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UNIVERSIDADE​ ​FEDERAL​ ​DE​ ​ALAGOAS

FACULDADE​ ​DE​ ​DIREITO​ ​DE​ ​ALAGOAS


DISCIPLINA:​ ​DIREITO​ ​EMPRESARIAL​ ​1

4-​ ​O​ ​COMERCIANTE/EMPRESÁRIO​ ​NO​ ​DIREITO​ ​BRASILEIRO

4.1- ORIGEM​ ​DA​ ​PALAVRA​ ​COMERCIANTE

Historicamente ​se buscou ligar a figura do comerciante à prática dos chamados atos
de​ ​comércio​​ ​e​ ​estes​ ​à​ ​manufatura​ ​e​ ​à​ ​distribuição​ ​das​ ​mercadorias​.

Da noção de comércio surgem três elementos jurídicos: ​a mediação, o fim lucrativo e a


profissionalidade.

A palavra comerciante generalizou-se após a promulgação do ​Código Comercial Francês


de 1807 (que dizia que ​eram comerciantes aqueles que exerciam atos de comércio e dele
faziam​ ​profissão​ ​habitual​).

Utilizava-se antes o termo ​commercium com significado geral, abrangendo o comércio


terrestre e o marítimo, usando-se para que exercitasse o comércio as expressões ​MERCATOR
e​ ​NEGOTIATOR.

4.2-​ ​SISTEMAS​ ​QUALIFICADORES​ ​DA​ ​FIGURA​ ​DO​ ​COMERCIANTE

Foram a história e lei que traçaram a verdadeira distinção entre os atos do comércio e os
atos​ ​civis.

Na tentativa de definir no passado quem poderia ser considerado comerciante, existiam


vários sistemas legislativos que guiavam os juristas na tentativa de defini-lo. Dentre estes
sistemas legislativos ocidentais, que buscam definir os requisitos necessários para tipificar
alguém​ ​como​ ​comerciante,​ ​podemos​ ​citar:

4.2.1- Sistema francês (Código Comercial de 1807 – Cód. Napoleônico) adotou o critério
objetivo ou real (​foi seguido por vários códigos, como o italiano, o holandês, o austríaco
e o português de 1829) Esse sistema definiu os atos praticados por esses mercadores
como​ ​caracterizadores​ ​de​ ​sua​ ​profissão.

Código Francês (1807, art. 1°): “São comerciantes aqueles que exercem
atos​ ​de​ ​comércio​ ​e​ ​deles​ ​fazem​ ​profissão​ ​habitual​”.

Mas a critica que se faz é ​que a profissão não se confunde com o hábito
de comercializar​, pois a profissão é a atividade pela qual o indivíduo
obtém​ ​seus​ ​meios​ ​de​ ​vida.
4.2.2- Sistema​ ​italiano​ ​–​ ​Cód.​ ​Civil​ ​de​ ​1942.

Substituiu a figura do comerciante ​pela do empresário​. (que é que ​exerce


profissionalmente uma atividade econômica organizada destinada à produção ou troca
de​ ​bens​ ​ou​ ​serviços​).

4.2.3- Sistema​ ​espanhol​ ​–​ ​É​ ​um​ ​Sistema​ ​Eclético​ ​-​ ​Código​ ​de​ ​1829

Considera​ ​a​ ​capacidade​ ​do​ ​agente​,​ ​a​ ​obrigatoriedade​ ​do​ ​registro​​ ​e​ ​a​ ​habitualidade​.

Enquanto o sistema francês faz repousar o critério de qualificação de comerciante


sobre (e apenas) o ​exercício profissional e habitual de atos de comércio, ​o Código
espanhol​ ​de​ ​1829​ ​o​ ​assenta​ ​sobre​ ​a​ ​matrícula​ ​e​ ​sobre​ ​o​ ​exercício​ ​profissional​:

“São comerciantes os que, tendo capacidade legal para exercer o


comércio, tenham-se inscritos, isto é, tenham matrícula de
comerciantes,​ ​e​ ​se​ ​dedicam​ ​a​ ​ele​ ​de​ ​forma​ ​habitual​ ​e​ ​ordinária”.

