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Fases do protocolo clínico e princípios na área

da saúde.

 O conceito de pesquisa
O termo pesquisa significa um estudo que ocorre de maneira sistemática para
avaliar, descrever ou descobrir fatos relacionados a qualquer um dos diversos campos
do conhecimento.
A realização de pesquisas é de extrema importância, pois graças a elas são
produzidas o conhecimento científico necessário para, entre outras coisas, a melhoria
da assistência à saúde.
Dentre os vários tipos de pesquisa na área da saúde, pelo menos, dois tipos
são as mais frequentemente produzidas: as epidemiológicas e as de desenvolvimento
de novos fármacos e procedimentos médicos.
 Pesquisa epidemiológica
Pesquisas epidemiológicas são estudos nos quais são avaliadas a distribuição
dos determinantes dos eventos ou padrões de saúde em populações definidas, e a
aplicação desses conhecimentos no controle de problemas de saúde.
Essas pesquisas têm por objetivo descrever a distribuição e a frequência
temporal dos eventos ligados à saúde em populações e/ou subpopulações
específicas, avaliar a ocorrência de uma determinada doença, identificando as
possíveis causas da sua distribuição e modo de transmissão nas populações
avaliadas, e controlar a ocorrência dessa doença através da aplicação de métodos de
prevenção de novos casos e damelhoria da qualidade de vida daqueles indivíduos que
já estão doentes.
 Pesquisa de desenvolvimento de novos fármacos e/ou procedimentos
médicos
Geralmente as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de novos fármacos
e/ou procedimentos médicos são financiados por empresas farmacêuticas, com a
finalidade de verificar a capacidade terapêutica de determinados compostos ou
moléculas.
Esses estudos são de longa duração, passando por fases pré-clínicas,
envolvendo testes em animais e posteriormente fases clínicas, nas quais há a
participação de pacientes. Esse tipo de pesquisa e as diferentes etapas que a
compõem serão detalhados mais adiante.

Definição de protocolo clínico


O termo protocolo clínico significa o mesmo que estudo clínico ou ensaio
clínico, e são utilizados para denominar uma pesquisa científica sistemática que
abrange qualquer investigação em que haja a participação de seres humanos, cujo
objetivo seja o estudo dos efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou
outros efeitos de um determinado produto terapêutico em fase de testes.
O produto mencionado pode ser uma droga, instrumento ou equipamento, cuja
finalidade visa o tratamento, prevenção ou diagnóstico de um determinado processo
patológico. Além disso, os protocolos clínicos também têm como objetivo identificar e
caracterizar as possíveis reações adversas relacionadas ao produto em investigação,
bem como estudar a absorção, a distribuição, o metabolismo e a excreção do mesmo
e, dessa maneira, determinar sua segurança e/ou eficácia terapêutica.
Fármaco deriva do termo grego phrn, que tanto pode significar veneno como
remédio, literalmente “aquilo que tem o poder de transladar as impurezas”. Entre
os gregos, vítimas dos sacrifícios oferecidos aos deuses eram chamadas
de pharmakó, e o alimento utilizado durante as cerimônias de
comunhão, phármakon. Essa última palavra passou a integrar a terminologia
médica grega e chegou até nossos dias com o nome de fármaco. Para os
gregos, phármakon era aquilo que poderia trazer tanto o bem quanto o mal,
manter a vida ou causar a morte.

o Fases do protocolo clínico


Um protocolo clínico é dividido tradicionalmente em quatro fases distintas: I, II,
III e IV. Entretanto, para que uma droga seja liberada clinicamente para os testes em
seres humanos, antes ela precisa passar por estudos pré-clínicos, nos quais a
segurança a e tolerabilidade do medicamento serão avaliadas em animais de
laboratórios (cobaias); somente após esse período o medicamento é aprovado,
dependendo dos resultados favoráveis, para as fases posteriores.
É necessário que a droga passe por cada uma das fases de investigação
clínica, até que uma gama de informações seja coletada de modo a conhecer a real
eficácia do medicamento sobre determinado processo patológico, sem que haja dano
à saúde do paciente.
Inicialmente, um grande número de moléculas ou princípios ativos é
desenvolvido, mas somente pouquíssimos seguem adiante nas fases consecutivas, e
menos ainda serão aqueles que conseguirão chegar ao mercado para o uso clínico,
como mostrado no gráfico de desenvolvimento de novos medicamentos. (gráfico 1).

