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DISCIPLINA
FUNDAMENTOS DA ORIENTAÇÃO
- SUPERVISÃO E INSPEÇÃO
ESCOLAR
INTRODUÇÃO
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras,
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e
provado pelos pesquisadores.
Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos
colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está
pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso
trabalho.
Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação
científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico.
Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da
apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e
aprofundar os conhecimentos.
SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO ESCOLAR - SOE
Devido o século XXI trazer em seu bojo solicitações novas, nunca antes
requeridas, demandando do sujeito uma nova postura diante da vida, tanto os
profissionais quanto os sujeitos-alunos-cidadãos precisam lidar com este cenário. Sob
outra ótica: todos devem aprender a pensar, a criticar, a desenvolver a autonomia e a
interagir com as pessoas, de forma inteligente e criativa.
Os postulados teóricos desta área vão se modificando para uma dimensão mais
crítica e consciente do momento político social que vivíamos.
Esse período é marcado pela realização de muitos cursos de reciclagem, de
atividades que deveriam ser integradas com os supervisores, de trabalhos voltados para o
currículo, onde a própria questão do trabalho era o eixo condutor da proposta curricular. O
orientador educacional quer participar do planejamento - não como benesse da
Orientação, mas sim como um protagonista do processo educacional - procurando discutir
objetivos, procedimentos, estratégias, critérios de avaliação, sempre voltados para os
alunos.
O orientador deseja trazer a realidade do aluno para dentro da escola e, portanto,
começa a discutir suas práticas, seus valores, a questão do aluno trabalhador, enfim, o
seu "mundo lá de fora".
Por outro lado, enquanto pertencentes a uma classe de profissionais, discutem-se
também as funções dos orientadores nos campos de consultoria, assessoria e
coordenação.
A prática que advirá ainda está sendo construída, uma vez cujos orientadores têm
que buscar - sem o apoio específico da sua categoria em termos de órgãos de classe - a
especificidade requerida no trabalho com os demais educadores, mas pontuamos que:
Atrair os pais para a escola a fim de que nela participem como força viva e
ativa;
O como fazer, durante longo período nesta história, foi mais importante do que o
porquê e o para que fazer tal atividade em Orientação. Essas alterações observadas na
prática estão relacionadas com a evolução do conceito de Orientação Educacional, na
sua trajetória histórica. Algumas delas pouca ou nenhuma efetivação tiveram, no contexto
escolar, como a da "coordenação do acompanhamento pós-escolar" do aluno.
Por outro lado, outras atribuições foram pouco exercidas, mas, ao contrário,
necessitariam de maior amplitude de execução, como a de "realizar estudos e pesquisas
na área da Orientação Educacional", por exemplo. Tomando comoreferencial as pesquisas
realizadas nesta área, a prática exercitada e as perspectivas que já se encaminham,
neste campo, vamos analisar como foi evoluindo a prática dos orientadores para um novo
enfoque, uma nova linha de ação, a perspectiva construtivista.
Como afirma Becker (1993, p. 25): “[...] o meio, por si só, não se constitui
estímulo. E o sujeito, por si só não se constitui sujeito, sem a mediação do meio; meio
físico e social”.
Portanto, é uma das funções do orientador fazer a mediação entre os dois lados
da questão: sujeito e meio. O que se pretende é trabalhar nesta meio como força
propulsora do conhecimento do indivíduo, de sua realidade e de sua participação para
construção do conhecimento necessário à transformação desta realidade.
Grossi e Bordin (1993, p. 131) definem o construtivismo como (...) uma teoria
filosófica que, dentre suas tantas vertentes, procura explicar um aspecto essencial de ser
gente, isto é, uma de nossas condições definitórias, a de que acedemos ao humano
porque aprendemos.
Para Becker (1993, p. 9), o construtivismo significa (...) a ideia de que nada, a
rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em
nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo
com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações
sociais.
O que nos chama a atenção é que nas áreas privilegiadas pela perspectiva
construtivista podemos encontrar o caminho de uma nova prática da Orientação
Educacional. A Orientação deve trabalhar o meio externo para atingir o nível individual do
aluno. Também é tarefa do orientador ajudar o aluno na construção do seu conhecimento,
não apenas como um dado cognitivo, mas como aquisição de conhecimentos básicos à
sua formação.
