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SUMÁRIO
1. DOUTRINA (RESUMO)................................................................................................... 4
1.1. PODER CONSTITUINTE ............................................................................................... 5
2. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................ 35
3. QUESTÕES ................................................................................................................... 39
4. GABARITO COMENTADO ............................................................................................ 43
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PODER CONSTITUINTE
1. DOUTRINA (RESUMO)
I) Originário:
- Histórico;
- Revolucionário.
II) Derivado:
- Reformador;
- Decorrente;
- Revisor.
III) Difuso; e
IV) Supranacional.
direito além daquele posto pelo Estado. Nesse sentido, o PCO é anterior e se encontra
acima de toda e qualquer norma jurídica, devendo ser considerado um poder
político/histórico (extraordinário ou de fato).
Hoje, prevalece que o PCO, ainda que se admita ser ilimitado juridicamente,
NÃO é exercido em um vácuo histórico e cultural (Canotilho). Haveria, então, limites
metajurídicos, implicações circunstanciais impositivas, derivadas de pressões de grupos
sociais, econômicos, políticos (seriam os “fatores reais de poder”, conforme teoria de
Ferdinand Lassalle sobre a concepção sociológica de constituição).
c) substanciais
- transcendentes = transcendem o direito posto (consciência jurídica coletiva, direitos
humanos);
- imanentes = configuração histórica do Estado (ex.: república e presidencialismo);
- heterônomos = derivam do direito internacional - princípios internacionais (gerais);
obrigações assumidas em acordos internacionais (especiais).
Classificação:
- Poder Constituinte Formal - É o ato de criação propriamente
dito e que atribui a roupagem com status constitucional a um
complexo normativo. Existe uma forma diferenciada para a 10
manifestação.
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O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seu art. 3º, presente
desde a promulgação da CF/88, previu que “a revisão constitucional será realizada após
cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta
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dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”.
Após 5 anos da promulgação da CF, em sessão unicameral, por maioria
absoluta, a rigidez constitucional foi flexibilizada (ADCT, art. 3º), adotando-se meios e
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ritos de alteração constitucional mais simples que uma emenda constitucional comum.
Tratou-se, em suma, de uma via excepcional de reforma da Constituição que, 12
por ter requisitos mais simples que uma emenda constitucional, possibilitava uma
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ATENÇÃO! Seria possível uma Emenda Constitucional no ADCT prevendo uma nova
revisão? O STF já estabeleceu que NÃO (MC na ADI 1.722/TO). Trata-se de norma de
eficácia exaurida.
A. LIMITAÇÕES TEMPORAIS
Limitações Temporais são aquelas que impedem a alteração da Constituição
durante um determinado período de tempo, a fim de que possam adquirir certo grau
de estabilidade.
A Constituição Brasileira de 1824 (art. 174) previu a limitação temporal nos 4
anos seguintes à outorga da Carta. A CF/88 não previu limitação temporal para reforma,
apenas para revisão (5 anos – art. 3º do ADCT, já abordado acima).
B. LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS
C. LIMITAÇÕES FORMAIS
ATENÇÃO! Não existe previsão expressa de iniciativa popular de PEC, mas há autores
(ex.: José Afonso da Silva) que admitem a possibilidade, por meio de uma interpretação
sistemática da CF (analogia do art. 61, § 2º, da CF c/c art. 1º, parágrafo único, da CF).
O STF, inclusive, já decidiu que é possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa
popular para a propositura de Emenda à Constituição Estadual (ADI 825/AP).
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CAIU EM PROVA! TJRS (2018).
“A iniciativa popular no processo de reforma da Constituição Federal de 1.988 não é
prevista expressamente pelo texto constitucional, muito embora seja admitida por
alguns autores, com fundamento em uma interpretação sistemática da Constituição
Federal.”
Alternativa considerada correta.