Diferentes fases do protocolo clínico no desenvolvimento de novos


medicamentos e a duração de cada etapa.
Uma vez desenvolvida a molécula candidata a um novo medicamento, o tempo gasto
em cada uma das fases anteriormente mencionadas pode variar. Os estudos pré-clínicos
podem durar até cinco anos, antes de se iniciarem os testes em seres humanos. As fases dos
ensaios clínicos variam de um a dois anos, e esse período pode ainda ser maior, dependendo
do medicamento. Em média, um novo medicamento demora de 10 a 12 anos para ser
aprovado para uso terapêutico em humanos, após sua aprovação para comercialização pelos
órgãos regulamentadores, que no Brasil é responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA).
A patente, que assegura à empresa farmacêutica responsável pelo desenvolvimento, e
a exclusividade na comercialização do novo medicamento dura, em média, de 8 a 10
anos. Após esse período, expira-se a patente, e outras empresas podem produzir e
comercializar medicamentos com o mesmo princípio ativo, os genéricos, ou similares.
Cada uma das fases de um protocolo clínico será resumidamente caracterizada nos
tópicos seguintes.
 Fase pré-clínica
Primeiramente, a molécula ou princípio ativo daquele que será um possível
novo medicamento, precisa ser isolado e identificado em laboratório e após a sua
síntese, seja essa de maneira natural ou sintética, deve ter seu potencial terapêutico
avaliado em estudos in vitro. Em seguida, na fase pré-clínica, o medicamento em
desenvolvimento precisa ser testado em animais de laboratório.
Neste período são obtidas informações essenciais sobre a
atividadefarmacológica e a segurança do mesmo. A grande maioria (mais de 90%) das
moléculas candidata a futuros novos medicamentos, não conseguem passar dessa
fase por não demonstrarem a atividade terapêutica esperada, ou, por ainda serem
farmacologicamente ativas apresentam uma alta toxidade, o que compromete
drasticamente o seu teste em humanos. As moléculas que apresentam atividade
terapêutica esperada e uma taxa de toxicidade aceitável são então liberadas para a
fase seguinte do protocolo clínico (Fase I).
 Fase I
A fase I ocorre quando o candidato a um novo medicamento é testado pela
primeira vez em seres humanos. Nessa etapa, são selecionados pequenos grupos de
indivíduos saudáveis e voluntários que varia, em média, entre 20 a 100 participantes.
Dessa maneira, os voluntários não apresentam o processo patológico para qual
o medicamento está sendo desenvolvido, pois, nessa fase, o objetivo é avaliar o perfil
farmacocinético do medicamento.
Esse perfil engloba os dados de segurança e toxicidade, suas diferentes
vias de administração (absorção), distribuição e metabolismo do novo
medicamento no organismo humano, além da sua interação com outras drogas
ou o álcool, por exemplo.
Alguns parâmetros serão bem avaliados como a maior dose tolerável e a
menor dose efetiva, a relação dose/efeito e a sua duração e, principalmente, os seus
efeitos colaterais.
 Fase II
Após o medicamento apresentar os parâmetros farmacocinéticos esperados
durante a Fase I, então, este segue para a Fase II do protocolo clínico, também
chamada de Estudo Terapêutico Piloto. Nessa fase, o medicamento será testado em
um grupomaior de indivíduos, e todos os indivíduos voluntários participantes
apresentam o processo patológico para o qual o medicamento foi desenvolvido.
Aproximadamente entre 100 a 300 indivíduos são incluídos nessa fase, cujo objetivo
visa estabelecer o efeito entre a dose ministrada do medicamento e a resposta obtida
em resposta a essa dose. Diferentes dosagens serão analisadas nessa fase, de modo
que possa ser avaliada a efetividade terapêutica associada à segurança do uso do
medicamento. Para isso, são mensurados dois parâmetros: a biodisponibilidade, que
indica a velocidade e a extensão de absorção do medicamento para uma determinada
dosagem na corrente sanguínea, e a bioequivalência, na qual se compara a
biodisponibilidade de dois medicamentos que apresentam o mesmo princípio ativo e a
mesma indicação terapêutica, administrados pela mesma via, usando a mesma dose.
 Fase III
Depois de concluída a Fase II, inicia-se a Fase III, na qual começam os
grandes estudos multicêntricos, são incluídos entre 300 a 1.000 pacientes que
apresentam o mesmo processo patológico. Durante essa fase, os pacientes são
acompanhados durante um período prolongado, sendo inclusive comparados a outras
terapias já existentes para o mesmo processo patológico; com isso, se obterão
maiores informações sobre a eficácia do medicamento. Nessa fase, os pacientes são
divididos em dois grupos: o grupo investigacional (que recebem o tratamento habitual)
e o grupo controle (que recebem o novo tratamento) e, no final, ambos serão
comparados, de maneira que seja possível estabelecer qual deles será o melhor. É
durante essa fase que são obtidas as informações necessárias para a elaboração da
bula do novo medicamento, como as indicações, dosagem, via de administração,
efeitos adversos e contraindicações. A partir dessas informações será possível a
liberação do medicamento para uso comercial pelos órgãos competentes.
 Fase IV
A Fase IV, também conhecida como farmacovigilância, é a última etapa do
protocolo clínico e ocorre após a aprovação do novo medicamento e a sua
comercialização no mercado. Durante essa fase, milhares de pacientes que fazem uso
dessa nova droga são acompanhados, de modo a se obterem maiores informações
sobre a sua real segurança/tolerabilidade e eficácia. Essa etapa é importante para a
identificação de efeitos adversos, até então não detectados nas fases anteriores do
protocolo clínico, bem como fatores de risco que poderiam comprometer a
manutenção do novo medicamento no mercado com fins terapêuticos.