Para isso assume relevância "a forma" como isso ocorrerá com o aluno,
considerando os esquemas simbólicos que fazem a mediação entre o meio e o sujeito,
realidade dos alunos, propiciando-Ihes as condições favoráveis à aquisição do
conhecimento e concomitante a esta aquisição, o próprio desenvolvimento.
Aqui cabem dois pontos muito importantes para o raciocínio desse pensamento
centrado na perspectiva construtivista: a noção de igualdade e o aluno como centro da
ação pedagógica.
É com este "bloco" de conceitos, principalmente, que o orientador vai lidar nas
suas atribuições com os alunos, não impondo os conceitos tidos como bons certos e
verdadeiros, mas deixando que os alunos os descubram e os construam dentro das suas
próprias experiências. O orientador agiria, basicamente, em três grandes momentos: o
ponto de partida (a realidade), o processo (a Orientação), o ponto de chegada (a
formação). Ora, como este último momento por si só é um processo, conclui-se que, na
dimensão construtivista, o trabalho do orientador é contínuo, dinâmico e permanente. As
diferentes abordagens do conhecimento não só se completam cada vez mais umas às
outras, mas apontam para uma síntese cada vez maior.
Esta realidade seria trabalhada a partir dos significados que o grupo cultural
empresta à mesma. O orientador poderia trabalhar com grupos, identificando o real,
fazendo desabrochar os conceitos e abstrações, e despertando para temas, áreas ou
tópicos de pouco conhecimento dos alunos.
Convém lembrar que esta proposta, mais do que todas as outras, deve ser
planejada de acordo com a realidade existente, valorizando aspectos cognitivos e
afetivos. O que se pretende na proposta em que o aluno é o sujeito da construção do
conhecimento é possibilitar-lhe a resolver seus próprios problemas, dúvidas e
indagações, sendo capaz de caminhar para a solução dos mesmos com as reflexões
necessárias. Aqui, Grinspun (2008) chama atenção para a importância da linguagem, da
comunicação, do diálogo na proposta defendida. O orientador promoverá condições,
meios, para que a voz dos alunos seja ouvida - e respeitada - no espaço pedagógico. Se
o aluno é o promotor da sua história, ouví-lo não é nenhuma atitude de atendimento
específico, mas sim uma obrigação que se insere em uma medida educacional.
A Orientação, então, deverá ser vista como uma atividade, disciplina (no sentido
de ação), dentro da escola, que ajudará, facilitará os meios e as condições necessárias
para o aluno buscar, discutir, pensar, refletir, problematizar, agir sobre dados e fatos
necessários à construção do seu conhecimento, à formação do seu entendimento como
cidadão.
O movimento será uma constante nesse trabalho, mas é o próprio movimento que
faz o sentido e a existência da vida.
A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E VOCACIONAL
O uso de testes
Ainda nessa direção, outro aspecto relevante é que o diagnóstico em OP tem sido
compreendido como uma das competências fundamentais para o orientador profissional,
que por sua vez, poderá ter um serviço de melhor qualidade, de acordo com Talavera
2004), caso seja desenvolvido com instrumentos que possuam características
psicométricas adequadas e que mostrem sua utilidade para a população específica.
Um deles possui parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia – CFP
(2007), a Escala de Aconselhamento Profissional – EAP (Noronha, Sisto e Santos, 2007) e
o outro, o Self-Directed Search Career Explorer – SDS (Holland, Fritzsche e Powell,
1994), traduzido literalmente como diretor de autoavaliação apesar de ainda não
submetido à avaliação do CFP, possui pesquisas realizadas no Brasil (Primi, Moggi e
Casellato, 2004; Mansão, 2005; Mansão e Yoshida, 2006; Sartori, 2007; Nunes, 2007).
