que, ao ler isso, você
tenha muitas boas lembranças para relembrar
Amor eterno e paz para você, meu amor,
Brad
Fechei meus olhos, com lágrimas rolando pelo meu rosto. Apertando a
carta dele contra o peito, me senti mais próxima de Brad do que há
meses.
Ele estava olhando para mim. Eu pude sentir isso. A tristeza frustrada
deu lugar ao calor do amor. E possibilidade.
Desembrulhei a caixa diante de mim e encontrei um colar dentro. Era
um pingente em uma longa corrente de ouro. Eu segurei o amuleto em
meus dedos. Era um sol brilhante, incrustado com minúsculos diamantes
amarelos.
Colocando-o, meu humor ficou ainda mais brilhante.
Eu me levantei, vendo o escritório sob uma nova luz. Mais do que o
escritório — o mundo.
Pela minha janela, toda Manhattan brilhava diante de mim.
Sim, as coisas estavam ficando mais estáveis. Exatamente como Brad
disse.
Eu ainda não estava pronta para sair da empresa. Embora isso me
deixasse louca, eu amava a agitação. Eu amava como a cidade parecia
vista de cima.
Logo Xavier saberia de tudo. E então o último desejo de Brad seria
realizado.
ANGELA

Com uma coleção de travesseiros apoiados atrás de mim, sentei-me na


cama. Apenas alguns dias de repouso na cama quase me deixaram louca,
mas agora eu estava tonta.
Xavier tinha acabado de chegar em casa.
Ele trouxe consigo uma pilha de revistas novas. Depois de ler todos os
tabloides, Xavier precisava ser mais criativo.
Desta vez, ele trouxe uma variedade de revistas especializadas em casa
e jardim que eu mal podia esperar para ver.
— Eu gostaria que pudéssemos ir e ver a nova casa agora, — eu disse,
fazendo beicinho.
— Nós iremos logo, querida, — Xavier prometeu, empurrando uma
mecha de cabelo dos meus olhos. — Cinco semanas no máximo.
Eu sorri. Cinco semanas e então os gêmeos chegariam.
— Eu visitei o local da destilaria hoje, — Xavier continuou, incapaz de
conter sua empolgação. — É incrível, Angie! Al também adorou.
Tentei segurar meu sorriso. Eu estava animada por meu marido. Eu
estava.
Eu sabia que seria bom para ele começar algo sozinho. E ele havia se
emocionado tanto com esse tal de Al que alguém pensaria que ele era um
santo.
Mas eu não conseguia parar de me preocupar. Xavier trabalhando em
uísque?
Como se estivesse lendo minha mente, Xavier pegou minha mão.
— Eu sei que com a minha história, esta pode ser uma carreira
surpreendente, — disse ele com um sorriso conhecedor. — Bem, não é
surpreendente. Imprudente. Mas, Angie, eu prometo. Não se trata de
bebida. É sobre criar algo que amo. E parte do amor é respeito.
Ele continuou: — Finalmente, aprendi a respeitar.
Continuo aprendendo. E o negócio vai me ajudar.
Eu o puxei para perto de mim e beijei sua bochecha. Passei meus
braços em volta dele e senti seu corpo relaxar.
Eu acreditei nele. Eu sabia que ele havia mudado. Mas eu só esperava
que as coisas continuassem assim.
Capítulo 26
Lembrando de Brad

XAVIER

Eu relaxei no sofá de couro da Dra. Elmore, estudando ociosamente o


globo como eu normalmente fazia.
Eu já estava lá há quinze minutos e já estava cansado de falar.
O que mais havia para dizer?
Hoje foi o aniversário de sua morte. Papai estava morto há um ano. E
o que eu fiz com o ano? Esbanjei-me. Esbanjei de seu nome e tudo o que
ele me deu.
Mesmo antes de meu pai morrer, as últimas coisas que disse a ele
foram cruéis. Era imperdoável.
Não acredito que temos o mesmo sangue.
Eu não posso acreditar que vim de você.
Eu disse que ele manipulou Angela e eu para ficarmos juntos. Que ele
nunca fez nada para me ajudar, que tudo foi para alimentar seu próprio
ego.
Cravei minhas unhas na palma da minha mão.
Eu havia distorcido tudo. E agora eu nunca poderia dizer a ele o quão
grato eu estava.
Angela me convenceu de que papai me perdoou, que ele sabia que eu
sentia muito, mas ela só disse isso para me consolar?
— Xavier.
A voz severa da Dra. Elmore quebrou meu triste devaneio.
— Nossas vidas são compostas por aquilo em que escolhemos nos
concentrar, — ela continuou. — Da última vez que nos encontramos,
você estava animado com seu novo empreendimento. Sua família está
em crescimento.
Seu olhar não era de pena, mas nivelado. Mesmo severo. — É
perfeitamente normal chorar por seu pai hoje, mas não se esqueça de que
há coisas boas em sua vida também.
Devolvi seu olhar com o mesmo interesse que dei ao globo.
O silêncio entre nós se estendeu. Eu conhecia esse truque da Dra.
Elmore e, infelizmente, sempre funcionou. Eu sempre conversei.
— Não sei o que meu pai pensaria de mim agora, — consegui dizer. Eu
sabia que estava agindo como um adolescente mal-humorado, desleixado
e não comunicativo, mas não pude evitar.
— Você não acha que ele ficaria orgulhoso de você?
Eu zombei, e o silêncio se estendeu novamente.
— Eu considero isso um não, — concluiu o Dr. Elmore.
— A única coisa que papai queria de mim era ser bom para Angela, —
continuei, — e estraguei tudo.
A Dra. Elmore cruzou os braços. — Vocês dois tiveram algum
desentendimento ultimamente? Ou é sobre o passado, quando você
estava em Tóquio? Porque parece que as coisas estão indo bem entre
vocês dois.
Eu olhei para ela. Senti aquele monstro familiar, a raiva, erguendo sua
cabeça feia dentro de mim. — Não foi há muito tempo. Eu a deixei
quando ela estava grávida, porra. Eu ficava bêbado todos os dias e beijei
outra mulher.
Minha mão tremia quando a passei pelo cabelo. Minha visão estava se
estreitando até se tomar apenas um túnel. Um túnel forrado de
vermelho. — Mas você tem bebido com responsabilidade há mais de um
mês, Sr. Knight.
— Sim, mas Angela ainda não confia em mim, — eu continuei. — Eu
vi nos olhos dela outra noite. Quando eu estava contando a ela sobre as
reformas da destilaria. Ela não acha que eu consigo me controlar. E talvez
ela esteja certa. — Minha respiração estava irregular, embora eu não
estivesse me movendo. Eu conhecia esse sentimento. Eu estava
começando a perder o controle.
— Eu não sei por que ela deveria confiar em mim, porra, — eu
continuei, determinado a destruir tudo. Queimar tudo. — Não sei com
quem estou enganando, pedindo desculpas, agindo como se tivesse
mudado.
— Xavier, — disse a Dra. Elmore em sua voz nivelada do caralho,
puxando de seu estoque aparentemente infinito de paciência. — A última
vez que você exibiu qualquer um dos comportamentos que mencionou
foi meses atrás. Eu acho que seria melhor — Essa é a merda da questão,
doutora, — eu interrompi. — Eu poderia fazer tudo de novo. Eu ainda
quero estar bagunçado. Eu ainda quero a mesma merda. Ainda sou o
mesmo homem que fez tudo isso. Eu poderia derrubar tudo a qualquer
hora. Qualquer. Momento.
Sob o olhar do Dr. Elmore, minha raiva só floresceu mais, com meu
peito arfando e o suor pingando sob meus braços.
O que diabos eu estava dizendo?
Parte de mim achava que eu estava blefando.
Mas a outra metade de mim sabia que eu estava dizendo a merda mais
verdadeira que disse em toda a minha vida.
Eu dei a Dra. Elmore um sorriso forçado.
Entenda essa, doutora. Use sua terapia para me tirar da minha vida de
merda.
A Dra. Elmore estendeu a mão e pegou o copo d'água da mesa lateral.
O copo parecia minúsculo em sua mão gorda.
Eu poderia rasgá-la em pedaços, pensei. Eu estava farto de quão alta e
poderosa ela sempre foi, agindo como se sua palavra fosse tão sagrada
quanto a maldita Bíblia.
— Xavier, — ela começou. Ela não mostrou uma rachadura em sua
compostura à prova de balas. — Em nossas sessões, evitei principalmente
a psicanálise direta. Achei que você não aceitaria bem.
Eu olhei, incitando-a.
Bora ouvir o que tem a dizer, vadia.
— Você diz que a qualquer momento pode voltar aos seus velhos
hábitos, aos modos como olha para trás com vergonha. Isso é a vida.
Todos os dias fazemos escolhas. Em alguns dias, essas escolhas são
difíceis. Particularmente se alguém está predisposto ao vício, o que você
parece sugerir que está.
A médica estreitou os olhos para mim.
— Eu acho que a única coisa em que você é viciado, Sr. Knight, é a
possibilidade de destruição. E não só isso. Você se delicia com o seu
potencial para destruir, para 'derrubar tudo', como você diz, — ela
descruzou suas pernas enormes, vindo em minha direção, com os
cotovelos sobre os joelhos.
— Porque se você pode destruir algo, isso prova que você tem poder,
— ela continuou, esclarecendo seu ponto de vista. — Isso significa que
você é importante.
Eu engoli, apenas para descobrir que minha boca estava seca.
A Dra. Elmore não tinha terminado ainda, a vadia era implacável.
— Mas esse é um preço muito alto a pagar apenas para provar seu
próprio valor. Apenas para lutar contra o incômodo sempre presente da
dúvida. Você não acha?
Eu senti como se estivesse encolhendo diante dela. Me senti
transparente e patético, como uma carta de amor deixada na chuva.
Era verdade? Foi por isso que me permiti chegar ao ponto em que
nada importava, apenas para estragar tudo em meu caminho?
Destruir tudo até que não houvesse a possibilidade de reconstruir?
Apenas para provar que eu poderia?
Uma onda de pânico tomou conta de mim. Eu senti como se as
paredes estivessem se contraindo. Eu estava em uma caixa de madeira
escura e precisava sair.
— Eu preciso ir, — eu disse, embora parecesse que outra pessoa disse
essas palavras. Eu já estava de pé, já disparando para fora da porta do
escritório da Dra. Elmore.
E ela não disse uma palavra.
PENNY

Eu estava diante do túmulo de meu marido, com meu coração pesado


de tristeza. O céu estava nublado e o ar úmido. A chuva estava
ameaçando cair.
Meu rosto estava inchado, mas seco. Eu não tinha mais lágrimas.
Fechei os olhos, concentrando-me na memória de Brad.
Eu deixo as pequenas coisas voltarem para mim. O pequeno gemido
que ele faria quando provasse algo delicioso. A maneira como ele ria dos
cachorros de outras pessoas.
A maneira como ele me segurava, seus braços apertados em volta da
minha cintura.
O que eu daria para senti-los agora.
Nosso amor havia crescido tão rapidamente, terminando quando
estava apenas começando. Tínhamos tão pouco tempo juntos. Eu sabia
que Brad me diria que tínhamos que ser gratos por termos algum tempo,
mas eu era mais gananciosa do que ele.
Eu queria passar anos com ele. Mas só tivemos meses.
— Ei, — ouvi atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier e tentei não vacilar.
Ele parecia um desastre. Sua camisa de botão estava amassada e para
fora da calça. Seus olhos estavam fundos como se ele não dormisse há
dias. Ou como se estivesse chorando.
Ele carregava um grande buquê de lírios brancos.
— Oi, — respondi.
Fiquei feliz em vê-lo. Estar com alguém que entendia minha dor.
Eu tinha planejado ir procurá-lo depois de parar aqui de qualquer
maneira, para dar-lhe algo. Algo de Brad.
— Dia de merda, hein? — Xavier perguntou, parado ao meu lado.
— Sim, — eu concordei. — Mas espero não aparentar estar tão ruim
quanto você.
Eu esperava que minha piada estúpida aliviasse o clima e com certeza,
Xavier abriu um sorriso. Eu o senti examinar meu rosto. Por um
momento, apenas olhamos um para o outro, avaliando o dano.
— Não estar tão ruim quanto eu, — ele concluiu.
Eu olhei de volta para o túmulo diante de mim.
— Além de estar de luto pelo meu pai hoje, tenho confrontado
algumas verdades incômodas sobre quem eu sou, — explicou Xavier.
Eu não sabia como responder. Eu não estava acostumada com esse
nível de abertura dele. Ou qualquer nível de abertura.
— Isso poderia explicar por que estou horrível, — ele concluiu.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
Eu queria perguntar a ele sobre o que ele havia descoberto, mas senti
que agora não era o momento.
Às vezes você não precisa conversar sobre isso. Às vezes, você só
precisa de alguém para ouvir.
Então, em vez disso, dei a resposta mais eloquente que pude imaginar.
— Oh.
Legal, Penny.
Observei enquanto Xavier estudava os túmulos diante dele, primeiro o
de Brad e depois o de Amelia.
BRAD KNIGHT
Pai, marido, filantropo
— Fico me perguntando o que papai diria, — disse Xavier. Sua voz era
tão suave que eu não sabia se ele estava falando consigo mesmo ou
comigo.
— Você não precisa se perguntar, — respondi, sentindo minha chance.
Peguei minha bolsa e tirei um envelope dela. — Eu tenho algo para você.
Ele tinha, no roteiro de Brad, um Parei Xavier inscrito com a data
daquele dia.
Eu estendi para ele.
— Não é possível.
Xavier olhou para ele por um momento antes de arrebatá-lo de mim.
Ele balançou a cabeça, nunca desviando o olhar do envelope.
— Velho louco, — ele sussurrou.
— Essa é uma maneira de colocar as coisas. — Eu sorri.
Aquela loucura, o puro entusiasmo de Brad por aventura, foi um dos
motivos pelos quais eu me apaixonei por ele.
Ele estendeu a mão e tocou meu ombro. — Obrigado, Penny.
Eu fiquei lá por mais um momento enquanto ele olhava para a carta.
Então me virei, olhando para o enorme cemitério que se expandia diante
de mim.
Eu segui meu caminho, deixando Xavier para descobrir as palavras de
Brad por si mesmo.
Capítulo 27
Lágrimas na chuva

BRAD

Caro Xavier,
Enquanto você lê isso, terei morrido há um ano.
Um ano que não estive com você, no escritório, no apartamento ou no bar
de ostras na West 72nd Street.
Imagino, enquanto escrevo aqui hoje, tudo o que virá para você naquele
ano. Haverá dor, certamente, e haverá alegria. Haverá testes. Haverá amor.
Espero que sempre haja amor suficiente para adoçar o que é azedo.
Nos últimos dias, pensei em como poderei cuidar de você mesmo quando
não for mais deste mundo.
Eu arrumei meu testamento. Decidi as coisas para deixar para você. Para
Angela.
Haverá dinheiro suficiente para carregá-lo para qualquer coisa que você
decida fazer.
Espero que as coisas que deixo para vocês proporcionem alguma alegria e
alguma orientação.
Decidi deixar meus diários para vocês. Tive essa ideia há muito tempo,
bem na época em que você nasceu. Desde então, minha escrita pessoal
pareceu mais importante para mim.
Ela serve a um propósito maior. Será visto por outros olhos além dos meus.
Deixo os diários com você e Angela parei que possam me entender e para
que se lembrem de sua mãe.
Eu imagino que pode ter sido estranho lê-los no começo, mas acho que vai
mudar com o tempo. Espero que depois de um tempo, as palavras não
pareçam vir de seu pai, mas simplesmente de um homem.
Em meus diários, você vê que nem sempre fui o homem que acabei sendo.
Nem sempre priorizei o amor e a família como faço agora.
Por muitos anos, fui jovem e zeloso, obcecado por dinheiro e prestígio.
Felizmente, Amelia esperou por mim.
Assim como Angela esperava por você.
Meu filho, você pode não pensar assim, mas existem muitas maneiras de
sermos iguais.
Nós dois nascemos de berços de ouro. Nós dois crescemos na melhor
cidade do mundo: Nova Iorque.
Fomos ambos bem educados, bem cuidados e cercados de amor e apoio
conforme fomos criados.
E quando terminamos a escola, fomos trabalhar com nossos pais.
Comecei no petróleo quando tinha vinte e dois anos. Ainda me lembro do
meu primeiro dia em nosso escritório de Wall Street.
Eu pensei, aqui estou eu, no lugar mais importante do mundo.
O primeiro ano foi assim. Eu era uma esponja, querendo aprender tudo
sobre negócios. Treinando para ser um tubarão.
Mas meu entusiasmo não durou.
Quando eu estava trabalhando para meu pai por quatro anos, tudo
mudou. Mas eu não tinha ideia do porquê. Eu pensei que estava deprimido.
Ficava irritado no trabalho. Distraído. Eu teria ataques no escritório e em
casa.
Eu estava uma bagunça. Levei quase um ano para entender. Tinha que
sair da empresa do meu pai.
Eu tinha que seguir meu próprio caminho. Fazer meu próprio sonho.
E, meu querido filho, eu quero isso para você também.
Eu sei que o ano passado foi difícil em mais de um aspecto. Eu sei que você
deixou seu posto na Knight, e não foi por sua própria vontade.
Não foi sua culpa. Era minha. Foi algo que arranjei.
Eu só posso imaginar como você se sentiu quando soube que eu dei meu
cargo de presidente para Penny. Só posso imaginar como foi quando Henry se
intrometeu.
E eu só posso imaginar como foi a sensação de ser dispensado de sua
posição como CEO.
Talvez tenha parecido que seu direito de primogeniture! estava sendo
tirado de você.
Mas sua posição como CEO não era seu direito de nascença. Não é o que
eu queria dar a você.
Não, seu direito de nascença é escolher seu próprio caminho. Seu direito de
nascença é escolher entre todas as possibilidades enormes do mundo.
Para escolher o plano de carreira que mais combina com você porque você
o ama.
Muitas vezes te vi no escritório, frustrado ou infeliz. Embora eu tenha
sugerido que você poderia preferir outra busca, acho que você nunca me
ouviu.
Você era muito parecido comigo.
Você tinha certeza de que trabalhava na Knight. Que você trabalhava
comigo.
Embora eu tenha certeza de que sua separação da Knight não foi fácil, eu
sei que é importante. Espero que tenha lhe dado clareza e espero que você
tenha mais clareza agora que sabe que era meu plano.
Em breve, Penny lhe oferecerá o cargo de CEO de volta. Pelo resto de
sua vida, se você quiser administrar a Knight Enterprises, você pode.
Espero que você possa me perdoar por este último arranjo.
Saiba que tudo o que fiz foi por amor
Foi tudo parei Amelia, e depois tudo parei você e ela. Quando ela se foi, era
tudo para você. Depois, para você e Angela. E depois, para você, Angela e
Penny.
O amor muda, transfere, continua.
Espero que você entenda essas palavras de um velho.
Enquanto as escrevo, penso em uma vida plena. Estava completa porque
você estava nela, meu filho.
Hoje e todos os dias, eu envio a você amor do além.
Seu pai,
Brad
XAVIER
Segurei a carta em minhas mãos trêmulas. Eu li uma vez, então deixei
as lágrimas embaçarem minha visão.
Pai, como você pôde fazer isso comigo?
Como você pôde ir embora tão cedo? Quando eu ainda tinha muito que
aprender?
Por que eu tive que sofrer? Por que essa dor não vai embora?
Eu me fiz uma centena de perguntas enquanto olhava para o túmulo
de meu pai.
Eu estava de joelhos, com o chão molhado, manchando minhas calças.
Eu estava derrotado.
Toda a minha dor — toda a minha confusão — foi arranjada. Meu pai
havia feito uma crise sob medida, só para mim.
Embora eu quisesse ficar com raiva, tudo o que sentia era saudade. As
lágrimas continuaram caindo.
Eu senti como se todo o meu corpo fosse um grande coração partido.
Uma grande ferida aberta.
Abri o papel novamente, traçando as dobras que meu pai havia feito.
Eu tinha entendido corretamente?
Eu tinha perdido minha posição na Knight porque meu pai pretendia
isso?
Seguindo suas falas novamente, eu sabia que sim. Foi tão louco que
deve ter sido verdade.
Oh, pai. Se você soubesse a bagunça que eu fiz.
Eu fechei meus olhos.
O plano de meu pai me enviou pela estrada mais obscura da minha
vida.
É isso que ele queria?
Papai esperava que perder meu emprego me obrigaria a decidir o que
realmente queria fazer.
Em vez disso, tive uma crise de identidade.
Eu não tinha apenas perdido meu emprego. Eu provei a mim mesmo
que era verdade minha eterna preocupação: eu não era bom o suficiente.
Eu não merecia o que tinha.
Perder meu emprego provou que eu não era digno de Angela e não iria
parar até que ela soubesse disso também.
As palavras da Dra. Elmore me tocaram.
Eu tinha queimado tudo apenas para provar que podia. Apenas para
manter qualquer aparência de controle.
— Mas esse é um preço muito alto a pagar apenas para provar seu próprio
valor — Suspirei, segurando minha cabeça em minhas mãos. Eu estava
com muita pena de sentir arrependimento. De sentir pena de mim
mesmo.
A própria fonte de minha insegurança era falsa.
Eu perdi meu emprego porque meu pai arranjou isso.
Joguei a carta no chão.
Eu queria ficar com raiva. Mas ao ler a carta, me senti mais perto de
meu pai desde que ele morreu. Eu me senti visto. E embora me sentisse
manipulado, me senti amado.
O último arranjo de meu pai me fez viver um inferno. Ou melhor, eu
me coloquei no inferno.
Eu me levantei, só então percebendo a chuva. Pegando a carta, olhei
mais uma vez para as palavras de meu pai.
Seu direito de nascença é escolher seu próprio caminho.
Limpei as lágrimas do meu rosto. Eu tinha chorado o suficiente por
um dia.
As coisas estavam fodidas. Mas as coisas também estavam bem.
No aniversário da morte do meu pai, tudo mudou — e nada mudou.
Amanhã seria um novo dia.
Eu continuaria seguindo em frente. Eu tentaria me livrar do passado
— das coisas que fiz.
Eu seguiria meu próprio caminho.
— Você não vai acreditar nisso, — eu disse enquanto entrava no
quarto.
Angela olhou para mim por cima de sua edição especial Home &
Gardens.
— Não se preocupe, vou regar suas plantas mais tarde.
Angela me deu uma olhada e cobriu o rosto com a revista.
— Você fez de novo? — Eu perguntei. — Angie...
— Você tem alguma ideia de como o repouso na cama é impossível?
Eu tenho que ficar nesta cama o dia todo — ela gemeu.
— OK. Tanto faz, — eu disse com desdém, caindo na cama ao lado de
minha esposa. Eu levantei o envelope para ela ver.
— Não, — ela murmurou, com sua boca aberta. Ela soube o que era
imediatamente.
— Quer ler? — Eu perguntei.
Angela ficou quieta por um minuto. Eu sabia que ela estava se
perguntando qual seria a coisa certa a fazer.
— Quero que você leia, — encorajei.
Ela acenou com a cabeça. — Mas venha aqui primeiro, — ela ordenou.
Eu subi nas cobertas para ela. Ela segurou meu rosto em suas mãos e
eu me deixei afundar nela. Que dia longo pra caralho tinha sido. Sentar-
se no escritório da Dra. Elmore parecia uma eternidade de distância, mas
tinha sido naquela mesma manhã.
Angela beijou minhas bochechas, suave e lentamente, como se
soubesse de tudo o que eu tinha passado.
Seu afeto me construiu. Quando seus lábios pousaram nos meus, eu a
beijei tão profundamente que contei tudo o que sentia sem palavras.
Estou exausto. Eu sinto muito. É apenas daqui para cima.
Nós nos beijamos por alguns momentos, e então apenas ficamos
próximos um do outro, respirando a respiração um do outro.
Eu finalmente me afastei, deitando enquanto Angela pegava a carta.
Enquanto ela lia, fechei meus olhos.
Eu fiquei à deriva entre dormir e acordar.
E quando abri meus olhos novamente, Angela estava me observando.
As lágrimas escorriam por seu rosto e as páginas da carta se
espalhavam pelos lençóis da cama.
— Xavier, eu sinto muito, — ela sussurrou.
— Está tudo bem, — eu respondi, e era verdade.
— Então... — ela continuou, enxugando as lágrimas
— O que você vai fazer agora?
Capítulo 28
P icles para a princesa

ANGELA

Reclinei-me na minha espreguiçadeira ao sol da tarde.


