Um olhar

sobre
corrimento
vaginal e o
que o constitui

Ana Catarina | Instagram@cowomenpt

Fundadora da Inu Health
Olá!
O meu nome é Catarina e este pequeno ebook é o
meu presente para ti. Sou farmacêutica há mais de
5 anos, e acredito que a educação menstrual é a
chave para o empoderamento. Para mim, só
começamos a partir de uma posição de força se
aceitarmos o modo como fomos desenvolvidas.
Caso necessites de ajuda e guia no que toca à tua
relação com o ciclo menstrual, envia-me uma
mensagem privada via o meu Instagram:
@cowomenpt.

Faz bom uso deste ebook e desfruta!

Um beijinho grande!
1- Muco cervical
O muco cervical (MC) é um hidrogel produzido na cérvix (ou colo do
útero) composto por moléculas de água, uma variedade de enzimas,
cadeias de proteínas e outros compostos bioquímicos incluindo sódio,
cloreto e potássio.

Cérvix

MC é crítico para a fertilidade porque o esperma depende dele para

sobreviver.
O estrogénio e a progesterona são as principais hormonas que afectam
a produção de muco cervical.
Vamos entender o que acontece ao muco cervical ao longo do teu
ciclo?'

1. Início do ciclo: menstruação

No primeiro dia do ciclo, que é o primeiro dia da tua menstruação, os
níveis de estrogénio e progesterona estão baixos. Como os níveis de
estrogénio determinam a produção de muco cervical, o colo do útero
não está a produzir muito muco. (Também não eras capaz uma vez que
estás a menstruar)
2. Logo após a menstruação: ausente, seco
Nos dias a seguir à menstruação não há muco cervical perceptível.
Pode durar pelo menos 5 dias e já no final desta fase é possível ver um
muco branco e bastante espesso, sem nenhuma elasticidade. Esta é a
fase em que o estrogénio está a aumentar (o estrogénio é produzido
pelo folículo que cresce no ovário enquanto se prepara para libertar um
óvulo na ovulação).
O cérvix fica bloqueado por uma espécie de tampão de muco rígido,
que impede que o esperma entre no útero. Isto significa que estás
infértil.
 Fig.1: Aspeto do muco após a menstruação
Foto retirada do Google Images, 1 de Maio de 2021

3. A caminho da ovulação: pegajoso, branco, cremoso, aspecto de

loção (Dias semi-férteis)- Início do período fértil
À medida que os níveis de estrogénio aumentam, o colo do útero
produz mais muco. No início, pode ser espesso e pegajoso ou viscoso
e ficar mais húmido e cremoso, como uma loção.
Pode parecer esbranquiçado e turvo, ou até amarelado (especialmente
se tiver secado nas cuecas).

Fig.2: Colo do útero, onde se vê o Fig.3: Aspeto do muco no início do

muco tornando-se mais elástico e período fértil
húmido Foto retirada do Google Images, 1 de Maio de 2021
Foto retirada do site
https://vulvapolitica.wordpress.com/2018/10/26/
percepcao-de-fertilidade-colo-do-utero-com-
especulo-e-toque/, 1 de Maio de 2021

Nesta fase, embora seja mais difícil, já é possível engravidar.

4. À volta da ovulação: aspeto de clara de ovo, húmido,

escorregadio, claro, elástico
À medida que a ovulação se aproxima, muito muco cervical é
produzido. É provável que a tua vagina comece a ficar muito mais
húmida e o fluido se torne mais escorregadio à medida que a
concentração de água aumenta. À medida que o estrogénio atinge o
pico, 1–2 dias antes da ovulação, o muco cervical geralmente se
assemelha a uma clara de ovo crua que podes esticar por alguns
centímetros entre o polegar e o dedo indicador A quantidade de
corrimento vaginal nesse momento é diferente para todos, mas pode
ser de 10–20 vezes maior do que noutros momentos do ciclo. O muco
cervical no "pico" tem cerca de 95% do seu peso em água e 5% de
sólidos (eletrólitos, compostos orgânicos e proteínas solúveis). Este é
um dos indicativos de que estamos bastante férteis e podemos
engravidar se tivermos relações sexuais.

Fig.4: Aspeto do muco no pico fértil.

Foto retirada do Google Images, 1 de Maio de 2021

5. Fase lútea: pegajoso, seco

Assim que a ovulação termina, o MC muda mais uma vez. Mesmo antes
de notarmos alguma alteração visual, o muco cervical já se tornou mais
fibroso e difícil para a passagem do esperma. No mesmo dia ou dois
dias após a ovulação (o início da fase lútea), a quantidade de muco
diminui rapidamente. A progesterona, a hormona dominante nessa fase,
inibe a secreção de muco das células epiteliais do colo do útero. O
muco pode ficar pegajoso ou viscoso novamente, ou apenas seco e
ausente.
Isso leva-nos de volta à menstruação e o ciclo recomeça.
 Fig.5: Os diversios estádios do colo do útero, e produção de muco
Foto retirada do site https://vulvapolitica.wordpress.com/2018/10/26/percepcao-de-fertilidade-colo-do-
utero-com-especulo-e-toque/, 1 de Maio de 2021

Curiosidades
Durante o período fértil produzimos cerca de um quarto a
metade de uma colher de chá de MC por dia;
o pH do sémen do homem está entre 7,2-8,4, que é
aproximadamente o valor de pH do MC. Fora do período fértil e
como o muco seca, a vagina vai manter o seu pH ácido,
tornando-se uma armadilha mortal para os espermatozóides!