O SDS está estruturado na teoria tipológica de Holland (1963; 1996), que propõe
seis tipos de personalidades vocacionais, a saber: Realista (R), Investigativo (I), Artístico
(A), Social (S), Empreendedor (E) e Convencional (C), conhecidos pela sigla RIASEC. No
que se refere à conceituação dos tipos, o Realista é definido como pouco sociável, com
boa coordenação motora e rapidez. Os sujeitos realistas preferem os problemas
concretos aos abstratos; percebem-se como agressivos e possuem valores políticos e
econômicos convencionais. O Investigativo é hábil para manipular ideias e palavras; é
analítico, introvertido e crítico. Já o Artístico utiliza os sentimentos para enfrentar as
situações cotidianas e prefere trabalhar com coisas mais abstratas e em que pode utilizar
a criatividade.
Por sua vez, o Social é sensível responsável e costuma agir mais pela intuição do
que pela razão. Os indivíduos com preferência por este tipo tendem a possuir maior
capacidade verbal e interpessoal. O Empreendedor tende a ser mais ousado nos
objetivos profissionais, com características de dominância, de entusiasmo e de
extroversão; com boa capacidade verbal para trabalhar com vendas e interesse por
política e economia. Por fim, o tipo Convencional prefere tarefas bem organizadas,
identifica-se com o poder, valorizando os bens materiais e a posição social; mostra-se
inflexível, rígido e com pouca criatividade.
Vale destacar que a teoria de Holland (1963; 1996) pressupõe que os tipos do
RIASEC são produto da interação entre uma variedade de forças pessoais e culturais,
sendo que a partir dessa experiência, uma pessoa aprende primeiramente a preferir
algumas atividades em detrimento de outras. Em consequência, essas atividades se
transformam em interesses.
A QUESTÃO DA INDISCIPLINA
- Causas externas à escola => entre elas veem a influência exercida pelos meios
de comunicação, violência social e ambiente familiar. - Causas internas => incluem
ambiente escolar, condições de ensino-aprendizagem, modos de relacionamento
humano, o perfil dos alunos e a capacidade deles em adaptar-se aos esquemas da
escola. Em muitos casos as formas de intervenção disciplinar que os professores usam
acabam por reforçar a indisciplina.
Devemos fazer uma breve distinção do que vem a ser ato infracional, indisciplinar,
pois embora todo ato infracional seja uma forma de manifestação da indisciplina, nem
todo ato de indisciplina constitui um ato infracional.
É frequente a afirmação, por partes dos professores, que os alunos de hoje são
indisciplinados, evocando um saudosismo de uma suposta educação de antigamente, que
estabelecia parâmetros rígidos para o uso do corpo e da mente.
A origem dos comportamentos ditos indisciplinares pode estar em diversos
Fatores: uns ligados a questões relacionadas ao professor, principalmente na sala de
aula; outros centrados nas famílias dos alunos; outros verificados nos alunos; outros
gerados no processo pedagógico escolar; e outros alheios ao contexto escolar.
A indisciplina na escola pode ter relação com o fraco rendimento escolar dos
alunos. O seu insucesso pode levá-los a investir pouco nas tarefas escolares e a
desinteressarem-se pela escola, desencadeando, eventualmente emoções negativas,
traduzidas em comportamentos inadequados. Estes alunos são chamados de aluno-
problema, conceito tomado em geral, como àquele que padece de certos supostos
"distúrbios psicopedagógicos"; distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva ou
de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto
de ações que chamamos usualmente de "indisciplinadas". Esse tipo de entendimento da
questão disciplinar, mais de cunho psicológico, merece pelo menos dois reparos: o
primeiro, com relação à ideia de ausência absoluta de limites e do desrespeito às regras;
o segundo, sobre a suposta permissividade dos pais.
É tarefa de todos garantirem uma escola de qualidade para todos, indisciplinados
ou não, com recursos ou não, com pré-requisitos ou não, com supostos problemas ou
não. A inclusão passa a ser o dever de todo educador preocupado com o valor social
de sua prática e, ao mesmo tempo, ciente de seus deveres profissionais. Quando
desponta algum entrave de ordem disciplinar na sala de aula, uma das atitudes usuais por
parte dos educadores é convocar as autoridades escolares, e estes, os pais para que
"deem um jeito no seu filho". A tarefa do professor, por sua vez, não é moralizar a criança.