No dia seguinte ao aniversário da morte de Brad, Xavier trouxe para
casa o melhor presente que eu já recebi. Era uma cama ao ar livre, e isso
significava que eu não estava mais presa ao nosso quarto.
Eu estava em repouso absoluto, com certeza, mas agora estava
descansando do lado de fora. Eu poderia desfrutar do meu jardim e ler
minhas revistas ao ar livre, na primavera.
Eu a tinha por uma semana, e o tempo todo passei meus dias
descansando feliz na varanda.
Xavier abriu a porta de vidro, segurando um copo alto de limonada de
manjericão. Dustin trouxe as novidades ontem quando veio me visitar.
Ele e Jake tinham acabado de voltar de sua lua de mel no Havaí.
Dustin estava bronzeado e relaxado, e conversamos por horas, reclinados
no meu sofá-cama.
— Como você está se sentindo? — Xavier perguntou pela quinta vez
naquele dia.
Quanto mais perto chegava à data do parto, mais diligente meu
marido se tomava em cuidar de mim. Ele atendeu a todas as minhas
necessidades, certificando-se de que eu nunca estava com fome, ou com
sede, ou desconfortável de qualquer forma.
— Estou com fome de picles, — eu disse, sorrindo.
— Ok, eu vou pegá-los. Mas você está bem? — Eu concordei. Quando
Xavier desapareceu de volta na cobertura, me senti como uma princesa.
Embora eu normalmente nunca me sinta confortável com tais mimos,
acabei por abraçá-los.
Quando comecei a descansar na cama, tudo que eu queria era ser
independente novamente. Para me mudar para onde eu queria e sair de
casa.
Eu ainda estava louca, claro, mas agora estava confortável para
descansar e aceitar ajuda.
Eu sabia que essa era a calmaria antes da tempestade. Quando os
bebês chegassem, haveria pouco tempo para dormir. E não haveria
tempo para mim.
Xavier voltou, colocando o frasco de picles na mesa ao meu lado.
— Venha se sentar! — Eu pedi.
Meu marido seguiu minhas ordens, reclinando-se ao meu lado.
— Como está a princesa? — Ele perguntou com amor.
— Eu estou bem. Eu já te disse, — eu provoquei.
— Oh, certo. Desculpa. Minha cabeça está em outro lugar.
Observei Xavier quando ele fechou os olhos, respirando fundo. Desde
a última carta de Brad, notei uma mudança em Xavier.
Dias depois do aniversário, meu marido ficou exausto. Ele acordou
tarde e foi para a cama cedo, como se estivesse se recuperando de uma
batalha.
E isso não estava muito longe da verdade. Eu não sabia exatamente o
que aconteceu naquele dia, mas sabia que meu marido havia lutado
contra alguns demônios.
— Não se preocupe, querido, — eu disse, despenteando seu cabelo. —
Onde está sua cabeça então?
Ele se apoiou no cotovelo e beijou minha bochecha.
— Penny pediu para me encontrar amanhã, — disse ele.
Eu levantei minhas sobrancelhas. — Para lhe oferecer seu emprego de
volta, — eu previ.
— Sim, Provavelmente.
Xavier suspirou longa e lentamente, como se drenasse todo o oxigênio
de seu corpo.
— Só não sei o que pensar, Angie, — disse ele. — Tive uma grande
crise de identidade quando perdi meu emprego. E agora que sei que tudo
fazia parte do plano do meu pai, sinto que passei por toda aquela dor e
me fodi tanto... por algo que não aconteceu de verdade.
Xavier olhou para suas mãos.
— Sua experiência ainda era real, — eu disse, — mesmo que você
tenha sido demitido porque Brad a armou.
Odiava ver meu marido sofrendo. Aos meus olhos, ele expiou o erro
que fez. Mas eu não sabia como fazê-lo ver isso.
— Talvez você precisasse sentir toda aquela dor para saber que queria
começar seu próprio negócio, — sugeri.
Xavier se endireitou e me olhou bem nos olhos.
— Acho que você está certa, — disse ele com energia renovada. —
Ainda não tenho certeza do que vou dizer a Penny, mas se aprendi uma
coisa esta semana, é que não adianta focar no passado. Para sentir
arrependimento. Eu preciso apenas olhar para frente.
Meu marido colocou a mão na minha barriga. — E temos muito pelo
que esperar. — Eu sorri e as lágrimas arderam em meus olhos. Eu não
queria chorar, mas fiquei muito aliviada ao ouvir Xavier dizer essas
palavras.
Foi o que eu disse por tanto tempo, esperando que um dia ele
acreditasse em mim.
— Nossos bebês virão em breve, — respondi.
Eu não conseguia conter as lágrimas agora. Meu coração estava muito
cheio.
Eu não tinha mais apenas um coração. Havia três corações em meu
corpo. E eles me fizeram sentir um amor tão intenso que eu não podia
acreditar que era possível.
Xavier passou o dedo sob meu olho, enxugando uma lágrima.
— Como devemos chamá-los? — Ele perguntou.
Não foi a primeira vez que tivemos essa discussão. Mas sempre que
falávamos sobre nomes, tínhamos a mesma discordância.
— Você sabe o que eu penso... — comecei.
— Eu sei, eu sei, — disse Xavier, agarrando minha mão. — Gosto da
ideia de dar ao nosso filho o nome do meu pai, mas ter outro Brad na
minha vida seria muito... intenso.
— Ok, — eu respondi, sentindo meu rosto corar. Não consegui
explicar por que isso era tão importante para mim, mas realmente queria
dar ao nosso filho o nome de Brad.
Eu sabia que isso o deixaria muito feliz.
— Tive uma ideia! — Xavier explodiu. — O que você acha do nome
Ace? É assim que o pai do meu pai o chamava.
— Ace, — eu repeti, sentindo a palavra na minha boca. Também era o
que meu pai chamava Xavier às vezes.
Tinha algo nisso.
— Eu gosto, — eu disse. — Eu gosto muito.
Nós sorrimos um para o outro. Estava acertado. — E para a nossa
garotinha, — eu continuei. — E quanto a Amelia? Podemos chamá-la de
Leah como apelido, e chamá-la em homenagem a nossas mães.
Xavier não respondeu, mas pelo olhar em seus olhos, eu sabia que ele
adorou.
Ele fechou o espaço entre nós, puxando-me para um beijo profundo.
Coloquei minha mão sobre a dele na minha barriga. Nossa família
inteira estava bem aqui. E isso era tudo que eu precisava.
XAVIER

Saí do BMW beamer e tirei meus óculos de sol.


Quanto tempo se passou desde que eu usei um temo?
Tudo que eu sabia era que ficava ótimo com listras e estava feliz por
usá-las mais uma vez.
Entrei no saguão do hotel Knight's Tribeca, optando pela porta
normal ao lado da giratória. Era difícil não parecer um quadrado em uma
porta giratória, e não era eu.
Fui direto para o restaurante do chef celebridade, passando pelo
maitre.
— Encontrar alguém, — expliquei, sem diminuir o passo.
Continuei para o pátio, onde Penny me disse que estaria sentada.
Eu a avistei em uma mesa na extremidade oposta e nossos olhos se
encontraram. Embora eu quisesse manter a calma, não pude conter um
sorrisinho.
Depois de alguns dias tumultuosos — não, semanas — não, meses, eu
finalmente senti como se tivesse meus pés de volta no chão.
Eu era Xavier Knight.
Eu fui derrubado. Mas eu voltei.
— Penny.
Ela se levantou para me cumprimentar e eu dei-lhe um abraço rápido.
Penny e eu passamos por uma merda maluca juntos. Nosso
relacionamento havia evoluído das formas mais radicais.
Mas no fim das contas, ela era minha amiga. Nós nos entendíamos.
Sentei-me em frente a ela, relaxando em minha cadeira. Minhas
pernas estavam bem abertas em uma postura de poder.
Levou meses, mas finalmente estava de volta ao meu ritmo.
Penny sorriu com conhecimento de causa. A última vez que a vi foi no
túmulo de papai, e eu fui um completo show de horrores.
Mas não mais.
— Pensei em pedir ostras, — disse Penny, — em homenagem a Brad.
— Perfeito, — respondi. O marisco cru combinava perfeitamente com
o meu bom humor.
— Eu não tinha certeza se você queria uma bebida, — ela continuou,
— mas pedi um martini de vodca para mim.
— Nada para mim agora. Mas obrigado.
Que mudança...
Lá estava eu, sentada com minha velha amiga colorida que virou
madrasta, que virou amiga.
E enquanto no passado eu teria exigido pelo menos alguns coquetéis
bons e secos para celebrar meu humor triunfante, agora eu não estava
feliz com nada.
— Como está Angela? — Penny perguntou. — Ela me mandou uma
foto de suas plantas. Espero que cresçam lindamente. Estou realmente
plantada pra ver o que sairá dali. — Penny deu uma risadinha enquanto o
garçom entregava seu martini e me servia um copo d'água.
Revirei os olhos com seu trocadilho.
— Ela está radiante, — respondi, imaginando o rosto luminoso de
minha esposa. — Enlouquecendo em repouso absoluto, é claro, mas ela é
uma campeã. E os gêmeos nascerão em breve.
Eu olhei para os cubos de gelo em meu copo. Os gêmeos nasceriam
realmente em breve.
— Ela é uma guerreira, — disse Penny com um pequeno sorriso. — Dê
a ela meu amor, por favor. — Eu retomei seu olhar, sorrindo enquanto
pensava em Angela. Penny estava certa. Minha esposa era uma guerreira.
Ela me salvou em uma ilha deserta. Ela se defendeu não de apenas
um, mas de dois predadores sexuais.
Ela me resgatou de um buraco tão profundo que eu não pensei que
jamais conseguiria sair vivo.
E agora, ela estava grávida de gêmeos.
A cada passo, ela era a mais forte de nós dois.
Ela realmente era minha melhor metade.
As ostras foram entregues em uma bandeja de prata cheia de gelo.
Percebi que Penny estava preparando as dela da mesma forma que eu
— muita cebola, uma pitada de vinagre, uma pitada de Tabasco. A
preferência do meu pai passou para nós dois.
— Saúde, — chamei, inclinando a meia concha para trás. A ostra
estava fria e salgada na minha boca.
Eu engoli.
— Ah, — eu suspirei. — Perfeição.
Penny tomou um gole de seu martini antes de cruzar as mãos.
— Ok, Xavier, — ela começou.
Observei enquanto ela se transformava da Penny esquisita e boba em
uma mulher de negócios intimidante. Sua postura se endireitou, seu
rosto endureceu e seus olhos adquiriram um brilho gelado.
Eu sorri, impressionado.
A empresa está em boas mãos.
— Quero começar esta reunião agradecendo.
Obrigada por me encontrar aqui neste restaurante, mas também
obrigada por me encontrar no meio termo.
Ela suspirou, erguendo as sobrancelhas. — Eu sei que meu
relacionamento com Brad deve ter sido... confuso para você. Mas eu não
posso te dizer o quanto significa para mim estarmos sentados aqui
juntos. Como amigos. Reunidos por alguém que ambos amamos muito.
Percebi um brilho de emoção em seus olhos.
— Eu sei que a última vez que trabalhamos juntos não foi perfeito, —
disse Penny, com um sorriso irônico. — Você deve ter pensado que eu caí
na Knight, faminta por poder e procurando por problemas. Tentando
fazer uma impressão.
— E eu quero me desculpar, — ela continuou, — por manter todos
esses segredos de você. Sobre a empresa. Sobre o plano de Brad. Eu
queria tanto te contar. Talvez isso aliviasse um pouco sua dor. Talvez
tudo tivesse feito um pouco mais de sentido em um momento tão
confuso.
Penny olhou para as mãos e depois para mim, com os olhos estreitos
de convicção.
— Mas eu estava certa em manter isso em segredo. Por mais cruel que
pareça, você precisava dessa experiência. Você precisava sentir essa dor
para se tomar o homem que é hoje.
Eu balancei a cabeça, sem ter nada contra ela.
Ela estava certa.
Eu precisava passar por aquele teste. Eu me senti estranhamente
protetor disso. De uma forma estranha e distorcida, aquela dor era
preciosa para mim. Isso me forçou a encontrar minha força.
Isso me fez perceber o que era realmente importante.
— Mas agora você está de volta, e melhor do que antes. Você é o
Xavier Knight que Brad sabia que você poderia se tomar. E quero você de
volta como CEO, Xavier. Todo mundo quer você de volta.
Eu sentei lá, ouvindo as palavras que ansiava ouvir há meses.
— Eu o convido a voltar para a Knight Enterprises não apenas porque
é o seu legado, mas também porque seu carisma, sua dedicação, sua
presença é vital para o sucesso da empresa.
Penny fechou os olhos por um momento, como se reorientasse sua
energia, e então os abriu mais uma vez.
— Nós precisamos de você, Xavier. Tivemos que te tirar da empresa
porque era o que Brad queria. E agora que o plano dele está completo,
precisamos de você de volta. Esperamos poder iniciar uma nova relação
de trabalho... onde você pode fazer suas próprias regras e definir suas
próprias prioridades. O salário será ainda mais generoso.
Eu não pude evitar. Eu estava radiante.
— Então, Xavier, — Penny concluiu. — Você vai voltar para a Knight?
Capítulo 29
A Decisão de Xavier

PENNY

Prendi a respiração, esperando a resposta de Xavier.


Eu fiz meu discurso, assim como me preparei.
Finalmente, ele sabia de tudo. O plano de Brad.
As minhas desculpas. Minha expectativa.
Minha pergunta final pairou no ar:
— Enteio, Xavier, você vai voltar para a Knight?
Um momento se passou.
Então outro.
Havia um pequeno sorriso nos lábios de Xavier, mas não traía nada.
Eu coloquei tudo sobre a mesa.
Agora tudo dependia de Xavier.
Ele gostaria de voltar para a Knight Enterprises?
Ou ele gostaria de continuar crescendo separadamente da empresa de
seu pai?
— Penny, eu... — ele começou, e as palavras caíram entre nós — na
camada de gelo sob as ostras.
— Eu não posso.
Eu pisquei. Então engoli em seco. Eu levantei meu martini e esvaziei o
que restava dele.
— Sinto muito, — ele continuou. — Não posso mais ser CEO.
Eu encontrei seus olhos quando ele me ofereceu um pequeno sorriso.
— Não é que eu não queira me envolver com a Knight. Eu quero. Mas eu
tenho que admitir, o plano do meu pai funcionou. Sem a Knight, eu tive
que pensar sobre o que eu realmente queria.
Xavier continuou. — E eu não quero mais a temporada de caça de
Wall Street. Diabos, eu nem quero trabalhar em um escritório.
Eu não tinha certeza de como me sentir.
Eu meio que esperava que ele respondesse dessa forma. Eu sabia que
havia uma possibilidade muito real de Xavier querer deixar a empresa.
Mas uma parte de mim o queria de volta.
Não havia como negar que Xavier era um empresário genial.
E agora que ele estava trabalhando na luta contra seus demônios
pessoais, ele teria sido o parceiro perfeito para se ter.
Meu aliado mais próximo na continuidade do legado de Brad.
Tive de enfrentar uma montanha de trabalho para garantir que a
empresa sobrevivesse. E a resposta de Xavier significava que eu teria que
fazer isso sozinho.
Oh, Brad, pensei comigo mesmo. No que você me meteu?
— Estou feliz por você, Xavier. — Eu sorri, mas até eu podia sentir que
estava vazio.
Quando olhei para cima, os olhos de Xavier estavam cheios de
preocupação.
— Lamento que a minha resposta não seja muito entusiástica. —
Peguei uma ostra e comecei a prepará-la do jeito que Brad gostava. — Há
um monte de coisas para se fazer na empresa, e fazê-lo sozinha é um
pouco assustador. — Xavier me imitou, preparando outra ostra e
deslizando-a garganta abaixo.
— Eu também sinto muito, — ele admitiu. — Mas se alguém pode
fazer isso, é você, Penny. Não consigo imaginar outra pessoa que eu
prefira ter no comando da empresa do meu pai. E isso inclui a mim.
Eu sorri para ele, e desta vez foi genuíno.
— Obrigada, Xavier.
— Mas eu quero meu lugar no quadro de volta. Eu gostaria de uma
função executiva e estarei em todas as reuniões.
Xavier abriu seu sorriso irônico.
— Se eu não tiver que estar no escritório todos os dias, terei um
comportamento melhor quando estiver lá. Eu prometo.
Eu não pude deixar de rir disso, embora terminasse com uma careta.
Eu preparei uma ostra para mim e a comi. A refeição me lembrou de
jantares com Brad, o que melhorou um pouco meu humor.
— Penny, tudo o que você disse significa muito para mim. Estou grato
por termos terminado nesta amizade também, embora eu tenha feito
você passar por um inferno antes de chegarmos aqui. — Xavier suspirou.
— Mesmo sem saber o plano do meu pai, eu sabia que merecia tudo o
que aconteceu. Isso é o que tomou tudo tão difícil para mim, eu acho.
Mais uma vez, fiquei chocado com a vulnerabilidade de Xavier. Era
verdade. Ele não era o homem que eu conhecia antes, imaturo e cruel.
Eu respirei fundo, tentando me animar.
Administrar a Knight Enterprises seria um desafio. Talvez o maior
desafio da minha vida.
E enquanto eu ainda estava um pouco inseguro de minhas
habilidades, eu tinha que confiar nas pessoas que acreditavam em mim.
Xavier acreditou em mim.
E Brad também.
Xavier estava me observando de perto como se para se certificar de
que eu estava bem.
— Como você está, Penny? Fora do escritório.
Eu considerei a questão.
— Tenho vivido principalmente no escritório ultimamente, — eu
admiti, refletindo sobre as longas noites e madrugadas. — Administrar a
empresa sem um CEO tem sido... uma loucura.
— Eu gostaria de ajudar a encontrar meu substituto, se estiver tudo
bem, — Xavier ofereceu.
Eu sorri. — Isso seria legal.
Estudei minha nova taça de martini.
— Do contrário, estou bem, — continuei. — Eu sinto muita falta de
Brad. E esta época do ano é difícil porque eu pensei que agora, eu estaria
me sentindo... melhor.
Xavier não disse nada, mas pegou minha mão sobre a mesa.
O gesto apenas aumentou meu estado emocional, e eu senti as
lágrimas brotarem dos meus olhos. Eu tinha certeza de que meu choro
iria assustar Xavier, mas ele manteve a calma.
— Do contrário, estou bem, — continuei. — Eu sinto muita falta de
Brad. E esta época do ano é difícil porque eu pensei que agora, eu estaria
me sentindo... melhor.
Xavier não disse nada, mas pegou minha mão sobre a mesa.
O gesto apenas aumentou meu estado emocional, e eu senti as
lágrimas brotarem dos meus olhos. Eu tinha certeza de que meu choro
iria assustar Xavier, mas ele manteve a calma.
— Eu sei exatamente o que você quer dizer, — ele respondeu.
Suas palavras me confortaram. Pela primeira vez em muito tempo, me
senti compreendida. Eu me senti vista.
E esse alívio foi melhor do que saber que Xavier voltaria ao escritório.
Eu perdi um parceiro de negócios, mas ganhei um amigo.
E um amigo era o que eu mais precisava.
XAVIER

Penny enxugou as lágrimas dos olhos.


Eu não gostava de vê-la sofrendo, mas era bom confortá-la. Mais do
que isso, era bom se sentir confortável confortando-a.
Todos os rancores que eu guardava contra ela pareciam estúpidos
agora, e eu a via como ela realmente era.
Alguém que amava meu pai.
E, dessa forma, éramos iguais.
Quando ela pegou seu martini, senti meu telefone zumbindo no
bolso.
Quando vi o nome de Angela na tela, abri imediatamente.
— Ei, querida, — eu a cumprimentei.
Mas então eu a ouvi respirar pesadamente e meu coração parou. Eu
fiquei tenso, pronto para entrar em ação.
Poderia ser este o momento que eu estava esperando?
— Xavier, — veio a voz em pânico de Angela. — Minha bolsa estourou.
— Oh, meu Deus! — Eu explodi, levantando-me da minha cadeira. Eu
estava pronto para sair correndo do restaurante.
— Estou em um táxi, — continuou Angela. — Lucille estava em casa,
então ela está comigo.
Eu me amaldiçoei por não estar lá. Eu me perguntei por que ela não
ligou para Marco, mas então me lembrei: Marco estava esperando por
mim do lado de fora do hotel.
Porra! Amaldiçoei-me novamente.
— OK, querida. Tudo vai ficar bem, — eu assegurei a ela, embora eu
estivesse hiperventilando. Fiquei preocupado em desmaiar. — Estou
saindo agora. Eu estarei lá em breve!
Eu deixei cair minha mão, olhando para o restaurante como se nunca
o tivesse visto antes.
Este era um mundo totalmente novo. Aquele em que eu estava prestes
a ser pai.
A adrenalina percorreu meu corpo.
— Então?! — Penny perguntou. Ela estava segurando a mesa, olhando
para mim.
— Angela está em trabalho de parto! — Eu gritei.
Meus pensamentos viajaram em centenas de direções diferentes. Eu
estava tão despreparado! Os bebês só nasceriam dentro de duas semanas!
— Oh! — Penny engasgou, seu rosto iluminado de empolgação.
— Ela está algumas semanas adiantada, — eu disse a ela, com
ansiedade nublando minha visão. — Isso significa que algo está errado?!
Ela balançou a cabeça. — Não, de forma alguma. Não se preocupe!
Agora vá!
Peguei minha carteira da mesa e joguei meu blazer sobre os ombros.
— Onde fica o hospital? — Ela perguntou.
— Bem no norte da cidade.
— Oh, — respondeu ela, verificando o relógio. — E hora do rush.
— Porra! — Eu gritei, virando mais do que algumas cabeças. — Até
mais tarde, Penny!
Eu corri pelo pátio, correndo pelo saguão em uma velocidade
vertiginosa.
Corri pela porta normal direto para o BMW.
Tentei a porta apenas para descobrir que estava trancada. Espiando
pela janela, vi que o banco do motorista estava vazio.
— Que porra é essa? — Eu gritei antes de correr de volta para dentro,
através do saguão e direto para o banheiro masculino.
— MARCO! — Eu gritei quando o vi nos mictórios.
O pobre rapaz quase desmaiou no local, de tão surpreso.
— Nós temos de ir agora! Angela está em trabalho de parto!
Marco abotoou as calças em um frenesi, e corremos pelo saguão como
dois ladrões de banco em fuga.
Eu explodi no ar da tarde apenas para ver Marco lutando para passar
pela porta giratória.
— Merda, Marco! — Eu gritei, pulando para cima e para baixo.
Quando finalmente entramos no carro, olhei pelo para-brisa.
— O trânsito está muito ruim, Sr. Knight, — disse Marco.
Ele estava certo. Estávamos parados.
— Bem, uh, buzine! — Eu pedi.
Marco colocou a palma da mão sobre ele.
BIIIIIIP!
Não fez diferença. Afinal, estávamos em Manhattan.
— Buzine mais alto!
BIIIIIIP!
Coloquei minha cabeça para fora da janela.
— Minha esposa está em TRABALHO DE PARTO! — Eu gritei. —
Deixe-nos passar!!!
Mas ninguém ouviu, ou ninguém quis ouvir.
— PORRA!
Eu olhei ao redor do carro loucamente. — O que eu deveria fazer?!
Está no norte da cidade! Eu não posso correr até lá. Não posso pegar o
maldito metrô.
Eu poderia dizer que Marco estava tremendo no banco da frente. Ele
sempre foi um motorista tão confiável; ele nunca tinha visto minha ira
assim.
Fiz uma pausa, tentando pensar racionalmente por um minuto.
As ruas estavam lotadas. Uma motocicleta não seria melhor. O metrô
estava lento demais, e os paparazzi teriam um dia agitado no momento
em que me pegassem lá.
Se eu pudesse voar...
E então veio a mim.
Eu poderia VOAR!
— Obrigado, Marco! — Falei, saltando para fora do carro, correndo
em direção ao saguão mais uma vez.
Fiz uma pausa na recepção. — Me chame um helicóptero, agora!
A recepcionista assentiu e eu entrei no elevador momentos antes de as
portas se fecharem.
Apertei o botão número 50. Oh, sim. Eu estava indo até o topo. Eu não
podia acreditar que não tinha pensado nisso antes.
Claro! O helicóptero!
No telhado do Knight Tribeca, um helicóptero já me esperava no
heliponto.
Esse é o atendimento ao cliente da Knight para você, pensei comigo
mesmo.
Subi no helicóptero, prendendo o fone de ouvido nos ouvidos.
— Ao hospital! — Eu ordenei, levantando minha voz sobre a hélice
giratória.
Momentos depois, estávamos no ar e vi a cidade recuar sob mim.
O hotel sumiu de vista, perdido em um mar de arranha-céus.
Olhei para a cidade que amava, o lugar que chamei de lar por toda a
minha vida.
As torres prateadas cintilavam à luz do sol, refletindo em um milhão
de janelas.
Eu mal podia imaginar tudo o que estava acontecendo neste
momento, lá embaixo de mim.
As pessoas estavam se apaixonando e se separando, fazendo negócios
e fazendo as pazes. Embrulhavam presentes e os abriam, comendo as
melhores refeições de sua vida.
Mas de tudo o que estava acontecendo abaixo de mim, nada era mais
emocionante do que para onde eu estava indo.
Nada era mais especial, mais emocionante, mais milagroso.
Eu veria minha esposa dar à luz, e nossas vidas estavam prestes a
mudar para sempre. Estávamos prestes a experimentar o milagre mais
poderoso de todos: a vida.
À medida que o helicóptero avançava para a parte norte da cidade, eu
tinha certeza.
Eu estava pronto. Eu estava pronto para uma nova aventura.
Capítulo 30
Parto

XAVIER

A enfermeira abriu a porta da sala de parto e eu corri atrás dela.