o Participantes dos protocolos clínicos

Teoricamente, qualquer indivíduo pode participar de um protocolo clínico,


desde que esteja adequadamente esclarecido sobre como será conduzida a pesquisa
a qual ele se propõe a compor.
Durante o esclarecimento ao participante, seja ele um indivíduo saudável ou
um paciente com um determinado processo patológico, devem ser expostas
informações importantes como os riscos que ele poderá correr, quais são seus direitos
e deveres ao fazer parte do estudo e, finalmente, o seu consentimento.
Após esse esclarecimento inicial, o participante deverá, obrigatoriamente,
assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) no qual ele aceita
participar da pesquisa antes de começar qualquer procedimento relacionado a ela.
Como cada protocolo clínico tem um objetivo específico, baseado nas
características do novo medicamento, cada pesquisa apresentará critérios de inclusão
e exclusão bem definidos na escolha dos participantes. Serão esses critérios que
ditarão quais indivíduos estão aptos ou não em participar do protocolo clínico. Além
disso, quando o participante do estudo for mentalmente incapaz ou menor de 21 anos,
o responsável legal deve autorizar sua participação no protocolo clínico.
o Princípios éticos para pesquisa com seres humanos
A pesquisa clínica envolvendo seres humanos trouxe grandes avanços para o
conhecimento médico contribuindo para melhorar a qualidade de vida do homem.
No entanto, a experimentação com seres humanos foi exercida por muitos
anos de forma abusiva.
Um dos primeiros textos que propôs aspectos relativos à Medicina foi o
juramento de Hipócrates, de V a. C., que não cita sobre a autossuficiência do ser
humano, já que menciona sobre outros fatos como o sigilo médico.
As pesquisas com seres humanos por um código de condutas éticas só foram
especificadas no Código de Nuremberg, de 1947.
As pesquisas com seres humanos por um código de condutas éticas só foram
especificadas no Código de Nuremberg, de 1947.
 Código de Nuremberg
Nos campos de concentração nazistas, durante o século XX, prisioneiros
judeus foram cruelmente usados em experimentos científicos por médicos Alemães.
Com o fim da segunda guerra em 1946, foi iniciado um Tribunal Militar
Internacional em Nuremberg, para julgar os médicos que cometeram os brutais
experimentos nos campos de concentração.
Juntamente com o fim deste julgamento, em 1947, foi elaborado um documento
conhecido com Código de Nuremberg, no qual foram definidos 10 princípios que
legitimaram experimentos médicos com seres humanos e determinam as normas do
consentimento informado sendo a primeira vez que surgiu a ideia do direito de
autonomia ao paciente que participa do experimento evitando assim abusos na
pesquisa cientifica.
Entretanto, tal código não foi incorporando em estudos futuros até a formulação
da Declaração de Helsinque em 1964.
 Princípios do Código de Nuremberg
O tribunal internacional se reuniu na cidade de Nuremberg para julgar
criminosos de guerra e, dentre outras ações, realizarem um código de ética para
pesquisa com seres humanos. O Código de Nuremberg, publicado em 1947, e possui
como intenção evitar os abusos, como os cometidos pelos médicos em campos de
concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
No site do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de
São Paulo (CREMESP) consta a transcrição dos dez princípios do Código de
Nuremberg:
Íntegra
Tribunal Internacional de Nuremberg - 1947
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa
que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes
de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem
qualquer intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra
forma de restrição posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo
para tomarem uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às
pessoas a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os
quais será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a