O objeto do trabalho escolar é fundamentalmente o conhecimento sistematizado, e seu
objetivo, a recriação deste. Uma das posturas do professor na sala de aula, que é
necessário que ele desenvolva e conquiste maior autonomia para lidar com a
indisciplina na sala de aula. Isso não significa deixar o professor sozinho com a
indisciplina, mas fomentar um trabalho em parceria, baseado em responsabilidades
claramente definidas e no auxílio estratégico da orientação educacional em situações
que requerem intervenção.
Segundo Schneider (s.d. apud FERREIRA, 2009), normas de convívio podem ser
soluções para escolas. A ideia é tornar claro o que não pode ser feito e ter punições
definidas para cada ato irregular, tudo com o comprometimento de todos. As normas são
decididas em reuniões, ficam escritas e assinadas em ata. Mesmo os alunos pequenos
devem participar. Ela diz que as regras variam de caso para caso. Se o aluno não pode
chegar tarde, isso também vale para o professor.
Com uma visão errônea sobre a atuação do orientador, ainda hoje, figura-se
apontamentos como sendo o SOE responsável por lidar e encaminhar os alunos
problemas, deturpando assim sua importância social e no processo pedagógico.
Contraditório às considerações anteriores, porém assertivo, é o conceito que se faz da
atuação do orientador educacional relacionada aos casos de indisciplina, que imprime ao
SOE um papel distinto, participativo e dinâmico, reconhecendo o trabalho desse
profissional conjunto à esfera escolar. Primordialmente, o orientador educacional
estabelece uma relação dialógica com a comunidade escolar, podendo então,
desenvolver ações preventivas na tocante construção disciplinar (FEREIRA, 2009). O
setor de orientação educacional analisa, planeja e propicia um ambiente harmonioso e
seguro ao educando, fazendo-se primo o respeito às individualidades e diferenças,
originando um ambiente escolar que encerre em si a construção da aprendizagem
satisfatoriamente.
Geralmente, é na escola que o aluno passa a maior parte do seu tempo e nada
mais justo que encontre apoio do SOE para aconselhá-lo, para resolver suas frustrações,
suas raivas, seus medos.
O trabalho com a família também é essencial, pois em muitos casos ela segue
uma linha desordenada, desorientada, sem saber quais ações devem ser tomadas com
esse filho, e o cenário do orientador educacional se faz, detectando no aluno seus
anseios frustrados, suas necessidades, inseguranças, excessos de cuidado e carinho ou
se é simplesmente um problema em corresponder-se com normas e regras (FERREIRA,
2009).
Dessa forma, o controle pode ser interpretado como uma manifestação de poder
que permeia a relação do supervisor com o professor, tornando esses atores do ensino
profissionais distanciados hierarquicamente e vinculados a compromissos diferentes: o
primeiro com o sistema e o segundo com o aluno.
Considerando as diferentes terminologias atribuídas à supervisão ao longo de sua
existência, assim como suas diferentes significações e abrangências, faz-se necessário
conhecê-las para, então, eleger aquela adequada à proposta de um estudo relacional.
Carvalho (1989) nos chama a atenção para o fato da supervisão no Brasil vai se
revestindo de situações novas de acordo com as novas realidades que vão surgindo e
afirmando a partir da ampliação do direito à escola para as camadas menos favorecidas,
aumenta a exigência de outros profissionais na escola que se torna bastante complexa,
destacando que, na década de cinquenta, com a política desenvolvimentista do governo
JK, são formados os primeiros supervisores escolares do ensino primário, através do
Programa Americano-Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE).
Silva Júnior (1986, p.100) refere-se à Supervisão escolar como aquela que “se
apresenta como mais uma tarefa cujo desempenho impõe aos seus praticantes a
observância de um desempenho preciso do ‘papel’ a ser executado”.
Saviani (2002, p. 29) afirma que esse parecer representa “a tentativa mais radical
de se profissionalizar a função do Supervisor educacional”, pois estavam preenchidos os
dois requisitos essenciais que marcam a transição de uma atividade para uma profissão,
que são: a existência de um mercado de trabalho e a especificação das características da
profissão ordenadas em torno de um mecanismo, tratadas no Parecer e instituídas no
curso de Pedagogia.
