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RODADA 1
Direito Administrativo
(Ponto 01)
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MENSAGEM DO MEGE
Oi, Megeano e Megeana.
Tudo bem com você?
Vamos dar início ao estudo de uma das disciplinas que faz parte do tripé para
aprovação em concurso de Delegado de Polícia de São Paulo: direito administrativo.
Conjuntamente com constitucional, penal (geral e especial) e processo Penal, estamos
diante de uma matéria abordada em todas as fases de certames públicos. A prova de
Delegado de São Paulo costuma pegar em pontos doutrinários específicos, por isso
estaremos bem alinhados aos melhores manuais, tudo para você não perder tempo
lendo livros e livros da matéria. Já fizemos isso, você só precisar revisar aqui: Maria Sylvia
Zanella Di Pietro; José dos Santos Carvalho Filho; Matheus Carvalho (mais conceitual e
objetivo); Alexandre Mazza; Fernando Ferreira Baltar e Ronny Charles Lopes de Torres.
Ademais, vamos beber hora outra da fonte de Rafael Carvalho Rezende Oliveira, de
forma bem pontual sobre aspectos que reputamos relevante para o seu Estado.
No estudo da matéria você nota aos poucos que temos pontos eminentemente
doutrinários, para isso, utilizaremos o acervo acima apresentado. Noutros pontos,
notará que estamos diante de matéria que possui forte viés legal (Licitação e Processo
Administrativo), e, por vezes, adentraremos em pontos mais complexos que exigem
forte carga doutrinária, jurisprudencial e legal.
Aos poucos vamos pontuando e destacando as linhas de enfrentamento.
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Naquilo que for mais teórico, precisamos de uma atenção macro no sentido de absorver
conceitos e institutos – atos administrativos, por exemplo. Em temas como organização
da Administração Pública precisamos estar atentos a todos os eixos, por exemplo,
porquanto há novidades, legislação farta e jurisprudência simples e densa para todo
gosto.
Vamos agora adentrar em nosso primeiro ponto de direito administrativo.
Em caso de dúvidas, envie suporte.
SUMÁRIO
Você já deve ter ouvido falar em Separação dos Poderes. Não é mesmo?
Sobre este aspecto fundante do Poder Estatal, adverte André Ramos Tavares
que “embora esteja profundamente enraizada, deve ser entendida de maneira
meramente figurativa” (1999, p. 66/71), até mesmo porque, não passaria de
distribuição de função a diferentes órgãos do Estado (1999, p. 66).
ATENÇÃO, MEGEANA(O)!
SE LIGA NO DETALHE!!!
Esse entendimento de Loewenstein não é comum em provas, o mais rotineiro é o 6
posicionamento estampado em nossa Constituição – logo acima afirmado. Então,
é muito provável que o examinador apresente junto com a abordagem dessa
temática a lógica traga por “De l’esprit des lois” (O Espírito das Leis) de Charles-
Louis de Secondat – nosso barão de Montesquieu. Tranquilo? Grave isso!
Segundo Marçal Justen Filho (2008) citado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro
(2019):
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“a organização do aparato administrativo do Estado se modela
pelas concepções napoleônicas, que traduzem uma rígida
hierarquia de feição militar do século XIX. A fundamentação
filosófica do Direito Administrativo ainda se reporta à clássica
disputa entre Duguit e Hauriou, ocorrida nos primeiros decênios
do século XX. Mais do que isso, predomina a influência do
pensamento de Hauriou muito mais intensamente do que a
visão de Duguit. O conteúdo do Direito Administrativo é
preenchido por institutos vinculados a concepções políticas de
um período distante. Ou seja, o Direito Administrativo continua
vinculado às concepções filosóficas, políticas e constitucionais
que vigoravam na primeira metade do século XX. A evolução
radical do constitucionalismo do final do século XX permanece
ignorada pelo Direito Administrativo”.
Em linhas gerais, o que o autor está a nos apontar – e isto é relevante para
nosso estudo – é que o direito administrativo, ainda, em sua essência, carrega consigo
nuances de seu período criador: do absolutismo monárquico a diante, com grande
influência do ideal liberal/burguês europeu. Crítica dura, heim?
Neste sentido, por meio da obra Teoria Pura do Direito, Hans Kelsen 1 expõe
que apenas é possível falar em Estado de Direito por causa de sua submissão
voluntariosa, ainda que existente como realidade social independente, ao próprio
Direito criado.
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Você vai ouvir falar bem deste rapaz em Direito Constitucional. Sigamos.
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Megeano(a)! Tem que gravar esse dado. Beleza? Sigamos.
Estado francês, responsável pela construção de importantes institutos
administrativistas, a exemplo da noção de serviço público. Outrossim, em 1819, em
Paris, cria-se a primeira cátedra de Direito Administrativo, sendo que, no Brasil, ela
somente vem a surgir com o Decreto 608/1851. A primeira obra doutrinária brasileira
só veio a ser publicada apenas em 1857, em Recife, com o nome de “Elementos de
Direito Administrativo Brasileiro”, do autor Vicente Pereira do Rego.
Atividades de
Relações internas à Relações entre a Administração Pública 12
Administração Pública Administração e os em sentido material
(entre os órgãos e administrados exercidas por
entidades (reguladas particulares sob
administravas e entre predominantemente regime predominante
a administração e seus pelo direito público ou de direito público (a
agentes). pelo direito privado). exemplo da prestação
de serviços públicos
mediante contratos de
concessão).
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Esse princípio será tratado posteriormente, quando analisarmos o regime jurídico administrativo. Mas
se tiver curiosidade, leia a Súmula 473 e 346 do STF para entender do que se trata.
2. Ato ou omissão administrava que contrarie súmula
vinculante, para sua submissão ao STF por meio da
reclamação (art. 7º, § 1º, da Lei Federal nº 11.417/2006).
3. Habeas data, que, conforme entendimento do Supremo,
pressupõe o indeferimento ou a omissão administrava em
atender pedido de informações pessoais.
4. Ações judiciais contra o INSS para a concessão de benefícios
previdenciários.
Essas ressalvas precisam ir para o post it, beleza Megeano e Megeana? Isso será
mais passível de cobrança na fase objetiva e oral do concurso.
Sigamos.
Sem avançar no estudo do controle administrativo, registre-se que o Judiciário
jamais poderá examinar o mérito dos atos administrativos, cuja análise, em respeito ao
princípio fundamental da separação dos poderes (art. 2º, CF/88), é exclusiva da
Administração Pública responsável por sua edição.
Finalmente, importa explicar a noção de “coisa julgada administrava”, que se
traduz na definitividade de determinada matéria controvertida submetida ao exame da
Administração no âmbito administrativo, sem prejuízo, é claro, de sua revisibilidade pelo
Poder Judiciário.
A coisa julgada administrava vai ao encontro do princípio da SEGURANÇA 16
JURÍDICA 4 substancial e da estabilidade das relações jurídicas, impedindo que a
Administração rediscuta litígios por ela já solucionados segundo as normas de processo
administrativo, quebrando a boa-fé e a legítima expectava dos cidadãos.
A seu turno, o SISTEMA FRANCÊS ou de dualidade de jurisdição confere
jurisdição também à Administração Pública, atribuindo-lhe, com exclusividade (e
definitividade) competência para decidir sobre matérias administravas, tornando-as
infensas ao controle pelo Poder Judiciário.
Na França, a jurisdição administrava é encabeçada pelo Conselho de Estado,
órgão integrante da Administração Pública e que analisa com exclusividade matérias
relacionadas à função administrativa, retirando-a do âmbito de conhecimento da
chamada “jurisdição comum”, a quem cabe decidir sobre os demais litígios.
Neste sistema dual, não é possível o controle judicial dos atos administrativos.
Ademais, existe coisa julgada material propriamente dita no âmbito da Administração
Pública, a partir daquilo que é decidido pelo Conselho de Estado.
No Brasil, com a EC nº 7/77, chegou-se a prever o contencioso administrativo,
o qual, entretanto, jamais foi implantado.
A pergunta da prova é a seguinte:
No Brasil existe contencioso administrativo?
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Calma: VAMOS ANALISAR ESTE PRINCÍPIO de forma mais detida, adiante.
Resposta: NÃO.
No Brasil já houve previsão do sistema contencioso administrativo?
Resposta: SIM
Sempre tenha atenção no comando da questão. O examinador pode tentar nos
passar a perna aqui – nós vamos captar a pegadinha, beleza?
• ACLARANDO COM DOUTRINA
Vejamos o posicionamento de José dos Santos Carvalho Filho (2019) sobre este tópico:
A expressão contencioso administrativo tem dois sentidos. Um
deles é a denominação dada ao sistema da dualidade de
jurisdição. O outro significa qualquer tipo de conflito que tramite
na via administrativa. Ou seja, mesmo nos países que não
adotam o sistema em foco, existe o contencioso administrativo
neste último sentido, porque em todos os lugares é permitido
que o indivíduo reclame da Administração junto a seus próprios
órgãos. Os recursos de reclamação e de representação, por
exemplo, formam um contencioso administrativo, porque
tramita na via administrativa. O sistema do contencioso
administrativo, também denominado de sistema da dualidade
de jurisdição ou sistema francês, se caracteriza pelo fato de que,
ao lado da Justiça do Poder Judiciário, o ordenamento
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contempla uma Justiça Administrativa. Esse sistema, adotado
pela França e pela Itália, entre outros países sobretudo
europeus, apresenta juízes e tribunais pertencentes a Poderes
diversos do Estado. Em ambas as Justiças, as decisões proferidas
ganham o revestimento da res iudicata, de modo que a causa
decidida numa delas não mais pode ser reapreciada pela outra.
É desse aspecto que advém a denominação de sistema de
dualidade de jurisdição: a jurisdição é dual na medida em que a
função jurisdicional é exercida naturalmente por duas estruturas
orgânicas independentes – a Justiça Judiciária e a Justiça
Administrativa.
Alfim, essa é a aposta do Professor pra 1ª fase do concurso que você vai fazer.
Tranquilo?
Vamos a um quadro legal de manual para analisar melhor ainda:
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Concurso para Delegado do Pará 2016 perguntou para o candidato qual a origem do princípio da
proporcionalidade.
1.9. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
É tradicional na introdução do estudo de qualquer ramo didático da disciplina
jurídica o estudo das fontes, grosso modo entendidas como de onde advém o direito.
AUSÊNCIA DE CODIFICAÇÃO?
Sigamos.
Ao identificar as fontes do direito administrativo, identifica-se também o bloco
de legalidade que submete a atividade do Estado, servindo de verdadeiro guia de ação
para o Administrador Público, na medida que possibilita verificar o que é permitido e
proibido, como também serve de instrumento de controle da Administração Pública
pelos administrados.
Não sem razão, o direito administrativo tem como FONTE PRINCIPAL A LEI EM
SENTIDO LATO, compreendendo tanto a Constituição da República, quanto as
Constituições dos Estados, a Lei Orgânica do Distrito Federal, as Leis Orgânicas do
Município, as Leis Complementares, as Leis Ordinárias, as Leis Delegadas, e as próprias
Medidas Provisórias. Em relação a esta última, é importante destacar que não se trata
de lei propriamente dita, sendo ato normativo com força de lei que emana do Presidente
da República em caso de relevância e urgência, podendo ser utilizada em matéria
administrativa (artigo 62, CR/88).
IMPORTANTE, DELTA!
