Você está na página 1de 160

ISCED DIREITO EMPRESARIAL

Direitos de autor (copyright)


Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED), e contém
reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem
permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED).
A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em
vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED)


Rua Dr. Almeida Lacerda No 211, Ponta-Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23323501
Fax: 258 23324215
E-mail: info@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

i
ISCED DIREITO EMPRESARIAL

Agradecimentos
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), agradece a colaboração dos seguintes
indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor dr. Nelson dos Santos Goncalves Muzambue


Coordenação Direcção Académica
Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)
Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)
Revisão Científica e MSc. Diana Filipa Sousa Pinto
Linguística
Ano de Publicação 2019
Local de Publicação ISCED – BEIRA

ii
ISCED DIREITO EMPRESARIAL

Indice
Quem deveria estudar este manual ................................................................................................... 2
Como está estruturado este manual ..................................................................................................... 2
Tema I: ORIGEM, EVOLUÇÃO E FONTES DO DIREITO COMERCIAL ....................................................... 7
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 7
Objectivos específicos ......................................................................................................................... 8
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL ........................................................................... 8
NOÇÃO E NATUREZA JURÍDICA DO DE DIREITO COMERCIAL ............................................................ 11
1.2 Objecto do Direito Comercial ..................................................................................................... 14
RELAÇÕES ENTRE O DIREITO COMERCIAL COM OS DEMAIS RAMOS DE DIREITO .................................. 15
A Autonomia do Direito Comercial ................................................................................................... 16
A Especialidade do Direito Comercial ................................................................................................. 18
DIREITO COMERCIAL OU DOS COMERCIANTES ................................................................................ 18
FONTES DO DIREITO COMERCIAL ................................................................................................. 19
FONTES INTERNAS ............................................................................................................................. 19
A Constituição ................................................................................................................................... 20
O CÓDIGO COMERCIAL .................................................................................................................. 20
FONTES EXTERNAS ......................................................................................................................... 20
A Lei ................................................................................................................................................. 21
OS USOS E COSTUMES .................................................................................................................... 22
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE LACUNAS NO DIREITO COMERCIAL ........................................ 23
CARACTERISTICAS DO DIREITO COMERCIAL ................................................................................... 25
DELIMITAÇÃO DO ÂMBITO E OBJECTO DO DIREITO COMERCIAL ...................................................... 27
Sumário ............................................................................................................................................ 29
Exercícios do tema 1. ...................................................................................................................... 29
Tema II – A Empresa no Âmbito do Direito Comercial ......................................................................... 31
Objectivos específicos ....................................................................................................................... 31
Unidade temática 2.1. – A Empresa no Âmbito do Direito Comercial .......................................................... 32
Empresa como Sujeito ou Agente Jurídico .......................................................................................... 33
EMPRESA COMO ACTIVIDADE ........................................................................................................ 34
EMPRESA COMO OBJECTO .............................................................................................................. 35
EMPRESA COMO CONJUNTO DE ELEMENTOS ........................................................................................ 35
O EMPRESÁRIO .................................................................................................................................. 36
COMERCIANTES EM NOME INDIVIDUAL E SOCIEDADES ............................................................... 37
EMPRESÁRIO COMERCIAL COMO SUJEITO DO DIREITO COMERCIAL ..................................................... 37
Unidade temática 2.2. O EMPRESÁRIO COMERCIAL ........................................................................ 38
Objectivos específicos ....................................................................................................................... 39
EMPRESÁRIO COMERCIAL PESSOA SINGULAR: REQUISITOS ........................................................... 39
SITUAÇÃO PARTICULAR DOS INCAPAZES......................................................................................... 41
iv
ISCED DIREITO EMPRESARIAL

RESTRIÇÕES OU PROIBIÇÕES AO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DE EMPRESÁRIO COMERCIAL. ......... 42


SITUAÇÃO PARTICULAR DOS INCAPAZES......................................................................................... 42
IMPEDIMENTOS E PROIBIÇÕES LEGAIS AO EXERCÍCIO DO COMÉRCIO .................................................. 43
INCOMPATIBILIDADES .................................................................................................................... 45
SITUAÇÃO DOS CÔNJUGES .................................................................................................................. 46
FIGURAS AFINS DO EMPRESÁRIO COMERCIAL ............................................................................. 48
MANDATÁRIO COMERCIAL .................................................................................................................. 48
GERENTE ......................................................................................................................................... 48
O COMISSÁRIO ............................................................................................................................... 49
O MEDIADOR ................................................................................................................................... 54
Sumário ............................................................................................................................................ 55
Unidade temática 2.3. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO COMERCIAL .................................................... 56
OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO COMERCIAL ................................................................................ 56
A FIRMA DO EMPRESÁRIO COMERCIAL ......................................................................................... 57
CONCEITO DE FIRMA ...................................................................................................................... 57
TIPOS DE FIRMA ............................................................................................................................. 59
PRINCÍPIOS RELATIVOS À CONSTITUIÇÃO DA FIRMA ................................................................... 59
PRINCÍPIO DA VERDADE ................................................................................................................ 60
PRINCÍPIO DA NOVIDADE ............................................................................................................... 61
PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE ...................................................................................................... 61
TRANSMISSÃO DA FIRMA ............................................................................................................... 63
ALTERAÇÃO DA FIRMA ................................................................................................................... 65
CADUCIDADE E RENÚNCIA DA FIRMA ............................................................................................ 65
RENÚNCIA DA FIRMA ...................................................................................................................... 66
ESCRITURAÇÃO MERCANTIL ............................................................................................................ 66
FUNÇÃO DOS LIVROS OBRIGATÓRIOS .......................................................................................... 67
IMPORTÂNCIA DA ESCRITURAÇÃO MERCANTIL ............................................................................ 68
FORMA DE ESCRITURAÇÃO ............................................................................................................. 68
REGISTO COMERCIAL ...................................................................................................................... 69
Sumário ............................................................................................................................................ 70
EXERCÍCIOS ..................................................................................................................................... 70
TEMA III - ACTOS DE COMÉRCIO .................................................................................................... 72
Objectivos específicos ....................................................................................................................... 72
UNIDADE TEMATICA 3.1. ACTOS DE COMÉRCIO ........................................................................... 73
CLASIFICAÇÃO DOS ACTOS COMERCIAIS ACTOS DE COMÉRCIO SUBJECTIVO ....................................... 74
ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVO ................................................................................................... 74
ACTO UNILATERAL ........................................................................................................................... 75
3.1.4. Acto Bilateral ....................................................................................................................... 75
MODELO DA DEFINIÇÃO ................................................................................................................. 75
MODELO-SISTEMA DE ENUMERAÇÃO EXPRESSA ............................................................................. 76
MODELO DE ENUMERAÇÃO IMPLÍCITA .......................................................................................... 76
iv
ISCED DIREITO EMPRESARIAL

ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTO .................................................................................................... 76


ACTOS DE COMÉRCIO POR CONEXÃO ............................................................................................. 76
TEORIA DO ACESSÓRIO ................................................................................................................. 77
ACTOS DE COMÉRCIOS CASUAIS ..................................................................................................... 78
ACTOS DE COMÉRCIO ABSTRATOS .................................................................................................. 78
3.3. Actos de comércio Puro ........................................................................................................... 79
3.3.1. Actos de Comércio Misto ......................................................................................................... 79
Sumário. .......................................................................................................................................... 79
Exercícios .......................................................................................................................................... 80
UNIDADE TEMA IV - TÍTULO DE CRÉDITO ...................................................................................... 81
Objectivos específicos. ...................................................................................................................... 81
UNIDADE TEMATICA 4.1. -TÍTULO DE CRÉDITO ............................................................................. 81
LITERALIDADDE ............................................................................................................................... 83
AUTONOMIA ................................................................................................................................... 84
ABSTRAÇÃO OU AUTONOMIA DO TÍTULO .................................................................................. 85
AUTONOMIA DA POSIÇÃO DO PORTADOR DO TÍTULO .................................................................. 85
CRÉDITO .......................................................................................................................................... 87
CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................... 88
CHEQUE ........................................................................................................................................... 89
REQUISITOS DO CHEQUE .............................................................................................................. 89
4.2.1. Cheque nominativo ............................................................................................................ 90
4.2.2. Cheque ao Portador ........................................................................................................... 91
4.2.3. Endosso .............................................................................................................................. 92
4.2.4. Aval .................................................................................................................................... 94
Modalidades do Aval........................................................................................................................ 94
Pagamento, Prazos de Apresentação ................................................................................................. 95
4.3.1. Cheques a Levar em Conta .................................................................................................. 97
4.3.2. Acção Por Falta de Cobertura ............................................................................................... 97
MARCAS ........................................................................................................................................... 99
4.3.5. Marcas - São palavras ou símbolos que identificam produtos e serviços de uma empresa distinguindo-os
dos de outras empresas98. ................................................................................................................... 99
Marcas coletivas ............................................................................................................................. 101
O DIREITO AO USO DA MARCA E SEU CARACTER FACULTACTIVO.................................................. 102
A MARCA, SENDO RENOVÁVEL, PODERÁ EXTINGUIR-SE POR: .................................................. 102
4.5.1. O registo da marca pode ainda caducar por: ......................................................................... 104
4.5.4. CONSTITUIÇÃO DA MARCA ............................................................................................. 104
4.6. Unicidade do registo ............................................................................................................ 106
4.6.2. Imitação da Marca ............................................................................................................... 106
4.6.3. Prova do Direito a Marca ...................................................................................................... 107
4.6.4. Vantagens da proteção da marca ......................................................................................... 107
4.6.5. MARCAS QUE NAO PODEM SER REGISTADAS ....................................................................... 108
iv
ISCED DIREITO EMPRESARIAL

Exemplos: ....................................................................................................................................... 109


Exemplos: ....................................................................................................................................... 109
Exemplos: ....................................................................................................................................... 109
Exemplos: ....................................................................................................................................... 110
4.7.4. LIVRANÇA ........................................................................................................................... 110
4.7.5. EFEITOS DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS ............................................................................ 111
4.8. DISPOSIÇÃO APLICÁVEIS ÀS LIVRANÇAS ............................................................................. 111
Sumário. ........................................................................................................................................ 112
Exercícios ........................................................................................................................................ 113
Verdadeira ..................................................................................................................................... 114
TEMA V - PRINCIPAIS CONCEITOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS ................................................ 114
Objectivos específicos ..................................................................................................................... 115
UNIDADE TEMATICA 5.1. - PRINCIPAIS CONCEITOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS .............................. 115
A PERSONALIDADE JURÍDICA ...................................................................................................... 120
CAPACIDADE DE JURÍDICA ............................................................................................................. 121
CONTRATO DE SOCIEDADE ............................................................................................................ 121
NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE SOCIEDADE ................................................................ 122
A TEORIA CONTRATUALISTA ........................................................................................................ 122
TEORIA INSTITUCIONALISTA ........................................................................................................ 123
FORMA DO CONTRATO DE SOCIEDADE ...................................................................................... 123
RECONHECIMENTO DA SOCIEDADE COM UM SÓ SÓCIO ............................................................ 125
DO CONTRATO PLURILATERAL AO CONTRATO-ORGANIZAÇÃO ...................................................... 126
SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO ............................................................................................. 129
SOCIEDADES EM COMANDITA ..................................................................................................... 130
SOCIEDADE ANÓNIMA .................................................................................................................. 131
SOCIEDADE LIMITADA .................................................................................................................. 134
A SOCIEDADE NO DIREITO COMPARADO, EM PARTICULAR A UNIPESSOAL .............................. 134
União Europeia .............................................................................................................................. 135
No direito francês ........................................................................................................................... 137
No Direito português ...................................................................................................................... 139
No Direito Espanhol ....................................................................................................................... 143
A NATUREZA JURÍDICA DAS SOCIEDADES POR QUOTAS UNIPESSOAIS NO ORDEAMENTO JURÚDICO
MOÇAMBICANO ............................................................................................................................. 144
Sumário .......................................................................................................................................... 153
Exercícios. ...................................................................................................................................... 154
Bibliografia ..................................................................................................................................... 156

iv
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Visão geral

Bem-vindo ao Manual da Disciplina de Direito Empresarial

Objectivos do Manual
Constituem os objectivos deste manual:
Compreender as relações entre o direito comercial e o direito civil
(comum), e os restantesramosdedireito;Desenvolverumavisãoextensana
área de aplicação do direito comercial; Desenvolver habilidades para
a resolução prática de casos da vida quotidiana através de hipóteses
académicas; Definir actos de comércio e comerciante; Distinguir os
diversos títulos de créditos; Distinguir a personalidade jurídica e
capacidade comercial; Distinguir e caracterizar os diferentes tipos legais de
Objectivos sociedades comerciais; Descrever o processo de constituição das
sociedades comerciais Descrever o processo de alteração das sociedades
Específicos comerciais.
 Determinar o momento da constituição das sociedades e
respectiva aquisição de personalidade e capacidade
jurídicas;
 Conhecer os direitos e deveres dos sócios;
 Compreender a importância do capital social,
 Descrever os procedimentos de aumento e de redução do
capital social;
 Descrever e compreender as vicissitudes a que estão
sujeitas as sociedades comerciais;

1
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Quem deveria estudar este manual

O presente Manual foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Gestão de Turismo.

Como está estruturado este manual


O presente manual está estruturado da seguinte maneira:
 Conteúdos deste manual.
 Abordagem geral dos conteúdos do manual, resumindo os
aspectos-chave que você precisa para conhecer a história da
comunicação. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.

________________________
Conteúdo deste manual

Este manual está estruturado em temas. Cada tema, comporta certo


número de unidades temáticas ou simplesmente unidades, cada
unidade temática caracteriza-se por conter um título específico,
seguido dos seus respectivos subtítulos.
No final de cada unidade temática, são propostos 10 exercícios de
fechados e 5 exercicios abertos. No fim de cada tema, são incorporados
10 exercícios fechados para avaliação e 5 exercicios abertos para auto-
avaliacao. No final do manual estão incorporados 100 exercicios
fechados para preparação aos exames.
Os exercícios de avaliação são Teóricos e Práticos.

_____________________
Outros recursos
O ISCED pode, adicionalmente, disponibilizar material de estudo na
Biblioteca do Centro de recursos, na Biblioteca Virtual, em formato
físico ou digital.

_________________________________
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

As tarefas de auto-avaliação para este manual encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de
auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam
exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram
apenas respostas.
As tarefas de avaliação neste manual também se encontram no final de
cada unidade temática, assim como no fim do manual em si, e, devem
ser semelhantes às de auto-avaliação, mas sem mostrar os passos e
2
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de
aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação
será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos
tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente
atribuição de uma nota. Também constará do exame do fim do manual.
Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma
grande vantagem.

________________________
Habilidades de estudo

O principal objectivo desta secção, é ensinar a aprender aprendendo.


Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar
a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso, é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º - Praticar a leitura. Aprender à distância exige alto domínio de leitura.


2º - Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).
3º - Voltar a fazer a leitura, desta vez para a compreensão e assimilação
crítica dos conteúdos (ESTUDAR).
4º - Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua
aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.
5º - Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de
estudo de caso, se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor
com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de
intervalo a cada 30 minutos ou a cada 60 minutos? etc.
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só a seguinte quando achar que já
domina bem o anterior.
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e
estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar
o útil ao agradável: saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no manual.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo


superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança
de actividades). Ou seja, que durante o intervalo não se continuar a
2
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório,
pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da
aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de
trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência
entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber
que estuda tanto, mas não aprende, cai em insegurança, depressão e
desespero, por se achar injustamente incapaz!
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma
avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está
a se formar.
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que
matérias deve estudar durante a semana; face ao tempo livre que resta,
deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo
será dedicado ao estudo e a outras actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma
necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso:
A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria
de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e
pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas,
nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus
relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma
primeira leitura; utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar.

___________________
Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, pode suscitar-lhe algumas dúvidas como
falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, SMS,
E-mail, Casos Bilhetes, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico
e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com
qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino à
Distância (EAD), onde o recurso às TIC se tornam incontornável: entre
estudante, estudante – tutor, estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que caro estudante, tem a
oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores
ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as
suas sessões presenciais. Neste período, pode apresentar dúvidas, tratar
2
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do
tempo de estudos a distância, é de muita importância na medida em
que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira fica a saber se precisa de
apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater
assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes
nos diferentes temas e unidade temática, no manual.

_______________________________
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (actividades avaliação e


autoavaliação), pois, influenciam directamente no seu aproveitamento
pedagógico.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Esteja sempre ciente de que a nota das avaliações conta e é
decisiva para a admissão ao exame final da disciplina.
As avaliações são realizadas e submetidas na Plataforma MOODLE.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo
os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem
o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o
respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos
trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).
_____________________
Avaliação

Muitos perguntam: como é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um
mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos
do seu manual. Quanto ao tempo de contacto presencial, conta com um
máximo de 10% do total de tempo do manual. A avaliação do estudante
consta de forma detalhada do regulamento de avaliação.
As avaliações de frequência pesam 25% e servem de nota de frequência
para ir aos exames. Os exames são realizados no final da disciplina e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam 75%, o que
adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final
com a qual o estudante conclui a disciplina.
É definida a nota de 10 (dez) valores como nota mínima de aprovação na
disciplina.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem
prévia autorização.
2
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D Nesta disciplina, o estudante deverá realizar pelo menos 5 avaliações
escritas sendo 2 fóruns e 3 testes (teóricos e práticos), e 1 (um) exame
final.
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento ds
Cursos e Sistemas de Avaliação do ISCED.

2
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Tema I: ORIGEM, EVOLUÇÃO E FONTES DO DIREITO COMERCIAL

Unidade tematica 1.1. Origem

Unidade tematica 1.2. Exercicios da unidade

INTRODUÇÃO

Nesta primeira unidade temática, iremos nos dedicar necessariamente as


matérias relacionadas a evolução histórica do Direito comercial, objecto do
direito comercial, sua autonomia, especialidade e suas fontes, características do
Direito Comercial, interpretação e integração de lacunas no Direito Comercial.
Para o nosso entendimento e também de acordo com alguns autores, o Direito
comercial regula uma certa espécie de normas jurídicas que derivam do exercício do
comércio e de outras actividades afins. Logo, trata-se de um Direito Privado especial,
pois afastando-se das regras gerais do Direito Civil, vigora só paraumaclasse específica
de relações jurídicas, que o legislador destacou em partes para as submeter a um
regime diferenciado.
De acordo com o conceito dado por Manuel Guilherme Júnior2, O Direito
Comercial é um ramo do Direito Privado composto por um (sistema) conjunto de
normas jurídicas com a função de disciplinar os actos do comércio e os empresários
comerciais.
O objecto do Direito comercial vem definido no artigo 1º do C. Com, e segundo o
mesmo dispositivo legal, o objecto de regulação do Direito Comercial, estabelecendo
duas situações:
A parte inicial do mesmo artigo (1)3 define o objecto do direito comercial a partir
do sujeito, o empresário comercial neste caso. A compreensão desta parte,
pressupõe antes a compreensão da qualificação do sujeito em referência.
Remetemos por isso a parte relativaao estudo damatériaatinente ao empresário
comercial.

2
JÚNIOR, Manuel guilherme, manual de direito comercial Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.
3
Vide o artigo 1º do Código Comercial, aprovado pelo Decreto-Lei n°2/2009 de 29
de Abril.
11
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Na segunda parte do artigo 1º do C.Com, o legislador ordinário usou a terminologia
mais importante no âmbito do estudo deste ramo de Direito. Com muita razão e
logica, o legislador não se preocupou em descrever os tipos de actos do comércio,
pois sob ponto de vista logico esta actividade seria inesgotável.

Objectivos específicos

Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de:

 Saber definir o Direito comercial;

 Conhecer os conceitos básicos do Direito Comercial;

 Conhecer a relação existente entre o direito comercial e outros


ramos de Direito;

 Conhecer a autonomia do Direito Comercial;

 Conhecer e distinguir as fontes de Direito Comercial;

 Conhecer as características do Direito Comercial;

 Conhecer a interpretação e integração de lacunas no Direito Comercial.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL

A formação do Direito comercial4 foi justificada pela convicção, triunfante no


inicio do sec. XIX de que a vida comercial exige um ramo autonomo de Direito a
desintegrar-se do Direito Civil. As condicoes de exercicio, nomeadamente a
celeridade por este requerida, eram incompativeis com a rigidez que caracteriza o
Direito Civil, por isso, o movimento de autonomizacao se apersentou como obvio.
No Egito antigo, cerca de 3000 a. C., o comércio era monopólio do Estado, ou seja,
do Faraó e seus parentes. Não existia o comércio difundido entre os do povo.
Entre eles se praticava a troca, como também ocorria entre os fenícios,
troianos, cretenses, sírios,

4
C. VIVANTE, Elementi di Diritto Commerciale, Milano, Ulrico Hoepli, 1936, p. 1.

12
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
cartagineses, babilônicos. Os romanos, embora não possuíssem uma legislação
comercial específica, contribuíram com o Direito Comercial: o costume da escrituração
doméstica, difundido em todas as casas, que deu origem aos livros comerciais; as
regras sobre contratos e obrigações que deram alicerce às transações mercantis; os
institutos da falência e da ação pauliana; o comércio sendo realizado pelos
escravos em nome de seus senhores, o que deu origem à representação
comercial. Este período foi fértil no aparecimento de institutos importantes para o
nosso ramo de estudo, como:
os títulos de crédito, os bancos, a falência se restringindo apenas aos devedores
comerciantes, os contratos mercantis como transporte, comissão, sociedades. As
Cruzadas ajudam a alargar os centros comerciais, já que seus participantes, além
de lutarem, também faziam o papel de mercadores.
Modernamente, a tendência é que as regras do Direito Comercial tenham por
base o exercício profissional e organizado de uma atividade econômica, exceto
a intelectual e as de extração, o que ocorre sempre em uma empresa, por isso este
período se denomina período subjetivo da empresa (teoria da empresa).
Empresa, segundo o Dicionário Aurélio, é a organização econômica destinada à
produção ou venda de mercadoria ou serviços, tendo como objetivo o lucro. Por
isso, a teoria da empresa é utilizada para delimitar as regras do Direito Comercial. No
Brasil, o comércio existe, praticamente, desde seu descobrimento. Madeira, pedras
preciosas, ouro, escravos, açúcar.

Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, houve a abertura dos portos
brasileiros às nações amigas, através da Carta Régia, dando origem às primeiras
normas nacionais que disciplinaram o nosso comércio.

13
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Foram usadas até 1850 as legislações portuguesas (Ordenações Filipinas, 1603)5.


Dessa época, datam a criação da Real Junta de Comércio e do Banco do Brasil.

Com a promulgação do Código Comercial em 1850, em vigor até hoje, com muitas
alterações, o Brasil passou a ter seu diploma legal especial para a matéria. Note-se que
a importância da atividade econômica tem sido tão grande através dos tempos, que o
Brasil teve um Código Comercial muito antes de ter seu Código Civil (1916). Por isso,
muitas questões civis estavam nele reguladas, como o mandato, a locação, a fiança, a
hipoteca, o modo de extinção das obrigações através do pagamento, da novação
e da compensação.

A redação do Código Comercial foi iniciada em 1809, terminando em 1834, ocupando


um período de nove anos, portanto. A demora de dezesseis anos na promulgação
do Código foi tão sentida, que no mesmo ano de 1850 e em 1851, outros
regulamentos surgiram para aperfeiçoá-lo. Com a Proclamação da República, a
modernidade reclamava novas leis Assim, interessam diretamente ao Direito
Comercial o comércio interno e exterior, as importações e exportações, o
comércio de coisas corpóreas e incorpóreas, de serviços, de riscos, a circulação de
produtos, por via aérea, rodoviária, ferroviária, de cabotagem, marítima, o comércio
fixo e o ambulante, as atividades de produção e transformação de bens, em geral.

Ficam defora as atividades do setorextrativo (mineração, agricultura, pecuária), desde


que não exploradas por pessoas jurídicas, e as atividades intelectuais, exercidas
por profissionais liberais.

Por esse alargamento na matéria regulada pelo Direito Comercial é que se utiliza
hoje a terminologia Direito Empresarial, conforme a teoria da empresa. O Direito
Comercial pode ser conceituado em nossos tempos como o conjunto de regras que
disciplinam a atividade

5
Idem, pág. 2.

14
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
dos empresários, das sociedades empresariais e os atos de comércio, mesmo quando
praticados por não-empresários.

NOÇÃO E NATUREZA JURÍDICA DO DE DIREITO COMERCIAL

De acordo com Manuel Guilherme Júnior6, O Direito Comercial é um ramo do


Direito Privado composto por um (sistema) conjunto de normas jurídicas com a
função de disciplinar os actos do comércio e os empresários comerciais.
Já o professor Miguel J. A. Pupo Correia define o Direito Comercial como o corpo
de normas, conceitos e princípios jurídicos, que no domínio do Direito Privado
regem os factos e as relações jurídicas comerciais7.
Analisemos de forma detalhada cada uma das definições da nossa disciplina (Direito
Comercial). Começando pela primeira, do Mestre Manuel Guilherme Júnior, este
começa por conceituar o direito comercial como um ramo do direito privado, se
formos a analisar os critérios clássicos de distinção do direito publico e privado,
vamos concluir que o autor foi feliz ao enquadrar o direito comercial no direito
privado, senão vejamos:
Dos critérios supra destacados podemos mencionar três (3) nomeadamente o
dos sujeitos, de interesses e da qualidade dos sujeitos. De acordo com o critério dos
sujeitos, estaremos em face de Direito Privado nos casos em que ambos os sujeitos
são pessoas singulares ou colectivas (de direito privado), o que acontece muitas
vezes no exercício da actividade comercial.
Encontramos na relação jurídica de comercio por um lado o empresário
comercialcomo uma pessoajurídica privada quer seja ela individual ou colectiva, casos
há em que o Estado aparece como um intervenientes da relação jurídica do direito
comercial, pois neste

6
JÚNIOR, Manuel guilherme, manual de direito comercial Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.
7
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição revista
e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

15
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
caso aplica-se as normas previstas no código comercial e no direito subsidiário
(Direito Civil) aplicando-se o Código Civil, pois estaremos em face de uma relação
privada, porque se fosse publica aplicar-se- iam as normas do Direito
Administrativo tal como acontece nos contratos administrativos, que estão
sujeito as normas do Direito Administrativo.
Para além do critério dos sujeitos, temos o critério dos interesses, na relação jurídica
comercial, visam-se interesses privados, por um lado temos o comerciante ou
empresário comercial que exerce a actividade para ganhar lucros, e por outro
lado temos as pessoas singulares ou colectivas que acorrem ao estabelecimento
comerciante para adquirirem os bens ou serviços e consequentemente
satisfazerem as suas necessidades que assumem o caracter puramente privado, e
por ultimo temos o critério da qualidade dos sujeitos, que faz do Direito
Comercial um ramo do Direito Privado, porque na relação jurídica de direito
comercial tanto o empresário comercial ou o comerciante, assim como os clientes
aparecem despidos de qualquer poder de autoridade ou iús imperiu, o que faz do
Direito Comercial um ramo do Direito Privado.
1. O mesmo autor Guilherme Júnior diz ainda que o Direito comercial
como ramo do Direito privado será composto por um sistema de normas,
entenda-se a expressão “norma” usada pelo autor no sentido amplo, pois
salvo melhor opinião em contrario, o autor usou a expressão em causa
para englobar todos os actos normativos que se destinam a regular as
relações jurídicas comerciais, em que podemos destacar a lei, o Decreto-lei,
os Decretos, os Diplomas Ministeriais, os Regulamentos administrativos
ouaindaposturasmunicipais.
2. Estas normas vão disciplinar por um lado os actos do comércio, bem
como os empresários comerciais. O Direito Comercial pesem bora ser um
ramo do Direito Privado, está preocupado com a regulamentação da
actividade comercial

16
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
por um lado, e por outro lado com os empresários comerciais, pois haverá
uma necessidade de regulamentação jurídica das relações comerciais para
que estas não sejam desenvolvidas contra as normas e os princípios
fundamentais do ordenamento jurídico, bem como as regras da moral e
dos bons costumes.
3. Por um outro lado o autor nos diz que o Direito Comercial vai regular a
actividade dos empresários comerciais, o que afigura-se como mais
logico possível, pois a qualidade de empresário comercial não deve ser
adquirida a belo prazer daquele que pretende assim de designar, pois esta
qualidade é adquirida mediante o preenchimento de alguns requisitos
previstos na lei comercial (código comercial), como por exemplo a
regra relativa a idade mínima para o exercício da actividade comercial,
sendo necessário atingir a maioridade8 (21 anos) nos termos do artigo 130º
do Código Civil, ou ainda dezoito anos (18) com autorização dos pais, do
tutor ou do juiz na falta dos pais ou do tutor tal como ilustra os artigos 9º e
10º do Código Comercial (C. Com).9
4. Já o professor Pupo Correia começa a noção de Direito Comercial
com o corpo de normas, conceitos e princípios jurídicos, na primeira
parte desta noção podemos encontrar uma pequena diferença com a
que foi apresentada anteriormente (pelo Mestre Manuel Guilherme
Júnior) pois o Professor Pupo Correia fala dos princípios jurídicos, algo não
abordado não primeira definição de Direito Comercial, e destes
princípios jurídicos podemos elencar alguns que aplicam-se ao Direito
Comercial como por exemplo o Principio da Legalidade e boa-fé, o mesmo
autor também enquadra o

8
Vide o artigo 130 do Código Civil.
9
Vide os artigos 9 e 10 do Código Comercial da Republica de Moçambique,
actualizado pelo Decreto-lei n° 2/2009 de 24 de Abril.

17
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Direito Comercial no domínio do Direito Privado, algo que constatamos
na noção anteriormente discutida.
5. O professor Pupo Correia termina a noção de Direito Comercial
defendendo que o corpo de normas e princípios jurídicos vai regular os
factos e as relações jurídicas comerciais, portanto, nesta noção o autor
engloba todos os aspectos inerentes ao empresário comercial e a
empresa comercial, bem como as relações jurídicas comerciais.
6. Portanto, não encontramos grandes discrepâncias nas noções de Direito
Comercial supra avançada, salvo melhor opinião adoptámos a noção
apresentada pelo Mestre Manuel Guilherme Júnior, pois entendemos
que esta afigura-se como a mais abrangente e adequada ao sistema
jurídico moçambicano, concretamente o código comercial no seu
artigo 1º10, não obstante o autor se abster de fazer menção aos princípios
jurídicos na sua definição, pois estes afiguram- se como de extrema
importância porque servem de parâmetro para a produção de
qualquer norma jurídica, incluindo as de Direito Comercial.

1.2 Objecto do Direito Comercial

O Direito comercial tem o seu objecto de estudo, tal como acontece com qualquer
outro ramo de estudo. O objecto do Direito comercial vem definido no artigo 1º do C.
Com, e segundo o mesmo dispositivo legal, o objecto de regulação do Direito
Comercial, estabelecendo duas situações:
A parte inicial do mesmo artigo (1)11 define o objecto do direito comercial a
partir do sujeito, o empresário comercial neste caso. A compreensão desta parte,
pressupõe antes a compreensão da

10
Vide o artigo 1° do Código Comercial vigente em Moçambique, diploma
actualizado pelo novo Decreto-lei n° 2/2009 de 24 de Abril.
11
Vide o artigo 1o do Código Comercial, aprovado pelo Decreto-Lei n°2/2009 de 29
de Abril.

18
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
qualificação do sujeito em referência. Remetemos por isso a parte relativa ao
estudodamatériaatinenteaoempresáriocomercial.
Na segunda parte do artigo 1º do C.Com, o legislador ordinário usou a terminologia
mais importante no âmbito do estudo deste ramo de Direito. Com muita razão e
logica, o legislador não se preocupou em descrever os tipos de actos do comercio,
pois sob ponto de vista logico esta actividade seria inesgotável. Sabiamente, o
legislador submeteu a regulação a lei comercial, todos s actos que a luz da
perspectiva objectiva são tidos como comerciais.
Em termos teóricos o legislador abandonou redacção do código de 1888, que
suscitava muita controvérsia de interpretação sem contudo abandonar o método da
definição do objecto da Lei Comercial. Na verdade, tanto no actual código, como
no anterior, a ideia dos sujeitos e dos actos do comércio aparece subjacente a
definição do objecto deste ramo impondo a sua complementaridade nos artigos que
versam sobre os aspectos.