Hoje, porém, o Código Espanhol abandonou a ​matrícula, ​situando a qualificação


apenas​ ​na​ ​prática​ ​habitual​ ​do​ ​comércio:

“São comerciantes os que, tendo capacidade legal para exercer o


comércio,​ ​se​ ​dedicam​ ​a​ ​ele​ ​habitualmente”.

OBS​ ​influenciou​ ​o​ ​Cód.​ ​Português​ ​de​ ​1833.

4.2.4- Sistema​ ​alemão​ ​–​ ​Código​ ​de​ ​1897

Diz​ ​o​ ​preceito:


“Comerciante ​é aquele que exerce uma atividade comercial​. É considerada
como exercendo uma atividade ​comercial toda empresa profissional que tem
por objeto uma das categorias de negócios​, tais como, aquisição e a revenda
de coisas móveis (mercadorias) ou de valores móveis, sem distinguir se as
mercadorias serão revendidas sem modificação ou após modificação ou
trabalho.”

-​ ​Admite​ ​três​ ​tipos​ ​(categorias)​ ​de​ ​comerciantes

- Forçados ​(Musskaufleute) ​– aquele que exploram atividade enumerada como


mercantil​ ​em​ ​lei​ ​(ex.​ ​transporte​ ​de​ ​pessoas​ ​ou​ ​mercadorias​ ​pela​ ​via​ ​marítima)
- por inscrição ou matrícula (Sollkaufleute)- ainda que não tenham uma
atividade comercial, se estiverem inscritos no Registro do Comércio são
comerciantes.
- Facultativos ou por opção (Kannkaufleute) - podem adquirir a qualidade de
comerciantes​ ​(ex.​ ​agricultor,​ ​pecuarista​ ​e​ ​o​ ​silvicultor)
4.2.5-​ ​Sistema​ ​Brasileiro​ ​–​ ​Cód.​ ​Comercial​ ​de​ ​1850

Seguiu o sistema francês​, pois ​exigia o exercício profissional do comércio e a


matrícula,​ ​esta​ ​apenas​ ​como​ ​forma​ ​de​ ​atribuir​ ​ao​ ​comerciante​ ​proteção​ ​legal.

Embora não tenha definido o comerciante, estabeleceu requisitos para a sua


qualificação:
- Capacidade​ ​Jurídica
- Ausência​ ​de​ ​proibição​ ​legal
- Matrícula
- Exercício​ ​profissional​ ​da​ ​mercancia.

OBS: No Brasil, pela inexistência de definição legal expressa, cabe á doutrina e à jurisprudência
elaborarem​ ​o​ ​conceito​ ​de​ ​comerciante.

4.3-​ ​O​ ​CONCEITO​ ​DE​ ​COMERCIANTE​ ​NO​ ​DIREITO​ ​BRASILEIRO

Como o nosso código não definiu comerciante, cabe à doutrina e à jurisprudência a


definição​ ​do​ ​conceito​ ​legal​ ​de​ ​comerciante.

O conceito de comerciante é uma das coisas mais difíceis do Direito Comercial. Inexiste
modernamente uma definição que atenda a todas as correntes doutrinárias, às quais, na falta
de um conceito moderno aceitável, debatem-se em questões históricas ou em definições legais
que​ ​foram​ ​surgindo​ ​ao​ ​longo​ ​da​ ​história​ ​do​ ​comércio.

Historicamente sempre se buscou associar a figura do comerciante com ao


exercício​ ​de​ ​atos​ ​de​ ​comércio​ ​e​ ​estes​ ​à​ ​manufatura​ ​e​ ​à​ ​distribuição​ ​das​ ​mercadorias.

Rubens Requião, citando Vidari, transcreve o conceito de comércio formulado por esse
ilustre​ ​estudioso​ ​do​ ​direito,​ ​nos​ ​seguintes​ ​termos:

“É o complexo de atos de intromissão entre o produtor e o consumidor que,


exercidos habitualmente e com fim de lucro, realizam, promovem ou facilitam a
circulação dos produtos da natureza e da indústria, para tornar mais fácil e pronta a
procura​ ​e​ ​a​ ​oferta”​ 1​ .

