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Disciplina de Farmacologia (NHZ1027)

Conceitos e princípios gerais de


farmacologia

Prof Fúlvio Rieli Mendes


Farmacologia
• Pharmakon = droga
• Logus = estudo

• O que é uma droga?


• Quais as áreas de atuação da farmacologia?
Alguns conceitos
• Droga: derivado da palavra francesa “drogue” = erva seca.
• Droga vegetal: termo utilizado em farmacognosia para
determinar a parte ou todo de uma planta utilizada
medicinalmente.

• Na farmacologia moderna:
– Droga: composto biologicamente ativo;
– Fármaco: substância definida, com propriedades ativas,
produzindo efeitos terapêuticos
– Medicamento: substância ou combinação usadas com
fins terapêuticos ou de diagnóstico
– Remédio: denominação mais popular; refere-se ao
tratamento ou terapêutica adotada para um dado
problema
Exemplos
Princípio ativo
• Substância presente em uma planta ou fitoterápico com
efeito farmacológico.
Exemplos de substâncias isoladas de plantas

• Morfina, codeína (Papaver somniferum)


• Atropina (Atropa belladona)
• Cafeína (Coffea arabica)
• Efedrina (Ephedra sinica)
• Digitalina, digitoxina, digoxina (Digitalis purpurea)
• Quinina (Cinchona ledgeriana)
• Pilocarpina (Pilocarpus jaborandi)
• Tubocurarina (Chondrodendron tomentosum)
• Reserpina (Rauwolfia serpentina)
• Nicotina (Nicotiniana tabacum)
Aspectos históricos

Rudolf Bucheim

• Utilização de plantas e minerais data de milhares de


anos antes de Cristo
• Paracelso (1493-1541): questionamento da medicina
medieval e uso mais racional dos artefatos terapêuticos
• Friedrich Sertüner (1783-1841): isolou a morfina, em
1805
• Rudolf Bucheim (1820-1879): fundou o primeiro Instituto
de Farmacologia, na Estônia, em 1847
• Século XX: química medicinal inaugura novo capítulo na
Farmacologia com o planejamento e síntese de nosvos
fármacos
Grandes divisões da farmacologia
• Farmacocinética: estuda os processos de absorção,
distribuição, metabolização e excreção dos fármacos.

• Farmacodinâmica: estuda os mecanismos de ação e


efeitos produzidos pelo fármaco sobre o organismo.
Áreas de atuação da farmacologia
Pesquisa e desenvolvimento de fármacos
• O desenvolvimento de um novo fármaco demanda
diversas etapas e possui um custo muito elevado.

• Cada país (ou grupo de países) possui suas leis para o


registro de novos medicamentos, mas todas elas
seguem preceitos semelhantes.

• Todo novo medicamento precisa ser avaliado e ter


comprovação de sua eficácia e segurança.
– Eficácia: demonstração de que o fármaco produz o efeito
esperado e é útil para o tratamento que é designado
– Segurança: garantia de que o fármaco não oforece riscos
(efeitos tóxicos e reações adversas sérias) que sobreponham
seus benefícios
Fases do desenvolvimento de fármacos
• Pesquisa pré-clínica
– Estudos realizados em tubos de ensaio, culturas de células,
tecidos e animais vivos
– Visam determinar os mecanismos de ação e efeitos gerais do
fármaco, assim como estimar seu grau de toxicidade

• Pesquisa clínica
– Estudos realizados no ser humano
– São divididos em 4 fases, incluindo estudos de segurança e
estudos de eficácia em pacientes para o qual o fármaco está
sendo desenvolvido
Fases do desenvolvimento de um novo fármaco
Estudos pré-clínicos
• Fase química
– Fase de síntese do fármaco e desenvolvimento farmacêutico da
formulação

• Estudos bioquímicos e fisiológicos em células e órgãos


isolados (estudos in vitro)
– Propiciam o conhecimento inicial de possíveis sítios de atuação
e mecanismos de ação dos fármacos
– São insuficientes para prever os efeitos do fármaco in vivo
Estudos pré-clínicos
• Estudos em animais.
– Estudos farmacológicos: visam comprovar os efeitos desejados
através de modelos farmacológicos bem estabelecidos e
identificar possíveis novos efeitos não previstos
– Estudos toxicológicos: têm o objetivo de avaliar o grau de risco
da substância ou formulação, verificar as doses tóxicas e os
efeitos indesejáveis
Estudos pré-clínicos

• Exemplos de estudos farmacológicos in vivo

– Modelos animais de nocicepção: pesquisa de


fármacos analgésicos
– Modelos animais de ansiedade: pesquisa de
fármacos ansiolíticos
Estudos pré-clínicos

• Estudos de toxicologia pré-clínica.

– Realizados com roedores (ratos, camundongos), coelhos, cães,


mini-porcos e eventualmente primatas
• Legislação brasileira exige o estudo em pelo menos duas espécies
de mamíferos, sendo uma de não-roedores (resolução 90/2004)

– Toxicologia aguda e crônica: avaliação do grau de risco


oferecido pelo fármaco após administração única ou repetida

– Estudos de genotoxicidade, teratogenicidade e carcinogênese:


verificam, respectivamente, o potencial do fármaco em produzir
mutações gênicas, má-formação fetal e tumores
Estudos clínicos

• Devem ser realizados sob a coordenação de um


médico, que será o pesquisador principal.

• Dependem de autorização especial e só podem ser


realizados em Centros de Pesquisa Clínica ou unidades
credenciadas para tal.

