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FARMACOEPIDEMIOLOGIA

E SEGURANÇA NA
UTILIZAÇÃO DE
MEDICAMENTOS
UNIDADE IV
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS
FÁRMACOS
Elaboração
Juliana Meira Guedes

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS...............................................................................1

UNIDADE IV
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS...............................................................................5

CAPÍTULO 1
FARMACOLOGIA CLÍNICA..................................................................................................... 5
CAPÍTULO 2
FARMACOVIGILÂNCIA........................................................................................................ 11
CAPÍTULO 3
UTILIZAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS......................................................................... 13
PARA (NÃO) FINALIZAR........................................................................................................17

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................19
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DESENVOLVIMENTO DE
NOVOS FÁRMACOS
UNIDADE IV

Capítulo 1
FARMACOLOGIA CLÍNICA

Os fármacos são substâncias químicas que podem ter sua origem animal, vegetal,
mineral ou sintética. Essas substâncias químicas são utilizadas para prevenir,
diagnosticar e tratar doenças.

Com o desenvolvimento da indústria farmacêutica ao final do século XIX, a


descoberta de fármacos cresceu muito. Hoje, a maior parte de medicamentos
novos vem das grandes indústrias farmacêuticas, de medicamentos éticos, genéricos
e inovadores.

Prometem a seus tratamentos farmacológicos uma variedade de modalidades,


que tem como objetivo remover os agentes causadores, aliviar sintomas, reduzir
sofrimento e levar a um resultado satisfatório e de bem-estar de seus usuários.

1.1. Conceito de farmacologia clínica


Sabemos que a farmacologia é o estudo científico das drogas, de onde elas vêm, dos
mecanismos de ação, de sua natureza, da composição química, dos efeitos etc. No
entanto, a farmacologia clínica aparece durante o desenvolvimento e na fase de novas
drogas, buscando melhoria dos resultados farmacoterapêuticos. Seu principal objetivo
é a adesão do paciente ao tratamento, diminuindo custos nos sistemas de saúde,
monitorando as reações adversas e as interações medicamentosas, sempre visando a
melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

1.1.1. As fases da resposta terapêutica

Importante princípio em farmacologia, nos mostra que a resposta terapêutica da grande


maioria dos fármacos depende fundamentalmente da interação entre suas moléculas
com receptores farmacológicos específicos.

Entretanto, é totalmente conhecido que a relação existente entre dose e efeito dos
fármacos é muito variável entre cada indivíduo. Tais variações dependem não só da
dose, mas também da gravidade da doença, das funções cardiológicas, hepatológicas,
renais e da motilidade gastrintestinal, da atividade hormonal e da farmacocinética do
princípio ativo. Assim, várias fases estão envolvidas na resposta terapêutica do fármaco:
fase farmacêutica, fase farmacocinética e fase farmacodinâmica.

1.1.2. Ensaios pré-clínicos

Os primeiros testes são os ensaios pré-clínicos. Têm duração de 1 a 6 anos, podem ser
in vitro ou in vivo e podem ser divididos em farmacológicos e toxicológicos.

In vitro é uma expressão do latim e significa “em vidro”, ou seja, processos biológicos
que são realizados em ambiente fechado, controlado, de um laboratório, normalmente
feitos em recipientes de vidro (exemplo: fertilização in vitro realizada por meio de
técnicas de reprodução assistida).

In vivo, palavra derivada do latim, que significa “dentro do vivo”, ou seja, que ocorre ou
tem lugar dentro de um organismo. Em ciência, in vivo se refere a experimentos com
animais (ratos, cães, camundongos ou outras espécies) ou com tecidos vivos de animais.

Os ensaios pré-clínicos in vitro podem ser do tipo: físico-químico (estrutura, peso


molecular, solubilidade, estabilidade) e celular, onde se realiza a cultura de células e
aplicação da nova droga química a estudar.

Os estudos farmacológicos nessa fase abordam os aspectos farmacocinéticos


e farmacodinâmicos básicos da droga e servem para detectar a toxicidade aguda,
subaguda e crônica. O objetivo é detectar qualquer efeito tóxico que a droga possa
ter sobre a célula, os tecidos e os órgãos e também os seus efeitos carcinogênicos,
mutagênicos e teratogênicos.

