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Patologia da nutrição e dietoterapia

DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES


E ENDÓCRINAS

Camila Chagas
Doutoranda em nutrição – UFPE
Mestre em nutrição – UFPE
Residência em nutrição clínica – UPE
Preceptora da residência em nutrição clínica
Nutricionista na área hospitalar
Prof. Graduação e pós-graduação
Aula passada...
• Fundamentos da dietoterapia;

• Prescrição dieta;

• Tipos de dietas hospitalares;

• Avaliação nutricional do paciente hospitalizado;

• Nutrição enteral e parenteral.


HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados de pressão arterial
(PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos- alvo e a
alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e
não fatais.
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

❖ Resistência periférica ➔ Resistência do vaso sanguíneo ao fluxo de sangue ➔ É a força que o sangue faz
contra a parede das artérias;

❖ Diâmetro do vaso sanguíneo afeta o fluxo sanguíneo (ex: vasodilatadores)

❖ Débito cardíaco ➔ É a quantidade de sangue bombeada para o coração no período de um minuto.


HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) – FISIOPATOLOGIA

Mecanismos envolvidos na regulação da PA


❖Sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona (SRAA)

PA Proteína de origem
hepática,
encontrada na
circulação
sanguínea
Angiotensinogênio
Renina
Angiotensina I

ECA
Angiotensina II

Síntese de Aldosterona
VASOCONSTRICÇÃO - Aumento da reabsorção
de Na e Água

PA AUMENTA
DIETOTERAPIA NA HIPERTENSÃO
Modificação Recomendação
Controle do peso Manter IMC entre 18,5 a 24,9Kg/m²
Circunferência da cintura 102cm para homens e
88cm para mulheres
Quando houver sobrepeso ou obesidade, a
perda de 5% a 10% do peso inicial já traz
benefícios
Padrão alimentar Aumento consumo de dieta rica em frutas,
hortaliças, fibras
DIETA DASH
Redução do consumo de sal 5g de sal/dia
Abandono ao tabagismo O fumo aumenta a resistência às drogas anti-
hipertensivas
Moderação do consumo de álcool Limitar o consumo de álcool a 30g/dia de etanol
para os homens e 15g/dia para mulheres
Exercício físico Pelo menos 30 minutos por dia de 3x/semana
DIETA DASH
❖Gordura total: 27 a 30% das calorias
❖Gordura saturada: 6% das calorias
❖Proteína: 20 a 25% das calorias
❖Colesterol: 150mg
❖Sódio: 2.300mg
❖Potássio: 4.700mg
❖Cálcio: 1.250mg
❖Magnésio: 500mg
❖Fibras: 30g
DISLIPIDEMIAS
• Designam- se dislipidemias alterações decorrentes de distúrbios em qualquer fase do
metabolismo lipídico, que ocasionem repercussão nos níveis séricos das lipoproteínas.
• Hipercolesterolemia isolada
 Elevação isolada do LDL-C (> 160mg/dL)
• Hipertrigliceridemia isolada

 Elevação isolada dos TG (> 150mg/dL)
• Hiperlipidemia mista
 Elevação de ambos LDL-C (> 160mg/dL) e TG (> 150mg/dL)
• HDL-C baixo
 Redução do HDL-C (Homens < 40mg/dL e Mulheres < 50 mg/dL)
isolada OU em associação com aumento do LDL-C ou de TG.
Recomendações na dislipidemia
RECOMENDAÇÃO LDL AUMENTADO TG LIMÍTROFE (150 TG ELEVADO (200 TG MUITO
a 199mg/dL) a 499mg/dL) ELEVADO
(>500mg/dL)
Redução de peso 5 a 10% Até 5% 5 a 10% 5 a 10%
CHO 45 a 50% VET 50 a 60% VET 50 a 55% VET 45 a 50% VET

Açúcar de adição <10% <5% <5% <5%

Proteína 15% 15% 15 a 20% 20%


Gordura total 25 a 35% 25 a 35% 30 a 35% 30 a 35%

Saturada <7% <7% <5% <5%


Monoinsaturada 15% 10 a 20% 10 a 20% 10 a 20%

Poliinsaturada 5 a 10% 10 a 20% 10 a 20% 10 a 20%


INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
✓O coração bombeia sangue em quantidade adequada para perfundir os tecidos e
suprir as necessidades metabólicas.