RELAÇÕES ENTRE O DIREITO COMERCIAL COM OS DEMAIS RAMOS DE DIREITO

Com o Direito Civil, como já apontado, mantém íntimas relações no campo


obrigacional.

Relaciona-se com o Direito Tributário porque a atividade comercial é a base da


incidência fiscal em nosso país.

O Direito do Trabalho volta-se para a relação de emprego, que ocorre, em larga


escala, na atividade comercial. O Direito Penal trata de diversas práticas que
configuram crimes, como os da concorrência desleal, contra as marcas e patentes, os
contra a economia popular, sem falar nos mai corriqueiros, perpetrados através de
títulos de crédito, como a falsificação, a fraude ou o estelionato e nos ilícitos penais
falimentares.

Necessária,também,aconcorrênciadoDireitoProcessualPenal,para
a apuração e apenamento das

19
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
condutas típicas. O Direito Administrativo, por sua vez, regula a atuação do
Estado no mercado, muitas vezes competindo com a iniciativa privada, e,
respaldado no interesse social, exerce a fiscalização das atividades do particular,
prescrevendo normas e órgãos próprios, especialmente destacados para tal fim,
como nos casos de intervenção e liquidação extrajudicial de empresas.

O Direito Econômico regulando a política econômico-financeira, atinge a vida


empresarial, a exemplo da regulação do poder econômico, com se vê na
Constituição Federal. Não se pode esquecer o importante vínculo com o Direito
Processual Civil, que dá vida judicial aos conflitos oriundos dos
empreendimentosrentáveis.

A Autonomia do Direito Comercial

Quando discutimos a questão da autonomia do direito comercial, colocamos a


questão que prende-se em perceber se o Direito Comercial é um ramo do Direito
autónomo, ou se está dependente de um outro ramo do Direito. Antes o Direito
Comercial estava dentro do Direito Civil, que é um ramo do Direito Privado Comum,
mas com o desenvolvimento da ciência jurídica, e das relações jurídicas
comerciais, o Direito Comercial autonomizou-se, torando-se um ramo do Direito
Autónomo.
Sobre a autonomia do Direito Comercial12 existem varias posições na doutrina.
Temos uma concepção objectivista, encabeçada por VIVANTE, e que
influenciou alguns autores como GUILHERME MOREIRA CUNHA GONCALVES E
BARBOSADEMAGALHÃES,sustentou
que não se justificaria a tradicional autonomização do Direito Comercial e que
preferível seria considerar o Direito Civil como disciplina jurídica uniforme de
todas as relações de direito privado, ou seja, daquelas que se baseiam na igualdade de
posições de sujeitos das relações jurídicas (critério da posição dos sujeitos).

12
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

20
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Esta orientação negadora da autonomia do Direito Comercial baseou- se
essencialmente no argumento de que este teria já desempenhado e esgotado o seu
papel de catalisador da evolução do Direito privado, pois os princípios e regras que ele
foi gerando ao longo dos tempos, acabaram por cada vez mais rapidamente ser
absorvidos pelo Direito Civil.
Entendia-se que os interesses e valores que historicamente explicariam a
autonomia do Direito Comercial a tutela de credito, da confiança, da boa-fé, da
rapidez dos negócios, teriam generalizado o seu alcance a todos os domínios da
actividade humana, em especial de todos os ramos da economia, não havendo já
motivos para os considerar exclusivamente enformadores do regime-jurídico
privado docomercioedealgumasoutrasactividadesaesteassimiladas.
Apesar de alguns ordenamentos jurídicos integrarem a matéria do Direito
Comercial no Código Civil (CC)13, Este não perde a sua autonomia. O facto de
este ser tratado dentro do código civil não perde a sua autonomia. Isto sucede
com vários ramos do Direito Privado, que apesar de serem tratados no código Civil
não perderam a sua autonomia, o que acontece com o Direito das Sucessões cujo
tratamento jurídico-legal tem a sua sede no livro V do Código Civil, mas isto não poe
em causa a sua autonomia científica, pedagógica ou formal.
Na ordem jurídica Moçambicana, o tratamento da matéria atinente ao Direito
Comercial ocorre em legislação específica, que é o Código Comercial, o principal
instrumento normativo (Diploma) regulador da actividade comercial e dos
empresários Comerciais em Moçambique, o referido diploma foi actualizado pelo
Decreto – Lei n°2/2009 de 24 de Abril.

13
JÚNIOR, Manuel guilherme, manual de direito comercial Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.

21
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
A Especialidade do Direito Comercial
O Direito Comercial é considerado Direito especial, assim de distinguiria do
Direito Civil: Direito Comum. A relação de especialidade ocorre, quando perante
um (conjunto de normas) ou complexo normativo que se dirigia a uma generalidade
de situações jurídicas, um segundo sistema de normas, mas restrito, mas mais
intenso, contemple uma situação que, de outro modo respeitaria ao primeiro
(Direito Civil), dispensando-lhe um tratamento particularmente adequado14.
A adequação pode resultar de normas diferenciadas que estabeleçam situações
diversas ou de regras complementadoras que precisem, num ou noutro sentido,
soluções deixadas em aberto pelo Direito comum. A Especialidade é relativa, impõe
quando perante duas (2) áreas normativas, seja possível estabelecer uma
relação geral/especial. O Direito Comercial seria especial em relação ao civil, mas
surgira geral em relação ao Direito bancário, ainda mais especial. A afirmação da
natureza especial do Direito Comercial permite justificar a aplicação subsidiária
do Direito Civil que é o Direito privado comum, perante o especial, que é o
Direito Comercial. A especialidade resulta então de níveis reguladores mais
gerais, e sobretudo da propiá materialidade das regras consideradas.

DIREITO COMERCIAL OU DOS COMERCIANTES


O Direito Comercial é na verdade o Direito do Comercio ou dos comerciantes15,
alguns usam a designação, direito Comercial, outros Direitos dos comerciantes, mas
não existe qualquer diferença, pois trata-se de uma questão meramente
terminológica. Trata-se do comércio que em Direito engloba a actividade lucrativa
da produção, distribuição e venda de bens. O termo “Comercio” pode, com
paridade aplicar-se a qualquer dos seguimentos do circuito que une osprodutorese
consumidoresfinais,eainda,asactividadesconexase
14
Idem, pág. 122.
15
Idem, pág. 125.

22
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
acessórias. De acordo com a doutrina, a expressão Direito do Comercio
enquadra-se na concepção objectiva, e por sua vez a expressão “Direito dos
Comerciantes” que também é alargada as empresas, corresponde a concepção
subjectiva, esta solução foi encontrada pela doutrina nos anos 30 do Seculo XX,
pois qualquer ramo jurídico, por mais especial que seja, pode ser sempre
configurado num sistema subjectivo, regulando não só o comércio, mas também os
comerciantes.

FONTES DO DIREITO COMERCIAL

1. Para discutirmos a matéria atinente as fontes do Direito Comercial,


vamos começar por conceituar as fontes do Direito16. De acordo com a
doutrina, fontes de Direito são os modos de criação e revelação das normas
jurídicas, portanto o Direito Comercial tal como qualquer outro ramo do
Direito há-de encontrar os seus modos de criação, ou seja, as formas de
criação das normas jurídicas comerciais, ou os modos em que estas
normas se revelam na ordem jurídica moçambicana.
2. A doutrina aborda as seguintes fontes do Direito Comercial: A lei, a doutrina,
a jurisprudência e as fontes internacionais. Os usos e costumes serão
objecto de discussão mais adiante, o que vai nos permitir tomar uma
posição, se são ou não fontes do Direito Comercial.
FONTES INTERNAS

As fontes internas são compostas por um conjunto de normas emanadas pelos


órgãos estaduais competentes para o efeito, dentre os referidos órgãos podemos
destacar a Assembleia da Republica e o Governo, através da aprovação das leis,
Decretos e Decretos-Leis.

16
Op. cit. Pág. 148.

23
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

A Constituição

Primeiro a constituição. A Constituição é a lei suprema de um sistema jurídico. A


Constituição da Republica contem um conjunto de normas que prevalecem sobre
todas as demais em vigor no ordenamento jurídico.
Deste modo, torna-se infalível que esta seja fonte de Direito Comercial. No
entanto, existem na constituição normas com alcance directo sobre o exercício da
actividade comercial, a que alguma doutrina chamaria de constituição
comercial para distinguir a constituição fiscal, constituição económica, etc.
Contudo, podemos concluir que na constituição da república existem disposições de
alcance directo na vida comercial. A esse propósito podem-se citar os artigos 96º,
97º, 99º, 106 e particularmente o artigo 107º todos da CRM17.

O CÓDIGO COMERCIAL

A segunda fonte18, o código Comercial aprovado pelo Decreto – Lei n° 2/2005, de 27 de


Dezembro, constitui o principal instrumento de regulação da actividade comercial
em Moçambique e nos termos do seu artigo 1º a lei comercial regula a actividade
dos -empresários comerciais, bem como os actos considerados comerciais.

FONTES EXTERNAS

Não são apenas de considerar as fontes de direito interno, pois o direito


comercial, é particularmente sensível as normas do Direito Internacional atinente
as relações económicas.
Relactivamente as fontes externas, compreende um conjunto de instrumentos
internacionaisassinadoseratificadosporMoçambique,

17
Vide o artigo 107 da Constituição da Republica de Moçambique, aprovada pela
Assembleia da Republica aos 24 de Novembro de 2004.
18
Cfr o artigo 1º do C.Com aprovado pelo Decreto-Lei 2/2005 de 27 de Dezembro.

24
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
nos referimos aos protocolos e tratados internacionais em matéria comercial19.
São pois de ter em conta importantíssimas convenções internacionais, que são
recebidas no nosso ordenamento jurídico desde que sejam satisfeitos os requisitos
postos pelo artigo 18º da constituição. São exemplos significativos no que toca ao
Direito Comercial convenções que aprovam as Leis uniformes sobre Letras, e
Livranças e sobre Cheques, Convenção sobre a propriedade Industrial outras
convenções pertinentes a esta matéria, poemos destacar ainda a carta constitutiva
da Organização Mundial do Comercio (OMC), organização na qual Moçambique
é Membro.
Igualmente são de ter em conta normas emanadas dasinstituições internacionais e
a jurisprudência dos tribunais internacionais, que forem vinculativas nos termos dos
respectivos estatutos. E ainda o costume internacional, a doutrina em matéria
internacional e os princípios gerais de Direito reconhecidos pelas nações civilizadas.

A Lei

Como e natural no nosso sistema jurídico20, a lei é a principal fonte do Direito, e


consequentemente do Direito Comercial. A Lei deve ser entendida no seu mais
sentido amplo, isto é, abrangendo a lei constitucional, a lei ordinária e também as
normas regulamentares.
Evidentemente estamos a referirmo-nos a lei comercial, isto é, aquelas normas
legais que tiveram sido ditadas pela solução ou tutela dos interesses específicos das
actividades mercantis ou comerciais.
O seu núcleo fundamental é ainda hoje constituído pelo Código Comercial
actualizado pelo Decreto-lei n° 2/2009 de 24 de Abril. Toda

19
GONÇALVES NETO, Alfredo, Lições de Direito Comercial, Vol. 1, São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

25
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
via, a este código acresce uma abundantíssima legislação extravagante de
grande importância.
Entre varias leis comerciais extravagantes, em que podemos exemplificar a lei
9/79 de 10 de Julho que define a constituição tipo e forma de organização cooperativa
em Moçambique, Lei 10/2006 de 23 de Dezembro, que visa adequar o código
Comercial ao imperativo da modernidade, segurança e eficácia da justiça, lei 7/79
de 03 de Julho, que cria a base legal para licenciamento e funcionamento do sector
privado em Moçambique, Lei 8/79 de 03 de Julho que estabelece o regime
jurídico do arrendamento de imoveis, do parque imobiliário do Estado para
habilitação, industria, comercio e serviços, com as alterações introduzidas pela lei
17/91 de 03 de Agosto, Decreto- lei n° 2/2009 de 24 de Abril que introduz
alterações em alguns artigos do Código Comercial, Decreto 1/2006 de 03 de Maio,
que vem adoptar um instrumento moderno e consentâneo com o processo de
simplificação de procedimentos de revisão da respectiva orgânica, Decreto n° 4/2006
de 12 de Abril, que tem em vista aprovar o código de propriedade industrial aprovado
pelo Decreto n° 18/99 de 04 de Maio.

OS USOS E COSTUMES

O artigo 480º n° 1 do C. Comercial21 refere-se aos usos e costumes como fontes do


Direito Comercial, e o elemento histórico de interpretação permite-nos
convencer-nos de que inspirou-se da (fonte) do artigo 1º do código Comercial de
1882, o qual considerava os usos e costumes como fontes do Direito Comercial22.
E certo que por vezes o próprio código comercial remete para os usos comercias como
sucede no artigo 480º n° 2 do C. Comercial. A este propósito, convém distinguir como
faz Diogo Leite Campos os usos

21
Vide o artigo 480º do C.Com.
22
Cfr o artigo 1º do Código Comercial de 1882.

26
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
dos costumes. Uns e outros são praticas constantes e reiteradas dos sujeitos de
direito, mas ao passo que os usos emanam na pratica negocial, na qual se
difundem e mantem por acção repetitiva das partes, já os costumes provindo da
mesma origem, são a partir de dado momento, socialmente revestidos de opinio
Júris da convicção generalizada de que o seu acatamento é juridicamente
vinculativo e entram na ordem jurídica, normalmente através de acção
dos tribunais, como regras gerais e abstractas.
O código Civil23 admite em certas disposições os usos como fontes, mas quando a lei
civil para o efeito remeta, tal como vem previsto no artigo 560º n° 3 do código Civil (CC)
aplicável por forca do artigo 7 do código Comercial, a lei civil é aplicável
subsidiariamente nas relações comerciais desde que as normas a aplicar não sejam
contrárias ao Direito Comercial.
Nota-se que deve-se dar uma atenção muito especial a expressão “Princípios do
Direito Comercial” e não normas do Direito Comercial, pois salvo opinião em
contrário, o legislador quis dar relevância aos princípios norteadores da vida
empresarial e não somente as normas do Direito Comercial. Posicionando-se, as
normas do Direito Comercial só serão aplicáveis, estarão em vigor se as mesmas
se conformarem com os princípios deste ramo.

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE LACUNAS NO DIREITO COMERCIAL

1 O Direito Civil é um direito privado geral ou comum24, que regula genericamente


as relações entre as pessoas situadas numa posição jurídica equivalente. O
Direito comercial regula uma certa espécie dentro desse género de relações: as
que derivam do
23
Cfr os artigos 7 e 560 n°3 ambos do Código Comercial Moçambicano.
24
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

27
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
exercício do comércio e de outras actividades afins. Logo, trata-se de um Direito
Privadoespecial,poisafastando-sedasregrasgerais do Direito Civil, vigora só para
uma classe específica de relações jurídicas, que o legislador destacou em partes
para as submeter a um regime diferenciado.
2 Note-se que esta caracterização jurídica não reduz o direito comercial a um
aglomerado de normas excepcionais. Como sabemos, a norma excepcional
é aquela que para determinado caso, (ou tipo de casos) estabelece uma
disciplina não apenas diferente da que resulta do princípio ou norma geral,
mas que está em conflito com a regra geral.
3 Ora, se é certo que no Direito comercial nos surgem normas que realmente
constituem excepções as regras e princípios gerais do direito civil, todavia o
direito comercial, como conjunto organizado de normas e princípios que é,
não apresenta um caracter excepcional em face do Direito Civil. O que ocorre é
que o Direito Comercial estabelece sob certos aspectos e para certos e para
certos institutos um regime próprio para certas classes de pessoas e de
relações jurídicas.
4 Esse regime pode estar ou não em contradição com os princípios e regras do Direito
Civil, com o qual apresenta pontos de contacto e outros de divergência, não se
desviando, todavia, de forma essencial dos caracteres e princípios do Direito
privado.
5 Estamos pois perante um ramo de direito especial, o que não tem pequena
importância para a dilucidação do problema da interpretação e integração de
lacunas na lei (código) comercial. O preceito fulcral para a analise desta
questão é o artigo 7º do código Comercial25, em cujos termos: os casos que o
presente código não preveja são regulado segundo as normas desta lei
aplicáveis aos casos análogos, e, na sua falta, pelas normas do

25
Cfr o artigo 9º do Código Civil moçambicano, aprovado em 1966.

28
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Direito Civil que não forem contrárias aos princípios do Direito Comercial.
6 Diga-se desde já que a questão da interpretação das normas do Direito
comercial não coloca nenhum problema específico, pelo que haverá, quanto a
ela, quer em conta o artigo 9º do código Civil (CC).
7 Já a questão de integração de lacunas na lei comercial necessita de algum
esclarecimento, na verdade, por um lado, as normas do Direito comercial
formam um corpo autónomo, como vimos, o que torna possível a sua
aplicação análoga dentro do próprio corpo comercial (mercantil), que não
sucederia se não fossem normas especiais (artigo 11º do CC)26.
8 O próprio artigo 7º do C. Com prescreve a extensão análoga das normas jurídico-
comerciais a casos nelas não previstos. Alias, nada exclui que delas faca o uso,
para analogia, suprir lacunas do próprio direito civil, se for o caso.
CARACTERISTICAS DO DIREITO COMERCIAL

1. O Direito Comercial tem um conjunto de características peculiares que


o fazem especial, são algumas dessas características 27:
2. Cosmopolitismo – é um ramo tendencialmente universal, se assumirmos
a funcionalidade do exercício do comércio. No entanto, tem-se
actualmente a ideia de considera-lo um regime de comércio interno uma
vez que surge ao lado dele um regime internacional aplicável ao comércio
internacional. O Direito Comercial sofre influências dos mercados e se
realiza entre povos, adota institutos e convenções estrangeiras e para
uniformizar seus padrões de realização, e acompanhando os progressos
tecnológicos, que estimulam sua continuada renovação

26
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.
27
Idem.

29
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
3. Dinamismo – E um direito de rápida evolução, Esta característica e de
facto intrínseca a natureza da actividade que a lei comercial regula. O
exercício do comércio de per si, não se compadece com o estaticismo. O
dinamismo afigura-se ainda como uma das características do Direito
Comercial para acompanhar o movimento das relações econômicas, já que
seus atos são praticados com rapidez e em massa. Os mecanismos de
exercício do comércio tem tendências de modernizarem-se com muita
frequência e rapidez. Prova disso, e o surgimento de novas formas de
contratação comercial, ou seja, novos contratos comerciais que muitas
vezes o legislador não acompanha com a devida regulamentação.
4. Flexibilidade – Esta característica esta associada a anterior. E um Direito
flexível, um direito que admite margens de manobra dos seus
actores28.
5. Informalismo – que equivale a dizer que o direito comercial e
tendencialmente um direito informal, no sentido de que não obedece no
processo da sua aplicação requisitos rigorosos tal como acontece no Direito
Civil.
6. Presunção de Solidariedade – Em direito comercial, vigora a presunção
de solidariedade entre os sócios, tem em vista a maior segurança no fluxo
comercial.
7. Onerosidade – O direito comercial envolve em regra actos não gratuitos, a
gratuidade não é norma em Direito comercial. pois o objeto do Direito
Comercial é a atividade que sempre busca lucro. Por exemplo o mandato
civil pode ser gratuito ou oneroso nos termos do artigo 1158º do C. Civil. O
mandato comercial é sempre oneroso.

28
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.
28
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.

30
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
8. Liberdade de Concorrência – E uma característica do Direito Comercial,
associada ao modelo económico em vigor, do qual resulta a liberdade de
exercício do comércio.
9. Protecção do Credito e da Boa-fé- exactamente pelo facto de ser um ramo
tendencialmente informal e flexível, preocupa- se com a proteção do
crédito, e da boa-fé entre os operadores comerciais, permitem as
negociações e a contratação corra com maior fluidez.
10. Facilidade da prova – a matéria da prova em direito comercial não étao forte
tanto quanto o Direito Civil. O simples recibo de compra de mercadoria
constante da escritura mercantil do empresário comercial prova a
existência do contrato de compra e venda mercantil.
11. Instrumentalidade - pois o Direito Comercial se presta a dar forma
jurídica à realização de negócios e relações comerciais, que se concretiza
sem excesso de formalismos.
12.
DELIMITAÇÃO DO ÂMBITO E OBJECTO DO DIREITO COMERCIAL

A primeira concepção que surgiu a definir o objecto do Direito Comercial foi a


concepção subjectivista, segundo ela, o direito comercial é o conjunto de normas
que regem o actos ou actividades dos comerciantes relactivos ao seu comércio29.
Prevalecentes nas idades Media e Moderna, como direito corporativo da classe
mercantil, veio ter expressão codificada no HGB Alemão de 1861, e no código
Italiano de 1942, onde o fulcro delimitador do objecto de Direito Comercial se
deslocou para a empresa e a tónica subjectiva para a figura jurídica do empresário, ao
mesmo tempo que o âmbito das actividades empresariais mercantis se alargou a
outros ramos da actividade económica.
Por seu turno, para a concepção objectivista O Direito Comercial é ramo do direito
que rege os actos do comércio, sejam ou não
29
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

31
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
comerciantes as pessoas que o pratiquem. O nosso Direito passa a ser encarado pelo
prisma do seu objecto, isto é, da natureza dos actos jurídicos que formam o seu
núcleo normativo.
Serão estas duas concepções, todavia incompatíveis uma com a outra? A verdade
e que o seu antagonismo é mais aparente que real, pois entre elas existem
significativos pontos de contacto.
Por um lado, a concepção subjectiva para caracterizar a qualidade de comerciante, não
pode prescindir de ter em conta que esta advém da prática de certos actos e
actividades, havidos como comerciais. Alem disto, mesmo para esta concepção,
nem todos os actos dos comerciantes são comerciais: só são aqueles que tenham
em causa mercantil, ou seja, que resultem do exercício do comercio pelo
comerciante que os pratica.
Ou seja, mesmo a concepção subjectiva não dispensa a determinação de certos actos
como objectivamente comerciais, por serem aqueles que caracteristicamente
pertencem ao exercício profissional do comércio.
Por outro lado, mesmo no domínio da concepção objectivista, não é possível abstrair
da existência dos comerciantes, isto é, das pessoas que habitualmente se dedicam
a prática de actos e actividades comerciais. Dai resulta que esta concepção admite
a existência de regras e institutos de direito comercial, que radicam na profissão de
comerciante, como é o caso das obrigações especiais previstas no artigo 16º do
Código Comercial30.
Não há pois sistemas puros, em ambos existem actos do comércio objectivos e
regras próprias da profissão de comerciante. E deste modo, podemos dizer que
na essência diferença entre as duas concepções se resume a isto:
Na concepção subjectivista, só são comerciais os actos praticados por comerciantes
no exercício do comercio e no exercício do seu comercio, pelo que não
admitem actos comerciais isolados ou

30
Cfr o artigo 16º do Código Comercial Moçambicano.

32
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
avulsos, mormente de não comerciantes, já na concepção objectivista, uma vez
que assenta nos actos do comercio independentemente de quem os pratique, são
também como tais considerados os actos ocasionais, mesmo que não praticados
por comerciantes,oualheios a actividade profissionaldeumcomerciante, desde que
pertençam a um dos tipos de actos regulados na lei comercial.

Sumário
Na presente temática abordamos necessariamente sobre a parte introdutória da
matéria concernente ao Direito Comercial.
Abordamos desde o conceito, evolução histórica do Direito comercial, objecto do
direito comercial, sua autonomia, especialidade e suas fontes, características do
Direito Comercial, interpretacao e integracao de lacunas no Direito Comercial.

Percebemos que o Direito Comercial trata de conjunto de regras ou normas


juridicas que disciplinam e regulama actividade dos empresários, das sociedades
empresariais e os atos de comércio, mesmo quando praticados por não-
empresários.

Exercícios do tema 1.

1. O que entende por Direito Comercial Segundo Manuel Guilherme


Júnior?
a) Conjunto de normas que regulam os comerciantes
b) Conjunto de normas que visam controlar e punir os actos de comércio
c) Normas jurídicas, princípios, que regulam actividade comercial
através da lei da família e código de civil
d) É um ramo do Direito Privado composto por um (sistema) conjunto de
normas jurídicas com a função de disciplinar

33
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
osactosdocomércioeosempresárioscomerciais. Alínea
correcta é: D

2. Quais são as fontes de Direito comercial que conhece?


a) A lei, doutrina, jurisprudência, usos e costume
b) Os manuais, a universidade, a sala de aulas
c) Os módulos elaborados por docentes para estudante de licenciatura
em Direito
d) A lei, doutrina, uso e costume excepto a jurisprudência A resposta
correcta é: A

3. Quais são as características de Direito comercial?


a) Cosmopolitismo, dinamismo, flexibilidade, informalismo, presuncao
de solidariedade, onorosidade, liberdade de concorrência, protecao
de crédito e boa-fe e a instrumentalidade.
b) Dinamismo, flexibilidade, informalismo, presuncao de solidariedade,
c) Protecao de crédito e boa-fe e a instrumentalidade,
d) Cosmopolitismo, dinamismo, flexibilidade. A
resposta correcta é: A

34
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Tema II – A Empresa no Âmbito do Direito Comercial

Introdução

Nesta temática iremos tratar matérias sobre a empresa, é o conjunto de actos ligados
a actividade economia exercida pelo empresário comercial de forma profissional e
organizada, com vista a realização de fins de produção ou troca de bens e serviços.
A empresa se apresnta também como um conjunto de actividades regido pela
pessoa do empresário, fazendo apelo a factores e elementos de natureza
heterogénea, actuando sobre um património de coisas e direitos, dando origem a
relações jurídicas, económicas e sociais, polarizados numa organização apta a
desenvolver uma actividade económica
Ao completar esta unidade, o estudante deve ser capaz de:

Objectivos específicos
 Conhecer a empresa no âmbito de direito Comercial,
 Conhecer a empresa como sujeito jurídico,

35
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
 Conhecer a empresa como uma actividade, como objecto, como
conjunto de elementos,
 Conhecer matérias relacionadas com comerciante emnome individual,
 Conhecer a empresa comercial,
 Obrigações do empresário,
 Saber o que é firma, conhecer os princípios relativos a constituição de
firma e transmissão da firma e,

Unidade temática 2.1. – A Empresa no Âmbito do Direito Comercial

O Direito Comercial tem vindo a reconstruir-se ou redefinir-se em torno do


conceito de empresa. Através deste regresso ao subjectivismo, tem sido possível
a doutrina sustentar a autonomia e a homogeneidade do núcleo fundamental das
matérias do nosso ramo do direito, centrado já não tanto na pessoa do comerciante,
mas sim na organização por ele empreendida para o desenvolvimento do seu tráfico
mercantil.
Trata-se porem de uma evolução que esta longe de poder considerar- se concluída, e
desde logo porque o próprio conceito de empresa não se acha perfeitamente
adquirido para o direito.
Desde logo, como vimos, o código comercial de 1888 no seu artigo 230º acolheu o
conceito de empresa, como antes fizera já o código Francês de 180731. Só que nessa
época, o conceito de empresa era bem diferente do moderno, a linguagem corrente.
Consideravam-se empresas as actividades produtivas, como a industria e os serviços,
baseadas numa especulação sobre o trabalho (por contraoposição ao comercioqueera
consideradoumaactiviaddedeespeculaçãosobreo

31
Crf o artigo 230 do Código Comercial de 1888.

36
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
risco): empresário era aquele que prestava determinados bens e serviços usando
como principal factor produtivo o trabalho de outem. Era pois uma noção restritiva,
que não abrangia as organizações produtivas dedicadas ao comercio strictu
sensu, embora o seu emprego nos códigos comerciais objectivistas tivesse o intuito
de submeter os respectivos titulares do estatuto jurídico de comerciantes, a par
dos comercias tradicionais intermediários nas trocas.
Dai que o artigo 3º do C. Com não mencione nas empresas que enumera, as dos
comerciantes que se dediquem actividade tradicional, e por excelência comercial
de intermediação nas trocas.
Com o advento da revolução industrial, a actividade do empresário industrial e
prestador de serviços vai sendo assimilada a do comerciante grossista e
retalhista. Dai que, no entendimento e linguagem comum, e por conseguinte,
para a linguagem jurídica, todos estes comerciantes – lato sensu, passe, pouco a
pouco, a ser equiparados como empresários e suas organizações produtivas
uniformemente designadas como empresas.

Empresa como Sujeito ou Agente Jurídico

Numerosos textos referem-se a empresa sob perfil da pessoa que exerce uma
actividade económica de produção e distribuição de bens e serviços, reduzindo-a
portanto a própria pessoa daquele que produz e organiza e conduz a actividade,
suportando-a pelo próprio risco. Alias, a única nota distintiva da empresa nesta
acepção, em relação ao empresário, poderá dectetar-se na ideia de que o suporte real
do risco não é o empresário, mas sim o património que ele integra na unidade
empresarial.
Note-se que o sentido comporta uma acepção restrita, em que a empresa se
reconduz a pessoa ou pessoa que organizam e dirigem a actividade, e uma acepção
mais ampla, para qual a empresa abrange

37
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
um conjunto de pessoas, um elemento humano, comportando não só empresários,
mas também seus colaboradores, designadamente trabalhadores, que prestam a
sua colaboração em ordem ao desenvolvimento da actividade comercial. Alguns
autores como JOSE TAVARES entendiam num sentido subjectivo a palavra
“empresa” utilizada no corpo do artigo 3º do C.Com32.

EMPRESA COMO ACTIVIDADE

O termo empresa é por vezes contudo usado para significar a actividade


economia exercida pelo empresário comercial de forma profissional e organizada,
com vista a realização de fins de produção ou troca de bens e serviços.
E o sentido que ressalta do artigo 2082 do Código Civil Italiano de 1942: “E
empresário comercial o que exerce profissionalmente a actividade económica
organizada com o intuito de produzir bens e serviços”.
Alias também neste sentido, pode dizer como FERNANDO OLAVO que é, empresas
comerciais as actividades referidas no artigo 3º do Código Comercial. Mas salvo
opinião em contrário, o artigo 3º do C.Com não se circunscreve estritamente as
actividadesabrangidas materialmente pelo Direito Comercial. A criatividade e o
expansionismo caracterizadores das economias capitalistas, principais catalisadores da
evolução económica das sociedades modernas, em levado a ampliar a esfera
primitiva do Direito Comercial, abarcando uma serie de actividades (industriais,
serviços, etc.) mais relacionadas com o comércio ou, em todo caso, subsumidas ao
critério geral de especulação.
Dai que a par do artigo 3º, existam outros preceitos no código comercial e em
legislação avulsa, que incluindo outras actividades no objecto do direito comercial,
constituem outras tantas normas delimitadoras da “matéria mercantil”.

32
Cfr o artigo 3º do Código Comercial actualmente vigente em Moçambique.

38
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

EMPRESA COMO OBJECTO

Trata-se neste sentido, da organização do conjunto de factores de produção e


outros elementos congregados pelo empresário comercial, com vista ao
exercício da sua actividade. Equivalente a principal acepção da palavra
estabelecimento, porventura a mais expressiva realidade jurídica deste. É neste
sentido que dissemos empresa e estabelecimentos são sinónimos33.

EMPRESA COMO CONJUNTO DE ELEMENTOS

Este é o sentido dinâmico do termo “empresa”, que vê nela a expressão de um


circulo de actividades regido pela pessoa do empresário, fazendo apelo a
factores e elementos de natureza heterogénea, actuando sobre um património
de coisas e direitos, dando origem a relações jurídicas, económicas e sociais,
polarizados numa organização apta a desenvolver uma actividade económica34.
E o sentido mais amplo e compreensivo da expressão “empresa” que a reconduz a uma
instituição de caracter basicamente económico, mas também social, um organismo
vivo, polarizador da criação de riqueza, mas também de emprego e ate de cultura.
Note-se que no âmbito do direito mercantil, esta concepção aparece mais restrita nos
traços mais singelamente circunscritas as relações jurídicas que concentra. Só uma
colagem dos elementos conceituais trazidos também dos outros ramos do Direito,
que lhe dão guardia, e que fazem surgir a plena significação institucional da
empresa.
A acepção institucional da empresa, numa visão jurídico-mercantil parece ser a que
forma o artigo 557 do C.Com e seguintes. Tem sido entendido que o artigo 3º do
C.Com consagra a noção subjectiva de empresa a par de uma concepção de
actividade, ou seja, de um

34
Idem.

39
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
conjunto de actos entre si coordenados, para realização de certo escopo,
correspondente a um certo ramo da vida económica. Neste sentido, são comerciais
as empresas ou actividades enumeradas nas alíneas do artigo 3º, com as ressalvas
consignadas no seu número 2, e ainda indicadas em outras disposições de leis
comerciais extravagantes, bem como as que resultem de interpretação extensiva ou
aplicação análoga das várias alíneas do corpo do artigo 3º como oportunamente
referimos.

