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Bell hooks nos conta sobre ter crescido em uma casa em que
as mulheres falavam, em fazer parte de um universo em que as mu-
lheres negras se expressam em linguagens ricas e poéticas. Ela re-
memora que, se, para algumas abordagens do feminismo branco o
silêncio é visto como um instrumento sexista de dominação; para
mulheres negras, o problema não é a imposição do silêncio. Nas
comunidades negras, diz bell hooks, as mulheres não são silentes,
sua luta não é se livrar do silêncio, mas mudar a natureza e a di-
reção do seu discurso, construir um discurso que vincula e engaja
quem ouve, um discurso que é escutado. Aqui, bell hooks, inverte
o famoso enunciado que questiona se as pessoas subalternas podem
falar.92 Transformando a equação, ela foca no esforço empreendido
e na maestria adquirida pelas pessoas subalternas de forma simulta-
neamente precisa, rigorosa, plástica e flexível, para que possam ser
escutadas. Quanto maiores as camadas interseccionais de subalter-
nização, maior o esforço para conseguir pronunciar palavras, cons-
truir pedagogias, linguagens, discursos e interpretações que sejam
ouvidos, considerados e lembrados.
Confusão, ansiedade, violação, descrédito e exposição são os
sentimentos que acompanham quem se desafia a desafiar as formas
aceitáveis de falar, escrever e ser ouvida. É um processo complexo,
em que, se algumas formas ou momentos de expressão podem ser
premiados e valorizados; no final das contas, o discurso das mulhe-
res é confinado. Os discursos que desafiam autoridades e levantam
questões consideradas inapropriadas são inconvenientes, não devem
alcançar públicos maiores e podem trazer dor e punição, como recor-
da bell hooks.
92 Ver o texto precursor de Gayatri Spivak (1988) que lança a pergunta se o su-
balterno pode falar.
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97 Ver, nesse volume, o capítulo Margarida Maria Alves continua a florescer: uma
16 2 FA B I A N A C R I S T I N A S E V E R I (O RG A N I Z A D O R A )
CONCLUSÕES
101 Ver capítulo “Reescrita feminista dos temas 526 e 529 do STF: seguridade so-
cial, afetividade e mulheres ausentes”, de autoria de Andréa Lasevicius Moutinho,
Débora de Araújo Costa, Deise Lilian Lima Martins, Irene Maestro Sarrión dos
Santos Guimarães, Júlia Lenzi Silva, Leila Giovana Izidoro, Maria Angélica Albu-
querque Moura de Oliveira, Marianna Haug e Thamíris Evaristo Molitor.
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REFERÊNCIAS