— Angela! — Eu gritei no momento em que a vi. A sala estava
zumbindo com atividade, mas para mim, Angela era a única ali presente.
Ela estava deitada na maca com uma bata de hospital e as pernas
apoiadas na cama. Seu rosto estava vermelho e suado.
Isso me fez sentir como se meu coração estivesse prestes a explodir.
Mas eu estava tranquilo. Eu estava no controle.
Meu Deus, eu tinha acabado de sair de um maldito helicóptero! Eu
senti que poderia fazer qualquer coisa. Eu estava pronto para ser
exatamente o que minha esposa precisava.
— Xavier, — ela gritou. — Estou tão feliz por você estar aqui!
Eu agarrei sua mão e acariciei enquanto beijava sua bochecha. Olhei
para o outro lado da cama e vi Lucille segurando a outra mão de Angela,
com seu rosto branco como um fantasma.
— Em e minha família estão a caminho, — explicou ela.
Eu balancei a cabeça, sinalizando que Lucille poderia sair. Ela tinha
feito o suficiente por um dia.
— Estou tão feliz que você esteja aqui! — Angela repetiu, com uma
contração batendo quando ela completou o pensamento. Ela agarrou
minha mão com tanta força que pensei que perderia a circulação.
Angela estava se contorcendo na maca, respirando pesadamente.
— Tudo está bem agora, querida. Estou bem aqui, — eu a consolei. —
Lembre-se de sua respiração Lamaze.
— Foda-se a Lamaze! — Ela gritou.
Ela soltou um grito de gelar o sangue quando a médica olhou sob suas
pernas. Ela era um tipo de mulher minúscula e objetiva, com cabelo
escuro puxado para trás em um coque liso.
— Estamos com oito centímetros, — ela gritou para seus assistentes.
— Xavier, está acontecendo tão rápido! E Leo está de férias hoje! —
Ela gemeu.
— Bom, — eu disse baixinho.
— O quê?
— Nada, querida. Tudo vai ficar bem. Tudo que você precisa é de dois
grandes empurrões, e então está tudo pronto.
Eu sabia que poderia não ser tão fácil.
Na verdade, ajoelhando-me ao lado de Angela enquanto as
enfermeiras se movimentavam pela sala, percebi que sabia muito pouco
sobre o parto. Tudo que eu pensava que sabia estava sendo questionado.
Eu sabia que era doloroso. Eu sabia que era assustador.
Mas eu não estava preparado para ficar tão assustado. Angela estava
totalmente em modo selvagem. De repente, seu grito perfurou o ar e eu
quase pulei para fora da minha pele.
— Eu sou a Dra. Goodman, — disse a médica, oferecendo-me sua
mão, que peguei junto com a que não estava sendo mutilada por minha
esposa.
— Xavier.
A Dra. Goodman conseguiu chamar a atenção de minha esposa.
— Sei que isso está acontecendo mais rápido do que você esperava, —
disse a médica a Angela, que estava mostrando os dentes como um
animal selvagem. — Mas a boa notícia é que você não terá que ficar em
trabalho de parto por muito tempo. Logo tudo vai acabar.
— Tudo bem... — Angela conseguiu sair.
— Porque você vai ter seus bebês em breve.
Eu engoli em seco.
Isso estava acontecendo rapidamente. Eu estava grato por ter feito isso
quando o fiz. Mas também queria que Em se apressasse...
Ela sabia tudo sobre isso porque já tinha feito isso antes.
Mas eu não ia deixar Angela saber que estava tremendo. Ou melhor,
meus sapatos Ferragamo.
Não, eu seria sua rocha.
— Nove centímetros! — Dra. Goodman avisou.
E então Angela soltou um grito que fez meu coração parar.
ANGELA

Fora!
Foi tudo o que pensei enquanto minha dor deixava o ar do hospital
úmido e nebuloso ao meu redor.
Eu estava esperando há nove meses por isso.
Fora!
Todo o desconforto que eu sentia naquela época, todos os dias na
cama, estava aumentando para isso.
Todo o resto empalideceu em comparação a isso.
Fora!
Meu corpo estava sendo aberto.
Este foi o auge de tudo. Não poderia ficar pior do que isso.
XAVIER

— Empurre! — Dra. Goodman ordenou. Ela ficou entre as pernas de


Angela enquanto minha esposa gemia desumanamente.
Meu coração estava batendo fora do meu maldito peito.
Eu estava totalmente perdido.
Angela estava além de reconfortante neste momento.
Onde ela estava, ela precisava ir sozinha.
ANGELA

No súbito e abençoado intervalo entre as contrações, me perguntei


por que diabos eu estive tão apaixonada por um parto natural?
Eu ia enlouquecer tendo esses gêmeos.
Eu pensei que ao dar à luz, eu saberia os segredos de ser mulher. Eu
me juntaria ao clube mais antigo do mundo — a maternidade.
Isso foi ingênuo.
Quando outra contração rasgou meu corpo, eu tive certeza: Eu estava
nisso sozinha.
Era eu contra meus filhos.
Eu ia dar vida a eles... se eles não me matassem primeiro.
XAVIER

Eu odiava admitir, mas estava perdendo a calma.


A mão de Angela parecia fria e úmida como um peixe, se contorcendo
para ser libertada.
A dor contorceu seu rosto até que ela estava quase irreconhecível para
mim.
— Eu vejo a cabeça, — disse Goodman em voz alta.
— Um empurrão final!
Mesmo naquele momento mais difícil, eu vi Angela exatamente como
ela era.
O amor da minha vida.
A mãe dos meus filhos.
ANGELA

Com um empurrão, me permiti ser rasgada ao meio.


E então, a dor que tinha sido tão alta na minha cabeça se acalmou.
Meu bebê apareceu nas mãos da Dra. Goodman.
Meu bebê.
Com a força que me restava, estiquei o pescoço para olhar entre as
pernas.
— Angela, sua garotinha está aqui, — disse a Dra.
Goodman.
XAVIER
Observei enquanto Angela segurava a menina contra o peito.
O anjinho.
Eu segurei uma de suas mãos, olhando para cada um de seus
minúsculos dedos. Cada um tinha sua própria unha minúscula.
Nunca tinha visto nada tão pequeno. Nunca tinha visto nada tão
perfeito.
— Amelia, — Angela sussurrou, beijando sua cabeça.
— Leah, — eu disse, encontrando os olhos da minha esposa.
ANGELA

Eu segurei meu bebê.


E eu sabia que, sem sombra de dúvida, minha vida mudou para
sempre. Não havia como voltar para a pessoa que eu era antes dela.
Quanto tempo eu fiquei assim, segurando-a?
A Dra. Goodman me observou como se eu pudesse entrar em
combustão.
Meu trabalho ainda não havia acabado.
Meu filho ainda estava vindo. Eu senti aquela dor familiar apertando e
liberando em meu corpo, e eu passei a pequena Leah para a enfermeira.
XAVIER

Outro parto.
Angela estava mais calma dessa vez.
— Seu corpo está pronto! Agora você sabe o que fazer! — A Dra.
Goodman encorajou.
Quando Leah estava em seus braços, parecia que eu, Angela e nosso
bebê éramos os únicos na sala.
Agora, Angela manteve os olhos em mim.
Eles estavam se estreitando com a dor, mas ainda assim, seu amor
brilhava.
— É só você e eu, — eu sussurrei. — Só nós e nossos bebês.
Com um aperto final na minha mão, Angela deu à luz nosso segundo
filho.
ANGELA

Ace. Pequeno Ace.


Meu trabalho estava feito.
Deixei meu corpo relaxar na maca.
Eu me senti como o campo de batalha na noite após uma batalha.
Eu me senti como um barco salva-vidas que passou por um furacão.
Mas, na verdade, eu era apenas eu. Exceto que agora eu era uma mãe.
XAVIER

Eu segurei Leah. Angela segurou Ace.


Sentei-me na maca ao lado dela, o mais perto de minha esposa que
pude.
Ace era tão pequeno quanto sua irmã e tão perfeito. Ele moveu uma
pequena mão, abrindo aqueles dedinhos.
Eu não poderia descrever esse sentimento. Eu simplesmente sabia que
estava completo.
Todo mundo estava aqui. Esta era nossa família.
3 ANOS DEPOIS
ANGELA

— Ace, pare com isso! — Eu repreendi, pegando meu filho. — Não é


para comer.
Mergulhei meu dedo em sua boca, removendo efetivamente a concha
que ele alojou dentro.
Estávamos na praia, perto das ondas.
Xavier e eu estávamos empregando nossa estratégia usual, em que
cada um de nós cuidava de uma criança. Meu marido estava segurando
Leah pelas mãos, balançando-a de modo que suas pernas chutassem a
água.
Eu olhei para o oceano, para onde o sol estava se pondo ao longe.
Xavier e eu tínhamos ido a muitos lugares bonitos juntos. Tínhamos
caminhado pelas ruas de Paris, pelas florestas de Bali... E com nossos
filhos, viajamos de nossa casa em Connecticut para Nova Iorque e Nova
Jersey.
Mas este foi o mais longe que os gêmeos estiveram de casa.
Barbados.
Eu tinha que admitir, podem ter sido minhas férias favoritas até agora.
— Querida, — Xavier chamou enquanto se virava para olhar para a
praia. — É hora do jantar.
— Pronto, pequenino? — Eu perguntei, beijando a bochecha de Ace.
Meu filho tinha os olhos do meu marido, enormes e redondos, escuros
como o crepúsculo. Suas bochechas estavam sempre rosadas e seu cabelo
loiro era macio como só o de uma criança poderia ser.
A pequena Leah tinha cabelos mais escuros, embora suas bochechas
fossem redondas como as de seu irmão. Eles tinham uma suavidade
semelhante em seus rostos. Como se ambos fossem anjinhos.
— Gostoso! — Leah gritou, correndo sobre a areia molhada em suas
perninhas.
Eu sabia que era verdade, e todos que os conheceram concordaram: os
gêmeos eram adoráveis.
Eu me levantei, colocando Ace no meu colo.
Xavier apareceu atrás de nós, colocando a mão na parte inferior das
minhas costas.
Fomos em direção à mesa que havia sido posta para nós na praia,
completa com velas e um vaso de rosas.
Foi extremamente romântico, mas Xavier e eu raramente jantávamos
apenas nós dois nos dias de hoje. Fazíamos questão de sair para namorar,
mas ambos nos acostumamos com um estilo de vida doméstico.
Éramos camponeses agora. Eu gostava de fazer essa piada com Xavier,
embora não fosse totalmente verdade. Você poderia tirar o menino da
cidade, mas com certeza não poderia tirar a cidade desse menino.
Eu sabia que ele ansiava por suas reuniões semanais em Manhattan.
Colocamos as crianças em suas cadeiras altas e depois nos sentamos à
mesa.
As ondas batiam calmamente, me relaxando ainda mais. Eu cavei
meus pés na areia.
Eu olhei para o meu marido por cima da mesa.
Havia um pequeno sorriso em seu rosto enquanto avaliava as
silhuetas de nossa nova casa de férias e destilaria de rum à distância.
Ele encontrou meu olhar e estendeu a mão sobre a mesa. Eu sabia que
ele estava feliz.
Os negócios de Xavier permitiam que ele passasse um tempo comigo e
com as crianças. Ele ainda estava investido na Knight, mas em seus
termos.
O arranjo era adequado para nós dois.
Especialmente para os pequenos Leah e Ace.
A única pessoa com quem eles gostavam de brincar mais do que eu,
era com meu marido.
Observei enquanto Xavier ajudava Leah a beber de seu copo de água
com canudo, o que me fez rir.
A paternidade trouxe o melhor em nós dois.
Isso deixou Xavier mais suave e eu mais dura.
Nós dois tínhamos encontrado nosso equilíbrio.
Enquanto o pôr do sol brilhava em vermelho e laranja ao nosso redor,
minha família inteira estava banhada de uma luz quente.
O garçom entregou nosso jantar: lagostas para Xavier e eu, macarrão
com queijo para nossos filhos.
Antes de começarmos nossa refeição, parei um momento para
agradecer às pessoas ao meu redor.
Minha família. O que eu fiz para mim.
Xavier encontrou meu olhar e ergueu seu copo de uísque para tilintar
no meu.
— Para nós. — Ele sorriu o mesmo sorriso que sempre fez meu
coração parar.
Livro 6 - Sem Revisão

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
Um Novo Normal

ANGELA

— Ok, reúna as crianças! — Eu gritei. — É hora da foto!


Eu sorri quando um coro de gritos animados e gemidos irritados
ecoou. Todas as meninas se agruparam para a foto enquanto os meninos
faziam o possível para escapar.
Lembrei-me de ter medo de tirar fotos em grupo quando criança.
As festas não eram para fotos... eram para brincadeiras.
E que lugar para brincar este é.
Eu olhei em volta para a bela paisagem.
Um campo aberto de grama exuberante era emoldurado por um
labirinto de canteiros de flores. A floresta que circundava a propriedade
balançava com a brisa do verão. Um enorme gazebo de festa fornecia
sombra para as mesas cheias de comida e bebidas.
Era difícil acreditar que eu poderia chamar esse lugar de meu quintal.
Parecia uma cena tirada das páginas de um conto de fadas.
— Aproveitando a vista?
Virei-me para encontrar Em, com uma casquinha de sorvete em uma
mão e uma câmera na outra. Peguei a câmera dela com um sorriso.
— Você não deveria estar acostumada com este lugar agora? — Ela
perguntou.
— Não significa que não posso parar de cheirar as rosas, — respondi.
— Sim. Rosas. — Em olhou para os jardins de flores. — E tulipas,
margaridas, lírios, orquídeas e gardênias...
Eu ri, lembrando-me de quando costumava trabalhar meio período na
floricultura de Em.
Isso parecia uma vida atrás.
Era difícil acreditar que minha vida havia mudado tão drasticamente
em apenas alguns anos.
Caramba, mesmo agora EU AINDA acho que vou acordar de repente no
minúsculo apartamento de Em Nova York, e tudo isso terá sido um sonho
muito louco.
Mas era tudo real.
Em e eu tínhamos famílias. Tínhamos filhos. E conhecemos muitas
pessoas maravilhosas ao longo do caminho.
Muitas pessoas se reuniram na casa minha e de Xavier para o dia
especial.
Papai estava acampado atrás da enorme churrasqueira, preparando
muita coisa. Ele estava com seu infame avental com a frase não ouse
beijar chef e seu boné do New York Giants para proteger os olhos do sol.
Lucille ficou obedientemente ao seu lado, distribuindo pratos e
guardanapos para as pessoas ansiosas que queriam provar a comida do
papai. Ela ainda ajudava em nossa nova casa em Connecticut, mas não
em tempo integral.
Avistei Marlena Marlboro e Penny embaixo da sombra do gazebo, em
uma conversa profunda. Eu não tinha dúvidas de que elas estavam
falando sobre negócios. A magnata das artes era grande amiga de Brad e
parecia que ela gostava de sua sucessora.
Se ao menos você pudesse estar aqui. Brad...
Eu ri quando vi Lucas e Danny tentaram encurralar as crianças para a
foto do grupo. Muitos amigos trouxeram suas famílias, e o dia estava
cheio de canções e risos.
— Nada mal, Angie, — gritou uma voz familiar, — mas onde estão as
estátuas de mármore? Onde está a pièce de résistance para marcar esta
ocasião especial?
Revirei os olhos enquanto Dustin caminhava atrás de mim, com um
sorriso brilhante no rosto.
— Atrasado como sempre, — brinquei.
— Os convidados de honra estão sempre atrasados, — respondeu ele
despreocupadamente, envolvendo-me em um abraço e beijando minhas
duas bochechas. Dustin se virou e fez o mesmo com Em.
— Onde está o seu marido? — Perguntei a Dustin. Ele e Jake eram
praticamente inseparáveis desde o casamento.
— Bem aqui! — Jake apareceu atrás dele com um menino nos braços.
Ele sorriu para mim, com seus olhos brilhando. — Diga 'oi' para a tia
Angie e Em, — Jake disse para a criança.
O menino olhou para nós, com seus grandes olhos castanhos
arregalados e curiosos. Ele sorriu e soltou uma risadinha.
Em e eu nos derretemos, aglomerando-se nele.
— Oh, oi, bebezinho, — eu murmurei, fazendo caretas de beijo para
ele.
Dustin e Jake adotaram um filho, e planejei toda esta reunião para
comemorar.
O pequeno DaVinci merecia uma grande recepção.
Ele é tão fofo!
Quando Dustin e Jake me disseram pela primeira vez que planejavam
adotar, meu coração derreteu. O pequeno DaVinci era da República do
Congo e, se não fosse por Dustin e Jake, ele teria levado uma vida muito
difícil.
Dustin e Jake planejavam dar o mundo ao pequeno DaVinci, e eu os
admirei por isso.
— DaVinci chegou bem a tempo para a foto do grupo, — eu disse.
Lucas e Danny finalmente terminaram de reunir as crianças.
A criança ria e batia palmas, e Dustin sorriu com orgulho. — Ele
anseia pelos holofotes, — disse ele dramaticamente.
— Eu me pergunto de onde ele tirou isso, — brincou Em.
Jake mudou-se para levar DaVinci para as outras crianças. Eu reprimi
um bocejo. Eu tive que passar algumas noites acordada para planejar a
celebração perfeita.
Fui segui-lo com a câmera, mas Dustin pós a mão no meu braço.
— Você está bem? — Ele me perguntou, com sua voz repentinamente
séria.
Pisquei, surpresa com sua pergunta. — Claro, — eu disse. — Por que
eu não estaria?
— Você parece cansada.
— Planejar tudo é um trabalho árduo, — brinquei. — Eu tive que
organizar um evento para o Dustin Sterling afinal. Ouvi dizer que sua
nova peça exibida na Met Collection está chamando atenção.
— Naturalmente. Afinal, sou eu. — Dustin sorriu, deixando de lado o
assunto. — E se você diz. — Ele assistiu Jake e DaVinci irem. — Não sei
como você faz isso, Angie. Estou com as mãos ocupadas só com o meu
filho... e você tem gêmeos.
Ah, então é disso que se trata.
— Eles podem ser difíceis, — admiti. — Mas eu não trocaria por nada
no mundo.
Eu amava meus filhos com tudo o que eu tinha.
As luzes da minha vida.
O calor da minha pele...
— Ei, Angie. — Eu me virei para encontrar Lucas se aproximando. —
Eu não consigo encontrar Leah e Ace. Você os vê por aí?
Eu rapidamente examinei o quintal, certificando-me de verificar os
esconderijos favoritos dos meus filhos.
Eles não estavam lá.
Uma pontada de medo passou por mim, mas eu o afastei. Era apenas
meu instinto maternal querendo me dominar. Eles não estavam em
perigo.
Entreguei a câmera a Dustin. — Vá fazer uso do seu talento artístico,
está bem?
Eu nem mesmo ouvi sua resposta. Corri para dentro, procurando
meus filhos.
Eles têm que estar por aqui em algum lugar...
XAVIER

Eu fiz uma careta para o meu Rolex.


— Quanto falta, Marco?
— Apenas alguns minutos, — ele me disse.
Suspirei enquanto olhava pela janela, com a bela paisagem de
Connecticut passando como um borrão. Era muito diferente da selva de
concreto que era o coração de Nova York.
Dirigir por este lugar era como passar pelo Central Park.
Se o Central Park fosse um estado inteiro.
Mas a bela paisagem não conseguia me distrair de um simples fato: Eu
estava atrasado.
Qual é o sentido de possuir um jato particular quando você ainda tem
atrasos na pista?
Não tinha dúvidas de que minha linda esposa ficaria chateada porque
eu estava atrasado, mas não havia como evitar.
O Selo X estava decolando e as estrelas eram meu alvo.
Eu estava na minha praia. Eu consegui negócios lucrativos com
distribuidores de Los Angeles a Tóquio. No curso de cinco anos, minha
destilaria no Brooklyn estava prosperando. Tínhamos até planos de
expandir para novos locais em todos os continentes.
E o melhor de tudo, esta era minha empresa.
Não tinha sido entregue a mim.
Xavier Knight estava de volta e melhor do que nunca.
Mas todo o sucesso do mundo não se compara ao que me esperava em
casa.
Nenhum negócio poderia me deixar sempre afiado com o coração
cheio e um sorriso estúpido no rosto — pelo menos, não como Angela
poderia.
Marco finalmente parou nossa longa e sinuosa entrada de automóveis.
Praticamente saltei do BMW Beamer quando ele parou.
Dei a volta e abri o porta-malas, removendo algumas garrafas de
uísque Selo X. Eu podia ouvir as risadas e a música no quintal, e parei um
momento para apreciar tudo.
A vida era perfeita.
E nossa linda casa de pedra e vidro era um lugar perfeito para criar
nossa família.
Eu segui o caminho de mármore brilhante que circulava ao redor da
casa até nosso quintal.
— Puxa vida!
Quem é essa?!
Encontrei a parceira de negócios de Angela, Zoe, lutando para
empurrar um carrinho enorme com quase o dobro do seu tamanho. Uma
capa protetora foi colocada sobre ele para esconder o que quer que
estivesse por baixo.
— Precisa de uma mão? — Chamei.
Zoe se virou, com o rosto vermelho.
— Por favor, — disse ela. — Este é provavelmente o bolo mais pesado
de toda a galáxia.
— Tem um bolo aí embaixo? — Eu perguntei, incrédulo. Eu bati no
invólucro de vidro sob a tampa. A coisa era quase tão grande quanto eu.
— O evento é para o rei e a rainha de todo o universo. Pelo menos, de
acordo com os próprios Sterlings. — Zoe disse, como se essa explicação
justificasse a doce monstruosidade.
Eu imaginei o artista extravagante e seu marido guru da moda. Na
verdade, meio que parece.
Juntos, empurramos o carrinho para o quintal. Eu olhei em volta para
todos reunidos para a festa.
Nós realmente conhecemos tantas pessoas?
Procurei por minha família, mas não consegui encontrá-los.
Ken ergueu os olhos de um banco quando passamos.
— Bem, olhe quem decidiu aparecer, — ele apontou.
— Eu trouxe bolo, — eu disse, batendo no carrinho escondido. Ken
parecia exausto, com um leve brilho de suor na testa. — Você está bem?
— Tudo bem, — ele grunhiu. — Você também ficaria todo ferrado se
tivesse mexido na carne o dia todo.
Ele parecia um pouco mais do que apenas cansado, mas deixei passar.
Ken era um cara orgulhoso. A última coisa que ele queria era que seu
genro se preocupasse com ele.
— Você viu Angela e as crianças? — Eu perguntei.
— Eles provavelmente estão dentro de algum lugar, — disse ele. —
Boa sorte em encontrá-los naquela mansão. Eu me perdi tentando chegar
ao banheiro.
— Normalmente colocamos cartazes nas festas...
Ken soltou uma risada. — Você sabe que algo está errado quando você
precisa de um mapa para mijar.
Zoe e eu seguimos em frente. Ela me guiou até o gazebo, garantindo
que o bolo fosse o centro da festa.
— Tudo bem, pessoal! — Zoe chamou. — Quem quer bolo?
Todos começaram a se reunir em volta, ansiosos para ver o que havia
sob o invólucro. Eu vi Dustin e seu marido caminharem para frente, com
o filho aninhado entre eles.
— Ele é um garoto fofo, não é?
Eu me virei para encontrar Penny parada ao meu lado.
Houve um tempo em que eu teria recuado dela. Ou talvez até xingado
ela até sair da festa. Mas essa era uma história antiga.
Apesar de nosso... passado complicado, nos tornamos amigos íntimos.
Voltei-me para Dustin e sua família.
— Eles deram o nome de DaVinci, certo?
Penny acenou com a cabeça.
— Caramba. Espero que ele fique bem e mantenha ambas as orelhas.
— Esse foi o Van Gogh, Xavier.
— Que seja.
Penny riu, e eu não pude deixar de sorrir também.
— Ei, você viu... — Mas antes que eu pudesse terminar minha frase, eu
a vi. Fazia apenas alguns dias desde que nos separamos, mas eu senti
como se estivesse me apaixonando novamente.
Seu cabelo loiro queimava dourado ao sol; seus olhos brilhavam mais
azuis do que o céu sem nuvens acima de nós. Senti meus lábios puxando
em um sorriso, mas meu coração parou de repente.
Algo está errado.
Angela parecia apavorada.
Eu imediatamente me movi em direção a ela, envolvendo-a em meus
braços.
— O que está errado? — Eu perguntei com urgência.
— Não consigo encontrar Leah e Ace, — ela disse, com os olhos
arregalados de medo. — Acho que devemos ligar para o...
— Tchan-ran! — Zoe exclamou. Ela puxou a tampa e revelou o bolo...
Um suspiro de choque ecoou pelos participantes da festa. Porque
dentro da caixa de vidro não havia bolo.
Em vez disso, havia uma menina e um menino. Ambos estavam
cobertos de vísceras de bolo, com camadas de glacê em seus cabelos.
Leah e Ace.
Leah estava sorrindo de orelha a orelha enquanto Ace apenas ficava
sentado lá, seus óculos de aro grande embaçados com açúcar.
Eu tive que rir; Angela olhou com uma expressão de alívio e horror.
Apenas mais um dia no paraíso.
Capítulo 2
Pelos ares

ANGELA

Eu empurrei os participantes da festa chocados e agarrei meus filhos.