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

• Fadiga
• Dispneia
• Retenção de
líquidos
FISIOPATOLOGIA DA IC
Insuficiência cardíaca ou agressão progressiva

Altera função e formato do ventrículo esquerdo

Hipertrofia

Tentativa de sustentar o fluxo sanguíneo

REMODELAMENTO CARDÍACO

Sintomas meses ou anos após

Uso excessivo de sistemas compensatórios leva a um maior dano ventricular


DIETOTERAPIA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
• Recomendação sódio → 2 a 3g/dia → Sintomas graves, reduzir!
• Várias recomendações inconsistentes devido a estudos fracos
• Adesão de 2g/dia é precária → INGESTÃO NUTRICIONAL INADEQUADA

• Calorias → 28kcal/kg peso seco/dia (eutróficos) e 32kcal/kg de peso seco/dia (desnutridos).

• Carboidratos → 50 a 55% VET

• Lipídeos → 30 a 35% VET *QUALIDADE

• Proteínas → 1,5 a 2g/kg/dia (desnutridos); 1g/kg/dia (eutróficos); diminuição da função renal (0,8g/Kg/dia)

• Fibras → 25 a 30g/dia
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Isquemia assintomática Identificadas no teste de esforço
Angina estável crônica Desconforto torácico causado por esforço físico ou
emoção e aliviado pelo repouso
Angina instável (*Pré-infarto) Precipitada por menor esforço
Pode ocorrer em repouso
Duração da dor >20minutos(forte intensidade)
Alto risco de infarto
Infarto agudo do miocárdio Necrose isquêmica do miocárdio como resultado da
obstrução do fluxo coronariano/ isquemia prolongada
Dor prolongada, em aperto, com sensação de
esmagamento
DIETOTERAPIA NO INFARTO

oDiminuir a sobrecarga cardíaca

oFornecer uma alimentação saudável, 20 a 30kcal/dia


equilibrada e individualizada

• Dieta fracionada
• Consistência líquida-pastosa
Jejum nas primeiras horas 4 a
• Fibras 20 a 30g/dia
12h, após:
• Suplementos
• Líquidos 30ml/kg adulto e idoso
TRANSPLANTE CARDÍACO
• Pré transplante é importante monitoramento dos extremos → desnutrição /obesidade
• Adesão ao esquema terapêutico durante toda a vida

PÓS TRANSPLANTE IMEDIATO:

Fornecer quantidade adequada de PTN e CAL

Monitorar e corrigir as anormalidades de eletrólitos Controle ideal da glicemia

• Tratar catabolismo
• Cicatrização
• Necessidades aumentadas
• Dieta via oral → baixa aceitação → suplementação → enteral
PÓS TRANSPLANTE TARDIO

❖ HAS pode ocorrer

❖ Ganho de peso/Obesidade → Maior chance de rejeição → menores taxas de sobrevida.

❖ Hiperlipidemia

❖ Infecção

Aumento de colesterol e Monitorar cálcio e vitamina D


Fármacos hipolipemiantes
triglicerídeos (fármacos) - osteoporose
PRÉ – DIABETES E DIABETES MELLITUS
❖Diabetes mellitus (DM) é uma DCNT que ocorre quando o pâncreas não produz insulina
suficiente ou quando há uma resistência à ação desse hormônio → resistência à insulina.
❖Pré-diabetes?
DIABETES MELLITUS TIPO 1