D. LIMITAÇÕES MATERIAIS
OBSERVAÇÃO: É muito difícil referir, em abstrato, quais são as cláusulas que possuem
estreita relação com os princípios por elas protegidos e, por isso, não podem ser
atingidas. Só a casuística é que pode assentar a necessidade de proteção qualificada de
determinados direitos.
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Questão dos direitos e garantias individuais: Parte da doutrina entende que a
Constituição não adotou uma terminologia rigorosa em relação aos direitos
fundamentais, de modo que não apenas os direitos e garantias individuais, como os
demais (sociais, de nacionalidade e políticos) devem ser tidos como cláusulas pétreas.
Dizem que a Constituição os tratou sob o mesmo regime (CF, arts. 1º, 2º e 3º) (Ingo
Sarlet).
Para fins de prova, observe se a questão pergunta o texto expresso da CF, que
utiliza a expressão “direitos e garantias individuais”. De fato, a CF não utilizou o termo
direitos e garantias fundamentais para dispor sobre as cláusulas pétreas explícitas,
cabendo tal desiderato ao ônus argumentativo da interpretação extensiva.
PERGUNTA: Se uma emenda à Constituição incluir direito individual, ele será
cláusula pétrea? Aqui há um problema. Só há sentido jurídico no poder superior
(original) limitar o inferior (reformador). Não há lógica no Poder Constituinte
Reformador limitar a si mesmo. Ocorre que, como a CF fala que “não será objeto de
deliberação proposta a tendente a abolir direitos e garantias individuais”, a doutrina
entende que se trata de exceção, sendo inviável abolir novos direitos (poder-se-ia
discutir, de toda forma, a vedação ao retrocesso).
Importante ressaltar que a propositura de emenda à Constituição que seja
manifestamente ofensiva à cláusula pétrea pode ensejar, inclusive, que o Supremo
Tribunal Federal exerça controle de constitucionalidade preventivo por meio de
mandado de segurança impetrado pelo parlamentar, determinando o arquivamento do
projeto, como se extrai do MS 32033/DF (o que, frisa-se, é uma medida excepcional,
que será melhor abordada na rodada sobre controle de constitucionalidade).
E. LIMITAÇÕES IMPLÍCITAS
Quantos aos municípios, prevalece que as leis orgânicas municipais NÃO são
consideradas fruto do PCDD, já que não possuem aspecto formal de Constituição, e sim
de uma lei ordinária (embora materialmente sejam equiparadas a uma Constituição –
STF, ADI 980/DF). Ademais, a lei orgânica municipal está subordinada à respectiva
Constituição Estadual (CF à CE à LO), e não há Poder Constituinte de 3º grau.
A jurisprudência do STF costuma estabelecer limitações às Constituições
Estaduais sob a ótima do chamado princípio da simetria, que são parâmetros
constitucionais dispostos para organização federal e que devem ser aplicados ao modelo
organizatório estadual.
Atualmente, não há um rol previamente estabelecido das regras
constitucionais que devem ser aplicadas aos Estados por simetria, sendo fruto da
construção doutrinária e jurisprudencial.
Exemplos:
a) a Constituição Estadual não pode ter o procedimento de
reforma mais dificultoso do que a Constituição Federal – NÃO 20
podem ser mais rígidas (STF, ADI 486);
b) a Constituição Estadual NÃO pode exigir lei complementar
para versar sobre matérias que a Constituição Federal não exigiu
lei complementar (STF, ADI 5.003).
c) as Constituições Estaduais obrigatoriamente devem ser rígidas
em relação à legislação estadual (STF, ADI 1722).
- requisitos para criação de CPI (CF, art. 58, § 3º) = o quórum de instalação é de 1/3,
tendo poderes de autoridade judiciária (quebra do sigilo bancário e dos dados
telefônicos). 21
- processo legislativo (CF, art. 59 e ss) = as matérias do art. 61, § 1º, da CF, no plano
estadual, são de iniciativa exclusiva do Governador; o quórum para alteração da
Constituição Estadual é de 3/5, em dois turnos.