Vê-se que no conceito de Vidari a presença de três elementos jurídicos que somados
indicam​ ​o​ ​que​ ​seja​ ​um​ ​comerciante,​ ​quais​ ​sejam:

- mediação;
- fim​ ​lucrativo;

1
​ ​Curso​ ​de​ ​Direito​ ​Comercial,​ ​Ed.​ ​Saraiva,​ ​2ª​ ​edição,​ ​p.3.
- profissionalidade;

Estes são os elementos que aparecem na maioria das definições clássicas de


comerciante, ​uma vez que elas consideram a posição de intermediário na cadeia
produtiva (entre o produtor e o consumidor) que deve ter o comerciante​, bem como o
caráter não eventual da sua atividade, além da busca da geração de meios econômicos e
financeiros​ ​necessários​ ​à​ ​sobrevivência​ ​do​ ​agente.

No entanto, nenhum desses três elementos, quer sejam considerados


isoladamente, quer em conjunto, nos dá uma noção clara do que seja ato de comércio ou
comerciante.

A mediação se, historicamente, era considerada característica própria do comerciante, já


não o é hoje, ao menos de forma absoluta. Haja vista que hoje se pode vislumbrá-la em atos da
vida civil que não se constituem em atos de comércio e há alguns atos definidos como de
comércio em atividades sem mediação alguma, como, por exemplo, a manufatura ou a
prestação​ ​de​ ​serviços2.

O lucro também não é elemento distinguidor dos atos de comércio. Há atividades


eminentemente comerciais, regidas pelas leis comerciais, onde pode não haver fim lucrativo,
como,​ ​por​ ​exemplo,​ ​a​ ​prestação​ ​de​ ​um​ ​aval​ ​cambiário​ ​e​ ​a​ ​atividade​ ​de​ ​uma​ ​empresa​ ​pública.

A exigência da profissionalidade ou habitualidade na prática desses atos de mediação


entre produtor e consumidor caracteriza, de fato, a maioria dos comerciantes, mas não abrange
a outros. Por exemplo, uma sociedade anônima que explore atividade hospitalar não realiza
atos de comércio de mediação, mas, ainda assim é mercantil (segundo o critério do tipo
societário,​ ​pois​ ​as​ ​S​ ​/A​ ​são​ ​sempre​ ​mercantis​ ​independentemente​ ​do​ ​seu​ ​objeto)3.

Alguns autores apontam a origem dessas dificuldades para se estabelecer um conceito


aceitável remontam aos primórdios da ​história da evolução do Direito comercial e do
conceito​ ​de​ ​comerciante​ ​que​ ​pode​ ​ser​ ​dividida​ ​em​ ​três​ ​fases:

1ª- fase subjetiva-corporativista​, na qual a doutrina entendeu que o Direito Comercial era
um direito exclusivo da classe dos comerciantes​, em função das poderosas corporações e
ligas de ofício. Nessa fase as ​pendências de natureza comerciais eram decididas pelos
magistrados​​ ​(chamados​ ​de​ ​cônsules)​ ​eleitos​ ​entre​ ​os​ ​próprios​ ​comerciantes.

Com a evolução do comércio e o surgimento de novas atividades de cunho econômico,


se mostrou necessário, para a fixação da competência dos cônsules, a delimitação da matéria
comercial, isso é, ​além da mera intermediação de mercadorias, entendeu-se que haviam
outros atos que deviam ser regulamentados e considerados comerciais para o fim de se
sujeitarem​ ​a​ ​esses​ ​tribunais.
2
A prestação de serviços é, cada vez mais aceita como atividade empresarial (que pela teoria da empresa está
substituindo a antiga noção de comerciante e dos atos de comércio), sendo, até mesmo, aceito o registro na Junta
Comercial​ ​de​ ​sociedades​ ​que​ ​tenham​ ​este​ ​objetivo​ ​social​ ​(lei​ ​8.934/94).
3
​ ​Lei​ ​6404/76,​ ​art.​ ​2º,​ ​§​ ​1º.
Já não era, portanto, a qualidade de comerciante que importava ​(conceito subjetivo)​,
mas sim a ​atividade ​(conceito objetivo)​, dando origem ​a Segunda fase evolutiva​. Ao período
compreendido​ ​entre​ ​a​ ​fase​ ​subjetiva​ ​e​ ​a​ ​objetiva,​ ​denominou-se​ ​de​ ​período​ ​eclético​,