Farmacocinético: descreve a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação


dos fármacos.

Farmacodinâmico: descreve os efeitos fisiológicos que as drogas têm em células ou


organismos vivos (como o corpo humano) e mostra como as drogas influenciam

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Desenvolvimento de novos fármacos | UNIDADE IV

as funções corporais por meio das mudanças bioquímicas nos fluidos e nos tecidos
corporais. Descreve o mecanismo de ação e seus efeitos terapêuticos.

Os estudos toxicológicos deverão abordar ensaios de toxicidade aguda, toxicidade de


doses repetidas, toxicidade subcrônica e toxicidade crônica, onde este deve abordar
mutagenicidade, embriofetotoxicidade, alterações de fertilidade, carcinogenicidade,
indução de dependência.

Nos ensaios pré-clínicos in vivo, os estudos toxicológicos mais comuns são por meio
da avaliação da dose letal 50% (DL50), dose eficaz 50% (DE50) e índice terapêutico (IT),
que chamamos de fase aguda.

DL50 é a dose letal em que a concentração de uma substância química é capaz de


matar 50% da população de animais testados em um experimento, por exemplo. A dose
geralmente é medida em miligramas (mg) de substância por quilograma (kg) de massa
corporal do animal testado e depende do modo de exposição ao produto tóxico. Para
cada caso, haverá uma classificação de toxicidade

DE50 é a dose “eficaz” para 50% da população. Sendo assim, depende da medida de
eficácia usada.

Cálculo do índice terapêutico (índice que indica a margem de segurança dos fármacos
– considera as doses letal e eficaz em seu cálculo – quanto maior o IT, maior a sua
segurança):

Índice Terapêutico IT= DL50/DE50

1.2. Ensaios clínicos


Ensaio clínico é o delineamento, com maior poder, para delimitar eficácia de um fármaco
ou outro tratamento. O ensaio clínico consiste no principal método utilizado pela
Farmacologia Clínica. Nele, o tratamento é administrado a um grupo de indivíduos
(grupo intervenção), sendo seus resultados comparados com os verificados em outro
grupo (grupo controle) que recebe substância desprovida de efeito próprio (placebo)
ou tratamento convencional. Segundo a OMS, é “um experimento planejado ética e
cuidadosamente com o objetivo de responder a algumas perguntas precisas e bem
delineadas”.Os princípios cinéticos e dinâmicos, e o perfil tóxico de uma droga continuam
sendo investigados durante as fases clínicas, com supervisão médica e de uma equipe
interdisciplinar sempre que necessária.

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

Durante a Fase I, a droga vai ser testada em um pequeno número de indivíduos (na
casa da dezena) voluntários e saudáveis. Essas pesquisas se propõem a estabelecer
uma evolução preliminar da segurança e do perfil farmacocinético e, quando
possível, um perfil farmacodinâmico. Farmacocinética no ser humano (metabolismo e
biodisponibilidade).

1.2.1. Fase l: tolerância em voluntários saudáveis


» Maior dose tolerável.

» Menor dose efetiva.

» Relação dose/efeito.

» Duração do efeito.

» Efeitos colaterais.

Na Fase II, administra-se a droga em um número seleto de pacientes doentes, para


demonstrar efetividade potencial da medicação. É conhecido como Estudo Terapêutico
Piloto, que tem como objetivos demonstrar a atividade e estabelecer a segurança em
curto prazo do princípio ativo, em pacientes afetados por uma determinada enfermidade
ou condição patológica. As pesquisas realizam-se em um número limitado e reduzido
de pessoas e frequentemente são seguidas de estudo de administração.

1.2.2. Fase ll (estudo terapêutico piloto)


» Indicação da eficácia.

» Confirmação da segurança.

» Biodisponibilidade e bioequivalência de diferentes formulações.

Na Fase III, são conduzidos testes extensivos, de significância estatística. Exploram-se


nessa fase o tipo e perfil das reações adversas mais frequentes, assim como características
especiais do medicamento e/ou especialidade medicinal, por exemplo: interações
clinicamente relevantes, principais fatores modificatórios do efeito, como idade etc.

