Você está na página 1de 2

Protocolo nº 39851.92.2011.8.09.

0112

7) A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a


sua vigência é anterior à cessação da continuidade delitiva ou da permanência.

Sabe-se que, em regra, a nova lei que, de qualquer modo, prejudica o réu (lex gravior) é
irretroativa, devendo ser aplicada a lei vigente quando do tempo do crime. Trata-se, como
na hipótese da novatio legis incriminadora, de observância da lei ao princípio da
anterioridade, corolário do princípio da legalidade. A título de exemplo, devemos lembrar
que, no ano de 2010, a Lei nº 12.234 aumentou de 2 (dois) para 3 (três) anos o prazo da
prescrição (causa extintiva da punibilidade) para crimes com pena máxima inferior a 1 (um)
ano. Como esta alteração legislativa é prejudicial ao réu, a lei não poderá ser aplicada aos
crimes praticados antes da sua entrada em vigor. A lei anterior, apesar de revogada, será
ultra-ativa, aplicada em detrimento da lei nova (vigente na data do julgamento).

Surge, no entanto, uma dúvida a respeito da lei que deve ser aplicada quando, no decorrer
da prática de um crime permanente ou continuado, sobrevém lei mais grave.

De forma sintética, é preciso entender que o crime permanente é aquele cuja consumação
se prolonga no tempo. No crime de sequestro (art. 148, CP), por exemplo, enquanto a
vítima não for libertada, a consumação se protrai. Por sua vez, o crime continuado, como já
vimos, é uma ficção jurídica através da qual, por motivos de política criminal, dois ou mais
crimes da mesma espécie e praticados em condições semelhantes devem ser tratados,
para fins da pena, como crime único, majorando-se a pena.

De acordo com a súmula nº 711 do STF, nessas situações “A lei penal mais grave aplica-se
ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência”.

Sobre a súmula, Paulo Queiroz aponta que, tratando-se do crime continuado, a aplicação
da lei mais grave a toda a cadeia de delitos é inconstitucional, pois, irradiando-se a pena
mais grave aos delitos anteriores, inverte-se a lógica da continuidade delitiva, em que o
último delito é havido como continuação do primeiro, não o contrário, o que viola o princípio
da legalidade. De acordo com o autor, o agente, “ao invés de responder por vários crimes
em concurso material, deve responder por um único delito, o mais grave, se diversos, com
aumento de um sexto a dois terços. Portanto, os crimes subsequentes só têm relevância
jurídico-penal para efeito de individualização judicial da pena: escolha da pena mais grave
(quando diversas as infrações) e fixação do respectivo aumento, pois o primeiro crime
prevalece sobre todos os demais como se estes simplesmente não existissem, exceto para
efeito de aplicação da pena”.

Você também pode gostar