2ª- fase objetiva (também chamada de fase Napoleônica)​, teve início com o liberalismo
econômico, ​onde o ato de comércio era facultado a todos os cidadãos, desde que
praticassem ​determinados atos previstos em lei​. Extinguem-se todas as corporações de
ofício, por considerá-las resquícios de uma sociedade feudal e cheia de privilégios ​(o Código
Brasileiro​ ​surgiu​ ​nesta​ ​época​ ​e​ ​foi​ ​influenciado​ ​por​ ​essa​ ​corrente​ ​doutrinária).
Neste período o centro do raciocínio para a definição do que era matéria comercial se
centrava​ ​na​ ​natureza​ ​do​ ​ato​ ​praticado​ ​e​ ​não​ ​no​ ​agente​ ​que​ ​o​ ​praticava.

3ª- fase subjetiva moderna ou empresarial – esta corrente doutrinária e legal se encontra
em plena elaboração. ​Nela se leva em consideração a pessoa do empresário, conceituado
como aquele que exerce profissionalmente qualquer atividade econômica organizada,
exceto a atividade intelectual para a produção ou circulação de bens ou serviços​. Nesse
período não se leva em conta o conceito histórico do comerciante (aquele que intermedia a
produção o consumo), nem a prática de determinados atos definidos como comerciais (conceito
objetivo),​​ ​mas​ ​a​ ​qualidade​ ​daquele​ ​que​ ​exerce​ ​a​ ​atividade​ ​empresarial.

4.4-​ ​ATOS​ ​DE​ ​COMÉRCIO

A​ ​ideia​ ​de​ ​“atos​ ​de​ ​comércio”​ ​de​ ​corre​ ​do​ ​conceito​ ​objetivo​ ​de​ ​comerciante.

Atualmente, a legislação brasileira vive uma fase de transição entre o ​conceito objetivo
e o ​conceito moderno ou empresarial​. Nesse atual sistema, não há mais a classificação entre
“atos​ ​civis”​ ​e​ ​“atos​ ​comerciais”,​ ​mas​ ​em​ ​atos​ ​empresariais​ ​ou​ ​não​ ​empresariais.

É importante fazer a distinção entre comerciante e não comerciante. Há que se ponderar


que, embora seja o mesmo juízo competente para julgar as civis e mercantis, a lei ainda faz
distinção na aplicação de determinados institutos para comerciantes e não comerciantes. Por
exemplo, incide o instituto da falência para os comerciantes, ao passo que incide o da
insolvência​ ​civil​ ​para​ ​os​ ​não​ ​comerciantes.

A mudança introduzida pelo novo Código Civil, adotando a teoria da empresa em


substituição ao sistema objetivo de comércio, acarreta profundos efeitos “não só à unidade do
Direito Obrigacional, sem distinção entre atos civis e mercantis, mas, também, ao fato de que o
comerciante deixará de ser o centro nuclear do sistema, igualando-se os tipos de atividades
econômicas produtivas (principalmente os da indústria e de serviços), passando todos a figurar
em​ ​um​ ​mesmo​ ​plano”.

O núcleo do sistema objetivo é o ato de comércio e, para estudá-lo, são consideradas duas
ordens de classificação: a enumerativa, sob influência do Código Napoleônico de 1807, que
trazia taxativamente a relação de atividades consideradas mercantis, e a descritiva, que resume
numa relação meramente exemplificativa as atividades consideradas mercantis. Entende-se
que​ ​o​ ​direito​ ​brasileiro​ ​é​ ​exemplificativo​ ​ou​ ​descritivo​.

Ato de comércio é um ​ato jurídico ​e, como tal, é “todo ato lícito, que tenha por fim imediato
adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos”. Será um ato comercial quando
sujeito à legislação comercial​, tratando-se de conceito legal inteiramente legal, decorrente
dos arts. 18, 19, 21 do C. Comercial e dos arts. 10 a 20 do reg. 737 e de outras normas
extravagantes.