Fase lll: estudos internacionais, de larga escala, em múltiplos centros, com diferentes
populações de pacientes para demonstrar eficácia e segurança (população mínima
aprox. 800).

» Conhecimento do produto em doenças de expansão.

» Estabelecimento do perfil terapêutico.

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» Indicações.

» Dose e via de administração.

» Contraindicações.

» Efeitos colaterais.

» Medidas de precaução.

» Demonstração de vantagem terapêutica (ex.: comparação com competidores).

» Farmacoeconomia e qualidade de vida.

» Estratégia de publicação e comunicação (exs.: congressos e workshops).

1.2.2.1. Estudo terapêutico ampliado

São estudos realizados em grandes e variados grupos de pacientes, com o objetivo de


determinar:

» resultado do risco/benefício a curto e longo prazos das formulações do princípio


ativo;

» maneira global (geral) do valor terapêutico relativo.

Depois de iniciada a comercialização da droga, uma nova fase conhecida como


farmacovigilância começa, e então os efeitos colaterais, as indicações adicionais, a
eficácia e a tolerância podem ser investigadas por completo.

1.2.3. Fase IV: após aprovação para comercialização do


produto
» Pós-registro da medicação nos órgãos competentes.

» A medicação já está na farmácia.

» Detectar eventos adversos, pouco frequentes ou não esperados (vigilância


pós-comercialização).

» Estudos de suporte ao marketing.

» Estudos adicionais comparativos com produtos competidores.

São pesquisas realizadas depois de comercializado o produto e/ou especialidade


medicinal.

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

Essas pesquisas são executadas com base nas características com que foi autorizado
o medicamento e/ou especialidade medicinal. Geralmente são estudos de vigilância
pós-comercialização, para estabelecer o valor terapêutico, o surgimento de novas
reações adversas e/ou confirmação da frequência de surgimento das já conhecidas, e
as estratégias de tratamento.

Nas pesquisas de Fase IV, devem-se seguir as mesmas normas éticas e científicas
aplicadas às pesquisas de fases anteriores (ANVISA, s/d).

Os testes clínicos são cuidadosamente planejados, projetados e controlados. Os


randomizados são os mais frequentes. São diferentes dos estudos observacionais porque
nos ensaios clínicos é feita uma intervenção, em geral são estudados dois grupos, o de
controle e o tratado.

1.3. Nota sobre placebos


Os ensaios controlados são aqueles em que se compara o teste com o controle (placebo:
“ativo” ou “inativo”). Podem ser divididos em abertos (tratamento conhecido) e cegos
(uma ou ambas as partes desconhecem o tratamento).

Placebo: são substâncias farmacologicamente inativas ou ativas, mas com o fundamento


de que é um tratamento inerte que apresenta efeitos fisiológicos desencadeados pela
crença do paciente que está sendo tratado.

Placebo ativo: um comprimido de vitamina C pode aliviar a dor de cabeça de quem


acredite estar ingerindo um analgésico, sendo um exemplo clássico de que o que cura
é não apenas o conteúdo do que inferimos, mas também a forma.

Placebo inativo: por exemplo, no uso de cápsulas desprovidas de substâncias terapêuticas


ou contendo produtos conhecidamente inertes e inócuos, que são administrados em
pacientes para comparar o efeito da sugestão no tratamento de doenças.

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Capítulo 2
FARMACOVIGILÂNCIA

Farmacovigilância é definida como a ciência e atividades relacionadas à detecção,


avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro problema
relacionado aos medicamentos após a sua comercialização.

É uma ferramenta essencial para a organização de sistemas de relatos de reações


adversas, monitoramento de fármacos, vigilância de produtos pós-comercialização e
programas nacionais de saúde pública.

Corresponde aos procedimentos que, na farmacologia clínica, são mais conhecidos


como Fases IV e V, sendo importante e complementar aos ensaios clínicos das Fases
I, II e III, já que estes últimos podem não ser realizados sobre um número suficiente
de pacientes tratados durante um período suficientemente longo para que sejam
detectados todos os efeitos indesejáveis desse medicamente. Esses efeitos podem ser
tardios, resultar de interações de outros produtos, podem atingir outro grupo de risco
que não foram estudados, portanto é essencial que se dê continuidade ao estudo de
um medicamento após a sua comercialização. Vale ressaltar que é um ponto de partida
ou um alerta para a necessidade de desenvolvimento de estudos epidemiológicos mais
apurados voltados para o estabelecimento de relações de causa e efeito. Esses serão
estudos farmacoepidemiológicos tipo caso-controle, coorte ou mesmo transversal. Os
estudos transversais propiciam informações importantes sobre o uso de medicamentos
que são especialmente úteis em países como o Brasil, onde as políticas de regulação
de medicamentos ainda não alcançaram a eficácia e o nível de organização desejados.