- modelo de separação dos poderes = presidencialista. O Estado-membro não pode
adotar o sistema parlamentarista; não se pode condicionar a validade de contrato
firmado pelo Poder Executivo à aprovação do Poder Legislativo.
Obs.: Já foi decidido que o preâmbulo da Constituição não se trata de norma de
reprodução obrigatória.
▪ Conceito e generalidades
▪ Fundamento e limites
O tema da mutação constitucional se desenvolve na interface entre o Direito e
a realidade, superando a visão positivista normativista que separava o Direito do mundo
fático. A tensão entre normatividade e facticidade, somada à incorporação de valores
na hermenêutica jurídica, redefine a interpretação jurídica, especialmente em questões
constitucionais. O Direito não existe fora da realidade, influenciando-a e sendo
influenciado por ela.
No contexto das mutações constitucionais, é o conteúdo normativo que se
adapta com o tempo e as mudanças na realidade. As teorias concretistas da
interpretação constitucional lidam com esse condicionamento recíproco entre norma e
realidade.
A norma tem a pretensão de conformar os fatos ao seu mandamento, mas não
é imune às resistências que eles podem oferecer, nem aos fatores reais do poder. No
caso das mutações constitucionais, é o conteúdo da norma que sofre o efeito da
passagem do tempo e das alterações da realidade de fato. As teorias concretistas da
interpretação constitucional enfrentaram e equacionaram este condicionamento
recíproco entre norma e realidade.
A mutação constitucional ocorre por meio da interpretação de órgãos estatais,
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costumes e práticas políticas. Sua legitimidade está no equilíbrio entre rigidez
constitucional e a plasticidade de suas normas.
A rigidez procura preservar a estabilidade da ordem constitucional e a
segurança jurídica, ao passo que a plasticidade procura adaptá-la aos novos tempos e
às novas demandas, sem que seja indispensável recorrer, a cada alteração da realidade,
aos processos formais e dificultosos de reforma.
A conclusão a que se chega é a de que além do poder constituinte originário e
do poder de reforma constitucional existe uma terceira modalidade de poder
constituinte: o que se exerce em caráter permanente, por mecanismos informais, não
expressamente previstos na Constituição, mas indubitavelmente por ela admitidos,
como são a interpretação de suas normas e o desenvolvimento de costumes
constitucionais.
Esta terceira via já foi denominada como poder constituinte difuso, cuja
titularidade remanesce no povo, mas que acaba sendo exercido por via representativa
pelos órgãos do poder constituído, em sintonia com as demandas e sentimentos sociais,
assim como em casos de necessidade de afirmação de certos direitos fundamentais.
Como intuitivo, a mutação constitucional tem limites, e se ultrapassá-los
violaria o poder constituinte e a soberania popular. É certo que as normas
constitucionais, como as normas jurídicas em geral, libertam-se da vontade subjetiva
que as criou. Passam a ter, assim, uma existência objetiva, que permite sua comunicação
com os novos tempos e as novas realidades.
Mas esta capacidade de adaptação não pode desvirtuar o espírito da
Constituição. Por assim ser, a mutação constitucional há de estancar diante de dois
limites:
a) as possibilidades semânticas do relato da norma, vale dizer,
os sentidos possíveis do texto que está sendo interpretado ou
afetado; e
b) a preservação dos princípios fundamentais que dão
identidade àquela específica Constituição. Se o sentido novo que
se quer dar não couber no texto, será necessária a convocação
do poder constituinte reformador.
E se não couber nos princípios fundamentais, será preciso tirar do estado de
latência o poder constituinte originário.
Mutações contrárias à Constituição podem ocorrer, gerando mutações
inconstitucionais. Em um cenário normal, devem ser rejeitadas pelos Poderes e pela
sociedade. A persistência desse desvio identifica a falta de normatividade da
Constituição, uma usurpação de poder ou um quadro revolucionário. A
inconstitucionalidade tende a se resolver pela superação ou sua conversão em Direito
vigente.