Leah não se arrependeu, sorrindo enquanto eu a puxava para dentro.
Ace tropeçou junto, com seus pezinhos arrastando enquanto ele
lutava para acompanhá-la. Ele provavelmente estava achando difícil
enxergar com os óculos cobertos de glacê.
Eu os trouxe para a grande sala, com seus pés esmagando pedaços de
bolo no chão de madeira.
Eu cruzei meus braços e os encarei, esperando uma explicação.
— Foi ideia de Leah, — Ace disse, tirando os óculos para limpar o
creme. — E sempre ideia da Leah.
Minha filha apenas deu de ombros.
Era verdade.
Ela estava sempre criando problemas para os dois. Ace, por sua vez,
sempre seguia sua irmã.
Uma frente unida de pequenos desordeiros.
— E o que fez você querer estragar o bolo para todos? — Eu perguntei,
com minha voz severa.
Leah cruzou os braços na frente dela defensivamente. Foi um gesto
que ela aprendeu de mim. Suas sobrancelhas se juntaram em frustração
quando ela olhou desafiadoramente para mim. Algo que ela pegou de
Xavier.
Suspirei, agachando-me para ficar na altura dos olhos dos meus filhos.
Essas mini versões de Xavier e eu.
Leah puxou Xavier. Ela tinha os olhos dele. Sua confiança. Ela era
aventureira e curiosa e sempre precisava estar fazendo algo.
Ace puxou a mim. Meu filho estava quieto e pensativo. Sua cabeça
estava sempre nas nuvens e ele gostava de pensar bem antes de agir. Ele
era cuidadoso e cauteloso.
E isso ajudava, porque ele adorava fazer muitos pequenos
experimentos.
Mas meus filhos não eram apenas cópias minhas e de meu marido.
Eles eram personalidades únicas também.
E cabia a mim criá-los adequadamente.
Suspirei, mudando de tática.
— Mamãe trabalhou muito nessa festa, — eu disse. — E aquele bolo
era para o dia muito especial de DaVinci.
E era muito caro...
Leah olhou para baixo e pude ver a culpa em seu rosto.
— Por que você bagunçou o bolo?
— O bolo do nosso aniversário não foi assim..., — disse ela.
Eu fechei meus olhos. Eu podia sentir uma dor de cabeça chegando.
— Leah...
— Não é como se DaVinci tivesse notado, — disse ela. — Ele tem
apenas dois anos. — Ela tirou um pedaço de bolo da bochecha. — Eu
poderia dar isso a ele e ele ficaria feliz. — Leah, não é essa a questão. — O
bolo não era apenas para DaVinci, — Ace acrescentou. — Era para o tio
Dustin e Jake também.
— Você também não está em posição de dar um sermão na sua irmã,
senhorzinho, — eu disse a Ace. — Você é tão culpado quanto ela.
— Não tão culpado, — Ace disse. — Ainda culpado, mas I!
— Eu não quero ouvir isso, — eu disse. — Agora vocês dois vão sair e
pedir desculpas a todos.
— Mas mãe — eles gemeram juntos.
— Sem desculpas. Vocês dois cometeram um erro, e agora vocês têm
de admitir...
— Ah, aí estão eles! — Xavier entrou com um grande sorriso no rosto.
— Venha aqui e deem um abraço no papai. Senti saudades de vocês dois.
Leah e Ace aproveitaram a oportunidade para escapar. Eles correram
para os braços de Xavier, e ele os pegou e os girou, com os restos do bolo
manchando seu temo sob medida.
Eu sorri apesar de tudo. Adorava ver Xavier com as crianças. Mas eles
tinham que ser disciplinados adequadamente.
— Leah e Ace estavam prestes a sair e pedir desculpas a todos, — eu
disse a Xavier.
Meu marido parou de girar e olhou para as crianças. — Oh?
Leah e Ace baixaram a cabeça.
— Eu acho que está tudo bem, — disse Xavier. Ele riu. — Foi só uma
brincadeira, certo?
Leah e Ace se animaram imediatamente, e minha boca abriu em
choque.
— Xavier, a festa está arruinada!
— Não, está tudo resolvido, — assegurou-me. — Pedi um caminhão
de sorvete para todos. Está lá fora agora.
— Sorvete?! — Leah engasgou.
— Eles têm um de chocolate e baunilha juntos. — Xavier piscou.
Leah e Ace se contorceram para fora de seus braços e correram para
fora, e todos os pensamentos de um pedido de desculpas sumiram de
suas mentes.
— Xavier! — Eu disse, com a frustração crescendo dentro de mim. —
Não os encoraje! Como eles vão aprender se você os recompensar com
sorvete depois que eles fizerem algo errado?
Xavier os observou ir com um sorriso antes de virar seus olhos azul-
gelo na minha direção. Um arrepio de excitação percorreu meu corpo.
Ele esteve em uma viagem de negócios por alguns dias e, caramba, ele
parecia bem naquele temo...
Ele se aproximou de mim, com seus braços fortes envolvendo minha
cintura. Eu respirei o cheiro de sua colônia.
Tentei me afastar, mas ele poderia muito bem ser feito de aço. Eu não
conseguia movê-lo um centímetro.
— Ei, linda, — ele sussurrou, enviando um arrepio de desejo pela
minha espinha.
Eu balancei minha cabeça.
Oh, não. Você não pode simplesmente me distrair com sua voz grave e
rouca...
— Eu estava tentando disciplinar as crianças..., — comecei.
Senti seus lábios se curvarem em um sorriso no meu pescoço. — Eles
têm apenas cinco anos, — ele me lembrou. — Deixe-os bagunçar.
Tentei resistir à luxúria que senti crescendo dentro de mim.
— Não podemos deixá-los fazer o que quiserem, Xavier. A festa —
Está tudo bem, — ele interrompeu. Ele se afastou e sorriu para mim. —
Apenas relaxe, certo, meu anjo?
Antes que eu pudesse responder, ouvi Zoe me chamando do lado de
fora.
— Angela! — Ela gritou. — Dustin quer que você conheça alguém!
Suspirei, abandonando o assunto — temporariamente.
Xavier tinha salvado o dia com o caminhão de sorvete... mas
precisávamos estar na mesma página quando se tratava de nossos filhos.
Eu saí, deslizando de volta para o meu rosto patenteado de produtora
de eventos extraordinária.
Minha conversa com Xavier poderia esperar.
XAVIER

Fechei a porta do quarto suavemente atrás de mim.


Leah e Ace estavam acomodados e dormindo profundamente. A festa
havia se prolongado noite adentro e, apesar do fiasco do bolo, fora um
grande sucesso.
Afinal, quem não gosta de sorvete?
Foi um gesto doce de Angela dar uma festa para a nova família de
Dustin e Jake, mas eu mal podia esperar para ficar sozinho com minha
linda esposa.
E eu tenho uma surpresa que ela vai adorar...
Entrei em nosso quarto com um sorriso no rosto.
Bati palmas duas vezes e as luzes inteligentes instantaneamente
diminuíram para um brilho baixo e sexy; a lareira montada na parede
ganhou vida.
Angela já estava esperando por mim na cama e me senti endurecendo
de expectativa.
— Xavier, precisamos conversar.
Meu sorriso sumiu.
Homicídio instantâneo de tesão.
Opa.
— A respeito do quê? — Eu perguntei, sentando ao lado dela.
— Sobre mais cedo, com Leah e Ace. — Angela entrelaçou seus dedos
entre os meus. — Precisamos estar em sintonia com nossos filhos.
Quando estou tentando ensinar-lhes uma lição, você não pode
simplesmente entrar e descartá-la.
Eu permaneci em silêncio, absorvendo suas palavras.
O velho Xavier teria ficado na defensiva e começado a discutir
imediatamente, com as costas contra a parede.
Mas o velho Xavier se foi.
Eu poderia dizer que Angela estava seriamente preocupada com o que
eu fiz. E mesmo que não parecesse grande coisa para mim, claramente
era para ela.
— Tudo bem, — eu disse. — Você tem razão. Vou me lembrar disso na
próxima vez.
Angela encostou a cabeça no meu ombro, com um pequeno suspiro de
felicidade escapando dela. — Obrigada.
— Mas eu acho que você está se estressando demais, anjo. — Eu me
inclinei para trás para olhá-la nos olhos. — Você tem cuidado das
crianças vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Você está
planejando a festa de Dustin há semanas. Quantas horas de sono você
tem dormido?
— O bastante, — disse Angela, soando completamente não
convincente.
— Você precisa relaxar, — eu disse, com um sorriso malicioso
curvando meus lábios. — E eu posso te ajudar com isso.
ANGELA
Eu engasguei quando o óleo pingou nas minhas costas.
De onde Xavier tinha conseguido uma mesa de massagem, eu não
fazia ideia. Ele até iluminou a sala com velas aromáticas: o perfume de
jasmim e pêssego flutuava no ar.
Ele transformou nosso quarto em um salão de massagens exótico.
Não que eu me importasse.
Parecia que meu marido ainda estava cheio de surpresas.
Ele começou a espalhar o óleo pelo meu corpo com suas mãos fortes e
calejadas, e eu não pude evitar um gemido escapar dos meus lábios.
Eu corei um vermelho profundo.
Isso deveria te relaxar, Angela. Não a deixar toda excitada e incomodada.
— Diga-me se isso é bom, — disse Xavier, com sua voz grave e rouca.
Ele passou as mãos pela minha pele, e o óleo frio começou a ficar mais
quente.
E essa não é a única coisa que aqueceu...
Xavier não teve pressa.
Ele começou nos meus ombros, descendo pelos meus braços e pelas
palmas das mãos. Ele foi para as minhas costas, com seu toque
massageando em círculos lentos e sensuais.
Mordi meu lábio, tentando o meu melhor para manter minha voz.
Suas mãos massagearam minha parte inferior das costas, acariciando
levemente minha bunda nua e descendo pelas minhas pernas. Senti
arrepios subirem ao longo da minha pele.
Seus dedos poderosos desceram pela parte detrás das minhas coxas e
pelas minhas panturrilhas, massageando meus pés e, em seguida,
subindo novamente...
Cada vez mais perto da parte interna das minhas coxas...
Oh, Deus...
Minha respiração ficou cada vez mais difícil e eu me contorci sob seu
toque.
Quase lá...
Ele parou, descendo pela minha perna.
Eu gemi de frustração.
— Xavier...
— Hm?
Sou só eu ou senti um sorriso em sua voz?
Ele escorregou seus dedos para minha bunda, e uma onda de desejo
fluiu por mim.
— Estou esperando, — eu implorei.
Como se fosse uma deixa, senti seu pau aninhar-se entre minhas
coxas, quente e pesado. Eu empurrei minha bunda para sentir mais sua
cintura larga, e o gemido que Xavier soltou me deixou ainda mais
excitado.
Eu me inclinei para trás e me abri para ele. Eu o queria dentro de
mim. E eu já estava molhada e esperando pelo óleo...
Xavier lentamente enterrou seu enorme pau dentro de mim. Ele se
empurrou mais e mais, deixando seu peso cair em cima de mim, com seu
abdômen esculpido pressionando em minhas costas.
— Oh, Deus! — Eu gritei.
Ele era tão poderoso e pesado que fiquei presa em seus braços. Não
que eu quisesse sair. Ele começou a empurrar seus quadris, e cada
movimento me fazia ver estrelas.
— Porra, você é tão apertada, — ele rosnou em meu ouvido enquanto
se metia para dentro de mim novamente.
Xavier começou a se mover mais rápido e eu desesperadamente
empurrei minha bunda contra ele, eufórica com a sensação dele me
preenchendo.
Nossas respirações irregulares e gemidos pesados começaram a
crescer.
Eu estava a ponto de gozar.
Muito.
— Xavier, — eu engasguei. — Xavier, eu
Ele alcançou debaixo de mim, e seus dedos esfregaram círculos
frenéticos em meu clitóris.
Isso foi demais.
— XAVIER! — Eu gritei, com meu corpo convulsionando de prazer.
Senti minha boceta apertar em tomo de sua masculinidade, tentando
tirar tudo dele até secar.
Xavier soltou um grunhido animalesco enquanto bombeava seu
esperma quente dentro de mim, e a sensação foi o suficiente para me
fazer gritar com outro orgasmo.
Ele desabou em cima de mim na mesa de massagem e tentei
desesperadamente recuperar o fôlego. Minha cabeça estava girando. Meu
coração batia tão forte que eu tinha certeza de que iria explodir.
Eu estava tão perdida em tudo que jurei que podia ouvir sirenes de
alarme disparando em minha mente.
Eu podia até sentir o cheiro de fumaça...
Eu engasguei, tentando sair de baixo de Xavier. Eu não estava
imaginando as sirenes.
Ele percebeu isso ao mesmo tempo, e juntos subimos, apenas para
sermos sufocados pela fumaça preta. Tudo isso não poderia ser das velas
perfumadas...
Esse era o alarme de incêndio...
A casa estava pegando fogo!
Capítulo 3
Futuros mais brilhantes

XAVIER

— As crianças! — Angela gritou.


Nós rapidamente colocamos nossos robes e corremos para o quarto de
Leah e Ace. A adrenalina corria em minhas veias; todos os meus sentidos
estavam em alerta máximo.
Minha família está em perigo.
Eu praticamente arrombei a porta.
— Ace! Leah!
Mas eles não estavam em seus quartos.
Angela e eu trocamos olhares, pensando rápido.
— Vou verificar os outros quartos, — eu disse a ela. — Você verifica lá
embaixo.
Nós nos separamos, correndo pelos corredores da casa. Embora nossa
casa fosse linda, era grande demais para uma família de quatro pessoas.
Isso nunca foi um problema... até aquele momento.
Eu verifiquei meu escritório — nada.
A biblioteca — nada.
— Porra! — Eu jurei.
Por que essa casa é tão grande?
— Xavier! — Eu ouvi Angela chamar lá embaixo. — Eu os encontrei!
Está tudo bem, desça!
O alívio fluiu através de mim enquanto eu corria para encontrar
minha família.
— O que você quer dizer com está tudo bem? — Falei.
Angela estava esperando lá embaixo, de costas para mim enquanto
olhava para a cozinha. Aproximei-me dela para ver o que ela estava
olhando.
— A casa não está pegando
Fiquei boquiaberto quando observei a cena diante de mim.
— Fogo, — eu terminei.
O balcão da cozinha foi transformado no laboratório de um cientista
maluco. Uma grande variedade de béqueres e frascos Erlenmeyer
lotavam as bancadas.
Os queimadores de Bunsen funcionavam a todo vapor.
O líquido misterioso borbulhava e manchava o mármore da cozinha,
enviando fumaça para o teto.
E lá estava o pequeno Ace, tentando freneticamente colocar tudo para
fora enquanto Leah assistia, rindo loucamente.
Acho que Ace encontrou a última cópia mensal da revista Little Scientist's
Digest...
— Ajude-me, Leah! — Ace gritou.
— De jeito nenhum! — Leah deu uma risadinha. — Eu disse a você
que não funcionaria.
Eu gemi.
— De onde diabos essas crianças tiram essas loucuras? — Eu
perguntei a Angela.
Ela apenas me deu um olhar vazio e impassível.
— O quê? — Eu perguntei.
ANGELA

Suspirei e balancei minha cabeça.


Como Xavier podia ser tão sem noção estava além de mim.
Eu observei a cena de pesadelo diante de mim — uma que
infelizmente era quase comum na casa dos Knight.
Ace era inteligente.
Realmente inteligente.
E ele nunca ficava satisfeito com vídeos ou livros do YouTube. Ele
queria estudar algumas coisas em primeira mão... e então às vezes seus
pequenos experimentos podiam sair do controle.
— E a minha vez ou a sua? — Eu perguntei a Xavier.
— Sua, tecnicamente. — Meu marido sorriu. — Mas você teve um
longo dia. Volte para cima e durma um pouco. Eu vou cuidar disso.
— Tem certeza? — Eu perguntei. — Eu poderia
Xavier me interrompeu com um beijo.
— Volte ao seu sono de beleza, anjo. Eu dou um jeito aqui.
Ele entrou na cozinha e ajudou Ace a controlar a situação. Eu os
observei por um segundo antes de subir as escadas.
Uma parte de mim queria ficar e ter certeza de que Xavier lidava com
as crianças adequadamente. Ele praticamente os encorajou quando eles
arruinaram o bolo de DaVinci.
Será que ele realmente seria capaz de lidar com eles adequadamente desta
vez?
Você está pensando demais nas coisas, Angela, disse a mim mesma. —
Xavier é o pai de seus filhos. Ele pode lidar com isso.
Eu rastejei para baixo das cobertas de seda, com minha mente a mil
por hora.
Demorei um pouco para adormecer.
XAVIER

Experimentei o uísque, admirando o sabor suave e fácil do Selo X.


Era ousado, forte, mas não arrogante. Tinha a quantidade certa de
caráter sem chamuscar os pelos do nariz.
— Perfeito, — eu disse.
Guardei o pequeno copo de amostra sem terminar o resto do uísque.
Beber álcool é como flertar com fogo. O calor é atraente. Sedutor. Mas
chegue perto demais e isso vai queimar você e tudo o que você possui.
Eu estava firmemente no controle de meus desejos.
Eu não arriscaria a vida que tive pelo fundo de uma garrafa — não
importa o quão delicioso seja o licor.
Ainda assim, ser cuidadoso nunca machuca.
— Este é o lote que enviamos para Bruxelas, — disse Al. Ele sorriu
enquanto olhava para a destilaria, admirando tudo que tínhamos
construído nos últimos anos.
As fileiras e mais fileiras de barris eram um espetáculo para se admirar.
Carvalho branco americano, sequoia, nogueira, cereja, castanha...
Eu me sentia como uma criança em uma loja de doces.
— Então é por isso que eles queriam fazer uma ligação tão cedo? — Eu
sorri e bati no ombro de Al. — Acho que podemos esperar boas notícias.
Meu parceiro e eu seguimos para o escritório, colocando a chamada
de Bruxelas na grande tela plana.
Tivemos uma reunião com a Liga de Corrida de Carros Europeia.
Estávamos conversando sobre um possível patrocínio com a marca e eu
não poderia estar mais animado.
Uísque e carros. Dois dos grandes amores da minha vida.
A ligação chegou e Al e eu sorrimos um para o outro.
— Preparado? — Ele perguntou-me.
Eu acenei com a cabeça, ansioso. — Vamos fechar o negócio.
Al se aproximou e encerrou a ligação.
Nenhum de nós falou por um momento, deixando o momento ser
processado.
— Isso foi melhor do que o esperado..., — disse Al.
— Isso é um eufemismo. — Eu ri. — Al. Eles estão nos considerando
para a porra do Grande Prêmio de Bruxela.
Al e eu pensamos no melhor cenário: conseguiríamos um contrato de
vários anos como uma das marcas de uísque endossadas da Liga de
Corrida.
Nunca teríamos esperado que tivéssemos a chance de ser o espírito
oficial do evento de automobilismo mais estimado da Europa.
— Acho que esse ingrediente secreto realmente os impressionou,
hein? — Al riu, acendendo um charuto.
— Ainda não temos o acordo, — disse eu. — Faça as malas, Al. Eles
nos querem em um avião para a Europa amanhã. — Eu sorri, me
sentindo no topo do mundo.
Mal posso esperar para contar a Angela.
ANGELA

— Você está aguentando bem? — Em perguntou.


Parei, surpresa, com minha xícara de chá gelado a meio caminho dos
meus lábios.
— Sim, estou bem, — eu disse, confusa. — Por quê?
Em e Lucas trocaram olhares.
Nós três estávamos no pátio dos fundos, observando Leah, Ace e Bella
enquanto corriam pelo quintal. As crianças estavam brincando de
esconde-esconde, e a pobre Bella não conseguia encontrar seus primos.
Leah e Ace tinham uma vantagem injusta. Nosso quintal era enorme,
e eles conheciam todos os cantinhos e fendas para se esconder.
Eventualmente Em apenas deu de ombros.
— Eu não sei. Você apenas parece, — ela procurou pela palavra —
cansada.
Eu fiz uma careta.
Eu tenho ouvido muito isso ultimamente. Primeiro Dustin, depois até
Xavier.
— Talvez eu deva começar a colocar mais maquiagem, — eu disse
defensivamente.
Qual é o problema de todo mundo?
— Você sabe, desde que Bella começou a escola primária, Em e eu
temos muito mais tempo para nós mesmos. — Lucas acrescentou outro
cubo de açúcar ao café. — Leah e Ace também vão começar, certo?
Eu concordei.
Eu estive procurando escolas diferentes para matricular meus filhos.
Enquanto uma parte de mim estava realmente animada para eles
começarem um novo capítulo em suas vidas, outra parte de mim não
estava tão emocionada.
Como eu saberia que eles estariam bem se eu não estivesse por perto para
ter certeza?
Eu poderia realmente confiar que estranhos seriam responsáveis por meus
filhos?
Eu sabia que era uma parte inevitável para eles crescerem. Eles teriam
que ir para a escola e fazer seus próprios amigos e começar seus próprios
caminhos.
E eu estava determinada a ter certeza de que eles estavam acertados.
— Xavier e eu temos um tour no St. Barnaby's com as crianças
amanhã.
Os olhos de Lucas se arregalaram. — Você quer dizer o St. Barnaby's?
O superprestigioso para as elites?
Sua descrição me deixou desconfortável. Eu cresci em Jersey. Eu
nunca me considerei da elite.
— Acho que sim... O que há com esse olhar?
Lucas estava me dando um olhar engraçado e ele só deu de ombros
quando eu chamei sua atenção sobre isso. — Nunca pensei que você
matricularia seus filhos em uma escola de sangue azul como essa.
— Eu só quero dar a Leah e Ace todas as oportunidades que posso, —
eu disse. — Eles levam a educação muito a sério. Eles estão até
entrevistando as crianças. E quase como se candidatar a uma faculdade.
— O que você achar melhor, — Em me assegurou, dando uma
cotovelada nas costelas de Lucas.
Eu balancei a cabeça, virando-me para assistir meus filhos brincando
no sol de verão.
Apenas o melhor.
XAVIER

Já era noite quando Cheguei em casa. Alguns detalhes finais tiveram


que ser acertados com nossa conexão com Bruxelas, e o jato particular foi
liberado para voar na manhã seguinte.
Subi as escadas para o nosso quarto, um salto animado em meus
passos. Angela já estava na cama, batendo no MacBook em seu colo.
— Estamos quase fechando o acordo de Bruxelas!
Ela olhou para mim, com seus olhos instantaneamente brilhando de
felicidade. Ela colocou o laptop de lado e me abraçou quando me sentei
ao lado dela. — Oh, querido! Isso é incrível!
Eu ri enquanto enterrei meu rosto em seu cabelo. Essa foi uma das
minhas coisas favoritas sobre minha esposa. Seu entusiasmo e felicidade
por minhas vitórias as tomavam ainda melhores.
— O Grand Prix, Angela! Al e eu vamos voar amanhã cedo. Esta pode
ser a maior vitória para o Selo X até agora!
Senti Angela enrijecer em meus braços e pude sentir imediatamente
que algo estava errado. Ela se inclinou para trás para olhar para mim.
— Xavier... nosso tour no St. Barnaby's é amanhã.
Ah, merda.
O silêncio se estendeu entre nós.
— Merda, eu esqueci, — eu admiti. — Podemos reagendar isso, certo?
— Estamos na lista de espera há meses, Xavier! — Angela saiu de meus
braços. — O ano letivo está começando em breve. Esta é a única chance
que temos de fazer um tour pelo campus.
— Angela... Se eu não for para a Europa amanhã, o negócio fracassa.
Não posso deixar de ir.
— Claro que você não pode, — Angela disse, com uma voz monótona.
Ela voltou sua atenção para o laptop, e eu vi que ela estava lendo
resenhas de St. Barnaby's. — E apenas o futuro dos nossos filhos, aqui.
Por que isso seria importante?
— Ah, qual é, — eu disse. — Eles têm tours virtuais em seu site. Temos
outras escolas alinhadas depois de St. Barnaby's também. Perder uma
turnê não é um grande problema.
— Essa não é a questão, Xavier. — Angela suspirou e pude ver a
decepção em seus olhos. — O que importa é que você esteja aqui. Esses
são nossos filhos... precisamos tomar essas decisões juntos.
Ela me encurralou.
Eu gemi, colocando minha cabeça em minhas mãos.
O que diabos eu devo fazer?
Capítulo 4
Novos caminhos