Verifica-se que a lei em sentido lato em todas as suas manifestações cria
obrigações originárias aos Administrados, inovando na ordem jurídica, pelo que
também podem ser compreendidas como fonte primária de direito administrativo.
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Destaca-se que no Brasil não há uma codificação una do Direito Administrativo,
o que aumenta ainda mais a importância e multiplicação das fontes legisladas,
principalmente em sentido estrito. Existem, nessa linha, somente alguns códigos
esparsos que cuidam de temas específicos, como o Código das Águas, Código de
Mineração, Código de Caça, dentre outros.
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Vai e vem, o entendimento sobre este MANDADO DE INJUNÇÃO aparece em provas. Seja para discutir
análise constitucional do posicionamento sobre os efeitos da decisão para o Supremo Tribunal Federal,
seja para deflagração de análise histórica e legal que culmina com o surgimento da Lei nº 13.300/16 –
LEITURA OBRIGATÓRIA em seu cronograma de estudos = “VAI CAIR EM DIREITO CONSTITUCIONAL”.
Concurso Delegado de Polícia de Minas Gerais exigiu o conhecimento.
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Olha aqui a mudança de paradigma para a corrente CONCRETISTA quanto aos efeitos da decisão em
Mandando de Injunção – CUIDA NISSO MEGEANO(A)!!!
natureza de fonte secundária. Por vezes, a atuação atípica dos Tribunais torna as
decisões abstratas verdadeiras fontes de integração do ordenamento.
1.14. DOUTRINA
Também fonte informal, indireta ou mediata, a doutrina consiste no arcabouço
teórico elaborado pelos estudiosos do Direito Administrativo, que, conquanto não
possua aptidão para criar normas jurídicas administrativas, serve de norte para a
elaboração de leis e para a formação de entendimento dos órgãos judiciários e
administrativos sobre os diversos institutos.
É destaque – ainda sobre fontes – para Matheus Carvalho (2019):
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APENAS PARA APROFUNDAR UM POUCO NESTE TEMA, DELTA!!! Alexandre Mazza (2017) apresenta
que a Reforma foi promulgada pelo governo FHC, na onda do processo de privatizações, promovendo
mudanças no Direito Administrativo pátrio pautadas, sobretudo, pela lógica empresarial de eficiência
neoliberal de Estado mínimo. A baixa qualidade técnica das reformas propostas e a antipática insistência
em reduzir controles legais tornaram a EC 19/98 um diploma mal visto por administrativistas nacionais.
Sobre isso, esse modelo é acusado por muitos escritores de servir como pretexto para diminuir os controles
jurídicos sobre a Administração Pública. Sigamos acima!
VALORES Hierarquia, processo, Colaboração, eficiência,
forma parceria, gestão
CONTROLE Sobre os meios Sobre o resultado
INSTITUTOS Licitação, Processo Contratos de Gestão,
RELACIONADOS Administrativo, Concursos Agências Executivas,
Públicos Eficiência
CARACTERÍSTICAS Autorreferente Orientada para o cidadão
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3. QUESTÕES
2 – (FAPEMS / PC-MS / DELEGADO 2017) De acordo com o texto a seguir o direito público
tem como objetivo primordial o atendimento ao bem-estar coletivo. [...] em primeiro
lugar, as normas de direito público, embora protejam reflexamente o interesse
individual, têm o objetivo primordial de atender ao interesse público, ao bem-estar
coletivo. Além disso, pode-se dizer que o direito público somente começou a se
desenvolver quando, depois de superados o primado do Direito Civil (que durou muitos
séculos) e o individualismo que tomou conta dos vários setores da ciência, inclusive a do
Direito, substituiu-se a ideia do homem como fim único do direito (própria do
individualismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento para todo o direito público
e que vincula a Administração em todas as suas decisões [...]. DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella. Direito Administrativo. 30.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p 96.
Diante disso, as "pedras de toque" do regime jurídico-administrativo são
a) a supremacia do interesse público sobre o interesse privado e a impessoalidade do
interesse público.
b) a supremacia do interesse público sobre o interesse privado e a indisponibilidade do
interesse público.
c) a indisponibilidade do interesse público e o princípio da legalidade.
b) as decisões proferidas por órgãos públicos de natureza superior não podem ser revistas
pelo Poder Judiciário
e) tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza
para a consecução de seus fins, de natureza pública.
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4. GABARITO COMENTADO
1. D
O surgimento do direito administrativo, historicamente falando, está ligado ao
desenvolvimento do Estado Democrático de Direito, sobretudo pela ótica da legalidade
advinda pós movimentos revolucionários incentivados pelo ideário iluminista
(Revolução Francesa é um marco histórico para esse surgimento). Não assiste acerto a
afirmação de que o Direito Administrativo tem origem na idade média. Na verdade, o
que temos é a vigência de um absolutismo que não permite o controle por meio da lei
dos atos da administração. Não falamos, inclusive, na idade média, em controle
administrativo como nos tempos atuais. Quanto à alternativa II, de fato, a influência
francesa ditou a formação de institutos modernos brasileiro como: serviços públicos,
atos administrativos, responsabilidade civil do Estado, princípio da legalidade, dentre
outros. A afirmação III pode nos parecer mais complexa, mas, com o cuidado necessário
podemos perceber que ela não está tratando de uma generalização, mas de
inviabilidade de codificação. Há países que possuem código de direito administrativo –
assim como nosso código penal, por exemplo –, mas esta ação, levando em conta nossa
divisão de competências constitucionais, torna deveras complexa possível junção. É esta
a análise que a questão nos exigiu. Ademais, por eliminação, fecharíamos o raciocínio
exigido pela FUNDATEC.
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2. B
A questão chama de Pedras de Toque os SUPRAPRINCÍPIOS da supremacia do interesse
público e da indisponibilidade do serviço público – assim considerados por Celso de
Mello. Os superprincípios são os princípios dos quais derivam todos os demais princípios
e normas do Direito Administrativo (Curso de Direito Administrativo, p. 69). A existência
desses dois supraprincípios é o reflexo de uma dualidade permanente no exercício da
função administrativa: a oposição entre os poderes da Administração Pública
(supremacia do interesse público) e os direitos dos administrados (indisponibilidade do
interesse público). Esses dois, nas palavras de Mazza (2017), são relativos e não
absolutos, porquanto, não existe supremacia absoluta do interesse público sobre o
privado, nem indisponibilidade absoluta dos interesses públicos. Vamos estudar
princípios em nossos próximos pontos, mas já salve essa informação aí Megeana e
Megeano.
3. A
Vamos nos reportar aqui ao conceito trazido por Marçal Justen Filho. O direito
administrativo é “O conjunto das normas jurídicas de direito público que disciplinam as
atividades administrativas necessárias à realização dos direitos fundamentais e a
organização e o funcionamento das estruturas estatais e não as estatais encarregadas
de seu desempenho” (Curso de Direito Administrativo, 7ª ed., 2011). Abrimos mão,
ainda, do esboço de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que afirma que este é “O ramo do
direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas
administrativas que integram a administração pública, a atividade jurídica não
contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins de
natureza pública” (Direito Administrativo, 21ª ed., 2008). A questão apresentada pela
ACAFE foi doutrinária e conceitual, apenas. Vamos nos ater ao exposto por estes dois
doutrinadores para analisarmos as demais questões que possam surgir com este mesmo
enfoque.
4. D
Fonte é o local de onde algo se provém. No direito, as fontes são os fatos jurídicos de
onde as normas emanam. As fontes jurídicas podem ser de dois tipos: a) primárias,
maiores ou diretas: são o nascedouro principal e imediato das normas; e) secundárias,
menores ou indiretas: constituem instrumentos acessórios para originar normas,
derivadas de fontes primárias. No Direito Administrativo, somente a lei constitui fonte
primária na medida em que as demais fontes (secundárias) estão a ela subordinadas:
doutrina, jurisprudência, costumes.
5. D
José dos Santos Carvalho Filho apresenta em sua obra – Manual de Direito
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Administrativo – que o direito administrativo é o lado dinâmico do Direito
Constitucional. Quanto à alternativa II, de fato, o direito administrativo guarda relação
com variados ramos da ciência do direito: civil, tributário, constitucional, trabalho,
processual civil, penal e processo penal, dentre outros. Para a assertiva IV podemos
aplicar o entendimento do art. 54 da Lei nº. 8.666/93 “Os contratos administrativos de
que trata esta Lei regulam-se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público,
aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as
disposições de direito privado”.
6. CERTO
O cuidado com esta questão, ela está relacionada à EC 45/04, que incluiu o art. 103-A à
CR/88, prevendo “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de 2/3 dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na impressa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais poderes órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida”. Nesse sentido,
as decisões administrativas estão vinculadas à construção sumular vinculante do
Supremo Tribunal. A questão do CESPE é do ano de 2004, e, nessa época, de fato
constava como correta a afirmação do enunciado. Mas hoje, em cobrança idêntica por
qualquer banca, essa ressalva teria que ser feita, o que tornaria nosso gabarito errado.
7. D
Aqui estamos diante de uma questão mais tormentosa Delta. Contudo, pelos
ensinamentos aqui apresentados é possível chegar a uma conclusão coerente exigida
pela PUC do Paraná. Vou colacionar o trecho de nosso material a respeito da afirmação
I: A doutrina aponta como marco inicial do Direito Administrativo a edição, na França
Pós-Revolucionária, da Lei 28 de Pluvioso 9 do Ano VIII (algo em torno de 1800), diploma
normativo da organização da Administração Pública francesa. Acrescenta-se, ainda, o
importante trabalho da jurisprudência do Conselho de Estado francês, responsável pela
construção de importantes institutos administrativistas, a exemplo da noção de serviço
público. Outrossim, em 1819, em Paris, cria-se a primeira cátedra de Direito
Administrativo, sendo que, no Brasil, ela somente vem a surgir com o Decreto 608/1851.
A primeira obra doutrinária brasileira só veio a ser publicada apenas em 1857, em Recife,
com o nome de “Elementos de Direito Administrativo Brasileiro”, do autor Vicente
Pereira do Rego. Quanto à afirmação II você lembra que citamos que não houve
implementação deste sistema em nosso ordenamento jurídico? O que houve foi uma
PREVISÃO, e a afirmação está a nos indicar uma instalação: ERRADO. Quanto à III, não
adotamos desde o início da República o princípio do stare decisis. IV está correta,
porquanto, realmente são características do direito administrativo: 1º) a desigualdade
jurídica entre a Administração e os administrados; 2º) a presunção de legitimidade dos
atos da administração; 3º) a necessidade de poderes discricionários para a
Administração atender ao interesse público. Neste sentido, seria necessário outros
conhecimentos para se chegar à resposta, mas, trata-se de uma boa questão sobre a 36
parte histórica da disciplina.
8. E
Ótima questão sobre a conceituação do direito administrativo. Em que pese haver
referência a outros temas que ainda serão estudados, podemos chegar à resolução com
o abordado aqui.
(A) INCORRETA. Não há a mesma noção sobre estes dois pontos, porquanto, temos
coisa julgada material apenas nas decisões emanadas do Poder Judiciário, uma vez que
estamos diante do sistema inglês em nosso ordenamento jurídico.
(B) INCORRETA. O Poder Judiciário pode revisar toda e qualquer matéria – desde que
obedeça ao postulado da inércia; então, não há essa vedação quanto às decisões
emanadas por órgãos públicos do alto escalão.