▪ Mecanismos de atuação
1. A Corte entendeu que a regra legal que assegura aos defensores públicos
a contagem em dobro dos prazos processuais deve ser considerada
constitucional até que as Defensorias Públicas dos Estados venham a
alcançar o nível de organização do Ministério Público.
2. Em outra hipótese, o STF considerou que o art. 68 do Código de Processo
Penal ainda era constitucional, admitindo que o Ministério Público
advogasse em favor da parte necessitada para pleitear reparação civil por
danos decorrentes de ato criminoso, até que a Defensoria Pública viesse a
ser regularmente instalada em cada Estado.
3.
O fenômeno da mutação constitucional por alterações da realidade tem
implicações diversas, inclusive e notadamente no plano do controle de
constitucionalidade. Ali se investigam categorias importantes, desenvolvidas sobretudo
pela jurisprudência constitucional alemã, como a inconstitucionalidade superveniente,
a norma ainda constitucional e o apelo ao legislador, por vezes invocadas pelo Supremo
Tribunal Federal brasileiro.
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2. JURISPRUDÊNCIA
Mutação constitucional:
“As Constituições têm vocação de permanência. Nada obstante isso, não são eternas
nem podem ter a pretensão de ser imutáveis. A modificação da Constituição pode se
dar por via formal e por via informal. A via formal se manifesta por meio da reforma
constitucional, procedimento previsto na própria Carta disciplinando o modo pelo
qual se deve dar sua alteração. Tal procedimento, como regra geral, será mais
complexo que o da edição da legislação ordinária. De tal circunstância resulta a rigidez
constitucional. Já a alteração por via informal se dá pela denominada mutação
constitucional, mecanismo que permite a transformação do sentido e do alcance de
normas da Constituição, sem que se opere, no entanto, qualquer modificação do seu
texto. A mutação está associada à plasticidade de que são dotadas inúmeras normas
constitucionais. É possível dizer-se, então, que a mutação constitucional consiste em
uma alteração do significado de determinada norma da Constituição, sem observância
do mecanismo constitucionalmente previsto para as emendas e, além disso, sem que
tenha havido qualquer modificação de seu texto. Este novo sentido ou alcance do
mandamento constitucional pode decorrer de uma mudança na realidade fática ou de
uma nova percepção do Direito, uma releitura do que deve ser considerado ético ou
justo. Para que seja legítima, a mutação precisa ter lastro democrático, isto é, deve
corresponder a uma demanda social efetiva por parte da coletividade, estando
respaldada, portanto, pela soberania popular. A mutação constitucional se realiza por
via da interpretação feita por órgãos estatais ou por meio dos costumes e práticas
políticas socialmente aceitas. Como intuitivo, a mutação constitucional tem limites, e se
ultrapassá-los estará violando o poder constituinte e, em última análise, a soberania
popular. É certo que as normas constitucionais, como as normas jurídicas em geral,
libertam-se da vontade subjetiva que as criou. Passam a ter, assim, uma existência
objetiva, que permite sua comunicação com os novos tempos e as novas realidades. Mas
esta capacidade de adaptação não pode desvirtuar o espírito da Constituição. Por assim
ser, a mutação constitucional há de estancar diante de dois limites: a) as possibilidades
semânticas do relato da norma, vale dizer, os sentidos possíveis do texto que está sendo
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interpretado ou afetado; e b) a preservação dos princípios fundamentais que dão
identidade àquela específica Constituição. Se o sentido novo que se quer dar não couber
no texto, será necessária a convocação do poder constituinte reformador. E se não
couber nos princípios fundamentais, será preciso tirar do estado de latência o poder
constituinte originário.” (ADI 4263/DF, ADI 4362, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 09/08/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-02-2018, trecho do voto
do Ministro Luis Roberto Barroso)
Nesse sentido: O art. 50, caput e § 2º, da Constituição Federal traduz norma de
observância obrigatória pelos Estados-membros, que, por imposição do princípio da
simetria (art. 25, CF), não podem ampliar o rol de autoridades sujeitas à fiscalização
direta pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade. STF. Plenário.