O EMPRESÁRIO

Apesar do artigo 1º do C.Com conferir ao nosso sistema um acento tónico


objectivista, levando a que caiam sob a alçada do direito comercial os actos e
relações que tenham por sujeitos comerciantes ou não comerciantes, a verdade é
que não deixa de ser muito relevante o estatuto jurídico que o próprio código
comercial, contemplado por legislação extravagante estabelece para os
comerciantes35.
E relevante que uma importante categoria de actos do comércio devem esta
qualidade e o inerente regime, a circunstância de serem praticados por
comerciantes no exercício do comércio: são actos subjectivos referidos no
número 2 do artigo 5º do C.Com.
Ademais, os comerciantes estão sujeitos a varias obrigações especiais que se acham
definidas no artigo 16º do C.Com, e diversas outras consagradas em regime
especial por actos e obrigações dos comerciantes, tornando indispensável a
determinação da qualidade de comerciante dos seus sujeitos: Valor especial da
escrituração mercantil como meio de prova, prescrição presuntiva dos créditos dos
comerciantes, etc.
A qualidade de comerciante reveste-se, por conseguinte de elevada relevância
jurídica. Daqui resulta a necessidade de caracterizar com nitidez o que é um
comerciante e quais são as pessoas as quais se aplica esta qualificação legal.

35
Cfr o artigo 1º do Código Comercial actualmente vigente em Moçambique.

40
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

COMERCIANTES EM NOME INDIVIDUAL E SOCIEDADES

O legislador não cuidou de nos dar uma definição propriamente de comerciante,


mas sim de indicar quais são as categorias legais de comerciantes, a saber indicadas
no artigo 2º do Código Comercial:
a) As pessoas singulares ou colectivas que em seu nome, por si ou por
intermedio de terceiros exerçam uma empresa comercial.
b) As sociedades comerciais.
Temos assim segundo o entendimento tradicional deste artigo, de um lado, os
comerciantes que são pessoas singulares, geralmente designados por
comerciantes em nome individual, e os comerciantes quesãoaspessoascolectivas–
associedadescomerciais.
Porem, no domínio do Direito comercial deve prevalecer em geral a noção de
comerciante que resulta do artigo 2º do C.Com: Comerciante é quem
enquadrando-se numa das categorias do artigo 3º do mesmo código, seja titular de
uma empresa que exerça uma das actividades comerciais tais como qualifica o
mesmo artigo (3) e demais disposições avulsas, que caracterizam e englobam no
Direito Comercial certas actividades económicas36.
Convém desde já realçar que a qualidade de comerciante ou empresário
comercial prevista no artigo 2º do Código Comercial é sempre originária, não
podendo transmitir-se nem inter vivos, nem mortis causa.

EMPRESÁRIO COMERCIAL COMO SUJEITO DO DIREITO COMERCIAL

A terminologia empresário comercial usada no artigo 2º do C. Com e demais reflecte


a evolução do direito comercial para a evolução moderna do direito comercial. Da
evolução dos actos do comércio na conceitualização do direito comercial, passou-sea
noçãodaempresa.

36
Cfr o artigo 3º do C.Com.

41
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Na verdade, o que era designado comerciante no código comercial de 1888, é aquilo
que corresponde hoje ao empresário comercial. A razão da adopção desta
terminologia resulta não da necessidade de adequar a terminologia com arealidade,
mastambémdanecessidade de conformar aquilo que hoje este sujeito comercial faz
em relação a sua própria actividade. O artigo 13º do C.Com de 1888 dizia “são
comerciantes”, mas hoje estabelece o artigo 2º no seu corpo que “são empresários
comerciais37”.
As pessoas singulares ou colectivas, que em seu nome, por si ou por intermédio de
terceiros exerçam uma em presa comercial. Esta alínea ao introduzir as palavras
“singulares ou colectivas” veio resolver o problema que era colocado pela maioria da
doutrina, na vigência do código anterior que era o de saber se a referencia apenas as
pessoas pretendia incluir tanto as pessoas físicas como as jurídicas. Evidente que o
legislador quis abarcar tanto as pessoas singulares como colectivas. Na verdade,
quer umas, quer outras, podem ser a luz das normas vigentes empresários
comercias.
No entanto precisara que exerçam uma actividade comercial nos termos em que
ela esta contemplada no artigo 3º do mesmo código, ou seja, é empresário comercial
aquele que, satisfazendo uma das categorias previstas no artigo 2º, exerça uma
das actividades qualificadas como comerciais a luz do artigo 3º. Sobre a qualificação
das actividades económicas ou comerciais, releva o artigo 3º a inclusão das
actividades agrícola, piscatórias que outrora não eram contempladas nesta
classificação.
Importa referir que, o exercício da empresa comercial nos termos deste artigo
pode ser por meio de terceiros, naturalmente tal exercício por meio de terceiros
exigira autorização do seu dono em que se reunira antecipadamente os requisitos
para o exercício da empresa comercial.

Unidade temática 2.2. O EMPRESÁRIO COMERCIAL

42
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Introdução
O código comercial, não fornece noção de empresário comercial limitando-se
porém, no art.º 2° C.Com38, a indicar as categorias legais de empresário comercial, no
sentido de que são empresários comerciais, por um lado as pessoas singulares,
também designadas por comerciantes em nome individual, e por outro lado, as
sociedades comerciais. Relativamente às pessoas colectivas, elas obedecem ao
princípio da especialidade, isto é, há condições específicas para tal qualificação.Éum
assunto queanalisaremos maisadiante emrelação as sociedades comerciais.
Podemos assim, definir empresário comercial, como sendo aquele que
enquadrando-se numa das categorias do art.º 2° C.Com, seja titular de uma
empresa que exerça uma das actividades comerciais tais como as qualificam o art.º
3° e as demais avulsas que caracterizam em englobam no direito comercial certas
actividades económicas39.
A categoria do empresário comercial, não é transmissível entre vivos e nem mortis
causa, na medida em que ele exige em si a reunião de certos requisitos. Requisitos
estesassociadosàpessoadoempresário comercial que a seguir indicamos.
Objectivos específicos
 Definir o empresário comercial;
 Conhecer os requisitos que se agregam ao empresário comercial;
 Apresentar a situação as restrições ou proibições ao exercício da profissão
de empresário comercial.

EMPRESÁRIO COMERCIAL PESSOA SINGULAR: REQUISITOS

Em relação à disponibilidade jurídica, não há qualquer especificidade em relação ao


direito civil. A personalidade jurídica adquire-se com

38
Cfr o artigo 2° do código comercial actualmente vigente em Moçambique.
39
Idem.

43
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
nascimento completo ecom vida nos termos do n°1 do art.º66° do CC40.
Em relação a capacidade comercial, que é medida dos direitos e obrigações de que
uma pessoa é susceptível de ser sujeito, distingue- se entre a capacidade de exercício e
capacidade de gozo. No que se refere aos menores, é menor toda pessoa de um
ou outro sexo enquanto não perfizer vinte e um anos de idade e, em princípio
estariam feridos de incapacidade de exercício profissionalmente empresarial por
forca do princípio da equivalência consagrado no art.º 9° C.Com. Contudo, o art.º
10°, vem estabelecer algumas excepções e nestes termos, o menor de vinte e um
anos e maior de dezoito anos pode exercer a actividade empresarial, desde que
devidamente autorizado.
Esta autorização pode ser dada pelos pais, desde que detenham a guarda do
menor. Sucede que, se os pais não exercem a guarda do menor por força de decisão
judicial ou outro qualquer impedimento, não tem poderes de autorizar o menor
para a prática da actvidade empresarial41.Pelo tutor nos termos estabelecidos na lei
civil e pelo juiz na falta dos pais ou do tutor, ou quando entender e oportuno aos
interesses do menor. Assim, equivale dizer que, o juiz pode por decisão a favor
dos interesses do menor autorizar a este a prática da actividade empresarial mesmo
que sem anuência dos seus pais ou tutores.
A lei comercial impõe que tal autorização para o exercício da actividade
empresarial seja outorgada por escrito, podendo tal instrumento limitar os
poderes do menor ou impor condições para seu exercício, indicar o ramo da
actividade a ser explorado pelo menor, fixar prazo de validade da autorização e,
mesmo quando concedida por tempo determinado, pode ser revogada, a qualquer

40
Cfr o artigo 66 do Código Civil vigente em Moçambique, sobre a aquisição da
personalidade jurídica.
41
HUBRECHT, Geoges. Droit Commercial, Ed. Sirey 1988.

44
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
altura, pelo outorgante, salvaguardados os direitos adquiridos de terceiros. Impõe
igualmente o legislador que esta autorização seja registada para que seja válida
perante terceiros.

SITUAÇÃO PARTICULAR DOS INCAPAZES

O art.º 9°, ao exigir a capacidade para prática de actos de comércio pretende referir-
se a capacidade jurídica de exercício, tanto mais que alude implicitamente o carácter
profissional do comércio o que pressupõe uma prática habitual de actos geradores,
mediadores ou extintivos de direitos e obrigações, donde resulta que, não pode
conhecer-se o exercício da profissão de empresário comercial por um incapaz, aliás o
próprio conceito de profissão e no caso a circunstancia se traduzir numa contínua
e habitual prática de actos e negócios jurídicos, sendo portanto absorvente e
responsabilizante afigurando-se incompatível com a situação jurídica de
incapacidade por interdição porexemplo.
A inclusão dos interditos no art.º 9° C.Com deve entender-se cungrano salis,
quanto ao exercício profissional do comércio considera-se que tal prática será
a prática habitual de actos de comércio, não directa e pessoalmente pelos
incapazes, mas pelos seus representantes, em nome e por conta daqueles, com
necessária autorização judicial a luz do art. 296° da lei n°10/2004 de 25 de
Agosto.
A profissão de comerciante pressupõe a concretização dos actos se comércio, mas
não qualquer prática, deve ser a prática profissional, isto é, o exercício de uma
empresa comercial;
No entanto, não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais para
se adquirir a qualidade de comerciante é necessária a pratica regular, habitual,
sistemática, dos actos de comércio.
Não basta por outro lado, a prática mesmo habitual, de quaisquer actos de
comércio, no sentido de que nem todos os actos tem a
mesma potencialidade de atribuir a

45
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
quem os pratique a qualidade de empresário;
É indispensável para que se fale de profissionalidade que o indivíduo pratique os
actos de comércio como seu modus vivendi faça o comércio o seu dia-a-dia e a
forma de viver.
O exercício profissional deve ser de modo pessoal, independente e autónomo, isto
é, em nome próprio sem subordinação de outrem.42
É necessário que se organizem factores de produção com vista a criar utilidades
económicas, resultantes de uma daquelas utilidades económicas que a lei
considera como comerciais.
Em jeito de conclusão, é empresário comercial, quem possui e exerce uma empresa
comercial, quemé titularde umaorganização daquelas quealeiqualificacomoempresa
comercialparaatravés delasexercer actividade empresarial de forma profissional.
A plena capacidade comercial civil há-de depender de uma pessoa singular ou
colectiva, ter a capacidade civil e não estar abrangida por alguma norma, que
estabeleça uma restrição ao exercício do comércio.

RESTRIÇÕES OU PROIBIÇÕES AO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DE EMPRESÁRIO


COMERCIAL.

Embora o exercício da actividade empresarial seja livre bastando o preenchimento


dos requisitos gerais anunciados anteriormente, existem situações que há
limitação do exercício profissional do comércio. Tais situações podem se
consubstanciar em proibições legais e impedimentos. Inibições i
incompatibilidades.

SITUAÇÃO PARTICULAR DOS INCAPAZES

O art.º 9°, ao exigir a capacidade para prática de actos de comércio pretende referir-
se a capacidade jurídica de exercício, tanto mais que alude implicitamente o carácter
profissional do comércio o que

42
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito comercial. Lisboa, AAFDL, 1993.

46
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
pressupõe uma prática habitual de actos geradores, mediadores ou extintivos de
direi

IMPEDIMENTOS E PROIBIÇÕES LEGAIS AO EXERCÍCIO DO COMÉRCIO

Os impedimentos consubstanciam as situações em que determinado sujeito ainda que


civilmente capaz está vedado por lei para a prática de actos de comércio de forma
profissional. Nesta situação, estão por exemplo os administradores das sociedades
por quotas. Nos termos do art.324° do C.Com43, os administradores não
podem, sem consentimento expresso dos sócios exercer, por conta da
própria ou alheia, actividade abrangida no objecto social da sociedade,
desde que esteja a ser exercida por ela ou o seu exercício tenha sido objecto
de deliberação dos sócios.
Equivale dizer que, há proteção da concorrência e na nossa opinião, da concorrência
desleal que resultaria do exercício do comércio no mesmo ramo de actividade ou
objecto comercial pelo administrador 44.
O administrador nos termos deste artigo só poderá exercer a actividade nos
termos anteriormente ditos se consentirem os sócios da sociedade onde ele é
administrador. Esta limitação faz todo sentido na medida que recai em geral
sobre os administradores o dever de diligência.
A questão que se pode colocar é a de saber se tal consentimento terá de vir de todos os
sócios ou se basta a vontade da maioria.
Entendemos que tal consentimento terá de ser expresso e resultará de deliberação
dos sócios seguindo as regras da maioria estabelecidas paracadatipodesocietário ou
resultedo estatuto dasociedade.
Por fim, importa anotar que este impedimento que recai sobre os administradores
é parcial e não geral na medida em que só se aplica

43
Cfr o artigo 324 do código comercial vigente em Moçambique.
44
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.

47
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
ao ramo da actividade ou objecto igual ao coincidente com o da sociedade.
Equivale dizer que, o administrador não está impedido de exercer actividades
comerciais.
Outro impedimento resulta do art.º 14° do C.Com nos termos do qual, estão
impedidos do exercício da actividade empresarial:
a) As pessoas colectivas que não tenham por objectos interesses
materiais.
b) Os impedidos por lei especial.
Relativamente ao primeiro aspecto, encontra a sua essência na natureza do
próprio direito comercial e das suas normas que se associamao exercício deuma
actividade lucrativa. O que a lei impede, como escrevemos noutro lugar, não é a
prática de actos de comércio45 mas sim, do exercício profissional da actividade
comercial e aquisição da qualidade de empresário comercial.
Veja-se por exemplo, a fundação para o desenvolvimento da comunidade (FDC),
desenvolve uma série de acções beneméritas e até tira dinheiro para várias
actividades mas que não faz com vista a lucrar, ou seja, uma empresa de facturação
de lucros embora em certas circunstâncias possa vender um bem de sua pertença.
O ira acontecer é que esse acto será regulado pela lei comercial, mas no entanto, a
FDC não será por isso considerada empresário comercial.
A par dos impedimentos há aquilo que ousamos chamar proibições legais com o
intuito apenas de diferenciar aqueles actos que são limitados a certa categoria de
sujeitos e por isso, exclusivos a eles. A título de exemplo, o comércio bancário esta
reservado asa instituições de crédito por força de Lei n° 15/99 de 1 de Novembro co
as alterações introduzidas pela Lei n° 9/2004 de 21 de Julho. Estabelece o n° 1
do art. 7°da referida lei << só as instituições de crédito podem exercer a
actividade de recepção, do público, de

45
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito comercial. Lisboa, AAFDL, 1993.

48
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
depósitos ou outros fundos reembolsáveis, para a utilização por conta
própria>>.
Para o efeito, só pode ser praticado por sociedades anónimas com certos
condicionalismos em termos de capitais a investir e com necessidade de
intervenção do Banco de Moçambique quer para autorização quer para
fiscalização ou supervisão. Resulta disto que, aquele que não estiver compreendido
nas categorias legais para a prática destes actos, não pode fazê-lo e uma vez
praticados ira consubstanciar o crime ilegal de profissão titulada previsto e punido
pelo parágrafo 2° do art.º 236° do CP.

INCOMPATIBILIDADES

A noção de incompatibilidade está associada a impossibilidade decerto sujeito


em função da posição determinada que ocupa, estar impedido de praticar certos
actos ou negócios. Não quer significar que ele não tenha capacidade e muito menos a
possibilidade física de o fazer. Tem é, momento podendo cessar se tal posição
deixa de existir relativamente a pessoa recaia a proibição46.
Nesta situação estão os magistrados que por força da constituição de modo geral e do
seu estatuto não podem ser simultaneamente magistrados e empresários
comerciais.
Estabelece o art.º 219° da CRM47, que “os magistrados judiciais e do Ministério
Público, em exercício, não podem desempenhar quaisquer outras funções
públicas ou privadas, excepto a actividade de docente ou de investigação
jurídica ou outra de divulgação e publicação científica, literária, artística
e técnica, mediante prévia autorização do Conselho Superior de Magistratura
Judicial”. O sublinhado é nosso. Ao não se referir este artigo a situação dos
magistrados do Ministério

46
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.
47
Cfr o artigo 219º da Constituição da Republica de Moçambique aprovada pela

Assembleia da Republica de Moçambique aos 24 de Novembro de 2004.


49
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Público de forma expressa, não quer significar na nossa opinião isentos desta
publicação.
Na verdade, nos termos do art.º 109° da Lei n° 22/2007, de 1 de Agosto, com as
alterações introduzidas pela Lei n° 14/2012, de 8 de Fevereiro, “o exercício das
funções de magistrado do Ministério Público é incompatível com o
desempenho de qualquer outra função pública ou privada, salvo a
actividade de docência, literária ou investigação científica, mediante
autorização do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público”.
Este comando geral vem concretizar e conformar-se com o disposto no n°2 do
art.º 234° de CRM nos termos do qual, os magistrados do Ministério Público para
além dos deveres de legalidade, isenção, devem se conformar com as directivas e
ordens previstas na Lei.
Outra coisa são as inibições que atingem selectivamente as certas pessoas por
questões de natureza pessoal. É o que acontece com os falidos.
Outra incompatibilidade é a que se encontra consagrada no art.º 324° do C.Com relativa
ao dever de não concorrência dos administradores das sociedades por quotas.

SITUAÇÃO DOS CÔNJUGES

O exercício da actividade do empresário comercial é livre em regra. Tal liberdade, não


se encontra como acontecia no passado, limitada a mulher que carecia da
autorização do marido. O art.º35° da CRM48 estabelece que “todos os cidadãos são
iguais perante a lei, e gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos
deveres, independentemente do sexo…”. O art.º 36° da CRM vem a
estabelecer o princípio da igualdade entre o homem e amulher.

48
Cfr os artigos 35 e 36º da Constituição da Republica de Moçambique aprovada pela

Assembleia da Republica de Moçambique aos 24 de Novembro de 2004.


50
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
O C.Com veio concretizar esse princípio estabelecendo o outro n°1 do art. 11° do
C.Com, o princípio da independência de qualquer dos cônjuges poder praticar a
actividade empresarial independentemente da autorização do outro cônjuge.
No entanto, há limites relativamente aos actos que compreendem o exercício da
empresa comercial que possa afectar o património comum do casal isto quer
dizer que, o cônjuge que sentir prejudicado pelos actos praticados porcônjuge no
exercíciodaempresacomercial pode usar os mecanismos legais para se opor
contra os mesmos. Quando o cônjuge empresário comercial pretender prestar
garantias tais como aval ou outras, deverá obter anuência do outro cônjuge sob pena
denulidade do socio praticado. Exceptuam-seos bens pessoais. A existência de bens
pessoais, só é possível se o casamento tiver sido em regime de separação de bens
ou de comunhão de bens adquiridos.
Parece-nos não fazer sentido a aplicação desta disposição quando se trate da
comunhão geral de bens a menos que se tratem de incomunicáveis
independentemente do regime do casamento adoptado pelos cônjuges49.
Havendoseparação depessoasebensnostermosdosartigos176°50 e seguintes da Lei da
Família ou ainda havendo apenas a separação de bens, o cônjuge empresário
comercial que tiver contraído obrigações no âmbito do exercício da sua empresa
comercial, irá responder pelo seu património dotal cabendo-lhe inclusive a
possibilidade de empenhá-los, vendê-los, hipotecá-los ou aliená-los sem
dependência da autorização do outro cônjuge.
Tais liames previstos por lei, não terão igual valor se os cônjuges por exemplo
constituírem conjuntamente e como sócios, uma sociedade por quotas de
responsabilidade limitada nos termos do ar. 284° do C.Com. É que, a ideia de
proteção do património do sócio não

49
Op cit. Pág. 534
50
Cfr o artigo 176º da Lei 10/2004 de 24 de Agosto, adiante designada Lei de
Família.

51
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
empresário comercial cai por terra na medida em que haverá entre elas um novo
ente que é a sociedade por quotas a qual se aplicará o regime consagrado para o
efeito. Por isso, não fará qualquer sentido a discussão deste assunto.

FIGURAS AFINS DO EMPRESÁRIO COMERCIAL

Para efeitos do nosso estudo, aqui trataremos de apenas duas figuras que achamos ser
mais próximas da figura do empresário comercial e que não raras vezes, podem
suscitar confusão. Veremos por isso, a figura de mandatário comercial, do
gerente, e comissário e do mediador.
Empresa, excepto no caso de declaração de falência, se provar que o património social
não foi exclusivamente afectado ao cumprimento das respectivas obrigações.

MANDATÁRIO COMERCIAL

O mandato comercial traduz-se na prática de um ou vários actos de comércio


realizados pelo mandatário e que produzem uma série de efeitos jurídicos na esfera
jurídica do mandante. É sempre oneroso. O mandatário não é empresário comercial
embora pratique actos a título profissional, pois apenas os faz em
representação do mandante. O mandato comercial difere do mandato civil que
nos termos do art.º 1158° do código civil presume-se gratuito excepto se o seu
exercício corresponder actos de profissão, caso em que há lugar a presunção da
sua onerosidade. O mandato comercial é sempre oneroso.

GERENTE

É aquele que em nome e por conta de um empresário trata do comércio no


lugar onde este empresário comercial tenha ou peça

52
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
para actuar, ou seja, aquele que sobre outra qualquer designação de acordo com os
usos comerciais, se coloca na situação de tratar do comércio de outrem no lugar
onde o empresário exerce a empresa ou em qualquer outrolugar51.
O gerente tem poder representação mas este é um poder geral, compreende
todos os actos pertencentes e necessários ao exercício do comércio que para tal
tenha sido atribuído. A intervenção do gerente é uma intervenção acessória
relativamente a do empresário comercial. Não é empresário comercial. Nos termos
n° do art.º 166° C.Com52, é-lhe aplicável relativamente a responsabilidade, mutatis
mutandi, o regime aplicável aos titulares dos órgãos sociais da sociedade por
exemplo, aos administradores. Os seus actos recuperam-se na esfera jurídica do
empresário comercial.
Entendemos que tal facto se deve à maior ligação que este, assume para com a
sociedade e/ou com os actos relativos ao exercício do comércio no seudia-a-dia.

O COMISSÁRIO

Trata-se de uma espécie de mandato sem representação. Em termos gerais, dá-se por
comissão quando a pessoa executa um mandato comercial sem menção algumado
mandante(empresáriocomercial). Na verdade, há aqui uma vinculação do comissário
que acontece em virtude de ter havido um acordo entre o comissário e o comitente que
neste caso é o empresário comercial. O comissário tem alguma autonomia mas,
não pode ter iniciativa individual. A sua iniciativa deve resultar e resulta da sua
vinculação com o comitente. É preciso anotar que quando o comissário vai actuar
relacionando com terceiros não restarão dúvidas de que ele pratica actos de
comércio mas, tal só em consequência da vinculação que ele tem com o
empresário comercial. Assim, a prática actos de comércio em

53
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
representação de outrem numa situação de mandato sem representação.
Há quanto a nós, e em conformidade com a posição defendida pelo professorLuís
TelesdeMenezesLeitão,efortementeconsagrada pela nossa lei civil, a consagração da
teoria da dupla transferência. Assim, quando o art.º 1180° do CC, ao refere que se o
mandatário agir em nome próprio adquire os direitos e assume as obrigações
resultantes dos negócios de celebra, os efeitos dos negócios não se repercutem assim
directamente na esfera do mandante, mas antes na esfera do mandatário, de onde
terão de ser posteriormente transferidos para o mandante.
Adoptando a teoria da dupla transferência, no n° 1 do art.º 1181° do CC53, vem
estabelecer umaobrigação parao mandatário detransferir para o mandante os direitos
adquiridos em execução do mandato.
Assim, o comissário tem dever de transferir para o empresário comercial os
direitos adquiridos na prática dos actos de comércio em nome do empresário
comercial.

O MEDIADOR

Se atentarmos ao que escrevemos anteriormente as figuras de mandatário,


gerente e comissário podemos facilmente concluir que estas figuras se encontram
associadas à pessoa do empresário comercial54.
O mediador é autónomo deste e em princípio não se pode assumir que pratica actos
jurídicos na terminologia rigorosa da Mota Pinto.
Para o professor Mota Pinto, os actos jurídicos simples são factos voluntários cujos
efeitos se produzem, mesmo que não tenham sidos previstos ou queridos pelos seus
autores, embora muitas vezes haja

54 CORDEIRO, António Menezes. Manual de Direito Comercial. Coimbra,


Almedina.

54
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

concordância entre a vontade destes e os respectivos efeitos. Não é, todavia,


necessária uma vontade de produção dos efeitos correspondentes ao tipo de
simples actos jurídicos em causa para essa eficácia se desencadear.
É de facto o que sucede com o mediador. Na verdade, ele no interesse de
aproximar as partes para que o negócio se concretize. No entanto, a sua concretização
embora ele actue com essa intenção, muitas das vezes, não depende dele a sua
efectivação. O mediador no contrato de compra e venda por exemplo, aproxima o
comprador do vendedor sem que ele outorgue de compra e venda ao contrário do
mandatário comercial que poderá outorgar o contrato em representação do
mandante. Limita-se a criaras condições para que o contrato seja celebrado se as partes
aproximadas assim o entender e o seu papel termina com a aproximação das partes.
O art.º 230° do C.Com55 de 1888 fazia referência a actividade de mediação
mesmo assim entendia-se que era uma mediação em sentido técnico muito
próximo da noção de agência.
Nessa medida, porque o mediador limita-se a aproximar as partes sem a prática de
qualquer acto jurídico naquele sentido do professor Mota Pinto, com o qual
concordamos, ele não pode ser classificado como empresário comercial. Situação
diferente é aquela que estudaremos mais adiante no nosso volume II em relação a
agência56 que embora hajam dúvidas quanto a sua classificação para uma parte da
doutrina, como empresário comercial, poucas duvidas coloca esta figura que o
mediador.
Sumário
Nessa unidade tematica ficamos a conhecer a origem e a definição jurídica de
empresário comercial. Reza o Código Civil, “Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de

55
Cfr o artigo 230° do C.Com de 1888.
56 HUBRECHT, Geoges. Droit Commercial, Ed. Sirey 1988.

55
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

serviços.” Conceito este influenciado pelo Código Civil Italiano de 1942, artigo 2082.
Essa definição de empresário vem em substituição à antiga figura do comerciante e
para sua compreensão leva-se em conta a evolução do comerciante a partir da
função originária e histórica de intermediário, para abranger também as atividades
de produção. Também ficamos a saber que a empresa, o empresário e o
estabelecimento não se confundem.

Unidade temática 2.3. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO COMERCIAL


Introdução
O comércio é executado sob uma designação nominativa, que constitui a firma.
Há, porém, no direito comparado duas concepções diversas de firma: Para o
conceito objectivo, a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial.
Daí decorrem, como corolários, a possibilidade de tal designação ser composta
livremente e ser transmitida com o estabelecimento, independentemente de
acordo expresso. Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do
comerciante – o nome que ele usa no exercício da sua empresa: é o nome comercial
do comerciante. Daí que, em relação ao comerciante individual, nesta concepção, a
firma deva ser formada, a partir do seu nome civil e, em princípio intransmissível.
O art. 18º CCom57[2], está relacionado com o estatuto de comerciante. Considera-se a
firma o nome comercial do comerciante, sinal que os identifica ou individualiza
tambémofazparaalgunsnãocomerciantes
– sociedades civis não comerciais.
OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO COMERCIAL
Nos termos do artigo 16° do C.com58. Constituem obrigações doa empresários
comerciais as seguintes:
a) Adoptar uma firma;
b) Escriturar em ordem uniforme as operações ligadas ao exercício da
sua empresa;
57[2]
Obrigações especiais dos comerciantes
58
Cfr o artigo 166º do C.Com actualmente vigente.

56
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
c) Fazer inscrever na identidade competente os actos sujeitos ao
registo comercial;
d) Prestar contas.
O art.º 16° C.Com enumera as obrigações especiais dos empresários comerciais, o que
pode nos fazer concluir que há para além destas, outras obrigações que como tal,
são gerais. O art.º 16° do C.Com estabelecendo o que se designa por obrigações
especiais dos empresários comerciais que embora assim pareça, não se pode
considerar que os deveres profissionais comerciantes se esgotam nesse art.16°.
verdade é, que este artigo tem a peculiar relevância de definir o estatuto jurídico-
comercial da profissão do empresário comercial.
Relativamente a estas obrigações, os pequenos empresários, cuja qualificação
deve ser feita com base em critérios fixados por lei, podem ser dis

A FIRMA DO EMPRESÁRIO COMERCIAL

Prevista em termos gerais do art.º 16° al. a)59, a firma consubstancia o nome do
empresário comercial, o nome que usa e com ele assina os documentos relativos asua
actividade. Portanto, é obrigação especial do empresário comercial, usar um nome no
exercício da sua empresa. Como tal, esse nome representa a sua identidade
comercial.

CONCEITO DE FIRMA
No sentido objectivo, a firma é o sinal distintivo do estabelecimento comercial e assim
pode ser constituída livremente e transmitida com o próprio estabelecimento
comercial, havendo ou não acordo expresso 60.
É que consubstanciando nessa vertente, o sinal de distinção do
estabelecimento, a tutela do mesmo por qualquer pessoa não

59
Cfr a al. a) do artigo 16º do Código Comercial.
60
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição revista e
actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

57
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
careceria de qualquer alteração ou imposição de obrigações na medidaem que
se associa directamente ao estabelecimento como tal No seu sentido objectivo, a
firma éosinal que pretende distinguir o empresário comercial em si do demais, isto é,
o seu nome comercial ao lado do seu nome civil (tratando-se de empresário
comercial pessoa singular), isto é, sinal que ele vai usar no exercício da empresa
comercial, donde resulta que, tratando-se de empresário pessoa singular a firma
deve ser constituída com base no seu nome civil, e por isso, em princípio
intransmissível. A sua transmissibilidade neste sentido implicaria o seu nome civil
que como tal constituí a própria firma.
Ora,qualdossentidos prevalece no nossoordenamento jurídico?
Se atentarmos ao que dispõe o art.º 36° do C.Com comercial61 quanto a
transmissibilidade da firma, que mais adiante tratamos com maior profundeza,
concluiremos que a firma no nosso Direito é transmissível que entre vivos, quer
mortis causa. No entanto, assegura-se que tal só ocorra com autorização do
cedente e tal transmissão só é possível mediante a transmissão do próprio
estabelecimento ou empresa comercial a que se achar ligada e é sujeita a registo.
À primeira, o legislador, parece adoptar uma posição eclética. Na verdade, a firma
é um sinal distintivo do estabelecimento mas neste, pertence ao sujeito proprietário
do estabelecimento que como tal pode constituir a firma a partir do seu nome civil e
cede-la mediante condições impostas por lei62.
No entanto a firma desempenha o papel que o nome civil na vida jurídica civil, todo
empresário comercial deve adoptar uma firma, que seja pessoa singular ou sociedade
comercial, o que pode permitir a separação dasua actividade civil da comerciale dada
amultiplicidade de nomes idênticos ou semelhante habilitar a quem efectue várias
61
Cfr o artigo 36º do Código Comercial aprovado pelo Decreto-Lei n° 2/2005 de 27 de Dezembro.
62
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.

