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O ESTRUTURALISMO

E A TEORIA DA
BUROCRACIA
Autores: Fernando Motta e
Isabella Vasconcelos
Seminarista: Mateus Cruz
INTRODUÇÃO
De onde surgiu esse método?
Quais as suas variações?
Como se deu sua entrada na teoria das organizações?
Quais os seus principais expoentes?
Quais as suas teses centrais?
Como os estruturalistas vêem a organização?
Quais as principais críticas de que vem sendo alvo?
ORIGENS
Origem antiga da palavra "estrutura": construção de edifícios.
Significado amplo: análise interna de uma totalidade e as inter-
relações entre as partes componentes de um todo, sentido este
usado na biologia.
Introdução da expressão nas ciências sociais pelo antropólogo
Herbert Spencer (1820-1903), associando-a ao conceito de
função.
O ESTRUTURALISMO E O
CONCEITO DE SISTEMA

ESCOLA CLÁSSICA
(INÍCIO DO SÉCULO XX):
SISTEMAS FECHADOS

ÉMILE DURKHEIM (1858-1917):


SISTEMAS MENORES INSERIDOS
EM SISTEMAS MAIORES

LUDWIG VON
BERTALANFFY (1901-1972):
SISTEMAS ABERTOS
O ESTRUTURALISMO E O
CONCEITO DE SISTEMA

O estruturalismo é um método analítico


comparativo.

Valoriza o conceito de sistema, o


relacionamento das partes na constituição

do todo, a totalidade e a interdependência.

O todo é maior do que a soma das partes.


O CONCEITO DE SISTEMA: COLMEIA

Propriedades do todo
explicam as das partes.

O todo é maior que a mera soma


das partes.

O todo tem propriedades que as partes não


possuem.

Formados por partes diferentes, mas interdependentes.


AS DIVERSAS CORRENTES
ESTRUTURALISTAS
CORRENTE CARACTERÍSTICAS REPRESENTANTES

A estrutura é uma construção informadora do objeto.


Estruturalismo
Modelos e tradições culturais que emergem das relações Lévi-Strauss
Abstrato sociais.

A estrutura é a própria definição do objeto.


Estruturalismo Radcliffe-Brown,
Observações empíricas para analisar estruturas na
Concreto realidade. Gurvitch

Experiência subjetiva dos indivíduos.


Estruturalismo Entender como as pessoas percebem, interpretam e
Max Weber
Fenomenológico atribuem significado a eventos e objetos (construção social
da realidade).

Contradições no desenvolvimento de sistemas ao longo do


Estruturalismo
tempo. Karl Marx
Dialético Conflitos e mudanças no decorrer da história.
AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: MAX WEBER
O estruturalismo estuda as disfunções burocráticas e suas origens
nas organizações modernas.

Max Weber (1864-1920) abordou o poder e a burocracia,


enfatizando a racionalidade instrumental.
Em sistemas sociais altamente burocratizados, o formalismo, a
impessoalidade e a administração profissional refletem a

racionalidade instrumental.
WEBER E A NÃO-DETERMINAÇÃO
DA AÇÃO HUMANA
As crenças e valores dos indivíduos estabelecem limites para sua
ação e escolha.

Os indivíduos são livres para decidir suas ações, desde que


estejam dentro desses limites.
Mesmo em situações coercitivas, as ações humanas não são
completamente pré-definidas. Um indivíduo pode optar por não

seguir ordens, desde que esteja disposto a lidar com as

consequências da desobediência.
WEBER E A DEFINIÇÃO DE
BUROCRACIA
A burocracia busca formalizar e coordenar o comportamento
humano usando autoridade racional-legal para alcançar

objetivos organizacionais gerais.


Objetivo: organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação
de um grande número de indivíduos, cada qual detendo uma
função especializada.

Separa-se a esfera pessoal, privada e familiar da esfera do

trabalho, visto como esfera pública de atuação do indivíduo.


CARACTERÍSTICAS DA
ESTRUTURA BUROCRÁTICA
Funções definidas e competências estabelecidas por lei

Direitos e deveres baseados no princípio da igualdade


burocrática

Definições de hierarquia e especialização de funções


Impessoalidade nas relações

Objetivos explícitos e estrutura formalizada

Autoridade racional-legal

Racionalidade instrumental
VANTAGENS DA
BUROCRACIA

Lógica científica e metodologia de análise


racional
Profissionalização das relações de trabalho
Formalização das competências técnicas
Evita o clientelismo
Isomorfismo
AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: MERTON

Para o sociólogo Robert K. Merton (1910-2003), a burocracia tem


disfunções que levam à rigidez, dificuldades no atendimento aos
clientes e ineficiência.
Paradoxo da ação social: efeitos imprevistos que geram
resistência organizacional e conflitos.
Personalidade burocrática: apego excessivo às regras.
SATIRIZANDO A
BUROCRACIA: DILBERT
Dilbert é um personagem de tiras diárias criado por
Scott Adams em 1989.