Responde por 5 a 10% dos casos Deficiência absoluta na


de diabetes produção de insulina

TIPOS DE DM1: Destruição auto-imune das


- Imunomediado células β
- Idiopático

Existem casos em que não há evidências de processo auto-imune,


sendo, portanto, referida como forma idiopática do DM1
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Representa 90 a 95% do casos de DM
Acomete indivíduos a partir da quarta década de vida, embora se descreva, em alguns
países, aumento na sua incidência em crianças e jovens.
• História familiar da doença
• Avançar da idade
• Obesidade → Acúmulo de gordura visceral → citocinas pró-inflamatórias → Resistência à
insulina
• Sedentarismo
• Diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional
• Hipertensão
• Dislipidemias

Sintomas clássicos do diabetes podem ocorrer (menor frequência)


Fadiga, estado confusional, turvação visual
DIABETES GESTACIONAL
• Trata-se de qualquer intolerância à glicose, de magnitude variável, com início ou
diagnóstico durante a gestação.

• Associa-se tanto à resistência à insulina quanto à diminuição da função das células beta.

• Ocorre em 1 a 14% de todas as gestações ➔ Depois do parto cerca de 90% das


mulheres se tonam normoglicêmicas

• Após 5 a 10 anos as mulheres que foram DMG 35 a 60% mais chance de ser DM2
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
CHO não
inferior a
130g/dia

20 a 30% do VET

SBD, 2019-2020.
OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA
DOENÇA METABÓLICA CRÔNICA E MULTIFATORIAL

A obesidade apresenta grande


impacto sobre o padrão -Fatores nutricionais;
morbimortalidade -Genéticos;
-Metabólicos;
-Psicossociais;
-Culturais
-Grave problema de
saúde pública
Sem perspectiva de estabilização
em escala global
OBESIDADE
É mais sensível à
lipólise e mais Liberação de maior concentração de ácidos graxos
TAV
resistente à ação livres diretamente na veia porta
da insulina
Tecido adiposo abdominal: gordura subcutânea e gordura intra- Secreta maior
abdominal (gordura visceral e retroperitonial) concentração de
adipocinas pró-
inflamatórias

ABESO, 2010.
Síndrome metabólica
Recomendações nutricionais – obesidade e SM
• Conteúdo ideal de nutrientes:
- CH: 55-60%;
- PTN: 15-20% (não menos que 0,8g/kg peso desejável/dia);
- Lipídeos: 20-25% (7% saturadas, 10% PI e 13%Monoinsaturada);
- Fibras: 20-30g/dia;
- Colesterol total: até 300mg/dia;
- Líquidos: 1500ml para cada 1000kcal;
- Álcool: não é aconselhável;
QUANDO INIDICAR A CIRURGIA BARIÁTRICA
• Portadores de obesidade mórbida com IMC maior ou igual a 40
2
Kg/m registrado durante pelo menos dois anos. Devem apresentar
insucesso em tratamentos conservadores realizados continuamente, de
maneira séria e correta, também pelo período mínimo de dois anos;

• Pacientes com IMC entre 35 e 39,9 2


Kg/m ,
portadores de doenças crônicas
desencadeadas ou agravadas pela obesidade

• DM-2, HAS, doenças articulares e ortopédicas, dislipidemias, coronariopatias, apneia do sono.


Bypass Gástrico em Y de Roux (misto, predominantemente, restritivo)

• Cirurgia mais realizada no Brasil • Estômago é separado em dois


• Diminuição de comorbidades e compartimentos por grampeamento e a
importante efeito metabólico maior porção é excluída do trânsito
alimentar

Redução do volume gástrico e da área de


absorção, causada pela exclusão inicial
do intestino delgado (duodeno)

Estômago comporta cerca de 30 a


60ml ➔ ligado diretamente ao jejuno
Gastrectomia vertical (SLEEVE)
Remoção de 70 a 80% do estômago proximal e restrição
hormonal (grelina) ➔ volume residual de 50 a 200ml ➔
LAPAROTOMIA OU VIDEOLAPAROSCOPIA

• 2ª operação mais realizada no Brasil

• Não apresenta desvio intestinal ➔ diminui


complicações cirúrgicas e nutricionais

Alterações hormonal ➔ controle da fome e


melhora da saciedade pós-prandial.