ADI 5.300, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe 28/6/2018.
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3. QUESTÕES1
3. (TJPB, CEBRASPE, 2015) A respeito dos elementos da CF, assinale a opção correta com
relação ao poder constituinte.
a) Conforme entendimento do STF, as normas emanadas do poder constituinte
originário não têm, em regra, eficácia retroativa mínima, visto que são incapazes de
atingir efeitos futuros de fatos passados.
b) As disposições constitucionais sobre o habeas data constituem exemplo de normas
de reprodução obrigatória pelos estados-membros no exercício do poder constituinte
derivado decorrente.
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Embora entendamos que o perfil de questões para o ENAM fuja ao apresentados nestas provas
anteriores de magistratura, entendemos como prudente reportar aos alunos como o assunto foi
cobrado até aqui em provas objetivas.
c) O poder constituinte de reforma está sujeito a limitações materiais que podem estar
presentes nas denominadas cláusulas pétreas implícitas.
d) Conforme a definição clássica dos elementos da CF, o Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, da CF, é exemplo de elemento de estabilização
constitucional.
e) Conforme a teoria positivista do direito, apesar de o poder constituinte originário ser
ilimitado do ponto de vista do direito positivo anterior, esse poder é vinculado aos
valores do movimento revolucionário que o ensejou.
6. (TJBA, CESPE, 2019) Quando o termo “povo” aparece em textos de normas, sobretudo
em documentos constitucionais, deve ser compreendido como parte integrante
plenamente vigente da formulação da prescrição jurídica (do tipo legal); deve ser levado
a sério como conceito jurídico a ser interpretado lege artis. (Friedrich Müller. Quem é o
povo? A questão fundamental da democracia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p.
67 – com adaptações). Sobre o tema, assinale a resposta correta:
a) O poder constituinte originário é uma categoria pré-constitucional que fundamenta
a validade da nova ordem constitucional.
b) Para resguardar os interesses do povo, cabe à jurisdição constitucional fiscalizar a
ação do poder constituinte originário com base no direito suprapositivo.
c) Como titular passivo do poder constituinte originário, o povo delega o seu exercício a
representantes e, em seguida, exerce a soberania apenas de forma indireta.
d) Os direitos adquiridos são oponíveis ao poder constituinte originário para evitar óbice
ao retrocesso social.
e) A limitação material negativa ao poder constituinte dos estados federados se
manifesta no dever de concretizar, no nível estadual, os preceitos da CF.
9. (TJSP, VUNESP, 2023) Leia o texto com que Carlos Ayres Britto inicia sua obra “Teoria
da Constituição”, ao tratar do Poder Constituinte:
“O meu filho Marcel tinha cinco anos de idade, quando travou comigo o seguinte diálogo:
– Meu pai, é verdade que Deus tudo pode?
– É verdade, sim, meu filho. Deus tudo pode.
– E se Deus quiser morrer?
– Bem, aí você me obriga a recompor a ideia. Deus tudo pode, é certo, menos deixar de
tudo poder. Logo, Deus tem que permanecer vivo, porque somente assim Ele vai
prosseguir sendo Aquele que tudo pode.”