Resumindo, o muco cervical é um tipo de secreção vaginal relacionado

especificamente com a fertilidade porque permite que os
espermatozóides cheguem às trompas de falópio, onde podem
fertilizar o óvulo. Produzimos MC conforme aproximamos da ovulação,
e assim que tivermos a ovular, vais notar uma mudança para dias secos
até à menstruação.
2- Descamação das células
superficiais da vagina
Isto refere-se à eliminação normal das células vaginais todos os dias. A
vagina entra em modo "limpeza", eliminando e substituindo células
mortas, tal como a pele. Se já te perguntaste sobre o corrimento
branco ou amarelo "esfarelado", esse é a tua perda de células vaginais.
Também pode aparecer como um filme brilhante no papel higiénico
quando te limpas - e é completamente normal e saudável.

3- Corrimento de lubrificação
vaginal em resposta à
excitação sexual
"Uau sinto-me molhada"! Para começar, o corrimento que libertamos
quando estamos excitadas não é produzido pelo colo do útero, e pode
ser produzido em qualquer dia do teu ciclo.
Quando estás sexualmente excitada, as veias e capilares dentro dos
tecidos da tua vagina dilatam-se e enchem-se de sangue (semelhante a
uma ereção).
Quando isso acontece, forças de pressão são exercidas e a vagina
produz um corrimento húmido e escorregadio. Esse corrimento é claro
e elástico (muito parecido com o MC no pico), mas tem uma textura
mais leve e mais fina.
Mulheres que amamentam frequentemente produzem este tipo de
corrimento em resposta à libertação de hormonas que são accionadas
quando o bebé mama.
4- Anomalias no corrimento
Nome da infeção Vaginose Bacteriana
Substituição da flora
normal da vagina
(Lactobacillus sp.) por uma
quantidade exagerada de
diversas bactérias
Etiologia
anaeróbias (Gardnerella
vaginalis, Ureaplasma,
Mycoplasma hominis,
Prevotella sp., Mobiluncus
sp., entre outras).
50% das
mulheres afetadas pela
vaginose bacteriana podem
ser assintomáticas (sem
sintomas).
No entanto,
os sintomas habituais são
o corrimento branco-
Sinais acinzentado abundante
com cheiro a peixe, que se
agrava com a menstruação
ou com as relações sexuais,
e o ardor vulvovaginal (da
vulva e da vagina).
A vaginose bacteriana não
está associada ao prurido
(comichão) não havendo
Candidíase
Infeção causada por um
fungo, a Candida sp. Em cerca
de 90% dos casos é causada
pelo crescimento exagerado
da Candida albicans.
Os sintomas iniciais passam,
fundamentalmente, pela
existência de prurido
(“comichão”) e ardor vulvar
intenso, que agrava à noite e
na fase pré-menstrual (antes
da menstruação),
dispareunia (dor nas relações
sexuais) e corrimento
vaginal branco, grumoso,
espesso (tipo requeijão), sem
cheiro. Na avaliação
ginecológica observa-se
eritema (vermelhidão),
edema (inchaço) e fissuras
(lesões de coceira) na região
vulvar, e o corrimento
descrito aderente às paredes
da vagina.
Tricomoníase Vaginose citolítica
Causada pela excessiva
Causada por um
proliferação de Lactobacillus,
protozoário flagelado, a
pela redução do pH vaginal e
Trichomonas vaginalis.
pela citólise. Os fatores
Nos adultos, esta infeção
desencadeantes são
é de transmissão sexual.
desconhecidos.
Corrimento esbranquiçado e
Vemos eritema
prurido de intensidades
(vermelhidão) e edema
variáveis, que piora no
(inchaço) da vulva e da
período pré-menstrual. Ardor
vagina, a irritação e
e queimadura podem estar
prurido (comichão)
associados. Muitas vezes é
vulvar, a disúria (dor ao
confundido com candidíase,
urinar) e o corrimento
levando a erros no
abundante fluido,
diagnóstico e tratamento. A
amarelado ou
Candida faz aumentar o pH
esverdeado, arejado e
vaginal e o seu tratamento
espumoso, com odor
passa pela diminuição do pH.
fétido. Em cerca de 10-
Se aplicarmos o tratamento
15% dos casos as
para candidíase neste caso
mulheres podem ser
vai piorar a situação. Daí ser
assintomáticas (sem
sempre muito importante
sintomas).
exigir um exame clínico
sempre!
 áreas de coceira e feridas
vulvares associadas.
Os fármacos
(medicamentos) indicados
são a clindamicina e o
metronidazol (antibióticos).
Nos casos de vaginose
bacteriana
recorrente pode estar
indicado o tratamento
contínuo com metronidazol
durante 4 a 6 meses. Para a
prevenção de recorrência
(repetição) da infeção a
aplicação de probióticos
Tratamento durante 6 meses em
associação com o
tratamento antibiótico
pode ser útil. Nestes casos,
a mulher deve utilizar o
preservativo durante o
tratamento.