58
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

composições com o nome civil que em comércio permite distinguir o empresário dos
outros com nomes próximos. (artigo 18° C.Com). Conclui-se do artigo 18° C.Com,
que nosso ordenamento jurídico consagra o sentido subjectivo da firma, isto é,
a firma é o sinal distintivo do empresário comercial e de uso obrigatório.
Nos termos do artigo 21° C.Com a firma deve ser redigida em língua oficial, ou
mediante a juncão da tradução oficial quando se trata de adopção de firmas em
outras línguas, sendo permitido a utilização de palavras que não pertencem a língua
oficial nos termos do artigo 22°CCom.

TIPOS DE FIRMA

A firma consoante os casos pode ser formada com o nome de uma ou mais pessoas,
fala-se de firma-nome, ou pode ser constituída com a expressão relativa ao tipo de
actividade que ele exerce ou se propõe exercer, aditada ou não de elementos de
fantasia que é designada de firma denominação ou simplesmente denominação, e
em terceiro lugar afirma mista que resulta da conjunção dos elementos anteriores na
composição de uma mesma firma.
Mas, em qualquer dos casos a firma é um sinal nominativo e não emblemático, e
como a firma desempenha o mesmo papel desempenhado pelo nome civil do
empresário comercial, quer seja pessoa colectiva ou singular deve adoptar uma
firma.
Nos termos do art.º 21° C.Com, a firma deve ser redigida obrigatoriamente em
língua oficial ou mediante a conjunção da tradução oficial quando se trate da
adopção de firma em outras línguas, sendo admissível em casos excepcionais
dispostos no mesmo artigo, ou não uso da língua oficial.

PRINCÍPIOS RELATIVOS À CONSTITUIÇÃO DA FIRMA

Os princípios relativos a firma, constituem os limites dentro dos quais

59
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
o empresário comercial deve girar no processo de constituição da firma.
Encontram-se consagrados no Código Comercial. São nomeadamente,
princípio da verdade, da novidade e da exclusividade. Este último, como
demonstrará mais adiante, não consagrado rigorosamente pelo legislador como
um princípio.

PRINCÍPIO DA VERDADE

De acordo com este princípio a firma deve espelhar a realidade a que se reporta, não
introduzindo em erro relativamente à caracterização jurídica do ente, mas sem
prejuízo de utilização do vocabulário corrente e de conhecimento geral.
É na sequência disso que, devem ser verdadeiros e não introduzir em erro sobre a sua
identificação, natureza, dimensão ou actividade do seu titular, e por isso não se
podem utilizar na composição da firma elementos característicos que sugiram
actividades diferentes das que o seu titular propõe realizar, nem expressões que
possam introduzir em erro sobre a caracterização jurídica do empresário, quer
por pessoa singular quer possam sugerir existência de pessoa colectiva. Donde resulta
que, a firma da pessoa singular deve basear-se apenas no seu nome, quer seja
abreviado ou até de uma alcunha pela qual é conhecido ou de expressão que
manifesteasuaespecialidade63.
De igual modo é proibido há pessoas colectivas de fim lucrativo, o uso de expressões
que sugiram a existência de um ente público, ou de associações sem fins lucrativas,
Podendo porem, permitir-se para estes últimos o aditamento de elementos que
indiquem o objecto e tipo de sociedade ou a identificação dos sócios nos termos
de alínea b) do art.26° do C.Com. Em poucas palavras, a firma deve espelhar a
realidade a que se reporta não introduzindo em erro quanto a caracterização jurídica
do

63
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

60
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

empresário, e sem prejuízo das disposições especiais do artigo 26°CCom.


Deste modo, consegue-se facilmente a partir deste princípio aferir se estamos
perante um empresário comercial pessoa singular ou colectiva, o seu ramo de
actividade, tratando-se de sociedade comercial, o tipo de sociedade de que se
trata.

PRINCÍPIO DA NOVIDADE

A firma deve manifestar a distinção entre ela e as demais já reconhecidas ou


registadas, o que não pode necessariamente que um empresário comercial possua
simultaneamente um estabelecimento ligado a uma sociedade por quotas
unipessoal e outro ou outros ligados a outro tipo societário caso em que usará
firmadiferente.
Nos termos do art.º 20° C.Com, a firma deve ser distinta, e insusceptível de
confusão ou erro em qualquer outra já registada, exigindo-se no ajuizamento
dessa confusão, considerar o tipo de empresário, o seu domicílio ou sede e bem
assim a proximidade ou afinidade, das actividades exercidas ou a exercer e ainda a
existência de nomes de estabelecimentos, insígnias ou marcas de forma
semelhante que possam induzir em erro sobre a titularidade dos mesmos sinais
distintivos.
Noentanto, aexclusividade do seu uso não é extensivo aosvocábulos de uso corrente e
os topónimos, também indicação de proveniência geográficas, e o ajuizamento do
princípio da novidade deve ser feito na globalidade, pretendendo-se apenas evitar
o erro sobre a sua identificação pelo público.
O legislador comercial, em atenção a este princípio estabeleceu no art.º 23° C.Com,
a obrigatoriedade das firmas registadas fora do país para a sua admissibilidade
entre nós, carecerem de registo em Moçambique, para evitar a indução em
confusão.

PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

61
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Como nos referimos anteriormente, o C.Com não fala relativamente a este, como
propriamente um princípio. Entendemos nós que mais do que a protecção do uso
ilegal da firma, este é verdadeiramente um princípio.
Este princípio impõe que a firma deve ser exclusiva do ente a que diz respeito, direito
este que só se constitui após registo pelo respectivo titular, na entidade
competente sem prejuízo da declaração de nulidade, anulação ou caducidade, nos
termos do art.º 24° C.Com64.
Pelo uso ilegal da firma, assiste ao seu titular legítimo o direito de proibir o seu uso
ou até exigir danos provenientes do seu uso ilegal sem prejuízo do procedimento
criminal nos termos do art.º 25° C.Com.
Na verdade, a disposição do art.º 25° C.Com, reconhece ao empresário
comercial, titular da firma devidamente registada não só o direito do uso exclusivo
da firma, como também e fundamentalmente, as seguintes possibilidades
legais:
a) Exigir aquele que usa ilegalmente a firma que não continue a usá-la,
evitando confusão, prejuízos futuros, mesmo que interessado não
tenha ainda sofrido efectivamente o prejuízo, ou ainda, o usurpador da
firma não tenha feito de má-fé, ou até ignorando os prejuízos que ia
causar.
O titular da firma pode ainda exigir a alimentação da totalidade das
situações potencialmente prejudiciais.
Ex: eliminação da firma da matrícula entre outras;
b) A segunda possibilidade que assiste ao titular da firma é a de intentar uma
acção por perda e danos nos termos do art.º 483° CC, para obter
reparação,querresultenanegligênciaou de culpa;
c) Em terceiro lugar, pode intentar uma acção criminal nos termos do 25°
C.Com, se a ela houver qualquer crime que tenha resultado do uso ilegal
da firma.
64
Cfr o artigo 24º do código comercial aprovado pelo Decreto – Lei n° 2/2005 de 27
de Dezembro.

62
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Na vigência do C.Com anterior e tal como no actual código, não se encontra


claramente a limitação territorial correspondente ao âmbito de protecção da firma. O
legislador limita-se a estabelecer no n° 2 do art.º 20° que ‹‹no juízo sobre a
distinção e a insusceptibilidade de confusão ou erro devem ser considerados
o tipo de empresário, o seu domicílio ou sede, bem assim, a afinidade ou
proximidade das actividades exercidas ou a exercer››. Ao nível da
jurisprudência portuguesa e na nossa, tendo em conta o anterior art.º 27° do
C.Com65, há registos de que o entendimento a dar ao termo circunscrição do
art.º 27° do código de Veiga Beirão de 1888 era o de que o mesmo corresponde a
Província.
Foi assim que, por acórdão nos autos de apelação n° 39/06, de 16 de Abril de 2008, da
secção Cível do Tribunal supremo em que era recorrente ao cidadão José João
Dalmone com domicílio na cidade de Maxixe,ProvínciadeInhambane erecorridaacasa
dos Carimbos, Lda. com sede em Maputo, entendeu esta secção o seguinte: ‹‹…o
termo circunscrição usado no C.Com tem de ser interpretado como área
territorial da respectiva conservatória››…mais adiante e em termos de
conclusão continua o acórdão ‹‹…de acordo com quadro jurídico-legal acima
descrito, a restrição no uso de designações por parte de comerciantes
ou sociedades comerciais só se coloca em relação a pessoas singulares ou
colectivas situadas na área territorial de conservatória onde se queira
proceder a respectiva matrícula››.
Portanto, parece ser esta ideia que o legislador quis consagrar ao estabelecer no n°
2 do art.º 20° do C.Com, como requisito da aferição da confusão e/ou erro, a
verificação do domicilio ou sede do empresário comercial para além dos demais
requisitos referidos no mesmo número

TRANSMISSÃO DA FIRMA

A firma como sinal distintivo do estabelecimento é susceptível de transmissão.


Nos termos do art.º 36° C.Com, o adquirente de uma

65
Cfr o artigo 27 do Código Comercial actualmente vigente.

63
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

empresa comercial pode continuar a geri-la sob a mesma firma, quando para tal
seja autorizado, aditando-lhe ou não a declaração de haver nela sucedido.
Esta autorização compete ao alienante, tratando-se de transmissão por morte, sem
que o cujus tenha disposto por escrito, a autorização é dada pelos herdeiros
respeitando a maioria independentemente de esta transmissão tiver sido a favor de
terceiro ou de algum ou alguns dos herdeiros.
Conservando a firma, o aquirente passa a usá-la como meio através do qual funda a
presença do público demonstrando a continuidade da empresa, retirando
vantagens do antigo proprietário. O código também protege o interesse dos
clientes no sentido de que não se pode admitir uma mudança radical de condições que
fizeram manter, exigir a confiança do antigo proprietário e igualmente, procura-se
proteger os fornecedores. Tal sucede porque, como dispõe o n° 6 do art.º 36° do
C.Com, a transmissão da firma só é possível conjuntamente com a empresa
comercialaqueseachaligada66.
Deste modo, se por um lado, não é possível transmitir apenas a firma sem o respectivo
estabelecimento, por outro, o adquirente assume as obrigações que recaíam sobre o
alienante.
O alienante, deixa de ser responsável pelas obrigações contraídas na exploração da
empresa, a partir do registo e publicação do acto de transmissão, não exigindo-se
autorização no caso de exploração temporária da empresa comercial, de outrem
pelo adquirente do direito.
Conclui-se que, a transmissão da firma não se presume, resulta do acordo entre as
partes tanto na transmissão entra vivos, como na mortis causa67, e nesta última
exigindo concordância expressa na maioria dos herdeiros.

66
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.
67
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

64
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

ALTERAÇÃO DA FIRMA

A firma pode ser alterada observando determinadas circunstâncias. No entanto, a


saída ou falecimento do sócio ou associado o cujo nome ou firma figure na
firma do empresário comercial nome colectivo, não determina necessariamente
sua alteração, a menos que tenha sido disposto o contrário no acto da
constituição da sociedade, deixando aquele de ser responsável pelas obrigações
sociais a partir do registo e publicação do acto nos termos do n° 2 do artigo 37° em
conjugação com o n° 4 do art.º 36° ambos do C.Com.

CADUCIDADE E RENÚNCIA DA FIRMA

Em princípio a firma é constituída para durar de forma determinada. No entanto, a lei


estabelece nos artigos 38° a 41° C.Com68. O registo da anulação, caducidade e
renúncia da firma Caduca a firma nos termos do art.º 39° do C.Com, nas seguintes
circunstâncias:
a) Com o termo prazo contratual. Se a firma tiver sido constituída com
finalidade de durar enquanto durar o contrato que constituí o objecto
e seu fundamento, com o termo prazo normal, a firma caduca;
b) Por dissolução da pessoa colectiva. Nesta caso, é aplicável apenas as
pessoas colectivas, quando certapessoacolectivaa quem a firma se encontra
associada, dissolve-se nos termos gerais do Direito, a firma deixa de fazer
efeito por maioria de razão. É que a firma nestes casos está associada a
pessoa colectiva e uma vez em dissolução, o que acarreta a entrada em
liquidação dessa pessoa colectiva o que impõe a limitação em termos de
actos a praticar por parte dessa pessoa colectiva.
c) Pelo não exercício da empresa por período superior a quatro anos.

68
Cfr os artigos 38º e 41 do código comercial actualmente vigente.

65
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Por força desta alínea c) do art.º 39°, impõe-se ao empresário comercial o dever
de provar a continuidade do exercício do comércio em cada trimestre do ano na
entidade competente para o registo, sob pena de ver a firma caducada e sem
possibilidade de invocar a mesma.
Compete a entidade que faz o registo, o poder de declarar a caducidade da firma,
reservando-se um mecanismo processual com vista a acautelar situações de má-fé na
solicitação de caducidade de certa firma pertencente a terceiro. Nestes termos, o
titular da firma e uma vez notificado do pedido de caducidade, tem trinta dias para se
pronunciar ao que é acompanhado de um prazo de quinze dias contados do
termo do prazo anterior para decisão do pedido de caducidade.
Ao titular da firma, a lei reserva o direito de impugnar a decisão por de recursos aos
tribunais.

RENÚNCIA DA FIRMA

O titular da firma pode renunciá-la através de declaração expressa por meio de escrita,
assinada e reconhecida presencialmente à entidade competente para o registo. A
renúncia carece do registo e publicação nos termos dos artigos 41° n° 3° do C.Com.

ESCRITURAÇÃO MERCANTIL

Nos termos da alínea b) do art.º 16°69, outra obrigação especial que recai sobre os
empresários comerciais, é escriturar as operações ligadas ao exercício da
empresa comercial.
Em que consiste a escrituração mercantil? Consiste em registar todas as actividades
feitas pelo empresário comercial em livros próprios que a lei impõe e pretende-se
com ela, dar a conhecer a situação empresarial e financeira do património do
empresário comercial70.
Chama-se escrituração mercantil o processo de lançamentos dos actos relativos a
empresa nos livros que para aqueles fins os

69
Cfr al. b) do artigo 16º do código comercial actualmente vigente.
70
Op. cit. Pág. 566.

66
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

comerciantes são obrigados a adoptar, ou seja, o lançamento em livros


adequados das diversas operações relacionadas com a exploração mercantil do
empresário comercial ou afectam o seu património para permitir o domínio de
todos os interessados quando tal seja necessário.
A escrituração mercantil é obrigatória e deve-se efectuar em livros adequados tais
como, o diário, o livro de inventário e balanço, e outos livros que a lei fixa-os
designando de livros obrigatórios.
Deste modo, ao empresário é imposto o dever de fazer o registo dos livros
obrigatórios dando-lhe a possibilidade de usar outros livros que permitem o
conhecimento do seu código.
Modernamente fala-se de métodos mais sofisticados de registo,
compreendendo os computadores, armazenamento da informação em disco-duro,
em softwares apropriados.

FUNÇÃO DOS LIVROS OBRIGATÓRIOS

a) O livro-diário: Nos termos do art.º 45° C.Com, o livro-diário serve para


lançar individual e diariamente, todos os actos relacionados com a
actividade empresarial, isto é, o diário sugere a ideia de lançamento das
actividades quotidianas em termos de actos singulares pelo empresário
comercial.
b) Inventário e balanço: Serve para lançar detalhadamente a situação
inicial da empresa e outros tantos balanços que o empresário comercial é
obrigado por lei71.
c) Livros de actas: Este livro está associado à ideia de existência de pessoa
colectiva e no caso em concreto, sociedade comercial.
Serve para lavar as actas das reuniões e sócios ou associados, de
administradores e do órgão de fiscalização, devendo cada uma delas
expressar sem prejuízo do disposto em disposições

71
DE VASCONCELOS, Pedro Pais, Direito Comercial: parte geral, Almedina
Editora, Coimbra 1995.

67
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

especiais, o seguinte: a data da realização da reunião, os nomes dos


participantes ou referência à lista de presenças autenticadas pela mesa, os
votos emitidos, as deliberações tomadas e tudo que possa servir para as
reconhecer e fundamentar a assinatura pela mesa e na existência desta,
pelos participantes.
O livro de acta assegura que toda informação relativa as reuniões dos
órgãos sociais a compreensão dos procedimentos e decisões tomadas na
sociedade. É por isso que, relativamente ao direito à informação que
assiste os sócios pode consultar por exemplo, os livros de acta da
assembleia geral nos termos da alínea a) do n° 1) do art. 122° ou consultar os
livros de presença nos casos em que existam porque não havia a mesa
constituída.

IMPORTÂNCIA DA ESCRITURAÇÃO MERCANTIL

 O empresário passa a conhecer sua situação patrimonial,


direitos e deveres;
 Serve de meio de prova dos factos registados nos litígios
entre empresários;
 Servecomo meio de verificação da regularidade da conduta do
empresário comercial;
 Quando se está perante uma suspeita de razões da falência
pode-se recorrer à escrituração para saber se a falência é real
ou fraudulenta;
 Serve de base para a liquidação de impostos e fiscalização
documprimentodenormas tributárias entre outras funções.

FORMA DE ESCRITURAÇÃO

68
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

A escrituração deve ser efectuada nos termos do artigo 48° do C.Com72, pelo
empresário ou por qualquer outra pessoa devidamente autorizada, devendo se
presumir que aquele que efectuou a escrituração tinha autorização para o efeito.
É uma presunção iures tantum e por isso, pode ser ilidida mediante prova em
contrário. O artigo 49° C.Com estabelece a obrigação do uso de língua e moeda
oficial, a necessidade de individualização e clareza da escrituração e deve ser
cronológica. A escrituração é secreta, porque pretende assegurar o
desconhecimento em termos públicos o património comercial para se evitar a
cobiça alheia. Os artigos 54° a 56° C.Com indicam em que as circunstâncias em que
se tornam necessárias a consulta de livros inclusive dos auxiliares que são
possíveis de exibição e exame.
Há o dever da parte do empresário de prestar informações a favor dos sócios, dos
credores edasautoridades administrativas. Nos termos da alínea b) do artigo 104° e
122° CCom, qualquer dos sócios tem o direito de consultar os livros em
circunstâncias especiais. O tribunal determinará o interesse, no sentido de permitir
que os livros sejam consultados quando tal se justifique.

REGISTO COMERCIAL

Os empresários comerciais quer seja pessoa singular ou colectivas, ou as sociedades


civis sob forma comercial, são obrigados a inscrever no registo os actos a ele sujeito.
Em conformidade com art.º 58° e 59° C.Com, e o regulamento do registo de
entidades legais aprovados pelo Decreto-Lei n° 1/2006 de 3 de Maio, existe um
elenco de actos susceptíveis, ou melhor, que carecem de registo pelo empresário
comercial73.
O registo comercial tem por fim publicar os actos que compreendem a descrição e
identificação do empresário e todos os actos relevantes que como tal a lei só qualifica e
por isso sujeito a registo. A vantagem

72
Cfr o artigo 48º do C.Com vigente.
73
MUALEIA, Fernanda e VALE, Sofia, Guião Prático de Direito comercial, pg. 181

69
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

do registo esta na publicidade, pois através do registo publicam-se as actividades do


empresário comercial para o conhecimento, não só daquele que contrata com
empresário comercial, como também do público em geral nos termos do art.º 58°
C.Com.
No entanto, o registo comercial não trata somente da actividade jurídico-
mercantil dos empresário, é extensivo ao registo dos navios, relativamente aos quais
embora tratando-se de bens móveis pode existir paralelismo entre o registo de bens
objecto de propriedades visando dar publicidade como condição de eficácia
relativamente a terceiros, não apenas a sua transmissão como também em relação a
certos ônus que recaiam sobre esses bens.

Sumário
Nesta unidade, tratamos matéria relacionda com a empresa, que é o conjunto de
actos lidagos a actividade economia exercida pelo empresário comercial deforma
profissional e organizada, com vista a realização de fins de produção ou troca de bens
e serviços, ou uma organização do conjunto de factores de produção e outros
elementos congregados pelo empresário comercial, com vista ao exercício da sua
actividade. A empresa apresenta vários elementos que compõem a sua actividade,
tais como: o próprio sujeito (o empresário), as obrigacoes do empresário, firma,
principiuos relativos a constituicao da firma, transmissão da firma, o registo do
estabelecimento comercial.
Tratamos matéria relacionada também com a firma, que é o sinal distintivo do
estabelecimento comercial e assim pode ser constituída livremente e transmitida com
o próprio estabelecimento comercial, havendo ou não acordo expresso.

EXERCÍCIOS

70
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

1. O que lhe aparece em mente quando fala-se de princípio da novidade?


a) Entende-se que a firma deve manifestar a distinção entre ela e as
demais já reconhecidas ou registadas,
b) Entende-se que a firma deve mudar de nome sempre que necessário,
c) Entende-se que a firma deve possuir dois nomes
obrigatoriamente,
d) Entende-se que a firma não deve manifestar a distincao entre ela e
demais já reconhecidas ou registadas.
A resposta correcta é. A

2. Indique os principios fundamentais da firma?


a) Principio da vertdade, principio da exclusividade e principio da
novidade,
b) Principio da legalidade, principio da boa-fe, princio da novidade,
c) Principio do contraditório, principio do dispositivo, principio
oficialidade,
d) Princípio de presunção de inocência, princípio da colaboração.
A resposta correcta é: A

3. O que diz o principio da independencia entre os conjuges?


a) Qualquer dos cônjuges poder praticar a actividade empresarial
independentemente da autorização do outro cônjuge.
b) Nenhum dos cônjuges poder praticar a actividade empresarial
independentemente da autorização do outro cônjuge.
c) Ambos são responsáveis pelos actos supervinientes da actividade
comercial

71
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
d) Nenhumdosdois éresponsávelpelos actossupervinientes da actividade
comercial
A resposta correcta é: A

4. Indique as obrigações do empresario.


a) Adoptar uma firma; escriturar em ordem uniforme as operações
ligadas ao exercício da sua empresa, fazer inscrever na identidade
competente os actos sujeitos ao registo comerciale prestar contas.
b) Adoptar uma firma; escriturar em ordem uniforme as operações
ligadas ao exercício da sua empresa, fazer inscrever na identidade
competente os actos sujeitos ao registo comercial e não prestar
contas.
c) Não adoptar uma firma; escriturar em ordem uniforme as operações
ligadas ao exercício da sua empresa, fazer inscrever na identidade
competente os actos sujeitos ao registo comerciale prestar contas.
d) Adoptar uma firma; escriturar em ordem uniforme as operações
ligadas ao exercício da sua empresa, não fazer inscrever na identidade
competente os actos sujeitos ao registo comerciale prestar contas.
A resposta correcta é: A

TEMA III - ACTOS DE COMÉRCIO


Introdução
Nesta unidade temática, iremos abordar matérias relacionadas com actos do
comércio, a sua noção e sua base legal, sua classifição, modelos dos actos de
comércio, actos de comércio por conexão, teoria acessória, casuais, abstrato,
puro e misto.

Objectivos específicos

72
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

No fim desta unidade temática o estudante devera ser capaz de:


 Conhecerosactosdocomércio,
 Saber classificar os actos do comércio,
 Conhecer os modelos dos actos do comércio.

UNIDADE TEMATICA 3.1. ACTOS DE COMÉRCIO


A determinação dos actos do comércio acha-se prevista nos artigos 4° e 5° do C.Com.
Extrai-se destes artigos, a ideia de que determinados actos jurídicos, os
acontecimentos jurídicos relevantes são classificados como comerciais. E no art.º
C.Com74, a expressão acto de comércio, é usada no sentido amplo. Isto é,
abarcando vários acontecimentos que consubstanciam actividades comerciais e
por isso assinaladamente efeitos jurídicos comerciais. Nomeadamente os factos
jurídicos voluntários lícitos ou ilícitos ou ainda simples negócio jurídico. No entanto
nem todas as disposições do C.Com refletem-se na ideia essencial dos actos do
comércio strictu sensu, embora que esse assuma que o nosso direito comercial é um
Direito dos actos do comércio e da empresa.
Ex: factos lícitos, art.º 180°, 293° n°2 C.Com Ex: actos
jurídicos ilícitos, art.º 24° C.Com Ex:negócios
jurídicos,art.º477°C.Com
Nos termos da al. b) n°1 do art.º 4° c.com são actos do comércio os actos praticados
no exercício de uma empresa comercial de onde resulta que não são apenas actos
de comércio os contratos, mas também todos os actos praticados no exercício da
empresa comercial das quais emanam obrigações comerciais. Isto é a disposição
tanto abarca os actos praticados de forma isolada ou ocasional, quer por empresário
comercial, quer por não-empresário comercial tendentes a obtenção de lucro. No
entanto excluem-se do art. 4° C.Com, os factos jurídicos naturais ou
involuntários porque, aqueles que ocorrem da verificação da vontade humana.
74
CARDOSO, J. Pires, Compêndio de Noções de Direito comercial, pg. 309

73
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Exemplo, falecimento de um sócio de uma determinada Sociedade. Este facto ocorre


com repercussões na vida da sociedade, mas em si não consubstancia qualquerfacto
quecomo talse deva integrarcomo sendo comércio.
CLASIFICAÇÃO DOS ACTOS COMERCIAIS ACTOS DE

COMÉRCIO SUBJECTIVO

São aqueles classificados como tal em função do sujeito que os prática, isto é, a
qualificação do acto como sendo do comércio terá como base ou, a pessoa que a
luz do art.º 3° c.com, pratica uma daquelas actividades prevista. Deste modo, os
actos praticados pelo empresário comercial no exercício da empresa comercial
se presumem de comércio, salvo se das circunstâncias que rodearam o acto. Se por
exemplo, usou o capital social, se praticou uma compra com intenção de revenda,
etc.75.

ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVO

É todo aquele acto independentemente do sujeito ou da qualidade do sujeito,


encontra-se previsto no código comercial ou código civil ou ainda em qualquer
legislação extravagante que qualifica o tal acto como sendo de comércio. Conferir
o n° 1 do art.º 4° do C.Com.
Há actos exclusivamente civis, aqueles que não têm qualquer potencialidade
de consubstanciar actos de comércio por isso, nunca seriam na lei Comercial.
Quando o legislador na parte final do n° 2° do art.º 4° do C.Com exprime a
ideia de que só não será comercial quando praticado pelo empresário
comercial quando praticado pelo empresário comercial se das circunstâncias
querodearamasuapráticaresultarocontrário, quis afastar na nossa opinião
essa presunção que poderia recair também sobre os actos exclusivamente
civis. Ao acto

75
Op. Cit. Pg. 4

74
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

exclusivamente civil não há como representar a sua comercialidade


mesmo quando praticado pelo empresário comercial. É por exemplo, o
casamento ou a perfilhação pelo empresário comercial.

ACTO UNILATERAL

Quando uma das partes intervenientes é empresário comercial e a outra não é. Nos
termos do art.º 5° do C.Com, esse acto é regulado pela lei comercial relativamente
aos dois sujeitos salvo no que só deva aplicar ao empresário comercial de acordo com
asuaqualidade.
3.1.4. Acto Bilateral

Quando os dois são empresários comerciais e realizam um acto de comércio, ou


seja, o acto é comercial para as duas partes. Uma compra realizada por um
empresário num armazém de outro empresário comercial com a finalidade de
revenda.
Assim, o acto de comércio não é em função da pessoa que os praticou, mas
sim em função da sua qualificação como tal pela lei.
José Ibraímo Abudo na sua obra sobre Lições de Direito Comercial
distingue os mecanismos usados na definição dos actos de comércio. Para
o efeito, e segundo o autor, há três mecanismos que o legislador pode
adoptar na determinação nos actos de comércio objectivo76.

MODELO DA DEFINIÇÃO

A partir do qual o legislador oferece de forma sintética o que se deve entender por acto
de comércio. Este modelo apresenta na medida em que toda definição pode colocar
problema de entendimento e incerteza do direito;
76
JUNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, Moçambicano, escolar
editora, Maputo, 2012.

75
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

MODELO-SISTEMA DE ENUMERAÇÃO EXPRESSA

Onde o legislador opta por uma identificação expressa num rolo alargado nos
actos que a própria lei determina.
O inconveniente deste modelo é que limita o campo dos actos e a luz de um direito
dinâmico, tal como é no direito comercial, podem escapar várias situações a
classificação de actos decomércio.

MODELO DE ENUMERAÇÃO IMPLÍCITA

Este modelo apenas delimita actos de comércio através da remissão para diversos
actos que o código considera comerciais, acima enumerados, optando pela
indicaçãoexemplificativa,éestaaposição optada pelo nosso legislador, al. a) n° 1°
do art.º 4° c.com, ao estabelecer que são actos de comércio, os actos regulados na
lei em atenção as necessidades de empresa comercial designadamente os previstos
neste código e os actos análogos.

ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTO

Os actos que tem de ser por si, a natureza comercial, isto é, os actos que devem a sua
comercialidade à natureza intrínseca, ou, ainda da sua natureza funda-se o próprio
comércio, navida empresarial.

ACTOS DE COMÉRCIO POR CONEXÃO

Os actos cuja comercialidade e lei outorga tendo em consideração a sua especial


relação com certo acto de comércio, ou com o comércio, ou seja, são actos comerciais
em razão da sua peculiar ligação a um acto de comércio absoluto ou uma
actividade classificada como comercial. Portanto, tudo depende da sua relação
de conexão ou
acessoriedade, quer com um acto de
76
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

comércio fundamental, quer com a exploração de uma empresa mercantil77.


Para o jurista Rocco, os actos de comércio absolutos, também são chamados
actos constitutivos na medida que caracterizam as operações de mediação na
troca, e os actos de comércio, porque se limitam a facilitar essas mesmas
operações.
Para a maioria dos comercialistas, os actos de comércio acessórios
comportam a totalidade dos actos de comércio subjectivos, na tal teoria
chamada, teoria da conexão subjectiva, mas também abrangem uma
diversidade de actos objectivos, como por exemplo, mandato,
empréstimo, que a lei chama de conexão objectiva.

TEORIA DO ACESSÓRIO

Constatando que, determinados actos de natureza civil podem transformar-se


em comerciais, uma vez praticados no âmbito comercial, a doutrina construiu
uma teoria que apelida os actos praticados por um comerciante no exercício de
seu comércio e não só, mas também os actos ligados a um acto de comércio absoluto
de actos de comércio acessórios.
Noessencial,háduascategoriasdeactosdecomércioacessórios:
1. Os associados a acto do comércio ligados a actividade
comercial, de um empresário comercial,
2. Os constituídos por actos por actos que adquirem a
comercialidade em razão de relação existente entre
eles e um acto de comércio por natureza.

77
CORDEIRO, António Menezes. Manual de Direito Comercial. Coimbra, Almedina.

77
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Deste modo, os primeiros são actos e os segundos são actos de comércio
objectivos e acessórios. Embora uma tal extensão da comercialidade pareça à
primeira vista razoável, a verdade é que falseia a razão de ser da criação da figura
de actos de comércio acessórios. Estes são considerados comerciais por
estarem presumivelmente relacionados com a actividade de um comerciante na sua
empresa comercial, isto é, por pertencerem ao âmbito do comércio
profissionalmenteorganizado78.

ACTOS DE COMÉRCIOS CASUAIS

Os actos relativamente aos quais a lei os contempla e os regula de formaapreencher


ourealizarumadeterminadacausa-funçãojurídico económico;
Ex: compra e venda tem por causa a alimentação de um bem mediante a
aquisição de um preço.

ACTOS DE COMÉRCIO ABSTRATOS

Os que se manifestam com vista a preencher uma diversidade de causas-funções,


podendo as relações jurídicas que deles emanam ter uma vida autónoma das relações
que lhe deram origem. Na verdade o acto de comércio abstrato tem também uma
causa. No entanto, esta causa não é típica, podendo integrar-se numa das diferentes
relações jurídicas integradas ao acto.
Ex:negóciosjurídicoscambiários,quesãonegóciospraticados no âmbito dos
títulos de crédito, que tanto podem ser de origem de um contrato de
compra e venda, de empréstimo.

78
CORREIA, Miguel J.A. Pupo, Direito Comercial - Direito da Empresa, 10ª Edição
revista e actualizada, Ediforum, Lisboa, 2007.