Segundo a OMS, “um reporte de casos em farmacovigilância pode ser definido como:
uma notificação relativa a um paciente com um evento adverso médico (ou teste de
laboratório anormal) suspeito de haver sido induzido por um medicamento”.Essa suspeita
logo deve ser confirmada, e toda informação coletada é válida para começar. Dados
cronológicos são importantíssimos e um profissional capacitado é parte fundamental
do processo.

Uma vez confirmada, é importante comunicar. São diversas as fontes de informação


em farmacovigilância: estão os boletins, que chamamos também de notificações
espontâneas, temos os estudos ou publicações em jornais científicos, sites como a
Anvisa e outras fontes.

A informação proveniente do notificador é inicialmente colhida num nível local,


transmitida a uma estrutura central onde será avaliada e classificada de acordo com
um índice restrito, depois, se necessário, é difundida para uma ou várias administrações

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

regionais, sendo que cada uma tem seus métodos de tratamento e conduta. E, logo
mais, difundida por meio de cada ente regulador ao laboratório fabricante.

O instrumento principal de um sistema de farmacovigilância é o boletim de notificação


–um instrumento simples e objetivo, no qual encontramos informações básicas sobre a
identificação do paciente, o uso de medicamentos e sobre a suspeita de reação adversa.

No boletim devem constar as iniciais dos pacientes, sexo e data de nascimento, os nomes
dos medicamentos envolvidos, o motivo do seu uso, a dosagem diária administrada, as
datas de início e fim do período de uso, o uso concomitante de outros medicamentos,
a descrição da reação suspeita observada e a identificação e o endereço do notificador.

Informações sobre o comportamento da reação suspeita após a retirada ou reintrodução


do medicamento em questão, a situação clínica dos pacientes no que diz respeito a
patologias importantes preexistentes e resultados de exames laboratoriais realizados
também podem constar no boletim.

Padronização e harmonização são necessárias. Para encontrar e agrupar as anomalias


próximas ou semelhantes do ponto de vista médico, foram propostas terminologias
para as reações indesejáveis, sendo que a da OMS é a mais difundida. Trata-se em
realidade de listas de términos sem definição, porque existem inúmeras definições, por
exemplo, se compararmos as definições de vários dicionários médicos, vamos notar essas
variações. Mas a ideia é não rejeitar nenhuma informação com o objetivo de melhorar o
conhecimento de um medicamento e de identificar os dados imprecisos ou incoerentes.

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Capítulo 3
UTILIZAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS

3.1. Uso racional de medicamentos


Cadeia do Medicamento: processo que envolve as etapas do registro
até o uso do medicamento pela população, sendo que cada uma
das etapas é determinante do efeito final do fármaco. A cadeia do
medicamento envolve: os sistemas de saúde, indústria farmacêutica,
universidades, sociedades científicas, profissionais de saúde, usuários
(pacientes), registro do produto, comercialização, distribuição,
prescrição, dispensação e utilização. (BRASIL, 1988). Os pacientes
recebem a medicação adequada a suas necessidades clínicas, nas doses
correspondentes aos seus requisitos individuais, durante um período
de tempo adequado e ao menor custo possível para eles e para a
comunidade. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, s/d).

Múltiplos fatores influenciam a prática do uso não racional de medicamentos: como a


promoção desregulada de medicamentos por parte da própria indústria farmacêutica,
ou EUM, a falta de acesso à informação, crenças e práticas inadequadas dos profissionais
da saúde e dos consumidores. Essa prática incorreta tem como resultado o aumento na
taxa de uso irracional de medicamentos e suas consequências resultam em aumento
de morbidade e mortalidade por uso de medicamentos.