Silva (2000, p. 69) afirma que o referido Parecer 252/69 [...] reflete as linhas
mestras do movimento de 64, buscando ser coerente com os princípios doutrinários do
regime vigente. [...] é rico em justificativas para determinar que se siga uma ideologia. [...]
utilizam-se de disciplinas que possam inculcar essa ideologia. [...] caracteriza o
Supervisor, na linha economista transpostas do país hegemônico (EUA), como agente
responsável pelo controle e execução da ideologia do poder.
Com a política dos acordos internacionais entre Brasil e Estados Unidos surge,
em 1957, o Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar –
PABAEE, cuja importância é fundamental na determinação do modelo de supervisão
tecnicista exercida no país desde a década de 60. Se até essa época a função de
supervisão era fortemente vinculada à fiscalização e comumente confundida com a
inspeção escolar, agora a ação supervisora volta-se para o currículo escolar, sob a
justificativa de buscar a melhoria da qualidade do ensino.
Contreras (2002, p. 33) defende a tese de que “o trabalho docente sofreu uma
subtração progressiva de uma série de qualidades que conduziram os professores à
perda de controle sobre o próprio trabalho, ou seja, à perda da autonomia”.
Isso quer dizer que a aprendizagem implica sempre uma tripla relação, com os
outros, com o mundo e consigo mesmo. Estes três aspectos são indissociáveis e é a
articulação entre estas três dimensões que dá ou não dá sentido às aprendizagens. Só se
aprende alguma coisa em situações que façam sentido para o sujeito, portanto a questão
central da escola é a construção do sentido.
Por esta razão, a escola não se pode preocupar exclusivamente com as questões
técnicas e didáticas da aprendizagem formal, nomeadamente em termos de disciplinas,
porque a grande questão que está presente nas escolas é a ausência de sentido para o
trabalho escolar, não só para os alunos, mas também para os professores. É este o traço
essencial da crise de legitimidade da instituição escolar. A inserção social das atividades
escolares numa realidade territorial que transcenda as fronteiras escolares constitui um
aspecto decisivo para esta construção de sentido.
Este sentido de educação exige do supervisor que leve seus colegas professores
a pensar em formas de articular conteúdos e competências a um modelo que tenha, como
horizonte, a construção e a valorização das identidades plurais e o desafio a preconceitos
e estereótipos.
Como sugerido por Souza Santos (2001), reconhecer as diferenças dentro das
diferenças é essencial para que não se recaia em generalizações e homogeneizações
das diferenças.
Há alguns autores que sugerem atividades tais como pedir que meninos e
meninas busquem a definição de mulher, de negro, de judeu, e outras identidades
marginalizadas, no dicionário, vendo estereótipos e/ou possibilidades de valorização
dessas identidades, aí presentes.
O dia-a-dia do coordenador exige que ele administre seu tempo para cumprir
inúmeras tarefas. Tem de formar o professor e, para isso, planejar reuniões; atualizar-se e
planejar etapas para atualizar os professores e pensar em procedimentos específicos e
nas necessidades de seu grupo. A formação exige dele, por sua vez, um olhar para o que
está sendo realizado em sala de aula; organizar reuniões de reflexões sobre a prática de
cada professor; promover discussões grupais; e trocar informações e ideias.
É claro, também, que não basta determinar estruturalmente horários para que
professores e coordenadores se encontrem. A qualidade desses encontros caracteriza-se
como fundamental para a reflexão e a revisão das práticas. Muitos coordenadores falam
sobre o excesso de atividades que lhes são atribuídas, motivo pelo qual convivem com o
estresse e a correria constante. A dúvida é se essa correria é real, fruto do meio escolar,
dinâmico e apresenta desafios constantes, ou se é uma desculpa para não parar e refletir
sobre seu próprio fazer.
Mais um ponto que se torna desafio e dificuldade para o supervisor: saber quem
vai formá-lo.