✓ ESPÉCIES​ ​DE​ ​ATOS​ ​DE​ ​COMÉRCIO


a) Atos de comércio por natureza ou objetivos​: Referem-se ao exercício normal do
comércio e sua prática habitual, atribuindo ao agente a qualidade de comerciante. É o
caso da compra e venda, revenda e locação e coisas móveis, operações de câmbio,
corretagem.
b) Atos de comércio por dependência ou conexão​: Referem-se aos atos que normalmente
seriam civis, mas são considerados mercantis quando promovem, facultam ou realizam o
exercício do comércio. A conexão não se aplica quando se tem por objeto bens imóveis.
São​ ​as​ ​operações​ ​bancárias​ ​acessórias,​ ​atos​ ​ilícitos,​ ​mandato,​ ​doação​ ​etc.
c) Atos de comércio por força da autoridade da lei​: São comerciais porque a lei assim
determinou. Sua enumeração é taxativa. São os atos relativos às sociedade mercantis,
seguros​ ​marítimos​ ​e​ ​aéreos,​ ​riscos​ ​e​ ​fretamento.

4.5 ​ ​-​ ​O​ ​CONCEITO​ ​MODERNO​ ​DE​ ​EMPRESA​ ​E​ ​EMPRESÁRIO​ ​NO​ ​DIREITO​ ​BRASILEIRO

Existe uma grande dificuldade da doutrina em definir o que seja empresa, tendo os
estudiosos,​ ​na​ ​sua​ ​maioria,​ ​partido​ ​da​ ​definição​ ​de​ ​empresário,​ ​para​ ​chegar​ ​à​ ​de​ ​empresa.

FERRARA não dá relevância jurídica à conceituação de empresa, pois, segundo ele, os


efeitos​ ​da​ ​empresa​ ​não​ ​são​ ​senão​ ​efeitos​ ​da​ ​atuação​ ​do​ ​empresário.

OBS: Exemplos​ ​de​ ​referências​ ​legais​ ​às​ ​empresas​ ​no​ ​Brasil:

Regulamento 737, de 1850, art. 19, ao enumerar os atos de comércio, incluiu as


“empresas”.

2- Lei 4.137, de 10.09.62 (coíbe o abuso do poder econômico) diz em seu art. 6º:
“considera-se empresa toda organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração
por​ ​pessoa​ ​física​ ​ou​ ​jurídica​ ​de​ ​qualquer​ ​atividade​ ​com​ ​fins​ ​lucrativos”.

3- Lei 8.964 de 18.11.94 que dispõe sobre o registro Público de Empresas Mercantis
e atividades Afins, ​onde a intenção do legislador é recepcionar em nosso direito o ato
empresarial,​ ​em​ ​contraposição​ ​ao​ ​ato​ ​de​ ​comércio​.

4- Código Civil de 2002, que substituiu o sistema tradicional do Código Comercial


pelo​ ​sistema​ ​do​ ​Empresário​ ​e​ ​da​ ​Atividade​ ​Empresarial,​ ​sem​ ​distinguir​ ​entre​ ​civis​ ​e​ ​comerciais.
OBS: Ver​ ​também​ ​o​ ​CDC​ ​(Código​ ​de​ ​Defesa​ ​do​ ​Consumidor)

INGLEZ de SOUZA​, talvez devido ao reconhecimento da figura do empresário como


elemento catalisador da idéia do que seja empresa, ​parte da noção clássica de comerciante
para​ ​tentar​ ​definir​ ​empresa​ ​e​ ​define​ ​empresa​ ​da​ ​seguinte​ ​forma:

“​Por empresa devemos entender ​uma repetição de atos​, uma ​organização de


serviços em que se explore o trabalho alheio, material ou intelectual​. A intromissão se dá,
aqui, entre o produtor do trabalho e o consumidor do resultado desse trabalho, com intuito de
lucro”.

Poder-se-ia definir o que seja empresa, considerando a sua estrutura, sua função
no​ ​mundo​ ​econômico​ ​e​ ​atuação​ ​do​ ​seu​ ​elemento​ ​principal​ ​que​ ​é​ ​o​ ​empresário,​ ​como:

“​Um ​organismo econômico​, ou seja, um organismo ​que tem seu centro numa
organização baseada em princípios técnicos e leis econômicas, lastreada na atuação do
empresário, constituindo-se, assim, num veículo implementador ou facilitador da
geração e circulação das riquezas e serviços, agindo pela combinação de elementos
pessoais e reais, colocados em função de uma pessoa que se chama empresário,
visando​ ​a​ ​geração​ ​ou​ ​,​ ​intermediação​ ​da​ ​atividade​ ​econômica.