É muito importante lembrar que, para um uso racional, em primeiro lugar, é necessário
estabelecer a necessidade do uso do medicamento. Convém destacar que o conceito de
dispensação é um ponto importante a se considerar quando se trata de uso racional de
medicamento, e a preocupação maior ainda é a automedicação, pois é uma das grandes
causas de Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRMs).

Os PRMs relacionam os efeitos adversos, ou Reações Adversas Medicamentosas (RAMs),


entre outros problemas e complicações clínicas que possam resultar de uma utilização
de medicamentos, e são conhecidos também como: Drugrelated Problems (DRP); Drug
Therapy Problems (DTP); Medicine Related Problems (MRP), entre outros.

Problemas de saúde entendida como resultados clínicos negativos,


derivados da farmacoterapia que, produzidos por diversas causas,
conduzem ao não alcance dos objetivos terapêuticos ou ao surgimento
de efeitos não desejados. (SANTOS et al., 2004, p. 65). Seu conceito surge
a partir de três pontos importantes: indicação, efetividade e segurança,
discutidos no Consenso de Granada.

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

O Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados com


Medicamentos (PRM) publicado em 1999 foi um marco importante
para todos os profissionais de saúde que, quer na área da investigação,
quer na prática clínica, trabalham em seguimento farmacoterapêutico.
Este Consenso de Granada sobre PRM visa propor uma ferramenta de
trabalho a todos os autores e investigadores que, na área do seguimento
do tratamento farmacológico, pretendam homologar os resultados dos
seus trabalhos. (SANTOS et al., 2004).

Conheça mais sobre o Consenso de Granada utilizando este endereço web: https://
www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/1752/1329.

Para os Santos et al. (2004), a definição de PRM é a falha da farmacoterapia que resulta
no não alcance dos objetivos terapêuticos ou que ela produza efeitos não desejados.

O primeiro Consenso de Granada estabelece uma classificação baseada nas três


necessidades básicas de farmacoterapia: necessidades, efetividade e segurança, que
podemos ver em detalhe a seguir.

» Necessidade que os medicamentos estejam indicados.

› PRM 1: o paciente não usa o medicamento que necessita.

› PRM 2: o paciente usa os medicamentos que não necessita.

» Necessidade que os medicamentos sejam efetivos.

› PRM 3: o paciente usa um medicamento que, indicado para a situação, está


mal selecionado.

› PRM 4: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração inferior à necessária.

» Necessidade que os medicamentos sejam seguros.

› PRM 5: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração superior à necessária.

› PRM 6: o paciente usa um medicamento que provoca reação adversa (RAM).

Recentemente foram sugeridas algumas modificações para essa classificação: a primeira


eliminação do termo duração, dos PRMs 4 e 5, por confundir com os PRMs 1 e 2. A
segunda foi a modificação do enunciado do PRM 3, proposto por Díez Rodrigálvarez e,
em seguida, a substituição do termo por má seleção do medicamento, mudando para
o paciente que não responde ao tratamento.

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Desenvolvimento de novos fármacos | UNIDADE IV

Devido a esses erros e consequências, surgiram os resultados negativos associados à


medicação (RNM), que estão relacionados ao resultado dos PRMs, e o uso inadequado
de medicamentos, que é um problema de saúde pública prevalente em todo o mundo.

Para erradicar esses PRMs, devemos pôr em prática a atenção farmacêutica (AtenFar)
que engloba todas as atividades realizadas pelo farmacêutico em orientação ao paciente,
e que tem como objetivo conseguir o máximo de benefício dos medicamentos, assim
como a promoção de ações que proporcionem saúde e previnam doenças. Em uma
de suas etapas, está o seguimento farmacoterapêutico, que consiste no compromisso
do profissional, sempre em colaboração com os pacientes, e sua função incide em
identificar, prevenir e resolver os resultados negativos que estão associados à medicação,
juntamente com as causas que podem ser prevenidas. A falha na farmacoterapia ocorre
quando não se consegue os resultados terapêuticos desejados e quando provoca danos
adicionais. Essa falha tem um custo adicional à saúde dos pacientes e sobre os recursos
sanitários e sociais, o que a torna um verdadeiro problema de saúde pública.