ANGELA

— Pai, você pode diminuir a velocidade? — Eu perguntei, tossindo


para fora a fumaça espalhando da janela aberta. — Você e eu sabemos
que sua caminhonete não pode passar dos quarenta.
— Absurdo! — Papai disse. — O velho Chevy aqui é um garanhão.
Ouça o rugido do motor!
Ele pisou fundo no acelerador, e o velho Chevy soou mais como se ele
tivesse um pulmão preto.
— Posso dirigir no caminho para casa, vovó? — Leah perguntou do
banco detrás.
— Claro, querida
— Não! — Ace e eu dissemos em uníssono.
Leah fez beicinho e eu tive que sorrir. Demorou muito para conseguir
que ela vestisse algo decente para a entrevista. Mas dois biscoitos e um
refrigerante depois, ela parecia absolutamente adorável em seu vestido
branco.
O pequeno Ace parecia muito elegante em seu colete e calças
também.
Eu olhei para o relógio no painel.
Nós íamos nos atrasar.
— Devíamos ter apenas pegado o BMW, — resmunguei.
— Ei, foi você quem me pediu para vir, — papai me lembrou. — E eu
não seria pego morto sendo conduzido por um carro idiota como aquele.
Ele tinha razão. Depois que Xavier partiu para a Europa, eu não queria
comparecer ao passeio do St. Barnaby's sozinha. Papai sempre foi bom
com as crianças, então pensei... por que não?
O motor do velho Chevy estalou e roncou, e uma nuvem de fumaça
saiu de baixo do capô. Chegamos a uma parada lenta e giratória.
Isso é o ‘por que não ’.
— Ah merda, — papai murmurou. — Me deem um segundo, crianças;
Vou consertar em um instante.
— Uh-oh, — disse Leah, sua voz pingando com falsa sinceridade. —
Parece que não faremos o tour da escola!
Ace riu, ajustando seus óculos de armação grande. — Podemos
comprar um McDonald's no caminho para casa, mãe?
Eu gemi, puxando meu telefone para ligar para Marco. Ele
provavelmente poderia nos pegar em alguns minutos.
Com sorte, St. Barnaby's ainda nos deixaria entrar...
XAVIER

Olhei pela janela, com minha cabeça nas nuvens — bem, acima das
nuvens... em meu jato particular.
Eu deveria estar correndo no campo com
Al. Verificando meus números três vezes.
Preparando-me para o maior encontro da curta mas lucrativa história
do Selo X.
Mas, em vez disso, meus pensamentos estavam com minha família em
Connecticut.
Angela e as crianças deveriam estar no St. Barnaby's agora...
É claro que me sentia culpado por deixar Angela sozinha para fazer o
tour.
Eu queria estar presente pelos meus filhos. Eu queria poder decidir em
que escola eles estudarão.
Mas a oportunidade com o Grand Prix de Bruxelas era boa demais
para desistir.
O Selo X estava em um momento crucial. O que Al e eu estávamos
fazendo agora determinaria a trajetória da empresa pelos próximos
cinquenta anos.
Eu tive que priorizar isso agora, para garantir nosso futuro.
Mas eu prometi a Angela que meu foco no negócio era apenas
temporário.
Depois que as coisas se acalmassem, eu passaria menos tempo no Selo
X e deixaria nas mãos competentes do meu parceiro.
Peguei meu telefone e liguei para Angela.
Se eu não pudesse estar lá para o tour, poderia pelo menos fazer um
FaceTime.
Angela atendeu e eu tive um vislumbre dela saindo do Beamer.
— Ei, querido, — disse ela.
— Ei... você está chegando lá agora? — Eu perguntei. Eu vi meus filhos
espiarem na tela e sorri quando os vi. — Vocês dois estão incomodando a
mamãe? — Eu perguntei.
— Não! — Leah declarou.
— Estamos atrasados por causa do vovó, — Ace concordou.
— Ken está aí?
— Ei, furão. — Ken espiou na tela e eu pude ver de perto o interior de
seu nariz.
— Papai insistiu que fôssemos na caminhonete dele. — Angela riu e
balançou a cabeça. — De qualquer forma, olhe, estamos aqui! — Angela
virou a câmera em direção aos portões de St. Barnaby's.
Eu olhei para a tela do meu telefone, tentando ver o máximo de
detalhes que pude.
Havia uma enorme cerca de ferro forjado coberta por trepadeiras que
pareciam colocadas deliberadamente. O terreno da escola além se abria
em caminhos de paralelepípedos ladeados por roseiras. Estátuas e fontes
de pedra erguiam-se entre edifícios antigos e imponentes.
A escola parecia ter sido construída pelos antigos romanos ou algo
assim.
— Esses são gárgulas? — Eu perguntei. — Tem certeza de que não
acabou em Yale ou algo assim?
Angela riu e me mostrou uma placa dourada perto do portão.
— St. Barnaby's, — ela leu as letras metálicas gravadas lá. — Isso é um
pouco demais, — Angela admitiu. — Mas é para isso que serve o tour!
Eu sorri. Eu não tinha dúvidas de que Angela seria capaz de farejar se a
escola era ou não certa para nossos filhos.
Eu vi Al tentando silenciosamente chamar minha atenção do outro
lado do jato. Ele estava batendo em seu pulso.
Eu olhei para o relógio. Apenas algumas horas até pousarmos.
— Desculpe, querida, eu tenho que me preparar para minha reunião
agora, — eu disse, relutante em desligar.
— Ok. Ei, crianças! Diga tchau ao seu pai! — Angela virou a câmera e
vi Leah e Ace correndo para o terreno da escola. Eles se viraram e
gritaram suas despedidas.
— Bem, lá vão eles. — Angela riu. — Boa sorte com sua reunião.
— Acabe com eles, bonitão, — acrescentou Ken, acenando um adeus.
Encerrei a ligação, sentindo-me mais fortalecido depois de ver minha
família. Agora eu poderia me concentrar em argumentos e números.
Eu sorri, com a confiança me enchendo.
O Selo X estava prestes a conquistar a Europa.
ANGELA

— E aqui está o nosso anfiteatro, — disse o guia, acenando atrás dele


com um grande gesto.
Eu dei um passo à frente, com meus olhos arregalados.
Foi como se eu tivesse saído de Connecticut e entrado na Grécia
Antiga. Os assentos do palco e do campo esportivo pareciam ter sido
esculpidos em mármore de verdade.
Leah e Ace vagaram pelos corredores de pedra, com muita
curiosidade.
— E lindo..., — eu disse. — Mas por que você tem um anfiteatro?
— Para peças escolares, é claro, — disse o guia, surpreso. Como se
fosse comum ter um palco tão grande para crianças de cinco anos. — De
que outra forma o público deveria gostar de Édipo Rei? O trabalho de
Sófocles foi feito para o teatro.
Sofá-de-quem-agora? — Papai murmurou, confuso.
— Certo..., — eu disse.
As crianças estavam realizando seriamente tragédias gregas hoje em dia?
Eu interpretei a Pessoa B na versão de Peter Pan na minha escola.
— Você pode ficar um pouco e absorver tudo. — O guia do tour sorriu
para mim. — As crianças terão uma entrevista com nosso oficial de
admissões em quinze minutos. Eu voltarei então.
— Você vai entrevistar crianças de cinco anos? — Papai perguntou,
incrédulo.
— E claro, — respondeu o guia.
— A que ponto o mundo está... — Papai balançou a cabeça, parecendo
completamente enojado.
— Não ligue para ele, — eu disse ao nosso guia. — Obrigada.
O guia nos deixou e eu suspirei de alívio.
— Esta escola é uma loucura, — papai disse, gemendo enquanto se
sentava em um banco próximo. — Você tem certeza que quer Leah e Ace
frequentando isso? Este lugar vai sugar suas almas.
Eu assisti Leah e Ace tocarem no palco.
As instalações da escola eram ótimas. Tudo era de primeira linha,
apesar da estética da arquitetura antiga.
Mas definitivamente não era o ajuste certo para meus filhos.
— Talvez como uma escola de apoio, — eu disse.
Meu pai riu, balançando a cabeça. — Desde quando crianças precisam
de escolas de apoio? — Ele respirou fundo e enxugou um pouco do suor
da testa.
— Você está bem? — Eu perguntei, repentinamente preocupada. Ele
parecia exausto.
— Tudo bem, — disse ele, afastando-me. — Eu acho que posso ser
fisicamente alérgico a um lugar que fertiliza cada roseira aqui com uma
tonelada métrica de tanta merda.
— Pai! — Olhei para Leah e Ace, certificando-me de que eles estavam
muito longe para ouvir.
Ele sorriu para mim. — Vá levá-los para a entrevista ridícula e vamos
sair daqui. Este lugar é ruim!
Eu revirei meus olhos.
Ele era dramático demais.
— Talvez o entrevistador seja tão maravilhoso que Leah e Ace se
apaixonem, — eu disse, um pouco na defensiva. — Eles praticamente
nasceram em berços de ouro. Pode ser mais eles do que nós.
St. Barnaby's era uma das melhores escolas primárias do estado, senão
do país... e eu passei muito tempo pesquisando o lugar. Parecia tão
promissor nos comerciais.
— Quer apostar? — Ken desafiou. — Porque tenho certeza que Leah e
Ace vão expulsar aquele entrevistador da sala.
Meus olhos se estreitaram.
— Se eu estiver certo, você terá que assistir a todos os jogos do Giants
comigo pelo resto da temporada, — disse ele.
Eu gemi. Às vezes, eu poderia jurar que papai amava seu time de
futebol mais do que a mim e aos meus irmãos.
— Tudo bem, — eu disse. — Mas se eu estiver certa, você terá que
vender sua caminhonete velha e me deixar comprar um carro novo para
você.
O rosto do papai empalideceu. — Eu ainda posso consertá-la! — Ele
insistiu.
— Assustado?
Papai pigarreou e eu ri.
— Apostado, — ele concordou.

— Eu odeio esse lugar, — disse Leah.


— Chato, — Ace concordou.
Fiquei boquiaberta.
Eu vi o sorriso surgir no rosto do papai.
O entrevistador piscou algumas vezes, sem saber como responder.
Estávamos todos sentados em um escritório que dava para o terreno
de St. Barnaby's. O lugar era lindo, mas aparentemente Leah e Ace
pensavam de forma diferente.
— Tenho certeza de que vocês vão gostar daqui, — disse a
entrevistadora. Ela ajustou os óculos, claramente não acostumada a tal
resposta das crianças. — Vocês vão fazer muitos amigos!
— Eu não preciso de mais amigos. — Minha filha suspirou e olhou
pela janela, parecendo totalmente entediada.
— Não há laboratório aqui, mãe, — Ace disse, olhando para mim por
cima de sua cadeira.
— Laboratório? — Eu podia ver a entrevistadora ficando mais
perturbada. — Temos muitas outras coisas que — Você tem uma pista de
corrida? — Leah perguntou, repentinamente animada.
— Sim! — A entrevistadora sorriu, sentindo-se mais à vontade. — Se
você gosta de atletismo, então — Não, uma pista de corrida — Leah
repetiu. — Para carros.
A senhora atrás da mesa só conseguia olhar, com a boca aberta.
— Ou pelo menos uma parede de escalada? — Leah disse, tentando se
comprometer.
Bem, a versão de compromisso de Leah, de qualquer maneira.
— Temos uma equipe de esgrima, — tentou a entrevistadora. — Você
sabe, tipo luta de espadas?
Leah franziu a testa.
Não é o suficiente.
O silêncio constrangedor se estendeu, e eu podia ver as chances de
uma admissão bem-sucedida se dissipando.
Papai de repente começou a rir — um som profundo e ondulante que
ecoou pelo escritório. Ele deu um tapinha no meu ombro, com um
grande sorriso no rosto.
— Acho que tenho um chapéu de cerveja extra, filhinha, — disse ele.
— O que nós fizemos? — Leah se perguntou.
Estávamos voltando de St. Barnaby's para casa, com o crepúsculo
lançando um lindo brilho dourado sobre o mundo ao nosso redor.
Mas meu humor estava longe de ser dourado.
Não ajudou que papai já tivesse me pedido uma camisa dos Giants.
— Estávamos apenas sendo honestos, mãe, — Ace disse. — Você nos
disse para sempre sermos honestos, certo? — Você está certo, eu disse. —
Suspirei.
Meus filhos são um pouco honestos DEMAIS.
— Talvez vocês dois gostem da próxima escola que visitarmos, — eu
disse esperançosamente, mais por mim do que por eles.
— Pode ser. — Leah encolheu os ombros.
— Desde que eles me deixem fazer meus experimentos, — Ace
acrescentou.
Eu puxei uma lista mental de todas as outras escolas que eu tinha
agendado... e eu podia facilmente ver Leah e Ace odiando-as tanto
quanto St. Barnaby's.
Eu cruzei meus dedos.
Avançando para o próximo...
Capítulo 5
Uma mistura perigosa

XAVIER

— Esta é realmente uma reunião de negócios? — Al me perguntou. —


Parece mais uma festa para mim.
— É assim que os europeus fazem negócios, — disse a ele.
A noite ainda era jovem. A bela paisagem belga ao nosso redor estava
envolta em escuridão, proporcionando uma mística a todo o evento.
No entanto, o local brilhava.
A enorme mansão diante de nós estava iluminada como a lua, e a
enorme frota de carros esportivos de luxo estacionados do lado de fora
eram como estrelas no céu noturno.
Entusiastas de automóveis e outros patrocinadores se misturavam ao
redor dos carros. Garçons vestidos com temos Zegna sob medida
flutuavam de um grupo para outro, oferecendo taças de champanhe e
coquetéis variados.
— Gostaria de um, senhor?
Eu me virei para olhar o líquido dourado cintilante na bandeja do
garçom.
— Não, obrigado, — eu disse.
Meus arredores me lembraram de minha época em Tóquio. Era
estranhamente semelhante ao cenário das corridas underground. Afinal,
estávamos reunidos ali para celebrar os carros velozes.
Contudo, em vez de viciados em adrenalina e pilotos, todos na festa
pareciam que provavelmente nunca tinham estado atrás do volante de
um carro de corrida antes.
Em vez de drogas misteriosas, álcool barato e bebidas energéticas, eu
tinha uma seleção das melhores bebidas do mundo para escolher.
Radicalmente diferente... mas ainda assustadoramente o mesmo.
E se eu estivesse em um estacionamento subterrâneo em Tóquio, ou
fora de uma mansão histórica na Bélgica, não havia como negar um
fato...
Esta era uma mistura perigosa.
Ambos os meus vícios estavam sendo entregues a mim — literalmente
em uma bandeja de prata.
E embora eu ainda pudesse me lembrar das vantagens da corrida e das
drogas, elas não tinham mais o mesmo fascínio. O chamado da voz
escura e sedutora em minha cabeça ficou em silêncio.
Naquela época, eu queria escapar da minha situação de merda.
Meu casamento estava firme.
Eu tinha sido um alcoólatra sem esperança.
Um viciado em adrenalina com quase uma morte cerebral.
Mas não havia nada da minha vida agora que eu quisesse escapar.
Adorava dirigir minha própria empresa. Adorava ser o mestre de meus
impulsos e desejos.
Mas, acima de tudo, adorava estar com minha esposa e filhos.
— Vamos fechar esse negócio e dar o fora daqui, — eu disse a Al.
— Concordo.
Meu parceiro e eu partimos para o meio da multidão, em busca de um
Yorick Vercruysse.
Ele era o chanceler da Liga de Corrida Europeia... e o homem que
tivemos que convencer para colocar o Selo X no centro das atenções.
— Um pouco de uísque? — Uma garçonete nos perguntou. Eu estava
prestes a recusar quando ela continuou: — Cortesia dos O'Malleys.
— Os O'Malleys? — Al perguntou. — Tipo, O'Malley Irish Whiskey,
O'Malleys?
— Isso mesmo, — ela confirmou.
Al pegou um copo para si e entregou um para mim.
— Vamos avaliar a competição, — disse ele.
Girei o copo com o líquido âmbar dourado para dentro.
Os O'Malleys eram famosos no mundo das bebidas alcoólicas.
Praticamente a realeza do uísque.
E se o uísque deles estava na festa, isso significava que eles estavam lá
pelo mesmo motivo que nós.
O patrocínio do Grand Prix.
Tomei um gole, deixando o uísque permanecer na minha língua antes
de deslizar pela minha garganta...
Al e eu nos entreolhamos ao mesmo tempo.
— Isso é... — Al balançou a cabeça.
— Surpreendentemente sem graça. — Eu sorri. — Este é o famoso
uísque O'Malley?
— Vejo que algumas pessoas não apreciam a qualidade, — disse uma
voz desconhecida.
Virei-me para encontrar um casal de meia-idade parado atrás de nós,
com uma inclinação arrogante de seus narizes arrebitados. Eles estavam
muito bem vestidos. Seu temo feito sob medida e seu vestido esvoaçante
os faziam parecer que tinham saído de um século diferente.
— Qualidade? — Eu tomei outro gole. — E sem graça. Monótono. E
antiquado para uísques.
— As gerações mais jovens hoje em dia não apreciam os clássicos, —
disse a mulher. Seu cabelo penteado e longos brincos de pérola
balançaram quando ela balançou a cabeça.
— Este uísque existe há mais tempo do que você está vivo, —
acrescentou o homem, apoiando-se pesadamente em sua bengala
laqueada de preto.
— E posso ver que não evoluiu além da Idade Média. — Coloquei meu
copo inacabado na travessa de um garçom que passava. — Com uísque
como esse, eu me pergunto como os O'Malleys conseguiram se manter
no mercado.
O casal de meia-idade mostrou seu desprezo pela última vez antes de
se virar e desaparecer na multidão.
Al suspirou, terminando o resto de seu uísque. — Você tinha que ser
tão duro? — Ele perguntou-me.
— Duro? Eu estava apenas sendo crítico.
— Uh-huh. — Os olhos de Al se iluminaram e ele acenou com a
cabeça por cima do meu ombro.
Eu me virei e vi o homem que procurávamos.
Yorick estava vestido com um temo branco impecável e um lenço
grosso de pele de raposa pendurado no pescoço.
Eu sorri, como um caçador encontrando sua presa.
É hora de trabalhar.
ANGELA

— E como está indo o evento Chavoshi? — Eu perguntei.


Zoe deu um gole em sua xícara de chá vazia, fingindo gostar do chá
imaginário. — Está indo muito bem, — disse ela. — Todas as
acomodações para Isfahan foram reservadas. Estou até em negociações
para sediar a festa fora do Palácio Ali Qapu.
Leah veio e muito gentilmente derramou mais chá imaginário na
minha xícara.
— Isso é incrível, Zoe! — Eu sorri sobre a pequena mesa de teatro para
ela, grata por um parceiro de negócios tão incrível. — Recebi um e-mail
da Sra. Azari e ela me disse que...
— Os cupcakes estão prontos! — Ace disse, entrando com uma
bandeja de doces de chocolate aquecidos no forno.
Zoe engasgou, batendo palmas com entusiasmo.
— Que maravilha! Muito obrigado, pequeno chef. — Ela deu um beijo
na bochecha de Ace.
— Eu sou um cientista, — Ace afirmou, com um tom vermelho em
suas bochechas.
— Estas são suas experiências mais recentes? — Zoe deu uma
risadinha.
Meu filho acenou com a cabeça antes de se retirar da casa de
brinquedo, tentando não tropeçar em seu avental enorme.
Aparentemente, nas sábias palavras do pequeno Ace, cozinhar era
praticamente uma ciência. Acho que as medidas exatas e o tempo de
aquecimento dos ingredientes o atraíam.
— Você vai precisar de algumas bebidas de verdade para isso, — Leah
nos assegurou. — Eles são super pegajosos. — Ela disparou para a
cozinha com pressa.
— Algumas bebidas de verdade, hein? — Zoe murmurou, bebendo sua
xícara de chá vazia. — Que pena, este chá está delicioso.
Zoe e eu assistimos eles irem.
— Que doce, — disse ela.
Eu ri. — Desculpe por isso, a propósito. — Fiz um gesto em direção ao
pequeno teatro infantil. — Se eu os deixasse sozinhos durante nossa
reunião, quem sabe o que eles fariam.
— Angela Knight. Extraordinária mãe em tempo integral e produtora
de eventos em meio período, — Zoe meditou. — E definitivamente uma
das reuniões mais diferentes que já tive.
Eu dei uma mordida em um cupcake, pensando nos últimos anos com
Zoe.
Desde que Leah e Ace nasceram, ela realmente se intensificou e
assumiu a responsabilidade da nossa empresa de produção de eventos.
Ela praticamente a administrou sozinha nos últimos anos.
E embora eu agradecesse por ser capaz de me concentrar na minha
família... isso me deixou um pouco desconfortável.
Os últimos eventos foram basicamente trabalho de Zoe. Parecia que o
A em Eventos de A Z estava se tornando desnecessário.
— Eu acho que ser mãe se parece um pouco com um trabalho, não é?
— Eu perguntei, rindo.
— Você está brincando? Você tem o trabalho mais difícil do mundo,
garota. — Zoe pegou um dos cupcakes de Ace. — Eu não sei como você
consegue fazer as duas coisas... Bem, na verdade eu sei. Você tem bolsas
embaixo dos olhos.
— Mas vale a pena, — eu disse. — Leah e Ace são as luzes da minha
vida. Mesmo que essas luzes me deixem acordada à noite.
Caímos na gargalhada. Enquanto conversava com Zoe, percebi como
estava faminta por companhia.
Não que eu estivesse cansada de ficar com meus filhos.
Mas sair com uma amiga era uma rajada de ar fresco. Mesmo que
fosse em um teatro feito por crianças.
Talvez eu deva marcar um almoço com alguns amigos...
Eu zombei de mim mesma.
Com que horas, Angela?
— Uma família, hein? — Zoe suspirou melancolicamente. — Eu me
pergunto quando vou encontrar o meu Sr. Certo.
— Quer que eu marque você com alguém? — Eu provoquei.
— Hmm... — Zoe colocou um dedo no queixo. — Bem, eu vi alguém
na festa do DaVinci.
— Oh? — Eu me animei, instantaneamente interessada.
Zoe sorriu diabolicamente. — Seu irmão mais velho parecia meio fofo.
— Oh, eca! — Eu gritei.
Zoe riu tanto que as lágrimas escorreram de seus olhos. — Estou
brincando, estou brincando, — disse ela.
— Uh-huh... — Eu olhei para ela com desconfiança.
— De qualquer forma, — ela disse, tentando reorientar nossa reunião.
— Você recebeu um e-mail da Sra.
Azari?
— Certo, — eu disse, tentando espantar a imagem mental de Zoe
ficando com Danny. — A Sra. Azari me enviou uma lista de convidados
atualizada. Teremos que aumentar o — As bebidas estão aqui! — Leah
chamou alegremente. Ela derramou um pouco de refrigerante de creme
rosa em nossas taças de champanhe chiques. — Você gostaria de mais
alguma coisa?
— Não, querida, obrigada, — eu disse.
Leah sorriu com orgulho antes de sair novamente.
Eu me virei para Zoe. — Como eu estava dizendo, vamos ter que
aumentar o...
O estilhaçar de vidro quebrando ecoou de fora da cozinha.
— Mãe! — Leah ligou. — Ace deixou cair a porcelana!
— Você esbarrou em mim! — Ace gritou de volta.
Suspirei, levantando-me para me certificar de que nenhum deles
estava ferido.
Eu me espremi por baixo da porta minúscula, mas antes que pudesse
atravessar o quintal, Zoe colocou a mão no meu ombro.
— Acho que seria melhor se você apenas se concentrasse em seus
filhos, — ela me disse. — Eu posso lidar com isso. Sério.
Eu podia ver a preocupação em seus olhos, e eu poderia dizer que ela
estava apenas tentando ajudar. Mas essas eram as palavras que eu temia
ouvir.
Ainda assim, eu não podia negar que fazia sentido.
— Ok, — eu disse, tentando esconder minha decepção. — Obrigada.
Eu fui em direção à cozinha e encontrei Leah e Ace parados ao lado,
com um olhar de culpado em seus rostos.
A porcelana fina estava estilhaçada.
Não havia nada a fazer a não ser recolher os pedaços quebrados.
XAVIER