(C) INCORRETA. Veremos isso melhor quando analisarmos a Lei nº 9.784/99 – há um
ponto inteirinho só sobre ela; mas antemão já saiba que não há essa limitação para
deflagração de um processo administrativo; não estamos, nesta lei, diante de um rol tão
engessado, pelo contrário, há uma abertura ao cidadão, até, como legitimado.
(D) INCORRETA. Veremos melhor isso quando estudarmos organização da
administração pública, contudo, tenha em mente que o Banco do Brasil, por exemplo, é
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Megeano(a)! Tem que gravar esse dado. Beleza? Sigamos.
pessoa jurídica de direito privado (Lei nº 13.303 de 2016 – no momento certo você lerá
essa belezinha de lei na íntegra); ou seja, não há essa restrição.
(E) CORRETA. É nosso conceito apresentado durante o ponto - Marçal Justen Filho “O
Direito Administrativo é o conjunto das normas jurídicas de direito público que
disciplinam as atividades administrativas necessárias à realização dos direitos
fundamentais e a organização e o funcionamento das estruturas estatais e não estatais
encarregadas de seu desempenho”. Maria Sylvia Zanella Di Pietro “O ramo do direito
público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que
integram a administração pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os
bens de que se utiliza para a consecução de seus fins de natureza”.
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CURSO MEGE
RODADA 1
Direito Constitucional
1
(Ponto 01)
Constitucionalismo e Teoria da Constituição1
1
Temáticas que resumem elementos diversos da parte inicial do último edital da PCSP para Delegado de
Polícia.
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MENSAGEM DO MEGE
1.3. NEOCONSTITUCIONALISMO................................................................................... 16
2. QUESTÕES ................................................................................................................ 44
B. Constitucionalismo antigo
C. Constitucionalismo medieval
D. Constitucionalismo moderno
a) Constitucionalismo norte-americano
A carta americana de 1787 nasceu em substituição aos Articles Of
Confederation, a partir da reunião de onze das trezes colônias norte-americanas que
adquiriram independência. Suas marcas principais estão na instituição do federalismo,
da rígida separação de poderes e do presidencialismo. Seguem alguns pontos
principais:
i) Criação da primeira Constituição escrita, elaborada em 1787:
trata-se de uma Constituição sintética e concisa, que contém
apenas os elementos estruturantes do Estado e do poder.
Desde seu nascimento, tratou de um conjunto de NORMAS,
que impunham obrigatoriedade aos poderes instituídos.
Constatou-se, portanto, a existência de uma Constituição
dogmática, escrita e sistematizada por um órgão constituinte
soberano.
ii) Surgimento do controle de constitucionalidade difuso: O
controle de constitucionalidade está ligado às ideias de
supremacia e rigidez constitucionais, tendo como parâmetro
uma Constituição escrita, com a diferenciação entre
supremacia formal e material das constituições. O controle de
constitucionalidade DIFUSO, como conhecido hoje, surgiu do
famoso caso Marbury vs. Madison (1803), fruto, portanto, da
experiência do Constitucionalismo norte-americano.
iii) Fortalecimento do Poder Judiciário: Na obra “Os
Federalistas”, Hamilton ensina que o Poder Judiciário é o mais
fraco dos poderes, por não possuir nem a espada nem o cofre.
Os norte-americanos tinham bastante medo dos abusos
perpetrados pelo Parlamento inglês, razão pela qual optaram
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pelo fortalecimento do Judiciário.
iv) Importante contribuição para as noções de separação dos
poderes, forma federativa de Estado, sistema republicano e
presidencialista e regime democrático.
v) Existência de declarações de direitos: a Declaração de
Direitos da Virgínia é anterior à própria constituição (1776).
b) Constitucionalismo francês
O marco inicial do Constitucionalismo francês é a Revolução Francesa, de
1789. A primeira Constituição francesa escrita é de 1791. Duas ideias que constam da
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 são fundamentais
para a compreensão do Constitucionalismo francês: garantia de direitos e separação
dos poderes.
São características fundamentais do Constitucionalismo francês:
i) Consagração do princípio da separação dos poderes:
Montesquieu foi estudar no direito britânico a separação dos
poderes. Os franceses, que não entendiam esse sistema,
originário de um país de common law, foram buscar inspiração
nos EUA, onde a separação dos poderes foi bem recebida. Na
verdade, os sistemas francês e norte-americano se
interpenetraram reciprocamente em seu surgimento.
ii) Distinção entre poder constituinte originário e derivado: O
francês Abade Emmanuel Joseph Sieyès foi o teórico do poder
constituinte (“Qu’est-ce que le tiers état?” – O que é o terceiro
Estado? A Constituinte Burguesa). Nesta obra, Sieyès, com base
na doutrina do contrato social (John Locke, Jean-Jacques
Rousseau), vislumbrava a existência de um poder imanente à
nação, superior aos poderes ordinariamente constituídos e por
eles imodificáveis: o poder constituinte. Além de legitimar a
ascensão do Terceiro Estado (o povo) ao poder político, a obra
traçou as linhas mestras da Teoria do Poder Constituinte, ainda
hoje relevante para o estudo do Direito Constitucional.
iii) Supremacia do Parlamento: No modelo francês de
Constitucionalismo clássico, o Parlamento era considerado o
poder supremo. Há, portanto, a característica de valorização do
Legislativo, acarretando o enfraquecimento do controle de
constitucionalidade das leis (curiosidade: a primeira vez que um
tribunal francês exerceu o controle repressivo de
constitucionalidade foi em 2010). Isso ocorre, pois, os
revolucionários franceses viam o Poder Judiciário com
desconfiança, associando-o ao antigo regime monarquista.
Além disso, o Legislativo era valorizado como a expressão da
vontade geral do povo.
iv) Surgimento da escola da exegese, a partir do Código de 12
Napoleão de 1804: Para a escola da exegese, a interpretação
era uma atividade mecânica, e ao Judiciário cabia somente
dizer o que já estava na lei. O juiz deveria somente expressar o
que a lei continha, e não interpretar. Os adeptos dessa teoria
entediam que o Código de Napoleão já era algo perfeito e
acabado e não tinha de ser interpretado, muito menos
complementado.
v) Constituição analítica, extensa ou expansiva: Enquanto a
Constituição dos EUA é concisa ou sintética, a experiência
constitucional francesa demonstrou ser extensa, e regulou
situações que poderiam ser tratadas por normas
infraconstitucionais (não se limitou às matérias
substancialmente constitucionais, que são os direitos
individuais, a separação dos Poderes e a organização do Estado).
E. Constitucionalismo contemporâneo
G. Constitucionalismo abusivo
1.3. NEOCONSTITUCIONALISMO
• Críticas ao Neoconstitucionalismo
A Constituição Federal de 1988 dispõe que todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição. Dessa forma, a titularidade do poder é do povo, podendo seu exercício se
dar de forma direta ou indireta.
A CF prevê como regra a Democracia Indireta (representativa), que é
exercida pelos representantes eleitos pelo voto popular.
Contudo, há mecanismos de exercício da Democracia Direta previstos
constitucionalmente, que possibilitam o exercício do poder diretamente pelo povo.
São estes: o referendo, o plebiscito, a iniciativa popular e a ação popular.
Confiram a previsão contida no art. 14 do texto constitucional:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.”
1.4.1. PLEBISCITO
1.4.2. REFERENDO
Como base nessas premissas, Marcelo Neves define Constituição como uma
via de prestações recíprocas, um mecanismo de interpenetração entre política e
direito.
Atenção para mais uma classificação:
1) Constituição simbólica em sentido negativo: o texto
constitucional, de forma geral, não seria suficientemente
concretizado normativo-juridicamente de forma generalizada.
2) Constituição simbólica em sentido positivo: a atividade
constituinte e a linguagem constitucional desempenhariam
relevante papel político-ideológico, servindo para encobrir 27
conflitos e problemas sociais.
Quanto à Origem:
a) Promulgadas - São as Constituições que têm origem
democrática. Alguns chamam de votada ou popular (ex.: CF
1891; 1934; 1946; e 1988). Elaboradas por uma assembleia
nacional constituinte em nome do povo, pelo povo e para o
povo.
b) Outorgadas - São aquelas que foram impostas de maneira
unilateral por um agente revolucionário, assim não recebem
legitimidade popular (ex.: CF 1824, 1937, 1967 e emenda 1/69).
c) Cesaristas - Existe uma autorização popular por meio de
plebiscito ou referendo, mas o texto da Constituição é forçado
por um poder ditatorial (ex.: plebiscito napoleônicos e de
Pinochet no Chile). Também chamadas de napoleônicas ou
bonapartistas.
d) Pactuadas - Estas decorrem de um pacto entre os vários
titulares de poder (ex.: Magna Carta de 1215 na Inglaterra -
Decorreu de um pacto entre Realeza e Burguesia).
Quanto à Forma:
a) Escritas (instrumentalizada) - São aquelas sedimentadas em
documentos solenes, formais (ex.: CF 1988). Em algumas
Constituições escritas existe uma grande influência dos
costumes, como nos EUA. Podem ser codificadas ou legais.
b) Não escritas - Estas não trazem regras em um único texto
solene e codificado. É formada por textos esparsos,
reconhecidos pela sociedade como fundamentais. Além disso,
baseiam-se nos usos, costumes, jurisprudência e convenções
(ex.: Constituição Inglesa).
30
Quanto à Extensão:
a) Sintéticas (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas) - O
texto da Constituição é principiológico e não se funda em
detalhes. Esta espécie de Constituição tem maior manutenção
do texto no ordenamento (ex.: EUA).
b) Analíticas (amplas, extensas, largas) - O texto da
Constituição é minucioso. Esta espécie de Constituição está
sujeita a uma maior modificação dada a evolução social (ex.: CF
1988).
Outras classificações:
a) Constituição-lei: tem status de lei ordinária.
b) Constituição-fundamento: liberdade do legislador é apenas
dar efetividade às normas constitucionais.
c) Constituição-quadro/constituição-moldura: legislador só
pode atuar dentro de determinado espaço estabelecido pelo
poder constituinte. Cabe à jurisdição constitucional verificar se
esses limites foram obedecidos.
1.5.3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
1.6.1. PREÂMBULO
43
2. QUESTÕES
1. D
(A) INCORRETA. Embora jurídica, a Constituição normativa não desconsidera as
contingências histórias, sendo um erro tal afirmação.
(B) INCORRETA. As relações entre particulares também sofreram alterações
decorrentes do neoconstitucionalismo e da centralidade atribuída aos direitos
fundamentais, no que a doutrina designa “eficácia horizontal dos direitos
fundamentais”, razão pela qual a assertiva é incorreta.
(C) INCORRETA. A afirmativa diz respeito ao sentido político da Constituição, conforme
teoria de Carl Schimitt.
(D) CORRETA. A alternativa D está correta, não havendo qualquer reparo a ser feito.
2. A
(A) CORRETA. O Constitucionalismo Moderno tem como marcos as Constituições
americanas (1787) e francesa (1791), sendo esta a afirmativa correta.
(B) INCORRETA. A Carta Magna (1215) inaugura o Constitucionalismo Medieval, razão
pela qual a alternativa está incorreta.
(C) INCORRETA. A assertiva trata de característica do neoconstitucionalismo, razão 49
pela qual a assertiva está incorreta.
(D) INCORRETA. O constitucionalismo social difere do constitucionalismo moderno
clássico, com marcos históricos distintos, razão pela qual a assertiva está incorreta.