4.4.1-​ ​A​ ​EMPRESA​ ​É​ ​UMA​ ​IDÉIA​ ​ABSTARATA​ ​OU​ ​ELA​ ​É​ ​“REAL”?
A empresa considerada como elemento econômico até pode ser uma realidade,
porquanto se pode sentir a sua atuação no mundo produtivo como ente impulsionador da
riqueza, contudo, ​juridicamente não se pode negar que ela é uma abstração​. Não se tem a
sua​ ​definição,​ ​nem​ ​enquadramento​ ​legal​ ​claro.

A própria noção doutrinária de empresa já nos remete à idéia de que ela é, na


realidade,​ ​o​ ​exercício​ ​de​ ​uma​ ​atividade​ ​produtiva.

Assim, pode-se concluir que ela é uma mera abstração, haja vista que não se tem
senão​ ​uma​ ​idéia​ ​abstrata​ ​do​ ​que​ ​seja.​ ​“o​ ​exercício​ ​de​ ​uma​ ​atividade”

4.4.2-​ ​A​ ​EMPRESA​ ​É​ ​SUJEITO​ ​OU​ ​OBJETO​ ​DE​ ​DIREITO?

Alguns autores buscam atribuir personificação à empresa, procurando enquadrá-la,


assim, como implementadora das suas próprias atividades, colocando-a, dessa forma, como
SUJEITO DE DIREITO, ​mas ​NO DIREITO BRASILEIRO (até mesmo pelo não
reconhecimento expresso da existência da empresa) ​NÃO SE PODE FALAR EM
PERSONIFICAÇÃO​.

NO DIREITO BRASILEIRO A EMPRESA É ENCARADA COMO SIMPLES OBJETO


DE​ ​DIREITO​.

A empresa é um ​complexo de elementos que produzem ou facilitam o tráfego das


riquezas,​ ​mas​ ​não​ ​prescindem​ ​do​ ​seu​ ​elemento​ ​intelectual​ ​que​ ​é​ ​o​ ​empresário.

Ele que é quem determina a orientação da empresa, ela é mera atividade do


empresário​ ​e​ ​atividade,​ ​que​ ​é​ ​o​ ​sujeito.

4.4.3-​ ​DISTINÇÃO​ ​ENTRE​ ​EMPRESA​ ​E​ ​SOCIEDADE

A​ ​esmagadora​ ​maioria​ ​da​ ​doutrina​ ​considera​ ​a​ ​empresa​ ​desprovida​ ​de​ ​personalidade
jurídica​ ​(Guglielmo​ ​Endemann​ ​–​ ​Italiano/1899​ ​é​ ​uma​ ​das​ ​exceções).

A principal é que a ​EMPRESA É OBJETO DE DIREITO​, ao passo que a ​SOCIEDADE​,


se​ ​devidamente​ ​constituída​ ​ela​ ​é​ ​SUJEITO​ ​DE​ ​DIREITO​.

A SOCIEDADE REGULAR POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA,


POSSUINDO​ ​CAPACIDADE​ ​JURÍDICA​ ​PARA​ ​SER​ ​SUJEITO​ ​DE​ ​DIREITOS​ ​E​ ​OBRIGAÇÕES.

DESSA FORMA, A ​SOCIEDADE É EMPRESÁRIO​, JAMAIS EMPRESA. É a


sociedade,​ ​na​ ​qualidade​ ​de​ ​empresário,​ ​que​ ​irá​ ​exercitar​ ​a​ ​atividade​ ​produtiva.

A empresa pode ser o exercício da atividade individual, de pessoa natural. É a empresa


individual, contrapondo-se à empresa coletiva, que é exercida pela sociedade comercial. A
EMPRESA​ ​NÃO​ ​PRESSUPÕE​ ​UMA​ ​SOCIEDADE​ ​COMERCIAL.
A principal diferença surge na inatividade. Ou seja, ​PODE HAVER SOCIEDADE
COMERCIAL​ ​SEM​ ​QUE​ ​SE​ ​CONFIGURE​ ​A​ ​EXISTÊNCIA​ ​DA​ ​EMPRESA.