A sua ausência pode resultar em administração errada do medicamento, conservação


inadequada, contraindicações, dose e duração de tratamento equivocados, duplicidade,
erros na dispensação, erros na prescrição, não cumprimento da terapia, efeitos adversos
etc.

Muitos autores conhecidos citam a AtenFar, e todos chegam ao mesmo ponto.


Para brindar a AtenFar, o farmacêutico deveria dedicar um tempo para entender às
necessidades do paciente, assim como a sua saúde e enfermidades, com a colaboração
de outros profissionais de saúde no planejamento, na implementação e na monitorização
de uma farmacoterapia segura e efetiva. Nesse processo de AtenFar, foram desenvolvidos
muitos métodos.

Vamos conhecer dois grandes métodos utilizados na AtenFar: o método Dáder e


o Pharmacist’s Workup of Drug Therapy (PWDT). Ambos facilitam o seguimento
farmacoterapêutico de pacientes de uma forma simples, baseando-se nos problemas
de saúde apresentados pelo paciente para identificar e resolver os PRM.

O PWDT é um processo de tomada de decisão em que as necessidades dos pacientes


com relação à farmacoterapia são abordadas e documentadas de maneira sistemática,
através da coleta de dados, e se avaliam as necessidades do usuário referentes a
medicamentos, as ações a tomar, segundo os recursos disponíveis, para suprir aquelas
necessidades e se realiza o acompanhamento dos resultados terapêuticos obtidos.
Se arma um plano de atenção, monitorização e avaliação para seguimento. Sua parte

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

positiva é que possui muito bem desenvolvida a parte de planejamento dos cuidados
ofertados.

Já o método de Dáder trata-se de um sistema simples que nos permite realizar esse
seguimento a qualquer paciente, em qualquer tipo de assistência sistematizada,
documentada e contínua, em que é permitido registrar, monitorar e avaliar os efeitos
da farmacoterapia, com a colaboração do próprio paciente e dos demais profissionais
de saúde, buscando alcançar resultados concretos que melhorem a saúde do paciente.

O lado positivo desse método é que ele propõe um procedimento concreto, e


proporciona tempo para a avaliação das informações em conjunto com a fase de
estudo, no qual se elabora um estado de situação objetivo do paciente. Deste, derivam-
se as intervenções farmacêuticas correspondentes, nas quais cada profissional clínico,
conjuntamente com o paciente e seu médico, decide o que fazer em função dos
conhecimentos e condições particulares que afetam cada caso.

De acordo com a RDC n. 44/2009, entende-se por boas práticas farmacêuticas “o


conjunto de técnicas e medidas que visam assegurar a manutenção da qualidade e
segurança dos produtos disponibilizados e dos serviços prestados em farmácias e
drogarias, com o fim de contribuir para o uso racional desses produtos e a melhoria da
qualidade de vida dos usuários”.

Pode-se observar no art. 63 o objetivo da AtenFar:

A atenção farmacêutica deve ter como objetivos a prevenção, detecção


e resolução de problemas relacionados a medicamentos, promover o
uso racional dos medicamentos, a fim de melhorar a saúde e qualidade
de vida dos usuários.

Não nos esqueçamos disso!

Matéria Consumo de medicamentos: um autocuidado perigoso, disponível em


http://www.conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2005/medicamentos.htm.

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PARA (NÃO) FINALIZAR

3.2. Epidemiologia e medicamentos


Ao longo dos últimos anos, muitas ferramentas têm sido utilizadas em busca de melhorar
a qualidade dos serviços de saúde.

Durante nosso módulo, passamos por todos os conceitos relacionados à segurança de


medicamentos, finalizando na sua utilização correta e segura.

Segundo a Anvisa, a definição de Farmacoepidemiologia é a aplicação do método e


raciocínio epidemiológico no estudo dos efeitos – benéficos e adversos – e do uso de
medicamentos em populações humanas e está reconhecida pela Portaria n. 3.916/MS/
GM, de 30 de outubro de 1998.

Ela surge com a necessidade de avaliar os riscos associados ao emprego generalizado de


medicamentos e à vigilância de sua eficácia em condições normais de uso, efetividade
e uma junção de farmacologia clínica e da epidemiologia. Seu desenvolvimento está
centrado, em uma parte, ao estudo da segurança dos fármacos, sobretudo durante a
etapa pós-comercialização e, por outra parte, no âmbito dos estudos de utilização de
medicamentos.