3. D
A doutrina entende de forma majoritária que o marco inicial do processo de
constitucionalização do Direito foi estabelecido na Alemanha, com a Lei Fundamental
de 1949, que endossou desenvolvimentos doutrinários expressos na jurisprudência do
Tribunal Constitucional Federal, notadamente de proteção aos direitos fundamentais.
4. E
A questão, embora de baixa complexidade, exigiu sólidos conhecimentos a respeito de
teorias e seus autores, não desafiando aquele/a que estuda a parte doutrinária, pois
tomou como afirmação duas teorias bastante conhecidas de Ferdinand Lassale e Carl
Schimitt, que são cobradas de forma recorrente. Assim, a parte doutrinária não deve
ser negligenciada, já que a cobrança de questão muitas vezes exige conhecimentos
básicos, mas desconhecidas de quem não estuda de forma sistemática toda a matéria.
5. C
A alternativa C é a que melhor esboça a finalidade de uma Constituição de acordo com
o entendimento da doutrina majoritária, sendo certo que a Constituição de 1988
atende às finalidades precípuas descritas na assertiva, que não merece qualquer
reparo.
6. D
Inicialmente, o conceito mais conhecido de constituição semântica foi desenvolvido
por Karl Loewenstein, seguindo o critério ontológico, segundo o qual, nas palavras de
Bernardo Gonçalves Fernandes (Curso de direito constitucional, 7ª ed, Juspodivm,
2015, p. 51), As constituições semânticas são aquelas que traem o significado de
Constituição (do termo Constituição). Sem dúvida, Constituição, em sua essência, é e
deve ser entendida como limitação de poder. A Constituição semântica trai o conceito
de Constituição, pois ao invés de limitar o poder, legitima (naturaliza) práticas
autoritárias de poder. A Constituição semântica vem para legitimar o poder autoritário
(sendo, portanto, Constituições tipicamente autoritárias).
Portanto, se adotado tal critério de classificação, a resposta “D” é a que mais se
enquadra dentro do conceito trazido.
No entanto, outros conceitos foram desenvolvidos para o termo “constituições
semânticas”. Para alguns autores, são as constituições nas quais o texto não é dotado
de uma clareza e especificidade e que, portanto, não vão trabalhar apenas o método
gramatical, exigindo outros métodos de interpretação (ou outras posturas
50
interpretativas) (Bernardo Gonçalves Fernandes, Curso de direito constitucional, 7ª ed,
Juspodivm, 2015, p. 47).
Por fim, Canotilho conceitua tal espécie de Constituição, como sendo aquelas que
podem ser entendidas como Constituições fechadas de cunho meramente formal que
não consagram um conteúdo mínimo de justiça em termos materiais. Estas, para o
autor de Coimbra, diferenciam-se das Constituições normativas, que são aquelas
Constituições que trazem um conjunto de normas dotadas de bondade material que
garantem direitos e liberdades, bem como impõem limites aos poderes. (Bernardo
Gonçalves Fernandes, Curso de direito constitucional, 7ª ed, Juspodivm, 2015, p. 47).
7. B
(A) INCORRETA. Ao contrário! A aversão ao juiz está na França.
(B) CORRETA. Exato! A Constituição francesa de 1791 construiu um sistema fundado
na supremacia do Parlamento, restando ao executivo a função de dispor dos meios
aptos à aplicação da lei.
(C) INCORRETA. De jeito nenhum. No modelo francês, o Judiciário só diz o que a lei diz
(boca da lei) – impensável um controle judiciário das leis.
(D) INCORRETA. Aqui vigia o Constitucionalismo CLÁSSICO ou liberal! O
Neoconstitucionalismo vem após a 2ª Guerra Mundial.
(E) INCORRETA. A Constituição de 1824 adota a teoria dos 4 Poderes, incluindo o Real
ou Moderador (Benjamin Constant).
8. D
(A) INCORRETA. Em branco é a Constituição que NÃO veicula limitações explícitas ao
poder de reforma.
(B) INCORRETA. Semântica, dentro da classificação ontológica de Karl Loewenstein, é
aquela Constituição que está a serviço das classes dominantes, legitimando práticas
autoritárias de poder (trai seu escopo).
(C) INCORRETA. Simbólica (conceituação de Marcelo Neves) é aquela Constituição que
pretende não criar uma norma cogente, mas sim alcançar outros objetivos
(simbólicos).
(D) CORRETA. Conceito de Constituição dúctil, também conhecida como Constituição-
suave. Nas atuais sociedades, marcadas pela diversidade, a Constituição não pode ser
o ponto de partida, mas sim o de chegada; não deve ser um projeto predeterminado
de vida comunitária, cabendo-lhe apenas assegurar condições possíveis à vida comum
– tem de acompanhar a descentralização do Estado e refletir o pluralismo reinante.
(E) INCORRETA. Dirigente é a programática, isto é, estabelece um projeto para o
futuro. J. J. Gomes Canotilho assevera que a Constituição deve ser um plano que
direcionará a atuação do Estado, notadamente por meio das normas programáticas – a
Constituição passa a comandar a ação estatal e impor a realização de metas (não
substitui a política, mas se torna premissa material dela).
9. C 51
(A) INCORRETA. O constitucionalismo antigo possui raízes antes da Magna Carta de
1215, sendo citado por Pedro Lenza, em sua obra (Direito constitucional
esquematizado, 18ª ed., Saraiva, 2014, p.67), como exemplos o constitucionalismo
hebreu, estabelecendo-se no Estado teocrático limitações ao poder político ao
assegurar aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que
extrapolassem os limites bíblicos (...), e das Cidades-Estados gregas como importante
exemplo de democracia constitucional.
(B) INCORRETA. Trata-se, em verdade, do Constitucionalismo contemporâneo do pós-
guerra.
(C) CORRETA.
(D) INCORRETA. Locke, Montesquieu e Rousseau são considerados principais
precursores do Constitucionalismo moderno, e não do contemporâneo.
10. C
(A) INCORRETA. O sentido de Constitucionalismo na Antiguidade era um sentido
eminentemente descritivo, não era um sentido normativo. Embora a pólis grega seja
de fato um embrião da democracia, com o julgamento de questões importantes pelo
povo, em praça pública (democracia direta), registre-se que nem todos eram
considerados cidadãos, sendo excluídos diversos estratos sociais da participação na
vida política. Outrossim, a aludida experiência se deu essencialmente em Atenas, e não
em Esparta. (Cláudio P. S. Neto e Daniel Sarmento - Direito constitucional - teoria,
história e métodos de trabalho).
(B) INCORRETA. De fato, a Constituição de 1946 estabeleceu a condicionante de
atendimento ao bem estar da sociedade em relação ao direito de propriedade, com
possibilidade de desapropriação por interesse social, contudo, a primeira Constituição
a registrar um compromisso social mais firme foi a de 1934, a qual rompeu com o
conceito essencialmente liberal que prevalecia nas Constituições anteriores e
introduziu elementos socioideológicos. Ex.: implementou a Justiça do Trabalho, a
Justiça Eleitoral, o voto secreto, o mandado de segurança, a ação popular, dentre
outros direitos individuais e sociais.
(C) CORRETA. A defesa das liberdades clássicas (direitos civis e políticos) e da igualdade
em sentido formal e a limitação do poder estatal compõem a tônica do
Constitucionalismo moderno. As Revoluções liberais da Europa, nesse contexto
histórico, buscavam a garantia da proteção do homem contra as arbitrariedades
estatais (abstenção estatal). Trata-se da construção de uma espécie de “círculo” em
volta do homem, composto pelas liberdades públicas e intransponível pelo Estado.
(D) INCORRETA. De fato, uma das características do Constitucionalismo hebreu reside
na circunstância de os profetas dotados de legitimidade popular no Estado Teocrático
fiscalizarem e punirem os atos dos governantes que ultrapassavam os limites bíblicos.
Ocorre que a assertiva o situa de forma cronologicamente equivocada, uma vez que
não se situa na época medieval, e sim na perspectiva do Constitucionalismo primitivo.
(E) INCORRETA. A Revolução Gloriosa promoveu a derrubada do absolutismo inglês,
que foi substituído pela monarquia parlamentar constitucional, sendo de fato uma
base importante para a afirmação do Constitucionalismo, porém não se previa um
modelo de estado federado.
52
11. D
(A) INCORRETA. A visão de Constituição como decisão política fundamental remete ao
autor Carl Schmmit. Na perspectiva jurídica (positivista) de Kelsen, a Constituição seria
a norma posicionada no topo do ordenamento jurídico e se apresentaria como
fundamento de validade de todas as outras normas ou outros atos normativos, daí
porque não se admite, na teoria de Kelsen, que se deixe de atender à Lei
Constitucional (na teoria Kelseana sequer é admitida a diferenciação entre
Constituição e Lei Constitucional).
(B) INCORRETA. Kelsen é quem trabalha o conceito jurídico de Constituição. Para
Canotilho, a Constituição deve ser vista em perspectiva dirigente, revelando um viés
social.
(C) INCORRETA. O conceito Sociológico de Constituição é fornecido por LASSALE. Para
HESSE, a Constituição por si só tem um sentido mais concreto, devido à sua força
normativa. Logo, na visão desse autor a Constituição não é só fato, norma e valor, e
sim resulta de uma síntese dialética desses 3 fatores, pois cada um deles interage com
os outros. Norma, fato e valor interagem, comunicam-se. Uma das funções da norma é
modificar a situação fática vigente em determinado contexto. O fato repercute sobre a
norma assim como a norma repercute sobre o fato. As normas visam a condicionar a
realidade social, mudar a situação fática.
(D) CORRETA. Na concepção de Haberle, a Constituição é o documento fundamental
de uma sociedade pluralista e aberta, obra de vários partícipes. A Constituição é uma
ordem fragmentária, passível de interpretação e descontínua. É o reflexo de um
processo interpretativo aberto e conduzido à luz da força normativa da publicidade.
(E) INCORRETA. A noção de Constitucionalismo dirigente remete à Canotilho. Para
Luhmann, a Constituição é documento regulador do sistema político, instrumento que
serve para reduzir a complexidade do sistema político, buscando uma reflexão de
funcionalidade do direito. Não basta analisar o vínculo de conformidade das leis com a
Constituição – juízos de constitucionalidade – sendo necessário que a Constituição
funcione como campo de contingência de autofixação do sistema político.
12. C
A banca considerou correta a seguinte assertiva: “Devem ser observados na
interpretação das normas constitucionais, por se tratarem de vetores adotados pela
Constituição”.
Entretanto, o STF adotou a tese da irrelevância jurídica do preâmbulo. Possuindo,
inclusive entendimento consolidado sobre a matéria:
O preâmbulo não se situa no âmbito do Direito, mas sim no domínio da política. Ele
apenas reflete a posição ideológica do constituinte. Desse modo, o preâmbulo não
possui relevância jurídica. Vale ressaltar, ainda, que o preâmbulo não constitui norma
central da Constituição, não sendo de reprodução obrigatória nas Constituições dos
Estados-membros. A invocação a Deus, presente no preâmbulo da CF/88, reflete um
53
sentimento religioso. Isso não faz, contudo, que o Brasil deixe de ser um Estado laico.