78
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
3.3. Actos de comércio Puro

Os actos comerciais relativamente a todos os sujeitos, são também designados de


actos bilateralmente comerciais (os dois intervenientes são empresários comerciais).

3.3.1. Actos de Comércio Misto

Também designados unilateralmente comerciais são-no relativamente a uma das


partes e nos termos do art.º 5° C.Com, são regulados a luz do código comercial, em
relação a todos contratantes com excepção daqueles que são aplicáveis aos
comerciantes pela natureza de ser empresário comercial.
3.3.2. Actos de comércio formalmente comerciais

Os que são regulados na lei comercial como um esquema formal que permanece
aberto para dar cobertura a qualquer conteúdo e abstraem no seu regime de
objecto ou fim para que são usados.
3.3.3. Actos Substancialmente comerciais

Os que tem a comercialidade em razão da própria natureza, isto é, por representar


em si mesmos actos próprios da actvidade materialmente mercantil.

Sumário.
Nesta unidade temática abordamos matérias relacionadas com actos de comércio.
De acordo com a al. b) n°1 do art.º 4° do código comercial, são actos do comércio
os actos praticados no exercício de uma empresa comercial de onde resulta que não
são apenas actos de comércio os contratos, mas também todos os actos praticados
no exercício da empresa comercial das quais emanam obrigações comerciais.
Isto é a disposição tanto abarca os actos praticados de forma isolada ou ocasional,
quer por empresário comercial, quer por não-empresário comercial tendentes a
obtenção de lucro.

79
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Exercícios

1. Assinale com V as afirmações verdadeiras e com f as afirmações


falsas.
1.1. O que são actos de Comércio?
a) São actos praticados no exercício de uma empresa comercial não
são apenas actos de comércio os contratos, mas também todos os actos
praticados no exercício da empresa comercial das quais emanam
obrigações comerciais tendentes a obtenção de lucro.
A resposta é: verdadeira - (V)
2. Actos do comércio por conexão
a) São actos comerciais em razão da sua peculiar ligação a um acto de
comércio absoluto ou uma actividade classificada como comercial.
Portanto, tudo depende da sua relação de conexão ou acessoriedade,
quer com um acto de comércio fundamental, quer com a exploração
de uma empresa mercantil.
A resposta é verdadeira (V).

3. Acto do comércio bilateral


a) Quando os dois são empresários comerciais e realizam um acto de
comércio, ou seja, o acto é comercial para as duas partes
A resposta é verdadeira, (V)

4. Actos de comércio objectivo são?


5. É todo aquele acto independentemente do sujeito ou da qualidadedo
sujeito,encontra-seprevisto nocódigo comercial ou código civil ou ainda em
qualquer legislação extravagante

80
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
que qualifica o tal acto como sendo de comércio. Conferir o n° 1 do art.º 4°
do C.Com.
A resposta é verdadeira (V).

UNIDADE TEMA IV - TÍTULO DE CRÉDITO


Introdução
Nesta unidade temática iremos abordar matérias relacionadas com os títulos de
créditos, onde iremos dar a noção do título de créditos, as suas características,
sobretudo da literalidade, autonomia, abstração, autonomia da posição do portador
do título de crédito, o cheque, requisitos do cheque, sua classificação, o
endosso, aval, suas modalidades, as marcas, o uso da marca, e da livrança.

Objectivos específicos.
No fim desta unidade temática o estudante deverá ser capaz de:
 Saber o conceito do titulo de crédito,
 Saber diferenciar o cheque da livrança,
 Saber o que é endosso e quando faz se o endosso.

UNIDADE TEMATICA 4.1. -TÍTULO DE CRÉDITO


Título de crédito é um documento necessário para exercitar o direito literal
autónomo. Como noção diremos que título de crédito é um documento que
incorpora um direito literal e autónomo, que legitima o seu titular a exercer e serve
de suporte à sua circulação e mobilização. Tem como função titular e incorporar
direitos de modo a permitir e facilitar a sua circulação e mobilização.79

O comércio, quando realizado entre praças diferentes, afastadas por vezes por si
longas distâncias exige, para poder desenvolver, modos

79
DE VASCONCELOS, Pedro Pais, Direito Comercial: Títulos de crédito, pg.3

81
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

de titulação, legitimação e circulação de direitos diferentes dos clássicos do


DireitoCivil.

Os comerciantes ficam, por força do comércio, investidos em créditos sobre outros


comerciantes de outras praças. Podem ao mesmo tempo ser devedores ainda outros
comerciantes eventualmente da mesma praça daqueles sobre quem têm crédito, ou
ainda outras praças. As dificuldades de circulação do dinheiro e as exigências de
celeridade e segurança no tráfego comercial trouxeram, através da história a
criação, espontânea como praxe comercial, de documentos especiais “ cartulas” em
que os comerciantes faziam constar os seus créditos.

Esses documentos serviam para definir, para circular, para cobrar e paramobilizaros
créditos que neles estavam documentados. Serviam para definir porque se
entediam o direito documentado valia exactamente como constava do
documento: não era permitido discutir ou invocar eventuais divergências entre
o direito e o documento.

Serviam para circular os créditos documentados através da circulação dos próprios


documentos: entendiam-se que com a transmissão do documento se transmitia o
próprio crédito independentemente do consentimento e até do conhecimento do
devedor. Serviam para cobrar e para exercer os direitos neles documentados:
davam legitimidade ao seu portador para os cobrar, desobrigando quem pagasse
ao portador, não podendo ao portador do documento que o apresentasse a
pagamento ser posto o que não fosse ele o credor originário, nem ao devedor que
tivesse pago ao portador ser oposto que o tivesse pago ao terceiro.80

Serviam para mobilizar os créditos: permitiam ao credor a prazo antecipar o valor


económico do seu crédito vendendo o documento a um terceiro que o iria cobrar no
vencimento, ou pagando com ele

80
Op. Cit. Pg. 4

82
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

dívida que tivesse, o que facilitava a concessão de crédito indispensável à


actividade comercial. Os títulos de créditos nasceram antes da existência do papel-
moeda, em época em que era grande perigo transportar somas importantes de
dinheiro e então na origem das próprias notas do banco que nasceram, elas próprias
como título de crédito.81

O regime jurídico do direito civil não permitia, nem segurança, nem celeridade, nem
circulação de direitos de que o comércio carecia. A solução prática encontrada
pelos comerciantes consistiu na “coisificação” dos direitos através da sua
“incorporação” em documentos – títulos – que seguissem depois o regime da
circulação das coisas móveis. Os títulos de crédito e o seu regime foram criados pela
prática dos comerciantes fora dos quadros do direito civil. São características gerais
dos títulos de crédito: a literalidade, autonomia, incorporação, legitimação e
circulação.

LITERALIDADDE

O título de crédito é um documento literal, que significa que o conteúdo literal


ou gramatical do título corresponde ao direito “cartular” que por ele
representado, de modo que o conteúdo, natureza e os limites deste têm o
âmbito e valor que resultar do próprio título. Isto é, só os dizeres e as menções
constantes do documento podem servir para definir e delimitar o conteúdo do
direito nele incorporado.82

Com palavras simples diremos que os títulos de crédito são literais. Para dizer que os
títulos de créditos são documentos escritos e que das palavras e algarismo escritos
no documento (literais) consta ou resulta o direito nele documentado. O conteúdo
e a extensão do direito contido no título são aqueles que dele constarem escritos83.

81
OP. Cit. Pg. 5
82
MUALEIA, Fernanda e VALE, Sofia, Guião Prático de Direito comercial, pg. 181
83
OP. Cit. pg. 6

83
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Cada título a lei estabelece respectivos pressupostos que constituem o suporte desta
característica.

A literalidade não é igualmente intensa em todos títulos de créditos. É quase absoluta


nos títulos abstractos: letras livrança, cheque e estrato de facturas, em que só
podem ser invocadas pelo obrigado excepções extra cartulares originadas em
convenção exteriores que o liguem com o próprio portador-credor e não com
qualquer outro dos intervenientes cambiários.84

Nas acções das sociedades anónimas, que são títulos de crédito causais que
incorporam o direito social do acionista, a literalidade existe por referência; o título
não contêm impressa a totalidade dos direitos e deveres do acionista, para ao quais
dificilmente haveria espaço limitando-se a remeter para o contrato de sociedade, no
qual faz contar os necessários elementos de identificação.

AUTONOMIA

Como característica dostítulos de crédito significa aindependência da posição de cada


portadordotítulodecrédito,istoé,queodireitodo portador de um título de crédito é
autónomo em relação aos direitos precedentes. O que daqui resulta é
inoponibilidade das excepções pessoais no plano das relações cartulares, que não
podem ser opostas a um portador as excepções que não lhe digam respeito, mais sim
um anterior portador.

Os títulos de créditos não surgem do ex nihilo no mundo do direito, nem no tráfego


comercial. Tem sua origem num negócio ou pelo menos numa situação jurídica
para cuja documentação, circulação, mobilização ou cobrança são emitidos.

84
É esta situação que tem sido designada na Doutrina e na jurisprudência por
relações imediatas e que por equívoca, tem conduzido a frequentes decisões
judiciais erradas entre as quais se contam já dois assentos, um de 22/11/64 e outro
de 20/7/78.

84
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O direito incorporado pelo título é diferente daquele que o originou, é um outro


direito. O direito incorporado no título designa-se por direito cartular; o direito
que lhe deu origem denomina-se por direito subjacente.

Quando alguém que é credor de outrem recebe o pagamento por cheque, o direito
em que fica investido como portador desse cheque é diferente do direito de crédito
que tem sobre o devedor que lhe pagou com o cheque. O montante é o mesmo85. O
devedor mudou: passou a ser o banqueiro sacado.

Sendo diferente dos direitos subjacentes, o direito cartular lhes é autónomo. Quer
dizer que não são misturáveis e mantêm se distintos os seus regimes jurídicos.

ABSTRAÇÃO OU AUTONOMIA DO TÍTULO

Os títulos valem independentemente da relação fundamental que é subjacente à


sua criação e transmissão, afirmando-se no tráfego negocial exclusivamente
com base na respectiva aparência (literalidade). O direito inerente ao título de
crédito representa uma relação jurídica nova e distinta da que esteve na base da
emissão do título de crédito.

AUTONOMIA DA POSIÇÃO DO PORTADOR DO TÍTULO

O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por
uma série ininterrupta de endosso, mesmo no último for em branco e se a pessoa foi
por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde que justifique
o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, não é obrigado a restituir
salvo se adquiriu de má-fé ou se, adquiriu-a cometeu uma falta grave.

85
O montante pode ser diferente se o pagamento for feito parcialmente em cheque e
parcialmente de outro modo, mas vai se considerar apenas o caso de pagamento
total.

85
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O regime de autonomia do portado diverge e não se confundido com o da autonomia


do direito cartular. Quando se fala de autonomia cartular está-se a relacionar e
autonomizar o direito emergente do título e nele incorporado do direito subjacente,
que funcionalmente o originou a emissão, o endosso ou outro acto cartular. Quando se
trata da autonomia a propósito da posição do portador, o que se está a relacionar
e autonomizar é a titularidade do título pelo seu portador em relação à de outros
portadores anteriores que do título tenha sido desapossado.86

Os títulos de créditos são coisa móveis, e como tais objecto idóneo de direitos reais.
Assim, os títulos podem ser objecto de propriedade, compropriedade, de usufruto,
de penhor, de retenção, usucapião e são susceptíveis de posse.

A titularidade do título traduz-se na titularidade de direito real sobre ele,


considerando como coisa móvel. O título circula de acordo com a sua lei de circulação
e conforme à ordem, nominativo ou a portador, circula (transmite-se) por endosso,
por lançamento do pertence ou por simples tradição.

O portador do título, quando esteja legitimado de acordo com a respectiva


circulação, tem a sua titularidade, quer dizer ao seu direito real sobre o título,
indiscutível. Se na cadeia de circulação algum anterior titular tiver sido
ilicitamente desapossado do título, não poderá reivindicar do actual portador.

De acordo com o regime geral do direito civil, aquele que tenha sido ilicitamente
desapossado de uma coisa imóvel de que seja proprietário não perde por isso o
seu direito e pode reivindicar de qualquer possuidor ou detentor, salvo se ocorrer
usucapião a favor do terceiro possuidor.87

86
OP. cit. pg.19
87
Op. Cit. Pg. 20

86
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Neste regime do direito civil, o desapossado poderá sempre reivindicar do


portador do título. Não assim no regime dos títulos de crédito. Autonomia da
posição do portador traduz um regime contrário: não obstante o desapossamento
ilícito, o desapossado não pode reivindicar o título do portador legitimado. O
direito do desapossado cede perante o do portador. Isto significa que a
titularidade de cada portador do título, na cadeia de circulação, é autonomia em
relação à do anterior portador e não é afectada pelos vícios de que sofra o direito
daquele de quem recebeu título88.

A aquisição do título pelo portador, desde que feita de acordo com a sua lei de
circulação é uma aquisição originária. Não se trata de transmissão feita pelo
anterior ao actual portador em que, de acordo com o regime geral, o transmitente
transmite ao transmissário o seu direito. O portador tem sobre o título de um direito
que se constitui originariamente na sua esfera jurídica e que não lhe é transmitido
pelo portador anterior.

As categorias dos títulos de crédito são vastas e bastante discutível a própria


terminologia e instituto que dela fazem parte.

CRÉDITO

O crédito é essencialmente a troca de uma prestação presente por uma prestação


futura, ou seja o diferimento no tempo de uma contra prestação89.

O conceito de crédito comporta dois pressustos basicos:

 A confiança, do credor na honestidade e solvabilidade do devedor, isto


é, na sua aptidão moral e patrimonial para cumprir a obrigação no prazo
concedido, ou, pelo menos o

88
Op. cit. pg. 21
89
http://www.com/octalberto.no.sapo pt/ títulos de crédito. Data 01 de Março
de 2016. 10h:e 46 min.

87
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

valordasgarantiasconstituidaspelo devedorparaassegurara efectivação da


prestação a que obrigou.
 Decurso do tempo entre a prestação actual do credor e a prestação
futura do devedor, normalmente fixado num periódo certo ou a prazo;
ou, o caracter futuro ou deferido da prestação dodevedor.
A promoção do crédito seja um dos objectivos fundamentais do direito
comercial, cuja prossecução esta na base e justifica a especialidade do regime
dos actos do comércio.

O título de crédito pode ser definido como um documento necessário para exercitar o
direito literal e autónomo mencionado no referido titulo.90

Podem emitir-se títulos de crédito não especialmente regulados por lei, desde que
deles conste claramente a vontade de emitir títulos dessa natureza e a lei os não
proíba.

Título de crédito é documento representativo de um crédito que uma pessoa tem


sobre a outra. O título de crédito, também, pode ser definido como documento
necessário para se exercer o direito literal que nele semenciona.

CLASSIFICAÇÃO

A classificação mais importante dos títulos de crédito é feita quanto a sua circulação,
da seguinte maneira91:

 Títulos ao portador, títulos ao portador são aqueles declarados como


tais pela lei ou em que, pelo texto ou pela forma do título, se depreende
sem dúvida que a prestação é devida ao portador deles.

90
VALE, Sofia e MUALEIA Fernanda, Guia Prático de Direito Comercial, Escolar Editora,
Angola, 2003, pag.181
91
Nos termos dos n-s 1,2 e 3 do art.635º do C.Com.

88
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

 Títulos à ordem, são aqueles em que a pessoa do credor é indicada no


título e contém a cláusula à ordem ou que como tais são declarados por lei.
 Títulos normativos, são aqueles em que a pessoa do credor é indicada no
título e no registo do emitente e que não são emitidos à ordem nem
declarados como tais pela lei.

CHEQUE

Cheque é um título através do qual uma pessoa ordena que uma instituição de
crédito, onde depositou fundos ou dispõe de crédito, pague a si ou a terceiro ou
a ordem a si ou ordem a terceiro determinada quantia92.

Cheque é o título de crédito que enuncia um pagamento, tal como a letra, mas é uma
ordem de pagamento dirigida a uma instituição bancária onde o emitente do
título possui uma previsão. O cheque funciona como um meio de mobilização de
fundos, quer em benefício do emitente, quer em benefício de um terceiro93.

Cheque é o título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa,
que tem qualquer importância disponível num banqueiro, dispõe dela total ou
parcialmente.

O cheque é, pois, na sua essência e tal como a letra, uma ordem de pagamento (dada
pelo depositante ao banqueiro). 94Todavia, se a letra pode consistir numa ordem de
pagamento à vista ou a prazo, e mais ordinariamente a prazo, a verdade é que o cheque
tem sempre a natureza de ordem de pagamento à vista.

REQUISITOS DO CHEQUE

92
Cfr. art.782º do C. Com.
93
VALE, Sofia e MUALEIA Fernanda, Guia Prático de Direito Comercial, Escolar
Editora, Angola, 2003,pag.183
94
CARDOSO, J. Pires, Compêndio de noções de Direito comercial, Atlâmtida
editora, Coimbra, pag316

89
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O cheque deveconter:

 A palavra cheque escrita no próprio texto do título;


 O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
 O nome de quem deve pagar (sacado);
 Aindicação dolugar emqueo pagamento sedeve efectuar;
 A indicação da data em que e do lugar onde o cheque é passado;
 Assinatura de quem passa o cheque (sacador).
O título a que faltar qualquer dos requisitos enumerados não produz efeitos como
cheque, mas através das excepções seguintes podem ser consideradas cheques:

 Não se indicando o lugar do pagamento, considera-se como tal o lugar


designado ao lado do nome do sacado e, na falta deste ou de qualquer outro,
o cheque é pagável no lugar em que o sacado tem o seu estabelecimento
principal.
 Não se indicando o lugar da emissão (lugar onde o cheque é passado),
considera-se como tal o lugar designado ao lado do nome do sacador.
Formas do Cheque

O cheque pode revestir duas formas principais:

 Cheque nominativo; e
 Cheque ao portador.
4.2.1. Cheque nominativo

É o que contém o nome da pessoa a que, ou à ordem de quem, deve ser pago, não
podendo sê-lo qualquer outra que no título não esteja mencionada. Este cheque
pode ser passado à ordem do próprio sacador ou emitente ou de terceira pessoa
beneficiário.

90
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
4.2.2. Cheque ao Portador

É aquele que não contém o nome da pessoa a quem deve ser pago, podendo sê-lo a
qualquer que se apresente a cobrá-lo.

É bom esclarecer que são considerados ao portador os cheques sem indicação do


beneficiário ou passados a favor duma determinada pessoa, mas contendo a
menção ou ao portador. E, nestes termos, para que um cheque se considere
nominativo, é sempre indispensável que se risquem as palavras, é sempre
indispensávelque serisquemas palavras, ou ao portador se, porventura, o impresso-
cheque contiver essas palavras.

Convém acrescentar ainda que o cheque não pode ser passado sobre o próprio
sacador, salvo no caso em que se trate dum cheque sacado por estabelecimento
sobre o outro estabelecimento, ambos pertencentes ao mesmo sacador,
nomeadamente pela Sede de um banco sobre a sua Filial ou Agência, e vice-versa.

Qualquer cláusula de juros inserta no cheque considera-se como não escrita, e, na


hipótese de divergência entre a importância do cheque, escrita em algarismos e por
extenso, prevalece a quantia de que se encontra mencionada por extenso.

O sacador do cheque é sempre responsável pelo seu pagamento e, por isso, se


considera como não escrita qualquer cláusula pela qual o sacador se pretenda eximir
a esta garantia.

Quais das duas espécies de cheque, nominativo ou ao portador, encerra maiores


vantagens práticas?

A resposta varia consoante as circunstâncias especiais em que o cheque é


passado. Assim, suponhamos que Trindade reside em Lichinga, pretende pagar
uma dívida que contraiu para com Marcus, residente Nampula, e que o faz por maio de
cheque enviado para esta
última cidade. Como o documento se

91
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
pode extraviar, convém ser nominativo a fim de se enviar que qualquer pessoa
o possa receber.

Estabelecendo uma outra hipótese em que Trindade efectuar, na cidade de


Lichinga a compra duma mobília ´na loja do comerciante Hussene, e querer pagá-la
por meio de cheque sobre um banco da cidade de Lichinga. Hussene tem
necessidade de receber prontamente a importância do cheque e tenciona
apresentá-lo de seguida no referido banco. Neste caso é mais vantajoso o cheque ao
portador, pois as probabilidades de extravio são diminutas e as facilidades de
cobrançapara estes chequessão muito maiores do que para os cheques nominativos.

Para estes últimos serem cobrados, o beneficiário terá de passar recibo no


próprio cheque e, quando não seja depositante do banco sacado, a sua assinatura
deverá ser reconhecida por notário ou abonada por um comerciante que no
banco tenha conta.

Além de tudo isto, o cheque ao portador tem ainda a vantagem de se poder utilizar
quase como uma nota de banco, pois, com ele se pode efectuar qualquer
pagamento sem necessidade do seu endosso (dentro dum prazo restrito,
evidentemente).

4.2.3. Endosso

O cheque, quando nominativo, tem a natureza de título a ordem e, portanto, é


transmissível por meio do endosso só perde este carácter por declaração expressa em
contrário, inscrevendo-se no cheque à cláusula não à ordem ou outra equivalente;
e nestas condições, só é transmissível pela forma e com os efeitos duma cessão
ordinária.

O endosso deve ser puro e simples, considerando-se como não escrita qualquer
condição a que ele esteja subordinado. Pode ser feito mesmo a favor do sacador
ou de qualquer outro co-obrigado e estas

92
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
pessoas podem endossar novamente o cheque.

A lei permite o endosso ao portador, que vale como endosso em branco, mas
proíbe taxativamente certas formas de endosso:

 O endosso parcial;e
 Oendosso feito pelo sacado.
Exemplos:

Cardoso é beneficiário e portador dum cheque de 100.000,00mts sobre


determinado banco, pretende com ele pagar a Carlos uma dívida no montante de
5000,00mts e endossa-o só por metade do seu valor.

A lei considera nulo este endosso parcial e compreende-se assim seja por umarazão de
ordem prática, além de outros motivos de ordem doutrinária. Quem seria, no
endosso parcial, o legítimo portador do cheque ou, o que é o mesmo, quem teria o
direito de o receber no banco respectivo? O endossante ou o endossado?

Esta dificuldade é maior quanto é certo que, nos títulos de crédito, a posse do
documento é condição indispensável para se exercer o direito nele contido.

Mas suponhamos que Cardoso beneficiário e portador do mesmo cheque de


100.000,00mts, o foi cobrar no banco em questão. Poderá esta entidade o banco
sacado endossá-lo depois de o ter pago?

A lei estabelece a nulidade deste endosso feito pelo sacado, e a razão de semelhante
procedimento torna-se evidente se considerarmos que a função específica do
cheque é levantar uma quantia que qualquer depositante tenha num
estabelecimento bancário. Logo que este facto o levantamento se verifica, o cheque
perdeu a sua razão de ser. Em todo o acto há um princípio e um fim: o cheque nasce
com a emissão, uma ordem de pagamento e morre logo que esta ordem é

93
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
cumprida.

Tal como nas letras, o endosso deve ser escrito no cheque ou numa folha a este ligada
(anexo), deve ser assinado pelo endossante e pode revestir duas modalidades:

 Endosso completo;
 Endosso em branco (ou incompleto)
O endossante pode não designar o beneficiário ou consistir simplesmente na
assinatura do endossante (endosso em branco). Neste caso último caso, o endosso,
para ser válido, deve ser escrito no verso do cheque ou na folha anexa, nos termos do
nº2 do art.797º do C.Com.

4.2.4. Aval

Do mesmo modo que nas letras, o pagamento dum cheque pode ser garantido, no
todo ou em parte do seu valor, por um aval. E esta garantia pode ser dada por
terceiro, excepto o sacado, e até mesmo por qualquer signatário do cheque.

Modalidades do Aval
O aval reveste também duas modalidades:

 Aval completo – constituído pela assinatura do avalista, precedida das


palavras «Dou o meu aval a favor de A...» ou a expressão equivalente. Pode
ser escrita em qualquer parte do cheque ou do anexo (se o houver), nos
termos do nº 1 do art. 807º do C.Com;
 Aval incompleto – constituído pela simples assinatura do dador do aval
escrita na face principal do cheque. Com excepção da assinatura do
sacador qualquer outra que se encontre nesta face do cheque considera-se
como de avalista, com base no nº3 do art.º 807º do C.Com.

94
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
O dador do aval deve ter sempre o cuidado de indicar a pessoa por quem se
responsabiliza, mas, na falta dessa indicação, o aval considera-se prestado ao
sacador95.

O avalista é responsável da mesma forma que o seu avalado; e desde que pague o
cheque, pode exigir o respectivo pagamento, tanto da pessoa por quem se obrigou,
como dos outros signatários para com eles obrigados.

Pagamento, Prazos de Apresentação

O cheque é sempre pagável à vista, e por isso, a lei fixa o prazo dentro do qual ele deve
ser apresentado o pagamento96.

De acordo com o art.º 809º do C.Com. cheque é pagável à vista. Considera-se


como não escrita qualquer menção em comércio. O cheque apresentado a
pagamento antes do dia indicado como data da emissão é pagável no dia da
apresentação.

O prazo de apresentação a pagamento varia conforme os casos:

 Oito (8) dias, para os cheques pagáveis no mesmo país em que foram
passados;
 Vinte (20) dias, para os cheques pagáveis em país diferente daquele em que
foram passados, desde que ambos os países de encontrem situados na
mesma parte do mundo.
 Setenta (70) dias para os cheques pagáveis em país diferente daquele em que
foram passsados, desde que ambos os países se encontrem situados em
diferentes partes do mundo.
Os prazos acima mencionados começam a contar a partir do dia indicado no
cheque como data da emissão.

O sacado pode exigir, ao pagador o cheque, que este lhe seja entregue munido
de recibo passado pelo. Em regra, o recibo é

95
Cfr.nº4 do art.807º do C.Com.
96
CARDOSO, J. Pires, compendio de Noções de direito comercial, Atlântida Editora
S.A.R.L. Coimbra,
95
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

passado no verso do cheque e constituído simplesmente pela assinatura do


portador, precedida das palavras recebi ou recebemos.

Tal como nas letras, o portador do cheque também não pode recusar o seu pagamento
parcial; e, nesta hipótese, o sacado tem o direito de exigir que esse pagamento seja
mencionado no título e que lhe seja entregue o respectivo recibo.

4.3. Cheques Cruzados

Denomina-se cruzado, o cheque atravessado, na face principal, por duas linhas


paralelas, e que nem pode ser pago senão a um banqueiro ou a um cliente do
sacado97.

O cruzamento do cheque pode ser efectuado pelo sacador ou pelo portador e


reveste duas modalidades:

 Cruzamento geral;
 Cruzamento especial.
No cruzamento geral, atravessa-se simplesmente o cheque, ao alto, por dois traços
paralelos, podendo escrever-se ou não, entre eles, a palavra banqueiro outra
equivalente. Este só pode ser pago, pelo sacado, a qualquer banqueiro ou a um
cliente do sacado.

No cruzamento especial, precede-se do mesmo modo, mas entre os dois traços


escreve-se (em regra, também ao alto) o nome do banqueiro que o deve
receber. Este cheque só pode ser pago, pelo sacado, ao banqueiro cujo nome está
escrito entre os dois traços, ou na hipótese de este nome ser o sacado, a um dos seus
clientes.

O cheque com o cruzamento geral pode, em qualquer altura, passar a cruzamento


especial; basta, para isso, escrever entre os dois traços o nome do banqueiro. Já o
mesmo não sucede com o cruzamento especial, que nunca pode ser convertido
em geral.

97
CARDOSO, J. Pires, Compêndio de Noções de Direito Comercial, Atlântida
Editora S.A.R.L. Coimbra.
96
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

A inutilização do cruzamento, o do nome do banqueiro indicado, considera-se


como não escrita.

4.3.1. Cheques a Levar em Conta

Dum modo geral, os cheques são pagos em numerário, em dinheiro. A lei permite, no
entanto, que o sacador ou o portador proíbam o seu pagamento em numerário e,
neste caso, o interessado não tem o direito de receber a importância do cheque;
esta só lhe poderá ser lançada em conta, ou seja, creditada. Assim sucede sempre
que o sacador ou o portador inscrevam na frente do cheque ou outra
equivalente.

4.3.2. Acção Por Falta de Cobertura

O portador pode exercer os seus direitos de acção (isto é, pode recorrer aos
tribunais) contra os endossantes, sacador e outros co- obrigados, se o cheque
apresentado em tempo útil não for pago e se a recusa de pagamento for verificada:

 Quer por um acto formal


 Quer por uma declaração do sacado, datada e escrita sobre o cheque, com a
indicação do dia em que este foi apresentado.
 Quer por uma declaração datada duma camara de compensação
constatando que o cheque foi apresentado em tempo útil e não foi pago.
O modo mais prático e frequente de fazer a verificação da falta de pagamento,
cheque sem cobertura ou cheque a descoberta, ou seja, uma declaração do sacado,
datada e escrita sobre o cheque.

O pretexto ou a declaração equivalente devem ser feitos dentro do prazo de


apresentação a pagamento (8, 20 ou 70 dias, conforme os casos) mas, se o cheque
foi apresentado no último dia do prazo, aquelas formalidades podem ainda ser
realizadas no primeiro dia útil
seguinte.

97
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Deve acrescer-se, também, que o não pagamento de um cheque, por falta de previsão
ou falta, de cobertura, apresentado dentro dos prazos legais, é considerado crime
e, como tal, o emitente do cheque (sacador) está sujeito a responsabilidade
criminal conexa com a respectiva responsabilidade civil.

Nem sempre, porém o pretexto ou a declaração equivalente se tornem


imprescindíveis para garantir os direitos do portador do cheque, por isso, à
semelhança do cheque se passa nas letras.

O sacador, o endossante ou o avalista podem, pela cláusula sem despesas, sem


protestos ou outra equivalente dispensar o portador de estabelecer um protesto ou
outra declaração equivalente para exercer os seus direitos de acção.

Nas condições a cima referidos, o portador dum cheque, que nem haja sido pago,
tem o direito de recorrer aos tribunais contra qualquer das pessoas obrigadas, que
são solidariamente responsáveis para com ele. E pode proceder contra essas pessoas,
individual ou colectivamente, sem necessidade de observar a ordem segundo a qual
se obrigaram. O mesmo direito possui qualquer signatário que tenha pago o
cheque.

Toda a acção do portador contra os endossantes, contra o sacador ou contra os demais


co-obrigados, prescreve decorridos que sejam seis meses, contados do termo do
prazo da apresentação. E, se qualquer dos co-obrigados pagou o cheque, o seu
direito de acção contra os outros prescreve no prazo de seis meses, contados do
dia em que tenha pago o cheque ou do dia em que ele próprio foi acionado.

A acção do cheque prescreve em certo prazo significa que, decorrido esse prazo, deixa
de existir o direito de se recorrer aos tribunais para reclamar do não pagamento dum
cheque.

Para completar o estudo do regime jurídico do cheque, convém ter

98
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
presentes as seguintes disposições de ordem geral:

 A palavra banqueiro compreende também as pessoas ou instituições


assimiladas por lei aos banqueiros;
 A apresentação e o proposto dum cheque só podem efectuar- se em diaútil;
 Quando o último dia do prazo prescrito na lei, para a realização dosactos
relativos ao cheque, for feriado legal, esse prazo é prorrogado até ao
primeiro dia útil que se segui;
 Os prazos estipulados, em relação aos cheques, não compreendem o
dia que marca o seu início.
MARCAS

4.3.4. Noção e natureza jurídica

4.3.5. Marcas - São palavras ou símbolos que identificam produtos e serviços de


uma empresa distinguindo-os dos de outras empresas98.

A marca é um sinal que identifica no mercado os produtos ou serviços de uma


empresa, distinguindo-os dos de outras empresas99.

Se a marca for registrada, passa o seu titular a deter um exclusivo que lhe confere o
direito de impedir que terceiros utilizem, sem o seu consentimento, sinal igual ou
semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou fins (ou seja, o registo permite,
nomeadamente, reagir contra imitações).

Em princípio, o registro apenas protege a marca relativamente aos produtos e aos


serviços especificados no pedido de registo (ou a produtos ou serviços afins).