Uma SOCIEDADE COMERCIAL devidamente constituída (com os seus os atos


constitutivos devidamente arquivados no Registro do Comércio), se ficar inativa, NÃO FAZ
SURGIR​ ​A​ ​EMPRESA.

TODA A EMPRESA EXIGE A ATUAÇÃO DE UMA SOCIEDADE OU DE UM


EMPRESÁRIO​ ​(comerciante)​ ​INDIVIDUAL,​ ​MAS​ ​A​ ​RECÍPROCA​ ​NÃO​ ​É​ ​VERDADEIRA.
Ricardo Negrão4 desenvolve ​três conceitos de comerciante​, levando em conta os
diferentes​ ​períodos​ ​doutrinários​ ​e​ ​legais​ ​(subjetivo,​ ​objetivo​ ​e​ ​moderno),​ ​a​ ​saber:

1- Conceito subjetivo-corporativista – “Comerciante é ​aquele que pratica a mercancia​,


subordinando-se à corporação do comércio e sujeitando-se às ​decisões dos cônsules
dessas​ ​corporações”.

1- Conceito objetivo – “Comerciante é aquele que ​pratica com habitualidade e


profissionalidade​ ​atos​ ​de​ ​comércio​”​ ​(Vivante).

2- Conceito moderno (empresarial ou subjetivo empresarial) – “​Empresário é aquele que


exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços​, excluída a profissão intelectual de natureza científica,
literária​ ​ou​ ​artística”​ ​(anteprojeto​ ​do​ ​novo​ ​Código​ ​Civil​ ​Brasileiro).

“O empresário comercial é o sujeito que exercita a atividade


empresarial; desenvolve uma atividade organizada e técnica,
assegurando a eficiência e o sucesso do funcionamento e do
empreendimento”

O empresário pode valer-se da atuação e colaboração de outros,


mas a ele cabe a decisão, a ele compete escolher o caminho que lhe
pareça​ ​mais​ ​conveniente.

Dois elementos fundamentais se destacam para caracterizar a


figura do empresário: ​a iniciativa e o risco; Goza ele de todas as
vantagens do êxito (compensando o poder de iniciativa), mas
também é ele quem amarga as desventuras do insucesso e da ruína
(pois​ ​os​ ​riscos​ ​são​ ​todos​ ​do​ ​empresário​ ​comercial)5

4
​ ​In​ ​Manual​ ​de​ ​Direito​ ​Comercial,​ ​Ed.​ ​Bookseller,​ ​1999,​ ​página​ ​52.
5
​ ​Rubens​ ​Requião,.​ ​Curso​ ​de​ ​Direito​ ​Comercial,​ ​vol.​ ​1,​ ​p.​ ​74
Assim, distingue-se a atividade empresária em 3 elementos formadores: ​a
economicidade ​(a criação de riquezas), a ​organização ​(que é a estrutura visível de fatores
objetivos e subjetivos de produção) e a ​profissionalidade​, que é a habitualidade de seu
exercício.

Definição do C. Civil Italiano, adotado pelo projeto de ​C. Civil, define apenas
empresário: “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção​ ​ou​ ​circulação​ ​de​ ​bens​ ​ou​ ​serviços”.

Partindo da noção de que a produção de bens e serviços para o mercado não é


conseqüência da atividade acidental ou improvisada, mas sim da atividade especializada e
profissional, expressada por organismos permanentes dispostos dentro desse contexto
econômico organizado. Tais organismos, na terminologia econômica tomam o nome de
empresa.​ ​(Requião,​ ​citando​ ​Giuseppe​ ​Ferri).

A empresa é um organismo econômico, ou seja é um organismo que tem seu


centro numa organização baseada em princípios técnicos e leis econômicas. Ou seja é
um​ ​veículo​ ​implementador​ ​ou​ ​facilitador​ ​da​ ​geração​ ​e​ ​circulação​ ​das​ ​riquezas​ ​e​ ​serviços.

Se considerado o agente implementador e condutor da própria empresa – o empresário


- poder-se-ia dizer que a empresa é “​a combinação de elementos pessoais e reais,
colocados em função de uma pessoa que se chama empresário, visando a geração ou,
intermediação​ ​da​ ​atividade​ ​econômica”.

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