O Brasil é um Estado laico, ou seja, um Estado em que há liberdade de consciência e de
crença, onde ninguém é privado de direitos por motivo de crença religiosa ou
convicção filosófica. A invocação da proteção de Deus contida no preâmbulo da CF/88
não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo
força normativa. Se a Constituição estadual não tiver esta expressão, não há qualquer
inconstitucionalidade nisso. STF. Plenário. ADI 2076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado
em 15/08/2002.
Dessa forma, a equipe do MEGE indicou que a questão era passível de anulação. De
toda forma, trouxe a questão para fins de estudo e análise da forma como o conteúdo
é cobrado.
13. E
(A) INCORRETA. A assertiva se equivoca ao dizer que existe separação entre o direito
e a moral. O Neoconstitucionalismo é uma nova forma de se interpretar o Direito, que
aproximado da Moral, passa a contemplar juízos de valor com a finalidade de
preservar, garantir e promover os direitos fundamentais, que por estarem prescritos
em regras ou princípios constitucionais faz com que o Direito Constitucional se aloque
no centro do sistema jurídico irradiando sua forma normativa.
(B) CORRETA. Constituições pluralistas ou compromissórias são aquelas que possuem
normas inspiradas em ideologias diversas. Geralmente resultam de um compromisso
entre os diversos grupos participantes do momento constituinte.
(C) INCORRETA. A assertiva se equivoca ao dizer que nas Constituições flexíveis o
conflito entre a norma constitucional anterior e a lei superveniente resolve-se não
pelo critério hierárquico. Flexíveis são aquelas Constituições que não possuem um
processo legislativo de alteração mais dificultoso do que o processo legislativo de
alteração das normas infraconstitucionais. A dificuldade em alterar a Constituição é a
mesma encontrada para alterar uma lei que não é constitucional.
(D) INCORRETA. O Brasil não adotou a teoria da dupla revisão, sendo inclusive
entendido como uma limitação implícita ao poder de reforma constitucional.
(E) INCORRETA. No sentido sociológico, a Constituição, segundo a conceituação de
Lassalle, seria a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.
54
CURSO MEGE
Site: www.mege.com.br
Celular / Whatsapp: (99) 982622200
Turma: PCSP (Delegado de Polícia)
Material: Direito Penal (Ponto 1)
RODADA 1
Direito Penal – Parte Geral
(Ponto 1)
1
Introdução ao Direito Penal
2
APRESENTAÇÃO
Prezado futuro Delegado de Polícia,
Muitos alunos acabam “saltando” essas partes históricas, pois, não acreditam
que são importantes. Todavia, além de poder ser decisivo através de pontuação extra,
o conhecimento de tais partes leva a uma melhor compreensão do Direito Penal como
um todo, evitando que vocês se valham excessivamente da memorização na hora de
responder questões.
3
Finalmente, foram selecionadas as principais questões para que vocês fixem
bastante o conteúdo, todas com comentários ao final. Façam todas,
independentemente de não ser de concurso para Delegado, pois a cobrança da parte
geral de direito penal é bastante semelhante para todos os cargos.
Artur Herbas.
SUMÁRIO
1. DOUTRINA (RESUMO) ................................................................................................ 5
1.1. CONCEITOS DE DIREITO PENAL ................................................................................ 5
1.2. MODELOS DE DIREITO PENAL .................................................................................. 9
1.3. VELOCIDADES DO DIREITO PENAL.......................................................................... 10
1.4. DIREITO PENAL DO INIMIGO .................................................................................. 11
1.5. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO BRASIL .......................................... 12
1.6. BEM JURÍDICO........................................................................................................ 13
1.7. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL (EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS) .... 15
1.8. PERSONALIDADE OU RESPONSABILIDADE PESSOAL .............................................. 18
1.9. INTERVENÇÃO MÍNIMA ......................................................................................... 19
1.10. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ............................................................................... 24
1.11. CULPABILIDADE.................................................................................................... 25
1.12. HUMANIDADE ...................................................................................................... 26
1.13. PROPORCIONALIDADE ......................................................................................... 26
1.14. FONTES DO DIREITO PENAL ................................................................................. 28
4
1.15. RELAÇÃO DO DIREITO PENAL COM OUTROS RAMOS........................................... 30
1.16. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ............................................................................ 31
2. QUESTÕES ..................................................................................................................35
3. GABARITO COMENTADO ......................................................................................... 42
1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. CONCEITOS DE DIREITO PENAL
Tem como principal expoente Franz Von Liszt (século XIX), devendo-se
mencionar, também, as contribuições de Ernst Von Beling e Gustav Radbruch
A imagem do homem como ser racional, igual e livre, a teoria do pacto social,
como fundamento da sociedade civil e do poder, assim como a concepção utilitária do
castigo, não desprovida de apoio ético, constituem os três sólidos pilares do
pensamento clássico.
Surge no final do século XIX, com o avanço das ciências humanas e biológicas e
época de predomínio do pensamento positivista. Também há, nesta fase, crescente
preocupação com o fenômeno da criminalidade.
Por fim, cumpre ressaltar que para essa escola, a periculosidade era a base da
responsabilidade penal: a pena (baseada, sobretudo, na periculosidade do agente –
“temibilidade” foi o termo cunhado por Garófalo), não tinha papel retributivo, mas
fundamentalmente preventivo, ou seja, era instrumento de defesa social, já que a
correção dos criminosos era impossível.
O tecnicismo nasceu pelas ideias de Arturo Rocco (Itália, 1910), e tem como
diretriz base o estudo do direito penal com fundamento em método dogmático ou
8
técnico-jurídico. Passou por dois momentos históricos:
Marcada também por duas fases, surgiu no século XX. Foi defendida por Fillipo
Gramatica, Marc Ancel, Von Liszt, Van Hamel e Adolphe Prins.
1.2.1. Garantismo
Veio em 1830 após sanção de Dom Pedro I, e trouxe uma evolução do Direito
Penal, que passou a ser mais humanizado – torturas, açoites e outras penas cruéis foram
banidas. Ainda perduravam retrocessos como o tratamento degradante dos escravos,
tratados como animais/objetos.
Com o fim do Império, tivemos o Código Penal de 1890. Foi bastante criticado
pela doutrina por ignorar as tendências evolutivas de outros países, o que levou a uma
intensa regulamentação da matéria criminal em legislações extravagantes, até a edição
do atual Código Penal de 1940.
Para uma compreensão inicial, segundo lição de Roxin, bens jurídicos podem
ser definidos como circunstâncias reais dadas ou finalidades necessárias para uma vida
segura e livre, que garanta a todos os direitos humanos e civis de cada um na sociedade
ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia nestes objetivos. Cabe ao
legislador, na sua propícia função, proteger os mais diferentes tipos de bens jurídicos,
cominando as respectivas sanções, de acordo com a sua importância para a sociedade.
Assim, haverá o ilícito administrativo, o civil, o penal, etc.
Observação: Bem jurídico não se confunde com objeto material. Objeto material é
a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.
15
Observação: Consideramos a anterioridade e a retroatividade da lei benéfica
decorrências do princípio da legalidade. Da mesma forma, reputamos a
fragmentariedade, a subsidiariedade, a ofensividade ou lesividade, a insignificância
ou bagatela e a adequação social decorrências do princípio maior da intervenção
mínima. Há autores que relacionam todos eles como princípios autônomos, porém,
não há divergência quanto ao conteúdo
1.7.1. LEGALIDADE
Classicamente, diz-se que nullun crimen, nulla poena sina praevia lege,
conforme a consagrada fórmula de Feuerbach. Segundo Luiz Luisi, o princípio da
legalidade constitui “patrimônio comum da legislação penal dos povos civilizados”.
CF, art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.
CP, art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.
Atenção! A medida provisória não poderá versar sobre direito penal e processual
penal, conforme a redação do art. 62, § 1º, b, da CF.
a) Lege praevia (art. 5º, incisos XXXIX e XL da CF) - Não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. A lei penal deve ser prévia
à prática da infração penal. Trata-se do princípio da anterioridade da lei penal, que tem
como consequência a proibição da retroatividade da lei penal mais severa, cuja
previsão encontra-se no art. 5º, inciso XL, da CF, ou seja: a lei penal não retroagirá, salvo
para beneficiar o réu. OBS: A retroatividade benéfica é garantia fundamental do cidadão.
b) Lege scripta (reserve legal) - Somente a lei penal escrita, em sentido formal,
poderá criar crimes e cominar penas. Consequência: proíbe-se a criação de crimes pela
via dos costumes. Não existe, no direito penal, o costume incriminador, embora o
costume sirva para a interpretar a lei penal (costume interpretativo).
d) Lege certa (taxatividade) - A lei penal deve ser clara, certa, precisa,
proibindo-se o uso de conceitos vagos e imprecisos. Estamos diante do fundamento
jurídico da reserva legal, qual seja, o princípio da taxatividade, o qual exige, na
elaboração dos delitos, a facilidade na sua compreensão, não cabendo em seu conteúdo
expressões ambíguas ou indeterminadas. Obs: para César Bittencourt, o art. 288-A do
CP é exemplo de tipo penal que viola a taxatividade da lei penal.
a) Sentido amplo (CF, art. 5º, inciso II): Ninguém está obrigado a fazer ou a
deixar de fazer algo, salvo em virtude de lei.
b) Sentido estrito (art. 5º, inciso XXXIX): Específico para o direito penal -
“nullum crimen sine praevia legis”. Legalidade criminal – não há crime sem lei.
Legalidade penal – não há pena sem lei. Legalidade jurisdicional ou processual – não há
processo sem lei. Legalidade execucional – não há execução sem lei.
Conforme estabelece a Constituição Federal, “não há crime sem lei anterior que
o defina”, nem pena “sem prévia cominação legal”.
Ou seja, a lei penal incriminadora não pode retroagir para punir fatos concretos
que até então não eram passíveis de repressão criminal. A lei penal deve ser prévia ao
fato delituoso.
Significa que a lei penal não pode retroagir, salvo para beneficiar o acusado.
Trataremos detalhadamente do tema em momento oportuno. 18
1.8. PERSONALIDADE OU RESPONSABILIDADE PESSOAL
CF, art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido
Não cabe, por exemplo, aplicar pena ao filho por crime cometido pelo pai.
Insignificância ou bagatela.
Está assentado no brocardo “de minimis non curat praetor”. Em 1964, Roxin
introduziu no direito penal o princípio da insignificância ou da bagatela. Parte da
doutrina relaciona a insignificância como princípio autônomo.
De outra banda, doutrina clássica entende que o Delegado só teria que verificar
a tipicidade formal, não podendo aplicar o princípio da insignificância.
Lesividade ou ofensividade.
Não há crime sem ofensa (nullum crimen sine iniuria). Se a conduta, no caso
concreto, não violar o bem jurídico, nem sequer ameaçá-lo, não existe crime.
Adequação social.
Significa que uma conduta, sendo aceita e aprovada pela sociedade, não pode
ser considerada materialmente típica. Constitui uma decorrência da intervenção mínima
(mas, assim como a ofensividade e insignificância, há autores que classificam a
adequação social como princípio autônomo). Exemplo:
CF, art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
Este princípio constitucional expresso significa que a pena deve ser
individualizada para cada caso, evitando-se padronizações.
1.11. CULPABILIDADE
É princípio constitucional implícito e genérico, que possui três vertentes:
1.12. HUMANIDADE
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
1.13. PROPORCIONALIDADE
No âmbito do Direito Penal, significa que a severidade das penas deve ser
proporcional à gravidade dos delitos praticados.
28
1.14. FONTES DO DIREITO PENAL
De onde emana o Direito Penal?