Isto significa, por exemplo, que uma empresa que detenha um registo de marca para
assinalar computadores pode reagir contra o uso de

98
Inventa Moçambique. Mais sobre marcas in: www.inventa.co.mz/../marcas-
registadas. acesso em 26.02.2016
99
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Tipos de marcas in:
www.marcasepatentes.pt, acesso em 26.02.2016

99
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

umamarcaigualousemelhanteporumaempresaquepresteserviços de reparação de
computadores, mas ja nao o podera fazer, em princípio, contra a utilização
dessa marca por outra empresa que fabrique espirradores100.

4.4. Classificação das marcas As

marcas classificam-seem:

 Marca de produto ou serviço;


 Marca de certificação; e
 Marca coletiva101.
Marca de produtos e de serviços é o sinal distintivo manifestamente visível e ou
audível, suscetível de representação gráfica permitindo distinguir produtos ou
serviços de uma empresa, dos produtos e serviços de outra empresa, composto
nomeadamente por palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras,
números, forma do produto ou da respetiva embalagem102.

4.4.1. As marcas de produtos e serviços classificam-se em:

 Marcas nominativas;
 Marcas figurativas;
 Marcas mistas;
 Marcas sonoras;
 Marcas tridimensionais; e
 Marcas compostas por slogans.
Marcas nominativas são compostas por elementos verbais, nomeadamente
palavras, incluindo nomes de pessoas, letras ou números.

Marcas figurativas são compostas apenas por elementos figurativos, como


desenhos, imagens ou figuras.

100
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Tipos de marcas
in: www.marcasepatentes.pt, acesso em 26.02.2016.
101
De acordo com o artigo 123 do Código de Propriedade Industrial.
102
De acordo com a alínea f) do artigo 1 do Código de Propriedade Industrial.

100
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
Marcas mistas são compostas porelementosverbaisefigurativos.

Marcas sonoras são compostas por sons.

Marcas tridimensionais são compostas pela forma do produto ou da respetiva


embalagem.

Marcas compostas por slogans são constituídas por frases publicitárias,


independentemente da sua proteção pelo direito de Autor.

Exemplos: VÁ PELOS SEUS DEDOS; QUEM TEM PAGINAS AMARELAS TEM TUDO.

Marcas coletivas

É aquela que permite distinguir a origem ou qualquer outra característica


comum, incluindo a qualidade de produtos ou serviços de empresas, membros de uma
associação, grupo ou entidade103.

As marcas coletivas podem ser de associação ou de certificação.

Marca de certificação é aquela que identifica os serviços que embora utilizados por
entidades diferentes, sob a fiscalização do titular, garantemascaracterísticas ou as
qualidades particulares ouserviços em que a marca é utilizada104.

Uma marca de certificação é um sinal pertencente a uma pessoa coletiva que


controla os produtos ou os serviços, ou estabelece normas a que estes devem
obedecer. Este sinal serve para ser utilizado nos produtos ou serviços submetidos
àquele controlo, ou para os quais as normas foram estabelecidas.

Uma marca de associação é um sinal pertencente a uma associação de pessoas


singulares ou coletivas, cujos membros o usam, ou têm

103
De acordo com a alínea g) do artigo 1 do Código de Propriedade Industrial.
104
De acordo com a alínea h) do artigo 1 do Código de Propriedade Industrial.

101
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

intenção de usar, para produtos ou serviços relacionados com o objeto da


associação105.

O registo da marca coletiva confere ao seu titular o direito de disciplinar a


comercialização dos respetivos produtos, nas condições estabelecidas na lei, nos
Estatutos ou nos Regulamentos internos.

O DIREITO AO USO DA MARCA E SEU CARACTER FACULTACTIVO

4.4.3. Legitimidade para requerer o registo a marca

Tem legitimidade para requerer o registo a marca, os industriais ou fabricantes,


comerciantes, agricultores, artífices ou quaisquer outros produtores e associações
económicasqueprestamserviços106.

4.4.5.Duração e renovação de proteção da marca

A proteção do registo da marca tem a duração de 10 anos, ilimitadamente


renovável por períodos iguais107.

A MARCA, SENDO RENOVÁVEL, PODERÁ EXTINGUIR-SE POR:

 Caducidade;
 Anulabilidade;
 Nulidade; e pela
 Renuncia.
Caducidade, nomeadamente, por falta de pagamento das taxas ou quando tenha
expirado o seu prazo de duração108.

105
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Tipos de marcas in:
www.marcasepatentes.pt, acesso em 26.02.2016
106
Nos termos do número 1 do artigo 123 do Código de Propriedade Industrial
Moçambicano.
102
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D 107
Nos termos do artigo 120 do Código de Propriedade Industrial Moçambicano.
108
De acordo com o artigo 22 do Código de Propriedade Industrial de Moçambicano.

102
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
4.5.1. O registo da marca pode ainda caducar por:

 Ausência de uso serio durante 5 anos consecutivos salvo justo motivo.


 Se a marca se tiver transformado na designação usual do produto ou do
serviço para que foi registada.
 Se a marca se tornar suscetível de induzir o público em erro,
nomeadamente acerca da natureza, qualidade e origem geográfica dos
produtos ou serviços109.
4.5.2. Nulidade ouanulabilidade

Declaradas pelo Tribunal. A nulidade é invocável a todo o tempo e por qualquer


interessado, enquanto a anulabilidade devera ser invocada no prazo de um ano
contado da data do despacho de concessão do direito110.

Renúncia feita pelo próprio requerente da marca, que devera ser feita mediante
declaraçãoescrita,oupeloseurepresentantelegal111.

4.5.3. Direito de transmissão da marca

Oregisto da marca élivremente transmissível intervimos e pormortes causa, da qual a


transmissão intervimos devera obedecer a forma escrita, mediante o
consentimento do titular, com assinatura reconhecida por notário112.

4.5.4. CONSTITUIÇÃO DA MARCA

4.5.5. Instrução do pedido

Ao requerimento juntam-se os documentos seguintes:

109
Nos termos do artigo 137 do código da Propriedade Industrial
Moçambicano. 110De acordo com os artigos 20 e 21 do Código da Propriedade
Industrial Moçambicano.
111
De acordo com o artigo 19 do Código da Propriedade Industrial
Moçambicano. 112 Com base nos números 1 e 3 do artigo 17 do Código de
Propriedade Industrial Moçambicano.

103
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
 A respetiva licença para o exercício da atividade, se o requerente for
uma pessoa física que exerce qualquer atividade comercial ou
industrial;
 Os respetivos estatutos sociais publicados no Boletim da Republica ou a
licença para o exercício de atividade comercial ou industrial, se o requerente
for uma pessoa jurídica;
 Duas representações gráficas da marca;
 Um fotolito ou outro suporte;
 Autorização do titular da marca estrangeira de que o requerente seja
agente ou representante em Moçambique mediante apresentação da
licença de exercício da atividade de representação comercial estrangeira
na Republica de Moçambique;
 Autorização de pessoa cujo nome, firma, denominação social, insígnia ou
retracto figurem na marca e não seja o requerente;
 Autorização da autoridade competente para incluir na marca quaisquer
bandeira, armas, escudos, brasoes, moeda, ou emblemas do Estado,
municípios ou outras entidades públicas ou particulares, nacionais ou
estrangeiras, distintivos, selos e sinetes oficiais de fiscalização e garantia,
emblemas privativos ou denominação da cruz vermelha ou outros
organismos de natureza semelhante;
 Diploma de condecoração ou outras distinções referidas ou reproduzidas
na marca que não devem considerar-se recompensas segundo o
conceito expresso no presente diploma;
 Certidão do registo competente, comprovativo do direito a incluir na marca
o nome ou qualquer referencia a determinada propriedade rustica ou urbana
e autorização do proprietário, para esse efeito, se este não for o
requerente; e

104
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
 Autorização do titular do registo anterior e do possuidor de licença
exclusiva, se a houver113.
Estando os requisitos preenchidos, o IPI manda publicar imediatamente o
pedido tal como tiver sido aceite, no Boletim da Propriedade Industrial114.

4.6. Unicidade do registo

A mesma marca destinada ao mesmo produto ou serviço, só pode ter um registo115.

4.6.1. Linguagemusadaparaopedidodoregistonacionaldamarca

O pedido de registo da marca devera ser redigido em língua portuguesa e


depositada no IPI acompanhado do comprovativo do pagamento da taxa
correspondente, uma reprodução da marca e a lista dos produtos ou serviços para
os quais o registo da marca é registada.116.

4.6.2. Imitação da Marca

A marca registada considera-se imitada por outra quando,


cumulativamente:

 A marca registada tiver prioridade;


 Ambas se referirem a produtos ou serviços idênticos; e
 Apresentar semelhança gráfica, fonética, ou figurativa e ser suscetível de
criar confusão ao consumidor117.
É permitido no prazo de sessenta dias, a contar da data da publicação no Boletim da
Propriedade Industrial em que o aviso seja inscrito, a oposição ao pedido, por
qualquer pessoa que se sinta prejudicada

113
Nos termos do artigo 113 do Código da Propriedade Industrial Moçambicano.
114
Nos termos do artigo 116 do Código da Propriedade Industrial Moçambicano.
115
De acordo com o artigo 114 do código da Propriedade Industrial
Moçambicano. 116 Nos termos do número 1 do artigo 112 do Código de
Propriedade Industrial Moçambicano.
117
De acordo com o artigo 111 do Código da Propriedade Industrial Moçambicano.

105
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

pela eventual concessão da marca, mediante o respetivo pagamento da taxa118.

O prazo concedido para a oposição ao pedido da concessão da marca é prorrogado


uma única vez.

A oposição deve ser apresentada em triplicada e conter a matéria de facto e de direito


que a sustente, e o IPI enviara a cópia da oposição ao requerente, notificando-o para
alegar no prazo de trinta dias o que achar por conveniente, e este prazo também é
prorrogado uma única vez, a pedido do interessado, mediante pagamento da
respetiva taxa119.

A falta de alegação do prazo fixado equivale a desistência do pedido pelo


requerente120.

4.6.3. Prova do Direito a Marca

A prova do direito a marca efetua-se por meio de certificado de registo 121.

4.6.4. Vantagens da proteção da marca

O registo da marca oferece múltiplas vantagens que podem ser:

 Permite valorizar o esforço financeiro e intelectual utilizado na conceição de


novas marcas;
 Confere um direito exclusivo que permite impedir que terceiros,
sem o consentimento do titular, produzam,

118
Nos termos do número 1 do artigo 117 do Código da Propriedade Industrial
Moçambicano.
119
Nos termos dos números 3, 4, e 5, do artigo 117 do Código de
Propriedade Industrial de Moçambique.
120
De acordo com o número 6 do artigo 117 do Código de Propriedade Industrial
de Moçambique.
121
Nos termos da alínea b) do número 1 do artigo 13 do Código da
Propriedade Industrial Moçambicano.

106
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

fabriquem, vendam ou explorem economicamente a marca registada122;


A propriedade e o exclusivo sobre marcas adquirem-se apenas por via do registo, não
através do simples uso no mercado.

 Impede que outros registem sinal igual ou semelhante para produtos ou


serviços idênticos ou fins.
 Durante a vigência do registo, o titular pode usar produtos a expressão
«marca registada», ou o símbolo «R» de modo a dissuadir potenciais
infrações123.
O uso destes símbolos por quem não tenha efetivamente promovido o registo da sua
marca é proibido, constituindo um ilícito contraordenacional. No entanto,
enquanto o registo não tiver sido concedido e o requerente pretender de alguma
forma divulgar a marca, pode sempre indicar-se que seencontra pendente o respetivo
registo.

 Garante a possibilidade de transmitir o registo ou de conceder licenças de


exploração a favor de terceiros, a título gratuito ou oneroso124.
4.6.5. MARCAS QUE NAO PODEM SER REGISTADAS

4.7. As marcas não distintivas.

Não podem ser registadas as marcas compostas exclusiva ou essencialmente por


elementos que descrevam o produto ou serviço (as suas características, qualidades,
proveniência geográfica, entre outros aspetos), por elementos usuais na linguagem do
comércio, por determinadas formas (forma imposta pela própria natureza do
produto, forma do produto, necessária a obtenção de um resultado

122
Nos termos do número 1 do artigo 124 do Código de Propriedade
Industrial Moçambicano.
123
Nos termos do número 7 do artigo 124 do Código de Propriedade Industriais
124
De acordo com os números 1 e 4 do artigo 17 e 122 do Código de
Propriedade Industrial

107
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

técnico ou forma que lhe confira um valor substancial) ou por uma única cor.

Exemplos:

 Sapatos (para identificar calçados);


 Cinema tickets (para serviços de venda de bilhetes).
 Hidratação creme (para produtos cosméticos);
 Reparação 24hras (para serviços de reparação);
 Lava mais (para detergentes de roupa);
 Supercrédito (para serviços financeiros e de créditos).
Uma marca composta exclusiva ou essencialmente por estes elementos(com
exceçãodascores)apenaspodeserregistadasetiver adquirido, na prática comercial,
eficácia distintiva.

Sempre que estes elementos não registáveis por si só – estejam combinados com
outros que sejam distintivos (palavras ou figuras, por exemplo), a marca pode ser
registada, ainda que os aspetos descritivos, genéticos ou usuais não fiquem de
apropriação exclusiva do respetivo titular.

Exemplos:

 Sapatos by spaciX («spaciX» é o elemento distintivo); o termo descritivo


«sapatos» não fica de uso exclusivo).
 LKH Cinema tickets- («LKH» é o elemento distintivo). («cinema tickets» não
fica de uso exclusivo)125.
4.7.1. As marcas suscetíveis de induzir o consumidor em erro

Não podem ser registadas as marcas que possam causar enganos ao consumidor,
nomeadamente a respeito da natureza, das qualidades, da utilidade ou da
proveniencia do produto ou do serviço126.

Exemplos:

125
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Tipos de marcas in:
www.marcasepatentes.pt, acesso em 26.02.2016
126
Nos termos da alínea c) do artigo 110 do Código da Propriedade Industrial.

108
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

 Astral – like silk- (para assinalar vestuário de algodão);


 ZEUS Fitness Center – (para assinalar serviços de
engomadoria)127.
4.7.2. As marcas contrarias a lei e a ordem pública ou que ofendam a moral os bons
costumes:

Exemplos:

 DRINK E DRIVE
As marcas que contenham símbolos de estado, emblemas de entidades públicas
ou estrangeiras, brasoes, medalhas, nomes ou retratos de pessoas, sinais com
elevado valor simbólico, nomeadamente símbolos religiosos, entre outros 128.

4.7.3. As marcas que constituam infração de direitos alheios ou que possam


favorecer a prática de actos de concorrência desleal.

Não podem ser registadas as marcas constituídas por sinais que representem
uma reprodução ou imitação de outros já existentes (salvo consentimento do
titular destes últimos)129.

Exemplos:

 INPI- Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

4.7.4. LIVRANÇA

A livrança é um título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma


pessoa se compromete, para com outra, a pagar- lhe determinada importância
em certa data. É um documento onde o consumidor ou empresa se compromete a
pagar o montante a pagar da dívida à entidade financeira. Normalmente, estes títulos
de crédito

127
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Tipos de marcas in:
www.marcasepatentes.pt, acesso em 26.02.2016
128
Nos termos das alíneas b) e d) do artigo 110 do Código da Propriedade Industrial
129
De acordo com as alíneas f) e g) do artigo 110 do Código da Propriedade Industrial
109
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

fazem parte integrante de um crédito, um banco só lhe concederá um empréstimo


depois de assinar a livrança. Assim, caso o devedor não pague as prestações os
bancos poderão usar estagarantia130.

As empresas recorrem a este tipo de financiamento no sentido de obterem


recursos financeiros de curto prazo, cobrir despesas de exploração e
necessidades de tesouraria.

Este financiamento é suportado por um título de crédito no qual, uma determinada


quantia num prazo estipulado. As diversas instituições bancárias disponibilizam este
tipo de empréstimo. O prazo de decisão varia entre 3 a 5 dias úteis, o prazo mínimo de
empréstimos é de 30 dias e em caso de pedido de reforma da livrança, este tem que
ser efectuado no prazo de 5 dias úteis antes do seu vencimento.

Os indexantes mais utilizados neste tipo de empréstimos são: a Euribor a um mês,


a Euribor a três meses. São utilizados indexantes de curto prazo, pois este tipo de
empréstimo caracteriza-se pelo seu carácter de curto prazo. A convenção
estabelecendoumaleiuniforme e matéria de livranças assinada a 7 de Julho de 1930, foi
aprovada em Genebra para adesão, pelo Decreto- Lei nº 23721, de 29 de Março de
1934.

As livranças são títulos executivos nos mesmos termos em que as letras o são
art.º46 e 51 do CPC, o primeiro na redacção do DL nº38/2003, de 8de Março,
diploma rectificado pela declaração nº 5c/2003 de 30 de Abril. A portaria nº
28/2000, de 27 de Janeiro, aprovou os modelos de letras e livranças.

A livrança é pois, um título comprovativo de dívida que tem a sua peculiaridade -


visto ser “ à ordem” de se transmitir por endosso. Em harmonia com artigo 778 do
Código Comercial moçambicano a livrança deve conter 7 elementos: a palavra “
livrança” escrita no texto do título; a promessa pura e simples de pagar uma
quantia

130
https://pt.m.wikspedia.org/...emprestimo...26.2.2016- 16:45

110
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

determinada; a época do pagamento; a indicação do lugar em que se deve efectuar o


pagamento; o nome da pessoa a quem, ou à ordem de quem, deve ser paga; a
indicação dataem que edo lugar onde a livrança é passada e a assinatura de quem
paga a livrança (subscritor).Estes representam requisitos indispensáveis da livrança.

4.7.5. EFEITOS DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS

O escritor em que faltar algum dos pressupostos indicados e elencados não


produzirá resultados como livrança, salvo as excepções seguintes131:

Quando se não se indique a época do pagamento, a livrança considera-se


pagável à vista; quando se não indicar o lugar do pagamento, considera-se como
tal o lugar onde o escrito foi passado, e este considerar -se-á também lugar do
domicílio do subscritor da livrança; quando se não indique o lugar onde a livrança foi
passada, considera-se como tal o lugar designado ao lado do nome do
subscritor.

O subscritor da livrança é responsável da mesma forma que o aceitante da letra.


Em geral, são aplicáveis às livranças, na parte em que não sejamcontrárias, à natureza
destetítulo asdisposições legais que regulam a matéria das letras132.

4.8. DISPOSIÇÃO APLICÁVEIS ÀSLIVRANÇAS

São aplicáveis às livranças, na parte em que não sejam contrárias à natureza deste
escrito, as disposições relativas às letras e respeitantes: endossos; vencimento;
pagamento; direito de acção por falta de pagamento; pagamento por intervenção;
cópias; alterações; prescrição; dias feriados, contagem de prazos e interdição de dias
de perdão.

131
CARDOSO, J. Pires, Compêndio de Noções de Direito comercial, pg. 309
132
No nosso caso, o capítulo em questão trata da matéria da Lei uniforme relativa
às Letras e Livranças que se encontra no Código Comercial de Moçambique,3ª
edição, pg. 184

111
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

São igualmente aplicáveis às livranças as disposições relativas às letras pagáveis no


domicílio de terceiros ou uma localidade diversa da do domicílio do sacado (ar.º.
707º e 741º), a estipulação de juros art.º (708º), as divergências nas indicações da
quantia a pagar (art.º 709º), as consequências da oposição de uma assinatura nas
condições indicadas no art.º 710º, as da assinatura de uma pessoa que age sem
poderes ou exercendo os seus poderes (art.º 711º) e a letra em branco (art.º
715º).

São também aplicáveis às livranças as disposições relativas ao aval (artº733º a 735º);


no caso previsto no nº4 do artigo 734º, se o aval não indicar a pessoa por quem é
dado, entender-se-á ser pelo subscrito da livrança.133

Sumário.

Na presente temática que acabamos de desenvolver, abordamos matérias


relacionadas com o título de crédito que é um documento necessário para exercitar
o direito literal autónomo. Como noção diremos que título de crédito é um
documento que incorpora um direito literal e autónomo, que legitima o seu titular a
exercer e serve de suporte à sua circulação e mobilização. Tem como função titular e
incorporar direitos de modo a permitir e facilitar a sua circulação e mobilização.134

Abordamos matérias relacionadas com o cheque que é Cheque é um título através do


qual uma pessoa ordena que uma instituição de crédito, onde depositou fundos ou
dispõe de crédito, pague a si ou a terceiro ou a ordem a si ou ordem a terceiro
determinada quantia135. Cheque é o título de crédito que enuncia um pagamento, tal
como a letra, mas é uma ordem de pagamento dirigida a uma instituição bancária
onde o emitente do título possui uma previsão. O cheque

133
Código Comercial de Moçambique, Pg. 201
134
DE VASCONCELOS, Pedro Pais, Direito Comercial: Títulos de crédito, pg.3
135
Cfr. art.782º do C. Com.

112
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

funciona como um meio de mobilização de fundos, quer em benefício do emitente,


quer em benefício de um terceiro136. Cheque é o título à ordem, sujeito a certas
formalidades, pelo qual uma pessoa, que tem qualquer importância disponível num
banqueiro, dispõe total ou parcialmente.

Abordamos ainda sobre a livrança que é um título à ordem, sujeito a certas


formalidades, pelo qual uma pessoa se compromete, para com outra, a pagar- lhe
determinada importância em certa data. É um documento onde o consumidor ou
empresa se compromete a pagar o montante a pagar da dívida à entidade
financeira. Normalmente, estes títulos de crédito fazem parte integrante de um
crédito, um banco só lhe concederá um empréstimo depois de assinar a livrança.
Assim, caso o devedor não pague as prestações os bancos poderão usar esta
garantia137.

Exercícios

1. O que são Títulos de crédito?


a) É um documento que incorpora um direito literal e autónomo, que
legitima o seu titular a exercer e serve de suporte à sua circulação e
mobilização.
b) É um documento que incorpora um direito literal e autónomo.
c) É um testamento que incorpora um direito literal e autónomo, que
legitima o seu titular a exercer e serve de suporte à sua circulação e
mobilização.
d) é um documento que não incorpora um direito literal e autónomo,
que legitima o seu titular a exercer e serve de suporte à sua circulação
e mobilização.

136
VALE, Sofia e MUALEIA Fernanda, Guia Prático de Direito Comercial, Escolar
Editora, Angola, 2003,pag.183
137
https://pt.m.wikspedia.org/...emprestimo...26.2.2016- 16:45

113
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

A resposta corrcta é: A

2. O que élivrança?
a) É um título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa se
compromete, para com outra, a pagar- lhe determinada importância em
certa data.
b) É um conjunto de escritas, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma
pessoa se compromete, para com outra, a pagar- lhe determinada
importância em certa data.
c) É um livro de pagamento, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma
pessoa se compromete, para com outra, a pagar- lhe determinada
importância em certa data.
d) É um cheque, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa se
compromete, para com outra, a pagar- lhe determinada importância
em certa data
A resposta correcta é: A

3. O que entende por credito?


3.1. O crédito é a troca de uma prestação presente por uma prestação
futura, ou seja o diferimento no tempo de uma contra prestação.
Verdadeira
Falso
A resposta éverdadeira

TEMA V - PRINCIPAIS CONCEITOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

Introdução

Nesta unidade temática iremos abordar matérias relacionadas com as sociedades


comerciais, a partir da própria noção, personalidade jurídica das sociedades
comerciais, capacidade, contratos de sociedade, forma de contrato de
sociedade, tipos de sociedades
comeciais existentes.
114
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Objectivos específicos
No fim desta unidade temática o estudante deverá ser capaz de:
 Conhecer o conceito da sociedade comercial,
 Saber o que é personalidade e capacidade jurídica de uma sociedade
comercial,
 Conhecer e saber diferenciar as sociedades comerciais existentes

UNIDADE TEMATICA 5.1. - PRINCIPAIS CONCEITOS DAS SOCIEDADES


COMERCIAIS

5. Sociedade Comercial

Sociedade Comercial – é aquela que tem por objecto a prática de actos de


comércio, constituem-se como tal e adoptam um dos tipos societários previstos no
artigo 82º do C.Com138 afastando por conseguinte aquelas sociedades cujo objecto
não é a prática de actos comerciais. Consiste na reunião de esforços entre duas ou
mais pessoas denominadas de sócios, que combinam a aplicação de seus recursos
‫״‬financeiros e know how‫ ״‬com finalidade de desempenhar certa actividade
económica, visando a divisão dos frutos e lucros por ela gerados.

O nosso ordenamento jurídico não nos fornece um conceito completo de sociedade


comercial. Este preceito apenas refere quais são os requisitos para que uma
sociedade se considere comercial ‫״‬objecto comercial etipo comercial‫״‬,mas não dizo
que éumasociedade.

138
. Nos termos do nº 2 do art.82º do C.Com -as sociedades que tenham por objecto
o exercício de uma empresa comercial só pode constituir-se segundo um dos tipos
societários previstos neste artigo, estamos aqui perante o princípio da tipicidade no
que se refere a possibilidade de escolha dos tipos societários. Equivale a dizer que,
não há sequer espaço para conjugação de características diferentes destes tipos
societários para a constituição de um outro tipo que não seja os previstos no nº 1 do
artigo 82º do Ccom.

115
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Tem-se que recorrer à lei civil, como direito subsidiário ‫״‬art.º 7º C.Com‫״‬. A
sociedade comercial é uma sociedade, obedecendo às características definidoras
do art.º 980º do CC acrescidas dos requisitos específicos do nº 2 do art.º 82º do
C.Com.

Em face do art.º 980º CC, deparam-se quatro elementos do conceito geral de


sociedade:

1º Elemento pessoal: alude a pluralidade de sócios. Nele compreendem-se,quer


oempresárioeoutrosinvestidoresdecapitais, quer os trabalhadores.

Qualquer destas entidades tem, de uma forma ou de outra, interesse no


desenvolvimento e êxito da empresa, seja para rentabilização dos capitais investidos,
seja para promoção pessoal, estabilidade e retribuição do trabalho.

Em princípio, e porque a lei o define como um contrato, o acto gerador da


sociedade deve ser celebrado por pelo menos duas partes, dois sujeitos de direito. É o
que expressamente refere a 1ª parte do nº 1 do art.º 91º do C.Com. Todavia esta norma,
in fine, abre uma brecha em tal princípio, ao admitir que a lei “permita que a
sociedade seja constituída por uma só pessoa”.

A regra da pluralidade vale tanto para a sociedade-contrato como para a sociedade-


instituição. E, do mesmo modo, deverá pôr-se a questão da admissibilidade de
excepções àquela regra, ou seja, de sociedade com um só sócio ‫״‬sociedades
unipessoais‫״‬, tanto no que toca ao momento da constituição da sociedade,
como no que toca à subsistência com um só sócio de uma sociedade já existente;

2º Elemento patrimonial: exigindo a obrigatoriedade dos sócios em contribuírem


com bens e serviços. O art.º 980º CC consagra um segundo elemento do conceito
de sociedade, consiste na chamada obrigação de entrada, através da qual os
sócios efectuam

116
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
contribuições que irão formar o património inicial da sociedade.

Esta norma limita-se a exigir, para que surja a sociedade, que os sócios se obriguem a
contribuir com bens ou serviços, mas não exige a efectivação dessas contribuições
logo no momento inicial, podendo ser deixada para mais tarde, ao menos em parte.

As contribuições dos sócios podem revestir, a natureza de bens ou serviços. Tas


contribuições ou entradas dos sócios desempenham três funções da máxima
importância para a sociedade: Formar no seu conjunto, o fundo comum ou
património com o qual a sociedade vai iniciar a sua actividade; Definir a proporção da
participação de cada sócio na sociedade, e Fixar o capital social139.

3º Elemento finalístico: que obriga o exercício em comum de uma certa actividade


económica que não seja de mera fruição. No que diz respeito às sociedades em geral,
a referência do art. 980º CC, ao exercício de uma actividade económica visa
abranger todas as actividades destinadas à produção de bens ou utilidades de
qualquer natureza, materiais ou imateriais, enquadráveis em qualquer dos sectores
da economia140.

No que respeita às sociedades comerciais, é evidente que as actividades


económicas a que se dediquem terão de ser aquelas que seenquadremnoâmbitodo
comércioemsentidojurídico-formal.

Por outro lado, o art.º 980º CC exige que a actividade económica seja certa, o que
significa, obviamente, que ela deverá ser definida, determinada de forma
concreta e específica, de modo a não se adquirirem indicações tão vagas do escopo
social que acabem por se traduzir numa incerteza da actividade ou actividades a
que a sociedade se destine.

139
. Miguel Pupo Correia. Sociedades comerciais: Disponível
em:<http://octalberto.no.sapo.pt>, acesso em: 17 de Mar. 2016.
140
. Idem.

117
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

4º Elemento teleológico: que regula a repartição dos lucros resultantes dessa


actividade. O fim último da reunião dos sócios, com os respectivos contributos
para o exercício da actividade comum, terá de consistir na obtenção de um
enriquecimento patrimonial, de um lucro, e não de outras vantagens ideais ou
mesmo materiais141.

A fórmula do art.º 980º CC parece incutir uma noção muito estrita de lucro: tratar-se-
ia de um aumento de património gerado na própria sociedade, para ser depois
repartido entre os sócios, seja periodicamente, seja no final da existência da
sociedade.

O elemento teleológico não consiste apenas no intuito de que a sociedade


reduza lucros: é necessário que ela vise também a repartição destes pelos sócios
(vide: art.º 980º CC). Aqui encontramos o direito abstracto aos lucros, que é inerente ao
conceito de sociedade e Direito concreto aos dividendos, isto é, à distribuição
periódica de lucros, o qual resulta da deliberação que os sócios tomem de os
distribuir142.

No campo comercial, há ainda a ter em conta outros dois elementos específicos do


conceito de sociedade comercial, nomeadamente:

5º Objecto comercial: que exige a prática de actos de comércio143. Assim, o


primeiro elemento conceitual específico das sociedades comerciais consiste no
objecto comercial. No que toca às sociedades comerciais, portanto, o elemento
finalístico, também designado, por fim imediato ou objectivo da sociedade, tem uma
conotação própria: ele deve ter carácter comercial.

O objecto da sociedade consiste nos actos ou actividades que, segundo a vontade


dos sócios, ela deverá praticar e prosseguir. Por conseguinte, é o carácter comercial
desses actos e actividades que

141
. Manuel Guilherme júnior: Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.I,
Escolar Editora, Maputo, 2013. P.110.
142
. Miguel Pupo Correia. Sociedades comerciais: Disponível
em:<http://octalberto.no.sapo.pt>, acesso em: 17 de Mar.
2016. 143 . Conferir a alínea a) do artigo 83º do Código
Comercial.

118
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

atribui às sociedades o carácter de comerciantes. Deverá tratar-se, pois, de actos de


comércio objectivos e de actividades qualificadas de comerciais por outras normas
qualificadoras, e

6º Tipo comercial: adopção de um dos tipos societários configurados e disciplinados


na lei comercial144.

Para que uma sociedade seja comercial é ainda necessário que revista forma comercial,
comporta dois sentidos, Primeiro, ela significa que a sociedade deverá revestir um dos
tipos caracterizados e regulados na lei comercial e num outro sentido, ela exprime a
obrigatoriedade de a sociedade respeitar, na sua constituição, os requisitos
formais estabelecidos na lei comercial.

A primeira das acepções reporta-se ao princípio da tipicidade ou numerus


clausus, que o legislador adoptou quanto às sociedades comerciais.

Ainda por motivos de ordem pública, o legislador admite um número muito restrito de
tipos sociais. Estes distinguem-se, através de três características: a
responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada. Trata-se de característica
fundamental, pois identifica a responsabilidade dos sócios para com a sociedade
no que toca à formação do património inicial desta; a responsabilidade dos sócios
pelas dívidas da sociedade é outro aspecto de suma importância, pois por ele se fica a
saber se os sócios são ou não responsáveis, perante os credores da sociedade pelas
dívidas desta, e as modalidades de composição e titulação das participações na
sociedade: trata-se de um aspecto que, embora secundário, reveste muitas vezes
importância assinalável, pois permite caracterizar a natureza e a forma de cada
parte do sócio na sociedade145.

144
. Conferir a alínea b) do artigo 83º do Código Comercial.
145
. Miguel Pupo Correia, Sociedades comerciais: Disponível
em:<http://octalberto.no.sapo.pt>, acesso em: 17 de Mar. 2016.