• É dividido em quatro fases:


– Fase 1: pesquisa com voluntários saudáveis
– Fase 2: pesquisa com pacientes (pequena amostra)
– Fase 3: pesquisa com um número maior de pacientes
– Fase 4: monitoramento pós comercialização
Estudos clínicos

• Fase I
– voluntários sadios (20-80 indivíduos)
– avaliação da segurança e tolerabilidade do fármaco no ser
humano
– uso de doses crescentes do fármaco
– avaliações clínicas e exames bioquímicos e hematológicos
periódicos
– deve-se também avaliar a farmacocinética do fármaco
– em alguns casos, o estudo permite uma avaliação
farmacodinâmica preliminar do fármaco (eficácia)
– pesquisa deve ser paralisada sob qualquer suspeita de reação
tóxica
Estudos clínicos
• Fase II
– pacientes portadores da patologia ou distúrbio para o qual o
medicamento está sendo desenvolvido (n = 100-300)
– avaliação inicial da eficácia e da posologia ideal no paciente
– avalia-se também a segurança e tolerabilidade do fármaco pelo
paciente

• Fase III
– multicêntrico
– estudo com uma população bem maior de pacientes (1000-3000)
– permite avaliar melhor a eficácia do fármaco, doses terapêuticas
e suas possíveis limitações
Estudos clínicos

• Fase IV
– monitoramento do uso do medicamento após seu registro e
comercialização
– permite avaliar a eficácia do medicamento em um grupo bem
maior e heterogêneo de indivíduos
– permite detectar reações adversas raras e interações
farmacológicas com outros fármacos
– na ocorrência de efeitos tóxicos severos ou morte, ainda que em
uma parcela reduzida de pacientes, o fármaco pode ser retirado
do mercado
Após comercialização

• Farmacovigilância
– política pública de monitoramento do uso de fármacos, suas
reações adversas e interações medicamentosas
– as políticas de farmacovigilância devem ser contínuas
– a ocorrência de reações adversas e suspeita de interações
medicamentosas pode e deve ser relatada pelos médicos e
pacientes
– ao se constatar reações adversas e interações medicamentosas
não previstas anteriormente, estas devem passar a constar das
bulas dos medicamentos
Estágios do desenvolvimento de um
novo fármaco
Resumo
Fases da pesquisa
pré-clínica e clínica

Crescimento dos custos


No Brasil foram feitos
882 novos registros de
medicamento em 2016,
dos quais 61 foram de
novos fármacos
Estudos clínicos - aspectos legais
• Um estudo clínico com um fármaco novo só pode ser iniciado
após a realização dos estudos de toxicologia pré-clínica e
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres
humanos

• O órgão financiador do estudo (indústria farmacêutica) deve


garantir o tratamento dos participantes e todos os cuidados
que forem necessários enquanto o voluntário participar do
estudo, e mesmo ao seu término, se houver algum dano
causado pelo fármaco em estudo

• Termo de consentimento livre e esclarecido (voluntário deve


conhecer os objetivos da pesquisa, seus possíveis benefícios
e riscos)

• É garantido ao voluntário sadio ou o paciente o direito de se


retirar da pesquisa a qualquer momento, se assim desejar,
sem qualquer prejuízo para si
Estudos clínicos - aspectos científicos

• O uso de controles é crucial. Sempre que possível o


estudo deve contar com um grupo placebo, para melhor
avaliação dos resultados
– em alguns casos é aceitável e até recomendado a não
utilização de placebo (tratamento de HIV, doenças terminais e
alguns distúrbios psiquiátricos, entre outras)

• O estudo clínico deve ser preferencialmente duplo-cego

• É recomendado o uso de um grupo tratado com uma


substância de referência, para fins comparativos da
potência do novo fármaco

• Questões éticas devem ser consideradas


Estudos clínicos e registro de medicamentos:
regulamentação no Brasil
• Entidade regulatória: ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária)

• Resolução no 466 (2012)


– dispõe sobre diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa
envolvendo seres humanos

• Resolução no 251 (1997)


– aprova normas de pesquisa envolvendo seres humanos para a
área temática de pesquisas com novos fármacos,
medicamentos, vacinas e testes diagnósticos

• Declaração de Helsinque
– declaração para orientação quanto à pesquisa biomédica
envolvendo seres humanos
Estudos clínicos no Brasil
• Necessária a aprovação nos CEPs (Comitês de Ética
em Pesquisa Institucionais) e CONEP (Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa)
– Caso a Instituição que irá coordenar a pesquisa não possua
Comitê de Ética este será designado pelo CONEP

• Assinatura do “termo de consentimento livre e


esclarecido”

• A participação no estudo não pode ser paga, imposta,


ou sujeita a pressões de qualquer natureza
– ajuda de custo é permitida

• Direito a abandonar a pesquisa quando quiser, sem


ônus para o participante
Bibliografia consultada:

• RITTER, J. M. ; RANG, H. P. ; DALE, M M. Farmacologia. 6.ed.


Elsevier. 2007.
– parte dos capítulos 1, 6 e 56.

• LULLMANN, H.; MOHR, K.; ZIEGLER, A.; BIEGLER, D. Color atlas


of pharmacology. 2. ed. Thieme. 2000.
– páginas 2-7.
Roteiro de estudo
• Reveja a terminologia utilizada em farmacologia (conceitos de
droga, fármaco e medicamento) e pense em exemplos práticos de
cada um.

• Veja nos capítulos correspondentes dos livros texto as áreas de


atuação e divisões da farmacologia.

• Esquematizar as etapas do desenvolvimento de um novo


medicamento, dando detalhes das características e do que deve ser
feito em cada fase.

• Observar as diferenças das 4 fases da pesquisa clínica.

• Compreender os aspectos éticos, legais, científicos e comerciais


por trás da pesquisa clínica e desenvolvimento de novos fármacos.

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