De que maneira o Direito Penal exterioriza suas normas? As fontes formais são
as formas de exteriorização do Direito Penal.
É a LEI: Direito penal incriminador somente pode se exteriorizar por meio de lei
em sentido estrito, norma emanada do Congresso. Situações peculiares:
- Lei Complementar à Constituição – a maioria da doutrina
admite (Ex.: LC 105/2001, art. 10).
- Lei delegada – não cria lei penal (é delegação ao Presidente
da República, e o Presidente da República não edita lei penal).
- Medida provisória não pode criar crime. O art. 62 da CF veda.
- Medida provisória a favor do réu – admissível. A CF somente
proíbe contra o réu (STF, RE 254718).
a) Costumes
Mas atenção, alguns autores optam por classificar os costumes como Fontes
Informais do Direito Penal.
O direito civil traz relação com o âmbito criminal através de conceitos como
posse, propriedade e detenção, sendo válidos em crimes como a invasão de domicílio,
por exemplo. O Direito Civil também é essencial para entender crimes contra o
casamento ou falimentares.
31
É possível analogia em Direito Penal?
Analogia contra o réu (analogia in mallam partem) vedada, já que tal hipótese
feriria o princípio da legalidade.
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Ex: Art. 246 do CP (abandono intelectual) – “Deixar, sem justa causa, de prover
à instrução primária de filho em idade escolar”. O conceito de instrução primária pode
ser encontrado no art. 208, I da CF – “educação básica obrigatória e gratuita dos 4
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para
todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”.
35
3. (DPC-SE/CESPE/2018) Julgue o item seguinte, relativo aos direitos e deveres
individuais e coletivos e às garantias constitucionais.
Em razão do princípio da legalidade penal, a tipificação de conduta como crime deve ser
feita por meio de lei em sentido material, não se exigindo, em regra, a lei em sentido
formal.
( ) Certo
( ) Errado
11. (VUNESP – Delegado – PC/SP – 2014) Tendo o Direito Penal a missão subsidiária de
proteger os bens jurídicos e, com isso, o livre desenvolvimento do indivíduo, e, ainda,
sendo a pena vinculada ao Direito Penal e à Execução Penal, após a reforma do Código
Penal Brasileiro, em 1984, é correto afirmar que a finalidade da pena é
a) repreensiva e abusiva.
b) punitiva e reparativa.
c) retributiva e preventiva (geral e especial).
d) ressocializadora e reparativa.
e) punitiva e distributiva.
13. (CESPE/TJPR/2019) Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi estabelecido
que os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o dia 31 de
dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a referida
legislação é um exemplo de lei penal:
a) excepcional.
b) temporária.
c) corretiva.
d) intermediária.
14. (FCC/TJBA/2019) Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça,
INAPLICÁVEL o princípio da insignificância:
a) aos crimes ambientais e aos crimes patrimoniais sem violência ou grave ameaça à
pessoa, se reincidente o acusado.
b) aos crimes praticados contra a criança e o adolescente e aos crimes contra a ordem
tributária.
c) às contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações
domésticas e aos crimes contra a Administração pública.
d) aos crimes de licitações e às infrações de menor potencial ofensivo, já que regidas por
lei especial.
e) aos crimes de violação de direito autoral e aos crimes previstos no estatuto do
desarmamento.
18. (FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia) No que diz respeito aos princípios
aplicáveis ao Direito Penal, analise os textos a seguir:
- A proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que
nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico (ROXIN, Claus.
Der echo penai- parte geral. Madrid: Civitas, 1997.1.1, p. 65).
- A criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a
proteção de ataques contra bens jurídicos importantes (BITENCOURT, Cezar Roberto.
40
Tratada de direito penal: parte geral. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 54).
Nesse sentido, é correto afirmar que os textos se referem ao:
a) princípio da intervenção mínima, imputando ao Direito Penal somente fatos que
escapem aos meios extrapenais de controle social, em virtude da gravidade da agressão
e da importância do bem jurídico para a convivência social.
b) princípio da insignificância, que reserva ao Direito Penal a aplicação de pena somente
aos crimes que produzirem ataques graves a bem jurídicos protegidos por esse Direito,
sendo que agir de forma diferente causa afronta à tipicidade material.
c) princípio da adequação social em que as condutas previstas como ilícitas não
necessariamente revelam-se como relevantes para sofrerem a intervenção do Estado,
em particular quando se tornarem socialmente permitidas ou toleradas.
d) princípio da ofensividade, pois somente se justifica a intervenção do Estado para
reprimir a infração com aplicação de pena, quando houver dano ou perigo concreto de
dano a determinado interesse socialmente relevante e protegido pelo ordenamento
jurídico.
e) princípio da proporcionalidade, em que somente se reserva a intervenção do Estado,
quando for estritamente necessária a aplicação de pena em quantidade e qualidade
proporcionais à gravidade do dano produzido e a necessária prevenção futura.
19. (DPCES 2019 INSTITUTO ACESSO) O sistema penal é composto por órgãos de
naturezas jurídicas distintas com funções, dentre outras, de caráter investigativo,
repressivo, jurisdicional e prisional. É sabido que os números de letalidade no exercício
de tais funções, tanto de civis quanto de agentes do sistema penal têm aumentado nos
últimos anos. Por conta dessa informação, será preciso promover uma política pública
em âmbito penal que reverbere na diminuição de tal letalidade. (BATISTA, Nilo.
Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007)
Identifique a alternativa correta que contenha os princípios que fundamentam o Direito
Penal, e que mostrem que sua observância se torna importante para o embasamento
da referida política pública.
a) Mínima letalidade/ letalidade controlada/ tutela civil e tutela penal/ livre iniciativa.
b) Mínimo proporcional/ reserva do possível/ humanidade/ lesividade.
c) Legalidade / proporcionalidade / penalidade / legítima defesa.
d) Intervenção mínima/ legalidade / lesividade / adequação social.
e) Devido processo legal/ contraditório e ampla defesa/ proximidade de jurisdição /
proporcionalidade.
2. CERTO
A novatio legis in mellius retroage até mesmo nos casos de coisa julgada, bastando a
análise do parágrafo único do art. 2º do CP: “A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado”.
3. ERRADO
4. ERRADO
Prevalece que se trata de conduta típica prevista no CP. Súmula 502 do STJ: Presentes a
materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, 2º, 42
do cp, a conduta de expor a venda cds e dvds piratas.
5. A
6. A
(I) INCORRETA. A Nova Defesa Social é um movimento com traços de uma política
criminal humanista, na busca de um Direito Penal de caráter preventivo e protetor da
dignidade humana. Em sentido diametralmente oposto ao da Defesa Social, existem os
chamados Movimentos de Lei e Ordem, cuja ideologia estabelecida é a repressão,
pautada no regime punitivo-retributivo. A Despenalização das Contravenções, por seu
turno, não é considerada como instrumento de endurecimento do Estado no combate
ao crescimento da criminalidade.
(III) CORRETA. Tal movimento parte da premissa de que os pequenos delitos devem ser
rechaçados, o que inibiria os mais graves (fulminar o mal em seu nascedouro), atuando
como prevenção geral; os espaços públicos e privados devem ser tutelados e
preservados.
8. E
9. B
10. C
12. C
(C) CORRETA: De acordo com esse princípio, não pode ser considerado criminoso o
comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento
social de Justiça.
44
(D) INCORRETA: “Lege certa”, taxatividade ou mandato de certeza O princípio da
legalidade jamais cumprirá seu papel se a lei, ainda que anterior à conduta, puder ser
editada de tal modo genérico ou vago, que não se possa delimitar, com segurança e
concretude, quais comportamentos a ela se subsumem. Por esse motivo, são
inconstitucionais os tipos penais vagos. Deve a lei penal ser concreta e determinada em
seu conteúdo, sob pena de gerar incertezas quanto à sua aplicação e,
consequentemente, provocar indesejável insegurança jurídica. (André Estefam e Victor
Eduardo Rios Gonçalves - Direito penal esquematizado: parte geral) No entanto, apesar
de vedados os crimes genéricos/vagos, a taxatividade não impede a formação de
normas penais em branco ou os chamados tipos penais abertos.
(E) INCORRETA: De acordo com esse princípio, sem previsão legal no Brasil, inexiste
legitimidade na imposição da pena nas hipóteses em que, nada obstante a infração
penal esteja indiscutivelmente caracterizada, a aplicação da reprimenda desponte como
desnecessária e inoportuna. Apresenta desvalor da conduta e desvalor do resultado. O
fato é típico e ilícito, o agente é dotado de culpabilidade e o Estado possui o direito de
punir (punibilidade). É de se observar que a bagatela imprópria tem como pressuposto
inafastável a não incidência do princípio da insignificância (própria). Com efeito, se o
fato não era merecedor da tutela penal, em decorrência da sua atipicidade, descabe
enveredar pela discussão acerca da necessidade ou não de pena.
13. B
A Lei Geral da Copa insere-se perfeitamente no conceito de lei temporária, que, segundo
a doutrina, possui cláusula de autorrevogação, com data específica e determinada para
o término da vigência da lei. Difere da lei excepcional, que prevê para o término de
vigência um evento futuro, porém, sem data definida, como o término de uma Guerra,
por exemplo.
14. C
A questão merece atenção, na medida em que a alternativa correta é aquela que possui
todos os exemplos compatíveis com a exigência do enunciado. Assim sendo, temos:
15. E
(B) INCORRETA. Para o princípio da humanidade das penas, a pena deve respeitar os
direitos fundamentais do condenado enquanto ser humano. Não pode, assim, violar a
sua integridade física ou moral (CF, art. 5.º, XLIX). Da mesma forma, o Estado não pode
dispensar nenhum tipo de tratamento cruel, desumano ou degradante ao preso. Com
esse propósito, o art. 5.º, XLVII, da Constituição Federal proíbe as penas de morte, de
trabalhos forçados, de banimento e cruéis, bem como a prisão perpétua. Assim sendo,
há proximidade do mencionado princípio com a vedação do cumprimento de pena em
estabelecimento prisional em localidade distante da família. Por outro lado, a vedação
de que o réu permaneça algemado durante audiência de instrução e julgamento, está
mais estreitamente ligada ao princípio da presunção de inocência.
(C) INCORRETA. É explícito o princípio da legalidade da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CF).
Entretanto, são implícitos o princípio da proporcionalidade e o da insignificância.
(D) INCORRETA. Para o princípio da adequação social, não pode ser considerado
criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o
sentimento social de Justiça. Todavia, a adequação social não implica revogação da
norma penal.
16. D
17. E
18. A
19. D
Questão extremamente mal formulada ao meu ver, trazendo como gabarito a assertiva
“D”. Podemos voltar no ponto e ler os conceitos dos princípios que estão no gabarito e
mesmo assim não é tão claro que correspondem ao texto. O candidato, para acertar
essa questão, deve marcar por exclusão a alternativa “D”. De toda sorte, por lealdade
aos nossos alunos, trazemos no ponto também as questões “impugnáveis”.