Scott Adams já foi funcionário bancário e de uma


companhia telefônica, e lidava com burocracias no
ambiente de trabalho diariamente.

Após ser vítima de um downsizing, começou a


desenhar as tirinhas de Dilbert, que já apareceram

em mais de 2000 jornais e revistas em todo o mundo.


SATIRIZANDO A
BUROCRACIA: DILBERT

Fonte: Tiras publicadas em Dilbert 5: Odeio Reuniões!, de Scott Adams (2013).


AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: GOULDNER

Alvin Gouldner (1920-1980) conduziu estudos em uma mina de


gesso nos anos 1950.

Constatou que as regras burocráticas representavam os


interesses de alguns membros da organização, mas entravam em
conflito com os interesses de outros membros.
Eclosão de conflitos e necessidade de ajustar as regras.
TIPOS DE ESTRUTURA
BUROCRÁTICA
"Falsa" burocracia: Regras que não representam os
interesses de nenhum grupo e são frequentemente
desobedecidas.

Burocracia representativa: Regras que representam os


interesses de todos os grupos e são rigorosamente

seguidas.
Burocracia autocrática: Regras impostas por um grupo a

outros grupos, resultando em conflitos devido ao exercício

estrito da autoridade.
AS FUNÇÕES DAS REGRAS
BUROCRÁTICAS
Permitem o controle à distância.

Aumentam a impessoalidade na organização.


Restringem a arbitrariedade e legitimam a sanção.

Tornam possível o comportamento minimalista do

subordinado.
Geram espaço de negociação entre subordinado e
hierarquia.
AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: SELZNICK
Para Phillip Selznick (1919-2010), a ação dos indivíduos nas
organizações é recalcitrante e indecisa.

Contrariando o ideal burocrático, o indivíduo não deixa a sua


personalidade "do lado de fora da organização" ao ir trabalhar
todo o dia.
A burocracia idealizada é uma ficção: os indivíduos são uma

totalidade que não pode ser reduzida a operar apenas em

torno de um papel social específico.


SATIRIZANDO A BUROCRACIA:
BRAZIL - O FILME
Filme dirigido por Terry Gilliam e lançado em 1985.
Retrata uma distopia totalitária que remete à Europa
burocratizada do século XX.
Sam Lowry é um funcionário burocrata que trabalha num
Ministério governamental, mas sonha com uma vida mais
livre e criativa, longe do sistema ineficiente, opressivo e
absurdo que o cerca.
Papelada excessiva, processos demorados, vigilância
constante e despersonalização do indivíduo são
abordados como disfunções da máquina burocrática.
SATIRIZANDO A BUROCRACIA:
BRAZIL - O FILME

Fonte: Cena de Brazil - O Filme, de Terry Gilliam (1985).


AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: CROZIER
Ao estudar a burocracia francesa, Michel Crozier (1922-2013)

descreveu a organização como um sistema que estrutura jogos


de poder entre os atores sociais.

O controle dos recursos organizacionais é distribuído de forma


desigual, influenciando o poder dentro da organização.

A mudança é vista como um processo de criação coletiva,

envolvendo negociações e redistribuição dos recursos e das

zonas de incerteza.
AS GRANDES FIGURAS DO
ESTRUTURALISMO: PETER BLAU
Peter Blau (1918-2002) enfatizou o papel dos conflitos no
desenvolvimento das organizações.

Os funcionários tendem a evitar os aspectos desagradáveis dos


procedimentos oficiais e ajustam sua conduta para ações que
considerem mais convenientes ou adequadas.
Essas "inovações comportamentais" são justificadas a partir dos

valores mais amplos da cultura da organização ou do grupo.


IDEIAS CENTRAIS: O HOMEM
ORGANIZACIONAL

A sociedade moderna e industrializada é caracterizada pela existência


de inúmeras organizações.
Os indivíduos participam em diversos sistemas sociais e
desempenham papéis variados, podendo adaptar seu

comportamento a diferentes situações.


Características como flexibilidade, resistência à frustração,

capacidade de adiar recompensas e um desejo constante de

realização são essenciais.