— Nós do Selo X respeitamos os clássicos, — disse eu, encerrando a


apresentação. Al e eu apresentamos a Yorick uma análise abrangente de
nossa empresa e de nossas finanças.
Mas agora não era hora para os detalhes das operações diárias.
Tínhamos que apelar para o chanceler como uma marca.
Eu olhei em volta para o grande salão de baile.
Os grupos se misturavam e dançavam enquanto negócios
multimilionários eram feitos na mesma sala.
Na propriedade de Yorick, os negócios eram prazeres.
E eu tinha que ter certeza de que a parceria com o Selo X seria a coisa
mais prazerosa que ele já experimentou.
— Nós entendemos que não estaríamos onde estamos sem pisar nos
ombros de gigantes, — Al continuou.
— Os Isabellas. Os Macallans. Os Dalmores.
— Mas nós representamos o futuro — Inclinei-me para mais perto de
Yorick, batendo meu copo do Selo X no dele. — O Grand Prix de Bruxelas
atrai cada vez mais jovens a cada ano. A frequência está crescendo
exponencialmente. E que melhor maneira de atraí-los do que uma marca
jovem como a nossa?
— Um bom uísque pode ser atemporal, mas o consumidor não é, —
disse Al, enfatizando a questão. — Os gostos mudam e evoluem com o
passar dos anos. E para sobreviver, nós também.
— O Selo X é a nova geração, — terminei. — E faremos seu estoque
correr mais rápido do que os carros de Fl no Grand Prix.
Yorick acariciou seu cachecol de raposa, com um sorriso
impressionado no rosto.
— Eu não posso mentir, você está começando a me influenciar. — Seu
forte sotaque belga aumentou a gravidade do momento.
Prendi minha respiração.
— Mas, infelizmente, não posso tomar uma decisão neste momento.
— Ele ergueu o copo e bebeu o resto do nosso uísque. — Vocês dois estão
em uma disputa acirrada com os O'Malleys por este lugar. Teremos uma
decisão para vocês dois em breve.
Os O'Malleys? Estamos competindo com ESSE uísque horrível?
Antes que eu pudesse expressar minhas objeções, Yorick acenou para
alguém por cima do meu ombro: — Ah, aqui estão eles.
Eu me virei e encontrei o casal de meia-idade que irritei antes, no
chão do salão de baile. Eles pareciam tão pomposos como sempre, mas
desta vez eu sabia por quê.
Eles não eram apenas um casal rico esnobe.
Eles eram Sam e Sally O'Malley: os irmãos gêmeos e senhores do
uísque irlandês. E pelo jeito que eles estavam olhando para mim...
Eu tinha acabado de fazer inimigos com duas pessoas muito
poderosas.
Glup.
Capítulo 6
Comendo poeira

XAVIER

Eu estava no salão de baile bebericando uma vodca com gás,


observando Sally O'Malley através do chão de pedra. A irlandesa de meia-
idade era como a garota mais gostosa do baile, e eu era o idiota
desajeitado procurando por uma oportunidade.
Não que eu alguma vez tivesse dificuldade em conseguir garotas. Mas
eu tinha visto filmes suficientes para entender a experiência.
Ela se separou de seu pequeno círculo e partiu em direção a um dos
bares estilo antigo instalados nos cantos da sala.
Finalmente sozinha.
— Agora é sua chance, — disse Al ao meu lado. — Lembra da nossa
estratégia?
Eu fiz uma careta. — Pedir piedade?
Al me deu um tapa no ombro. — Ei, eu sei que não é um movimento
muito 'Xavier Knight'. Mas você cagou na cama. Agora você tem que
deitar nela.
Eu revirei meus olhos. — Obrigado pela imagem.
Al sorriu. — Disponha.
Eu respirei fundo e caminhei em direção a ela.
Xavier Knight não é nenhum excluído.
Eu tinha de agir.
Os O'Malleys eram uma das famílias mais antigas e influentes na
indústria de bebidas alcoólicas. Eles podiam esmagar o Selo X como um
verme em uma garrafa de tequila.
E eu os irritei com minha falta de consideração.
— Sally! — Eu meio que gritei, por meu rosto já doendo por causa do
sorriso de quem estava para engolir sapos que eu dei. — Sally O'Malley!
Ela olhou na minha direção, mas não parou de se mover.
— Olá, — veio uma saudação firme.
— Eu quero me desculpar pelo que aconteceu lá fora.
Eu não fazia ideia de...
— Quem eu era? — Desta vez, Sally parou, olhando para mim com
uma pitada de diversão. — Você sabe que realmente não deveria ser tão
rude.
— Estou trabalhando nisso, eu disse humildemente, aceitando suas
críticas. — Eu sou Xavier Knight.
Eu estendi minha mão. Ela cruzou os braços.
— Estou ciente, — disse Sally. — Ao contrário de você, Sr. Knight, eu
faço minha pesquisa.
Droga, ela está realmente pisando em mim.
— Bem, só não quero começar com o pé esquerdo, — continuei. —
Eu, sendo o cara novo estúpido e tudo. — Eu sorri com meu comentário
autodepreciativo, na esperança de quebrar o gelo.
Infelizmente, Sally era a própria Antártida.
— Sim, o cara novo estúpido..., — ela repetiu. Esperei que ela
continuasse com o pensamento, mas pelo silêncio dela, aparentemente,
ela estava concordando comigo.
— Sally, querida! — Sam O'Malley apareceu de repente, girando um
coquetel na mão antes de entregá-lo à irmã.
— Como você adivinhou? — Sally disse, sorrindo pela primeira vez
desde que nossa conversa havia começado.
— É uma coisa de gêmeos, eu suponho, — Sam riu. Ele ficou em
silêncio assim que seus olhos chegaram aos meus.
— Xavier Knight, — eu disse gentilmente, estendendo minha mão. —
Sobre mais cedo Sam se voltou para sua irmã, ignorando minha mão. —
Acredito que precisamos ir para o lounge.
— Claro, — disse Sally. Ela me ofereceu apenas um leve aceno de
cabeça enquanto se despedia, com seus lábios selados.
Isso não pode ser bom...
Estou fodido?
Meu projeto de estimação acabou de ser atropelado por um caminhão
O'Malley?
— Ei, como foi? — Al disse, colocando uma mão ligeiramente trêmula
no meu ombro.
Terminei minha vodka com gás em um gole. Ele suspirou.
— Oh...
ANGELA

— Vê este mural?
A diretora de admissões estacionou nosso pequeno grupo de turistas
em frente a uma grande pintura colorida. Parecia que tinha sido criado
em uma aula de arte da primeira série.
— É um Jackson Pollock, — explicou a diretora, sem piscar por trás
dos óculos sem armação. — Ele doou quando seu sobrinho era estudante
aqui nos anos 50.
Jackson Pollock?!
Aproximei-me da tela. A peça abstrata parecia um pouco deslocada
nos antigos e imponentes corredores da Clifton Academy, outra escola
primária da Ivy League que eu esperava que aceitasse Ace e Leah.
Eu segurei meus filhos perto da minha cintura. Pareciam bonequinhas
em suas roupas bonitas e limpas. Eu esperava que eles continuassem
assim.
Perfeitos e inanimados.
— Parece que alguém comeu um monte de doces e vomitou, — Leah
sussurrou.
Fiz uma careta, rezando para que a outra mãe — uma mulher
glamorosa de cabelos negros que parecia alguns anos mais velha do que
eu — não tivesse ouvido a crítica de minha filha.
— Chama-se expressionismo abstrato, — expliquei baixinho. —
Pergunte ao tio Dustin sobre isso.
A diretora de admissões continuou pelo corredor, apontando mais
pinturas originais: um Mark Rothko (a filha era estudante), Edward
Hopper (filho do primo) e Elizabeth Payton (outro sobrinho).
Eu não conseguia parar de pensar no posters — Got Milk? — que
costumavam ser pendurados na lanchonete da minha alma mater.
Angela, você percorreu um caminho MUUUUITO longo.
— Eu não gosto deste lugar, — Leah murmurou para Ace. — Cheira a
livros antigos.
— Eu gosto de livros antigos, — Ace atirou de volta.
Leah gemeu. — Claro que você gosta.
— Ei, — eu comecei virando os dois para me encarar. Ajoelhei-me à
altura deles para um treinamento muito necessário. Não conseguiria
lidar com uma repetição de St. Barnaby's. Especialmente sem papai por
perto.
Eu pedi a ele para vir conosco para Clifton, mas ele não se sentiu bem
para a longa viagem de Nova Jersey.
Eu olhei nos olhos de Leah e Ace, esperando canalizar algumas das
habilidades parentais que ele me ensinou.
— Escutem, pessoal: só porque vocês não amam uma escola logo de
cara, não significa que vocês tem que descartá-la de cara. Ter opções é
uma coisa boa.
— Mas e se eu sei que não gosto daqui? — Eu segui o olhar de Leah
para um Dali particularmente assustador pendurado atrás de mim.
— Ainda nem vimos a escola inteira. Certo, Ace? — Sorri para meu
filho, tentando colocar alguém do meu lado.
Ace concordou. — Mamãe tem razão. Ainda não vimos as salas de aula
de ciências. — 'Ciência idiota. — Leah revirou os olhos. — Ok. Ótimo.
Eles correram para se juntar à diretora de admissões enquanto ela virava
em outro corredor. Soltei um grande suspiro de alívio.
— Eu te entendo, irmã.
Eu virei. Uma mãe de cabelos negros me deu um sorriso simpático.
Ela deu à sua filha — uma garotinha bonita com uma mochila de grife —
um tapinha no ombro antes de mandá-la atrás de Leah e Ace, e nós os
seguimos pelo corredor.
— E sua primeira vez? — Ela perguntou.
Eu concordei. — Dá pra notar?
— Você tem aquela aparência de cervo nos faróis, — disse a mãe. —
Lembra-me de quando eu levei meu filho mais velho para se juntar a este
circo.
— E um pouco opressor, — admiti. — Quer dizer, eu fui para a escola
pública. Lancheiras de plástico. Ônibus escolares amarelos. Dodgeball no
ginásio. Nada como... isso.
Fiz um gesto para o verdadeiro museu de arte pelo qual tínhamos
acabado de passar.
— O mesmo aqui. E, francamente, não me importaria de mandar
meus filhos para a escola pública, — disse a mãe. — Mas aqui é
Connecticut. Acompanhar os vizinhos é o nosso passatempo estadual.
Nós duas rimos. Ela tinha razão.
— Sou Angela Knight.
— Jenny Zhang.
Nós demos as mãos. Conhecer outra pessoa vivendo esse pesadelo foi
um grande alívio.
— Senhoras? — Disse a diretora de admissão. Jenny e eu discutimos
com nossos filhos, depois seguimos a mulher até uma biblioteca
cavernosa.
— Muitos dos livros mais antigos que você vê foram doados da
coleção pessoal de Theodor Geisel.
Você pode conhecê-lo melhor como Dr. Seuss. Seu afilhado era um
estudante aqui...
Quando a turnê terminou, encurralei a diretora de admissões. Leah e
Ace não ficaram exatamente entusiasmados — mesmo depois de ver um
laboratório de ciências adequado para a NASA — e eu queria ter certeza
de que eles teriam uma chance.
— É uma escola tão bonita, — falei com emoção do lado de fora do
escritório da diretora. — Tenho certeza de que as crianças poderiam
receber uma educação muito boa aqui.
— É claro que adoraríamos ter os filhos Knight, — disse ela. — Eu só
quero ter certeza de que é um ajuste completo. Podemos fazer uma
entrevista rápida?
— Claro! — Minha esperança aumentou. As crianças têm uma
chance!
Mais uma vez, o nome Knight estava abrindo portas. Normalmente,
eu não gostava de jogá-lo por aí. Mas sob essas circunstâncias...
— Ace? Leah? — Eu olhei para trás. Fiquei boquiaberta. A última vez
que verifiquei, as crianças estavam sentadas em um banco próximo.
Agora elas não estavam em lugar nenhum.
— Hum... Deixe-me encontrá-los primeiro. — Eu ri nervosamente. A
diretora de admissões sorriu.
— Sem problemas. Eu ajudo.
Caminhamos juntos por alguns corredores, olhando para as salas de
aula. Nada.
A cada segundo que passava, minha ansiedade aumentava.
Onde eles estão?!
Foi quando voltamos para o museu de arte de antes.
E encontrei Ace e Leah.
Suas mãos estavam cobertas por algum tipo de substância marrom, e
eles estavam alcançando o Jackson Pollock...
Prestes a respingar a pintura respingada.
Oh, meu DEUS!
— CRIANÇAS! Não, não, não!
Ace e Leah se viraram enquanto eu corria até eles, me inserindo entre
suas mãos gotejantes e o que quase certamente era uma obra de arte
extremamente valiosa.
— O que você pensa que está fazendo? — Eu exigi.
— Esta imagem é feia, — Leah encolheu os ombros. — Queríamos
fazer com que parecesse melhor.
— Não é feia, é... eu — o que está em suas mãos? — Eu levantei seus
pulsos para olhar mais de perto.
— Chocolate, — Ace disse, ajustando os óculos. — Vovó deu para nós.
Nós o derretemos sob uma lâmpada para fazer tinta.
— Tinta gostosa, — disse Leah, lambendo os dedos de sua mão livre.
A diretora de admissões pigarreou.
Eu olhei para cima quando ela se aproximou, com as mãos cobertas de
chocolate dos meus filhos presos nas minhas.
A expressão em seu rosto me disse tudo que eu precisava saber.
Knights ou não...
Não havia nenhuma chance de que Ace e Leah estivessem entrando na
Clifton Academy.
Estava ficando pra trás...
XAVIER

No dia seguinte ao coquetel, Al e eu cruzamos a pista do aeroporto de


Bruxelas em direção ao meu avião. Tínhamos chegado em casa tarde da
festa e nenhum de nós conseguiu dormir.
Ainda não tínhamos ouvido nada de Yorick sobre o patrocínio.
E depois do meu encontro com os O'Malleys...
Eu tinha certeza que o Selo X tinha sido efetivamente atropelado.
Éramos novos na indústria de bebidas alcoólicas.
Um grupo fragmentado de piratas, tentando fazer um nome para nós
mesmos.
Os O'Malleys...
Eles comandaram uma porra de uma Marinha inteira.
S. O. S.
Enquanto Al subia o passadiço à minha frente, senti meu telefone
vibrar no bolso. Eu não conseguia ouvir nada lá fora na pista, então
deixei ir para a caixa postal.
Quando sentei dentro da cabine, verifiquei a tela. Além da chamada
perdida, recebi algumas mensagens de texto.
De Yorick.
Yorick: Oi, Xavier Yorick: Eu só queria que você soubesse que
após uma consideração séria Yorick: Decidimos que queremos
que o Selo X seja a bebida oficial do Grand Prix de Bruxelas
Yorick: Estamos prontos para abraçar o futuro Yorick: Me ligue
quando ouvir isso Yorick: Temos muito o que conversar Eu soquei o
ar triunfantemente.
Ê
AÊ, PORRA!
— E aí? — Al perguntou, já vestindo uma máscara de dormir.
Eu sorri. — O Selo X é a bebida oficial do Grand Prix de Bruxelas.
Os olhos de Al abriram instantaneamente. — Puta merda... — Sua voz
tremeu. — Isso significa...
— Nós vamos ser enormes, — eu o interrompi. — Enormes pra caralho!
Al saltou de seu assento. Eu também me levantei. Nós nos abraçamos.
Tínhamos trabalhado tanto tempo por essa oportunidade. E
finalmente, ela havia chegado. Cinco anos de trabalho duro finalmente
valeram a pena.
Quando me acomodei de volta em meu assento, reli os textos de
Yorick, sorrindo como um completa idiota.
Eu tinha uma ligação para fazer...
ANGELA

A música da Disney explodiu nos alto-falantes do carro.


E eu estava na minha zona de conforto.
Ou pelo menos, tentando estar.
Na verdade, as crianças não estavam entrando em outra escola...
E elas quase destruíram uma pequena obra de um grande pintor do
século XX...
Mas estávamos voltando para casa em Nova Jersey para visitar papai.
E nosso lar sempre me fez sentir melhor — especialmente em dias
como o que eu acabei de ter.
Marco estava dirigindo o SUV pela 1-95. Leah cantava junto com a
música, e Ace folheava um livro de imagens sobre o espaço sideral.
Olhei pela janela para o rio Hudson enquanto cruzamos a ponte
George Washington em Nova Jersey.
Lar doce lar.
Uma chamada soou nos alto-falantes bluetooth, silenciando a música.
Eu olhei para a tela no painel.
Era Xavier.
Meu coração disparou.
Eu não tinha percebido o quanto eu sentia falta dele.
— Marco, você poderia, por favor, atender?
— Sim, Sra. Knight.
Ele acertou a tela sensível ao toque.
— Olá, querido! — Eu gritei. — Leah, Ace — diga oi para o papai!
— OI, PAI! — As crianças gritaram juntas.
— Ei, pessoal, — disse Xavier em voz baixa que enviou um arrepio na
espinha.
— E aí? — Eu perguntei. — Você não deveria estar no jato agora?
— Eu estou, — ele disse. — Ou estamos prestes a decolar de qualquer
maneira. Só queria que você fosse a primeira a saber: o Selo X é a bebida
oficial do Grand Prix de Bruxelas!
Eu gritei e as crianças gritaram e aplaudiram.
Xavier e Al trabalharam muito para construir sua marca. Muito
mesmo, na verdade — eu estava vendo meu marido cada vez menos
ultimamente. Mesmo assim, fiquei incrivelmente orgulhosa.
— Isso é fantástico! — Eu disse.
— Eu não poderia ter feito isso sem você, querida. E vocês também,
crianças. Eu amo vocês mais do que tudo.
Awwww...
Quem teria pensado que Xavier Knight se tornaria um amorzinho?
— Nós também te amamos, — respondi, emocionada.
— Apresse-se para casa, certo? Que saudades de você.
— Vou dizer ao piloto, — brincou Xavier. — Vejo vocês em breve!
Clique.
Quando a música da Disney recomeçou, fui pega em qualquer música
de princesa que estava tocando. Em breve, meu belo príncipe estará em
casa.
E eu não podia esperar para desfrutar mais do nosso 'felizes para
sempre'.
Ding-dong! Ding-dong!
Experimentei a campainha pela terceira vez. Papai não estava
respondendo.
Isso é estranho. Ele disse que estaria aqui.
Eu abri a porta.
— Alóóóó? Paaaaiiiii? — Eu cantarolei de fora, algumas das músicas da
Disney ainda estavam na minha cabeça.
Ah, as alegrias de ter filhos.
— Vovó! Vovó!
Leah e Ace correram para dentro da casa. Eu os segui lentamente,
observando o ambiente familiar. Eu não o visitava há algum tempo, mas
ver o quão pouco a casa havia mudado — quão pouco ela mudava — era
um conforto.
Bem, exceto por aquela foto minha da formatura da oitava série com
chiclete preso no aparelho. Papai poderia se livrar disso sempre que
quisesse.
— Mãe! Venha aqui! — Eu ouvi Leah gritar. — Encontramos o vovô!
Eu segui o som de sua voz até o quintal.
Lá, deitado no chão perto do jardim, entre meus dois filhos
boquiabertos, estava meu pai.
Olhos fechados.
Parado.
OH, NÃO!
Meu coração soluçou quando corri para o lado do meu pai.
O que aconteceu? 1
Capítulo 7
Casa

ANGELA

— Pai! — Eu gritei — PAI!


Eu estava em pânico.
Ele não estava respondendo. Apenas deitado inconsciente na grama.
Sua respiração era lenta e superficial.
Só Deus sabia há quanto tempo ele estava lá.
Ele teve sua cota de problemas de saúde, mas parecia estável nos
últimos cinco anos. Claro, ele parecia um pouco mais... idoso
ultimamente. Mas ele estava na casa dos sessenta. Isso não é normal?
Tentei me controlar. Leah e Ace estavam lá, afinal, e eu não queria
assustá-los.
Mas, por mais loucos que pudessem representar, meus filhos eram
espertos e, obviamente, algo estava muito errado com o avó deles.
— Gente, entrem e tragam um copo d'água para o vovô, — falei,
tirando o telefone da bolsa.
— Mas… — Leah começou.
Eu me virei para ela. Pela primeira vez, ela se calou imediatamente.
Ace pegou a mão dela.
— Vamos, Leah, — ele disse, puxando-a em direção à porta.
Com um último olhar para mim e papai, os dois correram para dentro.
Eu já estava discando.
— Olá? — Disse um homem no número de emergência um pouco
confuso.
— Olá, meu nome é Angela Knight
Uma tosse me interrompeu.
— Pai!
Meu pai estava sentado na grama, espreguiçando-se como se tivesse
acabado de acordar de uma longa soneca.
— Angie? — Ele me lançou um olhar perplexo.
— Senhora?
Certo.
Eu ainda tinha o homem na linha.
— Oi, sim. Preciso de uma ambulância. Acabei de encontrar meu pai
idoso desmaiado em sua casa.
— Ambulância? Do que você está falando? — Papai perguntou,
esfregando os olhos. — E quem você está chamando de idoso?
Dei o endereço ao homem na linha e desliguei. Papai já estava se
levantando. Estendi a mão para ajudar, mas ele me empurrou para longe.
— Angie, estou bem. Sobre o que você está fazendo tanto barulho?
Você sabe quanto custa uma ambulância hoje em dia? E melhor você ligar
de volta e cancelar, ou eles vão me cobrar um braço e uma perna — talvez
um rim.
Deixei cair meu telefone de volta na minha bolsa.
— As crianças e eu encontramos você aqui inconsciente. O que
aconteceu?
Papai acenou com a mão como se não fosse nada, curvando-se para
pegar as ferramentas de jardinagem espalhadas na grama. — Eu estava
trabalhando no quintal. Acho que fiquei um pouco superaquecido ou
algo assim.
— VOVÓ! VOVÓ!
As crianças saíram correndo de casa, correndo na direção do papai.
Um copo d'água espirrou na mão de Leah.
— E esse é justo o copo d'água de que eu precisava! — Ele gritou,
estendendo a mão para um abraço de urso. As crianças deram-lhe
abraços apertados.
— O que aconteceu, vovó? — Ace perguntou. — Por que você estava
dormindo?
Leah entregou o copo para o papai e ele tomou um longo gole.
— Oh, você conhece os velhinhos e nossos cochilos, — disse ele com
uma piscadela. — Nunca se sabe quando você vai precisar se deitar para
dormir um pouco.
As crianças sorriram.
Mas eu certamente não estava acreditando.
— Você precisa ir para o hospital, pai, — eu disse. — E se você acha
que estou cancelando aquela ambulância, você está louco. Eu vou pagar
por isso.
— Angie
— Pai.
Era um impasse. As crianças olharam para trás e para frente entre nós
dois. Eu ouvi sirenes à distância.
Vamos, pai, meus olhos insistiram. Faça isso por nós. Sua família.
— Tudo bem, — papai finalmente resmungou. — Acho que não vai
me matar...
XAVIER

Marco me deixou em frente ao hospital e eu corri para dentro para


encontrar minha família.
Angela me mandou uma mensagem no meio do voo e eu consegui
convencer o piloto a desviar o avião para o aeroporto de Newark,
economizando um pouco de tempo.
Eu raramente colocava os pés em Nova Jersey — todas as rodovias e
estradas não eram exatamente para mim — mas eu ia até os confins do
mundo por Angela.
E, de certa forma, era exatamente onde eu estava.
Eu caminhei até a mesa da recepção. Uma velha com bochechas de
buldogue olhou para mim. Ela parecia ter nascido em um cinzeiro.
— O que você quer? — Ela cuspiu com um sotaque que me fez
lembrar velhos filmes de gângster que eu tinha visto quando criança.
É preciso amar a hospitalidade de Jersey.
— Estou aqui para ver Ken Carson, — eu disse. — Ele está fazendo
alguns testes.
— Você é família?
Eu concordei. Ela apontou uma unha longa e falsa para o corredor e
voltou para a revista aberta em sua mesa.
Murmurei um obrigado enquanto seguia suas instruções para a sala
de espera.
Eu parei no meio do caminho.
Todo o clã Carson apareceu. Em e Danny estavam conversando em
vozes baixas perto de uma janela. Lucas estava sentado em uma cadeira
olhando para o telefone. A pequena Bella estava olhando livros ilustrados
com Leah e Ace, embora nenhum deles parecesse muito focado nas
páginas.
Já Angela estava sentada sozinha, roendo as unhas enquanto olhava
para o espaço.
Meu coração estava com ela.
Ela parecia tão chateada.
— Querida.
— Xavier! — Angela saltou de seu assento e correu para meus braços.
— PAPAI! — Leah e Ace pularam e se juntaram ao nosso abraço.
Voltar para minha família era maravilhoso, mesmo nessas
circunstâncias.
Eu baguncei o cabelo dos gêmeos.
— Como vão as coisas? — Eu perguntei, nivelando meus olhos para
Angela. Eu acariciei sua bochecha macia, sentindo seu calor. Seus olhos
brilharam.
— Ele teve uma pequena concussão por causa da queda, mas disseram
que está bem, — ela suspirou.
— Eu não vou deixá-lo escapar tão facilmente. Ele tem parecido um
pouco... não sei... fraco ultimamente. E todos nós conhecemos seu
histórico médico. Vamos pedir aos médicos que façam testes adicionais.
Eu concordei. — Boa. Melhor prevenir do que remediar.
— Tente dizer isso a ele — ela resmungou. — Eu não acho que ele foi
para um hospital por cinco anos.
— Ele provavelmente está um pouco nervoso por estar de volta a um
lugar como este, — eu disse, pegando sua mão delicada. — Eu também
ficaria, depois do que aconteceu com ele.
Angela acariciou meus dedos. — Isso é o que Danny e Lucas disseram.
Eu beijei sua testa. — Tudo vai ficar bem.
Ela olhou para mim. — Promete?
Eu gostaria de poder, querida.
Eu a guiei de volta ao seu assento, cumprimentando solenemente os
outros. Todo mundo parecia tenso.
— Angela Knight?
Uma enfermeira com uniforme colorido entrou na sala, captando
olhares de todos os membros do clã Carson. Ela parecia um pouco
confusa.
— Oh! Desculpe... quero dizer, Angela Knight e família. O médico
gostaria de vê-los.
Angela agarrou minha mão quando nos levantamos de nossos
assentos. Eu dei a ela um aperto reconfortante.
Força, querida.