A falta que um trabalho de formação faz para o coordenador também é fator que
interfere em sua prática. Cada vez mais fica explicitada a necessidade de os profissionais
se aprofundarem e estudarem para desenvolver um trabalho consciente e responsável. A
formação continuada deles está dependendo muito mais de uma mobilização pessoal do
que de um investimento por parte das escolas. No caso da rede pública, o coordenador
assume seu cargo mediante concurso, sendo que, na rede estadual (paulista, por
exemplo), ele não precisa necessariamente ser pedagogo. Na rede particular,
normalmente esse cargo é assumido devido à competência do profissional, avaliada de
acordo com critérios de cada escola, e não está necessariamente relacionado à
existência do diploma específico. Isso revela que a formação inicial do coordenador
(talvez por sua precariedade) não influi na escolha do profissional feita pelas escolas.
Uma vez que se observou que a formação continuada também não faz parte das
preocupações das instituições, a quem cabe a responsabilidade de formação do
formador?
Por outro lado, cabe ao próprio coordenador, também, (re)valorizar sua função,
vendo-se como um profissional que tem um compromisso político com a instituição e com
a sociedade e não pode se isentar, acomodando-se diante das dificuldades impostas
pelos sistemas. Mas isso só será possível se, em sua formação específica, inicial ou
continuada, ele puder desenvolver a consciência de sua função, para que, tendo clareza
dela, valorize- a e saiba quando e como intervir.
O conjunto das regras do Ratio Studiorum no Plano Geral dos jesuítas configura a
ideia de supervisão e de inspeção, inspeção esta, que controla as regras fornecidas pelas
autoridades educacionais.
A inspeção escolar foi e, ainda é hoje, uma forma de expressão política que se
confunde com o conceito de supervisão e, ambas, constituem-se em elementos da gestão
da educação. Assim, a inspeção escolar no Estado Novo se apresenta como uma
reconfiguração da supervisão educacional em perspectiva histórica, onde segundo
Saviani (2006), assume, com a divisão técnica do trabalho, seu caráter de permanência e
identificação, tendo como estatuto epistemológico o positivismo, que define seus
contornos e dá suporte aos empreendimentos tomados.
Nessa época, prioritário era o trabalho escolar diário em torno de temas que
reafirmassem o patriotismo idealizado, como homenagens cívicas com presenças da
comunidade, passeatas, pelotões, pequenas paradas, de teor pedagógico militarista,
desvelando o caráter nacionalista e uma política autoritária.
Masur (2001) defende que tudo depende do jeito que “a gente vê”. Assim, por
exemplo, uma observação cuidadosa e que contribui para a reflexão do processo do
ensino aprendizagem, é o resultado bimestral do Conselho de Classe e Série, já que por
meio do resultado deste se consegue saber não só o desenvolvimento ocorrido no
bimestre como também o número de alunos faltosos, evadidos, criando-se nova
possibilidade de estudos e reflexão para mudança dos parâmetros estabelecidos, os
quais não estão contribuindo para o sucesso dos alunos e sua permanência na escola.
Meneses (1977) observa que o controle como elemento relevante das atividades
administrativas é composto de princípios e métodos. Os princípios determinam os
padrões do exame e os métodos, atividades caracteristicamente técnicas, determinam a
maneira de proceder ao exame.
Em alguns estados como São Paulo, onde o cargo de Inspetor Escolar foi
Eliminado, cabe ao Supervisor de Ensino arcar com as responsabilidades da inspeção e
também da supervisão pedagógica, como bem demonstra o Art. 78, do Decreto Estadual
nº. 7.510, que continua em vigor, integrando o conjunto de normas a serem observadas
pelos grupos de Supervisão de Ensino (SÃO PAULO, 1976).
Porém, com essa sobrecarga de trabalho, muitas vezes os supervisores tendem a
se perder no desenvolvimento das funções, sem dar conta de atender o pedagógico,
tampouco o administrativo, tornando-se apenas um cumpridor das tarefas burocráticas
inacabadas do sistema. Tais questões revelam a necessidade da construção de um novo
perfil profissional para os supervisores que atuam na rede de ensino paulista.
Compreender a escola como um sistema que engloba os eixos pedagógico e
administrativo, requer planejamento de trabalho, reflexão conjunta e conhecimento das
políticas públicas da educação. Portanto, a formação de Equipes de Inspetores ou
especialistas da educação que realizem seus trabalhos tendo como foco a real
aprendizagem dos alunos, embasados nos eixos administrativo e pedagógico, é urgente e
necessária para a construção de uma nova identidade do Inspetor Escolar.