IDEIAS CENTRAIS: O HOMEM
ORGANIZACIONAL

O homem organizacional age racionalmente, buscando seus


próprios objetivos e interesses por meio de estratégias de jogo e
negociação política.
A ação do homem organizacional não é determinada pelas regras e

estruturas da organização, mas sim influenciada por elas.


Construção social da realidade: os sistemas sociais são construídos

pelos indivíduos e, ao mesmo tempo, influenciam o comportamento

desses indivíduos.
O HOMEM
ORGANIZACIONAL

CEO de startup

Pai e marido Aluno de Pós-


graduação

Membro de um Voluntário em
clube de leitura Guerreiro Ramos uma ONG
online

Treinador de time Membro do


de futebol coral da igreja
IDEIAS CENTRAIS: OS
CONFLITOS INEVITÁVEIS
Tanto a Escola de Administração Científica quanto a de Relações
Humanas tendiam a evitar o problema do conflito.
Ambas as abordagens refletiam uma atitude moralista e
conservadora que não reconhecia plenamente o conflito em

todas as suas dimensões.


Para os estruturalistas contemporâneos da teoria das

organizações, o conflito entre grupos é um processo social

fundamental e inerente às relações de produção.


CONFLITOS NO TRABALHO:
INDÚSTRIA AMERICANA
Documentário dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert,
lançado em 2019. Ganhou o Oscar no ano seguinte.
Trata da reabertura de uma antiga fábrica norte-
americana de vidro automotivo em Dayton, Ohio, por
uma empresa chinesa chamada Fuyao Glass America.
Mostra o choque cultural entre a gestão chinesa e os
trabalhadores americanos, bem como os conflitos
resultantes da diferença de valores, perspectivas e
expectativas de ambos os lados.
“Viver para trabalhar” VS. “Trabalhar para viver”
CONFLITOS NO TRABALHO:
INDÚSTRIA AMERICANA
CONFLITOS NO TRABALHO:
INDÚSTRIA AMERICANA
CONFLITOS NO TRABALHO:
INDÚSTRIA AMERICANA

Fonte: Cenas de Indústria Americana, de Steven Bognar e Julia Reichert (2019).


IDEIAS CENTRAIS: CONTRADIÇÕES
E PARADOXOS DA BUROCRACIA
Blau e Scott identificaram três dilemas que destacam a inevitabilidade
do conflito e da mudança nas organizações.
Dilema comunicação e coordenação: a comunicação aberta

promove o debate e a inovação, mas pode dificultar a coordenação


rápida.

Dilema disciplina burocrática e especialização profissional:


representação de interesses, autoridade e tomada de decisões.

Dilema planejamento administrativo e iniciativa: mecanismos de

controle inibem a iniciativa e a criatividade individual.


IDEIAS CENTRAIS: OS
INCENTIVOS MISTOS
Incentivos monetários VS. psicossociais: as Escolas de
Administração Científica e de Relações Humanas abordaram o
problema dos incentivos de maneira limitada devido à visão
fragmentada da natureza humana.

O ser humano é político e racional: busca explorar as regras


organizacionais para atender seus interesses, aumentar seu poder

e controlar recursos.

Os estruturalistas corrigiram essa falha incluindo na análise ambos


os incentivos e suas influências mútuas.
O CASO DA DEMISSÃO SILENCIOSA
A pandemia alterou para sempre a dinâmica
corporativa, normalizou o home office e escancarou
a necessidade de priorizar o bem-estar e a saúde
física e mental do trabalhador.

Nesse contexto, o quiet quitting (ou “demissão


silenciosa”) tem ganhado força nas redes sociais: o

funcionário cumpre apenas o combinado em

contrato, nem mais, nem menos.


É um contraponto ao culto ao workaholismo e seus
chavões como “trabalhe enquanto eles dormem” .
O CASO DA DEMISSÃO SILENCIOSA
O debate nasce de um conflito geracional: a pandemia
afetou a formação e o amadurecimento dos jovens,
privados do convívio social.
Especialistas mundo afora advertem que a Covid-19
pode ter forjado uma geração introspectiva, viciada em
telas e com problemas de interação social.
O conceito é recauchutado: em 1996, o sociólogo suíço
Johannes Siegrist documentou a necessidade de
equilíbrio entre esforço e recompensa no ambiente do
Fonte: CASTRO (2022).
trabalho.
O CASO DA DEMISSÃO SILENCIOSA
“O reconhecimento é uma necessidade vital do ser humano. O que mudou foi a
abertura para o debate. Os jovens retardam a formação da própria família e têm
menos demandas financeiras. Não é mais preciso dar a vida para atingir o objetivo,
que muitas vezes é simplesmente curtir uma viagem bacana nas férias.”
Ana Maria Rossi, presidente do braço brasileiro da International Stress
Management Association (Isma), que se dedica à pesquisa e ao tratamento de
burn­out.