20. A
(A) CORRETA. No final do século XIX, via-se um predomínio das ideias sociológicas no
campo da explicação causal do delito (Lacassagne, Tarde e Durkheim). Suas obras
encontraram grande aceitação, enxergando o crime como fenômeno coletivo, cujas
raízes poderiam ser encontradas nas mais variadas causas sociais, como a pobreza, a
educação, a família, o ambiente moral. Investigando-se esses focos, poderia se prever,
com alguma segurança, o aumento da criminalidade e, então, combatendo-se essas
causas, seria possível obter algum sucesso em sua redução. (André Estefam e Victor
Eduardo Rios Gonçalves - Direito penal esquematizado: parte geral)
(B) INCORRETA. Pontua uma profunda mudança de foco na Ciência do Direito Penal,
que deixa de se voltar para o sistema legal (Escola Clássica), deslocando-se para o
delinquente e a pesquisa das causas do crime. Enquanto a Escola Clássica empregava o
método dedutivo, de lógica abstrata, a Escola Positiva se socorria do método indutivo e
experimental. A pena deveria cumprir um papel eminentemente preventivo, atuando
como instrumento de defesa social. A sanção, portanto, não se balizava somente pela
gravidade do ilícito, mas, sobretudo, pela periculosidade do agente. (André Estefam e
Victor Eduardo Rios Gonçalves - Direito penal esquematizado: parte geral)
RODADA 1 PAGE \*
1
Direito Processual Penal MERGEF
ORMAT
(Ponto 01)
Princípios. Sistemas Processuais. Aplicação da Lei
Processual Penal. Inquérito Policial.
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2
MERGEF
ORMAT
MENSAGEM DO MEGE
ATENÇÃO
Vamos começar nossa matéria com dois dos assuntos mais importantes para a
carreira de delegado de polícia, que são sistemas processuais e inquérito. Frisamos
nesse primeiro momento também alguns temas que necessitam de atenção, como por
exemplo lei processual no tempo e no espaço, e indiciamento. Você precisa ler várias
vezes a lei seca do processo penal até a prova, com a resolução das questões jurídicas
relacionadas a cada um dos temas do edital para Delegado de São Paulo que se avizinha.
Bons estudos!
Equipe Mege.
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3
MERGEF
ORMAT
SUMÁRIO
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4
MERGEF
ORMAT
1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. PRINCÍPIOS
1.1.1. CONCEITO E FUNÇÕES
(...)
- O direito à prova; e
Provas ilícitas são aquelas obtidas por meios que afrontam direta ou
indiretamente garantias constitucionais e legais.
Até 2009, o STF entendia ser possível a execução provisória da pena desde a
prolação da sentença condenatória em primeiro grau. Depois, em 05/02/09 (HC 84.078),
o STF passou a entender que a execução provisória da pena era inconstitucional,
devendo ser aguardado o trânsito em julgado em razão do princípio da presunção de
inocência. Esse entendimento prevaleceu até 2016, quando no HC 126.292 o STF decidiu
que era possível a execução provisória da pena, desde que proferido acórdão
condenatória em 2º grau (em sede de recurso ou em ações penais originárias).
Revisando seu entendimento sobre o tema, o STF decidiu na ADC 43/DF, ADC
44/DF e ADC 54/DF, em 07/11/19, por maioria (6x5), que a execução provisória da pena
ofende o princípio da presunção de inocência.
Este é o entendimento atual e que deve ser utilizado para a sua prova.
Além do mais, o art. 492, § 4º, afirma que a referida apelação não terá efeito
suspensivo, salvo nos casos excepcionados pelo § 5.
Em outras palavras, se o réu for condenado no Tribunal do Júri a uma pena igual
ou superior a 15 anos de reclusão, ele terá que iniciar o cumprimento da pena privativa
de liberdade, mesmo que ele tenha interposto apelação contra essa sentença, ou seja,
mesmo antes do trânsito em julgado da condenação.
Vale lembrar que o STF, até então, tinha entendimento divergente sobre o
tema entre as suas turmas. De um lado, a 1ª Turma do STF entendia que “a prisão de
réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o
princípio constitucional da presunção de inocência ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª
Turma. HC 118.770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 07/03/2017).
Essa decisão, no entanto, foi publicada antes do julgamento das ADC 43/DF, ADC 44/DF
e ADC 54/DF, em 7/11/2019, por meio das quais o STF, por 6x5, decidiu que é
inconstitucional a execução provisória da pena. A 2ª Turma do STF, por sua vez, entendia
que não era possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações
pelo Tribunal do Júri.
Essa linha é reforçada pelo legislador no art. 312, § 2º, do CPP, quando diz:
Consiste na proibição de que o réu seja julgado novamente por fato que já foi
apreciado pelo Poder Judiciário.
Nesse sistema, cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá início à ação penal PAGE \*
e, ao final, ele mesmo profere a sentença. 14
MERGEF
O acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito de
ORMAT
direitos.
Esse sistema foi reforçado pela Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime), que proibiu
expressamente o juiz de decretar prisão preventiva e outras medidas cautelares de
ofício. Confira:
Esse tema será tratado com mais minúcias no material sobre prisões!
O art. 1º do CPP elenca hipóteses em que este não terá aplicação, ainda que o
fato tenha ocorrido no território nacional. Vejamos:
É o que ocorre, por exemplo, com agentes diplomáticos aqui acreditados, como
embaixadores, secretários de embaixadas, bem como seus familiares, além dos
funcionários de organizações internacionais, tal qual a ONU. A Convenção de Viena,
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103/64, prevê imunidade diplomática a esses
agentes, de forma que não estão sujeitos à lei processual penal brasileira, pois terão a
aplicação da lei material do seu respectivo país, e, por via de consequência, o processo
lá tramitará.
O art. 5º, § 4º, da CF, prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, ainda que um
delito seja cometido no território brasileiro, havendo denúncia ao TPI, o agente poderá
ser entregue à jurisdição estrangeira.
PAGE \*
1.3.2. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO.
18
MERGEF
Regra geral – Princípio do efeito imediato ou princípio da aplicação imediata ou
sistema do isolamento dos atos processuais. ORMAT
1.3.2.1. Exceção
A. Normas heterotópicas
Tendo em conta que os elementos de informação não são colhidos sob a égide
do contraditório e da ampla defesa, deduz-se que o inquérito policial tem valor
probatório relativo, e, de forma isolada, não podem os elementos de informação servir
de fundamento para um decreto condenatório, mas podem, de forma subsidiária, influir
na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando
complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em
juízo.
1.4.5. CARACTERÍSTICAS
A. Procedimento escrito
De acordo com o art. 9º do CPP, todas as peças do inquérito policial serão, num
só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.
B. Procedimento dispensável
D. Procedimento inquisitorial
O inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB, incluído pela Lei 13.245/2016, prevê
que o advogado tem direito de assistir a seus clientes investigados durante a apuração
de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou
depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios
dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso
da respectiva apuração apresentar razões e quesitos.
Prevalece que sim. Com efeito, ante a impossibilidade de aplicação de uma PAGE \*
sanção como resultado imediato das investigações criminais, como ocorre, por exemplo, 22
MERGEF
em um processo administrativo disciplinar, não se pode exigir a observância do
contraditório e da ampla defesa nesse momento inicial da persecução penal. Ora, se não ORMAT
há necessidade de um defensor no curso de um processo administrativo disciplinar, do
qual pode resultar a aplicação de sanções relativamente severas (v.g., suspensão,
exoneração, perda de função, etc.), é de se estranhar a obrigatoriedade de defensor
durante a realização de um interrogatório policial, do qual jamais será possível a
aplicação imediata de uma sanção.
E. Procedimento discricionário
G. Procedimento oficioso
H. Procedimento indisponível
Se, diante de uma circunstância fática, o delegado percebe que não houve
crime, não deve iniciar o inquérito policial, mas, uma vez iniciado, deve levá-lo até o
final, não podendo arquivá-lo. E, no relatório, não poderá fazer considerações acerca da
existência de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade, cabendo-lhe simplesmente
relatar as diligências investigatórias realizadas e apontar a tipificação do fato apurado.
I. Procedimento temporário
Apesar de o art. 10, § 3º, do CPP, permitir que a autoridade policial possa
requerer ao juiz a devolução dos autos para ulteriores diligências, quando o fato for de
difícil elucidação e o indiciado estiver solto, o princípio constitucional da duração
razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF) impede que o inquérito policial tenha seu
PAGE \*
prazo de conclusão prorrogado indefinitivamente.
24
MERGEF
1.4.6. FORMAS DE INSTAURAÇÃO
ORMAT
1.4.6.1. Crimes de ação penal pública incondicionada
Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser
instaurado das seguintes formas:
1.4.7.2. Momento
1.4.7.3. Pressupostos
1.4.7.4. Desindiciamento
De acordo com o art. 10, caput, do CPP, o inquérito deverá terminar no prazo
de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.
Segundo o art. 10, § 3º, do CPP, quando o fato for de difícil elucidação e o
indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para
ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
PRESO SOLTO
JUSTIÇA ESTADUAL
10 30+30
(art. 10 do CPP)
JUSTIÇA FEDERAL
15 + 15 30 + 30
(art. 66 da Lei nº 5.010/66)
LEI DE DROGAS
30 + 30 90 + 90
(art. 51 da Lei nº 11.343/06)
ECONOMIA POPULAR
10 10
(art. 10 da Lei nº 1.521/51)
INQUÉRITO MILITAR
20 40 + 20
(art. 20 CPPM)
PAGE \*
1.4.8.2. Relatório 30
MERGEF
O relatório é uma peça elaborada pela autoridade policial, de conteúdo ORMAT
eminentemente descritivo, em que deve ser feito um esboço das principais diligências
levadas a efeito na fase investigatória, justificando-se até mesmo a razão pela qual
algumas não tenham sido realizadas.
Pela leitura do art. 10, § 1º, do CPP, percebe-se que, uma vez concluída a
investigação policial, os autos do inquérito policial devem ser encaminhados
primeiramente ao Poder Judiciário e, somente depois, ao Ministério Público.
Por outro lado, em decisão mais recente, o STJ decidiu que, enquanto a
Resolução nº 63/2009 do CJF não for declarada inconstitucional, é legal a portaria
editada por Juiz Federal que estabelece a tramitação direta de IP entre a PF e o MPF.
Por força dessa Resolução, atualmente, no âmbito da JF, se o DPF pede a dilação do
prazo para as investigações ou apresenta o relatório final, o IP não precisa ir para o Juiz
Federal e depois ser remetido ao MPF. O caminho é direto entre a PF e o MPF, sendo o
próprio membro do Parquet quem autoriza a dilação do prazo (5ª T, RMS 46.165, em
19/11/2015).
PAGE \*
OBSERVAÇÃO: A Resolução nº 063/2009-CJF também foi impugnada no STF por 31
MERGEF
meio da ADI nº 4.305, mas não há previsão de julgamento.
ORMAT
Dispõe o art. 19 do CPP que, nos crimes em que não couber ação pública, os
autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, no qual aguardarão a iniciativa
do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
pedir, mediante traslado. Na prática, todavia, os autos acabam sendo remetidos ao
Ministério Público, para que analise se há elementos de informação quanto a eventual
crime de ação penal pública.
- Requisição de diligências;
- Declinação de competência;
- Conflito de competência.
ATENÇÃO! No entanto, vale destacar que a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) foi
publicada no dia 24/12/2019, com uma vacatio legis de 30 (trinta) dias de duração.
