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sociedade-pode-ser-bem-sucedida-sem-uma-boa-educacao

Publicado em NOVA ESCOLA 08 de Maio | 2018

Formação do professor

O que uma das maiores


especialistas do mundo em
formação de professores
pode ensinar ao Brasil
Linda Darling-Hammond afirma que um formador vale por
mil reformadores e aponta caminhos para a construção
desses formadores
Soraia Yoshida

A professora norte-americana Linda Darling-Hammond afirma que o grande


indicador do sucesso de um aluno é a habilidade de aprender coisas novas e
melhorar seu repertório à medida que desenvolve capacidades para criar,
colaborar e solucionar problemas. “As sociedades estão mudando muito
rapidamente”, disse em sua palestra no evento Ciclo de Debates: A Formação dos
Professores no Contexto da BNCC, em São Paulo, iniciativa do Instituto Ayrton
Senna e Fundação Itaú Social. “Os alunos estão trabalhando na resolução de
problemas que são novos para nós. Eles estão aprendendo coisas que nós ainda
estamos inventando”, disse. Para ela, os professores que estão lidando com essa
geração devem estar dispostos a aprender - e muito. "Prestem atenção nesses
verbos: explorar, pesquisar, analisar, avaliar, aprender, criar, formular, expressar.
Temos as diretrizes do que os nossos jovens têm que aprender".

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o mundo"

Em sua primeira visita ao Brasil, a professora emérita da Universidade de


Stanford, na Califórnia, reforçou a necessidade de grandes investimentos na
preparação de professores para que eles sejam capazes de lidar com as
demandas trazidas por essa sociedade em evolução. Logo nos primeiros minutos
de sua palestra, Linda afirmou que quaisquer que sejam os padrões de ensino,
eles não são os responsáveis pelo ensino em si. “Nós amamos as palavras, mas
são os professores e diretores de escola que dão vida a elas”, disse. “Nenhuma
sociedade pode sobreviver ou ser bem-sucedida sem uma boa Educação”.

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A educadora norte-americana entende que, da mesma maneira que acontece na


Medicina, os professores precisam experimentar um processo de aprendizado
contínuo em sua formação. “A educação dos professores precisa mudar”,
afirmou. Para ela, é importante trabalhar com referências de estruturas de
aprendizado mais profundas nas escolas, para que os professores
(principalmente os iniciantes) possam experimentar antes de adotar as
estratégias que usarão nas práticas de ensino. “Professores não podem aprender
como se ensina a ler, eles precisam experimentar aquela pedagogia”, disse.

Linda Darling-Hammond pesquisou programas de formação na Austrália,


Singapura, China, Canadá, Finlândia, além de várias regiões dos Estados Unidos.
Os governos finlandês e singapuriano bancam a formação de professores em
qualquer parte do país e oferecem salários competitivos em relação a outras
profissões. “Não é suficiente preparar os professores de maneira mais
compreensiva, é preciso um sistema com salários mais adequados para termos
uma força estável de professores tratados com respeito”, afirmou.

A pesquisadora compreende que é preciso ter recursos para criar um esquema


de colaboração e planejamento que permita aos professores trabalhar dentro de
novas perspectivas. Ela apontou pontos em comum em países de culturas e
sistemas educacionais variados e indicou oportunidades quando se parte da visão
do ensino centrado no aluno, guiando um conjunto coerente de cursos e
trabalhos clínicos e oportunidades de aprendizado para os professores. Partindo
de ambiente interativos, do investimento em pesquisas e criação de comunidades
de aprendizagem em sala de aula para apoiar a aprendizagem socioemocional e
acadêmica. Tudo isso deve estar apoiado em um currículo focado na
aprendizagem e no desenvolvimento das crianças em diversos contextos sociais.
“O processo de memorização, em lugar da compreensão, é inútil hoje”, disse.
Um formador vale por mil reformadores
Linda defende que emoções e o aprendizado estão diretamente relacionados. Se
um aluno incorre em emoções negativas, como ansiedade, falta de confiança, isso
irá afetar a maneira como ele aprende. Da mesma forma, um aluno com emoções
positivas, que se sinta estimulado pelo professor, vai gostar mais do processo de
aprendizado. Ela citou as diretrizes curriculares das Nações Unidas: “A educação
deve se tornar um caminho que conduz a um desenvolvimento mais harmonioso
e autêntico”. E completou: “Eu amo essa parte, harmonioso e autêntico”.

A educadora afirma que no mundo em que vivemos, não é mais suficiente para
um professor conhecer o conteúdo, mas sim entender como cada aluno aprende
aquele conteúdo. Diante da adoção do Common Core, nos Estados Unidos, e da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no Brasil, ela diz que o professor deve
juntar o conhecimento dos alunos com os objetivos do currículo. “Não há duas
crianças que sejam iguais, mas os objetivos do currículo o são, então formadores
precisam se tornar mais ‘personalizados’ para ajudar professores que vêm de
diferentes níveis econômicos e sociais”. Em resumo “Trazer o currículo até a
criança e levar a criança até o currículo”.

Se a formação de professores é uma parte essencial do eixo de transformação da


Educação, Linda acredita que o papel do formador de professores é ainda mais
precioso. Ela elencou alguns pontos para garantir o sucesso da empreitada:

- Invista na formação de professores e líderes


- Arranje tempo para que todos possam participar
- Um formador vale por mil reformadores

Antes de se despedir de uma plateia que contava com secretários de Educação e


formadores, ela afirmou: “Mais do que desejar boa sorte a vocês, eu desejo uma
profunda compreensão. E que a Força esteja com vocês”.

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