Reflexão: Como as organizações podem repensar e ajustar seus programas de


incentivos (financeiros e psicossociais) para manter a motivação dos funcionários no
trabalho diante da realidade do quiet quitting?
IDEIAS CENTRAIS: O ESTRUTURALISMO
E A ORGANIZAÇÃO
Os estruturalistas veem a organização como um sistema

deliberadamente construído e em constante interação com seu


ambiente.

A organização é um sistema aberto e faz parte de um sistema social


mais amplo, regido por leis gerais que explicam suas partes
constituintes.
Os estruturalistas fenomenológicos priorizam a análise dos aspectos

estruturais e internos da organização, com ênfase especial às

relações entre a estrutura formal e a estrutura informal.


ETZIONI E AS TIPOLOGIAS DA
ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA
Para Amitai Etzioni (1929-2023), as organizações burocráticas
variam em sua necessidade de coesão, a depender dos meios
de controle predominantes.
Etzioni propôs uma tipologia de organizações burocráticas com

base no poder de controle e na orientação dos participantes.


Nessa tipologia, combina-se um aspecto estrutural (distribuição

do poder) e um aspecto motivacional (compromisso dos

participantes com a organização burocrática).


ETZIONI E AS TIPOLOGIAS DA
ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA
TIPO CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

Organizações
Uso da coerção como principal meio de controle e alienação Campos de
Burocráticas
dos participantes. concentração, prisões
Coercitivas

Organizações
Controle baseado na remuneração e envolvimento calculista Empresas industriais,
Burocráticas
dos participantes. comerciais
Utilitárias

Organizações Principal fonte de controle é o poder normativo, com alto nível Organizações
Burocráticas de envolvimento dos participantes, baseado na internalização religiosas, hospitais,
Normativas de diretivas aceitas como legítimas. universidades

Organizações
Organizações duais que podem combinar elementos dos Sindicatos, unidades
Burocráticas
tipos anteriores. de combate
Híbridas
CRÍTICAS E
CONTRIBUIÇÕES
A abordagem estruturalista não constitui uma corrente distinta nas teorias
organizacionais, sendo geralmente confundida com outras correntes como
o comportamentalismo e as relações humanas.
Diversos textos de administração não mencionam o termo estruturalismo,
e as referências a ele são escassas em outros trabalhos.
O estruturalismo é uma teoria de transição e mudança, buscando
sintetizar as propostas válidas das correntes administrativas existentes
para uma visão adequada de organizações como sistemas abertos
interagindo com o ambiente.
CRÍTICAS E
CONTRIBUIÇÕES

O estruturalismo enfatizou a interdependência dos elementos internos e


externos que influenciam o funcionamento das organizações de forma
interligada e total, encerrando a predominância da Escola das Relações
Humanas na administração.

Muitos dos desenvolvimentos posteriores na teoria das organizações,


como a teoria dos sistemas abertos, foram influenciados pelas ideias e
abordagens estruturalistas.
REFERÊNCIAS

ADAMS, S. Dilbert 5: Odeio Reuniões! Porto Alegre: L&PM, 2013.

BRAZIL - O FILME. Direção: Terry Gilliam. Intérpretes: Jonathan Pryce, Robert De Niro,
Katherine Helmond. Roteiro: Terry Gilliam, Tom Stoppard, Charles McKeown. Produção:
Embassy International Pictures. Estados Unidos: 20th Century Fox, 1985. (132 min.).

CASTRO, L. F. Quiet quitting, a nova e ruidosa tendência do mundo corporativo. 2022.


Disponível em: <https://veja.abril.com.br/comportamento/o-que-e-o-quiet-quitting-nova-e-
ruidosa-tendencia-do-mundo-corporativo/>. Acesso em: 22 out. 2023.
REFERÊNCIAS

INDÚSTRIA AMERICANA. Direção: Steven Bognar, Julia Reichert. Produção:


Higher Ground Productions. Estados Unidos: Netflix, 2019. (110 min.).

MOTTA, F.C.P.; VASCONCELOS, I.G.V. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Cengage
Learning, 2006. (Capítulo 5 – O Estruturalismo e a Teoria da Burocracia).

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