Na véspera de sua entrada em vigor, no dia 22/02/20, o Min. Luiz Fux, no bojo da
ADI 6.300 6.305 6.299 e 6.298, decidiu suspender até o julgamento do mérito da
ação penal, além de outros dispositivos da novel legislação, o novo art. 28 do CPP
que versam sobre o arquivamento do inquérito policial. O fundamento principal
é que o STF precisa discutir a constitucionalidade desses dispositivos antes que se
implemente a sua efetivação. Assim, para fins de provas de concursos, vale a
redação anterior do art. 28 sem a alteração promovida pela Lei Anticrime. Vamos
ficar atentos aos próximos passos do STF.
PAGE \*
1.4.9.1. Fundamentos do arquivamento 33
MERGEF
O CPP não dispõe sobre as causas que dão ensejo ao arquivamento do inquérito
ORMAT
policial. Assim, a doutrina afirma que o arquivamento do IP deve ser requerido nas
mesmas hipóteses de rejeição da inicial acusatória, previstas no art. 395 (inépcia da
inicial, ausência de pressupostos ou condições da ação e ausência de justa causa) e com
base nas causas que autorizam a absolvição sumária, previstas no art. 397 (excludentes
de culpabilidade ou de ilicitude, atipicidade e causas extintivas da punibilidade).
Por outro lado, sendo desconhecida a autoria, não há que se falar em renúncia
PAGE \*
tácita, hipótese em que há de se admitir o pedido de arquivamento do inquérito policial
feito pelo ofendido. 35
MERGEF
1.4.9.8. Surgimento de novas provas ORMAT
ATENÇÃO! Súmula 524 do STF arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz,
a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.
OBSERVAÇÃO: Com o advento do Pacote Anticrime, caso a medida cautelar seja
revogada (ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305), resta prejudicada a expressão “pela
autoridade judiciária” constante no art. 18 do CPP. Sem embargo, há de persistir
em vigor o texto remanescente. Logo, uma vez arquivado o inquérito policial ou
outros elementos informativos da mesma natureza, a retomada das investigações
pela autoridade policial e o próprio ajuizamento da ação penal contra os mesmos
investigados e em relação aos mesmos fatos condicionam-se a que surjam
elementos que produzam modificação no panorama probatório dentro do qual foi
realizado o arquivamento do inquérito.
PAGE \*
36
MERGEF
ORMAT
2. JURISPRUDÊNCIA
e) o princípio da verdade real constitui princípio supremo no processo penal, tendo valor
absoluto, inclusive para conhecimento e para valoração das provas ilícitas.
a) O processo não é nulo, pois, ainda que ao tempo da propositura da inicial, a ação
penal fosse condicionada à representação, ao tempo do crime, a ação era de iniciativa
privada, não se aplicando a Lei nº 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, nesta parte.
b) O juiz, em sede penal, não pode ordenar a realização de provas, pois não há mais
espaço para poderes instrutórios, reminiscência do sistema inquisitorial.
b) é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurada a
competência para o julgamento, exclusivamente, dos crimes dolosos contra a vida.
c) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de que ninguém PAGE \*
será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 40
MERGEF
d) a garantia da duração razoável e os meios que garantam a celeridade da tramitação ORMAT
aplicam-se exclusivamente ao processo judicial.
c) de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, com nova redação dada
pela EC 45/2004, os atos processuais serão públicos, sob pena de nulidade, cabendo ao
juiz limitar a presença, nas audiências, de partes e advogados.
d) a publicidade restrita é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade
ampla é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão
judicial no caso concreto.
e) a publicidade ampla é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade
restrita é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão
judicial no caso concreto.
PAGE \*
41
MERGEF
8. A lei processual penal brasileira:
ORMAT
a) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito.
b) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior.
c) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais
benéfica ao réu.
e) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro,
em casos de extraterritorialidade da lei penal.
9. Antônio está sendo processado pela prática do delito de furto qualificado. É correto
dizer que, caso haja mudança nas normas que regulamentam o procedimento comum
ordinário:
d) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, apenas se ainda não
recebida a denúncia contra Antônio.
e) os atos praticados sob a vigência da lei anterior precisam ser ratificados, caso
contrário não serão considerados válidos.
a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, III e IV.
c) contraditório e impulso oficial; e adequação social e favor rei (ou in dubio pro reo).
d) não culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração razoável do processo; e não
autoacusação (ou nemo tenetur se detegere) e paridade de armas.
d) o procedimento disciplinar tem caráter inquisitivo e, por isso, não é exigida a atuação
do defensor.
b) o civilmente identificado jamais pode ser submetido a identificação criminal, sob pena
de caracterização de constrangimento ilegal.
c) o preso tem direito à identificação do responsável por sua prisão, mas nem sempre
por seu interrogatório policial.
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4. GABARITO COMENTADO
1. D.
(D) CORRETA. Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró afirma que “toda violação da regra
de correlação entre acusação e sentença implica em um desrespeito ao princípio do
contraditório. O desrespeito ao contraditório poderá trazer a violação do direito de
defesa, quando prejudique as posições processuais do acusado, ou estará ferindo a
inércia da jurisdição, com a correlativa exclusividade da ação penal conferida ao
Ministério Público, quando o juiz age de ofício. Em suma, sempre haverá violação do
contraditório, sejam suas implicações com a defesa ou com a acusação”.
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(E) INCORRETA. O princípio da verdade real não é supremo e absoluto, inclusive porque,
em regra, não se admite a valoração das provas ilícitas.
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ORMAT
2. D.
(C) INCORRETA. A alternativa descreve o recurso necessário, que não se confunde com
o princípio do duplo grau de jurisdição.
(B) INCORRETA. O direito ao silêncio não impede de forma absoluta que o acusado
colabore com a formação da prova. Por exemplo, o art. 4º, § 14, da Lei nº 12.850/2013,
dispõe que nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu
defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
O inquérito policial é inquisitorial, de forma que nesta fase da persecução penal não é
obrigatória a participação de advogado.
4. A.
(A) CORRETA. A Lei nº 12.015/2009 é uma norma híbrida cuja parte material é
prejudicial ao réu, de forma que não deve retroagir. No caso, deve ser aplicado o PAGE \*
regramento anterior, em que a ação penal é privada. 46
MERGEF
(B) INCORRETA. Há previsão de casos em que o juiz pode determinar a produção de ORMAT
provas, inclusive de ofício. Ex.: art. 156 do CPP.
(D) INCORRETA. Não há ilegitimidade de parte, pois a ação penal é privada, não se
aplicando a Lei nº 12.015/2009 ao caso.
(E) INCORRETA. No processo penal, a culpa não se presume. Cabe àquele que faz a
alegação o ônus de prová-la. Além disso, o acusado está acobertado pelo princípio nemo
tenetur se detegere.
5. C.
(A) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LX, da CF, a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem.
(B) INCORRETA. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida e os que lhes são conexos (art. 5º, XXXVIII, ‘d’, da CF c/c art. 78, I, do CPP).
(C) CORRETA. Além de consagrar a garantia de que ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII, da CF), o princípio do juiz
natural veda a criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF).
(D) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.
(E) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, o civilmente identificado não
será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.
6. D.
(A), (B) e (E) INCORRETAS. De acordo com o art. 3º do CPP, a lei processual penal admite
interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito.
(C) INCORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
(B) INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a lei pode prever casos de
publicidade restrita.
(C) INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, cabe à lei, e não ao juiz, limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação.
(D) INCORRETA.
(E) CORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a regra é a publicidade ampla, sendo
exceção a publicidade restrita.
8. A.
(B) e (C) INCORRETAS. De acordo com o art. 2º do CPP, não há prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.
(D) INCORRETA. A previsão de aplicação imediata não impossibilita que novas leis
processuais passem por vacatio legis.
9. C.
(A) INCORRETA.
(B) INCORRETA.
(C) CORRETA.
De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
(D) INCORRETA.
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(E) INCORRETA. 48
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ORMAT
10. A.
(I) CORRETO. O item está correto, pois os três princípios elencados possuem berço
constitucional:
(...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
(II) CORRETO.
(III) INCORRETO.
A assertiva começa correta quanto à submissão do Brasil ao Tribunal Penal
Internacional, mas termina incorreta quanto à impossibilidade absoluta de extradição
do brasileiro naturalizado. Confira:
(...)
(IV) INCORRETO.
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.
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11. D. ORMAT
(A) INCORRETA. O princípio da identidade física do juiz está expresso no CPP:
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
(B) INCORRETA. O princípio da intervenção mínima (ou ultima ratio) é de Direito Penal,
e não de Direito Processual Penal.
(C) INCORRETA. O princípio do impulso oficial não está expresso no CPP, mas sim no CPC
(art. 2º). Em que pese possa haver discussão se esta previsão supre o enunciado,
entende-se que o princípio do in dubio pro reo está expresso no seguinte dispositivo:
Art. 5º, LVII, da CF - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
Art. 5º. LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
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12. A. 50
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Entendemos que a referida questão deveria ter sido anulada, mas não foi. Seguem os ORMAT
comentários.
(B) INCORRETA. Outra assertiva com péssima redação, e que não deixa claro o qual
conhecimento se está querendo abordar do candidato. Se o sindicado tem defensor
constituído, ele não é o seu advogado? Não existe uma compreensão mínima para se
analisar a assertiva.
(C) INCORRETA. Incorreta, segundo o gabarito preliminar, mas, ao nosso ver, está
correta, devendo a questão ser anulada. Vejamos:
3. Diante dessa nova orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, esta Corte tem
entendido que a Súmula n. 533 do STJ, que reputa obrigatória a prévia realização de
procedimento administrativo disciplinar para o reconhecimento de falta praticada pelo
condenado durante a execução penal, deve ser relativizada, sobretudo em casos nos
quais o reeducando pratica falta grave durante o cumprimento de pena extra muros,
ocasiões em que a realização de audiência de justificação em juízo, com a presença da
defesa técnica e do Parquet, é suficiente para a homologação da falta, não havendo que
se falar em prejuízo para o executado, visto que atendidas as exigências do contraditório
e da ampla defesa, assim como os princípios da celeridade e da instrumentalidade das
formas. Isso porque a sindicância realizada por meio do PAD somente se revelaria útil e
justificável para averiguar fatos vinculados à casa prisional, praticados no interior da PAGE \*
cadeia ou sujeitos ao conhecimento e à supervisão administrativa da autoridade 51
MERGEF
penitenciária.
ORMAT
Precedentes: HC 581.854/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, DJe de 19/6/2020; HC
585.769/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, DJe de 30/06/2020; HC 582.486/PR, Rel.
Ministro ROGÉRIO SCHIETTI, DJe de 28/05/2020; HC 577.233/PR, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma do STJ, unânime, julgado em
18/08/2020, DJe de 24/08/2020.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 579.647/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 08/09/2020.
(A) INCORRETA. Art. 93, IX, da CF/88, dispõe que todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e
a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação
(B) INCORRETA. Art. 5º, LVIII, da CF/88 - o civilmente identificado não será submetido à
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.
(C) INCORRETA. Art. 5º, LXIV, da CF/88 - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
(D) INCORRETA. Art. 5º, LXXVIII, da CF/88 - a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação.
(E) CORRETA. Art. 5º, LIII, da CF/88 - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
14. D PAGE \*
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(A) CORRETA.
ORMAT
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Artigo 14
(...)
(B) CORRETA.
ARTIGO 8
Garantias Judiciais
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua
defesa;
(C) CORRETA.
(D) INCORRETA.
ARTIGO 8
Garantias Judiciais
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
(E) INCORRETA.
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DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
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ARTIGO 8 ORMAT
Garantias Judiciais
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: