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Faculdade de Letras
Antes de tudo, faz-se necessário uma análise superficial sobre o tema da cantiga,
que, neste caso, relata a euforia de uma irmã ao apressar a outra para que fossem dormir,
insinuando, assim, a ansiedade pelo amanhecer, pois iriam ao encontro do “namorado”
ou a pessoa por quem se tem interesse, na margem do lago. Essa movimentação é
exposta no primeiro par de estrofes da cantiga. Por conseguinte, já no segundo par de
cóplas, é revelado pelo eu lírico que o “amado” se desloca até às margens do lago para
caçar as aves com o seu arco. Com a conclusão do último par de estrofes, afirma-se que
a figura masculina possui o intento de ferir as aves, porém, aquelas que cantavam não
eram designadas a morte, mas, sim, salvas.
Com base nessa primeira leitura, podemos, a partir de então, propor uma análise
aprofundada sobre a cantiga, isto é, desdobrar o campo metafórico. Para isso, o destaque
aos elementos que aparecem na narrativa são de suma importância para a compreensão
da totalidade do sentido. Nesse contexto, a menção do homem no refrão de cada estrofe
“a las aves meu amigo” pode ser reforçada, simbolicamente, pela incidência do arco,
visto que é um artefato feito para atingir e perfurar um alvo, devido a isso é fundamental
que a sua estrutura seja forte e resistente, além da projeção ereta e rígida das flechas que
o compõem. Todas essas características se aproximam do elemento fálico, ou seja, o
órgão reprodutor masculino, representado, então, como o símbolo do arco.
Por fim, é importante destacar que esta cantiga de Fernando Esquio adequa-se
perfeitamente às cantigas de amigo da idade média, no século XIII, pois abarca
características muito próprias desse estilo, como a predominância do eu-lírico feminino,
o conteúdo voltado aos encontros eróticos entre o homem e a mulher, descrevendo
como cenário principal ambientes que envolvam água, animais e a prática de tarefas
corriqueiras, devido a forte influência que esses elementos possuem para a construção
do significado da cantiga, sendo, portanto, símbolos indispensáveis que representam o
elemento fálico e o feminino. Também torna-se nítida a preferência pelo amanhecer, à
medida que esse momento, no contexto medieval, seria mais propicio para a ocorrência
desses encontros, considerando que as tarefas diárias eram realizadas nesse período,
então, poderiam servir como pretexto.