119
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

No entanto, há sociedades que não visam o lucro, mas adoptam um dos tipos
previstos no código comercial e, por isso, sujeitas a este mesmo regime. Se uma
sociedade adoptar um dos tipos previstos e permitidos para as sociedades comerciais,
aplica-se o código comercial independentemente de ser civil146 ou comercial.

Se visa a prática de actos comerciais, a sociedade é comercial, mas se pratica actos civis
a sociedade é civil, em qualquer dos casos, se adoptar a forma de sociedade em
nome colectivo, por quotas, em comandita ou de capital e indústria é
automaticamente objecto do Código Comercial. Resulta do artigo 82º do C.Com que
elas obedecem ao princípio da tipicidade, princípio este que em geral se aplica a todas as
pessoas colectivas.

Na verdade, da leitura feita do nº 1 do artigo 82º do C.Com, fica claro que não poderá
ser constituído outro tipo societário para além dos previstos nesse. Contudo, para
quenãosobremdúvidasrelativamente a questão, o legislador acrescenta no nº 2 do
mesmo artigo que ‫״‬as sociedades que tenham por objecto a prática ou exercício de
uma empresa comercial só podem constituir-se segundo um dos tipos societários
previstos neste artigo‫״‬.

A PERSONALIDADE JURÍDICA

As sociedades de todos os tipos gozam de personalidade jurídica a partir do registo


definitivo147. E gozam dessa personalidade jurídica tanto em relação a terceiros, como
em relação aos próprios sócios.

Assim, é a sociedade que adquire a qualidade de comerciante em consequência do


exercício da actividade social e não os sócios. Por isso, é a sociedade que está
sujeita às obrigações impostas aos comerciantes e não os seus sócios. Além disso, a
sociedade pode ter direitos contra os seus sócios.

146
. José de Oliveira Ascensão, sociedades comerciais, Vol. IV, Parte Geral, Lisboa,
2000, pag.45.
147
. Conferir o artigo 86º do Código Comercial.

120
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Com a constituição da sociedade, os bens com que os sócios entram para esta
revertem para o seu património e os credores pessoais dos sócios apenas poderão
penhorar as respectivas participações sociais a partir do momento em que as
sociedades adquirem personalidade jurídica.

CAPACIDADE DE JURÍDICA

A capacidade jurídica das sociedades comerciais como pessoas colectivas está


delimitada pelo seu objecto. Mas, aqui há que distinguir o objecto mediato, que é
a realização de lucros necessários, para todas as sociedades148 do objecto
imediato, a actividade comercial concreta que a sociedade se propõe exercer e
que deve constar dos estatutos.

Esta distinção é importante, porque o princípio da especialidade, que limita a


capacidade jurídica das pessoas colectivas aos actos necessários ou convenientes
à prossecução dos seus fins149, só tem aplicação nas sociedades comerciais, ao objecto
mediato, servindo o objecto imediato apenas para limitar os poderes de
representação dos administradores e, mesmo assim, só verificadas certas condições.

CONTRATO DE SOCIEDADE

Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se


‫״‬obrigam‫ ״‬a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa
actividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros
resultantes dessa actividade150.

148
. Ver o artigo 980º do Código Civil.
149
. Ver o artigo 160º do Código civil.
150
. Conferir o artigo 980º do CC.

121
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE SOCIEDADE

Embora nos pareça obvia a natureza do acto constitutivo da sociedade


comercial, imensas são as discussões que se levantam em torno dele, há sociedades
que resultam da fusão ou cisão151 das sociedades. Há também, as sociedades
unipessoais que resultam da insuficiência superveniente do elemento pessoal da
sociedade.
Há que dedicarmos aqui especificamente a olhar para o contrato de sociedade em
concreto para determinarmos a natureza jurídica do mesmo. Existem duas teorias
que se esbatem sobre a referida natureza jurídica nomeadamente: Teoria
Contratualista e Teoria Institucionalista.

A TEORIA CONTRATUALISTA

A Teoria Contratualista assenta na ideia de que a sociedade comercial é constituída por


meio de um contrato que é o contrato de sociedade. Considera-se a mais coerente,
no entanto, importa distinguir claramente de que tipo de contrato está a se falar.

Trata-se de um contrato plurilateral ou multilateral: o contrato de sociedade exige


a presença de pelo menos duas pessoas tal como é definido no art.º 980º do CC. É na
verdade, um contrato plurilateral dirigido a uma finalidade comum por isso,
nasce a segunda possibilidade da sua classificação.

É um contrato de fim comum ou de organização: Luís Brito Correia defende que


esta parece ser a melhor classificação do contrato de sociedade e foi elaborada pela
doutrina alemã e italiana e também escolhida pela doutrina portuguesa152. No
essencial, os contratos de fim comum se contrapõem aos contratos comutativos quais
sejam, de compra e venda ou troca153. Na compra e venda, os interesses das

151
. Conferir o artigo 107º e seguintes do Ccom.
152
. Manuel Guilherme júnior, Manual de Direito comercial moçambicano, p.110.
153
. Luís Brito Correia, Direito Comercial Sociedades Comerciais vol II, 3ª Tiragem
AAFDL, 1989, pag.121.

122
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

partes são satisfeitos de forma diferente. O comprador é satisfeito pela aquisição


da propriedade da coisa e o vendedor por perceber o preço da coisa vendida.

Nos contratos de fim comum, há um interesse comum a todos os contraentes.


Por um lado, na sociedade, todos tem interesse no benefício resultante da
actividade económica comum, embora, para além deste fim imediato, possa haver
contraposição de interesses, quanto ao fim último do negócio Por outro lado, no
contrato de sociedade, cada sócio tem a contrapartida da sua prestação na
participação dosresultados obtidospelaactividade emcomum.

TEORIA INSTITUCIONALISTA

É no fundo, uma crítica à teoria contratualista liberal. Diz-se que a vontade


contratual não determina livremente a condição jurídica da pessoa colectiva que
criou, pelo contrário, a pessoa colectiva em si. Como tudo ocorre na sociedade por
vontade dos sócios que são na verdade os últimos que decidem por ela ‫״‬embora
hajam administradores‫״‬, a sociedade há-de ser sempre uma instituição e não um
contrato. Isto é, o contrato de sociedade.

Não se pretende de nenhuma forma negar que a sociedade deriva de um contrato.


Pretende ˗ se sim, demonstrar que este contrato associa- se a uma instituição que a
priori fundamenta a existência do próprio contrato.

FORMA DO CONTRATO DE SOCIEDADE

123
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O contrato de sociedade está sujeito à disciplina geral dos contratos, com as


particularidades decorrentes da sua natureza de contrato de fim comum e
institucional154.

Esta sua natureza jurídica implica uma execução prolongada no tempo, uma
sequência de comportamentos das partes através dos quais se dá concretização ao
vínculo contratual.

A produção de efeitos jurídicos ‫״‬constituição, modificação ou extinção de relações


jurídicas‫ ״‬resulta principalmente no tocante à actuação humana juridicamente
relevante, de actos de vontade-máxime, declarações de vontades-dirigidas
precisamente à produção dos referidos efeitos155. Tal liberdade de celebração
de contratos
‫״‬liberdade contratual‫״‬, tanto representa a manifestação da vontade de contratar
como a possibilidade de introduzir alterações através de conjugação de vários
elementos para constituição do contrato. Todo este fenómeno, é manifestado por
via de vontade.

A extensão deste princípio alcança como se pode retirar do art.219º do CC, a


liberdade de forma como regra geral. Nos termos deste artigo, a validade da
declaração negocialnão depende deobservância de forma especial, salvo quando a Lei a
exigir. Retira-se, o princípio de liberdade de forma que, à luz do nº 1 do art.º 981º
do CC, com aprofundamento do nº1 do art.º 90º do C.Com, pode-nos conduzir a
certas consequências legais que a seguir retiramos:

Primeiro, que o contrato de sociedade como regra geral, não está sujeito a uma
forma especial;

Segundo, que a não observância de forma quando esta seja exigida pela natureza
dos bens que os sócios colocam na sociedade, não prejudica ‫״‬nulidade‫ ״‬de todo
contrato com vista ao exercício do

154
. Miguel Pupo Correia. Sociedades comerciais: Disponível
em:<http://octalberto.no.sapo.pt>, acesso em: 17 de Mar. 2016, 14:10h.
155
. Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 3ª Edição
actualizada, Coimbra Editora, Coimbra, 1999º. pag 89.
124
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

comércio, a menos que ele não possa se converter nos termos do art.293º do CC,
passando a ser o simples uso e fruição de bens cuja transferência determina a
forma especial, ou, se o contrato não reduzir-se nos termos do art.292º do CC, à
participações que não ponham em causa a forma especial inobservada.

Podemos concluir que não há, em geral a exigência de forma especial para a
celebração do contrato de sociedade, tal só ocorre quando condicionada pelas
participações dos sócios, ou seja, se houver participações em bens imóveis, exigir-
se-á a escritura pública e fora desta circunstância, basta um documento escrito,
assinado e reconhecido presencialmente por todos os sócios conforme dispõe o nº 1
do art.º 90º do C.Com.

Resulta do art.º 980º do Código Civil que no contrato de sociedade, os sócios só ficam
obrigados a entrar na sociedade com bens e serviços. Esta prestação dos sócios a que
se chama momento de obrigação de entrada ou cumprimento de obrigação de
entrada, está prevista no art.107º do C.Com, onde se refere que todo o sócio é
obrigado a entrar para a sociedade com bens susceptíveis de penhora ou nos tipos
societários em que tal seja permitido com prestação de serviços e por isso, designa-se
sócio de indústria. Com fundamentos neste artigo, podemos dizer que há três
tipos de bens com que os sócios podem contribuir, a saber: dinheiro; outros bens
susceptíveis de penhora para além de dinheiro e serviços.156

RECONHECIMENTO DA SOCIEDADE COM UM SÓ SÓCIO

Dos desenvolvimentos das teorias não societárias presentes em várias obras que versam
sobre esta matéria, deixam de existir quaisquer dúvidas teóricas ao
reconhecimento da sociedade unipessoal. O preconceito relativo à
unipessoalidade societária é de carácter meramente pragmático, embora haja
dificuldade de introdução do tipo organizativo societário em ambientes
fortemente
156
. Manuel Guilherme júnior, Manual de Direito comercial moçambicano, p. 106.

125
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

contratualísticos. Isso, porque o conceito de sociedade esteve historicamente


ligado à pluralidade de sujeitos.Entendia-se, na altura que a forma associativa apenas
se justificava como uma maneira de unificar a pluralidade de sócios a ela
subjacente, sendo a personalidade jurídica destinada exclusivamente a essa
finalidade157.

Todavia, ao longo do tempo, o conceito de sociedade evoluiu, passando da


teoria institucionalista germânica e da escola contratualista italiana à análise do
contrato associativo e a teoria do contrato-organização, que vê no contrato social a
função de criar uma organização, independentemente do número de pessoas
envolvidas. A teoria do contrato-organização deu espaço à discussão sobre a
unipessoalidade158.

DO CONTRATO PLURILATERAL AO CONTRATO-ORGANIZAÇÃO

Muito se negou na doutrina o carácter contratual da constituição da sociedade.


Enquanto alguns o negavam, vista, a dificuldade de aplicação, ao conceito de
sociedade, de muitos dos princípios da teoria geral dos contratos, afirmando
tratar-se da constituição da sociedade de um acto complexo159, outros defendiam a
suaessência.

Tullio Ascarelli, em sua clássica obra ‫״‬problemas das sociedades anónimas edireito
comparado‫״‬, dá novos ares à teoria contratualista, ao diferenciar os contratos de
sociedade dos contratos em geral. Afirma aquele autor que:

«Na realidade, pode dizer-se tradicional a sensação da diferença entre o contrato de


sociedade e os contratos que poderíamos dizer, genericamente, de permuta,
e, realmente, a doutrina sempre

157
. José Inácio Ferraz de Almeida Prado Filho. ʺNota sobre as sociedades fictícias, au de
favor ˮ In : Revista de Direito Mercantil Industrial, Económico e financeiro,
v134,2004.p.85.
158
. Paolo E. F. Ferdo - Luzzi. Icontratti associativi.Milano: Giuffré : 2001. 159 .
Tullio Ascarelli. Problemas das sociedades anónimas e direito comparado.
Campinas: Bookseller, 2001. P 373.

126
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

examinou alguns problemas “por exemplo, o da exeptio inadiplet contractus”


em relação aos quais algumas regras gerais dos contratos pareciam de difícil
aplicação ao contrato de sociedade».

O contrato de sociedade, levando em conta as suas características formais, pode


ser encaixado como subespécie da categoria dos contratos, a que denomina
contrato plurilateral160. Essa subespécie da categoria dos contratos é por permitir a
participação de duas ou mais partes e pelo fato de que todas as partes possuírem
direitos e obrigações recíprocos decorrentes do contrato. O contrato teria um cunho
instrumental quanto à disciplina das sucessivas relações jurídicas das partes161.

Assim, pode-se afirmar que, no momento da constituição da sociedade, as


partes têm interesses distintos e, muitas vezes, contrapostos 162. Uma vez
constituída, a sociedade visa a uma finalidade comum a todos os sócios.

Ascarelli discorre sobre uma série de distinções que podem ser feitas entre os
contratos plurilaterais e os contratos a que denomina de permuta, e termina por
concluir que o contrato plurilateral, em sua função económica, constitui um
contrato de organização.

Os instrumentos contratuais tradicionais não são aptos a regular o fenómeno


associativo163. Isso porque o conceito do contrato é decorrente de um
momento jurídico tipicamente individualista, enquanto o fenómeno associativo é
um conceito colectivo, devendo a sua análise ser feita de forma objectiva, retirada
de elementos subjectivos.

160
. O contrato da sociedade constituiria a subespécie mais importante dos
contratos plurilaterais, mas não a única.
161
. Tullio ascarelli. Problemas das sociedades anónimas e direito
comparado. Campinas: Bookseller, 2001. P 375.
162
. Como na avaliação das contribuições, ingerência na administração,
participação de cada parte.
163
.Paolo Ferro-Luzzi. I contratti associative. Milano: Giuffré, 2001. P.234.

127
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O fenómeno associativo manifesta-se juridicamente por meio do contrato


associativo, ou contrato-organização. Enquanto nos contratos tradicionais, o
ponto fundamental é a atribuição às partes de direitos subjectivos, a função dos
contratos associativos é de criar uma organização sobre o património, ligando-o ao
fim previamente estabelecido.

Os contratos tradicionais teriam como efeito jurídico a criação, modificaçãoe


extinção de relações jurídicas. Já, o contrato associativo giraria em torno da criação,
modificação e extinção de organizações, cujo conceito jurídico é o da coordenação
da influência recíproca entre actos, pressupondo a noção de actividade164.

A visão, pois, centra-se na coordenação de actos, não nos participantes. A criação


da organização não depende da coincidência de interesses de diversos sócios, porque
é possível que uma única pessoa tenha interesse em criar uma organização. Assim, a
teoria de contrato-organização abre espaço para o reconhecimento da
sociedade unipessoal como contrato associativo, e até mesmo da sociedade sem
sócio, inclusive nos sistemas contratualistas.

As sociedades corresponderiam, desse modo a estruturas organizativas que


servem de instrumento à obtenção de determinados fins. Por conseguinte,
desloca-se a ideia de pluralidade de partes para uma ideia de estrutura corporativa.
O contrato de sociedade é um contrato de organização, assim entendida como um
centro de imputação, estruturação do comando, desenho de
responsabilidades e deveres de administradores165.

A organização criada pelo contrato associativo é sujeito de direitos e obrigações, um


centro de imputação de direitos e deveres, devendo,

164
. Márcio Ferro Catapani. “os contratos sociativos”. In: FRANÇA, Erasmo
Valhadão Azevedo e Novaes (org.). Direito societário contemporâneo I. São Paulo:
Quartier Latin, 2009.p94.
165
. Rachel Sztahn. “Associações e sociedades”. In: revista de direito mercantil
industrial, económico e financeiro, vol.

128
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

pois, observadas as formalidades legais, ser-lhe atribuída personalidade jurídica.


E, uma vez criada a pessoa jurídica, quando se misturarem interesse social e interesse
individual, pode e deve ser aplicada a teoria da desconsideração da personalidade.

O contrato de sociedade tem como objectivo e finalidade a organização dos


factores de produção para o exercício da empresa. A ideia de organização desloca-se,
pois, de uma posição estrutural no contrato desociedade epassa aexercer um papel
funcional166

SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO

As sociedades em nome colectivo surgiram na Idade Média, de forma natural e


ampla,167 do âmago da família medieval. Compunham-se, no princípio, apenas
membros de uma mesma unidade familiar168. Quando perecia o chefe do núcleo
familiar, o património hereditário permanecia indiviso e sua administração ficava
a cargo dos descendentes, que prosseguiam, assim, na exploração do negócio
paterno169.
Com o passar do tempo, primeiro, e numa evolução lenta e contínua, surgiu a
responsabilidade colectiva do núcleo familiar por delitos, de modo que este era
obrigado, como um todo, a reparação originada, como por exemplo, do assassínio
cometido por um dos seus membros contra um membro de uma família da mesma
vila. A mesma responsabilidade alcançou, posteriormente, a injúria civil e, por fim, já
estava fortemente enraizado o princípio da responsabilidade

166
. Rachel Sztahn. Contrato de sociedade e formas societárias. São Paulo: Saraiva,
1989. P.37.
167
. Levin Goldschmidt. Storia universale del Diritto Commerciale. Torino: Unione
Tipografico-Editrice Torinese, 1913, p. 214.
168
. Antonio brunetti. Tratado del Derecho de Las Sociedades. Vol. I. Tradução do
italiano por Felipe de Solá Cañizares. Buenos Aires: Unión Tipográfica Editorial Hispano
Americana, 1960. v. 1, p. 523.
169
. Arnoldo Wald. Comentários ao Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

129
ISCE CURSO: Disciplina: Direito 13
D Direito; Comercial 0
colectiva, acrescida daquela relacionada às actividades económicas exercidas pelo
grupo familiar170.
A indústria medieval das cidades italianas durante a idade média é um bom exemplo do
tipo de organização económica da qual se originou o germe da sociedade em nome
colectivo171. Nesse caso, os negócios eram feitos em nome da colectividade e,
naturalmente, os seus membros eram pessoalmente responsáveis pelas dívidas do
grupo, caso esses não as honrassem. Dessa evolução surgiu um tipo societário
com origem no vínculo familiar e com fundamento na mais alta confiança entre os
seus membros172.

SOCIEDADES EM COMANDITA

Por seu turno, a sociedade em comandita simples teve um desenvolvimento


completamente diverso. É praticamente unânime que o contrato de comenda173,
bastante utilizado na Idade Média, tenha sido a semente que fez brotar esse tipo
societário.
Tal contrato, praticado especialmente nas cidades italianas, consistia na entrega de
dinheiro ou mercadorias174 por um dos contratantes
‫״‬commendador, posteriormente denominado comanditário‫״‬, a outra parte na
avença ‫״‬tractator175 ou commendatarius, posteriormente denominado
comanditado‫״‬, geralmente, proprietário de um navio
‫״‬armador‫״‬, a quem incumbia negociar os bens a ele confiados, seja vendendo aquilo
que lhe foi entregue pelo comendador, ou adquirindo e negociando bens por
dinheiro que lhe foi confiado. O negociante, tractator, suportava toda sorte de
riscos pelo insucesso do empreendimento, sejam advindos de prejuízos pela

170
. Com o passar do tempo, esse conceito de família foi adquirindo um
significado mais amplo, passando a colectividade a compreender outros membros
que não somente aqueles de mesmo sangue.
171
. Levin Goldschmidt. Storia universale del Diritto Commerciale, p. 214. 172 .
Umberto Navarrini; Gabriele Faggella. Das sociedades e das associações
comerciais. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1950. p. 401 e segs.
173
. Waldemar Ferreira. Tratado de Sociedades Mercantis. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1952. p. 92.
174
.Waldemar Ferreira. Op. cit.,p. 44.

130
ISCE CURSO: Disciplina: Direito 13
175 D Rehme. HistóriaDireito;
. Paul universal de DerechoComercial
Mercantil, p. 81. 0

130
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

negociação ou pelos temidos riscos de mar, naufrágio e piratas. Pelos débitos da


aventura, respondia o negociante com seus bens pessoais de forma ilimitada.
Mas, alguns factores contribuíram para que o contrato de comenda se desenvolvesse
paraaforma desociedade.Comefeito,gradualmente, um contrato essencialmente
marítimo, que se extinguia com o regresso da aventura comercial e pela partilha
dos resultados da mesma, a comenda, passou a ser empreendido no comércio
terrestre, não mais sendo explorada vez por vez, mas de forma reiterada176. Passou
a abranger várias operações e a reunir mais e mais pessoas, que ambicionavamobter
lucros, mas, ao mesmo tempo, eram inaptas para o exercício do comércio ou tinham
aversão à sua prática, pois, na época, essa não era uma actividade digna de
nobreza177.
Outro factor interessante, o qual igualmente levou à transformação do contrato de
comenda em sociedade em comandita, eram as limitações à usuras impostas pela
igreja. Dizia-se que a comenda era um contrato de mútuo disfarçado, pois o capital
investido na aventura não passava de um empréstimo ao negociante, que deveria ser
restituído ao capitalista com juros altíssimos178 no regresso da viagem. Como a Idade
Média era uma época em que a Igreja gozava de grande poder e influência na vida das
pessoas, tas não estavam inclinadas a sofrer as sanções da doutrina canónica.
Assim, a transformação do contrato de comenda em sociedade foi uma solução
natural para tal problemática179.

SOCIEDADE ANÓNIMA

Com a transição da Idade Média à Idade Moderna, surgiu um novo tipo de


negócio, o qual necessitava de uma espécie societária
176
. Levin Goldschmidt. Storia universale del Diritto Commerciale, p. 210.
177
. Anacleto de Oliveira Faria. Enciclopédia Saraiva do Direito (coord. de Rubens
Limonge França). São Paulo: Saraiva, 1977. p. 153 e segs.
178
. O retorno pelo capital investido sempre foi proporcional ao risco do negócio.
Dizem-se que, quanto maior o risco, maior a possibilidade de retorno em caso de
sucesso da operação.
179
. Francesco Galgano. Lex Mercatoria. Bologna: Il Mulino, 2001. p. 44.

131
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

diferente daquelas que então existiam. Fez-se necessário um veículo de exploração


adaptado à grandiosidade dos negócios que se aproximavam. Com efeito, a
responsabilidade ilimitada dos sócios nas sociedades em nome colectivo e a mista
nas sociedades em comandita, já não trazia o grau de segurança que esse novo tipo
de empreendimento cobrava e, consequentemente, o volume de capital ficaria
aquém do necessário.
Assim, o antigo dogma pelo qual o mau administrador deve ser punido e lhe cabe
responder com seus bens pessoais pelo fracasso da empresa, foi substituído por uma
teoria mais condicente com a nova realidade, no Século XVII, segundo a qual a
responsabilidade limitada, além de ser conditio sine qua non aos
empreendimentos não administrados pela totalidade dos sócios, era indispensável
para estimular certas actividades de risco180, das quais os investidores
naturalmente se sentiam desanimados a participar.
Mas não era essa apenas a única motivação para o surgimento de um novo tipo
societário. Nisto, era necessária uma sociedade que transcendesse à pessoa dos
sócios, que ficasse imune aos eventos que por ventura os atingissem, como a morte
ou a incapacidade. Era importante que novos sócios nela pudessem ingressar sem a
outrora inafastável anuência dos demais e esses, quando lhes aprouvessem, deveriam
ter a possibilidade de se retirar pela simples transferência de suas acções a outrem,
sendo, consequentemente, os títulos representativos de seu capital, passíveis de
livre circulação.
Além disso, deveria estar presente a possibilidade de uma gestão exercida por
pessoas estranhas ao capital social, ou seja, por profissionais altamente
qualificados na administração de empresas. E, por fim, já que a gestão da empresa não
caberia a todos os sócios, ou então, a nenhum deles, ou aos demais, seria muito
importante, senão essencial, a possibilidade de inspecção e controle da administração.

180
. Risco de mar, piratas e naufrágios, além dos inerentes ao próprio negócio.

132
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Dessa forma, surgiram, no século XVII, as primeiras sociedades anónimas


propriamente ditas181, as sociedades coloniais de navegação e comércio, dentre
as quais as célebres Companhias Holandesas das Índias Orientais e Ocidentais,
fundadas, respectivamente, em 1602 e 1621. Essas grandes empresas nasceram
estreitamente ligadas ao Estado de vasto império ultramarino, mas que não dispunha
de recursos financeiros suficientes para mantê-lo e desenvolvê-lo, entre eles
Holanda, Inglaterra, França, Espanha e Portugal182.
Para que as novas terras pudessem ser exploradas de maneira vantajosa, fez-se
necessária a comunhão de esforços, sobretudo de capitais, entre Estado e
particulares, estes ávidos por riquezas e dispostos a arriscar parcela de seu
património para a consecução de tal fim e, aquele, embora muitas vezes rico, e
sem condições de executar sozinho tão audaz empreendimento. Reside justamente
aí a motivação que levou à criação deste tipo societário.
Com esse escopo, o Estado outorgava às companhias personalidade jurídica,
reconhecia a autonomia entre o património da sociedade e de seus sócios, a
responsabilidade limitada ao capital nelas aportada, bem como permitia a livre
transmissão dos títulos representativos183 de seu capital184. São esses os genes que
apontam para as companhias coloniais de navegação e comércio como
antepassado mais similar da moderna sociedade anónima185.
O sucesso das companhias coloniais foi possível porque a sociedade anónima se
mostrou ser um mecanismo extremamente eficiente para o fomento dos grandes
empreendimentos, ou seja, para os quais se

181
. Alfredo Lamy Filho; José Luiz Bulhões Pedreira. A Lei das S/A. Rio de Janeiro:
Renovar, 1987, p. 28.
182
. Joaquim Garrigues. Problemas actuais das sociedades anónimas. Porto Alegre:
Sérgio António Fabris Editor, 1982. p. 21.
183
. Quotas, depois denominadas acções.
184
. Tullio Ascarelli. Panorama do Direito Comercial. São Paulo: Saraiva e Cia.,
1947. p. 146-147.
185
. Tullio Ascarelli. Corso di Diritto Commerciale: introduzione e teoria
dell’impresa. 3. Ed. Milano: Dott. A. Giuffrè Editore S.p.A, 1962. P.36.

133
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
necessitava vultosa quantidade de capital186. Neste contexto, a total limitação da
responsabilidade dos sócios ao capital investido na companhia lhes garantia
saber, de antemão, os prejuízos máximos que poderiam ‫״‬amargar‫ ״‬em caso de
insucesso da empresa.
Assim, muitas pessoas não vacilaram antes de investir consideráveis parcelas do seu
património nesses novos negócios, o que proporcionou a arrecadação de
enormes somas de capital para as grandiosas aventuras de além-mar.

SOCIEDADE LIMITADA

Foi só em 1892, na Alemanha, que se legislou pela primeira vez a criação de uma
sociedade empresarial sob medida para os pequenos e médios negócios187. Deveria
ser a democratização do outrora privilégio da limitação da responsabilidade dos
sócios. Esse novo tipo societário foi projectado para actuar como uma nova alavanca
rumo ao desenvolvimento económico, uma grande fonte de criação de riquezas.
Surgiu, assim, a Gesellschaft mit beschränkter Haftung – GmbH, a sociedade
limitada do direito germânico, tipo societário mais flexível e com um peso
administrativo menor do que o da anónima, mas que contemplava aquela que era a
sua característica mais importante, a limitação daresponsabilidade dossóciospelas
dívidassociais.

A SOCIEDADE NO DIREITO COMPARADO, EM PARTICULAR A UNIPESSOAL

A partir das várias obras discorridas entendeu-se que foi só em 1892, na Alemanha,
que se legislou pela primeira vez sobre a criação de uma sociedade empresarial sob
medida para os pequenos e médios

186
. Tullio Ascarelli. Panorama do Direito Comercial, p. 143-144.
187
. Alfredo Gonçalves Neto, Alfredo. Lições de Direito Societário. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2004. v. 1, p. 188.

134
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
negócios188. Esse novo tipo societário foi projectado para actuar como uma nova
alavanca rumo ao desenvolvimento económico, uma grande fonte de criação de
riquezas.

Deste modo, pretendemos apresentar de forma comparativa o tratamento que


é ‫״‬dado‫ ״‬à unipessoalidade, tomando em conta que este tipo societário foi
introduzido em vários ordenamentos jurídicos do universo. Assim, procuramos
entender qual era o seu tratamento em certos ordenamentos concretamente: o
da União europeia, França, Portugal e Espanha.

União Europeia

As sociedades limitadas com um único sócio foram reguladas no direito


comunitário europeu ainda na vigência da Comunidade Económica Europeia
‫״‬CEE‫״‬, em 1989, pela Décima segunda directiva do conselho ‫״‬89/667/CEE‫״‬.

Logo no preâmbulo da directiva é possível vislumbrar a necessidade de adopção da


sociedade com único sócio, especialmente no que diz respeito às pequenas e médias
empresas; mas também se verifica a preocupação do legislador em evitar as
precursões negativas que tal estrutura pode acarretar. Assim, a Directiva procurou
regular as relações internas e externas da sociedade unipessoal, primando pela
publicidade e garantia dos credores.

A Directiva é bastante sucinta, trazendo apenas aspectos fundamentais


relativamente às sociedades unipessoais, a saber:

188
. Alfredo Gonçalves Neto. Lições de Direito Societário. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2004. v. 1, p. 188.

135
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
 Possibilidade de constituição de sociedade com um só sócio
‫״‬unipessoalidade orgânica‫ ״‬ou reunião de todas as partes sociais em uma
única pessoa ‫״‬unipessoalidade superveniente‫״‬
 Possibilidade de adopção, pelos Estados-membros, de disposições
especiais ou sanções no que diz respeito a uma única pessoa natural ser
sócia de mais de uma sociedade unipessoal; ou b) Uma sociedade
unipessoal ou pessoa colectiva ser sócia única de uma sociedade;
 Necessidade de divulgação em caso de unipessoalidade superveniente
 Obrigatoriedade de adopção de forma escrita para as decisões tomadas pelo
sócio único e para contratos celebrados entre o sócio e asociedade;
 Possibilidade de o Estado-membro deixar de adoptar as sociedades
unipessoais caso sua legislação preveja a existência de empresas de
responsabilidade limitada com património afectado à actividade e desde
que, no que se refere a essas empresas, se prevejam garantias equivalentes
às impostas às sociedades unipessoais189.
A Directiva 89/667/CEE foi integralmente substituída pela Directiva 2009/102/02 do
parlamento e Conselho Europeus de 16 de Outubro de dois mil e nove. A nova
Directiva apenas consolida as alterações sofridas pela Directiva 89/667/CEE ao longo
dos anos, em especial no que diz respeito aos países membros e tipos societários de
cada um em que é possível a unipessoalidade.

As sociedades unipessoais na união Europeia foram adoptadas, dentre outros, pelos


seguintes Estados-membros: Irlanda, Grécia, França, Espanha, Itália, Luxemburgo,
Portugal e Reino Unido. Destes,

189
. Como foi o caso de Portugal que, inicialmente, deixou de adoptar as sociedades
unipessoais, preferindo a separação patrimonial, por meio de estabelecimentos
individuais de responsabilidade limitada ‫״‬EIRL‫״‬. Posteriormente, porem, aquele
país passou a acolher a unipessoalidade societária.

136
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

passamos a analisar com maior profundidade os ordenamentos jurídicos,


francês, português e espanhol.

No direito francês

A partir de 1970, teve na França um movimento no sentido de permitir a


limitação de responsabilidade do comerciante individual. Diversos projectos de Lei se
sucederam neste sentido, alguns visando à adopção da sociedade unipessoal ‫״‬ora
como tipo societário sui generis, ora dentro do regime das sociedades limitadas‫״‬,
outros a técnica de afectação de património de afectação190.

A legislação francesa foi fortemente influenciada pela concepção contratualista


clássica. Assim, de maneira geral, o património de afectação tinha a preferência
dos autores, por uma razão essencialmente dogmática: a sociedade, como grupo de
pessoas por essência, não poderia ser unipessoal.