Após essa reflexão, defende o autor que:
a) não há distinção relevante entre o Poder Constituinte originário e o Poder reformador
da Constituição, pois ambos se apresentam como expressões de idêntica soberania e
instrumentos para dar concretude ao Estado, na forma prescrita pelo Ordenamento
Jurídico.
b) o Poder Constituinte originário, manifestação primária de soberania que inaugura o
Ordenamento Jurídico e cria o Estado ao fazer a Constituição, não se confunde com o
Poder reformador, que é o poder de constituir normas constitucionais na forma
regimental.
c) há imprecisão e falta de técnica jurídica da distinção entre Poder Constituinte
Originário e Poder reformador, porque ambos inovam o Ordenamento jurídico de forma
similar.
d) o Poder Constituinte originário inova o Ordenamento Jurídico a partir do regramento
existente e o Poder reformador da Constituição, de igual modo, confere atualidade e
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eficácia, no tempo, às regras inicialmente postas.
4. GABARITO COMENTADO
1. D
A mutação constitucional não implica alteração formal da Constituição (não há
procedimento formal, nem se alteram os signos linguísticos, estando erradas, portanto,
as alternativas a, b e c). Na verdade, trata-se de mudança de contexto que implica
alteração da interpretação do texto (alteração informal), tal como afirma a assertiva D.
2. B
ALTERNATIVA A: INCORRETA
O Poder Constituinte Originário não é juridicamente subordinado, tampouco
condicionado. Embora haja necessidade de lastro democrático para seu exercício, a
hipótese não é de referendo popular.
ALTERNATIVA B: CORRETA
A assertiva encontra amparo na teoria de Jorge Miranda, apresentada na parte
doutrinária do material, segundo a qual o Poder Constituinte Originário não é ilimitado
de forma absoluta.
ALTERNATIVA C: INCORRETA
Era o que se pregava originalmente, mas que vem sendo repaginado pela doutrina. 43
ALTERNATIVA D: INCORRETA
O PCO é insuscetível de condicionantes no plano formal, mas não no plano material
(conteúdo).
3. C
ALTERNATIVA A: INCORRETA
Ao contrário do que afirmado, em regra, admite-se a eficácia retroativa mínima das
normas constitucionais.
ALTERNATIVA B: INCORRETA
O HD é espécie de remédio constitucional. Assim, não faz parte das normas que
organizam o Estado, nem tratam da estrutura central da Constituição, razão pela qual
sua reprodução não é de caráter obrigatório.
ALTERNATIVA C: CORRETA
Ainda que o reconhecimento das cláusulas pétreas implícitas não seja unânime na
doutrina, a jurisprudência do STF reconhece as cláusulas pétreas implícitas, que, tal
como afirmado, representam limitações materiais ao poder de reforma da Constituição.
ALTERNATIVA D: INCORRETA
Segundo a doutrina de José Afonso da Silva, estudada no ponto 1, as Constituições
possuem em sua estrutura normativa cinco categorias de elementos, quais sejam: 1)
elementos orgânicos (normas que regulam a estrutura do Estado e do poder); 2)
elementos limitativos (normas definidoras de direitos e garantias fundamentais); 3)
elementos socioideológicos (normas denotativas de projetos, programas e
compromissos de caráter individual e social-intervencionista); 4) elementos de
estabilização constitucional (normas que objetivam solucionar crises e conflitos
constitucionais; abrangem a defesa da Constituição, do Estado e das instituições
democráticas); 5) elementos formais de aplicabilidade (normas que preveem regras de
aplicação das Constituições). Assim, o ADCT não configura elemento de estabilização
constitucional.
ALTERNATIVA E: INCORRETA
O Poder Constituinte Originário, de acordo com a teoria positivista, não encontra
limitações de ordem moral ou social.
4. C
ALTERNATIVA A: INCORRETA
Há muita divergência sobre a possibilidade de iniciativa popular de EC, mas, ao certo,
não há previsão constitucional expressa.
ALTERNATIVA B: INCORRETA
O correto seria a fração de 3/5 dos votos, ao invés de 2/3 como afirmado na assertiva.
ALTERNATIVA C: CORRETA
De fato, o Poder Constituinte Derivado revela-se nas Emendas à Constituição, iniciadas 44
por proposta de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
(CF, art. 60, III).
ALTERNATIVA D: INCORRETA
Diversamente do que afirma a alternativa, a proposta é votada em cada Casa do
Congresso.
