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Tema: A violência doméstica contra a mulher: A ineficácia das medidas protetivas de

urgência previstas na lei n˚ 29/2009, de 29 de Setembro

Contextualização
A violência exercida contra a mulher é um fenômeno universal que persiste em todos os
países do mundo. As vítimas dessa violência conhecem, frequentemente, bem seus
autores. A violência doméstica, em particular, continua sendo terrivelmente comum e é
aceita como normal em várias sociedades do mundo (OMS, 2005).

De acordo com a Declaração das Nações Unidas, de 1949, sobre a Violência Contra a
Mulher, aprovada pela Conferência de Viena em 1993, a violência se constitui em “[...]
todo e qualquer ato embasado em uma situação de gênero, na vida pública ou privada,
que tenha como resultado dano de natureza física, sexual ou psicológica, incluindo
ameaças, coerção ou a privação arbitrária da liberdade.” (ADEODATO, 2006, p.2).

A violência doméstica contra a mulher recebe esta denominação por ocorrer dentro do
lar, e o agressor ser, geralmente, alguém que já manteve, ou ainda mantém, uma relação
íntima com a vítima. Pode se caracterizar de diversos modos, desde marcas visíveis no
corpo, caracterizando a violência física, até formas mais sutis, porém não menos
importantes, como a violência psicológica, que traz danos significativos à estrutura
emocional da mulher.

Segundo Dias (2010), pesquisas estimam que 90% das mulheres vítimas de algum tipo
de agressão em ambiente doméstico não relatam a experiência vivenciada às autoridades
policiais. Esse fato muitas vezes está relacionado à falsa ideia por parte da vítima de que
o perpetrador da agressão tenda a mudar o comportamento. Além disso, em muitos casos
existe uma dependência financeira por parte da agredida em relação ao agressor, ou ainda
não são raros os casos em que a denúncia não ocorre em razão do laço familiar.
Problematização

A violência doméstica contra as mulheres é um problema de saúde pública que afeta todas
as cidades moçambicanas. A Lei contra a violência doméstica em Moçambique, foi
aprovada em 2009, pela Assembleia da República de Moçambique. No entanto, em
Moçambique pouco se investiga sobre o impacto da Lei contra a violência doméstica (Lei
nº29/2009). A violência doméstica é um dos mais graves problemas que a sociedade
contemporânea enfrenta é uma forma de violência que não conhece fronteiras, nem
obedece a princípios ou leis. Ocorre diariamente em Moçambique e noutros países, apesar
de existir um quadro constitucional e legal que veio introduzir vários mecanismos de
protecção dos direitos humanos, em especial de protecção dos direitos da mulher e da
criança. Não obstante a Constituição da República ter consagrado como alguns dos
princípios fundamentais do Estado moçambicano (cfr. Artigos 3 e 11, alínea e) C.R.M.),
“o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem; a defesa e a
promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a lei e, como direito
fundamental, a igualdade de género”, ao plasmar no artigo 36, a igualdade do homem e
da mulher perante a lei.

Conclusões revelaram uma fragilidade da aplicação da lei em conduzir de forma efetiva


a redução dos casos da violência doméstica e destaca-se, como desafio a necessidade de
capacitar permanentemente os Operadores Jurídicos, considerando a multiplicidade de
aspectos culturais envolvidos nas práticas jurídicas e no cotidiano da violência doméstico.

Ora, a Lei nº 29/2009 prevê a aplicação das medidas cautelares, que têm o condão de
autênticas medidas de segurança sem indicar o tempo de duração; sem determinar se será
na sentença condenatória ou no decurso da instrução preparatória, ou antes do julgamento
com decisão judicial definitiva – sendo o caso de processo sumário-crime , e sem apontar
se todas elas são passíveis de determinação no âmbito da acção penal, diferentemente do
regime estabelecido sobre as medidas de segurança no Código Penal, maxime, nos artigos
70 e 71, que é claro sobre as condições de aplicação das ali previstas.

A falta destes elementos de dosimetria e de limitação, pode dar azo a que o tribunal seja
colocado na condição de aplicar aquelas medidas por tempo ilimitado, e actuar com total
discricionariedade, ao arrepio dos apontados princípios constitucionais e dos princípios
gerais do direito penal e do direito processual penal. Entendo tratar-se de uma disposição
“desamparada” e “solitária”, que clama por melhor concretização através duma revisão
legislativa.

Diante disso importa colocar para objecto de reflexao a seguinte questao de partida:

➢ Até que ponto a ineficácia das medidas protetivas de urgência previstas na lei
n˚ 29/2009, de 29 de Setembro previne a ocorrência da violência domestica e
protege a mulher contra a violência doméstica em Moçambique?

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