— Ninguém me disse que o circo estava na cidade! — Ken rachou


enquanto todos nós entramos no pequeno quarto do hospital. Ele se
sentou em uma mesa de exame em um jaleco.
As crianças Carson gemeram coletivamente.
— Pai, isso é sério, — disse Danny.
— Sim, bem, eu realmente preciso de uma cerveja, — Ken rebateu.
Bem, ele certamente parece bem, pensei. Mas meu pai também parecia
antes de...
Eu estremeci, segurando Angela com mais força.
Não queria pensar na possibilidade de perdermos outro pai.
— Obrigado a todos por terem vindo, — disse o médico de Ken, com
seus olhos se movendo ao redor da sala. — Vamos começar com as boas
notícias...
Uh-oh. Isso significa que também há más notícias.
Eu olhei para Angela. Ela se preparou com um sorriso tenso.
— Chega de suspense, doutor, — Ken gemeu. — Deixe-nos ver.
— A boa notícia, Sr. Carson, é que você está completamente bem, —
disse o médico. — Apesar da concussão, quero dizer. Apenas planeje
relaxar nas próximas semanas. Parece que você tem um ótimo sistema de
suporte aqui, então imagino que qualquer ajuda de que possa precisar
está prontamente disponível.
Angela ficou boquiaberta e eu beijei sua bochecha. Eu não pude evitar.
Ken estava bem!
Graças a Deus.
Danny e Lucas bateram palmas e as crianças pularam na mesa de
exame para se juntar a Ken. Ele enxugou os olhos brilhantes e passou os
braços ao redor deles.
Todos ficaram aliviados.
— Mas, — o médico continuou. — Isso não é tudo.
Certo. Eu pensei, com meu coração batendo forte. As más notícias.
O médico olhou para Ken. — Isso pode não ser fácil de ouvir, mas
você está envelhecendo, Sr. Carson. Você não é tão forte quanto
costumava ser. E pequenos acidentes como o que aconteceu hoje... Bem...
esses só vão acontecer com mais frequência sem os devidos cuidados.
— O que você quer dizer com 'devidos cuidados'? — Ken perguntou.
— Eu cuido de mim mesmo!
— Esse é o problema, — disse o médico. — Você mora sozinho, Sr.
Carson?
— Sim. — Ken encolheu os ombros. — E daí?
O médico ajustou alguns papéis em sua prancheta. — Eu acho que
pode ser hora de você olhar para outras opções. Uma casa de repouso.
Ou uma casa de repouso para idosos. Um lugar onde você obterá os
cuidados necessários a longo prazo.
Ken ficou vermelho como uma beterraba. Todos nós sentimos o golpe.
Meu coração estava com o pobre homem.
Se alguém me dissesse para escolher uma casa de repouso, eu diria a
eles para escolher um caixão.
Lembrei-me de ter visitado minha avó em uma casa de repouso
quando era jovem. Mesmo com os privilégios da minha família, o lugar
era sombrio, na melhor das hipóteses. Eu não conseguia ver alguém tão
vibrante como Ken contente com uma situação dessas.
— Eu tenho toda a ajuda de que preciso bem aqui. — Ken moveu-se
ao redor da sala, com desespero em sua voz. — Danny e Lucas moram no
meu bairro. E Angie está a apenas uma hora de distância.
O médico ajustou os óculos, olhando para o papai de perto.
— Sr. Carson, esta é apenas uma recomendação. Mas, na minha
opinião profissional, você viverá uma vida muito mais longa e saudável
com alguma assistência extra.
— Bem, na minha opinião profissional, — Ken pulou da mesa de
exame e agarrou suas roupas dobradas de uma cadeira no canto, — você
pode ir se foder.
— Ken! — Em engasgou. — Não fale assim na frente das crianças!
— Eu não vou me mudar para uma maldita casa de repouso! — Ken
continuou saindo pela porta. — E ponto final!
Capítulo 8
Tudo em família

XAVIER

Empurrei o carrinho de compras para a loja de brinquedos com Leah,


Ace e Bella a reboque.
Normalmente eu odiava lojas grandes. Eu preferia butiques e compras
online.
Ou melhor ainda, nem mesmo fazer compras.
Mas naquele momento era um mal necessário.
O lugar era enorme.
Do tamanho de Nova Jersey.
Os corredores estavam cheios de bichinhos de pelúcia. Bonequinhos.
Bonecas Barbie. Vídeo games. Livros de todo tipo de entretenimento
infantil que existe.
As crianças estavam praticamente babando.
— Qual é a surpresa, papai? — Leah perguntou, puxando minha
manga. Ela mal conseguia conter sua empolgação.
Eu me ofereci para levar as crianças enquanto Angela e seus irmãos
tinham uma reunião de família com Ken. Ele não estava se deixando
convencer na coisa do lar de idosos, o velho era teimoso.
Sinceramente, eu não o culpava.
Mas isso não significa que ele deveria viver sozinho. Não se ele
estivesse indo contra a recomendação de seu médico.
Angela e eu o queríamos conosco o maior tempo possível.
Ken amava sua família mais do que tudo. Ele teria que mudar. Certo?
Ou pelo menos chegar a algum tipo de compromisso.
Eu confiava que Angela ajudaria a encontrar uma solução que deixaria
todos felizes.
Ela tinha uma boa cabeça, um grande coração...
E uma bunda de tirar o fôlego.
Parecia uma eternidade desde que eu a levei para a mesa de
massagem.
E eu estava pronto para dar a ela tudo novamente a qualquer hora que
ela quisesse...
— PAPAI! A surpresa!
Ace estava puxando minha outra manga.
Certo. Sim.
Pensar no corpo de Angela sempre era uma distração.
Sacudindo meus pensamentos sujos, abaixei-me para a altura das
crianças.
— Então, todos vocês sabem sobre a Super Corrida de Brinquedos,
certo? Da Nickelodeon?
As crianças apenas olharam para mim.
Grilos.
— Sério?!
Certo. Isso foi nos anos 90.
Porra, estou velho agora.
Suspirei. — OK. Então, se você ganhou o sorteio Super Corrida de
Brinquedos, você tem que correr em uma loja de brinquedos com um
grande carrinho de compras. Você tinha cinco minutos, e qualquer coisa
que colocasse no carrinho nesses cinco minutos, você ganharia.
As crianças ficaram de queixo caído.
— Qualquer brinquedo? — Bella perguntou. Seus olhos eram maiores
que a lua.
— Qualquer brinquedo, — eu disse, sorrindo.
— Já que todos vocês têm praticado esportes tão bons ultimamente,
vou dar a vocês a sua própria Super Corrida de Brinquedos. Cinco
minutos. Qualquer brinquedo que você quiser. Mas tem que caber neste
carrinho.
Eu fiz uma careta, fingindo acariciar meu queixo enquanto estudava o
carrinho.
— Pensando bem, talvez isso não seja grande o suficiente. Marco!
Na deixa, Marco apareceu atrás de nós empurrando um segundo
carrinho.
As crianças gritaram de alegria.
Minha surpresa foi exagerada?
Obviamente.
Mas eles apenas tiveram que passar o dia no hospital preocupados
com seu avô. Eles mereciam se divertir um pouco.
E não era como se eu não tivesse dinheiro.
— Tudo bem..., — eu disse, olhando para o meu relógio. As crianças
pularam de expectativa.
— Em sua marca, preparem-se, vão!
Leah, Ace e Bella correram para dentro da loja, com Marco e eu
empurrando os carrinhos, logo atrás deles.
— Não corram muito rápido, pessoal! — Falei.
Ace diminuiu a velocidade. — Papai, posso comprar livros também?
Eu ri, balançando minha cabeça.
— Ace, você é um nerd. — Eu bati em seu ombro, rindo. — Claro,
amigo.
— Obrigado, pai! — Ele disparou em direção à seção de livros.
Eu sorri, mas foi agridoce. O tempo em família estava indo muito
bem.
Só esperava que Angela também estivesse bem.
ANGELA

— Não vou morar em uma casa de repouso, — repetiu papai pela


milionésima vez.
Danny, Lucas e eu nos sentamos com ele em volta da mesa da sala. Ele
concordou em ficar depois de deixar o hospital na noite anterior, e todos
nós concordamos em nos encontrar pela manhã para conversar sobre o
futuro de papai.
Bem, meus irmãos e eu concordamos — papai não queria falar sobre
nada.
Xavier estava cuidando das crianças. Em tinha ficado por perto para
nos preparar comida, mas estava tentando ficar de fora da conversa.
Eu gostaria de não ter que fazer parte disso também.
Mas tínhamos de convencer o papai. O médico estava certo.
Ele estava ficando mais velho. Mais frágil.
E mesmo se ele fosse relativamente saudável — excluindo a concussão
— ele não poderia viver sozinho para sempre.
Mas neste ponto, não parecia que ele sequer consideraria colocar os
pés em uma casa de repouso.
— Você vive dizendo que não vai nos deixar colocá-lo em uma casa, —
observou Danny. — Mas você não está nos dizendo por quê.
— Sim, — acrescentou Lucas. — O que há de tão ruim em sair com
um monte de gente da sua idade? Será como uma faculdade para idosos.
Mas sem aulas!
— Tenho a sensação de que não é exatamente este tipo de festa de
faculdade, — disse papai, abrindo uma cerveja fresca. — Mais como um
bando de velhinhos esperando para morrer.
— Pai! — Eu adverti. — Não fale assim. Vamos levá-lo para um lugar
cheio de pessoas legais e ótimos cuidadores. Você sempre falou em se
mudar para a Flórida. Que tal? Xavier e eu podemos cuidar de tudo.
— Olha, eu agradeço a oferta, — disse papai. — Mas o fato é que as
pessoas vão a esses lugares e não saem. Isso me dá arrepios.
Ele olhou para sua cerveja, emocionado.
— Passei muito tempo no hospital quando estive doente. Sem saber se
cada dia pode ser o meu último. Deitado em camas de hospital, ouvindo
todas aquelas máquinas que apitam. Gritando e gritando nos corredores.
Honestamente, eu não achei que fosse conseguir.
Meus irmãos e eu ficamos em silêncio, e até mesmo Em parou de
preparar lanches.
Papai não se abria com muita frequência.
— Quando eu superei a doença — graças a Deus — eu prometi a mim
mesmo que não iria embora assim. A qualidade da minha vida é mais
importante para mim do que quanto tempo eu vivo. E se estar sozinho
significa economizar alguns anos... — Ele deu de ombros. — Bem, que
assim seja.
Merda.
Nunca tínhamos falado sobre a doença de papai assim antes. Sobre o
impacto duradouro em sua vida.
Eu certamente respeitava seus sentimentos, mas, ao mesmo tempo,
não queria arriscar perdê-lo tão cedo. Brad teve seus anos de crepúsculo,
e papai ainda tinha muitos sobrando.
Claro, a saúde é imprevisível depois de uma certa idade, mas papai
tinha uma chance melhor de uma vida longa sob a supervisão de grandes
cuidadores. E Xavier e eu tínhamos dinheiro para dar a ele o melhor.
Mas papai seria papai, não importa o quê.
E se ele dissesse não, haveria muito que poderíamos dizer para fazê-lo
mudar de ideia.
— Pai, — comecei, — se você apenas pensar um pouco mais...
Bang!
Papai bateu na mesa, me interrompendo.
— Angie, essa conversa acabou! Eu não estou indo a lugar nenhum.
Fim da história.
— Mas
Papai se levantou. Ele estava ficando vermelho e respirando
pesadamente. Danny também se levantou.
— Pai? Você está bem?
Ele empurrou Danny para longe.
— Eu estaria muito melhor se vocês simplesmente largassem isso.
Quero dizer.
Ele nivelou seus olhos diretamente para mim.
Droga, pai. Por que você tem que ser tão teimoso?
Suspirei. — Tudo bem.
Levantei-me da mesa no momento em que Em entregava batatas
fritas e molho.
— Em, você precisa de ajuda com o jantar?
Ela acenou com a cabeça.
Graças a Deus.
Talvez eu precise de uma pausa também...
XAVIER

— Olá? — Eu disse enquanto entrava pela porta da frente.


— Aqui! — Angela gritou da cozinha. — O jantar está quase pronto!
E tinha um cheiro delicioso.
Claramente, meu chef favorito estava envolvido na culinária.
As crianças me seguiram, com seus braços cheios de brinquedos — ou,
no caso de Ace, livros. E havia muito mais malas no carro.
Quando entramos na cozinha, Angela e Em examinaram as crianças,
certificando-se de que eu não as tivesse sujado ou machucado de alguma
forma.
O bom e velho preconceito contra os pais.
O quê? Só porque sou um homem, não posso ser um ótimo pai? Afinal,
venho fazendo isso há cinco anos já!
— Onde você conseguiu todos esses brinquedos, querida? — Em
perguntou a Bella.
— Tio Xavier comprou para nós! — Ela gritou. — Fizemos uma Super
Corrida de Brinquedos.
Em se virou para mim. — Uma o quê?
— Sabe, aquela velha competição da Nickelodeon, — expliquei. — Eles
davam a você alguns minutos em uma loja de brinquedos para escolher o
que quiser I!
Em franziu a testa. — Então você está dizendo que levou nossos filhos
ao shopping e comprou tudo que eles sempre quiseram? Meu Deus,
Xavier, eles têm brinquedos suficientes para um ano — não, uma década\
Dei de ombros. — O que há de errado nisso?
Em gemeu. Angela pegou minha mão. — Xavier, querido, é um gesto
bonito. Mas não estamos tentando criar, — ela abaixou a voz, —
pirralhos mimados.
— E o que diabos eu devo dar a Bella no Natal? — Em exigiu. — O que
será tão bom quanto um Super Corrida de Brinquedos? — Eu... er... —
Mamãe, não me faça devolver meus brinquedos! — Bella choramingou.
Ela tinha lágrimas nos olhos. — Tio Xavier comprou-me uma bicicleta
nova.
— UMA BICICLETA?! — Em gritou. — Mas acabamos de comprar
uma bicicleta para você há seis meses!
— Esta aqui tem um chifre de unicórnio no guidão! — Bella começou
a soluçar. — Eu amo tanto ela!
Oh, merda...
Leah também começou a chorar. — Eu tenho cinquenta Barbies e não
vou devolvê-las!
— Cinquenta?! — A voz de Angela falhou.
— E eu tenho uma coleção de enciclopédia! — Ace fungou. — Já estou
na metade da letra A!
Angela e Em olharam das crianças chorando para mim. Eu ofereci um
sorriso vacilante.
Ok, então talvez parte do preconceito seja justificado.
Em minha defesa, o dinheiro sempre compra a minha felicidade.
— Ninguém vai ter que devolver nada, — disse Em, abraçando Bella.
— Mas podemos ter que trocar o cérebro do tio Xavier. Claramente está
com defeito.
Ela pegou alguns pratos dos armários e saiu para colocar a mesa da
sala de jantar.
— Vamos, crianças. Eu poderia usar um pouco de ajuda.
Leah, Ace e Bella enxugaram suas lágrimas, largaram seus brinquedos
e começaram a trabalhar. Parecia que estávamos fora de perigo.
Quando Angela foi até a gaveta de talheres, eu a puxei de lado.
— Ei, — eu perguntei com uma voz baixa. — Como foi com...?
Angela suspirou. — Nem me fale.
Eu fiz uma careta. — Tão ruim assim?
Ela balançou a cabeça tristemente e voltou para a gaveta.
Droga.
Eu odiava ver meu anjo tão chateado.
Eu a ajudei a tirar os talheres.
Mas eu queria muito que houvesse algo mais que eu pudesse fazer para
ajudar.

Poucos minutos depois, todos nós nos sentamos para jantar. Em e


Angela uniram forças em um delicioso espaguete à carbonara.
Por mais que eu gostasse da comida, a atmosfera estava um pouco
erm... deficiente.
As crianças Carson estavam em um impasse com Ken por causa da
questão da casa de repouso. Em estava chateada comigo por arruinar os
natais previsíveis de Bella. E as crianças realmente queriam voltar para
seus brinquedos. Todo mundo parecia tenso.
Eu encarei Ken do outro lado da mesa. O homem que me desafiou em
muitas das minhas besteiras ao longo dos anos. O homem que me
treinou para me tomar um homem melhor para Angela.
Sem o seu incentivo — ou talvez a falta dele — eu nunca teria
evoluído para o marido amoroso que me orgulhava de ser.
Eu não era perfeito. Mas fazia o possível para ser bom para minha
esposa e para ser o homem que ela queria que eu fosse.
Um plano começou a se formar em minha mente...
E pode ser simplesmente brilhante.
Eu limpei minha garganta.
— Então, Ken..., — comecei. — Sei que todo esse negócio de casa de
repouso é um ponto discutível agora. Mas tenho uma ideia que quero
jogar na sua direção.
— Xavier… — Angela começou. Eu bati em sua mão suavemente.
— Espere um minuto, querida, — eu disse, sorrindo para Ken. —
Porque você vai adorar isso.
Eu peguei Em revirando os olhos.
— Se isso envolver minha mudança para a Flórida, bonitão, nós
teremos problemas.
— E se, — eu comecei, — você morar comigo e com Angela? Temos
muito espaço. Você basicamente ainda estaria por conta própria. Mas
você sabe, com a família. As crianças vão adorar, e nós também.
A mesa estava silenciosa. Eu continuei
— Nós não dizemos isso o suficiente, Ken, mas bem... eu te amo.
Desde que meu pai morreu, você realmente tem sido uma figura paterna
para mim, do seu jeito. Eu quero te ajudar.
Eu olhei diretamente nos olhos dele.
— Então o que você diz? Eu sei que ainda é uma questão em aberto, e
eu respeito qualquer decisão que você tomar, mas sério — nossa casa é
sua casa.
Ken semicerrou os olhos para mim por um momento. Angela
interrompeu novamente.
— Xavier, querido
— Você sabe o quê? — Ken disse, interrompendo-a.
— Isso é realmente um grande plano.
Ele estendeu a mão sobre a mesa e sacudiu minha mão com um
grande sorriso.
— Aperta aqui, colega de quarto!
Colega de quarto.
Meu sogro acabou de me chamar de — colega de quarto Quando
apertamos as mãos, de repente vacilei.
Pego no drama familiar, eu acabei de pedir ao pai de Angela para
morar conosco.
Comigo.
Na frente de toda a maldita família.
Olhei para Angela, que estava me olhando como se eu fosse um
psicopata em um filme de terror.
Eu poderia ter empatia.
O que diabos eu acabei de fazer?!
Capítulo 9
Xavier e sua boca grande

ANGELA

As palavras de Xavier ricochetearam em meu cérebro durante toda a


viagem de volta a Connecticut: Nossa casa é sua casa.
Será que ele acabou de convidar meu pai para morar com a gente?
O que ele está pensando?
A família era mais importante para mim do que qualquer coisa. Eu
amava meu pai. Ele me criou sozinho, e ele foi um ombro para me apoiar
durante toda a minha vida adulta. Eu teria feito qualquer coisa por ele.
Caramba, eu até casei com um completo estranho para pagar suas contas
médicas.
Pelo menos funcionou...
Até AGORA.
Eu olhei para Xavier. Ele e Leah estavam brincando com barbies entre
os assentos enquanto Ace lia um livro sobre dinossauros sob a luz do
teto. O SUV estava absolutamente cheio com todos os brinquedos, jogos
e livros que Xavier os havia mimado durante sua pequena — ou melhor,
não tão pequena — Super Corrida de Brinquedos.
UGH. Por que meu marido tem que ser tão fofo?!
Eu quero ficar chateada com você!
Eu gostaria que Xavier tivesse, pelo menos, me consultado antes de
deixar escapar seu convite. Claro, tínhamos espaço e dinheiro para
sustentar outro membro da família na casa — especialmente alguém tão
amado quanto papai.
Mas esta era uma decisão importante na vida! Deveríamos fazer essas
coisas juntos!
O coração de Xavier estava no lugar certo, mas seu cérebro
certamente não.
Papai era bem-vindo para me visitar sempre que quisesse. Mas morar
conosco? Essa era uma história diferente.
O negócio de Xavier estava decolando. Eu estava sempre perseguindo
as crianças, e eu era coproprietária de uma empresa de produção de
eventos para a qual mal tinha tempo. Também procuramos priorizar
nosso relacionamento.
Xavier e eu mal tínhamos tempo suficiente um para o outro como as
coisas estavam. E agora com mais uma coisa pra se preocupar? Eu não
tinha certeza se poderíamos lidar com isso.
Queria que papai tivesse uma vida longa e boa.
Ele estaria muito melhor em uma boa comunidade de aposentados,
onde pudesse obter os cuidados adequados 24 horas por dia de que
eventualmente precisaria.
Eu teria alegremente me tomado sua cuidadora, mas não quando eu
tinha que ser esposa, mãe e dona de uma empresa ao mesmo tempo. Eu
não poderia dar a ele a atenção que ele merecia. Era fisicamente
impossível.
Talvez possamos arranjar uma enfermeira para morar com ele ou algo
assim?
Ugh. Isso é uma dor de cabeça.
Por que papai está tão ansioso para aceitar a oferta de Xavier?
Por que ninguém mais pensa nisso?
Meus irmãos foram um pouco rápidos demais em apoiar a ideia.
Fácil para eles — nenhum deles tinha espaço para o papai!
E as crianças...
Eles estavam cheios de entusiasmo. Eu estava preocupada em nunca
ser capaz de acalmá-los.
Fiquei olhando para a noite pela janela.
Todos pareciam gostar desse plano para o papai...
Todos menos eu.
— O vovô realmente vai morar com a gente? — Leah perguntou
enquanto eu colocava as cobertas até o queixo. Aninhada entre cerca de
uma dúzia de novos bichinhos de pelúcia, ela me deu um sorriso
esperançoso.
— Veremos, querida, — eu disse.
Leah franziu a testa. — Mas papai disse...
— Papai e eu precisamos discutir isso um pouco mais. — Beijei sua
testa e desci para o beliche de baixo para fazer a mesma coisa com Ace,
removendo o livro de suas mãos.
— Isso mesmo, — disse Xavier calmamente. — Papai pode ter... erm...
falado um pouco rápido demais.
— Mas o vovô é tão velho! — Leah disse. — Ele precisa de nós!
Xavier deu um beijo de boa noite nas crianças. Evitei seus olhos.
— Como a mamãe disse, vamos conversar, — disse Xavier. — Você não
precisa se preocupar com o vovô. Ele é duro na queda.
— Mas não quero que ele caia duro, — Ace apontou. — Podemos
molhá-lo no leite como fazemos com os cookies pra ele ficar mais mole.
— Sim, bem, não acho que vamos mergulhar o vovô no leite tão cedo.
— Xavier riu. Fomos para a porta.
— Boa noite, pessoal, — eu disse, apagando a luz quando saímos.
— Boa noite! — As crianças cantaram de volta.
Xavier e eu caminhamos pelo corredor em silêncio. Fiquei feliz em
ouvi-lo admitir que se precipitou ao convidar meu pai para morar
conosco.
Mas também não era exatamente o tipo de convite que poderíamos
rescindir.
Outra bela bagunça em que nos metemos.
— Sinto muito, — Xavier suspirou assim que voltamos para o quarto.
— Eu fiz papel de idiota na casa do seu pai. Eu não deveria ter dito nada
sem falar com você primeiro.
Eu me joguei na cama. Uma confirmação silenciosa.
Xavier franziu a testa. — Me perdoa?
Ele me deu seus olhos de cachorrinho mais tristes. Perturbado como
eu estava, meu coração deu um salto.
Como posso negar qualquer coisa a este homem?
Suspirei, mais uma vez vítima da beleza de meu marido.
— Claro que te perdoo, querido. Mas o que vamos fazer?
Eu deslizei na cama, abrindo espaço para Xavier se juntar a mim. Eu
me aconcheguei em seu ombro enquanto ele pegava minha mão. O
cheiro fresco de sua colônia me deixou mais à vontade.
— E se conseguirmos uma enfermeira para morar com ele? — Ele
sugeriu. — Pelo menos isso tiraria um pouco da pressão de nós.
— Eu pensei sobre isso, — eu disse. — Mas para ele, seria como uma
casa de repouso. Alguém se preocupando com ele, fazendo-o se sentir
velho e inútil. Ele se mudaria direto para Nova Jersey.
Eu respirei antes de continuar. — Eu amo o meu pai. E eu quero
ajudá-lo. Mas já estamos tão no limite.
— E mesmo se conseguirmos, eu me preocupo conosco. Sejamos
francos: espaço pessoal não é exatamente a sua praia. Ele vai ficar em
cima de nós. Muito.
Xavier acenou com a cabeça. — Olha, eu também não sou exatamente
louco por essa configuração. Mas Ken deixou bem claro que nunca vai
morar em um asilo.
Ele acariciou meu rosto. — Esta pode ser a única maneira de ajudá-lo
a viver seus anos dourados o máximo que puder.
Suspirei. Xavier estava certo.
Mesmo que ele tivesse aberto sua boca grande sem me consultar,
provavelmente teríamos chegado à mesma conclusão eventualmente.
Se meu pai não estava se mudando para uma casa de repouso, um de
seus filhos tinha que cuidar dele.
E eu era a única com recursos para fazer isso.
Mas eu teria a sanidade suficiente?
O toque de Xavier se tomou mais suave.
— E se você está preocupado conosco..., — disse ele. — Bem, não fique
assim. Sempre encontraremos tempo um para o outro. Você não tem
nada com o que se preocupar.
Suas palavras me encheram de calor.
Eu agarrei seu rosto e me levantei para um grande beijo. Minha língua
se conectou à dele e eu senti nossa velha eletricidade estalar e brilhar.
Minhas mãos desceram para o pescoço de Xavier, para sua camisa,
para o cós cada vez mais apertado de sua calça.
Eu adorava deixá-lo duro.
Enquanto eu apertava seu pau no tecido, Xavier se afastou de mim. Eu
procurei seu rosto, confusa.
— Qual é o problema?
Seus olhos dançaram com diversão.
— Acabei de ter uma ideia maluca.
Eu levantei uma sobrancelha.
— Se não envolve você fazer amor comigo, então não estou
interessada.
Xavier riu. Ele pegou minha mão e me puxou da cama.
— Apenas venha. Confie em mim.
XAVIER