saúde ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente possam ocorrer, devido
à sua participação no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a
qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um
experimento ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que
não podem ser delegados a outrem impunemente.
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade,
que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser
feitos de maneira casuística ou desnecessariamente.
3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em animais e
no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa
maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do experimento.
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos
desnecessários, quer físicos, quer materiais.
5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para
acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o
próprio médico pesquisador se submeter ao experimento.
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o
pesquisador se propõe a resolver.
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento
de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota.
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente
qualificadas.
9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do
experimento
10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos
experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a
continuação do experimento provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os
participantes.
 Declaração de Helsinque
Em junho de 1964, durante a 18ª Assembleia Médica Mundial, em Helsinque,
na Finlândia, a Associação Médica Mundial elaborou a Declaração de Helsinque. A
Declaração baseia-se nos dez primeiros princípios defendidos no Código de
Nuremberg aliado à Declaração de Genebra (1948), frisando os deveres éticos do
médico.
A Declaração reformula algumas falhas que o Código de Nuremberg
apresentava, ressaltando o bem-estar do ser humano como prioridade nos interesses
científicos e dando importância ao consentimento esclarecido e livre. Esse documento
se tornou referência na maioria das diretrizes nacionais e internacionais como o
primeiro documento para regulamentar a investigação científica sendo base da maioria
dos documentos subsequentes.
Proposta na 18ª Assembléia Médica Mundial, em Helsinque, Finlândia, em
1964.A Declaração de Helsinque está disponível no site da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS):
I – Princípios básicos
1. A pesquisa clínica deve adaptar-se aos princípios morais e científicos que justificam
a pesquisa médica e deve ser baseada em experiências de laboratório e com animais
ou em outros fatos cientificamente determinados.
2. A pesquisa clínica deve ser conduzida somente por pessoas cientificamente
qualificadas e sob a supervisão de alguém medicamente qualificado.
3. A pesquisa não pode ser legitimamente desenvolvida, a menos que a importância
do objetivo seja proporcional ao risco inerente à pessoa exposta.
4. Todo projeto de pesquisa clínica deve ser precedido de cuidadosa avaliação dos
riscos inerentes, em comparação aos benefícios previsíveis para a pessoa exposta ou
para outros.
5. Precaução especial deve ser tomada pelo médico ao realizar a pesquisa clínica na
qual a personalidade da pessoa exposta é passível de ser alterada pelas drogas ou
pelo procedimento experimental.
II - A pesquisa clínica combinada com o cuidado profissional
1 - No tratamento da pessoa enferma, o médico deve ser livre para empregar novos
métodos terapêuticos, se, em julgamento, eles oferecem esperança de salvar uma
vida, restabelecendo a saúde ou aliviando o sofrimento.
Sendo possível, e de acordo com a psicologia do paciente, o médico deve obter o livre
consentimento do mesmo, depois de lhe ter sido dada uma explicação completa. Em
caso de incapacidade legal, o consentimento deve ser obtido do responsável legal; em
caso de incapacidade física, a autorização do responsável legal substitui a do
paciente.