No Brasil, teve seu início quando Carlos da Silva Lacaz, médico, cientista e professor,
formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, destacou-se no estudo
da medicina de doenças tropicais e, juntamente com seus colaboradores, publicou o
livro “Doenças Latrogênicas”, no início da década de 1970, com o objetivo de alertar
os profissionais de saúde quanto ao risco relacionado ao uso dos medicamentos.
Desse modo, podemos considerar o início das discussões relativas ao assunto
farmacoepidemiologia.

Doenças Iatrogênicas para farmacologia são doenças ou alterações patológicas


resultantes de efeitos adversos dos medicamentos, que podem ocorrer devido a um
erro médico, uma negligência, ou imprudência e imperícia de algum profissional da área
de saúde, ou ainda devido ao uso inadequado de antibióticos e demais medicamentos
por diagnóstico equivocados, por automedicação, uso excessivo de medicamentos ou
por desinformação de como administrar a medicação, entre outros.

Observamos que os ensaios clínicos não são feitos sobre um número suficiente de
pacientes tratados durante um período suficientemente longo para permitir detectar
todos os efeitos indesejáveis do produto estudado, e necessitam às vezes de muitos
recursos para sua realização que infelizmente nem sempre está disponível. Os estudos

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UNIDADE IV | Desenvolvimento de novos fármacos

intensivos ou os estudos de coorte têm custos muito elevado e nunca conseguem


pacientes suficientes para descobrir e finalizar um estudo com segurança, por exemplo,
de reações indesejáveis cuja incidência é inferior a 1 para 5 mil ou 10 mil pacientes.

Devido a esse motivo, é indispensável completar os conhecimentos de um medicamento


após sua comercialização.

A metodologia epidemiológica deve estar vinculada desde o começo com todos os


processos de planificação da saúde, a fim de conhecer as necessidades e as demandas
da população, mediante uma nova análise e avalição de necessidades básicas.

Hospitais, clínicas, centros de unidades básicas, farmácias, assim como todas as


organizações relacionadas à atenção de serviços de saúde, necessitam de ferramentas
essenciais de epidemiologia.

A Farmacologia, como vimos, é essencial para a saúde pública, e a farmacovigilância


ocupa um lugar cada vez mais importante na avalição da relação risco/benefício de um
medicamento. Os avanços metodológicos das últimas três décadas são muitos. O desafio
agora é evitar o foco excessivo no método em detrimento dos objetivos farmacológicos
e de saúde pública.

A notificação espontânea é uma fonte insubstituível de informações para esses objetos


de estudos. A equipe deve ser de multidisciplinares, já que os médicos nem sempre
são formados ou sensíveis a essa atividade, o que não é o caso de transformar todos
os médicos em especialistas da avalição de um medicamento.

Vale lembrar que as reações podem começar antes mesmo da utilização de um


medicamento, por isso ela deve ser estudada. Algumas surgem minutos ou horas
depois de seu primeiro uso. Sua evolução cronológica é muito importante: uma reação
que desaparece quando o tratamento é continuado tem poucas chances de ser devida
ao produto utilizado, e uma reação que reaparece de forma idêntica sem a retomada
da administração do medicamento, vários dias depois também, tem poucas chances
de ser devido ao medicamento. Agora se reaparece após a volta da administração do
medicamento, tem grandes chances de ser devido ao seu uso.

Uma boa avalição requer tempo, com dados bem precisos, como datas, horários
início e términos da administração do medicamento, e o tempo em que surge o efeito
indesejável ou a anomalia e profissionais, além de aptos, dispostos a dedicar seu tempo
a esse seguimento.

Hoje contamos com sistemas on-line de notificação. A primeira portaria é a Portaria CVS
n. 04, publicada em 2005, que atualiza e institui os formulários de notificação de suspeita
de RAM e desvio de qualidade, dispõe sobre seus fluxos e dá outras providências
correlatas.

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REFERÊNCIAS

ACURIO, F. A.; GUIMARAES, M. D. C. Health care utilization and survival among patients with Aids in Belo
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