Nossos pés descalços bateram no azulejo do mosaico enquanto


caminhávamos até a piscina.
Fomos dar um mergulho em nossa piscina coberta cerca de três vezes
desde que nos mudamos para a casa. Era um daqueles pontos de venda
exclusivos — como uma quadra de tênis ou um jardim Zen — que
parecia ótimo, mas nenhuma pessoa normal realmente usava.
Bem, eu tenho um uso parei isso esta noite.
Luzes subaquáticas iluminaram a água turquesa. A lua e as estrelas
cintilavam lá fora, visíveis através das portas de vidro deslizantes e das
enormes claraboias acima.
— Você quer fazer isso na piscina?
Eu olhei para Angela. Ela olhou para a água com olhos de corça. Ela
nunca foi exatamente do tipo aventureiro.
Isso pode precisar de um pouco de incentivo...
Eu beijei sua bochecha.
— Eu quero ir nadar pelado, — eu soltei. — E veremos o que acontece.
Comecei a desabotoar minha camisa. Angela coçou o pescoço.
— Vamos, querida, — eu insisti. — Quantas chances teremos de fazer
isso quando Ken chegar? Ele vai estar aqui esmagando cervejas todos os
dias.
Tirei minha camisa e avancei para as minhas calças.
Angela me observou ficar completamente pelado. Não fiz nenhum
movimento para esconder minha ereção crescente.
Eu sorri para ela, mergulhando meu dedo do pé na água morna.
— Mmmm, — eu disse com minha voz mais sedutora. — Tão
geladinha.
SPLASH!
Eu mergulhei, tocando o fundo antes de subir para respirar. As roupas
de Angela estavam meio encharcadas e eu podia ver cada linha de seu
corpo tentador.
Jesus Cristo, Angie.
Venha aqui para que eu possa te foder.
— Você me molhou! — Angela gritou, afastando-se da piscina.
Eu nadei para o lado.
— E eu vou deixar você muito mais molhada, — eu disse, com meus
olhos queimando nos dela, — se você entrar aqui.
O rosto de Angela ficou rosado.
— Tudo bem, — disse ela lentamente. — Você ganhou.
Ela tirou a blusa e a saia molhadas, revelando uma calcinha
incompatível por baixo. Sutiã branco. Calcinha preta.
Minhas cores favoritas.
Ela me provocou lentamente enquanto desabotoava o sutiã, fazendo-
me ficar completamente rígido sob a água.
Depois veio a calcinha.
Minhas mãos agarraram a beira da piscina com mais força.
Eu estava morrendo para ver sua buceta.
Ela foi na ponta dos pés até a borda, deixando-me admirar sua figura
dada por Deus antes de mergulhar ao meu lado. Ela parecia uma sereia
enquanto nadava até a parte rasa sob a água.
E estou prestes a dar a ela meu tridente.
Nadei até onde ela estava esperando na beira da piscina. A água subiu
para o pescoço. Eu fiquei na frente dela, beijando-a, pressionando meu
corpo duro no dela. Sua mão serpenteou para baixo e começou a me
acariciar, tortuosamente devagar na água densa.
Oh, Deus, sim...
Meus lábios deixaram os dela enquanto eu mergulhava minha cabeça
abaixo da superfície, sugando e acariciando seus seios incríveis. Eu a
senti se contorcer sob meu toque. Quando eu subi para respirar, ela
estava gemendo loucamente, com o som celestial reverberando ao redor
da piscina.
— Eu disse que você estaria molhada, — eu provoquei.
Angela riu e puxou meu pau para mais perto.
— Cale essa boca doce e me foda.
Sim, senhora.
Segurei o deque da piscina de cada lado dela enquanto ela me guiava
para dentro dela. A sensação foi estranha no início. Eu senti a umidade
de Angela inúmeras vezes, mas nunca debaixo d'agua.
Nosso ritmo começou lento enquanto nós dois nos ajustávamos à
nova sensação. Sexo com Angela era tão familiar, mas nossa piscina nos
deu uma maneira inteiramente nova de experimentar um ao outro.
E foi muito gostoso.
Eu peguei velocidade, metendo nela cada vez mais fundo.
Ela engasgou e choramingou, com suas pernas batendo na água ao
meu lado enquanto ela se aproximava de um pico.
— Não pare... — ela implorou. — Não pare por nada...
— Sem problemas, — eu bufei, perto da borda também.
Eu colidi com ela uma última vez e descarreguei, vendo estrelas nas
estrelas enquanto me perdia no prazer. Pela maneira como Angela se
contorceu, eu poderia dizer que a enchi bem.
— Meu Deus, querida, — eu ofeguei. — Isso foi... Isso foi...
— Eu sei, — Angela respirou, e beijou meu nariz. — Mas agora é
minha vez.
— Mas é claro, — eu disse com um sorriso. — Onde estão minhas
maneiras?
ANGELA

Eu me levantei e sentei minha bunda nua na beira da piscina. Meus


pés balançavam na água quando Xavier abriu meus joelhos.
Meus dedos exploraram seu cabelo escuro e molhado enquanto ele
trabalhava em mim. Eu sentia como se estivesse sendo comida por um
tritão.
E isso estava me deixando louca.
Minhas mãos deslizaram sobre seus ombros lisos e musculosos
enquanto sua língua fazia círculos enlouquecedores em tomo de minhas
dobras. Ele estava me deixando em um frenesi.
— Ai, caralho, — eu gemi, com meu peito arfando.
— Xavier, eu vou...
Sua língua deslizou sobre meu clitóris.
OH. MEU—
— Uggghhhh! — Eu gemi quando meu prazer transbordou. Xavier
segurou minhas mãos trêmulas enquanto minha cabeça, coração e vagina
latejavam em uma feliz união.
O que eu fiz para acabar com esse monstro marinho sexy?
Depois de um ou dois minutos de respirações calmantes, voltei para a
piscina. Xavier e eu trocamos beijos suaves nos braços um do outro
enquanto eu tentava esquecer os líquidos que tínhamos adicionado à
água.
Precisamos limpar isso o mais rápido possível!
Nós nadamos até o fundo da piscina, dando voltas preguiçosas
enquanto subíamos...
E preparados para mais.
Por que não?
Tínhamos acabado de fazer o sexo mais emocionante de nossas vidas,
e eu queria ter meu marido a noite toda, se pudesse.
Porque com o papai se mudando... e mais as crianças...
Quantas mais chances teremos de ser íntimos assim de novo?
Nossas vidas estavam prestes a mudar...
Mas para melhor ou para pior...
Eu não tinha certeza.
Capítulo 10
Mudança

XAVIER

— Um pouco para a esquerda... esquerda... esquerda...


esquerda... PERFEITO!
BAM!
Danny e Lucas largaram o sofá no chão de madeira. Eu estremeci com
a falta de delicadeza, mas escolhi segurar minha língua. Eles tiveram um
longo dia.
Nós todos tivemos.
Ken estava se mudando e, embora eu tivesse oferecido contratar uma
equipe de profissionais, ele foi inflexível em alistar seus dois filhos.
— Tenho muitos objetos de valor, garota, — ele me disse ao telefone.
— Como vou confiar meus bens valiosos a um bando de carregadores? E
um negócio todo em dinheiro. Você não tem ideia de onde esses caras
vêm.
Ken tinha dirigido o tráfego desde que o caminhão apareceu na hora
do almoço (sanduíches por toda parte), movendo — ou melhor, fazendo
Danny e Lucas se moverem — tudo para seu novo quarto e banheiro,
enquanto, ao mesmo tempo, redecorava o resto da casa.
Não que tenhamos pedido a ele.
— Eu só quero me sentir em casa, — ele me disse quando os meninos
começaram a colocar fotos antigas da família Carson.
— É claro, — eu respondi, olhando para uma foto adorável de Angela
em suas vestes de formatura em Harvard. — Mi casa es su casa.
Mas então Danny e Lucas penduraram uma pintura de cães jogadores
de pôquer na cozinha.
E instalei um daqueles peixes Billy Bass cantando no banheiro
principal.
Cadeiras de gramado xadrez dos anos 80 se juntaram aos nossos
móveis de piscina Williams Sonoma.
E agora Ken estava instalando seu sofá em nossa grande sala.
— Foi realmente necessário trazer aquela coisa? — Eu disse enquanto
Ken se aninhava na cadeira com um pacote de seis cervejas leves. Danny
e Lucas se juntaram a ele.
— Essa coisa está comigo há quase trinta e cinco anos, — disse Ken,
dando um tapinha nas almofadas manchadas e remendadas.
O sofá parecia ter passado por uma guerra. Era difícil discernir qual
era a cor original, mas tinha se acomodado em um tom que lembrava o
ketchup deixado na geladeira por muito tempo. Desnecessário dizer que
ele contrastava com os brancos imaculados da grande sala.
Algo deve ser feito...
Quando abri minha boca para falar, Ken atirou uma cerveja em mim.
Eu mal a peguei. Se meus reflexos não fossem tão bons, poderia
facilmente ter colidido com a TV de tela plana atrás de mim.
— Tudo bem, meninos. Agora que me mudei, vamos fazer um brinde
ao senhorio. — Ken e seus filhos abriram suas cervejas e as ergueram no
ar. — Eu realmente agradeço por isso, garoto. Viver a boa vida vai ser
doce... especialmente com a família.
— E isso aí, — disse Danny.
Eu sorri fracamente, abrindo minha própria cerveja e tomando um
gole.
Talvez isso não seja tão ruim...
— Merda! — Lucas gritou. — Pai, você está derramando no chão!
Eu olhei para ver uma poça de cerveja aos pés de Ken.
Uma poça de cerveja cobrindo um tapete persa de dez mil dólares.
— Xavier, onde estão as toalhas de papel? — Ken perguntou,
levantando-se de um salto.
Tentei conter a raiva explodindo dentro de mim.
Lembre-se, Xavier: esta ideia foi SUA.
— Tudo terminado? — Angela perguntou, entrando na sala. Eu
imediatamente me senti mais à vontade.
à Á
NÃO HÁ QUALQUER CHANCE de que ela aceite este sofá.
— Finalmente, — disse Danny, tomando outro gole de sua cerveja.
Angela ficou ao meu lado e olhou para o sofá. Ela olhou para mim.
Diga alguma coisa! Meus olhos insistiram. DIGA ALGO!
— Pai, — Angela começou. — Você tem que se livrar desse sofá.
Naquele momento, amei minha esposa mais do que antes.
— De jeito nenhum! — Ken disse. — Um homem não é nada sem seu
sofá. Certo, capitão?
Suspirei. — Na verdade, Ken, estou do lado de Angela. Ele pertence a
um aterro sanitário, não à nossa sala de estar.
Ken cruzou os braços. — Aonde eu vou, o sofá vai.
Angela revirou os olhos. — Pai, é só um móvel!
— É meu amuleto da sorte! Você sabe quantos jogos do Giants eu vi
deste sofá? Quantos touchdowns eu vi? Quanto você vai ver?
Angela me contou sobre sua aposta com Ken. Eu só pude me encolher
quando ouvi isso.
Boa sorte, esposa.
— Para ser justo, pai, nós vimos muitos problemas neste sofá também,
— Lucas apontou.
Ken suspirou. As molas do sofá rangeram ruidosamente quando ele se
sentou novamente. Ele olhou ao redor da nossa sala de estar, que poderia
estar na capa de Martha Stewart Living.
Pensando bem, estava.
— Tudo bem, tudo bem. Deixe-me pensar sobre isso.
Angela se aproximou e deu um grande beijo na bochecha de Ken.
— Obrigada, pai.
Ela fez uma careta, olhou para baixo e percebeu a poça em que pisou.
Ken parecia envergonhado.
— Oh, sim. Eu derramei um pouco de cerveja.
Angela deu um sorriso tenso.
— Nada que não possamos consertar. Venha para a cozinha e
arranjaremos algo para limpar. Eu também fiz alguns lanches para vocês.
— Agora você está falando a minha língua, — disse Danny,
levantando-se do sofá.
Na cozinha, Angela preparou um pequeno bufê — carnes italianas,
queijos sofisticados, frutas e vegetais. As crianças vieram lá de fora. Todos
se sentaram ao redor do balcão conversando e rindo, curtindo a
companhia uns dos outros.
Eu estava tão ocupado com o Selo X ultimamente que não tinha tido
muito tempo para a família. No mês desde que recebemos o patrocínio
do Grand Prix de Bruxelas, Al e eu trabalhamos sem parar para garantir
que nossa empresa estivesse bem representada no evento.
Claro, nosso logotipo estaria em todos os lugares — mas tínhamos de
nos certificar de que não estávamos nos jogando na cara dos
participantes da corrida. Nossa presença tinha que ser sutil, saborosa e
inesquecível — assim como nosso uísque.
Mas, neste caso, não tínhamos um ingrediente secreto.
Observei Ken fazer caretas para as crianças e fingir que enfiava uma
azeitona no nariz. Ace e Leah riram loucamente quando seus tios
começaram a fazer cócegas neles.
Mesmo que demorasse um pouco para se acostumar com o arranjo, eu
gostava que Ken estivesse morando conosco. Nossa nova dinâmica
deixaria Angela mais próxima de sua família do que há muito tempo, e eu
teria a oportunidade de conhecer os Carson melhor do que nunca.
Poderíamos hospedar feriados, eventos especiais, jantares — qualquer
coisa que Angela quisesse.
Mas eu teria que encontrar um equilíbrio melhor entre minha vida
doméstica e o que estava fazendo com o Selo X.
Caso contrário, eu estaria perdendo tudo isso.
Espero que as coisas fiquem mais fáceis depois do Grand Prix.
BZZZ. BZZZ.
Meu telefone vibrou no meu bolso.
Eu tinha certeza de que o dever estava chamando.
Mas, ao verificar a tela, vi textos de um número desconhecido.
Desconhecido: Olá, Xavier Desconhecido: Sam O'Malley aqui
Desconhecido: Minha irmã e eu estamos em Nova York a
negócios Desconhecido: Você e seu parceiro Al podem nos
encontrar para um drink hoje à noite?
Eu fiz uma careta para a tela.
Os O'Malleys querem nos encontrar? Depois de vencê-los no acordo
de patrocínio?
Por quê?
Eles estão tramando algo obscuro?
No entanto, eu seria um idiota se dissesse não. Eles eram alguns dos
maiores peixes da indústria do uísque, enquanto eu estava entre os
menores. Eu não queria insultá-los — de novo.
Xavier: Oi, Sam

Xavier: Adoraria te encontrar esta noite. Quando e onde?

Desconhecido: Maravilhoso Desconhecido: Vamos nos encontrar


na Byrne's Tavern no Upper East Side Desconhecido: 20h Xavier:
Até então Eu coloquei meu telefone de lado.

Eu estaria bebendo naquela noite com algumas das pessoas mais


poderosas do licor.
O que eles querem? Eu me perguntei.
Coloquei um pouco de patê de presunto em uma torrada e tentei
voltar a brincar com a minha família em tomo do balcão da cozinha.
Mas minha mente estava constantemente girando...
Estou fodi do?
ANGELA

Depois do nosso lanche, Danny e Lucas decolaram com o caminhão


de mudança. Xavier também se preparou para partir. Ele tinha uma
reunião de última hora marcada na cidade e queria se encontrar com Al
para se preparar.
— Mas é sábado, — protestei enquanto o observava se vestir em nosso
closet. — Quem se encontra em um sábado?
Durante todo o mês, Xavier esteve ocupado colocando tudo em
ordem com o Grand Prix de Bruxelas, que estava chegando.
Quase não passávamos tempo juntos.
E agora que papai oficialmente se mudou...
Eu estava ávida por qualquer momento que pudéssemos compartilhar.
Xavier terminou de abotoar a camisa e vestiu um blazer de linho. Ele
era a imagem do verão fresco.
Ele me beijou. Eu me abaixei.
— Sinto muito, querida, — disse ele. — Mas quando os O'Malleys
ligam, eu tenho que ir correndo. Eles são os maiores do ramo.
— Ok, — eu disse mal-humorada. — Não volte para casa tarde
demais.
— Vou fazer o meu melhor. — Xavier disse, me dando outro beijo. Isso
levantou meu ânimo um pouco mais.
Desci com ele as escadas e nos despedimos quando ele encontrou
Marco na frente da casa e partiu para Nova York.
Voltei para dentro, procurando papai e as crianças, mas o velho sofá
estava vazio.
Talvez agora seja uma boa hora para queimá-lo.
Lutando contra a vontade, segui o som de vozes até o quintal, onde
papai e as crianças estavam curvados sobre o pequeno pedaço de terra
que havíamos preparado. A luz do sol em seu crepúsculo os fazia parecer
modelos de capa para um livro de jardinagem familiar.
Meu pai queria transplantar suas flores aqui para Connecticut, e meus
irmãos tiveram um cuidado extra para garantir que cada vaso chegasse
em segurança.
— Não vou deixar ninguém para trás! — Ele me disse.
E agora, eu estava vendo o que ele quis dizer com isso.
— Então, você tira as flores com cuidado do vaso... — Papai
demonstrou com algumas begônias vermelhas enquanto eu me
esgueirava por trás delas. Ele cavou no pote de plástico com a espátula e
retirou a planta com cuidado.
— Vê as raízes? — Ele disse. Leah e Ace ficaram maravilhados.
— E assim que as plantas comem! — Ace disse.
— Sim, mais ou menos, — concordou papai. — E esta planta está
acostumada a uma dieta de água, luz solar e terra de Nova Jersey.
Ele enfiou a planta em um dos buracos que havia feito no chão.
— Mas agora, ela está testando Connecticut para ver se fica bem.
— Ela vai adorar! — Leah disse.
Papai deu uma risadinha. — Espero que sim.
Ele preencheu o buraco com a espátula.
— Ace, dê a ela um pouco de bebida.
Ace pegou o regador velho de papai e borrifou as flores. As pétalas
brilharam ao sol.
— Vocês querem colocar a próxima?
— SIM! — As crianças gritaram.
Awwwww...
Ter papai por perto era tão bom.
Talvez eu tenha sido um pouco rápida demais em pensar o pior.
Além do mais...
Se Xavier estava muito ocupado para ajudar com as crianças, pelo
menos eu tinha meu pai.
— Parece que vocês estão se divertindo, — eu disse, agachando-me
perto do canteiro do jardim.
— Vovó está nos mostrando como plantar flores, — disse Ace. — É
fascinante!
— Você faz a próxima, mamãe! — Leah disse, trazendo-me outro pote
plástico de begônias. — Quer que lhe mostremos como?
— Claro, — eu sorri.
XAVIER

— Boa noite! — Sam O'Malley disse alegremente quando um garçom


trouxe a mim e a Al para a mesa. Sally se sentou em frente a ele e
encontrou meus olhos com um sorriso gentil.
Huh. Isso é estranho.
Por que eles estão sendo tão legais?
A Byrne's Tavern foi construída há 150 anos. Era uma instituição
irlandesa-americana. O bar mal iluminado cheirava a dinheiro, história e,
claro...
O'Malley Irish Whiskey.
Havia velhas garrafas e barris por toda parte. Fotos em preto e branco
da destilaria. Fotos policiais de contrabandistas.
O uísque estava praticamente pingando das torneiras.
Al e eu nos sentamos à mesa.
— O que posso pegar para vocês beberem? — O garçom perguntou.
Só há uma resposta para essa pergunta.
— Vou querer um O'Malley. Puro, — eu disse.
— Vou querer o mesmo, — disse Al.
Os O'Malleys sorriram.
Mais uma vez, caí nas mãos deles.
Esses dois me deram uma lição em Bruxelas. Agora eles estavam
olhando para mim e Al como velhos amigos.
— Obrigado por nos encontrar em tão pouco tempo, — Sam
começou. — Em primeiro lugar, gostaria de me desculpar por nosso
comportamento em Bruxelas. — Ele olhou para Sally. — Minha irmã e eu
conhecíamos o Selo X, mas não havíamos feito a devida diligência.
— Vocês dois realmente fizeram um produto de qualidade, —
acrescentou Sally. — E claramente não somos os únicos que pensam
assim.
— Sem ressentimentos? — Sam perguntou.
Uau. Os O'Malleys estão se desculpando? Para mim?
Isso deve significar que eles estão nos levando a sério.
Quero dizer, eles deveriam estar. Somos a bebida oficial do Grand Prix de
Bruxelas.
Mas puta merda.
Isso pode ser tão grande quanto.
Eu olhei para Al.
— Sem ressentimentos, — eu disse. — Vamos esquecer Bruxelas e
começar de novo.
— Somos seus grandes ãs, — disse Al. — E adoraríamos ser amigos
também.
— Um brinde a isso, — disse Sally quando o garçom chegou com
nossas bebidas. Todos nós erguemos nossos copos em um brinde.
Clink!
Bebi meu uísque. Estava gostando mais do sabor — uma leve mistura
de pinho e enfumaçado — mas eu tinha de admitir...
O Selo X era muito mais saboroso.
— Então nos diga, qual é o seu segredo? — Sam perguntou. — O Selo
X é diferente de qualquer uísque americano que já bebi. E você nem
mesmo produz no país do uísque adequado!
Al deu de ombros, mantendo sua resposta cautelosa. — Adquirimos
todos os nossos grãos de agricultores orgânicos locais.
— Mas vocês não são os únicos a fazer uísque orgânico, — disse Sally.
— Bem, claro, — disse Al. — Mas sobre o que você está perguntando
então? Nossa receita?
Os O'Malleys riram nervosamente. — Oh, não, não, — disse Sam. —
Ela não está perguntando nada disso. Minha irmã está pensando em voz
alta, tenho certeza. E muito surpreendente ver um uísque do Brooklyn
ficar tão famoso.
— Bem, — eu disse, — os tempos estão mudando. Kentucky não é o
único lugar na América onde você pode conseguir um bom bourbon. Por
que o Tennessee deve ser o único lugar onde você pode obter um bom
uísque?
— Acho que você está se esquecendo da Irlanda, — disse Sally com
uma piscadela.
Todos nós rimos.
— Claro! — Eu adicionei rapidamente. — Como eu poderia esquecer!
— Ouça, — disse Sam, com sua voz diminuindo de repente. — Uma
das razões pelas quais queríamos nos encontrar esta noite é, bem...
minha irmã e eu temos uma proposta.
— Sim, — disse Sally, profissionalmente. — Gostaríamos de comprar o
Selo X.
Meus olhos quase saltaram da minha cabeça.
Que diabos?!
O'Malley Irish Whiskey quer adquirir o pequeno Selo X?
Isso é definitivamente um elogio...
Mas qual é a oferta?
— Nunca falamos realmente sobre vender, — disse Al, parecendo
nervoso. — Quero dizer, o Selo X ainda é um bebê. Estamos apenas
engatinhando agora...
— Não seja tão modesto, Al, — disse Sam. — O Selo X está
patrocinando o Grand Prix de Bruxelas. Em vez de nós. A indústria já está
comentando sobre o que você construiu até agora. E queremos ajudá-lo a
levar isso para o próximo estágio.
Al olhou para mim, avaliando minha reação.
Meus olhos se estreitaram.
Levar-nos para o próximo estágio...
Você quer dizer comprar a concorrência.
Acariciei meu queixo pensativamente, sem revelar nada.
Explorando o silêncio, Sam tirou um bloco de notas e uma caneta do
bolso.
— Tome seu tempo para pensar sobre isso. — Ele rabiscou algo no
bloco. — Mas, enquanto isso, vou te dar um número, para que você tenha
uma ideia de quanto vale para nós.
Ele arrancou a página e a deslizou para nós.
Eu li o número.
E quase deixei transparecer minha cara de pau.
Eu não tinha visto tantos zeros desde, bem... ok, meu extrato bancário
mensal.
Mas eu não tinha ideia que o Selo X pudesse valer tanto.
O suficiente para tomar Al um homem rico e eu significativamente
mais rico.
Mas poderíamos realmente vender nosso orgulho e alegria? Nosso
bebê?
Eu olhei para Al novamente. Ele parecia tão ansioso quanto eu.
O que devemos fazer?
Continua no Livro 7…
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1
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