2 - O médico pode combinar a pesquisa clínica com o cuidado profissional, desde que
o objetivo represente a aquisição de uma nova descoberta médica, apenas na
extensão em que a pesquisa clínica é justificada pelo seu valor terapêutico para o
paciente.
III - A pesquisa clínica não terapêutica
1 - Na aplicação puramente científica da pesquisa clínica, desenvolvida num ser
humano, é dever do médico tornar-se protetor da vida e da saúde do paciente objeto
da pesquisa.
2 - A natureza, o propósito e o risco da pesquisa clínica devem ser explicados pelo
médico ao paciente.
3a - A pesquisa clínica em um ser humano não pode ser empreendida sem seu livre
consentimento, depois de totalmente esclarecido; se legalmente incapaz, deve ser
obtido o consentimento do responsável legal.
3b - O paciente da pesquisa clínica deve estar em estado mental, físico e legal que o
habilite a exercer plenamente seu poder de decisão.
3c - O consentimento, como é norma, deve ser dado por escrito. Entretanto, a
responsabilidade da pesquisa clínica é sempre do pesquisador; nunca recai sobre o
paciente, mesmo depois de ter sido obtido seu consentimento.
4a - O investigador deve respeitar o direito de cada indivíduo de resguardar sua
integridade pessoal, especialmente se o paciente está em relação de dependência do
investigador.
4b - Em qualquer momento, no decorrer da pesquisa clínica, o paciente ou seu
responsável serão livres para cancelar a autorização de prosseguimento da pesquisa.
O investigador ou a equipe da investigação devem interromper a pesquisa quando, em
julgamento pessoal ou de equipe, seja a mesma prejudicial ao indivíduo.
 Declaração de Helsinque
 Revisões da Declaração de Helsinque:
A declaração foi revisada e alterada sete vezes, sendo elas:
Além das revisões, ocorreram duas alterações:
Alteração ocorrida na 53ª Assembleia, em Washington, Estados Unidos, em
2002;
Alteração ocorrida na 55ª Assembleia, em Tóquio, Japão, em 2004;
Primeira revisão foi proposta na 29ª Assembleia Médica Mundial, em Tóquio,
no Japão, em 1975 – A segunda versão, declaração de Helsinque II apresenta 12
princípios básicos e não mais 5 como a primeira versão. Há uma preocupação quanto
à formalização do protocolo que será exercido e a necessidade de que seja autorizado
por um comitê independente da instituição.
Segunda revisão foi proposta na 35ª Assembleia Médica Mundial, em Veneza,
na Itália, em 1983 - A terceira versão, a Declaração de Helsinque III inclui a
necessidade do consentimento mesmo de menores de idade.
Terceira revisão foi proposta na 41ª Assembleia Médica Mundial, em Hong
Kong, China, em 1989. A quarta versão, a Declaração de Helsinque IV define a
estrutura e função do comitê independente.
Quarta revisão foi proposta na 48ª Assembleia Médica Mundial em Sommerset
West, na África do Sul, em 1996. A quinta versão, a Declaração de Helsinque V incluí
o cuidado quanto ao uso de placebos já que nos estudos do coquetel AZT no
tratamento da Aids, na África, os pacientes não tiveram acesso as drogas que
estavam em estudo.
Quinta revisão foi proposta na 52ª Assembleia Médica Mundial, em Edimburgo,
na Escócia, em outubro de 2000. A sexta versão, a Declaração de Helsinque VI
apresentava questões fortes sobre a ética em pesquisa já que havia ainda a pratica
antiética com o uso de placebos em países subdesenvolvidos que não teriam acesso
aos medicamentos inovadores.
Sexta revisão foi proposta na 59ª Assembleia Médica Mundial, em Seul, Coréia
do Sul, em outubro de 2008. A sétima versão, a Declaração de Helsinque VII
apresenta questões adicionais quanto ao proteger a participação de pacientes com
condições especiais e incapazes de consentir a participação no estudo.
Sétima revisão foi proposta na 64ª Assembleia Médica Mundial, em Fortaleza,
Brasil, em outubro de 2013. Na oitava versão, a Declaração de Helsinque VIII salienta
a necessidade em especificar a não maleficência e a necessidade metodológica com o
uso de placebo em metodologias experimentais envolvendo seres humanos.