O PROCESSO DA AVALIAÇÃO
Para isso, não interessa cobrar um produto final do que é ensinado, mas ter uma
atitude de confronto, isto é, do que foi produzido pelo aluno com o que se esperava
dele e estimular cada vez mais a sua confiança. Como diz Luckesi (2000,p. 69) “avaliação
como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de
decisão”.
As primeiras ideias referentes à avaliação representavam medida e sua presença
na história da humanidade se reporta para o ano 2202 a.C. (DESPRESBITERIS,’1989).
A avaliação é uma atividade política por isso as suas funções devem ser
compreendidas segundo o contexto educacional, econômico e político mais amplo.
Afonso (2000) diz que a literatura se reporta mais às funções de melhoria dos
processos de aprendizagem; seleção, certificação e responsabilização; promoção da
motivação dos sujeitos; desenvolve uma consciência mais precisa sobre os processos
sociais e educacionais e condiz com o exercício da autoridade.
Para Perrenoud (1999) a avaliação é usada para acompanhar o andamento da
aula, a progressão do programa, a manutenção da ordem, às vezes a individualização
das aprendizagens ou com a finalidade de reverter alguma situação, se o professor
decidir o que faz com a sua turma ou certos alunos, para tomada de decisão dos alunos
ou mesmo o controle do ensino e do trabalho docente.A prática avaliativa para cada
realidade mundial possui as suas características. Sabemos que a sociedade
estadunidense tem obsessão pela avaliação, o que pode ser comprovado com a própria
história da avaliação com Tyler, Bloom e outros. Contrariamente, a Inglaterra, por
exemplo, busca as implicações sociológicas da avaliação (OLIVEIRA; APARECIDA;
SOUZA, 2008).
A avaliação institutional
Esta, por sua vez, também apresenta várias subcategorias. Müller (2001, p.20)
Analisa produções sobre o tema e constrói um quadro analítico em que classifica a
avaliação institucional de acordo com:
O mesmo autor (2005, p. 19) argumenta ainda, que em tais países, “onde se tem
procurado criar um mercado educacional, a avaliação tem um papel fundamental porque
ela permite uma informação sobre o sistema educativo que é percepcionada como um
instrumento importante para fundamentar as escolhas dos consumidores da educação”.
Lafond (1998, p. 14), por exemplo, julga que esse tipo de avaliação não contribui
satisfatoriamente para a melhoria da instituição escolar:“uma avaliação exclusiva de
resultados escolares, dado ao seu cunho impessoal, não considera os problemas que a
escola enfrenta diariamente: [...] tem um valor estatístico; é, sem dúvida, útil aos
decisores nacionais, mas não dá de volta à escola qualquer tipo de ajuda”.
Não há dúvidas que a avaliação externa tem sua importância e relevância a partir
do momento em que possibilita o levantamento de dados que podem se constituir
comparativos ou complementares a uma avaliação de âmbito interno. Entretanto, há que
se questionar os modos e os fins como são aplicadas essas avaliações em larga escala,
pelo fato de julgar que a transformação da escola não se faz de fora para dentro (e,
algumas vezes, nem no sentido inverso), mas numa conjunção tensa e negociada de
elementos constitutivos de ambas as direções.
b) Avaliação total e coletiva: a escola deve ser avaliada por todos (pais, alunos,
funcionários, gestores, professores e comunidade).
Percebe-se que o ato de avaliar é amplo e não se restringe ao único objetivo, vai
além da medida, posicionando-se favorável ou desfavorável à ação avaliada, propiciando
uma tomada de decisão. Sob a ótica de Sant‟ Anna (1998, p. 29) avaliaç ao um processo
pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do
comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a
construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático.
Observou-se por meio dessa afirmação, que avaliar demanda refletir, planejar e
atingir objetivos, tendo como propósito o entendimento que o ato avaliativo articula-se ao
processo educativo, social e político.
