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DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA INFANTO-JUVENIL 2023/2
4º PERÍODO - TURNO: NOTURNO
PROFESSORA: MARIA JOSÉ SCHULZ
ALUNOS: BRUNA REIS DA CRUZ, ERICK PATRICK TEIXEIRA TRINDADE,
FERNANDA DE BORBA COELHO, LUIS FERNANDO DE SOUZA, MARIA ANTONIA
FERREIRA, PAMELA NASCIMENTO VITAL.
1) Quais são os fatores de risco que podem ter contribuído para o aparecimento dos
sintomas de Maria?
Dentre os fatores de risco, é possível citar as mudanças hormonais referentes à
puberdade,odesequilíbriohormonal(comrealizaçãodereposiçãohormonal,porquestõesde
desenvolvimento e de desregulação da menstruação), o que por sua vez pode ter
desempenhadoumpapelemseubem-estaremocional,eohistóricofamiliardedepressãona
família como uma possível predisposição genética para o desenvolvimento de transtornos
mentais.
Além disso, a mudança de cidade e a transição paraoensinomédioemumacidade
vizinha podemtersidoeventosestressantesquedesencadearamouexacerbaramossintomas
de ansiedade social. Em casa, Maria relata que sua mãe é superprotetora e esse estilo de
cuidado parentalaborreceseupai.Sabe-sequeessetipodeposturaporpartedoscuidadores
pode desencadear temperamento e modo de agir inseguros, uma vez que inibe a
autossuficiência do filho.
Mariasaiudocoralquecostumavafrequentareémuitoreclusanaescola,trazendoà
tonaanecessidadedeinvestigaraquestãosocialdeinteraçãocompessoasdasuafaixaetária
e relacionamento com pares, assim como outros aspectos pertinentes ao ambiente escolar.
Tambémsedestacamquestõesreferentesàsuaautoimagem.Mariarelatapreocupaçõescomo
que os outros pensam dela, sentimentos de inferioridade e falta de autoconfiança. Essas
preocupações podem ser influenciadas, por sua vez, pela pressão social e pelos padrões de
beleza ou aceitação social.
2) Com base no DSM 5 (ou DSM 5-TR)definaseocasodeMariapreencheos
critériosparaumahipótesediagnóstica.RelacioneossintomasdeMariacomoscritérios
do diagnóstico.
De acordo com o caso clínico apresentado e acrescentando os fatores de risco
anteriores,MariapreencheoscritériosquequalificamahipótesediagnósticadeTranstornode
Ansiedade Social (CID F40.10/DSM 300.23) com sintomas depressivos comórbidos - sem
necessariamente atender os critérios diagnósticos de um possível Transtorno Depressivo
Maior-deacordocomoDSMV(2014,p.202e203).ApacienteatendeuaoscritériosA,B,
C,D,FeGdoTranstornodeAnsiedadeSocial,sendooH,IeJosquenecessitamdemaior
aprofundamento. Além disso, ainda de acordo com o DSM, é preciso cumprir pelo menos
cinco requisitos para estabelecer o diagnóstico, que são:
“ A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais
situaçõessociaisemqueoindivíduoéexpostoapossívelavaliação
por outras pessoas.
B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de
ansiedade que serão avaliados negativamente.
C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade.
D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso
medo ou ansiedade.
E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real
apresentada pela situação social e o contexto sociocultural.
F.Omedo,ansiedadeouesquivaépersistente,geralmentedurando
mais de seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissionalou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequênciadosefeitos
fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso,
medicamento) ou de outra condição médica.
I. O medo, ansiedade ou esquiva nãoémaisbemexplicadopelos
sintomas de outro transtorno mental, como transtorno de pânico,
transtorno dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista.
J. Se outra condição médica (p. ex., doença de Parkinson,
obesidade, desfigurado por queimaduras ou ferimentos) está
presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente não
relacionado ou é excessivo.”
Arespeitodoscritériosdiagnósticosatendidos,encontra-serespaldonorelatodocaso
deMaria,noqualaadolescentefrequentaoensinomédioemumaescolalocalizadaemoutra
cidadeeapresentamedointensodeiràescolaesintomasdepânicoquandoosprofessoreslhe
fazemperguntas(critérioA).Mariaéumagarotadedezesseteanos,debaixaestatura,tímida
equedemonstrapreocupaçãocomoqueaspessoaspensamdela,oquealevaasentircomo
seestivesseseescondendodosoutros,porsesentirinferior,nãoterautoconfiançaemedode
agir de forma estranha ou boba, que ela reconhece ser excessivo.