Manual de Boas Práticas Clínicas


Como é descrito pelo ICH (2016) as Boas Práticas Clínicas (GCP) são um
padrão de qualidade ética que regulamenta os estudos clínicos que envolvam a
participação de seres humanos, sendo necessário o planejamento, condução, registro
e relato de tais estudos. Este padrão possui como objetivo assegurar os direitos, a
segurança e o bem-estar dos pacientes, conforme prescrito na Declaração de
Helsinque.
Um ensaio clínico é um estudo sistemático de medicamentos e/ou
especialidades medicinais em voluntários humanos que seguem estritamente as
diretrizes do método científico. Seu objetivo é descobrir ou confirmar os efeitos e/ou
identificar as reações adversas ao produto investigado e/ou estudar a farmacocinética
dos ingredientes ativos, de forma a determinar sua eficácia e segurança.
Os ensaios clínicos são necessários para descobrir novas respostas
terapêuticas às doenças. Nas últimas décadas ocorreu um grande progresso na
farmacologia, possibilitado por meio da pesquisa científica, que, por sua vez, é
baseada parcialmente em estudos conduzidos em sujeitos humanos.
Manual de Boas Práticas Clínicas
 Os Princípios das Boas Praticas Clínicas
O manual de Boas Praticas Clínicas, viabilizado pela ANVISA, normaliza os
deveres dos comitês independentes que irão avaliar o estudo bem como o dever da
agência financiadora e do pesquisador envolvido no estudo, além de fornecer
diretrizes de como o Consentimento e o Protocolo Clínico devem ser exercido no
estudo, conforme é possível verificar abaixo:
[...] Os ensaios clínicos devem ser conduzidos apenas se os benefícios antecipados para o
indivíduo sujeito da pesquisa e para a sociedade ultrapassarem claramente os riscos
envolvidos;
[...] Embora o benefício dos resultados do ensaio clínico para a ciência e a sociedade sejam
importantes e devem ser considerados, as considerações mais importantes são as relativas
aos direitos, segurança e bem-estar dos sujeitos de pesquisa;
[...] Um ensaio clínico deve ser conduzido em consonância com o protocolo que recebeu
aprovação/opinião favorável anteriormente por parte da comissão de revisão institucional
(CRI)/comitê independente de ética (CEI);
[...] A aprovação de ensaios clínicos depende de informações não-clínicas adequadas e,
quando aplicável, de informações clínicas dos produtos em investigação.
[...] Os ensaios clínicos devem ser cientificamente sólidos e descritos protocolos claros e
detalhados;
[...] Deve-se obter o consentimento informado dado livremente por cada sujeito antes da
participação nos ensaios clínicos;
[...] Médicos qualificados (ou, se apropriado, dentistas qualificados) devem ser responsáveis
pelo atendimento médico dos sujeitos da pesquisa, bem como para qualquer decisão médica
tomada em seu nome;
[...] Esses profissionais devem ser qualificados adequadamente por meio de educação,
treinamento e experiência para desempenhar suas tarefas relativas ao ensaio clínico e aos
sujeitos da pesquisa;
[...] O registro, o manuseio e o armazenamento de todas as informações do ensaio clínico
devem ser apropriados para permitir o relato, a interpretação e a verificação precisos do
ensaio;
[...] A privacidade dos registros que poderiam identificar os sujeitos deve ser protegida,
respeitando a privacidade e as regras de privacidade, em consonância com a(s) exigência(s)
regulatória(s) aplicável(is);
[...] Os produtos em investigação devem ser manufaturados, manejados e armazenados de
acordo com as boas práticas de fabricação (BPF) aplicáveis e devem ser usados em
consonância com o protocolo aprovado;
[...] Devem ser implementados sistemas com procedimentos que assegurem a qualidade de
cada aspecto do ensaio clínico.

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