Na vaginose bacteriana não
está indicado o tratamento
dos parceiros sexuais.
Na gravidez, a vaginose
bacteriana deve ser tratada
com o metronidazol ou a
O tipo de tratamento
Uma vez que a
indicado é diferente nos
Trichomonas vaginalis
casos de candidíase não
afeta não apenas a
complicada e complicada.
vagina mas também
O tratamento com
outras mucosas
medicamentos (ou remédios)
urogenitais, o
de toma oral (comprimidos)
tratamento tópico local
ou o tratamento tópico
(pomada ou creme)
(creme vaginal) têm eficácia
pode não ser eficaz,
semelhante.
sendo preferencial
o tratamento
O tratamento dos episódios
oral (comprimidos).
agudos da candidíase não Não existe um tratamento
complicada é feito com os específico visto que a
Está recomendado
derivados do imidazol, de etiopatogenia não é
o tratamento da
aplicação tópica local conhecida. Recomenda-se a
mulher sintomática e
(pomada ginecológica), tendo utilização de duches vaginais
dos seus parceiros
um início de ação rápido e com bicarbonato de sódio,
sexuais.
com grande eficácia. O para alcalonizar o meio.
tratamento oral pode ser
O tratamento de eleição
feito com fluconazol ou
é feito com
itraconazol, em dose única.
medicamentos
Nos casos de candidíase
(remédios) derivados do
complicada severa o
imidazol (metronidazol,
tratamento consiste na
tinidazol ou secnidazol),
administração de fluconazol
em toma única oral
com tomas de repetição
(comprimidos). Durante
(com intervalo de 3 dias) ou
o tratamento, o casal
um derivado do imidazol
deve evitar relações
durante 14 dias.
sexuais até que o
Na candidíase complicada
clindamicina durante 7 recorrente o tratamento
dias. inicial inclui o fluconazol
(com tomas de repetição) ou
A mulher deve tomar a um derivado do imidazol
medicação atrás descrita (durante 7 a 14 dias),
sempre de acordo com a devendo continuar o
receita médica, na tratamento de manutenção
posologia indicada e até prolongando os dias de
acabar, executando tratamento (fluconazol
escrupulosamente o plano semanal durante 6 meses).
terapêutico estipulado. É
importante realçar que a Quando os sintomas da
mulher não se deve, em infeção são muito intensos e
caso algum, automedicar e incomodativos pode estar
que não existe qualquer indicada a aplicação tópica
tipo de tratamento caseiro de um corticoide ou de um
ou natural com eficácia anti-sético anti-inflamatório
comprovada no tratamento local, de forma a aliviar a dor.
da vaginose bacteriana
Na gravidez, a candidíase
deve ser tratada com
formulações tópicas durante
6 dias, não estando indicados
os tratamentos orais.
O tratamento do parceiro
sexual está indicado quando
este apresenta sintomas,
como a balanite. Pode estar
também recomendado nos
casos de candidíase
recorrente. O tratamento
para candidíase masculina
homem e a mulher
estejam tratados, ou
seja, até terminarem a
terapêutica e estarem
sem sintomas.
Nas infeções recorrentes
deve ser repetido o
tratamento com um
derivado do imidazol
(metronidazol ou
tinidazol), toma oral
(comprimidos) durante 5
a 7 dias. Na
tricomoníase recorrente
ou persistente pode
estar indicado o
tratamento com um
antibiótico (eritromicina
ou amoxicilina)
previamente ao
tratamento com
metronidazol de forma a
tratar a infeção
bacteriana coexistente.
O seguimento após o
tratamento adequado
não está recomendado
se o homem e a mulher
ficarem assintomáticos.
Pelo risco de reinfeção,
que pode ser elevado,
deve ser de dupla
abordagem (oral e tópica).
O doente deve tomar a
medicação descrita de
acordo com a receita médica,
na posologia indicada e até
acabar, cumprindo assim o
plano terapêutico estipulado.
É importante realçar que o
doente não se deve
automedicar e que não
existe tratamento caseiro ou
natural com eficácia
comprovada no tratamento
da candidíase, exceto as
medidas preventivas que
descrevemos de seguida.
pode ser aconselhável
efetuar uma reavaliação
aos 3 meses.
Na gravidez, a
tricomoníase deve ser
tratada nas grávidas
sintomáticas ou depois
das 37 semanas, com
metronidazol, toma oral
única.
A mulher deve tomar a
medicação atrás descrita
de acordo com a
prescrição do seu
médico/ médica, na
posologia estipulada e
até acabar, cumprindo
assim o plano
terapêutico delineado. É
importante esclarecer
que a mulher nunca
deve automedicar-se e
que não existe qualquer
tipo de tratamento
caseiro ou natural com
eficácia comprovada na
tricomoníase.
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