Alémdisso,desdeocomeçodoensinomédio,Mariasesentiadesconfortávelquando
tinha que estar perto dos outros alunos,semconseguirfazeramigospróximos(critériosBe
C). Maria deixoudefazeralgumasatividadescostumeiras,taiscomodeixardeparticipardo
coral e partilhar refeições entre seus colegas na cantina devido ao quadro de ansiedade e
ataques de pânico, o que acarreta em prejuízos para o convívio entre seus pares e a seu
desenvolvimento enquanto adolescente (critérios D, E, F e G). Sobre os demais critérios,
sugere-se maior investigação com exames complementares e de outros hábitos de vida.
Noquetangeaossintomasdepressivos,Mariarelataperdadoprazerouinteresseem
realizar atividades (anedonia) e sentimentosrecorrentesdetristezaeperdatotaldointeresse
em ir à escola, dormir e comer pouco, cansaço e dificuldade de concentração e que seu
desempenho na escola diminuiu consideravelmente. Elatambémdescreveuseufuturocomo
sendodeprimenteeemváriasocasiõesdesejouestarmorta.Seumomentomaisfelizdodiaé
no final da tarde, quando os problemas diários acabaram e ela está sozinha em seu quarto.
Embora no momento da avaliação Maria não aparentou ter depressão, é preciso
estabelecerumolharcauteloso,poismuitossinaispodemnãoserperceptíveiseexigemmais
atenção a esses pontos para que não sejam relativizados erroneamente. Maria atende sete
critérios diagnósticos de Transtorno de Depressão Maior segundo o DSM V (2014, p.
160-161) do item A(1,2,3,4,6,8e9),sendoqueénecessáriocumprirpelomenoscinco
dessescritérios,emboraaindapreciseolharcommaisatençãoaosdemaisitens(B,C,DeE),
pois é comum adolescentes com Transtorno de Ansiedade Social desenvolverem depressão
devido ao isolamento social e históricos familiares, como é o caso de Maria
(FRANCISCO;TAVARES;TOLEDO, 2019, p. 31).
3) Quais os métodos de investigação poderiam ser utilizados no contexto clínico para
auxiliarnaconfirmaçãodahipótesediagnóstica?Fundamenteasuarespostacomlivros
ou artigos científicos.
A avaliação clínica se faz essencial na confirmação de hipóteses diagnósticas, nesse
caso do Transtorno de Ansiedade Social (TAS) e da depressão. Como principais métodos de
investigação, pode-se citar a entrevista clínica detalhada, que pode ajudar Maria a explorar
seus sintomas, histórico médico, história familiar e eventos de vida relevantes.
Questionários e escalas de avaliação padronizadas também podem ser úteis, como o
Liebowitz Social Anxiety Scale (LSAS), para quantificar a gravidade dos sintomas de
ansiedade social, assim como a avaliação neuropsicológica, com a aplicação de testes para
avaliação de funções cognitivas e possíveis déficits com ligação à ansiedade social e à
depressão.
Também se faz de extrema importância a realização do monitoramento biológico, com
realização de exames médicos para descarte de quaisquer causas médicas que possam estar
relacionadas aos sintomas apresentados por Maria, para o monitoramento nos
neurotransmissores associados à depressão e para o controle dos níveis hormonais
relacionados ao estresse.
Outras sugestões incluem um diário de humor e comportamento, em que Maria possa
fazer o rastreamento de seus pensamentos e sentimentos, e até mesmo a realização de
Ressonância Magnética Funcional (Encefalografia), técnica de imagem que pode ser utilizada
para investigação das atividades cerebrais, identificando padrões neurais subjacentes ao TAS
e à depressão, contribuindo assim para a compressão dos aspectos neurobiológicos dos
transtornos (Etkin, A., & Wager, T. D., 2007).
4) Pensando na hipótese diagnóstica que você identificou, pesquise na literatura
científicaquaissãoasprincipaisintervençõesterapêuticasparamelhorarossintomasde
Maria.