5. C
Inicial, ilimitado e incondicionado. Apenas cuidado com a questão de ser ilimitado, a
teor da teoria moderna. Assim, é preciso estar atento à forma de cobrança do conteúdo.
6. A.
ALTERNATIVA A: CORRETA. Conforme o escólio de SARLET, MARINONI e MITIDIERO: “O
poder constituinte acaba assumindo a feição de uma categoria pré-constitucional, capaz
de, por força de seu poder e de sua autoridade, elaborar e fazer valer uma nova
constituição”.
ALTERNATIVA B. INCORRETA. Não há controle do Poder Constituinte Originário pela
jurisdição constitucional (há controle sobre o Poder Constituinte Derivado e Poder
Constituinte Decorrente). Há princípios suprapositivos que limitam o Poder Constituinte
(que não se exerce no vácuo), mas isso não confere a prerrogativa indicada à jurisdição.
OBS.: O tema sobre as “normas constitucionais inconstitucionais” (teoria não aceita pelo
STF) será objeto de estudo em outra rodada.
ALTERNATIVA C. INCORRETA. O povo não é titular passivo do Poder Constituinte
Originário. Também não há propriamente delegação. Por fim, o povo exerce soberania
indireta ou diretamente (ex.: plebiscito, referendo).
ALTERNATIVA D. INCORRETA. Segundo o STF, não há direito adquirido em face de uma
nova Constituição (poder constituinte originário) (RE 140.499).
ALTERNATIVA E. INCORRETA. Redação confusa, especialmente pelo termo “limitação
material negativa”. Limitação material negativa seria uma imposição de não fazer.
Portanto, não se traduz em dever de concretizar preceitos da CF, que implica atuação
positiva do Estado-Membro.
7. B
ALTERNATIVA A: CORRETA
De fato, os limites materiais estão previstos no art. 60, §4º, incisos I a IV, da CF/88
(cláusulas pétreas), enquanto os circunstanciais estão delineados no art. 6º, §1º, da
CF/88 (“A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de
estado de defesa ou de estado de sítio”).
ALTERNATIVA B: INCORRETA
A alternativa destoa do comando previsto no art. 60, inciso I, da CF/88: 45
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
ALTERNATIVA C: CORRETA
São os limites circunstanciais citados nos comentários à alternativa A.
ALTERNATIVA D: CORRETA
Previsão contida no art. 60, III, da CF/88, como destacado acima (limite formal).
A Constituição, portanto, traz limites formais, materiais e circunstanciais para as
emendas constitucionais (procedimento de reforma), mas NÃO TRAZ limites temporais.
ALTERNATIVA E: CORRETA
É a disposição contida no art. 60, §5º, da CF/88:
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada
não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
8. C
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que “a Emenda Constitucional
45/04 atribuiu aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, desde
que aprovados na forma prevista no § 3º do art. 5º da Constituição Federal, hierarquia
constitucional” (AI 601832 AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE
03/04/2009).
Desse modo, os tratados sobre direitos humanos, aprovados pelo procedimento
previsto no art. 5º, §3º, da CF/88, possuem status constitucional e podem ser parâmetro
de controle de constitucionalidade.
9. B
O poder constituinte originário, também denominado inicial, inaugural, genuíno ou de
1º grau, é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo, por completo, com
a ordem jurídica precedente.
O poder constituinte derivado é criado e instituído pelo poder constituinte originário.
Assim, o poder constituinte derivado deve obedecer às regras colocadas e impostas pelo
poder constituinte originário, sendo, neste sentido, limitado e condicionado a
parâmetros a ele impostos.
Ao poder constituinte derivado reformador cabe a função de alterar/reformar a
constituição. Tem a capacidade de modificar a Constituição Federal, por meio de um
procedimento específico, estabelecido pelo poder constituinte originário, sem que haja
uma verdadeira revolução. 46