NÃO EXCLUI O DUODENO


DIETOTERAPIA PÓS CIRURGIA
❖Dieta líquida restrita por 1 a 3 dias (chás, refrescos e caldos de legumes) ➔
Líquida total/completa.

❖Após 1 mês ➔ dieta pastosa, mantida por cerca de 15 dias.

❖Dieta branda por 1 mês ➔ dieta normal.

❖Reduzida em alimentos formadores de gases, açucarados, mínimo de industrializados, álcool.

❖Suplemento vitamínico / Mineral: usar clusivol liquido ou supradym efervescente – 3x/dia


até 30ºDPO
CASO CLÍNICO
• Paciente hipertensa, sexo feminino, 65 anos, interna apresentando picos de
pressão (180x110 // 150x90 // 140x90). Refere que tem histórico familiar
de HAS (pai e mãe). Atualmente não pratica atividade física, apresenta peso
atual de 69kg e altura de 1,72, com circunferência abdominal de 75cm e
circunferência do braço de 28cm. Refere hábito intestinal irregular, com
dificuldade de mastigação para alimentos sólidos, sem alergia alimentar.

• 1) Qual o estado nutricional da paciente?


• 2) Quais as recomendações e orientações para a paciente?
Questão ENADE
A crescente incidência das doenças cardiovasculares (DCV) no último século incrementou a busca
incessante para descobrir os fatores de risco (FR) relacionados ao seu desenvolvimento. Ainda que
a genética e a idade tenham importância nesta evolução, há muitos outros fatores de risco que
podem ser influenciados por modificações no estilo de vida, de forma a reduzir os problemas
cardiovasculares e a aumentar a sobrevida de pacientes portadores ou em risco de
coronariopatias. De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os fatores de
risco mais relevantes no panorama da saúde cardiovascular no Brasil são: tabagismo, hipertensão
arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus, obesidade e dislipidemias. O tratamento não
medicamentoso para minimizar estes fatores está relacionado com a mudança comportamental e
a adesão a um plano alimentar saudável.
• Com base no texto e considerando um plano alimentar cujo objetivo é diminuir os fatores de risco que possam contribuir para o
aumento de ocorrência das DCV, avalie as afirmações a seguir.

I. O consumo de fibras alimentares insolúveis resulta em benefícios diretos para a redução das DCV, por diminuir as concentrações
séricas da LDL-C, melhorar a tolerância à glicose e controlar o diabetes tipo 1.
II.O consumo regular de ácidos graxos saturados, como o ômega 3, reduz os triglicerídeos séricos, melhora a função plaquetária e
promove ligeira redução na pressão arterial de pacientes hipertensos.
III.A carência de minerais - como potássio, cálcio e, possivelmente, o magnésio - associada ao excesso de sódio na alimentação, pode
estar relacionada a níveis mais altos de pressão arterial.
IV.O maior consumo de frutas e vegetais ricos em flavonoides pode reduzir o risco para DCV, por sua ação antioxidante na LDL-C e da
modesta atividade antiplaquetária e anti-inflamatória.

• É correto apenas o que se afirma em:

• A. I e II.
• B. I e III.
• C. III e IV.
• D. I, II e IV.
• E. II, III e IV
Leitura sugerida
• CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto. 4ªed. Manole, 2019.
• KRAUSE, M.M., Mahan, N.K., Escott-Stump, S. Alimentos, Nutrição & Dietoterapia, 15aed. São Paulo, Roca 2022.
• MUSSOI, T.D. Avaliação nutrição na prática clínica – da gestação ao envelhecimento. Editora Guanabara, 2014.
• SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. 107,
nº 3, Supl. 3, abr/ 2005.
• SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. 1-28, jun/ 2009.
• SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 109, nº 2, Supl. 1, ago/ 2017.
• SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia. 107, nº 3, Supl. 3, set/ 2016.
• SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. Clannad Editora Científica.
1-249, 2019.
OBRIGADA

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