Por outro lado na escola nova, Behrens (2005), destaca como um processo
avaliativo contemplando a autoavaliação e tem como pressuposto a busca de metas
pessoais onde o aluno se responsabiliza pelo seu aprendizado, ocasionando um sujeito
ativo, para aprender e participar da ação educativa.
A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com o processo
democrático da comunidade escolar. Evidentemente, nem sempre foi assim como vimos
na evolução da profissão. A própria expressão linguística nos remete à história, desde o
Brasil colonial, de que o ato de inspecionar nos lembra o ato de fiscalizar, observar,
examinar, verificar, olhar, vistoriar, controlar, vigiar…
Porém, atualmente, a figura deste profissional nas Instituições Escolares
proporciona uma estreita ligação entre os outros órgãos do SistemaEducacional, quer
sejam Secretarias Regionais ou Unidades Escolares, para garantir a aplicação legal do
regime democrático. Por isso, o Inspetor tem uma grande concentração nos aspectos
Administrativos, Financeiros e Pedagógicos das Unidades Escolares, trabalhando
inclusive, como agente sociopolítico.
não se sabe quando alguém que conhece e trabalha na instituição Escolar ainda
estará ou nem se lembrará das situações, casos ou momentos ocorridos; ou seja, as
equipes de trabalhos estão sempre se renovando e acaba necessitando de uma
Escrituração dos fatos, ato na Organização escolar muito bem definida para resguardar a
integridade de todo arquivo (Atas, Diários de Classe, Fichas individuais e entre outros).
Inclusive, como o Inspetor Escolar está sempre em contato com as comunidades
escolares e tem um papel importante na comunicação entre os órgãos da administração
superior do sistema e os estabelecimentos de ensino que o integram, “volta-se para:
organização e funcionamento da escola e do ensino, a regularidade funcional dos corpos
docente e discente, a existência de satisfatórios registros e documenta ão escolar…”
(RESOLUÇÃO 305/83).
Por isso, este profissional, como prática educativa, se torna um importante agente
político e de caráter pedagógico do sistema, pois poderá sugerir mudanças de estratégias
nas decisões dos órgãos do sistema para promover uma implementação organizacional
mais ampla e democrática para garantir acesso de toda sociedade nas Instituições
Escolares, ao conhecimento e à cultura.
Sob o ponto de vista Ideológico, o Inspetor Escolar quando age criticamente nos
aspectos educacionais no momento da aplicação da legalidade pode contribuir nas
reformulações das leis, fazendo o legislador legislar sob o ponto de vista do ato de
educar. Ou melhor, o Inspetor converte o conteúdo ideológico da legislação do ensino em
diretrizes capazes de orientar a ação dos agentes do Sistema. Por isso, é um agente
Político (BIASE, 2009).
Portanto, o papel do Inspetor Escolar no processo democrático é de fundamental
importância social sob o ponto de vista educacional, pois se torna os “olhos”, a presença
ou a representação, a ação do Estado ou do órgão executivo e Legislativo “in loco”, nas
Instituições de Ensino. Inclusive, por causa da aplicação das normas que podem ser
verificada a sua adequação na práxis operativa do
Além das atribuições constantes da Lei n.º 7.109/77 (art. 13, inciso IV), da
Resolução CEE/MG no 305/83 e da Resolução SEE n 7.149/93; compete igualmente ao
Inspetor Escolar:
Homologar o Regimento e o Calendário Escolar, inclusive o Calendário Escolar
Especial (Resolução SEE n. 7.762/95 - art. 2º, § 2º, artigo 6º e Orientação SEE n. 02/95).
ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem Psicológica. (7ª ed.). Porto Alegre: Artes
Médicas, 2000.
PRIMI, R.; Biguetti, C.A.; et al. SDS - Busca Auto Dirigida. Tradução não
publicada, 2000.
BRUM, Nara Ivone Leal de. ZUZE, Adelia Juracy. A supervisão escolar e o
processo avaliativo do conselho de classe. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos
/jornadaeducacao2006/2006/pdf/artigos/pedagogia/A%20SUPERVIS%C3%83O%20ESC
OLAR.pdf Acesso em: 22 fev. 2011.
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação:
para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2000.