A TCC (Terapia cognitivo-comportamental) é uma abordagem eficaz no tratamento de
transtornos de ansiedade social. Ela envolve a identificação e a modificação de pensamentos
irracionais ou distorcidos, a exposição gradual a situações sociais temidas e o
desenvolvimento de habilidades sociais.
Pode-seobservarnorelatodocaso,umsujeitoaqualseusmedosestãosendopostosà
frentedequalquermovimentodecontatosocial.Seumovimentopararetiradadesteestímulo
sefazquandoocorreoisolamentoemseuquartoegeracomorespostaimediataumestadode
felicidade quando os problemas são deixados de lado como relatado.
A emoção torna-se disfuncional quando decorrente de pensamentos irrealistas e
absolutistas,interferindonacapacidadedapessoadepensarobjetivamente.Issonãosignifica
queospensamentoscausamosproblemasemocionais,massimqueelesmodelamemantêm
as emoções disfuncionais (Rangé, 2001). Há umainteraçãorecíprocaentreospensamentos,
os sentimentos e os comportamentos, fisiologia e ambiente; a mudança em qualquer um
destes componentes pode iniciar modificações nos demais (Knapp, 2004).
Em alguns casos, um profissional de saúde mental pode considerar a Terapia
medicamentosa(usodemedicamentos),comoinibidoresseletivosderecaptaçãodeserotonina
(ISRS),paraajudarareduzirossintomasdeansiedade.Alémdisso,comoAcompanhamento
Terapêutico, o trabalho no ambiente natural propicia condições para uma consequência
imediata de estímulos. Geralmente as exposições são realizadas de maneira gradual,
iniciando-se com situações que produzemmenosansiedadeatéoclienteconseguirenfrentar
aquelas que produzem maior ansiedade (Zamingani & Banaco, 2005).
Baumgarth et al. (1999) ressaltam as limitações da psicoterapiadegabinete,porsua
natureza verbal, para lidar com casos em que há um déficit importante no repertório
comportamental. Apontam ainda a necessidade de o cliente ter capacidade de generalizar
conteúdos aprendidos no consultório para outros ambientes e para outros relacionamentos.
Quando o déficit neste repertório é grande, outro tipo de intervenção se torna necessária.
O estímulo à prática de exercícios físicos de forma contínua também propicia
melhoriasnodesempenhoorgânicoepsíquicodoindivíduo(BATISTAetal.,2015).Ademais,
segundo apontado por Macedo (2012), poderia ser utilizado na promoção de uma melhor
qualidade de vida e na diminuição da ansiedade, depressão, insônia, dentre outros fatores,
propulsionando diversos benefícios para a saúde.
Nostranstornosligadosàinsatisfaçãocorporalsedesenvolvemsintomasdepressivose
ansiedades provenientes da baixa autoestima, em decorrência, pode haver isolamento ou
afastamento social. Para lidar com esta configuração, os trabalhos de Beck (1979) sobre a
teoria cognitiva da depressão podem ajudar na intervenção. No que tange à autoestima,
pode-se listar com o paciente seus outros atributos, além da aparência, quepossamagregar
valor ao seu conceito pessoal.
Considerando queMarianãosealimentamuitobem,oestabelecimentodeumadieta
adequadatambémpodecorroborarcomamelhoradasaúdementaldapaciente,umavezque
hábitos alimentares saudáveis levam ao consumo adequado de nutrientes e vitaminas, que
também pode estar ligado à diminuição do desenvolvimento de transtornos mentais.
(LJUNGBERG; BONDZA; LETHIN, 2020).
Outros métodos de intervenção que podem ser explorados são apsicoeducaçãopara
queMariaentendamelhorsobresuasquestões,trabalharacompreensãodafamíliaduranteo
acompanhamento para fortalecimento de sua rede de apoio, biofeedback (ferramenta que
auxilia o indivíduo a desenvolveraautoregulação),relaxamentoparacontroledaansiedade
(inclui técnicas como o mindfulness, por exemplo) e a possibilidade de participação em
grupos de apoio para troca de experiências.
REFERÊNCIAS
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LJUNGBERG, T.; BONDZA, E.; LETHIN, C. Evidence of the Importance of Dietary Habits
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