Quando da discussão do repport elaborado pelo professor Claude champaud


‫״‬1978‫ ״‬para estudo da introdução da limitação de responsabilidade do
empresário individual, o legislador local sustentava a superioridade da fórmula
não societária, com o argumento de que era necessário evitar as ficções.

O projecto propunha a criação de trois masses actives et passeves du patrimoine


de I,enteprise : uma destinada a empresa ‫״‬património de afectação‫״‬, que não
poderia servir como garantia aos credores pessoais do sócio; a segunda não
afectado a empresa, mas que poderia ser utilizada para as necessidades da empresa
por iniciativa de credores insatisfeitos ou do próprio empresário ‫״‬património
disponível‫ ;״‬e a terceira exclusiva do empresário, para sua sobrevivência.

190
. Calisto Salomão Filho. A sociedade unipessoal, São Paulo: malheiros, 1995. P. 33.

137
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Da mesma forma, o projecto previa a organização de um sistema de mutualização de


riscos, pelo qual seria obrigatório a adesão a uma caixa de garantia comum aos
empresários, para a qual todos deveria contribuir.

Observam-se claramente os objectivos económicos do projecto, ao instituir um


património flexível para evitar eventuais abalos creditícios e eliminar privilégio
aos credores com maior poder de barganha, que poderia exigir garantias pessoais.
Todaviaasquotasda tal caísse de garantie seriam transferíveis, ano sendo, pois,
uma garantia efectiva, vez que poderiam ser exigidas pelos credores mais fortes.

A título de exemplo, temos o projecto de Champaud que entendia ser desnecessária a


atribuição de personalidade jurídica à empresa individual, uma vez que
entendia que a personalização teria por objectivo permitir a expressão de
interesses comuns ligados à existência de um património colectivo. Isso acabaria
por dificultar a transferência da empresa, já que, em regra, salvo previsão expressa no
estatuto,aempresaserialiquidadacomamortedeseutitular.

Da mesma forma, a cessão intervivos dar-se-ia apenas co-relação à totalidade da


empresa, e ainda assim considerada uma cessão de débito, atribuindo-se direito
de oposição aos credores. Isso tudo reduz a liquidez da empresa, além de criar
um sistema exageradamente complicado de separação patrimonial.

No caso da sociedade unipessoal, o sócio único, denominado associe unique, exerce


os poderes atribuídos à assembleia de sócios. Assim, cabe à ele as deliberações
ordinárias ‫״‬nomeação e destituição de administradores, aprovação de acordos com
a sociedade, aprovação das contas e destinação dos resultados, entre outras‫״‬, as
decisões extraordinárias de alteração de status ‫״‬como aumento ou redução de
capital, incorporação, fusão ou cisão da sociedade, etc.‫״‬. E as

138
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
resoluções que necessitem de unanimidade na SARL ‫״‬como alteração da
nacionalidade‫״‬191.

O sócio unipessoal não pode delegar seus poderes e todas as decisões tomadas no
exercício dos poderes típicos da assembleia, devem ser registadas por escrito, sob
pena de anulação a requerimento de qualquer interessado.

A sociedade unipessoal não pode ser sócia única de uma sociedade limitada, sob
pena de dissolução da sociedade a pedido de qualquer interessado. Todavia, a partir
da promulgação do code de commerce, em 2000, não há mais limitação para que a
pessoa física participe em mais de uma sociedade limitada.

A Enterprase unipersonnelle à Responsabilité limitée pode, a qualquer tempo,


tornar-se uma SARL pluripessoal ou mesmo se transformar emoutrotiposocietário,
desdequeobservadosrequisitoslegais.

No Direito português

Em 1986 o legislador português previu a necessidade de limitar a responsabilidade


do empresário em nome individual pelas dívidas contraídas no exercício da sua
empresa. Todavia, foi rechaçada, de início, a possibilidade de adopção da limitação
pela via societária
‫״‬sociedade unipessoal‫״‬. Para o legislador ressaltar, tratar-se da forma prevalecente
nos países europeus e de aceitação generalizada na doutrina e na prática.
Preferiu-se, em Portugal, inicialmente, a criação de um novo instituto jurídico, o
Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada “EIRL”, apesar da
inovação que representa e das acrescidas dificuldades de regulamentação que
determina.

191
. Jean-Jacques Daigre. ‫״‬la société unipersonnele‫״‬, in: Revue internationale de
droitcampare, v.42.nº2. société de Legislation Comparée: Paris, 1990. P.674

139
ISCE CURSO: Disciplina: Direito 14
D Direito; Comercial 0
Ao analisar a disciplina legal do EIRL deveria assentar-se na construção da pessoa
jurídica ou na ideia de património de afectação especial; o legislador português
voltou-se ao pragmatismo, não reconhecendo ao ponto a importância
fundamental, uma vez que ambas as vias apontadas conduziam a resultados
satisfatórios.

Considerando-se que a atribuição de personalidade jurídica ao EIRL pareceu ao


legislador ‫״‬um processo mais complicado e, simultaneamente, mais artificial‫״‬192,
e sendo o objectivo principal do instituto criar ‫״‬um expediente técnico legal que
permita ao comerciante em nome individual destacar do seu património geral uma
parte dos seus bens, para destinar à actividade mercantil‫״‬, viu-se por bem conceber o
EIRL com património separado, evitando aficção.

Uma das grandes preocupações que nortearam o legislador aquando da


regulamentação jurídica do EIRL foi a garantia dos interesses de terceiros que
pretendam estabelecer relações com a empresa. Neste sentido, o Decreto-lei
n˚248/86 prevê a existência de normas que assegurem a efectiva realização do
capital do estabelecimento e a fixação de um capital inicial mínimo, além de
previsões quanto a adequada publicidade dos actos concernentes ao
estabelecimento.

Da mesma maneira, deve-se garantir a autonomia patrimonial dos bens destinados


à empresa, respondendo tais bens exclusivamente pelas dívidas contraídas na
exploração do EIRL e sem que os bens pessoais do empresário sejam afectados por
dívidas decorrentes do exercício da actividade empresarial.

Em 1996, o legislador português reconheceu que a criação dos estabelecimentos


individuais de responsabilidade limitada não atingiu os resultados esperados, que
eram, facilitar o aparecimento e, sobretudo, o desenvolvimento de pequenas
empresas. Convencido da

192
. Introduzidos pelo Decreto-Lei nº 257/96. De 31 de Dezembro, Disponível em:
www.homepagejuridica.net, acesso em 15 de Abril 2016, 10:12h

140
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

superioridade das sociedades unipessoais por quotas, do código das Sociedades


Comerciais ‫״‬decreto-lei n˚ 262/86‫״‬.

No final de 1996, foi publicado o Decreto-Lei n.º 257/96, de 31 de Dezembro, que


introduziu no ordenamento jurídico português uma nova forma societária, a
sociedade por quotas unipessoais ‫״‬SQU‫״‬193, e de responsabilidade limitada ao
património afecto à actividade empresarial.

No entanto, durante dezenas de anos, a sociedade composta por um único sócio foi,
no direito português, algo de inconcebível, sendo ainda vista como um instituto
deveras estranho, contraditório nos seus próprios termos, na medida em que a
sociedade se deveria referir necessariamente a uma pluralidade de pessoas que
nela se associam194.

Mesmo no actual estado legislativo e doutrinal, em matéria comercial, parece


entender-se que a concentração das partes sociais nas mãos de único associado
constitui uma excepção ao princípio da contratualidade.

A legislação deixa claro o equívoco em não ter sido adoptada limitação de


responsabilidade pela forma societária na justificativa do Decreto-lei n˚ 257/96. A
título de exemplo temos:

‫״‬A consideração das sociedades de responsabilidade limitada como a forma por


excelência escolhida pelas pequenas e medeias empresa. Na verdade, esta
sociedade pode facilitar o aparecimento e, sobretudo, o são desenvolvimento de
pequenas empresas, que como é reconhecido, constituem, principalmente em
épocas de crise, um factor não só de estabilidade e de criação de empresa mas
também de revitalização da iniciativa privada e da actividade económica em

193
. Ricardo Costa, A Sociedade por Quotas Unipessoal no Direito Português,
Livraria
Almedina, Coimbra, 2002, página 327.
194
. Ricardo Costa, ob. cit., p. 26, n. (1).

141
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

geral. Permitem, efectivamente que os empreendedores se dediquem, sem


recurso a sociedade fictícia indesejáveis a actividade comercial, beneficiando do
regime da responsabilidade limitada,

É certo que a instituição das sociedades unipessoais por quotas levantou


inicialmente delicados problemas doutrinais. Não faltou quem considerasse um
‫״‬absurdo‫ ״‬a existência legal de sociedades unipessoais.Essadificuldade recebeuuma
resposta teórica, em que a sociedade unipessoal constituiria a excepção a regra das
sociedades pluripessoais. Mas importa sobretudo facultar as pessoas uma forma de
limitação da sua responsabilidade que não passe pela constituição de sociedades
fictícias, com ‫״‬sócios de favor‫״‬, dando azo a situações pouco claras no tecido
empresarial.

Foi esta realidade que justificou a directiva nº 89 / 667 / CE, bem como as
alterações legislativas ocorridas, designadamente em Espanha com a lei 2/1995,
de 23 de Março, em França com a lei nº 85
/ 697 de 11 de Julho de 1987.

Para a cabal prossecução dos objectivos enunciados, foram consagrados alguns


princípios de segurança, tanto do sócio como de terceiros. Foram também tidas em
conta as injunções da referida directiva e a necessidade de prosseguir na via da
harmonização das legislações das dos Estados membros da União Europeia195‫״‬.

De acordo com o código das sociedades no direito luso a sociedade unipessoal pode
ser formada por sócio pessoa física ou pessoa jurídica, sendo a unipessoalidade
originária ou superveniente
‫״‬concentração na totalidade de um único sócio das quotas de uma sociedade por
quotas‫״‬. A transformação de sociedade colectiva em sociedade singular dá-se por
mera declaração do sócio remanescente, que pode constar do próprio instrumento de
cessão de quotas.

195
. Conferir o Decreto-lei n˚ 257/96.

142
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
No Direito Espanhol

A norma espanhola admite a existência de sociedades unipessoais originárias e


supervenientes. A sociedade unipessoal é considerada originária quando
‫״‬constituída por um único sócio‫״‬, sendo esta tanto pessoa física como jurídica. Já a
unipessoalidade superveniente decorre da sociedade que foi ‫״‬constituída de
maneira plurilateral e acaba concentrando todas as suas participações nos maus de
um único proprietário‫״‬.

Para resguardar direitos de terceiros, no caso de conversão de sociedade


pluripessoal é necessário observar a regra do artigo 129º da Lei nº 2/1995, que
determina a necessidade de registo da situação de unipessoalidade no registo
Mercantil, mediante escritura pública 196.

Apesar da sua natureza distinta, a constituição da sociedade unipessoal deve


observar a regra geral, ou seja, constar da escritura pública inscrita no registo
mercantil. Portanto, devem ser observados os mesmos critérios para aconstituição das
sociedades pluripessoais, no que diz respeito à capacidade das partes e objecto da
empresa.

A sociedade unipessoal se submete a um regime de publicidade dos actos mais


amplos do que aquele que rege as demais sociedades. Qualquer alteração relativa
ao corpo social deve ser efectuada por meio de escritura pública, arquivada no
Registo Mercantil e a identidade do sócio único sempre deve ser revelada.

Pretendeu, pois, o legislador dar ampla publicidade destes documentos


àqueles que venham a contratar com a sociedade. Contudo, a obrigatoriedade de
revelar as condições do contrato pode beneficiar eventuais concorrentes da
sociedade, que terão acesso ao seu conteúdo.

196
. Francisco Vicent Chulia. Intruducción al derecho mercantil. Valência: Tirant lo
blanc, 1999. P.420.

143
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Comparando estes três ordenamentos jurídicos, entendemos que o legislador


moçambicano não teve pensamento diferente do legislador português, única diferença
reside na distinção se quando falamos das sociedades por quotas unipessoais estamos
ou não perante um tipo societário. Enquanto o legislador português considera uma
espécie das sociedades por quotas, o legislador moçambicano, no nosso
entender, consagra as SQUs, como um tipo societário.

A NATUREZA JURÍDICA DAS SOCIEDADES POR QUOTAS UNIPESSOAIS NO


ORDEAMENTO JURÚDICO MOÇAMBICANO

No ordenamento jurídico moçambicano, a unipessoalidade é representada pela


consagração no Código Comercial, a existência de sociedades por quotas
unipessoais, onde de acordo com o nº1 do artigo 328º do código comercial está dito,
quaisquer pessoa singular pode constituir uma sociedade por quotas de cujo
‫״‬capital, que constitui uma quota única, seja inicialmente um único titular, que se
rege pelas disposições deste capítulo e, com as necessárias adaptações, pelas
disposições aplicáveis às sociedades por quotas‫״‬197. O problema principal do nosso
trabalho é percebermos qual é a verdadeira natureza jurídica do contrato de
sociedade por quotas unipessoais atendendo e considerando o artigo 980º do
CC. Em função deste problema, procuramos analisar o regime jurídico-legal das
sociedades por quotas unipessoais, discutindo em primeira instância, se era
procedente a consideração das sociedades por quotas unipessoais como
sociedades já que estas possuem um único sócio, contradizendo assim com o
preconizado no artigo acima citado e ainda a 1ª parte do nº 1 do artigo 91º do C.Com.

Desta feita, procedemos a análise de duais teorias: a contratualista e a


institucionalista:

197
. Conferir o nº1 do artigo 328º do C.Com.

144
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

A primeira assenta na ideia de que a sociedade comercial é constituída por meio


de um contrato que é o contrato de sociedade. Está claro de que trata-se de um
contrato plurilateral ou multilateral, quer dizer, exige a presença de pelo menos duas
pessoas tal como é definido no art.º 980º do CC. Também, é na verdade, um
contrato plurilateral dirigido a uma finalidade comum.

A segunda defende que a vontade contratual não determina livremente a


condição jurídica da pessoa colectiva que criou, pelo contrário, a pessoa colectiva
em si. Como tudo ocorre na sociedade por vontade dos sócios que são na verdade os
últimos que decidem por ela, embora existam administradores, a sociedade há-
de ser sempre uma instituição e não um contrato. Isto é, o contrato em si nada
reflecte senão aquela pessoa colectiva que define e caracteriza todo o esquema que
esteve por detrás do próprio contrato de sociedade.

Os defensores desta teoria são unânimes ao afirmarem que não se pretende de


nenhuma forma negar que a sociedade deriva de um contrato. Pretende-se sim,
demonstrar que este contrato associa-se a uma instituição que de princípio
fundamenta a existência do próprio contrato.

Da análise das duas teorias, resultou na nossa aderência à teoria contratualista,


considerando, desta feita, como procedente a consagração das sociedades por
quotas unipessoais como tal, porque, esta é a realidade seguida por vários
ordenamentos jurídicos, discorridos no presente trabalho que optaram na
aplicabilidade desta teoria, considerando desta feita, a sociedade não só como fruto
da celebração do contrato mas também da existência da instituição.

Também, entendemos que embora não apareça claramente na lei manifestada essa
posição, somos de opinião que a classificaçãodo contrato de sociedade como um
contrato de fim comum apresenta

145
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
ser a que melhor acomoda este debate. A sua classificação como tal, tem grande
relevância na determinação e na natureza do regime aplicável as sociedades
comerciais na medida em que:

1º A Inobservância da forma não implica imediatamente a nulidade ou anulação do


contrato de sociedade, a menos que este não possa converter-se nos termos do
art.293º do CC, ou não poder reduzir-se as prestações válidas de acordo com o
regime consagrado no art. 292º por força do nº do art. 981º do CC. Dá-se aqui
claramente, a priorização da manutenção da instituição criada em prejuízo de meras
formalidades do próprio contrato com vista a assegurar a continuidade do fim
comum consagrado pelos sócios no momento da constituição da sociedade.

2º O incumprimento do contrato por um ou alguns sócios não dá lugar a rescisão


do contrato por parte dos demais sócios diferentemente do que acontece
nos demais contratos com fundamento na “exceptio non adimpleti
contratus”.

Por estas razões, entendemos que a prevalência do fim comum acompanha


sempreavidaeosinteresses dasociedaderesultando daí a nossa posição de que ele
é um contrato de fim comum ou de organização.

Portanto, somos de concordar com autores que defendem que a sociedade


unipessoal, por basear-se na figura da pessoa jurídica de base associativa, acaba
por se defrontar com o princípio de contratualismo que exige a pluralidade de
pessoas para a constituição da sociedade. Mas com base na discussão acima
apresentada e tomando em conta a noção do art.º 980º do CC que anteriormente
apresentamos e nas finalidades que a justificam, pode-se concluir que a nosso
entender, ela corresponde a uma estrutura de colaboração, de contribuições e de
esforços para uma finalidade comum.

146
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
A posição que aderimos fica mais sólida quando subsidiámos a ideia que refere à
personalização das sociedades, que recebeu contribuições de carácter institucional
dos agrupamentos medievais e das companhias de comércio dos séculos XVII e XVIII.
No entender destes, ‫״‬sociedade deixa de ser essencialmente contratual e passa a ser
também vista como instituição, quando a limitação da responsabilidadesurgee
seatrelaàautonomiapatrimonial‫״‬198.

Não esqueçamos que o problema a que propomo-nos a analisar é de percebermos a


verdadeira natureza jurídica do contrato de sociedade por quotas unipessoais
atendendo e considerando o artigo 980º do CC.

Tomando em consideração o ilustrado no art.980º do CC, entendemos que o


contrato de sociedades por quotas unipessoais, reveste-se de natureza distinta,
da natureza concebida para constituição de sociedades comerciais em geral, pelo
factodaretirada de um dos elementos concebidos para o contrato da sociedade,
constantes do artigo citado no parágrafo antecedente.

Trata-se do elemento pessoal que deixa a ideia de pluralidade de pessoas quando


dispõe que o «contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se
obrigam…». Esta descrição da lei encontra fundamentação no artigo 91º do
C.Com.

Na verdade, ao estabelecer no nº 1, o número de sócios em dois, por um lado o


legislador reconheceu que o contrato de sociedade pressupõe um mínimo de
declarações negociais para sua efectividade. Por outro lado, a própria palavra
sociedade em termos gerais pressupõe a existência de mais do que uma pessoa.

198
. L. A. S. Hentz, Notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica: a
experiencia portuguesa. Revista de Direito Mercantil: Industrial, Económico e
Financeiro, São Paulo: Malheiros, n. 101, Jan. /Mar. 1996. Cordeiro, op. cit., p. 477-
478.

147
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

Contudo, deparamo-nos com situações que resultam da própria lei em que o


elemento pessoal pode ser reduzido. Esta redutibilidade do elemento pessoal
ocorre por exemplo na sociedade por quotas unipessoal prevista no art.º 328º e
seguintes do C.Com. Entendemos que sempre estará presente o elemento pessoal
mesmo neste caso em que ele se reduz apenas a uma pessoa.

A questão que pode-se colocar é a seguinte: Estamos ainda neste caso perante uma
sociedade? Que tipo de sociedade é esta? Por outras palavras, esta sociedade
existe independentemente de todas as demais e particularmente, independente da
sociedade por quotas?

Se atentarmos a estrutura do Ccom moçambicano, especialmente no seu livro II, titulo


II, constataremos que a sua divisão em capítulos compreende seis capítulos dos
quais, o capitulo V é exclusivamente reservado a esta sociedade. Do ponto de vista
estrutural, dúvidas não nos restam que foi intenção do legislador considerar um
tipo societárioigualeindependentedequalqueroutroprevistonalei.

Conhecida a natureza do contrato das sociedades por quotas unipessoais,


passemos a análise do regime jurídico-legal pelo qual se regem. Por conseguinte,
realizamos o estudo sobre o versado nos artigos 328º e ss do Ccom, no sentido de
percebermos até que ponto está acautelado o regime deste tipo societário.

De facto, vários ordenamentos jurídicos discorridos no presente trabalho,


reconhecem a existência de sociedades com único sócio. Por exemplo no
ordenamento jurídico português, deixa claro que a sociedade por quotas
unipessoal é simples espécie das sociedades por quotas, tendo enquadrado no
capítulo X do título III do código das sociedades comerciais. Desta forma torna-se
compreensível a aplicação do regime jurídico dassociedades porquotas àssociedades
por quotas unipessoais.

148
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
No caso concreto do ordenamento jurídico moçambicano, onde o legislador, do
nosso ponto de vista, proclama as sociedades por quotas unipessoais como um
tipo societário, estas, regem-se maioritariamente pelo regime concebido para
as sociedades por quotas. Na nossa concepção, torna-se inconcebível que este
dependa do regime de outro tipo societário porque, isso, retiraria a igualdade e
independência que o legislador atribui a este tipo societário ao enquadrar no
Capítulo V do Título II do Livro II do Ccom. Da mesma maneira, significaria que este
tipo societário desapareceria com a extinção do tipo societário de que depende.

Prosseguindo com nosso ponto de vista, em relação ao pensamento do legislador


moçambicano, segundo qual as sociedades por quotas unipessoais compreendem
um tipo societário, entendemos que urge a necessidade de inserirão deste tipo
societário no nº 1 do artigo 82º do C.Com como um dos tipos societários.

Há que se dizer que, de facto, esta constitui no nosso entender, uma preocupação de
extrema importância porque uma vez inseridas no referido artigo, poderia dissipar
as dúvidas que pairam a volta da tipicidade das sociedades por quotas
unipessoais e evitaria a contrariedade patente entre o nº 1 do artigo citado no
parágrafo antecedente e Capítulo V do Título II do Livro II do Ccom
moçambicano199.

Entendemos assim porque, por um lado, embora na estrutura do código comercial


na parte relativa as sociedades comerciais seja feito em capítulos integrando este
ʺtipoʺ societário no capítulo V, sugerindo a sua autonomia, o artigo 82º do C.Com
que consagra os tipos societários e o princípio da tipicidade destas, não faz referência
a esta sociedade. Limita-se a indicar a sociedade por quotas na lista o que sugere desde
logo que a sociedade por quotas unipessoal não

199
. Conferir o nº 1do artigo 82º e Capítulo V do Título II do Livro II todos do
C.Com.

149
ISCE CURSO: Disciplina: Direito 15
D Direito; Comercial 0
goza deste estatuto. Por outro lado, a remessa que a parte final do nº 1 do artigo 328º
faz ao regime das sociedades por quotas, pode ser também, pressuposto da
contrariedade que temos vindo a evocar.

Associado ao objectivo anterior que era de analisar o regime jurídico- legal das
sociedades por quotas unipessoais e explicada a razão do seu enquadramento no
nº 1 do artigo 82º do C.Com como um dos tipos societários, cumpre-nos discutir a
conveniência da separação das sociedades por quotas unipessoais das sociedades
por quotas. Criando-se um regime próprio que possa reger tais sociedades, com
objectivo de promover maior aderência dos empresários individuais a este tipo
societário.

Na verdade, a unipessoalidade societária corresponde em termos de consagração


legal no nosso código uma novidade, que veio colmatar a dificuldade que existia e que
era imposta pelo regime do artigo 980º do CC que exigia a presença de mais do que
uma pessoa para efeitos de constituição de uma sociedade.

Tal imposição legal criava situações de sociedades fictícias em que a presença de


outra pessoa na sociedade tinha em vista apenas a exigência legal mas, que na
verdade, e muitas vezes esses sócios do ponto de vista factual não sabiam e nem
tinham interesse de nada do que se passava na sociedade em que eram partes.

Tomando em conta o objectivo acima referido, torna-se necessário entender a


dificuldade que possa existir em criar um regime autónomo para esse tipo de
Sociedade. Quanto a nós, um regime autónomo para reger as sociedades por quotas
unipessoais seria uma solução eficaz em relação a dificuldade que reside na sua
distinção, se éotiposocietárioousimplesespéciedassociedades porquotas.

A aplicabilidade do regime jurídico das sociedades por quotas às sociedadespor


quotasunipessoal,remete-nosaopensamentodeque
estas não constituem um tipo

150
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
societário mas sim uma espécie de sociedades por quotas como são as sociedades
constituídas entre cônjuges200.

É nosso entender que a comparação de vários ordenamentos que consagraram


este tipo societário dever-se-ia, com base nas disposições já existentes no código
comercial, criar-se um regime autónomo para reger as sociedades por quotas
unipessoais, complementando deste modo as existentes nos artigos 328º, 329º e
330º do C.Com, já que se sabe que as sociedades por quotas unipessoais
possuem uma designação e firma201 próprias.

Na nossa concepção, entendemos que desta forma tornaria este tipo societário mais
compreensível e facilitaria aos interessados em desenvolver as pequenas e médias
empresas, fórmulas eficazes para sua prossecução. Estamos a falar, por exemplo, da
subcapitalização que seria bastante benéfica à instituição, à similaridade de diversos
outros países, de valores mínimos de capital para constituição de sociedades.

Com a introdução do regime autónomo para reger as sociedades por quotas


unipessoal, entendemos que várias situações como a que nos referimos no
parágrafo anterior e tantas outras, serão de fácil interpretação como acontece
com as já previstas, que passamos a discorrer:

“O regime das deliberações que vigora nas sociedades por quotas pluripessoais, há-
de corresponder ao das decisões nassociedades por quotas unipessoais. Para o efeito,
as decisões sobre matérias que por lei são da competência deliberativa dos sócios nas
sociedades por quotas serão aqui tomadas sobre a forma de decisão pelo sócio único e
lançadas num livro destinado a esse fim, com assinatura do mesmo.

200
. Conferir o artigo 284º do C.Com.
201
. Conferir o artigo 33º do Ccom.

151
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

O sócio único ou interposta pessoa pode directamente celebrar contrato com


sociedade mediante prévio relatório elaborado por um auditor de contas que não
tenha qualquer relação com a sociedade.

No relatório, deve constar claramente a tutela dos interesses da sociedade e


respeitar as condições e preços normais do mercado, sob pena de não haver, lugar à sua
celebração. Procedendo deste modo, assegura-se que o sócio não coloque em risco o
interesse social com prejuízos para terceiros e igualmente, permite a separação
do interesse pessoal e interesse social, etc.‫״‬

Ainda no âmbito de apresentação dos resultados, o nosso estudo procurou


analisar as vantagens que podem advir das sociedades por quotas unipessoais.
Portanto, tornou-se pertinente recordar o preceituado no art.980º do CC que
nos diz que “ o contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se
obrigam a contribuir com bens e serviços, para o exercício de certa actividade
económica que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros
resultantes dessa actividade.

Por conseguinte, como já vimos quando estávamos na fundamentação teórica,


que deparamo-nos, com a definição legal de sociedade acima indicada, que dela
decorrem 4 elementos, nomeadamente, pessoal, patrimonial, finalístico e
teleológico e quando se trata de sociedades comerciais, com mais dois elementos
que compreendem o objecto comercial e tipo comercial.

Ora, no contexto das sociedades unipessoais, um dos elementos acima indicados


na noção de sociedade é retirado, nomeadamente o elemento pessoal, uma vez que a
mesma tem um único sócio. Assim, quando o elemento pessoal é retirado da
noção de sociedade, estamos perante uma sociedade unipessoal, em que apenas
uma única pessoa singular é titular de uma única quota.
A partir dos vários autores cujas ideias fora sendo abordadas ao longo

152
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D
do nosso estudo, entendemos que este tipo de sociedades tem vantagens
quando comparada aos demais tipos societários, bem como ao empresário em
nome individual, nomeadamente:
a) Inaplicabilidade do regime da responsabilidade solidária no
pagamento da quota do sócio remisso, tal como acontece nas sociedades por quotas,
porque apenas existe um titular da quota;
b) Incentivo e promoção de iniciativas empresariais
individuais;
c) Não é necessário envolver terceiros para atingir o
número mínimo de sócios conforme por vezes acontece na constituição de
sociedades;
d) O controlo sobre a actividade da empresa é igual ao da empresa
individual, uma vez que também existe apenas um proprietário;
e) Agilidade no exercício da gestão económica da sociedade,
visto não se encontrar dependente de órgãos colegiais para a formação da vontade
social; e
f) A responsabilidade do sócio resume-se ao capital social, ou
seja, o seu património pessoal não responde pelas dívidas contraídas no exercício da
actividade da empresa, excepto no caso de declaração de falência, se provar que o
património social não foi exclusivamente afectado ao cumprimento das respectivas
obrigações.

Sumário
Nesta unidade temática, concluiu-se que uma sociedade comercial não era nada
mais ou nada menos uma organização cuja objecto a prática de actos de comércio,
constituem-se como tal e adoptam um dos tipos societários previstos no artigo 82º
do C.Com202 afastando

202
Nos termos do nº 2 do art.82º do C.Com -as sociedades que tenham por objecto o
exercício de uma empresa comercial só pode constituir-se segundo um dos tipos
societários previstos neste artigo, estamos aqui perante o princípio da tipicidade no
que se refere a possibilidade de escolha dos tipos societários. Equivale a dizer que,
não há sequer espaço para conjugação de características diferentes destes tipos
153
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

por conseguinte aquelas sociedades cujo objecto não é a prática de actos comerciais.
Consiste na reunião de esforços entre duas ou mais pessoas denominadas de sócios,
que combinam a aplicação de seus recursos ‫״‬financeiros e know how‫ ״‬com finalidade
de desempenhar certa actividade económica, visando a divisão dos frutos e lucros por
ela gerados.
A sociedade comercial de acordo com o artigo 980 do código civil apresenta
quatro elementos essenciais para a sua constituição: elemento patrimonial,
teleológico, finalístico e pessoal.
As sociedades de todos os tipos gozam de personalidade jurídica a partir do registo
definitivo203. E gozam dessa personalidade jurídica tanto em relação a terceiros,
como em relação aos próprios sócios. Abordamos matérias sobre a personalidade e
capacidade jurídica das sociedades, onde a sociedade só adquire a qualidade de
comerciante em consequência do exercício da actividade social e não os sócios. A
capacidade jurídica das sociedades comerciais como pessoas colectivas está
delimitada pelo seu objecto e por fim tratamos também das matérias sobre a
forma dos contratos das sociedades comerciais, tipos d sociedades comerciais.

Exercícios.

1. O que Entende por sociedade comercial?


a) É aquela que tem por objecto a prática de actos de comércio,
constituem-se como tal e adoptam um dos tipos societários previstos no
artigo 82º do C.Com204 afastando

societários para a constituição de um outro tipo que não seja os previstos no nº 1 do


artigo 82º do Ccom.
203
Conferir o artigo 86º do Código Comercial.
204
. Nos termos do nº 2 do art.82º do C.Com -as sociedades que tenham por objecto
o exercício de uma empresa comercial só pode constituir-se segundo um dos tipos
societários previstos neste artigo, estamos aqui perante o princípio da tipicidade no
que se refere a possibilidade de escolha dos tipos societários. Equivale a dizer que,
não há sequer espaço para conjugação de características diferentes destes tipos
societários para a constituição de um outro tipo que não seja os previstos no nº 1 do
artigo 82º do Ccom.

154
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D

por conseguinte aquelas sociedades cujo objecto não é a prática de


actos comerciais.
Verdadeira
Falsa
A resposta é verdadeira. V

2. O artigo 980 do código civil apresenta quatro elementos essenciais


para a constituição de uma sociedade.
a) Pessoal, patrimonial, teleológico e finalístico.
Verdadeira
Falsa
A resposta é verdadeira. V

3. O elemento pessoal diz que:


a) Alude a pluralidade de sócios.Nele compreendem-se, quer o empresário
e outros investidores de capitais, quer os trabalhadores.
Verdadeira
Falsa
A resposta é: verdadeira. V

4. O elemento finalístico diz que:


a) Obriga o exercício em comum de uma certa actividade económica que
não seja de mera fruição

Verdadeira Falsa
A resposta é verdadeira. V

155
ISCE CURSO: Gestão de Turismo Disciplina: Direito Empresarial
D Bibliografia
 GRANSOTTO, Alexandre Jose - (2016), Resumo de Direito Comercial. 2016
 Código, Comercial (2009)
 CORREIA, Miguel Pupo (2006) - Direito Comercial.
 FRAGOSO, Américo Oliveira (2006) - CONTRATOS DE ADESÃO NO NOVO CÓDIGO COMERCIAL
DE MOÇAMBIQUE. 2016
 QUEIROZ, Marcos Antônio, Gestão Comercial, 2012

155

Você também pode gostar